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H489 Hemograma: um guia prático / Deivide de Sousa Oliveira… [et al.], autores; Herivaldo Ferreira
da Silva, coordenação. – Salvador: SANAR, 2019.
144 p.: il.; 13 x 19 cm.
ISBN 978-85-5462-128-5
1. Hemograma – Guias. 2. Sangue – Exame. 3. Leucócitos. 4. Medicina – Prática. I. Oliveira, Deivide
de Sousa, aut. II. Silva, Herivaldo Ferreira da, coord.
CDU: 616.15-076
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREIRE, Thayná Araújo (coord.) et al. Manual de Semiologia Médica. 1. ed. Salvador: Editora Sanar,
2020.
2. Folha de rosto
3. Créditos
4. Prefácio
5. Apresentação
6. Introdução
7. Colaboradores
8. Siglas
5. Capítulo 7 - Eritrocitose
7. Capítulo 9 - Leucocitose
8. Capítulo 10 - Neutrofilia
9. Capítulo 11 - Neutropenia
Capítulo 2
Índices hematimétricos – eritrograma
Capítulo 3
Introdução às anemias
Definição
Classificação das anemias
Abordagem diagnóstica
Capítulo 4
Anemias microcíticas
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 5
Anemias macrocíticas
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 6
Anemias normocíticas
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 7
Eritrocitose
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 8
Introdução à série branca
Capítulo 9
Leucocitose
Introdução
Fisiop atologia
Avaliação e etiologia
Desvio à esquerda
Reação leucemoide
Reação leucoeritroblástica
Capítulo 10
Neutrofilia
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 11
Neutrop enia
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 12
Linfocitose
Introdução
Avaliação e etiologia
Capítulo 13
Linfop enia
Introdução
Etiologia
Avaliação
Capítulo 14
Eosinofilia e eosinop enia
Eosinofilia
Etiologia
Eosinop enia
Capítulo 15
M onocitose e monocitop enia
Introdução
M onocitose
M onocitop enia
Capítulo 16
Basofilia e basop enia
Introdução
Avaliação
Etiologia
Capítulo 17
Trombocitop enia
Introdução
Avaliação
Capítulo 18
Trombocitose
Introdução
Avaliação e etiologia
Capítulo 19
Pancitop enia
Introdução
Avaliação e etiologia
Capítulo 20
Esfregaço Periférico
Apêndice
Introdução
O hemograma é um dos exames mais solicitados na prática médica. Ele, talvez, represente um dos
poucos contatos que o estudante ou o profissional de saúde terão com o vasto mundo da Hematologia,
tendo em vista a dificuldade que os cursos da área da saúde têm em relação a esse capítulo da Ciência.
Muitas vezes esse mundo é povoado por quimeras, por medos e pelo desconhecido. Lendas sobre as
doenças hematológicas, lendas sobre os exames e o encontro com o insolúvel e o ininteligível. É natural
e humano temer o que não se sabe, o que não se conhece; entretanto, quando se lida com as ciências da
saúde, o desconhecimento possui um preço irreparável.
Nesse sentido, esse livro se propõe a ser uma arma contra esse medo que muitos têm diante do
grande oceano da Hematologia, especialmente, tomando como base as alterações do hemograma para a
navegação pelos mares bravios das doenças hematológicas, tentando chegar a um porto seguro, onde se
possa tecer alguma hipótese a respeito daquela alteração demonstrada pelo exame.
O hemograma, nesse contexto, vai ser o nosso mapa, e esse livro se propõe a ser uma bússola,
talvez mais para um aletiômetro, onde as dúvidas podem ser respondidas a depender do quão
interessado esteja a pessoa que perguntar. As fronteiras do universo da hematologia estão quase todas
tocadas, mesmo que apenas citadas, dentro do livro, que, apesar de conciso, primou pela abrangência e
pela incitação da curiosidade do leitor.
Espera-se que, ao final da leitura, possamos ter chegado a um ponto mais profundo da dúvida e ter
levantado ainda mais o desejo de se mergulhar nesse mundo tão belo e encantador da Ciência do
Sangue.
AH Anemia hemolítica
AP Anemia p erniciosa
AR Artrite reumatoide
ECG Eletrocardiograma
ECO Ecocardiograma
EGD Esofagogastroduodenoscop ia
Hb Hemoglobina
HbA2 Hemoglobina A2
HS V Herpes virus
Ht Hematócrito
IC Insuficiência cardíaca
LH Luteinizing hormone
MO M edula óssea
PTH Paratormônio
PV Policitemia vera
S HU Síndrome hemolítico--urêmica
TB Tuberculose
TP Temp o de p rotrombina
TS H Thyroid-stimulating hormone
Autores organizadores
Daniel Girão Britto
Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará
Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE
Autores
Ana Flávia de Holanda Veloso
Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará
Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE
Referências
1. EXPERT PANEL CYTOMETRY OF THE INTERNATIONAL COUNCIL OF
STANDARDIZATION IN HAEMATOLOGY (2000). ICSH Recommendation for the
measurement of a reference paciência cell volume. Lab. Haematol, 7, 148-170.
2. FIORIN, E.; STEFLAN, A.; PRADELLA, P.; BIZZARO, N.; POTENZA, R.; ANGELIS, V.
(1998). IgG platelet antibodies in EDTA-dependent Pseudothrombocytopenia bind to
Membrane Glycoprotein Ilb. Am I Clin Pathol, 110, 178-183.
3. CAMPBELL, V.; FOSBURY.; BAIN, B. J. (2009). Platelet phagocytosis as a case or
pseudothrombocytopenia. Br J Haematol. 99, 817-823.
Capítulo 2
Homens: 13 a 18 g/dL
Hemoglobina (Hb)
Mulheres: 12 a 15,5 g/dL
Homens: 40 a 54%
Hemat ócrit o (Ht )
Mulheres: 36 a 45%
Introdução às Anemias
A anemia é a condição clínica mais comum segundo relatório da OMS
2014, associando-se à piora do estado nutricional, à falta de acesso a
serviço de saúde e a piores índices de desenvolvimento humano, motivo
pelo qual se recomendou melhoria do acesso a profissionais de saúde como
meta para erradicação de anemia ferropriva, principal causa de anemia
mundialmente.
Definição
Define-se anemia quando hemoglobina abaixo de 13 g/dL para homens,
12 g/dL para mulheres em idade fértil. Até o período da puberdade, os
valores de referência na infância são inferiores aos da vida adulta.
O decremento habitual dos níveis de hemoglobina é conhecido como anemia
fisiológica da infância, e decorre, dentre outros fatores, da adaptação à vida
extrauterina após o parto no início da vida e, posteriormente, pode estar
associado a mudanças da afinidade entre a hemoglobina e o oxigênio neste
período da vida.
• Astenia
• Palidez
• Dispneia
• Sopros cardíacos
• Palpitações
• Tontura
• Cefaleia
• Vertigem
• Lipotímia
Anamnese detalhada com pesquisa de doenças prévias, evolução dos
sintomas, pesquisa de perda crônica de sangue (história ginecológica),
sintomas gastrointestinais, investigação de hemólise, alterações
neurológicas, história dietética, história familiar e uso de fármacos é
importante. Da mesma forma, alterações encontradas no exame físico podem
sugerir etiologias específicas da anemia.
Quadro 3.1. Achados da anamnese e do exame físico que podem sugerir a
etiologia da anemia.
Anemias microcíticas
Introdução
As anemias microcíticas apresentam VCM menor que 80 fL. Geralmente,
o HCM também encontra-se reduzido, menor que 28 pg, caracterizando as
hemácias como microcíticas e hipocrômicas. A avaliação do paciente deve
ser criteriosa, pois esse achado pode refletir desde condições prontamente
tratáveis, como anemia ferropriva, até condições raras e de manejo
potencialmente complicado, como talassemias.
