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Atualização em Medicina
Intensiva Pediátrica
SUMÁRIO
SUMÁRIO
DIRETORIA
DIRETORIA EXECUTIVA
EXECUTIVA BIÊNIO 1. Manejo da via aérea ............................................................ 11
2020/2021 2. Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal ..... 31
BIÊNIO 2016/2017
3. Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
Presidente
Presidente cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão.......59
MirellaMargareth
Suzana Cristine deAjeje
Oliveira (PR)(SP)
Lobo 4. Sedação e analgesia em pediatria ...................................... 75
5. Choque circulatório em pediatria ...................................... 117
Vice-Presidente
Vice-Presidente
6. Arritmias cardíacas na infância ......................................... 139
Paulo
Ricardo Ramos
Maria David
Nobre JoãoSidou
Othon (PR) (CE)
7. Monitorização hemodinâmica ........................................... 165
Secretário Geral
Secretário Geral 8. Emergência hipertensiva ................................................... 179
Patrícia M. V. de Carvalho
Antonio Luis Eiras Falcão Mello (PI)
(SP) 9. Cuidados no pós-operatório das
cardiopatias congênitas .................................................... 187
Tesoureiro
Tesoureiro 10. Insuficiência respiratória ................................................... 211
Marcos Antônio C. Gallindo
Wilson de Oliveira (PE)
Filho (AM) 11. Síndrome do desconforto respiratório agudo
em Pediatria ...................................................................... 225
DiretorDiretor
Executivo Fundo AMIB
Científico 12. Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido..... 241
Jorge
Hugo Luis dos
Correa Santos Valiatti
de Andrade Urbano (SP)(MG)
13. Síndrome de aspiração meconial...................................... 251
Presidente Futuro 14. Hipertensão pulmonar persistente neonatal ..................... 257
Presidente-Futuro 15. Asma aguda grave ............................................................ 273
Ciro Leite
Marcelo MendesMaia
de Oliveira (PB) (DF)
16. Ventilação mecânica ......................................................... 291
Presidente Passado 17. Monitorização respiratória................................................. 305
Presidente-Passado
Fernando Suparregui Dias (RS) 18. Estado de mal epiléptico em pediatria.............................. 319
Ciro Leite Mendes (PB)
19. Morte encefálica ................................................................ 331
20. Traumatismo craniencefálico na criança ........................... 343
21. Insuficiência renal aguda................................................... 369
22. Distúrbios hidroeletrolíticos ............................................... 389
23. Distúrbios acidobásicos .................................................... 423
24. Terapia nutricional na criança gravemente doente ........... 443
AMIB 25. Utilização de hemoderivados em terapia intensiva .......... 457
26. Sepse ................................................................................ 475
Associação de Medicina
27. Uso racional de antimicrobianos em crianças
Intensiva Brasileira
AMIB gravemente enfermas ...................................................... 497
Associação
Rua de–Medicina
Arminda, 93 7º andar 28. Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica.......... 517
Intensiva Brasileira
Vila Olímpia 29. Grande queimado ............................................................. 537
Rua
CEP Arminda,– São
04545-100 93 - Paulo
7º andar
– SP 30. Afogamento ....................................................................... 555
Vila Olímpia
(11) 5089-2642 31. Intoxicações agudas ......................................................... 573
CEP 04545-100 - São Paulo - SP 32. A criança politraumatizada................................................ 589
www.amib.org.br
(11) 5089-2642 33. Tromboembolismo pulmonar em pediatria ....................... 607
www.amib.org.br
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Camip
COORDENADOR
• Eduardo Juan Troster – São Paulo, SP
BOARD CONSULTIVO
• Olberes Vitor Braga de Andrade – São Paulo, SP
• Albert Bousso – São Paulo, SP
• Juliana Ferreira Ferranti – São Paulo, SP
Capítulo 1
IRACEMA C. O. FERNANDES
• Mestre em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
• Médica Assistente da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Universitário da
Universidade de São Paulo
• Médica Plantonista da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil Sabará, SP
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
LAURA GAIGA
• Médica Assistente da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil
• Médica Plantonista da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Infantil Sabará
CINTIA T. CRUZ
• Médica Assistente da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil
• Médica Plantonista da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Infantil Sabará
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
CAROLINE PRITSCH
• Médica Assistente da UTI Pediátrica do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil da FMUSP
• Médica Plantonista da UTI Pediátrica do Hospital Infantil Sabará
• Médica Plantonista da UTI Pediátrica do Hospital São Luiz Unidade Jabaquara
GABRIEL BALDANZI
• Médico Preceptor do Instituto da Criança da FMUSP
• Médico Plantonista da UTI Pediátrica do Hospital Infantil Sabará
• Médico Plantonista da UTI Pediátrica do Hospital AC Camargo
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Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Capítulo 12
MAURÍCIO MAGALHÃES
• Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
• Chefe do Serviço de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo
• Neonatologista da Unidade Materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein
Capítulo 13
MAURÍCIO MAGALHÃES
• Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
• Chefe do Serviço de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa
de São Paulo
• Neonatologista da Unidade Materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein
Capítulo 14
HEIKI MORI
• Titulo de especialista em Pediatria e Neonatologia
• Assistente do Departamento de Pediatria e Puericultura da Santa Casa
de São Paulo
• Chefe de Plantão da UTI Pediátrica da Santa Casa de São Paulo
• Neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista
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Camip
Capítulo 15
Capítulo 16
ALBERT BOUSSO
• Mestre e Doutor em Pediatria pela FMUSP
• Médico Coordenador da Pediatria do Hospital Municipal Vila Santa Catarina
• Hospital Israelita Albert Einstein
Capítulo 17
NELIO DE SOUZA
• Médico Chefe da UTI Pediátrica da Santa Casa de São Paulo
• Mestre em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa
de São Paulo
• Título de especialista em Pediatria e Medicina Intensiva Pediátrica
Capítulo 18
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
LUIZA GHIZONI
• Médica especialista em Pediatria e Nefrologia Pediátrica pela ISCMSP, com área de atuação em
Transplante Renal Pediátrico pela EPM/UNIFESP
• Médica assistente do setor de emergências pediátricas da ISCMSP
• Médica integrante do corpo clínico do Hospital do Rim
TARSILA TOYOFUKU
• Médica residente da Nefrologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo
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Camip
Capítulo 23
LUIZA GHIZONI
• Médica especialista em Pediatria e Nefrologia Pediátrica pela ISCMSP, com área de atuação
em Transplante Renal Pediátrico pela EPM/UNIFESP
• Médica assistente do setor de emergências pediátricas da ISCMSP
• Médica integrante do corpo clínico do Hospital do Rim
THAMARA SIGRIST
• Médica residente da Nefrologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
8
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
9
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Camip
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
10
10
Manejo da
Capítulo 1 | Manejo da via aérea
1
Capítulo 1 Via Aérea
Manejo da via aérea
GSS, 4 meses, deu entrada no pronto-socorro de pediatria com quadro de febre há 2 dias, tosse
e cansaço. À entrada apresentava frequência respiratória de 60 irpm, com retrações subcostal,
intercostal e de fúrcula esternal. Apresentava também sibilos difusos e estertores subcrepitantes.
Foram realizadas duas sequências de três inalações com O2 em intervalos de 20 minutos,
sem melhora do quadro, evoluindo para insuficiência respiratória aguda. Foi realizada sequ-
ência rápida de intubação (SRI) com atropina, cetamina, midazolam e rocurônio.
Foram feitas sete tentativas de intubação, durante as quais houve um episódio de parada
cardiorrespiratória (PCR) por 5 minutos, revertida com uma dose de adrenalina. Sucesso
na oitava tentativa, com cânula 3,5 com cuff, fixada em 12 no lábio superior, com posição
limitada a T1 (confirmação por raio X devido à impossibilidade de sua progressão).
Raio X de tórax revelou condensação em base direita, sendo introduzido cefuroxima. Crian-
ça evoluiu com melhora do quadro respiratório, sendo possível diminuir os parâmetros ven-
tilatórios. Porém, conforme raio X da Figura 1 de controle, a cânula permanecia localizada
à altura de T1.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Como a cânula não progredia, foi realizada broncoscopia para melhor avaliação da via aé-
rea. Foram evidenciadas úlcera subglótica e traqueíte moderada conforme Figura 2. A re-
tirada da cânula também foi difícil. Após a broncocospia, a criança foi novamente intubada
com cânula 3,5 sem cuff, por quadro de insuficiência respiratória relacionada à laringite
pós-extubação.
Na discussão do caso com a equipe de cirurgia pediátrica, ficou indicada traquestomia pela
característica da lesão. Esse procedimento foi realizado sem intercorrências, utilizando-se
cânula número 4 com cuff.
A criança apresentou boa evolução, tornando possíveis a diminuição dos parâmetros ven-
tilatórios e o desmame da ventilação. Após 2 dias em nebulização, recebeu alta da unidade
de cuidados intensivos, com transferência para a unidade semi-intensiva.
Durante a troca do curativo da traqueostomia, houve perda da cânula. Não houve sucesso
na tentativa de introdução de nova cânula. A criança evoluiu com PCR. Foram iniciadas as
manobras de reanimação, com tentativa de intubação por via orotraqueal com cânula 3 sem
sucesso (a cânula não progredia), seguida de intubação com cânula 2,5 sem cuff. Infeliz-
mente a criança não ventilava e evoluiu, assim, para óbito.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Perguntas
1. Com base apenas nos dados apresentados, já se podia diagnosticar a via aérea difícil
(VAD)? Em que momento?
2. Essa VAD poderia ter sido prevista na admissão?
3. Quais seriam os dispositivos adequados para permeabilizar essa via aérea?
4. Existe um protocolo/fluxograma validado para abordagem da VAD na emergência pediátrica?
Evidências
A via aérea pode apresentar-se difícil já durante as manobras de ventilação com bolsa-vál-
vula-máscara, quando não conseguimos uma boa amplitude de movimentação torácica,
mesmo com o paciente bem posicionado e a técnica adequada.
Por outro lado, a dificuldade pode surgir apenas mais adiante, no momento da laringos-
copia direta, quando a visualização da via aérea pode não ser satisfatória, dificultando o
procedimento de intubação.
Por definição, o diagnóstico clínico de VAD deve ser feito quando há insucesso após duas
tentativas de intubação traqueal, ou dificuldade em ventilar com máscara facial, ou ambos.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Figura 3. Em crianças menores do que 4 anos, a epiglote é longa e flexível, angulada em relação à traqueia
• Cordas vocais com fixação mais anterior e inferior, produzindo uma angulação antero-
caudal, que pode fazer com que, em sua passagem pela laringe, a cânula comprima a
comissura anterior.
• Laringe em posição relativamente cefálica, ao nível da terceira e quarta vértebras cervi-
cais, dificultando.
• Laringe delgada, com cartilagem elástica facilmente colapsável ou compressível por
pressões nas vias aéreas. Enquanto em adultos a porção mais estreita encontra-se na
enseada glótica, antes dos 10 anos de idade o estreitamento é na porção distal (ao nível
do anel cricoide), produzindo uma forma afunilada na laringe, mais complacente, com
cartilagem de suporte menos desenvolvida (Figura 4).
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Diferentemente do adulto, uma cânula intratraqueal pode passar através das cordas vocais,
mas ser incapaz de atravessar a região do anel cricoide. Uma cânula muito larga comprime
a mucosa traqueal, levando ao desenvolvimento de edema subglótico e à possível compli-
cação, como laringite pós-intubação e progressão para estenose subglótica (Figura 5).
Figura 5. Em Pediatria, a cânula intratraqueal pode passar através das cordas vocais, mas ser
incapaz de atravessar a região do anel cricoide. Fonte: adaptado de American Heart Association
(AHA). Handbook of emergency cardiac care for health care providers. Estados Unidos: AHA; 2000
Mallampati et al. (1985), num estudo clínico prospectivo do valor da visibilidade de estru-
turas à simples abertura da boca de adultos na posição sentada (Figura 6) para a previsão
sobre dificuldades na intubação, concluíram que quanto maior o tamanho da base da língua
em relação à cavidade orofaríngea, maiores as dificuldades para se visualizar a glote e na
intubação orotraqueal (IOT).
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Figura 6. Classe I: palato mole, fauce, úvula e pilares amigdalianos visíveis; classe II: palato mole, fauce
e úvula visíveis; classe III: palato mole e base da úvula visível; classe IV: palato mole totalmente não
visível. Fonte: Mallampati SR, Gatt SP, Gugino LD, Desai SP, Waraksa B, Freiberger D, Liu PL. A clinical
sign to predict difficult tracheal intubation: a prospective study. Can Anaesth Soc J. 1985;32(4):429-34.
Previsibilidade
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Condições congênitas
Malformações
congênitas cervicais - Podem alterar drasticamente a conformação das vias
(higroma cístico e grandes aéreas, principalmente quando corrigidas tardiamente
cistos de ducto tireoglosso)
Condições adquiridas
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Embora a intubação traqueal (IT) seja um procedimento que possa definir o prognóstico da
criança grave, este procedimento pode levar a alterações fisiológicas, que podem ser pre-
judiciais. A estimulação da via aérea durante a laringoscopia pode levar a um arco reflexo e
causar fechamento da glote, broncoespasmo, edema pulmonar, apneia, hipertensão arterial
ou hipotensão, taquiarritmias (taquicardia, bradicardia), hipertensão intracraniana (HIC), hi-
poxemia e hipercapnia.
Há cânulas com vários diâmetros, sem balonete (cuff) e com balonete (cuff), de acordo
a idade da criança, sendo que as fórmulas a seguir são para crianças acima de 2 anos:
• Sem cuff: idade/4 +4
• Com cuff: idade/4 +3,5
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
As cânulas com cuff atualmente são de baixa pressão e alto volume, e podem ser usadas
em qualquer faixa etária pediátrica, lembrando que, a partir de 8 anos, a cânula deve ser
sempre com balonete (cuff).
São indicações para SRI: insuficiência respiratória, perda de reflexos da via aérea, higiene
brônquica, alterações do sistema nervoso central, procedimentos quando não é possível
assegurar a via aérea. São contraindicações relativas: respiração espontânea e ventilação
adequada; malformação facial; obstrução da via aérea superior; trauma de face ou via aérea.
Rigidez torácica,
Início rápido, curta
depressão
2–3 minutos ação, reversível,
Fentanil 2–4mg respiratória e não
30–60 minutos relativa estabilidade
tem propriedades
hemodinâmica
amnésicas
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Aumento da
Início rápido,
secreção da via aérea
reflexos da via
e laringoespasmo
aérea intactos, não
1–4 IV 1–2 minutos (associar atropina),
Cetamina causa hipotensão
3–4 IM 10-30 minutos aumentar a PIC e a
ou bradicardia.
pressão intraocular, e
Anestésico
alucinações (associar
dissociativo
benzodiazepínicos)
Depressão
cardiovascular e
Anestésico geral
Início 30–60 seg respiratória
Propofol 1–3 IV intravenoso
5–10 minutos Contraindicado
Rápido despertar
em pacientes com
alergia a ovo
Depressão
cardiovascular e
1–3 IV 30–60 seg Ação ultracurta, respiratória, sem
Tionembutal
2–5 IM 5–30 minutos diminui a PIC efeito analgésicos,
broncoespasmo e
hipotensão
Potencial inibidor da
adrenal, pode causar
Início rápido, curta
10–20 seg mioclonias, não é
Etomidato 0,3 IV ação, estabilidade
4–10 minutos recomendado para
hemodinâmica
crianças abaixo de
10 anos
IV: intravenoso; IM: intramuscular; VR: via retal; PIC: pressão intracraniana
Bloqueadores neuromusculares
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Fasciculação muscular,
bradicardia e assistolia,
hipertermia maligna, au-
1–1,5 IV, mento da PIC, aumento
duas vezes 15–30 segundos Início e duração da pressão intraocular,
Succinilcolina
a dose se 3–12 minutos rápidos aumento da pressão
IM intragástrica, hipertensão
arterial, hipercalemia,
mioglobinúria, dor mus-
cular e rabdomiólise
Prolongado efeito
60 segundos Mínimo efeito
Rocurônio 0,6–1,2 IV quando insuficiência
30–60 minutos cardiovascular
hepática
Pouca liberação
0,1–0,2 IV/ 1–3 minutos de histamina, Início lento e longa
Vecurônio
IM 30–40 minutos pouco efeito duração
cardiovascular
IV: intravenoso; IM: intramuscular; PIC: pressão intracraniana; PA: pressão arterial
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Apesar de ser um BQ de início e ação rápidos, apresenta vários efeitos adversos como:
fasciculação muscular, bradicardia e assistolia, hipertermia maligna, aumento da pressão
intracraniana (PIC), aumento da pressão intraocular, aumento da pressão intragástrica,
hipertensão arterial, hipercalemia, mioglobinúria, dor muscular e rabdomiólise.
Devido aos efeitos adversos, são contraindicações relativas: HIC, traumatismos e queima-
duras, lesão do globo ocular, glaucoma, doenças neuromusculares, história de hipertermia
maligna, hipercalemia e insuficiência renal. Segue a Figura 7.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Investigação complementar
Constitui situação extrema: paciente devidamente avaliado para descartar condições asso-
ciadas a VAD, adequadamente pré-oxigenado. Inicia-se SRI. Insucesso na segunda tentati-
va de intubação: VAD imprevisível.
Felizmente, a despeito de uma VAD previsível ter sido previamente descartada, a pré-oxige-
nação não fora negligenciada. Por quê? A questão é: o que piora o prognóstico: a hipoxe-
mia ou a hipercapnia? Certamente a hipoxemia!
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
1 <5 2–5
2 10–20 7–10
2,5 20–30 15
3 30–50 15–20
Deve-se prosseguir com o posicionamento adequado do paciente para acesso da via aérea,
escolhendo o tamanho da ML e a sedação/analgesia adequadas do paciente. A ML deve
ser introduzida na boca do paciente, avançar até a faringe até que haja resistência e, então,
insuflar o balonete para selar a hipofaringe, de modo que a extremidade da ML esteja posi-
cionada acima da fenda glótica. A Figura 8 mostra a ML.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Figura 9. Como instalar a máscara laríngea. Fonte: Society of Critical Care Medicine
Ainda em relação à ML, há, no mercado a AirQ, um tipo de máscara curvada, com um
tubo largo e comprido o bastante para acomodar em seu interior uma cânula traqueal
para a intubação e, após o procedimento, é retirada da orofaringe, sem deslocar a cânula.
A Figura 10 ilustra o equipamento.
Figura 10. Máscara AirQ com tudo traqueal in situ estabilizado por fórceps laríngeo
A intubação traqueal em pacientes com obstrução da via aérea, obesidade mórbida e na-
queles com malformação de via aérea pode ser realizada por fibroscopia, via oral ou nasal,
com visualização direta da via aérea, porém, é necessário treinamento para a realização
desse procedimento.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Além do fibroscópio óptico, existem hoje no mercado outros equipamentos que auxiliam na
intubação de pacientes com VAD, como o GlideScope, Storz video laryngoscopes, Airtraq,
Truview EVO2, sendo que este último apresenta local para a conexão de oxigênio e lâminas
de tamanho adequado para a visualização direta por pequena tela, que pode ser conecta-
da em monitor ou ainda no próprio aparelho. Esses aparelhos requerem técnica um pouco
diferente para a intubação, podendo a lâmina ser inserida na linha média da boca ou um
pouco para a esquerda na orofaringe, sendo que o posicionamento da lâmina na valécula é
preferível à elavação da epiglote. As Figuras 11 a 15 mostram os diferentes aparelhos.
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
Camip
Cricotireoidotomia
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 1 | Manejo da via aérea
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Ressuscitação
Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal 2
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Cardiopulmonar
Ressuscitação
e
cardiopulmonar e reanimação neonatal
Reanimação
Ressuscitação
Ressuscitação cardiopulmonar
cardiopulmonar e Neonatal
e reanimação
reanimação
Rodrigo Locatelli Pedro Paulo
neonatal
neonatal
Rodrigo Locatelli Pedro Paulo
Rodrigo
Ana Locatelli
Maria Pedro Paulo
A. Gonçalves Pereira de Melo
Ana Maria A. Gonçalves Pereira de Melo
Ana Maria A. Gonçalves Pereira de Melo Rodrigo Locatello Pedro Paulo
Ressuscitação cardiopulmonar Ana Maria A. Gonçalves Pereira de Melo
Ressuscitação
Ressuscitação cardiopulmonar
cardiopulmonar
Caso clínico
Caso
Caso clínico
clínico
Uma criança de 2 meses e 8 dias, sexo feminino, está internada na Unidade de Terapia
Uma criança de 2 meses e 8 dias, sexo feminino, está internada na Unidade de Terapia
Uma criança
Intensiva (UTI)de
por2 bronquiolite.
meses e 8 dias, sexo feminino,
Encontra-se está
intubada, eminternada
ventilaçãonamecânica,
Unidade recebendo
de Terapia
Intensiva (UTI) por bronquiolite. Encontra-se intubada, em ventilação mecânica, recebendo
Intensiva
dieta (UTI)
plena porpor bronquiolite.
sonda Encontra-se
nasogástrica. Duranteintubada,
o banhoem daventilação
criança, amecânica,
enfermeirarecebendo
chama o
dieta plena por sonda nasogástrica. Durante o banho da criança, a enfermeira chama o
dieta plena por
plantonista, poissonda nasogástrica.
a mesma Durante
encontra-se o banho
hipoativa. da criança,
O plantonista fazauma
enfermeira chama
avaliação o
rápida
plantonista, pois a mesma encontra-se hipoativa. O plantonista faz uma avaliação rápida
plantonista,
inicial pois que
e percebe a mesma encontra-se
a criança hipoativa.
não se move, O plantonista
não responde faz uma
à estímulos, nãoavaliação rápida
apresenta mo-
inicial e percebe que a criança não se move, não responde à estímulos, não apresenta mo-
inicial e percebe
vimentos que a ecriança
respiratórios não temnão se move,
pulso nãopalpável.
braquial responde à estímulos, não apresenta mo-
vimentos respiratórios e não tem pulso braquial palpável.
vimentos respiratórios e não tem pulso braquial palpável.
Perguntas
Perguntas
Perguntas
1. Quais os sinais clínicos de parada cardiorrespiratória (PCR)?
1. Quais os sinais clínicos de parada cardiorrespiratória (PCR)?
1.
2. Quaiséos
Qual sinais clínicos
a conduta inicial de parada
para cardiorrespiratória (PCR)?
essa criança?
2. Qual é a conduta inicial para essa criança?
2.
3. Qual é a conduta
Compressões inicial para essa criança?
torácicas?
3. Compressões torácicas?
3. Compressões torácicas?
a. Por que devemos iniciar as manobras pelas compressões torácicas?
a. Por que devemos iniciar as manobras pelas compressões torácicas?
a. Qual
b. Por que devemos iniciar as manobras pelas compressões torácicas?
a técnica?
b. Qual a técnica?
b. Qual a frequência
c. técnica? de compressões torácicas por minuto? Qual a relação com
c. Qual a frequência de compressões torácicas por minuto? Qual a relação com
c. as
Qual a frequência de compressões torácicas por minuto? Qual a relação com
ventilações?
as ventilações?
4. as ventilações?
Quantas ventilações por minuto devemos manter na PCR?
4. Quantas ventilações por minuto devemos manter na PCR?
4.
5. Quantas
Qual ventilações
o tratamento dapor
PCR minuto devemosou
por assistolia manter na PCR?
atividade elétrica sem pulso (AESP)?
5. Qual o tratamento da PCR por assistolia ou atividade elétrica sem pulso (AESP)?
5.
6. Qual o tratamento
Considerando da PCR por
as diferentes assistolia
vias ou atividadede
de administração elétrica sem pulso
epinefrina, quais(AESP)?
suas doses e
6. Considerando as diferentes vias de administração de epinefrina, quais suas doses e
6. Considerando
técnicas as diferentes
de administração navias
PCR? de administração de epinefrina, quais suas doses e
técnicas de administração na PCR?
7. técnicas
Na de administração
PCR por na PCR?
fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular (TV) sem pulso:
7. Na PCR por fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular (TV) sem pulso:
7. Na PCR
a. Em pormomento
qual fibrilaçãodevemos
ventricular (FV) ou
realizar taquicardia ventricular (TV) sem pulso:
a desfibrilação?
a. Em qual momento devemos realizar a desfibrilação?
a. Quando
b. Em qual utilizamos
momento devemos realizar a desfibrilação?
pás pediátricas?
b. Quando utilizamos pás pediátricas?
b. Qual
c. Quando utilizamos
a dose pásser
que deve pediátricas?
utilizada para desfibrilação?
c. Qual a dose que deve ser utilizada para desfibrilação?
c. Qual a posição
d. dose quedas deve
pás?ser utilizada para desfibrilação?
d. Qual a posição das pás?
d. Quais
e. Qual amedicações
posição dasdevempás? ser utilizadas? Qual a dose?
e. Quais medicações devem ser utilizadas? Qual a dose?
8. e. Quais
Quais medicações
patologias devemdevem ser utilizadas?
ser investigadas Qual a dose?
e tratadas durante a reanimação?
8. Quais patologias devem ser investigadas e tratadas durante a reanimação?
8.
9. Quaisapatologias
Qual vantagem devem seroinvestigadas
de utilizar capnógrafo edurante
tratadas durante a reanimação?
a reanimação?
9. Qual a vantagem de utilizar o capnógrafo durante a reanimação?
9. Qual a vantagem de utilizar o capnógrafo durante a reanimação?
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
Apresentação
A PCR na criança, ao contrário do adulto, na maioria das vezes não é um evento súbito,
e resulta de uma lesão progressiva, que pode ser decorrente de insuficiência respiratória,
choque ou ambos. Por outro lado, a PCR decorrente de colapso súbito, causada por arrit-
mia (FV ou TV sem pulso) é menos frequente, representando 5 a 15% de todos os casos de
PCR pediátrica, mas aumenta de incidência com a idade.
Com relação à taxa de sobrevivência da PCR, ela depende de fatores como local da parada
e ritmo cardíaco de apresentação. A chance de sobrevida à alta é maior se a parada ocorrer
dentro do hospital, em comparação com a parada fora do hospital, sendo que as taxas de
sobrevida são de 33 e 7%, respectivamente. A sobrevivência é maior quando o ritmo de
apresentação é chocável (FV ou TV sem pulso), em comparação com assistolia.
Outro fator importante é que a maioria das crianças que sofreram PCR desenvolve sequela
neurológica grave, sendo essa incidência maior em pacientes com PCR fora do hospital.
Assim, a prevenção da PCR por meio da identificação precoce da insuficiência respiratória
e choque é essencial.
Etiologia
Nas crianças com menos de 1 ano, as principais causas de PCR são malformações congê-
nitas, complicações da prematuridade e síndrome da morte súbita do lactente. Nas crianças
com mais de 1 ano de idade, as lesões por trauma são as principais causas de morte.
Diagnóstico
É importante identificar a criança em PCR e iniciar o tratamento o mais rápido possível, pois
a criança está sem batimentos cardíacos ou apresenta batimentos ineficientes, o que leva à
ausência de circulação sanguínea e à hipóxia cerebral.
A criança em PCR não responde a estímulos e, geralmente, não respira, embora possa existir
respiração agônica (gasping). Além disso, os pulsos centrais e periféricos encontram-se ausentes.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A PCR pode se apresentar com diferentes ritmos eletrocardiográficos. Eles são divididos
em dois grupos: os ritmos não chocáveis (assistolia e AESP), e os ritmos chocáveis (FV e TV
sem pulso). Cada um dos grupos segue um protocolo diferente de tratamento.
Assistolia
Não se trata de um ritmo específico, mas algo que descreve qualquer atividade elétrica
organizada na PCR, excluindo-se a TV sem pulso. Ou seja, em uma criança em PCR com
AESP, o monitor (ou ECG) pode mostrar complexos QRS (normais ou anormais), presentes
e com ritmo organizado. Pode haver prolongamento do intervalo PR ou QT, ou bloqueio
atrioventricular total, ou complexos ventriculares sem onda P.
Fibrilação ventricular
Trata-se de um ritmo desorganizado, que não permite ao coração ter contrações efetivas. O ECG
mostra complexos alargados, que variam no tamanho e apresentam ritmo caótico (Figura 1).
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
Na TV sem pulso, os complexos QRS são largos e organizados (Figura 2). Normalmente,
esse ritmo de PCR é breve, pois rapidamente se deteriora em FV.
Existe um tipo de TV chamado torsades de pointes, cujos complexos são polimórficos (não
uniformes) e dão impressão de rotação na linha de base do ECG.
Tratamento
O manejo da PCR dentro do ambiente hospitalar é feito por meio do Suporte Avançado de
Vida, que compreende, além das manobras de reanimação cardiopulmonar, a avaliação do
ritmo cardíaco (chocável ou não chocável), o acesso vascular (ou intraósseo – IO), a desfi-
brilação, o tratamento medicamentoso e o manejo avançado da via aérea.
Em 2010, houve uma mudança importante nas diretrizes da American Heart Association, e a
sequência de atendimento da PCR, que era ABC (via aérea, ventilação e compressões), mu-
dou para CAB (compressões, via aérea e ventilação). Os principais motivos para a mudança
foram: facilidade de iniciar as manobras, pois as compressões torácicas são mais fáceis de
ensinar e serem realizadas que as de abertura de via aérea e ventilação; não há diferença
na taxa de sobrevivência de adultos em PCR de origem cardíaca que foram reanimados
apenas com compressões em relação àqueles que foram reanimados com ventilações e
compressões; em reanimações cardiopulmonares pediátricas, nas quais as ventilações são
muito importantes, pois é frequente a hipóxia como causa da parada, o CAB atrasa a pri-
meira ventilação em apenas 18 segundos ou menos.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
As manobras de reanimação devem ser de alta qualidade. As compressões devem ser com
força (pelo menos um terço da altura anteroposterior do tórax), rápidas (no mínimo cem vezes
por minuto) e devem permitir o retorno total do tórax após cada compressão. Além disso, de-
vem se evitar ao máximo as interrupções nas compressões torácicas e ventilações excessivas.
Assim, no atendimento de uma criança em PCR na sala de emergência ou UTI de um hos-
pital, a primeira medida é iniciar as compressões torácicas enquanto se prepara o material
adequado para as outras intervenções do Suporte Avançado de Vida.
Para a criança menor de 1 ano, as compressões torácicas podem ser realizadas com dois
dedos sobre o esterno, logo abaixo da linha intermamilar (linha imaginária entre os mami-
los), mas, quando há dois socorristas, é mais recomendável comprimir o esterno com os
dois polegares localizados no terço inferior (logo abaixo da linha intermamilar), e as mãos
envolvendo o tórax da criança. As costelas e o apêndice xifoide não devem ser comprimi-
dos. As compressões devem ser de no mínimo um terço da profundidade do tórax, cerca
de 4cm, rápidas e intercaladas com as ventilações na frequência de 30:2 (compressões:
ventilações), com um socorrista, e 15:2, com dois socorristas. Se possível, o socorrista que
realiza as compressões deve ser trocado a cada 2 minutos para evitar fadiga.
Nas crianças com mais de 1 ano, a compressão torácica deve ser realizada apoiando-se
a palma da mão (eminências tenar e hipotenar) na metade inferior do esterno, podendo
ser utilizada uma ou duas mãos para a manobra, dependendo do tamanho da criança. As
costelas e o apêndice xifoide não devem ser comprimidos. As compressões devem ser de
no mínimo um terço da profundidade do tórax, cerca de 5cm, rápidas e intercaladas com
as ventilações na frequência de 30:2 (compressões:ventilações), com um socorrista, e 15:2,
com dois socorristas. Se possível, o socorrista que realiza as compressões deve ser troca-
do a cada 2 minutos para evitar fadiga.
Geralmente, a relação entre compressões e ventilação é de 15:2, pois é comum ter mais
de um profissional da saúde na emergência, mas, após estabelecer via aérea definitiva
(exemplo: intubação orotraqueal), as compressões não devem ser mais sincronizadas com
as ventilações e devem ser contínuas (pelo menos cem vezes por minuto), assim como as
ventilações (oito a dez vezes por minuto).
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
devem durar cerca de 1 segundo e fornecer volume suficiente para elevar o tórax. Durante
as ventilações é possível que um terceiro socorrista aplique a pressão cricoide (manobra
de Selick), que é uma manobra que promove a compressão do esôfago e potencialmente
reduz a distensão do estômago, bem como a chance de refluxo e aspiração. Mas a pressão
cricoide também pode provocar compressão da via aérea, podendo ser uma manobra útil
durante a reanimação, mas não é indicada de rotina e deve ser imediatamente interrompida
se estiver interferindo nas ventilações.
No início do atendimento, o ritmo cardíaco deve ser monitorizado o mais rápido possível
por meio de monitor eletrocardiográfico, pois a conduta na PCR depende do tipo de ritmo
cardíaco (Figura 3), e a monitorização contínua detecta precocemente mudanças no ritmo.
O acesso vascular é essencial para medicações e coleta de exames, mas, durante a PCR
em crianças, é muito difícil obter rapidamente um acesso vascular. Não é necessário obter
acesso venoso central e o acesso periférico é suficiente para o tratamento. Recomenda-se,
por segurança, obter dois acessos venosos periféricos.
O acesso IO é rápido, seguro e tão efetivo quanto o acesso venoso na PCR, sendo uma
excelente alternativa para administração de medicações antes de se obter acesso venoso.
O local mais utilizado para punção intraóssea é a tíbia proximal, cerca de 2cm abaixo da
tuberosidade da tíbia. Atualmente, além das agulhas tradicionais, existem mecanismos que
auxiliam na colocação da agulha, como, por exemplo a EZ-IO® e a BIG® (bone injection
gun). No acesso IO, podem ser feitas as medicações na emergência nas doses habituais
(semelhante ao acesso venoso). Nas situações em que é necessária a infusão rápida, deve-
mos utilizar pressão manual (bólus) ou bomba de infusão.
Nas raras situações em que não há acesso IO ou vascular, a via endotraqueal pode ser uma
alternativa para um grupo específico de drogas. As medicações que podem ser utilizadas
via cânula endotraqueal são: atropina, naloxone, epinefrina e lidocaína (regra mnemônica
ANEL). Como a absorção traqueal é errática, as doses são diferentes em relação às doses
por via endovenosa (Quadro 1). As medicações administradas via endotraqueal devem ser
seguidas de bólus de 5mL de soro fisiológico e cinco ventilações.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
EV: endovenoso; IO: intraósseo; FV: fibrilação ventricular; TV: taquicardia ventricular
A desfibrilação é a aplicação de uma corrente elétrica pelas células cardíacas não sincroni-
zada com o ritmo do coração. Ela é utilizada na PCR quando há FV ou TV. A aplicação do
choque é feita por desfibrilador manual, utilizando-se pás pediátricas para lactentes meno-
res que 10kg e pás de adulto para crianças maiores que 10kg. É necessário o uso de gel
condutor de eletricidade na superfície das pás. Uma das pás deve ser posicionada à direita
do tórax superior e a outra pá deve ser posicionada na região do apex cardíaco, deixando
o coração entre elas. No momento do choque, as pás devem ser seguradas firmemente,
fazendo um bom contato com a pele. A dose inicial é de 2 a 4J/kg; se a arritmia persistir,
recomenda-se uma segunda dose de 4J/kg; se forem necessários mais choques, podem
ser utilizadas doses mais altas, com uma variação de 4 a 10J/kg. A desfibrilação deve ser
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
coordenada com as manobras de ressuscitação (Figura 3), sendo que as manobras devem
ser realizadas até que o aparelho esteja pronto para liberar o choque. Logo após o primei-
ro choque, as manobras são reiniciadas e mantidas por 2 minutos, e só depois disso que
o ritmo deve ser checado novamente. Nos casos refratários é recomendada inicialmente
a utilização de vasopressor (epinefrina) e, posteriormente, antiarrítmico, preferencialmente
amiodarona, mas pode ser utilizada a lidocaína como alternativa.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
gas vasoativas, conforme a necessidade (Quadro 2). Os distúrbios metabólicos devem ser
identificados e tratados. Devemos tratar agressivamente a hipertermia (antitérmicos e mé-
todos físicos de resfriamento), e a hipotermia terapêutica (32 a 34°C) pode ser considerada
em crianças que permanecem comatosas após a ressuscitação, embora seu benefício em
crianças ainda não tenha sido comprovado.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Reanimação neonatal
Caso clínico
Sorologias para HIV, toxoplasmose, sífilis, hepatite C negativas. Imune para rubéola e he-
patite B.
Após 3 horas de trabalho de parto, evoluiu para parto normal sem intercorrências.
Perguntas
1. O bebê acabou de nascer, como deve ser iniciado seu atendimento em sala de parto?
2. O que significa estabilização inicial do recém-nascido?
3. Quando iniciar a ventilação com pressão positiva (VPP) no atendimento do
recém-nascido?
4. Quando indicar a intubação traqueal?
5. Quando indicar a massagem cardíaca na reanimação neonatal?
6. Quando indicar o uso de medicamentos na ressuscitação cardiopulmonar do
recém-nascido?
Apresentação
No Brasil, nascem cerca de 3 milhões de crianças por ano, a maioria delas em hospitais
e com boa vitalidade. No entanto, manobras de reanimação podem ser necessárias, e
o conhecimento e a habilidade do profissional são fundamentais para o atendimento do
recém-nascido em sala de parto.
A necessidade de procedimentos em sala de parto é maior quanto menor for a idade gesta-
cional e/ou peso ao nascer. Estima-se que, a cada ano, no Brasil, 300 mil crianças necessi-
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
tem de ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer, e cerca de 25 mil prematuros de
baixo peso precisem de assistência ventilatória na sala de parto.
A mortalidade por asfixia deve nos alertar para o seguinte aspecto: parte dos pacientes vítimas
de deficiência de oxigenação durante a gestação e parto, e ainda no período imediatamente
após o nascimento, pode não morrer, e sim desenvolver sequelas neurológicas graves,
comprometendo consideravelmente o desenvolvimento neuropsicomotor.
Estima-se que o atendimento ao parto por profissionais treinados possa reduzir em 20 a 30%
as taxas de mortalidade neonatal, enquanto o emprego das técnicas de reanimação preco-
nizadas pelos diversos grupos internacionais que trabalham no tema resulte em diminuição
adicional de 5 a 20%, levando a redução de até 45% das mortes neonatais por asfixia.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Em todo nascimento, deve sempre haver um profissional treinado para iniciar a reanimação
neonatal e capacitado para realizar todos os procedimentos que podem ser necessários
nesse atendimento. Os profissionais devem utilizar precauções universais, devido ao con-
tato com sangue e secreções durante o parto.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
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Todo material necessário para reanimação neonatal completa deve estar disponível e fun-
cionante, em toda sala de parto (Quadro 4).
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Óculos de proteção
Estetoscópio
Saco de polietileno 30x50cm e touca para proteção térmica do recém-nascido
Respirador manual em T (Baby Puff ou similar)
Tesoura de ponta romba
Clampeador de cordão umbilical
A avaliação da coloração de pele e mucosas não é mais utilizada para decisão de procedi-
mentos, por ser subjetiva e não ter relação com a saturação de oxigênio ao nascimento. O
processo de transição normal para atingir uma saturação de oxigênio acima de 90% requer
5 minutos ou mais em recém-nascidos saudáveis que respiram ar ambiente.
É importante lembrar que o boletim de Apgar não deve ser utilizado para determinar o início
da reanimação, nem para determinar condutas em relação aos procedimentos a serem rea-
lizados, mas para avaliar a resposta do recém-nascido em relação às intervenções.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
lidade da via aérea, por meio do posicionamento adequado da cabeça em leve extensão,
assim como a aspiração de secreções, se necessário.
O contato pele a pele precoce (logo após ao nascer) reduz o risco de hipotermia em recém-
-nascidos de termo, desde que cobertos com campos pré-aquecidos, podendo se iniciar a
amamentação. A temperatura da sala deve ser de 26ºC.
1. Levar o recém-nascido e colocá-lo sob fonte de calor radiante para prover calor
2. Posicionar a cabeça em leve extensão (Figura 5)
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
3. Se houver excesso de secreções nas vias aéreas, a boca e as narinas podem ser as-
piradas utilizando-se sondas números 8 ou 10, e com pressão negativa máxima de
100mmHg. A aspiração de vias aéreas está reservada aos pacientes que apresentam
obstrução à respiração espontânea por secreções
4. Secar e remover os campos úmidos
5. Reposicionar a cabeça, se necessário
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
A VPP está indicada quando, após a realização dos passos iniciais (30 segundos), o recém-
-nascido apresenta pelo menos uma das seguintes situações: apneia, respiração irregular
e FC menor que 100bpm. Esta precisa ser iniciada nos primeiros 60 segundos de vida (The
Golden Minute™).
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Atualmente, existem ventiladores mecânicos manuais que permitem ajuste de pressão ins-
piratória (PIP) e pressão positiva ao final da expiração (PEEP), de acordo com a necessidade
do paciente, sendo indicados principalmente na reanimação de recém-nascidos prematuros.
A aplicação da pressão positiva pode ser feita por meio de máscara ou cânula endotraque-
al. Inicialmente deve ser feita com auxílio de máscara, cujo tamanho deve ser adequado ao
recém-nascido, ocluindo a base do nariz, a boca e a ponta do queixo com perfeita vedação
entre a face e a máscara, para que ocorra a adequada ventilação pulmonar.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
Uma vez iniciada a VPP, recomenda-se a utilização da oximetria de pulso para adequar a
oferta de oxigênio suplementar. Os valores desejáveis de SatO2 variam de acordo com os
minutos de vida (Quadro 5).
Até 5 70–80
5–10 80–90
>10 85–95
Caso o misturador ou o oxímetro não estiverem disponíveis, iniciar a VPP com ar ambiente,
ficar atento à insuflação pulmonar e à normalização da FC, e, se não houver melhora em 90
segundos, continuar a VPP com oxigênio a 100%.
Quando o ritmo respiratório permanecer regular e a FC for superior a 100bpm após a utili-
zação de VPP com oxigênio suplementar, devemos fornecer oxigênio inalatório 5L/min pró-
ximo à face do recém-nascido e ir afastando-se aos poucos o dispositivo utlilizado da face
do recém-nascido, de acordo com a saturação de oxigênio, a fim de que ocorra redução
lenta e progressiva da concentração de oxigênio inalada.
Evidências indicam que o excesso de oxigênio tecidual pode levar à lesão oxidativa e deve
ser evitado. Dessa forma, deve-se desestimular o uso indiscriminado do oxigênio inalatório
em recém-nascidos que estão bem, mas demoram um pouco para reverter a cianose. A
presença de saturação de oxigênio entre 80 e 90% nas primeiras horas de vida é fisiológica.
Recomenda-se maior tolerância à cianose central em recém-nascidos a termo que estabe-
leceram de maneira adequada a respiração, a FC e o tônus muscular na sala de parto.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A VPP também pode ser realizada por meio de cânula traqueal. As indicações de intubação
traqueal em sala de parto são as seguintes: necessidade de aspiração traqueal, em recém-
-nascidos deprimidos, e presença de líquido meconial; ventilação com máscara ineficaz
ou prolongada; necessidade de massagem cardíaca; na suspeita ou diagnóstico de hérnia
diafragmática; em prematuros com idade gestacional inferior a 30 semanas, que devem
receber surfactante exógeno profilático de acordo com a rotina do serviço.
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Camip
No procedimento de intubação, que não deve ultrapassar 20 segundos, pode ser forneci-
do oxigênio suplementar (cateter 5L/min) próximo da face do recém-nascido. Uma regra
utilizada com o objetivo de posicionar adequadamente a extremidade distal da cânula na
traqueia é acrescentar 6 ao peso estimado do recém-nascido; assim, o número obtido deve
ficar localizado na altura do lábio superior. Devemos observar atentamente a expansibili-
dade torácica durante a ventilação, e realizar ausculta nas regiões axilares e gástrica. O
primeiro sinal de melhora do recém-nascido é a elevação da FC. A confirmação da posição
da cânula é um procedimento obrigatório para recém-nascidos bradicárdicos que não res-
pondem às manobras de reanimação. A maneira mais rápida de confirmação é por meio
da detecção do gás carbônico exalado por método colorimétrico. Se o recém-nascido tiver
FC acima de 100bpm e respiração espontânea, ele pode ser extubado e deve ser fornecido
oxigênio inalatório.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
suplementar, e se a técnica realizada for correta. A massagem cardíaca deve ser sempre
acompanhada de VPP.
A melhora é considerada quando, após VPP com cânula traqueal e oxigênio suplementar
associado a massagem cardíaca, o paciente apresenta FC >60bpm.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
Adrenalina
Está indicada quando a ventilação adequada e a massagem cardíaca efetiva não obtiveram
êxito, no sentido de elevar a FC do recém-nascido acima de 60bpm, durante a reanimação
em sala de parto (Quadro 6).
Expansor de volume
O uso de expansores de volume é um recurso disponível para reanimar o recém-nascido
com hipovolemia. A suspeita é feita se houver perda sanguínea prévia ou se existirem sinais
de choque hipovolêmico, como: palidez, pulsos débeis e má perfusão periférica (Quadro 6).
Bicarbonato de sódio
Usado excepcionalmente na reanimação do recém-nascido em sala de parto, naqueles que
não apresentaram resposta às manobras previamente executadas, sob ventilação e massa-
gem cardíaca aplicadas com técnicas corretas (Quadro 6).
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Questões éticas
As questões relativas às orientações para não iniciar a reanimação neonatal e/ou interrom-
per as manobras são bastante controversas e dependem do contexto nacional, social, cul-
tural e religioso. De modo geral, os princípios éticos que regem a reanimação neonatal não
devem ser diferentes daqueles aplicados a pacientes de outras faixas etárias.
Os estudos mais recentes têm mostrado que é possível utilizar estratégias de neuropro-
teção para melhorar o prognóstico de recém-nascidos com idade gestacional acima de
35 semanas que necessitaram de reanimação vigorosa em sala de parto e evoluíram com
encefalopatia hipóxico-isquêmica. Essa estratégia terapêutica deve ser utilizada de forma
criteriosa, pesando riscos e benefícios.
Bibliografia
ACOG Committee Opinion No. 379: Management of delivery of a newborn with meconium-
stained amniotic fluid. Obstet Gynecol. 2007;110(3):739.
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 2 | Ressuscitação cardiopulmonar e reanimação neonatal
Camip
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
Procedimentos em Pediatria:
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
3
Capítulo 3
Cateter Venoso Central,
Cateter
Procedimentos Umbilical, Pressão
em pediatria: cateter venoso Arterial
central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Invasiva e Cardioversão
Aline Motta de Menezes
Aline Motta de Menezes
Casos clínicos
Caso 1
Paciente de 8 anos, admitido em unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica com leucemia
linfoide aguda recém-diagnosticada, hemograma com 180.000 leucócitos, internado pelo
risco de lise tumoral. A criança deu entrada na unidade em mal estado geral, sonolenta,
pálida, com acesso venoso periférico, recebendo oxigênio inalatório. Na avaliação inicial,
encontrou-se com abertura ocular presente quando estimulado, porém retornava sonolen-
to, frequência cardíaca (FC) de 160bpm, saturação (Sat) de 95%, pressão arterial (PA) de
90x50 mmHg, frequência respiratória (FR) de 18 rpm, pulsos amplos, tempo de enchimento
capilar de 1 segundo, afebril. Na monitorização cardíaca, traçado com onda T apiculada.
Caso 2
Gestante de 37 semanas deu entrada no centro obstétrico com quadro de sangramento vaginal
abundante há 1 hora. Após avaliação, foi diagnosticado descolamento prematuro de placenta
e indicada cesária de urgência. O recém-nascido encontrava-se com palidez cutaneomucosa
intensa, em apneia, hipotônico, FC de 100bpm. Iniciada a reanimação neonatal em sala de parto.
Perguntas
1. Qual dos pacientes tem a oferta de fluídos endovenosos como uma das prioridade no
tratamento inicial?…
2. Qual a provável causa da alteração eletrocardiográfica referida no caso 1?
3. Quais as prioridades no tratamento da causa da alteração eletrocardiográfica do caso 1?
4. Caso a alteração eletrocardiográfica não seja prontamente diagnosticada e tratada,
qual a consequência mais provável para o paciente?
5. Qual seria o tratamento se isso acontecesse?
6. Qual o tratamento para esse paciente se ele não responder as medidas iniciais prescri-
tas para controle do distúrbio eletrolítico em questão?
7. Qual dos pacientes está sujeito a receber transfusão de hemoderivados durante
o atendimento?
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
8. Qual dos pacientes está sujeito a receber drogas vasoativas durante o atendimento?
9. Quais as medidas de monitorização hemodinâmica que podemos instituir para os
dois casos?
10.Quais as vias disponíveis atualmente para instituirmos os tratamentos propostos a
esses pacientes de forma efetiva e segura?
11.Quais cuidados devemos ter para obtê-las?
12.Quais complicações podem estar relacionadas?
Apresentação
Este capítulo visa abordar procedimentos comuns no dia a dia do intensivista pediátrico,
tais como a instalação de cateteres venosos centrais (CVC), cateter umbilical, pressão ar-
terial invasiva (PAI) e cardioversão elétrica, descrevendo indicações e contraindicações,
técnica, cuidados a serem tomados após o procedimento e complicações.
Obviamente que o uso destes dispositivos não está isento de riscos, porém um bom co-
nhecimento da técnica de instalação por parte do médico responsável, bem como o uso de
ferramentas, como o ultrassom, que minimizam suas complicações e tragam mais conforto
ao paciente, devem ser empregadas sempre que possível.
Indicações e contraindicações
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Seleção do cateter
A seleção do cateter deve levar em consideração idade, peso da criança e indicação. A maioria
dos cateteres de curta duração é constituída por polietileno e, para pacientes recém-nascidos,
são indicados os de 3F, 4 F para lactentes, 5F para os pré-escolares, e 7 F para os escolares
e adolescentes. Sempre que possível, recomenda-se optar pelos cateteres com menor F, por
sua relação com estase sanguínea e trombose, e o menor número de lúmens (vias) possível,
devido ao menor risco de infecção relacionado. Em geral, estão disponíveis cateteres com
um a três lúmens. Para a cateterização umbilical dos recém-nascidos, utilizamos cateteres de
3,5 F (para < 1.500 g), 5 F (1.500 a 3.500 g) e 8 F (>3.500 g), com um lúmen apenas. Para os
recém-nascidos, os cateteres de duplo-lúmen só devem ser utilizados em situações críticas,
por estarem associados a maior índice de complicações, em especial infecciosas.
Sempre que a condição clínica do paciente permitir, ele e sua família devem ser orientados
quanto aos riscos e passos do procedimento, obtendo, então, o consentimento informado.
Iniciamos a avaliação da anatomia do paciente, o preparo dos materiais necessários para
técnica estéril, a monitorização cardiorrespiratória, a escolha de medicamentos adequados
para sedação e analgesia, e o posicionamento do paciente. Para os cateteres umbilicais,
não há necessidade de analgesia, pois não há receptores de dor no cordão umbilical. No
entanto, sacarose oral pode ser dada se não houver contraindicações. O ultrassom deve ser
empregado sempre que estiver disponível e seu manejo for conhecido.
A veia jugular interna é a mais acessada em crianças, seguida da veia femoral e da subclávia.
Jugular interna
É a via mais utilizada no dia a dia dos pacientes de UTI pediátrica. A veia jugular interna
direita é preferida à esquerda, pois o cateter tem um trajeto mais direto até a veia cava
superior, além dos riscos de pneumotórax ou danos para o ducto torácico serem menores
durante a punção, quando comparados ao lado esquerdo.
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
Existem três vias possíveis para o acesso da veia jugular interna: medial, posterior e ante-
rior. Nos três casos, o paciente é posicionado em decúbito dorsal, se possível em Trende-
lemburg, para melhora do retorno venoso, com a cabeça lateralizada para o lado oposto a
punção, colocando-se um coxim sobre os ombros para melhorar a exposição da região a
ser puncionada.
No acesso anterior, introduzimos a agulha com aspiração constante numa angulação de 30o
no terço médio do pescoço, passando sob o músculo esternocleidomastoideo, iniciando a
punção em sua borda mais medial. Uma vez passado o feixe muscular retificamos a pun-
ção, seguindo em direção ao mamilo ipisilateral. No acesso medial, a punção deve ocorrer
num ângulo de 45o, no ápice do triângulo formado pelo encontro dos feixes esternal e clavi-
cular, que constituem o músculo esternocleidomastoideo, em direção ao mamilo ipisilateral
à punção. Já no acesso posterior, a punção deve ocorrer num ângulo de 45o na região de
encontro entre a cabeça clavicular do músculo esternocleidomastoideo e a veia jugular ex-
terna, em direção a fúrcula.
A punção da veia jugular externa também é uma opção com baixo risco de complicações
associadas e pode ser feita com o paciente na mesma posição descrita para o acesso da
veia jugular interna, porém por meio da punção direta da veia.
Veia femoral
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Veia subclávia
Tem sido associado a uma alta taxa de complicações quando realizada durante situações
de emergência, não sendo considerado um local ideal de acesso vascular durante a reani-
mação. O risco de complicações é menor quanto maior a criança, porém não são minimiza-
das pelo uso do ultrassom durante o procedimento. Posicionamos o paciente em decúbito
dorsal, se possível em Trendelenburg, para aumentar o retorno venoso, com a cabeça em
posição neutra ou lateralizada. Podemos posicionar um coxim sobre as escápulas para
facilitar a exposição clavicular e o acesso ao vaso. Palpamos toda a extensão da clavícula
e realizamos a punção em um ângulo de 45o na região infraclavicular, entre a transição do
terço médio e o mais medial, até atingir a borda inferior da clavícula, retificando, então, o
sentido da punção, sempre aspirando a seringa e indo em direção a fúrcula.
Amarrar a base do umbigo com uma fita dando um nó simples para evitar sangramento
durante a manipulação do coto. Cortar o cordão umbilical acima da fita, horizontalmente, a
cerca de 0,5 a 1cm da base do coto. Caso haja sangramento nesse momento, apertar mais
o nó feito anteriormente. Identificar os vasos umbilicais – em geral uma veia, com parede
mais fina e ovalada, e duas artérias, com paredes mais espessas e arredondadas. Segurar
o coto umbilical com uma das mãos ou com auxilio de pinça hemostática, tomando cuidado
para não pinçar os vasos. Introduzir o cateter delicadamente na veia até a distância prevista.
Pode ser necessário afrouxar o nó feito na base do coto durante a passagem do cateter.
A técnica de instalação de CVC com ultrassonografia é bem descrita e tem sido cada vez
mais utilizada. Existem evidências de redução no tempo do procedimento e no risco de
complicações, dependendo da habilidade do operador e do sítio a ser puncionado. Deve
ser usado sempre que estiver disponível, em todos os pacientes com indicação de colo-
cação de acessos venosos centrais em veia jugular interna ou externa, e femoral. Desse
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
modo, mesmo médicos experientes na técnica de punção tradicional devem ser encoraja-
dos a fazê-la com auxilio da ultrassonografia. No caso do acesso subclávio, não há aumen-
to na taxa de sucesso do procedimento com o uso do ultrassom, nem duração no tempo
de instalação.
O método permite uma avaliação estática, com identificação anatômica dos vasos em ques-
tão, visualização da localização do cateter no vaso e verificação de sua patência, ou uso de
maneira dinâmica durante todo o procedimento, permitindo a visualização do momento da
punção inclusive.
Os marcos anatômicos para acesso venoso tradicional podem ser utilizados como um pon-
to de orientação para a colocação do transdutor. Quando visto com ultrassonografia, todos
os vasos aparecem como estruturas anecoicas (pretas) tubulares, enquanto que o tecido
adjacente aparece mais acinzentado. As veias são distintas de artérias na ultrassonografia,
porque elas têm paredes mais finas, são mais facilmente comprimidas e não são pulsáteis.
Além disso, elas geralmente distendem com manobras que impedem ou aumentam o retor-
no venoso, como a manobra de Valsalva e posição de Trendelenburg, em contraste com o
diâmetro arterial, que permanece o mesmo durante essas manobras. Ambas podem estar
sobrepostas, o que exige um melhor posicionamento do paciente.
Na técnica estática de punção, realizamos a avaliação anatômica da veia, na qual será in-
serido o cateter e determinamos o local de punção.
A técnica dinâmica possibilita a visualização em tempo real até a inserção do cateter, com
identificação imediata de complicações. Pode ser realizada com dois operadores, um ma-
nipulando o transdutor e o outro realizando a punção, ou um operador realizando todos os
passos do procedimento. Devemos posicionar a veia no centro do monitor e realizar a pun-
ção em um ângulo de 45° em relação ao transdutor e equidistante deste com a veia.
Uma vez ultrapassada a pele, progredir a agulha em direção a parede anterior da veia. A
não visualização da agulha ou não visualização do movimento de estruturas adjacentes a
ela no monitor indica o não alinhamento do transdutor em relação à posição em que foi
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
inserida a agulha. Neste caso, devemos retirar a agulha e reiniciar a punção, checando
a posição correta do transdutor. Após certificar de que a agulha está dentro da veia, por
meio da aspiração de sangue, prosseguimos com as etapas seguintes, segundo a técnica
tradicional (Seldinger).
No caso dos acessos jugulares e subclávios, a ponta do cateter deve estar na junção da
veia cava superior e a átrio direito, evitando lesão dos vasos e miocárdio, além de garantir
a adequada monitorização de parâmetros hemodinâmicos. No caso dos acessos femorais,
a ponta dos cateteres não deve permanecer intra-hepática ou na eminência das artérias
renais (entre L4 e L5). Após certificação da posição adequada do cateter, o mesmo deve ser
fixado com fio náilon e ser realizado curativo sobre o sítio de inserção.
Caso haja dúvida se uma artéria ou veia tenha sido canulada, podemos tentar identificar
a onda de pulso característica acoplando o cateter em um monitor apropriado, ou, então,
realizar a coleta de gasometria com características de sangue venoso.
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
Complicações
As complicações do cateterismo venoso central são mais comuns na faixa etária pediátrica
do que em pacientes adultos. Estas estão relacionadas principalmente com o sítio de pun-
ção, experiência do operador e condição clínica do paciente. As principais complicações
incluem infecção de corrente sanguínea relacionada, infecção do local da punção, celulite,
sangramento arterial, punção arterial, trombose, flebite, tromboembolismo pulmonar, pneu-
motórax, hemotórax, tamponamento cardíaco, arritmias, embolia gasosa, laceração venosa
e formação de hematoma no local de punção. Entre as complicações envolvidas no cate-
terismo umbilical, temos a hemorragia acidental, a perfuração miocárdica, as infecções, a
enterocolite necrosante, a hipertensão portal etc.
Indicações e contraindicações
A canulação arterial em pediatria está indicada nos pacientes em que a coleta de exames,
como a gasometria arterial, é necessária com frequência, como no caso na insuficiência res-
piratória grave, recém-nascidos em estado grave, ou na necessidade de medida da PA ou
débito cardíaco de forma fidedigna e contínua, como nos pacientes em choque, emergências
hipertensivas ou em uso de vasopressores, principalmente em casos em que a anormalidade
da PA é aguda ou há grande labilidade na mesma. Está contraindicada a punção em locais
com evidências de infecções, acometimento dos vasos arteriais envolvidos, circulação cola-
teral insuficiente, intervenção cirúrgica prévia e distúrbios hemorrágicos graves.
A artéria radial pode ser facilmente testada em crianças, quanto à sua circulação colateral
por meio do teste de Allen modificado, usado para demonstrar o fluxo colateral pelo arco
palmar superficial antes da punção. O teste consiste em fechar a mão do paciente de forma
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Outros locais incluem a punção de artéria tibial posterior, pediosa, braquial e femoral. De
todos esses locais, a circulação colateral da artéria pediosa é a única que também pode
ser avaliada antes do procedimento. A artéria femoral só deve ser puncionada em situações
em que for absolutamente necessária e quando os outros sítios não estiverem disponíveis,
devido ao baixo fluxo colateral e maior risco de complicações associadas, como, por exem-
plo, tromboses e embolização distal, o que requer uma avaliação constante da qualidade
dos pulsos distais. Sempre afastar a presença de infecção no local da punção.
A punção arterial pode ocorrer pela técnica direta, associada ao uso do fio-guia (técnica
de Seldinger), e, quando possível, utilizando a ultrassonografia, se disponível, o que pode
resultar numa maior taxa de sucesso para canulação em operadores treinados, diminuindo
também o número de tentativas. Ao uso do fio-guia parece estar associado a um número
significativamente menor de tentativas de punção, menor tempo de procedimento, maior
taxa de sucesso, e medidas de monitorização mais satisfatórias.
Em geral, devemos realizar a punção sobre o local de palpação do pulso do sítio escolhido.
Por exemplo, no caso da artéria radial, fixamos o antebraço e a mão do paciente em leve
dorsiflexão. Podemos identificar o local de punção usando a orientação da ultrassonografia
ou palpação. A técnica para a canulação arterial pelo método direto consiste em preparar
e localizar o ponto a ser puncionado, inserindo o cateter intravascular num ângulo de 30 a
45°, até que o sangue com caráter pulsátil seja obtido. Uma vez que o retorno do sangue é
observado, diminuir o ângulo do cateter intravascular e agulha, e avançá-lo sobre a agulha.
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
Se estiver disponível um cateter próprio para punção com um fio-guia, inserimos o cateter
intravascular e agulha com um ângulo de 30 a 45° lentamente, até que haja fluxo de sangue
pulsátil através do cateter. Uma vez que o retorno do sangue pulsátil é observado, retificar o
ângulo de inserção do cateter intravascular e agulha, e introduzi-los em conjunto para asse-
gurar que o próprio cateter entre na luz do vaso. Estabilizar o cateter intravascular com uma
das mãos e remover a agulha do cateter intravascular. Se o retorno do sangue pulsátil ocor-
rer depois que a agulha for removida, avançar o fio-guia por dentro do cateter. Se o retorno
do sangue pulsátil não ocorrer, retirar delicadamente o cateter, até que o sangue pulsátil ser
obtido e, em seguida, avançar o fio-guia. Se for bem posicionado dentro do lúmen arterial,
o fio-guia deve se mover com pouca ou nenhuma resistência. Avançar o fio-guia, mantendo
assim sua extremidade distal para além da extremidade distal do cateter e, em seguida,
avançar o cateter intravascular sobre o fio-guia, na artéria.
Caso haja dúvida se uma artéria ou veia tenha sido canulada, podemos tentar identificar a
onda de pulso no monitor apropriado, ou então realizar a coleta de gasometria com carac-
terísticas de sangue arterial. Fixar o cateter com sutura e um curativo adesivo transparente.
(peso do paciente em kg x 3) + 9
Complicações
O risco de complicações em geral aumenta com a idade mais jovem e com o aumento da du-
ração da punção. A atenção à técnica estéril durante punção arterial e na retirada de sangue
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Cardioversão elétrica
Conceito
Indicações
A cardioversão deve ser utilizada em pacientes com ritmos cardíacos instáveis organizados,
tais como taquicardias supraventriculares (TSV), fibrilação atrial, flutter atrial, ou taquicardia
ventricular pulso palpável. A TSV instável constitui a arritmia mais comum na faixa etária
pediátrica, necessitando de cardioversão.
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
Desfibrilador
Em geral, os desfibriladores manuais têm dois tamanhos de pás: adulto e infantil (existem
também eletrodos que são autoadesivos no lugar das pás). A escolha do tamanho correto
para cada paciente pode influenciar na qualidade do choque aplicado e em sua efetividade.
As pás infantis em geral estão localizadas sob as pás adultas. Utilizamos o tamanho “infantil”
para menores de 1 ano ou 10kg, e o tamanho adulto para maiores de 1 ano ou mais que 10kg.
Etapas
Se a condição do paciente permitir, devemos obter uma história clínica breve a respeito
das causas que podem ter levado a arritmia (intoxicação, cardipatia etc.). Se possível, obter
também o consentimento informado com os responsáveis para realização do procedimento.
Muitos pacientes que serão submetidos a cardioversão estão conscientes e, a menos que
eles estejam muito instáveis, devem receber um nível adequado de sedação e analgesia
previamente. Manter a monitorização de PA, eletrocardiograma e oximetria de pulso durante
todo o tempo.
Um gel condutor próprio deve ser aplicado abundantemente sobre as pás antes do seu uso.
Não use esponjas embebidas com solução salina, gel de ultrassonografia ou outras solu-
ções, e nem utilize as pás sem o gel.
Coloque uma das pás sobre a parte superior do tórax direito, ao lado do esterno e abaixo
da clavícula, e a outra na parte inferior do tórax esquerdo, na linha axilar média, lateral a
mama, sobre o vértice do coração, de modo que o mesmo fique entre as duas pás, para que
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
o choque passe através do miocárdio. Aplicar uma pressão firme durante o procedimento.
Em situações em que as pás são grandes para o tamanho do paciente, podemos colocar
as pás na posição posteroanterior, ficando uma no dorso e outra na parte anterior do tórax
do paciente.
Após a cardioversão bem-sucedida, a criança vai precisar de ser hospitalizada para mo-
nitorização cardíaca contínua em um ambiente de cuidados intensivos. Dependendo da
etiologia da arritmia, a consulta com um cardiologista pediátrico e/ou médico toxicologista
também pode ser apropriada.
Complicações
No dia a dia das UTIs, são inúmeras as situações críticas que exigem conhecimento de
procedimentos, como a cardioversão elétrica, além da cateterização venosa e a arterial,
seja para a administração de medicações e fluídos, coleta de exames, como ferramenta na
estabilização e monitorização hemodinâmica, ou como via específica de tratamento, como
a hemodiálise, por exemplo.
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Capítulo 3 | Procedimentos em pediatria: cateter venoso central,
cateter umbilical, pressão arterial invasiva e cardioversão
Camip
Cabe ao médico intensivista identificar as situações em que este tipo de procedimento inva-
sivo será realmente benéfico ao paciente; e conhecer suas contraindicações, ponderando
as complicações inerentes ao mesmo, as quais podem contribuir para um aumento signifi-
cativo na morbidade e mortalidade desses pacientes, de despesas e impacto no tempo de
internação hospitalar relacionados.
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assisted pediatric radial artery cannulation technique. J Cardiothorac Vasc Anesth.
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73
Camip
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Sedação e
Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria 4
Analgesia
Capítulo 4
em Pediatria
Sedação e analgesia em pediatria
Laura Gaiga
Cintia T. Cruz Laura Gaiga
Cintia T. Cruz
Caso clínico
Transferido à unidade de terapia intensiva (UTI), onde deu entrada intubado, ventilando em
bolsa-valva-máscara, sedado, porém reativo ao exame. Recebe uma dose de midazolam
0,2mg/kg para o transporte. Durante a admissão, evoluiu com agitação intensa.
Perguntas
1. Neste momento, quais são as possíveis opções de sedação para esse paciente?
2. O que deve ser considerado na escolha da droga que vai utilizada?
3. Quais os efeitos de cada droga escolhida e possíveis efeitos colaterais?
4. Quais os objetivos da sedação na UTI pediátrica?
Optado por introduzir sedação contínua com fentanil 1mcg/kg/hora e midazolam 0,1mg/kg/
hora. Inicialmente evolui bem, com escala de agitação e sedação de Richmond (RASS, sigla
do inglês Richmond Agitation Sedation Scale) -1 a -2, porém, após 12 horas de internação,
começa a despertar frequentemente, com períodos de agitação, necessitando de aumento
da dose até fentanil 2mcg/kg/hora e midazolam 0,2mg/kg/hora. Após aumento da dose de
sedação, ainda mantém alguns períodos de despertar e agitação.
Perguntas
1. Que situações clínicas podem justificar a agitação? O que deve ser avaliado?
2. Como o paciente deve ser monitorizado nesse período?
3. Quais as opções para otimizar a sedação nesse momento? Quais as vantagens e
desvantagens de cada uma?
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Perguntas
No oitavo dia de VM, como vinha apresentando melhora do quadro, com diminuição dos
parâmetros ventilatórios, são introduzidos metadona e lorazepam, na tentativa de iniciar
desmame de sedação. Foram reduzidas as doses de fentanil e midazolam até a suspensão
completa. Paciente extubado após 10 dias de VM.
Perguntas
1. Qual o objetivo do uso de metadona e lorazepam nesse caso? Como devem ser introdu-
zidos e em qual dose?
2. Cite um possível esquema de retirada de fentanil e midazolam após introdução da meta-
dona e do lorazepam
Após extubação, evolui com quadro de tremores, diarreia e pico febril 37,9 °C. Realizada
uma dose de morfina de resgate, pensando em síndrome de abstinência, com melhora par-
cial do quadro.
Perguntas
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Perguntas
Paciente evolui bem, com melhora completa do quadro respiratório, sem sinais de abstinên-
cia e com exame neurológico normal. Recebe alta para enfermaria.
Apresentação
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Pacientes que são submetidos a uma ineficiente quantidade de sedação e analgesia apre-
sentam piora da condição clínica devido a (1) aumento do catabolismo; (2) estímulo do
sistema nervoso simpático com subsequente aumento no consumo de oxigênio, glicogenó-
lise, gliconeogênese, lipólise, acidemia lática, hiperglicemia, balanço nitrogenado negativo,
retenção de água e sódio e aumento da excreção de potássio; (3) aumento da produção de
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), cortisol, hormônio antidiurético (ADH), hormônio do
crescimento (GH), glucagon, renina e aldosterona; (4) aumento da sobrecarga cardiorrespi-
ratória, o que acarreta em maior repercussão hemodinâmica e aumento da morbidade.
Por outro lado, o excesso de sedação também pode levar a uma deteriorização clínica, uma
vez que está associado a um maior tempo de VM, maior tempo de internação hospitalar (e
consequentemente maiores custo e risco de infecção), instabilidade hemodinâmica, tole-
rância, dependência e síndrome de abstinência, como discutiremos a seguir.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Avaliação pré-sedação
Uma maneira de avaliar a gravidade do paciente a ser sedado e relacioná-la com o risco
de complicação é o American Society of Anesthesiologists (ASA) Score, utilizado por anes-
tesistas durante a avaliação pré-anestésica. Este escore divide os pacientes em seis cate-
gorias e os relaciona, de acordo com sua doença atual ou prévia, a um índice de risco de
mortalidade, conforme o Quadro 1.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Outra forma de avaliar o risco de uma via aérea difícil é pela oroscopia da criança, na qual
podemos utilizar do escore de Mallampati, conforme a Figura 1. Podemos classificar o grau
de visibilidade das estruturas das vias aéreas superiores em: (I) visibilidade total da úvula,
tonsilas e palato mole; (II) visibilidade do palato duro e mole, parte superior das tonsilas e
úvula; (III) palato duro e mole visíveis, além da base da úvula; e (IV) apenas palato duro visí-
vel, determinando um grau maior de dificuldade para uma possível IOT.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Na anamnese com os responsáveis pela criança, é importante saber, além de dados como
doenças prévias e uso de medicamentos que podem interferir na sedação, o horário da úl-
tima refeição do paciente, a fim de minimizar o risco de broncoaspirações.
