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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREIRE, THAYNÁ ARAÚJO (COORD.) ET AL. MANUAL DE SEMIOLOGIA MÉDICA. 1. ED. SALVADOR: EDITORA SANAR, 2020.
Editora Sanar Ltda.
Rua Alceu Amoroso Lima, 172
Caminho das Árvores
Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar.
CEP: 41820-770 – Salvador/BA
Telefone: 71 3052-4831
atendimento@editorasanar.com.br
editorasanar.com.br
Autores
Aline Linhares Carlos
Ana Raquel Ferreira de Azevedo
Geison Vasconcelos Lira
Igor Abadessa da Igreja
José Augusto Costa Oliveira
Manuel Fortes Monteiro
Mário Henrique de Sá
Priscila Garcia Câmara Cabral Tavares
Raul Alexandre Vasconcelos
Thayná Araújo Freire
Thays Araújo Freire
Yara Maria Vieira dos Santos
Coautores
Alexandre Augusto Bastos Moura
Anne Caroliny Soares Siqueira
O ensino da Semiologia está mudando? Esta é uma pergunta que está inserida no contexto de mudança e inovação na Educação Médica
nos últimos 50 anos. Desde o aparecimento da Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-based Learning – PBL), na década de
1960, está em desenvolvimento, no âmbito da Educação aplicada à Medicina, uma agenda de pesquisa em teorias pedagógicas, perfil
profissional, organização e matriciamento curricular, e metodologias de ensino e de avaliação (da aprendizagem e de programas), que tem
mudado a face das escolas médicas em todo o mundo e também no Brasil. Em consequência, o ensino da Semiologia Médica,
tradicionalmente executado à beira do leito, tem sofrido tensionamentos.
Em primeiro lugar, a formação por competências, a partir da noção de competência como constructo que agrega conhecimentos,
habilidades e atitudes, tem trazido para a Semiologia a necessidade de desenvolver habilidades psicomotoras relacionadas à semiotécnica,
englobando dois momentos sequenciais: “o mostrar como” e o “fazer”, tal como proposto por George E. Miller em sua conhecida pirâmide[1].
O momento do “mostrar como” implica no desenvolvimento de habilidades psicomotoras em cenários de simulação clínica, bem
organizados em laboratórios de habilidades clínicas, com recurso a pacientes padronizados e a modernos simuladores mecanoeletrônicos.
Treinar habilidades semiotécnicas em cenários de simulação clínica permite que os estudantes de medicina possam repetir exaustivamente,
sob supervisão, a miríade de manobras que compõem a rotina do exame físico. Esta passa, portanto, a ser uma etapa desejável da
formação médica, devendo ser incorporada ao Ensino da Semiologia, precedendo a abordagem ao paciente na beira do leito, o momento do
“fazer”, somando-se a ela o uso de metodologias de avaliação da aprendizagem para certificação de competências semiotécnicas em
cenários de simulação clínica, como o Objective Estructured Clinical Examination (OSCE).
Em segundo lugar, a compilação da anamnese, primeiro passo do método clínico, tem passado a compor uma nova modalidade de
abordagem médica, conhecida como Medicina Centrada na Pessoa. Assim, ademais de ser um essencial recurso propedêutico, a
anamnese torna-se estruturante de uma abordagem plenamente integral, compreensiva e transcendente de organização do complexo
trabalho cognitivo e interrelacional do médico. Estruturando-se a partir da entrevista clínica, a obtenção da anamnese demanda o treinamento
em habilidades de comunicação, que também se podem organizar nos momentos do “mostra como” e do “fazer”. O primeiro momento em
laboratórios de habilidades clínicas com pacientes padronizados, seguido do segundo momento, com abordagem em pacientes em cenários
reais de prática, após avaliação certificativa por meio do OSCE.
Em terceiro e último lugar, o raciocínio clínico, que tem seu treinamento iniciado de modo mais amiúde nas unidades curriculares onde
aquela disciplina é trabalhada, precisa ter abordagem formativa mais sistemática e estruturada. Ainda não há consenso sobre a natureza do
processo cognitivo que estrutura a tarefa de diagnosticar e tomar decisões clínicas executada pelo médico. Por conseguinte, o modo eficaz
de desenvolver competências em raciocínio diagnóstico e tomada de decisão clínica ainda é um problema para educadores, o qual tem sido
objeto de pesquisa e discussão pedagógica entre especialistas. O uso da Psicologia Cognitiva, da Epidemiologia Clínica, da Medicina
Baseada em Evidências e de recursos cibernéticos cada vez mais sofisticados, como a Inteligência Artificial, tem contribuído sobremaneira
para o estabelecimento de estratégias didáticas que visem ajudar os estudantes a pensarem como médicos, no que diz respeito ao
raciocínio diagnóstico e à tomada de decisão clínica[2].
Vê-se, portanto, que o processo ensino-aprendizagem em Semiologia está em transição. E a bibliografia nessa disciplina deve
acompanhar este momento. Neste livro, os autores e colaboradores, a partir de suas experiências como docentes e estudantes do Curso de
Medicina da Universidade Federal do Ceará, Campus de Sobral, vinculados ao ensino e à aprendizagem da Semiologia Médica, procuraram
sistematizar sua contribuição original em forma de livro-texto, que se destina a servir a escolas médicas, professores e estudantes que
identificam novos horizontes na Educação Médica.
Este livro incorpora abordagens da Semiologia Baseada em Evidências, do Raciocínio Clínico e da Simulação Clínica, conservando os
aspectos descritivos das principais manobras semiotécnicas, desde a anamnese até o exame neurológico, percorrendo toda a sequência
operacional do exame físico por sistemas e segmentos corporais. A descrição semiológica e a explicação das manifestações clínicas, em
termos de sinais e sintomas, partiram das bases anatômicas e fisiológicas dos diversos sistemas abordados. Foi dado ênfase à abordagem
de sintomas e sinais por meio de mapas mentais, para facilitar o estudo e o processamento cognitivo sistemático, visando ao treinamento do
raciocínio clínico, principalmente pelos estudantes que estão começando a coletar anamneses e a executar o exame clínico abrangente,
quando pode parecer difícil ordenar os múltiplos dados num padrão geral que permita o diagnóstico diferencial. As manobras semiotécnicas
foram trabalhadas a partir de orientações gerais para a execução das diversas etapas do exame físico, incluindo a sua preparação, e
desenvolvidas em um roteiro descritivo da sequência de ações previstas. Para cada manobra, parâmetros de normalidade do exame foram
indicados, para serem confrontados com os sinais semiológicos que indicam anormalidade. As evidências científicas para os principais
achados para os quais estão disponíveis foram apresentadas, em ternos de sensibilidade, especificidade e razão de verossimilhança.
Também foram utilizados casos clínicos como ferramenta didática para ilustrar a aplicação dos dados da anamnese e do exame físico no
raciocínio diagnóstico. Os casos clínicos estimulam o raciocínio diagnóstico por meio de pontos de discussão, ao final de cada caso,
seguindo-se uma discussão esquemática e breve sobre o caso, com ênfase no sintoma-guia, no diagnóstico sindrômico, no diagnóstico
anatômico/topográfico, no diagnóstico diferencial e na principal hipótese diagnóstica. Ao final de cada capítulo, pontos importantes foram
destacados a título de resumo.
O treinamento de habilidades semiotécnicas em cenários de simulação clínica foi priorizado em um capítulo específico, de modo que se
possa viabilizar, de modo simples e organizado, esse treinamento tanto em escolas médicas com laboratório de habilidades clínicas, quanto
naquelas que não o possuem.
Os autores e colaboradores deste livro acreditam que a Medicina de excelência se pratica em sólidas bases semiológicas. Dedicamos,
pois, este trabalho a todos aqueles colegas que entendem que a Semiologia Médica não está em desuso e que não é uma relíquia de uma
Medicina romântica, mas a própria essência do trabalho médico, com suas profundas dimensões interrelacional e cognitiva. Esperamos que,
todos juntos, engrandeçamos a nossa profissão, contribuindo para a formação de bons médicos, honrando tantos mestres do passado e do
presente, e dando uma inovadora visão pedagógica para a Semiologia Médica.
Prof. Dr. Geison Vasconcelos Lira
Disciplina de Semiologia Médica da Universidade
Federal do Ceará – Campus de Sobral
. [1][2]MILLER GE. THE ASSESSMENT OF CLINICAL SKILLS/COMPETENCE/PERFORMANCE. Acad Med 1990; 65: 563–67.
. CATE O, CUSTERS EJFM, DURNING SJ (EDS). Principles and practice of case-b ased clinical reasoning education: A METHOD OF PRECLINICAL STUDENTS.
CHAM: SPRINGER OPEN, 2018.
1. INTRODUÇÃO
Há um século, o diagnóstico clínico se baseava quase inteiramente na observação empírica – ou seja, naquilo que os médicos viam,
ouviam e sentiam. Embora alguns testes tecnológicos estivessem disponíveis, o seu papel era escasso e o exame tradicional era a principal,
quando não era a única, ferramenta utilizada no diagnóstico médico.1 Algumas informações obtidas a partir de anamnese e exame físico não
têm ainda confirmação de sua utilidade a partir de evidências científicas. Outro grupo de informações, no entanto, ganhou mais precisão
com a abordagem baseada em evidências, a partir da qual é possível quantificar indicadores como sensibilidade, especificidade, valor
preditivo e razão de verossimilhança e, assim, identificar os achados semióticos que aumentam ou diminuem a probabilidade de doença.
O conceito de Medicina Baseada em Evidências (MBE) tem sua origem a partir de um movimento da epidemiologia clínica que ocorreu
simultaneamente no Canadá e no Reino Unido, no início dos anos 19902. Pode ser definida como “o uso consciente, explícito e criterioso das
melhores evidências atuais na tomada de decisões sobre o cuidado de pacientes”.3 O objetivo era fechar a lacuna entre a evidência e a
prática médica, tornando possível avaliar as ações de saúde com base em evidências científicas. A MBE é, pois, uma abordagem
sistemática para a resolução de problemas clínicos que permite a integração da melhor evidência de pesquisa disponível com a experiência
clínica e os valores do paciente.4
Pode-se entender como melhor evidência clínica disponível a pesquisa clinicamente relevante, especialmente pesquisa clínica centrada
no paciente, na precisão dos testes diagnósticos (incluindo o exame clínico), no poder dos marcadores de prognóstico e na eficácia e
segurança dos regimes terapêutico, reabilitativo e preventivo. A boa prática, contudo, deve se basear tanto na experiência clínica individual
como na melhor evidência externa disponível, tendo em mente a certeza de que nenhuma delas sozinha é suficiente. Sem experiência
clínica, uma excelente evidência externa pode ser inaplicável ou inadequada para um paciente. Sem as melhores evidências atuais, a prática
clínica corre o risco de se tornar rapidamente desatualizada.3
Nosso enfoque neste capítulo está nas evidências científicas sobre a aplicação de testes diagnósticos. Teste diagnóstico é todo e
qualquer método utilizado com o fim de identificar ou descartar a presença de doença no paciente. Pode ser uma informação obtida na
história clínica, um achado no exame físico ou nos exames complementares.
4. Pergunta Básica: relativa a um conhecimento já consolidado, de base, livresco, podendo ser facilmente sanada por qualquer livro
à mão. Exemplo: qual é o agente etiológico da febre amarela?
4. Pergunta Clínica: responde às dificuldades mais avançadas e atuais, pois se trata de uma dúvida originada na aplicação do
conhecimento, em um cenário altamente variável e incerto.
Uma boa forma de organizar os problemas clínicos foi proposta por Sackett.3 Ele propôs que uma boa questão clínica deveria ter quatro
(ou, às vezes, três) componentes essenciais, sintetizados pelo mnemônico PICO.
Quadro 1. Pergunta PICO.
Fonte: Sackett DL, Rosenberg WM, Gray JA, Haynes RB, Richardson WS. Evidence based medicine: what it is and what it isn’t. BMJ. 1996;
312: 71-2.
4. Exemplificando:
“O uso da Ultrassonografia é útil para diagnosticar pneumonia?”
P Pneumonia
I Ultrassonografia
C Opcional. Poderia ser indicado um teste padrão, como Tomografia ou Biópsia
O Diagnóstico
Existem casos em que a “Comparação” pode ser deixada vazia, como quando não existe um método padronizado ou validado para ser
utilizado como parâmetro.
P I C O
Thoracic
Ultras ound Diagnos tic
Radiography
Fonte: Autor.
Em cada item da pergunta PICO, as palavras seriam adicionadas à ferramenta de busca com OR. Depois, seriam unidas com AND,
conforme exemplificado abaixo.
Figura 1. Exemplo de pesquisa com descritores no PubMed.
Revis ão
Es tudos
s is tem ática de Es tudos não
trans vers ais Es tudos de cas o- Raciocínio
es tudos cons ecutivos ou
Es te tes te individuais com controle, ou bas eado em
trans vers ais com es tudos s em
diagnós tico é padrão de padrão de m ecanis m os
padrão de padrões de
precis o? referência referência ruim , fis iopatológicos
referência referência
(Diagnós tico) aplicado de form a ou não ou opinião de
aplicado de form a aplicados de
cons is tente e independente es pecialis ta
cons is tente e form a cons is tente
cegam ento
cegam ento
Fonte: Oxford Centre for Evidence-Based Medicine Levels of Evidence (atualizada em 2011) modificado.
O que fazer quando a busca retorna mais de um artigo no mesmo nível de evidência? Deve-se escolher aquele metodologicamente mais
rigoroso. Há ferramentas específicas para avaliar a qualidade de cada tipo de publicação. Para revisões sistemáticas, utiliza-se a Escala
AMSTAR (http://amstar.ca/Amstar_Checklist.php). Para estudos originais de acurácia diagnóstica, utiliza-se o QUADAS-2
(https://www.bristol.ac.uk/population-health-sciences/projects/quadas/quadas-2/).
O uso dessas escalas é muito importante, mesmo quando há apenas um artigo, pois, antes de avaliar os resultados, deve-se confirmar o
baixo risco de viés. Do contrário, usaremos informações que podem estar enviesadas no cuidado do nosso paciente. Os próprios sites
acima citados disponibilizam orientações sobre a aplicação. Com a prática e repetição, a utilização das escalas torna-se fácil e rápida.
Escolhido o artigo que tem baixo risco de viés, é hora de interpretar os resultados. Cabe aqui lembrar os conceitos básicos.
DOENÇA
TESTE TOTAL
PRESENTE AUSENTE
POSITIVO a b a+b
NEGATIVO c d c+d
Fonte: FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S.W. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. Tradução de Roberta Marchiosi Martins. 4 ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006. (modificada)
Interpretação: observe que a letra “a” corresponde ao grupo de doentes que apresentaram teste positivo; a letra “b” refere-se ao grupo
de não doentes (sadios) com teste positivo. Já a letra “c” corresponde ao grupo de doentes com teste negativo, e a letra “d” inclui o
grupo sadio que apresentou teste negativo. Conclui-se que: a+c = total de pessoas doentes / b+d = total de pessoas não doentes / a+b
= total de pessoas com teste positivo / c+d = total de pessoas com teste negativo.
2.3.1.1. Sensibilidade
Assim, define-se sensibilidade como a proporção de pessoas doentes que apresentaram um teste positivo.9 Os testes sensíveis são
bastante úteis no diagnóstico precoce das doenças. Na prática clínica, um teste altamente sensível, quando apresenta um resultado
negativo, oferece mais segurança ao médico na hora de descartar uma doença grave, por exemplo. Por outro lado, quando positivo,
necessita de confirmação posterior com um teste mais específico.
Aplicando esse conceito ao que aprendemos na tabela anterior, podemos concluir da seguinte maneira:
Na equação, temos o número de doentes cujo teste tem resultado positivo representado pela letra “a” sobre o número total de doentes.
Ou seja, representa a proporção dos doentes que apresentaram teste positivo.
Considerando que a sensibilidade de um teste é dada em valor de porcentagem, pode-se inferir que, quanto maior esta porcentagem,
mais sensível é o teste, ou seja, melhor irá nos ajudar no diagnóstico e, principalmente, a descartar algumas doenças.
4. Exemplificando:
Supondo que um teste apresente a sensibilidade de 97%, isso significa que, a cada 100 doentes submetidos a esse mesmo teste, 97
apresentam teste positivo. Assim, na prática clínica, ao suspeitar de uma determinada doença em um paciente e o submetermos a um teste
altamente sensível, e se ele tiver resultado negativo, implica dizer que a probabilidade de esta pessoa estar realmente doente é mínima.
2.3.1.2. Especificidade
Quando queremos confirmar um diagnóstico sugerido, podemos fazer uso de um teste altamente específico. Assim, define-se
especificidade como a proporção de indivíduos sem a doença que tem teste negativo.9
De acordo com nossa tabela, podemos encontrar a especificidade de um teste com base na seguinte equação:
Assim, temos a probabilidade do grupo de os não doentes (sadios), representado pela somatória das letras “b+d”, apresentarem teste
negativo que está representado pela letra “d”. Dessa forma, um teste bastante específico é bem útil, pois raramente é positivo na ausência
de doença.
4. Exemplificando:
Supondo que um teste apresente a especificidade de 90%, isso significa que, a cada 100 pessoas sadias submetidas a esse mesmo
teste, 90 apresentam teste negativo. Assim, na prática clínica, ao suspeitar de uma determinada doença em um paciente e o submetermos a
um teste altamente específico, e se ele tiver resultado positivo, implica dizer que a probabilidade de esta pessoa estar realmente doente é
máxima.
4. Valor Preditivo Positivo (VPP): consideraremos que, dentro do grupo de todos os pacientes que apresentaram teste positivo, uma
parte deles realmente estava doente. De acordo com Fletcher e Fletcher,9 o VPP é a probabilidade da doença em um paciente com
um resultado positivo (anormal) do teste. Assim, dada a equação e aplicando-a na tabela vista no início desta sessão, temos: o
grupo total de pacientes com teste positivo representado pelo somatório “a+b”, e o grupo de pessoas que apresentaram teste
positivo que realmente estavam doentes está representado pela letra “a”.
4. Valor Preditivo Negativo (VPN): consideraremos que, dentro do grupo de todos os pacientes que apresentaram teste negativo,
uma parte deles realmente estava sadio. De acordo com Fletcher e Fletcher,9 o VPN é a probabilidade de não ter a doença quando o
resultado do teste for negativo (normal). Assim, dada a equação e aplicando-a na tabela vista no início desta sessão, temos: o grupo
total de pacientes com teste negativo representado pelo somatório “c+d”, e o grupo de pessoas que apresentaram teste negativo
que realmente estavam sadios está representado pela letra “d”.
A tabela abaixo mostra como interpretar o resultado de uma razão de verossimilhança. Conforme já dito, e repetindo o conceito de outra
maneira, quanto maior a RV+ de uma pergunta de anamnese ou manobra de exame físico, maior será o aumento na probabilidade de
doença. Por outro lado, quanto maior a RV – de uma pergunta de anamnese ou manobra de exame físico, menor será o aumento na
probabilidade de doença. Assim, grandes razões de verossimilhança são bastante úteis para confirmar ou descartar uma hipótese
diagnóstica. Já razões de verossimilhança pequenas ou raramente importantes têm pouco impacto na mudança de probabilidades.
Tabela 2. Interpretação da razão de verossimilhança
Fonte: FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S.W. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. Tradução de Roberta Marchiosi Martins. 4 ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006. (modificada)
Antes de aplicarmos um teste diagnóstico, precisamos conhecer a probabilidade pré-teste, que é a probabilidade estimada de se ter a
doença antes de um teste diagnóstico ser aplicado. Corresponde à prevalência da doença, quando utilizado em abordagem populacional, ou
à probabilidade em um determinado cenário, como, por exemplo, a probabilidade de crise asmática em paciente com dispneia aguda no
departamento de emergência.5
Essa informação é importante porque a probabilidade pós-teste depende da pré-teste. Sensibilidade, Especificidade e Razão de
Verossimilhança não se alteram com a probabilidade pré-teste, mas o valor preditivo (que é a própria probabilidade pós-teste), sim. Logo,
quando se conhece a RV de uma manobra de exame físico ou de um sinal semiótico, deve-se partir da probabilidade pré-teste para calcular
a probabilidade pós-teste e decidir se esta já permite fechar o diagnóstico, conforme figura 2.
Figura 2. Probabilidade de doença.
Fonte: Autor
Os limiares podem variar dependendo da situação clínica, de sua gravidade e do quão complexo ou arriscado é o tratamento.
Reconhecim ento do ponto anatôm ico onde ocorre o problem a (s is tem a, órgão
ANATÔMICO ou região anatôm ica es pecífica), a partir de m odificações anatôm icas
identificadas no exam e clínico.
Anális e com parativa e probabilís tica das várias doenças que apres entam quadro
DIFERENCIAL clínico s em elhante, procurando-s e elim inar s uces s ivam ente as de m enor
probabilidade em face dos dados dis poníveis .
Quando você começar a fazer suas primeiras anamneses, irá se confrontar com uma série de dados que podem não fazer nenhum
sentido. Somam-se a esses dados da anamnese aqueles obtidos no exame físico. Isso ocorre porque, ao iniciar os estudos em Semiologia,
você ainda não aprendeu a raciocinar como um médico, e possui pouco conhecimento sobre as doenças e pouca vivência prática com
pacientes. Daí a necessidade de procurar desenvolver um modo sistemático de raciocinar para, partindo dos dados do exame clínico,
conseguir ter uma ideia geral sobre as possíveis doenças que podem estar implicadas no caso. Vale ressaltar que uma anamnese mal
elaborada e um exame físico incompleto ou feito de maneira errada não gerarão dados de boa qualidade, necessários para fazer um
raciocínio correto e eficiente. Anamnese e exame físico malfeitos podem, no mínimo, requerer que sejam feitos novamente, perdendo-se
tempo, quando não levam a uma consequência mais grave: o erro médico por negligência!
Os médicos experientes, que já travaram contato com largo repertório de doenças, que têm amplos conhecimentos sobre as
manifestações típicas e atípicas das doenças, e que desenvolveram a capacidade de identificar sinais clínicos a partir do aprendizado
prático, são capazes de identificar rapidamente, a partir da anamnese e do exame físico, padrões claros, indicativos de determinadas
doenças. Esse método de raciocínio diagnóstico é chamado de “intuitivo” ou por Gestalt (também popularmente chamado de “olho clínico”).
Não será esse o seu caso, ao iniciar seus primeiros exames clínicos de pacientes.
Você aprenderá agora a empreender o raciocínio clínico sistemático-probabilístico, estruturado pelo método hipotético-dedutivo de
geração e teste de hipóteses diagnósticas, que depende da sua capacidade cognitiva de fazer o diagnóstico diferencial (ver definição na
tabela acima). Esta capacidade exigirá de você conhecimento de anatomia, fisiopatologia e taxonomia das doenças humanas.
Sua primeira tarefa é identificar o sintoma-guia, que é o sintoma ou o sinal específico que permite recompor de modo lógico a história da
doença atual e facilitar a definição diagnóstica. Normalmente, é o sintoma ou o sinal de mais longa duração ou o mais salientado pelo
paciente, ou a própria queixa principal. Com o tempo, você aprenderá que o sintoma-guia é o que permite chegar ao diagnóstico com
facilidade e precisão. Se você consultar a parte do roteiro que corresponde ao interrogatório por órgãos e aparelhos, perceberá que os
sintomas se relacionam a sistemas específicos (diagnóstico anatômico). Por exemplo, a dispneia sugere um distúrbio no sistema
cardiovascular ou no sistema respiratório. Os sintomas podem também indicar um diagnóstico fisiopatológico. Por exemplo, o edema pode
sugerir insuficiência renal, insuficiência cardíaca ou insuficiência hepática.
Uma das competências que você tem de desenvolver é a de como investigar os principais sintomas. Estude, pois, nos livros de
Semiologia, cada um dos principais sintomas, seus atributos característicos equaissistemas podem estar implicados quando eles estão
presentes. Por exemplo, em um paciente com hematúria, você pode iniciar seu raciocínio diagnóstico seguindo o algoritmo abaixo,
considerando a presença de outros sintomas e sinais associados:
Figura 1. Algoritmo diagnóstico da hematúria.
Fonte: Adaptado de COLLINS, 2017.
Com base nesse algoritmo, você percebe que se deve dar especial atenção a grupos de sintomas e sinais que aparecem juntos, de
modo concomitante ou em sequência, pois eles podem compor uma síndrome. Você deve também conhecer as grandes síndromes
clínicas. Elas o ajudarão a trilhar o caminho do diagnóstico. É apresentada abaixo uma lista com grandes síndromes de maior relevância por
sistema orgânico.
Quadro 2. Grandes síndromes e suas relações com os sistemas orgânicos.
GRANDES SÍNDROMES
SÍNDROMES • Toxem ia
INFLAMATÓRIAS • Síndrom e da res pos ta inflam atória s is têm ica
SISTÊMICAS • Seps e
• Cefaleia
• Dor torácica
SÍNDROMES DOLOROSAS
• Dor abdom inal
• Dor m us culoes quelética
SÍNDROME FEBRIL
SÍNDROME CONSUMPTIVA
• Anem ia
• Policitem ia
SÍNDROMES DO SISTEMA
• Síndrom e hem orrágica
HEMATOPOÉTICO
• Es tados de hipercoagulabilidade
• Síndrom e m ielodis plás ica
• As cite
• Hipertens ão portal
• Síndrom es ictéricas
• Diarreia e dis enteria
• Hem orragia diges tiva
SÍNDROMES ABDOMINAIS • Oclus ão intes tinal
• Perfuração de vís cera oca em peritônio livre
• Peritonite
• Íleo paralítico
• Íleo es pás tico
• Mas s as abdom inais
• Mecânicas
• Degenerativas
• Inflam atórias
SÍNDROMES REUMÁTICAS • Infeccios as
• Metabólicas
• Secundárias
• Funcionais
• Extrapiram idais
• Parkins onis m o
• Coreia
• Síndrom e de irritação m eníngea
• Síndrom es do tronco cerebral
• Mes encefálicas
• Pontinas
• Bulbares
• Cerebelares
SÍNDROMES
• Medulares
NEUROLÓGICAS • Síndrom e cordonal pos terior
(continuação) • Síndrom e m edular trans vers a
• Síndrom e de hem is s ecção m edular
• Síndrom e m edular central
• Síndrom e es pinal anterior
• Síndrom e do cone m edular
• Síndrom es periféricas
• Radiculopatias
• Plexopatias
• Mononeuropatias
• Polineuropatias
SÍNDROMES DO SISTEMA
• Síndrom e pros tática
GENITURINÁRIO
• Síndrom es brônquicas
• Obs trução
• Infecção
• Bronquite
• Broncopneum onia
SÍNDROMES BRÔNQUICAS
• Dilatação (bronquiectas ia)
EPLEUROPULMONARES
• Síndrom es pulm onares
• Cons olidação
• Atelectas ia
• Hiperaeração
• Conges tão pas s iva dos pulm ões
• Síndrom es pleurais
SÍNDROMES BRÔNQUICAS
• Pleurite
EPLEUROPULMONARES
(continuação)
• Derram e pleural
• Pneum otórax
• Hipertireoidis m o
SÍNDROMES ENDÓCRINAS • Hipotireoidis m o
• Síndrom e de Cus hing
O diagnóstico sindrômico é uma etapa importante do raciocínio clínico, pois o quadro clínico das doenças é essencialmente sindrômico.
Importante ressaltar que uma síndrome pode ser causada por várias doenças, e uma mesma doença pode se manifestar por várias
síndromes. Por exemplo, se um paciente se apresenta com edema, oligúria, hipertensão arterial e hematúria, você irá identificar que o
paciente está com síndrome nefrítica, podendo, a partir daí, ser capaz de iniciar o diagnóstico diferencial das doenças que cursam com essa
síndrome, que inclui doenças tanto agudas quanto crônicas, como nefrite lúpica, glomerulonefrite membranoproliferativa, nefropatia por IgA e
outras.
O diagnóstico diferencial inicial com base na queixa principal e em dados demográficos costuma ser muito extenso, de forma que os
médicos experientes testam primeiro as possibilidades hipotéticas durante a história e o exame físico, formulando questões já desde a
identificação e a queixa principal do paciente, passando pela análise do sintoma-guia e buscando outros sintomas (chamados de
qualificadores) que direcionam o raciocínio para uma determinada hipótese diagnóstica, cuja probabilidade se destaca relativamente à de
outras hipóteses concorrentes, e culminando com a realização de exame físico dirigido, que apoia ou afastao diagnóstico suspeito. Por
exemplo, em um paciente com dor torácica, história de dor, edema na perna e dor à palpação dela, aumenta-se a probabilidade de embolia
pulmonar.
Quando a história e o exame físico fornecem um padrão claro, é feito o diagnóstico presuntivo por raciocínio intuitivo ou Gestalt (ver
acima). Quando não há reconhecimento de um padrão claro de doença e o raciocínio intuitivo ou Gestalt não é possível, você deve usar o
raciocínio sistemático-probabilístico (método hipotético-dedutivo). Os exames diagnósticos são utilizados quando as incertezas persistem
após a história e o exame físico, particularmente quando doenças são consideradas graves ou têm um tratamento perigoso ou de custo
elevado. Os resultados de exames modificam mais as probabilidades dos diferentes diagnósticos (probabilidade pós-teste).
Quadro 3. Métodos de raciocínio diagnóstico.
DESCRIÇÃO
2. ANALISE OS DADOS:
a. Diagnós tico intuitivo ou por reconhecim ento de padrões (Ges talt), ou
b. Diagnós tico s is tem ático-probabilís tico (Método Hipotético-dedutivo):
+ Identifique achados anorm ais (s intom as e s inais )
+ Localize os achados anatom icam ente (diagnós tico anatôm ico)
+ Identifique alterações das funções orgânicas (diagnós tico funcional)
+ Agrupe os achados em agregados s ignificativos (diagnós tico s indrôm ico)
+ Form ule hipótes es quanto à caus a provável (3 a 5 hipótes es )*
+ Defina a probabilidade pré-tes te de cada hipótes e
+ Tes te as hipótes es , calculando a probabilidade pós -tes te de cada um a delas
+ Com pare a probabilidade pós -tes te com os lim iares de tratam ento (ver a
s eguir)
(*) A lis ta de hipótes es diagnós ticas inclui as doenças m ais prováveis (lis ta probabilís tica), as doenças potencialm ente m ais graves s e deixadas s em tratam ento (lis ta
prognós tica) e as doenças m ais fáceis e s im ples de tratar (lis ta pragm ática).
Fonte: Adaptado de BATES, 2018
GERAÇÃO E TESTE
PROCEDIMENTO
DE HIPÓTESES
a. Um achado muito específico pode ser indicativo de uma determinada doença (nesse caso, ele é dito patognomônico).
b. A lista de hipóteses diagnósticas inclui as doenças mais prováveis (lista probabilística), as doenças potencialmente mais graves se
deixadas sem tratamento (lista prognóstica) e as doenças mais fáceis e simples de tratar (lista pragmática).
c. Até que seja descartada, uma hipótese potencialmente letal deve ser sempre considerada como presuntiva.
d. Uma doença de alta prevalência aumenta a probabilidade pré-teste (antes da realização dos exames complementares) de ela ser a
causa do problema do paciente, e pode determinar a probabilidade pós-teste (após a realização dos exames complementares para
elucidação diagnóstica) de ela ser o diagnóstico presuntivo.
e. O princípio da Navalha de Occam indica que se deve escolher como principal hipótese a mais simples que explique o quadro clínico
do paciente.
f. Sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo, razão de verossimilhança (likelihood ratio) dos testes.
De posse da lista de hipóteses diagnósticas, você terá de decidir se testes diagnósticos devem ser solicitados, quais serão eles e
quando se deve iniciar o tratamento. Parece claro que a decisão pelo tratamento é baseada, idealmente, num diagnóstico de certeza, ou, ao
menos, em um diagnóstico presuntivo que considera uma hipótese de alta probabilidade. Contudo, a tomada de decisão clínica é mais
complexa. Podemos ilustrar isso tomando a linha de probabilidades abaixo, que estabelece dois limiares: o limiar do teste (ou seja, a
probabilidade pré-teste de uma hipótese a partir da qual o teste diagnóstico é útil) e o limiar do tratamento (ou seja, a probabilidade pré-teste
ou pós-teste de uma hipótese a partir da qual o tratamento é a melhor decisão a ser tomada).
Figura 2. Probabilidade da doença.
Abaixo do limiar de tratamento, os exames só são indicados quando um resultado positivo aumenta a probabilidade de doença, após o
teste, acima do limiar terapêutico. A menor probabilidade pré-teste em que tal aumento de probabilidade ocorre depende das características
do exame e é denominada limiar do teste.
O limiar de tratamento é a probabilidade da doença na qual, ou acima da qual, é administrado o tratamento e não são realizados mais
exames. Quando o diagnóstico da doença é certo, a decisão de tratamento é a determinação direta de que há benefício do tratamento
(comparado à ausência de tratamento e levando em conta seusefeitos adversos). Quando há certo grau de incerteza diagnóstica, como
quase sempre é o caso, a decisão de tratar deve também avaliar o benefício de tratar bem um indivíduo enfermo, ou tratar erroneamente
uma pessoa saudável ou um indivíduo com outra doença; o risco e o benefício englobam tanto consequências financeiras como médicas.
Este equilíbrio deve levar em conta ambos: a probabilidade da doença e a magnitude do benefício e do risco. Este equilíbrio determina onde o
médico estabelece o limiar de tratamento.
De acordo com a linha de probabilidades acima, se a probabilidade de uma hipótese for inferior ao limiar do teste diagnóstico, este não
deve ser solicitado. Isso ocorre porque, como visto, mesmo que o teste seja realizado, a probabilidade pós-teste não ficará acima do limiar
de tratamento, como ilustrado abaixo:
Figura 3. Probabilidade pré e pós-teste da doença.
Em contraste, se a probabilidade de uma hipótese for maior que o limiar do tratamento, este deve ser iniciado, mesmo quando a
probabilidade da hipótese não seja de 100% (diagnóstico de certeza).
O que pretendemos com os exames complementares (testes diagnósticos) é fazer com que a probabilidade de doença após o teste
supere o limiar do tratamento, de modo que a decisão sobre este esteja racional e probabilisticamente fundamentada.
Nas figuras 4 e 5, considere a doença X, cuja probabilidade antes do teste (definida após a anamnese e o exame físico de boa qualidade)
excede o limiar do teste, mas não atingiu o limiar do tratamento. A doença X, obviamente, é uma das 3 a 5 hipóteses diagnósticas que você
formulou. O mesmo raciocínio será utilizado para as outras hipóteses da lista. No exemplo da doença X, solicitar exames complementares
para testar a hipótese da doença é mandatório.
Figura 4. Probabilidade pré-teste da doença X.
Fonte: Adaptado de GUYATT, 2011.
Nesse exemplo, após a realização do teste, considerando que ele foi positivo, a probabilidade pós-teste ficou acima do limiar de
tratamento. Nesse caso, deve-se iniciar o tratamento.
Pode acontecer de, após a anamnese e o exame físico de boa qualidade, você obtera seguinte probabilidade pré-teste da doença Y:
Figura 6. Probabilidade pré-teste da doença Y.
Nesse exemplo, você não solicitaria exames complementares para testar a doença Y, e, por ora, descartaria essa doença como hipótese.
Poderia ainda ser o caso de, após a anamnese e o exame físico de boa qualidade, você obter a seguinte probabilidade pré-teste de uma
doença Z:
Figura 7. Probabilidade pré-teste da doença Z.
Por outro lado, quanto menos seguro e mais caro for o teste, e quanto mais benigno for o prognóstico da doença sem tratamento, mais
acima colocaríamos o limiar do teste.
Figura 9. Limiar de teste pouco seguro e caro.
Para o limiar do tratamento, quanto mais seguro e menos caro for o próximo teste, quanto mais benigno for o prognóstico da doença, e
quanto mais altos forem os custos ou maiores os efeitos adversos do tratamento, mais acima colocaríamos o limiar do tratamento, exigindo
maior certeza diagnóstica antes de expor o paciente ao tratamento.
Figura 10. Limiar de tratamento: teste seguro e barato.
Por outro lado, quanto mais caro, invasivo e menos seguro for o próximo teste necessário, quanto mais ameaçador for o prognóstico da
doença sem tratamento, e quanto mais seguro e menos caro for o tratamento proposto, mais abaixo colocaríamos o limiar do tratamento, já
que tratar o paciente é preferível à crescente incerteza diagnóstica.
Figura 11. Limiar de tratamento: pouco seguro e caro.
Fonte: Adaptado de GUYATT, 2011.
Assim, se o benefício do tratamento for muito elevado, e o risco, muito baixo (como ao administrar um antibiótico seguro para um
paciente idoso que possivelmente tem uma pneumonia), os médicos tendem a aceitar alta incerteza diagnóstica e podem iniciar o
tratamento, mesmo se a possibilidade de infecção for razoavelmente baixa. Entretanto, quando o risco do tratamento é muito elevado (como
ao realizar um tratamento oncológico em um paciente), os médicos querem estar extremamente seguros do diagnóstico(podendo
recomendar o tratamento apenas quando a possibilidade de câncer for inquestionável), a que poderíamos chamar de diagnóstico de certeza.
Observe que o limiar de tratamento não necessariamente corresponde à probabilidade de a doença ser considerada confirmada ou
descartada. Ele simplesmente indica que o risco de não a tratar é maior que o risco de tratá-la.
Em conclusão, começar a desvelar os caminhos do raciocínio clínico já ao cursar a disciplina de Semiologia, seja em um currículo
disciplinar, seja em um currículo modular, é fundamental para o sucesso de sua carreira profissional. Terminamos com algumas dicas para
você se aprimorar nessa tarefa formativa:
• Participe ativamente das visitas de beira de leito e sempre seja voluntário para fazer anamneses, executar o exame físico, resumir
e relatar casos de pacientes. Lembre-se: a repetição é um ótimo caminho para a expertise;
• Participe de sessões clínicas e esteja atendo às opiniões dos vários participantes sobre os casos em análise. Procure identificar
as justificativas para sustentar uma determinada hipótese diagnóstica levantada ou para descartá-la e procure construir seu próprio
juízo crítico. Se julgar que tem algo a acrescentar, não se iniba e dê sua opinião. Não tenha medo de errar. Afinal, você está
aprendendo. E continuará a fazê-lo por toda a sua vida médica;
• Vá a Congressos, procurando priorizar as atividades em que há discussão de casos clínicos. Certamente, lá há especialistas
renomados com grande experiência em diagnósticos, principalmente em casos difíceis.
• Leia periódicos científicos, especialmente aqueles que possuem discussão de casos clínicos. Esteja também atento a artigos que
tratam de Medicina Baseada em Evidências;
• Pergunte ao preceptor, de qualquer especialidade, como ele chegou ao diagnóstico. Compreender como o médico experiente
raciocina é uma boa estratégia de aprendizagem do raciocínio diagnóstico. E pergunte sempre pelo “pulo do gato”;
• Por fim, siga com rigor este axioma: “Caso visto na prática é caso estudado!”. Se viu um caso nas aulas práticas, qualquer que
seja ele, ao chegar em casa, estude os aspectos que você identificou como necessários para diagnosticar a doença em questão da
próxima vez em que a vir em um paciente. Ocupe-se das manifestações típicas das doenças e também das atípicas. Estabeleça a
seguinte meta: “Eu serei sempre capaz de diagnosticar novamente uma doença já vista por mim!”. Isso se consegue com a prática
e com o estudo.
REFERÊNCIAS
a. BICKLEY LS. BATES: PROPEDÊUTICA MÉDICA. 12. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; 2018.
2. Carrió FB. Entrevis ta clínica: habilidades de com unicação para profis s ionais de s aúde. Porto Alegre: Artm ed; 2012.
3. Collins RD. Algorithm ic Diagnos is of Sym ptom s and Signs : A Cos t-Effective Approach. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Heath; 2017.
4. Guyatt G, Drum m ond R, Maureen OM, Deborah JC. Diretrizes para utilização da literatura m édica: m anual para prática clínica da m edicina bas eada em
evidências . 2. ed. Porto Alegre: Artm ed; 2011.
5. Jans en JM. O pens ar diagnós tico: m edicina bas eada em padrões . Rio de Janeiro: Rubio; 2014.
6. Mattos W. Sem iologia do adulto: diagnós tico bas eado em evidências . Rio de Janeiro: Medbook; 2017.
7. Monte FQ. As bas es do raciocínio m édico. 2. ed. São Paulo: Hucitec; 2014.
8. Piezza HE. Síndrom es clínicas . In: Sociedade Bras ileira de Clínica Médica; Lopes AC, Cipullo JP, Kubiac CAP, organizadores . PROCLIM Program a de Atualização
em Clínica Médica: Ciclo 15. Porto Alegre: Artm ed Panam ericana; 2018, p. 79-112. (Sis tem a de Educação Continuada à Dis tância; v. 3). Mattos W, organizador.
Sem iologia do adulto: diagnós tico clínico bas eado em evidências . Rio de Janeiro: Medbook, 2017, 848p.
9. Porto CC. Sem iologia m édica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2019.
1. INTRODUÇÃO
A anamnese (do grego ana, “trazer de novo” e mnesis, “memória”) é o primeiro passo na abordagem de qualquer paciente. Seu conceito
surgiu na Grécia, com Hipócrates (460-356 a.C.), e vem sendo aprimorado ao longo dos séculos. É a habilidade médica mais importante
para se chegar ao diagnóstico correto, além de ser a ferramenta fundamental da relação médico-paciente.
“A história clínica não é o simples registro de uma conversa; é mais do que isso: o resultado de uma conversação com objetivos
explícitos, conduzida pelo médico e cujo conteúdo vai sendo elaborado criticamente por ele.”1
Dada sua importância, alguns estudos avaliaram o impacto da anamnese no diagnóstico clínico (Tabela 1), comprovando que seu papel
se sobressai em relação ao exame físico e aos exames complementares.
Tabela 1. Papel da Anamnese, Exame Clínico e Exames Complementares no Diagnóstico Clínico.
Número de
80 630 80 98 95
pacientes
Exames
8,75 23 11 13,2 29,5
complementares
Uma anamnese mal conduzida pode resultar em diagnósticos equivocados, tratamentos inadequados, uso não direcionado dos recursos
complementares e desvalorização médica. Para tanto, seu ensino agrupa um conjunto de técnicas consagradas pelo tempo, que deve ser
bem compreendido para melhorar sua precisão e acurácia.
Apresentaremos neste capítulo uma sistematização para condução da anamnese, que facilitará o aprendizado principalmente dos
estudantes de medicina em formação. Vale ressaltar, contudo, que o roteiro de entrevista é algo muito pessoal, que o profissional médico
deve refinar ao longo do tempo, de acordo com sua personalidade e experiência.
Tabela 2. As três funções da entrevista médica.
1. COLETA DE DADOS
Determ inar e m onitorar a natureza do problem a
Objetivos
Perm itir que o clínico es tabeleça um diagnós tico ou recom ende exam es com plem entares adicionais , s ugira
abordagens terapêuticas e preveja a natureza da doença
2. CONSTRUÇÃO DE RELACIONAMENTO
Des envolver, m anter e concluir o relacionam ento terapêutico
Objetivos
Garantir a dis ponibilidade do paciente para fornecer inform ações de diagnós tico
Garantir a dis pos ição do paciente em aceitar o plano de tratam ento ou um proces s o de negociação
3. EDUCAÇÃO DO PACIENTE
Realizar a educação do paciente e im plem entar planos terapêuticos
Objetivos
Garantir a com preens ão do paciente dos procedim entos diagnós ticos s ugeridos
2. ROTEIRO DE ANAMNESE
2.1. Identificação
a. Nome (e como gostaria de ser chamado)
b. Idade
c. Sexo
d. Cor/raça
e. Estado Civil
f. Profissão/Ocupação Atual e Anterior
g. Local de Nascimento
h. Procedência
i. Residência Atual e Anterior
j. Grau de Escolaridade
k. Nome da Mãe
l. Religião
m. Fonte da história
Permite traçar o perfil sociodemográfico, direcionando o raciocínio diagnóstico para doenças próprias da faixa etária, de gênero, de zonas
endêmicas, bem como doenças relacionadas ao trabalho, além de permitir a adaptação da linguagem ao nível de escolaridade do paciente.
Quanto à religião/espiritualidade, é importante questionar se faz parte de uma religião e se é praticante, bem como se mudou de crença e o
motivo para tal mudança.
Exemplo:
Francisco de Assis Silva (“Chico”), 45 anos, masculino, pardo, casado, auxiliar de produção, natural de Massapê, procedente de Sobral,
ensino médio completo, filho de Maria das Graças Silva, católico não praticante. Fonte da história: paciente.
• Localização e irradiação
• Qualidade
• Intensidade
• Evolução
• Fatores desencadeantes, de melhora ou de piora: fatores desencadeantes e fatores de piora nem sempre são os mesmos. Por
exemplo, quem tem enxaqueca descreve como fator desencadeante a ingestão de chocolate. Entretanto, fator de piora seria
exposição a luz.
• Manifestações associadas.
Além dos itens descritos, deve-se avaliar o impacto do sintoma no estado geral do paciente e nas atividades fisiológicas, buscando na
história alterações do ciclo sono-vigilia, apetite, defecção e micção, bem como alterações de peso no período. Encerra-se o relato com a
situação dos sintomas no momento atual.
Exemplo:
Refere dor lombar de iníc io progressivo há cerca de três anos, caracterizada como “em peso”, sem irradiação, desencadeada e agravada
por esforço fís ico, como levantar peso, e aliviada com repouso e uso de 500 mg de paracetamol. No iníc io do quadro, a dor não atrapalhava
seus afazeres, sendo quantificada como 2-3 na escala numérica verbal (ENV). Surgia 1 ou 2 vezes por mês, durando 2-3 horas. Evoluiu
com piora progressiva e, nos últimos meses, passou a dificultar seus afazeres (5 na ENV), se tornando mais frequente (2 vezes por
semana) e durando o dia todo. Nega sintomas associados, como fraqueza muscular, parestesias, alterações urinárias ou gastrintestinais.
Há dois dias, após ajudar no transporte de sacos de cimento, apresentou crise intensa, que não cedeu. Caracteriza como ora em peso, ora
pulsátil. Acomete especialmente o lado direito da região lombar, irradiando para face posterior da coxa até o joelho ipsilaterais, sem
parestesia, perda de sensibilidade ou fraqueza muscular. Não foi trabalhar, pois a dor é intensa (8 na ENV). Melhora um pouco quando se
deita de costas com as pernas ligeiramente elevadas e com 400 mg de ibuprofeno. Nega perda de peso, febre, náuseas. Eliminações
fisiológicas.
• Geral: febre, sudorese, calafrios, astenia, adinamia, icterícia, palidez, fraqueza, fadiga, anorexia, perda ou aumento de peso/período,
peso usual e atual;
• Pele e fâneros: prurido, fotossensibilidade, rash, alterações de pigmentação, alterações do revestimento cutâneo, presença de
lesões dermatológicas elementares (placa, mancha, vesícula, bolha, nódulo etc.), alopécia, hipertricose, alterações dos cabelos e
pelos, alteração ungueal, alteração da sudorese, uso de tintura para cabelo;
• Cabeça e pescoço: dor, cefaleia, alterações dos movimentos, nodulações, adenomegalias, disfonia;
• Aparelho Ocular: dor ocular, fotofobia, diplopia, xeroftalmia, sensação de corpo estranho, lacrimejamento, nistagmo, escotomas
entre outros;
• Aparelho Auditivo:, trauma, lesões da pele, otalgia, otorreia, otorragia, zumbido, acúfenos, hipoacusia;
• Nariz e Cavidades Paranasais: alterações da olfação, rinorreia, obstrução nasal, crises esternutatórias e epistaxe;
• Cavidade Bucal e Anexos: lesões de mucosa oral, halitose, disfagia, disfonia, odinofagia, xerostomia, rouquidão, diseugias, sialose;
• Aparelho Respiratório: dor ventilatório dependente, dispneia, ortopneia, trepopneia, platipneia, dispneia paroxítica noturna, tosse,
expectoração, vômica, hemoptise, alterações da forma do tórax, sibilância, cornagem etc.;
• Aparelho Cardiovascular: dor precordial, palpitações, dispneia, dispneia paroxística noturna, ortopneia, edema, cianose, palidez,
sudorese, hemoptoicos;
• Aparelho Digestivo: alterações de forma do abdome ou do apetite; dor, sialorreia, halitose, disfagia, odinofagia, pirose, regurgitação,
náuseas, vômitos, icterícia, intolerância alimentar, hematêmese, hematoquezia, plenitude gástrica, empachamento pós-prandial,
diarreia, disenteria, esteatorreia, constipação, flatulência, tenesmo, dor anal, disquezia etc.;
• Aparelho Renal e Urinário: alterações miccionais (hesitação, urgência, modificação do jato urinário, retenção urinária, incontinência),
alteração do volume e do ritmo urinário (oligúria, anúria, poliúria, disúria, polaciúria, frequência, noctúria, nictúria, enurese),
alterações da cor da urina (hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria, porfirinúria, urina turva), alterações do cheiro da urina, odor,
edema, dor lombar, etc.
• Aparelho Genital Feminino: alterações da frequência e do fluxo do ciclo menstrual (amenorreia, hipermenorreia, irregularidades),
cólicas, tensão pré-menstrual, data da última menstruação, corrimento, prurido, disfunções sexuais;
• Aparelhos Genital Masculino: distúrbios miccionais, dor testicular, priapismo, corrimento uretral, disfunções sexuais;
• Sistema Osteoarticular e Muscular: dor, rigidez pós-repouso, sinais inflamatórios, crepitação articular, deformidades, restrição de
mobilidade, tofos, nódulos, alterações da força e do tônus muscular, atrofia muscular, hipertrofias, miotonias, tetania, cãibras;
• Sistema Endócrino: alterações do desenvolvimento físico e sexual, sinais/sintomas relacionados ao hipertireoidismo como
taquicardia, perda ponderal, sudorese, irritabilidade e insônia, sinais/sintomas relacionados ao hipotireoidismo como bradicardia,
ganho ponderal, sonolência, apatia, hipersensibilidade ao frio e mixedema.
• Sistema Nervoso: distúrbios da motricidade e da sensibilidade, alterações do olfato, audição, visão, equilíbrio, nível de consciência,
disfunções esfincterianas, de sono-vigilia e de funções corticais superiores.
a. GESTAÇÃO E NASCIMENTO: parto eutócico ou distócico, uso de fórceps, cesárea, nascimento a termo, peso e tamanho ao
nascer, número de irmãos;
b. Desenvolvimento neuropsicomotor: Início da marcha, fala e dentição, calendário vacinal atualizado, aproveitamento escolar;
c. Desenvolvimento sexual: aparecimento da puberdade (mamas e pelos pubianos), número de filhos. Para mulheres, questionar
sobre menarca, menstruação (frequência, duração e regularidade do ciclo menstrual, quantidade do fluxo e alterações, tensão pré-
menstrual, dismenorreia), gestações (número, evolução, complicações, realização de pré-natal), partos (normais/cesáreas), abortos
(número, período da gestação; se espontâneos ou provocados, com medicação ou com técnicas invasivas), e época do
climatério/menopausa;
d. Atividade sexual: número de parceiros, relações/tempo.
Exemplo:
Nascido(a) de parto normal, a termo, sem intercorrências; cinco irmãos e duas irmãs; não sabe especificar início da marcha, dentição,
mas cita desenvolvimento neuropsicomotor adequado, quando comparado aos colegas da mesma idade. Não sabe informar sobre vacinas.
Pubarca aos 11 anos, sexarca aos 16 anos. Três filhos. Refere atividade sexual apenas com a esposa uma vez por semana.
c. Etilismo: número de doses, tipo de bebida, início e quando parou. As questões de rastreamento mais utilizadas são as do
questionário CAGE (o consumo de álcool é considerado de risco a partir de 2 respostas afirmativas):
Cutting down [redução do consumo]
Annoyed [aborrecido] quando criticado
Guilty feelings [sentimento de culpa]
Eye-opener [necessidade de beber para se sentir bem pela manhã].
Alguns questionamentos mais abertos podem ajudar, como: “Qual é o seu consumo de bebidas alcoólicas?”, “Você já teve algum
problema relacionado com bebida?”.3
Exemplo:
Sedentário, tabagista desde os 20 anos (fuma 20 cigarros industriais por dia, carga tabágica 25 maços-ano). Nega etilismo.
Se pos s ível, s ente-s e de m aneira que s eus olhos fiquem no nível do paciente.
Seja cordial
Cum prim ente o paciente e os acom panhantes , s e pos s ível com um aperto de
m ãos .
Us e s em pre um tratam ento form al, exceto no cas o de crianças ou adoles centes .
Avalie cons tantem ente s ua pos tura, ges tos , contato vis ual e tom de voz.
Mantenha a confidencialidade
Deixe o paciente decidir s e os vis itantes ou os fam iliares devem perm anecer
durante a convers a. Por exem plo: “Eu m e s into à vontade s e a s ua
acom panhante perm anecer conos co durante a entrevis ta, m as quero ter certeza
de que a s enhora concorda com is s o” ou “A s enhora prefere convers ar com igo
s ozinha ou s eu acom panhante pode participar?”.
Guie a entrevista
Com ece com perguntas m ais am plas , com o: “Com o pos s o ajudá-lo hoje?”; “O
que m otivou s ua vinda hoje?”.
Evite perguntas tendencios as , com o: “Você veio hoje por caus a do diabetes , não
foi?”.
Faça várias perguntas , m as um a por vez, e ofereça res pos tas com m últiplas
es colhas : “Qual das s eguintes opções m elhor des creve s ua dor: em pres s ão,
em queim ação, em pontada ou de outro tipo?”.
Delim ite claram ente as dem andas do paciente. “Se entendi bem , hoje você vem
para o controle do diabetes e por caus a da coluna... Vam os com eçar pelo
diabetes .”.
Negocie o conteúdo da cons ulta. Fras es que podem s er úteis : “Não tem os com o
abordar tudo is s o hoje, é m elhor que es s e outro as s unto s eja vis to com m ais
tem po em outra ocas ião.”.
Sem pre direcione os ques tionam entos ao paciente em prim eiro lugar. Para
acom panhantes que interrom pem , você pode us ar fras es com o: “Is s o que s eu
acom panhante diz é o que você s ente?” “Qual é s ua opinião s obre is s o?”.
Escute o paciente
Evite interrupções frequentes na fala do paciente, e, quando o fizer, que s eja com
o intuito de direcionar o fluxo do relato;
Utilize habilidades verbais e não verbais para encorajá-lo a continuar falando,
com o inclinar o corpo para frente, fazer contato vis ual e us ar fras es com o
“continue” ou “es tou ouvindo”.
Utilize res pos tas com o “Is s o parece tão perturbador” ou “Você deve es tar
s entindo-s e m uito tris te”, “Percebo que você es tá s ofrendo”, “Entendo com o s e
s ente”;
Mantenha um a dis tância em ocional com o paciente, um a vez que es s a dis tância
é terapêutica (perm ite pens ar e decidir de m aneira m ais analítica e m oderada);
Tenha paciência: cons cientize-s e de que um idos o, por vezes , dem ora m ais
tem po para s e locom over e expres s ar alguns fatos .
His tória s exual: “Quando foi a últim a vez que você teve contato fís ico íntim o com
outra pes s oa?”, “Es s e contato incluiu relação s exual?”, “Você tem relações
s exuais com hom ens , m ulheres ou am bos ?”, “Você us a pres ervativos ?”.
His tória da s aúde m ental: “Você já teve algum a doença m ental ou problem as
em ocionais ?”, “Você já s e cons ultou com um ps icólogo ou com um ps iquiatra?”,
“Já foi m edicado por caus a de problem as em ocionais ?”, “Você ou algum parente
já foi internado em razão de problem as m entais ou em ocionais ?”;
Us o de drogas lícitas e ilícitas : “Você já us ou durante s ua vida: m aconha,
cocaína, es tim ulantes pres critos por m édico, m etanfetam inas , s edativos ,
calm antes ?”.
Violência dom és tica: “Um a vez que os m aus -tratos s ão um a ocorrência habitual
na vida de m uitas m ulheres , farei algum as perguntas de rotina”, “Você es tá em
um relacionam ento no qual já foi agredida ou am eaçada?”.
Compartilhe a decisão
O termo “medicina centrada na pessoa” surgiu em oposição ao termo “medicina centrada na doença”, base do “modelo médico
convencional”, que, apesar da grande influência, tem sido frequentemente questionado por simplificar a condição de estar doente.
O método clínico centrado na pessoa foi concebido na década de 1980 e surgiu da necessidade de colocar o indivíduo, e não a doença,
no centro do atendimento médico. O entendimento das queixas com base nas opiniões da própria pessoa foi chamado de “diagnóstico
abrangente”, em oposição ao entendimento baseado na avaliação centrada na doença, chamado de “diagnóstico convencional”.
Apesar de ser pensado no contexto da medicina de família, suas mensagens também são de grande importância para todas as
disciplinas médicas e para outras profissões no campo do atendimento à saúde. Ser centrado na pessoa significa levar em consideração o
desejo da pessoa de informação e de participar da tomada de decisões e as formas de responder apropriadamente.
Inicialmente, proposto em seis componentes, recentemente foi reformulado, após uma década de avaliação, em quatro componentes. O
componente anterior, “Sendo Realista”, passou a ser visto como um comentário sobre o contexto a partir do qual o método clínico centrado
na pessoa toma forma. O componente “Incorporando Prevenção e Promoção da Saúde” foi concebido como parte dos processos incluídos
nos outros componentes.
• Definir o problem a. Algum as vezes s erá neces s ário rotular o problem a para
que a pes s oa entenda a caus a, o que es perar em term os de progres s ão ou
evolução e o qual s erá o res ultado;
• Es tabelecer m etas de tratam ento e/ou m anejo. É neces s ário entender as
expectativas e ideias das pes s oas s obre o tratam ento; é im portante tam bém
explicar claram ente todas as opções , com s uas m últiplas vantagens e
des vantagens ;
• Identificar os papéis a s erem as s um idos por am bos . O nível de
participação da pes s oa pode flutuar dependendo da s ua capacidade
em ocional e fís ica. Alguns podem es tar doentes dem ais ou m uito
s obrecarregados pelo fardo de s ua experiência de doença; outros podem
achar que tom ar decis ões s obre o tratam ento é m uito com plexo e confus o,
por is s o, deixam a tarefa para o m édico. O im portante é s em pre deixar claro
que exis te um a res pons abilidade m útua.
• Encontrar um cons ens o. É im pres cindível obter cons ens o s obre o m anejo
terapêutico, de form a que ele reflita neces s idades , valores e preferências
individuais , bem com o evidências científicas e diretrizes .