Etiologia
A deficiência de ferro pode ser associada a várias causas, como aumento
da demanda por ferro, geralmente condicionado por perdas sanguíneas,
gravidez e hemólise intravascular com hemoglobinúria. Outra condição
também favorável ao desenvolvimento de anemia é o suprimento inadequado
de ferro, seja por restrição de dieta, por má absorção dos alimentos
(gastrectomias, doenças inflamatórias intestinais e doença celíaca), por
sangramento ginecológico ou gastrointestinal, estirão de crescimento na
puberdade etc. Ademais, fatores genéticos também podem conduzir a esse
quadro por meio da função anormal da transferrina em uma condição de
atransferrinemia congênita. Deve-se ressaltar que a anemia ferropriva é a
principal causa de anemia no mundo, especialmente em países em
desenvolvimento, nos quais o baixo investimento em saneamento básico e as
péssimas condições socioeconômicas são as principais causas dessa doença.
No que concerne ao diagnóstico diferencial de microcitose, defeitos em
fatores genéticos também podem ser apontados na ocorrência de anemia
sideroblástica e talassemias. Pode-se citar ainda a deficiência de cobre como
causa rara de anemia microcítica, com ferro sérico baixo, e níveis normais de
transferrina e ferritina.
Avaliação
As anemias microcíticas estão frequentemente associadas à deficiência de
ferro. Contudo, existem outras condições que podem convergir para critérios
de avaliação semelhantes, diferenciando-se por não apresentarem reserva de
ferro diminuída (Fluxograma 4.1).
A anemia ferropriva se caracteriza como principal diagnóstico de
microcitose e hipocromia, consequente da diminuição da síntese dos grupos
heme ou das cadeias globínicas. Os achados laboratoriais comumente se
caracterizam por:
• Palidez
• Astenia
• Picacismo
• Escleras azuladas
• Alopecia
• Glossite atrófica
• Queilite angular
• Unhas quebradiças
Fluxograma 4.1. Abordagem diagnóstica de anemia microcítica.
Referências
1. HOFFBRAND, Victor A. Fundamentos em hematologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2013,
p. 25-29.
2. GUALANDRO, Sandra F. M. Aspectos gerais das anemias: classificações. In: MARTINS, M.
A. et al. (Org.). Clínica Médica: Doenças hematológicas, oncologia, doenças renais. 2ª
ed. Barueri: Manole; 2016. cap. 9, p. 56-67.
Capítulo 5
Anemias macrocíticas
Introdução
As anemias macrocíticas apresentam o VCM elevado, acima de 98 fL,
podendo ser divididas em megaloblásticas e não megaloblásticas. Os
pacientes, geralmente, são assintomáticos; porém, em estados mais
avançados, apresentam sintomas comuns a qualquer síndrome anêmica.
É importante ressaltar que, embora a microscopia mostre hipercromicidade,
os macrócitos não são hipercrômicos de fato, uma vez que não apresentam o
CHCM elevado.
Etiologia
A anemia megaloblástica consiste na deficiência de vitamina B12
(cianocobalamina) ou B9 (ácido fólico), os quais atuam em conjunto na
síntese de timina. Desse modo, a síntese e, por conseguinte, a replicação do
DNA é inibida, mas a de RNA, não. Esse processo leva ao desenvolvimento
citoplasmático de uma célula que se encontra em baixa divisão mitótica,
resultando no aspecto megaloblastoide da linhagem eritrocítica.
A reticulocitose causa anemia macrocítica, tanto pela liberação de células
imaturas no sangue, quanto pelo consumo do estoque dos nutrientes citados
anteriormente.
Por fim, a anemia macrocítica não perniciosa pode ser causada por
etilismo, drogas (antirretrovirais, quimioterápicos, anticoncepcionais, entre
outras), hepatopatias, anticonvulsivantes, biguanidas, síndromes
mielodisplásicas ou tireoidopatias. Os mecanismos fisiopatológicos são
pouco conhecidos.
Avaliação
Após a interpretação do hemograma e constatado o VCM elevado, é
realizada a contagem de reticulócitos, caso estejam acima de 2% ou acima
do valor absoluto referencial, devem ser consideradas anemias por excesso
de destruição ou por perdas.
Caso não haja reticulocitose, analisa-se o sangue periférico para
classificar a anemia em megaloblástica ou não. Dois importantes achados
que confirmam a megaloblastose são a presença de neutrófilos
hipersegmentados (mais de cinco neutrófilos com mais de cinco lóbulos ou
um com mais de seis) e de macroovalócitos (eritrócitos macrocíticos de
formato oval). Baixas dosagens séricas de B12 e/ou folato confirmam o
diagnóstico de anemia megaloblástica.
Se a deficiência for de cianocobalamina, recomenda-se fazer avaliações
para excluir deficiência nutricional, disabsorção ou gastrite atrófica.
A deficiência de B12 associada à gastrite atrófica autoimune define anemia
perniciosa (AP), na qual a presença dos anticorpos anticélula parietal e
antifator intrínseco auxiliam na elucidação do diagnóstico. O paciente, em
alguns casos, pode apresentar desordens do sistema nervoso devido à
deficiência de B12, mesmo na ausência de anemia. Em consequência da
eritropoese ineficaz acelerada, pode-se encontrar LDH e bilirrubina indireta
elevadas. Se a causa for deficiência de folato, a coleta de anamnese é o meio
mais eficaz para confirmar diagnóstico, uma vez que o aumento das
necessidades (gravidez, hemodiálise, eritrodermia esfoliativa, entre outros),
dieta inadequada e o consumo de álcool e drogas (sulfas, pirimetamina,
metotrexate, anticonvulsivantes, entre outros) são as principais responsáveis
pela falta de B9. Se os níveis de B12 e folato estão normais, investiga-se as
etiologias de anemia macrocítica não megaloblástica já citadas no tópico
anterior.
Fluxograma 5.1. Abordagem diagnóstica da anemia macrocítica.
Referências
1. A’SOK, Antony C. Anemias megaloblásticas, In: GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis.
Cecil Medicina. 23ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. Cap 170, p. 1417-1428.
2. FAILACE, Renato. Hemograma. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2009. p.91-94.
3. GUALANDRO, Sandra F. M. Aspectos gerais das anemias: classificações. In: MARTINS,
M. A. et al. (Org.). Clínica Médica: Doenças hematológicas, oncologia, doenças renais.
2ª ed. Barueri: Manole; 2016. cap. 9, p. 56-67.
4. HOFFBRAND, Victor A. Anemias megaloblásticas. In: KASPER, Dennis L. et al. (Org.).
Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH; 2017. cap. 129, p. 2974-3012.
5. HOFFBRAND, Victor A. Fundamentos em hematologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2013,
p. 25-29.
Capítulo 6
Anemias normocíticas
Introdução
Nas anemias normocíticas, o VCM se encontra entre 80 e 98 fL, mas a
hemoglobina se encontra abaixo da faixa adequada ao paciente.
Normalmente assintomático, o paciente que apresenta exames com anemia
normocítica deve ter uma avaliação cuidadosa, pois a anemia pode ser o
primeiro sinal de alguma enfermidade sistêmica, assim como uma doença
hematológica primária.
Etiologia
A anemia normocítica pode ter origem tanto pelo excesso de destruição
das hemácias quanto pela falta de produção dessas células, além do
hiperesplenismo e da perda aguda de sangue. Deve-se notar que o estágio
inicial de quase todas as anemias é normocítico, sendo aqui denotadas as
principais causas hiperproliferativas e hipoproliferativas.
