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TORNAR FELIZ A HUMANIDADE: A META DO VIRTUOSO

Reflexões sobre o Seminário - Tema: O aprendizado nos Graus Superiores e sua prática
social

Ir Alberto Vellozo Machado


Grau 23 - Cadastro nº 84050

“A felicidade envolve a totalidade da vida e opera sobre ela uma


transformação, mesmo se surgir de uma circunstância concreta; as
coisas adquirem um sentido novo, que não possui aquele que não a
tem já ou ainda não tenha chegado à felicidade”. A Felicidade
Humana, Julián Marias.

De início, dizemos da relevância do Seminário como meio de solidificar as


informações e conhecimentos os mais variados que recebemos durante da jornada do
REAA.
Há que se aprimorar, modificar, mas não perder a energia e a vontade de aprender
e, destacadamente, difundir o aprendizado. Encontros como os seminários, preleções,
aprofundamentos, palestras, consolidam conhecimento e estamos nos Graus Superiores
para isto.
Focamos, aqui, o tema Virtudes, de modo pessoal, sem laborar tese a respeito,
pensando em como os ensinamentos na escalada dos Graus do REAA sempre nos
orienta a levantar templos à virtude e, claro, subjugar as paixões, os vícios, as debilidades
morais que tanto atrapalham a pessoas e a humanidade na sua evolução moral.
A temática é única: O ENSINO MAÇÔNICO NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL –
com Ênfase no Escopo de Cada Série de Graus.
Desta maneira, ficam estabelecidos os Temas a cada Série, como segue:
ELP – A Formação Maçônica nas Excelsas Lojas de Perfeição, no
Desenvolvimento Social.
CRC – A Formação Maçônica dos Rosa Cruzes, no Desenvolvimento Social.
KADOSH – A Formação Maçônica dos Cavaleiros Kadosh, no
Desenvolvimento Social.

Como se diz em filosofia manifestou-se o Kairós.


Pensemos, assim, a pertinência do temário com nosso aprendizado colhido desde
os primeiros passos do aprendiz maçom até o grau em que estejamos.
Lá nas lições do primeiro grau encontramos diversos indicativos para tornarmo-nos
virtuosos, pois é ensinado que as características do maçom são a virtude, a honra e a
bondade e que ao nos movimentarmos em direção a essas especiais condições
pessoais, impera avultarem três qualidades indispensáveis – Vontade, Amor ou
Sabedoria e Inteligência.
Esses predicados, diz-nos a filosofia, estão jungidos à ética do cuidado de si1, que
aborda a percepção da perene dicotomia ser – aparência, ou seja, a análise dos diversos

1 Platão, no século IV a.C., apresenta a figura de seu mestre, Sócrates, como uma referência do
cuidado de si, onde relaciona o cuidado de si com o conhecimento de si, que envolvia uma
postura perante a si mesmo e aos outros, diante da vida, relacionando o conhecimento enquanto
uma das esferas do cuidado de si. Segundo ele, era preciso exercitar o governo de si, para que
fosse possível governar os outros. https://www.ex-isto.com/2021/01/cuidado-de-si-foucault.html
equívocos culturais sobre o ser e o parecer, movida pela cautela de repelir as
sobreposições da aparência sobre o ser.
É preciso cuidarmos, conscientemente, de nós mesmos, em todos os aspectos que
exijam tratar da alma e do corpo e este cuidado de si contém a ideia de sermos capazes
de aprimoramento espiritual, moral, social e material, e a pedra filosofal à nossa
transformação em alguém que tem uma “profilaxia moral” é a somatória das virtudes que
logramos cultivar, e os consequentes vícios que conseguimos subjugar.
Albert Pike leciona:
O mais alto cultivo intelectual é perfeitamente compatível com os cuidados e labores
diários dos homens trabalhadores. Um gosto apurado pelas verdades mais sublimes
pertence igualmente a todas as classes da humanidade. E, como a filosofia era ensinada
nos bosques sagrados de Atenas, e sob o Pórtico, nos velhos Templos do Egito e da Índia,
assim em nossas Lojas o Conhecimento deve ser dispensado, as Ciências ensinadas, e os
Ensinamentos tornam-se como as lições de Sócrates e Platão, de Agassiz e Cousin. 2

