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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
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PERIGOSAS ACHERON
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Copyright © 2019 Janice Ghisleri

Capa: Janice Ghisleri


Revisão e Diagramação: Carla Santos

Todos os direitos reservados a autora.


Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meio eletrônico ou
mecânico sem a permissão da autora.

PERIGOSAS ACHERON
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Capa
Folha de Rosto
Créditos
Nota da autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
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Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22

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Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Prévia
Biografia

PERIGOSAS ACHERON
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Esse livro saiu a pedidos de minhas leitoras,


pois queriam um lobo no Brasil. Como eu havia
anunciado que o próximo seria de Clere e Aaron,
eu fiz algumas alterações na ordem.

Relutei bastante para escrevê-lo e foi meio


complicado, enrolado, mas enfim saiu.

O planejado era uma novela, um spin-off, que


acabou sendo um livro com Os Lobos de Ester. Foi
feito com cuidado e muito amor, espero que
apreciem a pequena homenagem que eu quis fazer.

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Quero agradecer às minhas leitoras mineirinhas


queridas, que me ajudaram com algumas histórias e
assuntos sobre a pesquisa da mineração e as lendas
no Estado: Bruna e Laiz.

Também à Kally que ganhou o sorteio da nossa


brincadeira no grupo do WhatsApp e ganhou o
papel de protagonista; e Daniele, que ganhou uma
ponta na história depois.

Uma brincadeira divertida, que resultou nesse


livrinho recheado de muito amor e uivos.

Essa é uma homenagem a um estado rico, cheio


de amor, energia e riquezas, que é maltratado, mas
amado pelos meus lobos.

Viva Minas Gerais e que as mineradoras


tenham tanta consciência quanto Gael e seus lobos
em preservar o meio ambiente e a vida das pessoas
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desse estado que merecem muito respeito.

Nós não precisamos ser lobos para preservar e


necessitar da natureza, precisamos ser mais
conscientes.

Grande abraço a todos que me acompanham.


Espero que gostem dessa pequena aventura
tupiniquim.

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Teófilo Otoni, Minas Gerais, Brasil, 1855.

— Pai! — Gael rosnou pela força que teve que


fazer para tirar os escombros de cima dele.

Colocou o ouvido em seu peito e seu coração


quebrou ao ver que já estava morto e não podia
fazer nada para ajudá-lo.

Rosnou de novo forte e dolorosamente, com os


olhos marejados, cheios de ira e dor.
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Beijou sua testa e olhou apavorado para a água


que começou a inundar o pequeno local destruído.
Se não tivesse sua visão de lobo que permitia ver
no escuro, estaria na completa escuridão.

O barulho das correntes nos grilhões de ferro,


presos nos seus pulsos, o irritou mais ainda.

— Adeus, pai. Eu vingarei sua morte, prometo


— disse entredentes.

Foi até sua companheira, tirou a terra de seu


rosto e viu o sangue que ficou em sua mão, também
impregnado em seus cabelos.

Algumas gotas de sangue caíram sobre ela e ele


viu que eram provenientes de sua própria cabeça,
que doía fortemente. Devia estar com um corte
feio.
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— Ana, por favor, fica comigo!

Ela piscou lentamente, atordoada.

— Está tudo bem... não estou mais com medo


— sussurrou com dificuldade.

— Vou te tirar daqui, só precisa aguentar mais


um pouco.

A explosão com as dinamites tinha trazido a


mina abaixo e o som extremamente alto feriu seus
ouvidos sensíveis, que zuniam e doíam.

Gael tinha conseguido se livrar das fortes


correntes que prendiam ele, seu pai e sua
companheira nas rochas no interior da mina, mas
não foi rápido o suficiente para conseguir sair antes
de tudo explodir e desabar sobre suas cabeças.

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Orlan era o lobo que tinha o atacado com


tranquilizantes, fazendo ele e sua companheira Ana
caírem desmaiados, havia os prendido a ferro nas
profundezas de uma mina de ouro e, quando
acordou, deu-se conta de que seu pai também havia
sido capturado e parecia muito machucado com
fortes golpes.

O lobo era um covarde, pois em vez de desafiar


seu pai para uma luta, para conseguir o lugar de
alfa e controle das minas de Minas Gerais, que seu
pai laboriosamente havia adquirido, havia atentado
contra a vida dele de forma covarde.

E matar Gael e sua companheira somente foi


um bônus, porque assim não teria herdeiro para se
tornar alfa, já que seus irmãos eram ainda muito
filhotes.

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Mas ele sairia dali e teria sua vingança.

Ana estava presa debaixo de toneladas de


pedras e terra e ele precisava de muita força para
poder salvá-la, mas estava difícil até respirar, pois
tinha certeza de que todas as suas costelas e pernas
estavam quebradas, porque a dor que sentia era
terrível e tinha dificuldade de se mover.

A dor era atroz, mas Gael tentava


desesperadamente tirar sua companheira debaixo
delas, porque sabia que estava muito ferida e
mesmo sabendo que não sobreviveria, não
conseguia desistir e aceitar o fato.

Apavorado, ele viu a água inundar cada vez


mais a mina, pois as dinamites haviam rompido as
paredes onde passava uma nascente e encheria

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rápido o pequeno espaço que ele estava


encurralado.

— Malditos, vou acabar com vocês! — gritou.

Ele rasgou suas mãos com as quinas


pontiagudas das pedras que tentava retirar, mas sua
força para removê-las estava minguando.

Olhou assustado quando Ana gritou de dor, sua


situação era horrível, sangue saía de sua boca e ela
estava sem forças.

Gael foi até ela e chorou de desespero, colocou


a mão sobre sua barriga abaloada, que carregava
seu filho, e não sabia o que fazer.

— Eu sinto muito.

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— Não fique zangado, Gael. Mostre para esta


gente que você será o magnata das pedras
preciosas. Fique grande e mostre que não é apenas
um alfa... é um grande homem.

— Pare de falar estas coisas, como se estivesse


se despedindo, eu vou te tirar daqui!

— Não, não vai... Eu preciso ir a outro lugar


agora...

— Tudo por causa deste maldito ouro e pedras!

— O ouro não é maldito, Gael, a ganância do


homem sim. As pedras e o ouro são como nós...
mágicos.

— Será que nem numa situação dessas você


consegue deixar de ser assim, maravilhosa?

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Ela sorriu e tossiu, e o sangue escorreu mais de


sua boca e ele beijou seus lábios, tentando segurar a
vontade de chorar, segurando a dor que sentia no
corpo e no coração, mas era impossível.

— Seja forte, seja você mesmo e lute. Precisa


sair daqui, Gael.

— Não sem você.

— As pedras me levaram, mas elas vão te trazer


de volta o amor.

— O quê? Nunca mais amarei ninguém.

— Sim, quando os deuses te mandarem a sua


companheira de alma, aquela que vai te
acompanhar na sua longa jornada, você vai.

— Você é minha companheira.


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— Sou, mas a lenda...

— Não acredito nessa lenda tola.

— A cigana disse...

— Aquela cigana encheu a sua cabeça com


bobagens, você é minha esposa, só você, não
haverá outra mulher na minha vida. Não sabe que
não pode confiar numa Romani? Elas falam um
monte de tonteiras para que compre suas
bugigangas.

Ela sorriu e piscou demoradamente, quase sem


conseguir abrir os olhos de novo.

— Ela virá, meu lobo. Um dia, alguém chegará


e então você não ficará mais sozinho. Ela virá
através das pedras. Domine o mundo das pedras e
esteja atento.
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A água estava entrando rápido e Gael rosnou, se


transformou na sua forma Dhálea e se jogou com
toda sua força contra a muralha de pedras que
haviam desmoronado e caído sobre eles, impedindo
a passagem para fora da mina. Algumas caíram,
mas não o suficiente para abrir uma passagem ou
libertar Ana.

Ana lutou para conseguir ficar com a cabeça


fora da água e ele foi até ela e ergueu sua cabeça
para que pudesse respirar, mas as pedras que
esmagavam suas pernas não permitiam que ela se
levantasse mais ou boiasse.

— Ana... Ana!

— Cuide da Pene...

A água a cobriu e ele tirou mais algumas


pedras, ferindo suas mãos, mas a maior, que
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esmagava suas pernas, era demais para ele


conseguir retirar; e, por causa de seus próprios
ferimentos, ele já não tinha toda sua força.

Naquele desespero, ele tomou ar, mergulhou e


soprou em sua boca e assim fez mais duas vezes,
mas não era suficiente.

Diante de seus olhos, sua companheira se


afogou e em breve seria ele.

Ana morreu nos seus braços e Gael gritou sua


dor e fúria dentro da mina escura e seus próprios
ferimentos não eram nem sequer levados mais em
conta diante da dor em seu peito.

Pensou em desistir de lutar, deixar ficar ali e


esperar sua morte, mas tinha feito uma promessa e
tinha seus irmãos mais novos para proteger, sua
mãe e sua filha.
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Com o coração partido, ele mergulhou, beijou


os lábios de Ana e com toda sua fúria, se jogou
contra as pedras, tirando-as de seu caminho.

Suas mãos e garras eram cruelmente feridas


contra as rochas, mas ele não ligava para seu
sangue e sua dor, a água estava o encobrindo e era
seu fim.

Quando o encobriu completamente, numa


última tentativa, ele reuniu todas as forças que
restavam e empurrou a pedra maior e ela se
deslocou. Com a força da água e do seu lobo, as
pedras rolaram e ele caiu num turbilhão e rolou
mina afora.

Tossiu, buscou ar desesperadamente e tombou


no chão e ali ficou, pois não conseguia levantar, se
mover, respirar.
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Ao longe, ouviu uivos. Eram seus lobos que


vinham por ele, mas Gael não teve forças para
uivar, para dizer que estava ali, e a escuridão o
venceu.

Naquela noite, seu pai, sua companheira e seu


filho ainda não nascido morreram, vítimas da
ganância das minas de ouro e das pedras preciosas,
vítimas de um lobo que havia perdido sua mente
para o seu lado humano.

Gael fez duas promessas: a primeira, que se


tornaria o magnata das pedras preciosas, seria dono
do Vale das Pedras e de todo o monopólio de
minério de Minas Gerais e de mais onde ele
pudesse alcançar; a segunda, que seria o alfa e
nenhum lobo ou humano feriria novamente os seus.

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Teria o poder em suas mãos e seus inimigos


debaixo da sola de seus sapatos, e seus sentimentos
presos no fundo de seu coração partido.

E quanto à companheira de alma que viria com


as pedras? Bem, ele não acreditou nisso, mas um
dia, ela chegaria.

Laboratório P-12, Hamburgo, Alemanha,


1995.

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Gael e Brandon lutavam o mais que podiam,


mas estavam atordoados pelo efeito das drogas,
rosnavam furiosos na sua forma Dhálea, tentando
evitar que os guardas pegassem Lara e Clere que
estavam acuadas e abraçadas no canto da cela fria
que os tinham colocado.

Um erro na dosagem dos tranquilizantes os


despertara, mas não tinham forças.

— Tragam mais tranquilizantes, suas bestas,


eles não podem fugir! — um dos guardas gritou.

Gael rosnou furioso puxando os grilhões que o


prendiam nas paredes de concreto, e ele realmente
odiava grilhões, tentou se transformar em lobo, mas
não conseguiu.

Um dos guardas se aproximou demais, tentando


lhe dar choque e ele agarrou a arma de cabo longo e
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o puxou; com isso, o guarda caiu para frente. Com


suas presas afiadas, ele estraçalhou sua garganta,
rosnou e jogou o corpo longe, que bateu na parede,
e rosnou de regozijo ao ouvir os ossos quebrando.

Outro dardo acertou em seu peito e ele o


arrancou fora e puxou novamente as correntes com
toda força.

Brandon conseguiu agarrar mais um guarda e


rasgou-o da barriga ao pescoço e os gritos de Clere
e sua mãe enchiam o ambiente.

Dois guardas chegaram e começaram a atirar


mais dardos, o que ia os deixando mais fracos.

Gael tombou em seus joelhos e tentou levantar.

Um dos guardas chegou até elas e puxou Lara,


que estava muito tonta e não conseguia lutar.
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— Não! Mamãe! Mamãe! — Clere gritava


tentando alcançá-la e se desvencilhar das mãos dos
homens.

Brandon tentou ir até Lara, sua companheira, e


sua filha Clere, e impedir que a tocassem, pois
estavam tentando levá-las para outro lugar;
conseguiu atingir mais um guarda, mas um deles
adentrou por uma porta atirando e deu três tiros no
peito dele. Horrorizados, todos viram que não eram
dardos tranquilizantes, e sim balas de verdade.

Brandon arregalou os olhos e caiu de joelhos,


engasgando com o sangue que saía de sua boca.

Gael rosnou e tentou ir até seu tio, mas foi


atingido por mais dardos e caiu.

— Papai! — Clere gritou.

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Clere, com somente dez anos, gritava agudo,


sem parar, e seus gritos de horror e medo ficariam
para sempre nos ouvidos de Gael.

Seu tio estava morto e muitos homens entraram


na sala e ele via tudo como um borrão, ergueram
Lara, afastando-a de Clere, e a levaram; mesmo
assim, ela ainda gritava e tentava pegar Clere.

Gael usou toda a força que restava, arrancou um


dos grilhões da parede e foi até Clere, que se
agarrou nele, desesperada.

— Primo Gael!

— Eu te peguei, Clere!

Mas algo o atingiu na cabeça e ele tombou.

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Com a visão turva, sem mais forças e sem


conseguir impedir, viu os homens levarem sua
pequena prima Clere, aos gritos e aos prantos. E ele
não pôde fazer nada.

E seu inferno tinha começado naquele dia,


preso numa gaiola, assim como toda a alcateia de
Noah, sofrendo todo tipo de abuso e tortura pelos
humanos.

Somente se lembrou no seu fio de consciência


que, mais uma vez, eles estavam o acorrentando e,
impotente, ele viu membros de sua família serem
mortos e feridos pelos loucos que perdem sua
mente para a maior das maldades: a ganância e
crueldade.

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Um lobo sabe quando encontra sua companheira


de alma,
sente seu mundo mudar e uma nova vida espreitar
sua aura.
É como tropeçar em uma pedra preciosa.

Teófilo Otoni, Minas Gerais, Brasil, época


atual.

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Kally gemeu pela força que fez, tentando


empurrar o carro com a porta aberta, enquanto uma
mão estava segurando na porta e a outra no volante,
para que o veículo andasse em linha reta, o que não
ocorreria, porque estava tremendamente atolado na
lama.

— Oh, mas que diacho! — gritou, arfando de


cansaço, passando as mãos nos olhos para secar
pela chuva forte que caía.

Seus pés estavam afundados na lama e a tinha


por todo lugar.

Gemendo de indignação, olhou ao redor e não


tinha nenhuma opção. Ela pegou sua bolsa, abriu o
porta-malas e retirou uma grande mala.

— Vamos lá, pessoa sortuda, temos que correr,


porque não pode dar tempo de molhar as roupas.
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Com dificuldade de andar na lama, com a chuva


que a impedia de enxergar direito e com um peso
enorme de sua mala, Kally seguiu pela estrada, já
avistando ao longe a casa entre as árvores.

Xingou mais uma vez quando chegou na


porteira e teve que largar a mala sobre uma grama
enlameada para poder abri-la e depois fechá-la.

Ela seguiu o caminho xingando todos os


palavrões que conhecia.

Quando finalmente chegou à varanda, lutou


para encontrar as chaves e abrir a porta.

A casa era de alvenaria com uma varanda


dianteira com escadas de madeira. Era grande,
antiga, mas conservada. Respirou fundo, arfando de
cansaço ao entrar na casa e fechar a porta com o pé.
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Olhando ao redor, gemeu colocando a grande


mala no chão. Tirou a mecha de cabelo que
desprendeu de seu rabo de cavalo, que estava todo
desmantelado.

— Misericórdia, que peso! Ui, tá frio.

Seu celular tocou e ela abriu a bolsa e o retirou.


Por sorte, ainda não havia molhado.

— Oi!

— Já chegou? — Daniele perguntou do outro


lado da linha.

— Cheguei. Finalmente! Minha bunda está


quadrada, pois sete horas de viagem é coisa pra
burro, me deixou quebrada.

— Sabia que existe avião, gênio?


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— Sabia, mas quis vir de carro para conseguir


me locomover melhor, não imaginei que ficaria
atolada.

— O que quer dizer?

— Acho que a senhorita se esqueceu de


mencionar que a estrada entre a rodovia e a casa do
sítio da sua avó não tinha asfalto, e, que assim, meu
carro ficou atolado na lama e estou com barro até
dentro dos olhos. Eu devia ter alugado uma
caminhonete 4x4 para estradas esburacadas.
Quando me falaram que já tinha asfalto por aqui,
pensei que vinha até a casa e não somente na
rodovia.

— Esqueci. Desculpa, mas eu não sabia que


tinha chovido aí, mas claro que estaria, estamos
em agosto, é época das chuvas. E faz tanto tempo

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que não vou até o sítio que nem me lembrava de


que a estrada é cheia de buracos e lamacenta.

— Bem, relembramos agora.

— Mas a casa está limpinha, porque meu pai


mandou reformar algumas coisas. Isso está bom,
não está?

Kally olhou ao redor e suspirou.

— Sim, a casa está arrumada e recém-pintada.


E obrigada por ter convencido ao tio de me deixar
usar a casa por algumas semanas antes que resolva
se venderá ou não. Aliás, o sinal está bem ruim.

— Sim, vejo pelo chiado na linha, mas teve


sorte que pega, porque têm muitos morros. Mas já
que é uma cabeça-dura e quer ficar aí isolada em
vez de ficar na cidade em um hotel...
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— Está ótimo aqui, e precisava economizar um


pouco, pois quero investir nas minhas pedras.

— É perigoso ficar aí sozinha.

— Vou ficar bem.

— Você deveria fazer o Circuito Turístico das


Pedras Preciosas, como todo mundo. Como uma
turista normal.

— Não sou todo mundo e não sou uma turista


normal.

— Olha, ver os garimpos de pedras sozinha


não é uma boa, tem muitos homens lá e é perigoso,
sem falar que o Sr. Bonitão não vai gostar de ter
você bisbilhotando nas terras dele.

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— Não vou me meter nos garimpos e


incomodar o Sr. Bonitão. Só quero comprar
algumas pedras e observar algumas coisas para
terminar meus livrinhos para vender na minha loja
com as pedras. As pessoas gostam de ler sobre
pedras místicas que compram.

— Para isso existe a internet.

— In loco é mais legal.

— Você devia estar de férias, foi por isso que


está me pagando para cuidar da sua loja.

— Eu sei, mas isso vai ser divertido e vou


descansar aqui nesse silêncio maravilhoso. Estou
um pouco cansada de pessoas, quero sossego.

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— Estou desconfiada que isso tudo é para


bisbilhotar o tal magnata das pedras preciosas e
cheio de mistérios que quase ninguém vê.

— Hum... bem... talvez.

— Sua maluca, esse homem é da máfia, é


perigoso e eu me lembro das histórias esquisitas
que minha avó contava, de que tinha coisas
estranhas que aconteciam nestas bandas, inclusive
assassinatos.

— Isso foi há muitos anos e eram histórias para


assustar as crianças.

— Kally... Prometa que não vai se enfiar onde


não deve.

— Pare de me dar sermão e querer me assustar,


parece minha mãe.
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— Kally...

— Falando em mãe, tenho outra ligação que


está apitando aqui e deve ser ela.

— Kally...

— Estou sujando o belo piso da casa da sua avó


de barro.

— Ai, diacho, limpa isso já, senão meu pai vai


te matar!

Kally riu.

— Você anda muito estressada, prima,


aproveite que está cuidando da minha linda loja,
cheia de cristais, incensos e mantras maravilhosos,
se energize e fique tranquila.

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— Ok, vou usar suas pedrinhas mágicas e sabe


que esses incensos são realmente cheirosos? Vou
levar alguns para casa.

— Leve mesmo. Eu amo incenso, você vai ver


como vai deixar seu quarto mais habitável, tipo,
pode encobrir aquele seu cheiro de chulé.

— Cala a boca, idiota!

Kally riu.

— Tchau, Dani, tenho que atender a outra


chamada, deve ser minha mãe, depois nos falamos
no WhatsApp ou Messenger quando eu estiver seca.

— Ok, tchau e se cuide!

— Ok, tchau.

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Kally desligou a chamada, respirou fundo e


atendeu a outra chamada.

— Oi, mãe.

— Chegou bem?

— Perfeitamente bem, só uma chuva chata que


me molhou um pouco.

— Está chovendo muito?

— Não, só um pouquinho, mas sabe como é,


uma aguinha e uma terrinha resulta em uma lama.

Um trovão retumbou no céu e a chuva ficou


mais forte, mas ela sorriu pela mentirinha, pois não
queria preocupar sua mãe.

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— Qualquer coisa me ligue para me informar, e


não se esqueça de comprar meus souvenires.

— Pode deixar, não vou esquecer, garanto que


vou encontrar umas drusas bem lindas, mãe, está na
lista, ligo amanhã, beijos.

— Beijos e se cuide. Ah! E fique longe do tal


magnata mafioso das pedras.

Kally girou os olhos.

— Sim, senhora.

Ela desligou o telefone, olhou para o chão e


gemeu, estava tudo uma bagunça, que teria que
limpar.

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Olhou para fora e a chuva estava tórrida e seria


uma desgraça sair nela e estava gelada até os ossos,
mas as sacolas com comida estavam no carro e
precisava delas.

Kally respirou fundo, tomou coragem e foi


correndo até o carro, abriu o porta-malas e pegou
algumas sacolas com comida, praguejou ao ter que
colocar tudo no chão para conseguir fechar a droga
de porteira.

Quando chegou em casa, estava encharcada e


com lama até seus pensamentos.

— Droga!

Trancou a porta e olhou por alguns minutos lá


fora pela janela, porque teve a sensação de estar
sendo observada, já estava escurecendo, e ela

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passou a chave na porta e todas as trancas, correu


ao banheiro e tomou um banho quente.

Após secar o chão que havia molhado por toda


casa, sentiu-se faminta.

Respirou fundo com as mãos na cintura olhando


para o fogão a lenha.

— Oh, droga, eu preciso de lenha, mas isso será


amanhã, pois agora vamos de gás mesmo. Bem,
veremos se isso está funcionando.

Ela abriu o pino do botijão e testou as chamas e


tudo funcionava perfeitamente.

Pegou uma das sacolas, picou verduras e frango


e fez uma sopa, depois ligou seu notebook na mesa
da sala e ficou lendo enquanto tomava sua refeição
quente e uma taça de vinho.
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Recebeu uma ligação de voz pelo Messenger de


Daniele e atendeu, sem parar de comer.

— Oi de novo.

— Oi.

— Está tudo bem?

— Faz duas horas que me perguntou isso e sim,


está tudo bem, de novo.

Daniele riu.

— Só checando. Está escuro e você sabe como


são as lendas.

— Que lendas?

— As da região, tolinha, você sabe.

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— Não sei, não.

— Não se faça de besta, que te conheço.

— Sabe, isso pode ser uma fobia sua ou algo,


eu acho que os livros estão afetando sua cabeça.

— E se topar com um lobisomem?

— Isso também é história para assustar crianças


e pelo visto fez efeito, porque você acredita nelas.

— Sabe como é aterrorizante ser criança e


estar no meio do mato, à luz de velas e lamparinas
e ficar ouvindo história de Pé-grande, lobisomem e
fantasmas? Eu tinha pesadelos e não conseguia
dormir.

Kally riu.

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— Seus avós paternos foram mais divertidos


que os maternos. Eu gostava quando os tios me
traziam para cá, eram as melhores partes de minhas
férias de escola. E quando seu avô contava estas
histórias e a dos garimpos eu simplesmente
adorava.

— Fazer xixi na calça de medo não era


divertido.

Kally riu alto.

— Ok, você era muito medrosa, mas agora


estamos adultas e não tem Pé-grande, nem
fantasmas, nem boitatá.

— Mas pode ter lobisomem.

— Não existe lobisomem em Minas Gerais.

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— Como não? Não ouvia as histórias? Um


pouco é lenda, mas sempre há uma coisa de
verdade por trás delas, vovô sempre dizia.

— Sim, um litro de cachaça.

— Eles aparecem na lua cheia e na quaresma!

— Se tiver estou salva, porque não é tempo de


lua cheia e nem quaresma.

— Vai vendo... esse trem é desgovernado. Tem


vídeos no Youtube.

— Aqueles vídeos são montagens para as


pessoas conseguirem likes. Não se preocupe, Dani,
está tudo bem. Vou fazer meus folhetinhos, vou ver
muitas pedrinhas brilhantes e descansar nesse sítio,

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e não verei nenhum lobisomem. Agora seria bom


você parar de reclamar e confabular suas teorias
escabrosas.

— Papai era caminhoneiro, viu muita coisa nas


suas viagens, mas ele disse que tinha lobisomens
nesses matos.

— Sim, claro. E as mulas sem cabeça, as


mulheres que gritam. Uma cachacinha pode ajudar
a avivar o medo.

— Meu pai não tomava cachacinha quando


estava dirigindo, uai, e ele e os amigos dele
disseram que quando eram pequenos viram
lobisomens quando saíam para caçar naquelas
matas. Muitos caminhoneiros contam histórias de

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lobisomens, criaturas peludas, com dentes afiados,


com olhos vermelhos — Daniele disse empolgada e
rindo.

— Podia ser outra coisa, como cães bravos que


rosnavam.

— Você é toda mística, tem livros sobre


lobisomens e mitologias na sua loja, vai me dizer
que não acredita?

— Bem... Eu acredito que possam existir, mas


lá na Europa, na Irlanda onde tem gnomos, talvez
nos campos nórdicos, mas aqui nesse lugar? Aqui a
gente pode encontrar um Saci Pererê, mas não um
lobisomem e um Van Helsing. E que diabos você
desembestou em falar tanto disso agora?

— Você mesma disse que eu deveria ler os


livros das lendas urbanas, do folclore, então, eu fiz
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o dever de casa e li.

— Sim, eu mandei, mas não era para usar


contra mim.

Daniele riu.

— Desculpe, chefe.

Kally bufou.

— Alguém já te disse que você não é certa da


cabeça?

— Sim, o tempo todo. O meu avô disse que já


tinha visto lobisomens também. E eu acreditava
nele.

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— Bem, não vou negar que gostava de suas


histórias. E também gosto das histórias místicas
que a mãe conta e dos meus livros. Acredito que
haja muitos seres místicos espalhados no mundo
que nós não podemos ver.

— Mas você gostaria.

— Sim, eu gostaria.

— Bem, se você encontrar um lobisomem não


deixe ele te morder, senão teria muito trabalho na
depilação.

Kally gargalhou.

— Ridícula.

— Está muito forte a chuva aí?

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— Sim, espero que pare porque senão pode


prejudicar a feira daqui a alguns dias. E se meu
carro continuar atolado lá na estrada terei
problemas de fazê-lo ligar.

— Ah logo para. Ai, vou dormir, porque estou


cansada.

— Como está a loja?

— Tudo indo perfeitamente, hoje tivemos várias


vendas.

— Que bom.

Ela saltou na cadeira quando um trovão


retumbou pela casa.

— Merda! Olhe, Dani, vou desligar, porque


está relampeando demais aqui.
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— Ok, boa noite.

— Boa noite.

Kally desligou o computador, foi até a pia para


colocar o prato e a taça de vinho e a derrubou, se
assustando, pois um uivo ecoou pela noite. A taça
ricocheteou dentro da cuba de inox e quebrou.

Ficou com os olhos arregalados olhando para a


janela da cozinha, onde a cortina estava aberta, mas
não poderia ver nada lá fora, porque estava muito
escuro, não havia sequer uma pequena luz em
quilômetros e a luz da varanda estava apagada.

O medo atingiu seu corpo como um corte


gelado e suas pernas ficaram bambas.

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— Merda, por que Dani insiste em ficar falando


em lobisomens? Inferno, Kally, é só um cachorro,
não um lobisomem, não há lobisomens em Teófilo
Otoni. Presta atenção, você está segura, muito
segura.

Outro uivo a assustou e parecia mais perto,


então ela fechou a cortina rapidamente, correu até a
sala e testou se a porta estava trancada, puxou a
poltrona contra a porta, desligou as luzes e ficou
ali, parada no meio da sala, ofegante e com medo.

Lentamente, na ponta dos pés, ela se aproximou


da porta e colocou o ouvido nela para tentar escutar
algo.

Mal conseguia respirar quando ouvia o que


parecia ser um leão ou tigre, porque parecia um
respirar com rosnado, muito forte para ser de um

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simples cachorro, até parecia ser misturado com


aquele barulho que um porco faz, na verdade, não
sabia identificar porcaria nenhuma, pois parecia
tudo misturado e não parecia com nada que já
tivesse ouvido. Era baixo, medido, como se
estivesse olhando para sua presa, pronta para
atacar.

No caso, a porta estava entre eles, mas a presa


seria ela.

— Controle-se, Kally. O medo faz ver e ouvir


coisas, é só coisa da sua imaginação. É só
imaginação... É culpa da destrambelhada da Dani,
vou chutar sua bunda quando voltar para casa.

Ela deu um grito e saltou para trás quando algo


bateu na porta.

Seu coração batia descontrolado e mal


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respirava.

— Tem alguém aí? Olá!

Ela ficou quieta e não ouviu mais nada, então


ainda com medo, espiou por uma pequena fresta da
cortina, mas não conseguiu ver nada.

Foi para a cama e se enfiou debaixo das


cobertas, desligou a luz do quarto, mas não teve
coragem de desligar a do abajur que estava no
criado-mudo. A porta aberta e o corredor escuro lhe
deu medo, levantou correndo, fechou a porta e
passou a chave e voltou para a cama novamente.

Fez suas orações para tentar se acalmar e pediu


proteção para as deusas, pois se era um animal da
floresta, ela não teria melhor para ajudá-la que a
deusa-mãe.

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E aproveitou e rezou para todos os outros


deuses que conhecia.

— Vamos lá, Cernunnos, sei que os animais são


da sua conta, e mesmo tu pode se transformar na
forma de lobo, mas então os deixa distantes de mim
e se for tu mesmo, tenha uma boa-noite. Morrigan e
eu agradecemos.

Ela orou até adormecer, não porque a


preocupação com o animal tivesse diminuído, mas
sim porque estava muito cansada.

Mal sabia ela que, no escuro da varanda, havia


um lobo enorme que a espreitava e que rosnava
baixinho, ostentando suas longas e pontiagudas
presas, com os olhos cintilando.

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No dia seguinte, a chuva havia dado uma trégua


e, após tomar um café, Kally abriu a porta e espiou
para fora.

Franziu o cenho vendo as marcas de patas de


cachorro sujas de barro na madeira da varanda.

— Oh, meu Deus, tinha um cachorro aqui


realmente, e olha isso, o tamanho dessas patas! E se
não fosse um cachorro?

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Kally olhou ao redor procurando algum sinal de


perigo, com o medo revigorado, mas não havia
nada, tudo parecia silencioso e tranquilo.

— Olá.

Fez o sinal da cruz, foi até o carro buscar as


últimas malas e sacolas, depois, com uma cesta, fez
várias viagens do porão até a varanda, fazendo uma
pilha de paus de lenha para acender o fogão a lenha
e a lareira da sala.

— É isso aí, garota, agora vamos comer, porque


meu estômago está roncando. Agora tudo está bem,
ficarei quentinha e alimentada, o que mais uma
garota precisa? Ah sim, internet.

Ela riu de suas próprias divagações. Parou na


escada da varanda, olhou ao redor, porque teve a
nítida sensação de que estava sendo vigiada, de
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novo.

Piscou aturdida quando ao longe, entre as


árvores, avistou um enorme lobo a olhando.

Ele tinha o pelo mesclado de marrom, branco e


pérola e olhos intensamente claros e azuis.

O choque foi imenso e ela derrubou a cesta e


ficou ali, paralisada, sentindo medo e fascinação ao
mesmo tempo.

— Senhor Jesus... eu não estou vendo o que


estou. Isso não é um cachorro.

Pensou que suas pernas não se moveriam


quando tentou subir os degraus.

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Então, o lobo deu um passo à frente e ela arfou,


saltou para a varanda e, quando abriu a porta, se
virou e arregalou os olhos, pois o lobo, sem fazer
nenhum barulho, ou pelo menos que ela não ouviu,
estava na beira da escada a olhando.

E de perto era ainda mais magnífico e


aterrorizante ao mesmo tempo. Não sabia dizer se
estava mais encantada ou apavorada.

Ele era enorme e a olhava com aqueles lindos


olhos azuis, mas que pareciam gelados por um
segundo e quentes no outro.

— Oi, lobinho. Eu estou entrando... e você fica


aí. Eu sou uma pessoa muito querida e adoro
animais, acho lobos lindos, então não pode me
comer, entendeu?

O lobo continuou ali a olhando e virou a cabeça


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para o lado e ela piscou aturdida, pois pareceu que


ele a entendeu.

— Estou indo... tchau.

Kally agarrou uma sacola de verduras que ainda


tinha ficado no chão da varanda, entrou e fechou a
porta num baque.

Assustada, soltou as compras sobre a mesa da


cozinha e xingou ao se dar conta de que uma das
malas tinha ficado lá fora.

Abriu uma pequena fresta da porta, espiou e ele


continuava no mesmo lugar, imóvel, mas não tirou
os olhos dela, que ela abriu a porta devagar, saindo
pé por pé, sem fazer movimentos bruscos, agarrou
a mala e sem tirar os olhos dele, a arrastou para
dentro e fechou a porta.

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Kally foi até a janela, espiou e o lobo continuou


ali, por vários minutos e então, como se soubesse
que ela estava olhando para ele, olhou para a janela.
Kally fechou a cortina rapidamente.

O lobo uivou alto e ela arfou e espiou entre uma


pequena fresta da cortina, então ele se virou e foi
embora.

Ela se afastou e ficou um enorme tempo parada


no meio da sala, ouvindo com atenção, com o
coração disparado, não sabia dizer que tipos de
sentimentos a tinham atingido.

— Ok, não é nada de mais, é só um lobo. E o


que infernos um lobo está fazendo aqui? Nem sabia
que existiam lobos no Brasil, muito menos em
Minas Gerais. Bem que dizem que aqui dá de tudo,

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agora lobos é novidade. E se for um lobisomem?


Ora, Kally, lobisomem não é assim lindo e não
andam durante o dia.

Tentou se acalmar e foi fazer comida, afinal,


não havia nada que um bom e grande prato de
comida quente e uma boa e fumegante xícara de
café não sanassem.

Ela passou o dia entre pesquisas, livros e


escritas para seu trabalho e, de vez em quando,
espiava pela janela para ver se avistava o
misterioso e imponente lobo. Uma ansiedade
estranha entrou em seu coração.

Quando a noite chegou, ela dormiu sossegada,


embalada em belos sonhos com um determinado
lobo. Corria sorridente com ele pelo bosque,

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descalça, o chamava e podia sentir que a felicidade


pulsava em seu peito.

Foi um sonho lindo e ela acordou com um


sorriso no rosto no dia seguinte, sentindo-se
estranhamente feliz e a primeira coisa que fez foi
espiar pela janela para ver se o via e, ao longe,
entre as árvores, lá estava ele, sentado, olhando
para a casa.

Kally respirou fundo e se escorou na cadeira,


sentia-se muito satisfeita e bem alimentada, bem
até demais.

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— Por que a comida feita no fogão a lenha e


panela de ferro é tão mais gostosa? Caramba, desse
jeito vou sair daqui uma baleia. Preciso
providenciar um fogão a lenha urgente para minha
casa em Belo Horizonte.

Levou o prato na pia, o lavou e colocou no


escorredor.

Pegou sua xícara de café, que tinha colocado


passar, na cafeteira e foi sentar à mesa e ficou
digitando sobre as pedras preciosas e místicas no
seu arquivo no notebook e folheava um livro ou
outro.

Fez uma careta quando tentou conectar a


internet e não tinha nenhum sinal.

— Que saco ficar sem internet e essa chuva que


não para. Bem, por enquanto esses livros terão que
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bastar. Vejamos aqui:... “A pedra Jaspe Vermelho é


um escudo protetor. É uma pedra extremamente
combativa, muito citada em textos de magia
antigos. Ela bloqueia energias negativas e tem uma
força tão grande que desmancha até os ataques
mais intensos de magia negra e inveja.” Ui, esta
parece fabulosa, por isso vou sempre tê-la dentro da
bolsa. Vai para minha lista de compra.

Ela folheou algumas folhas do livro, olhou para


a tela no computador, lendo algumas anotações e
para o livro novamente.

— “A Drusa de Cristal faz a purificação de


energias, além de obter energização muito
poderosa de ambientes. Desintegra vibrações
negativas, afasta forças sombrias e atrai energias

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luminosas para o local.” Ok. Isso está bom, devo


dar uma ajeitada nesse texto, pois deve ser prático e
sucinto. Oh, isso vai ficar estupendo!

Ela riu de si mesma por sua euforia e estava se


sentindo realmente fabulosa.

— Não vejo a hora de comprar mais pedras,


quero arrumar umas drusas realmente bonitas para
minha loja.

Arfou quando ouviu um uivo um pouco longe


da casa.

— Ai, Jesus!

Levantou e espiou na janela, mas não viu nada.

— Será que é o lobo?

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Ficou quieta esperando se ouvia novamente,


mas não ouviu mais nada. Respirou fundo e foi
colocar mais lenha no fogão, então se assustou
quando ouviu outro uivo, mas agora estava
realmente bem próximo.

Foi até a sala e, meio temerosa, abriu a porta e


foi para a varanda e fechou o casaco de lã, pois
estava frio. Cruzou os braços e ficou olhando ao
redor e paralisou quando o avistou, parado a
olhando.

Sentiu um calafrio de medo e seu primeiro


impulso foi correr para dentro e fechar a porta, mas
seus pés não a obedeceram e ficou ali, parada,
olhando o lobo que começou a se aproximar,
devagar. Um passo, mais um...

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Quando ele parou no pé da escada, ela ficou o


admirando e mesmo com medo, soube que não a
machucaria.

A sensação era aterradora e sensacional ao


mesmo tempo.

Ele não estava rosnando e não parecia zangado,


parecia tão sereno e com a mesma curiosidade
sobre ela quanto ela tinha por ele.

— Olá, lobinho.

Ele soltou um choramingo e ela ficou


encantada.

— Você é tão lindo, olhe seus olhos. Nunca vi


um azul assim. Dizem que lobos são ferozes, mas
eu não vou te machucar, portanto não sou uma
ameaça para você. Gostaria de ser meu amigo?
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O lobo virou um pouco a cabeça para o lado e


ela sorriu. Ela gostava quando ele fazia aquilo,
ficava tão lindo que tinha vontade de esmagá-lo
num abraço quentinho.

— Que fofo.

O lobo subiu um degrau da escada e ela arfou,


olhou para a porta e pensou em entrar, mas ele
pareceu cauteloso também e ela não sabia o que
fazer, porque sentiu um pouco de medo.

Lobos eram selvagens e poderiam ser bonitos e


majestosos, mas ela acreditava que se a mordesse
poderia matá-la, porque ele era enorme.

Kally quis seguir o bom juízo e correr, mas algo


a prendeu ali e não conseguia se mexer.

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Ainda cauteloso, o lobo subiu mais um degrau e


mais um e quando entrou na varanda, ele fez algo
que a espantou imensamente: sentou.

Kally estava tão hipnotizada por ele, que


somente abriu o mais lindo sorriso demonstrando
todo seu encantamento.

— Oh, meu Deus!

Gael a achou tão linda, que pensar em sair dali


era algo inadmissível.

Ele tinha ficado quase louco de vontade de ver


de perto novamente a humana do dia anterior.

Nunca tinha sentido tanto turbilhão dentro de si


e nunca seu corpo e seu lobo reagiram tão
fortemente a uma mulher antes, principalmente
uma pequenina humana perdida naquela fazenda,
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que estava vazia por dois anos após a morte da


senhora idosa, recebendo somente de vez em
quando o herdeiro.

— Você tem fome? — ela perguntou


tranquilamente. — Tenho um pouco de carne que
sobrou do almoço. Gostaria de comer?

Ele choramingou, pois sua mente girava e


buscava algum sinal de perigo, mas não havia
cheiro de nenhum outro humano além dela. E
aquela pequena humana não parecia perigosa em
nada e sentia somente vontade de se aproximar. Ela
estava tentando interagir com seu lobo e amou que
estava sendo destemida e aquilo a deixava mais
linda e adorável.

O lobo deitou e ficou apoiado sobre as patas


dianteiras e ela sorriu.

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— Vou buscar, não saia daí.

Kally entrou na casa e logo voltou com um


prato com um pouco de carne cozida picada e
colocou na frente dele, um pouco distante, e ela se
afastou, o observando.

Gael não estava com fome de carne, somente


outra que o estava deixando dolorido, e fazia seu
corpo formigar: tinha fome dela.

Mas em respeito ao seu gesto sublime, que


queria cativá-lo, ele se arrastou um pouco para
frente e sem tirar os olhos dela, ele pegou um
pedaço de carne e mastigou e foi maravilhoso,
porque ela sorriu lindamente com o gesto.

Ficou imóvel quando ela se ajoelhou no chão e


pegou um pedaço de carne e mesmo tremendo, com
medo, ela estendeu o braço.
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Estava querendo lhe dar a carne na sua mão.

Gael se arrastou para sua direção e lentamente,


para não assustá-la, ele pegou a carne e ela riu,
lindamente, encantada com seu grande feito.

— Você é bonzinho. Mas ninguém vai acreditar


quando eu contar que fiz um amigo. Um amigo
lobo. Já disse que você é lindo? Meu Deus, olhe
esses olhos, são maravilhosos.

Ele rosnou baixo, porque ela não deveria dizer


nada a ninguém, mas o seu foco era que estava
louco de tesão por ela e agora que a pequena
humana se aproximou mais, seu cheiro estava o
matando. O cheiro dela era estupendo e parecia
exercer um efeito devastador nele. Um poderoso
afrodisíaco.

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— Quer ser meu amigo, me fazer companhia


aqui?

Ele balançou a cabeça e ela riu.

— Preciso achar um nome bem bonito para


você. Você já tem um nome?

— Gael.

Ela franziu o cenho, confusa, porque ouviu o


nome dentro da sua cabeça, olhou ao redor e não
havia ninguém para falar.

— Gael... pensei nesse nome, você gosta dele?

Ele deu um pequeno uivo e ela riu.

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— Parece que sim, então será Gael, um nome


meio estranho para um lobo, mas acho que ficou
bem em você. Nunca tive um lobo para dar nome.

Ela riu divertida com suas próprias palavras e


ele estava mais encantado de como ela era doce.

Kally ofereceu mais um pedaço de carne e ele


comeu e Gael congelou quando viu o que ela ia
fazer: tocá-lo.

— Não me morda, por favor.

O mundo todo deu um giro completo não


somente para Gael, mas para Kally, pois quando ela
tocou em seu pelo a sensação foi muito forte, um
choque, um agrado, um carinho, que trouxe
sensações desconhecidas e, de repente, o medo se
foi e havia uma relação forte entre ambos.

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Eles não entenderam o que estava acontecendo,


mas o sentimento foi recíproco e muito bem-vindo.

— Seu pelo é tão macio e está molhado, não


deveria andar na chuva, pode ficar doente.

Ela riu e viu um brilho no olhar do lobo.

— Que besta eu sou, não é? Preocupada se você


pegará uma gripe.

Ela riu e o lobo arfou e ela riu mais.

— Você é bonzinho e me entende, não é?


Minha mãe sempre diz que sou uma sonhadora,
encantada demais com as coisas. Eu gosto, me sinto
feliz assim e gosto de te ter como meu amigo. Pode
vir me visitar sempre que quiser. Espere, vou pegar
uma toalha para te secar.

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Ela saiu correndo para dentro da casa e logo


voltou com uma toalha e se ajoelhou diante dele.
Sorriu e acariciou a cabeça dele com a toalha
secando os pelos, as orelhas, devagar e
carinhosamente.

Gael amou aquilo de uma forma absurda e mil


pensamentos atropelaram seu raciocínio lógico.

Sua mente estava viajando no mais puro prazer


e desejos.

Ele a deixou enxugá-lo, amando cada parte


daquilo, então, quando se deu conta, lambeu seu
rosto.

Oh, aquilo estava muito perigoso e errado, não


sabia o que era, mas o assustou.

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Ele arfou e levantou, ela se assustou e


escorregou para trás, caindo sentada, mas Gael
choramingou para apaziguá-la e Kally ficou o
olhando boquiaberta e com os olhos arregalados,
sentada no chão da varanda.

— Oh, sinto muito, não queria assustá-la — ele


disse em forma de lobo.

Kally franziu o cenho, porque pareceu ouvir


algo, mas estava louca demais para atinar o que
havia acontecido. O lobo tinha falado?

Para seu total espanto, o lobo veio andando


sobre ela e Kally ficou paralisada, com o coração
batendo descompassado no peito.

Quando ele estava sobre ela, com as patas ao


lado de seus quadris, ele roçou sua face na dela, o
que a fez gemer e fechar os olhos, esperando que a
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mordesse, mas em vez disso, ela percebeu que ele


estava acariciando seu rosto com o dele.

Ele se afastou um pouco, lambeu sua bochecha


e saiu correndo.

Kally ficou ali, um enorme tempo, caída na


varanda, sem entender exatamente o que havia
acontecido e parecia que seu corpo estava quente
demais, o que lhe arrancou um gemido.

— Okay.

Ela levantou e entrou, fechou a porta e espiou


pela janela, com a mão no peito respirou fundo.

— Jesus...

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Kally voltou ao trabalho e à digitação de seus


minilivros, mas pouco a pouco ela levantava e
espiava pela janela para ver se via o lobo.

Um laço entre eles havia se formado e, de agora


em diante, jamais poderia ser desfeito.

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Naquela manhã, a chuva tinha dado uma trégua


e ela conseguiu sinal no celular e chamou um
guincho para desatolar seu carro na estrada. Falou
com sua mãe, mas não mencionou o lobo, pois não
queria preocupá-la.

Impaciente, porque nem o homem do guincho


chegava e nem o lobo aparecia, ficou andando de
um lado a outro.

Havia uma agonia no peito, uma necessidade de


ver o lobo novamente, estava inquieta e ansiosa.

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Aproveitando a estiagem, ela colocou uma capa


de chuva, bota sete léguas e saiu para andar e foi
em direção à porteira, havia colocado um pouco de
carne num saquinho, caso encontrasse o lobo.

Estava tudo tão silencioso que sentiu uma


imensa paz, mas em um momento parou e olhou
para o bosque que fazia divisa com o terreno de seu
tio.

Kally respirou fundo, para sentir todos os


aromas daquele lugar bucólico. Havia uma serração
baixa que deixava o lugar com um ar sombrio, teria
medo se tivesse juízo, mas não teve, pelo contrário,
pareceu encher sua alma de vida.

O cheiro da terra molhada, do verde exuberante


e de ar puro, trazia frescor aos seus pulmões, tão
diferente da cidade, não havia um som de carro, de

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pessoas falando, de nada, uma serenidade absoluta.

Então ela pulou a cerca e entrou no bosque e


era lindo. A mata era um pouco fechada e ela foi
andando e explorando sem se dar conta de quanto
estava adentrando. Parou bruscamente quando
pensou ouvir um rosnado e barulho no mato.

— Lobinho? Gael? Preparei um lanchinho para


você.

Ela sorriu quando entrou em uma clareira e viu


um lobo aparecer entre os arbustos, mas seu sorriso
desapareceu quando percebeu que não era ele. Era
outro lobo.

Ele rosnou para ela, baixo e ameaçador, e Kally


deu um passo atrás.

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Antes que sequer pensasse que seria manso


igual ao outro, mais um lobo apareceu ao seu lado e
mais outro.

Eles rosnaram mostrando seus dentes afiados e


não pareciam nada amigáveis.

E quando se deu conta, estava em perigo. Kally


arregalou os olhos e ficou apavorada ao ver cinco
lobos a rodeando, a olhando fixamente e
espreitando como se ela fosse um belo e suculento
bife, uma presa.

— Oh, meu Deus!

Ela não tinha uma arma, uma faca, nada para


poder se defender. Sua única alternativa foi correr.
Virou-se e correu o mais rápido que pôde, se

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desvencilhando dos arbustos e árvores, se


enroscando nos matos e somente podia escutar os
rosnados atrás dela, vindo por ela.

Um dos lobos saltou sobre ela e caiu na sua


frente, rosnando ferozmente, o que a fez dar uma
freada brusca, escorregar e cair.

Kally gritou, porque seu susto foi enorme, seu


medo era atroz, mas ela não entendeu como que o
lobo conseguiu saltar tão alto.

O lobo veio sobre ela e rosnava ferozmente


bem na sua cara, um enorme lobo marrom com
mechas brancas e olhos amarelos.

Ela se arrastou no chão para se afastar dele,


levantou e correu o mais rápido que pôde, tentou
olhar para trás e ver que o lobo saltou e bateu nela,
derrubando-a.
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Outro veio e bateu nela, derrubando-a


novamente, o outro a girou no chão, ela foi rolada
de um lado a outro, quando tentava se levantar era
derrubada, gritava e tentava fugir, mas eles não
permitiam, parecia que estavam brincando com ela,
jogando com sua vida, pois, apesar de estar se
machucando, nenhum deles tinha deflagrado uma
mordida mortal, mas ela estava apavorada, até que
um deles subiu com as duas patas em seu peito e
rosnou.

Ela gritou agudamente cobrindo o rosto com os


braços, o lobo não chegou a cravar seus dentes
afiados e mortais, pois outro saltou e atacou o lobo,
tirando-o de cima dela, mordendo, rosnando alto,
dando patadas, arrancando sangue e rolando em
uma briga frenética e violenta.

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Kally se arrastou pelo chão para se afastar da


briga, olhou de relance para um dos lobos e parecia
um cachorro deformado e era bem ruidoso e então
ficou de pé e andou de forma estranha.

Não podia acreditar no que estava vendo, o lobo


ficou em pé, e parecia meio homem, mas não veio
por ela e sim foi para cima do lobo que a salvou e
ela reconheceu ser Gael.

Então ela arfou de medo, pois temeu por ele.

— Gael!

— Corre! — ela ouviu como se fosse dentro de


sua cabeça.

Kally olhou ao redor para ver quem tinha


falado, mas não havia ninguém.

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Ela levantou e correu, e quando viu que um dos


lobos veio atrás dela, não haveria meios de fugir,
então saltou sobre uma raiz de árvore e subiu nela,
o mais rápido que pôde e, apavorada, ela viu o lobo
lutar com os quatro animais e o que tentou pegá-la,
rosnou ferozmente, deu meia-volta e foi ajudar os
lobos a agredir Gael.

Gael era maior que eles e lutava ferozmente,


mas era gravemente ferido, porque não conseguia
se defender dos cinco lobos que o agrediam de uma
vez.

Foi uma luta injusta e covarde, tão feroz, que


ela sentiu vontade de chorar ao vê-lo sendo
machucado.

Seu coração doía fortemente por ele e por seu


enorme medo.

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Kally não sabia o que fazer, não sabia como


ajudar e gemeu colocando a mão nas costelas que
doíam pelos baques dos lobos, achava que não
tinham lhe matado por pura sorte.

Ela agarrou um galho da árvore e com um


enorme puxão o quebrou e jogou sobre um deles.

— O deixem em paz! Saiam daqui!

Ferozmente, tentou quebrar outro galho, mesmo


ferindo suas mãos na casca e jogou. Então os lobos
desistiram da luta e simplesmente foram embora.

Kally tremia e não acreditou que seu ato é que


teria causado aquela desistência, eles poderiam ter
continuado sua luta até matar o lobo.

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Ficou olhando apavorada para a cena e o lobo


caído no chão, se arrastar e parou, choramingou e
ficou imóvel.

Ela ficou ali por algum tempo, arfando, com


dificuldade de respirar e ficou olhando ao longe
para ver se os lobos voltavam.

A chuva recomeçou e ela xingou, desceu,


aturdida, sem saber o que fazer, então ouviu um
uivo ao longe e o que a fez arfar e ficar mais
apavorada e ela correu em direção à sua casa, mas
parou e olhou para trás, ofegante e ao longe,
avistou o lobo caído.

— Jesus! Será que ele está morto?

Ela não sabia o que fazer, mas seu medo a


levou a continuar correndo e quando chegou à casa,
trancou a porta se escorando nela, escorregou e caiu
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sentada.

Estava encharcada, assustada, puxando o ar


com dificuldade e seu corpo todo doía.

Ela olhou suas mãos feridas pelas cascas da


árvore e estava imunda e seu coração batia tão forte
que doía.

— Merda.

Kally foi até a cozinha e tomou um copo de


água para se acalmar, foi para o banheiro e parou
na frente do espelho, seu estado era lastimável.

Quando foi tirar sua blusa para tomar um


banho, parou.

O remorso a atravessou.

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— Está tudo bem, ele a salvou, mas não há


nada que possa fazer por ele. Está morto.

E este pensamento a fez chorar, seus nervos


estavam em frangalhos e pensar que ele estava lá,
ferido e caído, sozinho no bosque, talvez morto, era
demais para ela aguentar, os soluços e lágrimas
vieram com força.

A dúvida se ele estava morto ou não a


maltratou.

— Merda! É só um lobo... é só um lobo... Um


lobo que salvou sua vida. Merda!

Ela respirou fundo, tremendo, gemeu ao lavar


as mãos e abriu a caixa de primeiros socorros,
pegou água oxigenada e jogou nos rasgos e gritou
pela dor, depois pegou umas bandagens e enrolou

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as duas mãos. Abaixou as calças e xingou pelos


arranhões nas suas pernas e jogou água oxigenada
neles e gritou novamente.

Ficou ali, esperando se acalmar, mas não


conseguia parar de chorar.

— Merda... merda...

Secou o rosto banhado de lágrimas, saiu e


pegou uma lona que estava no porão, um facão e
voltou para o bosque.

Sentindo medo e olhando ao redor para ver se


via algum lobo, algum perigo, chegou até ele.

Estava desacordado e perdia muito sangue, mas


ainda respirava, com certa dificuldade.

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Kally abriu a lona e tentou puxar o lobo para


cima dela.

— Oh, meu Deus, que pesado!

Ela fez toda a força que podia e o lobo soltou


um arfado, mas continuou desacordado e com
muito esforço ela conseguiu colocá-lo sobre a lona.

Usando todas as suas forças, Kally começou a


puxá-lo através do bosque.

Levou um tempo considerável para conseguir


passar por baixo da cerca de arame farpado e
chegar à casa e já estava esgotada.

Subir os poucos degraus da varanda foi um


suplício, pois tinha que carregá-lo e era pesado
demais e ele escorregava da lona, mas ao fim de

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longos minutos tortuosos, com várias enjambrações


em transformar a lona num saco, conseguiu.

Quando conseguiu colocá-lo dentro da sala, em


frente à lareira, tudo estava uma bagunça completa.
Ela tirou o tapete que estava na frente da lareira e
colocou ele sobre a lona ali.

Ela estava molhada, cansada e ofegante, e


deixou um rastro de água, lama e sangue pela sala
toda e suas mãos, que já estavam feridas, doíam
fortemente.

Ela correu no banheiro pegou várias toalhas e


tentou colocar sobre seus ferimentos para estancar
o sangue.

— Merda. Viu o que estou fazendo? Uma


loucura total, mas não vou deixar você morrer,
lobinho. Vou chamar um veterinário e vai ficar
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tudo bem. Eu te devo isso por ter me ajudado,


agora vou ajudar você.

Kally pegou seu telefone e tentou sinal, mas


não havia nenhum. Nem para telefonar, nem da
internet para procurar no Google um telefone de
veterinário na cidade ou mandar uma mensagem de
WhatsApp.

Ela respirou fundo quando a chuva aumentou e


não haveria nenhum meio de levá-lo para a cidade,
pois o guincho não tinha aparecido para tirar seu
carro ou encontrar algum vizinho e, pelo que sabia,
não havia nenhum por perto. A fazenda do tal
magnata ficava do outro lado do morro e nem a pau
ela conseguiria ir até lá a pé.

— Merda... Isso não vai ficar nada bem. Ok...


pense, Kally... pense.

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Não havia o que fazer.

— Eu vou dar um jeito, Gael, eu prometo.

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Kally entrou com a cesta cheia de lenha, foi até


a sala e a depositou no chão, colocou alguns paus
de lenha na lareira, jogou fluído e um fósforo
aceso.

— Pronto, agora a sala vai ficar bem quentinha


e você não vai ficar com frio. Vou tentar ligar para
o veterinário novamente e ver se ele vem aqui te
ajudar, pois precisa fazer pontos aí nesses cortes.

Ela se ajoelhou ao lado dele e ergueu o pano


com a ponta dos dedos.

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— Oh, Senhor, isso está feio.

Ela pegou o celular e discou novamente e não


havia sinal.

— O que vou fazer? Não quero que morra, mas


não posso te deixar aqui! E se acordar e me morder,
pelo amor de Deus, olha seu tamanho! Fui uma
louca de te trazer aqui, Senhor.

Ela respirou fundo e tentou novamente, subiu


na cadeira colocando o celular no mais alto que
podia, moveu de um lado a outro para tentar sinal.

— Nada! Bem... o que eu faço agora? Terei que


cuidar de você eu mesma.

Kally foi até a cozinha, pegou alguns gravetos e


paus de lenha e tirou as rodas de ferro da chapa do
fogão, colocou a lenha ali, derramou um pouco de
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fluído que tinha num vidro na caixa da lenha e


ateou fogo, fechou o fogão e colocou água nas
chaleiras e uma panela com água.

Depois foi buscar sua caixa de primeiros


socorros e olhou meio desapontada para ela.

— Deixe-me ver, temos analgésicos, anti-


inflamatórios, esparadrapo, gazes. Ainda bem que
sempre ando com minha maletinha de primeiros
socorros, pelo menos temos algo para desinfetar
isso, senão teria que fazer que nem nos filmes
antigos onde se jogava uísque na ferida para
esterilizar e fazia a pessoa ficar bêbada para não
sentir tanto a dor. Eu, por sorte, tenho remédios e
uma garrafa de uísque. Mas vamos ao tradicional
evoluído mesmo, porque acho que eu vou precisar

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de uma dose de uísque depois de fazer isso. Ai,


minha deusa... preciso de agulha e linha para fechar
isso.

Foi na sua caixa de costura e pegou uma agulha


e esterilizou com álcool e colocou a linha dupla, o
que foi difícil, pois suas mãos tremiam demais.

Ela pegou uma bacia, colocou água quente e


uma toalha limpa de louça. Foi até o lobo e se
joelhou.

— Olhe isso, nem sei como ainda respira,


lobinho, pois isso está realmente feio. Eu vou fazer
isso, está bem? Mas, pelo amor de Deus, não
acorde e me morda. Sou a mocinha, ok? Ai, Jesus,
me ajude.

Kally moeu alguns comprimidos e com as mãos


trêmulas abriu a boca do lobo.
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Arregalou os olhos vendo o tamanho de seus


dentes e caninos que ainda estavam sujos de
sangue.

— Ai, Jesus... olhe o tamanho disso. Você só


foi ferido assim porque eles estavam em cinco
lobos e você era sozinho contra todos eles. Foi
muito corajoso. Se fosse uma luta justa, teria
vencido, tenho certeza.

Ela colocou o pó na sua boca e com cuidado


derramou água para fazê-lo engolir.

Cuidadosamente lavou o sangue nos cortes e


sentindo um embrulho no estômago e, ainda
tremendo, começou a fazer pontos nos enormes
rasgos.

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— Oh... Jesus... eu não conseguiria ser


veterinária... veja bem o que estou fazendo...

Mesmo sem saber direito o que fazer, ela seguiu


seu instinto, fechou os cortes e limpou tudo com
cuidado, cortando alguns tufos de pelos ao redor
dos cortes.

Quando terminou, colocou uma atadura com as


gazes e suspirou, cansada e com dor nas costas por
ficar muito tempo naquela posição e gemeu porque
suas pernas estavam dormentes, pois todo aquele
processo tinha levado horas.

— Pronto... é o único que posso fazer, não é lá


estas coisas, mas deve acudir até a chuva passar e
conseguir sinal para alguém vir te buscar. Não
posso me arriscar sair naquele lamaçal, pois

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poderia ficar atolada de novo e daí, como faria com


você? Se, pelo menos, meu tio não tivesse
desligado a linha telefônica...

Ela acariciou a cabeça do lobo e sentiu tanto


carinho por ele, estava verdadeiramente perturbada
com seus ferimentos, e queria que melhorasse.

Seu coração estava batendo descompassado e


estava sentindo algo estranho, era uma dor no peito,
um temor desconhecido.

Ela pegou uma toalha de banho e tentou secá-lo


o máximo que pôde, limpando todo seu pelo que
estava sujo e depois, o arrastou para cima do tapete
e limpou toda a sujeira de sangue do chão, e por
fim, o cobriu com um cobertor.

— Descanse agora, lindo, vai ficar tudo bem.

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Kally ficou ali, acariciando seu pelo e o achou


tão macio. Seus pelos eram longos e sedosos e era
uma carícia bem-vinda entre seus dedos.

E ao mesmo tempo que o acariciava, chorava,


porque temia por sua vida e seus nervos estavam
em frangalhos.

— Não pode morrer, ouviu? Não pode me


deixar, Gael — sussurrava, uma e outra vez.

Suspirou nostálgica, pois não queria se afastar,


mas estava encharcada e gelada até os ossos.

— Volto logo.

Ela foi para o banheiro e tomou o banho mais


rápido de sua vida. Colocou o pijama e seu roupão,
depois fez curativos em suas mãos e pelo seu
corpo, viu que ficaria com vários hematomas.
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Prendeu seu cabelo de forma meio bagunçada


porque não tinha tempo para secá-lo, pois tinha que
cuidar do lobo.

Pegou uma caixa e a levou para a sala. Acendeu


um incenso e puxou a mesinha de centro para perto
dele.

— Olhe, vou energizar o ambiente ao redor de


você, para trazer energias boas e de cura, para que
fique forte logo. Sabe... eu gosto muito das pedras e
cristais e elas têm poderes muito fortes, muitas
energias. Os minerais são poderosos, além de
lindos, porque vem da natureza e tudo o que é da
Mãe Terra é cheio de vida e energia. Você vai ver
como vai te ajudar. Você, como um lobo sabe
disso, pois vive na natureza. Não sabia que
existiam lobos aqui em Minas, nunca ouvi falar,
mas fiquei contente de ter te achado, apesar do meu

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susto e daqueles lobos maus, você me salvou.


Então é um lobo bonzinho. Podemos ser amigos e
faremos companhia um ao outro. Parece que você
já gosta um pouquinho de mim, porque tem me
visitado todos os dias, não é?

Ela pegou as pedras e colocou sobre a mesinha.

— Estas são algumas pedras que sempre levo


comigo. A cristaloterapia é um sistema ainda pouco
difundido no Ocidente, mas muito usada no
Oriente. O misterioso mundo dos cristais é
fascinante, mas muita gente tem preconceito com
estas coisas e tem muita desinformação. Muitas
pessoas acham que são tolices, mas não são. Olhe,
esta aqui é uma pedra da Lua, possui energia
delicada e suave, tranquiliza e acalma. A ametista
tem o poder de transmutação de energias, de
proteção e de elevação da espiritualidade.

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Ela pegou outra.

— Essa pedra aqui é uma turmalina negra, é um


dos mais poderosos escudos de proteção que se
pode ter. A energia ruim é transformada em boa. É
uma pedra energizante que afasta toda a energia da
inveja e mau olhado. Nunca saio de casa sem ela e
tenho várias na minha loja, porque gente zoiuda é o
que mais tem por aí.

Ela pegou outra e mostrou a ele, mesmo


sabendo que ele não podia vê-la.

— A hematita também é conhecida como o


cristal do chakra raiz, ajuda a reunir todas as
energias do corpo, mantendo uma conexão às
energias da Mãe Terra. E esta é muito importante, é
uma Jaspe Vermelha, ela ajuda na recuperação de
uma operação. Vou deixá-la aqui bem pertinho de

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você. Este é o quartzo branco e ajuda o lado


espiritual e curas diversas, é o maior que tenho aqui
comigo, não é lindo?

Ela arrumou a pedra cuidadosamente na


mesinha e pegou outra.

— E esta aqui é uma que sempre levo comigo


também, o quartzo rosa, além de ser belíssimo, é
um cristal que está ligado às energias do amor. O
amor é uma das maiores forças vibratórias do
universo e está tão em falta. Ajuda a atingir paz
interior e fortalecer seu amor próprio e... quem
sabe, ela me ajuda a algum dia encontrar o amor de
minha vida. Eu acredito nisso, você acredita? Li
uma vez que lobos escolhem uma companheira
para a vida toda, e as tratam com muito carinho.
Você tem uma companheira, lobinho?

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Ela sorriu e acariciou seu pelo, que já estava


secando pelo calor da lareira.

— Quando você acordar, eu vou te dar uma


carne bem suculenta e saborosa para te deixar forte
de novo. Hmmm... Isso me deu fome.

Ela foi para a cozinha e mesmo com as mãos


doendo fez um pouco de frango grelhado com
molho de tomate e manjericão e um toque de queijo
ralado por cima, arrumou na mesa da cozinha, mas
quando sentou, olhou para a porta e não quis ficar
ali, pois queria ficar de olho no lobo.

Parecia estranho que se preocupasse demais


com ele, mas tinha algo diferente, parecia que
emanava algo mais do que um simples lobo,

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parecia tão forte e poderoso que ela podia sentir,


como uma vibração, como se necessitasse estar
perto de sua aura, estar em contato.

Kally pegou uma taça de vinho e o prato foi


para a sala e sentou no sofá, olhou pela janela e viu
que os trovões e raios cessaram, mas ainda chovia
muito.

— É... parece que nós dois estamos presos aqui.

Ela ligou a tevê e assistia enquanto comia e


bebia seu vinho e a cada minuto, ela olhava para o
lobo deitado perto da lareira, que se mantinha inerte
e desacordado.

E foi assim que ela passou o resto do dia até


altas horas da noite, trocando as bandagens,
passando remédio, conversando com ele, mesmo
que não a ouvisse.
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Kally acordou no meio da noite e olhou para o


quarto, que parecia piscar e se deu conta de que
eram os relâmpagos fortes que se projetavam.

Ela arfou assustada pelo som de um trovão, mas


havia algo mais, parecido com um rosnado forte.

— Devo estar sonhando ou algo.

Então ouviu outro.

Temerosa, agarrou-se às cobertas e ficou


olhando para a porta, como se aquilo fosse protegê-
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la, levantou da cama e titubeou na dúvida de abri-la


e sair.

— Ah, por toda a vida terrestre, esse rosnado


deve ser do lobo. Ele deve ter acordado. O que eu
faço?

Engolindo em seco, tremendo de nervosismo e


medo, ela abriu a porta e espiou para fora.

Não vendo nada e nem ouvindo mais nenhum


rosnado, ela andou lentamente em direção à sala e,
quando entrou, viu contra a luz das chamas da
lareira que o lobo estava em pé.

Kally se aproximou, pois seus pés tomaram


conta dos passos, porque ela estava em choque com
o que estava vendo.

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Ela parou, o olhando com os olhos arregalados,


e não conseguia se mover e pensou que estava
sonhando.

Não era o lobo que estava em pé. Era um


homem que estava sentado e rosnava.

Kally gritou assustada, se jogou atrás do sofá e


pegou uma estatueta de um gato na mesinha ao lado
e ficou ali, arfando, olhando para ver para onde
fugiria.

— Ei! — ele gritou com a voz forte e gutural e


ela gritou de susto. — Merda! Por favor, eu não
vou machucá-la.

Ela arfou, porque não sabia o que fazer, tinha


um homem na casa e ela estava sozinha e indefesa
e sua voz era animalesca.

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— Por favor.

Só então ela franziu o cenho ouvindo que ele


estava pedindo, sua voz parecia ter se tornado
normal e ele estava pedindo por favor? Não ia
atacá-la? O que diabos estava acontecendo?

Kally espiou de trás do sofá e ele continuava lá


na frente da lareira e sua cabeça estava uma
bagunça e seu medo não a deixava raciocinar.

— Por favor, moça, eu estou ferido, não vou te


machucar.

Ela engoliu em seco e levantou, segurando a


estatueta com mais força, pronta para se proteger e
atacar, o que quer que fosse.

Kally acendeu a luz e arregalou os olhos


quando viu a cena melhor.
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O homem estava nu sobre o tapete e ele era


nada mais e nada menos que o bonitão mafioso das
pedras preciosas.

O magnata das minas. Um MacDowell.

Ela não sabia qual das informações a deixou


mais chocada, quem era ele, como estava ali na sua
sala, ou por que estava nu.

— Está nu...

Ele se olhou e pegou o cobertor e cobriu suas


partes íntimas, mas antes ela pôde ver que estava
excitado e Kally não sabia se gritava, corria ou
desmaiava.

De onde ele tinha saído?

— Mil perdões, moça, não queria constrangê-la.


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Os dois ficaram se olhando estupefatos e ele


possuía os olhos azuis mais incríveis que já vira.

Ela franziu o cenho quando percebeu que seus


olhos eram iguais aos do lobo.

Ele usava uma barba bem-feita e seus cabelos


estavam despenteados e caía até o ombro e alguns
fios sobre metade de seu rosto. Eram castanhos e
tinha mechas mais claras em dois tons de dourado.

Nenhum deles soube quem estava mais


espantado com quem, porque ele também a olhava
com os olhos arregalados.

O silêncio foi absurdo, nenhum dos dois


conseguia superar o choque e encontrar as palavras.

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Ele olhou ao redor, aturdido para analisar o


local que estava e ela fez o mesmo para procurar o
lobo que não estava ali.

Então, ficou mais em choque ainda, porque


além de ver o homem maravilhoso que ela tinha
visto no jornal uma vez, nu e glorioso como um
deus grego, ela viu outra coisa.

Ele tinha os cortes costurados, o esparadrapo


tinha caído, mas os cortes estavam ali, no peito, no
pescoço, na barriga e um enorme na coxa e vários
arranhões por todo o corpo.

Somente poderia ter aquilo se ele fosse... o


lobo.

— Oh, meu Deus... — ela sussurrou ao se dar


conta.

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— Como vim parar aqui?

— Oh, meu Deus...

— Você me trouxe do bosque?

— Oh, meu Deus!

— Por favor, moça, não desmaie.

— Você... é o lobo!

Ele rosnou por constatar que ela o tinha


descoberto e Kally se assustou e deu um passo atrás
e olhou para a porta para correr.

— Não vou machucar você!

Sua voz forte e profunda a fez olhar para ele


novamente.

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Ela mal conseguia respirar e ainda mantinha a


estatueta levantada e presa com as suas duas mãos.