Existem causas de origem congênitas (hemoglobinopatias,
membranopatias e eritroenzimopatias) e adquiridas de hemólise. Os
mecanismos de hemólise são diversos. Nesses casos, é necessário realizar
hematoscopia, testes diagnósticos e investigar o histórico do paciente para
infecções (Malária, Babesia, Bartonella, Clostridium, Rickettsia,
Haemophilus influenzae e HIV) e exposição a drogas (Quadro 6.2).
A anemia da doença crônica pode ter origem de condições inflamatórias,
infecciosas, neoplásicas malignas e outras condições sistêmicas. Contudo, as
anemias associadas a doenças renais, hepáticas e endócrinas não apresentam
os mesmos perfis de ferro das causadas por doenças crônicas, devendo-se
investigar a função desses órgãos em particular. Causas como aplasia
medular, infiltrações medulares, síndromes mielodisplásicas e anemia
sideroblástica devem ser diagnosticadas pela biópsia de MO (Quadro 6.2).
Avaliação
As anemias normocíticas podem ter diversas causas, sendo necessária
uma abordagem clínica detalhada para se confirmar o diagnóstico
(Fluxograma 6.1 e Quadro 6.1).
A anemia da doença crônica (ADC), apesar de poder apresentar
microcitose, é a causa mais comum da maioria das anemias normocíticas em
adultos, e sendo feita a abordagem adequada, pode-se dispensar a requisição
de muitos exames. O paciente deve apresentar todos os seguintes achados:
anemia moderada (hemoglobina 9-11 g/dL), RDW normal, sem células
anormais circulantes e com doença crônica conhecida. Se tudo conferir,
pode-se presumir que seja ADC, devendo-se tratar a doença de base e
acompanhar o paciente. Recomenda-se a eritropoetina recombinante se o
paciente estiver sintomático e a causa não for neoplásica. Formulações de
ferro de alta disponibilidade têm demonstrado eficácia em casos
selecionados.
• Infecções
• Afogament o
• T rauma
HEMATOSCOPIA
EXAMES COMPLEMENTARES
• Fibrinogênio, T P e T T PA
EXAMES COMPLEMENTARES
• T 4 livre, T SH
CONDIÇÕES CONGÊNITAS
• Anemia falciforme
• Doença falciforme
• Deficiência de G6P D
CONDIÇÕES ADQUIRIDAS
CAUSAS PRIMÁRIAS
• Aplasia medular
• Síndromes mielodisplásicas
• Invasão medular
CAUSAS SECUNDÁRIAS
• T ireoidopat ia
Eritrocitose
Introdução
Eritrocitose, poliglobulia ou policitemia são termos que se referem ao
aumento da concentração normal da hemoglobina, valor que é calculado de
acordo com a idade e o sexo do paciente. Na prática diária, eritrocitose é
definida como hemoglobina acima de 16,5 g/dL e hematócrito acima de 49%
em homens, e hemoglobina acima de 16 g/dL e hematócrito acima de 48% em
mulheres. Várias podem ser as causas dessa condição, o que nos permite
classificá-la em dois tipos: poliglobulia absoluta e poliglobulia relativa.
Etiologia
A poliglobulia relativa é decorrente da hemoconcentração, como ocorre
em grandes queimados, ou que pode estar relacionada ao uso de diuréticos e
à desidratação. Ressalta-se que a alteração de valores em três exames
consecutivos tornam menos provável a hipótese de poliglobulia relativa.
Ainda é possível subdividir as poliglobulias absolutas em dois grupos:
poliglobulias absolutas primárias e secundárias. No primeiro grupo,
encontram-se a poliglobulia absoluta primária congênita, uma condição que
ocorre devido a alterações nos receptores de eritropoetina (EPO), e a
poliglobulia absoluta primária adquirida por mutação em genes de
tirosinoquinase, que recebe a denominação de policitemia vera (PV). Em
casos de estimulação hipóxica ou proliferação celular produtora de EPO,
devem ser avaliadas causas de poliglobulias secundárias.
Na Quadro 7.1, estão listados os principais dentre esses distúrbios.
Avaliação
Um paciente com poliglobulia manifesta-se clinicamente com sintomas
resultantes da hiperviscosidade, da hipervolemia e do hipermetabolismo, que
causam alterações nos mais diversos sistemas do organismo. É importante
lembrar-se de sinais e sintomas como pletora facial, dor abdominal ou
torácica, turvação visual, parestesia, confusão mental, hemorragia e eventos
trombóticos. Prurido aquagênico, eritromelalgia e esplenomegalia são mais
indicativos de PV, enquanto hipovolemia, dispneia, tosse crônica, perda
ponderal, massas abdominais, hematúria e história de transplante,
principalmente renal, são mais indicativas de poliglobulias secundárias.
O diagnóstico etiológico é de extrema importância para a definição do
tratamento e do prognóstico, devendo seguir os passos descritos no
fluxograma.
CONGÊNITA
ADQUIRIDA
Associ ada à h i póxi a ou a doe n ças cardi opu l m on are s
• Cist os renais
• Hidronefrose
• Meningioma
• Feocromocit oma
• Leiomioma ut erino
Eosinófilos 40-400/mm³
Basófilos 0-200/mm³
Linfócit os 1.000-4.500/mm³
Células da linhagem branca Valores de referência
Monócit os 100-1.000/mm³
Referências
1. OLIVEIRA, Raimundo Antonio Gomes. Hemograma: como fazer e interpretar. 2. ed. São
Paulo: Red Publicações; 2015.
Capítulo 9
Leucocitose
Introdução
O termo leucocitose refere-se a um aumento no número absoluto total de
glóbulos brancos. Do ponto de vista prático, é tradicionalmente classificada
de acordo com o grupo de glóbulos brancos que contribuem para um aumento
no número total de leucócitos. Portanto, pode ser causada por um aumento na
contagem de:
• Neutrófilos (neutrofilia)
• Linfócitos (linfocitose)
• Monócitos (monocitose)
• Eosinófilos (eosinofilia)
• Basófilos (basofilia)
• Células imaturas (blastos)
Uma combinação de qualquer um dos itens acima pode estar envolvida.
Fisiopatologia
A leucocitose pode ser uma reação a vários processos infecciosos,
inflamatórios e, em certos casos, fisiológicos (por exemplo, estresse,
exercício). Essa reação é mediada por várias moléculas, que são liberadas
ou reguladas positivamente em resposta a eventos estimulatórios.
Avaliação e etiologia
A leucocitose deve ser avaliada de acordo com o tipo de célula de
linhagem branca que contribui para um aumento do número absoluto de
leucócitos no sangue. Quando há neutrofilia, as seguintes condições
destacam-se como possíveis e mais frequentes etiologias:
Quadro 9.1. Etiologias de neutrofilia.
Desvio à esquerda
O desvio à esquerda pode ser definido como aumento de neutrófilos não
segmentados ou imaturos (mielócitos, metamielócitos e bastões) no sangue
periférico. Está associado principalmente a infecções bacterianas, quando há
consumo de neutrófilos, de modo que a medula óssea é estimulada a liberar
células imaturas.
Embora não seja comum, o desvio à esquerda também foi observado em
outras condições além da infecção bacteriana. Vários relatos o detectaram
após a aplicação de nutrição parenteral e corticosteroides, bem como após
hemorragia, anóxia, acidose metabólica e cirurgias.
Apesar das outras causas, é válido ressaltar que a hipótese de infecção
deve ser sempre considerada diante de um hemograma que mostre
leucocitose com desvio à esquerda, por ser a causa mais frequente e,
potencialmente, fatal.
