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Sumário
Apresentação
Autores e colaboradores
01 - Módulo de Cardiologia
1.1 ELETROCARDIOGRAMA
1.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
1.3 DISLIPIDEMIAS
1.4 SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
1.5 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA
1.6 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA
1.7 TAQUIARRITMIAS
1.8 BRADIARRITMIAS
1.9 Parada Cardiorrespiratória e RESSUSCITAÇÃO
1.10 FEBRE REUMÁTICA
1.11 ANTICOAGULANTES
02 - Módulo de Endocrinologia
2.1 Cetoacidose diabética
2.2 ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPEROSMOLAR
2.3 INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA
2.4 CRISE TIREOTÓXICA
2.5 COMA MIXEDEMATOSO
2.6 CORTICOIDES – DOSES E EQUIVALÊNCIAS
2.7 CONTROLE GLICÊMICO INTRA-HOSPITALAR
03 - Módulo de Gastroenterologia
3.1 ASCITE
3.2 ABDOME AGUDO
3.3 Diarreia Aguda
3.4 DOENÇA CALCULOSA DAS VIAS BILIARES
3.6 PANCREATITE AGUDA
3.7 ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
3.8 HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
3.9 HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA
04 - Módulo de Infectologia
4.1 DENGUE
4.2 TUBERCULOSE
4.3 HIV/AIDS
4.4 INFLUENZA
4.5 ENDOCARDITE INFECCIOSA
4.6 LEPTOSPIROSE
4.7 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
4.8 LEISHMANIOSE VISCERAL
4.9 MENINGITE
4.10 HANSENÍASE
4.11 ROTINA APÓS EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL COM
MATERIAL BIOLÓGICO
4.12 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS
4.13 COVID-19
05 - Módulo de Nefrologia
5.1 CÓLICA NEFRÉTICA
5.2 INJÚRIA RENAL AGUDA
5.3 DISTÚRBIOS DE ÁGUA E SÓDIO
5.4 DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DO POTÁSSIO
5.5 DISTÚRBIO DO METABOLISMO DO CÁLCIO
5.6 INTERPRETAÇÃO DA GASOMETRIA ARTERIAL E
DISTÚRBIOS ÁCIDOS BÁSICOS
5.7 SÍNDROME NEFRÓTICA
5.8 SÍNDROME NEFRÍTICA
06 - Módulo de Pneumologia
6.1 EXACERBAÇÃO DE ASMA
6.2 DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
6.3 TROMBOEMBOLIA PULMONAR AGUDA
6.4 DERRAME PLEURAL
6.5 PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE
6.6 PNEUMONIA NOSOCOMIAL
6.7 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA
6.8 VENTILAÇÃO MECÂNICA
07 - Módulo de Reumatologia
7.1 LÚPUS ERITEMATOSOS SISTÊMICO (LES)
7.2 SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE (SAF)
7.3 ARTRITE REUMATOIDE
7.4 ARTRITES AGUDAS
7.5 GOTA
7.6 OSTEOPOROSE
7.7 FIBROMIALGIA
08 - Módulo de Neurocirurgia/Neurologia
8.1 TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO
8.2 TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
8.3 HIDROCEFALIA
8.4 CEFALEIAS
8.5 DOENÇAS VASCULARES CEREBRAIS
8.6 SÍNDROMES EPILÉTICAS
8.7 MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA
8.9 SEDAÇÃO E ANALGESIA
8.10 Coma
8.11 DELIRIUM
8.12 ENCEFALOPATIA METABÓLICA
8.13 SÍNDROMES DEGENERATIVAS
8.14 SÍNDROMES DEMENCIAIS
8.15 MORTE ENCEFÁLICA
09 - Módulo de Hematologia
9.1 INVESTIGAÇÃO INICIAL DAS ANEMIAS
9.2 ANEMIA FERROPRIVA
9.3 ANEMIA DA INFLAMAÇÃO
9.4 ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
9.5 ANEMIAS HEMOLÍTICAS
9.6 ANEMIA FALCIFORME
9.7 NEUTROPENIA FEBRIL
9.8 INDICAÇÕES E REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
10 - Módulo de Psiquiatria
10.1 SURTO PSICÓTICO
10.2 RISCO DE SUICÍDIO
10.3 ATAQUES DE PÂNICO
11 - Módulo de Oftalmologia
11.1 CERATITES
11.2 CELULITE PRÉ-SEPTAL E PÓS-SEPTAL
11.3 CONJUNTIVITES
11.4 EDEMA PALPEBRAL
11.5 GLAUCOMA AGUDO
11.6 HERPES ZÓSTER OFTÁLMICO
11.7 HORDÉOLO E CALÁZIO
11.8 TRAUMA DE ÓRBITA
2020
© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda.
pela Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste
volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por
quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se
também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas, sem permissão
expressa da Editora.
Título: Manual de Clínica Médica 2ª Edição
Editor: Guilherme Melo
Revisão ortográfica: Thaís Nacif
Diagramação: GALLETI | Marketing 360 Graus
Capa: Mateus Machado
Conselho Editorial: Caio Vinicius Menezes Nunes, Paulo Costa Lima, Sandra de Quadros
Uzêda, Sheila de Quadros Uzêda e Silvio José Albergaria da Silva
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)
F475m Figueiredo, Estevão Tavares (org.).
Manual de Clínica Médica / Organizador: Estevão Tavares Figueiredo. - 2. ed. - Salvador,
BA : Editora Sanar, 2020. 1216 p.; 16x23 cm.
ISBN 978-65-87930-40-4
1. Clínica. 2. Manual. 3. Médica 4. Medicina. I. Título. II. Assunto. III. Figueiredo, Estevão
Tavares.
CDD: 617
CDU: 616
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREIRE, Thayná Araújo (coord.) et al. Manual de Semiologia Médica. 1. ed. Salvador:
Editora Sanar, 2020.
Módulo 1 - Cardiologia
1.1 Eletrocardiograma
1.2 Hipertensão Arterial Sistêmica
1.3 Dislipidemias
1.4 Síndromes Coronarianas Agudas
1.7 Taquiarritmias
1.8 Bradiarritmias
Módulo 2 - Endocrinologia
2.1 Cetoacidose Diabética
2.2 Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar
Módulo 3 - Gastroenterologia
3.1 Ascite
3.2 Abdome Agudo
3.3 Diarreia Aguda
3.4 Doença Calculosa das Vias Biliares
Módulo 4 - Infectologia
4.1 Dengue
4.2 Tuberculose
4.3 HIV / AIDS
4.4 Influenza
4.5 Endocardite Infecciosa
4.6 Leptospirose
4.7 Leishmaniose Tegumentar Americana
4.8 Leishmaniose Visceral
4.9 Meningite
4.10 Hanseníase
4.11 Rotina após Exposição Ocupacional com Material Biológico
4.12 Acidentes por Animais Peçonhentos
4.13 COVID-19
Módulo 5 - Nefrologia
5.1 Cólica Nefrética
5.2 Injúria Renal Aguda
5.3 Distúrbio de Água e Sódio
5.4 Distúrbios do Metabolismo do Potássio
Módulo 6 - Pneumologia
6.1 Exacerbação de Asma
6.2 Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)
6.3 Tromboembolia Pulmonar Aguda
6.4 Derrame Pleural
6.5 Pneumonia Adquirida na Comunidade
6.6 Pneumonia Nosocomial
6.7 Insuficiência Respiratória Aguda
6.8 Ventilação Mecânica
Módulo 7 - Reumatologia
7.1 Lúpus Eritematosos Sistêmico (LES)
7.2 Síndrome Antifosfolípide (SAF)
7.3 Artrite Reumatoide
7.4 Artrites Agudas
7.5 Gota
7.6 Osteoporose
7.7 Fibromialgia
Módulo 9 - Hematologia
9.1 Investigação Inicial das Anemias
9.2 Anemia Ferropriva
Módulo 11 - Oftalmologia
11.1 Ceratites
11.2 Celulite Pré-septal e Pós-septal
11.3 Conjuntivites
11.4 Edema Palpebral
11.5 Glaucoma Agudo
José Tasca
Autor
Coordenador do Centro de Terapia Intensiva do Hospital do Coração de Poços de Caldas
(Hospital Santa Lúcia) e Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas. Título de
Especialista em Cardiologia pela SBC. Título de Especialista em Medicina Intensiva pela
AMIB. Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela SBEM. Preceptor da
Residência de Cardiologia do Hospital do Coração de Poços de Caldas. Professor da
Faculdade de Medicina da PUC - Poços de Caldas.
Iracema Esteves
Autora
Especialista em Hematologia e Hemoterapia. Doutora pela UNIFESP/EPM em transplante
de células-tronco hematopoéticas. Médica hematologista do corpo clínico do Hospital
Israelita Albert Einstein e da Beneficência Portuguesa em São Paulo-SP.
Bruna Bonzi
Autora
Acadêmica do 7º período de Medicina da F.A.M.E.S.C. de Bom Jesus do Itabapoana-RJ.
Bruna Sá Eduardo
Autora
Acadêmica do 7º período de Medicina da F.A.M.E.S.C. de Bom Jesus do Itabapoana-RJ.
Rayssa Tavares
Autora
Cursando Especialização em Dermatologia pela Faculdade ISMD, Belo Horizonte-
MG.Graduada em Medicina pela UniAtenas-Paracatu-MG.
introdução
O eletrocardiograma (ECG) básico possui doze derivações clássicas, sendo seis no
plano frontal (aVR, aVL, aVF, DI, DII, DIII) (Figura 1), representando as extremidades aferidas
nos membros, e as demais no plano horizontal, localizadas no precórdio (V1, V2, V3, V4, V5,
V6) (Figura 2). Williem Einthoven ganhou o Nobel de Medicina em 1924 por ter realizado o
ECG propriamente dito. Porém, sabe-se que apenas em 1931 o médico Frank Norman
Wilson criou o sistema de seis derivações precordiais, ou plano horizontal, padronizadas
pela American Heart Association em 1938 (Figura 2).
Figura 1. Eixos e ângulos cardíacos frontais.
Fonte: Elaborado pelos autores
Figura 2. Eixos cardíacos precordiais.
Fonte: Elaborado pelos autores.
O ECG é representado pelas ondas P, QRS, T, U; seguimentos PR, ST; intervalos PRi, QTi
(Figura 3), e suas diversas morfologias variam de acordo com a derivação analisada,
respeitando-se o posicionamento dos eletrodos no paciente (Tabela 1).1-3
Figura 3. Eletrocardiograma normal.
Fonte: Elaborado pelos autores.
DI MSD e MSE
aVR MSD
aVL MSE
aVF MIE
V3 5 o EICE, entre V2 e V4
MSD – membro superior direito. MSE – membro superior esquerdo. EIC – Espaço
Intercostal. EICD – Espaço intercostal direito. EICE – Espaço intercostal Esquerdo.
√RR
• Fórmula de Bogossian: 8
• Fórmula de Hodges: 9
• Fórmula de Framingham:
QT corrigido = QT medido + 0,154 (1 - RR)
• Fórmula de Fridericia: 10
QT corrigido = QT medido
(RR)1/3
A duração do QTc deve ser menor ou igual a 440-460 ms, podendo variar com o gênero.
Pode-se traçar uma linha média entre o complexo QRS. Caso a onda T ultrapasse essa
linha imaginária, o QTi é considerado longo (Figura 4):1-3,6
5-20 mm (frontal)
Complexo QRS < 110 – 120 ms
10-30 mm (precordiais)
DII: entalhe na onda P > 40 ms (P mitrale) Peñaloza-Tranchesi (QRS V1 < 1/3 QRS V2)
V1: porção final da onda P negativa com área V1: porção inicial da onda P positiva com área
> 40 ms x 0,1 mV (sinal de Morris) > 0,06 ms
SÂP desviada para esquerda entre -30º e - 45º SÂP desviada para a direita e para cima (75º)
• RaVL > 1,1 mV: Este é um critério isolado, em que apenas se verifica se a onda R
de aVL é maior que 11 mm (1,1 mV).
Observamos, na figura 7, o QRS desviado para a esquerda (além de -30°), SAE com sinal
de Morris e SVE com RaVL > 11 mV, Cornell positivo, Sokolw-Lyon positivo e Romhilt (Estes
oito pontos pelos traçados representados.
d. SOBRECARGA VENTRICULAR DIREITA
O aumento da resistência vascular e a arteriopatia podem ocasionar, ao longo do tempo,
sobrecarga de ventrículo direito (SVD) e diminuição da contração e do fluxo sanguíneo ao
músculo cardíaco. Alguns critérios para definir se há uma SVD são:1-4,6,11
• R em V1 ≥ 0,7 mV;
• R/S em V1 > 1 com R > 0,5 mV;
• R/S em V5 ou V6 < 1;
• S em V5 ou V6 > 0,7 mV;
• R em V5 ou V6 ≥ 0,4 mV com S em V1 ≥ 0,2 mV;
• QR em V1;
• Desvio do eixo para a direita (≥ +90°);
• Padrão S1Q3;
• Padrão S1S2S3;
• P pulmonale (sobrecarga de átrio direito sugere sobrecarga de ventrículo direito).
Observamos na Figura 8 o eixo do QRS desviado para a direita (>90°) e SVD pelos
critérios de R em V1 > 7 mV e S em V6 > 5 mV com R de V1 > 1 mV.
e. BLOQUEIOS UNIFASCICULARES
O ramo esquerdo origina-se contíguo ao ponto onde o feixe de His surge do corpo
central fibroso. Subdivide-se em anterior, médio e posterior com grande variabilidade. Como
o bloqueio situa-se após os ramos esquerdo e direito, o QRS não se alarga, porém há
desvio do SÂQRS.1-3,5,6,11,13
Os critérios para definir se há bloqueio unifascicular podem ser vistos na Tabela 6.
Observamos na Figura 9 o BDAS. Eixo do QRS desviado para esquerda, duração do QRS <
0,12 s, SDIII > SDII.
Figura 10. ECG de paciente com bloqueio divisional posteroinferior (BDPI).
Fonte: Elaborado pelos autores.
Observamos na Figura 10 o BDPI se excluídas outras causas de desvio para direita. Eixo
do QRS desviado para a direita, duração do QRS < 0,12 s, RDIII > RDII.
Observamos na figura 11 duração do QRS > 0,12 s, onda R entalhada em D1 e V6, além de
pequena onda R em V1 com onda S profunda.
Na figura 12 o eixo do QRS desviado para direita, duração do QRS > 0,12 s, há presença
de meseta (rsR’) em V1 e onda S alargada em V6.
• Hipercalemia (hiperpotassemia)
A representação no ECG depende da concentração de potássio sérico. “O potássio mora
embaixo da onda T.” Portanto, espera-se:1-3,13,14
mEq/L.
• Hipocalemia (hipopotassemia)
Assim como na hipercalemia, a representação no ECG depende da concentração de
potássio sérico. Portanto, as alterações que são esperadas quando os níveis de potássio
sérico estiverem abaixo do limite inferior, ou seja, < 3,5 mEq/L, são:1-3,13,14
• Presença de onda U ;
• Aumento do QTc ;
• PCR por bradiarritmia.
• Hipercalcemia
Deve-se notar que o intervalo QTc diminui à medida que aumentam os níveis séricos de
cálcio. Pode-se observar onda J ou O de Osborn, que significa uma discreta onda positiva
ao final do complexo QRS.1-3,13,14
• Hipocalcemia
Observar que o intervalo QTc aumenta à medida que diminuem os níveis séricos de
cálcio, além de alterações como a retificação do segmento ST, aumento da onda T e
sobrecarga ventricular esquerda.1-3,13,14
• Hipotermia
As alterações estão presentes no ECG a partir de temperaturas axilares abaixo de 35°C.
Como consequência imediata, ocorre bradicardia sinusal. O estado de hipotermia pode
gerar onda J ou O de Osborn, prolongamento do intervalo QT (QTi) e o clássico
miopotencial de ação por tremor muscular.1-3,13,14
• Intoxicação digitálica
O ECG poderá apresentar ondas T achatadas, infradesnivelamento de STs, QTi diminuído,
intervalo PR (PRi) aumentado e segmento ST em forma de “pá ou colher de pedreiro”. As
extrassístoles são o tipo de arritmia mais comum.
Deve-se ficar atento à taquicardia juncional não paroxística (ausência de onda P e ritmo
regular, porém com frequência cardíaca entre 100 e 120 bpm) e à dissociação
atrioventricular.
• Hipotireoidismo
Observar, no ECG, baixa voltagem (< 5 mm em derivações periféricas, e < 10 mm nas
derivações precordiais). Frequentemente, pode coexistir alternância elétrica em resposta ao
possível derrame pericárdico presente, como visto na figura a seguir:
Figura 20. ECG de paciente com hipotireoidismo.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Miocardite
A taquicardia sinusal com extrassístoles ventriculares são os achados mais comuns.
Porém, pode ocorrer bloqueio atrioventricular com necessidade de marca-passo. Se o
pericárdio também for comprometido, esperam-se alterações dos segmentos ST e de onda
T. Observamos na Figura 23 taquicardia sinusal com extrassístoles ventriculares sem
comprometimento pericárdico.
• Pericardite
Neste tipo de doença, ocorre supra de ST difuso, exceto em aVR e V1, com possível
infradesnivelamento do segmento PR. Também podem estar presentes taquicardia sinusal e
arritmias supraventriculares. Nas primeiras horas, observa-se supradesnivelamento dos
segmentos ST, seguido por normalização dos STs em dias, porém aparecendo inversão de
onda T caso o quadro dure semanas. Mesmo sem tratamento adequado, espera-se
normalização do eletrocardiograma após meses de evolução.1,2,4,11,13,14
Figura 24. ECG de paciente com pericardite.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Derrame pericárdico
Observa-se como características principais a taquicardia sinusal e a baixa voltagem do
QRS (≤ 10 mm nas derivações precordiais e ≤ 5mm nas derivações periféricas). Devido ao
movimento do coração envolto em líquido, pode ocorrer o fenômeno de alternância elétrica
em que o QRS em V1 ora está aumentado, ora diminuído. Já em V2 pode estar ora positivo,
ora negativo. Observamos na Figura 25 o traçado eletrocardiográfico de paciente com
derrame pericárdico, sendo possível evidenciar alternância elétrica em DI e derivações
precordiais.
• Febre reumática
O diagnóstico clínico é soberano e requer evidência de contato com estreptococos do
grupo A. O ECG complementar pode apresentar um aumento do PRi (≥ 20 ms) que, pelos
critérios de Jones modificados, é um dos critérios menores para febre reumática, sendo um
bloqueio atrioventricular (BAV) de primeiro grau.1,2,4,6-10 Observamos na Figura 26 o ECG com
aumento do PRi, configurando um BAV de primeiro grau, sendo um dos critérios menores
para febre reumática.
• Doença de Chagas
É uma parasitose causada pelo Tripanossoma cruzi. A doença provoca uma
disautonomia cardíaca por inflamação crônica, com alteração do funcionamento normal
dos plexos autonômicos cardíacos, sendo a fibrose local o achado mais comum. Em
relação à apresentação eletrocardiográfica, as arritmias são comuns, assim como os
bloqueios. O ECG característico da doença de chagas é composto por:1-3,6,13-15
• Hemorragia subaracnoidea
Observar um padrão de onda T invertida difusamente. Tais ondas isquêmicas estão
presentes devido ao alto nível de catecolaminas circulantes liberadas em decorrência da
hiperativação do sistema nervoso autônomo simpático, em resposta às alterações de
pressão intracraniana e possíveis lesões cerebrais. Deve-se estar atento à positivação dos
marcadores de necrose miocárdica também pela concentração elevada de catecolaminas.
Onda T cerebral é aquela com voltagem > 10 mm (1 mV).1-3,6,13,14 Observamos na Figura
28 o padrão de onda T invertida nas 12 derivações e Onda T cerebral em V4 e V5, aumento
do intervalo QT em precordiais.
• Taquicardia sinusal
Caracteriza-se por apresentar ritmo cardíaco regular com onda P, precedendo todo o
complexo QRS. Como se trata de uma taquicardia, a frequência cardíaca (FC) é > 100
bpm.1-3 Observamos na Figura 29 eixo de P normal, eixo do QRS normal, ritmo sinusal,
regular, FC de aproximadamente 150 bpm.
• Flutter atrial
Diferentemente da FA, este ritmo apresenta frequência atrial fixa, geralmente 300 bpm,
sendo causado por uma única macrorreentrada no átrio direito. Devido à filtragem
atrioventricular, a frequência cardíaca tem um padrão, podendo ser 2:1, 3:1 ou 4:1. Assim
como na FA, as principais causas são cardiopatias hipertensivas e coronariopatias. Ao
observar o eletrocardiograma, deve-se ficar atento às ondas F de flutter (“dente de serra”)
em D2, D3 e aVF. O intervalo RR é regular e não há intervalos isoelétricos entre os
complexos QRS. Observamos na Figura 35 FC aproximada de 270 bpm e presença de ondas
F de flutter.
Figura 35. ECG de paciente em flutter atrial.1-3,6,13,14
Fonte: Elaborado pelos autores.
j. BRADIARRITMIAS
• Bradicardia sinusal
Situação em que a frequência cardíaca está abaixo de 50 bpm, com onda P positiva em
DI e aVF. Geralmente desencadeada por droga bradicardizante, como betabloqueadores e
bloqueadores dos canais de cálcio, ou situações que induzam resposta vagal.1-4,6,11,13,14
Percebemos na Figura 39 o ritmo sinusal e FC de aproximadamente 44 batimentos.
• Pausa sinusal
Observa-se ritmo cardíaco normal com um intervalo sem atividade elétrica. Esse
intervalo é suficiente para conter um complexo QRS. Se a pausa for > 2,5 segundos, o
coração produzirá um escape para evitar síncope.1-4,6,13,14 Na Figura 40, percebemos o ritmo
sinusal, eixo de P e do QRS normais, presença de pausa sinusal, sem escape juncional ou
ventricular, visto em DII, não sendo múltiplo da FC.
• Síndrome bradi-taqui
Observa-se taquiarritmia (FA ou TPSV) e bradiarritmia alternadas. Está associada à
doença do nó sinusal e tem como tratamento definitivo a colocação de marca-passo. A
doença do nó sinusal, além da síndrome bradi-taqui, também pode gerar bradicardia sinusal
e pausa sinusal.
Na figura 42 observa-se diminuição progressiva do intervalo PP, com pausa sinusal, não
múltipla da FC, e retorno dos batimentos persistindo a variabilidade entre os intervalos PP.
• Tipo II: é uma parada sinusal com duração múltipla de um intervalo RR. Nesse
caso não há alteração do intervalo PP. 1-3
Figura 43. ECG de paciente apresentando BSA tipo 2.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• BAV 1º grau: BAV supra-hissiano, em que toda onda P gera um QRS, porém há
um intervalo PR (PRi) > 200ms. Pode ser patológico, como em paciente com
febre reumática, ou não, como em atleta aeróbico durante o sono.1-3
→ Mobitz I: existe um aumento progressivo do PRi até que uma onda P não gere um
QRS. O PRi após o bloqueio é menor que o PRi que antecede o bloqueio (fenômeno
de Wenckebach). Assim como o BAV de 1º grau, é um BAV supra-hissiano.
Figura 45. ECG de paciente com BAV de 2º grau Mobitz I.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Observamos na figura 45 ECG de ritmo sinusal regular e aumento progressivo do PRi até
que ocorra um bloqueio obrigatório.
→ Mobitiz II: existem ondas P sem gerar QRS, na proporção 2:1, 3:1, ou mais, quando
é dito avançado. O PRi é fixo. Diferentemente dos bloqueios atrioventriculares
mencionados anteriormente, este é um bloqueio infra-hissiano.
Observamos na figura 46 o ECG de ritmo sinusal regular com PRi fixo e presença de BAV
de 2º grau Mobitz II de proporção 2:1.
Observamos na figura 47 ECG característico de BAV total, com dissociação entre onda P
e complexos QRS.
REFERÊNCIAS
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segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2015; 105(2): 1-121.
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3. Pastore CA, Pinho JA, Pinho C, Samesima N, Pereira-Filho HG, Kruse JCL, et al. III Diretrizes da Sociedade
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7. Bazett HC. An analysis of the time-relations of electrocardiograms. Heart. 1920; (7): 353-37.
8. Bogossian H, Frommeyer G, Ninios I, Pechlivanidou E, Hasan F, Nguyen QS, et al. A new experimentally
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9. Hodges MS, Salerno D, Erlinen D. Bazett’s QT correction reviewed: evidence that a linear QT correction for
heart rate is better. J Am Coll Cardiol. 1983; 1: 694.
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14. Marin-Neto JA, Maciel BC, Filho AP, Castro RBP. Condutas de Urgência nas Síndromes Isquêmicas
Miocárdicas Instáveis. Simpósio: urgências e emergências cardiológicas. Medicina Ribeirão Preto. 2003;
36: 187-99.
15. McCance KL, Huether SE, Brashers VL, Rote NS. Pathophysiology: The biologic basis for disease in adults
and children. 7. ed. St. Louis: Mosby; 201
1.2
HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA
Autores:
Bianca Tavares de Figueiredo
Rafael Pereira Marinho
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica): condição clínica
multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos
níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se
associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou
estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença
de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia,
obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes
mellitus (DM).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
• Normalmente, o sintoma mais frequente e específico num
indivíduo hipertenso é a cefaleia suboccipital pulsátil,
também chamada de nucalgia. Além disso, epistaxe,
zumbidos, turvação visual, precordialgia e escotomas
cintilantes também podem estar presentes no quadro
clínico. Em uma evolução crônica da HAS, pode ocorrer
comprometimento dos órgãos-alvo (coração, cérebro, rim,
olhos e vasos arteriais) e consequente sintomatologia
específica.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: não pode faltar a medição da PA nos dois
braços, além da verificação peso, altura, IMC, FC e
circunferência abdominal.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Rotina básica (indicada para todos os pacientes): análise
de urina, ritmo de filtração glomerular estimada (RFG-e),
eletrocardiograma convencional, glicemia de jejum, colesterol
total, HDL-c, triglicérides, creatinina plasmática, potássio e ácido
úrico.
b. MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial):
permite o registro indireto e intermitente da PA durante 24
horas ou mais, enquanto o paciente realiza suas atividades
habituais durante os períodos de vigília e sono. Capacidade de
identificar as alterações circadianas da PA, com implicações
prognósticas consideráveis. Tem como indicações específicas a
discordância importante entre a PA no consultório e domiciliar,
avaliação do descenso durante e sono, suspeita de HAS ou falta
de queda da PA durante o sono habitual em pessoas com apneia
de sono, DRC ou diabetes e avaliação da variabilidade da PA.
c. MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial):
medição realizada com protocolo específico, consistindo na
obtenção de três medições pela manhã, antes do desjejum e da
tomada da medicação, e três à noite, antes do jantar, durante
cinco dias. Outra opção é realizar duas medições em cada uma
dessas duas sessões, durante sete dias.
d. Tanto a MAPA quanto a MRPA são indicadas na suspeita
de HAB, suspeita de HM, identificação de EAB em hipertensos,
grande variação da PA no consultório na mesma consulta ou em
consultas diferentes, hipotensão postural, pós-prandial, na sesta
ou induzida por fármacos, PA elevada de consultório ou suspeita
de pré-eclâmpsia em mulheres grávidas e confirmação de
hipertensão resistente.
e. Ecocardiograma: indicado na presença de indícios de HVE
ao ECG ou pacientes com suspeita clínica de IC.
f. Radiografia de tórax: acompanhamento de pacientes com
suspeita clínica de comprometimento cardíaco e/ou pulmonar,
bem como avaliação de hipertensos com comprometimento da
aorta quando o ecocardiograma não está disponível.
g. Albuminúria: pacientes hipertensos diabéticos, com
síndrome metabólica ou com dois ou mais fatores de risco.
h. US das carótidas: presença de sopro carotídeo, sinais de
doença cerebrovascular ou presença de doença aterosclerótica
em outros territórios.
i. US renal com Doppler: pacientes com massas abdominais
ou sopro abdominal.
j. HbA1C: quando glicemia de jejum > 99 mg/dL, história
familiar de DM tipo 2 ou diagnóstico prévio de DM tipo 2 e
obesidade.
k. Teste ergométrico: suspeita de doença arterial coronariana
(DAC) estável, diabetes mellitus ou antecedente familiar de DAC
em pacientes com PA controlada.
l. Velocidade de onda de pulso (VOP): hipertensos de médio e
alto risco.
m. RNM de cérebro: pacientes com distúrbios cognitivos e
demência.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Os valores de referência para o diagnóstico de HAS no cenário de cada
abordagem, bem como sua classi cação em estágios podem ser
observados nas Tabelas 1 e 2. Para o estabelecimento adequado do
diagnóstico de hipertensão, observar a Figura 1. Também é
imprescindível classi car todos os pacientes de acordo com o risco
cardiovascular (Figura 2 e Tabela 3) para se estabelecer as metas de
tratamento.
NORMAL ≤ 120 ≤ 80
MAPA: Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial; MRPA: Monitorização Residencial da Pressão Arterial.
Figura 1. Fluxograma para diagnóstico de hipertensão arterial.
Fonte: Adaptado de Malachias.1
PAS 130-139
HAS Estágio 1 HAS Estágio 2 HAS Estágio 3
OU PAD 85-89
Sem fator de Risco Sem Risco Adicional Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto
1-2 fatores de risco Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto Risco Alto
≥ 3 fatores de risco Risco Moderado Risco Alto Risco Alto Risco Alto
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; HAS: hipertensão arterial sistêmica; DCV: doença
cardiovascular.
Tabela 3. Estratificação de risco no paciente hipertenso.
Fonte: Adaptado de Malachias.1
Questionário de Berlim,
polissonogra a ou poligra a
SAHOS Ronco, sonolência diurna residencial com 5 ou mais
episódios de apneia e/ou
hipopneia por hora de sono
Determinações de aldosterona
(>15 ng/dL) e atividade/
concentração de renina
plasmática; cálculo da relação
Hiperaldosteronismo primário HAR e/ou com hipopotassemia (não
aldosterona/renina > 30.
(hiperplasia ou adenoma) obrigatória) e/ou com nódulo adrenal
Testes con rmatórios
(furosemida e captopril).
Exames de imagem:
TC com cortes nos ou RNM
Intolerância ao calor,
perda de peso, palpitações,
Hipertireoidismo exoftalmia, hipertermia, TSH e T4 livre
re exos exaltados,
tremores, taquicardia
SAHOS: síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono; HAR: hipertensão arterial resistente;
RFG-e: ritmo de ltração glomerular estimado; EAP: edema agudo de pulmão; SRAA: sistema
renina-angiotensina-aldosterona; TC: tomogra a computadorizada; ACTH: adrenocorticotropina;
TSH: hormônio tireoestimulante; PTH: paratormônio; IGF-1: fator de crescimento
insulina-símile tipo 1; GH: hormônio do crescimento.
Homens ≥ 94 cm
OBESIDADE ABDOMINAL
Mulheres ≥ 80 cm
TRIGLICERÍDEOS
≥ 150 mg/dL
(OU TRATAMENTO PARA HIPERTRIGLICERIDEMIA)
GLICEMIA
≥ 100 mg/dL
(OU TRATAMENTO PARA DM)
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica;
DM: diabetes mellitus.
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; CV: cardiovascular; DCV: doença cardiovascular;
MEV: modi cação de estilo de vida.
CV: cardiovascular; HA: hipertensão arterial. * Para pacientes com doenças coronarianas, a PA não deve car < 120/70 mmHg,
particularmente com a diastólica abaixo de 60 mmHg pelo risco de hipoperfusão coronariana, lesão miocárdica e eventos
cardiovasculares.
Diuréticos de alça
• 25 mg e 50 mg 12,5 mg 25 mg 1x/dia
Hidroclorotiazida
Indicação: associação a síndrome das pernas inquietas, retirada de opioides, ushes da menopausa, diarreia associada a neuropatia
diabética e hiperatividade simpática em pacientes com cirrose alcoólica.
Efeitos colaterais: reações autoimunes, como febre, anemia hemolítica, galactorreia e disfunção hepática.
Contraindicações: portador de doença do nódulo sinusal.
25 mg, 50 mg
• Atenolol e 100 mg
25 mg 100 mg 1-2x/dia
25 mg, 50 mg
• Metoprolol e 100 mg
50 mg 200 mg 1-2x/dia
• Doxazosina 2 mg e 4 mg 1 mg 16 mg 1x/dia
20 mg, 30 mg
• Nifedipino Oros e 60 mg
30 mg 60 mg 1x/dia
• Nifedipino 10 mg e 20 mg 20 mg 60 mg 2-3x/dia
Retard
• Manidipino 10 mg e 20 mg 10 mg 20 mg 1x/dia
5 mg, 10 mg
• Enalapril e 20 mg
5 mg 40 mg 1-2x/dia
2,5 mg, 5 mg
• Ramipril e 10 mg
2,5 mg 10 mg 1x/dia
• Perindopril 4 mg e 8 mg 4 mg 8 mg 1x/dia
5 mg, 10 mg
• Lisinopril e 20 mg
5 mg 20 mg 1x/dia
8 mg, 16 mg
• Candesartana e 32 mg
8 mg 32 mg 1x/dia
80 mg, 160 mg
• Valsartana e 320 mg
80 mg 320 mg 1x/dia
Indicação: opção para aqueles que são intolerantes aos IECA (tosse e angioedema).
Efeitos colaterais: hipotensão e hipercalemia.
Contraindicações: mesmas dos IECA, exceto angioedema.
Indicação: tem boa e cácia em monoterapia, de redução da PA, porém não há evidências de benefícios sobre morbimortalidade.
Efeitos colaterais: rash cutâneo, diarreia, aumento de CPK e tosse.
Contraindicações: gestantes.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
A associação de anti-hipertensivos pode constituir um verdadeiro
desafio clínico, tendo em vista que devem ser respeitas
combinações preferenciais e lembrar que também existem
combinações inadequadas (Figura 3).
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 55 anos, etilista
e tabagista há 30 anos, portador de hiperuricemia há 15 anos
(sem histórico de gota) e DM tipo 2 há 10 anos. Faz uso regular
de Metformina de 850 mg 3x ao dia. Vem para avaliação anual
de rotina, assintomático. Em seu prontuário foi anotada PA 150 x
90 mmHg há 6 meses, sem exames complementares. Nega
estar praticando atividade física e não tentou cessar o
tabagismo, mantendo dieta hiperglicídica e hipercalórica.
b. Ectoscopia: PA 160 x 90 mmHg (duas aferições), FC 90
bpm, FR 10 rpm. Peso 100 kg e altura 1,70 m.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Deve-se seguir rigorosamente as recomendações para a
adequada aferição da pressão arterial, como seleção do
manguito de tamanho adequado, posição, alimentação, uso
de cafeína ou fumo, bexiga vazia etc.
• O uso de DIU deve ser muito bem avaliado devido aos seus
efeitos colaterais, como diuréticos de alça (ototoxicidade,
hipocalemia, hipomagnesia), tiazídicos (hipocalemia,
hipomagnesemia, hiperuricemia, hipercalcemia e
dislipidemia).
REFERÊNCIAS
1. Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves MFT, et
al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol. 2016;
107(3Supl.3): 1-83.
2. Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A et al.
Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose –
2017. Arq Bras Cardiol. 2017; 109 (2Supl.1): 1-76.
3. Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO. (ed.). Braunwald: Tratado de Doenças
Cardiovasculares. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2018.
4. Scala LC, Magalhães LB, Machado A. Epidemiologia da hipertensão arterial
sistêmica. In: Moreira SM, Paola AV; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Livro
Texto da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2. ed. São Paulo: Manole; 2015. p.
780-5.
5. James PA, Oparil S, Carter BL, Cushman WC, Dennison-Himmelfarb C, Handler J, et
al. 2014 Evidence-based guideline for the management of high blood pressure in
adults: report from the panel members appointed to the Eighth Joint National
Committee (JNC 8). JAMA. 2014; 311(5): 507-20.
. Qaseem A, Wilt TJ, Rich R, Humphrey LL, Frost J, Forciea MA; et al. Pharmacologic
treatment of hypertension in adults aged 60 years or older to higher versus lower
blood pressure targets: a clinical practice guideline from the American College of
Physicians and the American Academy of Family Physicians. Ann Intern Med. 2017;
166(6): 430-7.
1.3
DISLIPIDEMIAS
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Carlos Eduardo Lins França Piau
Bianca Tavares de Figueiredo
Jean Bryally Peres
José Tasca
DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES
CLASSIFICAÇÃO LABORATORIAL:
CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA:
• Causas primárias: distúrbio lipídico é de origem genética
(familiar).
QUADRO CLÍNICO
• Um evento coronário agudo é a primeira manifestação da
doença aterosclerótica em pelo menos metade dos
indivíduos que apresentam esta complicação. Desta forma,
a identificação dos indivíduos assintomáticos que estão
mais predispostos é crucial para a prevenção efetiva, com a
correta definição das metas terapêuticas individuais.
Síndrome metabólica
LDL-c entre 70 e 189 mg/dL, com risco calculado pelo ERG > 20% (H) ou > 10% (M)
*Antes dos 55 anos para homens e antes dos 65 anos para mulheres;
CAC: cálcio arterial coronariano; H: homem; M: mulher.
ER: estrati cadores de Risco; DASC: doença aterosclerótica subclínica; ERG: escore de risco global.
METAS DE TRATAMENTO
• Alto risco: o LDL-c < 70 mg/dL e o não HDL-c < 100 mg/dL.
• Risco intermediário: o LDL-c < 100 mg/dL e o não HDL-c <
130 mg/dL.
• Baixo risco: meta de LDL-c deve ser < 130 mg/dL e o não
HDL-c < 160 mg/dL.
• Cessar tabagismo.
• Substituição (parcial) ácidos graxos saturados por mono e
poli-insaturados.
• Atividade física.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Pitavastatina 1, 2 e 4 mg intermediária
Recomendações: são primeira opção na prevenção primária e secundária. Dosagem de CK deve ser avaliada no início do
tratamento, principalmente em indivíduos de alto risco de eventos musculares. A dosagem rotineira de CK não é recomendada,
exceto se ocorrerem sintomas musculares ou na introdução de fármacos que interajam com as estatinas, ou ao se elevar a dose
destas. Dosagem de enzimas hepáticas (AST e ALT) deve ser realizada no início do tratamento. Dosagem de enzimas hepáticas
durante o tratamento apenas se sinais e sintomas de hepatotoxicidade.
Potência: as estatinas podem reduzir o LDL-c em > 50% (alta potência), entre 30-50% (intermediária potência) e até 30% (baixa
potência). Após esta redução inicial, a cada vez que dobramos dose da mesma estatina, obtemos uma redução adicional de LDL-
c de 6 a 7%.
Mecanismo de ação: inibidores da HMG-CoA redutase, com consequente diminuição do colesterol intracelular e aumento da
expressão de receptores de LDL-c. Assim, diminuem o LDL-c em até 55% e os triglicérides em 7 a 28%, podendo elevar o HDL-c de
2 a 10%.
Suspensão: se houver aumento da CPK > 10 vezes o LSN e sinais de hepatotoxicidade (icterícia, hepatomegalia, aumento da
bilirrubina direta e do INR). Em caso de elevações das transaminases em mais de 3 vezes o LSN, é recomendada a investigação de
outras etiologias e a suspensão ca a critério médico.
• Ezetimiba 10 mg 1 x ao dia
Recomendações: adição quando a meta do LDL-c não é atingida com estatina em dose máxima tolerada em pacientes em
prevenção secundária; quando a meta do LDL-c não é atingida com estatina em dose máxima tolerada na prevenção primária;
isolada ou associada a estatinas em paciente que não tolerem doses recomendadas de estatinas; esteatose hepática.
Mecanismo de ação: inibe a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado, atuando seletivamente nos
receptores NPC1-L1 e inibindo o transporte intestinal de colesterol. De maneira isolada podem reduzir de 10 a 25% do LDL-c.
Cuidados: Raros efeitos colaterais têm sido apontados e estão em geral relacionados com o trânsito intestinal. Por precaução,
recomenda-se que ela não seja utilizada em casos de dislipidemia com doença hepática aguda.
Recomendações: em adição ao tratamento com estatina quando a meta de LDL-c não é atingida. Único fármaco liberado para
mulheres em período reprodutivo, amamentação e gestação.
Mecanismo de ação: redução da absorção enteral de ácidos biliares, causando depleção do colesterol celular hepático,
estimulando síntese de LDLR (receptor de LD-c) e de colesterol endógeno. Como consequência deste estímulo à síntese, pode
ocorrer aumento da produção de VLDL e, consequentemente, de TGL plasmáticos.
Cuidados: interfere muito na absorção de outras medicações, devendo ser ingerida em horário distinto. A suplementação de
vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e ácido fólico pode ser necessária em alguns casos. Evitar em paciente com TG aumentados
(especialmente se níveis maiores de 400 mg/dL).
Recomendações: TGL > 500 mg/dL ou em pacientes com TGL > 204 mg/dL e HDL-c < 34 mg/dL, isolado ou associado a
estatinas.
Mecanismo de ação: estimulação dos receptores PPAR-α, aumentado a produção e ação da lipase lipoproteica, com
consequente redução dos triglicérides em 30 a 60% (quanto maior o valor basal, maior a redução) e aumento de HDL-c em 7 a
11%. Os valores de LDL-c podem se manter, diminuir ou até aumentar.
Cuidados: interfere muito na absorção de outras medicações, devendo ser ingerida em horário distinto. A suplementação de
vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e ácido fólico pode ser necessária em alguns casos. Evitar em paciente com TGL aumentados
(especialmente se níveis maiores de 400 mg/dL). Não é recomendada a associação de gen brozila com estatinas, devido ao
elevado risco de rabdomiólise.
Recomendações: HDL-c baixo isolado, e como alternativa aos bratos e estatinas, ou em associação a estes fármacos em
portadores de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou com dislipidemia mista resistente.
Mecanismo de ação: reduz a ação da lipase tecidual nos adipócitos, levando à menor liberação de ácidos graxos livres para a
corrente sanguínea. Como consequência, reduz-se a síntese de TGL pelos hepatócitos. Reduz ainda o LDL-c em 5 a 25%;
aumenta o HDL-c em 15 a 35%; e diminui o TGL em 20 a 50%.
Cuidados: preferir formulações de liberação prolongada pela menor incidência de efeitos colaterais como rubor e prurido.
Ingestão de bebidas alcoólicas não é recomendada e pode ser associado AAS antes da sua ingestão para também reduzir efeitos
indesejáveis.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 42 anos,
previamente hipertenso em uso de Losartana 25 mg/dia,
assintomático, comparece em consulta para avaliação de rotina.
Nega tabagismo e etilismo. Dieta hipercalórica. Sedentário.
Ectoscopia: PA 130 x 80 mmHg, FC 85 bpm, FR 15 rpm,
acianótico, anictérico. 92 Kg, altura 1,73 m (IMC = 30,7). Exame
físico geral e específico sem alterações. ECG de 12 derivações
dentro dos limites de normalidade.
b. Exames laboratoriais: hemograma e função renal normais.
TGO 29 mg/dL, TGP 52 mg/dL, glicemia jejum 98 mg/dL, HbA1C
5,5%, colesterol total 283 mg/dL, HDL-c 26 mg/dL, triglicérides
206 mg/dL.
c. Conduta: através da fórmula de Friedewald, encontramos o
LDL-c (215 mg/dL). Trata-se de um paciente com obesidade
grau I, sedentário e portador de hiperlipidemia mista (vide
classificação laboratorial no início deste capítulo). Através da
calculadora de ERG ou mesmo pelo valor de LDL-c já
classificamos tal paciente como sendo de alto risco. Assim,
deve receber orientações para tratamento não farmacológico,
bem como para tratamento farmacológico. Temos por objetivo
uma meta de LDL-c < 70 mg/dL, bem como um colesterol não
HDL-c < 100 mg/dL e triglicérides < 150 mg/dL. Como temos
metas bem apertadas, será necessária estatina de alta
potência.
d. Prescrição sugerida:
1. Atorvastatina 40 a 80 mg/dia ou
2. Rosuvastatina 20 a 40 mg/dia ou
3. Associação de Sinvastatina 40 mg + Ezetimiba 10 mg.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Fórmula de Friedewald: LDL = CT - HDL - TGL .
5
REFERÊNCIAS
1. Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A et al.
Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose –
2017. Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76.
2. Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO. (ed.). Braunwald: Tratado de Doenças
Cardiovasculares. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
3. Grundy SM, Stone NJ, Bailey AL, et al. AHA, ACC, AACVPR, AAPA, ABC, ACPM, ADA,
AGS, APhA, ASPC, NLA and PCNA. Guideline on the Management of Blood
Cholesterol: Executive Summary: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on clinical practice guidelines.
J Am Coll Cardiol. 2019;73(24):3168–3209.
4. Karlson BW, Palmer MK, Nicholls SJ, et al. A VOYAGER meta-analysis of the impact
of statin therapy on low-density lipoprotein cholesterol and triglyceride levels in
patients with hypertriglyceridemia. Am J Cardiol. 2016;117(9):1444–1448.
5. Wang D, Liu B, Tao W, et al. Fibrates for secondary prevention of cardiovascular
disease and stroke. Cochrane Database Syst Rev. 2015;(10):CD009580.
6. Aung T, Halsey J, Kromhout D, et al. Associations of omega-3 fatty acid supplement
use with cardiovascular disease risks: meta-analysis of 10 trials involving 77917
individuals. JAMA Cardiol. 2018;3(3):225–234.
1.4
SÍNDROMES CORONARIANAS
AGUDAS
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Jean Bryally Peres
Vitória de Cássia da Silva Moreira
DEFINIÇÕES
• Na metade do século XIX a OMS (Organização Mundial da
Saúde) apresentou a primeira definição de infarto do
miocárdio (IM), com a introdução de novas tecnologias que
melhoraram a abordagem clínica foram elaboradas outras
definições para o IM. A definição em vigência desde 2018 –
quarta definição mundial de IM – caracteriza essa situação
como a presença de lesão aguda miocárdica associada a
níveis anormais dos biomarcadores cardíacos com quadro
clínico que evidencie isquemia miocárdica aguda. Neste
capítulo o IM será abordado minuciosamente de acordo com
esta definição.
ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA E
CLASSIFICAÇÃO
• De acordo com a quarta definição mundial de IM (2018) as
categorias de SCACSST e SSST são complementadas com a
classificação dos tipos de IM (1 a 5), os quais são
fundamentados nas diferenças clínicas, fisiopatológicas,
prognósticas e de tratamento.
CAUSAS DE IM TIPO 2
QUADRO CLÍNICO
• Dor torácica: principal sintoma sugestivo de síndrome
coronariana aguda. Deve ser avaliada cuidadosamente, pois
apresenta uma gama de diagnósticos diferenciais (tabela
01).
DISSECÇÃO AGUDA DA AORTA Dor intensa dissecante com irradiação para o dorso.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia e sinais vitais: presença de cianose de
extremidades, queda na saturação de pulso, hipotensão ou
hipertensão arterial, alterações do estado mental, pele
diaforética. Parâmetros importantes, pois, permitem
estabelecer o estado geral do paciente e a condição
hemodinâmica.
Critérios gerais
Alteração dos níveis de troponina com pelo menos 1 valor acima do P99 ALR associado a pelo menos 1 dos seguintes
achados:
Evidência em exames de imagem de perda aguda de cardiomiócitos viáveis ou zona de mobilidade da parede ventricular
inadequada supostamente nova.
IM tipo 2: identi cação de achado sugestivo de desequilíbrio entre a oferta e consumo de oxigênio miocárdico.
ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO
• Escore GRACE: permite estimar o risco de mortalidade
intra-hospitalar na SCA e contribui para a tomada de
decisões da equipe médica e exames complementares. A
estratificação de risco não deve atrasar a terapêutica inicial.
Variável pontos
<29 0
30-39 8
40-49 18
IDADE 50-59 36
(ANOS) 60-69 55
70-79 73
80-89 91
>90 100
I 0
II 20
KILLIP-KIMBALL
III 39
IV 59
<79 24
80-99 22
PRESSÃO ARTERIAL 100-119 18
SISTÓLICA 120-139 14
(MMHG) 140-159 10
160-199 4
>200 0
<49 0
50-69 3
FREQUÊNCIA 70-89 9
CARDÍACA 90-109 14
(BPM) 110-149 23
150-199 35
>200 43
0-0,39 1
0,4-0,79 3
0,8-1,19 5
CREATININA 1,2-1,59 7
1,6-1,99 9
2,0-3,99 15
>4 20
Variável pontos
PARADA
Sim 39
CARDIORRESPIRATÓRIA
Não 0
(PCR) NA ADMISSÃO
DESVIO DO Sim 28
SEGMENTO ST Não 0
• Resultado:
• <108: baixo risco para óbito hospitalar – <1%;
• Entre 109 e 140: risco intermediário – mortalidade entre
1% e 3%;
Idade ≥ 65 anos 1
Troponina positiva 1
EXAMES COMPLEMENTARES
• Laboratoriais: indicados para todos os pacientes com
suspeita de SCA - glicemia, eletrólitos, função renal,
hemograma, coagulograma.
Cineangiocoronariografia Cineangiocoronariografia
imediata precoce
Angina refratária ou recorrente, mesmo com Nenhum dos achados que indiquem
tratamento adequado. intervenção imediata.
TRATAMENTO
Após a abordagem inicial da dor torácica e evidência de SCA
CSST iniciam-se as condutas gerais e específicas para promover
conforto e melhor prognóstico.
1. Oxigenioterapia: reduz a hipóxia no território isquêmico.
Indicada quando saturação de oxigênio < 90%.
2. Nitratos: promove melhora sintomática, sem benefício
prognóstico. Não deve ser usada em hipotensos ou após uso
de inibidores da fosfodiesterase (sildenafil e tadalafil). Se não
houver melhora sintomática recomenda-se o uso de opioides.
Não utilizar em IM de VD.
3. Morfina: promove redução da dor e do consumo de oxigênio.
Não utilizar em IM de VD.
4. Antiagregantes plaquetários: fundamental no manejo da
SCA. Ácido acetilsalicílico associado com as novas classes de
Antiagregantes (clopidogrel, prasugrel, ticagrelor).
5. Anticoagulantes: reduz a progressão de eventos trombóticos,
podem ser usados: heparina não fracionada e heparina de
baixo peso molecular.
6. Inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona:
reduzem a mortalidade após IAM, independente da terapia de
reperfusão. Maior benefício em IAM de parede anterior,
evolução com congestão pulmonar e fração de ejeção do VE <
40%. Não devem ser utilizados se PAS < 100 mmHg na
admissão. Primeira opção IECA, caso haja intolerância pode
ser utilizado bloqueadores dos receptores da angiotensina
(BRA).
7. Betabloqueadores: Promovem a diminuição da FC,
contratilidade e consequente redução do consumo de
oxigênio pelo miocárdio. Contraindicações: disfunção
moderada a grave de VE, edema pulmonar, bradicardia,
hipotensão, perfusão de extremidades diminuída, bloqueios
atrioventriculares, hiper-reatividade de vias aéreas.
Recomenda-se utilizar, na ausência das contraindicações,
com início nas primeiras 24 horas.
8. Antagonistas dos canais de cálcio: reduzem a contratilidade
miocárdica, tônus vascular, velocidade de condução
atrioventricular e atividade do nodo sinusal. Indicado quando
existem contraindicações aos betabloqueadores, angina de
Prinzmetal e isquemia refratária ao tratamento com nitratos e
betabloqueadores sem disfunção de VE. Preferir
cardiosseletivos: verapamil ou diltiazem.
9. Estatinas e hipolipemiantes: reduzem a incidência de
eventos cardiovasculares maiores, indicação de início nas
primeiras 24 horas. Caso o paciente já esteja em uso desses
medicamentos estes não devem ser interrompidos na
hospitalização. Preferência para estatinas de alta potência
como: Rosuvastatina, Atorvastatina, Sinvastatina + Ezetimiba.
10. Terapias de reperfusão: Indicação de reperfusão química ou
mecânica: IAM CSST < 12 horas de evolução ou 12-24 h
com persistência de sintomas e SST.
FÁRMACOS
Droga Dose Inicial
Nitratos
Droga Dose
Nitratos
• Ataque: 300 mg VO
• Ácido Acetilsalicílico (AAS)
• Manutenção: 100mg/dia VO
Inibidores do Receptor P2Y12
• Ataque: 300-600 mg VO
• Clopidogrel • > 75 anos: 75 mg VO
• Manutenção: 75 mg/dia por até 12 meses VO
• Ticagrelor • Ataque: 180 mg VO
• Primeira escolha, se disponível. • Manutenção: 90 mg 12/12h VO
• Prasugrel • Ataque: 60 mg VO
• Não indicado de rotina – alto risco de • Manutenção: 10 mg/dia VO
sangramento;
• ≥ 75 anos: ½ dose
• Indicado durante ou após angioplastia com
• < 60Kg: ½ dose
stent.
Droga Dose
Droga Dose
Droga Dose
• <60Kg: 30 mg EV
• 60-70Kg: 35 mg EV
• Tenecteplase (TNK-tPA) • 70-80Kg: 40 mg EV
• Escolha • 80-90Kg: 45 mg EV
• >90Kg: 50 mg EV
• >75 anos: ½ dose pelo peso
Tabela 16. Agentes Fibrinolíticos
Fonte: Elaborado pelos autores.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma de diagnóstico e tratamento das síndromes
coronarianas agudas.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente H.W.P., 63 anos, masculino, chega ao
P.S. trazido pelo SAMU, após ter sido reanimado por 8 ciclos de
RCP + Desfibrilação (FV/TV) em sua residência. Familiares
relatam que o paciente se deitou após o almoço, assintomático,
porém, após cerca de aproximadamente 40 minutos, quando um
dos familiares entrou no quarto, notou que ele não respondia
aos estímulos, acionando o SAMU.
b. Antecedentes: Hipertenso sem controle adequado.
Tabagista há 46 anos (40 cigarros/dia). Fazia uso esporádico de
Diazepam 5 mg quando estava muito nervoso. Pai era
valvulopata e faleceu aos 58 anos devido complicações de ICC
descompensada. Negaram alergias.
c. Exame físico: Sedado, pupilas mióticas e fotorreativas, IOT
+ VM, Sat. O2: 92%, FC = 100 bpm, PA = 100 / 60 mmHg, em uso
de Noradrenalina (1 mcg/Kg/min) e Dobutamina (12
mcg/Kg/min). Na avaliação cardiopulmonar foi evidenciado
estertores creptantes bilaterais até 1/3 médio, BRNF 2T, s/
sopros, cliques e estalidos e presença de B4. Pulsos palpáveis e
simétricos bilateralmente. Melhora da perfusão após emprego
das Drogas Vasoativas.
d. Exames complementares: ECG de admissão evidencia
ritmo rinusal, sem desvio de eixo, e presença de
Supradesnivelamento do Segmento ST de V1 – V6. Sem outras
alterações.
e. Hipótsese diagnóstica: IAMCST ANTERIOR EXTENSO +
CHOQUE CARDIOGÊNICO
f. CONDUTA: Como o hospital possui serviço de
hemodinâmica, o paciente foi encaminhado à este setor,
recebendo rapidamente, por SNG, dose de ataque de AAS
300mg + clopidogrel 600mg. Foi submetido à Coronariografia +
Angioplastia Primária com implante de stent em segmento
proximal de ADA (artéria descendente anterior), não possuía
outras lesões coronarianas e então posteriormente
encaminhado à UTI/UCO, onde permaneceu por 5 dias. Realizou
ecocardiograma transtorácico, foram administradas medicações
que reduzem morbimortalidade, algumas delas ainda em
otimização. Recebeu alta para enfermaria onde se recupera
bem.
g. Prescrição sugerida para otimização clínica na enfermaria:
1. Dieta oral;
2. Enoxaparina 1 mg/Kg de 12/12h;
3. AAS 100 mg VO após o almoço;
4. Clopidogrel 75 mg VO após o almoço;
5. Enalapril 10 mg VO de 12/12h;
6. Metoprolol 50mg VO pela manhã;
7. Atorvastatina 40 mg VO 1x ao dia;
8. Considerar uso de benzodiazepínicos se abstinência ou
insônia/agitação.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Diante de dor torácica ou sintomas equivalentes isquêmicos
deve-se ter atenção redobrada, pois SCA é o principal
diagnóstico e confere alto risco de mortalidade ao paciente,
principalmente se não for abordada da maneira adequada.
REFERÊNCIAS
1. Piegas, L. S., Timerman, A., Feitosa, G. S., Nicolau, J. C., Mattos, L. A. P., Andrade, M.
D., ... & Mansur, A. P. (2015). V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre
tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST.
Arquivos brasileiros de cardiologia, 105(2), 1-121.
2. Santos, E. D. S. D., & Timerman, A. (2018). Dor torácica na sala de emergência:
quem fica e quem pode ser liberado? Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo, 394-
402.
3. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto
Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2015;
105(2):1-105.
4. Pesaro et al. Síndromes coronarianas agudas: como fazer um diagnóstico correto
na sala de emergência. Einstein. 2007; 5(1):80-84
5. Thygesen, K., Alpert, J. S., Jaffe, A. S., Chaitman, B. R., Bax, J. J., Morrow, D. A., &
White, H. D. (2018). Fourth universal definition of myocardial infarction (2018).
Journal of the American College of Cardiology, 72(18), 2231-2264.Macias M,
Peachey J, Mattu A, Brady WJ. The electrocardiogram in the ACS patient: high-risk
electrocardiographic presentation lacking anatomically oriented ST-segment
elevation. Am J Emerg Med. 2015
. BassanF & Bassan R. Revista da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul –
Ano XV nº 07 Jan/Fev/Mar/Abr 2006
7. Bernoche, C., Timerman, S., Polastri, T. F., Giannetti, N. S., Siqueira, A. W. D. S.,
Piscopo, A., ... & Quilici, A. P. (2019). Atualização da Diretriz de Ressuscitação
Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade
Brasileira de Cardiologia-2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 113(3), 449-663.
. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto
Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST (II Edição, 2007) –
Atualização 2013/2014. Arq Bras Cardiol 2014; 102(3Supl.1):1-61
9. Authors/Task Force Members, Hamm, C. W., Bassand, J. P., Agewall, S., Bax, J.,
Boersma, E., ... & Huber, K. (2011). ESC Guidelines for the management of acute
coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment
elevation: The Task Force for the management of acute coronary syndromes (ACS)
in patients presenting without persistent ST-segment elevation of the European
Society of Cardiology (ESC). European heart journal, 32(23), 2999-3054.
1.5
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
CRÔNICA
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Bianca Tavares de Figueiredo
Jean Bryally Peres
DEFINIÇÕES
• IC (Insuficiência Cardíaca): síndrome decorrente da
incapacidade do coração em ofertar um débito cardíaco
adequado às demandas metabólicas ou o faz às custas de
altas pressões de enchimento. Estes sinais e sintomas vem
acompanhados da elevação de peptídeos natriuréticos e
alterações ecocardiográficas (disfunção sistólica, disfunção
diastólica e alterações estruturais).
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: cianose, taquicardia, pressão percentual de
pulso (PA sistólica – PA diastólica/PA sistólica) < 25%,
sugerindo baixo débito cardíaco, baixa oxigenação periférica
(medida na oximetria de pulso), aumento do tempo de
enchimento capilar, edema de membro inferiores com sinal
do cacifo ou mesmo anasarca.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): fibrilação atrial, taquicardia
sinusal, sinais de sobrecargas ventriculares e atriais (vide
capítulo de ECG), ondas Q (área inativa devido infarto
prévio), baixa voltagem (derrame pericárdico e doenças
infiltrativas), BRD + BDAS (cardiopatia chagásica), BRE (valor
prognóstico).
• BNP > 400 pg/mL indica IC, de 100 a 400 pg/mL não
afasta IC e BNP < 100 pg/mL sugere outra etiologia para
dispneia.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Maiores Menores
De acordo com os critérios de Framinghan, o diagnóstico de IC é estabelecido pela presença simultânea de 2 critérios
maiores ou 1 critério maior + 2 critérios menores.
• Restrição hídrica até 1.500 mL (se NYHA III ou IV, Na+ < 135
mEq/L ou anasarca).
Diuréticos tiazídicos
Tabela 4. Diuréticos.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Indicação: pacientes com FE ≤ 35%, sintomáticos a despeito de tratamento ótimo com a maior dose de BB
tolerada, em ritmo sinusal e FC ≥ 70 bpm.
• Efeitos colaterais: fosfenos (aparecimento de luzes no campo visual) e bradicardia.
• Contraindicações: IC descompensada, bloqueios AV e sinoatriais, marcapasso, doença do nó sinusal e brilação
atrial.
• Efeitos colaterais: náuseas, inapetência, vômitos, anorexia, xantopsia, arritmias (extrassístoles ventriculares,
bloqueios e taquicardias atriais).
DIMINUIÇÃO DA MORTALIDADE:
Droga Apresentações Dose inicial Dose alvo
25 mg, 50 mg
• Metoprolol e 100 mg
25 mg 1x/dia 200 mg 1x/dia
• Indicação: todos os pacientes com disfunção do VE estável sintomática, havendo benefício também para
assintomáticos. Visar uma FC (frequência cardíaca) alvo entre 50 e 60 bpm. Iniciar em doses baixas, com aumento
progressivo a cada 2 semanas.
2,5 mg, 5 mg
• Ramipril e 10 mg
1,25 mg 1x/dia 10 mg 1x/dia
5 mg, 10 mg
• Lisinopril e 20 mg
2,5 mg 1x/dia 40 mg 1x/dia
8 mg, 16 mg
• Candesartana e 32 mg
4 mg 1x/dia 32 mg 1x/dia
80 mg, 160 mg
• Valsartana e 320 mg
40 mg 1x/dia 320 1x/dia
• Indicação: opção para aqueles que são intolerantes aos IECA (tosse e angioedema).
• Efeitos colaterais: hipotensão e hipercalemia.
• Contraindicações: mesmas dos IECA, exceto angioedema.
Tabela 9. Bloqueadores do Receptor de Angiotensina II (BRA).
Fonte: Elaborado pelos autores.
• 25 mg, 50 mg
25 mg 1x/dia 50 mg 1x/dia
e 100 mg
Espironolactona
• Indicação: em substituição do IECA (ou BRA), para disfunção de VE sintomática, já em uso de terapêutica
otimizada com terapia tripla (BB, IECA ou BRA e Espironolactona).
• Indicação: a disfunção sistólica sintomática com contraindicação à IECA ou a BRA (insu ciência renal e/ou
hipercalemia) ou naqueles com disfunção sistólica sintomática em classe funcional III-IV (NYHA), apesar de
terapêutica otimizada.
• Efeitos colaterais: hipotensão postural, taquicardia re exa, cefaleia (nitrato), lúpus induzido (hidralazina).
• Contraindicações: naqueles que em uso de inibidores da fosfodiesterase 5, como sildena l.
Tabela 12. Hidralazina + Dinitrato de Isossorbida.
Fonte: Elaborado pelos autores.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1:
Fonte: Adaptado de Comitê organizador da Diretriz de Insuficiência
Cardíaca.¹
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 32 anos, com
passado de miocardite viral, nega uso de qualquer medicação,
evoluindo com dispneia aos pequenos esforços, edema de
membros inferiores e aumento do volume abdominal.
b. Ectoscopia: PA 130 x 80 mmHg, FC 105 bpm, FR 20 rpm,
turgência jugular patológica.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A nova classificação da IC não adota mais os termos IC
sistólica ou diastólica.
DEFINIÇÕES
• Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA): Síndrome clínica de
insuficiência cardíaca (IC) com instalação aguda em
pacientes sem antecedentes de IC. Secundária a eventos
clínicos variados e, geralmente, agudos.
• Insu ciência Cardíaca Crônica Descompensada (ICCD): Situação
clínica de IC com instalação insidiosa ou abrupta. Pacientes com
diagnóstico prévio de IC. As causas de descompensação são
múltiplas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Tanto a ICA quanto a ICCD são resultantes do desequilíbrio
hemodinâmico originado por disfunções diastólicas e/ou
sistólicas, alterações nas pressões de enchimento das
câmaras cardíacas (pré-carga e pós-carga) e do ritmo
cardíaco.
QUADRO CLÍNICO
• Sinais e sintomas secundários a disfunção de ventrículo
esquerdo: acometimento pulmonar - dispneia progressiva
(classificação da NYHA); dispneia paroxística noturna:
sensação de sufocamento, opressão torácica, associada a
despertar noturno; ortopnéia; edema agudo de pulmão,
aumento do esforço respiratório.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): recomenda-se ECG de 12
derivações na admissão desses pacientes no cenário de
emergência, pois auxiliam no diagnóstico diferencial e
abordagem apropriada. Exemplos: arritmias, mais
prevalentes flutter e FA, áreas de inatividade miocárdica;
alterações no segmento ST.
• Radiografia de tórax: aumento da área cardíaca, sinais de
congestão pulmonar (linhas B de Kerley, borramento peri-
hilar), derrame pleural.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Maiores Menores
PERFIL A PERFIL B
PERFIL L PERFIL C
TRATAMENTO
• Avaliação clínica hemodinâmica: A divisão conforme o perfil
hemodinâmico referida anteriormente, irá nortear as
medidas terapêuticas.
Tabela 2. Diuréticos.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Adrenérgico
• Dobutamina
• 2,5 a 20 mcg/kg/minuto
• Avaliar ajuste da droga a cada 10 minutos
Não adrenérgicos
Tabela 3. Inotrópicos.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Vasodilatadores
Vasopressores
Ponte para decisão: necessidade imediata de suporte circulatório sem uma estratégia nal de tratamento.
Ponte para recuperação: existe perspectiva de melhora da função ventricular após insulto agudo.
Ponte para transplante cardíaco: os dispositivos fornecem suporte hemodinâmico até o momento da realização do
transplante.
Alguns dispositivos que podem ser usados: balão intra-aórtico, circulação extracorpórea,
assistência circulatória mecânica direita ou esquerda.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Fluxograma adaptado da Atualização da Diretriz de
Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de
Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 54 anos, com
passado de hipertensão arterial não tratada e dislipidemia.
Apresentou dor torácica de característica anginosa com mais de
48 horas sem buscar atendimento médico. Evolui com nova dor,
com as mesmas características há 4 horas. Procurou pronto
atendimento com queixa de dispneia em repouso, letargia e
extremidades frias.
b. Ectoscopia: Peso: 88kg, PA 80 x 60 mmHg, FC 120 bpm, FR
30 rpm, turgência jugular patológica, perfusão periférica > 3
segundos, extremidades frias e cianóticas, saturação de
oxigênio de 91%.
1. Jejum
2. Furosemida 80 mg EV em bolus
3. Furosemida 40 mg EV de 12/ 12 horas
4. Dobutamina 20 ml (250 mcg) + SG 5% 230 ml em Bomba de
infusão contínua (BIC) à critério médico – iniciar com 5 ml/h
e titular a dose conforme níveis pressóricos.
5. Noradrenalina 16 ml (16 mg) + SG 5% 234 ml em BIC à
critério médico – iniciar com 10 ml/h e titular dose
conforme níveis pressóricos.
6. AAS 300 mg VO
7. Clopidogrel 300 mg VO
8. Ventilação Não Invasiva com PEEP de 10 cm H20, por 30
minutos de 8/8 horas ou se necessário.
9. Enoxaparina 80 mg SC 12/12 horas.
10. Paciente encaminhado para estudo hemodinâmico.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Drogas vasopressoras, como a noradrenalina, podem ser
iniciadas em veia periférica nos casos de emergência e
instabilidade hemodinâmica grave. Porém, devem ser
usadas nesta modalidade por pouco espaço de tempo (até
conseguir acesso venoso em veia central).
REFERÊNCIAS
1. Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539.
2. Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWS, Piscopo A et al.
Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados de
Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019;
113(3):449-663.
3. Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO. (ed.). Braunwald: Tratado de Doenças
Cardiovasculares. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
4. Yancy CW, Jessup M, Bozkurt B, et al. 2017 ACC/AHA/HFSA focused update of the
2013 ACCF/AHA guideline for the management of heart failure: a report of the
American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on
Clinical Practice Guidelines and the Heart Failure Society of America. Circulation.
2017;136(6):e137–e161.
1.7
TAQUIARRITMIAS
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Carolina Limongi de Oliveira
Andressa Mayumi Matucuma
Jade Rodrigues Lino de Oliveira
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Ritmo taquicárdico: frequência cardíaca (FC) superior a 100
batimentos por minuto (bpm), secundário à alteração na
condução do impulso elétrico no miocárdio. As taquicardias
apresentam um amplo espectro de apresentação, que serão
abordados neste capítulo.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Taquicardias supraventriculares (TSV): alterações do ritmo
cardíaco provenientes do nodo sinusal (SA), miocárdio atrial,
nodo atrioventricular (AV) ou de vias acessórias (Figura 1).
QUADRO CLÍNICO
• Assintomáticos: nesses indivíduos, as taquiarritmias podem
não necessitar de tratamento específico imediato, caso não
determinem alterações clínicas. No entanto, precisam ser
documentadas, se possível, para reavaliações no futuro.
EXAME FÍSICO
• Nas taquiarritmias, o exame físico é basicamente marcado
pela frequência cardíaca maior ou igual a 100 bpm. Achados
adicionais de instabilidade podem ocorrer, principalmente
se a frequência cardíaca ultrapassar 150 batimentos por
minuto ou o paciente já apresentar alguma cardiopatia
estrutural prévia.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): principal componente da
avaliação complementar dos sinais e sintomas sugestivos
de taquiarritmia. Na vigência do episódio, permite o
diagnóstico de certeza, diferenciação entre os subtipos
existentes e correta abordagem terapêutica.
• Sistemas de monitorização prolongada do ECG: úteis
quando os episódios de taquiarritmia são recorrentes, com
início e fim súbitos e não puderam ser documentados no
ECG comum.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a. TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES
• Taquicardia sinusal
• Características gerais: resposta exacerbada aos
estímulos simpáticos, hiperestimulação do nodo sinusal
(principal causa), alta sensibilidade à adrenalina.
• Características gráficas: ritmo sinusal (todo QRS
precedido por onda P), intervalo RR regular, sem
alterações morfológicas, FC >100 bpm (Figura 2).
• Classificação da FA:
• Paroxística: autolimitada e com duração menor que 7
dias, geralmente menor que 24h e se resolve
espontaneamente.
b. TAQUICARDIAS VENTRICULARES
• Taquicardia ventricular não sustentada (TVNS)
• Características gerais: duração menor do que 30
segundos e não cursa com instabilidade hemodinâmica.
Investigar nestes pacientes doença arterial coronariana
(DAC), cardiomiopatias, valvopatias ou causas não
estruturais. Fator de risco para TV sustentada com
evolução para morte súbita.
• Características gráficas: três ou mais batimentos
consecutivos advindos abaixo do nó AV com frequência >
120 bpm, não precedidos de onda P e com QRS alargado.
TRATAMENTO
• Tratamento inicial das taquicardias com QRS estreito (<120
ms): os pacientes hemodinamicamente instáveis ou que
desenvolvam instabilidade durante atendimento devem ser
submetidos, no tempo mais breve possível, à cardioversão
elétrica. A análise eletrocardiográfica deve ser reservada a
um momento mais oportuno. Nos instáveis, é suficiente o
reconhecimento da presença de taquiarritmia; já nos
estáveis, a regularidade ou irregularidade do intervalo RR. O
fluxograma a seguir (Fluxograma 3) sintetiza a abordagem
terapêutica que pode ser instituída.
Fluxograma 3. Tratamento da taquiarritmia com QRS estreito.
Fonte: Adaptado de Bernoche.4
• Tratamento inicial das taquicardias com QRS largo (≥ 120
ms): frequentemente os pacientes com este tipo de arritmia
se apresentam com instabilidade hemodinâmica ou
desenvolvem-na durante o curso clínico. Por isso, medidas
de terapêutica imediata são comumente empregadas. Em
pacientes instáveis, a cardioversão elétrica é a terapia de
escolha, energia de 100 a 200 J se monofásico ou 100 J,
bifásico, iniciais com aumento da carga se necessário, em
modo sincronizado. O fluxograma a seguir (Fluxograma 4)
aborda detalhadamente a terapêutica sugerida.
Hipertensão arterial 1
Critérios Pontos
Idade > 75 anos 2
Diabetes Mellitus 1
Sexo feminino 1
a. FÁRMACOS
Medicação Dose
• Mor na • 1 – 2 mg EV
• Fentanil • 1 – 2 mcg/kg EV
Sedação
Medicação Dose
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Adaptado de Magalhaes.5
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 63 anos, 70 kg, comparece ao
pronto-socorro com quadro clínico de palpitação de início há
duas horas, associada à sudorese profusa. Nota-se que está
pálido e com leve dispneia. Hipertenso e diabético de longa data,
com uso contínuo de losartana, clortalidona e metformina.
Iniciadas medidas de monitorização cardíaca, oximetria de pulso
e solicitado um eletrocardiograma – apresentado a seguir.
b. Exames complementares: Laudo do ECG: ritmo cardíaco
irregular, com oscilações em linha de base e ausência de onda P.
c. Prescrição sugerida: Realizada cardioversão elétrica com
200 J bifásico, após preparação prévia, conforme prescrição
abaixo.
1. Jejum
2. Heparina não fracionada (HNF) 5000 UI/mL – 5600 UI EV
em bolus
3. HNF 5000Ui/mL - 1260 UI EV a cada hora por 6 horas
4. Fentanil 70 mcg EV em bolus lento.
5. Etomidato 21 mcg EV em bolus lento.
Paciente é revertido para ritmo sinusal e tem alta após 48 horas
de observação, sendo encaminhado para acompanhamento
ambulatorial. Em consulta posterior, mantém recidivas do quadro,
porém com resolução espontânea. Opta-se, então, por tratamento
com estratégia pill in the pocket, com propafenona 300 mg, dois
comprimidos em crises. Em consulta após três meses, apresenta
dificuldade em manter o ritmo sinusal e iniciada abordagem com
controle da frequência cardíaca. Escore CHA2DS2-VASc com dois
pontos (HAS + Diabetes). Definido uso do carvedilol 3,125 mg 1x/dia
e rivaroxabana 20 mg 1x/dia (anticoagulação plena), associado a
medicações prévias.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Sempre tratar o indivíduo − e não o eletrocardiograma.
Relacionar o exame com a clínica do paciente. Muitas vezes
a taquicardia é decorrente de situações que não necessitam
de reversão, como nas taquicardias sinusais reflexas a
estados de choque.
REFERÊNCIAS
1. Alencar Neto AJ. Manual de Eletrocardiograma. 1. ed. Salvador: Sanar Editora;
2019.
2. Vereckei A, Duray G, Szénási G, Altemose GT, Miller JM. New algorithm using only
lead aVR for differential diagnosis of wide QRS complex tachycardia. Heart Rhythm.
2008; 5(1): 89-98.
3. Brugada P, Brugada J, Mont L, Smeets J, Andries EW. A new approach to the
differential diagnosis of a regular tachycardia with a wide QRS complex.
Circulation. 1991; 83(5): 1649-59.
4. Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWDS, Piscopo A, et al.
Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados
Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019. Arq
Bras Cardiol. 2019; 113(3): 449-663.
5. Magalhães LP, Guimarães ICB, Melo SL, Mateo EIP, Andalaft RB, Xavier LFR, et al.
Diretriz de Arritmias Cardíacas em Crianças e Cardiopatias Congênitas SOBRAC e
DCC - CP. Arq Bras Cardiol. 2016; 107(1): 1-71.
1.8
BRADIARRITMIAS
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Valéria Vieira da Silva Gomes
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Bradiarritmias: distúrbios de condução elétrica em que a
frequência cardíaca (FC) é inferior a 50 bpm. Este limite é
individual, frequências menores podem ser consideradas
fisiológicas para alguns pacientes.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Etiopatogenia: dividida em dois grandes grupos: não
cardíacas (extrínseca) ou de origem cardíaca (intrínseca).
Causas específicas mais detalhadas na tabela 01.
Causas intrínsecas Causas extrínsecas
Doença degenerativa primária elétrica Estímulo sistema nervoso autônomo:
Esclerodermia Metabólicas:
Neurológicas:
Hipertensão intracraniana.
QUADRO CLÍNICO
• Sinais e sintomas das disfunções sinusais: frequentemente
são assintomáticas, quando existem manifestações as mais
comuns: astenia, intolerância ao esforço, dispnéia, mal-
estar indefinido, vertigem e, menos frequente, lipotimia e
síncope.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): importante fazer sempre um D2
longo.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
As bradiarritmias são classificadas de acordo com o local de
origem da disfunção da formação ou condução do estímulo elétrico:
nodo sinusal e nodo atrioventricular, que serão abordados com mais
detalhes a seguir.
Disfunções do nodo sinusal Disfunções do nodo atrioventricular
Bloqueios sinoatriais
Diminuição progressiva do intervalo PP, com pausa sinusal, não múltipla da FC, e retorno dos batimentos
persistindo a variabilidade entre os intervalos PP.
ECG com ondas de intervalos regulares, sem variabilidade, e presença de pausa de duração múltipla do intervalo
PP, sem escape juncional ou ventricular.
• BAV de 1º grau
• Características gerais: benigno, pois suas causas são
geralmente reversíveis.
• BAV de 2º grau
• Características gerais: nem toda onda P gera um
complexo QRS.
Ritmo sinusal regular com PRi xo e presença de BAV de 2º grau Mobitz II de proporção 2:1. Bloqueio na condução
da onda P regular ( echa).
TRATAMENTO
Se sintomático, a conduta inicial é a estabilização e
monitorização do paciente, haja visto que pode evoluir para choque
devido à bradicardia. Realizar ECG com 12 derivações para
estabelecer o ritmo cardíaco.
A terapia medicamentosa tem como droga de escolha a atropina,
medida temporária até o implante de um marcapasso transcutâneo.
Deve-se fazer uso cauteloso em bradicardias pós infarto agudo do
miocárdio, evitando aumento da área de lesão. Outras drogas que
podem ser utilizadas são a dopamina e a adrenalina, em associação
ou isoladamente.
Se mesmo após as medidas farmacológicas acima citadas os
sintomas de instabilidade hemodinâmica permanecerem está
indicado o marcapasso transcutâneo. Nos casos em que o este não é
eficaz deve-se colocar um marcapasso transvenoso, considerando
nesses casos o auxílio de profissional previamente capacitado.
Todos os pacientes devem ser acompanhados e avaliados para a
necessidade de colocação de um marcapasso definitivo.
O Fluxograma 01, sintetiza o manejo das bradiarritmias.
FÁRMACOS
Fármacos Doses (mínima/máxima)
• Atropina • 0,5 mg em bolus EV – repetir a
cada 3 a 5 minutos – máximo de 3
mg
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
Fluxograma 01: Manejo das bradiarritmias
Fonte: Fluxograma adaptado da Atualização da Diretriz de
Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de
Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Homem, 62 anos, portador de miocardiopatia
chagásica, deu entrada em emergência trazido pelos familiares
após síncope. No atendimento inicial: PA: 80 x 60 mmHg,
saturação de O2: 93%, perfusão periférica > 3 segundos, cianose
de extremidades e torporoso. Realizado ECG, com registro de DII
longo abaixo:
b. Medidas iniciais:
1. Jejum;
2. Atropina 0,5 mg EV em bolus;
3. Sedação (etomidato 0,3mg/kg EV);
4. Marcapasso transcutâneo;
5. Máscara de O2 - 4 litros/minuto;
6. Monitorização cardíaco, pressórica e de oximetria
contínuas;
7. Encaminhado para colocação de marcapasso
transvenoso.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A padronização da análise do ECG é muito útil, pois facilita
e agiliza o atendimento inicial do paciente. Sugerimos a
análise nas bradiarritmias seguindo: identificação do
paciente, FC, ritmo e intervalo PR.
REFERÊNCIAS
1. Bernoche, C., Timerman, S., Polastri, T. F., Giannetti, N. S., Siqueira, A. W. D. S.,
Piscopo, A., ... & Quilici, A. P. (2019). Atualização da Diretriz de Ressuscitação
Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade
Brasileira de Cardiologia-2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 113(3), 449-663.
2. GONZALEZ, Maria Margarita et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia: I Diretriz de
Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, n.
2, ago. 2013.
3. LENÈGRE, Jean. Etiology and pathology of bilateral bundle branch block in relation
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2015.
5. MANGRUM, J. Michael; DIMARCO, John. The Evaluation and Management of
Bradycardia. New England Journal of Medicine, v. 342, n. 10, p.703-709, mar. 2000.
. MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de Emergência: abordagem prática. 12. ed.
Barueri-SP: Manole Ltda, 2017.
7. MASON, Jay W. et al. Electrocardiographic reference ranges derived from 79,743
ambulatory subjects. Journal of Electrocardiology, v. 40, n. 3, p.228-234, mai. 2007.
. PASTORE, Carlos Alberto et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia: III Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos
Eletrocardiográficos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 106, n. 4, abr. 2016.
9. YANG, Xing Sheng; BECK, Gerald; WILKOFF, Bruce. 749-1 Redefining Normal Sinus
Heart Rate. Journal of the American College of Cardiology, v. 25, n. 2, p.193A, fev.
1995.
1.9
PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
E RESSUSCITAÇÃO
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Nader Alziro Kassem Fares
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Parada Cardiorrespiratória (PCR): estado de deterioração
absoluta da estabilidade hemodinâmica com débito cardíaco
incapaz de manter perfusão tecidual. Pode ser revertido
pela pronta intervenção ou evoluir para óbito.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Fisiopatologia: Com a PCR, ocorre interrupção da
oxigenação e consequente lesão tecidual. Inicialmente,
ocorre desorganização elétrica cardíaca e ritmo
desorganizado (p. ex.: fibrilação ventricular), caso não
revertida, as células consomem praticamente todas as
reservas metabólicas necessárias para manutenção de suas
atividades basais. Como repercussão, ocorre acidose
metabólica e disfunção tecidual grave com queda drástica
da sobrevida.
• Tamponamento cardíaco
Antiarrítmicos; digitálicos; betabloqueadores; bloqueadores
• Tóxicos dos canais de cálcio; antidepressivos tricíclicos; cocaína;
heroína; crack.
EXAMES COMPLEMENTARES
• O diagnóstico é eminentemente clínico. A identificação dos
eventos eletrocardiográficos como taquicardia ventricular
sem pulso, fibrilação ventricular, atividade elétrica sem
pulso ou assistolia, em um paciente em PCR é fundamental,
pois determina o manejo dessa condição clínica.
• Ritmos chocáveis
• Tratados com desfibrilação. São os principais encontrados
nos pacientes que sofrem PCR no ambiente pré-hospitalar.
Traçado de TV sem pulso: presença de complexos QRS alargados monomór cos, sem ondas P.
Traçado evidenciando complexo QRS, ondas P e T com morfologia adequada associado a bradicardia grá ca
severa, porém paciente sem pulsos.
TRATAMENTO
Diante de um paciente em PCR a conduta imediata é iniciar a
Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP). Devendo-se posicionar o
paciente em decúbito dorsal em superfície plana e rígida, chamar por
ajuda e iniciar a RCP. O mais rapidamente possível iniciar as
compressões torácicas, priorizando a qualidade, respeitando a
frequência de 100 a 120 compressões por minuto, deprimir o tórax
entre 5 e 6cm e, impreterivelmente, retornar completamente ao
ponto inicial. Realizar ciclos de 30 compressões para cada duas
respirações (30:2) com dispositivo bolsa-valva-máscara com
reservatório e oxigênio adicional.
É importante checar o ritmo de parada, pois pode ser necessário
dar prioridade ao uso do desfibrilador elétrico em ritmos chocáveis.
Os choques devem ser administrados na potência máxima do
desfibrilador, sendo 360J para monofásico e 200J para bifásico.
Importante solicitar que todos se afastem do contato com o paciente
e logo após a desfibrilação reiniciar imediatamente a RCP e apenas
após novo ciclo de 2 minutos checar pulso e ritmo.
Em ritmos não chocáveis a desfibrilação é contraindicada,
devendo-se manter a RCP com repetidas verificações do pulso e
ritmo de parada. Para casos de assistolia é importante a realização
do protocolo da linha reta e descartar a presença de uma fibrilação
ventricular fina. Portanto deve-se verificar a adequada conexão dos
cabos e eletrodos, aumentar o ganho de sinal no monitor cardíaco
(amplitude/potência de sinal) e checar o ritmo em outra derivação.
Se assistolia confirmada, manter-se nos ciclos de RCP sem uso do
desfibrilador.
Deve-se, simultaneamente, obter acesso venoso periférico ou
intraósseo (IO) para possibilitar administração das medicações. As
drogas utilizadas diferem entre os ritmos chocáveis e não chocáveis.
Em ambos é indicado o uso da epinefrina (adrenalina) EV ou IO na
dose de 1mg/dose a cada 3 a 5 minutos, seguida por bolus de 20mL
de solução fisiológica e subsequente elevação do membro.
Para os ritmos chocáveis, por se tratar de arritmias, o uso de
antiarrítmicos está firmado. Podem ser feitas duas doses de
amiodarona com intervalo de 3 a 5 minutos, sendo a primeira dose
EV ou IO de 300mg e a segunda de 150mg, sempre seguidas pelo
bolus de 20mL de solução fisiológica e elevação do membro. Outra
opção é a lidocaína, também EV ou IO, nas dosagens de 1-1,5mg/kg
para a primeira aplicação e 0,5-0,75mg/kg na segunda (após 5
minutos), também seguidas pelo bolus de solução fisiológica e
elevação do membro. Em casos de PCR secundária à
hipomagnesemia ou taquicardia ventricular polimórfica (Torsades de
Pointes) deve-se administrar sulfato de magnésio 1 a 2g EV ou IO
diluído em 10 a 20mL de glicose a 5%.
Para todos os pacientes em PCR realizar concomitantemente os
procedimentos para garantir uma via aérea avançada,
preferencialmente a intubação orotraqueal (IOT), mas considerar o
uso de máscara laríngea no caso de intubação difícil, para não
retardar a realização das compressões de boa qualidade. Após
assegurado uma via aérea avançada manter a compressões no
mesmo ritmo (100-120/min), sem pausas para insuflações, e
oferecer 10 insuflações por minuto (uma a cada 6 segundos não
sincronizadas com as compressões torácicas).
É considerável a necessidade de tentar-se realizar um diagnóstico
diferencial, procurando tratar as causas reversíveis identificáveis,
conforme tabela 01.
Não existe consenso a respeito do momento de cessação da
ressuscitação, este deve ser determinado em conjunto com os
membros da equipe levando em conta critérios clínicos no momento
e fatores prognósticos.
FÁRMACOS
• Adrenalina: 1 mg EV em bolus a cada 3 a 5 minutos, seguido
de 20 ml de SF 0,9% com elevação do membro.
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 76 anos, admitida em UTI após estudo
hemodinâmico de coronárias decorrente de IAM tardio. Exame de
admissão: consciente, orientada, escala de coma de Glasgow 15,
perfusão periférica adequada, PA: 90x60 mmHg com noradrenalina.
Após 30 minutos da admissão, evolui com síncope. Detectada
ausência de pulso ou respiração espontânea. Iniciado manobras de
ressuscitação cardiorrespiratória. Checado ritmo de parada, visto no
ECG abaixo:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Quando for atender uma vítima de PCR não esqueça de
antes atentar a segurança da cena, retirando, por exemplo, o
paciente de vias públicas, e usando equipamentos de
proteção individual. Sempre chame ajuda!
DEFINIÇÕES
• Febre reumática aguda: doença causada por uma resposta
autoimune à infecção pelo estreptococo beta-hemolítico do
grupo A, ocasionando manifestações cardíacas, articulares,
neurológicas, cutâneas e subcutâneas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A febre reumática é uma complicação não supurativa da
faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-
hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes), decorrente
de resposta imune tardia a esta infecção em indivíduos
geneticamente predispostos. A cardiopatia reumática (CR),
por outro lado, consiste em uma complicação da FR aguda,
caracterizada por lesão valvar permanente induzida pelo
processo reumático.
QUADRO CLÍNICO
• A FR aguda ocorre três semanas após a faringoamigdalite
estreptocócica e pode afetar as articulações (poliartrite), a
pele (eritema marginatum e nódulos subcutâneos), os
gânglios da base (coreia de Sydenham) e o coração. A
incidência do surto inicial de FR aguda é maior entre 5 e 14
anos, acometendo igualmente homens e mulheres. No
entanto, a CR ocorre mais comumente em mulheres, na
proporção de 1,6:2 do sexo feminino em relação ao
masculino.
EXAME FÍSICO
• Sistema osteoarticular: artropatia assimétrica, poliarticular
e migratória, com acometimento preferencial de grandes
articulações periféricas (tornozelos, joelhos, cotovelos e
punhos) e presença de sinais flogísticos. Ao exame físico,
observa-se limitação ativa e passiva da amplitude do
movimento, associada à exuberante quadro álgico. Não
ocorrem deformidades irreversíveis.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: elevação da proteína C reativa (PCR),
da velocidade de hemossedimentação (VHS) e de
mucoproteínas. O fator antinuclear (FAN) costuma ser
negativo. A avaliação da infecção estreptocócica pode ser
realizada pela dosagem dos anticorpos antiestreptolisina O
(ASLO), anti-DNAse B e anti-hialuronidase. Pode ocorrer
leucocitose neutrofílica e anemia normocítica e
normocrômica.
Alterações morfológicas
Valva mitral Valva aórtica
Jato regurgitante visto em duas incidências Jato regurgitante visto em duas incidências
Jato regurgitante ≥ 2cm em pelo menos uma Jato regurgitante ≥ 1cm em pelo menos uma
incidência incidência
Velocidade ≥ 3m/s em pelo menos um registro Velocidade ≥ 3m/s em pelo menos um registro
do Doppler do Doppler
Regurgitação mitral patológica e, pelo menos, Pelo menos duas alterações morfológicas da valva
SUBGRUPO A duas características morfológicas de lesão mitral, sem regurgitação patológica ou estenose
reumática na valva mitral mitral
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico de FR é baseado em critérios clínicos,
denominados critérios de Jones, após exclusão de outros
diagnósticos diferenciais. Os critérios são divididos em
manifestações maiores e menores (Tabela 3). O diagnóstico
de FR agudo é feito quando o paciente apresenta dois
critérios maiores, ou um critério maior e pelo menos dois
menores. Além disso, para o diagnóstico, é necessário ter
evidências de infecção recente estreptocócica da
orofaringe, o que geralmente é feito usando sorologias. As
exceções a esses critérios são os pacientes que
apresentam coreia ou cardite indolente, pois essas
manifestações podem tornar-se aparentes apenas meses
após a infecção estreptocócica causal e, portanto,
manifestações adicionais podem não estar presentes e o
teste de sorologia estreptocócica pode ser normal.
Febre ≥ 38,5oC;
Febre ≥ 38oC; VHS ≥ 30mm; PCR ≥ Febre ≥ 38oC; VHS ≥ 30mm; PCR ≥
VHS ≥ 60 mm;
MENORES 3mg/dl; intervalo PR prolongado; 3mg/dl; intervalo PR prolongado;
PCR ≥ 3mg/dl; intervalo PR
monoartralgia monoartralgia
prolongado; poliartralgia
*Na tabela 1, foi considerada população de baixo risco aquela com incidência de febre reumática aguda ≤ 2 por 100.000 crianças em
idade escolar (5-14 anos) ou prevalência de cardiopatia reumática em todas as idades ≤ 1 por 1.000 indivíduos por ano. Em relação à
cardite subclínica, considerou-se os casos nos quais não se ausculta sopro de disfunção valvar, mas com sinais de valvulite ao
ecodopplercardiograma.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• A erradicação do estreptococo é feita com a penicilina G
benzatina (600.000 a 1.200.00UI) em dose única. Nos
pacientes alérgicos à penicilina é recomendada a
eritromicina na dose de 20 a 40 mg/kg/dia durante 10 dias,
podendo-se utilizar azitromicina ou clindamicina.
• Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) constituem
medicamentos de escolha para febre e para alívio das dores
articulares. O ácido acetilsalicílico (AAS) é considerada a
primeira opção, com posologia infantil de 80-100 mg/kg/dia
dividida em quatro vezes ao dia. Deve-se atentar para a
possibilidade de efeitos colaterais com o uso de AAS, como
hiperventilação espontânea, zumbido auditivo e síndrome
de Reye (encefalopatia hepática). Os corticosteroides não
são frequentemente usados porque não oferecem
benefícios terapêuticos e podem mascarar a presença de
outras doenças que causam artrite.
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
Fluxograma 01: Abordagem terapêutica da febre reumática aguda.
Fonte: Medscape, 1999 (adaptada).
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: LFS, 25 anos, sexo feminino, casada, procura
atendimento médico com queixa de dispneia aos esforços,
iniciada nos últimos três meses com caráter progressivo.
Paciente relata estar previamente assintomática quando notou
cansaço para andar mais rápido e subir uma rua mais íngreme,
com queda gradual da tolerância aos esforços. Mais
recentemente, ela precisa parar quando está caminhando no
plano e não consegue acompanhar seu marido de mesma idade.
Relata ser sedentária e estar ganhando peso e acha que a
dispneia apresentada pode ser decorrente dos hábitos de vida.
Refere faringoamigdalites de repetição na sua infância, tendo
sido internada uma vez com poliartrite. Quando interrogada,
referiu episódios de ´´batedeira no peito´´, sem relação com
esforço físico. Na história pregressa, relatou ter nascido no
interior de Minas Gerais, em uma casa pequena, morando com
os pais e mais seis irmãos. Ao exame físico: PA: 120/80 mmHg;
FC: 92 bpm; B1 facilmente palpável e hiperfonética, sopro
iniciado logo após B2, com configuração crescente-decrescente,
precedido por estalido de abertura mitral e mais intenso antes
de B1 (ruflar diastólico com reforço pré-sistólico). Exames
laboratoriais trazidos pela paciente sem anormalidades. O
eletrocardiograma evidenciou ritmo sinusal com FC de 86 bpm e
sinais de sobrecarga atrial esquerda.
b. Condutas:
3. Solicitar exames laboratoriais para avaliação de outros fatores contribuintes para a intolerância ao
exercício físico.
5. Profilaxia secundária com penicilina G benzatina 1.200.000 UI IM a cada 21 dias até a idade de 40
anos.
7. Considerar anticoagulação com varfarina pelo provável quadro de fibrilação atrial paroxística.
9. Orientações gerais em relação à dieta e às atividades físicas, que podem ser mantidas conforme a
tolerância da paciente.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Os critérios de Jones para o diagnóstico de FR aguda foram
atualizados, considerando a cardite subclínica detectada
pelo ecocardiograma como critério maior.
REFERÊNCIAS
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Rheumatic Heart Disease. 2017.
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1.11
ANTICOAGULANTES
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Jean Bryally Peres
José Tasca
Vitória de Cássia da Silva Moreira
Breve histórico
• 1271 - Relatos literários descrevendo Trombose Venosa;
• 1628 - Willian Harvey, médico inglês, descreve as leis que
regem a Circulação Sanguínea;
INTRODUÇÃO
Os anticoagulantes são drogas essenciais tanto para a prevenção
quanto tratamento de inúmeras situações clínicas de alta incidência
e prevalência no dia a dia do Médico moderno. Este, por sua vez,
deve assumir o papel que lhe cabe, e encarar com mais seriedade e
atenção esse tema, a fim de adquirir mais recursos técnicos e
ampliar seu raciocínio clínico prático.
Percebe-se, infelizmente, que, grande parcela dos pacientes
acometidos por fenômenos tromboembólicos evitáveis, acabam por
ser vítimas da omissão de quem teria o dever de protegê-los: “o
Médico”. Estes pacientes sim serão penalizados por essa negligência
e ou imperícia, elevando o número das estatísticas de morte,
invalidez, redução da perspectiva de vida e prejuízo socioeconômico
irreparável, tanto para si quanto para suas famílias e o próprio
Estado.
