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Ana Margarida Silva Ribeiro 1.

º Teste Filosofia
Política

THOMAS MORE - « UTOPIA » Génese e estrutura


- Erasmo de Roterdão ( amigo pessoal
de More ) dedica-lhe a sua obra « O
Elogio da Loucura » que podia ser
entendido como « Elogio de More »
- Mas o trocadilho entre o nome de
More e a loucura era apenas uma ironia,
- Thomas More queria estudar línguas já que de louco More nada tinha e seria
clássicas antes, segundo o próprio Erasmo, o
- Ele serviu durante anos com mais sábio dos homens.
competência e lealdade Henrique VIII - Erasmo descrevera a corrupção e o
- Entretanto, Henrique VIII desobedece vício na sociedade da época, criticando
à autoridade papal e Thomas More, em particular os clérigos, More terá
católico fervoroso e adepto da doutrina pensado em dar continuidade à obra que
da supremacia papal, não aceita a lhe dedicara o amigo, escrevendo desta
decisão do rei; More acaba então por se vez sobre a sabedoria
afastar dos cargos públicos - Ora, se a loucura parecia estar em todo
- Henrique VII, por conveniência o lado na sociedade coetânea, a
própria, decide consagrar a tendência sabedoria não se encontrava em lado
que se verificava na época para a nenhum
procura de maior autonomia das igrejas - O título inicial que More concebe para
nacionais e assina o Ato de Supremacia o seu livro é Nusquama, ou seja,
( pelo qual corta os laços com Roma e nenhures; o título « Utopia » que acaba
institui a Igreja de Inglaterra por prevalecer, significa o mesmo, o «
- More, instado a jurar o Ato Sucessório não-lugar»
( que implica também a aceitação da - Outras influências podem ser
supremacia do rei ), recusa-se e é invocadas na génese da « Utopia »:
colocado sob prisão, em condições
deploráveis - Em primeiro lugar, é evidente a
influência do Humanismo e do
- É acusado de traição e é submetido a Classicismo, presente nas referências ao
um julgamento manipulado, que decide pensamento grego, particularmente a
contra ele devido a um testemunho falso Platão, assim como no uso constante de
- Condenado por traição e atendendo à neologismos formados a partir de raízes
sua situação, o rei comutou-lhe a pena e latinas e gregas, como acontece com o
foi decapitado próprio título

- More terá dito no momento da morte: - Em segundo lugar, a literatura de


« Morro como bom servidor do rei, viagens da época, desencadeada pelos
mas, antes disso, servidor de Deus » Descobrimentos, estava em voga e
influi também na obra de More,
- A morte de More, é geralmente incluindo na localização da ilha Utopia,
comparada à de Sócrates, num contexto algures nos mares do sul, ou na escolha
cristão de um marinheiro português como
personagem central
- Foi beatificado e santificado pela
Igreja católica; foi declarado patrono - Em terceiro lugar, alguns atribuem o
dos políticos estilo conventual da vida na Utopia à
própria experiência do autor na Cartuxa
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de Londres e à sua nostalgia face aos importante a dizer a verdade; « Hitlodeu


tempos medievais e à ideia de », que parece significar algo como «
simplicidade e pureza que se lhes fala barato », o que por sua vez permite
poderia associar lançar dúvidas sobre a veracidade do
que irá contar
- More inicia a escrita da obra nos
Países Baixos, quando se encontrava em - Rafael Hitlodeu e More personagem
missão diplomática ao serviço do rei estarão de acordo em muitos aspetos,
sobretudo ao longo da primeira parte da
- Escreve aquilo que virá a constituir a
obra; no final da primeira e segunda
segunda parte da obra e que consiste,
parte, as suas divergências virão mais
basicamente, na descrição
ao de cima, como a aposição entre as
pormenorizada da ilha Utopia, onde a
soluções avançadas por Rafael para os
sociedade ideal existe e pode ser
problemas sociais e as dúvidas
observada no seu funcionamento
metódicas de More personagem
quotidiano
- A primeira parte da obra, que versa
O real distópico
não sobre uma sociedade ideal - O tema guarda-chuva da primeira
imaginada, mas, bem pelo contrário, parte da obra é o de saber se vale ou não
sobre a sociedade inglesa da época e os a aconselhar conselheiro do príncipe:
seus problemas mais agudos, é escrita Hitlodeu considera que não ( uma vez
por More depois de regressar a que nada nem ninguém pode deter a
Inglaterra ânsia de poder dos príncipes); More-
- A primeira parte da obra ( Livro I ), personagem ( considera que, se os
constitui uma longa introdução à conselheiros não podem evitar o mal
segunda parte ( Livro II ): permitindo ao praticado pelos príncipes, poderão pelo
leitor a comparação, ou pelo menos a menos ajudar a diminuir a sua
justaposição, entre o ideal utópico e a intensidade )
sua negação, chamemos-lhe o « real - Porém, More-personagem e Hitlodeu
distópico » convergem na imagem, que poderíamos
- Ao longo desta distopia inicial, More chamar « realista », que transmitem dos
opera uma espécie de encaminhamento príncipes, mas também dos próprios
iniciático, que conduz as almas conselheiros, apenas interessados no
perplexas da imersão na escuridão da acréscimo de poder e de riqueza, muitas
realidade distópica para uma espécie de vezes obtidos através do despotismo, da
vivência luminosa do ideal utópico, guerra, da manipulação do povo e da
descrito como coisa real sua indigência

- Como nos discursos platónicos, o - A verdade e a justiça, portanto, estão


início da obra situa-nos num cenário ausentes do jogo político e das
realista preocupações dos seus principais atores

- Há três personagens: Rafael Hitlodeu, - Uma parte do Livro I, é dedicada a


que será a personagem central da obra; lustrar a situação de miséria em que
More-personagem, que será aquele que vive o povo, o que provoca o roubo para
interrompe e levanta dificuldades ao fugir à fome e logo depois a sua punição
que Hitlodeu afirma e Pedro Gilles severa ( numa espécie de «
criminalização da pobreza )
- Rafael Hitlodeu: « Rafael »: por ser
este o anjo na anunciação, o que - Para Hitlodeu e More-personagem, as
significa que terá algo de muito causas da criminalidade e da miséria
são, pelo menos numa primeira análise,
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de natureza comportamental e moral, são neologismos criados pelo próprio


mais precisamente: 1- a ociosidade dos Thomas More
nobres e dos seus criados; 2- a ganância
- Alguns casos são evidentes e reforçam
que leva à criação de rebanhos para a
a ideia de um lugar que é um não-lugar,
produção de lã e que expulsa os
que não existe verdadeiramente
agricultores, que assim perdem os meios
de subsistência; 3- a procura do luxo e a - A capital da ilha é Amaurota ( cidade-
entrega ao vício, transversais à miragem ), banhada pelo rio Anidro
sociedade, entre outros ( sem água ) e governada pelo príncipe
Ademo ( sem povo )
- O passo mais arrojado de
argumentação de Hitlodeu – Quando se - A Utopia era uma península ligada ao
procura a raiz última dos males de continente por um istmo que foi
natureza política, social e moral já eliminado por trabalhos de grande
elencados, Rafael anuncia que vai abrir envergadura promovidos pelo seu
a sua alma e revelar a verdade: fundador, Útopos
- A origem do mal, é então, nada menos - Desta forma, ficou garantido o
do que a existência de duas instituições isolamento – a não contaminação,
centrais da vida social: a propriedade portante – da sociedade perfeita face à
privada e o dinheiro realidade distópica
- São elas que levam à imoralidade, à - A configuração da ilha, com um
desigualdade e à miséria, à prevalência acesso por mar muito difícil, acentua
do despotismo. Onde elas existem, a este isolacionismo autárcico
justiça não é possível – como já Platão
apontara - A ilha tem 54 cidades, todas de acordo
com o mesmo plano urbanístico; os
- More-personagem apresenta desde terrenos destinados à agricultura estão
logo as objeções expectáveis de um fixados, assim como os trabalhos
conselheiro sábio: a instituição de uma agrícolas distribuídos pela população
comunidade de bens e a abolição do
dinheiro, em vez de promoverem a - As casas, com jardim e sem fechadura
justiça, levarão a mais preguiça e na porta, são atribuídas às famílias com
miséria, e depois à revolta e à anarquia a obrigação de mudarem a cada dez
anos, para evitar qualquer sentido de
- É neste preciso momento que Rafael propriedade
avança o seu argumento definitivo: ele
próprio visitou uma sociedade desse - O chefe de família vai ao mercado
tipo, situada numa ilha chamada Utopia, buscar aquilo de que necessita, sem
onde não existia propriedade privada nenhum pagamento associado
nem dinheiro e, ao contrário do que se - O vestuário dos utopianos é simples e
poderia pensar, essa sociedade estava uniforme; a sua vida quotidiana é
longe da miséria e da desordem agradável e alegre
- Pelo contrário, na Utopia reinavam o - A Utopia é uma gerontocracia
bem-estar e a ordem e os seus
habitantes eram felizes - Nas famílias prevalecem os mais
velhos, que até nas refeições têm
A sociedade perfeita prioridade; mas quando estão já
demasiado velhos e doentes, são
- Hitlodeu « viu claramente visto »
convidados a afastar-se, a tomar um
- Tal como o nome da ilha, grande parte narcótico e assim partir suavemente
da toponímia e antroponímia da Utopia
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- Os funerais são festejos, porque os também uma tendência para a