Reação leucemoide
A reação leucemoide é um distúrbio hematológico, definido por uma
contagem de leucócitos superior a 25.000/mm³, mas, geralmente, não
ultrapassando o limite de 50.000/mm³, desencadeada por causas reativas
fora da medula óssea, sendo caracterizada por um aumento significativo de
neutrófilos no sangue periférico e desvio à esquerda. O diagnóstico
diferencial de reação leucemoide são leucemia mieloide crônica (LMC) e
leucemia neutrofílica crônica (LNC). No contexto da reação leucemoide, o
paciente geralmente não apresenta evidências clínicas e laboratoriais de
síndromes mieloproliferativas crônicas, como esplenomegalia, basofilia,
eosinofilia, hiperuricemia e alterações citogenéticas. Uma das mais
importantes causas de reação leucemoide são as infecções, especialmente,
em pacientes críticos.
Reação leucoeritroblástica
A reação leucoeritroblástica é definida pela presença de desvio à
esquerda e eritroblastos circulantes no esfregaço periférico. Geralmente,
ocorre devido à invasão da medula óssea por neoplasias malignas, fibrose
ou granuloma, mas pode ser decorrente de anorexia nervosa e hemólise
intensa. Na ausência de sinais clínicos e laboratoriais de hemólise, a sua
presença é indicação para biópsia de medula óssea.
Referências
1. CHABOT-RICHARDS, D. S.; GEORGE, T. I. Leukocytosis. International journal of
laboratory hematology, v. 36, nº 3, p. 279-288, 2014.
2. HOFFBRAND, A. Victor. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed;
2013.
3. HONDA, Takayuki et al. Neutrophil left shift and white blood cell count as markers of
bacterial infection. Clinica chimica acta, v. 457, p. 46-53, 2016.
4. SAKKA, Vissaria et al. An update on the etiology and diagnostic evaluation of a leukemoid
reaction. European journal of internal medicine, v. 17, nº 6, p. 394-398, 2006.
Capítulo 10
Neutrofilia
Introdução
Os neutrófilos representam 60-70% dos glóbulos brancos no sangue
periférico e são as primeiras células a migrar para sítios de infecção, para
desempenhar importante função na defesa contra vários patógenos.
Neutrofilia é definida como a contagem de neutrófilos acima do valor
absoluto de 7.000/mm³, considerando como referência 70% do valor máximo
de leucócitos (10.000/mm³). Os mecanismos envolvidos na neutrofilia
incluem:
Etiologia
Pacientes assintomáticos com neutrofilia leve e persistente podem
consistir em uma variação da normalidade sem significado patológico
(prevalência de 2,5% da população). As causas com significado clínico são
geralmente infecciosas, inflamatórias ou primárias da medula óssea, mas
diversas outras condições podem estar associadas (Quadro 10.1). Infecções
são comuns e, caracteristicamente, têm melhora rápida após tratamento
correto. Algumas bactérias, como pneumococos, estafilococos e Clostridium
spp., associam-se à leucocitose. Apesar de a neutrofilia ser mais associada a
infecções bacterianas, alguns vírus, como os da família Herpesviridae,
podem causar neutrofilia, a qual é acompanhada de linfócitos atípicos
descritos na análise do esfregaço periférico. No entanto, para que se
estabeleça a inflamação como responsável pelo aumento de neutrófilos é
necessário ter o contexto clínico de doença inflamatória e excluir outras
causas para a neutrofilia.
Alguns medicamentos podem causar neutrofilia. Qualquer droga pode ser
suspeita, mas algumas, como corticoides, catecolaminas, lítio, fatores
estimulantes de colônia (filgastrina), ATRA e ATO são mais associados.
A depender do mecanismo do fármaco, a neutrofilia pode surgir após horas
(liberação de neutrófilos da medula) ou dias (reações alérgicas). A asplenia é
outra causa de aumento moderado de neutrófilos, podendo ocorrer após
esplenectomia cirúrgica ou “autoesplenectomia”, como ocorre na anemia
falciforme. Nesses casos, o paciente também apresenta trombocitose, por não
haver mais sequestro esplênico de plaquetas.
Todas as neoplasias mieloproliferativas e algumas neoplasias não
hematológicas podem apresentar com neutrofilia. As neoplasias não
hematológicas podem cursar com neutrofilia por invasão medular, por
inflamação crônica ou por síndrome paraneoplásica. Em neonatos e em
crianças, as doenças genéticas são importantes causas de distúrbios de
leucócitos, podendo cursar com neutrofilia, a citar a deficiência do fator de
adesão leucocitária, a neutrofilia crônica hereditária e a síndrome de Down.
Avaliação
A abordagem da neutrofilia deve inicialmente procurar fatores que
indiquem urgência terapêutica, que incluam instabilidade clínica, presença de
blastos e leucocitose acima de 100.000/mm³ com sintomas, esta última
condição podendo indicar necessidade de leucaférese de emergência para
prevenir complicações vaso-oclusivas de leucostase.
Seguindo a investigação diagnóstica, deve-se primeiramente diferenciar
os quadros reativos dos autônomos. Para essa distinção, exame clínico
detalhado, revisão do esfregaço periférico e exames laboratoriais são
importantes instrumentos. A presença de esplenomegalia pode sugerir
condição primária, como LMC, enquanto o achado de granulações tóxicas nos
neutrófilos, com vacuolização citoplasmática (corpúsculos de Döhle),
apontam para o diagnóstico de neutrofilia reativa. A pesquisa de provas
inflamatórias, como VHS e PCR, apesar de pouca especificidade diagnóstica,
é útil principalmente em pacientes com neutrofilia assintomática.
Quadro 10.1. Etiologias de Neutrofilia.
Neutrofilia
CAUSAS PRIMÁRIAS
• Síndrome de Down
CAUSAS SECUNDÁRIAS
• Infecções
• Est ados inflamat órios (t rauma, infart o, cirurgia,
grandes queimados, doenças inflamat órias aut oimunes)
• Tabagismo
• Asplenia e hipoesplenismo
Neutropenia
Introdução
A neutropenia é uma alteração do hemograma que ocorre com relativa
frequência, sendo definida como contagem de neutrófilos abaixo de 1.500
células/µL. Quanto à cronologia, classifica-se em:
Quadro se resolve em alguns dias e é normalment e
Aguda decorrent e do consumo dessas células ou quando há algum
problema na produção.
Etiologia
Infecções
Infecções, principalmente durante a infância, podem cursar com
neutropenia autolimitada, que ocorre normalmente durante o período de
viremia e se mantêm por cerca de uma semana. Os agentes infecciosos mais
associados são os vírus (HCV, HBV, HIV e CMV), sendo necessária a
pesquisa de anti-HIV durante investigação. Além disso, pode ocorrer em
quadros bacterianos, ressaltando-se que se associa a pior prognóstico em
pacientes sépticos.
Drogas
Qualquer droga tem o potencial de induzir neutropenia, todavia algumas
possuem maior associação, como sulfametoxazol-trimetoprim, drogas
antitireoidianas, antipsicóticos, AINEs, entre outras. A incidência dessa
reação adversa aumenta com a idade, podendo evoluir gravemente pela
maior susceptibilidade desse grupo a infecções.
Congênitas
Dentro desse grupo estão diversas síndromes. As que cursam com
neutropenia exclusivamente são:
Doenças autoimunes
A produção de anticorpos contra antígenos de neutrófilos pode ocorrer
em diversos contextos clínicos, desde reação transfunsional (neutropenia
aloimune) até neutropenia autoimune. Na prática clínica, não se faz
necessária a identificação desses anticorpos, principalmente em adultos,
sendo mais relevante o rastreio de doenças autoimunes sistêmicas que
podem cursar com neutropenia.