Pensando nisso, o manual vem com a proposta de desmistificar o
tema e incutir no leitor, maior familiaridade e tranquilidade ao
indicar, contraindicar, manejar e reconhecer sinais de alerta,
conferindo ao colega prescritor, maior habilidade para escolha e
manuseio destas armas terapêuticas. O objetivo é de fato, dar
segurança ao colega médico e seus pacientes.
É
É importante que tenhamos em mente, que estas drogas, podem
variar suas dosagens e posologias, além de seus ajustes
particulares, nas mais variadas situações.
Recomendamos que antes de iniciarmos a condução de situações
específicas, é fundamental que entendamos e revisemos
rapidamente sobre os fundamentos fisiológicos da Hemostasia e
coagulação sanguínea, relacionando-os à farmacocinética e
farmacodinâmica das drogas em questão.
FISIOLOGIA DA COAGULAÇÃO
No sangue há um grande número de substâncias que promovem
a coagulação, chamadas de pró-coagulares, e outras que inibem a
coagulação, chamadas de anticoagulantes. Ele não coagula
enquanto circula porque há predominância das substâncias
anticoagulantes. O nome que se dá a este mecanismo é hemostasia.
Por um corte, ruptura de um vaso ou mesmo em situações
patológicas, a hemostasia é provocada e podem ocorrer diversos
mecanismos para a sua manutenção, como: constrição vascular,
formação de tampão de plaquetas, formação de coágulo sanguíneo,
crescimento de tecido fibroso para fechamento do vaso. Após um
trauma do vaso sanguíneo há um breve período de vasoconstrição
por espasmo muscular e substâncias vasoconstritoras, com
subsequente ativação e aderência das plaquetas pelo contato com a
parede lesada do vaso, formando um tampão plaquetário. Se a lesão
for grande há a necessidade da formação de um coágulo sanguíneo,
para completar a hemostasia. O mecanismo da coagulação pode
ocorrer por duas vias, a via extrínseca e a via intrínseca.
A via extrínseca é ativada quando ocorre lesão do endotélio
vascular, havendo liberação da tromboplastina tecidual ou fator III,
que se combina com o fator VII (acelerador da protrombina) na
presença do fator IV (cálcio) e atua enzimaticamente sobre o fator X
(anti-hemofílico), para formar o fator X ativado. Na via intrínseca, o
fator XII (Hageman) ao contato com qualquer superfície que não seja
o endotélio vascular, é ativado, em seguida ativa o fator XI (precursor
da tromboplastina plasmática). Estes dois fatores ativados
estimulam a ativação do fator IX (anti-hemofílico B), o fator IX
ativado, converte o fator VIII (anti-hemofílico A) à forma ativa. O fator
VIII ativado se liga ao cálcio e ao fosfolipídio plaquetário, formando
um complexo ativador do fator X.
Estímulos diferentes iniciam as vias extrínsecas e intrínsecas,
mas a partir da ativação do fator X, as duas vias seguem uma via
comum. O fator X ativado se combina com o fator IV (cálcio), com o
fator V (pró-acelerina) e com as plaquetas ou com os fosfolipídios
teciduais para formar o complexo ativador da protrombina e
convertem o fator II (protrombina) em trombina. A trombina, por sua
vez, é uma enzima proteolítica, que atua sobre o fator I (fibrinogênio),
formando moléculas de monômero de fibrina, essas moléculas se
polimerizam, formando longas fibras de fibrina. Assim o tampão de
plaquetas, formado inicialmente, mais as fibras de fibrina, células
sanguíneas e plasma, formam o coágulo sanguíneo.
DROGAS
I) DROGAS ANTICOAGULANTES PARENTERAIS:
A. DE AÇÃO INDIRETA:
HEPARINAS:
A heparina não fracionada (HNF) possui peso molecular de 15.000
Daltons (Da). Tem como mecanismo de ação, a inibição indireta da
Trombina (Fator IIa) atuando como co-fator da antitrombina (AT),
aumentando sua atividade e, consequentemente, seu efeito
anticoagulante sob a trombina, o Fator Xa, e, em menor grau, os
Fatores XII, XI e IX ativados, além de também inibir o complexo
‘Fator tecidual – Fator VIIa’, promovendo alterações laboratoriais do
Tempo de Protrombina (TP), do Tempo de Tromboplastina Parcial
ativado (TTPa) e do Tempo de Trombina (TT). A despolimerização da
HNF levou à obtenção de compostos de menor peso molecular
(inferior a 8.000 Da), que receberam o nome genérico de heparinas
de baixo peso molecular.
As heparinas de baixo peso molecular (HBPM) têm baixa
atividade antitrombínica mas mantém a capacidade de inativar o
Fator Xa. Exerce sua atividade antitrombótica por inibição seletiva do
Fator Xa mediada pela antitrombina III (ATIII). Laboratorialmente,
somente alteram o TTPa quando utilizadas em altas doses e, devido
às suas características farmacológicas, permitem dispensar a
monitorização na maioria dos pacientes, exceto grávidas, obesos e
pacientes com disfunção renal, onde nestes casos, se disponível, é
indicado a dosagem do Fator anti-X ativado (anti-Xa). Os níveis
terapêuticos da atividade anti-Xa oscilam entre 0,5 e 1,0 UI/ml. A
média da atividade anti-Xa, mensurada 3 a 5 horas após injeção SC,
é proporcional à dose administrada: 0,2, 0,4, 1,0, 1,3 UI anti-Xa/ml nas
doses únicas de 20mg, 40mg, 1mg e 1,5mg/Kg respectivamente.
Apresentações:
Diluição sugerida: Heparina sódica (5.000 UI/mL) 5 mL + Solução glicosada 5% 245 mL.
Concentração nal: 100 UI/mL.
BIVALIRUDINA:
Anticoagulante parenteral de ação de inibição direta da trombina.
Tem como mecanismo de ação, o bloqueio da atividade da trombina
em dois sítios, ou seja, livre no plasma e ligada ao trombo.
Consequentemente impedindo a conversão de fibrinogênio em
fibrina, interferindo sobre as fases de amplificação e propagação
estabelecidas pelo modelo celular da coagulação pela diminuição da
geração de trombina. Possui resultados semelhantes aos da
Enoxaparina em estudos que demonstram redução da incidência de
sangramentos graves. Pode ser empregada em SCA. Porém, ainda
indisponível para uso no Brasil.
INR > 9,0 sem sangramento - Suspender Varfarina, monitora INR 24-48 h;
ou sangramento menor* - Administrar Vit. K# 3 a 5 mg VO (via oral).
1.1) DABIGATRANA:
O Etexilato de Dabigatrana (pró-droga sem atividade
farmacológica), após administração, é rapidamente absorvido e
convertido em Dabigatrana no plasma e no fígado por meio de
hidrólise catalisada por esterases. É um inibidor direto da trombina,
potente, competitivo, reversível e é o principal princípio ativo no
plasma. Visto que a trombina possibilita a conversão de fibrinogênio
em fibrina durante a cascata de coagulação, a sua inibição previne a
formação do trombo.
Droga Apresentação
Dabigratana Comprimidos de 75 mg, 110 mg e 150 mg
• Indicações: AVC, prevenção TVP em cirurgia ortopédica, tratamento TVP/TEP, prevenção de AVC em FA não
valvar.
Se 2 ou + dos seguintes:
• Corticóides;
110 mg de 12/12 h
• Trombocitopenia;
• História ou sangramento gastrointestinal
não severo ativo;
* FA: brilação atrial, AVCi: acidente vascular cerebral isquêmico; ClCr: Clearance de creatinina;
Cr: Creatinina; EP: embolia pulmonar; TVP: trombose venosa profunda
Tabela 4. Dabigatrana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
2.1) RIVAROXABANA:
Droga Apresentação
Rivaroxabana Comprimidos de 2,5mg, 10 mg, 15 mg ou 20 mg
• Indicações: FA não valvar com escore de risco para AVC que indique prevenção de AVCi, tratamento e
prevenção de TVP, prevenção de EP
• Trombose venosa aguda e EP: 15 mg 2 x ao dia nos primeiros 21 dias; a partir daí 20 mg 1 x ao dia.
• Prevenção de TVP depois de cirurgia de prótese de joelho ou quadril
(14 ou 30 dias, respectivamente): 10 mg ao dia.
* FA: brilação atrial, AVCi: acidente vascular cerebral isquêmico; ClCr: Clearance de creatinina;
Cr: Creatinina; EP: embolia pulmonar; TVP: trombose venosa profunda
Tabela 5. Rivaroxabana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Indicações: FA não valvar com escore de risco para AVC que indique prevenção de AVCi, tratamento e
prevenção de TVP, prevenção de EP.
• Trombose venosa aguda e EP: 10 mg 2 x ao dia nos primeiros 7 dias; a partir daí 5 mg de 12/12 h.
• Prevenção de TVP depois de cirurgia de joelho ou quadril (14 ou 30 dias, respectivamente): 2,5 mg de 12/12 h.
Iniciar o uso da apixabana 12 a 24 h após o término da cirurgia, contanto que tenha sido estabelecido
hemostasia.
*FA: brilação atrial, AVCi: acidente vascular cerebral isquêmico; ClCr: Clearance de creatinina;
Cr: Creatinina; EP: embolia pulmonar; TVP: trombose venosa profunda.
Tabela 6. Apixabana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
Troca de anticoagulantes:
• Indicações: FA não valvar com escore de risco para AVC que indique prevenção de AVCi, tratamento e
prevenção de TVP e EP.
• Efeitos colaterais: anemia, epistaxe, hemorragia do trato gastrointestinal superior, hemorragia do trato
gastrointestinal inferior, hemorragia oral / faríngea, hemorragia em tecido subcutâneo, rash, hematúria
macroscópica /uretral, hemorragia vaginal, hemorragia no local da punção, provas de função hepática
anormais, aumento de bilirrubina sanguínea, aumento de gamaglutamil transferase (GGT), tontura, cefaleia,
dor abdominal, náusea e prurido.
• Exceto a amiodarona.
Observações (Doses padronizadas):
Tabela 7. Edoxabana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
Troca de anticoagulantes:
60 mg 1x ao dia
Prevenção 150 mg 2x ao dia ou
20 mg 1x ao dia 5 mg 2x ao dia ou
AVC/Embolia 110 mg 2x ao dia
30 mg 1x ao dia
Portadores DRC 20% com ClCr 30-49 21% com ClCr 30-49 15% com ClCr 30-50 19% com ClCr < 50
INDICAÇÕES
DOACS VARFARINA (INR ALVO)
MIOCARDIOPATIAS C/
TROMBOS INTRACAVITÁRIOS NÃO SIM, INR = 2,5 (2-3)
E EMBOLIA PRÉVIA
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
SIM SIM, INR = 2,5 (2-3)
DE TEV
SIM. OBS:
FA SIM, INR = 2,5 (2-3)
FA NÃO VALVAR
DOENÇAS VALVARES
ASSOCIADAS
A FA E PÓS-OPERATORÓRIO SIM SIM, INR = 2,5 (2-3)
DE BIOPTÓTESES MITRAL
(3 MESES INICIAIS)
(ENTENDE-SE POR FA VALVAR, QUANDO COEXISTE PRÓTESES VALVARES BIOLÓGICAS OU MECÂNICAS, REPARO VALVAR MITRAL,
ESTENOSE MITRAL REUMÁTICA OU ESTENOSE MITRAL MODERADA A IMPORTANTE. NESTES CASOS USE APENAS VARFARINA!).
INÍCIO E CONTROLE:
1. VARFARINA:
Em casos onde a anticoagulação imediata é indicada (EX: TVP,
TEP), é recomendado o início da Varfarina intrahospitalar juntamente
a HNF OU HBPM em doses terapêuticas por um tempo mínimo de 4
a 5 dias até que se atinja o alvo terapêutico do INR, e só então
suspender a heparina. A Varfarina pode ser iniciada
ambulatorialmente nas demais condições, sem necessidade de uso
de heparina concomitante.
2. DOAC’s:
Recomendações gerais:
MANEJO DE SANGRAMENTO:
1. VARFARINA:
A Tabela 3 descreve o manejo do paciente em uso de varfarina
com sangramento e a conduta mais adequada no paciente com
níveis elevados de INR sem sangramento (vide tabela).
2. DOAC’s:
A pós interrupção do tratamento, a restauração da hemostasia
ocorre em 12 a 24 horas após a última dose tomada.
O manejo dos pacientes em uso de DOAC com sangramento sem
e com risco de morte está demonstrado nas “Tabelas 10 e 11”.
DABIGATRANA RIVAROXABANA E APIXABANA
• Todas medidas adotadas no sangramento sem risco • Todas medidas adotadas no sangramento sem
de morte risco de morte
• Fator VII ativado (FVII recombinante 90 mcg/Kg), • Fator VII ativado (FVII recombinante
sem dados sobre benefício e alto custo 90 mcg/Kg), sem dados sobre benefício
MANEJO PERIOPERATÓRIO:
Para recomendação do manejo perioperatório de pacientes em uso
de anticoagulantes orais, deve-se previamente classi cá-los de acordo
com sua estrati cação de risco tromboembólico (Tabela 12) e de
sangramento (Tabela 13).
FA
(sem AIT/AVE prévio).
• AIT/AVE recentes
(3 meses);
• Estenose mitral
(reumática) / FA.
ARTÉRIAS
CORONÁRIAS • Prevenção primária • Doença arterial • SCA;
de doença arterial crônica estável pós
• Cirurgia de
crônica. IAM;
Revascularização do
• Cirurgia de miocárdio há menos
de 1 ano;
Revascularização do
miocárdio há + de 1 • ICP.
ano.
1. VARFARINA:
A decisão de se realizar a ponte com heparina em pacientes em
uso de varfarina dependerá do risco tromboembólico do paciente e
do risco de sangramento do procedimento, segundo Tabela 14.
O esquema de suspensão da varfarina está descrito na Tabela 15.
Risco Risco
hemorrágico tromboembólico
BAIXO MODERADO ALTO
Interromper Varfarina
Interromper Interromper Varfarina (INR
(INR < 2); Avaliar
Varfarina; < 1,5); Indicado realizar
ALTO individualizadamente a necessidade
Não realizar ponte ponte com heparina em
de ponte com heparina em dose
com heparina dose terapêutica***
pro lática**
*A depender dos fatores de risco e características individualizadas de cada paciente; ** Dose pro lática de heparina: enoxaparina 0,5 mg/kg
via subcutânea 2x ao dia ou 40 mg subcutânea 2x ao dia, ou HNF 5.000 a 7.500
2. DOAC’s:
Os DOAC’s apresentam excreção renal significativa e, portanto,
um passo importante no manejo perioperatório desses pacientes
é a avaliação da função renal.
Em virtude de sua relativa meia-vida de eliminação curta, não é
necessária a ponte perioperatória com a heparina.
Em cirurgias ou procedimentos de baixo ou mínimo risco de
sangramento, não há necessidade de suspensão do uso dos DOAC,
mas o procedimento deve ser realizado preferencialmente no vale
plasmático do fármaco, ou seja, no mínimo, 24 horas após a última
dose. Em cirurgias ou procedimentos moderados ou alto risco de
sangramento, os DOAC devem ser suspensos por pelo menos 48
horas, dependendo da função renal do paciente segundo a Tabela 16.
DABIGATRANA RIVAROXABANA APIXABANA
disease
or aortic plaque) (Doença vascular)
• Stroke (AVE) 1
1
• Bleeding (Sangramento)
1
• Labile INR (Variação do INR) 1
• Elderly (Idade)
1 ou 2
• Drugs or alcohol (Fármacos ou álcool) MÁXIMO 9
* H: pressão arterial sistólica >160 mmHg; A: função renal alterada (diálise, transplante renal ou creatinina sérica maior ou igual
a 2,3 mg/dL) ou função hepática alterada (cirrose, bilirrubina > 2 vezes o limite superior da normalidade em associação a TGO
ou TGP > 3 vezes o limite superior da normalidade); S: AVE prévio, se especialmente se profundo/lacunar; B: história prévia de
sangramento, anemia ou predisposição a
sangramentos; L: INR instável ou alto ou tempo na faixa terapêutica< 60%; E: idade maior que 65 anos; D: uso de medicações
antiplaquetárias ou anti-in amatórias não hormonais e consumo de 8 ou mais doses de bebidas alcoólicas por semana.
II) VALVOPATIAS:
Grandes estudos randomizados que mostram um alto grau de
reconhecimento no tratamento antitrombótico dos pacientes com
doenças e próteses valvares ainda é carente. A Varfarina é a principal
terapia antitrombótica nos portadores de valvulopatias. O uso de DOAC’S
é contraindicado em casos de próteses mecânicas e estenose mitral
moderada a grave, em especial de causa reumática. Entretanto, as
diretrizes mais recentes descrevem o uso de DOAC como alternativa
razoável em FA e pacientes com outras doenças valvares, como estenose
aórtica, insu ciência aórtica e insu ciência mitral. Porém, apesar disso
deve-se sempre avaliar individualmente seus riscos e benefícios.
A. LESÕES MITRAIS:
C. PORTADORES DE BIOPRÓTESES:
Neste cenário é de suma importância considerar o tempo de
realização do implante.
1. Primeiros 3 a 6 meses:
2. Após 3 a 6 meses:
• DM;
• FE do VE < 40%;
• Stents farmacológicos de 1ª
geração;
• Stent pequeno ou mal
posicionado;
• Diâmetro do stent pequeno ou
espessura do stent maior;
• Reestenose intra stent.
* Favorece o maior tempo de uso de dupla antiagregação plaquetária; ** Favorece uma redução do tempo
de uso de dupla antiagregação plaquetária;SCA: síndrome coronariana aguda; IAM: infarto agudo do
miocárdio; DM: Diabetes Mellitus; DRC: doença renal crônica; FE: fração de ejeção;
VE: ventrículo esquerdo; ACO: anticoagulante oral.
A. Varfarina:
O manejo da varfarina em pacientes com SCA e submetidos à
intervenção coronária percutânea (ICP) está descrito a seguir:
B. DOAC´s:
O manejo da terapia na fase aguda e em longo prazo dos
pacientes com SCA e em uso de DOAC está descrito no Fluxograma
1.
*Fluxograma representativo das indicações de associação de terapas antitrombóticas de acordo com o risco
isquemico ou hemorrágico. ACO:anticoagulantes orais; C: clopidogrel.
VIII) MIOCARDIOPATIA:
É recomendado o uso de Varfarina, INR = 2,5 (2-3) em pacientes
com miocardiopatias associadas a FA, embolia prévia ou trombos
intracavitários.
Existem estudos em andamento avaliando o uso de DOAC em
pacientes com insuficiência cardíaca.
a. Varfarina:
B. DOAC´s:
A. Varfarina:
Em paciente sob o uso de varfarina a recomendação de
cardioversão elétrica (CVE) no cenário de FA/Flutter, se realiza como
abaixo descrito:
FA presente por tempo > 48 horas, devemos avaliar as condições
clínicas do paciente, havendo dois caminhos a serem seguidos:
1. Paciente estável em acompanhamento ambulatorial: Varfarina,
INR = 2,5 (2-3), deve-se manter o INR em faixa terapêutica por mais
de 3 semanas e realizar a cardioversão, se a mesma for bem
sucedida, manter a Varfarina por 1 mês (INR 2-3). Considerar se
paciente estava em uso de heparina na época da cardioversão, caso
isso aconteça, deve-se manter o uso da Varfarina até INR atingir
faixa terapêutica.
Se cardioversão não for bem sucedida manter o uso de Varfarina
(INR 2-3).
2. Paciente instável, que não tem condições de aguardar
cardioversão por 3 semanas, internado: Recomenda-se o uso de
heparina IV com meta de TTPa alvo = 60s (entre 50 a 70s),
realização de ecocardiograma transesofágico, em caso de evidência
de trombo, deve-se adiar a CVE e manter heparina até o INR atingir a
faixa terapêutica, e considerar repetir ecocardiograma
transesofágico antes de realizar CVE.
Se Ecocardiograma TE revelar ausência de trombo, recomenda-se
realizar a CVE. E o manejo após o procedimento deverá ser o mesmo
do paciente estável ambulatorial a depender do sucesso da CV.
B. DOAC`s:
Em pacientes sob o uso de DOAC a recomendação de
cardioversão elétrica ou farmacológica, deve ser avaliada em dois
tipos de pacientes:
1. Pacientes em uso de DOAC por mais que 3 semanas:
Verificar aderência ao tratamento. Se boa adesão, indicado
realizar CVE e manter uso de DOAC por 4 semanas no mínimo (> 4
semanas baseado no CHA2DS2 -VASc).
Em caso de não aderência, dúvidas sobre a adesão ou alto risco
para trombo em átrio esquerdo deve-se realizar ecocardiograma
transesofágico. Se confirmado trombo em átrio esquerdo, deve-se
adiar CVE e realizar anticoagulação por períodos mais longos e após,
repetir ecocardiograma transesofágico. Obs: Ainda não existem
dados de melhor estratégia em converter para heparina IV associada
a Varfarina até atingir faixa terapêutica ou manter uso de DOAC.
Realiza-se a CVE após esse período estendido de anticoagulação,
e manter uso de DOAC por 4 semanas no mínimo (> 4 semanas
baseado no CHA2DS2 -VASc);
DOAC
• Terapias associadas a náuseas
e vômitos; NÃO INDICADO
• Extremo de pesos (<50
e>150);
• História de sangramento GI
prévio ou neoplasia GI ativa;
• Interações medicamentosas
entre DOAC e Varfarina; HBPM INDICADO
• Risco de sangramento
conhecido ;
• Alterações da absorção GI
• IR;
• Negação do paciente a
terapia parenteral;
anticoagulação;
• IRC avançada;
• Extremos de peso (<50 e
>150);
*CA: câncer; GI: gastrointestinal; IR: insu ciência renal; IRC: insu ciência renal crônica; TVP; trombose venosa profunda; DOAC:
anticoagulantes orais de ação direta; HPBM: heparina de baixo peso molecular.
DEFINIÇÕES
• CAD (Cetoacidose Diabética): emergência clínica
decorrente de deficiência relativa ou absoluta de insulina,
com consequente prejuízo na captação de glicose
plasmática. Para gerar energia, ocorre a quebra de gordura,
em um processo bioquímico chamado lipólise. A
incapacidade de metabolizar a glicose leva ao aumento da
glicemia, geralmente acima de 250 mg/dL, e a lipólise leva à
produção de cetoácidos com consequente acidose. Tais
alterações metabólicas compõem a tríade de hiperglicemia,
cetonemia e acidose metabólica.
ETIOLOGIAS
A CAD é mais comum em diabéticos tipo 1 jovens e em mulheres.
Sua incidência nos EUA é de aproximadamente 4,6 a 8 episódios por
1000 admissões hospitalares. Em aproximadamente 25% dos casos
esse quadro irá abrir o diagnóstico do paciente com diabetes
mellitus tipo 1.
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente de hiperglicemia: intolerância a
exercícios, fadiga, adinamia, poliúria, polidipsia, perda de
peso súbita e intensa, taquipneia, dor abdominal.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: glicemia sérica, gasometria arterial,
hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, cloro, PCR, urina
rotina (EAS), fósforo, magnésio.
• Ânion GAP: Na +
− (Cl− + HCO3− ) VR: 8 a 10 mEq/L; CAD
>10 mEq/L
Ureia/2,8
• Sódio corrigido = Na +
[1,6 x (glicose-100/100)] VR: 135
-145mEq/L
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Os principais diagnósticos diferenciais estão resumidos no
quadro 1 e classificação da gravidade do quadro está descrita na
tabela 1.
Intercorrências clínicas
Pancreatite aguda Insu ciência renal crônica ou agudizada
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: Hidratação, correção da acidose,
da hiperglicemia e dos desequilíbrios hidroeletrolíticos. A
hidratação por si só reduz a glicemia em 17 a 80% durante 12 a
15 horas, atingindo uma taxa média de redução de 25 a 50
mg/hora.
No entanto, a resolução da CAD não é a resolução da hiperglicemia,
que pode ocorrer muito mais cedo no decorrer da terapia. Em vez disso, a
resolução da CAD é a correção da acidose metabólica e a normalização
do bicarbonato, ânion gap e recuperação para o sensório normal.
Uma vez atingidos esses parâmetros, os uidos intravenosos são
interrompidos, é liberada uma refeição oral e a primeira dose de insulina
subcutânea é administrada. A infusão de insulina é interrompida meia
hora depois ou 2 horas depois em adultos. A transição para insulina
subcutânea, com os vários tipos disponíveis, entra no âmbito do manejo
do controle hiperglicêmico intra-hospitalar (veja esse capítulo).
Reposição Volêmica
- Infusão salina isotônica de cloreto de sódio (NaCl) a 0,9% ou ringer lactato na primeira hora, em média 15 a 20
mL/kg/h ou 1 L/h. Em crianças e muito desidratados, realizar 20 mL/kg em fase de expansão em 30-60 minutos.
- Caso o paciente apresente hipernatremia (Na ≥ 150 mEq/L), usa-se solução de NaCl a 0,45% de 10 a 15 mL/kg/h.
- Para lactentes, usar NaCl 0,9% + água destilada (1:1). Crianças maiores devem receber solução de NaCl 0,9% + água
destilada na proporção 2:1.
Insulina Endovenosa
Sempre Insulina Regular EV em bolus diluída em SF 0,9%: quanto maior a diluição, maior a segurança e hidratação.
Exemplos de diluição: Insulina Regular 25 unidades em 250 mL SF 0,9% de SF 0,9% ou 50 unidades em 500 mL de SF
0,9% (diluição de 0,1 unidade por mL ou 1 unidade/10 mL da diluição).
A diluição de 100 unidades em 100 mL de SF 0,9% não é recomendada para crianças e, pelo desperdício de insulina e
necessidade de dose de velocidade de infusão muito baixa, deve ser reservada apenas para cardiopatas ou doentes
renais crônicos que não toleram volume.
Dose de 0,1 U/kg/h (adultos) e 0,05 U/kg/h (crianças), com meta de redução da glicemia de 50-75 mg/dL por hora.
Glicemia menor 250 mg/dL: reduzir para 0,05 U/kg/h de insulina regular e iniciar soro glicosado. Repetir gasometria.
Em casos leves, pode-se utilizar insulina regular SC de 1/1 h, ou análogos ultrarrápidos subcutâneos de hora em hora
ou a cada duas horas; porém, não se trata do método ideal de tratamento.
A suspensão da insulinoterapia só deverá ser feita quando corrigida a cetoacidose (pH e bicarbonato) e quando
houver redução da glicemia, que invariavelmente ocorrerá antes.
Tabela 3. Insulinoterapia.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Avaliar sinais neurológicos de alerta e sintomas de edema cerebral (agitação, irritabilidade, aumento da
sonolência).
Gasometria arterial a cada 2 ou 4 horas, assim como eletrólitos de acordo com a reposição.
pH ≥ 7,3
b. Complicações:
Hipopotassemia, hiperglicemia, hipoxemia, edema agudo de
pulmão acometendo geralmente doentes renais crônicos ou
pacientes com IC.
A rabdomiólise pode ocorrer devido à hiperosmolaridade e
hipoperfusão.
Hipercloremia e edema cerebral podem ocorrer devido à rápida
redução da osmolaridade sérica em pacientes adultos jovens.
Manifesta-se com sinais de cefaleia, letargia, alterações pupilares ou
convulsões.
Edema cerebral: as crianças apresentam maior incidência de
edema cerebral sintomático em comparação aos adultos,
principalmente naqueles com diabetes de início recente. Apresenta-
se com uma taxa de mortalidade de 10 a 25%. O edema cerebral
geralmente ocorre algumas horas após o início da terapia com CAD,
com sintomatologia variada, variando de cefaleia a deterioração
neurológica abrupta e coma. Portanto, é necessário um alto índice de
suspeita em pacientes com sinais neurológicos sutis precoces,
sensório alterado persistente, apesar da melhora da acidose (pH >
7,3) e hiperglicemia (glicemia < 300 mg/dL). Quando há suspeita de
edema cerebral, é essencial monitorar rigorosamente glicemia e
eletrólitos para evitar desequilíbrio osmótico. Em tratamentos com
manitol deve ser considerada a ocorrência de edema cerebral. O
volume de fluido administrado deve ser reduzido e demais medidas
para controle da pressão intracraniana devem ser tomadas, quando
necessárias.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Suspeita clínica e Manejo prático da CAD
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Sexo feminino, 13 anos, 40 kg, procura PS
queixando-se de fadiga e indisposição há 2 dias. Pais referem
que há 1 mês vem apresentando polidipsia, poliúria e perda de 4
kg nos últimos 14 dias. Apresentou 1 episódio de vômito hoje.
Nega patologias, internações prévias ou uso de medicação
contínua. Pais hígidos.
b. Exame físico: REG, afebril, hipocorada, sudoreica. Aparelho
cardiorrespiratório e abdominal sem alterações.
c. Exames laboratoriais:
BE: -19; SatO2: 98%; Hb: 10; K : 4,0 mEq/L; Na : 140 mEq/L;
+ +
• Leucócitos: 10.000;
• Ânion GAP: Na − (Cl
+ −
+ HCO3−); AG = 140 - (112 + 15) = 13.
d. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes
2019-2020. São Paulo: Editora Clannad; 2020.
2. American Diabetes Association. Classification and Diagnosis of Diabetes:
Standards of Medical Care in Diabetes - 2020. Diabetes Care 2020; 43(1): S14-31.
3. Hamblin PS, Wong R, Ekinci EI, Fourlanos S, Shah S, Jones AR et al. SGLT2
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Update to: Management of Hyperglycemia in Type 2 Diabetes 2018 A Consensus
Report by the American Diabetes Association (ADA) and the European Association
for the Study of Diabetes (EASD). Diabetes Care. 2020; 43(2): 487-93.
2.2
ESTADO HIPERGLICÊMICO
HIPEROSMOLAR
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• EHH (Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar): emergência
endocrinológica em pacientes diabéticos e acomete, quase
exclusivamente, os diabéticos do tipo 2.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As etiologias mais comuns são os fatores que levam à
descompensação do quadro de diabetes preexistente ou gatilho para
abrir o diagnóstico: infecções, AVE, IAM, queimaduras, desidratação
(idosos acamados que não têm acesso à hidratação adequada),
embolia pulmonar e demais fatores predisponentes listados abaixo.
A fisiopatologia do EHH é a soma de dois fatores: decréscimo da
insulina sérica e aumento de seus hormônios contrarregulatórios
(glucagon, epinefrina/norepinefrina, cortisol e hormônio do
crescimento). Essas alterações levam ao aumento da
gliconeogênese e da glicogenólise e ao uso inadequado da glicose,
principalmente a nível muscular.
Fatores predisponentes
Infecções (ITU) IAM/AVE
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente de hiperglicemia: mal-estar, fadiga,
indisposição, fraqueza em membros inferiores, turvação
visual, poliúria, polidipsia, polifagia.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: extremidades frias, desidratação, taquicardia,
hipotensão, baixa oxigenação periférica, aumento do tempo
de enchimento capilar.
VR: 290
• Sódio corrigido = Na +
[1,6 x (glicose-100/100)] VR: 135
-145mEq/L
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é essencialmente clínico. A propedêutica
laboratorial deve ser realizada conforme sugerido acima. A agilidade
diagnóstica e a precisão do manejo clínico determinam o desfecho
do paciente. A tabela 1 descreve os critérios diagnósticos para EHH.
Critérios laboratoriais
Glicemia sérica acima de 600 mg/dL
pH > 7,3
Bicarbonato > 15
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: o objetivo principal é restabelecer
a hidratação e o osmolalidade plasmática. A redução da
hiperglicemia e da hiperosmolaridade deve ser lenta para não
haver dano neurológico.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Suspeita e Manejo Clínico do EHH.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, E.R.T, masculino, 72 anos, 70 kg,
diabético tipo 2 há 20 anos, hipertenso, trabalhador rural, sem
utilizar a medicação há 1 semana (insulina NPH/regular e
Metformina 850 mg). Nega febre, vômitos, diarreia ou
convulsão.
b. Exame físico: taquidispneico, anictérico, acianótico, afebril,
corado. PA = 100 x 55 mmHg, pulso célere e filiforme, FC = 108
bpm, FR = 26 irpm, SatO2 = 92%, panturrilhas livres. Pupilas
isocóricas e foto reagentes.
OP = (2 x 152) + 700/18
OP = 342,8 mOsm/kg (V.R.: 290 ± 5)
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• A hidratação vigorosa só pode ser realizada em pacientes
que toleram volume, ou seja, sem insuficiência renal ou
cardíaca.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes
2019-2020. São Paulo: Editora Clannad; 2020.
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Study of Diabetes (EASD). Diabetes Care. 2020; 43(2): 487-93.
2.3
INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Insuficiência Adrenal Aguda (IAA): emergência clínica
decorrente da diminuição abrupta na secreção de
hormônios esteroides produzidos pelo córtex adrenal
(glicocorticoides, mineralocorticoides e precursores
androgênicos suprarrenais), cujo déficit predominante e de
ameaça à vida é o déficit de glicocorticoides.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Entre as principais causas, além das doenças primárias e
secundárias descritas abaixo, há a suspensão brusca do tratamento
com administração de glicocorticoides por um longo período de
tempo (IA secundária). A IA primária é rara (40 a 110 casos por
milhão de habitantes).
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente da deficiência de cortisol: instabilidade
hemodinâmica refratária à reposição de fluidos, hiperpirexia,
náuseas e vômitos, hipoglicemia ou coma, intolerância a
exercícios, fadiga, adinamia, anorexia, dor lombar.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: palidez, fraqueza muscular, hiperpigmentação
cutânea (apenas na IA primária devido ao aumento de ACTH
com estímulo aos melanócitos).
EXAMES COMPLEMENTARES
O diagnóstico é essencialmente clínico e não se deve protelar o
tratamento para os testes diagnósticos. O objetivo é restabelecer o
equilíbrio hemodinâmico e hidroeletrolítico e, posteriormente, buscar
a etiologia. Porém, uma série de testes diagnósticos podem ser
executados para confirmação do hipocortisolismo
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, a classificação
após a estabilização do paciente é importante para o seguimento do
paciente.
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: Restabelecer o equilíbrio
hemodinâmico e hidroeletrolítico, corrigir hipoglicemia.
• A preferência para o tratamento da suspeita de crise renal
é a reposição venosa imediata de Hidrocortisona 100 mg
(50 mg/m2 para crianças), seguida de reanimação hídrica
adequada e 200 mg (50-100 mg/m2 para crianças) de
hidrocortisona/24 horas (via terapia EV contínua ou a cada 6
horas); é necessária uma dose adequada à idade e à
superfície corporal em crianças (8 mg/ m2).
Infusão salina deve ser iniciada rapidamente por via endovenosa, com soro siológico (SF) a 0,9% em uma velocidade
inicial de 1-2 L/h, com monitorização cardíaca contínua e solução glicosilada a 5%. Após a melhora da hipotensão, a
taxa de infusão pode retornar para 3 a 4 L de solução salina isotônica por dia.
Cuidado em pacientes idosos e cardiopatas que podem não tolerar volume; avaliar cardiorrespiratório após cada
infusão de 250 mL de SF 0,9%.
Correção da hipoglicemia
Glicemia abaixo de 60 mg/dL: iniciar o soro glico siológico, pois estes pacientes vêm de períodos longos de anorexia.
Reposição de glicocorticoides
Hidrocortisona 100 mg EV em bolus seguida por 50 mg a cada 6 h nas primeiras 24 h em infusão contínua. Se o
diagnóstico de insu ciência adrenal estiver correto, haverá uma dramática melhora em 12 h após o início do
tratamento, e a dose de hidrocortisona poderá ser reduzida progressivamente. Em 24-72 horas, manter
hidrocortisona 50 mg EV 8/8 horas e, em sequência, iniciar corticoterapia oral.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Suspeita clínica e Manejo inicial da IAA.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: sexo feminino, 54 anos, 58 kg, sabidamente
portadora de doença de Addison, evolui com quadro de dor
abdominal inespecífica, náuseas.
b. Exame físico: REG, afebril, hipocorada, FC: 120 bpm, PA:
70x 40 mmHg sem melhora após 1 litro de SF 0,9% reposição
volêmica. Aparelhos cardiorrespiratório e abdominal sem
alterações.
c. Exames Laboratoriais: Glicemia: 50 mg/dL; Cortisol basal
em andamento.
d. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• O tratamento para o precipitante da crise adrenal deve ser
iniciado, assim como profilaxia do tromboembolismo
venoso. É recomendado avaliar um tempo curto de terapia
com inibidores da bomba de prótons para evitar potencial
úlcera gástrica por estresse.
REFERÊNCIAS
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20(1): 24.
2.4
CRISE TIREOTÓXICA
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Crise Tireotóxica ou Tempestade tireoidiana: síndrome
clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos
circulantes, associada ou não ao hipertireoidismo.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As etiologias mais comuns associadas ao hipertireoidismo são
doença de Basedow-Graves (80%) e bócios nodulares tóxicos.
As etiologias não associadas ao hipertireoidismo são geralmente
leves e transitórias e representadas por: tireoidite silenciosa,
tireoidite pós-parto ou tireoidite dolorosa subaguda ou pós-terapia
ablativa com radioiodo. Nesses casos, a destruição de tireócitos leva
à liberação de hormônios pré-formados na circulação. Lítio,
interferon α e amiodarona são comumente envolvidos na disfunção
tireoidiana induzida por drogas e têm mecanismo semelhante às
tireoidites.
A tireotoxicose exógena é fictícia ou iatrogênica, se desenvolve
após a ingestão de quantidades excessivas de hormônio tireoidiano
e está associada a baixas concentrações séricas de tireoglobulina.
O hipertireoidismo ectópico é extremamente raro, sendo as
causas principais as metástases funcionais do câncer de tireoide ou
o estroma ovariano, um tumor ovariano que contém tecido
tireoidiano funcional.
A tireoidite pós-parto é mais comum em mulheres com diabetes
tipo 1, doença de Graves em remissão e hepatite viral crônica. É
maior que na população em geral, e a triagem por TSH é
recomendada aos 3 e 6 meses após o parto.
Os fatores desencadeantes incluem: cessação abrupta das
drogas antitireoidianas, cirurgias tireoidianas e não tireoidianas e
enfermidades agudas graves (infecções, cetoacidose diabética,
eventos vasculares).
A siopatologia da CT baseia-se no excesso de hormônios tireoidianos
circulantes, seja por excesso de produção pela tireoide (hipertireoidismo)
ou liberação excessiva por tireoide ou induzida por fármacos.
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente do hipertireoidismo: perda de peso (90%
dos casos) súbita e expressiva, exoftalmia e hiperemia
conjuntival (doença de Graves), hipertermia, poliúria e
polidipsia, bócio com sopro em topografia de tireoide,
cansaço, fraqueza muscular, queda de cabelos, aumento do
número de evacuações, alteração do estado de humor
(mania ou depressão), distúrbios menstruais (oligo ou
hipermenorreia).
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da crise ou tempestade tireotóxica é
essencialmente clínico. Não existe um teste laboratorial específico
que identifique tal condição.
Os critérios diagnósticos de crise tireotóxica de Burch e Wartofsky
e seus pontos somados apresentam a seguinte probabilidade:
Disfunção gastrointestinal /
Efeitos no SNC pontos pontos
hepática
Ausentes 0 Ausente 0
Leve (agitação) 10
Moderados (delírio, psicose, letargia extrema) 20 Moderada (diarreia / náuseas / dor 10
Graves (convulsões, coma) abdominal) 20
30
Ausente 0 Presente 10
Leve 5
Moderada 10
Grave (edema agudo pulmão) pulmão 15
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: abordagens para a crise tireotóxica são:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: sexo feminino, 32 anos, 55 kg, apresenta-se
ao PS com quadro de hipertermia, palpitações intensas,
agitação e tremores de extremidades em domicílio, durante a
madrugada, sendo conduzida por familiares à unidade de
pronto-atendimento. Segundo os familiares, tratava-se de
paciente portadora de doença de Graves, sem tratamento
medicamentoso regular.
d. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• A crise tireotóxica tem como sua principal causa a doença
de Basedow-Graves e um tratamento definitivo para esta
deve ser oferecido, especialmente se o paciente apresentar
quadros recorrentes desta emergência. As opções de
tratamento definitivo para a doença de Graves são terapia
com iodo radioativo e cirurgia.
REFERÊNCIAS
1. Freitas MC, Mota VC, Souza TBB, Cardoso LRA, Vilar L. Diagnóstico e tratamento
da Doença de Graves. In: Vilar L. Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
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2. De Groot L, Abalovich M, Alexander EK, Amino N, Barbour L, Cobin RH, et al.
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3. Ylli D, Klubo‐Gwiezdzinska J, Wartofsky L. Thyroid emergencies. Pol Arch Intern
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Into the Extravascular Space. J Endocr Soc. 2020; 4(4): bvaa023.
2.5
COMA MIXEDEMATOSO
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Coma Mixedematoso (CM): trata-se de uma redução
intensa das concentrações séricas de tetraiodotironina (T4)
e sua conversão em sua forma mais ativa triiodotironina
(T3), que geralmente acomete indivíduos com
hipotireoidismo prévio conhecido, inadequadamente
tratados, ou precipitado por eventos agudos ou ainda como
abertura do diagnóstico.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A etiologia mais comum é a Tireoidite de Hashimoto, uma doença
autoimune, em que há uma perda de função das células tireoidianas
para a produção hormonal, gerando uma redução de suas
concentrações séricas. Outras etiologias mais raras são: pós-
tireoidectomia e tireoidite de Riedel.
Para que ocorra o CM deve haver um fator desencadeante,
situações clínicas descritas no Quadro 1 ou em pacientes acima dos
65 anos que habitam ou viajam para áreas de clima frio, onde o
aumento do trabalho metabólico do indivíduo gera sobrecarga de
tireoide em mau funcionamento.
Dessa forma, após algum evento precipitante, ocorre redução das
concentrações séricas de T4 e a concentração intracelular de T3.
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente de redução do metabolismo basal:
intolerância a exercícios, fadiga, adinamia, hipotermia,
intolerância ao frio, síncope ou pré-síncope, diminuição do
débito urinário, cianose.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: pele infiltrada, carotenêmica e fria,
macroglossia, fácies edemaciada, pseudomadarose,
rarefação de pelos corporais e voz rouca (sinais de
hipotireoidismo prévio).
• Aparelho cardiovascular: bradicardia e redução do
inotropismo cardíaco, hipertensão diastólica, redução do
volume sanguíneo efetivo total.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio,
função hepática, TSH, T4L, glicemia, perfil lipídico.
b. Eletrocardiograma (ECG): bradicardia sinusal, baixa
voltagem, alterações inespecíficas no segmento ST.
c. Radiografia de tórax: para descartar infecção pulmonar e
derrame pleural.
d. Outros exames (indicações mais restritas e específicas): o
anticorpo mais sensível para o diagnóstico de Tireoidite de
Hashimoto é o Anti-TPO; porém, na urgência, nem sempre está
disponível. Deverá ser levado a posteriori do quadro agudo ao
especialista. Ultrassonografia de tireoide só será solicitada para
acompanhamento posterior pelo especialista.
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: resgatar o estado neurológico,
corrigir desequilíbrio hidroeletrolítico, controlar a temperatura
corporal e restaurar as concentrações séricas dos hormônios
tireoidianos.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Resume o quadro clínico e manejo inicial do CM.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: 70 anos, sexo feminino, 62,5 kg, com
hipotireoidismo de longa data em uso inconstante de
levotiroxina 100 μg VO uma vez por dia, em jejum.
Acompanhante relata que a paciente estava em tratamento há 5
dias para pneumonia, porém sem adesão à terapêutica. Esse
diagnóstico foi firmado pela presença do quadro clínico de tosse
purulenta por 3 dias, T de 38,7°C (aferida), RX de tórax
evidenciando opacificação em lobo médio do pulmão direito e
linfocitose de 15600/mm3 com desvio à esquerda. A terapêutica
ambulatorial prescrita foi amoxicilina 500 mg VO por 7 dias +
azitromicina 1 g VO 1x/dia por 5 dia.
c. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• A reposição de iodo, amplamente difundida na mídia leiga
como lugol, não tem indicação no hipotireoidismo ou
qualquer evidência científica para seu uso como medida
preventiva ou tratamento de patologias tireoidianas.
DEFINIÇÕES
• Adrenais ou suprarrenais: são duas glândulas localizadas
no retroperitônio, ocupando o pólo superior dos rins
bilateralmente, peso médio estimado em 8 a 10 gramas
em um indivíduo adulto, histologicamente constituídas por
duas estruturas principais, o córtex e a medula.
INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
a. Indicações: afecções dermatológicas, asma brônquica,
doenças linfoproliferativas, insuficiência adrenal, inflamações
oculares, HIV, doenças do colágeno, síndrome da angústia
respiratória (pré-parto), estabilização hemodinâmica na sepse,
imunossupressão intencional (p.ex., transplantados), artrite
reumatoide, distúrbios neuromusculares (paralisia facial,
polirradiculopatias), trauma raquimedular, doença de Crohn e
outras.
• Choque séptico: embora vários estudos e metanálises
importantes tenham avaliado o uso de corticosteroides no
choque séptico, muitas questões permanecem em aberto,
devido à heterogeneidade dos resultados, principalmente
em relação à mortalidade.
A maioria dos guidelines recomenda a terapia com
hidrocortisona em baixas doses em pacientes com choque séptico
associado a outro fator adicional (não cardiovascular) indicador de
falência do órgão e que estejam em uso de vasopressores em
doses moderadas a altas (superior a 30 μg/min de noradrenalina),
para manter a estabilidade hemodinâmica.
Se a indicação for comprovadamente necessária, sugere-se
hidrocortisona (isolada) em doses de 50 mg IV a cada 6 horas por 7
dias ou até que os vasopressores não sejam mais necessários para
manter a estabilidade hemodinâmica (ou redução importante da
dose de vasopressor). A mesma dose de corticosteroides pode ser
cautelosamente considerada para reduzir a duração do choque em
pacientes com choque séptico de duração prolongada, embora não
seja recomendado o uso rotineiro, devido à ausência de benefício
consistente da mortalidade associado à redução da duração do
choque.
EFEITOS COLATERAIS
O uso dos corticosteroides em altas doses, por longos períodos
de tempo ou repetidamente, pode aumentar o risco de
complicações.
Além disso, o uso concomitante de outras drogas pode interferir
nos níveis séricos de CT. Cetoconazol e eritromicina aumentam sua
concentração sérica e sua ação por inibição do metabolismo
hepático (citocromo P 450), enquanto os anticonvulsivantes e a
rifampicina diminuem sua concentração e ação por indução das
enzimas hepáticas. Outras drogas como antiácidos, anti-
histamínicos H2 (cimetidina) e inibidores da bomba de prótons
podem prejudicar a absorção dos corticosteroides orais.
d. Efeitos cardiovasculares
Pacientes com hipercortisolismo, endógeno ou exógeno
(iatrogênico), demonstram alta morbimortalidade cardiovascular,
principalmente se o diagnóstico for atrasado. As comorbidades
cardiovasculares e metabólicas induzidas pelo hipercortisolismo
incluem hipertensão, resistência insulínica, dislipidemia e
obesidade.
A alta prevalência de fatores de risco cardiovascular leva ao
aumento da taxa de eventos cardiovasculares e mortalidade. Esse
risco é reduzido, embora não revertido, mesmo após o tratamento
bem-sucedido do hipercortisolismo.
A hipertensão induzida pelo hipercortisolismo é uma doença
multifatorial que envolve principalmente a ativação dos receptores
mineralocorticoides e glicocorticoides, sistema renina-angiotensina,
sistema nervoso simpático e comprometimento do equilíbrio entre
vasodilatadores e vasoconstritores. A aldosterona e o cortisol têm
uma afinidade semelhante ao nível dos receptores
mineralocorticoides, que são expressos principalmente nos rins.
e. Necrose avascular
Os efeitos ósseos acarretam hipertensão intraóssea, levando à
isquemia e necrose, provavelmente por hipertrofia dos lipócitos
locais. Associadamente, ocorre apoptose dos osteoblastos. Vários
pacientes ainda apresentam trombofilia ou hipofibrinólise,
resultando na oclusão trombótica do retorno venoso do osso,
diminuição da perfusão arterial e infarto, consequentemente.
Clinicamente, manifesta-se com dor e limitação do movimento em
uma ou mais articulações.
f. Alterações imunológicas gerais de imunossupressão
ACOMPANHAMENTO CLÍNICO
Deve-se investigar histórico pessoal e familiar de diabetes,
hipertensão, hiperlipidemia, glaucoma, tuberculose e doenças que
cursam com imunossupressão ou infecções sistêmicas.
Anamnese e exame físico detalhados para afastar infecções e
possíveis reativações de quadros em latência. Avaliar pressão
arterial e peso do paciente, glicemia em jejum, colesterol e
triglicerídeos.
Avaliação oftalmológica, PPD, raio X de tórax, hemograma,
eletrólitos, densitometria óssea e fezes com cultura em placas de
Ágar devem sempre ser realizadas quando for necessário
tratamento prolongado, pois diminui e/ou minimiza efeitos adversos
ou iatrogênicos.
Durante o tratamento com os corticoides, deve sempre ser
realizada uma avaliação oftalmológica para detecção de catarata e
glaucoma, inicialmente a cada três a seis meses no primeiro ano, e
depois a cada seis a doze meses ou segundo orientação do
oftalmologista. Alterações oculares podem surgir principalmente
em pacientes com corticoterapia por mais de um ano com doses
superiores a 10 mg/dia de prednisona. Deve-se questionar o
paciente sobre sintomas de poliúria, polidipsia, dor abdominal, febre,
distúrbios do sono e efeitos psicológicos; avaliar curvas de
crescimento em crianças a cada três meses; dosar eletrólitos,
glicemia, colesterol, triglicerídeos e pesquisa de sangue oculto nas
fezes após um mês de tratamento e, depois, a cada três a seis
meses. Realizar densitometria óssea nos pacientes com tratamento
por três meses ou mais, a cada seis a doze meses.
ESQUEMA DE SUSPENSÃO
O desmame deve ser realizado de acordo com a doença de base
e o grau de supressão gerada sobre o eixo HHA. Suspensão abrupta
não pode ser realizada, devido ao risco potencial de insuficiência
adrenal se o paciente estiver em uso por mais de 3 semanas.
Orienta-se que o esquema de suspensão ou desmame (redução da
dose) seja individualizado de acordo com o paciente, embora
existam algumas recomendações gerais a serem seguidas:
1. Quanto à escolha do corticosteroide apropriado para a
doença:
DOSES E EQUIVALÊNCIAS
Dose Meia-Vida
Atividade Atividade
Fármaco Equivalente biológica
Glicocorticoide Mineralocorticoide
(mg) (horas)
Curta ação
Cortisona 25 0,8 2+ 8 - 12
Hidrocortisona 20 1 2+ 8 - 12
Média ação
Prednisona 5 4 1+ 24-36
Prednisolona 5 4 1+ 24-36
Metilprednisolona 4 5 0 24-36
Triancinolona 4 5 0 24-36
longa ação
Dexametasona 0,75 20-30 0 36-54
DICAS DO ESPECIALISTA
• Todos pacientes devem portar cartões de emergência
quando estiverem em uso crônico de CT.
• Pulseiras/colares de identificação de alerta médico
também são necessários para alertar os profissionais
médicos sobre a necessidade de tratamento imediato com
glicocorticoide parenteral no caso de uma crise adrenal e
consciência reduzida.
REFERÊNCIAS
1. Akalestou E, Genser L, Rutter GA. Glucocorticoid Metabolism in Obesity and
Following Weight Loss. Front Endocrinol. 2020; 11: 59.
2. Cain DW, Cidlowski JA. Immune regulation by glucocorticoids. Nat Rev Immunol.
2017;17(4): 233-47.
3. Leong SH, Shander S, Ratnasingam J. Predicting recovery of the hypothalamic-
pituiatary-adrenal axis after prolonged glucocorticoide use. Endocr Pract. 2018;
24(1): 14-20.
4. Ministério da Saúde (BR). Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação /
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
5. Sammaritano LR. Management of Systemic Lupus Erythematosus During
Pregnancy. Annual Review of Medicine. 2017; 68(1): 271-85.
. Constanzo M. Corticoterapia prolongada. Recomendaciones para la suspensión de
los glucocorticoides sistémicos. Med Infant. 2019; 26(3): 327-31.
7. Dineen R, Martin-Grace J, Thompson CJ, Sherlock M. The management of
glucocorticoid deficiency: Current and future perspectives, Clin Chim Acta. 2020;
505: 148-59.
. Manosroi W, Kosachunhanan N, Atthakomol P. Clinical and biochemical factors
to predict biochemical adrenal insufficiency in hospitalized patients with
indeterminate cortisol levels: a retrospective study. BMC Endocr Disord. 2020; 20:
24.
9. Li D, El Kawkgi OM, Henriquez AF, Bancos I. Cardiovascular risk and mortality in
patients with active and treated hypercortisolism. Gland Surg. 2020; 9(1): 43-58
10. Yerke J, Strnad K, Bauer SR. Corticosteroids for Septic Shock: Another Chapter in
the Saga. Hosp Pharm. 2020 Apr;55(2):135-142. .
11. Vilar L, Czepieleweski MA, Faria TMM, Bruno OD. Diagnóstico e diagnóstico
diferencial da Síndrome de Cushing. In: Vilar L, Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
2.7
CONTROLE GLICÊMICO INTRA-
HOSPITALAR
Autoras:
Beatriz Francisco Barbosa Rodrigues
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Hiperglicemia intra-hospitalar: caracteriza-se a
hiperglicemia intra-hospitalar por uma glicemia aleatória,
com valor máximo de até 180 mg/dL, uma complicação
comum e por vezes negligenciada. Hiperglicemia intra-
hospitalar aguda é uma condição comum nos doentes
críticos e não críticos, com ou sem diagnóstico prévio de
diabetes mellitus.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a. HIPERGLICEMIA
O aumento da glicemia em doenças agudas é uma resposta
fisiológica à maior demanda metabólica nesses pacientes e está
associada à liberação de hormônios contrarreguladores: o hormônio
do crescimento (GH), a epinefrina, o cortisol, o glucagon. Associado
a tal condição fisiológica, há uso de corticoides, dietas enterais e
parenterais, e liberação de citocinas inflamatórias se na vigência de
sepse e em pós-operatório.
A liberação de hormônios promove glicogenólise e
gliconeogênese no fígado, aumentando a produção endógena de
glicose e inibindo, concomitantemente, a liberação de insulina. As
citocinas inflamatórias prejudicam a ação da insulina nos tecidos
periféricos, aumentando a resistência à sua ação.
A hiperglicemia persistente resulta em alteração hemodinâmica,
distúrbio hidroeletrolítico, desidratação, estresse oxidativo com
formação de superóxidos, hipercoagulabilidade, piora de isquemia
miocárdica e cerebral, aumento de fatores inflamatórios, redução da
imunidade, da quimiotaxia e fagocitose, predisposição a quadro de
sepse em pacientes críticos, prejuízo à cicatrização e disfunção
endotelial.
Essas alterações primariamente se associam ao excesso de
glicose intracelular nos tecidos que não dependem de insulina para
transportá-la para dentro da célula, e o fazem através dos GLUT 1, 2
e 3, tais como os epitélios, células endoteliais, SNC, hepatócitos e
células inflamatórias. A hiperglicemia hospitalar, então, deixa de ser
vista puramente como uma resposta metabólica exacerbada e
passa a ser responsável por piores prognósticos e aumento da
morbidade e da mortalidade nos pacientes.
A hiperglicemia aguda após lesão traumática induz a secreção
de cortisol e glucagon, promovendo estresse oxidativo e resistência
à insulina, e resultando em hiperglicemia. A glicemia na admissão
representa um preditor clinicamente útil da mortalidade e resposta
à infecção em pacientes traumatizados. Dessa forma, alcançar a
normoglicemia no período pós-traumático precoce melhora a
recuperação.
O grande desafio é o paciente sem o diagnóstico prévio de
diabetes mellitus e com a glicemia aleatória entre 180-220 mg/dL, e
devemos avaliar a hipótese de hiperglicemia por estresse.
A definição de hiperglicemia por estresse é difícil no momento
do evento. Sem evidências de diabetes anterior, a hiperglicemia
durante eventos agudos também pode:
QUADRO CLÍNICO
a. HIPERGLICEMIA
Os sintomas consistem em poliúria, polidipsia, fraqueza
generalizada, dificuldade em cicatrização de feridas, infecções
recorrentes.
b. HIPOGLICEMIA
Os sintomas típicos são taquicardia, tremores, sudorese, pele fria
e pálida (desencadeadas por descarga adrenérgica) e, em casos
graves, letargia e estado comatoso, crises convulsivas. A
hipoglicemia severa pode levar a alterações cardíacas, como
arritmias, crises de angina, além de promover liberação de fatores
pró-inflamatórios.
EXAME FÍSICO
• Alterações pela hiperglicemia: geralmente sem sintomas
típicos, mas glicemias acima de 300 mg/dL geralmente
podem cursar com comprometimento do sensório,
agitação ou letargia, taquicardia, tremores, sudorese e
dificuldade para cicatrizar feridas.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. HIPERGLICEMIA
TRATAMENTO
• Deverão ser avaliados: condições clínicas do paciente,
diabetes prévio e tratamento em uso antes da internação;
uso atual de corticosteroides e antipsicóticos; tipo de dieta
do paciente; horários das refeições; necessidade de jejum
ou recebendo soro glicosado.
Detemir 6a8h 18 a 22 h
NPH 4 a 10 h 10 a 18 h
Degludeca Nenhum 24 a 42 h
Regular 2 a 3h 5a8h
70 a 99 Diminuir 10%
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. HIPERGLICEMIA
Exemplo para início de insulinização, em esquema intensivo
(basal/bolus), para paciente de 80 kg, usando 0,6 U/kg. Portanto,
DTD de 48U e fator de sensibilidade 30. Foram utilizadas como
exemplo as duas insulinas que estão mais frequentemente
disponíveis nos hospitais do Sistema Único de Saúde.
A tabela 3 mostra o esquema de insulinização inicial.
1) Dieta oral para Diabetes.
4) Insulina Prandial: Insulina Regular 8 unidades 30 minutos antes do café da manhã, almoço e jantar.
5) SGH 50% 40 mL EV ou VO (se paciente consciente) se glicemia menor que 70 mg/dL. Repetir glicemia capilar 15 minutos
após.
6) Se glicemia maior que 140 mg/dL, corrigir a dose de insulina Regular, acrescentando a esta:
• 141-170: 1 unidade 291-320: 6 unidades
• 171-200: 2 unidades 321-350: 7 unidades
• 201-230: 3 unidades 351-380: 8 unidades
• 231-260: 4 unidades 381-410: 9 unidades
• 261-290: 5 unidades > 410: 10 unidades
Tabela 3. Modelo de Prescrição para início de Insulinoterapia
Esquema Basal-Bolus
Fonte: Elaborado pelos autores.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A alta hospitalar requer orientações detalhadas,
principalmente para aqueles que não usavam insulina
antes da hospitalização. É fundamental que os pacientes
com primodiagnóstico de diabetes sejam avaliados pelo
especialista, para verificar o tipo de diabetes e a estratégia
de tratamento que será mantida ambulatorialmente.
DEFINIÇÕES
A ascite consiste no acúmulo patológico de líquido na cavidade
peritoneal e tem como principal etiologia a cirrose hepática,
responsável por cerca de 80% dos casos.
A história natural da cirrose é caracterizada por duas fases: a
primeira, é compensada e assintomática, seguida por uma fase
descompensada, marcada pelo desenvolvimento de complicações
como ascite, a principal delas. Essa manifestação está associada a
mau prognóstico e acomete 5% a 10% dos pacientes cirróticos
anualmente e, em 10 anos, até 70% deles.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Existem várias causas de ascite, sendo a principal delas a
hipertensão portal por cirrose hepática. É necessário estabelecer o
diagnóstico diferencial com outras etiologias como a cardiogênica,
as doenças peritoneais, além de condições sistêmicas que
ocasionam hipoalbuminemia. A avaliação clínica associada à
propedêutica complementar permite identificar a etiologia na
maioria dos casos e instituir terapêutica específica.
A ascite pode ser classificada de acordo com a fisiopatologia
(Tabela 1):
Doença Out ras
Hipert ensão P ort al Cardiogênica Hipoalbuminemia
P erit oneal Causas
Enteropatia
Hepatite Pericardite Ascite
Tuberculose perdedora de
Alcoólica Constrictiva Pancreática
proteínas
Peritonite
Veno-oclusiva
Granulomatosa
Diálise
Peritoneal
EXAMES COMPLEMENTARES
• Paracentese abdominal: técnica e exames laboratoriais
pertinentes serão detalhados no tópico a seguir.
CLASSIFICAÇÃO
A ascite pode ser graduada de acordo com o exame clínico em:
PARACENTESE DIAGNÓSTICA
A paracentese diagnóstica com análise do líquido ascítico é
fundamental em todos os doentes investigados por ascite para
identificar a etiologia e descartar peritonite bacteriana espontânea
(PBE) nos cirróticos, reduzindo as taxas de mortalidade nesse
subgrupo de pacientes.
É o método mais rápido e custo-efetivo, sendo realizado à beira
do leito, com retirada de pequena quantidade de líquido ascítico para
análise. A paracentese de alívio é terapêutica ao remover grandes
volumes de líquido, visando ao alívio dos sintomas associados ao
aumento da pressão intra-abdominal.
a. Indicações:
c. Técnica:
Amilase Bilirrubina
Gram CEA
• GASA < 1,1 g/dL: outras causas que não sejam decorrentes
de hipertensão portal.
GASA ≥ 1,1 GASA < 1,1
Cirrose Hepática Carcinomatose peritoneal
Amarelo Leucócitos
ICC ≥ 1,1 > 2,5 Negativo
citrino < 1000
Citologia (+)
Peritonite Pode ser Leucócitos > 1000
< 1,1 > 2,5 Negativo
Carcinomatosa hemorrágico (às custas de PMN e
linfócitos)
TRATAMENTO
O manejo clínico envolve o tratamento da ascite e a resolução, se
possível, da condição de base, a fim de evitar a recorrência do
quadro. Os pacientes portadores de hepatopatia devem manter
abstinência alcoólica, mesmo que esta não seja a causa primária da
doença, pois o álcool atua diretamente na hipertensão portal. O uso
de substâncias (medicamentos, ervas, suplementos) hepatotóxicas
também deve ser interrompido. O tratamento da causa da cirrose
hepática é fundamental, pois evita a progressão da deteriorização
funcional do fígado.
A restrição de sódio adequada, junto à terapia diurética, leva ao
controle da ascite em 90% dos casos. Quando esse controle não é
obtido, a determinação da excreção urinária de sódio deve ser
realizada, a fim de verificar se o paciente está transgredindo a dieta
ou se está evoluindo com disfunção renal e, assim, não respondendo
à terapia. Quando a ascite é controlada, a redução progressiva e
proporcional dos diuréticos deve ser realizada, até a suspensão ou
manutenção da menor dose possível que leva ao controle da ascite.
a. Restrição de sódio:
Não é recomendada restrição de sódio rotineira em pacientes que
nunca tiveram ascite. Nos casos leves, após o primeiro episódio,
essa medida pode levar à resolução da ascite em 10% dos pacientes.
A restrição extrema desse íon, além de pouco palatável, favorece o
desenvolvimento de hiponatremia e é frequentemente associada à
redução da ingestão de calorias, prejudicando o estado nutricional.
A ingestão máxima de sódio por dia é controversa. O AASLD
(American Association for the Study of Liver Diseases) recomenda 2
g de sal por dia (= 88 mEq), enquanto a EASL (European Association
for the Stydy of Liver Diseases) considera a ingestão adequada até
4,6-6,9 g de sal por dia.
b. Diuréticos:
Os diuréticos não estão associados a desfecho de mortalidade,
sendo úteis apenas para controle sintomático. Como o
hiperaldosteronismo secundário desempenha um papel fundamental
na retenção renal de sódio nos cirróticos, antagonistas da
aldosterona como a Espironolactona (100-400 mg/d) representam
um papel importante no tratamento clínico da ascite. A Amilorida
(10-40 mg/d) atua no ducto coletor, porém é menos eficaz e deve ser
usada apenas naqueles que desenvolvem efeitos colaterais graves
com antagonistas da aldosterona. A reabsorção tubular proximal
promove retenção renal de sódio por vários mecanismos, como o
aumento da angiotensina II, hiperatividade adrenérgica simpática e
redução da perfusão renal, com benefício na associação de
diuréticos de alça como a Furosemida (40-160 mg/d).
O objetivo durante o tratamento é a perda de 0,5 kg/dia nos
pacientes sem edema periférico e 1 kg/dia naqueles com edema de
membros inferiores, devendo evitar perdas rápidas e superiores para
não ocasionar contração do volume plasmático e consequente
insuficiência renal e hiponatremia. A longo prazo, objetiva-se manter
os doentes sem ascite com a menor dose necessária de diuréticos,
devendo suspendê-los sempre que possível.
As principais complicações da terapia diurética são disfunção
renal, distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalemia, hipomagnesemia,
hiponatremia e hipercalemia), encefalopatia hepática, ginecomastia
(pela espironolactona) e câimbras. Dosagens periódicas de
eletrólitos e função renal são recomendadas. Se houver piora da
função renal ou hiponatremia grave (Na+ < 125 mmol/L), deve-se
descontinuar os diuréticos; se hipocalemia grave (K+ < 3 mmol/L),
suspender os diuréticos de alça; se hipercalemia grave (K+ > 6
mmol/L), interromper os antagonistas da aldosterona. A restrição
hídrica não é recomendada rotineiramente, sendo indicada nos
pacientes com sódio sérico abaixo de 125 mmol/L.
Nos cirróticos com ascite não complicada, a abordagem baseia-
se no grau de ascite:
1. ASCITE REFRATÁRIA
A ascite refratária é aquela que não responde ao tratamento de
mobilização ou que recidiva de forma precoce. A sobrevida média
nesse grupo de pacientes é de aproximadamente 6 meses, sendo
considerada uma indicação ao transplante hepático. Pode ser
subdividida em:
a. Clínica
Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar dor,
hipersensibilidade abdominal e vômitos, além de sinais de infecção
sistêmica, como febre, calafrios e taquicardia. Os cirróticos podem
apresentar descompensação da função hepática, encefalopatia
hepática, disfunção renal ou instabilidade hemodinâmica em
decorrência da infecção do líquido ascítico.
b. Diagnóstico
O diagnóstico é realizado através da análise do líquido ascítico,
que apresenta características de hipertensão portal (GASA ≥ 1,1) e
proteína do líquido ascítico < 2,5, associadas a:
Amoxicilina-clavulanato, 1,2 g, EV, 8/8h, por dois dias + 500/125 mg, VO, 8/8 horas, por até 8-14 dias.
Cipro oxacino 200 mg, EV, 12/12h, por 2 dias, seguido de 500 mg, VO, 12/12 horas, por 7 dias.
Tabela 5. Antibioticoterapia para PBE
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Profilaxia primária
• Hemorragia digestiva: Norfloxacino 400 mg 12/12 h por 7
dias. Se doença hepática avançada (Child B ou C) ou uso
prévio de quinolonas, preferir Ceftriaxona (1 g/dia, EV, 7
dias).
• Profilaxia secundária
• História prévia de PBE: Norfloxacino via oral 400 mg/dia,
contínuo. Como alternativa, Ciprofloxacino (750 mg uma
vez por semana, por via oral) ou Sulfametoxazol +
Trimetoprim (800/160 mg ao dia, 5 dias/semana por via
oral).
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Paracentese diagnóstica.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fluxograma 2: Diagnóstico e Tratamento da Peritonite Bacteriana
Espontânea (PBE).
Fonte: Adaptado de Ferraz. 8
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: J.P.M., masculino, 50 anos, 60 kg, dá entrada
ao pronto-atendimento com queixa de dor abdominal difusa,
vômitos e febre há 3 dias, além de aumento progressivo do
volume abdominal. É portador de cirrose hepática de etiologia
alcoólica em uso de Furosemida 40 mg/dia e Espironolactona
100 mg/dia.
• Aspecto: turvo
Exame microscópico
Contagem total de células 842
PMN 410
Cultura E. coli +
Exame bioquímico
Glicose 80 mg/dL
DICAS DO ESPECIALISTA
• A ascite é uma manifestação clínica tanto de doenças
hepáticas quanto de doenças peritoneais e sistêmicas.
REFERÊNCIAS
1. Associação europeia para o estudo do fígado (EASL). Recomendações de
orientação clínica da EASL para a abordagem da ascite, da peritonite bacteriana
espontânea e da síndrome hepatorrenal na cirrose. J Hepatol. 2010; 53: 397-417.
2. Runyon BA. Spontaneous Bacterial Peritonitis in Adults: Treatment and Prophylaxis.
UpToDate. [Internet]; 2016. [acesso em 12/05/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/spontaneous-bacterial-peritonitis-in-adults-
treatment-and-prophylaxis.
3. Runyon BA. Evaluation of Adults With Ascites. UpToDate. [Internet]; 2016. [acesso
em 12/05/2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-
adults-with-ascites.
4. Runyon BA. Diagnostic and Therapeutic Abdominal Paracentesis. UpToDate.
[Internet]; 2016. [acesso em 12/05/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/diagnostic-and-therapeutic-abdominal-
paracentesis.
5. Olmos RD, Dos Santos MSC, Martins HS, Lopes RDA. Ascite no pronto-socorro. In:
Martins HS, Neto RAB, Neto AS, Velasco IT. Emergências clínicas: abordagem
prática. 9. ed. Manole: Barueri, 2014.
. Lopes AC. Tratado de clínica médica: volume 1. 2. ed. São Paulo: Roca; 2009.
7. Associação europeia para o estudo do fígado (EASL). Diretrizes de Prática Clínica
da EASL para o manejo de pacientes com cirrose descompensada. J Hepatol. 2018
vol. XXX.
. Ferraz MLG, Silva AEB, Schiavon JLN, Monteiro MM, Sammarco GN, Almeida VB.
Manual De Hepatologia Para Clínicos e Residentes. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora
Atheneu; 2018.
9. Adebayo D, Neong SF, Wong F. Refractary ascitis. Am J Gastroenterol. 2019; 114(1):
40-7.
3.2
ABDOME AGUDO
Autores:
Edivan Fernandes Frota Filho
Ana Claudia Rocha Sales
Géssyka Soares Castro
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
• Abdome agudo: caracteriza-se por uma síndrome clínica
que apresenta como principal manifestação dor abdominal
de início abrupto ou de evolução progressiva.
Devido ao extenso rol de diagnósticos diferenciais, com condições
potencialmente ameaçadoras à vida, o abdome agudo é um desafio
para o médico no setor de emergência. Alguns grupos de pacientes
representam desafios diagnósticos especiais: idosos e diabéticos,
por apresentarem sintomas atípicos; imunossuprimidos, pelas
condições incomuns que podem apresentar; e gestantes, que cursam
com alterações fisiológicas e anatômicas que afetam a
apresentação das doenças.
A dor intensa de início súbito e a dor constante, de forte
intensidade, com duração superior a 6 h, sugerem patologias com
necessidade de abordagem rápida, com indicação cirúrgica em
poucas horas na maioria dos casos devido à alta morbimortalidade.
Portanto, o principal elemento de diagnóstico é uma boa anamnese
com exame físico completo, os quais podem propor supostas causas
e direcionar os métodos complementares a serem realizados.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O abdome agudo pode exibir cinco principais etiologias:
QUADRO CLÍNICO
O principal sintoma do abdome agudo é dor abdominal, cujas
características podem variar conforme a etiologia:
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Pacientes inquietos, agitados, trocando de
posição na tentativa de aliviar a dor, sugerem, por exemplo,
cólica renal ou obstrução intestinal. Já pacientes que se
encontram imóveis no leito, em posição fetal, evitando falar
e fáscies de dor intensa, provavelmente têm peritonite.
• Exame abdominal:
• Inspeção: presença de cicatrizes cirúrgicas aumentam a
suspeita sobre aderências; presença de distensão e
peristaltismo visível sugerem obstrução intestinal.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: Hemograma completo e análise de
sedimentos da urina (EAS, sumário de urina ou urina tipo 1)
devem ser solicitados para a maioria dos pacientes, porém
são inespecíficos. Solicitar teste de gravidez em todas as
mulheres em idade fértil. Paciente com dor em abdome
superior deve ter enzimas hepáticas e amilase solicitados.
Outros testes devem ser avaliados conforme a hipótese
diagnóstica.
DIAGNÓSTICO
A combinação de uma história cuidadosa e exame físico é crucial
para criar um diagnóstico focado e apropriado (Tabela 1).
TRATAMENTO
O primeiro passo para avaliar um paciente com dor abdominal
aguda é definir se está hemodinamicamente instável ou estável:
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: P.S.M, masculino, 29 anos, comparece ao
pronto-socorro relatando dor epigástrica há dois dias, evoluindo
com piora e migração para região de fossa ilíaca direita (FID).
No momento, apresenta dor intensa em todo o abdome, febre e
vômitos. Nega diarreia, icterícia, colúria ou acolia fecal. Ao
exame físico, apresenta FC de 115 bpm, Tax 38,9°C, PA de
140x80 mmHg, EG Regular, abdome em tábua, dor à
descompressão brusca em todo o abdome, porém mais intensa
em FID e Sinal do obturador e Rovsing positivos.
b. Exames complementares: leucocitose com desvio à
esquerda e FAST demonstrando a presença de líquido na
cavidade abdominal.
c. Diagnóstico: apendicite aguda perfurada.
d. Prescrição Sugerida: paciente foi submetido à laparotomia
com lavagem de cavidade e apendicectomia. Prescrito
ciprofloxacina 400 mg EV 12/12 h e metronidazol 500 mg EV 8/8
h no intra e no pós-operatório. A evolução foi boa, recebendo
alta após 7 dias da cirurgia.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Anamnese e exame físico cuidadosos são essenciais para
um diagnóstico diferencial focado e para direcionar sua
propedêutica.
DEFINIÇÕES
• Diarreia aguda: alteração do hábito intestinal, devido ao
aumento de água e eletrólitos nas fezes, ocasionando a
redução da consistência, aumento na frequência e no
volume fecal (mais de 250 g por evacuação). Em resumo, é
a presença de 3 ou mais evacuações aquosas, diminuídas
de consistência, em um período igual ou maior que 24
horas.
EPIDEMIOLOGIA
A doença diarreica tem alta prevalência e morbimortalidade,
principalmente nos países em desenvolvimento que possuem
recursos limitados, falta de higiene por grande parte da população e
saneamento básico precário, com a presença de água e alimentos
contaminados, os quais compreendem as mais importantes fontes
de transmissão.
É uma das principais causas de mortalidade infantil; já nos
adultos, apesar de os dados quanto à diarreia serem escassos, sabe-
se que, na maioria, o quadro é autolimitado e com curta duração.
Atualmente, nos países desenvolvidos, como os EUA, tem sido
estimado um aumento nos casos de diarreia, uma vez que os
recursos financeiros criam possibilidades de transmissão como:
viagens, importação de alimentos, maiores aglomerações e um
maior acesso e uso da automedicação com antibioticoterapia.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A maioria dos casos de diarreia aguda é de origem infecciosa,
incluindo vírus (norovírus, rotavírus, adenovírus e outros), bactérias
(Salmonella, Campylobacter, Shigella, Escherichia coli, Clostridioides
difficile e outros), fungos (Candida albicans) e protozoários
(Cryptosporidium, Giardia, Cyclospora, Entamoeba e outros), sendo a
origem viral responsável pela maioria dos casos e as bactérias por
grande parte dos quadros graves.
Deve-se atentar para o fato de que as infecções por protozoários
geralmente cursam com diarreia persistente.
Eventualmente, outras causas podem iniciar o quadro como
diarreia aguda, tais como: dietéticas (sorbitol, frutose, intolerâncias
alimentares [a lactose, sacarose, feijão, frutas, pimenta] etc.),
medicamentosas (antibióticos, laxativos), alérgicas (alergia ao leite
de vaca, soja e outros), inflamatórias (Crohn, RCU), funcionais
(síndrome do intestino irritável), dentre outras (apendicite aguda,
doença celíaca, intoxicação por metais pesados e etc.).
QUADRO CLÍNICO
É pertinente atentar-se a uma história clínica cuidadosa,
determinando a duração dos sintomas, a frequência e as
características das fezes e sintomas associados (febre, náuseas,
vômitos, dor abdominal). Além disso, deve-se questionar sobre a
ingestão alimentar, o uso de qualquer medicação (laxativos,
antibióticos), história de viagem recente e diarreia em familiares
próximos, especialmente naqueles que ingeriram alimentos
semelhantes.
EFEITOS COLATERAIS
a. Sinais de alerta
• Sangue ou pus nas fezes
• Febre
• Sinais de desidratação (como micção reduzida, letargia ou
apatia, sede extrema e boca seca)
Diarreia • Pode durar até 14 dias e determina perda de grande volume de uidos, podendo causar desidratação.
• Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos.
aguda • A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se
aquosa episódios sucessivos acontecem.
Diarreia
• Caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa in amatória lesão na mucosa intestinal.
aguda • Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação.
com sangue • Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras.
(Disenteria)
EXAMES COMPLEMENTARES
Deve ser lembrado que os laboratórios, em geral, não dispõem de
recursos para diagnosticar todas as bactérias e vírus causadores de
diarreia aguda.
• Exames e indicações:
Fluxograma 1: Exames complementares na investigação de diarreia
aguda.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Íleo ou distensão colônica Enema de 500 mg + SF0,9% 100 mL via retal, 6/6h.
signi cativa Vancomicina
TRATAMENTO
A conduta inicial para pacientes com diarreia aguda é a reposição
hidroeletrolítica (preferencialmente por via oral) e a manutenção da
nutrição, independentemente da severidade do quadro diarreico.
2 mg Ataque: 2 comprimidos VO
• Loperamida
(comprimido) Manutenção: 1 comprimido VO após cada evacuação¹
ANTI-SECRETORES
SINTOMÁTICOS
4 mg/2mL ou
• Ondansetron 8 mg/4mLl 1 ampola até 8/8h se náuseas ou vômitos IV³
(ampola)
PROBIÓTICOS
• Saccharomyces boulardii 200 mg 1 cápsula ou sachê de 12/12h VO até melhora do quadro diarreico
• Lactobacillus reuteri (pó oral ou
• Lactobacillus acidophilus cápsulas) (em média de 3 a 5 dias)4
¹ Antidiarreicos: reduzem a frequência das evacuações. Podem ser utilizados na ausência de febre e disenteria. Não exceder dose
maior que 16 mg/dia. Riscos: megacólon tóxico nos casos de enterocolite por C. difficile.
² Antissecretores: o inibidor da encefalinase age diminuindo a secreção de líquidos induzida pelo patógeno sem afetar a motilidade
intestinal. Não afeta o curso clínico da gastroenterite.
³ Sintomáticos: em caso de vômitos, suspender TRO e administrar um antiemético.
4 Probióticos: tem valor limitado no tratamento da diarreia aguda, tendo benefício mais bem comprovado na prevenção da diarreia
relacionada a antibiótico.
SINTOMÁTICOS
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: N.L, sexo masculino, 26 anos, comparece ao
PS com queixa de diarreia intensa há 5 dias. Refere evacuações
líquidas (6 episódios/dia) com presença de muco. Evoluiu com
piora há 2 dias, apresentando fezes sanguinolentas associada à
febre (38,9°C), dor abdominal e prostração. Nega comorbidades
e uso recente de medicamento.
c. Conduta inicial:
1. SF 0,9% 1000 mL EV em 15 min.
2. Dipirona 1 amp + ABD EV.
Após conduta inicial, paciente evoluiu bem, com melhora do
estado geral, taquicardia e febre.
e. Prescrição Sugerida:
1. Alta hospitalar.
2. Dieta leve e obstipante, sem alimentos com gordura ou
lactose.
3. SRO (1 a 2 L por dia) + aumentar a ingestão de líquidos por
VO.
4. Ciprofloxacino 500 mg 1 cp (VO) 12/12 h por 5 dias
(empírico).
5. Dipirona 500 mg 1 cp (VO) 6/6 h se dor ou febre (> 38,5 °C).
6. Metoclopramida 10 mg 1 cp (VO) 8/8 h se náuseas ou
vômitos.
7. Retorno para reavaliação clínica, após resultados das
culturas e PPF, ou antes, em caso de piora dos sintomas.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Apesar de a definição de diarreia aguda considerar o limite
máximo de duração de 14 dias, a maioria dos casos são
autolimitados e resolvem-se em até 7 dias. Porém, pode ter
consequências graves como desidratação, desnutrição
energético-proteica e óbito.
REFERÊNCIAS
1. Dupont HL. Acute Infectious Diarrhea in Immunocompetent Adults. N Engl J Med.
2014; 370(16): 1532-40.
2. Torres J, Bonovas S, Doherty G, Kucharzik T, Gisbert JP, Raine T, et al. European
Crohn’s and Colitis Organisation. Guidelines on Therapeutics in Crohn’s Disease:
Medical Treatment. J Crohn’s and Colitis. 2020; 14(1): 4-22,
3. Kelly CP, Lamont JT. Clostridioides (formerly Clostridium) difficile infection in
adults: Treatment and prevention, Literature review. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em junho de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/clostridioides-formerly-clostridium-difficile-
infection-in-adults-treatment-and-prevention.
4. LaRocque R, Pietroni M. Approach To The Adult With Acute Diarrhea In Resource
Rich Settings. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em junho de 2020]. Disponível
em: https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-acute-diarrhea-
in-resource-rich-settings.
5. Shane AL, Mody RK, Crump JA, Tarr PI, Steiner TS, Kotloff K, et al. 2017 Infectious
Diseases Society of America Clinical Practice Guidelines for the Diagnosis and
Management of Infectious Diarrhea. Clin Infect Dis. 2017; 65(12): e45-80.
3.4
DOENÇA CALCULOSA DAS VIAS
BILIARES
Autores:
Fernanda Ramos da Costa
Bruno Moura e Oliveira Birchal
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
A colecistite aguda é a complicação mais comum da doença
calculosa biliar. Consiste no processo inflamatório da parede da
vesícula biliar, frequentemente ocasionada pela obstrução do ducto
cístico por cálculos biliares.
A colecistite aguda alitiásica é mais rara, ocorrendo em cerca de
5 a 10% dos casos, sendo mais frequente em idosos e pacientes
críticos. Embora a etiologia não seja clara, isquemia e estase biliar
são consideradas as causas mais comuns.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A obstrução do ducto cístico pelo cálculo biliar leva o órgão a uma
distensão progressiva devido à impossibilidade de secretar o muco e
a bile, provocando edema. Frequentemente, o cálculo se desloca e a
inflamação e a sintomatologia diminuem. A obstrução temporária da
drenagem da vesícula biliar pode provocar sintomas agudos;
entretanto, autolimitados.
Nos casos mais graves, quando a obstrução persiste, o edema da
parede pode gerar isquemia seguida de necrose (5 a 10%), o que
apresenta uma alta mortalidade (de 20 a 70% dos casos). O processo
inflamatório inicialmente é estéril, mas aproximadamente 50% dos
casos acabam infectados por bactérias da flora intestinal, como
Escherichia coli, Klebsiella sp. e Streptococcus.sp.
QUADRO CLÍNICO
O sintoma mais característico é a dor constante no quadrante
superior direito (QSD), intensa e geralmente prolongada (superior a
seis horas). Outros sintomas comuns são: irradiação da dor para o
dorso e/ou escápula direita, febre, náuseas e vômitos. Muitas vezes
há uma história de ingestão de alimentos gordurosos antes do início
da dor.
EXAME FÍSICO
Ao exame físico, o paciente pode apresentar sensibilidade
dolorosa em QSD, com defesa abdominal. Além disso
frequentemente se apresenta com febre e taquicardia. O sinal de
Murphy, frequentemente encontrado na colecistite aguda, é positivo
quando há dor seguida de parada da inspiração durante a
compressão do ponto cístico, localizado no QSD. Em casos de quadro
mais grave, observa-se rigidez abdominal e sensibilidade abdominal
difusa, com dor à descompressão brusca de abdome, sugerindo
peritonite.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exames laboratoriais: Leucocitose; leve aumento de
amilase, das enzimas hepáticas (aspartato aminotransferase
(AST) e alanina aminotransferase (ALT)). A elevação das
concentrações séricas de bilirrubina total e fosfatase alcalina
não é comum na colecistite aguda não complicada. Nesses
casos, devem ser considerados os diagnósticos de
coledocolitíase ou de Síndrome de Mirizzi.
b. Radiografia de abdome: útil na avaliação da dor abdominal,
especialmente na presença de sinais de peritonite. Entretanto,
apenas 25% dos cálculos biliares são visualizados por esse
exame.
c. USG de abdome superior: é um exame não invasivo,
considerado de escolha para avaliação de colecistite
(sensibilidade de 85% e especificidade de 95%). O exame
alterado pode apresentar espessamento da parede da vesícula
biliar (> 4 mm), líquido pericólico, distensão da vesícula, cálculo
impactado no ducto cístico e o sinal de Murphy sonográfico.
d. TC de abdome: apresenta sensibilidade menor que o USG,
devendo ser solicitada para avaliação de possíveis diagnósticos
diferenciais.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da colecistite aguda é baseado na avaliação clínica,
laboratorial e radiológica. As diretrizes de Tóquio auxiliam na
definição do diagnóstico, com alta sensibilidade e especificidade
(Tabela 1).
Tax: Temperatura axilar. PCR: Proteína C Reativa. QSD: Quadrante superior direito
TRATAMENTO
O tratamento deve ser realizado sob regime de internação
hospitalar. Deve-se orientar jejum e prescrever hidratação venosa,
analgesia e antibióticos com espectro para gram-negativos
entéricos. O controle da dor geralmente é realizado com anti-
inflamatórios não esteróides (AINEs) ou opioides. Os
antibióticos de primeira escolha são cefalosporina de 3a geração ou
quinolonas. A associação de terapia anaeróbica, tais como
clindamicina e metronidazol, é indicada se presente anastomose
biliar entérica ou manipulação prévia da via biliar.
A colecistectomia é a abordagem preferida e o tratamento
definitivo para o paciente com colecistite aguda, sendo indicada
preferencialmente até 72 horas do início do quadro. A via
videolaparoscópica deve ser preferida, pois, quando comparada com
a colecistectomia aberta, apresenta menor mortalidade e tempo de
permanência hospitalar, com retorno precoce às atividades laborais.
Em pacientes com alto risco cirúrgico, o tratamento conservador
deve ser realizado inicialmente. No caso de falha com manejo
conservador, estes pacientes devem ser submetidos à drenagem
precoce da vesícula biliar; as opções incluem colecistostomia
percutânea ou drenagem endoscópica. A colecistectomia eletiva
deve ser realizada após resolução do processo inflamatório.
Em casos de suspeita de complicações como gangrena, empiema
ou abscesso perivesicular, a cirurgia em caráter de emergência é
indicada.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo feminino, 50 anos, 85 kg,
apresentando dor em QSD com início há aproximadamente 6
horas, associada a náuseas e vômitos, sem sinais de sepse ou
critérios de alto risco. USG de abdome com espessamento em
parede de vesícula biliar e sinal de Murphy sonográfico.
b. Prescrição sugerida:
COLEDOCOLITÍASE
DEFINIÇÕES
A coledocolitíase consiste na presença de cálculo no colédoco.
Ela pode ser classificada em primária ou secundária, sendo a última
a mais comum, tendo como principal origem do cálculo a vesícula
biliar. Caso ocorra em até dois anos após a colecistectomia, ela deve
ser classificada como residual.
As duas principais complicações associadas à coledocolitíase são
pancreatite e colangite aguda.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Os cálculos primários do colédoco são formados em pacientes
com:
QUADRO CLÍNICO
A presença de cálculos no colédoco, em geral, é sintomática. A
apresentação mais comum é a dor biliar aguda, causada pela
obstrução parcial ou completa do ducto biliar comum, além de sinais
de colestase com icterícia, prurido, acolia fecal e colúria. Quando
febre com calafrios se associa a esses sintomas, considera-se o
diagnóstico de colangite.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exames laboratoriais: alanina aminotransferase (ALT) e
aspartato aminotransferase (AST) são tipicamente elevadas no
início do curso da obstrução biliar. Posteriormente, observa-se
um padrão colestático, com aumentos na bilirrubina sérica,
fosfatase alcalina e gama-glutamil transpeptidase (GGT).
b. USG de abdome superior: é considerado um ótimo exame
devido a sua disponibilidade, praticidade e por ser um método
não invasivo, porém somente 50% dos cálculos e 75% dos
ductos dilatados (> 6 mm) são visibilizados. Portanto, a falta de
identificação do cálculo no colédoco não afasta o diagnóstico.
c. Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE):
é indicada em pacientes com alta probabilidade clínica de
coledocolitíase, pois é um método diagnóstico e terapêutico,
com sensibilidade e especificidade de aproximadamente 95%.
d. Colangiorressonância: é recomendada para pacientes com
probabilidade intermediária de coledocolitíase. Trata-se de um
método não invasivo com elevada sensibilidade e
especificidade.
e. Ultrassom Endoscópico: indicado quando persiste a
suspeita de cálculos em via biliar, mesmo com
colangiorressonância negativa. Microcálculos formadores da
lama biliar, que são de difícil avaliação até pela
colangiorressonância, podem ser facilmente identificados pelo
ultrassom endoscópico.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Usamos os resultados de exames laboratoriais e ultrassonografia
abdominal para estratificar um paciente como de alto, intermediário
ou baixo risco de apresentar coledocolitíase. O gerenciamento
subsequente varia de acordo com a estratificação demonstrada
abaixo (Tabela 2).
Preditores
Fortes Moderados
muito forte
*BT: Bilirrubina total. USG: Ultrassonogra a. ALT: Alanina aminotransferase. AST: Aspartato ami- notransferase. FA:
Fosfatase alcalina. GGT: Gama-glutamil transferase.
TRATAMENTO
A coledocolitíase deve ser tratada em praticamente todos os
casos, devido ao alto risco de causar complicações graves. O
tratamento é baseado na etiologia, sintomatologia e gravidade do
paciente. O prurido causado pela hiperbilirrubinemia pode ser
amenizado com anti-histamínico.
O manejo subsequente deve ser baseado na probabilidade de
coledocolitíase, avaliada conforme exposto previamente.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 48 anos, 90 kg,
ictérico e com dor biliar, prurido generalizado, sem febre ou
alteração do estado mental. Exames laboratoriais evidenciando
leucocitose e aumento de enzimas canaliculares. USG de
abdome mostrou coledocolitíase.
b. Prescrição sugerida:
• SF 0,9% 2000 mL
• SG 50% 4 FA em cada SF 0,9% 500 mL EV 28 gts/min
2. KCl 19,1% 10 mL em cada SF 0,9% 500 mL
3. Escopolamina + dipirona 5 mL + ABD 15 mL EV de 8/8 h
4. Plasil 1 amp + ABD 18 mL EV até de 8/8 h se náuseas ou
vômitos
5. Ranitidina 50 mg 1 amp EV 1x/dia
6. Difenidramina 50 mg 1 amp EV 1x/dia
7. Dados vitais e cuidados gerais de 4/4 h
8. Comunicar intercorrências
COLANGITE AGUDA
DEFINIÇÕES
A colangite consiste no processo inflamatório/infeccioso dos
ductos biliares, resultante da obstrução ductal (benigna ou maligna)
e infecção por bactérias intestinais. Aproximadamente 85% das
colangites são causadas por impactação de cálculos na via biliar.
Outras causas incluem neoplasias, parasitas, anormalidades
congênitas dos ductos biliares e estreitamento biliar.
A infecção da bile em estase, em geral, é causada por bactérias,
sendo mais comum Escherichia coli, Klebsiella, Pseudomonas,
Proteus e Enterococos. Em 15% da bile levada para cultura são
encontradas bactérias anaeróbicas, como Clostridium perfringens e
Bacteroides fragilis.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A obstrução do ducto biliar causa estase biliar, o que forma um
meio propício para a contaminação bacteriana da bile, causando um
processo inflamatório desse ducto. A colangite é comum nas
obstruções causadas por coledocolitíase e estenoses (benignas ou
malignas). A obstrução cursa com aumento da pressão intraductal, o
que gera uma regurgitação das bactérias da bile e translocação
bacteriana, podendo causar sepse.
QUADRO CLÍNICO
A sintomatologia mais comum é dor no QSD, icterícia e febre.
Quando os três sintomas coexistem, chamamos de tríade de Charcot
(alta especificidade, porém baixa sensibilidade para o diagnóstico de
colangite aguda). Quando, além desses sintomas, surgem confusão
mental e hipotensão, chamamos de pêntade de Reynolds, indicando
um quadro mais grave com septicemia.
EXAMES COMPLEMENTARES
As alterações laboratoriais são bastante frequentes nos
pacientes com colangite. A maioria apresenta elevação de enzimas
hepáticas, com padrão colestático predominante. Evidências de
inflamação sistêmica também estão habitualmente presentes, como
leucocitose (em geral, com desvio à esquerda) e elevação de
Proteina C reativa (PCR). O aumento da amilase pode ser decorrente
de pancreatite aguda, que também pode ocorrer como consequência
da obstrução biliar.
Hemoculturas deverão ser colhidas imediatamente à suspeita de
colangite. Para diagnóstico radiológico da colangite, deve-se utilizar
os mesmos métodos descritos para coledocolitíase.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é feito com evidência de inflamação sistêmica,
colestase e exame de imagem sugestivo de obstrução de via biliar.
Os critérios de Tóquio são demonstrado abaixo (Tabela 3):
A - EVIDÊNCIAS DE
INFLAMAÇÃO B – EVIDÊNCIA DE COLESTASE C - EXAMES DE IMAGEM
SISTÊMICA
Tax: Temperatura axilar. PCR: Proteína C Reativa. BT: Bilirrubina total. ALT: Alanina aminotrans- ferase. AST: Aspartato aminotransferase. FA:
Fosfatase alcalina. GGT: Gama-glutamil transferase. LSN: Limite superior da normalidade.
TRATAMENTO
O tratamento se baseia na estabilização hemodinâmica,
antibióticos endovenosos e drenagem endoscópica percutânea
(CPRE) ou cirúrgica da via biliar.
O esquema antibiótico escolhido deverá ser de amplo espectro,
cobrindo principalmente gram-negativos, principais causadores da
colangite. Sugerimos a prescrição de cefalosporina de terceira
geração (ceftriaxona 1 g EV 12/12 h) ou quinolona (ciprofloxacina
400 mg EV 12/12 h) associado ou não a metronidazol 500 mg EV 8/8
h. Após controlada a fonte da infeccção, o antibiótico é mantido por
mais 4 a 7 dias.
Caso o paciente mantenha estabilidade hemodinâmica e
apresente melhora clínica nas primeiras 12 horas, a drenagem da via
biliar deve ser realizada em até 72 horas do início dos sintomas.
Entretanto, se neste período houver piora, com desenvolvimento de
qualquer disfunção orgânica, a drenagem da via biliar deverá ser
realizada em caráter de emergência. A CPRE é o método mais
indicado, pois apresenta menor morbimortalidade quando
comparada ao tratamento cirúrgico com exploração ductal.
A drenagem percutânea guiada por ultrassom pode ser realizada
dependendo da disponibilidade e experiência local. Idealmente, deve
ser reservada em casos de emergência, nos quais não há
disponibilidade de CPRE, pelos riscos de complicações do
procedimento e necessidade de exploração da via biliar por outros
métodos posteriormente (CPRE ou cirurgia).
Além da terapia antimicrobiana e da drenagem biliar, é
necessário o manejo da causa subjacente. Em pacientes com
cálculos biliares, isso inclui colecistectomia eletiva após a resolução
da colangite.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo feminino, 35 anos, 62 kg,
referindo dor em QSD. Ao exame, apresenta-se orientada no
tempo e no espaço, cooperativa, com icterícia 2+/4+, calafrios e
Tax 38,8 ºC. Nega prurido. USG de abdome confirma a presença
de coledocolitíase.
b. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Cólica biliar intermitente (com duração inferior a 6 h) pode
ser característica de colelitíase sintomática, não havendo
sinais de colecistite aguda. Entretanto, é indicação de
tratamento cirúrgico eletivo (colecistectomia).
