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º Teste Filosofia
Política
- Ora, a questão em apreço é bem mais - Estes são substituídos pela breve
fina, como se pode constatar pelo jogo ditadura de Savonarola, o monge de S.
argumentativo entre Rafael Hitlodeu e Marcos que inflama as multidões com a
More-personagem sua retórica religiosa
- A descrição da sociedade perfeita - Savonarola é derrubado pela
surge com um contraponto à sociedade sublevação popular de 1498 e queimado
distópica vivo na Piazza della Signoria, abrindo
assim caminho à instauração de um
- O modelo da sociedade utopiana
regime republicano
permite perceber de forma mais clara e
contundente aquilo que está errado nas - Maquiavel acompanha o episódio
sociedades reais político de Savonarola e assiste à sua
morte
- A utopia moreana não é um programa
de ação política, mas antes um - Destes eventos, que muito o
dispositivo de crítica social impressionam, retira uma visão política
que vinca a força destrutiva dos
antagonismos políticos e a importância
NICOLAU MAQUIAVEL - « O da ordem que o Estado, de tipo
PRÍNCIPE » principesco ou republicano, permite
instaurar
- É precisamente na república que se
segue ao derrube de Savonarola que
Maquiavel terá o seu momento de
homem político
- Chamado a ocupar o cargo de
secretário da Segunda Chancelaria,
- Nasceu e viveu em Florença entre
acabam por lhe ser confiados poderes
1469 e 1527
alargados que compreendiam tanto
- A Itália da época estava divida em assuntos internos, incluindo a
cidades-estados e assim haveria de organização da milícia florentina, como
permanecer até à contemporaneidade, missões diplomáticas junto de outros
malgrado a nostalgia das suas elites pela Estados italianos ou do rei de França
unidade e poder da Roma Antiga
- Politicamente, a sorte de Maquiavel
- Ainda assim, no mapa italiano do fica ligada ao poder de Pierro Soderini,
tempo, ressaltavam algumas entidades o Gonfaloneiro da república, e por isso
políticas especialmente poderosas com ele cai, em 1512, com o regresso
( como os Estados Pontifícios, a do principado dos Médici, desta feita
República de Veneza, o Ducado de sob proteção papal
Milão ou o Reino de Nápoles )
- Maquiavel, pouco tempo depois de
- Florença não deixava de ser também destruído do governo, será acusado de
um Estado importante governado participar numa conspiração contra o
alternadamente sob forma republicana novo poder, preso e torturado, mas
ou em regime principesco dominado acaba por ser libertado, recolhendo à
pela família Médici sua casa, nos arredores de Florença
- Maquiavel procura sempre dar alaga as terras em seu redor, tem força
conselhos sobre a forma mais eficaz de para tudo arrasar e para todos pôr em
agir, mas também ilustrá-los fuga
profusamente com os exemplos
- Mas tal não impede que, em tempos de
colhidos na experiência direta ou na
bonança, os homens construam açudes
experiência dos livros
para conter a força das águas e
Metamorfose do príncipe: fortuna encaminhá-las para onde lhes for mais
e virtù conveniente
- Segundo Maquiavel, tratando aqui - Tal poderá ser a ação da virtù como
especificamente o caso dos príncipes, a capacidade para enfrentar a fortuna de
evidência empírica mostra que a ação forma racional e precavida
política é governada por duas forças - Uma outra metáfora complementa a
distintas e correlacionadas: ilustração desta correlação ( entre
- A fortuna e a virtù fortuna e virtù ):
- É preciso ser leão para meter medo aos - Mas tudo isto implica também o
lobos, mas também ser raposa para exercício da estratégia, nomeadamente
evitar as armadilhas na capacidade para captar aliados
convenientes e que não sejam tão fortes
- Se é certo que alguns príncipes podem
que se possam voltar contra o príncipe,
ser mais como o leão e outros mais
assim como na habilidade para
como a raposa, são as circunstâncias
encontrar inimigos que se possa vencer,
históricas, os acidentes da fortuna, que
muitas vezes explorando as suas
acabam por condicionar a necessidade
clivagens e traições internas
de ser mais arrojado, ou mais calculista
- O príncipe deverá também atentar
- O sucesso de um príncipe dependerá
naqueles que o rodeiam, muitas vezes
sempre deste jogo entre os
incapazes de lhe dizer a verdade ou à
imponderáveis do devir e a capacidade
espera do melhor momento para o trair
para enfrentá-los mediante um exercício
da virtù que deverá, pelo menos - Secretários e ministros deverão ser
idealmente, ter a plasticidade que as escolhidos com cuidado e sacrificados,
circunstâncias a cada momento impõem como « bodes expiatórios », sempre que
tal seja conveniente para afastar do
- Alguns príncipes poderão ter sucesso
próprio príncipe os ódios que ele pode
sendo sempre leões, ou sempre raposas,
concitar entre a populaça
mas apenas porque o devir não impôs
uma mudança de estratégia - É preciso ter cuidados especiais com