Outras causas
Síndromes mielodisplásicas, leucemias agudas, metástases de tumores
sólidos podem apresentar neutropenia, devido à ocupação medular. Uma
entidade à parte que podemos destacar é a leucemia de grandes linfócitos
granulares (LGL), que pode estar associada com a síndrome de Felty.
Apesar de não cursarem com neutropenia isolada, as carências
nutricionais são outras causas relevantes no nosso contexto, principalmente
as deficiências de vitamina B12 e de ácido fólico, podendo ocorrer também
na deficiência de cobre. Devem-se ressaltar as síndromes de falha medular
como causa de neutropenia, especialmente a aplasia medular,
hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) e algumas variantes das
síndromes mielodisplásicas.
Avaliação
Na maioria dos casos, a neutropenia é um achado incidental autolimitado
em pacientes assintomáticos, não necessitando de investigação
complementar. Todavia, quando ocorre de forma crônica ou grave deve ser
avaliada.
Inicialmente, deve-se avaliar se o paciente está com sinais de infecção.
Nessas situações, é aconselhado internar e iniciar antibiótico em todos
pacientes, de preferência com cobertura para antipseudomonas.
Histórica clínica e exame físico detalhados podem auxiliar nos possíveis
diagnósticos diferenciais (Quadro 1). Alguns aspectos relevantes que devem
ser levados em consideração são idade do paciente, alteração crônica
(presente em exames prévios), infecções de repetição (local de
acometimento, gravidade e frequência são dados importantes), história
familiar, história dietética, história patológica prévia (com foco em
neoplasias malignas e doenças autoimunes) e medicações utilizadas.
Quadro 11.1. Etiologias da neutropenia.
Neutropenia
CONGÊNITAS
INFECCIOSAS
• P ós-infecciosas
• Sepse
• Infecções virais
AUTOIMUNIDADES
• Síndrome de Sjögren
• Síndrome Felt y
MALIGNIDADES
• Leucemias agudas
• Síndromes mielodisplásicas
Neutropenia
NUTRICIONAIS
• Deficiência de cobre
• Má nut rição
Linfocitose
Introdução
A linfocitose é um achado laboratorial frequente na prática médica. Para
sua análise, é fundamental considerar a idade do paciente, a história clínica,
a contagem total de linfócitos e os achados morfológicos no esfregaço
periférico.
De uma a duas semanas de vida até a puberdade, os linfócitos podem ser
as células predominantes na leucometria. A partir da adolescência e da idade
adulta, ocorre desvio desse predomínio para a contagem de neutrófilos. Em
crianças, o achado de linfocitose é na maioria das vezes benigno (≥ 7.000
/mm³ em menores de 12 anos deve ser, entretanto, um sinal de alerta). Por
outro lado, linfocitose em população adulta pode exigir uma avaliação
clínica pormenorizada, às vezes, com propedêutica para exclusão de
neoplasias malignas.
Avaliação e etiologia
Identificada a linfocitose no hemograma e avaliados os achados clínicos,
deve-se conduzir o diagnóstico diferencial tanto para causas benignas,
particularmente virais, doenças autoimunes, estresse transitório e tabagismo,
como também para desordens linfoproliferativas.
Inicialmente, por meio do esfregaço de sangue periférico, a linfocitose
deve ser classificada em linfocitose pleomórfica ou monomórfica.
A primeira é comumente associada a processos reativos, sendo nesses casos
demonstrados linfócitos de diferentes formas e tamanhos, por vezes com
morfologia atípica. Nestes casos, encontra-se comumente em associação com
infecções virais, como o exemplo clássico do EBV (mononucleose
infecciosa). A segunda, por sua vez, é mais sugestiva de neoplasias
linfoproliferativas (existem exceções, como infecção por Bordetella
pertussis e mulheres tabagistas).
Linfocitose ≥ 5.000 /mm³ em adulto com esfregaço periférico não
pleomórfico deve-se levantar a hipótese de leucemia linfocítica crônica
(LLC). A partir desse achado, a citometria de fluxo de sangue periférico
auxilia na diferenciação com outras causas. De acordo com os resultados,
não sendo LLC, pode ser necessária a realização de mielograma, biópsia de
medula óssea e/ou linfonodal, além de exames de imagem, de acordo com a
desordem linfoproliferativa aventada.
Existe uma condição considerada precursora de LLC que está presente
em mais de 4% da população > 40 anos denominada linfocitose B
monoclonal de significado indeterminado, cujo critério exige contagem de
linfócitos < 5.000 /mm³. Alguns casos podem progredir para LLC em uma
taxa de até 1-2% por ano.
Quadro 12.1. Etiologias de linfocitose.
Linfocitose
DOENÇAS HEMATOLÓGICAS
• Linfoma de Burkit t
• Linfoma folicular
• Síndrome de Sézary
• T ricoleucemia
DOENÇAS INFECCIOSAS
• Virais (EBV, CMV, caxumba, HSV, influenza,
adenovírus, hepat it es, HIV, rubéola, ent re out ras)
MEDICAMENTOSAS (HIPERSENSIBILIDADE)
DOENÇAS ENDÓCRINAS
• Doença de Addison
• Hipert ireoidismo
Outros
• Tabagismo
• Vacinas
• Esplenect omia
Linfopenia
Introdução
Em indivíduos adultos, o valor de referência mínimo para os linfócitos é
de 1.000/mm³. Contudo, é importante ressaltar que linfopenia superior a
500/mm³ em idosos sem sinais de alarme não precisa ser investigada, pois
esses pacientes possuem uma tendência natural à diminuição do número de
linfócitos.
Etiologia
Linfopenia é um achado laboratorial comum, pois está relacionada a
infecções, principalmente, por agentes virais. No entanto, pode ser causada
por inúmeras enfermidades, que podem ser classificadas em primárias e
secundárias. Nas causas primárias, encontramos as imunodeficiências
primárias que são caracterizadas por infecções graves e oportunísticas, além
de retardo do crescimento em crianças. As causas secundárias tendem a ser
mais agudas e reversíveis, podendo ser decorrentes de infecções,
medicamentos, doenças sistêmicas, malignidades, entre outras causas.
Avaliação
Em pacientes jovens com linfopenia persistente (< 1.000/mm³), é
necessário investigar o histórico recente de doenças infecciosas e analisar se
essas infecções poderiam sugerir alguma deficiência imunológica. Além
disso, doenças sistêmicas; uso prévio de medicamentos; desnutrição; abuso
de álcool e outros sinais/sintomas, como febre, perda de peso, sudorese
noturna, esplenomegalia, linfadenopatias, devem ser investigados.
Quadro 13.1. Etiologias da linfopenia.
Linfopenia
INFECÇÕES
• Fúngicas
MEDICAMENTOS
• Met ot rexat e
• Azat ioprina
• Imunobiológicos
DOENÇAS SISTÊMICAS
• Insuficiência renal
• Insuficiência cardíaca
• Sarcoidose
MALIGNIDADES
• T umores sólidos
ABUSO DE ÁLCOOL
IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
Fluxograma 13.1. Abordagem diagnóstica da linfopenia.
Referências
1. BRASS, Dawn; MCKAY, Pam; SCOTT, Fiona. Investigating an incidental finding of
lymphopenia. Bmj, v. 348, p. g1721, 2014.
2. TEFFERI, Ayalew; HANSON, Curtis A.; INWARDS, David J. How to interpret and pursue
an abnormal complete blood cell count in adults. In: Mayo Clinic Proceedings. Elsevier,
2005. p. 923-936.
Capítulo 14
Eosinofilia e Eosinopenia
EOSINOFILIA
A eosinofilia é definida por contagem de eosinófilos ≥500/mm³. Essa
alteração laboratorial não é estabelecida pela porcentagem de eosinófilos
(menor que 5% do total de leucócitos em condições normais), porque essa
varia com a contagem total e a proporção de outras linhagens de leucócitos.