Para sedação para procedimentos eletivos, orienta-se, em média, jejum mínimo de 2 a 3
horas para líquidos, e de 4 a 8 horas para sólidos.
Monitorização
Durante a sedação, o ideal é que haja uma avaliação contínua do paciente, atentando-se
a face, boca e movimentos torácicos, a fim de detectar depressão respiratória, apneia,
obstrução de via aérea, laringoespasmo, vômitos e hipersalivação, e garantir uma via aérea
rapidamente, caso seja necessário.
Em UTI pediátrica, é bastante frequente haver situações que necessitam de sedação con-
tínua da criança, normalmente por horas, dias, ou até mesmo, semanas. Avaliar a qualida-
de dessa sedação normalmente não é uma tarefa simples, já que, na maioria dos casos,
depende apenas do examinador, sendo a dificuldade de comunicação com o paciente um
grande dificultador, principalmente nas crianças abaixo de 3 anos de idade.
Para auxiliar nessa análise, foram desenvolvidas diversas escalas de dor e agitação. Uma
revisão sistemática realizada por Hartman et al. identificou 21 escalas diferentes de avalia-
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
ção de sedação. A escala Comfort, a escala de Ramsay (RSS, sigla do inglês Ramsay Se-
dation Score) e a RASS são escalas bem validadas mundialmente e amplamente utilizadas,
porém nenhuma delas é considerada padrão-ouro de avaliação.
Na escala Comfort (Quadro 2), avaliam-se oito itens de desconforto fisiológico ou ambien-
tal. O escore <17 indica sedação excessiva, valores entre 17 e 26 sedação adequada e >26,
sedação insuficiente.
Itens Pontuação
Nível de consciência: alerta
Sono profundo 1
Sono superficial 2
Letárgico 3
Acordado e alerta 4
Hiperalerta 5
Calma/agitação
Calma 1
Ansiedade leve 2
Ansioso 3
Muito ansioso 4
Amedrontado 5
Resposta respiratória (apenas se paciente em ventilação mecânica)
Ausência de tosse e de respiração espontânea 1
Respiração espontânea com pouca ou nenhuma resposta à ventilação 2
Tosse ou resistência ocasional ao ventilador 3
Respirações ativas contra o ventilador ou tosse regular 4
Compete com o ventilador, tosse 5
Choro (apenas se paciente com respiração espontânea)
Respiração silenciosa, sem som de choro 1
Resmungando/choramingando 2
Reclamando (monotônico) 3
Choro 4
Gritando 5
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Movimento físico
Ausência de movimento 1
Movimento leve ocasional 2
Movimento leve frequente 3
Movimento vigoroso limitado às extremidades 4
Movimento vigoroso que inclui tronco e cabeça 5
Tônus muscular
Totalmente relaxado 1
Hipotônico 2
Normotônico 3
Hipertônico com flexão dos dedos e artelhos 4
Rigidez extrema com flexão de dedos e artelhos 5
Tensão facial
Músculos faciais totalmente relaxados 1
Tônus facial normal, sem tensão evidente 2
Tensão evidente em alguns músculos faciais 3
Tensão evidente em toda a face 4
Músculos faciais contorcidos 5
Fonte: van Dijk M, Peters JW, van Deventer P, Tibboel D. The COMFORT Behavior Scale: a tool for
assessing pain and sedation in infants. Am J Nurs. 2005;105(1):33-6
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Outra forma de avaliação dos pacientes foi proposta pela RASS, descrita no Quadro 4.
Fonte: Ely EW, Truman B, Shintani A, Thomason JW, Wheeler AP, Gordon S, Francis J, et al. Monitoring
sedation status over time in ICU patients: reliability and validity of Richmond agitation-sedation scale
(RASS). JAMA. 2003 Jun 11;289(22):2983-91
Para análise da escala RASS, o procedimento correto deve ser realizado da seguinte forma:
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
É necessário enfatizar ainda que a avaliação da sedação deve ser realizada de maneira pe-
riódica, durante um intervalo de 4 a 6 horas, no máximo. Alguns fatores podem influenciar
no grau de agitação do paciente como posicionamento inadequado no leito, excesso de
secreção, retenção vesical, dentre outros, que devem ser excluídos antes que a sedação
seja otimizada.
Em casos mais graves, como doenças do sistema nervoso central ou casos de hipertensão
intracraniana, a avaliação neurológica requer um cuidado especial. Além das escalas de
sedação, um exame neurológico sucinto deve ser realizado periodicamente, visando à ava-
liação do tamanho, simetria e fotorreatividade das pupilas; e à detecção de posturas mo-
toras anômalas (decorticação e descerebração). Pode-se contar ainda com outras formas
de monitorização, como a medida contínua de pressão intracraniana (PIC), por meio de um
cateter intracraniano conectado a um transdutor, e formas não invasivas de monitorização,
como o índice bispectral (BIS).
O BIS corresponde a uma medida não invasiva e objetiva da sedação, e consiste na con-
versão das ondas alfa, beta e teta do eletroencefalograma (EEG) convertidas em uma escala
numérica de zero (coma) a cem (desperto),. Para sua aferição, são colocados adesivos com
sensores nas derivações frontais do crânio, exatamente como no EEG (Figura 2). A escala
numérica é visualizada através de um monitor, como mostra a Figura 3.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
A escala do BIS e sua correlação com os níveis de sedação e traçados do EEG estão des-
critos na Figura 4.
Figura 4. Escala do de índice bispectral (BIS) e sua correlação com os níveis de sedação
e traçados do eletroencefalograma (EEG)
Dessa forma, quando disponível no serviço de terapia intensiva pediátrica, o BIS representa uma
boa ferramenta para auxiliar na monitorização da sedação e no ajuste das drogas sedativas.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tão importante quanto manter o nível de sedação adequado, é manter uma analgesia para
o paciente pediátrico grave. Dessa forma, a monitorização da dor deve ser constante den-
tro do ambiente de terapia intensiva e realizada de maneira multidisciplinar, com auxílio de
médicos, enfermeiros e outros profissionais que auxiliam no tratamento da criança.
Uma das maneiras utilizadas para avaliação da dor no paciente pediátrico é a escala FLACC,
acrônimo do inglês Face, Legs, Activity, Cry, Consolability, que pode ser vista no Quadro 5.
0 1 2
Caretas ou sobrancelhas
Tremor frequente do
Nenhuma expressão franzidas de vez em
Face queixo, mandíbulas
especial ou sorriso quando, introversão,
cerradas
desinteresse
Fonte: Merkel SI, Voepel-Lewis T, Shayevitz JR, Malviya S. The FLACC: A behavioral scale for scoring
postoperative pain in young children. Pediatr Nurs. 1997;23(3):293-7
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Além dessa escala, pode-se utilizar outro recurso que corresponde a avaliação da mímica
facial, correspondente à Escala de Faces (The Faces Pain Scale), conforme representado
na Figura 5.
Figura 5. Escala de dor de acordo com a mímica facial. Fonte: Wong-Baker. The Faces Pain Scale –
Revised. Pediatric Pain Sourcebook of Protocols, Policies and Pamphlets; 7 August 2007
Em pacientes maiores (acima de 7 anos) sem défices cognitivos, é possível pedir ativamente
para que eles quantifiquem sua dor utilizando uma escala de zero a dez, além de carac-
terizarem tipo, frequência, irradiação, fatores de melhora e piora, fatores desencadeantes,
dentre outros caracteres propedêuticos que facilitam a terapêutica. O autorrelato, quando
viável, constitui o padrão-ouro para quantificação da dor.
Diante desses índices e das informações coletadas com o paciente, é possível classificar a
intensidade do sintoma e tratá-lo de acordo com sua classificação, como visto no Quadro 6.
AINES/adjuvantes/opioides fortes/
8–10 Dor forte
PCA/bloqueios anestésicos
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Os fármacos utilizados para sedação e analgesia podem ser divididos em cinco classes
principais: (1) sedativos-hipnóticos, os mais utilizados, compreendendo os benzodiazepí-
nicos, barbitúricos, hidrato de cloral, propofol e etomidato; (2) analgésicos, representados
pelos opioides, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs); (3) sedativos-dissociativos, como
a cetamina; (4) agentes inalatórios, como o isoflurano e o sevoflurano; (5) antagonistas, re-
presentados pelo flumazenil e naloxone.
Opioides
Os principais representantes dessa classe são a morfina, o fentanil e a metadona, mais co-
mumente utilizados em UTI pediátrica. São capazes de induzir à analgesia ao interagirem
com uma série de receptores opioides centrais e periféricos, principalmente os µ e κ-recep-
tores. Não promovem sedação e amnésia, portanto necessitam de ser associados a outras
drogas para essa finalidade.
Morfina
Dos opioides, é a que apresenta menor solubilidade lipídica, o que acarreta em uma demora no
início de ação – em torno de 20 minutos após a administração intravenosa. Tem metabolização
intra e extra-hepática, com excreção renal. Seus principais efeitos adversos são: hipotensão,
bradicardia, depressão do sistema nervoso central, aumento da PIC, vômitos, espasmo biliar,
retenção urinária, depressão respiratória, dependência física e possibilidade de abstinência.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Fentanil
Opioide 80 a 100 vezes mais potente que a morfina, que apresenta grande solubilidade lipí-
dica, com início rápido de ação (menos de 30 segundos), e menores liberação histamínica
e hipotensão. Possui uma meia-vida curta (30 a 60 minutos) quando administrado intrave-
noso, sendo associado à rápida distribuição periférica. Seu metabolismo é exclusivamente
hepático. É uma droga segura, sem muita repercussão hemodinâmica, porém quando uti-
lizada em conjunto com benzodiazepínicos, apresenta maior risco de efeitos hemodinâ-
micos. Seus efeitos colaterais variam de prurido nasal e náuseas a depressão respiratória
e rigidez torácica - esses últimos relacionados a altas doses e, principalmente, à infusão
rápida da medicação. Sua ação e seus efeitos colaterais podem ser revertidos pelo uso do
seu antagonista, o naloxone. Essa droga tem meia-vida mais curta que o fentanil, o que faz
com que seja necessário repetir a dose em grande parte dos casos. Os efeitos adversos do
naloxone podem ser taquicardia, hipertensão arterial e aumento do consumo miocárdico.
Quando a rigidez torácica não é convertida pelo uso do antagonista, deve-se lançar mão do
uso de bloqueadores neuromusculares.
A dose inicial deve ser de 1mcg/kg, podendo chegar a, no máximo, 50mcg/dose, e deve
ser repetida a cada 3 minutos até atingir o efeito desejado. Para sedação intermitente, pode
ser repetida a cada 4 a 6 horas. Como sedação contínua, a dose pode variar de 1 a 4mcg/
kg/hora, com atenção especial a não atingir doses muito elevadas, pelo risco de tolerância
e abstinência.
Metadona
Apresenta ação similar a da morfina, porém seu efeito é cumulativo e mais longo. Pode ser
indicada em casos de dores moderadas a graves, mas seu papel mais significativo na UTI
pediátrica é na prevenção e no tratamento da abstinência, como será descrito mais adiante.
Sua administração pode ser VO ou IV, com a dose variando de 0,05 a 0,1mg/kg/dose a cada
4 a 6 horas, com máximo de 10mg/dose. Seus efeitos colaterais também são os mesmos
da morfina.
Opioides fracos
Codeína
A codeína é um opioide natural, agonista fraco dos receptores opioides que existem no
cérebro e no plexo mioentérico. É usada no tratamento da dor leve a moderada e como
antitussígeno em doses menores.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Sua principal vantagem é a possibilidade de utilização via oral, sendo potencializada quan-
do utilizada com ácido acetilsalicílico (AAS) ou acetaminofeno. O efeito antitussígeno é devi-
do a seus efeitos agonistas no centro nervoso cerebral de controle da tosse, que fica depri-
mido. O efeito obstipante é devido à ação nos receptores opioides nas células do intestino,
podendo ser utilizada também em medicações antidiarréicas. Seus principais efeitos co-
laterais são náuseas e vômitos, obstipação, miose, boca seca, prurido, tontura, confusão
e sedação, depressão respiratória, hipotensão por vasodilatação periférica secundária à
liberação de histamina. É contraindicada em casos de asma não controlada, alterações
respiratórias graves e obstrução intestinal. Possui baixo potencial como droga de abuso.
Sua forma via oral tem biodisponibilidade de 50%; 10% é metabolizado em morfina e o
restante em compostos conjugados inativos; 10% da população não metaboliza adequa-
damente a codeína em morfina, resultando em tratamento ineficaz da dor. Sua meia-vida é
de 2,5 a 3 horas.
A dose via oral recomendada para crianças é de 0,5 a 1mg/kg/dose a cada 4 a 6 horas,
para adultos de 15-60mg a cada 4 horas conforme necessário; a dose máxima isolada é de
60mg; a dose máxima diária foi de 360mg/dia.
Tramadol
É um análogo sintético da codeína, agonista puro não seletivo dos receptores opioides (mu,
delta e kappa) com afinidade maior pelo receptor µ (mu). Provoca inibição da recaptação
neuronal de noradrenalina e o aumento da liberação de serotonina. Sua potência é de 10 a
15 vezes menor que a potência da morfina. O pico médio de concentração sérica é atingido
após 45 minutos, e a biodisponibilidade é quase de 100%. Não tem efeito antitussígeno,
como a codeína, e não apresenta efeito depressor sobre sistema respiratório. Os efeitos
no sistema cardiovascular tendem a ser leves, com boa tolerância hemodinâmica. A moti-
lidade gastrintestinal é pouco afetada, mas pode causar constipação. Sintomas colaterais
comuns são tontura, náusea, vômitos, anorexia, boca seca e sonolência; também pode
causar retenção urinária. O uso de tramadol deve ser evitado em pacientes que apresentem
convulsões ou trauma craniencefálico ou que recebam drogas que baixem o limiar convul-
sivo. Em geral, o tramadol é um analgésico seguro e eficaz para dores de leve a moderada
em crianças.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Nalbufina
São utilizados para dores leves a moderadas, podendo reduzir a utilização de opióides em
adultos e crianças em 15 a 30%.
O paracetamol, em conjunto com os opioides, produz melhor efeito analgésico do que so-
mente altas doses de opioides. Sua administração é feita VO, e a dosagem é de 10 a 15mg/
kg/dose a cada 4 a 6 horas, sendo que, em maiores de 12 anos, a dose é de 500mg. Como
efeito adverso, é importante ressaltar a insuficiência hepática, porém está associada à su-
perdosagem. Não possui efeito anti-inflamatório.
Dos AINEs, o de maior uso em UTI pediátrica é o cetorolaco, indicado para dores modera-
das a intensas, podendo ser administrado IV, em crianças maiores de 3 anos.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A dose de ataque é de 0,5 a 1mg/kg, seguida por 0,3 a 0,5mg/kg a cada 6 horas. Em maio-
res de 12 anos, a dose é 30mg a cada 6 horas. Seus efeitos adversos são: dor abdominal,
úlcera péptica, diarreia, agranulocitose, inibição da agregação plaquetária, hepatite e dis-
função renal. Pode, ainda, aumentar o sangramento pós-operatório.
Cetamina
É um sedativo que produz dissociação cortical, o que pode fazer com que o paciente apre-
sente nistagmo e uma aparência cataléptica. Produz uma analgesia profunda, além de se-
dação e amnésia, sendo, por isso, bastante utilizada em UTI pediátrica, uma vez que reúne
mais de um objetivo na mesma droga. Suas formas de administração podem ser: oral, retal,
nasal, IV ou IM.
Seu uso intravenoso em baixas doses (1 a 2mg/kg) produz sedação e analgesia, enquanto
doses mais altas (4 a 6mg/kg) levam à anestesia geral.
Quando administrada IV, seu início de ação varia de 15 a 60 segundos após a dose, com
duração de 10 a 15 minutos, sendo a dose preconizada para esse tipo de administração
entre 0,5 a 2mg/kg. Já pela via intramuscular, seu tempo de ação varia de 3 a 5 minutos,
com duração média de 20 a 30 minutos, e a dose pode ser de 3 a 7mg/kg. A cetamina pode,
ainda, ser uma droga de infusão contínua, devendo ser titulada de 5 a 20mcg/kg/minutos
até se obter o efeito desejado.
Por permitir manter uma estabilidade hemodinâmica maior do que os opioides e benzodia-
zepínicos, muitas vezes é a droga de escolha para pequenos procedimentos em pacientes
cardiopatas, principalmente os com reserva cardíaca limítrofe, sendo que também é segura
em pacientes com hipertensão pulmonar. É uma boa opção para sedação de pacientes as-
máticos, por possuir propriedades broncodilatadoras, ao liberar catecolaminas e atividade
muscarínica, que relaxam a musculatura brônquica lisa.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Benzodiazepínicos
Os benzodiazepínicos são sedativos de ação específica nos receptores GABA (ácido gama-
-aminobutirico), os quais fazem parte do maior centro inibitório do sistema nervoso central.
São drogas capazes de produzir sedação e amnésia, porém sem efeito analgésico. Além
disso, possuem outros efeitos como ansiólise, relaxamento muscular e ação anticonvulsi-
vante. Seus principais representantes em UTI pediátrica são: midazolam, diazepam e lora-
zepam. Possuem, ainda, uma droga que antagoniza seus efeitos, o flumazenil.
Midazolam
Constitui o benzodiazepínico mais utilizado em nosso meio, podendo ser administrado por
VO, IV, IM e via nasal. Quando realizado pela via IV, seu início de ação é de 2 a 3 minutos,
com duração aproximada de 45 a 60 minutos. Além de sedativo, tem as vantagens de
induzir à amnésia retrógrada e ter ação anticonvulsivante. Normalmente, é utilizado em
combinação com opioides, porém esse fato pode aumentar o risco de complicações hemo-
dinâmicas e pulmonares. Sua dose pode variar de 0,1 a 0,2mg/kg/dose (em bólus) ou 0,05
a 3mg/kg/hora (infusão contínua).
Deve, ainda, ser utilizado com cautela em pacientes com insuficiência renal, pois a falha de
eliminação da seu metabólito ativo alfa-hidroxi-midazolam pode levar a um prolongamento
dos efeitos sedativos da medicação.
Lorazepam
O lorazepam é uma droga que também possui os efeitos de sedação e ansiólise típicos
dos benzodiazepínicos, porém, por ter uma meia-vida mais longa do que o midazolam, é
bastante empregada para desmame e tratamento de síndrome de abstinência. No Brasil, há
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
apenas a versão via oral da medicação, que pode ser administrada a cada 4 a 8 horas, na
dose de 0,05 a 0,1mg/kg.
Diazepam
Flumazenil
É a droga antagonista dos benzodiazepínicos, porém possui meia-vida mais curta, o que faz
com que frequentemente tenha que ser administrado mais de uma vez para reverter os efei-
tos indesejados. Sua administração é intravenosa, na dose de 0,01mg/kg/dose, com dose
máxima de 0,2mg. Pode levar a uma diminuição do limiar convulsivo, além de estimulação
simpática, podendo induzir a convulsões, hipertensão e arritmias.
Barbitúricos
Seus principais efeitos colaterais são: depressão respiratória; vasodilatação periférica, le-
vando à hipotensão grave, diminuição do retorno venoso e redução do débito cardíaco;
diminuição do volume-minuto.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Propofol
No entanto, apesar de ser um excelente hipnótico e sedativo, não induzir à tolerância e nem à
dependência, e ser de fácil retirada, o propofol não é isento de efeitos colaterais. Sinais e sin-
tomas como hipotensão arterial, bradicardia e outras arritmias, reações alérgicas, dislipidemias
(hipertrigliceridemia), infecções, dentre outros, já foram relatados após infusão do medicamento.
Dentre todos os efeitos colaterais descritos pela droga, o mais temido e que fez com que
o uso do sedativo fosse classificado como off-license pela Food and Drug Administration
(FDA) é a síndrome de infusão do propofol (propofol-related infusion syndrome – PRIS),
descrita primeiramente em 1992, em um estudo com crianças gravemente doentes. Foi de-
finida como uma síndrome rara, porém potencialmente letal, que cursava com bradicardia,
evoluindo para falência miocárdica, acidose lática refratária, rabdomiólise, lipemia, insufici-
ência renal aguda e hipercalemia. Após sua descrição, inúmeras publicações subsequentes
relataram a presença da síndrome em crianças e adultos submetidos ao uso do propofol.
No entanto, como a PRIS ainda não apresenta uma fisiopatologia muito bem definida, e
seus sintomas podem ser confundidos com outros aspectos correlacionados ao paciente
grave, a literatura é muito vaga a respeito das reais contraindicações da medicação. Por
meio de uma análise retrospectiva, o que se pode concluir é que, na maioria dos artigos
em que a PRIS foi relatada, ela foi relacionada a infusão do propofol de forma contínua em
altas doses (acima de 4mg/kg/hora) e/ou por períodos prolongados (acima de 48 horas de
infusão). Estudos recentes apontam, ainda, que, em centros onde há um protocolo especí-
fico para a administração da droga, respeitando dose e duração de tratamento, o risco de
PRIS foi praticamente nulo. Outras publicações sugerem, também, que quando se há uma
monitorização adequada em pacientes recebendo propofol de maneira contínua, alguns
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Etomidato
Seus principais efeitos colaterais podem ser dor à infusão, náuseas, vômitos, apneia –
quando é feito em bólus – e supressão adrenal, relacionada ao uso prolongado ou múltiplas
doses da medicação.
A dose indicada varia de 0,2 a 0,4mg/kg, e a via IV é a única via de administração possível.
Hidrato de cloral
O hidrato de cloral é uma droga de efeito hipnótico e sedativo, sem efeito analgésico, de
administração oral. É rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal e convertido em seu
metabólito ativo, o tricloroetanol. Tem início de ação entre 15 e 60 minutos, com duração de
60 a 120 minutos.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
A dose pode variar de 25 a 50mg/kg, a cada 6 horas, não ultrapassando o máximo de 2g/
dia. É metabolizado principalmente pelo fígado, excretado na urina e bile. Como efeitos co-
laterais, pode causar irritação gástrica, excitação paradoxal, cefaleia e leucopenia.
É muito utilizado como adjuvante na sedação de pacientes pediátricos críticos, pois sua
associação com opioides e benzodiazepínicos faz com que, em grande parte das vezes,
consiga se usar uma quantidade menor dessas drogas, acarretando em menos efeitos ad-
versos para a criança.
Agonistas alfa-2-adrenérgicos
Clonidina
A clonidina é uma alfa-agonista de ação direta do receptor adrenérgico α2, levando à inibi-
ção do sistema nervoso central e à redução da atividade simpática.
Tem sido bastante estudada e utilizada como sedativo, principalmente em cirurgias, sendo
utilizada como premeditação anestésica, podendo substituir os benzodiazepínicos, já com
estudos comprovando uma diminuição na agitação e melhora da dor pós-operatória quan-
do comparada ao midazolam. Assim, ela conquistou espaço como droga sedativa, sendo
bastante empregada na sedação de pacientes em VM em UTIs, além de tratamento para
abstinência de opioides e outros sedativos narcóticos.
Como droga sedativa, tem as vantagens de não causar depressão respiratória, preservar a
função renal e manter os reflexos barorreceptores cardíacos e vasomotores. Também atua na
tolerância do organismo a outros sedativos, reduzindo a dose necessária de opioides e ben-
zodiazepínicos para sedação, e facilitando o desmame. Além disso, pode ser utilizada para
tratamento dos sintomas de abstinência e tem a possibilidade de ser administrada via oral.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Pode ser utilizada como agente sedativo por via oral, via parenteral contínua e via intratecal.
Em alguns países, há a opção de uso de clonidina via transdérmica (patches de clonidina)
para controle álgico, ainda não disponíveis no Brasil. Há alguns estudos que citam a pos-
sibilidade de uso por vias retal e intranasal como alternativa, porém essas vias ainda não
estão bem estabelecidas.
As doses da medicação, de acordo com a via de administração utilizada, podem ser vistas
no Quadro 7.
A biodisponibilidade da clonidina
via oral em adultos é de 75 a 100%,
1–5mcg/kg/dose a cada 8
Via oral mas, em crianças, é de 55,4%, sendo
horas
necessárias, portanto, doses maiores
em crianças para sedação
8–10mcg/kg
via contínua: inicial: Indicada para pacientes oncológicos,
Via epidural 0,5–2mcg/kg/hora por meio de infusão subaracnóidea ou
adultos 30mcg/h, com peridural contínua
máximo 40mcg/h
Dexmedetomidina (Precedex ®)
É um agonista alfa-2 adrenérgico altamente seletivo, com efeitos sedativos, hipnóticos, anal-
gésicos e, ainda, ação ansiolítica. Possui ação mínima em receptores alfa-1 adrenérgicos, o
que pode levar a uma redução profunda nos níveis de catecolaminas e, consequentemente,
à queda da pressão arterial e da frequência cardíaca. Tem como vantagem o fato de manter
a estabilidade respiratória do paciente, além de produzir uma sedação “interativa”, em que
o paciente é facilmente acordado quando estimulado, preservando a função cognitiva.
Deve ser usado em associação com outras drogas, sendo que seu uso está associado a
uma redução significativa da dose e do uso de opióides.
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Camip
A via de administração preconizada é IV, com dose inicial de 1mcg/kg em 10 minutos, se-
guida por manutenção de 0,2 a 0,7mcg/kg/hora.
VO/IV 0,05 a
IV, IM: 0,2mg/kg/ - Depressão respiratória
IV: 5-10 min 3-5h dose a cada - Liberação histamina
Morfina
VO: 1h 2-4h - Diminuição motilidade
VO: 3-5h IV contínua: 10 a intestinal
60 mcg/kg/hora
IV: 1-3mcg/kg
Eventos adversos:
2-4h
IV: quase - Depressão respiratória
Fentanil IV: 30-60min IV dose contínua
imediata - Diminuição motilidade
na dose de 4mcg/
intestinal
kg/h
- Meia-vida longa
Início lento VO ou IV - Similar à morfina
Metadona Meia-vida VO: 4-8h 0,05 a 0,1mg/kg/ - Menos euphoria
longa > 24h dose a cada 4-6h - Recuperação lenta
- Usada para abstinência
VO:
0,20,3mg/kg/dose
IV:
Diazepam IV: 15-30min Máximo de 10mg - Depressão respiratória
1-3min
IV: 0,05-0,3 mg/kg
2-4h máximo
IM/IV/intranasal
IV: 20-30min 0,1-0,2 mg/kg/
IV: 1-5min
Midazolam IM: 2-6h dose (em bólus) - Depressão respiratória
IM/IN: até 5min
IN: 30-60min 0,05-3 mg/kg/hora
(infusão contínua)
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
IV 1-3 mg/kg em
- Hipotensão
bólus contínuo Má-
Propofol IV: 30seg IV: 3-10min - Depressão respiratória
ximo 4mg/kg/hora
- Diminuição da PIC
por 48h
VO 25-50mg/kg a
Hidrato de - Efeitos não confiáveis
VO: 10-20min VO: 4-8h cada 6h
cloral idade >3 anos
Máximo: 2g/dia
IV ataque: 1 mcg/
- Mantém drive respiratório
Dexmede- kg em 10 minutos
IV: 5-10min IV: 60-120min - Bradicardia ou
tomidina Manutenção 0,2-
hipotensão
0,7 mcg/kg/hora
IV: intravenoso; VO: via oral; IM: intramuscular; PIC: pressão intracraniana; HAS: hipertensão arterial
sistêmica; IN: intranasal
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Camip
Tolerância e abstinência
É importante ressaltar que dependência psicológica e o vício são extremamente raros após
o uso adequado de sedativos e analgésicos em UTI.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A tolerância ao uso de opioides geralmente se desenvolve após terapia por mais de 72 ho-
ras, que corresponde ao tempo de ocupação dos receptores neurais. A infusão contínua de
opioides tende a induzir à tolerância mais rapidamente que seu uso intermitente. Crianças de
menor idade costumam desenvolver mais tolerância que crianças mais velhas, porém crian-
ças mais velhas podem ser mais sintomáticas quanto à abstinência do que crianças menores.
A dose total de sedação utilizada em um certo período e o número de dias de uso de seda-
ção são considerados os principais fatores de risco para síndrome de abstinência. Segundo
Katz et al., 50% dos pacientes submetidos ao uso de dose total de fentanil ≥1,5mg/kg ou
duração do uso ≥5 dias apresentaram sinais e sintomas de abstinência, assim como a dose
total de fentanil ≥2,5mg/kg ou uso por tempo ≥9 dias foi associado com 100% de evolução
com abstinência. Outros estudos reduzem o tempo de uso de risco para 3 dias consecu-
tivos e associam o fato da necessidade de dobrar a dose de opioide como maior fator de
risco, relacionando doses baixas iniciais de opioide como indutoras de maior tolerância do
que doses iniciais mais elevadas. Alguns estudos em animais sugerem que o midazolam
poderia aumentar o grau de tolerância do organismo aos opioides.
Outras drogas foram estudas quanto ao nível de risco para desenvolver tolerância e absti-
nência, entre elas: dose total de isoflurano ≥70, dose total de midazolam ≥60mg/kg e pen-
tobarbital ≥25mg/kg.
Não existem marcadores clínicos, fisiológicos ou bioquímicos que possam ser utilizados na
identificação do desenvolvimento de tolerância a opioides.
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A escala Modified Finnegan Neonatal Narcotic Abstinence Scale foi originalmente desenvol-
vida para avaliar recém-nascidos de mães dependentes de heroína, assim como o escore
de Finnegan (Neonatal Abstinence Score – NAS) (Quadro 9), desenvolvido em 1975, porém
atualmente ainda muito utilizado. Ambos são criticados por incluírem critérios que podem
ser aplicados na população neonatal, mas que não se encaixam na avaliação da população
pediátrica ou pacientes em VM.
Sinais/sintomas Escores
Excessivo 2
Choro
Contínuo 3
<1 3
<3 1
Leve, interrompível 1
Moderado, ininterrupto 3
Bocejos frequentes 2
Escoriações 1
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Convulsões 5
Sudorese 1
37,8–38,3°C 1
Febre
> 38,3°C 2
Moteamento 1
Congestão nasal 1
Espirros 1
Prurido nasal 2
> 60 movimentos/minuto 1
Frequência respiratória
> 60 com retrações 1
Sucção excessiva 1
Alimentação insuficiente 2
Regurgitação 2
Vômitos em jato 3
Semipastosas 2
Evacuações
Líquidas 3
Escore de zero a 7 indica abstinência leve, de 8 a 11, moderada, e de 12 a 25, grave. Fonte: Finnegan
LP. Neonatal abstinence syndrome: assessment and pharmacotherapy. In: Nelson N, editor. Current
therapy in neonatal-perinatal medicine. 2 ed. Ontario: BC Decker; 1990.
A escala Opioid and Benzodiazepine Withdrawal Scale (OBWS) é composta por 21 itens
que avaliam a frequência e gravidade dos sintomas de abstinência. Essa escala foi poste-
riormente resumida em uma escala de 12 itens, mais prática de ser utilizada, a Withdrawal
Assessment Tool 1 (WAT-1), validada para uso em pacientes pediátricos gravemente enfer-
mos sob uso de benzodiazepínicos e opioides na UTI, sendo fácil de ser aplicada à beira
do leito, eficiente e com a vantagem de apresentar excelentes propriedades psicométricas.
Atualmente tem sido o método mais recomendado para avaliação de abstinência em pedia-
tria. A escala WAT-1 está representada no Quadro 10.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
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Fonte: Franck LS, Harris SK, Soetenga DJ, Amling JK, Curley MAQ. The Withdrawal Assessment Tool
- Version 1 (WAT-1): an assessment instrument for monitoring opioid and benzodiazepine withdrawal
symptoms in pediatric patients. Pediatr Crit Care Med. 2008;9(6):573-80
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tratamento
O uso de sedativos/analgésicos deve ser titulado a ponto de encontrar a menor dose ca-
paz de oferecer ao paciente analgesia e sedação adequadas. Quando o uso de sedativos
e analgésicos já não é mais necessário, deve-se reduzir progressivamente sua velocidade
de infusão até sua retirada completa. Neste processo, é possível o paciente desenvolver
abstinência. Diversos esquemas foram propostos para tentar prevenir e tratar a síndrome
de abstinência em pacientes em uso de sedação/analgesia prolongada, utilizando-se me-
dicações de mesma classe terapêutica, porém com vias diferentes de administração (oral
ou subcutânea) e potências e meias-vidas distintas, visando ao desmame lento dessas dro-
gas. Nesta terapêutica, tem-se utilizado principalmente a metadona e o lorazepam (admi-
nistração via enteral) como respectivos substitutos do fentanil e midazolam (administração
intravenosa contínua). Nesta troca, é preciso calcular a dose equivalente de metadona e
lorazepam em relação à dose utilizada de fentanil e midazolam, levando em consideração a
potência de cada droga e sua meia-vida (Quadro 11).
Conforme esquema proposto por Tobias et al., após a segunda dose oral de metadona, a infu-
são de fentanil deve ser reduzida em 50%. Após a terceira dose de metadona, nova redução do
fentanil em 50%, até sua suspensão completa após a quarta dose. Após a segunda dose oral de
lorazepam, a infusão de midazolam é reduzida em 50%, após a terceira dose, reduzem-se mais
50% e após a quarta dose pode-se suspender definitivamente o midazolam (Quadro 12).
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
O paciente deve ser mantido, então, com metadona e lorazepam. Caso apresente sintomas
de abstinência mesmo com o uso dessas medicações, esses sintomas devem ser pontuados
de acordo com alguma tabela referência para abstinência, no caso Tobias et al. utilizaram a
escala de Finnegans, porém para pacientes pediátricos recomenda-se atualmente a WAT-1.
Se o paciente pontuar para abstinência deve ser medicado com dose de resgate de mor-
fina de 0,05mg/kg/dose. A dose total de morfina necessária em um período de 24 horas é
acrescentada à dose de metadona do próximo dia. Doses de resgate de morfina podem
ser usadas conforme necessário nas próximas 72 horas desde o início do desmame da
sedação contínua, corrigindo-se a dose da metadona de acordo com as doses de morfina
realizadas também por 72 horas. Após esse período, a dose de metadona deve ser mantida,
sem novos acréscimos.
Caso ocorra sedação excessiva, uma dose de metadona não é realizada e sua administra-
ção decresce de 10 a 20%. Quando uma dose apropriada é atingida, o paciente pode ter
alta para enfermaria e, depois, para casa, se a equipe médica assegurar seguimento clínico
ambulatorial e confiar na capacidade da família em administrar corretamente as medica-
ções. Segundo Tobias et al., a dose de metadona deve ser reduzida em 20% uma vez por
semana até sua suspensão total, em média após 5 a 6 semanas de tratamento.
Esse esquema proposto requer várias semanas de uso da metadona e lorazepam até a reti-
rada total, podendo prolongar a internação. Para acelerar a retirada de drogas e continuar a
prevenção de abstinência, diversos autores sugeriram esquemas alternativos de desmame
de analgésicos e sedativos, visando a uma terapia mais rápida e eficaz, possibilitando a in-
terrupção completa das medicações ainda em meio hospitalar, sem prolongar a internação
do paciente, e evitando o risco da má administração e da perda de seguimento médico ade-
quado de quando o paciente recebe alta com uso de metadona e lorazepam em domicílio.
A dose é calculada como sugerido por Tobias et al., assim como a necessidade de resgate
é feita com morfina e a adição das dose também são associadas até 72 horas após o início
do desmame, porém a retirada das drogas é mais rápida.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Dia 3: reduzir dose total em 20%, Dia 3: reduzir dose total em 20%,
administrar a cada 8 horas por 24 horas administrar a cada 6 horas por 48 horas
Dia 4: reduzir dose total em 20%, Dia 5: reduzir dose total em 20%,
administrar a cada 12 horas por 24 horas administrar a cada 8 horas por 48 horas
Dia 5: reduzir dose total em 20%, Dia 7: reduzir dose total em 20%,
administrar a cada 24 horas por 24 horas administrar a cada 12 horas por 48 horas
VO: via oral. Fonte: Robertson RC, Darsey E, Fortenberry JD, Pettignano R, Harley G. Evaluation of an
opiate - weaning protocole using methadone in pediatric intensivo are unir patients. Pediatr Crit Care
Med. 2000;1(2):119-23.
Estudos recentes mostram que o uso de altas doses de metadona no desmame de opioides
não são mais eficazes que o uso de baixas doses.
Despertar intermitente
Há evidências de que essa prática resulta como efeitos benéficos: redução do tempo de VM
e de internação hospitalar, maior número de dias acordados, menor dose acumulada total
de midazolam, menor custo. Porém, por outro lado, durante o período de despertar, pode
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
haver maior risco de extubação acidental. Porém não foi observada diferença significativa
na ocorrência de eventos adversos entre pacientes submetidos ou não à prática do desper-
tar intermitente.
Estudos com pacientes oncológicos mostraram que a infusão de cetamina contínua adju-
vante ao uso de opioides, em dose baixa de 1mg/kg/h, leva a uma melhora significativa no
controle da dor e na capacidade das crianças para interagir com sua família. Isso ocorre
possivelmente pela maior sensibilização dos neurônios aferentes primários, o que leva a
maior produção e maior liberação de neurotransmissores excitatórios e diminuição da re-
captação de neurotransmissores excitatórios.
Tem sido cada vez mais empregada no uso adjuvante aos opioides, com estudos mostran-
do que a clonidina reduz a tolerância do organismo aos opioides, sendo necessárias meno-
res doses destes, além de redução dos sintomas de abstinência.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A gabapentina é um anticonvulsivante que atua nos canais alfa-2 de cálcio e tem como efei-
to analgésico a redução da dor neuropática. Estudo com adultos em tratamento de desin-
toxicação de opioides mostrou que a gabapentina atenuou sintomas relacionados a absti-
nência (dor nas costas, tremores de membros e síndrome das pernas inquietas) e aumentou
tolerância a estímulos dolorosos. Porém, não há estudos avaliando o uso de gabapentina
no tratamento da síndrome de abstinência em pediatria.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
Considerações finais
É recomendado que cada unidade tenha seu protocolo de sedação e analgesia e que cada
paciente tenha um plano terapêutico individualizado, o qual deve ser diariamente reavaliado
e modificado de acordo com a necessidade clínica, visando sempre ao menor uso de dro-
gas sedativas e à menor taxa de complicações.
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
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Capítulo 4 | Sedação e analgesia em pediatria
Camip
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116
Choque Circulatório
Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
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Capítulo 5 em Pediatria
Choque circulatório em pediatria
Dentre os tipos de choque, o séptico é o que tem sido mais investigado, e muitos estudos
reforçaram que o atraso para instituir o tratamento adequado, guiado por metas, piora so-
bremaneira a mortalidade. A cada hora sem atendimento adequado, aumenta-se a mortali-
dade em 40%.
Caso 1
Lactente, 1 mês e 8 dias de vida, nascido de termo, sem intercorrências pré e pós-natais,
estava em investigação de megacólon congênito. Mãe relatava que no dia anterior o pa-
ciente realizara biópsias de reto em outro hospital e teve alta no final da tarde. Hoje notou
sangramento junto às fezes que se tornou mais intenso à noite. Ao exame físico de entrada,
o paciente apresentava-se hipoativo, pouco reativo ao exame, muito descorado (3+/4), mu-
cosas secas, acianótico, anictérico e afebril; fontanela pouco deprimida; murmúrio vesicular
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Camip
presentes bilateralmente e sem ruídos adventícios, taquipneico, mas sem dispneia, frequên-
cia respiratória (FR) de 65ipm, saturação de oxigênio (SatO2) 98%, frequência cardíaca (FC)
178bpm, pressão arterial (PA) 52x30mmHg, abdome semigloboso, com ruídos hidroaéreos
presentes, indolor, sem massas e sem visceromegalias; extremidades frias e com TEC de
5 segundos, pulsos finos e simétricos. Ao abrir a fralda do paciente, visualiza-se grande
quantidade de sangue vermelho-vivo e coágulos.
O paciente que teve hemorragia volumosa ou que apresentou perdas contínuas pode não
melhorar apenas com três expansões rápidas de cristaloide (20mL/kg cada). É preciso con-
siderar a necessidade de maior infusão de volume rapidamente, enquanto ocorrer perda
ativa ou se a perda for muito volumosa.
Neste paciente, a fonte de sangramento não se tratava de uma lesão em vaso calibroso,
fratura de osso longo ou laceração de víscera, por exemplo. Após as expansões com cris-
taloide, ele começou a melhorar a perfusão e a FC foi a 145bpm.
No entanto, alguns minutos mais tarde, após um episódio de choro e contorções abdo-
minais, apresentou evacuação sanguinolenta em grande quantidade e voltou a apresentar
taquicardia (167bpm), com extremidades frias e palidez de mucosas.
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Pode-se introduzir dopamina em acesso periférico diluída para evitar lesão por extravasa-
mento e por flebite e, assim, garantir melhor pressão para perfusão dos órgãos.
A introdução de noradrenalina ou dopamina não deve ser demorada nesses pacientes, pois
em casos de perdas sanguíneas volumosas, pode ser necessária muita reposição volêmi-
ca para atingir estabilidade de perfusão e da PA. Não se deve esperar por acesso venoso
central para iniciar as drogas vasoativas, pois quanto mais tempo o paciente permanecer
hipotenso, maiores podem ser as sequelas neurológicas e a disfunção dos demais órgãos.
No entanto, se houver acesso venoso central, introdução de noradrenalina e também de va-
sopressina está indicada para garantir a PA e a perfusão adequadas, enquanto aguarda-se
o cirurgião. Apesar de a noradrenalina ser usada com maior frequência, a vasopressina tam-
bém tem demonstrado em estudos animais que melhora sobrevida, melhora o prognóstico
neurológico e promove melhora hemodinâmica no choque hemorrágico.
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Camip
Caso 2
O que mais chamou atenção neste caso foi a taquiarritmia, que não respondeu à infusão de
cristaloides e tampouco melhorou com dopamina. Não se apresentou tão descorado para
suspeita de hemorragia e, além disso, conforme o paciente recebeu expansões, ao invés de
melhorar, apresentou piora da FC e da perfusão, tornando-se mais frio e sudoreico.
Ou seja, são sinais indicativos de taquiarritmia com repercussão hemodinâmica, provável
choque cardiogênico.
Tratava-se de taquicardia supraventricular, que pôde ser revertida com sucesso após ade-
nosina 0,1mg/kg/dose, com queda instantânea da FC de 248 para 166bpm. A melhora da
perfusão foi instantânea.
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Camip
pressão de suporte (PSV) , ou ainda intubação e ventilação mecânica invasiva, pode reduzir
o trabalho cardíaco e diminuir a congestão pulmonar. Em casos com disfunção miocárdica
grave e com choque cardiogênico refratário, frente à possibilidade de reversão da doença
ou programação para transplante cardíaco, a assistência circulatória (como a oxigenação
por membrana extracorpórea) está indicada e tem sido empregada com sucesso de cerca
de 50% de sobrevida, dependendo do serviço de referência.
Caso 3
No 12º dia de internação, em desmame ventilatório, com melhora progressiva e com esta-
bilidade hemodinâmica, foi pausada, há 1 dia, adrenalina. No dia seguinte, pela manhã, foi
pausado milrinone 0,3mcg/kg/min que já estava em redução. Foi progredida dieta enteral e
reduzida sedação contínua, para extubação no dia posterior. Aguardava desmame ventila-
tório e melhora da pneumonia para programação cirúrgica corretiva da hérnia diafragmática.
Estava evoluindo normotérmico nos últimos dias e últimos exames laboratoriais indicaram
leucograma normal e proteína C-reativa em queda.
No plantão noturno, a ausculta torácica revelou que murmúrio vesicular estava abolido até
o terço médio do hemitórax esquerdo, igualmente aos dias anteriores (devido à presença
de hérnia diafragmática). Observou-se que o paciente estava mais taquicárdico, com: FC de
175bpm, SatO2 de 99% sob fração inspirada de oxigênio (FiO2) de 30% e pressão positiva
expiratória final (PEEP) de 7, PA de 78x65, TEC de 3 segundos, descorado +2/4, hidratado,
FR de 32, sincrônico com a ventilação pulmonar mecânica, fígado 4cm abaixo do rebordo
costal direito, como já descrito em exames anteriores.
Foi optado por expansão com 20mL/kg, pois, avaliando o balaço da noite, verificou-se re-
dução da diurese no final da tarde.
Solicitou-se nova expansão em bólus, pois não houve melhora da FC e nem mudança do dé-
bito pela sonda vesical. Sob sua observação, o paciente evoluiu gradativamente mais taqui-
cádico, com FC de 182bpm, com TEC de 5 segundos, SatO2 de 93% pulsos presentes porém
mais finos, extremidades pouco frias e PA de 65x55, fígado 5cm de rebordo costal direito.
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Figura 2. Paciente intubado, com distensão gástrica após início da dieta, com subida do estômago
para o tórax esquerdo, desviando o mediastino para o lado direito
Apesar da peculiaridade deste caso, são situações em que o intensivista pode ser surpre-
endido, pois não são tão raras.
Ainda que menos frequente que a sepse e o choque séptico, o choque obstrutivo por pneu-
motórax hipertensivo ou por tromboembolismo pulmonar deve ser suspeitado em pacientes
críticos, especialmente quando a situação do paciente deteriora-se inesperadamente.
Diagnóstico
Alguns tipos de choque podem se sobrepor. Por exemplo, um caso de choque distributivo
por pancreatite pode se combinar com choque cardiogênico, quando sobrevém a disfunção
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miocárdica. A maioria dos tipos de choque ocorre com débito cardíaco diminuído (hipovolê-
mico, cardiogênico e obstrutivo), apenas os tipos distributivo (choque séptico e anafilático,
por exemplo) e dissociativo apresentam débito cardíaco elevado.
Geralmente, a causa do choque pode ser facilmente reconhecida pela história clínica e
pelo exame físico. Entretanto, em casos como foram exemplificados no início do capítulo,
pode haver maior dificuldade, pela sobreposição dos sintomas entre as diversas formas de
choque. Lembrar que, além do exame físico acurado e sistematizado, diante da gravidade
do paciente, deve-se solicitar radiografia de tórax e eletrocardiograma. A ecocardiografia
à beira do leito mostra-se como exame complementar revelador em muitas situações ro-
tineiras do intensivista e do emergencista. É possível avaliar derrames pericárdicos, medir
o tamanhos e estimar as funções dos ventrículos direito e esquerdo, avaliar a variação do
tamanho da veia cava conforme os movimentos respiratórios, medir o índice de velocidade
do fluxo de sangue pela aorta - que é a melhor estimativa do débito cardíaco.
O choque no período neonatal possui uma gama ainda maior de diagnósticos diferenciais,
e, em algumas situações, pode ser difícil determinar se estamos lidando com choque sép-
tico ou com um choque cardiogênico, como em cardiopatias congênitas dependentes do
canal arterial. Como o exame físico nem sempre é capaz de descartar uma cardiopatia
dependente de canal, então é preciso administrar prostaglandina contínua como parte do
tratamento inicial dos neonatos, até melhor esclarecimento.
O choque séptico predomina nas UTIs pediátricas e neonatais. É importante ressaltar que a
dengue e a febre maculosas são causas importantes de choque em crianças, e que muitas
vezes o aparecimento do choque é mais insidioso.
Também são frequentes os politraumatismos, porém são geralmente mais graves pelo trau-
matismo craniano associado, do que pelo choque hemorrágico, que é menos frequente. Há
também as doenças diarreicas, causando desidratação e choque hipovolêmico.
Porém, é importante ressaltar que, diferentemente dos adultos, nas crianças a gama de
etiologias de choque é mais extensa. Por exemplo, em lactentes jovens frente à instabilida-
de hemodinâmica, nem sempre é simples distinguir um choque hipovolêmico ou séptico da
primeira manifestação de um erro inato do metabolismo ou hiperplasia adrenal congênita.
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O pediatra atento deve levantar suspeita para intoxicações por medicamentos anti-hiper-
tensivos, se não houver história evidente ou quadro clínico compatível com outras causas
expostas no Quadro 1.
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Tratamento do choque
Manejo inicial do choque
A primeira meta é garantir a oferta de oxigênio e estabilizar a via aérea, considerar a neces-
sidade de suporte ventilatório, com otimização da pressão positiva contínua, pois a entrega
de oxigênio já é deficitária pela má perfusão tecidual. A intubação traqueal deve ser prefe-
rida sempre que houver dispneia, hipoxemia ou piora da acidemia (pH<7,30). Isso porque a
ventilação mecânica invasiva reduz a demanda de oxigênio pela musculatura respiratória e
diminui a pós-carga.
Quando há queda brusca da PA após intubação e início da ventilação mecânica invasiva, há
um forte indício de hipovolemia e diminuição do retorno venoso. Para se evitar maior queda
da PA, é salutar o uso cuidadoso dos sedativos.
A infusão de cristaloides deve ser iniciada rapidamente em pacientes com choque hipovo-
lêmico e distributivos, pois a demora para ressuscitação volêmica está associada a maior
mortalidade. É preciso reavaliar o paciente frequentemente: monitorar a amplitude dos pul-
sos; a perfusão periférica, em relação ao refil capilar e às regiões do corpo em que as extre-
midades estão mais frias; a ausculta cardíaca à procura de ritmo de galope; o rebaixamento
do fígado no rebordo costal; a pressão venosa central (PVC) e sua mudança conforme a
infusão de líquidos. A hipervolemia tem consequências indesejadas, podendo levar à con-
gestão pulmonar e, principalmente, se o paciente apresentar disfunção ventricular, pode
dificultar ainda mais o trabalho cardíaco, com piora do choque.
Monitorar a PA como resposta à infusão de fluidos é fundamental, pois, se o choque não for
revertido rapidamente após a infusão de cristaloides, a monitorização com PA invasiva (PAi)
deve guiar a titulação de drogas vasopressoras.
Considerar hipotensão se as medidas de PA estiverem abaixo do quinto percentil para idade ou,
então, se a PA sistólica for menor que dois desvios padrão da normalidade. De maneira mais
prática e mneumônica, podem-se objetivar pressões conforme demonstrada no Quadro 3.
Recém-nascidos < 60
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Lembrete
Após monitorizar, ofertar oxigênio e garantir via aérea segura para o paciente, a ressus-
citação volêmica não deve ser postergada. Adquirir acesso venoso calibroso ou punção
intraóssea é o principal objetivo ao diagnosticar o choque, pois a demora para ressusci-
tação volêmica adequada tem impacto negativo sobre a mortalidade.
Avaliar clinicamente o status volêmico do paciente pode não ser uma tarefa fácil. A manobra de
elevar as pernas e observar a elevação da PA pode ser útil. Exige PAi, pois o efeito é momentâneo.
Pode-se ainda observar que a curva de PAi em relação aos movimentos respiratórios do
aparelho, na fase inspiratória, tem um grande incremento à onda de pulso, enquanto que,
na fase expiratória, a onda diminui de tamanho. Para que essa avaliação indireta funcione,
é preciso que o paciente seja ventilado com volumes correntes elevados, não apresente
esforço respiratório e nem arritmias ou disfunção do ventrículo direito.
Após cada expansão volêmica, avaliar sua resposta pelo aumento da PA, a diminuição da
FC ou o aumento da diurese (objetivar >1mL/kg/h). A medida da PVC antes e após as ex-
pansões com cristaloides pode indicar o momento de interromper a infusão de líquidos. Se
o paciente continuar hipotenso ou mal perfundido, mesmo com PVC >10mmHg, é provável
que haja um componente de disfunção miocárdica, e um choque cardiogênico não tolera
grandes ofertas de volume. A ecocardiografia, como já foi exposto, é outro recurso comple-
mentar para estimativa da volemia e da avaliação da disfunção miocárdica.
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Diante de um paciente com suspeita de choque hemorrágico ou hipovolêmico que não res-
ponde à ressuscitação volêmica, isto é, se o paciente que não demonstra sinais de melhora
após tratamento da causa do choque, este deve ser investigado para outras causas de cho-
que como: pneumotórax, disfunção miocárdica, derrame pericárdico, sepse, insuficiência
adrenal e hipertensão pulmonar.
O uso de vasopressores
Quando não houver resposta após fluidoterapia, isto é, se o paciente mantem má perfusão,
oligúria, taquicardia, hipotensão, hipoxemia a despeito da infusão rápida de bólus de cris-
taloides, devem-se iniciar drogas vasopressoras o quanto antes. É aceitável também admi-
nistrar vasopressores enquanto é feita a correção da hipovolemia e, depois, suspende-se
a medicação, assim que houver melhora (por exemplo, enquanto se aguarda a chegada do
concentrado de hemácias no paciente politraumatizado).
A adrenalina possui efeito beta-adrenérgico mais proeminente (ou seja, mais cronotrópico
e inotrópico) quando usada em doses baixas, já os efeitos alfa-adrenérgicos, isto é, vaso-
constritores, tornam-se mais importantes à medida que esta é aumentada. Entretanto, em
doses elevadas, é sabido do risco de arritmias e diminuição da perfusão esplâncnica. É
sabido também que ela aumenta os níveis de lactato, devido ao aumento do metabolismo
celular. Por essas razões, a adrenalina tem sido considerada uma droga de segunda linha e
está reservada para situações em que não houve resposta adequada à noradrenalina.
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Se perda sanguínea for incessante, as vasoconstrições arteriolar e venosa não são capazes
de manter a pressão compensatória por muito tempo, aumentando cada vez mais a hipo-
perfusão tecidual. Isso leva à inibição do sistema simpático com redução da vasoconstrição
periférica e da bradicardia. O choque hemorrágico ainda pode ser responsável pela lesão
do leito vascular, que, intermediada pelo óxido nítrico, diminui a resposta à noradrenalina
endógena e exógena, além de ativar a cascata inflamatória e promover mais vasoplegia.
Entretanto, a vasopressina também não está livre de efeitos adversos, como isquemia car-
díaca, esplâncnica e de pele, podendo provocar necrose intestinal e predispor translocação
bacteriana e sepse.
Após conseguir melhora da FC, melhora do débito urinário e estabilização da PA, e após
corrigir anemia e distúrbios hidroeletrolíticos, o próximo objetivo é a adequação do meta-
bolismo celular. O lactato é considerado em diversos estudos como marcador prognóstico
relevante de mortalidade e de morbidade, independente de qual seja a causa do choque
(sepse, grande queimado, Síndrome do desconforto respiratório agudo − SDRA e grandes
cirurgias). Lactato menor que 1,4mmol/L é preditor de bom prognóstico. Pacientes com
sepse e com lactato >1,4mmol/L evoluíram com maior mortalidade e maior disfunção mul-
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Camip
tiorgânica. Apesar de estudos com valor de corte menor, o manual internacional para trata-
mento do choque séptico recomenda guiar o tratamento pelos parâmetros clínicos citados
acima e objetivar lactato <4mmol/L (Quadro 4).
Efeitos adversos e
Vasopressor Doses Ação
contraindicações
- Aumenta o consumo
Inotrópica e miocárdio de oxigênio
0,05–0,3mcg/kg/min
cronotrópica pela taquicardia
Adrenalina - Aumenta o risco de arritmias
e aumenta a vasoconstrição
periférica predispondo
necrose de extremidades
0,3–3 mcg/kg/min Vasoconstritora
Vasoconstrição
0,05–0,2 mcg/kg/min (pouco
cronotrópica) - Vasoconstrição (necrose
Noradrenalina de extremidades em doses
elevadas) e piora da lesão renal
Inotrópica,
5–10 mcg/kg/min cronotrópica e - Inibe secreção de prolactina,
vasodilatadora* de hormônio de crescimento
Dopamina
e de tireotropina
- Aumenta o risco de arritmias
11–20 mcg/kg/min Vasoconstritora
- Vasoconstrição mais
pronunciada, com necrose
distal. Menor risco de
Vasopressina 0,01–0,6 U/kg/hora Vasoconstritora
arritmias mas que podem
ocorrer com doses maiores
que 0,04 U/min
* A dopamina, em doses baixas, anteriormente considerada como benéfica por seu efeito vasodilatador
renal, mostrou-se que pode piorar a injúria tubular no choquee não teve benefício comprovado para
melhora da função renal. Fonte: Fuhrman et al. (2011); Finfer et al. (2013); Dellinger et al. (2013).
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Agentes Inotrópicos
O aumento do lactato arterial também correlaciona-se com a SvcO2 e com a perfusão teci-
dual. A vantagem do lactato arterial sobre a ScvO2 é que este é menos invasivo. Sua medi-
da seriada também é um bom preditor de prognóstico no choque.
A dobutamina aumenta o débito cardíaco, por sua ação inotrópica e pouco vasodilatadora
periférica, atuando principalmente sobre os receptores beta-adrenérgicos, sem provocar
queda acentuada da PA. Uma vez que esta age no cronotropismo, elevando a FC, possui o
efeito indesejado de aumentar também o consumo de oxigênio pelo miocárdico. Doses de
5 a 20mcg/kg/min são empregadas com segurança em pediatria. Em dose >15mcg/kg/min,
considerar risco de taquicardia, o que pode reduzir o débito cardíaco pela redução do tem-
po de diástole, com diminuição do enchimento ventricular. Além disso, doses muito altas
predispõem a taquiarritmias.
Os inibidores da fosfodiesterase tipo III, como o milrinone, possuem ação inotrópica (melho-
ra da função sistólica), inodilatadora (melhora da função diastólica) e vasodilatadora pulmo-
nar e periférica. Possuem capacidade de aumentar a contratilidade cardíaca, sem aumento
do consumo de oxigênio pelas fibras cardíacas.
Pode ser titulado nas doses usuais de 0,3 a 0,75mcg/kg/min. O milrinone tem sido usado
cada vez mais nas UTIs cardiológicas pediátricas, pois seu efeito sobre o coração que
sofreu isquemia, como após cirurgia cardíaca com cardioplegia, demonstrou segurança e
melhora da performance do coração.
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Camip
Não deve ser indicado nos pacientes hipotensos ou crianças que apresentem insuficiência
mitral moderada a grave, pois aumenta a pressão venocapilar pulmonar, provocando maior
congestão pulmonar (Quadro 5).
- Hipotensão
Inotrópico, inodilatador; - Risco de congestão
Mirinone 0,3-0,75 mcg/kg/min vasodilatador pulmonar pulmonar na
e sistêmico insuficiência mitral
moderada e grave
- Taquicardia
Inotrópica e
Dobutamina 5-20 mcg/kg/min - Aumenta o risco de
cronotrópica
taquiarritmias
Vasodilatador
Prostaglandina - Hipotensão, apneia
0,01-0,2 mcg/kg/min Mantém canal
E1 e febre
arterial aberto
- Intoxicação por
Vasodilatador sistêmico cianeto se uso
Nitroprussiato 0,3-8 mcg/kg/min
mais que pulmonar prolongado ou em
doses altas
Lembrete
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A revisão sistemática mais recente sobre o tema, envolvendo adultos em diversos estudos ran-
domizados com choque séptico e sepse grave, concluiu que o uso de corticoides por tempo
mais prolongado (≥5 dias) e com doses baixas reduziu a mortalidade em 28 dias de doença.
Lembretes
135
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
Camip
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Capítulo 5 | Choque circulatório em pediatria
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137
Camip
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Arritmias Cardíacas
Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância 6
Capítulo 6
na Infância
Arritmias cardíacas na infância
Você administrou oxigênio em alto fluxo e colocou a criança sob monitorização cardíaca,
observando o ritmo a seguir, com pouca variabilidade da FC de um batimento para outro
(Figura 1).
Qual o diagnóstico?
Qual a conduta?
Caso o acesso venoso esteja disponível, adenosina na dose de 1mg/kg rápido com flush
de soro fisiológico 0,9% logo após. Caso a medicação e o acesso estejam indisponíveis no
momento, realizar cardioversão sincronizada 0,5J/kg.
139
Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Caso clínico 2
A avaliação geral de um garoto de 10 anos revelou que ele não estava responsivo. Você per-
cebeu que ele estava em apneia e aplicou duas ventilações. Após observar que ele conti-
nuava sem pulso, você iniciou ciclos de compressão-ventilação a uma taxa de compressão
de 100/minuto e uma relação compressão-ventilação de 30:2. Um colega chegou e colocou
a criança sob monitorização cardíaca, revelando ritmo conforme a Figura 2.
Qual o diagnóstico?
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Apresentação
A criança com FC irregular é um problema comum nas diversas faixas etárias pediátricas
e apresenta várias etiologias. Podem ser diferenciadas entre arritmias benignas normais a
arritmias malignas. A determinação da causa subjacente de um ritmo irregular é importante,
uma vez que pode ser uma condição grave com risco de vida. As arritmias ou os distúrbios
do ritmo cardíaco geralmente patológicos ocorrem por alterações no sistema de condução
cardíaco ou devido a lesões do próprio tecido cardíaco. Para diagnóstico e tratamento das
arritmias, devem-se considerar o ritmo basal, a FC normal e as peculiaridades dos interva-
los eletrocardiográficos da criança (Quadro 1), como também avaliar o grau de comprome-
timento sistêmico que o ritmo cardíaco causa.
Idade FC QT QRS
Na maioria das crianças, a causa de um ritmo cardíaco irregular é identificada com anam-
nese adequada, exame físico e eletrocardiograma, que pode ser avaliado pelo médico pe-
diatra. Em alguns casos, o encaminhamento para um cardiologista pediátrico é necessário
para posterior diagnóstico, seguimento e, se necessário, tratamento.
“Arritmia cardíaca” é o termo simplificado para definir qualquer distúrbio do ritmo cardíaco,
tanto para o aumento, quanto para a diminuição da FC, sendo, então, classificada como
taquiarritmias e bradiarritmias, respectivamente. Talvez a definição de mais fácil entendi-
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
mento ao pediatra seja a apresentada no programa Pediatric Advanced Life Support (PALS)
da American Heart Association (AHA), revisado pela última vez em 2010 e publicada na
revista Circulation.
Este capítulo teve como objetivo demonstrar como reconhecer e tratar os principais dis-
túrbios do ritmo, de acordo com a gravidade ou o risco de deterioração do quadro clínico.
Etiologia
O diagnóstico mais provável para um ritmo cardíaco irregular varia de acordo com a situa-
ção clínica em que a irregularidade é observada pela primeira vez. O diagnóstico diferencial
e avaliação posterior são diferentes para uma criança assintomática com um achado inci-
dental de um ritmo cardíaco irregular comparados a uma criança sintomática que se queixa
de palpitações ou quem tem um episódio de síncope. Em geral, a criança assintomática
tem uma doença benigna, ao passo que a criança sintomática é mais propensa a ter uma
arritmia significativa, que pode necessitar de intervenção.
Arritmia Sinusal
É uma variante fisiológica normal, que se caracteriza por um aumento da FC durante a ins-
piração e uma diminuição da FC durante a expiração (Figura 4). A variabilidade do ritmo é
causada, em parte, por mudanças na entrada parassimpática para o coração, que é media-
da pelo nervo vago. O tônus vagal, por sua vez, é modulado no ciclo respiratório. Durante
a expiração, o tônus vagal reduz o ritmo cardíaco e, durante a inspiração, aumenta a FC.
Durante o exercício ativo, o tônus vagal é diminuído e o tônus simpático é aumentado, o que
resulta em um aumento da frequências cardíaca.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Arritmia sinusal é, assim, uma condição benigna, mesmo em indivíduos em quem esse
padrão de FC vagal/respiratória é marcadamente pronunciado (por exemplo, atletas fisica-
mente treinados).
Extrassístoles ventriculares
Em uma criança saudável assintomática, ESVs que ocorrem de maneira isoladas são ge-
ralmente benignas e produzem pouco ou nenhum sintoma. ESVs ocorrem geralmente na
infância, diminuem no decorrer desta e se tornam cada vez mais comum novamente na
adolescência e idade adulta.
Extrassístoles atriais
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
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Diagnóstico
Palpitações
Síncope
Definida como súbita breve perda de consciência, associada à perda do tônus postural, a
partir do qual a recuperação é espontânea, tem ampla gama de causas, porém sua história
aumenta o risco de doença cardíaca grave subjacente, como arritmia cardíaca com risco
de vida. Assim, um eletrocardiograma é recomendado como parte da avaliação inicial para
qualquer criança com um episódio de síncope.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Dor torácica
Arritmias cardíacas com um ritmo cardíaco irregular são raros casos de dor no peito em
crianças, que incluem TSV com ou sem síndrome de Wolff-Parkinson-White.
História familiar de morte súbita tem sido associada com síndrome de Wolff-Parkinson-Whi-
te, TV polimórfica catecolaminérgica e displasia arritmogênica do ventrículo direito, que
pode ser precedida de batimentos prematuros espontâneos frequentes.
Bradiarritmias
Definição
A bradicardia é definida como uma FC que é menor do que a FC normal para determinada
idade, conforme o Quadro 1. É o resultado de condição cardíaca congênita ou adquirida,
que diretamente diminui a frequência de despolarização espontânea do marca-passo cardí-
aco ou diminui a condução por meio do sistema de condução cardíaco.
Sistema de condução
O papel do sistema de condução cardíaco é iniciar e conduzir o sinal elétrico que controla e
coordena a contração atrial e ventricular, como refletido no eletrocardiograma (ECG). Os com-
ponentes do sistema de condução incluem nó sinusal, nó AV e sistema de His-Purkinje (His).
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Patogênese de bradicardia
Sinais e sintomas
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Bradicardia sinusal
Bloqueio atrioventricular
Primeiro grau
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Segundo grau
No bloqueio AV de segundo grau, apenas alguns impulsos atriais são conduzidos para os
ventrículos. Caracteriza-se por dois tipos de condução:
• Mobitz tipo II: esse bloqueio ocorre abaixo do nó AV e tem inibição consistente de uma
proporção específica dos impulsos atriais, normalmente com uma frequência 2:1 atrial/
ventricular (Figura 10). Tem um curso menos previsível e, frequentemente, progride para
bloqueio completo. As causas mais comuns são lesão orgânica das vias de condução,
aumento do tônus parassimpático e infarto de miocárdio. Pode acarretar sensação de
irregularidade no batimento cardíaco, sensação de desmaio e síncope.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Terceiro grau
Também conhecido como bloqueio cardíaco total, há falha completa do impulso atrial a
ser conduzido para os ventrículos (Figura 11). A atividade atrial e ventricular é independen-
te uma do outra. O ritmo de escape ventricular que é gerado é ditado pela localização do
bloqueio. Geralmente mais lento do que os limites inferiores de normalidade para a idade,
resulta em bradicardia clinicamente significativa.
Quando as medidas clínicas não forem suficientes, a estimulação transcutânea com mar-
ca-passo pode ser tentada. No entanto, os mesmos fatores que produzem a bradicardia
refratária (por exemplo, hipóxia, hipotermia, distúrbios eletrolíticos e overdose de drogas)
podem impedir a captura elétrica eficaz.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Figura 12. Algoritmo de tratamento, de acordo com as orientações da American Heart Association.
IV: intravenoso; IO: intraósseo; ECG: eletrocardiograma; RCP: ressuscitação cardiopulmonar;
FC: frequência cardíaca; ABC: airway, breathing, compressions; AV: atrioventricular.
Taquiarritmias
Definição
Taquiarritmias são ritmos anormais e rápidos, originados nos átrios ou nos ventrículos. Cer-
tas taquiarritmias, como a supraventricular e a ventricular, podem levar ao choque e à pa-
rada cardíaca.
Ritmos instáveis levam a má perfusão tecidual, queda do débito cardíaco, perfusão coronária ruim
e aumento da demanda de oxigênio do miocárdio, que podem levar ao choque cardiogênico.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Sinais e sintomas
Achados clínicos em crianças com taquicardia são muitas vezes inespecíficos e variam de
acordo com a idade. Eles podem incluir palpitações, tonturas, vertigens, fadiga e síncope.
Em lactentes, taquicardia prolongada pode causar dificuldade para mamar, taquipneia e
irritabilidade, com sinais de insuficiência cardíaca.
Classificação
Taquicardia sinusal
Taquicardia sinusal (Figura 13) é caracterizada por uma frequência de descarga do nó sinu-
sal, que é mais rápida do que o normal para a idade do doente (Quadro 1). Esse ritmo geral-
mente representa aumento da necessidade do corpo para o débito cardíaco ou a oferta de
oxigênio. A FC não é fixa e varia de acordo com outros fatores, incluindo febre, estresse e
nível de atividade. As principais causas incluem hipóxia tecidual, hipovolemia, febre, estres-
se metabólico, lesão, dor, ansiedade, toxinas/ venenos/ drogas e anemia. Causas menos
comuns incluem tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo e tromboembolismo.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
tão presentes com aparência normal; o intervalo PR é constante e apresenta uma duração
normal para a idade; o intervalo R-R é variável; e o complexo QRS é estreito.
Taquicardia supraventricular
TSV (Figura 14) pode ser definida como um ritmo cardíaco anormalmente rápido originário
acima dos ventrículos, muitas vezes, mas nem sempre, com um complexo QRS estreito;
que convencionalmente exclui flutter atrial e fibrilação atrial. As duas formas mais comuns
de TSV em crianças são taquicardia AV reentrante, incluindo a síndrome de Wolff-Parkin-
son-White e a taquicardia AV reentrante nodal.
Taquicardia ventricular
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
TV com pulso pode variar em frequências próximas ao normal até >200bpm. Frequências mais
rápidas podem comprometer o volume sistólico e o débito cardíaco, levando à TV com ausên-
cia de pulso ou FV. Causas da TV incluem doença cardíaca subjacente ou cirurgia cardíaca,
síndrome do QT prolongado, ou miocardite/cardiomiopatia. Outras causas incluem hiperca-
lemia e intoxicação exógena (por exemplo, antidepressivos tricíclicos e a cocaína).Achados
de TV no ECG incluem frequência ventricular >120bpm e regulares; onda P muitas vezes não
identificável (pode ter dissociação AV ou despolarização retrógrada); complexo QRS é geral-
mente largo (>0,09 segundos); e onda T muitas vezes oposta em polaridade ao complexo QRS.