• Aparência
a. Consciência
1. Atenção
2. Orientação
3. Pensamento
4. Linguagem
5. Memória
6. Sensopercepção
7. Afetividade
5. Volição (Vontade)
6. Psicomotricidade
2. ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA
De uma forma geral, pacientes psiquiátricos não oferecem risco e não precisam ser temidos, sendo necessário apenas alguns cuidados
por parte do médico e da equipe para que não haja situações de perigo. Lamentavelmente, o entendimento errado deste fato no passado
levou a situações como de diversos pacientes serem amarrados, amordaçados, presos e destratados. A maioria dos pacientes psiquiátricos
não oferece perigo real à equipe, sendo eles apenas doentes que necessitam de ajuda.
É importante, entretanto, entender que, devido ao estado de desorganização mental e sofrimento que estes pacientes se encontram, eles
podem vir a tomar ações que inflijam dano em outras pessoas ou na estrutura física do local de atendimento. Abaixo são listados alguns
cuidados que devem ser tomados:
• Não tenha medo: Seus pacientes não devem ser temidos, mas entendidos. Isso não quer dizer que você não precise tomar certos
cuidados;
• Não dar as costas: Não permita que pacientes, sobretudo psicóticos, se coloquem fora do seu campo de visão, pois, sendo
imprevisíveis, podem tomar ações indesejáveis;
• Não use adereços: O uso de brincos, colares, pulseiras ou mesmo o estetoscópio pode chamar a atenção do paciente, fazendo-o
querer pegar esses objetos para si;
• Não deixe objetos potencialmente nocivos perto do paciente: Deixar abridores de carta, canivetes, chaves pontiagudas, tesouras ou
outros objetos sobre a mesa ou em estantes perto do paciente pode ser potencialmente perigoso;
• Tenha uma rota de fuga: O consultório do médico que atenda pacientes psiquiátricos deve dispor de uma porta adicional, perto do
médico e longe do paciente, para que, em caso de necessidade, o médico possa sair com velocidade e segurança. Na ausência
dessa porta adicional, é aconselhável ao clínico posicionar-se próximo à porta de saída;
• Evite fazer muitas anotações: Anotações pontuais serão importantes, porém o médico que fica apenas anotando a entrevista em
um papel, além de perder contato visual, pode transmitir uma sensação de descaso ou de insegurança ao paciente;
• Saiba modular suas emoções: Muitos pacientes terão histórias tristes a lhe contar. O médico deverá ser capaz de ouvi-las sem
demonstrar tristeza excessiva. Da mesma forma, o médico deve ser capaz de se alegrar comedidamente quando o paciente
estiver alegre, criando sempre uma empatia mútua;
• Saiba quando ser firme: Por vezes, será necessário contrariar o paciente, porém o médico deve ser capaz de saber quando é o
momento ideal para fazê-lo, sem quebrar a confiança e a boa relação médico-paciente, mas também sem perder o controle da
entrevista;
• Não minta: Seu paciente não merece ser enganado. Se você diz que virá no dia seguinte, venha. Se não poderá, diga que não virá.
Mentir significa quebrar a relação de confiança que seu paciente tem com você;
• Confirme a história: Sempre que possível, consiga familiares ou conhecidos do paciente para confirmar a história. Por vezes, o que
parece real é fantasioso e vice-versa;
• Não tenha preconceitos: Os pacientes psiquiátricos já sofreram preconceitos de todas as outras pessoas e você será uma das
últimas capazes de ajudá-lo.
3. FUNÇÕES MENTAIS
3.1. Aparência
Atenção, leitor, esta não é uma função mental, porém deverá estar presente na avaliação e na súmula psicopatológica, sendo, por este
motivo, colocada em primeiro lugar. Ela servirá como a primeira dica de transtornos mentais para todo e qualquer paciente. A beleza do
paciente pouco importará para sua análise, porém suas vestes, seu estado de higiene, a concordância entre as cores das peças de roupas
ou a ausência delas será de grande ajuda para sua investigação.
A situação e o contexto social em que o paciente se apresenta deve ser levado em consideração. Por exemplo, um paciente vestido de
roupas de banho será considerado “adequado” se visto assim vestido na praia, porém “inadequado” se visto assim em uma congregação
religiosa.
Da mesma forma, deve ser avaliado o contexto étnico e religioso do paciente. Uma pessoa vestida de robe amarelo, com colar de contas
nas mãos, chinelos de madeira e cabeça raspada será considerado adequado se for um sacerdote budista, mas o mesmo não poderia ser
dito se assim fosse encontrada na praia e que jamais tendo sequer conhecido essa religião.
3.2. Consciência
Esta é, talvez, a principal função mental, pois, sem ela, não é possível avaliar as demais. Não é possível avaliar a memória de uma
pessoa desacordada, por exemplo. Desta forma, é imprescindível que o paciente esteja desperto, ao menos parcialmente, para que o estudo
das demais funções mentais seja possível. Entretanto, a ausência de consciência também é uma informação importante e que deve orientar
o leitor a pensar em diagnósticos como distúrbio eletrolítico, traumatismos encefálicos, acidentes vasculares. Via de regra, se há alteração
do nível de consciência, a condição que a provocou não é psiquiátrica.
A função “consciência” é estudada em diversas áreas da medicina, sobretudo na neurologia. Neste livro, será estudada nos capítulos de
exame neurológico.
3.3. Atenção
A função atenção é didaticamente dividida em outras duas, mas que devem ser levadas em consideração conjuntamente. São elas:
• Tenacidade: é a atenção focal, a capacidade do indivíduo de estar atento a uma situação de maior importância, como ler um livro,
mesmo com barulho ao redor;
• Vigilância: é a atenção difusa, a capacidade do indivíduo de tirar proveito de informações que o rodeiam, como uma professora
fiscalizando uma prova, em que todos os alunos devem ter algum grau de sua atenção ao mesmo tempo.
Tenacidade e vigilância devem ser entendidos como dois lados de uma balança. Aquele que tem toda sua atenção focada em um só
objeto (tenacidade) terá sua atenção difusa prejudicada (vigilância) ou vice-versa.
Imagine que o leitor viaja de ônibus enquanto conversa com uma pessoa atraente. O leitor irá notar a cor do cabelo, o olhar, o sorriso,
pode até mesmo notar dimensões corpóreas, mas deixará passar a informação de quantas pessoas se movem ao seu redor, do tempo que
passa durante a conversa, das cidades que passaram. Isso acontece porque toda a atenção estava voltada para a pessoa atraente
(tenacidade), deixando a sua vigilância diminuída, por consequência.
Agora imagine que o motorista do ônibus esteja dirigindo, porém sua atenção é difusa. Ele precisa prestar atenção na estrada para não
cair em buracos, em animais na pista, no volante, na marcha, nos pedais, na rádio e, por vezes, em outros carros tentando ultrapassá-lo.
Por fim, o leitor tenta conversar com ele pedindo que melhore a temperatura do ônibus, e ele o faz, mas se fosse perguntada uma conta
relativamente simples, tal como 39 x 3, o motorista poderia não ser capaz de responder ou demorar muito mais do que seria necessário se
ele não estivesse dirigindo. Nesta situação, o motorista está tendo sua atenção dividida em várias atividades ao mesmo tempo (vigilância),
tendo, portanto, enorme dificuldade de realizar uma ação que necessite de mais atenção, como uma conta matemática (tenacidade).
3.4. Orientação
É a capacidade de se situar quanto ao ambiente e quanto a si. Esta função também é subdividida em duas outras:
• Orientação Autopsíquica: É a capacidade do paciente de saber informações sobre si mesmo. Seu nome, sua naturalidade, suas
posses e capacidades;
• Orientação Alopsíquica: É a capacidade do paciente de saber onde ele se localiza em tempo e espaço. Saber referir o dia em que
se encontra o presente, o ano, a cidade onde está, o presidente do país ou o dia da semana.
Um paciente que tenha perdido a memória pode ser confundido com um paciente com déficit na função orientação. O leitor deve estar
atendo a vários sinais para tentar diferenciar uma função de outra. Por este motivo, já foi dito no início deste capítulo que as funções devem
ser estudadas separadamente, mas entendidas em conjunto.
3.5. Pensamento
O pensamento é uma função um pouco mais complexa de se estudar. Além da dificuldade de análise da própria função, ela será avaliada
por uma outra, a linguagem. Avaliar o pensamento de uma pessoa incapaz de falar será bem mais difícil, ainda que não impossível.
O pensamento pode ser entendido como o processo lógico que leva o indivíduo a realizar associações. Um recém-nascido tem
capacidade de pensamento reduzido, por isso, consegue ver, ouvir e sentir, sem entender. Com o passar do tempo, ele começa a associar
que aquela imagem que lhe sorri, o amamenta e o acaricia é um ser bom, que lhe provê suas necessidades básicas. Este processo em que
fatos passam a ser conectados e entendidos como um conceito novo (“esta pessoa cuida de mim”) é o pensamento.
O pensamento pode ser dividido em:
• Curso: É a velocidade do pensamento. Certos transtornos, como a mania, cursarão com aumento da velocidade do pensamento,
enquanto outros, como a esquizofrenia, cursará com lentificação do pensamento;
• Forma: É a estrutura do pensamento em si, a coerência entre os pensamentos, as conexões entre diversos conceitos para formar
o pensar;
• Conteúdo: Aquilo de que o pensamento fala. As alterações de conteúdo podem ser bem notórias e importantes para a elucidação
do diagnóstico. Por vezes, será necessária confirmação com fontes externas para saber distinguir informações reais de
fantasiosas, mas que soam verdadeiras.
3.7. Linguagem
É importante lembrar que linguagem é tudo aquilo que produz comunicação com outrem. Nos seres humanos, a linguagem é
primordialmente verbal, mas o leitor não deve se enganar e acreditar que somente é linguagem a língua falada, pois, se assim o fosse,
animais de estimação, incapazes de entender nossos idiomas, não seriam capazes de entender quando o dono está feliz ou insatisfeito com
ele.
Existem alterações de linguagem predominantemente neurológicas, como as afasias de Broca ou de Wernicke, conhecidas por todo
estudante de medicina. Existirão, entretanto, outras menos neurológicas e mais psiquiátricas, como a repetição compulsória de fonemas e a
criação de linguagens próprias, entendidas somente pelo paciente.
3.8. Memória
É uma função conhecida por todos os animais, sendo a capacidade de lembrar de fatos passados. Tradicionalmente, a memória é
subdividida em imediata, recente e remota, tratando de segundos, horas e anos, respectivamente.
Especialmente em pacientes demenciados, esta função é necessária para a diferenciação do transtorno investigado. Pacientes com
Alzheimer costumam ter primordialmente sua memória imediata prejudicada, esquecendo para que foram na geladeira ou onde deixaram a
chave, posteriormente perdendo a memória recente e, por fim, a remota, quando já não conseguem mais reconhecer ninguém e nem a si
mesmos.
3.9. Sensopercepção
É a função referente à percepção dos sentidos pelo paciente. Aqui todos os sentidos poderiam ser avaliados, ainda que normalmente
seja dado destaque aos sentidos alterados, especialmente audição e visão. Indivíduos que escutam vozes que outros não escutam, que
sentem insetos caminharem sobre a pele, que sentem cheiros que não se encontram no lugar, que veem pessoas que já morreram, são
indivíduos com alterações nesta função.
3.10. Afetividade
Trata-se de da função referente aos sentimentos, tanto como o paciente está se sentindo como o quanto o paciente consegue emitir de
seu sentimento.
Em pacientes esquizofrênicos crônicos, com frequência se nota uma ausência de sentimento emitido pelo paciente, a que se dá o nome
de embotamento afetivo, sendo impossível saber, pela observação, se o paciente se encontra feliz, triste, com raiva ou outro.
Entretanto, alterações menos drásticas também podem ser notadas, como aquele paciente que possui uma predominância do
sentimento de tristeza, como os depressivos, ou euforia, como os maníacos. Isto não quer dizer que, se contada uma piada particularmente
engraçada, um paciente depressivo não possa rir ou um paciente maníaco não possa chorar, dependendo da situação. A esta
predominância afetiva chamamos de humor, enquanto à variação, pela expressividade momentânea, chamamos de modulação. Alguns
pacientes chamarão atenção por terem uma modulação muito grande (hipermodulados) ou muito pequena (hipomodulados).
Figura 8. Mapa mental 8 – alterações da afetividade.
3.12. Psicomotricidade
Trata-se da função responsável pelo movimento. Aqui, muito já se sabe pela própria neurologia, especialmente nas alterações de marcha
e tremores. Entretanto, a psicomotricidade abrange além daquelas alterações neurológicas, havendo também alterações de movimento
puramente psicológicas, tal como conversões, ou metabólicas, como intoxicação por antipsicóticos, causando efeitos extrapiramidais.
Existem outras informações que podem ser levadas em consideração como dados. Em uma especialidade em que não existem exames
diagnósticos que não a anamnese, qualquer informação adicional pode ser útil.
Dentre essas informações adicionais, pode ser considerado o nível educacional do paciente, sua atitude perante a família, os outros
pacientes e o médico, o comportamento durante atividades recreativas, a capacidade de autocuidado durante a internação, entre outras.
• Exame psíquico ou mental: Este é o tópico no qual se descreve a entrevista do médico com o paciente focando a descrição das
funções mentais. Idealmente, este tópico deve ser algo extenso, com descrições detalhadas e simples, sem o uso de linguagem
técnica. Neste tópico, o médico deve optar em descrever minuciosamente tudo que foi percebido durante a entrevista;
• Súmula psicopatológica: Neste tópico, devem ser resumidas as alterações mentais identificadas anteriormente no exame psíquico,
porém desta vez com linguagem técnica, de forma objetiva e sucinta. É importante que o leitor seja capaz de realizar o exame
psíquico e a súmula psicopatológica com competência, de forma organizada e regrada. Juntos, eles devem ser capazes de
descrever as alterações mentais do paciente, possibilitando elucidação diagnóstica.
• HAM-D: Desenvolvida por Max Hamilton na década de 1960. Atualmente usada especialmente para casos já diagnosticados,
6
avaliando sua evolução. Utilizada também como comparação com escalas mais novas;
• Montgomery Åsberg Depression Rating (MADRS): Avalia síndrome depressiva, sendo mais utilizada em ensaios com medicações
7
• Beck Depression Inventory (BDI): Escala de autoavaliação para depressão. Quando utilizados como ponto de corte os valores
8
• Center for Epidemiological Studies of Depression Scale (CES-D): Avalia depressão e apresenta boa correlação com a HAM-D,
9
variando entre 0,60 e 0,66. Também apresenta um bom nível para rastreamento de transtorno depressivo em pacientes reabilitados,
com boa sensibilidade (variação de 89 a 96%);
• Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI): Teste rápido (15-30 minutos) que explora prioritariamente episódios atuais.
Comparativamente ao CIDI, apresenta concordância superior a 0,5 em diagnósticos, exceto um deles. Apresenta ainda
sensibilidade de 0,70 e especificidade de 0,7 para a maioria dos diagnósticos;
• MINI Plus: 12
Versão estendida e mais detalhada do MINI; apresenta sensibilidade > a 0,64 e especificidade > 0,71 para a maioria dos
diagnósticos, quando comparado ao CIDI.
PRIMEIRA PARTE
Paciente de 25 anos, sexo masculino, trazido por familiares após briga em bar. Família relata que há 1 semana o paciente tem se
comportado de forma estranha, estando acordado a noite inteira rindo e gritando, dizendo que é o mais poderoso de todos. Referem,
ademais, que desde então tem se envolvido em várias brigas pela vizinhança, além de ter aparecido com uma moto nova, apesar das
dificuldades financeiras da família. Outros familiares declaram que o paciente era um excelente filho e muito trabalhador há poucos dias e
estão perplexos com o comportamento do rapaz nos últimos tempos. Negam a possibilidade do uso de drogas, dizendo que o rapaz sempre
teve Deus no coração e não faria isso.
Chega com as roupas rasgadas na confusão, porém aparentemente de boa qualidade. O paciente afirma que o dono do bar havia falado
mal em suas costas, mas ele, o paciente, que seria capaz de ouvir através das paredes, escutou e quis tirar satisfações. Relata, ademais,
não o ter matado apenas porque não queria sujar suas mãos de sangue humano, o que mancharia sua pele divina, terminando com uma
gargalhada. Sua fala encontra-se um pouco acelerada, mas sem contradições no momento.
Discussão
Um examinador com alguma experiência no caso acima não teria dificuldade em estabelecer uma hipótese diagnóstica inicial devido a
alguns elementos-chave citados. É, entretanto, de maior importância, no momento. que o leitor seja capaz de analisar algumas das funções
mentais acima descritas.
Veja como ficaria a súmula psicopatológica do caso acima:
Aparência: Vestes novas, rasgadas. Paciente higienizado.
Consciência: Alerta
Atenção: Não foi possível testar
Orientação: Não foi possível testar
Pensamento:
SEGUNDA PARTE
Durante a entrevista, é solicitado ao paciente que repita 3 palavras (“carro, azul e girafa”), fazendo-o adequadamente. Digo-lhe então que
posteriormente irei perguntar-lhe novamente estas 3 palavras para que as repita. Em seguida, solicito que o paciente diga seu nome
completo, o que o faz rapidamente e sem erros. Entretanto, logo em seguida, pergunto-lhe o dia, o mês e o ano em que estamos. O paciente
responde com igual agilidade, informando ser sexta-feira, 13 de maio de 1927. Refere então ser marinheiro das grandes navegações, sendo
muito rico, pois vende Pau-Brasil para padres catequizadores. Pergunto-lhe então se ele se lembra quais as 3 palavras que pedi que
memorizasse, mas neste momento somos interrompidos pelo pai do paciente, perguntando se poderia se sentar ao lado do filho. Neste
momento, o paciente encontra-se mexendo no celular, tendo esquecido completamente a pergunta que lhe fiz anteriormente. Solicito
novamente que me diga as palavras, mas o paciente só é capaz de responder corretamente “carro”, errando as outras duas. Faço-lhe outra
pergunta, porém o paciente começa a tentar matar uma mosca que se aproxima de sua perna, ignorando completamente a pergunta que lhe
fiz. Por fim, o paciente se joga no chão com as mãos nos ouvidos, como se escutando tiros, e lá permanece por alguns segundos, por fim
me olhando assustado e pedindo para ir ao banheiro. Concedo-lhe permissão e o paciente ruma para o quarto, já tendo esquecido o desejo
de ir ao banheiro.
Atenção:
• Imediata: Preservada
• Recente: Prejudicada
• Remota: Não avaliada
Sensopercepção: Alucinação auditiva
Discussão
Na descrição acima, é possível definir as alterações das funções antes não testadas. Note que o paciente sabe referir seu nome, tendo
em algum grau a orientação autopsíquica preservada, entretanto acreditando ter um trabalho completamente diferente do seu trabalho real.
Além disso, o paciente encontra-se completamente perdido no tempo e espaço, acreditando estar no ano errado e não sendo capaz de notar
que as grandes navegações aconteceram em uma época ainda anterior à que o paciente diz estar. A memória do paciente é testada de
forma objetiva, ao se pedir que repita as 3 palavras e depois que se lembre delas após alguns minutos e as diga novamente. O paciente é
capaz de repetir as palavras imediatamente, apresentando memória imediata preservada, porém logo após alguns minutos já as esqueceu,
denotando um déficit em sua memória recente. A atenção do paciente é testada e analisada de forma subjetiva, levando-se em consideração
a pobre capacidade do paciente em responder as perguntas e de se lembrar que se encontra em uma entrevista com um médico.
Nota-se, entretanto, que o paciente se encontra atento a seu meio, tendo, dessa forma, uma vigilância aumentada, ainda que fosse
possível classificar como “não alterada”. Por fim, uma nova informação sobre a sensopercepção do paciente nos permite reclassificar esta
função de “sem vivências alucinatórias” para “alucinação auditiva”, devido ao sinal de que o paciente naquele momento escutou algum
barulho que o deixou amedrontado. Como dito anteriormente, de acordo com os dados coletados, o examinador pode redefinir as alterações
encontradas nas funções mentais.
Sintoma-guia: Crença em superioridade (megalomania)
Diagnóstico sindrômico: Síndrome Psicótica
Diagnósticos diferenciais: Síndrome Psicótica por uso de substâncias
Hipótese diagnóstica: Transtorno Bipolar – episódio maníaco
REFERÊNCIAS
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2. Barlow DH, Durand VM. Ps icopatologia – Um a Abordagem Integrada. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning; 2015.
3. Cheniaux E Jr. Manual de Ps icopatologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Com pêndio de Ps iquiatria – Kaplan & Sadock. 11. ed. Porto Alegre: Artm ed; 2017.
5. McGee SR. Evidence-Bas ed Phys ical Diagnos is . 4th ed. Philadelphia, PA: Els evier; 2018.
6. Gallucci Neto J, Cam pos Júnior MS, Hübner CK. Es cala de Depres s ão de Ham ilton (HAM-D): revis ão dos 40 anos de s ua utilização. Rev Fac Ciênc Méd. 2001;
3(1): 10-4.
7. Moreno RA, Moreno DH. Es calas de avaliação clínica em ps iquiatria e ps icofarm acologia: es calas de avaliação para depres s ão de Ham ilton (HAM-D) e
Montgom ery-As berg (MADRS). Rev Ps iquiatr Clin. 1998; 25(5): 1-17.
8. Las a L, Ayus o-Mateos JL, Vazquez-Barquero JL, DiezManrique FJ, Dowrick CF. The us e of the Beck Depres s ion Inventory to s creen for depres s ion in the general
population: A prelim inary analys is . J Affect Dis ord. 2000; 57(1): 261-5.
9. Marcolino JAM, Mathias LAST, Piccinini Filho L, Guaratini AA, Suzuki FM, Alli LAC. Es cala Hos pitalar de Ans iedade e Depres s ão. Rev Bras Anes tes iol. 2007; 57(1):
52-62.
10. Bjelland I, Dahl AA, Haug TT, Neckelm ann D. The validity of the Hos pital Anxiety and Depres s ion Scale An updated literature review. J Ps ychos om Res . 2002;
52(2): 69 – 77.
11. World Health Organis ation [WHO]. The Com pos ite International Diagnos tic Interview (CIDI). Authorized Core Vers ion 1.0. Geneva: WHO; 1990.
12. Am orim P. Mini International Neurops ychiatric Interview (MINI): validação de entrevis ta breve para diagnós tico de trans tornos m entais . Rev Bras Ps iquiatr. 2000;
22(3): 106-15.
1. MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO
Também chamada de Exame Físico Geral ou Somatoscopia, a Ectoscopia costuma ser a primeira
etapa do exame físico. Nela são obtidos dados gerais, independentemente dos vários sistemas
orgânicos ou segmentos corporais, obtendo-se, com isso, uma visão global do paciente. Compreende
as seguintes etapas: estado geral, nível de consciência, fala e linguagem, estado de hidratação, estado
de nutrição, grau de palidez, presença de icterícia, presença de cianose, medidas antropométricas,
fácies, biotipo, pele e fâneros, musculatura, movimentos involuntários, postura e atitude, e marcha.
3. SEMIOTÉCNICA
O paciente deve ser examinado em ortostase e na posição sentada, bem como caminhando. Para
melhor conforto do paciente e melhor sistematização do exame físico geral, deve-se examiná-lo
primeiramente sentado na beira do leito ou na mesa de exame, ou ainda deitado, caso essa posição
seja mais confortável para ele. Em um segundo momento, pede-se para o paciente ficar de pé ou
andando, conforme a necessidade.1
ESTADO DE VIGÍLIA
ESTADOS DE SONOLÊNCIA
ESTADO DE OBNUBILAÇÃO
ESTADO DE ESTUPOR
ESTADO DE COMA
• Pele;
• Esclerótica;
• Freio da língua.
O paciente é classificado em anictérico ou ictérico. Se ictérico, deve ser graduado subjetivamente
em cruzes variando de 1 (+) a 4 (++++).6
• Lábios;
• Região perioral;
• Leito ungueal;
• Pavilhões auriculares;
• Eminências malares.
O paciente é classificado em acianótico ou cianótico. Se cianótico, deve ser graduado
subjetivamente em cruzes variando de 1 (+) a 4 (++++).1
a) Altura
A altura total ou medida planta-vértice é mais comumente utilizada. Sua verificação é importante para
o controle do crescimento e avaliação do grau de nutrição. Em pacientes adultos não acamados, sua
medida é feita com o paciente ereto, sem calçados e pés justapostos.3
Dificuldade da técnica: Nos pacientes acamados, a determinação da altura pelo método tradicional
torna-se inviável. Uma alternativa é medir a envergadura, que consiste na distância compreendida
entre os extremos dos membros superiores, estando o indivíduo com os braços abertos, em
abdução de 90°, pois, normalmente, a envergadura equivale à altura.1
b) Peso
A verificação do peso é de grande importância para se avaliar a perda ou ganho ponderal e o estado
nutricional. A melhor maneira de se medir o peso é através da balança antropométrica, pois esta possui
maior precisão. Para obter valores mais fidedignos, idealmente, o paciente deve estar despido.5
Como utilizar a balança antropométrica?1,5
• Mover o “peso menor” na barra lentamente para a direita e parar quando a seta estiver nivelada;
• Adicionar os números indicados nas aberturas ou por pequenas setas em ambos os pesos para
chegar ao seu peso corporal;
• Peso Ideal: para determinar, aplica-se a regra simples de Broca. O peso ideal se aproxima do
número de centímetros que excede um metro de altura e se expressa em kg. Para o sexo
feminino, subtraem-se 5% do valor encontrado.
Exemplo:
Sexo masculino, 1,70m. Peso ideal = 70 kg
Sexo feminino, 1,70m. Peso ideal = 70 – 5% = 66,5kg
IMC INTERPRETAÇÃO
25 – 29,9 SOBREPESO
OBESIDADE
30 – 34,9
GRAU I
OBESIDADE
35 – 39,9
GRAU II
≥ 40 OBESIDADE
GRAU III
(MÓRBIDA)
Fonte: Modificado de PORTO, 2019.1
≥ 94 CM (H)
AUMENTADO
≥ 80 CM (M)
CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL
≥ 102 CM (H)
SUBSTANCIALMENTE AUMENTADO
≥ 88 CM (M)
e) Biotipo
O biotipo, também denominado tipo morfológico, é o conjunto de características morfológicas
apresentadas pelo indivíduo. Não confunda biotipo com altura! Embora haja certa relação entre altura e
o tipo constitucional, são conceitos diferentes.1
A principal utilidade da determinação do biotipo é a correta interpretação das variações anatômicas
que acompanham cada tipo morfológico.5
• “SANCHO
• “DOM
PANÇA”
QUIXOTE”
• PESCOÇO
• TÓRAX
CURTO E
AFILADO E
GROSSO
CHATO
• TÓRAX
• MEMBROS
ALARGADO E
ALONGADOS
VOLUMOSO
COM FRANCO
• MEMBROS PREDOMÍNIO
CHARPY> 90° •
• MUSCULATURA
DELGADA E
MUSCULATURA
PANÍCULO
DESENVOLVIDA
ADIPOSO
E PANÍCULO
POUCO
ADIPOSO
DESENVOLVIDO
ESPESSO
• TENDÊNCIA
• TENDÊNCIA
PARA BAIXA
PARA BAIXA
ESTATURA
ESTATURA
Fonte: Autor.
Anemia é um nome genérico utilizado para uma série de anormalidades que podem acometer um
indivíduo e levar à deficiência de hemoglobina no sangue. Seu diagnóstico é confirmado a partir de
exames laboratoriais, porém podemos levantar a suspeita de anemia através do exame físico. Seu
diagnóstico é importante pelo fato de que algumas das doenças que promovem a anemia podem ser
curadas ou tratadas, trazendo benefício para o paciente a longo prazo.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
PALIDEZ EM
22-77 66-92 3,8 0,5
QUALQUER LOCAL
PALIDEZ NO LEITO
59-60 66-93 SS* 0,5
UNGUEAL
PALIDEZ DA PREGA
8 99 7,9 SS*
PALMAR
PALIDEZ
31-62 82-97 4,7 0,6
CONJUNTIVA
Desidratação é um diagnóstico comum tanto nas unidades básicas de atendimento quanto nas
emergências e enfermarias hospitalares. Normalmente, está trata-se de uma causa secundária a outros
diagnósticos, como gastroenterites, doenças inflamatórias intestinais, grandes queimados etc. A
hipovolemia é a diminuição do volume circulante efetivo no leito intravascular, que nos casos mais graves
não tratados pode evoluir para o óbito. O exame físico pode auxiliar no diagnóstico desses casos,
diminuindo a chance de desfechos desfavoráveis através do tratamento efetivo.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
AXILA SECA 40-50 82-93 3,0 0,6
MUCOSAS DO NARIZ
49-85 58-88 3,1 0,4
E BOCA SECAS
SULCOS
LONGITUDINAIS NA 85 58 SS* 0,3
LÍNGUA
TURGOR DA PELE
ANORMAL 73 79 3,5 0,3
(SUBCLAVICULAR)
CASO CLÍNICO
História clínica
T.A.T, sexo feminino, lactente, 1 ano e 6 meses, procedente e residente em Massapê, interior do
Ceará, caucasiana, comparece à unidade básica de saúde acompanhada da mãe, que relata que a
paciente apresenta fezes diarreicas há 3 dias.
A genitora fala que no primeiro dia a paciente iniciou o quadro com fezes amolecidas, com leve
aumento da frequência de evacuações. No segundo dia, evoluiu com fezes líquidas, de grande volume,
com 5 episódios diários, sem conteúdo mucossanguinolento, fétidas, explosivas, associadas à
irritabilidade e febre baixa não aferida. Hoje notou que a paciente se apresentava letárgica, pouco
reativa, não aceitando bem a dieta e não conseguia ingerir bem os líquidos. Notou também que a
paciente urinava pouco nos últimos dois dias.
Medicações em uso: Nega uso de medicações no momento.
Antecedentes pessoais: Relata anemia aos 7 meses.
Histórico alimentar: Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, quando iniciou alimentação
complementar. Após um ano de idade, alimentação semelhante à dos adultos. Continua em aleitamento
materno. A mãe relata que um dia antes do quadro a paciente passou o dia na casa da tia e não sabe o
que ela comeu.
Antecedentes familiares: Mãe hipertensa. Pai hígido.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: regular estado geral, hipocorada (1/4+), desidratada (3+/4+), anictérica,
acianótica, afebril, eutrófica, eupneica, letárgica, pouco reativa. Peso atual 9,6kg. Último peso anotado
na caderneta 10kg.
Sinais vitais: FC: 165 bpm, FR: 32 irpm, Tax: 37,5°C, PA:85x65 em decúbito, no MSD.
Exame da cabeça e do pescoço: crânio normocefálico, ausência de cicatrizes e abaulamento no couro
cabeludo. Fontanela retraída. Choro sem lágrimas. Mucosas ressecadas. Ausência de
linfadenomegalias cervical e periauricular.
Exame neurológico: letárgica, sonolenta. Sem outras alterações relevantes.
Sistema respiratório: tórax atípico, eupneica, boa expansibilidade e frêmito toracovocal normal, som
claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos adventícios.
Sistema cardiovascular:precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular, ictus palpável no quinto
espaço intercostal na linha hemiclavicular esquerda, ritmo cardíaco regular, em dois tempos, bulhas
hipofonéticas, sem sopros.
Exame abdominal: Abdome plano, ruídos hidroaéreos aumentados, aumentodo irritabilidade à palpação
abdominal, flácido, sem massas ou visceromegalias palpáveis.
Extremidades:pouco perfundidas, pulsos periféricos palpáveis, filiformes e simétricos, sem cianose.
Tempo de enchimento capilar maior que 3 segundos. Sinal da prega presente.
Articulações e sistema osteomuscular: Sem alterações.
Exames complementares
Não realizou exames complementares.
Pontos de discussão
1. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
2. QUAL É O DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO?
3. QUAL É O DIAGNÓSTICO ANATÔMICO/TOPOGRÁFICO?
4. QUAL É A PRINCIPAL HIPÓTESE DE DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO?
5. QUAIS SÃO OS ACHADOS DO EXAME FÍSICO QUE CORROBORAM A HIPÓTESE?
6. QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS?
Discussão do caso
A ectoscopia é um importante preditor da gravidade do caso. Nesse ponto da anamnese, podemos
destacar o estado geral do paciente, avaliar sinais de desidratação, icterícia, dispneia, consciência e
palidez por uma simples primeira análise do paciente em questão.
No caso, podemos destacar o principal sintoma como a diarreia, sendo este o nosso sintoma-guia, e
a partir dele podemos dar continuidade à nossa investigação. Devemos destacar que as características
desses sintomas podem nos conduzir a uma causa mais provável da sua etiologia. As diarreias podem
ser classificadas em agudas, quando com menos de duas semanas, persistente, de duas a quatro
semanas, e crônicas, quando continuam por mais de 4 semanas. Alguns sinais e sintomas falam a favor
de causas mais complicadas, como sangramento e muco nas fezes, relacionados com infecções
bacterianas, parasitoses (normalmente amebíase), doenças inflamatórias etc.5,9,11
Na síndrome diarreica, podemos encontrar alguns sinais e sintomas associados como náuseas,
vômitos, dor abdominal e febre. Devemos ficar atentos aos sinais de complicações dessa síndrome,
sendo a desidratação a mais importante nas diarreias agudas, principalmente quando associada a
vômitos. Outra complicação é o distúrbio eletrolítico e que também deve ser identificado nos casos
mais importantes de perda de volume.12,13
No caso clínico, temos um lactente de 1 ano e 6 meses com uma provável gastrenterocolite aguda
complicada por desidratação grave, visualizada através da anamnese e exame físico, apresentando
mucosas secas, pouca ou ausência de lágrimas, sinal da prega positiva, tempo de enchimento capilar
elevado, perda de peso, provável oligúria e letargia. A esses pacientes, devemos ficar sempre atentos,
pois o risco de evoluir com desfecho fatal é alto.12
O tratamento é voltado para os sintomas. A hidratação vigorosa precoce é a principal ação para
recuperação do paciente. O Ministério da Saúde classifica a desidratação em três grupos distintos que
variam de acordo com o nível de desidratação, e o tratamento é voltado para esta classificação. No
caso em questão, a paciente é classificada em estado grave, com necessidade de internação
hospitalar, hidratação venosa vigorosa e acompanhamento.9,11
Sintoma-guia: Diarreia aguda.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome diarreica.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Trato gastrointestinal.
Hipótese diagnóstica: Desidratação por gastroenterite viral.
Diagnósticos diferenciais:
REFERÊNCIAS
a. PORTO CC. SEMIOLOGIA MÉDICA. 8. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; 2019.
2. Bickley LS. Bates: propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
3. Rezende JM. et al. Guia para o Exame Clínico. 6. ed. rev. e ampl. Goiânia: Ed. da UFG, Vieira; 2004.
4. World Health Organization. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Geneva; 1997.
5. Benseñor IM. Semiologia Clínica. 1. ed. São Paulo: SARVIER; 2002.
6. Porto CC, Porto AL. Clínica Médica na Prática Diária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
7. Kamimura MA, Baxman A, Sampaio LR, Cuppari L. Avaliação nutricional. In: Cuppari L. Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto. 2.
ed. São Paulo: Manole; 2006.
8. Detsky AS, McLaughlin JR, Baker JP, Johnston N, Whittaker S, Mendelson RA, et al. What is subjective global assessment of nutritional
status? JPEN. J Parenter Enteral Nutr.1987; 11(1): 8-13.
9. Manejo do paciente com diarreia. Ministério da Saúde do Brasil. [Internet]. [acesso em 15 de agosto de 2019].
10. UNICEF/WHO. Diarrhoea. Why children are still dying and what can be done? Geneva: UNICEF/WHO; 2009.
11. Sociedade Brasileira de Pediatria. Diarreia aguda: diagnóstico e tratamento. Guia prático de atualização. 2017; 1(1): 1-15.
12. Sociedade Brasileira de Pediatria. Tratado de pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole; 2017.
13. WHO – World Health Organization. The Treatment of Diarrhoea – A Manual for Physicians and Other Senior Health Workers
(WHO/CAH/03.7). Geneva: World Health Organization; 2005.
14. McGee, Steven R. Evidence-based physical diagnosis. 4. ed. Philadelphia: Elsevier; 2018.
1. MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO
A avaliação dos sinais vitais é uma etapa de fundamental importância no exame físico de qualquer
paciente. Eles são indicadores das condições de saúde de uma pessoa, sendo sua mensuração um
meio eficiente e rápido de avaliar essas condições ou identificar a presença de problemas. A avaliação
possui uma semiotécnica simples e possibilita sua realização de maneira rápida e eficaz. Avaliar os
sinais vitais consiste em mensurar: pressão arterial, frequência respiratória, frequência cardíaca, pulso
arterial e temperatura.
3. SEMIOTÉCNICA
• Pode-se avaliar o paciente em ortostase ou decúbito dorsal, conforme seja mais cômodo para
ele;
• Lembrar das alterações fisiológicas dos sinais vitais com mudança de decúbito e posicionamento
dos membros;
• Assim que o pulso for detectado, a válvula poderá ser totalmente aberta para permitir o
esvaziamento da bolsa de ar do manguito.
• Após determinar a PA sistólica pelo método palpatório, feche a válvula, palpe a artéria braquial
na fossa cubital e coloque o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva;
• Inicialmente, nenhum som será auscultado, pois o manguito exerce uma pressão acima da
pressão arterial sistólica, interrompendo o fluxo de sangue pela artéria braquial. Quando o valor
da pressão do manguito for igual ao valor da pressão arterial sistólica do paciente, o sangue
começará a fluir pela artéria, porém de forma conturbada porque a parede da artéria está
comprimida. Este fluxo de sangue anormal é chamado de fluxo turbulento e determina um ruído
que pode ser auscultado;
• Informar os valores de pressões arteriais obtidos para o paciente e interpretá-los. Para isso,
utilizam-se os parâmetros da VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial de 2016,6 como
mostra a Tabela 1.
Tabela 1. Classificação da PA segundo a VII Diretriz Brasileira de Hipertensão.6
NORMAL ≤ 120 ≤ 80
HIPERTENSÃO
140 A 159 90 A 99
ESTÁGIO 1
HIPERTENSÃO
160 A 179 100 A 109
ESTÁGIO 2
HIPERTENSÃO
≥ 180 ≥ 110
ESTÁGIO 3
Fonte: Malaquias.6
Fonte: Autor.
• O manguito do esfigmomanômetro deve ter o tamanho adequado. Uma regra prática para a
escolha do manguito é a seguinte: tamanho do manguito = 2/3 do comprimento do braço(80% do
comprimento e 40% da circunferência);
• Se durante a aferição da PA houver algum erro técnico ou em caso de dúvida quanto aos valores
obtidos, deve-se desinsuflar completamente o manguito, aguardar 1 a 3 minutos e somente
depois repetir a aferição;
• Cuidado com o hiato auscultatório! O hiato auscultatório consiste no desaparecimento dos sons
na ausculta durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase
II dos sons de Korotkoff. Tal achado pode subestimar a verdadeira pressão sistólica ou
superestimar a pressão diastólica;
• Em idosos, lembrar de pesquisar o sinal de Osler por meio da manobra de Osler! A manobra de
Osler consiste na insuflação do manguito no braço até o desaparecimento do pulso radial. Se a
artéria radial permanecer palpável após esse procedimento, sugerindo enrijecimento, o paciente
é considerado Osler-positivo. Esse sinal pode sugerir a presença de pseudo-hipertensão,
caracterizada por nível de pressão arterial falsamente elevado em decorrência do enrijecimento
da parede da artéria;
• A medida da pressão arterial geralmente é realizada no braço, porém, em circunstâncias
especiais, pode ser feita no antebraço ou na perna. Na perna será usada a artéria pediosa ou a
tibial posterior;
• Na primeira consulta, a pressão arterial deve ser medida na posição deitada, sentada e em pé.
Nas consultas posteriores, a necessidade será determinada pelo médico.
VALOR DA FR INTERPRETAÇÃO
VALOR DA FC INTERPRETAÇÃO
60-100B.P.M NORMAL
• Frequência: quantidade de ondas de pulso por minuto. Em pacientes não portadores de arritmias
cardíacas ou doença arterial periférica, a frequência de pulso coincide com a frequência
cardíaca. Faixa de normalidade: 60-100 ondas por minuto. Abaixo de 60, considera-se
bradisfigmia. Acima de 100, considera-se taquisfigmia;
• Ritmo: é dado pela sequência de pulsações. Se elas ocorrem em intervalos iguais, diz-se que o
ritmo é regular. Se os intervalos são variáveis, trata-se de ritmo irregular;
Cuidado: não confunda pulso duro com endurecimento da parede do vaso. São entidades
distintas!
• Formato: o formato do pulso expressa a análise do seu contorno. A percepção dos diferentes
contornos pela palpação é difícil e exige muita prática. Entretanto, estudos invasivos possibilitam
o reconhecimento de grande variedade de pulsos. Como cada formato de pulso(ou tipo de onda)
tem um significado clínico, é importante conhecê-los.2,4
• GERALMENTE ACOMPANHADO DE
OUTROS SINAIS PERIFÉRICOS DE
INSUFICIÊNCIA AÓRTICA
• O PRIMEIRO COMPONENTE É
DECORRENTE DA FASE DE EJEÇÃO
RÁPIDA, SENDO LIMITADO NO
MOMENTO EM QUE SE ESTABELECE
PULSO A OBSTRUÇÃO DINÂMICA AO FLUXO • HIPERTROFIA
BÍFIDO SANGUÍNEO. SEGUE-SE O MIOCÁRDICA
SEGUNDO COMPONENTE, DE
EJEÇÃO MAIS LENTA, COM
CONFIGURAÇÃO DE UM DOMO
• GERALMENTE, DE DIFÍCIL
DETECÇÃO À BEIRA DO LEITO
• ESTADOS DE
• RARO BAIXO DÉBITO
• CARACTERISTICAMENTE, •
PULSO APRESENTA UM PICO NA DIÁSTOLE TAMPONAMENTO
DICRÓTICO
• PODE SER DIFERENCIADO DOS
CARDÍACO
PULSO
PARADOXAL
• SINONÍMIA: PULSO DE KUSSMAUL •
• DIMINUI A INTENSIDADE OU DESAPARECE COM A TAMPONAMENTO
CARDÍACO
INSPIRAÇÃO
• DENOMINAÇÃO ERRÔNEA: NA VERDADE, É UMA • PERICARDITE
EXACERBAÇÃO DE UM FENÔMENO CONSTRITIVA
NATURAL(QUEDA
INSPIRAÇÃO)
DA PRESSÃO COM A
• ASMA SEVERA
OU DPOC
• PESQUISADO MELHOR ATRAVÉS DA AFERIÇÃO
DA PA
TARDUS AÓRTICA
DECORRENTES DA IDADE
Os pulsos arteriais rotineiramente palpados são: carotídeos, femorais, radiais, braquiais, dorsais do
pé e tibiais posteriores. Veja a semiotécnica para palpação de cada um.
a) Pulsos Carotídeos1
• Localização: na altura da cartilagem tireóidea, abaixo e profundo do músculo
esternocleidomastoide;
• Semiotécnica: Deve-se palpar delicadamente para não comprimir o seio carotídeo, o que pode
gerar bradicardia, parada cardíaca e desprendimentos de placas ateromatosas.
•
NUNCA se deve palpar as duas artérias simultaneamente.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
b) Pulsos Femorais12
• Localização: região inguinocrural, abaixo do ligamento inguinal, na sua porção média (triângulo
de Scarpa);
Fonte: Autor.
É comum haver variações anatômicas dessa artéria, passando a não ser palpável no local
habitual. Neste caso, é necessário procurá-la em toda a extensão do dorso do pé.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
3.5. Temperatura
Sabe-se que a temperatura do interior do corpo permanece quase constante, em uma variação de
no máximo 0,6°C, enquanto a temperatura da parte externa do corpo (que é a mensurada na prática
clínica), ao contrário, está sujeita a variações das condições ambientais. Pequenas variações na
temperatura normal são observadas de pessoa para pessoa, e, principalmente, em diferentes regiões
do corpo. As principais regiões do corpo em que se afere a temperatura são a axila, cavidade oral e
cavidade retal. A Tabela 5 mostra os valores de normalidade de cada região.8,11
Para aferir a temperatura, é necessário o uso de um termômetro clínico de mercúrio, que registra
temperaturas entre 35°C e 42°C. Antes de posicionar o termômetro, é essencial fazer a higiene
adequada do equipamento, evitando umidade no local.8,11
Fonte: Autor.
PULSO CAROTÍDEO
95 22 SS SS
PRESENTE
PULSO FEMORAL
95 67 2,9 0,1
PRESENTE
PULSO RADIAL
52 89 SS 0,5
PRESENTE
Razão de Verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado Achado Achado
(%) (%)
presente ausente
FC > 90 BPM
MORTALIDADE, SE 94 38 1,5 0,2
TRAUMA E HIPOTENSÃO
FC > 95 BPM
MORTALIDADE, SE 97 53 2,0 0,1
CHOQUE SÉPTICO
FC > 110
MORTALIDADE, SE 70 97 25,4 0,3
HEMORRAGIA PONTINHA
Exames complementares
Hemograma completo: Hb 11,2 Ht 34% Leucócitos 22.500 Neutrófilos 59% Bastões 11% Linfócitos 22%
Plaquetas 140.000
Creatinina 1,9 Ureia 82 PCR 12,6 Gasometria arterial (pH 7,3 PO2 55 PCO2 34 BIC 15).
Pontos de discussão
4. QUAL O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
5. Qual o diagnóstico sindrômico?
6. Qual o diagnóstico anatômico/topográfico?
7. Qual a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
6. Quais os diagnósticos diferenciais?
Discussão do caso
Os sinais vitais são pontos essenciais para a avaliação do paciente. A partir deles, podemos
constatar evidências clínicas de que o paciente se encontra em estado de evolução para um desfecho
ruim.
No caso clínico, temos uma paciente que realizou uma cirurgia ortopédica e que seguiu corretamente
o tratamento pós-operatório, mas evoluiu com uma provável infecção de sítio cirúrgico. O primeiro sinal
desse quadro é a febre, que, pela história, seria o sintoma-guia para chegar no diagnóstico infeccioso,
que foi notada precocemente, porém não recebeu a importância que merecia. Os sinais clínicos
mostravam que a paciente apresentava piora do estado geral, vistos através dos sinais vitais, com
aumento da frequência respiratória e cardíaca. Isso levanta a hipótese de sepse, já que a paciente
apresentava sinais de SRIS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica), tendo critérios de febre,
taquicardia, taquipneia e leucocitose, associado a um provável foco infeccioso.13,14
A SEPSE É UM CONJUNTO DE MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS GRAVES EM RESPOSTA A UM
QUADRO INFECCIOSO. É UMA ENTIDADE COM UM PROGNÓSTICO RUIM SE NÃO FOR TRATADA
DE FORMA ADEQUADA, COM EVOLUÇÃO DO QUADRO, SE NÃO TRATADO, PARA DISFUNÇÕES
ORGÂNICAS, ESTAS COM ALTOS ÍNDICES DE MORTALIDADE, TORNANDO-SE UM PROBLEMA
DE SAÚDE PÚBLICA. OS PROTOCOLOS RECOMENDAM UMA SÉRIE DE MEDIDAS PARA A
REVERSÃO DO QUADRO, SENDO ANTIBIOTICOTERAPIA PRECOCE E HIDRATAÇÃO VOLÊMICA
VIGOROSA AS MAIS IMPORTANTES PARA A ESTABILIZAÇÃO DO PACIENTE.4
O processo inicial do quadro traz como diagnóstico anatômico a infecção do sítio cirúrgico na coxa
direita, com posterior evolução para sepse grave e disfunção de rins, pulmões e fígado (constatados
pela injúria renal aguda, insuficiência respiratória e distúrbios da coagulação).13
Os achados do exame físico que corroboram a hipótese diagnóstica são sinais flogísticos
encontrados na coxa direita (edema, calor, rubor e dor), que nos remetem a uma infecção, associados
à febre e alteração dos sinais vitais.
Os diagnósticos diferenciais para sepse são normalmente aqueles que evoluem com SRIS, como
pancreatite, infarto agudo do miocárdio e cetoacidose diabética ou sinais de hipovolemia, hipotensão,
embolia pulmonar, etc. A história clínica e exame físico normalmente são suficientes para afastar os
principais diagnósticos diferenciais.13
Sintoma-guia: Febre
Diagnóstico sindrômico: Síndrome febril
Diagnóstico anatômico/topográfico: Membro inferior direito
Hipótese diagnóstica: Sepse por infecção de ferida operatória
Diagnósticos diferenciais:
REFERÊNCIAS
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2. Benseñor IM. Semiologia Clínica. 1. ed. São Paulo: Sarvier; 2002.
3. Bickley LS. Bates: Propedêutica Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
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10. Pickering TG. The influence of daily activity on ambulatory blood pressure. Am Heart J. 1988; 116: 1141-5.
11. Pickering TG, Pieper C, Schechter CB. Ambulatory monitoring and blood pressure variability. London: Science Press; 1991.
12. Swatz MH. Tratado de Semiologia Médica: história e exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015.
13. Silva LR, Burns DAR, Campos Júnior D, Borges WG. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. Barueri, SP:
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14. Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves MFT, et al. VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial
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15. PAZIN-FILHO A; SCHMIDT A; MACIEL BC. Semiologia Cardiovascular: Inspeção, palpação e percussão. Medicina, Ribeirão Preto, v.
37: 227-239, jul./dez. 2004.
16. McGee, Steven R. Evidence-based physical diagnosis. 4. ed. Philadelphia: Elsevier; 2018.
17. Rocco JR. Semiologia Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
1. MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS
2. INTRODUÇÃO
As doenças da cabeça e pescoço são causas frequentes de atendimento com o médico generalista.
Conhecer a semiotécnica deste exame físico é, portanto, de primordial importância para correta
orientação diagnóstica e terapêutica.
3.1. Crânio
Avaliar forma, volume, postura, movimentos involuntários, abaulamentos, retrações e deformidades.
Realize a inspeção e palpação.1,2
Fonte: Autor.
3.4. Olhos
Avaliar quantidade e implantação dos pelos das sobrancelhas, pálpebras, cílios, fenda palpebral,
aparelho lacrimal, globos oculares, conjuntivas, escleras, córneas, movimentos dos olhos, íris, pupilas,
tensão ocular, acuidade visual, campo visual, reflexos oculomotores e fundo de olho.1,2
3.7. Boca
Avaliar mucosa, língua, palato, assoalho, orofaringe, tonsilas, observando umidade, coloração,
presença de lesões, dentição (grau de conservação da arcada dentária: se está completa ou
incompleta, se os dentes estão em bom ou mau estado de conservação).1,2
Utilize dois abaixadores de língua unidos em uma das pontas formando um ‘V’ para melhor avaliar a
cavidade oral.1,2
a) Linfonodos
Realizar palpação e inspeção, avaliando tamanho, aderência a planos profundos e superficiais,
localização, simetria, consistência, coalescência, sensibilidade e alterações da pele circunjacente
(fístulas, retrações, sinais flogísticos, ulcerações).1,3,4
b) Tireoide
Realizar inspeção, palpação, ausculta.3,5
c) Vasos
Realizar palpação e ausculta das carótidas. Avaliar presença de turgência jugular.1,2
• Submentonianos – Nível I
• Submandibulares – Nível I
• Jugular alto – Nível II
• Jugular médio – Nível III
• Jugular baixo – Nível IV
• Trígono posterior – Nível V
• Compartimento anterior – Nível VI
Figura 2. Trígonos cervicais.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Figura 6. Palpação linfonodos submaxilares.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
• Número: especificar a quantidade, sempre que possível. Quando não o for, especificar se é
único ou se são múltiplos.
Exemplo:
Linfonodo único; 3 linfonodos; linfadenopatia generalizada em região cervical.
Exemplo:
Linfonodo medindo 2cm.
4.2.1. Inspeção
Habitualmente, a tireoide não é visível, com exceção de pacientes muito emagrecidos. Para melhor
visualização, o paciente deve estar sentado, estendendo a cabeça para trás e solicitando que o mesmo
degluta. Como a glândula situa-se fixa à fáscia pré-traqueal, é esperado que ela se desloque para cima
ao pedir para o paciente deflutir. Nos aumentos difusos da glândula, as duas faces laterais e a anterior
do pescoço ficam uniformemente abauladas.1,2,5
4.2.2. Palpação
A glândula tireoide é palpável em muitos indivíduos normais, apresentando lobos com cerca de 3 a 5
cm no sentido vertical e o istmo com diâmetro aproximado de 0,5 cm.1,5
• Colocam-se os dedos indicador e médio da mão direita justapostos para palpar o lobo esquerdo
da glândula. O examinador posiciona-se à direita do paciente;
• Paciente sentado;
• Examinador em pé atrás do paciente;
• Solicita-se que o paciente fleta a cabeça para o lado a ser examinado, com o objetivo de relaxar
o músculo esternocleiodomastoideo;
4.2.3. Ausculta
A ausculta da glândula tireoide ficará restrita àqueles pacientes com suspeita de tireotoxicose, uma
vez que o aumento do fluxo sanguíneo poderá determinar a ocorrência de sopros sobre a glândula,
associados ou não a presença de frêmitos.2,5
Razão de
• QUANTO MAIOR A RV POSITIVA = mais o
resultado positivo aumenta a probabilidade de
verossimilhança
doença.
Fonte: Autor.
O bócio é uma das apresentações clínicas das tireoideopatias, que nem sempre é encontrado
durante o exame físico; porém, quando é encontrado, normalmente apresenta significado com
necessidade de tratamento específico para a causa. A palpação cervical auxilia no diagnóstico e pode
trazer benefícios para o paciente devidamente examinado, visto que as patologias que cursam com
esse achado normalmente são tratáveis.
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
(%) (%)
Sinal de
7-14 94-98 2,2 SS
Brudzinski
CASO CLÍNICO
História clínica
M. C. S, sexo feminino, 73 anos, procedente e residente em Santa Quitéria, interior do Ceará,
parda, casada, aposentada, católica, com escolaridade até a quarta série do ensino fundamental,
comparece ao consultório médico acompanhada do sobrinho, relatando queixa de “caroços no
pescoço”.
A paciente relata que há dois meses apresentou quadro de infecção de via aérea superior, evoluindo
no mês seguinte com linfadenomegalia cervical bilateral (em seu prontuário, é descrito o maior, à direita,
com tamanho de aproximadamente 20mm, de consistência tensa, elástica e dolorosa ao toque)
associada à febre vespertina não aferida, quando realizou tratamento com amoxicilina e clavulanato por
7 dias, apresentando discreta melhora clínica, porém sem remissão completa do quadro. A paciente
abandonou a consulta. Após algumas semanas, a paciente recorreu ao serviço de emergência
apresentando febre de 39°C, normalmente ocorrendo no final da tarde, adenomegalia cervical à direita
com presença de eritema e dor, odinofagia, anorexia e perda ponderal de 4kg no último mês. Foi
submetida à USG cervical e excisão do gânglio linfático à direita por agravamento dos sinais
inflamatórios.
Medicações em uso: Losartana 50mg (1-0-1).
Antecedentes pessoais: Hipertensa crônica controlada há 12 anos.
Hábitos: Ex-tabagista (15 maços/ano) há 13 anos.
Antecedentes familiares: Mãe falecida aos 82 anos por infarto agudo do miocárdio, com história prévia
de hipertensão arterial sistêmica. Não conheceu o pai.
Exame físico
Exame físico geral / Ectoscopia: Regular estado geral, hipocorada (1/4+), hidratada, anictérica,
acianótica, febril, sobrepeso, eupneica, consciente, orientada.
Dados vitais: FC 95bpm, FR 19 irpm, Tax 38°C, PA 130x90 em decúbito e sentada, no MSE.
Exame da cabeça e do pescoço: Crânio normocefálico, ausência de retrações, cicatrizes e abaulamento
no couro cabeludo. Cavidade oral sem alterações. Pescoço com mobilidade diminuída por dor,
principalmente à direita. Linfadenomegalia cervical bilateral em cadeia anterior, com maior linfonodo
palpável com tamanho de 1 polpa digital e meia, de consistência tensa, elástica, não aderida aos planos
profundos, doloroso à palpação, com eritema ao redor da área linfonodal.
Exame neurológico: Ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneica, expansibilidade e frêmito toracovocal
normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos
adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular patológica,
ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelho genital): Sem alterações relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: Extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem alterações de cianose. Melanodermia em membros superiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Sem alterações relevantes.
Exames complementares
Relatório histopatológico: infiltrado inflamatório agudo, necrose e presença de granulomas.
Exames laboratoriais: Hb 11,1 g/dL, Ht 34%, VCM 92 fl, leucócitos 13.400, neutrófilos 73%, Proteína-C
Reativa 15,9 mg/dL.
Radiografia de tórax: sem alterações.
USG cervical: múltiplas adenopatias nas cadeias ganglionares laterocervicais bilaterais, sugestivas de
lesões secundárias.
Pontos de discussão
a. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
1. Qual é o diagnóstico sindrômico? Discussão do caso
O caso clínico em questão trata
2. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
de uma paciente do sexo feminino,
3. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico? idosa, com queixa de
4. Quais os achados do exame físico corroboram a hipótese? linfadenomegalias cervicais bilaterais,
5. Quais são os diagnósticos diferenciais? dolorosas, sinais inflamatórios, com
tratamento prévio para outras
infecções, com melhora parcial do quadro e abandono do tratamento e das consultas. O sintoma-guia
para o caso é a linfadenomegalia importante, que se apresenta de forma crônica, com sinais
inflamatórios, apresentando características benignas, mas que precisam ser investigadas para
confirmação da principal hipótese diagnóstica.
É importante salientar nesse caso a relação temporal da linfadenomegalia, uma vez que os casos
mais comuns, como reação às infecções, normalmente desaparecem de forma precoce junto ao
processo infeccioso. Quando encontramos casos mais tardios, é preciso ficar de olho nos diagnósticos
diferenciais, levando em consideração as características encontradas na anamnese e exame físico,
como o tamanho, evolução do crescimento, dor à palpação, mobilidade ou aderência aos planos
profundos, consistência, bem como os achados de exames complementares.10,11
O quadro clínico trata-se de tuberculose ganglionar (diagnóstico etiológico), o segundo tipo mais
comum de tuberculose extrapulmonar (TEP). Essa doença compromete, principalmente, os gânglios das
cadeias cervicais (diagnóstico anatômico), mais comumente a anterior, com um leve predomínio à
direita, como no caso descrito. Esses sinais corroboram o diagnóstico, podendo ser comprovado por
histopatológico. Normalmente, as mulheres são mais acometidas (2:1).11
Os gânglios apresentam crescimento lento e evoluem de forma insidiosa. No início, se apresentam
de forma indolor e móveis ao exame físico. Na história natural da doença, tendem a aumentar seu
volume e coalescer, aderindo aos planos profundos. Sem o devido tratamento, a massa pode evoluir
com fístula, drenando material soroso ou purulento.12-14
O diagnóstico é confirmado por meio de histopatologia, com o granuloma descrito como o principal
achado. O material pode ser obtido por biópsia ou por punção aspirativa da massa ganglionar. O
diagnóstico diferencial deve ser feito com as doenças linfoproliferativas, viroses, lues, fases iniciais de
aids, etc.1,15
O tratamento da TEP ganglionar é realizado com o mesmo esquema de drogas utilizado na
tuberculose pulmonar, normatizado no Brasil com quatro drogas específicas (rifampicina, isoniazida,
etambutol e pirazinamida), com tempo de tratamento divergente na literatura, normalmente durante 6
meses nos casos mais simples.16,17
Sintoma-guia: Adenomegalia cervical.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome linfadenopática. Síndrome febril.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Comprometimento da cadeia linfática cervical anterior.
