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2018;68(1):57---61
REVISTA
BRASILEIRA DE
ANESTESIOLOGIA Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Anestesiologia
www.sba.com.br
ARTIGO CIENTÍFICO
PALAVRAS-CHAVE Resumo
Propofol; Justificativa: O laringoespasmo pós-extubação é uma complicação perigosa que deve ser pron-
Lidocaína; tamente tratada. Medidas padrão para o seu manejo foram descritas. O nosso objetivo foi
Laringoespasmo; comparar a eficácia de propofol (0,5 mg.kg−1 ) versus lidocaína (1,5 mg.kg−1 ) no tratamento
Obstetrícia de laringoespasmo resistente pós-extubação em pacientes obstétricas após falha das medidas
padrão.
Método: Este estudo foi conduzido ao longo de dois anos em todas as pacientes obstétricas
programadas para cesariana. O laringoespasmo pós-extubação foi inicialmente tratado com um
protocolo padrão (remoção do estímulo ofensivo, protrusão mandibular, ventilação com pressão
positiva com oxigênio a 100%). Ao constatar a falha desse protocolo, o fármaco testado foi a
segunda opção (lidocaína no primeiro ano e propofol no segundo ano). Por fim, succinilcolina
foi usada quando houve falha do fármaco testado.
Resultados: No grupo lidocaína, 5% das parturientes desenvolveram laringoespasmo pós-
-extubação, 31,9% delas foram tratadas com sucesso via protocolo padrão e 68,1% precisaram
de tratamento com lidocaína, das quais, 65,6% responderam com sucesso ao tratamento com
lidocaína e 34,4% precisaram de succinilcolina para alívio do laringoespasmo. No grupo pro-
pofol, 4,7% das parturientes desenvolveram laringoespasmo pós-extubação, 30,1% delas foram
tratadas com sucesso via protocolo padrão e 69,9% precisaram de tratamento com propofol,
das quais, 82,8% responderam com sucesso ao tratamento com propofol e 17,2% precisaram de
succinilcolina para alívio do laringoespasmo.
https://doi.org/10.1016/j.bjan.2017.03.009
0034-7094/© 2017 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este é um artigo Open Access sob uma licença
CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
58 A.M. Mokhtar, A.A. Badawy
Conclusão: Uma pequena dose de propofol (0,5 mg.kg−1 ) é marginalmente mais eficaz do que
lidocaína (1,5 mg.kg−1 ) no tratamento de laringoespasmo resistente pós-extubação em pacien-
tes obstétricas, após falha das medidas padrão e antes do uso de relaxantes musculares.
© 2017 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este é um
artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-
nc-nd/4.0/).
KEYWORDS Low dose propofol vs. lidocaine for relief of resistant post-extubation laryngospasm
Propofol; in the obstetric patient
Lidocaine;
Abstract
Laryngospasm;
Background: Post-extubation laryngospasm is a dangerous complication that should be managed
Obstetric
promptly. Standard measures were described for its management. We aimed to compare the
efficacy of propofol (0.5 mg.kg−1 ) vs. lidocaine (1.5 mg.kg−1 ) for treatment of resistant post-
extubation laryngospasm in the obstetric patients, after failure of the standard measures.
Method: This study was conducted over 2 years on all obstetric patients scheduled for cesarean
delivery. Post-extubation laryngospasm was initially managed with a standard protocol (removal
of offending stimulus, jaw thrust, positive pressure ventilation with 100% oxygen). When this
protocol failed, the tested drug was the second line (lidocaine in the first year and propofol in
the second year). Lastly, succinylcholine was used when the tested drug failed.
Results: In lidocaine group, 5% of parturients developed post-extubation laryngospasm, 31.9% of
them were successfully treated via standard protocol, and 68.1% required lidocaine treatment.
65.6% of patients treated with lidocaine responded successfully and 34.4% required succinylcho-
line to relieve laryngospasm. In propofol group, 4.7% of parturients developed post-extubation
laryngospasm, 30.1% of them were successfully treated via standard protocol, and 69.9% requi-
red propofol treatment. 82.8% of patients treated with propofol responded successfully and
17.2% required succinylcholine to relieve laryngospasm.
Conclusion: Small dose of propofol (0.5 mg.kg−1 ) is marginally more effective than lidocaine
(1.5 mg.kg−1 ) for the treatment of resistant post-extubation laryngospasm in obstetric patients,
after failure of standard measures and before the use of muscle relaxants.
© 2017 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an
open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/by-
nc-nd/4.0/).