Tratamento
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Ausência de pulso
A maioria das paradas cardíacas pediátricas são secundárias à hipóxia e à asfixia, que re-
sultam de uma progressão de dificuldade respiratória, insuficiência respiratória ou choque,
e não de arritmias cardíacas primárias (“parada cardíaca súbita”). Assim, o ritmo tipicamen-
te apresentando é a atividade elétrica sem pulso (AESP) ou assistolia.
As crianças com ausência de pulso podem apresentar apneia ou exibir alguns suspiros
agônicos. Elas não têm pulsos palpáveis e não respondem. A sobrevida global de parada
cardíaca pediátrica é pobre, e a incidência de défices neurológicos em sobreviventes é alta.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Ritmos de colapso
Assistolia
Crianças com assistolia apresentam parada cardíaca sem atividade elétrica perceptível (Fi-
gura 17). A causa mais comum é a insuficiência respiratória, progredindo para hipoxemia
crítica, bradicardia e parada cardíaca. Condições subjacentes incluem pneumonia, sub-
mersão, hipotermia, sepse e envenenamento (por exemplo, intoxicação por monóxido de
carbono e sedativo-hipnóticos), levando à hipóxia e à acidose.
Fibrilação ventricular
É caracterizada por ritmo não organizado e contrações não coordenadas (Figura 19). A
atividade elétrica é caótica. Causas sobreposição com etiologias de TV, incluindo hiperca-
lemia, doença cardíaca congênita ou adquirida, exposições tóxicas, choques elétricos ou
relâmpagos, e submersão.
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
TV sem pulso é uma parada cardíaca de origem ventricular caracterizada por organizados
complexos QRS largo (Figura 20). Qualquer causa de TV com pulso pode levar à TV sem pulso.
Torsades de pointes
Tratamento
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Segue abaixo o algoritmo terapêutico dos ritmos sem pulso (Figura 22).
• Forneça oxigênio
• Coloque o monitor/desfibrilador
Choque
RCP 2 min
• Acesso IV / IO
Ritmo Não
chocável/desfibrilável?
Sim
Choque
RCP 2 min
RCP 2 min
• Acesso IV / IO
• Epinefrina a cada 3 a 5 min
• Epinefrina a cada 3 a 5 min
• Considere via aérea avançada
• Considere via aérea avançada
RCP 2 min
RCP 2 min
• Amiodarona
• Trate causas reversíveis
• Trate causas reversíveis
Retornar para FV
• Assístole / AESP à Reinicie RCP
/ TV
• Ritmo organizado à verifique o pulso
• Pulso presente à cuidados pós-PCR
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Suporte avançado
Uma vez que a RCP básica é estabelecida, o tratamento da parada cardíaca sem pulso
requer avaliação rápida do ritmo, definir se a desfibrilação está indicada, e quais medica-
mentos devem ser utilizados, visando aumentar a circulação coronária e à restauração de
condução cardíaca organizada.
Pacientes com FV ou TV sem pulso devem receber a RCP imediata e desfibrilação, assim
que um dispositivo estiver disponível. Depois de disparar o choque, executar cerca de 2 mi-
nutos de RCP antes de verificar o ritmo. Se o ritmo não se converteu com a desfibrilação, o
paciente deve receber uma desfibrilação repetida a uma dose mais elevada. FV persistente
ou TV sem pulso requer a adição de medicamentos, tais como a epinefrina e a terapia an-
tiarrítmica endovenosa (por exemplo, amiodarona para FV ou TV; sulfato de magnésio para
torsades de pointes).
Os pacientes com assistolia ou atividade elétrica AESP devem receber RCP e epinefrina.
Durante o curso da reanimação, o médico deve avaliar as causas subjacentes (os Hs e os Ts).
Alternativamente, podem ser utilizados os desfibriladores externos automáticos (DEA). DEA são
máquinas computadorizadas que diagnosticam automaticamente FV e usam comandos de voz
para instruir socorristas a desfibrilar, se for o caso. Além disso, com base em valores pré-defini-
dos para a FC e a morfologia da onda R, o DEA pode aconselhar desfibrilação para TV.
Definições
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Mecanismo de ação
As evidências sugerem que uma certa quantidade de miocárdio deve estar disponível para
sustentar a fibrilação atrial ou ventricular, e todo o miocárdio deve ser uniformemente des-
polarizado, a fim de terminar a arritmia (hipótese massa crítica). No entanto, a força de
choque também deve ser maior do que o maior choque que reinicia a fibrilação em regiões
vulneráveis do miocárdio (o limite superior da vulnerabilidade).
Indicações
Preparação
Sedação e analgesia
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Podemos utilizar tanto pás de mão ou almofadas de eletrodos autoadesivos para desfibrilar
ou cardioverter. Almofadas de eletrodo oferecem várias vantagens:
• Podem ser utilizadas para monitorizar o ritmo cardíaco sem a necessidade de eletrodos
de eletrocardiograma adicionais, que possam interferir na colocação das pás (embora
pás tenham frequentemente capacidade de monitorização).
• Creme ou gel não são necessários, fazendo formação de arco de corrente elétrica atra-
vés da caixa torácica.
• Ao contrário de pás, eles não estão associados com faíscas, que podem gerar queimaduras.
• Diminui o risco do contato do socorrista com a maca do paciente durante a aplicação de
choque, como pode ocorrer com o uso de pás.
• Aplicação indevida de pressão nas pás é eliminada como uma possível razão para o
fracasso de desfibrilação.
Tamanho do eletrodo
Em geral, devem-se usar as maiores pás ou almofadas de eletrodos que caibam no peito
da criança, sem tocar. Pás e almofadas de eletrodos projetados para adultos são recomen-
dados para crianças que pesam mais de 10kg. Dentre essas pás, aquelas com 12cm de
diâmetro parecem ser superiores às que são de 8cm de diâmetro. Pás ou almofadas infantis
devem ser usadas para crianças com peso menor 10kg.
Colocação do eletrodo
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Interface eletrodo-peito
As pás e as almofadas de eletrodo não devem se encostar, devendo também ser tomado
cuidado para evitar materiais de interface de um lado do peito encostar no material coloca-
do no lado oposto. Qualquer uma dessas condições pode resultar na formação de arco de
corrente elétrica através da parede da caixa, em vez de condução para o coração.
Materiais de interface que devem ser evitados incluem solução salina, álcool isopropílico e
gel de ultrassom, bem como o uso das pás sem qualquer material. Além de uma eficácia
menor, o álcool isopropílico representa um risco de incêndio.
Operação da máquina
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Camip
Doses de 2J/kg para a primeira tentativa, 4J/kg para a segunda tentativa, e 4J/kg ou supe-
rior (dose máxima de 10J/kg, ou no máximo de adultos 200J, bifásica; 360J, monofásico)
para tentativas subsequentes são recomendadas para a desfibrilação de crianças com FV
ou TV sem pulso.
Em dose de cardioversão sincronizada, a dose para o primeiro choque deve ser de 0,5 a
1J/kg; choques subsequentes são de 2J/kg. A cardioversão é apropriada para pacientes
instáveis com TPSV, fibrilação atrial, flutter atrial ou TV com pulsos palpáveis.
Conclusão
Bibliografia
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Capítulo 6 | Arritmias cardíacas na infância
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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163
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Camip
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Monitorização
Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
7
Hemodinâmica
Capítulo 7
Monitorização hemodinâmica
Caso clínico
Como base no caso clínico, como identificar o perfil hemodinâmico da criança com insta-
bilidade hemodinâmica e choque? Quando indicar a monitorização hemodinâmica? Qual a
monitorização hemodinâmica indicada para meu paciente?
Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Camip
Perguntas
Apresentação
O choque pode ser definido como um estado de falência circulatória aguda caracteriza-
da por uma oferta insuficiente de oxigênio para a demanda metabólica das células. Esse
estado de insuficiência circulatória resulta em disfunção celular (utilização inadequada de
oxigênio pelas células) e disóxia, ou seja, perda da independência fisiológica entre a oferta
e o consumo de oxigênio. Essa condição se manifesta por meio de sinais clínicos e labora-
toriais (biomarcadores) de hipoperfusão.
O choque, que é caracterizado por uma insuficiência circulatória aguda, pode ser resul-
tante de um, ou da combinação de mais de um dos quatro mecanismos fisiopatológicos:
hipovolemia, disfunção miocárdica, obstrução e perda do tônus vascular. As características
desses quatro tipos de choque podem se sobrepor, e um paciente admitido com um tipo de
choque pode modificar seu perfil hemodinâmico para qualquer outro tipo. O choque pode
também ser classificado de acordo com a causa: choque séptico, choque hipovolêmico,
choque cardiogênico e choque anafilático.
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
heterogêneo. Nesse estudo, a maioria das crianças (58%) encontrava-se em estado hipo-
dinâmico caracterizado por baixo índice cardíaco e resistência vascular sistêmica normal
ou aumentada, necessitando de suporte inotrópico, com ou sem vasodilatador (grupo I);
20% tinham um alto índice cardíaco e baixa resistência vascular periférica e responderam
à terapia com vasopressor somente (grupo II); e 22% tinham disfunção vascular e cardíaca
e responderam à terapia combinada com vasopressor e inotrópico (grupo III). Os autores
também observaram que crianças com choque séptico refratário à fluidoterapia podem
apresentar mudança do perfil hemodinâmico durante as primeiras 72 horas, o que pode
acarretar na mudança da terapêutica.
Os parâmetros clínicos são a primeira evidência de choque e devem ser monitorados fre-
quentemente em pacientes com instabilidade hemodinâmica. Dessa forma, é recomendada
a monitorização contínua da frequência cardíaca, do ritmo cardíaco, da pressão arterial, da
temperatura e da oximetria de pulso, além da reavaliação frequente da perfusão periférica, do
débito urinário e do nível de consciência em pacientes com história e sinais clínicos de choque.
Sabe-se que, apesar de importantes, os sinais clínicos são imprecisos para diagnosticar o
perfil hemodinâmico do choque e o estado da microcirculação. Dessa forma, outras ferra-
mentas devem ser utilizadas para determinar o mecanismo fisiopatológico do choque. Além
do exame físico, os marcadores de perfusão tecidual e exames não invasivos ou minima-
mente invasivos auxiliam no diagnóstico e na terapêutica de pacientes em choque. Hoje,
o ecocardiograma representa a modalidade inicial indicada para avaliar o tipo de choque
naqueles pacientes nos quais o exame físico não permitiu determinar o tipo de choque. A
avaliação da função cardíaca em pacientes em choque tem como objetivo identificar o tipo
de choque, auxiliar na indicação da terapêutica e a resposta do paciente à mesma.
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Camip
Quando a oferta de oxigênio é insuficiente para suprir a demanda tecidual na doença grave,
ocorre um mecanismo compensatório na extração de oxigênio. Se o desbalanço entre a
oferta e o consumo de oxigênio persiste, o mecanismo compensatório é esgotado, resultan-
do em défice de oxigênio, hipóxia tecidual, metabolismo anaeróbico e produção de lactato.
A hipóxia tecidual, que ocorre na sepse grave e no choque séptico, contribui independen-
temente para resposta inflamatória sistêmica, levando à ativação endotelial, vasodilatação,
liberação de mediadores inflamatórios e modulação do sistema de coagulação − todos re-
sultando na síndrome de disfunção múltipla de órgãos. O mecanismo compensatório com
liberação de catecolaminas e regulação neural mantém pressão arterial às custas da redu-
ção na perfusão tecidual.
A hiperlactatemia está presente nos casos de choque e indica metabolismo anormal. Va-
lores > 2mEq/L (ou 18mg/dL) são considerados anormais. A hiperlactatemia pode ser re-
sultado tanto do aumento da produção (metabolismo anaeróbio ou mediada por citocinas
inflamatórias) ou por redução da excreção hepática. O lactato pode ser utilizado como um
marcador diagnóstico, terapêutico e prognóstico. A interpretação de uma única medida de
lactato tem inúmeras limitações. Na prática clínica, sugere-se a monitorização seriada dos
níveis de lactato para avaliar não somente o prognóstico, mas também para guiar a terapêu-
tica e o cálculo do clearance de lactato de 6 horas.
O clearance precoce do lactato sérico pode indicar a resolução da hipóxia tecidual genera-
lizada e tem sido associado com uma redução na taxa de mortalidade.
Uma das limitações da medida de SvcO2 é que valores normais ou elevados de ScvO2 não
discriminam se o transporte de oxigênio está adequado, ou se não há extração.
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A troponina é um biomarcador que tem sido estudado no contexto do choque séptico como
preditor de mortalidade. As troponinas cardíacas T e I são componentes do aparato contrátil
de miofibrilas dos miócitos. Níveis elevados de troponina são encontrados na sepse, mes-
mo na ausência de doença arterial coronariana. Disfunção miocárdica, caracterizada por
disfunção sistólica e diastólica do ventrículo esquerdo (VE), é uma complicação comum e
precoce no choque séptico. A fisiopatologia ainda não é clara, mas a troponina parece ser
secretada pelas células cardíacas em resposta ao desbalanço entre a oferta e o consumo
de oxigênio. Além disso, a toxicidade pelas catecolaminas deve ser considerada como um
fator que promove a liberação de troponina pelos miócitos, quando leva a uma injúria mio-
cárdica reversível.
Uma metanálise publicada no Intensive Care Medicine em 2013 demonstrou que a troponi-
na elevada foi um fator independente de mortalidade na análise multivariada de pacientes
com choque séptico. Assim, a dosagem de troponina é um teste simples e confiável dis-
ponível para identificar pacientes de alto risco. Seu valor isolado serve como um sinal de
alarme, mas a falta de tratamento estabelecido para a disfunção miocárdica induzida pela
sepse limita seu papel no manejo atual do choque séptico.
O peptídeo natriurético tipo B (BNP) é um outro biomarcador que tem valor prognóstico no
choque séptico. Trata-se de um hormônio cardíaco com propriedades diurética, natriurética
e vasodilatadora. É produzido pelo miocárdio ventricular em resposta ao estiramento da
parede e tem um papel fundamental em regular a pressão de enchimento ventricular e a
homeostase do volume intravascular.
Os estudos mais recentes mostram que na sepse grave e no choque séptico, o BNP encontra-
-se elevado. Este aumento está associado à severidade da doença crítica e não à depressão
miocárdica induzida pela sepse. Um BNP > 800pg/mL no segundo dia de evolução é um pre-
ditor precoce de um desfecho desfavorável. Além disso, uma elevação prolongada do BNP e
a inabilidade em reduzir o valor < 500pg/mL pode implicar em aumento da mortalidade.
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Camip
O manejo de fluidos representa um dos principais pilares no manejo do choque. Tanto a hi-
povolemia quanto a hipervolemia são estados deletérios. Dessa forma, o médico deve ava-
liar se a resolução do estado de choque e de hipoperfusão pode ser por meio do aumento
do débito cardíaco e se a ressuscitação fluídica é efetiva para se atingir o alvo terapêutico
estabelecido. Ao mesmo tempo que a ressuscitação volêmica não pode ser retardada, es-
forços devem ser realizados para avaliar se o paciente responderá a fluidos.
A pressão venosa central (PVC) é uma estimativa da pré-carga do ventrículo direito (VD).
Pode ser medida com um cateter venoso central (veia jugular ou subclávia) posicionado na
entrada do átrio direito. Um valor isolado de PVC não identifica o paciente cujo débito car-
díaco aumentará após uma prova de volume.
A necessidade adicional de fluidos pode ser avaliada com uma prova de volume. Após uma
rápida administração de um bólus intravenoso de fluido ou elevação passiva das pernas em
30º (aumenta o retorno venoso), o débito cardíaco imediatamente aumenta em pacientes
que são responsivos a fluidos.
A pressão arterial é um parâmetro clínico importante que deve ser acompanhado no doente
grave. Manter a pressão arterial em níveis normais é importante para que a capacidade de
autorregulação dos órgãos seja preservada e, assim, a oferta de oxigênio seja adequada.
Além da monitorização contínua da pressão arterial, este método também é útil para avalia-
ção da variação da pressão de pulso, que é um método que ajuda a estimar a resposta do
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
paciente à infusão de volume. A curva da pressão arterial invasiva também é utilizada atu-
almente para estimar o débito cardíaco com o uso de monitores específicos desenvolvidos
para essa finalidade.
Ecocardiografia
O treinamento desse método é considerado barato e relativamente fácil quando sua fina-
lidade é a avaliação funcional realizada pelos intensivistas. Não é um método de monito-
rização contínua, mas, por ser rápido, não invasivo e indolor, pode ser realizado de modo
seriado, o que permite uma visão longitudinal do paciente.
As indicações desse exame são diversas e incluem desde crianças com cardiopatia congê-
nita conhecida ou suspeita, presença de anormalidades em outros métodos diagnósticos
(como eletrocardiograma − ECG, radiografia de tórax e outros), assim como a avaliação
cardiológica funcional.
Na prática clínica, na qual muitas vezes é extremamente difícil identificar a real condição
hemodinâmica do paciente, o ecocardiograma exerce uma função chave, que seria a de
identificar quadros hiper ou hipodinâmicos, sinais ou causas de choque obstrutivo e no
diagnóstico da condição volêmica do doente.
O paciente deve permanecer em decúbito lateral esquerdo durante o exame, para que o cora-
ção se posicione mais próximo da caixa torácica. O braço esquerdo deve ser posicionado cra-
nialmente e a cabeça apoiando sobre o braço; com isso, há maior abertura dos espaços inter-
costais. Algumas vezes, o paciente necessita de sedação para o procedimento; nesses casos é
importante que cada hospital tenha seu protocolo de sedação para procedimentos e o mesmo
deve ser sempre acompanhado por um profissional habilitado em reanimação pediátrica.
Analisando as imagens obtidas por este exame, podem ser realizadas avaliações qualita-
tivas e quantitativas. As avaliações subjetivas por profissional treinado podem guiar con-
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Camip
A pré-carga pode ser analisada por meio de medidas de diâmetro da veia cava inferior du-
rante a inspiração e expiração, mas também da variação da integral velocidade-tempo (VTI,
do inglês integral velocity time) do fluxo sanguíneo na região subaórtica) durante o ciclo res-
piratório. Importante relembrar que a avaliação desses parâmetros deve ser realizada com
outros parâmetros hemodinâmicos.
O volume sistólico do VE e o débito cardíaco são avaliados pela relação do VTI com o di-
âmetro da via de saída do VE (VSVE), que é a valva aórtica. Outra medida importante de
avaliação é a fração de ejeção do VE (FEVE), que é medida pela relação da variação do
diâmetro de VE durante a sístole/diástole.
Para que seja possível utilizar este método na prática de maneira adequada, um treina-
mento teórico deve ser realizado pelo intensivista, para que se conheçam as propriedades
físicas desse exame, aprendendo a manusear o aparelho e, assim, a escolher o transdutor
adequado e individualizando, para cada paciente, as propriedades físicas do método.
Muitas são as janelas na avaliação cardiológica, mas, para uso do médico da UTI, quatro
janelas se tornam mais importantes: subcostal (utilizada principalmente na análise da veia
cava inferior), paraesternal do eixo longo (avaliação qualitativa da função ventricular, pre-
sença de derrame pericárdico, mede FEVE, mas também utilizada para medição da VSVE),
paraesternal do eixo curto (também avalia contractilidade de VE e mede FEVE), apical de
quatro câmaras (quando se avaliam função cardíaca de forma subjetiva e derrame pericárdi-
co), apical de cinco câmaras (observa-se a região aórtica e, pelo uso do Doppler) é possível
medir o VTI e, assim, estimar o volume sistólico e o débito cardíaco.
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O cateter de artéria pulmonar foi inicialmente usado na década de 1970. Chamado de Swa-
n-Ganz, esse dispositivo permite avaliação de diversas variáveis hemodinâmicas: débito
cardíaco, saturação venosa mista, pressão de VD, pressão de artéria pulmonar e pressão
de oclusão de artéria pulmonar (POAC).
A POAC é medida no final da expiração e com o balão insuflado ocluindo a artéria pulmo-
nar. Valores aumentados podem representar disfunção do VE, tamponamento cardíaco, hi-
pervolemia, edema pulmonar ou mesmo parâmetros elevados de ventilação mecânica. Os
valores diminuídos podem ser interpretados como hipovolemia ou alta complacência de VE.
Termodiluição
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Camip
A termodiluição transpulmonar também gera outras medidas: volume sistólico global (refe-
rência para pré-carga); índice cardíaco; e volume de líquido pulmonar (índice de avaliação
de edema pulmonar). Por ser de mais fácil utilização, o método transpulmonar vem ganhan-
do mais espaço na pediatria.
Já existem monitores que utilizam o contorno de pulso, calibrado pela termodiluição trans-
pulmonar, para avaliação contínua do débito cardíaco (PiCCO).
Microcirculação
A macrocirculação é quem distribui o fluxo sanguíneo pelo corpo, mas papel fundamental é
exercido pela microcirculação, pois esta garante o fluxo sanguíneo regional para os tecidos.
Os primeiros sinais, quando há um desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio, são
observados na microcirculação.
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
técnica evoluiu com o método chamado Sidestream Dark Field (SDF). Essas técnicas con-
sistem no uso de aparelho portátil capaz de avaliar da microvasculatura, visualizando vasos
com profundidade de até 5mm. O local de preferência na avaliação é a mucosa sublingual,
uma vez que tem a mesma origem embrionária do trato gastrintestinal e, com isso, refletiria
as alterações da mucosa intestinal. Essas técnicas consistem na utilização de luz polariza-
da, que é absorvida pela hemoglobina, independentemente da oxigenação, gerando ima-
gens visualizadas pelo observador. Os limitantes dessa técnica são a necessidade de um
aparelho específico, o treinamento do profissional, possível sangramento local e o fato do
local avaliado ser influenciado por diversos fatores, como o uso de drogas vasoativas.
Cada vez mais estudados, os biomarcadores são frequentemente usados na avaliação dos
quadros graves. O lactato é o biomarcador mais presente no dia a dia, apresentando alta
sensibilidade para os quadros de sepse ou choque circulatório. O lactato é um produto
celular do metabolismo anaeróbio, devido à baixa oferta de oxigênio para os tecidos, mas
também pode ocorrer hiperlactatemia por outros fatores, como uso de adrenalina e redução
na depuração do lactato no fígado. Valores iniciais elevados de lactato também têm corre-
lação com pior prognóstico, assim como a redução dos valores após início do tratamento
demonstram melhora do prognóstico.
Outras moléculas estudas são o ICAM-1, VCAM-1, E-selectina e P-selectina, que refletem
a ativação endotelial em paciente sépticos. São menos utilizadas na prática clínica, mas
já foi estabelecida sua correlação com pacientes pediátricos. Paize et al. (2012) demons-
traram a correlação dessas moléculas de adesão durante o quadro de meningoccemia
em crianças.
175
Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Camip
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Capítulo 7 | Monitorização Hemodinâmica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Camip
178
Emergência
Capítulo 8 | Emergência hipertensiva 8
Capítulo 8
Hipertensiva
Emergência hipertensiva
Caroline Pritsch
Gabriel Baldanzi Caroline Pritsch
Gabriel Baldanzi
Caso clínico
Paciente do sexo feminino de 6 anos, antecedente de asma intermitente, há 3 dias com di-
ficuldade respiratória. Mãe havia procurado unidade de pronto atendimento, onde foi diag-
nosticada com pneumonia bilateral, transferida à internação, iniciando penicilina cristalina,
corticoide e inalação com fenoterol. Em 2 dias, apresentava piora progressiva da dispneia;
mãe se evadiu do serviço com a filha e procurou pronto-socorro do hospital mais próximo.
Negava febre. Paciente deu entrada na sala de urgência, sonolenta, Glasgow 14, ausculta
cardíaca com hiperfonese de B2, pulsos cheios, amplos e simétricos, perfusão periférica
de 2 segundos. Ausculta pulmonar com estertores crepitantes bilaterais e tiragem de fúr-
cula. Abdômen inocente com fígado a 2cm do rebordo costal direito, edema em membros
inferiores. Sinais vitais: frequência cardíaca (FC) de 100bpm; frequência respiratória (FR) de
40ipm; saturação de 94% com máscara não reinalante, temperatura de 36,6ºC; e pressão
arterial (PA) de 170x100mmHg.
Mãe referiu que a última diurese da filha fora há cerca de 24 horas e de coloração escura.
Há 14 dias, tivera uma infecção de garganta.
Perguntas
Definição
Mais importantes do que o valor absoluto da PA são os sinais e sintomas de disfunção orgâ-
nica. Um paciente hipertenso crônico com insuficiência renal deve tolerar valores elevados
de PA; já em um paciente hígido, os mesmos valores podem ser lesivos e sintomáticos.
Urgência hipertensiva é a elevação aguda grave da PA sem lesão de órgão-alvo.
Etiologia
Glomerulonefrite aguda
Insuficiência renal aguda
Doença renal crônica
Renais Uropatia obstrutiva
Síndrome hemolítico-urêmica
Rejeição de transplante renal
Trauma renal
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Capítulo 8 | Emergência hipertensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Feocromocitoma
Tumor de Wilms
Oncológicas Neuroblastoma
Tumor de sistema nervoso central
Síndrome de lise tumoral
Hiperplasia adrenal congênita
Síndrome de Cushing
Endocrinológias
Hipertireodismo
Hiperaldosteronismo primário
Estenose de artéria renal
Vasculares
Coarctação de aorta
Hidrocefalia
Sistema nervoso central Meningite e encefalite
Sangramento de sistema nervoso central
Uso de substâncias psicoativas
Outros
Pré-eclâmpsia
Manifestações clínicas
Para pacientes com alterações neurológicas associadas à elevação de PA, antes de iniciar
terapia anti-hipertensiva sistêmica, deve ser excluída a hipertensão arterial secundária ao
aumento da pressão intracraniana; por exemplo, devido a sangramento, tumor ou edema
em sistema nervoso central. O tratamento é, então, direcionado à hipertensão intracraniana.
Edema agudo de pulmão pode ser consequência tanto de uma insuficiência cardíaca por
aumento da pós-carga como por hipervolemia em casos de insuficiência renal. A presença
de edema periférico sugere sobrecarga hídrica. Na falência do ventrículo esquerdo, pode-se
auscultar ritmo de galope, terceira ou quarta bulhas.
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Capítulo 8 | Emergência hipertensiva
Camip
Oligúria, anúria ou hematúria são sinais de acometimento renal, comumente devido à glomeru-
lonefrite. Raramente, a emergência hipertensiva pode levar à lesão renal e gerar hematúria.
Investigação
Deve ser iniciada por um história completa envolvendo os antecedentes patológicos. Mui-
tos pacientes com emergência hipertensiva já são hipertensos crônicos ou apresentam al-
guma doença renal.
Antecedente perinatal de oligoâmnio pode ser indicativo de doença renal prévia. Cateterismo
umbilical pode ter induzido à doença renovascular. Faringotonsilite ou impetigo recentes suge-
rem glomerulonefrite pós-estreptocócica. Feocromocitoma leva a cefaleia, sudorese, palidez,
palpitações e taquicardia paroxísticas. Ansiedade, perda de peso, intolerância ao calor, exoftal-
mia, aumento de volume ou nódulo tireoidiano podem ser causados por hipertiroidismo.
Avaliação renal
Dosagem sérica de ureia, creatinina e eletrólitos, e urina tipo I. Na presença de hematúria, es-
pecialmente com dismorfismo eritrocitário, aprofundar a investigação de glomerulonefrites.
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Capítulo 8 | Emergência hipertensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Avaliação hematológica
Avaliação cardíaca
Avaliação neurológica
Tomografia de crânio e fundo de olho devem ser solicitadas se houver alteração do nível de
consciência ou do exame neurológico.
Demais exames devem ser realizados de acordo com o resultado da investigação inicial e
suspeitas clínicas.
Tratamento
Apesar da maior parte das emergência hipertensivas chegarem pelos serviços de pronto-
-socorro, lugares em que devem ser diagnosticadas, seu manejo adequado deve ser em
ambiente de terapia intensiva. A monitorização da PA deve ser de maneira invasiva pois,
além de ser mais fidedigna, é capaz de perceber pequenas variações na PA de forma contí-
nua. Se o paciente apresentar rebaixamento do nível de consciência com incapacidade de
proteger via aérea, deve ser entubado.
A meta de redução da PA deve ser de 25 a 30% nas primeiras 6 a 8 horas e deve haver uma
redução gradual nas próximas 24 a 48 horas para um valor abaixo do percentil 90 de PA.
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Capítulo 8 | Emergência hipertensiva
Camip
A hidralazina intravenosa é um vasodilatador arterial direto e deve ser usada após as primei-
ras 6 a 8 horas do manejo inicial da emergência hipertensiva. A dose é de 0,2 a 0,6mg/kg,
máximo de 20mg/dose, e pode ser repetida a cada 4 ou 6 horas. Tem início de ação em 10
a 30 minutos e meia-vida de 4 a 12 horas. É utilizada no desmame das medicações de infu-
são contínua, antes de transicionar para terapia enteral. Efeitos colaterais são taquicardia,
retenção de sódio e síndrome lúpus-like.
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Capítulo 8 | Emergência hipertensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 8 | Emergência hipertensiva
Camip
Conclusão
A emergência hipertensiva deve ser manejada em unidade de terapia intensiva com moni-
torização invasiva de PA.
Deve-se objetivar uma redução lenta da PA de 25 a 30% nas primeiras 6 a 8 horas para
evitar lesão isquêmica secundária.
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Cuidados no Pós-Operatório
Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
9
Capítulo 9 das Cardiopatias
Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Congênitas
José Carlos Fernandes
Luisa Zagne Braz
José Carlos Fernandes
Luisa Zagne Braz
Caso clínico
Paciente, sexo masculino, 6 meses, 5 kg, com trissomia do cromossomo 21, é admitido da
unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica em pós-operatório (PO) de correção total de
defeito de septo atrioventricular total (DSAVT), realizada técnica do duplo patch com plastia
das valvas atrioventriculares (AV) direita e esquerda. Anestesista e cirurgião passaram o caso
para equipe de plantão e afirmaram que procedimento foi realizado sem intercorrências, com
tempo de circulação extracorpórea (CEC) de 90 minutos, tempo de anóxia de 75 minutos,
iniciada infusão contínua de milrinone (dose 0,5mcg/kg/min) na saída de bomba, deixados
quatro fios de marca-passo (dois atriais e dois ventriculares), um dreno de mediastino, um
cateter venoso na cava superior, um cateter de pressão arterial na artéria radial direita, e son-
da vesical de demora. Recebeu durante a cirurgia 250mL de hemácias, urinou 60mL.
Na admissão foram instaladas medidas de pressão venosa central (PVC), pressão arterial
invasiva (PAI), monitorização cardíaca, temperatura retal e oximetria de pulso. O dreno de
mediastino foi deixado em selo d’água. Como ainda estava intubada e sedada, por ainda
não ter acordado da anestesia, foi acoplada à ventilação mecânica invasiva (VMI).
• Frequência cardíaca (FC): 180bpm; frequência respiratória (FR): 30irp; saturação (Sat):
95%; PAI : 60x30 mmHg; pressão de artéria pulmonar (PAP) 8 mmHg; PVC: 4 mmHg.
• Parâmetros da VMI: A/C Peep: 5 Pinsp: 20 Tins: 0,65 FR: 30; fração inspirada de oxigê-
nio (FiO2): 100%; volume corrente: 8mL/kg.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Após avaliação clínica inicial, equipe de enfermagem alertou os médicos da saída de san-
gue vivo pelo dreno de mediastino 100mL em 1 hora.
Conduta inicial
Visto quadro sugestivo de hipovolemia (PVC baixa, sinais de desidratação, PAI baixa). Fei-
tos 10mL/kg de soro fisiológico (SF) 0,9% em 30 minutos e coletados exames de rotina
laboratorial na admissão do PO imediato (POI).
Resultado de exames
Gasometria com pH: 7,28; Bic: 15; BE: -12; pressão parcial de gás carbônico (PCO2): 32;
pressão parcial de oxigênio (PO2): 132; Sat: 93%; lactato arterial: 65; hemoglobina (Hb): 8;
hematócrito (Ht): 24%; plaquetas: 80.000; índice internacional normalizado (INR): 2,0; rTT-
PA: 4,0; CaI: 1,05; magnésio (Mg): 2; potássio (K): 3,1; sódio (Na): 140; glicose: 250.
Paciente com distúrbio de coagulação e sangramento importante no POI, visto pelo dreno
de mediastino 100mL na primeira hora (20mL/kg), com repercussão hemodinâmica levando
à acidose metabólica lática, anemia e hiperglicemia provavelmente secundária ao estresse.
Condutas
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
verter os efeitos da heparina, também deve ser realizada, caso a alteração persista após a
administração do plasma. Corrigir distúrbios eletrolíticos (repor K e Na) e, após reposição
volêmica, se a acidose metabólica permanecer nos exames de controle, repor bicarbonato
também está indicado. Caso a hipotensão persista, apesar da reposição volêmica, o início
de adrenalina, em infusão contínua, auxilia no manejo da hipotensão por possível disfunção
cardíaca associada ao quadro clínico. A equipe de cirurgia deve ser acionada assim que
identificado o sangramento e, caso após reversão dos efeitos da heparina este persistir,
está indicada reabordagem cirúrgica para revisão da hemostasia.
Apresentação
Graças aos avanços nas áreas de CEC, das técnicas cirúrgicas e da terapia intensiva pedi-
átrica nos últimos 50 anos, os cuidados aos pacientes com cardiopatia congênita, mesmo
as mais complexas, evoluíram e apresentam melhores resultados.
Este capítulo teve como objetivo chamar atenção para as peculiaridades dos pacientes
pediátricos com cardiopatias congênitas, e abordar as principais complicações e manejo
clínico desta amostra de pacientes no PO de cirurgia cardíaca.
Pré-operatório
Para êxito no PO, são necessários o domínio da fisiopatologia da cardiopatia que será abor-
dada e o conhecimento da condição clínica pré-operatória do paciente. O tipo de defeito
cardíaco, a idade do paciente, a condição clínica e os fármacos utilizados pelo paciente
antes da correção cirúrgica predizem o risco de complicações e determinam as diferentes
condutas a serem empregadas no PO.
A maioria das crianças se beneficia de condutas clínicas pré-cirúrgicas gerando maior esta-
bilidade hemodinâmica e condição nutricional adequada pré-operatória. Estudos demons-
tram melhores resultados em pacientes bem nutridos e clinicamente estáveis.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
• o uso de prostaglandina endovenosa ajuda a manter o canal arterial (CA) pérvio nas car-
diopatias dependentes de CA com o objetivo de garantir fluxo pulmonar ou sistêmico e/
ou como sítio de mistura do sangue arterial e venoso (Quadro 1).
CA: canal arterial; EP: estenose pulmonar; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Após a indicação cirúrgica faz parte do preparo pré-operatório a coleta de exames como
urina tipo 1, hemograma completo, coagulograma, ureia, creatinina, K, Na, sorologias para
HIV e hepatites, radiografia de tórax e eletrocardiograma. Também é prudente reavaliar o
paciente nas 24 horas antes da intervenção com objetivo de assegurar que este não tem
nenhuma outra doença ativa que deva ser melhorada antes da cirurgia.
Interoperatório
Anestésicos utilizados
Uso de corticoide
Não existe consenso sobre o assunto, porém alguns autores defendem o uso de corticoide
4 horas antes do ato operatório, com o uso de CEC, no intuito de reduzir a resposta infla-
matória pela redução da produção de mediadores inflamatórios.
Profilaxia antibiótica
Não existe consenso sobre a necessidade de profilaxia antibiótica, porém visto o aumento
da mortalidade dos pacientes que infectam no PO, recomenda-se iniciar 1 hora antes da
incisão, com dose adicional ao final da CEC e manter por 48 horas ou até a retiradas dos
drenos e cateteres de mediastino. Qual o esquema antimicrobiano a ser empregado pode
variar de acordo com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de cada servi-
ço, de modo geral, utiliza-se cefalosporina de segunda geração (cefuroxima ou cefazolina),
às vezes associada a aminoglicosídeos ou vancomicina nos pacientes que forem mantidos
com o tórax aberto.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Tempo de cirurgia
As cirurgias de grande porte e tempo prolongado levam a uma série de alterações metabó-
licas e hormonais, que geram alterações clinicas e laboratoriais no PO.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Intercorrências transoperatórias
Importante informar, caso haja baixo débito ao sair de perfusão, hipoxemia, alterações de
ritmo, distúrbio hidroeletrolíticos, lesões de estruturas cardíacas, anomalias cardíacas não
verificadas anteriormente e residuais, se houve necessidade de utilizar drogas vasoativas,
dificuldade na intubação, se recebeu hemoderivados e, por fim, o balanço hídrico cirúrgico
e o volume de diurese transoperatória.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Reconstrução da aorta
Adequação da pré-carga/volemia
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Nos primeiros dias do PO, a oferta hídrica deve ser limitada a 30 a 50% das necessidades
hídricas diárias, pois há, em geral, retenção líquida com extravasamento para o interstício.
Pequenas alíquotas de 5 a 10mL/kg de SF a 0,9% ou Ringer devem ser dadas com cautela
caso haja suspeita de hipovolemia. Vale lembrar que esse tipo de paciente apresenta-se
mal distribuído, pela resposta inflamatória sistêmica gerada após o estresse cirúrgico, com
alteração da permeabilidade vascular, fazendo com que parte do volume intravascular seja
extravasado para o interstício. Portanto, o uso de coloides como albumina e a reposição de
hemoderivados (Quadro 4), quando indicados, parecem ser mais eficientes para a reposi-
ção volêmica destes pacientes.
Hemoderivados Indicação
Plaquetas Plaquetas<50.000
Tempo prolongado de CEC com sangramento ativo
Importante chamar a atenção que as reposições volêmicas no PO, salvo as situações ex-
tremas, devem ser feitas de forma lenta (20 a 30 minutos) e não em bólus, visto a baixa
complacência miocárdica dos pacientes pediátricos, principalmente dos recém nascidos.
O débito urinário é bom indicador da perfusão renal e do débito cardíaco. Em crianças pe-
quenas (<25kg) 1 a 2mL/kg/h e nas crianças grandes (>25kg) 50 a 100 mL/h é considerado
adequado. A diurese reduzida devido ao baixo débito cardíaco normaliza após a correção
do problema hemodinâmico. O uso de furosemida pode ser necessário para estimular a diu-
rese. Caso o débito urinário seja insuficiente em pacientes com hipervolemia, sem resposta
ao uso de diuréticos, a indicação precoce de métodos dialíticos é necessária afim de evitar
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Dada a labilidade clínica desses pacientes, alguns distúrbios metabólicos geram maior ins-
tabilidade quando comparados a pacientes sem comorbidades cardíacas. Acidose meta-
bólica, distúrbios do Ca, Mg e K geram maior risco de alterações do ritmo, depressão mio-
cárdica e parada cardíaca nessa amostra de pacientes, sendo necessária a monitorização
rotineira laboratorial desses eletrólitos e da gasometria para intervenções precoces, caso
haja alteração nos resultados, com o objetivo de manter os exames conforme ilustrado no
Quadro 5.
K = 4-5
Mg = 2-2,5
Ph = 7,35-7,45
Bicarbonato = 20-30
K: potássio; Mg: magnésio; Ca: cálcio
Até o momento, não há consenso sobre o manejo deste distúrbio no PO de cirurgia cardíaca
pediátrica. Recomenda-se, na vigência de hiperglicemia > 200mg/dL, a troca do soro glico-
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
sado (SG) 10% por SG 5% ou por solução fisiológica sem glicose, com medidas seriadas
da glicemia. Assim que o nível glicêmico chegar a 120mg/dL a infusão de SG 5% deve ser
reiniciada, para evitar hipoglicemia. Reserva-se o uso de insulina para crianças diabéticas
ou naquelas que mantenham níveis glicêmicos extremamente altos durante períodos pro-
longados de retirada da infusão de glicose, com acidose metabólica.
Nessas situações raras, o nível sérico da glicemia deve ser monitorado intensivamente, com
medidas seriadas da glicemia, reiniciando a infusão de glicose antes que seu nível sérico
caia abaixo de 100mg/dL. A reposição volêmica deve ser frequente devido à poliúria cau-
sada pela hiperglicemia.
O uso de mantas térmicas pode ser necessário para estabelecer a temperatura fisiológica
no PO. Alguns pacientes podem apresentar hipertermia pós-CEC, e esta deve ser evitada e
combatida em razão da piora hemodinâmica com o aumento da demanda metabólica pela
hipertermia. Em alguns casos, a hipotermia está indicada, como em pacientes com taquiar-
ritmias juncionais; porém na maioria dos casos teremos como objetivo manter a tempera-
tura corporal normal.
Sedação e analgesia
É de extrema importância o controle álgico dos pacientes, afim de evitar agitação com au-
mento da demanda metabólica ou com trauma psicológico no futuro, sendo este sempre
umas das prioridades dos cuidados em terapia intensiva pediátrica. Muitas vezes, o uso de
analgésicos comuns, como dipirona de horário, é o suficiente para controle álgico PO. Po-
rém caso seja insuficiente, o uso de anti-inflamatórios não hormonais pode ser empregado
nos pacientes com função renal adequada e sem distúrbio plaquetário ou de coagulação.
Os opioides também auxiliam no controle álgico, mas devem ser utilizados com cautela por
seus efeitos colaterais, como depressão respiratória e diminuição da motilidade intestinal,
principalmente em crianças pequenas. Já nos adolescentes, o uso das bombas de analge-
sia controlada pelo paciente (PCA) com morfina, muito utilizada na clínica dos adultos, pode
ser empregada com sucesso. Existem relatos de sucesso com o uso de dexmedetomidina
para controle álgico no PO, principalmente em pacientes hipertensos e taquicárdicos, pois,
por ser um alfa-agonista, leva à diminuição da PA e da FC.
Sobre os sedativos, não se indica como rotina seu uso no PO, visto que a extubação é
uma meta a ser alcançada assim que a estabilidade clínica do paciente for alcançada.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Suporte nutricional
Deve ser iniciado assim que houver estabilidade hemodinâmica e trânsito intestinal ade-
quado. A via oral é sempre a de eleição e deve ser liberado 6 horas após a extubação, com
paciente estável e acordado; caso contrário a alimentação por sonda deve ser iniciada. Es-
tudos demonstram menores taxas de infecção e tempo de internação com o início precoce
da alimentação enteral. Caso ocorram comorbidades associadas ou complicações gas-
trintestinais que contraindiquem a alimentação por via enteral por mais de 72 horas, estará
indicado o início de nutrição parenteral caso paciente estável.
Suporte respiratório
Tendo em vista que a principal causa de parada cardíaca na infância é por causa respirató-
ria, a adequada ventilação e oxigenação são prioridades para todos os pacientes da terapia
intensiva. É de grande importância o conhecimento da interação cardiopulmonar e sua re-
percussão nas diversas cardiopatias congênitas (Quadro 6), pois alterações na mecânica
ventilatória podem ter implicações profundas na hemodinâmica, especialmente no PO de
cardiopatias complexas. Não há parâmetros de rotina que devam ser utilizados na VMI, po-
rém alguns cuidados especiais devem ser empregados no paciente com cardiopatia, como,
por exemplo, o uso cuidadoso da pressão expiratória final positiva (PEEP) nos pacientes
com anatomia univentricular. Vale também lembrar que pacientes dependentes de shunt
tipo Blalock-Taussig ou de CA, a estratégia ventilatória visa manter uma Sat de oxigênio
entre 75 a 85% e PCO2 45 a 50 mmHg, com objetivo de aumentar levemente a resistência
pulmonar, prevenir hiperfluxo pulmonar e aumentar o fluxo sanguíneo sistêmico.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
VMI: ventilação mecânica invasiva; PEEP: pressão expiratória final positiva; VD: ventrículo direito;
FiO2: fração inspirada de oxigênio; CA: canal arterial
Todos os pacientes devem ficar intubados até função cardíaca e pulmonar estáveis, porém
estudos demonstram benefícios com a extubação precoce, a qual deve ser almejada assim
que houver condição clínica para tal.
O débito cardíaco (DC), quantidade de sangue ejetada pelo coração por minuto, depende
de quatro fatores: contratilidade miocárdica, retorno venoso (pré-carga), resistência à saída
do sangue do ventrículo esquerdo (pós-carga), e da FC. Alterações em qualquer um desses
fatores pode levar à síndrome do baixo débito cardíaco, que pode se manifestar por sudo-
rese fria, sinais de agitação psicomotora, extremidades frias, lábios cianóticos ou pálidos,
pulsos periféricos ausentes ou filiformes, hipotensão e oligúria. Por isso, a avaliação do dé-
bito cardíaco (DC) inclui a observação dos sinais clínicos citados, complementada pela mo-
nitorização contínua do paciente, principalmente pela saturação venosa central de oxigênio
e pelo lactato arterial, podendo também ser diagnosticado pela ecocardiografia a beira leito.
Existem várias causas de baixo débito no PO (Quadro 7); algumas prévias e outra relacio-
nadas com o ato cirúrgico.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Condição pré-operatória
Complexidade da cardiopatia
Isquemia miocárdica
Arritmias
Hipocalcemia
Sangramento no PO
Tamponamento cardíaco
Defeitos residuais
Déficit de cortisol
Contratilidade
Podem ocorrer por defeito anatômico ou função cardíaca diminuída no pré-operatório, ven-
triculotomia, cardioplegia, isquemia devido à CEC, tempo de CEC e anestésicos. As car-
diopatias menos complexas e que não cursam com disfunção ventricular e/ou hipertensão
pulmonar raramente causam baixo débito no PO, ao contrário das complexas.
Em crianças, o índice cardíaco tende a ser mais baixo nas primeiras 4 horas após o término
da CEC, o que reflete na deterioração do desempenho miocárdico, que é máxima entre 4 a
12 horas após a operação, tendendo a recuperar após 24 a 72 horas pós-CEC.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
↓ DC com disfunção
Dobutamina sistólica ↑VO2
β1++ β2++ α +/-
Dose: 5-20mcg/kg/min ↓ DC com ↑ RVP e Arritmias ++++
↓ PA
<2 – D +++
↓ DC (principalmente em
2-5 – D+++ β1+ ↑VO2
Dopamina recém-nascido)
5-10 – β1+++ β2++ α+ ↑ RVP
Dose: 3-20mcg/kg/min Auxílio na perfusão renal
10-20 – β1+ Arritmias
(doses <3mcg/kg/min)
β2+ α +++
↓ DC com ↓ FC ↓ PA
0,1-0,3 – β1++ β2++ ↑VO2
Choque frio/choque
Adrenalina 0,1-0,5 –β1++ α1 ++ ↑ RVP
séptico
Dose: 0,1-2mcg/kg/min > 0,5 – α1 ++++ Arritmias
↑ Perfusão coronariana
↑↑↑ RVP
Noradrenalina Arritmias
β1++ β2+ α ++++++ ↓ DC com ↓ PA
Dose: 0,1-2mcg/kg/min Sobrecarga do
VE e VD
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
- Inotrópico ↓ PA
Milrinona Inibidor da - Vasodilatador pulmonar Hipovolemia
Dose: 0,5-1mcg/kg/min fosfodiesterase III e sistêmico ↑ de enzima
- Lusitrópico hepáticas
↓ PA
Hipovolemia
Droga de eleição ↑ de enzima
no PO hepáticas
Meia-vida 4-6h
- Inotrópico ↓ PA
Levosimendana Sensibilizador do cálcio
- Vasodilatador sistêmico Meia vida longa
Dose: 0,1-0,2mcg/kg/min intracelular na ligação
e coronariano >5 dias
por 24-48 horas à troponina C
- Lusitrópico
DC: débito cardíaco; RVP: ; PA: pressão arterial; VO2: volume de oxigênio; VE: ventrículo esquerdo;
VD: ventrículo direito
Frequência cardíaca
As alterações da FC são causas importantes de baixo débito no PO. Podem, para fins didá-
ticos, ser dividas em dois grandes grupos: as taquicardias e as bradicardias.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Taquicardias
As TSV incluem a taquicardia sinusal, fibrilação atrial, flutter atrial, taquicardia atrial automá-
tica, taquicardia por reentrada nodal, taquicardia juncional (JET), taquicardia por reentrada
do nó AV.
As taquicardias sinusais podem ser secundárias a hipertermia, dor, anemia, uso de drogas
vasoativas, hipovolemia (PVC baixa) ou baixo débito cardíaco secundário à disfunção ven-
tricular ou tamponamento (PVC alta). A identificação da etiologia é crucial para o adequado
tratamento. Pacientes com taquicardia não sinusal podem necessitar de realização do atrio-
grama (usando os fios temporários atriais do marca passo) para sua identificação. As TSV
podem responder a medidas como redução da temperatura e catecolaminas. A amiodaro-
na pode ser útil no controle da fibrilação atrial, flutter e outras TSV que não responderam
ao uso de adenosina. Quando instáveis ou refratárias as TSV necessitam de cardioversão
elétrica. A taquicardia juncional (JET) tem difícil manuseio, pois são pouco responsivas a
medicações e/ou a cardioversão. Podem ser controladas com a redução da temperatura
corporal e correção de distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos, limitar o uso de catecola-
minas e uso criterioso de amiodarona também pode ser útil.
Bradicardias
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
-passo temporário. O BAVT deve ser tratado imediatamente com marca-passo sequencial
AV, podendo-se usar isoproterenol 0,1 a 1mcg/kg/minuto (fármaco com efeito beta-agonis-
ta – principalmente cronotrópico) para aumentar a frequência até que os eletrodos sejam
implantados. A estimulação sequencial (átrio g ventricular) tem vantagem hemodinâmica
pela contribuição atrial ao enchimento ventricular, aumentando em 20 a 30% o DC, além de
inibir ritmos ectópicos atriais ou ventriculares. Se o ritmo sinusal não se estabilizou em 7 a
14 dias, o marca-passo definitivo está indicado.
Pós-carga
Seria a resistência à ejeção do volume sistólico dos ventrículos. As pressões arterial sistê-
mica (PAS) e pulmonar (PAP) são os principais fatores relacionados à pós-carga.
Devemos ter como objetivo pressão arterial entre 25% acima e 10% abaixo do p50 para a
idade e estatura; não devemos tolerar hipertensão, principalmente no PO de paciente com
disfunção do VE, em razão do risco de sobrecarregar e falir o VE, fora outros riscos, como
ruptura de suturas intracardíacas, gerando lesões residuais, como comunicação intraventri-
cular (CIV), ou extracardíacas, gerando sangramentos.
A HAS no PO pode também ser desencadeada por outros fatores como: dor, hipotermia,
hipo ou hipervolemia, vasoconstrição periférica, descarga simpática relacionada a reação
de despertar após anestesia geral e HAS prévia exacerbada. No controle da HAS, temos
medidas gerais como analgesia, sedação e correção da volemia, além das medidas com
fármacos anti-hipertensivos (Quadro 9).
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
HAS: hipertensão arterial sistêmica; POI: pós-operatório imediato; BAV: bloqueio atrioventricular
Umas das complicações mais dramáticas e temidas no PO por sua alta letalidade é a hiper-
tensão arterial pulmonar (HP). Manifesta-se com aumento agudo da pressão arterial pulmo-
nar a valores suprassistêmico, gerando sobrecarga do VD e diminuído a pré-carga do VE,
com consequente redução do débito cardíaco e queda da saturação. Pode ser desencade-
ada por qualquer fator que estresse o paciente propenso a essa complicação: hipoxemia,
dor, agitação, aspiração traqueal, hipercapnia, hipotermia, acidose, ou uso de inotrópicos
alfa-adrenérgicos.
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Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
O tratamento da crise de HP tem como objetivo para realização de medidas para diminuir
a pressão pulmonar e prevenir o estímulo da crise. Apesar dos estudos e novos fármacos
disponíveis para terapêutica desses pacientes, essa ainda é uma das complicações mais
dramáticas do PO, com alta mortalidade. A monitorização da PAP e as medidas preventivas
citadas no Quadro 10 estão indicadas nesta amostra de paciente e devem fazer parte da
estratégia traçada para manejo.
Condutas Objetivos
Alcalinização
pH 7,45-7,5
Vasodilatação pulmonar
Bicarbonato > 25
PCO2 30-35
Sedação, Analgesia
Diminuir o estresse e o estimulo a HP
Bloqueio Neuromuscular
FiO2: fração inspirada de oxigênio; PO: pós-operatório; NO: oxido nítrico; VD: ventrículo direito; PCO2:
pressão arterial de gás carbônico
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206
Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Pré-carga
Definida como o enchimento diastólico final. Na ausência de lesão valvar AV, a pressão
diastólica final corresponde à pressão média dos átrios, sendo possível controlar a volemia
por meio da PAD e PAE. O valor ideal das pressões dos átrios é que estejam até 15 mmHg,
com zero na linha axilar média, podendo chegar a 18 mmHg, no átrio direito, e 20 mmHg,
no átrio esquerdo, quando houver hipertrofia, hipocontratilidade, obstrução parcial das vias
de saída ventriculares ou hipertensão pulmonar. No PO de CIA ou cardiopatias com grandes
dilatações de átrio direito como na drenagem anômala de veias pulmonares, o átrio direito é
muito complacente, e a PVC oscila entre 5 e 10 mmHg. Nas cirurgias em que há anastomo-
se cavopulmonar ou atriopulmonar, a PVC deve ficar entre 18 e 20 mmHg.
Não existe consenso em relação à melhor solução para reposições volêmicas no PO, de-
vendo esta ser individualizada a cada caso e com maior atenção nos casos de paciente
com sangramento.
Sangramento
• protamina: reverte o efeito residual da heparina: 0,5-1mg/kg, sendo que 1mg neutraliza
100ui de heparina.
207
Capítulo 9 | Cuidados no pós-operatório das cardiopatias congênitas
Camip
Importante alertar que frente a um paciente com sangramento, a equipe cirúrgica deve
ser sempre alertada, e as medidas pró-coagulantes devem ser discutidas em todos os
pacientes pós-cirurgias de cardiopatias complexas, principalmente nos com anastomose
cavopulmonar e confecção de circulações shunts dependentes como Blalock-Taussig, em
razão do risco de trombose e obstrução desses shunts. Para tanto é prioridade a estabili-
dade hemodinâmica e a hemostasia do paciente, porém sempre devemos lembrar do risco
dessas dramáticas complicações.
Conclusão
Bibliografia
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209
209
Camip
210
Insuficiência
Capítulo 10 | Insuficiência respiratória 10
Capítulo 10
Respiratória
Insuficiência respiratória
Andréia Imamura
Juliana Ferreira Ferranti Andréia Imamura
Natália Viu Degaspare Juliana Ferreira Ferranti
Natália Viu Degaspare
Caso clínico
Foram tentadas inalações do soro fisiológico e salbutamol com relativa melhora do quadro
clínico, mantido em observação com halo de oxigênio com 8L de oxigênio e 8L de ar com-
primido, saturando 95%.
Após 6 horas, apresentou piora do quadro clínico, com taquidispneia importante, tiragens
subcostais e fúrcula, além de ausculta diminuída em tórax direito. Encaminhado para uni-
dade de terapia intensiva (UTI), foi feita radiografia de tórax que evidenciava atelectasia
em lobo superior direito. Tentado acoplar em CPAP de 5mmHg e fração inspirada de oxi-
gênio (FiO2) de 50%, porém, após 2 horas, mantinha desconforto respiratório importante,
com saturação de 90% e apresentou um episódio de apneia. Foi coletada gasometria ar-
terial, que mostrava pH de 7,20, pressão parcial de oxigênio (paO2) de 55mmHg e pressão
parcial de dióxido de carbono (paCO2) de 65mmHg, sendo optado por intubação.
Questões
1. Quais são os motivos anatômicos e fisiológicos que levam a criança acima a apresentar
maior chance de insuficiência respiratória?
Apresentação
A insuficiência respiratória pode ser definida como uma incapacidade do sistema respirató-
rio em manter a oxigenação necessária para suprir as necessidades metabólicas teciduais
e a eliminação do gás carbônico.
Após a injúria pulmonar, inicia-se a fase 1, caracterizada pela queda da PaO2. Na fase 2, há
aumento do volume-minuto respiratório, o que mantém PaO2 e queda da PaCO2.
A fase 4 caracteriza-se pela falência respiratória devido à fadiga muscular respiratória, le-
vando à queda da PaO2 e ao aumento progressivo da PaCO2 (Figura 1).
212
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Figura 1. Comportamento das pressões parciais de oxigênio (PaO2) e gás carbônico (PaCO2)
no sangue, conforme o agravo da insuficiência respiratória
Fisiopatologia
Particularidades anatômicas e fisiológicas presentes nas crianças fazem com que elas te-
nham maior predisposição ao desenvolvimento da insuficiência respiratória.
Fatores anatômicos
A respiração até o quarto a sexto mês de vida é predominantemente nasal. Doenças obs-
trutivas nasais podem levar a grande esforço respiratório e até a apneia.
O volume ocupado pela língua na cavidade oral é maior quando comparado com o do
adulto. Por isso, situações em que ocorre perda do tônus lingual, há queda desta sobre a
orofaringe, causando obstrução à entrada do ar.
A criança tem o occipício mais proeminente do que o adulto, sendo que, quando deitada,
tem a tendência a flexionar o pescoço, dificultando a passagem de ar.
O brônquio fonte direito é mais inclinado na criança, o que a predispõe ao acúmulo de se-
creções, podendo causar atelectasias mais facilmente.
As vias aéreas das crianças são mais curtas, mais estreitas e em menor número que a dos
adultos. Como a resistência ao fluxo de ar é inversamente proporcional à quarta potência do
raio da via aérea, então reduções relativamente pequenas no diâmetro da via aérea resultam
num aumento proporcionalmente maior da resistência ao fluxo de ar e, consequentemente,
do trabalho respiratório nas crianças (Figura 2).
213
213
Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Camip
Figura 2. Calibre de vias aéreas na criança e no adulto. Edema de apenas 1mm provoca uma
diminuição na luz das vias aéreas da criança, comprometendo a passagem de ar
Em crianças pequenas, a via aérea apresenta um afunilamento logo abaixo das cordas
vocais (subglote). Patologias que acometem esse segmento, como laringites, causam o
aumento na resistência ao fluxo de ar, podendo levar à insuficiência respiratória.
A maior complacência do tórax leva ao maior esforço na inspiração, para gerar volume cor-
rente adequado.
Nas crianças, o diafragma está inserido numa posição mais alta e horizontal que nos adul-
tos. Isso faz com que a movimentação do diafragma, durante a inspiração e a expansibili-
dade pulmonar, seja menor.
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A criança possui menor diâmetro dos alvéolos, com maior tendência ao colapso alveolar
e formação de atelectasias, além de menor número de alvéolos, com menor superfície de
trocas gasosas, levando mais rapidamente à acidose respiratória.
Fatores fisiológicos
As crianças têm taxa metabólica mais alta e, assim, maior consumo de oxigênio. Além dis-
so, apresentam menor capacidade residual funcional (CRF) e menores reservas de oxigê-
nio, o que favorece o desenvolvimento da hipoxemia e da hipóxia tecidual em situações de
agravos respiratórios.
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Camip
Dísticos
Volume corrente
Volume residual
Capacidade inspiratória
Capacidade vital
Volume de fechamento
Quando em posição supina, a pressão abdominal passa a empurrar o diafragma e diminui a CRF.
Há uma maior tendência a fazer apneias por dois motivos. Primeiro por menor resposta a
elevação de gás carbônico. Segundo, pelo fato de a hipoxemia no sistema nervoso central
deprimir os movimentos respiratórios. Os recém-nascidos possuem uma imaturidade dos
centros respiratórios, sendo mais suscetíveis a apneias.
Maior risco a fadiga muscular ocorre pelas crianças apresentarem FR mais elevada do que
o adulto, menor quantidade de fibras musculares tipo 1 (maior resistência a fadiga) e menor
massa muscular.
Nos menores de 6 meses, a hemoglobina fetal (mais ávida por oxigênio) faz com que haja
menor liberação do oxigênio para os tecidos.
Imaturidade imunológica
Causas
A insuficiência respiratória pode ocorrer por diversos fatores. Didaticamente podemos divi-
dir o processo de respiração em três fases: respiração externa, transporte gasoso e respi-
ração interna.
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Ventilação
O controle da ventilação (Quadro 1) ocorre por meio elevação PaCO2 percebida por quimior-
receptores no seio carotídeo e no sistema nervoso central, que determina aumento da FR.
Local Causa
Quando ocorre hipoventilação pura, a troca gasosa está preservada, porém o ar não che-
ga ao alvéolo. Dessa forma, podemos determinar se a hipoxemia encontrada é devida à
hipoventilação pura ou a outros mecanismos que afetem os gases sanguíneos por meio
da diferença alvéolo arterial de oxigênio (DA-aO2). A diferença A-aO2 representa as áreas
normalmente subventiladas do pulmão e seu valor normal é de 5mmHg. Valores >15mmHg
representam outras causas que não apenas hipoventilação de hipoxemia. A diferença do
alvéolo arterial de O2 se dá pela fórmula:
PAO2 - PaO2
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Camip
Sendo:
PAO2 = pressão alveolar de oxigênio, que, por sua vez, se dá pela fórmula:
Distúrbios ventilação/perfusão
Quadro 2. Causas de insuficiência respiratória separadas por efeito shunt e espaço morto
Difusão
O sangue permanece cerca de 0,75 segundos no capilar pulmonar, tempo em geral sufi-
ciente para que as trocas gasosas ocorram.
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
por exemplo), demora-se mais para atingir o equilíbrio, porém, o tempo em que o sangue
permanece no capilar é três vezes maior que o necessário. Assim, a hipoxemia está muito
mais relacionada a uma passagem do sangue mais rápida pelo capilar pulmonar (como no
exercício físico), do que ao aumento da espessura da membrana.
A oferta de oxigênio (DO2) para os tecidos é dependente do débito cardíaco (DC), que im-
pulsiona o sangue para o corpo, e do conteúdo arterial de oxigênio (CaO2). Ela é encontrada
por meio da fórmula:
DO2 = CaO2 x DC x 10
Por esse motivo, é fundamental manter uma quantidade adequada de hemoglobina em pa-
cientes em insuficiência respiratória, além de monitorizar a saturação de oxigênio (SatO2).
Como 98% do oxigênio circula ligado a hemoglobina, é importante conhecer os fatores que
deslocam a curva de dissociação da hemoglobina (Quadro 3).
Hemoglobina fetal
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Camip
Quadro clínico
Idade FR
<2meses <60/min
2–12meses <50/min
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Hipoxemia Hipercapnia
Taquicardia Taquicardia
Taquipneia/taquidispneia Taquipneia/Taquidispneia
Cefaleia Cefaleia
Sudorese Sudorese
Parada cardiorrespiratória
Oximetria de pulso
Radiografia de tórax
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Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Camip
Gasometria
A avaliação eficaz da oxigenação e da ventilação pode ser feita por meio da coleta da ga-
sometria arterial, que permite verificar o grau de acidose (metabólica e/ou respiratória), res-
posta ao tratamento aplicado e inferir a fase da insuficiência respiratória se encontra.
Tratamento
O tratamento da insuficiência consiste tanto em suporte de oxigênio quanto no tratamento
da causa que originou o quadro.
• Desobstrução da via aérea: aspiração cuidadosa das vias aéreas ajuda na retirada de
secreções que podem obstruir a passagem de ar.
A oferta de oxigênio pode ocorrer por meio de diversos dispositivos invasivos ou não invasivos:
• Nebulização de oxigênio: propicia uma oferta não confiável de oxigênio e com a des-
vantagem de poder deslocar facilmente.
• Máscara simples: propicia FiO2 de até 60% quando em fluxos de oxigênio de 8L/min.
Em crianças agitadas, é possível deslocar e causar oferta erradica de oxigênio.
222
222
Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• Máscara de Venturi: sistema de alto fluxo, que se adapta a uma válvula que permite
entrada de ar ambiente a um fluxo de oxigênio de 100%. Essa mistura determina con-
centrações mais confiáveis de FiO2 de 25 a 50%.
• Máscara com reservatório e reinalação parcial: propicia uma FiO2 entre 50 e 90%,
devido a mistura com ar ambiente.
• Máscara não reinalante com reservatório: propicia uma FiO2 de 100% quando fluxos
de 10 a 15L/min são colocados na bolsa. Essa máscara possui uma válvula incorporada
na porta de exalação para prevenir a entrada de ar ambiente.
• Oxitenda: propicia uma FiO2 de até 60%, dependendo do fluxo de oxigênio e ar ambien-
te misturados. Permite acesso ao corpo da criança, porém, para alimentação e aspira-
ção de vias aéreas, é preciso retirar a tenda. O barulho pode ser incômodo para a crian-
ça, sendo a proteção auricular recomendada.
223
Capítulo 10 | Insuficiência respiratória
Camip
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Síndrome do Desconforto 11
Capítulo 11
Respiratório Agudo
Síndrome do desconforto respiratório agudo em Pediatria
em Pediatria
Adriana Stama Suzuki Daniel
Cintia Tavares Cruz
Eliane Roseli Barreira
Adriana Stama Suzuki Daniel Eliane Roseli Barreira
Juliana Ferreira Ferranti Cintia Tavares Cruz Juliana Ferreira Ferranti
Caso clínico
CJA, 7 anos e 2 meses, sexo feminino, pesando 23kg, previamente hígida, apresentava
tosse produtiva há 3 dias. Avaliada inicialmente pelo pediatra, recebeu orientação para qua-
dro de resfriado com lavagem nasal e inalação com soro fisiológico. Hoje, apresentou piora
importante do estado geral, inapetência e febre de 38,4°C, evoluindo com desconforto res-
piratório. Procurou o pronto-socorro mais próximo. Ao exame, apresentava-se em regular
estado geral, descorada, hidratada, febril (temperatura de 38,9oC), taquicárdica (frequência
cardíaca − FC de 160bpm), com leve taquidispneia (frequência respiratória − FR de 42rpm).
Realizado raio X tórax no pronto-socorro (Figura 1).
226
Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Epidemiologia
Embora a epidemiologia da SDRA tenha sido bem caracterizada em adultos, poucos estudos
epidemiológicos pediátricos foram realizados até o momento. Nesses estudos, a prevalência
de SDRA varia de 0,86 a 7,8% dos pacientes internados em UTI, e de 5 a 20% dos pacientes
submetidos à VM, com taxas de mortalidade relatadas entre 14 e 61%. Taxas de mortalidade
mais altas foram relatadas em estudos conduzidos em países em desenvolvimento.
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227
Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Camip
Estudo recente conduzido no Brasil mostrou prevalência de SDRA de 10% nos pacientes
admitidos em UTI pediátrica, chegando a 19,3% entre as crianças submetidas à VM. Nesta
amostra, a mortalidade relacionada à SDRA foi de 24%.
A prevalência e a mortalidade da SDRA observadas em crianças são consistentemente
menores do que aquelas reportadas em adultos. Um dos possíveis fatores para a menor
prevalência da doença na população pediátrica é o subdiagnóstico, sendo que até 73% dos
casos de SDRA recebem o diagnóstico da doença de base, que desencadeou a síndrome.
Outro fator que contribui para o subdiagnóstico é a menor frequência de uso de cateteres
arteriais e de coleta de gasometria, frente ao aumento crescente do uso da oximetria de
pulso para monitorização em crianças internadas na UTI pediátrica.
Definição
Em 1994, a American European Consensus Conference (AECC) estabeleceu pela primeira
vez a uniformização dos critérios diagnósticos de lesão pulmonar aguda (LPA) e SDRA:
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
- SDRA leve:
200mmHg < PaO2/FiO2 ≤300 com PEEP/CPAP ≥5cmH2O
- Moderada:
Oxigenação
100mmHg < PaO2/FiO2 ≤200 com PEEP ≥ 5cmH2O
- Grave:
PaO2/FiO2 ≤100 com PEEP ≥5cmH2O
PaO2/FiO2: pressão parcial de oxigênio/fração inspirada de oxigênio; PEEP: pressão inspiratória positiva
final; CPAP: continuous positive airway pressure
O processo de definição dos critérios diagnósticos de Berlin utilizou como ferramenta uma
metanálise de estudos conduzidos com adultos, sem levar em consideração as peculiarida-
des referentes à faixa etária pediátrica.
A definição não foi validada para a Pediatria, porém permitiu identificar fatores de risco como:
infecção pulmonar, sepse, imunodeficiência congênita, aspiração, politraumatismo, afoga-
mento, tumores, broncodisplasia pulmonar, doença do refluxo gastresofágico e cirurgia.
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Camip
Populações especiais
Os mesmos critérios descritos acima para idade, tempo, origem do
Cardiopatia
edema e imagem radiológica associados à piora aguda da oxigenação
cianótica
não explicável pela doença cardíaca
Os mesmos critérios descritos acima para idade, tempo e origem do
Doença pulmonar edema com imagem radiológica consistente com um novo infiltrado
crônica e piora aguda da oxigenação em relação às condições basais que
preencham os critérios de oxigenação descritos acima*
Os mesmos critérios descritos acima para idade, tempo e origem do
Disfunção
edema com imagem radiológica consistente com um novo infiltrado e
de ventrículo
piora aguda da oxigenação que preencham os critérios de oxigenação
esquerdo
descritos acima, não explicáveis pela disfunção ventricular*
* A estratificação de acordo com IO ou ISO não deve ser utilizada em pacientes com doença
pulmonar crônica em uso prévio de ventilação mecânica habitual ou em crianças com cardiopatia
congênita cianótica;
** usar índices baseados na PaO2 quando disponível. Quando PaO2 não disponível, reduzir FiO2 para
manter SatO2<97% para calcular o ISSO ou relação SatO2/FiO2.
BiPAP: bilevel positive pressure airway; CPAP: continuous positive airway pressure; PaO2/FiO2:
pressão parcial de oxigênio/fração inspirada de oxigênio; SatO2: saturação de oxigênio; IO: índice de
oxigenação; ISO: índice de saturação de oxigênio.
230
230
Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tratamento
Uma vez que publicações sobre estudos de manejo da SDRA em crianças são escassas,
algumas opções de tratamento descritas na literatura são baseadas em estudos realizados
em adultos e incluem estratégias de VM, manejo hemodinâmico e terapia medicamentosa.