utopianos choram a doença, mas não a unificação em torno da adoração de um
morte Deus único chamado Mitra
- Há um lado epicurista entre os - O culto público de Mitra coexiste com
utopianos outras religiões e a regra geral é a de
tolerância; até mesmo os materialistas
- O bem-estar está no centro das suas
são tolerados, ainda que só possam falar
preocupações e isso reflete-se na
em privado e não em público
abertura aos prazeres da vida, desde que
moderados e enquadrados pela estrutura - No final do Livro II, Rafael conclui
familiar que a sociedade utopiana é a única
verdadeira república
- Os utopianos são dados aos prazeres
da alma, mas também aos do corpo, - Nela não há avareza nem crime
excluindo apenas os prazeres bastardos porque não há dinheiro
– como os que estão ligados à vaidade
- Não há choque entre ricos e pobres
ou à procura da riqueza
porque não há propriedade privada
- Os metais preciosos e as pedras
- Para fechar a porta, More intervém
preciosas são desprezados
como personagem e narrador para
- Por isso, os metais preciosos são lançar as suas dúvidas habituais
usados para fazer as grilhetas dos
- Não concorda com tudo o que foi dito,
prisioneiros e as pedras preciosas para
mas não avança verdadeiras objeções
as brincadeiras das crianças
- Limita-se a dizer que elas ficarão para
- Na Utopia, um dia foram recebidos os
outra ocasião
embaixadores de um país estrangeiro, a
Anemólia, e que, quando estes - Considera que muitas das instituições
chegaram em cortejo, os utopianos da Utopia são excelentes, mas duvida
ignoraram quem vinha ricamente que exista a possibilidade de
vestido e adornado com ouro e pedras implementá-las nos países em que
preciosas, dirigindo-se aos que vinham vivemos
pobremente vestidos, os criados, por
pensarem que eram eles os - No final da obra, reencontramos o tipo
embaixadores de subtileza que a «arte do diálogo»
tinha parenteado ao longo do Livro I
- Na ilha, existe um complexo sistema
de magistrados, mas a sua base é - Rafael Hitlodeu parece representar o
republicana, com um importante elemento mais arrojado, ou mais livro
componente democrático do pensamento do Thomas More
histórico
- Os magistrados são eleitos por
assembleias populares e o próprio - Enquanto More-personagem e
príncipe é um cargo eletivo, escolhido narrador representa o elemento mais
por uma assembleia de magistrados conservador e em linha com a persona
cívica ou pública do verdadeiro Thomas
- Nas questões de maior monta, pede-se More
a opinião ao conjunto dos habitantes
- Seria errado, embora seja comum,
- As leis são poucas e claras, para interpretar a utopia aqui descrita como
evitar a existência de advogados uma espécie de modelo a realizar na
realidade
- Na Utopia, existe uma grande
variedade de religiões, embora se note
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- Ora, a questão em apreço é bem mais - Estes são substituídos pela breve
fina, como se pode constatar pelo jogo ditadura de Savonarola, o monge de S.
argumentativo entre Rafael Hitlodeu e Marcos que inflama as multidões com a
More-personagem sua retórica religiosa
- A descrição da sociedade perfeita - Savonarola é derrubado pela
surge com um contraponto à sociedade sublevação popular de 1498 e queimado
distópica vivo na Piazza della Signoria, abrindo
assim caminho à instauração de um
- O modelo da sociedade utopiana
regime republicano
permite perceber de forma mais clara e
contundente aquilo que está errado nas - Maquiavel acompanha o episódio
sociedades reais político de Savonarola e assiste à sua
morte
- A utopia moreana não é um programa
de ação política, mas antes um - Destes eventos, que muito o
dispositivo de crítica social impressionam, retira uma visão política
que vinca a força destrutiva dos
antagonismos políticos e a importância
NICOLAU MAQUIAVEL - « O da ordem que o Estado, de tipo
PRÍNCIPE » principesco ou republicano, permite
instaurar
- É precisamente na república que se
segue ao derrube de Savonarola que
Maquiavel terá o seu momento de
homem político
- Chamado a ocupar o cargo de
secretário da Segunda Chancelaria,
- Nasceu e viveu em Florença entre
acabam por lhe ser confiados poderes
1469 e 1527
alargados que compreendiam tanto
- A Itália da época estava divida em assuntos internos, incluindo a
cidades-estados e assim haveria de organização da milícia florentina, como
permanecer até à contemporaneidade, missões diplomáticas junto de outros
malgrado a nostalgia das suas elites pela Estados italianos ou do rei de França
unidade e poder da Roma Antiga
- Politicamente, a sorte de Maquiavel
- Ainda assim, no mapa italiano do fica ligada ao poder de Pierro Soderini,
tempo, ressaltavam algumas entidades o Gonfaloneiro da república, e por isso
políticas especialmente poderosas com ele cai, em 1512, com o regresso
( como os Estados Pontifícios, a do principado dos Médici, desta feita
República de Veneza, o Ducado de sob proteção papal
Milão ou o Reino de Nápoles )
- Maquiavel, pouco tempo depois de
- Florença não deixava de ser também destruído do governo, será acusado de
um Estado importante governado participar numa conspiração contra o
alternadamente sob forma republicana novo poder, preso e torturado, mas
ou em regime principesco dominado acaba por ser libertado, recolhendo à
pela família Médici sua casa, nos arredores de Florença

- Ainda jovem, Maquiavel assiste à - Se a experiência política de Maquiavel


invasão francesa de 1494, que expulsa é central para a sua obra escrita, é o seu
os Médici do poder fundamento da política que lhe fornece
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o tempo e a ocasião para refletir e era o primeiro intérprete da ciência


escrever política como hoje a entendemos
- Será essa a principal atividade de - Mas tal diagnóstico afigura-se-nos
Maquiavel até à sua morte já que, demasiado especulativo
apesar de inúmeras tentativas, não
- O conhecimento político produzido
consegue voltar a ser chamado ao
por Maquiavel, sendo extremamente
governo de Florença
valioso, nada tem a ver com a ciência
- « O Príncipe » foi escrito por volta de política contemporânea e nem mesmo
1513 com a ciência política do séc. XVII,
protagonizada por Thomas Hobbes
Verità Effectuale
- Não encontramos em Maquiavel a
- Maquiavel enuncia com clareza o procura de leis gerais, nem a
objetivo e o método das suas racionalização de fenómenos políticos
investigações sobre a ação política, no
quadro da república ou do principado: - A sua perspetiva é baseada na própria
observação e não na racionalização das
- Em primeiro lugar, Maquiavel quer observações, nomeadamente com
produzir conhecimento prático, útil aos recurso à matematização do real, como
« agentes políticos », como hoje acontece com o experimentalismo
diríamos, sejam eles príncipes ou
defensores da república; na verdade, os - Muito mais do que experimentalista,
conselhos para a ação política que Maquiavel é um experiencialista
Maquiavel irá produzir ultrapassam em - Como outros no seu tempo, ele
muito o contexto dos regimes políticos procura, como na expressão camoniana
principescos ou republicanos em que ele « ver claramente visto », mas não dá o
se situa, para se tornarem numa espécie salto para a produção de uma ciência
de breviário político perene – e que universal
como tal é reiteradamente lido até aos
nossos dias - Aliás, o modo como Maquiavel acede
à experiência reflete ainda um
- Em segundo lugar, Maquiavel quer entendimento não inteiramente moderno
basear-se no estudo empírico e não nos da mesma
desvarios da imaginação; a expressão
usada por Maquiavel para sugerir este - Por um lado, a experiência é aquilo
seu método é a Verità Effectuale, ou que ele teve a oportunidade de ver ou
«verdade efetiva da coisa»; neste experienciar na sua vida política
sentido, Maquiavel afasta-se da
- Por outro lado, a experiência é aquilo
investigação das ideias puras – como na
que outros lhe contam, ou que leu em
« República » de Platão – mas, também
escritores e historiadores, mais ao
da literatura « espelho de príncipes »
menos fantasias, sobretudo da
que ainda no seu tempo predominava e
Antiguidade e com destaque para Tito
consistia em descrever a ação dos
Lívio
governantes, dos reis em particular, em
termos grandiosos e moralistas, como se - Para Maquiavel, a observação direta
os retratados fossem dotados de todas as ou por interposta pessoa tem o mesmo
virtudes cristãs valor
- Esta vontade de produzir - Por isso, para além da própria vida
conhecimento útil e o apego política, nada lhe dá mais prazer do que
maquiaveliano ao elemento factual a leitura dos relatos dos Antigos
levaram alguns a pensar que Maquiavel
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- Maquiavel procura sempre dar alaga as terras em seu redor, tem força
conselhos sobre a forma mais eficaz de para tudo arrasar e para todos pôr em
agir, mas também ilustrá-los fuga
profusamente com os exemplos
- Mas tal não impede que, em tempos de
colhidos na experiência direta ou na
bonança, os homens construam açudes
experiência dos livros
para conter a força das águas e
Metamorfose do príncipe: fortuna encaminhá-las para onde lhes for mais
e virtù conveniente