REFERÊNCIAS
1. Coelho JCU, Contieri FL, Matias JEF, Parolin MB, Godoy JL. Prevalência e
fisiopatologia da litíase biliar em pacientes submetidos a transplante de órgãos.
ABCD, Arq Bras Cir Dig. 2009; 22(2): 120-3.
2. Feldman M, Friedman LS, Brandt LJ. Sleisenger and Fordtran’s Gastrointestinal and
Liver Disease. 10. ed. New York: Saunders; 2016.
3. Longo DL, Faucy A. Harrison’s Gastroenterology and Hepatology. 2. ed. New York:
Mcgraw-hill Education; 2015.
4. Lopes AC. Clínica médica: Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Atheneu; 2014.
5. Yokoe M, Hata J, Takada T, Strasberg SM, Asbun HJ, Wakabayashi G, et al. Tokyo
Guidelines 2018:
. Okamoto K, Suzuki K, Takada T, Strasberg SM, Asbun HJ, Endo I, Iwashita Y, et al.
Tokyo Guidelines 2018: flowchart for the management of acute cholecystitis. J
Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25: 55-72
7. Yokoe M, Hata J, Takada T, Strasberg SM, Asbun HJ, Wakabayashi G, et al. Tokyo
Guidelines 2018: diagnostic criteria and severity grading of acute cholecystitis (with
videos). J Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25: 41-54.
. Takada T. Tokyo Guidelines 2018: Updated Tokyo Guidelines for the management of
acute cholangitis/acute cholecystitis. J Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25(1): 1-2.
9. ASGE Standards of Practice Committee, Maple JT, Ben-Menachem T, Anderson MA,
Appalaneni V, Banerjee S, et al. The Role Of Endoscopy In The Evaluation Of
Suspected Choledocholithiasis. Gastrointestinal Endoscopy, 2010; 71(1): 1-9.
10. Kiriyama S, Kozaka K, Takada T, Strasberg SM, Pitt HA, Gabata T, et al. Tokyo
Guidelines 2018: diagnostic criteria and severity grading of acute cholangitis (with
videos). J Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25: 17-30.
3.6
PANCREATITE AGUDA
Autores:
Guilherme Miyakawa Dadalti
Lívia de Almeida Costa
Marcella Motta Lucindo Duarte
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
Pancreatite Aguda (PA): processo inflamatório agudo do
pâncreas, que pode ser restrito ao órgão, acometer tecidos
adjacentes ou até mesmo gerar repercussões sistêmicas, com
falência orgânica.
EPIDEMIOLOGIA
PA é uma das doenças mais comuns do trato gastrointestinal e
está associada a elevado grau de morbidade e custos ao sistema de
saúde. Embora a quantificação da incidência dessa doença seja
dificultada pelo grande número de casos sem diagnóstico (PA
resolvida e não detectada ou óbito precoce), estudos recentes
evidenciam uma elevação desse parâmetro no mundo todo, fato que
reflete diversas situações, como o aumento crescente da obesidade
na população mundial (levando a um aumento do número de casos
de colelitíase), aumento do consumo de álcool e melhorias nos
métodos diagnósticos. No entanto, nota-se uma redução na taxa de
mortalidade da doença devido aos avanços diagnósticos e
terapêuticos desses pacientes, principalmente daqueles com doença
grave.
A taxa de mortalidade é semelhante nas diversas etiologias. Os
fatores de risco associados ao aumento na mortalidade são:
diabetes mellitus, infecção adquirida em ambiente hospitalar e idade
maior ou igual a 70 anos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A ocorrência da PA está relacionada a um bloqueio da secreção
de enzimas pancreáticas, não coincidente com a redução na sua
produção. Segue-se então à ativação intra-acinar desses produtos
pancreáticos (tripsina, fosfolipase, quimiotripsina e elastase), com
consequente autodigestão da glândula. A destruição pode repercutir
por todo o pâncreas, acometendo também o tecido peripancreático e
o endotélio vascular, resultando em vasoconstrição e redução do
aporte de oxigênio local. Todas essas alterações conduzem à
produção de citocinas inflamatórias, culminando com o
desenvolvimento da Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
(SIRS), vasodilatação generalizada e perda de grande quantidade de
volume para o terceiro espaço. Nos casos em que essa resposta é
ainda mais intensa, pode-se observar Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo (SRDA), injúria renal e choque.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: febre; icterícia secundária a coledocolitíase ou
edema da cabeça do pâncreas; alteração do nível de
consciência, que pode ser secundária a toxemia, distúrbios
hidroeletrolíticos ou síndrome de abstinência alcóolica.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: leucocitose, elevação do hematócrito, hipo ou
hiperglicemia, elevação de creatinina e ureia sérica, aumento de
marcadores inflamatórios (PCR e VHS). Elevação de ALT (acima
de 3 vezes o limite superior) e AST, além de alteração de
enzimas canaliculares, sugerem etiologia biliar. Os pacientes
com PA relacionada à hipertrigliceridemia podem apresentar
níveis falseadamente baixos em decorrência do jejum. Nesses
casos, deve-se repetir nova dosagem de triglicérides após
reinício da dieta.
b. Radiografias
c. Ultrassonografia
DIAGNÓSTICO E ESTRATIFICAÇÃO DE
RISCO
Para o estabelecimento do diagnóstico de PA, devem estar
presentes 2 dos 3 critérios mencionados a seguir:
• Níveis de amilase e/ou lipase séricas acima de 3 vezes o valor do limite superior de normalidade;
• Derrame pleural
ACHADOS
• In ltrados pulmonares
RADIOLÓGICOS
• Coleções extrapancreáticas múltiplas ou extensas
TRATAMENTO
• Monitorização:
• Sinais vitais, incluindo saturação de oxigênio (SatO ), 2
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 56 anos, 60 kg,
apresenta diagnóstico de pancreatite aguda leve com início dos
sintomas há dois dias. No momento, está com dor abdominal de
leve intensidade, sem náuseas ou vômitos.
b. Exame físico:
• Ectoscopia e sinais vitais: anictérico, afebril, orientado no
tempo e espaço, FC de 85 bpm, FR de 18 irpm e StO2 de 98%
em ar ambiente.
d. Prescrição Sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Episódios recorrentes de PA sugerem a etiologia alcoólica
com pancreatite crônica subjacente. No entanto, pacientes
com colelitíase podem apresentar episódios recorrentes de
cólica biliar, colecistite ou mesmo pancreatite.
• Níveis elevados de triglicérides se associam a pior
prognóstico, mesmo em outras etiologias de PA.
REFERÊNCIAS
1. Crockett SD, Wani S, Gardner TB, Falck-Ytter Y, Barkun AN; American
Gastroenterological Association Institute Clinical Guidelines Committee. American
Gastroenterological Association Institute Guideline on Initial Management of Acute
Pancreatitis. Gastroenterol. 2018; 154: 1096-101.
2. Leppäniemi A, Tolonen M, Tarasconi A, Segovia-Lohse H, Gamberini E, Kirkpatrick
AW, et al. 2019 WSES guidelines for the management of severe acute pancreatitis.
World J Emerg Surg. 2019; 4: 27
3. Vege SS. Clinical manifestations and diagnosis of acute pancreatitis. UpToDate.
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https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-
acute-pancreatitis.
4. Vege SS. Management of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em
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acute-pancreatitis.
5. Vege SS. Etiology of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em mar
2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/etiology-of-acute-
pancreatitis.
. Vege SS. Predicting the severity of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet]; 2019.
[acesso em mar 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/predicting-the-severity-of-acute-pancreatitis.
3.7
ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
Autores:
Carolina Limongi de Oliveira
Drielly Morais Sá Ferreira
Lívia de Almeida Costa
Pedro Henrique dos Santos Pinto
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
A encefalopatia hepática (EH) é uma síndrome neuropsiquiátrica
reversível que ocorre em pacientes com insuficiência hepática
avançada, insuficiência hepática aguda e na presença de desvios
portosistêmicos. Tem grande impacto na qualidade de vida e na
sobrevida dos doentes, sendo frequentemente considerada um
indicador de mau prognóstico.
Caracteriza-se por uma variedade de alterações no estado
mental, desde sinais mínimos de função cerebral até coma. Pode ser
classificada como:
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A EH apresenta fisiopatologia complexa e não totalmente
compreendida, decorrente de mecanismos distintos, incluindo
inflamação, estresse oxidativo, aumento da permeabilidade da
barreira hematoencefálica e alteração no metabolismo energético,
além da presença de neurotoxinas, como a amônia.
A amônia é a neurotoxina mais bem caracterizada na EH. É
produzida pelos enterócitos, a partir da glutamina, e pelo
catabolismo bacteriano do cólon de fontes nitrogenadas, como
proteínas ingeridas. O funcionamento adequado do fígado elimina
quase toda a amônia, convertendo-a em ureia ou glutamina. No
entanto, na disfunção hepática há incapacidade de excretar essa
substância de forma adequada e, como consequência, ocorre
hiperamonemia, presente em mais de 80% dos pacientes com EH.
Isso gera alteração da permeabilidade e aumenta a osmolaridade
nos astrócitos, resultando em edema e disfunção celular, sem
aumento clinicamente evidente da pressão intracraniana. Como
consequência, há alteração da atividade elétrica neuronal,
aumentando o tônus das vias inibitórias gabaérgicas e alterando
outros neurotransmissores.
A síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), secundária
a infecções, sangramento gastrointestinal, obesidade e alterações
na flora intestinal, também se relacionam com a patogênese da EH,
pois ocorre liberação de citocinas e mediadores pró-inflamatórios,
gerando alterações no fluxo sanguíneo e nos metabólicos cerebrais,
alterando a permeabilidade da barreira hematoencefálica.
EXAMES COMPLEMENTARES
O achado laboratorial comum é a elevação na concentração
sérica de amônia, entretanto, não deve ser solicitado para
diagnóstico e/ou rastreamento de EH, pois pode estar elevado em
outras condições não hepáticas, como doença renal, choque,
sangramento gastrointestinal, em usuários de ácido valproico e
álcool. Se for identificado nível normal de amônia, o diagnóstico de
EH deve ser questionado.
Os pacientes geralmente apresentam testes bioquímicos de
função hepática alterados devido à doença subjacente. Distúrbios
hidroeletrolíticos também são comuns, como hiponatremia e
hipocalemia, relacionados à disfunção hepática e/ou uso de
diuréticos, e devem ser obtidos para diagnóstico diferencial de
outras condições que levam a alterações do estado mental, assim
como a dosagem de glicemia e função renal.
Para pacientes com graus leves de EH (mínima ou grau I), nos
quais o diagnóstico clínico não é evidente, testes psicométricos e
eletrofisiológicos podem ser úteis para avaliar o comprometimento
da função mental. Entretanto, são incapazes de discriminar entre
disfunção cognitiva da EH ou de outras causas, assim como
diferenças individuais na inteligência e habilidades cognitivas que
influenciam os resultados desses testes. Pela heterogeneidade dos
achados, recomenda-se pelo menos 2 testes diferentes. O estudo
eletrofisiológico, para detectar EH mínima, inclui monitoramento de
eletroencefalograma, potenciais evocados e testes críticos de
frequência de oscilação. No entanto, nenhum desses testes é
amplamente utilizado.
Os exames de imagem não servem para o diagnóstico de EH e
são utilizados quando há dúvida diagnóstica, para excluir outras
causas de alterações do estado mental. Os mais utilizados são
Tomografia computadorizada (TC) de crânio sem contraste,
principalmente quando o diagnóstico de EH é duvidoso, no qual não
se pode excluir hemorragia intracraniana, e ressonância nuclear
magnética (RNM) de encéfalo. A ressonância magnética com
espectroscopia e a tomografia por emissão de prótons são exames
não invasivos que estão sendo estudados para diagnóstico de EH, a
partir da análise de neurometabólitos.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
A abordagem diagnóstica da EH é baseada em:
• Infecção
• Sangramento digestivo
• Uso de diuréticos
• Uso de medicações depressoras do sistema nervoso
central
• Constipação intestinal
• Distúrbios hidroeletrolíticos ou acidobásicos
• Hipoglicemia
• Deterioração da função hepática
• Carcinoma hepatocelular
Testes laboratoriais séricos para descartar anormalidades
metabólicas e TC de crânio devem ser consideradas se o paciente
apresentar achados clínicos que sugiram outra etiologia.
A encefalopatia hepática é categorizada com base em quatro
fatores:
• Doença subjacente:
• Tipo A: associada à insuficiência hepática aguda;
• Tipo B: associada à shunts portossistêmicos sem doença
hepatocelular intrínseca
• Tipo C: associada à cirrose com hipertensão portal ou
desvio portossistêmico
Sonolência e torpor com resposta aos estímulos verbais, desorientação grosseira e agitação
3
psicomotora, presença ou ausência de apping
4 Coma não responsivo aos estímulos verbais e com resposta utuantes à dor
• Curso temporal:
• Episódica ou aguda: episódio isolado em um período de 6
meses;
TRATAMENTO
O tratamento é recomendado apenas a EH clinicamente
manifesta. A identificação dos fatores desencadeantes e sua
correção é de extrema importância, pois quando combinado à
terapia padrão está associado a uma rápida melhora na EH, em 90%
das vezes.
A terapia da EH depende da gravidade do quadro. Aqueles com
EH graus II, III e IV deverão receber tratamento em ambiente
hospitalar, enquanto no grau I o tratamento pode ser ambulatorial.
Nos casos mais graves (EH graus III a IV), com risco ou incapacidade
de proteger via aérea, devem ser monitorizados em terapia
intensiva, considerar intubação orotraqueal para proteção de via
aérea e passagem de sonda nasoenteral para administração de
terapêutica específica e dieta.
Os pacientes com cirrose geralmente são desnutridos e a
restrição à ingestão proteínas aumenta a mortalidade. Dessa forma,
é essencial manter um consumo energético de 35 a 40 kcal/kg/dia,
com uma ingestão de proteínas de 1,2 a 1,5 g/kg/dia, evitando longos
períodos de jejum.
As medicações específicas disponíveis visam reduzir a produção
e o aumento da excreção de amômia. A base da terapia da EH
manifesta são os dissacarídeos não absorvíveis, como a lactulose, e
antibióticos, como rifaximina.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Manejo da encefalopatia hepática
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fluxograma 2: Manejo da encefalopatia hepática
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo feminino, 68 anos, portadora
de cirrose hepática por Hepatite C diagnosticada há 7 anos. Em
uso de hidroclorotiazida, losartana, sinvastatina e metformina.
Admitida ao pronto-atendimento com quadro de aumento do
volume abdominal e dor difusa, sonolência, importante
desorientação e presença de flapping.
b. Exame físico: corada, desidratada 1+/4+, ictérica 2+/4+,
temperatura axilar 36°C, FC 105 bpm, PA 130 x 90 mmHg, FR 18
irpm, SatO2 96%. Abdome ascítico, com dor difusa à palpação
abdominal e membros inferiores edemaciados.
c. Diagnóstico: Encefalopatia grau III.
d. Prescrição Sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Ferenci P. Hepatic encefalopathy in adults: treatment. UpToDate. [Internet]; 2019.
[acesso em maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/hepatic-encephalopathy-in-adults-treatment.
2. Ferenci P. Hepatic encefalopathy: pathogenesis. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso
em maio de 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/hepatic-
encephalopathy-pathogenesis?topicRef=1255&source=see_link.
3. Ferenci P. Hepatic encefalopathy: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate.
[Internet]; 2019. [acesso em maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/hepatic-encephalopathy-in-adults-clinical-
manifestations-and-diagnosis?topicRef=1257&source=see_link.
4. Ferraz MLG, Silva AEB, Schiavon JLN, Monteiro MM, Sammarco GN, Almeida VB.
Manual de hepatologia para clínicos e residentes. São Paulo: Atheneu; 2018.
5. Wijdicks EFM. Hepatic Encephalopathy, N Engl J Med. 2016; 375: 1660-70.
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Encephalopathy and Mild Cognitive Impairment Worsen Quality of Life in Elderly
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7. Kaji K, Okita K, Suzuki K, Sato I, Fujisawa M, Yoshiji H. Lower levels of serum
albumin are associated with impairment of cognitive function in cirrhotic patients
with early-stage hepatic encephalopathy: An exploratory data analysis of phase II/III
clinical trials of rifaximin in Japan. BMC Gastroenteroly. 2020.
. Labenz C, Adarkwah CC, Wörns, Miehlke S, Hofmann WP, Buggisch P, et al.
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Study of the Liver. Hepatol. 2014; 60(2): 715-35.
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11. Patidar KR, Thacker LR, Wade JB, Sterling RK, Sanyal AJ, Siddiqui MS, et al. Covert
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12. Kappus MR, Bajaj JS. Covert hepatic encephalopathy: not as minimal as you might
think. Clin Gastroenterol Hepatol. 2012; 10(11): 1208-19.
3.8
HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
Autores:
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
Breno Araújo Barbosa
Elaine Jéssica Laranjeira Lima
DEFINIÇÕES
A Hemorragia Digestiva Alta (HDA) é definida como sangramento
digestivo intraluminal de origem proximal ao ligamento de Treitz
(demarcação anatômica da junção duodeno-jejunal), podendo ter
origem no esôfago, estômago ou duodeno.
Trata-se da emergência gastroenterológica mais comum, sendo
uma condição frequente nos serviços de urgência e emergência,
responsável por cerca de 1 internação a cada 10.000 adultos/ano,
importância relacionada a alta morbidade e custos elevados. Tem
incidência anual de 48 a 160 casos/100.000 habitantes, sendo mais
prevalente na população idosa, em homens (2 homens: 1 mulher) e
nas regiões de menor desenvolvimento socioeconômico. Embora a
maioria dos casos (aproximadamente 80%) tenha caráter
autolimitado, a mortalidade pode ocorrer em 5 a 20 % dos casos,
dependendo da etiologia, sendo maior no sangramento de origem
varicosa. Dessa forma, o estabelecimento de medidas de suporte e
terapia específica relaciona-se com a redução desses índices.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A etiologia da HDA pode ser estabelecida em aproximadamente
80% dos casos (Quadro 1) e pode ser dividida em:
• Não varicosa: decorrente de lesão da mucosa esofágica,
gástrica e/ou duodenal. As causas mais frequentes são:
úlcera péptica (gástrica e duodenal), lesão aguda da
mucosa gastroduodenal e esofagite erosiva. Outras
condições menos comuns incluem tumores benignos e
malignos, Mallory-Weiss, má formação vascular (Dieulafoy,
angiodisplasia e angioma), úlceras de esôfago/úlceras de
Cameron, fístula aortoentérica, hemobilia, hemosuccus
pancreaticus, ingestão de corpo estranho e sangramento
iatrogênico após intervenção endoscópica.
Esofagite erosiva
Laceração de Mallory-Weiss
Úlceras de estresse
Varizes esofagogástricas
Angiodisplasias
Neoplasias
Fístula aortoentéricas
Lesão de Dieulafoy
b. HDA VARICOSA
Trata-se de sangramento de grande monta, pela ruptura de
varizes esofágicas ou, menos frequentemente, gástricas. Essas
alterações são decorrentes do aumento da pressão no sistema
venoso portal, secundário à doença hepática estrutural ou por
alteração no sistema vascular pré, intra ou pós-hepático. A HDA
varicosa geralmente decorre de hipertensão portal significativa,
muitas vezes associada a doença hepática avançada (classe B ou C
de Child-Pugh), e é responsável pela morte de até 30% dos cirróticos.
Os fatores de risco para hemorragia varicosa incluem gravidade da
doença hepática, que pode ser estimada pela classificação de Child-
Pugh, calibre das varizes e presença de sinais da cor vermelha (red
spots).
QUADRO CLÍNICO
O sangramento digestivo alto geralmente se apresenta sob a
forma de hematêmese (vômito com sangue vivo) ou, mais
comumente, melena (fezes enegrecidas e com odor fétido). Embora
a hematoquezia (fezes misturadas com sangue) e a enterorragia
(evacuação de sangue vermelho vivo) sejam mais relacionadas à
hemorragia digestiva baixa, até 15% dos pacientes com essa forma
de apresentação têm como origem do sangramento o trato
gastrointestinal superior, que deve ser investigado nesses casos se
houver maior repercussão hemodinâmica.
Pacientes com sangramento digestivo volumoso podem
apresentar repercussão sistêmica decorrente da hipovolemia, como
taquicardia, palidez cutaneomucosa, hipotensão arterial, lipotímia ou
síncope.
EXAME FÍSICO
A avaliação inicial busca identificar fatores de risco na história do
paciente, como idade, presença de comorbidades (doença
cardiovascular, doença hepática, insuficiência renal), medicações em
uso, história de sangramento prévio e, no exame físico, sinais de
instabilidade hemodinâmica (taquicardia, hipotensão arterial,
rebaixamento do nível de consciência, sudorese, perfusão periférica)
a fim de definir a melhor abordagem. Alguns sinais podem sugerir
uma causa específica:
Ressuscitação volêmica
Cristaloides Cristaloides Cristaloides e sangue Cristaloides e sangue
indicada
* PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FR: frequência respiratória.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Hemograma: as dosagens seriadas são fundamentais para
monitorização dos níveis de hematimétricos. É importante
lembrar que, nos casos de reposição volêmica agressiva, os
níveis de hematrócrito podem estar falsamente baixos,
devido à hemodiluição.
• Necessidade de hemotransfusão
Para padronização da estratificação de risco, existem escalas
prognósticas que consideram os achados clínicos, laboratoriais e
endoscópicos, permitindo identificar o grupo que necessita de
intervenção intra-hospitalar. O escore de Rockall (ER) (Tabela 2)
baseia-se em três achados clínicos e dois endoscópicos, com
pontuação de 0 a 11, sendo o risco de mortalidade diretamente
crescente com a pontuação no escore (Tabela 3). Pacientes com ER
admissional (pré-endoscópico) igual a zero podem realizar EDA
ambulatorial, sem a necessidade de internação hospitalar, devido à
baixa mortalidade e baixo risco de ressangramento.
ESCORE ADMISSIONAL
PONTUAÇÃO 0 1 2 3
ESCORE PÓS-ENDOSCOPIA
Sangue no trato
Nenhum ou apenas
ESTIGMAS DE gastrointestinal,
pontos de - -
HEMORRAGIA RECENTE coágulo aderido, vaso
hematina
visível ou sangrante
ESCORE 0 1 2 3 4 5 6 7 8+
SANGRAMENTO
4,9 3,4 5,3 11,2 14,1 24,1 32,9 43,8 31,8
RECORRENTE (%)
<18,2 0
≥18,2 e <22,4 2
UREIA (MG/DL) ≥22,4 e <28 3
≥28 e <70 4
≥70 6
Homem ≥ 13 0
Homem ≥ 12 e < 13 1
Homem ≥ 10 e < 12 3
HEMOGLOBINA(G/DL)
Mulher < 12 0
Mulher >= 10 e <12 1
Homem ou Mulher <10 6
> 100 0
100-109 1
PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA (MMHG)
90-99 2
< 90 3
<100 0
PULSO (BPM)
≥100 1
Não 0
MELENA AO EXAME
Sim 1
Não 0
PRESENÇA DE SÍNCOPE
Sim 2
Não 0
HEPATOPATIA
Sim 2
Não 0
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Sim 2
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO CLÍNICO
Para todos os pacientes internados, é recomendada
monitorização de dados vitais (FC, PA, oximetria de pulso) e
avaliação do débito urinário. Nos pacientes idosos, com
comorbidades, instabilidade hemodinâmica, apresentação inicial
com sangramento ativo ou suspeita de sangramento de origem
varicosa, recomenda-se monitorização em unidade de terapia
intensiva (UTI).
Todos os pacientes devem ser mantidos em jejum de 6 a 8 horas
para alimentos sólidos e de 2 horas para líquidos claros até a
realização da endoscopia digestiva alta para diagnóstico e possível
terapêutica.
• Hematêmese volumosa
• Rebaixamento do nível de consciência
• Encefalopatia hepática grau 3 ou 4
• Insuficiência respiratória
• Reposição volêmica
A manutenção da perfusão tecidual através da reposição
volêmica adequada é a terapêutica inicial a ser adotada, com
impacto na mortalidade. Idealmente, a infusão de cristaloides (Soro
fisiológico 0,9% ou Ringer lactato) deve ser feita por dois acessos
venosos periféricos calibrosos, sendo o acesso venoso central uma
alternativa naqueles pacientes sem via periférica ou com
necessidade de uso de drogas vasoativas. O objetivo da
ressuscitação é manter PA sistólica maior ou igual a 100 mmHg e FC
menor que 100 bpm. Nos cirróticos, a reposição volêmica deve ser
mais cautelosa, a fim de evitar aumento da pressão no sistema
portal e piora do sangramento.
• Objetivos hemodinâmicos:
→ PAM (pressão arterial média) > 65 mmHg
→ PVC (pressão venosa central): 8-12 mmHg
→ Débito urinário > 0,5 ml/Kg/hora
• Transfusão de hemoderivados
A transfusão de hemoderivados deve ser individualizada. O risco
trombótico de reverter a anticoagulação deve ser ponderado contra o
risco de sangramento contínuo e, para isso, deve-se considerar as
comorbidades associadas e a condição hemodinâmica no paciente.
O uso de hemoderivados geralmente é indicado naqueles com
choque classe IV, ou seja, com perda sanguínea estimada em 30 a
40% da volemia. Na HDA, recomenda-se a transfusão de hemácias
para manutenção da hemoglobina sérica em torno de 7 e 8 g/dL. Em
pacientes com risco aumentado de eventos cardiovasculares
adversos no cenário de anemia (doença arterial coronariana instável
ou sangramento ativo contínuo), são necessários níveis mais altos
de hemoglobina, acima de 9 g/dL.
A transfusão de plaquetas, plasma fresco congelado e o uso de
vitamina K ou sulfato de protamina (antídoto da heparina) é
controversa e deve ser considerada nos pacientes em uso de
antiagregantes plaquetários ou anticoagulantes, com sangramento
importante e risco de morte. Doentes com sangramento ativo e
plaquetas < 50.000 ou INR (international normalizated ratio) > 2,0
devem ser avaliados para a transfusão de plaquetas ou plasma,
respectivamente. Em pacientes com HDA varicosa, o benefício dos
agentes pró-hemostáticos (plasma fresco congelado, concentrado de
complexo de protrombina e fator recombinante VIIa) é incerto.
• Drogas procinéticas
As drogas procinéticas, como a Eritromicina e a Metoclopramida,
aceleram o esvaziamento gástrico e permitem melhor visualização
da mucosa durante a EDA, reduzindo a necessidade de repetir o
exame, porém não alteram desfechos como transfusão sanguínea,
tempo de internação e necessidade de intervenção cirúrgica. A
Eritromicina pode ser utilizada por via intravenosa (3 mg/kg ou 250
mg em 100 mL de soro fisiológico 0,9%, durante 30 minutos), iniciada
20 a 120 minutos antes da EDA nos pacientes com suspeita de
sangue e coágulos em grande quantidade no estômago.
• Antibiótico profilático
Nos pacientes cirróticos, o sangramento gastrintestinal é um
fator de risco para a ocorrência de infecção bacteriana,
principalmente por microrganismos gram-negativos, sendo as mais
comuns a peritonite bacteriana espontânea, infecção do trato
urinário e pneumonia. O uso de antibiótico profilático nesses casos,
com ou sem ascite, reduz a incidência de infecção, ressangramento,
tempo de internação e mortalidade. Fatores importantes na escolha
de antibióticos incluem características individuais do doente e
padrões locais de resistência a antibióticos. Naqueles com cirrose
hepática avançada (Child-Pugh B ou C) ou com uso prévio de
antibiótico profilático e nos hospitais com alta prevalência de
bactérias resistentes às quinolonas, recomenda-se o uso da
Ceftriaxona (1 g, intravenosa, de 24/24 h, por 7 dias). Outras opções
como o Norfloxacino (400 mg por via oral, de 12/12 h, por 7 dias) e o
Ciprofloxacino (500 mg, de 12/12 h, por 7 dias) também podem ser
utilizadas naqueles que não apresentem os fatores de risco listados
acima.
• Drogas vasoativas
Nos pacientes com HDA varicosa, o uso de drogas vasoativas
(Tabela 5) como a Terlipressina, Vasopressina, Somatostatina e
Octreotide levam à constrição dos vasos mesentéricos e
esplâncnicos e redução do fluxo sanguíneo varicoso. Devem ser
iniciadas imediatamente após suspeita diagnóstica de HDA varicosa,
antes mesmo da EDA, e mantidas por 2 a 5 dias.
A Terlipressina é a droga de escolha, por ter impacto sobre a
mortalidade. A dose recomendada é bolus de 1 a 2 mg, endovenosa,
com manutenção a cada 4 h de 1 a 2 mg, de acordo com o peso do
paciente (1,0 mg até 50 kg; 1,5 mg entre 50 e 70 kg; 2,0 mg se mais
de 70 kg). Deve ser iniciada antes da endoscopia e mantida até que o
sangramento tenha sido controlado por 24 horas, com duração
estendida por 2 a 3 dias. Recomenda-se monitorização da infusão
em UTI pelo risco de angina, arritmias, hipertensão arterial e
isquemia vascular periférica, que podem ser precipitados pela droga.
A Vasopressina é um potente vasoconstrictor, porém sem
benefícios na redução da mortalidade, e seu uso está associado a
eventos adversos graves (isquemia miocárdica e mesentérica,
arritmias, acidentes vasculares cerebrais e hiponatremia), sendo
restrita aos casos em que as outras drogas se encontram
indisponíveis. A posologia é 0,4 a 1,0 UI/minuto, endovenosa, em
bomba de infusão contínua.
A Somatostatina e a droga análoga, Octreotide, apresentam bom
perfil de segurança. A Somatostatina é administrada via endovenosa,
em bolus de 250 mcg, seguido pela administração em bomba da
infusão contínua de 250 mcg/h. O Octreotide apresenta dose inicial
endovenosa em bolus de 50 mcg, seguido da infusão contínua de 25
a 50 mcg/h.
Associar
0,4 a 1 U/min IAM*, arritmias
Vasopressina 0,4 a 1 U/min nitroglicerina
até 48h e AVC
(20 mg/dia)
250 mcg em bolus (até 3 250 mcg/h por Náuseas, vômitos 500 mcg/h nos
Somatostatina
vezes em 1h) até 5 dias e hiperglicemia pacientes graves
b. TRATAMENTO ENDOSCÓPICO
A EDA é de fundamental importância para identificar a causa do
sangramento e abordagem terapêutica, sendo o exame de escolha
tanto para diagnóstico quanto para tratamento. O momento ideal da
realização e as opções terapêuticas dependem da etiologia.
PREVALÊNCIA SANGRAMENTO
CLASSIFICAÇÃO
(%) RECORRENTE (%)
Ia – Sangramento em jato 10 90
• HDA varicosa
Nos pacientes com suspeita de HDA varicosa, a EDA deve ser
realizada nas primeiras 12 horas, após estabilização hemodinâmica,
e em combinação com o uso de droga vasoativa, com impacto na
mortalidade. O exame permite a identificação do sítio de
sangramento e a instituição de terapia hemostática, através de
ligadura elástica, método preferencial, ou injeção de substância
esclerosante (escleroterapia com etanolamina ou cianoacrilato).
Ambos os métodos são altamente eficazes no controle imediato do
sangramento, com redução na taxa de recorrência. As varizes
gástricas têm menor risco de hemorragia (3 a 30%) do que as
esofágicas, entretanto, relacionam-se a sangramento mais grave, de
difícil controle e maior mortalidade (25 a 40%).
Após o sangramento varicoso, recomenda-se profilaxia
secundária com a associação de terapia endoscópica e uso de
betabloqueadores não seletivos (Propranolol/Nadolol), iniciada após
o quinto dia do sangramento em pacientes estáveis e sem
contraindicação a essas drogas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 42 anos, hígido,
admitido na emergência com relato de epigastralgia,
hematêmese e melena iniciados há 4 horas. O paciente tem
histórico de dor crônica em região lombar, com uso frequente de
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).
b. Ao exame: Orientado, descorado (1/4), hidratado, FC:108
bpm, PA: 100 x 60 mmHg e eupneico. Abdome doloroso à
palpação profunda em epigástrio, sem sinais de irritação
peritoneal. Toque retal com fezes enegrecidas. P = 70 Kg.
Aguardando exames e tempo de jejum para a realização de
endoscopia (última refeição há 5 horas).
c. Prescrição sugerida:
1. Jejum.
2. Cuidados gerais e sinais vitais.
3. Monitorização.
4. Balanço hídrico.
5. Suporte de O2 por cateter nasal a 2 L/min, se necessário.
6. Soro fisiológico 0,9% 1000 mL – 2000 mL, EV, em 1 hora.
7. Soro fisiológico 0,9% 500 mL + soro glicosado 50% 40 mL,
EV, 28 gotas/minuto, de 6/6 h.
8. Dipirona 2 mL + água destilada 8 mL, EV de 6/6 h se dor ou
Tax ≥ 37,8°C.
9. Metoclopramida 10 mg – 2 mL + água destilada 8 mL, EV,
até de 8/8 h, se náuseas ou vômitos.
10. Omeprazol 40 mg – 2 ampolas (80 mg) EV, em bolus.
11. Omeprazol 40 mg – 2 ampolas + soro fisiológico 0,9% 100
mL, EV, em bomba de infusão contínua, 10 mL/h (8mg de
Omeprazol/h).
12. Hemocomponentes, se necessário (checar hemograma).
DICAS DO ESPECIALISTA
• A HDA é a principal emergência gastroenterológica. Apesar
de o sangramento cessar espontaneamente na maioria dos
casos, é necessário identificar e tratá-la adequadamente
pelo risco de ressangramento.
REFERÊNCIAS
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3.9
HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA
Autores:
Isaac Nilton Fernandes Oliveira
Celso Carlos de Oliveira Filho
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
A hemorragia digestiva baixa (HDB) é classicamente definida
como o sangramento gastrointestinal que se origina distalmente ao
ângulo de Treitz (demarcação anatômica da junção duodeno-jejunal).
Com o advento de novos métodos endoscópicos, podemos subdividir
a hemorragia digestiva da seguinte forma:
- Pólipos adenomatosos
QUADRO CLÍNICO
A HDB pode se manifestar clinicamente das seguintes formas:
Pulso (bpm) Taquicardia leve 100-120 120 ( liforme) > 120 ( liforme)
DIAGNÓSTICO
O exame de escolha para a avaliação e diagnóstico de pacientes
com HDB é a colonoscopia. Naqueles que apresentam sangramento
maciço, com repercussão hemodinâmica, é necessária a realização
de endoscopia digestiva alta (EDA) como medida inicial. Caso esses
métodos não identifiquem o sangramento ou não possam ser
realizados, por instabilidade hemodinâmica ou hemorragia maciça,
exames radiológicos auxiliam na identificação da etiologia da HDB,
como angiotomografia, cintilografia e arteriografia (ou angiografia),
sendo que a última apresenta vantagem em permitir intervenção
terapêutica.
Para pacientes com sangramento crônico não diagnosticado
através de EDA e colonoscopia, recomenda-se, posteriormente,
repetir esses exames a fim de identificar lesões não visualizadas em
análise inicial. A avaliação de intestino delgado, através da cápsula
endoscópica ou enteroscopia, pode ser indicada nos casos
inconclusivos.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Endoscopia digestiva alta (EDA): Até 15% dos casos de HDB
podem ter como local de origem do sangramento o trato
digestivo alto, sendo indicada a realização de EDA nos
pacientes que apresentam melena ou hematoquezia
volumosa com repercussão clínica e instabilidade
hemodinâmica ou naqueles com fatores de risco para
doença ulcerosa péptica ou hipertensão portal.
c. REPOSIÇÃO VOLÊMICA
A infusão de solução cristaloide isotônica (soro fisiológico 0,9% ou
ringer lactato) deve ser realizada através de dois acessos venosos
periféricos de grosso calibre ou, se não for possível, por meio de
acesso venoso central, objetivando manter pressão arterial sistólica
acima de 100 mmHg. As soluções coloides têm maior custo e não
apresentam diferença na taxa de mortalidade.
d. TRANSFUSÃO DE HEMOCONCENTRADOS
A transfusão de concentrado de hemácias é indicada se
hemoglobina (Hb) abaixo de 7 g/dL em paciente hígidos ou abaixo de
9 g/dL em idosos ou naqueles com doenças cardiovasculares. A
contagem de plaquetas deve ser mantida acima de 50.000/mm3.
A hemostasia endoscópica deve ser considerada nos pacientes
com o índice normalizado internacional (INR) entre 1,5 e 2,5, antes de
administrar agentes de reversão da anticoagulação. Estudos
recentes sugerem que INR moderadamente elevado não aumenta a
taxa de ressangramento, não havendo benefício de uso rotineiro de
plasma fresco ou vitamina K naqueles que não estejam em uso de
Varfarina. Nos pacientes em uso de anticoagulante, a suspensão da
medicação e a reversão do seu efeito deve ser considerada para
sangramento grave contínuo ou antes do procedimento endoscópico
naqueles com INR > 2,5.
g. CIRURGIA
O tratamento cirúrgico na HDB apresenta taxa de complicação
em 60% dos casos e mortalidade em 16%, sendo reservado para
pacientes que persistem hemodinamicamente instáveis após
ressuscitação volêmica agressiva ou com necessidade de transfusão
de concentrado de hemácias maior que 6 unidades, apesar das
medidas intervencionistas endoscópicas ou radiológicas.
É imporante determinar com cautela o sítio de sangramento
previamente à abordagem cirúrgica a fim de evitar ressecção
extensa. Nos casos de HDB persistente em que o foco não pode ser
identificado por exames complementares, a cirurgia de urgência é
indicada.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente masculino, 67 anos, previamente
hígido, é admitido no pronto-socorro por apresentar enterorragia
seguida de lipotímia. Nega uso de medicações.
b. Exame físico: encontra-se hipocorado, FC de 120 bpm, PA
de 100 x 70 mmHg (deitado) e PA de 80 x 50 mmHg (sentado).
Abdome flácido e indolor. Inspeção perianal sem alterações,
com toque retal sem lesões, apresentando sangue vivo em dedo
de luva. Admitido na UTI e aguardando resultado de exames
laboratoriais e estabilidade clínica para avaliação endoscópica.
Qual é a prescrição ideal para o paciente nesse momento?
c. Prescrição sugerida:
1. Jejum.
2. Suporte de O2 por cateter nasal a 2 L/min.
3. Soro fisiológico 0,9% 1000 a 2000 mL, EV, em 1 hora.
4. Soro fisiológico 0,9% 500 mL + Soro glicosado 50% 10 mL,
04 ampolas, EV, 28 gotas/minuto,
de 6/6 h.
5. Dipirona 2 mL + água destilada 8 mL, EV até de 6/6 h se dor
ou Tax ≥ 37,8°C.
6. Metoclopramida 10 mg – 2 mL + Água destilada 8 mL, EV,
até de 8/8 h, se náuseas ou vô
mitos.
7. Monitorização.
8. Balanço hídrico.
9. Cuidados gerais e sinais vitais.
10. Após estabilização, iniciar preparo intestinal para a
colonoscopia.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Paciente com HDB apresenta exteriorização do
sangramento sob a forma de hematoquezia, melena,
enterorragia ou sangue oculto nas fezes.
REFERÊNCIAS
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gastrointestinal bleeding. World J Gastroenterol. 2019; 25(1): 69-84.
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Bleeding. American College of Gastroenterology. Practice Parameters Committee.
Am J Gastroenterol 1998; 93: 1202-8.
4.1
DENGUE
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Luciana de Almeida Silva Teixeira
DEFINIÇÕES
• É uma doença febril aguda, de etiologia viral, que possui um
espectro clínico complexo e diverso. A maior parte dos
pacientes se recupera após evolução clínica leve/moderada
e autolimitada; uma pequena parte evolui para quadro
grave, podendo levar a óbito.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O agente etiológico é um vírus RNA de fita simples,
arbovírus, pertencente ao gênero Flavivirus e à família
Flaviviridae. Atualmente são conhecidos quatro sorotipos:
DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4, disseminados por todo o
território nacional, sendo as epidemias associadas com a
alteração do sorotipo predominante. O período de incubação
varia de 4 a 10 dias, sendo, em média, de 5 a 6 dias.
QUADRO CLÍNICO
• Período de incubação: 4 a 10 dias.
• Fase febril: tem duração de 2 a 7 dias. Caracterizada por
febre alta, de início abrupto, cefaleia, mialgia, artralgia, dor
retro-orbitária e exantema .
• Sinais de alarme:
• dor abdominal intensa e contínua
• vômitos persistentes
• acúmulo de líquidos (ascites, derrame pleural, derrame
pericárdico)
• sangramento de mucosa
• hipotensão postural e/ou lipotimia
• hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo
costal
• Classificação:
• Dengue clássica: febre, entre dois e sete dias de duração,
e duas ou mais das seguintes manifestações: náusea,
vômito, exantema, mialgias, artralgia, cefaleia, dor retro-
orbital, prostração.
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
O manejo clínico é feito de acordo com o estadiamento da
doença, ou seja, a classificação de risco (grupos A, B, C e D) baseada
nos sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Durante a
evolução da doença, o enfermo pode passar de um grupo a outro, em
curto período de tempo. É importante reconhecer precocemente os
sinais de extravasamento plasmático (sinais de alarme), para
intervenção rápida com infusão de fluidos.
• Tratamento ambulatorial:
• Hidratação oral:
• → Adultos: 60 mL/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina
e no início com volume maior. Para os 2/3 restantes,
orientar o consumo de líquidos (água, soro caseiro, suco
de frutas, água de coco, chás etc.).
• Fase de manutenção:
• Primeira fase: 25 mL/kg em 6 h. Se melhora, iniciar
segunda fase.
• MEDIDAS PREVENTIVAS
• Controle vetorial: combate aos focos de acúmulo de
água, que são potenciais criadouros do mosquito.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo feminino, 20 anos, sem
comorbidades, nega uso de medicação contínua. Relata que há
três dias iniciou quadro de febre alta (39°C), cefaleia intensa,
mialgia difusa, prostração e astenia. Procurou Hospital
Universitário, pois evoluiu com vômitos persistentes, dor
abdominal intensa e petéquias pelo corpo.
b. Exame físico: regular estado geral, corada, desidratada (2 +
/4 +), acianótica, anictérica,
T = 38,5ºC, FR = 20 irpm, FC = 95 bpm, PA = 100 x 60 mmHg,
prova do laço positiva, pulmões limpos, ritmo cardíaco regular,
abdome globoso, flácido, sem visceromegalias, doloroso à
palpação.
c. Exames complementares: Hemograma = hemácias: 4,88,
hemoglobina: 15,1, hematócrito: 45, leucócitos: 3.000, plaqueta:
60.000/mm3.
d. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-
Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em
Saúde: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral
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Ministério da Saúde, 2016.
2. Ministério da Saúde (BR). Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança. 5.
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3. Furlan NB, Tukasan C, Estofolete CF, Nogueira ML, Silva NS. Low Sensitivity Of The
Tourniquet Test For Differential Diagnosis Of Dengue: An Analysis Of 28,000 Trials
In Patients. BMC Infect Dis. 2016; 16(1): 1-7.
4. Chiaravalloti Neto F, Dibo MR, Barbosa AAC, Battigaglia M. Aedes albopictus (S) na
região de São José do Rio Preto, SP: estudo da sua infestação em área já ocupada
pelo Aedes aegypti e discussão de seu papel como possível vetor de dengue e
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combate à dengue em Sobral (CE): Relato de experiência. Sanare. 2015; 15(1): 112-
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7. Queiroz ER. Dengue grave no Brasil central: aspectos clínicos e epidemiológicos.
[Dissertação - Mestrado em Ciências da Saúde]. Goiânia: Pontifícia Universidade
Católica de Goiás; 2016.
4.2
TUBERCULOSE
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa,
causada pela Mycobacterium
tuberculosis, também chamada de Bacilo de Koch (BK), que
afeta preferencialmente os pulmões. Apresenta evolução
clínica insidiosa.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O BK é uma micobactéria aeróbica, intracelular,
classificada como Bacilos Álcool-ÁcidoResistente (BAAR),
caracterizada por multiplicação lenta.
QUADRO CLÍNICO
• Período de incubação: 4 a 12 semanas.
• Principal sintoma: tosse persistente por 3 semanas ou
mais (seca ou produtiva, com ou sem escarros
hemoptoicos).
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Clínico-epidemiológico: indivíduo com tosse por 3
semanas ou mais (sintomático respiratório) e/ou outros
sinais e sintomas, como febre vespertina, sudorese
noturna, emagrecimento, inapetência.
• Radiológico:
• Indicado para todo paciente com suspeita clínica de TB
pulmonar.
• Importante para excluir outra doença pulmonar
associada, avaliar a extensão do acometimento e a
resposta terapêutica.
• Suspeita de TB extrapulmonar.
• Contato com infectados por TB multirresistente.
• Antecedência de tratamento prévio.
• Imunodeprimidos.
• Falência ao tratamento.
• Baciloscopia positiva no final do segundo mês de
tratamento.
• Exame histopatológico:
• Compatível: presença de processo inflamatório
granulomatoso (granuloma com necrose de
caseificação).
TRATAMENTO
• Atenção básica (tratamento diretamente observado –
TDO): observação diária por um profissional da saúde.
< 50 kg 3 comprimidos
RH 150/75 mg comprimido
Fase de manutenção (4 RH) 4
em dose fixa combinada
> 50 kg 4 comprimidos
• Casos de retratamento:
• Solicitar baciloscopia, TRM-TB, cultura e TS, iniciar o
esquema básico até resultado de exames.
• Indicações de hospitalização
• Meningoencefalite tuberculosa.
• Intolerância aos medicamentos anti-TB incontrolável
ambulatorialmente.
a. REAÇÕES ADVERSAS:
• Contatos sintomáticos:
• Pesquisar TB ativa: baciloscopia do escarro, radiografia
de tórax.
d. TUBERCULOSE E HIV:
e. MEDIDAS PREVENTIVAS:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, sexo masculino, 44 anos,
proveniente de zona rural, solteiro, compareceu ao hospital
apresentando tosse produtiva persistente há cerca de quatro
semanas. Relatou também febre vespertina não ultrapassando
38,5°C e sudorese noturna, além de emagrecimento de 5 kg em
1 mês, hiporexia e adinamia. Nega doenças de base, uso de
medicamentos, alergias e uso de drogas ilícitas. Refere
ingestão de bebida alcoólica diariamente. Nega tabagismo.
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7. Jameson JL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Loscalzo J. Medicina
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4.3
HIV/AIDS
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Isabela Rodrigues de Oliveira
DEFINIÇÕES
• O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um vírus
esférico, pertencente à família Retroviridae, subfamília
Orthoretrovirinae e gênero Lentivirus, cujo núcleo é
constituído por RNA de fita simples.
• Infecção aguda:
• Assintomática ou Síndrome Retroviral Aguda (em cerca
de 50% dos casos).
- Fase caracterizada por carga viral elevada, intensa
resposta imune celular e depleção rápida de linfócitos
TCD4+.
- Anticorpos anti-HIV não são detectados (janela
imunológica), pois a resposta humoral é tardia (surgem
após a fase aguda).
• Fase prolongada.
• Fase sintomática inicial:
• Caracterizada por manifestações sistêmicas
inespecíficas, resultantes de imunodeficiência: sudorese
noturna, fadiga progressiva, emagrecimento, anorexia,
diarreia, sinusopatias, febre, cefaleia, candidíase oral e
vaginal, queilite angular, leucoplasia pilosa oral (vírus
Epstein-Barr), gengivite, úlceras aftosas, herpes simples
recorrente (HSV-1 e HSV-2), Herpes Zóster,
trombocitopenia, púrpura trombocitopênica imune, entre
outras.
• AIDS:
• Fase mais avançada da infecção pelo HIV, caracterizada
por imunodepressão grave (TCD4+ < 200 células/mm3).
DIAGNÓSTICO
• Testes sorológicos (triagem e confirmatório):
• Testes de triagem: Imunoensaio (ELISA) de 3ª ou 4ª
geração (janela imunológica de aproximadamente 15
dias); testes rápidos.
TRATAMENTO
a. Situações de priorização de atendimento para início da
TARV – iniciar TARV com celeridade:
• Sintomáticos:
• CTB ativa: para LT-CD4+ < 200, iniciar TARV na segunda
semana após o início do tratamento de TB. Para LT-CD4+
> 200, iniciar TARV ao final da oitava semana.
• Tuberculose ativa.
• Coinfecção HBV.
• Coinfecção HCV.
• Risco cardiovascular elevado (> 20%).
• Importante: na impossibilidade de obter contagem de LT-
CD4+, não se deve adiar o início do tratamento.
b. CLASSES DE ANTIRRETROVIRAIS:
• Inibidores de entrada:
• Inibidores de Fusão: T20 (Enfuvirtida);
• Inibidores do correceptor CCR5: MVQ (Maraviroque).
• Esquema terapêutico inicial preferencial (conforme tabela
1)::
TERAPIA
SITUAÇÃO DOSE DIÁRIA OBSERVAÇÃO
ANTIRRETROVIRAL
c. OBSERVAÇÕES:
• Indicações de Genotipagem:
• Falha terapêutica com esquema inicial.
• Pré-tratamento com TARV (esquema inicial): gestantes,
crianças, adolescentes,
coinfecção HIV/TB e pessoas que tenham se infectado
com parceiro em uso de TARV.
d. MONITORAMENTO:
e. PREVENÇÃO:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, sexo masculino, 45 anos, branco,
casado, previamente hígido, comparece ao posto de saúde
relatando emagrecimento de aproximadamente 15 kg e
adinamia intensa com início há quatro meses. Refere ainda
hiporexia e febre esporádica. Nega doenças preexistentes, uso
de medicamentos, alergias e uso de drogas ilícitas. Refere
tabagismo e etilismo. Relata prática de relações
heterossexuais com várias parceiras sem o uso de
preservativos.
c. Exames complementares:
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
DST Aids e Hepatites Virais. Manual técnico para o diagnóstico da infecção pelo
HIV. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
2. World Health Organization. Consolidated Guidelines On The Use Of Antiretroviral
Drugs For Treating And Preventing HIV Infection: Recommendations For A Public
Health Approach. 2. ed. WHO Guidel. 2016; (June): 480.
3. Ministério da Saúde (BR). Nota informativa nº 007/2017 – DDAHV/SVS/MS.
Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
4. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo
da infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde; 2013. Atualizado
em 2015.
5. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia
pós-exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília:
Ministério da Saúde; 2018.
. Ministério da Saúde (BR). HIV: estratégias para diagnóstico no Brasil. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
7. Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Recomendações
para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde;
2002.
. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de DST e AIDS. Critérios de definição
de casos de AIDS em adultos e crianças. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.
9. CLSI. Criteria for Laboratory Testing and Diagnosis of HIV Infection; Approved
Guideline. CLSI document M53-A. Wayne: Clinical and Laboratory Standards
Institute; 2011.
10. Miller LE. Laboratory Diagnosis of HIV Infection. In: Stevens CD. Clinical
immunology and serology: a laboratory perspective. 3. ed. Philadelphia: FA Davis
Company; 2010.
11. UNAIDS/WHO Working Group on Global HIV/AIDS/STI Surveillance. Guidelines
for Using HIV Testing Technologies In Surveillance: Selection, Evaluation And
Implementation, 2009 update. Genebra: World Health Organization; 2009. 382
HIV/AIDS
12. Ministério da Saúde (BR). Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da
Saúde; 2016.
13. Ministério da Saúde (BR). Nota informativa nº 10/2018 – DIAHV/SVS/MS.
Brasília: Ministério da Saúde; 2018.
14. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para o
manejo da infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde; 2018.
15. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para Profilaxia da Transmissão
Vertical do HIV e Terapia Antirretroviral em Gestantes. Brasília: Ministério da
Saúde; 2010.
4.4
INFLUENZA
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Ana Luiza Santos Pereira
DEFINIÇÕES
• Infecção viral que acomete as vias respiratórias,
geralmente autolimitada e benigna, durando
aproximadamente sete dias.
• Indígenas;
• Imunossupressão;
• Pessoas privadas de liberdade;
• Obesidade.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O vírus Influenza é um RNA vírus e se subdivide em três
tipos antigenicamente distintos: A, B e C.
QUADRO CLÍNICO
• Síndrome Gripal (SG): febre, tosse seca, odinofagia, coriza,
disfonia, mialgia, cefaleia e prostração, sem outro
diagnóstico específico, e geralmente com resolução
espontânea em aproximadamente 7 dias. Podem ocorrer
sintomas gastrointestinais, rouquidão e hiperemia
conjuntival.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma: leucocitose, leucopenia, linfocitose.
b. Radiografia de tórax: infiltrado intersticial localizado ou
difuso; presença de área de condensação.
c. Reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa
(RT-PCR):
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Diagnóstico clínico-epidemiológico.
• Síndrome gripal: febre de início súbito, associada à tosse ou
odinofagia e, no mínimo, um dos seguintes sintomas:
cefaleia, mialgia ou artralgia, na ausência de outro
diagnóstico específico.
TRATAMENTO
a. Fosfato de Oseltamivir (Tamiflu®) – Indicações:
> 60 - 90 75 mg 12/12h
30 – 59 30 mg 12/12h
10 – 29 30 mg 24/24h
30 mg após cada
Hemodiálise
sessão*
*Apenas três doses, uma após cada sessão de hemodiálise, considerando-se que, num período de cinco dias,
serão realizadas três sessões.
**Serão duas doses de 30 mg cada, considerando-se os dez dias, em que ocorrerão apenas duas sessões
de diálise.
b. SRAG:
• Radiografia de tórax.
• Antibioticoterapia (suspeita de infecção bacteriana
secundária): Ceftriaxone ou Amoxicilina/clavulanato +
Claritromicina ou Azitromicina ou Quinolona respiratória IV
por 7 a 10 dias.
• Suporte ventilatório e fisioterapia respiratória.
• Indicações de internação em UTI: instabilidade
hemodinâmica, sinais de insuficiência respiratória, outras
disfunções orgânicas (insuficiência renal, hepática,
alteração do nível de consciência), hipoxemia moderada a
grave (relação PO2/FiO2 < 300, caracterizando lesão
pulmonar aguda), aumento significativo de DHL e CPK.
c. MEDIDAS PREVENTIVAS
d. VACINAÇÃO
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Guia de vigilância em saúde/Ministério da saúde 2016.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 30 anos,
comparece ao hospital devido à tosse seca, rinorreia e mialgia,
há quatro dias. Relatou febre no dia anterior. Há um dia,
apresenta dispneia e dor torácica ventilatório-dependente. Nega
doenças de base, uso de medicações, tabagismo ou etilismo.
b. Exames físicos:
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Protocolo de Tratamento de Influenza. Brasília: Ministério
da Saúde; 2015.
2. Organização Mundial da Saúde. WHO Guidelines for Pharmacological Management
of Pandemic
Influenza A(H1N1) 2009 and other Influenza Viruses. Genebra; WHO; 2010.
3. Martins HS, Neto RAB, Neto AS, Velasco IT. Emergências clínicas: abordagem
prática. 10. ed. Barueri: Manole; 2015.
4. Machado AA. Infecção pelo vírus Influenza A (H1N1) de origem suína: como
reconhecer, diagnosticar e prevenir. J Bras Pneumol. 2009; 35(5): 464-9.
5. Carneiro M, Trench FJP, Waib LF, Pedro FL, Motta F. Influenza H1N1 2009: revisão da
primeira pandemia do século XXI: H1N1 Influenza 2009: review of the first
pandemic of the XXI century. Rev Amrigs, 2010; 2(54): 206-13.
. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da
Saúde; 2016.
4.5
ENDOCARDITE INFECCIOSA
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Ana Luiza Santos Pereira
DEFINIÇÕES
• Endocardite infecciosa (EI): doença com repercussão
multissistêmica, decorrente de
infecção, geralmente bacteriana, da superfície endocárdica.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• 80% dos casos de endocardite infecciosa são causados por
estafilococos e estreptococos. Na América do Sul, os
agentes etiológicos mais comuns são: Staphylococcus
aureus (mais comum), Streptococcus viridans e
Enterococos.
QUADRO CLÍNICO
• Os quadros clínicos são variáveis, dependendo do agente
causador, da presença ou ausência de doença valvar prévia
e da presença de próteses ou dispositivos intracárdicos.
• A EI pode manifestar-se como infecção aguda com
progressão rápida, subaguda e crônica.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma: leucopenia ou leucocitose, acompanhadas ou
não de anemia.
b. Proteína C-reativa (PCR) e velocidade de
hemossedimentação (VHS): elevadas.
c. Anticorpo citoplasmático de neutrófilos e complemento:
alterados na presença de vasculite associada a EI.
d. Ecocardiograma: método diagnóstico de escolha.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico de EI é baseado nos critérios maiores e menores de
Duke modificados (conforme tabelas 1 e 2), que auxiliam na
elucidação diagnóstica.
Causas de elevação de troponina:
Critérios clínicos maiores
• Evidência microbiológica: hemocultura positiva, mas não atende critério principal, como
observado acima, ou evidência sorológica de infecção com organismo consistente com o EI.
Tabela 1. Critérios de Duke modificados para o diagnóstico de
endocardite infecciosa
Fonte: Adaptado de Habib.1
EI patologicamente comprovada;
DIAGNÓSTICO DE EI Dois critérios maiores ou um maior e três menores ou cinco
menores.
TRATAMENTO
• Antibioticoterapia combinada empírica precoce, de acordo
com o microrganismo suspeito, logo após a coleta das
hemoculturas, com ajuste após resultado dos testes de
sensibilidade (de acordo com a tabela 3)
Prótese valvar endocárdica (<12 meses após a cirurgia) ou endocardite associada a cuidados de saúde
hospitalares e não hospitalares
•
Ceftriaxona 1 g (ampola) 2 g/dia EV ou IM 4
•
Vancomicina 500 mg (ampola) 30 mg/Kg/dia EV em 2 doses 4
DURAÇÃO
Droga ApresentaçÃo Dose e via de administração
(SEMANAS)
VALVA NATIVA
Terapia alternativa:
• Daptomicina 500 mg (ampola) 30-60 mg/Kg/dia EV em 2-3 doses 4-6
VALVA PROTÉTICA
DOSE E VIA DE
DROGA APRESENTAÇÃO DURAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
DOSE E VIA DE
DROGA APRESENTAÇÃO DURAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
500 mg (ampola) 200 mg/Kg/dia EV em 4-6 doses 4-6
• Ampicilina
+
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Adaptado de Habib. Guidelines for the management of
infective endocarditis: The Task Force
for the Management of Infective Endocarditis of the European
Society of Cardiology. European Heart
Journal. Europa, Nov. 2015.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 50 anos, procura
atendimento no ambulatório de Clínica Médica do Hospital
Universitário, queixando-se de perda ponderal não intencional de
5 Kg em um mês. Relata que vem apresentando quadro de
dispneia progressiva aos médios esforços, mal-estar, sudorese
profusa e episódios de febre. Referiu ainda que, na infância, foi
diagnosticado sopro, porém não sabe referir qual, e não possui
exames prévios. Afirmou ter realizado um tratamento
odontológico (canal) há cinco meses. Relata uso de bebidas
alcoólicas socialmente, tabagismo há 25 anos (12 anos/maço) e
uso de drogas ilícitas (intravenosas).
b. Exames físicos:
• Ectoscopia: regular estado geral, acianótico, anicérico, febril
(38,5⁰C), descorado, taquipneico. PA: 130 x 80 mmHg, FC:
105 bpm, FR: 28 rpm.
REFERÊNCIAS
1. Habib G, Lancelotti P, Antunes MJ, Bongiorni MG, Casalta JP, Del Zotti F, et al. 2015
ESC Guidelines for the management of infective endocarditis: The Task Force for
The Management of Infective Endocarditis of European Society of Cardiology (ESC)
Endorsed by: European Association for CardioThoracic Surgery (EACTS), the
European Association of Nuclear Medicine (EANM). Eur Heart J. 2015; 36: 3075-
123.
2. Holland TH, Baddour LM, Bayer AS, Hoen B, Miro JM, Fowler Jr VG. Infective
endocarditis. Nat Rev Dis Pimers. 2016; 2: 16059.
3. Habib G, Erba AP, Iung B, Donald E, Cosnys B, Laroche C, et al. Clinical presentation,
aetiology and outcome of infective endocarditis. Results of the ESC-EORP EURO-
ENDO (European infective endocarditis) registry: a prospective cohort study. Eur
Heart J. 2019; 40: 3222-33.
4. Tarasoutchi F; Montera MW; Ramos AIO, Sampaio RO, Accorsi TAD, Lopes ASSA, et
al. Atualização das diretrizes brasileiras de valvopatias: abordagem das lesões
anatomicamente importantes – Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras
Cardiol. 2017; 109(6 Supl. 2): 1-34.
4.6
LEPTOSPIROSE
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Doença infecciosa febril aguda, caracterizada por amplo
espectro clínico, podendo apresentar desde quadros
assintomáticos e oligossintomáticos até formas graves e
fulminantes da doença.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Agente etiológico: bactéria espiroqueta, aeróbica
obrigatória, altamente móvel, com elevada capacidade de
sobrevivência no meio ambiente, pertencente ao gênero
Leptospira.
QUADRO CLÍNICO
• Varia desde formas assintomáticas e subclínicas até
quadros clínicos graves, com alta
letalidade.
c. SÍNDROME DE WEIL:
g. CONVALESCÊNCIA:
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Hospitalização imediata dos casos com sinais de alerta.
• Reposição volêmica adequada e cautelosa.
• Antibioticoterapia precoce: indicada em qualquer fase da
doença; porém, é mais eficaz na 1ª semana do início dos
sintomas (ver tabela 1).
FASE
1.500.000 UI, intravenosa,
TARDIA Penicilina G Cristalina
de 6 em 6 horas
Ampicilina 1 g, intravenosa,
de 6 em 6 horas
2 g, intravenosa,
Ceftriaxona
de 24 em 24 horas
1 g, intravenosa,
Cefotaxima
de 6 em 6 horas
CONCLUSÃO
• Diagnóstico precoce, manejo clínico adequado e criterioso,
principalmente dos casos com sinais de alerta, com
reposição volêmica cautelosa, antibioticoterapia específica
e precoce, suporte ventilatório (ventilação mecânica nos
casos de hipoxemia grave e refratária), transfusão de
hemoderivados e manejo renal, com uso de diuréticos de
alça e diálise precoce nos casos de IRA oligúrica, são as
medidas iniciais que influenciam diretamente na evolução
clínica e prognóstico do paciente, reduzindo
significativamente a letalidade.
REFERÊNCIAS
1. HabibBernardi I. Leptospirose e saneamento básico. [Monografia - Especialização
em Saúde Pública]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2012.
2. Ministério da Saúde (BR). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed.
Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
3. Ministério da Saúde (BR). Guia de vigilância em saúde. Volume único. Brasília:
Ministério da Saúde; 2016.
4. Ministério da Saúde. FUNASA (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica. vol II.
Influenza/Varíola. 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
5. Ministério da Saúde (BR). Leptospirose: diagnóstico e manejo clínico. Brasília:
Ministério da Saúde; 2014.
6. Ministério da Saúde (BR). Roteiro para a capacitação de profissionais médicos no
diagnóstico e tratamento da leptospirose – guia de bolso. Brasília: Ministério da
Saúde; 2014.
7. Goldman L, Ausiello D. Cecil: Medicina. 23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
8. Longo DL, Kasper DL, Jameson JL, Hauser SL, Fauci AS, Loscalzo J. Medicina
Interna de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013.
9. Lopes AC. Tratado de clínica médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca; 2016.
10. Souza VMM, Brant JL, Arsky MLS, Araújo WN. Avaliação do sistema nacional de
vigilância eepidemiológica da leptospirose – Brasil, 2007. Cad Saúde Colet. 2010;
18(1): 95-105.
4.7
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR
AMERICANA
Autores:
Gabrielly Borges Machado
Ana Luiza Santos Pereira
DEFINIÇÕES
• Doença infecciosa, não contagiosa, causada por
protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e
mucosas.
QUADRO CLÍNICO
• Leishmaniose cutânea localizada (forma clássica): lesão
ulcerada, única ou em pequeno número, indolor, ovalada,
com bordas bem delimitadas e elevadas, base eritematosa
e
infiltrada, fundo granuloso. Podem ocorrer linfadenopatia
regional e linfangite nodular.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exame parasitológico direto: pesquisa de amastigotas em
esfregaço da lesão ou
imprints de fragmento de tecidos do paciente. Primeira escolha
para confirmação
diagnóstica; porém, a probabilidade de encontrar o parasito é
reduzida com o tempo de evolução da lesão cutânea. Para
coleta de amostra são utilizadas as seguintes técnicas:
escarificação, biópsia com impressão por aposição e punção
aspirativa.
b. Cultura para Leishmania: exame parasitológico que
permite identificar a espécie envolvida. Os fragmentos
cutâneos da borda da úlcera são inoculados em meios de
cultivo. Deve ser mantida até um mês para liberar resultado
negativo.
c. Isolamento in vivo: exame parasitológico obtido pela
inoculação intradérmica de fragmentos processados da lesão
em hamsters. Pouco utilizado.
d. Teste intradérmico (Intradermorreação de Montenegro):
teste imunológico cutâneo que avalia a resposta imune celular
prévia contra a leishmania (hipersensibilidade celular
retardada). Se positivo, o teste pode indicar contato prévio,
alergia ao diluente do teste ou reação cruzada com outras
doenças. Pode estar negativo em pacientes fraco-reatores,
imunossuprimidos ou início da infecção (4-6 semanas).
e. Testes sorológicos: ELISA (Ensaio Imunoenzimático) e
Imunofluorescência indireta (IFI), que detectam anticorpos
antileishmania (baixa sensibilidade).
f. Reação em cadeia da polimerase (PCR): teste molecular
que detecta o material genético do parasita em amostras de
tecido infectado. Altas sensibilidade e especificidade,
principalmente se associado a exames parasitológicos.
g. Exame histopatológico: visualização de formas
amastigotas na amostra.
h. Teste para HIV: indicado para todos os pacientes com
LTA.
TRATAMENTO
As drogas leishmanicidas recomendadas para tratamento estão
descritas nas tabelas 1, 2, 3
e 4, a seguirem:
Apresentação: 81 mg Sb+/mL (cada frasco contém 5 mL)
Diluição: reconstituir o pó em 10 mL de água destilada para injeção. Para cada 1 mL da solução inicial
(reconstituída), adicionar 50 mL de soro glicosado a 5%.
Dose máxima diária: 50 mg/dia. Dose total acumulada: 25 a 40 mg/kg.
Infusão: 4 a 6 horas.
Efeitos adversos: reação de hipersensibilidade, febre, calafrios, cefaleia, náuseas, vômitos, hipocalemia,
insuficiência renal, hepatotoxicidade, anemia, flebite.
Contraindicações: insuficiência renal, hipersensibilidade à anfotericina B.
Monitoramento durante o tratamento: avaliação clínica e laboratorial (hemograma, função renal e hepática e
eletrólitos) diária.
Diluição: reconstituir o pó em 12 mL de água destilada para injeção. Diluir cada 1 mL do frasco reconstituído (4 mg)
em 1 a 19 mL de soro glicosado 5%.
Dose total acumulada: 25 a 40 mg/kg (sem limite de dose máxima diária).
Infusão: 30 a 60 minutos.
Eventos adversos: febre, calafrios, dor no peito, taquicardia, hipotensão, mialgia, dor lombar. Suspender a
amamentação durante o tratamento.
Contraindicação: hipersensibilidade à substância ativa.
Monitoramento durante tratamento: avaliação clínica e laboratorial (hemograma, ele¬trólitos, função renal e
hepática) diárias.
4 mg/Kg/dia, em dias
Cutânea IM ou EV 3 a 10 aplicações
alternados
4 mg/Kg/dia, em dias
Mucosa IM ou EV 10 aplicações
alternados
Indicações: forma cutânea localizada causada por Leishmania guyanensis e forma cutânea difusa.
Infusão: lenta em 60 minutos.
Dose total acumulada: 2 g.
Eventos adversos: hipoglicemia, diabetes mellitus tardio (toxicidade sobre as células beta-pancreáticas),
pancreatite, arritmias e reações locais.
Contraindicações: diabetes mellitus, intolerância a glicose, gestação, lactação, insuficiência renal e hepática,
doenças cardíacas.
Monitoramento durante tratamento: função renal e pancreática, glicemia e eletrocardiograma semanalmente.
a. Pentoxifilina:
• Dose: 400 mg, via oral, três vezes ao dia após as refeições,
por 30 dias.
É
c. CRITÉRIOS DE CURA: regressão das manifestações
clínicas apresentadas, com a epitelização das lesões ulceradas.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente, sexo masculino, branco, 26 anos,
natural e procedente de Paracatu – MG, solteiro, estudante,
procura atendimento médico referindo surgimento de lesões
cutâneas indolores em membro inferior direito e antebraço
esquerdo há cerca de dois meses. Nega doenças de base, uso
de medicamentos, alergias, tabagismo e etilismo.
b. Exames físicos:
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde: volume 3. 1. ed. atual.
Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
2. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da
Saúde; 2016.
3. Ministério da Saúde (BR). Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar.
Brasília: Ministério da Saúde; 2017..
4. Ministério da Saúde (BR). Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar
Americana. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.
4.8
LEISHMANIOSE VISCERAL
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• A leishmaniose visceral é uma doença sistêmica, crônica,
de evolução insidiosa, potencialmente grave e fatal se não
tratada.
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
• A LV é causada por protozoários tripanossomatídeos do
gênero Leishmania.
QUADRO CLÍNICO
• Os indivíduos podem apresentar um quadro assintomático,
oligossintomático ou a doença clássica (Calazar).
• Em área endêmica, alguns indivíduos, normalmente
crianças, podem apresentar a forma oligossintomática,
com sintomas discretos, de curta duração, com evolução
para cura espontânea.
a. Período inicial:
b. Período de estado:
c. Período final:
DIAGNÓSTICO
• Clínico-epidemiológico.
• Exames complementares:
• Teste rápido: detecção de anticorpos contra o antígeno
rK39;
• ELISA;
• Imunofluorescência indireta (IFI): reagente - títulos de
anticorpos a partir da diluição 1:80;
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
• Droga de escolha: Antimonial pentavalente.
• Alternativas: Anfotericina B Desoxicolato e Lipossomal.
• Antimonial Pentavalente (GLUCANTIME®):
• Droga de escolha nas Leishmanioses.
• Dose recomendada: 20 mg de Sb+5/kg/dia, EV ou IM, por
30 dias (máximo de 3 ampolas/dia).
• Anfotericina B Lipossomal:
• Droga alternativa ao Antimonial pentavalente
preferencial (menor toxicidade).
a. CRITÉRIOS DE CURA:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente, 20 anos de idade, sexo feminino,
negra, natural e procedente de Porteirinha-MG, reside em área
urbana da cidade. Deu entrada no setor de emergência do
hospital apresentando febre de 39ºC persistente há 1 mês, sem
outras queixas.
b. Exame físico: regular estado geral, prostrada, hipocorada
3 + /4, hidratada. Sinais vitais: FR: 28 irpm, FC: 136 bpm, Tax:
38,3ºC. Abdome globoso, ruídos hidroaéreos positivos, indolor à
palpação superficial e profunda, à palpação macicez difusa,
esplenomegalia a 8 cm do rebordo costal esquerdo, sem sinal
de irritação peritoneal, hepatomegalia a 6 cm do rebordo costal
direito.
REFERÊNCIAS
1. Alvar J, Vélez ID, Bern C, Herrero M, Desjeux P, Cano J, et al. Leishmaniasis
Worldwide And Global Estimates Of Its Incidence. Plos One. 2012; 7(5): E35671.
2. Araujo AC, Gonçalves NNVM, Dantas-Torres F, Ferreira F, Horta MC. Visceral
Leishmaniasis In Petrolina, State Of Pernambuco, Brazil, 2007-2013. Rev Inst Med
Trop São Paulo. 2016; 58: 29.
3. Aronson N, Herwaldt BL, Libman M, Pearson R, Lopez-Velez R, Weina P, et al.
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Tropical Medicine And Hygiene (ASTMH). Am J Trop Med Hyg. 2017; 96(1): 24-45.
4. Botelho ACA; Natal D. First Epidemiological Description Of Visceral Leishmaniasis
In Campo Grande, State Of Mato Grosso do Sul. Revi Soc Bras Med Trop. 2009;
42(5): 503-8.
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de vigilância epidemiológica. Brasília: Ministério da
Saúde; 2009.
. Ministério da Saúde (BR). Manual de vigilância e controle da Leishmaniose
visceral. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
7. Ministério da Saúde (BR). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso.
Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
. Fu Q, Li S, Wu W, Hou Y, Zhang S, Feng Y, et al. Endemic Characteristics Of Infantile
Visceral Leishmaniasis In The People’s Republic Of Chi¬na. Parasites & Vectors,
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9. Maciel DB, Silva TA, Gomes LI, de Oliveira E, Tibúrcio MG, de Oliveira RF, et al.
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Living In A Visceral Leishmaniasis-endemic Area In Brazil. Am J Trop Med Hyg.
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Expert Committee On The Control Of Leishmaniases. In: WHO. Control Of The
Leishmaniases: Report Of A Meeting Of The Who Expert Committee On The
Control Of Leishmaniases. Genebra: World Health Organization; 2010.
4.9
MENINGITE
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Processo inflamatório/infeccioso que acomete as
meninges.
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
a. Bacteriana:
• Neisseria meningitidis.
• Streptococcus pneumoniae.
• Haemophilus influenzae.
• Outros: Mycobacterium tuberculosis, Listeria
monocytogenes, Staphylococcus aureus.
b. Viral:
QUADRO CLÍNICO
• Febre de início súbito, cefaleia, prostração, náuseas,
vômitos, hiporexia, mialgia, agitação, fotofobia.
• Exame físico:
• Rigidez de nuca;
• Sinais de irritação meníngea: Sinal de Kernig e Sinal de
Brudzinski.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Cultura (padrão-ouro) – líquido cefalorraquidiano (LCR),
sangue, raspado de lesões petequiais ou fezes.
b. Reação em cadeia da polimerase (PCR) – LCR, soro,
sangue total.
c. Aglutinação pelo látex – LCR e soro.
d. Contraimunoeletroforese (CIE) – LCR e soro.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
• A análise laboratorial do líquor é uma importante
ferramenta diagnóstica de patologias neurológicas. Os
achados encontrados no LCR permitem o diagnóstico e
indicam a etiologia envolvida (ver tabela 1).
MENINGITE Meningite Meningite
LCR Referência
BACTERIANA viral fúngica/tuberculosa
Branca-leitosa ou
Incolor ou
Cor ligeiramente Incolor Incolor, cristalino
xantocrômica
xantocrômica
Acima de
200 a milhares
Leucócitos
(neutrófilos)
5 a 500 (linfócitos) 10 céls/mm³ 0 a 4 céls/mm 3
(linfócitos)
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
• Hospitalização dos casos suspeitos.
• Precaução respiratória para gotículas durante as primeiras
24 horas de antibioticoterapia.
a. MENINGITE BACTERIANA
Agente Intervalo Duração Via de
Antibiótico Dose
etiológico (horas) (dias) administração
Ceftriaxone 2g 12 em 12 Endovenosa
Neisseria meningitidis 7 a 10
Streptococcus
10 a 14
pneumoniae
Haemophilus 7 a 10
influenzae
Enterobactérias 10 a 14
Pseudomonas Meropenem 14 a 21
Ampicilina
Listeria 200 a 400
+ 4a6 21 Endovenosa
monocytogenes mg/kg/dia
Ceftriaxone
MSSA (Staphylococcus
aureus meticilina Oxacilina 2g 4 em 4 21 Endovenosa
sensível)
MRSA (Staphylococcus
aureus meticilina Vancomicina 1g 12 em 12 21 Endovenosa
resistente)
c. MENINGITE FÚNGICA
d. QUIMIOPROFILAXIA
e. VACINAÇÃO
• Principal medida preventiva.
• Vacina meningocócica C (conjugada): crianças < 5 anos.
• Vacina meningocócica conjugada quadrivalente (ACWY):
protege contra quatro sorotipos de meningococo (A, C, W e
Y), para crianças a partir de 2 meses e adolescentes de 11
e 12 anos de idade.
f. VACINAÇÃO DE BLOQUEIO
• Indicada para população exposta, quando há a confirmação
de um surto de doença meningocócica causada pelo
sorogrupo C (ocorrência de três ou mais casos confirmados
laboratorialmente, na mesma área geográfica, que não
sejam comunicantes entre si).
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, sexo masculino, 23 anos, refere
febre não aferida há três dias, associada à cefaleia
holocraniana intensa, náuseas, vômitos, astenia e prostração.
Refere piora do quadro há um dia. Nega demais queixas. Nega
doenças preexistentes, alergias e uso de medicamentos. Nega
tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas.
b. Exame físico: REG, consciente, orientado, hipocorado,
hidratado, febril (38,5º C), FC: 110 bpm, PA: 110/70 mmHg.
Ausculta pulmonar sem alterações, FR: 36 irpm. Presença de
rigidez de nuca. Sinais meníngeos presentes. Pupilas isocóricas
e fotorreagentes, ausência de déficits motores. Realizada
punção lombar.
c. Exames complementares: Análise do LCR: aspecto turvo,
proteínas 120 mg/dL; glicose 35 mg/dL; leucócitos 500/mm3
(linfócitos 28%; monócitos 2% e neutrófilos 70%).
REFERÊNCIAS
1. Lopes AC. Clínica médica: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu; 2013.
2. Minas Gerais. Secretaria de Estado da Saúde: Protocolo de Vigilância
Epidemiológica de Meningites. Minas Gerais: Secretaria de Estado da Saúde;
2013.
3. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da
Saúde; 2016.
4. Ministério da Saúde (BR). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed.
Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. ed. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
. Ministério da Saúde (BR). Meningite – vacinação. Brasília: Ministério da Saúde;
2014.
7. Secretaria de Estado de São Paulo - Divisão de Doenças de Transmissão
Respiratória, do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”,
Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo e Instituto Adolfo Lutz (Laboratório de Vírus Entéricos). Meningites Virais.
Rev Saúde Pública. 2006; 40(1): 65-70.
4.10
HANSENÍASE
Autores:
Isaias Nery Ferreira
Gabrielly Borges Machado
INTRODUÇÃO
A doença hansênica tem evolução lenta e se manifesta,
essencialmente, através de sinais e sintomas dermatoneurológicos,
como as lesões de pele e de nervos periféricos, acometendo
principalmente olhos, mãos e pés nos quais o paciente apresenta um
ou mais dos seguintes sinais cardinais: (ALVES, 2014; BRASIL, 2016).
CLASSIFICAÇÕES
1. Classificação clínica e operacional
Forma Classificação
Clínica Baciloscopia
clínica operacional
Forma Classificação
Clínica Baciloscopia
clínica operacional
TRATAMENTO
No esquema terapêutico padrão, os medicamentos são
fornecidos em cartelas individuais, que contem a dose mensal
supervisionada e as doses diárias auto administradas, existindo
cartelas para PB e MB, adulto e infantil, com as seguintes
apresentações:
3. Esquemas terapêuticos
O tratamento é ambulatorial, utilizando esquemas terapêuticos
padronizados, de acordo com a classificação operacional.
Esquema terapêutico para casos paucibacilares – 6 cartelas
Rifampicina (RFM): dose mensal de 600 mg (2 cásulas de 300 mg) com administração
supervisionada.
ADULTO
Dapsona (DDS): dose mensal de 100 mg supervisionada e dose diária de 100 mg
autoadministrada.
Rifampicina (RFM): dose mensal de 450 mg (1 cápsula de 150 mg e 1 cápsula de 300 mg)
com administração supervisionada.
CRIANÇA
Dapsona (DDS): dose mensal de 50 mg supervisionada e dose diária de 50 mg
autoadministrada.
Rifampicina (RFM): dose mensal de 450 mg (1 cápsula de 150 mg e 1 cápsula de 300 mg)
com administração supervisionada.
Mensal 1-2
DAPSONA (DDS)
Diária 1-2
TERAPÊUTICA PARA CRIANÇAS MENORES DE 30 KG
Mensal 5,0
CLOFAZIMINA (CFZ)
Diária 1,0
Obs: Os episódios de intolerância ou paraefeito dos medicamentos, encaminhar o paciente para centros de
referência para mudança do esquema terapêutico.
4. Reações Hansênicas
Os episódios ou surtos reacionais são episódios inflamatórios
agudos, de origem imunológica que ocorrem previamente, ao longo
ou após o tratamento. Exigem cuidado e tratamento imediato para
evitar a instalação de incapacidade e deformidade. Os surtos
reacionais podem ser do tipo 1 (reação reversa) e do tipo 2.
4.1. REAÇÃO TIPO 1 – (ou reação reversa)
As lesões cutâneas antigas ficam mais eritematosas,
edematosas e dolorosas, e podem surgir lesões novas.
a. Reação Tipo 1
Iniciar prednisona utilizando a dosagem de 1 mg/Kg/dia ou
dexametasona 0,15 mg/Kg/dia em casos de doentes hipertensos ou
cardiopatas, conforme avaliação clínica.
Manter a poliquimioterapia se o doente ainda estiver em
tratamento específico, não reintroduzi-la em situação de alta.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Tratamento dos Episódios Reacionais
Fonte: Alves, E.D.; Ferreira, i.n.; ferreira, t. l. hanseníase: avanços e
desafios,2014.
Muitos nervos podem ser rapidamente Poucos nervos podem ser envolvidos,
Comprometimento neural envolvidos ocorrendo dor e alterações com alterações sensitivo-motoras de
sensitivo-motoras. evolução mais lenta.
Resposta a
medicamentos Excelente. Não pronunciada.
antirreacionais
4.4. CONTATOS:
Contatos familiares recentes ou antigos de pacientes MB e PB
devem ser examinados, independentemente do tempo de convívio.
Tanto os contatos familiares bem como os sociais (indivíduos que
convivam ou tenham convivido em relações familiares ou não, de
forma próxima e prolongada) devem ser avaliados durante cinco
anos.
A vacina BCG-ID deve ser administrada nos contactantes
examinados sem presença de sinais e sintomas de hanseníase no
momento da avaliação, independente da classificação operacional
do caso índice. (MINAS GERAIS, 2016). Após analisar o histórico de
vacinação pregressa, siga as recomendações:
Esquema de Vacinação de contatos com o BCG
REFERÊNCIAS
1. Alves, E.D.; Ferreira, i.n.; ferreira, t. l. hanseníase: avanços e desafios.
ceam/nespron-unb, 2014.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para Vigilância, atenção e eliminação da
hanseníase como problema de saúde pública. Brasília, 2016.
3. _____. Ministério da Saúde. Portaria GM?MS nº 3.125, de 07 de outubro de 2010.
Aprova as Diretrizes para Vigilância, Atenção e Controle da Hanseníase. Brasília,
2010.
4. MINAS GERAIS. Secretaria Estadual de Saúde. Atenção à Saúde do Adulto:
Hanseníase. Belo
Horizonte, 20016.
4.11
ROTINA APÓS EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL COM MATERIAL
BIOLÓGICO
Autores:
Gabrielly Borges Machado
Isabela Rodrigues de Oliveira
DEFINIÇÕES
• O risco de transmissão de agentes infecciosos após
exposições a materiais biológicos é variável.
a. MEDIDAS INICIAIS
• SEGUIMENTO LABORATORIAL:
• Testagem de HIV no 1º atendimento, 30 e 90 dias após a
exposição.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 36 anos, sexo feminino, parda,
casada, profissional técnica de enfermagem, com esquema
vacinal completo para Hepatite B (1 série de 3 doses) e pesquisa
de anticorpos anti-HBs menor que 10 IU/mL, refere acidente
com material perfurocortante durante o trabalho, há 1 hora.
b. Exames complementares: Os dados sorológicos do
paciente-fonte eram HBsAg e Anti-HBC IgG reagentes. Diante da
exposição ao HBV em profissional não imune, foi indicada a
profilaxia com a Imunoglobulina hiperimune e a 1ª dose do novo
esquema vacinal. Peso: 75 kg.
c. Prescrição:
REFERÊNCIAS
1. Cardo DM, Culver DH, Ciesielski CA, Srivastava PU, Marcus R, Abiteboul D, et al. A
Case-Control Study Of HIV Seroconversion In Health Care Workers After
Percutaneous Exposure. N Engl J Med. 1997; 337: 1485-90.
2. Panlilio AL, Cardo DM, Grohskopf LA, Heneine W, Ross CS. Updated U.S. Public
Health Service Guidelines For The Management Of Occupational Exposures To HBV,
HCV, And HIV And Recommendations For Postexposure Prophylaxis. MMWR. 2001;
50(RR-11): 1-52.
3. Ministério da Saúde (BR). Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos
Especiais. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Diário Oficial da
União.
5. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia
pós-exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília:
Ministério da Saúde; 2018.
. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para atendimento e acompanhamento
de exposição ocupacional a material biológico: HIV e hepatites virais. Brasília:
Ministério da Saúde; 2004.
7. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para terapia ARV em adultos e
adolescentes. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.
. Ministério da Saúde (BR). Exposição a Materiais Biológicos. Saúde do
Trabalhador/Protocolos de Complexidade Diferenciada 3. Brasília: Ministério da
Saúde; 2011.
9. Ministério da Saúde do Brasil (BR). Recomendações para terapia antirretroviral em
adultos e adolescentes infectados pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
4.12
ACIDENTES POR ANIMAIS
PEÇONHENTOS
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Animais peçonhentos são animais que possuem estruturas
especializadas (dentes, ferrões) capazes de inocular seus
venenos, como cobras, escorpiões, aranhas, abelhas,
lagartas, entre outros. Os acidentes ofídicos,
escorpionismo, araneísmo e os acidentes com lagartas são
os acidentes mais comuns na prática médica, capazes de
desencadear quadros moderados a graves. Têm
importância médica significativa devido à sua grande
frequência e gravidade.
a. ACIDENTE BOTRÓPICO:
c. ACIDENTE LAQUÉTICO:
d. ACIDENTE ELAPÍDICO:
TRATAMENTO
O tratamento consiste na administração imediata de soroterapia
de acordo com o tipo e a gravidade do acidente (ver tabela 1):
No de
Acidente Antiveneno Gravidade
ampolas
No de
Acidente Antiveneno Gravidade
ampolas
SAC (Soro
anticrotálico) ou Moderado: alterações neuroparalíticas evidentes, mialgia
SABC (Soro 10
CROTÁLICO e mioglobinúria discretas.
antibotrópico
e anticrotálico)
SAEla (Soro
Considerar todos os casos como graves pelo risco
ELAPÍDICO antielapídico 10
de insuficiência respiratória.
bivalente)
ESCORPIONISMO
• Manifestações locais e sistêmicas: decorrentes da ação de
toxinas presentes no veneno, que atuam nas terminações
nervosas pós-ganglionares.
ARANEÍSMO
• Envenenamento causado por toxinas presentes no veneno
de aranhas peçonhentas, desencadeando alterações locais
e sistêmicas.
a. Loxoscelismo
b. Foneutrismo
• Quadro clínico indistinguível do escorpionismo.
• Manifestações locais (predominantes): dor imediata e
intensa, associada a edema, sudorese no local e parestesia
ao longo do membro.
c. Latrodectismo
• TRATAMENTO:
• O tratamento consiste em soroterapia intravenosa
específica, com base no tipo e gravidade do acidente (ver
tabela 3).
Soro No de
Acidente Gravidade
antiaracnídico ampolas
Leve: dor local, edema, eritema, sudorese. -
2a4
SAA: Soro Moderado: dor local intensa, sudorese, vômitos
antiaracnídico ocasionais, agitação psicomotora, hipertensão
FONÊUTRICO
(Phoneutria, Loxosceles arterial.
e Tityus)
Grave: sudorese profusa, sialorreia, vômitos 5 a 10
profusos, priapismo, choque, EAP.
• Latrodectismo:
• Diazepan 5 a 10 mg para adultos, intravenoso, de 4 em 4
horas; Gluconato de cálcio 10% de 10 a 20 mL para
adultos, intravenoso lentamente, de 4 em 4 horas; ou
Clorpromazina: 25 a 50 mg para adultos, intravenoso, de
8 em 8 horas, se necessário.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente, 45 anos, masculino, trabalhador
rural, previamente hígido, procura pronto-atendimento referindo
acidente ofídico causado por jararaca, em membro inferior
direito, há cerca de seis horas. Refere dor intensa no local da
mordedura, associada a eritema, edema intenso e calor local.
Relata progressão do edema e surgimento de equimose local.
Refere ainda gengivorragia discreta. Nega demais queixas.
Diurese preservada. Nega doenças de base, uso de
medicamentos e alergias. Refere tabagismo e etilismo.
b. Exame físico: BEG, afebril, hidratado, FC: 80 bpm, PA:
120/80 mmHg, FR: 20 irpm, ausculta pulmonar e cardíaca sem
alterações. Presença de dois orifícios de inoculação em
membro inferior direito, associados a edema local importante
com extensão para todo o membro, calor e hiperemia, além de
equimose. Ausência de síndrome compartimental e abscesso.
Gengivorragia discreta.
c. Exames laboratoriais: Tempo de Coagulação: 8 minutos
(normal: até 9 min, prolongado: de 10 a 30 min; incoagulável: >
30 min). Hemoglobina: 14; leucócitos: 14.000 com neutrofilia e
desvio à esquerda; plaquetas: 170.000; ureia: 40; creatinina: 0,9.
1. Dieta branda.
2. Soro antibotrópico 8 ampolas IV sem diluição, durante
trinta minutos.
3. Dipirona: 2 mL + água destilada 8 mL, EV até de 6/6 h se
dor ou Tax ≥ 37,8 °C.
4. Metoclopramida: 10 mg 2 mL + água destilada 8 mL, EV,
até de 8/8 h, se náuseas ou vômitos.
5. Monitorização.
6. Manter membro elevado e estendido.
7. Notificação do acidente botrópico ao SINAM.
8. Cuidados gerais e sinais vitais.
9. Observação mínima de 6 a 12 horas.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Recomenda-se a observação mínima de 6 a 12 horas em
todos os casos de acidentes por animais peçonhentos.
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Manual de Controle de Escorpiões. Brasília: Ministério
da Saúde; 2009.
2. Cardoso JLC. Animais Peçonhentos no Brasil: Biologia, Clínica e Terapêutica dos
Acidentes. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 2009.
3. Fundação Nacional de Saúde (BR). Manual de Diagnóstico e Tratamento de
Acidentes por Animais Peçonhentos. 2. ed. Brasília: FUNASA; 2001.
4. Ministério da Saúde (BR). Situação Epidemiológica das Zoonoses de interesse
para a Saúde Pública. Boletim Eletrônico Epidemiológico. 2010;10(2).
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da
Saúde; 2016.
4.13
COVID-19
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Trata-se de uma nova infecção respiratória, de evolução
aguda, causada pelo novo coronavírus – coronavírus da
Síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), que
acomete o trato respiratório, potencialmente grave e fatal,
apresentando elevada transmissibilidade.
• Imunossupressão;
• Doenças renais crônicas em estágio avançado;
• Diabetes mellitus;
• Neoplasia maligna;
• Doenças hematológicas (incluindo anemia falciforme e
talassemia);
• Gestação.
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
• SARS-CoV-2 é um betacoronavírus descoberto em
secreções respiratórias de pacientes com pneumonia de
causa desconhecida na cidade de Wuhan, província de
Hubei, China, em dezembro de 2019.
a. TRANSMISSÃO:
• A suscetibilidade é geral.
• Com relação à imunidade, não se sabe ainda se a infecção
é capaz de gerar imunidade permanente contra novas
infecções.
QUADRO CLÍNICO
• Pode variar de quadros assintomáticos e manifestações
clínicas leves até quadros graves, com insuficiência
respiratória, choque e disfunção de múltiplos órgãos.
a. CASOS SUSPEITOS:
b. CASOS CONFIRMADOS:
DIAGNÓSTICO
a. CLÍNICO: quadro de Síndrome gripal (SG) ou SRAG.
b. LABORATORIAL:
• Teste molecular:
• RT-PCR em tempo real (RT-qPCR) em amostras do trato
respiratório obtidas por meio de swab de nasofaringe e
orofaringe, coletadas até o 8º dia após o início dos
sintomas; de preferência, entre o 3º e o 7º dia.
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
• Não há, até o momento, tratamento antiviral específico.
• O tratamento baseia-se em medidas de suporte clínico, de
acordo com a gravidade do caso.
a. CASOS LEVES:
• Sintomáticos.
• Monitoramento a cada 24 a 48 horas, por 14 dias.
• Contatos domiciliares de paciente com SG: devem realizar
as medidas de distanciamento social por 14 dias.
b. CASOS MODERADOS:
• Suporte ventilatório:
• Oxigenoterapia suplementar imediata a pacientes com
dificuldade respiratória, hipoxemia ou choque para SpO2 >
93%: cateter nasal até 5 L/min ou máscara de
reservatório não reinalante (10-15 L/min).
• Oseltamivir empírico:
• Todos os casos de SRAG até resultado de PCR para
Covid-19 ou em casos confirmados de Influenza;
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Transmission of SARS-CoV-2: implications for
infection prevention precautions. World Health Organization. [Internet]; 2020.
[acesso em 05/09/2020]. Disponível em: https://www.who.int/news-
room/commentaries/detail/transmission-of-sars-cov-2-implications-for-infection-
prevention-precautions.
2. World Health Organization. Clinical management of COVID-19: interim guidance.
World Health Organization. [Internet]; 2020. [acesso em 05/09/2020]. Disponível
em: https://www.who.int/publications/i/item/clinical-management-of-covid-19.
3. Colégio Brasileiro De Radiologia (CBR). Recomendações de uso de métodos de
imagem para pacientes suspeitos de infecção pelo COVID-19. São Paulo: CBR;
2020.
4. Centers for Disease Control and Prevention. People with certain medical
conditions. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Centers for Disease Control
and Prevention. [Internet]; 2020. [acesso em 06/09/2020]. Disponível em:
https://www.cdc.gov/coronavirus/2019.
5. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância
Epidemiológica. Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pela
Doença pelo Coronavírus 2019. Vigilância de Síndromes Respiratórias Agudas -
COVID-19. Brasília/DF: Ministério da Saúde; 2020.
. Associação De Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Orientações sobre o
manuseio do paciente com pneumonia e insuficiência respiratória devido a
infecção pelo Coronavírus (SARS-CoV-2). Versão n. 3, 2020. São Paulo; AMIB;
2020.
7. Ministério da Saúde (BR). Orientações para manejo de pacientes com COVID-19.
Disponível em:
https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/18/Covid19-Orientac--
o--esManejoPacientes.pdf. Brasília/DF: Ministério da Saúde; 2020.
5.1
CÓLICA NEFRÉTICA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Patrícia Vas Tostes Mendes
DEFINIÇÕES
A cólica renal aguda ou cólica nefrética é um sintoma que cursa
com dor intensa, sendo uma das principais procuras por atendimento
médico em pronto-socorro. Refere-se a um conjunto de sintomas que
podem ter origem em patologias intrínsecas ou extrínsecas, do foro
urogenital ou ginecológico, havendo a necessidade de descartar
estas hipóteses durante a investigação de um doente com a clínica
referida.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A grande maioria dos casos (90%) de cólica renal ocorre
devido a cálculos urinários, causando obstrução ureteral
(litíase urinária obstrutiva). A dor é provocada pelo espasmo
do ureter ao tentar vencer o obstáculo obstrutivo, originando
distensão uretérica, pielocalicial e da cápsula renal.