Alguns conceitos são importantes quando tratamos de eosinofilia (Quadro
14.1):
Quadro 14.1. Conceitos de eosinofilia.
Etiologia
Um ponto de fundamental importância na abordagem etiológica é a
diferenciação entre causas reativas e clonais.
A primeira condição é caracterizada pela proliferação de eosinófilos
maduros policlonais e pode ter como origem distúrbios benignos ou
malignos. Na segunda, os eosinófilos representam o clone maligno primário,
e os precursores podem ser encontrados no sangue periférico ou na medula
óssea. Se nenhuma evidência de clonalidade for determinada o paciente é
considerado portador de uma síndrome hipereosinofílica idiopática,
diagnóstico de exclusão em indivíduos com eosinofilia sustentada e lesão de
órgãos-alvo.
O Quadro 14.2 e o texto seguinte abordam algumas das causas mais
importantes de eosinofilia:
Quadro 14.2. Etiologias de eosinofilia.
Eosinofilia reativa
Eosinofilia clonal
Eosinofilia reativa
a) Infecções
A infecção helmíntica é a causa mais comum de eosinofilia em todo o
mundo. No geral, indivíduos que possuem residência em localidades
subdesenvolvidas ou que apresentam histórico recente de viagem para região
endêmica de determinado parasita têm uma alta probabilidade de ter
eosinofilia causada por infecções helmínticas.
Nas infecções por helmintos, a eosinofilia é geralmente mais pronunciada
no início da infecção, coincidindo com a migração larval através dos tecidos.
Os protozoários, em geral, não causam eosinofilia, com exceção de Isospora
belli e Sarcocystis spp.
Sintomas condizentes com acometimento de sistemas específicos também
podem guiar o diagnóstico para uma etiologia infecciosa. Esse fato ocorre nas
infecções por organismos que possuem ciclo pulmonar, como os nematódeos,
em que a doença pode manifestar-se com tosse, febrícula, infiltrados
pulmonares transitórios e eosinofilia, quadro conhecido como síndrome de
Loeffler.
Embora o HIV isoladamente não seja uma causa importante de eosinofilia
(o esperado é a supressão da contagem de eosinófilos em pacientes com
infecções bacterianas e virais agudas), o status sorológico deve ser avaliado.
b) Medicamentos
Os medicamentos são uma causa frequente de eosinofilia, devendo-se,
portanto, ser obtida uma história detalhada do uso de medicações.
A eosinofilia induzida por drogas pode ser assintomática e encontrada
incidentalmente, não exigindo necessariamente a cessação do fármaco
causador; entretanto, em casos de complicações órgão-específicas, como
nefrite intersticial aguda e pneumonia intersticial eosinofílica, deve-se
suspender o fármaco.
A síndrome DRESS (drug reaction with eosinophilia and systemic
symptoms) também merece ser lembrada quando se aborda eosinofilia
secundária a medicações, já que possui mortalidade de até 20% nos pacientes
acometidos. Suas manifestações têm início cerca de 4 a 12 semanas após o
início do medicamento causador e incluem febre, linfadenopatia, erupção
cutânea e disfunção hepática.
c) Neoplasias
A eosinofilia pode ser encontrada em associação a várias neoplasias,
como descrita no contexto de carcinoma do rim, adrenais, tireoide, fígado e
pâncreas, mesotelioma e lipossarcoma.
A eosinofilia também pode resultar de malignidades hematológicas, a
saber: leucemia mieloide crônica, linfoma Hodgkin e linfomas de células T,
como a síndrome de Sézary e a leucemia/linfoma de células T do adulto.
d) Desregulação imune
Algumas síndromes de imunodeficiência e doenças autoimunes possuem
forte associação com eosinofilia.
Exemplos de imunodeficiências primárias associadas à eosinofilia
incluem síndrome linfoproliferativa autoimune (ALPS) e síndrome hiper-IgE,
as quais devem ser consideradas particularmente na faixa etária pediátrica e
incluem manifestações de atopia, como dermatite atópica ou alergia
alimentar.
A granulomatose eosinofílica com poliangeíte (anteriormente denominada
síndrome Churg-Strauss) é uma vasculite que possui relação com asma e
eosinofilia. Indivíduos com essa enfermidade podem apresentar infiltrados
pulmonares migratórios, neuropatia periférica e acometimento orgânico
mediado por eosinófilos.
e) Desordens alérgicas
Eosinofilia também pode ser observada em rinite alérgica, dermatite
atópica e asma. Quando ocorrem isoladamente essas doenças geralmente não
cursam com contagem de eosinófilos > 1.500/mm³, sendo necessária
avaliação de outras condições nesses casos.
A aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA) também se enquadra
nesse grupo de desordens e caracteriza-se pela presença de reação de
hipersensibilidade ao Aspergillus fumigatus, níveis elevados de IgE total e
específica, bronquiectasias e infiltrados pulmonares, manifestando-se
clinicamente como “asma refratária”.
Eosinofilia clonal
As causas de eosinofilia clonal devem ser aventadas a partir da não
identificação de causas reativas. A avaliação da clonalidade é feita segundo a
análise do cariótipo, citogenética por FISH ou biologia molecular, tornando a
abordagem mais complexa. Se nenhuma evidência de clonalidade for
encontrada, considera-se síndrome hipereosinofílica idiopática.
Existem quatro entidades importantes no grupo das eosinofilias de origem
clonal determinadas a partir de análise citogenética (mostradas no
Fluxograma 14.1)
Fluxograma 14.1. Abordagem diagnóstica da eosinofilia.
EOSINOPENIA
A eosinopenia é definida como uma contagem de eosinófilos <40/mm³.
Essa alteração pode ser encontrada em associação a eventos de estresse
agudo, sendo mediada por corticosteroides adrenais e epinefrina.
Em doenças infecciosas/inflamatórias a resposta envolve uma diminuição
persistente do número de eosinófilos circulantes, como consequência da
liberação de pequenas quantidades de fatores quimiotáticos na circulação e
sequestro de células nos tecidos. Nas infecções bacterianas, por exemplo,
pode-se encontrar leucocitose com eosinopenia.
Quanto a sua ocorrência em doenças sistêmicas, existem relatos na
síndrome de Cushing, no lúpus e na acromegalia. Também pode ser induzida
por drogas, desenvolvendo-se imediatamente após a administração de
corticotropina, corticosteroides, histamina ou epinefrina. Nesses casos, a
menos que haja administração contínua, o esperado é que a contagem de
eosinófilos retorne a níveis normais em poucos dias.
O termo anaeosinofilia se refere à ausência de eosinófilos no sangue
periférico. Em nosso meio merece destaque como etiologia o calazar, doença
infecciosa em que é descrita a associação entre pancitopenia e anaeosinofilia.
Outras causas são a febre tifoide e a deficiência de mieloperoxidase.
Quadro 14.3. Etiologias da eosinopenia.
Eosinopenia
Anaeosinofilia
• Calazar
• Febre t ifoide
• Deficiência de mieloperoxidase
Referências
1. CURTIS, C., OGBOGU, P. U. (2015). Evaluation and Differential Diagnosis of Persistent
Marked Eosinophilia. Immunology and Allergy Clinics of North America. Elsevier, 2015. p.
387–402.
2. FALCHI, L., VERSTOVSEK, S. Eosinophilia in Hematologic Disorders. Immunology and
Allergy Clinics of North America. Elsevier, 2015. p. 439-452.
3. GIL, H. et al. L’éosinopénie en 2018. La Revue de Medecine Interne. Elsevier; 2019. p. 173-
177.
4. HOFFMAN, R. et al. Hematology: Basic Principles and Practice. 17ª edição. Elsevier;
2018.