Ventilação mecânica
Atualmente, não existem dados suficientes para determinar se os diferentes modos ven-
tilatórios (assistido ou controlado) diferem em seus efeitos sobre a morbimortalidade dos
pacientes com SDRA. Recomenda-se o uso de volume corrente (VC) dentro ou abaixo do
VC fisiológico (por exemplo: 5 a 8mL/kg do peso corpóreo ideal). VC mais baixos (3 a 6mL/
kg) podem ser utilizados em pacientes com complacência pulmonar muito reduzida. Reco-
menda-se ainda manter uma pressão de plateau (PPLAT) máxima de 28cmH2O (ou até 29 a
32cmH2O em pacientes com complacência torácica aumentada) e uso de PEEP moderada-
mente alto (10 a 15cmH2O), titulado de acordo com a resposta na oxigenação e os efeitos
hemodinâmicos. O uso de PEEP elevado permite a manipulação da capacidade residual
funcional e diminuição do espaço morto fisiológico, melhorando a ventilação-perfusão e
reduzindo o shunt pulmonar.
Em pacientes com SDRA moderada a grave, deve-se considerar uma hipercapnia permis-
siva, desde que o pH sanguíneo seja mantido entre 7,15 e 7,30, exceto em pacientes com
condições clínicas em que a hipercapnia está contraindicada. Tais condições incluem aci-
dose metabólica prévia, hipertensão pulmonar ou intracraniana, insuficiência coronariana,
disfunção ventricular grave e arritmias cardíacas.
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Camip
Nos escassos estudos publicados, observa-se maior benefício do uso da VOAF quando ini-
ciada de forma precoce, ou seja, nas primeiras 24 horas da hipoxemia refratária. As indica-
ções incluem pacientes com SDRA, pneumonia grave, hemorragia pulmonar, deficiência de
surfactante, nos quais a VMC protetora falha e os parâmetros ventilatórios empregados são
considerados lesivos. Estudo brasileiro que investigou o uso da VOAF em crianças com SDRA
sugeriu que a VOAF deve ser indicada em pacientes com SDRA moderada e grave em VMC
cujos parâmetros não mais oferecem ventilação protetora: pico de Pinsp (PIP) >35cmH2O,
com PmVA >15 a 18cmH2O e FiO2≥0,6. Em lactentes, os parâmetros de VMC sugeridos para
início da VOAF são: PmVA≥ 10 a 12cmH2O, FiO2≥0,6 e falha na expansão torácica.
Posição prona
Recrutamento pulmonar
O recrutamento pulmonar consiste em manobras que elevam a pressão das vias aéreas, au-
mentando a pressão transpulmonar, com o objetivo de abrir e recuperar os alvéolos colap-
sados, melhorando a troca gasosa. É usado junto das estratégias de ventilação protetora,
havendo evidências de que o recrutamento pulmonar em crianças é seguro e relaciona-se à
melhora da oxigenação, restaurando o volume pulmonar e diminuindo a heterogeneidade de
distribuição do VC em pacientes com SDRA. A restauração da pressão expiratória final e a es-
tabilização dos alvéolos, técnica conhecida como open lung strategy, podem reduzir a LPIVM.
232
Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Estabilidade hemodinâmica
Como recrutar
Em aparelhos que possuam o recurso open lung, encontrar o PEEP que correspondeu ao me-
lhor valor de complacência OU
*O PEEP máximo deve ser ajustado de acordo com o tamanho da criança e resposta dos sinais vitais
e PCO2, até o valor máximo de 35cmH2O em adolescentes e adultos.
FC: frequência cardíaca; PA: pressão arterial; SatO2: saturação de oxigênio; Et-CO2: gás carbônico
expirado; FiO2: fração inspirada de oxigênio; FR: frequência respiratória; PC: pressão controlada;
PEEP: pressão inspiratória positiva final; VC: volume corrente
Após o recrutamento, o paciente deve ser mantido em ventilação com PEEP pouco acima
daquela considerado a PEEP ideal, ou seja, maior que a pressão de fechamento crítico
alveolar, de modo a garantir a patência alveolar ao final da expiração. O recrutamento pul-
monar tem como principal benefício a melhora da oxigenação, sendo relatados aumentos
sustentados de até 53% na relação PO2/FiO2 após manobras de recrutamento em crianças.
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Camip
Embora ainda não exista consenso sobre o uso de circuitos abertos e fechados de aspi-
ração de vias aéreas em Pediatria, recomenda-se que especial atenção seja dada à aspi-
ração, de modo a evitar a perda de recrutamento durante o procedimento. A instilação de
solução salina não deve ser feita rotineiramente, porém pode ser realizada na presença de
secreções espessas.
Como já citado, a SDRA se caracteriza por aumento da permeabilidade capilar com conse-
quente edema alveolar e intersticial. A reposição hídrica, principalmente quando realizada
de maneira agressiva para estabilização inicial de pacientes com instabilidade hemodinâmi-
ca – situação frequente no paciente com sepse e SDRA –, pode agravar o edema pulmonar.
A oferta hídrica no paciente com SDRA deve ser manejada de modo a garantir o volume
intravascular, a perfusão de órgãos-alvo e a oferta de oxigênio tecidual, evitando balanço
hídrico positivo. Alguns estudos mostram que estratégia hídrica restritiva após a fase de es-
tabilização pode ter impacto na duração da ventilação e sobrevida de pacientes com SDRA,
porém ainda não existem estudos que suportem a aplicação rotineira em Pediatria.
Terapias medicamentosas
Até o momento, dados publicados na literatura são insuficientes para recomendar o uso
rotineiro de qualquer tratamento medicamentoso na SDRA, sendo que a maioria dos me-
dicamentos avaliados não demonstrou benefícios na redução da mortalidade de pacientes
com SDRA.
234
234
Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Corticoides
Surfactante exógeno
O emprego de óxido nítrico inalatório (NOi) na SDRA é bastante discutido. Uma metanálise
recente mostrou que o uso do NOi não se relacionou à redução de morbidade ou mortali-
dade em adultos com SDRA, independentemente do grau de hipoxemia. Outra metanálise,
que incluiu estudos pediátricos e de adultos, mostrou resultados semelhantes. Dessa forma,
o uso rotineiro de NOi não pode ser recomendado. No entanto, o NOi pode ser considerado
como terapêutica adjuvante em pacientes com hipertensão pulmonar documentada, dis-
função grave de ventrículo direito, ou em casos de SDRA leve como terapêutica transitória
até a realização de ECMO.
Terapias adjuvantes
Sedação
Pacientes com SDRA devem receber mínima dose efetiva de sedação, a fim de promover
melhor tolerância à VM, otimizar a oferta e o consumo de oxigênio, e reduzir o trabalho
respiratório. A titulação dos sedativos deve ser realizada utilizando-se escalas validadas de dor
e sedação para monitorização (vide Capítulo Sedação e Analgesia). A monitorização, a titulação
e o desmame de sedação devem ser idealmente guiados por um protocolo estabelecido em
cada unidade e reavaliados diariamente, atentando-se para o desenvolvimento de tolerância e
aparecimento de sinais de abstinência.
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Camip
Bloqueio neuromuscular
Deve ser utilizado, na menor dose efetiva, apenas em casos em que o uso de sedativos é
insuficiente para garantir uma VM efetiva. O uso de sedativos não deve ser descontinuado
quando o bloqueador neuromuscular é indicado.
Nutrição
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Capítulo 11 | Síndrome do desconforto respiratório em Pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• O óxido nítrico inalatório e ECMO podem ser utilizados em pacientes selecionados com
SDRA grave. Não existem dados suficientes para recomendar o uso rotineiro de posição
prona, corticosteroides ou surfactante
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Síndrome do Desconforto
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido 12
Respiratório do
Capítulo 12
Recém-Nascido
Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Maurício Magalhães
Marcela Chaves de Mattos Pimenta Bosco Murício Magalhães
Marcela Chaves de Mattos Pimenta Bosco
Lúcia Cândida Soares de Paulo
Lùcia Cândida Soares de Paulo
Caso clínico
Perguntas
2. Após sua conduta inicial, o paciente, já na unidade de terapia intensiva (UTI) segue sa-
turando entre 80 e 85% com uma FiO2 40%, associada a um desconforto respiratório
discreto. Neste momento, qual sua conduta? Justifique.
3. Qual medida ainda no pré-natal poderia minimizar tal quadro nesse prematuro?
Corticoterapia antenatal.
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Camip
Introdução e fisiopatologia
242
242
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Dísticos
Prematuridade
Asfixia
Hipoxemia Acidose
Inativação de surfactante
Os principais fatores de risco e fatores protetores para SDR estão listados na Tabela 1.
Atualmente já se sabe que existe também uma predisposição genética.
Choque
Hipotermia
Diabetes materno
Gestação múltipla
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243
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Camip
A apneia pode refletir instabilidade térmica ou sepse, mas frequentemente é sinal de hipo-
xemia e falência respiratória. A ausculta pode ser normal ou discretamente diminuída asso-
ciada à crepitação fina bilateralmente.
A radiografia de tórax apresenta um padrão retículo-granular difuso tipo “vidro fosco” sime-
tricamente e broncogramas aéreos; quanto mais grave, maior a opacidade pulmonar (Figu-
ra 2). O pico da piora radiológica encontra-se entre 6 a 12 horas, sendo que, após a admi-
nistração de surfactante, o raio X pode ser normal ou assimétrico caso o mesmo tenha sido
administrado seletivamente. Nos prematuros, o raio X pode ser semelhante aos achados de
displasia broncopulmonar (DBP). A gasometria arterial evidencia hipoxemia, evoluindo com
hipercapnia e acidose metabólica.
244
244
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Existem outros exames que podem ser coletados do líquido amniótico como provas de
maturidade pulmonar, assim como a dosagem proteína A do surfactante (SP-A) sérica de
sangue de cordão, ambos desnecessários para o diagnóstico.
O diagnóstico diferencial baseando-se apenas pela clínica inclui: sepse neonatal, hiperten-
são pulmonar persistente, cardiopatias congênitas, hipoglicemia, distúrbios metabólicos e/
ou acidobásicos, hipo/hipertermia, anemia e policitemia, doenças neuromusculares, uso de
drogas, obstrução das vias aéreas superiores, inferiores, meta-hemoglobinemia e dor; con-
siderando-se também a radiografia de tórax, pode haver pneumonia e deficiência congênita
de surfactante.
Tratamento
A principal medida preventiva, quando não é possível evitar o parto prematuro, é cortico-
terapia antenatal para gestantes que evoluem em trabalho de parto prematuro (TPP), com
ou sem bolsa rota (BR) entre 24 e 34 semanas (alguns autores estendem até 36 semanas),
idealmente 24 horas e não mais do que 7 dias antes do parto; podem ser administrados até
2 ciclos. A contraindicação é corioaminionite. É também essencial evitar outros fatores as-
sociados ao agravamento do quadro pulmonar tais como asfixia e hipotermia, entre outros.
A VNI pode ser definida como qualquer forma de suporte respiratório que não é entregue via
um tubo endotraqueal. Inclui o modo de pressão contínua nas vias aérea nasal (CPAP nasal)
mais comumente utilizado, e vários tipos de ventilação que entregam dois níveis de pressão
fornecidos por prongs nasais ou máscaras, que são chamados ventilação com pressão po-
sitiva intermitente nasal sincronizada (SNIPPV) ou não (NIPPV). Mais recentemente surgiu o
cateter nasal de alto fluxo como uma alternativa de VNI.
245
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Camip
que seja aplicada em sala de parto pela máscara conectada ao ventilador mecânico manual
em T, com pressão expiratória positiva final (PEEP) de 4 a 6cmH2O e fluxo gasoso de 5 a
15L/minuto. Na presença de blender, deve-se ofertar a menor FiO2 possível para manter a
saturação do oxigênio entre 70 e 80% nos primeiros 5 minutos de vida, 80 a 90% entre 5 a
10 minutos de vida e entre 85 e 95% acima de 10 minutos de vida (conforme alvos de sa-
turação pré-ductal estabelecidos pelas Diretrizes de Reanimação Neonatal da Sociedade
Brasileira de 2013). Posteriormente, o nível de CPAP pode ser individualizado.
O cateter nasal de alto fluxo tornou-se uma alternativa de VNI viável em bebês prematuros
em alguns centros. Tal sistema possibilita o uso de fluxos elevados, aquecidos e umidifica-
dos, >1L/min, por meio de pequenas cânulas nasais. Existe um número crescente de es-
tudos, entretanto poucos são randomizados e controlados, o que dificulta a comprovação
e a segurança na utilização do sistema como forma alternativa à VNI convencional nessa
população de forma rotineira.
Aos RN que não tenham melhorado apenas com suporte ventilatório não invasivo está in-
dicado a reposição de surfactante, a qual deve ser a mais precoce possível, pois diminui
a mortalidade, incidência de DBP e pneumotórax. A primeira dose é de 100 ou 200mg/kg,
sendo as demais doses (geralmente até três doses, com intervalo de 6 a 8 horas) quando
necessárias, de apenas 100mg/kg; atualmente, pode ser administrado via sonda durante a
ventilação não invasiva, via cânula seguida de extubação ou de forma invasiva. Existem di-
versas apresentações, sendo mais comumente utilizado o porcino (CUROSURF®, 80mg/mL).
246
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A intubação fica restrita aos casos de falha da VNI ou em recém-nascidos instáveis. Embora
a ventilação mecânica convencional tenha contribuído decisivamente para a redução da
mortalidade dos recém-nascidos com SDR, os pulmões de um recém-nascido prematuro
de extremo baixo peso são estruturalmente e bioquimicamente imaturos, e vulneráveis a
lesões induzida pela ventilação com pressão positiva, estando esta associada a complica-
ções agudas e a sequelas a longo prazo. Por essas razões é importante evitar ou limitar a
duração do suporte respiratório invasivo por meio de uma ventilação mais protetora nessa
população. Existem diversos modos ventilatórios, sendo mais frequente o uso de ventila-
ção com pressão controlada assisto-controlada (AC) ou ventilação mandatória intermitente
sincronizada (SIMV), sendo preferível a segunda. Os parâmetros iniciais devem ser: pressão
inspiratória ajustada pela expansibilidade torácica e para alcançar o VC adequada entre de
4 a 6mL/kg de peso, PEEP de 4 a 8cmH2O dependendo da gravidade da doença, frequên-
cia respiratória (FR) 40rpm, tempo inspiratório (Ti) 0,25 a 0,40 segundos, pois a constante
de tempo da SDR é curta às custas da complacência diminuída, FiO2 idealmente a menor
possível para obter saturação de oxigênio entre 90 a 94%. Alguns estudos sugerem o uso
de ventilação com volume controlado na tentativa de minimizar o pico de pressão e, assim,
o barotrauma.
O uso de óxido nítrico inalatório fica reservado para os casos de hipoxemia grave associada
a hipertensão pulmonar.
247
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Camip
Prognóstico
Pode vir associada à hemorragia peri e intraventricular, assim como leucomalácia periven-
tricular nos prematuros extremos, em especial, menores de 26 semanas.
Uma outra complicação grave e rara é a hemorragia pulmonar, quadro que pode ser fatal em
prematuros com SDR e PCA com shunt da esquerda para direita e, entre outros mecanis-
mos associados, após diminuição brusca da pressão pulmonar secundária ao surfactante.
Resumo
• O CPAP nasal está indicado desde a sala de parto em recém-nascido <34 semanas es-
táveis, mas com desconforto respiratório e/ou saturação abaixo do alvo
• O surfactante exógeno deve ser administrado nos casos não responsivos apenas à VNI,
sendo possível a realização de forma minimamente invasiva
• A intubação/ventilação mecânica invasiva fica restrita aos casos refratários à VNI + surfac-
tante e/ou RN instáveis; optar por uma ventilação protetora, assim como desmame precoce
248
Capítulo 12 | Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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250
Síndrome de
Capítulo 13 | Síndrome de aspiração meconial 13
Capítulo 13
Aspiração Meconial
Síndrome de aspiração meconial
Maurício Magalhães
Marcela Chaves de Mattos Pimenta Bosco Maurício Magalhães
Marcela Chaves de Mattos Pimenta Bosco
Caso clínico
Perguntas
Quando o neonato com líquido amniótico meconial fluido ou espesso, logo após o nasci-
mento, não apresenta ritmo respiratório regular e/ou o tônus muscular flácido e/ou a frequ-
ência cardíaca (FC) <100bpm, deve-se realizar a retirada do mecônio residual da hipofarin-
ge e da traqueia sob visualização direta, sob fonte de calor radiante. A aspiração traqueal
propriamente dita é feita por meio da cânula traqueal conectada a um dispositivo para
aspiração de mecônio e ao aspirador a vácuo, com pressão máxima de 100 mmHg. Aspirar
o excesso de mecônio uma única vez; se o recém-nascido permanecer com FC <100bpm,
respiração irregular ou apneia, iniciar a ventilação com pressão positiva.
2. Após sua medida inicial, o paciente evoluiu com melhora do tônus e respiração regular,
saturando 92% em ar ambiente, mas com taquidispneia leve. Qual sua hipótese diagnóstica
e sua conduta inicial?
3. Já na UTI neonatal, esse paciente permanece apenas taquipneico moderado, mas com
cianose de extremidades − oxímetro de pulso em membro superior direito marcando 90% e
251
Capítulo 13 | Síndrome de aspiração meconial
Camip
do membro inferior direito, 82%; radiografia de tórax hipertransparente. Qual sua hipótese
diagnóstica e conduta inicial?
Apresentação e fisiopatologia
O mecônio é composto por líquido amniótico deglutido, células epiteliais, lanugo, muco, vér-
nix caseoso, ácidos biliares, minerais, 1-antitripsina e fosfolipase A2. Esse conteúdo intesti-
nal fetal passa para o líquido amniótico durante as primeiras 20 semanas de gestação, sendo
posteriormente descontinuado até 34 semanas, pois ocorre a inervação do esfíncter anal.
252
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Capítulo 13 | Síndrome de aspiração meconial
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Figura 1. Fisiopatologia da síndrome de aspiração meconial. Adaptado de: Chapter 74 - Neonatal Respiratory
Disorders. In: Fanaroff and Martin’s Neonatal-Perinatal Medicine. 10th ed. Chicago: Elsevier; 2015
Pós-maturidade*
Sexo masculino
Pequeno para a idade gestacional
Apgar <7
Oligoâmnio
Sofrimento fetal/compressão do cordão umbilical
Insuficiência placentária
Presença de líquido meconial espesso e/ou particulado
* Idade gestacional >41 semanas
253
253
Capítulo 13 | Síndrome de aspiração meconial
Camip
diminuídos e estertores rudes. Nos casos graves, há sinais de lesão cerebral por asfixia, como
convulsão e edema cerebral. Sinais de HP persistente também podem estar presentes.
A gasometria revela hipoxemia associada à alcalose respiratória, nos casos leves, ou acido-
se respiratória/ mista e hipercapnia, nos casos moderados e graves.
Tratamento
254
Capítulo 13 | Síndrome de aspiração meconial
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Todo recém-nascido com líquido amniótico meconial que evolui com desconforto respirató-
rio precoce deve ser monitorizado em UTI neonatal. De acordo com a necessidade, o supor-
te respiratório requerido pode ser desde oxigênio suplementar até intubação orotraqueal/
ventilação mecânica (VM). O uso do CPAP nasal, principalmente com pressões expiratórias
positivas finais (PEEP) >4-7cmH2O, ainda é controverso na SAM, pois pode aumentar a
retenção de ar e, assim, de ar extrapulmonar. Seu uso está indicado nos casos em que há
necessidade de oxigênio suplementar ≥40%. VM convencional, utilizada em até 30% dos
casos, está indicada nos casos em que há persistência do desconforto respiratório, com
hipoxemia e hipercapnia, baseada em tempo expiratório prolongado e em PEEP baixa para
diminuir o aprisionamento de gás. A ventilação de alta frequência a jato ou oscilatória (VAF)
pode ser empregada nos casos refratários à ventilação convencional e, especialmente, na-
queles com extravasamento de ar. Ambos os suportes ventilatórios necessitam habitual-
mente de sedação/analgesia e, eventualmente, de paralisia.
O uso de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), nos centros onde se encontra
disponível, é indicada no tratamento de resgate da SAM grave refratária às demais medidas,
em especial quando IO >40.
255
Capítulo 13 | Síndrome de aspiração meconial
Camip
Prognóstico
O prognóstico final dos recém-nascidos com SAM depende não somente da doença pul-
monar, mas também do insulto asfixiante associado e o tratamento requerido para tal. Vem
acompanhada de alta morbimortalidade neonatal, com risco elevado de asfixia perinatal,
síndromes de escape de ar e pneumonia. Na evolução, existe risco elevado de hiperreativi-
dade brônquica/ asma nos casos graves.
Resumo
Bibliografia
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256
256
Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Hupertensão Pulmonar 14
Capítulo 14Persistente Neonatal
Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Heiki Mori
Amanda Liberati Cardoso
Heiki Mori
Amanda Liberati Cardoso
Relato de caso
Hipóteses diagnósticas: recém-nascido termo/ adequado para IG. Filho de mãe diabética
gestacional insulino-dependente.
Apresentou queda da saturação até 90% durante realização do exame de New Ballard, ta-
quipneia e cianose labial, com boa resposta à oxigenioterapia, sendo então encaminhado à
unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal para observação clínica mais rigorosa. Sem so-
pros audíveis até o momento e ausculta pulmonar sem ruídos adventícios, pulsos presentes
e simétricos nos quatro membros.
Admitido na UTI com 14 horas de vida, frequência respiratória (FR) de 96irpm (inspirações
respiratórias por minuto), colhida triagem infecciosa (hemograma, reação em cadeia da poli-
merase – PCR e culturas), iniciado jejum e soro de manutenção e solicitada radiografia tórax.
Não colhido liquor (LCR), pois paciente encontrava-se lábil à manipulação, apresentando
quedas importantes da saturação. Radiografia com área cardíaca aparentemente normal e
mediastino discretamente alargado, exames laboratoriais não indicativos de processo in-
feccioso (escore hematológico de Rodwell de 1). Paciente manteve taquipneia, porém sem
sinais de desconforto respiratório, com saturação >95% com oxigênio a 3L/minuto.
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
Com cerca de 24 horas de vida, foi auscultado sopro cardíaco 2/6+ em bordo esternal es-
querdo médio (BEEM) e hiperfonese da segunda bulha cardíaca. Como paciente mantinha
taquipneia importante (FR >60irpm) e necessidade de oxigênio, optou-se por iniciar conti-
nuous positive airway pressure (CPAP), com pressão expiratória positiva final (PEEP) de 5 e
fração inspirada de oxigênio (FiO2) de 40%, e foi solicitada nova radiografia de tórax, a qual
apresentou infiltrado em ambas as bases. Evoluiu com saturação persistentemente baixa
(em torno de 60%), apesar do aumento da FiO2, optando-se, então, pela intubação orotra-
queal (IOT). Foi iniciada sedação contínua com midazolam e fentanil, e o recém-nascido
evoluiu com queda da pressão arterial, necessitando de droga vasoativa (dopamina 5mcg/
kg/minuto) e sendo iniciado também óxido nítrico inalatório (NOi) na dose de 20ppm. Foram
solicitados: avaliação da cardiopediatria, novo raio X de tórax, eletrocardiograma (ECG),
ecocardiograma e nova triagem infecciosa. Os parâmetros da ventilação mecânica foram
pressão inspiratória (Pinsp) de 35, PEEP de 6, FR de 46, FiO2 100% e tempo inspiratório (Ti)
0,45 segundos.
Pela cardiopediatria, tínhamos paciente com 36 horas de vida, com sopro sistólico 2/6+ em
BEEM, pulsos presentes e simétricos nos quatro membros. ECG com eixo desviado para
direita e sobrecarga de ventrículo direito (VD), raio X de tórax com área cardíaca normal.
Ecocardiograma com dilatação moderada de câmaras direitas, forame oval pérvio (FOP)
de 2,5mm com shunt esquerda-direita, canal arterial (CA) de 1,2mm, gradiente Ao-TP de
10mmHg, insuficiência tricúspide de grau moderado com estimativa de pressão sistólica do
ventrículo direito (PSVD) de 65mmHg. Aorta ascendente de 7,7mm, descendente de 6mm
e ístmica de 4,2mm. Sugeriu-se repetir exame com 48 a 72 horas de vida, manter NOi e
manter controle de pressão arterial em membros superiores e inferiores.
Paciente evoluiu com piora do quadro clínico (um pico febril de 38,3°C), laboratorial (hemo-
grama com desvio à esquerda, com escore de Rodwell de 3) e radiológico (infiltrado difuso).
Foi iniciada antibioticoterapia com penicilina e gentamicina, aumentada dose da dopamina
para 10mcg/kg/minuto, associada dobutamina e realizada uma dose de surfactante. Não
foi coletado LCR pois paciente mantinha-se lábil à manipulação. Realizado ultrassonografia
transfontanela: sem alterações.
Por volta do 5º dia de vida, iniciou melhora clínica e laboratorial progressiva (terceiro dia de
antibioticoterapia e de uso de NOi). Posteriormente, evoluiu com melhora progressiva do
quadro, recebendo alta do setor.
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258
Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Resumo
A HPPN é uma situação na qual a resistência vascular pulmonar (RVP) permanece anormal-
mente elevada após o nascimento, resultando em um shunt direita-esquerda. Para poder-
mos compreender melhor, vamos relembrar alguns fatos referentes à circulação pré-natal
(fetal) e pós-natal (adulta) (Figura 1).
Figura 1. Circulação fetal (esquerda) e neonatal (direita). Fonte: Persaud M. Embriologia clínica.
Traduzida da 7ª edição americana. Local: Elsevier;
259
259
Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
Porém, durante o nascimento, temos um período em que ocorre uma circulação de transi-
ção, com características tanto da circulação fetal quanto da adulta. A maioria das modifica-
ções ocorre ao nascimento, quando o órgão de troca gasosa modifica-se da placenta para
os pulmões. Sob circunstâncias normais, ocorre uma queda progressiva da RVP, acompa-
nhada de aumento imediato da resistência vascular sistêmica (RVS), que, por sua vez, ocor-
re após o nascimento. A queda dessa relação RVP/RVS resulta em um aumento contínuo
de fluxo sanguíneo pulmonar.
Esse processo de transição depende de diversos fatores. Alguns deles estão relacionados
ao aumento da RVS, tais como retirada da placenta, aumento de catecolaminas associado
ao nascimento e ambiente extrauterino relativamente frio. Fatores relacionados à queda da
RVP são: expansão pulmonar, estabelecimento de ventilação e oxigenação alveolar ade-
quadas e eliminação adequada do líquido amniótico intrapulmonar.
Desse modo, condições que interfiram na queda da relação RVP/RVS promovem persistên-
cia do padrão transicional, resultando em HPPN.
São considerados três os tipos principais de anormalidades que constituem a base da do-
ença: subdesenvolvimento, malformação e má adaptação pulmonar.
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Condições que promovem perfusão excessiva do pulmão durante o período fetal também
podem predispor a malformações. Elas incluem fechamento prematuro do CA (com anti-
-inflamatórios não esteroidais) ou do FO, alta resistência vascular placentária e drenagem
pulmonar anômala. Por fim, na má adaptação, o leito vascular é desenvolvido normalmente,
porém, condições perinatais adversas provocam uma vasocontrição ativa, interferindo na
queda normal da RVP. São elas: depressão perinatal, doenças do parênquima pulmonar e
infecções bacterianas, especialmente as causadas pelo Streptococcus do grupo B, pois
seus componentes fosfolipídicos promovem uma ativação de mediadores vasculares.
A HPPN ocorre geralmente em recém-nascidos a termo, mas também pode ocorrer naque-
les pré-termo tardios (≥34 semanas) e pós-termo (≥42 semanas). O diagnóstico é raro em
recém-nascidos com muito baixo peso (<1.500g). A doença em questão tem relação tanto
com características pré-natais quanto neonatais.
Achados pré-natais associados com HPPN são sinais de asfixia intrauterina e perinatal,
como anomalias cardíacas e presença de mecônio. Uso de antidepressivos inibidores da
recaptação de serotonina (IRSS) durante a segunda metade da gestação tem sido associa-
do a um risco até seis vezes maior de HPPN. Apesar de ser rara em recém-nascidos com
muito baixo peso, a ruptura prematura de membranas ovulares (RPMO) parece ser uma
característica em comum entre HPPN e recém-nascidos com muito baixo peso.
261
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
Manifestações clínicas
Cianose
Métodos diagnósticos
Para nos auxiliar no diagnóstico, temos disponível a oximetria de pulso como método de
triagem, além da gasometria arterial, da radiografia de tórax, do ECG e do ecocardiograma,
sendo este considerado o padrão-ouro.
Pode apresentar uma diferença >10% entre amostras pré (membro superior direito) e pós-
-ductal (membros inferiores) resultante do shunt direita-esquerda por meio do CA. Impor-
tante: a ausência de gradiente não exclui o diagnóstico de HPPN.
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Gasometria arterial
Radiografia de tórax
Eletrocardiograma
Ecocardiograma
Mostra anatomia cardíaca normal com sinais de hipertensão pulmonar. Ao estudo Doppler,
é possível verificar shunt direita-esquerda por meio do FO ou CA.
Diagnósticos diferenciais
Cardiopatias cianóticas
Sepse
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
Como tratar?
Na maioria das vezes em que calculamos o IO, o paciente encontra-se recebendo uma FiO2
de 100% e sob ventilação mecânica. Assim, o índice pode ser facilmente calculado com a
pressão média de via aérea (MAP) e a PaO2. Um índice elevado (≥25) indica falência respira-
tória grave e esse paciente deve ser encaminhado a um centro de referência que disponha
de ventilação de alta frequência, NOi e ECMO. Quando o IO é <25, apenas o suporte inten-
sivo convencional deve ser suficiente.
Oxigênio
Potente vasodilatador pulmonar, que deve ser administrado inicialmente com FiO2 de 100%,
na tentativa de reverter a vasoconstrição pulmonar. No entanto, como a administração de
elevadas concentrações de oxigênio, mesmo por um curto período, podem causar lesões
pulmonares, e como também não há vantagem em manter-se uma PaO2 elevada, a con-
centração de oxigênio deve ser ajustada para manter uma PaO2 alvo entre 50 e 90mmHg
(saturação >90%). Apesar de incomum, a hiperóxia deve ser evitada.
Se não for possível manter a saturação >90%, outras medidas, como, manter concentra-
ções de hemoglobina entre 15 e 16g/dL e otimizar a função circulatória, devem ser toma-
das, a fim de manter uma oxigenação tecidual adequada. Caso essas medidas não sejam
suficientes, intervenções mais agressivas devem ser tomadas (NOi ou ECMO).
Ventilação mecânica
Acidose e hipercarbia aumentam a RVP. Por conta disso, tentamos manter inicialmente a
PaCO2 entre 40 e 45mmHg. Conforme temos uma melhora da ventilação e da oxigenação
do paciente, podemos permitir uma variação entre 40 e 50mmHg. A estratégia ventilatória
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Sedação
Suporte cardiocirculatório
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
Correção de acidose
Ainda não existem evidências quanto aos benefícios de terapias alcalinizantes em neonatos.
Hiperventilação e/ou infusão de bicarbonato de sódio para manter uma alcalose controlada
não são indicadas, pois uma alcalose persistente está associada a um fluxo sanguíneo ce-
rebral reduzido e dificuldade de liberação de oxigênio pela hemoglobina. Entretanto, a aci-
dose aumenta a RVP e, portanto, a PaCO2 deve ser mantida entre 40 e 50mmHg. Tentativas
de melhorar a acidose metabólica com correções cuidadosas do base excess, se presente,
podem ser consideradas. Bicarbonato de sódio ou acetato de sódio podem ser adicionados
ao soro de manutenção numa dose de 2 a 3mEq/kg/dia.
Surfactante
Eficácia
Mecanismo de ação
Toxicidade
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O uso nos pacientes portadores de hérnia diafragmática congênita não se mostrou bené-
fico. Contudo, devido à melhora da oxigenação em metade dos pacientes testados, o uso
de NOi nesses casos pode ser útil na estabilização e no transporte desses pacientes, e no
início da ECMO.
Recém-nascidos pré-termo
Não há orientação para o uso rotineiro de NOi nesses pacientes. Nesses casos, a insufici-
ência respiratória é um resultado de uma doença pulmonar primária e um desbalanço entre
ventilação e perfusão, devido à deficiência de surfactante. No entanto, HPPN pode ocorrer
em uma pequena parcela de recém-nascidos com muito baixo peso (<1500g), os quais
podem se beneficiar de NOi.
Abordagem
Aproximadamente 40% dos pacientes com HPPN grave mantêm-se hipóxicos, apesar do supor-
te ventilatório máximo ou da administração de NOi. Nesses casos, a ECMO deve ser considerada.
O objetivo do tratamento é manter uma oxigenação tecidual adequada e evitar lesões pulmonares
decorrentes da ventilação, enquanto aguardamos a queda da RVP e a resolução do quadro.
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
A maioria dos pacientes consegue ser desmamada da ECMO em 7 dias, contudo, o perío-
do necessário pode estender-se até 3 semanas nos casos mais graves. Alguns pacientes
podem evoluir com displasia alvéolo-capilar ou hipoplasia pulmonar.
Embora NOi e ECMO tenham melhorado o desfecho de muitas crianças, ainda existem as
que não respondem a essas intervenções. Além disso, são tratamentos caros e que não
estão disponíveis em todos os serviços brasileiros. Por isso devemos considerar alguns
outros vasodilatadores.
Sildenafil
Os próximos agentes descritos a seguir têm sido reportados como alternativa ao tratamen-
to da HPPN, porém não podem ser recomendados devido à escassez de estudos compro-
vando sua eficácia e segurança.
É uma intervenção possível em pacientes que não responderam ao NOi, porém, não é
mais utilizada.
Milrinone
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Bosentana
Pacientes sobreviventes de HPPN grave e/ou tratados com ECMO têm risco aumentado
de desenvolver atraso neuropsicomotor e défice auditivo e, desse modo, devem ter seu
desenvolvimento acompanhado de perto durante toda infância, com intervalos de 6 a 12
meses. Testes auditivos também são recomendados na alta do hospital e com 18 a 24
meses de idade corrigida. O tratamento com NOi aparentemente não aumenta o risco de
resultados adversos.
A HPPN é uma situação na qual a RVP permanece anormalmente elevada após o nascimen-
to, resultando em um shunt direita-esquerda e, assim, levando à hipoxemia, a qual pode não
responder ao suporte ventilatório convencional.
A HPPN pode ser associada com fatores de risco pré-natais (anormalidades cardíacas e
presença de líquido meconial) e com uma variedade de desordens respiratórias primárias,
tais como SAM, pneumonia, SDR, hérnia diafragmática congênita e hipoplasia pulmonar.
Os testes iniciais incluem triagem com oximetria de pulso, que pode demonstrar uma dife-
rença significante (>10%) entre as saturações venosas pré e pós-ductal, e radiografia de tó-
rax, que é tipicamente normal em pacientes sem outra doença pulmonar associada e ECG.
269
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Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Camip
• O oxigênio deve ser administrado inicialmente com uma concentração de 100%, na ten-
tativa de reverter a vasoconstrição pulmonar, uma vez que é um potente vasodilatador
pulmonar (Nível de evidência: 1A)
• Subsequentemente, a PaO2 deve ser mantida entre 50 a 90mmHg (saturação >90%)
para minimizar a toxicidade pulmonar do oxigênio. IO é usado para avaliar a gravidade
da hipoxemia e também para determinar se intervenções adicionais são necessárias
(NOi e ECMO)
• Ventilação mecânica deve ser ajustada para manter PaCO2 entre 40 e 45mmHg inicial-
mente, pois a hipercarbia e a acidose aumentam a RVP
• Manutenção de pressão arterial sistêmica adequada, fornecendo volume intravascular
suficiente e uso de inotrópicos
• Nos recém-nascidos termo e pré-termo tardios (≥34 semanas) com HPPN grave, defini-
da como IO ≥25, é recomendado que o NOi seja administrado em uma dose de 20ppm
(Nível de evidência: 1B)
• Como os dados são insuficientes para demonstrar a eficácia e a segurança, não é reco-
mendado o uso enteral de sildenafil, se NOi estiver disponível (Nível de evidência: 1C).
Pode e deve ser considerado em locais com recursos limitados
• Em pacientes com IO ≥40, apesar do uso de NOi e suporte ventilatório máximo, está
recomendado o uso de ECMO (Nível de evidência: 1C)
• Sobreviventes de HPPN grave e/ou ECMO têm risco aumentado de desenvolver atrasos
no desenvolvimento, alterações motoras e défice auditivo e, portanto, devem ter seu
desenvolvimento acompanhado rigorosamente
270
270
Capítulo 14 | Hipertensão pulmonar persistente neonatal
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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271
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Camip
272
Asma Aguda Grave
Capítulo 15 | Asma aguda grave
15
Capítulo 15
Asma aguda grave
História atual
MVJG, 5 anos, pesando 18 kg, procedente de Agudos (SP), deu entrada na unidade de te-
rapia intensiva (UTI) pediátrica de um hospital em crise de broncoespasmo, com história de
tosse e cansaço há 1 dia. Negava febre. Foram realizados inalações e corticoide endoveno-
so no pronto-socorro infantil, porém sem melhora. Foi solicitada vaga de UTI.
Antecedentes
Tia materna com asma; morava com os avós maternos e a mãe, sendo avô e mãe tabagistas.
Possuía cães e gatos no domicílio, e fazia uso frequente de Berotec em inalações em casa.
Exame físico
À admissão na UTI, menor estava hidratado, descorado +/4, acianótico, com desconforto
respiratório moderado, tiragem subcostal, sem outras tiragens e afebril.
Aparelho respiratório: Murmúrio Vesicular presente e simétrico com sibilos difusos; frequ-
ência respiratória (FR) 48irpm, saturação de oxigênio (SatO2) de 90% em ar ambiente e de
95% com cateter de oxigênio.
Aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular em dois tempos, bulhas rítmicas normofo-
néticas, sem sopros; frequência cardíaca (FC) 162bpm e pressão arterial (PA) 108x86mmHg.
Abdome sem alterações.
273
Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
Hipótese diagnóstica
Conduta
A conduta adotada foi a seguinte: (1) cateter nasal de oxigênio 2L; (2) jejum + soro de ma-
nutenção de oferta hídrica (OH) 100%; (3) metilprednisolona 1mg/kg/dose a cada 6 horas;
(4) inalação contínua com fenoterol (2 gotas/kg); (5) sedação com midazolam; (6) fisioterapia
respiratória; (7) coletados exames e solicitado raio X tórax.
Após admissão, paciente evoluiu sem melhora do quadro com a conduta inicial, mantendo
escore Wood 5, feito sulfato de magnésio 50mg/kg e iniciada terbutalina endovenosa (EV)
na dose de 0,5mcg/kg/min após ataque de 10mcg/kg, que foi titulada até 4mcg/kg/minuto.
Em exames admissionais, gasometria arterial: pH de 7,33, pressão parcial de gás carbônico
(PaCO2) de 42,4, pressão parcial de oxigênio (PaO2) de 111,6 SatO2 de 97,8, Bic de 21,9,
potássio (K) 3,5. Hemograma: hemoglobina (Hb) de 12,1, hematócrito (Hto) de 34,6; leucó-
citos 13.440 (N=89,5, L=6,3 e M=4,2). Plaquetas 407.000.
Realizado raio X tórax (Figura 1), que evidenciou hipotransparência não homogênea no
pulmão esquerdo. Iniciada antibioticoterapia com amoxacilina e clavulanato de potássio.
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Paciente não respondeu à terapêutica administrada e evoluiu com piora do padrão respi-
ratório, febre, batimento de aletas nasais, tiragem subcostal e intercostal pronunciadas e
expiração prolongada. Foi colocado em ventilação mecânica na modalidade não invasiva
(VNI), sem sucesso, optado então por intubação orotraqueal. O procedimento foi realizado
sem intercorrências, paciente mantido com os seguintes parâmetros ventilatórios: A/C PIP
18, pressão positiva expiratória final (PEEP) de 6, FR de 25irpm, fração inspirada de oxigê-
nio (FiO2) 60%, Ti de 0,8, Rel I:E 1:2, trocado antibiótico para cefepime e iniciada sedação
contínua com midazolam e fentanil.
No segundo dia de internação ,paciente mantinha sibilância ao exame físico, com crepita-
ções bilaterais e SatO2 99% em ventilação mecânica invasiva (VMI) A/C-P.
Pressão controlada (PC) de 24, PEEP de 6, tempo inspiratório (TI) de 0,8 segundos, volume
corrente (VC) de 6mL/kg, FiO2 de 0,5 e FR de 25irpm. Modificada sedação para midazolam
e cetamina.
Realizado raio X de tórax após intubação orotraqueal (IOT): inalterado (Figura 2).
No terceiro dia de internação, apresentou vários picos febris, taquicardia, FC 180bpm, SatO2
95-98%, ausculta respiratória com crepitações finas difusas, sem sibilância, sem extrassís-
toles. Recebendo terbutalina 2mcg/kg/minuto, evoluiu com broncoespasmo e retenção de
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
No quarto dia de internação evoluiu com melhora progressiva, permitindo suspensão da ter-
butalina. Paciente clinicamente estável, sem sibilância. Em controle de gasometria arterial:
pH de 7,41, PaCO2 de 53,3, PaO2 de 77, SatO2 de 95,3, Bic de 33,4, gás carbônico expirado
(EtCO2) médio de 44.
Mantido em cateter de oxigênio, inalação com fenoterol a cada 4 horas. Realizado desma-
me progressivo das medicações sem piora e término do antibiótico após 8 dias.
Alta da UTI pediátrica no nono dia de internação.
Perguntas
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Revisão da literatura
Definição
Asma é uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias caracterizada por obstru-
ção reversível dos brônquios decorrente de hiper-reatividade. Denomina-se crise de asma
aguda severa ou crise de asma grave aquela que não responde à terapia convencional com
oxigênio, broncodilatador inalatório e corticosteroides sistêmicos e que evolui para falência
respiratória progressiva.
Essa patologia é uma causa comum de admissão em UTI pediátrica, e crianças com qual-
quer nível de gravidade de asma podem apresentar exacerbações agudas severas. Em re-
latos, um terço das crianças que foram a óbito por exacerbação de asma tinha doença leve
e não foram classificadas como risco alto por nenhum critério. O imediato reconhecimento
dessa situação pelo profissional de saúde e o início precoce da terapêutica adequada con-
tribuem para uma menor morbimortalidade.
Fatores de risco
Os fatores de risco para a exacerbação da asma são: não aderência ao tratamento profi-
lático ou resposta insuficiente ao mesmo; falta da capacidade da família em reconhecer
a severidade da crise; idade menor de 3 anos pela via aérea de pequeno calibre; epi-
sódios anteriores graves de broncoespasmo; alergia alimentar como desencadeante de
broncoespasmo; baixo nível socioeconômico e não acesso aos tratamentos disponíveis;
pacientes portadores de doenças psiquiátricas crônicas, como depressão ou doenças
pulmonares crônicas.
Fisiopatologia
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
A obstrução pelo muco é a base das anormalidades nas trocas gasosas e gera áreas que
são perfundidas e não ventiladas, o que se denomina shunt intrapulmonar. Em outras áreas,
o aprisionamento de ar leva à hiperdistensão alveolar e ao colapso de vasos intrapulmo-
nares, gerando áreas ventiladas e não perfundidas, o que é denominado espaço morto. O
padrão alterado de ventilação e perfusão leva à hipoxemia e à acidose, com níveis variáveis
de gás carbônico.
Aspectos clínicos
Os principais sintomas da asma severa são tosse, sibilância, dispneia e hipoxemia, que
pode ser evidenciada clinicamente por cianose. Os pacientes comumente são sudoreicos
em repouso, têm dificuldade em deitar em supino, e em falar frases completas.
Os casos mais graves têm disfunção cardiovascular; a sonolência e a confusão mental são
sinais de fadiga respiratória iminente. O estado de consciência está diretamente relacionado
ao grau de hipoxemia (Quadro 1). Os sibilos são predominantemente expiratórios pela com-
pressão dinâmica das vias aéreas inferiores, mas pode ser bifásico nas crises mais severas.
O chiado pulmonar assimétrico deve alertar para atelectasias, pneumotórax ou corpo estranho.
O tórax silencioso devido ao fluxo de ar limitado é um sinal de falência respiratória iminente.
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Cianose, sudorese
Gerais Sem alterações Sem alterações
e exaustão
Frases curtas e
Fala Frases incompletas Frases completas
monosilábicas
Retrações acentuadas
Musculatura Retrações subcostais Retrações intercostais
ou em declínio
acessória acentuadas leves ou ausentes
(exaustão)
PFE % melhor
<30% 30-50% >50%
ou previsto
PaCO2 ar ambiente
Fonte: Piva JP, Canani SF, Pitrez PMC, Stein RT. Asma aguda grave na criança. Jornal de Pediatria.
1998;74(Supl1):S59-68. Xiao FW, Hong JG. Management of severe asthma exacerbations in children;
World J Pediatr. 2011;7(4):293-301.
* A presença de vários parâmetros, mas não necessariamente de todos, indica a gravidade da crise;
** FR normal em crianças: <2 meses: <60; 2 a 11 meses: <50; 1 a 5 anos: <40; 6 a 8 anos: <30; >8 anos
= adultos. MV: murmúrio vesicular, FR: frequência respiratória, FC: frequência cardíaca, PFE: pico de
fluxo expiratório; SatO2: saturação de oxigênio;, PaO2: pressão parcial de oxigênio; PaCO2: pressão
parcial de gás carbônico.
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
ção prolongada. Para aquelas crianças que colaboram, a medida de pico de fluxo expira-
tório (PEF) é um método confiável. Um ataque severo tem PEF >33% do ideal para idade,
sexo e peso. PEF <50% tem correlação significativa com uso da musculatura acessória na
crise severa. O pulso paradoxal >10mmHg é outro achado clínico correlacionado com se-
vera obstrução de via aérea e fadiga de musculatura respiratória, porém existem trabalhos
não valorizam essa correlação.
Nota clínica
Característica
0 1 2
<70 em oxigênio
PaO2 OU 70-100 em ar <70 em ar
a 40%
Cianose
Não Em ar ambiente Em oxigênio a 40%
Uso de musculatura
Não Moderada Máxima
acessória
Deprimido
Sensório Normal Coma
ou agitado
Fonte: Paes RFC, Percebo A, Naspitz CK, Solé D. Escores clínicos de gravidade na avaliação da
exacerbação aguda de asma na criança. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia. 2002;25(1):26-40.
PaO2: pressão parcial de oxigênio
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O leucograma tem pouco valor por ser a leucocitose um achado comum em razão do uso
de corticoides, pelo estresse da crise grave e devido ao uso de adrenérgicos. O raio X de
tórax apresenta pouca correlação com a gravidade da crise, mas pode excluir outros diag-
nósticos, como corpo estranho, e auxiliar na identificação de complicações bacterianas,
pneumotórax ou atelectasias.
Tratamento
Oxigênio
Beta2-agonistas
São os agentes de primeira escolha para alívio rápido da broncoconstrição. Ativam recep-
tores beta2-adrenérgicos, levando a aumento das concentrações de monofosfato ciclíco
de adenosina (AMPc), que inibe a liberação de cálcio intracelular e produz relaxamento da
musculatura lisa brônquica. O uso pode ser contínuo ou intermitente. Na primeira hora, po-
dem ser usados a cada 20 minutos, por três vezes; depois, a cada 1 a 4 horas, de acordo
com a resposta clínica. Os mais usados são salbutamol e fenoterol. Para uso intermitente,
as doses recomendadas de salbutamol são 0,15mg/kg/dose, com máximo de 2,5 a 5mg,
em função da idade e, no uso contínuo, 0,5mg/kg/hora. O uso de aerossol com espaçador
também é possível nas doses de 100 a 400mcg de salbutamol (1 a 4 puffs a cada dose). A
dose recomendada de fenoterol é 0,05 a 0,15mg/kg/dose a cada inalação com máximo de
10 gotas e, para uso contínuo, 0,5mg/kg/h, com mínimo de 10mg e máximo de 20mg/h.
É recomendado diluir em 10mL de soro fisiológico e inalar com fluxo de oxigênio de 5L/
minuto em 1 hora. As reações adversas mais frequentes dos agonistas beta2-adrenérgicos
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
foram taquicardia, tremor e náuseas; estes também podem acarretar aumento do intervalo
QTc no eletrocardiograma, devido à hipocalemia, além de hipotensão e arritmias.
O uso do broncodilatador por via venosa está indicado para pacientes que não respondem
a medicação inalatória. Podem ser usados a terbutalina, com dose de ataque de 10mcg/
kg em 10 minuto, seguida de infusão de 0,1 a 10 mcg/kg/minuto com aumentos de 0,1 a
0,2mcg/kg/minuto a cada 20 a 30 minutos. O uso subcutâneo é possível na ausência de
acesso venoso na dose de 0,25mg, que pode ser repetido a cada 30 a 60minuto se não hou-
ver resposta. Extrema cautela deve ser usada no paciente em risco de isquemia miocárdica,
pois a taquicardia aumenta a demanda de oxigênio pelo miocárdio. Portanto, fluidos são
necessários para equilibrar a ocorrência de taquicardia associada ao uso desses agentes.
Epinefrina
Corticoesteroides
Anticolinérgicos
Agem pela inibição de receptores muscarínicos, bloqueiam a interação destes com a ace-
tilcolina e reduzem o monofosfato cíclico de guanosina (GMPc) intracelular, que impede a
broncoconstrição. Evidências sugerem que são importantes agentes quando associados
aos beta2-agonistas inalatórios. A dose recomendada de brometo de ipatrópio é 250mcg em
crianças <20kg e 500mcg se >20kg e o intervalo de doses é o mesmo dos beta2-agonistas.
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Sulfato de magnésio
É recomendado nas exacerbações de asma aguda. Uma dose inicial reduz o risco de intu-
bação nos pacientes com pouca resposta à medicação inalatória inicial. Inibe a recaptação
de cálcio e relaxa a musculatura lisa da via aérea. A dose recomendada é 25 a 75mg/kg/
dose (máximo 2g/dia) em 20 minutos com vigilância constante pelo risco de hipotensão.
Pode ser usado por 1 a 3 dias.
Xantinas
Agem pela inibição da isoenzima fosfodiesterase, que reduz a degradação celular do AMPc.
Produzem aumento da contratilidade diafragmática, estimulação de catecolaminas endó-
genas, antagonismo as prostraglandinas e inibição de atividade neuronal aferente. Teofilina
deve ser usada em crianças com exacerbação de asma severa com iminente falência res-
piratória ou para aquelas em ventilação mecânica e já recebendo broncodilatadores e anti-
-inflamatórios. A aminofilina também é uma alternativa em pacientes graves sem resposta
aos beta2-agonistas e aos corticoides. A dose da teofilina é 80% da dose da aminofilina.
Uma dose de ataque de 5mg/kg de teofilina ou 6mg/kg de aminofilina em 20 minutos é
necessária para uma concentração terapêutica. Após a dose de ataque, deve ser mantida
uma infusão contínua nas doses adequadas a idade (<6 meses: 0,5mg/kg/hora; 6 meses a
1 ano: 0,85 a 1mg/kg/hora; 1 a 9 anos: 1mg/kg/hora; e em >9 anos: 0,75mg/kg/hora). O uso
de doses intermitentes de aminofilina a cada 6 a 8 hora é uma opção terapêutica. Recomen-
da-se monitorização do nível sérico das xantinas visando a valores entre 10 a 20mcg/mL e
deve ser medido diariamente após a resposta terapêutica ser atingida ou se houver sinais
de toxicidade (taquicardia, ansiedade, vômitos, arritmias, vômitos e convulsões).
Heliox®
É um gás de densidade baixa que, ao ser misturado ao oxigênio, na proporção de 70:30%
Heliox®-oxigênio ou 70:21%, reduz o fluxo turbulento de ar na via aérea, produz um fluxo
laminar e, em consequência, reduz a resistência ao fluxo aéreo. A medicação inalatória na
crise aguda pode ser administrada com Heliox® nos ataques severos de asma. Poucas evi-
dências existem sobre o uso da mistura Heliox® – oxigênio em crianças. Em pacientes em
ventilação mecânica, possibilita redução das pressões de pico, por permitir a descompres-
são dos alvéolos durante a expiração e, assim, reduz a capacidade residual funcional (CRF)
do paciente com asma severa.
Cetamina
É um derivado da penciclidina solúvel em água e biodisponível para uso intramuscular e endo-
venoso. Estudos já avaliaram sua eficácia de ação na crise de asma severa. Sua ação leva à
alteração da mecânica respiratória e ao relaxamento da via aérea. Atua em receptores mediado-
res do broncoespasmo e na cascata da inflamação aguda. Aumenta os níveis de catecolaminas
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
A infusão contínua da cetamina é indicada na VMI e VNI. Tem efeitos benéficos com aumen-
to das trocas gasosas e da complacência torácica. Outros mecanismos de ação também
foram propostos e estudos mostram que reduz a necessidade de ventilação mecânica no
broncoespasmo severo. Ainda são necessárias mais avaliações para estabelecer sua eficá-
cia como terapêutica, mas possui ação broncodilatadora potente e pode ser considerada
uma medicação de resgate no status asmático refratário. As doses variam de 0,1 a 2mg/kg
de ataque e infusão contínua variando de 0,15 a 2,5mg/kg/h.
Bloqueadores neuromusculares
Podem ser usados como adjunto na intubação e para prevenir taquipnéia e desincronia no
caso de ventilação invasiva contínua. Seu uso deve ser descontinuado rapidamente pelo
risco de miopatia do paciente grave induzida por esses agentes. Abaixo, o quadro de resu-
mo das medicações (Quadro 3) e fluxograma do manejo da asma (Figura 3).
Fonte: Xiao FW, Hong JG. Management of severe asthma exacerbations in children; World J Pediatr.
2011;7(4):293-301. s/n: ; VO: via oral; EV: endovenos
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A intubação deve ser realizada com cautela nos pacientes em asma severa. A manipulação
da via aérea nesses pacientes pode acarretar exagerada resposta brônquica e agravar a
obstrução e a hipecarpnia. Um acesso venoso adequado, monitorização não invasiva, e
sedação devem ser providenciados antes do procedimento.
A decisão de intubar um paciente com asma aguda severa é baseada em achados clínicos
(respiração rápida e superficial, sonolência) e em alterações fisiológicas (hipercapnia e hi-
poxemia). A hipercapnia sozinha não é indicação para intubação, entretanto é mandatória
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
O uso da sequência rápida de intubação (SRI) é a estratégia adequada para acesso seguro
à via aérea com as maiores possibilidades de sucesso. Uma adequada pré-oxigenação nos
pacientes em exacerbações graves de asma pode ser difícil, devido ao alto volume residual
e à CRF. Pode ocorrer tendência de rápida desaturação na SRI nesses pacientes. Devem
ser usadas cânulas com cuff em todas as idades em casos de intubação por crise de asma,
Ventilação mecânica
É um método de liberação de pressão contínua na via aérea por meio de modo contínuo
(CPAP) ou em respiração mecânica assistida (BIPAP). Indicado para pacientes que mantêm
aumento do esforço respiratório após uso de broncodilatador endovenoso ou enquanto se
aguarda a máxima eficácia terapêutica da farmacoterapia.
Ajuda a evitar a necessidade de intubação. Em estudos, a VNI reduziu a FR, o uso de mus-
culatura acessória e o desconforto respiratório em crianças.
Seu uso está indicado quando o paciente permanece hipoxêmico, apesar de receber al-
tas concentrações de oxigênio (PaO2 >92% com FiO2 de 25 a 70%) ou com hipercapnia
documentada (PaCO2 45 a 50mmHg), para facilitar o trabalho da musculatura respiratória,
enquanto ocorre adequado efeito terapêutico da medicação, e para facilitar o trabalho res-
piratório nos pacientes com progressão para fadiga muscular.
A VNI fornece suporte fisiológico na asma aguda por diferentes mecanismos de ação:
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Os objetivos do suporte ventilatório na crise de asma severa são: reduzir o trabalho respira-
tório imposto pelo aumento da resistência de vias aéreas e pela hiperinsuflação, e possibili-
tar descanso da musculatura; fornecer adequada oxigenação; e possibilitar suficiente troca
gasosa até a obstrução da via aérea ser revertida.
A obstrução das vias aéreas inferiores torna necessário um tempo expiratório prolongado;
por isso, recomenda-se, em pacientes asmáticos, ventilação com relação inspiração/expi-
ração de, no mínimo, metade podendo chegar a um terço. Não é recomendada a redução
do tempo inspiratório, pois isso impede a distribuição homogênea do ar nos pulmões. Des-
se modo, é necessário reduzir a FR de pacientes com asma em ventilação mecânica para
atingir adequada relação inspiração/expiração. Pode ser necessária a sedação ou mesmo a
curarização para atingir esse objetivo.
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Camip
Embora acidose com hipercapnia possa estar associada com maior morbidade, PaCO2 pró-
xima a 70mmHg e um pH próximo a 7,25 podem ser seguros e confortavelmente tolerados
na maioria dos pacientes, desde que os níveis de gás carbônico não aumentem rapida-
mente. Um aumento lento na PaCO2 permite mecanismos adaptativos intracelulares para
acomodar o pH em queda. Importante lembrar que existem contraindicações a ventilação
hipercápnica e que estas incluem hipertensão intracraniana, função miocárdica alterada e
acidose metabólica coexistente (por exemplo: doença renal).
Medidas de suporte
Administração de fluidos
Sedação
É útil para promover sincronia com a ventilação e minimizar o risco de barotrauma. Vários
agentes podem ser usados, porém a cetamina é a droga de escolha para sedação, por suas
propriedades broncodilatadoras e pelos efeitos sedativos. Pode ser usada em infusão con-
tínua em pacientes com VMI ou VNI na asma severa.
O uso de sedativos narcóticos e benzodiazepínicos também é adequado nos pacientes em
ventilação invasiva na asma.
Bloqueio neuromuscular
Monitorização
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Capítulo 15 | Asma aguda grave
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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290
290
Ventilação Mecânica
Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
16
Capítulo 16
Ventilação mecânica
Albert Bousso
Albert Bousso
Apresentação
Classificação
Em ambas as modalidades, utiliza-se pressão positiva nas vias aéreas para garantir a ven-
tilação artificial. Porém, a forma de liberação dessa pressão é distinta, pois enquanto na
ventilação invasiva utiliza-se uma prótese introduzida na via aérea – um tubo oro ou nasotra-
queal, ou ainda uma cânula de traqueostomia –, na ventilação não invasiva, utiliza-se uma
máscara como interface entre o paciente e o ventilador artificial.
Princípios
Na prática clínica, a ventilação com pressão positiva tem maior aplicabilidade, razão pela
qual iremos focar apenas nessa modalidade.
Indicações
Os critérios para aplicação de VM variam de acordo com os objetivos que se querem alcan-
çar. Em situações de urgência, especialmente quando o risco de vida não permite boa ava-
liação da função respiratória, a impressão clínica é o ponto mais importante na indicação de
VM, auxiliada por alguns parâmetros de laboratório (Quadro 1).
Indicações Exemplos
Em síntese, pode-se dizer que a VM é aplicada em várias situações clínicas em que o pa-
ciente desenvolve insuficiência respiratória, sendo incapaz de manter valores adequados de
oxigênio e gás carbônico sanguíneos e, com isso, determinando uma alteração de diversos
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Hipoxemia com gradiente aumentado indica defeito nas trocas alvéolo-capilares (insufi-
ciência respiratória hipoxêmica). Já a hipoxemia com gradiente normal é compatível com
hipoxemia por hipoventilação alveolar (insuficiência respiratória ventilatória).
Atualmente, a maior parte dos ventiladores artificiais apresenta telas em que se podem
visualizar as curvas de volume, fluxo e pressão ao longo do tempo. Assim, são discutidas
as definições das modalidades ventilatórias usando esquemas representativos das curvas.
Assistência ventilatória
O ciclo respiratório
Para fins didáticos, o ciclo respiratório, durante a ventilação com pressão positiva, nas vias
aéreas, pode ser dividido em quatro fases:
293
Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Camip
Na observação do ciclo respiratório mecânico (Figura 1), uma série de parâmetros ventila-
tórios pode ser identificada e é comentada a seguir.
• Volume minuto (VE): volume total de gás mobilizado durante 1 minuto. É calculado pela
fórmula VM = VC x FR.
• Tempo inspiratório (TI): tempo que leva para a inspiração se completar. Geralmente,
gira em torno de um terço do ciclo respiratório.
• Tempo expiratório (TE): tempo gasto para a expiração se completar. Geralmente, gira
em torno de dois terços do ciclo respiratório.
• Fluxo inspiratório: volume de gás que passa pela via de saída inspiratória do ventila-
dor, na unidade de tempo. Corresponde à velocidade com que o gás entra no paciente,
expressa em litros por minuto.
294
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• Pico de pressão inspiratória (PIP): maior valor de pressão atingido durante a inspira-
ção do VC, durante um ciclo de VM. Valores excessivos, geralmente além de 35cmH2O,
podem levar a traumas associados à VM, tais como pneumotórax e pneumomediastino.
• Pressão de platô: valor da pressão das vias aéreas, medida no momento da pausa
inspiratória. Admite-se que seja o parâmetro que melhor reflita as pressões alveolares no
momento do término da insuflação pulmonar. Valores muito altos de pressão de platô,
geralmente além de 35cmH2O, associam-se à lesão pulmonar induzida pela VM.
• Pressão expiratória (PE): pressão observada nas vias aéreas, ao final da expiração. Ha-
bitualmente, ela cai a zero, sendo denominada, então, pressão expiratória (ZEEP), mas
podem ser feitos ajustes nos ventiladores para que ela atinja valores positivos (PEEP).
• Pressão expiratória positiva final (PEEP): aplicação, nas vias aéreas, de uma pressão
positiva, constante, ao final da expiração. Sua aplicação tem por finalidade reduzir os
distúrbios das trocas gasosas, permitindo aos pacientes a administração de uma menor
FiO2. Admite-se que seus efeitos terapêuticos se devam à abertura de pequenas vias
aéreas e espaços alveolares colabados, ou ainda às suas repercussões hemodinâmicas.
As maneiras pelas quais os ventiladores são projetados para interromper a fase inspiratória
e dar início à fase expiratória recebem o nome de modos de ciclagem do respirador.
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Camip
pressões geradas em vias aéreas, o que faz com que muitos desses ventiladores incor-
porem uma válvula de segurança nos sistemas de alarme de pressão, capaz de abortar a
fase inspiratória sempre que a pressão ultrapassar determinados níveis.
• Ciclagem a fluxo: o fim da fase inspiratória ocorre a partir do momento em que o fluxo
inspiratório cai abaixo de níveis críticos, independentemente do tempo transcorrido ou do
volume liberado para o paciente. A grande característica dessa forma de ciclagem é que
permite ao paciente exercer um controle efetivo sobre o tempo e o pico de fluxo inspira-
tório, e ainda sobre seu VC. A escolha do nível crítico de fluxo que desativa a fase inspira-
tória varia de ventilador para ventilador e também depende da faixa etária do paciente.
Os ciclos ventilatórios mecânicos podem ser iniciados tanto pelo paciente quanto pelo ven-
tilador. Pelo paciente, o início do ciclo se dá a partir do estímulo respiratório gerado pelo
centro respiratório. Esse ciclo é denominado assistido, já que o paciente controla a FR.
Quando os ciclos mecânicos são deflagrados pelo ventilador a partir de uma FR previamen-
te programada, denominam-se os ciclos de controlados.
Modos convencionais
Esse modo ventilatório está indicado para pacientes com mínimo ou nenhum esforço res-
piratório, por disfunção do sistema nervoso central como, por exemplo, na síndrome de
Guillain-Barré ou em casos de intoxicação exógena por drogas. Também é utilizado quan-
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A ventilação controlada também pode ser administrada numa forma limitada, por pressão.
Nessa modalidade, denominada pressão controlada, os parâmetros respiratórios são igual-
mente constantes e previamente estabelecidos pelo aparelho. Dá-se preferência a essa mo-
dalidade, quando desejamos limitar as pressões inspiratórias máximas no circuito e o risco
do surgimento de barotrauma, bem como na vigência de pulmões pouco complacentes. No
entanto, como o parâmetro primário, determinante do final da inspiração, é uma pressão
preestabelecida, o VC pode sofrer indesejáveis variações, em função da presença de secre-
ções respiratórias e alterações da complacência torácica.
Ventilação assistida/controlada
297
Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Camip
A ventilação A/C está indicada em situações em que o estímulo neural respiratório (drive)
é normal, embora os músculos respiratórios não estejam totalmente aptos para o trabalho
como, por exemplo, em pacientes recuperando-se de anestesias. Essa modalidade também
costuma ser empregada quando o drive respiratório é normal, mas os músculos respiratórios
estão insuficientes para empreender todo o trabalho respiratório necessário como, por exem-
plo, nos quadros de insuficiência respiratória com complacência pulmonar muito diminuída.
A chamada ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV) difere do IMV pelo fato
de, ao invés do ciclo mandatório ser administrado a um tempo preciso, independentemen-
te da fase do ciclo respiratório do paciente, o ventilador fornece o ciclo no momento de es-
forço respiratório do doente. Para tanto, o ventilador monitora os esforços respiratórios
dos indivíduos periodicamente, dentro de uma janela de tempo. Dentro dessa janela, no
momento do esforço inspiratório do paciente, é desencadeada uma inspiração. Caso o pa-
ciente não inspire, é fornecida uma ventilação mandatória, dentro do tempo preestabelecido
(Figura 4B). O SIMV é um mecanismo mais vantajoso, pois evita que o aparelho inicie um fluxo
inspiratório num momento em que o paciente poderia estar expirando num ciclo espontâneo.
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
(A)
(B)
Figura 4. (A) Ventilação mandatória intermitente (IMV). A respiração mandatória pode coincidir com
períodos de ventilação espontânea. (B) Ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV).
A ventilação mandatória ocorre em sincronia com a respiração espontânea do paciente
Figura 5. Pressão positiva contínua nas vias aéreas. O paciente respira espontaneamente durante todo
o ciclo, com pressão positiva, aplicada ao longo das vias aéreas. IPAP: ; EPAP:
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Camip
Pressão de suporte
Figura 6. Ventilação com pressão de suporte. O paciente recebe um incremento de pressão durante
a inspiração pelo fornecimento de um alto fluxo inspiratório de gás. PEEP: pressão expiratória
positiva final
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
relação volume/pressão em cada respiração e isso permite que a pressão de pico possa
variar de respiração a respiração.
Diversas são as modalidades de VM por pressão positiva atualmente disponíveis. A escolha
do modo mais adequado para uma determinada situação está na dependência das carac-
terísticas clínicas do paciente, do tipo de respirador disponível, e da experiência da equipe
médica e paramédica com seu manuseio.
Os pacientes ventilados mecanicamente devem ser retirados do ventilador tão logo seja
possível, já que existem várias complicações associadas ao uso da VM (Quadro 2). É im-
portante considerar que o processo de retirada da VM também não é isento de complica-
ções. O processo de transição da VM para a VE é denominado de desmame.
Origem Complicação
O processo de retirada do respirador se inicia, em princípio, logo que o paciente tenha sido
intubado. Uma vez atingidas as condições clínicas e os parâmetros aceitáveis (Quadro 3)
para a possível extubação, o paciente deve ser submetido a testes diários de prontidão,
para verificar se, de fato, o paciente está em condições de ser extubado. Este teste de
prontidão pode ser realizado mantendo-se o paciente, por exemplo, consciente ou minima-
mente sedado, em CPAP com PSV por um período de 30 a 120 minutos, avaliando-se os
sinais vitais, saturometria e as características do esforço respiratório do doente. Uma vez
aprovado no teste de prontidão, o paciente pode ser extubado.
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Camip
Parâmetro Nível
Tosse Eficaz
PaCO2: pressão parcial de gás carbônico; PEEP: pressão parcial positiva final
Caso o desmame evolua satisfatoriamente, o paciente deve ser extubado e mantido sob
oxigenoterapia por máscara. Recomenda-se também um período curto de pausa alimentar
após a extubação, uma vez que pode haver necessidade de reintubação, o que aumentaria
o risco de aspiração.
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 16 | Ventilação Mecânica
Camip
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304
304
Monitorização
Capítulo 17 | Monitorização respiratória
17
Capítulo 17 Respiratória
Monitorização respiratória
Paciente de 6 anos de idade foi admitido na unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica
devido a estado de mal asmático. Foi colocado em ventilação pulmonar mecânica (VPM)
invasiva em SIMV, com fluxo de 16L/minuto, pressão inspiratória (Pinsp) de 18cmH2O, pres-
são expiratória positiva final (PEEP) de 5cmH2O, fração inspirada de oxigênio (FiO2) de 40%
e frequência respiratória (FR) de 20irpm.
Discussão
A auto-PEEP ou PEEP intrínseca é definida como a persistência não intencional de uma pres-
são alveolar positiva, ao final da expiração, devido à presença de um volume pulmonar expi-
ratório final maior do que a capacidade residual funcional prevista. Ocorre quando o tempo
expiratório é insuficiente para a exalação completa do volume corrente (VC) fornecido.
A curva de fluxo expiratório deve ser monitorada e, caso o fluxo não retorne à base antes
do fornecimento do próximo ciclo respiratório, indica a presença de auto-PEEP.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Camip
Perguntas
Monitorização respiratória
Oximetria de pulso
Até meados do anos 1980, os co-oxímetros eram capazes de medir as frações de hemo-
globina reduzida (HHb), oxiemoglobina (O2Hb), carboxiemoglobina (COHb), metemoglobi-
nemia (MetHb), sulfemoglobina (SHb), com o emprego de seis comprimentos de onda.
Modelos atuais medem absorvência luminosa em até 128 comprimentos de onda, o que
aumenta a precisão dos aparelhos, minimiza a interferência de substâncias indesejadas e
permite a detecção de maior número de substâncias.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Para fornecer uma medida contínua da oxigenação arterial analisando a luz que atinge o
fotodetector, o oxímetro de pulso possui dois componentes.
O segundo componente é pulsátil (CP), decorrente do fluxo fásico de sangue arterial no leito
tecidual, que muda de intensidade no tempo, em sincronia com o ciclo cardíaco. Durante a
sístole, há um aumento do volume do sangue, o que promove maior absorção da luz, com
decréscimo correspondente na transmitância; durante a diástole, quando diminui o volume
sanguíneo, há aumento proporcional na intensidade da luz transmitida.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Camip
Os aparelhos hoje disponíveis têm precisão de 95% de confiança com variação de 4% para
leituras de saturação >70%. Quando a saturação >90%, e a perfusão é satisfatória, o desvio
padrão é >1%, porém, quando a saturação cai de 70%, a precisão torna-se comprometi-
da. Isso se deve à dificuldade de se obterem dados confiáveis de calibração em humanos
durante hipoxemia extrema.
