Tudo mudou após a ressurreição de Jesus. A expiação pela humanidade caída fora completada. Assegurou-se aos anjos celestiais que o pecado, agora, teria seu fim. E também o povo de Deus nunca mais seria o mesmo. Na noite da ressurreição, Cristo soprou sobre os discípulos o Espírito Santo (Jo 20:21, 22) porque eles necessitavam de seu auxílio para compreender, em pouco tempo, séculos de profecias messiânicas. “Quando tiverem recebido o batismo do Espírito Santo”, escreveu Ellen White, “então compreenderão mais das alegrias da salvação do que aquilo que conheceram durante a vida toda, até agora”1 Naquela noite, Ele começou a abrir o entendimento deles para “compreenderem as Escrituras” (Lc 24:45). Durante os 40 dias seguintes, Jesus desvendou aos apóstolos a grande comissão. Encontramos, na Bíblia, quatro versões da grande comissão. A maioria das pessoas pensa naquela encontrada em Mateus 28, com a ordem de ir e “fazer discípulos”. Vemos, porém, um quadro mais completo quando incluímos as outras três. Na noite da ressurreição, a comissão era proclamar a “remissão dos pecados”, e a primeira coisa a fazer não era ir, mas ficar na cidade, “até que do alto [fossem] revestidos de poder” (Lc 24:46-49). A segunda e a terceira vezes foram durante seu encontro na Galileia, alguns dias mais tarde2. Cristo deu ênfase à necessidade de que fossem a todo o mundo e pregassem o evangelho “a toda criatura” (Mc 16:15) e fizessem “discípulos [...], batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28:19,20) A última vez em que se registra a grande comissão é justamente antes da ascensão de Cristo; sobre o monte das Oliveiras. A ênfase é esperar, não ir. Veja o texto completo:
E, comendo com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse Ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será esse tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos, compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (At 1:4-8)
O quadro completo da grande comissão, portanto, inclui as
ordens de permanecer, ir e esperar, bem como um conjunto de objetivos mais amplo do que se esperava, como “pregar arrependimento para remissão de pecados”, “pregar o evangelho”, “fazer discípulos” e “testemunhar”. Porém, muito embora Jesus tivesse passado quarenta dias explicando essas coisas aos discípulos, havia alguns aspectos que eles ainda não entendiam.
Segunda vinda ou a vinda do Espírito?
Examinemos de novo o texto de Atos 1. Durante semanas Cristo falou muito acerca da necessidade de eles partilharem o evangelho com o mundo e enfatizou como precisariam do Espírito Santo para fazê-lo de modo eficiente. As últimas palavras que eles o ouviram dizer, antes de irem ao monte das Oliveiras, apontavam para sua necessidade de esperar em Jerusalém até que recebessem a plenitude do Espírito Santo. Ele lhes disse, inclusive, que seriam batizados com o Espírito “não muito depois destes dias”. No entanto, a reação dos discípulos passa inteiramente por alto a recomendação de Cristo. Em vez de indagar acerca do Espírito Santo ou do testemunho, perguntaram se era chegado o tempo em que seria restaurado o seu reino! Ele já havia declarado que “não era seu propósito estabelecer neste mundo um reino temporal”,3 mas eles tinham dificuldades para adaptar seu raciocínio a novas ideias. A resposta de Jesus é interessante. Ele disse para não se preocuparem com “tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At 1:7). Isso faz lembrar da ocasião em que Ele lhes falou sobre os sinais de seu retorno e do fato de que “a respeito daquele dia e hora ninguém sabe [...] senão o Pai”; portanto, deviam “vigiar”, pois ninguém saberia, exatamente, quando viria o Senhor (Mt 24:36,42). Essa conversa diz respeito a muitos na Igreja Adventista do Sétimo Dia hoje. Desde 1844, multidões têm ficado fascinadas com o possível tempo do retorno de Cristo. Autores de livros e palestras que revelam as mais recentes conclusões quanto à compreensão dos tempos sempre foram populares e tiveram seguidores. Se este livro fosse intitulado Doze Razões Pelas Quais Jesus Voltará Antes de 2020, provavelmente se tornaria um campeão de vendas instantâneo. Lembro-me de um homem sincero que, poucos anos atrás, gostava muito de estudar o Espírito de Profecia