- Segundo Maquiavel, tratando aqui - Tal poderá ser a ação da virtù como
especificamente o caso dos príncipes, a capacidade para enfrentar a fortuna de
evidência empírica mostra que a ação forma racional e precavida
política é governada por duas forças - Uma outra metáfora complementa a
distintas e correlacionadas: ilustração desta correlação ( entre
- A fortuna e a virtù fortuna e virtù ):

- Tal como entre os Antigos, a fortuna - Assim, « a fortuna é mulher », e para


representa aqui a imponderabilidade do se ser bem-sucedido é necessário «
devir, aquilo que escapa ao controlo dos vergá-la e acometê-la », ou seja, usar
homens com ela de mais impetuosidade e
audácia do que de frieza e calculismo
- Por seu turno, a virtù é a capacidade
para enfrentar a fortuna e, dessa forma, - Tal como na metáfora do rio que
granjear honra para si mesmo e transborda, a virtù permite aqui fazer
segurança para o Estado face à fortuna, mas agora de uma forma
radicalmente diferente
- A virtù, portanto, não deve ser
traduzida por « virtude », o que a - Em suma, a fortuna tem a sua
aproximaria indevidamente do conceito dinâmica própria e resiste naturalmente
cristão, mas quando muito por « à ação política
excelência cívica », mais próxima do - No entanto, esta pode pelo menos
conceito Antigo, que é também o de tentar contê-la ou moldá-la a seu favor
Maquiavel de dois modos distintos e
- Como explica o autor florentino, cada complementares: através da razão e do
uma delas, a fortuna e a virtù, tomam cálculo, como no caso do rio, ou
conta de metade das coisas humanas mediante uma ação mais impetuosa e
arrojada, como no caso da mulher
- Por outras palavras, Maquiavel
demarca-se quer de um determinismo - Fica em aberto estabelecer quando
estrito, no qual a fortuna tudo usar de cautela e quando recorrer ao
governaria, quer do puro voluntarismo arrojo, o que de novo é ilustrado
que tudo fizesse depender dos metaforicamente
exercícios da virtù - Para o autor florentino, o príncipe é
- A correlação entre fortuna e virtù é meio humano e meio animal e deverá
ilustrada por Maquiavel com recurso a saber utilizar a sua natureza animal para
metáforas particularmente poderosas e optar por ser « raposa », isto é, ardiloso
que, como tal, permanecem ainda hoje e calculista, ou por ser « leão », ou seja,
no imaginário dos estudiosos da política feroz e arrojado

- Assim, a fortuna pode ser entendida


como um rio que, quando transborda e
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- É preciso ser leão para meter medo aos - Mas tudo isto implica também o
lobos, mas também ser raposa para exercício da estratégia, nomeadamente
evitar as armadilhas na capacidade para captar aliados
convenientes e que não sejam tão fortes
- Se é certo que alguns príncipes podem
que se possam voltar contra o príncipe,
ser mais como o leão e outros mais
assim como na habilidade para
como a raposa, são as circunstâncias
encontrar inimigos que se possa vencer,
históricas, os acidentes da fortuna, que
muitas vezes explorando as suas
acabam por condicionar a necessidade
clivagens e traições internas
de ser mais arrojado, ou mais calculista
- O príncipe deverá também atentar
- O sucesso de um príncipe dependerá
naqueles que o rodeiam, muitas vezes
sempre deste jogo entre os
incapazes de lhe dizer a verdade ou à
imponderáveis do devir e a capacidade
espera do melhor momento para o trair
para enfrentá-los mediante um exercício
da virtù que deverá, pelo menos - Secretários e ministros deverão ser
idealmente, ter a plasticidade que as escolhidos com cuidado e sacrificados,
circunstâncias a cada momento impõem como « bodes expiatórios », sempre que
tal seja conveniente para afastar do
- Alguns príncipes poderão ter sucesso
próprio príncipe os ódios que ele pode
sendo sempre leões, ou sempre raposas,
concitar entre a populaça
mas apenas porque o devir não impôs
uma mudança de estratégia - É preciso ter cuidados especiais com
os « Grandes » que podem, a todo o
- Quando as circunstâncias mudam,
momento, ser uma ameaça ao poder
prevalecem aqueles agentes políticos
principesco, intentando substituí-lo, mas
que conseguem metamorfosear a sua
também os « Pequenos » precisam de
natureza animal
ser cativados e, quando necessário,
- Se qualquer príncipe pode ser afetado atemorizados com o poder do príncipe
pela boa ou má fortuna, nem todos estão
- É neste contexto que Maquiavel
igualmente preparados para tais
transmite um famoso ensinamento sobre
mudanças
a administração do tempo político,
- Quem obteve o principado pela sorte recordando que o mal deve ser feito de
( herança, doação, etc. ) terá maior uma vez para ser rapidamente
dificuldade em mantê-lo esquecido, enquanto o bem deverá ser
praticado pouco a pouco para melhor
- Já quem o obteve pelo exercício da ser saboreado
virtù própria, por exemplo, por
conquista ou mediante algum ardil, tem - A análise maquiaveliana é
à partida as melhores condições para particularmente notável quando se
mantê-lo concentra no modo como o príncipe
deve construir a sua própria imagem,
- Em qualquer dos casos, é pensando no tanto junto dos seus, como de aliados e
novo príncipe que Maquiavel inimigos
prodigaliza conselhos, sempre ilustrados
empiricamente, para contornar a fortuna - Maquiavel recorda-nos que o príncipe
de modo a alcançar o poder e mantê-lo deve parecer ter todas as qualidades
morais para concitar admiração, e até tê-
- Maquiavel insiste sempre na las efetivamente se isso lhe for
necessidade das « boas armas », da conveniente, mas deixar de tê-las se tal
organização da milícia, das implicar o enfraquecimento ou a ruína
fortificações, enfim, da « arte da guerra do Estado
»
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- Assim, o príncipe deve parecer sempre como diríamos hoje, enfraquecerá o seu
honrado e capaz de honrar a própria poder e lavá-lo-á à perdição política
palavra
- Note-se que, apesar de chocante para a
- No entanto, a mentira é essencial para nossa consciência moral, o modo como
o exercício efetivo do poder e Maquiavel desvela as metamorfoses do
Maquiavel não deixar de referir o príncipe bem-sucedido não implica da
sucesso do papa Alexandre VI, que sua parte nenhum tipo de relativismo
nunca terá feito outra coisa durante a
- Pelo contrário, Maquiavel tem plena
sua vida do que intrujar toda a gente – e
consciência da diferença entre o bem e o
é sempre possível encontrar quem se
mal
deixe enganar
- Aquilo que ele nos diz é que o
- O príncipe deverá parecer generoso
domínio da ação política tem uma certa
sempre que possível, mas, na verdade,
autonomia e nele nem sempre se
ser parcimonioso, para não ser
aplicam as mesmas regras morais que
conduzido à ruína
em qualquer outro domínio
- A generosidade é boa quando
- Esta convicção faz dele um realista
praticada com dinheiro dos outros – por
político, mas não um relativista e menos
exemplo, dos aliados ou dos inimigos
ainda alguém sem ideais
vencidos -, mas torna-se perigosa
quando feita com recursos próprios ou Principados e Repúblicas – o
extraídos aos seus súbditos, já que os ideário político de Maquiavel
homens esquecem mais depressa a
morte do pai do que a perda do seu - A república não é aqui, como na
património aceção mais contemporânea, o contrário
da monarquia
- O príncipe deve parecer sempre «
piedoso, fiel, humano, íntegro e - No sentido de Maquiavel, a república
religioso », mas estará perdido se é antes de mais um regime de «
exercer sempre tais qualidades, já que constituição mista », no qual se
para conservar o Estado muitas vezes é assegura com especial cuidado a
necessário ir contra a compaixão e todas representação das diferentes camadas da
as demais qualidades referidas sociedade, englobando quer os «
Grandes », a aristocracia, quer os «
- A crueldade não é desejável, mas por
Pequenos », o povo, que pode ter
vezes é necessário aplicá-la de forma
elementos aristocráticos e populares,
rápida e cirúrgica
mas também monárquicos
- Porque os homens « julgam mais pelos
- O autor florentino presta especial
olhos que pelas mãos », isto é, porque
atenção à clivagem e aos conflitos entre
veem ao longe e em função do que lhes
Grandes e Pequenos, de tal forma que
aparece, o príncipe poderá sempre tentar
alguns consideram ter ele antecipado a
construir uma representação adequada
noção marxiana de « luta de classes »
de si mesmo
- Tal interpretação é especulativa
- O objetivo é ser amado, mas, se tal
não for possível, deverá, pelo menos, - A república, através da sua
ser temido constituição mista, procura equilibrar as
diferentes pretensões sociais
- Aquilo que o príncipe deve evitar em
estabelecendo a paz no interior do
qualquer circunstância é ser odiado ou
Estado
desprezado, já que tal perceção pública,
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- Os quesitos gerais para a existência de - Nestas circunstâncias, torna-se