5. ZINI, G. et al. Abnormalities in leukocyte morphology and number. Blood and Bone Marrow
Pathology. Elsevier, 2011. p.247–261.
Capítulo 15
Monocitose e Monocitopenia
Introdução
O monócito é uma célula em transição entre a medula óssea e os tecidos.
Após migrar para um tecido específico, a célula se desenvolve como
macrófago e adquire características fenotípicas únicas, como as células de
Langerhans na pele, células de Kupffer no tecido hepático, histiócitos,
células mesangiais no rim e os osteoclastos no tecido ósseo. Pela sua baixa
concentração no sangue, além do seu tempo de vida prolongado e resposta
complexa a citocinas, a contagem de monócitos costuma ser pouco
previsível e geralmente acompanha a de outras linhagens.
Monocitose
Como em outras alterações hematimétricas, é importante avaliar o
esfregaço sanguíneo para distinguir a morfologia da célula e procurar outros
achados que tragam elucidação diagnóstica junto com os dados clínicos.
Monocitose reativa a doenças infecciosas e inflamatórias é o fenômeno
mais comum, sendo bem descrita sua associação a doenças granulomatosas.
No Brasil, a tuberculose sempre deve ser lembrada e investigada pela sua
prevalência. Monocitose é associada à elevação do risco cardiovascular em
alguns estudos, observando-se inclusive um aumento importante na linhagem
poucos dias após eventos isquêmicos.
Muitas neoplasias hematológicas apresentam monócitos neoplásicos. Por
isso, se houver persistência de monocitose e falha na correlação clínica, é
indicada uma melhor investigação.
Monocitopenia
Apesar de poder ocorrer em qualquer doença da medula óssea associada
à pancitopenia, a monocitopenia é característica da tricoleucemia. Também
pode ocorrer na leucemia linfocítica crônica, colagenoses, infecção pelo
HIV e neutropenia crônica. Pode aparecer transitoriamente após a
administração de alguns medicamentos, como glicocorticoides e interferon
α, e após procedimentos como radioterapia, quimioterapia e hemodiálise.
Quadro 15.1. Etiologias de monocitose e monocitopenia.
Monocitose
DOENÇAS HEMATOLÓGICAS
• Síndromes mielodisplásicas
• P ós-esplenect omia
DOENÇAS IMUNES
• Sarcoidose
DOENÇAS INFECCIOSAS
• T uberculose
• Micobact erioses at ípicas
• Febre t ifoide
• Sífilis
• Cit omegalovírus
• Varicela-zóst er
• Influenza
• Brucelose
DOENÇAS GASTROINTESTINAIS
OUTROS
• IAM
• Bypass cardíaco
Monocitopenia
• T ricoleucemia
• Aplasia medular
Referências
1. ARBER, Daniel A. et al. Wintrobe’s clinical hematology. Lippincott Williams & Wilkins,
2013.
2. BEUTLER, Ernst et al. Williams hematology. New York: McGraw-Hill, 2006.
3. BONILLA, Mary Ann; MENELL, Jill S. Disorders of white blood cells. Lanzkowsky’s
Manual of Pediatric Hematology and Oncology. Academic Press, 2016. p. 209-238.
4. NETO, Abrahão Afiune et al. Monocitose é um Marcador de Risco Independente para a
Doença Arterial Coronariana. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 86, nº 3, 2006.
Capítulo 16
Basofilia e Basopenia
Introdução
Os basófilos são os granulócitos em menor quantidade no hemograma e
apresentam poucas funções conhecidas. Entretanto, a principal função
demonstrada até o momento é sua capacidade de se ligar à membrana celular
de parasitas, promovendo seu rompimento. Estão relacionados à ativação
das células Th2 durante infecções parasitárias e reações alérgicas.
Avaliação
Os basófilos representam cerca de 0-2% dos leucócitos totais. As
afecções basofílicas podem ter diferentes causas, sendo necessária a
avaliação clínica.
A basofilia e a basopenia devem seguir monitoramento e tratamento da
causa base. Assim, pacientes com essas alterações no leucograma seguem
manejo clínico da comorbidade associada.
Etiologia
Os distúrbios relacionados à basofilia possuem diferentes etiologias, que
possibilitam ser organizados em grupos para facilitar o raciocínio
diagnóstico. Alguns distúrbios neoplásicos, como síndromes
mieloproliferativas e leucemia basofílica, podem cursar com um aumento no
número de basófilos. Encontra-se basofilia também em pacientes com
choque anafilático, devido à liberação de mediadores para a circulação,
típico em reações de hipersensibilidade tipo I. Outra causa comum de
basofilia é o hipotireoidismo.
A basopenia é pouco comum e ocorre, principalmente, devido à
diminuição da produção de leucócitos pela medula óssea. Pode ser
encontrada em condições não patológicas, como ovulação e gravidez, ou
associada ao hipercortisolismo, como na síndrome de Cushing e em
situações de estresse. Além de poder ser encontrada em tratamentos com
medicamentos antitireoidianos (em casos de tireotoxicose) e também em
processos hemorrágicos.
Quadro 16.1. Etiologias de basofilia e basopenia.
Etiologia
BASOFILIA
Di stú rbi os n e opl ási cos
• Leucemia basofílica
Hi pe rse n si bi l i dade ti po I
Hi poti re oi di sm o
BASOPENIA
• T ireot oxicose
• Hemorragia
• Síndrome de Cushing
• Imunossupressores
BASOFILIA
Hi stóri a cl í n i ca e e xam e fí si co
• Síndrome consumpt iva
• P rurido
• Esplenomegalia
• T SH, T 4 livre
BASOPENIA
Hi stóri a cl í n i ca e e xam e fí si co
• Aument o de LH (ovulação)
Referências
1. BAIN, Barbara J. Basophilic differentiation in transient abnormal myelopoiesis. Am J
Hematol, v. 91, n.8, p.847, ago 2016.
2. KANE, John P. Infectious Basophilia? Am J Hematol, v. 91, n.2, fev 2016.
3. LONDONO, Julián et al. Anafilaxia: estado del arte. Iatreia, Medellín, v. 31, nº 2, p. 166-179,
Jun 2018. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-
07932018000200166&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 20 fev. 2019.
http://dx.doi.org/10.17533/udea.iatreia.v31n2ª05
4. MIN, Booki. Basophils: what they ‘can do’ versus what theys ‘actually do’. Nat Immunol, v.
12, n.9, p. 1333-1339, dez. 2008.
5. SABOGAL-CUADRO, Pablo; ZAKZUK, Josefina. Prueba de activación de basófilos:
aspectos técnicos, metodológicos y su utilidad clínica. Rev. Fac. Med., Bogotá, v. 66, nº 3, p.
447-457, Sept. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0120-00112018000300447&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 24 fev.
2019. http://dx.doi.org/10.15446/revfacmed.v66n3.61820.
Capítulo 17
Trombocitopenia
Introdução
Trombocitopenia é definida como a contagem de plaquetas inferior a
100.000/mm³. Existem quatro mecanismos causadores desse distúrbio
sanguíneo:
• Et ilismo
DESTRUIÇÃO PERIFÉRICA
Im u n e
Não i m u n e
• Hemofagocit ose
SEQUESTRO
• Hiperesplesnismo
HEMODILUIÇÃO
• T ransfusão maciça
• Exposição sexual
• Linfonodomegalia
• Hepat oesplenomegalia
Hemograma e hematoscopia
Exames complementares
Referências
1. STASI, Roberto. How to approach thrombocytopenia. ASH Education Program Book, v.
2012, nº 1, p. 191-197, 2012.