Alguns fatores podem impedir as leituras acuradas do oxímetro de pulso: MetHb, COHb,
hiperbilirrubinemia, anemia e policitemia, luminosidade do ambiente, pulso venoso aumen-
tado, coloração da pele, esmalte, piora da perfusão, interferência eletromagnética, posicio-
namento inadequado e a calibração do aparelho.
Capnografia
A capnografia indica a quantidade de gás carbônico que é eliminada dos pulmões. Indireta-
mente, reflete a produção de gás carbônico pelos tecidos e o transporte de gás carbônico
para os pulmões pelo sistema circulatório. Por causa disso, a capnografia é uma técnica
importante, não invasiva e direta, que fornece informações sobre a produção de gás carbô-
nico, perfusão pulmonar e ventilação alveolar, padrões de respiração, bem como a elimina-
ção do gás carbônico do circuito de anestesia e ventilação pulmonar.
É um método rápido e confiável para detectar situações de ameaça a vida do paciente e que
possam causar sequelas. Seu uso permite a detecção precoce de eventos críticos, como a
intubação esofageana, a desconexão do circuito do respirador, a avaliação da posição do
tubo endotraqueal, a não patência da via aérea, a falha ventilatória, o colapso cardiovascu-
lar e as aberrações na ventilação/perfusão.
Podem ser utilizados dois tipos de sensores: os laterais (sidestream) têm uma bomba de
pressão negativa, que aspira uma pequena amostra do gás expirado e a transmite para uma
câmara de absorção infravermelha, através de um tubo capilar; os centrados (mainstream)
na via aérea principal são incorporados ao circuito da via aérea e contêm uma inserção
especial que permite que a luz infravermelha passe através da via aérea artificial. O maior
problema dos sensores laterais é a condensação de água e o muco na tubulação, que po-
dem levar a medidas errôneas.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Com os valores obtidos no capnograma, é possível identificar alguns problemas que podem
ocorrer com o paciente.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Camip
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Hipoventilação Hiperventilação
Desconexão do ventilador
Vazamento no circuito
Mecânica respiratória
Complacência
A complacência é resultante da variação de volume que ocorre dentro dos pulmões pela
alteração de uma determinada pressão. Podem-se analisar dois aspectos da complacência:
a estática e a dinâmica.
Complacência estática
É a medida da pressão na via aérea necessária para equilibrar os pulmões e a caixa torácica
no fim da inspiração após a entrada do volume inspiratório, menos a quantidade de PEEP
necessária para manter o sistema expandido. A medida da pressão de platô (Pplatô), que é
obtida no modo de volume controlado (VCV), fluxo inspiratório constante (onda quadrada)
associado a uma pausa inspiratória de 1 a 2 segundos. Para tanto, é necessário que o pa-
ciente esteja sedado e curarizado. A complacência estática leva em consideração todas as
forças que se opõem ao pulmão e a caixa torácica, e pode ser representada pela fórmula:
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Camip
• Recém-nascidos: de 2 a 4mL/cmH2O
• Lactentes: de 5 a 10mL/cmH2O
• Crianças: de 15 a 50mL/cmH2O
Resistência
• Neonatos: de 20 a 40cmH2O/L/seg
• Crianças: de 10 a 20cmH2O/L/seg
Constante de tempo
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Curvas de fluxo
As curvas de fluxo que costumam ser avaliadas são a representação gráfica de fluxo x tem-
po e fluxo x volume. O fluxo expiratório é usado para determinar o VC, o que é essencial
na monitorização do volume-minuto e no cálculo da complacência do sistema respiratório.
O padrão de fluxo é geralmente constante (curva de fluxo de forma quadrada), embora ou-
tros padrões de fluxo, como o ascendente, o descendente e o desacelerante, possam ser
programados. A forma da curva de fluxo na pressão controlada é desacelerante, porém, nas
patologias em que existe limitação do fluxo inspiratório, ocorre um processo de desacelera-
ção mais lento dessa curva e ela se assemelha a curva de fluxo constante ou quadrada. A fase
inspiratória apresenta fluxo graficamente positivo e a expiratória, fluxo graficamente negativo.
Auto-PEEP
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Camip
A complacência é expressa por uma variação de volume para uma determinada variação de
pressão. A complacência estática é determinada pela Pplatô, enquanto a dinâmica é deter-
minada por meio da pressão inspiratória (Ppico). Na modalidade pressão controlada (PCV),
com a manutenção da pressão inspiratória máxima (Pimax) durante a inspiração, a curva
assume um aspecto quadrado. Nessa modalidade, a Ppico é similar a Pplatô.
Na modalidade VCV (Figura 11), há uma Ppico gerada pela ascensão súbita da Pinsp,
seguida de Pplatô, estabelecida quando o fluxo inspiratório é igual a zero e formada pela
redistribuição do VC e do relaxamento de estresse.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Quando o paciente recebe ventilação pelo VCV, quanto maior a resistência pulmonar, maior
a diferença entre Ppico e a Pplatô. Quanto menor a resistência, menor a diferença entre
Ppico e Pplatô.
Observa-se a presença de fugas aéreas, quando os volumes expiratórios são menores que
os inspiratórios, além do aprisionamento aéreo, quando o volume expiratório não consegue
alcançar a linha de base por causa de uma nova inspiração.
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
Camip
• MetHb, COHb, anemia, esmalte, coloração da pele, entre outros, impedem a leitura acu-
rada do oxímetro de pulso
• Por meio da curva fluxo x tempo, identifica-se auto-PEEP, que ocorre quando o intervalo
de tempo entre a inspiração não é suficiente para reestabelecer o equilíbrio das pressões
• Na curva volume x tempo, vemos a presença de fuga aérea, que é quando o volume ex-
piratório é menor que o inspiratório. Também identificamos o aprisionamento de ar, que é
visto quando o volume expiratório não consegue alcançar a linha de base
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Capítulo 17 | Monitorização respiratória
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318
318
Estado de Mal Epilético
Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
18
Capítulo 18
em Pediatria
Estado de mal epiléptico em pediatria
Caso clínico
MSL, 2 anos, previamente hígido, procurou a emergência pediátrica com história de febre
entre 38 e 39,5°C há 24 horas, associada à tosse e à coriza hialina. Há 20 minutos, em vi-
gência de febre, o menor passou a apresentar quadro de movimentos tônico-clônicos invo-
luntários em membros superiores e inferiores, salivação e perda de consciência.
Foi iniciada administração de oxigênio a 5L/minuto por máscara facial, monitorização contí-
nua da frequência cardíaca, da oximetria de pulso, e foi obtido rapidamente acesso venoso
periférico, sendo administrada uma dose de diazepam 0,2mg/kg intravenosa. A criança
parecia melhorar da crise convulsiva quando, então, em 2 minutos retornou com os mo-
vimentos tônico-clónicos, recebendo a segunda dose de diazepam; após mais 2 minutos,
melhorou, com a cessação da crise.
Discussão
Paciente apresentando primeira crise convulsiva em vigência de febre, sem história prévia
de malformações, traumas ou outras alterações. Encontrava-se entre os 6 meses e 5 anos
de idade, fase típica da vida em que é encontrada a crise convulsiva febril. O paciente per-
maneceu quase 30 minutos em crise convulsiva generalizada, caracterizando um quadro de
estado de mal convulsivo (EMC), porém respondeu bem ao tratamento após a administra-
ção de duas doses de benzodiazepínico, com cessação da crise convulsiva.
Esta criança realizou pesquisa do quadro infeccioso. Evidenciado hemograma com discreta
leucopenia, com linfocitose relativa e valor da proteína C-reativa (PCR) normal.
319
Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Camip
Optou-se pela observação clínica de um provável quadro de virose. Não foram realizados
exames de imagem ou coleta de liquor.
A apresentação inicial dessa criança com crise convulsiva febril, desenvolvendo um EMC
não é frequente, mas, em decorrência da frequência das crises convulsivas febris, pode ser
uma apresentação encontrada em salas de emergência pediátrica.
Definições
Episódios de disfunção cerebral com uma determinada duração de ação, resultante de uma
descarga elétrica anormal e excessiva, localizada no sistema nervoso central.
Conforme Appelton et al. (2008), pode ser definido como “uma crise convulsiva que se
prolonga (EMC contínuo) ou crises convulsivas sucessivas que se repetem sem que ocor-
ra a recuperação do nível de consciência do paciente entre as crises, por um período
maior de 20 a 30 minutos”. As características do EMC são crises convulsivas prolongadas
e/ou repetitivas em breves intervalos de tempo, que produzem uma condição convulsiva
fixa e duradoura.
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Dísticos
Crises
Parciais
Simples
Complexa
Generalizadas
Crises tônicas
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321
Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Camip
Etiologia
Em crianças pequenas, menores de 2 anos de idade, quase 80% dos casos estão relacio-
nados a crises febris ou a causas sintomáticas agudas.
• Crise aguda sintomática: precipitada por um evento externo, que desencadeia a crise
epiléptica. Decorrente de um processo agudo, que afeta o sistema nervosos central,
pode ser uma lesão aguda ou uma disfunção metabólica sistêmica, como, por exemplo,
meningite, intoxicação exógena ou abstinência de drogas. O não reconhecimento da
doença de base pode causar danos maiores que a própria crise convulsiva. Corrigindo-
se a causa básica, a chance de recorrência das crises é muito pequena
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Outras causas de EMC, porém menos frequente em crianças, são o lúpus eritematoso sis-
têmico (LES), com acometimento cerebral, infecção por herpes-vírus, tireotoxicose, crise
hipertensiva, suspensão abrupta de analgésicos e sedativos, toxicidade e abstinência.
O EMC acomete em torno de 17 a 23 crianças por 100 mil habitantes e é mais frequente em
crianças menores de 5 anos de idade. Quanto menor a criança, maior a possibilidade de
causas orgânicas desencadear as crises convulsivas.
Fatores desencadeantes
Reações
Exposição
Oxigenação Abstinência adversas a
Infecções do Distúrbios Destruição do a drogas ou
Febre alta insuficiente do Outras doenças após utilização medicamentos
cérebro metabólicos tecido cerebral substâncias
cérebro excessiva de receita
tóxicas
obrigatória
Intoxicação por
Hipoparatireoi- Álcool (grandes
Insolação AIDS monóxido de Tumor cerebral Eclampsia Álcool Ceftazidima
dismo quantidades)
carbono
Níveis altos
Fluxo sanguíneo
de açúcar ou Traumatismo Encefalopatia Medicamentos
Infecção Malária inadequado Anfetaminas Clorpromazina
de sódio no craniencefálico hipertensiva para dormir
para o cérebro
sangue
Níveis baixos de
açúcar, cálcio,
Afogamento Hemorragia Lúpus
Meningite magnésio Cânfora Tranquilizantes Imipenemo
parcial intracraniana eritematoso
ou sódio no
sangue
323
323
Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Camip
Insuficiência Acidente
Sufocação
Raiva renal ou vascular Cloroquina Indometacina
parcial
hepática cerebral
Acidente
Overdose de
Sífilis Fenilcetonúria vascular Meperidina
cocaína
cerebral
Pentilenote-
Toxoplasmose Teofilina
trazol
A convulsão febril é uma crise que ocorre nos primeiros momentos de um quadro infeccioso
febril, no qual uma doença inflamatória do sistema nervoso central pode ser excluída. Geral-
mente, ocorre em crianças entre os 6 meses a 5 anos de idade, é frequentemente isolada e
benigna, sem comprometer a evolução neurológica da criança. A primeira convulsão febril,
típica, sem outras causas, não necessita de tratamento continuado, pois a incidência de
recorrência é pequena e, se houver, devem ser procuradas outras causas, podendo neces-
sitar de tratamento anticonvulsivante. Temos conhecimento que alguns fatores podem pre-
cipitar as crises convulsivas, tal como: privação do sono, transtornos eletrolíticos ( ↓ cálcio e
↓ magnésio), sedação excessiva, transtornos emocionais, álcool ou drogas, entretenimento
(video game e computador), alcalose, entre outras.
Fisiopatologia
O EMC pode resultar em lesão cerebral por meio de: aumento do consumo de oxigênio cere-
bral em até 300%, que pode resultar em hipóxia cerebral, e esta é responsável pela maioria
das complicações do EMC; aumento do fluxo sanguíneo cerebral (em até 900%) inicial-
mente, como tentativa de compensar a hipóxia; acidose respiratória, consequente à rigidez
muscular e à hipertonia durante as crises, dificultando a difusibilidade de oxigênio e de elimi-
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
nação de dióxido de carbono pelos pulmões; distúrbios autonômicos, com elevada liberação
de catecolaminas (taquicardia, hipertensão arterial inicial e liberação de esfíncteres − perda
de urina); alterações respiratórias, como contração muscular, acúmulo de secreções em vias
aéreas superiores (VAS), constrição brônquica decorrente de descarga autonômica exage-
rada, levando à acidose respiratória; edema pulmonar e extravasamento de líquido transca-
pilar; alterações renais por rabdomiólise, mioglobinúria, hipotensão e redução da pressão
arterial; hipoglicemia, por consumo excessivo de glicose associada à liberação de insulina;
hipertermia severa, pela atividade muscular excessiva; elevação de células liquóricas de até
20 células/m3 e hiperproteinorraquia, por quebra da barreira hematoencefálica. Com o pas-
sar do tempo, teremos hipotensão arterial, hipertermia e queda do fluxo sanguíneo cerebral.
Classificação
Tratamento
O tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível, como forma de minimizar
as sequelas neurológicas e melhorar o prognóstico do paciente. Quanto maior o tempo da
criança em EMC, maior a chance de refratariedade do quadro.
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Camip
Terapêutica antipirética, quando a temperatura >38,0°, se faz por meios físicos, com com-
pressas frias, e dipirona (10 a 20mg/kg), intramuscular ou intravenosa.
A terapêutica anticonvulsivante deve ser iniciada sempre que as crises convulsivas durarem
mais que 10 minutos. É realizada com os medicamentos descritos a seguir.
Diazepam
Difenil-hidantoina (fenitoína)
Fenobarbital sódico
Midazolan
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tiopental (Thionembutal)
Se as crises não cederem com midazolan contínuo intravenoso em altas doses, suspender
seu uso e introduzir o Tiopental intravenoso.
A dose de ataque deve ser 5mg/kg intravenoso em bólus e, se persistirem as crises, manter
contínuo e iniciar com 10ug/kg/minuto intravenoso e aumentar até cessarem as crises (po-
dendo chegar a mais de 200 ug/kg/minuto).
O Tiopental em doses moderadas e altas (geralmente acima de 40ug/kg/min) tem efeito car-
diotônico negativo, podendo o paciente nessa situação necessitar de reposição volêmica
(expansão) e posterior introdução de um agente inotrópico (dopamina, dobutamina, noradre-
nalina ou adrenalina) intravenoso contínuo, para manter pressão arterial e o débito cardíaco.
O uso do Tiopental por vários dias pode levar ao seu acúmulo em tecido gorduroso, poden-
do persistir sua ação por dias após sua interrupção. O EEG pode se apresentar até mesmo
isoelétrico quando uso de doses elevadas de Tiopental , pois ocorre uma grande redução
do metabolismo neuronal e consequente redução da atividade cerebral.
Exames complementares:
Laboratorial
Glicemia, sódio, potássio, ureia, creatinina, cálcio, magnésio, fósforo, hemograma, gasome-
tria arterial e de líquor cefalorraquidiano (LCR), provas de função hepática, coagulograma,
triagem toxicológica (quando houver suspeita).
Eletroencefalograma
A realização de um EEG pode ser importante nas crianças que apresentem um EMC agudo,
sem antecedentes, podendo ajudar na determinação de uma desorganização focal ou ge-
neralizada e que influenciar no tipo de tratamento a ser instituído para o paciente.
Embora EMC não convulsivo possa ocorrer, não há evidências suficientes para recomendar
o EEG para confirmar este estado. O EEG pode ser útil se um caso de pseudoestado epi-
léptico estiver sendo suspeitado.
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Camip
Estudos com tomografia de crânio mostraram uma média de 49% de achados anormais (pre-
sença de edema cerebral, atrofia ou infarto cerebral e infecção, por exemplo). Em estudos de
ressonância nuclear magnética, o número de alterações encontradas foi ainda maior. Por isso,
esses exames de neuroimagem, devem ser considerados quando clinicamente indicados ou
se a etiologia dos achados do EEG, como áreas de inatividade, indicações de crise epilepti-
forme focal ou generalizado, lentificação do traçado, entre outros, forem encontrados.
Prognóstico
• Morbidade: a duração do quadro. Quanto maior o tempo para sair das crises, maior a
possibilidade de sequelas neurológicas e de óbito
Bibliografia
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Capítulo 18 | Estado de mal epilético em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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329
Camip
330
Morte Encefálica
Capítulo 19 | Morte encefálica
19
Capítulo 19
Morte encefálica
Paciente do sexo masculino, 11 anos, com história de queda do skate seguida de perda da
consciência. Levado em carro próprio ao serviço de emergência.
Na UTI, o paciente evoluiu com hipotensão, hipotermia, hipernatremia com diurese abun-
dante. Foi levantada hipótese de morte encefálica (ME).
Questões
Apresentação
O conceito de morte envolve aspectos científicos, históricos, religiosos e legais. Para a civili-
zação ocidental, durante anos, a morte foi considerada a parada dos batimentos cardíacos,
porém, ao longo da evolução tecnológica, outros aspectos foram incorporados devido à cons-
tatação de pacientes que mantinham batimentos cardíacos, apesar de enorme dano cerebral.
Sendo o encéfalo um integrador das atividades dos demais sistemas, ao longo do tempo foi se
aceitando o fato de que a ausência de atividade encefálica significa a ausência de vida.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Camip
Nas UTIs, é cada vez mais comum nos depararmos com pacientes em ME, sendo funda-
mental seu reconhecimento, diagnóstico e, se necessário, manutenção das funções fisioló-
gicas, pela possibilidade de doação de órgãos.
Histórico
Desde o final do século XIX, tiveram início os primeiros relatos de pacientes com aumento
súbito de pressão intracraniana, parada respiratória e continuidade de batimentos cardíacos.
Com o aprimoramento da terapia intensiva, foi observado que muitos pacientes seguiam
com funções vitais sustentadas por ventiladores e medicações, porém sem apresentar ati-
vidade cerebral. Os primeiros relatos científicos foram produzidos na França, em 1959, com
a descrição de 23 pacientes em coma depaseé (coma irreversível), hipotensão, ausência de
reflexos de tronco e eletroencefalograma (EEG) isoelétrico.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Aspectos legais
O Art. 3º diz que a retirada deve ser precedida de diagnóstico de ME, constatada pela uti-
lização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de
Medicina (CFM). Para isso, o CFM publicou a resolução 1.480, de 21 de agosto de 1997,
que definia tais critérios.
De acordo com o Art. 13 da lei 9.434/1997, é obrigatório que todo Estado tenha uma Cen-
tral de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO). No Estado de São Paulo,
houve uma descentralização do processo, com a criação de Organizações de Procura de
Órgãos (OPOs).
A doação de órgãos deve ser autorizada por cônjuge ou familiares até segundo grau, maio-
res de idade e firmada em documento com duas testemunhas. Quanto à retirada de órgãos
de pessoa juridicamente incapaz, esta pode ser feita desde que permitida expressamente
por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais. Quanto às pessoas não identificadas,
é vedada a retirada de órgãos ou de partes do corpo.
Antes de iniciada a retirada dos órgãos e tecidos, a Declaração de Óbito deve ser forneci-
da em situações de morte natural. No caso de morte sem assistência médica, de óbito em
decorrência de causa mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de
verificação da causa médica da morte, a remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver
para fins de transplante ou terapêutica somente pode ser realizada após a autorização do
patologista do serviço de verificação de óbito responsável pela investigação e citada em
relatório de necrópsia.
Para iniciar o protocolo de ME, o paciente deve preencher alguns critérios bem estabeleci-
dos. Antes de tudo, a causa do coma deve ser conhecida e irreversível.
Devem ainda ser excluídas condições clínicas que possam interferir no exame neurológico
do paciente, como: distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos graves, alterações hormonais
causadoras do coma, hipotermia, hipotensão e, finalmente, intoxicação exógena ou uso de
drogas sedativas e bloqueadores neuromusculares (Tabela 1).
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Camip
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Acima de 2 anos 6
Fonte: Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM n° 1.480, de 21 de agosto de 1997.
Determina os procedimentos para a determinação de morte encefálica. Diário Oficial da União, 21 de
agosto de 1997;1:18227
A imaturidade do sistema nervoso central (SNC) da criança determina critérios mais rígidos
para comprovação da ME. Quanto menor a criança, maiores intervalos entre as provas clí-
nicas são necessários.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Camip
Provas clínicas
Coma aperceptivo
• Reflexo óculo-cefálico – “olhos de boneca” (nervos III, IV, VI, VIII): ausência de
movimentação ocular ao se mover a cabeça (lateral, flexão e extensão). A resposta
normal é o movimento dos olhos de forma conjugada em direção oposta ao movimento
da cabeça. Essa prova não deve ser realizada em caso de instabilidade cervical.
• Reflexo oculovestibular – prova calórica (nervos III, IV, VI, e VIII): otoscopia prévia
deve ser realizada para certificar ausência de obstrução do canal auditivo ou perfuração
timpânica. O paciente deve estar em posição neutra e a cabeceira elevada a 30º.
Injetam-se 50mL de NaCl 0,9% a 0°C através de uma sonda. A infusão deve ser lenta,
com uso de seringa ou equipo. Deve-se, então, observar por 2 minutos se ocorre
movimentação ocular após infusão do soro. O teste deve ser repetido no lado oposto
após intervalo de 5 minutos.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Teste de apneia
2. Coletar uma gasometria arterial inicial (deve mostrar hiperóxia e pressão parcial de gás
carbônico − paCO2 entre 35 e 45 mmHg)
O teste é considerado positivo para ME caso não existam esforços respiratórios e a gaso-
metria obtida ao fim do teste apresente paCO2 ≥ 55mmHg.
Se paCO2 <55mmHg, o teste é inconclusivo. Uma gasometria pode ser colhida no início do
teste, pois alguns autores defendem que o teste pode ser considerado positivo se houver
um aumento de 20mmHg no valor basal de paCO2.
Exame Complementar
Pode ser realizado entre as provas clínicas, porém nunca deve iniciar o processo de verifi-
cação de ME.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Camip
EEG: eletroencefalograma. Fonte: Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM n° 1.480, de
21 de agosto de 1997. Determina os procedimentos para a determinação de morte encefálica. Diário
Oficial da União, 21 de agosto de 1997;1:18227
O EEG detecta a atividade elétrica cerebral. Foi o primeiro método usado para corroborar o
diagnóstico de ME e é o mais usado até hoje. O EEG isoelétrico é compatível com o diag-
nóstico de ME.
O Doppler transcraniano vem sendo cada vez mais utilizado no diagnóstico de ME. Esse
exame avalia o fluxo sanguíneo cerebral e tem como vantagem poder ser realizado ao lado
do leito do paciente.
A resolução 1.480/1997 do CFM ainda faz referência, como possíveis exames complemen-
tares, a monitorização da pressão intracraniana, a TC com xenônio, a tomografia por emis-
são de pósitrons e a extração cerebral de oxigênio.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A hora do óbito que deve constar na declaração de óbito deve ser a do momento da con-
clusão da última etapa do protocolo de ME.
Nesse momento, deve ser preenchido o Termo de Declaração de Morte Encefálica (TDME)
que é enviado para a CET. A notificação dos casos de ME é compulsória às centrais de
notificação, independente do paciente em questão ser ou não um potencial doador. O
diagnóstico deve ser explicado à família pela equipe médica, e dúvidas devem ser escla-
recidas.
Deve-se sempre respeitar e aceitar a decisão dos familiares, além de oferecer apoio durante
todo o processo, independentemente da decisão tomada. Em casos de negativa familiar ou
havendo contraindicação para a doação de órgãos, o suporte avançado de vida deve ser in-
terrompido, conforme previsto na resolução 1.826/2007 do CFM. O médico não é obrigado
a ter autorização da família para essa ação, porém é recomendada cautela nesse momen-
to, procurando-se respeitar as diversas opiniões, evitando-se, assim, embates e desgaste
emocional de ambas as partes.
Dentre os cuidados que devem ser tomados do momento do diagnóstico da ME até a cap-
tação dos órgãos, incluem-se: estabilização hemodinâmica, correção do défice de oxige-
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Camip
Além dos cuidados gerais citados, existem ainda recomendações órgão-específicas, a de-
pender do que se deseja transplantar.
Conclusão
A suspeita clínica deve ser feita por qualquer profissional que atenda o paciente, sendo a
CNCDO logo comunicada ou OPO para auxílio no diagnóstico e manejo. Ao ser confirmada,
uma entrevista familiar, realizada por profissionais com experiência, pode ajudar no entendi-
mento e tornar o paciente um possível doador.
Apesar de estarem intimamente ligados, ME e transplante de órgãos não devem ser confun-
didos. O diagnóstico de morte é um direito do indivíduo e de sua família, além de importante
na gestão de leitos de UTI.
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Capítulo 19 | Morte encefálica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Bibliografia
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Brasil. Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos
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341
Camip
342
Traumatismo Craniencefálico 20
Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Capítulo 20
na Criança
Traumatismo craniencefálico na criança
Após a queda chorou imediatamente, porém se tornou menos responsiva durante o trajeto
para o hospital e apresentou ainda um episódio de vômito.
Na emergência, ao ser examinada pelo médico plantonista, abria os olhos após estímulo
doloroso, falava palavras incompreensíveis e retirava o braço quando estimulada.
A criança foi intubada com sucesso após sequência rápida de intubação com controle da
coluna cervical.
Enquanto estava sendo preparada para tomografia computadorizada (TC) apresentou movi-
mentos extensores dos membros, aumento de pressão arterial (PA) para 150x95mmHg (PA
média – PAM de 112mmHg) e diminuição da frequência cardíaca para 55bpm.
Provável inchaço cerebral, com aumento progressivo da pressão intracraniana (PIC) e, con-
sequentemente, diminuição do fluxo sanguíneo cerebral (FSC).
Foi obtida TC de crânio. Na transferência para unidade de terapia intensiva (UTI), teve aumento
súbito da PA e movimentos descoordenados de membros, recebeu uma dose de diazepam.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
O ideal é que haja sempre monitorização da PIC e da pressão de perfusão cerebral (PPC).
No caso de hipertensão intracraniana, ainda podem ser usados: solução hipertônica, ma-
nitol, barbitúrico, hiperventilação e até hipotermia, porém o tratamento deve ser individuali-
zado – paciente a paciente.
Apresentação
Felizmente, a maioria dos traumatismos cranianos é classificada como leve (84%) e não
está associada à injúria cerebral ou a sequelas a longo prazo.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A rápida identificação e estabilização da criança com TCE grave é essencial para o manejo
inicial de condições que contribuem para lesão secundária (hipoxemia e hipotensão, por
exemplo) . Exames de imagem, usualmente a TC de crânio, é altamente sensível para iden-
tificar injúria cerebral, que necessita intervenção.
Classificação/manifestações clínicas
A injúria cerebral traumática é classificada como leve, moderada e grave baseada na escala
de coma de Glasgow inicial (incluindo a adaptada para a faixa etária pediátrica) (Quadro 2).
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
Abertura ocular
4 Espontâneo Espontâneo
1 Ausente Ausente
1 Ausente Ausente
5 Orientado Balbucia
1 Ausente Ausente
É importante ressaltar que crianças com menos de 2 anos de idade com qualquer grau de
TCE devem ser cuidadosamente avaliadas, inclusive com fundoscopia, e que devem ser
pesquisados outros sinais que possam identificar maus tratos.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Quadro clínico evoluiu com ausência de sinais neurológicos focais. Mortalidade <1%.
Dentro da classificação de TCE leve, está a concussão, que é definida como défice transi-
tório de função secundário a uma lesão e que pode ser adicionalmente qualificada tendo-se
como base a perda de consciência.
Após a avaliação inicial todos são submetidos à TC e internados para observação. A chance
de lesão intracraniana pode chegar a 40%, e a necessidade de intervenção cirúrgica a 10%.
Fisiopatologia
Fatores anatômicos
A calota craniana mais complacente nos lactentes é mais suscetível a deformidades e fratu-
ras, sendo comuns lesões assintomáticas ou ocultas, assim como lesões diretas no encé-
falo causadas no momento do impacto (lesões por golpe).
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
Lesão primária
A fisiopatologia da injúria cerebral grave envolve dois insultos: lesão primária e lesão secundária.
Lesão primária é a lesão direta do parênquima cerebral decorrente do trauma em si, produ-
zida no momento do impacto como consequência do traumatismo direto sobre o cérebro
ou por forças de aceleração ou desaceleração, agindo na substância branca. Na criança, ao
contrário dos adultos, as alterações tendem a ser difusas.
São exemplos de lesões primárias: lesões no couro cabeludo: contusões, hematomas, lacerações.
Fraturas de crânio ocorrem em 8 a 41% dos TCE em crianças, sendo as lineares as mais
comuns. Não implicam obrigatoriamente em lesão neurológica, mas demonstram a impor-
tância da força de impacto. Todo paciente com fratura deve ser submetido à TC de crânio
Concussão é o termo utilizado quase como sinônimo de TCE leve. O que caracteriza o qua-
dro é a presença de confusão mental, com ou sem amnésia. A confusão dura menos de 1
hora, e o paciente se recupera completamente.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Hematoma intraventricular pode aparecer como lesão isolada e raramente persiste por mais
de 2 semanas em virtude da diluição do sangue no líquor. Pode ser causa de febre e levar
à hidrocefalia obstrutiva.
A hemorragia subaracnóidea acompanha com frequência o TCE e sua correlação com pior
prognóstico não está confirmada em pediatria. Pode levar a sinais e sintomas de irritação
meníngea e tardiamente à hidrocefalia.
Lesões secundárias
É a cascata de reações fisiológicas e bioquímicas que ocorre após o trauma primário, po-
dendo levar à perda da autorregulação encefálica e ao surgimento ou agravamento do in-
chaço cerebral difuso. Diferencia-se da lesão primária por ser potencialmente tratável e
passível de prevenção.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
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Os eventos secundários podem ou não ser agravados por agressões secundárias, que exa-
cerbam a lesão cerebral e pioram o prognóstico.
As principais agressões secundárias são: hipotensão (PA sistólica abaixo do percentil 5 para
idade), hipóxia, hipercapnia, hipocapnia, anemia, febre, hipo ou hiperglicemia, distúrbios hi-
droelétroliticos e acidobásicos, sepse ou pneumonia, e coagulopatia. Hipotensão e hipóxia
são os fatores mais importantes e, quando ocorrem nas fases iniciais do atendimento, são
fatores de risco independentes de pior prognóstico.
O limiar para instituir tratamento para HIC utilizado na maioria dos estudos pediátricos é de
20mmHg por mais de 5 minutos; no entanto, dados obtidos por meio do exame clínico fre-
quente, monitorização de variáveis fisiológicas, PPC e exames radiológicos devem ajudar
na interpretação dos valores de PIC e nas decisões terapêuticas.
A maioria dos pacientes vítimas de TCE com alterações tomográficas irá desenvolver HIC
nos dias subsequentes ao trauma, sendo que o pico de pressão acontece nos 3 primeiros
dias na metade dos pacientes, e após o quinto dia em 25% deles.
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Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Após TCE, uma série de alterações fisiológicas pode levar ao aumento na PIC: aumento do
volume de qualquer um dos componentes intracranianos; perda da autorregulação entre fluxo
sanguíneo cerebral (FSC) e atividade metabólica; aumento na produção de Líquido céfalorra-
quidiano – LCR em resposta a hiperemia cerebral; hipercapnia ou hipóxia, que podem gerar va-
sodilatação e aumento do FSC; e edema cerebral. O edema cerebral, por sua vez, pode ser va-
sogênico (movimento de água da vasculatura para o espaço extravascular; caracteriza-se por
quebra na barreira hematoencefálica); citotóxico (aumento de água no intracelular em resposta
a um gradiente osmótico); intersticial (em razão do aumento da pressão hidrostática liquórica).
O termo “brain swelling” é utilizado para descrever o aumento global do encéfalo, geralmen-
te associado a HIC, seu mecanismo é descrito como consequente ao aumento do volume
sanguíneo encefálico, e não ao aumento de água por quebra de barreira hematoencefálica
Após uma lesão cerebral, mecanismos compensatórios agem com o objetivo de manter a PIC
normal. Aproximadamente 30% da capacidade de diminuição do volume intracraniano é repre-
sentada pelo LCR, que pode ser deslocado para o espaço espinhal subaracnoide ou reabsorvido.
Os achados clínicos nos pacientes com HIC variam desde exame neurológico normal até
sinais inequívocos de comprometimento do sistema nervoso central. São sinais que podem
estar presentes: hemorragia retiniana; papiledema; macrocefalia; hidrocefalia; paralisia do
III, IV ou VI par de nervos cranianos, sendo a do II a mais frequente; alteração do nível de
consciência; hemiparesia, hiperreflexia e hipertonia; hipertensão arterial sistêmica (HAS),
bradicardia e depressão respiratória (tríade de Cushing) são sinais tardios.
PaO2 e pressão de dióxido de carbono (PaCO2) têm papéis bem estabelecidos no fluxo san-
guíneo cerebral FSC. Quedas da PaO2 causam vasodilatação na tentativa de manter a ofer-
ta de oxigênio cerebral. Hipercapnia também leva à vasodilatação e ao aumento do FSC,
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
enquanto a hipocapnia reduz o fluxo. Mudanças no FSC ocorrem segundos após aumento
ou diminuição na PCO2. Pode se considerar que, para cada variação de 1mmHg na PCO2,
haverá uma variação de 1 a 3% no FSC no mesmo sentindo.
Autorregulação
Corresponde à diferença entre a PAM e a PIC, podendo ser expressa pela equação:
Em situações normais, a PPC é autorregulada pelo FSC e acoplada à taxa metabólica cerebral.
Em adultos, varia de 50 a 70mmHg; em crianças, os valores ainda não foram bem estabelecidos.
Recomenda-se manter PPC>40mmHg em crianças com TCE grave. Quando a PPC cai para
abaixo do nível crítico, em razão de hipotensão ou aumento da PIC pode ocorrer isquemia.
Não há estudos que comprovem que PPC supranormal reduza a morbimortalidade.
Abordagem inicial
O atendimento inicial das crianças com TCE segue as diretrizes do Advanced Trauma Life
Support® (ATLS®) e do Pediatric Advanced Life Support® (PALS®), quais sejam:
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Exames complementares
A existência de fratura é um fator de risco para a presença de lesões intracranianas, entre-
tanto sua ausência não exclui a possibilidade de haver lesão (PROtiped 23). Admite-se a
realização de radiografia de crânio em algumas situações clínicas em crianças menores de
2 anos.
TC é o exame de maior utilidade na fase aguda, pela rapidez da realização e pelas informa-
ções que é capaz de fornecer.
Nos casos de TCE moderado e grave, a TC de crânio deve ser realizada o mais rapidamente pos-
sível, para avaliação de edema cerebral e possíveis lesões que necessitem intervenção cirúrgica.
Nos últimos anos, têm-se estudado regras de predição clínica para a realização de TC de
crânio em crianças com lesão cerebral. Uma das regras mais recentes é a da Pediatric
Emergency Care Applied Research Network (PECARN), um estudo multicêntrico publicado
em 2009, que tem como objetivo identificar quais crianças com trauma de crânio teriam
risco baixo de lesões cerebrais traumáticas que tivesse importância clínica e, portanto, não
necessitariam de TC de crânio.
A ressonância magnética (RM) de crânio deve ser reservada para o diagnóstico de pacien-
tes cujo quadro clínico não é consistente com os achados da TC de crânio (Figura 3).
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A avaliação do doente com TCE por uma equipe treinada é responsável pela diminuição da
taxa de mortalidade, sendo essa redução tanto mais relevante quanto mais especializado
for o centro que avalia o doente. Assim sendo, cada doente deve ser avaliado por uma
equipe multidisciplinar cuja intervenção se estende por três domínios: pré-hospitalar, hos-
pitalar e pós-hospitalar. Quanto mais rápida a abordagem do doente e a transferência para
um centro especializado, melhor o prognóstico do paciente. Parece óbvio entender que um
atendimento rápido e eficiente dessas vítimas por muitas vezes muda o prognóstico neuro-
lógico desses doentes, portanto é imprescindível investir nesse atendimento primário.
Valores acima desse são de extrema gravidade e requerem tratamento imediato, a fim de se
evitar herniação do tecido cerebral, comprometendo o tronco encefálico.
Toda avaliação frente a um caso de TCE se inicia por um exame neurológico minucioso, vi-
sando avaliar possíveis leões de tronco ou raízes nervosas. É importante avaliar o tamanho
e a simetria das pupilas, bem como a sua reação à luz (possíveis lesões do terceiro e quarto
nervos). Pupilas dilatadas e arreativas indicam lesão do tronco. Assimetria (anisocoria) indi-
ca lesão unilateral, de modo geral.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
Há algumas maneiras conhecidas de medir a PIC ou supor sua medida. Uma forma é a intro-
dução intracerebral de cateteres ligados a transdutor que permitem medidas contínuas da PIC.
Em geral, é de baixo custo e sensível, sendo colocado no ventrículo lateral, permitindo que
essa conduta seja diagnóstica e terapêutica, sendo possível drenagem de liquor se necessário.
Como desvantagem desse método temos o alto índice de infecção, variando na literatura
entre 7 e 40%. Há controvérsia na literatura quando ao tempo de permanência desses dis-
positivos. Em geral, podem ser mantidos por até 5 dias, porém há relatos de permanência
maior, caso necessário (Figura 4).
Outro tema por vezes controverso é com relação aos critérios para colocação de cateter
para medida de PIC. Em geral esse dispositivo está indicado em casos de tomografia com-
putadorizada de crânio alterada ou em casos de tomografia craniana normal, porém com
sinal de alerta extremos de idade, alteração de pressão arterial ou postura motora anômala).
A PIC em geral tem como alvo ser mantida abaixo de 20 mmHg por meio de sedação, hi-
perventilação leve (PCO2 em torno de 35 mmHg) e uso de manitol (0,25-1,0 gr/kg) em bólus.
Por vezes são usadas medidas adicionais, como hiperventilação entre 30 e 50 mmHg ou
sedação com barbitúricos.
Figura 4. Esquema ilustrativo do posicionamento dos cateteres: (A) subdural; (B) extradural e (C)
ventricular. Adaptado de Aucoin et al.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A medida da saturação de oxigênio por meio de cateter localizado na veia jugular, na altura
do bulbo, permite avaliar situações de isquemia. Valores abaixo de 55% indicam necessi-
dade de oxigênio por parte dos tecidos, geralmente indicando isquemia de causa global
(hipóxia, hipotensão ou anemia) ou cerebral (herniação).
É um bom método, porém com algumas limitações, pois fatores locais podem alterar essa
medida sem que isso signifique necessariamente um sofrimento cerebral importante. Exem-
plos: vasoespasmo, contusão, pequenos infartos, etc. O cateter tem diâmetro de 4F, ou
seja, (muito fino) e, assim como o cateter para medida de PIC, também deve ser trocado a
cada 5 dias, de forma geral.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
O líquido permite a coleta de lactato, piruvato, glicerol, glicose e glutamato. Uma relação
lactato/piruvato aumentada (valor normal 23 +/- 4) indica isquemia nos tecidos analisados.
Figura 7. (A) Esquema de funcionamento da extremidade distal de um cateter de diálise e (B) controle
radiológico pós-inserção de cateter de diálise
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tratamento
A tríade história clínica, exame físico e exame neurológico formam o pilar para a avaliação
clínica inicial do paciente vítima de TCE e permitem que o mesmo seja classificado quanto
ao risco de desenvolver uma lesão neurológica permanente ou que a lesão já desenvolvida
seja agravada. Em um primeiro momento frente ao paciente devem ser seguidas as diretri-
zes do Advanced Trauma Life Support (ATLS/)/Pediatric Advanced Life Support (PALS), a fim
de padronizar o atendimento a esses doentes.
A abordagem inicial deve ser toda direcionada de forma a não agravar as lesões secundá-
rias ao trauma, ou seja, aquelas que decorrem após um período de tempo de já ocorrido o
trauma craniano, as quais são associadas a elevadas taxas de morbimortalidade.
Após seguida a sequência de atendimento segundo o PALS – Pediatric Advaced Life Su-
pport, uma nova abordagem deve ser feita visando a à realização de uma história clínica
e um exame clínico mais detalhados, após depois da estabilização do doente ou simulta-
neamente à realização da primeira abordagem. A maioria dos pacientes vítimas de TCE
possuem possui outras lesões associadas (fraturas ósseas, lesões abdominais, e lesões
medulares), daí a importância dessa segunda abordagem minuciosa.
Com relação aos exames de imagem indicados a esses pacientes, a Tomografia Computo-
rizada (TC) ainda continua sendo o método de eleição para a avaliação do paciente com do
TCE na urgência. A radiografia (RX) do crânio tem ainda indicação quando não é possível
a realização da TC para o diagnóstico de fraturas ósseas (a presença de fratura óssea em
radiografia RX aumenta o risco de hematoma intracraniano) ou presença de corpos estra-
nhos que sejam radiopacos. A utilização de Ressonância Magnética (RM) e da Angiografia
Cerebral cerebral ainda é limitada em contexto de urgência pelo tempo necessário à sua re-
alização, por sua disponibilidade reduzida e pelo pouco impacto nas decisões terapêuticas
a tomar na urgência, porém, fora desse cenário, são bastante úteis e utilizadas.
Os principais objetivos nessa abordagem inicial do paciente vítima de TCE a são a preven-
ção da hipóxia, e da hipotensão, o controle da pressão intracraniana (manter valores < 20
mm Hg) e a intervenção neurocirúrgica quando indicada. Após um período de estabilização,
os pacientes de risco devem ser admitidos no setor de terapia intensiva (escala de Glasgow
GCS ≤ 12 ou GCS = de 13, porém com TC de crânio alterada).
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Pacientes com TCC grave (escala de Glasgow < 8) devem ser intubados e mantidos em
ventilação mecânica. Evitar hipercapnia nesses pacientes, pois sua ação vasodilatadora
pode aumentar a pressão intracraniana.
Suporte hemodinâmico
Estudos demonstraram que a pressão sanguínea sistólica > 90 mmHg no tratamento inicial e
na reanimação do paciente está associada com melhor prognóstico, pois a manutenção de
uma pressão arterial adequada significa a manutenção de uma perfusão cerebral adequada.
A hipotensão deve ser evitada e tratada prontamente para evitar a redução do FSC a níveis
abaixo do suportável pelo tecido cerebral.
Caso o paciente não esteja sendo monitorizado com cateter de medida de PIC, ponderar
o tratamento da hipertensão, a menos que a pressão arterial media esteja acima de 120
mmHg, pois a pressão sanguínea sistêmica elevada pode estar mantendo o FSC. Para o
tratamento da hipertensão, a infusão de betabloqueadores de curta ação está indicada,
pois eles não causam vasodilatação cerebral, quando comparados com nitratos e bloque-
adores de canais de cálcio, e consequentemente, não causam aumento do volume sanguí-
neo cerebral ou da PIC.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
Manejo da HIC
Constitui o principal ponto a ser levado em conta frente a um caso de TCE, pois seu manejo
inadequado pode comprometer o prognóstico neurológico do paciente irreparavelmente.
Frente a um paciente com TCE, é preciso agir de forma a manter essa PPC adequada, evi-
tando-se a isquemia cerebral.
É definido como um valor aceitável uma PPC > 60 mmHg no paciente com TCE. Valores de
PPC abaixo de 60 mmHg em pacientes com TCE sugerem isquemia cerebral e estão asso-
ciados a maiores taxas de mortalidade e sequelas tardias.
Para obter o controle adequado da PIC e da PPC, usamos recursos como a redução
do metabolismo cerebral, sedação, hiperventilação, terapia hiperosmolar e procedi-
mentos cirúrgicos.
Hiperventilação
O principal fator que determina o calibre dos vasos cerebrais é a PaCO2. A redução da
PaCO2 causa vasoconstrição, reduzindo o volume sanguíneo cerebral e, consequentemen-
te, reduzindo a PIC. Porém, deve ser usado com cautela, pois pode provocar isquemia ce-
rebral quando não realizada de forma adequada e com a monitorização necessária.
Deve-se buscar manter a SaO2 ≥ 90% ou a PaO2 ≥ 60 mmHg. Uma PaCO2 em torno 30 a
35 mmHg pode ser usada em um primeiro momento em pacientes com aumento da PIC,
valores menores são reservados para pacientes com quadro de PIC refratária a todos os
outros tratamentos.
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Solução hipertônica
É um dos principais tratamentos utilizados no manejo do aumento da PIC após um TCE. Devi-
do ao seu efeito rápido, é indicada nos casos com aumento agudo da PIC. A substância mais
conhecida e mais largamente utilizada é o manitol, que possui ação rápida e boa eficácia.
A dose de manitol no TCE é de 0,7 g/kg; entretanto alguns protocolos defendem o uso de
altas doses de manitol, acima de 1,4 g/kg, porém sem evidências que comprovem o uso
em altas doses. Doses repetidas de manitol devem ser realizadas com muito cuidado, pois
a osmolalidade > 320 mOsm/L está associada a efeitos colaterais em nível neurológico e
renal, exigindo monitorização adequada. Outras possíveis complicações do uso do manitol
são a depleção do volume intravascular excessivo, hipotensão e hipercalemia.
Existem outras soluções hipertônicas que podem ser utilizadas que também funcionam
reduzindo o edema cerebral ou mover a água de dentro para fora das células e, consequen-
temente, reduzindo a PIC. Devem ser reservadas para os casos em que não há resposta
com o uso do manitol.
Hipotermia
A hipotermia é reservada para os casos de TCE grave e está associada à melhora da sobre-
vida após o trauma.
Porém, deve ser reservada aos casos que não respondem aos outros tratamentos existen-
tes e não como tratamento de primeira escolha.
Barbitúricos
O uso desses medicamentos pode ser bastante eficaz e seu sucesso, ao reduzir a PIC, ocorre
devido à a redução do metabolismo cerebral, redução do FSC e inibição dos radicais livres.
No entanto, deve-se levar em conta os efeitos adversos dessas medicações, como, princi-
palmente, hipotensão.
Durante o uso dessas substâncias está indicada a monitorização contínua com eletroence-
falograma, a fim de titular a dose ideal, visando minimizar possíveis complicações de seu
uso excessivo, como parada cardíaca ou hipercalemia.
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Camip
Anticonvulsivantes
Seu uso não está indicado na fase aguda quando se trata de pacientes que não apresen-
taram convulsão, porém sempre individualizar o tratamento caso a caso, ponderando risco
de convulsão X efeito colateral da medicação.
Contraindicado em casos de
Fentanil 25–50ug dose ou infusão contínua
hipertensão intracraniana
Contraindicado na insuficiência
Fenobarbital 30–120mg/dia
respiratória sem ventilação mecânica
Ataque de 15–20mg/kg.
Fenitoína Pode causar hipotensão e choque
Manutenção de 300-400mg/dia
Procedimento cirúrgico
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Figura 9. Tratamento da hipertensão intracraniana. PIC: pressão intracraniana; PPE: ; TC: tomografia
computadorizada; PaCO2: pressão parcial de gás carbônico; EEG: eletroencefalograma
Conclusão
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Camip
• TCE é uma das principais causas de lesão grave e sequela neurológica em pediatria
• Prevenir lesão secundária é uma preocupação que deve estar presente durante todo o
atendimento da criança com TCE grave, pois são lesões “que podem ser prevenidas”
que ditam o prognóstico neurológico final
• A TC de crânio é o exame mais indicado e deve ser feito o mais rapidamente possível
após estabilização do paciente
Bibliografia
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Capítulo 20 | Traumatismo craniencefálico na criança
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Camip
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Insuficiência 21
Insuficiência renal Renal Aguda
Capítulo 21
aguda
Criança de 1 ano e 3 meses, sexo masculino, previamente hígida, procurou pronto atendi-
mento com história de há 5 dias ter iniciado quadro de diarreia e dor abdominal. Há 1 dia,
mãe referia palidez e, hoje, aparecimento de sangue nas fezes com diminuição da diurese.
Mãe referiu peso seco de 10 kg e estatura de 75 cm. Ao exame criança em regular estado
geral, descorada ++/4, desidratada de algum grau, taquipnéica leve, afebril, com edema
bipalpebral. Frequência cardíaca (FC) 150, pressão arterial (PA) 110x60mmHg; saturação
(Sat) 98% em ar ambiente. Aparelho cardiovascular com bulhas rítmicas, normofonéticas
em dois tempos sem sopros. Pulsos periféricos finos com tempo de enchimento capilar > 3
segundos; ausculta pulmonar normal; abdome distendido, ruídos hidroaéreos aumentados,
doloroso à palpação, descompressão brusca negativa sem visceromegalias; irritabilidade,
sem sinais de comprometimento meníngeo; edema em membros inferiores.
Iniciada monitorização, obtido acesso venoso periférico, realizada expansão com solução
fisiológica num total de 40mL/kg. Apresentou melhora da perfusão periférica e da taqui-
cardia, mas sem diurese. Coletados exames laboratoriais e solicitada vaga de unidade de
terapia intensiva (UTI) para melhor monitorização.
Exames iniciais com hemoglobina (Hb) 7,5 g/dL, 19.000 leucócitos/mm3 e 60.000 plaque-
tas/mm3, ureia 150 mg/dL, creatinina 2,0 mg/dL, sódio 129 mEq/L, potássio 5,3mE/L, pH
7,21, bicarbonato 8 mEq/L, reticulócitos 2,5%, desidrogenase lática (DHL) 900U/L; urina 1
com pH 5,5, proteinúria ++, cilindrúria ++, sódio urinário de 35 mEq/L.
Na UTI, criança evoluiu com oligúria (diurese < 0,5mL/kg/h), anasarca, aumento de PA e
aumento progressivo dos níveis de ureia (220 mg/dL) e creatinina (2,3 mg/dL). Recebeu
concentrado de hemácias devido à Hb de 6,5 g/dL, sendo iniciada restrição hídrica e te-
rapia com diurético (furosemida 2 mg/kg/dia) sem melhora da diurese e da hipertensão.
Foi indicada terapia de substituição renal (TSR).
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
Questões
1. Esse paciente pode ser classificado como tendo insuficiência renal aguda (IRA) pré-renal ou
IRA intrínseca? Quais critérios laboratoriais poderiam ser utilizados para diferenciá-las?
2. Com base no quadro clínico e laboratorial, qual a provável etiologia para a insuficiência
renal apresentada pelo paciente?
3. A indicação de TSR está correta? Qual o método dialítico indicado? Justifique.
Apresentação
IRA é um termo genérico para uma diminuição abrupta e sustentada na função renal re-
sultando em retenção de resíduos nitrogenados (ureia e creatinina) e não nitrogenados.
Dependendo da gravidade e da duração da disfunção renal, esse acúmulo é acompanhado
de distúrbios metabólicos, como acidose metabólica e hipercalemia, mudanças no balanço
de fluidos corpóreos e efeitos em outros órgãos e sistemas. A IRA é uma situação comum
em pediatria, de alto custo e acarreta alta morbidade e mortalidade. Como é uma situação
que frequentemente pode ser prevenida, a identificação de pacientes de risco e a instituição
de medidas preventivas são cruciais para obtenção de um desfecho favorável. O rápido
reconhecimento e tratamento da IRA podem prevenir uma perda irreversível dos néfrons1.
Definições
A definição de IRA em adultos e crianças tem sido bastante variável. Em 2004, o grupo
Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI) desenvolveu o critério RIFLE para definição de IRA,
sendo Risk para risco de disfunção renal, Injury para lesão renal, Failure para falência renal,
Loss para perda da função renal e End-stage para estágio final de doença renal. As três
primeiras categorias (Risk, Injury e Failure) organizam o grau de IRA baseado na amplitude
de aumento da creatinina sérica (ou diminuição da taxa de filtração glomerular − TFG) e/ou
diminuição no débito urinário.
1
Nota do revisor: Recentemente, o termo insuficiência renal aguda (IRA) vem sendo sido substituído por lesão
renal aguda (LRA) ou injúria renal aguda. IRA enfatiza falência renal, o que nem sempre está presente. Os avanços
na compreensão dos mecanismos fisiopatológicos demonstram que, na verdade, a disfunção renal é um proces-
so de natureza dinâmica, em constante progressão e transição. Devido a falhas no conceito tradicional de IRA,
denotando diagnóstico impreciso e heterogêneo, e às evidências na literatura que pequenas mudanças no ritmo
de filtração glomerular demonstram impacto importante na evolução e no seguimento clínico, a denominação mais
apropriada é o de LRA, a qual passou a ser vista como um espectro de diferentes acometimentos de gravidade
progressiva, demonstrando-se associação entre a gravidade do comprometimento renal e a morbimortalidade de
pacientes em UTI pediátrica.
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370
Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Quadro 1. Critérios Risk, Injury, Failure, Loss, End-Stage (RIFLE) e Risk, Injury, Failure,
Loss, End-Stage pediátrico (pRIFLE)
RIFLE pRIFLE
Aumento da
creatinina ≥ 1,5 <0,5mL/kg/h x CCE** diminuído <0,5mL/kg/h x
Risk
vez ou diminuição 6 horas em 25% 8 horas
da TFG* ≥25%
Aumento da
creatinina
<0,5mL/kg/h x CCE diminuído <0,5mL/kg/h x
Injury ≥2 vezes ou
12 horas em 50% 16 horas
diminuição da TFG
≥50%
Aumento da
creatinina ≥
3 vezes ou
CCE diminuído
diminuição da <0,3mL/kg/h x 24 <0,5mL/kg/h x
em 75% ou
Failure TFG ≥75% ou horas ou anúria x 24 horas ou anúria
CCE <35mL/
creatinina > 4mg/ 12 horas x 12 horas
min/1,73m2
dL (aumento
agudo >0,5 mg/
dL)
Falência
persistente =
completa perda da
Falência
função renal > 4
Loss persistente > 4
semanas (definida
semanas
pela necessidade
de TSR > 4
semanas)
371
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
Falência
persistente =
doença renal em Falência
End-stage estágio final > 3 persistente > 3
meses (definida meses
como necessidade
de TSR > 3 meses)
Também em 2007, a Acute Kidney Injury Network (AKIN) propôs pequenas modificações
no critério RIFLE e, em 2012, uma diretriz internacional desenvolvida pela Kidney Disease
Improving Global Outcomes (KDIGO) harmonizou RIFLE, pRIFLE e AKIN em uma definição
uniformizada (Quadro 2).
Aumento da
Aumento CrS
CrS ≥
≥ 0,3mg/dL
< 0,5mL/kg/ 0,3mg/dL < 0,5mL/kh/ <0,5mL/kg/
Diminuição de em 48 horas
Risk hora por I ou aumento hora por I hora por 6 a
25% do CCE ou aumento da
8 horas da CrS ≥ ≥ 6 horas 12 hora
CrS ≥1,5–1,9
150–200% em
vez
≤48 horas
Aumento da
Aumento CrS
CrS ≥ 300%
Diminuição de < 0,5mL/ < 0,3mL/kg/ ≥ 3 vezes ou < 0,5mL/kg/
ou CrS ≥
75% do CCE kg/hora por hora por ≥ CrS > 4 mg/ hora por 24
4mg/dL com
Failure ou CCE 24 horas ou III 24 horas ou III dL ou se horas ou <
um aumento
<35mL/ anúria x 12 anúria < 18 anos, 0,3mL/kg/h
absoluto ≥
min/1,73m2 horas ≥12 horas CCE <35mL/ por 12 horas
0,5mg/dL ou
min/1.73 m2
início de TSR
CrS: creatinina sérica; CCE: clearance de creatinina estimado; TSR: terapia de substituição renal
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Epidemiologia e fisiopatologia
As causas de IRA podem ser divididas em três categorias: pré-renal, renal ou intrínseca e
pós-renal (Quadro 3). Na forma pré-renal, existe um aumento reversível na concentração
sérica de ureia e creatinina, resultante da diminuição da perfusão renal, levando a uma di-
minuição na TFG. A IRA pós-renal ocorre devido à obstrução do sistema coletor urinário
por massas intrínsecas ou extrínsecas. Os pacientes remanescentes têm a forma de IRA,
na qual, estruturas do néfron, como glomérulos, túbulos, vasos ou interstício são afetados.
Hemorragia
Desidratação por perdas gastrintestinais e urinárias (diarreia,
Hipovolemia vômitos e diabetes insipidus)
Aumento de perdas insensíveis (queimaduras)
Aumento de perdas para terceiro espaço (sepse)
Anti-inflamatórios não hormonais
IRA
pré-renal Inibidores da enzima de conversão
Antagonista de receptores da angiotensina 2
Hipoperfusão renal Insuficiência cardíaca congestiva
Choque cardiogênico
Choque distributivo (anafilaxia, sepse)
Oclusão arterial ou estenose da artéria renal
Lesão hipóxico-isquêmica
Necrose tubular aguda Nefrotoxicidade por drogas
Toxinas endógenas e exógenas
Nefropatia por ácido
úrico e síndrome de
lesão tumoral
Nefrite Intersticial
IRA Aguda
Glomerulonefrites
Síndrome hemolítica urêmica
Lesões vasculares Trombose de veia e artéria renais
Necrose cortical
Hipoplasia renal e
displasia renal
Uretral: válvula de uretra posterior, fimose
IRA Vesical: bexiga neurogênica, tumores
Uropatia obstrutiva
pós-renal
Ureteral: obstrução bilateral dos ureteres ou obstrução
unilateral em rim único, nefrolitíase
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
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Lesão renal pré-renal ocorre quando o fluxo sanguíneo para os rins é diminuído devido uma
condição de hipovolemia verdadeira ou redução no volume sanguíneo efetivo circulante,
causando hipoperfusão renal.
Uma vez que os rins são intrinsecamente normais, a lesão pré-renal é reversível, logo que o
fluxo sanguíneo e a condição hemodinâmica são restaurados para níveis normais.
Sequelas importantes de IRA pós-renal são diurese pós-obstrutiva e acidose tubular renal
hipercalêmica. Uma vez que a obstrução é desfeita, o débito urinário pode aumentar muito,
e alguns pacientes podem ficar depletados de volume, necessitando de monitorização e
ajuste da volemia e do estado eletrolítico durante essa fase diurética. O desenvolvimento
de acidose tubular hipercalêmica é lento e gradual na maioria dos casos, e a anormalidade
tende a desaparecer após a correção da obstrução.
A IRA pré-renal e a NTA podem ocorrer como sequência do mesmo processo fisiopatológi-
co e, juntas, respondem por mais de 75% de todas as causas de IRA. No passado, acredi-
tava-se que a recuperação da lesão hipóxico-isquêmica e nefrotóxica da NTA era completa,
com retorno da função renal para o normal. Estudos recentes, porém, têm mostrado que a
recuperação pode ser parcial e que esses pacientes apresentam alto risco para desenvolver
lesão renal crônica posterior.
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A NTA é causada por uma lesão renal isquêmica ou nefrotóxica, que pode resultar de vários in-
sultos renais distintos, configurando uma entidade histopatológica e fisiopatológica específica.
Como a NTA corresponde a causa mais frequente de IRA, sua fisiopatologia será descrita
a seguir.
375
Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
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A NTA também pode ser causada por nefrotoxicidade, ou seja, lesão tóxica direta nas cé-
lulas tubulares. Medicações associadas com IRA incluem os antibióticos aminoglicosídeos,
anfotericina B, agentes quimioterápicos, aciclovir, acetaminofen e meios de contraste intra-
vascular. Outros medicamentos têm sido implicados menos frequentemente.
Das causas vasculares de IRA, a SHU é a mais comum em pediatria. SHU é uma microan-
giopatia trombótica e é caracterizada por três principais sintomas: anemia hemolítica não
imune com eritrócitos fragmentados, trombocitopenia e IRA, indicada pelo aumento na cre-
atinina sérica.
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas da IRA decorrem da redução abrupta das funções fisiológicas re-
nais, acarretando prejuízo na excreção de produtos nitrogenados e perda da capacidade de
regular o balanço de água e eletrólitos, além de perda da regulação do equilíbrio acidobásico.
IRA pode se manifestar na forma oligúrica, na qual o fluxo urinário é < 1mL/kg/hora, ou na
forma não oligúrica, onde o fluxo urinário pode ser normal ou até aumentado.
O acúmulo dos produtos nitrogenados, como ureia e outras toxinas urêmicas, pode levar ao
quadro clínico de uremia, uma das manifestações mais graves da IRA. As manifestações da
uremia incluem anorexia, náuseas e vômitos, neuropatia periférica e anormalidades do sis-
tema nervoso central, como letargia, convulsões e coma, além de disfunções plaquetárias
com risco de sangramento, pericardite e derrame pericárdico.
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
mia e edema intracelular, com graves alterações neurológicas. A IRA compromete também a
excreção de outros eletrólitos podendo levar a sintomas decorrentes da hipercalemia, hiper-
fosfatemia, hipocalcemia e acidose metabólica, relatados em capítulos específicos.
Diagnóstico
O diagnóstico de IRA envolve a realização de uma história clínica e exame físico detalhados,
avaliação de exames laboratoriais sanguíneos e urinários, e exames de imagem.
Os valores de sódio urinário, bem como FENa e a osmolaridade urinária são utilizados para
diferenciar lesão pré-renal de renal em pacientes com função renal tubular inicialmente nor-
mal. Recém-nascidos com imaturidade de função tubular e crianças com doença renal
preexistente podem ter dificuldade na utilização destes índices. O uso de diuréticos tam-
bém pode alterar esses valores. O Quadro 4 indica alguns índices urinários normalmente
utilizados para diferenciar IRA pré-renal e renal.
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
IRA: insuficiência renal aguda; Na: sódio; FENa%: fração de excreção de sódio;
FEureia: fração de excreção de ureia
Sob condições de baixa perfusão renal, como na IRA pré-renal, a concentração sanguínea
de ureia sofre aumento desproporcional devido à ávida absorção de água e sódio no túbulo
proximal, enquanto a taxa de creatinina plasmática eleva-se como uma fração não linear.
Se a hipoperfusão persistir e a situação evoluir para IRA, as concentrações plasmáticas de
ureia e creatinina continuam altas e tendem a se elevar ainda mais. No entanto, a despro-
porção entre as concentrações de ureia e creatinina tendem a desaparecer.
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Valores estimados da depuração da creatinina podem ser calculados por meio da fórmula
de Schwartz (quando utilizado o método colorimétrico para dosagem da creatinina plamá-
tica) (Figura 1).
Idade Valor de k
Figura 1. Fórmula de Schwartz original para o cálculo estimado da taxa de filtração glomerular (TFG).
k: constante; L: altura (cm); PCr: creatinina plasmática (mg/dL)
Biomarcadores
Estabelecer o diagnóstico precoce de IRA muitas vezes é difícil, uma vez que muitos casos
inicialmente são assintomáticos ou apresentam sintomas inespecíficos. O diagnóstico se
baseia em marcadores funcionais, como a creatinina sérica e, como visto anteriormente,
são indicadores tardios e pouco confiáveis de IRA.
Estudos têm mostrado que o diagnóstico e o tratamento precoces por meio de biomar-
cadores, iniciados antes mesmo do aumento da creatinina sérica, acarretam em melhor
prognóstico para pacientes com IRA, evitando muitas vezes a progressão para doença
renal crônica e a necessidade de terapia dialítica. Biomarcadores de IRA são capazes de
diagnóstico precoce, estratificação de risco e prognóstico podendo representar um grande
avanço no tratamento de pacientes vulneráveis.
379
Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
Bypass
Nefropatia Sepse Transplante
Biomarcador Amostra cardio- Método
por contraste e UTI renal
pulmonar
12-24 horas
2 horas 4 horas após 48 horas
NGAL Urina pós ELISA
após bypass contraste antes da IRA
transplante
12-24 horas
4-6 horas 48 horas
IL-18 Urina – pós ELISA
após bypass antes da IRA
transplante
12-24 horas
KIM-1 Urina – – – ELISA
após bypass
12 horas
8 horas após 48 antes Dade-
Cistatina C Plasma após by variável
contraste da IRA Behring
pass
UTI: unidade de terapia intensiva; ELISA: enzyme-linked immunosorbent assay; NGAL: Neutrophil
Gelatinase-Associated Lipocalin; IL-8: Interleucina 8; KIM-1: Kidney Injury Molecule 1
NGAL
KIM-1
Interleucina-18
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Cistatina C
Inibidor de proteinase produzida por células nucleadas. É facilmente filtrada pelos gloméru-
los e reabsorvida pelas células tubulares proximais e não é secretada. Em pacientes criti-
camente doentes, elevação de 50% nos níveis séricos de cistatina C prediz IRA 1 a 2 dias
antes da elevação da creatinina. É primariamente um marcador sensível de redução da TFG
e não um marcador direto de dano tubular renal. Pode ser influenciada por sexo, idade,
peso, anormalidades na função tireoidiana e elevação da proteína C-reativa.
Exames de imagem
Um grande número de estudos radiológicos pode ser utilizado para avaliar os pacientes
com IRA. Esses testes são usados sozinhos ou em associação para a elucidação diagnós-
tica e orientação terapêutica.
Ultrassonografia de rins e vias urinárias deve ser realizado em todos os pacientes com qua-
dro de insuficiência renal de etiologia desconhecida. Esse exame pode documentar a pre-
sença de um ou dois rins, delimitar o tamanho renal e pesquisar o parênquima renal. Rins pe-
quenos e/ou com perda da delimitação córtico-medular são indicativos de insuficiência renal
crônica (IRC), enquanto rins de tamanho normal ou aumentado com córtex preservado são
fortemente sugestivos de IRA. A ultassonografia é particularmente útil, também, para diag-
nosticar obstrução do trato urinário, evitando complicações alérgicas e tóxicas dos meios de
contrastes utilizados em métodos mais invasivos, além de diagnosticar oclusão de grandes
vasos renais. Doppler renal pode ser usado para avaliar o fluxo vascular renal em múltiplas
doenças, como trombose de veia renal, infarto renal e estenose de artéria renal.
Prevenção e tratamento
381
Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
Tratamento clínico
Fluidos
O primeiro passo para tratar IRA pré-renal e NTA consiste em adequar a volemia. O reconhe-
cimento da hipovolemia e a administração precoce de fluidos são essenciais para reversão
da IRA pré-renal. A escolha do tipo de fluido intravenoso não afeta a morbimortalidade dos
pacientes, podendo ser utilizado solução coloide ou cristaloide. O uso de coloide sintético
deve ser evitado pelo aumento da incidência de IRA e da necessidade de TSR após ressus-
citação fluídica com o uso dessas soluções. Após restituída a volemia, o balanço hídrico
deve ser monitorizado rigorosamente para evitar sobrecarga hídrica. Estudos em adultos e
crianças, consistentemente mostram que pacientes com balanço hídrico acumulado ele-
vado no início da TSR, apresentam maior mortalidade, com valores mantidos mesmo após
ajustes para outras comorbidades. Em pacientes com IRA, um maior grau de sobrecarga
hídrica no início da TSR, também prediz pior recuperação da função renal a longo prazo,
com manutenção da dependência da terapia dialítica.
Diuréticos
A IRA oligúrica está associada com piores resultados quando comparado a IRA não oligú-
rica. Não existem dados, entretanto, que suportem que a transformação da IRA oligúrica
para a não oligúrica melhore estes resultados, acarretando melhor impacto na sobrevida ou
recuperação da função renal.
Os diuréticos podem facilitar o manejo clínico desses pacientes uma vez que podem au-
mentar o débito urinário, permitindo a administração de fluidos, nutrição e medicações
intravenosas com menor rigor de restrição hídrica, além de auxiliarem no manejo da so-
brecarga hídrica. Diuréticos de alça podem ser administrados de forma intermitente ou por
infusão contínua.
Drogas vasoativas
Em pacientes de terapia intensiva, drogas vasoativas são utilizadas para adequar o débito
cardíaco e tratar hipotensões refratárias a fluidos, visando manter uma pressão de perfusão
renal adequada. A droga a ser escolhida depende da situação clínica em questão, podendo
ser utilizado a dobutamina, adrenalina, noradrenalina ou dopamina.
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O termo “lesão renal aguda induzida por contraste” é utilizado para pacientes que desen-
volvem IRA seguida da exposição de meio de radiocontraste intravascular. Esse termo é
amplamente utilizado na literatura e usualmente define um aumento na creatinina sérica ≥
0,5 mg/dL ou um aumento de 25% no valor de base em até 48 a 72 horas do procedimento
radiológico. Em uma minoria dos casos, o pico de aumento da creatinina sérica pode ocor-
rer até 5 dias após a exposição ao contraste. A maioria dos estudos mostra que pacientes
que desenvolvem lesão renal aguda induzida por contraste apresentam maior tempo de
hospitalização e aumento da mortalidade.
Existem várias estratégias farmacológicas (expansão parenteral com solução salina isotôni-
ca ou solução de bicarbonato de sódio), uso de N-acetilcisteína (NAC) oral, descontinuação
de anti-inflamatórios não hormonais e não farmacológicas (uso da menor dose possível
do meio de contraste, meio de contraste isosmolar ou com baixa osmalaridade, intervalo
mínimo entre os exames com contraste de 48 a 72 horas) para prevenir lesão renal aguda
induzida por contraste. Estudos recentes sugerem que, das muitas estratégias existentes,
apenas a expansão volumétrica parenteral, diminuição da dose do contraste, utilização de
contrates isosmolares ou com baixa osmolaridade, estão relacionados com desfechos fa-
voráveis na prevenção de lesão renal.
Os fluidos que têm sido testados na prevenção da lesão renal aguda induzida por con-
traste são solução salina isotônica (0,9%) e solução isotônica de bicarbonato de sódio
(154mmol/L) sem definição consistente de qual solução é superior.
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Camip
IRA é um termo genérico para uma diminuição abrupta e sustentada na função renal resul-
tando em retenção de resíduos nitrogenados (ureia e creatinina) e não nitrogenados. O rápi-
do reconhecimento e tratamento da IRA podem prevenir uma perda irreversível dos néfrons.