QUADRO CLÍNICO
• Dor lombar intensa, de início súbito, sem posição ou
movimento atenuante, com irradiação dependendo da
localização do cálculo renal:
b. Urina tipo I:
• Hematúria;
• Cristais no sedimento.
c. Urocultura: quando houver indicação para afastar quadro
infeccioso.
• Alta sensibilidade.
• Não usa contraste.
• Permite a visualização de cálculos de ácido úrico.
• Detecta cálculos com diâmetros < 1 mm.
• Evidencia cálculo ureteral ou sua passagem recente.
Tanto a leucocitose quanto a leucocitúria podem estar presentes,
mas não são patognomônicos de infecção do trato urinário. Essas
alterações podem ocorrer devido ao processo inflamatório
provocado pelo fator obstrutivo; portanto, sempre devem ser
correlacionadas com os achados clínicos para não se prescrever
antibiótico indiscriminadamente.
Evitar solicitação de exames com contraste na crise aguda, como,
por exemplo, a urografia excretora.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico de cólica nefrética é clínico (anamnese e exame
físico), seguido de exames complementares descrito a seguir.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Aumentar a ingesta de alimentos ricos em potássio e frutas
cítricas.
• CRISE AGUDA:
• Analgesia é prioridade para o controle da dor. Usam-se
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e opioides. A
vantagem dos AINEs é que eles diminuem o tônus do
músculo.
• Hidratação com cautela: apenas repor perdas hídricas
diárias devido ao risco de hidronefrose.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente A. M. C., sexo masculino, 38 anos, dá
entrada no Pronto-Socorro com dor intensa em região lombar à
esquerda há 5 horas, de início súbito e irradiação para flanco
esquerdo, sem fator atenuante ou agravante, com piora há 2
horas, associada com hematúria, náuseas e vômitos, porém
sem disúria e febre. Paciente com história prévia de nefrolitíase,
com último episódio de cólica nefrética com eliminação de um
cálculo renal há 3 anos.
b. Exames físicos:
d. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Em pacientes com cálculos ureterais < 10 mm, algumas
literaturas consideram < que 7mm (sem a indicação de
remoção ativa), a simples observação com avaliações
periódicas é uma opção de tratamento inicial.
REFERÊNCIAS
1. Heilberg IP, Schor N, Santos DR, Cheidde L, Noronha I, Duarte RJ. Diretrizes de
litíase urinária da sociedade brasileira de nefrologia. J Bras Nefrol. 2002; 24: 2003-
7.
2. Teixeira JCG. Unidade de emergência: condutas em medicina de urgência. 2. ed.
São Paulo: Atheneu; 2011.
3. Curhan GC. Nefrolitíase. Cecil Medicina Interna. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier;
2014.
4. Lindkvist K, Hellstrom M, Holmberg G, Peeker R, GrenaboL. Immediate versus
deferred radiological investigation after acute renal colic: a randomized prospective
study. Scand J Urol Nephrol. 2006; 40(2): 119-24.
5. Holdgate A, Pollock T. Systematic review of the relative efficacy of non-steroidal
anti-inflammatory drugs and opioids in the treatment of acute renal colic. BMJ.
2004; 328(7453): 1401.
. Türk C, Knoll T, Petrik A, Sarica K, Seitz C, Straub M. Diretrizes para urolitíase.
Sociedade Brasileira de Urologia. Última atualização: Fevereiro de 2012.
5.2
INJÚRIA RENAL AGUDA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Lucas Augusto Cecílio Chagas da Silva
DEFINIÇÕES
• Injúria renal aguda (IRA) é caracterizada por uma queda
abrupta, pelo menos em parte, e de curso reversível do
Ritmo de Filtração Glomerular (RFG), que, à luz da
fisiopatologia, ocasiona a retenção sérica de escórias do
metabolismo nitrogenado pelos rins, sendo os mais
conhecidos a ureia e a creatinina. Essas alterações cursam
com a desregulação do volume extra/intracelular e
consequentes distúrbios eletrolíticos. Tais alterações, por
meio de vários critérios que têm sido adaptados e
unificados, ajudarão na conduta médica para o adequado
manejo da injúria, segundo quaisquer etiologias.
• Classificação clínica
I. anúrica total: 0 a 20 mL/dia
II. anúrica: 20 a 100 mL/dia
III. oligúrica: 101 a 400 mL/dia
IV. não oligúrica: 401 a 1200 mL/dia
V. poliúrica: 1201 a 4000 mL/dia
VI. hiperpoliúrica: > 4000 mL/dia
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Sepses.
• Choque circulatório.
• Queimaduras.
• Cirurgia de grande porte (não cardíacas).
• Contrastes radiopacos iodados.
• Desidratação.
• Idade avançada.
• Sexo feminino.
• Raça negra.
• Diabetes mellitus.
Foi tradicionalmente dividida em três grandes grupos por didática
(a priori), pois a abordagem deve ser hermética para que não se
negligenciem outras causas múltiplas que podem se sobrepor à
causa de base, não necessariamente do mesmo grupo:
a. IRA pré-renal:
b. IRA renal/intrínseca:
c. IRA pós-renal:
EXAME FÍSICO
• Sinais e sintomas da IRA dependem da causa e do grau de
comprometimento da função renal, sendo frequentemente
inespecíficos e mascarados pela doença de base. A
observação de sinais de hipovolemia e hipotensão arterial
ou sinais de obstrução do trato urinário auxiliam o
diagnóstico diferencial de IRA pré ou pós-renal. Deve-se
procurar sinais associados com a etiologia e complicações
da IRA.
A presença de livedo reticular e microinfartos digitais podem
sugerir doença renal ateroembólica. Pacientes com dispneia,
ortopneia, edema, turgência jugular e estertoração pulmonar podem
estar hipervolêmicos, enquanto aqueles com fraqueza muscular ou
paralisia ascendente podem estar com Hiperpotassemia.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Ureia e creatinina séricas: estão sempre aumentados na
IRA.
Hipercalcemia Neoplasia
f. Exames de imagem
Têm sua valia na busca de causas-base para a IRA. Podem ajudar
a topografar, tanto a nível anatômico quando histológico, qualitativa
e quantitativamente, as alterações parenquimatosas, o que é
fundamental na diferenciação de IRA e Doença Renal Crônica (há
tempos chamada de insuficiência renal crônica [IRC]).
• Ultrassonografia: exame inicial de escolha. Deve ser
realizada em TODOS os pacientes com IRA de causa
indeterminada.
DIAGNÓSTICO DE IRA
• História clínica compatível.
• Queda do débito urinário.
• Aumento de ureia e creatinina.
• Avaliando estes dados podemos nos guiar pelo fluxograma
1 apresentado a seguir;
TRATAMENTO
Idealmente dever-se-ia prevenir a vigência da IRA. Na sua
instalação, o cerne do tratamento é basicamente de suporte,
reservando-se a Terapia Renal Substitutiva (TRS) para casos
particulares com lesão renal grave. Realizar a terapia de suporte
requer conhecimento prévio das principais complicações e as
indicações francas de TRS.
• Hipercalemia (K +
PLASMA > 6,5 mEq/L) refratária ou de rápido
aumento.
• Hipercalemia:
• Restrição de potássio (ajustes na dieta do paciente).
• Solução polarizante.
• Inalação com ß-2-adrenérgico (Berotec®, por exemplo).
• Resinas de troca (Sorcal®, por exemplo).
• Gluconato de cálcio (pela instabilidade elétrica do
miocárdio).
• Hiperfosfatemia:
• Restrição dietética (< 800 mg/dia).
• Hidróxido de alumínio via oral.
• Carbonato de cálcio via oral/intravenosa.
• Hiperuricemia:
• Costuma necessitar de terapia apenas na Síndrome da
Lise Tumoral.
• Acidose metabólica:
• Manter BIC > 15 mEq/L e pH > 7,2.
• Diálise (se pH < 7,1, como já indicado).
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Abordagem sindrômica na IRA.
Fonte: adaptado de Yu et al, 2007
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 56 anos,
tabagista crônico (1 maço/dia por 36 anos), sedentário, com
diagnósticos prévios de diabetes mellitus tipo II e hipertensão
arterial sistêmica, dislipidemia, síndrome metabólica e
espondiloartrose, todas em tratamento (metformina 850 mg VO
8/8h, glibenclamida 5 mg VO 12/12h, losartana potássica 50 mg
VO 12/12h, atenolol 25 mg VO 12/12h, captopril 25 mg VO 8/8h,
sinvastatina 40 mg VO/noite e, eventualmente, AINEs para
crises aguda de espondiloalgia, respectivamente), necessitou,
segundo indicação do seu médico cardiologista, da realização de
cateterismo pelo elevado risco cardiovascular, dedutível pelas
próprias morbidades citadas acima.
b. Exames físicos:
• Antes do procedimento eletivo, os sinais vitais estavam
estáveis e o paciente não apresentava quaisquer sintomas. Fora
realizado o exame sem intercorrências. Dezesseis horas após o
procedimento e direta transferência para leito em unidade de
terapia intensiva, o paciente começou a se queixar de mal-estar.
Uma vez suspeitada injúria renal aguda por contraste iodado, o
médico intensivista prontamente solicitou exames laboratoriais
pertinentes.
c. Exames laboratoriais: CreatininaPLASMA: 3,0 mg/dL;
UreiaPLASMA: 57 mg/dL; Sedimentoscopia urinária: cilindros
granulosos e debris; FENA: 1,9%; OsmU: 180 mOsm/Kg; Relação
sérica (U/Cr) = 19; NIBP (non-invasive blood-pressure): 110/60
mmHg; Na+PLASMA: 140 mEq/L; K+PLASMA: 5.9 mEq/L. Diurese média
calculada pelo volume em bolsa SVD: 450 mL/dia; pHA: 7,25; ECG
12dN: espículas em ondas T.
d. Prescrição Sugerida:
• SE HIPERCALEMIA:
1. SG10% – 250 ml + 5 UI de insulina regular IV em 30 minutos
(repetir, à critério médico).
2. Polietilenossulfonato de cálcio (Sorcal®) – 1 envelope:
diluir em 200 ml de água (VO) 8/8h até segunda ordem.
3. SF0,9% – 10 mL + Fenoterol (Berotec®) – 10 gotas:
nebulização por 15 minutos.
4. Bicarbonato de sódio: 1 mEq/kg de peso IV, lento até cada 4
horas (corrigindo acidose e hipercalemia).
5. Gluconato de cálcio 10% – 1 amp (EV) lenta à critério
médico.
• SINTOMÁTICOS:
1. Dipirona 1 ampola + AD 10 mL (EV) se dor ou febre.
2. Metoclopramida 1 ampola + AD 10 mL (EV) 8/8h se
náuseas e/ou vômitos.
3. Ranitidina 1 ampola (EV)/dia.
4. Oxigênio por cateter nasal a 3 L/min se SaO2 < 94%.
5. Monitorização cardíaca contínua.
6. Oximetria de pulso.
7. ECG 12 derivações 1/1h até segunda ordem.
8. PA não invasiva (NIBP).
9. Cuidados gerais 1/1h e comunicar anormalidades e
monitorar diurese.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Assegure-se de que o volume intravascular esteja
expandido. Mantenha pressão arterial média acima de 80
mmHg, hematócrito acima de 30% e oxigenação tecidual
adequada.
REFERÊNCIAS
1. Bellomo R, Ronco C, Kellum JA, Mehta RL, Palevsky P; Acute Dialysis Quality
Initiative workgroup. Acute Dialysis Quality Initiative workgroup. Acute renal failure
- definition, outcome measures, animal models, fluid therapy and information
technology needs: the Second International Consensus Conference of the Acute
Dialysis Quality Initiative (ADQI) Group. Crit care. 2004; 8(4): R204-12.
2. Eknoyan G. Tubulointerstitial diseases and toxic nephropathies. In: Goldman L,
Ausiello D. Cecil textbook of medicine. 22. ed. Filadélfia: Saunders; 2004.
3. Yu L, Santos BFC dos, Burdmann E de A, Suassuna JHR, Batista PBP. Insuficiência
renal aguda. Braz J Nephrol 2007; 29 (Suppl 1).
4. Kellum JA, Ronco C, Mehta R, Bellomo R. Consensus development in acute renal
failure: the acute dialysis quality initiative. Curr opin crit care. 2005; 11(6): 527-32.
5. Lameire N, Van Biesen W, VanHolder R. Acute renal failure. Lancet. 2005: 365(9457):
417-30.
6. Palevsky PM. Definition of acute kidney injury (acute renal failure). UpToDate.
Literature review current through: Jul 2020. | This topic last updated: May 26, 2020.
7. Pinto LMO, Martins HS. Insuficiência renal aguda e emergências dialíticas. In:
Martins HS, Velasco IT. Manual de Emergências Clínicas. Barueri: Manole; 2009.
8. Sinert R, Peacock JPR. Emergency Medicine: American College of Emergency
Physicians. In: Tintinalli JE, Kelen GD, Stapczynski JS. Acute renal failure. 6. ed.
Missouri: Mosby; 2007.
9. Teixeira JCG. Distúrbios do metabolismo do potássio. Unidade de emergência:
condutas em medicina de urgência. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2011.
5.3
DISTÚRBIOS DE ÁGUA E SÓDIO
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Lucas Horta de Pádua da Silva
DEFINIÇÕES
• Nos adultos, a água corresponde a cerca 60% do peso
corporal de um homem adulto e 50% do peso de uma
mulher adulta, sendo 2/3 localizados no compartimento
intracelular e 1/3 no extracelular (divididos em
compartimentos intravascular e intersticial).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a. DISTÚRBIOS DA ÁGUA E SÓDIO
• Principais fatores de risco para os distúrbios de água e
sódio são: diarreia, vômitos, diabetes mellitus, hipocalemia,
hipercalemia, diabetes insipidus, tumores (hipotalâmico,
craniofaringioma, glioma, pinealoma ectópico), hemorragia,
trauma, inflamação neuronal, ingestão compulsiva de água,
hiper-reninemia etc.
• Fórmula da osmolaridade:
• Essa osmolaridade efetiva deve ser mantida na faixa
normal para impedir a transferência de fluidos entre o meio
intracelular e o meio extracelular. Consideramos como valor
de referência:
QUADRO CLÍNICO
• Usualmente, até a concentração de 125 mEq/L de sódio, a
hiponatremia é assintomática.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: mucosas secas, olhos encovados, perda do
turgor cutâneo.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da hiponatremia leva em consideração a
concentração de sódio sérico [Na+] que se encontra abaixo do limite
inferior da normalidade (< 135 mEq/L). Requer análise clínica do
paciente, podendo ser necessária a dosagem de osmolaridade
plasmática e urinária, sódio urinário e outros exames para direcionar
a causa do distúrbio hidroeletrolítico.
TRATAMENTO
O tratamento adequado da hiponatremia requer a consideração
de diversos fatores, como a velocidade de instalação, severidade e
sintomatologia.
a. Velocidade de Instalação:
Sabe-se que, em algumas situações em que a hiponatremia se
desenvolve em ambiente hospitalar (por exemplo, pós-operatório),
fica mais difícil determinar a duração desse distúrbio. Como após 48
horas de hiponatremia os mecanismos adaptativos descritos acima
já estão operantes, a prudência indica tratar todos de forma devagar.
Hoje a recomendação é aumentar o [Na+] em < 10 meq/L nas
primeiras 24 horas (ideal 6 a 8 meq) e < 18 meq/L nas primeiras 48
horas (evitar a destruição da bainha de mielina em neurônios
situados no sistema nervoso central, especialmente na ponte –
mielinólise pontina central).
b. Severidade:
Hiponatremias severas (< 115 meq/L) devem ser praticadas em
ambiente hospitalar, com prioridades em unidades fechadas, onde
seja necessário um controle frequente (por exemplo, de quatro em
quatro horas) da natremia, principalmente nas primeiras 24 horas de
tratamento.
c. Sintomatologia:
Deve-se basicamente à velocidade de instalação e severidade.
Hiponatremias agudas e severas costumam ter sintomas que podem
levar a crises convulsivas (edema cerebral). Com isso, o [Na+] pode
ser elevado em até 2 meq/L/hr nas primeiras duas horas, até que
aconteça uma melhora nos sintomas. Logo após, a velocidade de
correção deve ser reduzida para não ultrapassar a recomendação de
< 10 meq/L nas primeiras 24 horas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Algoritmo diagnóstico da hiponatremia.
Fonte: Adaptado de Riella MC, Pachaly MA, 2003
Fluxograma 2. Tratamento das hiponatremias.
Fonte: Adaptado de Riella MC, Pachaly MA, 2003
HIPERNATREMIA
A Hipernatremia é definida quando o sódio plasmático ultrapassa
145 mEq/L. Na hipernatremia, a transferência de água dos fluidos
intracelulares para os fluidos extracelulares provoca desidratação
celular, especialmente dos neurônios. Assim, como resultado, há
desidratação cerebral, levando ao estado de confusão mental e ao
rebaixamento da consciência, podendo causar hemorragia cerebral.
Ademais, a hipernatremia é uma das causas do estado hiperosmolar,
o qual pode também ser ocasionado por ureia, glicose e etanol.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Perda de água:
• Perdas insensíveis (respiração e sudorese).
• Hipodipsia.
• Diabetes insipidus central.
• Diabetes insipidus neurogênico.
• Perda de fluido hipotônico.
• Perdas Renais:
→ Diurese Osmótica.
→ Diuréticos de alça.
→ Fase poliúrica de NTA (necrose tubular aguda).
→ Diurese pós-obstrutiva.
→ Ingestão de etanol (poliúria aquosa transitória).
→ Furosemida.
• Perda Gastrointestinais:
→ Vômitos, sondagem nasogástrica.
→ Diarreia osmótica (gastroenterite).
→ Catárticos osmóticos.
• Perdas cutâneas.
→ Queimaduras.
→ Clima quente.
→ Exercício físico extenuante.
• Sobrecarga de Sódio:
• Administração de soluções hipertônicas de sódio.
Enemas ricos em sódio.
• Hiperaldosteronismo primário.
• Síndrome de Cushing.
• Diabetes Insipidus (DI):
• Deficiência absoluta (síntese) ou relativa (resistência
tubular) de ADH, também chamado de AVP (arginina-
vasopressina).
QUADRO CLÍNICO
• Desidratação.
• Fraqueza, sede intensa (polidipsia), confusão mental,
convulsão.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Dosagem de Na+ urinário: concentrações entre 5 e 10
mEq/L indicam concentração extracelular, enquanto
concentrações acima de > 20 mEq/L indicam ganho de sódio ou
natriurese.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• A estimativa clínica da volemia é essencial, devendo-se
sempre avaliar se o paciente encontra-se normovolêmico,
hipovolêmico (desidratado) ou com sinais de hipervolemia
(hiperidratado, hipertenso).
TRATAMENTO
• Independentemente da causa, a hipernatremia implica
sempre um déficit de água.
Salina a 0,45% 77 73
Glicose a 5% 0 40
Tabela 1. Soluções padrões para correção de hipernatremia
Fonte: Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico (2003).
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 60 kg, sexo masculino, 50 anos,
etilista crônico, com histórico de TCE por queda da própria altura
É
há 10 dias. É admitido com quadro de confusão mental e relato
de 3 crises convulsivas, sendo a última há poucos minutos.
b. Exames Físicos:
• Reposição de sódio:
• 1 a 2 mEq/h – 3 horas – (solução de ataque)
• 0,5 mEq/ h – nas próximas 21 horas, completando
reposição em 24 horas.
DICAS DO ESPECIALISTA
a. Hiponatremia
b. Hipernatremia:
REFERÊNCIAS
1. Afsari K. Central Pontine Myelinolysis. Annals Of Internal Med. 2002; 137(6): 137-
553.
2. Barbosa AP. Distúrbios Hidroeletrolíticos. J Ped. 1999; 75(2): 223-33.
3. Braganca AC, Moyses ZP, Magaldi AJ. Carbamazepine Can Induce Kidney Water
Absorption By Increasing Aquaporin 2 Expression. Nephrol Dial Transplant. 2010;
25(12): 3840-5.
4. Cesar KR. Thiazide Induces Water Absorption In The Inner Medullary Collecting Duct
Of Normal And Brattleboro Rats. Am Physiol Soc. 1999; 277: 756-60.
5. Ingelfinger JR, Sterns RH. Disorders Of Plasma Sodium — Causes, Consequences,
And Correction. N Eng J Med. 2015; 372(1) :55-65.
6. Magaldi AJ, Seguro AC. A Possible Mechanism For Severe Symptomatic
Hyponatremia During Sibutramine Therapy. Am J Kidney Dis 2008; 52(6): 1197-8.
7. Moyses ZP, Nakandakari FK, Magaldi AJ. Fluoxetine Effect On Kidney Water
Reabsorption. Nephrol Dial Transplant. 2007; 23(4): 1173-8.
8. Riella MC, Pachaly MA. Princípios De Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos. 4.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
9. Verbalis JG, Goldsmith SR, Greenberg A, Schrier RW, Sterns RH. Hyponatremia
Treatment Guidelines 2007: Expert Panel Recommendations. The Am J Med. 2007;
120(11): 1-21.
10. Vieira N. Distúrbios Do Equilíbrio Hidroeletrolítico. Medicina, Ribeirão Preto. 2003;
36(2): 325-7.
11. Katz MA. Hyperglycemia-induced Hyponatremia - Calculation Of Expected Serum
Sodium Depression. N England Journal Of Medicine. 1973 out; 289(16): 843-844
5.4
DISTÚRBIOS DO METABOLISMO
DO POTÁSSIO
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Anna Luiza Souza
DEFINIÇÕES
O potássio é um íon que está, em sua maioria, concentrado no
meio intracelular (cerca de 120 a 150 mEq/L). Sua concentração
plasmática gira em torno de 3,5 a 5 mEq/L.
HIPOCALEMIA
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As principais causas de hipocalemia:
• Perdas Renais:
• Hiperaldosteronismo (tumor, hiperplasia de adrenais,
hipovolemia ou hipoperfusão renal): a aldosterona
aumenta a secreção potássica.
• Alterações genéticas:
→ Síndrome de Bartter: manifesta-se na infância e cursa com
hipocalemia + alcalose metabólica + hiper-reninemia +
hiperaldosteronismo + hiperplasia do aparelho justa
glomerular + hipomagnesemia (essa última é mais rara).
Também resulta de anormalidades na função tubular,
primariamente no transporte de cloreto de sódio na porção
espessa da alça de Henle (ocorre, portanto, uma discreta
depleção de volume, seguida de ativação do SRAA).
Observação: hiperaldosteronismo + aumento do fluxo distal
(pelo defeito reabsortivo) = aumenta a secreção de
potássio e hidrogênio nos túbulos coletores, levando à
hipocalemia e alcalose metabólica.
→ Síndrome de Gitelman: cursa com os mesmos achados da
síndrome de Bartter, porém o defeito é no cotransportador
sódio-potássio do segmento inicial do túbulo distal.
QUADRO CLÍNICO
• Neuromusculares: fraqueza muscular, parestesias.
• Renais: concentração prejudicada, poliúria.
• Gastrintestinais: náuseas, íleo adinâmico.
• SNC: irritabilidade, letargia, coma.
• Cardíacos: arritmias tipo bigeminismo e/ou trigeminismo.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: fraqueza generalizada, torpor ou irritabilidade.
• Aparelho respiratório: hipoventilação (fraqueza da
musculatura ventilatória).
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Objetivos: Antes de fazer a reposição de potássio,
assegurar um débito urinário satisfatório. Na hipocalemia
moderada (potássio entre 2,5 e 3,0 mEq/L), a reposição
deve ser feita opor via oral. Já se a hipocalemia for grave
(potássio menor que 2,5 mEq/L), escolher a via
endovenosa.
• Via endovenosa:
• Aumenta-se a concentração de K +
nas soluções
eletrolíticas usais.
• A reposição do K +
se faz de maneira empírica. Seu
esquema usual é a reposição de 40 a 60 mEq/L por via
EV a velocidades menores do que 30 a 40 mEq/hora em
veia periférica. Em veia central, estão descritas
concentrações de até 40 mEq em 100 mL.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 53 anos, sexo masculino,
mecânico, tabagista e etilista crônico. Chega ao pronto-socorro
com relato de fraqueza muscular, diarreia aquosa volumosa,
astenia e hiporexia. Nega uso de medicamentos contínuos.
b. Exames Físicos:
1. Dieta livre.
2. Soro Fisiológico 0,9% (30 mL/kg): Corrigir o distúrbio
primário (diarreia) – tratar a desidratação.
3. Reposição de K+ 20 a 30 mEq/hora (40 mEq/hora é a
velocidade máxima).
4. (KCl 19,1% (IV): cada 1 mL tem 2,5 mEq de potássio).
5. Após a normalização do potássio, deve-se continuar a
reposição via oral por dias ou semanas:
• (KCl xarope 6%: 15 mL tem 12 mEq de potássio) – A
dose usual é de 10 a 20 mL após as refeições, 3 a 4 vezes
ao dia.
HIPERCALEMIA
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As principais causas de hipercalemia:
• Trimetoprim.
• AINEs.
• Insuficiência Adrenal:
• Diminuição do efeito da aldosterona:
→ Doença renal: prejudica a secreção de renina.
→ Disfunção adrenal + crise addisoniana: altera a liberação
de aldosterona, salientada pela depleção de sódio.
→ Resistência tubular à ação da aldosterona.
• Redistribuição:
• As acidoses promovem a entrada de íons hidrogênio em
excesso pelas células, levando a um movimento de
potássio para fora delas com o objetivo de manter a
eletroneutralidade.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: fraqueza generalizada, torpor ou irritabilidade,
adinamia.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
A história e o exame clínico são de suma importância para a
condução do diagnóstico de uma pressuposta hipercalemia, cuja
comprovação laboratorial é feita pela dosagem de potássio
plasmático e/ou urinário, além de exames complementares
direcionados às etiologias suspeitas, conforme citado
anteriormente.
TRATAMENTO
• Via Endovenosa:
• Gluconato de Cálcio 10%: dose 10 a 20 mL de início de 1
a 3 min por uma duração de 30 a 60 min. (estabilizador
da membrana celular dos cardiomiócitos – indicado em
casos de arritmia instalada).
• Via Inalatória
• Salbutamol: dose de 10 a 20 mg de início de 30 min por
uma duração de 2 h.
• Observações:
• Suspender medicamentos poupadores de potássio e
tratar a causa de base.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 82 anos, sexo feminino. Chega
ao pronto-socorro trazida por familiares com relato de
prostração há 2 dias, oligúria e febre não termometrada.
Paciente previamente hipertensa, cardiopata, diabética e ex-
tabagista. Faz uso regular de Captopril 25 mg, Espironolactona
50 mg, Metoprolol 50 mg, Insulina NPH 40 UI pela manhã.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: PA 110 x 80 mmHg, FC 121 bpm, FR 22 rpm,
febril 37,8C, desidratada +/4+, normocorada, sem edemas.
Glasgow: 14.
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta leve.
2. Soro Fisiológico 0,9% (25 a 30 mL/kg): Corrigir
desidratação.
3. Gluconato de Cálcio a 10% 10 a 20 mL diluídos em 100 mL
de soro fisiológico ou em soro glicosado infundido em 2 a 5
min (em casos de arritmia).
4. Repete-se o ECG. Caso persistam as alterações, pode-se
repetir o procedimento.
5. Glicoinsulinoterapia (solução polarizante): Insulina regular:
10 U para cada 50 gramas de glicose de 4/4 h (ficar atento
a hipoglicemia).
6. Inalação com β2 agonista Fenoterol ou Salbutamol: 10
gotas de 4/4 h.
7. Bicarbonato de sódio: 1 mEq/kg de peso IV lento de 4/4 h
(é pouco útil no caso de insuficiência renal, porém
apresenta efeito satisfatório em casos de acidose
metabólica grave).
8. Diurético: Furosemida 1 mg/kg IV de 4/4 h.
9. Resinas de troca iônica: Sorcal 30 g diluído em 100 mL de
manitol a 10% ou 20% de 8/8 ou 4/4 h. Pode-se dobrar a
dose se necessário. Podem ser usadas via oral ou enema.
10. Diálise: a hemodiálise é mais eficaz que a diálise
peritoneal. É utilizada em hipercalemia associada à
insuficiência renal e refratárias às medidas clínicas
anteriores.
11. Suspender medicações que causam hipercalemia – neste
caso, a Espironolactona e captopril.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Hipocalemia
• O clinico deve basear o tratamento considerando se há
urgência para o paciente. Deve ter em mente as causas,
e sua possível reversão é um dos grandes objetivos. Deve
definir se a causa principal é uma translocação celular ou
um déficit real de potássio. O desequilíbrio acidobásico
também deve ser considerado. O clínico deve lembrar
que a reposição de potássio por via venosa é uma causa
comum de hipercalemia intra-hospitalar.
DEFINIÇÕES
• Usualmente, os níveis séricos de cálcio total são mantidos
entre 8,8 e 10,4 mg/dL, e o cálcio iônico entre 1,10 mEq/L e
1,35 mEq/L.
HIPOCALCEMIA
ETIOPATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As principais causas de hipocalcemia:
• Pseudo-hipoparatireoidismo: concentrações de
paratormônio podem se encontrar normais ou elevadas;
entretanto, há falta de resposta dos tecidos (rins e
esqueleto) a esse hormônio, levando à redução dos níveis
séricos de cálcio.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Eletrocardiograma (ECG): identificação de arritmias
cardíacas graves e/ou aumento do intervalo QT.
b. Dosagem de cálcio sérico total e iônico: comprovação
laboratorial do distúrbio.
c. Albumina sérica: na hipoalbuminemia, o nível de cálcio
total fica baixo, porém a fração biologicamente ativa
permanece inalterada. Nessa conjuntura, nitidamente, os
sintomas de hipocalcemia não estão presentes.
A correção matemática da calcemia poderá ser efetuada,
acrescentando-se 0,8 mg/ dL no nível de cálcio para cada grama de
albumina abaixo de 4 g/dL.
d. Dosagem dos níveis séricos de Calcitriol (vitamina),
fósforo, fosfatase alcalina e PTH intacto.
e. Marcadores de função hepática: ALT, AST, Bilirrubinas
totais e frações e coagulograma.
f. Função renal e íons: ureia, creatinina, potássio e
magnésio.
DIAGNÓSTICO
A história e o exame clínico são de suma importância para a
condução do diagnóstico de uma pressuposta hipocalcemia, cuja
comprovação laboratorial é feita pela dosagem de cálcio total e
iônico, além de exames complementares direcionados às etiologias
suspeitas, conforme citado anteriormente.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Reposição de cálcio em casos sintomáticos:
• Gluconato de cálcio (94 mg de cálcio elementar, 10 mL):
2 ampolas, por via venosa, em 10 a 20 minutos. Manter
infusão de 0,5 a 1,5 mg de cálcio elementar por kg por
hora, durante 4 a 6h. Atenção: infusão rápida pode causar
assistolia e hiperfosfatemia, e deve-se corrigi-la primeiro
por haver risco de precipitação.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 39 anos, sexo feminino, no 11º
pós-operatório de uma tireoidectomia, deu entrada no pronto-
socorro apresentando quadro de rigidez muscular de início
súbito associada à disartria e trismo.
b. Exames Físicos:
HIPERCALCEMIA
ETIOPATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A primeira causa mais frequente de hipercalcemia é o
hiperparatireoidismo primário.
QUADRO CLÍNICO
• Formas leves: sintomas brandos, inespecíficos ou
ausentes.
EXAME FÍSICO
• Taquicardia (podendo apresentar taquiarritmias) e
elevação da pressão arterial sistêmica.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Eletrocardiograma (ECG): identificação de arritmias
cardíacas graves e/ou aumento do intervalo QT.
DIAGNÓSTICO
A história e o exame clínico são de suma importância para a
condução do diagnóstico de uma pressuposta hipercalcemia, cuja
comprovação laboratorial é feita pela dosagem de cálcio total e
iônico, além de exames complementares direcionados às etiologias
suspeitas, conforme citado anteriormente.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Objetivo: reduzir os níveis séricos de cálcio e, se possível,
tratar a doença de base. O tratamento reduz o cálcio sérico
através da inibição da reabsorção ou do aumento da
excreção renal ou da diminuição da absorção intestinal de
cálcio. A escolha ideal de tratamento depende da causa e
da severidade da hipercalcemia.
• Furosemida 20 a 40 mg EV;
• Prednisolona 60 mg/dia VO;
• Sais de fosfato (pouco utilizado);
• Calcitonina 4 a 8 UI/Kg SC ou IM;
• Suspensão de tiazídicos (são poupadores de cálcio);
• Refratariedade ao tratamento clínico e pacientes com
doença renal crônica grave indicado realização de
hemodiálise.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 68 anos, sexo feminino. Chega
ao pronto-socorro com relato de fraqueza muscular, vômitos,
crise convulsiva e rebaixamento do nível do de consciência.
Familiar informa que a paciente apresenta alteração na
paratireoide, mas não sabe relatar mais informações.
b. Exames Físicos
DICAS DO ESPECIALISTA
• Na hipocalcemia:
• Em todos os casos, a suplementação oral de cálcio com
1 a 3 gramas de cálcio deve ser instituída. Os sais de
cálcio são administrados em doses fracionadas, e nos
casos mais leves são suficientes para a correção da
hipocalcemia. O carbonato de cálcio é o mais usado por
ser o mais facilmente encontrado e o mais barato. Cada
grama de carbonato de cálcio fornece 400 mg de cálcio.
Deve ser administrado com as refeições para que ocorra
a sua solubilização. As outras preparações de sais de
cálcio são o lactato, o Gluconato e o cloreto de cálcio.
REFERÊNCIAS
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De Nefrologia E Distúrbios Hidroeletrolíticos. 4. ed. Rio De Janeiro: Guanabara
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2. Guyton AC, Hall JE. Tratado De Fisiologia Médica. 11. ed. Rio De Janeiro: Elsevier;
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4. Porto CC. Exame Clínico: Bases Para A Prática Médica. 6. ed. Rio De Janeiro:
Guanabara Koogan; 2008.
5. Paula FJ, Foss MC. Tratamento Da Hipercalcemia E Hipocalcemia. Medicina,
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7. Copês RM, Premaor MO, Zorzo P. Hipercalcemia: avaliação e princípios do
tratamento. Rev AMRIGS. 2013; 57(4): 328-34.
. Sampaio EAS, Moysés RMA. Paratireoidectomia Na Doença Renal Crônica. J Bras
Nefrol. 2011; 33(2): 31-4.
9. Azevedo M, Sales B, Maia L, Leal E. Interpretação Dos Testes De Função
Tireoideana. In: Vilar L (ed.). Endocrinologia Clínica. 3. ed. Rio De Janeiro:
Guanabara Koogan; 2006.
5.6
INTERPRETAÇÃO DA
GASOMETRIA ARTERIAL E
DISTÚRBIOS ÁCIDOS BÁSICOS
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Lucas Augusto Cecílio Chagas da Silva
DEFINIÇÕES
• Exame laboratorial realizado com amostras coletadas de
sangue arterial, o qual possui por objetivo avaliar a eficácia
da troca de gases pulmonares (gás carbônico e oxigênio),
avaliar a integridade do sistema de controle ventilatório,
determinar os níveis acidobásicos do sangue e monitorizar
e avaliar a terapia ventilatória em patologias respiratórias
agudas e/ou crônicas.
PARÂMETROS VR
pH 7,35 a 7,45
PCO 2 35 a 45 mmHg
PO 2 80 a 100 mmHg
HCO 3 - 22 a 26 mmol/L
SatO 2 95-99%
BE -2 a +2 mEq/L
Glicose 60-100/dL
Alcalose respiratória Aguda: [HCO 3 ] diminui 2 mEq para cada 10 mmHg de queda da PCO 2
Crônica: [HCO 3 ] diminui 5 mEq para cada 10 mmHg de queda da PCO 2
b. MECANISMOS COMPENSATÓRIOS
Como o pH plasmático depende diretamente da relação
HCO3–/CO2, a resposta compensatória de um distúrbio ácido básico
(tabela 3) visa manter essa relação o mais próximo possível do
normal.
MECANISMO MECANISMO
DISTÚRBIO pH
PRIMÁRIO COMPENSATÓRIO
• Acidose metabólica
• Por adição de ácido (AG aumentado/normoclorêmica):
acidose láctica, cetoacidose diabética, cetoacidose
alcoólica, jejum prolongado, azotemia devido a
insuficiência renal aguda, intoxicação por ácido
acetilsalicílico.
• Alcalose metabólica
• Responsiva a reposição de cloreto: vômitos e uso de
cateter nasogástrico para drenagem (HCl), diarreia
crônica, uso de diuréticos (depleção de K+), fibrose cística,
correção de hipercapnia crônica.
• Acidose respiratória
• Aguda: acometimento do sistema nervoso central (TCE,
coma, intoxicações exógenas, síndrome de Guillain-Barré,
miastenia gravis), comprometimento osteomuscular
torácico devido a traumas (tórax instável, pneumotórax),
edema pulmonar, embolia pulmonar maciça, parâmetros
inadequados de ventilação mecânica.
• Alcalose respiratória
• Aguda: febre e infecções sistêmicas, ansiedade,
intoxicação por salicilatos, AVE, altitudes elevadas,
pneumopatias agudas, atelectasia, parâmetros
inadequados de ventilação mecânica.
• Casos especiais
• Hipotensão/choque: quando em fase inicial, apresenta
quadro de acidose metabólica junto de alcalose
respiratória. Já em fase final tende a se tornar acidose
mista.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 14 anos admitida em pronto-
socorro de Clínica Médica, relatando quadro de dor abdominal de
início há 05 dias, associado à turvação visual e queda do estado
geral, com prostração e vertigem. Relata que, concomitante às
manifestações clínicas, houve perda de peso de
aproximadamente 5 quilos nos últimos 5 dias, com poliúria.
Paciente nega patologias pregressas ou uso de medicações de
uso contínuo.
BE: -18,6.
• Interpretação Gasometria:
1°. Acidose Metabólica: pH < 7,35; HCO3< 22.
2°. Distúrbio Misto: PCO2 esperado: {HCO3} x 1,5 + 8
5,7 x 1,5 + 8: 16,5 +/- 2 - PCO2 encontrado: 13:
Alcalose Respiratória
3°. Calculo Ânion Gap: {Na} – {Cl} + {HCO3} = 141 –
114 + 5,7: 22 (cetoacidoses)
DICAS DO ESPECIALISTA
Neste capítulo, abordamos de forma prática a interpretação da
gasometria arterial. Seguem algumas dicas técnicas importantes
sobre o procedimento de coleta deste exame corriqueiro nas
enfermarias e unidades de pronto-atendimento.
a. PROCEDIMENTO:
• Higienizar as mãos.
• Realizar desinfecção do frasco de heparina sódica com
Clorexidine alcóolico.
• Preparar ambiente.
• Explicar para o paciente os riscos/benefícios e objetivos
do procedimento.
REFERÊNCIAS
1. Évora PRB, Garcia LV. Equilíbrio Ácido-base. Rev Fac Med Ribeirão Preto. 2008;
41(3): 301-11.
2. Pinto LMO, Martins HS. Insuficiência renal aguda e emergências dialíticas. In:
Martins HS, Velasco IT. Manual de Emergências Clínicas. Barueri: Manole; 2009.
3. Furoni RM, Pinto Neto SM, Giorgi RB, Guerra EMM. Distúrbios Do Equilíbrio Ácido-
básico. Rev Fac Ciên Méd Sorocaba. 2017; 12(1): 5-12.
4. Riella MC, Pachaly MA. Metabolismo Ácido-básico. In: Riella MC. Princípios De
Nefrologia E Distúrbios Hidroeletrolíticos. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan;
2003.
5. Rocco JR. Diagnóstico Dos Distúrbios Do Metabolismo Ácido-base. Rev Bras Ter
Intensiva. 2003; 15(4): 184-92.
. Lameire N, Biesen WM, VanHolder R. Acute renal failure. Lancet. 2005; 365(9457):
417-30.
7. Stefani SD, Barros E. Clínica Médica: Consulta Rápida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed;
2008.
5.7
SÍNDROME NEFRÓTICA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Rodolfo Pereira Espíndola
DEFINIÇÕES
A síndrome nefrótica caracteriza-se por proteinúria superior a 3,5
g/24h no adulto ou maior do que 50 mg/kg/24h em crianças, além
de hipoalbuminemia e edema.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Podemos dividir as etiologias mais comuns da Síndrome
nefrótica em dois grandes grupos:
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1- Fisiopatologia da síndrome nefrótica
Fonte: Riella MC, Pachaly MA, 2003.
QUADRO CLÍNICO
Os principais sinais e sintomas observados em pacientes com
síndrome nefrótica são:
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Ganho importante de peso, com edema
intenso em membros inferiores com sinal do cacifo
(anasarca muito comum), inelástico, não doloroso à
palpação, temperatura normal, edema periorbitário matinal
(fácies renal), pressão arterial pode estar aumentada, mas
geralmente não altera níveis pressóricos. Taquipneia por
congestão pulmonar e/ou restrição mecânica do diafragma
por ascites de grande volume.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exame de urina I: proteinúria nefrótica sempre presente,
cilindros granulosos; hematúria, leucocitúria e lipidúria podem
ou não estar presentes.
b. Proteinúria (urina 24 horas) ou Relação
Proteína/creatinina: proteinúria nefrótica (maior que 3,5g/dia
em adultos ou > 50 mg/kg/24h em crianças - relação
Proteína/creatinina > 3,5). Abaixo destes valores a proteinúria é
nefrítica.
c. Albumina sérica: Hipoalbuminemia geralmente abaixo de
3 g/dL que também integra a definição da síndrome.
d. Perfil Lipídico (Colesterol e Triglicérides): geralmente se
mostram elevados, mas isso não é definidor da síndrome.
Não havendo suspeitas evidentes das doenças de base, são
comumente solicitados os seguintes exames:
e) Glicemia;
f) Hemograma;
g) Exame parasitológico de fezes (associação com
Esquistossomose);
h) Pesquisa de anticorpos antinucleares;
i) Avaliação dos níveis de complemento;
j) Pesquisa de HBsAg e anticorpos anti-HBs e anti-HBc;
k) Pesquisa de anticorpos anti-HCV;
l) Pesquisa de anticorpos anti-HIV;
m) Exames específicos para outras doenças, de acordo
com a história e quadro clínico;
n) Exames para afastar neoplasias (principalmente em
idosos).
o) Biópsia renal:
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado nos achados da história clínica, exames
complementares e anatomopatológicos. A presença dos sintomas
clássicos de edema (anasarca), proteinúria nefrótica quantificada e
hipoalbuminemia sugere síndrome nefrótica. A partir desta
hipótese, a investigação da etiologia definirá melhor o tratamento.
Afastando doenças de base que levam ao quadro de
glomerulopatia secundária com manifestação nefrótica, os achados
histológicos ajudam principalmente no diagnóstico das
glomerulopatias primárias e confirmam as secundárias, conforme
apresentado na tabela 1.
Tipo Microscopia Imuno- Microscopia
histológico óptica fluorescência eletrônica
Espessamento da
membrana basal glomerular;
envolvimento glomerular IgG e C3, granular, ao longo Depósito eletro densos
GM
uniforme e difuso; presença das paredes capilares. subepiteliais.
de espículas na
impregnação pela prata.
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Restrição hídrica com cautela, dieta hipossódica (2 g de
sódio ao dia, ou cloreto de sódio [NaCl, sal de cozinha] 3-3,5
g/por dia) e normoproteica (0,8-1,0 g/kg/dia), desde que
não haja déficit importante de função renal.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Um homem negro previamente saudável, 40 anos, está
sendo avaliado por causa de uma urina espumosa associada a
um edema periorbital matutino e edema de tornozelos e dos
pés. Ele ganhou 10 kg em duas semanas.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: sua pressão arterial é de 140 x 88 mmHg. O
restante do exame é normal, exceto pelo edema (cacifo 3+/4+),
inelástico, temperatura normal com pulsos pediosos presentes
e simétricos.
REFERÊNCIAS
1. Nachman PH, Jennette C, Falk RJ. Primary glomerular disease. In: Brenner BM.
Brenner & Rector’s The Kidney. 8. ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 2008.
2. Schnaper HW, Robson AM, Kopp JB. Nephrotic Syndrome: Minimal Change
Nephropathy, Focal Glomeruloesclerosis, and Collapsing Glomerulopathy. In:
Schrier RW (ed). Diseases of the Kidney & Urinary Tract. 8. ed. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins; 2007.
3. Polito MG, Moura LA, Kirsztajn GM. An overview on frequency of renal biopsy
diagnosis in Brazil: clinical and pathological patterns based on 9,617 native kidney
biopsies. Nephrol Dial Transplant. 2010; 25(2): 490-6.
4. Morales JV, Leal M, Lorentz A, Veronese FJ. Síndrome nefrótica primária em
adultos: estudo de coorte com seguimento de 17 anos. J Bras Nefrol. 2008;
30(supl): 47A.
5. Kodner C. Diagnosis and Management of Nephrotic Syndrome in Adults. Am fam
phys. 2016; 93(6): 479-85.
. CONITEC. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome Nefrótica
Primária em adultos. Protocolos e Diretrizes – CONITEC. [Internet]; 2019. [acesso
em 20/05/2020]. Disponível em: http://conitec.gov.br/protocolos-e-diretrizes.
5.8
SÍNDROME NEFRÍTICA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Rodolfo Pereira Espíndola
DEFINIÇÕES
A síndrome nefrítica é caracterizada pelo início súbito de
hematúria dismórfica, edema, proteinúria subnefrótica, oligúria,
hipertensão arterial sistêmica e déficit da função renal, sendo a
hematúria dismórfica um achado que obrigatoriamente deve estar
presente, associada a pelo menos uma das outras anormalidades.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A incidência global estimada da doença é de 472.000 casos por
ano, dos quais 77% ocorrem em países em desenvolvimento. A
incidência diminuiu nas últimas décadas, possivelmente devido ao
uso generalizado de antibióticos associado a melhores cuidados de
saúde e melhores condições socioeconômicas e nutricionais.
A síndrome nefrítica é um processo inflamatório agudo que
envolve os glomérulos renais. Várias doenças podem se manifestar
com síndrome nefrítica. As causas são múltiplas, podendo ser
divididas em infecciosas, não infecciosas e sistêmicas.
QUADRO CLÍNICO
O processo inflamatório glomerular resulta em redução na taxa
de filtração glomerular (oligúria e/ou anúria), aumentando a pressão
hidrostática e retenção de sódio e água dentro dos vasos
sanguíneos e congestão, levando a:
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Edema de membrso inferiores com sinal do
cacifo (anasarca menos comum), edema periorbitário
matinal (fácies renal), pressão arterial ≥ 140 x 90 mmHg e
taquicardia.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exame simples de urina (EAS) e pesquisa de dimorfismo
eritrocitário: Hematúria dismórfica e cilindros hemáticos;
proteinúria.
b. Proteinúria (urina 24 horas) ou Relação
Proteína/creatinina: proteinúria nefrítica (menor que 3,5g/dia
em adultos ou < 50 mg/kg/24h em crianças - relação
Proteína/creatinina < 3,5). Acima destes valores, a proteinúria é
nefrótica.
c. Dosagem de complemento C3, C4 CH50: baixos níveis
séricos de C3. Podem estar normais ou diminuídos o C4 e o
CH50.
d. Cultura de orofaringe para SBHGA: pode corroborar o
diagnóstico ou apenas representar o estado de portador (não
realizado de rotina).
e. Dosagem de anticorpo antiestreptolisina O (ASLO): títulos
aumentados confirmam infecção recente, sendo que se elevam
após a infecção de orofaringe (não realizado de rotina).
f. Dosagem de anticorpo antidesoxirribonuclease B (DNase
B): títulos aumentados confirmam infecção recente de quadros
de infecção estreptocócica cutânea (não realizada de rotina).
g. Dosagem de ureia e creatinina: acompanhamento da
função renal.
h. Biópsia renal:
• Indicação:
• História familiar de Nefropatia.
• Hematúria macroscópica por mais de 04 semanas.
• Proteinúria em nível nefrótico e persistente.
• Complemento sérico baixo por mais de 08 semanas.
• Persistência de hipertensão arterial sistêmica.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado nos achados da história clínica, exames
complementares e anatomopatológicos. A presença dos sintomas
clássicos de edema, hipertensão arterial e oligúria associados à EAS
com hematúria dismórfica, cilindros hemáticos, proteinúria
subnefrótica, além de baixos níveis séricos do complemento C3,
sugere síndrome nefrítica. A partir desta hipótese, a investigação da
etiologia definirá melhor o tratamento.
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Menino de 6 anos é levado ao pronto-
atendimento devido a quadro de dispneia iniciado há uma hora.
A mãe refere que seu filho apresenta, há dois dias, edema
bipalpebral, especialmente pela manhã. Além disso, acha que
ele está desidratado, pois tem notado sua urina muito escura e
em pouca quantidade. Na anamnese dirigida, relata prurido
estrófulo, especialmente em membros inferiores, necessitando
de tratamento com Cefalexina por dez dias no mês passado.
b. Exames Físicos:
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta VO hipossódica.
2. Restrição hidrossalina.
3. Furosemida 20 mg/mL – 1mg/Kg/dose uma a duas vezes
ao dia.
4. (Ajuste do diurético conforme melhora do edema –
avaliação clínica.)
5. Considerar o uso associado de outro anti-hipertensivo se
não houver controle pressórico adequado com dieta e o uso
da furosemida.
DICAS DO ESPECIALISTA
• O quadro de lesão renal aguda observado na GNPE é
transitório e de curta duração. Os casos mais graves
podem cursar com uremia e distúrbios hidroeletrolíticos e
acidobásicos próprios da LRA (lesão renal aguda) e pode
ser necessário tratamento dialítico.
REFERÊNCIAS
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13. Lopes AC. Tratado De Clínica Médica. São Paulo: Roca; 2009.
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Syst Rev. 2013; 30(4): CD004406.
6.1
EXACERBAÇÃO DE ASMA
Autora:
Rafaela Boaventura Martins
DEFINIÇÕES
• Asma: doença pulmonar obstrutiva caracterizada pela
inflamação crônica das vias aéreas, com limitação variável
ao fluxo aéreo. A limitação ao fluxo aéreo é reversível
espontaneamente ou com tratamento.
ETIOPATOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
• A EA geralmente ocorre em reposta à exposição a um
agente externo, conhecido como gatilho ou trigger. É um
evento de grande morbidade, com custo elevado para o
sistema de saúde e associado a absenteísmo na escola e no
trabalho.
QUADRO CLÍNICO
• As manifestações usualmente ocorrem de forma gradual,
com deterioração clínica progressiva em um período de dias
a semanas.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: avaliação do estado geral, nível de consciência,
habilidade em completar frases, grau de hidratação, palidez,
cianose, taquipneia (frequência respiratória > 30 ipm),
taquicardia (frequência cardíaca > 110 bpm), temperatura,
saturação periférica de oxigênio (SpO2).
EXAMES COMPLEMENTARES
A realização de exames complementares se aplica à avaliação do
diagnóstico diferencial, comorbidades e complicações.
Radiografia de tórax: indicada se exacerbação grave ou suspeita
de comorbidade/complicações, como pneumonia, insuficiência
cardíaca e pneumotórax. Não recomendada rotineiramente.
Gasometria arterial: sinais/sintomas de quadro grave, pico de
fluxo expiratório (PFE) < 50% do valor previsto, SpO2 < 93% e
naqueles que não respondem ao tratamento inicial. PaO2 < 60mmHg
e/ou PaCO2 > 45 mmHg indicam falência respiratória.
Hemograma: na suspeita clínica de infecção.
Eletrólitos: presença de comorbidade cardiovascular, uso de
diuréticos ou altas dose de B2-agonistas, especialmente se
associados a corticoides sistêmicos.
Avaliação da função pulmonar: fortemente recomendada, se
possível, e sem atrasar o início do tratamento. Medida do PFE ou do
volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) deve ser
registrada e utilizada como parâmetro de comparação com a função
pulmonar prévia, sendo útil na avaliação da resposta à terapia
instituída. Deve ser reavaliada em uma hora e periodicamente.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da EA é essencialmente clínico. A realização de
exames complementares não é necessária na maioria dos casos
atendidos nos serviços de urgência.
A classificação da intensidade da exacerbação (Tabela 1) é
fundamental para definição do manejo do paciente, baseada em
dados clínicos (estado geral, sinais vitais e ausculta pulmonar) e
funcionais (espirometria ou medida do PFE).
Notas: MV: murmúrio vesicular. a: A presença de vários parâmetros, mas não necessariamente de todos, indica a
classi cação geral da crise. b: Músculos intercostais, fúrcula ou esternocleidomastoideo.
Tromboembolia pulmonar
Bronquiolites
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Gotas (solução para nebulização, 5 8-10 gotas (2,5-5 mg) a cada 20 min, por 3 doses
mg/mL) Dose máxima: 10-15 mg/h
SALBUTAMOL
4-8 jatos, a cada 20 minutos, por 3 doses
Spray (100 mcg/jato)
Dose máxima: 10 jatos
• Corticosteroides sistêmicos:
• Devem ser prontamente administrados, se possível dentro
da primeira hora da apresentação, especialmente se
falência em atingir melhora dos sintomas com SABA,
surgimento de exacerbação em vigência do uso de
corticoide sistêmico ou se o paciente possui história de
exacerbações prévias que necessitaram do uso de
corticoide.
• Benefício em reduzir a inflamação, acelerando a resolução
da exacerbação com redução das recidivas e
hospitalizações.
• Todos os pacientes em EA deverão receber corticoide
sistêmico no pronto-socorro, variando a dose e o tempo
de uso conforme a gravidade. Leva cerca de 4 horas para
produzir melhora clínica.
• Sulfato de magnésio:
• Indicado nas exacerbações muito graves, sem reposta ao
tratamento usual.
• Pode ser utilizado na dose de 2 g (diluído em 50 mL de
solução fisiológica a 0,9%), infundida lentamente em 20
minutos, em dose única, reduzindo a admissão hospitalar
naqueles com VEF1 < 25-30% do predito.
• Não recomendado rotineiramente.
• Adrenalina:
• Indicada em associação à terapia padrão nos casos de EA
associada a anafilaxia ou angioedema, via intramuscular.
• Não recomendado rotineiramente.
• Oxigenioterapia com hélio:
• Pode ser considerada naqueles que não respondem à
terapia.
• Não recomendada rotineiramente.
• Metilxantinas (aminofilina e teofilina):
• Não são recomendados rotineiramente; possuem pobre
eficácia e baixo perfil de segurança, com interações
medicamentosas e efeitos adversos cardiovasculares,
neurológicos e gastrointestinais.
• Sedativos:
• Ansiolíticos e hipnóticos devem ser evitados devido ao
efeito depressor no sistema respiratório.
b. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Oxigenioterapia:
• A meta é manter a SpO2 93-95%, através de cânula nasal
ou máscara.
• Medidas gerais:
• Afastar possíveis exposições ambientais e ocupacionais a
alérgenos.
• Cessação do tabagismo.
• Vacinação anual contra Influenza. Orientar imunização
contra Pneumococo (uso sequencial da vacina 13-valente
conjugada seguida da vacina polissacarídica 23-valente,
após 6 meses).
• Tratamento adequado de todas as comorbidades
associadas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte : Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia 2012
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 23 anos,
asmático, em uso de formoterol + budesonida 12/400 mcg a
cada 12 horas, há 3 dias evoluindo com piora da dispneia
associada a sibilos e tosse seca. Início após quadro de resfriado
comum. Nega febre.
b. Exames Físicos:
1. Jejum.
2. Inalação: SF 0,9% 3 mL + 10 gotas fenoterol + 40 gotas de
brometo de ipratróprio + 6L O2 ou ar comprimido a cada 20
minutos na primeira hora, via nebulizador.
3. Prednisolona 50 mg via oral, agora.
4. Reavaliação clínica e do PFE em 30 minutos.
5. Suporte de oxigênio para SpO2 > 92%.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A monoterapia com SABA não é mais indicada na asma.
• Para as crises domiciliares leves de EA, indica-se alívio com
B2-agonista de longa ação associado ao corticoide
inalatório.
REFERÊNCIAS
1. Schor N. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM-UNIFESP –
Pneumologia. 2. ed. São Paulo: Manole; 2014
2. GINA. Global Strategy for Asthma Management and Prevention Global Initiative For
Asthma (GINA). GINA. [Internet]. [acesso em 29 de junho de 2020]. Disponível em:
hhtp://www.ginasthma.org.
3. Edmonds Ml, Milan SJ, Camargo Jr CA, Pollack CV, Rowe BH. Early use of inhaled
corticosteroids in the emergency department treatment of acute asthma. Cochrane
Database Syst Rev. 2012; 12: CD002308.
4. Rodrigo GJ, Castro-Rodriguez JA. Anticholinergics in the treatment of children and
adults with acute asthma: a systematic review with meta-analysis. Thorax. 2005;
60: 740-6.
5. Griffiths B, Ducharme FM. Combined inhaled anticholinergics and short-acting
beta2-agonists for initial treatment of acute asthma in children. Cochrane Database
Syst Rev. 2013; 8: CD000060.
. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma. J Bras Pneumol.
2012; 38(supl 1): S1-46
7. Pizzichini MMM, Carvalho-Pinto RM, Cançado JED, Rubin AS, Cerci Neto A, Cardoso
AP, et al. Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia – 2020. J Bras Pneumol. 2020; 40(1).
6.2
DOENÇA PULMONAR
OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
Autor:
Gustavo Frazatto Medeiros de Miranda
DEFINIÇÕES
• DPOC: alteração pulmonar crônica caracterizada por
bronquite crônica e enfisema, que gera obstrução ao fluxo
aéreo.
ETIOPATOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
• Tabagismo: principal fator de risco (80 a 90% dos
pacientes).
QUADRO CLÍNICO
• Nas fases iniciais, o paciente pode ser assintomático ou
apresentar tosse e expectoração crônicas. Com o tempo,
surge dispneia da doença, surge a dispneia, que é
progressiva, inicialmente aos grandes esforços (subir
ladeira ou escada); posteriormente, aos médios (trocar de
roupa, tomar banho, caminhar no plano) e pequenos
(higiene pessoal, caminhar dentro de casa, alimentar-se).
Habitualmente, a dispneia surge depois da tosse e
expectoração. Por serem pacientes com mais de 40 anos e
sedentários, frequentemente o cansaço é atribuído à idade
ou descondicionamento físico. A dispneia predispõe ao
estilo de vida sedentário, reduzindo a capacidade física e
diminuindo a realização das atividades diárias.
EXAME FÍSICO
• Normal na doença precoce.
• Tórax em tonel – aumento do diâmetro anteroposterior
(hiperinsuflação pulmonar).
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Espirometria: distúrbio ventilatório obstrutivo pós-
broncodilatador, caracterizado pela relação entre volume
expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital
forçada (VEF1/CVF) menor que 0,70 (ou menor que o limite
inferior da normalidade).
b. Exames de imagem: auxiliam a excluir outras doenças,
como bronquiectasias, câncer de pulmão e cardiopatias, além
de avaliarem o parênquima pulmonar.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O quadro clínico do paciente com DPOC está destacado no
Quadro 1.
Expectoração crônica
Predomínio diurno
Expectoração mucoide
DPN – Dispneia Paroxística Noturna; CVF – capacidade vital forçada; VEF1 – volume expiratório forçado no primeiro
segundo; IC – Insu ciência Cardíaca; Bd: Broncodilatador
Caminha mais devagar que pessoas da mesma idade ou quando anda no plano em seu próprio ritmo tem
2
que interromper a marcha para respirar
3 Interrompe a marcha após cerca de 100 metros ou após andar poucos minutos no plano
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Todos os pacientes
• Cessação do tabagismo é o principal modificador da
doença. Abordagem em todas as consultas, e
encaminhamento para grupo multidisciplinar quando o
paciente apresentar dificuldade em cessar o tabagismo. A
exposição à fumaça de biomassa também deve ser
combatida.
d. EXACERBAÇÕES
Alterações do estado mental (confusão, letargia, coma) Insu ciência respiratória aguda
Hipoxemia grave (PaO2 < 40 mmHg) e/ou acidose respiratória grave Início de novos sinais físicos
pH <7,25), apesar do oxigênio suplementar e ventilação não invasiva (por exemplo, cianose, edema periférico)
e. OXIGENOTERAPIA
• Indicação: Hipoxemia crônica com gasometria arterial
evidenciando PaO2 igual ou menor do que 55 mmHg em
repouso ou saturação igual ou menor que 88%; ou quando a
PaO2 estiver entre 56 e 59 mmHg com evidências de cor
pulmonale ou policitemia. O período mínimo de uso diário é
de 15 horas, sendo o ideal durante as 24 horas.
f. TRATAMENTO CIRÚRGICO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 68 anos, com
antecedente prévio de tabagismo, por 35 anos, tendo cessado
há 4 anos. Refere piora da dispneia nos últimos meses,
especialmente para subir escadas e caminhar mais
rapidamente. Nega piora da tosse ou aumento/mudança da
expectoração. Sem queixas gástricas ou nasais. Sem uso de
medicação atual, e com história de uma exacerbação no último
ano, com necessidade de uso de antibioticoterapia, sem
necessidade de internação. Vacinações atrasadas.
b. Exames Físicos:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Atentar para a necessidade em utilizar corticoterapia
inalatória para pacientes com exacerbação frequente,
asma associada ou contagem de eosinófilos elevados e
doença progressiva.
• Espirometria é um parâmetro importante para avaliar
queda progressiva do VEF1.
REFERÊNCIAS
1. Jardim J, Oliveira J, Nascimento O. II Consenso de DPOC da Sociedade Brasileira e
Pneumologia e Tisiologia. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Clínica Médica
e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia; 2004 (Suplemento).
2. Camelier AA, Winter DH, Jardim JR, Barboza CE, Cukier A, Miravitlles M. Alpha-1
antitrypsin deficiency: diagnosis and treatment. J Bras Pneumol. 2008; 34(7): 514-
27.
3. Qiu S, Zhong X. Macrolides: a promising pharmacologic therapy for chronic
obstructive pulmonary disease. Ther Adv Respir Dis. 2016: 1753465816682677.
4. Vogelmeier CF, Criner GJ, Martinez FJ, Anzueto A, Barnes PJ, Bourbeau J, et al.
Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic
Obstructive Lung Disease 2017 Report. Am J Respir Crit Care Med. 2017; 195(5):
557-82.
5. Montes de Oca M, López Varela MV, Acuña A, Schiavi E, Rey MA, Jardim J, et al.
ALAT-2014 Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) Clinical Practice
Guidelines: questions and answers. Arch Bronconeumol. 2015; 51(8): 403-16.
. GOLD. Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of COPD,
Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) 2020. GOLD.
[Internet]; 2020. [acesso em 22 de junho de 2020]. Disponível
em:https://goldcopd.org/wp-content/uploads/2019/11/GOLD-2020-REPORT-
ver1.0wms.pdf.
6.3
TROMBOEMBOLIA PULMONAR
AGUDA
Autores:
Camila Melo de Oliveira Costa
Maíra Thomazini Rodrigues
Jaquelina Sonoe Ota Arakaki
DEFINIÇÕES
• Tromboembolia pulmonar (TEP) aguda: obstrução aguda da
circulação arterial pulmonar por coágulos sanguíneos,
geralmente provenientes da circulação venosa sistêmica,
levando à interrupção total ou parcial do fluxo sanguíneo
pulmonar da área afetada.
ETIOPATOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
• A base fisiopatológica da doença se relaciona à tríade de
Virchow: estase venosa, lesão endotelial e estado de
hipercoagulabilidade. Fatores que determinam alguma
alteração em quaisquer um desses elementos aumentam a
chance de o indivíduo apresentar um evento
tromboembólico venoso.
• Diversas condições clínicas e cirúrgicas estão associadas
ao aumento da probabilidade de desenvolvimento da
doença (Quadro 1).
QUADRO CLÍNICO
• A doença caracteriza-se por uma grande variabilidade
clínica, além de sintomas e sinais pouco específicos.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Radiografia de tórax: os achados são inespecíficos e podem
estar ausentes em até 12% dos casos. Derrame pleural,
atelectasias laminares, sinais de oligoemia regional (sinal de
Westmark), opacidades pulmonares com base pleural (corcova
de Hampton) e proeminência das artérias pulmonares podem
ser observados. É útil na avaliação de possíveis diagnósticos
diferenciais.
b. Eletrocardiograma (ECG): taquicardia sinusal é o achado
mais encontrado. Nos casos mais graves, sinais de sobrecarga
de câmaras direitas podem estar presentes, como o padrão
“S1Q3T3” (presença onda S em D1, onda Q em D3 e inversão de
onda T em D3), desvio do eixo para a direita, onda P pulmonale e
bloqueio de ramo direito.
c. Gasometria arterial: presença de alterações de trocas
gasosas, como hipoxemia e hipocapnia secundária à
hiperventilação. A ausência dessas alterações, no entanto, não
exclui o diagnóstico.
d. Biomarcadores cardíacos: troponina I, BNP e NT pró-BNP,
apesar de não serem úteis para o diagnóstico, possuem
importância durante a investigação de diagnósticos diferenciais,
além de relevância prognóstica, como veremos adiante.
e. D-dímero (DD): produto de degradação da fibrina, estará
elevado na TEP devido à ativação simultânea da fibrinólise
durante a formação dos trombos. Não é específico de TEV,
sendo comum seu aumento em situações como gestação,
puerpério, doença vascular periférica, neoplasia, período pós-
operatório, insuficiência renal, sepse e outros processos
inflamatórios. Além disso, costuma apresentar níveis mais
elevados com o avançar da idade. Um resultado negativo
associado à probabilidade clínica baixa ou intermediária é capaz
de excluir o diagnóstico da TEP, sem necessidade de exames
complementares. Em pacientes com alta probabilidade clínica,
outros exames serão necessários e não é recomendada a
dosagem do DD, uma vez que mesmo negativo não exclui com
segurança o diagnóstico, e seu resultado positivo não contribui
na investigação diagnóstica.
f. Ecocardiografia transtorácica: grande importância no
diagnóstico da TEP aguda com instabilidade hemodinâmica,
uma vez que os achados de sobrecarga ou disfunção do
ventrículo direito (VD) e/ou de hipertensão pulmonar podem
ajudar no diagnóstico e na decisão terapêutica. Um exame
normal em um doente instável torna o diagnóstico de TEP
improvável. Além disso, possui importância na estratificação
prognóstica desses pacientes. A ecocardiografia à beira do leito
deve ser realizada precocemente na suspeita da TEP aguda de
alto risco.
g. Ultrassonografia com doppler venoso de membros inferiores
(US): apresenta boa sensibilidade e especificidade nos
pacientes com sinais e sintomas de TVP. Nos casos em que o
DD for positivo, a US poderá ser realizada como segundo passo
da estratégia diagnóstica, caso o paciente não apresente
condições de realizar a angiotomografia de tórax.
h. Angiotomografia computadorizada (angio-TC) de tórax:
exame de escolha na investigação da TEP aguda, com alta
sensibilidade e especificidade (98% e 94% respectivamente). Os
aparelhos com multidetectores contribuíram de forma
significativa no diagnóstico das lesões em artérias pulmonares
segmentares e, especialmente, em ramos subsegmentares
(Figura 1). Outra vantagem do uso da angio-TC de tórax é a
possibilidade de avaliar o parênquima pulmonar e a circulação
pulmonar. Achados como aumento do tamanho das câmaras
cardíacas direitas, retificação ou desvio do septo interventricular
em direção ao ventrículo esquerdo, aumento do diâmetro do
tronco e das artérias pulmonares e o refluxo de contraste para o
leito hepático podem estar presentes, sugerindo disfunção
cardíaca. Além disso, pode auxiliar na procura por diagnósticos
alternativos. As limitações do exame encontram-se nos
pacientes com doença renal ou naqueles alérgicos ao contraste
iodado.
Na imagem A, tem-se falha de enchimento desde a bifurcação do tronco da artéria pulmonar (à cavaleira) se estendendo
pelas artérias pulmonares (seta). Evidencia-se ainda dilatação do tronco da artéria pulmonar (3,1 cm) e pobreza vascular
bilateralmente. Na imagem B, veem-se falhas de enchimento concêntricas com pequeno halo de contraste associada à
dilatação do vaso acometido; obstrução parcial (setas) ou obliteração completa do vaso (ponta de seta). Na imagem C,
percebe-se a relação entre o diâmetro do ventrículo direito e esquerdo > 1, sugerindo aumento da pressão na circulação
pulmonar.
Figura 1. Cortes axiais de angiotomografia computadorizada de tórax
em paciente com TEP aguda.
Fonte: Konstantinides10
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a. Escores de probabilidade clínica e orientação de
investigação diagnóstica
• Os escores de predição clínica são ferramentas criadas
para facilitar a abordagem dos pacientes com suspeita de
TEV. Os escores de Wells e Genebra (Tabela 1), na forma
simplificada, são os mais utilizados na prática clínica.
pontos
Hemoptise 1 1
Intermediária 2-6 -
Alta ≥7 -
Ou
TEP provável ≥5 ≥2
Frequência cardíaca:
75-94 bpm 3 1
≥95 bpm 5 2
Hemoptise 2 1
Ou
TEP provável ≥6 ≥3
TVP: tromboembolia venosa, TEP: tromboembolia pulmonar, bpm: batimentos por minuto.
Saturação de pulso de oxigênio > 94% Ausência de edema assimétrico de membros inferiores
Sexo masculino + 10 -
História de câncer + 30 1
f ≥ 30ipm + 20 -
T < 36°C + 20 -
(1) Um total de pontos para cada paciente é obtido somando-se a idade do paciente em anos e os pontos para cada
preditor, quando presente. 65 ou menos pontos: classe I (muito baixo risco); 66-85: classe II (baixo risco); 86-105: classe III (risco
intermediário); 106-125: classe IV (alto risco); > 125: classe V (muito alto risco).
(2) Um total de pontos para cada paciente é obtido através da soma de pontos. 0 pontos: baixo risco, 1 ou mais: alto risco.
Alto risco + + + +
RISCO DE MORTALIDADE CHOQUE OU P ESI III-IV DISFUNÇÃO VD MARCADORES DE
HOSP ITALAR EM 30 DIAS HIP OT ENSÃO OU sP ESI >1 (IMAGEM) LESÃO MIOCÁRDICA
Intermediário Alto - + + +
Baixo - - - -
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
FIBRINOLÍTICOS
MEDICAMENTO DOSE
Alteplase (rtPA) 100 mg em 2 horas ou 0,6 mg/Kg (máximo 50 mg) IV, em 15 minutos
Estreptoquinase 1.500.000 UI IV em 2h ou 250.000 UI em 30 minutos, seguido por 100.000 UI/h por 12-24h
** (Re)iniciar heparina quanto TTPA estiver menor que duas vezes o valor normal.
ANTICOAGULANTES
MEDICAMENTO DOSE
Foundaparinax < 50 Kg: 5 mg/dia SC; 51-100 Kg: 7,5mg/dia SC; >100 Kg: 10mg/dia SC
80 UI/Kg (bolus IV ), seguido de 18UI/Kg/h IV. Controle com TTPa a cada 4-6h para 1,5 a 2x o limite
HNF
superior da normalidade
Dose inicial de 5 a 10 mg/d VO, sendo a primeira tomada nas primeiras 24 horas do evento agudo,
Varfarina* simultaneamente ao uso da heparina. Ajuste de dose conforme o INR, com o objetivo de manter
entre 2-3.
* A heparina deve ser mantida simultaneamente com a varfarina por pelo menos cinco dias e após dois dias consecutivos com
RNI adequado. Existe interação medicamentosa c com vários fármacos, havendo necessidade de maior vigilância, além de
interferência alimentar.
Primeiro episódio de TEP sem fator de risco identi cado A longo prazo
e. SITUAÇÕES ESPECIAIS::
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Algoritmo diagnóstico e de tratamento da tromboembolia pulmonar aguda.
*Os pacientes de risco intermediário com sinas de disfunção de VD tanto em exames de imagem (ecocardiograma e/ou
angiotomogra a de tórax), quanto de exames laboratoriais (aumento de troponina e/ou NT-pró-BNP/BNP) são
considerados de risco intermediário-alto. Já os que apresentam sinais de disfunção em apenas um dos exames (de
imagem ou laboratorial) são considerados de risco intermediário-baixo.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo feminino, 70 anos, 68 kg.
Evoluiu com dispneia e dor torácica súbita 20 dias após ser
submetida a uma colecistectomia. Negou comorbidades.
b. Exames Físicos:
DICAS DO ESPECIALISTA
• O padrão eletrocardiográfico “S1Q3T3”, apesar de muito
associado ao diagnóstico de TEP, tem baixa sensibilidade e
pode ser encontrado em outras situações relacionadas a cor
pulmonale agudo.
REFERÊNCIAS
1. Meyer G, Vicaut E, Danays T, Agnelli G, Becattini C, et al. Fibrinolysis For Patients
With Intermediate-risk Pulmonary Embolism. N Engl J Med. 2014; 370(15): 1402-11.
2. Agnelli G, Buller HR, Cohen A, Curto M, Gallus AS, Johnson M, et al. Oral Apixaban
For The Treatment Of Acute Venous Thromboembolism. N Engl J Med. 2013;
369(9): 799-808.
3. Schulman S, Kearon C, Kakkar AK, Mismetti P, Schellong S, et al. Dabigatran Versus
Warfarin In The Treatment Of Acute Venous Thromboembolism. N Engl J Med.
2009; 361(24): 2345-52.
4. The Einstein-pe Investigators. Oral Rivaroxaban For The Treatment Of Symptomatic
Pulmonary Embolism. N Engl J Med. 2012; 366: 1287-97.
5. The Hokusai-vte Investigators, Büller HR, Décousus H, Grosso MA, Mercuri M, et al.
Edoxaban Versus Warfarin For The Treatment Of Symptomatic Venous
Thromboembolism. N Engl J Med. 2013: 369(15): 1406-15.
. Kearon C, Akl EA, Ornelas J, Blaivas A, Jimenez D, Bounameaux H, et al.
Antithrombotic Therapy For Vte Disease: Chest Guideline And Expert Panel Report.
Chest. 2016; 149(2): 315-52.
7. Pollack Jr CV, Reilly PA, Eikelboom J, Glund S, Verhamme P, et al. Idarucizumab For
Dabigatran Reversal. N Engl J Med. 2015; 373(6): 511-20.
. Konstantinides SV, Vicaut E, Danays T, Becattini C, Bertoletti L, Beyer-Westendorf J,
et al. Impact of Thrombolytic Therapy on the Long-Term Outcome of Intermediate-
Risk Pulmonary Embolism. J Am Coll Cardiol. 2017; 69(12): 1536-44.
9. Weitz JI, Lensing AWA, Prins MH, Bauersachs R, Beyer-Westendorf J, et al.
Rivaroxaban Or Aspirin For Extended Treatment Of Venous Thromboembolism. N
Engl J Med. 2017; 376: 1211-22.
10. Konstantinides SV, Meyer G, Becattini C, Bueno H, Geersing GJ, et al. 2019 ESC
Guidelines for the diagnosis and management of acute pulmonaryembolism
developed in collaboration with the European Respiratory Society (ERS). Eur Heart
J. 2020 Jan 21;41(4):543-603.
6.4
DERRAME PLEURAL
Autor:
André Bezerra Botelho
DEFINIÇÕES
• Derrame pleural: É definido como aumento de líquido no
espaço pleural e resulta do aumento da taxa de formação
do fluido pleural, redução de sua absorção ou, mais
comumente, de ambos os processos. Apesar de bastante
comum e poder estar relacionado a inúmeras etiologias, na
prática clínica, poucas causas são responsáveis pela
maioria dos casos.
ETIOPATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• É estimado que o derrame pleural acometa cerca de 3.000
pessoas por milhão. Existem variações importantes na
incidência do derrame pleural ao redor do mundo.
QUADRO CLÍNICO
• Os sintomas comumente encontrados são dor torácica do
tipo pleurítica (ventilatório-dependente), tosse e dispneia.
EXAME FÍSICO
• Aparelho respiratório: diminuição da expansão torácica,
redução do frêmito toracovocal, macicez ou submacicez à
percussão e diminuição do murmúrio vesicular restrito ao
hemitórax acometido.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Radiografia de tórax: a radiografia de tórax em incidência
posteroanterior (PA) e perfil é fundamental na investigação
inicial, sendo capaz de identificar derrames com volume de
aproximadamente 200 mL. Os principais achados são:
obliteração do seio costofrênico; hipotransparência nas bases
com formação de uma parábola com concavidade voltada para
cima (curva de Damoiseau). A radiografia em decúbito lateral
com raios horizontais (incidência de Laurell) pode auxiliar no
diagnóstico de derrames com pequenos volumes, na indicação
da toracocentese e na avaliação de complicações relacionadas
ao derrame. Nesta incidência, pode-se notar alteração da
imagem quando comparada a PA, correspondendo ao
deslocamento do derrame (nos casos não complicados) ao
longo da superfície pleural lateralmente (Figura 1).
b. Tomografia de tórax: possibilita melhor avaliação da pleura
e do parênquima pulmonar, além de auxiliar no diagnóstico de
derrame complicado (presença de espessamento e nodulações
pleurais, além de septações e loculações).
c. Ultrassonografia: serve como guia para toracocentese e
biópsia, além de reduzir os riscos de complicações relacionadas
a estes procedimentos. Possui elevada acurácia na avaliação de
derrames complicados, empiema e espessamento pleural.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
ETIOLÓGICA
• O diagnóstico é feito com a confirmação da presença de
líquido no espaço pleural através dos exames de imagem já
citados.
Purulenta: empiema
DHL do liquido pleural > 2/3 o limite superior da normalidade do DHL sérico
A presença de qualquer um dos critérios, classi ca o derrame pleural como exsudato.
Transudato Exsudato
Insu ciência cardíaca Neoplasia
- Serosite autoimune
TRATAMENTO
• O tratamento do derrame pleural consiste no controle da
etiologia de base. Eventualmente, medidas específicas
podem ser adotadas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
IC: insu ciência cardíaca.
*Sinais de alarme: presença de febre, dor, predomínio a esquerda, assimetria importante.
**Para pacientes em uso de diureticoterapia, a diferença entre albumina sérica
- albumina pleural ≤ 1,2 con rma o diagnóstico exsudato.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 68 anos,
tabagista, hipertenso, com relato de febre e tosse produtiva há 5
dias. Há 2 dias passou a apresentar dispneia aos moderados
esforços e dor ventilatório-dependente.
b. Exames Físicos:
1. Dieta hipossódica.
2. Ceftrixone 1 g, IV, 12/12h.
3. Azitromicina 500 mg, VO, 1x/dia.
4. Enoxaparina 40 mg, SC, 1x/dia.
5. Oxigênio por cateter nasal, para manter SpO2 > 92%.
6. Fisioterapia respiratória.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A etiologia mais comum do derrame pleural é a
insuficiência cardíaca (IC).
REFERÊNCIAS
1. Porcel JM, Azzopardi M, Koegelenberg CF, Maldonado F, Rahman NM, et al. The
diagnosis of pleural effusions. Expert Rev Respir Med. 2015; 9(6): 801-15.
2. Miserocchi G. Physiology and pathophysiology of pleural fluid turnover. Eur Respir
J. 1997; 10: 219-25.
3. Light RW, MacGregor MI, Luchsinger PC, Ball Jr WC. Pleural effusions: the
diagnostic separation of transudates and exudates. Ann Intern Med. 1972; 77(4):
507-14.
4. Maskell N. BTS Pleural Disease Guideline. Thorax. 2010; 65 (Suppl 2) ii4–ii76.
6.5
PNEUMONIA ADQUIRIDA NA
COMUNIDADE
Autora:
Fernanda Maria Machado Nogueira Acerbi
DEFINIÇÕES
• PNEUMONIA: doença inflamatória aguda de causa
infecciosa que acomete as vias aéreas terminais e o
parênquima pulmonar. Pode ser causada por vírus, bactérias
e, mais raramente, fungos e parasitas.
EPIDEMIOLOGIA
• Incidência mundial de PAC: 16 a 23 casos por 1.000
habitantes. Permanece como a segunda causa de
hospitalização e a principal etiologia infecciosa de óbito,
com taxa de mortalidade de 41,7 por 100.000 habitantes.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é o principal
patógeno causador de pneumonia, independentemente da
idade, com prevalência média de 27,3%. Outros agentes
frequentes são o Haemophilus influenzae e as bactérias
denominadas atípicas, representadas pelo Mycoplasma sp,
Chlamydophila sp e Legionella sp, responsáveis por 34% das
pneumonias.
QUADRO CLÍNICO
• Manifestações respiratórias: tosse, expectoração, dispneia,
dor torácica ventilatório-dependente (na presença de
derrame pleural), febre e hipoxemia (desequilíbrio da
relação ventilação-perfusão). A tosse é o achado mais
comum e está presente em até 80% dos casos.
EXAME FÍSICO
• Inspeção: taquipneia, expansibilidade torácica reduzida.
• Palpação: frêmito toracovocal (FTV) aumentado; FTV
abolido na presença de derrame pleural associado.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: hemograma completo, ureia, creatinina, sódio,
potássio e glicemia.
b. Gasometria arterial: realizar apenas se a saturação
periférica de oxigênio (SpO2) na oximetria de pulso for menor
que 90% em ar ambiente, casos de insuficiência respiratória, ou
se houver suspeita de hipercapnia por doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC). A hipoxemia indica internação.
c. Sorologia para HIV: para pacientes com achados clínicos,
laboratoriais ou radiológicos atípicos (após esclarecimento e
consentimento do paciente).
Exames considerados, a depender da suspeita clínica e gravidade:
d. Proteína C Reativa (PCR): marcador inflamatório que avalia
resposta terapêutica e tem valor prognóstico. Níveis elevados
ou à ausência de queda de pelo menos 50% do seu valor inicial
após o 3o dia de tratamento antimicrobiano estão associados ao
pior prognóstico ou evolução para complicações.
e. Procalcitonina (PCT): marcador inflamatório com alta
sensibilidade, porém baixa especificidade para diferenciar
infecção bacteriana e viral. Tem valor prognóstico. Valores de
PCT acima de 0,25 μg/L falam a favor do uso de
antibioticoterapia, com maior concordância quando acima de
0,5 μg/L. Valores abaixo de 0,1 μg/L corroboram a não indicação
de antimicrobiano. Redução dos valores iniciais de 90% indicam
interrupção no tratamento. Estudos demonstraram redução do
tempo de uso de antibióticos sem aumento da mortalidade ou
falha de tratamento baseado na dosagem seriada desse
marcador.
f. Toracocentese diagnóstica: solicitar na presença de derrame
pleural maior que 5 cm a partir do recesso posterior na
radiografia de tórax em perfil ou maior que 10 mm no decúbito
lateral, ou ainda quando há derrame loculado. Realizar
toracocentese e analisar o líquido pleural por meio de técnica
bioquímica e microbiológica para excluir empiema ou derrame
parapneumônico complicado, os quais têm indicação de
drenagem torácica.
g. Broncoscopia com lavado broncoalveolar e biópsia
transbrônquica: útil para pacientes sem resposta à terapêutica
inicial ou na presença de achados de imagem não compatíveis
com pneumonia.
h. Pesquisa de Bacilo Álcool-Ácido Resistente (BAAR) no
escarro e cultura para micobactérias: solicitar apenas em
pacientes com achados de imagem e história clínica
compatíveis com tuberculose, como lesões pulmonares
escavadas, presença de nódulos centrolobulares em árvore em
brotamento.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a. Clínico:
• Tosse e um (ou mais) dos seguintes sintomas:
expectoração, dispneia e dor torácica.
c. Radiológico:
Hipotensão arterial Insu ciência respiratória aguda com indicação de de ventilação mecânica
e. Diagnóstico Diferencial
• PAC pode ter como diagnósticos diferenciais causas
infecciosas e não infecciosas.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• PAC ambulatorial
• Tratamento domiciliar se houver garantia do uso do
antibiótico prescrito.
• Paciente hígido: uso de macrolídeo ou betalactâmico (β-
lactâmico) é a sugestão de escolha (Tabela 3).
• A cobertura antibiótica para patógenos atípicos nos casos
de PAC de menor gravidade ainda é controversa, e vários
estudos não mostraram vantagens com essa conduta. As
recomendações norte-americanas, europeias, britânicas e
latino-americanas diferem quanto ao tratamento dos
casos ambulatoriais devido a diferentes posições quanto
à resistência antimicrobiana.
• A nova recomendação brasileira para o manejo de PAC de
2018 alega que, em nosso meio, os dados mais recentes
apontam que a resistência pneumocócica à penicilina não
deve ser uma preocupação para os casos menos graves, e
sugere o uso de monoterapia com β-lactâmico ou
macrolídeo para os pacientes ambulatoriais, sem
comorbidades, sem uso recente de antibióticos, sem
fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou
história de alergia a essas drogas.
• Quanto aos macrolídeos, a recomendação brasileira
ressalta que a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a
maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a
claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos
pacientes com DPOC.
• Pacientes sem comorbidades: evitar o uso das
fluoroquinolonas devido ao recente alerta da agência
norte-americana Food and Drug Administration sobre o
potencial risco de efeitos colaterais graves.
• Pacientes com comorbidades (DPOC, doença hepática ou
renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva,
alcoolismo ou imunossupressão), aqueles que fizeram uso
de antibióticos nos últimos três meses, ou provenientes
de regiões onde a taxa local de resistência aos
macrolídeos é superior a 25% (por exemplo, nos EUA e em
alguns outros países): β-lactâmico associado a
macrolídeo ou fluoroquinolona respiratória por pelo menos
cinco dias são as sugestões.
• Amoxicilina-clavulanato pode ser usada na suspeita de
infecção por gram-negativos (Klebsiella, Haemophilus),
apesar de não possuir maior atividade contra
pneumococo e não cobrir germes atípicos.
• COMPLICAÇÕES
• A maioria dos pacientes com PAC evoluem com boa
resposta ao tratamento, porém 10% a 24% dos pacientes
internados e 7% dos ambulatoriais podem apresentar uma
resposta clínica ineficaz.
• O fracasso terapêutico é fator prognóstico, com
mortalidade em torno de 40%. Espera-se uma melhora
clínica progressiva nos pacientes com PAC após 24 a 72
horas do início da antibioticoterapia.
• Falência precoce: ocorre nas primeiras 72 horas e,
geralmente, está relacionada à gravidade da infecção
primária (por exemplo, evolução com choque séptico).
• Falência tardia: ocorre após 72 horas devido aos eventos
secundários (por exemplo, perinfecção nosocomial,
exacerbação de comorbidade). Assim, aqueles que não
evoluem bem devem ser investigados quanto aos
diversos fatores, entre os quais:
• Resistência bacteriana: presença de pneumococo de
alta resistência, estafilococo resistente ou
Pseudomonas;
• Presença de patógeno não bacteriano (vírus, fungos,
micobactérias típicas ou atípicas);
• Erro relacionado ao antibiótico: antibiótico ou dose
inadequada, ausência de aderência ao tratamento;
• Complicações da pneumonia: derrame pleural complicado,
empiema, pericardite, endocardite, abscesso hepático ou
esplênico, pioartrite, meningite, entre outros – os achados
clínicos serão sugestivos da doença associada;
• Diagnóstico incorreto: considerar métodos diagnósticos
complementares;
• Descompensação de doenças de base (IAM, DPOC, AVC,
edema pulmonar);
• Presença de disfunção de órgãos, choque e evolução para
síndrome do desconforto respiratório agudo.
• PREVENÇÃO
• Os fatores de risco relacionados a PAC devem ser ativamente
procurados e removidos para evitar futuros eventos (Quadro
4).
Fator de risco Intervenção
Tabagismo Cessação
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
c. Exames complementares:
d. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• As manifestações clínicas não diferenciam, de maneira
confiável, as diversas etiologias de uma pneumonia, mas
existem algumas pistas epidemiológicas e clínicas que
devem ser levadas em consideração na investigação
etiológica da PAC:
• Pneumococo nas formas mais invasivas ou associadas ao
comprometimento sistêmico grave.
• Staphylococcus aureus em usuários de drogas injetáveis.
• S. aureus meticilino-resistente adquirido na comunidade
(CA-MRSA) nas formas de pneumonia necrotizante.
• S. aureus, grupo Enterobacteriaceae e Pseudomonas
aeruginosa após quadros de pneumonia viral, tratamento
prévio com antibiótico ou doenças pulmonares crônicas.
• Mycoplasma em quadros associados de miringite bolhosa,
anemia hemolítica (por crioaglutininas), artralgias.
• Legionella nos quadros de pneumonia grave associado a
hiponatremia, dor abdominal e diarreia em idosos.
• Agentes anaeróbios nos casos de pacientes com doença
periodontal grave; pneumonia necrotizante ou abscesso
pulmonar.
• Conhecer a epidemiologia local e o histórico de viagens do
paciente (por exemplo, fungos endêmicos, como
Histoplasma, Coccidioides, Blastomyces e
Paracoccidioides spp; hantavírus) e de exposições
específicas.
REFERÊNCIAS
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15. Lanks CW, Musani AI, Hsia DW. Community-acquired Pneumonia and Hospital
Acquired Pneumonia, Med Clin North Am. 2019; 103(3): 487-501.
6.6
PNEUMONIA NOSOCOMIAL
Autora:
Ana Carolina Lima Resende
DEFINIÇÕES
• Pneumonia nosocomial (PN): é definida como infecção do
parênquima pulmonar que ocorre 48 horas após a admissão
hospitalar, podendo-se subdividir em pneumonia adquirida
no hospital (PAH) ou pneumonia associada à ventilação
mecânica (PAV).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Os agentes etiológicos e a sensibilidade antimicrobiana das
bactérias podem variar de acordo com o perfil bacteriano
hospitalar, as características do paciente, o uso prévio de
antibióticos e o período de aquisição (precoce ou tardia). De
modo geral, na PN há prevalência etiológica de bacilos
gram-negativos (55% a 85% dos casos por Pseudomonas,
Acinetobacter e enterobactérias) e Staphylococcus aureus.
Além disso, 30 a 70% dos casos podem ter causa
polimicrobiana.
• Pneumonia nosocomial secundária a vírus ou fungos é
significativamente menos comum, exceto em
imunossuprimidos.
QUADRO CLÍNICO
• O quadro clínico da PN é caracterizado por sinais e
sintomas relacionados à síndrome infecciosa.
ASSOCIADOS AO PACIENTE:
- Idosos - Cirurgia torácica ou abdominal
- Redução do nível de consciência - Grande queimado
- Acidente vascular encefálico - Politraumatismos
- Trauma cranioencefálico - Desnutrição
- Broncoaspiração - Hipoalbuminemia
- Tabagismo - Comorbidades com disfunções orgânicas
- DPOC - Doenças imunossupressoras
- SDRA - Uso de drogas imunossupressoras
- Doenças pulmonares intersticiais - Pacientes institucionalizados
- Doenças neuromusculares
- Aspiração pulmonar
ASSOCIADOS À TERAPÊUTICA:
Temperatura oC
EXAMES COMPLEMENTARES
a. ANÁLISE LABORATORIAL
b. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA
c. ANÁLISE RADIOLÓGICA
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Conforme citado anteriormente, o diagnóstico de PN pode
ser desafiador, devendo ser realizado através da análise dos
aspectos clínicos, radiológicos, laboratoriais e
microbiológicos.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Linezolida 600 mg IV a cada 12h Cefepima 2 g a cada 8h ou Amicacina 15-20 mg/kg a cada 24h ou
Ceftazidima 2 g a cada 8h Gentamicina 5-7 mg/kg a cada 24h ou
OU Tobramicina 5-7 mg/kg a cada 24h
OU
Carbapenêmicos Polimixinas
Monobactâmicos
Aztreonam 2 g a cada 8h
As doses iniciais sugeridas na tabela devem ser modi cadas em pacientes com disfunção hepática ou renal.
Piperaciclina + Tazobactam 4,5 g a cada Piperaciclina + Tazobactam 4,5g a Piperaciclina + Tazobactam 4,5g cada 6
6 horas cada 6 horas horas
OU OU OU
Levo oxacino 750 mg a cada 24h Levo oxacino 750 mg a cada 24h ou Levo oxacino 750 mg a cada 24h ou
OU Cipro oxacino 400 mg cada 8h Cipro oxacino 400 mg cada 8h
OU OU
Aztreonam 2 g cada 8h
*A cobertura para MSSA (Staphylococcus aureus meticilino sensível) deve ser feita com Piperacilina-tazobactam, Cefepima,
Levo oxacino, Imipenem ou Meropenem. Oxacilina, Nafcilina ou Cefazolina são preferíveis para o tratamento de MSSA, porém não
devem ser usadas no regime empírico de pneumonia hospitalar.
g. TEMPO DE TRATAMENTO
h. PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
PN: pneumonia nosocomial; EV: endovenoso; VM: ventilação mecânica; SDRA: síndrome do desconforto respiratório agudo;
MDR: multidrogarresistente; MRSA: S. aureus meticilino resistente; BGN: bacilo gram-negativo; UH: unidade hospitalar.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 70 anos,
hipertenso (faz uso regular de enalapril), encontra-se internado
no quinto dia pós-operatório de cirurgia para correção de fratura
de fêmur. Nega história de internação ou antibiótico recentes.
Evolui clinicamente com dispneia, tosse produtiva (expectoração
amarelada) e febre (38,8°C). Segue normotenso.
b. Ausculta pulmonar: com murmúrio vesicular reduzido,
frêmito aumentado, percussão maciça e estertores finos em
base esquerda. Eupneico, sem uso de musculatura acessória,
SpO2 95% em ar ambiente.
c. Exames complementares: Radiografia de tórax em
incidências anteroposterior evidenciando consolidação em base
direita com broncograma aéreo (não evidente em imagem pré-
operatória); leucocitose sem desvio à esquerda; PCR: 120 mg/L;
sem disfunção de órgãos.
d. Diagnóstico: paciente com sinais clínicos, laboratoriais e de
imagem compatíveis com pneumonia, a qual se desenvolveu a
partir do quinto dia de internação hospitalar. Trata-se de
pneumonia nosocomial tardia, sendo o tempo de internação o
único fator de risco para germes multirresistentes.
Considerando que a unidade hospitalar em que o paciente se
encontra tem prevalência inferior a 20% de MRSA e inferior a
10% de BGN, devemos iniciar esquema antimicrobiano empírico
para BGN, com uma droga antipseudomonas, preferencialmente
da classe dos betalactâmicos.
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• A PN possui elevada incidência, morbimortalidade e
impacto econômico em nosso meio, tornando-se um
relevante problema de saúde pública. Dessa forma, a
prevenção desta patologia tem extrema relevância.
DEFINIÇÕES
• Insuficiência Respiratória Aguda (IRpA) é a incapacidade
instalada ao longo de horas ou dias do sistema respiratório
em realizar adequadamente as trocas gasosas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Didaticamente, a IRpA pode ser dividida em 2 tipos, que
podem acontecer de maneira isolada ou em associação
(Figura 1):
• Tipo I (Hipoxêmica) – PaO2 < 60 mmHg, com GA-a
aumentado;
• Tipo II (Hipercápnica) – PaCO2 > 50 mmHg, com GA-a
normal.
QUADRO CLÍNICO
• As manifestações clínicas incluem diversos sinais e
sintomas, conforme a causa da IRpA.
EXAME FÍSICO
• Ao exame físico, é importante observar se o paciente se
encontra visivelmente desconfortável e se apresenta
alterações no nível de consciência (de agitação à
sonolência). Esses achados podem orientar a necessidade
de atendimento de emergência com eventual suporte
ventilatório invasivo.
EXAMES COMPLEMENTARES
O diagnóstico de IRpA é dado a partir de sinais de desconforto
respiratório e confirmado pela oximetria de pulso ou gasometria.
Outros exames complementares, solicitados de acordo com a
hipótese diagnóstica aventada, compreendem hemograma
completo, proteína C reativa, peptídeo natriurético cerebral (BNP),
radiografia de tórax, eletrocardiograma, tomografia computadorizada
do tórax ou angiotomografia (se há suspeita de embolia pulmonar),
ecocardiograma, dentre outros.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Após definir a presença de IRpA, deve-se buscar sua causa.