— Devo estar sonhando.

Ele suspirou e tocou seu corpo, olhando os


curativos descobertos e a faixa que enrolava sua
barriga estava desalinhada, parte caída.

Respirou fundo e ela soube que ele estava


tentando se lembrar dos acontecimentos e parecia
com dor.

— A última coisa que eu me lembro foi que


estava no bosque e os lobos fugiram e... vi você
correndo.

Tremendo, ela viu que ele não a atacaria,


parecia perdido e desalentado.

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Tinha descoberto seu segredo, um grande por


sinal e ainda não conseguia acreditar no que via.

— Você me trouxe?

Ele a olhou novamente e algo estava


acontecendo com seu corpo além do medo, do susto
e de tudo mais.

— Você é o lobo?

— Está sozinha?

— Sim.

Ele respirou fundo porque não poderia fugir


daquela situação e tinha um lado seu que não
queria.

— Sim, eu sou o lobo.

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— Como... como pode ser?

— Mágica. Acredita em mágica, moça?

Ela não respondeu, veio andando lentamente e


sentou no sofá, pois suas pernas estavam bambas e
temeu cair.

Apesar de seu mau humor estar aflorado, queria


rosnar como um louco e apagar a mulher, Gael a
olhou atentamente.

Ela estava com a boca aberta em um “O” e com


os olhos arregalados e ele a achou maravilhosa.

A merda estava feita e ele teria que consertar


tudo e não pôde negar que o desejo de estar com ela
em sua forma de homem tinha quase tomado conta

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dele naqueles momentos que insistia em visitá-la


como lobo, sem ela saber de sua verdadeira forma.
Um shifter.

Bem, ali estava sua oportunidade.

Queria poder conversar e saber se ela gostaria


dele.

— Não se preocupe, eu não vou machucar


você.

— Hã...?

— Não vou te machucar, só peço que fique


calma.

— Estou calma.

— Não me parece muito calma.

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— Mais um pouquinho e poderia desmaiar.

— Te peço que não o faça.

— Ok.

Ele sentiu vontade de sorrir.

Gael se olhou e não achou nada de mau estar


nu, mas ela devia estar chocada, pois ele era um
estranho e um potencial agressor dentro de sua casa
em plena madrugada.

Ficou olhando para ela fixamente e não queria


mais assustá-la.

— Pode abaixar isso, não vou te atacar.

— Isso soa meio controverso.

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— Ficarei sentado bem aqui, prometo.

Ela respirou fundo e ainda meio receosa,


abaixou a estátua, mas deixou no sofá, ao seu
alcance.

— Você fez os curativos em mim?

— O lobo estava muito ferido... eu.... não pude


deixá-lo no bosque para morrer, eu voltei e te
arrastei até aqui e te costurei. Tentei chamar um
veterinário, mas não consegui sinal.

Aquilo tocou profundamente no coração de


Gael.

— Por que fez isso?

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— Não podia deixá-lo, pois estava ferido por


minha causa, me salvou dos outros lobos que
pularam sobre mim e me perseguiram. E não posso
deixar as criaturas da natureza sem ajuda, vai
contra o que acredito. A deusa-mãe estaria muito
triste.

Ele estranhou a maneira que ela falava. Deusa-


mãe?

Ela tinha corrido o risco de os outros lobos


voltarem e a machucarem, debaixo daquele
temporal e a distância não era pouca e ele era
pesado.

Então, seu cérebro atinou o quanto ela tinha


sofrido para conseguir tal feito e seu coração que já
estava cativado por ela, por um milhão de motivos,
somente ficou mais acelerado e perdido por ela.

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Mas ela era humana e, Senhor, ela sabia que ele


mudava para lobo.

Estava ferrado. Como tinha conseguido perder


as estribeiras de sua vida daquele jeito? Primeiro se
apaixonado por uma humana, depois entrado numa
briga que quase o levou à morte e agora havia se
transformado na frente dela.

É, estava louco e ferrado.

Então franziu o cenho.

Pensou que estava apaixonado por ela? Não,


não estava apaixonado...

Gael rosnou e ela arfou, então ele parou, pois


não queria assustá-la.

Ela ficou ali, parada olhando para ele.


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— Você... você é o magnata, MacDowell. Um


deles.

— Sou Gael.

— Oh... Sim, eu sei. Oh... é o seu nome, como


não me dei conta que dei o nome do lobo o mesmo
do seu...

— Como me conhece?

— Vi no jornal sobre a feira de pedras


preciosas.

Ele assentiu.

— Seu nome é Kally.

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— Como sabe? Oh, claro, ouviu-me dizendo


em forma de lobo e por isso ouvi seu nome e lhe
dei, porque você disse.

— Sim, Kally.

Ele revirou o nome dela sobre sua língua ao


falar em voz alta e sua mente voou; amou seu
nome, seu jeito e tudo nela.

E o lobo dentro dele estava agitado, tanto que


até incomodava. Por ela.

Gael deslizou o olhar por suas pernas nuas, seus


pés descalços e o conjunto de pijama curto até as
coxas que ela usava.

Sem maquiagem, cabelo comprido e castanho,


com aquela bonita franja e um tanto despenteado.

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Olhos castanhos que o olhavam ainda com


espanto e com encanto, brilhantes e ávidos.

Naturalmente linda.

E ele segurou o rosnado na garganta, porque


seu membro se agitou, enchendo-o de uma
excitação quase louca, que o deixou tonto, porque
as imagens que brotavam na sua cabeça eram
quentes, muito quentes.

Queria saltar sobre ela, beijá-la, mordê-la,


reivindicá-la como sua e nunca sentiu tanto pânico
e medo, prazer e deleite, tesão puro e cru ao mesmo
tempo.

Mas seu lado ponderado foi trazido a razão à


força e ele sabia que teria que ir com cuidado.

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— Prazer em conhecê-la, Kally. Pode ficar


calma que não vou saltar sobre você e morder sua
garganta.

Ela franziu o cenho porque era exatamente o


que estava pensando.

— Não me diga que, além de se transformar em


lobo, pode ler mentes?

Ele respirou fundo.

— Sim, pude ler sua mente.

— Caramba, esse sonho está realmente


interessante.

Ele sorriu e ela gemeu, porque o homem era


maravilhoso carrancudo, sorrindo era o próprio
deus do pecado.
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— Como pode se transformar? Que tipo de


mágica é essa?

— Sou um shifter de lobo. Temos esse poder.

— De onde você saiu?

— Bem, saí da minha casa.

Ela riu.

— Antes de chegar à sua casa. Esse nome


MacDowell é escocês?

— Irlandês, meu pai e minha mãe eram


irlandeses.

— Você nasceu lá?

— Não, eu nasci no Brasil.

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— Oh, Irlanda é tão mágica, gostaria de


conhecer um dia. Toda a Europa, eu acho.

— Sim. Nossos antepassados são milenares,


descendentes de antigos reis, nórdico e celta.

— Reis?

— Sim, nós temos reis, um homem-lobo criado


por magia na antiga civilização europeia e uma
bruxa celta.

— Bruxa celta?

— Sim, uma bruxa de verdade, de mais de dois


mil anos.

— Okay... mas está falando no passado, não é?


Existiram.

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— Existem. Eles ainda vivem.

— O quê?

— Eles estavam vivendo em um plano paralelo,


em outro mundo e há pouco tempo reapareceram
para os lobos. Uma história um pouco complicada.

— Está dizendo que seus reis têm mais de dois


mil anos? E estão vivos?

— Sim.

— Carambola! Você os viu?

— Não tive este prazer, mas espero vê-los um


dia. Dizem que eles estão visitando todas as
alcateias pelo mundo.

Ela ficou o olhando com os olhos arregalados.

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Gael ficou esperando para ver o que diria, e ela


piscou aturdida e, então, lhe brindou com um
imenso sorriso.

— Oh, que fascinante, gostaria tanto de


conhecê-los!

Gael ficou a olhando espantado e sua mente


girava rapidamente e ele rosnou, porque estava tão
quente e formigando que o incomodava
imensamente. E a mulher era meio louca, como
podia sorrir feliz ao ouvir de seus ancestrais?

— Algo errado? — Ele rosnou novamente e


trincou os dentes quando uma onda forte o atingiu,
era tipo um tesão louco multiplicado por mil. —
Está tremendo e seus olhos estão... brilhantes.

Ele escorregou pelo chão se afastando um


pouco mais dela.
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— Acho que estou em frenesi — disse


entredentes.

— O que é isso?

— Energia demais rodando dentro de mim.


Lobos têm isso.

Lobos acasalados, principalmente.

— Você sempre tem isso?

— Às vezes, mas... nunca o senti tão forte...

— Oh, posso fazer algo para ajudar? Parece que


isso dói.

— Dói como o inferno.

Ele a olhou e mil imagens eróticas pairavam na


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sua cabeça. E queria responder. Sim, pode me


ajudar, queria tocá-la, e ter um sexo louco.

Gael fechou os olhos por um minuto e tentou


afastar aquela sensação dolorosa e gemeu quando
seu sexo doeu e suas presas pareciam que iam cair.

— Controle sua respiração — ela disse.

— O quê?

— Respire devagar, profundamente, vamos,


comigo.

Ele a olhou aturdido. Aquilo era sério?

— Vamos lá, faça comigo, inspire


profundamente, expire todo o ar... de novo,
inspire... expire... inspire... expire... inspire...

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Ele rosnou e achou ridículo, mas porque ela


pediu, o fez. Respirou pesadamente, e as primeiras
vezes foi difícil fazer, mas ele focou nela e tentou
respirar e, então, a sua explosão foi diminuindo.

— De novo... Distraia sua mente, fale comigo,


assim consegue amenizar um pouco isso.

— Acho difícil.

— Por favor, fale.

— Falar o quê?

— Como vieram parar aqui no Brasil?

Ele respirou fundo tentando raciocinar e focar


no assunto e desviar a vontade de saltar sobre ela e
fodê-la. Que os deuses tivessem misericórdia dele.

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— Meu pai... era da alcateia irlandesa, dos


MacCarthy. Era muito amigo do alfa, mas queria
sua própria alcateia por que era um líder nato, mas
ele não queria tirar a posição de seu amigo, então
partiu em busca de sua aventura. Meu avô dizia que
ele tinha sangue viking dos nossos antepassados,
que gostava de conquistar. Então ele soube deste
continente e veio em busca de riqueza, nas minas
de ouro. Com o tempo descobrimos vários tipos de
pedras, então...

— Se tornaram os maiores exploradores de


minas do Brasil e exportam milhões por ano para o
mundo todo e detém o comércio das muitas
variedades de pedras preciosas e semipreciosas.
São os donos do Vale das Pedras.

Ele sorriu pelo entusiasmo dela.

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— Sim.

— Essa alcateia ainda vive lá? Na Irlanda? Há


outras?

— Sim. Há várias espalhadas no mundo. Mas a


da Irlanda não vive mais lá. Seu alfa agora, Noah
MacCarthy, mudou-se para outro país.

— Por quê?

— Longa história.

Ele xingou a si mesmo, porque sua boca parecia


uma matraca que abria sua vida para ela desse jeito.
Para começo da conversa, nem era de falar com
estranhos, muito menos com humanos, mas com ela
sentia necessidade de falar. Algo estava errado com
ele. Devia estar com alguma sequela das pancadas
na cabeça.
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— Ainda são amigos?

— O quê?

— Você e este Noah.

— Sim. E isso não devia ter acontecido.

— O que não devia ter acontecido?

— Você me descobrir dessa maneira, devo ter


me transformado enquanto dormia.

Ela piscou aturdida.

— Isso é ruim?

— Sim, porque não posso me mostrar aos


humanos como posso virar lobo.

— Hã... você não é humano? Estou confusa.


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— Sou meio-humano, meio-lobo, mas tenho


uma vida normal, como um humano, em partes,
pelo menos. Fico na maioria do tempo em forma
humana.

— Como nos filmes.

— De certa maneira, sim, como nos filmes.

— Tô passada... — sussurrou e ele soube que


sua mente estava viajando com um milhão de
perguntas.

Sim, ele também estava, porque sua vida era tão


cuidadosa, metódica e vivia recriminando seus
irmãos por serem imprudentes no meio dos
humanos e ao fim, ele que tinha feito tal sandice.

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Se soubessem do ocorrido, eles tirariam sarro


dele para a eternidade.

— E eu descobri seu segredo! — ela sussurrou


ainda aturdida.

— O fez.

— Desculpe! Foi sem querer!

Ele sorriu, porque ela falou tão francamente


como se estivesse com medo do que tinha
descoberto e não havia nada de mal vindo dela.

Aliás, a energia que emanava dela era algo tão


poderoso para sua sensibilidade de lobo, que o
deixara desconcertado desde o primeiro minuto que
a viu.

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Ela brilhava, como se sua aura estivesse ligada


na tomada.

Kally era especial.

Se fosse outra pessoa, provavelmente deveria


estar gritando histérica ou estaria desmaiada, mas
ela não. Estava ali, o olhando em choque, mas se
mantinha firme.

E tirando seu susto e seu medo, o olhava


encantada.

Um raio acendeu o céu e iluminou dentro da


sala e logo um trovão retumbou pelo ar, fazendo-a
se assustar e arfar.

Ela olhou assustada para a janela e ele rosnou


baixo, porque queria correr e abraçá-la para aliviar
seu susto e temor.
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Uma súbita necessidade de protegê-la de


qualquer temor, de qualquer perigo, era tão forte
que fazia seu corpo doer.

Nunca seu lobo tinha despertado em tantas


sensações e vontades juntas antes.

Estava meio louco e fodido.

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— Senhor... — ela sussurrou e o olhou.

— Isso está feio.

— Sim, choveu muito durante toda a tarde e


noite.

— Ruim.

— Estamos presos aqui.

Ele respirou fundo.

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— Preciso de um telefone, preciso avisar minha


família que estou bem.

— O celular está sem sinal e meu carro está lá


na estrada, atolado na lama. Talvez até já tenha sido
soterrado por ela.

— Merda! Eu deveria ir.

Gael tentou se mover para levantar e rosnou


pela dor.

Ela se levantou no sofá num salto e o segurou


pelos ombros, impedindo-o.

— Não pode! Vai abrir os pontos!

O choque de suas peles sendo tocadas foi


assustador e eles se olharam com os olhos
arregalados.
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Kally tirou as mãos dele rapidamente, aturdida.

— Você deu choque.

— Pensei que foi você.

— Hum... isso foi esquisito.

— Sim.

— Por favor, fique quieto, vai perder sangue de


novo e deve ter perdido muito dele ontem.

Ele respirou fundo e se acomodou no tapete


novamente.

Ela pegou as gazes e tentou recolocar sobre os


cortes e franziu o cenho porque tinham cicatrizado
bastante, mais do que deveriam estar, mas ficou

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nervosa por estar tão perto dele daquele jeito que


seus pensamentos lógicos se perdiam.

E enquanto ela arrumava seus curativos, ele


ficou olhando para seu rosto, para cada pedacinho
dele, e sua boca chegou a salivar por vontade de
beijar seus lábios rosados e perfeitos.

— Obrigado por cuidar de mim — ele


sussurrou com a voz rouca, de forma tão melodiosa
e poderosa que ela ergueu os olhos para ele,
hipnotizada.

Senhor, o homem emanava afrodisíaco pela


boca.

Ele tentou desviar do rosto dela para oprimir


seus desejos insanos e franziu o cenho olhando suas
mãos.

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Gael as pegou e olhou as ataduras.

— Está machucada.

— Não é nada, foi com a árvore e os lobos.

— Quebrou e jogou os galhos.

— Sim, não tinha nada para jogar neles e queria


pará-los de te ferir.

— Corajosa.

Ele ergueu a beirada do seu short e viu a


atadura na coxa e rosnou, então viu os arranhões e
hematomas em seus braços.

— Eles te machucaram.

— Sim, um pouco, mas estou bem.

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— Devia matá-los por isso.

Ela ficou aturdida com a intensidade que ele a


olhava, era quase demais para conseguir encará-lo.

— Acho... que o senhor deveria descansar.

— Meu nome é Gael.

— Ok, Gael, precisa descansar.

Kally olhou para trás, para a porta do quarto e


ele soube que ela iria embora, então precisava
prendê-la ali, pois não queria que fosse.

Ele tentou pensar rápido em algo que a fizesse


ficar ali ao seu redor.

Então ele viu as pedras.

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— O que é isso?

Ela olhou para onde ele indicava e era para a


mesinha com as pedras e incenso.

— Minhas pedras de terapia.

— Faz terapia com pedras?

— São pedras de cura, coloquei aqui para te


ajudar a se curar.

— Obrigado. E estas?

Ela pegou as que estavam caídas no chão.

— São as pedras dos chakras, coloquei no lobo


para ajudar a se curar.

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— Colocou pedras em mim para curar meu


lobo?

— Trabalho com isso.

Ele ficou a olhando sério.

— O que faz aqui sozinha nesse sítio?

— O sítio é do meu tio, ele me emprestou por


alguns dias, pois estou de férias e vim fazer umas
pesquisas e visitar a feira de pedras.

Essas informações acenderam um alarme na sua


cabeça.

— Oh, muito bem. Você é de onde?

— Moro em Belo Horizonte.

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— É um bonito lugar.

— Sim, é linda e grande, por isso achei que


descansar um pouco por aqui seria bom.
Reabastecer as energias.

— O que faz?

— Faço o quê?

— Trabalha? Estuda?

— Sou formada em cursos de terapias


holísticas. Estou sempre estudando.

— O que é isso?

— Faço florais, sou mestre em Reiki, atendo


pacientes para tratamentos com as pedras e tenho
uma loja de artefatos místicos, sabe como é.

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— Não sei, mas gostaria que me contasse.

Gael estava se espantando consigo mesmo por


querer conversar, ele não era muito de conversar.

Tudo era novo para ele e estava gostando da


sensação.

— Eu... Eu poderia colocá-las em você.

Ele franziu o cenho.

— Colocar o que em mim?

— As pedras... elas caíram. Vai ajudá-lo nos


ferimentos. Elas fortalecem o corpo e suas energias.
Colocando-as sobre os seus chakras fará um
trabalho muito útil para sua recuperação.

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Ele não acreditava muito naquilo, e se curaria


rápido por ser um lobo, mas queria que ela ficasse
perto dele, então assentiu.

— Ok.

— Tem certeza?

— Tenho.

Ela sorriu lindamente e pegou suas pedras. E só


pelo lindo sorriso de satisfação e felicidade
verdadeira que lhe brindou, ele se sentiu
confortável em aceitar aquilo.

As mulheres gostavam que seu trabalho fosse


admirado e aceito. Podia fazer isso e muito mais,
porque tinha uma certeza na vida: queria vê-la

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sorrindo daquele jeito sempre, porque ela brilhava


mais e o deixava feliz. Foi estranho constatar isso,
mas ele aceitou.

Sua filha vivia fazendo discursos sobre as


mulheres e todas as lobas eram muito valorizadas
na sua alcateia e reconhecidas em seus trabalhos.

Os machos eram um tanto possessivos, mas


defendiam todas as fêmeas, principalmente suas
companheiras. O que era natural para os lobos.

Já havia tido alguns problemas com humanos


junto às suas fêmeas, porque uma coisa que irritava
os lobos era o modo como os humanos tratavam as
mulheres, poucos eram os que sabiam tratar uma
dama. E suas lobas não eram fáceis de passar
despercebidas e evitar o assédio dos homens,
muitas vezes ofensivo.

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— Deite-se.

Gael piscou pela ordem dela, não era muito


adepto de aceitar ordens, mas podia aceitar dela.
Quase sorriu pelo pensamento insano e o fez.

Kally acendeu um incenso e pegou sua caixa de


pedras e as que estavam sobre a mesa.

Ele gemeu pelos movimentos, o que constatou


que estava bem estripado, o que o irritou. Teria que
tomar providências sobre os lobos malditos que
ousaram atacar um alfa e principalmente atacar
uma humana daquele jeito. Tinha uma bela merda
para destrinchar. Mas agora somente queria focar
nela.

— Os chakras são centros de força, aberturas


por onde penetram as energias, a corrente vital do
nosso corpo físico. Essa energia deve fluir
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harmoniosamente por todo o corpo para que


tenhamos uma vida saudável.

— Eu devo estar bem desarmonizado no


momento.

Ela riu.

— Acho que sim, mas podemos consertar isso.

Ele sorriu e ficou a observando, sem se mexer,


somente a seguindo com os olhos. Sentia uma dor
horrível na barriga, e a posição não estava ajudando
muito.

— Este é o Chakra Coronário, que fica no topo


da cabeça, e vou colocar uma ametista. Não se
mexa.

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Ela colocou ao topo de sua cabeça, apoiada no


chão.

— Este é o Chakra Frontal e fica entre as


sobrancelhas, vou colocar um lápis-lazúli. No seu
pescoço fica o Chakra Laríngeo e aqui coloco uma
turquesa. No Chakra Cardíaco um quartzo verde.
Seu Plexo Solar está bem desregulado, então vou
colocar aqui um Jaspe Amarelo.

— Como sabe?

— Posso ver sua aura.

— Pode?

— Sim, tenho o dom de ver e a sua é incrível,


diferente dos humanos normais, mas só quando me
concentro a vejo, mas a sua é mais fácil, talvez
porque seja mais forte.
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Gael estava impressionado, ela era mais que


especial.

Gemeu quando sentiu o toque dos seus dedos


em sua pele. Todo seu corpo reagiu como uma
onda elétrica, o que o deixou mais excitado,
dolorido e espantado. Quase xingou um palavrão
alto, mas trincou os dentes e engoliu para si.

Ela percebeu seu incômodo e o olhou aturdida.

— Está com muita dor? Posso te dar mais


analgésico.

— Por favor — disse entredentes.

Ela rapidamente correu até a cozinha, pegou


água e um comprimido e o ajudou a tomar,
erguendo somente sua cabeça.

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— Não tem algo mais forte?

— Só isso.

— Pouco efeito.

— Oh...

— Pegue mais três cápsulas.

— Mas quatro é muita coisa.

— Como lobo, estes remédios fracos não fazem


efeito.

Assustada, ela assentiu e deu mais três cápsulas.

Ela soltou sua cabeça no chão devagar e para


melhorar pegou uma almofada e a pôs embaixo,
recolocou a pedra no Plexo Frontal e Coronário que

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havia caído.

— Continue.

— Ok.

Ela respirou fundo para se concentrar


novamente, mas estava um pouco agoniada ao
saber que sentia dores. Isso realmente lhe
incomodava.

— No Esplênico, coloco uma Pedra do Sol e...


aqui no Fundamental... hum... uma Calcita
Vermelha.

Ela não sabia bem como fazer porque deveria


colocá-lo bem sobre o seu sexo e ele estava
excitado, nu e ela ficou muito envergonhada,
porque o cobertor tinha escorregado.

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— Acho que podemos colocá-lo aqui mais em


cima.

— Não sabe onde colocar a pedra? — ele


brincou e ela arfou.

— Ora, eu sei, mas... bem, o senhor está... bem,


eu nunca tratei de um homem, então... muito menos
que esteja assim nu e... bem animado desse jeito.

Ela respirou fundo, porque a vergonha ia


engoli-la e ele segurou o riso.

— Perdoe-me se estou atrapalhando seu


trabalho.

— Senti um ar maroto em você, está gostando


de me deixar constrangida.

Ele sorriu.
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— Moça, só estou contente que esteja tratando


de mim e meus ferimentos. Jamais quero lhe deixar
constrangida.

— Humpf, homens... — ela bufou e ele riu.

Kally puxou o cobertor para cobrir seu pênis e


colocou a pedra e pigarreou tentando parecer
profissional, mas o homem estava gloriosamente
excitado.

Respirou fundo porque as coisas estavam


estranhas, ele era um estranho, nu na sua sala, e ela
não tinha medo dele. Xingou pela sua falta de bom
senso.

E quando ousou enfrentar sua vergonha, se


virou e olhou para ele.

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Gael estava a olhando fixamente, com tanta


intensidade que ela teria caído se não estivesse
ajoelhada no chão.

Ela se sentou e tentou sorrir e demonstrar que


não estava tão envergonhada, afinal, era uma
adulta.

Mas olhando o corpo dele, esculpido


maravilhosamente, forte e sarado, os gomos de sua
barriga definidos, o tórax forte e os braços e coxas
eram lindas e másculas, sem contar que era muito
alto, era inevitável achá-lo miseravelmente
deslumbrante e pecaminoso e sentiu desejo por ele,
um assombroso e ele tinha tatuagens, o que o
deixava lindo e selvagem.

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Ela apertou as pernas, porque estava excitada e


seu corpo estava quente. E quase foi impossível
conter seus pensamentos depravados e ele sorriu,
pois soube que ela estava correspondendo com a
mesma excitação que ele. O que era estranho, bom
e assustador; na verdade, mais que bom.

Ele pegou num pingente que ela tinha no


pescoço e o olhou.

— O que é essa pedra?

— É uma turmalina negra.

— Que tem algum poder mágico, suponho.

Ela sorriu.

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— É uma pedra de proteção. Ela neutraliza


energias ruins. Emite partículas elétricas benéficas
chamadas de íons.

Lentamente ele soltou o pingente e seus dedos


escorregaram para seu pescoço, numa suave carícia
e colocou as mechas de cabelo para trás de seu
ombro.

— Você é preciosa, como suas pedras... —


sussurrou guturalmente, com sua voz forte e
sedutora.

Kally piscou aturdida e lisonjeada com o que


ele disse. Sorriu e acariciou seu cabelo e foi um
gesto involuntário e que mexeu com ambos.

Ficou intensamente desnorteada com seu toque,


mas queria mais dele. Estava louca.

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— Você vai melhorar, vai ficar tudo bem, Gael.

— Você se sente à vontade comigo, mesmo


sabendo o que sou.

— Por que não estaria?

— A maioria não acharia normal, sempre


fomos caçados pelos humanos.

— Verdade?

— Sim, precisamos viver escondidos, pelo


menos esconder quem somos, realmente. Parecer
iguais aos humanos, mas esconder nosso lobo.
Muitos dos nossos lobos pintam os cabelos e usam
lentes de contato.

Ela suspirou triste por isso e sacudiu a cabeça.

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— Quanta intolerância pelo diferente, pelo


desconhecido. Mas eu não sou assim, tudo o que é
diferente e místico me encanta. Se vivêssemos na
Idade Média, eu até poderia ser torrada numa
fogueira pelas minhas excentricidades. E olha que
não sei praticamente nada desse mundo oculto tão
vasto. — Riu meio sem jeito.

Bem, isso dizia muito sobre ela e o que


impulsionava seu lobo insano sobre ela.

— O que achou do meu lobo?

— Achei isso tão lindo, parece um conto de


fadas. E eu amava tanto seu lobo, ficava muito feliz
quando vinha me visitar.

— Verdade?

— Sim.
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— Sabe que não pode contar isso a ninguém,


não sabe?

— Eu sei, deve permanecer escondido, nas


sombras.

— Sim.

— Lamento por isso, deve ser bem ruim ser


sempre tão cuidadoso e se esconder. Ter uma vida
dupla.

— Assim é.

— Prometo que seu segredo estará seguro


comigo.

— Obrigado.

— Com uma condição.

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— O quê?

— Que me mostrará uma mina, me mostrará as


pedras preciosas.

— Por que quer ver isso?

— Porque amo as pedras e os cristais, são pura


energia e beleza. Queria poder conhecer cada uma
delas que existe no mundo, saber seu nome e seus
mistérios. Quero futuramente ter todas na minha
loja. Claro, mais os cristais, porque as pedras
preciosas, estas que colocam nas joias, seria
impossível.

— Por que seria?

Ela riu.

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— Olha, colega, eu não sou tão rica para poder


ter uma joia dessa, são coisas que não fazem parte
de meu mundo.

— Então te mostrarei meu mundo.

Ela sorriu lindamente, emocionada, e ele sentiu


que não era ambiciosa como outras mulheres.
Queria a magia das pedras e não por seu valor
monetário, por luxúria ou ganância.

Eles só não sabiam ainda o quão fundo ela


entraria em seu mundo.

— Obrigada.

— Será um prazer.

— Hum... é melhor dormir e descansar, vou


voltar para a hum... minha cama.
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Ele assentiu e ela levantou e olhou para a porta


do quarto.

— Você quer ficar aí, ou eu posso te ajudar a ir


para o quarto, não o meu, lógico, há outro quarto.

— Estou bem aqui.

— O chão deve estar duro.

— Estou bem.

— Ok, então eu vou... boa noite. Se precisar de


mim, é só me chamar.

— Boa noite.

Ela colocou mais dois paus de lenha na lareira,


entrou no quarto e fechou a porta, pois estava
nervosa, tremendo, e não sabia o que fazer.

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O correto não era sair e deixá-lo lá com as


pedras, não estava sendo profissional, mas, ora
bolas, quem consegue ser profissional com um
shifter de lobo nu na sua sala às quatro da manhã?
Estava confusa e seu corpo estava com sensações
estranhas.

Ela foi até a mesinha de cabeceira, bebeu da


água que estava num copo e colocou-o encostado
na testa para tentar apaziguar o calor que sentia.
Devia estar febril.

— Merda, Kally, o que está fazendo?

Ela olhou para a chave e trancou a porta.

Gael suspirou, pois ele a ouviu trancar a porta,


deveria estar com medo que a atacasse. Droga,
qualquer uma teria!

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Ele se mexeu um pouco e gemeu. Por


misericórdia, estava dolorido, tocou sua barriga
para ver se suas vísceras não estavam para fora e a
pedra de sua testa caiu, ele a pegou, olhou e sorriu.

Ficou ali olhando o teto, porque ela desligou a


luz, mas o fogo da lareira crepitava aquecendo a
sala e iluminando com suas chamas laranjas e
vermelhas, mas ele podia ver no escuro por causa
de seus olhos de lobo.

Estava se sentindo ferrado, não somente por


seus ferimentos, mas pela humana que acabara de
entrar no seu tão meticuloso e perigoso mundo dos
lobos.

Tantos anos de extremo cuidado e com ela tinha


sido torpe, precipitado, sem noção do perigo que
tudo implicava e agora ela sabia quem ele era e a

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verdade é que estava louco por ela.

Gemeu e tocou seu sexo. Estava duro e dolorido


como jamais estivera e sua mente somente
conseguia pensar em tê-la debaixo dele, ofegante e
soltando gemidos de prazer e gritando seu nome.

É... estava bem fodido.

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Ela acordou sobressaltada e sentou na cama.

— Eita!

As imagens da noite anterior a atingiram, ela


saltou da cama e encostou o ouvido na porta para
ver se escutava algum barulho.

— Foi só um sonho, não terá nenhum homem


lindo na minha sala, nenhum lobo, nadinha.

Abriu a porta, espiou e tudo estava escuro e


quieto, pois apesar de ser de manhã as cortinas
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estavam fechadas, a chuva ainda caía a toda lá fora


e ela suspirou.

Lentamente e andando na ponta dos pés, andou


pela sala e quando avistou Gael deitado, dormindo,
ela quase gemeu.

— Oh, merda, não era um sonho, o homem está


ali.

Ela se aproximou e com a mão trêmula tocou


em sua testa.

— Oh, porcaria, ele tem febre, está muito


quente.

Respirou fundo para tomar coragem e encarar


sua realidade. Tinha um homem-lobo para cuidar.

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Correu até a cozinha pegou uma tigela de água


fria e um pano e foi até ele molhou e colocou na
sua testa.

Pegou sua caixa de primeiros socorros e


revirava ali para ver se achava o antitérmico,
quando pegou uma cartela, se virou e soltou um
grito de susto, pois ele estava olhando direto para
ela e seus olhos estavam brilhando.

Kally caiu para trás e se arrastou até bater na


mesinha de centro.

— Ai, meu Deus, meu coração quase saiu pela


boca.

— Desculpe, Kally, eu não quis te assustar.

— Hum... — Ela respirou profundamente. —


Está com um pouco de febre, precisa tomar isso.
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Ele ia negar, mas ela saiu correndo para a


cozinha e quando voltou se ajoelhou na frente dele
oferecendo o comprimido e um copo de água, ele
percebeu que suas mãos tremiam um pouco, estava
nervosa, mas não deixava de cuidá-lo.

— E tome este também é anti-inflamatório.

— Não há necessidade de fazer isso.

— Como não? Se não cuidar desses ferimentos


pode infeccionar. Agora não se mecha que vou
olhar isso e colocar um curativo novo.

Ela acendeu a luz e começou a retirar as


ataduras, ele não se moveu e não tirou os olhos dela
enquanto ela lutava desesperadamente para
conseguir fazer os malditos curativos. Precisava de
todo seu autocontrole para não ficar somente

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olhando para seu rosto e assim visse o quão intenso


ele a olhava, com aquele olhar quente que a
derretia.

— Espero que sua febre não aumente.

— Não me recordo se alguma vez tive febre na


vida.

— Não?

— Somos muito fortes contra doenças de


humanos, resfriados e estas coisas, vírus, infecções
raramente nos atingem, curamos rápido.

— Não entendo como não está gritando de dor.

— Sou bom em aguentar dor.

Ela o olhou, estarrecida.

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— Que coisa horrível de se dizer.

— Sou um lobo.

— E você briga muito com lobos por aí para


sentir dor?

— Não.

— Quem eram aqueles lobos?

— Executores.

— O que é um executor?

— Geralmente são os lobos com mais sangue


frio nas veias, eles executam ordens do alfa, sendo
elas boas ou ruins, geralmente as que envolve
algo... pesado.

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— Pesado?

— Sim, como executar uma Spurga, ser guarda-


costas de alguém, tomar vingança de algum
membro da alcateia ou de algum humano estúpido.
Coisas assim.

— Hum... coisas assim. Tipo uma coisa meio


de máfia. Tipo os capangas de O poderoso chefão?

Ele riu de sua inocência.

— Bem, se fôssemos mafiosos talvez fosse este


tipo de coisa.

— Minha prima diz que os MacDowell são


mafiosos.

— Ora essa. Por quê?

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— Ricos demais, andam com guarda-costas,


carros escuros, nunca são vistos ou interagem
muito, controlam a cidade. O povo os teme.

— Não somos mafiosos. Somos precavidos e


reservados.

Ela respirou fundo.

— Por que estavam me atacando? Sempre


atacam humanos assim?

— Não sei, talvez só por diversão maldosa.


Nunca vi nenhum lobo aqui atacar nenhum humano
sem um bom motivo.

— Você os conhece?

— Não. Devem ser de outra alcateia.

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— Não são da sua alcateia?

— Não, meus lobos me respeitam, jamais me


atacariam ou desobedeceriam minhas ordens, a não
ser que queira ser alfa.

— Há muitos de vocês aqui?

— Sim, alguns.

— Quantas alcateias há no Brasil?

— Que eu saiba só a minha. A maioria das


alcateias sabe onde todas estão. Somente lobos
desgarrados ou párias andam por aí sem alcateia.
Poucos lobos gostam de viver sozinhos no meio
dos humanos.

— E por que alguém de outra alcateia te


atacaria?
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— Eles não estavam realmente atacando a mim


e sim a você. Eu que me meti.

— Para me defender.

— Sim, se não o fizesse estaria morta, ou coisa


pior.

— Mas eu não fiz nada para eles.

— Eu sei. Por isso acho que somente estavam


sendo foras-da-lei. Mas eles não são dessa região,
então tenho que ver quem são quando eu sair daqui.

Ela respirou fundo, pensativa.

— Ser um lobo parece algo bem selvagem.

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— Sim. Somos pacíficos a maioria do tempo, a


não ser quando devemos defender nossa alcateia e
ocultar os segredos de nosso mundo.

— Entendo, porque não podem deixar que


ninguém saiba quem realmente são.

— Sim.

— E se algum humano descobre e os ameaça, o


que acontece?

— Geralmente arrancamos sua cabeça e o


enterramos ou jogamos no fundo de uma barragem
com algumas pedras pesadas em cima.

Ela ficou o olhando com os olhos arregalados e


tirou o pano molhado de sua testa.

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— Hum... Então por que eu ainda estou com


minha cabeça? Sou uma humana.

— Realmente é, mas penso que sua cabecinha é


muito linda para privá-la de seu corpo igualmente
lindo.

Ela quase suspirou e engoliu em seco, molhou o


pano e colocou em sua testa novamente.

— Porque não ofereci algum perigo para você.

“Porque é minha companheira.” Surgiu na


cabeça de Gael e ele franziu o cenho, mas ignorou.

— Porque não representa perigo e salvou minha


vida.

Ela sorriu sem jeito.

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— Foi meio sem pensar.

— Eu sei, mas foi corajosa. E louquinha.

— Bem louquinha.

Ele sorriu lindamente.

— Nosso mundo é meio complexo, Kally.

— Gostaria de conhecer.

— Vou pensar no seu caso.

Ela sorriu.

— Caramba, olha isso, como está cicatrizando


tão rápido...

— Sim.

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— Impressionante. Jamais na minha vida pensei


em ver algo assim. A sua aqui quase sumiu!

Ela tocou sua têmpora onde havia um corte, que


agora somente tinha uma suave linha.

Ele, de repente, segurou sua mão e ambos


ficaram se olhando fixamente.

A vontade de se beijarem foi tão forte que o


mundo deu uma espécie de blecaute.

Ela ficou olhando atentamente para seus olhos.

— Por que está me olhando assim, Kally?

Porque estava sonhando com um beijo e como


seria a sensação e como o achava tão lindo.

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— Seus olhos... são tão claros, quando o vi no


jornal eles eram escuros.

Ela foi se aproximando e, quando estava quase


encostando seus lábios nos seus, um trovão
retumbou e ela deu um pulo de susto. Então, ela riu
de vergonha e ele sorriu, mas se olhavam
novamente com a mente fervilhando de
pensamentos pecaminosos e Gael rosnou, porque,
Senhor, o tesão era demais e era o próprio inferno
se segurar para não derrubá-la no tapete e fodê-la e
fazê-la gritar de prazer.

Ele rosnou pelo cheiro de sua excitação deixá-


lo tonto e se afastou cortando o momento,
tombando no chão novamente. A febre devia estar
fritando seu cérebro, ou era o frenesi?

— Todos os lobos têm olhos assim?

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— Os lobos, na maioria, têm os olhos muito


claros. E para ocultar isso usamos lentes de contato.
Essa devia ter sido uma ocasião em que as usava,
no jornal.

— Hum... Bem, eu prefiro sem lentes. São tão


lindos, parece que estou olhando o céu em dia de
verão.

Ele sorriu, e gostou muito que ela gostasse.

Sem dizer mais nada, ela colocou as pedras


sobre seus chakras novamente.

— Fique quietinho e feche os olhos, para as


pedras fazerem seu milagre.

Ele assentiu e ficou quieto, com os olhos


fechados e ela reacendeu a lareira e ficou ali, o
zelando, o admirando.
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Prestou atenção desde seu cabelo, seu rosto,


cada pedacinho dele; como tinha o maxilar forte, os
lábios lindos, as pestanas perfeitas.

Seu corpo era tão perfeito, como se fosse um


assíduo de academia, mas tinha diferença dos boys
de academia comuns, ele era naturalmente
musculoso, não era bombado, tudo era
perfeitamente proporcional e deliciosamente
torneado.

Olhou suas tatuagens no braço e nas costelas


que subiam pelo peito, que o deixavam com um ar
mais selvagem. Havia alguns escritos com uma
língua que não conseguiu identificar, uma corrente
celta que rodeava o braço, um lobo, e mais alguns
arabescos. Sua barba era curta e muito bem feita e
morreu de vontade de tocar.

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Deslizou o olhar por seu corpo, descendo, e


piscou aturdida quando viu que por baixo do
cobertor ainda estava excitado. O ato a fez olhar
direto para seu rosto e seus olhos estavam cravados
nela.

Kally arfou do susto e não conseguiu desviar o


olhar do dele, com aqueles lindos olhos e ficaram
assim por um longo tempo, somente se olhando
com os pensamentos correndo soltos e
desgovernados.

Ouviu um rosnado baixo que vinha de sua


garganta, mas ele não se mexeu.

— Eu... vou preparar algo para comer, deve


estar com fome. Já é quase meio-dia, nem sei como
dormimos tanto e meu celular ainda está sem sinal.
Fique aí quietinho.

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Correu para a cozinha, como se estivesse


fugindo dele.

E ela deveria mesmo, porque Gael estava


desconfiado que o desatino que sentia se tratava de
um frenesi; e ele estava confuso, porque não
deveria sentir um frenesi tão forte.

As palavras de Ana dançaram na sua mente:


Sua companheira de alma virá.

Apesar de serem companheiros, quando Gael e


Ana se acasalaram eram mais amigos que
apaixonados, mas ele não tinha muitas fêmeas na
sua alcateia e escolheram ficar juntos; existia amor
e companheirismo, mas era calmo, tranquilo e raso.

Sua filha também vivia falando no assunto,


parecia que queria deixá-lo louco.

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Ele respirou fundo, porque se sentia cansado e


dolorido, seu corpo estava quente demais, parecia
que tinha lava correndo em suas veias e se sentia
doente, mas realmente era algo diferente de tudo
que já sentiu, porque já teve ferimentos antes, então
o que estava passando não era normal e nada
comparado como estar com ela ali. Ela era diferente
e exercia fortes reações nele.

— Merda... — sussurrou para si mesmo.

Kally foi até a porta da cozinha e ficou


espiando, sem que ele visse. Ela ainda não podia
acreditar que aquele homem que virava lobo estava
na sua sala.

E o olhando ali, parado na frente do fogo,


pensou que nunca tinha visto nada mais
desconcertante e lindo na vida. Era de outro

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mundo. Tinha encontrado um ser mágico e estava


tentando manter a calma, e não conseguia disfarçar
seu encantamento ou sua loucura de estar ao redor
dele. Seu senso de autopreservação tinha ficado
perdido lá no bosque.

Gael sorriu, porque percebeu que estava sendo


vigiado.

— Kally?

Ela se assustou virou e encostou-se à parede.

— Sim? Um momento, eu já vou... Merda...

Depois de um tempo, ela voltou com uma


bandeja, tirou as pedras de cima dele e colocou
várias almofadas, ajudando-o a ficar sentado.

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— Por que está me olhando com este sorrisinho


estranho? — ela perguntou.

Maliciosamente lindo.

— Estava me espiando?

— Eu? Imagina! Por que faria tal coisa?

Ele sorriu mais e ela ficou envergonhada,


desviando o olhar quente que lhe lançava.

Para espanto de Gael, ela lhe deu comida na


boca, um caldo com carne e um pedaço de pão e
um copo de suco de laranja.

— Desculpe, mas foi o que mais rápido que


tinha para preparar, depois eu prometo fazer um
bom jantar. Acho que assim algo mais leve vai te
ajudar a se recuperar e te dar força.
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Não ia, mas ele sorriu e deixou-a cuidar dele do


jeito que fosse, inclusive lhe dar comida na boca e
aquilo foi tão perfeito e maravilhoso que se ela
tivesse lhe dado um mingau de aveia com leite
azedo ou sopa de pedras estaria perfeito e sentiu
vontade de fazer o mesmo, alimentá-la, vê-la sugar
seus dedos com um suculento pedaço de carne.

Tudo atiçava sua imaginação depravada.

Depois de lhe dar comida, Kally comeu sua


parte, abasteceu a lareira e por diversas vezes
tentou usar o celular, mas o mundo estava muito
distante deles, estavam completamente isolados e
presos ali.

E quanto mais o tempo passava, mais íntimos se


tornavam e mais desejosos ficavam de se tocarem.

— Obrigado pelo que está fazendo.


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— É minha obrigação. Você salvou minha vida


daqueles lobos e está ferido e devo ajudar, não me
perdoaria se você morresse, já que não posso levá-
lo ao veterinário, quer dizer... um médico ou sei lá
o que use.

Gael sorriu com sua confusão. Realmente era


complicado e ela era formosa e corajosa cuidando
dele daquele jeito.

Kally se aproximou novamente, perto demais, o


que o fez gemer quando tocou seu peito ajeitando a
atadura.

— Desculpe, te machuquei?

— Não.

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Como podia dizer que era doloroso quando ela


chegava perto demais dele? Seu corpo inteiro
tremia.

— Seu olho brilhou, parece que está em curto-


circuito.

— Acho que tem outras coisas em curto-


circuito aqui — gemeu entredentes e depois
respirou fundo para tentar acalmar seu corpo.

Se fosse uma loba, ou uma conhecida,


namorada ou companheira já estariam embolados
no tapete num sexo selvagem, como os lobos eram
acostumados, principalmente os acasalados que
sofriam um frenesi mais intenso.

Mas ela não era e, apesar de não entender como


sentia algo tão forte se não estava acasalado com
ela, não podia tombá-la no chão e amá-la, porque
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não era dele e, para piorar, era humana. Tudo


errado, tudo errado.

— Merda...

— Você está bem? Está estranho. Está com


muita dor? Vou buscar mais analgésico.

Kally levantou, mas ele a segurou pelo punho e


ela se ajoelhou novamente. Gael respirou
novamente, sorriu e pegou sua mão, beijou a palma
de uma e depois a outra.

— Estou bem.

Ela ficou em choque, então ele ergueu os olhos


para os dela novamente e ambos se perderam ali, se
olhando.

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Kally sentiu seu corpo aquecer e, ao mesmo


tempo, um desejo tão desenfreado, que queria
beijá-lo.

Ficaram ali, a alguns centímetros de distância,


sem dizer nada, porque somente estavam se
admirando, espantados com aquela atração fora do
comum.

E então, ele o fez.

Passou a mão em sua nuca e a puxou para um


beijo e a sensação de choque foi tão arrebatadora
que ambos gemeram.

E os raios de trovões lá fora agora estavam


estalando dentro do peito de cada um.

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Foi um beijo selvagem, quente e poderoso que


os consumiu; sensações novas e desconhecidas
tomaram conta deles.

Gael soltou dos lábios dela e aturdidos se


olharam, sem saber o que dizer e o que estavam
sentindo.

— Por que fez isso? — ela perguntou aturdida e


ele engoliu em seco, inebriado.

Queria devorá-la, porque a atração que sentia


por ela era tão absurda que o deixou com a mente
turva.

— Foi um obrigado.

— Sempre beija as mulheres por aí quando diz


um obrigado?

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— Não, mas você eu vou beijar de novo.

Ele tomou sua boca novamente e devorou-a,


avidamente, explorando, consumindo, amando.

O sabor era maravilhoso, a sensação


avassaladora.

Tudo era demais e perfeito.

Ele deslizou suas mãos por sua pele e ela se


arrepiou. Tocá-la era tão bom, realmente prazeroso.
Afastou-se, com muito sacrifício, porque poderia
ficar a vida toda a beijando.

— Está com frio? — sussurrou sedutoramente.

Frio? Ela estava pegando fogo.

— Não, talvez um pouco.

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Não sabia o que estava sentindo, mas estava


acometida de uma espécie de êxtase. De um calor
que percorria pelo seu corpo e seu sexo estava
pulsante e sem tocá-lo sabia que estava molhado e
quente.

De repente pensou em como seria fabuloso se


ele a tocasse intimamente.

Ela gemeu porque as imagens pareceram tão


fortes em sua mente.

E o olhou, aturdida, quando ele rosnou e seus


olhos, Senhor, estavam brilhantes.

— Porra, mulher, se não parar com isso vou


saltar sobre você e vou fazer as coisas que estão
passando na sua cabeça e muito mais.

— O quê?
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— Está pensando em sexo, Kally.

— Oras, como pode saber?

— Mulher, eu sinto seu cheiro, está excitada e


pensando em sexo; e se não se afastar um pouco,
juro que é o que faremos, pois sua mente está
falando exatamente que quer isso.

Kally piscou aturdida e foi escorregando para


trás até encostar-se ao sofá e ele suspirou, porque
não queria dizer aquelas coisas, bem, queria, mas
não devia.

— Perdoe-me... eu não quis soar assim, rude. É


que meus instintos de lobo deixam o sexo mais
quente e eu acho que... porra, isso está me deixando
louco.

— Deixam?
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— Sim, os cheiros são mais fortes, o instinto e


desejo que sinto por você realmente estão me
deixando um pouco insano. Pelos deuses, isso é
realmente forte.

— Louco a ponto de pular sobre mim?

— Só se me pedisse.

Ela sorriu e sacudiu a cabeça. Estava ferrada,


sabia.

— O fato de estar na minha sala, nu, não quer


dizer que tem essa liberdade, ok?

— Ok.

— Posso até estar pensando, mas não seria


correto. Ok?

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— Ok.

Houve um grande silêncio e um tentou ignorar


o outro e sem saberem quanto tempo ficaram assim,
mas os olhares... Ah, estes não conseguiam segurar.

Ela sentou no sofá e pegou um livro e tentou ler


e ele ficou lá deitado e a cada minuto ela o olhava.

Ele sorriu, porque soube que ela não estava


conseguindo ler uma linha sequer.

Então, de repente, Kally fechou o livro num


baque e se deitou no sofá, escorada nas almofadas,
apoiando a cabeça na mão e o olhou.

— Fale-me sobre você, vive muito tempo no


bosque como lobo?

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— A maioria do tempo como humano, mas os


lobos necessitam estar na sua forma animal e correr
na natureza.

— Por quê?

— Algumas coisas que as lendas falam sobre


nós são verdadeiras, outras apenas lendas, mitos,
imaginação. Para nós, o que é inegável é o poder
que a natureza exerce sobre nós. É muito forte e
poderoso e nos dá força vital. Se um lobo fica preso
ou sem se transformar por muito tempo, ele morre;
sem tirar força da natureza, ele murcha, como uma
flor sem água.

— Vocês existem desde sempre?

— Desde antes de Cristo.

— É imortal?
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— Não.

— Por que a bruxa os criou?

— Porque sua rainha e seu esposo, o rei


nórdico, foram amaldiçoados e a única maneira que
ela encontrou de ter seu amado de volta foi nos
criando.

— Fascinante. Gostaria de saber mais.

— Tenho alguns livros antigos na minha


biblioteca, posso emprestar para você ler.

— Uivam para a lua, quer dizer, dependem da


lua para se transformar?

— Querida, não somos como a lenda dos


lobisomens que mostram nos livros e nos filmes.
Somos shifters.
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Ela sorriu lindamente.

— Isso é legal, porque os lobisomens dos


filmes são feios e grotescos. Você não, é majestoso
e lindo!

Ele sorriu, encantado com a força que ela disse


aquela simples frase. Kally o admirava, era
incrível, pois não tinha medo, era ousada, curiosa,
inteligente, bela como o inferno e ele daria tudo
para beijá-la novamente.

Era uma necessidade desenfreada e desde que a


tinha conhecido vivia excitado, dolorido, não
somente seu membro que estava o matando, mas
suas presas doíam e parecia que estava o tempo
todo sentindo um formigamento sob a pele.

— Preciso fazer algumas coisas e você precisa


dormir.
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Ele assentiu, porque realmente se conseguisse


dormir se curaria mais rápido. E assim passou a
tarde.

Quando ela preparou o jantar, dessa vez fez


algo mais reforçado: um arroz, uma galinha ao
molho, um pouco de feijão, salada de tomate e
couve refogada.

Ela o ajudou a levantar e era até uma ignorância


como que conseguiria tal feito, mas ele sentou à
mesa e jantaram.

— Isso está bom.

— Parecia faminto.

— Estava, mas isso estava realmente bom.

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— Não parece ser uma comida natural para ti.

— O que acha que eu como?

— Carne?

Ele riu.

— Gosto muito das comidas típicas mineiras,


da italiana e como bastante carne, nenhuma ração.

Ela riu e ele pegou sua mão e beijou o dorso.

— Obrigado pela refeição.

Ah, este homem existia? Pelo amor de Deus,


como podia ser tão cavalheiro, bruto e selvagem ao
mesmo tempo?

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Quando Gael terminou, ela o levou até o chão


novamente.

— Vamos para a cama, ficará mais confortável.

— Estou bem aqui.

— O chão está duro demais.

Duro estava ele.

— Ok, irei para a cama, está bem assim,


enfermeira?

Ela riu e assentiu.

— Obrigada por aceitar, cavalheiro.

— Eu poderia tomar um banho?

— Claro! Pode fazê-lo sozinho?


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— Pode me ajudar se quiser.

Ela o olhou e ele estava sorrindo


maliciosamente e ela riu e negou.

— Está me zoando.

Kally o levou para o banheiro e esperou no


quarto e preparou a cama, o ajudou a deitar
encostado nos travesseiros. Tratou de cobri-lo com
as cobertas rapidamente para esconder seu membro
excitado, mas não conseguiu evitar de olhar.

Logicamente que ele adorou vê-la olhá-lo de


esguelha e ficar com as bochechas vermelhas de
vergonha. Mas soltou um rosnado na garganta
quando percebeu o cheiro de excitação que vinha
dela.

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Gael não sabia se sairia com a cabeça normal


depois daquela estadia dos infernos, e temia que
aquilo fosse permanente, estava ficando louco e
recuar um tesão daquele frenesi maldito era muito
doloroso.

— Pode me contar um pouquinho sobre sua


história? Quer dizer, mais de como foram criados?

Ela sentou na beirada da cama e ele assentiu e


contou-lhe sobre as lendas de seu povo e como
viviam, de seus reis.

Para ter seu rei de volta, que virava um monstro


assassino tentando matar sua amada, a rainha havia
transformado a magia e a dividido para cada
homem de seu exército e assim eles receberam a
mágica de se transformar em lobos, mas com
consciência; eram muito belos, inteligentes e fortes.

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Apesar de todos os contratempos que seu povo


conheceu no decorrer de mais de dois mil anos,
haviam sobrado muitos lobos pelo mundo e ele era
um deles, um alfa de sua alcateia.

Ouviu tudo com atenção, com os olhos


brilhantes, cheios de encanto e fascínio e Gael
jamais pensou que uma humana acharia aquilo tão
maravilhoso.

Sim, ela queria conhecer seu mundo mágico,


um mundo encantado que sonhava pelos livros e
suas fantasias.

Kally sempre foi encantada com a magia do


mundo, sempre se dedicara em seus estudos para
entender os recursos sobrenaturais para aprender,

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crescer espiritualmente e entender o mundo e a


magia que a natureza fornecia, formando-se em
terapias holísticas.

E Gael MacDowell era um mistério no mundo,


um milagre, uma fantástica magia.

Era perfeito e lindo, e seu coração lhe pedia


tantas coisas agora. Coisas que não faziam sentido,
mas a sensação e a memória daqueles beijos que
trocaram a deixou confusa e sonhadora, mas
suspirou ao se sentir tão ligada a ele em sua forma e
era maravilhoso.

— Está com frio.

— Sim, acho que vou para a minha cama.

— Por que não deita na minha cama e se cobre?

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Ela ficou o olhando e sua mente deu uma


parada, que a deixou tonta.

— Aqui?

— Posso te contar mais histórias.

Ele não queria ficar falando, coisa que não era


seu gênero, mas se aquele era o jeito de fazê-la
deitar com ele naquela cama, faria. Em vez de
afastá-la para sua tortura findar, ele a queria mais
perto. Vai entender o que se passava com ele.

Meio sem jeito, Kally aceitou e foi ao outro


lado da cama e deitou, cobrindo-se, escorou a
cabeça na mão e Gael gemeu ao fazer o mesmo.

Soltou um arfado, porque a dor foi forte, mas


não importava. O sacrifício valeria a pena. Ficou de
frente para ela e sem saber de onde vinha tanto
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assunto, ele começou a falar sobre as minas e as


pedras, encantando-a mais e mais.

E, sem querer, embalada naquelas imagens e


pensamentos sonhadores, ela adormeceu, na cama
com ele.

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Gael acordou sobressaltado, sentou rapidamente


e gemeu pela dor que seus ferimentos causaram, ele
colocou a mão sobre as costelas, com certeza havia
algumas quebradas.

Então olhou ao redor para se localizar, um tanto


zonzo, e se lembrou de todos os acontecimentos.

Virou-se e a viu ao seu lado, docemente deitada


em um travesseiro e ficou ali, petrificado a
olhando.

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Deus Santo, aquela mulher estava ao lado dele,


mesmo sabendo quem ele era, e o tinha cuidado
como ninguém jamais tinha feito.

Sem fazer barulho, ele deitou de lado,


escorando a cabeça na mão e ficou a olhando
dormir. Suavemente, retirou as mechas de cabelo
que lhe caíam pelo rosto para poder vê-la melhor.

Passou a ponta dos dedos em sua bochecha e


sua mandíbula e sorriu, pois sua pele era tão suave
e ela dormia tão placidamente, como um anjo.

Puxou o cobertor para cobri-la melhor, para que


não ficasse resfriada e quis tocar em todo seu
corpo.

Ela era toda linda e ele estava inebriado,


encantado e o desejo se fez mais forte novamente.

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Era quase impossível evitar.

Gostava do jeito dela, inocente, mas era forte e


destemida, era pura e boa de coração. Ele nem
sabia quase nada sobre ela e parecia que a conhecia
uma vida toda e o interessante é que queria
conhecer tudo sobre ela, trazê-la para perto.

Acariciou sua bochecha com o dorso dos dedos


e inalou seu perfume, com os olhos fechados,
sentindo o impacto que causava no seu corpo,
inteiramente.

Não usava perfume em si, somente seu cheiro


natural e de seu sabonete e ele adorou. Queria
poder tocar sua pele com seus lábios. Sentir o sabor
dos seus beijos novamente, prová-la por inteiro,
devorá-la com fome e paixão.

A cabeça estava um pouco inclinada para trás e


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expunha o seu pescoço, que parecia tão delicioso,


que pedia beijos, lambidas e seus dentes afiados. Só
o pensamento disso fez seus olhos cintilarem e as
presas crescerem.

Ela estava deitada sobre a mão, sobre o


travesseiro e ele sorriu pelo jeito meigo dela.

Percorreu com o olhar seus cabelos longos que


caíam sobre os ombros e estava esparramado na
cama, como uma cascata de fios escuros e sedosos,
e seguiu pelo queixo delicado até os lábios cheios,
que ele não conseguia parar de pensar em beijar.

Gael estava tão inebriado, tão excitado como


nunca esteve e não conseguia atinar na sua mente o
que aquilo tudo significava para um lobo.

Aquele negócio de companheiras de alma


nunca existiu no seu vocabulário, mesmo que sua
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ex-companheira e sua filha acreditassem piamente,


e sempre fora focado demais no seu trabalho e em
colocar ordem na sua família e alcateia para querer
uma companheira e filhotes.

Bem, ele estava pensando agora. E tentou


afastar tais pensamentos.

A ereção estava dolorida e tocou a si mesmo e


gemeu pela dor e prazer que o gesto proporcionou,
seu membro estava inchado e quente, pedindo para
tomá-la.

Passou a língua em seus caninos crescidos e


sentiu como estavam doloridos. Eles nunca
estiveram dessa forma e crescido sem que ele
ordenasse.

A palavra acasalar dançava na sua mente.

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Mas que diabos?

Ali estava ele, dizendo a si mesmo que não


estava interessado em relacionamento algum, e seu
corpo reagia como se tivesse vida própria querendo
tomá-la como sua mulher.

Deslizou os dedos suavemente pela sua


mandíbula e ela deu um longo suspiro, abriu os
olhos e os dele foram atraídos para os dela como se
fossem ímãs.

Kally não se moveu, não se afastou e não parou


as carícias dele, pelo contrário, não achou errado,
queria que a tocasse.

Foi um encantamento inevitável para ambos.

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Obviamente, que se achou algum tipo de


pervertida, porque sua mente se moveu para Gael e
se perdeu completamente nele e aquele sorriso
arrogante que ele lhe deu enquanto estava quase
sobre ela, nu, e ela não evitava seus avanços.

Gostou como ele cheirava e seu cheiro


embriagava, cru e masculino, quando ele estava
cada vez mais perto.

A atração e aquele olhar foi tão intenso que ele


não conseguiu se conter.

Gael se aproximou mais, e baixou a cabeça, sua


boca indo de encontro à dela. Pressionou os lábios
contra os seus, sua língua encontrando a sua
urgentemente, sem nenhum senso de hesitação ou
perigo. Os sinos de alerta que badalavam dentro de
suas cabeças estavam sendo totalmente ignorados.

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Quando a beijou, seu coração parou de bater


por um instante. Ela se derreteu contra ele, perdida
em cada sensação, enquanto ele passava as mãos
pelo meu cabelo e deslizava pelas suas costas,
enviando arrepios na sua pele.

Então, tão rapidamente quanto começou, parou


e se afastou, sem fôlego.

Ela o olhou do mesmo modo,


interrogativamente.

Talvez ele estivesse esperando que Kally


reagisse, que o mandasse se afastar ou estava
esperando um sinal para que avançasse.

Antes que ele se afastasse mais, Kally passou


sua mão na nuca e o trouxe para mais perto e o
cabelo dele escorregou sobre sua testa e ela o achou
a coisa mais linda que já viu em toda sua vida.
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E somente queria que ele a beijasse de novo.

Devia ter dito isso em sua mente e ele a ouviu,


porque, sem dizer nada, os lábios de Gael tomaram
os seus, e ela o beijou de volta com toda a
excitação envolvida.

Seu corpo se derreteu contra o dele enquanto


suas mãos percorreram suas costas até seus quadris,
encontrando as bordas de sua calcinha e seu short
de pijama.

Percorreu seu corpo com a mão, deslizando-a


por suas coxas e logo ele a subiu, passando por
baixo da camisa e ele fez menção de tirá-la, porque
a queria nua para ele.

Kally começou a respirar com dificuldade,


sabendo o que aquilo implicava, hesitante.
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Se permitisse que a tirasse, as coisas ficariam


quentes e por um momento ela não soube se seguia
ou não.

Sua mente estava tão perdida por ele, que


queria que a tocasse. O fato de não conhecê-lo ou
ser um lobo era um agravante, mas o desejo falava
mais alto, porque se sentia febril perto dele.

Ergueu os braços e ele tirou sua camisa do


pijama e percorreu o olhar em seus seios, barriga e
a achou linda.

Rosnou pelos arranhados e roxos em sua


barriga e costelas e a olhou, tocando-as
suavemente.

— Dói?

— Um pouco.
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— Sinto muito.

— Eu estou bem. Não pare.

Gael fechou os olhos por um segundo e deixou


suas palavras entrar na sua alma.

Ele deitou sobre ela e estava como fogo e Kally


amou como se sentiu debaixo dele, protegida,
amada, desejada, porque o homem era intenso,
quente e delicioso.

Seu corpo cobriu o dela de forma completa e


era tão grande, másculo, que ela amou deslizar suas
mãos por seus músculos, sentir sua pele. E não
protestou quando ele tirou seu short e sua calcinha.

Ele estava hipnotizado por ela, assim como ela


por ele.

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Gael brincou com ela, excitando-a com suas


carícias, deslizando sobre a seu sexo que deixou
seus dedos molhados de sua excitação e a fez
gemer em sua boca, que a beijava quando provocou
seu clitóris.

O gesto enviou a excitação correndo pelo seu


corpo inteiro. Um choque de frio, de calor e energia
que parecia eletrizá-la.

— Está tão quente que quase queima meus


dedos, Kally.

Ela gemeu novamente eclipsada pelo prazer


enquanto ele empurrava seus dedos para dentro
dela.

Gael sorriu, porque achou maravilhoso fazê-la


gemer por ele e se sentiu poderoso e fascinado por
ela e queria lhe dar todo o prazer do mundo.
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Devorou sua boca, roubando seu ar e ela sentiu


seu membro em sua perna, grande, duro e
poderoso.

Aquilo deu um medo por antecipação, desejo e


desespero.

Não sabia direito o que estava fazendo, mas,


sem dúvida nenhuma, era bom demais para parar.

Os dedos de Kally se afundaram nos cabelos de


Gael, queria mais dele, queria acariciá-lo, trazê-lo
mais para ela, pois seus sentidos perturbados,
turvados, determinavam que perdesse o controle de
seu próprio corpo.

Arfou quando Gael se afastou de seus lábios,


mas ele o fez só para olhá-la melhor, porque
gostava de observar suas reações e depois sua mão
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provocou um ofego atrás de outro, enquanto subia


lentamente pelo ventre para lhe cobrir os seios.

Capturou um em sua mão e se inclinou para


acariciar o tenro mamilo com sua língua, antes de
colocar todo em sua boca.

Ela ofegou com o ato, e não percebeu sequer


que arqueava o corpo para aproximá-lo mais dela,
para conseguir mais, inconscientemente exigindo
mais.

Emitiu um grito de protesto quando ele parou


para retroceder outra vez.

Gael gostava de excitar e sua maneira lânguida


era uma tortura pecaminosa e deliciosa.

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Sua necessidade era excessiva, e nesse


momento não deixava espaço para puritanismos ou
moralismos, o que era certo ou errado, se podia ou
não.

Ofegava carregado de desejo e seus olhos


estavam um pouco brilhantes, o que o deixava mais
espantoso, mas mesmo assim ela não tinha medo.

Gael queria vê-la quase implorar por ele, para


que a possuísse.

Ela pensou que ele entraria nela sem demora,


porque geralmente homens não se importavam
muito com o prazer da mulher, dar-lhe prazer, pelo
menos seus namorados nunca foram bons nisso.

Sua virilidade ficou entre eles e pareceu a coisa


mais natural do mundo tocá-lo com a mão ao redor
daquele membro e estava pulsando e quente e Gael
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gemeu alto quando ela o acariciou para cima e para


baixo.

Ele aspirou com força e fechou os olhos para


sentir e amou seu toque, amou suas mãos nele.

Foi difícil de segurar-se, porque estava tão


excitado que poderia gozar com somente ela o
olhando, imagina tocá-lo daquele jeito.

Gael rosnou e afastou sua mão e a aprisionou


contra a cama, acima de sua cabeça.

Ela gemeu ante aquela contenção, mas a boca


de Gael se aproximou para tomar seu arfado e
mergulhar sua língua em sua boca, e depois seu
corpo desceu para abrir as coxas dela, e para ela já
nada importava, só aquele fogo que se dispunha a
atormentá-la.

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Ele inclinou-se sobre o seu pescoço,


percorrendo-o com a língua, Kally gemeu sob a
luxúria de seus lábios.

Passou a língua sobre seu mamilo ereto e, em


seguida, dobrando os joelhos diante dela, abaixou-
se para beijá-la em sua parte mais ardente.

Ela sentiu o calor de sua respiração escaldante


sobre seu sexo e ela gemeu com o impulso de
fechar as pernas, mas ele as segurou abertas e as
abriu mais.

Kally baixou o olhar para ver o que ele fazia e,


Senhor, podia morrer porque a visão era de outro
mundo. Ele a olhava com o olhar lânguido, quente
como o inferno, com sua franja grande caindo sobre
seus olhos.

Tão sexy, tão maravilhosamente quente, que ela


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se perguntou o que tinha feito na vida para merecer


ter encontrado um lobo, porque, Senhor, o homem
sabia o que fazia e sabia se mover e deixá-la louca.

Quando lentamente correu a mão por dentro de


sua coxa, ela não se retraiu ou se esquivou, desejou
que o fizesse.

Kally não tinha acanhamento, dúvida ou recato


e sua aceitação incondicional era mais erótica que a
sedução e até poderia ter agido diferente se fosse
outro homem, porque, apesar de ser uma moça
liberal, ela era muito reservada e nunca tinha
dormido com um cara na primeira vez que saiu,
mas ali o negócio era bem diferente.

Parecia enfeitiçada, amortecida e embriagada


pelo seu cheiro, pelo seu toque; havia ao redor dele
uma energia forte, mágica, como se fosse um ímã a

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envolvendo e ela estava presa, perdida


completamente pelo lobo.

Com infinita ternura, ele deslizou os dedos


sobre o macio triângulo de pelos que ela mantinha
bem curtos até as delicadas dobras quentes de seu
sexo que ele salivava por beijar.

Ao receber o toque íntimo de Gael, ela respirou


fundo, sentindo um prazer incrível, pois seu toque
queimava, e ele a tocava ainda a olhando,
provocando descaradamente seu sexo, cru,
depravado, quente, sentindo e explorando.

Observava-lhe o rosto como um predador, um


lobo, atento a cada resposta física ou emocional,
sondando de quando ir mais rápido, quando ir mais
devagar ou onde tocar.

Gemeu quando ele deslizou um dedo dentro


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dela e estava quente e escorregadia. Com o outro


dedo rodeou lentamente seu clitóris e as estrelas
cintilavam diante dela.

Gael abriu mais suas pernas e afundou sua


língua, enquanto um estremecimento percorria todo
seu corpo.

Ela quis afastar-se, porque a sensação de sua


boca e língua quentes beijando suas partes íntimas
foi demais para aturar, foi absurdamente quente e
ela não aguentou, mas ele segurou fortemente as
mãos em sua cintura, mantendo-a imóvel, e
saboreando-a de maneira mais íntima e poderosa.

Kally agarrou os travesseiros com força quando


ele abriu seu sexo com os dedos, e chupou com
força, colocou a língua no seu clitóris, dançou em

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volta dele de forma talentosa e ávida. Gritou, arfou


e gemeu como nunca fez. O homem era bom e ela
estava morrendo.

Gael rodou sua língua dentro do sexo dela,


então se afastou, lambeu seus lábios e gemeu com
os olhos fechados enquanto saboreava seu sabor.

A onda de necessidade que bateu nele naquele


momento foi maior do que qualquer coisa que já
tinha experimentado.

— Pelos deuses, mulher, você é deliciosa.


Nunca provei nada tão bom em minha vida.

Ela somente gemeu como resposta, porque sua


mente rodopiava a deixando mais tonta ainda.

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Gael se aproximou novamente e lambeu-a


lentamente, abertamente e ela gemeu desesperada,
porque estava na borda para ter um orgasmo.

— Sim, é assim que eu quero — sussurrou Gael


com um tom gutural, prisioneiro do êxtase, que
sentia ao dar a ela aquele prazer, porque vê-la e
senti-la assim o levou para o topo. — Goze para
mim, Kally.

Intensificou suas carícias porque queria vê-la


desmanchar-se por ele e levou apenas poucas
carícias para que a paixão transbordasse. Um
espasmo fez com que seu centro explodisse. Quente
como se tivesse jorrando lava em seu interior.

— Gael! — arfou desesperada e ele rosnou


porque foi uma carícia aos seus ouvidos ouvi-la
gritar seu nome, gemer e implorar.

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Ele a cobriu com seu corpo e a beijou


profundamente. Respirava agitado ao ver que Kally
fechava os olhos quando a tocava, rendida e
perdida.

Tinha beijado outras mulheres, feito sexo, mas


toda vez que beijava ela, diabos! Era descomunal.
Simplesmente estava apaixonado por sua boca, por
seu corpo, por tudo.

Cada vez que a olhava, arrebatava-lhe uma


parte do seu coração. Era uma coisa sem
explicação.

E aproveitando seu orgasmo, ele a penetrou.