os « Grandes » que podem, a todo o
- Quando as circunstâncias mudam,
momento, ser uma ameaça ao poder
prevalecem aqueles agentes políticos
principesco, intentando substituí-lo, mas
que conseguem metamorfosear a sua
também os « Pequenos » precisam de
natureza animal
ser cativados e, quando necessário,
- Se qualquer príncipe pode ser afetado atemorizados com o poder do príncipe
pela boa ou má fortuna, nem todos estão
- É neste contexto que Maquiavel
igualmente preparados para tais
transmite um famoso ensinamento sobre
mudanças
a administração do tempo político,
- Quem obteve o principado pela sorte recordando que o mal deve ser feito de
( herança, doação, etc. ) terá maior uma vez para ser rapidamente
dificuldade em mantê-lo esquecido, enquanto o bem deverá ser
praticado pouco a pouco para melhor
- Já quem o obteve pelo exercício da ser saboreado
virtù própria, por exemplo, por
conquista ou mediante algum ardil, tem - A análise maquiaveliana é
à partida as melhores condições para particularmente notável quando se
mantê-lo concentra no modo como o príncipe
deve construir a sua própria imagem,
- Em qualquer dos casos, é pensando no tanto junto dos seus, como de aliados e
novo príncipe que Maquiavel inimigos
prodigaliza conselhos, sempre ilustrados
empiricamente, para contornar a fortuna - Maquiavel recorda-nos que o príncipe
de modo a alcançar o poder e mantê-lo deve parecer ter todas as qualidades
morais para concitar admiração, e até tê-
- Maquiavel insiste sempre na las efetivamente se isso lhe for
necessidade das « boas armas », da conveniente, mas deixar de tê-las se tal
organização da milícia, das implicar o enfraquecimento ou a ruína
fortificações, enfim, da « arte da guerra do Estado
»
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política
- Assim, o príncipe deve parecer sempre como diríamos hoje, enfraquecerá o seu
honrado e capaz de honrar a própria poder e lavá-lo-á à perdição política
palavra
- Note-se que, apesar de chocante para a
- No entanto, a mentira é essencial para nossa consciência moral, o modo como
o exercício efetivo do poder e Maquiavel desvela as metamorfoses do
Maquiavel não deixar de referir o príncipe bem-sucedido não implica da
sucesso do papa Alexandre VI, que sua parte nenhum tipo de relativismo
nunca terá feito outra coisa durante a
- Pelo contrário, Maquiavel tem plena
sua vida do que intrujar toda a gente – e
consciência da diferença entre o bem e o
é sempre possível encontrar quem se
mal
deixe enganar
- Aquilo que ele nos diz é que o
- O príncipe deverá parecer generoso
domínio da ação política tem uma certa
sempre que possível, mas, na verdade,
autonomia e nele nem sempre se
ser parcimonioso, para não ser
aplicam as mesmas regras morais que
conduzido à ruína
em qualquer outro domínio
- A generosidade é boa quando
- Esta convicção faz dele um realista
praticada com dinheiro dos outros – por
político, mas não um relativista e menos
exemplo, dos aliados ou dos inimigos
ainda alguém sem ideais
vencidos -, mas torna-se perigosa
quando feita com recursos próprios ou Principados e Repúblicas – o
extraídos aos seus súbditos, já que os ideário político de Maquiavel
homens esquecem mais depressa a
morte do pai do que a perda do seu - A república não é aqui, como na
património aceção mais contemporânea, o contrário
da monarquia
- O príncipe deve parecer sempre «
piedoso, fiel, humano, íntegro e - No sentido de Maquiavel, a república
religioso », mas estará perdido se é antes de mais um regime de «
exercer sempre tais qualidades, já que constituição mista », no qual se
para conservar o Estado muitas vezes é assegura com especial cuidado a
necessário ir contra a compaixão e todas representação das diferentes camadas da
as demais qualidades referidas sociedade, englobando quer os «
Grandes », a aristocracia, quer os «
- A crueldade não é desejável, mas por
Pequenos », o povo, que pode ter
vezes é necessário aplicá-la de forma
elementos aristocráticos e populares,
rápida e cirúrgica
mas também monárquicos
- Porque os homens « julgam mais pelos
- O autor florentino presta especial
olhos que pelas mãos », isto é, porque
atenção à clivagem e aos conflitos entre
veem ao longe e em função do que lhes
Grandes e Pequenos, de tal forma que
aparece, o príncipe poderá sempre tentar
alguns consideram ter ele antecipado a
construir uma representação adequada
noção marxiana de « luta de classes »
de si mesmo
- Tal interpretação é especulativa
- O objetivo é ser amado, mas, se tal
não for possível, deverá, pelo menos, - A república, através da sua
ser temido constituição mista, procura equilibrar as
diferentes pretensões sociais
- Aquilo que o príncipe deve evitar em
estabelecendo a paz no interior do
qualquer circunstância é ser odiado ou
Estado
desprezado, já que tal perceção pública,
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política