• Uma ferramenta importante na elucidação dos
mecanismos relacionados ao quadro de IRpA é a avaliação
do gradiente alvéolo-arterial (GA-a) de O2, ou seja, da
pressão alveolar de O2 e da pressão arterial de O2. Ela se dá
através da seguinte fórmula:
GA–a = PAO2 – PaO2
onde: PAO2 = FIO2 (PBarom étrica – Pvapor de H2O) – 1,25 PaCO2
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• O paciente com queixa de desconforto respiratório deve ser
prontamente avaliado, pois a IRpA não corrigida pode
rapidamente evoluir para parada cardiorrespiratória (PCR).
• AVALIAÇÃO INICIAL
• Iniciar monitorização cardíaca, de pressão arterial e
oximetria de pulso.
• Se Glasgow < 9, instabilidade hemodinâmica ou risco
eminente de parada cardiorrespiratória (respiração
agônica, bradicardia), proceder imediatamente à
intubação orotraqueal (IOT).
• Se não há tais riscos acima descritos, suplementar
oxigênio com o objetivo de manter a saturação em 92-
94%. Para pacientes hipoxêmicos crônicos retentores de
CO2, os níveis de saturação desejáveis de 88-92%;
• Em pacientes selecionados, pode-se utilizar dispositivos
de pressão positiva. Na suspeita de edema agudo de
pulmão (EAP), o uso de pressão positiva em um nível de
pressão (CPAP – Continuous Positive Airway Pressure)
está indicado. Em pacientes retentores de CO2, o uso de
dois níveis de pressão (ou VNI – Ventilação Não Invasiva -
ou Bilevel) pode evitar intubação.
• Pacientes com diagnóstico de DPOC e/ou suspeita de
retenção crônica de CO2 devem receber oxigênio
suplementar com cautela por risco de piorar o quadro de
retenção e até de levar a rebaixamento do nível de
consciência por narcose. São múltiplos os mecanismos
propostos para explicar essa piora, como inibição do
centro respiratório pelo oxigênio, piora do distúrbio V/Q
através de inibição pelo oxigênio do mecanismo de
vasoconstrição hipóxica e por Efeito Haldane (a
hemoglobina tende a perder afinidade pelo CO2 quando há
alta concentração de oxigênio no sangue, fazendo com
que aumente a PaCO2). A suspeita de hipercapnia,
entretanto, não deve impedir a suplementação de O2 –
apenas sugere redobrada cautela e maior observação.
Critérios diagnósticos
OXIGENAÇÃO (PaO2/FIO2)
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Algoritmo de avaliação da troca gasosa na presença
de hipoxemia.
Fonte: adaptado de Carvalho.7
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente 60 anos, 70 Kg, portador de
osteoartrose e hipertensão arterial sistêmica, trazido por
familiares ao PS devido ao rebaixamento do nível de
consciência. Ao exame, regular estado geral, PA: 100 x 70
mmHg, FC: 58 bpm, FR: 8 ipm, SpO2 89% em ar ambiente,
sonolento, Glasgow 11, pupilas mióticas, murmúrio vesicular
fisiológico, sem ruídos adventícios.
b. Exames complementares: radiografia de tórax sem
anormalidades, exames laboratoriais normais e gasometria
arterial: pH 7,25, PO2 50, PCO2 68, HCO3 26, BE +2,0, SatO2 90%.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A oximetria de pulso é um excelente método não invasivo
para avaliação rápida de um caso, porém a gasometria
arterial é mandatória nos casos de IRpA, já que é capaz de
avaliar causas possíveis, condições associadas e efeitos da
terapêutica.
REFERÊNCIAS
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6.8
VENTILAÇÃO MECÂNICA
Autores:
Milena Tenório Cerezoli
Felipe Marques da Costa
DEFINIÇÕES
• A ventilação mecânica invasiva (VM) se caracteriza pelo
acoplamento do paciente a um ventilador mecânico.
DPOC exacerbada e crise asmática com fadiga respiratória PaO2 < 50 mmHg e pH < 7,25
b. CICLO RESPIRATÓRIO
As setas mostram que, com o aumento isolado do uxo, há elevação da pressão de pico
(pressão resistiva das vias aéreas) sem variação da pressão alveolar. A elevação da Pva
na inspiração (*) mostra a pressão resistiva do sistema.
• CICLOS CONTROLADOS
• Algumas variáveis também são controladas durante a
inspiração destes ciclos. São elas: tempo, fluxo, pressão
ou volume ou mesmo a combinação de duas ou mais
destas.
• Assim, o ciclo dito controlado pode ser ciclado a volume
(VCV, do inglês Volume Controlled Ventilation), ou seja,
quando muda da inspiração para expiração após alcançar
o volume corrente estipulado, ou ciclado a tempo, como
no modo pressão controlada (PCV, do inglês Pressure
Controlled Ventilation), quando “cicla” ao atingir o tempo
inspiratório fornecido.
• CICLOS ASSISTIDOS
• No ciclo assistido, o comando neural e a musculatura do
sistema respiratório do paciente estão ativos, e o
ventilador faz o ajuste da demanda do paciente, através
de medidas regulares do fluxo e/ou pressão em seu
circuito. O parâmetro “sensibilidade” deflagra a variação
de fluxo ou pressão reconhecida pelo ventilador como
esforço muscular do paciente capaz de gerar um ciclo
respiratório (disparo).
• Da mesma forma, os ciclos assistidos também podem ser
ciclados a volume (volume assistido), a tempo (pressão
assistocontrolada), a fluxo (pressão de suporte) ou pelo
drive neural (NAVA).
• Existe diferença na resposta do ventilador ao esforço
muscular gerado pelo paciente entre estes modos.
• Em pressão assistida, o ventilador aumenta a oferta de
volume corrente e o fluxo conforme a demanda do
paciente, sendo potencialmente menos desconfortável e,
consequentemente, mais favorável ao trabalho
respiratório do paciente.
• Na Ventilação com Pressão de Suporte (PSV, do inglês
Pressure Support Ventilation), seu disparo ocorre a fluxo ou
pressão, o fluxo inspiratório é livre (elevando com o
aumento do esforço do paciente) e é ciclado a fluxo
(geralmente a 25% do fluxo inspiratório máximo, podendo
ser mudado nos ventiladores mais modernos). Assim, a
PSV é capaz de gerar maior conforto ao paciente, pela
possibilidade de variabilidade de fluxo, volume corrente e
tempo inspiratório.
e. MODOS VENTILATÓRIOS BÁSICOS
• MODO PSV
• Este é um modo de ventilação mecânica espontânea,
disparado e ciclado pelo paciente. O ventilador mantém
uma pressão de suporte predeterminada e fixa nas vias
aéreas, até que o fluxo seja reduzido a um nível fixo de
pico de fluxo inspiratório (dado ajustável, geralmente 25%
do pico de fluxo).
• Utiliza-se atualmente este modo quando o paciente
apresenta uma boa recuperação da doença de base e já
apresenta drive respiratório como desmame ventilatório,
até a extubação.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 62 anos, com
passado de tabagismo importante, história de 5 dias de dispneia
aos pequenos esforços, tosse com expectoração purulenta,
prostração, com entrada na sala de emergência em franca
insuficiência respiratória, sonolento, sendo necessária a
intubação orotraqueal.
b. Exames Físicos:
DICAS DO ESPECIALISTA
a. Metas e ventilação nas doenças obstrutivas (DPOC, asma):
REFERÊNCIAS
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Mechanical Ventilation in Critically Ill Adults. Chest. 2017; 151(1): 160-5.
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Medicina Intensiva). São Paulo: Atheneu, 2000. 8 v.
11. Carvalho CRR. Ventilação Mecânica. Volume II – Avançado (Clínicas Brasileiras
de Medicina Intensiva). São Paulo: Atheneu, 2000. 500 p. 9 v.
7.1
LÚPUS ERITEMATOSOS
SISTÊMICO (LES)
Autora:
Yanne Franca Montino
def.jpg DEFINIÇÕES
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença reumática
autoimune inflamatória, multissistêmica, crônica, de etiologia
multifatorial, caracterizada pela produção de autoanticorpos
dirigidos contra proteínas do próprio organismo e com
manifestações clínicas flutuantes, apresentando evolução e
prognósticos variáveis.
• Hidralazina • D-penicilamina
• Procainamida • Metildopa
• Isoniazida • Quinidina
• Fenitoína • Interferon-alfa
• Clorpromazina • Anti-TNF
(etanercepte, in iximabe, adalimumabe)
Quadro 1.
Fonte: Adaptada, Merola JF Drug-induced lupus UpToDate. [Internet];
2020. Acesso 13/08/2020.
Â
a. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS (70% A 80%)
• ESPECÍFICAS:
• LÚPUS ERITEMATOSO CUTÂNEO AGUDO
A erupção cutânea em “asa de borboleta” ou eritema malar é a
lesão de pele mais característica do LES. Apresenta-se de forma
aguda localizada, eritematosa, elevada, por vezes pruriginosa ou
dolorosa, em geral descamativa, com edema, distribuição malar e
dorso do nariz, frequentemente precipitada pela exposição solar. A
lesão poupa as pregas nasolabiais devido a sua área fotoprotegida e
flutua com a atividade da doença. Precipitada por exposição solar,
pode persistir por dias ou semanas, facilitando o diagnóstico do LES
e acompanha outras manifestações. Erupção eritematosa
generalizada precipita-se de maneira aguda em áreas de exposição
aos raios solares ou luz artificial fluorescente, tais como região
cervical, face e extremidades.
b. MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS
VI CLASSE GN esclerosante avançada Mais de 90% dos glomérulos estão esclerosados globalmente
Á
d. MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS
Mielopatia
Transtorno de movimento
Síndrome desmielinizante
Transtorno convulsivo
Meningite asséptica
Quadro 3. Síndromes neuropsiquiátricas relacionada com o LES.
Fonte: Adaptada de ACR ad hoc Commitee on neuropsychiatric
lúpus nomeclature, 1999.
e. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS
seta1
Se ausente, não classi que como LES
Se houver, aplique critérios aditivos
seta1
Não conte um critério se houver uma explicação provável que o LES.
A ocorrência de um critério em pelo menos uma ocasião é su ciente.
A classi cação do LES requer pelo menos um critério
CRITÉRIOS
clínico e ≥ 10 pontos.
ADITIVOS
Os critérios não precisam ocorrer simultaneamente.
Dentro de cada domínio, apenas o critério ponderado
mais alto é contado para a pontuação total.
seta1
DOMÍNIOS E CRITÉRIOS DOMÍNIOS E CRITÉRIOS DE
PESO PESO
CLÍNICOS IMUNOLOGIA
Anticorpos antifodfolipides
Constitucional Anticorpos anti-cardiolipina OU
2
Febre Anticorpos anti-ß2GP1 OU
Anticoagulante do lúpus 2
Hematológico
Proteinas de complemento
Leocopenia 3
C3 baixo OU C4 baixo 3
Trombocitopenia 4
C3 baixo E C4 baixo 4
Hemólise autoimune 4
Neuropsiquiátrico
Anticorpos especí cos para LES
Delírio 2
Anticorpo anti-dsDNA* OU
Psicose 3 6
Anticorpo anti-Smith
Apreensão 5
Mucocutâneo
Alopsia sem cicatrizes 2
Úlceras orais 2
Lúpus cutâneo OU discoide subagudo 4
Lúpus cutâneo agudo 6
Serosal
Derrame pleural ou pericárdico 5
Pericardite aguda 6
Músculo-esquelético
Envolvimento conjunto 6
Renal
Proteinúria > 0,5g/24h 4
Biópsia renal Nefretite lúpica ClasseII ou V 8
Biópsia renal Nefretite lúpica ClasseIII ou VI 10
Tabela 1.
Fonte: Adaptada Aringer M, Costenbader K, Daikh D, et al. 2019. ACR
classification criteria for systemic lupus erythematosus. Arthritis
Rheumatol 2019.
Fan > ou igual 1:80 em células HPe-2 ou teste equivalente em pelo menos 1 vez.
Lúpus cutâneo agudo Erupção malar ou erupção maculopapular generalizada observada por um clínico.
CRITÉRIO DEFINIÇÃO
≥2 de 1-dor torácica pericárdica (normalmente aguda, pior com inspiração, melhorada pela
inclinação para a frente), 2- atrito pericárdico; 3- eletrocardiograma (ECG) com nova
Pericardite aguda
elevação de ST ou depressão PR, 4- nova ou aumento do derrame pericárdico em imagem
(como ultrassom, radiogra a, tomogra a computadorizada, ressonância magnética)
Proteinúria> 0,5 g / 24 horas Proteinúria > 0,5 g / 24 horas em exame de proteinúria de 24h
Anticorpos antifosfolípides Anticorpos anticardiolipina (IgA, IgG ou IgM) em títulos médios ou altos ou anticorpos
positivos anti-beta-2GP1 positivos (IgA, IgG ou IgM ) ou anticoagulante lúpico positivo
trat.jpg TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Medidas Gerais
• O tratamento do LES objetiva o controle da atividade da
doença, prevenção de danos, minimizar complicações aos
órgãos e sistemas, reduzir toxicidade medicamentosa,
orientar os pacientes e familiares sobre o curso e gestão
da doença, melhorar qualidade de vida e aumentar
sobrevida do paciente. O tratamento é específico para cada
paciente, conforme as manifestações clínicas, gravidade,
comorbidades associadas e atividade da doença.
• Lúpus Musculoesquelético
• O tratamento depende da área acometida, extensão e
gravidade da doença. Com base no quadro clínico, os
medicamentos AINS, antimaláricos, corticosteroides e, se
necessário, metotrexate, leflunomida, azatioprina e
belimumabe, podem ser utilizados.
• Comprometimento Pulmonar
• O acometimento das serosas (pleurite e pericardite) leves
responde bem ao AINH. Nos casos refratários ou graves, os
corticosteroides têm excelente eficácia. Nos casos ainda
não responsivos, a azatioprina 3 mg/kg/dia 1 a 2 doses
pode ser utilizada. A pneumonite aguda no LES e a
hemorragia pulmonar são complicações raras com
indicação de pulsoterapia com corticoide associada ou não
a ciclofofanamida ou plasmaferese.
• Quadro hematológico
• A terapia de escolha é a prednisona em dose alta 0,5-1,0
mg/kg VO, 1 vez, por dia durante 4 a 6 semanas, com
redução posterior se evolução positiva do quadro. A
pulsoterapia com metilprednisolona pode ser considerada
nos casos mais graves. Nos casos refratários, pode-se
associar a azatioprina a corticoterapia. Nas plaquetopenias
leves > 50.000, geralmente não é tratado, entretanto na
plaquetopenia grave deve-se fazer terapia com
imunoglobulina associada com infusão de plaquetas.
Quadros de púrpura trombocitopênica idiopática podem ser
tratados com corticosteroides, imunossupressão
imunoglobulina intravenosa, rituximabe com ou sem
esplenectomia. Para a púrpura trombocitopênica
trombótica está indicada aférese, esteroides e rituximabe,
sendo uma complicação com risco de morte em 1% a 5%
dos casos.
• Comprometimento neuropsiquiátrico
• A terapia de eventos neuropsiquiátricos deve ser
recomendada para o tipo de manifestações clínicas
apresentadas. A neuropatia periférica responde bem a
altas doses de glicocorticoide.
• Metrotrexato: 10 a 25 mg/semana
• Rituximabe: 1 g IV a cada quinzena
• Belimumabe: 10 mg/kg, dias 0/14/28 dias em seguida 1x
por mês
precri.jpg EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo feminino, 23 anos, p-60kg,
portadora de lúpus eritematoso sistêmico há 2 anos em
acompanhamento regular com reumatologista. Em uso de
hidroxicloroquina 400 mg 1 cp ao dia. Relata que após perda de
ente querido, há 30 dias, iniciou com lesões hiperemiadas em
região de tronco, face, associadas à alopécia frontal. Queixava-
se de dor torácica e dor articular em punhos.
b. Exame Físico: artrite franca em punhos, presença de rash
malar em face, lesões descamativas e hiperemiadas em
tronco. Alopecia não cicatricial em fronte.
refere.jpg REFERÊNCIAS
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7.2
SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE
(SAF)
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
DEFINIÇÕES
É um distúrbio autoimune multissistêmico caracterizado por
trombose venosa e/ou arterial e/ou morbidade gestacional,
associado à presença de anticorpos antifosfolipídicos (aPLs)
persistentes. Suas manifestações clínicas são heterogêneas e
caracterizadas pela trombose, que pode ocorrer em vasos de
qualquer calibre, e em qualquer órgão ou sistema, de forma abrupta
ou insidiosa. A prevalência é de 40 a 50 casos/100 mil pessoas.
Acomete adultos jovens e de meia-idade, com predomínio do sexo
feminino. Pode ser primária, sendo a causa mais comum de
trombofilia adquirida, ou secundária, como, por exemplo, em
pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES), dos quais 10% a
15% apresentam manifestações clínicas de SAF e 30-40% têm aPLs
presentes. A presença de aPLs em indivíduos assintomáticos ou
com LES não confirma o diagnóstico de SAF; no entanto, pode estar
associada ao aumento no risco de trombose ou morbidade
gestacional.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Ainda não está totalmente estabelecida. O alvo do anticorpo anti-
β 2 GPI é a β2 GPI, uma proteína plasmática que se liga avidamente
na superfície fosfolipídica, mais ainda quando dimerizada pela
ligação anticorpo-antígeno. Em situações normais, seu domínio I está
protegido do sistema imune. Quando há lesão endotelial, a β2GPI se
liga ao endotélio e sofre alteração conformacional, expondo o
domínio I. A ligação do anti-β2GPI e β2GPI desencadeia a
superexpressão de moléculas de adesão celular pró-trombótica
como E-selectina e fator tecidual. Além disso, suprime a atividade do
inibidor do fator tecidual, reduz a atividade da proteína C, libera
citocinas pró-inflamatórias e ativa o complemento, resultando no
aumento da formação de trombos. Alguns estudos sugerem que a
anexina A2 e o receptor ativador de plasminogênio tecidual também
tenham papel significativo; a superexpressão de glicoproteína IIb/IIIa
e plaquetas podem ter papel na interação pró-trombótica entre
anticorpos antifosfolípides e células endoteliais; ativação de
neutrófilos (expressão de fator tecidual e liberação de Netosis e
interleucina 8); monócitos e micropartículas destes expressam altos
níveis de fator tecidual. Além disso, pode ocorrer um aumento do
tônus vascular, aumentando a susceptibilidade a aterosclerose,
perda fetal e dano neurológico (figuras 1 e 2).
A teoria mais aceita é a dos dois alvos. A presença isolada dos
aPLs não seria suficiente para o desenvolvimento de eventos
trombóticos. Primeiramente ocorreria um dano endotelial e,
posteriormente, a potencialização da formação do trombo (a beta 2-
glicoproteína I não se liga ao endotélio inativo). Potenciais fatores
para o “segundo alvo” são: infecções, tabagismo, imobilização
prolongada, gestação e pós-parto, uso de contraceptivo oral, terapia
de reposição hormonal, neoplasias, síndrome nefrótica, hipertensão,
hiperlipidemia.
Na SAF obstétrica, um dos mecanismos é a ocorrência de
trombose uteroplacentária e a insuficiência vascular. Além disso, os
anticorpos aPLs parecem ter ação direta na função trofoblástica
placentária, diminuindo a viabilidade do trofoblasto, sincicialização e
capacidade para invasão. Acredita-se que ocorra também alteração
da produção de hormônios e ativação de receptores Toll like.
Painel A: anticorpos antifosfolípides são produzidos por células B; a ligação às superfícies aniônicas converte a β2GPI
fechada e não imunogênica em aberta e imunogênica.
Painel B: anticorpos antifosfolípides ligam-se a β2GPI imunogênica, resultando na ativação de célula endotelial,
complemento, plaquetas, neutró los, monócitos (incluindo o aumento de armadilhas extracelulares de neutró los -
NETosis). No painel B: coluna do meio, os anticorpos antifosfolípides promovem a formação de trombos; na coluna da
direita, os anticorpos interferem nos trofoblastos e células deciduais.
Painel C e D: mostram que através de múltiplos mecanismos, os quais não são exclusivos, os anticorpos antifosfolípides
resultam em in amação, vasculopatia, trombose e complicações gestacionais.
Anticorpos antifosfolípides, produzidos pelas células B, favorecem a formação de trombo, através da ativação de
monócitos, neutró los, células endoteliais e plaquetas. Estes mecanismos favorecem um estado pró-coagulante, que é
necessário, mas não su ciente para trombose. A formação de trombos requer 2 processos: a presença de anticorpos
antifosfolípides e ativação do sistema complemento.
• aPLs induzem a expressão de fator tecidual em células endoteliais, monócitos, neutró los, através da
fosforilação de p38 MAPK e subsequente ativação do fator nuclear κβ.
• a interação aPLs com células endoteliais, através da ligação de β2GPI na superfície celular, induz estado
proin amatório e pró-coagulante.
• há aumento da produção de interleucinas 1,6,8 e anti-TNFα, e aumento da adesão dos leucócitos, através de
moléculas de adesão, como VCAM-1, ICAM-1, e E-selectina. Além disso, há redução de óxido nítrico.
• aPLs interferem com componentes do plasma da cascata de coagulação, pela ruptura da ligação natural da
Anexina 5, inibindo proteínas anticoagulantes e afetando a brinólise.
• a ativação de neutró los aumenta a liberação de espécies reativas de oxigênio. Nos monócitos, as aPLs
colocalizam com anexina 2 e Toll like receptores 4, induzindo TNFα
• ocorre a indução de trombose e estenose vascular, devido à injúria endotelial e ativação do complemento.
Esses processos podem ser controlados em vários sítios, através de terapia combinada. As moléculas que incluem
monoterapia são: sirolimus (inibição de mTORC); estatinas (inibição da fosforilação de óxido nítrico sintetase endotelial);
inibidores de C3 ou C5 (eculizumabe), inibem o sistema complemento; inibição do fator tecidual (dilazep, de brotide);
depletores de células B (rituximabe); inibidor do fator de ativação de célula B (belimumabe); uso de antioxidantes
(coenzima Q10); inibição de PDI ou fator XIa, peptídeo sintético (acetilcisteína); antiplaquetários (aspirina) e
hidroxicloroquina.
Siglas: AKT (proteína quinase B); AnxA2 (anexina A2); AnxA5 (anexina A5); aPL (anticorpos antifosfolípides); ApoER2
(receptor 2 apolipoproteina E); eNOS (oxido nítrico sintetase endotelial); GPIIb/IIa (glicoproteína IIb/ IIIa); HCQ
(hidroxicloroquina); ICAM-1 (molécula de adesão intercelular 1); IL (interleucina); mTORC (alvo de complexo rapamicina de
mamíferos); NAC (n acetilcisteína); NFκB (fator nuclear κB); NO (óxido nítrico); P (grupo fosforil); PDI (proteína disul do
isomerase); PF4 (fator plaquetário); PI3K (fosfatidilinositol quinase 3); p38MAPK (proteína quinase ativada por mitogênio p
38); RAPTOR (regulação associada a proteína de MTROC1); RICTOR (ligante insensível); ROS (espécies reativas de oxigênio);
TF (fator tecidual); TLR (receptores Toll-like); TNFa (fator de necrose tumoral alfa); TXB2 (tromboxane B2); VCAM- 1 (molécula
de adesão celular vascular 1); XI (fator de coagulação XI); XIa (forma ativa do fator de coagulação XI); b2GPI (beta 2
glicoproteína I).
QUADRO CLÍNICO
• Eventos trombóticos: são os marcadores da SAF, sendo os
eventos venosos mais comuns que os arteriais. O risco de
trombose venosa e arterial e/ou tromboembolismo está
aumentado em pacientes com anticoagulante lúpico
positivo ou níveis moderados ou altos de anticorpos
anticardiolipina. Quando o paciente é triplamente positivo,
ou seja, apresenta os 3 anticorpos positivos, a chance de
recorrência dos eventos é maior. Considerando os eventos
venosos, a trombose venosa de membros inferiores é a
mais comum (ocorre em 20-30% dos pacientes com SAF),
entretanto, pode ocorrer o envolvimento pélvico, renal,
pulmonar, hepático, portal, axilar, subclávia, ocular, seios
cerebrais, veia cava inferior e veias superficiais. Já dentre
os eventos arteriais, o acometimento cerebral é o mais
comum (acidente vascular cerebral- AVC ou ataque
isquêmico transitório); no entanto, oclusão na retina,
coronárias, renal e mesentérica podem estar presentes.
Eventos trombóticos recorrentes podem ocorrer em 5-12%
dos casos.
• Neurológico: O AVC pode ser ocasionado pela trombose in
situ ou devido ao embolismo ocasionado por doença
valvular cardíaca. De rotina, emprega-se o ecocardiograma
transtorácico (se normal: é recomendada a realização de
ecotransesofágico, a fim de avaliar vegetações -
endocardite não bacteriana). Síndrome de Sneddon: livedo
reticular e AVC; metade dos casos apresentam aPLs
positivo. Déficits cognitivos e lesões de substância branca,
trombose seio venoso, epilepsia, psicose, coreia,
hemibalismo, mielopatia transversa, hipotensão ortostática,
enxaqueca e perda da audição neurossensorial (surdez
súbita) são outras manifestações que podem ocorrer.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Critérios clínicos Critérios laboratoriais
a. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Anticardiolipina: o achado de títulos baixos ou moderados
pode ser transitório e aparecer como consequência de
infecções, por isso se faz necessária a confirmação; títulos
moderados a altos, principalmente IgG, estão associados a
manifestações clínicas. O IgM pode suceder resultados falso-
positivos, especialmente na presença de fator reumatoide e
crioglobulinas. Este teste não é influenciado pela warfarina e
heparina.
b. Anticoagulante lúpico: é o maior preditor de trombose e
eventos obstétricos. Vários métodos são utilizados para sua
detecção devido a sua natureza heterogênea. São necessários
dois ou mais testes para rastreio. A detecção é feita em etapas:
primeira (é observado o prolongamento do tempo de formação
do coágulo in vitro; o prolongamento indica a presença de um
inibidor ou a deficiência de fatores de coagulação), segunda
(avalia a deficiência de fatores de coagulação através da
mistura de plasma do paciente com plasma normal, ocorrendo a
correção dos fatores necessários; na presença de um inibidor, o
teste permanece prolongado) e terceira (etapa confirmatória;
ocorre a adição de fosfolípides, que competirão com os
anticorpos aPLs, neutralizando a ação in vitro e corrigindo o
tempo de coagulação). O uso de heparina não fracionada,
warfarina e outros anticoagulantes orais gera resultado falso-
positivo.
c. Anti-β2 glicoproteína I: aumenta susceptibilidade de
eventos trombóticos.
d. Exames de imagem e histopatológicos: citados
anteriormente.
TRATAMENTO
a. Fase aguda de trombose: heparina de baixo peso molecular
1 mg/Kg de 12/12horas + anticoagulante oral (varfarina 5
mg/dia). Para pacientes idosos, pode ser iniciada varfarina na
dose de 2,5 mg/dia. Depois de 4 a 7 dias, checar INR, com o
objetivo de avaliar a suspensão da heparina (caso INR esteja na
faixa esperada: para eventos venosos entre 2-3 e arteriais entre
2,5-3,5). Duração da anticoagulação: tempo indeterminado
Sulfametoxazol
AINH Cimetidina Isoniazida
trimetropina
Folhas verdes: espinafre, brócolis, alface, couve, repolho Azeitona, cogumelos, tomate
Alimentos refogados ou processados em óleo Sopas que não sejam tipo creme
Maionese e temperos para salada, molho de tomate pronto Aves e peixes sem óleo
Fast-foods: hambúrguer, pizza, petiscos Lanches com pouca gordura e sem molhos
DICAS DO ESPECIALISTA
• Tripla positividade está associada à maior gravidade e
elevado risco trombótico.
• A ocorrência de trombose pode interferir nos níveis de
aPLs, o que sinaliza que este teste não deve ser solicitado
antes da 12ª semana após o evento.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 35 anos, sexo feminino, obesa,
procura o pronto-atendimento devido à dispneia há 1 dia,
mesmo em repouso, iniciada subitamente, negava tosse, negava
coriza, negava febre, negava obstrução nasal. Relatava também
ter notado dor e aumento de volume em membro inferior direito,
com evolução de 3 dias, sem história de trauma. Como
antecedentes pessoais: ndn; antecedentes obstétricos: 1
gestação e 1 natimorto com mais de 10 semanas de gestação,
feto morfologicamente normal (na ocasião, não foi feita
investigação)/antecedentes familiares: ndn/ hábitos e vícios:
negava tabagismo/negava uso de medicamentos.
b. Exames complementares: radiografia de tórax sem
alterações significativas, eletrocardiograma taquicardia sinusal,
ultrassonografia venosa com doppler de membro inferior direito
com sinais de trombose e angiotomografia de tórax com sinais
de TEP.
c. Hipóteses Diagnósticas: trombose venosa profunda e
tromboembolismo pulmonar/síndrome antifosfolípide (?).
d. Prescrição sugerida: Feita estratificação de risco de PESI:
baixo risco, sendo iniciada anticoagulação plena (enoxaparina 1
mg/kg subcutâneo de 12/12horas) e marevan 5 mg/dia
(considerando síndrome antifosfolípide como hipótese
diagnóstica e ausência de evidência com relação ao uso de
anticoagulantes orais diretos). Paciente permaneceu internada
até melhora clínica e meta terapêutica, INR entre 2-3.
Considerando obesidade com potencial gatilho para desfecho,
paciente foi orientada à realização de dieta, redução de peso e
sobre importância de atividade física. Além disso, foi orientada a
fazer acompanhamento com cardiologista para avaliação
cardiovascular/metabólica (dislipidemia/síndrome metabólica)
e encaminhada para ambulatório de Reumatologia, para
complementar a investigação.
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7.3
ARTRITE REUMATOIDE
Autora:
Yanne Franca Montino
DEFINIÇÕES
• Artrite reumatoide (AR) é uma doença sistêmica,
autoimune e inflamatória que acomete preferencialmente
as membranas sinoviais das articulações periféricas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A etiologia da doença é desconhecida, porém, muitos
estudos avançaram considerando como principal fator
genético no desenvolvimento da doença o antígeno
leucocitário humano HLA-DRB1 e a detecção de anticorpos
contra peptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP).
QUADRO CLÍNICO
• A AR é bastante variável quanto à apresentação clínica, à
gravidade e ao prognóstico. Mais tipicamente, apresenta-se
como doença poliarticular simétrica de pequenas e grandes
articulações, com início gradual, caráter crônico e
destrutivo.
• No entanto, alguns pacientes podem apresentar início
agudo com comprometimento articular intermitente ou
migratório ou com doença monoarticular.
EXAMES COMPLEMENTARES
• As provas de atividades inflamatórias como velocidade de
hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR) são
os marcadores mais utilizados para avaliar o grau de
atividade da AR, embora sejam desprovidas de
especificidade.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico da AR é feito por meio da associação de
manifestações clínicas e os exames complementares
(laboratoriais ou radiográficos).
1 grande articulação 0
Solorogia (0-3)
< 6 semanas
0
≥ 6 semanas
1
*Os diagnósticos diferenciais podem incluir condições tais como lúpus eritematoso sistêmico,
artrite psoriática e gota. Se houver dúvidas quanto aos diagnósticos diferenciais relevantes, um reumatatologista deve ser
consultado.
FR: fator reumatoide; ACPA: anticorpos antiproteínas e peptídeos citrulinados;
VHS: velocidade de hemossedimentação; PCR: proteína C reativa.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• O tratamento da AR inclui: educação do paciente e de sua
família, fisioterapia, apoio psicossocial, terapia ocupacional,
terapia medicamentosa e abordagens cirúrgicas.
• Terapia medicamentosa:
• Uso de anti-inflamatório não hormonais (AINHs) e
corticoides
• Os AINHs são utilizados para combate da dor e da
inflamação. A escolha do AINH deve ser individualizada,
pois não há estudos mostrando superioridade conhecida
por qualquer fármaco dessa classe. Deve-se ficar atendo a
condições clínicas que possam ser agravadas com uso
dos AINHs, como: insuficiência cardíaca, hipertensão
arterial, doença gastrointestinal, insuficiência renal,
hepatopatias e distúrbios de coagulação.
• Entre os AINHs convencionais, pode-se citar: indometacina
(100-150 mg/dia), cetoprofeno (100-150 mg/dia),
piroxicam e tenoxicam (20 mg/dia), nimesulida (200
mg/dia), meloxicam (15 mg/dia), diclofenaco (100-150
mg/dia), celocoxib (200 mg/dia).
• Atualmente há evidências para indicá-los como
participantes na modificação do curso da doença em
associação com as DMCD.
• É sugerido o uso de doses baixas (< ou igual 15 mg/dia) de
prednisona ou prednisolona. Devido a vários efeitos
colaterais, o tempo de uso deve ser abreviado ao menor
possível. Se os pacientes necessitarem de uso de
glicocorticoides prolongado (>3 meses), devem receber
suplementação de cálcio (1500 mg/dia de cálcio
elementar) e vitamina D3 (400-800 UI/dia). Para pacientes
em uso de concomitante de corticoide e AINH,
recomenda-se proteção gástrica com inibidor de bomba
de prótons. Uso de corticoide intra-articular deve ser feito
a qualquer momento do tratamento, porém uma mesma
articulação não deve ser infiltrada por mais de 3-4 ano.
• DMCD sintética
• Metotrexato - MTX
• É um imunomodulador cuja ação consiste na inibição da
síntese de DNA, RNA e proteínas devido à inibição da
enzima diidrofolato redutase. Atualmente, é o fármaco
padrão no tratamento da AR. Recomenda-se dose incial
de 10-15mg/semana, vo ou parenteral (IM ou SC). Caso
não se observe melhora ou controle da doença com a
dose inicial, deve-se aumentar progressivamente a cada
2-4 semanas até alcançar a dose de 20-30 mg semana.
Sugere-se a associação do MTX ao ácido fólico na dose de
5-10 mg/semana 24-48 h após o MTX, a fim de minimizar
os efeitos adversos. Os efeitos adversos mais frequentes
incluem: náuseas, vômitos, mucosite, anemia, neutropenia
e elevação de enzimas hepáticas. O MTX está
contraindicado em pacientes com hepatopatia, etilismo,
insuficiência renal, supressão da medula óssea. A
gestação e a amamentação estão formalmente
contraindicadas.
• Leflunomida - LEF
• É um agente imunomodulador que inibe a enzima
diidroorotato desidrogenase responsável pela síntese de
pirimidina. Melhora a atividade da doença e a qualidade
de vida. A dose recomendada é 20 mg/dia, mas podem
ser usados 20 mg/dias alternados. Está contraindicada
em hepatopatas, insuficiência renal gestação e
amamentação. Os efeitos adversos incluem: vômitos, dor
abdominal, náuseas, alteração das enzimas hepáticas,
exantema cutâneo, alopecia reversível. Em casos de
intoxicação, pode ser usada a colestiramina, na dose de 8
g 3 x ao dia durante 11 dias.
• Sulfassalazina - SSZ
• Pertence ao grupo dos salicilatos e sulfamidas, e é
desdobrada pelas bactérias intestinais na sulfapiridina
(tem vários efeitos imunomodulatórios, como inibição de
diversas funções neutrofilícas e linfocitárias, quimiotaxia
e inibição de prostraglandinas). Usualmente utilizada na
dose de 1-3 g/dia VO.
• Os efeitos colaterais gastrointestinais constituem um
fator limitante (náuseas, vômitos, dor abdominal e
diarreia). Está contraindicada para pacientes alérgicos a
salicilatos e a sulfas, e em indivíduos com porfiria.
• Anti-TNF
• A inibição do TNF demonstrou ser efetivo para controlar a
atividade da AR. O TNF é uma potente citocina
inflamatória expressa em grande quantidade no líquido
sinovial e soro de pessoas com AR. É responsável pela
liberação de outras citocinas, como: IL-6, IL-1, IL-8 e
estimula a produção de proteases.
• Em termo de eficácia, não existem dados que permitam
afirmar a superioridade de qualquer um dos cincos
agentes anti-TNF. Devem ser usados preferencialmente
associados ao MTX ou outra DMCD sintética, pois o uso
combinado mostrou-se um rápido benefício no controle da
atividade da doença quando comparado com uso do anti-
TNF como monoterapia.
• Infliximabe - IFX
• É um anticorpo monoclonal quimérico (humano-murino),
prescrito na dose de 3 mg/kg, endovenoso, seguido da
mesma dose nas segunda e na sexta semana e, depois, a
cada 8 semanas (0,2,6,8 semanas). Para pacientes que
não responderam satisfatoriamente, a dose pode ser
aumentada para 5 mg/kg por infusão, ou o intervalo entre
as doses pode ser diminuído.
• Golimumabe - GOL
• O GOL é um anticorpo monoclonal humano anti-TNF
administrado na dose de 50 mg/ mês, via subcutânea.
• Etanercepte - ETN
• É uma proteína de fusão composta por uma região Fc da
IgG e um fragmento Fab de um anticorpo anti-TNF.
Prescrita na dose de 50 mg/semanal, subcutânea.
• Adalimumabe - ADA
• É um anticorpo humano contra TNF, prescrito para
aplicação SC na dose de 40 mg a cada 15 dias.
• Certolizumabe - CERT
• É um fragmento Fab de um anticorpo anti-TNF
humanizado, com alta afinidade ao TNF, conjugado a duas
moléculas de polietilenoglicol. Prescrita a dose de 400 mg
a cada 2 semanas, nas semanas, 0,2,4 e, após isso, na
dose de 200 mg a cada 2 semanas ou 400 mg a cada 4
semanas.
• Rituximabe-RTX
• É um anticorpo monoclonal quimérico dirigido contra o
linfócito CD 20+. A dose administrada é de 1.000 mg em
duas infusões venosas em intervalo de 14 dias. Cada
infusão deve ser precedida de 100 mg de
metilprednisolona endovenosa 60 min antes e de 1 g de
paracetamol e anti-histamínico, para diminuir a gravidade
e frequência de reações infusionais. É indicado para
pacientes com AR em atividade moderada a grave com
falha à terapêutica ao anti-TNF.
• Abatacepte - ABAT
• É uma proteína de fusão CTLA-4- IgG, que atua como
inibidor da coestimulação dos linfócitos T. É indicado para
pacientes com AR em atividade que tiveram falha à
terapêutica com DMCD ou agentes biológicos. Deve ser
administrado como infusão venosa, durante 30 min, na dose
de 500 mg nos pacientes com menos de 60 kg, 750 mg em
pacientes entre 60-100 kg, e 1.000 mg naqueles com mais
de 100 kg. A dose seguinte deve ser aplicada duas a quatro
semanas após a dose inicial e, depois, a cada 4 semanas. É
contraindicado em pacientes com doença pulmonar
obstrutiva crônica, pois pode exacerbar o quadro e
aumentar os risco de infecção.
• Tocilizumabe - TOCI
• É um anticorpo monoclonal humanizado que se liga ao
receptor de IL-6, inibindo seu efeito. Prescrito na dose de
8 mg/kg, endovenoso, a cada 4 semanas.
• Pode ser usado como monoterapia, ou associado ao MTX
ou outras DMCD. Pode ocasionar plaquetopenia,
neutropenia e elevação de transaminases, os quais são
efeitos adversos dose dependentes. Aumenta o risco de
infecção e elevação do colesterol total e do LDL
(lipoproteína de baixa densidade). É indicado para
pacientes que falharam com outras DMCD.
Quando o paciente entra em remissão sustentada, por mais de 6-
12 meses (baseando nos índices compostos de atividade de doença),
pode-se tentar a retirada gradual das medicações iniciando
primeiramente os AINE, seguidos de glicocorticoides, depois DMCD
biológico, mantendo o uso de DMCD sintético. Se houver piora da
atividade da doença, deve-se reiniciar o esquema terapêutico
anterior e seguir as recomendações de dose inicial e de ajuste de
doses e troca de medicamentos indicadas no Protocolo.
Revisões periódicas devem ser realizadas para avaliar a eficácia
do tratamento e a monitorização de possíveis efeito adversos dos
medicamentos. O intervalo recomendado inicialmente é de 1-3
meses e, uma vez atingindo a remissão da doença e atividade leve
para pacientes com anos de evolução da AR, os intervalos podem ser
de 6-12 meses
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
*AINH: anti-in amatórios não hormonais; MMCD: medicamentos modi cados do curso da doença; MTX: metotrexato.
a Havendo contraindicação ao MTX, a sulfassalazina ou le unomida podem ser empregadas. Antimaláricos
(hidroxicloroquina/cloroquina) em monoterapia podem ser considerados em quadros com baixo potencial erosivo.
b As combinações mais utilizadas no Brasil são: MTX + antimaláricos, MTX + le unomida (com ou sem antimaláricos), MTX +
sulfassalazina (com ou sem antimaláricos).
c A meta do tratamento deve ser alcançar a remissão, conforme critérios ACR/EULAR ou, quando não for possível, a baixa
atividade da doença, avaliada por um dos índices compostos de atividade de doença.
d Não é recomendado o uso de um terceiro anti-TNF após falha das duas opções de anti-TNF.
e No Brasil, o rituximabe é recomendado, em combinação com MTX, para pacientes que tiveram resposta inadequada ou
intolerância a um ou mais anti-TNF.
f No caso de falha ou toxidade a um medicamento na terceira linha de tratamento, o próximo passo será trocar para outro
(MMCDb ou MMCDsae) listado nesse mesmo nível de complexidade, que não tenha sido previamente utilizado.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: RBS, 52 anos, sexo feminino, há 4 meses
queixa-se de dores articulares progressivas que iniciaram em
punhos, metacarpofalangeanas e interfalangeanas das ambas
as mãos, relatava também vermelhidão e inchaço associado.
Logo ao acordar, tem dificuldade de movimentar as mãos, que
parecem ficar duras, melhorando após 1-2 horas.
b. Exame físico articular: punhos com flexão diminuída
bilateralmente, edema e dor em 3º, 4º e 5º interfalangeanas da
mão direita, e 4ª e 5ª interfalangeana da mão esquerda, além
de presença de pequeno nodúlo em interfalangeana do 5º dedo
da mão esquerda. Joelhos apresentavam inchados, quentes e
dificuldade a flexão ativa e passiva.
c. Exames complementares: fator reumatoide-64 (vr- <14), FAN
negativo, anticcp - 128 u/mL (vr- reagente> 10) pcr-70 mg/dL (vr-
até 1,0 mg/dL), vhs- 55 mm/1h (vr-0-20 mm), sorologias para
hepatite b/c e HIV negativas.
d. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
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7.4
ARTRITES AGUDAS
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
DEFINIÇÕES
O sintoma de dor articular pode estar associado a várias doenças. Na avaliação inicial, é
importante observar se a dor é decorrente da articulação ou de alterações em partes moles.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Monoartrite aguda
Poliartrites inflamatórias
ARTRITE REUMATOIDE
OSTEOARTRITE INFLAMATÓRIA
QUADRO 1. ETIOLOGIA
Fonte : Adaptado de Helfegott2
A avaliação é feita através de: história completa; exame físico e exames complementares
(imagem: radiografia, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância), de acordo
com a avaliação; análise do líquido sinovial (Tabela 1) e interpretação de tal exame (fluxograma
1); exames de laboratório (solicitados de acordo com o quadro); biópsia sinovial (reservada para
casos de monoartrite refratária, suspeita de infecções atípicas ou tumores intra-articulares).
Leucócitos
< 200 0 a 2 mil > 2 mil > 20 mil Variável
cel/mm3
Polimorfonu-
< 25 < 25 > ou igual 50 > ou igual 75 50 a 75
cleares (%)
**Artrite in amatória pode incluir artrite séptica. Artrite séptica gonocócica pode cursar com
a contagem de leucócitos baixa.
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
• Características:
• Primária ou secundária.
• É a causa mais comum de condrocalcinose.
• Está fortemente associada à idade (≥ a 65 anos) e, em alguns casos, a fatores
hereditários.
• Manifestação: assintomática, sinovite aguda ou artropatia degenerativa; acomete
notadamente joelhos, punhos e quadris; é a causa mais comum de monoartrite em
idosos.
• Quadro clínico:
• Latente ou assintomática: alteração radiológica (condrocalcinose: calcificação da
cartilagem hialina ou fibrocartilagem).
• Pseudogota: artrite aguda, mais comum em idosos, pode ocorrer febre; geralmente é
monoarticular (comum em: joelhos, punhos, ombros, cotovelos e tornozelos),
autolimitada (duração de 1-3 semanas) e pode coexistir com gota. Situações
desencadeantes mais comuns: trauma articular, doença clínica intercorrente, cirurgia,
transfusão de sangue, lavagem articular.
• Pseudo-osteoartrite: joelhos, quadris, punhos, metacarpofalangeanas (2-3ª), ombros e
cotovelos/diferença com osteoartrite: locais pouco usuais para osteoartrite, como:
punhos, cotovelos e tornozelos, acometimento preferencial de compartimento medial
de joelho, ausência de trauma ou sobrecarga, inflamação mais proeminente,
sobreposição de ataques agudos
• Pseudoartrite reumatoide (ocorre em 5% dos casos): poliarticular, não erosiva, + ou -
sintomas sistêmicos.
• Pseudo-neuropática: alterações degenerativas importantes (semelhantes a Charcot),
sem alteração neurológica.
• Outras: axial (síndrome do dente coroado, por exemplo), tendinite ou tenossinovite,
bursite, tofácea (articulação temporomandibular é a mais comum).
INFECCIOSAS
O possível papel de microrganismos externos (vírus, bactérias, fungos) como causa ou gatilho
para artrite inflamatória é complexo. A associação entre infecções e artrite pode ser dividida em
4 grupos: I (artrite séptica ou infecciosa como causadora inicial), II (artrite pós-infecciosa com o
antígeno bacteriano sendo encontrado na articulação), III (artrite reativa com infecção originária
do trato genitourinário ou gastrointestinal, mas sem a detecção do microorganismo na
articulação) e IV (artrite inflamatória desencadeada por microrganismo).
Doença articular degenerativa, diabetes mellitus, artrite reumatoide, insu ciência renal
FATORES SISTÊMICOS
crônica, malignidades
OUTROS FATORES Extremos de idade, hospitalização prolongada, uso de agentes biológicos, áreas endêmicas
Idosos Streptococcus
Imunocomprometidos, injeções
M. tuberculosis, M. kansasii, M. marinum, M. avium intracelular, M. fortuitum, M.
intra-articulares, artroscopia,
haemophilum, M. terrae, M. chelonae, Nocardia asteroides, Fungos .
HIV associado
Transmitida pela N. gonorrhoeae; pode afetar Recém-nascidos; adultos idosos; adultos com
orofaringe, ânus ou conjuntiva; predomínio comorbidades: diabetes, artrite reumatoide,
em mulheres e adultos sexualmente ativos. osteoartrite.
Fatores de risco: infecção mucosa
assintomática, múltiplos parceiros, uso de
drogas endovenosas, baixo nível
Características
socioeconômico, de ciência de
complemento, LES e anemia falciforme
Bom Ruim
Mortalidade de 10-20%
Prognóstico A poliartrite séptica por esta lococo ou em
pacientes com artrite reumatoide, tem taxa
de mortalidade de 50%
OSTEOMIELITE
Quando a bacteria atinge o osso, sendo o agente mais frequente o S. aureus. O diagnóstico
etiológico é feito pelo isolamento do agente através da punção óssea ou de estruturas próximas.
Investigação radiológica: cintilografia óssea é a mais sensível.
8. Síndrome da linfocitose
in ltrativa difusa: aumento de
parótidas secundárias à in ltração
de linfócitos (T CD8), olho e boca
secos, artralgia, linfoadenopatia
generalizada. Pode afetar fígado,
pulmão, TGI, rins, timo e sistema
nervoso; homens com menos de
40 anos; FR, Anti-Ro e Anti-La são
negativos; tendem a ter uma
progressão lenta para AIDS.
Outras: osteonecrose;
osteoporose; miopatia/ mialgia;
vasculite (poliarterite nodosa
induzida por droga como:
didanosina e zidovudina);
síndrome lúpus símile (rara, entra
Retrovírus
Moderada em remissão com baixas Crônica - -
(HIV)
contagens de CD4); bromialgia
(30%); síndrome antifosfolípide;
síndrome de Sjogren (diagnóstico
diferencial com: linfoproliferativas e
granulomatosas)
Síndrome da reconstituição
imunológica: intensa reação e
in amação tecidual, nas infecções,
desencadeada pela terapia
antirretroviral.
*FEBRE CHIKUNGUNYA
O vírus chikungunya (CHIKV) pertence à família Togaviridae, do gênero Alphavirus. A origem
do nome vem do makonde, um dos dialetos falados na Tanzânia, e significa “curvar-se para frente
ou contorcer-se”, referência à postura adotada pelo paciente devido às dores articulares. No
Brasil, os principais vetores são o Aedes aegypti e o Aedes albopictus, cujas fêmeas têm a
capacidade de infectar seres humanos através da picada, momento em que são inoculados vírus.
Juntamente à saliva, ocorre a replicação viral e disseminação linfática, com acometimento de
órgãos-alvo.
O período de incubação do vírus é de 3 a 7 dias. A doença pode evoluir em 3 fases: aguda (até
14 dias; sintomática em 80-97% dos pacientes, caracterizada por febre de início súbito, artralgia
e/ou artrite com padrão simétrico e poliarticular, acometendo punhos, mãos, tornozelos, pés;
outros sintomas: astenia, mialgia-60-93%, cefaleia-40-81%, náuseas/vômitos, diarreia, fotofobia,
dor retroorbital, conjuntivite, dor axial, exantema macular/maculopapular-34-50%/ com ou sem
prurido cutâneo, edema de face e extremidades e linfadenopatia cervical ou generalizada),
subaguda (15 dias a 3 meses; ocorre em até 50% dos pacientes; há o predomínio de sintomas
articulares, como: artralgia/artrite, bursite, tenossinovite, rigidez matinal e astenia, com evolução
contínua ou intermitente) e crônica (acima de 3 meses; ocorre entre 14,4 a 87,2% dos pacientes;
sob a forma de queixas persistentes - 20-40% ou recidivantes - 60-80%; oligo ou poliartralgia de
intensidade variável, geralmente simétrica, notadamente em punhos, mãos, tornozelos e joelhos,
associadas a rigidez matinal e edema articular; alguns fatores foram associados à evolução
crônica como: sexo feminino, > 40 anos, doença articular prévia, comorbidades, doença articular
importante na fase aguda).
CRITÉRIOS Início abrupto, febre > 38,5°c e artralgia/artrite intensa de início agudo, não
CLÍNICOS explicadas por outras condições médicas.
RNA = Ácido ribonucleico; PCR = Reação em cadeia de polimerase; PRNT = teste de neutralização por redução de placa; chikv =
chikungunya vírus.
A.1. Em situações de epidemia, diante de um quadro agudo de febre, artralgia/artrite intensa, com ou sem exantema, a
possibilidade de febre chikungunya deve ser fortemente considerada. No entanto, outras doenças febris agudas devem
entrar no diagnóstico diferencial, principalmente diante de casos graves ou atípicos. Concordância: 9,31 (DP ± 1,168); nível de
evidência.
A.2. Em pacientes com suspeita clínica de febre chikungunya na fase aguda, a avaliação laboratorial (hemograma, enzimas
hepáticas, creatinina, glicemia de jejum, VSH/PCR) deve ser decidida caso a caso, a depender das comorbidades e sinais de
gravidade. Concordância: 7,12(DP ± 3,5), nível de evidência.
A.3. A detecção do CHIKV deve ser feita apenas para os casos nos quais se faça necessária a con rmação diagnóstica na fase
aguda: casos atípicos, diagnóstico diferencial diante de formas graves de apresentação ou para de nir estratégias de saúde
pública (suspeição de novos focos ou de casos pós-epidêmicos), para as quais o método de escolha é a PCR em tempo real,
deve essa ser solicitada na primeira semana de sintomas. Concordância: 9,19 (DP ± 0,834), nível de evidência.
A.4. Para os casos agudos de febre chikungunya, a sorologia para CHIKV (IgM e IgG) só deve ser feita nas formas atípicas ou
diante da necessidade de diagnóstico diferencial; deve ser solicitada a partir do décimo dia do início dos sintomas. Nas
formas crônicas, a solicitação da sorologia é recomendada para con rmação diagnóstica, mas não para o início do
tratamento. Concordância: 9,29 (DP ± 1,510); nível de evidência.
A.5. Autoanticorpos na fase crônica da febre chikungunya só devem ser solicitados mediante a necessidade de diagnóstico
diferencial com as doenças reumatológicas especí cas, obedecendo-se aos consensos/diretrizes existentes. Concordância:
8,55 (DP ± 2,593); nível de evidência.
A.6. Na fase aguda e subaguda da febre chikungunya, a maioria dos pacientes não necessita de exames de imagens. Na fase
crônica, a radiogra a simples deve ser solicitada na primeira consulta com o reumatologista, como avaliação estrutural inicial
ou de dano preexistente. Concordância: 9,70 (DP ± 0,651); nível de evidência.
A.7. A ultrassonogra a musculoesquelética pode auxiliar na avaliação de alterações articulares e periarticulares em qualquer
fase da febre chikungunya. Na fase aguda, é o único exame de imagem que pode ser feito, a critério médico; é especialmente
útil no diagnóstico diferencial do edema de membros inferiores. Concordância: 9,29(DP ± 1,510); nível de evidência.
B. SITUAÇÕES ESPECIAIS
B.1. No tratamento das gestantes com febre chikungunya, deve-se levar em consideração o risco dos medicamentos para o
feto e, se indicados, analgésicos, prednisona/prednisolona e hidroxicloroquina podem ser usados. Concordância: 9,71 (DP ±
0,534); nível de evidência.
B.2. A febre chikungunya, por si só, não é indicação de parto operatório, devendo ser puramente obstétrica. O aleitamento
materno é permitido. Concordância: 9,67 (DP ± 0,547); nível de evidência.
B.3. Em idosos (> 60 anos) com febre chikungunya recomenda-se em todas as fases da doença, especialmente na fase
aguda, supervisão clínica rigorosa no que se refere ao uso de medicamentos, comorbidades e maior risco de complicações.
Concordância: 9,61 (DP ± 0,737); nível de evidência.
B.4. Crianças abaixo de dois anos devem receber atenção especial pelo maior risco de manifestações graves e atípicas,
particularmente ao acometimento do SNC. Concordância: 9,30 (DP ± 1,179); nível de evidência.
B.5. Recém-nascidos de mães com quadro clínico sugestivo de febre chikungunya próximo ao parto devem car sob
observação rigorosa nos primeiros cinco dias de vida. Deve ser feito uso racional de medicações para os que desenvolvem a
doença e manejo dos casos complicados em unidade de terapia intensiva. Concordância: 9,54 (DP ± 0,838); nível de
evidência.
B.6. Na fase aguda da febre chikungunya em crianças, o tratamento consiste em hidratação, analgésicos e antitérmicos;
deve-se evitar uso de salicilatos. Na fase crônica, sugere-se seguir as recomendações dos adultos, levar-se em consideração as
particularidades inerentes à faixa etária. Concordância: 9,48 (DP ± 0,785); nível de evidência.
B.7. Recomendamos atenção em pacientes com diagnóstico prévio de artrite reumatoide, espondiloartrites ou lúpus
eritematoso sistêmico, visto que pode ocorrer reativação ou exacerbação da doença de base. Concordância: 9,42 (DP ±
1,840); nível de evidência.
TRATAMENTO
Orientar os casos suspeitos sobre medidas de proteção antivetorial: mosquiteiro, repelente,
roupa de manga comprida e calça, além de ações na residência visando impedir a proliferação do
mosquito.
TRATAMENTO
C.1. Na fase aguda da febre chikungunya devem ser usados analgésicos comuns e/ou opioides fracos (em casos de dor
intensa ou refratária), devem ser evitados AINEs e salicilatos. Os corticosteroides (CE) não são recomendados nessa fase para
as manifestações musculoesqueléticas. Concordância: 9,31 (DP ± 0,8906). Grade: qualidade de evidência muito baixa.
C.2. Na fase subaguda da febre chikungunya podem ser usados AINEs e/ou medicações adjuvantes para tratamento da dor
(anticonvulsivantes ou antidepressivos) nos casos refratários a analgésicos/opioides. Nos pacientes com dor
musculoesquelética moderada a intensa ou naqueles com contraindicações ao uso dessas medicações, é recomendado o
uso de prednisona ou prednisolona, na dose de até 20 mg/dia, devendo a redução ser feita de modo lento e gradual, de
acordo com a resposta do paciente. Concordância: 9,24 (DP ± 1,057). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.3. Na fase crônica da febre chikungunya, é recomendado o uso de analgésicos para alívio sintomático. Os opioides fracos
(codeína e tramadol) podem ser usados nos sintomas álgicos refratários ou intensos (EVA ≥ 7). Concordância: 9,57 (DP ±
0,741). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.4. Na fase crônica da febre chikungunya são recomendados os AINEs, devendo-se observar o contexto clínico, as
contraindicações e a resposta terapêutica. Concordância: 8,97 (DP ± 1,679). Grade: qualidade de evidência baixa a muito
baixa.
C.5. Na fase crônica da febre chikungunya, o corticosteroide por via oral pode ser usado para as queixas musculoesqueléticas
e neuropáticas, sendo recomendadas doses baixas (5 a 20 mg/dia de prednisona ou prednisolona). O tempo de uso pode
variar de seis a oito semanas, devendo a retirada ser lenta e gradual, devido ao risco de recidiva dos sintomas articulares.
Concordância: 9,24 (DP ± 1,154). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.6. Na fase crônica da febre chikungunya pode ser usado antimalárico, preferencialmente hidroxicloroquina, no tratamento
dos sintomas articulares, de forma isolada ou em associação com MTX ou SSZ. Concordância: 9,21 (DP ± 1,166). Grade:
qualidade de evidência baixa.
C.7. Em pacientes com febre chikungunya que evoluem para a fase crônica e apresentam quadro articular in amatório na
di culdade da retirada do CE, sugerimos preferencialmente MTX, nas doses de 10 a 25 mg/semana. Concordância: 9,43 (DP ±
0,858). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.8. Na fase crônica da febre chikungunya pode ser usada a sulfassalazina, na dose de 2 a 3 g/dia, isolada ou em associação,
especialmente em pacientes com contraindicação ou falha ao MTX. Concordância: 8,77 (DP ± 1,794). Grade: qualidade de
evidência baixa a muito baixa.
C.9. Terapia biológica pode ser prescrita após avaliação do reumatologista em pacientes com quadro articular in amatório
crônico pós-infecção pelo CHIKV, refratário ao uso de CE e DMCDs, de acordo com as recomendações usadas para o
tratamento da AR ou EpA. Concordância: 8,97 (DP ± 1,267). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.10. Durante a fase aguda, nos pacientes em terapia biológica para sua doença de base, recomenda-se a suspensão da
medicação. No entanto, nas fases subaguda e crônica, o tratamento pode ser mantido. Concordância: 8,97 (DP ± 1,884).
Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
TRATAMENTO
C.11. São recomendadas intervenções de reabilitação em todas as fases da febre chikungunya como medida não
farmacológica complementar. Na fase aguda são indicadas condutas analgésicas e anti-in amatórias, devendo ser evitado o
uso de calor; adicionalmente devem ser recomendadas educação do paciente, orientações posturais e terapia manual, além
de exercícios de leve intensidade. Nas fases subaguda e crônica, manter recomendações anteriores, pode ser incluído calor,
além de exercícios ativos livres, resistidos, proprioceptivos e aeróbicos, alongamento, terapia manual e sioterapia aquática.
Concordância: 9,43 (DP ± 0,935). Grade: qualidade da evidência muito baixa.
QUADRO 9. TRATAMENTO
Fonte: Marques.90
ME, musculoesquelética; EVA, escala visual analógica; AINE, anti-in amatório não esteroidal; HCQ, hidroxicloroquina
ARTROPATIA TUBERCULOSA
EPIDEMIOLOGIA
A infecção por Mycobacterium tuberculosis ocorre pela inalação, ingesta de bactérias ou
inoculação direta. O acometimento musculoesquelético é responsável por 10-35% dos casos de
tuberculose (tb) extrapulmonar.
QUADRO CLÍNICO
• Espondilite (Doença de Pott)
Disseminação hematogênica de um foco primário; a coluna é afetada em 50% dos casos,
sendo a torácica e lombar os locais mais frequentes; curso subagudo. Manifestações clínicas: dor
local, perda de peso, febre baixa, sudorese noturna, mal estar; insidioso (semanas a anos);
paraparesia e paraplegia, proeminência espinhal ou deformidade gibosa (cifose + escoliose).
Imagem: alterações sugestivas de Tb (progressão lenta das lesões com espaço discal
preservado, envolvimentos de segmentos contíguos, grandes abscessos intraósseos e
paravertebrais e colapso vertebral). A RNM é o melhor exame (início: reabsorção de margens
densas de placas terminais e desmineralização, redução espaço discal, edema partes moles/
final: lesão lítica do corpo vertebral anterior, colapso vertebral e cifose)
• Artrite Periférica
Geralmente monoarticular, crônica, insidiosa; mais comum afetar: quadris (mais comum),
joelhos, costelas, sacro e esternoclaviculares. Imagem: iniciais (aumento partes moles e derrame
articular), tardias (erosões ósseas periféricas, destruição articular com redução do espaço
articular e osteoporose justa-articular: tríade de Phemister). Recomenda-se TC, RNM e
cintilografia para estabelecer o diagnóstico.
• Osteomielite
Acomete crianças e adultos; ocorre mais em fêmur e tíbia; apresenta-se como abscesso frio
(edema, discreta dor e eritema). Imagem: cavitações em 50% dos casos, lesões líticas com
margens borradas, pouca esclerose óssea, evolui com alargamento da diáfise.
• Paniculite
Apresenta-se como eritema nodoso + ou /- poliartrite
• Casos suspeitos
Paciente com Tb prévia, procedimentos invasivos, uso de biológicos, baixo nível
socioeconômico, comorbidades.
DIAGNÓSTICO
• Rastreio primário: PPD ou IGRA.
• Diagnóstico definitivo: demonstração do agente por semeadura, cultura ou técnicas
moleculares. É importante a realização de testes de sensibilidade de
antituberculostáticos.
Ocorre após a Causada pela inalação de Leveduras Causada por Sporothrix Blastomyces Cryptococcus Coccidioides
inalação de Paracoccidioides brasiliensis do gênero qualquer Encontrado no dermatitidis neoformans immitis e
esporos de Candida sp espécie do solo, animais, Disseminação a posadasii
Causa fungos gênero vegetação em partir dos
Histoplasma Aspergillus decomposição pulmões
capsulatum
Características
Entre 30-50 anos, Micose profunda, sistêmica Doença de Paciente Atividades Atividades l Uso de Atividades ao ar livre,
mais em e granulomatosa. paciente imunossuprimido, laborais ao ar livre, aborais ao corticoesteróides, pro ssões que exijam
mulheres. Aguda (afeta mais jovens) e imunossuprimido, transplante de alcoolismo e ar livre neoplasias aerossolização de
Evolução aguda e a crônica (mais homens, debilitado e com células-tronco, doenças hematológicas, solo/ reativação de
benigna ou geralmente agricultores). períodos órgãos sólidos, mieloproliferativas sarcoidose, cirrose infecção preexistente
progressiva e Febre baixa, mal-estar, prolongados de neoplasia hepática e Aids em imunossuprimido
grave. linfonodomegalias, úlceras internação. hematológica, Inoculação por
orais, deformidades, injeção intra- trauma direto
Na maioria dos envolvimento pulmonar e Relatos pós- articular de Infecta através do
casos é outros. procedimentos corticosteroides. Arranhões ou trato respiratório
assintomática e mordidas de
autolimitada. roedores, gatos, Contato com aves
Fatores de risco: cães, cavalos e urbanas,
imunossupressão, tatus excrementos e
> 54 anos, madeira
transplante renal, apodrecida
riscos
ocupacionais
(exposição a
excrementos de
aves,
exploradores de
cavernas)
Diagnóstico
Geralmente os Formas leves a moderadas: Fluconazol 400 Debridamento Debridamento se Casos Exige Fluconazol: 400 mg a
sintomas intraconazol 200 mg/dia mg/dia por 6 clínico e necessário moderadamente debridamento ou 1200 mg/kg/dia por
articulares são por 9 a 18 meses semanas cirúrgico Itraconazol: severos ou drenagem toda a vida
autolimitados. *alternativa: sulfametoxazol *alternativa: Medicamentos: 200 mg 2x/dia por graves:
800 mg+trimetoprima 160 Anfotericina B Voriconazol (6 pelo menos 12 anfotericina, Paciente com HIV Doença óssea severa:
Podem ser mg,2-3x/dia por 12-24 lipídica mg/kg IV 2 meses por 1 a 2 e anfotericina B, e
utilizados anti- meses (3-5 mg/Kg/dia) vezes/dia, semanas ou até meningoencefalite: posteriormente,
in amatórios ou ou por 1 dia, Casos de melhora clínica, anfotericina B uconazol
corticóide via oral. Formas graves: anfotericina deoxicolato (0,5- seguido de acometimento seguida de deoxicolato
B por 2 a 4 semanas 0,7 mg/Kg/dia) 4 mg/kg extenso ou não itraconazol (0,7 a 1 mg/kg/dia)
Tratamento *alternativa: sulfametoxazol por 2 semanas, durante pelo respondedores a 200 mg 3x/dia, +
da doença: 800 mg seguida por menos 7 dias, itraconazol: por 3 dias, ucitosina
Leve a trimetoprima 160 mg, uconazol por seguido de dose anfotericina seguido por (100 mg/kg/dia
moderada: 3x/dia, pelo menos de 2x/dia, dividida em
itraconazol 200 com 4 semanas manutenção completando-se 4 doses, por
mg VO 3 posterior via oral pelo menos pelo menos
vezes/dia por 3 troca para Observações: 200 mg/dia 12 meses 2 semanas,
dias; intraconazol mortalidade por 8 semanas). seguida de
seguida de chega a 56%. Itraconazol Moderadas: uconazol
200 mg Medidas de (não é a itraconazol 400 mg/dia
2 vezes/dia prevenção: primeira 200mg por pelo menos 8
por pelo controle do linha de 3x/dia, por semanas
Tratamento menos diabetes, tratamento). 3 dias, e depois
12 meses, vigilância de seguido por pro laxia
Graves: cateteres, Anfotericina B 2x/dia, por secundária
anfotericina B pro laxia para (alta taxa de no mínimo (200 mg/dia)
lipossomal (3-5 pacientes mortalidade) 12 meses Pacientes não
mg/kg/dia IV selecionados imunossuprimidos
durante 1-2 e com
semanas); acometimento
manutenção SNC:
com itraconazol anfotericina B por
por 12 meses. no mínimo 4
semanas
(condicionada a
negativação de
cultura para fungo
no líquor), seguida
de manutenção
uconazol (
400 mg/dia por 8
semanas); sem SNC
( uconazol 400
mg/dia por 6-12
meses)
FEBRE REUMÁTICA
É
É comum entre as idades de 4 e 9 anos. Crianças pequenas tendem a apresentar febre e
cardite com mais frequência, enquanto a artrite é mais comum em adultos. Os sintomas
geralmente começam 2 a 3 semanas após a infecção por estreptococos beta-hemolítico do
grupo A (EGA).
QUADRO CLÍNICO
• Artrite:
• Mais grave e comum em adultos jovens; geralmente afeta grandes articulações
(joelhos, cotovelos, punhos e tornozelos), duração de dias a 1 semana, caráter
migratório, resolutivo na maioria dos casos; excelente resposta a anti-inflamatório não
hormonal com remissão em 48-72 horas. Geralmente não causa sequelas.
• Pode ocorrer sobreposição dos locais afetados, dando efeito aditivo.
• Artropatia de Jaccoud pode acontecer.
• Cardite:
• 40-91% dos casos.
• Aguda: sopros cardíacos, cardiomegalia, insuficiência cardíaca, derrame pericárdico,
bloqueios cardíacos, miocardite, pericardite. Achado mais comum é regurgitação
mitral.
• Indolente subclínica - crônica: maior causa de doença valvular adquirida; na maioria
dos casos ocorre de 10 a 20 anos após o episódio inicial; pacientes com < 30 anos
geralmente apresentam regurgitação mitral pura, enquanto adultos de meia-idade,
estenose mitral/válvula aórtica acometida em 20-30% dos casos.
• A presença de insuficiência mitral e aórtica concomitantes, em um paciente sadio, é
altamente sugestiva de febre reumática.
• Eritema nodoso:
• Rara. É uma erupção evanescente, rosa, sem prurido e indolor, que se estende
centrifugamente, enquanto o centro volta ao normal; ocorre mais em membros e
tronco, poupando a face.
• Fortemente associado à cardite e pode ocorrer em qualquer momento no curso da
doença.
• Nódulos subcutâneos:
• Superfícies ósseas ou tendões.
• Firmes, indolores e móveis, com duração de menos de 1 mês.
• Mais comuns em pacientes com história de cardite ativa prolongada.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação elevadas; leucocitose e leve
anemia
Esquema dose
Cefalexina: 50-100 mg/Kg/dia 6/6h
Cefalosporina de 1ª geração Cefadroxila: 30 mg/Kg/dia 12/12h 10 dias.
20 mg/kg/dia 1 vez/dia.
Azitromicina Dose máxima: 500 mg/dia 5 dias.
• Artrite
O tratamento recomendado é o ácido acetilsalicílico (AAS) na dose de 80-100 mg/kg/dia
(dividida em 4 tomadas), em crianças. Após 2 semanas de tratamento e com melhora do quadro
clínico, reduzir dose para 60 mg/kg/ dia, por mais 4 semanas. Para adultos recomenda-se 4-8
g/dia, divididos em 4-5x/dia. Em caso de suspeita de processo viral agudo: evitar ou suspender o
uso de AAS. Como alternativa, tem-se naproxeno (para crianças: dose de 10-20 mg/kg/dia,
dividida em 2 tomadas, por 4 semanas; adultos: 250-500 mg 2x/dia).
• Cardite
• Cardite: recomenda-se prednisona 1-2 mg/kg/dia, via oral (ou o equivalente via
endovenosa), por 2-3 semanas, dependendo da clínica e exame laboratorial, reduzir 20-
25% da dose a cada semana (o tratamento deve ter duração de ±12 semanas na
moderada e grave e 4-8 semanas na leve).
• Cardite grave, refratária ao tratamento inicial ou naqueles que precisam de cirurgia
emergencial: pulsoterapia com metilprednisolona (30 mg/kg/dia endovenoso) em
ciclos semanais.
• Controle de insuficiência cardíaca: diuréticos, restrição hídrica.
• Furosemida (dose de 1-6 mg/kg/dia) e espironolactona (dose de 1-3 mg/kg/dia).
• Estão indicados: os inibidores de enzima conversora de angiotensina (IECA),
principalmente nas situações de insuficiência aórtica importante (captopril 1-2
mg/kg/dia ou enalapril 0,5-1 mg/kg/dia); digoxina (na presença de disfunção
ventricular, confirmada pelo ecocardiograma ou de fibrilação atrial), sendo
recomendada a dose de 7,5-10 mcg/kg/dia em crianças e de 0,125-0,25 mg/dia em
adultos.
• Fibrilação atrial: considerar anticoagulação.
• Coréia
• Autolimitada (maioria dos casos).
• Leve a moderada: repouso em ambiente calmo; podem ser utilizados fenobarbital e
benzodiazepínicos.
• Graves: hospitalização pode ser necessária. Em casos moderados a graves, o uso de
prednisona na dose de 1-2 mg/kg/dia, por 2 semanas, com redução gradualmente ao
longo das próximas 2 a 3 semanas, tem sido proposto. Para casos graves, a
imunoglobulina e a plasmaférese também têm sido utilizadas; no entanto, os dados
são limitados.
• Os fármacos utilizados são:
• → Haloperidol 1 mg/dia em duas tomadas, aumentando 0,5 mg a cada três dias, até
atingir boa resposta (mais de 75% de remissão dos movimentos) ou dose máxima
de 5 mg ao dia. Duração de 3 meses
• → Ácido valproico 10 mg/kg/dia, aumentando 10 mg/kg a cada semana até dose
máxima de 30 mg/kg/dia.
• → Carbamazepina (7-20 mg/kg/dia)
b. Monitorização
FR com cardite prévia, insu ciência mitral Até os 25 anos de idade ou 10 anos após o último
I-C
leve residual ou resolução de lesão valvar surto (vale o que cobrir maior período)
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7.5
GOTA
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
Gota é uma desordem que se manifesta com um espectro de
características clínicas e patológicas, devido ao excesso de ácido
úrico sérico, o qual varia entre 6,8 a 7 mg/dL (considerado limite de
solubilidade de urato nos fluidos fisiológicos). Os cristais de urato
monossódico (MSU) saturados nos fluidos extracelulares podem se
depositar nas articulações, bursas, tendões, tecidos cutâneos e
auriculares, e são detectados pelo exame físico e/ou de imagem.
Litíase renal, nefropatia parenquimatosa, acometimento ocular e
visceral também podem ocorrer.
É uma das doenças reumatológicas mais comuns em adultos de
meia-idade, notadamente no sexo masculino, e em mulheres após a
menopausa (o estrogênio e a progesterona estão relacionados à
queda nos níveis de ácido úrico sérico). Tem sido observado um
aumento na prevalência de gota com o avançar da idade, e os
principais fatores envolvidos para tal incluem: longevidade, uso de
medicamentos, insuficiência renal crônica, hipertensão arterial,
obesidade e síndrome metabólica. Além disso, há evidência de
associação entre ácido úrico circulante e hipertensão, doença renal e
risco de eventos coronarianos. A história familiar está presente em
até 40% dos casos.
Os fatores de risco para hiperuricemia e gota são divididos em
fatores não modificáveis e modificáveis (Quadro 1).
- - Medicamentos
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O urato é o produto final de degradação da purina e seu nível
depende da dieta, da síntese endógena de purinas e de sua excreção
(renal e intestinal), além de sofrer influência de pH, temperatura,
desidratação, entre outros.
A quantidade de urato ingerido diariamente é baixa e de pouca
absorção. Contudo, os níveis de urato são mantidos abaixo da sua
concentração máxima (6,8 mg/mL), através da excreção renal e
intestinal. Quando sua concentração máxima é ultrapassada, pode
aumentar a chance de cristalizações, sobretudo nas extremidades.
No processo de degradação, as purinas são convertidas em
xantinas e, na sequência, em ácido úrico. Esse composto orgânico é
transformado em urato, um sal orgânico que é produto final do
metabolismo das purinas no organismo (Figura 1). No rim saudável,
100% do urato é filtrado e 5-10% é excretado, ao passo que, quando
há alteração da função renal, 3-5% é excretado. O processamento
ocorre no túbulo proximal, onde transportadores funcionam para
reabsorção (URAT1, OAT4, OAT10, GLUT9), secreção (NPT1 e 4, MRP,
e OAT1, 2, 3) de ácido úrico. O sistema renal de excreção de urato de
pacientes com gota pode ser menos responsivo ao aumento do
ácido úrico sérico. O mecanismo de excreção intestinal do urato tem
sido menos estudado. Recentemente, foi observada perda de função
de uma bomba secretória ABCG2 como possível causa de
hiperuricemia. A redução no funcionamento da ABCG2 ocasiona
redução da excreção extrarrenal e aumento compensatório de
eliminação de urato na urina (Figura 2).
O urato tem atividade pró-inflamatória e, ao ser fagocitado,
estimula a produção de citocinas inflamatórias, em particular a IL-1,
causando uma inflamação crônica. Geralmente essa inflamação
mantém um equilíbrio entre as citocinas pró-inflamatórias e os
inibidores, levando a uma inflamação subclínica, porém qualquer
desequilíbrio pode desencadear uma crise aguda, com intensa
inflamação local (Figura 3).
A gota é consequência do aumento do ácido úrico sanguíneo, seja
por hiperprodução (corresponde a 10% dos casos), seja por
diminuição da sua excreção (90%), levando à sua deposição articular
e/ou em tecidos moles (quadros 2 e 3).
Há dois tipos de gota: a primária ou idiopática e a secundária. Na
gota primária, o paciente pode apresentar deficiência enzimática,
que leva a um aumento da síntese de ácido úrico ou, mais
frequentemente, pode ocorrer a diminuição da depuração renal do
ácido úrico. Já a gota secundária é decorrente do aumento do
metabolismo das purinas ou por ação farmacológica, que podem
causar uma produção exacerbada de ácido úrico ou uma diminuição
na excreção renal.
1. PRPP-S (fosforribosil-pirofosfato sintetase)
2. HGPRT-ASE (hipoxantina-guanina-fosforribosil transferase)
3. ND (50 nucleotidase)
4. PNP (purina nucleotídeo fosforilase)
5. XO (xantina oxidase)
6. AMPD (AMP-deaminase)
7. ADA (adenilato deaminase)
8. APRT-ASE (amidofosforribosil transferase)
9. UO (urato oxidase)
10. Condições metabólicas com degradação de ATP
Desordens clínicas:
• Insu ciência renal crônica/Nefropatia por chumbo/Nefropatia Hiperuricêmica Familiar Juvenil/ Doença renal
cística medular/Doença renal glomérulo-cística.
• SLC2A9
• SLC22A12
• ABCG2
• SLC17A1
• SCL22A11
• PDZK1
• SCL16A9
Quadro3. Causas de hiperuricemia devido à diminuição do clearance
renal do ácido úrico.
Fonte: Gaffo.18
QUADRO CLÍNICO
A artrite gotosa consiste em períodos longos, assintomáticos, de
deposição de cristais de MSU nas articulações alternando com
períodos de monoartrite ou oligoartrite, evoluindo para gota tofácea
crônica, onde pode ser observada a deformidade óssea. A duração
de cada estágio varia de acordo com cada indivíduo.
Os estágios clínicos da gota são: hiperuricemia assintomática,
gota intermitente aguda, gota tofácea avançada e gota não clássica.
a. Hiperuricemia assintomática
Considerado um estágio precursor da gota, em que ocorre o
aumento da concentração de urato sérico, na ausência de qualquer
manifestação clínica, geralmente com duração de décadas. Estudos
mostram que a hiperuricemia persistente (acima de 9 ou 10mg/dL) é
responsável por efeitos deletérios, como: hipertensão arterial,
insuficiência renal e doenças cardiovasculares. As mudanças nas
articulações e de partes moles, que irão desenvolver a gota, ocorrem
nessa fase e é importante salientar que nem todos os pacientes
hiperuricêmicos irão desenvolver gota.
b. Gota Intermitente Aguda
Ocorre por volta de 30 a 40 anos no sexo masculino e, no sexo
feminino, mais tarde, conforme notadamente a idade da menopausa.
Geralmente, o ataque é monoarticular e com sinais flogísticos
intensos, mas pode ser poliarticular em pacientes com doença de
longa evolução. Em cerca de 90% dos casos, a articulação mais
acometida é a primeira metatarsofalangeana (denominada como
podagra), ou a do joelho. Outras articulações como tornozelo,
calcâneo e mediopé podem ser afetadas.
As crises são caracterizadas por dor severa, vermelhidão, calor,
inchaço e incapacidade para realização de movimentos, com pico do
quadro dentro de 12-24 horas. Os sintomas aparecem subitamente,
no período da noite e início da manhã. O processo inflamatório pode
se estender ao redor da articulação e, ao final, pode apresentar
descamação epidérmica. Geralmente, as crises são autolimitadas e
têm duração de poucos dias a semanas, e são seguidas de períodos
assintomáticos (momento em que há uma inflamação, porém de
baixo grau).
Esse processo agudo pode ser iniciado por fatores que
modifiquem a estabilidade dos cristais de MSU intra-articular; por
exemplo: pH do líquido sinovial, trauma da articulação,
medicamentos, dieta, cirurgia, dentre outros. Pode durar 3-4 anos ou
um período superior a 20 anos.
c. Gota Tofácea Avançada
É caracterizada pelo aglomerado de cristais de monourato
acompanhado por inflamação crônica e destruição dos tecidos
adjacentes. Tofos são geralmente visíveis e palpáveis e podem estar
presente na orelha, articulação, tendão, bursa e esclera; são
observados após alguns anos de doença. O paciente mantém
desconforto e algum grau de edema nas articulações e evolui com
poliartrite deformante ou mutilante, semelhante à artrite
reumatoide.
d. Gota Não Clássica
CRITÉRIO DE ENTRADA:
Passo 1: critérios de entrada (só se aplicam os critérios
Pelo menos 1 episódio de edema, dor e sensibilidade
de classi cação abaixo se os critérios de entrada forem
articular ou em Bursa.
satisfeitos).
CRITÉRIO SUFICIENTE:
Passo 2: critério su ciente (se encontrá-lo já é gota;
Pelo menos 1 episódio de edema, dor e sensibilidade
não precisa prosseguir).
articular ou em Bursa.
+
Passo 3: prosseguir com os critérios de classi cação
Presença de cristais de MSU em articulação
quando o critério su ciente não for encontrado.
sintomática ou bursa ou tofo.
Clínico
Categorias Escore
Padrão de envolvimento articular/bursa durante a * Tornozelo ou mediopé (sem envolvimento 1
crise. da primeira metatarsofalangeana).
* Envolvimento da 1 metatarsofalangeana (como
parte de um processo mono ou 2
poliarticular.
Laboratório
Categorias Escore
Imagem
Categorias Escore
Quadro 5.
Fonte: Elaborado pela autora.
TRATAMENTO
O tratamento da artrite gotosa inclui tratamento farmacológico e
não farmacológico.
Quadro 6.
Fonte: Elaborado pela autora.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO
Obs.: em doença severa, pode ser usada associação (evitar: antiin amatório não esteroidal com corticoide).
g. CONCLUSÕES
A artrite gotosa é uma doença que vem aumentando sua
prevalência nos últimos anos. Por ser uma doença que pode vir a se
tornar debilitante, diagnóstico e terapêutica corretos são
importantes para uma melhor qualidade de vida do paciente e maior
produtividade no trabalho.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo masculino, 45 anos, obeso,
sedentário, apresenta-se ao pronto-atendimento, de madrugada,
com quadro de artralgia em articulação de primeiro pododáctilo
direito, início súbito, forte intensidade (EVA 10), com aumento de
volume e temperatura, sem história prévia de trauma. Relata ter
abusado na feijoada e cerveja, no dia anterior. Nega episódio
prévio. Refere ser hipertenso, em uso de hidroclorotiazida.
b. Prescrição sugerida:
DEFINIÇÕES
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A doença pode ser classificada, com base em sua etiologia,
em primária e secundária. A primária é responsável por
mais de 95% dos casos de osteoporose em mulheres e 70%
a 80% nos homens, sendo a forma mais comum e
diagnosticada na ausência de doenças ou relacionada a
outras condições que levem à diminuição da massa óssea.
Glicocorticoides
Inibidores de aromatase
Lítio
Antirretrovirais
Orlistate
Rosiglitazona e pioglitazona
Contraceptivos: progesterona
Agonistas do GnRH
Imatinibe
Metotrexato
Diuréticos de alça
QUADRO CLÍNICO
• A osteoporose não apresenta sintomas, até que haja uma
fratura.
EXAMES COMPLEMENTARES
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Segue abaixo os critérios densitométricos da OMS para avaliar o
grau da massa óssea (tabela 3)
Um diagnóstico clínico de osteoporose pode ser feito na presença
de:
* Critérios estabelecidos para coluna lombar, colo do fêmur ou terço médio do rádio.
Fonte: Rosen.1
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Exercício físico
• A atividade física contribui para a redução do risco de
fratura de duas formas: primeiro, porque a força
biomecânica que os músculos exercem sobre os ossos é
capaz de aumentar a densidade mineral óssea; assim,
exercícios com ação da gravidade parecem desempenhar
importante papel no aumento e na preservação da massa
óssea. Segundo, porque a atividade física regular pode
ajudar a prevenir as quedas que ocorrem devido à
diminuição de força muscular e alterações do equilíbrio.
• Exercícios físicos supervisionados, principalmente que
envolvam fortalecimento de quadríceps, e exercícios com
suporte do próprio peso devem ser recomendados para
pacientes na pós-menopausa com diagnóstico de
osteoporose ou osteopenia, pois estão associados à
redução do número de quedas.
• O cálcio e a vitamina D
• As mulheres na pós-menopausa que estão recebendo
cálcio adequado, preferencialmente por meio da dieta
(aproximadamente 1200 mg por dia), especialmente com
o consumo de leite e seus derivados, não precisam tomar
suplementos de cálcio.
• Mulheres com ingestão alimentar inadequada devem
tomar cálcio suplementar (geralmente 500 a 1000
mg/dia), em doses divididas na hora da refeição, de modo
que a ingestão total de cálcio (dieta mais suplementos) se
aproxime de 1200 mg/dia.
• A suplementação de cálcio não deve exceder 500 a 600
mg por dose independentemente da preparação, visto que
o fracionamento aumenta a absorção.
• Existe uma controvérsia considerável sobre os efeitos dos
suplementos de cálcio no risco de doenças
cardiovasculares, que não foram confirmados.
• Em pacientes com osteoporose pós-menopausa,
recomenda-se dosar as concentrações plasmáticas da
25(OH)D antes de se iniciar o tratamento.
• Em adultos com deficiência de vitamina D (25[OH]D < 20
ng/mL), recomenda-se a dose de ataque de 7.000 UI/dia
ou 50.000 UI/semana por oito semanas, seguida da dose
de manutenção entre 1.000 e 2.000 UI por dia.
• A exposição solar da face, tronco e braços antes das 10
horas ou após as 16 horas por no mínimo 15 minutos, 2-4
vezes por semana, também é recomendada, salvo
contraindicação dermatológica.
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
O tratamento medicamentoso está indicado para mulheres pós-
menopausa e homens 50 anos que apresentem:
• Terapia antirreabsortiva
• BISFOSFONATOS
• Entre os medicamentos que reduzem fraturas
osteoporóticas, os bifosfonatos são a classe com mais
informações em termos de segurança e efetividade, com
estudos de até 10 anos de seguimento publicados.
• São análogos sintéticos estáveis do pirofosfato. O seu
efeito principal consiste em suprimir a reabsorção óssea
medida pelos osteoclastos.
• Os efeitos adversos gastrointestinais frequentes são
similares para todos os bifosfonatos orais e não diferem
em incidência do grupo placebo. Fraturas atípicas de
fêmur, apesar de raras, têm sido associadas a uso
prolongado de bifosfonatos.
• Tem sido referida a provável associação do tratamento
com bifosfonatos e a ocorrência de necrose avascular da
mandíbula. Trata-se de área de exposição óssea na região
maxilofacial que não cicatriza em um período de 8
semanas, após a identificação por profissional de saúde e
que ocorra em indivíduos previamente expostos a
bisfosfonatos e que não tenham recebido radiação na
região craniofacial. A prevalência é de 0,001%-0,1%. Antes
de iniciar o tratamento com bisfosfonatos, orienta-se boa
higiene bucal e visitas odontológicas regulares;
entretanto, se o paciente necessitar de algum
procedimento invasivo como implante ou extração, deve-
se atrasar a terapia com bifosfonato por alguns meses
até a cura completa da mandíbula.
• Preocupações em relação à osteonecrose de mandíbula e
fraturas atípicas trouxeram à luz discussões sobre o
tempo de tratamento, considerando-se a duração de 5
anos de tratamento, o risco de fraturas típicas em
indivíduos com muito baixa massa óssea ou que já
sofreram fraturas osteoporóticas, permanecerá elevado, e
a suspensão da droga não parece ser melhor do que a sua
manutenção . Ainda não existe definição do tempo do
chamado “holiday”, e estudos mostram que o efeito
protetor dos bisfosfonatos é atenuado ao longo de 3-5
anos após sua descontinuação (FLUXOGRAMA 1).
• Estudos sugerem que mulheres com osteoporose leve
podem ser capaz de suspensão do bifostonatos após 5
anos de terapia e manter monitorização com DMO.
Resumindo, não há, até o momento, definição formal
sobre o tempo de tratamento e o intervalo sem droga.
• Os bisfosfonatos orais devem ser tomados em jejum, 30 a
60 minutos antes do café da manhã, com um copo cheio
de água para que tenham o máximo de absorção, e não
deve deitar-se após o uso do fármaco.
• Alendronato de sódio
• É um agente anticatabolizante que reduz a reabsorção
óssea aos valores existentes na pré-menopausa. Reduz
em aproximadamente 50% o risco de fraturas vertebrais,
fraturas de fadiga, de novas fraturas vertebrais, e de
fraturas não vertebrais.
• As contraindicações incluem hipersensibilidade ao
alendronato ou a qualquer componente da fórmula,
gravidez e lactação, hipocalcemia, e insuficiência renal
grave (DCE abaixo de 30 mL/min), bem como inabilidade
dos pacientes para sentar ou ficar em pé por pelo menos
30 minutos.
• Apresentação: alendronato 10 mg/dia ou alendronato 70
mg/semana, via oral.
• Risendronato de sódio
• O risedronato de sódio previne fraturas tanto em mulheres
na pós-menopausa como em homens com osteoporose
estabelecida, havendo evidência de sua efetividade na
prevenção secundária de fraturas vertebrais, não
vertebrais e de quadril. Em pacientes com perda de
função renal preexistente, essa função deve ser
monitorada periodicamente, a cada 1-3 meses.
• Apresentação: risendronato 35 mg/semana, risendronato
150 mg/mensal, via oral.
• Ibandronato
• O ensaio BONE (oral Ibandronate Osteoporosis Vertebral
Fracture Trial in North America and Europeu) avaliou o
efeito de 2,5 mg de ibandronato oral e 20 mg em dias
alternados durante 12 doses a cada 3 meses. As fraturas
clínicas vertebrais também foram significativamente
reduzidas; entretanto, as fraturas não vertebrais, incluindo
fraturas de quadril, não sofreram redução em comparação
com o placebo.
• Apresentação: ibandronato 150 mg/mensal via oral ou 3
mg por via intravenosa a cada 3 meses.
• Ácido Zoledrônico
• É um bifosfonato intravenoso que foi aprovado em 2007. É
uma alternativa para pacientes que não toleram
bifosfonatos orais. É indicado para tratamento de
osteoporose na pós-menopausa, tratamento e prevenção
de osteoporose induzida por glicocorticoides em
pacientes que deverão usar glicocorticoides durante pelo
menos 12 meses, tratamento da osteopenia em um
regime dose bianual, tratamento da doença de paget e
aumento da massa óssea de homens com osteoporose
em um regime de dose anual.
• Antes de iniciar o tratamento, o paciente deve ser avaliado
quando hipocalcemia, deficiência de vitamina D e
insuficiência renal.
• Estão frequentemente associados a uma reação de fase
aguda dentro de 24-72 h da infusão, que se apresenta por
febre baixa, mialgias e artralgias. O tratamento é
realizado com antitérmicos, que geralmente melhoram os
sintomas e a recorrência nas próximas infusões.
• Apresentação: ácido Zoledrônico 5 mg/EV anualmente
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO
FLUXOGRAMA 1.
Fonte: Radominski.9
• DENOSUMABE
• É um anticorpo monoclonal IgG2 totalmente humano, que
se liga seletivamente e com elevada afinidade ao RANKL
e mimetiza o efeito da osteoprotegerina no RANKL,
reduzindo assim a formação, função e sobrevivência dos
osteoclastos, o que resulta em diminuição da reabsorção
óssea e aumento da densidade óssea.
• É indicado para pacientes intolerantes ao bifosfonatos ou
que não respondem a outras terapias e naqueles com
função renal comprometida.
• O denosumabe pode ser utilizado na falha, intolerância ou
contraindicação aos bisfosfonatos orais e em situações
especiais em primeira linha de tratamento como em
pacientes com função renal comprometida.
• Antes de iniciar o tratamento o paciente deve ser avaliado
quando hipocalcemia, deficiência de vitamina D.
• Apresentação: Denosumabe 60 mg subcutânea a cada 6
meses.
• Terapia anabólica
• TERIPARATIDA
• Considerada uma droga anabólica, a teriparatida (PTH,
humano recombinante) está disponível nos Estados
Unidos desde 2002. O PTH é um polipeptídio de 84
aminoácidos secretado pelas glândulas paratireoides em
resposta a pequenas alterações no cálcio sérico. Sua ação
é estimular a reabsorção de cálcio nos túbulos renais e a
reabsorção óssea, mantendo as concentrações de cálcio
dentro de uma faixa estreita. A exposição crônica a
concentrações séricas elevadas de PTH (como visto com
hiperparatiroidismo primário ou secundário) resulta em
reabsorção óssea. No entanto, foi demonstrado que a
administração intermitente de PTH estimula a formação
óssea mais do que a reabsorção, pelo menos durante os
primeiros 12 meses de tratamento.
• É recomendada para o tratamento da osteoporose pós-
menopausa em mulheres com alto risco de fraturas, com
fraturas prévias ou que tenham falhado ou sido
intolerantes a outras formas de tratamento para a
osteoporose. Não está indicado para períodos de
tratamento superiores a dois anos. Pode ser indicada
após fratura atípica por uso de bisfosfonato.
• Efeitos colaterais incluem: câimbras, tonturas,
hipercalcemia, osteosarcoma.
• Apresentação: Teripatatida 20 mcg subcutânea/dia.
• ABALOPARATIDE
• É o análogo sintético da proteína relacionada ao PTH
(PTHrP).
• Foi aprovada pelo FDA em 2017 para tratamento da
osteoporose, é indicada para pacientes com osteoporose
grave e apresenta alto risco de fratura (escore T de -3,5 ou
menos, mesmo na ausência de fraturas; escore T de -2,5
ou menos, mais uma fratura por fragilidade); para
pacientes intolerantes aos bifosfonatos ou que tenham
contra indicação relativas; para pacientes que tiveram
falhas no tratamento com outras terapias anteriores.
• Dose recomendada é 80 mcg SC/dia usado por, no
máximo, 2 anos.
• ROMOSOZUMABE
• Romosozumabe é um anticorpo monoclonal
antiesclerostina. A esclerostina é produzida pelos
osteócitos e inibe a formação óssea. Conclui-se que a
inibição da esclerostina deve melhorar a função dos
osteoblastos, melhorar a massa óssea e reduzir as
fraturas.
• Foi aprovado pela FDA em 2019 com base nos estudos,
que mostram uma redução de fratura vertebral e não
vertebral.
• É indicado para pacientes com múltiplas fraturas por
fragilidade, pacientes com alto risco de fratura que não
podem tolerar outras terapias ou pacientes que falham
em outras terapias.
• Não deve ser prescrito para mulheres com antecedentes
ou aumento de risco de IAM ou AVC.
• Dose recomendada: 210 mg SC 1 x por mês usado durante
1 ano. Pacientes que usam agentes anabólicos devem
usar um agente antirreabsortivo (de preferência um
bisfosfonato) após a descontinuação, para preservar os
ganhos na DMO alcançados com o agente anabólico.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: MGR, 68 anos, sexo feminino, menopausa aos
50 anos, não fez reposição hormonal, esteve em consulta com
reumatologista para acompanhamento anualmente. Negava
fraturas prévias, uso de anticonvulsivantes ou heparina e
relatava que ingeria leite e seus derivados diariamente, mas não
tinha hábito de exposição solar. Trazia consigo uma
densitometria atual e alguns exames de sangue:
b. Exames complementares:
REFERÊNCIAS
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of osteoporosis in postmenopausal women. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso
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Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019.
3. Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6.
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Reumatologia Diagnóstico e Tratamento. 4. ed. Rio de Janeiro: Ac Farmacêutica;
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Diretrizes brasileiras para diagnóstico e tratamento da osteoporose em mulheres
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10. Frax-Who Fracture Risk Assessment Tool [Internet]. WHO. [Internet]; 2017. [acesso
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osteoporosis. Washington, DC: National Osteoporosis Foundation; 2010.