Kally arfou segurando em seus ombros, porque


ele era grande, mas ela estava quente e
escorregadia, altamente lubrificada e senti-lo dentro

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dela foi algo inexplicável, sentia-se preenchida e o


prazer do que o ato causou era de enlouquecer.

Ele gemeu e trincou os dentes, fechando os


olhos fortemente quando entrou todo dentro dela e
a sensação foi como tocar o céu.

Gael desejou nunca mais sair dali e seu lobo,


sim, seu lobo enlouqueceu.

Os olhos dele cintilaram pelo extremo prazer


que sentiu e rosnou tão alto, que ecoou pelo quarto.

Kally estremeceu e ele a olhou e viu que a


assustou.

— Shhh, está tudo bem, querida, não tenha


medo de mim, não vou te machucar.

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Ela respirou, exasperada, e o olhou; ele beijou


seu nariz delicadamente e seus lábios e ela
automaticamente se acalmou e segurou seu rosto
entre as mãos.

— Está tudo bem?

Ela assentiu, ainda exasperada.

— É que não estou acostumada a isso.

— Com meus rosnados ou com o prazer?

Sim, não podia estar acostumada, porque aquele


tinha sido seu primeiro orgasmo na vida e ela tinha
vontade de chorar pelas sensações intensas que seu
corpo foi acometido, mal sabia conter gritos
histéricos e se manter digna.

— Ambos.
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— Mas eu gostaria que se acostumasse...


comigo.

Ela o olhou tentando entender o que ele queria


dizer, porque raciocinar estava bem difícil.

Se acostumar com ele?

Mal sabia que se envolver com ele era um


caminho sem volta.

Gael sorriu e beijou seus lábios para acalmar


seu temor, porque não queria assustá-la com sua
besta, queria somente aproveitar aqueles momentos
que tinham vivido ou viveriam, não sabia.

Beijou seus lábios profundamente, deliciou-se


com o sabor da boca macia, explorando-a,
recebendo-a, acolhendo-a. Tendo começado, não
podia parar, e traçou com beijos um caminho da
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face à orelha, onde desenhou caminhos com a


língua, enquanto se movia dentro dela, devagar e
aumentando seus embates.

Kally deu um gemido suave e profundo, Gael


desceu e descobriu o pescoço esguio, afastando
seus cabelos. Beijou-o, sentindo nos lábios a
garganta dela vibrando, quente e suave.

Aumentou seus movimentos, elevando os dois


juntos para mais uma onda de prazer.

Então rosnou, porque precisava de mais.

Tomou-a duro, profundo e rápido. Seus


músculos vaginais agarraram em torno dele e seus
gemidos ficaram mais altos, entrelaçaram seus
dedos, sobre o travesseiro, sobre sua cabeça,
movendo-se mais e mais.

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Ele gemeu alto e colocou a mão entre eles


movendo-se forte dentro dela e a estimulou no
clitóris.

Kally gritou seu nome e ele podia sentir seu


clímax. Gael jogou a cabeça para trás e permitiu a
sua libertação vir.

O uivo que saiu de seus lábios entreabertos foi


inesperado, mas ele não se importava, pois
ninguém poderia ouvi-los.

Segurou com uma mão na cabeceira da cama e


a madeira estalou debaixo dos seus dedos.

Ela convulsionou debaixo dele e ele não podia


silenciar sua reação. Soltou algumas imprecações
entre sua respiração difícil e seus caninos

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aumentaram lhe causando dor e foi imensamente


difícil segurar seu lobo para não mordê-la e
reivindicá-la como sua.

Entre rosnados, gemidos e convulsões, ele


soltou sua liberação dentro dela, quente, másculo,
forte, tão forte que a sala pareceu rodar.

Mas ele piscou aturdido quando olhou ao redor


e sua magia desatou sozinha, navegando ao redor
dele como uma onda.

Ele sabia o que era porque tinha ouvido sobre,


mas nunca tinha desatado sua magia assim e nem
tinha visto suas nuances coloridas como um arco-
íris, as novidades não paravam de chegar e era
assustador.

— Merda, Gael, controle-se! — sussurrou


entredentes para si mesmo, fechou a mão em punho
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agarrando o lençol e suas garras que haviam


crescido rasgaram o mesmo.

Ele xingou mentalmente e ordenou que elas


voltassem ao normal, pois não queria assustá-la. O
que pensaria, que estava transando com uma besta
que não sabia se controlar? E ele não estava
sabendo realmente.

Quando tentou voltar a si, ele a olhou, cansado,


tremendo e respirando com dificuldade. Amou
olhá-la.

A pele molhada de suor, clara e perfeita, era


deliciosa.

Gael lhe deu diversos beijos no rosto, pescoço e


em seu colo e provocou o mamilo com a língua, e
em resposta o corpo inteiro de Kally estremeceu.

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Primeiro ele beijou um dos seios, depois o


outro, enquanto acariciava as curvas sutis de seus
quadris. Sua pele era lisa e macia como a seda.

Parou por um instante para tomar fôlego,


embriagado de êxtase.

Caiu para o lado e assim ficaram por longos


minutos, cada um administrando seus sentimentos e
seus corpos, então, para espanto dela, ele a puxou
para si, abraçando-a.

Kally deitou-se no peito de Gael até que sua


respiração voltasse ao normal, tocando a tatuagem
de um pássaro que tinha no peito.

— Está bem, Pequena?

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Ela amou como a chamou de “Pequena”, ficou


tão sexy, falando com a voz rouca e mansa. Estava
bem? Sim, estava mais que bem.

Então abriu os olhos e olhou para ele.

— Eu nem sonhava que tal prazer existisse —


ela sussurrou.

— Nunca conheci prazer maior que o de


proporcionar isso a você — disse ele com
sinceridade.

— Foi incrível!... Por algum motivo sempre


amei lobos.

Ele riu e a beijou.

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— Eu nunca fui fã de humanas, mas devo


confessar que abrir uma exceção para você foi
realmente prazeroso.

— Hum... você deve ter muitas mulheres


querendo um pouco de sua atenção.

— Um pouco, mas não sou nenhum leviano


inconsequente.

— Nem pode, eu entendo. Precisa ter cuidado


com quem deixa se aproximar de você. Por duas
razões.

— Duas?

— Uma, porque não pode confiar que a mulher


em questão protegeria seu segredo, que entenderia
como é sua vida de lobo; e outra, pelo seu dinheiro.

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Há muitas pessoas gananciosas que querem dar


golpes em milionários.

— Sim, está certa. E você não é assim, é?

— Não, porque gosto do seu lobo e sua mágica


e jamais desejaria tal mal a alguém. Se diz que tem
que ficar oculto, respeito isso.

— E não quer me dar o golpe?

Ela riu e o beliscou, fazendo-o rir.

— Não, não quero dar o golpe, porque não


pretendo me casar.

— Por quê?

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— Tenho um estilo de vida, gosto de minha


liberdade e um marido que não entende meu
trabalho me atrapalharia. Tive uma experiência
ruim uma vez e preferi meu trabalho. Estou feliz
com minha loja e meus pacientes, não quero que
ninguém estrague isso.

— Esse homem era um idiota, porque você tem


o dom para isso e ele deveria respeitar.

— Sim, se algum dia encontrar alguém que


entenda o que faço e não me coloque para baixo,
posso até pensar no assunto, alguém que me ame de
verdade e não somente para mostrar aos outros que
casei. Não devo nada a ninguém e sempre fui
independente, comecei a trabalhar muito cedo para
ajudar minha mãe.

— Sua família?

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— Somos só eu e minha mãe. Ela é professora


aposentada e gosta das mesmas coisas que eu, então
me incentiva.

— E seu pai?

— Meu pai nos abandonou quando eu era bem


pequena e nunca mais o vi. Tenho uma prima, que
é minha amiga, e o resto são parentes, que os
prefiro lá e eu cá. São pessoas ótimas, mas não
gosto que fiquem dando opinião na minha vida.
Sabe como tias gostam de ficar perguntando: E aí
vai casar quando? Está ficando velha, não vai
casar? E não quer filhos? Tá na hora de ter
filhos... Por que ainda não casou? Blá-blá-blá... —
imitou zombeteira a voz de suas tias, fez uma
careta e ele riu.

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— Entendo. Família às vezes pode ser


complicada.

Sim, ele entendia bem, porque faziam


exatamente estes tipos de perguntas para ele e sabia
que havia sussurros pela alcateia. Quando ele
tomaria uma nova companheira e teria um
herdeiro?

— Sim.

Ela suspirou e deslizou a mão em sua barriga e


olhou horrorizada sua mão suja de sangue.

— Oh, Jesus, olha isso!

Ele se olhou e havia sangue em um dos seus


ferimentos do peito e da barriga. Já havia se curado
bastante, mas não o suficiente pela gravidade deles.

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Xingou baixinho, porque deveria estar


descansando e não estar fazendo sexo com a moça
do sítio, no meio do nada, que salvou sua vida.

Suspirou e acariciou o rosto dela, porque ela o


olhava realmente horrorizada.

— Não sente dor?

— Dói um pouco, mas não é nada de mais.


Estou bem, Pequena, um pouco de sangue e dor não
vão me matar.

Doía como o inferno, mas ele faria qualquer


sacrifício para tê-la em seus braços. A dor era o de
menos.

— Pelo amor de Deus, como pode falar algo


assim?! Se vocês lobos são acostumados a ficarem
se estripando, eu sou uma humana, bem monótona
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e centrada e isso aí não está certo. Você deveria


estar descansando e não fazendo sexo para abrir
seus pontos. Ai... Jesus, eu fiz sexo com um lobo...

Ele piscou aturdido pela constatação dela e ela


o olhou com os olhos arregalados.

— Fez sexo com um homem e isso não tem


nada de mais — ele disse com seu humor indo
embora.

— Oh, mas eu não disse que era ruim, eu disse


que bem... eu não sei o que disse. Mas foi bom,
bom demais e... — resmungou palavras inaudíveis
e suspirou.

Ela tocou o rosto dele e sorriu e o humor dele


melhorou.

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— Desculpe, não quis ofendê-lo, somente que


isso tudo é forte e rápido demais e estou meio
confusa. Mas eu amei o que fizemos e está tudo
bem. Deixe-me trocar seu curativo e então farei um
café para nós, ok?

— Eu deixo.

Ela sorriu e beijou seus lábios.

Um trovão ecoou, ela arfou e o abraçou; e então


olhou Gael, que já a olhava fixamente daquele jeito
que quase a derrubava.

— Daqui a pouco sairemos de canoa daqui.

Ele sorriu lindamente e beijou seus lábios.

— Ficar aqui dentro com você está muito bem


para mim.
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Ela sorriu abertamente e respirou fundo.

— Também acho. Banho primeiro, curativos,


comida.

— Boa ordem.

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Gael chegou à cozinha seguindo o cheiro de


café fresco e pão de queijo quente, estava
mancando pelo ferimento em sua perna.

Sorriu quando a viu arrumando a mesa. Estava


linda e fresca, realmente parecia mais bonita do que
nunca, com uma simples legging preta e uma blusa
de tricô bege, comprida até suas coxas.

Ela parou quando o viu e ficaram se olhando.

— Se sente bem? Posso levar o café na cama.

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— Estou bem.

— Estou tão chocada como se cura rápido.

— Sim, se não o tivesse feito não teríamos feito


sexo, porque estaria estropiado, apesar de ainda
estar um pouco, minhas costelas doem quando me
movo.

— Agradeço por isso, mas me sinto um pouco


culpada.

— Não sinta.

Ela sorriu ao vê-lo com os cabelos molhados e


enrolado no cobertor e sabia que por baixo estava
nu, e tentou evitar que a visão ficasse dançando na
sua mente, mas foi meio impossível.

— Sente-se aqui.
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Ele sentou e ela lhe serviu o café.

— Não tenho muitas coisas finas para te


oferecer.

— Está perfeito.

Sorriu, porque pensou que ele seria esnobe,


metido a rico, arrogante, mas não era.

Isso só a fez se encantar mais por ele.

Ainda estava esperando encontrar algum grande


defeito nele.

Suspirou e tentou afastar o pensamento, pois


era um negativo e seu trabalho mental sempre era
de não pensar em coisas negativas.

— Eu não tenho uma roupa para te emprestar.

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— Isso é um problema, terei que ficar nu ou


continuar enrolado nesse cobertor — disse
comendo uma torrada e bebendo um pouco de café.

— Bem, eu trouxe meu roupão e ele é bem


grande, pode ficar com ele.

Ela foi até o quarto, procurou nas suas roupas e


deu a ele, que vestiu e ela riu.

— Ficou um pouco pequeno.

— Sim, olha o seu tamanho e olha o meu.

— Você é muito alto, já pensou em jogar


basquete?

— Estou um pouco velho para isso. — Ele riu,


tirou o roupão e se enrolou no cobertor novamente.

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— Terá que voltar para casa em forma de lobo.

— Sim, como vim.

— Sua casa é longe?

— Não muito. Estou na fazenda aqui perto,


depois do morro.

— A fazenda que tem aquelas bois enormes e


brancos.

— Sim, uma pequena criação.

— É muito bonita.

— Eu a comprei há muito tempo e pretendo


comprar esta aqui também.

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— Pretende? Oh, meu tio disse que tinha


interessados por estas terras, não sabia que era
você.

— Fiz uma proposta, mas ele parecia relutante


em vender.

— Era a casa que ele cresceu, onde viviam seus


pais, deve ter muitos sentimentos por este lugar.
Por que a quer?

— Como estas terras são divisas com as


minhas, eu quero ampliar o bosque para os lobos,
fazer uma reserva.

— Para os lobos?

— O bosque é bem fechado e ficaria em terra


proibida a entrada para pessoas por ser uma
reserva. Aqui ninguém viria, seria propriedade
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privada e meus lobos e eu, principalmente,


poderemos ficar no bosque sem que sejamos
perturbados ou pegos de surpresa transformando-
se.

— Tem muita vigilância para deixar os


humanos fora?

— Sim, muita.

— Você gosta do que faz, quer dizer, esse


negócio de mineração?

— Gosto, meu pai começou este negócio e eu o


segui, é o que nos mantém por aqui. Garimpo é
algo complexo e perigoso, deve ser tratado com
responsabilidade, pois temos que preservar a vida
dos garimpeiros e o meio ambiente, o que é bem
difícil.

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— Olha, sem querer ofender, mas as


mineradoras não estão em alta estima de ninguém
não, porque sempre estão envolvidas a algo ilegal e
não se importam com a natureza.

— Eu sei que sim, conheço muitos deles,


inclusive esta que anda causando grandes desastres
tem sido meu pé de guerra desde sempre.

— Como assim?

— Eu luto contra o garimpo ilegal, barragens


com rejeitos perigosos e roubos, saques e qualquer
coisa que possa matar o meio ambiente, contaminá-
lo. É algo complexo e difícil; apesar de eu ter
interesse no garimpo e ampliação de meus negócios
e novas descobertas, eu tento preservar o máximo
do meio ambiente que posso.

— Ah, sério? — indagou descrente.


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— Eu sou um lobo, querida, e como um ser da


natureza, tiro energia dela, meus lobos vivem aqui
e minhas terras e meus garimpos são seguros e
responsáveis. Tenho área de recuperação e
reflorestamento, despoluição de lagos e cascatas,
preservo as sangas e nascentes e tenho área de
reserva ambiental onde humano nenhum tem
permissão de entrar com espécies raras e em perigo
de extinção. Nenhuma de minhas barragens irá se
romper, nunca, jamais, porque você não encontrará
nenhum material de segunda linha, não há
vigilância relapsa e são vistoriadas constantemente,
seguindo todas as normas de segurança. E se caso
algum acidente aconteça, temos um plano muito
rigoroso para auxílio das famílias que trabalham
conosco.

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Kally ficou o olhando com os olhos


arregalados.

— Wow, isso me impressiona.

— Não acredita em mim?

— É que cuidar da natureza e trabalhar com


minas parece meio contraditório, pelo que temos
visto acontecendo, com tantas tragédias e estas
mineradoras ficam impunes, fazem e acontecem
sem serem punidas; o estrago que fazem, a
destruição tanto na vida das pessoas quanto na
natureza e não se importam nem um pouco. E a
justiça é relapsa e corrupta, que não é rigorosa com
eles, assim sempre acham que podem fazer o que
querem e saírem ilesos. Veja o que aconteceu nos

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últimos desastres onde saíram impunes, não foram


sequer presos, tanta desgraça e tudo ficou por isso
mesmo.

— Parece, mas quando se tem interesse de


preservar ao mesmo tempo em que posso lucrar,
então sim, eu faço.

— Por que os outros não fazem, se é possível?

— Porque eles agem somente pelo lucro e


ganância, não se importam com a vida das pessoas
e nem do meio ambiente, ao contrário dos lobos.
Nossas reservas são nossa vida, lugares seguros
onde podemos nos transformar e correr sem que
humanos nos vejam e não quero manter aqueles
lugares que foram explorados daquela forma feia

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que fica, procuro recuperá-los o máximo possível.


Já neguei de abrir lavras em lugares que matariam
nascentes e outras coisas.

— Fico tão feliz de ouvir isso, porque essa


ganância dos mineradores está matando Minas
Gerais.

— Eu sei, mas você nunca vai ouvir que minhas


empresas são responsáveis por alguma calamidade.
Este é meu lar e o de minha alcateia e pretendo que
ela esteja a mais saudável possível e quem eu devo
proteger esteja seguro.

— Isso é verdade?

— Eu não minto, Kally.

— Bem, mente um pouquinho, porque não diz


às pessoas que é um lobo.
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— Esse pouquinho sim, mas é porque disso


depende nossa sobrevivência. Mas sobre o resto,
jamais mentirei. A natureza é o lar de um lobo,
então devo cuidar do meu lar, mas a mineração
exige certas agressões, são ossos do ofício, mas eu
te prometo que sou cuidadoso.

Ela sorriu.

— Fico orgulhosa de você, Gael.

Orgulhosa? Seu peito estava inflado de orgulho


e sabia que suas palavras eram verdadeiras e faziam
total sentido por ser um lobo.

Kally sorriu, respirou fundo, tentando conter a


vontade de pular em seu pescoço e beijá-lo.

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E por que deveria, pelo jeito que o olhava


enquanto comia, e ele sentiu uma vontade enorme
de alimentá-la ao vê-la pegar o pedaço de queijo de
seus dedos.

Ele a pegou pela mão, a fez levantar da cadeira


e sentar em seu colo. Isso a espantou, ambos na
verdade, mas foi delicioso tê-la sobre suas coxas e
automaticamente o cheiro que ela exalava o fez
ficar duro. O perfume do seu xampu era delicioso.

Ele rosnou baixinho e beijou seu pescoço.


Colocou manteiga num pedaço de pão e colocou na
frente de sua boca e o olhando intensamente pegou
o pão, lambendo seus dedos no processo, e isso o
fez rosnar baixo em sua garganta.

Ela pegou um pão de queijo e deu um pedaço a


ele.

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— Hmmm... isso é bom.

— Eu que fiz, gosto de natural e não do


congelado.

Ele rosnou.

— Isso que faz é sexy. — Beijou sua bochecha,


acariciando sua barba macia.

— Acha meu rosnar sexy?

— Sim.

Ela o beijou docemente, acariciando seus


lábios, suaves carícias que o fez fechar os olhos.
Oh, doce céu, ela era tão meiga, doce e selvagem
quando queria, que deixava sua cabeça dançando
num mar de prazer, em todos os níveis.

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Kally era capaz de colocar seu lobo em


calmaria, cativar seu duro coração. Seus abraços e
suaves carícias eram perfeitos.

Ela respirou fundo se afastando, mas era uma


missão bem difícil parar de tocá-lo.

— Preciso pegar lenha para alimentar o fogo.

— Eu pego.

— Não, fique aí tranquilo e termine de comer,


não precisa carregar peso.

— Se eu consegui ter sexo bom esta manhã,


creio que posso pegar alguns paus de lenha.

Ela riu e ficou vermelha de vergonha.

— Você é um descarado.

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— Não me lembro de te ver envergonhada


antes, lá na cama.

— Gael! — Ele riu. — Não acredito que


estamos assim...

— Por quê? Assim como?

— Acabei de te conhecer e estamos nessa


intimidade, como se namorássemos há dois anos.

Ele respirou fundo.

— Estou com a mesma sensação, mas já que


estamos presos aqui, eu não vejo um jeito de parar
de te tocar, ainda mais agora que estive dentro de
você. Isso vai se repetir, espero que muitas vezes.

Ela arfou e levantou e o olhou com os olhos


arregalados.
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— Minha nossa, você não tem trava nessa


língua!

— Mas você gosta.

— Jesus!

Ele sorriu enquanto colocou mais um pedaço de


pão de queijo na boca e deu um pedaço a ela
rosnando do prazer que sentiu de ela pegar a
comida de sua mão, olhando para ele.

Em outra ocasião, Gael estaria já bem longe


dela e daquela situação, mas não estava nem um
pouco inclinado a deixá-la.

A sensação de posse, de querer ficar perto dela


e repetir o sexo, os beijos, alimentá-la, que era um
ato realmente prazeroso para os lobos e que nunca

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tinha feito com suas amantes e tudo o mais, nem


com sua falecida companheira, estava tomando
conta dele.

“Acho que você encontrou sua companheira,


alfa”, ele pensou e a constatação não o amedrontou.

Ter uma companheira não era algo que tivesse


planejado, pelo menos por enquanto, mas já que a
tinha encontrado, não a deixaria escapar. Ele era
muito prático e não gostava de jogos nem
enrolação, se era assim nos negócios também era
com suas amantes, então seria com ela também. Ou
iria embora e a deixava para trás para somente ser
uma transa e nada mais ou a tomava como sua. Era
simples. E ele sempre tomava o que queria.

Ela era linda, boa e o aceitava.

O que poderia ser mais perfeito que aquilo? Ele


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sorriu ao se lembrar de como amou possuí-la, dar


prazer a ela, de como Kally se entregou sem
ressalvas para ele, sem medo e com paixão ardente.

Ela piscou aturdida quando o olhou e Gael a


olhava sério com os olhos derramando desejo e o
rosnado deveria ser animalesco e assustador, mas
achou a coisa mais sexy do mundo.

Por Deus, ela engoliu em seco e gemeu, porque


seu sexo palpitou de desejo.

— Porra, mulher, pare com o que está fazendo


se não quiser que a debruce nessa mesa e te foda.

Kally abriu a boca de espanto de suas palavras


depravadas, mas a cena invadiu sua mente e gemeu
porque sentiu mais desejo ainda.

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Ele rosnou e fechou os olhos, porque o cheiro


de sua excitação atingiu suas narinas e seu lobo
ficou louco dentro dele, o que o fez gemer de novo.

— Se não parar vou te beijar e todo o resto.

— Hum... eu sinto muito, quer dizer, eu... não


sei parar, porque meu corpo está reagindo
involuntariamente e minha mente não para de girar
e pensar em sexo. Isso parece bem depravado.

— Gosto que soe depravado.

Para tentar cortar o nervosismo e a cena que


tentava se montar, ela desviou o olhar.

— Precisa se alimentar, lobo, precisa de mais


forças para se curar. Tome, coma mais pão de
queijo.

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Ele sorriu, lentamente, de forma sexy, que a


deixou tonta e o achou lindo demais para sua
sanidade mental. O homem era sem precedentes.

— Prefiro comer outra coisa.

Gael escorregou os lábios pela sua mandíbula


como uma carícia, pela bochecha e deslizou para
seus lábios, tocando-os levemente. Empurrou as
louças do café para o lado, pegou-a com as duas
mãos pela cintura e a sentou na mesa.

Ela arfou, mas não teve tempo de protestar,


porque ele invadiu sua boca num beijo quente, que
a queimou de cima a baixo.

Gael deslizou a mão de sua cintura por baixo da


blusa e segurou seu seio, espremendo o mamilo
entre os dedos. Kayli arfou abrindo a boca, o que
ele aproveitou e a beijou mais profundamente;
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então se afastou, a olhou nos olhos e baixou a


cabeça com um sorriso, que dizia mil coisas
depravadas que tinha a intenção de fazer.

Com os dentes puxou a borda da blusa e,


quando avistou seu seio cheio e eriçado, pedindo
para ser beijado e reverenciado, ele o fez.

Kally agarrou-se a ele nos ombros, porque


pensou que poderia ter um orgasmo somente de ele
fazer isso.

Gael fez a sua reverência em seus seios,


beijando, sugando e raspando seus dentes que
estavam aptos para uma mordida de lobo.

Nunca tinha havido uma conexão assim com


qualquer outro homem. Nunca, nada que a fizesse
se sentir tão bem. Como se tudo o que vinha

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procurando se unisse aqui, com este homem, neste


lugar cheio de estranhos habitantes.

A última coisa que pensou na sua vida era


encontrar um amante lá no meio do mato. Um
homem maravilhoso, poderoso, cobiçado e
milionário, mas o pior não era isso, era ele ser
mágico e se transformar em lobo.

E ela o desejava como jamais desejou ninguém


na vida, não tinha medo dele, tinha a mais profunda
admiração.

Estava sendo louca? Totalmente. Mas danada


fosse se ela deixaria de aproveitar aquele deus de
outro mundo e ser tratada com tanto cuidado e
devoção como que ele fazia com ela.

Depois iria embora e tudo ficaria numa linda


história vivida em suas férias.
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Kally estava perdida ali naquele momento


quente do inferno, jogada no calor do pecado
pedindo mais e mais, mas ele rosnou alto a
assustando e a tirando de seu delicioso deleite.

— O que foi?

— Lobos!

— O quê? Onde?

Gael ajeitou sua blusa e a tirou da mesa, jogou


o cobertor sobre os ombros, que havia caído, se
virou e logo rosnou novamente e alto, que quase
fez a casa toda tremer e ela o seguiu e saíram para a
varanda.

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Ele ouviu o grito dela, que o fez olhá-la e


depois para o grupo de lobos que estavam se
aproximando na frente da casa, olhando-os
perigosamente.

Ela correu e ficou atrás dele, agarrando seu


braço, pois sentiu medo e pensou que os lobos os
atacariam.

— Lobos, são os mesmos lobos que te


atacaram? Venha!

Ela o puxou pelo braço para entrar na casa.

— Eles não vão te machucar, querida.

— Vamos, mexa-se, vão sim, não pode lutar


com eles de novo, pois ainda está muito debilitado,
seus ferimentos não estão curados. Lembro que

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tinha uma espingarda na casa, vamos procurá-la e


nos trancar lá dentro. Mova-se, Gael!

Ele não se moveu e o esforço dela de puxá-lo


era inútil, pois ele parecia mais uma montada
cravada no chão, mas apreciou como ela queria
protegê-lo dos lobos, mesmo sendo quase metade
de seu tamanho.

O lobo enorme de pelos dourados com mechas


marrons, que tinha olhos iguais aos de Gael e que
vinha na frente, rosnou arreganhando os dentes e
mais uns dez vinham atrás, espalhando-se de
maneira estratégica.

Ela pegou um pau de lenha que estava


empilhado na varanda e jogou no lobo, que se
esquivou e ela jogou mais dois.

— Saiam daqui, lobos! Deixem-no em paz!


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Gael, mova-se, precisa entrar! Eles não podem te


machucar de novo!

Ela tentou puxá-lo novamente e o lobo rosnou.

— Pare de rosnar para ela e fale na sua frente,


Gabriel, ela sabe que sou um lobo.

O lobo pareceu confuso, o que deixou Kally


confusa. O que ele tinha dito?

Então, o lobo que estava mais na frente rosnou


e se transformou em um glorioso homem de
cabelos loiros e algumas mechas mais escuras com
o cabelo até o ombro, uma barba cerrada, com
lindos olhos azuis, e então, mais um e mais outro se
transformaram.

Kally arregalou os olhos e arfou olhando para


eles, todos nus e muito parecidos um com o outro.
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Sentiu suas pernas amolecerem e se agarrou ao


braço dele, pois pensou que tombaria.

— Contou a ela a verdade? — o loiro


perguntou.

— É corajosa, apesar de ser humana — disse o


outro.

— Por que está enrolado num cobertor e cheira


a sangue e ela... está te defendendo? Quem o feriu,
alfa?

— Ela sabe e me salvou da morte — Gael disse.

Os arfados de espanto e as diversas perguntas o


irritaram um pouco.

— Uma humana te salvou?

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— Ora essa.

— Todos estavam aflitos te procurando, pois


não estava na fazenda, não estava com o celular e
nem sequer se deu ao trabalho de dar um
telefonema e está aí com uma humana, contou de
nós a ela e acha que está tudo bem? — Gabriel
disse.

— Há sangue no bosque.

— Santo Deus do céu! — sussurrou assustada.

Gael olhou para ela e tocou seu rosto, fazendo-a


olhar para ele.

— Calma, Pequena, eles não vão te atacar, são


minha alcateia, minha família.

— O quê?
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— Estes são meus lobos, vieram por mim.

A cabeça dela começou a girar ainda agarrada


no braço dele.

— Eles parecem bem íntimos pra mim — um


dos lobos disse.

— E nós pensando que estava encrencado e


tivemos que vir em sua caça.

— Querem parar de debater minha vida e


infortúnios, como se fossem um bando de comadres
fofoqueiras?

— Irmão, estávamos preocupados, pensamos


que encontraríamos somente sua pele e suas tripas
estiradas no mato — Gabriel disse rindo e Kally se
espantou com seu humor e Gael rosnou de forma,

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que parecia uma advertência, o que também


pareceu não abalar o lobo bonito nem um
pouquinho.

— Mas pelo que estou vendo e pelo cheiro, está


mais na esbórnia do que em perigo — o homem
que falou isso sorria e ela piscou aturdida, o
olhando.— Cuidado com a boca, irmão, poderia te
arrancar a cabeça se desrespeitar minha
companheira.

O homem arfou e piscou aturdido; e o outro,


mais atrás, soltou uma gargalhada.

— Companheira? Caramba, está mesmo em


uma confusão, não é, alfa?

— Sim, lembre que sou seu alfa e também seu


irmão mais velho e posso te colocar de castigo,
filhote.
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O homem riu de novo e mais alguns lobos se


transformaram, o que deixou Kally mais atônita.

E ainda não sabia como não estava desmaiada


no chão, mas seu coração batia tão rápido que
estava a deixando ofegante. E piscou aturdida ao
ver que dois deles eram exatamente iguais, dois
belos loiros de olhos azuis.

— Estávamos preocupados, irmão, soubemos


que o bando estava na cidade e como não atendeu
ao telefone, viemos atrás, vejo que está machucado.

— Sim, eu topei com eles atacando Kally, não


muito longe daqui.

O homem soltou um palavrão.

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— E em 24 horas você encontrou uma humana,


teve uma luta com um bando de párias e
reivindicou uma mulher. Muito ousado para você.

— Assim foi, ela cuidou de meu lobo e ela tem


que ser cuidada, entendeu?

— Sim, alfa — disse com o cenho franzido.

Kally ficou vermelha quando todos eles


olhavam para ela. Não sabia o que fazer.

— Kally, estes são meus irmãos. Gabriel, que é


meu beta. Aquele é Dario e o tolo ali, que não tira o
sorriso da cara, é Douglas.

— São gêmeos?

— Sim.

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— Lobos gêmeos... fascinante...

— O sério lá atrás é Michel, meu genro.

— Genro? Tem uma filha casada? — Olhou-o


espantada.

— Sim.

— Você é casado? — perguntou mais


espantada ainda.

— Sou viúvo.

— Oh...

Ela demorou um pouco para assimilar tanta


informação. Aquilo parecia tão fora do prumo e
cada informação era mais bombástica que outra.

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— Oh, olá, prazer em conhecê-los — disse um


tanto ressabiada, mas sorriu para ser simpática.

Não podia negar que estava atordoada com


todos eles. Que família abençoada, eram todos
lindos, altos e fortes; até o rapaz mais novo e
menos musculoso era divino.

— Isso é tudo verdade ou estou sonhando?

Ele sorriu e pegou em seu queixo e a fez olhar


para ele novamente.

— É de verdade, já que sabe quem sou, acho


que pode saber de tudo.

— É tão...

— Espantoso, eu sei.

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Kally assentiu e respirou fundo, estava


tremendo e então olhou para eles novamente, mas
olhou para o chão porque vê-los nus não era
correto, apesar de delicioso.

— Vocês... gostariam de uma xícara de café


quente? Estão encharcados e vão se resfriar.

A chuva começou a ficar mais forte novamente


e Gabriel sorriu.

— Aceito o café.

— Oh, ok.

Gael rosnou e olhou para ela.

— Se está com medo deles, eles podem ir


embora, Kally.

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— Oh, não, quer dizer... são assustadores assim


todos juntos, mas... é que...

— É o quê?

— Estão todos nus — sussurrou envergonhada


e com um pouco de medo.

Ele sorriu lindamente e os rapazes riram e Gael


olhou para eles com o olhar intenso, que dava um
aviso e eles pararam de rir.

— Mas eu posso arrumar mais umas mantas,


talvez umas toalhas... hum... se quiserem o café.

— Não, eles não querem, estão indo.

— O que há de mal em um café? — Douglas


perguntou, inocente.

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— Obrigada, senhora, mas deixaremos o café


para outro dia, talvez quando estivermos de roupas
— Gabriel disse sorrindo.

— Oh, sim, claro.

— Gabriel, quero que deixe dois lobos aqui no


bosque, caso os trastes resolvam voltar aqui.
Passem na fazenda e vasculhem cada centímetro
dessas terras. Quero a cabeça daqueles lobos.

— Você vai ficar?

— Vou.

— Por quê?

— Não é da sua conta.

— Precisa do médico? Posso chamar Daniel.

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— Estou bem.

— Eu o costurei e acho que está bem, só precisa


descansar. Está se curando muito rápido.

Apesar de estar extremamente espantado,


Gabriel foi gentil.

— Devo lhe ser eternamente grato, senhora —


Gabriel disse com a mão sobre o coração e Kally
ficou espantada com tal gesto e fervor em suas
palavras. Eram formais e fortes, imaginou que seria
bem verdadeiro da parte deles. Extremamente
respeitoso.

Estranho vindo de um homem nu.

— Mano, deveria ir — Dario disse sério.

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— Isso eu decido. Agora eu quero este bando


fora, entendeu, Gabriel?

— Sim, alfa.

— Oh, pode-me fazer um favor? — Kally


pediu.

— Tudo o que queira.

— Chamei um guincho, São Pedro, para


desatolar meu carro, mas não veio, poderia pedir
outro pra mim? Ou pedir novamente para este se
poderá vir? Meu carro está lá na porteira.

— Será um prazer fazê-lo.

Gabriel colocou a mão no coração e fez uma


reverência honrosa para ela e todos os outros
fizeram o mesmo.
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Eles se transformaram em lobos e saíram


correndo e ela piscou aturdida os olhando se
afastar. Como eles faziam e falavam coisas
estranhas?

Não conseguia parar de olhá-los até sumirem


entre as árvores.

Gael sorriu, mas a deixou em seu torpor, foi até


a pilha de lenhas que havia no canto da varanda,
pegou a lenha colocou na cesta e entrou, a puxando
pelo braço e ela foi, praticamente carregada, um
tanto em choque.

Quando foram para a cozinha, ele arrumou a


lenha no fogo do fogão e olhou para ela. Puxando-a
para seus braços, a colocando sob o calor do
cobertor que ele mantinha ao redor de si.

— Seus irmãos são...


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— Metidos, sei.

Ela sorriu.

— Espantosos. Como conseguem andar juntos


sem chamar a atenção? Senhor, como conseguem
esconder quem são?

— Anos de prática.

— Há mais irmãos?

— Tenho mais uma irmã, mas ela não mora


aqui, é acasalada e mora fora.

Ela suspirou e se aconchegou em seu peito e


ficou pensativa.

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— Senti um clima estranho com eles me


olhando, como se estivessem me analisando, por
quê?

— Porque eu disse que é minha companheira.

— Companheira?

— Sim, é o que você é.

— Isso é o quê? Tipo uma namorada?

— Tipo isso.

— Mas acabamos de nos conhecer, não


podemos espalhar por aí que namoramos.

Ele sorriu e acariciou seu rosto, por sua


inocência.

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— Bem, mas temos algo, não acha?

— Acho que sim, quer dizer... poderia dizer que


o que tivemos foi algo, mas...

— Então está tudo bem, temos tempo e eu irei


te contando as coisas, ok?

— Ok.

— Você quer me conhecer?

— Sim, eu quero.

— Também quero te conhecer.

E te fazer minha alfa.

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Gael engoliu as palavras porque estava confuso


com tudo aquilo tanto quanto ela e, apesar de
reconhecê-la como sua companheira e saber que
queria reivindicá-la, tudo era rápido.

Ela seria uma alfa e isso era grande para


assimilar de uma vez.

Ele nem sabia como fazer isso funcionar, se


queria tudo isso, mas o fato é que estava
acontecendo e estava sentindo tudo forte no peito.
E teve coragem de dizer isso para seus irmãos e
alguns de seus lobos para trazer proteção, mas
agora a notícia se espalharia e estava ferrado.

O que estava pensando ao dizer tal coisa para


seus lobos?

Como tinha sido louco de dizer que ela era sua


companheira e ele nem sabia se iria querê-lo desse
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jeito.

Kally nem sabia o que tudo isso implicava.

Estava ferrado, e bem ferrado.

Sua mente começou a enlouquecer e seus


ouvidos pareciam zunir, como ele fosse ter um
ataque de pânico, mas ali, a olhando com aqueles
lindos olhos brilhantes, sabia que era o certo a fazer
e a beijou.

E assim conseguiu afastar a maioria de seus


temores, porque, pelos deuses, beijá-la era divino.

Quando se afastou, respirou fundo e a olhou


profundamente.

— Você se incomoda de eu ainda estar aqui?

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Ela não sabia como responder, exatamente.

— Gosto que esteja aqui. Precisa se recuperar...


e não tenho como te levar e se você se transformar
em lobo e correr por aí, pode se ferir.

Era uma desculpa esfarrapada porque se tinha


energia para sexo tinha energia para correr, mas ele
não queria ir embora e pelo visto ela também não.

O simples fato é que queriam estar juntos.

O problema todo é que ela nunca esteve


preparada para algo assim, para o que ele era e para
seus sentimentos descarrilhados.

Era assombroso e mesmo com medo desejava


aquilo.

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Talvez fosse o destino, talvez ele era


predestinado para ela. Por isso sempre amou tudo
que era sobrenatural.

Para se preparar para ele.

Ele fazia seu corpo despertar, sentimentos


estranhos tomavam seu peito, fazia ter pensamentos
que nunca teve e uma leveza; era como se sua alma
ficasse leve ao seu lado. Era estranho, tentador,
maravilhoso.

— Por que está me olhando assim, Kally?

— Não entendo por que está fazendo todas esta


coisas malucas.

— Também não sei... exatamente, mas tenho


algo em mente e... meu corpo e meu lobo reagem a
você e não consigo controlar meus mil
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pensamentos pecaminosos que tenho só de te olhar.

— Ser sua companheira é algo grande, não é?


Tipo não é namorico para os lobos.

— Não é.

— Está me considerando assim, Gael?

— Estou.

— Está brincando?

— Nunca brinco com assuntos sérios que


envolvam minha alcateia.

Os dois ficaram se encarando por um minuto


que pareceu uma eternidade e Gael queria bater na
sua cabeça por estar louco.

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— Gosta de mim?

— Pelos deuses, que gosto.

— Isso é interessante.

Ele sorriu.

— Pode considerar termos algo sério?

Então, ela sorriu.

Sorriu, simplesmente com o sorriso mais lindo


dela e Gael quase virou uma manteiga derretida aos
seus pés.

— Eu posso pensar no seu caso.

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Ele riu, a puxou para si e a beijou e sim, pelos


deuses, que eles estavam completamente dispostos
a levar aquela loucura a sério.

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Estavam deitados no tapete da sala, somente


cobertos pelo cobertor, após fazerem amor, ela
estava deitada em seu peito e ele lhe acariciava os
cabelos.

Ambos estavam amortecidos e espantados


consigo mesmos, pois aquilo tinha chegado longe
demais e nenhum dos dois colocou um freio, e
apesar de ser tudo maravilhoso, os badalos do sino
alertando que estavam mexendo com fogo estava
ali, mas não estavam aptos a ouvir.

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Na verdade, não estavam fazendo nenhum


esforço.

Não negar que ele queria tomá-la como sua era


grave e sempre foi o que ele fez desde a morte de
Ana. Sexo sem compromisso, pois suas amantes
não lhe cobravam nada, pois sabiam que Gael
MacDowell não era fácil de fisgar. Quando alguém
queria tentar lhe fisgar, saía pela tangente, como se
nem tivesse entrado na relação, principalmente se
fosse alguma humana, que ele evitava ao máximo.

A única coisa que entrava nos seus casos era


seu corpo, pelo sexo, nada de sentimentos
envolvidos.

Apesar de ter namorado algumas, nenhuma loba


despertava grande interesse nele e muito menos
alguma humana o fez, apesar de ter transado com

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muitas delas, sem que soubessem quem ele


realmente era.

Seu coração nunca estava envolvido no sexo ou


em seus flertes, era tudo frio e seguro.

A verdade era que, no fundo, ele acreditava nas


lendas, mas não queria admitir e agora estava certo
disso, que poderia ser real, pois com ela era
diferente, era quente, queria entrar com tudo,
usufruir e dar, não queria ir embora daquela casa
nunca mais. Ela sabia quem ele era e não se
importava, o desejava tanto quanto ele a ela.

Apesar de ter se xingado em todos os palavrões


que conhecia, Kally não conseguia se arrepender de
sua insanidade e esperava que fosse momentânea e
ela recuperasse o juízo.

Respirou fundo, acariciando o peito dele e


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olhando as chamas bruxuleantes do fogo que os


aquecia, deitados sobre o tapete de peles em frente
à lareira.

Uma aventura de férias, uma e tanto, mas o que


tinha de errado naquilo?

Podia ser um lindo sonho vivido, depois


voltaria para casa, para sua loja e continuaria sua
vida morna e sem emoções, apesar de falarem que
aquilo era sério, ela ainda achava que ele faria
como todos, quando fosse embora ele não ligaria ou
manteria aquela conversa de companheiros. O
faria? Ou um lobo era diferente?

A questão é que seu conceito de homens havia


mudado drasticamente, jamais olharia para um
homem sem fazer comparações com as maravilhas
daquele homem-lobo.

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E o que havia de mau em ter um namorado


lobo?

Sorriu com a fantasia maluca.

Gael se virou um pouco, abraçando-a mais


entre seus braços, e ela amou aquele abraço, pele
com pele, quente e macia; amou seu cheiro, seus
braços fortes.

Estava apaixonada, a tola.

Lobos deveriam ter algum feitiço que deixavam


as mulheres assim loucas e dementes por eles. Sim,
um afrodisíaco exalado pelos poros, algo
sobrenatural como no cinema ou nos livros. Ela
pesquisaria nos livros sobre eles. Deveria haver
algo em algum lugar.

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Ele beijou sua bochecha e passou a perna sobre


as dela e todas as divagações sumiram, e sua
atenção estava toda nele.

Olhou-o e ficaram ali, simplesmente se olhando


e admirando a beleza um do outro.

Nunca tinha se sentido tão bonita e desejada


como foi com ele.

Ah, foda-se as convenções, regras, perigos, ela


queria era mesmo aproveitar aquele homem
maravilhoso!

— Você gosta de morar aqui?

Ele sorriu e respirou fundo.

— Eu gosto, é meu lar.

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— Deve ser estranho ver os anos passarem


assim, pensar que esteve aqui desde tanto tempo.

— Sim, aqui não havia quase nada. Só mais nas


grandes cidades. A região começou a ser
desbravada no decorrer do século XVI, em busca
de ouro e diamante, porém somente em 1853
chegou a "Companhia de Comércio e Navegação
do Mucuri", que tinha o objetivo de povoar o vale
do Mucuri e era comandada por Theophilo
Benedicto Ottoni. Este fundou uma pequena lavra à
margem do rio Todos os Santos, depois disso
começaram a chegar imigrantes, principalmente
alemães.

— Seus antepassados chegaram nessa leva?

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— Não, já estávamos aqui, meu pai chegou em


1848 e o Vale das Pedras e mais ao sul já nos
pertencia. Nós dominamos nosso vale e ele tinha a
exploração do Vale de Macuri e depois ele e meu
pai se tornaram sócios e fundaram a antiga
Filadélfia.

— O nome da cidade era Filadélfia?

Ele riu.

— Sim, era uma colônia a princípio. Ele era


diplomata e entendido das políticas, conhecia
muitos meios de abrir rotas. Quando Teófilo
morreu, eu dominei suas minas, e o lugar recebeu
seu nome. Deixei em nome de sua amizade.

— Uau, você participou no inicio da cidade, até


antes dela.

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— Sim.

— Deve ter sido difícil naquela época.

— Sim, era trabalho pesado e perigoso, mas os


lobos eram fortes. Naquela época tudo era mais
difícil, pois não tinham a tecnologia que há hoje,
mas começamos a crescer e fazer nossa fortuna
com a venda do ouro e as pedras.

— Então, o que falam dos MacDowell daquela


época não eram seus antepassados, era você
mesmo!

— Sim, meu pai, eu e meus irmãos. Meus


lobos.

— Caramba, isso é tão fascinante!

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— Meu pai nos dizia: “domine, mas mantenha


seu nome nas sombras, para os humanos, o que
você é”. Muitos documentos foram escondidos por
minha família para nos proteger. Não é fácil
esconder que você não envelhece igual aos outros
no decorrer dos anos.

— Mas todos sabem que sua família esteve lá.

— Fazemos parte da história, pelo menos o que


queremos que os humanos saibam.

— Tão fascinante. Hum... espere... minha


mente deu uma pane agora. Era você lá e não seus
antepassados?

— Sim.

— Você existia naquela época?

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— Sim, eu nasci em 1805. Tornei-me alfa em


1855, faz 164 anos.

Ela o olhou com a boca aberta.

— O quê? — Ele sorriu pela sua cara de


espanto. — Oh, meu Deus! Você está brincando?

— Não. Lobos vivem muitos anos.

— Quantos anos você tem?

— Bem, eu tenho duzentos e quatorze anos.

Ela ficou ali, paralisada e estática o olhando.

— Merda!

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Kally ficou o olhando com a boca literalmente


aberta e com os olhos arregalados, pois não
conseguia espantar seu choque.

Ele sorriu e fechou sua boca com o dedo,


empurrando o queixo, delicadamente e sorrindo tão
lindamente que ela continuava ali, estática,
olhando-o.

— É imortal, tipo vampiro?

— Não, vivemos em média quatrocentos e


cinquenta anos, uns um pouco mais outros um
pouco menos.

— Mais de quatrocentos anos? Oh, meu Deus!


Acho que estou sentindo uma palpitação aqui...

Ele riu e assoprou em sua face.

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— Respire.

— Você é muita informação ambulante.

— Este é um título novo para mim:


enciclopédia.

Ela riu, mas seu coração batia descompassado.

— Sorte sua que tenho o coração forte. Senão


teria uma defunta estatelada no chão.

— Os lobos parecem causar grandes efeitos.

— Sim, muitos e bombásticos. Eu literalmente


estou tendo um caso com um homem bem velho.

— Um pouco.

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— Mas você até que está bem enxuto, quem


sabe se tirarmos estas teias de aranha daqui... —
disse espanando seus ombros com a mão.

Gael gargalhou e a abraçou, amava como ela


levava as coisas de maneira tão leve, o fazia se
sentir revigorado e vivo, feliz.

Sim, ele estava feliz, como jamais estivera antes


e o sentimento era maravilhoso.

— Parece saudoso quando fala de seu pai.

— Ele era um lobo muito valoroso, forte e um


grande alfa. Mas nos últimos anos estava
debilitado, pois havia levado um tiro de garrucha na
coxa e não havia sarado como deveria, senão nunca
teria sido pego. Aqui também era uma terra sem lei,
muitos matavam pelo ouro. Os mineradores usavam

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escravos para explorar suas minas ficando com


todo o lucro, mas meu pai não tinha escravos e
pagava um salário para eles.

— Pego? Ele ainda vive?

— Não. Ele morreu faz muito tempo em uma


das minas.

— Sinto muito, foi algum acidente? Sempre


ouço algumas notícias de alguns acidentes nas
minas, que resulta em pessoas feridas ou mortas.

— Não foi acidente, foi assassinato. Eu tive


sorte, consegui sair vivo.

Ela assentiu assustada quando ouviu a palavra


assassinato e viu que ele ficou chateado com o
assunto. Ficaram calados por um minuto e ela ficou
pensativa.
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— Foi então que se tornou alfa?

— Sim, com sua morte eu me tornei alfa. Foi


disputado, porque havia lobos que queriam o lugar
de meu pai, mas eu ganhei o posto.

— Como faz para ganhar o posto?

— Se seu pai é alfa, quando morre passa para o


filho, mas se algum lobo deseja o posto de alfa
pode desafiá-lo.

— Isso é tipo o quê, uma luta de gladiadores?

Ele riu.

— Sim, tipo isso.

— Dois lobos lutando deve ter sido feio. Tipo


aquela briga que eu vi no bosque?

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— Sim, só que entre somente os dois lobos, os


outros não podem se meter. Fiquei bem retalhado,
pois já estava ferido antes, mas meu adversário
ficou com a garganta cortada pelas minhas garras.

Ela respirou fundo.

— Sanguinário.

— Para uma mocinha linda como você, seria


bem grotesco.

— Sou uma mocinha, mas não derreto ao ver


sangue.

Ele riu e beijou seus lábios.

— Bom saber. Aguentou bem da primeira vez.

— Primeira e espero que tenha sido a última.

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Ele riu.

— Você é viúvo, então...

Ela não queria perguntar, mas seu coração


pedia, pois tinha ficado intrigada quando disse isso.
Como poderia competir com uma mulher morta?
Ele ainda a amava? Essa ideia não lhe agradou em
nada e sentiu medo e ciúmes que ela não seria bem-
vinda ao quesito sentimento. Homens já eram
complicados, com um passado para chorar era
desalentador.

Gael respirou fundo pensando se falaria naquele


assunto, mas sentiu a necessidade de contar a
verdade.

— Faz tempo que sim, minha companheira


morreu soterrada numa explosão de uma de nossas
minas também, junto com meu pai.
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Ela o olhou estupefata.

— Isso é sério? Você perdeu sua esposa, e seu


pai no mesmo dia?

— E meu filho.

Ela abriu a boca de espanto.

— Filho?

— Ela estava prenhe.

— Oh, Gael, eu sinto muito, que horrível.

— Está tudo bem, já passou muito tempo e a


cicatriz ainda existe, mas ficou guardada no meu
coração.

— Faz muito tempo?


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— Foi quando virei alfa, cento e sessenta e


quatro anos atrás.

— Sinto muito. Ainda fico confusa com esta


questão de tempo.

E não gostou muito do que aquilo implicava, no


caso de ela ser uma humana.

— Parece que a chuva deu uma trégua.

— Sim, isso significa que nossa clausura


acabou, é hora de voltar à vida real.

— Poderia ficar mais um pouquinho?

Ele sorriu e a trouxe para cima de seu peito e


ele gemeu pela delícia que era senti-la cobrindo-o,
nua e perfeita; mesmo pequena, ela era voluptuosa

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e maravilhosa, amava cada curva dela, amava cada


pedacinho do seu corpo que ele beijou e lambeu,
sentindo o sabor e a textura de sua pele.

Kally pensou que estaria estragada para


qualquer outro homem que viesse a conhecer, na
verdade, ela não queria conhecer mais ninguém na
sua vida, somente queria estar com ele. Ele levava
muito a sério a frase vou te provar e te reverenciar
como uma deusa.

Estava irremediavelmente apaixonada e tinha


medo que fosse somente de sua parte, pois então
seu coração estaria quebrado.

E não teve coragem de perguntar, mas


desconfiava que uma humana e não do mesmo
nível social não seria bem-vinda à sua alcateia. E só

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o pensamento de ir embora e deixá-lo para trás era


doloroso.

— Kally?

— Sim?

— Não quero que me deixe para trás.

Ela ergueu sua cabeça de seu peito e o olhou.

— O quê? Como sabe o que estava pensando?

— Posso ler seus pensamentos, esqueceu?

— Ah, mas que merda!

Ele riu.

— Todos os lobos fazem isso?

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— De outros lobos sim. Mas você é a primeira


humana que posso ler os pensamentos.

— Jura?

— Sim.

— Por quê?

— Acho que temos algo em comum, minha


pequena.

— A coisa com os lobos? Acha que é diferente


por quê?

— Quando eu souber te direi, ok?

— Ok.

— Por que não quer que te deixe para trás?

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Ele respirou fundo.

— Porque acho que estamos muito ligados e


não quero que parta, precisamos de um tempo
juntos para vermos algumas coisas.

— Mas estou aqui de férias, Gael, daqui alguns


dias, partirei de volta para casa.

— Não te deixarei ir.

A frase causou medo nela, mas ele disse


mansamente e com um pequeno sorriso no canto da
boca, o que amenizou seu medo, mas parecia estar
falando sério.

Gael sabia o significado, ler sua mente somente


poderia fazer isso se ela fosse sua companheira de
alma, pois lobos não podiam ler a mente de
humanos, e seu lobo exigia a reinvindicação.
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Sabia, e era inacreditável, tinha ouvido, lido


sobre a história e soube que lobos que haviam
encontrado suas companheiras de alma e era
precioso demais e perfeito.

Era um passo grande demais para um alfa e ele


tinha muitas responsabilidades com seu povo para
tomar atitudes levianas ou por puro prazer. A
segurança de sua alcateia e de todos os lobos estava
em jogo, pois ela era humana.

Bem, investiria, arriscaria e então veria onde


tudo levava. Kally era inocente e não tinha
maldade, podia sentir.

Ele a puxou para si e a beijou apaixonadamente,


sentindo-a contra ele, seus seios em seu peito, sua
boca quente; gemeu em seus lábios e ela
escarranchou em seu quadril. Se guiou para dentro

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dela e era como estar em casa, quente como o fogo.


Seu lar, seu corpo e seu sexo pertencia a ele, e
queria seu coração e sua alma.

Segurou seu rosto entre as mãos e a trouxe para


beijar sua boca, e movia o quadril para penetrá-la
mais fundo.

— Você é minha, Kally, minha.

Seu lobo rosnou, ele a queria e a teria.

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Ela o olhou na varanda e ele estava parado


olhando o bosque, com o cobertor sobre os ombros.

— Hora de ir.

— Sim, foi um prazer te conhecer, Sr.


MacDowell.

Gael se virou e a olhou e ela sorriu sem jeito.

— Gostaria de ficar mais um dia, mas já estou


bem e devo ir... porque...

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— Porque é um homem ocupado e deve voltar


aos negócios, sei.

— Foi um período muito interessante que


passamos aqui.

— Sim, eu gostei, foi tipo uma viagem meio


louca.

Ele se aproximou e segurando as pontas do


cobertor a abraçou, envolvendo-a em seus braços.

— Obrigado, Kally.

— Foi um prazer.

— Isso eu tenho certeza.

Ela riu e fez que ia morder seu peito e ele riu e


se esquivou.

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— Bem, hora de ir.

— Ok, nos veremos por aí.

— Sim.

Ele a beijou, e foi um beijo tão intenso, com


gosto de despedida, que os dois sabiam que não era
o que nenhum queria fazer.

Gael rosnou e se afastou sentindo seu corpo


tremer.

— Você está bem?

— Sim — disse entredentes e seus olhos


cintilaram.

— Esse frenesi ainda está te maltratando.

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— Sim. Eu te ligo.

— Até mais.

— Até.

Ele não se moveu e ficaram se olhando com


muitas coisas passando na cabeça. Depois riu,
rosnou alto e a puxou mais para ele.

— Mulher, poderia te montar novamente, e de


novo e de novo.

Kally sorriu e deslizou sua mão pelo seu peito e


barriga e segurou seu membro que pulsava quente
desejando mais.

— Foda, vai me matar...

— Sim.

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Ela ficou na ponta dos pés, o puxou para um


beijo enquanto sua mão se movimentava em seu
pênis.

Gael rosnou em sua boca, ergueu-a do chão e


com um baque escancarou a porta e a jogou no
sofá.

Após longos minutos usufruindo de beijos


ardentes e as mãos deliciando-se com seus corpos,
roupas saindo e pontos erógenos sendo tocados, ele
a ergueu e a levou para o sofá, caíram ali e tudo
ficou mais quente.

Virou-a de bruços, ajoelhada no sofá, escorada


no encosto, logo o roupão estava jogado no chão e
com suas mãos fortes rasgou a calcinha. O ato foi
selvagem e ela adorou. Kally arfava de antecipação,
desespero e uma pontada de medo.

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Soube que provocar um lobo não era em vão,


ela se sentiu poderosa ao ver que ela o deixava
excitado e quente, inflando seu corpo e seu ego.

Logo ele deslizou uma mão em seu seio,


apertando, massageando, e com a outra mão ele
pegou seus cabelos, enrolando em sua mão, e a
puxou para trás, encostando as costas em seu peito.

— É isso que quer, Pequena, sexo selvagem de


despedida? — rosnou em seu ouvido, com a voz
forte e sexy, que a elevou em outro nível de
excitação.

— Sim.

— Não serei gentil dessa vez.

— Não seja.

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Gael rosnou de satisfação, pois ela era quente e


estava amando descobrir o grau de calor que ela
poderia queimá-lo. Era naturalmente erótica, pois
se soltava no sexo e ele amava isso. Gostava de vê-
la provocá-lo.

Gael deslizou a mão pela sua frente e dois


dedos invadiram seu sexo e a provocaram e a
incitaram e amou perceber como estava derretendo
por ele.

Não houve muito preâmbulo, porque os dois


estavam ávidos, ele entrou todo dentro dela, até o
fundo e ela arfou desesperada.

Puxou mais sua cabeça, fazendo-a arquear-se


mais e ele lambeu e mordeu seu pescoço, sua nuca
e seu ombro.

— Quer mais?
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— Sim.

— Então peça.

Ela não respondeu, porque não conseguiu falar,


nunca tinha tido sexo selvagem assim, com um
lobo selvagem e sua mente estava muito fora para
raciocinar.

— Implore se quiser mais, então te darei o que


precisa.

Deus, sua voz estava animalesca, grossa, feroz,


e ela choramingou olhando para a vidraça e pôde
ver seu reflexo e ele estava com os olhos brilhantes
e suas presas longas. E isso somente a deixou mais
louca por ele.

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Ele deu um tapa em seu traseiro e rosnou em


seu ouvido e ela quase teve um orgasmo.

— Implore, Kally, só assim te darei o que quer.

— Foda-me... forte... por favor...

— Diga meu nome.

— Gael... Foda-me... forte.

Rosnou de satisfação, seu lado lobo e alfa


estavam vivos e ele começou a se mover dentro
dela, torturando-a, os dois na verdade, lento, indo e
vindo.

Até ela gemer desesperada e ele sorriu,


maliciosamente, porque estava se sentindo um deus
poderoso, safado.

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Então agarrou seu pescoço, subiu pela sua


mandíbula virou seu rosto e a beijou
profundamente, aumentou os embates, fortes,
selvagens, eles entraram inteiramente na loucura do
frenesi, bateu forte dentro dela, e quando puxou
seus cabelos e tocou seu clitóris ela gritou,
loucamente explodindo num orgasmo fenomenal.

— Você é minha, minha companheira...

— Sim. — ela gritou novamente, e ele rosnou,


seus olhos acenderam como duas lâmpadas e Gael
perdeu o controle e mordeu seu ombro.

Ela gritou pela dor e todos as sensações


explodindo em seu corpo, ela convulsionou em
seus braços e ele perdeu o controle de seu corpo e a
seguiu, gozando dentro dela, tão fortemente que
pensou que sua mente voou.

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Tirou sua boca de seu ombro, sentindo o gosto


metálico do sangue, fazendo seu lobo uivar de
prazer e poder.

— Merda... merda...

Estava tremendo, convulsionando e achou que


seus gritos e rosnados foram ouvidos até a cidade.

Ele tremia, expelindo seu sêmen quente dentro


dela e ouviu algo estalar pela sala, mas não viu o
que era, pois seus olhos estavam nublados. Seu
mundo parecia girar rápido demais o deixando
tonto. Ele rodou com ela nos braços e tombou no
sofá.

Abraçou-a forte contra seu peito, como se


quisesse protegê-la, mas xingou, pois devia era ter
a protegido de si mesmo.

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Imbecil, ele reivindicou Kally, mordeu-a e


estava fodido. Piscou aturdido olhando para o teto,
sem respirar direito, com um turbilhão no peito, ele
a abraçou em seu colo, afastou seus cabelos
molhados de suor e viu que seu ombro sangrava.

— Porra...

Ela levantou a mão e colocou na ferida e


arregalou os olhos quando viu sangue.

— Me mordeu!

Ele não sabia o que dizer.

— Kally... Perdoe-me, perdi o controle e te feri


com meus dentes, foi sem querer.

Sem querer uma ova, seu lobo tinha


reivindicado a humana como sua.
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Automaticamente seu cheiro mudou e ele


gemeu pela merda feita e sua magia estava girando
em torno deles.

Ela exalaria o cheiro dele e todos os lobos


saberiam o que ele tinha feito.

Kally olhou ao redor e conseguiu ver nuances


do colorido da magia, era uma pequena onda como
um arco-íris que dançava no ar.

— O que é isso?

— Minha magia. Você pode ver?

— Estou vendo algo.

Ele se xingou novamente e viu como ela


colocava a mão no ar e tentava tocar.

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— Parece uma aurora boreal ao nosso redor.

— Amanhã a marca terá desaparecido. Não foi


grande coisa, foi... eu sinto muito.

Ela ficou em choque.

— Por que me mordeu?

— Foi sem querer, o lobo tem instinto de posse,


eu fiz sem querer. Estava tão perdido no nosso
prazer que quando percebi já tinha mordido.

— Vou me transformar em loba? — perguntou


com os olhos arregalados.

— Não, não vai. Não é como nos filmes, Kally.

— Oh...

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— Perdoe-me, foi sem querer.

Ela ficou o olhando aturdida e pôde ver a


confusão e soube que não fez de propósito, mas
estava chocada que não pôde dizer que o perdoava.

Ergueu seus lábios com os dedos e viu suas


presas longas.

— Isso é assustador!

— Entendo que não aprecie isso.

— Bem... eu não tenho uma palavra pra isso,


realmente.

Ele sorriu, de maneira um tanto triste, ficou


preocupado com tudo que aquilo acarretaria, beijou
sua testa e respirou fundo. Já era de se admirar que

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ela aceitasse estar com ele sabendo que era uma


besta e ainda podia colocar tudo a perder por tê-la
mordido sem que ela permitisse.

Não o perdoaria se soubesse o que isso


implicava.

Gael nunca tinha perdido o controle de seu lobo


na sua vida, nunca, jamais, nem pela companheira
que tinha tomado nos séculos passados. Mas com
ela o tinha feito.

Sua cabeça girava rápido demais, seu coração


estava oprimido e sofrido e a porra do frenesi não
passava nunca. Era hora de tomar juízo e tomar as
rédeas de sua vida de novo.

— Preciso ir.

— Tome um banho comigo, depois você vai.


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— Não! — Ela piscou aturdida com sua ênfase


e ele rosnou. — Bem... outra hora, prometo, agora
preciso ir, Kally, não posso mais ficar aqui, tenho
uma reunião esta tarde.

Gael saltou do sofá com ela no colo, que gritou,


riu e se agarrou em seu pescoço. Ele a colocou no
chão e rosnou arqueando-se de dor.

— Eu te ligo.

— Ok.

Diante dos seus olhos ele se transformou em


lobo, ele deu um uivo curto, porque a
transformação fez suas costelas quebradas doer.
Aliás, estava com dor antes do sexo, mas a luxúria
de um lobo em frenesi era um mistério de
sofrimento para os lobos.

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O prazer compensava o desconforto, mas com


seus ferimentos ainda sem estarem completamente
curados, era uma merda. Geralmente lobos levavam
três dias para se curarem de ferimentos mais graves
e se fossem induzidos ao sono se curavam mais
rápido, mas não foi seu caso. Era louco de fazer
todas aquelas coisas. Sim, estava louco... por ela.

— Somente um lobo teimoso insistiria em fazer


sexo estando ferido — disse sorrindo e se
ajoelhando.

— Valeu a pena cada segundo.

Ela sorriu, mas em seus olhos viu tristeza.

— Eu machuquei você? Quer dizer... além


disso? — disse mostrando o ombro com o focinho,
chegou perto e o lambeu, como se quisesse curá-lo
e um tanto constrangido.
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— Estou bem, Gael.

— Está doendo?

— Um pouco, uma ardência.

— Sinto muito.

— Você fez sem querer, certo? — Ele assentiu.

Sim, foi sem querer, porque não foi forte para


controlar seu lobo, mas sentia remorso e pensou em
dizer o que significava. Mas não achava as
palavras, porque sua mente ficou uma bagunça,
uma espécie de enaltecimento, regozijo e remorso.
Não sabia o que dizer. Seu lado sensato somente
gritava para ele ir embora de uma vez e deixá-la.

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Estaria mais segura sem ele. Mas seu lado lobo não
queria e nem seu coração. Tudo estava
descarrilhado.

— Oh, meu Deus! Você é tão lindo, e isso é


tão... mágico.

Ele choramingou e se aproximou mais e ela


acariciou sua face.

— Espero que sempre possamos ser amigos,


Gael, independente se vamos ficar outras vezes,
quer dizer, pelo menos enquanto eu estiver aqui.
Depois quando eu for embora, eu gostaria de...
sabe, sei lá, conversar sobre lobos.

— Seremos sempre amigos.

“Mas será mais do que isso”, ele pensou. Ele


não a deixaria partir.
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Ele fez o carinho de lobo em sua bochecha e ela


amou o gesto, sentiu saudade de vê-lo em forma de
lobo, de sentir seu pelo. Havia um prazer tão
intenso que travava sua respiração.

Ele lambeu seu rosto a fazendo rir e se afastou.

Kally pegou o roupão do chão e o vestiu, foi até


a porta e a abriu, ele saiu correndo pelo bosque e
desapareceu.

Ela ficou ali, parada na varanda, sentindo um


vazio no peito. Não acreditava que ele voltaria. Sua
doce aventura tinha terminado.

— Adeus, Gael... — sussurrou e então sorriu


quando ouviu um uivo. — Muito louco...

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E o vazio que estava sentindo ao vê-lo ir


embora foi quase desesperador, um desalento que
trouxe nostalgia, ela não queria se separar dele.

Ele mal tinha se afastado e seu peito já doía


pela saudade.

Gael respirou fundo e afundou na cadeira de


seu escritório enquanto Gabriel, Penélope, Dario,
Diogo e sua mãe o bombardeavam com mil
perguntas, sua cabeça já estava doendo. Pelo
menos, Michel, seu genro, se mantinha calado,
somente observando.

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— Não me lembro de ter convocado uma


reunião de família.

— Bom, esteve trancado com uma humana por


quatro dias, e sem celular. Achamos que está
doente ou algo infectou sua cabeça — Diogo
zombou.

— Talvez os lobos tenham rachado seu crânio.

— Cuidado com a boca, filhotes.

— Precisamos saber o que está acontecendo,


papai.

— Desde quando ficam dando palpite na minha


vida amorosa?

— Desde quando revelou sua identidade a uma


humana? — Penélope perguntou estupefata.
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— E a deixou ir! E se ela contar a alguém sobre


nós? — sua mãe disse espantada.

— Ela não vai.

— Uai, como pode ter certeza? — Gabriel


interrogou confuso.

— Ela não vai.

— Mas você sempre fala pra gente não confiar


nos humanos e você vai lá e páh, confia cegamente
numa menina que acabou de trombar.

— Aquilo que disse de ser sua companheira foi


uma brincadeira, não foi? Mal acreditei quando tio
Gabriel me disse onde estava e como estava, e em
estado permanente de nudez com uma humana.

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— Pene, está tudo bem — ele disse aborrecido.


— Sinto que posso confiar nela, não vejo nenhuma
maldade nela.

— Papai, posso ver o brilho em seus olhos,


nunca o vi assim tão leve e, acredite, estou muito
feliz que esteja se divertindo, pois fico lhe dizendo
isso, que deve deixar um pouquinho de ser o alfa
sério e todo aficionado pelo trabalho, mas que isso
foi assim tão rápido e bombástico e o senhor não
pestanejou nem um tiquinho para assumir que ela
seria sua companheira, quer dizer... e disse para
seus lobos e essa notícia já se espalhou, parecia
fogo na palha, assim, puff. Está todo mundo
falando disso. Vai realmente tomá-la como
companheira? De onde ela saiu?

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— Eu não sei, sinto que ela é minha e não


quero abrir mão dela e diabos se eu sei o que fazer,
nunca fui flagrado por uma humana antes, nunca
fui estripado e salvo por uma humana e ter a
sensação de que estava morrendo.

— Mas como pode saber que é sua


companheira? — Gabriel perguntou assustado.

— Gabriel, acredite, o que se sente é algo... sem


precedentes.

— Ela é sua companheira de alma? — Pene


perguntou espantada.

— Eu não sei, mas posso ler sua mente, ela me


ouve em sua cabeça, eu entrei em um frenesi tão
violento que pensei que minhas presas cairiam.
Sabe com foi difícil sair de lá e deixá-la?

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— Oh, meus deuses!

— Isso pode ser só um supertesão ou o frenesi


porque teve a tal luta e estava com um mulherão,
preso nunca casa no meio do mato — Gabriel disse
e Gael ergueu uma sobrancelha e o olhou. Ele
suspirou um tanto perdido. — O que pretende
fazer?

— Vê-la de novo.

— Bem... Você sempre foi muito sério e


sensato, mas precisamos descobrir quem é ela —
sua mãe disse.

— Vou levantar sua ficha para ver o que


descubro. Qual o sobrenome dela? — Gabriel
perguntou.

— Eu não sei.
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— Misericórdia — Penélope resmungou.

— Como vou investigar se você não sabe nem o


nome dela?

— Ela não precisa ser investigada.

— Não brinca, tá falando sério? Eu tenho feito


isso durante muito tempo com as mulheres que se
aproximam de você para deixar de fazer agora.

Gael rosnou e ficou indignado.

— Não sou criança, sou bem grandinho para


saber avaliar uma mulher.

— Grandinho é, tem dois metros e dois de


altura.

Ele bufou de novo e Penélope riu.

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— Olha, papai, francamente, eu estou feliz se


isso tudo é verdade, mas o senhor é nosso alfa e
precisamos acalmar seus lobos.

Ele suspirou desalentado.

— Eu sei muito bem o que sou, e acredite, ela


não é um risco para a nossa alcateia e nosso
segredo está seguro; e se não for, eu mesmo darei
um fim nela.