um Estado bem-sucedido ( « boas leis », necessário recorrer ao « governo de um
a « boa religião », os « bons chefes » e » ( principado )
as « boas armas » ) são particularmente
- Assim, o principado é o regime
exigentes no caso da república
político possível quando escasseiam as
- Daí a importância conferida ao condições de base que tornam a
legislador sábio, ao fundador do Estado, república viável
tal como já acontecia no pensamento
- A concentração do poder num príncipe
político da Antiguidade
dotado de virtù entre tantos outros que
- Assim também a relevância da não a têm permite pelo menos
dimensão cívica da religião estabilizar o Estado e evitar a anarquia
- Embora situado num contexto cristão, - O principado, portanto, é uma solução
Maquiavel admira a religião pagã dos para o problema da anarquia, mas não é
Antigos na medida em que ela permite o regime ideal
fortalecer as virtudes evangélicas do «
- O ideário político de Maquiavel só se
dar a outra face », mas mais no sentido
compreende sob o pano de fundo de
já referido de virtù cívica que permite
uma visão específica da história
que cada um não apenas o líder político,
política, também ela tributária do
possa contribuir para a segurança e
pensamento Antigo e, em especial, de
estabilidade do Estado, trazendo assim,
Políbio
também, honra para si mesmo
- Segundo este historiador grego
- Por fim, revela a necessidade dos
romantizado, os regimes políticos
líderes capazes de controlar tanto as
sucedem-se de uma forma cíclica e em
clivagens sociais como a corrupção dos
sentido degenerescente
cidadãos
- Note-se que tal tipo de abordagem tem
- Os « bons chefes » são também os
uma longa tradição, que se inicia no
chefes militares, os que são capazes de
próprio fundador da Filosofia Política,
defender e conquistar, o que remete
ou seja, Platão
também para a necessidade das « boas
armas », comum a principados e - No caso de Políbio, que influencia
repúblicas diretamente Maquiavel, a monarquia
elementar é origem à realeza, esta
- Só no quadro da república bem
degenera em tirania, que dá azo à
ordenada, que não seja um mero
aristocracia, que tende para a
disfarce para a tirania ou a oligarquia, é
democracia ( que, para os Antigos, se
possível a liberdade dos cidadãos,
aproxima da desordem e requer o
entendida aqui no sentido da liberdade
regresso à monarquia primitiva )
dos Antigos, como participação na vida
política, e não como a liberdade dos - Note-se que este ciclo dos regimes
Modernos, consistente na proteção de políticos, como qualquer outro, é um
uma esfera privada esquema simplificado face à
complexidade do real, mas que não
- Por isso é clara a preferência de
deixa de transmitir as ideias de
Maquiavel pela república, mas
repetição cíclica e degenerescência
acompanhada da consciência de que,
natural do corpo político
em muitas conjunturas, o regime
republicano não é possível porque não - Quando aplicado à realidade do tempo
estão reunidas as condições referidas e do contexto específico de Maquiavel,
anteriormente esta visão da história política parece
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Política

transformar-se na sucessão península ( o que, como sabemos, só


degenerescente da república para o ocorrerá na época contemporânea )
principado, com este como forma de
- Por fim, o pensamento de Maquiavel e
evitar a degenerescência posterior na
a sua conceção da história dos regimes
desordem ou na anarquia, até que se
políticos não seria compreensível sem
reúnam condições para um regresso à
uma visão que poderíamos reputar de
república
pessimista sobre os seres humanos em
- No fundo, Maquiavel valoriza a geral
existência do Estado, de um poder
- Mas não se trata aqui de um
político organizado, idealmente
pessimismo antropológico muito
republicano, ou então principesco,
elaborado ou baseado na ideia cristã do
como forma de estancar a tendência
pecado original, tal como
para a desordem
encontraremos no pensamento
- Aliás, a insistência de Maquiavel na conservador contemporâneo
palavra stato levou alguns a considerá-
- Trata-se, outrossim, de uma visão mais
lo o primeiro teorizador do estado
empírica, que descreve os homens como
Moderno, entendido como estrutura
fracos, volúveis, facilmente desleais ou
permanente e independente face aos
pouco fiáveis
detentores do poder
- É essa realidade que torna tão difícil a
- No entanto, a visão maquiaveliana do
existência da virtù entre todos, ou entre
Estado é ainda mais arcaica do que
a maioria, condição sine qua non para a
moderna e o Estado principesco, em
existência e permanência do regime
particular, reveste-se de um carácter
republicano, em vez do principado, ou
patrimonial, como na conceção
da desordem política
medieva, diretamente ligado ao poder
de um príncipe
- Com Maquiavel, portanto, não se
chega ainda à teorização do Estado
Moderno, e menos ainda à teorização da
soberania como primeiro princípio do
Estado
- A visão histórica e política de
Maquiavel não deixa de ser também
muito marcada pela experiência italiana
da nostalgia em relação à glória passada
da Roma Antiga
- Maquiavel é um patriota italiano e, tal VS.
como outros conterrâneos, aspira a uma
reunificação política da península itálica
depois de séculos de divisão e de
constante interferência externa,
particularmente por parte da França
- Maquiavel e More viveram o mesmo
- Embora sapiente das qualidades da momento da Europa, mas em contextos
república romana, celebrada por Tito sociais e políticos distintos
Lívio, Maquiavel tem a esperança de
que um príncipe do seu tempo possa ter
a virtù suficiente para reunificar a
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Política

- Ambos se inspiraram nos autores económicas dessa corrupção estariam


clássicos, mas apreendidos de modo suprimidas
contrastante
- No entanto, o modo como cada um
- Tanto um como o outro eram homens deles articula o real e o ideal é
práticos e comprometidos com a vida claramente distinto
pública, mas os papéis que aí
- Maquiavel considera que o papel do
desempenharam foram profundamente
ideal na política é limitado e que, não
diversos
estando ausente dela, tem de se adaptar
- Ambos atingiram rapidamente um às circunstâncias reais, à virtù dos
estatuto lendário, mas, se More ganhou cidadãos e dos princípios, às
a aura de Sócrates moderno, mais tarde possibilidades sempre incertas que a
canonizado pela Igreja Católica, fortuna permite
Maquiavel ficou para sempre conhecido
- Desta forma, Maquiavel parece estar
como « o príncipe do mal »
demasiado pronto a ceder às exigências
Conclusão: o real e o ideal em mais chocantes do realismo político –
Maquiavel e More daí decorre a sua má fama