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postmenopausal women. Osteoporos Int. 2008; 19: 399-428.
22. Pinheiro MM, Reis Neto ET, Machado FS, Omura F, Yang JH, Szejnfeld J, et al. Risk
factors for osteoporotic fractures and low bone density in pre and postmenopausal
women. Rev Saúde Pública. 2010; 44(3): 479-85
7.7
FIBROMIALGIA
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
DEFINIÇÕES
• É uma síndrome dolorosa crônica, caracterizada por dor
musculoesquelética generalizada, com período de evolução
maior ou igual a 3 meses, para a qual nenhuma outra causa
alternativa pode ser identificada, acompanhada de outros
sintomas como fadiga, sono não reparador, entre outros.
Geralmente leva a um comprometimento na qualidade de
vida do paciente. A prevalência é de 0,2 a 5% da população
mundial, e no Brasil, de 2 a 5%. Acomete mais mulheres,
entre 25 a 65 anos; no entanto, crianças e adolescentes
também podem ser acometidos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
• Dor: difusa, generalizada e crônica, em pontada, queimação,
peso ou dor de “sensação de cansaço”, de moderada a forte
intensidade e que pode estar associada a sensação de
edema e parestesias, geralmente acometendo antebraços e
mãos. A dor pode ocorrer ao simples toque da pele ou com
o uso de roupas apertadas. O paciente pode associar o início
da dor a evento de estresse, como trauma físico ou
psicológico. O paciente sente-se pior do que quando se
deitou. Podem ser encontradas outras dores, como: cefaleia
(ocorre em mais de 50% dos pacientes; migrânea ou
tensional), dor de garganta, dor torácica, dor abdominal
(síndrome do intestino irritável/ sintomas de refluxo
gastroesofágico)/ pélvica; sintomas de urgência urinária;
olho seco; fenômeno de Raynaud; disfunção de articulação
têmporomandibular; síndrome das pernas inquietas.
EXAME FÍSICO
• É essencial fazer avaliação minuciosa do paciente, na
tentativa de buscar alterações sugestivas de fibromialgia ou
outras doenças, como neurológicas, reumatológicas.
• Ao exame físico, os pacientes apresentam bom estado
geral, sem sinais de comprometimento articular
inflamatório, sem atrofia muscular, sem alterações
neurológicas, com boa amplitude de movimentos, força
muscular preservada. É encontrada dor à palpação de
múltiplos sítios de partes moles, particularmente nos tender
points (suboccipital, atrás do terço inferior do
esternocleidomastóideo, trapézio, supraespinhoso,
epicôndilo lateral, segunda junção costocondral, glúteo
médio, trocânter maior fêmur, joelhos).
EXAMES COMPLEMENTARES
• A fibromialgia não causa alteração laboratorial ou de
imagem. Geralmente são solicitados exames
complementares, a fim de excluir outras doenças, cujos
sintomas se assemelham aos da fibromialgia. Como
diagnóstico diferencial, devemos citar: síndrome da dor
miofascial, síndrome da fadiga crônica, doenças
neurológicas (Parkinson, Miastenia gravis, esclerose
múltipla, neuropatias), doenças autoimunes (lúpus
eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, polimialgia
reumática, miopatia inflamatória, espondiloartrites),
endocrinológicas (hipotireoidismo, hiperparatireoidismo),
miopatia associada a estatina, infecções (hepatites B e C,
doença de Lyme, arboviroses, HIV). Podem ser solicitados:
hemograma completo, velocidade de hemossedimentação e
proteína C reativa na suspeita de doença reumática, fator
antinúcleo e fator reumatoide; suspeita de doença da
tireoide (TSH: hormônio tireoestimulante) e doença
muscular (CPK: creatinoquinase).
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O Colégio Americano de Reumatologia (ACR) publicou, em
1990, os critérios de classificação, que combinam: dor
difusa (dor abaixo e acima da cintura, nos lados direito e
esquerdo, e em pelo menos um segmento da coluna) por
pelo menos 3 meses e a presença de 11 de 18 pontos
dolorosos, previamente especificados, com uma
sensibilidade de 88,4% e especificidade de 81,1%. O
questionamento aventado foi que os pacientes com
fibromialgia têm múltiplos pontos dolorosos em outras
localizações. Em 2010, o ACR publicou critérios preliminares
para o diagnóstico de fibromialgia, modificados em 2011
(tabelas 1 e 2), em que se eliminam os pontos dolorosos e
criam-se 2 índices, o Índice de dor generalizada (IDG), que
varia de 0 a 19, e a Escala de gravidade dos sintomas (EGS),
de 0 a 12 (tabelas 1 e 2). O diagnóstico de fibromialgia é
sugerido quando: IDG≥ 7 + EGS ≥ 5 ou IDG entre 3 e 6 + ESG
≥ 9, sendo que o quadro doloroso deve estar presente há
pelo menos 3 meses, sem outra causa que justifique a dor.
Depressão 0 1
TRATAMENTO
• Avaliação pré-tratamento (diagrama 1)
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo feminino, 45 anos, com quadro
de dores difusas (“do fio de cabelo ao dedão do pé”), EVA 10,
insônia, sono não reparador, presença de sintomas depressivos,
cefaleia tensional, esquecimentos, falta de concentração,
sensação de dormência pelo corpo, episódios de diarreia (já
investigado pelo proctologista, que definiu como síndrome do
intestino irritável), quadro iniciado após separação. Ao exame
físico: sem sinais inflamatórios articulares, sem alteração de
força muscular, sem restrições às amplitudes de movimentos.
Cálculo: IDGI 19 e EGS 11. Como hipótese diagnóstica:
fibromialgia (o diagnóstico é clínico!!). Solicitaria exames
complementares com a finalidade de excluir outras possíveis
causas para o quadro (provas inflamatórias, TSH, hemograma
completo, CPK).
b. Prescrição sugerida:
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8.1
TRAUMATISMO
CRANIOENCEFÁLICO
Autores:
Breno Araújo Barbosa
Millena Nogueira Oliveira
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• HIC (Hipertensão Intracraniana): Síndrome neurológica
definida como aumento sustentado da pressão
intracraniana (PIC) acima de 20 a 22 mmHg após um
intervalo de > 5-10 minutos ou por medidas seriadas
maiores que 22 mmHg em qualquer intervalo de tempo em
posição de decúbito. Deve-se excluir as causas que
sabidamente aumentam a pressão intracraniana, como
tosse, posição de Trendelenburg, manobra de Valsalva.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O Quadro mostra as principais causas e etiologias de Hipertensão
Intracraniana (HIC).
CAUSAS DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA (HIC)
Neurológicas Trauma Hematoma subdural agudo, hematoma epidural agudo, contusão cerebral
• Cascatas patológicas:
• Cascata despolarizadora: a queda da oferta de oxigênio
diminui a efetividade da bomba de Na+/K+ e ocorre
redução do potencial de ação, o que facilita a
despolarização neuronal. Essa é uma despolarização
anóxica. A consequência são neurônios em zona de
penumbra, o que inicia uma acidose láctica anaeróbia.
• Cascata vasodilatadora: O pH periarteriolar é regulador da
contratilidade da arteríola pré-capilar. A baixa do pH do
líquido extracelular, principalmente pelo acúmulo de CO2,
promove vasodilatação da arteríola pré-capilar (sistema
de resistência) e efusão de líquido do sistema vênulo-
venoso e da microcirculação (sistema de capacitância)
para o tecido encefálico. A vasodilatação, que a princípio
possui um efeito neuroprotetor, permite extravasamento
de líquido para o tecido cerebral, além de formar-se o
brain swelling. A acidose altera a autorregulação e
aumenta o volume sanguíneo cerebral (VSC).
• Cascata bioquímica é subdividida em: subcascata
inflamatória e subcascata dos radicais livres. A acidose
tecidual permite a saída de íon K+ e entrada de Ca2+.
Esse íon no meio intracelular ativa a fosfolipase (FA2), que
libera ácidos graxos poli-insaturados, sendo um deles o
ácido araquidônico, que sofre ação da cicloxigenase (COX)
e da lipoxigenase (LOX), formando prostaglandinas (PG),
tromboxane A2 (TA2) e leucotrienos (LT). O TA2 faz
vasoconstrição e agregação plaquetária, que gera oclusão
da microcirculação e, por conseguinte, isquemia. A COX
funciona adequadamente apenas na presença de
oxigênio. Com a baixa desse elemento, as células da
microglia liberam o superóxido, que, por sua vez, produz
radicais livres de oxigênio que oxidam as membranas
celulares por meio da peroxidação lipídica. Esses radicais,
juntamente com os leucotrienos, acabam com a devida
função bioquímica celular e a barreira hematoencefálica,
o que causa edema citotóxico e acentua o vasogênico,
respectivamente, além de anular a contratilidade da
arteríola pré-capilar, o que aumenta o inchaço encefálico
hipervolêmico. As alterações metabólicas e iônicas que
levaram à morte celular na cascata bioquímica provocam
a subcascata inflamatória, que, através das
prostaglandinas, apresenta quimiotaxia para leucócitos,
que liberam mais citocinas inflamatórias e óxido nítrico,
gerando aumento da permeabilidade capilar e edema
vasogênico. Provocam também a subcascata dos radicais
livres, causada pelo metabolismo anaeróbio que consome
ATP, que libera adenosina como subproduto ao meio,
agravando a vasodilatação.
a) CURVA DE LANGFITT
EXAMES COMPLEMENTARES
• Tomografia Computadorizada de Crânio (TC de Crânio):
Essencial no contexto de TCE.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O TCE tem várias classificações, entretanto, a mais utilizada e
prática é a Escala de Coma de Glasgow.
Ao estímulo verbal 3
ABERTURA
OCULAR
Ao estímulo doloroso 2
Ausente 1
Orientada 5
Confusa 4
RESPOSTA
VERBAL Palavras Inapropriadas 3
(MELHOR RESPOSTA)
Sons incompreensíveis 2
Ausente 1
Obedece a comandos 6
Localiza a dor 5
Ausente 1
Ausente -2
REAÇÃO
Unilateral -1
PUPILAR
Reativa Bilateral 0
CATEGORIA DEFINIÇÃO
Injúria difusa I (sem patologia visível) Sem patologia intracraniana visível na tomogra a
Cisternas presentes, com desvio de linha média entre 0-5 mm, sem lesões
Injúria difusa II
> 25 mL
Injúria difusa IV (desvio da linha média) Desvio de linha média > 5 mm, sem lesões > 25 mL
CATEGORIA DEFINIÇÃO
Lesão evacuada V Qualquer lesão evacuada cirurgicamente
TRATAMENTO
a) Objetivos do Tratamento: Prevenção de lesões neurológicas
secundárias e morte neuronal.
• MONITORIZAÇÃO
• Suporte Neurológico: O cuidado neurológico na unidade de
terapia intensiva se baseia em 4 avaliações: clínica,
hemodinâmica, metabólica e neurofuncional.
b) Ondas Intracranianas
As ondas pressóricas intracranianas geradas pelo polígono de
Willis e pelo parênquima encefálico possuem três componentes:
Sedação:
Bloqueador de (10 mg/mL):
canais de sódio 10 mg/mL 0,5-1,0 mg/kg EV
15-45 5-10
PROPOFOL e potencializa (frasco-ampola com Diluição (10 mg/kg)
segundos minutos
receptores do 50 ou 100 mL ou 20 mL + 230 mL de
GABA. seringa pronta com SG5% (concentração:
50 mL) 800 mcg/mL)
20 mg/mL Velocidade de
(frasco-ampola com infusão:
50 mL ou seringa 0,3-4,0
pronta com 50 mL) mg/kg/hora
1 mg/mL 20-600 mcg/kg/h
Agonista dos (frasco-ampola com Diluição:
receptores do 5 mL) e 5 mg/mL (50 mg/mL)
60-90 15-30
MIDAZOLAM GABA. Ativador (frasco-ampola com 30 mL + 120 mL SG
segundos minutos
de canal de 3 ou 10 mL 5%
cloreto ou
SF 0,9%
Intermitente: 0,15-0,2
mg/kg a cada 40-60
min;
Bloqueador BIC: 0,03-0,6
2 mg/mL (ampolas 30-60 <1-2
Cisatracúrio neuromuscular não mg/kg/hora 30-60 minutos
com 5 mL ou 10 mL) segundos minutos
despolarizante Diluição: 1 mL + 20 Ml
SF 0,9%; SG 5%
(concentração 0,1
mg/mL)
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: paciente do sexo masculino, motoboy, 25 anos,
peso: 70 kg, vítima de acidente automobilístico (carro x moto),
arremessado a uma distância de 5 metros do local da colisão e com
impacto em poste, há aproximadamente 1 hora. Foi solicitado o
resgate pelo SAMU. O paciente encontrava-se desacordado, não
verbalizava e não obedecia a comandos.
b) Avaliação Primária: A: Estabilização da coluna cervical com
prancha rígida e colar cervical, estabelecida via aérea definitiva por
IOT devido Glasgow 3, B: FR: 22 irpm, som claro pulmonar, murmúrio
vesicular fisiológico sem ruídos adventícios, C: FC: 100 bpm, PA:
110X70 mmHg, sem hemorragias externas visíveis, D: Pupilas
midriáticas, sem motricidade distal, E: Normotermia, presença de
escoriações pelo corpo.
c) Exame Complementares: TC de Crânio evidenciando cisternas
ausentes ou comprimidas, com desvio de linha média de 3 mm, sem
lesões > 25 mL.
d) Prescrição sugerida:
1. Dieta Zero
2. Reposição volêmica – Manter euvolemia
3. Intubação Orotraqueal – Glasgow <8
4. Fentanil 15 ml (3 amp. 5 mL) + 250 ml SF 0,9% EV 8/8h
5. Propofol 14 mL + 236 ml SG 5% EV
6. Dipirona 1 mL + AD EV 6/6h se febre (T > 37,8ºC)
7. Elevação da Cabeceira 30-45º
8. Profilaxia de TEV (Compressor Pneumático Intermitente)
9. Controle glicêmico (140-180 mg/dL)
10. Controle da Natremia (Na: 135-145 mEq/L)
DICAS DO ESPECIALISTA
• O TCE é uma das principais causas de HIC.
• Para pacientes com TCE leve sem presença de fatores de
risco e assintomáticos podem ser prescritos analgésico e
retorno se piora do quadro.
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8.2
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
Autores:
Breno Araújo Barbosa
Millena Nogueira Oliveira
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• TRM (Traumatismo Raquimedular): Traumatismo
raquiomedular (TRM) é a lesão da medula espinhal que
provoca alterações, temporárias ou permanentes, na função
motora, sensibilidade ou função autonômica. É
caracterizado por uma agressão, na maioria das vezes de
força mecânica, que acarreta lesão anatômica ou funcional
à coluna vertebral e/ou à medula espinhal ou raízes
nervosas em qualquer dos seus segmentos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
CAUSAS DE TRM: Acidentes automobilísticos (30%), queda de
altura (20%), acidente por mergulho em água rasa (frequentes no
verão) (21%), ferimentos por arma de fogo (12%), acidentes
esportivos (2%) têm sido as principais causas de traumatismo
raquimedular. O TRM ocorre predominantemente em homens na
proporção de 4:1, na faixa etária entre 15 e 40 anos. No Brasil,
estimam-se 11 mil vítimas de TRM anualmente. O coeficiente de
incidência no Brasil é de 71 casos/milhão por ano. A região Nordeste
se destacou com 91 casos/milhão de habitantes, e a região Sul com
a menor incidência, 38 casos/milhão de habitantes.
• Primário: as lesões primárias estão relacionadas ao trauma
mecânico sofrido pelo paciente. Esse tipo de lesão
caracteriza-se pela transferência de energia cinética para o
canal medular no momento do trauma provocando perda da
transmissão neurofisiológica, causando paralisia aguda.
Pode ser por ruptura completa ou incompleta nos axônios,
células gliais e vasos sanguíneos. As causas mais comuns
de lesão raquimedular primária são hiperflexão,
hiperextensão, carga axial, carga lateral e ferimentos
penetrantes.
QUADRO CLÍNICO
• Os sinais e sintomas mais comuns de TRM são: dor no
pescoço e/ou nas costas; dor ao movimentar o pescoço
e/ou as costas; dor à palpação da região posterior do
pescoço e/ou da linha média das costas; deformidade da
coluna vertebral; paralisia, paresia, dormência ou
formigamento nas pernas ou braços em qualquer momento
após o acidente; sinais e sintomas de choque neurológico:
hipotensão com bradicardia, perda do controle simpático,
extremidades quentes, diurese normal; priapismo (ereção
peniana dolorosa); paralisia de diafragma, se atingir cervical
média e alta; hipoventilação por atingir músculos
intercostais, se atingir cervical baixa e torácica alta;
respiração abdominal e uso de musculatura acessória.
O quadro 1 resume as formas de acometimento medular e a suas
manifestações clínicas
SÍNDROMES MEDULARES
Lesão que ocorre quase exclusivamente na região cervical, com preservação da
Síndrome Centromedular sensibilidade sacral e maior debilidade dos membros superiores que dos membros
inferiores.
Lesão da medula sacral (cone) e das raízes lombares dentro do canal, que
usualmente resulta em arre exia de bexiga, intestino e membros inferiores. Os
Síndrome do Cone Medular
segmentos sacrais podem ocasionalmente mostrar re exos preservados; por
exemplo, o bulbocavernoso e os re exos miccionais.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico é feito com base clínica e radiológica. A lesão
medular é classificada segundo a padronização
internacional determinada pela American Spinal Injury
Association – ASIA; assim, criou-se uma avaliação padrão
para traumatismo raquimedular baseada na sensibilidade e
na função motora. É composta por uma etapa compulsória,
a qual fornece um escore, e outra etapa opcional, que não
faz parte da pontuação do escore, mas que adiciona
informações clínicas importantes do paciente. O teste de
sensibilidade é feito em pontos específicos: são testados 28
dermátomos predeterminados nos lados direito e esquerdo.
Testam-se a sensibilidade dolorosa (com um alfinete) e tato
fino (toque leve com algodão). A avaliação da sensibilidade
postural e a percepção de pressão ou dor profunda são
consideradas opcionais na avaliação da lesão medular. O
exame motor compreende o exame de dez músculos
específicos nos dois lados do corpo.
C6 Extensão do punho
L2 Flexão do quadril
L3 Extensão do joelho
L4 Dorsi exão do pé
L5 Extensão do hálux
S1 Flexão plantar
Quadro 2.
Fonte : Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
C6 Dedo polegar
C7 Dedo médio
C8 Dedo mínimo
T2 Axila
Sensibilidade
T4 Mamilo
T6 Apêndice xifoide
T10 Umbigo
S1 Borda lateral do pé
Quadro 3.
Fonte : ATLS – Advanced Trauma Life Support 10ª Edição
C Incompleta - há função motora e maioria dos músculos tem força inferior a grau 3.
D Incompleta - há função motora e maioria dos músculos tem força superior a grau 3.
E Normal
Quadro 4.
Fonte : Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
TRATAMENTO
• O tratamento de um TRM tem como objetivo imediato deter
a lesão, preservar e, se possível, restaurar funções
neurológicas afetadas, e, principalmente, evitar
complicações secundárias.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente, 26 anos, advogado, masculino, vítima
de acidente automobilístico com capotamento há aproximadamente
30 minutos. Foi solicitado o resgate pelo SAMU. Chega ao PS em
prancha rígida e colar cervical, verbalizando e queixando-se de que
não consegue movimentar as pernas.
b) Avaliação Primária: A: Via aérea pérvea, coluna cervical.
c) Prescrição sugerida:
1. Dieta Zero
2. Reposição Volêmica com Cristaloide – SF 0,9% ou RL
3. Dipirona 1 amp. + AD EV 6/6 horas
4. Bromoprida 10 mL + AD EV 8/8 horas
5. Omeprazol 20 mg VO 24/24 horas
6. Cateter Vesical de Demora se Bexigoma
7. Mudança de Decúbito de 2/2 horas
8. Sinais Vitais
9. Cuidados Gerais de Enfermagem
REFERÊNCIAS
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27. Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York: Thieme Medical
Publishers; 2016.
8.3
HIDROCEFALIA
Autores:
Millena Nogueira Oliveira
Breno Araújo Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• HIDROCEFALIA: Aumento da produção de LCR (líquido
cefalorraquiadiano) dentro dos ventrículos encefálicos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A hidrocefalia é a doença mais comum tratada por
neurocirurgiões pediátricos e, segundo dados americanos,
os gastos com essa enfermidade giram em torno US$ 2
bilhões por ano. A prevalência é de 1 para 1.000 nascidos
vivos, porém deve ser maior em países desenvolvidos. Na
África subsaariana, o número de casos de hidrocefalia na
infância ultrapassa 200.000 por ano devido infecções
neonatais.
O quadro 1 mostra as causas de hidrocefalia congênita e
adquiridas, causas e mecanismo fisiopatológico.
HIDROCEFALIA MECANISMO
CAUSA
CONGÊNITA FISIOPAT OLÓGICO
Estenose de Aqueduto
Obstrução no uxo de LCR no III ventrículo Obstrução ventricular
Cerebral Congênito
HIDROCEFALIA MECANISMO
CAUSA
ADQUIRIDA FISIOPAT OLÓGICO
In amatória
Infecção ou hemorragia subaracnoidea Cicatriz aracnoidea Disfunção do espaço
subaracnoideo
Infecção ou hemorragia subaracnoidea Cicatriz ependimária
Obstrução ventricular
Neoplasia
Tumor parenquimatoso cerebral Efeito de massa Obstrução ventricular
Tumor de medula espinhal Composição de LCR alterada Tumores com Disfunção do espaço
in ltração meníngea – ex.: tumor subaracnóideo
neuroectodérmico primitivo
Vascular
Malformação vascular Obstrução ventricular (ex.: malformação da Obstrução ventricular;
veia de Galeno; hipertensão venosa; diminuição da complacência
malformação arteriovenosa (MAV ) venosa ou diminuição na
absorção de LCR
QUADRO CLÍNICO
• Intrauterina: O USG pré-natal é capaz de identificar
ventriculomegalia em fetos de idade gestacional de 18-20
semanas, embora a hidrocefalia fetal tenha melhores
resultados quando diagnosticada no terceiro trimestre, em
comparação com o primeiro e segundo trimestre.
A tabela 1 mostra a classificação da Ventriculomegalia Fetal.
CLASSIFICAÇÃO DA VENTRICULOMEGALIA FETAL
COMPRIMENTO ATRIAL GRAU
< 10 mm Normal
>15 mm Grave-severa
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Aumento da circunferência craniana.
• Exame físico neurológico: em pacientes com hidrocefalia
associado ou não a malformações, podem ser encontrados
vários achados, como suturas cranianas oblíquas, Sinal de
Macewen – som de pote rachando quando se percute sobre
os ventrículos dilatados, estrabismo horizontal divergente –,
paralisia do sexto par, “sinal de sol poente” – olhar
paralisado para cima.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Amniocentese: Pesquisa de infecções congênitas em
pacientes com ventriculomegalia a USG ou RM fetal para
Herpes-simplex, rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus;
1) Cornos temporais >= 2 mm de largura, não sendo visíveis as ssuras silvianas e inter-hemisférica, nem os sulcos cerebrais
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico de Hidrocefalia é clínico e por exames de imagem:
Hidrocefalia ex-vacuo – alargamento dos ventrículos por perda de tecido cerebral (atro a cortical)
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Derivação (shunt).
• Desobstrução do Aqueduto de Sylvius – alta
morbimortalidade
TIPOS INDICAÇÃO
Hidrocefalia comunicante -
Desvio lomboperitoneal Pseudotumor cerebral e fístula
liquórica
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
DICAS DO ESPECIALISTA
• As doenças do sistema nervoso na infância são um
diagnóstico de grande impacto familiar, pelo fato de muitas
estarem associadas a déficits cognitivos, disfunções
motoras e epilepsia.
• Além disso, muitos desses pacientes precisam de um
tratamento multidisciplinar (neonatologista, geneticista,
obstetra, radiologista, neurologista e neurocirurgião).
REFERÊNCIAS
1. Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York: Thieme Medical
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2. Kahle KT., Kulkarni AV., Limbrick DD, Warf BC. Hydrocephalus in children. Lancet.
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diagnosis and treatment. Pediatr Rev. 2016; 37(11): 478-90.
8.4
CEFALEIAS
Autores:
Leidiane Santos Ribeiro
Josué da Silva Brito
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
O termo cefaleia se refere às dores que ocorrem em qualquer
região da cabeça e do pescoço. A cefaleia é uma das principais
queixas tanto do atendimento ambulatorial quanto do atendimento
emergencial. Em aproximadamente 2 a 4% dos atendimentos
emergenciais, ela constitui a queixa principal, seja como parte de um
complexo de sintomas ou associada a doenças em desenvolvimento.
Na neurologia, é causa de 25% dos atendimentos.1-6
As cefaleias podem ser divididas em primárias, que
correspondem a 98% das cefaleias, e secundárias. As cefaleias
primárias são dores resultantes de quadros disfuncionais, não sendo
resultado de qualquer outra doença. São cefaleias primárias: a
cefaleia do tipo tensional, tipo mais comum; a enxaqueca ou
migrânea, segunda mais frequente; as cefaleias trigêmino-
autonômicas (em salvas, hemicrania paroxística etc.) e outras
cefaleias (primária da tosse, do exercício, associada à atividade
sexual, por estímulo frio etc.). As cefaleias secundárias (Quadro 1)
são causadas por anormalidades anatômicas, fisiológicas,
inflamatórias e infecciosas.4,7,8
Cefaleias secundárias
Cefaleia atribuída a lesão ou traumatismo cranioencefálico e/ou cervical
Cefaleia ou dor facial atribuída a uma perturbação do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios paranasais, dentes,
boca ou outras estruturas do crânio ou da face
EXAME FÍSICO
Na anamnese, são informações relevantes a idade do paciente e
seu sexo. É preciso caracterizar o tipo de dor, local, se uni ou
bilateral, irradiação, frequência, duração, intensidade, fatores
desencadeantes, fatores de melhora ou piora, sintomas que
antecederam ou acompanham a dor, evolução, histórico de traumas
e procedimentos na região e uso de medicação. Também se deve
avaliar o histórico médico do paciente, indagando-o quanto a
doenças sistêmicas e histórico de cefaleias.9,10
O exame físico básico da cefaleia inclui a aferição de sinais vitais,
exame físico da cabeça e do pescoço, incluindo avaliação de artérias
carótidas, temporais e seus ramos, dos seios da face e das
articulações temporomandibulares, a realização de exame
neurológico completo, devendo-se avaliar os nervos cranianos,
estado e nível de consciência, resposta pupilar, força motora e a
sensibilidade, reflexos tendinosos profundos, marcha e equilíbrio e
sinais de irritação meníngea. Também se deve realizar fundoscopia
com o objetivo de avaliar a presença de papiledema.10-12
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais não são necessários na rotina, porém
hemograma, glicose sérica e eletrólitos podem oferecer auxílio na
avaliação do quadro secundário. A neuroimagem, incluindo
tomografia computadorizada e ressonância magnética, também não
é sempre necessária. As bandeiras vermelhas (Quadro 2) orientam a
necessidade de solicitação de exames complementares de
neuroimagem, visto que indicam cefaleias secundárias.8-14
Bandeira Vermelha Exames indicados Hipóteses diagnósticas
Cefaleia
TC, RNM Hipotensão ou hipertensão intracraniana
posicional
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a) CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL (CTT):
A cefaleia do tipo tensional compreende a cefaleia mais
frequente, com prevalência variando entre 30% a 78%, mais comum
no sexo feminino (5:4), com idade média de início entre 25 a 30 anos
e máximo da prevalência entre 30 e 39 anos.7,8,15
A fisiopatologia da CTT ainda é inserta e a causa da dor
permanece controversa. A dor episódica parece ligada a
mecanismos miofasciais pericranianos, enquanto a dor crônica é
ligada à sensibilidade das vias de dor do sistema nervoso central,
gerada por estímulos dolorosos prologados dos tecidos miofasciais
pericranianos.7,8,15
A CTT (Quadro 3) manifesta-se por dor do tipo aperto ou pressão,
de intensidade leve a moderada, bilateral (embora possa ocorrer
episódios unilaterais), que não afeta atividades diárias e não
apresenta piora com atividades físicas, com duração variável,
podendo ocorrer por minutos a dias. Não se associa a náuseas
comumente. O paciente pode queixar-se de fotofobia ou fonofobia
raramente, contudo os sintomas não devem ocorrer conjuntamente
na forma crônica. Admite-se que ocorra náusea leve, porém não
deve haver vômito nem a ocorrência simultânea à fotofobia ou
fonofobia. Possui relação com estresse, falta de sono e má
alimentação; ocasionalmente, também com álcool e menstruação.
Na palpação craniana, pode ser encontrado dolorimento
pericraniano, caracterizando as cefaleias tensionais associadas com
dolorimento craniano (subtipos). Ela pode ser caracterizada como
episódica infrequente (ocorrência < 12 dias/ano), episódica frequente
(ocorrência ≥12 e <180 dias/ano) ou crônica (ocorrência ≥180
dias/ano).1,7,10,15-17
Diante de um diagnóstico de CTT crônica, deve-se excluir
diagnósticos diferenciais como bruxismo, estrabismo não corrigido,
sinusite crônica, hipertensão intracraniana idiopática, desordens
psiquiátricas, disfunções osteoarticulares da coluna cervical e
cefaleia secundária ao uso excessivo de medicação.1,15,17
Critérios diagnósticos da cefaleia do tipo tensional
Ao menos 10 episódios de cefaleia em < 12 dias/ano (episódica infrequente), em ≥12 e <180 dias/ano (episódica frequente),
≥180 dias/ano (frequente)
Dor intensa, unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal Dor intensa, unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal
durando 15-180 min se não tratada durando de 2-30 minutos
Frequência entre 1 crise a cada 2-8 dias Frequência entre 1 crise a cada 2-8 dias
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO DAS CEFALEIAS SECUNDÁRIAS
Nas cefaleias secundárias, deve-se buscar o alívio da cefaleia,
realizando a pesquisa das causas. No geral, a reidratação deve ser
evitada, exceto quando houver vômitos recorrentes ou outro
indicativo de desidratação.11,30
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
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8.5
DOENÇAS VASCULARES
CEREBRAIS
Autores:
Leidiane Santos Ribeiro
Josué da Silva Brito
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
O acidente vascular cerebral (AVC) consiste em um déficit
neurológico, focal ou global, abrupto, que persiste por mais de 24
horas, causado por alterações do fluxo sanguíneo.1 Atualmente, é a
segunda causa global de morte, apesar da redução da prevalência
que houve nas últimas décadas.2
De acordo com a etiologia, o quadro pode ser classificado como
acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) ou acidente vascular
cerebral hemorrágico (AVCh), sendo esse produto do
extravasamento sanguíneo para o tecido nervoso, gerando déficit no
suprimento, e aquele resultado da interrupção do fluxo por obstrução
ou redução do débito sanguíneo. O AVCi é responsável por mais de
80% dos quadros, porém causa menor número absoluto de mortes.2-4
O AVCh, por sua vez, compreende duas entidades distintas: a
hemorragia intraparenquimatosa (HIP) e a hemorragia
subaracnoidea (HSA).3,5
Um déficit neurológico focal de origem isquêmica com duração
inferior a 24 horas é dito ataque isquêmico transitório (AIT). Nessa
entidade, não há infarto cerebral. A duração é normalmente inferior a
uma hora, em média 8 minutos no território vertebrobasilar e 14 no
carotídeo. A maioria dos casos cursa com melhora clínica na
primeira hora.5
ETIOPATOGÊNESE E FATORES DE RISCO
a) ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO:
De acordo com a etiologia, o AVCi pode ser classificado como
aterotrombótico, cardioembólico, lacunar, outras causas e
criptogênico.3,6
O AVC aterotrombócito ocorre quando há obstrução de um grande
vaso intracraniano ou extracraniano. É resultante de trombo
aterosclerótico formado no local da obstrução arterial ou, raramente,
de trombose aguda de vaso com estenose prévia. Apresenta grande
associação com hipertensão arterial (principal fator de risco para
AVCi), diabetes mellitus (DM), tabagismo, hipercolesterolemia,
síndrome metabólica. Mais frequentemente, atinge o território da
artéria cerebral média. Há também a possibilidade de ulceração das
placas ateroscleróticas e embolização, gerando o AVC embólico.5,6
O AVC cardioembólico ocorre quando há obstrução vascular por
êmbolo oriundo do coração. Na maior parte dos casos, o êmbolo é
gerado pela fibrilação atrial. Pode ser gerado também por infarto
agudo do miocárdio (IAM) da parede anterior, cardiopatia dilatada,
endocardite infeciosa, estenose mitral reumática, prótese valvar e
tumores cardíacos. Tem como fatores de risco: idade > 65 anos,
hipertensão arterial, DM, disfunção do ventrículo esquerdo,
cardioembolia prévia, doença mitral reumática e válvula cardíaca
protética.6
O AVC lacular é resultante de aterosclerose ou lipo-hialinose das
artérias cerebrais perfurantes. Normalmente possui diâmetro entre
0,5 a 0,15 mm, ocorrendo na região central do cérebro (cápsula
interna, tálamo e gânglios da base) ou na ponte. Possui como fatores
de risco a hipertensão arterial de longa duração, DM, angiopatia
amiloide, lipo-hialinose e outras condições que provocam alterações
estruturais dos vasos cerebrais.6
O AVC de outras causas inclui os causados por uso de drogas
ilícitas, vasculopatias não ateroscleróticas, alterações da coagulação
e desordens hematológicas.5,6
Em alguns casos, não é possível estabelecer a causa do AVCi.
Isso ocorre principalmente em pacientes adultos jovens. Nesse caso,
tem-se o AVC criptogênico, também chamado de causa
indeterminada.6
b) HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA (HIP):
A HIP consiste na presença de coleção sanguínea no interior do
parênquima sanguíneo, gerando sintomas devido ao inadequado
fluxo sanguíneo. Pode ser decorrente da ruptura de aneurismas de
Charcot-Bouchard (aneurismas formados por degenerações das
pequenas artérias cerebrais perfurantes expostas à hipertensão
arterial), que ocorrem mais comumente nos núcleos da base, tálamo,
ponte e cerebelo, angiopatia amiloide, intoxicação por cocaína,
malformação arteriovenosa (MAV), tumor ou metástase no SNC.
Possui como fatores de risco: hipertensão arterial, sedentarismo,
idade > 65 anos, tabagismo, ingestão aumentada de sal, consumo de
álcool, colesterol inferior a 160 mg/dL e fatores genéticos.3-5,7
c) ANEURISMAS E HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA:
O aneurisma intracraniano (AI) é uma condição com ampla
distribuição mundial. É encontrado em 1 a 6% das necropsias
realizadas em adultos. Sua ruptura e o posterior extravasamento
sanguíneo é a principal causa da hemorragia subaracnoidea no
mundo. Os aneurismas saculares são, sozinhos, responsáveis por 80
a 90% das hemorragias subaracnoideas espontâneas. A maior parte
(aproximadamente 70%) surge na porção anterior do polígono de
Willis, que engloba as artérias cerebrais anteriores, comunicante
anterior e artérias carótidas internas. O restante se origina na porção
posterior do polígono de Willis, que inclui as artérias cerebrais
médias e posteriores e artérias comunicantes posteriores.8-10
O desenvolvimento de AI está relacionado a vários fatores de
risco não modificáveis, como história familiar de aneurismas
cerebrais, idade avançada, etnia japonesa e finlandesa, doença renal
policística, síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV, pseudoxantoma
elástico, neurofibromatose tipo 1, deficiência de alfa-1 antitripsina,
drepanocitose, anemia falciforme. Também se deve a diversos
fatores a que o indivíduo se expõe ou que adquire durante a vida,
como hipertensão, tabagismo, aterosclerose, contraceptivos orais,
abuso de cafeína, terapia de reposição hormonal, uso de cocaína e
diabetes mellitus.8-10
O risco de ruptura é intimamente ligado à progressão do
aneurisma. Aneurismas maiores que 10 mm de diâmetro são cinco
vezes mais propensos a romper do que os menores. O risco anual de
ruptura para aneurismas <10 mm é de 0,7%.8-10
A hemorragia subaracnoidea ocorre quando há ruptura de vasos
superficiais, na proximidade do cérebro ou dos ventrículos, havendo
extravasamento de sangue para o espaço subaracnoideo, delimitado
pelas meninges aracnoide e pia-máter. Pode ser causada por uma
diversidade de processos patológicos, tais como ruptura de
aneurismas, MAV, trombose venosa cerebral, anemia falciforme,
vasculite, coagulopatias adquiridas e congênitas, metástase e
tumores cerebrais. Tem como fatores de risco: sexo feminino,
hipertensão, tabagismo, contraceptivos orais, idade avançada,
doença renal policística, doença do tecido conjuntivo, alcoolismo,
enxaqueca, abuso de drogas, DM, dislipidemia.4,7-10
Tabagismo
Diabetes Mellitus
Abuso de drogas
Sedentarismo
Obesidade
Uso de anticoncepcionais
Doença coronariana -
Coagulopatias
Sexo feminino
AVE prévio
Negros e latino-americanos
FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia do AVCi envolve diferentes processos
desencadeados pela supressão da oferta de oxigênio e nutrientes
aos neurônios. O esgotamento das reservas energéticas do sistema
nervoso leva à despolarização de neurônios, resultando no aumento
de receptores de glutamato e consequente aumento intracelular de
cálcio. O cálcio age como segundo mensageiro, desencadeando a
ativação de proteases, lipases e nucleases, enzimas que possuem
como produtos as espécies reativas de oxigênio, que danificam
membranas celulares, materiais genéticos e proteínas, levando, por
conseguinte, à morte celular. A falha energética também é
responsável pela alteração do fluxo de iônico e início de processo
inflamatório. Há perda de potássio e ganho de sódio, cloreto e cálcio,
desencadeando o edema citotóxico. Há também, posteriormente,
com maior duração e menor reversibilidade, edema vasogênico. Ele
é resultante do aumento da permeabilidade das células endoteliais,
um outro marco da isquemia. Essa disfunção da barreira
hematoencefálica permite a passagem de macromoléculas e,
consequentemente, o aumento do volume do fluido extracelular e da
pressão intracraniana.3,13,14
A obstrução vascular gera alterações a nível estrutural e
funcional. Como consequência da isquemia, surge uma área de
infarto cerebral, que possui perfusão de 10 a 18 mL/100 g/min, com
falhas estruturais e funcionais inconversíveis (local em que ocorre
necrose), e uma área de penumbra isquêmica (parcialmente
irrigada), que possui a função prejudicada sem ou com pouca
alteração estrutural. Ela é extremamente lábil, e uma pequena
demora na reperfusão tecidual provoca apoptose, anexando a área
de penumbra ao núcleo de tecido neuronal infartado.14,15
O AVCh, além dos efeitos causado pela interrupção do
suprimento vascular, causa danos pelo efeito irritante que o sangue
possui sobre o parênquima vascular e sobre a vasculatura e também
pelo aumento da pressão intracraniana, que pode gerar a restrição
do fluxo sanguíneo cerebral.3,13,14
QUADRO CLÍNICO
a) ACIDENTE VASCULAR ISQUÊMICO:
O encéfalo é vascularizado pelas artérias carótidas internas e
vertebrais. As carótidas internas originam as artérias cerebrais
anteriores e médias e a artéria oftálmica, relacionada à alteração
visual monocular. As artérias vertebrais originam a artéria basilar,
que dá origem às artérias cerebrais posteriores, cerebelar superior,
posteroinferior, anteroinferior e superior.15,16
As artérias cerebrais anteriores suprem a cápsula interna, parte
do núcleo caudado, do hipotálamo, bulbo, tratos olfatórios, lobo
frontal. Os sintomas da obstrução envolvem paralisia e paresia do
membro inferior mais significante do que a do membro superior,
sinais de frontalização, desvio do olhar conjugado, alteração de
cognição e comportamento.15-17
As artérias cerebrais médias vascularizam a face superolateral
de cada hemisfério. Vascularizam as áreas motora, somestésica, de
Broca e de Wernick (no hemisfério dominante); portanto, parte do
lobo frontal, lobos temporais e parietais. Os sintomas de obstrução
envolvem parestesia, hipoestesia, paresia, disartria, síndrome
piramidal contralateral, desvio do olhar conjugado (ipsilateral),
paralisia facial e dos membros (contralateral), sendo mais intensa no
membro superior em relação ao inferior, desvio da rima labial, afasia
de Broca, isto é, uma condição na qual há alteração motora da fala,
e/ou afasia de Wernicke, na qual há fala fluente, porém com palavras
incorretas ou sem sentido.15-17
O AVC da artéria lentículo-estriada, artéria responsável pela
vascularização da cápsula interna e que se origina da artéria cerebral
média, resulta em síndrome piramidal, causando; portanto,
sincinesias, sinal de Babinski, hiperreflexia, espasticidade e hiper-
reflexia profunda.15-17
Já um AVC carotídeo resulta em afasia (hemisfério dominante)
ou negligência (hemisfério não dominante), hemianopsia homônima
contralateral, declínio motor e sensorial contralateral de face e
membros superiores e inferiores e desvio ipsilateral do olhar
conjugado.16,17
As artérias cerebrais posteriores irrigam o lobo occipital e a face
inferior do lobo temporal. Vascularizam a substância negra,
pedúnculos cerebrais, parte do hipotálamo, hipocampo e núcleos do
tálamo. Os sintomas da oclusão incluem hemianopsia homônima,
agnosia visual, distúrbios de leitura, ataxia, alexia, agrafia,
prosopagnosia e até cegueira nas obstruções bilaterais. Pode haver
rebaixamento da consciência e déficit sensorial. No geral, não há
paralisia.15-18
A oclusão da artéria cerebelar superior tem como manifestações
a ataxia de marcha, cefaleia, náuseas, vômitos, vertigem, inabilidade
ipsilateral, disartria, nistagmo ipsilateral, síndrome de Horner
ipsilateral (ptose pálpebra discreta a moderada, miose, anidrose e
hiperemia facial).16,17
O AVC da artéria cerebelar posteroinferior resulta na síndrome de
Wallenberg, na qual há redução da sensibilidade dolorosa e térmica
ipsilateral da face e contralateral em tronco e extremidade facial,
disfagia, nistagmo, diplopia, mioclonia do palato ipsilateral, síndrome
de Horner ipsilateral.16,17
A obstrução do fluxo da artéria cerebelar anteroinferior causa
surdez súbita, vertigem, vômito, zumbido, disartria, fraqueza facial
ipsilateral, ataxia ipsilateral de membros, podendo ainda prejudicar a
sensibilidade térmica e dolorosa.16,17
Já uma oclusão vertebrobasilar significante resulta em morte ou
incapacidade grave, podendo gerar ataxia, disartria, alterações dos
nervos cranianos, déficit visual, quadriplegia, coma e até, raramente,
a síndrome do encarceramento.16,17
b) HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA:
A hemorragia intraparenquimatosa possui sintomas de acordo
com os locais acometidos (Quadro 2) e o tempo de evolução, sendo
mais comumente acometidos os núcleos da base, principalmente o
putâmen. Contudo, ocorrem também sintomas inespecíficos como
cefaleia, náuseas e vômitos. Muitas vezes, apenas os sintomas não
vão permitir a diferenciação entre o AVCi e o AVCh.19-21
Hemiparesia contralateral
Desvio do olhar conjugado ipsilateral
PUTÂMEN Descerebração/decorticação
Pupilas mióticas
Respiração de Cheyne-Stokes
Cefaleia
Rigidez nucal
NÚCLEO CAUDADO Alterações neurocomportamentais
Diminuição do estado da memória
Diminuição do estado de alerta
Hemiparesia contralateral
Afasia/negligência
TÁLAMO
Desvio do olhar conjugado para baixo
Pupilas mióticas
Tetraparesia.
Pupilas puntiforme.
PONTE Hipoventilação.
Desvio do olhar conjugado para o lado no qual há o dé cit
Evolução rápida para coma
c) HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA:
As cefaleias correspondem em até 2% dos atendimentos
realizados pelos departamentos de emergência. Cerca de 1% das
cefaleias são manifestações da hemorragia subaracnoidea.8,9
O quadro possui uma incidência que varia de 2 a 25 casos por
100.000 habitantes, sendo as maiores incidências encontradas no
Japão e na Finlândia.8,9 No geral, estima-se que a incidência atual é
por volta de 7,9 casos a cada 100.000 habitantes.22
A hemorragia subaracnoidea manifesta-se por cefaleia de grande
intensidade, excruciante, que atinge a máxima intensidade em
segundos, sendo descrita como a pior cefaleia da vida, geralmente
acompanhada de náuseas e vômitos. Também pode ser
acompanhada por dor cervical, convulsões, perda transitória da
consciência, hemiparesia, perda do campo visual, fotofobia, diplopia,
movimentos extraoculares anormais, disartria, disfagia, ataxia e
comprometimento de nervos cranianos.8-10
d) PIORA SECUNDÁRIA NOS ACIDENTES VASCULARES:
Tanto no AVCh quanto no AVCi pode haver deterioração do nível
de consciência de pacientes inicialmente alertas. A piora nas
primeiras 3 horas é ligada a expansão de hematoma. A piora entre
24 a 48 horas é ligada a piora do edema cerebral. A progressão do
edema também pode levar a deterioração durante a segunda e
terceira semanas após o início da hemorragia. No AVCi, as causas de
deterioração incluí a transformação hemorrágica, isquemia
recorrente, hipertensão intracraniana, além de crises convulsivas,
distúrbios hidroeletrolíticos, infecções e edema.23-25
DIAGNÓSTICO
O AVC é facilmente diagnosticado mesmo em ambiente pré-
hospitalar. São fortes indicativos o surgimento súbito dos sintomas e
a procura rápida de serviço de saúde, alteração de fala, fraqueza
muscular de face ou membros, vertigem e cefaleia severa.26
Na recepção do paciente suspeito, é recomendado o uso da
escala de AVC do National Institute of Health (NIH). É uma forma
simples e rápida de identificar e quantificar déficits neurológicos.
Desta forma pode-se acompanhar de maneira objetiva a evolução do
paciente. A escala avalia nível de consciência, orientação, resposta a
comandos, melhor olhar conjugado, campos visuais, paralisia facial,
função motora, ataxia dos membros, sensibilidade, melhor
linguagem, disartria e extinção ou desatenção.26
Muitas condições apresentam sintomas semelhantes ao AVC e
precisam ser descartadas, como síncope, crise epiléptica, uremia,
hipoglicemia ou hiperglicemia, neoplasia ou abcesso no SNC,
distúrbio psiquiátrico, trauma, encefalite, distúrbio eletrolítico,
meningite, intoxicação aguda, insuficiência hepática, hematoma
subdural etc. Para cefaleia em trovoada, inclui cefaleia sentinela,
trombose venosa central, dissecção arterial cervical, apoplexia
pituitária, cisto coloide, estenose do aqueduto, feocromocitoma etc.
A avaliação inicial complementada pela neuroimagem permite que
esses diagnósticos sejam descartados.7-9,27
A tomografia computadorizada (TC) sem contraste (Quadro 3) é o
método mais frequentemente utilizado no manejo do AVC,
possuindo sensibilidade próxima de 100% nas primeiras horas. Ela é
preferida por ser amplamente disponível, fácil de utilizar e pela
velocidade mais célere de realização do exame. Nem sempre,
contudo, os sinais de isquemia são tão evidentes no método, sendo
necessário de dois a sete dias para o reconhecimento, em alguns
casos. Para HSA, há uma redução significativa da sensibilidade a
partir de 24-48 horas, sendo necessários outros métodos de
imagem.8-10,26,27
A ressonância magnética (RNM) permite o reconhecimento
precoce (< 6 horas) da isquemia, possui maior sensibilidade para o
reconhecimento de malformações arteriovenosas, neoplasias,
processo infeccioso ou inflamatório. Trata-se, contudo, de um exame
de alto custo e baixa disponibilidade, além de não poder ser
realizada em pacientes que possuem marca-passos e implantes
metálicos.27,28
GERENCIAMENTO DO AVC
Idealmente, a avaliação médica do paciente deve ocorre nos
primeiros 10 minutos, e a avaliação do neurologista, nos primeiros 15
minutos. Na recepção do paciente com AVC, deve-se indagar quanto
a antecedentes cardíacos, doença arterial periférica, medicamentos
de uso contínuo, abuso de álcool e drogas ilícitas, convulsões,
enxaqueca, trauma e gravidez. É preciso averiguar a hidratação,
oxigenação, frequência e ritmo cardíaco, realizar ausculta cardíaca e
respiratória. O exame de fundo de olho pode auxiliar no diagnóstico
de quadros hemorrágicos.27,31,32
Deve-se avaliar o paciente através da escala de coma de Glasgow
e através da escala de AVC do NIS. Essa avaliação deve ser
periódica.31-34
São exames essenciais hemograma, coagulograma, níveis
sanguíneos de potássio, sódio, creatinina, ureia, glicemia,
marcadores de necrose cardíaca. A partir das particularidades de
cada caso, radiografia torácica, teste de gravidez, exame
toxicológico, enzimas canaliculares hepáticas e marcadores de
necrose hepática devem ser solicitados. Em caso de convulsão, o
eletroencefalograma é indicado. Exames como eletrocardiograma,
ecocardiograma e doppler de carótidas e artérias vertebrais são
úteis no estabelecimento de diagnósticos diferenciais.31-34
É necessário que a TC seja realizada de forma mais precoce
possível. Preferencialmente, ela deve ser solicitada já na admissão
ao hospital. A exclusão de AVCh permite prosseguir com a conduta
específica para AVCi. 31-34
O fluxograma 1 resume o gerenciamento dos acidentes
vasculares cerebrais.
a) ACIDENTE VASCULAR ISQUÊMICO:
O tratamento do AVCi envolve medidas de suporte e medidas
específicas.31-34
Como suporte e medidas gerais (Quadro 4), é preciso: 1) manter o
paciente em maca com cabeceira elevada; 2) estabelecer dois
acessos calibrosos; 3) garantir suplementação de oxigênio para
pacientes com hipóxia, mantendo a saturação de oxigênio superior a
94%; 4) monitorar a temperatura corporal e garantir que esteja
próxima da normalidade, visto que hipertermia aumenta a liberação
de radicais livres no tecido isquêmico e eleva a atividade neuronal; 5)
monitorar a atividade cardíaca, principalmente nas 24 primeiras
horas, nas quais o paciente está mais susceptível a arritmias; 6)
monitorar a pressão arterial e controlá-la — PAS ≥ 185 e PAD ≥ 110
mmHg para pacientes elegíveis para terapia fibrinolítica —; 7)
monitorar a glicemia a cada 6 horas; 8) corrigir a hipotensão e a
hipovolemia; 9) prescrever, na fase aguda, AAS 100 a 300 mg/dia ou,
em casos de alergia, clopidogrel 75 mg/dia. Essa prescrição não
deve ser realizada, contudo, antes de trombólise intravenosa, e, para
o paciente não eletivo, podem ser adotadas outras técnicas como
profilaxia de trombose venosa periférica (TVP), como compressão.31-
34
Recomendações
A glicemia deve ser mantida entre 140 a 180 mg/dL através de insulina, caso necessário.
GLICEMIA
A hipoglicemia (glicemia < 60 mg/dL) deve ser tratada.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Idade > 18 anos;
Diagnóstico clínico de AVCi;
Dé cit neurológico de intensidade signi cativa;
Evolução < 4,5 h;
TC sem evidências de hemorragia.
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Convulsões – são mais comuns nas primeiras Pro laxia não é recomendada
24 horas Uso de fenitoína não é consenso
AVALIAÇÃO DO PROGNÓSTICO
Existem diversas escalas e escores para avaliação do prognóstico
do paciente com AVC e auxílio na tomada de decisão. Para o AIT, há
o escore ABCD e o ABCD2. Para o AVCi, utiliza-se o ASPECTS
(Alberta Stroke Program Early CT Score). Para HIP, emprega-se o
escore ICH (intracranial hemorrhage). Já para HSA, há diferentes
métodos, sendo geralmente utilizadas a escala de Fisher modificada,
a escala da World Federation of Neurological Surgeons e a escala de
Hunter-Hess.36,43-51
a) ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO:
Os escores ABCD e ABCD2 (Quadro 7) forram criados para
quantificar o risco de AVCi em curto prazo após um AIT. Pontuação
inferior ou igual a 3 pontos são de baixo risco (risco < 7% em 90 dias),
já a pontuação superior a 3 pontos apresenta alto risco de AVC (risco
de cerca de 25% em 90 dias). Pacientes com AIT devem receber
aspirina (150 a 300 mg) e, se de alto risco, devem ser investigados
de forma abrangente. Para todos, deve-se estabelecer profilaxia
secundária.43,51
Fraqueza unilateral 2
(Clinical symtoms) Sintomas
Comprometimento da fala 1
≥ 60 minutos 2
(Duration of TIA) Duração
10-59 minutos 1
Figura 1. Aspectos.
Fonte: Prasad, Bhatt.43,44
c) HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA:
O escore ICH (Quadro 8) avalia o risco de mortalidade em 30 dias
por HIP. Sua pontuação varia entre 0 a 6 pontos. A mortalidade é,
respectivamente, para cada pontuação: 0%, 13%, 26%. 72%, 97%,
100% e 100%. 46
Dado clínico Achado Pontuação
3-4 2
Glasgow na admissão
5-12 1
Idade ≥ 80 anos 1
Hemoventriculo Sim 1
Cefaleia moderada a severa, rigidez nucal, sem dé cits neurológicos exceto por
II 2-10%
paralisia de nervos cranianos.
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
O paciente que possui um AVC deve, dentro de uma semana, ser
avaliado quanto aos fatores de risco modificáveis, incluindo HAS, DM,
tabagismo, estenose da artéria carótida, fibrilação atrial e arritmias,
e doença cardíaca estrutural.34,43
O paciente vítima de AVCi deve receber profilaxia secundária com
AAS ou clopidogrel. Esses medicamentos, contudo, não devem ser
combinados.31,34
Deve-se buscar controlar a pressão arterial do paciente e a
dislipidemia. Os pacientes devem ser tratados com estatinas, a
depender do risco cardiovascular. Deve-se estimular mudança de
hábitos de vida: interrupção do tabagismo, exercícios físicos por ao
menos 30 min/dia, redução do consumo de lipídios e carne vermelha,
redução do peso corporal, redução da ingestão de sal e de álcool.34,43
DICAS DO ESPECIALISTA
• Até que se prove o contrário, todo déficit neurológico agudo
deve ser tratado como se ele se tratasse de um AVCi.
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8.6
SÍNDROMES EPILÉTICAS
Autores:
Jonas Silva Paes
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
Estima-se que a prevalência mundial de epilepsia ativa esteja em
torno de 0,5%-1,0% da população1 e que cerca de 30% dos pacientes
sejam refratários, ou seja, continuam a ter crises, sem remissão,
apesar de tratamento adequado com medicamentos
anticonvulsivantes.2
Desse modo, o conhecimento desse tema é de extrema
importância para a prática médica atual e futura.
DEFINIÇÕES
De O termo “epilepsia” denota qualquer distúrbio caracterizado
por convulsões recorrentes não provocadas. Uma convulsão é um
distúrbio transitório da função cerebral devido a uma descarga
neuronal paroxística anormal no cérebro.
Pacientes com convulsões recorrentes provocadas por uma
causa prontamente reversível, como abstinência de álcool ou drogas,
hipoglicemia, hiperglicemia ou uremia, não são considerados
epiléticos.3
Uma síndrome epilética é definida como um distúrbio epilético
caracterizado pela presença de sinais e sintomas complexos que
definem uma condição epilética única. Os sinais e sintomas podem
ser clínicos (história, idade de início, tipos e modos de aparecimento
das crises, natureza progressiva ou não e achados neurológicos e
neuropsicológicos) e achados de exames complementares, como
eletroencefalograma (EEG), estudos de neuroimagem, mecanismos
patofisiológicos e bases genéticas.4
PREVALÊNCIA
Há poucos estudos epidemiológicos confiáveis sobre epilepsia no
Brasil. Se considerarmos hipoteticamente a prevalência de epilepsia
como sendo igual à descrita na cidade de Porto Alegre, ou seja,
16,5/1.000 casos de epilepsia ativa, o que significa mais de três
vezes a prevalência em países desenvolvidos, teríamos atualmente
um número próximo a 2.500.000 pessoas com epilepsia no Brasil.5
DIAGNÓSTICO
É essencial que os pacientes sejam acompanhados por uma
testemunha que possa descrever os episódios em detalhes. O
diagnóstico é fundamentalmente clínico e envolve a realização de
anamnese detalhada, visando à caracterização de eventos nos
primeiros anos de vida (eventos precipitantes iniciais) que poderiam
ser implicados na gênese das crises e de outros antecedentes
pessoais e familiares. O EEG é usado como um suporte do
diagnóstico, sendo importante para a correlação eletroclínica e a
caracterização do tipo de epilepsia. Estudos de neuroimagem, como
tomografia de crânio e, principalmente, ressonância magnética (RM)
do encéfalo, são importantes na determinação do tipo da lesão
epileptogênica. Estudos funcionais, como a tomografia por emissão
de fóton único e a tomografia por emissão de pósitrons, podem ser
utilizados na definição da zona epileptogênica, ou seja, a região
geradora das crises.6
Epilepsia benigna da infância - Crises ocorrem em crianças - O diagnóstico se baseia em - Fármacos de primeira escolha:
com pontas rolândicas previamente hígidas critérios clínicos e EEG. (7) carbamazepina e
- Trata-se do tipo mais comum - Sintomas sensitivos e/ou oxcarbazepina
de epilepsia focal idiopática, motores envolvem: face, * Levetiracetam, topiramato e
podendo corresponder a até intensa sialorreia, podendo lamotrigina possuem e cácia
20% das epilepsias da infância. (7) evoluir para uma crise unilateral semelhante.
- O início das crises ocorre tônica, clônica ou tônico- - Nos pacientes com
geralmente entre 2 e 13 anos, clônica, com alternância entre recorrências noturnas
com pico por volta dos 9 anos, os dimídios. frequentes, benzodiazepínicos
havendo um discreto - As crises ocorrem são uma opção.
predomínio no sexo masculino. predominantemente durante o - Tratamento medicamentoso
(8) sono ou logo após o despertar. nem sempre é necessário.
(7)(9) - Todos os pacientes evoluem
com remissão completa das
crises.
- Familiares devem encorajar a
criança a ter uma vida normal. (7)
(9)(10)
Epilepsia occipital benigna da - As crises epilépticas são - O diagnóstico se baseia em - Por apresentar risco baixo de
infância de início precoce tipo semiologicamente critérios clínicos e EEG. recorrência de crises, o uso de
Panayiotopoulos caracterizadas por: alterações - O EEG registra atividade de FAE deve ser ponderado.
- síndrome idade-relacionada, comportamentais, irritabilidade, base normal e a presença de - Quando optado por
que ocorre em ambos os sexos, agressividade, fenômenos descargas de onda aguda na tratamento contínuo, indicar
apresenta forte componente autonômicos, palidez cutânea, região occipital. Um terço das carbamazepina ou
genético e é a segunda epilepsia cianose labial, náusea, vômito e crianças apresenta EEG normal. oxcarbazepina, fenobarbital,
parcial benigna mais frequente desvio dos olhos e da cabeça de - A RNM-E deve ser realizada valproato de sódio ou
da infância. As crises ocorrem forma conjugada, alterações para afastar lesões estruturais topiramato. (10)(11)(12)
entre 2 e 8 anos, com pico aos 5 visuais e amaurose ictal. em córtex posterior e deve ser
anos. (10) - As crises podem apresentar normal nesta síndrome.(11)(12)
- As crises são pouco frequentes curta duração ou evoluir com
e muitos pacientes EME tipo parcial. (11)
apresentarão somente um
evento durante toda a vida. O
exame neurológico é normal e
não há comprometimento do
DNPM. (11)(12)
Doença Sinais / Sintomas Diagnóstico Tratamento
Epilepsia occipital benigna da - Manifestações clínicas mais - O EEG apresenta atividade de - Os FAE indicados são
infância de início tardio tipo comuns: auras visuais, seguidas base normal e descargas de carbamazepina, oxcarbazepina,
Gastaut ou não de hemigeneralização onda aguda em córtex topiramato, valproato de sódio
- É considerada uma síndrome ou generalização. posterior, predominando nas e levetiracetam.
rara, idade-relacionada, que - As crises geralmente ocorrem regiões occipitais, ora à direita, - O prognóstico costuma ser
afeta ambos os sexos e tem em vigília. ora à esquerda. São descritos favorável, com remissão
forte componente genético. - Sintomas visuais como ritmos rápidos na faixa beta em completa das crises após 2 a 4
(13) Hemianopsias, perda parcial ou córtex posterior. anos. (10)(15)
Tem idade de início entre 2 e 17 total da visão; A RNM-E deve ser realizada para
anos, com pico entre 7 e 9 anos. - Fosfenos ou alucinações afastar lesões estruturais,
(10) visuais elementares e devendo ser normal. (15)
alucinações visuais complexas;
- Ilusões visuais, como
palinopsia, micropsia, macropsia
e metamorfosopsia;
- Visão de pontos coloridos,
luses piscando, círculos ou
pequenos animais. (14)
Epilepsia neonatal familiar - Crises iniciam entre segundo e - EEG apresenta achados O tratamento medicamentoso
benigna terceiro dias de vida. São inespecí cos, podendo ser deve ser realizado com
- Síndrome rara, autossômica semiologicamente normal ou apresentar fenobarbital, valproato de sódio
dominante, devido à mutação classi cadas como: clônicas, paroxismos epileptogênicos ou divalproato de sódio, por
de genes relacionados aos tônicas focais ou com morfologia de espícula e curto período, devendo ser
canais de potássio voltagem- generalizadas, apneias e crises espícula-onda generalizadas. descontinuado após,
dependente. (10)(16) com fenômenos autonômicos. - A ressonância nuclear aproximadamente, 6 meses. (10)
- O exame neurológico é magnética do encéfalo (RNM-E) (16)
normal em praticamente todas não demonstra alterações
as crianças. (10)(16) signi cativas. (10)(16)
Doença Sinais / Sintomas Diagnóstico Tratamento
Epilepsia do lobo temporal - Clinicamente, a síndrome da - Os achados do EEG podem ser - Remissão espontânea das
- A epilepsia do lobo temporal ELT se manifesta por crises mais difusos e em 20% dos crises ocorre em 10% a 18% dos
(ELT) é a principal causa de crises tônicas, mioclônicas e casos abaixo dos 12 anos são casos.
epilépticas intratáveis em espasmos infantis, sendo raras encontradas descargas fora do - As crises epilépticas são
adultos. Em crianças, a esclerose as crises parciais complexas, as lobo temporal e 40% dos casos refratárias e pode-se observar
mesial temporal (EMT) isolada quais, quando presentes, apresentam alterações morbidade cognitiva.
tem sido descrita em 15% a 43% caracterizam-se por poucos interictais bitemporais ou na - Tratamento cirúrgico em
dos casos de ELT (17)(18), sendo automatismos, sendo raras as região medioposterior do lobo crianças tem prognóstico
mais comum acima dos 5 anos. posturas distônicas. (22)(23) temporal. semelhante ao observado em
(19) - O registro ictal, embora possa adultos, não havendo
- Abaixo dos 5 anos, lesões ser caracterizado pelo clássico justi cativas para se protelar a
neocorticais como tumores, ritmo teta-hipocampal, indicação cirúrgica ante a
malformações do evidencia com frequência determinação da refratariedade
desenvolvimento cortical são ritmos mais difusos. (23)(24) clínica. (18)(24)(25)(26)(27)
mais frequentemente
observadas, podendo ou não se
associar à EMT. (20)(21)
Doença Sinais / Sintomas Diagnóstico Tratamento
Síndrome de Rasmussen - A apresentação clínica mais - O diagnóstico nal da - O único tratamento que leva à
- É uma doença rara, adquirida, comum é a de crises epilépticas encefalite de Rasmussen baseia- remissão das crises epilépticas é
progressiva, de etiologia focais motoras esporádicas em se em critérios clínicos, EEG e de a cirurgia e, na maioria das vezes,
desconhecida, que acomete uma criança previamente imagem, sendo muitas vezes a ressecção ou desconexão de
um hemisfério cerebral. (28) hígida. necessário realizar biópsia todo o hemisfério é indicada.
- Caracteriza-se pela presença de - Esta evolui para a fase 2 ou cerebral para sua con rmação. - No entanto, o tratamento
crises focais motoras muito fase aguda caracterizada pela - Os achados histopatológicos cirúrgico pode levar à instalação
frequentes ou contínuas, presença de epilepsia parcial são nódulos microgliais, com ou de dé cits neurológicos
hemiparesia e hemiatro a contínua, hemiparesia e sem neuronofagia, in ltrado importantes, particularmente
cerebral progressivas (29) dé cits cognitivos celular perivascular, necrose quando a doença envolve o
- Sintomas têm início por volta progressivos. giral, perda neuronal e gliose. (30) hemisfério dominante para a
- A terceira fase caracteriza-se (31)(32)(33)(34)(35) linguagem, sendo necessário
dos 6 anos de idade. (31)
pela estabilização do quadro protelar o procedimento.
neurológico, mas ainda com Nesses casos são indicados
crises epilépticas refratárias. tratamentos alternativos com
Hemiparesia pode ser o corticosteroides,
sintoma inicial da doença. imunoglobulina humana e
- Pacientes com sintomas tacrolimo. (30)(31)(32)(33)(34)(35)
iniciados mais tardiamente
podem apresentar-se com
crises parciais complexas ou
TCGs esporádicas que
posteriormente evoluem para
o quadro típico de epilepsia
parcial contínua.
Distúrbios de linguagem e
comportamento e retardo
mental são observados na
evolução da síndrome. (31)(32)
(33)(34)(35)
Síndrome de Doose - As crises são mioclônicas, - O EEG é inicialmente normal, - O tratamento deve incluir
- Também denominada astáticas ou mioclono- mas surge alentecimento e valproato de sódio, divalproato
epilepsia mioclono-astática, astáticas, levando a quedas desorganização da atividade de de sódio, topiramato,
está classi cada entre as com traumas de repetição. base e descargas polimór cas lamotrigina e
síndromes epilépticas - Outros tipos de crises como generalizadas com acentuações benzodiazepínicos. Há relatos
generalizadas criptogênicas ou as crises de ausência, crises focais. de bons resultados com
sintomáticas, sendo frequente atônicas e crises TCGs - Em parte dos pacientes, é etossuximida, levetiracetam,
o polimor smo de crises. Sua frequentemente estão possível identi car o “ritmo de primidona, ACTH, corticoides
incidência é estimada em 1 caso presentes. Doose”, constituído por orais e acetazolamida.
para cada 10.000 nascidos vivos, - Alguns pacientes apresentam atividade teta, monomór ca, - Dieta cetogênica é reservada
correspondendo a 1 a 2% de EME de repetição, com crises de média amplitude e com aos casos refratários.
todas as epilepsias iniciadas na sutis que se manifestam por projeção nas regiões parietais - O prognóstico é muito variável,
infância. É mais comum no sexo torpor ou apatia, mioclonias bilateralmente. (10)(37)(39)(40) havendo desde casos com
masculino. (10)(37) irregulares e quedas sutis da remissão completa dos
- Tem idade de início geralmente cabeça. (38) sintomas e controle das crises,
entre 2 e 5 anos, com pico de até evoluções com crises
incidência aos 3 anos, refratárias e severo
ocorrendo em crianças comprometimento do DNPM.
previamente hígidas. A herança Episódios de EME com crises
é poligênica e pode haver tônico-vibratórias e EME
ocorrência familiar em até 37% mioclônico sugerem pior
dos casos. (38) prognóstico. (39)(40)
Epilepsia ausência da infância - As crises de ausência têm - O EEG que demonstra um - Os FAE geralmente levam ao
- A epilepsia ausência da infância início ao redor de 6 a 8 anos e padrão típico de descargas de controle completo das
(EAI) é a epilepsia genética caracterizam-se por espícula-onda generalizada ausências, estando indicados
generalizada mais frequente da comprometimento abrupto e com frequência de 3 a 4 Hz. O valproato de sódio, divalproato
infância. Embora acometa completo da consciência, com registro deve apresentar de sódio, etossuximida ou
ambos os sexos, é mais duração de poucos segundos. atividade de base normal, lamotrigina.
frequente no feminino, tem A crise termina com podendo ocorrer atividade - Em casos refratários, a
forte componente genético e recuperação completa e delta rítmica intermitente em associação de
ocorre em crianças abrupta da consciência. regiões occipitais, que é benzodiazepínicos pode ser
neurologicamente hígidas. (10) - São reconhecidos sete tipos considerado um marcador necessária. (10)(42)
distintos de crises de ausência eletrográ co de melhor
típica: prognóstico.
- (a): crise de ausência com - A RNM-E não demonstra
prometimento da consciência; anormalidades. (10)(41)
- (b): crise de ausência com
componente clônico discreto;
- (c): crise de ausência com
componente atônico;
- (d): crise de ausência com
componente tônico;
- (e): crise de ausência com
automatismos;
- (f): crise de ausência com
fenômenos autonômicos;
- (g): formas mistas (10)(41)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Epilepsia com Ausência - Crises de ausência típica com - EEG: atividade de base normal - Tratamento: doses elevadas da
Mioclônica abalos mioclônicos bilaterais e e complexos de espícula-onda associação etossuximida e
- A epilepsia com ausências contração tônica dos ombros, generalizados, ritmados a 3 s. valproato.
mioclônicas é uma síndrome braços ou pernas, associado a Resposta à terapêutica pode Outras drogas: fenobarbital,
relativamente rara, com descargas eletrográ cas não ser satisfatória; deterioração benzodiazepínicos, lamotrigina.
predomínio no sexo masculino, síncronas com complexos cognitiva. (10)(44) (10)(44)
sendo familiar em 20% dos ponta-onda 3Hz.
casos. A idade de início é entre - A contração muscular
os 11 meses e 12 anos, com pico envolve a musculatura facial e
aos 7 anos, ocorrendo algum proximal dos membros
grau de retardo mental em até superiores
45% dos casos. (43) - 2/3 casos: crises tônico-
clônicas generalizadas e crises
de queda. (10)(44)
Epilepsia mioclônica juvenil - As crises mioclônicas - O EEG registra atividade de - Orientações detalhadas a
- Está classi cada entre as predominam ao despertar e base normal e descargas de respeito dos fatores
epilepsias e síndromes nas primeiras horas da manhã e espícula, espícula-onda, desencadeantes são
epilépticas generalizadas são ativadas pela privação de poliespícula e poliespícula-onda consideradas parte essencial do
idiopáticas idade-relacionadas, sono, ingestão de bebidas generalizadas e com tratamento.
sendo considerada a síndrome alcóolicas, fadiga física e acentuação em córtex anterior. - Os principais FAE indicados são
epiléptica generalizada de distúrbios emocionais. - O achado de espículas focais valproato de sódio, divalproato
natureza genética mais - As crises mioclônicas podem ou multifocais durante o sono é de sódio e lamotrigina.
frequente da adolescência, com ser acompanhadas por CTCG habitual nas epilepsias Clonazepam é e caz, mas deve
incidência anual entre 0,5 e (em 90% dos casos) e crises de generalizadas idiopáticas. ser considerado fármaco de
6,3:100.000. Ocorre em ausência (em 15% dos casos). - Prova de fotostimulação é adição. Topiramato e
indivíduos neurologicamente - Como as mioclonias são obrigatória durante o EEG, uma zonizamida podem ser
hígidos e compromete ambos muito breves, não há alteração vez que praticamente metade utilizados após falha dos
os sexos, com predomínio no do nível de consciência e estas dos pacientes apresenta. (45)(46) fármacos de primeira linha.
feminino. podem ser desencadeadas por (47) Carbamazepina, oxcarbazepina,
- As crises têm início ao redor de estímulos luminosos (epilepsia fenitoína, vigabatrina e
14 a 16 anos, sendo fotossensível). (10)(45)(46)(47) gabapentina podem provocar
caracterizadas por mioclonias EME mioclônico e de ausência.
bilaterais, simétricas, ocorrendo (10)(46)(47)
de forma isolada ou em salvas e
predominando nos membros
superiores. (10)(45)(46)
Síndrome de Dravet - As crises iniciam no primeiro - O EEG cursa com alterações - Por se tratar de uma síndrome
- Também denominada ano de vida e progressivas, podendo ser epiléptica com crises
epilepsia mioclônica severa da semiologicamente são normal nas fases iniciais. polimór cas, a escolha dos FAE
infância ou epilepsia mioclônica classi cadas como clônicas, Evolutivamente, há deve ser dirigida aos tipos de
grave do lactente, corresponde comprometendo metade do desorganização e crises predominantes.
a uma síndrome epiléptica rara, corpo e podendo evoluir para alentecimento da atividade de Fenobarbital, valproato de
com discreto predomínio no CTCG, com ou sem febre. base e, em metade dos casos, sódio, divalrpoato de sódio,
sexo masculino e etiologia - Posteriormente, associam-se surgimento de ritmo teta benzodiazepínicos, topiramato,
genética. Ao redor de 75% dos crises mioclônicas síncrono, com frequência de 4 a etossuximida e zonizamida
pacientes apresentam mutação generalizadas ou 5 Hz, nas regiões central e podem ser utilizados.
no gene SCN1A, que codi ca a fragmentadas, tônicas, CTCG e parietal. Carbamazepina, fenitoína e
subunidade alfa-1 dos canais de ausências atípicas, geralmente - Descargas de espícula, lamotrigina devem ser evitados,
sódio. (10)(49)(50) tendo febre como gatilho. espícula-onda, poliespícula e devido a relatos de
- A epilepsia tem poliespícula-onda são agravamento das crises.
comportamento refratário e é registradas ora em projeção Associação de valproato de
acompanhada por estagnação generalizadora ora com padrão sódio, stiripentol e clobazam
e regressão do DNPM, multifocal. parece ser efetiva em uma
distúrbio do comportamento, - A RNM-E é normal na maioria parcela signi cativa destes
hiperatividade, impulsividade e dos pacientes, podendo haver pacientes.
transtorno do espectro autista. alterações inespecí cas como - Casos refratários podem se
- Esclerose medial temporal atro a cerebral. (10)(49)(50) bene ciar de dieta cetogênica.
está presente em 2 a 70% dos (10)(51)
pacientes. (10)(49)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Síndrome de Landau-Kleffner - Crises epilépticas não são - O EEG registra descargas de - ACTH e corticoides orais são
- Também denominada critério obrigatório para o onda aguda nas regiões e cazes em alguns pacientes.
síndrome da epilepsia-afasia, é diagnóstico da SLK, embora temporais, com ocasional - Valproato de sódio,
considerada uma síndrome estejam presentes em até 80% predomínio à esquerda. divalproato de sódio,
epiléptica pouco frequente. O dos casos. Em metade dos Descargas extratemporais topiramato e
diagnóstico ocorre entre 3 e 7 pacientes, a crise convulsiva também podem estar presentes benzodiazepínicos podem
anos de idade e há predomínio antecede a afasia. As crises são e uma parte signi cativa destes auxiliar na terapia de
no sexo masculino. (10) ativadas pelo sono NREM, pacientes apresenta espícula- antiepiléptica de manutenção.
predominando crises parciais, onda contínua durante o sono, - Etossuximida é indicada em
CTCG, ausências atípicas e, o que agrava a morbidade casos de crises de ausência
mais raramente, mioclonias neurologia. refratária.
epilépticas. - A RNM-E pode ser normal, - Levetiracetam pode ser
- Afasia receptiva está presente apresentar achados utilizado em associação.
em todos os pacientes e sua inespecí cos como atro a Fenobarbital e fenitoína são
causa não é totalmente cerebral ou alterações contraindicados devido relatos
conhecida. estruturais especí cas como de agravamento das crises e
- Alterações funcionais malformações do EME.
decorrentes da presença de desenvolvimento cortical e - O envolvimento de área
descargas epileptogênicas nas lesões destrutivas. (10)(53)(54)(55) eloquente impede a realização
redes neuronais responsáveis de procedimentos cirúrgicos
pela linguagem falada são visando ressecção cortical.
identi cadas como causa - Cirurgias paliativas como a
direta dos distúrbios do transecção subpial múltipla de
comportamento verbal. Frank Morrell podem ser
- Atividade epiléptica intensa indicadas em casos
no lobo temporal esquerdo selecionados. (10)(52)(53)(54)
parece contribuir para o
estabelecimento de uma
encefalopatia hipometabólica,
que se manifestaria por
alterações no comportamento
verbal e social.
- Afasia receptiva é seguida por
afasia de expressão e mutismo.
Distúrbios do comportamento
e transtorno do espectro
autista ocorrem em
praticamente 80% destes
pacientes e costumam
perdurar por toda a vida. (10)(52)
(53)(54)(55)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Síndrome de Lennox-Gastaut - A SLG é de nida pela tríade: - O EEG registra descargas de - O tratamento geralmente não
- As crises têm início antes dos 8 crises atônicas, tônicas e onda aguda nas regiões resulta em controle satisfatório
anos de idade, com pico entre 3 ausência atípica. Em fases mais temporais, com ocasional das crises e a evolução com EME
e 4 anos. avançadas é comum a predomínio à esquerda. tônico ou de ausência atípica é
-A SLG está classi cada entre as presença de crises parciais Descargas extratemporais comum.
epilepsias e síndromes complexas, parciais simples e também podem estar presentes - Carbamazepina e fenitoína
epilépticas generalizadas crises tônico-clônica e uma parte signi cativa destes podem exacerbar crises de
sintomáticas generalizadas (CTCG). pacientes apresenta espícula- ausência atípica e mioclônicas,
- É mais frequente no sexo - Dois terços dos pacientes onda contínua durante o sono, havendo relatos de EME
masculino. apresentarão EME não o que agrava a morbidade mioclônico induzido por estes
- A etiologia é estrutural ou convulsivo de ausência atípica neurologia. FAE. Valproato de sódio,
metabólica na maioria dos em algum momento e metade - A RNM-E pode ser normal, divalproato de sódio,
pacientes, embora sejam dos pacientes apresentará apresentar achados benzodiazepínicos, lamotrigina,
relatados casos criptogênicos “crises de queda” com inespecí cos como atro a topiramato e ru namida são
de menor morbidade mioclonia maciça seguida de cerebral ou alterações indicados, geralmente sendo
neurológica. (10)(56)(57) crise tônica generalizada. estruturais especí cas como necessária politerapia.
- Severo comprometimento do malformações do Levetiracetam pode ser
DNPM, cognitivo e intelectual desenvolvimento cortical e utilizado em associação a
é a regra, além da associação lesões destrutivas. (10)(53)(54)(55) outros FAE.
com distúrbios do - O EEG apresenta as clássicas - Procedimentos cirúrgicos
comportamento, descargas de espícula-onda paliativos como cirurgias
hiperatividade, agitação lenta (com frequência inferior a desconectivas, calosotomia e
psicomotora e impulsividade. 3 Hz), generalizadas, ocorrendo utilização de estimulador do
Comorbidade com transtorno em uma atividade de base nervo vago (terapia VNS)
do espectro autista é moderada a acentuadamente podem ser úteis em pacientes
frequente e o diagnóstico desorganizada e alentecida. O refratários. Ressecções corticais
diferencial deve ser registro do ritmo recrutante focais são indicadas em casos
estabelecido com as síndromes epiléptico generalizado (surto especí cos e criteriosamente
de West, Dravet, Doose e de atividade rápida com selecionados. Capacetes
epilepsia parcial benigna frequência de 10 a 20 Hz, de protetores podem reduzir o
atípica (síndrome pseudo- média amplitude) é frequente risco de traumatismos
Lennox). (10)(56)(57)(58) durante o sono. Devido à cranianos. (56)(60)(61)
elevada intensidade das
descargas e a intensa
desorganização eletrográ ca, a
distinção entre o traçado
interictal e ictal pode ser
impossível.
- A RNM-E complementa a
investigação etiológica, sendo
os achados radiológicos muito
variados, incluindo lesões
estruturais decorrentes de
hipóxia perinatal, malformações
cerebrais, displasias e distúrbios
de migração neuronal. RNM-E
de alta resolução é capaz de
identi car pequenas displasias
em pacientes com SLG
previamente classi cados como
criptogênicos, bem como a
tomogra a por emissão de
pósitrons (PET-scan) pode
identi car áreas de
hipometabolismo em pacientes
com RNM-E normal. (56)(58)(59)(60)
(61)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Síndrome de West - Destacam-se lesões cerebrais - O EEG demonstra o clássico - Desde 1958 utiliza-se ACTH no
- A síndrome de West decorrentes de as xia padrão interictal de hipsarritmia, tratamento da síndrome de
corresponde à encefalopatia perinatal, malformações caracterizado por atividade de West. Efeitos colaterais como
epiléptica mais frequente do cerebrais, alterações do base alentecida e aumento da pressão arterial,
primeiro ano de vida, sendo desenvolvimento cortical e desorganizada, com descargas osteoporose, imunossupressão
de nida pela clássica tríade: (a) complexo esclerose tuberosa. polimór cas de onda aguda, transitória e alterações de
crises epilépticas de espasmos; O prognóstico é reservado, espícula, poliespícula, espícula- resposta adrenocortical podem
(b) atraso do DNPM e (c) padrão havendo severo atraso do onda e poliespícula-onda limitar seu uso em algumas
de hipsarritmia no EEG. (10)(64) DNPM e deterioro cognitivo mescladas por ondas lentas de crianças.
- Há predomínio no sexo em 95% das crianças. Uma das elevada amplitude (acima de - Diversos estudos relatam
masculino, com incidência principais hipóteses 200 microvolts), sendo e cácia de corticoides orais,
variando entre 1,4 e 2,5% das siopatogênicas relaciona os marcante a ausência de como a prednisona, sendo
epilepsias da infância e entre 2 e espasmos na síndrome de concordância de fase nos surtos considerado uma alternativa ao
3,5 em 10.000 nascidos vivos. (65) West a um aumento na de descargas e a ativação ACTH. O risco de recorrência das
liberação do neuropeptídio- durante as fases iniciais do sono crises após a suspensão do
CRH (corticotro na) no NREM. corticoide oral é
sistema límbico e em regiões - São descritos cinco padrões signi cativamente superior ao
do tronco encefálico. (10)(64) variantes da hipsarritmia: ACTH.
(a) hipsarritmia com aumento - Vigabatrina é considerada FAE
da sincronização inter- de primeira linha,
hemisférica; particularmente nos casos
(b) hipsarritmia assimétrica; secundários à complexo
(c) hipsarritmia com esclerose tuberosa. Ácido
anormalidades focais valproico e benzodiazepínicos
consistentes; podem ser indicados em casos
(d) hipsarritmia com episódios especí cos.
de atenuação de voltagem - Em pacientes refratários às
generalizada; medicações habituais, podem
(e) hipsarritmia com atividade ser indicados topiramato,
lenta bilateral de elevada lamotrigina, imunoglobulinas
voltagem e assíncrona. A RNM-E endovenosas e dieta
auxilia na de nição etiológica cetogênica.
da síndrome. (10)(65)(66) - Em crianças com lesão cerebral
focal e estrita correlação
eletrográ ca e de
neuroimagem, procedimentos
cirúrgicos podem ser
considerados.
- O prognóstico é reservado,
com elevada morbidade
neurológica e mortalidade
estimada em torno de 5% nos
primeiros dois anos de vida. (10)
(65)(67)(68)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Epilepsia do lobo temporal - As crises epilépticas focais sem - O EEG de escalpo interictal - De modo geral, para as crises
mesial comprometimento da pode demonstrar anormalidade focais, a carbamazepina e
- Corresponde a consciência são bem típicas na não epileptiforme caracterizada oxcarbazepina são drogas de
aproximadamente 60% dos ELTM associada à esclerose por alentecimento intermitente primeira linha para crises parciais
casos de ELT. Alta prevalência e mesial. -O nas faixas teta e delta sobre as simples, parciais complexas ou
elevada proporção de pacientes tipo de crise mais frequente se regiões temporais mésio-basais. secundariamente generalizadas.
com crises epilépticas refratárias apresenta como uma sensação - Alguns - A fenitoína é classi cada de
ao tratamento de mal-estar epigástrico pacientes apresentam EEG primeira linha para crises parciais
medicamentoso.(69)(70)(71) ascendente, algumas vezes interictais repetidamente simples ou secundariamente
caracterizada como dor, normais, não excluindo o generalizadas. Clobazam,
opressão ou frio na região diagnóstico de ELTM. Os divalproato, lamotrigina e
epigástrica ou torácica. registros ictais podem ser valproato são considerados de
- Os classi cados quanto ao início primeira linha como adjuvantes
pacientes podem referir das crises eletrográ cas em da carbamazepina e fenitoína.
sensações dismnésticas como focal, regional, lateralizado e (76)(77)(78)
deja vu ou jamais vu, ou ainda bilateral ou difuso.
medo súbito, e mais raramente
alucinações gustatórias e - O diagnóstico da esclerose
olfatórias. mesial pela RM se traduz por
- Crises autonômicas, como diminuição do volume ou
piloereção, palpitação e aumento do sinal hipocampal
dilatação pupilar, podem nas seqüências ponderadas em
também ocorrer. T2, podendo ser
-O acompanhados de modi cação
comprometimento da no formato e na estrutura
consciência é caracterizado interna do hipocampo. A atro a
por graus variados de redução hipocampal pode ser unilateral
da reatividade e responsividade ou bilateral, mais comumente
ao ambiente e aos vários tipos ela é assimétrica.
de estímulos. Pode-se observar - Anormalidades extra-
automatismos oroalimentares hipocampais incluem, dentre
e manuais com ocasional outras, a presença de atro a ou
postura distônica contralateral aumento de sinal da amígdala, e
ao hemisfério cerebral de lobo temporal como um todo,
origem das crises. (71)(72)(73)(74) com dilatação do corno
temporal do ventrículo lateral.
(73)(74)(75)(76)
• EME é uma crise epiléptica com duração maior ou igual a 30 minutos ou repetidas crises de duração menor,
porém sem recuperação da consciência entre as crises.
B) DIAGNÓSTICO
• O diagnóstico clínico não oferece di culdades quando há manifestações motoras evidentes. Entretanto, sem
manifestações motoras ou com sinais motores sutis, o diagnóstico pode ser muito mais difícil.
• O EEG é fundamental para este diagnóstico e para seguimento, especialmente naqueles pacientes com EME
refratário e em coma induzido.
• É recomendado um exame clínico minucioso à procura de infecções sistêmicas, exame neurológico, avaliação
do fundo de olho, punção de veia calibrosa e coleta de material visando à realização dos seguintes exames
laboratoriais: hemograma, VHS, PCR, glicemia, dosagem de sódio, potássio, cálcio, fósforo e magnésio, dosagem
sérica de anticonvulsivantes (se o paciente zer uso de tais drogas), função hepática e função renal, gasometria
arterial, urina rotina e screening toxicológico no sangue e na urina.
• Exames de imagem serão necessários para o diagnóstico de tumores, acidentes vasculares, abscessos,
hematomas etc. Havendo febre, evidência de otite, mastoidite ou infecção em quaisquer outras estruturas da
face ou rigidez de nuca, está indicada a realização de uma punção liquórica.
• Recomenda-se ainda solicitar eletrocardiograma ou o uso de monitor cardíaco e EEG tão logo seja possível.
C) tratamento
• As medidas gerais são tão importantes quanto as farmacológicas especí cas. O paciente deve permanecer em
leito com grades ou proteção lateral para que se evitem as quedas e traumatismo craniano. Durante a fase
clônica, deve-se inserir uma cânula de Guedel entre os dentes, prevenindo mordeduras e lacerações na língua.
Deve ser constantemente aspirado para evitar aspiração e pneumonia aspirativa. Os sinais vitais e a temperatura
devem ser monitorados frequentemente e as vias aéreas, mantidas desobstruídas, de modo a garantir uma
ventilação adequada. Sempre que necessário, deve-se proceder à intubação orotraqueal e oxigenação para
prevenir a ocorrência de hipóxia.
• Na impossibilidade da obtenção rápida dos níveis de glicose sanguínea, sugerimos iniciar por infusão
intravenosa de 40 a 60 mL de glicose a 50% para adultos e 2 mL/kg de glicose 25% para crianças, ainda que haja
história de diabetes mellitus, com o duplo intuito de impedir lesões neuronais decorrentes da hipoglicemia e
interromper o EME se esta for sua etiologia. Caso ocorra a hiperglicemia, poderá ser facilmente corrigida após a
checagem dos resultados dos exames laboratoriais. Simultaneamente à infusão de glicose, devem ainda ser
injetados 100 a 250 mg de tiamina por via endovenosa (EV ) em pacientes com história de etilismo, e de 50 a 200
mg de piridoxina em crianças menores de 18 meses de idade para o teste diagnóstico de uma condição
metabólica rara, porém tratável com piridoxina, a dependência de piridoxina.
• As drogas mais e cientes na fase aguda do EME são os benzodiazepínicos. Como não há disposição no Brasil
de lorazepam, que tem meia-vida mais longa e é a droga indicada para o tratamento inicial do EME, inicia-se
com diazepam. O diazepam é usado em bolus e sem diluição, inicialmente na dose de 10 mg em adultos (não
ultrapassar 40 mg) e 0,2 a 0,3 mg/kg em crianças, não excedendo a velocidade de infusão de 2 a 5 mg/min em
adultos e 1 mg/kg/min em crianças. Os principais efeitos colaterais são depressão da consciência e depressão
respiratória. O controle do EME pode ser obtido entre 1 e 10 minutos após a administração do diazepam.
• Quando o acesso venoso se encontra difícil, na sala de emergência, pode-se ministrar as DAE utilizando as vias
retal ou nasal. O diazepam pode ser aplicado por via retal, facilmente em crianças, sem diluição na dose de 0,3
mg/kg, infundindo através de um cateter bem no de O2. Outra via prática em pronto-socorro é a nasal. O
midazolam pode ser instilado através de uma seringa de insulina em adultos (5-15 mg) e em crianças na dose de
0, 15 a 0,3 mg/kg.
• A fenitoína deve ser utilizada na sequência, mesmo que as crises já tenham sido abortadas, em função da alta
probabilidade de recidiva delas devido à curta meia-vida dos benzodiazepínicos. A dose de ataque de fenitoína
para adultos e crianças é de 15-20 mg/kg, em bolus, de preferência sem diluição. Caso seja necessário, pode ser
diluída em água destilada (AD), utilizando equipos de soro com ltros para a remoção dos grumos de
precipitação. A velocidade de infusão não deve ultrapassar 50 mg/min em adultos, 25 mg/min em crianças e 20
mg/min em pacientes idosos. Os principais efeitos colaterais são arritmias cardíacas e hipotensão arterial. O
controle do EME pode ser esperado entre 10 a 30 minutos da sua administração.
• Nos casos resistentes, pode-se utilizar doses adicionais de diazepam até a dose total de 30 a 40 mg em adultos
e 0,4 a 0,5 mg/kg em crianças, enquanto se aguardam os efeitos da infusão da fenitoína. Em crianças, esta
sequência poderá ser modi cada para fenobarbital em substituição à fenitoína, solução aquosa, e deve ser
usado na dose de 10 a 20 mg/kg EV com a velocidade de infusão de 100 mg/min. Em altas doses, os efeitos
colaterais esperados são hipotensão arterial, depressão respiratória e depressão da consciência.
DEFINIÇÕES
• MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA: Possui um amplo
espectro de acometimento do neuroeixo, desde alterações
císticas até agenesias.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Dentre as malformações, os cistos de aracnoide são as
malformações císticas mais comuns do SNC. A sua
incidência é 5 por 1.000 nascidos vivos. Corresponde a
aproximadamente 1% das lesões císticas intracranianas.
Dentro das desordens da neurolação, a mielomeningocele é
a mais comum. Sua incidência nos EUA é de 0,2-0,4/1000
nascidos vivos.
Craniossinostose
Encefalocele
Malformação de Dandy-Walker
Hamartomas hipotalâmicos
ETIOLOGIAS DE MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA
Disra smo espinhal (Espinha Bí da)
Mielomeningocele
Síndrome de Klippel-Feil
Cisto neuroentérico
TRIGONOCEFALIA Metópica
PLAQUIOCEFALIA Lamboidea
- Craniorraquisquise
DEFEITOS DA
- Anencefalia
NEURULAÇÃO
- Mielomeningocele
Tipo Sutura acometida
Cranianas
- Microcefalia
- Hidranencefalia
- Holoprosencefalia
DEFEITOS
- Lissencefalia
PÓS-NEURULAÇÃO
- Porencefalia
- Agenesia de Corpo Caloso
- Síndrome de Dandy-Walker
- Macroencefalia (Megalencefalia)
- Diastemeatomielia
ESPINAIS - Diplomielia
- Hidromielia/Siringomielia
EXAME FÍSICO
O exame físico de paciente com malformações deve ser
completo (exame físico geral e segmentar), pois a maioria delas
apresenta outros distúrbios embriológicos subjacentes (ex.:
cardiopatia, pneumopatias).
EXAMES COMPLEMENTARES
• USG: Sinal do limão – presente em muitos casos de
mielomeningocele, avaliar a fraqueza de membros
inferiores. Esse sinal é caracterizado pela concavidade do
osso frontal próximo à sutura coronal devido à hipotensão
liquórica. Presença de ventriculomegalia avaliada por meio
da medida do átrio do ventrículo lateral maior que 10 mm.
Presença do sinal da banana (cerebelo em forma de
banana) está presente quando há herniação de estruturas
da fossa posterior. Esses achados estão relacionados com
mielomeningocele.
• TC de Crânio
• RNM de Neuroeixo
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO DA HIDROCEFALIA
REFERÊNCIAS
1. McDowell MM, Blatt JE, Deibert CP, Zwagerman NT, Tempel ZJ, Greene S.
Predictors of mortality in children with myelomeningocele and symptomatic Chiari
type II malformation. J Neurosurg Pediatr. 2018; 21(6): 587-96.
2. Heuer GG, Moldenhauer JS, Scott Adzick N. Prenatal surgery for
myelomeningocele: review of the literature and future directions. Childs Nerv Syst.
2017; 33(7): 1149-55.
3. Cavalheiro S, da Costa MDS, Mendonça JN, Dastoli PA, Suriano IC, Barbosa MM, et
al. Antenatal management of fetal neurosurgical diseases. Childs Nerv Syst. 2017;
33(7): 1125-41.
4. Gaitanis J, Tarui T. Nervous System Malformations. Continuum (Minneap Minn).
2018 February; 24(CHILD NEUROLOGY): 72-95.
5. Bunduki V, Zugaib M. Atlas of Fetal Ultrasound. Nova York: Springer International
Publishing AG; 2018.
8.9
SEDAÇÃO E ANALGESIA
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
• Hodiernamente, é alarmante a quantidade de pacientes
internados na UTI, visto que esses estão internados por
diversas doenças. Todavia, o que é mais comum entre os
pacientes na UTI é a presença de emoções como ansiedade,
nervosismo, medo, tristeza, dentre outras. Ademais, na
maioria das vezes, em consonância a essas emoções, há
também a dor física, em virtude de algum trauma real ou
potencial.
DEFINIÇÕES
a) Analgesia
• É a anulação da sensibilidade à dor sem provocar a
cessação da sensibilidade das demais propriedades
sensitivas, e sem perda de consciência.1
b) Sedação
CLASSIFICAÇÕES / TIPOLOGIAS
a) Sedação
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) Dor
• Ansiedade pré-operatória. 4
QUADRO CLÍNICO
a) DOR
A definição geral de dor é uma experiência sensorial e/ou
emocional desprazerosa, relacionada a uma lesão real independente
de sua etiologia e natureza ou a um dano potencial a algum tecido.6
O mecanismo neurofisiológico da dor está representado no
Fluxograma 1.