— Ok e quando poderemos conhecê-la?

Ele respirou fundo, cruzou as mãos sobre o


estômago, pensativo.

— Nós receberemos meus amigos gregos e


Noah, então estaremos no início da feira, faremos a
recepção como fazemos todos os anos com nossos
lobos e ela será minha acompanhante.
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Todos abriram a boca de espanto.

— Gael, isso não é adequado — disse sua mãe.


— Não pode trazer a humana para nossa festa
particular.

— Fala sério, pai, vai trazer a humana numa


festa de gala dos lobos, bem no meio da alcateia e
ainda por cima com a visita de betas e alfas de
outras alcateias?

— Vou.

— Acho que vou fazer um seguro de vida para


ela.

— Noah acasalou com uma humana. Sua alfa


era humana que foi transformada em loba, isso
pode ajudar nossos lobos a aceitarem Kally.

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— O quê? Noah acasalou com uma humana?


Mas que merda! — Gabriel disse espantado.

— Petrus também.

— Mas que porra!

— E Erick...

— Isso está ficando comum, eu acho — Pene


disse espantada.

— Oh, esses tempos modernos... — sua mãe


sussurrou esfregando a testa com os dedos.

— Bom, há algo mais que preciso dizer.

— O que é, pelo amor dos deuses?

— Eu a reivindiquei.

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— Sim, disse que pensa que é sua companheira.

— Eu a mordi. Estamos acasalados.

Todos o olharam com os olhos arregalados e


ficaram estáticos, mudos por vários minutos.

— Porra, pai!

— Gael, como pode reivindicar a humana desse


jeito?!

— Foi sem pensar, meu lobo se sobrepôs a


mim.

Todos estavam em choque.

— Isso nunca aconteceu antes.

— Eis os fatos.

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— Isso é grave. Assim de cara, como pensa que


nossa alcateia vai reagir?

Gael veio para frente lentamente, com o olhar


assassino, falando lentamente com a advertência
pulsando como fogo.

— Avise a alcateia que não vou tolerar nenhum


desrespeito com minha companheira. Fui claro? Ela
é minha e quem a ferir ou fizer qualquer coisa que a
magoe arrancarei suas tripas e jogarei para os
peixes.

Ninguém respondeu nada e ficaram o


encarando estupefatos.

— Fui claro?

— Sim, alfa. Boa sorte com isso.

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— Não estou brincando, Gabriel.

— Ela sabe disso?

— Saberá.

— Pelos deuses, ficou louco.

— Em vez de cuidar da minha vida, Gabriel,


ache aqueles malditos lobos que nos atacaram.

— Bem, agora é boa sorte para o senhor, pai —


Pene brincou.

Gabriel bufou e saiu.

— Gabriel?

Ele parou na porta e olhou para seu irmão.

— Você é meu beta, preciso saber se está do


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meu lado.

— Sempre estou do seu lado. — Ele suspirou.


— Se a tomou como companheira, eu a protegerei
com minha vida.

Gabriel bateu o punho cerrado no peito, sobre o


coração, e Gael se acalmou.

— Espero que saiba o que está fazendo, filho.

Sua mãe saiu e ele respirou fundo.

— Bem, então parabéns, irmão — Dario


desejou.

— Parabéns. Vou conversar com os lobos, não


teremos problemas, mas pense duas vezes antes de
deixá-la no meio de suas pedras preciosas, até

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sabermos que não tem nenhuma ficha criminal —


Douglas repetiu.

— Kally não é como as garotas interesseiras


que você costuma achar nas baladas, Douglas. Ela
não se aproximou de mim por causa do meu
dinheiro e do meu sobrenome.

Ele respirou fundo.

— Espero que não.

— Tem gente que vai espernear com essa


notícia — Dario disse rindo maldoso.

— Uhhh, essa pago pra ver. Acho que se


ouvirão gritos até no Rio de Janeiro. — Douglas
riu, eles bateram as mãos e os gêmeos saíram e
Michel os seguiu.

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— Ora vejam, meus tios são mais zoadores que


eu. Isso é o que dá ter tios com a idade da sobrinha,
parece meio bizarro — Penélope disse sorrindo,
sentando na poltrona e Gael fez um gesto com a
mão.

— Ah! Pare aí, mocinha! Levante seu traseiro


daí e vá cuidar do seu filhote. Já dei explicações
suficientes.

— Meu filhote está dormindo, como um


anjinho.

— Então ache outra coisa para fazer em vez de


ficar querendo saber mais dela.

— É só curiosidade.

— Matará sua curiosidade quando ela vier.

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Penélope bufou e levantou, jogando seu cabelo


loiro e longo sobre o ombro.

— Pensei que a humana melhoraria seu humor.

— Melhorou, eu quase nem rosnei hoje.

Ela riu, deu a volta na mesa e beijou sua


bochecha e o abraçou.

— Só quero que seja feliz, papai.

— Eu sei, anjo. Eu estou feliz.

— Se essa humana te machucar, eu mesma a


esfolarei viva.

— Ela é doce, Pene, gostará dela.

— Como sabe que é ela?

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— Sua mãe disse que ela viria com as pedras.

— E?

— Ela veio por elas.

Pene respirou fundo.

— Bem, parece que mamãe estava certa ao fim.

— Talvez sim.

— Eu nunca pensei que teria uma madrasta


mais nova que eu.

Ele sorriu e acariciou sua bochecha com o


dorso dos dedos.

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— Sua mãe teria orgulho de você. Agora vá,


anjo, e veja os últimos preparativos para os nossos
convidados. Quero tudo funcionando bem.

Ela suspirou e o beijou novamente.

— Está tudo certo, seus convidados chegarão


daqui dois dias.

— Reforçou nossa segurança?

— Sim, senhor, tio Gabriel está cuidando disso


com afinco. Acha que é verdade o que sussurram
de que a italiana se transformou em uma
semideusa?

— Tenho certeza de que você descobrirá por si


mesma.

Ela riu e bateu as mãos.


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— Oh, adoro histórias de lobos.

Pene saiu e Gael se escorou na sua cadeira,


respirando fundo e esfregando o rosto.

— Está feito. Kally é minha e não abrirei mão


disso, nem hoje nem nunca.

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Aproveitando que a chuva havia parado e tudo


estava mais seco, e finalmente tinham desatolado
seu carro, Kally foi à cidade passear. Andava pelas
ruas, olhando tudo, batendo fotos, entrando e
saindo das lojas.

Tudo estava muito interessante de se ver, pois a


cidade era pequena, graciosa e tranquila. Passou
pela Praça Germânica, pelas igrejas, como a
paróquia Imaculada Conceição que lhe despertou
muito encanto.

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Era bonito e aconchegante, mas ela sempre


olhava ao redor, porque tinha a nítida sensação de
que alguém a observava.

Na verdade, ela estava mais interessada em


encontrar Gael do que visitar uma igreja.

Mas, como imaginara, ele não tinha ligado, não


tinha voltado ao sítio e ela achou que suas suspeitas
estavam certas, ele não apareceria mais.

Realmente sua aventura amorosa tinha


terminado e o vazio cada dia aumentava.

Ele tinha deixado o número de seu celular e ela


ficava olhando para ele em vez de ligar. Não queria
ser ousada e dar a entender que estava totalmente
caída pelo homem, então em um ato de boa-fé
estava esperando que ele ligasse.

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Seria ruim ela ligar? Ele devia ser um homem


ocupado.

Respirou fundo, quando saiu de um pequeno


mercado onde comprou água.

Kally foi até seu carro e o olhou, estava


imundo, o coitado.

Balançou a cabeça e o levou para um posto de


gasolina onde o colocou lavar, enquanto sentou nas
mesinhas do café que havia na loja de conveniência
para aguardar e aproveitou para comer, pois estava
faminta. Um café quente e pão de queijo era mais
que maravilhoso.

Estava lendo alguns panfletos, desdobrou um


grande mapa para ver onde poderia ir, quando
sentiu uma presença e ela olhou para o lado e viu
duas moças no balcão cochichando e dando
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risadinhas, olhando para sua mesa, então olhou para


outras mesas e eles também olhavam na sua
direção. Pareciam um tanto assustados.

Sentiu um frio percorrer a espinha e o cheiro


maravilhoso do perfume masculino invadiu seu
espaço. Seu corpo todo acendeu, sentindo a
presença dele. Foi estranho, fascinante e seu
coração disparou.

Lentamente abaixou o mapa e ele estava ali,


sentado na cadeira, do outro lado da mesinha, com
um lindo sorriso no rosto, com uns óculos escuros.

Usava uma camiseta preta, um casaco de couro


longo preto até as coxas e com gola de pele de
carneiro, seus cabelos estavam presos num coque
meio bagunçado e uma mecha caía no seu rosto.

Senhor amado, ela pensou que, se não estivesse


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sentada, teria estatelado num belo tombo no chão,


porque era o homem mais lindo e charmoso de todo
o mundo e com aquele sorrisinho malandro era
totalmente irresistível.

Como que uma pessoa conseguia se manter


normal na frente dele?

— Boa tarde, forasteira, este café aí está bom?

Tentando ignorar sua euforia e o coração que


batia descontrolado no peito, ela sorriu.

— Sim, gentil homem, eu adorei o café,


obrigada. Aceita um pão de queijo? Está quentinho.

Ele sorriu mais, pegou um da cestinha sobre a


mesa e mordeu. Ele fez sinal para a moça do balcão
e pediu um cafezinho e ela não podia ver seus olhos

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que estavam cobertos com os óculos, mas sentia o


olhar dele lhe queimar.

— Hmmm... este pão de queijo é bom, mas


prefiro mil vezes o seu.

Ela sorriu por ele dizer aquilo, por estar ali, por
tudo.

— A propósito, quem é o senhor? — Ele ficou


a olhando sério, sem entender. — Sabe, é que não o
reconheci de roupas — sussurrou.

Ele riu abertamente e isso a fez abrir o mais


lindo sorriso.

— Eu posso tirar minhas roupas, se quiser.

Ela riu.

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Por todos os santos do céu, como sentiu falta


dele, foram dois dias longos e parecia que fazia
uma eternidade. Queria voar sobre a mesa, saltar
em seu pescoço e beijar aqueles lábios perfeitos.

— Estava me seguindo ou isso foi uma


coincidência?

— Tenho lobos te seguindo.

— O quê?

— Para sua segurança.

Ela abriu a boca para contestar.

— Ah! — Ela fechou a boca. — Está na minha


cidade e não encontrei os lobos que te atacaram,
então sim, há lobos te cuidando e no seu sítio
também. Só te quero segura.
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Ela piscou aturdida. Bem, era uma atitude


louvável da parte dele e ela gostou de se preocupar
com ela.

— E eles te disseram onde eu estava?

Ele assentiu.

— A segui pela rua, e quando vi que entrou


aqui não resisti, realmente estava com saudades.

— Sério?

— Sério. Estou feliz de te ver de novo.

Oh, deuses amados!

Ele veio para frente e se escorou com os braços


sobre a mesa, parecia um predador querendo atacar
sua presa. Ela ficou sem jeito e de canto de olho viu

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as atendentes do café o comendo com os olhos e,


quando a menina veio trazer o café, ficou jogando
charme para ele.

Nem podia recriminá-las, pois o homem era um


deus ambulante, mas sentiu ciúmes, não queria
nenhuma mulher o olhando, mas ele não estava
atento a isso, estava preso nela, somente nela.

— Está muito ocupada, Pequena?

— Não.

— Gostaria de jantar comigo esta noite?

Oh, seu coração bateu mais forte.

— Hoje? Mas está tarde e não vai dar para


voltar ao sítio, me arrumar e voltar, já vai
escurecer.
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Ele respirou fundo.

— Parece maravilhosa para mim.

Ela sorriu, estava com uma saia preta longa e


uma cacharréu preta e uma jaqueta jeans, nenhuma
maquiagem ou batom.

— Não sei.

— Vamos, moça, está perfeita assim, um jantar


simples num local legal, um vinho. Gosta de
comida italiana?

Ela respirou fundo.

— Sim, eu gosto.

— Então vamos, vou te mostrar um lugar antes.

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Ele tirou uma nota de cinquenta e colocou sobre


a mesa.

— Não vai pagar minha conta.

— Já paguei.

— Mas não deu cinquenta reais! Tem troco.

— O resto é gorjeta.

Ela foi protestar, mas ele pegou sua mão,


entrelaçou seus dedos e a puxou para fora do café,
o que a espantou e mais ainda quem estava no café.

— E meu carro?

— Depois pedirei que o entreguem no sítio.

— Eita, você faz tudo assim desse jeito?

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— De que jeito? Sou prático.

— Estou vendo.

Realmente ter dinheiro e poder significava


muitas coisas e ele parecia muito prático para ela,
realmente.

— Aonde vamos?

— Já viu um bicho-preguiça de perto?

— Oh, não.

Ele sorriu.

— Então vai gostar de ver isso.

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Ela admirou a High Lux negra que ele dirigia e


ele combinava com o carro e logo saíram da cidade
e entraram em algumas estradinhas. Ele pegou um
controle e abriu um portão eletrônico.

— Que lugar é esse?

— Uma antiga lavra que foi recuperada, agora é


uma reserva.

— Jura?

— Juro.

Ela olhava tudo impressionada, a mata era


exuberante verde e viva. Havia umas construções
de material brando que ficava escondido no meio.

Ele foi até sua porta e abriu, segurando sua mão


para que descesse.
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— Aqui cuido de muitas espécies, há muitos


pássaros silvestres, araras, papagaios, esquilos,
macacos e muitos bichos-preguiça. No lago temos
gansos, cisnes, patos, tartarugas, peixes, temos até
um tamanduá.

— Oh, isso é maravilhoso!

Eles entraram e um lobo veio recebê-lo. Ele


sorriu quando ela apertou sua mão e foi mais para
perto dele.

— Pode se transformar, Júlio, ela sabe.

Ela saltou para trás quando o lobo animal se


transformou em homem de cabelos brancos e
dourados, com olhos laranja, era uma coisa
diferente.

— É sua companheira, alfa?


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— Sim.

— É uma honra conhecê-la, senhora.

Ele fez uma reverência com a mão no peito e


Kally estava chocada, pois o homem era diferente,
tratava-a daquele jeito solene e ainda nu.

Ela forçou fechar a boca e não demonstrar seu


susto, mas era meio difícil.

— Ah, olá, prazer em conhecê-lo, Júlio.

— Como estão nossas novas preguiças hoje?

— Estão muito melhores, alfa, estão ali no


parque, acabei de verificá-las.

— E a nova mamãe?

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— Ela desceu mais hoje, está ao seu alcance.

Gael pegou na mão de Kally e a levou para o


parque que tinha alguns bancos e ela abriu a boca
de espanto. Havia várias bicho-preguiças nas
árvores, sobre o banco no chão, umas maiores e
outras menores.

— Oh, meu Deus! Que coisa mais linda!

— Sabia que ia gostar. Oi, moça — ele disse


pegando uma que estava no banco e sentou com ela
no colo.

— Essa é a mãe daqueles dois ali.

— Como tem tantas?

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— Eu tenho permissão para pegá-las da mata e


cuidar delas aqui, quando as árvores são
derrubadas, muitas vezes elas perdem seu alimento
e saem do seu meio para a cidade, as pessoas
acabam machucando-as ou elas vão para a estrada e
são atropeladas, porque não se movem
rapidamente, e alguns predadores podem machucá-
las também. Júlio é veterinário e cuida delas e
qualquer animal ferido que encontramos, então
ficam aqui, são examinados, cuidados e
alimentados. Tenho um projeto com a polícia
ambiental que, quando resgatam algum animal de
contrabandistas ou caçadores, eles trazem para cá e
cuidamos deles.

— Olhe aquela, é a última que resgatei, tem um


filhotinho.

— Oh, que coisa mais linda!

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Kally ficou encantada, olhando a mamãe


pendurada no galho, e com a cabeça para baixo os
olhava, com o filhotinho deitado em sua barriga.
Era de arrancar lágrimas dos olhos de emoção.

Encantada, Kally ficou olhando como elas se


moviam lentamente, mas pareciam felizes, seguras.

Pegou uma no colo e tirou o celular para bater


fotos e bateu dele também e dos dois juntos. Pegou
uma arara na mão e um pequeno macaco, viu o
tamanduá e bateu fotos, viu diversos e lindos
pássaros, cachorros e até gatos.

Foram a um belo lago que tinha marrecos,


cisnes, gansos e muitos peixes coloridos.

Foi um momento mágico e descontraído que


serviu para ela se apaixonar ainda mais por ele.

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Quando escureceu, eles se assearam no


banheiro e foram embora.

O que aconteceu no café aconteceu no


restaurante, Gael MacDowell não conseguiu passar
despercebido; mesmo usando as lentes de contato
escuras, quando tirou os óculos, ele era um
chamariz inegável.

Todos os conheciam na cidade, pois era


pequena e eles eram os magnatas, portanto
ninguém chegava muito perto. Ele vivia no seu
mundo, longe dos humanos o mais que podia e
quando não podia, disfarçava o que era.

— Boa noite, Pedro, minha mesa, por favor.

— Claro, senhor, siga-me.

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Ele pediu champanhe e eles beberam e


conversaram enquanto esperavam a comida e ela
ficou encantada quando ele segurou na sua mão
sobre a mesa.

— Todos do restaurante te conhecem.

— Sim, é meu restaurante.

— Hã?

— Sou o dono.

Ela respirou fundo. Ok para aquilo. Que


novidade.

— Vai me dizer que é dono de mais meia dúzia


de lugares na cidade?

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— Dezenove estabelecimentos comerciais, na


verdade.

Ela abriu a boca de espanto.

— Uau. Todos são lobos?

— Não, a maioria humanos, meus lobos ficam


mais nas reservas e no meu centro administrativo
que fica dentro do meu condomínio. Alguns ficam
fora, mais misturados aos humanos, tomam postura
mais humana, cabelos cortados, lentes todos os
dias. Eles escolhem.

— Seu mundo é incrível, Gael, estou encantada.


Obrigada por confiar em mim e me contar isso.

— Eu tenho algumas coisas para falar.

— Sobre o quê?
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— Amanhã começa a feira e eu terei


convidados. Portanto reservei um horário para
visitação na feira sem que os humanos tenham
acesso.

— Hum... isso quer dizer que seus convidados


não são humanos?

— Sim. São dois casais de amigos gregos e


meu amigo irlandês, que agora mora na Grécia.
Eles vêm comprar pedras porque a beta de Harley
faz joias.

— Uau! Isso é fantástico. E o que tem?

— Quero que os conheça.

Ele sorriu com seu encantamento.

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— Oh, meu Deus, isso é muito legal. Adoraria


conhecê-los!

— Que bom.

— Eles gostam de humanos, não é? Não se


zangarão comigo? Não quero ter minha garganta
mastigada por um lobo, uma vez já bastou.

— Tenho certeza de que ficarão encantados em


conhecê-la. Então, eu pensei que você gostaria de
nos acompanhar na visitação, seria menos
tumultuado de quando for aberto ao público.

— Os MacDowell não se metem no meio do


público, não é?

— Não, salvo algumas exceções.

— Isso aqui nesse restaurante é exceção?


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— Sim. Farei algumas por você.

Ela sorriu encantada.

— Ok. Será maravilhoso, estou ansiosa para ver


a feira e conhecer seus amigos, mas eles estarão de
roupas, não é?

Ele riu e assentiu.

— E a noite terá uma recepção na minha casa,


com minha alcateia.

— Eu no meio dos lobos? Quer dizer no meio


da sua alcateia? Hum... não sei...

— Por favor, irá como minha companheira.

— Está falando sério?

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— Sim.

— Companheira... namorada?

— Sim.

— Você falou companheira para seus irmãos,


falou agora para o lobo, está me apresentando para
todo mundo como sua namorada.

— Isso te incomoda?

— Bem, um pouco, porque não me pediu isso.


Estamos namorando?

Wow, aquilo era grande e ela não estava


acreditando no que ele estava fazendo. Será que ele
era algum tipo de stalker? Qual homem na face da

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Terra a conhecia, transavam, e ainda a assumia na


frente de todos em tão pouco tempo? Levá-la no
meio de sua família.

— Kally? — chamou tirando-a de seus


pensamentos conturbados.

— Sim?

— Não sou um stalker e seu macarrão está


esfriando.

— Você definitivamente precisa parar de ler


minha mente, Gael, isso não é legal, eu quero
minha privacidade.

Ele respirou fundo.

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— Desculpe, não quero te espiar, é que você os


projeta para mim e não posso deixar de achar que
são os pensamentos mais divertidos que estudo por
anos.

Ela riu e bebeu um gole de vinho e respirou


fundo.

— Você quer namorar comigo? — ele


perguntou pegando sua mão e beijando seus dedos.

Ela piscou, o olhando.

— Caramba!

— É uma pergunta simples.

Ela tentou segurar os pensamentos que voaram


e encontrar as palavras.

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— Ok, eu quero namorar com você.

Ele sorriu lindamente e beijou sua mão


novamente.

— Bom.

Terminaram o jantar e foram embora, mas em


vez de irem para a casa dela foram para outra
entrada.

— Aonde vamos?

— Minha fazenda.

— Primeiro deixa meu carro no posto, depois


me traz para sua fazenda...

— Está ruim?

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— Deus, não.

Ele riu.

A fazenda dele era realmente fascinante, a casa


era toda feita em madeiras, com um pé-direito bem
alto, lareira de pedras e peles de animais como
tapetes, móveis rústicos, aconchegante e
primorosamente decorada, linda demais.

Era para marcar ele mais ainda na sua vida, um


sonho e se tudo não fosse melhorar, ela tinha um
homem quente, apaixonado e a fazia ver estrelas.

Gael acendeu a lareira, serviu vinhos e queijos e


eles ficaram na sala bebendo e conversando e então
tudo acabou num sexo quente.

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Só que não estavam somente fazendo sexo, e


sim amor, amor forte que tomava tudo e dava tudo
e a cada momento que passavam juntos isso só
aumentava.

Eram perfeitos juntos e não poderia haver nada


que os separasse, afinal, companheiros de alma
quando se encontravam era assim, rápido, quente e
forte, tanto que atordoava, tanto que dava medo,
mas o que era a vida de um lobo sem emoção e sem
medo?

O medo dava força e coragem.

E Gael estava começando a entender isso e o


que sentia quando estava com ela já pensava que
era algo grande, algo que não conseguiria mais
deixar para trás.

Ele estava preparado para tomá-la, mas não


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sabia se Kally estaria preparada para tomá-lo.

E pensou em lhe dizer o que companheiro


realmente significava para os lobos durante o
jantar, mas ficou com medo que ela fugisse e o
negasse, então omitiu, mas teria que dizer, cedo ou
tarde. Talvez durante a festa.

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Ilha de Alamus, Creta, Grécia.

Sami dobrou mais uma muda de roupa e


colocou na mala.

Petrus entrou no quarto e a abraçou por trás,


retirando seu cabelo e beijando sua nuca.

— Se sente melhor? Minha mãe disse que não


se sentia bem, mal tomou o café da manhã. Voltei o
quanto antes da casa de Harley quando ela me
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ligou.

— Estou enjoada e o café não me fez bem.


Resolveram as questões da viagem?

— Sim, sairemos amanhã para o Brasil. Gael


mandará seu avião nos pegar em São Paulo e nos
levará até sua cidade, que fica no interior.

— Bom. Será um passeio muito lindo.

— Já não se sente bem há alguns dias, mamãe


disse que você precisava de mim.

— Ela te chamou dizendo que eu precisava de


ti?

— Sim, estava um tanto preocupada, vim o


mais rápido possível.

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Ela se virou e o abraçou fortemente.

— Não sei o que há comigo.

O cheiro do seu perfume fez seu estômago


embrulhar. Tapou a boca e saiu correndo para o
banheiro e Petrus a seguiu. Ergueu o cabelo de
Sami, para que vomitasse no vaso sanitário. Então
ele parou, arregalou os olhos e cheirou fortemente.

— Mas... o quê? Puta merda!

Em choque, ele secou a boca dela com a toalha


e lhe entregou um copo de água. Depois a pegou no
colo e a levou para a cama, a sentou na beirada e se
ajoelhou entre suas pernas.

— Está melhor, querida?

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— Meu Deus, o que comi? Meu estômago está


embrulhado e eu acho que o quarto está girando.

Petrus engoliu em seco e a olhando com os


olhos esperançosos, emocionados, ele colocou seu
longo cabelo para trás de seus ombros.

— Acho que teremos que cancelar nossa


viagem, Harley e Pietra podem ir sozinhos com
Noah e Ester para o Brasil. Se está tão enjoada,
viajar de avião para um clima diferente pode não
ser muito bom.

— Oh, não, eu estou bem, talvez se tomar um


antiácido ou um chá eu melhore, deve ser somente
algo que comi que não me fez bem. Será que é
algum dos mal-estares por comer carne? Pensei que
já tinha passado dessa parte miserável de sair do

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vegetariano para carnívora. Quer dizer... ando


comendo muito nos últimos dias, pois sinto muita
fome.

— Acho que um chá pode te ajudar a assentar


seu estômago, mas não sei se o mal-estar passará
por alguns dias. A fome deve ser porque ele está
com fome.

— O quê? Por quê? Ele quem?

Petrus segurou seu rosto entre as mãos.

— Porque está prenhe, Sami.

— O quê?

— Está grávida, esperando um filho meu —


disse emocionado, com os lindos olhos brancos
brilhantes.
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Sami ficou olhando para Petrus com os olhos


arregalados.

— Filho? Mas... como sabe?

— Bem, meu nariz captou isso. Nosso filho foi


concebido.

— Como pode?

Ele riu.

— Sabe, quando a gente faz sexo muitas vezes,


sem proteção nenhuma é o que acontece, as
mulheres engravidam e viramos pais.

Ela riu, mas assustada, sem acreditar no que


estava acontecendo.

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— Eu estava tomando remédio, será que


esqueci?

— Estava?

— Sim, sempre tomei, mas é que estive tão


envolvida com a alcateia e com Alexander, que
acho que esqueci, ou sei lá.

— Não queria engravidar?

— Não tinha pensado muito nisso.

— Bem, companheira, minha querida Sami,


então tenho que te perguntar, está feliz?

Ela estava em choque. Demorou a dizer algo,


porque não conseguia assimilar a informação
direito.

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— Vamos ter um bebê?

— Sim.

— Um lobo?

— Sim.

— Oh, meu Deus... isso é... eu não sei que


palavra usar.

Petrus ficou nervoso, achando que ela não


queria o bebê, ele fechou o sorriso esperando que
negasse.

— Isso é... o quê? — repetiu, esperando que ela


terminasse a frase.

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Ficou olhando para ele, seu rosto tão bonito que


amava tanto e o acariciou docemente e uma lágrima
escorreu pela bochecha.

— Maravilhoso!

Petrus piscou aturdido.

— Maravilhoso?

— Sim, nunca pensei que seria mãe, quer dizer,


sempre tive outras prioridades na minha vida,
sempre querendo ser a melhor no trabalho, estudar,
conseguir posições, depois tinha que cuidar de
Alexander, a suposta morte de meu pai e aquela
loucura dos laboratórios e você veio e tudo estava
tão bagunçado.

— Sim, nossa história foi um pouco


conturbada, cheguei a pensar que tinha te perdido.
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— Eu fui tão tola.

— Eu entendi seus motivos, Sami.

— Eu sei.

Ela segurou seu rosto e mais uma lágrima


escorreu pela sua face.

— Você é o lobo mais maravilhoso que


conheci, é bondoso, espirituoso e eu não sei o que
seria de mim sem você.

— E amo você.

— E eu amo você, lobo, e estou muito, muito


feliz que teremos um bebê. Um lobinho, meu Deus,
eu terei um lobinho!

— Está realmente feliz?

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— Claro que sim! E eu quero que seja lindo


como você, com seus cabelos, seus olhos, sua
bravura e com um coração como o seu.

— Nós o amaremos e o ensinaremos a ser forte,


mas a ser bom e justo. Mostraremos a ele que a
família deve ser unida e companheira. Quero ser
um bom pai para ele ou ela.

Petrus pensou em seu pai e o que teve que fazer


anos atrás e ainda doía. Mas ele seria bom e justo,
isso era uma promessa.

— E isso só me faz amar mais você. Será o


melhor pai de todo o mundo, assim como é o
melhor companheiro, lobo e alfa.

Petrus riu emocionado, com os olhos


marejados, porque seu coração estava
transbordando de amor e alegria, estava cheio de
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esperança e ansiedade de poder segurar seu filho


nos braços.

Ele beijou seus lábios intensamente, porque


pensou por um momento que ela não queria um
bebê, seu filho.

Sami riu, com os olhos banhados de lágrimas e


o beijou uma e outra vez. Petrus riu e a beijou de
volta e a abraçou forte, com o coração
descompassado.

Ergueu-a e a rodopiou, rindo. Petrus uivou alto


e forte anunciando que teriam um filho e a ilha
parou para ouvir. Ele a soltou, foi no terraço da
varanda de seu quarto e uivou mais alto, para todos
ouvirem nos quatro cantos da ilha e Sami riu,
secando as lágrimas pela alegria dele.

Bebês sempre eram bem-vindos às alcateias.


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Lobinhos traziam alegria e promessa de felicidade e


esperança de um próspero futuro.

E Petrus e Sami conheceriam outro nível de


felicidade.

E tudo poderia estar mais maravilhoso na Ilha


de Alamus? Não poderia.

Os lobos, pela ilha, começaram a uivar em


resposta, comemorando com o alfa a chegada de
um filhote.

O herdeiro de Alamus.

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Teófilo Otoni, Minas Gerais, Brasil.

— Sei que está nervosa, mas não precisa ficar,


ninguém vai te machucar aqui, Kally.

— Por que sinto que estou sendo observada?


Parece que tem olhos por todos os lados.

— E tem. Todos os cômodos da casa têm


câmeras, temos alarmes em todos os lugares e
tenho homens armados.
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— Realmente não quer que ninguém entre aqui.

— Essa é a ideia. Só quem eu quero.

Ela arfou de susto e gemeu, ela tinha entrado no


covil dos lobos e tinha visto eles de guarda na
propriedade e eram realmente gigantes, parecia
aqueles filmes de mafiosos, homens de preto,
armados, gigantes por todo lado e as mulheres,
Jesus, a olhavam como se quisessem devorá-la.
Mas ninguém se aproximou dela ou lhe dirigiu a
palavra, além de Gabriel.

— Está comigo, está segura.

Ele beijou seus dedos e Gael levantou da


poltrona ao ver Nico Papolus e Pietra, Noah e Ester
entrarem na sala de estar.

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Noah riu e o abraçou fortemente e depois lhe


deu um soco no ombro, que Gael retribuiu, onde
eles demonstravam que havia muito respeito e
lealdade entre eles.

— Noah, que bom revê-lo.

— Sim, bom te ver, homem. Esta é minha


companheira, Ester.

Gael pegou sua mão e beijou o dorso.

— É um prazer imenso conhecê-la, senhora. E


este homenzinho? — disse pegando na mão de
Lucian, que estava no colo de Ester.

— Meu filhote, Lucian — Noah disse


orgulhoso.

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— Um belíssimo lobinho, amigo, meus


parabéns!

— Muito obrigada pelo convite, é uma honra


estarmos aqui — disse Ester.

— Eu que agradeço que vieram. Estava


devendo uma visita à sua nova ilha, mas andei
tendo muitos percalços por aqui, coisas de trabalho.

Ele estendeu a mão para Nico e deram um forte


abraço.

— Harley, é um prazer revê-lo.

— Igualmente, Gael. Petrus manda lembranças.

— Deveria ter vindo junto. Pensei que viria.

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— Sim, ele prometeu que em outra


oportunidade virá com sua alfa, mas ele teve uma
surpresa de última hora. Sua companheira está
prenhe e não se sentia muito bem para viajar, sabe
como é essas coisas de enjoos. Ele achou melhor
deixar para outra oportunidade.

— Entendo. Por um bom motivo, por favor,


passe a ele minhas congratulações, um herdeiro é
uma bênção. Devem estar radiantes.

— Com certeza estão. Esta é minha


companheira, Pietra, e este é meu filho, Apolo.

— É um prazer conhecê-la, senhora. — Gael


beijou o dorso de sua mão.

— O prazer é meu, alfa.

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— Oh, mas é um belo menino. Esta é minha


companheira, Kally.

Kally ficou totalmente boquiaberta, não sabia


mais se por ele dizer aquilo dela para os estranhos,
que claramente eram casados e se chamavam de
companheiros, ou pelo deslumbre de beleza que
eram.

Isso ela tinha constatado. Lobos eram muito


altos e acreditava que não havia nenhum feio, era
atordoante, salvo Ester que era a mais baixa que
tinha visto.

Tentando não ser abobalhada e ser educada,


sorriu, estendeu a mão para Harley, que beijou seu
dorso e ela não podia acreditar na beleza deles, o
homem era realmente divino com seu cabelo loiro

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com mechas mais escuras, lisos até um pouco


abaixo dos ombros, vestido de calça jeans, uma
camiseta preta justa e um blazer preto.

O homem era realmente lindo, de perder o


fôlego.

E a mulher, senhor, era estonteante, parecia


aquelas modelos de capa de revista, incrivelmente
bela, vestida com um vestido tubinho verde que
mostrava suas curvas perfeitas e realçava seus
olhos incrivelmente verdes claros.

Olhando o outro casal, Noah era muito sério e


dava medo, mantinha o cabelo longo num rabo de
cavalo e uma barba bem feita, era bem musculoso,
vestido de calça de couro, uma camiseta preta e
jaqueta de couro. O homem era um caso à parte, de
uma beleza selvagem e extremamente sedutor, e

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sua esposa, era pequena perto deles, mas belíssima


e com um cabelo de dar inveja a qualquer um. E os
bebês? Não havia nada mais lindo e fofo na vida.

Ela passou a mão no queixo, porque pensou que


estava babando, e ficou envergonhada com seu
comportamento descarado. Mas como evitar se sua
vida se resumiu em conviver com deuses do
Olimpo?

— Como foi a viagem? — Gael perguntou


contente e Kally teve que tirar o chapéu para ele, o
homem rindo era mais lindo que tudo e ela amava
quando ria, porque a deixava feliz.

— Um tanto cansativa, mas muito obrigado por


ter enviado seu avião a São Paulo para nos trazer
aqui, mais uma conexão e estaria rosnando.

— Sim, entendo que seja realmente cansativo.


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Sentem-se, por favor, pedirei que tragam algo para


beber.

— Obrigado.

— Muito tempo que não nos vemos, vejo que


há muitas novidades. Soube de alguns acontecidos
por aquelas bandas.

— Grécia anda um tanto agitada nos últimos


tempos por causa dos lobos.

— Imagino. Fico feliz que tudo esteja correndo


bem na ilha, Noah.

— Pelo menos, os humanos malditos nos


deixaram em paz. Livramo-nos do mandante dos
laboratórios.

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— Oh, miserável, não acredito que conseguiu


pegá-lo. Espero que tenha o estripado.

— Sim, o matamos e meus lobos tiveram seu


tempo com ele. Realmente a história era escabrosa.

— Por que humanos malditos? — Kally


perguntou sem entender do que estavam falando.

— Muitos chamavam os lobos de selvagens.


Você não imagina quanto um humano pode ser
selvagem e cruel, quantas atrocidades podem
cometer. O que fizeram naqueles laboratórios foi
muito além de ciência.

— Quer dizer que vocês estiveram presos em


laboratórios? — perguntou assustada.

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— Sim. Nós tivemos alguns problemas no


passado, minha alcateia foi alvo de humanos. Por
sorte, conseguimos fugir, mas minha alcateia foi
quase toda dizimada. Com os resgates conseguimos
salvar alguns e pegar os humanos.

— O que fizeram com os humanos? — Kally


perguntou curiosa.

Gael a olhou seriamente.

— Matamos todos.

Ela piscou, aturdida e pensativa. E não


conseguiu pronunciar nenhuma palavra. Então,
olhou para Noah.

— Sim, cientistas, médicos, enfermeiros,


guardas, todos os que respiravam foram
devidamente estripados e mandados para o inferno
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— Noah disse, frio como uma pedra de gelo.

— Não podemos confiar nos humanos


facilmente, Kally, deve saber disso.

— Mas podem ser amigos.

— Não seja ingênua, um humano respeitar tal


magia que possuímos é quase um conto de fadas.
Gostaríamos que pudéssemos conviver
conjuntamente, em harmonia, mas isso nunca
ocorreu e nunca irá ocorrer.

— Os humanos, na maioria são gananciosos e


ignorantes demais para entender nossa espécie.

— Eles nos prenderiam e nos matariam, Kally


— Gael disse.

— Mas...
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— Nossas mulheres foram estupradas, machos


valorosos reduzidos à pele e osso, quebrados,
surrados, humilhados. Abriram os lobos como
animais para serem dissecados. Injetaram drogas,
deram choques, testaram quanto poderíamos
suportar de dor e nos regenerar. Jamais
permitiremos que aconteça novamente — Noah
completou.

— Os que sobreviveram carregam almas


atormentadas, traumas, muitas vezes irreparáveis
— Harley disse.

Kally olhou para Gael e engoliu em seco.

— Eu queria discordar e dizer que é possível,


mas, pelo que vejo no mundo, e pelo que dizem,
tanta maldade, acredito que não seria possível
mesmo.

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“Se eu me tornasse loba teria que me esconder


também”, ela pensou.

— Sim, teria.

Kally piscou aturdida e olhou para Gael, que a


olhava sério. Com os olhos frios e ao mesmo tempo
quentes e esperançosos, passando uma mensagem a
ela.

Ela assentiu, quase em pânico.

Ele estava questionando, se ela fosse uma loba


deveria ser como eles, ocultos no mundo. Poderia
fazer isso?

— Como está Clere? — Gael perguntou.

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— Está se adaptando. Ela passou por maus


bocados, mas acredito que com o tempo as coisas
vão se ajeitar.

— Elas precisam de algo? Tia Lara está bem?

— Elas estão bem e em outra oportunidade


virão te visitar. Acho que não precisa mandar mais
dinheiro. Eu dou conta delas.

— Eu insisto. Elas são minha família e quero


continuar mandando mensalmente o dinheiro para
elas. Principalmente para Clere, para tudo que
necessite.

— Está bem, faremos como queira, mas não


entendo porque não quer que elas saibam que o
dinheiro é seu.

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— Porque quero ajudar e não quero constrangê-


las, não sei se aceitariam minha ajuda.

— Gael, não se sinta culpado com o que houve


com seu tio ou com Clere. Não foi sua culpa.

— Eu deveria ter sido mais forte. Poderia ter


lutado mais, se tivesse conseguido ter impedido que
levassem Clere, ela não teria ficado presa dez anos,
sofrendo sabe-se lá que tipo de atrocidades.

— Não, não poderia. Todos nós fizemos este


tipo de punição a nós mesmos, acredite, fiz muito
comigo mesmo, mas não foi nossa culpa, tentamos,
mas não somos responsáveis pelas mortes de
nenhum deles.

Gael respirou fundo.

— Pelo menos posso ajudá-las agora.


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— Tudo bem, então as ajude agora e também


me ajudou muito com o dinheiro que me deu para
ajudar nos resgates, compra de armas, nas viagens e
tudo mais, inclusive de ter participado de alguns
resgates. Ninguém culpa ninguém, além de Joan e
os humanos.

Gael assentiu e respirou fundo.

— Bem, qualquer coisa, me avise.

— Fique tranquilo.

Kally prestava atenção para entender tudo o que


haviam passado, parecia muito ruim e se
compadeceu deles.

Seus pensamentos foram cortados quando a


conversa mudou de rumo.

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— Fiquei feliz que o presente à sua


companheira foi muito apropriado e que agora
resolveram nos agraciar com sua presença para ver
as pedras por si mesmos, Harley.

— Quando quis montar a ourivesaria para


Pietra, fiquei contente que tinha você para contar.
Nossas outras fontes estavam deixando a desejar.

— Fico feliz por isso, é uma honra. Eu reservei


um horário antes dos portões se abrirem somente
para sua privacidade. Teremos segurança e lobos
para mostrarem as pedras. Pensei que ao nosso
ambiente de lobos estariam mais confortáveis para
circular pelo pavilhão.

— Seria ótimo.

— Minha assistente já tem uma prévia do que


deseja para suas joias, madame, assim que puder
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ver estas e se desejar ver tantas outras.

— As pedras brasileiras são realmente


fascinantes, alfa, amei muito as que Harley havia
comprado e depois dos outros pedidos que fiz
através de seu catálogo, agora poder vê-las aqui
será fascinante.

— Sim, in loco é realmente mais emocionante.

— Bem, agora vou mostrar-lhes suas suítes


para se refrescarem, depois teremos uma
maravilhosa refeição com muita carne e cervejas
geladas.

— Ah, agora estamos mais felizes.

Gael riu e bateu no ombro de Noah.

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Sim, Kally os amou e ela estaria feliz de poder


ser amiga daqueles lobos.

Era uma privilegiada. E as perguntas


pipocavam na sua cabeça.

O pavilhão que comportava os estandes, cada


loja ou empresa com o seu, era gigantesco. E as
empresas de Gael tomavam uma boa parte dele, que
ia desde a lapidação, venda de pedras brutas,
avaliação, à confecção de peças para venda, como
joalherias ou peças para artesanatos sofisticados.

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A segurança era pesada, havia câmeras e


seguranças armados por todo lado.

O horário reservado para as visitas VIP era


antes de o pavilhão ser aberto ao público.

Geralmente para grandes empresários que


compravam uma quantidade considerável e
gostavam de ver por si mesmos as belezas dos
minérios ou colecionadores e amantes das joias
preciosas, assim como Gael que possuía uma
ourivesaria que vendia peças que poucos mortais
poderiam adquirir.

Ele seguia ao lado de Kally e ia mostrando e


explicando tudo a ela, Harley e Pietra, Noah e
Ester. A loba assistente de Gael, que era uma loira
muito bonita e séria, passava orientações e
explicações mais técnicas para Pietra.

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Cada estande havia lobos para mostrar as


pedras. Quando os lobos partissem, os humanos
tomariam o posto quase por completo.

Os lobos que permaneciam, usavam óculos


escuros ou lentes de contato. Muitos deles, machos,
tinham os cabelos tingidos para esconder suas
mechas e não levantar curiosidades sobre eles.

Kally conversava com Pietra que, animada,


falava das joias, das pedras que mais gostava e ela
falava das propriedades curativas e energéticas
delas.

As mulheres roubaram a cena e dominaram


tudo nas suas discussões e compras, enquanto Gael,
Harley e Noah ficaram mais atrás, com seus
próprios assuntos, sempre de olho nas suas
mulheres.

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— Vejo que tomou uma humana como


companheira — Noah disse.

— Sim, estamos aprendendo a nos conhecer e


tentando fazê-la se acostumar aos lobos.

— Acredito não ser fácil, acompanhei alguns


casos e não é fácil uma humana deixar seu mundo
para se tornar uma loba, Gael.

— Não discutimos essa parte ainda.

— Boa sorte com isso — Harley assentiu.

— Você acredita nesse negócio de


companheiras de alma? Ouvi boatos, mas não sei se
seria isso entre nós.

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— Acredito sim, piamente. Não são


companheiros comuns, Gael, você saberá se
acontecer. Se for ela.

Gael assentiu, nem se imaginava falando de tal


assunto, parecia um adolescente bobo e
apaixonado.

Respirou fundo, sério e taciturno.

— Tenha paciência, pelo que sei, o que sente


por ela, ela sente por você. Se forem companheiros
de alma, o sentimento é recíproco e ela pode
demorar um pouco para aceitar, mas cederá. O
amor de companheiros é mais forte que o medo.

— Foi assim com sua humana?

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— Sim, tivemos nossos problemas na época,


mas a sua parece forte e com o tempo tudo ficará,
bem. Se não tivesse te aceitado ela não estaria aqui,
acredite.

Gael olhou para Kally e ficou sério a


analisando. Talvez ele tivesse razão.

— Qual a sua preocupação?

— Que minha alcateia não a aceite, ou que não


queira ser loba.

— Saberá se tentar.

— Isso é o que pretendo. Soube que andou se


metendo em confusões na Grécia.

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— Caro amigo, pense que os deuses se


tornaram reais. A Grécia nunca esteve tão forte e
viva para nós, lobos.

Gael riu.

— E lobos parecem chamar confusão ou lutas.

Harley bufou.

— Isso é fichinha do que temos enfrentado nos


últimos anos.

— Sua companheira é preciosa.

— Sim, ela é, e nossa jornada não foi fácil. Mas


eu te darei um conselho, amigo. Não importa quão
difícil seja, quanto tempo demore ou o que tenham
que enfrentar, não desista dela, porque ao fim, o
que vai encontrar, te fará o homem mais feliz desse
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mundo. Os deuses podem ser bem difíceis de


entender ou até dar raiva, mas uma coisa é certa: a
companheira feita para um lobo, seja loba ou
humana, é perfeita para ele, em todos os níveis. Se
aquela pequena ali é a sua, não a largue por nada.

Gael respirou fundo e assentiu. Sorriu quando


chegaram a frente a um pedestal rodeado por uma
redoma de vidro e correntes, contendo uma rocha
de dois metros de altura.

— Uau, isso é grande, o que tem de especial


nela? — Kally perguntou.

— Essa rocha pesa quase uma tonelada e é


considerada única no mundo — Gael explicou.

— Oh, meu Deus, que coisa mais linda. Por que


ela é única no mundo? Que pedra é essa?

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— Ela tem uma grande concentração de


Apatito, Malaquecheta e Fel de Espato.

— Tudo num bloco de rocha só?

— Sim, por isso é rara e preciosa.

— Uau! É belíssima.

— Por que tanta segurança nela? — Pietra


perguntou.

— Alguém tentou roubá-la ano passado.

— Quem consegue roubar uma pedra de uma


tonelada?

— Bem, não podem, o que foi uma idiotice,


mas ela agora possui alguns dispositivos de
segurança a mais, assim como todo o lugar.

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— Vai ficar sempre em exposição?

— Sim, mas estou a negociando.

— Acredito que não deva ser baratinho.

— Nem um pouco. Ela tem um valor


inestimável, mas como sou um homem de negócios
estou pensando no assunto de vendê-la.

— Quanto custaria? Posso ter umas moedas na


minha bolsinha.

Ele soltou uma linda gargalhada, o que a deixou


vibrante.

— Acredito que tenha, Pequena, mas acho que


suas moedinhas não podem cobrir o valor de 500
milhões de dólares.

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Ela abriu a boca de espanto.

— O quê? Jesus, nem faço ideia de quanto seria


isso. Existe alguém no mundo que pode pagar uma
fortuna dessa por uma rocha?

— Bem, como eu disse, não é uma simples


rocha e daqui podem sair muitas pedrinhas
brilhantes e sim, querida, há gente que tem cacife
para comprá-la.

— Jesus, estou me sentindo muito pobre.

Ele riu novamente.

— Suas pedras realmente são belíssimas, são


tantas, umas mais belas e preciosas que as outras,
que torna difícil escolher — Pietra disse.

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— Minas Gerais é a capital das pedras


preciosas. Temos cerca de sessenta expositores e
cerca de cento e dez fora do pavilhão, que vendem
as pedras com menos necessidade de segurança
como aqui e tentamos favorecer os artesãos locais e
menores. Aqui é preferência mundial, porque temos
uma variedade de gemas coloridas que encanta o
mundo como Tormalina Cormalina, topázio e
outras. Em nenhum lugar do mundo se encontra
tantas variedades de pedras como aqui.
Impressionante como isso cresceu nos últimos
anos, especialmente no último século.

— Quando você fala em século me passa pela


cabeça que passou por ele.

— Um dos ossos do ofício de ser um lobo.

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— Quais as pedras mais preciosas? — Harley


perguntou.

— As mais preciosas são as esmeraldas,


turmalinas, águas marinhas e o topázio.

— Quanto tempo dura a feira?

— Cinco dias de evento.

— Temos como avaliar aqui?

— Temos nosso próprio laboratório


gemológico, que mede a qualidade das pedras.
Encontramos algumas que pensamos ser valiosas,
mas eram apenas pedras comuns. No fim daquele
corredor poderá consultar o gemólogo que estará à
sua disposição.

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— O que fazem com elas, essas que são


bonitas, mas sem valor?

— As exploramos com requinte e são


trabalhadas como semipreciosas ou pedras para
bijuterias. Sempre há uma utilidade para as pedras.

— As pedras polidas, cuidadosamente


trabalhadas possuem valores realmente altos, mas
as pedras na sua forma bruta também encantam
muita gente. As pessoas gostam de comprar pedras
brutas para enfeite e como as drusas e outras
também, que ajudam muito na energia positiva nas
suas casas, inclusive vou querer algumas para levar
— Kally disse sorrindo lindamente.

— Isso também — Gael respondeu. — Muitos


místicos vêm em busca de pedras assim, pois
acreditam na sua magia, digamos assim.

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— Bem, eu sou uma delas — Kally respondeu


para ele, que a tocou na bochecha com o dorso dos
dedos, admirando-a. Ela disse aquilo com os olhos
brilhantes, como se fosse algo realmente excitante e
precioso para ela. E ele gostava da sensação que
sua alegria mexeu com seu corpo e sua mente.

Sua companheira era uma mística, muitos até a


chamariam de bruxa, mas na sua alcateia não tinha
problemas com bruxas, mas sabia que muitos
outros lobos tinham.

Respirou fundo. Não entendia algumas coisas


no mundo oculto, mas o que ele mais prezava na
sua vida era ficar longe de confusões e seus lobos
também, havia muitos anos que sua alcateia não se
metia em alguma confusão, salvo que havia lobos

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misteriosos tentando atrapalhar seus negócios e


agora que ela apareceu e tinha virado sua cabeça de
cabeça para baixo.

Sua paz foi quebrada, mas ela valia qualquer


sacrifício.

Sua jornada matinal seguiu com compras de


pedras, fotos, pepitas de ouro, artesanatos incríveis
de pedras e, claro, com um rombo no banco por
parte deles. E Kally também, mas ela não comprou
as pedras preciosas, escolheu muitas drusas e
pedras mais com seus objetivos místicos.

Harley pagou uma quantia considerável, mas


ele estava feliz de ver sua companheira renovada,
forte e trabalhando no que amava. Havia algo mais
perfeito no mundo?

Não.
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E quando Gael prestou atenção em Harley e


Pietra, viu um amor e cumplicidade tão grande,
uma energia tão forte e revigorante que emanava
deles, que desejou ter o mesmo. Desejou conhecer
um amor assim, tão forte, capaz de superar tudo,
capaz de lutar até a morte por sua companheira e
saber que ela lutaria de volta.

E sobre Noah e Ester, ele não conseguia


acreditar no novo homem que ele havia se tornado,
estava feliz, leve, cuidava de sua pequena loba e
seu filhote como nunca, e sabendo de tudo o que
havia passado e o peso que carregava nas costas
sobre os acontecimentos de sua alcateia, Gael teve
uma certeza: elas eram suas companheiras de alma,
que foram capazes de ajudá-los, entendê-los e amá-

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los, salvando suas almas do tormento e da


escuridão. E acreditava que não tinha sido fácil,
mas que tinha valido a pena.

Ter um amor tão grande que enaltecia a alma,


mudava a vibração do lobo e fazia ele se sentir
grande e poderoso, principalmente amado.

Ele olhou para Kally e desejou ter isso com ela.

Gael amou sua companheira séculos passados,


mas não era nada comparado ao sentimento que
Kally cultivava no seu coração. Era tão forte que o
deixava hesitante em muitas coisas e saltava etapas
em outra.

Nunca foi um homem precipitado em nada,


nem em questão de sua família, trabalho ou
sentimentos, mas era com ela. Não sentia vergonha

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de demonstrar seu carinho a ela, demonstrar que


estava a amando e que ela era importante em sua
vida.

Ele simplesmente abriu as portas e escancarou


as janelas de seu coração e sua alma, permitindo-a
entrar.

E gostava de como se sentia.

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Quando Kally entrou no saguão da mansão


tremia de nervoso, estava querendo dar a volta e
voltar para o sítio, mas ele tinha sido insistente com
ela para participar da festa.

Um mordomo vestido com um impecável terno,


cabelos compridos brancos com mechas cinzas,
presos num rabo de cavalo e olhos amarelos, veio
recepcioná-la.

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Gael apareceu no saguão vestido com um


impecável terno e gravata, com os cabelos com gel,
penteado para trás, seus olhos estavam brilhantes e
lindos mais do que nunca. Parou e ficou a olhando,
encantado.

— Pelos deuses, como está majestosa!

Ele se aproximou e docemente beijou seus


lábios.

— Acha que estou bem?

— Perfeita.

Ele a olhou de cima a baixo, com o olhar


devorando cada pedacinho dela. Ambos ficaram se
admirando.

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O vestido verde-esmeralda justo, com a cintura


marcada, tomara que caia, delineava seu corpo de
forma tão perfeita como se estivesse sido feito sob
medida, os sapatos do mesmo tom, de salto,
complementavam o look elegante e sexy.

— Você que escolheu isso para mim?

— Liguei para a loja e disse seu tamanho e que


precisava de algo elegante e sexy.

— Ficou tão lindo, nunca usei nada tão lindo,


obrigada.

— Fico feliz, dará inveja a todos, querida.

— Tem certeza de que devemos fazer isso?

— Absoluta.

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Ela respirou fundo e tomou coragem, ele beijou


seu pescoço e inalou seu perfume, deslizou os
dedos em sua nuca desnuda pelo penteado, amando
a maneira que havia prendido os cabelos. Nada
sofisticado demais, era natural e belo, como ela.

Ele pegou em sua mão, entrelaçando os dedos e


a levou pela mansão.

Kally estava estupefata com a mansão que ele


morava. Era muito luxuosa e havia móveis de mais
de cem anos, algumas salas eram modernas, mas
algumas pareciam que foram preservadas para
relembrar seus antepassados, como uma memória
de sua longa vida.

Achou tudo lindo, mas tinha gostado mais da


fazenda, pois era uma preciosidade e maravilhosa,
mas com um estilo rústico.

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Estava impressionada que ele tivesse a levado


para dentro de seu lar, sua alcateia não estava
entendendo como ele tinha a deixado entrar no
coração dos lobos tão rapidamente, ela desconfiava
que havia algo mais que ainda não havia lhe dito.

Apesar dos lobos estarem o seu redor, eles não


estavam à vista, mas ela se sentiu observada, como
se mil olhos a acompanhassem a todo lugar que ia.

Eles desceram uma escadaria de mármore e à


medida que iam passando as luzes iam acendendo.

— Aonde vamos?

— Em um lugar especial, uma espécie de cofre.

— Cofre? Tipo esses de banco?

Ele riu.
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— Tipo isso.

— Por que me trouxe aqui?

— Eu prometi que te mostraria meu mundo.


Essa é uma parte dele.

Ela sorriu lindamente e seus olhos brilharam.

— Isso implica em me mostrar algumas


pedrinhas brilhantes?

— Acho que algumas, sim.

Ela riu e olhou para a porta, já em expectativa.


Gael colocou a mão em um painel ao lado que fazia
a leitura biométrica de suas impressões digitais, a
porta fez um clique e abriu automaticamente. Ela

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pode ver que era extremamente grossa com vários


dispositivos como uma porta de cofre de banco,
realmente.

— Hum, espere!

Ele cobriu seus olhos com a mão e a conduziu


para dentro da sala.

— Ai, meu Deus.

— Preparada?

— Sim.

Ele tirou as mãos e Kally ficou com os olhos


arregalados, boquiaberta com o que via.

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A sala era grande e muito iluminada e havia


muitas prateleiras de vidro nas paredes e com
muitas caixinhas, cada caixinha continha uma pedra
diferente com uma plaquinha com o nome. No
centro havia uma mesa magnífica de carvalho e
com um desenho estupendo de resina verde.
Parecia uma mesa de algum lugar encantado da
floresta de fadas.

— Oh... Meu Deus! Isso não é bem um tipo de


cofre de banco, é tipo...

— Um cofre.

— É... minha nossa...

Ele sorriu com o encantamento dela. Era como


uma criança olhando uma sala cheia de brinquedos.

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Seus olhos estavam deslumbrados, brilhando


mais que as próprias pedras preciosas.

Ficou estupefata olhando da porta.

Gael fez um gesto galante com a mão para que


ela entrasse.

— Aqui está o legado de minha família. Um


exemplar de cada pedra que encontramos nos
nossos garimpos, algumas que adquiri durante os
anos de outros. Há pedras únicas e raras, outras
com valor inestimável, outras com menos valor
monetário, mas não em valor sentimental. Nosso
império foi construído nessa terra e a valorizamos
com tudo o que temos. É nosso dever manter isso.
Nós estamos pisando no maior tesouro do Brasil.

— Isso é tão precioso. Minas Gerais possui


tantas riquezas.
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— Sim.

— O estado responde por quase a metade das


exportações brasileiras e possui um dos três
maiores centros mundiais de comercialização de
pedras, aqui em Teófilo. Possui raridades.

— Sim, nós possuímos as únicas minas


exploradas comercialmente no mundo, de
Alexandrita em Antônio Dias e Topázio Imperial,
em Ouro Preto.

— São suas, não são?

— Sim.

Ele fez sinal e ela olhou para uma estante e se


aproximou e ali estava uma pedra de Alexandrita e
uma de Topázio Imperial.
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— Oh, isso é tão lindo... tão maravilhoso. Eu


poderia ficar aqui o dia todo somente olhando para
elas. A Alexandrita é magnífica com mais de um
tom...

— Ela tem algo místico?

— Oh sim! Ela é verde-escura, mas brilha como


uma pedra vermelha sob luz artificial e dependendo
da maneira que você a gira, ela fica multicolorida.
A Alexandrita é benéfica para o sistema nervoso,
para o baço e também os testículos. Ela possui uma
capacidade regeneradora preciosa, tanto no plano
físico, quanto no mental. A Alexandrita nos ajuda a
reconstruir a nossa autoestima e respeito. É uma
pedra tranquilizadora e estabiliza a nossa energia.

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Ela o olhou sorrindo tão lindamente, que Gael


poderia entender como seu coração estava perdido
por ela. Não era somente uma mulher bonita, mas
meiga, inteligente e vibrante, e ele a admirava.

— Oh, que trem é esse? — perguntou


encantada.

— É uma água marinha.

— Oh, meu Deus! Essa não seria a pedra que o


pessoal comentava do Tibúrcio, não é?

— A própria.

— Ah valha-me, você a comprou dele?

— Sim.

— Isso foi em 1957.

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— Sim.

Ficou confusa com as datas, mas recordando


sobre sua idade, sacudiu a cabeça e respirou fundo.

— Hum, é difícil de acostumar com isso... sabe


que você é um Matusalém. — Ela riu feliz e ele
também. — O avô da minha prima contava que
Tibúrcio achou a pedra por acaso, que estava indo...
você sabe...

— Não faço ideia, diga-me, senhorita.

Ela riu, porque ele estava sorrindo e sabia que


ele sabia, mas queria que falasse.

— Dizem que ele tinha ido ao mato para fazer


suas necessidades e se deparou com a pedra.

— Você ficou com as bochechas vermelhas.


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Ela riu, cobrindo as faces com as mãos.

— Oras, é que não é nada elegante dizer que a


pessoa foi cagar no mato.

Gael soltou uma gargalhada.

— Realmente não. Você me parece muito


delicada para ficar gritando palavrões por aí.

— Bem, não sou uma santa, mas procuro não


ser tão desbocada, só um pouquinho.

— Que bom saber disso.

— Dizem que ele, o Tibúrcio, morreu sem


nada. Meu avô dizia sempre um ditado, que
dinheiro de pedra é excomungado, porque o povo o
ganha, mas morre pobre.

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— Se ele não soube aproveitar o dinheiro que


ganhou o problema é somente dele, não meu, eu fiz
minha parte. Ele gastou praticamente seu dinheiro
todo com mulheres, bebidas, farras, essas coisas.

— Hum, sei.

— Era um garimpeiro que morava próximo a


uma das minhas lavras.

— Lavras?

— É como chamamos uma área de garimpo.

— Hum... eles sabem o que você é?

— Não.

— Você ajuda nessas comunidades de


garimpeiros?

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— Sim, são meus empregados e suas famílias,


devem ser bem providos. Não vivem no luxo, mas
não permito que lhes falte comida e atendimento
médico, ainda mais quando há crianças. Cestas
básicas são distribuídas todos os meses, mesmo
para quem não necessita, se está nas minhas terras
recebe.

— Hum... A maioria das mineradoras não


valorizam seus garimpeiros e não preservam a
natureza com o cuidado que deveriam. Estes
lugares são perigosos e malcuidados, geralmente
são uma espécie de bomba-relógio pronta a
explodir e são muito explorados de forma
agressiva.

— Entendo seu ponto de vista, minha querida,


mas não construí minha fortuna em cima da miséria
dos outros e minha alcateia não se impõe sobre as

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outras em vão. Não permito que em minhas terras


pessoas sejam exploradas. Meus lobos guardam
esse território como a vida. Meus empregados são
bem pagos e você nunca verá nenhuma barragem
em perigo, acidentes nas minas são premeditados e
evitados ao máximo, nunca verá nada envolvendo
meu nome. Os últimos acidentes e catástrofes
envolvendo minhas minas aconteceram antes da
Segunda Guerra, quando o sistema ainda era muito
precário, hoje temos muitas tecnologias que nos
ajudam a minimizar acidentes, preservar e... lucrar.

— É sério?

— Tenho cara de quem mente, madame?

— Homens geralmente mentem.

— Não lobos, pelo menos nada significante no


qual possa por em risco meu povo, meus
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empregados e minha família. Já te disse isso, Kally.


Minha palavra é minha honra e uma coisa que um
lobo preza muito é a sua honra.

Ela respirou fundo.

— Acho que entendo seu lado.

— Hum, muito bom.

— E sobre as catástrofes que ocorrerem nos


últimos tempos?

— Ah, esta mineradora responsável por estes


desastres é uma desgraça para nosso estado, uma
praga que é uma pedra no meu sapato. São
gananciosos, ladrões e constroem tudo da pior
qualidade, não prezam a natureza, nem as pessoas

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que trabalham para eles e os moradores de suas


cidades. Deveriam ser presos e impedidos de
minerar aqui ou em qualquer lugar.

— Aff, eu concordo com tudo isso, se eu


pudesse pegava essa gente e torcia o pescoço.

— Nossas leis são péssimas e advogados e


alguns juízes podem ser comprados por eles. É o
que há de pior no nosso país. A propina corre solta.

Ela pareceu triste e ele docemente beijou seus


lábios.

— Você nunca fará isso, fará?

— Jamais.

— Obrigada.

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Ela sorriu lindamente e voltou a olhar as pedras,


uma por uma.

— Oh! Olha isso!

Ele riu, pois parecia fascinada.

— E o que me diz destas belas gemas de


Topázio Imperial?

— São belíssimas e tão fabulosas! Elas atraem


prosperidade, fortuna e favorece muito o sucesso
profissional. Aumenta nosso brilho pessoal, ajuda a
superar limitações, favorece a busca pela fama e
reconhecimento. Afasta a negatividade e recarrega
as energias do corpo e da aura e a expressar nossos
potenciais e carisma.

— Acho que você não precisa de uma delas,


porque seu carisma já é estupendo.
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Ela riu e o olhou de soslaio.

— Uma garota sempre necessita de umas


pedras. Lembra a música de Marilyn Monroe?
Diamantes são os melhores amigos de uma garota.

Ele riu.

— Gosta dos diamantes?

— São estupendos. Todas as pedras são


especiais, por isso as amo tanto e gosto de estudá-
las.

— Muito bem, então separei algo para você.

— O quê?

Ele pegou um livro muito grosso e colocou


sobre a mesa.

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— O que é isso?

— É uma espécie de catálogo das pedras.

— Sério?

— Sim, aí tem tudo o que necessita para sua


pesquisa.

— Oh, não me diga! Eu posso lê-lo?

— Foi para isso que te trouxe aqui.

— Oh trem bom, você é tão gentil, muito


obrigada, eu vou amar lê-lo e me ajudará muito
para meus livrinhos. Você cumpriu sua promessa
com louvor.

— Então, eu mereço uma recompensa.

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— Oh, menino levado, quer recompensa por ter


feito uma boa ação, tsc... tsc...

Ele riu.

— Lobos gostam de biscoito.

Ela soltou uma gargalhada e ele a amou mais.


Respirou fundo, emanando tanta felicidade e se
aproximou dele, segurando a lapela de seu terno.

— Pode ser um beijo?

— Pode, um beijo é suficiente, cara dama.

Gael se abaixou para alcançar seus lábios e ela


o brindou com um doce e suave.

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Tanta doçura, tanta ternura, tanto carinho que


lhe dava facilmente, que ele careceu por tantos
anos. Agora tinha percebido o quanto sua vida
havia sido reclusa, chata e fria. Ela trouxe leveza,
calmaria para seu coração, carinho e calor e não
queria abrir mão disso nunca.

Quando se afastou, o olhou com um lindo


sorriso, e ele a abraçou pela cintura e a puxou para
seu peito em um abraço. Kally passou os braços por
baixo de seu terno o abraçando pela cintura com a
face em seu peito. Mesmo de salto alto, ela ainda
ficava na altura de seu ombro.

— Se não tivéssemos um compromisso, eu


pediria mais que um beijo.

— Temos mesmo que ir para uma festa?

— Sim, tenho convidados.


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— Hum... ok. Não sou muito chegada a festas,


mas aceitarei seu convite.

Ele respirou fundo e encostou a testa na sua,


nem ele queria ir.

— Obrigada por ter me mostrado seu cantinho


precioso, Gael, eu amei tanto.

— Obrigado por ter vindo.

— Achei que merecia o sacrifício.

Ele sorriu abraçando-a mais.

— Então, já que está fazendo um grande


sacrifício por mim, eu queria te dar um presente.

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— Não precisa me dar nenhum presente,


somente ter me deixado entrar aqui nesse paraíso é
o maior presente do mundo. E esta pesquisa.

— Fico contente que te deixei feliz, mas mesmo


assim eu queria te dar um presente.

— Ok.

Ele a afastou com as duas mãos, foi na gaveta


de uma escrivaninha, pegou uma caixa e deu a ela.

— Oh não... não... eu nem sei o que tem aí


dentro, mas este tipo de caixa costuma ter joias
caríssimas ou algo do tipo e não posso aceitar tal
coisa.

— Por favor, aceite, por mim. É de coração.

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— Não estou aqui para ganhar joias do magnata


das pedras, Gael.

— E eu estou aqui diante de ti, como um


homem, te dando um presente, como seu
companheiro, não como o magnata das pedras
como me chamam.

Ela suspirou e engoliu em seco e pegou a caixa.

Lentamente a abriu e havia um colar e um par


de brincos de esmeraldas e pequenos diamantes e
ela abriu a boca de espanto.

Era bem delicado, e lindo demais, e olhou para


ele boquiaberta.

— São para combinar com seu vestido.

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— Isso é muito. Nem faço ideia de quanto isso


custa.

— Por favor, é de coração, para que sempre se


lembre de mim...

Quando ela for embora, ela soube que a frase


terminaria ali. E não queria ir.

Engoliu em seco e olhou para as joias e não


gostou de ele lembrar disso.

— Quem dá um colar de esmeraldas para uma


mulher que conheceu há apenas alguns dias?

— Você não é uma mulher qualquer, Pequena.


É minha mulher.

Sua mulher?

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Olhou-o espantada e um tanto assustada, mas a


frase causou algo forte e seu coração batia eufórico.

Kally não sabia o que responder e quando ele


acariciou sua bochecha com o dorso dos dedos, ela
se derreteu e seu olhar dizia tanta coisa. Era tão
diferente e fora do que já tinha vivido, mas assim
era, Gael era assim e ela teria que se adaptar se
quisesse ficar com ele.

— Aceite, por favor.

— Obrigada, Gael, são divinas. Nunca ganhei


um presente tão caro, nem teria onde usar.

— Podemos providenciar isso.

— Não sou acostumada com a roda da


sociedade, Gael.

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— Mas faz parte de minha roda agora. E então


aceite e use esta noite, para mim, se gostar, se não,
tudo bem, posso te dar uma que goste, somente
quero te dar um presente.

— Eu amei estas.

Gael sorriu, pegou o colar e foi atrás dela e


colocou no seu pescoço e suavemente beijou seu
ombro e ela pegou os brincos e tirou o que estava
usando e colocou e, então, ele a virou para um
espelho que fazia parte da decoração de vidro.

— Está linda.

— Obrigada. Isso é tão maravilhoso.

— O que elas significam?

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— A esmeralda cria abundância. Ela nos abre


para receber fartura do Divino e a aceitar as
bênçãos com gratidão e felicidade. Proporciona o
equilíbrio físico, mental e emocional.

— Ela vibra atraindo riquezas, aumenta nosso


poder de magnetismo, abre caminhos e também é
conhecida como a pedra do amor bem-sucedido,
fortalece os relacionamentos, então eu espero que
fortaleça o nosso, afaste a inveja e aumente nosso
poder de atração — ele complementou.

Ela se virou e o olhou, encantada.

— Você sabe.

— Pesquisei para poder te impressionar.

Kally sorriu lindamente.

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— Impressionou.

E ele soube que saber o que significava era


mais importante que o valor da pedra. Já tinha
entendido como ela era. Kally não tinha ganância
por riquezas e dinheiro, tinha sede de conhecimento
e magia.

Era muito além disso e diferente de tantas


outras pessoas que queriam se aproximar dele pelo
seu dinheiro e suas pedras preciosas, ela procurava
outros valores.

— Muito bem, senhor das pedras.

— Hum... E eu sei também que a esmeralda


ajuda a tratar problemas no coração, pulmões,
músculos e na coluna. Ela melhora a visão, ajuda a

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desintoxicar o fígado, melhora os casos de diabetes


e ajuda no tratamento do reumatismo. Ajuda a
fortalecer nosso poder de autocura.

Ela tomou o rosto dele entre as mãos e ficou o


olhando encantada.

— Você é tão especial, lobo — sussurrou. —


Agradeço pela honra de ter te conhecido.

Ele rosnou e a beijou, profundamente. Ergueu-a


sobre a mesa e se encaixou entre suas pernas, que
ela abriu um pouco por causa da fenda do seu
vestido, mas não o suficiente e ele riu.

— Acho que estou meio presa.

— Acho que sim, mas eu adoraria tirar este


vestido e te tomar sobre esta mesa.

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— Oh, pelo amor de Deus, não judie de uma


garota.

Ele riu de novo e a beijou novamente e se


beijaram por longos minutos e ao fim, quando
sentiu o telefone vibrar em seu bolso Gael rosnou e
se afastou se empertigando para conter sua luxúria.

Estava excitado e dolorido.

— Acho que estamos atrasados para a nossa


recepção.

