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Disciplina: Penitência e unção dos Enfermos

Docente: Pe. Lidiomar Gonçalves dos Santos


Discente: Pedro Ferreira Faustino

Resumo dos Capítulos 11 e 12 do livro Penitência e Unção dos


Enfermos

FLÓREZ, Gonzalo. Penitência e Unção dos Enfermos. São Paulo:


Paulinas, 2007.

Capítulo 11: A Confissão e reforma antes de Trento.


Nos séculos de XIII-XV de dá uma grande difusão de manuais de
confessores e sumas morais na Europa. Pregadores insistem na confissão
frequente e em penitências exemplares. O poder das chaves dada por Cristo à
Igreja, leva na idade média a instituição das indulgências. As indulgências são
meios para satisfazer as penas devidas pelo pecado, elas são méritos que se
obtém por meio de obras (práticas piedosas e orações).
Surge no século XII uma contenda encabeçada por Abelardo, este
combatia a liberalidade dos papas ao conceder perdão geral de todos os
pecados, ele dizia ser por interesses materiais. O cardeal dominicano, Hugo de
São Carlo, combateu Abelardo argumentando que o pecado é satisfeito pelo
sangue de Cristo, portanto a igreja pode dispensar as riquezas do perdão pelas
indulgências. É opinião comum dos teólogos que os tesouros da igreja devem
ser distribuídos pelos bispos e o papa, porque eles são os que possuem
jurisdição para tal.

Anseio de reforma na igreja.

Durante os séculos XI a XIII houve diversos movimentos reformistas


dentro da igreja que tinham a pretensão de reforma dos costumes, dentre
esses movimentos figuram as ordens religiosas que começam a se expandir
em toda a Europa. O Papa Inocêncio III chega a convocar um Concílio, o
Concílio de Latrão, com o objetivo de "reforma da Igreja universal, a correção
dos costumes, a extirpação da heresia e a confirmação da Fé."
Em diversas partes da Europa também surgem movimentos heréticos
que pregavam uma austeridade como forma de reforma dos costumes, ganham
destaque os albingenses, na França. Na Itália ganha destaque os valdenses,
esses por conta de sua austeridade ganharam maior notoriedade chegando a
ser comparados com os apóstolos. Contudo, esses hereges questionavam a
validade dos Sacramentos quando administrados por ministros pecadores, eles
também afirmavam que as indulgências não possuíam qualquer valor, eles
foram condenados em 1184.
Entre os reformadores que afiguraram os séculos XIV e XV, ganham
destaque Catarina de Sena, Vicente Ferrer e Bernardino de Sena, estes
denunciavam a vaidade e o luxo por parte dos membros da hierarquia nas
cidades italianas renascentistas.

Confissão, heresia e Falsa reforma.

Durante o período da baixa idade média se tinha uma concepção


equivocada acerca da confissão e a sua relação com o ministério sacerdotal.
Havia um distanciamento muito grande entre a classe dos Nobres e
eclesiásticos para com o povo que estava submerso em uma profunda
pobreza, social e cultural. As ordens mendicantes fizeram com que a distância
da igreja para com os pobres diminuísse, e a atenção para com essa classe se
intensificasse.
John Wyclif, inglês, professor na universidade de Oxford, passa a
atacar diretamente o papado dizendo que o papa não poderia excomungar
ninguém, ele associava diretamente a validade dos Sacramentos com a
santidade do ministro e não a sua ordenação, dizia que o Papa e o sacerdotes
não tinham direito a obter benefícios temporais. John passou a considerar o
papado como um mal para a igreja e condenou a prática das indulgências, ele
também considerava a confissão como algo supérfluo quando o penitente está
arrependido. Por fim rejeitava a doutrina da transubstanciação.

O Sacramento da Penitência no magistério da Igreja.


O magistério da igreja antes do Concílio de Trento via o sacramento da
penitência a partir de dois ângulos específicos, um primeiro no sentido de
organizar a prática da penitência sacramental e outro no sentido doutrinal, ou
seja, a teologia do Sacramento. No primeiro sentido de organização prática do
Sacramento tem destaque o quarto Concílio de Latrão, que impôs a
obrigatoriedade e as condições exigidas para recepção e também
administração do Sacramento da penitência.

Os protestantes e o concílio de Trento.

Em 1522 o Papa Adriano recebe diversos projetos de reforma da igreja,


neste período está em ascensão a rebeldia de Martinho Lutero que se levanta
com 95 teses contestando diversos pontos da doutrina católica, o pensamento
de Lutero faz eco ao pensamento de John Wyclif e Jean Hus, ambos
condenados como hereges. Diversos teólogos e emissários papais tentaram
fazer com que Lutero reconhecesse os seus erros e abrir mão deles, mas sua
obstinação o fez ser excomungado.