e a Bíblia. Ele se convenceu de que Cristo voltaria por volta de 15 de maio de 2003. Baseou sua conclusão em uma exegese questionável do Antigo Testamento, mas isso não importava. Ele estava persuadido, e eu seria responsável pela perda de almas se não concordasse com sua maneira de ver e não começasse a advertir os outros dentro da minha esfera de influência. Ele estava tão convencido quanto a essa predição que, se ela não ocorresse conforme sua descrição, ele prometia comer as próprias meias. Bem, você sabe o resultado: aquela data chegou e passou. Duas semanas mais tarde, ele me viu no saguão da igreja e procurou se esconder atrás de uma coluna. Tive realmente a tentação de ir até ele e perguntar: “Que tal o gosto das suas meias?” Damos muita ênfase à vinda de Cristo e por uma boa razão: somos adventistas, afinal de contas, e aguardamos o retorno do Senhor. Note, porém, que essa não foi a ênfase de Cristo durante as últimas semanas com os discípulos. Sua ênfase era que esperassem a descida do Espírito, a fim de terem poder para testemunhar. Cristo está muito mais interessado em nosso preparo para seu retorno do que devíamos estar no tempo do retorno. A vinda do Espírito a nossa vida precede a vinda do Senhor ao mundo. E o batismo do Espírito é necessário para a sua vinda. Por quê? — você pergunta. Porque o Espírito é o único que pode convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Contudo, surpreendentemente, o Espírito não é enviado ao mundo, mas à igreja (v. 7). Enquanto Ele opera por intermédio da igreja, o mundo é levado a Jesus. João Batista, homem cheio do Espírito desde o ventre de sua mãe (Le 1:15), apresentou uma promessa maravilhosa: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3:11). Deus considera tão seriamente nossa necessidade do batismo do Espírito que essa é a única promessa mencionada nos quatro evangelhos (Mt 3:11; Mc 1:8; e 3:16;Jo 1:32-34), bem como duas vezes em Atos (At 1:5; 11:16). À nenhuma outra promessa é dada tanta relevância no Novo Testamento. Até mesmo a mensageira de Deus para os últimos dias lhe dá importância máxima.4 Felizmente, os discípulos decidiram obedecer. Esperaram em Jerusalém até o cumprimento da promessa. Não se demoraram lá por dez dias; permaneceriam, isto sim, durante o tempo que fosse necessário até que o Espírito viesse. Sem que o soubessem a princípio, isso aconteceu dez dias mais tarde. Faríamos a mesma coisa hoje?
O que o Pentecostes produziu?
Eu gostaria que você tomasse tempo e lesse cuidadosamente o capítulo intitulado “Pentecostes”, no livro Atos dos Apóstolos, de Ellen White. Uma leitura cuidadosa revela vislumbres maravilhosos de como os discípulos passaram esse tempo juntos. Aqui está um trecho do capítulo:
Ao esperarem os discípulos pelo cumprimento da
promessa, humilharam o coração em verdadeiro arrependimento e confessaram sua incredulidade. [Retomaram] à lembrança as palavras que Cristo lhes havia dito antes de sua morte [...]. Verdades que lhes tinham escapado à lembrança lhes voltavam à mente, e eles as repetiam uns aos outros. [...] Cena após cena de sua maravilhosa vida passou perante eles. [Meditaram] sobre sua vida pura, santa. [Entristeceram-se] por terem- no ferido [...]. Mas estavam confortados com o pensamento de que haviam sido perdoados E determinaram que, tanto quanto possível, expiariam sua incredulidade confessando-o corajosamente perante o mundo. Os discípulos oraram com intenso fervor para serem habilitados a se aproximar dos homens, e em seu trato diário, falar palavras que levassem os pecadores a Cristo. Pondo de parte todas as divergências, todo o desejo de supremacia, uniram-se em íntima comunhão cristã [...]. Sentiam a responsabilidade que lhes cabia nessa obra de salvação de almas. Compreendiam que o evangelho devia ser proclamado ao mundo e reclamavam o poder que Cristo prometera. [...]. O Espírito veio sobre os discípulos, que expectantes oravam, com uma plenitude que alcançou cada coração. [...] E sob a influência do Espírito, palavras de penitência e confissão misturavam se com cânticos de louvor por pecados perdoados. [...] Tomados de admiração, os apóstolos exclamaram: "Nisto está a caridade!” (1Jo 4:10). Eles se apossaram do dom que lhes era repartido. E o que se seguiu? [...] Milhares se converteram em um dia.5