— Oh sim, e você é o anfitrião, então não posso


te raptar e usufruir de seu corpo todo grande e
lindo.

Ele riu e beijou docemente seus lábios.

— Pode usufruir dele o quanto quiser depois.


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— Aham, irei...

— Há algumas coisas que quero te falar.

— Sobre o quê?

— Sobre nós, lobos, sobre eu e você.

— Não precisa se sentir pressionado ou em


dívida comigo, nada disso, ok?

— Não é isso, Kally.

— O que é então? Está tudo muito rápido, eu


sei.

— Está e não quero te assustar com tudo isso de


lobos, mas não tomamos companheiras humanas
por aí, sabe?

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— Sei, e sei que é um alfa, ocupa uma posição


importante e não pode se comprometer assim.
Devemos ir devagar.

Gael respirou fundo, não sabia como falar. Não


havia devagar com eles, era tudo ou nada, rápido,
impulsivo e avassalador e não havia nada no
mundo que ele pudesse fazer para deixá-la ir sem
que seu coração quebrasse.

Enrolou uma pequena mecha de cabelo dela que


caía do penteado no dedo e tentou sorrir, trouxe a
mecha para seu nariz e cheirou e era um delicioso
cheiro de frutas.

— Eu queria te dizer que realmente me sinto


bem com você, gosto de estar com você, me sinto
alegre e faria tudo para te deixar feliz.

— Eu fico muito feliz de ouvir isso. Também


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me sinto feliz.

— Não é à toa que estou te apresentando como


minha companheira para meus lobos.

— Isso parece um tanto grave.

— É, mas está tudo bem, eu ajeitarei tudo, só


quero que confie em mim.

— Confiarei.

— E sobre o ferimento que te fiz no pescoço...

— Oh, você viu? Ele sumiu completamente,


parecia tão feio quando vi no espelho e no outro dia
havia pequenas marcas, hoje nada.

— Eu disse que sumiria rápido.

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— Sim.

— Kally...

— Alfa, estamos o aguardando no salão de


festas.

— De onde veio isso? — Kally perguntou


assustada, olhando ao redor.

— Há um intercomunicador aqui, câmeras...

— Oh...

— É melhor irmos, conversaremos mais no fim


da festa, ok?

— Ok.

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— Não tenha medo e tenha em mente uma


coisa.

— O quê?

— Você é minha companheira, minha mulher e


todos terão respeito por você, entendeu?

— Estamos comprometidos, é isso?

— Sim.

— Mas... eles sabem disso?

— Sabem.

Kally ia perguntar mais, mas ele a pegou pela


cintura e a tirou de cima da mesa. Ela ajeitou seu
vestido e seguiram para fora da sala. Ele a trancou e
seguiram pela bela casa.

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Ela olhou para suas mãos unidas, com os dedos


entrelaçados, e para ele, que andava majestoso ao
seu lado.

Aquilo lhe causou um arrepio e um medo


súbito. Tudo andava tão rápido e não sabia se
deveria estar ali, com ele, naquela festa.

Havia algo pinicando sua nuca, como uma


advertência. Devia ter recuado antes, agora era
tarde demais.

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Kally respirou fundo quando chegaram a um


imenso salão que estava requintadamente arrumado
com muitas mesas redondas dispostas ao redor da
sala e no meio havia uma pista vazia e um
magnífico e gigantesco lustre de cristal no centro
que brilhava com as luzes.

Tudo era riquíssimo, com taças de cristal, louça


muito bonita e talheres reluzentes que pensou
serem de prata e todas as mesas tinham arranjos de
flores no centro.

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— Oh, Jesus!

Ele parou e a olhou.

— Não tenha medo, querida, tudo vai ser bonito


e tranquilo. Está segura aqui.

Ela engoliu em seco e assentiu.

E então entraram no salão e todos os olhos


giraram para eles.

Ela não soube dizer se ouviu algum rosnado,


porque seus ouvidos estavam zumbindo, seu
coração batia tão forte que podia ouvir as batidas e
a respiração estava difícil. Estava prestes a
desmaiar, achava que não tinha sido uma boa ideia.

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Agora que entrou no salão de festas da mansão


e viu tantos lobos ali e o luxo de tudo pensou em
sair correndo.

Seu coração saltou desgovernado, a respiração


ficou difícil e ela colou no chão.

— Respire e dê um passo de cada vez.

— Acho que isso não...

— Está tudo bem, Kally, está segura aqui, está


comigo. Ok?

Ela assentiu e sorriu, não queria demonstrar que


estava nervosa e acuada.

— Lembre-se, querida, é minha companheira e


eles te devem respeito. É a companheira do seu
alfa — disse mentalmente e ela ouviu.
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Kally respirou fundo e ele beijou o dorso de sua


mão, como o mais perfeito e maravilhoso
cavalheiro, e a forma que a olhou fez todo o medo
ir embora, pelo menos o que fez ela pregar no chão.
Estava linda, elegante e estava com ele, o que podia
ser ruim?

Gael cumprimentou algumas pessoas,


apresentou-a a outras e então chegou na frente de
uma belíssima senhora, vestida num elegante
vestido pérola.

— Mãe, esta é Kally.

Mãe? Senhor! Suas pernas tremeram. Sempre


imaginou as sogras como bruxas de verruga no
nariz e que queriam jogar as noras no caldeirão e
servir no jantar.

Ela era uma loba e poderia fazer picadinho dela,


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literalmente.

Ele apertou sua mão e sabia que estava lendo os


seus pensamentos. Ela apertou de volta e Gael riu.

— Kally, esta é minha mãe, Catarina.

— Oh, finalmente a conheci, você é linda,


Kally.

— Obrigada, a senhora também. Meu Deus,


como as lobas são lindas — disse sinceramente e a
senhora sorriu. — A senhora jamais demonstraria
que é bisavó.

Gael riu e a senhora sorriu.

— Vou levar isso como um elogio.

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— E foi! Porque estou achando fascinante.


Realmente estou feliz de conhecer os lobos.

— Nossa genética ajuda, devo confessar. É


bem-vinda em nossa casa. E espero que saiba
honrar seu posto.

— Obrigada, eu irei.

Kally sorriu, mas sentiu a facada, o que quase


tirou seu sorriso e mandou um vai à merda, mas,
por outro lado, sabia que eles deveriam ser
cautelosos.

Achava que era a mulher que a olhava com o


olhar penetrante, claro estava a avaliando dos pés à
cabeça. Afinal era companheira do seu filho, Jesus,
estava fodida. Provavelmente a via como uma
caçadora de fortunas, mas até que a mulher foi
educada.
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Cumprimentou os convidados e Ester foi a mais


atirada, abraçando-a calorosamente, como se
fossem amigas de longa data. Pietra também foi
muito carinhosa e gentil, mas era bem mais contida
que Ester, um tanto tímida, mas gostava das duas.

Gael puxou uma cadeira para ela sentar, ao lado


da cabeceira de uma mesa longa e ele sentou à
cabeceira.

Ela estava ao seu lado na grande mesa, que


pensou ser exclusiva para a sua família e seus
convidados ilustres, e tudo era tão luxuoso e
brilhante, que ela nem sabia o que brilhava mais, a
prataria e cristais, os olhos dos lobos ou o olhar
dele sobre ela.

Era desconcertante todo mundo, mas procurava


não encarar nenhum deles, porque estava com
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medo de alguma situação constrangedora. Não era


daquela roda e mesmo Gael não se importando, ela
tinha medo que os outros fizessem.

Era tipo aquela calamidade quando o namorado


leva a namorada para conhecer os pais ricos.

Tipo um pesadelo anunciado.

E não queria trombar em tal cena, de jeito


nenhum.

Gael tomou a conversa com seus convidados,


Nico e Noah e suas companheiras e ela os achou
divinos vestidos com roupas elegantes. Mas o
selvagem Noah estava usando um terno preto com
a camisa preta sem gravata e gola aberta. Ela
pensou que aquilo seria o máximo ele usaria.
Encantador.

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Todos eram lindos demais para conseguir


passar em branco.

Ficou encantada somente ouvindo a conversa,


sobre lobos para cá e para lá e algumas aventuras,
as últimas pelo menos. Um grego, ora bolas,
sempre soube que a Grécia era um lugar mágico.
Eles estavam espalhados por todos os lugares do
mundo. Impressionante.

O estranho é que quando olhava para Pietra


Papolus parecia que a aura dela brilhava diferente
dos outros. Tinha algo a mais nela que não soube
identificar. Já tinha visto muitas auras antes, mas a
dela era maravilhosa e diferente. Era pura energia,
mais forte que das outras lobas.

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Elas não estavam com seus bebês, talvez


estivessem dormindo em algum quarto com uma
babá.

O engraçado é que achou o Sr. Nico lindo,


Noah maravilhoso, achou Gabriel deslumbrante e
outros lobos que vira também muito lindos, mas
quando olhava para Gael seu corpo vibrava.

Sorriu com o pensamento pecaminoso que


passou por sua cabeça, somente queria tocar nele e
usufruir do seu corpo, sentir suas mãos sobre ela,
seus beijos.

Gael pegou sua mão que estava sobre a mesa e


beijou seus dedos, o que fez ela sair de seu
devaneio e olhar para ele.

— Está gostando da nossa cidade? — ele


perguntou e ela quase suspirou ao ouvir sua voz,
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realmente amava sua voz e a acalmava.

— Sim, é muito bonita. Vim quando pequena,


mas fazia muitos anos que não voltava. Costumava
ficar nas férias no sítio com meus tios por alguns
dias. Não posso negar que está sendo uma
experiência um tanto... excêntrica.

Ele sorriu e assentiu em silêncio, e imaginou


que provavelmente o jeito meio tímido dela era
adorável e se sentia um pouco acuada no meio
daquelas pessoas.

Fora uma loucura sem precedentes trazer aquela


humana para uma festa de família. No meio de sua
alcateia.

Estava louco.

Sim, louco por ela.


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Uma mulher loira e muito bonita se aproximou


para falar com ele e Kally tentou disfarçar e dar
atenção para as outras pessoas da mesa, mas se
incomodou que a loira estivesse manipulando a
atenção dele.

Mas com a visão periférica, ela manteve o foco


no homem e na mulher ousada à sua frente.

Porém, em vez de relaxar, e não ligar para ele,


sentiu uma inexplicável onda de ciúme.

Gael sorria e conversava, e Kally agia como se


não notasse e tentou demonstrar desinteresse.

No entanto, ele não conseguia parar de olhar


para ela.

Aquilo foi constrangedor.

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A mulher parecia uma cobra tentando se enrolar


nele, falando melodiosa e se insinuando de forma
que ela até teve vontade de jogar um copo de água
gelada para ver se apagava o fogo da descarada. E
foi muito mal-educada, porque nem sequer se
apresentou ou a cumprimentou.

Kally trincou os dentes, tentando disfarçar,


quando a loira começou a tocar no braço dele.

Ela se mantinha imóvel, com a atenção


concentrada nele, então piscou aturdida quando ele
moveu o braço, para que ela parasse de tocá-lo, e
disse algo que ela não entendeu e a mulher olhou
para ela com fogo nos olhos.

Gael ouvia a conversa em torno dele sem


registrar as palavras, parecia incomodado e seu
olhar foi direto para Kally.

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Estranho e louvável.

Mas a mulher insistiu em trazer sua atenção


para ela novamente e Kally tomou um gole de
vinho para se acalmar. Nunca tinha sido ciumenta,
mas estava agora e a mulher tinha algo que fazia
seu estômago embrulhar, atingia sua sensibilidade.

— Gostaria de dançar, Kally?

A pergunta chegou a ela meio distorcida,


porque seus ouvidos zumbiam.

Ela se virou e olhou para o irmão de Gael, que a


olhava e sorria. O homem era um caso a ser
estudado de tanta beleza.

— O que disse?

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Ele levantou foi até ela e com uma mão nas


costas e a outra estendida, como um cavalheiro dos
séculos passados e ainda mantinha aquele sorriso.

— Concede-me a honra desta dança, senhorita?

— Oh... bem... eu não sou muito boa na dança.

— Eu te conduzo.

Kally pensou em negar, mas seria bom sair de


perto da mesa para espairecer sua onda de ciúmes
de Gael e a cobra.

Ela se levantou e o movimento trouxe a atenção


de Gael de volta para ela. As bochechas dela
haviam assumido um tom ainda mais brilhante de
rosa.

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E ele se sentiu chocado com aquilo. Ela tinha


aquele efeito sobre ele, fazendo seu corpo ficar em
alerta pelo simples fato de entrar no ambiente ou se
mover. Gael soltou o ar, frustrado.

Kally olhou para ele, que agora os olhava com


o olhar frio e não parecia muito contente. Mas
sorriu, suspirou e aceitou a dança.

Pegou a mão de Gabriel e foi para a pista,


tentando não demonstrar nada além de uma
imperceptível hesitação nos passos e frustração e
começou a se embalar lentamente.

Ela não sabia exatamente porque estava


tremendo.

— Está tudo bem, querida? — Gabriel


perguntou.

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— Muito bem. Só não sou chegada muito


nestas festas muito chiques.

— Pelo seu requinte, eu deveria discordar.

— Acredite, gosto de ficar à vontade e não em


cima de um salto e comer com tanta formalidade.

— Também não gosto muito de formalidades,


prefiro algo mais natural e detesto usar gravata,
diferente de meu irmão. Mas temos convidados
ilustres, então, é praxe algo mais formal, mas
também nos divertimos com uma bela carne assada
e cerveja.

Ela riu.

— Gael não me parece assim tão largado para


churrasco e cerveja.

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— Ele é uma exceção, pois está sempre


montado na sua armadura camuflada. Espero que
você possa quebrar um pouco disso nele.

— Eu?

— Sim, Kally, trazer um pouco de suavidade


para sua vida.

— Ele parece ser bem sério.

— Sim, creio que seja o jeito dele, mais voltado


para os negócios. Frio como aço. Gael assumiu seu
lado de alfa e leva isso muito a sério. Mas ele
merece um pouco de... descontração... amor... e
você tem conseguido grandes feitos sobre ele.

Ele não parecia tão frio com ela, bem, muito


menos não na cama.

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Ela piscou afastando os pensamentos e pensou


sobre o que Gabriel dizia. Era uma contradição.

Ele estava falando de amor?

Olhou-o, espantada, mas não sabia o que dizer e


ele a olhou de relance com um sorrisinho
zombeteiro no rosto.

— Entendo.

— E devo dizer que Gael está nos olhando


como se fosse arrancar minha cabeça.

— Por quê?

— Ele não gosta que outro homem toque no


que é dele.

Ela franziu o cenho e olhou para ele.

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— Está se referindo a mim?

— Não vejo outra mulher que possa tomar tanta


atenção de Gael como você, Pequena.

Ela sorriu pelo Pequena, sim ela era minúscula


perto deles e Gabriel era tão alto quanto Gael e
forte. Parecia que todos a achavam pequena, mas
adorava quando Gael a chamava assim, era
carinhoso, amoroso e sexy. Jesus, os homens eram
como uma montanha deliciosa.

— Não sou dele.

— Eu poderia discordar disso.

— Bem, nós somos namorados, não posse um


do outro.

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— Assustador a palavra posse, mas lobos são


assim, e ser posse não é de forma ruim.

— Isso é confuso.

— Com o tempo vai entender. Ele jamais teria


te trazido para nosso meio, te apresentado para
nossos convidados, para o centro de nossa alcateia
se não houvesse outras intenções do que um
pequeno flerte.

— O que isso quer dizer?

— Que você está mais enroscada com os lobos


do que pensa.

— Quer dizer que sou uma exceção?

— Se olhar ao redor, querida, todos aqui são


lobos. Você é a única humana.
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Ela olhou ao redor e sim, podia ver, as mulheres


homens e crianças eram lobos, somente pela forma
física exuberante e diferente.

Ela estava tão envolta ao redor de Gael que não


havia percebido.

Talvez estivesse um tanto chocada, mas como


podia ter sido tão desconectada e não tinha
percebido ao seu redor?

— Todas estas pessoas são lobos?

— Sim.

— E eu sou a única humana?

— Sim.

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Olhou ao redor e pôde observar como as


pessoas a olhavam.

O diferente ali era ela e não os outros e isso


trouxe um novo estado: medo.

— Shhh... está tudo bem. Se o alfa te trouxe é


porque pode estar aqui.

— Por que não poderia?

— Humanos não entram na nossa alcateia.


Dificilmente nos mostramos aos humanos como
somos, já deve saber.

— Sim, vocês têm uma vida dupla.

— Assim é e muitas vezes enche o saco, mas é


o que somos, temos que nos ocultar, mas tentamos
conviver entre os humanos sempre que podemos, já
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estamos acostumados. Mas você é uma exceção, ele


te assumiu como sua companheira. Um grande
passo. Precisa estar preparada para aprender, Kally.

— Eu vou.

— Ótimo, estarei aqui para o que necessite. Se


tiver algum problema, pode vir a mim.

— Obrigada. Por isso Gael é tão fechado?

— Ele não gosta de se ocultar, o deixa de mau


humor, por isso seu escritório fica isolado na
companhia, há andares que humanos não entram e
ali ele circula livremente, e a matriz fica num lugar
onde nenhum humano pisa, mas ele viaja muito a
negócios e, então, tem que fingir ser um humano
normal.

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— O entendo, deve ser muito chato ficar se


policiando o tempo todo, assim como para todos.

— É, mas temos muita consciência dos perigos


que nos cercam se nos descobrirem.

— Eles estão me olhando por que não gostam


de mim?

— Estão te olhando porque o alfa te trouxe e


isso é um milagre, pois ele não se envolve com
humanas e porque você arriscou sua vida e o
salvou. Todos têm curiosidade para com a humana
que salvou seu alfa e você carrega sua marca.

Kally o olhou aturdida e ele mantinha um


sorriso simpático.

— Mas deve ser um bom sinal eu ainda não


estar estripada, fincada num espeto?
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— Sim.

Gabriel soltou uma gargalhada e ela riu.

— Sim, e me certificarei de que você continue


com sua cabeça.

— O que quer dizer?

— Ao mesmo tempo que tenho a obrigação de


proteger sua vida por estar com Gael, eu tenho a
obrigação de cuidar de meu irmão e meu alfa, pois
sou seu beta e minha função é manter as coisas
seguras e funcionando ao seu redor.

— No caso acha que sou um risco para vocês?

— Sim, isso também.

— De que marca falou, Gabriel?

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— Da marca do acasalamento. Foi reivindicada.

Ela o olhou com os olhos arregalados, mas


quando foi fazer mais uma pergunta ouviu um
rosnado atrás dela, que a fez saltar e arfar
assustada.

Quando se virou, Gael estava atrás dela,


olhando tão sério para Gabriel, que pensou que
morderia sua garganta.

— Oi, mano! Estava aqui entretendo sua


adorável humana.

— É o suficiente, Gabriel.

O homem pareceu não se abalar com o mau


humor de Gael e ele a olhou e beijou o dorso de sua
mão.

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— Obrigado pela dança, querida, foi uma


honra.

— Obrigada, Gabriel.

Gabriel saiu e ela ficou o olhando, porque não


queria olhar para Gael, mas ela se surpreendeu
quando ele agora estava na sua frente, tapando sua
visão e pegou na sua cintura e a trouxe para seu
corpo.

Kally arfou e se sentiu tonta, porque ele era tão


cheiroso e tocá-lo era uma enxurrada de emoções.

Quando olhou para cima e seus olhos se


fixaram, todo o salão desapareceu, porque aqueles
incríveis olhos azuis não pareciam gelados como
gelo de segundos atrás, e sim quente como o covil
do inferno.

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Do lado bom.

— Parece zangado.

— Não com você.

— Com o quê, então?

— Por Gabriel ser sempre o que me provoca e


parecia estar feliz de dançar com ele.

— Estava contente, ele é muito gentil.

— Mas eu não gostei que dançasse com ele.

— Bem, isso é algo que você vai ter que lidar,


porque eu danço com quem eu quiser. Não gosto de
atitudes machistas e que mandem em mim. Sou
livre.

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— Não disse que a proibi, disse que não gostei.

— Por quê?

— Porque...

Ficou olhando para ele esperando a resposta,


mas Gael parou e pareceu que não responderia.

Kally quase sorriu, porque soube.

Ele estava com ciúmes e, apesar de sua


conduta, entendeu seu ponto e gostou.

— Pode dizer que estava com ciúmes, não vai


cair um pedaço.

Gael rosnou e ela riu, mas sentiu que ele se


abrandou quando a puxou mais para perto.

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— Sim, estava com ciúmes, mas não porque


pensei que era errado vocês estarem dançando e
sim, porque eu que deveria estar dançando com
você.

Ela sorriu com a sua lógica.

Era o jeito dele, um tanto duro e era o que


Gabriel estava tentando lhe dizer sobre Gael. Ele
precisava se sentir mais solto, mais livre.

Era por isso que estava refugiado na fazenda


longe da cidade, e estava como lobo andando pelo
bosque. Ele queria se sentir livre e estar em contato
com a natureza.

Sentiu pena e, por outro lado, o sentimento em


seu peito que já era grande pareceu inflar. Suspirou
e o olhou.

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— Você estava ocupado e parecia muito íntimo


da loira, que me parece ser uma loba.

— Sim, ela é loba.

— O que ela é sua?

— Minha amante.

Kally arregalou os olhos e foi se afastar, mas


ele não permitiu, com a mão a segurou forte contra
ele, ainda a embalando.

— Diz isso assim na minha cara?

— Por quê? É a verdade e eu não minto. Você


fez uma pergunta e eu respondi.

Kally estava mais chocada.

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— Sempre é assim direto?

— Sim. Digo a verdade, eu não tenho porque


esconder que ela é minha amante. Você não gosta
de sinceridade?

— É que, sim, gosto, mas nunca pensei em


ouvir isso assim.

— Bem, é o que é, mas não pretendo mais ser.

— O quê?

— Não quero me deitar mais com ela.

Kally o olhava com os olhos arregalados.


Nunca pensou em ter uma conversa desse tipo e era
desconcertante.

— Por quê?

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— Porque somente quero a ti na minha cama.


Você é minha companheira, te reivindiquei e não
me deitarei com nenhuma mulher que não seja
você.

Ela arfou e engoliu em seco.

— Lobos são fiéis às suas companheiras, Kally,


sempre. São preciosas, as guardamos no coração
com todo amor e devoção que sabemos dar.

As memórias deles no sítio a tomaram e ela


gemeu e parou de olhá-lo.

Somente de pensar como a tocava, a deixava


quente. Os pensamentos eram rápidos e
desgovernados. As lembranças eram demais.

Ele gemeu porque estava sentindo os cheiros


mais deliciosos de sua vida, todos que vinham dela.
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Além do perfume de sua pele, ele podia sentir o


do creme, o cheiro de flores em seus cabelos, de
sua excitação.

E tudo isso misturado, era como um coquetel


Molotovi, bem no centro de seu corpo.

Ele estava duro e louco para tê-la em sua cama


de novo. Pois ela o puxava sem misericórdia e por
mais que Gael quisesse se manter firme e forte
longe dela, era praticamente impossível, porque a
queria e seu lobo também.

Kally sentiu o peito dele vibrar e ele estava


rosnando.

— Agora estou dançando com você, mas ainda


parece zangado.

— Não com você.


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— Com quem então?

— Comigo mesmo.

— Por quê?

— Você gosta de fazer perguntas e eu não sou


muito bom em respostas.

— Só quero tentar entender você e como vive.

— Entendo.

— Te importa o que eles pensam de mim?

— Sim. Quero que eles vejam o que eu vejo.

Ela sorriu e suspirou.

— O que é isso de marca?

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— Eles sabem que a mordi, eles sentem seu


cheiro, meu cheiro sobre você. Quando a mordi,
meu aroma se misturou ao seu, mudou.

Ela arfou e ficou sem fala por alguns minutos.

— E isso seria bem sério, não seria?

— Sim. Não temos nosso vínculo completo,


mas... todos sabem que desejo fazê-lo, todos sabem
que estamos acasalados.

— Acasalados?

— Somos companheiros, estamos


comprometidos, porque a mordi, a reivindiquei
como minha e por isso está aqui para que te
conheçam e saibam que é minha e que devem
respeitá-la e protegê-la, como sua alfa.

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Obviamente, ela estava tendo alucinações e


estava ouvindo errado. Porque olhou ao redor e
todos os olhavam. Engoliu em seco e se sentiu um
bife prestes a ser devorado. Sua cabeça começou a
girar.

— Não tenha medo, Kally.

— Não tenho — respondeu rápido.

Era mentira, mas não admitiria para ele.

— A princípio pensei que poderiam não gostar


ou te aceitar por ser uma humana, mas ninguém
demonstrou contra, quer dizer, alguns
questionaram, mas vão aceitar.

— Olha... Gael... isso parece meio complicado.

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Ela ergueu seu olhar para ele novamente e Gael


sorriu, pois ficava linda temerosa.

Ele respirou fundo.

— Desculpe, Kally, às vezes eu esqueço que


não entende coisas de lobo. Não quero fazer as
coisas erradas, isso também está um pouco confuso
pra mim.

— Não entendo mesmo... Mas quero entender.


Só não sou propriedade de ninguém e esta coisa de
marca é meio bizarro. Entendi que me marcou e
disse que foi sem querer, então te perdoei, mas essa
marca nos trouxe um compromisso que é mais forte
que simples namorados. Correto?

— Sim. Não pretendia fazer desse jeito, mas eu


não me arrependo de ter te mordido e nem de tê-la
aqui na minha casa, estou contente de estar contigo
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e quero que continue.

— Ficou confuso como eu.

— Sim.

Ela respirou fundo.

— Entendo.

— Você quer ficar comigo?

— Sim.

— Então vamos encontrar um meio de fazer


tudo dar certo, ok?

— Ok.

— Só relaxe e aproveite a noite, depois


conversaremos com mais calma.
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— Estou tentando ficar relaxada, mas esta


conversa está meio... tudo.

Ele sorriu e beijou sua testa e continuaram


dançando.

Kally escorou a cabeça em seu peito e tentou


esquecer aquela conversa. Só queria um momento
sem nenhum terror. Seria possível? Não, porque ele
era um lobo, e estava se sentindo presa a ele e não
sabia se gostava disso ou não.

Tudo rápido demais.

Ela olhou para uma das mesas e viu a loira, que


os olhava e não parecia muito contente, mas não se
abalou. Se ele disse que não a queria mais, então,
não se preocuparia.

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Uma onda de possessividade percorreu o corpo


de Kally. Aquele homem era dela... pelo menos
naquela noite.

— Quero te beijar, sentir a suavidade de sua


boca — ele sussurrou em seu ouvido.

Ela se afastou e o olhou porque, Senhor, o


homem respirava sensualidade, nunca tinha visto
nada igual. Como podia dizer aquelas coisas, ali no
meio daquele povo todo?

— Está sendo muito ousado, Sr. Lobo.

— Isso te excita?

Ela gemeu e sorriu.

— Bem, nunca tive alguém que falasse assim


como você.
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— Fico contente que seja o único. Aprecio o


sexo e gosto de dar prazer e desejo tudo pra ti.

Senhor, ele era bom.

— Está sussurrando tão baixinho.

— Para que os lobos não ouçam. Todos têm o


ouvido muito aguçado e, apesar de eles não terem
vergonha nenhuma sobre sexo, sei que você tem.

— Sim, falar assim em voz alta soa bem


depravado.

Ele riu e ela amou sua risada.

— Gostaria que continuasse minha descarada


intenção esta noite?

— Esta noite?

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— Querida, não pensa em terminar esta noite


nos meus braços?

Ela quase desmaiou ali, e gostou de sua


tamanha e afrontosa fantasia.

— Posso pensar no seu caso.

— Vou tentar te convencer.

— Tente.

Ele sorriu e chegou bem perto de seu ouvido


enquanto ainda a embalava com seu corpo.

— Desejo deixar um caminho de beijos pela


sua boca, o seu pescoço, sobre seus seios, apanhar
seu mamilo com meus lábios, senti-lo crescer e
endurecer-se em minha língua.

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E devagar ele acariciava com os dedos,


movendo-os em suas costas com delicadeza, com
erotismo.

Kally gemeu e dentro dela desatou uma fome


voraz por esse homem.

— Te tocar até te enlouquecer, ouvir seus


gemidos e tomar seu ar, te possuir uma e outra vez.
Mas não aqui, não agora. Quando nos amarmos
será a sós para que ninguém nos veja.

Ela poderia considerar vulgar um convite como


aquele, mas a voz suave, quase ronronando, era a
coisa mais erótica que já tinha ouvido.

O membro rijo pulsou com um espasmo,


avolumando contra sua barriga, o que a fez saber
que sentia desejo real por ela.

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Sua voz a tranquilizava, ao mesmo tempo em


que a queimava, assim como suas mãos.

Somente fechou os olhos e ficou imaginando


tudo e, Senhor, queria correr dali com ele e colocar
tudo em prática. Aferrou-se a ele, exigindo mais,
procurando a plenitude num simples abraço.

Era divino.

— Não devia falar estas coisas — disse com um


sorriso e com as bochechas vermelhas o que o fez
sorrir maliciosamente, feliz por si mesmo.

— Ok, eu não direi mais nada.

Ela riu.

Eles ficaram se olhando intensamente.

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— Está tão linda esta noite, mas prefiro sem


este vestido.

Ela sorriu.

— Fico contente que tenha gostado, me sinto


bonita.

— Mas eu te acho bonita com este vestido ou


com a calça rasgada, ou com suas saias longas,
nua... de qualquer jeito.

Ela sorriu mais e seu encantamento só crescia


por ele.

Como que ele conseguia uma hora ser tão frio e


distante e outra ser assim, quente como o inferno e
adorá-la desta maneira, sem ter vergonha de dizer
palavras que a agradassem.

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E parecia que suas palavras eram sempre


verdadeiras, não falácias e ou falsas cantadas como
geralmente era com os homens para conseguir uma
transa de uma noite.

Gael não era como os homens normais, ele era


intenso, quente, poderoso, dominante, dono de si e
sabia o poder que exalava.

Sabia como se sentia em relação a ela. Podia ser


coisa de um lobo, mas ela amou isso nele.

Ele se importava com ela? Com seus


sentimentos?

— Sim, eu me importo contigo e com o que


sente.

— Quer parar de ler meus pensamentos? —


pediu rindo e lhe dando um tapa no ombro.
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— É divertido. — Ele suspirou e sua face


tomou um ar sério e frio. — E falando em falar
mentalmente, eu preciso sair por um momento, mas
volto logo e quero que passe a noite aqui comigo.

— Não sei se...

— Por favor...

Ela pensou um pouco, ponderando se seria bom


ou ruim ficar com ele na sua casa, mas pela
maneira intensa que a olhava, pelo olhar quente e
desejoso que a cobria, ela não conseguiu pensar em
nada mais do que estar com ele, ali ou em qualquer
outro lugar.

Kally sorriu, assentiu e ele pegou-a pela mão,


levou-a até a mesa e puxou a cadeira para ela
sentar.

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Beijou o dorso de sua mão e a olhou por alguns


segundos.

— Eu já volto, Pequena.

Ela assentiu e viu que ele saiu do salão de festas


acompanhado de Gabriel, mais um lobo, Harley e
Noah. Talvez para acertar alguma coisa de seus
negócios, homens como eles eram assim, sem horas
para o trabalho, ou talvez fosse algo de lobos.

Ela olhou ao redor e viu a tal loira a olhando,


sentada numa mesa, e seu olhar era de quem queria
arrancar sua cabeça.

— Oh, merda... — Kally sussurrou.

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Kally suspirou e pegou a taça para tomar um


gole do vinho, então olhou para a moça sentada à
sua frente, que a olhava com um sorriso.

Senhor, a mulher era jovem e deslumbrante,


poderia perfeitamente ser uma “Angel”. Mais uma.

— Você faz bem para ele. É tão nítido — a


moça disse. — Fazia tempo que não o via assim,
tão interessado em alguém. O jeito que ele te olha,

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o jeito fácil que você lhe tira um sorriso, como ele


mudou nestes últimos dias e para um lado bom. Seu
cheiro sobre você...

— Sabe, isso de cheiro soa meio constrangedor


e vocês falam muito disso.

A moça riu e se escorou na mesa.

— Os cheiros significam muito para os lobos,


são como mensagens que nos ajudam a ler as
pessoas. Os cheiros traduzem sentimentos,
sensações, vontades. Podemos sentir o medo, a
raiva, a excitação. Muita informação.

— Nunca tinha pensado neste sentido.

— Uma lição a ser aprendida.

— O farei.
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— Fico contente que ele tenha encontrado sua


companheira e... muitos acham que esse negócio de
companheira de alma era um conto de fantasia, mas
não, depois que comecei a pesquisar sei que é
verdadeiro, acho que meu companheiro o é, pois o
amo demais. Minha mãe acreditava também.

— Desculpe, mas não fomos apresentadas. Sou


Kally Aguiar.

— Verdade, quando chegaram eu estava no


quarto amamentando meu bebê e voltei agora.

— Você tem um bebê?

— Sim, um docinho.

— Parabéns.

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— A propósito, sou Penélope MacDowell, filha


de Gael.

Kally sentiu um nó no estômago.

— Oh, meu Deus, você é sua filha?

— Sim.

— Uau, você é linda!

— Obrigada, você também e é muito simpática.

— Ele não aparenta ter uma filha tão moça.

— Lobos enganam muito a idade.

— Sim, percebi. O que estava falando de


companheira de alma?

— Nosso povo tem uma lenda, de que os


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deuses fizeram uma companheira ou um


companheiro para cada um de nós.

— Oh, isso é interessante. Mas...

— Acho que você é a dele.

— Eu? Tipo... almas gêmeas?

— Sim.

— Por que acha que sou a de seu pai?

— Eu o conheço bem e se não fosse, ele jamais


traria uma humana para nossa alcateia, numa festa
como essa, onde somente está a família e seus
convidados ilustres, correndo o risco de irmos parar
no jornal das oito.

— Nunca os machucaria, isso é horrível!

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— Eu sei. Dá para ver que você é daquelas


pessoas místicas que espera a paz mundial.

— Bem, mais ou menos. Não gosto de guerras e


brigas, sou de paz. Mas não sou uma fracote, sei
muito bem me defender.

— E salvou meu pai naquele bosque.

— Ele me salvou.

— E arrastou ele em uma lona e o costurou.

— Bem, não pude deixar o lobo lá para morrer.

— Acho que você será uma boa alfa.

— Eu? Alfa?

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— Ele te reivindicou, é sua companheira, é o


que ele é, um alfa, então é o que você será, nossa
alfa e todos aqui terão que te obedecer e te
respeitar, te proteger custe o que custar.

Kally ficou chocada. Isso era grande, mais do


que as coisas anteriores.

Não estava acreditando como as pessoas


estavam falando com ela sobre este compromisso
com ele.

Teria que ter uma conversa clara e franca,


porque esse negócio de meias palavras estava
dando no saco.

— Não se assuste, Kally, parece muita coisa


para lidar e não será fácil, mas eu passei por isso e
olha, não me arrependo nem um pouquinho, nunca
fui tão feliz na vida no meio dos lobos.
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Kally olhou para Ester e Pietra, que chegaram e


sentaram-se à mesa carregando suas taças de
champanhe.

— Você era humana?

— Sim, eu era.

— Por isso que é mais baixa? Reparei que todos


são bem mais altos que eu e você.

— Sim, me transformei em loba, mas não nasci


uma, então sou mais baixa.

— Fascinante. Teve medo?

— Bastante, mas Noah valia a pena e vale cada


segundo de minha vida. Quer um conselho?

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— Sim, senhora.

— Se jogue de cabeça; se ele for seu lobo,


conhecerá o céu.

Ah, ela tinha uma cálida ideia do que era o céu


com ele.

— Mas precisa ser forte, pois depois de entrar,


não poderá sair.

Oh... a ficha caiu.

— Eu... preciso me transformar também?

— Não poderá fugir disso se quiser ficar com


ele, Kally.

Teria que virar uma loba. Misericórdia, seu


mundo girou.

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— Mas se eu não quiser?

— Então viverá, envelhecerá e morrerá, e ele


pode continuar vivendo sozinho mais uns duzentos
anos.

— Eu... obrigada... Eu vou ao toalete, com


licença.

Ela foi ao toalete e, se olhando no espelho,


respirou fundo. Olhou para seu ombro, sobre a
mordida, não havia nada ali, mas eles podiam ver.
Que estranho. Ela era tudo o que diziam e estava
completamente apaixonada por ele.

Era hora de começar a sair do conto de fadas e


pensar seriamente no que tinha se metido. Teria que
virar loba?

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Abriu sua carteira e estava dando uma retocada


na maquiagem quando a loira entrou no banheiro.

Kally fez de conta que não sabia quem era e


sorriu educadamente. Mas a mulher estava a
encarando pelo espelho.

— Ouvi o que Penélope disse sobre Gael te


reivindicar como sua loba e você ser alfa. Não se
engane, você não é mulher para ele. Olha pra você,
uma riponga que não sabe nem andar de salto.

Kally ficou sem fala por um minuto, então se


virou e ficou olhando a mulher que era bem mais
alta que ela. A beleza dela era de dar inveja, assim
como seu corpo, mas sua aura estava nublada de
negro, o que lhe deu um arrepio na espinha.

— Ah tá e você é digna dele? — disse


tranquilamente.
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— É claro que sim, sou uma loba.

— Bem, que bom para você, mas não estou


interessada nos seus achismos. Se Gael quiser te
transformar na sua alfa ou a mim, teria que
perguntar para ele, não acha?

— Você é uma insolente.

— E você uma tola que acha que está arrasando


nesse papel de “ui, eu sou a boazona” e querendo
fazer bullying comigo. Acredite, moça, já passei
desta fase.

— Você não é mulher para um alfa como Gael


MacDowell.

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— Ah, me erra, garota. Você precisa de uns


banhos de sal grosso, fazer uma terapia com pedras.
Vocês trabalham com cristais e pedras preciosas,
mas não sabem aproveitar o que de melhor tem
nelas. Energia boa.

A loira ficou furiosa e rosnou para Kally.

Kally se assustou e gritou dando um passo para


trás, então fez uma carranca.

— Ele pode ter marcado você, mas não será


alfa. E esse colar aí, garanto que foi ele que te deu,
não se engane pensando ser especial para ganhar tal
joia, é pagamento para uma prostituta por suas
noites.

— Olha aqui, sua mal amada...

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A mulher a agarrou pelo pescoço, mas Kally


arfou, arranhou seu rosto com as unhas, a mulher
gritou e a soltou e, quando tocou a bochecha e viu
sangue nos dedos, seus olhos cintilaram, suas
presas salientaram mais e ela rosnou indo para cima
dela.

— Simone! — Penélope gritou.

Ao mesmo tempo, Ester, que estrou no banheiro


junto com Penélope, agarrou Simone pelos cabelos,
puxou e a jogou longe. Ela bateu na parede e
tombou no chão.

Kally estava em choque olhando a cena e


Penélope ficou entre elas.

— Se tocar nela, meu pai vai arrancar sua


cabeça!

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A mulher levantou e rosnou baixo, como uma


loba muito zangada, prestes a matar alguém, no
caso, Kally.

— Penélope, pensei que não era mais um


capacho de seu pai. Veio defender a humana? Veja
bem, uma humana pequena que não sabe nem se
defender sozinha quer ser alfa.

— Cai fora. Já te disse que não será alfa.


Acorda, mulher, e a deixe em paz. Ela é convidada
de meu pai e ele a reivindicou como sua
companheira, mesmo sendo humana, e sabe como
ele fica bem irritado quando mexem com suas
coisas.

— Isso... — A loira olhou para Kally. — Você


é só um brinquedinho que será jogado fora na
primeira oportunidade, não tem força para ser alfa e

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comandar esta alcateia e não chega aos pés de um


MacDowell, pobretona, cafona e insignificante.

— Moça, você realmente deveria trabalhar essa


sua inveja, a deixou horrorosa — Ester zombou
dela e Simone rosnou para ela.

— Como ousa tratar os convidados de meu pai


assim, Simone? Perdeu a fodida cabeça?

A loira bufou e saiu do banheiro e Penélope


olhou para Kally, que estava visivelmente
atordoada.

— Sinto muito, ela é sempre assim, bem perua


e deve estar meio louca, nunca a vi agredir
ninguém fisicamente, sua soberba é de irritar.

— Obrigada por me defender.

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— De nada.

— Mas eu não sou uma coisa de Gael e nem de


ninguém, não sou interesseira.

— Não ligue para o que ela disse, já passei por


isso e ela está com ciúmes de você, não se deixe
abater por ser humana, precisa ser forte — Ester
disse.

— Tá bom, ainda precisa de tempo para aceitar


— Penélope disse se olhando no espelho e
ajeitando seu vestido e seu longo cabelo.

Kally ficou estupefata em como as duas


mulheres levaram as coisas tão levemente. Ester
jogou a mulher longe como se não fizesse força
nenhuma, e estava ali, majestosa arrumando aquele
cabelo espantoso, como se nada tivesse acontecido
e a filha dele também.
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— Acho melhor eu ir embora.

— Ei, meu pai deve estar voltando.

— Acho que esta festa já deu para mim.

— Os lobos te aborrecem?

— Oh não, são até meio divertidos, somente


não quero ver ninguém mais arreganhando longas
presas para mim e tentando me esganar.

Penélope riu.

— Gostei que a enfrentou, geralmente as lobas


não se metem com ela, mas você é diferente.

— Não quero bololô pro meu lado.

— Mas vai proteger o que é seu, não vai?


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— Preciso me preocupar com ela e Gael?

— Se ele te tomou como companheira, jamais


tocará ninguém mais, nem ela, nem ninguém. Ele
será só seu — Ester disse.

— Sim, as lobas respeitam isso, mas essa aí é


uma rilienta do inferno, uma exceção — Penélope
adicionou.

— O que é isso? — Ester perguntou. Penélope


riu e Kally sorriu.

— Rilienta é enjoada, briguenta, enfim, uma


chata de galocha.

Ester riu.

— Você não tem ciúmes do seu pai?

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— Uai, eu tenho, mas o amo e quero que seja


feliz, estou confiando no julgamento dele de que
você é boa, mas se não for, mandarei minha
alcateia toda te estripar.

— Tomarei nota disso.

— Bom, mas você quer ficar com ele, não


quer? Está disposta a lutar?

Kally respirou e pensou um pouco.

— Sim.

— Quer vê-lo de novo hoje?

— Eu quero.

— Então, por que eu não te coloco em um lugar


mais confortável?

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— Onde?

Penélope deu um sorriso lento e maroto.

— Vou te mostrar.

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Gael rosnou olhando para os dois lobos


capturados que estavam amarrados e com as caras
arrebentadas, fazendo o sangue escorrer sobre suas
roupas. Seus lobos já tinham tido um bom tempo
com eles, tentando arrancar informações.

— Não adianta, alfa, eles não vão falar quem


está mandando-os fazer todas estas sabotagens e
ataques sobre nossa alcateia — Michel disse
zangado.

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— Maldição, é que não se importam de morrer


para livrar a bunda de seu mandante?

— Meu mandante é um alfa — o lobo


resmungou e cuspiu sangue no chão.

Irritado, Gael cerrou o punho e deflagrou um


forte golpe, derrubando o lobo e rosnou quando o
sangue saltou e sujou sua camisa branca.

— Imbecis, não é um alfa, pois não sabe agir


como um, é um bandido, pária, que vou estripar.
Posso te dar uma chance de salvar sua pele se me
disser quem é e onde se esconde. Vou mostrar o
que acontece com quem mexe com minha alcateia.

Não adiantou, pois os lobos não disseram uma


palavra.

— Como estão os lobos feridos?


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— Os mandamos para o hospital, estavam bem


machucados, mas Daniel disse que vão se
recuperar.

— Maldição! Fique de olho neles e me


mantenha informado. Avise os lobos para
reforçarem a segurança do condomínio, não quero
mais nenhum lobo espreitando por aqui.

— Sim, alfa.

— Se limpe antes de ver Penélope, não quero


que o veja assim, sujo de sangue.

— O farei. O que faço com eles?

— Mate-os.

— Sim, alfa.

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Gael rosnou, pegou seu blazer e saiu do galpão


da sua propriedade onde mantinham os prisioneiros
e Noah e Harley o seguiram.

— Acho que nossa festa acabou — Harley


disse.

— Pra mim, sim — Gael disse indignado.

— Vamos pegar nossas mulheres na festa e


iremos descansar.

— Desculpe por tudo isso, amigos. Foi uma má


hora.

— Ah, foi a diversão da noite — Noah disse e


Gael riu, balançando a cabeça, seu amigo era um
alfa que gostava de muita ação.

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Gael sabia que Kally estava ali antes mesmo de


entrar no quarto, pois ele apanhou o perfume dela
quando entrou no corredor.

Quando chegou de volta à festa e não a viu, os


pelos do corpo eriçaram e ficou em alerta,
pensando que algo mal devia ter acontecido para
ela ter ido embora sem que soubesse.

Sua filha contou o acontecido e ele ficou


furioso, mas foi para seu quarto o mais rápido
possível para vê-la.

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Ele não sabia se estava mais espantado de ela


ter enfrentado Simone, ou ter ido para seu quarto.

Estava disposto a discutir os acontecidos, mas


quando a viu sua mente se perdeu e esqueceu tudo.

Sem acender a luz, viu que o abajur estava


ligado ao lado da cama, fazendo seu papel
bucólico.

Observou o ambiente e a viu na porta da


varanda, de costas para ele e estava com os olhos
fechados, como se estivesse numa paz tremenda,
sentindo a magia da noite e da lua entrar pelos seus
poros e sua alma.

Como mística, como ele sabia que ela era, uma


adoradora dos mistérios da natureza, tentava obter
energia dela o máximo que podia, do seu jeito.

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Meiga e suave, bondosa e cálida.

Mas agora, como ela estava, era muito mais que


isso.

Estava ali por ele, para seduzi-lo e que os


deuses o ajudassem, ele estava totalmente seduzido
por ela.

Toda sua ira se abrandou, seu coração se


apaziguou, porque ela tinha este efeito sobre ele.

Ela o acalmava, era como um bálsamo que fazia


seu lobo se abrandar, mas, ao mesmo tempo, fazia
seu corpo vibrar de desejo, quente e febril,
acendendo seu desejo de forma que nunca havia
sido antes.

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Desconfiava que ela tinha esta aura etérea e


tranquila por causa de seu lado místico, porque
acreditava em alcançar conhecimento e paz interior.

A dele era uma bagunça, mas gostava como se


sentia quando ela estava por perto.

Ele nunca tinha visto uma mulher tão


encantadora, inocente e adorável. E agora a via ali,
sexy como o inferno.

Ela sempre o surpreendia.

Kally mudou a respiração quando sentiu sua


presença, mas não se moveu.

Aquela ousadia lhe estava custando muito e


agora que ele estava ali quase fugiu daqui, mas
devia sustentar sua loucura.

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Queria.

Gael sentiu seu temor e sua valentia e sorriu.


Ele gostava disso nela. Enfrentava situações
inusitadas com coragem.

Perfeita para ele.

O perfume dela entrou em suas narinas e


embriagou sua mente, deixando inebriado, excitado
e louco por ela.

Agarrou o vestido que estava caído no chão e


fechou os olhos para sentir seu perfume. E o
devolveu ao chão, ficando com a faixa de seda na
mão.

Ela usava somente o conjunto de lingerie preta


de renda e seus scarpins verdes de salto altos e com
o colar adornando seu pescoço.
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Gael sentiu sua boca salivar e seu coração se


perder nas batidas, com a excitação acendendo seu
corpo, seu lobo fazendo puro fogo reverberar sob
sua pele.

Era muito alto perto dela, seus braços eram


fortes e ombros largos o que o tornava mais
poderoso, além de sua aura hipnótica.

Ele se escorou em suas costas e beijou seu


pescoço, afastando seus cabelos, que ela havia
soltado do penteado, envolvendo sua barriga e a
trazendo para seu peito forte e Kally gemeu
sentindo sua ereção em seu traseiro.

Sem dizer nada, ele deslizou a mão em seu colo


desnudo, descendo para seus seios, sentindo quão
quente estava sua pele, e a outra mão deslizou para
sua pélvis, sobre a renda macia.

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Ela soltou um leve arfado, entreabrindo seus


lábios, engoliu em seco e num estalar seu corpo
todo estava vivo e mais vibrante do que estava
quando chegou ali, arriscando sua sanidade em uma
surpresa descarada como aquela.

Sentiu que ele estava com a camisa aberta no


peito e ela sentiu um choque pelo contato com sua
pele quente.

Mas ela não sabia se ele já tinha entrado no


quarto assim ou ele a abriu depois, pois sua mente
estava dançando e não tinha noção de tempo.

Kally gemeu novamente quando sentiu sua


respiração pesada e quente em sua orelha e ele
deslizou a língua em seu lóbulo tomando-o na boca.

Aquilo foi poderoso em todo seu corpo.

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— É muito corajosa de se aventurar no quarto


de um lobo, desnudar-se, espreitando-o somente à
meia-luz — ele sussurrou com a voz rouca em seu
ouvido.

— Uma garota tem o direito a uma aventura em


sua vida. No mais, da maneira que me olhava na
festa, eu sabia que sentia o mesmo desejo que eu.

Ela não sentia nenhum medo dele, ele era


poderoso e podia amedrontar, mas não a ela. Queria
sentir mais daquele homem.

Um lobo.

Um alfa.

— Oh, realmente, minha preciosa dama, eu não


consegui tirar os olhos de você a noite toda. Todo
aquele barulho da festa estava inaudível para mim,
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somente conseguia ouvir seu coração batendo, seu


sangue correndo fervorosamente pelas veias e
sentir o calor que emanava de seu corpo. Perto
demais para conseguir manter minha sanidade.
Lamento que tive que sair por um momento. Mas
você sentiu o mesmo, porque veio aqui atrás de
mim.

Ela sorriu pela sua arrogância e ego.

— Talvez eu só quisesse conhecê-lo melhor.

— É uma investigação? Pensei que já tínhamos


passado desta fase.

— Pensei que o senhor investigava a mim.

Ele tocou seu sexo sobre a calcinha e ela


gemeu, o que o fez rosnar de prazer.

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— Talvez devêssemos mostrar um ao outro o


que escondemos. Gostaria de desvendar seus
segredos, além de descobrir onde nesse belo corpo
gostaria que eu tocasse.

— Ainda não o conhece?

— Passarei o resto de minha vida desvendando-


o.

Ela ficou entorpecida com aquela declaração


intensa, seu coração estava desesperado por ele.

Foi se virar, mas Gael não permitiu, prendendo-


a fortemente contra seu corpo, deixando-a saber o
quanto estava excitado. Ele sussurrou algo em outra
língua e colocou a faixa de seda em seus olhos e ela
arfou assustada.

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— Shhh... Kally... se você gosta de jogar, então


vamos jogar. Vai confiar em mim?

— Posso confiar em um lobo?

— Meu lobo já mostrou sua devoção a você.

— E seu lado humano?

Gael fechou os olhos por um minuto, porque a


pergunta o chocou.

Sim, ele não queria admitir, mas ele estava


entregue e devoto a ela, não queria se dobrar e se
mostrar o quanto a queria, o tanto que sua vida
estava enredada na dela.

Quanto queria que ela estivesse em sua cama


todos os dias.

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Quanto queria que ela fosse dele.

Sua companheira.

Kally sentiu uma pontada de medo, mas seu


lado depravado estava mais vivo do que nunca e ela
o queria.

A atração por ele era tão forte que era quase


palpável.

— Pode confiar em meu lado humano também.

Ele a sentiu tremer e sussurrou algo mais, o que


a tranquilizou em parte e por outro lado o deixou
mais quente do que nunca.

Beijou seu pescoço com lábios quentes e


dominadores e ela sentiu seus dentes roçar sua pele
e as sensações desgovernadas atravessaram seu
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corpo.

— Seus caninos estão maiores, pude sentir.


Todos me consideram sua companheira?

— Sim. Estamos acasalados, somos um casal.

— Por que fez isso? Pode se arrepender.

— Não vou. Eu a quero, meu lobo também.


Quer cuidar de você... hoje e sempre, não somente
meu lobo, mas tudo de mim. Toda minha alma e
coração quer.

Havia um sentimento tão forte dentro dele que


tinha chegado junto com ela, que era assustador, e
ele não entendia tudo o que significava e nunca
tinha sentido medo de si mesmo, nunca tinha
sentido fraqueza e ao mesmo tempo força de um
sentimento desconhecido.
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— E se eu não quiser isso?

— Não quer? Se não quisesse não teria vindo,


não estaria aqui nesse quarto, me seduzindo.

Kally se sentiu louca quase ao ponto do


desespero, tinha entrado no covil, sim e ninguém a
obrigou a nada, ela queria, era loucura, mas foda-se
se não era bom pra caramba tudo aquilo. Ele.

Gael lambeu seu pescoço puxando-o para o


lado, segurando firme seu cabelo. E rosnou, a
fazendo gemer.

— Selvagem...

— Posso ser um pouco selvagem. Isso te dá


medo?

Dava um pouco, mas não admitiria.


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— Vai me mostrar?

Ele sorriu em suas costas, sentindo uma mistura


de malícia, satisfação e prazer pela sua coragem e
seu olhar cintilou, carregado de luxúria, somente
pelo vislumbre de possuí-la, de tê-la outra vez.

Sim, mostraria quão selvagem ele era de uma


forma que ela imploraria por mais e descobriria que
não poderia entrar no seu território sem sofrer as
consequências, sem deixar suas marcas nela.

E ela jamais desejaria deixá-lo.

— Não tenha medo. Nunca tenha medo de


mim, Pequena, jamais farei nada para te machucar.

Ele a virou e seus lábios vagaram sobre os dela


sentindo a fome.

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Kally soube que ele era quase inalcansável.


Com ela, ele se abria e de alguma forma queria
salvá-lo, tomar seu coração em suas mãos e
protegê-lo.

Queria tomar a besta selvagem e embalá-la em


seus braços.

— Beije-me, Gael — sussurrou ela, seus lábios


lhe roçaram enquanto a cabeça dele baixava com
olhos ardentes de fome, dor e necessidade enquanto
a olhava.

E ele passou a mão pela sua nuca e a trouxe


para si, beijou-a com devoção selvagem,
degustando sua boca.

Kally gemeu em seu beijo, seus lábios se


separaram aceitando sua língua, usando-a enquanto
um grunhido selvagem vibrava na garganta dele.
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Os lábios dela tomaram sua língua e travou uma


pequena luta e depois a chupou com uma
empolgação delirante, enquanto se arqueava nos
braços dele. Estava faminta dele.

Suas mãos puxaram as roupas do corpo dela,


deixando-a completamente nua, guiaram as mãos
dela até o zíper da calça dele e sem deixar de beijá-
lo ela o despiu.

Ele se afastou e lentamente baixou o olhar pelo


seu corpo, admirando-a e mesmo sem vê-lo ela
sabia que a olhava e se sentiu mais que nua, quase
ao ponto de envergonhar-se, mas era de fome, de
desejo e admiração. Kally subiu a mão para cobrir
seu sexo, porque por um momento se sentiu
totalmente desnuda de roupas e de alma, mas ele
segurou seus punhos.

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— É linda, nunca vi nada mais lindo. Não tenha


vergonha de seu corpo, nós lobos não temos, deve
se acostumar com sua nudez, mas nenhum lobo te
olhará como eu olho. Porque eu venero seu corpo.

Ela suspirou, pois aquilo a tocou


profundamente e se sentiu poderosa.

Então se inclinou e percorreu a suavidade de


seu seio com os lábios. Kally, aturdida por aquela
sensação cálida e úmida, agarrou-lhe pela cabeça,
não sabendo se o apartava ou o puxava mais para
ela.

E ele brincou e atiçou seus mamilos em sua


boca, fazendo-a gemer.

— Amo seus seios...

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Gael chupou com força e sentiu as presas


mordê-los levemente e ela gemeu alto se agarrando
a ele, porque seu corpo todo reagiu violentamente
que suas pernas ficaram bambas. Rosnou e a olhou,
então se apoderou de sua boca como se estivesse
morto de sede e só pudesse saciá-la nos lábios dela.

Kally o abraçou com ternura, e naquele mesmo


momento se deu conta de que não tinha nada que
temer porque o amava de verdade.

Ele se afastou com aquela frase dançando na


sua cabeça e a olhou aturdido.

— O que foi? — perguntou aturdida.

— Oh, não, só algo que pensei, mas...

Ele a segurou no queixo com os dedos e


acariciou com o polegar.
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Ela o amava?

Seu coração quicou no peito, desgovernado,


emocionado.

Uma pequena humana o amava, um lobo, como


ele era e isso era estupendo, porque era exatamente
o que ele queria. Que ela o amasse.

A paixão sempre podia deixar as coisas bem


intensas e descarrilhadas, mas não precisava ser
assim. Eram adultos e poderiam levar isso na boa.

— Está tudo bem. Estamos onde deveríamos


estar.

— Tem certeza?

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Gael a beijou e ela se agarrou a ele, sentindo


seus lábios descerem pelo seu pescoço, suas presas
um pouco alongadas arrastando-se sobre sua carne
enquanto a pressão começava a formar-se em seu
corpo.

Empurrou-a contra a parede e foi descendo


beijando seu corpo.

Sugou e lambeu os seios dela enquanto ela


passava as mãos em seus ombros e embrenhava os
dedos em seus cabelos e se contorcia.

Sua pele era quente, os músculos rijos e


torneados e os cabelos eram sedosos e ela
simplesmente amava tocar nele. Parecia que a
energia dele entrava por seus poros e tomava conta
de todo seu corpo e mente e preenchia seu coração.

Depois de banquetear-se em seus seios que ele


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amava, desceu beijando o caminho para baixo da


barriga lisa, mergulhou a língua em seu umbigo e a
fez gemer, o que ele fez de propósito somente para
ver sua reação e esta, arrancou um sorriso maroto
de seus lábios.

E então sem pressa, mas com fome, ele desceu


mais abaixo, até que se agachou entre suas coxas.

A expressão dela era o que motivava a


continuar, cheia de expectativa e êxtase, totalmente
aberta para ele, oferecendo-lhe uma visão
tentadora, que lhe deu água na boca.

— Oh, Pequena, eu amo seu corpo. Tudo em


você me fascina e me excita.

Agachando-se, acariciou o seu sexo. Deu à sua


pequena fenda uma longa e lenta lambida que a fez
arfar e segurar o grito na garganta, porque aquilo
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foi delicioso.

Tudo que era relacionado ao sexo tomou outra


proporção, outro gosto, outro prazer, ambos
conheciam como era o sexo sem paixão aflorada,
como sentiam agora um pelo outro, conheciam o
sexo por sexo, sem graça, sem sentimentos, sem
devoção, mas não era assim para eles e as ressalvas
ou vergonhas eram esquecidas, somente queriam
tocar-se e sentir.

Ele gemeu, porque ela tinha um gosto bom,


meio doce almiscarado, assim como o seu cheiro,
que entrava em suas narinas sensíveis como um
afrodisíaco, forte e potente. Tomou o quanto podia,
pois seu sabor era como a ambrosia dos deuses
explodindo em sua língua, avivando seus sentidos e
deixando seu membro vivo e dolorido, esperando
para tomá-la.

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Lambeu-a avidamente, com seu desejo de


extrair o máximo possível da sua essência quase
igual ao seu desejo de agradá-la, pois ouvir seus
gemidos e que estava gostando do que ele fazia lhe
dava muito prazer e satisfação. Lambeu cada
centímetro dela e depois separou as dobras macias,
a sua entrada, penetrando-a, lento e poderoso.
Adorou-a, a endeusou e soube que estava
completamente rendido a ela.

Gael a queria para a vida toda.

Ela era tão receptiva, abrindo-se como uma flor


após a chuva, exalando um perfume puro e
delicioso. Nunca soube que uma mulher podia ser
doce e sexy, vulnerável e ainda uma bomba prestes
a explodir quando tratada da forma certa.

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E estar apaixonado realmente mudava a


percepção do toque e do prazer e era novo para ele.

Tomaria seu tempo e aprenderia tudo o que ela


gostava, conheceria cada parte de seu corpo e onde
era mais sensível.

Sugou seu clitóris com avidez até que ela


tremeu, sentindo seu corpo todo queimar e contrair.

Ele a virou de costas contra a parede, abriu suas


pernas, a penetrou empurrando até o fundo,
devagar, e ela gemeu alto e ficou na ponta dos pés,
porque pensou que não poderia tê-lo todo naquela
posição.

— Se escore na parede.

Ela o fez e ele pôs a mão no seu baixo ventre e


empinou seu traseiro, e começou seus movimentos.
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Com a faixa nos olhos tornando seu mundo


escuro, ela viu estrelas.

Então ele se moveu mais forte, mais rápido,


tomando tudo o que podia.

Gael segurou seu traseiro perfeito em suas mãos


e apertou, olhava com olhos famintos seu corpo
entrar e sair dela.

Ela estava muito molhada e os fluidos


lubrificantes faziam seus corpos unirem com
facilidade e ele rosnou de fome, segurou seu
membro e escorregou para seu ânus.

— Lembra-se da promessa que fiz?

— Sim.

— Você quer isso?


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Ela gemeu e demorou a responder porque sua


mente estava perdida em algum lugar, os espasmos
do orgasmo reviravam suas entranhas e sua razão.

Se ela o queria? Deus, sim, com tudo que


tivesse.

— Eu quero. Faça amor comigo.

Ele sorriu, a cobriu com seu corpo grande e


musculoso e seu peito quente tocou o dela, o que
era bom demais e capturou seus lábios novamente,
beijou-a completamente, durante muitos momentos
enquanto a penetrava.

Kally gemeu, porque ele era grande tinha que se


acostumar ao seu tamanho, mas estava banhada de
seus próprios fluidos que a lubrificavam.

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Ele saiu dela, sondou sua entrada, passou os


dedos em sua vagina e trouxe para lá e a penetrou
com os dedos devagar, fazendo-a arquear-se e
gemer alto.

— Vou te tomar aqui, mas não quero te


machucar, já fez isso antes, preciosa?

Ela negou e ele fechou os olhos para sentir o


prazer de tocá-la ali.

Era inegável o fetiche que homens sentiam, ele


adorava, mas não queria que ela se machucasse ou
não se sentisse confortável, ele entrava e saía dela
com seu pau e o dedo a acompanhava e ela gemia
alto pelas sensações inesperadas, novas e realmente
eróticas.

— Meu Deus, como quero te comer, mulher.


Um lobo monta sua fêmea assim, sabia? Ele adora,
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ele quer dominar seu corpo e te dar todo o prazer


que conhece. Lobos são famintos pelo corpo de sua
fêmea, mas ele o ama e o idolatra, só farei o que
queira e o que te dá prazer, entendeu-me?

— Sim.

Ela não podia acreditar em suas palavras, ela o


amou mais por isso, o respeito que ele demonstrava
por ela, como sempre queria dar algo a ela, deixá-la
usufruir.

— Vai me deixar te fazer isso, Kally?

Ela não podia respirar.

— Sim.

— Quer que te tome aqui? Você confia em


mim?
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— Confio.

Ele saiu dela, a pegou no colo, levou-a até a


cama, colocou-a de quatro, virou seu rosto e beijou-
a, beijos intensos e molhados, com a mão começou
a torturá-la no clitóris e penetrá-la com seu
membro. E seus movimentos aumentaram até levá-
los quase à borda do êxtase.

Ele tinha a melhor boca que existia no mundo


todo e sabia beijar como ninguém jamais faria. Sua
boca explorou a dela, sugando, e ela gemeu,
implorando por mais.

Ele abriu a mesinha de cabeceira e tirou um


lubrificante e passou em seu pênis, então
lentamente foi massageando-a, penetrando-a,
lentamente, deixando-a se acostumar a ele, devagar
e só um pouco.

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Ele gemia de prazer em cada estocada e cada


gemido de prazer e dor que ela dava.

— Vou te dar um gostinho, Pequena, pois não


quero te machucar e então depois vou me enterrar
todo dentro de você até você suplicar. Vou fazer
você se acostumar até não doer mais.

Ela gemeu em resposta e gritou quando Gael


começou a penetrá-la mais fundo.

— Tome-me, companheira, tome seu lobo.

Mais um pouco e mais e ele a abraçou, beijando


sua face, seu pescoço, beijando sua boca.

— Chega, Pequena.

Ele foi se afastar, mas ela o segurou.

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— Não, não pare.

— Tem certeza?

— Sim.

Gael rosnou de satisfação. Ela era corajosa,


destemida e selvagem e ficou mais louco por ela,
então ele esse enterrou mais nela.

E as estrelas pipocaram em suas vistas e o


prazer alagou os dois, para levá-la ao topo, pois ele
não poderia se segurar. Começou a estimulação
com os dedos e ela começou a gritar e gemer alto,
mais uma vez e outra, e ela desmanchou em seus
braços, tombou na cama e ele rosnou, alto e forte
porque explodiu dentro dela.

Gostava dessa sensação, tanto quanto amava a


atenção esbanjada sobre seu corpo.
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Ele mordeu sua orelha e rosnou, o que a fez


gemer pelo arrepio que tomou todo seu corpo com
aquele rosnado selvagem, com o tom animalesco de
seu lobo.

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Sua liberação desencadeou a dele, que gozou


com um grito rouco, afundando-se tão
profundamente quanto possível.

Quando finalmente terminou, quando os jorros


fortes e pulsantes de sua liberação e os violentos
estremecimentos terminaram, seus olhos se
fecharam pelo esgotamento, pelo prazer, por tudo
que o estava deixando insano.

Ele ficou lá, convulsionando, segurando-a


fortemente, até que, finalmente, estavam exaustos.

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Um pouco depois, quando desceram das alturas,


quando o coração estava um pouco mais tranquilo e
quando conseguiam respirar com um pouco mais de
facilidade, ele beijou a curva do seu pescoço,
fazendo suas presas retrocederem, tentando
controlar a vontade desesperadora de mordê-la,
dizer as palavras e transformá-la em loba.

Aquela vontade era tão grande que seu coração


se oprimiu.

Toda vez seria aquele inferno, pois era muito


doloroso segurar-se. Ele não podia tê-la. Tinha
medo de pedir e ela dizer não.

Seu coração doeu porque a queria, mas não


sabia se ela o aceitaria de tal maneira para se
transformar.

Estar com ele e ter uma noite de sexo poderia


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aceitar, ser sua companheira, mas se transformar


em loba?

Ela retirou a venda e suspirou.

— Está bem?

— Sim.

Ele beijou seu ombro.

Era tudo novo para ele e, pela primeira vez na


vida, não sabia o que fazer com uma mulher. Não
sabia o que dizer, não sabia como pedir para ela
ficar. Ser sua loba.

Seu coração sofreu com o medo dela ir embora


e deixá-lo.

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Fechou os olhos fortemente e tentou afastar


esses sentimentos dolorosos, somente queria
aproveitar aqueles momentos juntos.

Kally estava inebriada, estupefata, porque estar


com ele era tão forte e intenso que lhe dava medo.
E mesmo com medo, ela o queria de novo e de
novo.

Sentia o calor ardente daquela posse tão


intensamente carnal e lasciva, sendo marcada a
ferro dentro de seu ser para sempre, dentro de seu
coração e sua alma.

Gael estava tão impregnado nela, que ela não


sabia como se libertar e não sabia se queria se
libertar.

Kally não podia respirar, não conseguia puxar


oxigênio suficiente nos pulmões, não achava o
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instinto natural para expirar e inspirar, sentia


apenas o orgasmo explodindo dentro dela assim
como seus pensamentos e sentimentos
desgovernados e seus medos aflorados.

Como podia ter um sentimento tão forte por


alguém em tão pouco tempo? Uma lágrima
escorreu pela intensidade dos sentimentos que a
assolavam, porque eram violentos e seu mundo
sempre tinha sido tão protegido e tranquilo. Como
poderia dizer adeus? Como poderia ficar e suprir
todas as expectativas que colocavam nela?

Não sabia, mas uma preocupação de cada vez.

Ele virou-se na cama e puxou-a para seu peito,


a envolvendo com os braços.

Passou uma de suas mãos pelo cabelo dela, com


seus dedos enredando-se nos suaves fios enquanto
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saboreava o prazer de senti-la.

Ele beijou seus lábios e eles ficaram se olhando


sem dizer nada, pois não precisavam. O olhar e o
que tinham feito já dizia tudo.

O suor de seus corpos os banhava e ele beijou


seus lábios docemente uma e outra vez, porque
eram deliciosos demais para deixar de fazê-lo.

Ela o olhou e viu suas presas alongadas e era


aterrorizante por um lado. Ela as tocou. Mesmo ele
ordenando que diminuíssem, ainda estavam
maiores do que o normal.

— Seus olhos estão brilhando. Parece nervoso.

— Não é nada.

— Fale comigo. Há algo errado.


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— Eu quero te reivindicar como minha loba, te


morder e passar minha magia pra você.

— Por quê?

— Porque é minha companheira e me dói não


fazer isso. Faz parte da nossa natureza. Meu lobo
necessita uma loba.

— Como assim?

— Você é humana e se não virar loba, daqui


alguns anos irá morrer. Te tomei como minha
companheira, para viver comigo, como minha para
o resto da vida, mas minha vida é mais longa que a
sua.

— Sua filha falou sobre isso, um pouco, e


Ester.

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— Posso passar minha magia para você,


quando te morder posso te transformar. Se você
morrer, ficarei o resto de minha vida sozinho, já
passei muito dela só, não quero te perder. Mas não
o farei contra sua vontade.

— Isso dói?

— Não.

Ela estava assustada agora e viu certo receio e


tormento nos olhos dele.

Talvez fosse medo que ela não o quisesse por


isso. Mas o espantoso é que ele a queria e estava
demonstrando claramente.

Nunca tinha visto tanta intensidade vinda de um


homem.

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Mas ele não era um homem comum.

— Está tudo bem, não precisa fazer isso se não


quiser. Não quero assustá-la. Relaxe.

Ele tentou suavizar a situação que tinha criado,


não era hora de fazer isso, pois a estava assustando
e ela poderia correr para longe.

Gael fechou os olhos e sua mente esta girando,


não conseguia raciocinar direito, seu lobo estava o
deixando louco e seu corpo doía muito. Essas
sensações eram novas e o deixavam confuso.

— Viro loba se me morder agora?

— Preciso te morder, recitar uma parte de um


ritual e depois morder de movo e passar a outra
parte, então será como eu e se transformar quando
quiser.
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— Fico consciente do que faço em forma de


loba?

— Sim, lembra-se de quando eu era um lobo?


Ouvia-te, falava, sentia, normalmente, nós
controlamos o lobo.

— Você gosta de ser lobo?

— Sim, muito.

— Faça.

— Kally...

— Faça, eu desejo isso.

— Mas... tem certeza?