Em 2004, o ADQI desenvolveu o critério RIFLE para definição de IRA. Em 2007, foi desen-
volvida e validada uma versão pediátrica modificada do critério RIFLE (pRIFLE). Também
em 2007, a AKIN propôs pequenas modificações no critério RIFLE.
As causas de IRA podem ser divididas em três categorias: IRA pré-renal, IRA ou intrínseca
e IRA pós-renal.
Lesão renal pré-renal ocorre quando o fluxo sanguíneo para os rins é diminuído devido a
uma hipovolemia verdadeira ou devido a uma redução no volume sanguíneo efetivo circu-
lante causando hipoperfusão renal.
A maior causa de IRA é a NTA, correspondendo a cerca de 70 a 90% dos casos de IRA.
A NTA é causada por uma lesão renal isquêmica ou nefrotóxica, que pode resultar de
vários insultos renais distintos, configurando uma entidade histopatológica e fisiopato-
lógica específica.
IRA pode se manifestar na forma oligúrica, na qual o fluxo urinário é < 1mL/kg/hora, ou na
forma não oligúrica, podendo o fluxo urinário ser normal ou até aumentado.
O acúmulo dos produtos nitrogenados, como ureia e outras toxinas urêmicas, pode levar ao
quadro clínico de uremia. A perda da capacidade de regular o balanço de água e eletrólitos
pode levar a retenção de fluidos, com o desenvolvimento de hipertensão e edema, incluin-
do edema agudo de pulmão. A IRA compromete também a excreção de outros eletrólitos
podendo levar a sintomas decorrentes da hipercalemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia e
acidose metabólica.
O diagnóstico de IRA envolve a realização de uma história clínica e exame físico detalhados
complementados pela avaliação de exames laboratoriais sanguíneos e urinários (exames
de urina e índices urinários, ureia e creatinina plasmáticas) e biomarcadores, e exames de
imagem (ultrassonografia, raio X simples de abdome, tomografia computadorizada, resso-
nância magnética e cintilografia com radioisótopos).
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Capítulo 21 | Insuficiência renal aguda
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Distúrbios
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos 22
Capítulo 22
Hidroeletrolíticos
Distúrbios hidroeletrolíticos
Luiza Ghizoni
Tarsila Toyofuku Luiza Ghizoni
Olberes Vitor Braga de Andrade Tarsila Toyofuku
Olberes Vitor Braga de Andrade
Cenário clínico 1
Em relação aos exames, observou-se acidose mista (metabólica e respiratória), pois a PaCO2
encontrada encontrava-se acima do esperado: 33,5 ± 2 [(17 x 1,5) + 8]. Para avaliar a aci-
dose metabólica, procedeu-se ao cálculo do ânion gap (AG), o qual encontrava-se elevado:
Na - (HCO3 + Cl) = 140 - (17 + 98) = 25. Configurou-se acidemia metabólica de AG aumen-
tado, provavelmente pela acidemia lática, evidenciada pelos níveis elevados de lactato.st
Na UTI, o paciente foi acoplado à ventilação mecânica com ajustes dos parâmetros a fim de
manter oxigenação adequada e corrigir o distúrbio respiratório. Mantido em jejum com soro
de manutenção seguindo a regra de Holliday-Segar para as necessidades basais diárias de
volume e sódio (3mEq/Kcal), potássio 40mEq/L, suplementação de cálcio (1mEq/Kg/dia) e
magnésio (0,3mEq/Kg/dia). Associada sedação com fentanil e midazolam, mantido antimi-
crobiano, e tituladas as drogas vasoativas.
Após 3 dias de evolução, com maior estabilidade hemodinâmica, melhora da perfusão tis-
sular e redução das drogas vasoativas, ainda sob ventilação mecânica, o paciente evoluiu
com crise convulsiva tônico-clônica generalizada com duração de 3 minutos e melhora após
infusão de diazepam endovenoso. Procedida coleta de exames laboratoriais para descartar
causas metabólicas e encaminhado do paciente para tomografia computadorizada (TC) de
crânio, para avaliar possíveis complicações da meningite. TC de crânio não apresentou alte-
rações e os exames laboratoriais eram os seguintes: pH de 7,38; PaCO2 de 41mmHg; HCO3
de 23mEq/L; PaO2 de 120mmHg; SatO2 de 97%; Na de 118mEq/L; K de 4,0mEq/L; Cl de
99mEq/L; Cai de 1,24mmol/L; ureia de 20mg/dL; creatinina de 0,4mg/dL; lactato de 2,5mg/
dL. Foi observado também que, apesar de melhora das escórias nitrogenadas, o paciente
mantinha balanço hídrico positivo, com diurese de 0,5 a 1mL/kg/hora.
Qual é a possível explicação para esse episódio de crise convulsiva? Qual é o distúrbio
hidroeletrolítico presente? Quais os principais diagnósticos diferenciais para o mesmo e
como refinar a investigação?
Distúrbios do sódio
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O rim possui um papel central na homeostase do sódio e da água e, neste balanço, estão
envolvidos principalmente o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), o hormônio
antidiurético (HAD), o peptídeo natriurético atrial (PNA), e o controle renal de concentração
e diluição urinárias, com participação do mecanismo contracorrente multiplicador, alça de
Henle, túbulo coletor e hipertonicidade medular. O SRAA é estimulado pelo volume arterial
efetivo baixo e a aldosterona age no túbulo distal, estimulando a reabsorção de sódio e água,
com consequente aumento da excreção de K+ e H+. O PNA tem ação contrária à aldosterona,
sendo que, com a distensão da parede atrial, há sua liberação, resultando em aumento da
natriurese e inibição da aldosterona. O HAD é produzido pela neuro-hipófise, em resposta ao
aumento da osmolalidade plasmática em sensores hipotalâmicos e age nos ductos coletores,
estimulando sinalização celular, resultando em polimerização e transporte das aquaporinas
para a membrana apical, as quais promovem a reabsorção renal de água livre.
Por sua importante ação no controle da osmolalidade sérica, os distúrbios do sódio podem
levar a lesões graves e irreversíveis do sistema nervoso central. As alterações bruscas da
osmolalidade podem levar à desidratação das células cerebrais ou ao edema cerebral, que
podem causar graves danos ao sistema nervoso central.
Hiponatremia
A hiponatremia pode ser definida classicamente como uma concentração de sódio sérico
abaixo de 135mEq/L. É o distúrbio hidroeletrolítico mais comum em pacientes hospitaliza-
dos e está associada com o aumento no tempo de permanência hospitalar, necessidade
de internação em UTI, custo financeiro e mortalidade. A hiponatremia leva à diminuição da
osmolalidade do espaço extracelular e ao movimento de líquidos do espaço extracelular
para o intracelular, resultando no edema das células.
As principais causas de hiponatremia estão citadas na figura 1, entre as quais pode-se dar
destaque para a infusão de soro hipotônico em pacientes hospitalizados. Em pediatria,
utiliza-se, frequentemente, para cálculo do soro de manutenção, a regra de Holliday-Segar,
a qual define que a necessidade diária de sódio equivale a 3mEq/Kcal/dia. Todavia, na prá-
tica, quando elaborado, este soro apresenta tonicidade bastante inferior à tonicidade plas-
mática e, consequentemente, cria-se um ambiente propício para o desenvolvimento de hi-
ponatremia. Os pacientes internados por diversas condições patológicas, pós-operatórios
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
os dois espaços, diluindo, dessa forma, o sódio sérico. Com a correção da glicemia, o só-
dio volta aos valores basais sem que nenhuma outra medida seja tomada. A fórmula mais
utilizada para estimar o sódio sérico corrigido em um estado de hiperglicemia é a de Katz:
Na+corrigido= Na+mensurado + [1,6 x (glicose - 100)/100].
O tratamento da SSIADH envolve restrição hídrica entre 60 a 80% das necessidades basais,
reservando a reposição de sódio apenas para os casos avançados de depleção corporal de
sódio. A hiponatremia sintomática severa com convulsões/coma deve ser corrigida com so-
lução de cloreto de sódio (NaCl) 3%, evitando-se o aumento acima de 10 a 12mEq/L nas 24
horas, devido ao risco de síndrome de desmielinização osmótica. Alternativamente, agentes
que inibem a osmolalidade urinária resultando em efeito aquarético, como os diuréticos de
alça ou que inibem diretamente o efeito do HAD no duto coletor, tais como a demecloci-
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
clina, podem ser usados (estes não aprovados em pediatria). Os antagonistas do receptor
da vasopressina (vaptans), como o conivaptan e tolvapatan, foram também recentemente
aprovados em subgrupos de pacientes adultos e em casos de hiponatremia crônica euvo-
lêmica e hipervolêmica, insuficiência cardíaca e em alguns casos refratários específicos. Na
faixa pediátrica, não há aprovação de seu uso até o momento.
Foi instaurada restrição hídrica para 60% do basal e, como o paciente apresentou manifesta-
ção clínica grave de hiponatremia, foi procedida a correção do sódio com salina a 3%, lenta-
mente e com cuidado para limitar a elevação do sódio abaixo de 8 a 12mEq/L em 24 horas.
Além disso, a concentração de sódio do soro foi aumentada para o equivalente a 136mEq/L.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Deve-se ressaltar que não existem diretrizes bem estabelecidas e com evidências para o
tratamento da hiponatremia em crianças, existindo grande variabilidade quanto a alguns
aspectos da correção terapêutica desse distúrbio.
Se há hiponatremia sintomática, devemos administrar solução salina 3%, em que 1mL equi-
vale a 0,5mEq (para o preparo do NaCl 3%, podemos diluir 15mL de NaCl 20% em 85mL
de água destilada). Considerando que a porcentagem média de água corpórea total de uma
criança corresponda a 70% do peso, alguns autores extrapolam que a infusão de 0,7mEq/
kg/hora de NaCl 3% (1,4mL/kg/h) corresponderia a uma velocidade de aumento de sódio
de aproximadamente 1mEq/L/h, assumindo perdas concomitantes de fluido isotônico, por-
tanto, variável e dependente da perda simultânea de sódio.
Nos quadros agudos (<48 horas) e sintomáticos apresentando sintomas leves, a infusão
de NaCl 3% deve respeitar velocidade máxima de infusão de 1 a 2mEq/L/hora ou 2 a 4mL/
kg/h) em 4 horas. Nos casos agudos e com sintomas graves (convulsão, coma e alto risco
de herniação tentorial e óbito), a infusão de NaCl 3% deve respeitar a velocidade máxima
de infusão de 3 a 5mEq/L/hora ou 6 a 10mL/kg/h). Nos casos de hiponatremia sintomática
grave e encefalopatia hiponatrêmica, alguns autores consideram a infusão endovenosa em
bólus de 2mL/Kg de NaCl 3% em 10 minutos (máximo de 100mL) com repetição da infusão
em uma a duas vezes, até os sintomas melhorarem. No entanto, muitos autores consideram
não ultrapassar 5mEq/kg/hora de solução salina a 3% nos quadros agudos.
Nos casos de hiponatremia crônica (> 48 horas ou duração desconhecida) e sintomática, na-
queles casos leves, a infusão de solução salina a 3% deve respeitar 0,5mEq/L/hora ou 1mL/
kg/hora em 4 horas. Nos casos sintomáticos e graves, a infusão de solução salina a 3% deve
respeitar 1 a 2mEq/L/hora ou 2 a 4mL/kg/hora em 4 horas. Em relação à velocidade de infu-
são, muitos autores consideram não ultrapassar 2,5mEq/kg/hora nos casos crônicos.
A quantidade de sódio a ser reposta também pode ser calculada pela seguinte fórmula:
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
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Podemos considerar o Naesperado como 125 na maioria dos casos. No entanto, alguns auto-
res consideram o alvo de 120 para o Naesperado nos casos crônicos. Alguns autores orientam
infundir 50% do valor obtido na primeira hora, nos casos sintomáticos, e o restante a ser
ofertado uniformemente nas 24 horas seguintes, na forma de solução de manutenção. Lem-
brar que a hiponatremia sintomática, raramente ocorre quando a concentração sérica de
sódio encontra-se >120mEq/L.
Deve-se cessar a infusão de salina hipertônica nos casos de: resolução de sintomas (pa-
ciente alerta, consciente, respondendo aos comandos e resolução da cefaleia ou náuseas);
aumento agudo do sódio sérico de 10mEq/L nas primeiras 5 horas ou obtenção de sódio
sérico de 130mEq/L.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
mal não exclui um diagnóstico clínico inicial. Não há tratamento específico, mas há relatos
de melhora com gamaglobulina, plasmaferese e corticosteroides, sugerindo a presença de
componentes imunológicos envolvidos na fisiologia do quadro.
Nos casos de hiponatremia crônica assintomática, devemos tratar a condição primária rela-
cionada e a doença de base.
Hipernatremia
Esse distúrbio resulta basicamente de três mecanismos: baixo aporte hídrico, excesso de
oferta de sal, e perda de água livre ou de fluidos diluídos, com maior quantidade de água em
relação ao sal. As principais causas estão descritas no Quadro 1. Recém-nascidos, lacten-
tes e pacientes portadores de neuropatias são particularmente propensos a esse distúrbio.
Hiperaldosteronismo
Ingestão inadequada
Perdas gastrintestinais
Perdas renais
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
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O quadro clínico varia de acordo com a etiologia associada e o paciente pode se apresentar
com sinais clínicos de desidratação. Lembrar que como a osmolalidade sérica está aumen-
tada, esses sinais podem ser pouco exuberantes. Há irritabilidade, alterações do nível de
consciência, letargia, avidez por água, hipertonia muscular, hiperreflexia e confusão mental.
Devido à hiperviscosidade do sangue, fenômenos trombóticos podem ocorrer.
Déficit de água livre (DAL) em litros = peso corporal (kg) x 0,6 x (1 - 145 / Naencontrado)
Tal forma é equivalente a cerca de 3 a 4mL/kg para cada 1mEq/L de sódio acima de 145mEq/L.
Outra fórmula prática:
Desta forma, 4 mL/kg de água livre deve ↓ 1mEq/L de Na+. A oferta basal de sódio e potás-
sio deve ser oferecida normalmente, acrescida do déficit de água, que deve ser feita em 48
horas. Outros distúrbios eletrolíticos devem ser corrigidos, tais como a hipocalcemia. Caso
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
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Em casos críticos, com hipernatremia > 200mEq/L e acidose metabólica grave, a terapia
dialítica deve ser a opção terapêutica. No caso de diabetes insipidus central, além de estra-
tégias de reposição hídrica, administra-se o acetato de desmopressina (DDAVP). Nos casos
de diabetes insipidus nefrogênico, além de redução programada e lenta da osmolalidade
com oferta de soro hipotônico, programa-se restrição de sal, tiazídicos com amiloride e in-
dometacina em casos selecionados. Como já referido, nos casos de desidratação grave e
instabilidade hemodinâmica, a prioridade é a infusão de cristaloide até estabilização hemo-
dinâmica. Vale ressaltar que também não há uniformidade e nem consenso com evidências
no tratamento da hipernatremia na infância.
Distúrbios do potássio
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
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séricos de acordo com o pH, a fim de minimizar erros em sua interpretação. Para cada 0,1
de queda de pH, o potássio real deve ser reduzido em 0,5 a 0,6mEq/L, e para cada 0,1 de
aumento de pH, o potássio real deve aumentar em 0,3 a 0,4mEq/L.
Hipocalemia
Síndrome de Fanconi
Síndrome de Bartter
Perdas renais
Fase poliúrica da LRA
Cetoacidose diabética
Diarreia
Perdas extrarrenais
Perdas cutâneas (mucoviscidose) etc.
Alcalemia
400
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O tratamento varia de acordo com os níveis séricos de potássio, devendo ser rápido e efeti-
vo quando o médico se depara com hipocalemia grave e sintomática. As causas do distúr-
bio devem ser direcionadas pela história clínica. Procede-se com o tratamento da doença
de base e com a reposição de potássio conforme a Quadro 3. Um eletrocardiograma (ECG)
deve ser realizado na urgência para avaliar se há repercussões eletrocardiográficas.
Hipercalemia
A maioria dos autores considera hipercalemia quando os níveis séricos de potássio estão
acima de 5,5mEq/L, sendo considerados graves, níveis acima de 6,5mEq/L ou com re-
percussão eletrocardiográfica. Devemos lembrar que, no período neonatal, valores de até
6,0mEq/L são considerados normais. As principais causas de hipercalemia estão relacio-
nadas ao aumento da oferta de potássio, redução da excreção deste ou movimentos trans-
celulares, com aumento do transporte de potássio do intra para o extracelular. Elas estão
citadas no Quadro 4.
401
401
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
- Hipoaldosteronismo
- Imaturidade tubular em neonatos
- Lesão renal aguda e doença renal crônica
- Hiperplasia adrenal congênita
- Pseudohipoaldosteronismo
Diminuição na excreção
- IECA (captopril, enalapril etc), BRA2
(losartan, valsartan,etc), diuréticos
Medicamentos
poupadores de potássio, ciclosporina,
antiinflamatórios não hormonais), etc.
- Rabdomiólise
- Síndrome de lise tumoral
- Necrose tecidual
Movimentos transcelulares
- Medicamentos (betabloqueadores, di-
Acidemia gitálicos, e bloqueador neuromuscular
despolarizante, como a succinilcolina)
A hipercalemia, em grande parte das vezes, é assintomática, ou pode cursar com sintomas
inespecíficos como câimbras, contrações musculares, parestesias, fasciculações, mialgia,
arreflexia, disritmias cardíacas, precordialgia, náuseas, vômitos, mal-estar e até morte sú-
bita. As alterações eletrocardiográficas, em geral, variam de acordo com a gravidade de
hipercalemia, porém isto não é uma regra. As principais alterações eletrocardiográficas es-
peradas são ondas T apiculadas e redução do QTc por encurtamento da onda T, quando os
níveis séricos de potássio estão entre 6,5 a 7mEq/L; alargamento do QRS, aumento de am-
plitude e largura da onda P; o intervalo QTc pode ser maior que o normal, quando o potássio
sérico está entre 7 e 8mEq/L; podemos observar fusão do QRS-T, fibrilação ventricular e
assistolia, quando o K+ > 8mEq/L.
402
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Cenário clínico 2
403
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
mia (PO4 de 6,3mg/dL), hiperuricemia (ácido úrico de 16,1mg/dL), LRA (ureia de 230mg/dL e
creatinina de 3,5mg/dL) e DHL de 860 UI/dL. Raio x de tórax com aumento de área cardíaca
e sinais de congestão pulmonar.
O fósforo, por sua vez, também apresenta concentração significativa na composição do te-
cido ósseo, além de sua forma iônica no plasma. O fósforo varia sua concentração plasmá-
tica de forma não tão rigorosa quanto ao do cálcio iônico, apresentando variações do nível
sérico de acordo com a faixa etária, o sexo, a dieta, o pH e o ritmo circadiano. Assim como
o cálcio, possui um balanço interno entre o tecido mineral ósseo e o fluido extracelular, e
um balanço externo, cujo equilíbrio é baseado na absorção intestinal e na excreção renal.
404
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Hipocalcemia
A hipocalcemia tem como principais fatores etiológicos a falência de algum dos componen-
tes destes sistemas. O Quadro 7 traz as principais causas de hipocalcemia.
405
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
O hipoparatireoidismo deve sempre ser lembrado, constituindo umas das principais causas
de hipocalcemia, a qual vem associada à hiperfosfatemia. A deficiência de vitamina D pode
ser causada por fatores nutricionais ou por redução da exposição solar, bem como em sín-
dromes disabsortivas ou com perdas renais de vitamina D, como na síndrome de Fanconi
e na síndrome nefrótica. A hipovitaminose também pode ser consequência do excesso de
metabolização da 25-OH-vitamina D nas doenças hepáticas, em uso de fenobarbital pela
interação com o citocromo P450, e pela redução ou deficiência de sua ativação no tecido
renal, como na doença renal crônica e nos raquitismos vitamina D-dependentes.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Também pode-se observar papiledema, entre outras várias manifestações sistêmicas, de-
pendendo da etiologia. O EGC pode evidenciar aumento do intervalo QT corrigido (o normal
é de 0,44 segundos) e inversão da onda T.
O tratamento da hipocalcemia baseia-se na reposição deste elemento, a qual deve ser en-
dovenosa nos casos graves e com manifestações clínicas agudas, ou oral, em pacientes
assintomáticos e com hipocalcemia leve. A terapêutica também deve ser dirigida primaria-
mente para o controle dos fatores etiológicos ou outras condições associadas ao distúrbio
(por exemplo: alcalose respiratória). A reposição endovenosa deve ser realizada com 0,3 a
0,6mL/kg de gluconato de cálcio a 10% (máximo de 10mL/dose), conforme a gravidade,
sob diluição com soro fisiológico ou glicosado pelo risco de flebite e administrado lenta-
mente, entre 10 e 30 minutos, com monitoração cardíaca devido ao risco de bradicardia e
assistolia. Pode ser repetida, se necessário. Outra opção é a infusão de cloreto de cálcio
10% (0,2mL/kg, máximo de 5mL), entretanto, devido à sua hiperosmolalidade, há maior
risco de lesão tissular, devendo ser utilizado preferencialmente em veia central, se possível.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
Há estudos com PTH humano recombinante, porém ainda sem aprovação para uso no
hipoparatireoidismo. O Quadro 8 apresenta as principais formulações de cálcio para uso
endovenoso e oral.
Hipercalcemia
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Aumento da
Doenças granulomatosas crônicas, por conversão extrarrenal de 25(OH)
absorção intestinal
D em 1,25(OH)2D
Hiperparatireoidismo
Hipertireoidismo
Diuréticos tiazídicos
Redução da
excreção renal
Hipercalcemia hipocalciúrica familiar etc.
Feocromocitoma
Insuficiência adrenal
Rabdomiólise
Miscelânea
Nutrição parenteral
Síndrome de Williams
A acidose também pode levar à hipercalcemia por aumento da fração ionizada causada
pelo estímulo do hidrogênio à redução da ligação com a albumina. Além disso, o tecido
ósseo faz parte dos mecanismos de tamponamento, liberando cálcio e fósforo na corrente
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
O tratamento deve ser direcionado para a doença de base, objetivando a redução da cal-
cemia, o aumento da excreção renal de cálcio e a redução da reabsorção óssea e absorção
intestinal desse mineral (Quadro 10). Para aumentar a calciúria, deve-se promover hipe-
ridratação e expansão volêmica com solução salina isotônica (em pacientes graves, até
200mL/kg/dia), observando que a excreção renal de cálcio está relacionada com a de sódio,
associando-se diurético de alça (furosemide, 1mg/kg cada 3 a 6 horas). Os corticosteroides
agem suprimindo a absorção intestinal de cálcio e a formação extrarrenal de calcitriol.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Diurético de alça Furosemida 1mg/kg por via endovenosa a cada 3–8 horas
5–10 U/Kg por via endovenosa seguida por manutenção de 4 U/kg por
Calcitonina
via endovenosa ou subcutânea a cada 12 a 24 horas
Hipofosfatemia
Assim como o cálcio, o fósforo apresenta menos de 1% de seu estoque corporal no líquido
extracelular, com a proporção de 65% do fósforo plasmático na forma de fosfolípides, cerca
de 10% ligado à albumina e o restante como íon fosfato. Os valores de fosfatemia variam de
acordo com a faixa etária, sendo proporcionalmente mais altos quanto menor a faixa etária.
A principal causa de hipofosfatemia em pacientes internados são as trocas deste íon do
plasma para o ambiente intracelular.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
Nutricional
Redução da absorção
Uso de antiácidos
Hiperparatireoidismo
PTHrP
Doença de Dent
Outras tubulopatias
As trocas de fósforo para o interior das células podem ser observadas durante a infusão
de glicose ou insulina no tratamento de cetoacidose diabética ou no processo de reali-
mentação em desnutridos, em que as demandas de fósforo no intracelular aumentam, e
este é mobilizado do plasma. Isso também é descrito em doenças neoplásicas em que o
crescimento celular acelerado aumenta a necessidade de fósforo, e na síndrome da “fome
óssea”, em que há ampla atividade dos osteoblastos e formação óssea.
A reabsorção tubular de fosfato é em torno de 85%, sendo sua maior porção reabsorvida no
túbulo contorcido proximal. Perdas urinárias são evidenciadas na síndrome de Fanconi, em
que há disfunção tubular proximal global, associada à acidose metabólica, hipocalcemia, hi-
pocalemia, proteinúria tubular, glicosúria na ausência de hiperglicemia e hipouricemia, entre
outros achados. As perdas renais também estão elevadas no hiperparatireoidismo, pela ação
fosfatúrica do PTH e nos raquitismos hipofosfatêmicos quando há perda renal de fósforo.
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A maior parte dos casos de hipofosfatemia não exige medidas bruscas de correção, princi-
palmente se o distúrbio estiver associado a trocas com o fluido intracelular. A terapia com
reposição endovenosa de fósforo está indicada para os pacientes com hipofosfatemia grave
(≤1mg/dL ou 0,3mmol/L), criticamente doentes, intubados ou com sequelas de hipofosfate-
mia, como rabdomiólise e anemia hemolítica e naqueles casos de hipofosfatemia moderada
(1,0 a 2,5mg/dL ou 0,3 a 0,8mmol/L) que estiverem sob ventilação mecânica. A reposição
oral é indicada para os demais casos. São poucos os relatos farmacológicos em pediatria,
sendo em geral, extrapolados da literatura de adultos. Em geral, o fosfato endovenoso
deve ser reposto na dose de 0,08 a 0,33mmol/kg/dose em infusão contínua por um período
de 4-6 horas, lembrando que este é incompatível com soluções que contenham cálcio ou
magnésio, devido ao risco de precipitação. Outra forma de correção considera 5-10mg/
kg de fosforo endovenoso por 6 horas, com repetição, se necessário. A solução de fosfato
deve ser diluída em SG5% ou soro fisiológico, em uma proporção de 50mL para cada 1mL
de solução de fosfato endovenosa. Complicação da excessiva repleção de fósforo inclui
calcificação metastática e nefrocalcinose (especialmente na presença de hipercalcemia e
insuficiência renal). A reposição por via oral/enteral deve ser individualizada com oferta de
30 a 90mg/kg/dia de fosfato, em quatro a cinco doses divididas, utilizando-se preparações
comerciais disponíveis, formulações farmacêuticas padronizadas hospitalares ou formula-
ções orais de manipulação contendo sais de sódio/potássio e fosfato. Devemos considerar,
entre os possíveis efeitos adversos, a intolerância oral e diarreia. Durante a correção, con-
troles periódicos de fósforo, cálcio, potássio e gasométricos são indicados. O Quadro 12
traz as principais formulações de fósforo para uso oral e endovenoso.
413
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
Uso oral
Uso parenteral/endovenoso:
Fosfato ácido de
1mL=2mEq de fosfato, 2mEq de potássio e 1,1mMol de fósforo
potássio (2mEq/mL)*
* Observar que 1mEq de fosfato da solução contém 31mg de fósforo elementar (0,032mEq=1mg).
Considerar formulações específicas com composição diferenciada, conforme farmácia e
instituição hospitalar
Hiperfosfatemia
A doença renal crônica é a principal causa de hiperfosfatemia sustentada, agravando-se
com a progressiva redução da taxa de filtração glomerular, principalmente pela redução da
excreção renal deste íon. Agudamente, a hiperfosfatemia é o resultado de processos de
intensa lise celular, como a rabdomiólise e a síndrome da lise tumoral (SLT).
414
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
De volta ao nosso cenário clínico e munidos das informações revisadas, podemos observar
que o paciente acima evoluiu com uma importante e grave complicação pós quimioterapia,
a síndrome de lise tumoral. Esta é decorrente da maciça lise de células neoplásicas, com
consequente aumento sérico dos eletrólitos que estão em grande quantidade no meio in-
tracelular. A hiperuricemia leva ao depósito destes cristais no parênquima renal e LRA, com
oligúria, uremia, acidose metabólica, entre outras manifestações. Uma frequente forma de
apresentação desta condição é como o paciente acima, com síndrome urêmica e edema
agudo de pulmão. O tratamento é feito com rasburicase, uma versão recombinante da enzi-
ma urato oxidase que reduz o nível sérico de ácido úrico, além do tratamento dos distúrbios
eletrolíticos associados, com reposição de cálcio, medidas para redução de potássio, que-
lantes de fosfato e terapia dialítica, que no caso acima já estaria indicada.
Distúrbios do magnésio
415
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
te envolvido em sua regulação, a sua absorção intestinal pode ser aumentada através da
ação da vitamina D, do PTH e pelo aumento da absorção de sódio. O magnésio presente
no tecido ósseo funciona como um reservatório, porém apenas após longos períodos de
hipomagnesemia é que este começa a ser mobilizado do esqueleto para a circulação san-
guínea. Frente a isso, alterações nos níveis séricos de magnésio são controladas através de
variações na taxa de reabsorção renal, de tal forma que em situações de patologias renais
os distúrbios do magnésio podem ser mais evidentes.
Hipomagnesemia
A hipomagnesemia é um distúrbio relativamente comum em pacientes hospitalizados, princi-
palmente em ambiente de terapia intensiva. É causada principalmente por redução da inges-
tão de magnésio, perdas pelo trato gastrintestinal ou por meio de perdas renais. O Quadro
13 apresenta as principais causas de hipomagnesemia. As perdas pelo trato gastrintestinal
ocorrem em situações de diarreia, esteatorreia e síndrome disabsortiva. As perdas pelos
vômitos também são importantes, porém de forma menos significativa que na diarreia. O
uso prolongado de inibidores de bomba de prótons, em associação com diuréticos, tam-
bém é descrito como causa de hipomagnesemia, com mecanismos não completamente
elucidados, sendo reversível após suspensão da medicação. As perdas renais podem estar
aumentadas devido a vários mecanismos intrínsecos ou adquiridos. No Quadro 13 estão ci-
tados alguns dos medicamentos envolvidos no aumento da exceção renal de magnésio. Nos
pacientes com diabetes mellitus descompensada, a hipomagnesemia é bastante frequente
pelo aumento das perdas renais, sendo essa perda revertida com o melhor controle da gli-
cemia. As causas familiares e genéticas de hipermagnesiúria são, em geral, diagnósticos de
exclusão, quando se comprova o aumento da excreção renal de magnésio, afastando outras
causas secundárias. Podemos destacar a hipomagnesemia familiar com hipercalciúria e ne-
frocalcinose, a hipomagnesemia isolada autossômica dominante e autossômica recessiva,
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Diarreia
Doença inflamatória intestinal,
doença celíaca, fibrose cística,
linfangiectasia intestinal, pós-
Doenças
operatórios de ressecção intestinal
gastrintestinais Síndromes disabsortivas
Pancreatite
Desnutrição
Hipomagnesemia associada à
hipocalcemia
Anfotericina, cisplatina, ciclosporina,
tacrolimo, diuréticos de alça,
Medicamentos diuréticos tiazídicos, manitol,
aminoglicosídeos, dopamina,
pentamidina etc
Hipercalcemia
Síndrome de Gitelman, síndrome de
Perdas renais Bartter, Hipomagnesemia familiar
com hipercalciúria e nefrocalcinose,
Doenças genéticas
hipomagnesemia autossômica
dominante, hipomagnesemia
autossômica recessiva
Hipoparatireoidismo
Hipertireoidismo
Diabetes tipo I e II
Restrição da oferta de cálcio na dieta
Outros Síndrome da “fome óssea”
Grande queimado
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
A hipomagnesemia, em geral, não causa sintomas, porém quando grave, está associada
à hipocalcemia, a qual pode ser sintomática, ou apresentar os mesmos sintomas, mesmo
na ausência de hipocalcemia, como tremores, tetania, convulsões e os sinais de Chvostek
e Trousseau. As alterações eletrocardiográficas da hipomagnesemia são o achatamento
da onda T e o prolongamento do segmento ST, além de torsades des pointes (taquicardia
ventricular polimórfica). As manifestações cardíacas são mais significativas em pacientes
com cardiopatia prévia. O diagnóstico etiológico é feito com base na história e na situação
clínica de cada paciente. A avaliação de fração de excreção de magnésio (FEMg) auxilia na
diferenciação das perdas renais das demais causas. Ela deve ser calculada pela fórmula
abaixo, na ausência de suplementação de magnésio. Em vigência de hipomagnesemia deve
estar abaixo de 2%. Nesta condição, a FEMg acima de 4–5%, sugere perda renal deste íon.
Os demais exames devem ser solicitados de acordo com a suspeita clínica.
Hipermagnesemia
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Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Os sintomas geralmente estão ausentes até que o magnésio plasmático esteja acima de
4,5mg/dL. Este excesso inibe a acetilcolina nas junções neuromusculares, produzindo hipo-
tonia, hiporreflexia e fraqueza, além de depressão, letargia, rubor facial e hipotensão através
de efeito vasodilatador. As alterações eletrocardiográficas associadas são: prolongamento
dos intervalos P-R, QRS e Q-T, podendo evoluir para bloqueio atrioventricular total, bradi-
cardia e parada cardíaca. Nos pacientes com função renal preservada, em geral, rapida-
mente consegue-se eliminar o excesso de magnésio através do aumento da hidratação en-
dovenosa associada aos diuréticos de alça e restrição da oferta. Em situações graves, com
manifestações neurológicas e cardíacas, o uso de 100mg/kg de gluconato de cálcio a 10%,
endovenoso, em 5 a 10 minutos, é uma solução transitória. Para os casos de insuficiência
renal ou de refratariedade, a terapia dialítica pode ser necessária. Em neonatos, pode-se
utilizar também a exsanguineotransfusão.
419
Capítulo 22 | Distúrbios hidroeletrolíticos
Camip
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Distúrbios
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
23
Capítulo 23 Acidobásicos
Distúrbios acidobásicos
Luiza Ghizoni
Thamara Sigrist
Luiza Ghizoni
Olberes Vitor Braga de Andrade
Thamara Sigrist
Olberes Vitor Braga de Andrade
Caso clínico
Paciente de 4 anos, sexo feminino, deu entrada no pronto-socorro trazida por sua mãe,
apresentando rebaixamento do nível de consciência e taquidispneia. Mãe relatava que a
paciente era saudável, e que durante o dia tinha passado bem, brincando à tarde toda na
casa da avó, portadora de diabetes melitus e hipertensão arterial, e que após retorno para
sua casa evoluiu com dor abdominal, náusea, vômitos, taquipneia e sonolência progressiva.
Na entrada, observava-se paciente em mau estado geral, sonolenta, escala de Glasgow 12,
corada, hidratada, temperatura 37,9oC, frequência cardíaca (FC) de 140bpm, frequência
respiratória (FR) de 50ipm, pressão arterial (PA) de 100/60mmHg, saturação de oxigênio
97% em ar ambiente, auscultas cardíaca e pulmonar normais, abdome flácido, indolor, ex-
tremidades sem edema, pulsos presentes. Não havia sinais de trauma. Além das medidas
iniciais do atendimento de emergência, procedeu-se à coleta de exames gerais e de amos-
tras de sangue e urina para exame toxicológico. Exames do paciente: gasometria arterial:
pH de 7,50; pressão parcial de gás carbônico (PaCO2) de 20mmHg; bicarbonato (HCO3) de
16mEq/L; pressão parcial de oxigênio (PO2) de 97mmHg; saturação de oxigênio (SatO2) de
93%; sódio (Na) de 145mEq/L; potássio (K) de 4,0mEq/L; cloro (Cl) de 100mEq/L; ureia de
60mg/dL; creatinina de 0,9 mg/dL; glicemia capilar de 50 mg/dL; e albumina de 4,2 g/dL.
Quais é sua principal hipótese diagnóstica? Qual é o distúrbio acidobásico presente nesta
gasometria? Quais são os métodos de avaliação deste distúrbio para que sua etiologia
seja elucidada?
Introdução
Para assegurar um ambiente ótimo para as funções celulares e o bom funcionamento dos
diversos aparelhos e sistemas, há de se manter uma fina regulação da concentração dos
íons hidrogênio nos fluídos do organismo. Essa concentração é medida por meio do pH,
que significa potencial hidrogeniônico, uma escala logarítmica que mede o grau de acidez,
neutralidade ou alcalinidade de uma determinada solução. Para nossos fluídos corporais,
os valores de pH devem estar entre 7,35 e 7,45.
423
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
O metabolismo celular produz ácidos que devem ser neutralizados, a fim de preservar o pH
ou, em outras palavras, manter estável a concentração do íon hidrogênio, uma vez que o
organismo requer um limite estreito para essa concentração.
Tampão + H+ n HTampão
Assim, o H+ livre combina-se com um tampão para formar um ácido fraco. Com isso, quan-
do a concentração de H+ aumenta, a reação é desviada para a direita e quando diminui,
desloca-se para a esquerda.
Os principais sistemas de tampão são bicarbonato, fosfato, ossos, hemoglobina, (Hb) pro-
teínas plasmáticas e intracelulares. Estes são os primeiros a iniciar sua ação neutralizadora.
Posteriormente, começam a regulação pelo sistema respiratório e, de forma ainda mais
tardia, o controle renal dos distúrbios acidobásicos (DAB).
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
e esta é regulada pelo pH e pelos níveis de PaCO2 detectados pelo centro respiratório localiza-
do no bulbo e ponte, no sistema nervoso central. Quando a concentração de íons hidrogênio
do sangue está elevada (pH baixo-acidose), o centro respiratório induz à taquipneia, aumen-
tando a eliminação do gás carbônico. Ao contrário, quando a concentração de íons hidrogênio
está baixa (pH elevado-alcalose), o centro respiratório diminui a frequência dos estímulos à
respiração reduzindo a eliminação do gás carbônico na tentativa de corrigir o pH do sangue.
pH é o logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio livres, sendo definido pela ra-
zão entre a PaCO2 e o bicarbonato plasmático. Seu valor normal situa-se entre 7,35 e 7,45.
O pH é calculado pelas fórmulas:
425
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
A PaCO2 representa a pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial e é regulada pela
ventilação pulmonar. Seus valores normais variam entre 35 e 45mmHg.
BE, descrito em mEq/L, é obtido pela multiplicação do desvio do bicarbonato (BIC) a partir
do valor médio de 22,9mEq/L e por fator igual a 1,2. Um valor inferior a -5mEq/L é indicati-
vo de ACM. Um problema associado ao cálculo do BE é que ele varia com alterações dos
eletrólitos e da albumina.
Um decréscimo de 1g/dL na albumina sérica diminui em 3,7 mEq/L o BE. Outra limitação é
que o BE não define se a acidose for causada por lactato, cetoácidos, hipercloremia ou uma
combinação desses. Ele pode ser calculado por meio da seguinte fórmula:
Figura 1. Ânion gap (AG) no plasma. (A) O AG é a diferença entre a concentração de Na+ e a soma das
concentrações de Cl- e HCO3-. (B) A adição de um ácido (por exemplo, ácido láctico) leva à queda da
-
concentração de HCO3 ,que é substituído por um ânion (por exemplo: lactato), e o AG aumenta. (C) Em
-
situações de perda de HCO3, a concentração de HCO3 cai, mas como nenhum novo ânion é adicionado,
o AG permanece normal. Adaptado de Halperin ML, Goldstein MB, Kamel KS.. Fluid, electrolyte and acid-
base physiology. A problem-based approach. 4. ed. Philadelphia:. Saunders Elsevier; 2010
426
426
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Considerando que o hiato aniônico corresponde aos ânions não mensuráveis, concluímos
que este é constituído pelas proteínas plasmáticas (principalmente a albumina), pelo sulfa-
to, fosfato e ácidos orgânicos (lático, cítrico e úrico).
Devemos inicialmente, avaliar qual anormalidade é primária e quais são secundárias, ba-
seadas no pH (observar o direcionamento do pH para identificar a desordem primária). Se
pH <7,4, pode existir acidose respiratória ou metabólica primárias. Se o pH >7,4, existe a
possibilidade de alcaloses metabólica ou respiratória primárias. Interpretamos consideran-
do os valores normais da PaCO2, do bicarbonato e do BE padrão (SBE em mmol/L, este
considerado normal entre -5 e +5). Na sequência, devemos calcular a compensação espe-
rada dos DAB primários (Quadro 1). Se o pH, PaCO2 e HCO3- não correspondem às regras
de compensação esperada, poderemos estabelecer a presença de um distúrbio misto, caso
não existam erros na coleta ou nos dados. Em situações de acidemia ou alcalemia severas,
em geral, DAB múltiplos aditivos estão presentes.
427
427
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
Distúrbio Resposta
Distúrbio pH Regra esperada
primário compensatória
Acidose J [H+]
metabólica
K K PaCO2 PaCO2 = (BIC x 1,5) + 8 + 2
K [HCO3-]
Alcalose K [HCO3-]
metabólica
J J PaCO2 [PaCO2] = 0,6 - 0,7 x [BIC]
K [H+]
Em relação ao caso clínico com pH 7,50, PaCO2 20mmHg e HCO3 16mEq/L, observamos
alcalemia (pH > 7,45) respiratória primária. Como mecanismo compensatório, para redução
do pH, os rins promovem redução da reabsorção de bicarbonato. Como a história é aguda
-
(< 24 horas), esperamos redução de 2mEq/L de HCO3 para cada redução de 10mmHg da
PaCO2. Devido à redução de 20mmHg da PaCO2 (40-20), o bicarbonato esperado seria de
20±2mEq/L (24-4). Como o bicarbonato encontrado encontra-se abaixo do esperado, adi-
cionamos o diagnóstico de ACM primária, ou seja, estamos diante de um distúrbio misto.
Acidose metabólica
Os DAB são frequentemente observados em terapia intensiva pediátrica, sendo a ACM co-
mumente associada às patologias primárias ou ocorrendo como resultado de complicações
secundárias dos pacientes internados em situações críticas.
A acidemia metabólica é caracterizada por redução do pH sanguíneo (pH < 7,35) como
resultado do acúmulo de ácidos não voláteis ou perda de bicarbonato sérico. Sua compen-
sação se dá pela redução da PaCO2: PaCO2 esperado = (1,5 x BIC) + 8 ± 2. As principais
causas de ACM estão descritas no Quadro 2.
428
428
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Acidose láctica
Cetoacidose (diabética,
Acúmulo de ácidos alcoólica)
Rabdomiólise maciça
Hiperbilirrubinemia
Administração intravenosa de
grandes volumes de NaCl
Hipoaldosteronismo
Anfotericina B
429
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
e não há correção para albumina, pois esta encontra-se dentro dos limites de normalidade.
Logo, estamos frente a um quadro de ACM de AG aumentado. Qual o próximo passo de
nossa investigação?
No caso de ACM de AG elevado, existe adição ou retenção primária de cargas ácidas (H+)
ao sistema, como ocorre na acidose lática, intoxicações exógenas, insuficiência renal e
cetoacidose diabética etc. Dessa forma, há necessidade de elevação de cargas aniônicas
para manutenção da eletroneutralidade, sem necessidade de alteração do cloro sérico. As-
sim, AG elevado reflete o aumento de ânions não mensuráveis (principalmente ácidos orgâ-
nicos). O aumento da produção de ácidos orgânicos pode resultar do excesso da atividade
de uma via metabólica normal (por exemplo: produção de ácido láctico durante a hipóxia)
ou do metabolismo de substâncias tóxicas (por exemplo: metanol e etilenoglicol).
Na ACM pelo acúmulo de ácidos, o aumento do AG acima de 12mEq/L deve ser propor-
cional à queda da concentração plasmática de HCO3- . Isso constitui uma importante fer-
ramenta para o refinamento da investigação dos DAB, levando em consideração que, nas
diversas situações clínicas, pode haver mais de um distúrbio presente. Para tal, procede-se
ao cálculo do ΔAG/ΔBIC, o qual habitualmente varia entre 1 e 2 (na acidose lática, esta
relação situa-se em 1,6). Caso essa variação (ΔAG/ΔBIC) não seja proporcional e haja um
aumento do AG mais importante do que a queda de bicarbonato (ΔAG > ΔBIC ou ΔAG/ΔBIC
> 2), existe a associação dessa acidose de AG aumentado, com alcalose metabólica, pois
os níveis de bicarbonato estão acima do esperado. Em contrapartida, se o aumento do AG
for menor do que a queda de bicarbonato (ΔAG < ΔBIC ou ΔAG/ΔBIC < 1), existem dois
processos promovendo ACM com mecanismos fisiopatológicos distintos, um por adição
de ácidos (AG aumentado) e outro por perda de bicarbonato (AG normal). Nessa segunda
situação, observa-se que o bicarbonato apresentou queda maior do que a prevista.
Voltando ao nosso cenário clínico, observamos uma ACM de AG aumentado (AG = 29). De-
vemos, então, avaliar o cálculo do ΔAG/ΔBIC.
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Em nosso cenário clínico, a identificação de determinação ACM com aumento do AG, le-
vanta a suspeita de intoxicação exógena, por exemplo devido à ingestão inadvertidamente
excessiva de ácido acetilsalicílico, associada à adição de ácidos na corrente sanguínea
devido um distúrbio mitocondrial.
A perda direta de HCO3- pode ocorrer via trato gastrointestinal (p. ex., diarréia) ou pela urina
(por exemplo: acidose tubular renal proximal ou uso de acetazolamida). A perda indireta
de HCO3- ocorre em situações com baixa excreção de NH4 (por exemplo: acidose tubular
+
A expansão rápida de volume com soro fisiológico intravenoso pode produzir “acidose di-
lucional”, uma vez que há retenção de Cl-.
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
Figura 2. Abordagem diagnóstica das acidoses metabólicas. Adaptado de Halperin ML, Goldstein
MB, Kamel KS.. Fluid, electrolyte and acid-base physiology. A problem-based approach. 4. ed.
Philadelphia:. Saunders Elsevier; 2010.
PaCO2: pressão parcial de gás carbônico; AG: ânion gap; HCO3: bicarbonato;
TGF: taxa de filtração glomerular
432
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Em que, em geral, adota-se BICesperado como 15mEq/L, por ser mais seguro quanto à com-
pensação respiratória. Outra forma de calcular a dosagem de bicarbonato é por meio do
valor de BE:
433
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
A PaCO2 venosa (coletada preferencialmente da veia braquial ou da veia femoral) pode ser
útil para monitorar o fluxo sanguíneo tecidual, que é considerado adequado quando a dife-
rença entre a PaCO2 venosa e a PaCO2 arterial situa-se abaixo de 10mmHg.
Alcalose metabólica
Outros mecanismos de tamponamento são celulares, com Na+/K+, trocas entre Cl-/ HCO3,
e aumento da ligação do cálcio iônico com albumina, reduzindo sua fração livre.
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Adenoma adrenal
Uso de glicocorticoides
Hipertensão renovascular
Salino-resistente
Tumor secretor de renina
(UCl > 20-25mEq/L;
Síndrome de Cushing
habitualmente > 40 mEq/L)
Síndrome de Bartter
Síndrome de Gitelman
Síndrome de Liddle
435
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
Os sintomas de alcalose metabólica são, em geral, relacionados com a doença de base que
ocasionou o distúrbio, como hipovolemia, desidratação e letargia. A hipocalemia secundá-
ria a alcalose também pode se manifestar com sintomas inespecíficos até arritmias graves.
A alcalemia também leva à redução do cálcio iônico, o qual aumenta sua fração ligada a
albumina, e isso pode ocasionar parestesia e tetania.
A investigação deve ser direcionada pelo quadro clínico, seguida da avaliação dos mecanismos
compensatórios e cálculo da PaCO2 esperada, para que se identifique se há algum distúrbio res-
piratório associado. A dosagem do cloro urinário, conforme revisado, auxilia na classificação e
no diagnóstico diferencial. O tratamento deve ser direcionado para a causa base que ocasionou
o DAB, lembrando da reposição de volume com soro fisiológico nas causas salino-sensíveis. O
tratamento da hipocalemia e hipocalcemia associadas também pode ser necessário.
Acidose respiratória
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
correção abrupta da hipercapnia crônica, por exemplo, pela ventilação mecânica (VM), alcali-
niza o líquido cefalorraquidiano, podendo causar crises convulsivas, além de levar à alcalose
metabólica sistêmica, que pode persistir por vários dias. As principais causas de acidose
respiratória aguda e crônica estão descritas no Quadro 4.
437
437
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
Deve-se investigar a presença de doença pulmonar crônica pela anamnese e por exame
físico. A análise da gasometria deve levar em consideração a PaCO2 em relação ao estado
acidobásico e a resposta fisiológica esperada, determinando se o quadro está compensado
ou não, e a possibilidade de um distúrbio misto. A Figura 3 exemplifica a abordagem diag-
nóstica do paciente com acidose respiratória.
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Nos pacientes sob VM convencional e acidose respiratória, os parâmetros devem ser re-
vistos como adequação da pressão inspiratória, volume corrente e frequência respiratória,
visando à ventilação alveolar satisfatória. Estratégia terapêutica especial deve ser conside-
rada nos casos de ventilação de alta frequência oscilatória. Nos casos de exacerbação da
hipercapnia crônica, deve-se reduzir a PaCO2 gradativamente, considerando-se aceitáveis,
valores de 45 a 60mmHg, desde que o pH se encontre nos limites da normalidade. Nos
casos de cronicidade, usualmente não há necessidade de correção do pH na hipercapnia
grave, devido à efetividade da compensação renal.
Alcalose respiratória
Existem outras condições que também cursam com alcalose respiratória independente dos
mecanismos anteriormente citados, como dor, estresse, ansiedade, febre, insuficiência he-
pática, uso de catecolaminas, entre outras. Pacientes em VM comumente se apresentam
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Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Camip
440
Capítulo 23 | Distúrbios acidobásicos
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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442
Capítulo Terapia Nutricional na
Capítulo 24
24 || Terapia
Terapia nutricional
nutricional na
na criança
criança gravemente
gravemente doente
doente
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
24
Criança
Capítulo 24
Capítulo 24
Gravemente Doente
Capítulo
Terapia 24
nutricional na criança gravemente doente
Terapia
Terapia nutricional na
nutricional na criança
criança gravemente
gravemente doente
doente
Artur
Artur Figueiredo
Figueiredo Delgado
Delgado
Artur Figueiredo Delgado
Caso
Caso clínico
Caso clínico
Artur Figueiredo Delgado
clínico
Menino
Menino de de 6
6 anos
anos com
com quadro
quadro dede meningococcemia
meningococcemia e e meningite
meningite foi
foi internado
internado na
na unidade
unidade dede
Menino
terapia de 6 anos
intensiva com
(UTI) quadro
com de
grave meningococcemia
instabilidade e meningite
hemodinâmica e foi internado
hipotensão na
não unidade de
responsiva
terapia intensiva (UTI) com grave instabilidade hemodinâmica e hipotensão não responsiva
terapia
à intensiva (UTI) instituída
com grave instabilidade hemodinâmica e hipotensão não responsiva
à reparação
reparação volêmica
volêmica instituída na na primeira
primeira hora.
hora. Em
Em vista
vista do
do quadro
quadro de de choque
choque séptico
séptico foi
foi
à reparação
intubado e volêmica
colocado instituída
em na
ventilação primeira
mecânica hora.
comEm vista do
parâmetros quadro
de de choque
suporte. séptico
Iniciou-se a foi
ad-
intubado e colocado em ventilação mecânica com parâmetros de suporte. Iniciou-se a ad-
intubado
ministraçãoe colocado em ventilação mecânica comque parâmetros de suporte. Iniciou-se a ad-
ministração de de noradrenalina
noradrenalina em em infusão
infusão contínua,
contínua, que rapidamente
rapidamente necessitou
necessitou de
de aumento
aumento
ministração
da de noradrenalina em infusão contínua, que rapidamente necessitou de aumento
da dose.
dose. Após
Após 3 3 horas,
horas, o o paciente
paciente melhorou,
melhorou, com
com estabilização
estabilização clínica
clínica ee dependência
dependência de de no-
no-
da dose.
radrenalinaApós 3 horas, o paciente melhorou, com estabilização clínica e dependência de no-
radrenalina de 0,5mcg/kg/minuto. Houve melhora perfusional e da pressão arterial. Após 24
de 0,5mcg/kg/minuto. Houve melhora perfusional e da pressão arterial. Após 24
radrenalina
horas foram de 0,5mcg/kg/minuto.
possíveis as reduções Houve
de melhora perfusional
noradrenalina, para dose emínima,
da pressãoe arterial.
dos Após do
parâmetros 24
horas foram possíveis as reduções de noradrenalina, para dose mínima, e dos parâmetros do
horas foram possíveis
ventilador. as reduções de noradrenalina, para dosecompreendeu
mínima, e dos parâmetros do
ventilador. AA antibioticoterapia,
antibioticoterapia, queque se
se iniciou
iniciou na
na primeira
primeira hora,
hora, compreendeu a a administração
administração
ventilador.
de A antibioticoterapia, Foique se iniciouutilizada
na primeira hora, compreendeu a administração
de ceftriaxona
ceftriaxona (100mg/kg/dia).
(100mg/kg/dia). Foi também
também utilizada corticoterapia
corticoterapia para
para oo choque
choque séptico.
séptico.
de ceftriaxona (100mg/kg/dia). Foi também utilizada corticoterapia para o choque séptico.
A
A noradrenalina
noradrenalina foi
foi suspensa
suspensa nono quarto
quarto dia
dia de
de internação,
internação, o o paciente
paciente foi
foi mantido
mantido com
com soro
soro
A
de noradrenalina foi suspensa no quarto dia de internação, o paciente foi mantido com soro
de manutenção em veia periférica. No quinto dia, institui-se a administração de terapia nu-
manutenção em veia periférica. No quinto dia, institui-se a administração de terapia nu-
de manutenção
tricional mínima em
com veia periférica.
dieta poliméricaNocompleta
quinto dia, institui-se
1cal/mL, de a administração
forma intermitentedeeterapia
por nu-
sonda
tricional mínima com dieta polimérica completa 1cal/mL, de forma intermitente e por sonda
tricional mínima com
nasogástrica. dieta polimérica completa 1cal/mL, de forma intermitentevômitos,
e por sonda
nasogástrica. OO paciente
paciente apresentou
apresentou distensão
distensão abdominal
abdominal moderada,
moderada, semsem vômitos, e e a
a
nasogástrica.
dieta foi O paciente
suspensa. Foi apresentou
instalado distensão
cateter venoso abdominal
central em moderada,
veia subclávia sem
e vômitos,
iniciada e a
terapia
dieta foi suspensa. Foi instalado cateter venoso central em veia subclávia e iniciada terapia
dieta foi suspensa. Foi(TNP)
nutricional instalado cateter venoso central em veia subclávia e iniciada terapia
nutricional parenteral
parenteral (TNP) total.
total.
nutricional parenteral (TNP) total.
Houve
Houve significativa
significativa melhora
melhora do
do quadro
quadro e eoo paciente
paciente foi
foi extubado
extubado no no sexto
sexto dia
dia de
de internação,
internação,
Houve
recebendosignificativa melhora do quadro e o paciente foi extubado no sexto dia de internação,
recebendo TNP exclusiva (não foi reiniciada a terapia nutricional enteral – TNE). No
TNP exclusiva (não foi reiniciada a terapia nutricional enteral – TNE). No nono
nono
recebendo
dia de TNP
internação exclusiva
evoluiu (não
com foi
piorareiniciada
clínica, a terapia
febre nutricional
elevada e enteral
hiperemia – TNE).
pericateter No nono
venoso,
dia de internação evoluiu com piora clínica, febre elevada e hiperemia pericateter venoso,
dia de internação
sendo evoluiu com piora clínica, febre elevada e hiperemia pericateter venoso,
sendo isolado
isolado Staphylococcus
Staphylococcus coagulase
coagulase negativo
negativo em
em hemocultura
hemocultura periférica.
periférica. Foi
Foi retirado
retirado o
o
sendo
cateter,isolado
suspensaStaphylococcus
a TNP e coagulase
introduzida negativo em
vancomicina comhemocultura
melhora periférica.
clínica após Foi
48 retiradoNo
horas. o
cateter, suspensa a TNP e introduzida vancomicina com melhora clínica após 48 horas. No
cateter,
décimo suspensa a TNP e introduzida vancomicina com melhora clínica após 48 horas.veia
No
décimo dia,
dia, foi
foi reintroduzida
reintroduzida dieta
dieta polimérica
polimérica completa
completa por
por sonda
sonda associada
associada à à TNP
TNP por
por veia
décimo dia, foi reintroduzida
periférica. dieta polimérica completa por sonda associada à TNP por veia
periférica. Houve
Houve melhora
melhora significativa
significativa e,
e, no
no 12º
12º dia
dia de
de internação,
internação, foi foi dado
dado alta
alta da
da UTI.
UTI. O
O
periférica.
paciente Houve
apresentou melhora significativa
deterioração e, no
nutricional 12º dia de
significativainternação,
neste períodofoi dado
com alta
perda da
de UTI. O
peso,
paciente apresentou deterioração nutricional significativa neste período com perda de peso,
paciente
redução apresentou deterioração nutricional significativa neste período com perda de peso,
redução da da circunferência
circunferência muscular
muscular dodo braço
braço e e da
da prega
prega tricipital.
tricipital.
redução da circunferência muscular do braço e da prega tricipital.
Questões
Questões
Questões
1.
1. Quais
Quais as
as complicações
complicações da
da subnutrição
subnutrição hospitalar
hospitalar e
e consequente
consequente deterioração
deterioração do
do
1. Quais
estadoas complicações da subnutrição hospitalar e consequente deterioração do
nutricional?
estado nutricional?
estado nutricional?
2.
2. Quais
Quais as
as principais
principais indicações
indicações da
da TNP?
TNP? Quais
Quais as
as principais
principais vias
vias de
de acesso?
acesso?
2. Quais as principais indicações da TNP? Quais as principais vias de acesso?
443
443
443
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Camip
Apresentação
A nutrição adequada na criança gravemente doente deve fornecer substratos para a ma-
nutenção do metabolismo/composição corpórea, função imune e recuperação da situação
clínica que motivou a internação. A subnutrição do paciente gravemente doente, associada
ou não à doença de base, sabidamente impacta negativamente na recuperação, podendo
aumentar a morbimortalidade e prolongar a internação hospitalar, com custos crescentes.
Ao longo dos últimos 30 anos, a prevalência de subnutrição em crianças internadas em te-
rapia intensiva se manteve praticamente inalterada, em torno de 20 a 30%, e cerca de 40%
das crianças hospitalizadas desenvolvem o quadro de subnutrição durante a doença aguda
ou crônica. Dados recentes associam o pior resultado de recuperação com a deprivação
proteicocalórica cumulativa. Associações foram relatadas entre piora aguda do estado nu-
tricional, diminuição da eficiência da função respiratória, défice na cicatrização, disfunção
imune e gastrintestinal. A subnutrição é comum na admissão hospitalar e tende a se inten-
sificar durante o período de internação. Crianças têm uma taxa metabólica basal alta e uma
limitada reserva de energia e alguns grupos de doenças têm maior risco de desenvolver
subnutrição, como os cardiopatas e os grande queimados.
444
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Embora a terapia nutricional não possa ainda reverter ou prevenir a magnitude dessa res-
posta, a incapacidade de avaliar e fornecer nutrientes adaptados durante essa fase resulta
em piora de deficiências já existentes e aumento da morbidade. Por outro lado, o excesso
de oferta de nutrientes também impacta negativamente na população de crianças grave-
mente doentes, sendo este risco elevado, inclusive, em crianças obesas.
A degradação proteica resulta em aumento dos aminoácidos livres que são utilizados para
síntese de proteínas de fase aguda (proteína C-reativa – PCR e pré-albumina) e para proces-
sos cicatriciais, com os aminoácidos remanescentes sendo utilizados na neoglicogênese.
O fornecimento de proteínas e glicose nessa fase frequentemente diminui a taxa de perdas
de proteínas e melhora a síntese das mesmas. Ocorre também o aumento da oxidação de
ácidos graxos, que não é minimizada pela oferta de glicose e coloca a população de re-
cém-nascidos e prematuros em especial risco de deficiência de ácidos graxos essenciais.
O gasto energético (GE) estimado pelas várias equações disponíveis pode superestimar
ou subestimar as necessidades de energia, sendo frequente a superestimativa, no caso de
crianças gravemente doentes que, diferentemente dos adultos, podem não apresentar uma
resposta hipermetabólica acentuada pós-trauma, por exemplo. Sedação, diminuição das
perdas insensíveis e a transitória ausência de crescimento implicam também numa redução
do GE.
445
445
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Camip
O ideal para as crianças gravemente doentes, quando possível, é medir o GE por meio da
calorimetria indireta – que verifica o oxigênio consumido (VO2) e o gás carbônico produzido
(VCO2). A razão VCO2/VO2, chamada quociente respiratório (QR), é parcialmente determina-
da pelo tipo de substrato utilizado. Um QR <0,85 indica oferta inadequada de nutrientes, e
QR > 1 indica oferta excessiva de nutrientes. O tipo de substrato responsável pelos valores
> 1 é o carboidrato e pode impactar numa intolerância respiratória à oferta de nutrientes e
à dificuldade da retirada de ventilação mecânica. Porém, este dado não deve ser utilizado
isoladamente para guiar a oferta de substratos, devendo ser associado a outros marcado-
res, incluindo os inflamatórios de fase aguda. O custo elevado da análise metabólica por
calorimetria indireta impede sua utilização rotineira na maioria das UTI.
Não se recomenda utilizar o GE estimado para crianças gravemente enfermas – pois todas
as equações (Harris-Benedict, Caldwell-Kennedy, Schofield, FAO/WHO, Maffeis, Fleisch,
Kleiber, Dreyer e Hunter) são inadequadas, como têm demonstrado vários estudos de nível
III; mas, se as utilizarmos, nunca associar o fator de estresse.
Avaliação nutricional
A subnutrição hospitalar é um importante fator de risco para aumentar a morbidade, a taxa
de letalidade, o tempo de internação e o custo final do tratamento. O impacto da hospita-
lização na deterioração do estado nutricional é difícil de ser mensurado, mas a suspensão
inadvertida da TNE ou TNP pode levar a um aporte significativamente menor, com deterio-
ração adicional da condição nutricional.
Existem falhas em se aferir o peso na UTI, muitas vezes arraigadas ao conceito antigo de
não se mobilizar o paciente crítico.
Devemos obter: peso, estatura, circunferência do braço e prega do tríceps. Tais mensura-
ções são utilizadas, embora com potenciais erros, classicamente como indicadores princi-
pais para a classificação nutricional. Métodos de composição corporal, que podem melhor
estimar a massa magra como a bioimpedância e o DEXA, não estão completamente valida-
dos para a criança gravemente doente e podem ser de execução difícil. Todos os métodos
devem ser interpretados à luz do momento clínico como a presença de edema, diurese,
sobrecarga de líquidos etc.
446
446
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A TNP pode ser uma eficiente terapêutica na oferta precoce adequada de macro e mi-
cronutrientes, em fases da doença em que há dificuldade total ou parcial de utilização do
trato digestório.
A TNP tem como objetivos recuperar ou manter o estado nutricional, e promover o cresci-
mento. Está indicada no paciente subnutrido ou em risco de desnutrição, quando o trato
gastrintestinal estiver comprometido por doença ou algum tipo de tratamento, ou se a via
enteral for insuficiente para suprir as necessidades nutricionais. A TNP é utilizada, principal-
mente, nos pacientes desnutridos crônicos, naqueles com risco de subnutrição por doença
aguda ou em pós-operatório complicado, na síndrome de má absorção intestinal e no tra-
tamento do recém-nascido pré-termo.
O Quadro 1 resume as indicações e contraindicações (em sua maioria relativas) mais frequentes.
Indicações Contraindicações
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447
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Camip
Em geral, a TNP não está indicada em pacientes com função adequada de intestino delga-
do, que poderiam receber aporte calórico e proteico com o uso de dietas especializadas.
As formulações para a TNP devem atender as necessidades nutricionais e metabólicas in-
dividuais estimadas para cada paciente. As quantidades de nutrientes podem variar depen-
dendo da função orgânica, do metabolismo e da velocidade de crescimento.
Soluções com concentração de glicose até 12% devem ser infundidas, preferencialmente,
em veias periféricas. Se superiores a 12%, devem ser administradas por veia central, op-
tando-se pelo uso de cateteres de material pouco trombogênico, de silicone ou poliuretano.
A osmolaridade máxima tolerada por veia periférica é de 900mOsm/L. Devido ao efeito ve-
noprotetor dos lipídios, a osmolaridade total das soluções com esses nutrientes pode ser
um pouco maior, tendo menor risco de causar tromboflebite.
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Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Os pacientes que recebem TNP com a utilização de cateteres venosos centrais periferica-
mente inseridos (PICC) apresentam menores taxas de infecção relacionada ao cateter. Essa
é uma forma útil para administrar TNP com um cateter de única via, que tem fino calibre
e não possibilita o uso para outras funções, como, por exemplo, a monitorização hemodi-
nâmica. As contraindicações de uso incluem dermatite, celulite, queimaduras no local de
inserção ou nas proximidades ou trombose venosa prévia ipsilateral. Estes cateteres devem
ser instalados com técnica totalmente asséptica. Os cateteres umbilicais têm elevado risco
de infecção, quando associados ao uso de TNP, devendo ser evitados.
São fatores a considerar para garantir a solubilidade ou compatibilidade total entre cálcio e
fósforo: os sais de fosfato devem ser adicionados inicialmente, deixando os sais de cálcio
para o final do preparo da formulação; dar preferência ao gluconato de cálcio, frente ao clo-
reto de cálcio, como fonte de cálcio em terapia intravenosa contendo fosfato, visto que os
sais de cloreto de cálcio se dissociam mais extensivamente; a intersecção entre as concen-
trações de cálcio e fosfato deve ser abaixo da típica curva de solubilidade; a simples forma
de fosfato de cálcio não deve ser usada como critério único para avaliar a compatibilidade,
pois a avaliação deve incluir todas as fontes de nutrientes utilizadas; o pH mais baixo be-
neficia a solubilidade. Concentrações finais mais altas de glicose e mais baixas de gordura
favorecem a queda do pH.
Preparações de nutrição parenteral 3 em 1 (com lipídeos), por serem opacas, podem mas-
carar a presença de precipitados. É preferível a utilização de preparações 2 em 1 (sem mis-
tura com lipídeos na mesma solução) para neonatos e lactentes jovens.
O bicarbonato de sódio reage com cálcio, formando carbonato de cálcio, que é insolúvel.
Se houver indicação de algum agente alcalinizante é recomendável utilizar acetato de sódio
ou acetato de potássio. O ácido ascórbico é uma vitamina altamente instável utilizada em
alguns casos em quantidades suprafisiológicas (acima de 2000mg/dia), devido à sua ati-
vidade antioxidante. O ácido ascórbico é rapidamente reduzido na presença de oxigênio,
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Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Camip
formando ácido oxálico, que, por sua vez é bastante reativo com cálcio, formando o sal
insolúvel oxalato de cálcio. Assim, o uso de ácido ascórbico, em altas concentrações, deve
ser administrado separadamente da nutrição parenteral.
Os últimos estudos relativos à TNP versus TNE precoce mostram que a primeira não agrega
um risco maior de infecção e, consequentemente, são terapias equivalentes quando bem
aplicadas (nível I e II de evidência). TNP não é indicada para pacientes com trato gastrintes-
tinal íntegro (grau A de recomendação).
A maioria dos protocolos enfatiza os benefícios do início com TNE precoce, na situação
de trato digestório funcionante. A maior desvantagem é que insuficiente oferta de macro e
micronutrientes pode ocorrer, levando à deterioração do estado nutricional. A TNP facilita a
administração precoce de nutrientes adequados para a condição do paciente gravemente
doente. A eficácia da TNP é dependente da ausência de efeitos adversos, incluindo ade-
quação de controle glicêmico (hiperglicemia é muito comum). A suplementação nutricional,
com TNP combinada com a TNE, pode ser uma alternativa efetiva para atingir os 100% dos
objetivos calóricos e proteicos, principalmente nos primeiros dias de internação, quando a
TNE pode ser insuficiente.
A monitorização laboratorial deve ser realizada mais frequentemente após a instalação ini-
cial da TNP. A glicemia deve ser controlada conforme os incrementos da velocidade de
infusão de glicose; após estabilização desta, a glicosúria eventualmente pode auxiliar como
controle. A hiperglicemia é a complicação mais comum da TNP no paciente em SIRS/sepse.
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Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Camip
O conceito de que o alimento constitui importante estímulo para manter a função e a estru-
tura intestinal da mucosa, liberando secreções pancreáticas, biliares e fatores hormonais é
fundamental; além de possibilitar melhor oferta de nutrientes, menor custo e menor risco de
infecções e lesões hepáticas, fazendo com que a via digestiva seja cada vez mais utilizada.
Com base nos conceitos de que o jejum prolongado causa atrofia da mucosa intestinal,
rompendo a integridade imunológica do trato gastrintestinal e aumentando o risco de trans-
locação bacteriana, o alimento constitui importante estímulo para manter a função e a es-
trutura intestinal da mucosa, liberando secreções pancreáticas, biliares e fatores hormonais.
A introdução precoce da alimentação enteral tem sido cada vez mais enfatizada e utilizada
nos pacientes infectados e com sepse. Entende-se por TNE um conjunto de procedimentos
terapêuticos empregados para a manutenção ou recuperação do estado nutricional do pa-
ciente, por meio de nutrição enteral.
A Portaria Federal 337, que regulamenta a TNE, define nutrição enteral como “alimento para
fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de
composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por son-
das ou via oral, industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou
complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas neces-
sidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou
manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas”.
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Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Para o sucesso da TNE, dois aspectos de grande importância devem ser considerados:
a via de acesso a ser escolhida e o tipo de dieta a ser ofertado. A dieta mais adequada é
aquela que se adapte às necessidades específicas da criança, de acordo com sua doença
e suas condições clínicas de digestão e absorção. Assim, para a seleção de uma formula-
ção, é necessário o conhecimento das necessidades específicas do paciente, bem como
da composição exata da fórmula. A escolha da dieta depende, principalmente, da idade do
paciente, doenças associadas e função do trato digestório.
As dietas especiais (em geral industrializadas) são compostas, em geral, por polímeros de
glicose; óleos vegetais e TCM; proteínas derivadas do leite de vaca ou da soja; acrescidas
de vitaminas, minerais, oligoelementos e nutrientes condicionalmente essenciais. Geral-
mente são isentas de lactose e sacarose, e apresentam-se sob a forma de pó para recons-
tituição; líquidas semiprontas para uso (latas ou frascos) e prontas para uso (o chamado
sistema fechado).