O cuidado de si é, por igual, o cuidado do outrem, pois como dito em filosofia,


somos indigentes de autarcia, isto é, de autossuficiência, e essa carência só é suprida na
coletividade, nas relações e nas trocas sociais.
Com efeito, é um grande desafio e uma enorme oportunidade pertencer a uma
organização que una pessoas inteligentes, virtuosas, desinteressadas, generosas,
devotadas, livres e iguais, ligadas por deveres de fraternidade, que visa esclarecer as
pessoas e prepará-las para a emancipação progressiva e pacífica da Humanidade.
Eis o mérito de um seminário, semear e, se necessário, frequentemente replantar
com novas sementes, para que efetivamente avulte da pedra bruta o livre investigador da
Verdade, tolerante, defensor da igualdade, focado no esclarecimento da sociedade,
exercendo a caridade com prudência.
Novamente, em nosso socorro, diz-nos Pike:
Aprender, atingir o conhecimento, ser sábio, é uma necessidade para toda alma verdadeiramente
nobre; ensinar, comunicar esse conhecimento, compartilhar essa sabedoria com os outros, e não
aprisionar grosseiramente esse tesouro público, colocando sentinelas à porta para rechaçar os
necessitados, é ao mesmo tempo um impulso de uma criatura nobre e o trabalho mais valioso do
ser humano. 3

As Virtudes Cardeais (TEMPERANÇA, JUSTIÇA, CORAGEM E PRUDÊNCIA) são,


sem dúvida, o roteiro da humanidade em busca da maior virtude: O Bem.
E é bom e suave, como traçam nossas iniciais leituras de aprendiz, ter o REAA
com ensinamentos voltados, como lá dito, ao verdadeiro caráter e apostalado da mais alta
moralidade, da prática das virtudes, da Liberdade debaixo da Lei, da Igualdade
segundo o mérito, com subordinação e disciplina, e da Fraternidade com deveres
mútuos. E por esse caminho virtuoso, que é o rito, nos são infundidos os sãos princípios
da filosofia humanitária.
Vê-se, no intento de revisitar nossas concepções sobre virtude, não apenas
exercício filosófico e intelectual, não apenas verbo, mas ação, a nos levar à reflexão e à
prática.
Benefício inestimável do Seminário pensar na práxis e creio devamos continuar a
explorar teoria e concretude!

2 PIKE, Albert. MORAL E DOGMA II - GRAUS INEFÁVEIS, p. 82


3 Idem, MORAL E DOGMA II - GRAUS INEFÁVEIS, p. 7.
O tema nos faz prestar atenção sobre nossas condições pessoais, nossos ideais e
agires dirigidos, como insculpido, reitero, em nossas primais ensinanças, à Liberdade e à
Reputação (honra ilibada e probidade inconteste), terrenos aptos à vicejarem as virtudes
que nos permitem, depois de árduo labor, repelir o Egoísmo e a Imoralidade.
Na nossa cartilha, está inscrita a importância de compreender as vantagens dos
ensinamentos, tendo em mente o dever de pautar os atos individuais, de todos os dias,
pelo nosso rico e antiquíssimo manancial de Sabedoria.
Esse comportamento, aliás, é o antes mencionado cuidado de si (que pressupõe
disciplina, ordem e respeito para consigo), que implica numa pauta de condutas que nos
propomos encetar, livremente, a partir das luzes recebidas.
E ser virtuoso, possível pensar a partir de nossos manuais, reclama retidão, justa
medida (Kairós), igualdade, justiça, inteligência e razão.
Mas, como realçado sempre, precisamos de Amor, enquanto recíproca estima,
confiança e amizade, que se traduz em amor ao próximo, amor fraternal, em apoio,
socorro, assistência aos necessitados, em Bondade, Caridade, Concórdia, consciência,
Dignidade, contentamento, Esperança e, claro, Felicidade.
E como cuidar-se de si, como buscar as virtudes?
A Ordem nos dá o Fio de Ariadne para não nos perdermos no labirinto existencial e
é ele a precitada Sabedoria, que se forma pela aquisição de conhecimento, pela
assiduidade, por aspirar novos progressos e aperfeiçoamento, pela disciplina, esforço e
domínio pessoal.
Igualmente, nos é doutrinado devamos apresentar franqueza, fraternidade,
harmonia, honestidade, humanidade, Perseverança, prontidão, Prudência, Razão,
Regularidade e disposição para vencer as paixões (Humilhação, Intransigência, Medo,
Egoísmo, Mentira, Remorso, Traição, Vaidade, Ignorância, Ambição desmedida, Erro,
Ódio, Orgulho, Hipocrisia, Fanatismo, Obscurantismo, Superstição, Ociosidade,
Ostentação, Arbitrariedade, Corrupção, Desonestidade, Perfídia, Perjúrio, Preconceitos
[xenofobia e racismo], Tirania, Violência, etc).
E qual destino é reservado ao ser humano virtuoso?
A destinação das pessoas virtuosas é sua conversão, transformação (metanoia) em
pessoas felizes, coerentes e harmônicas com seu modo de pensar e agir ético e que
produz o Bem por excelência: A Felicidade da Humanidade, que nos afigura como o
cuidado com o outro, que pressupõe o cuidado de si, o qual pode ser tido como o anseio
de ser feliz.
Assim:
“Para Heidegger, o “melhorar”, o “completar”, o “perfeccionar”, que poderiam corresponder
à paideia é muito mais uma conversão, uma transformação, um “acostumar” progressivo
com a luz, como no “mito da caverna” de Platão (República5). Essa “metanoia”, também
pregada nos Evangelhos, este ir além por uma mutação do noûs (inteligência), esta
mudança de direção, esta conversão, concerne o homem em sua essência e opera no
fundo desde seu ser”.4