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— Sabe, eu estava confusa e com medo de tudo


isso, então com o comportamento daquela mulher
eu percebi que é isso que eu quero, se há alguém
que ache que não sou a certa para você ou que não
mereço estar aqui eu discordo, porque sou perfeita
para você, quero estar aqui e quero ser uma loba.
Eu quero conhecer tudo.

Gael estava estupefato.

— Faça. Se me quer, eu também quero.

Ela virou o pescoço e fechou os olhos.

Bem, ele perdeu o controle de seu lobo e não


esperou que ela mudasse de ideia, ele rosnou
ferozmente e a trouxe sobre ele e a beijou e
minutos depois a mordeu.

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Aquele ato realmente era para não pensar em


nada, nas razões, nos problemas implicados ou se
era certo ou não, o orgasmo os atingiu e Kally
sentiu seu mundo girar, fechou os olhos fortemente
porque pensou que tudo ao seu redor ficou colorido
e dançava, pensou até que fosse desmaiar.

Ele tirou a boca de seu ombro, olhando o teto


com os olhos acesos como uma luz, e com a boca
cheia de seu sangue, ele recitou as palavras antigas.

Ela ouviu e ficou mais tonta, mesmo não


entendendo uma palavra, ficou aturdida com a
energia que rompeu no quarto, a magia de lobo que
estava dançando sobre eles, ela somente deixou a
magia entrar e o amor invadir seu coração de uma
vez por todas.

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E podia dizer, tanto ela quanto ele, que jamais


pensaram sentir tais sensações, nem havia palavras
para descrever.

Era tudo forte demais, as luzes piscaram,


lâmpadas estalaram em milhares de cacos, mas eles
estavam extasiados, abraçados fortemente. Ele
estava sentado na cama e ela escarranchada em
seus quadris. Gael a protegeu em seus braços,
vivendo a própria loucura do que tinha feito.

Só havia prazer, os sentidos avivados, a magia


de lobo e um amor mais forte que tudo os
dominando. As portas foram abertas e agora
nenhum dos dois poderia fugir disso.

E os sussurros que vagavam pelo quarto, pelo


universo, o louvor aos deuses estavam gritando na
natureza e era perfeito. O arco-íris dançava sobre

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eles, ao redor, através.

Uma companheira de um lobo havia encontrado


seu verdadeiro lar, eles tinham se reconhecido e se
amado.

Kally gemeu alto ao sentir seu corpo vibrar, a


energia tomar posse de seu corpo e tudo ficou
escuro, caída no precipício da magia e do poder dos
lobos.

E agora não haveria mais volta, nenhuma.

Abraçados e cansados, perdidos nas brumas da


magia, ambos tombaram na cama e apagaram para
a realidade.

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Ao amanhecer, ele se espreguiçou e se deu


conta de uma pequena fêmea enroscada em seu
corpo, nua, quente e deliciosa.

Sorriu facilmente porque se sentiu tão bem com


ela ali, ficou a admirando por um longo tempo,
cada pedacinho dela, a abraçou e ela resmungou
algo que o fez rir, então beijou seus lábios, seus
olhos, suas bochechas, se virou e deitou sobre ela,
depositando muitos beijos suaves. Amava beijá-la.

Kally acordou e sorriu antes de abrir os olhos.

— Uma garota pode dormir nessa casa?

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— Não depois que seu macho acorda.

Ela riu e o beijou.

— Que tal tomarmos um banho e depois um


bom café da manhã?

— Seria bem-vindo.

Ele sorriu e a beijou novamente e rosnou


porque estava excitado, achava que era um efeito
permanente.

Saltou da cama e a pegou no colo e ela riu,


agarrando-se em seu pescoço, porque amou aquilo,
amou sua força.

Gael a levou para seu banheiro, a colocou


dentro do boxe e ligou a ducha.

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Tomar banho com Gael foi uma experiência


sem igual, entretanto. Ele adorava a água e
monopolizou o jato do chuveiro só para ele,
fazendo-a rir e travarem uma pequena guerra e ele
possuía o chuveiro maior que ela já tinha visto,
salvo nas revistas. Era quadrado e tinha uns 50
centímetros cada borda, então água não era o
problema, mas a brincadeira é que valia.

Kally teve que empurrá-lo várias vezes para


conseguir uma parte do jato de água para ela, e a
pequena luta livre resultou em boas risadas.

Ela perdeu, claro, porque era muito pequena


perto dele, que tomava boa parte do boxe, e era
quase impossível fazê-lo se mover do lugar, pois
parecia uma montanha.

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Uma montanha cheia de músculos deliciosos e


algo que a encantou muito, o homem sério que
parecia não ser muito amigo de risadas estava solto
e rindo, brincando com ela, era maravilhoso.

Mas aquilo foi divertido, intenso e claro que


tudo acabou em beijos ardentes, arfados e um bom
sexo debaixo do chuveiro.

Kally pensou que jamais se recuperaria depois


daquela noite, seu corpo estava dolorido pelo sexo,
seu ombro tinha outra vez uma mordida horrorosa
que cobriu com gaze e esparadrapo.

Jamais imaginaria que Gael MacDowell, um


magnata e que poderia ter qualquer mulher aos seus
pés estava assim com ela. Tão intenso, tão

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entregue, tão apaixonado e pior, que ela estava


comprometida como uma esposa. Estava louca, de
pedra.

Tudo sobre ele era grande e perturbador.

Gael saiu do quarto e quando voltou trazia uma


calça jeans e uma blusa de lã de Penélope e a
ajudou a vestir.

Ela fez uma careta pela dor no ombro. Ele


beijou sua bochecha e a olhou.

— Desculpe por isso, mas logo desaparecerá.

Ela assentiu.

— Sou parte loba agora?

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— Sim, mas é mais que isso, minha mística,


minha esposa.

— Como uma esposa?

— Sim, seria isso, equivalente a isso para os


humanos. Em breve farei uma cerimônia para
agraciar a todos com minha companheira.

— Sou sua esposa? — perguntou confusa e


levando um choque com o significado.

Ele riu.

— É minha companheira, Kally, pensei que


tinha entendido isso.

— Eu entendi.

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Tinha entendido a parte namorada, agora era


esposa, e estava tonta.

— Somos um do outro agora.

— Sim, assinamos um compromisso em meu


pescoço.

Ele riu.

— Estamos vinculados desde que te mordi, mas


meu vínculo contigo veio desde o dia que senti seu
cheiro no bosque, que te vi, quando estava em
forma de lobo, não consegui mais me afastar.

Ele segurou seu rosto entre as mãos.

— Te entreguei meu coração e minha vida,


como alfa, como lobo e como homem.

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Ela engoliu em seco, emocionada, alucinada,


estava louca. Louca por ele. Seus olhos marejaram,
seu coração estava entalado na sua garganta.

— Não tenha medo, estou aqui para te proteger,


hoje e sempre.

Ah... as barbaridades que as pessoas fazem no


calor do sexo. Ela tinha pedido que a mordesse de
novo, que a fizesse loba. Agora tudo pareceu girar
na sua cabeça e seu estômago embrulhou.

— Kally, se arrependeu?

— Hum... não... é que estou com medo.

— Vai ficar tudo bem.

— Tenho minha loja e minha casa em Belo


Horizonte, não posso ficar aqui, Gael.
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Ele respirou fundo.

— Vamos conseguir levar isso. Pensaremos em


algo. Fomos muito apressados em algumas coisas,
mas podemos pensar com mais cautela em outras,
ok?

— Ok.

— Confia em mim?

Ela assentiu.

Ele a beijou, profundamente jogando toda sua


emoção nas palavras no gesto, derramando suas
promessas e não tinha como ela não acreditar,
estava vivendo algo sobrenatural e por mais medo
que sentisse, ela queria isso tudo.

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A questão que mais assustava nisso tudo era


que ela não estava acostumada com este tipo de
tratamento, porque os homens humanos fugiam de
compromisso como o diabo da cruz, não eram
carinhosos após o sexo, não queriam compromisso,
não eram leais e carinhosos assim, pelo menos
nenhum com quem namorou e pelo que Daniele,
sua prima, vivenciava e suas outras amigas era da
mesma forma. Seus namorados sempre tinham sido
tão rasos, insensíveis e torpes, não se importavam
com seus sentimentos.

Todos tinham quebrado seu coração, mostrado


que não sabiam tratar uma mulher. Mas Gael era
tão dono de si que não tinha nenhum medo sobre
isso.

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Isso que ela agora achava que tinha conhecido


um homem de verdade. Que sabia valorizar e
cuidar de uma mulher.

E isso inflou seu coração de esperança, de amor


e respeito.

— Eu preciso ir — ela sussurrou com um


sorriso.

— Passe o dia comigo.

Ela inalou lentamente, fechando os olhos com a


sensualidade enchendo sua mente, como se
precisasse entender e assimilar aquele pedido dele.

Como recusar se era exatamente o que queria


fazer?

— Tem certeza de que me quer aqui?


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— Se não quisesse, não teria pedido.

Ela sorriu.

— Alguém não faz o que Gael MacDowell


quer?

— Alguns tentam.

Ela riu.

— Todos moram nessa casa?

— Antes morávamos todos juntos, mas à


medida que meus irmãos foram crescendo foram
querendo sua própria casa. Meus irmãos mais
novos e minha mãe moram na casa daquele lado;
minha filha com seu companheiro e filhote moram
aqui, mas a casa deles, que fica do outro lado, está
sendo construída, já estão nos acabamentos, então
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devem se mudar mês que vem. Gabriel mora aqui


comigo. Os outros lobos moram nas redondezas,
aqui é um condomínio, só há lobos e ninguém entra
sem permissão.

— Eu vi quando cheguei, guarita e guardas e


tudo mais.

— Sim.

— Mas percebi algo de ti.

— O que descobriu, pequena mística?

Ela sorriu com suas palavras.

— Você gostaria de ser mais livre. Você tem


dois lados, um sério e engravatado, frio, distante e
o outro...

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Kally pegou o pulso dele e tocou as várias


correntes e braceletes de couro que tinha ali e o seu
anel de alfa e tocou as diversas tatuagens que tinha
pelo peito e braços.

Ele era maravilhosamente fashion sem deixar


de ser másculo, muito cheio de estilo.

— Você tem um estilo mais despojado, mais


livre.

— Só você pode ver tudo de mim.

— Por isso estava na sua fazenda naquele dia


que me descobriu, estava sendo você mesmo, livre,
correndo como lobo.

— Às vezes sim, necessito ficar na natureza,


sozinho, mas gosto de correr com minha alcateia e
preciso ser frio nos negócios, necessito dos meus
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dois lados. Gosto muito de ficar na fazenda, quando


preciso estar sozinho.

— Tenho te observado e gosto de todos os


lados que vi de ti.

— Inclusive meu lobo?

— Sim, amo seu lobo.

Isso tocou profundamente seu coração.

— Também gosto de tudo que vi em você.

Gael respirou fundo quando ela o abraçou. Tê-


la em seus braços assim, era maravilhoso.

Ele beijou topo de sua cabeça e fechou os olhos


para sentir. E tudo preencheu sua alma.

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— Vamos comer, precisamos de muita comida.

Ela riu.

— Concordo, estou faminta.

Foram para a sala de jantar para o dejejum e ela


se espantou ao encontrar todos ali sentados numa
mesa gigante. Além de todos da sua família
estavam os casais convidados.

Sentiu seu mundo girar e todos a olharam com


os olhos curiosos, com um sorrisinho malandro nos
lábios, e o olhar sério da matriarca, mas sentiu um
embrulho no estômago ao ver a demônia Simone. O
que a bruaca fazia ali?

Todos sabiam o que tinham feito e Gael jamais


tinha trazido uma mulher para o café da manhã com
a família.
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O mundo pareceu engoli-la, e ela deu uma


freada na porta e ele apertou sua mão e a olhou.

— Está tudo bem, Pequena.

Ela o olhou e sorriu. Se sentiu confiante com


ele, empinou o nariz, sorriu e cumprimentou a
todos e sentou ao lado dele, sentindo-se parte da
alcateia.

Se seus irmãos, que a devoravam com os olhos,


tinham algo contra ela, não disseram uma palavra,
pois foram gentis e eram todos agradáveis,
principalmente Gabriel, que era o mais animado e
sorridente, sempre fazendo brincadeiras.

Finalmente conheceu o companheiro de


Penélope e seu bebê e também estavam Lucian e
Apolo e pensou que nunca na vida tinha visto bebês

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mais lindos, com incríveis olhos azuis e verdes,


cabelinhos loiros.

E pensou que nunca mais poderia viver sem


eles.

— Quando vai se mudar para cá, Kally? — a


mãe de Gael perguntou.

Kally quase engasgou com o pão.

— O quê?

— Mãe... — disse em uma advertência velada.

— Foi só uma pergunta, querido — sua mãe


disse. — Pois posso ajudar se precisa de algo.

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— Isso é verdade. Vocês acasalaram, é sua


companheira, tomará o posto de alfa, não? —
Simone disse com seu tom venenoso.

Kally olhou a todos, que a olhavam esperando


que respondesse.

— Bem, eu moro em Belo Horizonte,


poderemos nos ver sempre, posso vir aos finais de
semana, não sei, nem falamos sobre isso direito.
Tenho uma vida longe daqui.

— Que ótimo. Uma alfa que não cuida da


alcateia e nem do seu companheiro, uma glória —
disse Simone. — Depois de ser torturado pelos
humanos, tomar uma com cargo de confiança
desses é insano, eles só esperam a oportunidade
para nos trair.

Kally respirou fundo e não respondeu.


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— Por isso não devemos tomar humanos como


companheiros.

Ninguém disse nada e o silêncio foi absurdo


que poderia ouvir uma agulha caindo.

— Eu discordo — Noah disse e todos olharam


para ele, espantados, até Ester. — Porque minha
fêmea era humana e ela sempre cuidou de nossos
lobos como uma galinha cuida dos seus pintos.
Acredito que nossa amiga alfa, fará o mesmo, só
precisa de tempo para acertar tudo. Eu os
parabenizo. Um brinde aos novos acasalados.

— Isso aí, apoiado, companheiro. Você verá,


Kally, que com o tempo tudo se ajusta, pois se os
deuses uniram Gael e Kally, quem são os lobos
mortais para separá-los, hã? Conheço alguns lobos

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que também não valem o que comem — disse Ester


olhando zombeteira para Simone. — E outras que
morrem de inveja.

Harley riu da carranca que Simone fez.

— Verdade, alfa Ester, Kally vai se adaptar e


serão muito felizes — Catarina disse e ergueu o
copo de suco e todos fizeram o brinde, menos
Simone.

— Viva Gael e Kally!

Todos rosnaram e Kally se sentiu fortalecida e


ela olhou para Gael, que sorriu satisfeito por seus
amigos defendê-la, mas sabia que ele também
estava querendo saber sobre isso. Feliz seria se ela
soubesse o que fazer.

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Lucian bateu no prato com a colher e soltou um


gritinho e todos riram.

— Viu? Lucian também apoia.

Todos riram novamente e o mal-estar passou.

Isso lembrou Kally que precisava falar com sua


mãe sobre o que estava acontecendo e o que andava
aprontando em Teófilo Otoni, e só esperava que ela
não enfartasse.

Eles estavam agindo como aqueles casais


loucos que vão para Las Vegas e se casam.

Só estava faltando o Elvis. Pelo menos, Elvis


não uivava.

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Os dias que se passaram foram os mais


perfeitos que Kally e Gael passaram juntos,
conversavam sobre suas vidas para se conhecer, e
ele mostrou a ela tudo o que queria conhecer e
saber.

Ele a levou para jantarem, nas cachoeiras nos


arredores da cidade, passearam e se amaram.

A amizade com os casais gregos se estreitou e


Kally não podia acreditar nas histórias contadas,
era muita magia que havia no mundo que os

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humanos não conheciam.

Estava ali, pena que não tinham conhecimento,


não queriam ver ou não acreditavam, e cada dia
mais se sentia privilegiada por ter entrado no
mundo dos lobos.

E tudo estava perfeito, só o fato de que o dia de


término de suas férias estava chegando e ela não
sabia o que fazer. Não podia ficar e não queria ir.

Ela foi à varanda quando ouviu o barulho do


carro e era Gael estacionando sua caminhonete.

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Ele ficou a olhando por um minuto de dentro


carro, usando um terno e gravata e com uma luva
de couro sem dedos nas mãos, e mesmo usando
seus óculos escuros, sabia que seu olhar a
queimava. Como era lindo, e os trajes que ele usava
viravam sua cabeça.

Ele saiu do carro, foi até ela e a beijou, com um


lindo sorriso no rosto.

Momento maravilhoso do dia, check.

— Oi.

— Oi.

— Está ocupada?

— Não, estava embalando minhas compras e


arrumando nas malas.
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— Hum... Gostaria de ir a um lugar comigo?

— Claro. Preciso trocar de roupa?

— Não, está ótima assim.

Eles entraram na caminhonete e ele colocou


óculos escuros e ela amou seu jeito. Ele era uma
gama de potinhos surpresas.

— Aonde vamos?

— Vou levar algumas coisas para um amigo e


achei que você gostaria de conhecê-lo.

— Ok. É um lobo?

— Não.

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Ela sorriu e seguiram pelas montanhas e sorriu


vendo as lavras que passaram e a comunidade
pequena.

— Marquei à tarde de ir ver um garimpo, você


gostaria disso? Disse que queria ver uma mina.

— Oh sim!

— Tem que ser hoje porque amanhã cedo Noah


e Harley estão indo embora.

— Que pena, amei tanto conhecê-los.

— Um dia iremos à Grécia e você conhecerá


Alamus e a Ilha dos Lobos.

— Vou amar.

Ele sorriu, pois era fácil agradá-la.

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Pararam na frente de uma casa de madeira e,


encantada, ela viu um senhor de idade de cabelos
brancos e de roupa rota sair da casa, apoiado numa
bengala.

— Seu Antônio, que bom vê-lo recuperado!

— Oh, vaso ruim não quebra.

Gael riu abraçando o pequeno homem e


abraçou Kally.

— Trouxe uma pessoa muito especial para o


senhor conhecer. Esta é Kally.

— Oh, finalmente arrumou uma mulher bonita


para casar? Tava na hora, pensei que eu ia morrer
antes de me dar um afilhado.

— É um prazer conhecê-lo, seu Antônio.


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O senhor segurou sua mão e ficou a olhando,


com um sorriso.

— Oh, menina, que belezinha. Coloque um


pouco de humor nesse menino grande, sempre
muito sério e trabalhador, nada de errado, só muito
sozinho.

— Cuidarei dele, pode deixar.

Gael foi até atrás da caminhonete e descarregou


algumas caixas.

— Aqui, lhe trouxe comida, roupas novas...

— Não precisava disso.

— Precisava sim. E aqui os remédios que


Daniel receitou.

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— Oh, está bem, querem me enfiar mais


vitaminas.

— E isso aqui é que estava esperando.

Kally franziu o cenho eram caixas com


centenas de mudas de plantas.

— Oh, preciosas... Isso sim, deixam um homem


contente. E o sorriso de uma moça bonita. Vamos
entrem, vou passar um café.

— Não precisa se incomodar — Kally disse.

— Oh, não é incômodo, puxa esses trem pra lá


pra dar espaço, Gael.

Eles entraram e ela ficou impressionada como


Gael se movia dentro da casa pequena, parecia
muito à vontade e o senhor foi animado fazer o café
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no coador de pano, sobre o fogão a lenha, que ficou


delicioso.

— Seu Antônio, poderia mostrar seu quartinho


para ela e suas ervas?

— Oh, sim, quer ver?

— Adoraria.

Ela foi atrás dele e ficou espantada com o que


viu.

— O senhor faz remédios?

— Sim, temos aqui garrafadas, pomadas, chás,


e tudo que possa curar uma boa tosse.

Ela pegou um dos potes e olhou sorrindo.

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— Isso é magnífico.

— As pessoa hoje em dia estão tão presas nos


médicos e nesses venenos de laboratório, não
pensam que a mãe natureza pode lhe dar todo
remédio que precisa, meu avô já fazia remédios.
Minha avó não deixava ninguém tossindo, já
enfiava uma colherada de xarope de guaco ou uma
garrafada de própolis e tavam os meninu tudo são.

— Minha mãe tem uma horta grande, cheia de


plantas medicinais, sempre compro livros para ela
ler. Sempre tem um chazinho para qualquer dor.

— Como aquela ali?

Kally olhou pela janela.

— Oh, meu Deus, olha isso, Gael!

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— Sim, Pequena, eu sabia que gostaria.

— Minha mãe também tem. Vocês seriam


grandes amigos e teriam muito o que conversar.

— Pois seria ótimo, traga-a aqui, ficarei feliz de


conversar, estes jovens de hoje não têm paciência
de falar com os velhos. Mas você é diferente, bom,
muito bom...

Eles passaram a manhã entre conversas e ele


mostrando planta disso, planta daquilo e Kally se
espantou quando Gael pegou uma caixa de
ferramentas e consertou o portão de entrada, que
estava com as dobradiças soltas.

— Homem de ouro esse que achou, menina.

— Também acho.

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— Ele é diferente, o povo aqui vive fofocando,


têm medo deles, mas não encontrará no mundo
pessoas melhores que ele, o menino Gabriel e os
gêmeos, a pequena Penélope, um doce de menina.
Oh, quantos cabelos brancos deixou nele quando
aprontavam travessuras. Será um ótimo pai, assim
como foi com a pequena Penélope.

— O senhor sabe que são diferentes?

— Menina, sim, eu sei, estou nessas terras


tempo demais para saber que um homem não tem
mais de cem anos sem um cabelo branco e muitas
rugas.

Ela suspirou e ficou o olhando.

— Ele confia em você, é especial, está no


caminho certo, não desista, mesmo quando ficar
difícil.
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— Não vou.

Ele assentiu.

— Eles me protegem e eu os protejo, aqui na


comunidade, todos me obedecem, sempre digo que
vou rogar uma praga se não me obedecerem e eles
riem, mas me obedecem.

Ela riu.

— Quando novo trabalhei nas minas, vi muita


coisa e aprendi que em boca fechada não se entra
mosca e nem verme, pois não vai morrer engasgado
e nem parar debaixo de sete palmos do chão. A
gente tem a cabeça pra usar o cérebro e não pra
enfeitar o pescoço. Sabedoria, minha filha, é o
maior de tudo nessa vida, sem ela, ihhh... tá
perdido.
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— Acho que está certo.

— Bem, é melhor irmos — Gael disse.

— Foi um prazer conhecê-lo, seu Antônio.

— Venha me ver mais vezes.

— Eu virei, prometo.

— E lembre-se: seja sábia e não tenha medo;


mas se tiver, enfrente-o.

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Estavam sobrevoando os garimpos de


helicóptero e a visão de cima não era bonita, muitos
homens nas sangas entre as rochas peneirando a
terra, pedras em meio à água para ver se
encontravam pepitas ou alguma pedra. Algumas já
estavam escassas, outras estavam começando a ser
exploradas.

— Por que estão derrubando aquelas árvores?

— Porque há uma mina embaixo delas.

— Não pode minerar sem tirá-las dali?

— São pesadas, com raízes grandes, muito


peso, se for escavar embaixo é necessário evitar
possíveis desmoronamentos.

— Disse que queria preservar a natureza.

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— A cada árvore derrubada, eu planto cinco,


incluindo grandes arbustos. Como eu te disse,
Kally, o oficio exige tal exploração, mas tento
compensar, no mínimo, na mesma proporção.

Ela suspirou, ainda não achava bonito.

— Sem explorar as minas, você não teria suas


pedras, Pequena.

— É, eu sei... mas ainda acho ruim. É tipo... nós


estamos sempre denegrindo a natureza, a
machucando e então quando há enchentes,
deslizamentos de terra, gente soterrada, mortes, o
aquecimento global, reclamamos das desgraças,
como se não fôssemos os culpados.

— Sempre foi assim, o que tiramos da natureza,


um dia ela cobra. A casa que você mora ocupa um
espaço, e é feita de concreto ou madeira. Nesse
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lugar poderia ter uma árvore e grama verde, mas


tem a casa que você precisa morar dentro. Então, de
certa maneira, você também está destruindo a
natureza. Comparações são relativas e são
diferentes por diversos ângulos. A questão é o que
você faz para compensar o espaço que está
ocupando no planeta. Se você tira, precisa repor,
senão um dia acaba.

Kally ficou o olhando séria e respirou fundo.

— Pior é que é verdade, mas eu gostaria de não


judiar da natureza em nada.

— Pode fazer o que está ao seu alcance, mas no


total, não pode, a não ser que não more no planeta.
Só assim sua presença não a agredirá.

— Eu sei, tento fazer minha parte, reciclo tudo


o que posso, planto árvores, não jogo lixo no chão.
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Coisas tão simples que as pessoas não fazem, já viu


como andam os oceanos? Como ficam as praias
depois de um réveillon? Depois de algum show?
Parece pior que um chiqueiro.

— Nisso concordo. O povo não ajuda em nada.


Um que preserva luta contra vinte que destrói.
Você ama flores, mas vai à floricultura comprar
uma flor que foi cortada e morrerá em poucos dias.

— Ah, não tire o glamour de um buquê de


rosas, amo rosas.

— Então, querida, se não planta as rosas, um


dia elas acabam.

Ela respirou fundo.

— É verdade.

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O helicóptero desceu numa planície, próximo às


rochas e entre as minas.

Eles desceram e ele mostrava e explicava o que


estavam explorando. Gael colocou um capacete,
assim como os outros e foram até a entrada.

— Não iremos entrar muito, somente mostrarei


aqui na entrada, temos descoberto algumas
pedrinhas.

— Nunca pensei que veria algo assim


pessoalmente.

— Ah, mas temos que ter alguma aventura,


querida, depois de matar algumas Górgonas e
destruído alguns templos precisava te tirar do tédio
— Harley disse rindo.

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— Querido, com um bebê pequeno, não temos


nenhum momento monótono e acredito que nunca
mais teremos — Pietra disse.

Harley gargalhou e bateu no ombro de Gael.

— Se prepare, amigo, pois, quando tiver seu


filhote, saberá o que é aventura.

— Eu soube, com Penélope, e adoro ver meu


neto. Ficaria feliz em ter mais crianças. Um filhote
para ser meu herdeiro.

Gael olhou intensamente para Kally, com a


intenção clara em seu olhar, e ela sentiu um frio no
estômago.

Filhotes? Ele queria filhotes? Ela teria um


filhote de lobo?

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Sentiu uma espécie de vertigem e gemeu, e eles


riram dela.

— Isso não foi sutil.

— Mas foi engraçado.

— Realmente, Kally, ter um filhotinho de lobo


é algo indescritível, principalmente depois que ele
se transforma, seu coração parece que sairá pela
boca pelo menos umas 20 vezes por dia, mas não
haverá nada mais precioso — Ester disse sorrindo.

E ela disse aquilo com tanta intensidade, com


os olhos tão brilhantes, que Kally desejou isso. Mas
a visão ficou meio embaralhada, pois ela não
conseguiu imaginar a cena. Ela rosnou e Gael mais.

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Quando viram a parede de pedras onde havia


várias drusas presas nelas, Pietra e Kally pareciam
duas crianças, querendo tocar emitindo muitos
arfados de espanto e encanto.

— Oh, olha isso, meu Deus que coisa mais


linda as drusas!

— As pedras brutas têm uma energia mais forte


e são livres de tratamentos térmicos para
intensificar a cor, já as de lapidação facetada
amplificam a energia, pois revelam a verdadeira
beleza da pedra e a torna mais atrativa e potente.

— Todas essas vão virar pequenas?

— Não são todas as peças que podem ser


lapidadas, pois depende da qualidade e do número
de inclusões e de fraturas na peça.

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— Fraturas?

— Sim, são os rachados e bolhas de ar dentro


do mineral.

— Fascinante!

— Gosto dessa espontaneidade das mulheres


com o brilho.

Harley soltou uma gargalhada.

— Nem me diga. Quando Pietra diz: “amor,


temos que comprar algumas pedrinhas”, minhas
vistas até ficam turvas, pois lá vem um rombo, mas
compensa. Ela está tendo retornos financeiros
realmente estupendos, por isso nós estamos
entrando o ramo da ourivesaria e pedras preciosas,
como quando ela fazia quando estava em sua
alcateia.
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— Beta Pietra, o que acha de mostrar seu


catálogo para a minha curadora? Quem sabe
podemos colocar suas joias em minhas lojas?

— Oh, Sr. MacDowell, isso seria estupendo,


mostrarei com certeza.

Harley assentiu feliz.

— Hum, eu acho que até aqui está bom, fico


meio claustrofóbica em lugares muito fechados —
Kally disse parando de andar.

— Você está bem? — Gael perguntou indo até


ela.

— Estou, mas... podemos ir, por favor?

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— Vamos, pessoal, melhor irmos, acho que já


tivemos uma prévia do que podemos encontrar
aqui.

Eles começaram a sair e Kally ia à frente e


parecia nervosa, o que alertou os sentidos de Gael.

Kally sentia o perigo pinicar sua nuca, era


estranho e terrível e odiava quando tinha estas
sensações da maldade ao seu redor. Atingia
fortemente seu sistema sensível.

Gael sentiu algo errado, era como uma nuvem


de alerta pairando sobre suas cabeças; e um novo
cheiro que seu nariz captou deixou seus sentidos
mais em alerta.

— Eu acho que conheço esse cheiro — Harley


disse e Noah rosnou.

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— Pólvora.

Gael inalou profundamente e, antes que


rosnasse pelo cheiro de lobos que captou, eles
ouviram uma explosão na boca da entrada, gritaram
e taparam os ouvidos, porque aquilo realmente
machucava e as pedras e rochas começaram a
desmoronar.

— Corre! Saiam da mina, rápido! — Gael


gritou para elas, que correram o mais rápido que
podiam.

Gael, Noah e Harley seguraram os palanques de


madeira sobre suas cabeças para segurar o teto que
vinha abaixo e elas passaram por baixo.

Kally saiu da mina e Pietra também, jogando-se


no chão com o impacto da explosão em um dos
lados das paredes.
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Noah rosnou alto, agarrou os braços de Ester e


a jogou para fora. Ela gritou e caiu, rolando nas
pedras. Noah foi atingido por algumas pedras que
rolaram, mas Gael e Harley saltaram juntos batendo
contra ele e as pedras e todos caíram fora da mina,
rosnando pela dor e raiva.

Gael levantou rapidamente e puxou Harley


antes que mais pedras caíssem sobre ele.

Eles levantaram e olharam com os olhos


arregalados a boca da mina ser soterrada.

— Mas que porra... — Gael resmungou


entredentes.

— Isso é normal? — Noah rosnou e inalou


deixando seus olhos cintilarem e suas garras
alongarem.
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— Não.

— Estão bem? — Ester gritou.

— Estamos!

— Lobos! — Gael gritou e todos olharam sobre


um monte e ao redor.

Gael olhou horrorizado a cena que se armou:


vários lobos os rodeando, andando lentamente, em
uma emboscada.

— Oh, meu Deus... por que acho que não são


seus lobos, Gael? — Kally disse.

— Porque não são.

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Gael rosnou se transformando na sua forma


Dhálea e rosnou aos lobos, advertindo-os para que
os deixassem em paz, mesmo sabendo que eles não
fariam, e ele não estava propenso a deixar algum
vivo. Estava ficando de saco cheio dos ataques dos
lobos misteriosos.

Em seguida, ele ouviu um grito, se virou e não


teve tempo de correr até ela, um lobo saltou de
cima das pedras caindo sobre Kally, que sentiu o
baque, soltando um grito e arfado sufocado, caiu no
chão e os dois rolaram pedras abaixo.

— Kally!

Gael rosnou furioso, saltou atrás dela.

Kally bateu contra as pedras e rolou dentro do


pequeno rio que descia pelas montanhas.

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Outro lobo saltou e Harley rosnou alto,


agarrando-o no ar antes que atingisse Pietra. E
travaram uma luta, mas logo venceu, rasgando sua
garganta e o jogou longe, mas ela não foi deixada
em paz, pois logo um saltou sobre ela, que
bravamente desviou de sua mordida fatal e com um
giro acertou sua garganta com suas garras e o lobo
tombou, rolando pela sanga que corria entre as
rochas.

Noah se virou e interceptou um lobo no ar antes


que cravasse as garras nele, girou-o no ar e o jogou
contra as rochas. O lobo tentou levantar, mas Ester
rosnou e jogou um galho de árvore quebrada, como
se fosse uma lança e cravou em seu peito e o lobo
caiu morto.

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Gael saltou sobre o lobo que agrediu Kally,


com poderosos socos, rosnando furioso, o lobo o
arranhou e mordeu no braço, mas ele o girou pelo
pescoço, agarrou sua mandíbula e puxou num
solavanco, rasgando sua cabeça e arrancando sua
mandíbula.

Ele olhou ao redor para ver se havia mais lobos,


mas não havia nada, olhou para Harley que
abraçava Pietra, que estava assustada com tudo e
ele saltou até embaixo para alcançar Kally. Ela
estava caída e desacordada na corredeira, presa a
uma pedra.

— Kally... Kally, acorde!

Ele xingou, pegou-a no colo rosnando com


fúria. Saltou as pedras voltando para sua forma
humana e correu para o helicóptero e todos o

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seguiram.

— Havia alguém na mina, Gael?

— Não, hoje é folga deles, os garimpeiros não


estão nas minas, por isso vim, somente o capataz
deveria estar aqui.

— Não vi ninguém.

— Talvez aquele não seria ele? — Pietra


mostrou ao longe e eles viram um homem caído.

— Merda!

Gael colocou Kally no helicóptero e Harley e


Pietra ficaram com ela e ele correu até o homem,
mas ele estava morto, com os rasgos de garras de
um lobo atravessando sua garganta.

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— Miseráveis!

Gael o pegou no colo e o levou para o aparelho.

Pegou o celular e ligou para Gabriel.

— Gabriel! Mande os lobos até a mina sete e


deem fim em corpos de lobos aqui, quero que
vasculhem tudo e achem esses lobos malditos que
invadiram minhas terras, eles quase nos mataram
em uma mina!

— Estão feridos?

— Ferimentos leves, mas Kally está mais


ferida, estou a levando ao Hospital Philadélfia.
Chame o Dr. Daniel para a nossa ala privada.
Mande dois carros para o hangar agora mesmo, vou

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descer com o helicóptero ali e irei para o hospital.


Preciso mandar Harley e Noah e suas companheiras
para casa.

— Sim, farei imediatamente — rosnou zangado.

Ele desligou, soltou um monte de palavrões e


ligou o aparelho, colocando os fones. Kally tinha
ficado encantada em saber que ele tinha brevê para
pilotar helicópteros, mais uma aventura para sua
lista.

Gael sobrevoou a cidade o mais rápido que


pôde para chegar ao hangar, pois no hospital não
havia heliporto e não poderia pousar.

Quando tinha pensado em providenciar um


heliporto para o hospital, que beneficiaria os lobos
e possíveis feridos humanos, resolveu fazer uma
clínica médica dentro de seu condomínio para
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atender os lobos de forma mais isolada que no


hospital. Mas ela ainda não estava pronta e, no
momento, tinham que se virar com o que tinham.

Quando chegou ao hangar, os carros já estavam


o esperando.

— Precisam de atendimento, Harley? Tenho um


lobo no hospital e uma ala privada somente para
nós, ninguém nos verá.

— Estamos bem, somente alguns arranhões, vá


e cuide de sua companheira, se precisar de mim,
basta me chamar.

Gael assentiu.

— Esse carro os levará para minha casa, estarão


seguros lá.

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Gael rosnou, pois estava fervendo de raiva, ele


entrou num dos carros com Kally em seu colo e o
lobo que dirigia correu o mais que podia.

— Kally, me responda, acorde, Pequena.

Seu braço sangrava e tinha um corte na cabeça


que sangrava abundantemente. Ele sabia que cortes
na cabeça sangravam muito, mesmo que não fosse
profundo, mas uma pancada podia ser perigoso e
ver sua companheira ferida era doloroso demais, o
susto e o medo tomaram conta dele.

Seu lobo estava agitado dentro dele, querendo


sangue.

— Tudo bem, querida, estamos chegando e


Daniel vai cuidar de você.

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Quando ele chegou ao hospital o carro seguiu


por trás, a uma porta que somente era aberta por
dentro e atendia lobos com a ajuda de Dr. Daniel, e
duas enfermeiras lobas.

Logo as duas lobas chegaram carregando uma


maca com Daniel atrás.

Tudo correu como um borrão, um gritava de um


lado e de outro, ele rosnava e eles fecharam uma
porta na sua cara da sala de atendimento. Ele
rosnou de raiva, pois não queria se afastar de Kally.

Sorte dele que aquela ala era privada dos


MacDowell e nenhum humano entrava ali, aliás, ele
era o maior financiador do hospital e acreditava que
se não fosse por suas doações milionárias, o

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hospital já teria fechado as portas, porque a


população não era bem assistida pelos seus
governantes.

Feliz ele seria se pudesse ter a cidade toda


somente para ele dominar e comandar. Os humanos
que governavam não eram responsáveis, eram
ladrões e corruptos e não atendiam bem sua
população, que carecia de muitos recursos,
principalmente em saúde e segurança, mas ele não
era um político e já tinha muitas coisas para lidar.

Uma prioridade dele perante seus lobos era que


todos os membros da alcateia deveriam ter boa
saúde, comida e conforto, se ele podia ter, seus
lobos também podiam. Eram unidos e um ajudava o
outro e ele provia todos.

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Gael andava de um lado a outro no corredor


quando Gabriel e Douglas entraram preocupados.

— Como ela está?

— Não sei, Daniel está lá dentro e não me


respondem nada. Estava ferida e desacordada,
havia... sangue em sua cabeça.

— Fique calmo, Daniel vai cuidar bem dela, é


um bom médico e você está ferido?

Gael rosnou e se olhou.

— Somente alguns arranhões, este sangue não é


meu, é de Kally e dos lobos. Encontrou os lobos
mortos?

— Sim, o tiramos das minas e vasculhamos


tudo e não havia nada, mais nenhum outro lobo.
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— Gabriel, quero saber como lobos estão


circulando nas minhas terras, lobos que estão
famintos de sangue e nos atacando, quando se
afastam eles somem do mapa e perdemos seus
rastros.

— Eu sei e também não sei quem são, mas


coloquei todos de vigília e os estão buscando.

— Teófilo Otoni é uma cidade pequena, não


podem se esconder por muito tempo.

— Não é tão pequena assim e podem se


esconder em qualquer buraco, se estão brincando
conosco estão fazendo um bom trabalho.

— Pois faça um trabalho melhor que eles e ache


os bastardos. Quero suas cabeças enfiadas em
estacas.

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— Sei que está nervoso, mas vamos encontrá-


los.

Ele rosnou e começou a andar novamente até


cansar, então sentou em uma das cadeiras no
corredor. O Dr. Daniel saiu da sala e Gael levantou
da cadeira num salto.

— Como ela está?

— Fique calmo, ela está bem. Teve uma


concussão, levou alguns pontos na cabeça, mas
nada grave, já fiz todos os exames, mas devemos
observá-la nas próximas 24 horas, teve o osso de
seu braço trincado, mas se curará, no mais, apenas
escoriações leves.

— Inferno.

— O que houve?
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— Fomos atacados novamente na mina pelos


lobos misteriosos.

— Lamento. Ela ainda não é loba, portanto


deve demorar um pouco para se curar, sei que a
reivindicou, mas não é uma loba ainda.

— Não, mas a mordi a primeira vez, sabe... do


ritual, acha que pode ajudar a se curar?

— Bem... Não sei, não tenho tratado ninguém


em fase de transição para saber, alfa. Não me
recordo de ninguém na nossa alcateia tê-lo feito.

— Bom, pelo que li nos livros ela absorveu


uma parte de minha magia, mas não é uma loba
ainda.

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— Então sua magia pode ajudá-la a se


regenerar mais rápido, de qualquer maneira, ficarei
de olho nela e a cuidarei muito bem, mas você
deveria ir para casa, está imundo e deveria tomar
um banho e descansar.

— Não quero me afastar dela.

— Entendo.

— Posso usar o banheiro daqui?

— Claro que pode, vá para o quarto 1, pedirei a


Darlene que lhe leve toalhas e arrume uma roupa
limpa, em breve levarei sua companheira para lá e
ela deve dormir nas próximas horas. Está bem?

— Obrigado.

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Daniel colocou a mão no coração, fez uma


reverência honrosa a ele e saiu.

Gael rosnou, porque a raiva reverberava sob sua


pele e foi para o quarto, quem sabe um banho
gelado esfriasse sua raiva e temor por ela.

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Gael estava sentado na cadeira ao lado da cama,


olhando para Kally que ainda dormia. Seu coração
estava tão pesado de vê-la com aquele curativo na
testa, o braço preso em uma tipoia.

Estava há horas segurando sua mão e a olhando,


com a cabeça girando rápido e com o coração
pesado. Mesmo sabendo que não era grave, ele
sofria por ela.

Aquele lobo maldito poderia tê-la matado.

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Ele acariciou seus cabelos e respirou fundo.

— Sinto muito, Pequena, tenho falhado com


você, deixando-a correr perigos. Preciso te proteger
melhor. Se algo acontecesse a você, não suportaria,
não saberia seguir em frente. Queria tanto te
mostrar um mundo bonito, te convencer a ficar aqui
comigo, mas veja onde está. Meu coração está
preenchido de ti, é tão preciosa...

Ele ajeitou a coberta para que não ficasse com


frio e acariciou sua mão novamente, olhando seus
dedos delicados, suas unhas bonitas e bem-feitas.

Kally abriu os olhos e ficou o olhando, ela tinha


ouvido suas palavras e seus olhos se encheram de
lágrimas.

Um homem que parecia tão bruto, tão grande e


másculo, um alfa, falava tão abertamente de seus
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sentimentos, estava sofrendo por ela. Quase era


demais para acreditar. Ela era importante para ele.
E por Deus, que ela estava totalmente entregue,
rendida e perdida por ele, mesmo com tudo que já
tinha passado com os lobos.

Quando ele ergueu os olhos e encontraram os


dela, seu coração deu um baque. Acariciou sua
bochecha com carinho.

— Oi, Pequena.

— Oi.

— Como se sente? Sente alguma dor?

— Estou zonza e com um pouco de dor de


cabeça.

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— Vou chamar a enfermeira para te ver. Sinto


muito, Kally.

— Não foi sua culpa.

— Sim, foi, deveria te proteger melhor e o


farei, prometo.

Ele levantou e beijou seus lábios, com o


coração transbordando de emoção e medo.

O beijo foi tão carregado de emoção que ela


quase caiu em prantos.

— Quem o atacaria desse jeito? Tem inimigos?


Porque devem ser aqueles do bosque...

— Não sei o motivo, não tenho inimigos lobos,


nossa alcateia vive em paz há muito tempo.

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— Lobos atacam assim, sem motivo?

— Não. Um motivo há, mas não sei qual é e eu


sinto muito que deixei que te machucassem... de
novo.

— Eles têm um líder, como na sua alcateia?

— Provavelmente, são executores seguindo


ordens, se quisessem tomar minha alcateia, se
mostrariam e me desafiariam, seria a maneira
honrosa de se tornar alfa, mas... esses não.

— O que é um executor?

— Geralmente são os lobos com mais sangue


frio nas veias, eles executam ordens do alfa, sendo
elas boas ou ruins.

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— Hum... Tipo uma coisa meio de máfia. Tipo


os capangas de O poderoso chefão?

Ele riu de sua inocência.

— Bem, se fôssemos mafiosos talvez fosse este


tipo de coisa. Não tenho certeza, mas desconfio que
seja um lobo que deve ter raiva de mim por muitos
anos, Jonas. É o único inimigo que fiz na vida, mas
faz tanto tempo que seria loucura ser ele.

— E o que você fez para ele ter raiva de você?

— Seu pai traiu meu pai, estava roubando nas


minas, ele e seus lobos não seguiam as regras que
meu pai impunha. Nossa família sempre tentou
proteger os mineiros, sempre prezamos por sua
segurança nas minas, mas eles não; queriam ouro a
todo custo. Foram responsáveis por vários
acidentes e desmoronamentos, então meu pai os
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expulsou, mas eles não se deram por vencidos,


armaram uma emboscada e nos prenderam na mina.
Pensaram que acabando com nossa família seria o
novo alfa.

— O pai desse Jonas foi o responsável pela


morte de seu pai e sua companheira?

— Sim.

— Mas você se salvou, e o que houve depois?

— Eu o matei. Jonas fugiu do Brasil, mas


parece que depois de tanto tempo quer brincar
novamente. Só posso imaginar que seja ele,
nenhum lobo entra na alcateia de outro sem um
objetivo grande.

— O que vai fazer?

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— Encontrá-lo e matá-lo.

Ela ficou o olhando com os olhos arregalados.

— Ser um lobo parece ser algo bem selvagem.

— Sim, é. Somos pacíficos a maioria do tempo,


a não ser quando devemos defender nossa alcateia e
ocultar os segredos de nosso mundo.

— Entendo. E acredito que seja realmente


algum tipo de máfia, pois fazem tudo por debaixo
dos panos, porque a polícia não pode saber desse
tipo de coisa, mortes, etc.

Gael respirou fundo.

— Não, não pode. Temos nossas próprias leis,


querida.

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Ele acariciou sua bochecha e Kally viu tristeza


em seus olhos. Sabia que não era nada fácil ter uma
vida oculta.

Era um mundo muito diferente do qual estava


acostumada. Não que os humanos não fossem
violentos e bandidos, pois eram e muito, mas os
lobos tinham outro tipo de força e violência,
precisavam prezar sua sobrevivência.

— Imagino que nesse mundo de mineração rola


muitos roubos e mortes.

— Sim, entre os garimpeiros principalmente,


sempre há quem queira roubar e parece que a cada
ano só piora.

— E o que acontece?

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— Geralmente arrancamos sua cabeça e o


enterramos ou jogamos no fundo de uma barragem
com algumas pedras pesadas.

Ela ficou o olhando com os olhos arregalados.

— Verdade?

— Não.

Ela riu.

— Hum... Sou uma humana.

— Realmente é, mas sua cabecinha é muito


linda para privá-la de seu corpo igualmente lindo.

Kally riu e respirou fundo, fazendo uma careta


e colocando a mão na testa para sentir o curativo.

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Ele respirou cansado e um tanto perdido.

— Desculpe, nunca tinha tido uma companheira


humana, então me perdoe se não estou sabendo
levar isso muito bem.

— Você é tão intenso, sei que está tentando


fazer o melhor. Não é sua culpa.

Gael assentiu.

— Vamos cuidar de você.

Ele apertou o botão chamando a enfermeira.

Após ser examinada e tomar remédio para dor,


ficaram sozinhos novamente.

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— Eu vou falar com o médico para ver sobre


sua alta, está bem? Iremos para minha casa e
poderá descansar.

— Quero ir para o meu sítio.

— Vai para a minha casa.

— Sabe, seria bom me perguntar as coisas e


não me mandar, não sou acostumada a receber
ordens.

— Seria bom aprender.

— Você também a ter alguém que não as


obedeça.

Gael respirou fundo e se abaixou em frente à


sua face.

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— Está ferida e quero te cuidar e necessito que


esteja segura. Só por hoje, pode acatar uma ordem
minha, por favor?

— Se não ficar mal-acostumado, posso, cabeça-


dura.

Ele tentou evitar rir e rosnou baixo e ela sorriu.


Beijou seus lábios uma e outra vez.

— Estamos entendidos, Pequena?

— Sim.

Houve uma batida na porta e Pene entrou,


carregando seu bebê na cadeirinha.

— Olá, vim para uma visitinha.

— Não devia ter vindo, filha.

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— Vim para Daniel dar uma espiadinha no meu


filho, pois acho que está com as gengivas doloridas,
pode ser os dentinhos querendo nascer, então já
vim ver como ela estava. Tio Gabriel me assegurou
que estavam bem, mas quis ver pessoalmente. Não
se preocupe, vim com meu segurança, está lá fora.
Como está?

— Um pouco estropiada, mas bem — Kally


respondeu mostrando a tala.

— Nós estaremos indo para casa em breve.

Gael beijou Penélope na testa e sorriu ao olhar


o bebê, sussurrando um olá para ele, que tinha toda
a atenção do bebê que sorria. Kally amou a visão,
ele era muito terno com quem amava. Era até
estranho um homem tão grande e musculoso ser tão
terno. Os lobos eram contraditórios e ela amava.

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— Realmente é assustador saber que é avô —


Kally sussurrou olhando para eles.

Pene riu.

— Isso realmente atinge seu ego.

Gael rosnou.

— Vou resolver sua alta com Daniel, prefiro


que esteja em minha casa e segura do que aqui.
Comportem-se. — Saiu, fechando a porta.

— Sinto muito que isso tenha acontecido com


você, Kally. Papai está muito nervoso.

— Foi realmente um susto e olhe que lástima


— disse respirando fundo e mostrando a tipoia.

— Parece que viu um fantasma, Kally.

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— É que me passou pela cabeça que terei que


explicar isso tudo para minha mãe e ela vai surtar.
Ela é bem mística como eu, mas acredito que me
tornar uma loba e em tão pouco tempo vai surtar
geral.

— Oh, acha que ela representa um perigo para


nós?

— Oh, não, se eu contar ela guardará segredo,


juro, jamais falaria para ninguém, ainda mais se eu
for uma loba, é que me dei conta de que se eu fizer
isso viverei muitos anos, não é?

— Sim, como nós.

— Minha mãe morrerá e eu não a verei mais


por muito tempo, é que acho que mãe não deveria
morrer e me deu medo de pensar que ela morreria
daqui a alguns anos e eu não.
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— Só tem ela de família?

— Sim, sou filha única e somos só eu e ela,


tenho uma prima que é muito minha amiga e tios,
mas não sei se posso confiar nos meus parentes um
segredo como esse.

— Terá que fazer como nós, ocultar. Não pode


arriscar, não é só sua vida que está em jogo. Não
poderá esconder de todo mundo por muito tempo
que está com meu pai, pois a imprensa logo
descobrirá e fará uma manchete. Conseguimos ser
muito reservados, mas meu pai é alvo da mídia por
ser quem ele é e por consequência eu e meus tios. É
um saco. Todos sabem que temos algo de diferente
e nossa desculpa é nossa descendência irlandesa.

— E quando eles envelhecerem e eu não, o que


direi?
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Ela respirou fundo.

— Podemos pensar nisso mais tarde. Tem que


se recuperar, primeiro. Um problema de cada vez.

— Ok.

— Ama meu pai para fazer tal coisa, Kally?

Ela respirou fundo, pensando no assunto e era


desolador.

— Eu estou tão apaixonada por ele, tipo assim,


me sinto atropelada por um trem, e é tão assustador
e ao mesmo tempo incrível. Ele é tão perfeito.

Ela sorriu.

— Então qual é o problema?

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Amava, meu Deus, ela estava de quatro por ele


e apavorada.

— É tudo um pouco confuso.

Ela assentiu.

— É compreensível, os humanos acham tudo


fantasioso demais, nunca estão preparados para
conhecer realmente o mundo mágico e lobos, mas
adoram assistir esses filmes de fantasia, e tal, não
faz muito sentido.

— E eu que pensei que tinha visto muita coisa


na minha vida.

— Isso realmente acrescenta uma boa parcela.


Machucou-se muito?

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— Trincou o osso, nada muito grave e um belo


galo na cabeça.

— Ai, ai, como esses lobos estão ao nosso


redor? Meu pai deve estar cuspindo fogo.

— Ouvi alguns rosnados.

— Alguém vai perder a cabeça por isso.

— Entendo que esteja nervoso, mas pode ser


alguém dos lobos dele que não gosta de mim?

— Nem pensar, nenhum lobo de nossa alcateia


faria tal sandice. Atentar contra a companheira do
alfa é suicídio. Mesmo que alguém não goste por
você ser humana não chegaria a tanto, nossos lobos
são muito pacíficos e civilizados, todos são amigos
e gostam do meu pai.

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— Não podem tirar isso dos lobos? O que


houve com eles?

— Não sobrou nada deles para interrogar.


Foram estripados.

— Oh! Por que me atacariam? Parecia que


queria me matar, assim como da outra vez.

— Todos sabem que se atingir alguém que ele


gosta, ele vai ficar bem puto. Mas se quisesse te
matar teria feito. Saltou sobre você, teria te
arrancado a cabeça com uma patada.

— Obrigada por me salientar isso.

Kally respirou fundo para se acalmar, olhou


para a mesinha de cabeceira e a jarra de água estava
vazia.

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— Pode chamar a enfermeira para me trazer


água, por favor, estou morta de sede.

— Se você cuidar do meu filhotinho por um


momento, eu irei lá na cantina e pegarei uma água
mineral de garrafinha, pois não confio nessa água aí
não e já aproveito e pego um cappuccino na
máquina para mim, adoro estes cappuccinos de
máquina. Não temos aqui, só lá na ala dos
humanos, então, prefiro não levá-lo.

— Claro, coloque-o aqui, que ficarei de olho


nele.

Ela colocou a cadeirinha sobre a cama e Kally


sorriu ao ver o bebê.

— Vai cuidar bem dele, não vai?

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— Com minha vida. — Penélope sorriu. —


Nossa, como ele é lindo!

— Meu lobinho, Rafael.

— Precioso. Oi, Rafael.

— Ok, não demoro.

Kally assentiu e começou a brincar com seus


dedinhos.

— Oi, querido. Seu vovô é um cabeção, sabia?


Você me deixa dar uns tabefes nele? Ele é mandão,
não é?

O bebê soltou um gorgulho feliz e ela riu.

— Eu gostaria de ter um bebê assim lindo como


você... um lobinho. Seria muito louco, não acha?

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Ela estava encantada com o bebê, e sua cabeça


girava com mil pensamentos sobre ter filhos, viver
tanto tempo, ser uma loba.

Como podia em tão pouco tempo estar tão


apaixonada e pensando em casamento e filhos, mal
se conheciam, mas seu coração estava cheio de
amor por ele.

O bebê bateu os pezinhos e sacudiu as mãos e a


chupeta que ele segurava saltou de sua mãozinha e
caiu pela cama e ela tentou segurar, mas com o
braço preso não conseguiu e ele caiu no chão.

— Opa, que droga!

Ela empurrou a cadeirinha para os pés da cama,


desceu e pegou o bico do chão.

— Tenho que lavar isso, não pode pôr na boca.


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Ela foi até o banheiro e lavou o bico na água da


pia, secou a mão e, quando voltou ao quarto, ficou
aterrorizada olhando um homem gigante com
Rafael no colo. Era um lobo, pois seus olhos
amarelos com rajados alaranjados o denunciavam.

— Oh, oi... quem é você?

Ele sorriu e mostrou suas presas alongadas e a


olhou tão malicioso que ela sentiu um frio correr
pela espinha.

— Pode dar ele para mim, por favor? Pene não


vai gostar que estranhos peguem seu bebê.

— Esse é um xodó dos MacDowell, não é? O


neto do grande senhor dos lobos. O arrogante e
miserável homem que vou esmagar.

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Kally arregalou os olhos e sentiu o pavor tomar


conta dela.

— Me dê o bebê.

— O que você quer? As pernas ou os braços?

Ele segurou o bebê pelo pescoço e com a outra


mão agarrou em sua perna.

— Não! Pare! O que está fazendo? Está


machucando ele!

— Cale a boca e me escute, humana


insignificante!

O bebê chorou, mas o homem era enorme e


tapou sua boca com a mão.

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Kally estava desesperada olhando como ele o


segurava.

— Vai machucá-lo!

— Vou, vou esmagá-lo, arrancar cada membro


como se fosse papel. Depois vou pegar a Penélope
e fazer o mesmo, mas antes vou me divertir muito
com ela, então vou pegar cada um dos lobos da sua
família e matá-los e vou fazer Gael assistir, depois
o matarei com muita dor e sofrimento.

Kally não conseguia respirar.

— Por quê?

— Porque eu posso e porque Gael merece


sofrer, e após dizimar toda sua família, serei o alfa
e dono de todo seu império, mas você pode evitar
isso.
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— Eu?

— Eu sei quem você é, a companheira que ele


reivindicou. Você vai pegar suas coisas e vai voltar
para sua casa, de onde saiu, vai deixar Gael.

— Por que eu faria isso?

— Porque se você fizer isso, eu o deixo e sua


linda família em paz.

— Ele não vai deixar.

— Ah vai. Você vai ser bem convincente.

O bebê estava sufocando e Kally não sabia o


que fazer, pensou em gritar e pedir socorro.

— Se gritar, arranco a cabeça dele.

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Ela tapou a boca com a mão e sentiu mais


pavor, sim ele mataria o bebê, pois era frio como
gelo e mau.

— Você vai deixar Gael, como se não o


amasse, como se o desprezasse, não aceitando ser
sua loba, e isso vai matá-lo, destroçá-lo, mas você
fará, porque a vida deste bebê e de sua mãe, assim
como toda a alcateia está em suas mãos e depois de
matá-los todos, irei atrás de você e de sua mãe,
Carolina, lá em São Tomé das Letras, e farei uma
bela festa com ela, depois deixo os pedaços para
você juntar.

Se seu pavor não era suficiente, agora atingiu


um nível bem alto.

— Como... como sabe de minha mãe?

— Eu sei tudo sobre você, entendeu agora,


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humana? Você é uma fraca e então eles aceitarão


sua recusa facilmente, você não faz parte da
alcateia, não é aceita pelos lobos, apenas está sendo
responsável pela morte deles. Já pensou se a
imprensa soubesse da existência dos lobos, seria
uma caça às bruxas.

— Não pode fazer isso!

— Posso e farei. Vá embora ou eu voltarei e


não diga para ninguém que estive aqui, senão
arrancarei sua pele e farei um tapete para eu pisar,
assim como sua mãe, ela é muito bonita.

Ele tirou o celular do bolso e mostrou um


vídeo. Era alguém filmando sua mãe na sua horta
de ervas medicinais que cultivava na sua casa.

Kally não podia respirar.

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— Entendeu agora? Ficará calada e partirá.

— Ok, eu vou, mas me dê o bebê, por favor.

Ele fez seus olhos cintilarem e suas presas


aumentaram mais, e ela pensou que ele morderia o
bebê, então esticou o braço para alcançá-los, mas
ele não o fez, jogou o bebê no ar.

Kally arregalou os olhos e saltou para frente,


agarrou o bebê pela jardineira que usava, bateu
contra a cama com o braço quebrado, se
desequilibrou e tombou no chão.

Gritou pela dor e se contorceu toda para tentar


fazer com que o bebê não batesse no chão.

O bebê chorou alto e o homem sumiu, saiu do


quarto tão rápido que ela nem viu.

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Kally, no chão, apavorada e com dor, estava


agarrada ao bebê que chorava.

Tentando ignorar sua dor, arrancou a tipoia que


segurava seu braço na tala, pegou o bebê e o
colocou sobre a cama. Olhou para a porta e não
sabia o que fazer.

Desesperada e sem evitar que as lágrimas


rolassem, ela colocou as duas mãos sobre o bebê e
orou, tentando acalmar o bebê, observando se
estava machucado, passando sua energia para ele
com a imposição de mãos.

— Shhh, shhh... calma, lindinho, por favor, por


favor, por favor...

Ela tentou fazer a formação do Heiki, juntar as


mãos para o Gassho, se concentrar, mas estava
difícil, fechou os olhos e fez sua invocação, e
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colocou as mãos impostas sobre o bebê. E mesmo


sem ela ver a própria energia e luz que saía de suas
mãos e que era transmitida ao bebê, não parou e
continuou suas preces até que ele parou de chorar,
se acalmou e o vermelho de seu rosto e seu pescoço
sumiu.

Nunca na vida tinha feito algo tão desesperado


e potente, nem sequer entendeu o que tinha feito
exatamente.

Abraçou o bebê contra o peito e a dor de seu


braço era tamanha que mal conseguia respirar.

— Shhh... está tudo bem, está tudo bem...

As palmas de sua mão queimavam como se


tivesse fogo nelas. Kally caiu no chão, agarrada ao
bebê e estava prestes a desmaiar.

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Penélope entrou no quarto e, quando viu a cena,


soltou a garrafa de água e o copo de cappuccino e
correu pegar o bebê.

Ela rosnou quando sentiu cheiro de lobo e um


fedor de remédios tão forte que seu nariz ardeu ao
ponto de enjoar e seus olhos arderam até sair
lágrimas.

— O que houve?

— Ele estava chorando, eu o segurei, mas...


mas...

— Ele caiu? Teve um lobo aqui?

— Não teve ninguém, ele não caiu, eu o peguei


no colo porque estava chorando, eu o segurei, só
isso.

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Penélope ficou olhando para Kally caída no


chão sem entender nada, correu ao corredor e olhou
ao redor. Nada de lobo.

— Preciso de ajuda! Pai!

Entrou e estava confusa, espirrou e o bebê


estava reclamando e ela o embalou.

Gael entrou no quarto e xingou.

— Mas que merda! O que houve aqui?

Ele pegou Kally do chão e a colocou sobre a


cama e ela gemeu de dor e lágrimas escorriam pela
face. Estava em choque.

— Droga, Kally, o que você fez? O que houve


aqui, Pene?

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— Eu não sei, pai, a deixei por um momento


para buscar água e cheguei agora e estava assim.

— Kally, o que houve? Querida, fale comigo.

Ela não respondeu, somente gemia e respirava


com dificuldade. Estava tendo algum ataque de
pânico.

— Ela se machucou, chame Daniel!

A enfermeira saiu correndo.

— Eu estou bem, quero ir embora.

— Kally, me conte o que houve.

— Quero ir para casa...

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Gael foi afastado e ficou olhando estupefato o


médico e a enfermeira atender Kally, a examinar e
ela chorava de dor e ele sentiu uma onda de medo.

Tudo se passou tão nebuloso, que ficou


aturdido, e como ela não respondia suas perguntas,
eles não conseguiam desvendar o que tinha
acontecido.

Mas Gael suspeitou que houve uma nova


tentativa de agressão, pois o cheiro era inegável,
mas ver sua companheira machucada somente
aumentava a ira de seu lobo.

Depois de mais radiografias, e seu braço ter


sido engessado, porque o trincado se tornou uma
fratura, e mais medicamentos, ele levou uma Kally
muda para casa.

— Me leve para o sítio.


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— Você vai ficar na minha casa onde posso te


cuidar.

— Quero ir para o sítio.

— Não é hora de ser teimosa, Kally.

— E não é hora de ficar me dando ordens,


porque estou muito cansada no momento.

Respirou cansado e mudou a direção do carro,


ele a levou até o sítio e a ajudou a entrar na casa.

— Não pode ficar aqui sozinha.

— Ache meu celular na minha bolsa, por favor.

— Kally...

Ela não o olhou, discou no celular e xingou


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quando não conseguiu linha.

Ela sentou no sofá e suspirou, sentia-se


realmente esgotada. Seus nervos estavam tão
destroçados que sua cabeça doía fortemente. Gael
sentou na poltrona na sua frente.

— Vamos conversar?

— Quero ficar sozinha agora.

— Por que está zangada comigo?

— Pode me deixar sozinha, por favor?

— Merda! Se não me fala, como quer que


descubra o que se passa?

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— Eu estou cansada, quero dormir e com você


matraqueando aqui não vai dar. Posso ter um
espaço sem ter lobos ao meu redor por um
momento? Eu realmente estou de saco cheio de
lobos agora mesmo.

— Teve um lobo no quarto do hospital, o que


houve?

— Não houve nada! Só estou de saco cheio de


lobos! Vai, por favor, me deixar descansar ou terei
que me trancar no quarto?

Ele engoliu em seco, foi até ela e se ajoelhou na


sua frente.

Ah, como era difícil.

— Está com raiva e com medo.

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Sim, estava apavorada.

Gael a puxou para ele e a abraçou.

Ela chorou em seu abraço, porque não sabia o


que fazer. Não queria ir embora, mas não queria
que sofressem. O que uma alfa faria? Como ela
poderia saber?

— Eu sinto muito — ele sussurrou.

O abraço era tão bom, tão quente que a


envolvia de uma forma que jamais sonhara, como
conseguiria dizer adeus a ele?

Ele se afastou e ela ficou o olhando. Uma


lágrima teimosa escorreu e ele a secou com o
polegar.

— Minha pequena, o que há? O que te fizeram?


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Apenas a quebraram em muitos pedaços, que


ela jamais poderia colar, e ali, olhando para ele,
somente queria que estivesse seguro, vivo.

Se ela tivesse que pagar o preço para acontecer,


ela faria.

— Pode voltar amanhã? Por favor?

— Eu irei, deixarei você se acalmar, depois eu


volto e conversaremos, ok?

— Ok.

— Mandarei alguns lobos para ficarem lá fora


de guarda.

— Ok.

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Gael acariciou sua bochecha, beijou seus lábios


e a olhou. Estava com o coração oprimido, porque,
além da bagunça toda, Kally estava vulnerável e
prestes a escapar por seus dedos. E ele não podia
permitir tal coisa.

Ele levantou e saiu.

Ela chorou aos soluços quando ouviu o carro


partir.

O que faria agora? Estava ferrada de todos os


modos, e nunca na vida sentiu tanto medo.

E se aquele lobo cumprisse suas ameaças?

Era o que tinha que fazer, se afastar e tentar


salvar a vida de Gael e sua família, de sua mãe. Se
ficasse, todos sofreriam.

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Não poderia conviver com isso.

Ela discou novamente e finalmente conseguiu


completar a ligação.

— Daniele? Por favor, pode pegar o primeiro


avião e vir me buscar? Preciso ir para casa
urgentemente, mas não posso dirigir.

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Kally tremeu e chorou olhando para o vídeo


que passava no seu celular.

Sua mãe estava amarrada numa cadeira, com


uma fita crepe na boca e tinha sangue na sua roupa.

— Está vendo sua mamãezinha? Não se


esqueça, tem poucos minutos para sair da cidade,
senão fatiarei sua mãe e te mandarei os pedaços —
disse o lobo que a ameaçava.

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Os olhos arregalados de horror de sua mãe a


deixou em frangalhos, desesperada. O lobo estava
na sua forma horrível e as garras eram longas e
mortais e estavam no pescoço dela.

Sua doce mãe estava entre a vida e a morte nas


mãos daqueles lobos malvados e ela sabia que eram
capazes de cumprir suas ameaças.

— Estou aqui, aguardando o seu vídeo


mostrando que está fora da cidade e fora da vida
de Gael MacDowell, senão...

Ele rosnou no ouvido de sua mãe, que gritou, e


então o vídeo desligou.

Kally ouviu um carro chegar à frente da casa e


olhou pela janela, pensando ser Daniele que
chegava do posto de gasolina que havia ido encher

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o tanque para viajarem, fugirem, na verdade. Mas


não era ela, era Gael e o pânico tomou conta dela.

— Merda!

Gael entrou na sala do sítio sem bater na porta e


franziu o cenho vendo que ela estava arrumada para
sair.

— Kally? O que está fazendo? Aonde vai com


estas malas?

Logo outro carro chegou e Gabriel entrou porta


adentro arrastando uma atordoada Daniele.

— Ei, solte ela, Gabriel!

Ele a soltou e ela foi ao lado de Kally e ficou


olhando de Gabriel para Gael com os olhos
arregalados.
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— Jesus Cristo!

— O que aconteceu?

— Ela estava com seu carro, então eu a trouxe


quando disse que estavam de partida. Tenho certeza
de que o alfa não permitiu tal coisa — Gabriel
disse.

Kally rangeu os dentes.

— Pra começo da conversa, ela não estava


roubando meu carro, eu dei as chaves para ela, e é
minha prima, Daniele.

— Eu disse, mas ele não acreditou em mim.

— Segundo, Gael não tem que me dar


autorização nenhuma para eu ir onde queira, não é
meu dono.
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— Sou seu companheiro.

— Não, não é!

Houve um silêncio tenebroso e ninguém piscou.

Daniele, que não estava entendendo muita


coisa, respirou fundo.

— Eu sei quem vocês são! Esse aí é o mafioso


das pedras, aquele do jornal, que eu disse para ficar
longe dele, Kally! E esse outro aí também sei quem
é — Daniele disse zangada para Gabriel.

— E quem eu sou, caríssima mulher


desbocada? — Gabriel perguntou zombeteiro.

— Um gorila metido a besta e rico.

— Não sou um gorila, sou um lobo.

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Ela bufou, sem realmente entender que ele era,


literalmente, um lobo.

— É um playboy metido a besta e que me


sequestrou. Sabia que posso te processar por
sequestro?

— Não te sequestrei, se tivesse feito com


certeza teria uma fita na sua boca.

Ela bufou e Kally queria rir da briga dos dois,


porque estavam se olhando fixamente, testando
quem podia mais.

— Bem, estamos de partida — Kally disse.

— Partida? Pra onde?

— Vou para casa, Gael, para Belo Horizonte.

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— Não pode ir.

— Posso e vou. Você sabia que eu iria embora.

— Isso seria daqui a cinco dias. Por que está


fugindo?

Oh, Pai amado, ela não era muito boa em


mentir e ainda mais para ele, que lhe doía
fortemente o coração.

— Pode colocar as malas no carro, por favor,


Dani?

Ela respirou fundo.

— Será que o senhor, pode, por favor, me


ajudar e deixar os dois se despedirem?

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Gabriel olhou aturdido para Kally, que desviou


o olhar, e depois olhou para Gael, que parecia bem
confuso e bravo.

— Hum... sim, claro... estaremos mais seguros


lá fora.

Cada um pegou uma mala e saíram, fechando a


porta.

— Não se preocupe, ela não sabe que são lobos,


e mesmo que soubesse, não falará nada, nem eu,
nunca. Pode confiar em mim, pois te fiz uma
promessa.

— Como posso confiar em você se está indo


embora sem me dizer por quê. Nem ia me avisar?
Está em fuga e eu sou o responsável por isso.

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— O fato de eu não aceitar ficar com você, não


implica em ir para a imprensa e colocar a boca no
trombone. Eu quero vocês seguros e jamais faria
nada que pudesse feri-los.

— Mas está me deixando sem nenhuma


explicação!

— A explicação é que não sou mais sua


companheira, tudo foi um erro e estou desistindo
desse negócio de loba, não sei onde estava com a
cabeça para me meter nessa loucura toda.

Gael sentiu seu mundo girar.

— Eu sou um lobo, sou um alfa, Kally, eu não


fico brincando de casinha com as mulheres por aí,
ainda mais humanas, não saio mordendo mulheres
com quem transo passando magia a torto e a

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direito. Então eu tenho em conta que tínhamos um


compromisso e você estava bem apta a entrar na
minha vida, agora do nada quer sair.

— Eu lamento, mas não posso fazer isso, é tudo


demais para mim e essa vida dupla que leva eu... eu
não quero.

— Mas disse que amava isso, que estava


encantada com os lobos, com nossa mágica.