- Como vimos, Maquiavel e More - Diferentemente, em More prevalece o


partilham o mesmo enquadramento elemento idealista puro, já que dele não
histórico e cultural do Renascimento se abre mão independentemente de
europeu, mas desenvolvem a sua circunstancialismos políticos, tal como
reflexão política em contextos muito o próprio n sua vida pessoal preferiu
específicos: o da cidade-estado de pagar com a morte a prescindir das suas
Florença numa península itálica convicções mais profundas
dividida e o da monarquia inglesa no - Mas essa irredutibilidade idealista em
momento do cisma entre a Igreja More tem como preço o facto de o ideal
Católica e a Igreja Anglicana apenas poder surgir politicamente sob a
- É notório que ambos comungam de forma de utopia, de lugar inexistente, ou
uma visão factual e desapiedada da seja, como justaposição face ao real,
realidade política, marcada pela luta por permitindo criticá-lo, mas não
alcançar o poder e mantê-lo propriamente transformá-lo, ao
contrário daquilo que a palavra « utopia
- Enquanto conselheiros políticos e » hoje em dia comummente evoca
homens experientes, Maquiavel e More
não têm ilusões sobre a conduta dos
príncipes e dos seus ministros, sobre as
clivagens sociais que aqueles
manipulam, nem sobre a constância das
fraquezas e misérias humanas
- Da mesma forma, Maquiavel e More
prescindem do seu ideário político
- Maquiavel é admirador da república e
o patriota italiano
- More o moralista nostálgico de uma
sociedade sem corrupção moral e na
qual as fontes políticas, sociais e
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Política

permeada por seu, exata medida


uma paixão e desapareceram em que detenha
um estado de as condições o poder de
espírito necessárias à tomar decisões
característicos: existência de vida e de
o medo política morte em nome
de todos
- - Mas também
Designadament nos oferece a - Originalmente
e o medo da saída concebido como
morte violenta, uma espécie de
- A um tempo
e a ansiedade do speculum
imagem e nome
futuro, que ele principis,
do Estado
necessariamente aconselhando o
representativo
acarreta herdeiro do
moderno,
trono em exílio,
- É também sob Leviatã encerra
Carlos II, sobre
o signo do medo em si a
como evitar o
que se inaugura promessa da
desfecho trágico
e desenrola a civilidade
do pai, Leviatã
vida de Hobbes
- E fá-lo pela delineia uma
- « O medo e eu substituição do teoria política
nascemos juntos medo insidioso, notoriamente
», afirmou de todos face a flexível e,
Hobbes todos, por um portanto, capaz
THOMAS outro medo de se moldar ao
HOBBES:« - Com ele, ritmo
maior, mas
LEVIATû inicia-se uma vertiginoso dos
apaziguador,
vida tempos
porque centrado
invulgarmente
num objeto
longa, que teve
único, que
Natureza
por pano de humana
comanda
fundo as guerras
submissão e - Na base do
religiosas,
obediência sistema
dilacerando toda
universal filosófico de
a Europa, e as
- Thomas guerras civis - Refere-se ao Hobbes está o
Hobbes ( 1588- que, em atemorizador seu
1679 ) é o autor Inglaterra, Estado-Leviatã, materialismo
de Leviatã opuseram os memoravelment
( 1651 ), no - Para Hobbes,
partidários do e representado tudo o que
entender de Parlamento aos no frontispício
muitos o texto existe é matéria,
partidários do da obra do matéria em
fundador da rei Carlos I mesmo nome,
modernidade movimento,
que será capaz nada existe para
política - Hobbes
de proteger cada além dela
oferece-nos, em
- Acossado pelo um em relação a
Leviatã, uma -
espetro do cada um dos
visão distópica Consequenteme
colapso do demais e a todos
de um mundo nte, tudo o que
Estado, Leviatã em relação a
em que, como acontece é, para
é uma obra ameaças
acontecia no Hobbes,
externas na
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

suscetível de todo o dos órgãos dos - A imaginação,


uma explicação entendimento sentidos essa, nada mais
física, em do « eu » como é do que «
- O movimento
termos de uma entidade sentido em
propaga-se
movimentos na imaterial e todo decadência »: a
então no
e entre a matéria o dualismo impressão feita
interior, em
mente-corpo, nos órgãos dos
- Este direção ao
nos termos do sentidos tende a
materialismo cérebro e
qual os esvair-se
intransigente coração, onde
fenómenos quando o objeto
estaria na base causa uma
mentais são, em é removido, daí
da crítica resistência,
larga medida, que à
hobbesiana a produzindo
não físicos imaginação
uma série de aparências, a
chamemos
entidades e - Os primeiros que chamamos
também, por
conceitos capítulos de sentidos, e que
vezes, memória
centrais à Leviatã vingam experienciamos
religião: o projeto de ilusoriamente - Temos assim
demónios, Hobbes, ao como coisas formados os
espíritos, oferecer-nos realmente conteúdos
eternidade, uma explicação existentes fora básicos daquilo
natureza estritamente de nós ( um a que Hobbes
incorpórea de materialista dos processo que chama o
Deus e mecanismos de Hobbes entende discurso mental,
imortalidade da formação de estar na origem que pode ser
alma ideias, da da reificação não guiado ou
perceção das qualidades errático, como
- Se a vida é
sensorial à secundárias e da quando alguém
movimento,
imaginação, e própria sonha acordado,
quando o
destas aos religião ) ou regulado, se
movimento
processos de direcionado por
cessa, apenas a - É, pois, desta
pensamento não um desejo ou
morte pode forma que
linguísticos desígnio, cujos
existir formamos as
meios de
- As nossas nossas ideias,
- Tratando-se de realização se
perceções ou sejam elas mera
uma regra procuram
imagens recordação de
universal, esta é
mentais nada coisas vistas - O discurso
uma regra que
mais são, para anteriormente mental, quando
se estende à
Hobbes, ou ideias mais governado por
própria pessoa
portanto, do que complexas, um desejo, é já
humana, cujo
movimento compostas a uma forma de
modo de
localizado nos partir da busca das
existência tem,
nossos corpos, conjugação de causas de um
também ele, de
causado pela ideias simples efeito, ou dos
ser explicado
pressão exercida ( por exemplo, a efeitos de
em termos
por um objeto ideia de alguma causa,
estritamente
ou um meio centauro, um presente ou
materiais
contíguo ( por misto de passada
- Ao adotar esta exemplo, o ar ) homem e cavalo
- Todavia, o
posição, Hobbes na parte exterior )
potencial pleno
está a excluir
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Política

do raciocínio organizar instrumental, sentimento de


manifesta-se pensamentos ao sem qualquer desejo nada tem
apenas com o longo do tempo acesso a ver com a
advento da segundo privilegiado à apreensão da
linguagem, que princípios verdade essência da
vem separar o gerais, coisa desejada
-
homem dos processos sem
Analogamente, - Ele mais não
restantes os quais nem a
a vontade livre é é, para Hobbes,
animais ciência, nem os
reduzida a um do que a
benefícios dela
- Sensação, efeito conjugação
decorrentes,
imaginação e necessário de entre o possuir-
seriam possíveis
entendimento causas materiais se a imagem
são comuns a - Hobbes não prévias mental do
ambos, mas a hesita, portanto, objeto desejado
- Ainda que nos
capacidade de em caracterizar e o começar-se
concebamos
comunicar a linguagem a mover em
como fazendo
conceções e como a mais direção a ele
escolhas através
pensamentos e nobre e
do exercício das - Os fins da
de entender as vantajosa das
nossas ação humana
conceções e invenções
vontades, tal são colocados
pensamentos de humanas
conceção é, para não pela razão,
outrem é
- Razão e Hobbes, mera e a sua alegada
distintamente
paixão são, para ilusão capacidade inata
humana
Hobbes, as duas de intuir um
- A vontade está
- A linguagem componentes telos, mas
longe de ser
permite-nos principais da através de um
uma faculdade
transcender as natureza mecanismo
autónoma de
limitações do humana causal de desejo
deliberação:
mero discurso e aversão
- O todo o ato da
mental porque
materialismo de vontade - Assim, toda a
nos permite
Hobbes leva-o, humana, todo o ação humana, é
pensar e falar
no entanto, à desejo e em Hobbes,
em termos
reformulação inclinação, têm egoísta, mas é-o
universais, nada
sistemática do antes uma também no
havendo de
que deve ser explicação sentido banal de
universal, para
entendido por mecanista, visto que cada pessoa
Hobbes, senão
cada uma delas que « procedem procura
os nomes que
de alguma prosseguir os
atribuímos, e - Desta forma, a
causa, e esse seus próprios
através dos « reta razão »
causa de outra desejos
quais escolástica,
causa, numa
concebemos, as capaz de aceder - O conteúdo
cadeia contínua
coisas a Deus e de desses desejos,
… procedem da
intuir uma esse, é múltiplo
- Quer isto dizer necessidade »
ordem de e nada nos diz
também que
valores objetiva, - que não possa
apenas a
transforma-se Contrariamente incluir ou até
linguagem nos
em Hobbes ao que os centrar-se no
permite
numa faculdade escolásticos bem dos demais
generalizar e
meramente pensavam, o
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