2. TEFFERI, Ayalew; HANSON, Curtis A.; INWARDS, David J. How to interpret and pursue an
abnormal complete blood cell count in adults. In: Mayo Clinic Proceedings. Elsevier; 2005. p.
923-936.
3. WONG, Ellice Y.; ROSE, Michal G. Why does my patient have thrombocytopenia?.
Hematology/Oncology Clinics, v. 26, nº 2, p. 231-252, 2012.
Capítulo 18
Trombocitose
Introdução
A trombocitose é definida como aumento no número total de plaquetas no
sangue periférico, tendo como base o valor de referência de 450.000/mm³
sem influência de sexo e etnia. É, normalmente, um achado incidental no
hemograma.
Avaliação e etiologia
Cerca de 85% dos casos de trombocitose são decorrentes de uma causa
reativa e transitória. Esse processo ocorre de forma direta pela maior
liberação de trombopoetina ou de forma indireta por meio de reagentes de
fase aguda, como a interleucina-6, que também podem aumentar sua
produção. Como exemplo de trombocitose reativa, pode-se citar a ferropenia,
causada por deficiência nutricional de ferro, por perda sanguínea ou por
doença maligna subjacente.
Em algumas situações, esse achado pode se associar a causas clonais,
como doenças mieloproliferativas crônicas e síndromes mielodisplásicas,
sendo a diferenciação entre causas reativas e clonais a etapa mais importante
durante a abordagem de um paciente com trombocitose (Quadro 18.1).
A presença de leucocitose com desvio à esquerda (sem sinais de infecção),
basofilia, eosinofilia, elevação do hematócrito e/ou do número de eritrócitos
no hemograma pode sugerir doença mieloproliferativa crônica.
Ressalta-se que cerca de 2,5% da população pode ter trombocitose
fisiológica e que em alguns casos, raros, ela pode ocorrer devido a causas
congênitas, como mutações de ganho de função da trombopoetina ou no seu
receptor (MPL). Uma das suas consequências é o risco aumentado de eventos
trombóticos.
Quadro 18.1. Diferenciação entre trombocitoses reativas e clonais.
Reativa Clonal
Aument o de megacariócit os
Aument o de megacariócit os com format o gigant e,
Medula óssea com morfologia normal displásicos e clusters de
megacariócit os
REATIVAS
• Infecções
• Esplenect omia/hipoesplenismo
• Hemorragias
• Deficiência de ferro
CLONAIS
Pancitopenia
Introdução
Pancitopenia é definida como a redução absoluta simultânea das três
linhagens sanguíneas. É um achado comum na prática diária, estando
associada a diversas condições clínicas, benignas ou malignas. Como forma
de buscar uma maior especificidade, alguns autores determinam pancitopenia
como uma redução do nível de hemoglobina abaixo de 10 g/dL, neutrófilos
abaixo de 1.500/mm³ e plaquetas abaixo de 100.000/mm³. Apesar de uma
alteração relativamente comum e passível de ser encontrada em qualquer
especialidade, a grande maioria dos pacientes que possui pancitopenia é
encaminhada para hematologistas. Um estudo americano revelou que nove de
cada dez pacientes com essa síndrome, encontrados na atenção primária, são
referidos para um especialista.
Avaliação e etiologia
Como mencionado, a pancitopenia é um achado associado a diversos
contextos clínicos, tendo vasto leque de diagnósticos diferenciais. Desse
modo, o paciente pode se apresentar com sintomas decorrentes da doença de
base e/ou da própria pancitopenia (sintomas da síndrome anêmica, infecções
de repetição ou oportunísticas pela neutropenia e sangramentos devido à
plaquetopenia). Desse modo, uma forma de facilitar o raciocínio clínico
seria categorizar a pancitopenia em três grupos causais: medular, periférico
e misto (Quadro 19.1).
Quadro 19.1. Etiologias de pancitopenia.
Desordens de produção
HIPOPROLIFERAÇÃO MEDULAR
• Radiot erapia
• Et ilismo
• CMV
• HIV
• EBV
OCUPAÇÃO MEDULAR
• Mielofibrose primária
• Leucemias agudas
• T ricoleucemia
• Neuroblast oma
• T uberculose
• Sarcoidose
• Doença de Gaucher
DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS
• Deficiência de cobre
SÍNDROMES MIELODISPLÁSICAS
Destruição Periférica
CITOPENIAS AUTOIMUNEs
HIPERESPLENISMO
• Hemoglobinopat ias
• Infecções
Mistas
• Drogas
• Infecções
Esfregaço periférico
Apesar da automatização do processo de contagem de células sanguíneas,
a revisão sistemática dos achados do sangue periférico pelo microscopista
ainda permanece relevante. A análise do esfregaço periférico é composta de
três componentes principais:
Figura 1. Esferócito
Manual do hemograma-135a Causas: anemias hemolít icas aut oimunes; esferocit ose
heredit ária; grandes queimados; recém-nascidos.
Figura 2. Drepanócito
Manual do hemograma-135b Causa: doença falciforme (SS, SC, Sβ-t alassemia).
Figura 3. Hemácia macrocítica
Manual do hemograma-135c Causas: anemia megaloblást ica; et ilismo; síndromes
mielodisplásicas; doenças t ireoidianas (hipot ireoidismo).
Figura 4. Esquizócitos
Manual do hemograma-136a Causas: doenças do grupo das microangiopat ias
t rombót icas.
Figura 5. Policromasia
Manual do hemograma-136b Causas: sugere presença de linhagens erit roides imat uras,
normalment e ret iculócit os.
Figura 6. Eritroblasto
Causas: liberação de precursores premat uros, sendo
Manual do hemograma-136c encont rado em casos de fibrose medular, hemólise int ensa,
infilt ração medular ou hemat opoese ext ramedular.
Figura 7. Neutrófilo hipersegmentado
Manual do hemograma-137a Causas: anemia megaloblást ica e doenças
mieloproliferat ivas crônicas.
Referências
1. ADEWOYIN, A. S. Peripheral blood film-a review. Annals of Ibadan postgraduate
medicine, v. 12, n. 2, p. 71-79, 2014.
2. BAIN, Barbara J. Diagnosis from the blood smear. New England Journal of Medicine, v.
353, n. 5, p. 498-507, 2005
3. FORD, Jason. Red blood cell morphology. International journal of laboratory hematology,
v. 35, n. 3, p. 351-357, 2013.
4. GULATI, Gene et al. Purpose and criteria for blood smear scan, blood smear examination, and
blood smear review. Annals of laboratory medicine, v. 33, n. 1, p. 1-7, 2013.
Apêndice
Quadro 1. Hemograma referência no adulto utilizado no livro.
ERITROGRAMA
Hemácias
M ulheres: 4 a 5 milhões/mm³
Homens: 13 a 18 g/dL
Hemoglobina
M ulheres: 12 a 15,5 g/dL
Homens: 40 a 54%
Hematócrito
M ulheres: 36 a 45%
80 a 98 fL
VCM
27 a 32 p g
HCM
32 a 36 g/dL
CHCM
11 a 15%
RDW
LEUCOGRAMA
% /M M ³
— 4.000 a 10.000
Leucócitos
40 a 75 1.600 a 7.500
Neutrófilos
0 0
Promielócitos
0 0
Mielócitos
0a1 0 a 100
Metamielócitos
0a5 0 a 500
Bastões
40 a 75 1.600 a 7.500
Segmentados
1a5 40 a 500
Eosinófilos
0a2 0 a 200
Basófilos
25 a 45 1.000 a 4.500
Linfócitos
2 a 10 80 a 1.000
Monócitos
Blastos 0 0
PLAQUETOGRAMA
% /M M ³
– 150.000 a 450.000
Plaquetas
GLÓBULOS GLÓBULOS
PLAQUETAS
VERMELHOS BRANCOS