Hipótese diagnóstica: Tuberculose ganglionar.
Diagnósticos diferenciais:
• Neoplasia primária
• Metástase
• Linfadenite cervical
• Linfonomegalia reativa
• Vasculites
• Toxoplasmose
• Sarcoidose
• Doença da arranhadura do gato
• Doença de Kikuchi-Fujimoto
Pontos importantes
a. Diante de uma síndrome linfadenopática, deve-se excluir causas neoplásicas, principalmente em
paciente susceptíveis, com fatores de risco, pela grande morbimortalidade desse tipo de
doenças;
1. O diagnóstico de certeza é feito através de biópsia excisional do linfonodo acometido;
2. Linfonodos inflamatórios, não aderidos a planos profundos, dolorosos, de consistência
fibroelástica, falam a favor de doenças infecciosas.
REFERÊNCIAS
4. López M, Laurentz JM. Semiologia médica: as bases do diagnóstico clínico. 4. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 1999. 2v.
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8. Maciel LMZ. O exame físico da tireóide. Medicina, Ribeirão Preto. 2007: 40(1): 72-7.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
A capacidade de executar e registrar uma avaliação respiratória é uma habilidade essencial para
todos os médicos. Os elementos básicos do exame clínico são anamnese, inspeção, palpação,
percussão e ausculta, e outros exames adicionais podem ser necessários para confirmar ou negar
suspeitas diagnósticas.
Um ponto importante no raciocínio médico é reconhecer os principais sinais e sintomas de cada
sistema. No sistema pulmonar, é imprescindível reconhecer os seguintes sinais e sintomas: dor torácica,
tosse, expectoração, hemoptise, dispneia e cianose.¹
Diante de um paciente com dor torácica, deve-se fazer uma história dirigida, e algumas perguntas
são fundamentais para nortear o raciocínio clínico:
1.2. Tosse
A tosse é um dos sintomas mais comuns para os quais se busca atendimento ambulatorial, e pode
ser classificada, com base na duração, em:7
• Aguda: menos de três semanas.
• Subaguda: há mais de três semanas e até 8 semanas.
• Crônica: mais de oito semanas.
A tosse é estimulada por um complexo arco reflexo, no qual o impulso, gerado nos receptores da via
aferente, é enviado através do nervo vago ao centro da tosse na medula oblonga. O comando da
medula é feito por centro corticais superiores, que emitem sinais eferentes através dos nervos vago,
frênico e espinhal até a musculatura expiratória, produzindo a tosse.7-9 O reflexo é desencadeado em
resposta à aspiração de partículas que irritam as vias aéreas superiores, ou à inalação de gases
tóxicos, a alterações bruscas de temperatura e a fatores inflamatórios.7 Os receptores podem estar
presentes no trato respiratório superior, inferior, pleura, pericárdio, esôfago, estômago e diafragma.
Assim, a tosse tem diversas causas, sendo que as de maior duração (com mais de três semanas)
necessitam de maior atenção.7,9
A abordagem do paciente que refere tosse deve incluir uma anamnese detalhada:1,10
1.3. Expectoração
A expectoração é originária da depuração mucociliar, que tem como finalidade remover as impurezas
do ar através da movimentação em direção à nasofaringe. A tosse funciona, então, como um facilitador
da eliminação dessas secreções.1,12
O escarro é composto por material proveniente do trato respiratório inferior, boca e nasofaringe. Sua
análise é fundamental para diagnosticar diversas doenças, como tuberculose e abscesso pulmonar.
O exame clínico da expectoração deve compreender: volume, aspecto e odor:1,12
1.4. Hemoptise
A hemoptise é qualquer sangramento eliminado pela boca proveniente do trato respiratório inferior,
abaixo da glote, que se exterioriza, muitas vezes, através da tosse. Atenção: não confundir com
epistaxe, que é o sangramento proveniente do nariz!1,7,12
Diversas são as causas de hemoptise13,14 (Figura 5). Dentre elas, devemos dedicar maior atenção
àquelas que causam hemoptise maciça e, portanto, necessitam de abordagem imediata. Definiremos
como hemoptise maciça a expectoração de sangue maior que 200 a 600 mL/24 horas ou o
sangramento que causa instabilidade hemodinâmica ou insuficiência respiratória.
1.6. Cianose
A cianose é a coloração azulada da pele e de mucosas, atribuída ao aumento da hemoglobina
reduzida (desoxigenada) no sangue capilar, quando esta ultrapassa 5g/dL. Costumar ser uma
manifestação tardia da hipoxemia. Pode ser central ou periférica:1,12
a. CIANOSE CENTRAL: pode ser de origem pulmonar ou cardíaca e ocorre em decorrência de
três mecanismos, que são hipoventilação pulmonar, falha na troca gasosa no pulmão e desvio
arteriovenoso;
b. Cianose periférica: aumento da hemoglobina reduzida no sangue venoso, por perda exagerada
de oxigênio na rede capilar por estase venosa ou diminuição do calibre dos vasos na microcirculação.
Visto em áreas mais distais do corpo e acompanhada por pele fria.
Como resposta à cianose, a primeira alteração no exame físico é o aumento da frequência do pulso
cardíaco. Mais tardiamente, há aumento da frequência respiratória. Quando a hipoxemia é crônica, é
possível ter a existência de hipocratismo digital (baqueteamento digital), que é a deformidade dos
dedos. Os dedos se tornam globosos e com uma forma que lembra a de uma baqueta de tambor, com
unhas convexas em todos os sentidos, como vidro de relógio.1,12 Lembrar que a cianose pode ser um
fenômeno local, visto, principalmente, durante no fenômeno de Raynaud.12
Razão de
• QUANTO MAIOR A RV POSITIVA = mais o
resultado positivo aumenta a probabilidade de
verossimilhança
doença.
Fonte: Autor.
Durante a anamnese, diante da queixa de dispneia, deve-se caracterizá-la bem, pois, em alguns
casos, pode aparecer abruptamente em posições específicas, como na ortopneia, quando a queixa
surge na supinação; na trepopneia, quando se deita de decúbito lateral; ou na platipneia, na posição
ereta. Porém, esses achados geralmente são diagnosticados pela primeira vez durante a observação
da respiração do paciente à beira do leito.15
A ortopneia está presente em diversos distúrbios, incluindo ascite maciça, paralisia do diafragma
bilateral, derrame pleural, obesidade mórbida e pneumonia grave, embora sua associação clínica mais
importante seja a insuficiência cardíaca congestiva, principalmente nos pacientes com fração de ejeção
do ventrículo esquerdo (FEVE) baixas, menor do que 50%.16
Os sinais e sintomas apresentados, como dor torácica, tosse, dispneia, hemoptise, podem ser
preditores de diversas doenças. Abaixo seguem as principais evidências.
RAZÃO DE
Ortopneia distingue
pacientes com FEVE baixa
97 64 2.7 0.04
(menor que 50%) daqueles
com FEVE normal
Expectoração como
— — 1.3 0.55
preditor de pneumonia
Ortopneia na emergência
como preditor de 2.2 0.65
50 77
insuficiência cardíaca (1.2 – 3.9) (0.45 – 0.92)
congestiva
Dispneia na emergência
como preditor de 1.3 0.48
84 34
insuficiência cardíaca (1.2 –1.4) (0.35 – 0.67)
congestiva
Tosse na emergência
como preditor de 0.93 1.0
36 61
insuficiência cardíaca (0.70 – 1.2) (0.87 – 1.3)
congestiva
CASO CLÍNICO
História clínica
J.S.S, sexo masculino, 60 anos, natural e procedente de Sobral, negro, casado, pedreiro,
analfabeto. Comparece à consulta na UBS com queixa de tosse há mais de um mês.
Paciente, previamente hígido, relata que há pouco mais de um mês iniciou um quadro de tosse
diária, sem expectoração, sem horário preferencial, de intensidade moderada, sem fatores de melhora
e com piora quando realiza atividade mais intensa. Acompanhada de dor em hemitórax direito
(ventilatória dependente). Além disso, informa ter sudorese noturna e sensação de febre ao final da
tarde, não aferida. Apresentou na última semana piora da intensidade da tosse, da dor e surgimento de
dois episódios hemoptoicos. Perda ponderal de 07 kg desde o início dos sintomas.
Medicações em uso: nega uso de medicação diária.
Antecedentes pessoais: hernioplastia inguinal há 15 anos. Nega hipertensão, diabetes e alergias.
Hábitos: tabagismo (carga tabágica: 40 maços/ano = 20 anos / 40 cigarros / dia).
Antecedentes familiares: mãe falecida aos 70 anos devido a complicações de AVE. Pai falecido aos 50
anos em decorrência de um acidente automobilístico. Irmão com 55 anos com diabetes e hipertensão.
História Psicossocial: vive com esposa e dois filhos numa casa de alvenaria de 5 cômodos com
saneamento básico. Relata convívio familiar harmonioso. Tem uma renda familiar de cerca de
R$1.000,00 mensais.
Interrogatório Sintomatológico: Geral: febre, perda ponderal. Aparelho respiratório: tosse e hemoptise.
Demais aparelhos sem queixas dignas de nota.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, hipocorado (+/4+), hidratado, acianótico, anictério
e afebril, emagrecido, eupneico, consciente, orientado.
Dados vitais: FC 80 bpm, FR 21 irpm, Tax 38,0°C, PA 140x80 mmHg, em decúbito/sentado, no membro
superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório:
• Inspeção: tórax atípico, sem abaulamento ou retrações e sem uso de musculatura acessória.
• Palpação: expansibilidade simétrica bilateralmente e frêmito toracovocal presente, porém
aumentado no terço superior direito.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 11 g/dL, Ht 33%, VCM 85 fl, leucócitos 7.800/mm3, plaquetas 150.000/mm3,
creatinina 1,1 mg/dL, ureia 40 mg/dL, sódio 140 mg/dL, potássio 3,5 mg/dL, TGO 20 U/L, TGP 16 U/L;
glicose 88 mg/dL.
Radiografia de tórax: Opacidade heterogênea em campo superior do pulmão direito com cavitação de
permeio.
Valores de referência: HB 13,5-18 g/dL; Ht 40-54%; VCM 82-98Fl; Leucócitos 4.000-10.000/mm3,
plaquetas 150.000-450.000/mm3; creatinina 0,7-1,3mg/dL; ureia 17-41mg/dL; sódio 135-145 mg/Dl;
potássio 3,5-5 mg/dL; TGO até 40U/L;TGP até 41 U/L; glicose 60-99 mg/dL
Pontos de discussão
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais são os diagnósticos diferenciais?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A tuberculose é uma das principais doenças infectocontagiosas e de grande importância na saúde
pública mundial. É de evolução crônica e compromete principalmente os pulmões, embora possa
acometer outros órgãos e/ou sistemas. O agente etiológico é a Mycobacterium tuberculosis
(diagnóstico etiológico), conhecida também como bacilo de Koch (BK). É um bacilo álcool-ácido
resistente (BAAR), aeróbio, com parede celular rica em lipídios (ácidos micólicos e arabinogalactano), o
que lhe confere baixa permeabilidade, reduz a efetividade da maioria dos antibióticos e facilita sua
sobrevida nos macrófagos. A transmissão é através da via respiratória, pela inalação de aerossóis
produzidos pela tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea.22,23
No caso em questão, estamos diante de um paciente com tosse diária há mais de um mês, sendo
esta a queixa principal, definida então como nosso sintoma-guia, e o enquadramos em uma síndrome
pleuropulmonar. Associada à sudorese noturna, febre, perda ponderal e dor torácica, temos ainda as
síndromes febril e consumptiva. Na avaliação da tosse, temos que caracterizar o início (aguda ou
insidiosa), intensidade, período de exacerbação, seca ou com expectoração, se há hemoptise, se há
associação com outros sintomas.
Qualquer pessoa que apresente tosse por mais de três semanas é considerada um sintomático
respiratório, devendo ser investigada para tuberculose através de exames bacteriológicos. Os principais
exames são baciloscopia do escarro e teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB).23
As manifestações clínicas mais prevalentes são as formas pulmonares (diagnóstico anatômico e
topográfico). A forma primária pulmonar acomete, em geral, crianças e adolescentes, e tem como
sintomas febre, tosse produtiva, perda ponderal e dor pleurítica. A principal forma nos adultos é pós-
primária, ocorrendo por reativação de uma infecção latente, caracterizando-se por tosse crônica com
expectoração mucopurulenta, fenômenos hemoptoicos, febre vespertina diária acompanhada de
sudorese noturna e perda ponderal.
Infelizmente, o exame físico não é característico da tuberculose. A ausculta pulmonar pode
apresentar redução do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou ser sem alteração.24 É preciso ter a
suspeição clínica e associar a achados de exames bacteriológicos e de imagem.
Devemos ficar atentos aos diagnósticos diferenciais: Na pneumonia adquirida na comunidade,
geralmente, os sintomas têm duração mais curta, em comparação, e, se houver dúvidas, considerar
inicialmente o tratamento para pneumonia bacteriana sem usar fluoroquinolonas ou outros antibióticos
com atividade antituberculosa significativa. Câncer de pulmão: lembrar que pode coexistir com
tuberculose. Micobactérias não tuberculosas: Mycobacterium avium complex e o M. kansasii podem se
apresentar como lesões cavitárias. Infecção fúngica: inclui histoplasmose, coccidioidomicose e
blastomicose. Na sarcoidose, linfadenopatia intratorácica e artralgias podem estar presentes.
Em resumo, estamos diante de um paciente idoso com tosse crônica, o qual consideramos como
sintomático respiratório, devendo ser investigada a tuberculose. Além de solicitar testes bacteriológicos,
a radiografia de tórax é um método complementar importante na investigação da doença. As lesões
sugestivas de tuberculose em radiografias de tórax localizam-se, em geral, nas partes altas e dorsais
dos pulmões, particularmente no pulmão direito, e apresentam-se como opacidades, infiltrados,
nódulos, cavidades, fibroses, retrações, calcificações, linfadenomegalia ou aspecto miliar. Com o
diagnóstico dado, é fundamental iniciar imediatamente o tratamento. A recomendação atual é iniciar o
esquema básico. Os fármacos usados nos esquemas padronizados para a tuberculose sensível são a
isoniazida (H), a rifampicina (R), a pirazinamida (Z) e o etambutol (E). Para maiores de 10 anos, a
primeira escolha é 2RHZE/4RH.23,24
Sintoma-guia: Tosse
Diagnóstico sindrômico: Síndromes pleuropulmonar, febril e consumptiva
Diagnóstico anatômico/topográfico: Pulmão
Diagnósticos diferenciais:
Pontos importantes
1. Os principais sinais e sintomas pulmonares são dor torácica, tosse, expectoração, hemoptise,
dispneia e cianose;
2. A dor torácica é a segunda queixa mais comum no pronto-atendimento.
REFERÊNCIAS
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21. Von Kodolitsch Y, Schwartz AG, Nienaber CA. Clinical prediction of acute aortic dissection. Arch Intern Med. 2000; 160(19): 2977-82.
22. Lopes AC. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca; 2016.
23. Ministério da Saúde (BR). Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde; 2018.
24. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde: volume único [recurso eletrônico. 3ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
1. O EXAME PULMONAR
Para realizar o exame físico do aparelho respiratório, é necessário um ambiente adequado, com boa
iluminação e silencioso.
• O paciente deve estar com o tórax despido, na posição sentada, preferencialmente. Caso o
paciente esteja impossibilitado de realizar o exame nessa posição, opta-se pelo decúbito dorsal,
lembrando que menos informações serão obtidas.
2. INSPEÇÃO
É dividida em duas etapas: Inspeção Estática e Inspeção Dinâmica.
a) Inspeção Estática
As alterações encontradas durante o exame físico devem ser descritas com maior precisão
anatômica, por isso é importante dividir o tórax em linhas e regiões para melhor referência anatômica.¹
LINHAS E REGIÕES DO
TÓRAX ANTERIOR:
a. 02 Linhas Verticais: LINHA
PARAESTERNAL E LINHA
HEMICLAVICULAR.
b. 02 Linhas Horizontais:
JUNÇÃO
MANÚBRIOESTERNAL (3ª.
ARTICULAÇÃO
COSTOCONDRAL) E INÍCIO
DO APÊNDICE XIFOIDE (6ª.
ARTICULAÇÃO
COSTOCONDRAL)
c. Regiões:
1. REGIÃO ESTERNAL
2. REGIÃO
SUPRAESTERNAL
3. REGIÃO
SUPRACLAVICULAR
4. REGIÃO
INFRACLAVICULAR
5. REGIÃO MAMÁRIA
6. REGIÃO INFRAMAMÁRIA
Fonte: Autor.
LINHAS E REGIÕES DO
TÓRAX LATERAL:
a. 03 Linhas Verticais: LINHA
AXILAR ANTERIOR, MÉDIA E
POSTERIOR
b. 01 Linha Horizontal: INÍCIO
DO APÊNDICE XIFOIDE (6ª.
ARTICULAÇÃO
COSTOCONDRAL),
CONTINUAÇÃO DA LINHA
ANTERIOR
c. Regiões:
7. REGIÃO AXILAR
8. REGIÃO INFRA-AXILAR
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
b) Inspeção Dinâmica
Avalia o padrão respiratório, observando a frequência respiratória, tipo respiratório, ritmo
respiratório e presença de tiragem.4
• Material Necessário:
Para realização da inspeção não é necessário nenhum material.
• Dificuldades:
Ambiente inadequado, com péssima iluminação.
• Parâmetros de Normalidade
Tabela 1. Frequência Respiratória – Parâmetros de Normalidade.
3. PALPAÇÃO
Através da palpação, deve-se avaliar:
• Parte Moles:
Contraturas musculares
Enfisema subcutâneo
• Temperatura
• Pontos dolorosos
• Presença de gânglios:
Supraclaviculares
Axilares
Manobras realizadas na palpação:
I) Expansibilidade
Os movimentos ventilatórios podem ser analisados através da simples inspeção, mas com a
palpação é possível identificar pequenas variações da expansibilidade, sendo este um sinal precoce de
anormalidade na caixa torácica, pleura e pulmão adjacente.1,2,4
Fonte: Autor.
• Técnica:
Paciente sentado, de frente para o examinador, com os braços pendentes. O médico deve
colocar as mãos cobrindo a região supraclavicular de cada lado, de modo que as pontas dos
dedos venham apoiar-se no músculo trapézio. Os dois polegares devem se juntar ao nível da
linha medioesternal na região infraclavicular. Para juntar os dois polegares, faz-se uma pequena
prega cutânea. O paciente passa então a respirar profundamente e o médico observa o
afastamento dos dois polegares. Normalmente, o afastamento deve ser igual de um lado e do
outro.
Fonte: Autor.
• Técnica:
Paciente sentado, de frente para o examinador, com os braços pendentes. As mãos devem alcançar
até o côncavo axilar de cada lado, ao nível da prega axilar posterior. Os dois polegares devem se juntar
ao nível da linha medioesternal através de uma prega cutânea.
• Técnica:
É pesquisada tanto na parte anterior como na posterior do tórax. Na parte posterior, o paciente deve
permanecer sentado, de costas para o examinador. Coloca-se a ponta dos polegares nas linhas
paravertebrais, à altura do 12º arco costal, envolvendo com os outros dedos a face posterior da base
do tórax, com a mão espalmada e os dedos entreabertos. A solicitação de realizar inspirações e
expirações profundas provoca um afastamento simétrico das mãos, representando a expansibilidade
dos segmentos pulmonares posteriores. Na parte anterior, colocam-se os polegares na base do
apêndice xifoide e os outros dedos sobre os hipocôndrios. Ao realizar movimentos das mãos,
representa a expansibilidade dos segmentos pulmonares basais.
• Técnica:
A palpação é feita com a superfície palmar dos dedos das mãos. O paciente é solicitado a repetir
em voz alta o número 33. Deve-se comparar a intensidade das vibrações em regiões homólogas.
• Material Necessário:
Para realização da palpação, não é necessário nenhum material.
• Dificuldades:
Ambiente inadequado, com péssima iluminação.
• Frêmito Toracovocal: normalmente é mais acentuado à direita e nas bases pulmonares. O FTV
está aumentado quando existe consolidação do parênquima pulmonar (exemplo: pneumonia). O
FTV está diminuído nos derrames pleurais ou pneumotórax.
Fonte: Autor.
A realização da primeira etapa semiológica do exame físico pulmonar é fundamental para detectar
anormalidades deste sistema que precisam ser corrigidas imediatamente. Um ponto importante da
inspeção é a mensuração da frequência respiratória, que é considerada um dos quatro sinais vitais
tradicionais e deve ser observada por pelo menos 60 segundos, além de presenciar padrões
respiratórios incomuns, como a respiração de Cheyne-Stokes.1,5
A taquipneia é um valioso sinal diagnóstico e prognóstico em várias condições. Como sinal de
diagnóstico, a taquipneia aumenta as chances do diagnóstico de pneumonia em pacientes ambulatoriais
com tosse e febre. Já em pacientes com estado mental alterado, a bradipneia (≤12 ciclos/minuto)
aumenta a probabilidade de intoxicação por opiáceos.5,6
O reconhecimento dos ritmos anormais respiratórios ajuda a avaliar o prognóstico das diversas
patologias. Como exemplo, em pacientes hospitalizados, a respiração Cheyne-Stokes é um sinal
preciso da disfunção ventricular esquerda, especialmente em pacientes com idade ≤ 80 anos.5,7 A
respiração de Kussmaul em criança com malária grave é um sinal de mau prognóstico e prediz que há
acidose metabólica respiratória.
Em pacientes com obstrução crônica ao fluxo aéreo, a respiração assíncrona se correlaciona com
menores volumes expiratórios forçados. Quando esses pacientes desenvolvem sintomas respiratórios
agudos, a presença do padrão assíncrono também prediz um pior prognóstico, com maior possibilidade
de evoluir ao óbito ou necessidade de ventilação mecânica.5
A inspeção do tórax, inclusive as formas de tórax, é capaz de predizer diversas condições clínicas.
Diante de um tórax em barril, deve-se pensar em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Além
disso, deve-se ficar atento quanto ao uso de musculatura acessória, que pode indicar DPOC, esclerose
lateral amiotrófica e tromboembolismo pulmonar. Outro ponto importante é avaliar a expansão torácica;
quando assimétrica, aumenta a probabilidade de doença ipsilateral ao lado menos móvel, porém sua
sensibilidade é baixa.1,9-11
A segunda etapa do exame, que é a palpação do tórax, tem limitação porque a caixa torácica oculta
muitas anormalidades subjacentes dos pulmões. As principais indicações são avaliar a presença de (1)
sensibilidade ou massas na parede torácica, (2) atrito pleural/fricções, (3) frêmito brônquico, (4)
excursão respiratória anormal e (5) frêmito tátil assimétrico. Diante das seguintes alterações, devemos
pensar primeiramente em algumas afecções: a) o achado de expansão da parede torácica assimétrica
eleva a probabilidade de pneumonia unilateral em pacientes com tosse e febre; b) a diminuição do
frêmito tátil e a macicez à percussão no exame de um paciente aumentam a probabilidade de derrame
pleural subjacente.
A seguir, encontram-se as principais evidências relacionadas às principais alterações encontradas
nas duas primeiras partes do exame físico pulmonar.
INSPEÇÃO E PALPAÇÃO
Razão de
CASO CLÍNICO
História clínica
I.R.R.S, 65 anos, sexo feminino, natural e procedente de Viçosa do Ceará, agricultora, analfabeta,
viúva. Comparece à consulta com queixa de “cansaço”.
Paciente refere que há mais de 10 anos iniciou quadro de dispneia aos grandes esforços associada
a tosse com expectoração hialina, diária/matinal, não associada a outros sintomas. Em dois anos, a
dispneia progrediu para os pequenos esforços, o que a impede de exercer suas atividades laborais. Há
uma semana, piora da dispneia, agora em repouso, com tosse de expectoração esverdeada em grande
quantidade e febre não aferida. Informa ainda episódio semelhante no mês anterior, com melhora após
o uso de antibiótico que não soube informar o nome.
Medicações em uso: metformina 1500 mg/dia; losartana 100 mg/dia; hidroclorotiazida 25 mg/dia.
Antecedentes pessoais: hipertensa e diabética há mais de 20 anos; G5P5, partos vaginais. Nega
cirurgias prévias e alergias.
Hábitos: ex-tabagista (carga tabágica: 30 maços/ano, fazia uso de cigarro artesanal) e parou há dois
anos. Nega etilismo.
Antecedentes familiares: mãe falecida aos 60 anos devido a infarto agudo. Pai falecido aos 88 anos –
não sabe a causa, acha que em decorrência da idade. 5 irmãos vivos com hipertensão e diabetes.
História Psicossocial: vive com uma filha numa casa de alvenaria de 4 cômodos com saneamento
básico. Quando jovem, vivia em casa de taipa e cozinhava com fogão a lenha. Relata convívio familiar
harmonioso. Tem uma renda familiar de cerca de um salário mínimo.
Interrogatório Sintomatológico: Geral: febre. Aparelho respiratório: tosse, dispneia progressiva,
expectoração. Demais aparelhos sem queixas dignas de nota.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorada, hidratada, acianótica, anictérica e
afebril, obesa, dispneica, consciente, orientado.
Dados vitais: FC 90 bpm, FR 26 irpm, Tax 37,5°C, PA 150 x 90 mmHg, em decúbito e sentado, no
membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório:
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 16 g/dL, Ht 50%, VCM 85 fl, leucócitos 17.800, plaquetas 150.000, creatinina
0,9 mg/dL, ureia 26 mg/dL, sódio 140 mg/dL, potássio 3,5 mg/dL, TGO 20 TGP 16 glicose 130 mg/dL
Radiografia de tórax: sinais de hiperinsuflação pulmonar, com consolidação em base direita.
Gasometria arterial: pH =7,20; PaCO2 = 74; PaO2: 90%; HCO3 = 26,
SatO2 = 84%
Espirometria: VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo)/CVF (capacidade vital forçada) <
70%
Pontos de discussão
5. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
6. Qual é o diagnóstico sindrômico?
7. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os diagnósticos diferenciais?
• Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
1. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), importante causa de morbimortalidade, é definida
como uma doença respiratória prevenível e tratável, caracterizada pela presença de obstrução crônica
do fluxo aéreo, que não é totalmente reversível. Esta obstrução é geralmente progressiva e associada a
uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos, e o principal
envolvido é o tabagismo.13,14
A limitação crônica do fluxo aéreo característica da DPOC é causada por uma mistura de doença
das pequenas vias aéreas (bronquite) e destruição do parênquima (enfisema). As contribuições relativas
(predomínio do padrão bronquítico ou enfisematoso) variam de pessoa para pessoa. A inflamação
crônica provoca alterações estruturais e estreitamento das pequenas vias aéreas (remodelamento
brônquico). A destruição do parênquima pulmonar, também por processos inflamatórios, leva à perda de
ligações alveolares às pequenas vias aéreas e diminui o recolhimento elástico pulmonar; por sua vez,
essas alterações diminuem a capacidade das vias aéreas de permanecerem abertas durante a
expiração (diagnóstico anatômico e topográfico).15,16
No caso em questão, estamos diante de um paciente com dispneia progressiva, sendo esta a queixa
principal e definida como nosso sintoma-guia, e o enquadramos em uma síndrome dispneica. Na
avaliação da dispneia, temos que caracterizar o início dos sintomas, duração, intensidade (grandes,
médios e pequenos esforços), associações com outros sinais e sintomas, fatores de melhora e piora.
Além disso, nossa paciente apresenta tosse crônica associada ao quadro de dispneia.
Um diagnóstico clínico de DPOC deve ser considerado em qualquer paciente que tenha dispneia,
tosse crônica ou expectoração e uma história de exposição a fatores de risco para a doença15 (ex-
tabagista com carga tabágica de 30 maços/ano). A dispneia é o sintoma inicial, sendo, na maioria dos
casos, progressiva, persistente e com piora aos esforços.16
No início da doença, o exame físico não ajudará no diagnóstico, mas nos graus mais avançados do
DPOC podemos observar tórax hiperinsuflado (aumento do diâmetro anteroposterior: tórax em barril),
tempo expiratório prolongado, respiração com lábios semicerrados, uso de musculatura acessória
cervical e cintura escapular, diminuição dos sons respiratórios, sibilos e, raramente, estertores
crepitantes.14 Ficar atento a manchas amarelas nos dedos devido à nicotina e alcatrão da queima do
tabaco, pois são uma pista para o tabagismo contínuo e pesado. O baqueteamento digital não é
comum, mesmo com hipoxemia associada, e sugere comorbidades como câncer de pulmão, doença
pulmonar intersticial ou bronquiectasia.16
Diante de um quadro clínico sugestivo, a espirometria é fundamental para ajudar no diagnóstico,
demonstrando limitação do fluxo aéreo, ou seja, VEF1 / CVF menor que 0,7 ou menor do que o limite
inferior do normal, e um VEF1 menor que 80% do previsto (pós broncodilatador) e geralmente
irreversível após a administração de um broncodilatador inalatório.13
Atenção maior deve ser dada ao caso, quando foi dito que na última semana houve piora da dispneia
e tosse com expectoração. Isto é característico da exacerbação aguda DPOC. Definida como piora
aguda dos sintomas da doença, caracteriza-se por 3 sintomas cardinais: piora da dispneia, aumento de
expectoração ou alteração da característica do escarro (purulento), e piora da frequência e gravidade
da tosse.17 Em relação ao diagnóstico etiológico, cerca de 70% das exacerbações são de origem virais
ou bacterianas, e o restante é decorrente da poluição ambiental, embolia pulmonar ou etiologia
desconhecida.18
Não devemos nos esquecer dos diagnósticos diferenciais. A asma brônquica é a doença com maior
similaridade, porém difere em muitos aspectos, desde a epidemiologia até o processo inflamatório e,
principalmente, pela resposta ao tratamento com corticoide inalatório. A bronquiolite é mais comum em
não tabagista, dispneia de progressão mais acelerada. Nas bronquiectasias, os pacientes podem
apresentar tosse, dispneia, secreção abundante e cursar nas fases avançadas com hipoxemia e cor
pulmonale. Já a tuberculose, devido a sua alta prevalência no Brasil, sempre deve ser pensada, e a
pesquisa de BAAR no escarro e a radiografia de tórax confirmam o diagnóstico. Na insuficiência
cardíaca congestiva, encontramos estertores finos em bases e aumento da área cardíaca no
radiograma de tórax.13,16
Em resumo, estamos diante de uma paciente idosa, ex-tabagista, em franca exacerbação da DPOC,
provavelmente em decorrência de uma pneumonia, com saturação baixa de oxigênio, acidose
respiratória. Devemos realizar a monitorização cardiorrespiratória e iniciar os primeiros cuidados. A
administração de oxigênio suplementar visa atingir uma saturação de oxigênio 88 a 92% ou pressão
arterial de oxigênio de 60 a 65 mmHg, geralmente com uso de cateter nasal em baixo fluxo, mas
ventilação mecânica não invasiva pode ser utilizada, desde que o paciente não esteja com rebaixamento
do sensório nem apresentando vômitos. Na exacerbação, podem ser utilizados agentes agonistas beta-
adrenérgicos inalatório e anticolinérgicos, visando melhorar o fluxo de ar. A terapia com glicocorticoides
sistêmicos parece ter um pequeno efeito benéfico, mas as diretrizes atuais sugerem o uso de uma dose
equivalente a 40 mg de prednisona por dia durante cinco dias. A antibioticoterapia é recomendada
apenas para os pacientes com maior probabilidade de ter infecção bacteriana ou com exacerbação
moderada a grave (2 ou mais sintomas cardinais).
Sintoma-guia: Dispneia
Diagnóstico sindrômico: Síndrome Dispneica
Diagnóstico anatômico/topográfico: Pulmão/Pequenas vias aéreas e parênquima pulmonar
Diagnósticos diferenciais:
• Asma
• Bronquiolite
• Tuberculose
• Insuficiência Cardíaca Congestiva
Hipótese diagnóstica: Exacerbação da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
Pontos importantes
5. A INSPEÇÃO DO TÓRAX É DIVIDIDA EM DUAS ETAPAS: INSPEÇÃO ESTÁTICA E
INSPEÇÃO DINÂMICA;
6. Na inspeção dinâmica, deve-se avaliar a frequência respiratória, o tipo respiratório, o ritmo
respiratório e presença de tiragem;
7. Durante a palpação do tórax, avaliam-se as partes moles, temperatura, pontos dolorosos e
linfonodos, a expansibilidade torácica e o frêmito toracovocal.
REFERÊNCIAS
5. PORTO CC. SEMIOLOGIA MÉDICA. 8. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; 2019.
2. Lopez M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter; 2004.
3. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
4. Benseñor IM. Semiologia Clínica. São Paulo: Salvier; 2012.
5. McGee SR. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
6. Hoffman JR, Schriger DL, Luo JS. The empiric use of naloxone in patients with altered mental status: a reappraisal. Ann Emerg Med.
1991; 20: 246-52.
7. McGee SR. Cheyne-Stokes breathing and reduced ejection fraction. Am J Med. 2013; 126: 536-40.
8. English M, Waruiru C, Amkoye E, Murphy S, Crawley J, Mwangi I, et al. Deep breathing in children with severe malaria: indicator of
metabolic acidosis and poor outcome. Am J Trop Med Hyg. 1996; 55(5): 521-4.
9. Mattos WL, Signori LGH, Borges FK, Bergamin JA, Machado V. Accuracy of clinical examination findings in the diagnosis of COPD. J
Bras Pneumol. 2009; 35(5):404-8.
10. Lechtzin N, Wiener CM, Shade DM, Clawson L, Diette GB. Spirometry in the supine position improves the detection of diaphragmatic
weakness in patients with amyotrophic lateral sclerosis. Chest. 2002; 121:436-42.
11. Hull RD, Raskob GE, Carter CJ, Coates G, Gill GJ, Sackett DL, et al. Pulmonary embolism in outpatients with pleuritic chest pain. Arch
Intern Med. 1988; 148: 838-44.
12. Kalantri S, Joshi R, Lokhande T, Singh A, Morgan M, Colford JM Jr, et al. Accuracy and reliability of physical signs in the diagnosis of
pleural effusion. Resp Med. 2007; 101:43108.
13. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. II Consenso Brasileiro sobre Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC – 2004.
J Bras Pneumol. 2004; 30(supl. 5): S1-43.
14. Lopes AC. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca; 2016.
15. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic
obstructive pulmonary disease: UPDATED 2016.
16. Han MK, Dransfield MT, Martinez FJ. Chronic obstructive pulmonary disease: Definition, clinical manifestations, diagnosis, and staging.
UpToDate. [Internet]; 2018. [acesso em 26 maio 2019].
17. Velasco IT, Neto RAB, Souza HP. Medicina de emergência: abordagem prática. 13. ed. rev., atual e ampl. Baueri, SP: Manole; 2019.
18. Stoller JK. Management of exacerbations of chronic obstructive pulmonary disease. UpToDate. [Internet]; 2018. [acesso em 26 maio
2019].
1. PERCUSSÃO
O tórax é constituído de estruturas de densidades distintas. A percussão constitui as vibrações na
parede torácica que se transmitem aos órgãos e tecidos subjacentes. Essas vibrações irão produzir um
som, que varia dependendo da relação existente entre a quantidade de ar e de tecido.1,2
A percussão só possibilita captar os sons de estruturas localizadas no máximo a 5 cm do ponto de
impacto do dedo percussor. Esse fato faz com que o método só tenha valor no estudo de lesões até
essa profundidade e cujo tamanho seja suficiente para modificar a densidade relativa da região. Causas
ligadas à parede torácica, como obesidade, massas musculares hipertrofiadas e edema, reduzem a
nitidez dos sons normais, fazendo com que ele se torne submaciço ou mesmo maciço.1,2
Fonte: Autor.
Atenção! Os derrames pleurais apresentam o sinal de Signorelli, que representa a percussão das
apófises espinhosas dos corpos vertebrais da coluna dorsal, produzindo um som maciço até 2 cm
acima do nível do derrame. Para pesquisar este sinal, coloca-se o paciente na posição sentada,
percutem-se ambos os hemitórax, localiza-se a zona de transição entre som claro pulmonar e som
maciço, marca-se o local dessa transição e, por último, percutem-se as apófises espinhosas da
coluna vertebral. Na zona de transição do som claro pulmonar para o maciço, localiza-se o derrame
pleural. Esse sinal costuma ser pesquisado quando se suspeita de derrames pleurais pequenos ou
derrame pleural infrapulmonar.
a. Material necessário:
Para realização da percussão, não é necessário nenhum material.
a. Dificuldades:
Ambiente inadequado, com muito barulho.
a. Parâmetros de normalidade:
Som claro pulmonar: áreas de projeção dos pulmões.
Exemplo:
Descrição normal dos dados obtidos após procedimento semiotécnico
Tórax atípico, sem abaulamentos, retrações, cicatrizes ou lesões dermatológicas, frequência
respiratória 16 a 20 irpm, ritmicidade e amplitude dentro da normalidade, expansibilidade preservada,
tipo de respiração torácica, sem uso de musculatura acessória, som claro pulmonar, murmúrio
vesicular e sons laringotraqueais (regiões do pescoço e fúrcula esternal) e respiração brônquica nas
zonas torácicas de projeção de grossos calibres.
2. AUSCULTA
Apesar de todo avanço tecnológico dos exames complementares, particularmente os exames de
imagem, a ausculta pulmonar permanece como uma ferramenta importante no diagnóstico das doenças
respiratórias.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
b) Murmúrio Vesicular
É o som que normalmente se ausculta em toda a superfície torácica. O conceito antigo de que o
murmúrio vesicular (MV) é produzido pela entrada e saída de ar dos alvéolos não é correto, visto que
neste nível do sistema respiratório o fluxo do ar já se faz pela movimentação das moléculas, um
fenômeno silencioso. Acredita-se que o MV seja gerado pelo fluxo de ar passando por vias aéreas mais
calibrosas (brônquios lobares e segmentares), com alteração em suas características auscultatórias
por sofrer a ação de um “filtro”, representado pelos alvéolos preenchidos de ar, que, como se sabe,
propaga mal o som. Assim, sua sensação auscultatória é mais “fraca”, quando comparado com o som
traqueal, e apresenta-se como uma inspiração mais prolongada que a expiração, sem intervalo entre
elas.1-5
A modificação que pode ocorrer com o MV é sua diminuição ou até mesmo estar abolido. Esta
redução de intensidade MV pode ocorrer por duas razões principais:
a. Redução na geração do fluxo de ar: pode ocorrer difusamente, como em pacientes que não
cooperam (não inspiram profundamente), nas condições de hipoventilação (ex.: doenças
neuromusculares, cifoescoliose), nas doenças obstrutivas (ex.: DPOC, sobretudo com
predomínio de enfisema pulmonar e asma); ou pode ser localizada, como nas obstruções
brônquicas (ex.:. atelectasias obstrutivas por tumor, corpo estranho ou tampão mucoso).
c) Som Brônquico
Quando o som traqueal é auscultado sobre a parede torácica, ele é denominado som brônquico, cujo
significado é a perda do filtro correspondente aos alvéolos aerados, que transformam o som traqueal
em murmúrio vesicular. Clinicamente, o som brônquico corresponde, geralmente, à consolidação
alveolar, embora possa ocorrer também em atelectasias periféricas, nas quais há colapso do
parênquima sem obstrução da via aérea correspondente (ex.: fibroatelectasias nos processos
cicatriciais, como na sequela de tuberculose).1-5
a. Sons Musicais:
Estridor
Sibilos
Roncos
a) Estridor
Trata-se de um som musical de alta frequência, intenso (frequentemente ouvido claramente sem
auxílio de estetoscópio), que tende a ser predominantemente inspiratório e mais audível na região
cervical do que na superfície torácica. Estas duas características auxiliam na sua distinção em relação
aos sibilos. Decorre da passagem de um fluxo de ar turbulento através de um segmento estreitado das
vias aéreas superiores (sobretudo laringe ou traqueia). Algumas das principais condições clínicas
associadas ao estridor são: edema das vias aéreas após extubação, epiglotite aguda, anafilaxia,
disfunção de corda vocal, inalação de corpo estranho, tumor de laringe ou traqueia,
paracoccidioidomicose, tuberculose, sarcoidose, tireoidite.1-5
b) Sibilo
Som musical, que pode ser mais agudo ou mais grave, e pode ser percebido na expiração,
inspiração ou ambas as fases. Decorre da passagem do fluxo de ar por vias aéreas obstruídas
(acredita-se que brônquios entre a segunda e a sétima geração), não havendo correlação entre as
características dos sibilos e a gravidade da obstrução. Na verdade, em obstruções muito graves, os
sibilos podem desaparecer em função da redução acentuada do fluxo de ar, o que determina também
redução ou desaparecimento do MV, caracterizando o que se denomina silêncio respiratório.1-5
Os sibilos podem ser difusos, como na asma e na DPOC, ou localizados, nos processos obstrutivos
brônquicos locais, como tumores, presença de corpo estranho ou de tampão mucoso. Deve-se estar
atento para o caráter localizado dos sibilos, para que não se foque a investigação diagnóstica em
doenças que cursam com sibilância difusa, que são mais frequentes, atrasando o diagnóstico correto e
podendo comprometer o prognóstico do paciente, sobretudo nos casos câncer de pulmão.1-5
c) Roncos
São considerados por alguns autores uma variante dos sibilos com menor frequência (mais grave).
Embora possam apresentar fatores em comum com os sibilos em sua gênese, o fato de melhorar ou
desaparecer após a tosse sugere que a presença de secreção nas vias aéreas esteja relacionada com
sua ocorrência. Em algumas publicações, o termo ronco não é empregado, e os sons são descritos
como sibilos de maior ou menor frequência (agudos ou graves, respectivamente).1-5
d) Crepitações
São sons não musicais, de curta duração, de caráter explosivo, percebidos mais frequentemente na
inspiração, às vezes na expiração. São divididos em duas categorias: crepitações finas e crepitações
grossas.1
As crepitações finas são geralmente auscultadas ao final da inspiração (chamadas teleinspiratórias)
e lembram o som obtido ao se separar tiras de velcro (“crepitações em velcro”). Decorrem da abertura
súbita de pequenas vias aéreas que se colabaram ao final da expiração prévia, fato que ocorre nas
doenças intersticiais (ex.: fibrose pulmonar idiopática, asbestose, pneumonia intersticial associada à
colagenose, pneumonia intersticial não específica) ou após decúbito prolongado, sobretudo em idosos.
Neste último caso, as crepitações finas tendem a desaparecer após algumas inspirações mais
profundas com o indivíduo sentado ou de pé. As crepitações finas são marcantes na fibrose pulmonar
idiopática (mas não patognomônicas), situação em que surgem precocemente, às vezes antecedendo
as alterações radiológicas.1-5
As crepitações grossas decorrem da passagem de bolus de gás por vias aéreas que se abrem e
fecham de forma intermitente. Ocorrem com frequência nas pneumonias, na insuficiência cardíaca e nas
doenças de vias aéreas, como DPOC, asma e bronquiectasias.
e) Grasnido
Trata-se um som misto, musical e não musical, semelhante a associação de sibilos de curta duração
com crepitações finas, sendo tipicamente auscultado entre o meio e o final da inspiração. Acredita-se
que o grasnido decorra da oscilação de vias aéreas periféricas, determinada pela passagem de ar por
paredes que se encontravam em aposição/justaposição durante a expiração. É encontrado nas doenças
intersticiais pulmonares, mais comumente na pneumonia de hipersensibilidade, embora não seja
patognomônico dela.1-5
f) Atrito Pleural
Ruído decorrente do espessamento da pleural visceral, que passa a produzir ruído em sua
movimentação em contato com a pleura parietal, tanto na inspiração quanto na expiração. É mais
audível nas regiões basais e axilares, sendo encontrado nas doenças inflamatórias ou neoplásicas da
pleura.1,5
a. Material necessário:
Para realização da ausculta é necessário o estetoscópio.
a. Dificuldades:
Ambiente inadequado, com péssima iluminação.
a. Parâmetros de normalidade:
Som traqueal: áreas de projeção da traqueia.
a. Exemplo:
Descrição normal dos dados obtidos após procedimento semiotécnico
Tórax atípico, sem abaulamentos, retrações, cicatrizes ou lesões dermatológicas, frequência
respiratória 16 a 20 irpm, ritmicidade e amplitude dentro da normalidade, expansibilidade preservada,
tipo de respiração torácica, sem uso de musculatura acessória, som claro pulmonar, murmúrio
vesicular e sons laringotraqueais (regiões do pescoço e fúrcula esternal) e respiração brônquica nas
zonas torácicas de projeção de grossos calibres.
Razão de
a. QUANTO MAIOR A RV POSITIVA = mais o
resultado positivo aumenta a probabilidade de
verossimilhança doença.
Fonte: Autor.
A terceira etapa do exame pulmonar é a percussão, que quando alterada tem grande valor na
detecção de diversas patologias. A macicez à percussão aumenta a probabilidade de pneumonia em
pacientes com febre e tosse ou em pacientes hospitalizados com queixas respiratórias, assim como a
presença de derrame pleural. Já o som hipersonoro em tabagistas de longa data é um achado que faz
pensar em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).6
A ausculta pulmonar, quarta etapa do exame, infere diversas patologias. A redução do som global
dos murmúrios vesiculares pode indicar DPOC. Já quando a redução é unilateral, deve-se pensar em
derrame pleural, e, se associada a febre e tosse, deve-se aventar a hipótese diagnóstica de pneumonia
como causa do derrame pleural.
A seguir serão apresentadas as diversas evidências relacionadas alterações na percussão e na
ausculta durante o exame físico pulmonar.
Macicez à percussão em
paciente com tosse para 4-26 82-89 3.0 NS
detectar pneumonia.
Macicez na percussão em
paciente com queixas
89 81 4.8 0.1
respiratórias para detectar
derrame pleural.
Hipersonoridade na
percussão para detectar 21-33 94-98 7.3 0.8
DPOC.
Diminuição do murmúrio
vesicular na detecção de
88 83 5.2 0.1
derrame pleural em
pacientes hospitalizados.
Diminuição do murmúrio
vesicular na detecção do 29-82 63-96 3.5 0.5
DPOC.
Diminuição do murmúrio
vesicular na detecção de
derrame pleural em 42 90 4.3 0.6
pacientes com ventilação
mecânica.
Diminuição do murmúrio
vesicular na detecção de
7-49 73-98 2.2 0.8
pneumonia em pacientes
com tosse e febre.
Ausculta pulmonar
assimétrica após
intubação traqueal na
28-83 93-99 18.8 0.5
detecção intubação
seletiva do brônquio fonte
direito.
Presença de crepitações na
detecção de fibrose
81 86 5.9 0.2
pulmonar em trabalhadores
de amianto.
Presença de crepitações na
detecção da elevação
15-64 82-94 2.1 NS
pressórica do átrio esquerdo
em cardiopatas.
Presença de crepitações na
detecção de pneumonia em 19-67 36-96 2.3 0.8
pacientes com tosse e febre.
Presença de sibilos na
detecção de obstrução 13-56 86-99 2.6 0.8
crônica do fluxo aéreo.
Presença de sibilos na
detecção de pneumonia em 10=36 50-85 0.8 NS
pacientes com tosse e febre.
Presença de sibilos na
detecção de embolismo 3-31 68-91 0.4 NS
pulmonar.
CASO CLÍNICO
História clínica
W.R.S, 30 anos, sexo feminino, natural e procedente de Sobral, vendedora, ensino médio completo,
casada. Comparece à consulta com queixa de “falta de ar” e “chiado no peito”.
Paciente refere crises de dispneia em repouso, dor torácica em aperto, sibilos e tosse com
expectoração mucoide que iniciaram há 5 dias, sendo diárias e com piora dos sintomas no final da
tarde. Apresentou várias crises semelhantes desde a infância, porém estava assintomática há mais de
dois anos. Há aproximadamente três meses os sintomas retornaram, com piora há 5 dias. Ao ser
indagada, relata dois despertares noturnos por semana, quatro sintomas diurnos por semana,
precisando faltar ao trabalho, último episódio há dois dias, com necessidade constante do uso de
agonista beta-2 adrenérgico para alívio do quadro. Última internação há dois meses, devido à dispneia
de grande intensidade, precisando de suporte de ventilação não invasiva.
Medicações em uso: budesonida 1200 mcg/dia + formoterol 24 mcg/dia (inalatórios) e sabutamol spray
100mcg/jato de resgate diariamente (quatro vezes ao dia).
Antecedentes pessoais: Rinossinusite de repetição; G2P2A0, partos cesáreas. Nega cirurgias prévias.
Hábitos: Nega etilismo e tabagismo
Antecedentes familiares: mãe viva, 55 anos, portadora de hipertensão e diabetes. Pai vivo, 60 anos,
portador de asma, sem outras comorbidades. 3 irmãos mais novos saudáveis.
História Psicossocial: vive com dois filhos e o marido em uma casa de alvenaria de 6 cômodos com
saneamento básico. Relata convívio familiar harmonioso. Tem uma renda familiar de cerca de quatro
salários mínimos.
Interrogatório Sintomatológico: Aparelho respiratório: dispneia, dor torácica em aperto e tosse com
expectoração mucoide. Demais aparelhos sem queixas dignas de nota.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorada, hidratada, acianótica, anictérica e
afebril, eutrófica, dispneica, consciente, orientado.
Dados vitais: FC 80 bpm, FR 30 irpm, Tax 36,5°C, PA 110 x 70 mmHg, em decúbito e sentado, no
membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: ausência de achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório:
Exames Complementares
Exames laboratoriais: Hb 12 g/dL, Ht 37%, VCM 88 fl, leucócitos 5.800, plaquetas 250.000, creatinina
0,7 mg/dL, ureia 24 mg/dL, sódio 140 mg/dL, potássio 3,5 mg/dL, TGO 18 U/L; TGP 13 U/L; glicose 88
mg/dL
Radiografia de tórax: sem alterações.
Espirometria: VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo)/CVF (capacidade vital forçada) >
80%, com resposta broncodilatora positiva (maior ou igual a 12% e maior ou igual a 200 ml do VEF1 ou
da CVF)
Valores de referência: HB 13,5-18 g/dL; Ht 40-54%; VCM 82-98Fl; Leucócitos 4.000-10.000/mm3,
plaquetas 150.000-450.000/mm3; creatinina 0,7-1,3 mg/dL; ureia 17-41 mg/dL; sódio 135-145 mg/Dl;
potássio 3,5-5 mg/dL; TGO até 40U/L;TGP até 41 U/L; glicose 60-99 mg/dL
Pontos de discussão
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais são os diagnósticos diferenciais?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Discussão do caso
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores, na qual muitas células e
elementos celulares têm participação. A inflamação crônica está associada à hiperrresponsividade das
vias aéreas, que leva a episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse,
particularmente à noite ou no início da manhã.11 Então, temos como diagnóstico anatômico/topográfico
os pulmões, especificamente, os brônquios.
No caso apresentado, estamos diante de uma paciente com quadro de sibilos, dispneia e tosse com
expectoração mucoide, que são os nossos sintomas-guias e são considerados como a tríade clínica da
doença, além de serem característicos da síndrome brônquica. Na avaliação inicial, é preciso
caracterizar bem o começo do quadro, se é desencadeado por irritantes inespecíficos (como fumaças,
odores fortes e exercícios) ou por aeroalérgenos (como ácaros e fungos), se há piora à noite e se
ocorre melhora espontânea ou após o uso de medicações específicas para asma.
O exame físico durante a exacerbação da asma é fundamental, pois ajuda no diagnóstico e avalia a
gravidade do episódio. A presença dos sinais clássicos de obstrução, como sibilância, é bom preditor
da doença, mas sua ausência pode indicar insuficiência respiratória devido à obstrução grave do fluxo
aéreo ou pneumotórax hipertensivo.12 Outros achados que podemos encontrar no exame físico são:
aumento da frequência respiratória, redução bilateral da expansibilidade, hipersonoridade, diminuição do
frêmito toracovocal e do murmúrio vesicular.1
As exacerbações agudas da asma são episódios de agravamento dos sintomas da asma e da
função pulmonar, podendo ser a manifestação da própria asma, asma não controlada, ou ser a
resposta, em paciente asmáticos, a um “gatilho”, como infecção viral do trato respiratório superior,
exposição a alérgenos ou irritantes, falta de adesão à medicação do controle ou um estímulo
desconhecido. A melhor estratégia para o tratamento das exacerbações agudas da asma é o
reconhecimento e a intervenção precoces, antes que os ataques se tornem graves e potencialmente
fatais.13 Em relação ao diagnóstico etiológico, cerca de 80% das exacerbações são de origem virais.
Devemos lembrar que asma não controlada é caracterizada pela presença de três ou mais
parâmetros: três ou mais sintomas diurnos, qualquer limitação de atividades, qualquer sintoma noturno,
necessidade de drogas de resgate mais de três vezes na semana e/ou função pulmonar menor do que
80% do predito ou do melhor prévio, se conhecido.
Diante de um quadro clínico sugestivo de exacerbação, podemos usar a prova de função pulmonar
ou aferição do pico de fluxo (peak-flow) na avaliação da gravidade da limitação do fluxo aéreo. Um
decréscimo superior a 20% do normal, ou do melhor valor basal do paciente, sinaliza a presença de
uma exacerbação da asma. Um peak-flow ≤50% do basal paciente deve ser considerado um ataque de
asma grave.12,13
Os diagnósticos diferenciais durante um episódio de exacerbação devem ser considerados:
exacerbação DPOC (sendo o principal diagnóstico diferencial, pois ambas doenças cursam com quadro
obstrutivo brônquico), refluxo gastroesofágico, rinossinusite, obstrução de vias aéreas superiores, os
pacientes podem apresentar estridor na ausculta, mas sibilos são incomuns; a disfunção da glote pode
provocar obstrução parcial de vias aéreas; a doença endobrônquica pode se manifestar com dispneia e
sibilos unilaterais; na insuficiência cardíaca descompensada, costumam surgir crepitações, escarro
sanguinolento e outros sinais sugestivos de disfunção cardíaca; a pneumonia eosinofílica possui
infiltrados pulmonares na radiografia e outros (Síndrome de Churg-Strauss, tumor carcinoide e embolia
pulmonar).12
Em resumo, estamos diante de uma paciente jovem, em franca exacerbação da asma,
provavelmente em decorrência de um gatilho aeroalérgeno ou de uma asma não controlada. A ausência
de sibilos nos leva a pensar em insuficiência respiratória iminente e devemos realizar a monitorização
cardiorrespiratória e iniciar os primeiros cuidados, como fornecer oxigênio suplementar para manter a
saturação de oxigênio maior que 92%. A administração de beta 2 agonista (via inalatória) é o passo
inicial do tratamento, podendo ser associados anticolinérgicos e corticosteroides sistêmicos.
Sintoma-guia:
a. Sibilos
a. Dispneia
a. Dor opressiva torácica
a. Tosse com expectoração mucoide
Diagnóstico sindrômico: Síndrome brônquica
Diagnóstico anatômico/topográfico: Pulmão /Brônquios
Diagnósticos diferenciais:
a. DPOC.
a. Refluxo gastroesofágico.
a. Rinossinusite
a. Obstrução de vias aéreas superiores
a. Disfunção da glote
a. Doença endobrônquica
a. Insuficiência cardíaca descompensada
a. Pneumonia eosinofílica
a. Síndrome de Churg-Strauss
a. Tumor carcinoide
a. Embolia pulmonar
Hipótese diagnóstica: Exacerbação da asma
Pontos importantes
1. Quatro sons são definidos pela percussão torácica: som claro pulmonar, som timpânico, som
submaciço e som maciço;
2. A ausculta é a principal etapa do exame pulmonar. Apesar de todo avanço tecnológico dos
exames complementares, particularmente os exames de imagem, a ausculta pulmonar
permanece como uma ferramenta importante no diagnóstico das doenças respiratórias;
3. Durante a ausculta pulmonar, buscamos distinguir os sons respiratórios normais (som traqueal,
murmúrio vesicular e som brônquico) dos ruídos adventícios (estridor, sibilos, roncos, crepitações
e grasnido).
REFERÊNCIAS
1. PORTO CC. SEMIOLOGIA MÉDICA. 8. ED. RIO DE JANEIRO: GUANABARA KOOGAN; 2019.
2. Lopez M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter; 2004.
3. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
4. Benseñor IM. Semiologia Clínica. São Paulo: SALVIER; 2012
5. Bohadana A, Izbicki G, Kraman SS. Fundamentals of lung auscultation. N Engl J Med. 2014; 370: 744-51.
6. McGee SR. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
7. Kalantri S, Joshi R, Lokhande T, Singh A, Morgan M, Colford JM Jr, et al. Accuracy and reliability of physical signs in the diagnosis of
pleural effusion. Respir Med. 2007; 101:431-8.
8. Lichtenstein D, Goldstein I, Mourgeon E, Cluzel P, Grenier P, Rouby JJ. Comparative diagnostic performance of auscultation, chest
radiography, and lung ultrasonography in acute respiratory distress syndrome. Anesthesiol. 2004; 10(1): 9–15.
9. Heckerling PS, Tape TG, Wigton RS, Hissong KK, Leikin JB, Ornato JP, et al. Clinical prediction rule for pulmonary infiltrates. Ann Intern
Med. 1990; 113:664-70.
10. Al Jarad N, Strickland B, Bothamley G, Lock S, Logan-Sinclair R, Rudd RM. Diagnosis of asbestosis by a time expanded wave form
analysis, auscultation and high-resolution computed tomography: a comparative study. Thorax. 1993; 48: 347–53.
11. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da
Asma – 2012. J Bras Pneumol. 2012; 38(Supl 1): S1-46.
12. Velasco IT, Neto RAB, Souza HP. Medicina de emergência: abordagem prática. 13. ed. rev., atual e ampl. Baueri, SP: Manole; 2019.
13. Fanta CH. Acute exacerbations of asthma in adults: Home and office management. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em 26 maio
2019].