- Hobbes tem quando a vida é rapidamente:


uma atitude movimento tão forte é ela
complexa e, no Estado de que, por vezes,
- Ela é natureza
seu essencial, impede ou
igualmente
naturalista, em interrompe o
contrária à - A psicologia
relação ao nosso sono »
felicidade imaginística de
desejo ou
humana, já que Hobbes - Hobbes
paixão,
esta consiste na reconhece o oferece-nos uma
enquanto parte
progressão poder intrínseco imagem
fundamental da
contínua do de todas as memorável da
natureza
desejo de um coisas que « vida na ausência
humana
objeto para vemos», tal do Estado como
- Embora outro, a como elas nos sendo «
reconheça que a obtenção de um são dadas a solitária, pobre,
paixão é uma sendo aqui mero «ver» sórdida,
fonte de meio para a embrutecida e
- As imagens
parcialidade e realização do curta »
têm o poder
enviesamento, outro
duplo de - É de tal forma
concebe-a, ao
- Como Hobbes desencadear a vivida a
mesmo tempo,
explica, sendo paixão e descrição do
como uma
nós matéria, « a transformar a estado de
manifestação
própria vida opinião e, natureza que
necessária da
nada mais é do portanto, a não nos larga,
vitalidade
que movimento ativação visual cumprindo
humana, tal
e não pode das nossas assim a sua
como expressa
existir sem mentes função, que é a
no movimento
desejo, nem representa uma de impedir a
contínuo da
medo, mais do oportunidade complacência e
vida, produzido
que poderia única para dissuadir ações
por uma
existir sem moldar opiniões ameaçando a
sucessão de
sentidos » e reorientar sobrevivência
apetites, desejos
comportamento do Estado
e aversões, que, - Por esse s
ao contrário do motivo, tentar- - O estado de
que haviam se-ia em vão - Nesta obra, natureza é, na
postulado os estabelecer uma Hobbes sua essência:
filósofos morais ordem moral e descreve o um artefacto
do passado, não civil sem fazer funcionamento concetual cuja
podem uso simultâneo do discurso função é
encontrar da razão e da mental regulado iluminar os
descanso na paixão, ou de pela paixão direitos,
consumação de certas paixões, nestes termos: « condições e
um bem ou que oferecem a a impressão motivações de
objetivo final força provocada por ação que
motivacional aquelas coisas teríamos na
- A
para que que desejamos ausência de um
tranquilidade
abracemos a paz ou receamos é poder soberano
permanente da
e os bens da forte e que nos
mente não é
civilização que permanente, ou governasse e
apenas uma
ela proporciona regressa protegesse
impossibilidade
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

- Na base da natureza natureza igualdade


utilização deste Hobbesiano é- Hobbesiano natural, no seu
artefacto nos apresentado essencial, uma
- Mas sob a
encontra-se, por como um estado igual
aparência da
conseguinte, de guerra, em capacidade de
continuidade
uma questão que, embora a matar
esconde-se uma
fundamental hostilidade
subversão - Desta forma,
para a filosofia armada possa
profunda na ausência do
política: a não ter lugar,
Estado, o
questão da não é razoável - Ao invés de
homem vê-se
legitimidade da esperar que não endossá-las,
confrontado
autoridade irrompa a Hobbes
com uma
política qualquer denuncia-as:
fragilidade
momento aqueles que
- A ideia do « dupla:
pugnam por
estado de - Versões
liberdade, - Existencial,
natureza » não anteriores da
igualdade e podendo
foi inventada condição natural
direitos encontrar a
por Hobbes ressaltavam os
ilimitados morte a
homens como
- Mas a arriscam qualquer
livre, iguais e
caracterização condenar-se à momento, e
independentes,
que Hobbes faz mais vil das epistémica que
dotados de uma
deste estado é condições consiste em
sociabilidade
inovadora, poder errar na
natural e - longe de
especialmente avaliação da
sujeitos às impedir à
em duas ameaça que
restrições da lei associação, a
dimensões: outrem
da natureza igualdade e
representa
- Por um lado, liberdades
- O governo
para Hobbes a naturais e o - Em razão
emanava assim
condição natural direito ilimitado desta incerteza,
da sua
não é que as a condição
predisposição
necessariamente acompanha natural do
natural para a
uma condição dissociam os Homem
vida em
original: ela homens e configura-se
sociedade e de
tanto pode instigam-nos à com uma
necessidades uu
ocorrer antes sua destruição condição
que tornavam os
como após a mútua paradoxal, em
homens
dissolução da que a estratégia
interdependente - Isso acontece
comunidade racional é atacar
s e nela porque, tal
política ( no primeiro, ainda
encontravam como concebida
caso da guerra que
resposta mais por Hobbes, a
civil, por coletivamente
adequada liberdade
exemplo ) ou conduza a uma
natural é uma
até coexistir - Liberdade e situação em que
liberdade
com ela ( no igualdade todos vivem na
ilimitada de
caso do estado continuam a ser ânsia e no risco
fazer tudo o que
de natureza premissas permanentes de
se julgue
entre Estados ) fundamentais do sucumbir a
necessário à
estado de morte violenta
- Por outro lado, auto-
o estado de preservação, e a
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

às mãos de - Estes outrem ou a causas


outrem decorrem, desde obrigação de principais do
logo, da sua respeitar os seus conflito no
- Hobbes
própria estrutura direitos Estado de
encontra
normativa, isto natureza - a
explicação para - Os únicos
é, das leis, competição, a
o conflito no limites que se
obrigações e desconfiança
Estado de lhes colocam
direitos que nela mútua e a glória
natureza a 3 são internos:
existem ( ou não
níveis uma ação que - Esta tríade
existem )
analiticamente não possa ser desmente o
distintos, mas - Assim, como razoavelmente reducionismo
intimamente onde não interpretada psicológico de
relacionados: operam as como que Hobbes é
restrições da lei conducente à frequentemente
- O sistémico-
todos tenham autopreservação acusado, já que
estrutural,
direito ilimitado não se encontra apontam para
relativo aos
a todas as sancionada pelo uma
incentivos à
coisas, inclusive direito natural - multiplicidade
ação, em
a pessoa e por exemplo, de motivações
condições de
posses dos roubar passionais para
incerteza e
demais, alimentos pelo a ação humana,
anarquia
ninguém do mero gozo de o nenhuma das
- o individual, estado de fazer quais tem
relativo à natureza tem o ascendente
- E onde há
psicologia direito seguro a garantido sobre
direitos
humana e às coisa alguma as demais: o
subjetivos
motivações da desejo daquilo
- Em Hobbes, ilimitados,
ação que outrem tem
os direitos incluindo o
ou quer, o medo
- E o social, naturais não são direito de julgar
do ataque e o
relativo à uma decorrência em causa
desejo de
ideologia, da lei natural, própria, o
rotação,
cultura e mas antes choque entre
respetivamente
socialização, liberdade de titulares de
essenciais à ação direitos é - A primeira
formação da primordiais, inevitável e motivação leva
nossa identidade fundadas no encontra os indivíduos a
e interesses em mais básico e resolução única recorrerem à
contextos razoável desejo no uso da força violência na
específicos do Homem: a competição
- Isso mesmo
auto pelos mesmos
- nos diz Hobbes
preservação bens
Estruturalmente, quando
a condição - Como tal, não identifica o - Para que isto
natural é tal conhecem direito natural aconteça não é
que, como já qualquer limite com o poder, o necessário que
apontámos, gera externo – isto é, poder que cada esses bens
paradoxos no Estado um tem de se sejam
insanáveis natureza não há autopreservar necessária ou
qualquer dever contingentemen
- Hobbes
em relação a te escassos
salienta 3
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