• Dor aguda
• Surge com uma lesão ou injúria, e substâncias
algogênicas são produzidas localmente e dispersas, de
modo que estimula as terminações nervosas
(nociceptores) de fibras amielínicas ou mielínicas finas.
Caso essa dor se prolongue por um determinado período
significativo, em virtude da ativação de diversas vias
neuronais nesse intervalo de tempo, faz com que ela se
altere de aguda para crônica. Isso em consonância com
fatores biológicos, psicológicos e sociais.6
• Dor crônica
• Não está relacionada com a permanência ou surgimento
de modificações neurovegetativas (sinais de alerta), já
que ela não é um sintoma, e sim a persistência da doença.
Por exemplo, esse tipo de dor não acaba após a cura da
lesão.6
• De acordo com a literatura, a dor crônica perdura por um
tempo mínimo de dois meses.6
• Sua constância e sua duração prolongada são
responsáveis por: alterações no sono, em atividades
físicas, baixa autoestima, pensamentos negativos ou
suicidas, modificações das relações familiares, de
trabalho e de lazer.6
A “dor é o quinto sinal vital”, uma vez que os quatro sinais vitais são: pulso, pressão arterial,
temperatura e frequência respiratória. Diante dessa consideração, percebe-se a real
importância da compreensão das dores dos pacientes, posteriormente, poderá executar a
analgesia ou sedação ideal para tal paciente.
• Escala unidimensional:
• Escala verbal numérica.
• Escala visual numérica (EVN).
• Escala visual analógica (EVA).
• Escala de faces.
• Escala de categoria de palavras (escala de descritores
verbais).
• Escala comportamental.9
• Escala multidimensional:
• Inventário de McGill.
• Breve inventário de dor.
• Escala de Oswestry. 9
• Escala de Faces
• Relaxada 1
EXPRESSÃO • Parcialmente contraída, como abaixamento palpebral 2
FACIAL • Completamente contraída (olhos fechados) 3
• Contorção facial 4
• Tolerante 1
CONFORTO
• Tosse; porém, tolerante à ventilação mecânica na maior parte do tempo 2
COM O VENTILADOR
• Brigando com o ventilador 3
MECÂNICO
• Sem controle da ventilação 4
• Inventário De Mcgill
→ São descritores fragmentados em quatros grupos:
• Sensorial discriminativo.
• Afetivo motivacional.
• Avaliativo cognitivo.
• Miscelânea.12
• Escala de Oswestry
→ É uma ferramenta doença-específica a fim de avaliar as
desordens da coluna. São avaliados dez critérios com seis
alternativas de resposta para cada.13
→ Para cada seção de seis afirmações, o ponto total é 5. Caso a
primeira afirmação seja marcada, o ponto é 0. Caso seja o
último, o ponto é 5. As afirmações intermediárias são
pontuadas conforme este ranque. Caso mais de uma
afirmação seja assinalada em cada seção, deve-se escolher o
maior ponto. Se todas as 10 seções forem completadas, a
pontuação é calculada da seguinte forma: se deu 16 pontos
totais, uma vez que são 50 os pontos possíveis, 16/50 x 100=
32%. Se uma seção não for marcada, a pontuação é calculada
da seguinte forma, conforme o exemplo de pontuação máxima
de 16: 16/40 X 100= 35,5%. O autor sugere arredondar a
porcentagem para um número inteiro.13
→ Leitura dos resultados:
• 0% a 20% - incapacidade mínima.
• 21%a 40% - incapacidade moderada.
• 41% a 60% - incapacidade intensa.
• 61% a 80% - aleijado.
• 81% a 100% - inválido.13
→ Leitura dos resultados no pós-operatório:
• O% a 20% - excelente.
• 21% a 40% - bom.
• 41% a 60% - inalterado.
• > 60% - piora.13
→ Seção 1: Intensidade da dor.
Sem dor no momento
→ Seção 3: Pesos.
Posso levantar coisas pesadas sem causar dor extra
A dor me impede de levantar coisas pesadas, mas dou um jeito, se estão bem posicionadas, e.g., numa mesa
A dor me impede de levantar coisas pesadas, mas dou um jeito de levantar coisas leves ou pouco pesadas se
estiverem bem posicionadas
→ Seção 4: Andar.
A dor não me impede de andar (qualquer distância)
Fico na cama a maior parte do tempo e tenho que me arrastar para o banheiro
→ Seção 6: De pé.
Posso car de pé pelo tempo que quiser sem dor extra
Posso car de pé pelo tempo que quiser, mas sinto um pouco de dor
→ Seção 7: Sono.
Meu sono não é perturbado por dor
A dor não altera minha vida social, exceto por impedir que faça atividades de esforço, como esportes etc.
TRATAMENTO
a) RECOMENDAÇÕES DE ANALGESIA NA UTI
• AINEs:
• Possuem atividade analgésica, antipirética, uricosúrica e
anti-inflamatória. São recomendados no tratamento de
dores de intensidade: pequena e média. Cabe ressaltar
que esses fármacos são pouco eficazes quando se trata
de dores neuropática. Além disso, os AINES amenizam a
precisão do uso de opioides; em decorrência disso, os
efeitos colaterais relacionados ao uso de opioides.17-21
• Ademais, os AINES podem ser mais tóxicos nos neonatos,
de tal maneira a provocar anormalidades hepáticas,
renais, cardíacas (retenção hídrica), intestinais e
plaquetárias. Além disso, existe relatos de casos sobre
sangramento gastrointestinal e de nefropatia e elevação
de sangramento pós-operatório (cetorolaco) em
crianças.22
• É importante retratar que aspirina é pouco administrada
para neonatos, em virtude da sua duradoura eliminação,
da chance de afastamento da bilirrubina da albumina, da
não agregação plaquetária e da possibilidade de causar a
Síndrome de Reye.23,24
A seguir na Tabela 13 está a representação dos AINES mais
utilizados na pediatria com suas respectivas doses.
Agente farmacológico Doses de administração
• Opioides:
• Em casos de dor intensa, principalmente pós-operatório ou
pós-traumatismo, os opioides potentes de ação curta são
os agentes mais recomendados e utilizados. Além disso,
esses agentes são muito eficazes em tratamentos de
dores crônicas, como geradas por neoplasias malignas,
problemas de falcização e artrite reumaoóide em crianças
e adolescentes.25-30
• Podem ser utilizados em neonatos e ainda possuem
muitas vias possíveis de administração, tais como: VO, IM,
IV, via retal, transdérmica, sublingual, epidural, intratecal,
intraventricular ou intra-articular. A vantagem de se fazer
IV durante a operação é porque diminui a precisão de
anestésicos e possibilita analgesia pós-operatória.31-33
• A seguir na Tabela 14 está a representação dos principais
opioides utilizados em UTI e suas especificações.
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
Analgesia +++
FENTANIL (50 MCG/ML) FRASCO 10 Entre Intravenosa 25 a 100 2 Frascos + NaCl 0,9% Sedação + Depr. Resp
ML 30-60 min mcg/ bolus 80 mL (10 mcg/mL) +++
*Contexto-sensitivo
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
Analgesia +++
REMIFENTANIL Equivalente ao Intravenosa 0,2-0,7 1 frasco + SG 5%
Sedação + Depr.Resp
(2 MG/5 ML) período de infusão mcg/kg/h 95mL (4 mcg/mL)
+++
Intravenosa /
Analgesia +++
subcutânea
NALBUFINA Entre 5 horas Sem diluição Sedação + Depr. Resp
/intramuscular 10 mg de
+
3-6 horas
*contexto sensitivo = à medida que se aumenta o tempo de infusão contínua, aumenta-se a meia-vida.
FENTANIL 0,01 -
METADONA - 5
OXICODONA - 20
Obs.: A veri cação de correspondência é feita considerando a mesma unidade de medida; por exemplo: 1. tramadol 100 mg
EV = tramadol 300 mg VO.14
3 Muito agitado Conduta agressiva, puxa ou remove tubos de cateteres, agressivo verbalmente
-3 Sedação moderada Movimentos e abertura ocular ao estímulo verbal, mas sem contato visual
• Escala de Ramsay
• É uma escala subjetiva usada para fins de analisar o grau
de sedação de pacientes, principalmente em UTI. Permite
evitar níveis de sedações exacerbados ou insuficientes.37
A seguir na Tabela 17 está a representação da Escala Ramsay.
Grau Descrição Do Paciente
GRAU 1 Ansioso e agitado
• Benzodiazepínicos
A seguir na Tabela 18 está a representação dos principais
benzodiazepínicos administrados em UTI.
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
Analgesia 0
LORAZEPAM
Entre 12 - 16 horas Enteral (EN), Via oral (VO) Não se aplica Sedação + +
(1 MG)
Depr.Resp +
Analgesia 0
IV (Intravenosa), IM
MIDAZOLAM Sedação +++
Entre 1,5-2,5 horas (intramuscular) 1 a 5 Sem diluição
(15 MG) AMP 3 ML Depr. Resp +++
mg/bolus
*Contexto-sensitivo
Analgesia 0
Sedação +++
MIDAZOLAM 5 amp + NaCl 0,9%
Entre 1,5-2,5 horas IV, IM 1 a 5 mg/bolus Depr. Resp +++
(50 MG) AMP 10 ML 200mL (1 mg/mL)
Hipnótico Amnésia
Ansiolítico
Analgesia 0
DIAZEPAM Entre 14-60 horas IV 2 a 10 mg/ Bolus Sem diluição Sedação ++
Depr. Resp ++
Analgesia 0
CLONAZEPAM
Entre 19-42 horas EN, VO Não se aplica Sedação ++
2,5 MG/ML FRASCO
Depr. Resp +
*contexto sensitivo = à medida que se aumenta o tempo de infusão contínua, aumenta-se a meia-vida.
Tabela 18. Os benzodiazepínicos com a sua meia-vida e a
especificação de vias de infusão e doses
Fonte: Barros, Namigar, Strøm, Barr.14,35-37
• Neurolépticos
A seguir na Tabela 19 está a representação dos principais
neurolépticos administrados em UTI.
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
IV (Intravenosa), IM Analgesia 0
HALOPERIDOL
Entre 14-26 horas (intramuscular) 2,5 a 20 Sem diluição Sedação +
(5 MG) AMP 1 ML
mg/ bolus Depr. Resp 0
HALOPERIDOL Analgesia 0
(2 MG/ML) Entre 14-26 horas Enteral (EN), Via oral (VO) Não se aplica Sedação +
FRASCO 20 ML Depr. Resp 0
Analgesia 0
RISPERIDONA 0,5 mg 2x/dia, podendo
Entre 3-20 horas Não se aplica Sedação +
(1, 2, 3 MG) progredir até 3 mg
Depr. Resp 0
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
Analgesia 0
OLANZAPINA*
• Alfa-2 agonistas
A seguir na Tabela 20 está a representação dos principais alfa-2-
agonistas administrados em UTI.
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
1 amp + 48 mL de
NaCl 0,9% em Bomba
DEXMEDETOMIDINA (200 Analgesia +
Entre Até de infusão contínua
MCG) Sedação +
2 horas 1,4 mcg/kg/h (BIC) ou Bomba de
AMP 2 ML Depr. Resp 0
Seringa (BS) (0,4
mcg/mL)
• Outros sedativos
A seguir na Tabela 21 está a representação de outros sedativos
administrados em UTI.
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
P eríodo de Meia- Vias de Administ ração
Drogas Solução P adrão Efeit os
Vida e Doses
Analgesia 0
Sem diluição em
PROPOFOL Sedação +++
IV (intravenosa) 50 a 100 acesso central Acesso
(10 MG/ML) Entre 30-60 minutos Depr. Resp +++
mcg/kg/mi n periférico - diluir 1/1
AMP 10 ML Hipnótico
com SG5%
Amnésia
Analgesia 0
AMITRIPTILINA IV, IM 2-3 mg/kg/ bolus
Entre 10-50 horas Não se aplica Sedação +
(25 MG) COMPRIMIDOS 1-4 mg/kg/h
Depr. Resp 0
2 frascos +
IV Coma barbitúrico: 10
40 mL ABD Analgesia 0
THIONEMBUTAL (1 G) PÓ mg/kg/30mi n 5
Entre 5,5-26 horas (20 mL em cada Sedação +++
LIOFILIZADO mg/kg/3h Manutenção:
frasco) + NaCl 0,9% Depr. Resp +++
1-3 mg/kg/h
160 mL
PIC 0 ou -
PPC 0 ou -
CMRO2 0
FSC 0
PAM -
MORFINA
Ação epiléptica 0
Prevenção PIC -
Sedação -
Analgesia +++
BENZODIAZEPÍNICO PIC 0 ou +
Agente Intensidade
Propriedade
Farmacológico de efeito
PPC 0 ou -
CMRO2 -
FSC 0 ou --
PAM --
Ação epiléptica +
Prevenção PIC +
Sedação +++
Analgesia +
PIC 0 ou --
PPC 0 ou -
CMRO2 -
FSC 0 ou --
PAM --
PROPOFOL
Ação epiléptica +
Prevenção PIC +
Sedação +++
Analgesia -
PIC --
PPC 0 ou -
CMRO2 -
FSC --
PAM --
BARBITÚRICO
Ação epiléptica +
Prevenção PIC +
Sedação ++
Analgesia -
CURARE PIC 0 ou -
PPC 0
Agente Intensidade
Propriedade
Farmacológico de efeito
CMRO2 0
FSC 0
PAM 0
Ação epiléptica 0
Prevenção PIC +
Sedação +
Analgesia +
PIC 0 ou -
PPC 0
CMRO2 -
FSC -
PAM 0
ETOMIDATO
Ação epiléptica 0
Prevenção PIC +
Sedação +++
Analgesia -
PIC 0 ou +
PPC 0
KETAMINA CMRO2 0
FSC ++
PAM -
• Contraindicações da DIS:
• Em pacientes que estão usando bloqueadores
neuromusculares.
• Em pacientes dependentes de drogas psicoativas,
manifestações de abstinência. Geralmente ocorre 6 horas
após a interrupção.
• Em casos de uso para controlar convulsões e agitações.
• Em casos de isquemia do miocárdio anterior (24 horas).
• Em casos de elevação de pressão intracraniana.40
g) QUAIS SÃO AS MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS POSSÍVEIS
PARA REDUZIR O ESTRESSE E ANSIEDADE DOS PACIENTES?
A seguir no Quadro 6 está a resposta da pergunta acima.
São as execuções de técnicas de relaxamento, como:
1. Musicoterapia;
2. Psicoterapia
Quadro 6. Aplicações não farmacológicas para amenizar o estresse e
ansiedade.
Fonte: Nassar Jr.40
Exemplos de procedimentos
Caso Descrição do tratamento
cirúrgicos relacionados ao
específico neurocirúrgico indicado
caso específico
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8.10
COMA
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
• Infelizmente, é enorme a quantidade de pessoas que
entram no estado de coma, seja porque sofreu acidente, por
infecção, efeito tóxico de substâncias, dentre outras causas.
CONCEITO/DEFINIÇÃO GERAL
a) Coma
EPIDEMIOLOGIA
O coma é um dos distúrbios neurológicos mais recorrentes em
pacientes que chegam aos Prontos-Socorros.2
• Coma estrutural
• Lesão supratentorial unilateral, causada por:
→ Tumor.
→ Abcesso.
→ Trauma cranioencefálico.
→ Infarto extenso.
→ Hematomas, em destaque o subdural.5
• Lesão supratentorial bilateral, causada por:
→ Encefalite.
→ Gliomatose.
→ Trauma cranioencefálico.
→ Hidrocefalia.
→ Infarto talâmico bilateral.5
• Lesão infraorbital, causada por:
→ Tumor.
→ Oclusão da artéria basilar.
→ Acidente vascular encefálico.
→ Mielinólise pontina.
→ Hemorragia pontinha.5
• Coma metabólico
• Desordens metabólicas, causadas por:
→ Hipoglicemia.
→ Hiperglicemia.
→ Hiponatremia.
→ Hipernatremia.
→ Hipercalemia.5
• Desordens orgânicas, causada por:
→ Uremia.
→ Encefalopatia hepática.
→ Hipercapnia.
→ Hipotireoidismo.
→ Doença de Addison.5
• Agentes exógenos, causados por:
→ Drogas.
→ Inalação de gases.
→ Hipotermia.5
• Causas psiquiátricas, causadas por:
→ Coma psicogênico.5
b) ANATOMIA ASSOCIADA AO COMA
c) FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
• O coma é um estado em quse o paciente é incapaz de
responder aos estímulos externos, além de que não pode ou
há dificuldade para despertar o paciente, uma vez que
houve comprometimento em relação à consciência, de tal
modo que não responde ou há uma dificuldade
significativamente expressiva. Assim, percebem-se
alterações no nível de consciência (grau de alerta
comportamental) e do conteúdo de consciência (humor,
memória, crítica e linguagem), sendo essas duas alterações
as que são levadas em conta durante a análise clínica.6
• Há casos em que os pacientes pós-coma induzido relatam
sentir: sede, frio e dor. E ainda afirmam ser incapazes de
dizer se estavam acordados ou sonhando.6
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O coma é caracterizado como uma apresentação clínica em que o
paciente tem ausência de vigília e do estado consciente de si e do
ambiente externo. O coma possui muitas etiologias; sendo assim, há
a necessidade de excluir algumas delas, conforme o contexto do
caso clínico, para identificar se a causa é neurológica ou tóxico-
metabólica. Além disso, os outros critérios para diagnosticar um
paciente com coma é:
a) História natural e patológica pregressa do paciente:
2 Olhos fechados mas abrem com estímulo auditivo forte (loud voice)
→ Resposta motora:
A seguir na Tabela 2 está representado a resposta motora da
escala Four.
4 Faz sinal de OK com as mãos, fecha o punho, ou “sinal de paz”
3 Localiza a dor
→ Respiração:
• Padrão respiratório. 13
CLASSIFICAÇÕES / TIPOLOGIAS
Segundo a sua etiologia, classifica-se em:
• Coma estrutural
• É qualificado por lesões, as quais comprimem, movem ou
desfazem o SRAA.5
• Coma metabólico
• É qualificado por uma disfunção cerebral difusa mediante
um comprometimento dos processos metabólicos ou
orgânicos do cérebro.5
Além dessa classificação, o coma ainda se diferencia em:
TRATAMENTO
O tratamento deve ser individualizado para cada etiologia.
Contudo, há informações que devem ser tratadas:
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 3. Exemplificação da síndrome da abstinência alcoólica.
Fonte: Laranjeira.16
• Foi trazida pelo filho que mora com ela. Após conversa com
o filho dela, foi adquirida uma história patológica pregressa
de doença coronariana, diabetes mellitus do tipo 2 e
depressão. Ela usa Metformina, Amitriptilina, Venlafaxina e
AAS.
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8.11
DELIRIUM
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Maycon Cristian Gomes de Paula
Isadora Dias Moreira
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
• O termo delirium foi vagamente descrito por Hipócrates por
volta de 460-366 a.C, sendo um dos primeiros transtornos
neurológicos conhecidos.3
CONCEITO/DEFINIÇÃO GERAL
a) DELIRIUM
Generalização Personalização
CLASSIFICAÇÕES / TIPOLOGIAS
a) Delirium subsindrômico
EPIDEMIOLOGIA
• Acredita-se que o número de casos seja subdiagnosticado
por dois motivos:
• falta de um processo fisiopatológico claro;3
• lentidão de muitos profissionais em aplicar métodos
diagnósticos validados.3
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) ETIOLOGIA
Encefalopatias tóxico-metabólicas
Crises epilépticas
• Drogas
• Status cognitivo • Abuso de álcool
• Demência • múltiplas drogas psicoativas
• Declínio cognitivo • terapia com múltiplas drogas
• História de delirium
• Depressão
• Morbidades coexistentes
• Status funcional • Doença grave
• Dependência funcional • Múltiplas condições clínicas coexistentes
• Imobilidade • Doença hepática ou renal crônicas
• Nível de atividade baixo • Acidente Vascular Cerebral (AVC)
• História de quedas • Doença neurológica
• Distúrbios metabólicos
• Fratura ou trauma
• Doença terminal
• Prejuízo sensorial • Infecção pelo HIV
• Dé cit visual
• Dé cit auditivo
• Doenças intercorrentes
• infecções
• complicações iatrogênicas
• Drogas
• hipóxia
• sedativos hipnóticos
• choque
• narcóticos
• febre ou hipotermia
• drogas anticolinérgicas
• anemia
• tratamento com múltiplas drogas
• desidratação
• dé cit nutricional
• alterações metabólicas
• Ambiente
• admissão ao CTI
• restrição motora
• uso de sonda vesical • Privação de sono prolongada
• múltiplos procedimentos
• dor
• estresse emocional
• álcool • sedativos
• cocaína • opioides
• alucinógenos • fenciclidina e associadas
• canabinoides • hipnóticos e ansiolíticos
• anfetaminas e relacionadas • demais substâncias inalantes
• anfetaminas e associadas
• álcool (Delirium Tremens)
• sedativos
• demais substâncias
• hipnóticos e ansiolíticos
• analgésicos • antimicrobianos
• antiasmáticos • cardiovasculares
• anestésicos • antiparkinsonianos
• anti-histamínicos • corticosteroides
• anti-hipertensivos • relaxantes musculares
• anticolinérgicos (in. psicotrópicos) • anticonvulsivantes
b) FISIOPATOLOGIA
• A fisiopatologia do delirium (fluxograma 1) é complexa e
ainda não muito bem explicada. Isso porque sua
manifestação se dá por um conjunto de causas subjacentes
individuais de cada paciente.3
QUADRO CLÍNICO
As manifestações clínicas gerais e específicas de cada tipo de
delirium estão sintetizadas no quadro 12.
Delirium
• Início agudo e utuações nas alterações de atenção e consciência
• Desorientação
• Dé cit de memória
• Distúrbios do ciclo circadiano
• Perturbação perceptiva (vê o desconhecido como conhecido).
• Alteração do humor
OBS.:
• As manifestações se diferenciam, a depender da forma de delirium. Apesar de existir a classi cação em todos os
subtipos citados no início do capítulo, grande parte dos autores classi cam esse distúrbio apenas em hipoativo,
hiperativo e misto.
Delirium hipoativo
• Letargia
• Redução da função psicomotora
• Diminuição da motilidade
• Alteração do apetite
• Perda da concentração
• Distúrbio do sono
OBS.:
• É comum passar despercebido pelos cuidadores e médicos
• Subtipo catatônico
• É uma apresentação extrema dos sinais e sintomas da forma hipoativa
Delirium hiperativo
OBS.:
• Raramente passa despercebido pelos cuidadores e médicos
• Subtipo catatônico
• É a manifestação extrema da forma hiperativa
• Relacionado ao uso de fármacos simpaticomiméticos
• Pode evoluir em síndrome hipermetabólica e óbito
Delirium misto
• História completa.
• obtida por entrevista com familiares, cuidadores e amigos.
• auxilia a distinguir distúrbio mental de delirium.3,19,20
• Exame do estado mental. 3,19,20
PREVENÇÃO DE DELIRIUM
Há estudos que demonstram que a abordagem multifatorial com
fundamento de identificar e controlar os fatores de risco para o
delirium podem reduzir os casos dessa doença em cerca de 30 a
40%. A prevenção é fragmentada em não farmacológica e
farmacológica.10,11
a) Não farmacológica
• analgésicos.10-13
TRATAMENTO
• A abordagem terapêutica do delirium possui como
propósito central o tratamento tanto dos sintomas quanto
da etiologia subjacente ao delirium.
a) CURIOSIDADE
CONCLUSÃO
• A compreensão da etiopatogênese de delirium é de
extrema importância para os médicos, a fim de proporcionar
um diagnóstico diferencial exato ao paciente e implementar
a melhor proposta terapêutica a ele.
DEFINIÇÕES
• A encefalopatia metabólica refere-se a alguma doença
encefálica que modifica a função do encéfalo devido a
algum distúrbio ou doença metabólica, ou seja, sem
envolver alteração estrutural propriamente dita.1-3
• Causa
- Hipertensão arterial maligna (HAM)
- Elevação súbita da pressão com disfunção de órgão-alvo.
- (PAS ≥ 180 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg)
• Normalmente é reversível.
Encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) 6-10
• Causa
- Isquemia por hipoperfusão cerebral resultando em lesão intraparenquimatosa.
• Pode ser irreversível.
Encefalopatia traumática 33-35
• Causa
• Pode progredir com hemorragias intracranianas, hematomas, dissecção vertebral ou carotídea,
concussões e lesões axonais difusas.
• Causa
- Lesão cerebral associada a intoxicações químicas
• Substâncias que provocam lesões químico-tóxicas ao sistema nervoso
- Pesticidas, solventes, antibióticos (como cefalosporinas, quinolonas e carbapenêmicos), anticonvulsivantes
(lamotrigina, alprazolam, vigabatrina, topiramato e ácido valproico), álcool, cocaína, neurolépticos, aciclovir,
compostos orgânicos voláteis e hidrocarbonetos.
- Anatomia das bras nervosas, redução do metabolismo das espécies reativas de oxigênio e elevada taxa
metabólica do tecido nervoso.
• É uma síndrome neurológica de causa autoimune. Normalmente não gera modi cações na
glândula tireoide.
• Pode ter relação com lúpus eritematoso sistêmico (LES), diabetes mellitus tipo 1 e síndrome de
Sjögren.
• Alteração do estado de consciência por acúmulo de substância tóxica no sangue; por exemplo,
amônia, que atingem o cérebro.
• Causada por insu ciência renal aguda ou crônica com depuração de creatinina inferior a 15 mL/min.
• Origem multifatorial que inclui distúrbios hormonais, estresse oxidativo, retenção de metabólitos,
desequilíbrio entre neurotransmissores tanto excitatórios quanto inibitórios e distúrbio do
metabolismo intermediário.
EPIDEMIOLOGIA 39
• Ocorre em 10%-40% dos pacientes hospitalizados com mais
de 65 anos, sendo que essa idade é o ponto de inflexão da
curva ascendente.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA40
Fluxograma 1:
Fonte : Damiani 40
b) ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA40
c) ENCEFALOPATIA DE HASHIMOTO 40
QUADRO CLÍNICO
As manifestações clínicas da Encefalopatia Metabólica estão
sintetizadas no quadro 2.
Encefalopatia metabólica
• Além deles, podem estar presentes distúrbios de humor, de memória, demência e até sintomas
depressivos.
Sinais e sintomas Globais
Fase Inicial
• Delirium (Escala de Coma de Glasgow: 11-14).
• Distúrbios de consciência
• Confusão
• Desorientação
Relacionado ao sistema autonômico
• Insônia
• Náusea
• Alterações cardiorrespiratórias
Com a progressão
• Convulsões epiléticas
• Automatismos oral e facial
• Re exos patológicos
• Mioclonismos
• Tremores
• Coma
Nos estágios mais severos
• Rigidez decorticada/descerebrada
• Coma profundo evoluindo em óbito
Sinais e sintomas Focais
Sintomas hemisféricos
• Distúrbios visuais
• Apraxia
• Afasia
• Hemispasticidade
• Hemiataxia
• Síndromes hemisensoriais
• Re exos patológicos
Sinais de lesão em tronco encefálico
• Sinais de lesão de pares cranianos
• Re exos de tronco cerebral patológicos
• Disartria
• Disfagia
• Ataxia
• Hemiparesia
• Distúrbios sensoriais e respiratórios
Quadro 2. Manifestações clínicas de encefalopatia metabólica.
Fonte: Berisavac, Damiani, Angel, Hadjihambi. 39-41,43
DICAS DO ESPECIALISTA: DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de encefalopatia metabólica envolve: 40-43
• EEG.
• Lentificação ou supressão da reatividade e do ritmo.
• Potencial de evocação somatossensorial.
• Exames de imagem.
a) ESPECIFICIDADES DE CADA ETIOLOGIA 40-43
• Encefalopatia hipertensiva
• Papiledema
• Exsudatos hemorrágicos à fundoscopia
• Alteração do nível de consciência
• Nistagmo
• Paralisia do VI par craniano
• Turgência jugular
• Estertores crepitantes na ausculta pulmonar
• Cefaleia
• Encefalopatia hipóxico-isquêmica
• Não há testes laboratoriais para confirmação diagnóstica
• A anamnese e exame físicos são definitivos
• Exames de imagem são inconclusivos: desde normais até
edema cerebral difuso (Quadro 3).
• Podem ser observadas hemorragias
intraparenquimatosas e intraventriculares
• RNM e estudos de perfusão e difusão podem ser úteis
TC RNM
• Entre 4 e 5 horas após o insulto, mostra: hipoatenuação de estruturas de • Ponderada em T2 pode mostrar
substância cinzenta profunda hiperintensidade e edema na região afetada
• Nas primeiras 24 horas, mostra hipoatenuação de gânglios basais e 24 horas ou mais depois do insulto (Figura
tálamo 1).
• Perda da diferenciação entre substância cinzenta e branca pode ser
observada
• Nos casos mais severos, pode-se observar hipoatenuação da substância
branca, gerando o ´´Sinal reverso´´.
• Encefalopatia de Hashimoto
• Seu diagnóstico é discutido no Quadro 4.
EXAME EXAMES
LÍQUOR TC
FÍSICO LABORAT ORIAIS
• Encefalopatia hepática
• A classificação é feita com base nos Critérios de West-
Haven (Tabela 1).
Crit érios de West -Haven
Redução da atenção.
I Leve perda de atenção Adição e subtração Tremor ou Flapping discreto
prejudicadas
Desorientado.
Flapping evidente.
II Letárgico Comportamento
Disartria
inadequado.
Rigidez muscular.
Sonolento porém Desorientação completa.
III Clônus.
responsivo Comportamento bizarro
Hiperre exia
• Encefalopatia Urêmica
• O diagnóstico é debatido no Quadro 5.
Exame Exames Diagnósticos
Neuroimagem
físico laboratoriais diferenciais
• Nistagmo • Dosagem de ureia sérica e de • Intoxicação por drogas • Frequentemente normal
• Papiledema fármacos que poderiam • Infecções • Acometimento bilateral simétrico ou
• Torpor contribuir para o quadro • AVE assimétrico de núcleos da base (Figura 3)
• Clônus • TC: Hipoatenuação
• Hiperre exia • RNM: Regiões de prolongamento em T1 e
• Flapping T2
• Encefalopatia de Wernicke-Korsakoff
• Os achados que sugerem essa condição, bem como seus
diagnósticos diferenciais estão no Quadro 6.
Exame Exames Diagnósticos
RNM contrastada
físico laboratoriais diferenciais
TRATAMENTO
• É específico para cada tipo de encefalopatia (Quadro 7).
T IP OS DE
T RATAMENT O
ENCEFALOPAT IA
• Manutenção de vias aéreas, ventilação, circulação e pressão sistólica (caso necessário, usar
drogas vasoativas).
• Todas as convulsões devem ser tratadas, inclusive aquelas diagnosticadas apenas pelo
ENCEFALOPATIA HIPÓXICO- eletroencefalograma.
ISQUÊMICA (EHI) • Para não causar hipoperfusão cerebral em virtude da vasoconstrição, não pode hiperventilar o
paciente.
• É bené co reduzir o metabolismo cerebral; sendo assim, a hipotermia em torno de 3 a 4 graus
abaixo da temperatura corpórea permite isso.
T IP OS DE
T RATAMENT O
ENCEFALOPAT IA
• Antibióticos como Neomicina, Rifaximina e Vancomicina são e cientes para diminuir a amônia
produzida pelo cólon, sendo que todos esses fármacos devem ser administrados via oral, com o
intuito de limpar a ora intestinal e reduzir a produção de amônia.
• Tais medicamentos devem ser associados à Lactulose 20 mL VO ou enema de Lactulose (300
mL + 700 mL de água destilada por via retal) com a meta de estimular uma maior conversão de
amônia em amônio, além de elevar a população de lactobacilos que não produzem amônia e
ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
maior incorporação desta pelas bactérias locais.
(EH)
• Regular as doses com o objetivo de 3 evacuações pastosas por dia.
• A busca pela redução da tumefação cerebral deve ser sempre feita.
• Não descartar a possibilidade de transplante de fígado.
• Os pacientes em Grau III ou IV devem ser imediatamente intubados.
• Cabe ressaltar que níveis arteriais de amônia superiores a 200 g/dL elevam a pressão
intracraniana e levam à herniação encefálica.
ENCEFALOPATIA
• Analisar e tratar de maneira especializada as consequências do trauma.
TRAUMÁTICA
PREVENÇÃO
• Para encefalopatias metabólicas, em geral incluem:
• Acompanhamento multidisciplinar constantemente
• Dieta saudável
• Atividade física
• O tratamento de determinadas doenças hepáticas, evitar
a ingestão de álcool em excesso e o uso de drogas
injetáveis pode precaver muitas doenças hepáticas.44,45
• A rifaximina adicionada à lactulose é o agente mais
estudado para conservar a remissão em pacientes que já
vivenciaram pelo menos uma ocorrência de EH ao longo
do tratamento com lactulose após o episódio inicial.46
• A utilização de um complexo multivitamínico é
recomendado, embora não existam dados concretos
sobre os benefícios de suplementos vitamínicos e
minerais. A suplementação de zinco é considerada no
tratamento de EH.44,45
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8.13
SÍNDROMES DEGENERATIVAS
Autores:
Jonas Silva Paes
Maycon Cristian Gomes de Paula
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
As doenças neurodegenerativas estão previstas para ultrapassar
o câncer como segunda causa de morte mais frequente entre os
idosos por volta de 2040.1
Dessa forma, o conhecimento desse tema é de extrema
importância para a prática médica atual e futura.
As doenças neurodegenerativas são um grupo dentro de
síndromes degenerativas caracterizadas por morte neuronal
excessiva e prematura em regiões focais e/ou comprometimento
de estruturas associadas. Isto resulta em atrofia focal das regiões
afetadas do sistema nervoso. Esta atrofia focal regional e específica
é uma marca característica da patologia macroscópica e da
neuroimagem de doenças neurodegenerativas.2
O presente capítulo tratará de apresentar, inicialmente, as
principais síndromes neurodegenerativas não demenciais. As
síndromes neurodegenerativas envolvidas com a demência serão o
alvo de estudo de outro capítulo.
• Sinais motores
• Parkinsonismo pouco responsivo à levodopa
• Ataxia cerebelar
• Sinais piramidais
• Instabilidade precoce e quedas (dentro de 3 anos após o início da doença)
• Progressão rápida (sinal de cadeira de rodas) apesar do tratamento dopaminérgico (dentro de 5 anos após o
início da doença)
• Distonia Orofacial ou discinesia atípica espontânea ou induzida por levodopa que afeta principalmente os
músculos orofaciais, parecendo ocasionalmente com o risus sardonicus do tétano cefálico.
• Distonia axial:
→ Síndrome de Pisa (distonia axial subaguda com forte exão lateral tônica do tronco, cabeça e pescoço)
ou camptocormia grave precoce
• Antecolis desproporcional: Queixo no peito, pescoço só pode ser passivo e forçado a ser estendido à sua
posição normal com di culdade; apesar da severa exão crônica do pescoço, a exão em outros lugares é
menor.
• Tremor irregular: postura mioclônica irregular ou tremor de ação das mãos ou dedos.
• Disartria: Tremores atípicos, disartria aguda e gravemente hipofônica ou gravemente aguda.
• Avaliação clínica (parkinsonismo ou sintomas cerebelares que respondem mal à levodopa e são associados à
insu ciência autonômica)
• Ressonância Magnética mostra alterações características no mesencéfalo, ponte ou cerebelo.
• Varreduras com MIBG (I-meta-iodobenzilguanidina) mostram inervação intacta do coração.
c) Tratamento 7
• Outras terapias:
• Fisioterapia;
• Terapia de fala;
• Terapia ocupacional;
• Gastrostomia endoscópica percutânea (raramente necessária na fase tardia);
• Fornecimento de cadeira de rodas;
• Pressão positiva contínua nas vias aéreas (raramente traqueostomia) para estridor inspiratório.
DICAS DO ESPECIALISTA
A atrofia multissistêmica é sinucleinopatia (por causa da
deposição de sinucleína). A sinucleína também pode se acumular
em pacientes com doença de Parkinson, atrofia autonômica pura ou
demência com corpos de Lewy. Sinucleína é uma proteína celular
neuronal e glial que pode se agregar a fibrilas insolúveis e formar
corpos de Lewy.5,7
A Atrofia de Múltiplos Sistemas possui três variantes clínicas:8
Atrofia Olivopontocerebelar, Degeneração Estriatonigral e Síndrome
de Shy-Drager:
B) diagnóstico 13,14
• A suspeita diagnóstica tem como base o quadro clínico, a história familiar e os achados laboratoriais (a
creatinina quinase sérica é 100-200 vezes superior ao nível normal).
• A biópsia muscular mostra características distró cas e existe uma ausência completa da proteína distro na.
• Os estudos genéticos demonstram deleções e duplicações frame-shift, ou mutações nonsense no gene DMD.
c) Tratamento 14
Embora não haja tratamento especí co, prescreve-se o uso de de azacort diariamente para pacientes > 5 anos
de idade que não estão mais ganhando, ou estão perdendo, habilidades motoras.
O efeito desses fármacos ocorre tão cedo quanto 10 dias após o início da terapia; o pico da e cácia ocorre em 3
meses e persiste por 6 meses. O uso a longo prazo melhora a força, atrasa a idade em que se perde a
deambulação em 1,4 a 2,5 anos, melhora os testes funcionais cronometrados, melhora a função pulmonar, reduz
complicações ortopédicas, estabiliza a função cardíaca e aumenta a sobrevida em 5 a 10 anos.
• Início
• Ansiedade
• Alterações do sono
• Fadiga
• Alterações de humor
• Di culdade de memória
B) diagnóstico 4,17
• Alterações do eletroencefalograma, com surtos pseudoperiódicos e ondas trifásicas.
• Exame do LCR e neuroimagem podem mostrar pleocitose discreta.
• RM mostra hipersinal nos núcleos da base.
c) Tratamento 4,17,18
Apesar de relatos bem-sucedidos do tratamento com Risperidona, a doença é inexoravelmente fatal,
acarretando óbito em menos de um ano, na maioria dos casos.
• A maioria dos pacientes com ELA apresenta sintomas aleatórios assimétricos, consistindo em:
• Cãibras
• Fraqueza (progride para os antebraços, ombros e membros inferiores)
• Atro a muscular nas mãos ou nos pés.
• Fasciculações
• Espasticidade Re exos tendinosos profundos hiperativos
• Re exos extensores plantares
• Atitude desajeitada
• Rigidez do movimento
• Perda ponderal
• Fadiga
• Di culdade em controlar a expressão facial ou os movimentos da língua
• Outros sintomas incluem rouquidão, disfagia e fala arrastada; como é difícil engolir, a salivação parece aumentar
e os pacientes tendem a se engasgar com líquidos.
• Na fase tardia da doença ocorrem excessos de risos ou choro inapropriados, involuntários e incontroláveis.
• Observação: Sistemas sensoriais, consciência, cognição, movimentos oculares voluntários, função sexual,
esfíncteres urinários e anais geralmente são poupados.
B) diagnóstico 2,20
• Testes eletrodiagnósticos devem ser realizados para veri car evidências de doenças de transmissão
neuromuscular e desmielinização;
• RM cerebral: é indicada para excluir lesões estruturais, quando não houver evidência clínica na EMG
de fraqueza dos nervos cranianos.
• Testes laboratoriais: realizados para identi car causas tratáveis. Esses exames incluem hemograma
completo, eletrólitos, creatinina quinase e exames de função tireoidea.
B) diagnóstico 2,20
• Anticorpos de glicoproteína associada à antimielina são associados com uma neuropatia motora
desmielinizante, a qual pode se assemelhar à esclerose lateral amiotró ca.
• A coleta de urina de 24 h é realizada para veri car a presença de metais pesados em pacientes que podem ter
sofrido exposição a eles.
• Punção lombar pode ser feita para excluir outras doenças clinicamente suspeitas; se os níveis de leucócitos ou
proteínas estão elevados, um diagnóstico alternativo é provável.
c) Tratamento 2,20
• A base do tratamento para pacientes com ELA é a intervenção no momento oportuno para controlar os
sintomas.
• A abordagem com equipe multipro ssional auxilia o paciente a enfrentar a incapacidade neurológica
progressiva.
• Nenhum fármaco oferece benefício clínico substancial para os pacientes com ELA. Entretanto, o riluzol pode
proporcionar melhoria limitada da sobrevida (2 a 3 meses), e a edaravona pode retardar o declínio da função até
certo ponto.
ESCLEROSE MÚLTIPLA
As A esclerose múltipla (EM) pode ser definida como uma
doença desmielinizante, autoimune e inflamatória, de etiologia
desconhecida, do sistema nervoso central (SNC). A prevalência da
Esclerose Múltipla no Brasil é baixa. Estudos conduzidos em
diferentes cidades brasileiras demonstraram distribuição
heterogênea da EM no território nacional, com taxas que variam de
1 a 15:100.000 habitantes.4,21
A EM é mais comum no sexo feminino e em pacientes de origem
caucasiana. Doença de adulto jovem, é mais frequente entre 20 e 40
anos de idade, sendo rara acima dos 60 anos.4,21
A EM apresenta quatro formas clínicas:
Os sintomas iniciais mais comuns compreendem alterações piramidais, visuais, cerebelares, sensitivas, de tronco
cerebral e es nctéricas:
• Distúrbios visuais: diminuição aguda da acuidade visual, precedida ou não de dor, caracterizando
neurite óptica, e escotomas, quase sempre reconhecidos como embaçamento visual. Vale ressaltar
duas manifestações de comprometimento do tronco cerebral, que, quando acontecem em
pacientes jovens, são sugestivas de EM: oftalmoparesia internuclear e neuralgia do trigêmeo.
• Fadiga, que pode signi car menor tolerância às atividades diárias ou ser sintoma vago e mal
caracterizado, mas espontaneamente referido como lassidão, é queixa muito comum e pode ser o
sintoma mais limitante, piorando quando sinais piramidais (sobretudo, espasticidade) estão
presentes.
• Distúrbios psiquiátricos (p.ex., surtos psicóticos) são infrequentes, mas pacientes com EM se
queixam de depressão. O quadro depressivo tem componentes mistos, reacionais e orgânicos, mas
as correlações clínico-radiológicas são pouco esclarecedoras quanto à presença de lesões
responsáveis pelos sintomas psiquiátricos. Pacientes com EM apresentam comprometimento
cognitivo caracterizado por comprometimento de memória recente, mas raramente evoluem para
demência franca.
B) diagnóstico 22
• Plasmaférese é útil em pacientes com recidivas graves que não respondem aos corticosteroides.
• Pode ser necessária terapia sintomática para espasticidade, bexiga neurogênica ou fadiga.
• A fadiga é especialmente comum na esclerose múltipla, e uma terapia e caz é:
• moda nil (200 mg por via oral todas as manhãs).
• Para melhorar a marcha cronometrada na esclerose múltipla:
• Dalfampridina (uma formulação de liberação prolongada de 4-aminopiridina administrada como 10
mg por via oral duas vezes ao dia).
• Depressão e até suicídio podem ocorrer na esclerose múltipla e podem piorar com a terapia com interferon beta-
1a; triagem e tratamento convencional desses sintomas são adequados.
Um desses critérios:
• ≥2 ataques e evidência clínica objetiva de
1 lesão. • DIS: ataque clínico adicional implicando local
diferente do SNC
Um desses critérios:
• 1 ataque e evidência clínica objetiva de
≥2 lesões. • DIT: ataque clínico adicional
• DIT: presença simultânea de lesão de ressonância
magnética típica da EM, sintomática ou
assintomática, que aumenta e não melhora em
comparação com a varredura basal (sem levar em
consideração o tempo de varredura basal).
Um desses critérios:
• 1 ataque e evidência clínica objetiva de
1 lesão. • DIS: ataque clínico adicional implicando local
diferente do SNC
• ≥ 2 lesões medulares T2
• Bandas Oligoclonais especí cas para Fluido
Cerebrospinal.
A compressão da medula causa paresia espástica gradual, parestesias ou ambas, nas mãos e nos pés; pode haver
hiper-re exia. Os dé cits neurológicos podem ser assimétricos, não segmentares e agravados por tosse ou
manobra de Valsalva. Após trauma, pessoas com espondilose cervical podem desenvolver uma síndrome
medular central ( Síndromes da coluna vertebral).
Eventualmente, podem se desenvolver atro a muscular e paralisia ácida nas extremidades superiores no nível
da lesão, com espasticidade abaixo desse nível.
A compressão das raízes nervosas causa dor radicular precoce; posteriormente, pode haver fraqueza,
hiporre exia e atro a muscular.
Espondilose cervical decorrente de osteoartrite, especialmente se o canal cervical tiver estenose congênita, pode
levar à estenose do canal e desenvolvimento de osteó tos, que podem comprimir a medula ou raízes nervosas.
B) DIAGNÓSTICO 22,24
Nas lesões medulares compressivas de qualquer natureza, o diagnóstico precoce é imperativo para prevenção de
um dé cit neurológico irreversível, pois, com o tratamento da lesão causadora da compressão, pode ocorrer
completa reversão do quadro.
C) TRATAMENTO 21,22
Para os pacientes com comprometimento medular, em geral, é necessária a laminectomia cervical; uma
abordagem posterior pode aliviar a compressão, mas deixa os osteó tos compressivos anteriores e pode
provocar instabilidade da coluna e cifose. Assim, cada vez mais se utiliza uma abordagem anterior com fusão
espinhal.
Os pacientes que apresentam apenas radiculopatia podem tentar tratamento não cirúrgico com AINE e um
colar cervical macio; se este tratamento for ine caz, pode ser necessária a descompressão cirúrgica. As
indicações de descompressão cirúrgica são a dor intratável e o comprometimento da medula espinhal.
Pode ocorrer:
• Dor cervical
• Dor nas costas
• Dor na cabeça
• Aperto em faixa no tórax ou no abdome
• Fraqueza
• Formigamento
• Dormência nos pés e nas pernas
• Di culdade na micção
Os dé cits podem evoluir durante mais vários dias até a mielopatia sensorimotora transversa completa, causando:
• Paraplegia
• Perda de sensação abaixo da lesão
• Retenção urinária
• Incontinência fecal
**Ocasionalmente, as sensações proprioceptiva e vibratória são preservadas, pelo menos no início.
A síndrome costuma reincidir em pacientes com esclerose múltipla, LES ou síndrome antifosfolipídica.
B) diagnóstico 13,25
O diagnóstico da mielite transversa é sugerido por mielopatia sensorimotora transversa com dé cits segmentares.
O diagnóstico requer RM e análise de LCR. A RM tipicamente mostra edema da medula espinhal se a mielite transversa
está presente e pode ajudar a excluir as outras causas tratáveis de disfunção da coluna vertebral (p. ex., compressão da
medula espinhal). O LCR, em geral, contém monócitos, discreta elevação do conteúdo de proteínas e elevação do índice
IgG (normal: ≤ 0,85).
Teste para um marcador de IgG na neuromielite óptica (NMO-IgG) — um autoanticorpo que tem por alvo a proteína
aquaporina-4 do canal de água dos astrócitos — é altamente especí co e ajuda a distinguir neuromielite óptica de
esclerose múltipla.
Os exames para veri car as causas tratáveis devem conter radiogra a de tórax; PPD; sorologia para micoplasma, doença
de Lyme e HIV; velocidade de hemossedimentação; AAN e VDRL no sangue e no líquor. A história pode sugerir um
fármaco como agente causal.
O diagnóstico diferencial da mielite transversa abrange outras mielopatias transversas decorrentes de de ciências
nutricionais (p. ex., de ciência de vitamina B12, ácido fólico, zinco ou cobre), insu ciência vascular e tumores
intraespinhais.
Realiza-se RM do cérebro: a EM ocorre em 50% dos pacientes com lesões brilhantes (hiperintensas) periventriculares
múltiplas em T2 e em 5% dos pacientes nos quais essas lesões estão ausentes.
c) Tratamento 21,22
• Plasmaférese pode ser usada para pessoas que não respondem bem aos esteroides intravenosos.
• A imunoglobulina intravenosa (IgIV ) é um tratamento que se pensa rede nir o sistema imunológico. O IgIV é uma
injeção altamente concentrada de anticorpos reunidos em muitos doadores saudáveis que se ligam aos anticorpos que
podem causar o distúrbio e removê-los da circulação.
• Medicamentos antivirais podem ajudar as pessoas que têm uma infecção viral da medula espinhal.
• Os medicamentos podem tratar outros sintomas e complicações, incluindo incontinência, contrações
musculares dolorosas chamadas espasmos tônicos, rigidez, disfunção sexual e depressão.
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8.14
SÍNDROMES DEMENCIAIS
Autores:
Maycon Cristian Gomes de Paula
Jonas Silva Paes
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
Segundo Lane,1 em 2017 já havia 44 milhões de pessoas
diagnosticadas com demência ao redor do mundo. Esse número
cresce ano após ano de forma acelerada.
Por isso, dominar esse assunto é fundamental para a prática
médica hoje e principalmente, com o envelhecimento populacional,
no futuro.
DEFINIÇÕES
• Síndrome caracterizada pelo declínio
cognitivo/comportamental que:
- compromete atividades sociais e profissionais do indivíduo.
- não depende de alterações da consciência.
EPIDEMIOLOGIA
Estima-se que, após os 65 anos de idade, esse valor dobre a cada
cinco anos.2,3 Esse fato possui as seguintes explicações:
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Exige comprovação de comprometimento cognitivo e funcional.
a) AVALIAÇÃO COGNITIVA
• Causas tóxico-metabólicas
Essa etiologia se encaixa nas causas reversíveis da manifestação
e pode ser dividida em dois grandes grupos (Fluxograma 2).2
Fluxograma 2. Grupos De Demências Tóxico-Metabólicas.
Fonte: Nitrini 2
Considerações:2
• As manifestações podem apresentar variações na população
idosa.
• Quadros carenciais sempre devem chamar atenção em
alcoólatras, doentes crônicos, histórico de cirurgias gástricas
prévias e em indivíduos anoréxicos/deprimidos.
• É necessário interrogar especicamente sobre as medicações que
podem estar associadas, umas vez que os pacientes podem
omitir/esquecer que fazem uso contínuo.
• As causas tóxico-metabólicas estão mais associadas ao Delirium,
que ocorre de forma mais aguda e causa maior rebaixamento de
consciência. Esses quadros, entretanto, podem estar superpostos ao
de demência.
• Depressão
Deve fazer parte do diagnóstico diferencial.2,5-7
d) DOENÇAS COM COMPROMETIMENTO ESTRUTURAL DO SNC
• Demências primárias
• Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer foi inicialmente descrita como uma
demência degenerativa que incidia em uma faixa etária pré-senil
(antes dos 65).2
→ Hoje, essa condição é a principal causa de demência, sendo
responsável por 50% a 75% dos casos diagnosticados
(Quadro 1).
→ É imprescindível suspeitar em casos com déficit cognitivo
nessa faixa etária.1
a) Sinais e sintomas
b) Diagnóstico
Envolve:
• Entrevista clínica e a realização do Miniexame do Estado Mental
• Descartar outras causas de demência por meio de exames laboratoriais e de neuroimagem
• A neuroimagem pode evidenciar atro a cortical em áreas de associação, como na região parieto- occipital e na
região medial do lobo temporal, principalmente na região hipocampal.
• O exame do líquor apresenta níveis baixos de beta-amiloide e a altos de proteína tau. Além disso, é possível
descartar outras causas de demência
c) Tratamento
• Doença de Parkinson
→ Epidemiologia
Sinais cardinais:
• Tremor
• Rigidez
• Bradicinesia
Outros:
• Anormalidade e instabilidades posturais
b) Diagnóstico
Critérios necessários para diagnóstico de DP: Bradicinesia e pelo menos um dos seguintes sintomas:
• Rigidez muscular;
• Tremor de repouso (4-6 Hz) avaliado clinicamente;
Critérios negativos para DP (sugestivos de outras formas de parkinsonismo):
• História de acidente vascular cerebral (AVC) de repetição;
• História de trauma craniano grave
• História de nida de encefalite
• Crises oculogíricas
• Tratamento prévio com neurolépticos
• Remissão espontânea dos sintomas
• Quadro clínico estritamente unilateral após 3 anos
• Paralisia supranuclear do olhar
• Sinais cerebelares
• Sinais autonômicos precoces
• Demência precoce
• Liberação piramidal com sinal de Babinski
Critérios de suporte positivo para o diagnóstico de DP (três ou mais são necessários para o diagnóstico):
• Início unilateral
• Presença do tremor de repouso
• Doença progressiva
• Persistência da assimetria dos sintomas
• Boa resposta à levodopa
• Presença de discinesias induzidas por levodopa
• Resposta a levodopa por 5 anos ou mais
• Evolução clínica de 10 anos ou mais
c) Tratamento
Epidemiologia
• Segunda demência neurodegenerativa mais comum, somente atrás do da Doença de Alzheimer.
• Sanford et al a rmam que essa doença começa a se manifestar entre 70 e 85 anos.
Sinais e sintomas
• Estágios 1 e 2: disfunção autonômica e olfatória
• Estágios 3 e 4: distúrbios motores e do sono
• Estágios 5 e 6: disfunção cognitiva e emocional
Diagnóstico
Além da interferência em atividades diárias, 2 ou mais características:
• Flutuações da cognição (chegando até em quadros de delirium)
• Alucinações visuais
• Parkinsonismo
• Distúrbios de sono
Tratamento
• Ainda não existe tratamento farmacológico especí co para essa condição
Doença de Huntington2,14
De nição e epidemiologia
• Se trata, também da demência genética mais frequente no mundo.
• Estima-se que a prevalência seja próxima de 4-10 casos a cada 100 mil habitantes no ocidente.
Sinais e sintomas
• Movimentos coreicos
• Distonia
• Mioclonia
• Bradicinesia
• Rigidez e anormalidades posturais
• Atro a muscular
Diagnóstico
• História clínica + sinais e sintomas.
• O diagnóstico de certeza só é possível por meio do teste genético.
Tratamento
• Não há cura para essa doença.
• Recomenda-se uma abordagem multidisciplinar para melhor conduzir a evolução da doença, podendo reduzir
a velocidade de progressão e o impacto dos sintomas na vida da pessoa.
• São divididos em diversos fenótipos clínicos, que se diferem pelas diferenças nas regiões afetadas pelo acúmulo
de proteína tau.
• Demências secundárias
• Demência vascular
→ O´brien et al18 afirmam que 15% dos casos de demência no
mundo são associados a essa causa, sendo que 15-30% das
vítimas de AVE desenvolvem a manifestação cerca de 3
meses depois do ocorrido e 20-25% desenvolvem no longo
prazo (Quadro 2)
→ Existem diversos tipos de demência vascular (Quadro 3).
→ É a segunda principal causa de demência2,19 (Quadro 4).
→ Estima-se que a demência por causa cerebrovascular
corresponda a 17 milhões dos casos de demência no mundo,
gerando custos anuais de até 200 bilhões de dólares.19
→ A associação com a doença de Alzheimer é comum,2 porém
em mais de 75% dos casos a demência ocorre por causa
vascular, não descartando, obviamente, causas
neurodegenerativas nem a combinação de ambas as
etiologias.18
Fatores de risco
Oclusão de artérias que nutrem locais estratégicos, como tálamo, cápsula interna e cabeça do núcleo caudado.
• Oclusão/estenose de artérias críticas
Demência por hipoperfusão (hipóxico-isquêmica)
Lesões do parênquima por transtornos hemorrágicos, como coagulopatias, aneurismas, malformações arteriovenosas,
angiopatia amiloide hereditária.
Sinais e sintomas
Depende da intensidade e da localização do evento.
De forma geral, o quadro é:
• Declínio cognitivo que pode mimetizar a Doença de Alzheimer
• Dé cit de memória, linguagem e praxia
• Perda de habilidade para atividades laborais e diárias
• Depressão
• Apatia
• Psicose
• Alucinações
• Sinais motores de AVE, como distúrbios de marcha, hiperre exia, Sinal de Babinski e Postura de Wernicke-
Mann, por exemplo.
• Dé cit sensitivo
• Paralisia facial
Diagnóstico
Tratamento
Engloba medidas de:
• Prevenção de novas lesões cerebrovasculares.
• Intervenções farmacológicas sobre sintomas especí cos.
• Inibidores de acetilcolinesterase podem ser usados com melhora do declínio cognitivo.
• Retiradas de drogas desnecessárias ou que aumentam risco de novo episódio.
• Medidas que melhorem a qualidade de vida e adaptação do paciente, como sioterapia, aconselhamento dos
familiares e cuidadores, reestruturação e adaptação do ambiente.
• Tumores
→ Comumente as neoplasias podem causar declínio cognitivo
em idosos (fluxograma 4).2
→Estima-se que, em 2050, pelo menos 30% tenha mais de 65
anos.
→ Apesar de terem surgido evidências estatísticas da relação
entre o câncer e doenças neurodegenerativas na última
década, esses resultados não são encarados com tanta
relevância porque ambas as doenças são relacionadas ao
envelhecimento. Há grande risco de viés nessa associação.22
Fluxograma 4. Mecanismos de relação entre câncer e demência.
Fonte: Nitrini, Ganguli, McWilliams, Van der Willik 2,22-24
• Infecções
→ A demência de etiologia infecciosa varia de acordo com a
idade, sendo mais incidente na população com menos de 50
anos2 (Quadro 5).
→ O mecanismo dessa associação se dá devido ao fato de que a
inflamação crônica leva a um processo neurodegenerativo que
resulta em declínio cognitivo.25
A) Sinais e sintomas
Dados que sugerem demência de etiologia infecciosa:
• Idade inferior à senil
• Per l neuropsicológico com predomínio de:
• Apatia e lentidão dos processos mentais
• Antecedentes de doenças venéreas ou de promiscuidade sexual
• Toxicomania
• Imunode ciência
b) Diagnóstico
Como em outras infecções do SNC, é feito pela interpretação de:
• História clínica
• Exame do líquido cefalorraquidiano
• Neuroimagem
Além disso, pode-se destacar a importância da eletroforese de proteínas e a biópsia cerebral (quando todos os
métodos não invasivos forem inconclusivos).
• H. Pylori
• Borrelia burgdorferi
• Citomegalovírus
• HSV 1 e 6
• EBV
Outra doença relacionada à demência é a Neurossífilis.2 Apesar
da grande redução no número de casos entre as décadas de 1980 e
1990, a doença voltou a ter crescimento no número de casos;26 por
isso, deve-se considerar a hipótese da doença sempre em casos de
declínio cognitivo e alterações comportamentais.2,27
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
Medidas que melhorem:
• Qualidade de vida
• Adaptação do paciente
Por exemplo:
• Fisioterapia Motora
• Tratamento com fonoaudióloga e psicóloga
• Aconselhamento dos familiares e cuidadores
• Reestruturação e adaptação do ambiente
b) TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Objetivo: Aliviar sintomas envolvidos na síndrome. Fármacos
capazes de regredir ou reduzir a velocidade de evolução dos
processos que levam à demência estão sendo estudados, porém
nenhum demonstrou real eficácia para esse propósito11,28 (Tabela 4).
Além de tratar tremores, reduz utuações Dose inicial: 250/25 mg por dia dividida em
Levodopa/carbidopa
motoras duas administrações
Além de tratar tremores, reduz utuações 200/50 mg por dia dividida em pelo
Levodopa/benserazida
motoras menos duas administrações
DICAS DO ESPECIALISTA
Í
a) CONDUTA DIANTE DO CASO SUSPEITO DE NEUROSSÍFILIS
(Fluxograma 5)
REFERÊNCIAS
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Editora Atheneu; 2003.
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11. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria conjunta nº 10, de 31 de Outubro de 2017.
Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença de Parkinson.
Diário Oficial da União.
12. Olney NT, Spina S, Miller BL. Frontotemporal Dementia. Neurol Clin. 2017; 35(2):
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13. Bertolucci PHF. Guia de Neurologia. São Paulo: Manole; 2010.
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15. Armstrong MJ. Progressive Supranuclear Palsy: an Update. Curr Neurol Neurosci
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same coin? Eur J Clin Invest. 2018; 48(11): 1-12.
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27. Mukku S, Safal SS, Pritam R, Nashi S, Nagarathna C, Pt S, et al. Neurosyphilis
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lewy-sintomas-neuropsiquiatricos/.
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Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/imagens/20081110031116.gif.
8.15
MORTE ENCEFÁLICA
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Maycon Cristian Gomes de Paula
Nícollas Nunes Rabelo
CASO CLÍNICO
a) Anamnese e HMA:
JFC, masculino, 72 anos, hipertenso em uso de Losartana 50 mg,
tabagista, aposentado, (50 anos-maço). Deu entrada no serviço
inconsciente. Segundo a filha, BFC, há 2 semanas o pai começou a
referir cefaleia holocraniana pulsátil, constante e sem fatores de
alívio, associada a vômitos e náuseas. Hoje pela manhã, a dor se
tornou muito mais intensa, associada à hemiplegia completa à
direita e afasia. Devido à piora progressiva, ela decidiu levar o pai ao
atendimento médico.
b) Interrogatório dos sistemas:
Os diversos sistemas sofreram modificações, uma vez que os
sistema nervoso e respiratório foram cessados.
c) Desenvolvimento neuropsicomotor:
Paciente com crescimento e desenvolvimento pertinente à idade.
d) Procedentes médicos:
JFC é hipertenso há 30 anos e faz uso contínuo de Losartana 50
mg, não possui alergias medicamentosas, alimentares e ambientais;
nega outras doenças e uso de outras medicações. Ademais, nunca
passou por internamentos e cirurgias, conforme as informações
passadas pela BFC em relação ao seu pai.
e) Histórico familiar:
BFC relata pelo seu pai que há casos de hipertensão arterial nos
pais do paciente; a mãe de BFC possuía aneurisma cerebral; não há
casos de diabetes mellitus, neoplasias e infecções sexualmente
transmissíveis.
f) Evolução:
Paciente foi atendido pelo serviço de urgência, sedado e posto
em ventilação mecânica.
A Tomografia Computadorizada evidenciou um aneurisma roto de
artéria cerebral média direita, associada à hemorragia
intraparenquimatosa e subaracnoidea Fisher IV (Figura 1).
PCO2 35 mmHg
INTRODUÇÃO
• O protocolo de morte encefálica (ME) é um processo
sistematizado, comprovado cientificamente, ético e
indispensável a fim de dar o diagnóstico correto, se
realmente ocorreu morte encefálica ou não.
DEFINIÇÕES
• É definida como a perda integral e irreversível das funções
do encéfalo, ou seja, cessação irrecuperável de todas os
papéis funcionais de competência cortical, de tronco
encefálico e do cerebelo.
EPIDEMIOLOGIA
• Maioria das vítimas são homens (56,3%) com mediana de
idade 51,5.1
• Hipoglicemia
• Intoxicação exógena 5,6
• Importância:
• Estabelecer o plano terapêutico e evitar terapias inúteis
• Oferecer informações concretas aos familiares
• Reduzir custos e otimizar a ocupação de leitos da UTI
• Apresentar a possibilidade de doação de órgãos à família
1º PASSO | Excluir outras condições que podem interferir no
exame.
Os fatores que interferem (fluxograma 2) e que não interferem
(fluxograma 3) estão sintetizados nos fluxogramas.
• Eletroencefalograma
• Doppler Transcraniano
• Arteriografia Cerebral de 4 vasos
• Tomografia por emissão de fóton único (SPECT)
• Tomografia por emissão de próton (PET)
• Potenciais Evocados somatossensitivos (PESS)
Qualquer um destes exames:
• eletroencefalograma;
• doppler Transcraniano;
• arteriogra a cerebral de 4 vasos;
Acima de 2 anos • tomogra a por emissão de fóton único
(SPECT);
• tomogra a por emissão de próton (PET);
• potenciais Evocados somatossensitivos
(PESS).
Qualquer um destes exames:
• eletroencefalograma;
• doppler transcraniano;
De 1 ano a 2 anos incompletos
• arteriogra a cerebral;
• cintilogra a cerebral.
OBS.: caso for EEG, deve realizar dois EEGs com intervalo de 12 horas
entre o primeiro e o segundo.
Parâmetros clínicos para o início do diagnóstico Parâmetros clínicos para o início do diagnóstico
Tempo de observação para que seja iniciado o Tempo de observação para que seja iniciado o diagnóstico
diagnóstico
• Mínimo de 6 horas.
• Não havia.
• Quando a causa for encefalopatia.
• Hipóxico-isquêmica, a observação deve ser de
24 horas.
Resolução nº 1.480/97 Resolução nº 2.173/17
Intervalo mínimo entre as duas avaliações clínicas Intervalo mínimo entre as duas
avaliações clínicas
• De 7 dias a 2 meses incompletos
– 48 horas. • De 7 dias a 2 meses incompletos – 24 horas.
• De 2 meses a 1 ano incompleto • De 2 meses a 24 meses incompletos – 12 horas.
– 24 horas. • Acima de 2 anos – 1 hora.
• De 1 ano a 2 anos incompletos
– 12 horas Acima de 2 anos – 6 horas.
1) Exames clínicos, realizados por médicos 1) Dois exames clínicos, por médicos diferentes, especi camente
diferentes, e exames complementares, realizados capacitados para con rmar o coma não perceptivo e a ausência de
em intervalos de tempos variáveis; função do tronco encefálico;
2) Os exames complementares devem demonstrar: 2) um teste de apneia;
ausência de atividade elétrica cerebral, ausência de 3) um exame complementar que comprove a ausência de atividade
atividade metabólica cerebral ou ausência de encefálica. Este exame deve comprovar: ausência de perfusão sanguínea
perfusão sanguínea cerebral. encefálica, ou ausência de atividade metabólica encefálica ou ausência de
atividade elétrica encefálica.
1) Decreto nº 2.268/97 (revogado pelo Decreto nº 1) Será considerado especi camente capacitado o médico com um ano
9.175/17) estabelecia que um dos dois médicos de experiência no atendimento de pacientes em coma e que tenha
con rmadores da morte encefálica deveria ser acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de morte
neurologista. encefálica, ou que tenha realizado curso de capacitação para
2) Mesmo decreto estabelecia que nenhum desses determinação de morte encefálica.
médicos poderiam fazer parte da equipe de 2) Um dos médicos especi camente capacitado deverá ser especialista
transplante. em uma das seguintes áreas: medicina intensiva, medicina intensiva
pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina
de emergência.
3) Nenhum desses médicos poderá fazer parte da equipe de transplante.
Quadro 2. Alterações do protocolo de ME em 2017.
Fonte: site CFM. 7,13
FINALIZAÇÃO DO PROTOCOLO13,15
O esquema para finalizar o protocolo estão no fluxograma 7.
DICAS DO ESPECIALISTA
a) Passos técnico-legais para finalizar o protocolo de morte
encefálica4,7,15,20
Os passos estão esquematizados no algoritmo 8.
Fluxograma 8. Algoritmo de condutas técnico-legais na ME
Fonte: Kirshen, Morsch, Moura, Caruso 4,7,15,20
Observações:
CONCLUSÃO
• O protocolo de ME é constituída de um conjunto de critérios
e procedimentos que devem ser assegurados e realizados
integralmente para obter um resultado fidedigno e real do
paciente, uma vez que é um protocolo seguro, ético e
sistematizado cientificamente.
DEFINIÇÕES
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os sintomas da síndrome anêmica são relacionados à redução do transporte de
oxigênio tecidual e são mais intensos nas anemias mais graves e de instalação mais
rápida. De maneira geral, o paciente queixa-se de fadiga, astenia, vertigem ou hipotensão
postural, indisposição, sonolência, cefaleia holocraniana, redução da tolerância aos
esforços, dispneia, som pulsátil nos ouvidos, palpitações, podendo apresentar
descompensação de comorbidades cardiovasculares, cerebrovasculares ou pulmonares.
Os sintomas são sempre mais exuberantes em casos associados à hipovolemia, como
em sangramentos agudos e vultuosos. Importante questionar na anamnese sobre perdas
macroscópicas de sangue (trato gastrointestinal, geniturinário, ciclo menstrual), dieta e
hábitos alimentares, comorbidades e medicamentos em uso. O exame físico pode auxiliar
no diagnóstico da etiologia da anemia e deve ser realizado com cautela (Tabela 3). De
forma geral, encontramos palidez cutaneomucosa diretamente proporcional à gravidade da
anemia. Icterícia e esplenomegalia chamam atenção para causas hemolíticas. A
concomitância de linfadenomegalias e outras citopenias ao hemograma pode indicar
causas medulares, infecciosas ou neoplásicas e merecem investigação mais detalhada.
ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO
• De acordo com a cinética de produção, a anemia pode ser causada por redução
da produção de hemácias ou eritropoese ineficaz (reticulocitopenia – anemia
hipoproliferativa) ou aumento da destruição das hemácias ou perda sanguínea
aguda (reticulocitose – anemia hiperproliferativa). As principais etiologias de
cada grupo estão na Tabela 4.
b. Anemias Normocíticas
PELE E FÂNEROS
• Rash, alterações cutâneas ou articulares podem estar presentes
em doenças reumatológicas
• Coiloníquia, pele ressecada e cabelos quebradiços podem estar
presentes em anemias carenciais, especialmente ferropriva
REFERÊNCIAS
1. WHO. Haemoglobin concentrations for the diagnosis of anaemia and assessment of severity. Vitamin and
Mineral Nutrition Information System. Geneva: World Health Organization; 2011.
2. Leung LLK. Aproach to the adult with anemia. UpToDate, [Internet]; 2020. [acesso em 30 jun 2020].
Disponível em https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-anemia.
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5. Ford J. Red blood cell morphology. Int J Lab Hemat. 2013; 35: 351-7.
9.2
ANEMIA FERROPRIVA
Autores:
Patrícia Vas Tostes Mendes
Daniela Passos Garcia Campos
Iracema Esteves
DEFINIÇÕES
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Redução da absorção: gastrectomia, cirurgia bariátrica, infecção por Helicobacter pylori, doença celíaca,
gastrite atró ca, doenças in amatórias intestinais
TGI: esofagite, gastrite erosiva, úlceras, doença diverticular, angiodisplasias, neoplasias benignas ou
malignas (principalmente neoplasia de cólon), hemorroidas, verminoses
TGU: menorragia, hematúria, hemoglobinúria
HPN: anemia hemolítica intravascular, hemólise microangiopática, ou hemodiálise
Sangramentos sistêmicos constantes
TGI: trato gastrointestinal; TGU: trato geniturinário; HPN: hemoglobinúria paroxística noturna; AINE:
antiin amatório não esteroidal; TMPRSS6: serinoprotease transmembrana 6.
QUADRO CLÍNICO
• Taquicardia, dispneia aos esforços leves, sopro sistólico e angina aparecem com
valores mais baixos de hemoglobina. Pode haver na deficiência grave de ferro
síncope, coiloníquia, perversões alimentares.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: palidez cutaneomucosa, pele seca ou áspera, glossite atrófica com
perda de papila da língua, queilite angularis, coiloníquia, alopecia, síndrome das
pernas inquietas.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Inibidores da absorção de ferro, como cereais, chá e café, devem ser consumidos
em horários distantes da reposição oral medicamentosa.
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
A etiologia da ferropenia deve ser obrigatoriamente diagnosticada e resolvida.
• O tratamento deve ser mantido por 3 meses após a normalização dos estoques,
ou seja, após normalização dos níveis séricos de ferritina (meta de 50 a 100
ng/mL). Se o paciente não responde ao tratamento, é necessário rever o
diagnóstico, a adesão e se existe má absorção associada, especialmente por
doença celíaca ou presença da bactéria Helicobacter pylori.
• A forma disponível no Brasil é o sacarato de hidróxido férrico, cuja dose deve ser
administrada em ambiente hospitalar, em infusão IV lenta, por 60 minutos, de uma
a três vezes na semana, com intervalos mínimos de 48 horas e não ultrapassando
300 mg em cada dose. O cálculo da dose total de reposição é feito da seguinte
maneira:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso Clínico: Mulher, 70 Kg, Hb 6,8 g/dL, alvo 12 g/dL.
b. Prescrição Sugerida:
(12-6,8) x 70 x 2,3 + 500 =
5,2 x 161 + 500 =
837,2 + 500 =
1.337,2 mg = 1.300 mg (dose total a ser reposta)
• A ampola de sacarato de hidróxido férrico tem 100 mg. A infusão IV deve ser
realizada na dose máxima de 300 mg por aplicação, em 60 a 90 minutos, duas a
três vezes na semana, com intervalos de 48h entre as administrações.
DICAS DO ESPECIALISTA
REFERÊNCIAS
1. Camaschella C. Iron-deficiency anemia. N Engl J Med. 2015; 372(19): 1832-43.
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907-16.
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2020. [acesso em 26 jun 2020]. Disponível em https://www.uptodate.com/contents/causes-and-
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5. Cappellini MD, Musallam KM, Taher AT. Iron deficiency anaemia revisited. J Intern Med. 2020; 287: 153-170.
9.3
ANEMIA DA INFLAMAÇÃO
Autores:
Thomaz Almeida Vargas
Eduardo de Sousa Santos
Patricia Eiko Yamakawa
DEFINIÇÕES
A anemia da doença inflamatória (anemia da inflamação ou anemia de doença crônica)
é prevalente em pacientes com condições subjacentes que causem ativação inflamatória
prolongada ou intensa como doenças neoplásicas, infecciosas, reumatológicas.
Recentemente, a lista de doenças relacionada a esta anemia incluiu também diagnósticos
como doença renal crônica, insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar crônica e
obesidade. Tais condições levam a um processo de ativação imune e produção de
citocinas inflamatórias que interferem na eritropoese e reduzem a sobrevida das
hemácias.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A anemia da inflamação é a segunda causa mais frequente de anemia sendo superada
somente pela anemia ferropriva. É a anemia mais comum em pacientes hospitalizados,
principalmente em idosos e pacientes com doença crônica conhecida (Quadro 1).
Infecções
Doenças imunomediadas
Doenças in amatórias
Obesidade
Anemia do idoso
Anemia do doente crítico
EXAME FÍSICO
Os achados gerais da anemia envolvem palidez cutaneomucosa, taquipneia e
taquicardia, rebaixamento de nível de consciência e sopro sistólico em foco aórtico nos
casos mais graves. É importante observar lesões cutâneas ou articulares, sinais de artrite,
turgência de jugulares, edema de membros inferiores, estertores finos pulmonares que
podem sinalizar alguma doença subjacente como causa da anemia.
a. Parâmetros laboratoriais:
TRATAMENTO
Consiste no tratamento da doença de base com o objetivo de corrigir os mecanismos
envolvidos no desenvolvimento da anemia. Tratamentos simultâneos se baseiam em
agentes estimuladores da eritropoiese, como eritropoietina e darbepoetina, e
suplementação de ferro quando indicado.
• Dose inicial 50-100 U/kg SC, ou 4.000 U/dia no adulto, uma a três vezes por
semana, por oito a doze semanas. Deve-se monitorar a hemoglobina a cada duas
semanas até obter a resposta desejada. Caso não ocorra resposta terapêutica
eficaz (aumento de Hb > 1 g/dL em quatro semanas), pode-se aumentar a dose em
25% a cada quatro semanas até atingir a dose de 300 U/kg. Se a Hb aumenta mais
de 1g/dL em duas semanas, deve-se reduzir a dose em 25%.
• Dose alternativa de 30.000 a 40.000 U SC uma vez por semana. Pode ser
aumentada para 60.000 U SC uma vez por semana se não houver resposta em
quatro semanas.
d. Condições especiais:
DICAS DO ESPECIALISTA
REFERÊNCIAS
1. Goodnough LT, Schrier SL. Evaluation and management of anemia in the elderly. Am J Hematol. 2014;
89(1): 88-96.
2. Weiss G, Ganz T, Goodnough LT. Anemia of inflammation. Blood. 2019; 133(1): 40-50.
3. Stauder R, Valent P, Theurl I. Anemia at older age: etiologies, clinical implications, and management. Blood.
2018; 131(5): 505-14.
4. Tonia T, Mettler A, Robert N, Schwarzer G, Seidenfeld J, Weingart O, et al. Erythropoietin or darbepoetin for
patients with cancer. Cochrane Database Syst Rev. 2012; 12: CD003407.
9.4
ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
Autores:
Cristiano Martins Trindade
Iara Baldim Rabelo
Celso Arrais
DEFINIÇÕES
As anemias megaloblásticas constituem um grupo de anemias macrocíticas cujo
desenvolvimento ocorre devido à síntese ineficaz de DNA nas células precursoras
hematopoéticas. Desta forma, ocorrem alterações morfológicas que culminam com
apoptose intramedular. Isto acontece devido à deficiência de cobalamina (Vitamina B12)
e/ou folato (Vitamina B9).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O quadro a seguir (Quadro 1) divide as várias causas da anemia megaloblástica de
acordo com a vitamina em deficiência.
Gastrite atró ca crônica e ingestão de drogas que Drogas: álcool, agentes antissépticos, drogas
afetam a secreção de ácido gástrico ou o pH contraceptivas, antibióticos, fenitoína,
gástrico (inibidores de bomba de prótons, quimioterápicos, metotrexate, trimetoprim,
bloqueadores H2) pirimetamina, sulfas
HIV Hemodiálise
O estoque de cobalamina é mais duradouro que o do ácido fólico, bem como existem
diferenças marcantes entre o metabolismo dessas vitaminas:
a. Cobalamina:
b. Ácido fólico:
• Absorção: jejunal
• Necessidade diária: 400 mcg/dia no adulto, podendo chegar a 500 e 600 mcg na
lactação e gravidez, respectivamente.
EXAME FÍSICO
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma/esfregaço de sangue periférico: anemia, bicito ou até pancitopenia
com VCM elevado na maioria das vezes; existem anisocitose, poiquilocitose
(predomínio de macrovalócitos) e eritroblastos circulantes. A presença de neutrófilos
hipersegmentados (5% dos neutrófilos contados no esfregaço de sangue periférico
contendo cinco segmentações ou 1% com seis ou mais segmentações) associada ao
aumento de DHL (desidrogenase lática) favorece o diagnóstico.
TRATAMENTO
a. Deficiência de Vitamina B12: para o tratamento parenteral (intramuscular) com
ampolas de 1000 mcg, administrar uma ampola por dia na primeira semana, seguida de
reposição semanal até correção da deficiência (três a quatro semanas); após, manter
uma ampola a cada dois a três meses. Para ampolas de 5000 mcg, iniciar com uma
ampola três vezes na semana (em dias alternados, por exemplo), seguida de uma
ampola semanal (três a quatro semanas) com manutenção a cada três a seis meses, a
depender da etiologia da deficiência.
A reposição oral pode ser feita com drágeas de 1000 a 2000 mcg (a de 5000 mcg é
encontrada com mais facilidade no Brasil) por dia, mas deve ser reservada para casos
mais leves ou para manutenção após melhora clínica com o medicamento parenteral.
A anemia megaloblástica secundária à deficiência de vitamina B12 responde ao
tratamento com reticulocitose em aproximadamente cinco dias do início do tratamento e
geralmente ocorre a correção da hemoglobina com quatro a seis semanas.
Tratamento de Anemia perniciosa, ou qualquer deficiência de B12 causada por má
absorção, precisa ser mantido por toda a vida.
Anormalidades neurológicas graves devem ser tratadas agressivamente com injeções
diárias por uma semana e depois fazer tratamento semanal até estabilização. A gravidade
e a duração dos sintomas neurológicos antes do tratamento predizem o prognóstico;
sintomas neurológicos que não cedem seis meses após o início da reposição
provavelmente não melhorarão. Deve-se sempre procurar outra causa se houver
progressão dos sintomas após correção adequada da vitamina B12.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Mulher de 80 anos com história de um ano de parestesias em
membros inferiores, queda do estado geral e piora cognitiva progressiva.
d. Prescrição Sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Os pacientes com anemia perniciosa têm risco maior de câncer gástrico e devem
realizar endoscopia digestiva alta a cada um a dois anos mesmo sem sintomas
gástricos.
DEFINIÇÕES
• Anemia Hemolítica (AH) ocorre devido à redução da meia-vida dos eritrócitos (120
dias) por destruição prematura nos meios intra ou extravasculares. A anemia se
instala quando a velocidade de hemólise supera a capacidade da produção
eritrocitária. A condução do caso dependerá diretamente da etiologia da hemólise.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Existem várias etiologias e classificações de anemia hemolítica, sendo as principais:
• Hiperesplenismo
• Trauma mecânico (hemólise do corredor, hemólise por valva metálica)
• Microangiopatias (coagulação intravascular disseminada, hipertensão acelerada
maligna, HELLP síndrome, síndrome hemolítico-urêmica, púrpura trombocitopênica
trombótica)
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma completo: anemia hemolítica geralmente é normocítica ou macrocítica
nos casos de reticulocitose intensa. Leucocitose ou leucopenia podem aparecer em
casos de infecção ou sepse. Neutropenia em pacientes com coagulação intravascular
disseminada e anemia podem indicar leucemia promielocítica aguda; linfocitose, por sua
vez, pode associar-se à doença linfoproliferativa como causa secundária de AHAI.
Trombocitopenia associada à anemia hemolítica pode indicar síndrome de Evans
(púrpura trombocitopênica idiopática associada à AHAI), CIVD ou microangiopatias
trombóticas (púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica)
f. Teste de antiglobulina direto (TAD): positivo em 95% dos casos de AHAI; realizado
quando a hemólise é confirmada para determinar se é de natureza imune. O exame
demonstra que a imunoglobulina G (IgG) e/ou complemento (geralmente C3d) está
ligado à membrana dos eritrócitos. Em algumas situações, também podem ser
encontradas IgM e IgA.
Causas secundárias de AHAI devem ser descartadas, incluindo reumatológicas,
neoplásicas (tumores sólidos, neoplasias linfo ou mieloproliferativas), virais (HIV, HCV).
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico de anemia hemolítica deve ser aventado nos pacientes com sinais e
sintomas de anemia, hemograma com níveis de hemoglobina baixos associado à
reticulocitose (típicos nesses casos, mas não específicos), provas de hemólise
alteradas e esfregaço de sangue periférico compatível.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Estudos mostram terapia com anti-CD20, rituximabe na dose de 375 mg por metro
quadrado de área de superfície corporal, associado a corticoide sistêmico com
resposta superior a monoterapia isolada. Se o rituximabe não estiver disponível, o
corticosteroide deve ser utilizado como primeira linha e, em casos de recidiva,
rituximabe pode ser utilizado com respostas semelhantes à esplenectomia. Baixas
doses de rituximabe (100mg por semana por quatro semanas) têm tido ótimos
resultados com menores custos.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Mulher, 42 anos, 80 kg, referindo cansaço progressivo, palidez
cutaneomucosa, icterícia com evolução de duas semanas. Nega comorbidades
conhecidas e uso de medicações contínuas.
b. Exame físico: palidez 3+/4+, icterícia 1+/4+, levemente taquicárdica, sem sopros
cardíacos. Traube maciço.
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Casos suspeitos com TAD negativo devem ser referenciados para realização de
eluição ácida de autoanticorpos em serviços especializados de imuno-
hematologia.
REFERÊNCIAS
1. Brodsky RA. Diagnosis of hemolytic anemia in adults. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 30 jun 2020].
Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/diagnosis-of-hemolytic-anemia-in-adults.
2. Mohandas N. Inherited hemolytic anemia: a possessive beginner’s guide. Hematology. 2018; 377-81.
3. Hill A, Hill QA. Autoimmune hemolytic anemia. Am Soc Hematol. 2018; 382-9
4. Brodsky RA. Warm autoimmune hemolytic anemia. N Engl J Med. 2019; 381: 647-54
9.6
ANEMIA FALCIFORME
Autores:
Andressa Peloso Rabelo
Martha Mariana Arruda
Iara Baldim Rabelo
INTRODUÇÃO
Doenças falciformes são doenças hereditárias causadas por uma mutação pontual
num gene da cadeia β da hemoglobina que leva à substituição de ácido glutâmico por
valina na superfície externa da cadeia β. Quando a mutação ocorre em homozigose (com o
nome de anemia falciforme), há ausência de cadeias β normais e a consequente formação
de hemoglobina S (HbS). Quando há heterozigose de HbS associada a outros defeitos no
gene da cadeia β da hemoglobina (β-Talassemia, HbC, HbD, HbG etc.), ocorre mudança na
apresentação clínica e as condições passam a ser chamadas de doenças falciformes.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O evento central da fisiopatologia da doença é a polimerização da HbS. Quando o
tetrâmero formado por HbS está desoxigenado, ocorre alteração da arquitetura do
eritrócito, alterando sua flexibilidade e promovendo desidratação celular. A reoxigenação
das moléculas de hemoglobina desfaz os polímeros e a hemácia retoma seu formato
original. Ciclos repetidos de falcização e retorno à morfologia normal lesam
permanentemente a membrana eritrocitária, fazendo com que a hemácia se torne rígida e
falcizada sob qualquer tensão de oxigênio.
A vasoclusão, obstrução pré-capilar pelas hemácias falcizadas, gera inflamação,
aumentando o número de interações adesivas entre eritrócitos, leucócitos e células
endoteliais. A oclusão microvascular não é permanente e o fluxo sanguíneo é
constantemente restabelecido, o que acaba gerando lesão tecidual, já que a alternância
entre isquemia e reperfusão leva à liberação de espécies reativas de oxigênio. Além disso,
ocorre aumento da expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais, produção
de citocinas e leucocitose. Hemólise também é um importante pilar na fisiopatologia da
anemia falciforme. O sistema reticuloendotelial destrói prematuramente as hemácias que
já foram danificadas de forma definitiva pelos ciclos de falcização, e a hemólise
intravascular responde por cerca de 30% da hemólise total. Hemoglobina livre no plasma
consome óxido nítrico, molécula responsável pelo relaxamento da musculatura lisa
vascular e inibidora da ativação e agregação plaquetária e da formação de mediadores pró-
inflamatórios, proliferativos e pró-oxidantes no endotélio vascular. A redução de sua
concentração é responsável pela importante disfunção endotelial e pelo estado pró-
trombótico observados nas doenças falciformes.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
a. Hemograma: queda moderada da hemoglobina e do hematócrito; leucócitos
normais ou elevados à custa de neutrófilos, plaquetas normais ou elevadas.
QUADRO CLÍNICO
As manifestações clínicas da anemia falciforme não estão presentes no nascimento
devido à alta concentração de hemoglobina fetal (HbF). Com o declínio da concentração
de HbF e aumento da concentração de HbS, as hemácias falcizadas já são vistas em
esfregaços de sangue periférico aos três meses de idade e os primeiros sinais de anemia
hemolítica podem surgir por volta dos quatro meses.
Dependendo da herança genética, a quantidade de HbS no eritrócito pode ser variável,
assim como o quadro clínico, havendo desde portadores assintomáticos a indivíduos com
internações hospitalares recorrentes devido às complicações da doença. A mais comum é
a crise vasoclusiva, predominando em ossos e articulações e levando, muitas vezes, à
internação para receber analgesia parenteral, além de, quando muito recorrentes, levar a
lesões de órgão-alvo.
O quadro clínico é basicamente composto de anemia geralmente com hemoglobina
entre 7 e 10 mg/dL, icterícia devido à hemólise crônica à custa de bilirrubina indireta e
asplenia funcional na vida adulta devido a microinfartos esplênicos durante a infância. O
indivíduo irá apresentar quadros pontuados por crises álgicas recorrentes devido à
vasoclusão, além de lesões de órgãos-alvo que serão pormenorizados nos próximos
tópicos.
a. MANIFESTAÇÕES AGUDAS
• Crises vasoclusivas:
Episódios de crises vasoclusivas ou simplesmente crises de dor são associadas a
aumento da morbidade e até da mortalidade quando acontecem três ou mais vezes ao
ano. A dor é de forte intensidade, latejante ou em pontadas, geralmente em membros
inferiores, joelhos, braços, peito e menos comumente no abdome; não há sinais objetivos
ao exame físico que a expliquem. Podem ser desencadeadas por estresse emocional,
ingestão de álcool, infecção, desidratação, hipoxemia e mudança climática. A maioria das
crises não tem um fator precipitante identificável, mas é obrigatória a investigação de foco
infeccioso. O paciente deve ser avaliado à admissão e periodicamente após o início do
tratamento analgésico, até o alívio completo do quadro. O tratamento consiste em
ANALGESIA e HIDRATAÇÃO. As drogas utilizadas na analgesia são divididas em não
opioides (dipirona, paracetamol, antiinflamatórios não esteroidais – AINEs, agentes
tópicos e corticosteroides), opioides e adjuvantes. Deve-se associar analgésicos de várias
classes, como paracetamol (0,3 a 0,6 g até 4 em 4 horas), dipirona (1 g até 4 em 4 horas) e
morfina (ataque de 0,1 mg por kg IV a cada 20 min até controle álgico ou sedação e
manutenção oral ou subcutânea de 4 em 4 horas). Medidas voltadas para reduzir a
morbimortalidade da doença falciforme, como vacinação estendida, antibioticoterapia
profilática em crianças, uso de Hidroxiureia e regime de transfusão crônica, geralmente
têm o potencial de reduzir a frequência das crises.
• AVC:
O acidente vascular encefálico é a segunda maior causa de óbito em portadores de
anemia falciforme, e os eventos vasculares cerebrais são extremamente heterogêneos.
Podem ocorrer acidentes vasculares encefálicos (AVE), ataques isquêmicos transitórios
(AIT) e infartos cerebrais silenciosos, sendo que esses últimos levam a importante
prejuízo neurocognitivo. Os sinais e sintomas não diferem daqueles apresentados por
indivíduos saudáveis. Os eventos isquêmicos ocorrem mais na infância e após os 30 anos,
enquanto os de natureza hemorrágica ocorrem na faixa etária dos 20 aos 29 anos, muito
relacionados à doença de Moyamoya (hiperproliferação de circulação colateral a partir de
uma artéria cerebral estenosada). O tratamento com hidroxiureia é pilar da profilaxia.
No déficit neurológico agudo (AVC isquêmico, AIT), o tratamento deve ser instituído
através de pronta hemotransfusão de troca com objetivo de reduzir a HbS < 30% em, no
máximo, até 2 horas após a chegada ao hospital.
• Sequestro esplênico:
Sequestro esplênico pode ser definido como queda súbita nos níveis de hemoglobina
(20% do basal) acompanhada por aumento da reticulocitose com sinais de hipovolemia.
No adulto com anemia falciforme, não costuma ocorrer sequestro, pois é frequente a
fibrose esplênica secundária a múltiplos infartos após os 5 anos de idade. Os pacientes
devem ser vacinados contra pneumococo, hemófilo e meningococo, assim como devem
receber profilaxia com penicilina na primeira infância.
Priaprismo:
Urgência urológica que corresponde a ereção involuntária e dolorosa, impedindo a
drenagem sanguínea do pênis. O tratamento é realizado através de analgesia vigorosa e
hidratação, havendo casos em que há necessidade de aspiração percutânea do corpo
cavernoso ou shunt. Quando muito persistente e recorrente, a profilaxia deve ser feita com
estrógenos, Hidroxiureia ou, em alguns casos, hemotransfusão de troca seriadas visando
manter HbS < 30-50%. O quadro pode levar à impotência sexual permanente se não
devidamente tratado.
Crise aplásica:
Complicação desencadeada pela infecção pelo Parvovírus B19, que leva à supressão
transitória da produção eritropoietina, que tem potencial de gerar anemia grave em
pacientes portadores de hemólise crônica, dependentes de reticulocitose para
manutenção da hemoglobina. Os pacientes apresentam febre, dispneia, taquicardia e
reticulocitopenia. O quadro geralmente é transitório e pacientes sintomáticos devem ser
submetidos à transfusão sanguínea simples.
b. COMPLICAÇÕES CRÔNICAS
Diversos órgãos e sistemas são afetados na anemia falciforme. O coração sofre as
consequências de um estado crônico de alto débito cardíaco secundário à anemia, que
provoca alterações morfológicas e fisiológicas, como septo interventricular espessado e
massa ventricular esquerda aumentada. O impacto dessas alterações cardíacas não foi
bem elucidado, mas postula-se que elas possam contribuir para a alta incidência de morte
súbita observada nesses pacientes. Necropsias já evidenciaram infartos do miocárdio
sem evidência de lesões obstrutivas ou ateroscleróticas em artérias coronárias, e a
explicação parece residir em demanda aumentada de oxigênio pelo miocárdio e associada
à capacidade limitada de carreamento desse gás.
A microvasculatura pulmonar é suscetível a complicações importantes, que podem ser
agudas (englobadas na STA) ou crônicas, sendo essas últimas representadas por
anormalidades na função pulmonar, hipoxemia crônica, hipertensão pulmonar, fibrose
intersticial difusa e cor pulmonale. A hipertensão pulmonar decorre do consumo de óxido
nítrico, trombose in situ e embolia. É verificada em até 11% dos doentes e é fator de risco
independente para morte. Os sintomas não são específicos e incluem dispneia crônica, dor
torácica, pré-síncope, tolerância diminuída a atividades de vida diária e exercícios. O
diagnóstico é estabelecido através de ecocardiografia transtorácica com doppler ou
cateterização de artéria pulmonar por arteriografia. Outras desordens respiratórias
observadas em indivíduos com anemia falciforme são asma, distúrbios do sono e fibrose
pulmonar.
Envolvimento renal também é comum. Hiperfiltração (taxa de filtração glomerular > 130
mL/min/1,73 m2 em mulheres e > 140 em homens) parece ser o primeiro passo na história
natural da nefropatia falciforme, sendo observada em até 90% dos pacientes adultos.
Microalbuminúria acomete 50% dos pacientes adultos e tem sido utilizada como marcador
precoce de evolução para glomerulopatia. Cerca de 20% desenvolvem algum grau de
insuficiência renal sintomática. Outras complicações observadas são hematúria, diabete
insípido nefrogênico, hipertensão, síndrome nefrótica, necrose papilar e infarto renal.
Os olhos podem apresentar lesões em todas as suas câmaras e são possíveis
complicações: glaucoma, por obstrução da malha trabecular que impede o escoamento do
humor aquoso; retinopatia proliferativa falciforme, em virtude da neoangiogênese pela
retina isquêmica; hemorragia vítrea, resultado do estresse mecânico nos delgados
neovasos que crescem da retina em direção à câmara vítrea; e descolamento de retina,
como sequela de retinopatia avançada.
Na verdade, nenhum leito vascular escapa das consequências da falcização eritrocítica.
Ocorrem ainda necrose avascular de ossos (cabeças do fêmur e do úmero parecem ser
mais afetadas), úlceras de membros inferiores, osteomielite, osteopenia e osteoporose,
todas decorrentes da associação de vasoclusão, hemólise e isquemia tecidual. Crianças
falciformes apresentam um marcante atraso de crescimento e desenvolvimento. A altura
normal é alcançada na idade adulta, enquanto o peso permanece inferior ao observado em
indivíduos sem a doença. A maturação sexual também é atrasada. Nutrição
hipossuficiente, função endócrina anormal (hipogonadismo primário, hipopituitarismo e
insuficiência hipotalâmica) e, principalmente, aumento das necessidades calóricas devido
ao elevado gasto energético.
Por fim, não se deve esquecer do impacto que o estresse de viver com uma doença
crônica pode trazer aos indivíduos e que pode resultar em isolamento social, baixa
autoestima, relacionamentos familiares problemáticos, rotina diária comprometida com
redução da qualidade de vida, estratégias inadequadas de enfrentamento da dor, ansiedade,
depressão e comprometimento neurocognitivo.
TRATAMENTO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 27 anos, portador de anemia falciforme,
medicação, dá entrada no PS com quadro de dor intensa em região de MMII de forte
intensidade, tipo latejante. Refere quadro semelhante há cerca de 1 ano.
b. Exames Físicos:
e. Prescrição sugerida:
1. Dieta oral livre.
2. Hidratação: aumentar ingesta hídrica e realizar o balanço hídrico mantendo o
paciente EUVOLÊMICO (evitando hiper ou hipovolemia). Se necessário, reposição
com solução fisiológica 50 mL/kg nas primeiras 24h e 25 mL/kg/dia a partir daí.