453
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Camip
sonda, além da terceira porção do duodeno. A técnica endoscópica consiste em atar um fio
na porção distal da sonda e, com o auxílio da pinça de biópsia, transporta-se a sonda até a
porção desejada, sob visão direta. Essa técnica é a mais aplicada quando há estreitamen-
tos e estenoses do esôfago. Existem várias técnicas de estomias, entre elas a mais difun-
dida universalmente é a técnica endoscópica desde a sua descrição pela primeira vez por
Gauderer e Ponsky em 1980. As estomias são indicadas quando o tempo de TNE for longo,
em geral superior a 2 meses, embora essa conduta dependa da aceitação do paciente, dos
familiares, da experiência do serviço e dos aspectos psicológicos e éticos.
Conclusões
454
454
Capítulo 24 | Terapia nutricional na criança gravemente doente
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Utilização de
Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva 25
Hemoderivados
Capítulo 25
Utilizaçãoem TerapiaemIntensiva
de hemoderivados terapia intensiva
Paciente JL, 1 ano, 8kg, antecedente de atresia de vias biliares, sem realização prévia de
Kasai, submetido a transplante hepático intervivos, tendo o pai como doador. Apresentou,
durante intraoperatório, sangramento importante durante anastomose de artéria hepática,
necessitando, para estabilização hemodinâmica de 80mL/kg de concentrado de hemácias
(CH), 60mL/kg de plasma e oito unidades de plaquetas, além de infusão de baixas doses
de noradrenalina.
Admitido em unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica evoluindo nas primeiras horas com
sangramento importante de drenos cirúrgicos, mantendo instabilidade hemodinâmica. Após
resultados de exames: hemoglobina (Hb) 8,0g/dL; plaquetas 10.000/mm3; Razão Normaliza-
da Internacional (INR) 3,0; tempo de reptilase (RT) 2,8; fibrinogênio 90mg/dL. Frente ao caso
clínico, plantonista optou por realizar novas transfusões: 10mL/kg de CH, 10mL/kg de plas-
ma e 2UI de plaquetas, além de titular noradrenalina. Logo após o término das transfusões,
paciente evoluiu com piora ventilatória importante, necessitando de aumentos significativos
de parâmetros ventilatórios, com saída de espuma rósea em aspiração traqueal. Realizado
raio X de tórax e identificada opacidade pulmonar bilateral, com gasometria arterial com
relação pressão parcial de oxigênio/fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2) inferior a 300.
Questões
Apresentação
A transfusão de hemoderivados para tratamento de pacientes criticamente enfermos esteve
presente durante séculos, porém apenas no início dos anos 1900, por meio de testes de
compatibilidade e tipagem sanguínea, além de métodos de separação e armazenamento dos
hemocomponentes, é que se tornou um método convencional na prática médica. Aproxima-
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
- Hipofibrinogenemia em CIVD ou
transfusões maciças
Crioprecipitado - Fibrinogênio < 100mg/dL
- Deficiência de fator VIII
- Doença de von Willebrand
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
- Neutropenia ou defeito
qualitativo de granulócitos - Contagem de neutrófilos < 500
Granulócitos com infecção bacteriana ou em número absoluto
fúngica grave sem resposta às - 1x1010 polimorfonucleares/m2
terapêuticas convencionais
Concentrado de hemácias
É obtido por meio da centrifugação de uma bolsa de sangue total e da remoção da maior
parte do plasma. Sua indicação se insere na perspectiva de tratar ou prevenir a inadequada
liberação de oxigênio aos tecidos. Apesar disso, não necessariamente essa melhora é ve-
rificada, pois a própria estocagem do CH pode levar a mudanças estruturais, que, por sua
vez, levam ao prejuízo da sinalização do óxido nítrico (NO), acarretando em uma desregu-
lação da microvasculatura.
Em relação às indicações, existe um grupo especial de crianças com idade inferior a 4 me-
ses com indicações específicas: hematócrito (Ht) <20% com contagem baixa de reticuló-
citos e anemia sintomática (taquicardia, taquipneia e baixa ingesta alimentar), e Ht <30% e
algumas das seguintes condições:
Para Ht <35%, quando uso de ventilação mecânica (SIMV/pressão positiva contínua com
MAP entre 6 e 8 cmH2O).
459
Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
mais adequada, pois não há uma definição de qual seria o valor ideal de Hb para o paciente
criticamente enfermo. Constata-se que pacientes que receberam maior quantidade de he-
moderivados em pós-operatório de cirurgia cardíaca apresentam pior desfecho, porém não
é claro sua correlação direta com o nível de Hb utilizado para a indicação de transfusão,
podendo ser multifatorial. Da mesma forma, para pacientes com implementação de política
restritiva de transfusão (sepse e cirurgias no geral), uma ausência de malefício, em relação
à política liberal, foi demonstrada.
Alguns pacientes podem requerer uma política mais liberal em relação à transfusão de CH,
situações essas como: necessidade de oxigênio suplementar ou ventilação mecânica; pre-
sença de cardiomiopatia; instabilidade hemodinâmica; necessidade de uso de drogas va-
soativas (DVA); e sangramento ativo.
Dessa forma, uma atuação baseada apenas em um objetivo de valor de Hb não deve ser
instituída como boa prática clínica, devendo ser analisado todo o contexto em que o pa-
ciente se insere. Para aqueles que, após o julgamento clínico, ainda necessitem de transfu-
são, 10mL/kg de peso corpóreo resulta em uma elevação da taxa de Hb em 1g/dL.
Consiste na porção acelular do sangue obtida por centrifugação a partir de uma unidade
de sangue total e da transferência em circuito fechado para uma bolsa satélite. Contém os
fatores II, V, VII, VIII, IX, X e XI. Por convenção, cada mililitro de plasma tem 1UI de atividade
de fatores de coagulação.
460
Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Plaquetas
Hemocomponente que pode ser obtido de uma dupla centrifugação de uma unidade de
sangue total, que é técnica menos dispendiosa, porém necessita de diversos doadores para
obtenção de volume adequado. Ou pode ser obtido por aférese, técnica mais cara, mas
com maior rendimento e necessitando de um único doador.
São indicadas para: paciente com plaquetas abaixo de 10.000/mm3 para prevenção de he-
morragia espontânea; pacientes com plaquetas abaixo de 50.000/mm3 com sangramento
ativo, profilaxia na realização de procedimentos invasivos e portadores de doença plaque-
tária qualitativa; pacientes com plaquetas abaixo de 100.000/mm3 que serão submetidos
a procedimento neurocirúrgicos; e pacientes com contagem plaquetária normal que apre-
sentam sangramento ativo com disfunção plaquetária (doença plaquetária congênita, uso
crônico de aspirina ou uremia, por exemplo).
Indicações com considerações especiais são feitas em casos em que a transfusão de pla-
quetas se reserva a sangramento ativo com risco de morte: trombocitopenia induzida por
heparina; PTT trombótica; síndrome hemolítica urêmica; PTT idiopática; trombocitopenia
associada a anticorpos antiplaquetários; e CIVD.
Quando indicada a transfusão de plaquetas, deve-se administrar uma unidade para cada
10kg de peso do paciente, ou seis a oito unidades por metro quadrado de superfície cor-
pórea. A efetividade da transfusão de plaquetas deve ser avaliada pela monitorização do
sangramento na transfusão terapêutica e pelo aumento na contagem de plaquetas na trans-
fusão profilática.
Crioprecipitado
Componente obtido a partir de uma fração do plasma fresco congelado, rico em fator VIII,
fator de von Willebrand, fator XIII, fibrinogênio e fibronectina. Suas principais indicações
são: hipofibrinogenemia na transfusão maciça ou na CIVD;
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
Granulócitos
A dose que deve ser administrada está diretamente correlacionada com a sua eficácia:
Como os granulócitos carregam alta carga de linfócitos, é obrigatória sua irradiação para
prevenir a doença enxerto contra hospedeiro e, de preferência, que haja compatibilidade
HLA entre o doador e receptor, para evitar aloimunização e reações transfusionais.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Hemolítica aguda
Febril não hemolítica
Imunológicas
Reação alérgica leve e anafilaxia
TRALI
Hemolítica
Não imunológicas Infecciosa
Sobrecarga volumétrica
Hemolítica
Aloimunização
Imunológicas Imunomodulação
Reação doença versus hospedeiro
Púrpura pós-transfusional
Infecciosa
Não imunológicas
Sobrecarga de ferro
As reações hemolíticas agudas podem ser imunomediadas, quando ocorre destruição dos
eritrócitos do doador pelos anticorpos do receptor. Em geral relaciona-se à incompatibili-
463
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
Os sinais e sintomas são agudos, podendo ser de intensa gravidade. São eles: náuseas ou
vômitos; dor subesternal ou torácica aguda; alterações de nível de consciência; dispneia,
hipotensão e taquicardia; diáteses hemorrágicas; oligúria/anúria; CIVD; dor no local da infu-
são; febre e calafrios; e prurido e urticária.
Não requer tratamento clínico específico e cerca de 35% dos pacientes são assintomáticos,
porém deve-se prestar especial atenção na compatibilidade para futuras transfusões.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Reações alérgicas como aparecimento de prurido, rash cutâneo e lesões urticariformes po-
dem acontecer em decorrência da existência de anticorpos contra proteínas do plasma do
doador. Não requer existência de transfusão anterior, sendo mais comuns durante a infusão
de plasma e plaquetas. O tratamento consiste na administração de anti-histamínicos. O uso
de componentes lavados em transfusões subsequentes pode prevenir novos episódios.
Complicações infecciosas
Os vírus representam grandes vilões quando se trata de infecções adquiridas por transfu-
são. No Brasil, todo sangue de doador é testado para a presença de anticorpos para HIV
(anti-HIV 1 e 2), hepatites B e C (anti-HCV e anti-HBc) e anticorpos para HTLV 1 e 2, além de
testes sorológicos para sífilis e doença de Chagas. Quando há contaminação, geralmente
se deve ao fato de o doador estar no período que chamamos de janela imunológica, ou seja,
no período em que os exames não conseguem detectar a positividade do doador.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
Sobrecarga de ferro
Entidade grave, que ocorre pela transfusão de linfócitos do doador em um paciente que não
reconhece essas células como non-self ou não tem a capacidade de as destruir. Esses lin-
fócitos, portanto, iniciam uma agressão ao tecido receptor. Uma forma de prevenção seria a
utilização de componentes irradiados para os pacientes com alto risco de desenvolvimento
de doença do enxerto contra hospedeiro.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
TRALI
Instalação aguda, cursando com hipoxemia (relação PaO2/FiO2 < 300), opacidade pulmonar
bilateral em radiografia de tórax e ausência de hipertensão atrial esquerda.
São fatores de risco para lesão pulmonar aguda: choque séptico; sepse sem hipotensão;
aspiração de conteúdo gástrico; quase afogamento; CIVD; contusão pulmonar; pneumonia
que necessite de suporte intensivo; overdose de drogas que requeiram suporte intensivo;
fratura de ossos longos ou pelve; queimados; e bypass cardiopulmonar.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
camente ativos também possam estar envolvidos, pela ação de quebra dos produtos que
compõem a membrana celular de fosfolípides, que ocorrem no armazenamento prolongado
do hemoderivado. Dessa forma, leva-se a crer que eventos multifatoriais estão envolvidos
na gênese dessa entidade, incluindo fatores também do próprio paciente.
• Tabagismo
Manifestações clínicas
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Diagnóstico
Não existe uma ferramenta única que possibilite o diagnóstico preciso de TRALI. Normal-
mente, seu diagnóstico é feito frente a uma forte suspeita clínica, auxiliado pela exclusão de
outras comorbidades que poderiam levar a SDRA. Dessa forma, como utensílios comple-
mentares, pode-se usar o ecocardiograma (excluir disfunção cardíaca e estimar sobrecarga
hídrica); peptídeo natriurético cerebral (BNP) que de forma semelhante, pode auxiliar na
exclusão de causa cardíaca); análise de proteínas do fluido do edema pulmonar, contagem
de leucócitos (é observada uma leucopenia transitória associada ao surgimento de TRALI);
e pesquisa de anticorpos.
Tratamento
Não existe tratamento específico. Na maior parte dos casos, é autolimitado e associado com
melhor prognóstico do que outras causas de lesão pulmonar aguda. Assim que é feito o
diagnóstico, medidas de suporte devem ser instituídas, como pausar a transfusão do hemo-
derivado se ainda esta estiver em curso, oxigênio suplementar (avaliar necessidade de venti-
lação mecânica, com estratégia de baixo volume corrente), balanço hídrico rigoroso, monito-
rização hemodinâmica e uso de DVA e expansores se necessário. A prática de administração
de glucocorticoide não tem evidência para TRALI, devido ao seu curso autolimitado.
Componentes modificados
Componente lavado
Elementos obtidos de sucessivas lavagens com solução isotônica de cloreto de sódio, com
o objetivo de eliminar a maior parte do plasma. Pode sofrer esse processo CH e plaquetas.
As indicações seriam: presença de reação alérgica e pacientes deficientes de IgA com his-
tória prévia de reação anafilática durante transfusões anteriores
Componente irradiado
469
Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Camip
Por meio da utilização de filtros, retirada quase que completa dos leucócitos (99%), poden-
do sofrer esse processo o CH e as plaquetas. É indicado para hemoglobinopatias, anemias
hemolíticas hereditárias, história de duas reações febris não hemolíticas, síndromes de imu-
nodeficiências congênitas, transplante de medula óssea (diminuir a taxa de aloimunização
HLA), anemia aplástica, leucemia mieloide aguda, doenças onco-hematológicas até escla-
recimento diagnóstico, prevenção de infecção por CMV nas seguintes condições:
Transfusão maciça
Pode ser definida como a administração aguda de volume superior a uma vez e meia a vole-
mia do paciente, ou, ainda, como a reposição com sangue estocado equivalente ao volume
sanguíneo total de um paciente, em 24 horas. O volume sanguíneo é equivalente a 75mL/
kg (cerca de 10UI em um indivíduo adulto). Outras definições: reposição de sangue corres-
pondente a uma volemia (75mL/kg) ou superior em 24horas; reposição equivalente a 50%
da volemia corporal de sangue em 3 horas; e perda de 1,5mL de sangue por kg/minuto, em
pelo menos 20 minutos.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
As indicações precisas de transfusão de plasma são ainda menos precisas, mas algumas
situações clínicas merecem atenção: sangramento ativo em cenário de alteração de fatores
de coagulação, transfusão maciça de CH, previamente a situações de intervenção cirúrgica
com risco de sangramento ou com pouco risco de sangramento, mas no qual o paciente
apresente anormalidades da coagulação.
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Capítulo 25 | Utilização de hemoderivados em terapia intensiva
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
473
473
Camip
474
Capítulo 26 | Sepse
Sepse 26
Capítulo 26
Sepse
Lactente (1 ano), sexo feminino, previamente saudável, natural e procedente de São Paulo,
com queixa de dor em região do pescoço. Mãe achou que criança tinha dor de garganta há
4 dias. Evoluiu com febre (38,6º C) e inapetência. Procurou a Assistência Médica Ambulato-
rial (AMA) 2 dias após o início dos sintomas, sendo feita hipótese de parotidite e orientado
sintomáticos. Houve persistência da febre, piora do edema e iniciou desconforto respira-
tório. Retornou ao AMA 1 dia depois, sendo orientada a manter sintomáticos e aguardar
evolução. Como apresentava piora do desconforto respiratório, procurou pronto-socorro no
mesmo dia. Apresentava ainda queixa de três episódios de vômitos, urina de cheiro forte e
escura, sem urinar há algumas horas e só queria dormir.
Sinais vitais: frequência cardíaca (FC) de 176bpm; frequência respiratória (FR) de 48 rpm;
pressão arterial (PA) de 67x45mmHg; temperatura axilar: 39,2º C; saturação de oxigênio
(SatO2) de 62% em ar ambiente 92% com oxigênio.
Cabeça e pescoço com edema e hiperemia em região cervical bilateral, maior à esquerda. Otos-
copia normal. Oroscopia com dificuldade de visualização por limitação da abertura da boca.
Aparelho cardiovascular com bulhas rítmicas sem sopros, tempo de enchimento capilar de
4”, pulsos periféricos finos, pulsos centrais presentes.
Sistema nervoso: escala de coma de Glasgow 9, sonolenta mas reativa, sem sinais de irri-
tação meníngea.
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
Perguntas
Apresentação
Sepse, ou resposta sistêmica do organismo à infecção, representa uma das principais do-
enças da faixa etária pediátrica, consome parcela substancial dos recursos financeiros das
unidades de terapia intensiva (UTI) e é uma causa comum de óbito, sendo considerada um
problema de saúde pública.
Hoje, sabe-se que a sepse é um processo complexo e dinâmico, que acomete um grupo
heterogêneo de pacientes. Pode ser causada por diversos patógenos, os quais, por sua
vez, podem invadir diferentes sítios no organismo. Essa doença pode se apresentar por
meio de uma variedade de sinais e sintomas, que são inespecíficos, e podem variar de in-
tensidade entre os indivíduos e em um mesmo indivíduo, durante o curso agudo da doença.
Essa condição clínica denominada sepse pode evoluir para estágios mais complexos e
graves, que, na verdade, representam um continuum da sepse e que, se não reconhecidos
e tratados precocemente, podem resultar em disfunção de múltiplos órgãos e, eventual-
mente, em morte.
Apesar de sua importância e gravidade, dados a respeito de sua epidemiologia são escas-
sos e incompletos, variando entre os diversos países e regiões, principalmente entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento, e na população pediátrica. Em geral, os estudos a
respeito da epidemiologia de sepse em crianças envolvem poucos pacientes, com doenças
específicas; poucos são multicêntricos e adotam diferentes definições e critérios diagnós-
ticos. Parte da dificuldade se deve à falta de consenso em relação à nomenclatura e à va-
riabilidade da apresentação clínica da sepse e seus estágios evolutivos. Sepse, ainda hoje,
representa um desafio para os médicos.
Epidemiologia
476
Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
ainda nos Estados Unidos, ocorreram mais de 75 mil hospitalizações por sepse grave em
pacientes menores de 20 anos, com incidência de 0,89 caso para cada 1.000. Segundo
Watson et al., a incidência dessa enfermidade tem crescido na faixa etária pediátrica, prin-
cipalmente devido ao aumento da população de risco, como recém-nascidos prematuros e
de baixo peso, e maior sobrevida dos pacientes com doenças de base.
Também nos Estados Unidos, tanto Balamuth et al. quanto Ruth et al. reportaram dados
epidemiológicos de sepse pediátrica com base em banco de dados de sistemas nacionais
de informação de hospitais pediátricos. Os dois estudos utilizaram os mesmos critérios
diagnósticos para identificar sepse na população pediátrica e observaram grande variação
em sua prevalência. Balamuth et al. observaram que a prevalência da doença em crianças
pode variar até sete vezes, dependendo da estratégia utilizada para identificar os casos de
sepse (0,45% quando utilizou o código para sepse do ICD-9-CM versus 3,1% quando utili-
zou o código para infecção + disfunção orgânica do ICD-9-CM). Ruth et al. estimaram que,
nos Estados Unidos, a prevalência de sepse em UTI pediátrica foi de 7,7%, variando de
3,1%, quando usou os códigos para sepse grave e choque séptico do ICD-9-CM, até 6,2%,
quando usou uma estratégia combinada (código para infecção + pelo menos um código
disfunção orgânica, também referente ao ICD-9-CM). Ruth et al. relacionaram a “elevada”
prevalência de sepse ao elevado porcentual (74%) de pacientes com alguma comorbidade.
Nos dois estudos americanos, os autores observaram que um pequeno porcentual de pa-
cientes sépticos foram identificados pelos dois critérios diagnósticos utilizados.
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
Mortalidade
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2010, ocorreram cerca de 7,6
milhões de óbitos em crianças menores de 5 anos de idade. A maioria (60%) ocorreu em
países em desenvolvimento. Apesar da evolução das vacinas e antibióticos, essas mortes
478
478
Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Em regiões fora dos Estados Unidos, mesmo após a publicação em 2002, em vários
idiomas, dos parâmetros de prática clínica para suporte hemodinâmico a pacientes pedi-
átricos e neonatais em choque séptico, a mortalidade de crianças ainda atinge números
bastante elevados, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Na Amé-
rica Latina, dados a respeito da mortalidade por sepse em crianças são limitados. Nessa
região, a mortalidade por sepse grave e choque séptico varia, podendo atingir taxas tão
elevadas quanto 67%.
No estudo SPROUT, a mortalidade por sepse grave na UTI pediátrica foi de 24% e variou
entre as diferentes regiões estudadas (América do Norte: 21%; Europa: 29%; Austrália e
Nova Zelândia: 32%; Ásia: 40%; América do Sul: 11% e África: 40%; p=0,004). Embora
alguns autores tenham observado associação entre o nível de desenvolvimento socioe-
conômico (renda per capita, Índice de Desenvolvimento Humano e taxa de analfabetismo
funcional materno) e a mortalidade por sepse, o estudo SPROUT não observou diferença
na mortalidade por sepse entre países desenvolvidos e em desenvolvimento (23% versus
29%; p= 0,23).
479
479
Capítulo 26 | Sepse
Camip
De acordo com dados da World Federation of Pediatric Intensive and Critical Care Societies
(WFPICCS), a mortalidade por sepse na infância varia conforme o nível socioeconômico de
cada região e com a aderência aos pacotes de tratamento de sepse.
Definições
A síndrome, atualmente chamada sepse, já teve muitas definições ao longo de sua história.
Apesar dos avanços nas definições de sepse na população adulta, até o início de 2004, não
havia consenso em relação às definições de sepse pediátrica.
480
Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Elas foram baseadas nos conceitos atuais de síndrome da resposta inflamatória sistêmica
(SRIS) e sepse para a população adulta, nas definições pediátricas de sepse de diversos
autores e nos escores de disfunção orgânica usados em adultos e em crianças.
Considerando que cada faixa etária pediátrica apresenta variações fisiológicas dos sinais
vitais e também características individuais, como agentes infecciosos e fatores predispo-
nentes, a infância foi dividida em seis faixas etárias: recém-nascidos, neonatos, lactentes,
pré-escolar, escolar, adolescente e adulto jovem (Quadro 1).
Quadro 1. Grupos estágios pediátricos para definição de sepse e seus estágios evolutivos
Classificação Idade
Recém-nascido 0 a 7 dias
Pré-escolar 2 a 5 anos
Escolar 6 a 12 anos
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
Temperatura central
(retal, vesical, oral ou cateter >38,5º ou <36º C
central)
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Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Diferente das definições de sepse para a população adulta, as quais foram elaboradas para apri-
morar o diagnóstico precoce da doença à beira do leito e, dessa forma, possibilitar a imediata in-
tervenção terapêutica, as definições de sepse pediátrica não foram desenvolvidas para utilização
na prática clínica e sim para fins de pesquisa. Apesar disso, as definições atuais propostas pela
IPSCC são frequentemente usadas na prática clínica diária em UTI pediátrica de todo o mundo.
Mais importante, elas formam a base para o desenvolvimento das diretrizes de tratamento da
sepse pediátrica. Novos estudos são necessários para avaliar sua aplicabilidade na beira do leito.
Diagnóstico clínico
O diagnóstico clínico de sepse em crianças depende de uma forte suspeita do médico, uma
vez que os sinais e sintomas dessa doença são inespecíficos. Como a própria definição
diz, devemos suspeitar de sepse na criança que apresenta sinais de reposta inflamatória
associados à história de infecção. Salientamos que, na infância, os sinais inflamatórios de
taquicardia e taquipneia podem estar presentes, mesmo na ausência de inflamação, por
exemplo, quando a criança chora. O médico deve valorizar esses sinais no contexto da his-
tória clínica de infecção e diante de uma criança que não aparenta bom estado geral.
Quadro 3. Sinais vitais e variáveis fisiológicas específicos de cada faixa etária (valores
inferiores de frequência cardíaca (FC), número de leucócitos e pressão arterial sistólica
(PAS) são referentes ao P5 e valores superiores de FC, frequência respiratória (FR) ou
número de leucócitos são referentes ao P95.
FC (bpm) Contagem de
PAS
Grupo etário Taquicardia FR, rpm leucócitos
(mmHg)
Bradicardia leucócitos x 103/mm3
1 semana a 1 mês > 180; < 100 > 40 > 19,5 ou < 5 < 75
1 mês a 1 ano > 180; < 90 > 34 > 17,5 ou < 5 < 100
6 a 12 anos > 130 – NA > 18 > 13,5 ou < 4,5 < 105
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
Ressaltamos que o exame clínico é útil na identificação precoce dos pacientes com quadros
sépticos e na conduta terapêutica inicial. Apesar de ser pouco específica, a avaliação dos sinais
clínicos é mandatória e facilmente aplicável em qualquer ambiente do sistema de saúde. Deve
ser a abordagem inicialmente empregada na avaliação do paciente com suspeita de infecção.
Fisiopatologia
A sepse se desenvolve a partir de uma resposta do organismo a um microrganismo, que pode
ser vírus, bactérias ou fungos. Células do sistema imune inato (primeira linha de defesa celular
do organismo) são responsáveis pelo reconhecimento, opsonização, ativação das cascatas do
complemento e coagulação, fagocitose, ativação de mediadores pró-inflamatórios e apoptose.
Essas ações são mediadas por receptores de reconhecimento (pattern recognition recep-
tors), que se ligam a estruturas encontradas na superfície dos microrganismos.
Os receptores do tipo Toll (TLRs) são uma das mais importantes famílias de receptores de
reconhecimento. A ativação desses receptores dá início a complexas cascatas de transdu-
ção de sinal ainda não completamente esclarecidas, que, em última análise, levam à trans-
crição do fator nuclear -B, que, por sua vez, é um importante regulador da expressão de
mediadores pró-inflamatórios.
Essa segunda onda da resposta imune inclui a ativação de células B com produção de an-
ticorpos e geração de linfócitos T citotóxicos e células T Natural Killer, o que vai completar
a morte do microrganismo com clareamento pelo sistema retículo endotelial.
As células T ativadas regulam a resposta imune via produção de citocinas (linfócitos CD4)
e por citotoxicidade (linfócitos CD8). Células T CD4 podem se diferenciar em diversos sub-
tipos de células T, dependendo do ambiente de citocinas em que essas células foram ati-
vadas. Por exemplo: na presença de citocinas pró-inflamatórias, as células CD4 irão se
diferenciar em linfócitos TH1 que, por sua vez, induzem à produção de outras citocinas
pró-inflamatórias, como interferon, perpetuando a resposta pró-inflamatória.
Já uma resposta predominante anti-inflamatória (TH2) ocorre quando células CD4 são ati-
vadas em um ambiente de citocinas anti-inflamatórias.
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Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Fagocitose:
Produção de ACs:
- Monócito, macrófago
- Células B, células
- Leucócitos PMN
plasmáticas
- Células dendritícas
Apresentação de antígenos:
Morte por citotoxicidade:
- Monócito, macrófago
Elementos - Linfócitos CD8
- Células dendritícas
celulares
Elementos Produção de quimiocinas
celulares e citocinas:
Morte por citotoxicidade:
- Linfócitos CD4
- Células Natural Killer
- Células TH1
- Leucócitos PMN
- Células TH2
- Células T reguladoras
Produção de quimiocinas
e citocinas
Quimiocinas
Todos Elementos
Citocinas
Quimiocinas não celulares
Elementos Imunoglobulinas
Citocinas
não celulares
Complemento
As citocinas e quimiocinas liberadas vão dar início a uma sequência de outros eventos
bioquímicos, que resultam em liberação da fosfolipase A2, fator ativador de plaquetas,
liberação de produtos da ciclo-oxigenase, complemento e outras citocinas. O papel de
citocinas e quimiocinas é o de manter a comunicação entre os dois braços da resposta imune.
Quando falamos de uma determinada citocina, é importante considerar que suas ações
dependem do tipo celular específico em que estão atuando.
Dessa forma, uma citocina pode ser tanto anti quanto pró-inflamatória. Quiminocinas, tais
como IL-8, atuam estimulando a migração celular para uma região inflamada (Quadro 5).
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
Ativação de células T e
IL-18 Macrófagos
monócitos
Pró-
Ativação de células
inflamatórias IL-12 Macrófagos, células dendríticas
Natural Killer
Aumento da produção, e
promoção do crescimento
GM-CSF Células T, macrófagos e ativação de monócitos,
macrógafos, PMNs e células
dendríticas
Inibição da ativação e
Monócitos/macrófagos
IL-10 proliferação de monócitos
Células T (TH2 e reguladoras)
e macrófagos
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Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Com base em estudos conduzidos em gêmeos idênticos e pessoas adotadas, foi possível
determinar que fatores genéticos são importantes determinantes da suscetibilidade à morte
por doenças infecciosas.
Polimorfismos nos genes das citocinas podem determinar a concentração de citocinas pró
e anti-inflamatórias e influenciar na reposta do indivíduo à infecção, que pode variar de um
estado hiperinflamatório (levando a sepse, choque séptico e disfunção de múltiplos órgãos)
ou um estado hipoinflamatório (morte por infecção não controlada).
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
Figura 2. Fisiopatologia da sepse. NO: óxido nítrico; SDRA: síndrome do desconforto respiratório
agudo; IRA: insuficiência renal aguda; CIVD: coagulação intravascular disseminada ;
DMOS: disfunção sistêmica de múltiplos órgãos
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Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Disfunção
Mecanismos fisiopatológicos Consequências clínicas
orgânica
- Lesão endotelial
- Disfunção dos sistema arginina-
vasopressina
- Liberação de mediadores inflamatórios
com ação vasodilatadora (TNF-α,
interferon gama e IL 1 g aumento
do cGMP
Macrocirculatória/ - Hiperpolarização da musculatura lisa - Hipotensão refratária
vasoplegia vascular por h concentração plasmática - DMOS
de íons H+ e lacatto e i de ATP levando
a ativação de canais de K+ sensíveis ao
ATP g refluxo de K g hiperpolarização
da célula e fechamento dos canais
de Ca++
- Liberação de substâncias
vasodilatadoras como NO
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
- Rompimento da barreira
hematoencefálica como consequência
da interação entre mediadores
- Redução do nível de consciência
inflamatórios e endotélio vascular
- Isquemia
cerebral
- Hemorragia
- Composição anormal dos
Cerebral - Microtromobose
neurotransmissores do sistema
- Microabcessos
reticulado ascendente
- Leucoencefalopatia necrosante
- Redução do fluxo sanguíneo cerebral e
multifocal
extração de oxigênio
- Edema cerebral secundário à isquemia-
reperfusão e estresse oxidativo
TNF-α: fator de necrose tumoral alfa; IL: interleucina; NO: óxido nítrico; DMOS: disfunção múltipla de
órgão sistêmicos ; ATP: adenosina trifosfato; SOD: superóxido dismutase ; VO2: consumo de oxigênio;
SDRA: síndrome do desconforto respiratório agudo
490
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Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tratamento
Medidas iniciais
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Capítulo 26 | Sepse
Camip
iônico. A correção pode ser alcançada pela infusão de gluconato ou cloreto de cálcio. O
cloreto de cálcio produz níveis de cálcio mais altos e de melhor disponibilidade, portanto
deve ser a forma preferível. A dose recomendada é de 10 a 20mg/kg (0,1-0,2ml/Kg de
cloreto de cálcio a 10%).
• Início precoce de antibióticos: na abordagem da sepse (Figura 1), os antibióticos
devem ser administrados durante a primeira hora da identificação de sepse grave,
independente da coleta de culturas. A escolha do agente antimicrobiano deve se
basear na faixa etária, provável foco da infecção, padrão de resistência antimicrobiana
da comunidade e do serviço hospitalar, estado imune prévio do paciente, assim como
presença de comorbidades.
Objetivos do tratamento
Em cada etapa do tratamento o paciente deve ser reavaliado com o objetivo de manter:
• Tempo de enchimento capilar ≤2 segundos
• Pulsos periféricos normais sem diferenças entre os pulsos centrais e periféricos
• Extremidades aquecidas
• Débito urinário > 1mL/kg/h
• Estado mental normal
• PA adequada para idade (Quadro 3)
• FC adequada para idade (Quadro 3)
• SvcO2 (saturação venosa central de oxigênio) >70%, se o cateter venoso central
estiver disponível
• Pressão de perfusão adequada para idade, se presença de cateter venoso central
Os demais aspectos do tratamento da sepse grave não responsiva a volume serão aborda-
dos no capítulo de choque.
• A sepse é uma das principais doenças da infância, sendo causa comum de internação
e óbito em UTI pediátrica e consome parcela substancial dos recursos financeiros
destinados para a saúde. É considerada um problema de saúde pública em expansão.
• Dados epidemiológicos de sepse são importantes para aprofundar o conhecimento da
frequência e evolução da sepse em diferentes regiões e países e, com isso, melhorar a
alocação de recursos e o prognóstico da doença.
• O diagnóstico de sepse é iminentemente clínico e depende de uma suspeita do médico.
• O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para o prognósticos das
crianças com sepse.
492
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Capítulo 26 | Sepse
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas 27
Antimicrobianos em
Capítulo 27
Crianças
Uso Gravemente
racional de antimicrobianos Enfermas
em crianças gravemente enfermas
Sinais vitais da entrada: pressão arterial (PA) 80x40mmHg, frequência cardíaca (FC) 170bpm,
frequ6encia respiratória (FR) 28irpm, saturação de oxigênio (SatO2) 95% ar ambiente, tem-
peratura 38,5°C.
Levada à sala de emergência, obtido acesso venoso periférico, iniciada ressuscitação volê-
mica e prescrita antibioticoterapia empírica
Devemos modificar o esquema instituído previamente? Ou, por se tratar de novo quadro
infeccioso, devemos aguardar novas culturas com resultado previsto para 72 horas?
Perguntas
Introdução
Os antibióticos são considerados como uma das principais descobertas do século 20. Na
era pré-antibiótico, as doenças infecciosas eram responsáveis por grande parte da mortali-
dade e morbidade. Havia uma preocupação na realização de procedimentos invasivos pelo
risco de infecção. No entanto, o milagre teve vida curta. O uso errático e irresponsável de
agentes antimicrobianos resultou no desenvolvimento de resistência às drogas de inúmeros
microrganismos, culminando, por sua vez, na morte por causa de infecções hospitalares.
Como as infecções apresentam risco de vida, os antibióticos são instrumentos que salvam
vidas comparáveis como a ventilação mecânica, diálise e outros dispositivos de suporte
avançado de vida. Aumentam a sobrevida e a qualidade de vida. No entanto, devem ser
usados com cuidado. Mais de 70 a 80% das prescrições de antibióticos são feitas prova-
velmente sem necessidade.
Mais de 60% dos pacientes internados recebem pelo menos um antibiótico durante a inter-
nação. Na UTI, o uso de antibióticos ocorre dez vezes mais do que em áreas não críticas,
devido a vários fatores: gravidade da doença, procedimentos invasivos, dispositivos de
monitorização, como cateteres e sondas, ventilação mecânica invasiva, quebra de barreira
da mucosa e/ou pele, desnutrição, uso de corticoide, uso de anti-histamínicos anti-H2 e
abuso de antibioticoterapia.
Os antimicrobianos são substâncias que atuam sobre microrganismos, inibindo seu cres-
cimento ou causando sua destruição. É a segunda classe de droga mais usada, sendo
responsável por 20 a 50% das despesas hospitalares. São amplamente prescritos em aten-
dimentos ambulatoriais e também como automedicação. Sua ampla utilização pode afetar
de forma significativa não somente a microbiota do paciente que o utiliza, mas também a
ecologia microbiana dos outros pacientes, além de predispor o paciente a efeitos colaterais.
Nos Estados Unidos, segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), uma em
cada cinco visitas ao departamento de emergência por reação a drogas foi devida ao uso
de antibióticos.
Um dos maiores problemas enfrentados pela comunidade médica nos últimos anos é o
desenvolvimento e o aumento da resistência ao uso dos antimicrobianos e decorre de seu
uso indiscriminado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o CDC estima que, a cada ano, 2
milhões de pessoas adquiram infecções bacterianas graves com resistência a um ou mais
antibióticos. O surgimento de microrganismos resistentes é cada vez mais evidente em in-
498
498
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
499
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
Indicações de tratamento
• Terapia empírica: deve ser restrita a situações críticas, quando não há tempo para iden-
tificação e isolamento da bactéria, e existe uma evidência forte de sua existência, como
choque séptico, paciente imunodeprimido com infecção sistêmica grave, febre sem
sinais localizatórios, leucocitose e aumento da proteína C-reativa (PCR).
Etapa 1
500
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
- Pneumococo:
Streptococcus 10–14 dias
pneumoniae, - Meningococo e hemó-
Meningite Neisseria Ceftriaxona + filo: 7 dias
(criança > 1 mês) meningitidis e vancomicina1 - Vancomicina em locais
Haemophilus com elevada prevalên-
influenza cia de pneumococo
resistente à penicilina
Staphylococcus
aureus,
Vancomicina +
estafilococo coa-
Meningite cefepima
gulase-negativo,
após trauma ou - Tende a ser mais lon-
bacilos aerobicos
penetrante ou ceftadizima go: 14–21 dias
Gram-negativos
pós-neurocirurgia ou
(incluindo Pseu-
meropenem
domonas aerugi-
nosa)
501
501
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
- 10 dias
- Considerar vírus e
influenza, segundo da-
dos epidemiológicos,
Streptococcus sazonalidade
pneumoniae, Penicilina crista- - Organismos atípicos
Streptococcus lina mais comuns em
Pneumonia
grupo A, Sta- ou crianças > 5 anos
> 1 mês e
phylococcus ampicilina - Considerar cobertu-
< 5 anos
aureus, micoplas- Alternativa: ra antiestafilocócica
ma, Chlamydia ceftriaxona (oxacilina ou clindami-
pneumoniae cina) se doença grave
e achados sugestivos
de Staphylococcus
aureus (derrame pleu-
ral e cavitação)
Trato
Ampicilina + clari-
respiratório Streptococcus
tromicina
pneumoniae,
ou - 7–10 dias
Streptococcus
azitromicina - Considerar vírus e
Pneumonia grupo A, Sta-
Alternativa: cef- influenza, segundo
> 5 anos phylococcus
triaxona + claritro- dados epidemiológi-
aureus, micoplas-
micina cos, sazonalidade
ma, Chlamydia
ou
pneumoniae
azitromicina
Polimicrobiana:
anaeróbios da
cavidade oral Ceftriaxona + clin-
Pneumonia (bacteroides e damicina - Sempre ajustar após
aspirativa Fusobacterium), Alternativa: mero- resultados de culturas
Streptococcus sp, penem
Staphylococcus
aureus, Klebsiella
- 4–6 semanas
Válvula nativa
Penicilina G - Logo que possível,
(incluindo doença
ou ajustar segundo
congênita cardí-
ceftriaxona + agente identificado em
aca)
gentamicina hemoculturas
Streptococcus
Endocardite ou - Se enterococo, gen-
viridans, Strep-
Oxacilina + genta- tamicina somente na
tococcus sp,
micina primeira semana de
Enterococcus,
ou tratamento
Staphylococcus
Sistema vancomicina
aureus
cardiovascular
502
502
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Clostridium diffi-
Colite Metronidazol - 10 dias
cile
- 10–14 dias
- Indicação prioritária
para crianças < 3
meses, presença de
Salmonela Ceftriaxona5 bacteremia, compro-
metimento do estado
geral, nas hemoglobi-
nopatias e imunode-
primidos
Ceftriaxona
Alternativas: azi-
Shigella - 5 dias para disenteria
Diarréia tromicina
ou quinolonas
- Raramente indicado
Cefotaxima, ami-
exceto se bacteremia,
Yersinia cacina, SMX/TMP,
infecção extraintesti-
quinolonas
nal e imunodeprimidos
- Imunocompetente 5–7
Campylobacter Azitromicina dias, imunodeprimido
14 dias
Escherichia coli,
Enterococcus, - 4–7 dias (ajustar caso
Bacteroides spp, Ampicilina + cef- a caso; pode ser mais
Clostridium sp, triaxona longo)
Infecções
Peptostreptococ- ou cefepime + - Para pacientes com
intra-abdominais
cus, Pseudomo- metronidazol infecções associa-
(incluindo
nas aeruginosa, ou das aos cuidados de
apendicite)
Staphylococcus piperacilina-tazo- saúde, considerar
aureus, outros bactam cobertura para estafilo
bacilos Gram-ne- meticilino-resistente
gativos
503
503
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
Staphylococcus
- 21 dias (endovenoso)
aureus, Estrepto-
- No adolescente
coco do grupo A, Oxacilina
também considerar
Artrite séptica Streptococcus ou
Neisseria gonorrho-
pneumoniae, Kin- clindamicina
eae, acrescentar
gella kingae
ceftriaxona
(< 4 anos)
Staphylococcus
- 4–6 semanas
aureus, Estrepto-
Sistema Oxacilina - A clindamicina como
coco do grupo A,
osteoarticular ou droga única é ineficaz
Streptococcus sp,
clindamicina contra Kingella, acres-
Kingella kingae
centar amoxicilina
(<4 anos)
Osteomielite
Relacionada com
Acrescentar
lesão penetrante
ceftazidima
em planta do pé,
ou
acrescentar Pseu-
outra droga
domonas
antipseudomonas
aeruginosa
Oxacilina
Staphylococcus
ou
aureus, Strepto-
Celulite Cefalotina
coccus
ou
pyogenes
Cefazolina
Streptococcus - 10 dias
pneumoniae, - Avaliar indicação TC
Haemophilus Ceftriaxona crânio para determinar
influenza (não ou extensão ou não da
tipável), cefotaxima + lesão intracraniana
Celulite orbitária
Moraxella catar- oxacilina - Considerar cobertu-
rhalis, Staphylo- ou ra antiestafilocócica
coccus aureus, clindamicina (oxacilina ou clinda-
Streptococcus micina), se porta de
pyogenes entrada for a pele
Pele e Streptococcus
subcutâneo pyogenes, - 10–14 dias
Streptococcus sp, - Se secundária a trau-
Celulite Ceftriaxona
Staphylococcus ma local e não asso-
peri-orbitária ou
aureus, Haemo- ciada a sinusite, tratar
(pré-septal) cefotaxima
philus influenza como celulite por
(não tipável), Mo- estrepto/estafilo
raxella catarrhalis
Streptococcus
pyogenes, Sta- Oxacilina +
- 10–14 dias ou mais a
phylococcus au- clindamicina +
depender da evolução
reus, Clostridium aminoglicosídeo
Fasciíte - Abordagem cirúrgica
perfringens, ou
necrosante precoce é fundamen-
Clostridiium sp, Piperacilina/
tal para um bom resul-
Bacteroides sp, tazobactam +
tado terapêutico
Prevotella spp., clindamicina
Gram-negativos
Fontes: American Academy of Pediatrics (AAP). In: Pickering LK, Baker CJ, Kimberlin DW, Long SS (ed.). Red Book: 2012 Report of the
Committee of Infectious Diseases. Elk Grove Village, IL: APA; 2012; Bradley JS, Nelson JD. Nelson’s Pediatric Antimicrobial Therapy.
20. ed. American Academy Pediatrics; 2014; Mcmillan JA, Lee CKK, SIbeery GK, Carroll KC. The Harriet Lane Handbook of pediatric
antimicrobial therapy. 2. ed. Philadelphia: Elsevier; 2014. AG: aminoglicosídeo; Sulfametazol trimetropin: ; TC: Tomografia crânio.
504
504
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 4
Deve ser feito todo o esforço para diagnosticar a etiologia de uma infecção.
505
505
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
A coloração com o Gram pode ajudar para incluir antibiótico, mas não serve para excluir.
As provas de antígenos podem ajudar no diagnóstico laboratorial de infecções causadas
por bactérias, micobactérias, vírus, fungos e parasitas. No entanto, falta a tecnologia para
determinar a suscetibilidade aos medicamentos específicos. A realização de culturas, asso-
ciadas a antibiograma, é de suma importância para direcionar o tratamento e evitar o uso
de antibióticos de largo espectro desnecessariamente.
Etapa 5
Etapa 6
Existem algumas técnicas para avaliação da sensibilidade aos agentes antimicrobianos que
devem ser utilizadas após seu isolamento. Por exemplo, a preparação de diluições seriadas
e com concentrações decrescentes de antimicrobianos em um meio de cultura, que permita
o crescimento bacteriano. Quando se observa um tubo com o conteúdo límpido, isso de-
monstra que o crescimento bacteriano foi inibido, representando a concentração inibitória
mínima (CIM, ou mais conhecida com sua sigla em inglês MIC, minimum inhibitory concen-
tration), também expressada como a menor concentração de antimicrobiano capaz de inibir
o crescimento bacteriano, e é expressa em microgramas por mililitro (mcg/mL).
O antimicrobiano escolhido deve ter um nível acima do MIC no local de ação. Existem ou-
tros métodos também conhecidos, como o método de difusão de disco e o E-test (baseado
em uma fita com diferentes concentrações de antibióticos inserida em uma placa com cul-
tura da bactéria a ser testada).
506
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Betalactâmicos
Penicilinas
Cefalosporinas
Monobactam
Parede celular
Carbepenem
Glicopeptídeos
Vancomicina
Teicoplamina
Polimixina
Membrana celular
Colistin
Macrolídeos
Clindamicina
Ribossomos
Aminoglicosídeos
Rifampicina
Metronidazol
Ácidos nucleicos
Sullfametaxozol-Trimetoprim
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507
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
Figura 1. Mecanismos de ação dos antimicrobianos. Fonte: Mota LM, Vilar FC, Dias LBA, Nunes TF,
Moriguti JC. Uso racional de antimicrobianos. Medicina (Ribeirão Preto). 2010;43(2):164-72.
Etapa 7
Para infecções leves, a taxa de cura de 70 a 80% é aceitável; por exemplo: impetigo. Para
infecções com risco de lesão de órgãos, uma taxa de cura de 80 a 90% é aceitável; por
exemplo: otite média aguda e pielonefrite. Para uma infecção grave, como, por exemplo,
meningite bacteriana ou choque séptico num paciente neutropênico, a taxa de cura deve
ser de 100%.
Etapa 8
Para suspeita de infecções sérias, a antibioticoterapia ampla e com doses altas deve ser se-
lecionada como terapia empírica. A escolha de terapia empírica está associada com menor
mortalidade e menor permanência hospitalar.
508
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Essa abordagem terapêutica tem como vantagem poder aumentar a eficácia na erradicação
da bactéria e, na eficácia clínica, com menor toxicidade, menor pressão seletiva para resis-
tência, além de reduzir o custo.
Por exemplo, uma terapia inicial empírica com agente carbapenêmico contra uma pneu-
monia associada com ventilação mecânica pode mudar para uma terapia definitiva com
cefotaxima se o agente for uma Klebsiella suscetível, ao invés de uma P. aeruginosa.
Etapa 9
Considerações especiais.
Sempre informar-se sobre a presença prévia de alergia ao medicamento. Além disso, fazer
a opção por um medicamento mais barato da mesma eficácia.
Tempo de tratamento
509
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
recente revisão, observou-se que um tempo mais curto de terapêutica (não mais do que 7
dias) foi efetivo para cura clínica, cura microbiológica e sobrevida. Essa conduta tem como
principal objetivo o controle da emergência da resistência bacteriana.
Falhas no tratamento
A falha terapêutica pode ser multifatorial e denota falha ao antimicrobiano prescrito. Devem
ser observados:
• Cobertura inadequada, fato que pode ser reduzido se a escolha do agente ocorrer de
acordo com espectro e mecanismos de ação específicos
• Antimicrobiano prescrito para causas não infecciosas: outras doenças, além de farmaco-
dermia, são diferenciais de quadros infecciosos, pois podem causar febre
• Doenças causadas por vírus: as infecções virais causam febre, e são importantes o co-
nhecimento da história natural da doença e a associação a outros exames laboratoriais
que possam ajudar a confirmar a infecção
Resistência
Dentro desse contexto, um grande problema enfrentado pela comunidade médica é o au-
mento da resistência das bactérias aos agentes antimicrobianos. A negligência e a compla-
cência no uso dos antimicrobianos são grandes agentes para esse aumento.
510
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
algumas infecções, além de serem usados por tempo inadequado e com doses incorretas,
tanto em países industrializados e em países emergentes. Regiões superlotadas, ambientes
hospitalares e de cuidado também lotados podem propagar com mais facilidade infecções
por bactérias resistentes. Além disso, o aumento de populações de risco, como imuno-
comprometidos, a realização mais ampla e frequente de intervenções médicas invasivas,
e o tempo maior de sobrevida de pacientes crônicos também serviram para amplificar o
problema. O volume de uso de antimicrobianos profiláticos ou terapêuticos também é um
fator conhecido no aumento da resistência. Como não podemos impedir o uso de antimi-
crobianos, a seleção criteriosa do antimicrobiano e da duração da terapia, como também
sua indicação apropriada, são fatores importantes para diminuir a indução de resistência.
É importante ressaltar, então, que a probabilidade de infecção por germe resistente depen-
de da presença de fatores de risco específicos como o uso prévio de antibióticos, epide-
miologia da instituição, condição imunológica do paciente e o tempo de internação.
Para adquirir resistência, a bactéria deve alterar seu DNA, o que pode ocorrer de duas formas:
• Introdução de um DNA externo, chamados genes de resistência, que podem ser transfe-
ridos entre gêneros ou espécies diferentes de bactérias
A resistência aos agentes antimicrobianos pode se dar por vários mecanismos, conforme
exposto a seguir.
Alteração de permeabilidade
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Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
Mecanismo enzimático
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Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Bomba de efluxo
Figura 2. Resumo dos mecanismos de resistência bacteriana. Fonte: Uso racional de antimicrobianos
e a resistência microbiana [Internet]. [cited 2015 Aug 31]. Avialable from: http://www.anvisa.gov.br/
servicosaude/controle/rede_rm/cursos/atm_racional/modulo1/res_outros.htm
513
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Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
Com o uso indiscriminado desses agentes e o aumento da resistência, muitos esforços têm
sido feitos para tentar diminuir o problema. Um exemplo importante foi o reconhecimento
das CCIH, tornadas obrigatórias em todos os hospitais pelo Ministério da Saúde, em junho
de 1983. É uma das tarefas dessas comissões o controle do uso de antimicrobianos.
Esse controle pode ser feito de forma diferenciada pelo tipo de instituição ou pela disponi-
bilidade de recursos para o controle.
A CCIH precisa conhecer todos os casos que estão em uso de antimicrobianos. O controle
por meio da CCIH pode ser realizado em duas modalidades.
Opcionalmente, a ficha pode ser preenchida somente para alguns antimicrobianos selecio-
nados dentre o total disponível no hospital
A duração da profilaxia pode ser outro critério de restrição: a farmácia suspende o forneci-
mento do antimicrobiano após o tempo previamente estipulado pela CCIH.
Outras medidas podem ser benéficas no controle do uso dos antimicrobianos e na tentativa
de redução de resistência. Dentre elas, é importante a educação continuada da equipe mé-
514
514
Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
dica para a prescrição desses agentes. Também de grande importância é monitorar regu-
larmente o perfil de resistência/sensibilidade dos germes aos antimicrobianos padronizados
no hospital, incluindo a análise evolutiva de cada germe na instituição, além de sugestões
para a antibioticoterapia empírica nas situações mais comuns; incentivar o conhecimento
da equipe sobre o volume e o custo vs. benefício de antimicrobianos; e manter protocolos
de rotina de antibioticoprofilaxia clínica e cirúrgica. Além disso, manter rotinas de tratamen-
to de patologias infecciosas mais comuns e padronizar antimicrobianos usados no hospital
também podem ter grande impacto.
Bibliografia
American Academy of Pediatrics (AAP). In: Pickering LK, Baker CJ, Kimberlin DW, Long SS
(ed.). Red Book: 2012 Report of the Committee of Infectious Diseases. Elk Grove Village,
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Capítulo 27 | Uso racional de antimicrobianos em crianças
gravemente enfermas
Camip
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516
516
Infecção Hospitalar em
Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica 28
Terapia Intensiva Pediátrica
Capítulo 28
Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Três dias após a admissão, o paciente apresentou piora do padrão febril, aumento das se-
creções e necessidade de aumento dos parâmetros ventilatórios. O raio X de tórax revelou
novo infiltrado parenquimatoso em região para-hilar à direita. O hemograma mostrou leuco-
citose com desvio à esquerda. Duas hemoculturas coletadas no dia da piora, na via central
e em veia periférica, resultaram positivas para Staphylococcus aureus meticilino-resistente.
O paciente evoluiu com quadro de choque séptico e síndrome do desconforto respiratório
agudo, sendo tratado com drogas vasoativas, antibioticoterapia de largo espectro e an-
tifúgico, introduzido por infecção do trato urinário por Candida parapsilosis. Evoluiu com
melhora lenta, recebendo alta da UTI 28 dias após a admissão.
7. Quais as medidas que podem ser tomadas para evitar as infecções mais comuns em
UTI pediátrica?
Apresentação
Infecções hospitalares são relacionadas à assistência à saúde que ocorrem em pacientes ad-
mitidos no hospital por 48 horas ou mais. Infecções que desenvolvem-se até 1 mês após a alta
também podem ter origem intra-hospitalar. As infecções hospitalares representam um grave
problema em UTI pediátricas, não apenas por sua frequência, mas também pela gravidade de
suas consequências. É sabido que crianças constituem uma população de risco aumentado
para o desenvolvimento de infecções, graças à imaturidade do sistema imune relacionada à
faixa etária. Na criança gravemente doente, às particularidades do sistema imune somam-se
ainda a frequência aumentada de doenças debilitantes e as situações relacionadas à imuno-
deficiência, tratamentos com drogas imunossupressoras, uso frequente de antimicrobianos
de largo espectro e de dispositivos invasivos, o que torna essa população particularmente
suscetível ao desenvolvimento de infecções relacionadas à assistência à saúde.
Etiologia
Agentes etiológicos
Vários agentes etiológicos podem causar infecção hospitalar em crianças gravemente do-
entes, afetando diferentes sítios, de acordo com as características de suscetibilidade e pre-
sença de fatores de risco. Os sítios de infecção mais frequentes em pacientes internados
em UTI pediátricas são pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), a infecção do
trato urinário e a infecção de cateter venoso.
Essas infecções são discutidas em detalhes a seguir. Uma lista dos agentes etiológicos
causadores de infecção hospitalar em UTI pediátricas, assim como os principais fatores de
risco e sítios de infecção causados por estes agentes, está no Quadro 1.
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518
Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
- Pneumonia/pneumonia associada
Recém-nascidos à ventilação
- Infecção de corrente sanguínea
Staphylococcus
- Infecção de cateter venoso central
coagulase negativo
Dispositivos invasivos - Meningite
- Peritonite por cateter de diálise
Antibioticoterapia de largo
- Infecção de corrente sanguínea
espectro
- Pneumonia, infecção de
Recém-nascidos
corrente sanguínea
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519
Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
Pseudomonas
Ventilação mecânica - Pneumonia
aeruginosa
Antibioticoterapia de largo
- Infecção de corrente sanguínea
espectro
Antibioticoterapia atual
Clostridium difficile - Diarreia
recente Imunodepressão
Vírus sincicial
Lactentes - Bronquiolite
respiratório
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520
Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Tipos de infecção
Pneumonia associada à ventilação
Definição e importância
É definida como pneumonia que ocorre em pacientes que estão sob ventilação mecânica
(VM) por 48 horas ou mais. É a segunda infecção hospitalar mais comum em UTI pediátri-
cas, sendo superada apenas pelas infecções do trato urinário. Está associada ao aumento
da morbidade e à maior duração da VM em crianças, sendo a principal razão para o início
de antibióticos empíricos em UTI pediátricas.
A PAV ocorre em 7 a 30% dos pacientes em VM, com taxas de mortalidade variando de
20 a 75% nos diversos estudos. Nos Estados Unidos, a incidência de PAV varia de 4 a 7
episódios por 1.000 dias de VM, enquanto que, em países em desenvolvimento, as taxas
de incidência são significativamente mais elevadas, variando entre 16,1 a 89 episódios por
1.000 dias de VM.
Os principais fatores de risco para PAV em crianças incluem: síndromes genéticas, trans-
porte fora da UTI pediátricas, reintubação, uso prévio de antibióticos, dieta enteral contínua,
broncoscopia, uso de drogas imunossupressoras, bloqueadores neuromusculares, imuno-
deficiência, aspiração de conteúdo gástrico, doença pulmonar obstrutiva crônica, uso de
pressão positiva expiratória final (PEEP), corticosteroides e anti-histamínicos. Embora o uso
de bloqueadores H2 aumente o risco de colonização bacteriana da mucosa gástrica e do
estômago, estudos realizados com adultos mostraram que a inclusão de profilaxia de úlcera
de estresse com bloqueador H2 em um bundle de prevenção de complicações associadas
à VM reduziu a incidência de PAV. O papel dos bloqueadores H2 na prevenção ou risco de
PAV em crianças ainda não está bem estabelecido.
Critérios diagnósticos
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
* Um raio X na ausência de doença cardiopulmonar subjacente. ST: secreção traqueal; SatO2: saturação
de oxigênio; TRI: trato respiratório inferior; LBA: lavado broncoalveolar; PMN: polimorfonucleares.
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
Classificação e etiologia
A PAV pode ser classificada de acordo com o momento de seu aparecimento em precoce
(quando ocorre nas primeiras 96 horas de hospitalização) e tardia (quando ocorre após o
quarto dia de internação). A pneumonia de início precoce é frequentemente causada por
agentes de causadores de infecção comunitária, como Moraxella catarrhalis, Haemophilus
influenzae e Streptococcus pneumoniae. Os agentes causadores de pneumonia de início tar-
dio são bacilos Gram-negativos e S. aureus. Os vírus (por exemplo, influenza A e B ou vírus
sincicial respiratório) podem causar PAV de início precoce ou tardio, enquanto as leveduras,
fungos, Legionella e Pneumocystis jirovecii são geralmente patógenos de pneumonia tardia.
Diagnóstico microbiológico
Diversos exames microbiológicos podem ser usados para o diagnóstico etiológico da PAV,
sendo que, até o momento, nenhum exame se mostrou ideal em termos de acurácia e facti-
bilidade. Os exames utilizados para o diagnóstico microbiológico da PAV incluem: a cultura
e a histologia do tecido pulmonar, a cultura de ST, o lavado broncoalveolar (LBA), o lavado
broncoalveolar não broncoscópico (LBA-nB) e o escovado brônquico. A densidade micro-
biológica, a sensibilidade e a especificidade de cada um desses métodos diagnósticos
estão no Quadro 4.
Dentre estes, a cultura do aspirado traqueal merece melhor discussão, pois, além de ser
o método mais acessível e amplamente utilizado para investigação microbiológica da PAV
em nosso meio, é também o mais discutível e que apresenta menor acurácia. As principais
vantagens relacionadas ao método incluem facilidade, segurança, baixo custo e possibili-
dade da realização de exames repetidos. Apesar da alta sensibilidade, a especificidade do
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
método é bastante baixa, e não permite diferenciar entre infecção e colonização das vias
aéreas inferiores por agentes patogênicos. A monitorização repetida da cultura do aspirado
traqueal permite acompanhar o padrão de colonização das vias aéreas por patógenos intra-
-hospitalares, como S. aureus e Pseudomonas aeruginosa, colonização esta que precede à
infecção. O papel da cultura do aspirado traqueal como guia para escolha antimicrobiana,
no entanto, ainda não está esclarecido. A cultura quantitativa do aspirado traqueal aumenta
a acurácia na distinção entre colonização e infecção das vias aéreas (quando crescimento
de >105UFC, sigla para unidades formadoras de colônia), às custas de perda de sensibilida-
de em comparação à cultura qualitativa.
Prevenção
São medidas gerais: vigilância ativa da ocorrência de PAV; adesão às medidas de higiene
das mãos; uso de ventilação não invasiva sempre que possível; redução da duração da VM;
avaliação diária da prontidão para extubação; medidas educativas sobre importância e es-
tratégias de prevenção de PAV para toda a equipe de saúde.
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
Tratamento
As infecções de corrente sanguíneas (ICS) estão entre as infecções hospitalares mais preva-
lentes e de maior gravidade. Estima-se que, nos Estados Unidos, cerca de 30.100 pacientes
admitidos em UTI desenvolvam ICS anualmente, causando impacto significativo na morbi-
mortalidade e nos custos das internações hospitalares.
Definição
Segundo as diretrizes do CDC de 2015, a ICS primária define-se como uma infecção san-
guínea confirmada laboratorialmente não secundária a uma infecção em outro sítio.
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• Febre (>38ºC)
• Calafrios
• Hipotensão OU
• Febre (>38ºC)
• Hipotermia (<36ºC)
• Apneia
• Bradicardia
Segundo Garcia et al. (2003), a IRC inclui três categorias: colonização do cateter, infecções
locais ou infecção de corrente sanguínea relacionada ao cateter:
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
• ICS relacionada ao cateter: deve apresentar ao menos uma das seguintes condições:
• Cultura positiva da ponta do cateter (≥15UFC em seu extremo distal, por método semi-
quantitativo, ou ≥100UFC de cultivo quantitativo) com identificação do mesmo micror-
ganismo no sangue OU
• Hemoculturas quantitativas simultâneas do dispositivo e por venopunção periférica,
com uma razão ≥4:1 na contagem de microrganismos (sangue do cateter:sangue peri-
férico) OU
• Tempo diferencial até detectar o crescimento bacteriano de ao menos 2 horas entre
hemoculturas obtidas por cateter e hemoculturas periféricas, medidas somente em
laboratórios que dispõem de sistemas automatizados de hemocultura.
Fisiopagenia
Fatores de risco
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Pacientes nos extremos de idade (<1 ano e >60 anos) e com imunodeficiências, com infecção
em outra localização e com neoplasias apresentam risco aumentado de desenvolver IRC.
Considera-se a nutrição parenteral como risco para ocorrência de infecção de corrente san-
guínea, pois é um excelente meio de cultura e possibilita precipitação na superfície do dis-
positivo, o que aumenta a colonização, principalmente se infundida junto de outras soluções.
Etiologia
O perfil microbiológico das ICS tem apresentado mudanças nas últimas décadas, especial-
mente devido ao uso indiscriminado de antimicrobianos e do uso aumentado de dispositivos
vasculares. Os microrganismos mais frequentemente isolados em ICS são Staphylococcus
coagulase negativo; S. aureus, P. aeruginosa, Echerichia coli e Candida sp. Os S. coagulase
negativo são responsáveis por cerca de 30 a 40% das IRC. Dentre eles, Staphylococcus
epidermidis corresponde aproximadamente a 60% dos casos, devido à sua capacidade de
aderir aos cateteres plásticos, principalmente PVC.
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
Tratamento
Em paciente graves e instáveis, é imperativo que o cateter seja removido o quanto antes
e obtido novo acesso central em outro sítio para administração de drogas vasoativas e
de antibióticos. A troca do cateter por fio-guia não é recomendada. Em paciente estáveis,
recomendam-se a retirada do cateter central, e a utilização de acesso periférico para ad-
ministração de antibióticos e outras medicações. A passagem de um novo acesso central
deve ser adiada até a obtenção de hemocultura negativa ou até pelo menos 48 horas após
a retirada do cateter.
Vários estudos demonstram que a aplicação conjunta de medidas preventivas por meio de
pacote de medidas (bundles) reduziu as ICS relacionadas a cateter de modo consistente
e duradouro. Esses pacotes de medidas podem incluir vigilância constante, educação da
equipe, treinamento do time de inserção e de cuidados com o cateter e estratégias de pre-
venção de ICS. É importante salientar que, para garantir melhores resultados, é necessário
que haja alta adesão a todas as medidas do bundle e que as diretrizes propostas sejam apli-
cadas conjuntamente e de maneira uniforme para todos os pacientes, tornando-se podero-
sa ferramenta para cultura de segurança do paciente. Medidas detalhadas para prevenção
de IRC podem ser consultadas nas diretrizes do CDC de 2011 (Guidelines for the Prevention
of Intravascular Catheter-Related Infections).
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Critérios diagnósticos
Etiologia
Tratamento
Prevenção
Várias medidas são sugeridas para a prevenção da ocorrência de ITU-RC, dentre elas:
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Camip
Outras infecções
Especial atenção deve ser dada à educação da higiene das mãos, por ser esta a medi-
da mais eficaz na prevenção da ocorrência de infecções hospitalares. Medidas educativas
continuadas devem dar ênfase aos cinco momentos de higienização das mãos:
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Capítulo 28 | Infecção hospitalar em terapia intensiva pediátrica
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
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Camip
536
Grande Queimado
Capítulo 29 | Grande queimado 29
Capítulo 29
Grande queimado
Paciente de 5 anos, masculino, admitido no pronto-socorro infantil 1 hora após sofrer quei-
madura por explosão de garrafa de álcool 70% quando uma churrasqueira estava sen-
do acesa. Ao exame físico: mau estado geral, choroso, irritado, pressão arterial (PA) de
74x29mmHg, frequência cardíaca (FC) de 150bpm, frequência respiratória (FR) de 42ipm,
saturação do oxigênio (SatO2) de 96%. Apresentava em face e pescoço lesão esbranquiça-
da e edema inclusive bipalpebral; tórax, abdômen anterior e MMSS, área esbranquiçada e
eritema ao redor e algumas bolhas; MMII com bolhas esparsas.
Perguntas
Apresentação
Em geral, lesões por queimaduras afetam grupos mais vulneráveis, como pacientes em extremos
de idade, com algum tipo de deficiência e em grupos socioeconômicos menos favorecidos.
Apesar de a mortalidade por lesões decorrentes de queimaduras ter diminuído como resul-
tado dos avanços no cuidado das queimaduras e implementação de medidas preventivas,
crianças com lesões graves requerem tratamento intensivo e usualmente apresentam cicatri-
zes e deficiências por muitos anos. A rápida identificação e tratamento das lesões associadas
às queimaduras, a ressuscitação fluídica e a rápida transferência de crianças graves para
centros de tratamento de queimados melhoram a sobrevida e reduzem as complicações.
Classificação da queimadura
A extensão das queimaduras é expressa por meio de porcentagem da SCQ. Para o cálculo,
não se computam as queimaduras superficiais (primeiro grau). Quando houver dúvida da
profundidade da lesão, deve-se considerar o grau mais grave.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Em adultos a “regra dos nove” oferece uma estimativa rápida da área queimada. Cada
membro inferior representa 18%, cada membro superior representa 9%, o tronco anterior e
posterior representam 18% cada um e a cabeça representa 9%.
Figura 1. Regra dos nove para cálculo de superfície corpórea queimada. Fonte: Ministério da Saúde.
Cartilha para tratamento de emergências das queimaduras; 2012.
Outro método lança mão do cálculo por meio da palma da mão. Seria útil quando as lesões
são pequenas e não contínuas.
Um método mais acurado para ser utilizado em adultos e crianças é a tabela modificada de Lun-
d-Browder (Figura 2), que leva em conta as alterações corpóreas conforme a faixa etária.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Camip
A American Burn Association (ABA) classificou como queimadura grave (Quadro 1): queima-
dura maior que 20% da superfície corpórea em crianças menores que 10 anos , queimadura
de terceiro grau maior que 10 % da superfície corpórea, queimadura de locais que podem
ter comprometimento funcional ou estética importante, queimadura elétrica, e queimaduras
complicadas por trauma, lesão por inalação e comorbidades.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• Queimaduras de olhos, orelhas, face, mãos, pés ou períneo que podem resultar em
alteração funcional ou estética
Atendimento de urgência
A criança vítima de queimadura grave deve passar por avaliação sistematizada, seguindo as
etapas do suporte pediátrico avançado de vida.
A avaliação inicial das vias aéreas deve procurar por indícios de lesão por queimadura. O
quadro é evidente na presença de desconforto respiratório alto com estridor, rouquidão, hi-
persalivação e disfagia. É importante descartar presença de corpo estranho. Outros indícios
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Capítulo 29 | Grande queimado
Camip
Respiração
A respiração pode estar deprimida por trauma associado, pela ação de medicação seda-
tiva aplicada no tratamento pré-hospitalar ou por intoxicação por monóxido de carbono
ou cianeto. Queimadura circular do tórax ou abdômen pode levar à restrição ventilatória.
Em todos os casos, deve-se ofertar oxigênio em alta concentração inicialmente. Na sus-
peita de intoxicação por monóxido de carbono a oferta de oxigênio deve ser mantida por
tempo prolongado.
Circulação
Queimaduras graves extensas podem levar à depressão miocárdica com choque após al-
gumas horas, se houver sinais precoces de choque, lesões associadas sempre devem ser
descartadas. Acidentes por corrente elétrica de alta voltagem podem levar a arritmias car-
díacas com comprometimento hemodinâmico.
A história do acidente deve ser a mais completa possível, constando: horário, se foi pre-
senciado, tipo de acidente (escaldadura, líquido inflamável, fogo, químico, elétrico), local
(fechado ou aberto) e trauma associado. No acidente por escaldadura, o tipo de líquido,
se mais viscoso, pode determinar queimaduras mais profundas. No acidente por fogo, é
importante saber se ocorreu em local fechado e se havia presença de substâncias que
liberam cianeto, como seda, poliuretanos, poliacrilonitrilas, náilon, resinas de melamina e
plásticos. Nos acidentes elétricos por corrente de alta voltagem, a possibilidade de trauma
é grande, além da presença de fraturas por contração muscular e mioglobinúria por lesão
muscular. Devem ser pesquisadas doenças preexistentes, vacinação antitetânica, alergias
e tratamento pré-hospitalar. Abuso deve ser suspeitado se a história com os responsáveis
trouxer dados inconsistentes.
O exame físico deve ser completo com aferição dos sinais vitais e, especialmente, do peso,
parâmetro que será utilizado para cálculo do volume de reposição.
Os parâmetros da oximetria de pulso devem ser analisados criteriosamente em casos com
suspeita de intoxicação por monóxido de carbono.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Alteração do nível da consciência pode estar presente, causada por choque, hipóxia, in-
toxicação por monóxido, intoxicação por cianeto, trauma craniano associado ou sedativo.
A caixa torácica deve ser avaliada na busca por sinais de trauma. Além dos sinais de des-
conforto respiratório alto, podem estar presentes outros sinais como retração subcostal e
diafragmática, gemência e sibilos por lesão inalatória.
Avaliação da queimadura
A queimadura deve ser avaliada na sua localização, extensão e profundidade.