- Sendo que semelhantes de Hobbes, a desejo de glória,


todo o poder é ser bem glória, ou o com a sua
relativo, as sucedidos, todos desejo de frequente
pessoas não são potenciais precedência e associação à
querem os bens atacantes e superioridade, é ambição
por si mesmos potenciais um bem política, desafia
apenas, mas vítimas necessariamente a prioridade
também para escasso, porque dessas outras
- Para que assim
terem segurança depende do paixões
aconteça não é
futura em reconhecimento incapacita o
necessário
relação a eles do nosso reconhecimento
assumir que os
estatuto superior dos requisitos
- Como Hobbes homens sejam
e envolve as de longo prazo
explica, naturalmente
partes no jogo da
ninguém egoístas,
de soma nula sobrevivência
consegue malevolentes ou
assegurar o agressivos - Este desejo de - A isto acresce
poder e os reconhecimento que a glória é
- Ainda que
meios para leva os uma paixão
muitos homens
viver bem que indivíduos a alimentada pela
não o sejam,
tem atacar e colocar abundância e
adverte Hobbes,
presentemente a sua vida ( e a pela
é impossível
sem adquirir dos animais ) complacência
distingui-los dos
mais em risco, não que a sociedade
que o são
por causa do civil produz ao
- Logo, existem
- Por ganho libertar o
razões para
conseguinte, segurança que homem da
competir por
onde não haja possam obter, preocupação
bens mesmo
Estado para mas por aquilo imediata com as
não pela
controlar a sua que entendem suas
abundância, e
ação com ser o mais necessidades
esta competição
ameaça da ínfimo sinal de materiais
é motivada não
coerção, o único desrespeito:
pela ganância, - Dado o
comportamento uma palavra,
mas pela problema é que
prudente é um sorriso, uma
insegurança a glória
suspeitar, diferença de
representa, o
- Um dos bens acautelar e opinião
poder coercivo
mais escassos antecipar
- A glória é uma do Estado é
no Estado de
- Ao contrário paixão condição
natureza e
da segurança, especialmente necessária, mas
segurança física
que, inexistente perigosa não suficiente, à
- Daí que cada no Estado porque, se o produção da paz
um encontre a natureza, pode medo da morte
- A ameaça de
sua melhor ser maximizado e a Esperança
punição
defesa no em benefício de de uma vida
contribui para a
ataque todos no Estado mais próspera
ordem, na
civil, a última são essenciais a
- Como todos medida em que
das causas entrada e
têm o poder de altera os
principais permanência do
matar e incentivos à
conflitos Homem em
expectativas ação ( e defeção
enumeradas por sociedade, o
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

), mas, para estado de justas, na que bastaria a


atuar sobre a natureza, medida em que razão e intuir, e
glória, é Hobbes se conformam consegue o
necessário ir estabelece os com à lei poder da razão
mais fundo contornos da natural, temos com um poder
situação moral também de limitado,
- Mormente, é
que ele aceitar que a meramente
preciso
consubstancia justiça natural instrumental, de
desenvolver um
serve de encontrar meios
projeto de - Onde não
limitação ao para atingir fins
educação e existia um
poder que o
socialização que poder comum
legislativo e mecanismo
transforme os lei, e onde não
quem se opõe à causal de desejo
objetos, força há obrigação
justiça natural e aversão nos
relativa e legal, não há
atua como um coloca.
caráter das injustiça
tirano,
nossas paixões - Assim sendo,
- Porque a merecedor da
e vendo-se
- Em Hobbes, o condição daí maior punições:
confrontado
homem não resultante é a a deposição no
com o
nasce, mas tem guerra de todos melhor dos
desacordo
de ser contra todos, casos, a morte,
endémico, sobre
literalmente Hobbes insiste, em muitos
as qualidades
produzido para noções de justo outros.
morais e sobre a
a sociedade e injusto, certo
- Consciente linguagem «
ou errado, meu
- Cultivar desta utilização moral »
e teu, perdem
virtudes cívicas da tradição da arbitrariamente
significado
adequadas ao lei natural, usada para
exercício do - Hobbes é Hobbes retoma- exprimir os
papel de inequívoco na a, mas, como próprios
súbdito, tais afirmação de lhe é desejos, Hobbes
como a que a lei da característico, procura
igualdade, a natureza existe fá-lo para a identificar um
modéstia ou no estado de subverter motivo ou
humildade, e, natureza, radicalmente: desejo
por conseguinte, interpessoal e isto é, para preponderante
parte integral da internacional justificar a sobre o qual
tarefa do enquanto padrão obediência possa construir
Estado-Leviatã, moral, objetivo absoluta ao com solidez o
ou não aplicável a soberano e seu sistema
dependesse da todos os expor a moral e político.
sua homens. ilegitimidade do
- Os desejos
sobrevivência direto de
- A noção de « humanos são
da domesticação resistência
lei natural » é múltiplos e
dos filhos do
uma noção - Hobbes nega estão em
orgulho
potencialmente existência de constante
Lei natural e subversiva. um sistema de movimento,
direito natural valores ou sendo
- Se princípios impossível
- Ao entendermos morais encontrar-lhe
caracterizar o que as leis são incontroversos, um telos ou um
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

ponto final de no estado de - A esta regra leis da natureza


consumação natureza seguem-se duas primeiramente
leis naturais da como ditames
- Mas, ainda - Mas qual é a
maior da razão, ou
assim, há um sua relação?
importância: a regras
desejo
- Hobbes rejeita primeira prudenciais, que
profundamente
a tradicional prescreve que não são « leis »,
enraizado na
derivação dos abandonemos o na verdadeira
natureza
direitos da lei nosso direito aceção do
humana que
natural, natural a todas termo, a
assume
argumentando as coisas e a verdade é que
prioridade sobre
que lei e direito segunda que também se lhes
todos os demais,
embora obedeçamos aos refere como
por ser condição
frequentemente contratos feitos, regras de
de realização de
confundidos, a própria natureza
qualquer um
representam, de definição de prescritiva
deles: a
facto, opostos – justiça
autopreservação - O que Hobbes
obrigação e
ou o evitamento - Ambas pretende é
liberdade,
da morte estipulam conciliar os
respetivamente
violenta condições requisitos da
- No sistema essenciais à moral e da
- Colocado o
moral transição da religião
fim, é possível à
Hobbesiano, o natureza à apresentando-os
razão encontrar
direito natural é sociedade como
os meios
lexicalmente política substantivament
necessários à
prioritário em organizada, mas e idênticos, e
sua prossecução
relação à lei fazem-no de permitindo a
- natural: isto é, é forma a quem acredite
Sistemicamente sempre legítimo desarmar em Deus aceitar
falando, a paz é violar a lei da qualquer a autoridade de
a condição mais natureza para veleidade de tais leis
propícia à atingir o resistência atendendo à sua
conservação da propósito que coletiva futura forma de leis
vida, restando ela serve, a divinas
- A capacidade
assim derivar os autopreservação
que as leis da - Deus não
princípios
- Daí a natureza têm de detém qualquer
morais ou
formulação motivar, em papel na
regras de
bifurcada função do nosso derivação da lei
conduta que
daquilo a que desejo de um natural: para tal,
mais
Hobbes chama a fim basta a razão e
eficientemente a
« regra » da ( autopreservaçã um desejo que a
realizam, e que,
natureza: o ) que lhes dá direcione
por conseguinte,
procura a paz, forma, é, em
são imutáveis e - A
mas se não o princípio,
eternamente interpretação
puderes fazer dissociável da
verdadeiros: as das leis naturais
sem pôr em sua capacidade
leis da natureza e da palavra de
risco a tua vida, de obrigar
Deus é
- Temos assim defende a tua
- Embora confiada, por
que a lei e o vida por todos
Hobbes trate as Hobbes, a uma
direito coabitam os meios
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

autoridade desta razão que encontrada por como uma etapa


feita política: o definem termos Hobbes no da história da
poder soberano morais que se soberano humanidade, é
aplicam sempre, também errada
- Isto não quer - Por
a todo o tempo encarar o
dizer que a conseguinte, é o
e a todo o lugar, contrato, que
moralidade em poder soberano
fora e dentro da Hobbes utiliza
Hobbes seja quem, em
sociedade civil, para descrever a
puramente Hobbes,
porque radicam formação da
convencional ou autoriza a lei
na mais básica autoridade
uma invenção natural e quem
das política, como
arbitrária da atua como seu
necessidades da um suposto
vontade único intérprete
natureza acontecimento
soberana autorizado
humana: a histórico,
- Em Hobbes, o autopreservação - Como Hobbes permitindo a
dever de nos diz em « superação dessa
- Deste modo,
obediência ao Leviatã », a lei etapa
as leis naturais
soberano civil e a lei
obrigam - O contrato é a
depende de natural são da
sempre, mesmo figura através
deveres mesma extensão
na ausência de da qual nos é
anteriores e contêm-se
uma autoridade permitido
determinados uma à outra:
civil caracterizar o
pela lei da isto é, é o
tipo de
natureza e as - No estado de enquadramento
obrigações que,
ações do natureza, a lei de leis civis e
enquanto
soberano podem natural obriga punições
membros de
ser iníquas se internamente, estabelecido
uma
contrárias às em intenção ou pelo soberano
comunidade
leis da natureza à vontade de que permite que
política, temos
que se realize, a moralidade
- Hobbes traça para com as
mas não tem natural se torne
uma distinção estruturas
força efetiva, tanto
clara entre as políticas que
obrigatória em intenção
avaliações nos resgatam de
externa quanto ação
psicológicas uma situação de
subjetivas ( bom - Esta surge - Em Hobbes, a guerra iminente
e mau ) e os apenas quando justiça de todos contra
termos morais estejam propriamente todos
que se referem a reunidas as dita pertence
- Embora o
um sistema de condições que aos homens
contrato não
valores objetivo permitam a sua apenas como
seja real, isso
aplicável a prossecução em cidadãos
não quer dizer
todos os seres segurança
A instauração que a autoridade
humanos
- Uma fonte da sociedade política se funde
- Assim como artificial de num acordo
política meramente
destrinça as leis autoridade
positivas, externa é - Tal como é hipotético
elaboradas pelo necessária para enganador - Há ações
soberano, das garantir essas tomar o estado nossas que lhe
leis naturais, condições – de natureza servem de
ditames da essa fonte é literalmente,
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