3. Analgesia:
DICAS DO ESPECIALISTA
Hidroxiureia constitui terapia que modificou a história natural da doença, reduzindo
significativamente morbidade e mortalidade, devendo ser oferecida para todos os
pacientes com Anemia Falciforme.
Transfusão simples é indicada em casos de anemia grave (exemplo: com hemoglobina
< 5 g/dL ou queda de 20% da hemoglobina basal), crise hemolítica, crise de sequestro
esplênico ou crise aplásica. A transfusão de troca é indicada na profilaxia primária ou
secundária do AVC, e é primeira escolha em caso de priapismo, síndrome torácica aguda e
colestase intra-hepática falciforme. Trata-se de flebotomia (nos moldes da doação de
sangue) intercalada com transfusão de hemácias, com o objetivo de baixar a HbS para 30-
50%. Este procedimento também pode ser realizado por processadoras automatizadas.
REFERÊNCIAS
1. Carden MA, Little J. Emerging disease-modifying therapies for sickle cell disease. Haematologica. 2019;
104(9): 1-10.
2. EWare R, de Montalembert M, Tshilolo L, Abboud MR. Sickle cell disease. Lancet. 2017; 390(10091): 311-
323.
3. Piel FB, Steinberg MH, Rees DC. Sickle cell disease. N Engl J Med. 2017; 376(16): 1561-73.
4. DeBaun MR, Jordan LC, King AA, Schatz J, Vichinsky E, Fox CK, et al. American Society of Hematology
2020 guidelines for sickle cell disease: prevention, diagnosis and treatment of cerebrovascular disease in
children and adults. Blood Adv. 2020; 4(8): 1554-88.
5. Vichinsky EP. Overiew of the clinical manifestations of sickle cell disease. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em 30 jun 2020]. Disponível em:https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-clinical-
manifestations-of-sickle-cell-disease.
9.7
NEUTROPENIA FEBRIL
Autores:
Thiago Xavier Carneiro
Amanda Lopes Maia Rodrigues
Daniel Macêdo do Nascimento
DEFINIÇÕES
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
EXAME FÍSICO
EXAMES COMPLEMENTARES
• Outros locais de cultura, como urina, trato respiratório, fezes ou feridas cutâneas,
podem ser solicitados de acordo com a clínica.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Deve ser considerada admissão hospitalar diante dos seguintes eventos: ausência
de defervescência após 2-3 dias da terapia antimicrobiana empírica; recorrência da
febre após período de defervescência; novos sinais ou sintomas de infecção;
impossibilidade de manter medicação oral; necessidade de mudança no esquema
antimicrobiano inicial; e/ou testes microbiológicos identificando agentes
resistentes ao esquema antimicrobiano vigente.
Critérios Pontuação
Ausência de desidratação 3
Sintomas moderados 3
Febre de origem ambulatorial 3
Grupo Características
Variáveis Pontuação
Mucosite estágio ≥ 2 1
Baixo risco: 0 pontos; risco intermediário: 1-2 pontos; alto risco: ≥ 3 pontos.
• A primeira dose da terapia empírica deve ser administrada em até uma hora da
apresentação inicial do paciente ao serviço.
• O esquema inicial proposto pode ser modificado em pacientes com forte suspeita
de infecção pelos seguintes microrganismos resistentes aos antibióticos (ex.:
pacientes com infecção documentada prévia por tais microrganismos), pacientes
instáveis e pacientes com cultura suspeita para infecção por esses agentes.
• Suspeita de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA): incluir adição
precoce de vancomicina, linezolida ou daptomicina (na ausência de suspeita de
pneumonia)
• Suspeita de enterococo resistente à vancomicina (VRE): adicionar linezolida ou
daptomicina.
• Suspeita de bactérias gram-negativas produtoras de beta-lactamase de espectro
estendido (ESBL): uso precoce de carbapenêmicos.
• Suspeita de Klebsiella pneumoniae produtoras de carbapenemase (KPC): adição de
polimixina-colistina ou tigeciclina.
Penicilina + inibidores de
- -
beta-lactamase
Fluoroquinolonas - -
Levo oxacino 250, 500 ou 750 mg (cp) 500 – 750 mg, 1 vez ao dia
Licosaminas - -
Cefalosporina de
- -
4º geração
Carbapenêmicos - -
Penicilinas + inibidores
Pó para solução injetável 2 g/250 mg
de Betalactamase: 2 - 4g, EV, de 8/8h
e 4 g/500 mg
Piperacilina-tazobactam
Aminoglicosídeos - -
* Efeitos colaterais: nefrotoxicidade (praticamente todas as classes de antibióticos citadas necessitam de ajuste de
dose de acordo com a função renal), neurotoxicidade (imipenem, amicacina, polimixina B), citopenias
(aminoglicosídeos, carbapenêmicos, piperacilina- tazobactam), distúrbios hidroeletrolíticos (hipernatremia e
hipocalemia, no caso de piperacilina-tazobactam), colite pseudomembranosa (vancomicina), síndrome do homem
vermelho (vancomicina).
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 61 anos, 70 kg, internado no 7° dia após
1° ciclo de quimioterapia para tratamento de leucemia mieloide aguda. Evoluiu há 1 dia
com febre, dispneia e confusão mental, além do surgimento de múltiplas equimoses
pelos membros.
b. Exames Físicos:
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta zero
2. O2 inalatório em máscara de alto fluxo
3. SF 0,9% 2 L- Fazer EV em CVC
4. Concentrados de Hemácias 2U filtradas e irradiadas EV
5. Concentrados de Plaquetas 7U filtradas e irradiadas EV
6. Cefepime 2 g – Fazer EV de 8/8h
DICAS DO ESPECIALISTA
• A febre não deve ser o único parâmetro a ser considerado para iniciar
antimicrobianos. Da mesma forma, pacientes estáveis, com boa evolução não
devem ter o tratamento ampliado simplesmente porque ainda estão com febre. O
desaparecimento da febre pode ser tardio em alguns casos.
• A descoberta do agente infeccioso é fundamental. Adequado serviço de
microbiologia para bactérias e fungos pode estar vinculado a adequado tratamento
do paciente. Pacientes com quadro pulmonar podem precisar de lavado
broncoalveolar para determinação diagnóstica.
• Pacientes em tratamento empírico, com melhora clínica e sem febre podem ter seu
tratamento suspenso com 7 a 10 dias, mesmo que ainda neutropênicos.
REFERÊNCIAS
1. Taplitz RA, Kennedy EB, Bow EJ, Crews J, Gleason C, Hawley DK, et al. Outpatient Management of Fever and
Neutropenia in Adults Treated for Malignancy: American Society of Clinical Oncology and Infectious
Diseases Society of America Clinical Practice Guideline Update. J Clin Oncol. 2018; 36(14): 1443-53.
2. Klastersky J, de Naurois J, Rolston K, Rapoport B, Maschmeyer G, Aapro M, et al; ESMO Guidelines
Committee. Management of febrile neutropaenia: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2016;
27(suppl 5): v111-v18.
3. NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology. Prevention and Treatment of Cancer-Related Infections,
version 2. 2017. National Cancer Comprehensive Network website. [Internet]; 2017. [acesso em 27 set
2017]. Disponível em: www.nccn.org/professionals/physician_gls/PDF/infections.pdf.
4. Freifeld AG, Bow EJ, Sepkowitz KA, Boeckh MJ, Ito JI, Mullen CA, et al; Infectious Diseases Society of America.
Clinical practice guideline for the use of antimicrobial agents in neutropenic patients with cancer: 2010
update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2011; 52(4): e56-e93.
9.8
INDICAÇÕES E REAÇÕES
TRANSFUSIONAIS
Autores:
Carlos Eduardo E. Velano
Hugo Edgar Silva
DEFINIÇÕES
• Principais indicações:
• Anemia aguda associada à hipovolemia com perda sanguínea estimada acima
de 30%, após ressuscitação volêmica com cristaloide.
• Perdas sanguíneas com hemoglobina abaixo de 7 g/dL ou abaixo de 8 g/dL em
pacientes portadores de cardiopatia ou hipóxia (avaliação individual).
• Pré-operatório se hemoglobina abaixo de 8 g/dL em casos de cirurgias
cardíacas, ortopédicas e em pacientes coronariopatas.
• Portadores de talassemia major ou hemoglobinopatias em situações
emergenciais (como transfusão de troca em isquemias graves na anemia
falciforme, por exemplo).
• Pacientes em químio ou radioterapia com anemia sintomática.
• Eritrocitoaférese.
A Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB) recomenda atualmente a
adoção de estratégias restritivas de transfusão de hemácias em relacão à estratégia
liberal, que não é indicada até o nível de hemoglobina de 7 g/dL para pacientes adultos
hospitalizados com estabilidade hemodinâmica, incluindo pacientes críticos.
• Indicações:
→ Deficiência de um ou mais fatores de coagulação; congênita ou adquirida, em
pacientes com sangramento ativo (quando não se tem fator de coagulação
industrializado disponível).
→ Hemorragia ativa por deficiência de fatores de coagulação devido à insuficiência
hepática.
→ Pacientes que serão submetidos a procedimentos invasivos ou cirúrgicos com
INR superior a 1,5 ou relação de TTPa superior a 1,2.
→ Sangramento intenso relacionado ao uso de anticoagulante oral (warfarina) que
coloque em risco a vida do paciente.
→ Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) ou coagulopatia consumptiva com
sangra- mento ativo.
→ Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) e Síndrome Hemolítico-urêmica
(SHU).
A dose deve ser de 10 a 20 mL/kg dia, dividida em três infusões. Não está indicada
transfusão de PFC em casos de imunodeficiências adquiridas ou congênitas, como
expansor volêmico ou para reposição de proteínas.
• CRIOPRECIPITADO
• Obtido através do plasma fresco congelado, o crioprecipitado possui em sua
constituição Fator VIII, Fator de von Willebrand, Fator XIII, fibrinogênio e
fibronectina.
• A principal indicação é a reposição de fibrinogênio em pacientes com
hipofibrinogenemia adquirida ou hereditária (níveis abaixo de 100 mg/dL),
especialmente se existe hemorragia associada.
• Atualmente existem produtos industrializados específicos para a deficiência de
Fator VIII (Hemofilia A) e Fator de von Willebrand, não sendo necessária a
transfusão de crioprecipitado nesses casos.
• A dose depende da gravidade do sangramento, variando de 1 unidade a cada 7ou
10 Kg de peso corporal por dia.
• Indicações profiláticas:
→ Transfusão profilática está indicada em falências medulares quando as plaquetas
estão menores que 10.000/mm3, mesmo na ausência de sangramento ativo ou se
as plaquetas estiverem menores que 20.000/mm3 associadas à infecção, estado
crítico ou necessidade de procedimentos invasivos.
→ A dose profilática geralmente não ultrapassa 7 unidades de CP randômicas
(obtidas a partir de sangue total) ou uma unidade de plaquetas por aférese.
• Indicação terapêutica:
→ Transfusão terapêutica está indicada em situações de trombocitopenia
(independentemente do valor) caso haja sangramento por esse motivo. A dose
habitual é de um CP para cada 10 kg de peso do paciente ao dia ou uma unidade
de plaquetas por aférese.
→ Não está indicada transfusão de CP em casos de púrpura pós-transfusional,
púrpura trombocitopênica idiopática, púrpura trombocitopênica trombótica ou
hiperesplenismo, salvo raras indicações após avaliação do hemoterapêuta.
b. REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
• Choque distributivo sem febre e/ou calafrios pode ser o dado mais importante de
anafilaxia.
IMUNE
IMUNE
Aloimunização Eritrocitária
Aloimunização HLA
TARDIA
Reação Enxerto versus Hospedeiro
Imunomodulação
NÃO IMUNE
Sobrecarga Volêmica
IMEDIATA Contaminação Bacteriana
Hemólise não imune
Hipocalcemia
Hipotermia
NÃO IMUNE
TARDIA
Hemossiderose
Doenças Infecciosas
Febre, Tremores,
Enviar amostra
Calafrios, Hidratação
para o Banco de Seguir
Hipotensão, (manter
Sangue; repetir rigorosamente
REAÇÃO Taquicardia, Dor diurese
1:38.000 a testes imuno- todas as normas
HEMOLÍTICA (tórax, local da 100 mL/h).
1:70.000 hematológicos, preconizadas
AGUDA infusão, abdome, Cuidados
cultura do desde a coleta até
ancos), de terapia
componente e a transfusão.
Hemoglobinúria, I. intensiva.
do receptor.
Renal e CIVD.
SINAIS e INVESTIGAÇÃO M ANEJO
REAÇÃO PREVENÇÃO
SINTOM AS COM PLEM ENTAR CLÍNICO
Afastar hemólise
e contaminação Antipiréticos Pré-medicação
bacteriana. Enviar no caso de com antipiréticos
REAÇÃO FEBRIL amostras para o calafrios é questionável.
Febre, Calafrios,
NÃO 0,5 – 1% Banco de Sangue; intensos. Produtos
Tremores.
HEMOLÍTICA repetir testes Meperidina se desleucocitados
imuno- refratariedade para casos
hematológicos, dos tremores. recorrentes.
cultura da bolsa.
Instituir
Prurido, urticária,
cuidados
eritema, pápulas, Componentes
REAÇÃO de terapia
rouquidão, tosse, 1:20.000 a Dosar Anticorpo anti celulares lavados
ALÉRGICA intensiva
broncoespasmo, 1:50.000 IgA ou de cientes em
GRAVE (Epinefrina, anti-
hipotensão e IgA
histamínicos
choque.
e corticoide)
Afastar sobrecarga
Qualquer
de volume, RHA
insu ciência Não há
e contaminação
respiratória aguda unanimidade.
1:5.000 – bacteriana. RX tórax
relacionada à Suporte Evitar
TRALI 190.000 de Ecocardiograma
transfusão respiratório. uso de
transfusões Pesquisa de Ac
(até 6 h após) PFC de
anti- leucocitário
com ou multíparas.
doador e/ ou
sem febre.
receptor.
Dispneia, cianose,
SOBRECARGA taquicardia, Suporte de O2 e Aliquotar o
<1% Rx Tórax
VOLÊMICA hipertensão, diuréticos. hemocomponente.
edema pulmonar.
SINAIS e INVESTIGAÇÃO M ANEJO
REAÇÃO PREVENÇÃO
SINTOM AS COM PLEM ENTAR CLÍNICO
Seguir
Oligossintomática. Inspeção visual do rigorosamente
Terapia de
HEMÓLISE NÃO Atenção à presença plasma e todas as normas
suporte se
IMUNE de hemoglobinúria urina do paciente. preconizadas da
necessário.
e hemoglobinemia. TAD negativo. coleta à
transfusão.
Infusão lenta de
Monitorização
Dosar cálcio iônico cálcio com
dos níveis
Parestesia, tetania, ECG com monitorização
HIPOCALCEMIA de cálcio
arritmia. aumento periódica
em quem recebe
de intervalo QT. dos níveis
transfusão maciça.
séricos.
Diminuir
Desconforto, o tempo Aquecer o
calafrios, queda da de infusão. hemocomponente
temperatura, Aquecimento (GV ou PF) se
HIPOTERMIA arritmia cardíaca e Não se aplica. dos glóbulos previsto acima de
sangramento por vermelhos e/ou 15 mL/kg/hora por
alteração da plasma. Terapia mais de
hemostasia. conforme as 30 min.
intercorrências.
REFERÊNCIAS
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2. Hauser SL, Kasper DL, Braunwald E, Longo DL, Fauci AS, Jameson J, et al. Harrison. Medicina interna. 17.
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7. Storch EK, Custer BS, Jacobs MR, Menitove JE, Mintz PD. Review of current transfusion therapy and blood
banking practices; Blood Rev. 2019; 38: 100593.
10.1
SURTO PSICÓTICO
Autores:
Valéria Garcia Caputo
Álvaro Tavares de Figueiredo
Renata Paola Parenti Freitas
Juliane de Souza Cavazzana
DEFINIÇÕES
QUADRO CLÍNICO
• Ressalta-se que as psicoses representam um conjunto de manifestações
patológicas que podem ter sua etiologia fundamentada nas mais diversas causas,
inclusive as orgânicas, cada qual com suas peculiaridades.
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais
Ureia e creatinina
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
b) TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• No primeiro surto psicótico, com ênfase especial à esquizofrenia por esta ser o
protótipo clínico das psicoses, tanto em termos de epidemiologia (1% da
população mundial) como pela rica apresentação clínica de sintomas psicóticos,
existe uma tendência maior para o aparecimento de efeitos colaterais
extrapiramidais (ECEs). Daí a razão pela qual se costuma iniciar a terapia
antipsicótica em doses mais baixas quando comparada com doses em pacientes
crônicos, bem como a preferência pela monoterapia (durante a primeira crise ou
reagudização em pacientes com diagnóstico prévio) até que sejam feitos os
ajustes de doses em um momento posterior à abordagem do paciente na urgência,
se necessários.
• O esquema mais usado em pronto-socorro (PS) é a administração de haloperidol 5
mg/mL (1 ampola IM) com prometazina 50 mg/2 mL (1 ampola IM). Se possível, a
administração de antipsicótico (AP) via oral é preferível, como risperidona (1 a 2
mg), olanzapina (10 mg) e haloperidol (5 a 10 mg).
d. Prescrição sugeridaa:
9. Risco de heteroagressividade
11.
Solicito HMG c, urina (qualitativa), ureia, creatinina, sódio e potássio séricos.
a
Prescrição sugerida: trata-se de um modelo. Cada caso clínico na prática médica traz suas peculiaridades, o que
indica a necessidade de abordagens individualizadas.
b
Antipsicótico que ao longo do tratamento terá sua dose aumentada de forma escalonada (50 a 100 mg a cada 4
dias, em média), a m de alcançar dose antipsicótica e caz (frequentemente a partir de 400 mg).
DICAS DO ESPECIALISTA
• Mulheres com alterações menstruais: dar preferência para APs com menor
probabilidade de hiperprolactinemia e consequente galactorreia, como quetiapina e
o haloperidol.
REFERÊNCIAS
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Vol. 2. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.
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15. Barlow DH, Durand VM. Psicopatologia: uma abordagem integrada. Boston: Cengage Learning; 2017.
10.2
RISCO DE SUICÍDIO
Autores:
Valéria Garcia Caputo
Renata Paola Parenti Freitas
Juliane de Souza Cavazzana
Álvaro Tavares de Figueiredo
“Nenhuma teoria será capaz de desvendar um ato tão ambíguo e de razões tão
complexas quanto o suicídio.”
(O Deus selvagem, A. Alvarez)
INTRODUÇÃO
O suicídio é o resultado de uma interação de fatores genéticos, psicológicos e
socioambientais, podendo levar desde lesões graves e incapacitantes até a morte.
A vida moderna trouxe com ela novas formas de sofrer e de adoecer. A falta de tempo e
a preocupação com resultados satisfatórios e rápidos deu espaço para as relações líquidas
com vínculos frouxos. Vivemos um momento em que a angústia e as frustrações são
inaceitáveis e, logo que aparecem, precisam ser substituídas pela felicidade instantânea. As
fugas sucessivas do afeto angustiante dão espaço para a sensação de vazio,
empobrecimento afetivo e perda de sentido. Como consequência, tem aumentado o
número de pessoas que enxergam o suicídio como forma de acabar com o sofrimento.
Para algumas, a falta de sentido para a experiência de viver pode ser dada de forma muito
precoce, e, se não houver apoio familiar e preparo adequado dos profissionais de saúde
para a abordagem, o número de desfechos negativos tende a aumentar.
DEFINIÇÕES
FATORES
FATORES DE RISCO FATORES PROTETORES
PRECIPITANTES
Tentativa prévia de suicídio Separação conjugal Bom suporte social e familiar
Doenças Psiquiátricas (90%) Perda de emprego Gestação
Sentimentos de Diagnóstico de doença grave Maternidade
desesperança/inutilidade Perda de entes queridos Paternidade
Impulsividade Desastres naturais Espiritualidade
Sexo masculino Piora da situação econômica Ter lhos
Adolescentes e idosos Luto não elaborado Estar empregado e satisfeito
Raça branca Divórcio dos pais com o emprego
Nunca ter se casado Bullying Gosto pela vida
Doenças crônicas ou Violência familiar Capacidade de adaptação
degenerativas Isolamento social positiva
Baixa resiliência Mídia inapropriada Adesão medicamentosa
História familiar de suicídio Desabrigados
Morar sozinho Aculturamento
Morar na zona rural Guerras
Morar em países Uso de medicamentos
subdesenvolvidos Privação de sono
(75% dos suicídios) Uso patológico da internet
Indígenas Transtorno de compulsão
Acesso a armas de fogo alimentar
Violência Internação psiquiátrica prévia
Adolescentes LGBTs Migração
Baixo QI
Dependência de álcool e drogas
Médicos, dentistas,
farmacêuticos
Presidiários
Refugiados
Idosos (> 65 anos)
Jovens (15-30 anos)
AVALIAÇÃO DO RISCO
Figura 1. Características e manejo das situações de baixo, médio e alto risco de suicídio.
Fonte: Autores.
TRATAMENTO
• Indicadores de internação:
• Paciente psicótico sem continência familiar
• Tentativa com uso de método violento
• Persistência de ideação suicida com baixo suporte social e familiar
• Impulsividade e agitação importantes
• Falha de tratamento ambulatorial
• Possibilidades de liberação para tratamento ambulatorial:
• A tentativa de suicídio foi uma reação a um evento estressante
• Planejamento, método e intenção são de baixa letalidade
• Suporte familiar e social estável
• Posvenção:
O termo posvenção, atribuído a Edwin Shneidman, em 1968, é baseado em intervenções
para cuidar dos sobreviventes enlutados, cuidadores e prestadores de cuidados de saúde.
Tem como objetivo desestigmatizar o suicídio e ajudar no processo de recuperação.
O comportamento suicida pode ser desencadeado após a experiência da perda de um
ente querido por suicídio. Cada suicídio tem impacto na vida de pelo menos outras seis
pessoas, e o impacto social, psicológico e financeiro para a família é imensurável. Por isso,
é tão importante identificar transtornos de humor, estresse pós-traumático, entre outros,
nos familiares e tratar efetivamente em serviço apropriado.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Na abordagem em ambiente de urgência e emergência, podem ser realizadas
medicações para aliviar os sintomas que acompanham a ideação suicida, como sintomas
de alteração do humor, ansiedade, sintomas psicóticos, impulsividade ou agressividade. A
escolha do medicamento e a via de administração dependerá do sintoma, da aceitação e da
condição física do paciente:
Fonte: Autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso Clínico: T.A.V. C. A., 46 anos, sexo feminino, trazida pelo SAMU após tentativa
de suicídio por intoxicação exógena com 20 comprimidos de Levomepromazina 25 mg
após discussão com irmão e mãe. De início foi realizado exame clínico, lavagem
gástrica e carvão ativado, ficando, após o procedimento, em observação. Paciente se
encontrava sem acompanhante e sonolenta, referindo que há 3 semanas iniciou quadro
de tristeza, anedonia, avolição, insônia, diminuição do apetite, pensamentos de morte
com ideação suicida. Faz acompanhamento ambulatorial há 10 anos, com hipótese
diagnóstica, referida por ela, de depressão. Faz uso de Sertralina 100 mg/dia, Carbonato
de Lítio 600 mg/dia, Clonazepam 2 mg/dia, e tem retorno com Psiquiatra agendado para
a semana seguinte. Não apresenta comorbidades clínicas. Mora com a mãe e o irmão,
que é usuário de drogas. Relata que o ambiente familiar é bastante conturbado e que
desde que o irmão foi morar lá se sente muito angustiada. Já teve 2 internações
psiquiátricas prévias, por tentativa de suicídio. Nestas ocasiões, segundo o seu relato,
avisou aos familiares que desejava morrer e que iria se matar. No momento da
entrevista, a paciente permanece com ideação suicida; porém, sem planejamento.
b. Conduta Sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Nunca dar menor importância para tentativas menos letais de suicídio; elas
indicam que há um sofrimento e que a pessoa precisa de ajuda.
• Em caso de internação, é sempre importante que o paciente seja conduzido por
ambulância do hospital ou município, e nunca por meios próprios..
• Nunca liberar o paciente que tentou suicídio e que mantém ideação suicida sem
contato com familiares ou pessoas de confiança do paciente.
REFERÊNCIAS
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2. American Psychiatric Association. Practice Guideline for the Assessment and Treatment of Patients With
Suicidal Behaviors. In: American Psychiatric Association. APA Practice Guidelines for the Treatment of
Psychiatric Disorders: Comprehensive Guidelines and Guideline Watches. 1. ed. Arlington: APA Publishing;
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10.3
ATAQUES DE PÂNICO
Autores:
Valéria Garcia Caputo
Juliane de Souza Cavazzana
Renata Paola Parenti Freitas
Álvaro Tavares de Figueiredo
INTRODUÇÃO
EPIDEMIOLOGIA
No Brasil, embora seja uma situação frequentemente atendida no cenário médico, faltam
dados da literatura específicos sobre a prevalência dos Ataques de Pânico na população além do
contexto de Transtorno de Pânico.
FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V), um
ataque de pânico caracteriza-se por surto abrupto (a partir de estado calmo ou ansioso) de medo
ou de desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro ou
mais dos seguintes sintomas:
SINTOMAS FÍSICOS
01 Palpitações, coração acelerado ou taquicardia.
02 Sudorese.
03 Tremores ou abalos.
05 Sensações de as xia.
10 Parestesias.
SINTOMAS COGNITIVOS
12 Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
13 Medo de morrer.
Nota: sintomas específicos da cultura (por exemplo, tinido, dor na nuca, gritos ou choro
descontrolado) podem ser vistos, mas não devem ser contabilizados como um dos quatro
sintomas requeridos. Após um pico,
o paciente pode permanecer ansioso ou calmo e ter outro pico novamente.
• Com sintomas limitados: os ataques satisfazem todos os outros critérios, mas têm
menos de quatro sintomas físicos e/ou cognitivos.
MANEJO CLÍNICO
• Uma anamnese atenta para detalhes, dentro da apresentação global do quadro, e exame
físico realizado adequadamente contribuem para o estabelecimento do vínculo inicial,
assegurando ao paciente que sua queixa está sendo valorizada, levando à identificação de
condições clínicas e comorbidades que porventura estejam descompensadas, ao
raciocínio diagnóstico e à escolha do tratamento adequado a ser instituído, ainda que
diante de limitações situacionais e do ambiente.
• Ao assumir uma postura que demonstra interesse e cuidado para com a condição que
conduziu o paciente ao atendimento, o médico transmite confiança, ferramenta
fundamental de absoluta relevância terapêutica.
• Alguns pontos são muito importantes e devem ser considerados na anamnese, pois,
quando presentes, indicam que é muito provável estarmos diante de um paciente
apresentando um ataque de pânico. São eles:
• A idade do paciente está entre 18 e 45 anos?
• O início dos sintomas foi abrupto?
• Sua evolução foi rápida?
• Naquele momento, está com medo de perder a sanidade mental ou o controle da
situação?
• Está com medo de morrer?
• Está passando por algum problema atualmente ou passou por algo traumático
recentemente?
• Tem esses sintomas quando está mais longe de ambientes em que se sente
confortável?
• Tem comportamentos evitativos?
• Tem medo de desfechos catastróficos para situações imaginadas?
• Sinais de hiperatividade autonômica e sintomas da esfera subjetiva podem ocorrer como
manifestação sintomática de transtornos mentais, condições clínicas, uso de
substâncias ou na ausência destes; por isso, diferenciar ataques de pânico de outras
condições clínicas é tão importante. O Quadro 1 mostra as várias condições clínicas e
psiquiátricas diferenciais a serem consideradas.
CONDIÇÕES CLÍNICAS
IAM, EAP e pericardites.
Aneurisma de aorta.
Angina.
Insu ciência coronariana.
Arritmia cardíaca.
Disfunções vestibulares.
Crises convulsivas.
Abstinência.
Hipoglicemia.
Feocromocitoma.
Hipertireoidismo.
Hiperparatireoidismo.
DPOC e asma.
USO DE SUBSTÂNCIAS
Simpaticomiméticos (cafeína, metilfenidato).
Crises serotoninérgicas.
Cocaína.
Anfetaminas.
Maconha.
Anticolinérgicos.
CONDIÇÕES PSIQUIÁTRICAS
Ansiedade persistente.
Ataques com sintomas limitados.
Outros episódios paroxísticos.
Fobia social.
Fobia especí ca.
TOC e TEPT.
Transtornos somatoformes.
Transtornos de personalidade.
IAM: infarto agudo do miocárdio; EAP: edema agudo de pulmão; DPOC: doença pulmonar obstrutiva
crônica; TOC: transtorno obsessivo-compulsivo; TEPT: transtorno do estresse pós-traumático.
EXAMES COMPLEMENTARES
De acordo com as hipóteses levantadas, após avaliado o risco cardíaco, alguns exames podem
ser solicitados para descartar etiologia orgânica, sendo que a realização destes exames fica a
critério do médico, segundo seu raciocínio dentro dos possíveis diagnósticos diferenciais.
a. ECG.
b. Hemograma.
c. Glicemia capilar.
d. Dosagem de cálcio.
f. Eletrólitos.
h. Toxicológico.
i. TSH, T4.
j. CPK.
k. Exames de Imagem.
TRATAMENTO DA FASE AGUDA
• O grupo medicamentoso mais amplamente utilizado para situações agudas, devido a sua
eficácia, início de ação e baixa toxicidade, são os benzodiazepínicos. Os mais
frequentemente utilizados, disponíveis e estudados em nossa prática são: Alprazolam,
Bromazepam, Clonazepam, Diazepam e Lorazepam. Embora sejam os medicamentos de
escolha, algumas situações devem ser consideradas quando da sua prescrição, quais
sejam:
0,5 -1 mg/dia 1,5 -3 mg/dia. 5-10 mg/dia. 1-6 mg/dia. 2-3 mg/dia
máx em 24h: 10 mg máx em 24h: 18 mg máx em 24h: 60 mg máx em 24h: 8 mg máx em 24h: 4 mg
DOSAGENS
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
Realizada a abordagem proposta, caso haja a necessidade de manter o paciente sob
observação para melhor elucidação do caso, aguardar tempo de remissão dos sintomas.
Pensando numa possível internação, sugerimos a prescrição abaixo:
a) Prescrição sugerida:
DICA DO ESPECIALISTA
REFERÊNCIAS
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Porto Alegre: Artmed; 2014.
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25. Pollard CA, Lewis LM. Managing panic attacks in emergency patients. J Emerg Med. 1989; 7(5): 547-52.
11.1
CERATITES
Autores:
Mylena Maíssa Cunha Simões
Ayeska Terra Cardoso
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
Ceratite é a inflamação da córnea, podendo ser causada por agentes infecciosos,
traumas, doenças autoimunes, dentre outros. A sua incidência varia de acordo com cada
tipo, sendo a mais comum a infecciosa e a mais grave a por bactérias, variando a
agressividade a depender da virulência do microrganismo e da integridade da córnea.
A córnea é a parte mais externa do olho, sendo altamente inervada pela primeira divisão
do nervo trigêmeo, e não é vascularizada. Seu diâmetro médio é 11,5 mm na vertical e 12
mm na horizontal, tendo espessura média de 0,5 mm. A córnea é dividida em 5 camadas:
epitélio, camada de Bowman, estroma, membrana de Descemet e endotélio, sendo o
epitélio a sua camada mais externa e tendo grande capacidade de repitelização, que ocorre
entre 7 a 10 dias. Se a ceratite atingir o estroma, possivelmente ocorrerá a úlcera. Esta
poderá deixar cicatrizes que causarão opacidade corneana permanente e até perfuração
ocular.
Tratando-se do Brasil e de seus dados epidemiológicos, estudos apontam como o
grupo mais acometido por ceratites bacterianas e fúngicas os homens na sexta década de
vida. Importante ressaltar que o contato com meio rural, fumo, álcool, cirurgia ocular
recente e trauma ocular são fatores de risco com significância estatística em muitas
cidades, sendo as regiões mais quentes e úmidas as de maior frequência.
DEFINIÇÕES
A) CERATITES INFECCIOSAS
• CERATITE SUPURATIVA
Ocorre comumente devido ao uso contínuo e incorreto de lentes de contato decorrente
de má higienização e suporte de armazenamento inadequado. É caracterizada pela intensa
produção de pus resultante da inflamação.
A infecção é possibilitada pela lente, que pode romper o tecido epitelial e favorecer a
adesão dos agentes infecciosos à córnea. Os agentes infecciosos são as bactérias
(Pseudomonas) e os protozoários, especificamente Acanthamoeba.
A ceratite por Acanthamoeba é uma infecção ocular grave que, apesar dos recentes
progressos no diagnóstico e tratamento, ainda provoca prolongada morbidade e perda da
acuidade visual.
A infecção ocorre devido à grande presença desses agentes no meio ambiente,
principalmente colonizando os estojos das lentes e as soluções salinas que servem para
a higienização. Os principais sinais e sintomas são fotofobia, hipópio (pus na câmera
anterior), dor ocular intensa, opacidade corneana e diminuição da acuidade visual.
O diagnóstico é feito a partir do raspado ou biópsia corneana à procura dos agentes
infecciosos evidenciados pelo exame anatomopatológico, que mostrará o infiltrado de
polimorfonucleados e a hipervascularização. O tratamento que envolve as bactérias é o
mesmo das ceratites bacterianas.
Já em relação à infecção por protozoários (Acanthamoeba), o esquema terapêutico
consiste no uso tópico de Sulfato de neomicina 0,35%, 1 gota de 4/4h, por 15 dias, ou
Isotionato de Propamidina 0,1% (Brolene colírio®), 1 gota de 4/4h, por 15 dias, ou
Clorexidina 0,02%, 1 gota de 1/1h, por 3 dias e a manutenção de 4/4h por até 3 meses.
Corticoides tópicos podem ser avaliados após melhora clínica.
Há ainda a opção do uso do antibiótico subconjuntival ou sistêmico na presença de
comprometimento escleral ou intraocular.
• Ceratite Traumática
É causada pela exposição a agentes nocivos, na maioria acidentais, que causam a
inflamação da córnea. Pode ser causada por agentes químicos (fármacos, solventes,
ácidos, bases, álcoois), térmicos (soldas, exposição a luz ultravioleta), de exposição
(fechamento inadequado das pálpebras pós trauma ou por proptose), elétrica, por lente de
contato e por corpo estranho (presença de ciscos, sementes ou areia).
O desenvolvimento da lesão é diretamente proporcional à exposição, à duração, à
quantidade e à penetração ao agente causador. Tem grande incidência nos meios laborais,
pois por vezes o EPI (equipamento individual de proteção) não é utilizado. Os casos mais
comuns são queimaduras por solda, eletricidade e agentes químicos, sendo responsável
por 48 a 65% dos casos de úlcera de córnea nos países em desenvolvimento.
De modo geral os sintomas consistem em dor intensa, lacrimejamento, sensação de
corpo estranho, edema palpebral, midríase, hiperemia conjuntival e fotofobia. O
diagnóstico é feito a partir da história do trauma, exame ectoscópico (com eversão
palpebral) e biomicroscopia. A ceratite por corpo estranho geralmente é única e unilateral,
já as ceratites térmica, elétrica ou química tendem a ser bilaterais, porém assimétricas.
Nas queimaduras químicas, a base é a mais grave devido à bioquímica da córnea.
O tratamento geral se inicia com a limpeza ocular com soro fisiológico em abundância
com cerca de 8 a 10 litros, assim como o uso de lubrificante e pomada repitelizante. O uso
de colírio de antibióticos como a ciprofloxacino 0,35% pode ser feito em casos de
secreção purulenta e hiperemia conjuntival persistente.
Na ausência de corpo estranho, está indicada a oclusão ocular com pomada
repitelizante por 24h e após o uso dos medicamentos acima citados. Nos casos de
ceratite por lente de contato, pode ser administrado topicamente colírio de Diclofenaco de
sódio 1% (Maxilerg®) ou Cetorolaco 0,5% (Cetrolac®) de 6/6h, por 7 dias, para alívio da
dor.
Pode-se utilizar no momento do atendimento colírio anestésico, como Cloridato de
Proximetacaína 0,5% (Anestalcon®) ou Tetracaína 10 mg e Fenilefrina 1 mg (Anestesico®)
1 gota, para alívio da dor. Não é recomendável a prescrição destes anestésicos, visto que
o uso rotineiro pode gerar úlceras ésteres posteriormente.
Em casos de presença de corpo estranho, o oftalmologista deve ser contatado para
fazer a retirada do mesmo na Lâmpada de Fenda. Não é aconselhado fazer a retirada do
corpo estranho a “olho nu”, apenas a lavagem com soro fisiológico e a prescrição de
colírio lubrificante, pois a retirada sem a aparelhagem necessária pode deixar restos de
metal no olho e ocasionar úlcera e posterior perfuração corneana.
Também não é recomendável utilizar pomada repitelizante sobre o corpo estranho
(antes de retirá-lo), apenas o uso de óculos escuros ou um curativo oclusivo.
Enquanto nas ceratites por exposição deve-se indicar o uso de lubrificante, pomada
repitelizante e a oclusão do olho, usando gazes e esparadrapo por 24h, em pacientes
acamados ou em CTI deve-se fazer este procedimento rotineiramente. Tal tratamento é
indicado na grande maioria dos casos, com melhora significativa dos sintomas e da
ceratite.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente 23 anos, sexo feminino, usuária de lentes de contato
gelatinosas. Chega a unidade de pronto-atendimento referindo que esteve em viagem
recente e esqueceu seu estojo de lentes de contato, então dormiu uma noite com as
lentes e no outro dia durante o banho as deixou expostas sobre a pia do banheiro,
reutilizando-as mais tarde. Cerca de 6 horas depois do uso iniciaram os sintomas: dor,
sensação de corpo estranho, fotofobia, vermelhidão ocular, turvação visual e secreção
mucopurulenta . Observado ao exame clinico: edema palpebral, hiperemia conjuntival e
secreção mucopurulenta.
c) Prescrição Sugerida:
INTRODUÇÃO
A celulite orbitária bacteriana constitui um quadro infeccioso agudo com risco vital
para os tecidos moles da região orbitária. Globalmente, divide-se em duas situações:
celulite periorbitária ou pré-septal, localizada anteriormente ao septo orbitário, e celulite
orbitária ou pós-septal, quando instalada posteriormente ao septo. A celulite pré-septal
tem maior incidência na população e possui melhor prognóstico mediante o tratamento
médico adequado. A celulite pós-septal é mais rara, porém possui maior risco de
complicações, incluindo cegueira e meningite. Ambas podem estar presentes em qualquer
idade, sendo mais comumente encontradas em crianças.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A) ETIOLOGIA
Várias são as causas que podem evoluir para tal patologia, sendo não raramente
secundárias a eventos muitas vezes já instalados (Quadro 1), porém o mecanismo mais
comum é a disseminação por contiguidade a partir de uma rinossinusite.
QUADRO CLÍNICO
A celulite pré-septal, assim com a pós-septal, apresenta sintomas comuns de
acometimento dos tecidos moles periorbitários, apresentando eritema, edema, calor,
sensibilidade palpebral e quemose (edema conjuntival). O quadro clínico da pré-septal
limita-se aos tecidos moles externos, não apresentando acometimento orbitário,
diferenciando-se assim da pós-septal.
A celulite pós-septal deve ser suspeitada se estiverem presentes os sinais orbitários
que incluem a oftalmoplegia dolorosa, proptose, acuidade visual reduzida, defeito pupilar
aferente e diplopia. A celulite pós-septal apresenta pior prognóstico e pode evoluir de
forma fulminante com complicações severas que incluem a trombose do seio cavernoso,
abscessos intracranianos, meningite e cegueira.
Ocasionalmente, a pré-septal pode cursar com febre, prostração e leucocitose, embora
sejam mais pronunciadas na celulite pós-septal.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é feito por meio dos sinais clínicos de acometimento orbitário já citados
associados a exames complementares e laboratoriais.
Os achados dos exames laboratoriais, hemograma completo e proteína C reativa (PCR)
evidenciam um processo infeccioso com leucocitose e aumento do PCR.
A tomografia computadorizada (TC) de órbita e dos seios da face deve ser solicitada na
presença de celulite orbitária. Na imagem, é possível observar adensamento da gordura
retrobulbar e opacificação dos seios da face, sendo o método radiológico de eleição para
o diagnóstico e acompanhamento. Na impossibilidade de realização da TC, o raio-X
simples dos seios paranasais pode ser útil, pois podem estar presentes sinais sugestivos
de sinusite, que é a principal causa de celulite orbitária.
TRATAMENTO
O tratamento inicial depende da etiologia bacteriana relacionada à maioria dos casos
de celulite pré e pós-septal.
Na celulite pré-septal, usa-se antibioticoterapia via oral associada a AINEs e
compressa quente. Já na celulite pós-septal inicia-se, com antibiótico de amplo espectro
com ação contra germes gram +, gram -, anaeróbios, produtores de beta-lactamase.
Opta-se por antibiótico endovenoso nos casos de celulite pós-septal e/ou necessidade
de drenagem do abscesso.
Na celulite pré-septal, usa-se cefalosporina de 2ª geração (cefuroxima de 8/8 horas) ou
amoxicilina + ácido clavulânico (Clavulin® 500 mg de 8/8 horas), ambos VO por 7 a 10
dias, associado a AINEs (Nimesulida® 100 mg de 12/12 horas) VO por 5 dias, além de
compressa morna.
Na celulite pós-septal em adultos, a 1ª escolha é:cefalosporina de 3ª geração
(Ceftriaxone®) 2 g EV de 12/12 horas + oxacilina (Nafcillin®) 2 g EV de 6/6 horas. A 2ª
escolha é amoxicilina com clavulonato 1 g 8/8 horas, e a 3ª escolha é levofloxacino 500
mg EV/dia + clindamicina 600 mg EV 8/8 horas. Em casos de alergia a penicilina, usa-se
vancomicina 1 g EV 12/12 horas. Pode-se fazer uso de ceftadizime + metronidazol
também.
Em crianças, faz-se o uso de Ceftriaxone® 100 mg/kg/dia EV de 12/12h + oxicilina 200
mg/kg/dia EV de 6/6 horas, e a 2ª escolha é amoxicilina com clavulonato 100 mg/kg/dia
EV de 8/8 horas. Em casos de alergia a vancomicina, deve-se utilizar 40 mg/kg/dia EV de
8/8h.
Tanto em adultos quanto em crianças o tratamento varia de 3 a 21 dias, dependendo do
estado clínico do paciente.
Caso não haja melhora no tratamento clínico de 48 a 72 horas e a TC do paciente
evidenciar abscesso ou apagamento da gordura orbitária ou espessamento da
musculatura, ou o paciente apresentar limitação dos movimentos oculares, proptose,
baixa acuidade visual, diplopia, deve-se iniciar o tratamento cirúrgico com drenagem de
abscesso. Se comprovada a etiologia bacteriana por germe anaeróbio, associa-se o
metronidazol com as demais.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: A.C.S, 12 anos, sexo feminino, deu entrada no serviço de emergência,
queixando-se de dor em olho esquerdo, hiperemia conjuntival e edema em região
periorbitária de início há 3 dias. Negava uso de medicações orais e colírios. De
antecedentes patológicos referiu quadro de rinossinusite prévia. O médico, após a
avaliação, suspeitou de conjuntivite e iniciou colírio c lubrificante ocular (Lacrifilm®) e
compressas geladas.
Após 48 horas, a paciente retornou ao hospital apresentando piora do quadro clínico,
referindo “olho para fora”, com dor à movimentação ocular, baixa acuidade visual em olho
esquerdo e piora do edema palpebral.
e) Prescrição Sugerida:
• Celulite pós-septal:
1. Dieta oral branda.
2. Scalp salinisado.
3. Ceftriaxone 2 g EV, 12/12 horas por 7 dias.
4. Oxacilina 2 g EV, 6/6 horas por 7 dias.
5. Nimesulida 100 mg VO, 12/12 horas por 5 dias.
6. Dipirona® 500 mg, VO 6/6 horas, se houver dor.
7. Compressa morna,4x dia, por 15 mim.
8. Sinais vitais de 6/6h.
• Celulite pré-septal:
1. Amoxicilina + ácido clavulânico 500 mg, 8/8 horas, por 7 a 10 dias.
2. Nimesulida 100 mg VO, 12/12 horas por 5 dias.
3. Analgésico (Paracetamol ou dipirona) VO, 6/6 horas, se houver dor.
4. Compressa morna.
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– Guanabara Koogan; 2014.
11.3
CONJUNTIVITES
Autores:
Henrique Araújo Cenci
Neiffer Nunes Rabelo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
A conjuntivite corresponde a uma “inflamação da conjuntiva”, membrana mucosa
transparente que recobre a superfície do globo ocular até o limbo e a superfície interna das
pálpebras. Pode ser de origem infecciosa ou não infecciosa, podendo ter como agente
causal bactérias, vírus e até processos alérgicos.
Constitui uma queixa recorrente da atenção básica, sendo a causa mais frequente de
“olho vermelho”, sendo considerada a doença ocular mais comum, equivalente a 25% de
todo o atendimento emergencial oftalmológico. Afeta todas as faixas etárias e classes
socioeconômicas, e apresenta predomínio dos 20 aos 29 anos.
O quadro clínico geralmente cursa com hiperemia conjuntival, lacrimejamento, ardência
e fotofobia, e seu tratamento se baseia em medidas para evitar proliferação, uso de
lubrificantes e antibióticos quando necessários. Se não tratada adequadamente, pode
evoluir com acometimento corneano e, em algumas ocasiões, levar à cegueira.
A incidência de conjuntivite bacteriana, em comparação à de etiologia viral, é
notavelmente menor, estimada em 135 casos a cada 1000, sendo a viral responsável por
80% do total de casos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) ETIOLOGIA
A conjuntivite pode ser causada por agentes tóxicos ou mecânicos, por alergias ou
mesmo por microrganismos, incluindo vírus, bactérias e parasitos, podendo ser dividas em
infeciosas (viral e bacteriana) e não infeciosas (alérgicas e não alérgicas).
As afecções bacterianas podem ser dividas em hiperaguda (24h), aguda (até três
semanas) e crônica (após três semanas), sendo a aguda a de maior relevância e a qual
constitui uma doença comum, geralmente autolimitada e ocasionada pelo contato direto do
olho com secreções ou objetos infectados, dentre estes toalhas, cosméticos, lentes de
contato. Os microrganismos mais comuns são S. pneumoniae, S. aureus, H. inflkuenzae e
M. catarrhalis, e os outras representam uma minoria de casos, geralmente graves, como
nesseria gonorrhaene, clamídia e neisseria meningitidis. Em crianças, a doença é
comumente causada por Haemophilus Influenzae, S. pneumoniae e M. catarrhalis.
A conjuntivite viral constitui o tipo mais comum, e sua transmissão é bastante similar à
bacteriana, porém bastante contagiosa devido à capacidade da partícula viral de se manter
viva, facilitando o surgimento de epidemias. Seu contagio ocorre de forma semelhante ao
vírus da gripe, sendo o adenovírus o principal agente etiológico (90% dos casos).
Já a conjuntivite alérgica é definida como uma resposta de hipersensibilidade por
exposição a alérgenos, e sua gravidade se relaciona à intensidade da resposta inflamatória,
à idade do paciente e aos fatores genéticos e geográficos. Alguns subtipos de alergia
ocular são descritos: rinoconjuntivite alérgica, ceratoconjuntivite vernal, ceratoconjuntivite
atópica e a conjuntivite papilar gigante.
Por fim, temos as conjuntivites não infeciosas e não alérgicas, a química, a conjuntivite
decorrente de trauma e as conjuntivites secundárias a outras patologias, como
colagenoses e síndrome de Reiter.
b) FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da inflamação conjuntival está relacionada ao agente causal, em que a
vasodilatação acarretara dano endotelial, através do aumento da permeabilidade, gerando
quemose, diminuição da transparência do tecido e por estímulo de terminações nervosas
sensoriais uma hipersecreção.
QUADRO CLÍNICO
a) Conjuntivite bacteriana
Na conjuntivite bacteriana, o quadro clínico evolui de maneira abrupta, com descarga
purulenta abundante, hiperemia conjuntival, queimação, pálpebras aderidas e baixa visão.
Pode ser acompanhada ainda por edema palpebral e dor ocular à palpação. Importante
reforçar que o envolvimento ocular é geralmente bilateral e assimétrico, embora um olho
possa ser afetado 1-2 dias antes do outro.
Uma forma bastante específica de conjuntivite bacteriana é a ocasionada pela Clamidia
tracomatis, que ocorre no adulto geralmente por transmissão sexual, através do contato da
secreção genital ao olho e, em crianças, é usualmente associada ao parto normal e más
condições de higiene. Essa infecção se inicia com uma conjuntivite subaguda, com
comprometimento uni ou bilateral, junto à secreção mucopurulenta, podendo cronificar e
persistir por 3 a 12 meses. Algumas reinfecções de alguns sorotipos podem acabar
ocasionando o traucoma, doença que cursa com folículos na conjuntiva tarsal e limbar
superior, que se não tratadas adequadamente evoluem para as fases tardias da doença,
surgindo áreas de fibrose na conjuntiva tarsal (“Linha de Arlt”) . Esta conjuntivite pode
ocorrer no recém-nascido entre o 5° ao 10° dia de vida após o parto normal, cursando com
hiperemia conjuntival intensa, edema palpebral, secreção mucopurulenta e pode estar
associado com doenças sistêmicas, como pneumonia e otite.
A ceratoconjuntivite gonocócica é causada pela Neisseria Gonorrhoae, que invade o
epitélio corneano através de contato secreções genitais maternas contaminadas. Essa
patologia se desenvolve após 2 semanas de nascimento, se caracterizando por um edema
palpebral bilateral, papilas conjuntivais com pseudomenbranas, adenomegalia, quemose e
secreção profusa, purulenta e copiosa. Se não tratada adequadamente, pode evoluir para
uma úlcera corneana, podendo evoluir com perfuração.
b) Conjuntivite viral
O quadro clínico da conjuntivite viral pode apresentar-se isoladamente ou
concomitantemente a sinais e sintomas sistêmicos associados a infecção por Adenovírus,
Herpes vírus (Herpes simples e Herpes do tipo 3) e HIV. De uma forma geral, quando
desencadeada pelo adenovírus, manifesta-se com hiperemia conjuntival, secreção hialina,
aglutinação palpebral matinal, fotofobia, reação folicular, sensação de queimação ou areia
nos olhos bilateral, associados a sintomas de resfriado como tosse matinal e congestão
nasal. O segundo olho costuma ficar envolvido dentro de 48h até uma semana após o
primeiro, e geralmente ocorre a piora dos sintomas entre 3-5 dias, melhorando
gradualmente em 1-2 semanas. Nos casos de infecção por herpes simples, os sintomas
oculares geralmente são unilaterais, podendo estar acompanhados de lesões vesiculares.
Diferentemente da afecção bacteriana, a linfadenomegalia pré-auricular está presente em
até 90% dos casos.1,7,8,12
c) Conjuntivite Alérgica
A conjuntivite alérgica pode se apresentar como um sintoma isolado ou compor uma
reação alérgica generalizada, com sintomas em outros segmentos corporais. As queixas
principais incluem prurido intenso, fotofobia, secreção hialina e olho vermelho, e a maioria
dos pacientes contém história prévia de atopia ou apresenta quadros alérgicos com rinite
ou bronquite associados. O quadro geralmente é bilateral, assimétrico e não contagioso,
podendo seu curso ser agudo ou crônico. Na conjuntivite alérgica aguda, costuma haver
edema palpebral muito importante, quemose exarcebada, lacrimejamento e prurido.
O quadro clínico pode variar de intensidade conforme o subtipo da alergia ocular. A
conjuntivite sazonal é a mais frequente dos tipos, sendo integrada a fatores externos, como
poeira e pólen, tem intensidade de leve a moderada, sem envolvimento corneano; a
conjuntivite vernal ou primaveril é encontrada, principalmente, no sexo masculino, dos 5 aos
15 anos, e está associada a outras manifestações alérgicas, seus sintomas usualmente
são mais severos, encontrando hipertrofia papilar e nódulos limbares de Trantas e úlcera
em escudo. A conjuntivite atópica é a mais rara, podendo acarretar severo dano ocular e
geralmente tem acometimento cutâneo, e está associada a asma ou outras manifestações
alérgicas. A conjuntivite papilar gigante é aquela induzida mecanicamente, frequentemente
relacionada ao uso de lentes de contato gelatinosas e próteses oculares, caracterizando-se
pela presença de papilas tarsais gigantes.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico das conjuntivites é clínico, fundamentado na anamnese do paciente e no
exame biomicroscópico, geralmente com o auxílio da lâmpada de fenda, em que se observa
inflamação conjuntival associada a outros achados. Para o esclarecimento etiológico
pode-se usar PCR, Elisa, microscopia direta, biópsia conjuntival, teste de provocação
conjuntival com alérgenos e dosagem sérica de IgE-específica, isolamento de cultura,
testes rápidos virais, porém são poucos utilizados no dia a dia, sendo restrito a casos mais
graves, epidemias e pesquisas.
a) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Os principais diagnósticos diferenciais das conjuntivites constituem as causas de olho
vermelho, dentre estas as uveítes e crises agudas de glaucoma. Nessas situações, observa-
se aumento da pressão intraocular, baixa acuidade visual, presença de células inflamatórias
na câmara anterior, além de quadro de dor ocular, quadros que fogem as alterações
comumente encontradas nas conjuntivites, somente em casos excepcionais.
TRATAMENTO
a) Conjuntivite bacteriana
O tratamento das conjuntivites bacterianas fundamenta-se na utilização de antibióticos,
mas não se deve esquecer de medidas para evitar a proliferação da bactéria, como: higiene
ocular com SF 0,9% e lenço descartável, trocar fronhas e toalhas de rosto, lavar as mãos
após manuseio de colírios, uso de óculos escuros, além de atestado médico de 5 a 7 dias.
Deve-se dar preferência por antibióticos tópicos, sendo utilizadas as quinolonas
ciprofloxacino (Maxiflox®), gatifloxacino (Zymar®), moxifloxacino (Vigamox®)) ou
aminoglicosídeos tobramicina (Tobrex®)) 4 a 5 vezes ao dia, associadas aos lubrificantes
(Lacrifilm®, Systane UL®, Hyabak® e Optive®) e compressas frias. Se houver processo
inflamatório muito intenso, o uso de corticoides tópicos também pode ser indicado
associado (Maxiflox-D, Tobradex®, Zypred®, Vigadexa).
Em algumas situações, faz-se necessário um tratamento alternativo, graças à
característica própria do seu agente etiológico. Exemplos disso são os recém-nascidos
com ceratoconjuntivite gonocócica que necessitam ser internados e submetidos à cultura
da secreção, uso de antiobiótico (Ceftriaxona 25-50 mg por kg, não excedendo 125 mg por
7-10 dias), além de uso de colírio de Gentamicina, de 3/3h, por 10 dias; em adultos deve ser
realizado com antibioticoterapia sistêmica e tópico adjuvante, usando preferencialmente
Ceftriaxona na dose única de 1g IM. Adultos com conjuntivite por clamídia precisam fazer
uso de pomada de tetraciclina (4x ao dia por 6 semanas) ou macrolideos por via oral
(Azitromicina 1 g em dose única ou eritromicina 500 mg 12/12hrs por 14 dias).
Em todos os casos de conjuntivite neonatal com suspeita de infecção gonocócica ou
por clamídia devem ser coletados raspado conjuntival para exame laboratorial e devem ser
preferencialmente referidos à oftalmologia.
b) Conjuntivite viral
A conjuntivite viral não apresenta tratamento específico, geralmente a resolução é
espontânea em 2 semanas, porém há benefícios com uso de lubrificantes(Lacrifilm®,
Hyabak®, Systane UL® e Optive®.) de 4 a 6 vezes ao dia para alívio dos sintomas, uso de
óculos escuros para alívio da fotofobia, evitar uso de lentes de contato. O uso de AINES e
analgésicos em casos de desconforto intenso por edema palpebral e linfadenopatia pré-
auricular pode ocorrer.
Antibióticos tópicos não estão indicados e não protegem contra infecção secundária,
inclusive podem ser tóxicos e causar alergia. Uso do corticoide tópico (dexametasona)
também não deve ser usado devido ao aumento da replicação viral, ao aumento do tempo
de doença e por piorar a conjuntivite por herpes caso não tenha sido diagnosticada. Usar
somente em casos de membrana (secreção de fibrina aderida em tarso) e infiltrados
corneanos.
c) Conjuntivite Alérgica
As medidas iniciais nos casos mais simples incluem controle ambiental do agente
causal, compressas frias e uso de lubrificantes, podendo lançar mão de corticoides e anti-
histamínicos. Nos casos moderados, podem ser usados colírios anti-histamínicos
(Patanol- S® ou Lastacaft®) 1x/dia, no período de maior prurido, e antialérgicos sistêmicos
durante as crises agudas (Loratadina 10 mg de 12/12h ou Descloferinamida 2 mg de 8/8h).
Já os corticoides tópicos (Maxidex® (dexametasona) ou Pred Fort® (predinisolona) de
6/6h, por 7 dias, devem ser reservados para o controle das exacerbações, lembrando
sempre de realizar o desmame.
O não tratamento ou o tratamento inadequado dos quadros de conjuntivite alérgica pode
levar a complicações como: úlceras corneanas, opacidades corneanas, ceratocone,
catarata, perda das partes laterais das sobrancelhas e cílios, predisposição às ceratites
herpética, fúngica e infeção palpebral por estafilococos.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: A.C.F, 47 anos, sexo feminino, dona de casa, chega ao pronto-socorro
queixando-se de hiperemia conjuntival, secreção purulenta, ardência e fotofobia em olho
direito, que se iniciou há um dia. Refere que seu filho iniciou quadro semelhante há dois
dias. Nega baixa acuidade visual e dor ocular. Afirma não fazer uso de correção, não ser
portadora de nenhuma doença de base e não ter história prévia de patologia ocular.
d) Prescrição Sugerida:
• Uso Ocular:
1. Ciprofloxacino + Dexametasona (Maxiflox-D®) colírio -------------------------------- 1frasco.
Pingar uma gota em cada olho 4 em 4 horas por 7 dias.
2. Lacrifilm® ou Systane UL® ou Hyabak® ou Optive® colírio ------------------------------- 1
frasco.
Pingar 1 gota nos 2 olhos de 4 em 4 horas por 15 dias.
REFERÊNCIAS
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14. Azari AA, Barney NP. Conjunctivitis: a systematic review of diagnosis and treatment. JAMA. 2013; 310(16):
1721-9.
11.4
EDEMA PALPEBRAL
Autores:
Emerson Alexandre de Sales Junior
Bruna Sá Eduardo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
As pálpebras são estruturas especializadas com componentes anatômicos únicos. Sua
espessura varia de 700 μ a 800 μ, sendo a pele da pálpebra a mais delgada do corpo. Em
suas margens, localizam-se os cílios, juntamente com as glândulas de Zeis e Moll. Têm a
função de proteger o olho e proporcionar conforto ocular contra a luz, além de uniformizar a
lágrima sobre a face exposta do globo ocular.
Edema palpebral é o acúmulo anormal e excessivo de líquido no seu espaço intersticial,
resultado de um desequilíbrio das pressões hidrostática e oncótica.
Sua etiologia é variável, podendo ser de origem alérgica, infecciosa ou inflamatória. É
importante sempre conhecer a causa, para realizar o tratamento específico para cada caso.
Além de tratar a causa base, o uso de anti-inflamatórios e analgésicos é importante para
alívio dos sintomas, como dor e dificuldade visual.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O edema palpebral é um achado clínico, que norteia o diagnóstico e está presente em
várias patologias, locais ou sistêmicas, ocorrendo devido a um acúmulo excessivo de
líquidos nos tecidos palpebrais em razão do aumento da permeabilidade capilar local. É
válido ressaltar que a pálpebra possui a pele aderida frouxamente aos tecidos subjacentes,
facilitando a formação de edema.
O edema pode ser precipitado pela exposição ao pólen, picada de insetos (véspulas,
vespas e abelhas), por medicamentos (IEC’s e AINES) ou alimentos (peixes, crustáceos e
chocolate), o que leva a uma liberação de mediadores inflamatórios locais e altos títulos
de IgE, tendo sua manifestação com início repentino e uni ou bilateral, frequentemente
acompanhado de edema conjuntival (quemose) e prurido intenso; neste caso, descrevemos
como edema alérgico ou angioneurótico.
A dermatite de contato é uma condição idiopática que gera uma resposta inflamatória
tardia, a qual cursa com edema palpebral. Acontece após a primeira exposição a algum
cosmético, soluções para lentes de contato, colírios (atropina e sulfas) e pomadas,
ocasionando o fenômeno de hipersensibilidade. É facilmente evitada, distanciando-se dos
fatores atópicos.
A patologia de origem renal é um evento com repercussão de nível sistêmico, em que
ocorre acúmulo de líquido no organismo, e possui como característica principal o
aparecimento do edema palpebral matutino, sendo um edema frio (por retenção líquida),
sem sinais logísticos e que diminui nos decúbitos prolongados.
Alterações endócrinas sistêmicas devido à disfunção da glândula tireoidiana a longo
prazo podem cursar com mixedema palpebral bilateral, sem sinais flogísticos e sem
relação com o decúbito. A doença de Graves cursa com edema palpebral devido à
deposição de mucopolissacarídeos na órbita.
QUADRO CLÍNICO
Cada etiologia se descreve com um achado clínico típico. Tratando-se das causas
locais, as principais são a conjuntivite alérgica e as dermatites de contato.
A conjuntivite alérgica é uma reação de hipersensibilidade mediada pela degranulação de
mastócitos em resposta à ação da IgE. A patologia se apresenta com um edema palpebral
(principalmente na pálpebra inferior), e tem como principal sintoma o prurido ocular e
periocular. É evidenciado também hiperemia conjuntival, lacrimejamento, coriza, prurido
nasal e espirros.
A utilização de cosméticos frequentemente leva a dermatites de contato, em que
encontramos lesões eritematosas, papulovesiculosas, vesicular (principal achado), eritema,
descamação, exsudação e crosta associados ao edema palpebral.
O acometimento bilateral refere muitas vezes a um quadro sistêmico, podendo estar
associado a distúrbios renais, endócrinos ou possuindo origem autoimune.
A oftalmopatia de Graves é conhecida como doença tireoidiana ocular de origem
autoimune e que ameaça a boa acuidade visual, havendo uma hipertrofia e aumento do
volume da gordura orbitária, com acúmulo de imunocomplexos antitireoglobulina nos
músculos extraoculares, resultando em proptose. Sua fase aguda é caracterizada, na
maioria das vezes, pelo acometimento bilateral, com hiperemia palpebral, dor, quemose,
diplopia, embassamento visual e hiperemia conjuntival.
A síndrome nefrótica é uma outra causa de edema palpebral; contudo, neste caso, gera
um edema palpebral matinal devido à hipoproteinemia que leva a uma diminuição da
pressão oncótica do plasma, com redução da reabsorção do líquido intersticial. O lúpus
eritematoso discoide é uma afecção autoimune que provoca danos simétricos nas
pálpebras inferiores, causando madarose, descamação, eritema, telangectasias e,
principalmente, o edema palpebral.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é feito de acordo com a causa desencadeante do edema. Como as
causas sistêmicas precisam ser abordadas de maneira distinta, será abordado aqui apenas
sobre o edema palpebral de origem local.
A conjuntivite alérgica apresenta quadro clínico sugestivo (prurido) e história pessoal e
familiar de quadros de atopia, se há associação com outras patologias alérgicas, como
asma, rinite e dermatite atópica.
Para dermatites de contato, é preciso associar o quadro clínico com uma possível
causa e, a partir disso, pode ser necessária a realização de testes de contato para
identificar o fator causal, sendo este o padrão-ouro. Na dermatite de contato alérgica,
durante o teste de provocação, observa-se a erupção eczematosa, e raramente há urticárias
ou lesões morbiliformes. Na dermatite de contato irritativa, observam-se bolhas, úlceras e
necrose.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Das causas alérgicas, é importante saber que o edema alérgico agudo (causado por
picada de insetos ou medicamentos, por exemplo) é um edema súbito, indolor e
depressível. A dermatite de contato apresenta edema e eritema palpebrais, comumente
associado a descamação e prurido. A dermatite atópica, além do edema palpebral, se
apresenta com espessamento, descamação e fissuras verticais da pele da pálpebra e
geralmente está associada a blefarite estafilocócica e madarose.
As causas infecciosas de edema palpebral são inúmeras. Neste capítulo, iremos tratar
das mais comuns na prática clínica. O herpes zóster oftálmico cursa rash maculopapular,
desenvolvimento progressivo de vesículas, pústulas e ulceração com descamação, sempre
unilateral e respeitando a linha média da face. O herpes simples evolui com grupos de
pequenas vesículas que se rompem, formando crostas em seguidas. Impetigo são máculas
eritematosas que rapidamente evoluem para vesícula e bolha, que ao se romperem
produzem crostas amarelo-douradas. A erisipela, como sinais típicos, apresenta uma placa
subcutânea bem definida, eritematosa e endurecida, e, quando o envolvimento palpebral é
primário, geralmente é mais grave, podendo determinar contratura secundária. A fasceíte
necrotizante é uma necrose que evolui muito rapidamente, cursando com edema e eritema
que evoluem para formação de bolha e descoloração negra da pele.
Importante citar aqui o Hordéolo, que é uma infecção estafilocócica de estruturas da
pálpebra, e o Calázio, que é a cronificação do hordéolo, quando esse já se apresenta indolor
e sem outros sinais flogísticos.
TRATAMENTO
Importante ressaltar que o tratamento dos edemas palpebrais sempre se baseia em
tratar a causa base da patologia desencadeante.
Nas etiologias alérgicas, a parte mais importante do tratamento está em afastar o
agente causal, seja ele pó, ácaro, produtos químicos, entre outros. Pode-se iniciar o uso de
agentes antes histamínicos como Loratadina 10 mg de 12/12 horas ou Prometazina 01
ampola (50 mg/2 mL) intramuscular, transferindo para via oral o tratamento logo que
possível.
Quando a causa for infecciosa, combater o microrganismo se torna o objetivo do
tratamento. Considerando que o agente microbiano mais comum dessas infecções é o S.
aureus, pode ser empregada a Ceftriaxone 1 g endovenosa ou intramuscular de 12/12 horas
ou a Cefalexina 500 mg de 06/06 horas, geralmente por 7 a 10 dias. A escolha da via de
administração da medicação varia de acordo com a gravidade do caso.
Para as outras causas de edema palpebral, relacionadas a distúrbios renais, endócrinas
e outras causas sistêmicas, o tratamento visa ao controle da causa de base.
O uso de anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos como Dipirona e Paracetamol
pode ser feito para controle da dor, caso ela exista.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Fonte: Yannof.14
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) A.S.R., sexo feminino, 16 anos, procurou pronto-atendimento devido a episódio de
febre associado a dor e edema periorbitário. Na ocasião, foi diagnosticada com celulite
periorbitária, sem indícios clínicos de acometimento pós-septal. Foi prescrito à paciente
tratamento oral com Amoxicilina + Clavulanato.
Em três dias a paciente retorna com piora do estado geral, persistência da febre e lesão
com sangramento, crostas escuras profundas e tumoração com aspecto necrótico.
d) Prescrição Sugerida:
1. Dieta Branda
2. Ceftriaxona 1 g EV 12/12 horas
3. Dipirona 1 g EV 06/06 horas se dor ou febre
4. Cetoprofeno 100 mg IM 24/24 horas
5. Sinais Vitais
REFERÊNCIAS
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14. Yanoff M, Duker JS. Oftalmologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
11.5
GLAUCOMA AGUDO
Autores:
Andréia do Couto Morais
Andressa Mayumi Matucuma
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
DEFINIÇÕES
O glaucoma é a segunda causa de cegueira e a primeira causa de cegueira irreversível
em todo o mundo. Quando ocorre de forma aguda, é uma importante causa de urgência
oftalmológica. Essa patologia, também denominada glaucoma agudo primário (GAP),
cursa com um rápido período de evolução, podendo acarretar danos oculares irreversíveis.
O quadro clínico normalmente é de início abrupto, com baixa acuidade visual (BAV),
forte dor ocular e pupila em média midríase e pouco reativa. Esses sintomas podem ser
acompanhados com queda do estado geral, náuseas e vômitos.
Por se tratar de uma Urgência, o tratamento tem como objetivo interromper a crise o
quanto antes, com o objetivo de diminuir a dor, a PIO (pressão intraocular) e o dano ao
disco óptico (DO), devendo ser utilizada terapia clínica.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O GAP pode se apresentar de forma aguda, subaguda e crônica. Apenas a forma aguda
é considerada uma Urgência, cursando quase sempre com PIO elevada, sendo o principal
fator desencadeante da lesão neuropática glaucomatosa.
Dentre os principais fatores de risco, estão: idade (55-70 anos), ascendência asiática,
história familiar, sexo feminino, hipermetropes, ângulo iridocorneano estreito, íris em
plateau e pseudoesfoliação.
A doença glaucomatosa age atingindo o DO com perda de células ganglionares da
retina, causando lesão neuropática.
Os sintomas do glaucoma agudo ocorrem devido à rápida elevação da PIO, que pode
causar uma disfunção temporária das células do endotélio corneano e isquemia
transitória da retina.
Normalmente, a crise ocorre em pacientes com glaucoma de ângulo fechado, devido à
dificuldade na drenagem do humor aquoso, onde o principal mecanismo envolvido é o
bloqueio pupilar, ocorrendo geralmente em indivíduos acima de 60 anos e em
hipermetropes (devido ao estreitamento da câmara anterior).
Isso ocorre porque, com o passar da idade, o cristalino sofre modificações estruturais
como aumento da sua espessura, se aproximando da íris. Assim, ela causa um
estreitamento do ângulo iridocorneano, podendo levar a um fechamento total da filtração,
levando à crise aguda em pacientes que já possuem uma predisposição. O fator
desencadeante desse bloqueio pupilar é causado por estresse e medicamentos capazes
de aumentar a PIO ou fechar o seio camerular, como: anticoagulantes, derivados da sulfa,
agentes adrenérgicos, colinérgicos e anticolinérgicos.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico cursa com sintomas clássicos como dor ocular intensa e retro-
orbitária, náusea, podendo gerar vômitos, cefaleia (em geral hemicraniana e ipsilateral),
fotofobia, lacrimejamento, visão de halos coloridos e visão turva. Também é possível
observar sinais como hiperemia conjuntival, pupilas em média midríase e pouco reativa,
diminuição da acuidade visual, PIO elevada (geralmente maior que 40 mmHg), câmara
anterior (CA) rasa, abaulamento periférico da íris, fechamento angular, reação de CA, olho
endurecido (pétrio) à palpação digital e edema corneano. Na grande maioria dos casos, o
glaucoma agudo ocorre unilateralmente.
EXAME FÍSICO
O exame físico deve ser muito minucioso e sempre bilateralmente.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é clínico, através da anamnese e exame físico. A anamnese deve ser
detalhada, avaliando os fatores de risco, como hipermetropia, histórico familiar, eventos
que possam ter precipitado a doença, uso de colírios midriáticos. Deve-se avaliar histórico
oftalmológico, como problemas de retina, cirurgias ou tratamento com laser recentes
prévios e uso de medicamentos (p. ex., adrenérgicos ou anticolinérgicos tópicos e
topiramato ou sulfa orais). À biomicroscopia, é possível observar: hiperemia conjuntival,
atrofia setorial de íris, pupila dilatada não responsiva, sinéquias posteriores, epífora,
cristalino em Glaukomflecken (opacidade capsular ou subcapsular anterior associada a
fechamento angular primário agudo). À fundoscopia: aumento da escavação do DO, edema
do DO com congestão venosa e/ou hemorragia em chama de vela associados. Ao realizar
a tonometria, a PIO estará aumentada, geralmente maior que 40 mmHg.
TRATAMENTO
a) FECHAMENTO ANGULAR AGUDO
Imediato:
• Obs.: Deve ser usado na dose de 500 mg VO e continuar com 250 mg a cada 8
horas, até nova avaliação oftalmológica.
• Posologia: Manitol a 20% via IV: de 1,5 a 2 g/kg de peso (80 a 100 gotas/minuto)
ou glicerina 50% gelada VO: 1,5 g/kg de peso.
Obs.: Há uma controvérsia quanto ao uso desse agente colinérgico, pois, por causar
miose e aumentar a drenagem do humor aquoso no trabeculado, é usado em algumas
formas de glaucoma, porém, paradoxalmente, pode estimular GAP por ação da
anteriorização do diafragma iridocristaliniano, obtendo um fechamento angular completo
capaz de reduzir a drenagem pela via uveoescleral, podendo ser um agravo para os
pacientes com ângulo estreito. Na maioria das vezes, é utilizado apenas quando a PIO está
menor que 40 mmHg.
Obs.: A iridotomia se faz após a crise, nunca na crise, e é realizada nos dois olhos.
Esse tratamento consiste em uma pequena perfuração na íris na porção superior,
permitindo assim a passagem do humor aquoso através da íris.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente 66 anos, sexo masculino, aposentado, vai ao pronto-socorro
relatando dor ocular intensa de início súbito no olho direito, associado a náusea, cefaleia
hemicraniana, fotofobia, lacrimejamento e diminuição da acuidade visual em olho direito.
Paciente refere que é hipermetrope e em última consulta com oftalmologista foi
visualizado catarata em ambos os olhos.
Nota-se também hiperemia conjuntival e midríase pupilar. Refere ter diagnóstico prévio
de glaucoma, porém nunca o tratou adequadamente.
c) Prescrição Sugerida:
Após 1h, reavaliar os sintomas, como dor, náusea, cefaleia e a PIO. Se houver melhora
dos sintomas e o quadro estiver estável, dar alta hospitalar e encaminhar ao
Oftalmologista com urgência, prescrevendo:
• Via Oral:
1.Diamox 250mg – frasco. Tomar 1 comprimido de 6/6h, por 7 dias.
• Uso Ocular:
1.Glaucotrat® ou Combigan® – frasco. Pingar 1 gota no olho direito de 12/12h.
DICAS DO ESPECIALISTA
Em todo paciente que der entrada no pronto-socorro com queixa de cefaleia intensa,
unilateral, dor retro-orbitária, com náusea ou vômito, referindo fotofobia e lacrimejamento,
deve-se suspeitar de Glaucoma agudo. Lembrando sempre como diagnóstico diferencial
crise de Enxaqueca e Hipertensão intracraniana.
REFERÊNCIAS
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11.6
HERPES ZÓSTER OFTÁLMICO
Autores:
Camila Ishii Iguma
Bruna Bonzi
Carolina Schuwartz Tannus Belisário
INTRODUÇÃO
O Herpes Zóster Oftálmico (HZO) é uma doença neurocutânea causada pelo vírus
Varicela zoster, pertencente à família do herpes vírus. O herpes zóster é responsável por
cerca de 1% de todas as doenças de pele e sua incidência anual estimada é de 2,2 a 3,4 por
1.000 habitantes. O ramo oftálmico do nervo trigêmeo é o segundo mais acometido (10 a
20%), ficando atrás somente do segmento torácico, que é responsável por cerca de 50% dos
casos.
Ao contrário da varicela, o HZO raramente acomete crianças sadias e se desenvolve
mais frequentemente em idosos e imunocomprometidos. Apresenta-se com lesões
vesiculares em hemiface que evoluem para formação de crostas, tendo a dor intensa como
principal característica.
É importante iniciar o tratamento precocemente com antivirais e sintomáticos e orientar
o paciente quanto às complicações, pois é uma doença que determina grande morbidade e
pode trazer prejuízos à visão e à qualidade de vida do paciente.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A infecção primária causada pelo vírus Varicela zoster é chamada de Varicela, conhecida
como “Catapora”, doença exantemática típica da infância. Após a resolução desse quadro
inicial, o vírus permanece latente em gânglios dos nervos sensitivos, e por reexposição ou
reativação do vírus cerca de 20% desses pacientes desenvolvem herpes zóster. Quando o
ramo oftálmico do nervo trigêmeo é acometido, dá-se o nome de Herpes Zóster Oftálmico.
O mecanismo de reativação é desconhecido, mas acredita-se que a queda da imunidade
celular seja um fator determinante, o que explica o maior acometimento de idosos e
imunocomprometidos. Pacientes jovens com HZO recorrente devem ser investigados em
relação às imunodeficiências, principalmente o HIV, podendo ser uma manifestação inicial e
precoce da doença.
QUADRO CLÍNICO
O HZO possui vários sintomas e sinais clínicos, podendo atingir todos os tecidos
oculares e seus anexos. As manifestações clínicas iniciais são dor e parestesias
(formigamento, agulhada, sensação de peso) ao longo do dermátomo acometido
unilateralmente, podendo ser acompanhada de febre, mal-estar e cefaleia. Após 3 a 4 dias
dos pródromos, surgem erupções cutâneas eritematosas ou maculopapulares que evoluem
para vesículas seguidas de crostas, sendo comum o achado de exantema pleomórfico
(lesões em vários estágios evolutivos) que podem persistir por cerca de 3 a 4 semanas.
A complicação mais comum é a neuralgia pós-herpética, caracterizada por dor intensa
que persiste por 30 dias após o desaparecimento do exantema. Acomete mais mulheres e
maiores de 70 anos e, apesar de ter resolução espontânea em alguns casos, ainda é a
principal causa de dor debilitante intratável em pacientes idosos.
O HZO pode trazer ainda complicações mais específicas, a depender das estruturas que
forem acometidas. Algumas são: edema palpebral, ectrópio, conjuntivite, episclerite,
esclerite, ceratite, uveíte, catarata, glaucoma, vitreíte, hemorragia vítrea, retinite e
descolamento de retina.
O surgimento de lesões cutâneas no dorso do nariz é chamado de sinal de Hutchinson e,
quando presente, indica 71 a 86% de chance de acometimento ocular.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico do herpes zóster basicamente é feito pelos achados clínicos da doença.
Utilizamos exames complementares quando existe dúvida no diagnóstico.
A detecção direta do vírus e a detecção indireta de anticorpos específicos são os
exames complementares mais usados para auxílio no diagnóstico. O exame citológico do
raspado das vesículas cutâneas também pode ser utilizado.
Algumas patologias possuem características semelhantes ao HZO e, por isso, fazem
diagnóstico diferencial, como: eczema herpético, impetigo contagioso, dermatite por
contato, exantema associado ao enterovírus, erupções por drogas e picada de insetos.
TRATAMENTO
O tratamento do HZO é baseado no uso de drogas antivirais, que visam reduzir a
replicação viral e a chance de disseminação sistêmica do vírus. Além disso, se usado nas
primeiras 72 horas após o início dos sintomas, pode reduzir a incidência e a gravidade das
complicações oculares e da neuralgia pós-herpética. As opções disponíveis no Brasil são:
Aciclovir (Zovirax®) 800 mg VO 5 vezes/dia por 7 a 10 dias, Fanciclovir (Penvir®) 500 mg VO
3 vezes/dia por 7 dias e Valaciclovir (Valtrex®) 1 g VO 3 vezes/dia por 7 dias. Apesar de ter
a posologia mais fácil, o alto custo do Valaciclovir limita sua ampla utilização, sendo muito
usado na prática o Aciclovir, com mesma eficácia e custo mais baixo. As formas
endovenosas de antivirais estão reservadas para imunocomprometidos, pacientes com
doença grave ou impossibilidade de medicação por via oral, podendo ser utilizado Aciclovir
10 mg/kg/dose EV de 8/8 horas por 10 a 14 dias.
O tratamento sintomático é fundamental devido à dor intensa no local acometido.
Podem ser usados anti-inflamatórios não hormonais tópicos, como Cetoprofeno gel
(Profenid®) 25 mg, aplicando sobre a região afetada 3 a 4 vezes/dia, além de medicações
orais como Dipirona, Paracetamol e anti-inflamatórios não hormonais, isolados ou em
combinação com opioides fracos, como Codeína ou Tramadol. Dores mais intensas e
refratárias aos tratamentos convencionais podem ser tratadas com opioides mais
potentes, como Morfina (Dimorf®) 15 a 30 mg VO de 6/6 horas.
Os antibióticos ficam restritos aos casos de infecção bacteriana secundária de pele e
pneumopatias bacterianas associadas, podendo ser usadas associações de
Betalactâmicos (Penicilina ou Cefalosporina) e Clindamicina.
Em caso de neuralgia pós-herpética, está indicado o uso de anticonvulsivantes, como
Carbamazepina (Tegretol®) 200 mg VO 2 vezes/dia, aplicação tópica de creme de
Capsaicina 0,025 a 0,075% de 4/4 horas e compressas geladas. Antidepressivos tricíclicos,
Gabapentina e Pregabalina também mostraram boa eficácia no controle da dor na neuralgia
pós-herpética.
Ao observar o sinal de Hutchinson, diminuição da acuidade visual ou hiperemia
conjuntival, o paciente deve ser encaminhado ao Oftalmologista, a fim de diagnosticar e
tratar corretamente as possíveis lesões oculares. Lubrificantes oculares podem ser
prescritos, como Optive® ou Systane® 1 gota 4 a 6 vezes/dia.
Pacientes com HZO podem transmitir a doença, por isso deve-se evitar o contato com
pessoas susceptíveis, principalmente gestantes e imunossuprimidos, até que todas as
lesões tenham evoluído para a formação de crostas.
d) Prescrição Sugerida:
• Uso Local:
Compressas frias
Profenid® gel 25 mg – aplicar fina camada sobre a região afetada 4x/dia
• Uso Ocular:
Systane-UL® - pingar 1 gota em olho acometido de 4/4h
• Uso Oral:
Tramal® 50 mg VO 3x/dia por 5 dias
Valaciclovir 1g VO 3x/dia por 7 dias
REFERÊNCIAS
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16. Tuft S. How to Manage Herpes Zoster Ophthalmicus. Comm Eye Health. 2020; 33(108): 71-2.
11.7
HORDÉOLO E CALÁZIO
Autores:
Paula Denoni Gomes
Rayssa Tavares
Rebecca Martins Oliveira Tannus
INTRODUÇÃO
O Hordéolo é uma inflamação aguda, supurativa e nodular das pálpebras. Pode ocorrer
por comprometimento do folículo piloso, das glândulas de Zeis e Moll (Hordéolo externo
ou terçol) ou das glândulas de Meibomius (Hordéolo interno).O principal agente etiológico
é o Staphylococcus aureus.
Geralmente ocorre mais em crianças e adolescentes, devido às alterações hormonais,
mas pode acometer qualquer faixa etária.
Calázio é uma inflamação crônica lipogranulomatosa das glândulas de Zeis ou
Meibomius, mais comum em mulheres e pode ter associação com baixas ametropias.
O tratamento varia desde compressas mornas e uso de antibióticos até a excisão
cirúrgica, em alguns casos de calázio.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A obstrução e/ou infecção aguda das glândulas de Zeis ou das glândulas de Meibomius
pelo Staphylococcus aureus leva ao surgimento do hordéolo. O espessamento anormal
das secreções das glândulas meibomianas leva à obstrução não infecciosa, causando
extravasamento de material lipídico irritante nos tecidos moles das pálpebras com
inflamação granulomatosa focal, ocasionando a formação do calázio.
QUADRO CLÍNICO
Inicialmente, o hordéolo é caracterizado pelo aparecimento de hiperemia palpebral,
aumento da sensibilidade, dor no bordo palpebral e prurido. Posteriormente, pode evoluir
para a formação de abscesso focal, edema e endurecimento local. Tais sintomas têm
duração de aproximadamente 7 a 14 dias. Geralmente ocorre a drenagem espontânea do
abcesso, tanto o interno quanto o externo, não sendo aconselhável o paciente tentar fazer
a drenagem manual (apertando), e não é usual o oftalmologista fazer esta drenagem
ambulatoriamente, estando essa situação reservada a casos específicos.
Quando a inflamação persiste por mais de duas semanas (em alguns casos, 4
semanas), surge o calázio, que é a cronificação do hordéolo, tendo como característica a
formação de uma nodulação, sem sinais flogísticos e geralmente indolor. Depois da
formação do calázio, este geralmente não aumenta de tamanho e dificilmente reduz.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
A abordagem inicia-se com anamnese detalhada, em busca de sinais e sintomas
oculares característicos. O diagnóstico é clínico.
A diferenciação do hordéolo para o calázio se dá pela evidência de sinais inflamatórios
agudos, dor e tempo de evolução.
Não é necessário solicitar exames complementares adicionais para o diagnóstico, que
pode ser realizado pelo oftalmologista ou pelo clínico geral.
a) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Existem afecções que fazem diagnóstico diferencial com hordéolo e o calázio, sendo
as mais comuns: blefarite, celulite pré-septal, trauma, dermatite de contato, canaliculite,
granuloma piogênico, carcinoma sebáceo e/ou carcinoma basocelular.
TRATAMENTO
O tratamento baseia-se em:
• AINEs sistêmicos durante 05 dias, se dor e/ou edema palpebral intenso, também
podem ser utilizados.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: RSO, sexo masculino, 15 anos, procura PS sem serviço de oftamologia,
queixando-se de surgimento de tumoração, hiperemia, secreção purulenta e dor em
pálpebra superior direita há 5 dias. Nega trauma, nega prurido ocular e nega alteração da
acuidade visual.
• Uso Ocular:
1. Ciprofloxacino 0,2% + Dexametasona0,1% colírio (MAXIFLOX-D® ou CYLOCORT®)
colírio - 1 fr.
2. Pingar 01 gota no olho (acometido) de 6/6h, por 14 dias.
3. Ciprofloxacino 0,2% + Dexametasona 0,1% pomada (MAXIFLOX-D® ou
CYLOCORT®) pomada - 1 tubo.
REFERÊNCIAS
1. Cruz AAV, Chahud F, Guimarães FC. Patologia dos Anexos oculares: Simpósio: Oftalmologia para o clínico.
Rev Fac Med Ribeirão Preto e do Hospital das Clínicas da Fmrp, Ribeirão Preto. 1997; 30(1): 36-51.
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Ministério da Saúde. 10. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
3. Figueira L, Torrão L, Dinis AS, Palmares J. Antibioterapia na Superfície Ocular: Superficie Ocular Externa.
Antibioterapia Ocular. Porto/Portugal: Medesign; 2010.
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Doenças Oculares do Wills Eye Hospital: Diagnóstico e tratamento no consultório e na emergência. 6. ed.
Porto Alegre: Artmed; 2015. p. 137-8.
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Brasileiro de oftalmologia (org.). Série Oftalmologia Brasileira: Órbita, Sistema Lacrimal e Oculoplástica. 3.
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Preto e do Hospital das Clínicas da Fmrp. 1997; 30(1): 52-5.
13. Sperandio AMG.Promoção da saúde ocular e prevenção precoce de problemas visuais nos serviços de
saúde pública. Rev Saúde Pública. 1999; 33(5): 513-20.
11.8
TRAUMA DE ÓRBITA
Autores:
Neiffer Nunes Rabelo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
Marcelo Paraiba Cavalcanti
INTRODUÇÃO
O trauma de órbita é uma frequente causa de fratura óssea, lesão de tecido mole e
neurovascular. A órbita pode sofrer lacerações, perfurações e contusões.
O trauma pode ter diferentes padrões de fraturas, que devem ser avaliados após a
estabilização hemodinâmica. Ter conhecimento do mecanismo do trauma é importante
para prever a gravidade da fratura, assim como a precaução de infecções, hemorragias e
investigação de corpo estranho.
EPIDEMIOLOGIA
A órbita é uma cavidade piramidal, quadrangular e composta por 7 ossos.
O teto da órbita é formado pela lâmina orbitária do osso frontal e asa menor do osso
esfenoide. O teto da órbita une-se à parede medial na sutura frontoetmoidal ao nível da
lâmina cribiforme e a base da fossa craniana anterior.
A parede medial, parede mais fina da órbita, é formada pela asa menor do osso
esfenoide, lâmina orbitária do etmoide, osso lacrimal e processo frontal da maxila.
A lâmina papirácea separa a cavidade orbital dos seios etmoidais.
O assoalho da órbita repousa sobre o seio maxilar e é formado pela face orbitária da
maxila, zigomático e pelo processo orbitário do osso palatino.
A parede lateral é formada pela asa maior do osso esfenoide e pelo osso zigomático.
Essa fratura raramente causa alteração volumétrica da órbita.
A fratura da órbita está correlacionada em 16% de todas as fraturas faciais e é mais
comum em adultos jovens. A colisão de veículos automobilísticos é o mecanismo mais
comum em adultos e trauma relacionado ao esporte em crianças e adolescentes. Fraturas
tipo blow-out são mais comum de fratura da órbita.
QUADRO CLÍNICO
A anamnese bem realizada é essencial nestes casos, devendo especificar o mecanismo
do trauma, força, tempo do trauma, duração e se houve hemorragias ou saída de algum
tecido. Na inspeção clínica, é fundamental avaliar edemas, hematomas e a presença de
Enoftalmia (diminuição do globo ocular). No exame Oftalmológico podemos observar
diminuição da acuidade visual, perda da mobilidade ocular, diplopia, defeito pupilar absoluto
ou relativo, anisocoria e alteração na pressão intraocular.
Nos casos de trauma orbitário, é essencial solicitar a tomografia computadorizada
(TC) de crânio e órbita para o diagnóstico definitivo de fraturas, que atualmente é o padrão-
ouro. Os principais achados tomográficos são: abaulamento ou deslocamento da parede
medial da órbita, fratura óssea com ou sem deslocamento e atenuação de partes moles e
coleção de ar ou níveis hidroaéreos visíveis dentro da órbita.
TRATAMENTO
Após estabilização hemodinâmica, deve ser solicitada avaliação com a equipe indicada.
Lesões concomitantes são comum, e a avaliação oftalmológica, otorrinolaringológica,
bucomaxilo e neurocirúrgica é necessária.
A cantotomia, tratamento para hematoma retrobulbar, é uma condição semelhante a
uma síndrome compartimental e deve ser realizado pelo médico clínico ou cirurgião
assistente na urgência, pois o atraso nesta conduta pode ocasionar cegueira irreversível.
Procedimento indicado quando o olho se encontra tenso secundário a uma síndrome
compartimental. É realizado sob anestesia local, com uma tesoura, realize uma incisão
cantolateral no sentido horizontal.
Fraturas complexas devem ser abordadas imediatamente. Os demais pacientes com
fraturas de órbita sem acometimento do zigomático devem ter avaliação oftalmológica
antes do procedimento cirúrgico.
O uso de corticoide e descompressão do canal óptico em casos de neuropatia óptica
traumática não é indicado, assim como em casos TCE – Trauma Crânio Encefálico.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente de 20 anos vai ao pronto-socorro após sofrer um acidente
automobilístico no qual não estava com sinto de segurança. Refere dor e inchaço em
hemiface esquerda e dor à movimentação ocular.
(A) Não há restrição à infraversão. (B) Sem restrição à lateroversão. (C) Sem restrição à medioversão. (D) Restrição ao
fazer supraversão, devido ao encarceramento do reto inferior. (E) TC em corte coronal demonstrando a fratura do
assoalho da órbita com encarceramento do reto inferior.
Figura 1. Paciente com encarceramento do reto inferior esquerdo, pela fratura do assoalho
da órbita.
Fonte: Elaborado pelos autores.
d) Prescrição Sugerida:
REFERÊNCIAS
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Table of Contents
Capa
Créditos
Sumário
Apresentação
Autores e colaboradores
01 - Módulo de Cardiologia
1.1 ELETROCARDIOGRAMA
1.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
1.3 DISLIPIDEMIAS
1.4 SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
1.5 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA
1.6 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA
1.7 TAQUIARRITMIAS
1.8 BRADIARRITMIAS
1.9 Parada Cardiorrespiratória e RESSUSCITAÇÃO
1.10 FEBRE REUMÁTICA
1.11 ANTICOAGULANTES
02 - Módulo de Endocrinologia
2.1 Cetoacidose diabética
2.2 ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPEROSMOLAR
2.3 INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA
2.4 CRISE TIREOTÓXICA
2.5 COMA MIXEDEMATOSO
2.6 CORTICOIDES – DOSES E EQUIVALÊNCIAS
2.7 CONTROLE GLICÊMICO INTRA-HOSPITALAR
03 - Módulo de Gastroenterologia
3.1 ASCITE
3.2 ABDOME AGUDO
3.3 Diarreia Aguda
3.4 DOENÇA CALCULOSA DAS VIAS BILIARES
3.6 PANCREATITE AGUDA
3.7 ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
3.8 HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
3.9 HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA
04 - Módulo de Infectologia
4.1 DENGUE
4.2 TUBERCULOSE
4.3 HIV/AIDS
4.4 INFLUENZA
4.5 ENDOCARDITE INFECCIOSA
4.6 LEPTOSPIROSE
4.7 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
4.8 LEISHMANIOSE VISCERAL
4.9 MENINGITE
4.10 HANSENÍASE
4.11 ROTINA APÓS EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL COM
MATERIAL BIOLÓGICO
4.12 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS
4.13 COVID-19
05 - Módulo de Nefrologia
5.1 CÓLICA NEFRÉTICA
5.2 INJÚRIA RENAL AGUDA
5.3 DISTÚRBIOS DE ÁGUA E SÓDIO
5.4 DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DO POTÁSSIO
5.5 DISTÚRBIO DO METABOLISMO DO CÁLCIO
5.6 INTERPRETAÇÃO DA GASOMETRIA ARTERIAL E
DISTÚRBIOS ÁCIDOS BÁSICOS
5.7 SÍNDROME NEFRÓTICA
5.8 SÍNDROME NEFRÍTICA
06 - Módulo de Pneumologia
6.1 EXACERBAÇÃO DE ASMA
6.2 DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
6.3 TROMBOEMBOLIA PULMONAR AGUDA
6.4 DERRAME PLEURAL
6.5 PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE
6.6 PNEUMONIA NOSOCOMIAL
6.7 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA
6.8 VENTILAÇÃO MECÂNICA
07 - Módulo de Reumatologia
7.1 LÚPUS ERITEMATOSOS SISTÊMICO (LES)
7.2 SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE (SAF)
7.3 ARTRITE REUMATOIDE
7.4 ARTRITES AGUDAS
7.5 GOTA
7.6 OSTEOPOROSE
7.7 FIBROMIALGIA
08 - Módulo de Neurocirurgia/Neurologia
8.1 TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO
8.2 TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
8.3 HIDROCEFALIA
8.4 CEFALEIAS
8.5 DOENÇAS VASCULARES CEREBRAIS
8.6 SÍNDROMES EPILÉTICAS
8.7 MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA
8.9 SEDAÇÃO E ANALGESIA
8.10 Coma
8.11 DELIRIUM
8.12 ENCEFALOPATIA METABÓLICA
8.13 SÍNDROMES DEGENERATIVAS
8.14 SÍNDROMES DEMENCIAIS
8.15 MORTE ENCEFÁLICA
09 - Módulo de Hematologia
9.1 INVESTIGAÇÃO INICIAL DAS ANEMIAS
9.2 ANEMIA FERROPRIVA
9.3 ANEMIA DA INFLAMAÇÃO
9.4 ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
9.5 ANEMIAS HEMOLÍTICAS
9.6 ANEMIA FALCIFORME
9.7 NEUTROPENIA FEBRIL
9.8 INDICAÇÕES E REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
10 - Módulo de Psiquiatria
10.1 SURTO PSICÓTICO
10.2 RISCO DE SUICÍDIO
10.3 ATAQUES DE PÂNICO
11 - Módulo de Oftalmologia
11.1 CERATITES
11.2 CELULITE PRÉ-SEPTAL E PÓS-SEPTAL
11.3 CONJUNTIVITES
11.4 EDEMA PALPEBRAL
11.5 GLAUCOMA AGUDO
11.6 HERPES ZÓSTER OFTÁLMICO
11.7 HORDÉOLO E CALÁZIO
11.8 TRAUMA DE ÓRBITA