Você, alguma vez, experimentou algo assim? Foi isso que
produziu o Pentecostes. Foi isso o que Pentecostes exigiu. A primeira coisa que vem à mente é o fato de que eles não se concentraram no Espírito Santo tanto quanto se concentraram em Jesus. As palavras de Jesus, o caráter de Jesus e as obras de Jesus eram o que lhes vinha à lembrança e o que repetiam uns aos outros. Meditaram sobre quem Ele realmente era e sobre o legado que lhes deixara. À segunda coisa é que isso os encheu de amor por Ele, o que os fez decidir testemunhar dele aos outros. E aqui vem mais uma coisa. Primeiro, porém, permita- me fazer um resumo destas páginas, algo que você pode achar útil quando escolher se reunir com outros em busca do Espírito Santo. Observe a natureza clara e simples dos atos deles:
• Eles se reuniram para esperar o cumprimento da
promessa, • Humilharam o coração em verdadeiro arrependimento. • Confessaram sua incredulidade. • Lembraram-se das palavras de Jesus acerca de seu sacrifício. • Repetiram uns aos outros as verdades das quais se lembravam. • Meditaram sobre a vida santa de Cristo. • Decidiram testemunhar de Jesus perante o mundo. • Oraram com fervor intenso para levar pecadores a Cristo. • Puseram de parte suas diferenças e se uniram em profunda comunhão cristã. • Louvaram a Jesus com cânticos pelo perdão dos pecados. • Contemplaram, absortos em admiração, o amor de Deus. • Apossaram-se do dom que lhes era oferecido.
Um detalhe marcante nessas páginas é a união deles. Poucos,
hoje, duvidam do valor da oração e da meditação em Jesus. Lemos claramente que nos faria bem fazer isso cada dia, durante uma hora6. “Mas o que nos falta, especialmente no Ocidente, é o fator união. À oração coletiva e a busca por Deus nunca substituirão a necessidade de nosso tempo pessoal e diário com Jesus. No entanto, somente quando escoIhermos fazer isso juntos é que finalmente estaremos levando a sério uma mudança radical em nossa vida, família e igreja. Acima do Círculo Ártico, na Rússia, há uma cidadezinha petrolífera chamada Murmansk. Um lugar terrível, com invernos que duram a maior parte do ano. Em meados da década de 90, havia ali uma igreja adventista do sétimo dia moribunda. Já havia tido 22 membros. Mas, como as pessoas não se mudavam para lá a menos que fosse necessário, a taxa de baixa era severa. Assim, eles acabaram com apenas oito membros: o pastor, sua esposa e seis homens que trabalhavam na extração de petróleo. Eles fizeram uma análise da situação e concluíram que estavam destinados a morrer, a menos que algo radical ocorresse. Mas, fazer o quê? Como partilhar o evangelho em um lugar como aquele? Decidiram não olhar para as circunstâncias e, sim, para o Senhor. Começaram a orar pelo Espírito Santo e a entregar a vida em completa consagração a Jesus. Naquela tundra congelada, porém, necessitavam de ânimo e do senso de responsabilidade. Então, tiveram uma ideia. Às seis horas, todas as manhãs gélidas, os sete homens se reuniam no Clube da Morsa. Eles ficavam só de calção, caminhavam até um determinado buraco de pesca no lago congelado e submergiam no buraco, um após o outro. Depois, ajoelhavam-se ao redor do buraco, com os braços sobre os ombros uns dos outros e oravam fervorosamente para que o fogo do Espírito lhes derretesse o coração com amor pelas pessoas. Para que um comportamento tão excêntrico? — você pode perguntar. Não poderiam se reunir na sala da casa de algum deles, junto à lareira, para orar? Talvez muitos de nós teríamos feito isso. Os homens de Murmansk, porém, queriam ser responsáveis diante de Deus. O mergulho diário nas águas geladas era seu compromisso de estarem preparados todos os dias para levar pessoas às águas do batismo, com chuva, neve ou gelo. Não esperariam que chegasse o verão para então receber o Espírito de Deus. Sua rotina diária era manter uns aos outros responsáveis no serviço do Senhor. Aconteceu alguma coisa? Aconteceu tudo! Com essa prática, dentro de um ano, eles levaram 80 pessoas às águas do batismo, uma taxa de crescimento de 1.000%. Durante os anos seguintes, a igreja plantou pelo menos seis outras igrejas na região. E isso em um lugar onde há mais garrafas de vodca do que gente!