A confissão na doutrina e na Reforma Protestante.

Lutero era herdeiro dos pensamentos de Guilherme de Ockham,


segundo este teólogo havia um valor particular a absolvição, pois ela era tida
como um pacto, uma promessa divina para libertar o penitente do reato de seu
pecado. Lutero se confessava assiduamente e se examinava de forma
extremamente escrupulosa, suas confissões levavam horas. Como a sua vida
não se reformava apesar de seus esforços e penitências, Lutero começou a
desenvolver uma série de pensamentos e doutrinas que desvinculavam a graça
do perdão do poder da Chaves. Em 1520 Lutero escreve uma obra intitulada "o
cativeiro babilônico da igreja", nesta obra Lutero contesta a existência de
alguns Sacramentos, aceita a existência apenas do batismo, da penitência e o
pão. Lutero faz forte oposição a exclusividade dos sacerdotes em ouvir a
confissão, ele passa a propagar que todos os fiéis possuem a faculdade de
ouvir e perdoar os pecados. Lutero associa a absolvição a proclamação do
perdão de Deus, que poderia vir através da pregação, do batismo, da
Eucaristia ou do ministério das chaves.
Lutero não se opunha a confissão privada, a sua determinação está
presente em seu catecismo, nem mesmo Calvino irá se opor a confissão
privada, antes a valorizará, não, porém, como algo obrigatório. Contudo,
Calvino rejeita absolutamente a sacramentalidade da confissão, para ele a sua
origem é puramente eclesiástica e não divina. O rigor Calvinista nas
penitencias era extremado, quando Calvino morreu os seus sucessores
emitiam cerca de 5 excomunhões semanais.

Cap XII: A penitência no concílio de Trento.

O Concílio de Trento é aberto no ano de 1545, sua sessão pública se


inicia com 42 membros, Lutero e os protestantes fizeram forte oposição ao
Concílio. O Concílio passa então abordar temas como a interpretação das
sagradas escrituras, o tema da justificação e sua relação com a compreensão
da Fé, temas referentes aos Sacramentos e, por fim, temas voltados a reforma
eclesiástica e a translação do Concílio para a cidade Bologna em razão do
medo da peste.
Em maio de 1551 o Concílio retorna para a cidade de Trento para se
dedicar ao material recolhido com os principais argumentos de Lutero, o
sacramento da penitência foi um dos grandes temas do Concílio. O Concílio
expressou os principais cânones errôneos por parte dos reformadores
Protestantes e são eles:
A redução do texto de Jo 20,22ss à "pregação do Evangelho (cânon
2);
A redução dos atos penitenciais ao remorso de consciència ou à fé
colocada no Evangelho e na absolvição (cânon 4);
A afirmação de que a "atrição não é uma dor útil e boa (canon 5);
A afirmação de que a confissão privada é uma instituição humana,
alheia ao mandato de Cristo (canon 6);
A afirmação de que a confissão dos pecados mortais não é
necessária por direito divino nem é humanamente possível, e a de
que não é licito fazer confissão dos pecados veniais (cânones 7 e 8);
A afirmação de que a absolvição só serve para "declarar" que os
pecados foram perdoados (cânon 9);
A afirmação de que todos os fiéis e não somente os sacerdotes são
ministros da absolvição (canon 10);
A negação do direito dos bispos de reservar determinados pecados
(cânon 11);
A afirmação de que a pena devida por causa do pecado é perdoada
inteiramente com o perdão da culpa, e a de que a satisfação consiste
somente em crer nos méritos de Jesus Cristo (canon 12).

Alcance dogmático do ensinamento de Trento.

As fórmulas dogmáticas do Concílio de Trento são divididas


basicamente em três graus quando se refere a direito divino: I) o primeiro diz
respeito ao que está contido explicitamente na sagrada escritura, II) o segundo
o que está na escritura de forma implícita, podendo ser deduzido dela como
uma consequência necessária, III) o terceiro é o que foi estabelecido pela
mesma igreja em conselhos e decisões solenes.

Doutrina de Trento sobre o sacramento da Penitência.

1. Instituição do Sacramento
O Concílio entende Sacramento como "um rito instituído por Cristo, que
significa, contém e confere a graça a quem o recebe, sempre que este não
ponha obstáculo de sua parte" (p.230).
Os padres conciliares não tem dúvidas com relação a origem Divina do
Sacramento da Penitência, para combater a doutrina protestante que nega as
diferenças entre o batismo e a penitência, o Concílio chama a Penitência de
"segunda tábua de salvação". A principal base bíblica que dá fundamento a
origem Divina do Sacramento da Penitência se encontra no evangelho de João,
quando nosso Senhor confere aos apóstolos o poder de perdoar e reter os
pecados.