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
• Método de exame: os movimentos dirigidos para dentro são mais visíveis que palpáveis, por
essa razão o examinador deve se posicionar à direita do paciente e observar o precórdio de
forma que a pele seja vista de forma tangencial. Já os movimentos dirigidos para fora são mais
palpáveis que visualizados. No método palpatório, o paciente encontra-se em decúbito dorsal
com inclinação de 30 graus, com o tórax descoberto. O examinador, à direita do paciente,
estende a mão direita e palpa a região anteroinferior esquerda do tórax com a palma dos dedos.
A partir daí, procura-se palpar a região do choque da ponta e, quando encontrado, coloca-se a
face palma de uma ou duas polpas digitais sobre ele, a fim de determinar suas características.
Se houver alguma dificuldade em encontrar o impulso, tente solicitar ao paciente que realize
apneia pós-expiração. No entanto, com essa manobra o ictus cordis pode não ser palpado,
sobretudo em pacientes obesos ou com DPOC. Nessas situações, solicita-se que o paciente
fique na posição sentada, o que faz com que o coração se aproxime da parede torácica, sem
alterar as características da palpação de modo significativo. Outra posição que facilita a
realização da palpação é colocar o paciente em decúbito semilateral esquerdo com inclinação do
tronco, no entanto pode apresentar alterações nas características do ictus cordis, simulando uma
hipertrofia ventricular esquerda.
Fonte: Autor.
• Choque valvar palpável: quando as bulhas cardíacas se tornam hiperfonéticas, podendo ser até
palpáveis;
• Pulsações epigástricas: tanto podem ser palpadas como visualizadas. Nada mais são que as
pulsações da aorta e são mais facilmente percebidas em indivíduos magros. Apenas mais
raramente podem ser sugestivas de hipertrofia ventricular direita. O pulso hepático também pode
ser percebido na região epigástrica, podendo ser decorrente de uma estenose tricúspide
(pulsação pré-sistólica) ou de insuficiência tricúspide (pulsação sistólica);
• Pulsações na fúrcula esternal: decorrem das pulsações da crossa da aorta, e podem ser
notadas em pessoas saudáveis. Se muito intensas, o examinador pode suspeitar de HAS,
aneurisma aórtico ou alguma síndrome hipercinética;
Fonte: Autor.
RAZÃO DE
DETECÇÃO DA RAZÃO
39-60 76-93 3.4 0.6
CARDIOTORÁCICA > 0.5
RAZÃO DE
DETECÇÃO DA BAIXA
5-66 93-99 10.3 0.7
FRAÇÃO DE EJEÇÃO
DETECÇÃO DO VOLUME
DIASTÓLICO FINAL DO 33-34 92-96 5.1 0.7
VENTRÍCULO ESQUERDO
DETECÇÃO DA TAXA DE
PRESSÃO CAPILAR 42 93 5.8 NS
PULMONAR > 12 MMHG
DETECÇÃO DA RAZÃO
61-80 28-97 NS 0.5
CARDIOTORÁCICA > 0.5
DETECÇÃO DO AUMENTO
DO VOLUME DIASTÓLICO
48-85 79-96 4.7 NS
FINAL DO VENTRÍCULO
ESQUERDO
CASO CLÍNICO
História clínica
A.S.D., sexo masculino, 59 anos, agricultor, ensino médio incompleto, natural e procedente de
Sobral, interior do Estado do Ceará, pardo, evangélico, casado. Dá entrada ao pronto-atendimento da
cidade referindo intensa “falta de ar”, há 4 semanas, com piora nas últimas 24 horas. Paciente relata
que percebeu a dispneia após quadro gripal arrastado que apresentou há cinco semanas, sendo
necessário o uso de antibioticoterapia. Inicialmente, a dispneia era aos moderados esforços, porém
notou que na última semana não conseguia trabalhar, sentindo-se muito adinâmico e com sensação de
falta de ar. Refere ainda episódio de ortopneia e, um dia antes do internamento, notou os dedos das
mãos e dos pés cianóticos com piora da dispneia, motivos pelos quais os filhos o levaram ao hospital.
Interrogado sobre as condições de moradia, destino do lixo e esgoto, revelou que morava em casa de
pau a pique, queimava o lixo e não tinha saneamento básico em sua comunidade.
Medicações em uso: não faz uso de nenhum medicamento.
Antecedentes pessoais: nega doenças prévias, cirurgia ou doação de sangue.
Hábitos: nega tabagismo e alcoolismo.
Antecedentes familiares: refere que irmão mais velho (67 anos) morreu há 3 anos por “coração
crescido”, e que esse morava na mesma residência.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 10,4 g/dL, Ht 31,2%, VCM 82 fl, leucócitos 6.800, plaquetas 250.000,
creatinina 1,04 mg/dL, ureia 32 mg/dL, sódio 140 mg/dL, potássio 4,0 mg/dL, TGO 30, TGP 20, glicose
92 mg/dL, TSH 2,74 µUI/mL, sorologia para Trypanosoma cruzi positiva, Radiografia de tórax:
cardiomegalia.
Pontos de discussão
•
QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
•
QUAL É O DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO?
•
QUAL É O DIAGNÓSTICO ANATÔMICO/TOPOGRÁFICO?
•
QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS?
•
QUAL É A PRINCIPAL HIPÓTESE DE DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO?
•
QUAIS SÃO OS ACHADOS DO EXAME FÍSICO QUE CORROBORAM A HIPÓTESE?
•
OS DADOS DO EXAME CLÍNICO SÃO SUFICIENTES PARA CONFIRMAR OU EXCLUIR O
DIAGNÓSTICO LEVANTADO?
Discussão
E então, de que doença estamos falando? Quais dados do exame físico desse paciente podem nos
fornecer informações relevantes para chegarmos ao diagnóstico? Se a insuficiência cardíaca passou
por sua mente, você está no caminho certo. Mas, nesse caso em específico, o que levou a essa
insuficiência?
A insuficiência cardíaca pode ser causada por alterações estruturais, congênitas ou adquiridas.
Entre elas, temos a cardiomiopatia dilatada (CMD).
A cardiomiopatia dilatada (CMD) é caracterizada por dilatação das câmaras cardíacas e
comprometimento da contração de um ou ambos os ventrículos, especialmente o ventrículo esquerdo,
levando a uma disfunção sistólica progressiva e, consequentemente, a uma redução da fração de
ejeção.1
Atualmente, cerca de 10.000 mortes e 46.000 hospitalizações nos Estados Unidos decorrem da
CMD, sendo a faixa etária mais afetada entre 20 e 50 anos.2
Entre as causas, podemos dizer que se trata de idiopática quando fatores primários e secundários
da doença forem excluídos por avaliação minuciosa, que inclui história clínica, exame físico e exames
complementares. Sabe-se que cerca de 25 a 35% dos pacientes com CMD apresentam uma forma
familiar autossômica dominante, que leva a mutações nos genes da distrifina e desmina.1 Já entre as
causas secundárias, podemos citar a doença de Chagas, uma zoonose endêmica em determinadas
regiões do Brasil (estados nordestinos, Minas Gerais e região sudoeste do Rio Grande do Sul) causada
pelo protozoário Trypanosoma cruzi.
O Trypanosoma cruzi é encontrado na natureza no sistema gastrointestinal dos barbeiros
(hospedeiros invertebrados) e em hospedeiros vertebrados (homem e vários mamíferos). A infecção
ocorre basicamente quando os tripanossomas são ingeridos pelo barbeiro, a partir de um mamífero
infectado, e eliminados nas fezes do inseto que, quando em contato com a pele não íntegra de outro
hospedeiro vertebrado, dissemina-se pelo organismo, tendo tropismo pelos cardiomiócitos. No coração,
o protozoário causa danos diretos ao miocárdio e distúrbios no sistema nervoso e na microvasculatura,
proporcionando fibrose, progressivo remodelamento e consequente falência cardíaca.3
A CMD causada por doença de Chagas caracteriza-se clinicamente por miocardite aguda, aumento
do volume cardíaco, taquicardia e anormalidades eletrocardiográficas inespecíficas.
Pacientes afetados pela CMD apresentam sintomas de insuficiência cardíaca, como dispneia
progressiva com esforço, capacidade de exercício prejudicada, ortopneia, dispneia paroxística noturna
e edema periférico. Esse quadro deve-se ao comprometimento da função ventricular esquerda, que
resulta em congestão pulmonar e baixo débito cardíaco. São frequentes os casos em que se é possível
obter uma história de doença infecciosa (com febre e infecção de vias aéreas superiores,
gastrointestinal e/ou musculoesquelética). Além disso, no caso de haver uma sobrecarga de ventrículo
direito, o paciente pode evoluir com congestão sistêmica, apresentando hepatomegalia, turgência
jugular, edema de membros inferiores e ascite.
No exame físico, pode-se encontrar: palidez cutaneomucosa, com pele de extremidades frias, sendo
rara a cianose; pressão arterial (PA) com redução do nível sistólico e aumento inicial do diastólico (por
diminuição da resistência vascular renal e liberação de renina); ictus cordis desviado para esquerda e
para baixo, geralmente não muito propulsivo, denotando maior dilatação do que hipertrofia; o ritmo
cardíaco é de bulhas abafadas e com frequentes alterações do ritmo.
No caso clínico em questão, tem-se um paciente com 59 anos, portanto dentro da faixa etária em
que a CMD é mais prevalente, procedente de uma cidade do nordeste brasileiro, onde a doença de
Chagas é endêmica. Em sua história clínica, observamos dados importantes que corroboram o
diagnóstico de uma insuficiência cardíaca causada por CMD de origem infecciosa.
Além da procedência do paciente, as condições precárias de moradia, o fato de ser agricultor e a
história familiar positiva para uma cardiopatia que sugere CMD são outros fatores que levam o
raciocínio clínico para o diagnóstico de Doença de Chagas, já que o barbeiro geralmente se encontra
em áreas rurais e, muito provavelmente, a doença cardíaca do irmão deveu-se a uma infecção pelo
tripanossoma.
O paciente apresenta história de infecção de vias aéreas superiores recente, que é comum em
determinados casos de cardiomegalia. Além disso, refere sinais e sintomas que são característicos de
uma insuficiência cardíaca por um comprometimento da função do ventrículo esquerdo, como dispneia
progressiva, ortopneia e cianose de extremidades, caracterizando uma síndrome congestiva pulmonar.
Não existem evidências de congestão sistêmica, portanto, provavelmente, o ventrículo direito ainda não
está acometido de forma significativa.
No exame físico, entre os sinais que podem contribuir para o diagnóstico de CMD, tem-se dispneia e
estertores finos em bases pulmonares, que sugerem uma congestão pulmonar, em decorrência de
insuficiência cardíaca esquerda. O aparelho cardiovascular encontra-se com abafamento de bulhas,
presença de impulso apical no 6º espaço intercostal, a 13 cm da borda paraesternal esquerda, medindo
3-4 polpas digitas, sugerindo um aumento da área cardíaca, devido ao progressivo remodelamento
causado pelo Trypanosoma cruzi sobre o músculo cardíaco. Outras alterações são: extremidades mal
perfundidas, com tempo de enchimento capilar de 4 segundos (normal até 3 segundos), o que pode ser
consequência do baixo débito cardíaco.
Entre os exames complementares, tem-se uma bioquímica sem grandes alterações; portanto,
relativamente inespecífica; uma sorologia para Trypanosoma cruzi positiva, que, junto aos dados
clínicos e à cardiomegalia, evidenciada na radiografia de tórax, confirma o diagnóstico de CMD por
doença de Chagas.
Portanto, tomando conhecimento do caso clínico exposto e entendendo a clínica da CMD, temos
como diagnóstico sindrômico a síndrome dispneica, já que a dispneia é o principal sintoma do paciente,
nos levando à identificação de uma síndrome congestiva pulmonar; diagnóstico anatômico/topográfico:
cardiomiopatia dilatadora, visto que o paciente apresenta, ao exame físico, um ictus cordis desviado
para esquerda e para baixo e, à radiografia, uma cardiomegalia; e dentre as etiologias que podem
causar essa síndrome poderíamos pensar nas causas de insuficiência cardíaca esquerda, em que
encontramos a CMD. No caso da CMD do paciente em questão, temos como etiologia comprovada a
doença de Chagas.
Sintoma-guia: Dispneia.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome dispneica.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Cardiopatia dilatadora.
Diagnósticos diferenciais:
Pontos importantes
•
O OBJETIVO DA INSPEÇÃO É AVALIAR A MORFOLOGIA TORÁCICA, PRESENÇA DE
ABAULAMENTOS OU PULSAÇÕES;
•
DIANTE DE SÍNDROME DISPNEICA, DEVE-SE SEMPRE AVALIAR O CORAÇÃO E OS
PULMÕES, EM CONJUNTO.
REFERÊNCIAS
1. Focesatto L, Barros E. Medicina Interna na Prática Clínica. São Paulo: Artmed, 2013.
2. Weigner M, Morgan J. Causas da Cardiomegalia Dilatada. Cardiomiopatia, [s.I.], 26 abr. 2018.
3. Pedrosa R et al. Cardiopatia Chagásica. Rio de Janeiro, nov. 2018.
4. López M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: As bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2004.
5. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.
6. Mcgee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
• Aplicação correta do receptor: a pressão sobre o tórax deve ser leve o bastante apenas para
não deixar nenhuma área sem contato íntimo com a pele, impedindo, assim, que os sons do
ambiente sejam captados. Um erro comum até entre os mais experientes é auscultar o coração
do paciente sem solicitar ao paciente que deixe o tórax descoberto, colocando o receptor do
estetoscópio sobre a roupa e, consequentemente, aplicando-se uma força maior do que a
necessária. Por isso, é importante lembrar que se a compressão da campânula for intensa, ela
funcionará como um diafragma.
• Relação dos batimentos cardíacos com a respiração: um exemplo clássico dessa relação é
observado na maioria dos sopros originados no coração direito. O motivo para esse fenômeno é
o maior retorno venoso de sangue para as câmaras direitas durante a inspiração.
Fonte: Autor.
Existem vários outros focos, como os encontrados nas bordas esternais direita e esquerda, regiões
laterais do pescoço, endoápex ou mesocárdio, regiões infra e supraclaviculares direita e esquerda,
regiões interescapulovertebrais e tantas outras. Todavia, vale lembrar que essa classificação guarda
mais relação didática que prática, pois na realidade toda região precordial deve ser auscultada, e não
apenas os focos.
MOMENTOS DA SÍSTOLE E DA
DIÁSTOLE
TERÇO INICIAL
PROTOSSÍSTOLE
DA SÍSTOLE
TERÇO MÉDIO
MESOSSÍSTOLE
DA SÍSTOLE
TERÇO FINAL DA
TELESSÍSTOLE
SÍSTOLE
TODO O
HOLOSSÍSTOLE PERÍODO DA
SÍSTOLE
TERÇO INICIAL
PROTODIÁSTOLE
DA DIÁSTOLE
TERÇO MÉDIO
MESODIÁSTOLE
DA DIÁSTOLE
TERÇO FINAL DA
TELEDIÁSTOLE DIÁSTOLE OU
PRÉ-SÍSTOLE
TODO O
HOLODIÁSTOLE PERÍODO DA
DIÁSTOLE
O objetivo de determinar os momentos dos ruídos é justamente para separá-los entre sons sistólicos
ou diastólicos e poder identificá-los dentro de cada fase do ciclo cardíaco.
RITMOS TRIPLICES
RITMO EM TRÊS
TEMPOS
FORMADO PELAS
DUAS BULHAS
CARDÍACAS
CLÁSSICAS (B1 E
B2) MAIS UMA
OUTRA BULHA.
AQUI NÃO PODE
ENTRAR NA
CONTAGEM COMO
BULHA UM SOPRO,
UM ESTALIDO OU
UM ATRITO. ESSE
TERCEIRO RUÍDO
OCORRERÁ
DENTRO DA
DIÁSTOLE, SEJA
NO SEU INÍCIO
(PROTODIÁSTOLE),
SEJA NO SEU FINAL
(TELEDIÁSTOLE OU
PRÉ-SÍSTOLE).
É POSSÍVEL A
EXISTÊNCIA DE
TERCEIRA BULHA
QUE NÃO TENHA
SIGNIFICADO
PATOLÓGICO. JÁ O
RITMO DE GALOPE
É UMA CONDIÇÃO
PATOLÓGICA E
RECEBE ESSE
NOME PORQUE
LEMBRA UM
CAVALO
GALOPANDO. SUA
ONOMATOPEIA
FICA DESSA
FORMA, LIDA
PAULATINAMENTE:
PÁ-TÁ-TÁ PÁ-TÁ-TÁ
PÁ-TÁ-TÁ. É
AUDÍVEL COM MAIS
CLAREZA USANDO-
SE A CAMPÂNULA
NOS FOCOS
MITRAL E
TRICÚSPIDE, COM
O PACIENTE EM
DECÚBITO
LATERAL
ESQUERDO. EM
ALGUNS CASOS, É
MAIS PALPÁVEL
QUE AUDÍVEL.
ESSE RITMO PODE
REPRESENTAR
UMA DISFUNÇÃO
MIOCÁRDICA.
b) Timbre e tom
Na estenose mitral, a rigidez das valvas causa um tom mais agudo e um timbre metálico ao se
chocarem.
c) Desdobramento
Pode ser fisiológico em até metade da população. Se os componentes estiverem muito distantes, a
suspeita de Bloqueio de Ramo Direito (BRD) pode ser aventada. Isso porque o atraso da condução
elétrica de despolarização para o ventrículo direito atrasa a sua contração e, consequentemente, o seu
esvaziamento, atrasando o fechamento da valva pulmonar. Sua onomatopeia será: TLUM – TÁ – TLUM
– TÁ.
d) Mascaramento
Como o nome sugere, ocorre uma sobreposição (sopro, por exemplo) exatamente no momento de
B1. Esse ruído novo é mais intenso que o fisiológico e causa camuflagem.
b) Timbre e tom
Essa bulha passa a ter caráter seco.
c) Desdobramento
Quando se estuda o desdobramento de B2, o foco escolhido é o pulmonar, pois nele encontramos
os 2 componentes. O desdobramento fisiológico já foi descrito anteriormente, quando falamos sobre
aumento do fluxo sanguíneo durante a inspiração. Os patológicos são:
• Constante: pode ser de origem mecânica ou elétrica. Sua onomatopeia é TUM – TLÁ. Um
exemplo é o BRD. Também pode ser variável, pois na inspiração profunda o desdobramento
pode ser acentuado. Esse é um exemplo de causa elétrica. Outro desdobramento constante,
porém, fixo, é aquele da CIV, quando o sangue passa para a câmara de menor pressão (VD) e
causa retardo em seu esvaziamento.
CLIQUES E ESTALIDOS
2.4. Sopros
Iniciamos um dos pontos mais importantes de toda a ausculta cardíaca, que é a identificação e
classificação dos sopros cardíacos. Os sopros são decorrentes de alguma alteração do fluxo
sanguíneo, como estenose, dilatação ou qualquer obstáculo ou até mesmo comunicação entre duas
estruturas. Resumindo os mecanismos causadores dos sopros:
AUMENTO DA
VELOCIDADE DA
CORRENTE SANGUÍNEA
DIMINUIÇÃO DA
VISCOSIDADE
SANGUÍNEA
ESTENOSE
DILATAÇÃO
PASSAGEM DO SANGUE
SOBRE UMA MEMBRANA
LIVRE.
Dentre eles, a velocidade sanguínea tem característica sinérgica com todos os outros mecanismos,
por isso pode ser solicitado ao paciente que se realize algum exercício físico para aumentar a
frequência cardíaca, com o intuito de aumentar a intensidade do sopro.
SOPROS CARDIACOS
• de ejeção:
SÃO CAUSADOS PELA PASSAGEM DO FLUXO SANGUÍNEO POR
ESTRUTURAS ESTENOSADAS (COMO AS VALVAS AÓRTICA E
PULMONAR) DURANTE A SÍSTOLE.
CARACTERÍSTICAS: INICIAM PRATICAMENTE APÓS A B1,
AGUARDANDO APENAS O FIM DA CONTRAÇÃO VENTRICULAR
ISOVOLUMÉTRICA. INICIALMENTE, A EJEÇÃO É LENTA,
INTENSIFICANDO NO MEIO E VOLTANDO A DIMINUIR A
VELOCIDADE NO FINAL. É JUSTAMENTE POR ESSA RAZÃO
QUE O SOPRO (NOS CASOS DAS ESTENOSES) GANHA O
ASPECTO CRESCENTE-DECRESCENTE. O SOPRO TERMINA
SISTÓLICOS
ANTES DA B2. SÃO ENCONTRADAS NA ESTENOSE AÓRTICA E
NA PULMONAR.
• de regurgitação:
SURGEM DESDE O INÍCIO DE B1, PODENDO ATÉ MESMO
MASCARÁ-LA. OCORREM DEVIDO A ALGUMA INSUFICIÊNCIA
DAS VALVAS AV (MITRAL E TRICÚSPIDE) QUE NÃO CONSEGUEM
MANTER-SE COMPLETAMENTE FECHADAS, PERMITINDO O
REFLUXO SANGUÍNEO PARA OS ÁTRIOS OU PARA O OUTRO
VENTRÍCULO, NOS CASOS DE CIV. SÃO HOLOSSISTÓLICOS,
PODENDO RECOBRIR ATÉ B2, E POSSUEM INTENSIDADE
SEMELHANTE DO INÍCIO AO FIM.
b) Localização
Identifica-se auscultando todos os focos cardíacos, porém com muita atenção, pois um ruído
observado em uma área não quer dizer absolutamente que ele tem origem ali.
c) Irradiação
O primeiro passo é avaliar o foco de maior intensidade; após, direciona-se o receptor
centrifugamente para as demais áreas e tenta seguir o padrão da irradiação. Os fatores que influenciam
a irradiação são a sua intensidade e a direção da corrente sanguínea. Ora, quanto maior a intensidade,
maior a irradiação. De igual forma, a irradiação segue, geralmente, o fluxo sanguíneo.
d) Intensidade
Como a avaliação é demasiadamente subjetiva, o ideal é usar o sistema de cruzes (+ a 6+). Alguns
autores utilizam o sistema de 4 cruzes.
+: débil, necessitando de grande atenção
++: discreto, porém audível de imediato
+++: moderadamente intenso
++++: intenso, acompanhado de frêmito, somente audível quando o estetoscópio se mantém em
contato completo com a pele do paciente
+++++: audível mesmo quando o contato do estetoscópio é parcial com a pele do paciente
++++++: pode ser auscultado sem que haja necessidade do contato de qualquer parte do estetoscópio
com a pele do paciente
A intensidade varia de acordo com a sua transmissão (pessoas obesas ou com enfisema
apresentarão sopros subestimados, por exemplo) ou o seu mecanismo propriamente dito (velocidade
do fluxo e volume). Nas comunicações intraventriculares, por exemplo, quanto menor a comunicação,
mais intenso será o sopro, pois o sangue fluirá de uma câmara à outra com velocidade maior. Agora, se
o volume sanguíneo é pequeno, o sopro terá igualmente intensidade menor.
e) Timbre e Tom
Juntos, formam a qualidade do som, que é determinada pelo volume e tipo de mecanismo que
causou o turbilhonamento sanguíneo. Pode receber a denominação de rude, aspirativo, musical, piante,
ruflar e tantos outros.
• Posição do paciente: Nos sopros basais, é válido solicitar ao paciente que fique sentado, com o
tórax levemente inclinado para frente. Já o ruflar diastólico da Estenose Mitral (EM) fica mais
audível em decúbito lateral esquerdo.
• Situação: não guarda relação obrigatória nem com a diástole nem com a sístole, podendo ser
encontrado em ambas ou em apenas uma. Também não tem relação com as bulhas. Pode ter
reforço durante a sístole.
Quadro 7. Ausculta do coração nos principais defeitos orovalvares adquiridos e nas anomalias
congênitas mais frequentes.
Fonte: Autor
RAZÃO DE
Intensidade variável B1
DETECÇÃO DE DEFEITO
92 65 2.6 0.1
NO SEPTO ATRIAL
Batida paradoxal
DETECÇÃO DE ESTENOSE
50 79 NS NS
AÓRTICA SIGNIFICATIVA
P2 ruidoso
DETECÇÃO DE
HIPERTENSÃO PULMONAR
58-96 19-46 NS NS
EM PACIENTES COM
ESTENOSE MITRAL
DETECÇÃO DE
HIPERTENSÃO PULMONAR
38 98 17.6 NS
EM PACIENTES COM
CIRROSE
P2 palpável
DETECÇÃO DE
96 73 3.6 0.05
HIPERTENSÃO PULMONAR
B2 aumentada ou diminuída
DETECÇÃO DE ESTENOSE
AÓRTICA SIGNIFICATIVA EM
44-90 63-98 3.8 0.4
PACIENTES COM SOPROS
DE FLUXO AÓRTICO
Fonte: McGee³.
RAZÃO DE
Sopro funcional
DETECÇÃO DE ACHADO
NORMAL NA 67-98 70-91 4.7 NS
ECOCARDIOGRAFIA
DETECÇÃO DE ESTENOSE
AÓRTICA LEVE OU 90 85 5.9 0.1
MODERADA
DETECÇÃO DE ESTENOSE
83-98 71-76 3.5 0.1
AÓRTICA SEVERA
DETECÇÃO DE
REGURGITAÇÃO MITRAL 73-93 61-76 2.6 0.3
SEVERA
DETECÇÃO DE
REGURGITAÇÃO
23 98 14.6 0.8
TRICÚSPIDE LEVE OU
MODERADA
DETECÇÃO DE
REGURGITAÇÃO 20-62 94-98 9.6 NS
TRICÚSPIDE SEVERA
DETECÇÃO DE DEFEITO
90 96 24.9 NS
DE SEPTO VENTRICULAR
DETECÇÃO DE PROLAPSO
55 96 12.1 0.5
DA VALVA MITRAL
DETECÇÃO DE
REGURGITAÇÃO AÓRTICA 54-87 75-98 9.9 0.3
LEVE E MODERADO
DETECÇÃO DE
REGURGITAÇÃO AÓRTICA 88-98 52-88 4.3 0.1
SEVERA
DETECÇÃO DE
REGURGITAÇÃO 15 99 17.4 NS
PULMONAR
Fonte: McGee³.
CASO CLÍNICO
História clínica
M.A.S, sexo feminino, 82 anos, natural e residente de Maracanaú, região metropolitana do Ceará,
parda, viúva, evangélica, com ensino fundamental completo. Vem à consulta no pronto-atendimento,
acompanhada pela nora,com queixa de “falta de ar” há 7 dias, com piora significativa desde ontem.
Acompanhante relata que a paciente já se queixava de dispneia, há cerca de 3 anos, apenas aos
moderados esforços, tais como caminhar duas quadras, porém fazia sua própria refeição, banhava-se
só e não aparentava dispneia para realização de atividades básicas de vida diária e atividades
instrumentais. Após viagem de ônibus para visitar os filhos no interior do Estado, iniciou quadro de tosse
produtiva, associada à febre baixa. Os parentes também notaram que ela apresentava dificuldade de
dormir deitada, necessitando ficar praticamente sentada para conseguir descansar. Foi medicada com
antitussígenos e xarope caseiro; no entanto, piorou do quadro no dia seguinte, apresentando alteração
do nível de consciência e intensa dispneia, motivo pelo qual os filhos trouxeram-na ao pronto-socorro da
cidade.
Medicações em uso: Hidroclorotiazida 50 mg (1-0-0), Losartana 50 mg (1-0-0) e Metformina 500 mg (1-
1-1)
Antecedentes pessoais: hipertensa e diabética diagnosticada há 20 anos, ambas compensadas. Queda
da própria altura, com evolução para pequena lâmina de hematoma subdural, optado, na ocasião, pela
equipe de Neurologia, por tratamento clínico. Varizes em ambas as pernas, com ferida aberta de difícil
cicatrização.
Hábitos: nega etilismo e tabagismo.
Antecedentes familiares: não recorda a idade nem a causa da morte dos pais. Lembra-se apenas de
que um irmão morreu de câncer, porém não sabe qual tipo. Não sabe informar também quais doenças
os demais irmãos apresentam.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 8,7 g/dL, Ht 26%, VCM 113 fl, leucócitos 13.800, plaquetas 300.000,
creatinina 1,04 mg/dL, ureia 29 mg/dL, sódio 138 mg/dL, potássio 3,3 mg/dL, TGO 32, TGP 21, glicose
80 mg/dL, TSH 2,89 µUI/mL, sorologias virais e VDRL negativos
Tomografia de crânio: atrofia cortical difusa, sem outras alterações.
Pontos de discussão
1. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Discussão
Você inicialmente deve estar se perguntando o que um caso de pneumonia está fazendo no capítulo
de ausculta cardíaca. Se a suspeita inicial foi pneumonia, você está no raciocínio clínico exato. Contudo,
como explicar os achados do sistema cardiovascular? Eles são consequências, causas ou achados sem
significado clínico para esse caso?
A insuficiência cardíaca é uma doença cada vez mais comum na nossa população devido ao seu
envelhecimento nas últimas décadas. Ela se subdivide clinicamente em insuficiência ventricular direita ou
esquerda (ou até mesmo mista), o que determinará sinais e sintomas distintos. Pode ser dividida ainda
em sistólica (70%) e diastólica. Embora com manifestações semelhantes, a insuficiência diastólica traz
consigo um quadro mais brando.
Existem várias causas etiológicas, desde infecciosas até uso de drogas cardiotóxicas. Todavia,
independentemente da etiologia inicial, a evolução e fisiopatologia é a mesma. Em muitos casos, é
impossível saber o fator inicial, pois ele pode ter se dado há décadas, como no nosso caso, em que a
paciente já apresentava, há anos, dispneia, porém nunca era realizada investigação, e, após uma
descompensação, aqui causada pela infecção pulmonar, apresentou sintomatologia franca. Quando o
fator agressivo não é retirado, como, por exemplo, uma pressão arterial elevada, ou quando o paciente
não faz uso de drogas cardioprotetoras (no nosso caso a paciente nem sabia que apresentava
insuficiência cardíaca), ocorre o que chamamos de remodelamento cardíaco, ou seja, ocorre um
remodelamento do tecido miocárdico ventricular.
O organismo se protege dos sintomas da insuficiência aumentando a força contrátil do miocárdio, e
posteriormente até necessitando da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, tudo isso
para compensar a carga hemodinâmica, para manter uma boa perfusão tecidual, porém chega um
momento em que as forças compensatórias não são mais suficiente para manter a homeostase. Isso
ocorre classicamente quando o paciente desenvolve uma infecção, tipicamente a Pneumonia Bacteriana
Adquirida na Comunidade (PAC), o que ocorreu justamente com a nossa paciente.
Os sintomas vão desde os cardíacos até os extracardíacos. Os cardíacos são: taquicardia (para
compensar a sobrecarga); ritmos anormais, tais como o ritmo de galope; sopros; intolerância aos
esforços; hiperfonese de 2ª bulha cardíaca; cardiomegalia; arritmias; pressão arterial convergente. Os
extracardíacos são decorrentes da congestão venosa: dispneia e tosse; hemoptoicos; estertores
pulmonares; fadiga; cianose; hepatomegalia; edema; ingurgitamente jugular; derrames cavitários.
No caso supracitado, estamos diante de uma idosa que, após quadro de PAC, iniciou dispneia
intensa e outros sinais e sintomas. Temos, portanto, a dispneia como sintoma-guia.
Inicialmente, pensamos ser devido ao quadro pulmonar, e isso é correto, porém cabe-nos investigar
se é de origem primária do pulmão ou secundária ao coração ou outra alteração, como quadros
hematológicos, ou até mesmo uma junção de mais que uma causa, algo muito comum na prática clínica
diária.
Como o sintoma-guia é dispneia, esse fato nos faz pensar em insuficiência ventricular esquerda.
Como o ventrículo esquerdo não consegue bombear sangue para a circulação sistêmica de maneira
adequada, há, retrogradamente, congestão venocapilar no tecido pulmonar, causando os sintomas
extracardíacos já citados, como a dispneia.
A dispneia pode ter diversas formas:
a. DISPNEIA DE ESFORÇO: COMO O NOME SUGERE, É AQUELA QUE O PACIENTE SE
SENTE CANSADO APÓS EXERCÍCIO FÍSICO, QUE ANTES REALIZAVA SEM QUEIXAS; PODE
SER GRADUADA AOS PEQUENOS, MÉDIOS OU GRANDES ESFORÇOS; A NOSSA PACIENTE
APRESENTAVA A DISPNEIA AOS MODERADOS ESFORÇOS;
b. Dispneia de decúbito: na posição de decúbito dorsal, o sangue represado nos leitos venosos
dos membros inferiores e esplâcnicos chegam ao ventrículo direito, de onde é bombeado para o
pulmão, o que causa aumento da congestão venosa nesse órgão. Note que a paciente necessitou
ficar sentada para dormir, o que denota grande congestão venocapilar pulmonar;
c. Dispneia paroxística: ocorre mais durante a noite e, por essa razão, é mais conhecida como
dispneia paroxística noturna. Durante o sono, o centro respiratório diminui a sua sensibilidade, o que
faz com que a paciente consiga inicialmente dormir, porém, pelo mesmo motivo citado na dispneia de
decúbito, o leito venovascular do pulmão se encharca. No meio da madrugada, a paciente acorda
com intensa dispneia, necessitando sentar-se à beira do leito ou da cama para conseguir respirar;
d. Dispneia periódica de Cheyne-Stokes: a paciente inicialmente apresenta movimentos
respiratórios cada vez mais intensos até um máximo, então começa a diminuir, podendo ficar em
apneia. Esse ritmo é cíclico e caracteriza uma doença mais grave.
Nossa paciente também apresentou estertores em ambas as bases, porém mais audível à esquerda
(isso porque na base direita está formada uma consolidação devido à PAC). Esses sinais são os mais
precoces da congestão pulmonar e o seu reconhecimento é fundamental para evitar iatrogenias, tais
com hiperidratação. Às vezes, pode estar associada a broncoespamos, caracterizados como sibilos,
dando o que chamamos de asma cardíaca, apresentada pela nossa paciente.
Como consequência da diminuição do débito cardíaco, podem surgir sintomas decorrentes da má
oxigenação cerebral. Esses sintomas podem ser desde irritabilidade ou fadiga até alteração do nível de
consciência. Aqui, mais uma vez, notamos um sinal que é observado tanto na PAC como na insuficiência
cardíaca ventricular esquerda, fato que demonstra que várias etiologias podem se sobrepor.
A paciente está taquicárdica, o que pode ser decorrente de um quadro de sepse ou um mecanismo
compensatório, na tentativa de manter um débito cardíaco minimamente aceitável. Os pacientes
poderão se queixar de palpitações.
No exame físico dessa paciente, encontramos o ritmo em três tempos, conhecido como ritmo de
galope, ou seja, as duas bulhas cardíacas clássicas (B1 e B2), mais uma outra bulha. Aqui não pode
entrar na contagem como bulha um sopro, um estalido ou um atrito. Esse terceiro ruído ocorrerá dentro
da diástole, seja no seu início (protodiástole) ou até no seu final (telediástole ou pré-sístole). O ritmo de
galope é um exemplo de 3ª bulha patológica e recebe esse nome porque lembra um cavalo galopando.
Sua onomatopeia fica dessa forma, lida paulatinamente: PÁ-TÁ-TÁ PÁ-TÁ-TÁ PÁ-TÁ-TÁ. É audível com
mais clareza usando-se a campânula nos focos mitral e tricúspide, com o paciente em decúbito lateral
esquerdo. Em alguns casos, é mais palpável que audível. Esse ritmo pode representar uma disfunção
miocárdica.
O exame cardiovascular de nossa paciente também apresentou uma alteração na palpação dos
pulsos radiais, classificada como pulso alternante, que é decorrente da variação do número de fibras
que se contraem em cada batimento. Quando poucas fibras se contraem, o pulso será fraco. O oposto
também é verdadeiro.
Diante do quadro exposto, temos como diagnóstico sindrômico: Síndrome dispneica.
Anatômico/Topográfico: Coração e Pulmão e dentre as etiologias que podem causar essa síndrome,
ficamos com a Insuficiência ventricular esquerda (aqui, investigar a causa primária: HAS? Isquêmica?
Viral?) e PAC por Streptococcus pneumoniae, respectivamente.
RAZÃO DE
Sinais vitais
RESPIRAÇÃO DE CHEYNE-
33 94 5,4 0,7
STOKES
Exame pulmonar
Exame cardíaco
ELEVAÇÃO DA PRESSÃO
7-25 96-98 6,3 —
VENOSA JUGULAR
MURMÚRIO DE
25 89 — —
REGURGITAÇÃO MITRAL
Outros
HEPATOMEGALIA 3 97 — —
Sintoma-guia: Dispneia.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome dispneica.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Insuficiência ventricular esquerda.
Diagnósticos diferenciais:
Pontos importantes
1. DIANTE DE SÍNDROME DISPNEICA, DEVE-SE SEMPRE AVALIAR O CORAÇÃO E OS
PULMÕES, EM CONJUNTO;
2. O tratamento da PAC unicamente não seria suficiente para o manejo dessa paciente. Logo, a
correta avaliação cardíaca iria demonstrar insuficiência ventricular e consequente tratamento
domiciliar de manutenção.
3. Sempre diferenciar a insuficiência ventricular esquerda da direita, e se diastólica ou sistólica.
REFERÊNCIAS
1. LÓPEZ M, LAURENTYS-MEDEIROS J. SEMIOLOGIA MÉDICA: AS BASES DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO. 5. ED. RIO DE JANEIRO:
REVINTER; 2004.
2. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.
3. Mcgee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
3. INSPEÇÃO
• Superior: Diafragma;
• Inferior: Assoalho pélvico;
• Lateral: Músculos oblíquos e transverso do abdome;
• Anterior: Músculos reto abdominais;
• Posterior: Músculo quadrado lombar e psoas.
Este conjunto é dividido em nove regiões anatômicas que se relacionam com órgãos cuja localização,
forma, tamanho e limites devem ser memorizados. As linhas da divisão anatômica do abdome são 7: 3
horizontais, 2 oblíquas e 2 arqueadas.
• Média: Une as extremidades das décimas costelas (ponto em que as hemiclaviculares direita e
esquerda tangenciam os rebordos costais);
• Hipocôndrio direito (1) – limitado inferiormente pela borda costal e superiormente pela linha que
passa na parte inferior do corpo esternal;
• Epigástrio (2) – limitado pela linha que une as extremidades inferiores das bordas costais e
lateralmente pelos flancos;
• Hipocôndrio esquerdo (3) – com os mesmos limites que o direito, porém do lado esquerdo;
• Flanco direito (4) – limitado superiormente pela borda costal direita e inferiormente pela linha que
une as cristas ilíacas superiores;
• Flanco esquerdo (6) – limites semelhantes aos do flanco direito, porém à esquerda;
• Fossa ilíaca direita (7) – limitada superiormente pelo flanco direito e inferiormente pela crista
ilíaca direita;
• Hipogástrio (8) – limitado lateralmente pelas linhas que unem as faces laterais do púbis com as
extremidades das décimas costelas, superiormente pela linha que une as extremidades
superiores das cristas ilíacas e inferiormente pelo púbis;
• Fossa ilíaca esquerda (9) – tem limites semelhantes aos da fossa ilíaca direita, porém à
esquerda.
Fonte: Autor.
Quando um fenômeno se localiza nas regiões 1, 2 e 3, pode ser referido em andar superior do
abdome; quando em regiões 4, 5, e 6, em andar médio do abdome, e quando em 7, 8 e 9, em andar
inferior do abdome.
Outra maneira de dividir topograficamente o abdome, que pode facilitar a referência a dados da
anamnese ou do exame físico, é a divisão em quadrantes, tomando como referência 1 linha horizontal e
1 linha vertical.
Fonte: Autor.
Segue abaixo uma lista com os principais órgãos presentes em cada região abdominal:
FUNDO DO ESTÔMAGO,
HIPOCÔNDRIO CAUDA DO PÂNCREAS, BAÇO, ABSCESSOS ESPLÊNICOS,
ESQUERDO FLEXURA ESPLÊNICA DO ABSCESSOS SUBFRÊNICOS
CÓLON
TUMORES DE CÓLONS,
FLANCO ESQUERDO CÓLON DESCENDENTE DIVERTICULITE, CÓLICA
RENAL
• Movimentos peristálticos;
• Massas abdominais e abaulamentos
(identificadas à inspeção tangencial);
4. AUSCULTA
Fonte: Autor.
5. MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 3. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
Fonte: Autor.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
EXAME ABDOMINAL
SENSILIDADE NO
QUADRANTE INFERIOR 65-100 1-92 1,9 0,3
DIREITO
DOR NO PONTO DE
50-94 75-86 3,4 0,4
MCBURNEY
OUTROS SINAIS
SEM
SINAL DO PSOAS 13-42 79-97 2,0
SIGNIFICÂNCIA
SEM SEM
SINAL DO OBTURADOR 8 94
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
ESCORE DE ALVARADO
SEM
5-6 PONTOS 4-48 - -
SIGNIFICÂNCIA
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
SEM SEM
FEBRE 29-44 37-83
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
SENSIBILIDADE NO
QUADRANTE SUPERIOR 60-98 1-97 2,7 0,4
DIREITO
No caso da obstrução intestinal, a maioria dos pacientes apresenta sons intestinais anormais. Logo,
o achado normal dos sons intestinais em um paciente com dor abdominal aguda diminui modestamente
a probabilidade de obstrução intestinal.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
INSPEÇÃO DO ABDOME
SEM
PERISTALTISMO VISÍVEL 6 100 18,8
SIGNIFICÂNCIA
PALPAÇÃO DO ABDOME
SEM SEM
DEFESA ABDOMINAL 20-63 47-78
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
SEM SEM
RIGIDEZ 6-18 75-99
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
AUSCULTA DO ABDOME
SONS INTESTINAIS
40-42 89-94 5,0 0,6
HIPERATIVOS
SONS INTESTINAIS
63-93 43-88 3,2 0,4
ANORMAIS
EXAME RETAL
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
SEM SEM
SENSIBILIDADE AO TOQUE 4-26 72-94
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%)
Achado Achado
presente ausente
SENSIBILIDADE A
57-65 65-86 2,4 0,5
PERCUSSÃO
SONS INTESTINAIS
25-61 44-95 NS 0,8
ANORMAIS
Os sopros abdominais são mais comuns em pessoas com menos de 40 anos do que em idosos.
Alguns tipos de sopro abdominal podem ser considerados fisiológicos, quando têm característica de ser
sistólico, mediano a baixo, mais audível entre o processo xifoide e o umbigo e sem irradiação. Sopros
anormais geralmente são mais afastados do epigástrio.
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) Achado Achado
presente ausente
DETECÇÃO DE
HIPERTENSÃO 27-56 89-96 5,6 0,6
RENOVASCULAR
DETECÇÃO DE
HIPERTENSÃO 39 99 38,9 0,6
RENOVASCULAR
Fonte: Adaptado de McGee7
CASO CLÍNICO
História clínica
F.A.V., sexo masculino, 74 anos, procedente e residente em Santana do Acaraú, Ceará, pardo,
casado, aposentada, evangélico, com escolaridade ensino fundamental incompleto. Procura serviço
hospitalar devido à “pele amarelada e dor na barriga”, trazido pela esposa.
Paciente relata que há 3 semanas iniciou dor em epigastro e hipocondrio direito, constante, sem
relação com ingestão alimentar e sem fatores de piora. Relata melhora parcial ao uso de analgésicos.
Refere também quadro de colúria há 2 semanas. O que mais o preocupou foi a coloração amarelada da
pele e olho, iniciada há 7 dias, acompanhada de prurido, que melhorou ao uso de hidratantes, mas não
cessou. Esposa relata que há 6 meses paciente não se sente bem, relata que ele apresenta fadiga e
indisposição – o que a preocupou, pois é o homem trabalhador –, mas não quis logo procurar auxílio
médico. Relata perda de peso nesse período, cerca de 6 kg. Paciente nega alterações de hábito
intestinal, relata hiporexia, Nega febre, nauseas e vômitos. Nega disfagia, odinofagia.
Medicações em uso: Captopril 25 mg (1-0-0), Hidroclorotiazida 25 mg (1-0-0)
Antecedentes pessoais: Hipertenso há 12 anos. Nega cirurgias anteriores.
Hábitos: Tabagismo: 30 maços/ano, cessado tabagismo a 20 anos. Etilista – consumo de 1000 ml de
destilado durante finais de semana.
Antecedentes familiares: Sem antecedentes familiares relevantes.
Exame Físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Regular estado geral, hipocorado (++/4+), hidratado, acianótico, ictérico
de mucosa e escleras (++/4+) e afebril, emagrecido, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 65 bpm, FR 18 irpm, Tax 36,5°C, PA 120 x 70 mmHg, em decúbito e sentado, no
membro superior esquerdo.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: Orientado em tempo-espaço, Miniexame do estado mental (MEEM) 27 pontos –
perdeu pontos na evocação de palavras. Sem alterações de pares cranianos, massa muscular
hipotrófica, tônus e força preservada. Sinal de Romberg negativo, sem déficit de sensibilidade
vibratória, tátil superficial e térmica. Reflexos preservados. Marcha atípica.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico, expansibilidade e frêmito toracovocal
normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos
adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular patológica,
ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome plano, sem abaulamentos, retrações ou
cicatrizes, RHA presentes. À percussão timpanismo com macicez em área hepática. Traube livre.
Hepatomegalia dolorosa de consistência endurecida, contornos regulares e borda romba 5 cm abaixo
do rebordo costal direito e epigastro, sem refluxo hepato-jugular. Sinal de Murphy positivo. Ausência de
ascite.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem alterações de cianose. Presença de xerose cutânea.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: ausência de achados relevantes.
Exames Complementares
Exames laboratoriais:
Discussão
A icterícia é a manifestação visível da hiperbilirrubinemia e, em geral, pode ser notada no exame
físico quando a bilirrubina sérica exceder de 2 a 2,5 mg/dL. O ensino tradicional relativo ao paciente
ictérico divide o mecanismo de hiperbilirrubinemia em pré (excesso de produção de bilirrubina), intra e
extra-hepático (como na obstrução biliar). Na maioria dos pacientes com icterícia, talvez seja
clinicamente mais útil pensar em doença hepática ou biliar que cause hiperbilirrubinemia conjugada
(direta), porque isso representa a maioria das causas clinicamente importantes de icterícia.
O termo hiperbilirrubinemia não conjugada (indireta) é usado quando a bilirrubina conjugada (ou
fração direta) não excede 15% da bilirrubina total, o que quase sempre é causado por hemólise ou por
síndrome de Gilbert. Nessas doenças, a bilirrubina sérica é quase sempre < 5 mg/dL e geralmente não
há outros sinais clínicos de hepatopatia. Além disso, não deve haver bilirrubinúria (somente a bilirrubina
conjugada pode ser filtrada e excretada pelos rins). A hemólise, com frequência, é clinicamente
aparente, como na anemia falciforme ou na anemia hemolítica autoimune. A síndrome de Gilbert é uma
doença benigna causada por deficiência de conjugação enzimática hepática da bilirrubina, que resulta
em hiperbilirrubinemia não conjugada intermitente. A concentração de bilirrubina total normalmente é < 4
g/dL, e a condição, em geral, é precipitada por eventos como estresse, jejum e doença febril. Ela não
está associada à disfunção hepática e não necessita de tratamento.
A hiperbilirrubinemia conjugada (direta) quase sempre reflete doença hepatocelular ou obstrução
biliar. Essas duas condições clínicas podem ser diferenciadas pelo padrão de elevação das enzimas
hepáticas. A elevação dos níveis séricos de AST e de ALT é característica de lesão hepatocelular
resultante de inflamação/destruição dos hepatócitos e de liberação das enzimas no sangue. O nível
sérico de fosfatase alcalina aumenta na colestase como consequência de inflamação, de destruição ou
de obstrução dos duetos biliares intra e extra-hepáticos, poupando relativamente os hepatócitos. Os
níveis séricos de AST e ALT podem estar levemente aumentados na colestase, mas em geral não, até
os níveis observados na lesão hepatocelular aguda primária. Outros exames, como albumina sérica e
TP, comumente refletem a capacidade de os hepatócitos sintetizarem proteínas, como os fatores de
coagulação. Quando são anormais, geralmente refletem doença hepatocelular aguda primária.
O paciente discutido neste caso tem indícios de colestase e o primeiro exame diagnóstico em um
paciente com colestase geralmente é a ultrassonografia. Ela não é invasiva e é muito sensível na
detecção de cálculos na vesícula e de dilatação biliar intra e extra-hepática. No entanto, cálculos
obstrutivos que causam icterícia normalmente estão associados à dor epigástrica em cólica ou no
quadrante superior direito. Dilatação extra-hepática sem evidência de cálculos exige análise com
tomografia computadorizada ou colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) para detectar
cálculos ocultos ou estenoses e excluir causas malignas de obstrução do ducto biliar comum e do ducto
pancreático, incluindo colangiocarcinoma, câncer de pâncreas e câncer da ampola (ampola de Vater).
Outras causas possíveis são estenoses, que podem resultar de cirurgia biliar anterior, doenças
inflamatórias prévias, como pancreatite (raramente), doenças inflamatórias da árvore biliar ou infecção,
no caso de pacientes com HIV. As duas doenças primárias mais importantes são colangite esclerosante
primária e cirrose biliar primária.
As complicações da obstrução biliar incluem colangite aguda, como resultado de infecção
ascendente, ou cirrose hepática secundária, se a obstrução for crônica ou recidivante. No caso citado, o
paciente tem icterícia indolor, enzimas hepáticas, que indicam processo colestático, e fezes claras, que
sugerem obstrução do fluxo de bile para o intestino. Em virtude de ele não ter história de cirurgia
abdominal ou biliar que poderiam causar estenose, tumor maligno é a causa mais provável da obstrução
biliar. O tumor maligno mais comum que se manifesta desse modo é o câncer pancreático. O paciente
com tal quadro clínico deve ser submetido a um exame de imagem do abdome, que inclui
ultrassonografia do quadrante superior direito, para avaliar a árvore biliar, assim como tomografia
computadorizada ou ressonância magnética (RM), para visualização do pâncreas. A ultrassonografia
endoscópica com aspiração por agulha fina precisa no estabelecimento de diagnóstico histológico.
De acordo com o INCA-MS, em 2017, o câncer de pâncreas foi a quinta maior causa de morte no
sexo feminino e sétimo no sexo masculino. O pico da incidência é na sétima década da vida, com dois
terços dos casos ocorrendo em pessoas com idade acima de 65 anos. Há uma leve predominância
masculina e incidência mais alta na população negra. A média de sobrevida é de nove meses, sendo
que apenas 3% dos doentes sobrevivem por cinco anos. Metástases clinicamente aparentes são
encontradas em 80% dos pacientes na ocasião do diagnóstico. Em pacientes sem metástases óbvias, a
melhor esperança de cura é a ressecção cirúrgica por duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple)
que, em mãos experientes, tem mortalidade perioperatória de < 5%. O índice de recidiva do câncer é
alto, mesmo que o tumor seja considerado ressecável, e muitos programas de tratamento incluem
quimioterapia neoadjuvante. Tratamento paliativo alternativo inclui colocação de stent em ducto
pancreático e biliar comum para aliviar a obstrução.
Sintoma-guia: Icterícia
Diagnóstico sindrômico: Icterícia colestática
Diagnóstico anatômico/topográfico: Colestase biliar
Diagnósticos diferenciais:
• Coledocolitiase
• Estenose de colédoco
• Crrose biliar primária (CBP)
• Colangite esclerosante primária (CEP)
• Tumor de Cabeça de Pâncreas
• Tumor de Ampola de Vater
• Colangiocarcinoma
Hipotese diagnóstica: Tumor periampular
Pontos importantes
1. PARA MELHOR AVALIAÇÃO DO ABDOME, PODEMOS DIVIDI-LO TOPOGRAFICAMENTE EM
NOVE REGIÕES: HIPOCÔNDRIO DIREITO, EPIGÁSTRIO, HIPOCÔNDRIO ESQUERDO,
FLANCO DIREITO, MESOGÁSTRIO, FLANCO ESQUERDO, FOSSA ILÍACA DIREITA,
HIPOGÁSTRIO E FOSSA ILÍACA ESQUERDA;
2. No exame do abdome, recomenda-se que a ausculta seja a segunda etapa, após a inspeção;
3. O encontro de sopros na ausculta abdominal é indicativo de situações patológicas como
isquemia intestinal, obstrução parcial da luz de um vaso ou aneurisma de aorta abdominal.
REFERÊNCIAS
1. LOPEZ M. SEMIOLOGIA MÉDICA: AS BASES DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO. 5. ED. RIO DE JANEIRO: REVINTER; 2004.
2. Porto CS. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014.
3. Bickley lS. Bates: Propedêutica Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Meneghelli UG, Martilnelli ALC. Principios de semiotécnica e de interpretação clínica do abdômen. Simpósio semiologia, Capítulo IX.
Medicina, Ribeirão Preto. 2014; 37: 267-85.
5. Toy EC, Patlan Jr JT. Casos clínicos em medicina interna. Porto Alegre: AMGH; 2014.
6. Moura CAGG. Raciocínio clínico: diagnóstico diferencial à beira do leito. 1. ed. Salvador: Sanar; 2018.
7. McGee, Steven R. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th [edition]. | Philadelphia, PA: Elsevier, [2018]
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. PALPAÇÃO
Constitui uma etapa de fundamental importância na propedêutica abdominal, pois, por seu
intermédio, colhem-se informações essenciais para a elaboração do raciocínio clínico com o fim de se
realizar o diagnóstico. Permite tanto a avaliação das características da parede abdominal e do seu
conteúdo quanto pode reforçar a relação médico-paciente por meio do contato físico do examinador e o
paciente.
Tem como objetivo os seguintes itens:
• AVALIAR O ESTADO DA PAREDE ABDOMINAL;
b. Reconhecer as condições anatômicas das vísceras abdominais e detectar alterações de sua
consistência;
c. Explorar a sensibilidade abdominal.
Importante observar que, em condições normais, não se consegue distinguir, pela palpação, todos
os órgãos abdominais. Com o objetivo de sistematizar a palpação abdominal, seguiremos a seguinte
ordem:
a. Palpação superficial;
a. Palpação profunda (Inclui a palpação dos órgãos abdominais);
a. Manobras especiais de palpação.
2.1. Técnica
A palpação deve ser realizada com o examinador em pé, ao lado direito do paciente, em mesa de
exame provida com um pequeno travesseiro que apoie cabeça e ombros com membros superiores
estendidos ao longo do tronco, além dos membros inferiores estendidos e descruzados. As mãos do
examinador não devem estar frias, sendo recomendado aquecê-las. O paciente deve ser orientado a se
manifestar caso sinta dor ou qualquer sensação desagradável; para isso o examinador também deve
estar atento às fácies do paciente durante a palpação abdominal.
Podem ser realizar as formas: mono ou bimanual, mono ou bidigital, e com as mãos superpostas.
a. Palpação monomanual: Utilizada para avaliar a parede abdominal. O examinador palpa com
delicadeza toda a região do abdome. Toda a face palmar da mão deve tocar o abdome do
paciente. A tonicidade da musculatura e a sensibilidade devem ser avaliadas durante o
movimento de flexão dos quatro dedos externos, exceto polegar, que comprimem levemente a
parede;
a. Palpação bimanual: Utilizada para avaliar o conteúdo abdominal. As duas mãos podem atuar
de modo ativo ou uma de modo ativo e outra de modo passivo. Quando ambas atuarem de modo
ativo, as extremidades distais dos dedos devem formar uma linha reta. A mão passiva deve
relaxar a parede abdominal e estabelecer um ponto de apoio;
a. Palpação mono ou bidigital: Utilizada para localizar pontos sensíveis na parede abdominal,
explorar orifício herniários e determinar o sentido de circulação colateral.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Quadro 1. Descrição dos principais pontos abdominais
PONTOS
LOCALIZAÇÃO IMPORTÂNCIA
ABDOMINAIS
Além dos pontos dolorosos citados, é importante o examinador estar atento a dores referidas, ou
seja, que são provenientes de processos abdominais, mas que podem desencadear estímulo doloroso
em regiões extra-abdominais ou são processos extra-abdominais que desencadeiam estímulos
dolorosos na região abdominal. Destacando as seguintes situações:
• DOR EM OMBRO DIREITO E (OU) DORSO: PODE ESTAR RELACIONADA À COLECISTITE
AGUDA;
b. Dor epigástrica: Pode estar relacionada à angina miocárdica;
c. Dor em ombro esquerdo: Pode estar relacionada à irritação subdiafragmática esquerda, como
abscessos ou peritonite localizada (Sinal de Kher);
d. Dor em saco escrotal: Pode estar relacionada à migração de cálculo renal ao longo do trajeto
ureteral.
A continuidade da parede abdominal é avaliada deslocando-se a mão por toda a superfície da
parede, buscando se há a presença de diástases e hérnias.
a. Localização;
a. Forma;
a. Volume;
a. Sensibilidade;
a. Consistência;
a. Mobilidade;
a. Pulsatilidade.
2.1.3. Palpação do fígado
Existem várias técnicas utilizadas para a palpação hepática. O procedimento fundamental consiste
em palpar o hipocôndrio direito e o epigástrio, executando a palpação junto ao rebordo costal direito
coordenada com os movimentos respiratórios. Durante a expiração, a mão do examinador ajusta-se à
parede abdominal, sem fazer compressão ou se movimentar. Durante a inspiração, a mão do
examinador, ao mesmo tempo em que comprime, é movimentada para cima, buscando detectar a borda
hepática.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
CARACTERÍSTICA ALTERAÇÕES
a. FINA
BORDA a. ROMBA
a. NORMAL
SUPERFÍCIE
a. REGULAR
a. IRREGULAR
SENSIBILIDADE
a. DOLOROSO
a. INDOLOR
a. NORMAL
CONSISTÊNCIA a. FIRME
(AUMENTADA)
a. DIMINUÍDA
REFLUXO a. PRESENTE
HEPATOJUGULAR
a. AUSENTE
AUSCULTA
a. COM SOPRO
a. SEM SOPRO
HEPATITE
ESTEATOSE ICC CIRROSE METÁSTASE CÂNCER
VIRAL
Refluxo
AUSENTE PRESENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE
Hepatojugular
HEPATITE
ESTEATOSE ICC CIRROSE METÁSTASE CÂNCER
VIRAL
COM
Ausculta - - - - -
SOPRO
3. PERCUSSÃO
Constitui um complemento à palpação. Por seu intermédio, pode-se identificar a presença de ar livre,
líquidos e massas intra-abdominais. Também é útil para dimensionar órgãos maciços como fígado e
baço. Deve-se iniciar sempre fora da área de maior sensibilidade, estendendo-se a todo o abdome com
a mesma intensidade.
3.1. Técnica
• COM O DEDO MÉDIO DE UMA DAS MÃOS EM HIPEREXTENSÃO (FLEXÍMETRO), APOIE A
ARTICULAÇÃO INTERFALANGIANA DISTAL FIRMEMENTE NA REGIÃO A SER PERCUTIDA.