— Isso foi antes de ver que posso virar comida


de lobo que... Enfim, acho melhor eu ir embora e
viveremos nossas vidas como antes. Preciso muito
de meus braços para vê-los sendo quebrados por
psicopatas com bafo de carne podre. Eu cuidarei de
minha loja, cuidarei dos meus pacientes e você fica
aqui contando suas preciosas pedras e se
escondendo do mundo.

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Gael estava chocado e por um momento ficou


sem saber o que dizer. Como podia ter se enganado
tanto, cometido tanto desatino por ela?

— Não valho a pena, Kally? É muito sacrifício


ficar comigo?

Ela o olhou e sentiu tanta vontade de chorar que


estava quase morrendo. Como conseguiria
continuar e dizer tudo o contrário que seu coração
queria dizer.

Gael fez aquela pergunta de forma tão dolorosa


que ela quase o abraçou para sanar sua dor. Como
que ele não valia a pena? Senhor, ele valia tudo!

— Você é valoroso, Gael, e acredito que seja


um grande alfa para sua alcateia, mas eu não posso
me transformar em loba, abrir mão da minha
humanidade para viver com vocês. Eu não saberia
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mentir o tempo todo, sou meio estabanada e


acabaria me revelando para alguém e sua alcateia
não me quer aqui.

— O quê? Do que está falando?

— Não sou uma loba e não serei uma. Então eu


estou indo. Vocês são ricos e estou cansada de ser
chamada de pobretona e fraca.

Ele foi até ela.

— Não pode ir!

— Eu posso e eu vou.

— Está assustada, zangada porque se feriu, e


aqueles lobos a machucaram. Entendo
perfeitamente, entendo até que ficou zangada

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porque te prometi que estaria segura e não pude


cumprir. Peço perdão por isso, mas penso que pode
superar isso e enfrentar nossa realidade.

Ela podia, e queria.

— Não, Gael, eu não posso e não quero. Não


sou feroz, forte, líder e esta coisa toda, sou pequena
e fraca, e vou viver minha vida monótona e chata.
Adeus.

— Isso não é um jogo, uma brincadeira que


quer uma coisa e no outro dia não quer mais, como
uma criança birrenta! — gritou zangado e ela
segurou o choro.

Kally pegou sua bolsa e passou quase correndo


por ele.

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Gael pensou em não interferir, mas seu lobo


não permitiu, segurou-a pelo braço. E a fez parar e
olhar para ele.

— Kally, por favor, não vá. Somos


companheiros, não podemos fugir disso. Nossos
laços não podem ser quebrados desse jeito!

— Estou indo. Não faço parte do seu mundo e


não quero fazer. Sou uma pobretona que não sei
andar de salto e que não tenho sangue puro de lobo,
sou pequena demais para ser sua alfa. Seus lobos
ficarão felizes em me ver longe. Quem sabe aquela
tal Simone possa ser melhor alfa do que eu.

— Você se deixou levar por palavras daquela


loba? Não acredito que tenha feito tal coisa.

— Ela é sua amante.

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— Foi! Eu te disse que jamais tocaria nela de


novo. Nunca minto e sou leal à minha
companheira, Kally, não confia em mim?

— Seu mundo é lindo, mas por outro lado é


sangrento e eu não quero fazer parte disso.

— Eu sei que isso é bem grande para você, mas


eu agora penso que as sandices de minha filha são
corretas e estou aqui de coração aberto para ti,
pedindo que... seja minha companheira, minha
esposa. Podemos nos casar com os rituais humanos,
como queira. Até na igreja, se quiser.

Ela não conseguia respirar e os olhos dele


brilhavam, empolgados esperançosos e ela tentou
segurar as lágrimas porque estava sufocada.

Ah, como isso poderia ficar mais difícil?

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Ele queria casar com ela.

Gael estava quase se ajoelhando e implorando,


mas ainda tinha orgulho. Nunca foi homem de se
ajoelhar por nada na vida, nem por ninguém.

Em toda sua vida, ele nunca se doeu tanto por


uma mulher como por ela. Sua companheira. Sua
mulher.

Os deuses haviam a criado somente para ele, o


havia presenteado, e controlar-se por ela foi a coisa
mais difícil que ele já tinha feito em toda a sua
vida. E agora ela fugia? Será que esteve enganado?
Uma companheira de verdade não fugiria e ele
pensou que ela estava entregue a ele assim como
ele estava a ela.

Ele tinha a mordido e sua mente estava confusa


demais.
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— Por favor, não torne as coisas mais difíceis


do que já são, Gael. — O apelo em sua voz estava
pesado com sua própria batalha para negar-se a ele.

— Kally...

— Por favor, não insista...

— Como pode dizer isso se eu sinto outra coisa


— ele murmurou. — Um apelo contra algo que nós
dois desejamos tão desesperadamente. Diga-me,
Kally, quanto tempo você acha que pode continuar
a negar isso? O que te assustou tanto para voltar
atrás, você me pediu que te mordesse, me disse que
queria ser minha.

Ele não ia fazer isso por muito tempo. Precisava


ir embora de uma vez.

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— Eu não preciso de um companheiro, Gael.


Eu não preciso de um homem, ponto final. Eu
quero minha vida de volta, e estou certa que você
entendeu isso bem. Eu cometi um erro e me
arrependi, não quero ser loba e estar com você, eu
preciso ir.

— Você acha que pode ir embora, então? — O


instinto animal do lobo saltava dentro dele. Ele
nunca, jamais permitiria que ela se afastasse dele.
Não podia.

— Eu sei que posso ir e ficaremos bem, isso


tudo vai passar para mim e para você. Eu não tenho
escolha, Gael. Tampouco você. Nós dois sabíamos
que eu iria embora, minha vida não é aqui. Então,
eu sugiro que você procure outra companheira.

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Num segundo ele estava longe, no outro estava


sobre ela. Ele se inclinou para frente, as palmas das
mãos apoiadas dos lados da sua cabeça, encostada
na porta, quase tocando o nariz dela, seus olhos
presos nos dela, e estava zangado, bem zangado.

Kally quase gritou pelo susto, mas travou e


sentiu medo. Ele não era um homem para se fazer
caso e nem tomar por tolo, era um lobo, um bem
astuto e perigoso.

— Eu não vou te deixar ir.

— E não vou permitir que você me detenha.


Diga-me, você realmente quer uma companheira
que não quer nada contigo?

— Se essa é a única maneira que eu posso ter


você, então eu vou aceitá-la e ficar contente.

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— Mas não pode. Não pode me obrigar a ficar.

Antes que ele perdesse toda a aparência do


homem que era, ele se afastou e tentou domar a
fúria de seu lobo, tentou manter um pouco do seu
orgulho que estava esparramado no chão.

Ele queria senti-la contra ele. Estava morrendo


por seu toque. Qualquer coisa para aliviar a tensão
de seus músculos que estavam rijos de nervoso, a
dor pelo calor do toque dela, queria poder
convencê-la a ficar.

Gael tinha vivido um inferno e estava prestes a


viver outro. Agora, ela o estava negando e não
sabia como agir.

Ninguém ensinava esse tipo de coisa a um lobo.

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Os planos que ele tinha feito ao longo das


últimas semanas estavam caindo agora no
esquecimento. Tudo foi uma grande fantasia, uma
grande mentira. Tinha sido um tolo e entregado seu
coração a ela. Tinha a amado, e agora seu coração
estava estraçalhado e não sabia como consertar
aquilo.

Como tinha sido idiota e burro!

Kally o viu se transformar diante de seus olhos.


Já não era mais o Gael quente e apaixonado. Seus
olhos viraram gelo, sua expressão estava agressiva.
Frio como um iceberg. Ele endireitou seu corpo, de
forma altiva, o que pareceu que ficou maior do que
era.

Ali estava o magnata das pedras, frio e distante.

E doeu vê-lo daquele jeito.


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— Se você for, esqueça que eu existo — disse


com a voz grave e fria.

— Vou esquecer, pode deixar. Foi apenas uma


paixonite de férias, semana que vem nem lembrarei
mais nada disso.

Oh, aquilo bateu fundo nele. Foi o mesmo que


levar uma facada bem no peito.

— Não pensei que você fosse uma covarde —


ele sussurrou e seus olhos cintilaram.

— Enganou-se, eu sou. Adeus, Gael, seja feliz.


E aquilo te pertence.

Ela o empurrou com a mão, fazendo-o se


afastar e ele deu um passo atrás, abriu a porta e
saiu, sem olhar para trás.
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Gael ficou ali, sem ação, com o coração partido


e quando ele olhou sobre a mesinha de centro,
pegou o estojo, o abriu e ali estava o colar de
esmeralda e os brincos.

Ela tinha devolvido seu presente.

E isso somente quebrou mais seu coração.

Rosnou alto e forte, que fez tremer as paredes e


vidraças da casa, seguido de um uivo de lamento.

Um lobo de coração partido, perdendo sua


companheira, era uma dor inexplicável.

Gemeu e bateu a mão no peito e continuou


batendo, porque doía demais e não conseguia
respirar, seus olhos marejaram e a garganta ardia,
de ele se segurar para não chorar.

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Diziam que os laços de companheiros de alma


eram inquebráveis e assim como o amor que
chegava era intenso e poderoso, poderia ser o mais
doloroso e insano que um lobo poderia sentir.

E a moça doce que havia dado seu coração


estava o quebrando agora e ele não conseguia
aceitar ou digerir.

Não era justo.

As horas passaram e o silêncio torturava Kally


e Daniele dentro do carro. Após horas de Daniele a
bombardeando com mil perguntas, sem que ela

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respondesse, havia desistido e o silêncio mórbido e


a onda de dor que vinha de Kally tomaram conta.

Ela tentava não chorar, para se manter digna e


forte, mas a garganta queimava e sua cabeça doía.

— Pare o carro, Dani.

— Não dá para parar aqui.

— Pare a droga do carro!

— Eu vou dar na sua cara se não me contar o


que está acontecendo, o que havia com os olhos do
tal Gael, hein? Eu nunca imaginei que seriam tão
grandes de perto, pelo amor de Deus, eles têm dois
metros de altura!

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Daniele parou no acostamento e Kally saiu do


carro, respirou profundamente para se acalmar,
porque sua cabeça girava muito rápido, a deixando
à beira de um colapso e seu estômago estava
embrulhado, que pensava que vomitaria.

Com as mãos trêmulas, tirou o celular, bateu


uma foto da placa que estava perto da entrada de
Belo Horizonte, enviou na mensagem para o celular
da sua mãe e dali a pouco seu telefone tocou.

— Pois bem, gatinha, cumpriu sua parte no


acordo. Sua mãe vai continuar amarrada na
cadeira até você chegar aqui.

— Solte-a, agora!

— Tem sorte se encontrá-la com a cabeça, mas


isso terá que ver por si mesma, não é?

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— Olha aqui, seu lobo do inferno, machuque


minha mãe que eu te acharei e arrancarei sua pele.

— Uh, que medo, a pequena humana ficou


brabinha, mas não é uma loba, querida, não
consegue cumprir suas ameaças.

— Não preciso ser uma loba para te matar se


machucar minha mãe, posso não ter sangue de loba,
mas virarei uma para te caçar.

O lobo riu zombeteiro, o que só a deixou mais


louca.

— Cumpra o trato e venha para casa e eu deixo


sua mãe livre, sem nenhum arranhão, enquanto
isso ela ficará presa. Quer sua mãe livre? Ela está
te esperando. Lembre-se, não faça nada estúpido e
bico calado.

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Kally ouviu os gemidos de sua mãe ao fundo e


um grito abafado, pois ainda deveria estar com a
fita em sua boca.

— Mãe!

Ele desligou e Kally soluçou, andando de um


lado para o outro.

— Kally, o que está havendo? Fale-me, pelo


amor de Deus!

Ela gemeu, tentando se controlar, mas seu


corpo todo vibrava, sua raiva reverberava e parecia
que o sangue corria quente em suas veias.

Soltou um grito alto que retumbou pelas


montanhas, soltou toda sua raiva, frustração e dor.
E quando ela se virou e olhou para sua prima,

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Daniele gritou, saltou para trás, batendo no carro, e


ficou olhando-a apavorada, com os olhos
arregalados.

— Kally... o que fizeram com você?

Kally fungou e secou as lágrimas.

— Eles quebraram meu coração, o tiraram de


mim!

— Acho que quebraram outra coisa também.

— O quê? — perguntou sem entender, pois sua


cabeça girava.

— Seus olhos... estão... amarelos brilhantes.

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São Tomé das Letras, Minas Gerais, Brasil.

Kally entrou correndo e gritando porta adentro,


com o coração pesado e com medo por sua mãe, já
era tarde da noite quando conseguiu chegar.

— Mãe! Mãe!

Ela foi até a sala e sua mãe estava presa na


cadeira, amarrada e com uma fita crepe na boca e
desacordada. Jogou-se no chão, erguendo sua
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cabeça, com lágrimas nos olhos, pensando o pior.


Seu rosto estava roxo, por uma agressão do lobo.

— Mãe! Jesus, acorde, mãe!

Ela pegou o telefone e chamou uma


ambulância. Desamarrou-a e a colocou deitada no
sofá e tirou a fita.

— Acorda, mãe, por favor!

— Kally... — respondeu tonta e perdida.

— Estou aqui, está tudo bem, tudo bem, já


chamei uma ambulância. Desculpe não ter chegado
antes, mas demorou uma eternidade para conseguir
pegar o avião e depois tive que pegar um ônibus,
quase morri de aflição. Por que ninguém atende
esse telefone quando a gente precisa?

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— Estou bem.

— Vamos ao hospital e ficará tudo bem.

— Não quero ir a nenhum hospital.

— Está machucada.

— Só estou com dor no corpo, estou bem. Está


em casa, que bom, filha.

— Oh, mãe, quase morri de aflição! — disse


abraçando-a.

— O que era aquela coisa? O que fizeram com


você?

— Eu estou bem.

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— Bem? Tem um curativo na testa, está com


gesso no braço e olhe seus olhos!

— Tive um acidente, caí numas pedras, mas


estou bem.

Não estava bem, mas sua dor agora não


importava, somente sua mãe.

Kally correu e pegou um copo de água e uma


bolsa de gelo e levou até ela, que bebeu e ela
colocou o gelo no rosto.

Logo a ambulância chegou, mas Carolina se


recusou a ir ao hospital, previamente atendida pelos
socorristas, logo ficaram sozinhas novamente.

— Você vai à polícia?

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— Não, mãe, não vou, não posso contar isso a


polícia.

— Por quê? Com que tipo de gente se meteu lá,


menina?

— Uma gente bem diferente, mas parece que


não fui muito aceita.

Carolina tomou um enorme gole de água e


respirou fundo, sua cabeça girava muito rápido com
tudo o que tinha ouvido e passado, nem acreditava
no que tinha visto, mas sabia que Kally não estava
dizendo tudo.

— Tem certeza de que não precisa de um


médico, mãe?

— Estou bem.

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— E sua pressão pode aumentar de novo?

— Já disse que estou bem, filha, se não morri


de um ataque cardíaco dessa vez, não morrerei
mais. Mas acho que você precisa de um médico. O
que houve com seus olhos? Isso é alguma lente?
Aquele homem monstruoso também usava lentes
assim.

Kally respirou fundo e esfregou os olhos. Tinha


levado um susto ao se olhar no espelho e parecia
que eles estavam permanentes daquele jeito e não
haveria volta.

Também, o que esperava? Gael a tinha mordido


e passado parte de sua magia para ela. Estava se
transformando em loba. Só agora a ficha do que
tinha feito estava batendo na sua cara.

Quão louca tinha sido?


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Sim, tinha sido uma louca, encantada e


apaixonada e agora estava colhendo os frutos de tal
loucura.

— Desculpe por ter passado por isso, mãe, mas


acabou, eu cumpri minha parte do acordo e eles não
vão voltar.

E jamais veria Gael novamente.

— O que era aquela coisa? Hã... Um ser


místico? Ou aquilo era uma máscara?

— Sim, era uma máscara e luvas, tipo de


carnaval, somente um homem querendo nos
enlouquecer.

Sua mãe ficou a olhando.

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— Hum-hum... está mentindo, Kally, nunca foi


boa mentirosa.

Ela respirou fundo, tristemente.

— Ok, eram de verdade... era um ser místico e


há vários deles. Eu os encontrei, são de verdade, eu
encontrei os bons, mas havia alguns maus no meio
deles, que não me queriam por lá. — Sua mãe ficou
olhando sério para ela. — É sério, mãe, são de
verdade.

— Exatamente o que são?

— Homens-lobos.

Sua mãe ficou a olhando por um longo tempo


sem dizer nada, como se estivesse processando a
informação, buscando referências.

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— Lobisomens?

— Mais ou menos isso, eles são shifters.

— Não sei o que é isso.

— É tipo um lobisomem, mas se transformam


no lobo bonito e não no monstro, quer dizer... têm
uma parte meio feia, que acho que é como aquele
que estava aqui com a senhora estava transformado,
uma forma intermediária que eles chamam também.

— Oh! Eu sempre soube que em Minas Gerais


havia seres místicos de verdade!

— Pois é, lendas não são somente lendas.

— Mas não gostei daquele.

— Eu também não.

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— O que houve lá?

— Alguns inimigos de Gael estavam querendo


destruí-lo, então eu o deixei, para deixá-lo bem e
sua família.

— E seus olhos estão assim por causa deles?

— Sim.

— Misericórdia, meu Deus! Você é um


lobisomem também?

— Não, não exatamente, não posso me


transformar, mas meus olhos mudaram, sei lá...
pensei que seria somente depois da segunda...
mordida...

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— Pare de falar meias-palavras e tentar me


poupar da verdade. Desembuche logo, Kally
Cristina Aguiar!

Kally respirou fundo.

— Eu encontrei o homem mais perfeito de todo


o mundo e tive que abandoná-lo para mantê-lo
seguro e a senhora também. Mas... dói pra caralho
isso e eu não sei se fiz a coisa certa — disse
exasperada, fungou e secou as lágrimas.

— É tipo aqueles contos de fadas que você tem


que lutar contra tudo e todos para ficar com o
mocinho?

— Tipo isso.

— O que seu coração diz, minha filha?

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— Bom, eu acho que ele está batendo na minha


cara. Nunca senti uma dor tão grande, nem sabia
que podia me apaixonar tão rápido, nem sabia que
era possível sentir um amor tão grande no meu
coração, como se já o conhecesse minha vida
inteira, como se só estivesse esperando ele chegar.

— Então por que o deixou?

— Temi por sua vida, eu realmente acreditei


que aquele lobo poderia matar a todos, inclusive a
senhora. Bem, a senhora viu aquela coisa!

— E... bem, eu não sei exatamente o que te


dizer, filha.

— Soa como se eu estivesse louca?

— Um tantinho.

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— Bem, me sinto um pouco louca, realmente.

— E parece que tem muitas coisas quebradas aí


além do braço e sua cabeça. Seu coração.

Kally olhou para sua mãe com os olhos


marejados pelas lágrimas que forçosamente tentava
segurar para não demonstrar o quanto se sentia
quebrada, mas parecia impossível fugir de sua mãe.
Ela soluçou, caiu aos prantos e Carolina a abraçou.

— Oh, filha, me conte tudo o que houve lá.


Como posso te ajudar se não entendo do que está
falando exatamente. Esses MacDowell são maus e
foram eles que te machucaram, é isso?

— Vou falar tudo, mas jure que não sairá nada


daqui.

— Ok, eu juro.
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Kally respirou fundo e contou a história desde o


início e tudo sobre os lobos. Sua mãe ficou por
longos minutos em estado de choque, depois de
ouvir tudo.

— Estou realmente chocada e até acho difícil


de acreditar, mas se você diz que isso existe, então
acredito. Enfim, há algo de real nas lendas e mitos
de lá e aquela coisa que esteve aqui e me prendeu?

— Acredite, são de verdade e estou me sentindo


muito mal.

— Estas pessoas, seres, te fizeram muito mal,


posso sentir como sua aura está mudada, carregada.

— É porque eu conheci um mundo tão lindo,


tão maravilhoso e excepcional, que me tocou tão
fundo e, de repente, todo ele caiu na minha cabeça

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e aquele homem malvado, ruim como o demônio,


estava lá sufocando um bebê na minha frente e
fiquei tão apavorada que somente pensei em fugir.

— Santíssimo, minha Nossa Senhora, não


consigo nem imaginar tal coisa, pensei até que
tinha sido um grande pesadelo, mas também acatei
o que me disse, para não ir à polícia, senão te
machucariam, mas machucar um bebê é
absurdamente ruim.

— Nunca fiquei tão apavorada na minha vida.


Realmente acreditei que poderia fazer isso porque
estava nos olhos dele. Ali havia maldade e
ganância. Os outros lobos eu via fúria e força, mas
não maldade. A senhora sabe como sou sensível
para estas coisas, eu sinto quando uma pessoa é
ruim, a energia dela é distorcida e me sinto mal.

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— Jesus! Sim, eu sei, meu bem, e acredito que


realmente este homem... lobo, tenha te apavorado,
pois aquele outro me apavorou muito.

— Ele mataria Gael e a senhora e eu não


consegui ser egoísta e ficar lá e arriscar.

— Hum... fez bem, fez bem, se esses seres são


perigosos fez bem em deixá-los lá e vir embora.
Assim estará segura, não é?

Kally olhou para sua mãe e não respondeu.


Seria o mais sensato a fazer, mas se era, por que
seu coração estava despedaçado?

— Kally?

Ela a olhou.

— Quão íntimos vocês ficaram?


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— Mãe, que pergunta é essa?!

— Uma bem simples, quero saber até que grau


está envolvida com esse tal Gael?

— Bem envolvida, tipo até todos os meus


ossos.

— Você dormiu com ele.

— Sim, mãe, se é isso que quer ouvir, então sim


eu dormi e isso só piora a sensação de vazio e
nunca mais eu conseguirei dormir com ninguém
mais na minha vida. Todos os homens do mundo
estão estragados agora.

— Amores passam, Kally, isso não é para


sempre. Vai sofrer agora, e daqui um tempo,
passará e esse homem não te trará mais sofrimento.

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Ela não acreditava nisso, nem um pouquinho,


porque somente via um buraco negro e pesado na
sua frente, uma escuridão que a engoliria.

— Não, mãe, não quando são companheiros de


alma. Não passará.

— É... você está realmente ferrada.

— Obrigada por me compreender. E isso jamais


sairá daqui.

— Minha boca é um túmulo. Vá dormir um


pouco agora, amanhã as coisas estarão melhores.
Também vou dormir porque estou muito cansada e
dolorida.

Kally respirou fundo, caiu na cama e abraçou o


travesseiro, e sua mãe ia sair do quarto.

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— Kally?

Ela a olhou.

— Se você acredita nesse negócio de


companheiros verdadeiros, de alma ou sei lá o que
esta lenda fala, e se este homem te tratou como uma
deusa, realmente a tratando como uma mulher
merece ser tratada, com um amor verdadeiro para te
dar, e que você sente algo tão forte quanto, então...
talvez... valha a pena lutar, nem que corra alguns
perigos.

— Está me dizendo para passar por perigos? A


senhora que cuida de mim como pinto debaixo da
sua asa, que reclama que moro em outra cidade e
não pode me cuidar como deveria, mesmo eu tendo
28 anos?

Ela deu de ombros.


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— Como sua mãe sim, quero que fique longe


de perigos e de gente louca, mas, como sua mãe,
também quero que seja feliz, com um homem que é
capaz de dar sua vida por você, que lute por você e
a trate como uma rainha, com amor verdadeiro.
Isso é muito raro encontrar, Kally, poucas pessoas
no mundo conhecem o amor verdadeiro. Então se
pergunte. Até quanto vale a pena lutar por ele? Por
seu amor?

— Acho que vale tudo.

A senhora assentiu.

— Quando você era pequena sempre tinha


sonhos muito peculiares, talvez se lembre de
alguns, mas acho que a maioria não, pois era bem
pequena. Você sonhava com anjos, bruxas e
pessoas invisíveis e tudo mais, muitas vezes
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“tomava chá com elas”. Sempre me contava seus


sonhos, pois inacreditavelmente eles eram muito
claros e você se lembrava deles quando acordava e
até quando tinha pesadelos. Mas eu me lembro de
alguns muito particulares que se repetiam.

— Que sonhos?

— Você corria pelos bosques e isso te deixava


muito feliz, como se ele te enchesse de alegria e
energia.

— Corria nos bosques? — perguntou sem


entender.

— Você corria com lobos.

Kally ficou aflita e estática a olhando.

Ela sonhava com eles?


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Sua mãe a deixou sozinha e sua cabeça girava


desgovernada e seu coração doía fortemente.

Sim, o que sentia era amor? Gael era seu


companheiro de alma? Um deus teria feito ela para
dividir a vida com um amor daquele? Com um
lobo?

Algumas de suas memórias surgiram na sua


cabeça e ela chorou ao se lembrar delas. Corria
com eles, brincava com eles e não tinha nenhum
medo e sentia seu fascínio e sua magnitude, então
imaginou aquela beleza toda com Gael, correndo
com ele, feliz.

Ficou acordada quase a noite toda, somente


lembrando, sonhando e sofrendo, e não conseguiu
segurar as lágrimas.

Quanto amava Gael para lutar por ele?


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Enfrentar tudo e todos por ele. Inclusive lobos


assassinos, se transformar em loba e ser uma alfa?

Conhecia um ditado que dizia: “O pior não é o


que os maus fazem, mas sim como os bons se
calam”.

Se não fizesse algo, se não combatesse o mal,


eles sempre reinariam. Sua avó e sua mãe sempre
lhe ensinaram que era preciso enfrentar os
problemas e as pessoas que queriam te intimidar, te
roubar ou extorquir. Sempre tinha lutado na sua
vida, tinha aprendido a lutar na escola quando era
vítima de bullying, mas aquela era outra realidade e
tinha ficado com medo. Medo que aquele lobo
machucasse sua família, então cedeu à chantagem.

Kally fez uma careta, era bem isso, uma


chantagem.

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Desde quando um lobo arrisca tanto para


atormentar Gael e pararia por ela? Não, aquilo era
mais uma provocação, só um tijolo no muro de
tudo o que ele estava fazendo contra Gael. E estava
achando que devia ter contado a ele, pois com o
que fez o desestabilizaria.

Seu coração oprimiu e precisava de respostas.

Só que no momento era difícil de pensar com


sensatez, porque a dor que sentia no coração
parecia sufocá-la e sua cabeça estava uma bagunça.

Mas se tudo fosse verdade, tudo o que viveu,


buscou e aprendeu sobre as pedras e o mundo
oculto, levar uma vida mística durante toda sua
vida, estudar sobre magia e deuses a levou até
Gael?

Ele seria o seu destino?


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Se era não sabia, mas que a perda estava a


destroçando, isso estava, seu coração estava
quebrado.

E não conseguia parar de chorar.

Gael pensava que teria que estripar todos que


estavam naquela sala gritando como loucos ou sua
cabeça ia explodir.

Douglas, Dario e sua mãe estavam ali, mas,


pelo menos, tinham a decência de estarem calados,
mas Gabriel, Penélope, Malvino, que era um ancião

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da alcateia, e Simone falavam e gritavam, rosnando


e xingando ao mesmo tempo e que o estava
deixando a ponto de um assassinato.

— Eu avisei! Mas foi teimoso e não quis me


escutar! Aquela humana fraca e falsa, pobretona,
jamais poderia ser nossa alfa! — Simone dizia.

— Sempre é problemático quebrar as tradições


e colocar humanos no nosso meio. Você foi
precipitado, irracional, agiu por conta de um
frenesi, não estava pensando com clareza, mas acho
que foi melhor ela ter ido, assim evitará um monte
de problemas, mas não podemos confiar nela, pois
demonstrou que é volúvel, não guardará segredo —
o ancião disse.

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— Você deve ir atrás da humana e matá-la, não


pode deixá-la solta por aí sabendo do nosso
segredo, ela nos trairá e estaremos todos mortos. Já
imaginou se fala com a imprensa? Se ela vende
nosso segredo aos cientistas, como fizeram com
Noah? Sua alcateia foi dizimada pelos humanos! —
Simone exclamou.

— Eu disse a ela que se te machucasse a


esfolaria viva, mas algo me cheira mal nessa
história — Penélope disse. — Ela estava bem e até
tranquila quando a deixei, então a mulher surtou.

— Mal? Ela é o nosso mal! — Simone gritou.

— Mas ela não parecia ser fraca assim para


abandonar tudo e mudou de ideia do nada! —
Gabriel rebateu.

— Ela estava cagando nas calças de medo dos


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lobos. Como poderia nos liderar se é uma covarde?!

— Sim, alfa, ela foi uma covarde. Humanos são


covardes na maioria do tempo — o ancião disse.

— Devemos mandar os executores e matar a


humana — Simone disse.

— Gael, sabe o que tem que fazer para aplacar


a ira do nosso povo — o ancião complementou.

— Deve me tomar como companheira. Sou a


fêmea mais adequada para tal posição, estou
contigo desde sempre e no comando das empresas.
Você deve fazer o que nosso povo deseja que...

Eles continuavam falando e gritando ao mesmo


tempo e Gael não abria a boca para dizer uma
palavra, pois sua mente estava fervendo e, quando
sua paciência esgotou, ele levantou da cadeira,
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rosnou tão forte com seus olhos cintilando, presas


alongadas, que todas as janelas e a paredes
tremeram. Bateu no centro da escrivaninha de
carvalho maciço da biblioteca onde estavam, com o
punho fechado, que a mesa desmoronou quebrada,
caindo com tudo que havia em cima.

Todos saltaram para trás, com os olhos


arregalados.

— Calem essa boca, todos, ou juro que os


estriparei e jogarei os pedaços aos cães! — gritou
furioso.

— Papai...

— Cale-se, Penélope!

— Gael...

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— Simone, se disser mais uma palavra, eu juro


que arranco sua língua. Quem pensa que é para
mandar meus executores atrás de minha
companheira? Perdeu sua fodida cabeça? Eles
devem estar atrás destes malditos lobos que
transformaram minha vida num inferno! E por
último, você não será minha alfa nem hoje, nem
nunca!

Ela arfou com os olhos arregalados.

— Eu disse, mas ela não se conforma —


Penélope sussurrou dando uma risadinha.

— Estamos juntos há anos! Este deveria ser


meu lugar!

— Fomos amantes, apenas isso, não temos


nenhum tipo de compromisso e eu nunca fiz
nenhuma menção que teríamos algo mais sério.
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Sempre deixei bem claro que não tomaria outra


companheira.

— Sim, mas tomou a esta humana estúpida! —


gritou.

— Ela é diferente.

— O quê? Acredita nesta estupidez que sua


filha vive falando por aí? De companheiro de alma?
Você não seria tão ingênuo de acreditar em tal
coisa. Nós temos algo real, algo que pode elevar
esta alcateia. Tenho conhecimento nos negócios,
sou sua companheira há muito tempo.

— É companheira nos negócios e no sexo e


nada mais.

— Gael!

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— Não discutirei mais! Este assunto está


encerrado, Simone! Não te tomarei como
companheira com ou sem Kally.

— Regras são feitas para serem seguidas, para


não ocorrer este tipo de coisa. Um alfa deve ter a
mente no lugar para comandar uma alcateia, e uma
alfa deve ser uma loba... — iniciou o ancião.

— Malvino, te tenho o profundo respeito que


um ancião merece, agradeço por sempre estar
atento à nossa alcateia e por seus conselhos sábios,
mas sobre minha companheira quem resolve sou
eu. Eu decido com quem me acasalar, eu decido
quem será minha alfa. Nem você, os outros lobos,
nem ninguém mais.

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— Se a alcateia não aceitar uma humana, não


terá apoio. E ainda por cima há sussurros que é
bruxa — Malvino disse.

— É claro que é um tipo de bruxa, é uma


mística e o que infernos isso tem a ver?

— Mas sempre disseram que as bruxas são


perigosas.

— Sua criadora era uma bruxa, não seja


retardado, Malvino, não ofenda minha inteligência,
se não sabem lidar com uma bruxa vão aprender.

— Kally nunca disse que era uma bruxa e


sempre foi gentil com todos — Gabriel disse. —
Ela é doce, todos viram na festa.

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— Gael, tem que reconsiderar sobre tomá-la


como companheira, já virou as costas para ti... —
Simone tentou intervir.

— Simone, antes disse que ela era uma


golpista, até a chamou de prostituta, agora viu que
ela não é isso, porque senão não teria ido embora,
vendo que meu pai a assumiu — Penélope
retrucou-a. — Talvez a alcateia a aceitasse se essa
bruxa parasse de falar mal dela por aí!

— Pare de defender essa pobretona, Penélope!


— Simone esbravejou.

Penélope rosnou, mas se segurou para não


avançar na mulher.

— Simone e Malvino, saiam agora, é uma


ordem. Desde quando desobedecem algo que digo?
Desde quando lhe dei espaço para que desrespeitem
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seu alfa? Saiam e juro que esta é a última vez que


vou falar! — Gael gritou mais zangado ainda.

Contrariados, eles saíram a passadas rápidas e


houve um silêncio na sala.

Gael tentou normalizar sua ira, mas estava bem


difícil, andou de um lado a outro tentando pensar.

— Douglas?

— Sim, alfa? — disse desencostando da parede


e vindo mais próximo.

— Você viu as imagens das câmeras da nossa


ala no hospital?

— Sim, não havia nada. As câmeras foram


desligadas.

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— O quê?! — indagou Gael, espantado.

— Ainda acho que algo aconteceu naquele


hospital. Havia aquele cheiro insuportável que nos
embaralhou, mas acredito que teve algum lobo ali,
mas a sua mulher não falou que sim, ninguém viu
nada.

— Daniel sempre foi atento com a segurança de


nossa ala, as câmeras não deveriam estar
desligadas, alguém desligou — Gabriel disse.

— Esses lobos malditos estão jogando conosco.


Eles estão em todos os lugares, então simplesmente
desaparecem sem deixar rastros — Gael disse
cansado.

— Meu segurança e o seu motorista estavam do


lado de fora, no estacionamento, o portão da rua
estava fechado com o controle remoto, como
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sempre fica, ninguém entrou ou saiu além de nós,


pai.

— A única porta de acesso à nossa ala com o


resto do hospital não possui chave, somente a trava
de digitais e somente Daniel, suas enfermeiras e
poucos de nós tem o registro lá para poder passar
— Douglas disse.

— Nossos lobos estão vasculhando por todos os


lugares, mas temos que ser cautelosos, não
podemos nos descuidar e deixar que os humanos da
cidade percebam que há lobos andando entre eles,
senão somente aumentaria a curiosidade e fuxicos
sobre nós, há tempos dizem que há lendas e
mistérios envolvendo nossa família, não podemos
dar mais motivos para falação — Gabriel
complementou.

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— Nossa família alimenta o folclore há muitos


anos — Gael disse.

— Sim, eu sei, mas dizer que há lobisomens na


região ninguém se espanta, mas não podemos
permitir que alguém filme um de verdade. Com a
velocidade que um simples vídeo bobo se alastra na
internet, poderíamos nos ferrar — Gabriel
respondeu.

Gael respirou fundo e os olhou seriamente


dizendo:

— Eles sabem como e quando atacar e onde


estamos. O ataque na mina, no hospital, aquele
ataque no dia da festa foi proposital, somente não
conseguiram entrar no condomínio porque nosso

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sistema de segurança é muito forte, mas mesmo


assim dois lobos foram gravemente feridos e, então,
do nada os rastros desapareceram.

— Isso é verdade, não sei como estão


desaparecendo tão rápido e os rastros de repente
somem — Douglas concordou.

— Acredito que há traidores entre nós — Gael


concluiu.

— Merda... — Gabriel resmungou e esfregou a


testa dolorida. — Como estão Pedro e Rubem?

— Estão melhores, Daniel ia dar alta aos dois


hoje.

Gael respirou fundo, aliviado. Olhou para o


canto da sala e sua mãe estava ali, calada e séria,
somente observando.
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— Quer dizer algo, minha mãe? O que tem a


dizer de tudo isso?

A senhora, elegantemente vestida com um


tailleur bege, cabelo arrumado e ricas joias em ouro
e pedras se aproximou e segurou seu rosto entre as
mãos.

— As cobras estão aparecendo, filho,


passeando bem entre seus pés. Mate-as antes que te
piquem.

— Sobre Kally?

Ela respirou fundo.

— Uma doce moça, amorosa, inocente, um


pouco ingênua, mas sincera, boa de coração. Eu
gostei dela, te olhava de um jeito que não há como
negar que te ama. Aceitou nosso mundo e mesmo
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que seja humana, acredito que é confiável. Ela é


forte, não é a fraca que quis demonstrar ao partir e
como todos estão cochichando por aí.

Isso bateu em Gael como um tabefe. Sua mãe


era uma loba muito observadora, mas não esperava
que estivesse a favor da humana tão prontamente.
Seus filhos podiam ser gigantes, fortes e ferozes,
mas, para ela, sempre seriam seus pequenos
filhotes. Todo mundo a respeitava e acatavam seus
conselhos, era metódica, sábia e tranquila como a
água cristalina de um lago.

— Acha isso?

— Com todo coração, assim como tu a ela. Eu


acredito nas lendas, pois nós somos lendas vivas,
alimentamos essa cidade com muitas delas e se for
verdade que companheiros de alma existem, creio

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que ela seja a tua. Nunca o vi assim, nem mesmo


quando perdeu Ana e seu pai. E eu acredito que se
tu conheceu a miséria de um coração partido, ela
também.

— Mas foi embora, virou as costas para nós,


para mim. Talvez isso tudo fosse demais para ela.

Ela assentiu.

— Sim, mas como eu disse, há cobras e uma a


picou dolorosamente.

Ele rosnou zangado.

— Ela esconde o que houve.

— Sim, fugiu por medo, só não sei do quê. Mas


se eu fosse você, ia atrás dela e descobriria a
verdade. Não há mal nem mentira que fique no
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escuro por muito tempo, a verdade sempre vem à


tona. Ela deve aprender a viver em uma alcateia,
ninguém pode agir sozinho quando implica a vida
de todos.

— Estava aprendendo.

— Você a mordeu sem sua permissão?

— Não, ela quis. Bem, na primeira vez foi meio


sem querer, eu estava muito louco, mas ela me
entendeu e aceitou, mas quando iniciamos o ritual,
ela me pediu.

— Ela pediu? — Penélope perguntou


espantada.

— Porra! — Gabriel resmungou.

A senhora assentiu.
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— E depois recuou. Ou ela é muito tonta ou foi


forçada a partir.

— Então, vamos descobrir! — Gael rosnou


alto, assumindo sua raiva. — Gabriel, você
queimou o dossiê sobre a vida de Kally como eu
mandei?

— Sim.

Gael respirou fundo.

— Preciso da sua localização.

— Bem... talvez eu tenha guardado alguma


coisa...

Gabriel deu um sorrisinho disfarçado, fingindo


inocência, quando Gael o olhou e ergueu uma
sobrancelha, recriminando-o por ter burlado suas
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ordens, mas não reclamou.

— Ótimo, me passe onde posso encontrá-la.

— Oh, irmão, você vai se espantar.

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Belo Horizonte, Minas Gerais.

Daniele gritou com a mão no peito ao se virar


para ver quem havia entrado na loja acionando o
alarme que ficava na entrada.

— Ai, Jesus, Maria e José, o senhor me


assustou! — Daniele disse boquiaberta e ficou
paralisada olhando para Gael, tentando recuperar o
ar perdido.

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Ele estava usando uma camiseta branca, um


blazer preto e óculos de sol, seus cabelos estavam
presos num coque meio bagunçado e uma mecha
caía no seu rosto.

O homem era uma visão desconcertante. Ela


olhou para a porta e de volta para ele.

— Desculpe, não quis assustá-la, moça.

Daniele não conseguia respirar olhando para


ele.

— Sou a Daniele, recorda?

— Sim, eu me recordo, a prima de Kally.

Ela assentiu e tentou manter uma compostura


adequada, uma que não delatasse o quanto ficava
chocada ao olhar para ele ou para alguém como ele.
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— Hum... Deseja alguma coisa? Desculpe, mas


estamos fechando.

— São onze horas da manhã.

— Estamos fechando para o senhor. — Ele quis


sorrir porque ela era ousada. — Deseja alguma
coisa?

— Sim, vim buscar uma pedra preciosa.

— Pedra preciosa? Acho que o senhor errou de


loja, a joalheria fica do outro lado da rua — disse
dando uma de desentendida.

— Não, eu vim no lugar certo. Vim buscar


minha companheira.

— Quem?

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— Kally.

— Oh, Jesus! Bem que eu sabia que já tinha


visto esta sua cara em algum lugar. O senhor é o
miserável que quebrou o coração de Kally!

Gael respirou fundo, ela sabia quem ele era,


mas estava tirando sarro de sua cara, o que exigia
sua paciência, que estava bem curta nos últimos
dias.

— Sim, fui eu, apesar de não saber exatamente


o que fiz.

Ele olhou para a imensa loja e ficou chocado,


não era uma lojinha com bugigangas e pedrinhas,
era imensa, e cheia de todos os tipos de artefatos
místicos e eram caros. Em uma das paredes havia
uma estante cheia de livros, provavelmente sobre o
tema. Havia uma estante de vidro muito grande
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onde continham muitas drusas, cristais e pedras de


todos os tipos, muitas delas que Kally tinha
comprado na feira. Havia muitas estátuas de deuses
de todas as culturas, artefatos de rituais e orações,
todo tipo de coisas místicas de muitos cantos do
mundo. E na loja tinha muitas pessoas andando
para lá e para cá, observando e comprando.

Tudo era lindo e requintado.

Ele estava chocado, porque tinha ido


primeiramente à casa de Kally, mas não havia
ninguém além de alguém que informou pelo
interfone que a senhora Aguiar não estava em casa,
uma baita casa, agora a loja.

Se alguém pensava que Kally era uma riponga


pobretona estava enganado. E seu coração inflou de
orgulho dela.

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— Sua loja é linda.

— Sim, ela rala muito aqui. E o senhor, eu


deveria chutá-lo daqui a golpes. Vocês, só porque
são ricos, pensam que podem pisar nas pessoas,
mas não podem não! E isso fica mais grave quando
o senhor uiva para a lua.

Gael rosnou em advertência e Daniele respirou


fundo, dando um passo atrás.

— É, eu sei, pois Kally me contou o que houve


e o que são; e nem vem que eu não vou contar para
ninguém, porque jurei a ela, mas eu estava lá,
entendeu? Eu fui acudir minha prima e minha
melhor amiga em uma situação dramática que o
senhor a colocou. Fui eu que a acudi no meio da
estrada tendo um surto psicótico e vendo seus olhos
ficarem amarelos!

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Gael respirou três vezes para se acalmar,


porque a bagunça que tinha entrado parecia nunca
ter fim.

— Gostaria que falasse mais baixo ou posso


considerá-la um perigo para os de minha espécie.

— Jura, e vai fazer o quê?

— Saiba que posso silenciar alguém assim


arrancando sua língua ou a enfiando em uma
estaca, posso também arrancar seu coração com
minhas mãos, mastigar e cuspir fora.

Daniele ficou o olhando com a boca totalmente


aberta, apavorada. Então Gael colocou um leve
sorrisinho no canto da boca, para ela saber que
estava brincando com ela, mas no fundo ela sabia

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que poderia ser bem real a tal ameaça. Afinal, não


era por acaso que lobos andavam no meio dos
humanos por séculos sem que fossem expostos.

— Queima de arquivo é natural para vocês?

— Seria, mas acredito que a senhorita é mais


sensata a ponto de ficar com sua boquinha bem
fechada, não é? Não estou aqui para ameaçar nem a
senhorita e nem ninguém, somente quero ver Kally,
mas não me tome por tolo e relapso, moça.

Ela olhou para a porta e para ele novamente.

— Saia daqui antes que eu comece a gritar!

Ele sorriu.

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— Fico contente que tente proteger Kally.


Você, como sua prima, faz bem em tentar mantê-la
segura, mas não de mim, no caso. Se ela lhe contou
o que houve poderia me dizer?

— Dizer o quê? — perguntou um tanto perdida


na conversa estranha.

— Por favor, pode me dizer a verdade do


porquê ela foi embora?

— Sim, ela me contou algumas coisas, mas não


sei exatamente o que houve em tudo, porque ela
não me disse muito, para evitar me meter em
confusão, mais do que já estou metida, mas o fato
de seus amigos lobos terem a machucado e ser...
um lobo e querer que ela fosse uma não seria
motivo suficiente para sair correndo para bem
longe de vocês?

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Seria.

Gael respirou fundo.

— Bem, Daniele, não foram os meus amigos ou


minha família que a machucaram e eu reconheço
que falhei em protegê-la ou não assustá-la até a
morte, mas estou aqui disposto a remediar isso e
fazer com que ela, pelo menos, não me odeie.
Talvez com mais tempo ela possa ver que não
somos bestas selvagens que não sabem cuidar de
suas companheiras. Lobos podem dar a vida para
protegê-las.

— O senhor daria?

— Com toda certeza, sem pensar duas vezes.

— Fala sério — disse revirando os olhos.

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— Os deuses me deram Kally e não pretendo


passar os longos anos de minha vida sem ela,
portanto, não posso abrir mão de meu mais
precioso presente. Se ela está sofrendo, eu também
estou.

Daniele piscou aturdida. Nunca na vida pensou


em ouvir um homem dizer tal coisa. Sua simpatia
pelos lobos começou a mudar.

— Isso surtiu algum impacto. Ela disse que seu


povo não a aceitaria.

— Eles farão, se ela aceitar a posição de alfa.

— Isso é grande, sabe disso, não sabe?

— Sim, eu sei.

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— Ela estava muito ferida, por dentro e por


fora, estava com medo e olha que nunca tinha visto
Kally com medo de alguma coisa.

— Pode, por favor, me dizer onde ela está?

Daniele cruzou os braços.

— Não.

— Olhe, algumas coisas aconteceram e eu


preciso falar com ela, preciso que acredite que a
protegerei melhor.

— Algumas coisas aconteceram? Ela quase


morreu naquela mina! Ela voltou para casa com o
coração quebrado pelo senhor, além do braço, e
ficou com uma cicatriz na cabeça. Ela é uma pessoa
maravilhosa e sensível e o senhor, estúpido, a
machucou!
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— Olhe, sei que ela está sofrendo e eu também


estou, eu a amo e necessito falar com ela e desfazer
essa confusão.

— A ama?

— Com todo meu coração. Quero me casar com


ela, por isso vim aqui para desfazer o mal-
entendido e pedir a ela que volte.

Daniele ficou ali, boquiaberta olhando para ele.

— O senhor é estranho, e sua família também.

— Ela disse quem somos? Explicou exatamente


o que implica sermos lobos?

— Sim. E confesso que ainda estou chocada.

— O que mais ela disse?

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— Disse que são podres de rico e vivem de


maneira diferente e que...

— Quê?...

— Que o amava, mas que não podiam ficar


juntos. Não me disse o que exatamente o senhor fez
para quebrar seu coração. Mas parece que alguém a
ameaçou e foi feio, pois ela não é de fugir de nada.

— Só me diga onde ela está e eu tentarei me


redimir de meus erros e darei tudo de mim para
fazê-la feliz.

— Fará?

— Eu juro. Se ela me aceitar ainda. Pelo menos


preciso tentar.

— A ama mesmo? — perguntou incrédula.


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Ele ergueu os óculos e a olhou com seus olhos


azuis-claros como o céu límpido em dia de verão e
ela piscou aturdida. Nunca tinha visto nada tão
lindo.

— Eu não minto, Daniele.

A maneira como ele disse olhando-a sem


piscar, com aqueles olhos estupendos, a fez gelar
da cabeça aos pés.

Ela nem sabia por qual motivo ficou mais


chocada e então, ele só piorou as coisas quando,
todo poderoso, se debruçou sobre o balcão.

E tirando o espanto, ela teve que acreditar que


dizia a verdade.

— Não acredito nesse negócio de amor à


primeira vista.
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— Mas deveria acreditar em almas destinadas a


ficarem juntas. Se soubesse como as coisas
funcionam para mim e minha família, acreditaria.

— Hum... parece meio bizarro.

— É, pode ser um pouquinho diferente, mas


somos bem lúcidos. Por favor, Daniele, me diga
onde ela está. Somente quero poder cuidar dela,
jamais quero machucá-la ou ferir seus sentimentos.

Ela respirou fundo.

— Hum... está bem, direi onde está, mas se a


machucar de novo quebrarei sua cara.

— Aceito isso.

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— Ela foi para a casa da mãe dela, que fica em


São Tomé das Letras. Ela gosta de ficar lá para
recarregar as energias, sabe como é, é um lugar
místico que roda muitas energias poderosas e ela
precisa delas.

— Tem aeroporto nesse lugar?

Ela franziu o cenho.

— Veio de avião?

— Sim.

— Não tem. A cidade é um ovo. Belo


Horizonte até lá são 330 quilômetros. O aeroporto
mais próximo de São Thomé das Letras é o
Aeroporto de Varginha, porém outra opção é o
Aeroporto de São Lourenço, sendo que ambos
estão localizados a menos de 90 quilômetros de
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distância de São Thomé, o resto tem que ir de carro


ou ônibus, mas acredito que o senhor não ande de
ônibus, não é?

Ele xingou.

— Obrigado, Daniele.

Gael colocou os óculos e saiu e Daniele ficou


ali e fez o sinal da cruz.

— Misericórdia que homem é esse? Realmente,


Kally somente poderia ter perdido a cabeça. Aff!

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São Tomé das Letras, Minas Gerais.

Kally estava sentada sobre uma pedra, na


beirada da enseada onde havia a bela cachoeira Véu
de Noiva, com um encanto e magia que sempre a
fazia relaxar e encontrar sua paz com a natureza.

Era um lugar lindo e tranquilo, onde somente se


ouvia o barulho da queda d’água. Desde criança
aquele lugar era seu preferido.

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Precisava acalmar sua mente, pensar numa nova


estratégia para agir. Porque queria encontrar um
meio de falar com Gael, sem que ninguém
soubesse.

Seus pés tocavam a água e queria ter coragem


de mergulhar, mas estava frio a água muito gelada.

Para chegar à pedra tinha molhado até os


joelhos e já tinha sido o suficiente, passando pela
lateral do lago que se formava ali, mas na sua frente
era bem mais fundo.

Ela entendeu a conexão que os lobos


necessitavam com a natureza e parecia que depois
que permitiu que Gael a mordesse e passasse parte
de sua magia ela sentia mais necessidade dela.

Devia ser um efeito colateral. Fechou os olhos e


orou pedindo forças para a Mãe Terra para suportar
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a dor de seu coração.

Pediu que a energia da água a curasse, a


energizasse.

Tentou firmemente segurar as lágrimas, mas foi


impossível, então elas caíram livremente.

Ela ficou ali, nem sabia por quantos minutos,


porque sua mente não estava assimilando muito o
que se passava ao redor, além do barulho da água
da cachoeira que lhe anestesiava, seus pensamentos
estavam longe.

O que seu coração desejava?

Desejava Gael.

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Talvez fugir do problema não fosse a solução,


pois o sofrimento de estar longe dele era quase
tanto que sufocava.

Seu telefone tocou e ela respirou fundo. Não


podia ter um momento de silêncio para relaxar. Ela
estranhou o número desconhecido e atendeu.

— Alô?

— Olá, Kally, aqui é Ester. Estou ligando para


saber como está, se está recuperada, se precisa de
alguma coisa. Infelizmente não pude ficar porque
tinha passagem marcada, estas coisas chatas, mas
fiquei preocupada com você.

Kally sorriu, porque realmente gostava de Ester


e se emocionou que estava preocupada com seu
bem estar.

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— Oh, olá Ester, estou bem, não se preocupe,


mas obrigada por ligar.

— Bem mesmo? Parece que soa triste.

— As coisas ficaram só um pouco complicadas,


achei melhor me afastar.

— Oh, querida, fugir não vai te ajudar.


Acredite, eu sei.

Kally respirou fundo.

— Parece que alguns lobos não me queriam por


lá.

— Nesse caso, concordo que seria bom se


afastar, se não fosse a companheira de um alfa,
mas em caso de lobos e companheiras de alma eu
te garanto, se afastar é a pior coisa. Tome
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coragem, volte lá e tome seu lobo. Ele é seu e não


deixe que nenhuma pessoa ou lobo idiota tire de
você.

— Andei pensando sobre isso.

— Não pense muito, vá e faça, se imponha,


mande a merda e chute alguns traseiros se
precisar. Caso necessite, saio daqui e vou aí te
ajudar.

— Você é muito gentil e me sinto agradecida


pela sua amizade.

— Gosto de você e sei que tudo assusta, mas


querida, Gael é seu lobo e de mais ninguém. Então
enfrente o medo e os problemas e tome o que é seu.
Você o quer?

— Sim.
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— O melhor a fazer seria lutar por seu amor,


sem mais.

— Obrigada, eu o farei.

— Ótimo, se precisar, sabe onde me encontrar,


para o que necessite. Estou um bocadinho longe,
do outro lado do mundo, na verdade, mas tenho
algumas amigas bruxas, isso pode ajudar um
pouco na locomoção.

Kally riu, mas não tinha muita ideia do que ela


estava falando.

— Obrigada, Ester.

— Ah querida... lembra daquela loira do


banheiro virada num demônio? Pois então, agora,
ela deve estar rindo de você e planejando tomar

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seu homem, já que você partiu e deixou o caminho


livre. Cabe a você permitir ou não. Beijos.

Ester desligou e Kally piscou aturdida e


esfregou os olhos que ardiam. Misericórdia, estava
louca, mas Ester estava certa, tinha que achar um
meio de voltar a Teófilo e falar com Gael. Talvez
ele a perdoasse.

Então, ela não percebeu que na margem um


homem a observava. Sentiu um arrepio cruzar a
espinha e seu coração disparou no peito e, com os
olhos arregalados, ela viu Gael.

Kally ficou chocada olhando para ele na beira


da água, olhando-a seriamente, com os óculos
escuros e mãos nos bolsos da frente da calça.

Ela olhou ao redor para ver se tinha mais


alguém por ali, mas não havia ninguém, somente
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ambos.

Não podia respirar, pensar ou falar. O choque


de vê-lo ali era imenso para seu sistema e para seu
coração que estava esmagado.

— Olá, Pequena — disse de forma tranquila


com sua voz profunda.

Ouvir sua voz daquela maldita maneira


sedutora que só ele tinha foi o mesmo que virá-la
do avesso, porque amava sua voz hipnotizante.
Como tinha sentido falta de ouvi-la.

Engoliu o grande nó de sua garganta e tentou


achar as palavras. Senhor, parecia estar mais lindo
do que nunca.

— Gael... Como... Como me achou aqui?

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— Sua prima me disse onde estava, depois sua


mãe.

Ele tinha ido atrás dela em todos os lugares?


Ficou mais emocionada.

— Eu teria chegado antes, mas tive que


responder às várias perguntas que sua mãe fez e
pensei que soltaria aquele Rottweiler em cima de
mim. Ele rosnou bastante.

Senhor, ele tinha falado com sua mãe, estava


perdida de vez, porque deveriam ter entrado em um
acordo, senão ele não estaria ali na cachoeira.

— Ele rosna muito para estranhos, mas é dócil.


— Ele assentiu. — Parece você.

Ele sorriu lindamente, um tanto nervoso, podia


ver e indicou seu braço sem o gesso.
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— Tirou o gesso.

Ela respirou fundo.

— Quando o corte na minha testa sumiu fiquei


chocada, então pensei que meu braço poderia ter
curado também, então fui ao médico, tirei o gesso e
fiz uma radiografia e para minha surpresa estava
curado. Claro que não disse isso ao médico.

— A magia que recebeu a ajudou a curar-se, é


impressionante.

— Sim, fiquei chocada, mas feliz.

— Não deveria estar num lugar assim sozinha.


É perigoso.

— Pensei que aqui conseguiria um pouco de


paz.
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— Queria ficar mais longe de mim.

— Sim...

Ele assentiu, mas o que ela disse doeu


profundamente.

— Sinto muito que tenhamos chegado a isso,


que eu tenha te feito me odiar a ponto de correr o
mais longe possível de mim.

Oh, ela ia morrer!

— Por favor, Gael, se fizer isso não terei forças


para fugir outra vez.

— Por que quer fugir de mim? Fiz-te tanto mal?

— Eu não te odeio.

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— Então por quê? Tentei fazer com que


Daniele falasse, sua mãe, mas apenas disseram que
te machucaram. Não sairei daqui antes que me diga
o que infernos aconteceu. Se não me odeia, então
deve haver outro motivo, porque juro que fiquei
remoendo as coisas que me disse e tentei encontrar
a razão e até tentei me convencer que não sentia
nada por mim, que você não era a mulher feita para
mim, que tudo foi um engano, mas não deu.

Então, ela gemeu e arfou quando ele começou a


tirar suas roupas, ficou nu e entrou na água.

Olhou para o lado para fugir, correr, sumir e


ficar longe dele, mas ele emergiu diante dela e ela
somente teve vontade de chorar, porque a saudade
que sentia dele era horrenda.

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E agora estava bem ali na sua frente. Tinha ido


atrás dela e suas forças minguaram.

Ele se ergueu diante dela enquanto permanecia


sentada na pedra. Ali, na sua frente, olhando-a
intensamente com seus lindos olhos, colocou as
mãos na pedra ao lado de suas pernas, não tinha
mais como fugir.

O amava perdidamente.

— Um lobo age por instinto e o temos dentro


de nós mexendo com nossas emoções. Por isso
quando alguns de nossos lobos ou alguém mais
próximo, como nossos filhotes ou nossa
companheira estão em perigo, reagimos mais
fortemente, é uma força que há dentro de nós, que

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acredito que os humanos possuem também, mas


somos um pouco mais passionais e fortes.
Reagimos para proteger.

— Você disse um dia que os lobos não lutam


em vão, não atacam sem uma boa razão, o fazem
para proteger os seus.

— Sim. Mas em momentos extremos pode se


tomar decisões erradas, no calor dos
acontecimentos, deixando o coração mandar em
vez da razão, por isso aprendemos desde cedo a
sermos cautelosos, frios, observadores. Usamos
nosso instinto não somente para proteger, mas para
avaliar. Um lobo concentrado pode sentir as
emoções dos outros, como o medo, a alegria ou... a
mentira.

Ela engoliu em seco.

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— Por que está aqui?

— Sabe... eu fiquei pensando em tudo o que


houve e achei que havia um furo nessa história,
então pensei em deixar para lá e seguir em frente,
mas não pude.

— Disse que se eu partisse eu deveria te


esquecer.

— Eu disse, e te esquecer realmente não foi


algo que pude fazer. Você fez?

Com a garganta embargada, ela negou.

— Minha companheira é uma moça inteligente


e forte, mas tem o coração sensível e se importa
com as pessoas que ama, ao preço de sacrificar-se.

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Eu pensei que algum tipo de acontecimento teria te


quebrado; e por medo, você teria fugido. Minha
mãe também acredita que tenha sido isso.

— Sua mãe?

— Sim, ela gosta de você.

Oh, Senhor!

— Gael...

— A Kally que conheci não fugiria por medo


de uma loba que fez algumas ameaças tolas no
banheiro ou por ter sido agredida por aquele lobo
na mina, porque é mais forte que isso e quis isso
desde o começo. A Kally não comete erros como
esse, se jogar numa aventura de forma
inconsequente e depois desistir, porque jamais

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quebraria meu coração de propósito. Então


pensamos que você apenas estava pecando por um
erro.

— Que erro?

— Que você não conhece o sentido de confiar


em uma alcateia. Talvez porque achou que as
pessoas não se importam, como seu pai que a
abandonou, ou seus namorados idiotas que nunca
lutaram por você. Sua mãe me confirmou isso.

— Minha mãe é bem linguaruda.

Ele sorriu.

— Sim, mas ela te ama e se importa com sua


felicidade. Há uma coisa que deve aprender sobre
lobos, Kally. Somos unidos, vivemos juntos e
lutamos juntos, e você, como minha companheira e
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minha alfa, deveria saber que toda a alcateia que


me apoia te apoiaria e até morreria por ti. Estamos
juntos nas coisas boas e nas ruins.

— Eu não sabia. Quer dizer, me havia dito, mas


não podia arriscar.

Ele assentiu.

— Pois saiba que eles lutarão e com o tempo


você vai aprender.

Ela respirou fundo.

— Fiquei muito assustada.

— Imagino, mas já é uma de nós, Pequena,


tanto que seus olhos mudaram de cor. Eu não sabia
que isso aconteceria já.

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— Eu vi, levei um susto.

— Estão lindos.

Devagar, Gael a puxou para si e a abraçou e ela


não tinha forças para afastá-lo.

— Quanta saudade eu senti de ti — ele


sussurrou acariciando sua bochecha na sua, com o
carinho de lobo.

— Também senti.

Por nenhum segundo ele pensou em se afastar,


mas que os deuses o ajudassem, ele não recuaria,
nem que tivesse que se ajoelhar e implorar.

Sem dizer mais nada, ele a beijou, ela nem


conseguiu se mover ou reagir, pois seu toque
sempre tinha um efeito tão devastador em seu
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sistema que ela sempre desejava mais e mais.

Gael segurou sua nuca e a beijou como se o


mundo fosse ruir todo sobre eles e como se tudo
fosse acabar. A paixão pura aflorou por seu corpo e
beijou-a com saudade, com medo, com o instinto
do animal lutando por sua fêmea.

Quando soltou de seus lábios, os dois estavam


ofegantes, atordoados e emocionados, ele encostou
a testa na dela e ficaram ali, perdidos e
desesperados.

Kally queria chorar como um bebê, e sua


garganta doía de tanto segurar o medo e o
desespero.

Por um momento, ambos ficaram mudos,


porque não conseguiam pronunciar as palavras.

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Ele segurou seu rosto entre as mãos e beijou


seus olhos fechados, um e depois o outro, uma
bochecha e depois a outra, seu nariz e então selou
um beijo em seus lábios.

Ela abriu os olhos e eles ficaram se olhando;


Kally amou quando os olhos dele emitiam pontos
de luz e o tornava mais diferente e perfeito. Amava
seus olhos de lobo. Olhos únicos e majestosos.

— Eu gostaria de beijá-la para o resto de minha


vida. Ficar sem te tocar, sem te olhar, realmente é
uma merda de inferno.

— Conheci esse inferno também.

Ele deslizou seu olhar para o seu pescoço,


pegou a pedra que estava presa numa corrente
longa que caía no meio dos seios dentro do decote
do seu maiô preto e a olhou e amou isso nela.
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Kally e suas pedras.

— Que pedra é essa?

Ela demorou um pouco a responder, porque sua


mente estava embaralhada.

— É... um topázio místico.

— O que ele faz?

— Traz prosperidade e abundância.

— O que mais?

— Não sei se quer ouvir sobre isso.

— Quero ouvir, sempre gostei de ouvir você


falar das pedras, seus olhos brilham.

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Ai, mas que merda, como podia mandá-lo


embora quando ele ficava sendo esse deus
maravilhoso que gostava de ouvi-la falar?

Seu coração estava inflando cada vez mais.

— Antigamente as pessoas as penduravam na


entrada de suas casas e templos para atrair a boa
fortuna. Aumenta o poder mental e a circulação de
sangue e ajuda a se conectar com o reino espiritual.
Mas não foi por isso que a estava usando.

— Por que, então?

— Porque quem precisa de perdão, paz e


felicidade deve usar um topázio místico no seu
chakra do coração.

— Queria se perdoar de quê?

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— Por ter ido embora e causar essa tristeza em


ambos.

— Sim, posso sentir sua angustia e sua dor,


vibra pra mim e me incomoda. Ama-me que eu sei
e vim pedir que reconsidere.

— É perigoso estarmos juntos, por isso recuei.

— Meu pai era um guerreiro, meus ancestrais


eram guerreiros, e aprendi a lutar e ser forte, mas
ele também me ensinou que na guerra é preciso
força, mas é preciso estratégia e usar a cabeça. Há
um ditado que diz: “Nem sempre recuar significa
covardia. Às vezes precisamos dar um passo para
trás para evitar danos maiores”.

Ela sorriu, triste.

— “É preciso sair da ilha para poder ver a ilha”


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Ele assentiu.

— Foi preciso, pois isso nos mostrou a força


dos nossos sentimentos, como estamos unidos e
estarmos separados não é uma opção para nós.
Quando você foi embora, eu me dei conta do frio
que sentia antes de te conhecer, era um frio
impregnado na minha alma, era como se eu vivesse
gelado, apenas vendo a vida passar. Mas nestes dias
que estivemos juntos eu conheci o calor, senti
minha alma aquecer, meu coração voltar a bater,
senti que em minhas veias o sangue corria quente.
Eu não quero viver mais com este frio, eu preciso
de você para me aquecer. Penso que você sente o
mesmo.

Ela não tinha forças para dizer não e uma


lágrima escorreu pela sua face.

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— Eu sinto. Tem sido difícil ficar longe, pois


sinto muito sua falta. Mas você vive num mundo
diferente e seu povo não me aceitou.

— Está enganada, meu povo quer me ver feliz e


sabe que você faz parte disso. Quem te machucou
não é meu povo. São inimigos.

— Inimigos bem malvados.

— Eu sei. Kally, eu podia ter tomado outra


companheira, mas por mais de cem anos eu nunca
quis ninguém, porque eu estava te esperando.

— Oh... — ela gemeu.

— Diga-me o que aconteceu, para eu poder


entender. Podemos ser violentos, porque possuímos
muita força e nossa forma de lutar é diferente, mas
quero que saiba, Kally, somos homens-lobos. Meio
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a meio. Um lobo jamais mata ninguém se não for


para proteger sua matilha, a quem ama. Ele caça
para comer, mas ele não machuca humanos, não
mata sem razão. O lado mais besta de nossa
natureza é o lado humano, como todos os humanos.
Mas diferente deles, não saímos por aí arrumando
briga, provocando os outros ou brigando num bar,
porque é nosso dever e é imprescindível que
sejamos o mais oculto possível. Temos honra.

— Mas há lobos ruins.

— Há, sim, mas são aqueles que perdem sua


mente e se tornam maldosos, gananciosos e querem
o que não lhes pertencem. Então estes, precisamos
combater, para que não ameacem mais quem
amamos. Temos que lutar juntos, minha
companheira de alma... que os deuses fizeram
especialmente para mim.

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Ela riu, emocionada, com sua declaração.

— Pelos deuses, como senti falta de ouvir sua


risada. Eu poderia ouvi-la rir o tempo todo. Não há
e nunca haverá outra que tome meu coração, que
faça eu sentir o que sinto por você, porque estar
contigo foi a coisa mais maravilhosa que
experimentei em toda minha vida. E tenho muito
dela para viver ainda e não quero viver sem você.
Seria um lobo vazio, triste e sozinho.

— Oh, Gael...

— Eu penso em você o tempo todo e amo todas


as vezes que fica tagarelando sobre suas pedras e
queria te dar todas as pedras do mundo. Sinto falta
disso, de tudo. Eu amo isso tudo. Eu te amo. Você é
minha. Então...

Kally soltou um soluço, sem conseguir segurar,


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segurou seu rosto entre as mãos e o beijou


loucamente, ele a abraçou e ela enlaçou as pernas
em seu quadril e se beijaram, abraçaram por tanto
tempo que se perderam, entre lágrimas, entre
suspiros, entre o desespero.

Estava sufocada e não eram suas lágrimas


apenas que caíam, eram suas forças de fugir e
outras forças vieram. Ela teve uma certeza dentro
do peito. A certeza de toda sua vida: ela o amava.

Afastou-se por um momento, o olhando.

— Eu te amo e quero ser sua loba e não importa


o que tenha que enfrentar. Eu enfrentarei por você,
farei qualquer coisa. Porque eu também estava
morrendo aqui por ficar longe... Por favor, me
desculpe.

— Oh, Pequena, está tudo bem, está tudo bem,


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consertaremos tudo.

O peito dele inflou de entusiasmo, de alegria e


esperança, e se beijaram de novo.

Ele a baixou na água e ela gritou por estar


gelada.

— Ai, meu Deus, está fria!

— Eu te esquento.

Ela sorriu lindamente.

— Eu já estou quente, por você, sempre me


deixa quente só de te olhar.

Ele rosnou e a beijou.

— Senti saudade dos seus rosnados.

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Ele riu com vontade e rosnou de novo de forma


pícara a fazendo rir e ambos se abraçaram mais
forte e o desejo chegou forte e rápido, porque ao se
tocarem era sempre assim, e agora, depois de tantos
dias sem estarem juntos, havia saudade, louca e
desvairada, faminta.

Os beijos tornaram-se mais profundos, os


gemidos tomaram conta e a respiração ficou difícil
e entrecortada.

Gael passou os dedos pela borda do seu maiô,


afastou-o para o lado e a penetrou. Ela gritou e
arfou buscando ar e ele embrenhou uma mão em
seus cabelos segurando-a contra seus lábios,
enquanto a outra a segurava pelo traseiro e a
ajudava a se movimentar.

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Encontraram o ritmo de seus movimentos e ele


a ajudou a cavalgá-lo num sexo rápido, selvagem e
delicioso, cheio de loucura e saudade, tudo parecia
que não seria o suficiente.

O orgasmo veio e deixou os dois tombados na


água, abraçados, dando suaves beijos, doces
carícias.

— Acho que minha bunda está gelada — ela


sussurrou e ele riu e lhe deu um beijo.

— Nem a água gelada apaga esse fogo.

— Não, impossível.

— Por que me deixou, Kally?

Ela respirou fundo.

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— Aquele homem... Lobo. Ele ameaçou você,


sua vida, se eu ficasse. Ameaçou matar cada lobo
de sua alcateia. Eu acreditei naquele homem que
poderia fazer isso mesmo, porque vi como te
agrediram naquele dia no bosque e deixá-lo vivo
foi somente uma provocação. Fiquei com medo que
o fizessem de verdade.

— Que homem? Quando ele te ameaçou?

— Quando eu estava no hospital. Penélope


tinha saído e deixado Rafael aos meus cuidados.
Aquele homem apareceu e estava estrangulando o
bebê, me fez prometer que iria embora ou então o
mataria, assim como Penélope, você, todos e ele
tinha um vídeo da minha mãe, na casa dela. Estava
amarrada e tinha uma fita crepe na boca. Disse que
a mataria, que estavam vigiando-a. Por isso saí

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correndo aquele dia, havia acabado de receber mais


um vídeo dela, ela estava presa e machucada
quando cheguei.

— Maldição!

— Foi horrível e eu senti mais medo do que


ficar quase soterrada naquela mina.

— Por que não me contou isso?

— Eles são sua família e o jeito que ele


machucou o bebê...

Ele estava chocado e ficou a olhando estático,


seus olhos cintilaram porque a fúria tomava conta
dele.

— Fez isso para nos proteger?

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— Fiquei em pânico.

— Devia ter me dito.