A ausência do Espírito é o que torna tão impotente o
ministério evangélico. Pode-se ter cultura, talento, eloquência ou qualquer dom natural ou adquirido; mas sem a presença do Espírito de Deus não se tocará nenhum coração, nem se ganhará pecador algum para Cristo. De outro lado, se estão ligados com Cristo, e se possuem os dons do Espírito, os mais pobres e ignorantes de seus discípulos terão um poder que falará aos corações. Deus faz deles condutos para a difusão, no universo, das mais elevadas influências.7
Duas premissas para a vida na igreja
O modo como a igreja apostólica nasceu foi idêntico ao nascimento de uma criança. São necessários dois para se tornarem um, a fim de produzir um terceiro. Isso constitui a primeira premissa para a vida da igreja; união. É por isso que, no livro de Atos, se dá tanta ênfase à expressão de comum acordo (At 1:14;4:32;5:12). O conceito é eterno. Você já se perguntou por que Deus é três pessoas? Este não é o momento de discutir questões desafiadoras como a natureza da Trindade, mas podemos aprender a nosso respeito ao olhar para a Trindade. Se Deus é amor (1Jo 4:8), e o amor não se torna realidade a menos que seja partilhado com outros, então faz sentido que Deus seja um em três pessoas, pessoas estas que vivem e expressam o perfeito amor em perfeita humildade. Você não pode alegar que ama quando de fato não ama ninguém. O amor existe porque existe alguém para amar. Assim, Deus existe em três pessoas, a fim de se amarem antes que houvesse alguma outra criatura para ser amada. Quando você ê na Bíblia a respeito do relacionamento entre Pai, Filho e Espírito Santo, descobre que cada um deles está sempre buscando honrar a preeminência do outro. Eles pensam primeiro no outro, e nos outros. O Espírito Santo exalta Jesus, Jesus exalta o Pai, e o Pai exalta o Espírito e Jesus, ao ser igual a Eles (Jo 16:13-15). Eles formam a primeira comunidade. Assim, quando Deus criou a humanidade, não poderia tê-la feito de outro modo. Examine a história da criação. No primeiro capítulo, tudo é declarado como sendo “bom” ao final de cada dia (Gn 1:4,10, 12,18,21). No sexto dia, após a criação de Adão e Eva, tudo foi declarado como sendo “muito bom” (Gn 1:31). Isso era esperado, pois afinal vem da mão de um Deus perfeito e amoroso. Contudo, no segundo capítulo, algo “não é bom”, embora faça parte da criação. “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far- lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn 2:18). Por que permitiria Deus algo não bom como parte de sua criação considerada boa? Porque Adão foi criado à imagem de Deus (Gn 1:26, 27) e, como tal, refletia o caráter de amor de Deus. Deus desejava que o próprio Adão percebesse que, se não tivesse alguém a quem amar, ele estaria incompleto. Por experiência pessoal, Deus sabia o que é necessitar de outrem, mas deu tempo para que Adão sentisse o mesmo. Tendo Deus criado Eva, o homem a considerou parte de si mesmo. “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne”; e chamou-a Isha, a palavra hebraica para “mulher”, porquanto fora tomada de Ish, “homem” (Gn 2:23). Uma vez que, segundo Gênesis 5:2, Adão é o nome genérico para a raça humana e não apenas o nome de um homem, então, Adão não era um indivíduo completo até que Eva fosse criada como sua mulher. Uma das mais claras evidências de que a humanidade foi feita à imagem de Deus é que eles receberam a capacidade de recriar a sua imagem (Gn 4:1). Isso é algo que os anjos não podem fazer. Se alguma vez você já se perguntou por que seu irmão é diferente de você, ou por que, no casamento, os opostos tendem a se atrair, a causa, a raiz, vem desse conceito. Deus pretendia que todos vivêssemos em comunidade, isto é, com pessoas diferentes de nós. Assim, a escolha de amar e estimar as pessoas ao nosso redor se torna necessária. É isso o que significa ser criado à imagem de Deus. A igreja deve funcionar do mesmo modo. Numa ocasião de desarmonia e ciúme mesquinho entre os discípulos, Jesus lhes deu mais um mandamento: “Assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.” Alguém pode indagar: Por que, Jesus? Porque “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:34, 35). Todo o mundo sabe que você ama aqueles que também o amam — isso é da natureza humana. Mas, quando você ama os que não são