EVITE O CONTATO DA SUPERFÍCIE A SER PERCUTIDA COM QUALQUER OUTRA REGIÃO DA
MÃO;
b. Posicione o antebraço direito da outra mão próximo à superfície, com a mão levantada. O dedo
médio deve ficar parcialmente fletido, levantado e suspenso, pronto para golpear;
c. Mantenha as articulações do ombro e cotovelo fixos e, com a mão que irá percutir, golpeie com
a ponta do dedo médio (plexor) o dedo médio (plexímetro) que está apoiado na superfície, mirando
na articulação interfalangiana distal;
d. O dedo que golpeia deve estar quase em ângulo reto com o dedo que é golpeado. É
recomendado que se mantenha as unhas curtas para não se machucar ou, por ventura, machucar o
paciente;
e. Afaste rapidamente o dedo que golpeia, para evitar abafar as vibrações que foram criadas.
b) Sinal de Jobert
Representa a presença de ar na região hepática, que pode decorrer de uma interposição de alça
intestinal e pneumoperitôneo. É observado pelo examinador quando ocorre a presença de som
timpânico ou hipertimpânico na região de projeção hepática.
c) Sinal de Torres-Homem
Ocorre quando o paciente refere dor abdominal em região do hipocôndrio direito quando o
examinador realiza a percussão sobre a projeção da área hepática. Está relacionado a processos
infecciosos, como abscesso hepático.
a) Sinal do Piparote
A face palmar de uma das mãos é posicionada em um dos flancos do paciente e com a outra mão o
examinador dispara “piparotes” no outro flanco do paciente. O abalo produzido pelos piparotes é
transmitido ao líquido ascítico e percebidos pela palma da mão posicionada no flanco oposto. Para que
as ondas não sejam transmitidas ao lado oposto pela parede abdominal, o paciente ou um assistente
posiciona a borda cubital da sua mão na linha mediana do abdome. Esse sinal é característico de
grandes ascites, não sendo efetivo em ascites de médio ou pequeno volume.
b) Semicírculos de Skoda
Com o paciente em decúbito dorsal, o líquido ascítico tende a se depositar nas regiões de flanco e
hipogastro; assim, uma percussão realizada desde o epigastro em direção aos flancos e andar inferior
do abdome, revelará uma transição do som timpânico para o maciço ou submaciço, formando uma linha
semicircular com concavidade voltada para região epigástrica.
c) Macicez Móvel
Quando uma ascite de médio volume, o líquido livre na cavidade peritoneal se acumula em flancos.
Assim, a percussão dessa região se mostrará com macicez ou submacicez. Posicionando o paciente
em decúbito lateral, direito ou esquerdo, o líquido livre se deslocará para a posição do decúbito e o
lado contralateral será esvaziado, apresentando, então, uma percussão timpânica.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
HEPATOMEGALIA E ESPLENOMEGALIA
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado Achado
presente ausente
Fígado
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado Achado
presente ausente
Baço
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado Achado
presente ausente
Vesícula Biliar
OBSTRUÇÃO BILIAR EM
31 99 26.0 0,7
PACIENTES COM ICTERÍCIA
OBSTRUÇÃO MALIGNA EM
PACIENTES COM ICTERÍCIA 26-55 83-90 2,6 0,7
OBSTRUTIVA
Bexiga
Aorta
MASSA PULSÁTIL
EPIGÁSTRICA – DETECTAR
22-68 75-99 8,0 0,6
ANEURISMA DE AORTA
ABDOMINAL
PESQUISA DE ASCITE
Razão de
Inspeção
ABAULAMENTO DE
73-93 44-70 1,9 0,4
FLANCOS
Palpação e percussão
PESQUISA DE ASCITE
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%)
Achado Achado
presente ausente
CASO CLÍNICO
História clínica
P.H.S., sexo masculino, 25 anos, procedente e residente em Viçosa do Ceará, pardo, solteiro,
agricultor, católico, ensino fundamental incompleto. Vem ao pronto-atendimento com queixa de “febre há
2 meses”.
O paciente refere que, há 2 meses, iniciou quadro de febre persistente, não mensurada, inicialmente
com dois picos diários, sem horário preferencial, cedendo ao uso de antipiréticos comuns, intercalada
por breves períodos de apirexia (2-3 dias). Associado ao quadro de febre, refere astenia e hiporexia,
com perda ponderal estimada em 7 kg. Além disso, relata náuseas, sem vômitos ou alteração do hábito
intestinal, tosse seca, sem horário preferencial, que piora ao decúbito dorsal e melhora ao uso de
medicações caseiras. Há um mês, o paciente também refere que notou aumento importante do volume
abdominal, apesar da perda de peso. Procurou atendimento no PSF de origem, sendo solicitados
exames laboratoriais.
Medicações em uso: TARV “3 em 1” (Tenofovir 300 mg, Lamivudina 300 mg e Efavirenz 600 mg);
Dipirona 500 mg, se febre.
Antecedentes pessoais: Paciente soropositivo, diagnosticado há 2 anos, atualmente com carga viral
indetectável. Nega outras comorbidades, cirurgias e alergias.
Hábitos: Nega etilismo e tabagismo.
Antecedentes familiares: Mãe, 40 anos, sem relatos de importância clínica. Pai falecido aos 50 anos
por causas externas.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, hipocorado (2+/4+), desidratado (+/4+),
acianótico, anictérico, febril ao toque, desnutrido, eupneico, consciente, orientado.
Dados vitais: FC 108 bpm, FR 16 irpm, Tax 38,1°C, PA 100x80 mmHg, em decúbito e sentado, no
membro superior direito.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: orientado em tempo e espaço, sem achados relevantes.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico, expansibilidade e frêmito toracovocal
normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem ruídos
adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular patológica,
ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sopro sistólico pancardíaco, 2+/6+.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome globoso, sem abaulamentos, retrações ou
cicatrizes, RHA presentes, flácido, macicez de flancos, doloroso a palpação profunda difusamente,
hepatimetria 15 cm, espaço de Traube ocupado, hepatoesplenomegalia palpável (fígado palpável a 3
cm do rebordo costal direito e baço palpável a 6 cm do rebordo costal esquerdo).
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem alterações de cianose. Presença de edema nos membros inferiores
com sinal do cacifo 2+/4+.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: hipotrofia muscular.
Exames complementares
Exames laboratoriais: Hb 7,8 g/dL, Ht 19%, leucócitos 1.800, plaquetas 78.000, creatinina 0,9 mg/dL,
ureia 22 mg/dL, sódio 127 mg/dL, potássio 4,1 mg/dL, albumina sérica 2,2 g/dL, globulina 6,8 g/dL,
bilirrubinas totais 0,9 mg/dL (direta 0,52 mg/dL, indireta 0,38 mg/dL), TGO 52 U/L, TGP 55 U/L.
Pesquisa de anticorpos contra o antígeno recombinante k39 positiva. Sorologias virais para HIV e
hepatites negativas.
Pontos de discussão
1. QUAL É O SINTOMA-GUIA? E COMO INVESTIGÁ-LO?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Discussão
Nosso paciente se apresenta com queixa principal de febre, que será nosso sintoma-guia. Contudo,
não estamos falando de qualquer paciente com febre, mas de um paciente procedente de uma região
endêmica de várias doenças febris infecciosas, um dado importante da identificação do paciente que
contribui de forma muito significativa para nosso raciocínio clínico. E, além disso, estamos falando
também de um paciente soropositivo com febre, uma informação muito valiosa sobre o status
imunológico do paciente que corrobora o pensamento anterior de doenças febris infecciosas.
Além uma síndrome febril clássica, temos também um paciente com síndrome consumptiva e tosse
seca. Vale lembrar que a perda de peso é considerada significativa quando maior que 5% do peso
habitual no período de 6 a 12 meses. Uma perda ponderal maior que 10% já corresponde a um estado
de desnutrição. Então, temos um paciente soropositivo, com febre, tosse seca e perda de peso, de
evolução subaguda (os sintomas se iniciaram há 2 meses). Esse quadro clínico é muito sugestivo de
uma doença que é cerca de 100 vezes mais frequente nesse paciente do que na população em geral: a
tuberculose. Poderia e deveria ser nossa principal hipótese diagnóstica, mas o exame físico do nosso
paciente não fortalece nosso raciocínio, pois o exame pulmonar é normal e as principais alterações
aparecem no exame do abdome.
Temos um paciente desnutrido, hipocorado e com sopro sistólico pancardiaco, portanto, anêmico.
Além de um rico exame abdominal: abdome globoso e com macicez de flancos, que se traduz
clinicamente em presença de ascite, e hepatoesplenomegalia palpável. Nesse momento, outro leque de
hipóteses diagnósticas deve estar em nossa mente: doenças febris infecciosas, como a
esquistossomose, a leishmaniose visceral, a malária e a doença de Chagas, e doenças hematológicas,
como as leucemias.
Dentre as hipóteses levantadas, a história clínica e o exame físico direcionam nosso raciocínio para
a leishmaniose visceral, pela epidemiologia, já que é doença endêmica no Estado do Ceará, e para as
leucemias, que até então não podem ser descartadas. Nesse momento, precisamos de ajuda de alguns
exames complementares. Pelos exames laboratoriais apresentados no caso, temos duas alterações
muito importantes: pancitopenia e inversão da relação albumina/globulina. Precisamos de mais algum
exame? A rigor, nosso paciente tem indicação de uma punção aspirativa de medula óssea (mielograma)
ou biopsia de medula óssea para investigação da pancitopenia. Esses exames seriam mandatórios se
um outro exame apresentado no caso não estivesse disponível ou não fosse esclarecedor, que é a
pesquisa de anticorpos contra o antígeno recombinante k39, cujo resultado no nosso paciente foi
positivo. O antígeno k39 é uma sequência de aminoácidos clonada da Leishmania chagasi, complexo
donovani-específico. Portanto, podemos fechar o diagnóstico de leishmaniose visceral.
A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença infecciosa sistêmica
causada por um protozoário do gênero Leishmania, considerada doença de notificação compulsória em
todo o território nacional. No Brasil, o principal agente etiológico é a Leishmania chagasi, transmitida
pelo inseto vetor flebotomíneo chamado Lutzomyia longipalpis, popularmente conhecido como
“mosquito palha”, “cangalhinha” e “birigui”. Apesar de a grande maioria dos casos evoluir para a cura
clínica, a letalidade ainda é elevada em crianças e indivíduos acima de 60 anos, bem como em adultos
jovens, nos casos de coinfecção com o vírus HIV.
O diagnóstico é feito com base no quadro clínico e epidemiológico. Nos exames de laboratório, as
alterações que mais chamam a atenção são a pancitopenia e a inversão da relação albumina/globulina.
Outras alterações são inespecíficas, como elevação discreta das aminotransferases hepáticas e
bilirrubinas. Os exames parasitológicos são considerados métodos de referência no diagnóstico da
leishmaniose visceral, mas necessitam de procedimentos invasivos. A confirmação da doença pode ser
feita pela demonstração direta em esfregaços ou cultivo do parasito obtido de baço, fígado, medula
óssea ou linfonodos, com sensibilidade variando de 95 a 98% para o aspirado de baço, 76 a 91% para
o de fígado, 52 a 89% para o de medula óssea e 52 a 69% para o de linfonodos. Os testes sorológicos
para detecção de anticorpos, como a pesquisa de anticorpos para o antígeno recombinante k39,
utilizam métodos sensíveis e específicos, de fácil execução e interpretação, permitindo o diagnóstico
acurado e rápido da LV, principalmente nas localidades onde o acesso a exames laboratoriais mais
complexos é limitado.
O tratamento de escolha é o antimoniato de N-metil glucamina (glucantime), na dose de 20
mg/kg/dia de 20 a 40 dias consecutivos, por via intramuscular ou intravenosa. Por sua cardiotoxicidade,
hepatotoxicidade e nefrotoxicidade, é contraindicada em gestantes, cardiopatas, pacientes com
insuficiência renal e em uso de betabloqueadores. O tratamento de segunda linha é feito com a
anfotericina B (desoxicolato ou anfotericina lipossomal). Para o tratamento da coinfecção Leishmania-
HIV na forma visceral, a anfotericina B lipossomal é a droga de primeira escolha.
Sintoma-guia: Febre.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome febril, síndrome consumptiva.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Sistema hematopoiético.
Diagnósticos diferenciais:
a. Leishmaniose visceral
a. Esquistossomose
a. Malária
a. Doença de Chagas
a. Leucemias
Hipotese diagnóstica: Leishmaniose visceral.
Pontos importantes
a.
DURANTE O EXAME DO ABDOME, O PACIENTE DEVE SER AVALIADO EM DECÚBITO
DORSAL COM MEMBROS SUPERIORES ESTENDIDOS AO LONGO DO TRONCO COM UM
PEQUENO TRAVESSEIRO QUE APOIE CABEÇA E OMBROS, E MEMBROS INFERIORES
ESTENDIDOS E DESCRUZADOS;
a.
NO PACIENTE COM DOR ABDOMINAL, A PALPAÇÃO ABDOMINAL INICIA-SE FORA DA ÁREA
INDICADA COMO MAIS SENSÍVEL;
a.
ALGUMAS DOENÇAS DE VÍSCERAS ABDOMINAIS PODEM SE MANIFESTAR COM DOR
EXTRA-ABDOMINAL, E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS SEMPRE DEVEM SER LEVANTADOS;
a.
AO CONTRÁRIO DO FÍGADO, QUE PODE SER PALPÁVEL EM CONDIÇÕES NORMAIS, O
BAÇO SOMENTE É PALPÁVEL EM CONDIÇÕES PATOLÓGICAS;
a.
NAS REGIÕES ENDÊMICAS, EM PACIENTE COM SÍNDROME FEBRIL,
HEPATOESPLENOMEGALIA E PANCITOPENIA, É MANDATÓRIA A INVESTIGAÇÃO DE
LEISHMANIOSE VISCERAL.
REFERÊNCIAS
1. LOPEZ M. SEMIOLOGIA MÉDICA: AS BASES DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO. 5. ED. RIO DE JANEIRO: REVINTER; 2004.
2. Porto CS. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014.
3. Bickley lS. Bates: Propedêutica Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015.
4. Meneghelli UG, Martilnelli ALC. Princípios de semiotécnica e de interpretação clínica do abdômen. Simpósio semiologia, Capítulo IX.
Medicina, Ribeirão Preto. 2014; 37: 267-85.
5. Cavalcante IJM, Vale MR. Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral (calazar) no Ceará no período de 2007 a 2011. Rev Bras
Epidemiol. 2014; 17(4): 911-24.
6. Assis TSM, Braga ASC, Pedras MJ, Barral AMP, Siqueira IC, Costa, CHN, et al. Validação do teste imunocromatográfico rápido IT-
LEISH® para o diagnóstico da leishmaniose visceral humana. Epidemiol Serv Saúde. 2008;17(2):107-16.
7. McGee, Steven R. Evidence-based physical diagnosis. 4th [edition]. Philadelphia, PA: Elsevier, [2018]
A história clínica é o pilar do diagnóstico médico e o diagnóstico neurológico não é uma exceção.1
Em poucos ramos da medicina é possível elaborar, através da história clínica e do exame físico, um
diagnóstico topográfico tão preciso quanto na Neurologia. Talvez por isso mesmo o exame neurológico
seja considerado por muitos como domínio do especialista. Contudo, a disfunção neurológica é a
primeira manifestação de muitas doenças sistêmicas, e as disfunções mais comuns podem e devem ser
diagnosticadas e tratadas por médicos na clínica geral.
Pela multiplicidade de sinais e variações na interpretação, uma abordagem sistematizada é
essencial. O exame, entretanto, não tem de ser realizado em nenhuma sequência específica, e todo
médico, com a experiência, desenvolve sua própria rotina.
Vamos sugerir a sistematização do exame neurológico em nove etapas:
Vale ressaltar que nem todos os pacientes necessitarão de um exame neurológico completo, mas,
em todos eles, devemos realizar um exame de triagem. Durante a triagem, anormalidades ou sintomas
específicos devem levar a avaliações mais completas.
Apresentamos, a seguir, quais seriam os componentes de um exame neurológico de triagem:1
2.1.2. Consciência5
As estruturas responsáveis por manter o indivíduo consciente estão localizadas no tronco cerebral,
no diencéfalo e no córtex cerebral. Consciência aqui deve ser entendida fundamentalmente como o
estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. O córtex cerebral é incapaz de funcionar por si
próprio de maneira consciente. Para isto depende de impulsos ativadores que recebe da formação
reticular do tronco encefálico, a partir do que se criou o conceito de sistema ativador reticular
ascendente (SARA), importante na regulação do sono e da vigília. O SARA é um conjunto de fibras
nervosas, originadas posteriormente ao tronco encefálico, que se estendem ao longo do bulbo, ponte e
mesencéfalo.
Podemos avaliar a consciência a partir de dois aspectos: o nível de consciência – ou estado de
vigília – e o conteúdo da consciência, incluindo funções cognitivas, atenção e respostas afetivas que
geram a consciência de si e do ambiente. O estado de vigília depende da ativação elétrica do córtex
cerebral pelo diencéfalo através do SARA e os distúrbios relativos ao conteúdo da consciência
acometem funções ao nível do córtex cerebral e conexões subcorticais. Alterações estruturais e não
estruturais podem ser causa dos distúrbios da consciência.
2.1.3. Cognição
O termo cognição vem da raiz latina cognoscere, que significa “conhecer”. Quando falamos de
cognição nos referimos ao acúmulo e processamento de informações que adquirimos através da
percepção, aprendizagem e experiência. Muitas funções mentais estão envolvidas nesse processo:
percepção, atenção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, tomada de decisões,
pensamento e linguagem. A avaliação da cognição faz parte do exame do estado mental e é
particularmente útil para distinguir doença neurológica e psicológica e ainda para determinar a
coexistência de ambas.
A memória, particularmente avaliada no exame neurológico, é a capacidade de registrar, armazenar
e reter informação, podendo estar prejudicada por doença cortical difusa ou doença bilateral do lobo
temporal.6 Está intimamente relacionada às demais funções complexas do encéfalo, como a vigília, a
atenção e as funções afetivas. Portanto, a memória não pode ser atribuída a uma única região
encefálica, mas depende de múltiplos circuitos neuronais inatos e adquiridos.3
A avaliação da memória se dá por meio do teste da memória imediata (operacional), da memória
recente (de médio prazo) e da memória remota (de longo prazo), as quais correspondem, de modo
geral, ao registro, à armazenagem e à recuperação da informação, respectivamente. A memorização
de uma sequência de números é um teste da memória imediata e de atenção, no qual o conteúdo não é
realmente registrado na memória e supõe-se que seria decorrente de atividade neural contínua. Quanto
ao substrato anatômico da memória recente, reconhece-se a função do sistema hipocampo-mamilar,
parte do circuito de Papez, e da memória de longo prazo, as áreas associativas neocorticais, com
particular importância para o hipocampo. Acredita-se que o hipocampo seja responsável pela função de
estabelecer novas memórias de longo prazo – lesão do hipocampo gera amnésia anterógrada.
Amnésia é a alteração da memória e do aprendizado em proporções maiores que das demais
funções cognitivas em um paciente sem alteração do nível de consciência. Nos processos orgânicos
cerebrais, o esquecimento ocorre dos fatos mais recentes para os mais antigos, e a recuperação dá-se
no sentido inverso, seguindo o denominamos de lei de Ribot. O quadro a seguir descreve os principais
tipos de amnésia.
TIPOS DE AMNÉSIA
Caracterizada pela
dificuldade ou
impossibilidade de evocar
eventos anteriores à doença.
Observa-se que a
dificuldade é maior para
Amnésia recordar eventos que
ocorreram imediatamente
retrógrada antes da doença, enquanto a
memória mais remota é
preservada. Essa
dissociação temporal é
observada principalmente na
amnésia pós-traumática e
pós-eletroconvulsoterapia.
Caracterizada pela
impossibilidade de adquirir
novas memórias e pelo
apagamento parcial ou total
Amnésia dos eventos antigos já
consolidados. Decorre de
global lesões mais difusas e,
geralmente, faz parte de
quadros demenciais. O
quadro de esquecimento
segue a Lei de Ribot.
Espontânea 4
Após estímulo verbal 3
Abertura ocular Após pressão 2
Ausente 1
Não testável NT
Resposta orientada 5
Resposta confusa, porém coerente 4
Melhor resposta Palavras inapropriadas/ininteligíveis 3
verbal Apenas sons incompreensíveis 2
Nenhuma resposta verbal 1
Não testável NT
a) Material necessário
Escala de Glasgow
b) Orientações Gerais
5. Locais para estimulação física: pressão na extremidade dos dedos, pinçamento do trapézio ou
pressão na incisura supraorbitária;
5. Flexão normal: retirada rápida, variável, com flexão rápida do membro superior ao nível do
cotovelo, padrão predominante não anormal;
5. Flexão anormal: Flexão lenta do membro superior ao nível do cotovelo com aproximação ao
tórax; antebraço com rotação e cerramento do polegar; indicativo de lesão diencefálica;
3. Se presente, este
comportamento variou
durante a entrevista, Sim
isto é, houve Não
tendência a surgir ou Incerto
desaparecer, Não aplicável
aumentar ou diminuir
de gravidade?
4. Se presente ou
anormal, descreva o ______
comportamento.
Alerta (normal)
Vigilante (hiperalerta)
6. Como você classificaria o nível de consciência do Letárgico (sonolento)
Alteração do nível de paciente? Estupor
consciência Coma
Incerto
12. O paciente
apresentou diminuição
anormal da atividade
motora, tais como
letargia, olhar fixo, Sim
permanência na Não
mesma posição por
longo tempo, ou
lentidão exagerada
dos movimentos?
Fonte: Portuguese Version of the Confusion Assessment Method (Adaptada de Inouye et al., 1990,
traduzida e validada11).
Para o diagnóstico de
delirium é necessária a
presença dos critérios A e
B mais a presença do
critério C ou D (A+B+C ou
A+B+D)
Critério B: déficit de
atenção
Marquei sim na pergunta 2
Critério C: pensamento
desorganizado
Marquei sim na pergunta 5
Critério D: alteração do
nível de consciência
Fonte: Adaptado de Sampaio10 e Fabbri11.
a) Orientações Gerais
Para o diagnóstico de delirium é necessária a presença de início agudo e curso flutuante mais a
presença de pensamento desorganizado ou alteração do nível de consciência.
b) Parâmetros de normalidade
Espera-se que uma pessoa normal não tenha alterações nos domínios avaliados.
PONTUAÇÃO ORIENTAÇÃO
1 Dia da semana
1 Dia do mês
1 Mês
1 Ano
1 Hora aproximada
1 Local específico
1 Instituição
1 Bairro ou rua
1 Cidade
1 País
PONTUAÇÃO REGISTRO
PONTUAÇÃO EVOCAÇÃO
PONTUAÇÃO LINGUAGEM
Copiar um desenho
1
Fonte: Folstein13.
a) Orientações Gerais
5. Os eventuais erros cometidos pelo paciente durante a prova não devem ser corrigidos, pois
esta correção poderá inibi-lo;
5. As perguntas não precisam ser feitas de forma engessada. Perguntas do tipo “posso testar
sua memória?” permitem que a entrevista ocorra mais informalmente, deixando o paciente mais
tranquilo;
5. Na fase de registro, se o paciente não conseguir repetir na primeira vez, você pode ensinar
até aprender, no máximo até 6 vezes;
b) Parâmetros de normalidade
O escore máximo é de 30 pontos, mas o desempenho normal mínimo é variável entre 24 e 27 a
depender da idade e do nível educacional da pessoa. Contudo, um escore normal não exclui de modo
fidedigno demência, pois o teste é insensível e não detecta distúrbios cognitivos discretos,
especialmente em pessoas com maior escolaridade ou em alto nível de funcionamento. Diz-se que os
pacientes estão orientados se sabem quem são, onde estão e a data correta. Pacientes que
conseguem recordar itens apenas com a ajuda de indicações são capazes de reter a informação, mas
não de evocá-la. Já aqueles que não conseguem lembrar mesmo com indicações, tem falhas no
processo de retenção da memória.
Interpretação: pontuação mínima de acordo com a escolaridade: analfabetos – 20 pontos; 1 a 4
anos de estudo – 25 pontos; 5 a 8 anos de estudo – 26 pontos; 9 a 11 anos de estudo – 28 pontos;
superior a 11 anos de estudo: 29 pontos. Fonte: Folstein et al., 1975, modificado por Bertollucci et al.,
1994 e por Brucki et al., 2003.14
Quadro 6. Mini-COG.
MINI-COG
a) Orientações Gerais
5. Na repetição das palavras do passo 1, permitir 3 tentativas;
5. Os dois horários sugerindo no passo 2 são mais sensíveis que os outros;
5. A recusa a desenhar o relógio é tida como anormal;
5. Deve-se avançar para o passo 3 se o relógio não estiver completo ao final de 3 minutos.
b) Parâmetros de normalidade
A recordação das 3 palavras é negativa para déficit cognitivo. Se o paciente recordar 1-2 palavras e
apresentar teste do desenho do relógio normal, o Mini-Cog também é dito negativo. O Mini-Cog é
considerado positivo quando paciente consegue recordar apenas 1-2 palavras recordadas com teste do
desenho do relógio anormal ou quando não consegue recordar nenhuma das palavras.
Fonte: Autor.
Embora o Miniexame do Estado Mental (MEEM) seja o instrumento patenteado mais estudado e
mais utilizado para o rastreio da demência, os outros testes de rastreio são comparativamente eficazes,
são mais fáceis de realizar e estão disponíveis gratuitamente. Merece destaque o Mini-Cog. Alta
sensibilidade destes testes corresponde a alto valor preditivo negativo e é o ideal para excluir demência.
No que diz respeito à investigação de delirium, o CAM é um instrumento com uma boa sensibilidade,
muito boa especificidade, de uso simples e com resultados que sugerem concomitância com os critérios
do DSM-V.
Quanto à avaliação do nível de consciência, a Escala de Coma de Glasgow continua sendo o
instrumento clínica mais utilizado, com grande valor preditivo e sensibilidade para avaliar pacientes em
serviços de emergência. Analises baseadas nos estudos CRASH (Corticosteroid Randomisation After
Significant Head Injury) E IMPACT (International Mission for Prognosis and Clinical Trials in TBI)
confirmaram que a GCS-Pupils score aumenta a sensibilidade da escala, identificando com maior
precisão a probabilidade de desfechos desfavoráveis: a probabilidade de mortalidade em um paciente
com pontuação GCS de 3 aumenta de 51% para 74% e a probabilidade de desfecho desfavorável de
70% a 90% quando a GCS-P é 1.
CASO CLÍNICO
História clínica
C.A.A., sexo feminino, 68 anos, procedente de Parnaíba-PI, negra, divorciada, aposentada,
evangélica, com escolaridade até ensino fundamental incompleto. Vem à consulta, sem acompanhante,
com queixa de “esquecimento”.
A paciente refere que, há 4 meses, apresenta “esquecimento” para fatos recentes, pois está sempre
perdendo objetos dentro de casa e esquecendo os compromissos marcados. Segundo ela, também
confunde as datas do mês e já foi enganada quando faz compras, pois sempre erra o valor final do
troco. Por causa disso, não quer mais sair de casa sozinha, por medo de esquecer o caminho de volta.
Quando questionada sobre fatos de conhecimento geral (como o nome do presidente da República ou
cantores famosos), primeiramente responde que não entende do assunto e, após insistência do
examinador, consegue responder corretamente aos questionamentos. Tal comportamento se repete
quando questionada sobre a infância, ao que primeiro responde que não lembra bem. Refere fadiga e
episódios de palpitação, principalmente à noite, ao deitar. Nesse período, piorou do quadro de insônia
que já sofria há alguns meses, e perdeu cerca de 8 kg, por hiporexia acentuada. Nega outras queixas,
como cefaleia, vertigem, incontinência urinária, distúrbios visuais ou auditivos. Apesar dessas queixas,
mora sozinha e é independente para atividades básicas e instrumentais de vida diária.
Medicações em uso: enalapril 20 mg (1-0-1), hidroclorotiazida 25 mg (1-0-0), espirolactona 25 mg (0-1-
0), carvedilol 3,125 mg (1-0-1), metformina 500 mg (1-1-1), omeprazol 20mg (1-0-0).
Antecedentes pessoais: Hipertensa e diabética de longa data, portadora de doença arterial coronariana,
com revascularização do miocárdio há 5 anos após infarto agudo do miocárdio. G2P2NA0. Menopausa
aos 57 anos. Refere tratamento prévio para depressão com fluoxetina, porém está sem uso da
medicação há 1 ano.
Hábitos: Ex-tabagista (fumou por 20 anos, cessou há 5 anos). Nega etilismo.
Antecedentes familiares: Mãe falecida por complicações de acidente vascular encefálico. Pai falecido,
diagnóstico de Doença de Alzheimer. Irmã, 60 anos, em tratamento para depressão. Irmão, 55 anos,
em acompanhamento psiquiátrico por esquizofrenia.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada, acianótica, anictérica e
afebril, obesa, eupneica, consciente, orientada.
Dados vitais: FC 66 bpm, FR 18 irpm, Tax 36,2°C, PA 140x80 mmHg (aferida no membro superior
direito, com a paciente sentada).
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: desorientação temporal, Miniexame do estado mental (MEEM) 19 pontos – perdeu
pontos na orientação temporoespacial, evocação de palavras e no desenho; pouco cooperativa em
responder aos questionamentos, com respostas do tipo “não sei”. Sem alterações de pares cranianos.
Massa muscular, tônus, força e sensibilidades preservadas. Reflexos preservados.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, cicatriz de cirurgia cardíaca prévia, eupneica,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular
presente reduzido globalmente, com creptos bibasais discretos.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular patológica,
ritmo cardíaco regular, bulhas hipofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome globoso por adiposidade, sem abaulamentos,
retrações ou cicatrizes, ruído hidroaereos presentes, flácido e indolor, ausência de massas ou
visceromegalias palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose. Presença de edema mole, simétrico, com cacifo +/4+, e
veias varicosas nos membros inferiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: rigidez articular em joelhos.
Exames complementares
5. Exames laboratoriais: Hb 12,0 g/dL, Ht 32%, leucocitos 4.800, plaquetas 255.000, creatinina
1,3 mg/dL, ureia 31 mg/dL, sódio 142 mg/dL, potássio 4,0 mg/dL, glicose 140 mg/dL, vitamina
B12 250 pg/dL, TSH 2,74 µUI/mL, sorologias virais e VDRL negativos.
Discussão do caso
A cognição é o conjunto de habilidades mentais, que permitem ao indivíduo compreender e resolver
os problemas do cotidiano. São diversas as funções cognitivas: memória, atenção, linguagem, funções
executivas e habilidades visuoconstrutivas. Diante da queixa de esquecimento no idoso, relatada pelo
paciente ou por acompanhante, deve-se abordar amplamente o sintoma em busca de distinguir
mudanças fisiológicas associadas ao envelhecimento de um declínio cognitivo patológico.
No caso em questão, estamos diante de uma paciente com perda de memória, que constitui a queixa
principal e o nosso sintoma-guia. Na avaliação desse sintoma, devemos distinguir qual ou quais
elementos básicos dessa função cognitiva estão afetados (registro, conservação ou evocação), que tipo
de memória está comprometido (imediata, recente ou remota), caracterizar início, duração e
progressão do sintoma, bem como pesquisar sintomas associados. No caso em discussão, devem ser
investigados distúrbios de outras funções cognitivas, do sono, do humor e do comportamento.
Nossa paciente apresenta uma perda de memória recente (esquece onde deixa objetos, confunde
datas), com preservação da memória remota, associada a distúrbio de humor (hipotimia). Podemos
dizer que estamos diante de uma paciente com transtorno cognitivo leve, pois apresenta um declínio em
relação a um nível cognitivo anterior que não interfere nas atividades de vida diária. Três grandes
síndromes representam os principais diagnósticos diferenciais de transtornos cognitivos em idosos:
síndrome demencial, síndrome confusional aguda (delirium) e síndrome depressiva.
A síndrome demencial, classicamente caracterizada por declínio progressivo das funções cognitivas,
com comprometimento funcional, tem diagnóstico eminentemente clínico e fundamentado no
comprometimento da memória (que costuma ser o primeiro sintoma a surgir) e de pelo menos mais um
domínio da cognição (como agnosia, afasia, apraxia ou disfunção executiva). A avaliação cognitiva inicial
deve idealmente incluir testes de rastreio, dentre os quais o mais utilizado é o Miniexame do Estado
Mental (MEEM). Nossa paciente pontuou abaixo da nota de corte no MEEM (pontuou 19, enquanto o
ponto de corte para 8 anos ou mais de escolaridade é de 26 pontos) e tem história familiar positiva para
demências – diagnóstico paterno de Doença de Alzheimer. Contudo, mesmo esse resultado ainda não
define o diagnóstico, lembre-se que o MEEM é um teste de triagem, que pode ser afetado por outras
entidades patológicas que não a demência e que apenas documenta o déficit cognitivo.
Pelos critérios do DSM-V, podemos descartar o delirium, pois o déficit não se apresenta como
distúrbio da atenção ou da consciência em um curso flutuante de horas ou dias, nem é secundário a
distúrbio orgânico de base.
Considerando os critérios para síndrome depressiva, nossa paciente apresenta uma evolução
temporal compatível, pois tem sintomas há 4 meses, com anedonia, perda de peso significativa, insônia,
fadiga e dificuldade de concentração. Fortalecendo essa hipótese, existe a história de tratamento prévio
para depressão interrompido e uma história familiar rica em doenças psiquiátricas (irmã tratando
depressão e irmão tratando esquizofrenia), além de fatores sociais agravantes, como a situação
conjugal (divorciada) e o fato de morar sozinha, mesmo tendo filhos.
No exame físico, nenhum achado adicional chama a atenção, e, com exceção da pontuação baixa no
MEEM, nossa paciente não apresenta nenhuma outra alteração neurológica.
Vamos falar agora de diagnósticos etiológicos. No exemplo, temos uma paciente de 68 anos, com
evolução subaguda em termos de déficit cognitivo, o que não exclui, porém afasta bastante o
diagnóstico de causas neurodegenerativas, em geral, com evolução lenta no decurso de muitos anos.
Soma-se a isso o fato de que o diagnóstico da principal doença que causa declínio cognitivo em idosos,
a Doença de Alzheimer, é um diagnóstico de exclusão. A história fala mais a favor de causas
potencialmente reversíveis, como deficiência de vitaminas, infecções, pseudodemência depressiva, hipo
ou hipertireoidismo.
Nesse momento, os outros dados da história clínica e do exame físico já são insuficientes para
fechar nosso diagnóstico e precisaremos de investigação adicional com exames complementares. Na
investigação das causas de demência, alguns exames são considerados de rotina: hemograma,
dosagem de vitamina B12 e ácido fólico, função renal e tireoidiana, enzimas hepáticas, sorologia para
sífilis e HIV e exame de imagem. O exame do líquor não faz parte da rotina e guarda indicações
específicas. Nos exames da nossa paciente, encontramos função renal levemente alterada
(provavelmente por uma nefropatia crônica secundária ao diabetes ou a hipertensão arterial), TSH e
dosagem de vitamina B12 normais, sorologias negativas e uma imagem de tomografia de crânio
compatível com a idade.
Por tudo que foi exposto, ficaremos com a hipótese principal de pseudodemência depressiva.
Geralmente, o déficit cognitivo apresenta início e evolução mais rápidos do que a demência
propriamente dita e, diferente dos pacientes com demência, os pacientes deprimidos relatam com mais
ênfase o comprometimento cognitivo (no caso-exemplo, note que todas as queixas são percebidas e
descritas pela própria paciente, que foi sozinha a consulta e que sempre ressalta o distúrbio da
memória, sem se esforçar para responder aos questionamentos).
Na pseudodemência depressiva, as alterações mnêmicas são decorrentes de uma redução somente
da atenção e não apresenta alterações de outras funções superiores do córtex como afasia, agrafia e
acalculia. Por isso, tendem a desaparecer com a melhora do quadro depressivo. Contudo, muitos
idosos permanecerão com alterações cognitivas mesmo após o tratamento e a remissão dos sintomas
depressivos (Alexopoulos, 1996; Baldwin & Tomenson, 1995). As principais alterações cognitivas
observadas são: a redução da velocidade de processamento da informação, déficits na evocação, na
memória de reconhecimento, na memória a curto prazo e na linguagem (fluência verbal, compreensão)
(Baldwin, 2010). No entanto, uma parcela desses pacientes pode não apresentar evidência de
comprometimento cognitivo nas avaliações objetivas das funções cognitivas.15
Sintoma-guia: Perda de memória.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome demencial.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Supratentorial – hemisférios cerebrais
Diagnósticos diferenciais:
5. Hipotireoidismo
5. Pseudodemência depressiva
5. Deficiência de vitamina B12
5. Doenças infecciosas (Sifilis, HIV)
5. Demências neurodegenerativas (Doença de Alzheimer, demência vascular)
Hipótese diagnóstica: Pseudodemência depressiva.
Pontos importantes
5. Nem todos os pacientes necessitarão de um exame neurológico completo, mas, em todos
eles, devemos realizar um exame de triagem;
5. Como parte do exame neurológico, a avaliação do estado mental idealmente começa com
testes de rastreio para avaliar função cognitiva, dentre os quais o mais utilizado é o Miniexame do
estado mental (MEEM) de Folstein;
5. O miniexame do estado mental (MEEM) é o principal teste de triagem cognitiva, contudo ele
não fecha diagnóstico, apenas documenta o déficit;
REFERÊNCIAS
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17. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
Fonte: Diallo3.
2.2.1. Linguagem
Linguagem e fala são atributos exclusivamente humanos. A linguagem é uma função do córtex
cerebral que representa a capacidade de exprimir e comunicar o pensamento por meio de um sistema
de símbolos. Difere da fala, que são os sons vocais utilizados para comunicar as ideias, consistindo em
um processo puramente mecânico.
Para essa função, algumas regiões do hemisfério dominante são importantes: a área auditiva
primária, a zona central da linguagem na área de Wernicke e o polo expressivo oral na chamada área
de Broca. Quando a palavra é ouvida, o som é percebido no córtex auditivo primário e transmitido à
área de Wernicke, onde a informação é processada, interpretada e transferida, através do fascículo
arqueado para a área de Broca, região capaz de evocar o processo de vocalização. O córtex motor,
através do feixe corticonuclear e dos nervos cranianos, estimula os músculos da fonação.5
Em pacientes neurológicos, as anormalidades mais comumente encontradas são as afasias
(distúrbio da expressão e da compreensão dos símbolos verbais, gerando incapacidade de utilizar os
códigos da linguagem), as disartrias (distúrbios da articulação da fala), as dislalias (distúrbio que
acarreta troca de letras) e as disfonias (distúrbio do timbre e da intensidade do som). Do ponto de
vista anatômico, as disartrias, em geral, resultam de doenças cerebelares ou doenças que afetam a
musculatura da fala. Já as afasias são consequência de distúrbios no córtex associativo. Neste capítulo,
as afasias serão estudadas mais profundamente.
Quadro 1. Classificação das afasias.
2.2.2. Praxia
Praxia vem do grego práxis, que significa “ação”. Pode ser definida como “a faculdade de executar
gestos voluntários aprendidos na ausência de alterações da motricidade e da coordenação motora.”5
Apraxia seria então a incapacidade de executar, quando solicitado, um ato motor intencional e familiar,
na ausência de deficiência motora ou sensitiva da parte afetada. É importante o entendimento de que tal
ato motor pode ser executado espontaneamente, pois a anormalidade reside na incapacidade de
exercê-lo sob comando.
Alguns conceitos importantes são o de praxia ideatória (capacidade de executar atos que têm
relação com o próprio corpo, como usar a escova de dente), praxia ideomotora (capacidade de
executar gestos de significação simbólica tradicional, como realizar o sinal da cruz) e praxia
construtiva (capacidade de desenhar formas geométricas simples).
O SUBSTRATO ANATÔMICO DAS FUNÇÕES DE PRAXIA DEPENDE DA INTEGRAÇÃO ENTRE O
CÓRTEX ASSOCIATIVO PARIETAL, ONDE OCORRE A ELABORAÇÃO DOS GESTOS ADQUIRIDOS
PELA APRENDIZAGEM, E DO CÓRTEX MOTOR, ONDE OCORRE A TRADUÇÃO DA INFORMAÇÃO
VERBAL (COMANDO) OU VISUAL (IMITAÇÃO) A SER EXECUTADA. A ELABORAÇÃO FINAL DAS
SEQUÊNCIAS DE MOVIMENTO SE DÁ NA ÁREA PRÉ-FRONTAL.5
• A compreensão pode ser testada com comandos simples, como “feche os olhos”, “abra a
boca”. Caso o paciente não consiga obedecer a comandos simples, deve-se avaliar se ele
consegue responder perguntas com sim e não ou acenar com a cabeça para concordar e
discordar, e, então, elaborar perguntas absurdas, como “Você é do planeta Júpiter?”; “Você
comeu pregos no café da manhã?”;
• A nomeação pode ser avaliada através de lista de palavras, um método sensível de avaliar a
capacidade espontânea de nomeação. O paciente é instruído a nomear o maior número possível
de itens de determinada categoria em um minuto. Comumente, utiliza-se a nomeação de animais,
mas é recomendado avaliar mais de uma categoria (ferramentas, alimentos, países, meios de
transporte);
• É preciso avaliar também a capacidade de usar a linguagem escrita, cuja alteração pode ser
isolada ou estar associada a anormalidades da linguagem falada. Pode ser solicitado ao paciente
que escreva espontaneamente ou anote um ditado;
• Por fim, a leitura pode ser testada solicitando que o paciente leia um papel.
b) Procedimento semiotécnico
• Deve-se explicar ao acompanhante que, mesmo que o paciente seja incapaz de realizar alguns
gestos de forma voluntária, pode realizá-los automaticamente;
• Para avaliação da praxia ideomotora, pode-se solicitar que o paciente execute o sinal da cruz,
o ato de mandar um beijo, uma saudação militar ou ainda o sinal do positivo ou negativo com o
polegar;
• Para avaliação da praxia ideatória, pode-se solicitar que o paciente simule o escovar dos
dentes, o acender de uma vela ou o pentear do cabelo;
• Para avaliação da praxia construtiva, pode-se solicitar que o paciente realize uma escrita ou
desenho espontâneo, como uma casa ou uma árvore, e, em seguida, solicita-se a repetição de
formas geométricas simples;
• Para avaliação da praxia de vestimenta, solicita-se ao paciente que vista um casaco, coloque
um anel, dê o né em uma gravata ou nos cordões do sapato;
• Para avaliação da praxia bucofacial, pode-se solicitar que o paciente realize movimentos com
a língua ou movimentos faciais ao comando verbal.
b) Procedimento semiotécnico
Condições do ambiente: Ambiente calmo e claro.
Posição do paciente e do examinador: Paciente sentado, bem acomodado e relaxado,
preferencialmente vestido de modo confortável, de forma a não restringir seus movimentos, com o
examinador posicionado à sua frente.
ETAPAS DO PROCEDIMENTO: O EXAMINADOR INICIA O EXAME SOLICITANDO AO PACIENTE
QUE EXECUTE ATOS SIMPLES APRENDIDOS, COMO O SINAL DA CRUZ, E QUE SIMULE
COMANDOS MAIS COMPLEXOS, COMO PENTEAR O CABELO OU ESCOVAR OS DENTES.
SEGUE-SE COM O TESTE DAS OUTRAS PRAXIAS, SOLICITANDO QUE O PACIENTE DESENHE
FORMAS GEOMÉTRICAS SIMPLES, COMO TRIÂNGULOS E QUADRADOS, OU DESENHOS DE
COISAS REAIS, COMO UMA CASA OU UMA ROSA. PEDE-SE PARA EXECUTAR AÇÕES COMO
AMARRAR OS SAPATOS E ATOS MOTORES COMO PROTRUSÃO DOS LÁBIOS, MOSTRAR OS
DENTES, PROTRUSÃO E LATERALIZAÇÃO DA LÍNGUA.
c) Parâmetros de normalidade
Espera-se que o paciente seja capaz de executar todos os atos solicitados.
2.3.2.2. Roteiro para Avaliação da Gnosia10
a) Material necessário
Objetos como borracha, caneta, moedas e folha de papel.
b) Orientações gerais
• Examina-se a gnosia auditiva pelo reconhecimento de sons comuns, como o barulho de chaves
ou rasgo de um papel;
• A gnosia visual para objetos é medida pelo reconhecimento de objetos: um sapato, um relógio,
uma caneta;
• Examina-se a gnosia para cores pelo seu reconhecimento: branco, preto, azul, amarelo, verde,
vermelho;
• A gnosia digital é examinada solicitando ao paciente, com os olhos fechados, que movimente o
dedo estimulado na mesma mão e, posteriormente, na mão contralateral;
Fonte: Autor.
Vamos destacar as evidências científicas dos principais sinais e sintomas relacionados aos eventos
vasculares cerebrais, principal causa de morte nos Estados Unidos e no mundo. O exame clínico para
acidente vascular encefálico é muito importante, porque existem intervenções terapêuticas e estratégias
de prevenção que dependem da interpretação precisa dos sintomas e dos achados do exame clínico.
Vale lembrar que, apesar da alta sensibilidade e especificidade de alguns achados, a neuroimagem
apropriada e outros exames complementares ainda são necessários para excluir etiologias
potencialmente tratáveis e melhor definir o subtipo de evento vascular.
No diz respeito ao acidente vascular encefálico (AVE) hemorrágico, são sintomas que aumentam a
probabilidade: convulsões acompanhando o déficit neurológico (razão de verossimilhança [LR] = 4,7),
vômitos (LR = 3), cefaleia (LR = 2,9) e perda de consciência (LR = 2,6). A presença de qualquer uma
dessas características mais do que duplica as chances de hemorragia e a ausência de qualquer uma
dessas características diminui as chances em um terço. Os achados físicos que aumentam a
probabilidade de evento hemorrágico são o coma (LR = 6,3), a deterioração neurológica durante as
primeiras 3 horas (LR = 5,8), a rigidez de nuca (LR = 5,4) e a pressão arterial sistólica maior que 220
mm Hg (LR = 4).
Início agudo de um déficit neurológico focal em um paciente com uma fonte embólica cardíaca ou
arterial aumenta as chances de acidente vascular encefálico (AVE) embólico em até quase 11 vezes (LR
+, 11; 95% CI, 5,7-21), enquanto a ausência dessas características diminui as chances de AVE
embólico em aproximadamente um quarto a metade (LR–, 0,36; IC95%, 0,24-0,56)
Tabela 1. Evidências científicas do diagnóstico de um evento vascular cerebral.
EVENTO VASCULAR
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
PARESIA FACIAL,
FALA ANORMAL E
DESVIO DO
BRAÇO 100% 88% 7,9 (5,6-11) 0 (0-0,12)
DETECTADOS NO
AMBIENTE PRÉ-
HOSPITALAR
RAZÃO DE
VEROSSIMILHANÇA
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ACHADO
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
PIORA CLÍNICA
NAS PRIMEIRAS 3 77-81 85-88 5.8 0.2
HORAS
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
P.R.D., sexo masculino, 54 anos, procedente de Ubajara-CE, branco, casado, trabalhador rural,
católico, analfabeto. Admitido no pronto-atendimento, acompanhado pelo filho, com quadro de
“dificuldade de fala” e “sem mexer o lado direito do corpo”.
O acompanhante refere que, há um dia, o paciente iniciou quadro súbito de afasia, com fala sem
fluência, desconexa, sem compreender os familiares, após pico pressórico (PA 220x120 mmHg).
Associou-se ao quadro, hemiplegia à direita, impedindo deambulação, com um episódio de queda. Sem
outros sintomas relatados, nomeadamente cefaleia, vômitos, febre e rebaixamento do nível de
consciência.
Medicações em uso: captopril 25 mg (1-1-1), hidroclorotiazida 25 mg (1-0-0), anlodipino 5 mg (1-0-1),
aas 100 mg (0-1-0), sinvastatina 40 mg (0-0-1).
Antecedentes pessoais: Hipertenso, em uso irregular das medicações. Filho relata acidente vascular
encefálico isquêmico há dois anos, porém sem sequelas neurológicas.
Hábitos: Tabagista desde os 20 anos (carga tabágica 68 maços/ano). Nega etilismo.
Antecedentes familiares: Mãe falecida de causas naturais. História paterna desconhecida.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico e
afebril, sobrepeso, eupneico, vigil, desorientado.
Dados vitais: FC 110 bpm, FR 20 irpm, Tax 36,5°C, PA 190x110 mmHg (aferida no membro superior
esquerdo, com o paciente sentado).
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: desorientação temporal, fala estereotipada, alexia, agrafia, anomia, incapacidade
de repetição e acalculia, sem nenhum reconhecimento de signos linguísticos. Hemiplegia à direita.
Reflexos preservados.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico, expansibilidade e frêmito
toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente reduzido
globalmente, sem ruídos adventicios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular
patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome globoso por adiposidade, sem
abaulamentos, cicatriz de apendicectomia prévia, RHA presentes, flácido e indolor, ausência de massas
ou visceromegalias palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose ou edema, dermatite ocre de membros inferiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de significância clínica.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: Hb 13,0 g/dL, Ht 32%, leucocitos 5.300, plaquetas 202.000, creatinina
1,01 mg/dL, ureia 28 mg/dL, sódio 133 mg/dL, potássio 3,7 mg/dL, glicose 90 mg/dL.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Quadro 5. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
Fonte: Autor. Baseado em Chaves13.
DISCUSSÃO DO CASO
No caso apresentado, encontramos um paciente com distúrbio da linguagem e da motricidade,
que representam sinais neurológicos focais. Dentre os distúrbios da linguagem, conseguimos identificar
que se trata de uma afasia, uma vez que os sons são articulados (não se trata de disartria), sem troca
de fonemas (não é dislalia) e nem é caraterizada por alteração na intensidade da voz (não é disfonia).
Qual é o tipo de afasia? Ao que tudo indica, uma afasia global, pois guarda características da afasia
de Broca e da afasia de Wernicke. Ademais, temos um déficit motor déficit motor, do tipo hemiplegia,
uma vez que compromete completamente a força à direita (seria paresia se houvesse diminuição parcial
da força).
Esses déficits focais constituem a queixa principal e serão nossos sintomas-guia. De que tipo de
síndrome estaríamos falando, então? Diante de um déficit neurológico focal, levando em consideração a
cronologia dos sintomas, podemos dividir as causas em cerebrovasculares, traumáticas,
neurodegenerativas ou neoplásicas. Temos um quadro neurológico agudo (iniciou há um dia), o que
fala muito a favor de uma doença vascular, infecciosa ou traumática. Podemos descartar causas
traumáticas (apesar do episódio de queda da própria, que ocorreu após início dos sintomas, em
consequência deles) e infecciosas (não há na história outros sintomas sistêmicos associados que
justificassem infecção). Portanto, a história fala mais a favor de uma síndrome neurológica vascular.
Para topografar de forma ainda mais específica a lesão do nosso paciente, precisamos conhecer a
vascularização dos territórios corticais. Resumidamente, temos três grandes vasos que nutrem o
parênquima cerebral: artéria cerebral anterior (ACA), que irriga a face medial de cada hemisfério e o
polo frontal; artéria cerebral média (ACM), que irriga a porção superolateral de cada hemisfério e o polo
temporal; e a artéria cerebral posterior (ACP), que irriga a face inferior dos hemisférios e o polo
occipital. De uma forma didática, podemos dizer que o acometimento de cada uma delas gera
síndromes neurológicas específicas: déficit motor ou sensitivo em geral acometendo apenas
membros inferiores, nas lesões de ACA; afasia, associada a déficit motor e/ou sensitivo em dimídio
contralateral, nas lesões da ACM; e distúrbios principalmente visuais nas lesões de ACP. Nosso caso
configura melhor uma lesão em ramos da ACM esquerda.
Estamos diante de um caso de acidente vascular cerebral (AVC) que pode ser dividido ainda em
AVC isquêmico e AVC hemorrágico. O primeiro é oriundo de uma oclusão arterial aguda por êmbolos ou
trombos, e, o segundo, de sangramento de aneurismas saculares (hemorragia subaracnóidea) ou
rupturas de vasos intraparenquimatosos. A confirmação do tipo de AVC é feita através da tomografia
computadorizada de crânio sem contraste já nas primeiras horas após início do quadro.
Nosso paciente fez o exame de imagem, que não mostrou alterações. Soma-se a isso o fato de que
os sintomas descritos são duradouros (mais de 24h) e a história pregressa guarda fatores de risco
(hipertensão arterial sistêmica em uso irregular das medicações e AVE prévio), o que fortalece nossa
hipótese de AVC isquêmico. Lembre-se de que a isquemia cerebral pode demorar entre 24 a 72 horas
para ser evidente, de forma que o exame de imagem precoce é mais importante para descartar uma
lesão hemorrágica do que para confirmar uma lesão isquêmica. Se os sintomas remitissem
caracteristicamente em poucas horas, sem evidencia de lesão isquêmica na imagem, estaríamos diante
de um quadro de acidente isquêmico transitório (AIT).
É importante lembrar que algumas doenças não vasculares podem simular um AVE e, por isso, são
denominadas em conjunto de Stroke Mimics. Podem ser causas metabólicas (distúrbios
hidroeletrolíticos, hipoglicemia), infecciosas (meningite, encefalite), neoplásicas, neurodegenerativas,
psiquiátricas (síndromes conversivas), dentre outras. Necessitam de exames complementares para
confirmar ou afastar seu diagnóstico.
Sintoma-guia: Afasia global e hemiplegia direita.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome deficitária motora e da linguagem.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Isquemia no território de artéria cerebral média esquerda.
Diagnósticos diferenciais:
• AVC hemorrágico
• Stroke mimics
Hipótese diagnóstica: Acidente vascular encefálico isquêmico
PONTOS IMPORTANTES
• No exame dos hemisférios cerebrais, abordamos a linguagem, a praxia e a gnosia;
• As anormalidades da linguagem mais comumente encontradas são as afasias, as disartrias, as
dislalias e as disfonias;
• Existem seis componentes da função de linguagem tipicamente avaliados na área clínica: fala
espontânea (conversação), compreensão auditiva, nomeação, leitura, escrita e capacidade de
repetição;
• Cada uma das apraxias e das agnosias podem ser identificadas por testes específicos;
• Déficits neurológicos focais súbitos têm origem vascular até que se prove o contrário e a
síndrome apresentada costuma indicar o território vascular acometido.
REFERÊNCIAS
1. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
2. Freitas EV, PY L. Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2016.
3. Diallo T. Chronic Pain Explained. Natural Pain Solutions. [Internet]; 2017. [acesso em 22/09/19].
4. Anatomy & Physiology, Connexions Web site. Wikimedia Commons, Author OpenStax College.
[Internet] [acesso em 22/09/19].
5. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
6. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Humana. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.
7. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
8. Vaz ER, Fontes SV, Fukujima MM. Testes para Detecção de Apraxias por Profissionais da Saúde.
Rev Neurociên. 1999; 7(3): 136-9.
9. Ghadiali E. Cognitive Primer, Agnosia. Adv Clin Neurosci Rehabil. 2004; 4(5): 18-20.
10. Guardiola A, Fernandez LL, Rotta NT. Um modelo de avaliação das funções corticais. Arq Neuro-
Psiquiat. 1989; 47 (2): 159-64.
11. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
12. Simel DL, Rennie D. The Rational Clinical Examination. Evidence-Based Clinical Diagnosis.
JAMAevidence. Mayo Clin Proc. 2009; 84(11): 1045.
13. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
a) NC I: o nervo olfatório
O NC I é exclusivamente sensitivo, sendo responsável pela olfação. É constituído por numerosos
feixes de fibras nervosas que, originando-se na região de cada fossa nasal (mucosa nasal), atravessam
a lâmina crivosa do osso etmoide e terminam no bulbo olfatório, uma região constituída de substância
cinzenta no rinencéfalo localizado sob o lobo frontal.2 O bulbo olfatório continua-se posteriormente com
o trato olfatório, de forma que uma parte das fibras seguem em direção ao córtex olfatório do úncus e
giro para-hipocampal, enquanto outra parte vai fazer conexão com o sistema límbico, na área septal.3
b) NC II: o nervo óptico
O NC II é exclusivamente sensitivo, responsável pela visão. É constituído por um grosso feixe de
fibras nervosas que conectam a retina ao encefálo.2 O feixe penetra no crânio pelo canal óptico e
atravessa o quiasma óptico até o corpo geniculado lateral, no tálamo. Finalmente, as fibras seguem
pelas radiações ópticas até o córtex visual, no lobo occipital. As meninges intracranianas formam
bainhas ao longo do trajeto intraorbital dos nervos, permitindo a continuação do espaço subaracnóideo
intracraniano até o olho. Por isso, nos casos de elevação da pressão intracraniana, ocorre consequente
papiledema.4
c) NC III: o nervo oculomotor
O NC III é exclusivamente motor, participando da motricidade do globo ocular, da contratilidade
pupilar e da elevação da pálpebra. Parte de suas fibras se originam no núcleo oculomotor no
mesencéfalo, levando fibras motoras aos músculos extraoculares, e outra parte no núcleo de Edinger-
Westphal, também no mesencéfalo, levando fibras autonômicas parassimpáticas ao músculo esfíncter
da pupila e músculo ciliar, que atuam na contração pupilar e acomodação do cristalino,
respectivamente.2 O nervo passa pelo seio cavernoso e depois pela fissura orbital superior para inervar
os músculos reto medial, oblíquo inferior, reto superior, reto inferior e levantador da pálpebra.
d) NC IV: o nervo troclear
O NC IV é exclusivamente motor, atuando na motricidade do globo ocular (olhar para baixo e para
dentro). Suas fibras se originam no núcleo do troclear no mesencéfalo e circundam o tronco encefálico
antes de seguir pelo seio cavernoso. Em seguida, penetra na órbita através da fissura orbital superior
para então suprir o músculo obliquo superior.2,4
e) NC V: o nervo trigêmeo
O NC V é um nervo misto (predominantemente sensitivo, mas também motor), cujas funções são
essencialmente a sensibilidade da face e a mastigação. A raiz sensitiva é formada por três ramos:
oftálmico (V1), maxilar (V2) e mandibular (V3), responsáveis pela sensibilidade somática geral da
face. As fibras oftálmicas penetram no crânio pela fissura orbital superior, as maxilares pelo forame
redondo, e as mandibulares pelo forame oval, para se juntarem no gânglio trigeminal (ou gânglio de
Gasser) e continuarem como nervo trigêmeo até a ponte. A raiz motora é constituída por fibras que
acompanham o ramo mandibular, distribuindo-se aos músculos da mastigação (temporal, masseter,
pterigoide lateral, pterigoide medial), além de suprir os músculos milo-hioideo, corpo anterior do
digástrico, tensor do véu palatino e tensor do tímpano.2,4
f) NC VI: o nervo abducente
O NC VI é exclusivamente motor, participando na motricidade do globo ocular (olhar para fora). É
constituído por fibras que partem da ponte, atravessam o seio cavernoso e penetram na órbita através
da fissura orbital superior, para inervar o músculo reto lateral.
g) NC VII: o nervo facial
O NC VII é um nervo misto (predominantemente motor, mas também sensitivo), sendo responsável
pela motricidade dos músculos da expressão facial e sensibilidade gustativa dos dois terços anteriores
da língua. Esta última função fica a cargo de sua raiz sensitiva e visceral, o nervo intermédio. O
componente motor é formado por fibras que se originam no núcleo facial na ponte, núcleo este formado
por dois subnúcleos: superior e inferior. O núcleo facial superior recebe fibras corticonucleares
provenientes dos dois hemisférios cerebrais e dá origem às fibras que inervam a musculatura do andar
superior da face. Já o núcleo facial inferior recebe fibras provenientes unicamente do hemisfério
contralateral e dá origem às fibras para a musculatura do andar inferior da face. Isto explica por que as
lesões que acometem fibras corticonucleares unilaterais não geram paralisia no andar superior, apenas
inferior (paralisia facial central). O NC VII emerge do crânio pelo forame estilomastoideo, atravessa a
glândula parótida e distribui uma série de ramos para os músculos mímicos, músculo estilo-hioideo e
ventre posterior do músculo digástrico.
h) NC VIII: o nervo acústico ou vestibulococlear
O NC VIII é exclusivamente sensitivo, dividido em um componente vestibular e um componente
coclear, cuja origem, função e conexão centrais são diferentes. O componente vestibular é formado por
fibras que se originam dos neurônios sensitivos do gânglio vestibular, conduzindo impulsos nervosos
relacionados com o equilíbrio, coordenação e orientação no espaço. O componente coclear é
constituído de fibras originárias nos neurônios sensitivos do gânglio espiral, situado na cóclea,
conduzindo impulsos nervosos relacionados com a audição.2,4
i) NC IX: o nervo glossofaríngeo
O NC IX é um nervo misto e essencialmente visceral. Seu componente mais importante é
representado por fibras sensitivas viscerais, responsáveis pela sensibilidade geral do terço posterior da
língua, faringe, úvula, tonsila, tuba auditiva, além do seio e corpo carotídeos. Seu componente motor
pertence à divisão parassimpática do sistema nervoso autônomo.4
j) NC X: o nervo vago
O NC X é também um nervo misto e essencialmente visceral. Emerge do crânio pelo forame
jugular, percorre o pescoço e o tórax, terminando no abdome. Dá origem ao nervo motor mais
importante da laringe (nervo laríngeo recorrente) e a numerosos ramos que inervam também a faringe e
formam os plexos viscerais da inervação autônoma parassimpática das vísceras torácicas e
abdominais. O NC IX e X deixam o crânio juntos, mantêm-se próximos ao longo do trajeto no pescoço e
suprem algumas das mesmas estruturas.2,4
k) NC XI: o nervo acessório
O NC XI é um nervo exclusivamente motor, formado por uma raiz craniana (ou bulbar) e uma raiz
espinhal. O principal componente é a raiz espinal, cuja função é inervar o músculo
esternocleidomastoideo (ECM) e o trapézio, responsáveis respectivamente pelo movimento de rotação
da cabeça e elevação dos ombros. A raiz craniana é distribuída principalmente com o nervo laríngeo
recorrente e sua contribuição é indistinguível da contribuição do nervo vago.2,4
l) NC XII: o nervo hipoglosso
O NC XII é um nervo exclusivamente motor, responsável pela motricidade da língua. Emerge do
crânio pelo canal do hipoglosso, distribuindo-se aos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua.4
2.2. Exame dos nervos cranianos
Os nervos cranianos constituem apenas a parte periférica das vias funcionais da extremidade
cefálica. Da mesma forma que o sistema corticoespinal ou piramidal, as vias motoras são constituídas
de dois neurônios, um central corticonuclear e um periférico núcleo-muscular (nervo craniano). Já nas
vias sensitivas, como nas vias somestésicas do tronco e membros, encontramos três neurônios, cujo
segmento periférico é o nervo craniano e cujo segmento central é núcleo-cortical.
A AVALIAÇÃO DOS PARES CRANIANOS TEM UMA ORGANIZAÇÃO PRÓPRIA PARA CADA PAR,
DE ACORDO COM AS FUNÇÕES ESPECÍFICAS DE CADA UM DELES, AS QUAIS DEPENDEM,
PORTANTO, DA INTEGRIDADE TANTO DE SEUS COMPONENTES PERIFÉRICOS COMO
CENTRAIS. NO DECORRER DO CAPÍTULO, VAMOS DISCUTIR DETALHADAMENTE CADA PAR.
NC IV (TROCLEAR) E NC VI
MOTRICIDADE OCULAR EXTRÍNSECA
(ABDUCENTE)
FUNÇÃO SENSITIVA (SENSIBILIDADE DA FACE), FUNÇÃO
NC V (TRIGÊMEO) MOTORA (MASTIGAÇÃO) E REFLEXOS (REFLEXOS
CORNEANO, ESTERNUTATÓRIO E MANDIBULAR)
Distúrbios do olfato
• Cada narina deve ser examinada separadamente, com o paciente de olhos fechados, enquanto,
ao mesmo tempo, a outra narina deve ser ocluída;
• Cada olho deve ser examinado separadamente, enquanto o outro permanece ocluído;
• A escala deve ser colocada numa parede a uma distância de 6 metros da pessoa a ser
examinada (se ela estiver sentada, a distância é contada a partir das pernas traseiras da
cadeira) para que não ocorra acomodação;
• Deve ser testada em condições que eliminem erros de refração, por isso, pacientes que usam
lentes devem ser examinados usando-as;
• É importante observar se, durante a avaliação, o examinado apresenta algum sinal ou sintoma
ocular (lacrimejamento, inclinação persistente de cabeça, piscar contínuo dos olhos, estrabismo,
cefaleia, testa franzida, olhos semicerrados). Estes sinais ou sintomas deverão ser anotados
como observação na ficha de resultado;
• Todos os pacientes que não atingirem 20/25 devem ser retestados. Valerá o resultado em que a
medida da acuidade visual foi maior.
b) Procedimento semiotécnico:
• Condições do ambiente: Ambiente claro, calmo e sem ofuscamento. Deve-se evitar que a luz
incida diretamente sobre a escala.
Fonte: Dahl17.
c) Parâmetros de normalidade:
A acuidade visual normal equivale a 1 ou 20/20, ou seja, aquilo que uma pessoa com visão normal
enxerga a 20 pés (6 m), o paciente também enxerga a 20 pés. A escala varia até 1/10 ou 20/200 (o
maior caractere), o que significa que aquilo que uma pessoa com visão normal enxerga a 200 pés (60
m), o paciente só consegue enxergar a 20 pés (ou 6 m). Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a classificação das deficiências visuais de acordo com a classe de acuidade visual é a seguinte:
• Cada olho deve ser examinado separadamente, enquanto o outro permanece ocluído, e depois
repetir o procedimento com os dois olhos abertos simultaneamente;
• O paciente deve estar lúcido e cooperativo para que os resultados do teste sejam mais
precisos;
Fonte: Autor.
c) Parâmetros de normalidade:
O campo visual normal estende-se de 90° a 100° temporalmente, cerca de 60° nasalmente, de 50° a
60° superiormente e 60° a 75° inferiormente. Apesar de haver variações individuais nos campos de
visão devido à configuração facial, à forma da orbita, à posição do olho na orbita ou ao grau de
projeção da sobrancelha e do tamanho do nariz, essa variação raramente é significativa do ponto de
vista clínico.
Quadro 4. Principais anormalidades do campo visual.
Fonte: Autor.
JÁ A HEMIANOPSIA HETERÔNIMA BITEMPORAL RESULTA DE LESÃO NO
QUIASMA ÓPTICO, BLOQUEANDO AS INFORMAÇÕES PROVENIENTES DAS
HEMIRRETINAS NASAIS ESQUERDA E DIREITA, CUJA CAUSA MAIS COMUM É O
ADENOMA HIPOFISÁRIO. QUANDO A LESÃO OCORRE NO NÍVEL DAS
RADIAÇÕES ÓPTICAS, O DEFEITO NO CAMPO VISUAL É UMA QUADRANTOPSIA,
QUE TAMBÉM PODE SER HOMÔNIMA OU HETERÔNIMA E QUE SE MANIFESTA
NO CAMPO VISUAL CONTRALATERAL AO LADO DA LESÃO.
Fonte: Autor.
• Para melhor resultado, a fundoscopia deve ser realizada com o paciente em midríase completa
(o que pode ser obtido com uso de colírio midriático);
• A nitidez da imagem será obtida com a rotação do disco de lentes, adicionando-se lentes
negativas em olhos míopes, e positivas em hipermetropes.
b) Procedimento semiotécnico:
Fonte: Autor.
ANORMALIDADES DA
FUNDOSCOPIA
Fonte: Autor.
c) Parâmetros de normalidade:
Espera-se que o paciente seja capaz de realizar todos os movimentos solicitados e que eles
permaneçam uniformes e conjugados durante todo o exame.
• Sensações de tato, dor e temperatura são examinados da mesma forma que outras partes do
corpo;
• Deve-se comparar a sensibilidade em cada divisão do nervo trigêmeo, e a região perioral deve
ser comparada à parte posterior da face para excluir um padrão de casca de cebola.
b) Procedimento semiotécnico:
• Os estímulos devem ser orientados de baixo para cima ou dos lados para o centro, de forma
que o paciente não possa vê-los;
• O manuseio correto do martelo de reflexos é feito segurando-se pela sua extremidade distal
com a ponta dos dedos indicador e polegar, enquanto golpeia de leve, movimentando apenas o
punho, o local a ser estimulado ou a falange distal do dedo utilizado como plexímetro.
b) Procedimento semiotécnico:
Orbicular das pálpebras: apertar os olhos, de modo que fiquem bem fechados;
• As lesões do nervo facial ou do núcleo do facial localizado na ponte (paralisia facial periférica)
determinam paralisia de todo o lado da face e dificuldade de fechar olho ipsilateralmente à lesão.
Por falta de antagonismo muscular do lado afetado, a comissura labial sofre desvio para o lado
normal. Já as lesões corticonucleares (paralisia facial central) determinam paralisia
contralateral da porção inferior da face, poupando a região frontal, sem perda da capacidade de
fechar o olho.
b) Procedimento semiotécnico:
• Etapas do procedimento: O exame inicia-se com a inspeção otoscópica dos canais auditivos e
das membranas timpânicas. A acuidade auditiva deve ser avaliada em cada orelha.
Quadro 9. Testes auditivos.
TESTE DO TIC-TAC DO
PERMITE A AVALIAÇÃO DA CONDUÇÃO AÉREA EM ALTAS FREQUÊNCIAS.
RELÓGIO
AVALIA TANTO A CONDUÇÃO AÉREA QUANTO A ÓSSEA.
Testes auditivos
Fonte: Autor. Baseado em Gusmão3, Campbell4, Greenberg6 e Porto8.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Anormalidades auditivas
• A hipermetria pode ser pesquisada durante o teste dedo-nariz, ao solicitar que o paciente feche
os olhos enquanto realiza o teste;
• Pacientes com vestibulopatia unilateral, tendem a cair em direção ao lado da lesão durante o
teste de Romberg com os olhos fechados;
• Pacientes com vestibulopatia aguda têm dificuldade de caminhar em tandem, com tendência a
cair para o lado da lesão;
• A pesquisa do reflexo oculocefálico (teste dos olhos de boneca) e as provas calóricas são
particularmente úteis na avaliação de pacientes comatosos;
• No teste dos olhos de boneca, a resposta à rotação da cabeça em uma direção é a rotação dos
olhos em direção oposta;
• As provas calóricas são feitas com instilação de água fria no meato acústico. Durante as provas
calóricas de paciente comatoso, se o tronco encefálico estiver intacto, a instilação de água
gelada deve causar desvio tônico dos olhos em direção ao lado testado;
Anormalidades vestibulares
• Entre as disfunções desses pares cranianos, a disartria pode estar presente e afeta
principalmente os sons “k”;6
• Etapas do procedimento: Testa-se a função motora solicitando ao paciente que diga “ah” com a
boca aberta, e o examinador observa o movimento do palato. Em seguida, realiza-se estímulo na
orofaringe de cada lado com um abaixador de língua ou um cotonete para testar o reflexo do
vômito.
c) Parâmetros de normalidade
A resposta normal é a elevação completa e simétrica do palato e contrição e elevação da parte oral
da faringe ao estímulo com o abaixador de língua. Em casos de fraqueza unilateral da faringe há desvio
da rafe em direção ao lado normal. Nas lesões supranucleares unilaterais ocorre preservação da
função em razão da inervação corticonuclear bilateral.
Quadro 13. Anormalidades do glossofaríngeo e do vago.
Anormalidades do glossofaríngeo e do
vago
• Deve-se atentar para situações de fraqueza facial, onde pode aparentar falso desvio da língua.
b) Procedimento semiotécnico:
Fonte: Autor.
DEFEITO POSTERIOR (QUIASMA ÓPTICO OU CÓRTEX OCCIPITAL) 43-86% 86-98% 9,6 0,4
PROPORÇÃO (%) 31 11 45 13
ETIOLOGIA (%)
TRAUMA CRANIANO 13 34 11 18
NEOPLASIA 11 5 19 29
ISQUEMIA 25 22 20 7
ANEURISMA 17 1 3 11
OUTROS 14 8 21 19
NC III NC IV NC VI MISTAS
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
M.J.D., sexo masculino, 55 anos, procedente de Sobral-CE, pardo, casado, aposentado, católico,
ensino médio completo. Veio à consulta com neurologista devido à queixa de “dor no ouvido e no rosto”
há 1 semana.
O paciente relata que, há 1 semana, iniciou quadro de otalgia intensa a esquerda, associada a dor em
hemiface correspondente, descrita como queimadura, constante, agravada pela mastigação e sem
fatores de alívio. Refere também presença de acúfenos e perda auditiva do mesmo lado dos sintomas.
Nega febre, otorreia e queixas respiratórias. Já fez uso de dipirona e anti-inflamatórios não esteroidais,
sem melhora dos sintomas. Está em uso de Amoxicilina-Clavulonato há 2 dias, prescrita pelo médico
assistente do Programa de Saúde da Família, por suspeita de otite externa, também sem melhora do
quadro.
Medicações em uso: Losartana 50 mg (1-0-1), Hidroclorotiazida 25 mg (1-0-0), Levotiroxina 75 mcg
(1-0-0), Amoxicilina-Clavulanato.
Antecedentes pessoais: Hipertenso e hipotiroideo. Varicela aos 20 anos.
Hábitos: Nega etilismo e tabagismo.
Antecedentes familiares: Mãe diabética e renal crônica dialítica. Pai já falecido por causas externas.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico e
afebril, eupneico, vigil, orientado.
Dados vitais: FC 70 bpm, FR 18 irpm, Tax 36,2°C, PA 130x90 mmHg (aferida no membro superior
direito, com o paciente sentado).
Exame da cabeça e do pescoço: presença de lesões vesiculares em pavilhão auricular esquerdo.
Otoscopia a esquerda revela edema e eritema no canal auditivo externo, membrana timpânica sem
sinais inflamatórios. Adenomegalia submandibular esquerda, medindo cerca de 1,5 cm no seu maior
diâmetro, móvel, doloroso a palpação, de consistência fibroelástica. Desvio de comissura labial para a
direita.
Exame neurológico: orientado em tempo e espaço. Ausência de expressão facial em toda a hemiface
esquerda, com incapacidade de elevação da comissura labial esquerda e incapacidade de
encerramento da pálpebra esquerda. Teste de Rinne normal em ambas as orelhas e teste de Weber
com lateralização para o ouvido direito. Pupilas normais. Reflexos tendinosos e marcha preservados.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico, expansibilidade e frêmito
toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem
ruídos adventicios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular
patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome semigloboso por adiposidade, sem
abaulamentos ou cicatrizes, RHA presentes, flácido e indolor, ausência de massas ou visceromegalias
palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose ou edema.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de significância clínica.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Quadro 16. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
PONTOS IMPORTANTES
• Os nervos cranianos (NC) partem em doze pares do encéfalo em direção aos órgãos dos
sentidos e aos músculos da cabeça e do pescoço;
• Os pares que não partem a partir do tronco encefálico são o NC I (nervo olfatório) e NC II (nervo
óptico), que partem, respectivamente, do telencéfalo e diencéfalo;
REFERÊNCIAS
1. Lynch PJ. Brain human normal inferior view with labels. Wikki Commons. [internet]; 2009. [acesso
em 04/10/19]. Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brain_human_normal_inferior_view_with_labels_en.svg
2. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
3. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
4. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
5. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Humana. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.
6. Greenberg DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
7. Larner AA. Dictionary of Neurological Signs. 3rd ed. New York: Springer; 2011.
8. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.
9. Ministério da Saúde, Ministério da Educação (BR). Projeto Olhar Brasil: Triagem de Acuidade
Visual – Manual de Orientação. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
10. Kahle W, Frotscher M. Color Atlas Textbook of Human Anatomy, 5th ed. Stuttgart: Thieme; 2003.
11. Normal Eye Institute. Normal Eye. Flickr. [internet]; 2012. [acesso em 04/10/19]. Disponível em:
https://www.flickr.com/photos/nationaleyeinstitute/7544656150/
12. Jacomini CZ, Hannouche RZ. Retinopatia hipertensiva. Rev Bras Hipertens. 2001; 8(3): 321-7.
13. Kanashiro AMK, Pereira CB, Melo ACP, Scaff M. Diagnóstico e tratamento das principais
síndromes vestibulares. Arq Neuropsiquiatr. 2005; 63(1): 140-4.
14. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
15. Beraldin BS, Rayes TR, Rayes A, Muller AF. Síndrome de Ramsay Hunt: Relato de Caso. Arq
Catarin Med. 2008; 37(3): 84-6.
16. Werner L, Trindade F, Pereira F, Werner L. Fisiologia da acomodação e presbiopia. Arq Bras
Oftalmol. 2000; 63(6): 487-93.
17. Jeff Dahl. Own work by uploader, Based on the public domain document. Originally developed by
Dutch ophthalmologist Herman Snellen in 1862, to estimate visual acuity. [internet]; 2018. [acesso
em 18/10/19]. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Snellen_chart.svg
18. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
• Arquicerebelo, o mais antigo filogeneticamente, que tem conexões com o sistema vestibular,
recebendo impulsos dos canais semicirculares. Seus circuitos neurais estão associados ao
equilíbrio do corpo;
• Neocerebelo, cujas principais conexões se fazem com o córtex cerebral através do circuito
córtico-cerebelo-cortical, responsável pela coordenação dos movimentos finos conduzidos pelo
trato piramidal.
É o cerebelo que possibilita a correção de movimentos. Ele auxilia na sequência das atividades
motoras, monitora e faz ajustes corretivos nessas atividades, enquanto estão sendo executadas, e
compara os movimentos reais com os movimentos originalmente programados pelo sistema motor. Se
houver discrepância entre as duas informações, então sinais corretivos subconscientes instantâneos são
transmitidos de volta para as estruturas envolvidas. O cerebelo também auxilia o córtex cerebral no
planejamento do próximo movimento sequencial, uma fração de segundo antes, ajudando assim a
pessoa a progredir homogeneamente, de um movimento para o próximo.
O grau em que o cerebelo sustenta o início e o término das contrações musculares, bem como a
temporização das contrações, precisam ser aprendidos pelo cerebelo. Tipicamente, quando a pessoa
realiza, pela primeira vez, novo ato motor, o início e a temporização das contrações são, quase sempre,
incorretos para o desempenho preciso do movimento, mas, com a repetição, os eventos individuais se
tornam cada vez mais precisos.1
Quadro 1. Manifestações clínicas de disfunção cerebelar.
• Etapas do procedimento:
Teste índex-nariz-índex: o paciente estende completamente o braço e então toca, com o
dedo indicador, a ponta do seu nariz e o dedo indicador do examinador. Primeiro, lentamente, e
depois rapidamente, com os olhos abertos. O dedo do examinador pode ser movimentado um
pouco no decorrer do teste e o paciente é solicitado a tocar o alvo durante o movimento.
Fonte: Autor.
• Pode-se usar qualquer movimento que exija inervação recíproca e ação alternada de agonistas e
antagonistas, como a alternância de abertura e fechamento das mãos, a rápida flexão e extensão
de dedos isolados, encostar a ponta do dedo indicador na ponta ou na articulação interfalângica
estendida do polegar, bater rapidamente com a mão ou as pontas dos dedos no tampo de uma
mesa, ou movimentos sucessivos de pronação e supinação das mãos.2
b) Procedimento semiotécnico
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
O achado mais comum da síndrome cerebelar é a ataxia da marcha (vide capítulo sobre exame do
equilíbrio e da marcha). Portanto, o exame da marcha deve fazer parte da avaliação de qualquer
paciente com suspeita de doença cerebelar. O nistagmo cerebelar é, em 75% dos casos, um nistagmo
sacádico horizontal conjugado que aparece no olhar lateral (15% é um nistagmo rotatório e 10% um
nistagmo vertical). Já a disartria, que é o sinal menos comum da síndrome, aparece com mais
frequência nas lesões do hemisfério cerebelar esquerdo do que naquelas no hemisfério direito. Vale
lembrar que os sinais cerebelares aparecem no lado do corpo ipsilateral à lesão.
Tabela 1. Achados associados a lesão cerebelar unilateral.
DISMETRIA 71-86%
DISDIADOCOCINESIA 47-69%
NISTAGMO 54-84%
HIPOTONIA 76%
DISARTRIA 10-25%
NISTAGMO 9%
DISARTRIA 9%
INFARTO CEREBELAR
DISARTRIA 44%
HEMIPARESIA 22%
TETRAPARESIA 24%
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
V.C.S, sexo masculino, 3 anos, procedente de Camocim-CE, negro. Apresenta-se à consulta com
pediatra trazido pela mãe com a queixa de “dificuldade para andar”.
A mãe refere que, há cerca de 10 dias, a criança apresentou febre não mensurada, vômitos, diarreia e
hiporexia, por 3 dias. Foi medicado apenas com dipirona e anti-inflamatórios não esteroidais com
remissão dos sintomas descritos. Uma semana depois, evoluiu com quedas frequentes e tremores pelo
corpo. Nega outras queixas e outros sintomas neurológicos.
Antecedentes pessoais: Desenvolvimento neuropsicomotor normal.
Antecedentes familiares: Mãe e pai sem doenças relatadas.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico,
febril, eupneico, vigil, orientado.
Dados vitais: FC 70 bpm, FR 30 irpm, Tax 37,8°C, PA 106x80 mmHg, sentado, no membro superior
esquerdo.
Exame da cabeça e do pescoço: sem achados de significância clínica.
Exame neurológico: Deambula com apoio, base de sustentação alargada. Presença de tremor
intencional nos membros e nistagmo horizontal bilateral com piora durante fixação do olhar. Funções
superiores, pares cranianos, função motora e reflexos normais.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico, expansibilidade e frêmito
toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular presente e universal, sem
ruídos adventicios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo cardíaco regular, bulhas
normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal (incluindo aparelhos genitais): abdome semigloboso por adiposidade, sem
abaulamentos ou cicatrizes, RHA presentes, flácido e indolor, ausência de massas ou visceromegalias
palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose ou edema.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de significância clínica.
EXAMES COMPLEMENTARES
Tomografia de crânio e exame do líquido cefalorraquidiano normais.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Quadro 3. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
DISCUSSÃO DO CASO
O sintoma-guia é a ataxia, no caso descrito, a ataxia de marcha. A ataxia (do grego ataktos) é a
falta de coordenação dos movimentos voluntários e do equilíbrio, que resulta, em linhas gerais, de um
dos três distúrbios a seguir: disfunção cerebelar, disfunção vestibular ou disfunção sensorial. Pode ser
classificada como aguda, quando sua instalação se dá em menos de 72 horas, em um indivíduo
previamente normal, ou crônica, cujo curso tende a ser mais insidioso e progressivo. Na criança, um
quadro de ataxia crônica guarda maior relação com doenças congênitas e malformações do sistema
nervoso central. A investigação desse sintoma é feita através dos antecedentes pessoais e familiares,
infecções ou traumatismos recentes e ingesta de substâncias tóxicas.
A ataxia do paciente em questão se manifestou por quedas frequentes em uma criança com
desenvolvimento neuropsicomotor normal até então, o que leva a classificá-la como aguda e conduz o
raciocínio para causas adquiridas. Associado ao quadro, existe um tremor intencional de extremidades
e nistagmo horizontal, que falam a favor de uma síndrome de ataxia cerebelar.
O nistagmo é o grande sintoma dos distúrbios do labirinto, contudo sua origem pode ser central ou
periférica. Nas causas periféricas, apresenta-se quase sempre associado a vertigem, em crises, com
fatigabilidade à fixação do olhar e sem mudança de sentido com o olhar fixo. Já nas causas centrais,
costuma se apresentar sem associação com vertigem, de forma uni ou bidirecional, com piora durante a
fixação do olhar. Note que o nistagmo do paciente em questão guarda característica de causa central,
fortalecendo a hipótese colocada.
O tremor é uma oscilação involuntária e rítmica, geralmente classificado como tremor de repouso ou
de ação, sendo este último dependente da contração muscular. O tremor de ação pode ainda ser
dividido em subtipos: postural, cinético, intencional, tarefa-específica e isométrico. O tremor de origem
cerebelar é tipicamente intencional, ou seja, ocorre durante o movimento de atingir um alvo. Também é
a apresentação encontrada no exame físico do paciente.7
Ademais, a história patológica pregressa mostra um quadro infeccioso inespecífico, de provável
origem viral, que antecedeu o quadro neurológico, e os exames complementares não evidenciaram
lesões cerebrais que pudessem justificar os sintomas relatados, o que corrobora com a hipótese
levantada.
Na criança, a causa mais frequente de ataxia cerebelar aguda corresponde à ataxia cerebelosa ou
cerebelite aguda pós-infecciosa (quase sempre de causa viral), seguida pelas intoxicações
medicamentosas (os principais fármacos envolvidos são os anticonvulsivantes, anti-histamínicos e os
benozodiazepínicos), que, em geral, são quadro benignos e autolimitados. Contudo, causas
traumáticas, e, com maior preocupação, as causas neoplásicas devem ser descartadas, apesar da
menor prevalência. Dentre as causas neoplásicas, os tumores de fossa posterior são as mais
prevalentes.8
Sintoma-guia: Ataxia.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome cerebelar.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Infratentorial – cerebelo.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• O cerebelo é o centro de coordenação dos movimentos voluntários;
• Quatro sinais físicos são fundamentais para a doença cerebelar: ataxia, nistagmo, hipotonia e
disartria;
• Os exames para avaliação da coordenação podem ser divididos naqueles associados ou não às
funções de equilíbrio.
REFERÊNCIAS
1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Humana. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.
2. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
3. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
4. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
5. Larner AA. Dictionary of Neurological Signs. 3rd ed. New York: Springer; 2011.
6. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
7. Borges V, Ferraz HB. Tremores. Rev Neuroci. 2003; 14(1): 43-7.
8. Caldeira F, Sanches B, Monteiro JP, Calhau P, Fonseca MJ. Ataxia aguda em idade pediátrica –
revisão retrospectiva de cinco anos. Sci Médica. 2012; 22(1): 3-11.
9. Greenberg DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
10. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. FUNÇÃO MOTORA
Tanto o sistema nervoso central quanto o periférico
participam da atividade motora. Filogeneticamente, as
respostas motoras apropriadas para as informações
2.1. O Sistema Motor 1,3 sensoriais processadas tiveram início na medula
espinhal e, posteriormente, estenderam-se para o tronco
cerebral e prosencéfalo, tornando-se cada vez mais complexas. As grandes vias eferentes põem em
comunicação os centros nervosos com os órgãos efetores. Podemos dividi-las em vias eferentes
somáticas, que controlam a atividade dos músculos estriados esqueléticos (que atuam na motricidade
voluntária), e vias eferentes viscerais, que fazem parte do sistema nervoso autônomo.
Neste capítulo, vamos nos ater às vias eferentes somáticas. As vias motoras iniciam-se pelos tratos
de substância branca, através dos neurônios motores superiores, localizados na faixa motora do
córtex cerebral e em vários núcleos do tronco encefálico. Esses neurônios fazem sinapse com os
nervos cranianos no tronco encefálico e com nervos periféricos na medula. No corno anterior da medula
espinal, as vias continuam com os neurônios motores inferiores, seguindo para a periferia por meio
dos nervos periféricos, cujos axônios transmitem impulsos através das raízes anteriores e dos nervos
espinais para os nervos periféricos, terminando na junção neuromuscular.
Cabe lembrar que esses níveis são interdependentes entre si e que não é possível analisar o
sistema motor separadamente do sistema sensorial. O comprometimento da sensibilidade pode afetar
todos os aspectos do movimento – volitivo, reflexo, postural, tônico e fásico.
Anormalidades do movimento
É O PROTÓTIPO DOS TRANSTORNOS
HIPOCINÉTICOS E DEVE SER DIFERENCIADA DE
PARKINSONISMO. O TERMO PARKINSONISMO
ENVOLVE A PRESENÇA DE TREMOR EM REPOUSO,
BRADICINESIA, RIGIDEZ E REFLEXOS POSTURAIS
COMPROMETIDOS, SENDO A DOENÇA DE
PARKINSON APENAS UMA DE SUAS CAUSAS.
PATOGÊNESE: DEGENERAÇÃO DOS NEURÔNIOS
DOPAMINÉRGICOS NA SUBSTÂNCIA NEGRA;
EPIDEMIOLOGIA: PREDOMINANTE EM IDOSOS,
AUMENTANDO EXPONENCIALMENTE A PARTIR DA 6ª
DÉCADA DE VIDA;
CLÍNICA: BRADICINESIA, RIGIDEZ, TREMOR DE
REPOUSO, FACE INEXPRESSIVA E INSTABILIDADE
POSTURAL, SEM PERDA EFETIVA DA FORÇA
MUSCULAR, ATROFIA, FASCICULAÇÕES,
DOENÇA DE PARKINSON
ALTERAÇÕES REFLEXAS NEM REFLEXOS
PATOLÓGICOS;
TREMOR: GROSSEIRO (“ENROLAR DE PÍLULAS”),
NÃO INTENCIONAL E RÍTMICO, PODENDO ENVOLVER
MÃOS, PÉS, MAXILARES, LÍNGUA, LÁBIOS E FARINGE,
MAS NÃO A CABEÇA;
MARCHA: MARCHA LENTA E ARRASTADA, PASSOS
CURTOS, POSTURA FLEXIONADA E ENCURVADA DO
TRONCO E DAS EXTREMIDADES, OSCILAÇÃO DOS
BRAÇOS REDUZIDA E TENDÊNCIA A VIRAR O CORPO
“EM BLOCO”;
FÁSCIES: EXPRESSÃO TÍPICA COM HIPOMIMIA E
OLHAR FIXO, CHAMADA “FACE EM MÁSCARA”. O
FENÔMENO DO CONGELAMENTO É COMUM E SE DÁ
QUANDO O PACIENTE PARA SUBITAMENTE NO MEIO
DE UM ATO MOTOR.
DOENÇA DO SEGUNDO
DOENÇA DO PRIMEIRO NEURÔNIO MOTOR
NEURÔNIO MOTOR
(PARALISIA ESPÁSTICA)
(PARALISIA FLÁCIDA)
0 NENHUMA
CONTRAÇÃO
UM ESBOÇO
OU TRAÇO
1
DE
CONTRAÇÃO
MOVIMENTO
ATIVO COM
2 ELIMINAÇÃO
DA
GRAVIDADE
MOVIMENTO
ATIVO
3
CONTRA A
GRAVIDADE
MOVIMENTO
ATIVO
CONTRA
4–
GRAVIDADE E
RESISTÊNCIA
LEVE
MOVIMENTO
ATIVO
CONTRA
4
GRAVIDADE E
RESISTÊNCIA
MODERADA
MOVIMENTO
ATIVO
CONTRA
4+
GRAVIDADE E
RESISTÊNCIA
FORTE
FORÇA
5
NORMAL
a) Orientações gerais
O exame da força avalia principalmente a força muscular voluntária, e não a contração reflexa;
Fonte: Autor.
• A palpação pode ser útil. Contudo, indivíduos musculosos podem ter músculos firmes ao toque
mesmo com tônus de repouso normal, bem como em outros indivíduos os músculos podem
parecer flácidos e guardar uma hipertonia subjacente;
• Fita métrica
b) Orientações gerais
• Há uma variação individual significativa no desenvolvimento muscular que deve ser considerada
durante a avaliação.
c) Procedimento semiotécnico
SE MEU PACIENTE
NÃO TEM UMA
DOENÇA, QUAL
ESPECIFICIDADE PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
NEGATIVO?
Fonte: Autor.
O significado clínico do exame motor não pode ser estudado da maneira convencional, porque os
critérios à beira do leito são suficientes para diagnosticar muitas causas de fraqueza (por exemplo,
doença cerebrovascular, esclerose lateral amiotrófica e lesões nos nervos periféricos).
Além disso, a maioria dos estudos mostra que as síndromes dos neurônios motores inferiores ou
superiores geralmente são incompletas: na fraqueza do neurônio motor superior, até 25% dos pacientes
não têm hiperreflexia e, principalmente em lesões agudas, a espasticidade pode estar ausente. Da
mesma forma, em muitos casos de fraqueza do neurônio motor inferior, os reflexos dos membros
podem estar preservados. Por outro lado, a presença de reflexos anormais é muito útil: em um estudo
de pacientes com fraqueza, 87% tiveram reflexos anormais e, em todos os casos, a arreflexia previu
corretamente a doença dos neurônios motores inferiores e a hiperreflexia predisse corretamente a
doença dos neurônios motores superiores.
A doença do sistema motor mais estudada é a doença de Parkinson. Com uma prevalência estimada
entre 150 e 200 por 100.000, a doença de Parkinson é um dos mais comuns distúrbios neurológicos. É
mais prevalente em idosos, afetando 1% das pessoas com mais de 65 anos e 2% com mais de 85
anos. Seu diagnóstico continua sendo eminentemente clínico. No momento, nenhum laboratório ou teste
radiológico preciso está disponível.
Tabela 2. Detecção da Doença de Parkinson.
SINAIS
DIFICULDADE EM ANDAR
COM PISADA NO
2.9 (1.9-4.5) 0.32 (0.15-0.70)
SENTIDO CALCANHAR-
DEDOS
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
I.A.F., sexo masculino, 52 anos, natural e procedente de Uruoca-CE, branco, casado, evangélico,
pedreiro, analfabeto funcional. Veio à consulta ambulatorial com queixa de “fraqueza há meses”.
O paciente refere que, há cerca de 9 meses, percebeu dificuldade de segurar objetos na mão direita (o
paciente é destro e algumas vezes deixou cair instrumentos de trabalho). Inicialmente, eram episódios
isolados e não prejudicavam suas atividades diárias. Há cerca de 5 meses, no entanto, vem
apresentando piora do sintoma, com dificuldade de elevar o membro superior direito, mesmo em
atividades simples do dia a dia, como pentear os cabelos. Procurou atendimento no PSF de origem,
realizando radiografia e ultrassonografia do ombro, sem alterações. Contudo, os sintomas impediam as
atividades laborais e ele foi afastado do emprego desde então. Associado ao quadro refere ter
percebido dificuldade da marcha há 2 meses, com 1 episódio de queda no mês anterior, dentro de
casa, ao subir os degraus da escada que leva ao seu quarto (nega vertigem, lipotimia ou outros
sintomas no momento da queda).
Medicações em uso: Diazepam 5 mg, 1 comprimido a noite por insônia.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades, alergias e cirurgias.
Hábitos: Tabagista desde os 18 anos (carga tabágica 34 maços/ano). Etilismo há 3 anos (ingere
bebida alcóolica pelo menos 3 vezes na semana).
Antecedentes familiares: Mãe falecida aos 75 anos por complicações de Acidente Vascular Cerebral,
com diagnóstico prévio de epilepsia. Pai falecido aos 80 anos, por causas indeterminadas. Irmã em
tratamento para transtorno depressivo.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico,
afebril, eupneico, vigil, orientado.
Dados vitais: FC 85 bpm, FR 14 irpm, Tax 36,7°C, PA 130x84 mmHg (aferida com o paciente sentado,
no membro superior direito).
Exame da cabeça e do pescoço: sem achados de significância clínica.
Exame neurológico: Funções corticais e de pares cranianos preservadas. Força muscular grau 3 em
MSD, grau 4 em MSE e grau 4 em MMII. Sensibilidade tátil e vibratória preservadas, reflexos grau 3
globalmente, hipotrofia em mãos, MMSS e MMII, presença de miofasciculações.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax em tonel, eupneico, expansibilidade e frêmito
toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular reduzido globalmente, sem
ruídos adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo cardíaco regular, bulhas
hipofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal: abdome globoso por adiposidade, cicatriz no ponto de McBurney, RHA presentes,
flácido e indolor, ausência de massas ou visceromegalias palpáveis, espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, cheios e simétricos, sem cianose ou edema.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Hipotrofia em membros superiores e inferiores.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: Hb 13,5 g/dL, Ht 32%, leucócitos 4.550, plaquetas 287.000, creatinina
0,97 mg/dL, ureia 28 mg/dL, sódio 139 mg/dL, potássio 3,9 mg/dL, glicose 138 mg/dL, TGO 16
U/L, TGP 18 U/L, PCR negativa;
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Quadro 5. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
DISCUSSÃO DO CASO
Trata-se de um paciente cuja queixa principal é fraqueza. Este sintoma será tomado como sintoma-
guia. Na investigação da fraqueza, primeiramente é necessário determinar o padrão de fraqueza. Ela
pode ser subjetiva (sem achados anormais no exame físico, geralmente decorrente de doenças
sistêmicas como doenças cardiopulmonares, síndromes anêmicas, depressão, fibromialgia) ou objetiva;
generalizada ou com predomínio em grupos musculares específicos; distal ou proximal. A fraqueza
simétrica distal é característica precoce da doença dos neurônios motores ou neuropatia periférica,
enquanto a fraqueza muscular proximal é normalmente observada nas várias miopatias, em algumas
distrofias musculares e na miastenia gravis.
O paciente do caso apresenta um padrão de fraqueza distal, e o exame neurológico permite
confirmar que o problema é puramente motor, sem outras funções neurológicas afetadas, como
também evidencia sinais de comprometimento tanto dos neurônios motores superiores quanto dos
neurônios motores inferiores (hiperreflexia, hipotrofia e miofasciculações). Uma vez identificado o
padrão da fraqueza, deve-se buscar o local de lesão e a causa.
Unindo os dados da história clínica e do exame físico, resume-se que se trata de um homem de
meia-idade, branco, com uma história patológica pregressa pobre, apresentando distúrbio neurológico
puramente motor (síndrome deficitária motora), com sintomas de primeiro e de segundo neurônios
motores. Ou seja, não se tem um sítio anatômico único, de forma que a doença parece afetar desde o
córtex até o corno anterior da medula. E qual seria a causa? Para responder a essa pergunta, é
necessário lançar mão de exames complementares.
Na investigação complementar, os exames laboratoriais e de imagem são normais. Apenas um
exame complementar está alterado e chama a atenção: a eletroneuromiografia, que apresenta padrão
de denervação em mais de um segmento.
E agora? Em qual doença pensar? A história clínica aliada ao exame físico e aos exames
complementares sugerem fortemente a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). O termo “Amiotrófica”
faz referência à atrofia das fibras musculares, que gera paresia dos músculos afetados associada a
fasciculações. “Esclerose Lateral” reporta-se à degeneração do trato corticoespinhal anterior e lateral,
cujos neurônios são substituídos por gliose.
Trata-se de um distúrbio progressivo que envolve a degeneração do sistema motor em vários níveis
(bulbar, cervical, torácico e lombar), sendo a idade o fator preditor mais importante e cuja sobrevida
média gira em torno de três a cinco anos. Sua causa permanece desconhecida, mas já foram sugeridos
mecanismos como mutações genéticas, alterações citoesqueléticas, disfunção mitocondrial, infecções
virais, apoptose, anormalidades nos fatores de crescimento e respostas inflamatórias. O quadro clínico
da ELA reflete a perda de neurônios do sistema motor – do córtex ao corno anterior da medula. Os
sinais físicos desse distúrbio incluem achados de ambos neurônios motores, o superior (NMS) e o
inferior (NMI), sem déficits sensitivos, pois estes são incompatíveis com a fisiopatologia da doença. Os
achados físicos correlacionam-se com as diferentes topografias da degeneração dos núcleos motores:
bulbar, cervical ou lombar. O diagnóstico definitivo é dado com sinais de alteração nos NMS e NMI em
três regiões (bulbar, cervical, torácica ou lombossacral), associado a progressão da doença e ausência
de sinais sensitivos.
Várias estratégias modificadoras da doença têm sido testadas em ensaios clínicos, mas apenas um
medicamento (riluzol) foi aprovado até agora. Sobre a terapia não farmacológica, o suporte ventilatório
não invasivo, nas suas várias modalidades, é o que mais aumenta a sobrevida e a qualidade de vida do
paciente com ELA, sendo inclusive possivelmente superior ao uso de riluzol.
Sintoma-guia: Fraqueza muscular.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome deficitária motora.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• As grandes vias eferentes põem em comunicação os centros nervosos com os órgãos efetores,
sendo a unidade motora o destino comum final das vias da motricidade;
• A via de saída mais importante do córtex motor é o trato corticoespinhal, também chamado trato
piramidal, que é formado pelos neurônios motores superiores;
• O neurônio motor inferior inicia-se na medula e leva o impulso até a unidade motora;
• A avaliação da função motora incluiu: avaliação da força, tônus, volume e contorno muscular;
• O padrão de normalidade da força deve levar em conta variáveis como idade, sexo e
treinamento muscular;
• Os pacientes com lesões leves podem ter força normal em exames de rotina, mas o déficit
neurológico pode ser detectado por manobras de sensibilização.
REFERÊNCIAS
1. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
2. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2018.
3. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
4. Gondim FAA, Thomas FP, Graça JRV. Lesões medulares clínicas e experimentais. Fortaleza:
Imprensa Universitária; 2016.
5. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
6. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Humana. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.
7. Greenberg DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
8. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.
9. LARNER, A. A DICTIONARY OF NEUROLOGICAL SIGNS. THIRD EDITION. Springer. 2011.
10. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
11. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. O SISTEMA SENSITIVO1,2
Sensibilidade é a capacidade do sistema nervoso perceber um estímulo, de forma consciente ou
não. Todas as nossas sensações dependem de impulsos originados por estimulação de receptores ou
órgãos terminais e de vias sensoriais que conectam os tecidos periféricos ao córtex sensitivo primário
(localizado no giro pós-central, nas áreas 1, 2 e 3 de Brodmann). Essas vias podem envolver três
neurônios (vias conscientes) ou dois neurônios (vias inconscientes). Sherrington dividiu a sensibilidade
em:
2.1. Receptores
O receptor constitui a interface entre o sistema nervoso sensorial e o ambiente. Mecanorreceptores,
quimiorreceptores, termorreceptores e nocirreceptores são encontrados na pele e nas mucosas de todo
o corpo. Eles estão conectados aos prolongamentos periféricos dos primeiros neurônios da via
sensitiva.
2.2. Vias Periféricas
O primeiro neurônio da via sensitiva fica localizado nos gânglios espinais ou anexo a nervos
cranianos e seus prolongamentos se unem formando nervos que vão suprir determinada área. A região
cutânea que recebe a inervação de um gânglio espinal é chamada de dermátomo.
Figura 1. Distribuição dos dermátomos.
C5 – CLAVÍCULAS
C5, 6, 7 – FACE LATERAL DOS MEMBROS SUPERIORES
C8, T1 – FACE MEDIAL DOS MEMBROS SUPERIORES
C6 – POLEGAR
C6, 7, 8 – MÃO
C8 – QUARTO E QUINTO QUIRODÁCTILOS
T4 – NÍVEL DOS MAMILOS
T10 – NÍVEL DA CICATRIZ UMBILICAL
T12 – REGIÃO INGUINAL
L1, 2, 3, 4 – FACE ANTERIOR E INTERNA DOS MEMBROS
INFERIORES
L4, 5, S1 – PÉS
L4 – FACE MEDIAL DO HÁLUX
S1,2, L5 – FACE POSTERIOR E EXTERNA DOS MEMBROS
INFERIORES
S1 – MARGEM LATERAL DO PÉ E QUINTO PODODÁCTILO
S2, 3, 4 – PERÍNEO
Fonte: Autor.
Principais
vias
aferentes
sensoriais
Dor e temperatura TRATO
ESPINOTALÂMICO
LATERAL E TRATO
ESPINORRETICULAR
TRATO
Pressão e tato protopático ESPINOTALÂMICO
ANTERIOR
Propriocepção consciente
FASCÍCULOS GRÁCIL E
Tato epicrítico
CUNEIFORME
Sensibilidade vibratória
TRATOS
ESPINOCEREBELARES
Propriocepção inconsciente
E TRATO
CUNEOCEREBELAR
FIBRAS VISCERAIS
AFERENTES QUE
Sensibilidade visceral PERCORREM NERVOS
SIMPÁTICOS OU
PARASSIMPÁTICOS
Principais
distúrbios
sensoriais
DOR
PRODUZIDA POR
UM ESTÍMULO
MECÂNICO LEVE
Alodinia
QUE
NORMALMENTE
NÃO É
DOLOROSO.
PERCEPÇÃO DE
UM ESTÍMULO
SENSORIAL EM
Alestesia LOCAL
DIFERENTE DO
LOCAL DE SUA
APLICAÇÃO.
AUSÊNCIA DE
SENSIBILIDADE
Anestesia
GLOBAL OU
SELETIVA.
Analgesia AUSÊNCIA DE
RESPOSTA
DOLOROSA A
UM ESTÍMULO
NORMALMENTE
É DOLOROSO.
INCAPACIDADE
DE
RECONHECER,
Astereognosia
ATRAVÉS DO
TATO, OBJETOS
FAMILIARES.
SENSAÇÃO
DESAGRADÁVEL
Disestesia OU ANORMAL
PRODUZIDA POR
UM ESTÍMULO.
PERCEPÇÃO
EXAGERADA DA
DOR EM
Hiperalgesia RESPOSTA A UM
ESTÍMULO
NORMALMENTE
DOLOROSO.
REAÇÃO
EXAGERADA A
Hiperpatia DOR APÓS
ESTÍMULOS
REPETITIVOS.
RESPOSTA
DIMINUÍDA À DOR
APÓS UM
Hipoalgesia
ESTÍMULO
NORMALMENTE
DOLOROSO.
SENSAÇÕES
ESPONTÂNEAS
ANORMAIS
Parestesia
COMO
QUEIMAÇÃO E
FORMIGAMENTO.
PERDA DA
Palanestesia SENSIBILIDADE
VIBRATÓRIA.
• Sempre devemos comparar áreas simétricas do corpo e áreas distais dos membros com áreas
proximais;
• Os estímulos devem ser em múltiplos pontos de modo a avaliar a maioria dos dermátomos e os
principais nervos periféricos;
• Etapas do procedimento:
O indivíduo deve ser instruído a dizer o tipo de estímulo percebido e sua localização, e o
examinador deve ter cuidado para não sugerir respostas;
Sensibilidade dolorosa: deve ser testada com instrumentos estéreis descartáveis, com uma
ponta aguçada e a outra, romba. A sensibilidade térmica pode ser testada com tubos de
ensaio contendo água quente e fria ou com objetos de condutividade térmica distinta;
Sensibilidade tátil: o tato leve pode ser testado com algodão ou lenço de papel;
Sensibilidade à pressão: é testada por um toque firme sobre a pele ou por compressão de
estruturas profundas (massas musculares, tendões, nervos), usando pressão digital ou um
objeto contundente.
c) Parâmetros de normalidade
O paciente deve ser capaz de diferenciar estímulos quentes e frios, reconhecer e localizar
aproximadamente estímulos táteis leves, diferenciando as intensidades, reconhecer as diferentes
posições de uma parte do corpo quando movimentada pelo examinador e perceber a vibração do
diapasão até cessar.
d) Descrição normal
Sensibilidades epicrítica, protopática e proprioceptiva preservadas.
SE MEU PACIENTE
TEM UMA DOENÇA,
QUAL
Sensibilidade PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
POSITIVO?
SE MEU PACIENTE
NÃO TEM UMA
DOENÇA, QUAL
Especificidade PROBABILIDADE DE
UM TESTE
DIAGNÓSTICO SER
NEGATIVO?
QUANTAS VEZES É
MAIS PROVÁVEL
ENCONTRAR UM
RESULTADO, SEJA
ELE POSITIVO OU
NEGATIVO, EM
PESSOAS
DOENTES EM
RELAÇÃO A
PESSOAS SADIAS?
• QUANTO
MAIOR A RV
Razão de POSITIVA = MAIS
O RESULTADO
verossimilhança
POSITIVO
AUMENTA A
PROBABILIDADE
DE DOENÇA.
• QUANTO
MENOR A RV
NEGATIVA =
MAIS O
RESULTADO
NEGATIVO
DIMINUI A
PROBABILIDADE
DE DOENÇA.
Fonte: Autor.
As anormalidades de sensações de sensibilidade tátil, dor e temperatura definem todas as síndromes
sensoriais clínicas importantes: lesão do nervo periférico, radiculopatia, síndromes da medula espinhal,
infarto medular lateral e síndromes hemisférica talâmica e cerebral. Até o momento, nenhum teste de
diagnóstico se mostrou superior ao exame na beira do leito. Por exemplo, a avaliação da hipoestesia é
um preditor mais específico da perda de fibras nervosas do que a avaliação com estesiômetro
automático. Tabela 1. Detecção de perda de fibras nervosas.
ACHADO
ACHADO PRESENTE
AUSENTE
DIMINUIÇÃO DA
SENSIBILIDADE
DOLOROSA 88 81 4,6 0,2
AO EXAME
COM ALFINETE
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
E.D.S, sexo masculino, 67 anos, natural e procedente de Crateús-CE, pardo, casado, católico, guarda
de segurança, ensino médio completo. Veio à consulta ambulatorial do Programa de Saúde da Família
onde está acompanhado por queixa de “dormências nos pés há 2 anos”.
O paciente refere que, há cerca de 2 anos, iniciou quadro de parestesias, tipo “formigamento”, nos
membros inferiores. Os sintomas relatados não atrapalhavam a marcha e as atividades de vida diária,
por isso não buscou atendimento médico no período. Um ano depois, associaram-se ao quadro
descrito, lesões dermatológicas recorrentes também nos membros inferiores. As lesões iniciavam com
aspecto bolhoso, evoluindo com ulcerações e crostas. Por conta dessas lesões, buscou atendimento
médico, sendo diagnosticado com úlceras venosas e iniciando uso de diosmina. Fez uso da medicação
por 6 meses, sem melhora das lesões, quando suspendeu o uso por conta própria. Voltou a procurar a
atendimento médico, porque notou desaparecimento da sensação térmica e dolorosa após acidente
com café quente, há 1 mês, que culminou em queimadura de segundo grau no pé direito. Além disso, o
paciente queixa também de ressecamento da pele. Traz resultados de exames de laboratório e biópsia
de pele que foram solicitados na consulta ambulatorial.
Medicações em uso: Captopril 25 mg 8/8h, anlodipino 5 mg 12/12h, hidroclorotiazida 25 mg/dia;
metformina 500 mg 8/8h.
Antecedentes pessoais: Hipertenso e diabético, diagnosticado há cerca de 5 anos, com curva
pressórica e glicêmica bem controladas. Nega alergias e cirurgias.
Hábitos: Tabagista desde os 25 anos, carga tabágica 43 maços/ano. Etilista desde os 30 anos, com
ingesta “em binge” de destilados (cachaça).
Antecedentes familiares: Mãe já falecida por causas desconhecidas. Não sabe referir história
pregressa do pai.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Estado geral regular, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico,
afebril, eupneico, vigil, orientado, pele ressecada, presença de madarose e de múltiplos nódulos
endurecidos, indolores com pele local hiperpigmentada em antebraços e pernas.
Dados vitais: FC 90 bpm, FR 16 irpm, Tax 36,3°C, PA 130x90 mmHg (aferida com o paciente sentado,
no membro superior direito).
Exame da cabeça e do pescoço: Presença de linfadenomegalias cervicais e axilares, indolores,
móveis, fibroelásticas.
Exame neurológico: Funções corticais e de pares cranianos preservadas. Força muscular grau 4 em
membros inferiores. Sensibilidade térmica e dolorosa comprometida em regiões plantares
bilateralmente, com preservação da sensibilidade tátil. Hipoestesia/anestesia plantar, alteração na
abdução e adução do hálux e artelhos, flexão dos metatarsianos (garra de artelhos), com
espessamento visível do tibial posterior bilateralmente. Hiporreflexia dos reflexos Aquileus
bilateralmente.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico, eupneico, expansibilidade e frêmito
toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular reduzido globalmente, com
crepitações discretas basais bilaterais.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo cardíaco regular, bulhas
normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame abdominal: abdome globoso por adiposidade, sem cicatrizes, abaulamentos ou retrações,
ruídos hidroaéreos presentes, flácido e indolor, ausência de massas ou visceromegalias palpáveis,
espaço de Traube livre.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades mal perfundidas, pulsos periféricos
pediosos de difícil palpação, filiformes e simétricos, acrocianose, edema em pés, bilateralmente com
cacifo +/4+, presença de lesões crostosas pré-tibiais e maleolares em ambos os membros inferiores.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: sem achados de significância clínica.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Sorologias para HIV, hepatite B e C negativas; VDRL reagente 1/2; FAN e fator reumatoide
negativos;
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
DISCUSSÃO DO CASO
Quadro 4. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
Fonte: Autor. Baseado em Chaves11.
Tomando como sintoma-guia a parestesia dos membros inferiores do paciente, a investigação nos
mostra uma evolução mais arrastada, aparentemente simétrica, com claro prejuízo da sensibilidade. O
diagnóstico sindrômico, portanto, é de uma síndrome deficitária sensitiva. Não encontramos achados
na história ou no exame físico sinais ou sintomas que pudessem justificar acometimento central (funções
corticais e de pares cranianos preservadas). Além disso, a perda sensitiva parece obedecer a
territórios nervosos periféricos dos membros inferiores: prejuízo de sensibilidade térmica e dolorosa em
regiões plantares, com hiporreflexia e espessamento visível dos nervos tibiais posteriores.
A história clínica nos apresenta ainda alguns fatores de risco que podem sugerir a provável etiologia
da neuropatia periférica encontrada: diabetes mellitus, tabagismo e etilismo importantes. Todos eles
podem gerar alterações microvasculares e complicações importantes como úlceras, deformações e
amputações. Vale lembrar que a neuropatia diabética e alcoólica costuma se apresentar como
polineuropatia simétrica distal com sintomas predominantemente sensitivos. Uma outra doença de
importante apresentação epidemiológica no nordeste do Brasil deve ser lembrada como diagnóstico
diferencial das neuropatias periféricas: a hanseníase.
Alguns achados do exame físico e dos exames complementares auxiliam no diagnóstico diferencial e
conduzem o raciocínio do caso para o diagnóstico de hanseníase: presença de madarose e de múltiplos
nódulos endurecidos, indolores, com pele local hiperpigmentada em antebraços e pernas (hansenomas),
comprometimento da sensibilidade térmica e dolorosa nas regiões plantares com preservação da
sensibilidade tátil e biópsia de pele com infiltrado dérmico granulomatoso difuso, BAAR positivo, com
presenças de globias (acúmulos de bacilos identificados pela coloração de Ziehl-Neelsen).
A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, causada pelo Mycobacterium leprae, um
bacilo álcool-ácido resistente e gram-positivo. Ele tem grande predileção pelos nervos periféricos e,
mais especificamente, pelas células de Schwann.8 Quando não tratada na forma inicial, quase sempre
evolui de forma lenta e progressiva, podendo levar a incapacidades físicas consideráveis. Sua
transmissão ocorre pelas vias respiratórias.
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, PARA FINS TERAPÊUTICOS, CLASSIFICA A
HANSENÍASE DE ACORDO COM A BACILOSCOPIA: PAUCIBACILAR (ÍNDICE BACILOSCÓPICO
MENOR QUE 2+ OU ATÉ CINCO LESÕES CUTÂNEAS E/OU UM TRONCO NERVOSO ACOMETIDO)
E MULTIBACILAR (ÍNDICE BACILOSCÓPICO MAIOR OU IGUAL A 2+ OU MAIS DE CINCO LESÕES
CUTÂNEAS E/OU MAIS DE UM TRONCO NERVOSO ACOMETIDO). OUTRA FORMA DE
CLASSIFICAÇÃO BASEIA-SE NA RESPOSTA IMUNOCELULAR DO HOSPEDEIRO, GERANDO UM
ESPECTRO DE DOENÇA COM DOIS IMPORTANTES POLOS: AQUELES QUE APRESENTAM
RESPOSTA IMUNE CELULAR VIGOROSA CONTRA A MICOBACTÉRIA (forma tuberculoide) E
AQUELES QUE CUJA RESPOSTA CELULAR É POBRE E SÃO MAIS SUSCEPTÍVEIS À AÇÃO DO
BACILO COM MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MAIS EXUBERANTES (forma virchowiana).
A forma tuberculoide mais frequentemente se manifesta como placas anestésicas, bem delimitadas
e de centro claro. Quando tem envolvimento nervoso, o que ocorre com menor frequência, o faz em
território de um único nervo periférico. Já na forma virchowiana, o paciente, em geral, não apresenta
manchas visíveis. São pacientes com pele seca e infiltrada (aspecto em casca de laranja), com nódulos
escuros, endurecidos e assintomáticos (denominados hansenomas), presença de madarose e com mais
queixas que traduzem acometimento de nervos periféricos (parestesias, espessamento nervoso). É a
forma mais contagiosa da doença.
Devido à destruição das terminações nervosas livres, a alteração de sensibilidade nas lesões
geralmente obedece a uma ordem de acometimento: primeiramente perde-se a sensibilidade térmica,
seguida da dolorosa e da tátil. Também há o acometimento de fibras autonômicas, cujo principal
sintoma é a perda da sudorese, resultando em pele ressecada.
Os exames laboratoriais são inespecíficos: no caso descrito, o paciente apresentou VDRL reagente,
em baixas titulações, uma condição que pode ser comum nesses pacientes, configurando falso-positivo.