Nosso maior comprometimento, numa síntese da síntese é TORNAR FELIZ A


HUMANIDADE.

4CASTRO, João Cardoso de; CASTRO, Murilo Cardoso de. A virtude não se ensina, se
evoca: uma reflexão sobre arete e paideia em Martin Heidegger, p.252-263.
Precisamos, aprender e nos convencer de quanto assimilamos no nosso estudo
maçônico e ciosos de que estamos numa caminhada evolutiva de saberes, cabe nos
questionar, sempre, em relação a nós e à sociedade, qual um inventário do cotidiano:
“Que não se passe um dia, amigo, sem buscares
Saber: Que fiz eu hoje? E, hoje, que olvidei?
Se foi o mal, abstém-te; e, se o bem, persevera.

E, se o Céu permitir, saberás que a Natura,
Em tudo semelhante, é a mesma em toda parte.
Conhecedor assim de todos teus direitos.
Terás o coração livre de vãos desejos,
E saberás que o mal que aos homens cilicia,
De seu querer é fruto; e que esses infelizes
Procuram longe os bens cuja fonte em si trazem.
Seres que saibam ser ditosos, são mui raros.
...
Mas, não: aos Homens cabe, – eles, raça divina-,
O Erro discernir, e saber a Verdade.
A Natureza os serve. E tu que a penetraste,
Homem sábio e ditoso, a paz seja contigo!
Observa minhas leis, abstém-te das coisas
Que tua alma receie, em distinguindo-as bem;
Sobre teu corpo reine e brilhe a Inteligência,
Para que, te ascendendo ao Eiter fulgurante,
Mesmo entre os Imortais, consigas ser um Deus”! 5

REFERÊNCIAS:
BRUNO, Carrasco. Cuidado de si em Foucault.https://www.ex-isto.com/2021/01/cuidado-
de-si-foucault.html;
CASTRO, João Cardoso de; CASTRO, Murilo Cardoso de. A virtude não se ensina, se
evoca: uma reflexão sobre arete e paideia em Martin Heidegger. Griot: Revista de
Filosofia, Amargosa – BA, v.20, n.1, p.252-263, fevereiro, 2020;
FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. 2a Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Rituais dos vários graus;
MAXENCE, Jean-Luc. A “Sombra” Junguiana e a Loja Maçônica https://bibliot3ca.com/a-
sombra-junguiana-e-a-loja-maconica;
PIKE, Alberto. MORAL E DOGMA II - GRAUS INEFÁVEIS. Edição do Kindle.
PITÁGORAS, Versos de Ouro de, Tradução de Dario Vellozo, do original francês de Fabre
d’Olivet - http://www.pitagorico.org.br/versos-de-ouro-traducao-de-dario-vellozo/
RITUAIS do REAA.

5 Versos de Ouro de Pitágoras, Tradução de Dario Vellozo, do original francês de Fabre d’Olivet
- http://www.pitagorico.org.br/versos-de-ouro-traducao-de-dario-vellozo/

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