amáveis, quando se importa com quem se esqueceu de você, quando perdoa à quem o magoa ou ignora, você reflete a natureza do amor divino. Isso revela que somos filhos e filhas do Pai celestial (Mt 5:43-48). A experiência de passar tempo juntos no Cenáculo, todos aqueles dias, permitiu que os primeiros discípulos descobrissem em que consistia o amor genuíno. Aquelas 120 pessoas não tinham um amor natural de umas para com as outras. Ali estavam homens € mulheres, com tudo o que essas diferenças de gênero envolvem. Ali estava Pedro, que se considerava espiritualmente superior (Mc 14:29), é Tiago e João, que eram como o trovão para o outros (Mt 20: 20, 21, 24). Ali estava Tomé, que não aceitou o testemunho de seus amigos (Jo 20: 24, 25), como também os irmãos de Jesus, que haviam se divertido em zombar de Cristo e de seus seguidores (Jo 7:3-5). Estavam ali, juntos, e “perseveravam unânimes” (At 1:14). O foco em Jesus os uniu. Aqui está uma declaração para a qual um amigo meu me chamou a atenção, muitos anos atrás:
A santificação da alma pela operação do Espírito
Santo é a implantação da natureza de Cristo na humanidade. À religião do evangelho é Cristo na vida — um princípio vivo e atuante. É a graça de Cristo revelada no caráter e expressa em boas obras. [...] O amor é o fundamento da piedade. Qualquer que seja a fé, ninguém tem verdadeiro amor a Deus se não manifestar amor desinteressado por seu irmão. Mas nunca poderemos possuir esse sentimento apenas tentando amar os outros. O que é necessário é o amor de Cristo no coração. Quando o eu está imerso em Cristo, o amor brota espontaneamente. A perfeição de caráter do cristão é alcançada quando o impulso de auxiliar e abençoar a outros brotar constantemente do íntimo — quando a luz do Céu encher o coração e for revelada no semblante.8
E foi isso o que aconteceu com a igreja apostólica. Tendo
ocorrido a comunhão, a segunda premissa da vida da igreja se tornou possível: o batismo do Espírito Santo. Pense nisso deste modo: a fim de produzir vida nova, dois devem se aproximar em completa união. Quando a igreja se uniu, nasceu vida nova. Uma igreja nasceu no Espírito. Sem essas duas premissas inegociáveis é impossível ser a igreja de Deus. Resta uma questão: O relacionamento seria duradouro?
Perguntas para reflexão ou estudo em grupo
1. Quais as suas ideias acerca das quatro versões da grande comissão? 2. Por que você acha que os discípulos estavam mais interessados no tempo do fim do que na vinda do Espírito? Como a experiência deles se relaciona com a nossa, hoje? 3. Quais são as implicações da declaração: “A vinda do Espírito a nossa vida precede a vinda do Senhor ao mundo”? 4. Qual é a única promessa do Novo Testamento mencionada nos quatro evangelhos e duas vezes no livro de Atos? Por que essa promessa é tão enfatizada no Novo Testamento? 5. Recapitule a relação das 12 ações nas quais os discípulos se concentraram enquanto aguardavam o Espírito Santo. Que denominadores comuns você vê nessas ações? 6. Por que é tão difícil buscar a Deus em conjunto? 7. O que seria necessário para que uma experiência semelhante ocorresse em nossa igreja? 8. “Como a história de Murmansk se relaciona com você e o afeta neste momento de sua vida? 9. Reflita sobre as ideias acerca da criação de Adão e Eva e as implicações do que significa ser “humano”. 10. Releia João 13:34, 35. Por que Jesus considerou tão importante dizer isso aos discípulos? Qual é a primeira razão para nos amarmos uns aos outros? 11. Faça uma pausa e visualize os 120 no Cenáculo. Observe suas diferenças de gênero, idade, ocupação, atitudes e personalidades. Como foi que, na prática, tornaram-se uma comunidade, com um só pensamento? 1 Carta 33,1890, em Manuscript Releases, v.5,p. 231. 2 Para um breve comentário sobre a cronologia após a ressurreição, ver Francis D. Nichol (ed), Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), v. 5, p. 246-248. 3 Ver Atos dos Apóstolos, p. 30. 4 Com base na edição completa dos escritos publicados de Ellen G. White (2007), 8.943 referências dizem respeito ao batismo do Espírito ou expressões semelhantes. Isso significaria quase uma para cada dez de suas páginas manuscritas 5 Atos dos Apóstolos, p. 36-38. 6 Ver O Desejado de Todas as Nações, p. 83 7 Parábolas de Jesus, p. 328 8 Parábolas de Jesus, p. 384