Outros exames que podem ser falso-positivos são o FAN e o fator reumatoide. O diagnóstico deve ser
baseado, essencialmente, no quadro clínico. Outros exames, como biópsia de pele e baciloscopia,
quando disponíveis, são exames subsidiários. O tratamento é feito por poliquimioterapia padrão com
rifampicina, dapsona e clofazimina, segundo orientações da Organização Mundial de Saúde9.
Sintoma-guia: Parestesias.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome deficitária sensitiva.
Diagnóstico anatômico/topográfico:
• Nervos periféricos.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• As anormalidades sensoriais podem ser caracterizadas por aumento, diminuição, ausência ou
perversão da sensibilidade;
• Os estímulos devem ser em múltiplos pontos de modo a avaliar a maioria dos dermátomos e os
principais nervos periféricos;
• Até o momento, nenhum teste de diagnóstico se mostrou superior ao exame na beira do leito.
REFERÊNCIAS
1. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
2. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
3. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
4. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2018.
5. Porto CC, Porto AL. Exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 20116. Greenberg
DA, Aminoff MJ, Simon RP. Neurologia clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
6. Seguin B, Endelman E, Granquist T. Dermatomes/Myotomes. Head and C-Spine – A BOC Exam
Preparation Overview. [Internet]. [acesso em 29/09/19].
7. Larner AA. Dictionary of Neurological Signs. 3rd ed. New York: Springer; 2011.
8. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das
Doenças Transmissíveis. Guia prático sobre a hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
9. Lastorial JC, Abreu MAMM. Hanseníase: diagnóstico e tratamento. Diagn Tratamento. 2012; 17(4):
173-9.
10. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018
11. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
Legenda: No reflexo de estiramento monossináptico, o alongamento súbito estira os fusos musculares, que enviam impulsos pelas
fibras aferentes primárias do fuso até a medula espinal. As fibras aferentes do fuso fazem sinapse diretamente, sem a
participação de interneurônios, nos neurônios motores alfa que inervam o músculo, o que causa a contração reflexa do músculo.
Fonte: Adaptada de Encyclopaedia Britannica1.
Os reflexos motores são subdivididos em dois grupos: reflexos exteroceptivos (ou superficiais/cutâneos); e reflexos miotáticos
(ou profundos). Para efeito didático, vamos estudá-los separadamente.
Durante a avaliação dos reflexos profundos, você deverá:
I. Executar a técnica correta para aquele reflexo;
II. Avaliar a presença ou ausência de resposta;
III. Se presente, avaliar sua amplitude, velocidade, duração e vigor das respostas (qualidade do reflexo);
IV. Comparar com reflexo homolateral.
A presença e a qualidade dos reflexos de estiramento muscular dependem da integridade dos neurônios motores inferiores e
superiores que o inervam, assim como de sua via aferente (os neurônios sensitivos). Os neurônios motores inferiores de um
reflexo são o seu nervo periférico e o segmento espinhal correspondente a ele (componente segmentar); portanto, o acometimento
em qualquer um destes locais reduz ou abole o reflexo examinado. Os neurônios motores superiores correspondem às vias
corticospinal descendentes (componente suprassegmentar), e têm como funções modular, regular e controlar a execução do ato
motor. Dessa forma, qualquer lesão que ocorra ao longo dessa via, retirando sua modulação, exacerba o reflexo. Quando há lesão
em nível de medula espinhal, exatamente no componente segmentar, onde os neurônios motores superiores e inferiores se
encontram, há abolição do reflexo no nível da lesão (resposta do neurônio motor inferior). Note que nesta mesma lesão há um
comprometimento das vias suprassegmentares que modulam os reflexos que estão abaixo. Desta forma, há exacerbação de todos
os reflexos dos níveis espinhais que estão abaixo do nível da lesão (resposta do neurônio motor superior). Resumindo, toda as
vezes que houver uma lesão medular em um determinado nível, naquele segmento há abolição ou diminuição dos reflexos, e nos
segmentos abaixo há exacerbação.
Figura 2. Alterações dos reflexos de acordo com o nível da lesão.
As duas figuras mostram o exemplo de arco reflexo profundo monossináptico, ou seja, aquele em que as vias aferente e
efetora estão no mesmo nível medular.
As anormalidades reflexas causadas por doença das vias motoras descendentes (suprassegmentares) costumam ser
conhecidas como sinais do neurônio motor superior (primeiro neurônio), corticospinais ou piramidais.
FLEXORES C7-
FACE FLEXÃO DOS
Flexor dos dedos DOS DEDOS C8- NERVO MEDIANO
PALMAR DEDOS DA MÃO
DAS MÃOS T1
FLEXÃO DO
ANTEBRAÇO E,
APÓFISE EVENTUALMENTE,
C5-
Supinador SUPINADORES ESTILOIDE LIGEIRA NERVO ULNAR
C6
DO RÁDIO PRONAÇÃO E
FLEXÃO DOS
DEDOS
Pronador PRONADORES C6- PROCESSO PRONAÇÃO DA NERVO RADIAL
C7- ESTILOIDE MÃO E
C8- DA ULNA ANTEBRAÇO
T1
TENDÃO
C5- FLEXÃO DO NERVO
Bicipital BÍCEPS DISTAL DO
C6 ANTEBRAÇO MUSCULOCUTÂNEO
BÍCEPS
C6- TENDÃO
EXTENSÃO DO
Tricipital TRÍCEPS C7- DISTAL DO NERVO RADIAL
ANTEBRAÇO
C8 TRÍCEPS
Os reflexos miotáticos fásicos podem ser: normais, abolidos, diminuídos, vivos ou exaltados. Suas alterações podem ser
simétricas ou não. O registro dos resultados deve ser feito literalmente ou por meio de sinais convencionais:
Tabela 1. Classificação dos reflexos quanto à intensidade de sua resposta.
Hiporreflexia (1+)
Normoreflexia (2+)
Hiperreflexia (4+)
As imagens abaixo exemplificam as manobras para o exame dos reflexos profundos mais comumente utilizadas.
Figura 3. Obtenção do reflexo patelar com a percussão do tendão rotuliano.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Em caso de obtenção de um reflexo grau 0, deve-se usar manobras de sensibilização, como aumentar a tensão passiva no
músculo avaliado, a fim de constatar se realmente está ausente. No entanto, reflexos ausentes ou aumentados, por si só, não
significam doença neurológica presente. Por exemplo, 6% a 50% dos idosos que comprovadamente não possuem doença
neurológica podem cursar com abolição do reflexo aquileu mesmo com realização de manobras de sensibilização (manobra de
Jendrassik), e uma pequena parcela de indivíduos normais tem hiperreflexia generalizada. Portanto, para definir que há alguma
alteração real e com importante significado clínico, é importante se relacionar com outros dados do exame físico, como, por
exemplo, achados compatíveis com lesão do neurônio motor superior (fraqueza, espasticidade, sinal de Babinski) ou inferior
(fraqueza, atrofia, fasciculações). Os reflexos de grau 4 são patológicos, pois a resposta é muito rápida, o limiar é baixo e a zona
reflexógena é ampla, com sinais associados de disfunção do trato corticospinal, como aumento do tônus, flexão dorsal dos dedos
ou clônus sustentado.
Toda vez que você classificar um reflexo como anormal, deverá, primeiro, avaliar se está usando a técnica correta e o material
adequado.
Tabela 2. Variáveis dos testes diagnósticos relacionadas ao diagnóstico de radiculopatia cervical e lombossacra.
SEM
REDUÇÃO DO REFLEXO BICIPITAL 10 99 9,1
SIGNIFICÂNCIA
SEM SEM
REDUÇÃO DO REFLEXO BRAQUIORRADIAL 8 99
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
SEM SEM
REDUÇÃO DO REFLEXO TRICIPITAL 10 95
SIGNIFICÂNCIA SIGNIFICÂNCIA
SEM
REFLEXO DIMINUÍDO DO TRICIPITAL, DETECTANDO RADICULOPATIA DE C7 15-65 81-93 3,0
SIGNIFICÂNCIA
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
Um homem de 20 anos, que trabalha como ajudante de obras, dá entrada na unidade de pronto-atendimento (UPA) após sofrer
uma queda em seu local de trabalho. Seus colegas relatam que ele tropeçou, e a partir de então passou a ter dificuldades
progressivas para realizar as atividades inerentes ao seu serviço, como manusear os instrumentais e materiais de construção,
evoluindo para incapacidade de deambulação. Ao chegar à UPA, o paciente não conseguia mais elevar as suas pernas e
visivelmente não conseguia encontrar a melhor posição no leito. Ele também começou a apresentar desconforto respiratório pouco
tempo após ser deixado de observação. O paciente nega outros sintomas sistêmicos no momento e também comorbidades;
porém, afirma que, há cerca de 20 dias, ele e seus colegas apresentaram episódio de diarreia após um churrasco de
confraternização na empresa.
Medicações em uso: paciente não relata comorbidades, portanto não faz uso contínuo de nenhuma medicação;
Antecedentes pessoais: refere quadro recente de gastroenterite (há cerca de 3 semanas);
Hábitos: nega etilismo e tabagismo;
Antecedentes familiares: mãe, 45 anos, hipertensa e diabética.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: estado geral regular, levemente dispneico, afebril, um pouco adinâmico, normocorado, hidratado;
Dados vitais: a temperatura axilar é de 36,2°C, frequência cardíaca de 60 bpm, frequência respiratória de 24 irpm e pressão
arterial de 90x60 mmHg.
Exame neurológico:
Nível de consciência: alerta, sem alteração das funções mentais.
Nervos cranianos: Pupilas isocóricas com resposta de contração lentificada à luz.
Motor: tetraparesia simétrica de predomínio nos membros inferiores. Ele consegue manter as mãos suspensas contra a gravidade
apenas por 10 segundos e apresenta evidente fraqueza nas mãos. Consegue realizar movimentos discretos com a pernas.
Reflexos: reflexos tendinosos profundos (bicipital, tricipital, patelar, aquileu) = abolidos (grau 0).
Sensibilidade: diminuição da sensibilidade para todas as modalidades nos membros inferiores até a raiz da coxa e distal dos
membros superiores.
Equilíbrio e marcha: impossibilidade de ficar em pé.
Coordenação: impossibilidade de testar devido à fraqueza.
Sinais meníngeos: ausentes.
Exame do sistema cardiovascular: ausculta cardíaca rítmica e bradicárdica, porém sem sopros. Pulsos periféricos simétricos,
cheios.
Exame do tórax e aparelho respiratório: ausculta pulmonar tem murmúrio presente com roncos difusos de transmissão,
taquipneico com respiração superficial.
Exame abdominal: ruídos presentes, flácido, sem visceromegalias aparentes ou peritonismo.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: boa perfusão periférica, não observados edemas ou assimetrias de membros e
articulações.
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais: Hemograma sem sinais de anormalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Quadro 3. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
DISCUSSÃO DO CASO
Este homem de 20 anos desenvolveu alteração sensitiva e motora de rápida evolução (aguda), ascendente simétrica aguda,
com envolvimento progressivo dos músculos diafragmáticos. Seu problema imediato é a insuficiência respiratória iminente. A
primeira prioridade deve ser a determinação da progressão da insuficiência respiratória e a necessidade de se garantir uma via
aérea avançada, se necessário. Após determinar a necessidade de intubação, a próxima prioridade é determinar a topografia do
acometimento neurológico. Deve-se usar como sintoma-guia a fraqueza. Neste caso, temos uma tetraparesia simétrica de padrão
distal com reflexos abolidos, mostrando comprometimento do nervo periférico (neurônio motor inferior). Os reflexos são
fundamentais para topografar o acometimento.
O raciocínio seguinte é estabelecer a etiologia. Diante de um quadro de paralisia flácida aguda arreflexa, o principal diagnóstico
é a síndrome de Guillain-Barré. Esta é, na verdade, uma síndrome que engloba várias etiologias de cunho imunológico e agressão
contra o nervo periférico agudamente.
Esse paciente apresentou uma história clássica de doença gastrintestinal três semanas antes do início dos sintomas
neurológicos. Ele pode ter sido exposto Campylobacter jejuni, que, classicamente, induz a produção de agressão cruzada contra o
nervo periférico.
A arreflexia ou hiporreflexia é um achado característico. São comumente encontradas em lesões que interrompem o arco
reflexo, o contrário do que acontece no caso da hiperreflexia, em que ocorre lesão do trato piramidal (AVCs, tumores,
traumatismos, doença desmielinizante do sistema nervo central). Ocorre em conjunto com a arreflexia, fraqueza proximal das
extremidades inferiores, com alterações sensoriais distais e de progressão ascendente. Os testes complementares são: avaliação
do líquor com aumento de albumina (proteína) e celularidade normal (dissociação proteína citologia) e exame de
eletroneuromiografia.
Esse quadro faz diagnóstico diferencial com doenças centrais medulares cervicais que irão produzir fraqueza nos membros
proximais e alteração sensitiva; neste caso, havendo um nível sensitivo torácico. Os reflexos tendinosos, neste caso, seriam
exaltados, havendo sinal de Babinski. As doenças da unidade motora periférica que acometem placa neuromuscular ou músculo
não cursam com alteração sensitiva. Os reflexos, neste caso, são geralmente normais ou podem estar pouco diminuídos,
dependendo do grau de lesão.
REFERÊNCIAS
1. Encyclopaedia Britannica. Knee-jerk-reflex-motor-neuron-connection. [Internet] [acesso em 22 out 2019].
2. Sci-info-pages. SPINAL CORD INJURY LEVELS & CLASSIFICATION. [Internet] [acesso em 22 out 2019].
3. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2007.
4. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
5. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
6. Chaves MLF, Finkelstein A, Stefani MA. (Org.). Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed; 2008.
7. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
8. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
Marchas patológicas
• O examinador, que estará posicionado à frente do paciente, deverá garantir que o examinado
terá apoio caso haja instabilidade.
b) Procedimento semiotécnico
• Etapas do procedimento: Solicitar ao paciente para manter os pés próximos, com os braços
colados ao corpo. Manter esta postura por 30 segundos com olhos abertos, em seguida fechá-
los, mantendo assim por mais 30 segundos.
c) Parâmetros de normalidade
• A prova é positiva quando o paciente apresenta acentuada oscilação do corpo (quando está com
os olhos fechados) com tendência a queda, Observar se o padrão piora ao fechar os olhos, ou
se o paciente utiliza de algumas estratégia para não cair, como abrir os olhos ou afastar os
braços do corpo.
5. AVALIAÇÃO DA MARCHA
• Posição do paciente e do examinador: Paciente em ortostase. O examinador posiciona-se onde
possa observar todos os parâmetros da marcha e também possa auxiliar o paciente caso haja
instabilidade, evitando uma queda.
• Etapas do procedimento: Solicitar ao paciente para andar uma determinada distância e voltar.
Caso consiga, usar manobra sensibilizadora, como andar em tandem.
Anormalidades da marcha e do equilíbrio são comuns nas doenças que acometem alguns dos cinco
sistemas descritos. O padrão da anormalidade revelará qual ou quais destes é o causador do distúrbio.
Dicas importantes
1. Toda vez que o equilíbrio ou a marcha tiver um padrão muito pior com olhos fechados do que com
olhos abertos, pensar em distúrbio sensitivo (propriocepção);
2. Distúrbios cerebelares causam alteração da coordenação associados que serão unilaterais em
casos de acometimento de lobo cerebelar. É comum a presença de disartria e nistagmo. O paciente
tende a cair ou pender para o lado acometido;
3. Distúrbios vestibulares tendem a ser unilaterais, com queixas de vertigem, tendendo o paciente a
cair ou pender para o lado acometido. Comumente há nistagmo e não há disartria;
4. Alterações extrapiramidais cursam comumente com algum dos sintomas de parkinsonismo: rigidez,
bradinesia, tremor de repouso e instabilidade postura;
5. Alterações do sistema piramidal são vistas na avaliação motora com padrão de fraqueza diversos,
tendo ou não acometimentos dos reflexos.
Fonte: Autor.
Como dito anteriormente, um exame da marcha realizado com atenção pode nos direcionar ao
correto diagnóstico do paciente ou predizer e estratificar riscos em paciente que já possuem limitações,
como, por exemplo, o risco de quedas em indivíduos idosos. Estudos mostram que 30% das pessoas
maiores de 65 anos que vivem na comunidade sofrem algum tipo de queda por ano. Dos testes já
estudados para identificar pacientes com maior risco de queda, dois deles se destacam: o stops
walking when talking e o timed up-and-go (em tradução livre: “parar de andar enquanto fala” e “tempo
para se levantar, andar e retornar”). No primeiro teste, a premissa está em identificar os indivíduos que
têm dificuldade em realizar duas tarefas ao mesmo tempo. Ele é positivo quando o paciente para de
caminhar ao ser iniciada uma conversação com o examinador. Já no segundo teste, mede-se o tempo
que o paciente leva para se levantar de uma cadeira, percorrer uma distância de 3 metros e retornar
para se sentar na cadeira (obviamente, na sua cadência e velocidade habituais). A Tabela 1 mostra
sensibilidade e especificidade para achados do exame físico que podem predizer maior probabilidade
de queda em um prazo de até 12 meses.
Tabela 1. Previsão da ocorrência de quedas.
Exame neurológico
FALHA NO tandem walk test (> 2 ERROS) 53% 70% 1,7 0,7
Testes especiais
Razão de
verossimilhança
Achado Sensibilidade Especificidade
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Na Tabela 2 são demonstrados os achados em exame físico e sua relação com a ocorrência de
quadro demencial e parkinsonismo.
Tabela 2. Anormalidades da marcha em pacientes com demência/parkinsonismo.
CAPAZ DE DAR 10 PASSOS NO tandem walk TESTE 67-92% 82-91% 5,4 0,2
MARCHA DE PEQUENOS PASSOS DETECTANDO DEMÊNCIA VASCULAR 56% 91% 6,1 0,5
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
Paciente do sexo masculino, 27 anos, caucasiano, solteiro, trabalha como recepcionista. Natural e
procedente do estado de Santa Catarina, tem ascendência portuguesa e é destro. Paciente iniciou aos
9 anos de idade quadro de desequilíbrio, incoordenação motora e fraqueza difusa, com piora
progressiva, evoluindo para dificuldade de deambulação. Tornou-se restrito à cadeira de rodas aos 25
anos. Nega palpitações, dispneia, disfagia ou queixas dolorosas.
Medicações em uso: paciente não relata comorbidades, portanto não faz uso contínuo de nenhuma
medicação;
Antecedentes pessoais: Teve uma internação anterior durante sua infância para investigação do
quadro neurológico; porém, esta resultou inconclusiva;
Hábitos: nega etilismo e tabagismo;
Antecedentes familiares: em relação à história mórbida familiar, a mãe faleceu por arritmia cardíaca e
o pai faleceu por câncer de pulmão. Por parte da família materna, possui um irmão e uma prima de
segundo grau, com quadro semelhante, e um tio com arritmia, sugerindo padrão de herança genética
Mendeliana autossômica recessiva.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: estado geral regular, eupneico em ar ambiente, afebril, um pouco
adinâmico, normocorado, hidratado;
Dados vitais: a temperatura axilar é de 36,5°C, frequência cardíaca de 60 bpm, frequência respiratória
de 16 irpm e pressão arterial de 110x70 mmHg.
Exame do sistema cardiovascular: ausculta cardíaca rítmica e normocárdica, porém sem sopros.
Exame do tórax e aparelho respiratório: ausculta pulmonar tem murmúrio presente sem ruídos
adventícios.
Exame abdominal: ruídos presentes, flácido, sem visceromegalias aparentes ou peritonismo.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: boa perfusão periférica, não são observados edemas
ou assimetrias de membros e articulações; pulsos periféricos são simétricos e cheios.
Exame neurológico:
• Fala empastada (ébria), bradicinesia bilateral, eutonia de membros superiores, amiotrofia distal,
hipertonia, pés cavos e dedos em garra nos membros de inferiores, bem como paraplegia
espástica;
• Força muscular 5/5 em membros superiores, 1/5 em coxas, 2/5 em extensão de pernas, 0/5 a
flexão de pernas e 0/5 em pés.
• Reflexos: Sinal de Babinski bilateralmente. Hiporreflexia (1/4) em membros superiores e
arreflexia (0/4) em membros inferiores.
EXAMES COMPLEMENTARES
Foram solicitados exames laboratoriais, eletrocardiograma e ecocardiograma, e os resultados
obtidos foram normais. A eletroneuromiografia revelou neuronopatia sensorial pura, e a ressonância
magnética de encéfalo evidenciou redução volumétrica de predomínio cerebelar com envolvimento em
menor grau de ponte, bulbo e medula cervical.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais são os achados do exame físico que corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
DISCUSSÃO DO CASO
Quadro 3. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
• Infratentorial – cerebelo
• Medula
• Nervo periférico
• Sistema extrapiramidal (multitopográfico)
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
• Qualquer perturbação do andar que é causada por distúrbio do sistema nervoso central recebe
o nome de disbasia;
REFERÊNCIAS
1. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
2. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
3. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
4. Chaves MLF, Finkelstein A, Stefani MA. (Org.). Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto
Alegre: ArtMed; 2008.
5. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
6. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
7. Watanabe N, Lin J, Lin K. Ataxia progressiva hereditária. Arq Catarin Med. 2013; 42(2): 81-5.
8. Blindauer KA. Cerebellar Disorders And Spinocerebellar Ataxia. Continuum: Lifelong Learning
Neurol. 2004; 10: 154-73.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. NOÇÕES DE ANATOMIA2,3
A síndrome meníngea agrupa o conjunto dos sintomas ligados à irritação patológica das meninges
do sistema nervoso central (SNC) com modificação dos constituintes do líquido cefalorraquidiano (LCR),
destacando-se em especial as hemorragias subaracnoideas e as meningites.
O SNC é revestido por membranas, chamadas de meninges, formadas por tecido conjuntivo. As
meninges recobrem e protegem o tecido nervoso, determinando espaços com importância
anatomoclínica. As meninges são constituídas pela dura-máter, aracnoide e pia-máter.
Destas membranas, a dura-máter é a mais espessa e mais externa e desempenha funções de
proteção (em latim, dura-máter, que significa mãe, porque protege; dura, por ser resistente). É
composta por células semelhantes a fibroblastos que secretam colágeno em abundância para produzir
uma membrana protetora firme. A região da dura-máter que recobre os hemisférios cerebrais e o
tronco cerebral é constituída por duas lâminas separadas: uma externa, a lâmina periostal, e uma
lâmina meníngea mais interna. A lâmina periostal está acoplada à superfície interna do crânio. Duas
importantes expansões originam-se da lâmina meníngea e separam diferentes componentes dos
hemisférios cerebrais e do tronco cerebral: (1) a foice do cérebro, que separa os dois hemisférios; (2) o
tentório do cerebelo, que separa o cerebelo dos hemisférios cerebrais. A dura-máter que recobre a
medula espinhal tem continuidade com a dura-máter craniana e com o epineuro dos nervos periféricos.
A aracnoide está justaposta à dura-máter, porém não de uma forma muito firme, permitindo assim a
existência de um espaço potencial entre ambas. Este espaço virtual recebe o nome de espaço subdural
e tem importância clínica. Devido ao fato de a dura-máter possuir vasos sanguíneos, a ruptura de um
desses vasos pode levar a um sangramento e consequente formação de coleção sanguinolenta
(hematoma subdural). Nesta situação, o coágulo pressiona a aracnoide afastando-a da dura-máter e
preenche o espaço subdural, comprimindo o tecido nervoso subjacente.
O envoltório meníngeo mais interno é a pia-máter, muito delicada, aderida à superfície do encéfalo e
da medula espinhal. Em latim, pia-máter significa mãe frágil ou proteção delicada. O espaço
compreendido entre a aracnoide e a pia-máter é o espaço subaracnoideo. Através desse espaço
cruzam filamentos da aracnoide que se conectam à pia-máter, dando a este espaço a aparência de teia
de aranha. Daí o nome aracnoide, que deriva do grego arachne, significando aranha. Após sua saída
do quarto ventrículo, o LCR circula no espaço subaracnoideo e banha o encéfalo e a medula espinhal,
sendo reabsorvido pelas granulações aracnoideas no interior do seio sagital superior (Figura 1).
As meninges também desempenham funções circulatórias importantes. Tanto os vasos venosos
como os arteriais que recobrem a superfície do SNC estão localizados no espaço subaracnoideo. Além
disso, no interior da dura-máter existem vasos calibrosos e de baixa pressão, que são partes das vias
de retorno do sangue venoso encefálico, denominados seios da dura-máter.
Figura 1. Corte frontal mostrando a situação anatômica da dura-máter, aracnoide e pia-máter. O
folheto interno da dura-máter forma a foice do cérebro. Visualizam-se as granulações aracnoideas que
permitem o envio do LCR dentro do seio dural.
3.2. Meningite
As meningites agudas, consecutivas a uma inflamação dos envelopes meníngeos, caracterizam-se
pelo aumento significativo do número de leucócitos no LCR. Os principais agentes infecciosos são as
bactérias e os vírus. As meningites bacterianas levam ao aparecimento de LCR turvo ou purulento. As
meningites por meningococo têm predileção pelos indivíduos jovens; já aquelas provocadas por
pneumococo ocorrem predominantemente em indivíduos frágeis ou que apresentam fístulas
osteomeníngeas. Outros germes envolvidos em processos dessa natureza são: Listeria monocytogenes
(mais frequente em idosos, recém-nascidos e imunossuprimidos), estreptococos, estafilococos,
Haemophilus influenzae e Klebsiella.
As meningites de origem viral se caracterizam por LCR claro e rico em linfócitos, sendo comuns nas
infecções herpéticas, por rubéola e por mononucleose infecciosa. A meningoencefalite herpética,
normalmente gravíssima, pode ocorrer na primoinfecção pelo vírus da imunodeficiência humana.
• É necessário garantir que não existe lesão cervical, principalmente em paciente vítima de
trauma.
• É necessário garantir que não existe lesão cervical, principalmente em paciente vítima de
trauma;
• Durante o movimento, observa-se a resposta dos quadris e dos joelhos durante a manobra.
b) Procedimento semiotécnico
Fonte: Autor.
• É necessário garantir que não existe lesão cervical, principalmente em paciente vítima de
trauma;
• Durante o movimento, observa-se a resposta dos quadris e dos joelhos durante a manobra.
b) Procedimento semiotécnico
Fonte: Autor.
5. O EXAME DO LCR
O LCR é habitualmente coletado por punção lombar, após exame de fundo de olho, para verificar
ausência de edema de papila. Um exame tomográfico de crânio é imprescindível em caso de alterações
neurológicas focais antes da realização da punção lombar. Na punção lombar, determina-se a pressão
do LCR e, sobretudo, determinam-se as modificações que ele apresenta: elementos celulares
(hemácias, leucócitos), taxa de proteínas (N = 0,2 a 0,4 g/L), glicose (N = 0,5 g/L) e cloreto (N = 7 g/L).
O exame de punção lombar permite reconhecer a natureza da síndrome meníngea, demonstrando
líquido sanguinolento, purulento ou claro, auxiliando na precisão da causa da síndrome.
Fonte: Autor.
A meningite é a principal entidade patológica que acomete as meninges e, devido a sua importância
clínica e epidemiológica, é também a mais estudada. Os componentes individuais da história clínica têm
baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de meningite. Assim, a história clínica sozinha
não é útil para estabelecer um diagnóstico de meningite. A imprecisão da história clínica pode estar
relacionada ao estado mental frequentemente comprometido de pacientes com meningite. Em contraste
com a história clínica, os elementos do exame físico têm sensibilidade que é clinicamente útil, e o
diagnóstico de meningite pode ser efetivamente eliminado em pacientes adultos sem nenhum dos
sintomas de febre, rigidez de nuca ou alteração do estado mental.
Tabela 1. Diagnóstico de Meningite.
Estudos retrospectivos
HISTÓRIA CLÍNICA
EXAME FÍSICO
ALTERAÇÃO DO ESTADO
0.69 (0.57-0.79)
MENTAL
DÉFICIT NEUROLÓGICO
0.21 (0.15-0.29)
FOCAL
Estudos prospectivos
HISTÓRIA CLÍNICA
0.43 (0.19-
CEFALEIA 0.92 (0.84-0.96) 1.1 (1.0-1.3)
0.96)
UCHIHARA
0.32 (0.18-
AND 0.81 (0.39-1.7) 1.1 (0.74-1.7)
0.48)
TSUKAGOSHI
EXAME FÍSICO
0.82 (0.62-
FEBRE 0.43 (0.32-0.53) 1.2 (0.94-1.5)
1.1)
SINAL DE THOMAS ET 0.05 (0.02-0.13) 0.97 (0.27- 1.0 (0.94-1.1)
KERNIG AL 3.6)
UCHIHARA
0.09 (0.02- 0.92 (0.81-
AND 4.2 (0.23-77)
0.21) 1.0)
TSUKAGOSHI
0.97 (0.26-
SINAL DE BRUDZINSKI 0.05 (0.02-0.13) 1.0 (0.94-1.1)
3.5)
UCHIHARA
0.15 (0.06- 0.83 (0.74-
AND 6.6 (0.38-113)
0.28) 1.0)
TSUKAGOSHI
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
R.K.C., sexo masculino, 12 anos, procedente e residente em Barroquinha, interior do Ceará, pardo,
estudante, comparece à emergência pediátrica acompanhado da tia que relatava queixa de cefaleia
intensa, febre e manchas vermelhas no corpo há dois dias. Refere que há aproximadamente 48 horas o
paciente começou a apresentar náuseas, vômitos, astenia, hiporexia e irritabilidade. No mesmo dia
iniciou quadro de cefaleia holocraniana, sem irradiação, que aumentou de intensidade progressivamente,
relatada como grau 8 na escala visual analógica, que piorava com a movimentação da cabeça e em
ambientes mais claros, sem fatores de melhora mesmo com uso de analgésicos orais, associada à
febre de 39,5°C e manchas vermelhas no abdome e dorso que aparentam estar aumentando a área.
Tia relata ainda um episódio convulsivo tônico-clônico há 2 horas, de duração de aproximadamente dois
minutos, que a fez procurar a emergência.
Medicações em uso: dipirona 1 g de 6 em 6 horas.
Antecedentes pessoais: Quadro gripal há 2 semanas. Duas internações prévias no mesmo ano por
pneumonia. Não sabe relatar o estado vacinal do paciente.
Antecedentes familiares: Avó materna hipertensa. Pais hígidos. Irmã apresentou episódio único de
convulsão febril aos 2 anos de idade.
Hábitos: Sedentário e não faz uso de substâncias psicoativas.
EXAME FÍSICO
Ectoscopia: Regular estado geral, hipocorado 1+/4+, anictérico, acianótico, febril, hidratado,
taquidispneico, consciente, orientado.
Sinais vitais: FC: 120 bpm, FR: 25 irpm, PA: 130x90, Temperatura axilar: 38,5ºC.
Exame da cabeça e pescoço: Petéquias em região cervical anterior. Rigidez de nuca presente. Sem
outras alterações.
Exame neurológico: Sinais de Laségue, Kernig e Brudzinski positivos. Demais exames sem alterações
significativas.
Exame do tórax e aparelho respiratório: tórax atípico com presença de petéquias disseminadas,
expansibilidade e frêmito toracovocal normais, som claro pulmonar à percussão, murmúrio vesicular
presente e universal, sem ruídos adventícios.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ausência de turgência jugular
patológica, ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, em dois tempos, sem sopros.
Exame do abdome: petéquias disseminadas à inspeção, plano, som timpânico à percussão, sem dor à
palpação superficial e profunda, sem massas ou visceromegalias palpáveis.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades perfundidas, pulsos periféricos
palpáveis, filiformes e simétricos, sem cianose, tempo de enchimento capilar de dois segundos.
EXAMES COMPLEMENTARES
Hemograma completo: Hb: 11,0 g/dL, Ht: 32,8% VCM: 91fl Leucócitos: 21.000 Neutrófilos: 72%
Bastões: 6% Plaquetas: 65.000
Proteína C Reativa: 17,2 mg/dL
Tomografia de crânio: Sem alterações.
Punção lombar: Líquido com coloração turva, com diminuição nos níveis de glicose, aumento das
proteínas totais e aumento da celularidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia? E como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
5. Quais achados do exame físico que corroboram a hipótese?
6. Quais são os diagnósticos diferenciais?
Quadro 2. Raciocínio diagnóstico em Neurologia.
PONTOS IMPORTANTES
• As meninges têm uma importante função de proteção do nosso sistema nervoso;
• A inflamação das meninges é a entidade patológica de maior importância clínica no exame das
meninges;
• Os três sinais importantes pesquisados na avaliação das meninges são a rigidez de nuca, o sinal
de Brudzinski e sinal de Kernig.
REFERÊNCIAS
1. Campbell WW. O exame neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
2. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
3. Martin JH (ed). Neuroanatomia texto e atlas. 2. ed. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda;
1998.
4. Marieb EM. Anatomie et Physiologie Humaine. 6ème ed. Bruxelles: Éditions De Boeck Uni – versité;
(2005).
5. De Recondo J (Ed). Sémiologie du système nerveux. 2. ed. Paris: Flammarion Médecine-Sciences;
2004.
6. Fernandes BR, Freitas DHM, Gomes ACSC, Magalhães PG, Santos APB, Santos CR, et al.
Diagnóstico diferencial das meningites. Rev Méd Minas Gerais. 2008; 18(3 Supl 4): S68-S71
7. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2018.
8. Gusmão SS, Campos GS, Teixeira AL. Exame neurológico – bases anatomofuncionais. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revinter; 2007.
9. Thomas KE, Hasbun R, Jekel J, Quagliarello VJ. The diagnostic accuracy of Kernig’s sign,
Brudzinski’s sign, and nuchal rigidity in adults with suspected meningitis. Clin Infect Dis. 2002; 35:
46-52.
10. Branco RG, Amoretti CF, Tasker RC. Doença meningocócica e meningite. J Pediatr. 2007; 83(2
Suppl): S46-S53
11. Simel DL, Rennie D. The Rational Clinical Examination: Evidence-Based Clinical Diagnosis. JAMA
Evidence. New York: McGraw-Hill; 2009.
12. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018
13. CHAVES, M. L. F., FINKELSTEIN, A., STEFANI, M. A. (Org.). Rotinas em neurologia e
neurocirurgia. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. EXAME FÍSICO
O exame físico osteoarticular guarda semelhanças e particularidades em relação aos outros
sistemas, de forma que as etapas básicas de inspeção e palpação são parte fundamental; no entanto,
ele ainda é marcado pela etapa de movimentação ou manobras especiais por segmento. Todas são
etapas que devem ser realizadas, uma vez que se complementam. Pela simples inspeção da postura,
por exemplo, podemos verificar a presença de geno varo ou geno valgo, escoliose e cifose; quando
associamos inspeção e palpação, contudo, deixamos de procurar dados isolados e avaliamos não só
musculatura e estruturas osteoarticulares, mas os outros elementos corporais (como pele e anexos,
rede vascular e sistema nervoso, e pontos dolorosos).1
Durante o exame físico, o paciente pode ser examinado de pé, sentado ou deitado, com cuidado de
sempre descobrir de modo suficiente a região a ser examinada e sempre comparando articulações
homólogas. Cabe ressaltar que o exame da marcha pode constituir etapa não só da semiologia
neurológica, mas também da osteoarticular, pois alterações na marcha podem surgir de processos
articulares da coluna ou dos membros inferiores.1
Por questão didática, devido a cada segmento articular conter especificidades que merecem
destaque, vamos dividir o exame osteoarticular de acordo com os segmentos corporais no sentido
craniocaudal. Cada segmento será abordado em capítulos diferentes e serão destacadas as principais
manobras especiais, começando pela coluna vertebral.
• Lordose cervical;
• Cifose torácica;
• Lordose lombar;
• Cifose sacral.
Figura 1. (A) Curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. (B) Aumento da cifose torácica. (C) Aumento
da lordose lombar.
Na região anterior, muitas estruturas são usadas como pontos de referência para localização das
vértebras.4 Os principais pontos de referência desse segmento corporal são:
Em relação à mobilidade, enquanto a coluna torácica tem movimentação restrita devido à presença
do gradil costal e à anatomia articular das vértebras torácicas, as regiões de maior amplitude são a
coluna cervical, porção mais flexível e que confere grande amplitude de movimento para a cabeça, e a
coluna lombar, que suporta as maiores cargas. É por isso que a determinação do peso do paciente em
relação à idade e à altura é o indicador mais objetivo de sobrecarga, sendo indubitavelmente prejudicial
à coluna lombar e não só a ela, mas também às articulações coxofemorais, dos joelhos, dos tornozelos
e dos pés.1
Dermátomos
Figura 3. Padrão dermatomal.
Fonte: pt.wikipedia.org
As raízes nervosas emergem abaixo ou acima do nível dos corpos vertebrais e podem ser
numerados de acordo com o segmento vertebral. Ao nível da coluna cervical, as raízes saem acima do
nível do corpo vertebral. Como existem 8 pares de nervos cervicais e 7 vértebras, os nervos são
numerados de acordo com a vértebra acima da qual emergem (exemplo: a raiz de C3 emerge acima da
vértebra C3). Já a nível da coluna torácica e lombar, as raízes nervosas saem abaixo do corpo
vertebral, sendo numerados em relação a essa vértebra. O cone medular encontra-se ao nível de L1-L2
no adulto.2
Uma vez que medula espinhal é segmentar, os nervos espinhais se distribuem, a partir do local de
onde emergem, para as estruturas seguindo segmentos associados, chamados metâmeros. Em
resumo, é isso que constitui um dermátomo: a área cutânea suprida por um nervo espinhal.
O conhecimento dos dermátomos permite que o médico localize as lesões que afetam a medula
espinhal ou os nervos espinhais.
• Etapas do exame: inspeção estática, inspeção dinâmica, palpação e manobras especiais. Cabe
destacar que o exame neuromuscular, que em relação à coluna vertebral corresponde aos
membros superiores, deve ser parte rotineira, visto que várias afecções cervicais se manifestam
por dores irradiadas por compressão de raízes cervicais.4 Para cada nível neurológico existe
uma distribuição sensitiva, um teste motor e um exame de reflexos.4 Essa parte está descrita nos
capítulos de exame neurológico.
• Deformidades;
• Assimetrias;
• Lesões de pele: cicatrizes, equimoses, escoriações, hematomas;
• Volume;
• Atrofias e/ou contraturas musculares;
• Alterações vasculares;
• Presença de sinais flogísticos;
• Alterações posturais.
c) Observar o perfil da coluna vertebral e a presença das suas curvaturas fisiológicas (lordose
cervical, cifose torácica, lordose lombar, cifose sacral).
d) Atentar para a atitude do paciente: avaliar a atitude (um paciente que se inclina para um dos lados
pode estar tentando aliviar a compressão de uma raiz nervosa) e a expressão facial do paciente
frente a sua condição, pois apreensão, relutância e não cooperação podem fornecer dados sobre o
estado psicológico do paciente e orientar o estabelecimento do diagnóstico, tratamento e
prognóstico.
e) Deve-se notar se há presença de posturas patológicas da coluna vertebral. São elas:
• Hipercifose torácica;
• Hiperlordose lombar;
• Escoliose: desvio lateral da coluna;
• Postura do Esquiador: marcada pela retificação da lordose cervical e lombar, com acentuação
da cifose torácica e semiflexão dos joelhos. Esta postura pode indicar espodilite anquilosante.
• Coluna Cervical: flexoextensão, rotação lateral e inclinação lateral. Na flexão, o paciente deve
ser capaz de encostar o queixo no tórax. A amplitude normal é de cerca de 130° de
flexoextensão, 80° de rotação e 45° de inclinação lateral da cabeça. Assimetrias de movimentos
podem ser provocados por deformidades ou bloqueio antálgico;3,4
• Coluna Lombar: flexão, extensão, inclinação lateral e rotação. A amplitude normal é de cerca
de 60° de flexão, 35° de extensão, 15° a 20° de inclinação lateral e 3 a 18° de rotação.3,4 Avaliar
não só a amplitude dos movimentos, mas também aparecimento de dor, espasmo muscular,
rigidez ou bloqueio.
2.4.3. Palpação
a) Palpar, de forma bilateral e simétrica, as seguintes estruturas:
• Saliências ósseas;
• Processos espinhosos;
• Musculatura paravertebral;
• Estruturas ligamentares.
b) Analisar as particularidades da coluna cervical:
• Palpar, realizando uma compressão digital, os pontos de gatilho clássicos de dor lombar (região
do músculo quadrado lombar), uma vez que isso auxilia no diagnóstico de fibromialgia;4
Fonte: Autor.
b) Manobra de Spurling
Fonte: Autor.
c) Teste de Distração
d) Sinal de Lhermitte
Fonte: Autor.
e) Distância occipito-parede
• Semiotécnica: Com o paciente sentado, usar uma fita métrica ao redor do tórax, na altura dos
mamilos, para medir a circunferência do tórax na expiração e na inspiração profunda, calculando,
em seguida, a diferença entre essas medidas.3,4 O resultado deve mostrar uma amplitude de,
pelo menos, 3 cm. A redução desse valor pode indicar calcificação dos ligamentos
costotransversos.3,4
Figura 9. Medida da expansão torácica.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
b) Manobra de Valsalva
• Objetiva reproduzir os sintomas relacionados aos nervos ciático e femoral e localizar hérnias em
L4-L5 e L5-S1.
Fonte: Autor.
• Objetiva reproduzir os sintomas relacionados aos nervos ciático e femoral e localizar hérnias em
L4-L5 e L5-S1.
Fonte: Autor.
e) Manobra de Lasègue contralateral
• Objetiva reproduzir os sintomas relacionados aos nervos ciático e femoral e localizar hérnias em
L4-L5 e L5-S1.
• Objetiva provocar o estiramento do nervo femoral e testar as raízes lombares altas (L2, L3).
• Semiotécnica: Com o paciente deitado em decúbito ventral e o examinador posicionado no lado
do membro a ser analisado, realiza-se extensão passiva do quadril, elevando o membro
acometido e, posteriormente, realiza-se flexão do joelho.3,4 A manobra é positiva quando há
surgimento ou exacerbação da dor na região anterior da coxa examinada.3
Figura 13. Manobra de Lasègue invertido.
Fonte: Autor.
h) Manobra de Naffziger-Jones
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Os principais sintomas relacionados à coluna vertebral são dor e rigidez. As síndromes dolorosas da
coluna vertebral podem ser divididas conforme o segmento afetado em cervicalgia, dorsalgia e
lombalgia. O raciocínio diagnóstico apoia-se fundamentalmente no exame clínico pela detalhada
investigação das características semiológicas da dor e achados no exame físico.1 Por isso, o valor
semiológico dos diversos testes diagnósticos da coluna vertebral tem importância na distinção de
síndromes intrínsecas da coluna de doenças sistêmicas, bem como identificar, por exemplo,
acometimento de raízes vertebrais e identificar o nível neurológico afetado. Seguem abaixo as principais
evidências relacionadas aos testes semiológicos da coluna vertebral.
Tabela 1. Cervicalgia.
Razão de
Especificidade verossimilhança
Achado Sensibilidade (%)
(%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
Especificidade verossimilhança
Achado Sensibilidade (%)
(%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DA
5
- - - -
DISTRAÇÃO
TESTE DE
TENSÃO NO
MEMBRO 97 (90- 22 (12-
1,3 0,12
SUPERIOR 100) 33)
(Upper limb
tension test)5
TESTE DO
APERTO DO
96 96 24 0,4
BRAÇO (Arm
squeeze test)5
FRAQUEZA DE
QUALQUER
73 61 1,9 0,4
MÚSCULO DO
BRAÇO6
REDUÇÃO DO
REFLEXO 10 99 9,1 NS
6
BICIPITAL
Tabela 2. Lombalgia.
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Detecção de radiculopatia lombossacra
77 69
5 2,5 0,33
> 65 ANOS (64- (53-
90) 85)
AUSÊNCIA DE DOR 46 93
QUANDO (30- (84- 6,6 0,58
SENTADO5 62) 100)
71 30
PIORA DA DOR AO
(57- (14- 1,0 0,97
CAMINHAR5
85) 46)
PARESTESIA NA
16-50 62-86 NS NS
PERNA6
LASÈGUE
23-42 85-100 - -
CONTRALATERAL4
84 83
TESTE DA QUEDA
(74- (73- 4,94 0,19
(slumb test)5
90) 90)
FRAQUEZA NA
EXTENSÃO DO
JOELHO 38-48 89-90 4,0 0,6
(RADICULOPATIA
DE L3-L4)6
FRAQUEZA NA
EXTENSÃO DO
HÁLUX 12-62 54-91 1,7 0,7
(RADICULOPATIA
DE L5)6
FRAQUEZA À
DORSIFLEXÃO DO
TORNOZELO 37-62 51-77 NS NS
(RADICULOPATIA
DE L5)6
FRAQUEZA À
FLEXÃO PLANTAR
DO TORNOZELO 26-45 75-99 NS 0,7
(RADICULOPATIA
DE S1)6
MEDIDA DA
EXPANSÃO
91 99 0,91 0,9
TORÁCICA (<
2,5CM)5
TESTE DE
SCHOBER (< 30 86 2,14 0,81
5
4CM)
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
M.D.A., feminino, 65 anos, procedente e residente em Fortaleza, parda, casada, doméstica, católica,
escolaridade até ensino médio completo. Vem em consulta no PSF queixando-se de “dor nas costas” há
10 anos. Relata quadro de dor lombar crônica, contínua, com piora aos esforços, fazendo uso regular
de analgésicos e AINES, como dipirona e cetoprofeno, com melhora. Nos últimos 2 anos, percebeu
piora da intensidade da dor, evoluindo com irradiação para a região posterior dos membros inferiores,
principalmente o membro inferior esquerdo, até a região plantar, com piora a flexão do tronco. Refere
melhora parcial com repouso e medicações. Nega trauma local, febre, perda ponderal, rigidez muscular
ou paresia.
Antecedentes pessoais: É hipertensa e diabética há mais de 10 anos. Nega outras patologias. Nega
cirurgias de qualquer natureza.
Medicações em uso: losartana 100 mg/dia, hidroclorotiazida 25 mg/dia e metformina 1500 mg/dia.
Hábitos de vida: É tabagista (dois maços/dia) há cerca de 50 anos.
Antecedentes familiares: Mãe, 83 anos, hipertensa e diabética. Pai falecido aos 65 anos por ferimento
por arma de fogo. Nega quadros semelhantes na família.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada, acianótica, anictérica e
afebril, sobrepeso, eupneica, consciente e orientada.
Dados vitais: FC 86 bpm, FR 18 irpm; PA 140x90 mmHg, sentada, no membro superior direito.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Postura antálgica com retificação da lordose
lombar fisiológica e descompensação do tronco para a direita. Sem deformidades ou abaulamentos em
região lombar e sem alterações de pele; dor à palpação paravertebral da coluna lombar bilateralmente,
sem crepitações. Manobra de Lasègue positiva a 40° em membro inferior esquerdo. Manobra de
Lasègue invertido negativa.
Exame da cabeça e do pescoço: achados dentro da normalidade.
Exame neurológico: achados dentro da normalidade.
Exame do tórax e aparelho respiratório: achados dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: achados dentro da normalidade.
Exame abdominal: achados dentro da normalidade.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: extremidades bem perfundidas, pulsos palpáveis e
cheios, sem cianose.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
PONTOS IMPORTANTES
1. Os dados da anamnese e exame físico direcionam o raciocínio diagnóstico para as possíveis
etiologias, devendo ser sempre minuciosos;
2. A dor é realmente a queixa mais frequente relacionada à coluna lombar e deve ser sempre bem
caracterizada;
3. Podem ter origem mecânica ou não mecânica, e exames de imagem só estão indicados na
persistência dos sintomas e presença de sinais de alarme;
4. A lombalgia comum, em geral, não apresenta irradiação da dor; já a lombociatalgia é marcada pela
irradiação, com envolvimento das raízes nervosas e distribuição em dermátomos.
REFERÊNCIAS
1. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
4. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
5. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. 3rd ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
6. Mcgee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
7. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. EXAME FÍSICO
O sistema esquelético é tradicionalmente dividido em
esqueleto axial (crânio, coluna vertebral e caixa torácica)
e esqueleto apendicular (cintura escapular, cintura
2.1. Revisão Anatômica pélvica e membros).
A articulação do ombro é a mais móvel e a mais
instável do corpo, fazendo parte da cintura escapular. É estabilizado graças à ação da musculatura e
1
• Glenoumeral: é uma articulação esferoide multiaxial com três graus de liberdade. As faces
articulares são a cabeça hemisférica do úmero e a cavidade glenoide da escápula.
Os tendões dos músculos diretamente associados a essa articulação formam o manguito rotador e
participam da cinemática do ombro, além de garantir a correta posição da cabeça do úmero. São eles:
M. supraespinhoso (abdução); M. infraespinhoso (rotação lateral); M. subescapular (rotação medial,
abdução, elevação, adução); M. redondo menor (rotação externa). O deltoide participa da função de
abdução do ombro, gerando a maior parte da força desse movimento, enquanto os músculos do
manguito rotador atuam acoplando e ajustando a força e aumentando a eficiência e estabilidade do
movimento.2
Vale destacar que o ombro é o maior responsável pela posição e pelo movimento do membro
superior, além de participar do equilíbrio e marcha.1
• Os movimentos ativos devem ser realizados antes dos movimentos passivos e a partir da
posição anatômica,3 a fim de obter-se uma noção do limite a partir do qual os sintomas podem
surgir;
• Devem ser examinadas todas as estruturas relacionadas à queixa, deixando por último as
estruturas sintomáticas ou os movimentos que provocam dor;
Extensão: instruí-lo a levar o braço para trás (plano sagital), sendo normal uma amplitude 50°
a 60°,1,3 a partir da posição normal e envolvendo os músculos deltoide, redondo maior e menor,
peitoral maior e tríceps.
Rotação externa: instruí-lo a abduzir o braço a 90° e flexionar o cotovelo a 90° e depois rodar
o ombro para fora. A amplitude normal é de 80° a 90°, a partir da posição normal.1,3 Os
músculos envolvidos são o infraespinhal, deltoide e redondo menor.
Rotação interna: instruí-lo a abduzir o braço a 90° e flexionar o cotovelo a 90° e depois rodar
o ombro para dentro. A amplitude normal é de 60° a 100°, a partir da posição normal.1,3 Os
músculos envolvidos são o deltoide, redondo maior, peitoral maior e subescapular.
Abdução: Instruí-lo a elevar o braço lateralmente. A amplitude normal é entre 120° – 180°.1,3
Envolve os músculos deltoide, supraespinhal, infraespinhal, subescapular, redondo menor e
bíceps.
Flexão: instruí-lo a elevar o braço para frente (plano coronal). A amplitude normal é entre 160°
a 180°,1,3 a partir da posição normal, envolvendo os músculos deltoide, coracobraquial, bíceps
e peitoral maior.
2.4.3. Palpação
a) Avaliar dor, edema, alterações de temperatura, características musculares, crepitações e
mobilidade.
b) Palpar as seguintes estruturas:
• Incisura supraesternal;
• Articulação esternoclavicular;
• Clavícula;
• Articulação acromioclavicular;
• Regiões supraespinhal, infraespinhal e deltoidea.
c) Pode-se incluir na palpação a análise dos movimentos passivos.
b) Teste de Neer
Fonte: Autor.
c) Teste de Gerber
e) Teste de Yergason
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
• Manobras especiais: Indicar caso haja a positividade de alguma manobra. Ex.: Teste de
Yergason positivo.
3. MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS – MBE
Quadro 1. Principais variáveis de um teste diagnóstico.
RAZÃO DE
• QUANTO MAIOR A RV POSITIVA
• QUANTO MENOR A RV
NEGATIVA = MAIS O RESULTADO
NEGATIVO DIMINUI A
PROBABILIDADE DE DOENÇA.
Fonte: Autor.
A dor no ombro é a terceira queixa musculoesquelética mais comum (as duas primeiras são dor nas
costas e dor no joelho). A maioria dos casos de dor no ombro recebe o mesmo tratamento,
independentemente do diagnóstico, e a apresentação das síndromes, do ponto de vista do paciente, é
indistinguível. Associa-se a esses fatos a existência de inúmeros testes propostos para avaliação dos
distúrbios do ombro, sugerindo que ainda não existe uma compreensão abrangente da dor no ombro.
Por isso, o valor semiológico dos diversos testes diagnósticos do ombro tem importância na distinção
de síndromes intrínsecas do ombro de distúrbios que causam dor referida e na identificação de lesões
do manguito rotador, devido à necessidade de reparo cirúrgico em alguns casos. Seguem abaixo as
principais evidências relacionadas aos testes semiológicos do ombro.
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Detecção de lesão do manguito rotador
ATROFIA
55 73 2,0 0,6
INFRAESPINHOSO
10-
ARCO DOLOROSO 39-97 NS 0,5
84
43-
TESTE DE NEER 59-88 1,7 NS
82
48-
SINAL DE HAWKINS 53-83 1,6 0,6
77
FRAQUEZA DO 51-
32-84 2,0 0,6
SUPRAESPINHAL 89
FRAQUEZA DO 57-
16-76 2,6 0,6
INFRAESPINHAL 84
75-
RUPTURA PALPÁVEL 91-96 10,2 0,1
97
TESTE DA GAVETA 53 85 - -
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
ANTERIOR E
POSTERIOR
TESTE DA
INSTABILIDADE 72 96 - -
ANTERIOR
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
E.D.S, masculino, 29 anos, procedente de Massapê, negro, solteiro, trabalha como pintor, católico,
escolaridade até ensino médio incompleto. Traz à consulta queixa de “dor no ombro direito” há cerca de
5 meses. O paciente refere dor de caráter progressivo em região anterolateral do ombro direito, sendo
mais intensa à noite, durante o sono, e durante o trabalho, quando eleva o braço acima do nível do
ombro. Devido à piora da queixa nos últimos 2 meses, diminuiu suas horas de trabalho, pois é destro.
Nega irradiação da dor, trauma local ou outros sintomas associados. Vem usando anti-inflamatórios de
forma esporádica por conta própria nos dias em que a dor o incomoda mais.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades ou uso de medicações contínuas. Nega cirurgias de
qualquer natureza. Sem relatos anteriores de problemas no ombro.
Hábitos de vida: Nega tabagismo ou etilismo.
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico e
afebril, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 82 bpm, FR 21 irpm; PA 120x70 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção dos ombros, ausência de
deformidades ou cicatrizes; simétricos; ausência de dor à palpação. Arco de movimentação normal dos
dois lados. Dor na elevação anterior, rotação medial e lateral e na abdução do ombro direito. Ombro
direito: teste de Neer positivo; teste de Yergason positivo; teste de Jobe positivo; teste de Gerber
positivo; força dos rotadores externos globalmente reduzida. Exame da coluna cervical normal.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa muscular preservada; reflexos preservados; sensibilidade preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: dentro da normalidade.
Exame abdominal: dentro da normalidade.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: sem alterações.
Pontos de discussão:
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
• Osteoartrite acromioclavicular.
• Capsulite adesiva.
• Tendinite calcárea.
• Fraturas.
• Radiculopatias.
Hipótese diagnóstica: Lesão completa do manguito rotador por overuse.
PONTOS IMPORTANTES
1. Na abordagem da dor no ombro, devemos não só caracterizar o sintoma, mas também investigar
ativamente sinais e sintomas associados;
2. Questionar sobre ocupação e mão dominante é parte essencial da anamnese na investigação de
patologias do ombro;
3. Em quadro que apresentam dores irradiadas para membro superior até a mão, deve-se fazer
diagnóstico diferencial com as cervicalgias;
4. O exame físico minucioso do ombro é imprescindível para definir as características topográficas das
lesões;
5. A síndrome do impacto do ombro é, em geral, de natureza microtraumática, por impactação
mecânica ou compressão de estruturas do manguito rotador, podendo evoluir com rupturas
tendinosas parciais ou totais, podendo ter abordagem conservadora ou cirúrgica, dependendo do
grau de lesão.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
4. Gracitelli M. Discinesia de escápula (escápula alada). Dr. Mauro Gracitelli. [Internet]. [acesso em
26/08/2019]. Disponível em: https://maurogracitelli.com/blog/discinesia-da-escapula-alada.
5. McGee S. Evidence-based physical diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
6. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
7. Metzker CAB. Tratamento conservador na síndrome do impacto no ombro. Fisioter Mov. 2010;
23(1): 141-51.
8. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. MAPA MENTAL DOS SINAIS E SINTOMAS
2. EXAME FÍSICO
A articulação do cotovelo é composta pelas
articulações umeroulnar (tróclea e olecrano),
umerorradial (capítulo e cabeça do rádio) e radioulnar
2.1. Revisão Anatômica proximal.1 Os componentes dessa articulação
complementam as movimentações do ombro e da mão
com movimentos de flexoextensão e pronossupinação.2 Dessa forma, o cotovelo funciona como uma
articulação em dobradiça com alta estabilidade, além de influenciar o posicionamento da mão e conduzir
cargas.1,2
A cápsula articular envolve as faces articulares cartilagíneas de todos os três ossos e é reforçada
por um conjunto de ligamentos.1 Os dois ligamentos colaterais estabilizam a articulação do cotovelo
medial e lateralmente. Em relação a sua composição muscular, vale destacar o papel dos flexores do
cotovelo (músculo braquial e bíceps), anteriormente, e dos flexores-pronadores do antebraço.1
Estruturas importantes passam pela articulação do cotovelo e merecem relevada importância, dentre
elas:
• Nervo ulnar: passa pela região medial do braço e atinge a face posterior do epicôndilo medial;
• Nervo mediano: segue incialmente pela região medial do braço e entra medialmente na fossa
cubital;
• Artéria braquial: continuação da artéria axilar no braço, que segue pelo sulco bicipital medial e
também entra medialmente na fossa cubital.
• Os movimentos ativos devem ser realizados antes dos movimentos passivos, a fim de se obter
uma noção do limite a partir do qual os sintomas podem surgir.
• Devem ser examinadas todas as estruturas relacionadas à queixa, deixando por último as
estruturas sintomáticas ou os movimentos que provocam dor.
2.4.3. Palpação
a) Palpar os referenciais ósseos a seguir (com o cotovelo em flexão, é possível palpar
simultaneamente os epicôndilos medial e lateral e a ponta do olécrano; esses pontos normalmente
formam um triângulo equilátero):3
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
c) Teste de Cozen
Fonte: Autor.
• Manobras especiais: Indicar caso haja a positividade de alguma manobra. Ex.: Presença de
instabilidade em varo.
Fonte: Autor.
O principal papel do cotovelo é ajudar a posicionar a mão adequadamente para desempenhar sua
função. Por consistir em um conjunto complexo de articulações com estruturas intimamente
relacionadas, exige uma avaliação cuidadosa para identificação correta do problema e abordagem
adequada. Dentre as diversas queixas relacionadas a patologias do cotovelo, a dor articular destaca-se
como a queixa mais frequente, podendo originar-se na própria articulação ou em estruturas, como
tendões, ligamentos, bursas ou nervos. Daí a importância dos achados ao exame físico para direcionar
a investigação e abordagem. Seguem abaixo as principais evidências relacionadas aos testes
semiológicos do cotovelo.