Um dos órgãos que merece especial atenção é o olho. Avaliação da córnea deve ser feita
antes que o edema palpebral impeça o exame detalhado. Queimadura circular de membros
exige exame constante do pulso distal e da perfusão periférica para diagnóstico precoce de
síndrome compartimental. Queimadura circular de tórax pode levar a restrição ventilatória
importante. Em lesões por corrente elétrica, muitas vezes não se distinguem os locais de
entrada ou saída da corrente elétrica na pele; essas lesões não podem ser utilizadas como
parâmetro da gravidade do quadro. A lesão na queimadura por corrente elétrica de alta vol-
tagem é profunda, pois a resistência à passagem da corrente elétrica é maior em osso, mús-
culos e vasos com maior transformação da energia elétrica em energia térmica. Padrões
simétricos de queimaduras em membros ou marcas bem definidas sugerem lesões inten-
cionais. A extensão das queimaduras deve ser calculada por meio da tabela modificada de
Lund-Browder. Queimaduras superficiais de primeiro grau não devem entrar no cálculo.
Tratamento inicial
Um acesso venoso calibroso deve ser obtido inicialmente; se houver dificuldade, o acesso
intraósseo é a opção até a passagem de cateter venoso central.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Camip
Ressuscitação fluídica
Várias fórmulas foram estudadas para cálculo do volume na ressuscitação fluídica. A fórmu-
la mais utilizada é a de Parkland − 4mL/kg/% SCQ nas primeiras 24 horas, não se incluin-
do áreas com queimadura de primeiro grau (Quadro 3). A metade deve ser infundida nas
primeiras 8 horas e a metade restante em 16 horas. A solução mais utilizada é a de Ringer
lactato, cuja composição eletrolítica se aproxima à do plasma. Além do volume calculado
de Ringer lactato, deve-se ofertar a necessidade hídrica basal nas 24 horas, com oferta de
glicose. O uso de coloides deve ser evitado nas primeiras 24 horas. Pacientes com lesão
inalatória podem necessitar de mais volume − até 40% a mais.
Controle da dor
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Capítulo 29 | Grande queimado
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Opioides
Doses recomendadas: morfina 0,1mg/kg cada 2 a 4 horas ou fentanil 0,5 a 1mcg/kg cada
1 a 2 horas.
A analgesia controlada pelo paciente (PCA) com opioides intravenosos pode oferecer ao
paciente com queimadura um método eficaz para a obtenção de analgesia mais flexível.
E, por fim, por via oral, a administração de opioides é particularmente vantajosa naqueles
pacientes sem acesso intravenoso.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Camip
inibição da agregação de plaquetas, o uso de AINEs deve ser evitado em situações em que
o risco de hemorragia é um problema, no caso em queimaduras graves.
Ansiolíticos
Sabe-se que a ansiedade pode piorar a dor aguda. Por isso, constitui-se uma prática co-
mum o uso de drogas ansiolíticas em combinação com analgésicos opioides. A ansiedade
antecipatória experimentada por pacientes queimados, antes e durante o desbridamento,
justifica a utilização dos ansiolíticos como pré-medicação. Há relatos que dose baixa de
benzodiazepínicos reduz significativamente os relatos de dor ao tratamento de feridas.
Cetamina
É um antagonista não competitivo dos receptores NMDA. Pode ser usado para sedação
consciente durante o curativo em pacientes com queimadura. Induz a um estado de anes-
tesia dissociativa com doses intravenosas de 1mg/kg. Oferece, como principal vantagem, a
manutenção dos reflexos de proteção das vias aéreas, da pressão arterial e da frequência
cardíaca. Na ocorrência de alucinações, principal efeito adverso, a administração concomi-
tante de benzodiazepínico ou propofol pode amenizar esse efeito.
A cetamina também foi eficaz como medicação de resgate em caso de dor menos respon-
siva aos opioides e parece promover alguma ação na redução da hiperalgesia.
Agonista alfa-2
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Capítulo 29 | Grande queimado
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Lesão inalatória
Lesão inalatória é um termo não específico referente à lesão direta ao sistema respiratório
(vias aéreas e parênquima pulmonar) ou à toxicidade sistêmica secundária à absorção de
substâncias. É classificada em quatro categorias: lesão de vias aéreas superiores, lesão de
vias aéreas inferiores, lesão parenquimatosa e toxicidade sistêmica. Deve sempre ser sus-
peitada com lesões térmicas de face ou história de exposição prolongada a gases tóxicos
em ambiente fechado. A lesão de vias aéreas superiores deve ser excluída por visão direta
ou indireta. Mais comumente a obstrução de vias aéreas superiores é secundária à anasar-
ca relacionada à ressuscitação de grandes queimados. A lesão de subglote e de parênqui-
ma pulmonar geralmente é secundária a toxinas ou partículas inaladas que geram processo
inflamatório importante. A exceção é o vapor de água que pode ultrapassar os mecanismos
protetores de vias aéreas superiores e alcançar o parênquima com lesão térmica direta.
A broncoscopia pode auxiliar no diagnóstico, mas não prediz a extensão real da lesão. A
ventilação mecânica deve ser utilizada com parâmetros protetores com volume corrente 5 a
7mL/kg, prevenção de barotrauma e pressão inspiratória menor que 30cmH2O.
Estudo inicial com inalação com heparina e n-acetilcisteína mostrou redução da mortalida-
de em crianças com lesão inalatória, sendo utilizada em alguns serviços.
Óxido nítrico pode ser utilizado na suspeita de vasoconstrição pulmonar secundária, mas
deve ser suspenso se não houver resposta nas primeiras horas. Há relato de que os níveis
de óxido nítrico já estão aumentados na lesão inalatória, e a perda resultante da vasocons-
trição hipóxica pode piorar o desbalanço ventilação-perfusão.
O oferta de oxigênio deve ser mantida em altas frações, até resolução dos sintomas e nor-
malização do nível de carboxihemoglobina. A meia-vida da carboxihemoglobina é de 250
minutos se o paciente estiver sob ar ambiente; com o uso de oxigênio a 100%, a meia-vida
cai para 40 a 60 minutos.
A intoxicação por cianeto produz uma inibição reversível da oxidase do citocromo c, com ini-
bição da oxigenação celular e anóxia tissular. O diagnóstico é clínico, pois a análise do nível
sérico do cianeto não é realizada rotineiramente. O diagnóstico pode ser sugerido por acidose
com anion gap aumentado, lactato sérico elevado ou saturação venosa mista de oxigênio
elevada. A terapêutica é realizada com administração de hidroxicobalamina 70mg/kg em 15
minutos. A hidroxicobalamina interfere no resultado de uma série de dosagens laboratoriais.
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Capítulo 29 | Grande queimado
Camip
As queimaduras de primeiro grau em geral melhoram rapidamente (por volta de 5 dias), de-
pendendo da extensão, sendo indicada apenas a utilização de hidratantes tópicos.
A cobertura de feridas por queimaduras traz uma série de benefícios ao paciente – protege
a ferida de traumas posteriores e/ou infecção, além de propiciar conforto e alívio da dor e
auxiliar na cicatrização da mesma. Após a abordagem inicial e lavagem da queimadura com
solução salina, uma série de curativos e dispositivos pode ser utilizada no tratamento local
da queimadura:
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Capítulo 29 | Grande queimado
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• Papaína: agente natural retirado do látex do mamão papaia; tem propriedade proteolíti-
ca, resultando em desbridamento químico.
Escarotomia pode ser necessária nas queimaduras circulares ou extensas com restrição da
circulação de extremidades ou restrição da expansibilidade torácica ou abdominal.
Suporte nutricional
O suporte nutricional deve ser iniciado em 24 a 48 horas após internação, podendo ser
ofertado por sonda gástrica ou enteral. A via enteral é a preferencial. A vantagem da sonda
enteral é o menor risco de aspiração com a mobilização e realização de curativos, e permi-
tindo diminuição do tempo de jejum para procedimentos cirúrgicos.
Fórmulas são utilizadas para o cálculo da necessidade calórica, de acordo com a porcen-
tagem de SCQ. Geralmente, as fórmulas superestimam as necessidades. A fórmula do Gal-
veston Shriner Burns Institute é uma das utilizadas (Quadro 4).
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Capítulo 29 | Grande queimado
Camip
Não há uma nutrição padrão para crianças com queimaduras. A dieta deve ser rica em
glicose, proteína e aminoácidos, e pobre em gordura com presença de ácidos graxos insa-
turados. Suplementação de glutamina em pequenos estudos mostrou diminuição de infec-
ção, tempo de internação e mortalidade. Seu uso parece ser benéfico. Não há dados para a
suplementação de alanina. Atenção especial deve ser dada na suplementação de vitaminas
e oligoelementos.
Resposta hipermetabólica
A resposta hipermetabólica ocorre alguns dias após a queimadura grave e pode persistir
por meses. A causa não foi inteiramente esclarecida, havendo aumento persistente na se-
creção de catecolaminas, glicocorticoides, glucagon e dopamina, com indução de hiper-
metabolismo e catabolismo subsequente. Várias vias são afetadas, mas duas são particu-
larmente mais afetadas: metabolismo da glicose com resistência à insulina e hiperglicemia;
e o metabolismo das gorduras com lipólise aumentada.
O controle da glicemia com o uso da insulina, visando níveis entre 110 a 150 mg/dL, mostrou
melhora da cicatrização, efeito anabólico e diminuição na incidência de sepse e infecção.
O propranolol tem ações anti-inflamatórias e anticatabólicas, diminui a hiperglicemia, dimi-
nui o hipermetabolismo com menor acúmulo de gordura e menor perda óssea. Sua efetivi-
dade na diminuição da mortalidade em queimaduras graves é incerta, mas teste multicên-
tricos estão em andamento.
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Infecção
A infecção é a causa mais comum de morte após lesão por queimadura. A perda da proteção
da pele íntegra, a internação prolongada, a necessidade de procedimentos invasivos como
cateter venoso central, intubação, ventilação mecânica e sondagem vesical, antibioticote-
rapia prolongada e procedimentos cirúrgicos aumentam o risco de infecção hospitalar. O S.
aureus é agente principal nos primeiros dias, e a P. aeruginosa é mais comum após 7 dias.
Taquicardia progressiva
Criança: 2 desvio padrão acima de 85% da
frequência cardíaca máxima para a idade
Taquipneia progressiva
Criança: 2 DP acima de 85% da frequência
respiratória máxima para a idade
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Camip
Distensão abdominal
Outros focos importantes de infecção no paciente queimado são o cateter venoso central,
sistema respiratório e sistema urinário. O diagnóstico dessas infecções segue os mesmos
critérios utilizados normalmente em outros pacientes.
Conclusão
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554
554
Capítulo 30 | Afogamento
Afogamento 30
Capítulo 30
Afogamento
MM, 2 anos, sexo feminino, foi encontrada pelos pais submersa em piscina na casa das
avós durante festa de aniversário do tio. Retirada da água inconsciente, levada imediata-
mente ao serviço de emergência mais próximo, com chegada ao pronto atendimento 5
minutos após ser encontrada.
No terceiro dia de internação, paciente evoluiu febril, com aumento de proteína C-reativa,
piora importante de infiltrado bilateral ao raio X tórax e necessidade de aumento de parâ-
metros ventilatórios. Coletadas culturas – sangue e secreção traqueal – e iniciada antibioti-
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
Questões
1. No caso acima, quais fatores epidemiológicos coincidem e quais são discordantes dos
dados de literatura?
5. Quais fatores do caso clínico são associados a mau prognóstico neurológico a longo prazo?
Definição
No ano de 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu afogamento como o pro-
cesso de insuficiência respiratória causada pela submersão ou imersão em líquidos. O pro-
cesso de afogamento começa com a insuficiência respiratória causada quando a via aérea
de um indivíduo é inserida dentro da superfície de um líquido (submersão) ou quando um
líquido é derramado na face (imersão). Se a pessoa é resgatada em qualquer momento e o
processo de afogamento é interrompido, não levando a óbito, é, então, classificado como
afogamento não fatal. Se o óbito ocorre em qualquer tempo em decorrência do afogamen-
to, é definido como afogamento fatal. Deve-se classificar em afogamentos com testemu-
nhas e sem testemunhas, pelo valor prognóstico dessas informações. A classificação mais
aceita na atualidade foi proposta por Utstein, em 2003.
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Epidemiologia
De acordo com a OMS, 0,7% do total de mortes mundiais é devido a afogamentos não
intencionais, totalizando mais de 500 mil óbitos anualmente (8,4/100 mil). Como muitos
desses óbitos não são classificados como afogamento não intencional na Classificação
Internacional de Doenças, existe grande possibilidade de esse número subestimar a quan-
tidade real de mortes por afogamento.
Entre os principais fatores de risco para o afogamento estão o sexo masculino, a idade me-
nor que 14 anos, o uso de álcool, a baixa renda, a educação inadequada, a residência em
área rural, a exposição à água, o comportamento de risco e a falta de supervisão. Pessoas
com epilepsia têm risco de afogamento de 4 a 13 vezes maior que aqueles sem epilepsia.
Estima-se que o risco ajustado por exposição para afogamento seja mais de 200 vezes
maior que de acidente automobilístico.
Os lugares onde ocorrem os afogamentos variam conforme a faixa etária e o acesso local
a fontes de recursos hídricos. Enquanto em lactentes a maioria das ocorrências se dão em
ambiente doméstico, como piscinas, banheiras e baldes, em crianças menores de 5 anos,
a maioria dos casos se dá em piscinas. Conforme o aumento da faixa etária, a incidência
de afogamentos em lugares de água fresca cresce gradativamente, porém acidentes em
piscinas continuam com importância.
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
Estima-se que os gastos com afogamentos sejam de U$ 273.000.000 por ano nos Estados
Unidos e U$228.000.000 no Brasil. A cada óbito por afogamento, são observados 14 aten-
dimentos de emergência e 4 internações hospitalares.
Fisiopatologia
O processo de afogamento inicia-se quando a via aérea do indivíduo está envolvida por
fluidos (presença de líquido em via aérea pode levar a deglutição ou cuspe desse líquido);
nesse momento, a vítima do afogamento inicia pausa respiratória. Em questão de aproxi-
madamente 1 a 2 minutos, o drive respiratório fisiológico ocasiona respiração involuntária
espontânea que leva líquido à via aérea e à reflexo de tosse além de, possivelmente, desen-
cadear laringoespasmo. Experimentos com animais registram que em até 10% dos casos
em afogamentos não se veem líquidos no pulmão após o óbito, levando a acreditar que o
laringoespasmo seja o fator determinante nesses casos.
Caso a pessoa não seja socorrida, inicia-se aspiração líquida, levando à hipóxia (estudos
em animais mostram um declínio de 6mmHg de pressão parcial de oxigênio – PaO2 por mi-
nuto), que rapidamente leva à perda de consciência e a apneia. A atividade cardíaca, inicial-
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
mente em taquicardia, evolui para bradicardia, atividade elétrica sem pulso e assistolia em
questão de minutos. Em situações raras, como hipotermia ou afogamento em águas com
temperaturas muito baixas, esse processo pode durar até 1 hora.
Crianças menores conseguem prender respiração por fração menor de tempo (10 a 20 se-
gundos) e muitas vezes se afogam em silêncio e sem pedir socorro.
O cérebro tem reserva mínima de nutrientes e precisa de fluxo sanguíneo contínuo para o
aporte de nutrientes. Após aproximadamente 2 minutos de anóxia, depletam-se o ATP neu-
ronal necessário para atividade metabólica e gradientes iônicos, desencadeando cascata
fisiopatológica, que levará à morte celular e à apoptose.
Lesão cerebral de reperfusão pode ocorrer devido à liberação de glutamato e outros amino-
ácidos excitatórios, que irão aumentar o influxo de cálcio e sódio para o citoplasma celular,
levando à injúria e à morte cerebral.
Após a parada cardiorrespiratória, pode ocorrer edema cerebral por diversas causas, como
edema vasogênico e por inchaço astrocitário, com acúmulo de água e sódio. Acidose, hi-
percalemia e ácido araquidônico também aumentam inchaço de astrócitos.
Edema cerebral severo pode aumentar a pressão intracraniana (PIC), afetando a pressão de
perfusão cerebral e, assim, aumentando a hipóxia tecidual.
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
Alterações pulmonares
A aspiração pulmonar ocorre na maioria das vítimas de afogamento, mas em pequenos
volumes; laringoespasmo pode ocorrer em pequena parte das vítimas. O conteúdo aspi-
rado pode variar a evolução clínica do paciente. Conteúdo gástrico, água do mar salina
hipertônica, substâncias químicas e outros podem causar obstrução das vias aéreas ou
lesão pulmonar, alterando a evolução clínica. Alguns pacientes com aspiração de grandes
quantidades de líquidos podem ter pior prognóstico.
O manejo da lesão pulmonar não muda com água doce ou salgada. Enquanto a água salgada
é hipertônica (aproximadamente salina 3%), ao ser aspirada atrai fluídos intersticiais e intra-
vasculares para o alvéolo, além de inativar o surfactante. Água doce hipotônica também lava
o surfactante, levando à instabilidade e a atelectasias alveolares. Em ambas as situações, há
hipoxemia severa, alterações V/Q, aumento do shunt intrapulmonar e diminuição da compla-
cência pulmonar. A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) pode ocorrer tardia-
mente nos pacientes afogados, dificultando ainda mais a condução do quadro respiratório.
Episódios de afogamento graves muitas vezes evoluem com quadros graves de disfunção
cardíaca. Tanto o débito cardíaco quanto o conteúdo arterial de oxigênio podem estar re-
duzidos, diminuindo drasticamente a oferta tecidual de oxigênio. Hipóxia miocárdica, dimi-
nuição na pré-carga e acidose metabólica podem causar diminuições de volume sistólico
e piorar o débito cardíaco. Hipertensão pulmonar e falência do ventrículo esquerdo podem
levar à falência do ventrículo direito. Todas essas alterações hemodinâmicas podem levar à
piora da oferta tecidual de oxigênio, piorando ainda mais a hipóxia tecidual.
Alterações com insuficiência renal aguda, lesão hepática e coagulação intravascular dis-
seminada podem ser decorrentes da lesão hipóxico-isquêmica, agravando ainda mais o
quadro do paciente grave afogado.
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O indivíduo que se afogou deve ser posicionado em posição supina, com o tronco e a ca-
beça no mesmo nível, e devem-se avaliar sua responsividade e suas incursões respiratórias.
Assim que possível, a via aérea deve ser limpa de quaisquer materiais estranhos de modo a
evitar obstrução ou aspiração.
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Capítulo 30 | Afogamento
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Um indivíduo com lesão pulmonar pode inicialmente ser capaz de manter oxigenação ade-
quada por meio de frequência respiratória anormalmente alta e ser tratado pela adminis-
tração de oxigênio por máscara facial a 15L de oxigênio por minuto. Intubação precoce e
ventilação mecânica são indicadas quando o indivíduo mostra sinais de deterioração ou
fadiga. Uma vez intubado, a maioria dos indivíduos consegue ser oxigenada e ventilada
efetivamente. Embora secreção secundária à edema pulmonar importante possa aparecer
no tubo endotraqueal, aspiração pode levar a distúrbios da oxigenação e deve ser balan-
ceada contra a necessidade de ventilação e oxigenação. Provedores de cuidados pré-hos-
pitalares devem assegurar oxigenação adequada para manter saturação arterial entre 92
e 96% enquanto a expansão torácica adequada também é assegurada. Ventilação com
pressão expiratória final positiva (PEEP) deve ser iniciada o mais rapidamente possível para
melhorar a oxigenação.
Se a hipotensão não for corrigida pela oxigenação, infusão rápida de cristaloide deve ser
administrada, independente de água salgada ou doce ter sido aspirada.
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Figura 1. Esquema de estratificação de risco, sugestão de encaminhamento de pacientes e tratamento, e sobrevida, segundo grau de gravidade.
Fonte Szpilman D. Near-drowning and drowning classification: a proposal to stratify mortality based on the analysis of 1,831 cases. Chest.
563
1997;112(3):660-5.
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
A IOT é indicada tão logo seja possível, caso haja persistência de apneia, hipoventilação ou
de desconforto respiratório, assim como se houver instabilidade hemodinâmica ou rebaixa-
mento do nível de consciência. Em pacientes com edema pulmonar importante ou aspira-
ção, a aplicação de PEEP é fundamental, e diuréticos devem ser evitados.
A epinefrina em geral é a droga inicial de escolha, e pode ser administrada via endotraqueal
caso nenhum acesso intravenoso esteja disponível; deve ser titulada para pressão arterial
e perfusão.
Em crianças com parada cardíaca após submersão, o primeiro ritmo registrado é assistolia
em 55%, taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular em 29% e bradicardia em 16%.
Para os casos de fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular (TV) sem pulso, a des-
fibrilação elétrica (inicialmente 2J/kg seguida por 4J/kg) é necessária.
Uma vez que a via aérea esteja garantida, a oxigenação tenha sido otimizada, a circulação
estabilizada e uma sonda nasogástrica inserida, isolamento térmico deve ser instituído. Isso
deve ser seguido pelo exame físico, raio X de tórax e gasometria arterial. A acidose meta-
bólica ocorre na maioria dos pacientes e é geralmente corrigida pelo esforço espontâneo do
paciente para aumentar o volume/ventilação minuto, ou pelo aumento de volume minuto,
ou do pico de pressão inspiratória (~35cmH2O) no ventilador. Uso de bicarbonato de sódio
de rotina não é recomendado. Devem-se obter informações sobre o resgate, as atividades
de reanimação e as comorbidades prévias. O afogamento pode ser desencadeado por uma
lesão ou condição médica, como trauma, convulsões ou arritmia cardíaca, e tais condições
podem afetar decisões quanto o tratamento.
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Todos os pacientes admitidos na UTI devem ter uma monitorização da frequência cardíaca,
oximetria de pulso, medida regular da pressão arterial sistêmica e a realização de um eletro-
cardiograma. Deve-se ter a medida do débito urinário e da pressão venosa central, e monito-
rizar a função renal e os níveis de enzima cardíaca e muscular. Os suportes pulmonar, cardio-
vascular e neurológico são prioritários, assim como o controle da temperatura e da glicemia.
Suporte pulmonar
Uma vez que a lesão pulmonar é causada por uma agressão temporária e localizada, os pacien-
tes com desconforto respiratório secundário a um episódio de afogamento tendem a se recu-
perar mais rapidamente que os pacientes com SDRA, e sequelas pulmonares tardias são raras.
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
O início precoce de pneumonia pode ser devido à aspiração de água contaminada/ poluída,
de flora endógena ou de conteúdo gástrico. Aspiração de água de piscina raramente resulta
em pneumonia. O risco de pneumonia aumenta com a ventilação mecânica prolongada e
pode ser detectada entre o terceiro e quarto dias de internação, quando o edema pulmonar
praticamente se resolveu. Pneumonia é frequentemente relacionada a patógenos nosoco-
miais; uma vez feito o diagnóstico, terapia empírica com antibioticoterapia de amplo espec-
tro com cobertura para Gram positivo e Gram negativo mais prováveis deve ser instituída, e
a terapia definitiva instituída, uma vez que os resultados das culturas e testes de sensibilida-
de estejam disponíveis. Infecções por fungos e anaeróbios devem ser consideradas, porém
pode-se aguardar resultado das culturas para cobertura.
Em alguns pacientes, a deterioração da função pulmonar é tão grave que leva à necessi-
dade do uso de membrana de oxigenação extracorpórea para oxigenação adequada. Para
esses pacientes criticamente doentes, surfactante artificial, óxido nítrico inalatório e ventila-
ção parcialmente líquida com perfluorocarbonos estão sob estudo, porém nenhum desses
tratamentos pode ser recomendado no momento.
Suporte cardiovascular
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Suporte neurológico
Caso a escala de coma de Glasgow seja menor que 8 ou haja convulsões, realizar a intu-
bação orotraqueal (IOT) para proteção de via aérea e instituição de ventilação mecânica,
mantendo o paciente com uma hiperventilação leve, com PaCO2 entre 30 a 35mmHg nos
pacientes com evidência de edema cerebral.
A terapêutica do edema cerebral inclui avaliação e tratamento da PIC, mas as medidas mais
importantes na UTI são dirigidas para prevenir a lesão cerebral secundária, devido a hipó-
xia, acidose, hipotensão, hipertermia, hiperglicemia, convulsão não controlada e sobrecarga
de volume. O tratamento deve incluir a correção de distúrbios hidroeletrolíticos e ácido bá-
sicos, manutenção da normotermia e glicemia em valores normais.
Controle agressivo das convulsões para diminuir o consumo cerebral de oxigênio deve ser
realizado, e a fenitoína é o anticonvulsivante de escolha; se sinais hipertensão intracraniana,
são recomendados hiperventilação leve, elevação da cabeceira a 30º e sedação adequada.
Controle da temperatura
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
Controle da glicemia
As soluções que não contêm dextrose devem ser administradas inicialmente na maioria
das situações, com avaliações repetidas da glicemia sérica, a fim de evitar hipoglicemia
não reconhecida. Em caso de hipoglicemia, 0,5 a 1g/kg de dextrose intravenosa deve ser
administrada como solução a 10 ou 25% no máximo, e a infusão contínua de solução que
mantenha a normoglicemia deve ser instituída.
Embora alguns dados sugiram que a correção da hiperglicemia com insulina traga benefí-
cios, seu uso após eventos pediátricos hipóxico isquêmicos ainda não pode ser recomen-
dado. Na fase de manutenção, em pacientes com concentração sérica de glicose normal,
deve-se reiniciar a administração adequada de líquidos de manutenção com dextrose por
infusão contínua com o objetivo de manter a normoglicemia.
Outras complicações
Uma síndrome de resposta inflamatória sistêmica após reanimação tem sido reportada em
indivíduos que foram salvos de afogamento, porém isso não deve ser erroneamente inter-
pretado como infecção.
Prognóstico
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
temente não têm parada cardíaca prolongada e a maioria responde rapidamente aos esfor-
ços de ressuscitação, com retorno dos sinais vitais normais na chegada ao pronto-socorro.
Vários algoritmos têm sido sugeridos para prever a evolução do paciente afogado precoce-
mente na sala de emergência. O paciente mais difícil de ser estimado é aquele que chega
inconsciente na sala de emergência. Apesar de dar uma previsão adequada do prognóstico
e desfecho de um grupo de pacientes, esses algoritmos não são totalmente acurados, pois
paciente julgados com mau prognóstico na avaliação inicial podem evoluir sem sequelas,
assim como o oposto.
Pacientes hospitalizados após afogamento tendem a ter prognósticos ou muito bons (sem
nenhuma sequela) ou muito ruins (morte ou sequelas neurológicas graves), com poucos
evoluindo para estados intermediários. Pacientes com tempo total de submersão menor
que 5 minutos têm chance de 91% de sobrevida sem sequelas neurológicas e 87% dos
pacientes têm alta na mesma condição com ressuscitação cardiopulmonar menor que 10
minutos. Já pacientes com submersão maior que 10 minutos e ressuscitação maior que 25
minutos tiveram sequelas neurológicas graves em 93% e 100% dos casos, respectivamen-
te. Nesse estudo, todas as crianças com submersão maior que 25 minutos foram a óbito.
Alguns estudos na faixa etária pediátrica usaram o PRISM (Pediatric Risk of Mortality Score)
para guiar prognóstico e tratamento de vítimas de afogamentos. PRISM menor que 8 pode-
ria ter alta poucas horas após admissão. Valores abaixo de 16 (representa uma mortalidade
de 16% em uma UTI geral) sobreviveram sem nenhuma sequela. Paciente com valores
acima de 24 tiveram 100% de desfechos desfavoráveis (sequelas neurológicas graves ou
óbito). PRISM entre 17 a 23 tinha desfecho desfavorável em 33% dos casos.
Com a melhora das técnicas ventilatórias e o manejo intensivo, o dano pulmonar pode ser
tratado com sucesso na maioria dos pacientes. No entanto, estima-se que o prognóstico
neurológico é reservado se o paciente se apresenta comatoso ao departamento de emer-
gência; variáveis como idade, tempo de submersão, pH sérico e temperatura corporal não
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
Prevenção
Devido às trágicas consequências ao paciente afogado, estratégias efetivas de prevenção
são os principais instrumentos, com impacto em mortalidade e morbidade a longo prazo. O
médico tem fator essencial na informação e auxílio para que tais medidas sejam implanta-
das. Em 2010 a American Academy of Pediatrics (AAP) lançou dois artigos com recomen-
dações sobre prevenção (Quadro 1). Outras iniciativas foram realizadas para prevenção de
afogamentos, como a World Conference on Drowning Prevention, em 2011, em que um co-
mitê aprovou 16 frases de impacto sobre “segurança própria” e “segurança do outro” com
o objetivo de diminuir os afogamentos em atividades aquáticas recreacionais a céu aberto.
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Capítulo 30 | Afogamento
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
• A lesão tecidual ocorre por hipóxia mantida, posteriormente agravada pela isquemia e,
após a ressuscitação, pela reperfusão tecidual
• À admissão na UTI, os pacientes devem ser mantidos sob monitorização de sinais vitais
e o tratamento baseia-se no suporte e tratamento das complicações; a otimização do
prognóstico neurológico deve ser um dos pilares do manejo clínico
Bibliografia
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Capítulo 30 | Afogamento
Camip
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572
572
Intoxicações Agudas
Capítulo 31 | Intoxicações agudas
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Capítulo 31
Intoxicações agudas
Perguntas
Apresentação
Diagnóstico
As intoxicações se constituem em eterno desafio para o pediatra, pois nem sempre a histó-
ria é clara e são inúmeros os produtos tóxicos e os consequentes quadros clínicos.
Intoxicação deve sempre ser aventada em crianças com alterações de nível de consciência,
convulsões, comprometimento hemodinâmico ou respiratório ou distúrbios metabólicos
sem causa claramente definida.
O exame físico completo pode sugerir o agente etiológico da intoxicação. Deve-se procurar
por alterações de pele (temperatura, cor, odor e estado de hidratação), boca (hálito, lesões
mucosas e salivação), olhos (conjuntivas, pupilas e movimentos oculares externos), sistema
nervoso (nível de consciência, escala de coma e tônus muscular), cardiocirculatório (fre-
quência e ritmo cardíacos, perfusão periférica e pressão arterial) e respiratório (frequência
respiratória e ausculta).
Pele
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Temperatura
Pressão arterial
Frequência cardíaca
Membranas mucosas
Secas Anticolinérgicos
Respiração
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
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Sibilância Organofosforados
Pneumonia Hidrocarbonetos
Fasciculação Organofosforados
Mioclonus/
Anticolinérgicos, fenotiazínicos e haloperidol
rigidez
Hipotonia/
Organofosforados, carbamatos e metais pesados
paralisia
Sistema gastrintestinal
Fonte: Cantwell GP, Weisman RS. Poisoning. In: Roger’s Handbook of Pediatric Intensive Care. 4th ed.
Philadelphia: Lippincot Willams & Wilkins: 2009. p. 73-88.
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Sintomas Substâncias
Atropina, anti-histamínicos,
Boca seca, rubor facial,
antiparkinsonianos,
desorientação, íleo paralítico,
Anticolinérgica antidepressivos tricíclicos,
hipertermia, retenção urinária,
antiespasmódicos, midriáticos,
taquicardia e midríase
plantas da família das solanáceas
Sudorese, lacrimejamento,
salivação, aumento das Organofosforados, inseticidas,
Anticolinesterásica secreções brônquicas, miose, carbamatos, fisostigmina e
bradicardia, fasciculações algumas espécies de cogumelos
musculares
Depressão respiratória,
depressão neurológica, miose, Derivados opiáceos, loperamida
Narcótica
bradicardia, hipotensão e e difenoxilato
hiporreflexia
Depressão neurológica
(sonolência, torpor e coma) Barbitúricos, benzodiazepínicos
Depressiva
depressão respiratória, cianose, e etanol
hiporreflexia e hipotensão
Midríase, hiperrreflexia,
Cocaína, anfetamínicos,
distúrbios psíquicos, hipertensão,
Simpatomimética descongestionantes nasais,
taquicardia, piloereção,
cafeína e teofilina
hipertermia e sudorese
Distúrbio de equilíbrio, de
movimentação, hipertonia, Fenotiazínicos, butirofenonas,
Extrapiramidal distonia orofacial, mioclonias, lítio, metoclopramida e
trismo, opistótono e fenciclidina
parkinsonismo
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Camip
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
pertonia com presença do sinal da roda denteada, distonia orofacial com desvio lateral da
cabeça e desvio ocular, trisma e opistótono, porém com a consciência preservada.
A metemoglobinemia se caracteriza por cianose não responsiva ao oxigênio, sem sinais evi-
dentes de desconforto respiratório. Em casos graves, ocorrem confusão mental e depressão
neurológica. É causada por azul de metileno, anilina, nitrato, nitrofurantoína, piridina e sulfas.
A coleta de exames deve englobar eletrólitos, glicemia, gasometria com cálculo do ânion
gap, lactato, função hepática com coagulograma e função renal. Nível sérico específico
pode ser útil nos casos de intoxicação por acetaminofen, digoxina, anticonvulsivantes, ferro
sérico, salicilato, monóxido de carbono, teofilina e para metemoglobinemia.
Medidas para diminuir a exposição ao tóxico incluem lavagem da pele e dos olhos, quando
afetados, lavagem gástrica, administração de carvão ativado e irrigação intestinal.
A lavagem gástrica não deve ser utilizada de maneira rotineira. Estudos experimentais e clí-
nicos demonstraram eficácia duvidosa. A indicação da lavagem gástrica estaria reservada
para ingestão de substâncias extremamente tóxicas, com risco grande de vida, até 1 hora
após ingestão.
A lavagem gástrica está contraindicada quando houver perda dos reflexos de vias aéreas
superiores (a não ser que o paciente esteja intubado), ingestão de cáusticos, ingestão de
hidrocarbonetos ou risco de sangramento digestivo por doença subjacente. A técnica con-
siste na passagem de sonda nasogástrica calibrosa e, com o paciente em decúbito lateral
esquerdo, realizar a lavagem em alíquotas de 10mL/kg de soro fisiológico (adolescentes
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Camip
200 a 300mL) até se obter líquido drenado claro. Complicações importantes incluem hipó-
xia, disritmias, laringospasmo e perfuração do trato gastrintestinal.
A administração de carvão ativado 1g/kg (máximo de 50g) tem sua eficácia maior quando
feita até 1 hora após a ingestão. É ineficaz para adsorção de ferro, álcool, pesticidas e hidro-
carbonetos. Para evitar o risco de aspiração deve ser feita somente em crianças com vias
aéreas protegidas. Doses múltiplas de carvão ativado podem ser benéficas na ingestão de
fenobarbital, teofilina e carbamazepina.
A irrigação intestinal é feita com polietilenoglicol administrado por via oral ou por sonda
gástrica, até que o efluente retal esteja claro. Teria sua eficácia na ingestão de ferro, metais
pesados, comprimidos de liberação lenta ou entérica e pacotes de drogas ilícitas.
Métodos para aumentar a eliminação dos tóxicos incluem alcalinização urinária, hemodiá-
lise e hemoperfusão. A alcalinização urinária, por meio da manutenção do pH urinário em
torno de 7,5, é utilizada na intoxicação por ácidos fracos como salicilatos e barbitúricos.
A hemodiálise deve ser considerada nas intoxicações graves quando há benefício clínico
com a remoção mais rápida do tóxico em relação à eliminação natural, quando há uma clara
relação entre concentração sérica e toxicidade e quando a toxina pode ser retirada em gran-
de quantidade com o método. As toxinas altamente dialisáveis geralmente têm baixo peso
molecular, não se ligam à proteínas de maneira significativa e têm baixo volume de distribui-
ção. Essas características estão presentes nas toxinas responsáveis pelas indicações mais
frequentes de hemodiálise: salicilato, álcoois, lítio e teofilina. Outras toxinas que podem ser
removidas por hemodiálise com são ácido valproico, barbitúricos e metotrexato. A hemofil-
tração contínua tem taxa de remoção da toxina menor e pode ser utilizada no paciente com
instabilidade hemodinâmica, que não tolera a hemodiálise. A hemoperfusão é uma opção à
hemodiálise e é eficaz para intoxicação por teofilina, carbamazepina e ácido valproico.
A infusão de emulsão lipídica está sendo estudada como tratamento de pacientes hemo-
dinamicamente instáveis intoxicados por medicações lipofílicas. A dose é de 1,5mL/kg de
emulsão lipídica a 20% em 1 minuto, podendo ser repetida em 5 minutos. Esse tratamento
tem sido utilizado em intoxicações graves por verapamil, betabloqueadores, antidepressi-
vos tricíclicos e bupivacaína.
O contato com um Centro de Intoxicação é sempre importante por contar com profissionais
especializados e atualizados, que podem dar a melhor orientação. A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) disponibiliza o serviço Disque-Intoxicação pelo telefone 0800-
722-6001. A ligação é gratuita e interliga 35 centros presentes em 19 Estados do Brasil.
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O nível sérico de acetaminofen deve ser obtido 4 a 24 horas pós ingestão e comparado no
nomograma de Rumak-Mathew (Figura 1). A correlação do nível sérico com o tempo pós-
-ingestão prediz o risco de lesão hepática e necessidade de tratamento.
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Camip
O tratamento é feito com acetilcisteína. Pode ser administrada até 24 horas pós-ingestão,
porém tem maior efetividade se administrada nas primeiras 8 horas. Três esquemas são su-
geridos no Quadro 3. A eficácia do tratamento por via oral pode ser alterada se o paciente
recebeu carvão ativado.
Ferro
A ingestão de sais de ferro pode determinar quadros graves, conforme a quantidade ingeri-
da. A ingestão de menos de 20mg de ferro elementar por quilo cursa sem sintomatologia. Já
a quantidade de 20 a 60mg por quilo pode determinar sintomas graves. Quantidade maior
que 60mg/kg leva à intoxicação grave.
Lavagem gástrica e irrigação intestinal devem ser consideradas; o uso de carvão ativado é
ineficaz. Nível sérico 6 horas pós-ingestão acima de 500mcg/dL indica intoxicação grave,
demandando uso de quelante, a deferoxamina.
Cáusticos
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A criança pode apresentar lesões de mucosa oral e pele, sialorreia, disfagia, dor retroesternal,
vômitos e sangramento. Desconforto respiratório sugere lesão de vias aéreas ou aspiração pul-
monar. A ausência de lesões orais não descarta ingestão de cáusticos. A ingestão de água sa-
nitária, geralmente uma solução de hipoclorito de sódio, raramente leva a lesões importantes.
Etanol
Além das bebidas alcoólicas, o etanol está presente em perfumes, produtos de limpeza,
antissépticos e colutórios. A ingestão leva a ataxia, fala arrastada, hipotensão, bradicardia,
depressão respiratória, nistagmo e coma. Nível sérico acima de 50mg/dL implica em risco
importante. A ingestão de 1g/kg de etanol eleva o nível em cerca de 100mg/dL. Níveis tó-
xicos podem ser obtidos com a ingestão de 10 a 15mL/kg de cerveja (5% de álcool) ou de
4 a 6mL de vinho (14% de álcool) ou de 1 a 2mL/kg de aguardente (40% de álcool). Lava-
gem gástrica não mostrou benefício na intoxicação por etanol. Carvão ativado é ineficaz.
O tratamento consiste na manutenção dos parâmetros vitais, correção da desidratação e
hipotensão e em controle da glicemia e dos distúrbios metabólicos.
Pesticidas
Os organofosforados e carbamatos inibem a colinesterase com consequente estimulação
colinérgica. Os carbamatos são os principais componentes do “chumbinho”, pesticida ma-
nipulado artesanalmente e vendido de maneira clandestina. A ingestão leva a sudorese,
lacrimejamento, salivação, aumento das secreções brônquicas, miose, bradicardia, fasci-
culações, tremores musculares, convulsão e coma.
A descontaminação da pele e das mucosas é importante. Lavagem gástrica pode ser reali-
zada se a ingestão for recente e se as vias aéreas estiverem protegidas. Deve se lembrar de
que os organofosforados podem ter como solvente hidrocarbonetos. Na sequência rápida
para intubação, deve se evitar o uso da succinilcolina, dando preferência ao rocurônio.
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Camip
A reversão do quadro é feita com atropina 0,05mg/kg, dose inicial. A dose em dobro pode
ser repetida após 3 a 5 minutos. As doses são administradas até reversão dos sintomas pul-
monares, isto é, diminuição das secreções e reversão da broncoconstricção. A pralidoxima,
atualmente indisponível em nosso meio, é utilizada na intoxicação por organofosforados e
facilita a reativação da colinesterase. A dose é de 25 a 50mg/kg em 30 minutos, seguido de
infusão contínua de 10 a 20mg/kg/h.
Alguns raticidas são feitos com dicumarínicos de longa duração, antagonistas da vitamina
K. A principal sintomatologia da intoxicação é o sangramento, que pode surgir já nas primei-
ras 12 horas se a intoxicação é grave.
Monóxido de carbono
O monóxido de carbono se liga a hemoglobina com afinidade 200s vezes maior que o
oxigênio, levando a um desvio para esquerda da curva de dissociação da hemoglobina.
O monóxido de carbono também se liga a citocromos (alterando metabolismo oxidativo),
mioglobina (toxicidade para músculo cardíaco e esquelético) e guanilciclase (aumento dos
níveis de óxido nítrico). Esses efeitos farmacológicos causam sintomas no sistema nervo-
so central (cefaleia, confusão, convulsão e coma), no coração (arritmia, isquemia, infarto,
assistolia) e no músculo esquelético (rabdomiólise e insuficiência renal). Níveis baixos de
carboxihemoglobina (<15%) causam sintomas leves, como náusea e cefaleia, enquanto
que níveis de 60 a 70% são fatais. A oximetria de pulso superestima a saturação arterial de
oxigênio na presença de carboxihemoglobina, portanto deve sempre ser comparada com
a gasometria arterial. O tratamento da intoxicação por monóxido de carbono se baseia na
suplementação de oxigênio e suporte cardiovascular. A meia-vida da carboxihemoglobina é
de 320 minutos em ar ambiente, de 40 a 80 minutos em 100% de oxigênio e de 20 minutos
em 100 % de oxigênio em presso de 2.5 a 3 atmosferas. A terapia com oxigênio hiperbárico
teria sua indicação na redução de sequelas neurológicas nos quadros mais graves.
Cianeto
A intoxicação por cianetos deve ser aventada em pacientes vítimas de queimadura em lo-
cais fechados e com lesão inalatória, em pacientes sob uso prolongado de nitroprussiato
de sódio ou em pacientes com sintomas após ingestão de mandioca ou de broto de bambu
pouco cozidos. O cianeto se liga ao citocromo oxidase, levando a sua inibição com prejuízo
da fosforilação oxidativa e consequente desvio do metabolismo aeróbio para o metabolismo
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
anaeróbio. Apesar da oferta normal de oxigênio para a célula, esta não consegue utilizá-lo
devido a esta hipóxia citotóxica. Surge, então, acidose metabólica com anion gap aumen-
tado às custas do lactato. O paciente apresenta alterações neurológicas (cefaleia, confu-
são, coma e convulsões), cardíacas (taquicardia e hipertensão inicialmente, depois choque),
respiratórias (taquipneia, edema pulmonar), hepática (necrose hepática), renal (insuficiência
renal progressiva ) e de pele ( cor vermelho cereja depois cianose). O antídoto preferencial
é a hidroxicobalamina, precursor da vitamina B12, que vai se ligar ao cianeto intracelular
formando cianocobalamina. A dose sugerida para crianças é de 70mg/kg e para adultos 5g.
Outra opção terapêutica é o uso de nitratos e tiossulfato com indução de metemoglobina;
esta se liga ao cianeto formando cianetometemoglobina, composto menos tóxico.
Drogas de abuso
A intoxicação por opioides causa a tríade de depressão respiratória, coma e miose. A miose
pode estar ausente na intoxicação por meperidina, tramadol e Lomotil (difenoxilato + atro-
pina). A reversão do quadro é feita com a administração de naloxone, preferencialmente
endovenoso, na dose de 0,1mg/kg, dose máxima de 2mg. As doses podem ser repetidas a
cada 3 a 5 minutos. Se não houver resposta com dose cumulativa máxima de 10mg, é pou-
co provável que um opioide seja responsável pelo quadro. A meia-vida da naloxona é mais
curta que a maioria dos opioides; e a infusão contínua pode ser necessária.
O abuso de inalantes contidos em sprays, tintas, solventes e colas é frequente. Causa res-
posta excitatória inicial, seguida de depressão. Como o efeito é curto as doses costumam
ser repetidas. A evolução da intoxicação evolui em quatro estágios. O primeiro é similar à
intoxicação por organofosforados, o segundo estágio se caracteriza por depressão do sis-
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Camip
Bloqueadores de cálcio
Descongestionantes
Conclusão
A intoxicação deve ser lembrada como hipótese diagnóstica em crianças com qualquer
quadro inexplicado, de início súbito, que cursa com alteração do nível de consciência, alte-
ração hemodinâmica ou respiratória ou distúrbio metabólico. A investigação deve ser cui-
dadosa e meticulosa.
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Bibliografia
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Capítulo 31 | Intoxicações agudas
Camip
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A Criança
Capítulo 32 | A criança politraumatizada
32
Politraumatizada
Capítulo 32
A criança politraumatizada
Questões
Apresentação
O trauma é a principal causa de morte e invalidez na infância. Mais de 45% das mortes em
crianças de 1 a 14 anos são consequência do politrauma.
Os tipos mais frequentes de acidentes fatais, todos passíveis de prevenção, são as obstru-
ções de vias aéreas, quedas, acidentes de trânsito, atropelamentos, afogamentos, queima-
duras e acidentes com arma de fogo.
Devido à menor massa corpórea, a energia do impacto do trauma resulta numa maior força
por unidade de superfície corporal. Além disso, a criança possui menos tecido adiposo,
menos tecido conectivo elástico e maior proximidade entre os órgãos. Essas razões deter-
minam uma frequência elevada de lesões de múltiplos órgãos na população pediátrica.
A criança politraumatizada pode ainda – por dor, medo, ansiedade ou por comportamento
próprio da idade –, dificultar o exame físico e o atendimento inicial. Isso pode representar
um verdadeiro desafio para o médico, exigindo do profissional tranquilidade e segurança, a
fim de obter um bom relacionamento e êxito no atendimento a ela.
Além de equipe treinada com conhecimento das peculiaridades encontradas nas crianças, é
fundamental a disponibilidade imediata de materiais e equipamentos de tamanho apropriado
para a faixa pediátrica. A Fita Pediatra da Emergência de Broselow® é um acessório utilizado
para determinação rápida do peso, baseado na altura da criança, facilitando o cálculo das
doses adequadas de medicamentos e a escolha dos equipamentos de tamanho apropriado.
Avaliação inicial
A – Vias aéreas
O primeiro objetivo é estabelecer uma via aérea pérvia para oferecer oxigenação adequada.
A causa mais comum de parada cardíaca em criança é a incapacidade de se estabelecer e/
ou manter uma via aérea pérvia, o que leva à hipóxia.
O occipital da criança é relativamente maior, o que ocasiona uma flexão passiva da coluna
cervical quando em decúbito dorsal em superfície plana.
Essa característica, juntamente de uma língua grande em relação à orofaringe, pode dificul-
tar a manutenção das vias aéreas pérvias. Para evitar a flexão passiva da coluna cervical é
necessário que o plano da face esteja paralelo à prancha de imobilização na “posição de
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O pescoço da criança estará na posição correta se o meato auditivo externo estiver alinha-
do com a região anterior do ombro. A via aérea também pode ser aberta pela manobra de
tração da mandíbula combinadas com a imobilização bimanual alinhada da coluna. A ma-
nobra de elevação do mento é contraindicada em vítimas de trauma com possível lesão de
cabeça ou pescoço, pelo risco de converter uma lesão medular incompleta em completa.
Figura 1
Figura 2
A cânula orofaríngea (Guedel) não deve ser utilizada quando o paciente estiver consciente,
pela possibilidade de reflexo de vômito.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Camip
As indicações para intubação endotraqueal da criança vítimas de politrauma são: sinais de in-
suficiência respiratória; obstrução das vias aéreas (atual ou potencial); necessidade de supor-
te ventilatório prolongado; escala de coma de Glasgow (GCS) ≤ 8; e choque descompensado.
A intubação deve sempre ser precedida por ventilação com bolsa-valva-máscara e oxige-
nação. A maioria dos centros de trauma utiliza um protocolo para intubação de urgência
denominado sequência rápida de intubação (SRI). Esse método consiste no uso de agen-
tes farmacológicos com rápido início de ação, levando às condições ideais de intubação,
à diminuição das respostas reflexas à laringoscopia e à redução do risco de aspiração do
conteúdo gástrico.
Cânulas orotraqueais (COT) com cuff devem ser preferencialmente utilizadas em circuns-
tâncias específicas, como complacência pulmonar diminuída, resistência aumentada ou em
casos com grande escape de ar. Em pacientes menores que 8 anos e que não apresentem
as circunstâncias citadas acima, devem ser utilizadas cânulas sem cuff. Nessa faixa etária,
a região mais estreita da traqueia encontra-se na porção subglótica ao nível da cartilagem
cricoide e fornece um cuff fisiológico.
Após intubação, deve-se proceder à ausculta dos hemitórax, na região axilar, para verificar
a ventilação adequada e simétrica. Raio X de tórax deve ser realizado para verificar a posi-
ção do tubo orotraqueal.
B – Respiração
A criança traumatizada deve receber oxigênio suplementar. Se a respiração não for eficaz,
deve-se instituir ventilação com bolsa-valva-máscara. O volume e a frequência da ventila-
ção fornecida devem ser adequados, evitando-se, assim, hiperventilação.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
A ventilação da criança pode ainda estar comprometida por distensão gástrica, diminuin-
do a mobilidade diafragmática. É aconselhável a passagem de sonda para descompres-
são do estômago.
C – Circulação
A avaliação da circulação na criança envolve uma combinação de vários sinais, como pulso,
coloração da pele e tempo de enchimento capilar. Na criança, a manutenção da pressão
arterial não assegura que o paciente não esteja em choque. A criança tem a capacidade
de vasoconstricção e aumento da resistência vascular sistêmica com objetivo de manter a
perfusão adequada dos órgãos.
Desse modo, sinais como extremidades frias, diminuição do pulso periférico e enchimento
capilar lentificado indicam choque, apesar de pressão arterial mantida (choque compen-
sado). Considera-se hipotensão quando a pressão sistólica se encontra menor que o 5°
percentil para a idade (Quadro 1).
0 a 28 dias 60mmHg
A reposição volêmica nos pacientes pediátricos deve começar com 20mL/kg de solução
cristaloide aquecida. Se o volume de 40mL/kg tiver sido administrado e uma terceira repo-
sição for necessária para reverter os sinais de hipoperfusão, deve-se considerar transfusão
de concentrado de hemácias (CH) 10mL/kg.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Camip
Outras opções de acesso venoso são a passagem percutânea de cateteres nas veias fe-
moral, subclávia ou jugular ou a dissecção venosa de acordo com a experiência da equipe.
Diferentemente do que ocorre com o adulto, o choque cardiogênico é um evento raro no
cenário da criança politraumatizada. Apesar disso, o médico deve estar atento a essa pos-
sibilidade em casos de choque refratário associado a trauma torácico.
D – Avaliação neurológica
Um rápido exame neurológico deve ser realizado nesse momento com avaliação do nível de
consciência e das pupilas (tamanho, simetria e reposta à luz).
A escala de coma de Glasgow não tem seu uso validado em pediatria, porém é familiar e
bastante utilizada pelos médicos. Na avaliação das crianças, utiliza-se a escala de coma de
Glasgow modificada para pediatria (Quadro 2).
Abertura ocular
4 Espontânea
3 Ao comando verbal
2 À dor
1 Nenhuma
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
6 Obedece comando
2 Extensão Extensão
1 Nenhuma Nenhuma
A Escala de Resposta Pediátrica AVDN (acrônimo de Alerta, resposta Verbal, resposta à Dor,
Nenhuma resposta) é menos específica, porém é simples e de fácil aplicabilidade.
A última etapa da avaliação inicial envolve exame físico à procura de lesões não perceptí-
veis ao primeiro exame. A retirada de roupas é essencial para permitir um exame completo.
A manutenção da normotermia deve ser objetivada nesse momento. A hipotermia pode
tornar a criança refratária ao tratamento, prolongar o tempo de coagulação e comprometer
a função do sistema nervoso central. A temperatura do ambiente deve ser neutra e podem
ser utilizados calor radiante e cobertores elétricos durante o atendimento.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Camip
Avaliação secundária
A avaliação secundária envolve um exame físico detalhado (“da cabeça aos pés”). Além do
dorso, devem ser examinados todos os orifícios do corpo (boca, narina, ouvidos, órbitas,
reto e genitais), em busca de lesões.
Nesse momento deve também ser coletada uma história mais completa e detalhada.
O mnemônico “AMPLE” pode ser empregado, dirigindo a coleta de informações (Quadro 3).
A Allergies Alergias
O médico deve estar atento a sinais de maus-tratos, como história referida pelos pais des-
proporcional ou incoerente com as lesões da criança, fraturas múltiplas, escoriações, he-
matomas e equimoses em diferentes estágios de evolução, lesões de queimaduras por
imersão (“em luva” ou “em bota”), marcas de instrumentos na pele (cintos, cigarros e den-
tes), hemorragias retinianas (sugestivas da síndrome do bebê sacudido), além de sinais de
abuso sexual.
Classificação de gravidade
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Pontos
Características do
paciente
+2 +1 -1
Pressão sistólica
> 90 50–90 < 50
(mmHg)
Sistema nervoso
Consciente Confusa Coma
central
Traumatismo
Nenhum Fechado Múltiplos, abertos
esquelético
3 0 0 0
A presença dos pais durante o atendimento pode aliviar a ansiedade da criança. Um mem-
bro da equipe deve permanecer ao lado do familiar, explicando-lhe o processo.
O profissional deve também assegurar que o pai não interfira no atendimento e não cause
distração aos membros da equipe médica.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Exames complementares
Nesse momento, é ideal que seja feita coleta de sangue para classificação e reserva sanguí-
nea. A análise isolada da hemoglobina pode não ser um dado sensível em pacientes com
choque hipovolêmico, por se tratar de evento agudo.
Poucos estudos foram publicados sobre a eficácia desse exame em crianças. Apesar disso,
na prática, tem-se observado o aumento do uso do FAST.
O uso da tomografia computadorizada (TC) tem crescido no cenário do trauma. Este exame
deve estar imediatamente disponível e não pode retardar o tratamento. É sensível e especí-
fico na identificação de diversas lesões, porém também traz consigo riscos, especialmente
na população pediátrica.
Trauma craniencefálico
Comparado com os adultos, as crianças são mais suscetíveis a apresentarem lesões cere-
brais. A maior relação cabeça/corpo, sistema nervoso central menos mielinizado e ossos do
crânio mais finos tornam a população pediátrica mais propensa a TCE.
A escala de coma de Glasgow deve ser aplicada para avaliar as melhores respostas verbal
e motora, e a abertura ocular. A resposta motora está mais diretamente relacionada com o
desfecho a longo prazo da criança.
Glasgow ≤8 indica que a criança está sob maior risco de desenvolver uma lesão ameaça-
dora da vida com hipertensão intracraniana, devendo nesse caso ser intubada. Avaliação
neurológica seriada deve ser feita nesses pacientes observando-se o Glasgow, reação pu-
pilar e exame dos pares cranianos.
Tomografia de crânio deve ser realizada nos casos de escala de coma de Glasgow <12,
perda da consciência no momento do trauma, evidência de fratura craniana, sinais focais,
vômitos persistentes, amnésia retrógrada ou alteração do comportamento.
As crianças são particularmente sensíveis aos efeitos das lesões cerebrais secundárias pro-
duzidas por convulsões, hipertermia, hipóxia e hipovolemia, com diminuição da perfusão
cerebral. A hipovolemia e a hipóxia são o pior cenário diante de uma criança com cérebro
lesado.
O principal objetivo no manejo da criança com TCE é a prevenção da lesão cerebral secun-
dária, controle da pressão intracraniana para manutenção de adequada perfusão cerebral e
identificação precoce de lesão expansiva que requeira intervenção cirúrgica imediata.
Trauma raquimedular
siste em lesão medular sem evidência de anormalidades radiológicas (spinal cord injury
without radiographic abnormality – SCIWORA). Nesses casos, o prognóstico a longo prazo
depende do status neurológico no momento da admissão na emergência.
O tratamento das lesões medulares é, em sua maioria, de suporte e conservador. Em casos raros,
quando existe instabilidade ou deslocamento de um segmento, fixação cirúrgica é necessária.
Trauma torácico
O trauma torácico isolado está associado a uma mortalidade de 5% na criança. Essa taxa
aumenta para 25% quando o trauma torácico vem associado a TCE e trauma abdominal.
Quando três ou mais costelas estão fraturadas em dois ou mais lugares pode ocorrer o que
chamamos de toráx instável, com movimento paradoxal durante a respiração (depressão
na inspiração e abaulamento na expiração). Esse tipo de lesão pode vir acompanhada de
hemopneumotórax ou contusão pulmonar. Pode resultar em insuficiência respiratória com
necessidade de ventilação mecânica com pressão positiva.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
O pneumotórax hipertensivo decorre do escape de ar das vias aéreas para o espaço pleural
por um sistema de válvula unidirecional, que permite que o ar entre, mas não saia. O acú-
mulo de ar no espaço pleural determina colabamento pulmonar, desvio do mediastino para
o lado oposto e prejuízo do retorno venoso para as câmaras direitas do coração, diminuin-
do o débito cardíaco. Clinicamente, o paciente evolui com hipóxia, hipotensão e choque
cardiogênico refratário. Esse quadro determina conduta imediata: a punção pleural alivia o
componente hipertensivo, transformando-o em um pneumotórax simples. Em seguida, a
drenagem torácica deve ser realizada. Na maioria dos casos, a drenagem por alguns dias
é suficiente. Se o pneumotórax persiste, deve-se suspeitar de lesão brônquica. Nesses ca-
sos, estão indicadas broncoscopia e, se necessária, a intervenção cirúrgica.
Trauma traqueobrônquico é raro em pediatria, mas é fatal em um terço dos casos. É geralmente
causado por trauma fechado ou penetrante na região torácica. Essas lesões levam a pneumotó-
rax hipertensivo e/ou enfisema subcutâneo. Persistente escape de ar ou falha na expansão pul-
monar após passagem de dreno torácico devem levar à suspeita de trauma traqueobrônquico.
Felizmente, lesões cardíacas e de grandes vasos são incomuns na pediatria. O trauma car-
diovascular mais frequente nas crianças é a contusão miocárdica. O paciente pode apre-
sentar queixa de dor torácica. Taquicardia é o achado mais comum. A elevação de enzimas
cardíacas pode ser diagnóstica. Esses pacientes devem ser monitorados de perto pela pos-
sibilidade de desenvolver arritmias ou alteração na função cardíaca. Apesar disso, a maioria
dos casos de contusão miocárdica evolui sem sequelas a longo prazo.
Trauma abdominal
No exame abdominal, a palpação profunda deve ser evitada no início, pois a resistência
abdominal voluntária pode ocorrer e atrapalhar a interpretação dos achados.
Idealmente deve ser realizada a descompressão do estômago por meio da passagem de
sonda orogástrica. Em crianças com pelve estável e sem evidências de trauma uretral, deve
ser realizado esvaziamento da bexiga com passagem de sonda uretral. Essas medidas fa-
cilitarão o exame abdominal.
A lesão esplênica é a mais comum no trauma abdominal pediátrico. Achados típicos in-
cluem dor em quadrante superior esquerdo, que irradia para o ombro esquerdo. Ao exa-
me abdominal, pode-se observar sinal de irritação peritoneal. O paciente pode se encon-
trar hemodinamicamente estável ou, em alguns casos de ruptura ou laceração esplênica,
apresentar-se hipotenso por choque hipovolêmico. Pacientes estáveis podem ser avaliados
com tomografia de abdome. O FAST pode revelar liquido livre intraperitoneal, mas o exame
negativo não descarta lesão esplênica. A conduta é conservadora na maioria dos casos.
A lesão hepática está em segundo lugar nos traumas abdominais em crianças. Ao exame,
pode-se notar dor em região de quadrante superior direito com irradiação para ombro direi-
to. Na maioria dos casos, a conduta é conservadora, e os pacientes têm boa evolução. No
entanto, em casos de lesões graves, que requerem intervenção cirúrgica, há um aumento
importante de morbimortalidade decorrente de hemorragias maciças.
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Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Lesões pancreáticas são raras, encontradas em menos de 5% dos casos de traumas ab-
dominal em crianças. Frequentemente, essas lesões são diagnosticadas tardiamente. Diag-
nóstico de lesão pancreática é sugerido por quadro de importante dor epigástrica acompa-
nhada de aumento do nível de amilase.
Muitas vezes, a criança permanece estável nos estágios iniciais do trauma, apesar de le-
sões abdominais significantes. Lesões em órgãos abdominais podem não ser identificadas
até que seja feita a tomografia. A tomografia, quando comparada ao ultrassom, tem a van-
tagem de ser menos operador-dependente e superior em diagnosticar patologias.
A tomografia de abdome tem menos valor nas crianças com quadro neurológico intacto e
sem achados abdominais significativos ou naquelas, cuja intervenção cirúrgica já foi indi-
cada, por achados clínicos.
A conduta conservadora é tomada na maioria dos casos de trauma abdominal, a não ser
que existam claros sinais de perfuração de víscera oca, com características de peritonite ou
pneumoperitônio. A maioria das lesões de vísceras sólidas é autorresolutiva, e a presença
de sangue na cavidade abdominal não é uma indicação absoluta de laparotomia. Quando
optado por conduta conservadora, os pacientes devem ser monitorizados de perto, com
exames clínicos seriados e acompanhamento de hematócrito, com o objetivo de reconhe-
cer hemorragias não controladas.
Lesões vasculares
Lesões vasculares na região abdominal em crianças não são frequentes, porém metade
dessas lesões são fatais. Esse diagnóstico deve ser considerado quando a criança apresen-
ta contínua necessidade de volume após ressuscitação.
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Camip
Capítulo 32 | A criança politraumatizada
Trauma pélvico
Traumas na região pélvica normalmente envolvem fraturas e lesões na uretra e bexiga. Cuidado
especial deve ser tomado durante a passagem de sonda vesical nos casos de trauma pélvico.
As lesões do trato geniturinário são mais frequentes no sexo masculino e normalmente atin-
gem a região bulbouretral. A maioria dos traumas renais é secundária a traumas abdominais
fechados e frequentemente está associada a trauma esplênico e hepático.
O trato geniturinário, especialmente o períneo, vagina, reto e bexiga, deve receber especial
atenção na avaliação desses pacientes.
Traumas ortopédicos
Conclusão
• A criança pode permanecer estável nos estágios iniciais do trauma, apesar de lesões
graves. Reavaliações seriadas são fundamentais.
Bibliografia
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management. Emerg Med Clin North Am. 2007 Aug;25(3):803-36, x..
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Tromboembolismo
Capítulo 33 | Trombolismo pulmonar em pediatria
33
Capítulo 33 Pulmonar em
Tromboembolismo pulmonar em pediatria
Pediatria
Adriana Stama Suzuki Daniel
Informações adicionais:
• Dispositivos invasivos: cateter venoso central (CVC) em subclávia direita (3º dia
de implementação)
• Exames laboratoriais do dia anterior: hemograma, eletrólitos, função renal
sem alterações
• Exames prévios: radiografia de tórax após passagem de CVC sem alterações
• Peso paciente 48kg, altura do paciente 140cm; Índice de massa corporal (IMC)
de 20 (p > 90)
• O serviço em que paciente se encontrava não dispunha de angiografia pulmonar
Perguntas
Apresentação
O tromboembolismo venoso (TEV), que engloba trombose venosa profunda (TVP) e TEP, é
uma importante causa de morbimortalidade hospitalar.
O TEP, em pacientes pediátricos, embora seja um evento raro, vem apresentando aumento
em sua incidência, decorrente, principalmente, do aumento na sobrevida de pacientes criti-
camente doentes e com doenças crônicas. Estudos epidemiológicos recentes demonstra-
ram que, nos Estados Unidos, o TEV ocorre em 0,14 a 0,49/100 mil pacientes pediátricos
por ano, sendo o pico de distribuição bimodal, com maiores incidências no período neona-
tal e na adolescência. Por sua vez, os dados epidemiológicos quanto à incidência de TEP
revelaram 8,6 a 57/100 mil crianças hospitalizadas por ano e 0,14 a 0,19/100 mil crianças
não hospitalizadas por ano. A maioria dos fatores de risco está relacionada às doenças de
base ou a intervenções médicas, sendo geralmente multifatorial. Eventos tromboembólicos
idiopáticos, diferentemente da população adulta, são registrados em apenas 2 a 4% das
crianças com TEV. O fator de risco mais prevalente é a presença de CVC, principalmente em
leito subclávio e femoral. No Quadro 1 estão descritos os principais fatores de risco para
desenvolvimento de TEV na faixa etária pediátrica.
Cardiopatia congênita
Trauma/cirurgia/imobilização
Sepse
Doenças renais
Anemia falciforme
Hipovolemia
Obesidade
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Capítulo 33 | Trombolismo pulmonar em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
As alterações clínicas decorrentes do TEP na faixa etária pediátrica variam desde alterações
oligossintomáticas a sinais de insuficiência cardíaca e parada cardiorrespiratória. Dentre os
sinais e sintomas presentes no TEP, tem-se: dispneia, dor pleurítica, hemoptise, tosse, hipo-
xemia, febre, taquipneia, taquicardia persistente, insuficiência cardíaca de ventrículo direito,
cianose, hipotensão, arritmia e parada cardiorrespiratória.
Diagnóstico
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Capítulo
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33 | Trombolismo pulmonar em pediatria
Avaliação de Técnica de realização pouco invasiva, sendo uma opção para pacientes
ventilação-perfusão hemodinamicamente estáveis
por cintilografia
pulmonar Aplicabilidade reduzida em pacientes com shunts cardíacos
PaO2: pressão parcial de oxigênio; PaCO2: pressão parcial de gás carbônico; TEP: tromboembolismo
pulmonar; TVP: trombose venosa profunda.
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Capítulo 33 | Trombolismo pulmonar em pediatria
Curso de Atualização em Medicina Intensiva Pediátrica
Em artigo publicado por Patocka e Nemeth, em 2012, sugere-se que a escolha do exame
diagnóstico, na suspeita de TEP em pacientes pediátricos, seja direcionada pela condição
clínica do paciente. Assim, aos pacientes com instabilidade hemodinâmica e sem possibi-
lidade de remoção do leito, sugerem-se exames de menor complexidade e com possibili-
dade de realização à beira do leito. Nesses casos, orientam-se radiografia de tórax, para
exclusão de diagnósticos diferenciais, e ecocardiograma transtorácico, visando identificar
sinais indiretos de TEP. Em pacientes estáveis hemodinamicamente, sugere, inicialmente,
considerar a realização de radiografia de tórax, para exclusão de diagnósticos diferenciais,
e prosseguir investigação por meio da avaliação da ventilação/perfusão por cintilografia
pulmonar. No caso da cintilografia pulmonar não demonstrar resultados conclusivos, reali-
zar tomografia computadorizada helicoidal ou angiotomografia.
Tratamento
O manejo terapêutico dos pacientes pediátricos com diagnóstico de TEP é geralmente in-
dividualizado e baseado no binômio risco versus benefício de cada paciente, uma vez que
ensaios clínicos randomizados são escassos para população em questão. Durante o trata-
mento, o paciente deve ser acompanhado por equipe composta por hematologista pediátri-
co, ou, na impossibilidade, pediatra e hematologista de adultos (recomendação IA).(8)
A heparina não fracionada (HNF) é o medicamento mais utilizado, cujo mecanismo de ação
ocorre pelo catabolismo da trombina e do fator Xa mediado pela antitrombina. Não há níveis
de evidências que indiquem melhor exame para monitorar terapêutica com HNF. Recomen-
da-se monitorizar terapêutica a partir da dosagem de anti-Xa, após 4 a 6 horas da infusão
do medicamento, mantendo níveis entre 0,35 a 0,7U/mL. Na impossibilidade de monitorizar
níveis de anti-Xa, utilizar valor de tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) corres-
pondente a valor de anti-Xa ou valor de protamina entre 0,2 a 0,4U/mL. Conforme protocolo
de Andrew et al., recomenda-se realizar dose de ataque de 75U/kg por via intravenosa em
10 minutos e ajustar dose de manutenção de acordo com a faixa etária. Para pacientes com
idade inferior a 1 ano, a dose recomendada é 28 unidades/kg/hora e pacientes com idade
superior a 1 ano 20 unidades/kg/hora.
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33 | Trombolismo pulmonar em pediatria
A heparina de baixo peso molecular (HBPM) apresenta vantagens, como menor necessi-
dade de monitorização, pouca interferência farmacológica com outros medicamentos ou
dieta, menor risco de trombocitopenia induzida pela heparina e risco reduzido de osteopo-
rose. A maioria dos estudos utilizados na população pediátrica foi feita com enoxaparina.
A monitorização da terapia é realizada com anti-Xa mantendo níveis entre 0,5 a 1 unidades/
mL em amostra retirada após 4 a 6 horas da infusão subcutânea ou 0,5 a 0,8 unidades/
mL em amostra retirada após 2 a 6 horas da infusão subcutânea. As doses recomendadas
encontram-se na Tabela 1.
0–2meses 275U/kg
Em relação aos efeitos colaterais do uso de heparina, tanto com a HNF como com a HBPM,
ressaltam-se os sangramentos, variando de 2 a 18%, e a trombocitopenia induzida pela
heparina (TIP), evento raro na faixa etária pediátrica. No tratamento da TIP e do sangramen-
to, deve-se suspender administração de heparina e, se necessário, administrar sulfato de
protamina intravenoso.
< 30 minutos 1
Por fim, apesar de não haver estudos randomizados validando embolectomia, alguns auto-
res consideram válida sua realização. Nesses casos, a embolectomia cirúrgica ou via cate-
ter deve ser ponderada em casos de trombose maciça obstrutiva em pacientes hemodina-
micamente instáveis na impossibilidade de realização ou insucesso da terapia trombolítica.
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Capítulo
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33 | Trombolismo pulmonar em pediatria
• Durante o tratamento, o paciente deve ser acompanhado por equipe composta por
hematologista pediátrico, ou pediatra e hematologista de adultos
• Para paciente com TEP associado à trombose de CVC, sugere-se realizar terapia com
anticoagulante previamente à retirada do dispositivo
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