aproximação: contrato do que levar ao e justificar a


designadamente seu efeito consentimento resistência
, o
- Por outras - A motivação - Hobbes
consentimento é
palavras, a para a subverte a
efetivo e cria
teoria do submissão tem tradição
obrigações,
contrato social de vir de uma contratualista ao
porque é
visa antes do paixão: o medo tratar o
suficiente para a
mais criar o seu do invasor, no consentimento
transferência de
próprio sujeito: caso do Estado como necessário
direitos
como Hobbes por aquisição, e forçosamente
- Efetivo não sublinha, o historicamente o incondicional
quer aqui dizer político é da mais relevante,
- Incondicional,
explícito, ordem do o medo de todos
porque, em
porém: para artefacto, e o os demais, no
primeiro lugar,
Hobbes, os homem, longe caso do Estado
no estado de
sinais de de para ele ter por instituição,
natureza, os
consentimento uma inclinação que
contratos
podem ser natural tem de analiticamente
fundados na
mudos ser ativamente assume
confiança não
talhado para a primazia, o
- O são
existência medo do
consentimento obrigatórios,
política pelo Estado-Leviatã
decorre porque não há
Estado e sobretudo do
simplesmente poder coercitivo
regresso à
da submissão ou - De que forma que garanta a
natureza, que é
aceitação dos é gerado o sua execução
essencial para
benefícios da soberano no
fazer com que - Em segundo
proteção estado de
os súbditos lugar, a
natureza?
- Onde estes continuem a autopreservação
estejam - Embora o atuar como encontra-se na
presentes, o propósito de súbditos, uma base do contrato
consentimento Hobbes seja vez instituído fundador do
pode ser explicar através pelo Estado Estado e
assumido, e das ficções do justifica fazer
- A figura do
onde ele possa estado de qualquer coisa
contrato,
ser assumido, a natureza e do em sua defesa
mesmo quando
obrigação contrato por que
usada de forma - Logo, o
política razão a
a-histórica, soberano, a
encontra-se submissão à
como Hobbes quem confiamos
legitimada autoridade
essencialmente a nossa proteção
política é
- Ao contrato, o faz, havia e defesa,
racional, sua é
esse, fica tradicionalment necessita de
também a
reservada uma e servida para uma igual
convicção de
função apresentar as autoridade
que o mero
primariamente condições ilimitada, de
cálculo racional
heurística e incorporadas na ação e de juízo,
do interesse de
educativa: os transferência de para obrigar os
cada um é
súbditos poder do povo súbditos aos
insuficiente para
contratantes são para o soberano seus contratos e
menos causa do lhes oferecer o
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

tipo de proteção dádiva, que o - O contrato tem política que


em troca do soberano deve, agora o seu transcende e
qual oferecem o por comando da epicentro em subsiste ao
seu lei natural, conceitos de desapareciment
consentimento retribuir com autorização e o dos indivíduos
ao Estado generosidade: representação: que a compõem
isto é, ao autorizarem a cada
-
governado para o soberano a momento, é
Consequenteme
o bem do povo representar a produto de uma
nte, quando
sua pessoa ficção, cuja
consentem a - Hobbes
coletiva, um sustentação se
submissão à concebe assim
conjunto de torna possível
autoridade um contrato que
indivíduos, que porque, ao
política, os é
naturalmente autorizar o
indivíduos simultaneament
mais não são do soberano a agir
atuam como se e um pacto de
que uma em nosso lugar,
tivessem associação e de
multidão comprometemo-
acordado abrir submissão
tumultuosa, sem nos, individual e
mão do seu
- Esta personalidade, coletivamente, a
direito natural a
simultaneidade sem reconhecer e
todas as coisas
é deliberada e personalidade assumir
em benefício da
destina-se a coletiva, responsabilidad
autoridade que
rebater transforma-se e pelas suas
assim
argumentos de numa unidade ações como se
constroem
que o povo política, na das nossas
- O acordo não existe pessoa do ações de
cria qualquer previamente ao Estado, o agente tratasse, a
obrigação por soberano e responsável por submeter a
parte do permanece avançar os nossa vontade à
soberano, que latente mesmo interesses sua vontade, o
dele sai após a sua fundamentais do nosso juízo ao
investido de constituição, povo enquanto seu juízo
poder absoluto, podendo corporação
- Qualquer
já que não é oferecer-lhe
- Se a multidão veleidade de
parte no resistência
adquire uma resistência
contrato, mas futura
personalidade popular
antes uma
- Esta é uma unitária é encontra-se,
terceira pate ,
hipótese que meramente em assim,
no pressuposto
Hobbes rejeita virtude de ser logicamente
da qual o
liminarmente representada por arredada: o
contrato se
em Leviatã, um soberano suposto titular
realiza
através da unitário como do direito de
- Enquanto que reconceptualiza se de uma única resistência, o
entre os futuros ção do contrato pessoa se povo, existe
súbditos temos e da inovadora tratasse apenas em
um acordo teoria do Estado representação
- Esta
multilateral, representativo isto é, no e
construção de
entre súbditos e moderno que através do
uma pessoa
soberano temos nele articula exercício da
coletiva, isto é,
antes uma vontade
de uma entidade
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

soberana, e apenas enquanto confere o ficção, que não


tendo nós representada soberano ), e apenas atua,
acordado fazer pelo soberano ) um poder maior mas antes atua
sua a nossa do que a soma para nosso
- Por outro lado,
vontade, das partes benefício, em
Hobbes coloca-
resistir-lhe nosso nome
nos fora do - Este temor é,
redunda num coletivo
Estado, no entanto,
ato de
enquanto necessário ao - É esse
autocontradição
membros de exercício acreditar que,
: punir outrem
uma multidão racional da ontem como
por um ato da
pacificada, vontade, porque hoje, confere,
nossa autoria
destituída de é ele que induz em última
- Através do poder e os membros da instância,
conceito de submissa multidão a realidade ao
representação, desempenhar o Estado
- Ao aceitar
Hobbes seu papel de
transferir o
convida-nos a contratantes,
direito de julgar
adotar duas responsáveis
o que é
perspetivas pela geração e
necessário à paz
complementares pela reprodução
e o poder de
e mutuamente do Estado ao
atuar na base
constitutivas longo do tempo
desse juízo a um
sobre a nossa
soberano - O político
relação com o
externo, esta surge desta
Estado e o seu
multidão forma, em
representante
destitui-se de Hobbes, como o
soberano
todo o direito de lugar da nossa
- Por um lado, questionar ou de redenção e
faz com que nos se reinvenção
concebamos desresponsabiliz coletiva
como artífices ar do que quer
- Trata-se
do Estado, suas que seja dito ou
também de um
partes feito em seu
lugar que requer
constitutivas e nome coletivo
o trabalhar de
fonte de todo o
- Uma multidão uma faculdade
seu poder
que se acha frequentemente
- Produto da assim numa descurada pela
nossa vontade posição de política: a
racional, o temor e imaginação
poder soberano veneração em
- Para
surge, nesta relação ao «
escaparmos à
perspetiva, Deus mortal »
condição
como nossa por si criado,
miserável em
criação, e o mas que uma
que
soberano, como vez criado
naturalmente
simples ator da adquire uma
nos
nossa vontade vida própria
encontraríamos,
coletiva ( ainda ( insuflada pela
temos de
que esta exista « alma » que lhe
acreditar numa
Ana Margarida Silva Ribeiro 1.º Teste Filosofia
Política

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