Tabela 2 Número de pacientes tratadas com sucesso via protocolo padrão, fármaco avaliado e succinilcolina
Grupo (I) lidocaína Grupo (II) propofol p
(n = 942) (n = 895)
Número de pacientes tratadas com sucesso via 15/47 (31,9%) 13/42 (30,1%) 0,433
protocolo padrão
Número de pacientes tratadas com sucesso 21/32 (65,6%) 24/29 (82,8%)a 0,041
com o fármaco avaliado
Número de pacientes que precisaram de 11/32 (34,4%) 5/29 (17,2%)a 0,033
succinilcolina
Dados expressos em número & razão e porcentagem (%).
a Estatisticamente significativo em comparação com o grupo (I), p < 0,05.
et al. que identificou incidência de laringoespasmo de 3% estudo foram corroborados pelos resultados do conduzido
em 725 pacientes pediátricos operados de hérnia inguinal, por Pak et al., no qual não houve caso de laringoespasmo
orquidopexia e hidrocele sob anestesia geral e uso de más- pós-extubação com o uso de uma pequena dose de propofol
cara laríngea (ML)17 e com o estudo conduzido por Pak (0,25 mg.kg−1 ) na emergência da anestesia, em comparação
et al. que mostrou incidência de 8,6% de laringoespasmo com o grupo controle.19
após a emergência em pacientes pediátricos submetidos à No presente estudo, embora a taxa de sucesso de
cirurgia de estrabismo e correção de hérnia inguinal sob lidocaína para aliviar o laringoespasmo tenha sido significa-
anestesia geral e intubação endotraqueal.19 Em contraste, tivamente menor do que a de propofol, lidocaína foi eficaz
a incidência de laringoespasmo no presente estudo foi bem em 65,6% dos casos. Isso contrasta com o estudo feito por
menor do que no estudo feito por Leicht et al. (22%)20 e Pernille et al., que não mostrou papel significativo de lido-
no grupo controle do estudo feito por Batra et al. (20%).21 caína a 1% (0,15 mL.kg-1 ) na prevenção de laringoespasmo
Essa maior incidência de laringoespasmo pós-extubação nes- pós-extubação em crianças.20
ses dois estudos pode ser explicada pelo local e tipo de Uma das principais limitações de nosso estudo foi a falta
operação (tonsilectomia na orofaringe) e pela tenra idade de randomização. Como o laringoespasmo é uma situação de
dos pacientes estudados. emergência, tivemos que seguir um protocolo fixo durante
Os resultados do presente estudo também mostraram um período. Outra limitação foi a falta de um grupo con-
que o número de pacientes tratadas com sucesso via pro- trole porque comparamos a eficácia de dois medicamentos,
tocolo padrão (sucção orofaríngea de secreções, elevação um para cada grupo. Contudo, como os resultados de nosso
da mandíbula, ventilação sob pressão positiva com oxigênio estudo foram promissores, recomendamos estudos adicio-
a 100% via balão e máscara e aplicação de firme pressão nais, randômicos e duplo-cegos para garantir a eficácia dos
em um ponto do laringoespasmo) foi comparável entre os fármacos testados.
dois grupos estudados (31,9% e 31%, para lidocaína e propo- Conclusão: uma pequena dose de propofol (0,5 mg.kg−1 )
fol, respectivamente). Esses resultados estão de acordo com é marginalmente mais eficaz do que lidocaína (1,5 mg.kg−1 )
os resultados do estudo feito por Afshan et al., com taxa no tratamento de laringoespasmo resistente pós-extubação
de 35% dos casos tratados com sucesso com ventilação sob em pacientes obstétricas, após falha das medidas padrão e
pressão positiva via máscara facial,17 e também de acordo antes do uso de relaxantes musculares.
com o grupo submetido à prática padrão do estudo feito por
Al-Metwalli et al., cuja taxa foi de 38,4%.22 Conflitos de interesse
Em relação às pacientes que precisaram dos fárma-
cos estudados, o número de pacientes tratadas de modo Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
bem-sucedido com propofol foi estatisticamente superior
ao das pacientes tratadas com lidocaína (82,7% e 65,6%, Referências
respectivamente). Esses resultados estão de acordo com
os do estudo feito por Afshan et al., no qual propofol 1. Rose DK, Cohen MM, Wigglesworth DF, et al. Critical respiratory
(0,8 mg.kg−1 ) proporcionou alívio do laringoespasmo em events in the postanesthesia care unit: patient, surgical, and
76,9% dos casos.17 Novamente, os resultados do presente anesthetic factors. Anesthesiology. 1994;81:410---8.
Propofol versus lidocaína para alívio de laringoespasmo resistente pós-extubação 61
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