Tabela 1. Dor.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
EXTENSÃO
96,8 48,5 1,88 0,6
DO
COTOVELO
TESTE DE
FLEXÃO DO 64 100 INDEFINIDO 0,36
COTOVELO
TESTE DE
PRONAÇÃO
34 100 INDEFINIDO 0,66
DO
COTOVELO
TESTE DE
SUPINAÇÃO
43 97 INDEFINIDO 0,59
DO
COTOVELO
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
FLEXÃO DO 60 100 INDEFINIDO 0,4
COTOVELO
Tabela 3. Instabilidade.
Razão de
verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Detecção de lesão do ligamento colateral medial
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
E.G.D, feminino, 35 anos, procedente de Sobral, parda, solteira, católica, digitadora. Relata queixa de
“dor no cotovelo” há cerca de 1 ano. A dor localiza-se na face lateral do cotovelo e estende-se ao dorso
do antebraço. No início, era insidiosa e não prejudicava suas atividades. Usou corticosteroide injetável,
apresentando melhora temporária. Nos últimos meses houve aumento da intensidade da dor,
prejudicando seu desempenho no trabalho. Relata piora ao levantar objetos pesados. Nega parestesias
ou fraqueza muscular. Nega trauma local.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades ou uso de medicações contínuas. Nega cirurgias de
qualquer natureza.
Hábitos de vida: Nega tabagismo ou etilismo. Sedentária.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada, acianótica, anictérica e
afebril, eupneica, consciente e orientada.
Dados vitais: FC 80bpm, FR 22irpm; PA 110x60 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção dos membros superiores, ausência
de deformidades ou cicatrizes; ausência de valgismo ou varismo de cotovelos; simetria preservada.
Cotovelo direito: dor à palpação na região lateral; teste de Cozen positivo. Exame neurológico dos
membros superiores normal.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos preservados; sensibilidade
preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: ausência de achados relevantes.
Exame abdominal: ausência de achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
PONTOS IMPORTANTES
1. A dor no cotovelo pode ter origem em condições inflamatórias, degenerativas, traumáticas ou em
síndromes compressivas por comprometimento dos nervos mediano, ulnar ou radial a nível do
cotovelo;
2. A epicondilite lateral é a causa mais comum de dor no cotovelo e acomete a origem dos tendões
extensores;
3. Apesar de a descrição clássica da epicondilite lateral ser atribuída a atletas que praticam tênis, mais
de 95% dos pacientes que têm a doença são de pessoas que exercem atividades de repetição;
4. Um importante diagnóstico diferencial com a epicondilite lateral é a síndrome do túnel radial.
REFERÊNCIAS
1. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
2. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
4. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
5. Hebert S, Barros Filho TEP, Xavier R, Pardini Jr AG e colaboradores. Ortopedia e traumatologia:
princípios e prática. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2009.
6. Hayter CL, Giuffre BM. Overuse and traumatic injuries of the elbow. Magn Reson Imaging Clin N
Am. 2009; 17(4): 617-38.
7. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA MENTAL
2. EXAME FÍSICO
A mão ocupa quase um terço da área motora
primária no córtex;1 todavia, além da função motora,
também tem grande papel sensitivo, participando da
2.1. Revisão Anatômica imensa maioria das atividades cotidianas e de interação
ambiental.2 É o segmento mais especializado do sistema
musculoesquelético e só funciona eficientemente se as articulações proximais do membro forem
estáveis. É dividida em duas partes principais: o punho e os cinco dedos;3 e constituída das articulações
metacarpofalangeanas, interfalageanas proximais e distais, radiocarpais e carpometacarpal do polegar.
O punho (ou carpo) é o segmento anatômico intermediário entre o antebraço e a mão, formado por
8 ossos.2,3 Seu limite anatômico vai do rádio distal até as articulações carpometacárpicas.3 O
movimento do punho e dos dedos é executado pelos tendões flexores e extensores, que passam
através das áreas palmar e dorsal do punho.
A musculatura extrínseca inclui flexores e extensores. Os tendões flexores, ao chegarem ao punho,
introduzem-se por baixo do retináculo dos flexores do carpo. Junto com o assoalho formado pelos
ossos, cápsula e ligamentos do carpo, forma um túnel (o túnel do carpo) que contém estruturas nobres,
como o nervo mediano.2 Os tendões dos extensores cruzam o punho e são limitados pelo retináculo
extensor.2
A musculatura intrínseca inclui os músculos tênares, hipotênares e interósseos.2
A mão recebe a inervação basicamente dos nervos mediano e ulnar, além do nervo radial que inerva
os músculos extensores extrínsecos,3 exercendo as seguintes funções:
• Nervo mediano: sensibilidade do polegar, indicador, médio e metade radial volar do anular;
motricidade extrínseca e intrínseca;3
• Nervo ulnar: sensibilidade para dedos mínimo e metade ulnar do anular; motricidade extrínseca e
intrínseca;3
• Nervo radial: sensibilidade para a região da tabaqueira anatômica e dorso do polegar, indicador,
médio e metade radial do anular; motricidade extrínseca.3
Figura 1. Região de inervação do nervo mediano à esquerda. Região de inervação do nervo radial à
direita.
Fonte: Gray4.
• Palmar: que deve apresentar formato côncavo, com eminências tenar e hipotênar; 3
• Dorsal.
e) Observar as pregas palmares. Na mão dominante, as pregas costumam ser mais profundas.
f) Observar a coloração e o formato das unhas, avaliando a microcirculação.3
g) Avaliar a presença de alterações e deformidades, como as seguintes:
• Sindactilia: é a presença de pregas cutâneas anormais nas comissuras dos dedos, sendo uma
deformidade congênita frequente;3
• Cistos sinoviais: é o tumor benigno de partes moles da mão ou punho mais comum; encontrado
acima das articulações ou tendões e surge como uma herniação de parte da sinóvia;2,5
• Dedo em gatilho (trigger finger): assim chamada a situação em que o dedo fica travado na
posição de flexão, de forma que há dificuldade no movimento de extensão, conseguido apenas
com esforço, quando o dedo “dispara” rapidamente, como se fosse um gatilho. Deve-se ao
estreitamento da passagem dos flexores dos dedos;3
• Deformidade em botoeira: é uma posição deformada do dedo por lesão tendínea, que impede
a sua extensão total. Há hiperflexão da articulação interfalangeana proximal e hiperextensão da
articulação interfalangeana distal. É geralmente causada por lesões ou condições inflamatórias
como a artrite reumatoide;3
Figura 2. Deformidade em botoeira.
Fonte: Pacientes brasileiros podem participar de pesquisa mundial sobre artrite reumatoide6.
Fonte: Extra-Globo8.
• Desvio ulnar dos dedos: também chamado de “mão em ventania”; em geral, ocorre devido ao
deslocamento dos tendões extensores dos dedos, sendo encontrado na artrite reumatoide.
h) Atentar para a atitude do paciente, avaliando a sua atitude e expressão facial frente a sua condição,
pois apreensão, relutância e não cooperação podem fornecer dados sobre o estado psicológico do
paciente e orientar o estabelecimento do diagnóstico, tratamento e prognóstico.
• Os movimentos ativos devem ser realizados antes dos movimentos passivos, a fim de se obter
uma noção do limite a partir do qual os sintomas podem surgir.
• Devem ser examinadas todas as estruturas relacionadas à queixa, deixando por último as
estruturas sintomáticas ou os movimentos que provocam dor.
2.4.3. Palpação
a) Deve-se realizar a palpação de partes moles e de estruturas ósseas, avaliando presença de edema,
alterações de temperatura, características musculares, mobilidade.
b) Avaliar a presença de pontos dolorosos e sua localização anatômica. Para tanto, deve-se palpar os
principais referenciais anatômicos:
• Tubérculo de Lister: medial ao processo estiloide do rádio e radial a uma linha imaginária traçada
pelo centro do dedo médio;3
• Cabeça da ulna.
c) Para iniciar a palpação óssea, o examinador deve colocar seu polegar sobre o processo estiloide do
rádio do paciente e seus dedos indicador e médio sobre o estiloide da ulna e seguir pelas estruturas
do punho, metacarpo e falanges.3 A maioria dos tendões é palpável.1
d) Pesquisar a presença de crepitações e estalidos.
• Semiotécnica: Com o paciente sentado, solicita-se que ele faça uma flexão do polegar por
dentro da mão e feche os outros dedos sobre o polegar. A seguir, pede-se ao paciente que
realize um desvio ulnar da mão.1,3 O teste é considerado positivo se o paciente referir dor intensa
no primeiro compartimento dorsal.1,3
Figura 5. Manobra de Finkelstein.
Fonte: Autor.
b) Teste de Tinel
c) Manobra de Phalen
Fonte: Autor.
• Manobras especiais: Indicar caso haja a positividade de alguma manobra. Ex.: Teste de Tinel
positivo.
Fonte: Autor.
A mão é o principal órgão sensitivo que participa das atividades de vida cotidiana e nos permite
interagir com o meio ambiente.1 É composta por uma gama de estruturas compactadas em um pequeno
espaço anatômico, adquirindo, portanto, grande complexidade. As patologias que afetam mão e punho
são diversas e podem refletir sinais e sintomas tanto de distúrbios sistêmicos (como a artrite
reumatoide, hanseníase) como lesões por trauma, neuropatias primárias, compressivas mecânicas ou
neuropatias secundárias e daí por diante. Por isso, é importante avaliar, a partir da medicina baseada
em evidências, as manifestações clínicas ou achados que podem direcionar nosso raciocínio
diagnóstico para causas específicas. Seguem abaixo as principais evidências relacionadas aos achados
ou testes semiológicos da mão e punho.
Tabela 1. Dor.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
82 99 - -
DURKAN
OS SINTOMAS
MAIS INCÔMODOS
SÃO DOR,
DORMÊNCIA, 0,04 91 0,42 1,1
FORMIGAMENTO
OU PERDA DE
SENSIBILIDADE
APERTAR A MÃO
MELHORA OS 81 57 1,9 0,34
SINTOMAS
SINTOMAS
77 28 1,07 0,82
NOTURNOS
TESTE DE
89 14 1,04 0,75
EICHHOFF
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
A.F.C., feminino, 56 anos, procedente de Goiânia, branca, casada, católica, aposentada, atualmente
dona de casa. Relata queixa de “dor nas mãos” há cerca de 1 ano. A dor é em “pontada”, bilateral,
mais intensa na direita (mão dominante), com piora noturna, associada à sensação de “formigamento”.
No início, não prejudicava suas atividades usuais. Contudo, nos últimos meses, houve aumento da
intensidade, não conseguindo realizar suas atividades de costura, evoluindo com dificuldade para
segurar objetos. Refere melhora da dor com massagem nas mãos e punhos.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades ou uso de medicações contínuas. Nega cirurgias de
qualquer natureza.
Hábitos de vida: Nega tabagismo ou etilismo. Sedentária.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorada, hidratada, acianótica, anictérica e
afebril, eupneica, consciente e orientada.
Dados vitais: FC 81 bpm, FR 23 irpm; PA 140x90 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: Mão direita: discreta atrofia da região tenar;
consegue realizar a oponência do polegar; Teste de Tinel positivo; Teste de Phalen positivo. Ausência de
deformidades. Mão esquerda: Teste de Tinel e Phalen negativos. Mobilidade preservada bilateralmente.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos preservados; sensibilidade
preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: dentro da normalidade.
Exame abdominal: dentro da normalidade.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: sem alterações.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
• Nervo mediano (síndrome do pronador): déficit sensitivo em região tenar e polpa do polegar,
indicador, médio e lado radial do anular; déficit motor em flexores do polegar, indicador e médio;
atrofia tenar;
• Nervo mediano (síndrome do túnel do carpo): déficit sensitivo em polpa do polegar, indicador,
médio e lado radial do anular; atrofia tenar em casos avançados;
• Nervo cubital (síndrome de Guyon no punho): déficit sensitivo em polpa ulnar dos dedos anular e
mínimo; atrofia dos músculos intrínsecos da mão em casos avançados.
Diante do exposto, a partir dos dados da anamnese da nossa paciente, conseguimos chegar ao
nosso diagnóstico sindrômico inicial: síndrome do túnel do carpo (paciente com dor e parestesia nas
mãos na região de inervação do nervo mediano – dedos médio, indicador e polegar e irradiando para
braço e ombro, associadas a déficit motor – dificuldade de segurar objetos).
Ao realizar o exame físico da paciente em questão, encontramos na mão direita discreta atrofia da
região tênar com teste de Tinel e de Phalen positivos, corroborando nossa suspeita.
Dentre os testes para a síndrome de túnel do carpo, o teste de Durkan foi o mais sensível e
específico, quando comparado com o teste de Phalen e sinal de Tinel11 em alguns estudos. Entretanto,
uma das dificuldades para esclarecer essa síndrome é a ausência de um padrão-ouro para
confirmação.12
O túnel do carpo é um túnel osteofibroso inextensível, definido como o espaço situado entre o
retináculo dos flexores, que constitui o teto, e a caneleta carpiana, o fundo.12 O nervo mediano é
acompanhado pelos tendões dos seguintes músculos: flexores superficiais dos dedos, flexores
profundos dos dedos e flexor longo do polegar.12 Nessa síndrome, há compressão do nervo mediano ao
nível do punho.
A síndrome se caracteriza predominantemente por parestesias na região de distribuição do nervo
mediano (face palmar de três dedos radiais e a metade radial do dedo anular; e face dorsal das duas
últimas falanges dos três primeiros dedos e a metade radial do quarto) e é a mais frequente das
síndromes compressivas.12 A dor tem característica latejante e pode irradiar para o antebraço e braço,
até o ombro. Pode ocorrer atrofia tênar tardiamente, devido ao comprometimento motor tenar do nervo
mediano.11 Contudo, a acroparestesia noturna é o sintoma mais sensível.11 A progressão da doença
pode resultar em redução da sensibilidade na distribuição do nervo mediano e diminuição de força. Na
grande maioria dos casos, a síndrome é idiopática.12
A abordagem clínica em paciente com acroparestesia da mão inclui: realizar interrogatório
sintomatológico e testes provocativos; determinar a etiologia; avaliar a gravidade da compressão;
indicar bem os exames complementares (escolha: exame eletroneuromiográfico); e propor o
tratamento adequado, de acordo com a gravidade e etiologia.12
O diagnóstico é primariamente clínico e a maioria dos testes que podem ser aplicados para avaliar
sua gravidade varia quanto à sensibilidade e especificidade, porém são de grande valor para eliminar
outras possíveis patologias.12
Sintoma-guia: Dor nas mãos.
Diagnóstico sindrômico: Síndrome do túnel do carpo.
Diagnóstico anatômico/topográfico: Compressão do Nervo Mediano dentro do túnel do carpo.
Diagnósticos diferenciais:
PONTOS IMPORTANTES
1. Os sintomas típicos incluem dor na mão e punho, associada a parestesias e hipoestesias ao longo
do lado palmar do polegar, indicador, dedos do meio e porção radial do dedo anelar;
2. A síndrome do túnel do carpo é a mais frequente das síndromes compressivas;
3. Embora a síndrome do túnel do carpo tenha muitos fatores de risco, a maioria dos casos é
idiopática;
4. O diagnóstico é primariamente clínico e a maioria dos testes provocativos tem maior valor para
eliminar outras possíveis patologias.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
4. Gray H, Carter HV. File:Gray812and814.jpeg. Wikimedia Commons. Modificado por Fred the
Oyster. [Internet]. [acesso em 04/10/2019].
5. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
6. Pacientes brasileiros podem participar de pesquisa mundial sobre artrite reumatoide. O Taboense.
[editorial]. [Internet]; 2018. [acesso em 04/10/2019].
7. Artrite Reumatoide. Grupo BioCentro. [editorial]. [Internet]. [acesso em 18/11/2019].
8. Extra – Globo. [Internet]. [acesso em 18/11/2019].
9. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
10. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
11. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
12. Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, Santos Neto FC, Silva JB. Síndrome do túnel
do carpo – Parte I (anatomia, fisiologia, etiologia e diagnóstico). Rev Bras Ortop. 2014; 49(5): 429-
36.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA MENTAL
2. EXAME FÍSICO
O membro inferior é um elemento de movimento e
sustentação, com um cíngulo estável e amplo. Os ossos
do quadril sustentam o peso da metade superior do
2.1. Revisão Anatômica corpo e das vísceras abdominais, além de auxiliar a
marcha. Enquanto o cíngulo do membro superior é
composto por dois ossos, o cíngulo do membro inferior é formado por dois ossos e pelo sacro.
Em situação normal, as grandes articulações do membro inferior se encontram em uma linha reta
imaginária, caracterizada como um eixo mecânico, e é protegida por um conjunto ligamentar altamente
estável, o que a torna um anel ósseo quase inflexível. É constituída de 03 articulações: a
acetabulofemoral ou coxofemoral, a sacroilíaca e a sínfise púbica.1 As duas últimas são praticamente
imóveis e mais raramente causam dor ou limitação funcional. O formato em “bola e soquete” da
articulação do quadril fornece extrema liberdade de movimentação.2
Em relação à musculatura, o principal flexor do quadril é o iliopsoas, e o principal extensor é o
grande glúteo.2 Os glúteos médio e mínimo funcionam como abdutores, enquanto os adutores são o
adutor longo, curto e magno.2
• Os movimentos ativos devem ser realizados antes dos movimentos passivos, a fim de obter-se
uma noção do limite a partir do qual os sintomas podem surgir.
• Devem ser examinadas todas as estruturas relacionadas à queixa, deixando por último as
estruturas sintomáticas ou os movimentos que provocam dor.
• Comparar simétrica e bilateralmente, iniciando os movimentos pelo membro sadio.
b) Para testar a mobilidade ativa, deve-se solicitar ao paciente que execute movimentos, buscando
identificar contratura das partes moles ou limitação por bloqueios ósseos.
c) Deve-se realizar passivamente e solicitar que o paciente realize as movimentações a seguir:
MOBILIDADE ATIVA: pedir ao paciente para ficar em decúbito dorsal e levar o joelho em direção
ao tórax, sem curvar as costas.1
MOBILIDADE ATIVA: pedir para o paciente se levantar de uma cadeira com os braços cruzados,
mantendo as costas eretas.1
MOBILIDADE ATIVA: pedir ao paciente para ficar em pé e afastar as pernas no seu limite máximo.1
MOBILIDADE ATIVA: solicitar ao paciente que cruze as pernas alternadamente, uma à frente da
outra.1
• Rotação interna e externa: espera-se uma amplitude normal de cerca de 35° e 45° para
torração interna e externa, respectivamente.3 Podem ser observadas na posição sentada, que
permite uma mensuração mais acurada da amplitude rotacional. Um dos primeiros sinais de
doença intra-articular é a perda da rotação interna.3
2.4.3. Palpação
a) Preferencialmente, o paciente deve ser examinado de pé e em decúbito.
b) O quadril deve ser palpado com digitopressão, de ambos os lados simultaneamente, avaliando face
anterior e posterior, bem como estruturas ósseas e tecidos moles.
c) Avaliar presença de dor, edema, alterações da temperatura, características musculares, crepitações
e mobilidade.
d) Deve-se palpar na face anterior:
Fonte: Autor.
d) Sinal de Ortolani
Fonte: Autor.
A articulação do quadril fica no fundo da pelve inferior, cercada por grandes músculos que protegem
de contato direto com o mundo externo, limitando assim, muitas vezes, o desenvolvimento de sensações
somáticas bem localizadas. A dor na região inguinal é característica das lesões da articulação
coxofemoral; entretanto, devemos sempre excluir outras causas (extra-articulares, dores referidas,
causas não ortopédicas). Além disso, é importante diferenciar as patologias do quadril (articulação
formada pela cabeça do fêmur e a cavidade do acetábulo) das patologias da articulação sacroilíaca.
Por isso, o valor semiológico dos diversos testes diagnósticos do quadril tem importância na distinção
de diagnósticos diferenciais. Seguem abaixo as principais evidências relacionadas aos testes
semiológicos do quadril.
Tabela 1. Dor na Articulação Sacroilíaca.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
DOR NA ARTICULAÇÃO
82 12 0,93 1,5
SACROILÍACA
LADO
66 51 1,37 0,64
TESTE DE DIREITO
PATRICK4 LADO
54 62 1,43 0,73
ESQUERDO
69 (44-
TESTE DA COMPRESSÃO 69 2,2 0,46
86)
LADO
53 71 1,84 0,66
TESTE DE DIREITO
GAESLEN4 LADO
50 77 2,22 0,65
ESQUERDO
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Diagnóstico de osteoartrite
AGACHAMENTO
CAUSANDO
DOR EM 24 96 6,1 NS
QUADRIL
POSTERIOR
ABDUÇÃO OU
ADUÇÃO
CAUSANDO 33 94 5,7 NS
DOR NA
VIRILHA
ROTAÇÃO
INTERNA 39 96 9,9 0,6
PASSIVA (<15°)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de verossimilhança
Sensibilidade Especificidade
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
23 94 3,64 0,82
TRENDELENBURG
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
F.J.B.F., masculino, 70 anos, procedente de Teresina, branco, casado, católico, aposentado. Relata
queixa de “dor na virilha” há cerca de 2 anos. O paciente relata que sente uma dor na região inguinal
direita, que de início era insidiosa, fazendo uso apenas de anti-inflamatórios por conta própria por muito
tempo, pois não valorizava seu sintoma e a própria família dizia que “era da idade”. Evoluiu com
irradiação da dor para face anteromedial da coxa, atingido o joelho e tendo uma piora importante da
intensidade há cerca de 4 meses, apresentando dificuldade de marcha com claudicação no membro
afetado e necessitando do uso de bengala. Refere também dificuldade para calçar meias e sapatos e
ausência de melhora com os anti-inflamatórios que usava antes. Antes era bastante ativo, fazendo
caminhadas de 1h por dia; no entanto, com a piora da dor, parou de realizar seus exercícios. Nega
história de traumas ou outros sintomas associados.
Antecedentes pessoais: HAS de longa data, compensada. Nega outras comorbidades. Nega cirurgias
de qualquer natureza.
Medicações em uso: Enalapril 20 mg (1-0-1); Hidroclorotiazida 25 mg (1-0-0).
Hábitos de vida: Ex-tabagista, parou há cerca de 15 anos. Parou de realizar atividade física há cerca
de 4 meses.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico e
afebril, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 76 bpm, FR 18 irpm; PA 130x70 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção: encurtamento do membro inferior
direito em relação ao esquerdo, atrofia discreta da musculatura da coxa e da região glútea direita;
Marcha: claudicação acentuada à direita, que melhora ao uso da bengala na mão esquerda; Dor à
rotação medial do quadril direito. Sinal de Trendelenburg presente à direita. Teste de Patrick-Faber
positivo.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos preservados; sensibilidade
preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: murmúrio vesicular diminuído universalmente, sem ruídos
adventícios, sem outras alterações.
Exame do sistema cardiovascular: precórdio normodinâmico, ritmo cardíaco regular, bulhas
normofonéticas, em três tempos, presença de B4, sem sopros, ausência de outros achados.
Exame abdominal: ausência de achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
• Lombalgia/Lombociatalgia.
• Impacto femoroacetabular.
• Bursite do quadril.
• Osteonecrose da cabeça do fêmur.
• Displasia do quadril.
• Osteíte púbica (pubalgia).
• Fraturas.
Hipótese diagnóstica: Osteoartrose do quadril (coxartrose).
PONTOS IMPORTANTES
1. A dor na região inguinal é característica das lesões da articulação coxofemoral; entretanto, devemos
pesquisar outras causas, como: patologias extra-articulares, dores referidas e causas não
ortopédicas;
2. Devemos sempre avaliar as características da dor e sua relação com atividades diárias habituais
(calçar sapatos e meias, sentar), com a marcha (presença de claudicação, necessidade de uso de
apoio) e com diminuição de amplitude de movimento;
3. É importante diferenciar as patologias do quadril (articulação formada pela cabeça do fêmur e a
cavidade do acetábulo) das patologias da articulação sacroilíaca, através do exame físico pela
avaliação da marcha, da posição ortostática, do grau de amplitude de movimento, dos testes de força
motora e das manobras semiológicas do quadril;
4. A artrose primária ou idiopática, causa mais comum de artrose do quadril, é uma doença que
prejudica a capacidade funcional do paciente, levando a uma vida pouco ativa.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
4. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
5. Simel DL, Rennie D. The Rational Clinical Examination: Evidence-Based Clinical Diagnosis. JAMA
Evidence. New York: McGraw-Hill; 2009.
6. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA MENTAL
2. EXAME FÍSICO
A articulação do joelho é constituída pelas
articulações tiobiofemoral e patelofemoral.1 Todos os
ossos estão envolvidos pela mesma cápsula articular e
2.1. Revisão Anatômica formam uma articulação bicondilar, que se comporta
como um gínglimo, com dois graus de liberdade: um
eixo de movimento transversal para extensão e flexão e um eixo longitudinal para o movimento de
rotação. Também faz parte da articulação do joelho a patela, que é um osso sesamoide em meio ao
tendão do músculo quadríceps e atua aumentando o braço de alavanca e o movimento de rotação
desse músculo.2
O joelho é estabilizado por um complexo de estabilizadores passivos (basicamente ligamentos
colaterais medial e lateral, ligamentos cruzados, meniscos e cápsula articular) e ativos (representados
pela musculatura do quadríceps, jarrete e poplíteo).2
Além da articulação do quadril, a articulação do joelho também sofre estresse do peso do corpo. Os
meniscos do joelho são cartilagens presentes na articulação tiobiofemoral que têm a função de
transmitir cargas e amenizar esse estresse, diminuindo o impacto entre as faces articulares do fêmur e
da tíbia.2
• Cisto de Baker (importante diagnóstico diferencial com trombose venosa profunda e dissecção
de panturrilha): apresenta-se como um aumento de volume na região posterior do joelho e indica
hipertrofia da sinóvia, causada pela presença de uma conexão entre a articulação do joelho e a
bursa entre o músculo gastrocnêmio e o tendão do semitendíneo, permitindo o fluxo de líquido.3
g) Posicionar o paciente sentado sobre a mesa de exame, de frente para o examinador, e observar a
altura das patelas.
h) Atentar para a atitude do paciente, avaliando a sua atitude e expressão facial frente a sua condição,
pois apreensão, relutância e não cooperação podem fornecer dados sobre o estado psicológico do
paciente e orientar o estabelecimento do diagnóstico, tratamento e prognóstico.
• Os movimentos ativos devem ser realizados antes dos movimentos passivos, a fim de obter-se
uma noção do limite a partir do qual os sintomas podem surgir.
• Devem ser examinadas todas as estruturas relacionadas à queixa, deixando por último as
estruturas sintomáticas ou os movimentos que provocam dor.
• Extensão;
• Rotação interna;
• Rotação externa.
2.4.3. Palpação
a) Avaliar estruturas ósseas e tecido mole adjacente, pesquisando dor, edema, alterações de
temperatura, características musculares, crepitações, mobilidade.
b) Examinar as seguintes estruturas:
• ósseas – patela, tuberosidade da tíbia, tubérculo de Gerdy, cabeça da fíbula, epicôndilos medial
e lateral;
• tecidos moles – bolsas pré e infrapatelar, linha articular, fossa poplítea e inserções tendinosas.
c) O examinador deve avaliar a patela por meio do movimento de flexoextensão, repousando a mão
sobre o joelho e sentindo o deslizamento da patela no sulco troclear, pesquisando também presença
de crepitações ou estalidos.3
d) Palpar as facetas articulares da patela, o que pode ser feito com o paciente em decúbito dorsal e o
joelho em extensão; o examinador desloca, então, a patela lateralmente com os quatro dedos da mão
e palpa a superfície articular com o polegar.3
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
e) Teste de McMurray
Fonte: Autor.
f) Manobra de Apley
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
h) Teste da Compressão Patelar
Fonte: Autor.
• Manobras especiais: Indicar caso haja a positividade de alguma manobra. Ex.: Teste da Gaveta
anterior positivo.
Fonte: Autor.
O joelho, como o quadril, também sofre estresse do peso do corpo, sendo um complexo de
músculos e ligamentos estabilizadores ativos e passivos. As patologias que afetam o joelho são
diversas, devendo sempre lembrar das lesões por trauma. Por isso, a importância de avaliar, a partir da
medicina baseada em evidências, as manifestações clínicas ou achados que podem direcionar nosso
raciocínio diagnóstico para causas específicas. Seguem abaixo as principais evidências relacionadas
aos achados ou testes semiológicos do joelho.
Tabela 1. Dor Crônica.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Diagnóstico de osteoartrite
RIGIDEZ < 30
4 85 72 3,0 0,2
MINUTOS
CREPITAÇÃO À
MOVIMENTAÇÃO 89 58 2,1 0,2
4
PASSIVA
DEFORMIDADE EM
24 83 NS NS
VALGO4
DEFORMIDADE EM
22 93 3,4 0,8
VARO4
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE
MUSCULAR
MANUAL DA 3,1- 0,34-
63-72 77-89
FORÇA DE 5,7 0,42
EXTENSÃO DO
JOELHO5
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
SINAL DE
48-96 90-99 19,5 0,2
LACHMAN4
SINAL DA
GAVETA 27-94 91-99 13,6 0,4
ANTERIOR4
TESTE DO pivot-
28 81 1,47 0,89
shift5
SINAL DA
GAVETA 90-95 99 97,8 0,1
POSTERIOR4
Lesão meniscal
SINAL DE
4
17-80 77-98 4,0 0,6
MCMURRAY
SINAL DE
5
38 84 2,4 0,73
APLEY
BLOQUEIO À
EXTENSÃO 44 86 3,2 0,7
COMPLETA4
FROUXIDÃO AO
ESTRESSE EM 79-89 49-99 7,7 0,2
VALGO4
FROUXIDÃO AO
ESTRESSE EM 25 98 16,2 NS
VARO4
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
MOBILIDADE
INFERIOR E
63 56 1,4 0,7
SUPERIOR DA
PATELA5
MOBILIDADE
MEDIAL E
54 69 1,8 0,7
LATERAL DA
PATELA5
INCLINAÇÃO DO
POLO INFERIOR À 19 83 1,1 0,9
5
COMPRESSÃO
MOBILIDADE DO
TENDÃO 49 83 2,8 0,6
PATELAR5
CASO CLÍNICO
HISTÓRIA CLÍNICA
T.A.F., masculino, 14 anos, procedente de Fortaleza, pardo, solteiro, católico, estudante e jogador
amador de futebol. Relata queixa de “dor e inchaço em joelho direito” há cerca de 4 dias. Refere
entorse do joelho há 4 dias, ao jogar futebol na escola, ao fazer um drible para a esquerda com o pé
direito fixo ao solo, sem contato. Procurou a emergência no mesmo dia, sendo realizada radiografia de
joelho direito, cujo laudo não relatava alteração. Foi encaminhado para casa após uma injeção de
Voltaren. Evoluiu com persistência da dor e edema de joelho direito com limitação de movimento,
procurando novo atendimento hoje devido à piora do quadro.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades. Nega cirurgias de qualquer natureza.
Hábitos de vida: Nega etilismo ou tabagismo. Pratica esportes na escola e joga futebol como hobby.
EXAME FÍSICO
Exame físico geral/Ectoscopia:estado geral bom, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico e
afebril, eupneico, consciente e orientado.
Dados vitais: FC 78 bpm, FR 21 irpm; PA 110x70 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: À inspeção: membros inferiores simétricos, com
eixo normal. Joelho direito: dor à palpação; derrame articular +/3+; Teste de Lachmann positivo 2+/4+;
Teste da gaveta anterior de difícil avaliação, considerado positivo; Teste da gaveta posterior negativo;
Testes de Apley e McMurray negativos. Marcha claudicante à direita.
Exame da cabeça e do pescoço: ausência de achados relevantes.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos preservados; sensibilidade
preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: dentro da normalidade.
Exame do sistema cardiovascular: dentro da normalidade.
Exame abdominal: abdome plano, ausência de achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
PONTOS DE DISCUSSÃO
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
• Síndrome patelofemoral.
• Condromalácia patelar.
• Síndrome da banda ileotibial.
• Síndrome de Osgood-Schlatter.
• Fraturas.
Hipótese diagnóstica: Ruptura de ligamento cruzado anterior por trauma.
PONTOS IMPORTANTES
1. História de entorse associada à dor, derrame articular, estalido e incapacidade de continuar a prática
desportiva é fortemente sugestiva de ruptura do ligamento cruzado anterior;
2. A avaliação da instabilidade rotacional é essencial para o diagnóstico;
3. As radiografias simples ajudam a excluir avulsões ósseas das inserções ligamentares e fraturas
associadas; contudo, o diagnóstico é confirmado através da ressonância magnética;
4. Em caso de história de trauma, sempre descartar presença de fraturas inicialmente.
REFERÊNCIAS
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
4. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
5. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
6. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
7. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
8. Collins RD. Algorithmic Diagnosis of Symptoms and Signs: A Cost-Effective Approach. 4th ed.
Philadelphia: Wolters Kluwer Heath; 2017.
1. SINAIS E SINTOMAS – MAPA MENTAL
2. EXAME FÍSICO
O pé está dividido em tarso, metatarso e dedos.1
Clinicamente, pode ser distinguido em retropé e antepé,
2.1. Revisão Anatômica considerando-se como linha divisória a linha articular das
articulações tarsometatarsais.2
Os movimentos ocorrem nas articulações talocrural e talocalcaneonavicular e são realizados por
músculos extrínsecos e intrínsecos.1,2 A irrigação arterial é fornecida pela artéria tibial posterior e
anterior, enquanto a inervação, pelos nervos tibial, fibular e safeno.1,2
O tornozelo é uma articulação em dobradiça com as articulações da tíbia, fíbula e tálus, sustentada
por ligamentos colaterais.2
• Os movimentos ativos devem ser realizados antes dos movimentos passivos, a fim de obter-se
uma noção do limite a partir do qual os sintomas podem surgir.
• Devem ser examinadas todas as estruturas relacionadas à queixa, deixando por último as
estruturas sintomáticas ou os movimentos que provocam dor.
• Abdução;
• Adução;
• Pronação;
• Supinação.
2.4.1.3. Palpação
a) Avaliar estruturas ósseas e tecido mole adjacente, pesquisando dor, edema, alterações de
temperatura, características musculares, crepitações, mobilidade.
b) Avaliar partes moles, analisando a consistência, a mobilidade e a passividade musculotendínea.
c) Deve-se realizar a palpação dos pulsos periféricos das artérias pediosa e tibial posterior.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
g) Teste de Tinel do Pé
• Manobras especiais: Indicar caso haja a positividade de alguma manobra. Ex.: Teste de Tinel
positivo.
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%)
ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
GAP PALPÁVEL NO
73 89 6,8 0,3
TENDÃO
TESTE DA
COMPRESSÃO DA 96 93 13,5 0,05
PANTURRILHA
TESTE DA FLEXÃO
88 86 6,2 0,1
DO JOELHO
TESTE DE
96 93 13,47 0,4
THOMPSON
TESTE DA GAVETA
33 73 1,27 0,90
ANTERIOR
Razão de
Sensibilidade Especificidade verossimilhança
Achado
(%) (%) ACHADO ACHADO
PRESENTE AUSENTE
TESTE DE
triple 86 100 INDEFINIDO 0,14
compression
CASO CLÍNICO
História clínica
C.A.S., feminino, 38 anos, procedente de Palmas, parda, solteira, católica, dona de casa e confeiteira.
Relata queixa de “dor embaixo do pé esquerdo” há cerca de 1 ano. Refere dor em queimação na região
plantar do pé esquerdo, mais intensa pela manhã, quando pisa pela primeira vez ao levantar e após
ficar muito tempo sentada. Melhora com o repouso e com marcha. Nega outros sintomas associados.
Quando questionada, refere que os sapatos entortam e gastam no calcanhar. Como trabalha com
confeitaria, passa mais de 8 horas em pé por dia. Nega outros sintomas associados.
Antecedentes pessoais: Nega comorbidades. Nega cirurgias de qualquer natureza.
Hábitos de vida: Nega etilismo ou tabagismo. Pratica atividade física regular (caminhada).
Exame físico
Exame físico geral/Ectoscopia: Bom estado geral, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico e
afebril, eupneico, consciente e orientado, obesidade grau II.
Dados vitais: FC 89 bpm, FR 19 irpm; PA 120x80 mmHg.
Exame das articulações e sistema osteomuscular: pé direito sem achados patológicos ao exame
físico.
Exame do pé esquerdo sem carga: à inspeção, ausência de cicatrizes, hipotrofia, assimetrias ou
nódulos, sem edemas; sapato com solado rígido e paralelo ao solo e desgastado na face interna na
região do calcanhar; dor à palpação na projeção da tuberosidade medial e plantar do calcâneo, sem
nódulos palpáveis, dor à extensão passiva dos dedos e à palpação da região plantar; pulsos presentes
com boa perfusão distal; exame do pé esquerdo com carga: marcha claudicante com o pé esquerdo em
pronação, com piora da dor na marcha sobre o calcâneo e melhora ao caminhar na ponta dos pés;
testes de triple compression e tinel do pé negativos.
Exame da cabeça e do pescoço: dentro da normalidade.
Exame neurológico: massa e tônus muscular preservados; reflexos preservados; sensibilidade
preservada.
Exame do tórax e aparelho respiratório: ausência de achados relevantes.
Exame do sistema cardiovascular: ausência de achados relevantes.
Exame abdominal: abdome globoso sem outros achados relevantes.
Exame das extremidades e pulsos periféricos: dentro da normalidade.
Pontos de discussão
1. Qual é o sintoma-guia e como investigá-lo?
2. Qual é o diagnóstico sindrômico?
3. Qual é o diagnóstico anatômico/topográfico?
4. Quais são os diagnósticos diferenciais?
5. Qual é a principal hipótese de diagnóstico etiológico?
6. Quais achados do exame físico corroboram a hipótese?
7. Os dados do exame clínico são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico levantado?
Pontos importantes
1. A fasciíte plantar é uma causa comum de dor no pé, com curso em geral autolimitado;
2. Seu diagnóstico é eminentemente clínico;
3. Dentre os principais fatores de risco, estão a obesidade, o uso de sapatos rígidos e o ortostatismo
prolongado;
4. O tratamento conservador deve ser tentado inicialmente e baseia-se no uso de anti-inflamatórios,
fisioterapia e medidas comportamentais.
Referências
1. Ribak S. Manual de exame físico: Ortopedia. Cristália. São Paulo: Editora Phoenix; 2012.
2. Greene WB (ed.). Netter: ortopedia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 3. ed. São Paulo: Sarvier; 2017.
4. Porto CC, Porto AL. Exame Clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
5. Cleland JA, Koppenhaver S, Jonathan S. Netter’s orthopaedic clinical examination: an evidence-
based approach. Third ed. Philadelphia: Elsevier; 2016.
6. McGee SR. Evidence-Based Physical Diagnosis. 4th ed. Philadelphia, PA: Elsevier; 2018.
7. Barros Filho TEP, Kojima KE, Fernandes TD. Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia: guia
prático para formação e atualização em ortopedia. 1. ed. Barueri, SP: Editora Manole; 2009.
8. Collins RD. Algorithmic Diagnosis of Symptoms and Signs: A Cost-Effective Approach. 4th ed.
Philadelphia: Wolters Kluwer Heath; 2017.
1. SIMULAÇÃO CLÍNICA PARA O ENSINO DA
SEMIOTÉCNICA MÉDICA
A Simulação Clínica tem ocupado cada vez mais espaço nas Escolas Médicas, tanto para assegurar, no âmbito dos processos
formativos de habilidades e atitudes dos profissionais da saúde, segurança para o paciente quanto uma maior padronização e controle do
treinamento dessas habilidades e atitudes em um laboratório ou centro de simulação. A Simulação Clínica é uma metodologia ativa de
aprendizagem, que incorpora a estratégia de aprender fazendo, que possui grande capacidade de provocar maior retenção do que é
aprendido; além de ser uma metodologia autêntica, ou seja, que reproduz com maior ou menor realismo e fidedignidade o cenário real de
prática, em que o estudante pode ter despertado maior envolvimento emocional e motivacional, e também em que ele pode “errar” e obter
feedback útil, seguro e construtivo.
NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM EM SEMIOLOGIA, ESPECIALMENTE EM SEMIOTÉCNICA MÉDICA, A SIMULAÇÃO
CLÍNICA TEM SIDO EMPREGADA, CHEGANDO A SER DESCRITA NOS LIVROS-TEXTOS DA DISCIPLINA. ISSO SEM NEGLIGENCIAR,
OBVIAMENTE, O TRADICIONAL ENSINO “À BEIRA DO LEITO”, MAS PREPARANDO-O COM MAIOR EFETIVIDADE, PADRONIZAÇÃO E
PROATIVIDADE, E, PRINCIPALMENTE, SEGURANÇA E CONFORTO PARA OS PACIENTES, QUE SERIAM ABORDADOS EM UMA
ETAPA POSTERIOR DA PROGRESSÃO DO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES E ATITUDES, DENTRO DE UMA TRILHA DE
APRENDIZAGEM DEVIDAMENTE PLANEJADA E DESENHADA.
A SIMULAÇÃO CLÍNICA APLICADA À SEMIOLOGIA PODE DESTINAR-SE À APRENDIZAGEM DA SEMIOTÉCNICA DA ANAMNESE E
DO EXAME FÍSICO. NO PRIMEIRO CASO, ATORES, MONITORES OU OS PRÓPRIOS ESTUDANTES PODEM SIMULAR PACIENTES,
CUJOS CASOS DEVEM SER DEVIDAMENTE COMPILADOS E PADRONIZADOS PARA SIMULAR DO MODO MAIS REALÍSTICO
POSSÍVEL UMA ANAMNESE, COM TODOS OS SEUS ASPECTOS INFORMATIVOS, COMUNICACIONAIS E EMOCIONAIS, DE MODO
QUE OS ESTUDANTES, PARTICIPANTES DA SIMULAÇÃO COMO ENTREVISTADORES A COLETAR A ANAMNESE, TREINEM
HABILIDADES NECESSÁRIAS À COLETA DE INFORMAÇÕES, AOS DESAFIOS DA ENTREVISTA CLÍNICA, ÀS ESPECIFICIDADES DOS
DIFERENTES TIPOS DE PACIENTES E AO PRÓPRIO CONSTRUTO DA ANAMNESE COM FINS AO RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO.
No segundo caso, atores, monitores e os próprios estudantes podem ser manequins para que os estudantes, participantes da simulação,
possam executar as manobras semiotécnicas, de modo a aprender sua tática, sua sequência cinética, o refinamento dos movimentos e a
adequação atitudinal à abordagem da pessoa sob manipulação médica no exame físico. A participação dos próprios estudantes como
manequins pode dar a eles a oportunidade de sentir como é ser examinado, propiciando o desenvolvimento da empatia e do profissionalismo
médico. A utilização de pessoas como manequins, sejam atores, monitores ou mesmo os estudantes, obviamente tem implicações éticas
que devem ser devidamente ponderadas e equacionadas para uma abordagem segura e efetiva, preservando-se a privacidade.
A seguir, descrevemos uma estratégia possível de implantação de ensino de Semiotécnica Médica por meio de Simulação Clínica, que
possa ser usada como referência nas Escolas Médicas, considerando as diferentes realidades.
I. No início da aula prática em ambiente de simulação, os estudantes serão divididos em grupos e percorrerão estações pré-definidas;
II. Em cada estação, o professor/monitor irá fazer uma demonstração completa das manobras semiotécnicas constantes delas;
III. Após a demonstração pelo professor/monitor, cada estudante, em regime de rodízio, replicará as manobras semiotécnicas constantes da
estação em um colega, sendo observado pelo professor/monitor e pelos outros colegas, que acompanharão seu desempenho com base
no checklist;
IV. Ao final da replicação das manobras, o estudante que as executou receberá feedback dos colegas que observaram seu desempenho e
do professor/monitor.
Segue, abaixo, a sequência do Treinamento de Habilidades em Semiotécnica Médica:
As seguintes regras de conduta profissional serão adotadas nas atividades de Simulação Clínica:
I. O Laboratório ou Centro de Habilidades simula o ambiente assistencial médico. Com efeito, a conduta do estudante nesse cenário deve
espelhar a conduta do médico nos cenários reais de prática;
II. O estudante deverá ser assíduo e pontual, e evitar ausentar-se da aula sem o consentimento do professor ou do monitor;
III. O uso do celular é permitido para consulta a este roteiro e a outros materiais didáticos de interesse da aprendizagem da semiotécnica.
Outros usos são considerados indevidos e não serão permitidos;
IV. O estudante deverá usar o jaleco e manter um padrão de asseio pessoal: manter o jaleco limpo e passado, usar calçado fechado,
manter o cabelo preso, conservar as unhas limpas e aparadas;
V. Durante o treinamento, os estudantes examinarão os próprios colegas, que estarão simulando o paciente. Portanto, deverão manter alto
nível de respeito pelo colega que estiver examinando, respeito esse que é devido ao próprio paciente, agindo com delicadeza e seriedade
durante os exercícios de treinamento semiotécnico;
VI. Como forma de preservar a estrutura do Laboratório de Habilidades, o estudante deve zelar pelas instalações e equipamentos,
comprometendo-se com a qualidade da sua formação e dos colegas que usam ou que usarão o laboratório no futuro.
2. CHECKLISTS
b) Material Necessário
• Balança
• Fita métrica
• Estetoscópio
• Esfigmomanômetro aneroide
• Relógio
• Termômetro de mercúrio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas da ectoscopia, da aferição dos sinais vitais (Pressão Arterial, Frequência Respiratória, Frequência Cardíaca,
Pulso e Temperatura) e das medidas antropométricas (Peso, Altura, Circunferência Abdominal e Circunferência do Quadril) e em
paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
ECTOSCOPIA
O NÍVEL DE CONSCIÊNCIA ❑ ❑
FÁCIES ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSTALAÇÃO DO ESFIGMOMANÔMETRO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
CALIBROU A BALANÇA:
b) Material Necessário
• Lanterna
• Abaixador de língua
• Otoscópio
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas do exame da cabeça, dos olhos, das orelhas, do nariz e seios paranasais, da boca, da tireoide e dos linfonodos
cervicais, axilares, epitrocleares e inguinais em paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
INFOMOU EM VOZ ALTA QUE SE DEVE INSPECIONAR OS LÁBIOS,
OBSERVANDO SUA COR E UMIDADE, EXISTÊNCIA DE NÓDULOS
OU ÚLCERAS, RACHADURAS OU DESCAMAÇÃO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DO PESCOÇO
SUA SIMETRIA ❑ ❑
b) Material Necessário
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas da inspeção, da palpação, da percussão e da ausculta do tórax, com enfoque no sistema respiratório, em
paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
d) Mapa Mental da Aula 3
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
HÁ RETRAÇÃO SUPRACLAVICULAR ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
SOLICITOU AO PACIENTE QUE DISSESSE “TRINTA E TRÊS” E
AUSCULTOU COM O DIAFRAGMA DO ESTETOSCÓPIO A REGIÃO
POSTERIOR DO TÓRAX NOS LOCAIS INDICADOS, MOVENDO O
ESTETOSCÓPIO DE LADO PARA LADO E DE CIMA PARA BAIXO (EM
ESCADA)
b) Material Necessário
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas da inspeção e da palpação do precórdio, da ausculta cardíaca e da palpação dos pulsos arteriais periféricos em
paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DO PRECÓRDIO
PALPAÇÃO DO PRECÓRDIO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
b) Material Necessário
• Fita métrica
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas semiotécnicas da inspeção, da ausculta, da percussão exploratória e da palpação geral do abdome em
paciente simulado;
• Replicar as etapas semiotécnicas da avaliação do fígado, do baço e dos rins em paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DO ABDOME
CICATRIZES ❑ ❑
ESTRIAS ABDOMINAIS ❑ ❑
ESCORIAÇÕES ❑ ❑
CIRCULAÇÃO COLATERAL ❑ ❑
AUSCULTA DO ABDOME
AQUECEU O ESTETOSCÓPIO ❑ ❑
EPIGÁSTRIO ❑ ❑
PERCUSSÃO EXPLORATÓRIA
AQUECEU AS MÃOS ❑ ❑
PERGUNTOU AO PACIENTE SE SENTE DOR EM ALGUMA REGIÃO
DO ABDOME E INFORMOU EM VOZ ALTA QUE, EM CASO DE DOR, A ❑ ❑
REGIÃO EM QUE ESTA OCORRER SERÁ EXAMINADA POR ÚLTIMO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
PEDIU AO PACIENTE PERMISSÃO PARA INICIAR O
❑ ❑
PROCEDIMENTO
Check-list
ABORDAGEM INICIAL E PREPARO DO PACIENTE
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
MANOBRA DO RECHAÇO
b) Material Necessário
• Fita métrica
• Estetoscópio
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Replicar as etapas semiotécnicas do exame da articulação temporomandibular (ATM) e do ombro em paciente simulado;
• Replicar as etapas semiotécnicas do exame do cotovelo, do punho e das mãos em paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DA ATM
SUPRAESPINHAL ❑ ❑
INFRAESPINHAL ❑ ❑
REDONDO MENOR ❑ ❑
POSICIONOU O PACIENTE DE PÉ ❑ ❑
POSICIONOU O PACIENTE DE PÉ ❑ ❑
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
INSPEÇÃO DO COTOVELO
PALPAÇÃO DO COTOVELO
TESTE DE COZEN
AVALIAÇÃO DE EPICONDILITE LATERAL
EDEMA SUPRA-ARTICULAR ❑ ❑
PALPAÇÃO DA MÃO
PALPAÇÃO DO PUNHO
TESTE DE FINKELSTEIN
AVALIAÇÃO DE TENOSSINOVITE DE DE QUERVAIN
TESTE DE TINEL
AVALIAÇÃO DE SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO
TESTE DE PHALEN
AVALIAÇÃO DE SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
AS CRISTAS ILÍACAS ❑ ❑
TESTE DE PATRICK
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
TESTE DE MCMURRAY
AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DOS MENISCOS MEDIAL E LATERAL
PALPAÇÃO DO TORNOZELO
❑ ❑
PROMOVEU A DORSIFLEXÃO E A FLEXÃO PLANTAR DO PÉ DO
PACIENTE AO NÍVEL DO TORNOZELO, INFORMANDO EM VOZ ALTA
QUE, COM ISSO, SE AVALIA A ARTICULAÇÃO TIBIOTALAR
b) Material Necessário
• Oftalmoscópio
• Diapasão de 128 Hz
• Chumaço de algodão
• Agulha
c) Objetivos de Aprendizagem
Ao final do treinamento de habilidades em semiotécnica das medidas antropométricas e dos sinais vitais, o estudante será capaz de:
• Executar procedimentos de higienização das mãos em paciente simulado;
• Replicar as etapas semiotécnicas da avaliação do sistema sensorial e dos reflexos, e da pesquisa dos sinais meningorradiculares
em paciente simulado;
• Explicar aos pacientes as etapas do exame físico a serem executadas em linguagem inteligível;
• Agir de forma empática e respeitosa com os pacientes durante a execução do exame físico.
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
FUNDOSCOPIA
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
TESTOU A CONVERGÊNCIA: ❑ ❑
PEDIU AO PACIENTE QUE ACOMPANHASSE SEU DEDO OU O ❑ ❑
LÁPIS ENQUANTO O EXAMINADOR COLOCAVA OS DESLOCAVA EM
DIREÇÃO AO DORSO DO NARIZ DO PACIENTE
SORRISSE ❑ ❑
ENCHESSE DE AR AS BOCHECHAS ❑ ❑
CONTRAÍSSE O PLATISMA ❑ ❑
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
EXAME DA MARCHA
SEQUÊNCIA DO ANDAR ❑ ❑
INSPEÇÃO GERAL
Check-list
CUMPRIMENTOU O PACIENTE ❑ ❑
APRESENTOU-SE AO PACIENTE ❑ ❑
HIGIENIZOU AS MÃOS ❑ ❑
❑ ❑
SEGUROU O MARTELO DE REFLEXO FROUXAMENTE ENTRE O
POLEGAR E O INDICADOR DA MÃO DIREITA, DE TAL MODO QUE
ELE BALANÇASSE LIVREMENTE EM UM ARCO DENTRO DOS
LIMITES IMPOSTOS PELA PALMA E PELOS OUTROS DEDOS DA
MÃO
MAMILOS (T4) ❑ ❑
UMBIGO (T10) ❑ ❑
• Anamnese
• Exame físico
• Investigação complementar
• Aconselhamento
• Habilidades procedimentais
• Abordagem terapêutica
O OSCE é constituído de estações, com duração fixa, envolvendo a avaliação de habilidades de exame físico (semiotécnica). Os
estudantes, caso não haja disponibilidade de atores ou de monitores na Escola Médica para serem manequins na prova prática, entram no
rodízio aos pares e examinarão uns aos outros durante as estações. Quando o par entrar na primeira estação, define-se quem vai fazer o
rodízio, ficando o outro como manequim naquela estação. Ao começar o rodízio, o primeiro examina o colega que ficou como manequim, e,
terminada a estação, seguirá no rodízio dirigindo-se à estação seguinte, ficando o estudante/manequim na estação em que entrou, até que o
colega que iniciou fazendo o rodízio retorne à estação após completar o rodízio. Nesse momento, haverá a troca de papéis, ficando o
estudante que iniciou fazendo o rodízio como manequim, e o estudante manequim fazendo, nessa etapa, o rodízio. Assim sendo, por
exemplo, um grupo de 6 estudantes faria o rodízio, enquanto o outro grupo de 6 estudantes ficaria na estação em que entrou, servindo de
manequim para o grupo de 6 estudantes que estarão no rodízio, quando estiverem passando na estação. Terminado o rodízio do primeiro
grupo, inicia-se o rodízio do segundo.
Na estação, o estudante avaliado terá de EXECUTAR a(s) manobra(s) semiológica(s) que será(ão) declarada(s) pelo avaliador,
obedecendo a MESMA sequência de ações constante do(s) respectivo(s) checklist(s) que foi(ram) usado(s) no treinamento de habilidades
em semiotécnica médica. Durante a execução da(s) manobra(s), o estudante avaliado deve demonstrar como a(s) manobra(s) deve(m) ser
corretamente executada(s), seguindo-se o(s) respectivo(s) checklist(s), dizendo em voz alta apenas o que no(s) checklist(s) constar como
“INFORMOU EM VOZ ALTA”. Cada estação terá dois gabaritos (A e B). Para receber os escores referentes a cada ação constante do
checklist, o estudante deve EXECUTAR, e não apenas dizer como se faz a manobra.
Cada rodízio de seis estudantes no OSCE terá um gabarito diferente. Abaixo, um exemplo de questão do OSCE, com o respectivo
checklist:
Checklist
ESTAÇÃO 6B
Exame Neurológico
ALUNO:
AVALIADOR:
Observe que essa estação (6B) tem 2 manobras semiotécnicas do Exame Neurológico (Testes de Rinne e Weber), sendo constituída de
12 ações (6 para cada teste). As ações 6, 9, 10, 11 e 12 devem ser ditas EM VOZ ALTA para o examinador. As demais devem ser apenas
demonstradas. O código 6B indica que ela é questão da sexta estação, Gabarito B (para o segundo grupo de estudantes, que iniciaram
como modelos). O cálculo da nota da estação é obtido dividindo-se o número de ações que o estudante efetivamente executou na estação
pelo número de ações a serem executadas (12). Observe ainda que as ações a serem executadas são as mesmas constantes dos
checklists correspondentes, utilizados no treinamento de habilidades clínicas. É, pois, fundamental que o estudante treine repetidamente as
manobras usando os checklists, para memorizar a sequência de ações das manobras. Nessa estação, o diapasão de 256 Hz está
disponível na sala, juntamente com outros equipamentos para exame neurológico (não necessariamente apenas os utilizados nas
questões). Importante: os nomes dos testes e manobras (incluindo epônimos) e das estruturas anatômicas (por exemplo: Espaço de
Traube, Ponto de McBurney, Manobra de Phalen, Sinal do Obturador) fazem parte da interpretação da questão e devem ser conhecidos
pelos estudantes (no exemplo acima, o estudante deve conhecer os nomes dos testes de Rinne e Weber e as respectivas sequências de
ações).
A nota do estudante na estação será calculada dividindo-se o número de ações executadas pelo número total de ações da(s) manobra(s)
a serem executadas. Cada estação pode valer 1,0 ponto, e a nota global do OSCE será calculada por meio da média aritmética das notas
obtidas nas estações.
O rodízio do OSCE obedecerá a seguinte dinâmica:
• Todos os estudantes aguardarão ser chamados para o rodízio em uma sala de espera (SALA PRÉ-OSCE);
• A sequência de entrada dos estudantes no rodízio e as estações onde começarão serão afixadas antes de seu início na SALA
PRÉ-OSCE;
• Ao serem chamadas, as duplas de estudantes entrarão nas estações para as quais foram previamente designadas;
• Na primeira estação do rodízio, após comando com o apito, o estudante terá 2 minutos para executar a manobra solicitada pelo
avaliador;
• Nas 5 estações seguintes, após cada comando com o apito, ele terá 2 minutos e 30 segundos para trocar de estação e executar a
manobra solicitada pelo avaliador;
• O material deixado na sala da Estação 1 só será devolvido após o término de todos os rodízios do OSCE. O docente que estiver
nessa estação não se responsabilizará por eventuais extravios de objetos pessoais;
• Não será permitido ausentar-se da sala “Pré-OSCE” durante o exame, exceto em situações de emergência. Recomenda-se que o
estudante vá ao banheiro antes de entrar nessa sala, para evitar contratempos;
• Uma vez iniciado o OSCE, o estudante só pode abordar o professor Coordenador do exame em situação de EMERGÊNCIA.
Referências
Básica
1. Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em ortopedia. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 2001.
2. Bickley LS. Bates: propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2018.
3. Carrió FB. Entrevista clínica: habilidades de comunicação para profissionais de saúde. Porto Alegre: Artmed; 2012.
4. Mattos W. Semiologia do adulto: diagnóstico baseado em evidências. Rio de Janeiro: Medbook; 2017.
5. Porto CC. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
Complementar
1. Guyaty G, Drummond R, Maureen OM, Deborah JC. Diretrizes para utilização da literatura médica: manual para prática clínica da
medicina baseada em evidências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.
2. Lopez M, Laurentys-Medeiros J. Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico. 5. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter; 2004.
3. Martinez JB, Dantas M, Voltarelli JC. Semiologia Geral e Especializada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013.
4. Qulici AP. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Editora Atheneu; 2012.
5. Rocco JR. Semiologia médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.
6. Swatz MH. Tratado de Semiologia Médica: história e exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015.