2. Constituição do Sacramento
Os padres conciliares para combater as ideias protestantes que
reduziram os elementos da confissão apenas a absolvição, confirmam a
doutrina católica de que todo Sacramento é composto de matéria e forma,
portanto o sacramento da confissão possui atos próprios do penitente que são:
a contrição, a satisfação somada ao ato da absolvição. Os atos do penitente
são elementos exigidos para a integridade e perfeita remissão dos pecados, a
parte mais essencial dos atos do penitente é a contrição, pois nela está contida
virtualmente toda a penitência. Os protestantes acusavam que a atrição era
algo inútil e hipócrita, pois eles não faziam a diferenciação entre a atrição e a
contrição. O Concílio de Trento deixa bem claro que existe sim uma diferença
importante entre ambas e que elas são disposições suficientes para se receber
o perdão dos pecados, isso significa que a atrição (contrição imperfeita) é o
suficiente para se receber o perdão.

3. A confissão dos pecados


O Concílio expressa de maneira muito clara que a confissão
sacramental é de instituição Divina, com isso é necessária para a salvação.
Com relação à confissão secreta, auricular, feita a um sacerdote, o Concílio
afirma que é uma prática constante na igreja e que não se opõe a doutrina da
instituição Divina do Sacramento. O Concílio compreende que
necessariamente é de direito divino a confissão dos pecados mortais que são
lembrados, e não necessariamente todos os pecados cometidos, a confissão
está intimamente ligada com a sinceridade do penitente, mas ela não é uma
investigação judicial. O Concílio ainda aponta que é lícito acusar os pecados
veniais contrariando alguns teólogos protestantes que diziam o contrário. A
responsabilidade da confissão recai, de acordo com a doutrina de Trento,
principalmente sobre o penitente, pois ele deve se aproximar deste Sacramento
com as devidas disposições, e com sólida esperança de que rá receber o
perdão de Deus. O penitente deve considerar que o ministro é a presença do
próprio Deus que o perdoa e o absolve.

4. Significado da Absolvição
O Concílio de Trento compreende a absolvição sacerdotal como um ato
judicial. Contudo este ato judicial não é considerado no sentido estrito, mas
analógico, pode-se destacar os seguintes aspectos:
"Em primeiro lugar, trata-se de um poder vicário, que procede de Cristo
e que deve ser exercido de acordo com a sua vontade” (p. 46).
“Esse poder consiste na concessão de um benefício ("alieni beneficii
dispensatio", segundo diz Trento), que Deus outorga ao pecador arrependido.
Nesse aspecto, não corresponde, propriamente, ao conceito civil de justiça,
que diz respeito à inocência ou culpabilidade do réu” (p. 46).
“É um poder que visa à conversão e à reconciliação do pecador, que
traz consigo, portanto, algumas determinadas exigências relacionadas com a
assimilação efetiva dessa obra de conversão por parte do pecador e com sua
verificação perante a Igreja. Esse aspecto, que a tradição constante da Igreja
interpretou em relação com a necessidade da penitência, dos atos do penitente
como parte do sacramento e com a necessidade da mediação da Igreja na
obra da reconciliação, é o que incide mais diretamente na configuração do
sacramento da penitência" (p. 46).

5. Valor das obras Satisfatórias


A controvérsia entre católicos e protestantes acerca das obras
satisfatórias está no fato de que os protestantes não reconhecem a
necessidade da colaboração humana na obra da Graça e, portanto, a
importância da obra penitencial no processo de reconciliação. O Concílio de
Trento reafirmou que a satisfação em nada se opõe ao ensino da igreja que
afirma os méritos infinitos da obra de Cristo. As obras satisfatórias colaboram
em sentido antropológico para que o penitente melhor reconheça a gravidade
do pecado, aumentando assim a sua vigilância. A satisfação possui também
uma dimensão crítica à medida que o penitente se conforma a Cristo se unindo
a sua paixão, a satisfação tem também uma finalidade medicinal. Assim as
obras de satisfação apagam o reato temporal das penas devidas pelos
pecados.
Podemos concluir que nunca um outro Concílio se dedicou de maneira
tão ampla e intensa ao tema da doutrina acerca da Penitência, Trento coloca o
tema da Penitência juntamente a uma visão global da realidade cristã. O
modelo de confissão que o Concílio apresenta não é algo inventado, mas é a
práxis da igreja ao longo dos séculos. Para o Concílio às duas grandes colunas
do Sacramento são: a confissão e a absolvição. Ambas contribuem para o ato
judicial que o ministro ordenado irá exercer conferindo o perdão dos pecados
ao penitente.

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