— Só queria proteger você e seu segredo. Não


queria que coisas horríveis acontecessem com você
por minha causa. Fiquei horrorizada quando soube
o que houve com a alcateia do alfa Noah. Disseram
que foi seu primo que os vendeu aos humanos.
Fiquei com medo que ele fizesse o mesmo com
vocês. Ele é louco.

— Mas quem é esse lobo, ele disse?

— Não, mas ele tinha os olhos amarelos e tinha


uma parte verde, sabe, como heterocromia.

— Maldição, é Jonas.

— Imaginei que fosse.


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Gael soltou um rosnado tão alto e furioso que


ela se assustou e ficou xingando várias palavras em
outra língua que ela não entendeu e quando se virou
e olhou para ela, seus olhos estavam cintilando e
suas presas estavam longas, seu queixo estava
saliente assim como seu nariz.

Jesus, ele era assustador, aterrador, e Kally


engoliu em seco e respirou fundo.

— Queria me ver fraco e debilitado. Pois foi


assim que fiquei quando me deixou — disse com a
voz animalesca.

— Eu sinto muito, não queria machucar você.


Eu te amo, com todo meu coração.

Ele rosnou e segurou o rosto entre suas mãos.

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— Pensei que tinha ido embora porque não me


queria e não queria ser alfa, que não gostava de
meu lobo.

— Eu amo seu lobo, meu Deus, nunca vi nada


mais lindo na minha vida, sua mágica é tão
estupenda e só acho um tanto feio e aterrorizante
isso que se transformou agora.

Ele riu.

— É nossa forma Dhálea.

— Sim, havia me dito. Não é tão bonito, mas


entendo que seja parte do que você é.

Ele a olhou emocionado, raivoso e confuso,


com o coração abalado e sua garganta ficou
embargada pela emoção.

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— Isso tudo demonstra que foi forte.

— Não me achei forte. Achei-me fraca por


partir e não lutar.

Ele suspirou e encostou sua testa na dela


abraçando-a.

— Às vezes se sacrificar mostra mais força.


Vamos demonstrar para estes cretinos quão fortes
somos... juntos.

Ela riu e as lágrimas caíram e ele a beijou.

— E é hora de me transformar em sua loba e


sua alfa.

Ele respirou fundo, porque suas palavras foram


como um bálsamo para seu coração ferido, uma
força de que tudo ficaria bem.
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— Tem certeza disso?

— Tenho. Eu vejo as coisas claramente agora,


me arrependi de ter fugido. Tenho estudado o
mundo sobrenatural e a magia e agora tenho a
oportunidade de vivê-la e não fugirei nem disso,
nem de sua alcateia e nem deste lobo filho de uma
cadela.

Kally riu quando ouviu sua risada, ele estava


feliz, radiante e parecia que sua aura cintilava,
como uma luz toda ao redor dele.

Sentiu-se preenchida de um grande amor, de


uma grande força por ele, porque sabia que o amor
que vinha dele era grande, forte e que a desejava
mais do que tudo e ela não teve nenhum medo de

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que ele futuramente fosse magoá-la, como já tinha


sido tantas vezes durante sua vida, porque ele
estava disposto a lutar por ela.

Gael a ouviria, a idolatraria e respeitaria. E não


havia nada mais precioso no mundo.

Sentia aquela avalanche dentro dela e nunca


imaginou que pudesse amar e se sentir amada
assim.

Abraçou-o forte com os olhos fechados, com


lágrimas nos olhos, e Gael a abraçou de volta, e
quando aquele abraço mostrou como era que
deveria ser quando estavam juntos, reavivou sua
força.

— Obrigado por proteger meu neto e sinto


muito que sua mãe tenha se machucado.

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— Foi horrível. — Ele assentiu e beijou seus


lábios. — Está escurecendo, meu amor, e é melhor
irmos para não nos perdermos nessa trilha.

— Sim, minha amada, iremos e encontraremos


uma boa refeição e uma boa cama para
descansarmos, juntos.

— Estou na casa de minha mãe, mas acho que


poderíamos ir para uma pousada, o que acha?
Ficaríamos mais à vontade.

— Estando com você, irei para onde queira. E


sua mãe é adorável, a propósito.

Ela sorriu.

— Gostou dela?

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— Sim, eu gostei, mesmo sendo menor que


você parecia uma loba defendendo sua prole, até
me ameaçou.

Kally riu.

— Posso saber como chegou aqui?

— Eu deixei meu avião em Varginha e aluguei


um carro. Vamos, estou faminto, pois estou o dia
todo sem comer.

— Oh, isso é grave.

Eles pegaram as roupas que estavam no chão e


ela se secou com a toalha que havia levado e deu a
ele para fazer o mesmo e vestiram suas roupas.

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Depois pegaram o carro e ela foi na frente e ele


a seguiu. Foram para a Pousada das Estrelas e
reservaram um quarto.

— Eu disse que era simplesinha, mas é


aconchegante, não há luxo aqui com o qual está
acostumado.

Ele respirou fundo.

— Kally, minha mansão é muito luxuosa, mas


eu prefiro ficar na minha fazenda que é rústica.

— Sim, eu sei, mas o seu nível de rústico é bem


luxuoso.

Ele riu.

— E você também não é uma pobretona como


todos estavam pensando, não é?
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Ela deu de ombros, despreocupada.

— Tenho uma vida confortável.

— Por que deixou que pensássemos que era


pobre?

— Eu nunca disse que era pobre, mas sua


“amante” achou que por eu estar num sítio que não
era meu, no meio do mato, era uma pobretona. Que
por não andar em cima do salto todos os dias, eu
não sabia usá-los; e por não aparecer nas colunas
sociais e usar um colar de esmeralda que você me
deu, eu era uma prostituta golpista. O fato de dizer
que não tenho diamantes na minha loja para vender,
não quer dizer que minha loja era uma barraca no
calçadão. Ninguém cogitou que isso é apenas gosto.
Prefiro minhas roupas simples, porque me sinto
confortável, e fico entre minha loja e meus

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pacientes de terapia, trabalho muito, e não preciso


ostentar meu dinheiro, mas eu não devo um centavo
a ninguém. Conheço muitos “ricos” que devem as
calças de marca que usam ou o carro que andam.
Minha mãe é doutora e é bem de vida, é professora
universitária aposentada. Ela morava em Belo
Horizonte, mas depois que minha avó morreu,
herdou a sua casa aqui e ela resolveu ficar aqui para
ter um pouco mais de qualidade de vida. Como
você deve saber, Gael, as aparências enganam, não
é?

Ele sorriu e beijou sua testa, orgulhoso.

— Nunca cogitei isso. Gabriel fez um dossiê de


sua vida. Ele sempre investiga as mulheres com
quem eu saio.

Ela o olhou espantada.

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— Você o leu?

— Não, somente vi com meus olhos quando


cheguei a Belo Horizonte.

— Sempre confiou em mim.

— Sim.

Ela respirou fundo e o amou mais.

— Bem, então não vai achar ruim dormir numa


pousada.

Ele sorriu lindamente marcando suas covinhas


na bochecha.

— Não estou aqui por causa da cama, Kally, e


sim pelo que pretendo fazer em cima dela e com
quem.

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Ela riu e deu um tapa em seu braço.

— Desavergonhado.

Ele riu e a beijou.

— Tenho champanhe na mala.

— Trouxe champanhe?

— Sim, não sabia se aqui teria como comprar.


Peguei na adega do meu avião.

— Sabia que faríamos as pazes?

— Tinha a esperança e posso ser um pouco


teimoso.

— Não gosta de perder.

— Não, muito menos quando se trata de minha


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companheira, porque este lobo aqui a ama.

Ela respirou fundo.

— E esta meia-loba aqui o ama.

Ele sorriu, trouxe seu rosto para o seu, e o


sorriso que mostrava era maior do que qualquer um
que já havia visto.

— Você sabe que eu nunca vou deixar você ir,


né? — ele murmurou.

— Nunca mais me deixe ir.

Ele a acarinhou com o nariz no seu, na sua


bochecha e a beijou, mais uma vez, estavam
perdidos.

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O beijo se transformou num frenesi. Ele queria


devorá-la, num crescendo de desejo que o tomou
por completo. Abraçou-a pela cintura e a puxou
para mais perto, sentando na cama, trazendo-a para
seu colo.

Ela se moldou voluntariamente contra o peito


largo, as mãos acariciando seu rosto e ombros.
Quase com desespero, consumiram um ao outro.
Gemeu com os lábios deixando um rastro de fogo
ao percorrerem o pescoço, enquanto os dedos se
moviam com habilidade para tirar a camiseta.

Então, Kally pousou beijos molhados sobre o


peito largo, a língua provocando a pele incendiada,
fazendo-o deitar na cama com ela escarranchada
em seu quadril.

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Gael prendeu a respiração quando mordiscou


seu mamilo, sugando-o com volúpia. O desejo
explodiu em ondas cálidas, numa sensação
fronteiriça com a dor, como o sangue que retornava
ao seu membro. Deus, como tinha sentido falta de
sua luxúria por ela.

Ela se afastou com os olhos semicerrados,


exalando sensualidade e, fascinado, ele a observou
despir a jaqueta jeans e o vestido que usava e ficou
nua para ele.

Os mamilos rígidos dos seios pequenos e


arredondados estavam pedindo beijos e Gael
rosnou e a puxou para poder sugá-los em sua boca
ávida. Em seguida, os dedos dela pousaram no
botão da calça e desceu o zíper.

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Gael rosnou e mordeu mais forte seu seio


quando ela tomou seu membro na mão.

— Eu amo provar você — ele ofegou. — Sua


boca, seu corpo, sua pele. Eu nunca vou ter o
suficiente. Nunca.

Kally gemeu em resposta, raspando as unhas


suavemente para cima e para baixo em suas costas,
observando-o ficar tenso quando arranhava mais
profundamente de vez em quando.

Sorriu quando ele gemeu alto, porque amava


dar prazer a ele e adorava quando ele fazia aqueles
sons selvagens.

Gael girou e deitou sobre ela, penetrando-a com


os dedos e arrancando gritos de prazer ao estimular
seu sexo.

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Desceu beijando seus seios, sua barriga e abriu


suas pernas, tomando seu sexo na boca e
banqueteou-se com luxúria aflorada.

Ele se ergueu e a olhou.

— Vire-se e venha por cima de mim.

Ela o olhou para entender o que ele queria e


seguindo sua mão, ela o deixou posicioná-la de
quatro sobre ele, que estava de costas na cama.

— Prove-me enquanto te provo.

Ela sorriu pela posição 69 e arfou quando ele


segurou seus quadris e puxou-a para sua boca,
tomando seu sexo e deleitando-se, e ela tomou seu
membro quente e rijo na mão e começou a chupá-lo
e degustá-lo com profundo deleite.

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E foi uma verdadeira delícia erótica dar e


receber prazer ao mesmo tempo. Gael era ousado e
gostava de provar e Kally estava gostando de
experimentar o sexo com ele.

Era pleno e delicioso, pecaminoso e puro prazer


carnal, que amava, pensava que estava ficando
viciada no sexo com ele, o que não parecia nada
mal.

Ele rosnou em seus lábios, penetrando-a com


sua língua, enquanto ela se banqueteava com seu
membro. Realmente amou sentir sua boca quente,
tanto que foi difícil segurar seu gozo.

Eles se provocaram, excitaram e provaram até


quase chegar ao orgasmo, até fazê-la gritar e
implorar, como ele gostava. Até vê-la desesperada,

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contorcendo-se tão fortemente que até tentou


afastá-lo, mas ele não permitiu. Adorava torturá-la
ao máximo.

Então ele rosnou, se virou e a deitou debaixo


dele, a penetrou e seus olhos se iluminaram de
admiração e êxtase, as paredes de sua vagina o
agarravam, quente como fogo.

— Foda, você é tão quente, que me queima e


me deixa louco. Vou te tomar como castigo até não
conseguir mais andar, por ter me deixado.

Ela riu e o enlaçou com as pernas em seu


quadril querendo mais.

— Pode castigar, eu deixo.

Ele riu e a beijou entrando e saindo dela, forte e


rápido.
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— Eu te amo, Gael.

— Eu te amo, Kally.

Sua vida já havia mudado, desde que Gael


entrou em sua vida. E agora mudaria
permanentemente, ao se transformar numa loba.
Aquilo assustava como o inferno, mas faria,
arriscaria, jogaria tudo por ele e por uma nova
chance, uma nova vida. Gael valia a pena.

— Morda-me.

Gael sentia seu coração descontrolado, sabia


que seus olhos cintilavam resplandecentes como a
luz do sol e suas presas estavam crescidas.
Lentamente deslizou com os lábios pelo seu
pescoço.

— Não haverá mais volta, Pequena.


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— Não quero voltar.

Ele a mordeu.

Kally ofegou pela pontada de dor, então tudo se


transformou ao seu redor, seu corpo convulsionou e
queimou como lava. Ela gritou e gemeu, era uma
sensação aterradora, intensa e sublime.

Ambos não souberam o que acontecia no


quarto, exatamente, porque parecia que os dois
estavam envoltos em uma nuvem flutuante, o som
de vidro quebrando, a sensação elétrica de que
havia mil raios reverberando pelo quarto faziam a
pele pinicar.

O orgasmo arrebatador tomou conta do casal,


ao ponto da dor, de deixá-los tontos e a magia de
Gael desatou, envolvendo-os com seu arco-íris e

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ele soltou de seu pescoço, o sangue escorrendo pela


sua mandíbula.

Gael teve que forçar as palavras do ritual,


porque quase não conseguiu, pois sua cabeça
voava, dificultando ter um pensamento lógico, mas
conseguiu fazendo tudo que já era intenso ficar
mais forte e tudo estalou e girou no quarto.

Ele só conseguiu ser consciente de uma última


coisa depois que tombou na cama, abraçado a ela:
Kally era sua loba.

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Foi difícil voltar a si, sair do transe, pois


estavam esgotados e extasiados.

O coração acalmou e a paz se abateu sobre eles,


o amor que os regia se uniu, se fundiu e eles eram
agora uma só alma, unidos para a eternidade. E a
sensação de paz que sentiam, não havia nenhuma
descrição que fizesse jus, era algo que somente os
lobos, companheiros de alma, poderiam sentir.

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Mesmo cansado, ele queria que ela estivesse


limpa e tranquila, então levantou para preparar um
banho na banheira e quando estava cheia, ele foi até
a cama, beijou sua bochecha com carinho e amor,
com um lindo sorriso.

— Um banho, pequena mística.

— Hummm...

Ele a beijou novamente, pegou-a no colo e a


levou para o banheiro. Entrou com ela e sentou na
sua frente e com a bucha e sabonete ele a lavou
carinhosamente assim como os cabelos dela.

Amou lhe dar banho, somente um carinho


espontâneo e majestoso. Kally não podia acreditar
que aquele gigante e deveras carrancudo tivesse
tanto carinho para dar e amava qualquer coisa que
ele fizesse para ela.
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Kally gemeu e esfregou as mãos e ele percebeu


que ela estava incomodada.

— O que há com suas mãos, Kally?

— Não sei, estão queimando. Estavam me


incomodando antes, mas agora parece que está pior,
é uma queimação nas palmas, não sei o que é.

Esfregou as palmas pela milionésima vez. Ele


pegou suas mãos e beijou uma palma e depois a
outra e ela sorriu.

— Acredito que aqui não pode pedir comida no


quarto, não é?

Ela riu.

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— Acho que não, acho que só servem café da


manhã e o jantar no restaurante, mas não custa
perguntar.

— Bem, teremos que resolver isso, só que não


estou nem um pouco a fim de estar num
restaurante.

— Nem eu, mas quero comida, por favor.

— Sim, preciso te alimentar.

Ela sorriu com a preocupação de que deveria


comer.

Após o banho, enquanto ela ligou para sua mãe


para dizer que não voltaria naquela noite, Gael com
um telefonema e algumas gorjetas gordas, fez a
impressionante tarefa de conseguir uma mesa
arrumada no quarto, uma boa comida para dois e
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um balde com champanhe gelado e, inclusive,


havia um pequeno vasinho com uma rosa vermelha
dentro.

Era prático e eficiente e ela teria que se


acostumar com seu jeito. Ela não teve uma vida
difícil, mesmo que seu pai não tivesse ajudado em
porra nenhuma na sua vida, havia sido um
irresponsável e abandonado sua mãe com uma
criança pequena para criar, mas Carolina, como
professora, sempre tinha se desdobrado para dar
estudo e o melhor para Kally. Hoje sua mãe estava
aposentada e então dedicava sua vida às plantas
medicinais e a ter uma vida mais saudável.

Não contava com muitos milhares de reais na


conta bancária como ele, mas sabia que ele não
tinha ganhado nada, tinha trabalhado duro para
conseguir ser quem era hoje.

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Ela tinha sua loja e uma vida confortável e


tranquila, com alguns perrengues de vez em
quando, pois a economia do país era uma merda
por causa dos governantes.

No geral tudo era bom, mas agora sua vida


mudaria drasticamente e tinha aceitado isso,
precisava manter a mente limpa, aberta e se
preparar para o que teria que ser e fazer pela frente.
Decisões mudariam muita coisa na sua vida.

Ela saiu de seu torpor quando Gael acariciou


sua bochecha docemente.

— Tudo bem, meu amor?

Ela sorriu, pegou sua mão e beijou. Estava tão


cheia de amor e ouvi-lo chamando-a de amor era
tão intenso que suspirou.

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Seu amor não cabia no peito, transbordava, e


estava imensamente feliz e se sentindo energizada
como nunca antes.

— Temos que proteger minha mãe, aqueles


lobos podem voltar se descobrirem que estamos
juntos.

Ele a abraçou.

— Eu darei um jeito. Você e sua mãe podem vir


para a minha casa, lá estarão seguras, pelo menos
até pegarmos estes lobos.

Ela assentiu.

— Falarei com ela.

— Colocarei alguns lobos de olho na sua loja e


em Daniele, ok?
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— Obrigada.

— Não esquente sua cabecinha, cuidarei de


tudo e acharemos estes lobos e acabaremos com
eles.

Ela assentiu, tranquilizando-se.

Então ficaram no terraço do quarto e, de


repente, ele se ajoelhou sobre um joelho e pegou
sua mão e beijou o dorso, e ela parou de respirar,
tirou uma caixinha do bolso da calça e abriu, havia
um lindo solitário com uma pedra enorme de
diamante.

— Quer se casar comigo, minha mística


preferida?

Ela riu e o olhou com um doce sorriso no rosto,


tão emocionada que seus olhos marejaram.
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Seu coração disparou, tão fortemente. Era amor


pulsando, por ele. De alegria, de esperança de um
futuro juntos e feliz.

Como não amar aquele lobo? Era o mais


precioso dos homens.

— Sim!

Ele riu emocionado e colocou o anel em seu


dedo. Levantou e beijou seus lábios.

Abraçaram-se emocionados e com o coração


aos saltos.

Então tirou outra caixinha e nela havia duas


alianças de ouro.

— Seguindo o ritual do Brasil, estamos


noivando.
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Ela riu, e ele colocou a aliança de ouro que era


mais do que maravilhosa, pois era toda trabalhada;
e ela colocou a aliança no dedo dele, na mesma
mão que ele usava seu anel de alfa.

— Eu queria ter planejado algo diferente e


impactante, digno do momento, mas não sabia se te
encontraria, se me aceitaria.

— Está perfeito.

— Bom, porque te farei muitas coisas bonitas


sempre. Podemos pensar em uma lua-se-mel num
lugar interessante.

— Seria fabuloso, amarei qualquer lugar com


você.

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— Você se mudaria para a minha casa? E não


estou falando de alguns dias, estou falando para
sempre, como minha esposa, minha alfa.

Ela respirou fundo.

— Bem, tenho que ver como fazer com minha


loja, minha clínica e minha casa.

— Podemos contratar um administrador, pode


abrir uma loja lá em Teófilo se desejar, abriremos
uma bonita clínica para você atender seus
pacientes, sempre tomando o cuidado para que
esteja incógnita e segura, Kally, pode fazer muitas
coisas. Eu, como seu companheiro, te darei tudo o
que necessita.

— Veremos isso então.

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— Tem que aprender a se ocultar como loba


para os humanos.

— Aprenderei tudo e tomarei cuidado, prometo.

— Pode escolher a cerimônia de casamento.

— Casamento com esse negócio de vestido e


tudo mais?

— Tudo o que queira. Eu te darei tudo o que


queira e necessite para ser feliz.

— Sua cultura faz esse tipo de casamento


religioso? Tipo vestido de noiva e igreja?

— Nossa cultura acredita em muitos deuses e o


cristão é um. Na minha alcateia nenhum lobo
jamais se acasalou com uma humana, portanto
nunca tivemos esse tipo de cerimônia. Temos
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nossos rituais de acasalamento, onde os


companheiros celebram sua união, é feito assim em
todas as alcateias do mundo.

— Tipo o quê?

— O alfa encabeça uma cerimônia de enlace,


geralmente realizamos uma festa que dura o dia
todo, há quem o faça por mais dias, há uma grande
fogueira e os lobos cantam e dançam ao redor dela,
agradecendo aos deuses por tamanha alegria e
pedindo que abençoe a família que se formará, que
tenham saúde e alegria. No meu caso, como é o alfa
que está recebendo as bênçãos, então um ancião da
alcateia o faz.

— Parece tão bonito.

— Realizarei o que desejar, Kally.

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— Há um padre lobo?

Ele riu.

— Não temos nenhum padre lobo aqui no


Brasil. Sei que há um que vive em Atenas, era da
alcateia de Petrus. Claro que ninguém sabe o que
ele é, mas realiza os casamentos de seu povo se
alguém desejar.

Ela riu divertida.

— Quer fazer a cerimônia como nosso povo?

— Sim, eu quero, quero tudo o que tenho


direito.

— Pode usar um vestido de noiva, um buquê e


estas coisas se desejar.

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Ela assentiu.

— Acho que somente poderiam estar no meu


casamento Daniele e minha mãe, já que não posso
mostrar vocês para os outros de minha família.
Minha tia é uma linguaruda e com certeza iria
perceber que vocês são diferentes, porque um aqui
e outro ali até dá para despistar, mas vocês todos
juntos, Jesus! É uma visão que não dá para não
notar.

— Sinto muito por isso, mas acho que


realmente não daria. Estou confiando que sua prima
e sua mãe deixarão nosso segredo bem guardado.

— O farão, eu prometo, confio plenamente


nelas.

— Então vamos preparar a cerimônia, minha


loba linda e também nela receberá seu anel de alfa.
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Ela riu e a beijou, um beijo longo e


maravilhoso.

— Oh, sou uma loba agora. Oh, meu Deus, sou


uma loba, como me transformo?

Ele riu.

— Você comanda sua loba, é um comando


simples e intenso, você deseja se transformar nela e
a transformação ocorre. Quando quiser voltar, é só
comandar.

Ela riu nervosa e ele sorriu lindamente.

— Quer se transformar?

— Sim, mas estou apreensiva. Já está


funcionando?

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— Deve estar.

— Ok, estará comigo?

— Sempre, Pequena.

— Oh, preciso tirar os anéis, não quero perdê-


los.

— Não vai perdê-los. O ouro se mistura na


magia assim como as pedras preciosas, por isso as
lobas usam somente joias de ouro. Quando retornar
a forma humana, elas retornarão junto, mas estará
nua, porque as roupas não fazem a mesma mágica.

— Por quê?

— Porque, como você mesma diz, o ouro e as


pedras preciosas são mágicos.

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Ela riu encantada.

— Ai, que lindo! Eu te amo, Gael.

— Eu também, preciosa.

Ela ficou ali parada e ele olhando, mas nada


acontecia.

— Vamos, Kally, perca o medo.

— Ok, estou tentando.

Ele riu, porque sabia que ela estava nervosa


demais.

Sem nenhum aviso, Gael se transformou em


lobo e ela gritou de susto e tombou no chão.

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Ele deu um rosnado como se estivesse rindo


dela e ela riu.

— Ah, seu descarado. Assim não vale!

— Estou te estimulando — disse mentalmente.

Ela respirou fundo.

— Sua voz ficou mais forte na minha cabeça.

— Sim, em forma de lobo tudo fica mais forte e


agora é uma loba e me ouvirá e falará mais
claramente. Tudo agora será mil vezes mais forte,
Pequena. Todos os seus sentidos estão aflorados.

Sim, ela podia ouvir um grande zumbido nos


ouvidos.

— Ok, vou me acostumar.

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E, de repente, se transformou. E sua loba,


tombou no chão, tropicando nas pernas. Assustada,
ela levantou ligeiro e gritou e ficou olhando para
ele, paralisada e aturdida.

— Pelos deuses do céu, olhe pra você, Kally.

— O quê? Sou uma loba!

— Sim, Kally. Transformou-se e é linda.

— Sou?

Ele se aproximou e fez o carinho de lobo


acariciando sua bochecha na sua e ela riu, com o
coração batendo forte e descompassado, com
muitas coisas passando pela cabeça, com mil
sensações novas e desconhecidas invadindo seu
corpo e sentidos.

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Era fascinante e poderia gritar de tanta euforia e


felicidade.

Ele afastou-se e ficou contemplando-a. Ela


andou até o espelho que havia na parede e ficou se
olhando, estática e espantada.

— Jesus, olhe isso, eu sou uma loba. Nem


consigo acreditar que estou vivendo tal coisa.

— É uma dádiva ter tal poder, Kally.

— Eu estou agradecida por ter esta dádiva.

— Não vai se arrepender?

Ela se virou e o olhou e se aninhou a ele.

— Nem em um milhão de anos.

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Ela era menor que ele, tinha o pelo marrom,


longos e brilhantes, havia mechas mais claras como
um tom de bege e fios prateados pela sua barriga e
costas e um pouco na face.

— É linda, minha companheira.

Seus olhos estavam mais dourados como o


âmbar e brilhantes.

— Como se sente?

— Fantástica, sinto-me tão forte, como se a


energia vibrasse, me sinto tão feliz.

— É assim que me sinto.

Ela o lambeu o fazendo rir e brincaram um com


o outro, acariciando, lambendo, dando pequenos
uivos e risadas, saltitando um ao redor do outro e
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então ela se transformou e caiu sentada, nua diante


dele. Gael se transformou e pairava sobre ela, com
os olhos brilhantes, um lindo sorriso e seu cabelo
solto que lhe caía no rosto, nu como um deus.

Ele a pegou no colo e levantou, ela o agarrou


com as pernas na cintura e riu quando olhou sua
mão e os anéis que ele lhe deu estavam ali.

Kally o beijou, intensamente agarrada em seu


corpo e sua magia se completou quando caíram na
cama e rolaram, se amando.

Poderia haver mais mágica do que isso?

Não, só poderia haver mais amor entre eles.

E agora, juntos, nada os derrubaria.

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A mãe de Kally a olhava praticamente sem


respirar, com a mão sobre o coração e com a boca
literalmente aberta. Ela estava em forma de loba na
sua frente.

— Jesus. Minha filha é uma loba. De verdade.

Kally se aproximou e lambeu a mão de sua


mãe.

— Isso é tão incrível, tão mágico, entendo


totalmente que tenha caído de amores por eles,
querida.

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— Sei que está assustada, senhora Carolina,


mas eu cuidarei bem dela, hoje e sempre — Gael
disse.

— Conseguirá manter aqueles lobos maus


longe dela?

— Darei minha vida por isso.

Kally se transformou e Carolina arfou


novamente com a mão sobre o coração e caiu
sentada sobre o sofá.

— Misericórdia, Senhor, acho que estou


sentindo minha pressão cair.

Kally riu.

— Mãe, não é hora de ter um ataque de pânico.

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— Qual ataque eu devo ter então? Sabe qual é a


sensação de ver sua única filha virada num lobo de
história de Chapeuzinho Vermelho bem na sua
frente?

— Eu gosto dessa história.

— Eu não gosto quando o lobo mau come a


vovozinha.

Kally riu e beijou sua bochecha.

— Vai ficar tudo bem, mãe.

— Está nua, pelo amor de Deus, vista esta


roupa, pois vai se congelar e isso não é decente.

— Uma vez mãe, sempre mãe. A senhora vai


gostar de minha mãe — Gael disse rindo, pegando
a roupa de Kally e a ajudando a se vestir.
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— Você tem uma mãe?

— Graças a Deus, ainda a tenho.

Carolina respirou fundo.

— Nossa...

— Mãe, a senhora entendeu que precisamos ir,


não é? Estará mais segura, pelo menos por
enquanto.

— Claro que sim, só que quem vai molhar


minhas plantas? Alimentar o Godzilla?

Gael riu.

— Pode levá-lo.

— Posso?

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— Ele gostou de mim — Gael disse sorrindo e


piscando para o cachorro, que deu um resmungo, os
olhando atentamente.

— Isso foi um golpe baixo, rapaz, ele deveria


morder os invasores e não lamber suas mãos e
baixar as orelhas quando rosna para ele. Você está
de castigo — disse apontando um dedo em
Godzilla e ele, que estava sentado sobre o tapete,
resmungou novamente e deitou sobre as patas.

Kally riu e colocou a mão na cintura.

— Vamos, mãe, precisamos ir, vou ajudar a


arrumar suas coisas, não posso ir te deixando aqui,
se eles descobrirem que eu e Gael estamos juntos
podem vir atrás de você de novo.

— Afinal, por que querem vocês separados?


Não entendo.
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— Um lobo não se separa de sua companheira,


e quando eles descobriram que encontrei a minha,
quiseram me desestabilizar, usaram ela contra mim.

— Oh, isso é terrível, não se faz, não permitirei


que machuquem minha menina de novo.

Gael foi à sua frente e se abaixou para ficar da


altura de seus olhos, pois ela era muito baixinha
perto dele.

— A senhora é muito corajosa, e agradeço do


fundo do meu coração pela forma que está lidando
com esta bagunça. Então vamos evitar que nos
peguem. Somos fortes, juntos, e na minha casa
estarão seguros, meus lobos protegerão Kally e a
senhora.

Ele pegou sua mão e beijou seu dorso.


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— Há muitos iguais a você ali?

— Alguns, senhora. Somos uma alcateia


mediana.

Ela respirou fundo.

— As lendas são reais, meu Deus!

— Sim, senhora.

— Ouvi muitas histórias naquela região quando


era pequena. Muitos juravam ter visto lobos e
lobisomens ali.

— Creio que alguns possam ter nos visto, sim,


mas ninguém nunca conseguiu nos pegar ou nos
ver de verdade, de perto. Isso somente alimentou os
causos e lendas.

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— Incrível. Meu pai contava muitas histórias,


ficaria louco se te visse, mas não sei se te aceitaria
ou te meteria meia dúzia de balas de espingarda.

— Acredito que sim. Todos temem as lendas,


nos temem.

— Que tolice, não é? Eu amei isso.

— A senhora é bondosa. Mas vamos manter


isso em segredo, para a segurança sua e de Kally e
de minha alcateia.

— Ok, bico calado. Vou fazer minha mala e


ligarei para Juliana vir molhar minhas plantas, ela
tem a chave de quando vem fazer faxina.

— Ótimo. Diga apenas que fará uma pequena


viagem. Manteremos nosso casamento secreto por
enquanto.
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— Casamento? Jesus!

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Teófilo Otoni, Minas Gerais, Brasil.

Kally tateou com as mãos no ar tentando saber


o que tinha na sua frente, pois seus olhos estavam
vendados.

— Gael, vai me matar de curiosidade, pelo


amor de Deus! — disse rindo.

— Um segundo, Pequena.

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Ele fechou a porta atrás dele e tirou a venda.

Kally piscou, arrumou os cabelos e abriu a boca


de espanto. Estavam num terraço que ficava num
dos lados na mansão e havia uma tenda com
paredes de voal brando, uma mesa no centro com
uma fina toalha branca, um arranjo de flores no
meio e uma louça linda e requintada, marcando
dois lugares.

Havia uma moça tocando um violino com uma


música encantadora e estava com os olhos
vendados, talvez para não vê-los na sua forma
natural, havia um lobo vestido de garçom, numa
roupa impecável, com um carrinho com vários
pratos com clouches.

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Kally ficou confusa e tonta com aquilo,


emocionada e não conseguia dizer nada, então
somente olhou para ele, que estava lindamente
vestido com um terno impecável feito sob medida,
e a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa
do mundo com aquele sorrisinho no canto na boca
que sempre a deixava louca.

— Isso é para nós?

— Sim. Eu queria te levar num lugar especial,


para te trazer um pouco de alegria, depois dos dias
ruins que passou, mas achei mais seguro estarmos
aqui.

— É algo especial da cerimônia dos lobos?

— Não, mas é algo especial que seu lobo está


fazendo para sua loba.

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Ela pensou que choraria, porque seu coração


ficou exultante. Seu lobo gigante era tão
maravilhoso.

— É lindo.

— Eu te pedi em casamento num quarto de


pousada, sem nenhum romantismo, nada especial.
Sei que as mulheres gostam dessas coisas.

Ela sorriu.

— Foi perfeito.

Gael pegou uma mecha de seu cabelo,


acariciando.

— Eu não queria esperar naquele dia, com


medo que algo acontecesse e me impedisse, que
você fugisse de mim de novo e eu não pudesse te
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pedir. E eu te prometi um momento especial.

Ajoelhou-se e ela não conseguiu se segurar e as


lágrimas rolaram.

Senhor, podia amá-lo mais? Parecia impossível.

— Nossa cerimônia é hoje à tarde, então quis


fazer esta, somente eu e você novamente para te
dizer que eu te honrarei e te amarei, com todo meu
coração, hoje e sempre. Que eu te faço minha
companheira, minha alma, minha vida e minha alfa.
Reconheço-te com todo meu coração.

Ele levantou e pegou suas mãos e


amorosamente beijou uma depois a outra.

— E eu te amo, te reconheço e o amarei e


respeitarei hoje e sempre por toda minha vida. E
não importa o que tenhamos que enfrentar, eu
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enfrentarei, por ti, meu companheiro, para nossa


felicidade hoje e sempre.

Eles se beijaram docemente e se abraçaram,


deixando aquele momento especial e único,
somente dos dois, guardados em seus corações.

Felizes, ambos seguiram para a mesa. E se por


algum momento, o conhecido frio lobo não pensou
que poderia ser romântico estava enganada. Gael
era bruto, forte, um alfa, mas tinha um lado doce,
carinhoso, que se importava com seus sentimentos
e queria vê-la feliz e realizada, e fazia de tudo por
isso.

E isso, não havia nada que superasse no mundo


e ela nunca pensou que pudesse ser tão amada por
um ser místico.

O mundo era maravilhoso.


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Toda a alcateia mineira estava reunida no


grande salão de festas da casa de Gael MacDowell
para a cerimônia do acasalamento de seus alfas.

Todas as mesas estavam ricamente decoradas


com prataria e cristais e na mesa principal, onde
ficariam os alfas, estava ainda mais bela.

A família MacDowell sabia ostentar e


proporcionar beleza e fartura em suas recepções e o
que não faltaria era comida, muita carne assada e
cervejas, vinho, uísque de 12 anos e champanhe.

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Gael estava na porta do salão, que estava cheio


com seus lobos, aguardando Kally.

Ela havia optado por fazer uma cerimônia nada


convencional como os humanos estavam
acostumados, marcha nupcial tradicional ou um
padre de verdade, ela queria tudo do jeito dele. Se
era uma loba agora, seria por inteiro.

Ele usava um requintado terno preto com um


estilo mais moderno, camisa alva e gravata, seu
cabelo estava preso em um coque.

Estava orgulhoso de Kally e não conseguia tirar


o sorriso bobo e fácil do rosto. Não entendia como
muitos humanos queriam fugir daquele tipo de
compromisso, Gael estava ansioso, talvez porque

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realmente a amava e não via o compromisso com


alguém que ele tinha escolhido como uma prisão ou
um fardo.

Lobos tinham orgulho de seus compromissos e


de suas companheiras, tinham um vínculo familiar
muito forte.

Os últimos dias, onde Kally havia ascendido ao


cargo de alfa, ela havia sido aceita pelo seu povo,
tinha sido uma loucura completa, mas a alcateia,
Gael e Kally haviam encontrado uma aceitação até
um tanto inesperada e era forte e que oravam aos
deuses que fossem eternas.

Gael e Kally tinham conhecido um grau de


felicidade que era prometida aos companheiros de
alma, e isso era impagável, porque jamais tinham
sonhado com um amor e uma harmonia tão forte.

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Era mágico, pois havia sido tudo tão rápido e


tumultuado, agora estavam ali, unidos como uma
grande família aguardando a celebração de sua
união e a visita mais fabulosa de todas: os reis dos
lobos.

Kally e Gael, assim como todos os lobos


estavam ansiosos, pois quando Gael havia
telefonado para Noah convidando-o para a
cerimônia, Erick havia sugerido que seus pais
pudessem ir até o Brasil, na sua cerimônia, para se
apresentar.

Gael tinha ficado estupefato e sem reação por


alguns momentos, mas achou brilhante, pois desde
que ficou sabendo sobre os reis queria conhecê-los.

Agora estavam ali, somente esperando sua


chegada e a da alfa.

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Os lobos de Jonas haviam desaparecido,


simplesmente, depois que Kally havia partido. Ele
achava estranho tal comportamento, não entendia
que tipo de mente louca fazia um lobo agir com
maldade, fazendo joguinhos e desaparecendo.

Mas ele não estava interessado naquele assunto


naquele momento, e mesmo sentindo receio de que
algo ruim pudesse acontecer, queria apenas usufruir
daqueles momentos especiais e ver sua preciosa
joia chegar logo, pois estava deveras ansioso.

Então, sentiu o perfume dela e se virou, assim


como todos os lobos que estavam ao seu lado no
hall. Lá estava ela, linda e maravilhosa, no topo das
escadas, e nunca pensou que fosse possível estar
mais linda do que sempre fora.

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Kally estava tão nervosa que pensou que rolaria


escada abaixo, então respirou fundo e as desceu,
lentamente.

Cavalheiro como ele era, foi até o pé da escada


e a esperou, olhando-a sem querer piscar,
admirando-a e com o coração batendo
descompassado.

Seu vestido, longo até os pés, era de um tecido


suave e fluído, branco, com decote atraente que
realçava seu colo e com finas alças somente com
alguns brilhos no decote.

Seu cabelo estava preso num bonito penteado e


uma fina e delicada tiara de diamantes os adornava.
Seus cabelos haviam crescido até a cintura,

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ganhado três tons de mechas e seus olhos estavam


amarelos vibrantes e com o furor da emoção,
ganharam mais um brilho.

Ali estava todo o amor que ela sentia por ele e


ele amou seus olhos, amou tudo nela.

Usava uma gargantilha com uma pequena pedra


de diamante como pingente e uma pedra em cada
orelha, delicado como ela gostava.

Kally havia recebido como presente de


casamento da alfa mãe, mãe de Gael, e isso não
poderia tê-la espantado mais, pois a senhora sempre
era muito gentil com ela, mas sabia que se o
magoasse como da primeira vez ela mesma
arrancaria sua cabeça.

Teve sorte da primeira vez que não foi caçada e


estripada.
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Ficou cautelosa quanto ao presente, mas


percebeu que aquilo para eles era normal, além de
as joias serem de seu convívio natural, ela deveria
estar à altura deles e como era uma alfa agora, ela
teria que se adaptar, não que achasse ruim.

Um pouco a incomodava, mas se tinha aceitado


entrar no seu mundo, então ela era agora a magnata
das pedras preciosas.

As brincadeiras de Penélope realmente a


deixavam de cabelos em pé.

Ele estendeu a mão e ela a alcançou, beijou o


dorso e depois sua testa e eles ficaram assim por
um minuto.

— Está tão linda que parece uma fada, minha


pequena preciosa.
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— Também está lindo, meu lobo.

— Está pronta?

— Sim.

Ele ofereceu seu braço dobrado e ela o


enganchou e seguiram para o salão. Quando
entraram, todos os lobos bateram palmas e fizeram
muito barulho e uma música de violinos tocava.

Kally sentia a garganta embargada e não


conseguia tirar o enorme sorriso do rosto. Eles
foram até a mesa destinada a eles que ficava um
degrau mais alto que os outros e sentaram.

Logo um lobo veio e lhes trouxe champanhe e


todos ergueram suas taças.

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— Um brinde aos alfas! — gritou Gabriel e


todos ergueram suas taças e soltaram um urro,
como se fosse um grito de guerra e ele e Kally
beberam.

Gael sorriu e acariciou a mandíbula de Kally


com a ponta dos dedos.

— Seus amigos e os reis virão? Não teria que


buscá-los em algum lugar? Já não deveriam estar
aqui?

— Erick disse que estariam aqui a tempo,


passei o horário. Disse que tinham seu próprio meio
de locomoção.

Seu telefone tocou e Gael atendeu.

— Erick! Onde estão?

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— Gael, nós ainda estamos na Grécia, estamos


todos reunidos aqui.

— Mas não entendo, disse que viriam para a


minha cerimônia. Aconteceu alguma coisa?

Erick riu.

— Não, amigo, estamos indo, somente peço que


desocupem o centro do seu salão porque o nosso
número está grandinho.

— O quê?

— Estaremos aí em um minuto.

Erick desligou e Gael franziu o cenho sem


entender. Como poderiam estar na Grécia e chegar
ao Brasil em um minuto?

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— Lobos, saiam do meio do salão agora! —


Gael gritou.

Sem entender nada, os lobos se afastaram.


Todos se assustaram quando um clarão com
pequenos raios cintilava e um estrondo, como se
fosse um trovão, retumbou no meio do salão com
uma grande luz ofuscante.

Os lobos arfaram se afastando mais e olharam


espantados para a orla de lobos que apareceu no
meio deles.

Gael automaticamente levantou e rosnou e com


o braço empurrou Kally para trás dele.

— Mas que porra... — Gael resmungou e Kally,


que gritou pelo susto, espiou por detrás dele.

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— Oh, meu Deus... — Kally sussurrou e


arregalou os olhos, olhou para Gael, que a olhou de
volta e riu tão espantado quanto ela.

— Bem, Pequena, se queria conhecer magia de


verdade, eis que está na sua frente.

— Misericórdia, nunca imaginei tal coisa!

Ela olhou para o lado para onde estavam sua


mãe e Daniele e as duas estavam agarradas uma na
outra, olhando tudo com os olhos arregalados e a
boca aberta.

Kally riu, porque aquilo merecia uma foto para


a posteridade.

Os lobos ficaram em posição de luta, prontos


para atacarem os desconhecidos que apareceram,
mas houve um minuto de silêncio enquanto
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contemplavam tal beleza, não sabiam se atacavam,


suspiravam ou se era uma ameaça, então
reconheceram seus amigos e era inevitável não
saber quem era o rei e a rainha.

O maior deles, realmente impressionante em


tamanho e beleza, que estava na frente, ao lado da
mulher mais deslumbrante que jamais imaginariam
ver, olhou direto para Gael e Kally, como se
soubesse quem eram os alfas.

Gael pegou na mão de Kally, para apoiar sua


companheira e diminuir seu espanto e temor, se
aproximou e respeitosamente fez uma reverência.

Todos fizeram a reverência honrosa, ainda


ofegantes e encantados, ainda temerosos seguindo
seu alfa, e o rei e a rainha, Kayli e Vanora,
assentiram com a cabeça.

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Kally não podia acreditar em tanta beleza,


magia e sabedoria que claramente emanava deles, a
onda de poder daquele grupo era tão forte que era
quase palpável.

Eles estavam vestidos com roupas antigas e


ornadas ricamente com bordados em ouro e pedras
preciosas, como usavam em seu mundo de Kimera.
A visão parecia ser de um filme antigo.

A rainha possuía uma aura etérea que arrancava


suspiros, usando um vestido pérola e rosa em
nuances diferentes e com um decote generoso,
havia um cinto diferente e ornado e um colar que
descia pelo seu colo, a sua coroa era parecida com a
do rei, mas era menor e descia em cascatas de finas
correntes e pedras por todo seu cabelo que caía até
a cintura.

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O rei, forte, alto e imponente, exalando poder


extraordinário, sustentava em sua cabeça uma coroa
de ouro cravada de pedras preciosas, uma calça
marrom e uma túnica até as coxas, azul com
bordados de ouro e pedras no seu decote, e tinha
uma capa que prendia num ombro e a outra ponta
da sua cintura com uma orla de pele.

Além de Kayli e Vanora, estavam Aaron, Kane,


Yasmin, Maddox, Erick e Kira, Noah e Ester,
Petrus e Sami, Harley e Pietra. Havia lobos quase
os circulando como se fossem seus guardas
pessoais, prontos para proteger seus reis e príncipes
e usavam roupas de couro, antigas e, para espanto
de todos, espadas na cintura e alguns em suas
costas presas em suas bainhas de couro. Espantoso.

— Meu rei...

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— Salve, alfa Gael. Eu sou o rei Kayli, filho de


Kundan Nordur. Eu sou o rei amaldiçoado, o
primeiro shifter de lobo criado, o senhor dos
homens-lobos.

Gael colocou a mão no coração e fez mais uma


reverência, realmente estava comovido. Era quase
inacreditável ver aquelas pessoas. Não eram lendas
criadas da imaginação do povo, eram reais, vivos e
poderosos, milenares.

Não poderia negar que o poder supremo


emanava deles. E pareciam amigáveis, mas que não
poderiam ser negligenciados ou insultados. E ele
não pensaria nisso, porque seu coração estava em
júbilo de tal honra.

— É uma honra, meu senhor.

— Esta é minha rainha, Vanora, a Senhora das


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Castas, minha alfa, e ela é a responsável pela


criação de todos vocês.

— Minha senhora — disse fazendo outra


reverência.

— É um prazer conhecê-los, alfas.

— Este é Aaron, meu irmão, beta e seu


príncipe, meus filhos Kane e Yasmin e, como já
conhece, meu filho Erick.

— É uma honra finalmente conhecê-los, meus


reis, e são bem-vindos à minha humilde alcateia.
Sou Gael MacDowell, e esta é minha companheira
Kally.

Kally os cumprimentou fazendo a reverência,


encantada como se um livro de contos de fadas
tivesse sido aberto bem diante dela.
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— Sejam bem-vindos.

— Obrigada, alfa.

— E este é meu irmão e meu beta, Gabriel, e


esta é minha filha Penélope.

— É um prazer visitar sua valorosa alcateia,


alfa Gael. Soube que tiveram alguns infortúnios há
um tempo.

— Sim, mas superamos e parece que nossos


inimigos se foram, pelo menos nos deram uma
trégua. Estamos bem e nos honram com sua
presença na nossa cerimônia.

— Estendo a vocês minha força e minha


proteção, a partir de agora qualquer problema que
tenham podem solicitar minha ajuda.

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— Obrigado, Majestade.

— Hum... me disseram que há uma pequena


loba que quis se juntar a nós, creio que a conhece.

— Quem?

Aaron sorriu e deu espaço entre eles e Gael


arregalou os olhos olhando para sua prima, Clere.

Ela sorriu e parou na sua frente.

— Olá, primo. Pensei que seria bom te dar um


abraço e desejar felicidades no dia do seu
casamento.

Gael ficou sem fala por um momento e seus


olhos marejaram. Ele segurou seu rosto entre as
mãos.

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— Como estou contente de te ver, tão formosa,


pensei que nunca te veria.

Ela sorriu e uma lágrima escorreu.

— Estou bem agora, obrigada.

Não somente Gael ficou estupefato, mas os


outros da alcateia de Noah também. Clere abraçou
Gael e ele fechou os olhos para abraçá-la.

Noah respirou fundo, porque sabia o quanto


aquele abraço era precioso, raro e milagroso, para
ambos, e Ester secou uma lágrima que escorreu,
pois ela também sabia.

Gael se afastou e beijou a testa de Clere.

— Estarei aqui sempre para você, para tudo o


que precisar, ok?
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— Ok.

— Conheça minha companheira, Kally.

Clere, emocionada, olhou para Kally e a


abraçou.

— Estou feliz por vocês, sejam muito felizes.

— É um prazer conhecê-la. Fico muito feliz que


tenha vindo. Se deixa Gael feliz, fico feliz também.

Ela sorriu e assentiu.

E Clere foi cumprimentar os outros e Penélope,


e Gael riu alto e olhou para o teto com a mão no
coração.

— Dia abençoado, dia abençoado.

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Ele olhou para Kally e, feliz, beijou sua testa.

— Obrigada pelo presente, Noah — disse


fazendo uma reverência com a cabeça e a mão no
coração. — Oh, Majestade, poderia nos contar o
que houve? Soube que estão vivendo em outro
mundo, Kimera.

— Assim é, dê-me comida e bebida e para os


meus que lhe contaremos tudo mais tarde. Agora,
posso ter a honra de celebrar e abençoar sua
cerimônia?

Gael ficou estupefato. E olhou para Kally, que


estava com os olhos arregalados.

— Ora, vamos, não estou aqui apenas para


comer, seria uma honra uni-los em nossas antigas
leis.

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Kally não quis nenhuma cerimônia formal,


grande ou que aparecesse em algum lugar, ela
queria a simplicidade e privacidade, e as únicas
pessoas de sua família que estavam ali eram sua
mãe e Daniele, que estavam com os braços
enganchados, emocionadas, espantadas e
observando tudo com um misto de espanto, medo e
deslumbre, mas agora o próprio rei pedia que
celebrasse a cerimônia, estava parva.

Dona Carolina ainda não conseguia assimilar


tanta loucura junta e nem Daniele, mas seu
deslumbre era pela beleza dos lobos.

— Jamais esperei tal coisa, mas estamos


honrados, Majestade.

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Kally e Gael e todos os outros se posicionaram


e Kayli disse algumas palavras sobre a união e
respeito do casal, a importância de um alfa e
companheiros. Então recitou algumas palavras na
sua antiga língua, com sotaque carregado que eles
não entenderam, mas não importava. Sabia que era
uma bênção.

Mesmo as palavras que ele dizia de difícil


compreensão não diminuiu a magia daquele
pequeno ato, pois era grande e significativo para
seu povo e para Kally, que estava tão nervosa que
poderia desmaiar, mas Gael segurava sua mão e
então não poderia estar mais segura.

— É de comum acordo que selam esta união?

— Sim — responderam juntos.

— Então eu os abençoo. E que os deuses os


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abençoem com uma vida longa e feliz.

Eles trocaram os anéis de casamento e Gael


além da aliança colocou no dedo dela o anel de
alfa, que era idêntico ao seu, só que menor e mais
delicado, com a imagem de um lobo e um brasão
dos MacDowell atrás e cravejado de minúsculos
rubis.

Vanora veio até eles, pegou suas mãos unidas,


sobre os anéis de alfas, e ela as envolveu em um
lenço bordado com fios de seda e de ouro.

— Bí beannaithe. Sejam abençoados.

Gael pegou o lenço, colocou na frente dela para


beijá-lo e o colocou em seu bolso.

— Pode beijar a noiva.

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Gael sorriu lindamente e eles se olharam


profundamente, com o coração cheio de amor e
felicidade. Kally estava com os olhos marejados de
lágrimas, pois estava com o coração batendo forte
demais, com as emoções afloradas e quando ela o
olhou sabia que poderia enfrentar qualquer coisa e
lutaria com todas as suas forças por ele.

Gael se abaixou e beijou seus lábios docemente


e ela sussurrou:

— Eu te amo, companheiro.

— Eu te amo, companheira.

Ela sorriu e suspirou.

— Viva os alfas! — Penélope gritou e todos os


lobos gritaram e bateram palmas e alguns uivaram
e os alfas riram.
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Erick foi até Gael e o abraçou fortemente.

— Parabéns, amigo, seja muito feliz.

— Obrigado. Devo beijar seus pés agora,


“príncipe” — zombou e Erick riu alto.

— Cale a boca, idiota. Já vejo que ter


encontrado sua preciosa companheira estragou sua
cabeça.

Gael riu alto e Kally ficou estupefata com o


carinho que foram recebidos. Não esperava tal
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coisa.

— Obrigado por ter vindo e trazido os reis, foi


um grande presente para nós.

— Um dia ele viria, já que está querendo visitar


todas as alcateias ao redor do mundo. Então, achei
que o momento seria apropriado.

— Bem, quem diria que com essa sua cara feia


seria um príncipe, hein, Erick?

Ele riu e deu um soco em seu peito.

— A vida é cheia de surpresas. Esta é Kira,


minha companheira.

— É um prazer, senhora.

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— Encantada, alfa. Meus parabéns, muitas


felicidades.

— Obrigado.

— Oh, a senhora que é bruxa também? —


Kally perguntou, encantada.

— Sim.

— Fascinante! Gostaria tanto de aprender tantas


coisas sobre isso.

— Está convidada para nos visitar na Grécia.

— Oh, seria um sonho. Podemos ir algum dia?


— perguntou a Gael.

— Sim, podemos pensar no assunto — disse


sorrindo.

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Ester e Noah vieram e os abraçaram.

— Parabéns, Gael, estávamos torcendo para


tudo der certo.

— Obrigado, Noah, e que bom que veio


novamente em tão pouco tempo.

— Não perderia por nada.

— Estou orgulhosa de você, Kally, se precisar


de qualquer coisa é só me chamar — Ester disse a
abraçando.

— Obrigada, Ester.

Kally abraçou fortemente sua mãe que estava


chorosa.

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— Isso tudo é lindo, filha. Tão louco, mas tão


lindo. Nunca na minha vida pensei em presenciar
tal coisa.

— Sim, é uma magia difícil de esquecer ou


deixar passar.

— Olhe pra você, parece uma princesa. Está


feliz?

— Estou feliz, muito.

— Então vá em frente. Seja forte. Sempre


estarei aqui para você.

Kally assentiu e abraçou fortemente sua mãe e


fungou chorosa.

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— Está louca, mas quem não iria querer viver


uma loucura com um desses lobos, hum? —
Daniele disse.

Kally riu e a abraçou forte.

— Obrigada por estar aqui e aceitar mentir por


mim.

— Não se preocupe, seu segredo está guardado,


ninguém mais sabe que estamos aqui para seu
casamento. Um bem diferente, aliás. Misericórdia,
mas amei, foi lindo, um rei de verdade te casou.
Babem bruacas e invejosas — disse passando o
dedo na língua e colocando no quadril e Kally riu.

— Todos da família vão falar por anos quando


descobrirem que escondemos esse casamento.

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— Ninguém vai saber, pelo menos por


enquanto.

— Quando a imprensa souber vai noticiar com


certeza. Ele é um MacDowell, querida — Carolina
disse e Kally respirou fundo. — Querendo ou não,
essa cidade é um ovo e as pessoas adoram fofocar
da vida dos outros.

— E quem liga? O importante é você estar feliz


e se manterem seguros. Tem gente lá na nossa
família que não dá para confiar, pois fala mais do
que a língua, não pode contar, Kally. Aquela gente
que não se mistura, não está interessada na sua
felicidade, só nos seus erros, para poder apontar o
dedo e rasgar de falar mal estão na frente da fila;
para ajudar, nem dão o ar da graça, são umas
invejosas.

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— Eu sei, uai.

— Daniele tem razão, querida, cuide da sua


vida e falaremos o menos possível. Não devemos
satisfação a ninguém, pois ninguém paga nossas
contas.

Kally assentiu e secou as lágrimas. Ela se virou


e deu de cara com Simone, que a olhava séria, e
sentiu uma onda de desprezo vindo dela e
automaticamente deu um passo atrás.

Simone deu um sorriso fingido e se aproximou


para um abraço.

— Seja feliz, alfa... enquanto pode —


cochichou em seu ouvido.

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Kally foi responder, mas estava atônita e viu a


mulher se afastar e ir cumprimentar Gael com o
mais falso sorriso.

— Cobra, cobra, cuidado com esta mulher,


filha.

— Eu sei, ela me dá medo. Está muito zangada


porque Gael me escolheu e não a ela.

— Gael te ama.

— Medo ela que tem que ter de você, se ela se


meter com seu homem, quebre o pescoço dela,
estique essas mãos horrorosas que tu conseguiu se
tornando uma loba e faça aquela cara dela de alvo.

Kally riu e olhou para a prima.

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— Só você para me dar estes conselhos


bondosos.

— Oh, Senhor, eu até seria bondosa com aquele


lobo ali. Misericórdia, que homem lindo da porra,
me dá um calor...

Kally olhou para Gabriel, que as olhava com


um sorrisinho malandro no canto da boca, e ela riu.

— Ele é lindo realmente, Dani.

— Hum-hum... Ficaria mais lindo na minha


cama. ô trem bom.

— Cuidado, eles têm audição bem aguçada, ele


pode te ouvir.

— Vixi Maria, acho que vou falar mais alto.

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Kally riu alto e cutucou Daniele, que riu


também; e Penélope, animada, carregando seu
filhote, veio cumprimentá-la alegremente. Ela era
preciosa e Kally a amava. Era de uma doçura e
alegria contagiante, sem contar com sua beleza.

— Parabéns, Kally, espero que sejam muito


felizes e que tenham muitos lobinhos, adoraria ter
irmãos.

— Meu Deus... oi, lindinho — disse beijando


Rafael na bochecha.

Kally olhava a todos e os cumprimentava


cordialmente, tentando conter sua euforia, pensava
que seus olhos ficariam prejudicados de tanta
beleza e riqueza junta.

Tudo era tão espantoso que não conseguia


encontrar palavras para descrever seu
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encantamento.

Noah se aproximou os abraçando, assim como


fez os outros.

— É um prazer vê-los de novo.

— Você é da família, é uma honra estarmos


aqui.

— Oh, Kally estou tão feliz que tudo está bem e


enfim são companheiros. Torci tanto por você.

— Obrigada, Ester, me ajudou muito.

Ester abraçou Kally fortemente e ela se


emocionou, pois a alfa era tão intensa e verdadeira.
Podia ver que a felicidade dela por seu enlace era
forte e verdadeiro. Uma amizade preciosa que faria
questão de manter o mais próxima possível.
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Kally sorriu lindamente e seus lindos olhos


amarelos ficaram mais brilhantes.

— Erick nos contou sobre sua maravilhosa feira


de pedras preciosas e ficaríamos encantados em
poder conhecer, pena que chegamos tarde, pois o
evento já findou — Kayli disse.

— Oh, seria uma grande honra poder lhes


mostrar isso, Majestade, mas receio que seu séquito
em nossa humilde feira seja um pouco demais.
Chamaria muita atenção.

— Sim, infelizmente — disse rindo alto.

— Isso enche o saco, às vezes — Ester disse e


Noah concordou.

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— Mas poderemos pensar em algo discreto para


que vocês possam usufruir das belezas de minhas
pedras.

— Nós podemos mostrar sua sala especial,


Gael. Há ali todas as pedras que conhecemos e
muitas que não, ou poderia explicar cada uma delas
e você pode mostrar algumas joias. Seria divino —
Kally sussurrou.

Gael sorriu e beijou sua testa.

— Sim, querida, seria. E poderemos


providenciar tudo o que seja de agrado aos nossos
reis e sanar suas expectativas e necessidades.

Vanora olhou para Kally e se aproximou, e ela


ficou chocada em ver a rainha mais de perto, com
sua roupa longa e fluída de dois tons de azul, que
arrastava no chão, com sua tiara brilhante e exótica
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que parecia uma coroa, mas com pingentes que


caíam pela toda extensão de seu longo cabelo que
ia até abaixo de seus quadris.

— A senhora que é uma bruxa que criou os


lobos?

— Sim, sou eu.

— Oh, isso é tão magnífico, eu sou...

— Eu sei o que você é, querida, pois vejo sua


aura e sua magia. Límpida, brilhante e forte. Você é
especial.

— Especial?

Vanora pegou uma de suas mãos e a olhou.

— Você faz curas usando as pedras.

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— Sim.

— Magnífico, mas você sabia que tem tanto


poder de cura em ti que pode fazê-lo somente com
suas mãos? Que usando as pedras é perfeito e
eficaz, e até ajuda a intensificar sua força, mas pode
usar somente esta arma contra as doenças do corpo
e da alma.

— O quê?

— Suas mãos curam, querida. Você possui o


poder de cura e agora como loba eles foram
intensificados, muito.

Kally estava aturdida e olhou para Gael, que


também estava confuso.

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— Não entendo, Majestade, tenho alguns


conhecimentos sobre a cura e uso alguns, até algo
estranho aconteceu em alguns momentos.

— Você é muito sensível, absorve da natureza


uma energia muito poderosa. É um canal de energia
pura e pode fazer mais do que pensa. Pode ajudar a
curar somente usando suas mãos de forma muito
forte agora que é uma loba.

— Tenho formação de Heiki, tenho permissão


para aplicar em pacientes.

— Oh sim, conheço o nome e o feito, se você se


refere a empunhar as mãos sobre um doente ou
pessoas que precisam de energia. Sabia que na
minha época na Terra já usávamos o Reiki?

— Jura? — perguntou espantada.

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— Sim, antes da idade de Cristo. O Reiki celta


exaltava as antigas tradições dos sábios Druidas,
que eram sacerdotes naquela época, nossos
conselheiros, e faziam curas nas tribos célticas.
Tive contato com muitos dos mestres. Praticar o
Reiki Celta é estar aberto para receber diretamente
as energias da Mãe Terra. Temos muito que
agradecer, pela energia e pelo nosso sustento. A
cura é um dom divino, permitido por ela.

— Fascinante. Estar na fonte dessa maneira, tão


antiga. E conhecer um druida, deve ter sido
maravilhoso.

— Sim, eles existiram muito antes de mim, até


mais de 700 a.C. por toda a Europa.

— Naquela época era muito comum ter as


bruxas, não é?

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— Sim, bruxas eram normais e aceitas. Éramos


abençoadas e respeitadas. Nossa energia era grande
e livre.

— Acha que minha energia é forte?

— Muitíssimo, sua conexão é espantosa, e não


é somente isso, pode manipular ervas e conhecer
suas propriedades e manipulá-las, fazer remédios e
poções, e pode diagnosticar as doenças e
deficiências nas pessoas quando as toca ou quando
se concentra em suas auras, ou se desejar, pode usar
os pêndulos.

— Posso? — perguntou espantada.

— Pode, é só você conhecer, se abrir e


aprender. O seu poder de cura foi intensificado
quando foi transformada em loba.

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— Isso seria tão maravilhoso!

— Você gostaria disso?

— Sim, eu gostaria!

— Então vai aprender e isso pode ajudar muito


os lobos, seu poder é magnífico, alfa Kally.

— Como pode ver tudo isso?

— Olhando para você pude ver sua linha de


tempo, na verdade você estava muito disposta a me
mostrar.

— Estava?

A rainha sorriu lindamente.

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— Muitas mulheres possuem certos poderes,


umas mais, outras menos e algumas tanto, que não
conseguem manipular. Mas, no decorrer dos
séculos, isso geralmente foi mal visto e desprezado.
Mulheres foram mortas, oprimidas e surradas,
somente porque sabiam fazer chás de ervas,
imagine ter o que você tem.

— Sim, eu sei. As mulheres eram acusadas de


serem bruxas e foram mortas nas fogueiras.

— Sim, até quem não era nem bruxa. Coisas


lamentáveis da história e de quem não entende nada
da magia do mundo. Mas nós entendemos, porque
nós somos a pura magia. Lobos são magia. Somos
especiais e devemos usar isso com sabedoria, pelo
menos para cuidar dos nossos ou de quem acredita.
Seu conhecimento vem de eras, e a magia da cura

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está brilhante dentro de você. Uma dádiva linda e


poderosa, somente dado a quem tem o coração forte
e puro.

Vanora pegou sua mão e sorriu.

— Conhece leitura de mãos?

— Oh, conheço, mas não estudei a fundo, não


sei ler mãos.

— Você possui a marca do curandeiro, olhe,


está vendo aqui, na base do dedo mínimo? A Marca
do Curador é composta de quatro ou mais linhas
paralelas. Este sinal indica que você possui o dom
de ser um curador. Está sempre focada no bem-
estar de todos, que precisam de cura e orientação.
Você é capaz de trazer cura em um nível físico,
mental e emocional.

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— Por isso acalmei o bebê tão rápido lá no


hospital... e minhas sessões de Reiki causam efeitos
realmente bons.

— Sim, e desde que nasceu foi destinada a ser


alfa e a ser uma curadora.

— Eu estava destinada a ser alfa?

— Os deuses têm um plano para cada lobo


criado. Está na hora de cumprir seu destino junto
com seu lobo.

Kally sorriu e olhou para Gael, que lhe sorriu


de volta, porque pôde ver a sua aura brilhante, sua
magia e poder que emanava de sua companheira e
ele sentiu orgulho dela e o mais puro encanto.

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Estava encantado e orgulhoso pela rainha lhe


dar o valor que ela merecia. Sempre soube que sua
pequena mística era poderosa.

Olhou ao redor e seus lobos estavam todos


prestando atenção e olhando a tudo com espanto.

Respirou fundo, porque aquilo tudo era muito


para que seus lobos soubessem que Kally era forte
e especial que seria boa para eles, forte como alfa.
Se os reis a aprovavam, como uma alcateia não o
faria?

— Obrigado, Majestade, fico contente que veja


o potencial desta mulher. Ela é forte e poderosa; e
mesmo quando tem medo, ela enfrenta o perigo e
salvou minha vida.

Kayli se aproximou e ficou ao lado de Vanora.

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— Então, meu amigo, você tem sorte, porque


sua companheira será uma alfa magnífica e têm
nossa bênção. Uma nova loba transformada que
aceitou nosso povo.

Gael ficou feliz e beijou a testa de Kally, que o


olhou emocionada e o coração dele inflou com uma
nova alegria e pôde ver respeito e admiração nos
olhares de seus lobos.

Agora, sua vida tinha outro sentido e ele amava


sua raça como jamais fez antes e tinha orgulho
deles e os protegeria com todas as suas forças.

E quando sua companheira o olhou, cheia de


alegria e com um amor infinito refletido nos seus
olhos, ele soube que estava no caminho certo e que
foi abençoado pelos deuses.

— Venham, teremos uma grande festa, será um


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dia memorável.

Uma loba chegou para Penélope, a que a


ajudava com o pequeno lobinho e ela, cuidadosa,
lhe entregou o bebê que estava sonolento.

— Colocarei no berço, senhora, em breve estará


com os olhinhos fechados num sono profundo.

— Obrigada, Van — Penélope disse com um


sorriso.

Kally a olhou e sorriu, mas não gostou da aura


da loba, uma sensação estranha e ruim passou por
ela, com um frio atravessando sua espinha, ainda
mais quando de relance ela a olhou de esguelha
com o olhar cheio de raiva. Ela sempre tinha a
sensação amarga na boca quando se aproximava de
alguém ruim.

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Gael sentindo seu incômodo a tocou no ombro


e ela se virou.

— Está tudo bem, querida?

— Hum... sim — disse com as palavras fracas e


incertas.

— Há lobo nesta alcateia que pense que ela não


é digna de ser alfa, então, este lobo não é digno de
estar nesta alcateia — Yasmin disse séria.

Gael olhou aturdido para a loba jovem, assim


como todos, e ela o olhava sério, e de repente seus
olhos ficaram completamente brancos, assustando a
todos.

— Mas o quê? — Gael sussurrou aturdido.

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— Oh, merda... isso não é bom... — Erick


sussurrou ao seu lado.

— “Os traidores saboreiam o fel com deleite e


tudo irá ruir para o grito do infante nos marcar” —
Yasmin disse, então seus olhos voltaram ao normal
e ela gritou. — Kane!

Então, tudo aconteceu muito rápido.

Kane, o filho do rei, saltou de trás deles,


passando sobre eles, num salto surpreendente que
fez todos arfarem. Empunhava seu arco e flecha,
que como um passe de mágica se materializou em
sua mão, mirando para o fundo do salão.

Gael automaticamente se pôs na frente de Kally


para protegê-la, mas viu que o alvo não era ela.

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Ele atirou várias flechas ao mesmo tempo com


uma velocidade impressionante e elas atingiram a
porta de entrada fechando-a num baque.

Todos ofegaram ao ver o que acontecia naquela


direção.

As flechas fecharam a porta que Van havia


aberto para sair com o pequeno Rafael. E ela se
virou com os olhos arregalados olhando a todos.

— Rafael!— Penélope gritou apavorada, deu


um passo à frente para ir correndo até eles, mas
estacou quando a mulher fez seus olhos cintilarem,
suas garras cresceram, agarrou o pequeno somente
com uma mão, empurrando-o contra seu corpo e ele
choramingou ao acordar e sentir dor.

Kally ficou apavorada ao ver que ela o


ameaçava com suas garras em seu pescoço.
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Qual era o problema desses lobos maus que


seguravam um bebê daquele jeito, já não bastava o
terror que passou da primeira vez?

Todos arfaram sem entender o que estava


acontecendo. Os lobos e o irmão de Gael foram
mais à frente, rosnando zangados.

— Van... o que está fazendo, loba? — Gael


disse zangado, mas tentando manter o controle de
seu lobo.

— Está machucando meu filho, sua louca! —


Penélope rosnou zangada. — Dê um arranhão nele
e fatiarei você!

— Eis aí uma cobra rastejante — a mãe de Gael


disse.

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Gael olhou para a loba, estupefato, sentindo sua


raiva aflorar.

— Estava cuidando de nossos passos, por isso


Jonas sempre estava um passo à frente, por isso não
conseguíamos pegá-lo, ela escutava e contava
nossos planos, sabia nossas debilidades e sabia
como desativar o alarme da clínica, pois já tinha
trabalhado lá. Jonas passou pela ala humana e não
pelo nosso, por isso os nossos lobos não o viram.

Kally olhou furiosa para Van.

— Devolva meu bebê, sua louca! Juro que não


sairá viva daqui! — Penélope disse zangada. Um
lobo se aproximou ao lado de Penélope e rosnou
forte, era seu companheiro.

— Você, como filha do alfa, deveria ter ficado


contra a humana, mas não, ficou toda amiguinha
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dela, protegendo-a, e sempre desprezou aquela que


deveria ser nossa alfa. Essa daí não pode ser nossa
alfa, é uma humana, fraca e estúpida, sem nenhuma
classe!

— Oh, e quem você acha digna de ser nossa


alfa? Quem é a divindade? — Penélope zombou,
cheia de ira.

— Simone. Ela sim seria uma alfa à altura, não


uma humana imunda que não merece estar no meio
de nós, lobos. Nunca aceitarei uma humana como
alfa.

— Ok, eu entendi que não me aceite, mas não


pode machucar um bebê por minha causa — Kally
disse.

— Você será culpada disso, porque Jonas te


avisou para ficar longe, mas você obedeceu? Não.
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Por isso não pode ser nossa alfa, não sabe cuidar da
sua alcateia, quem deve ser é Simone, ela sim sabe
comandar-nos.

— O que Simone tem a ver com isso, ela é


cúmplice de Jonas?

— Eles devem ser nossos alfas, ninguém mais é


digno, nem o senhor que nos traiu. Ele deveria ter
matado essa insignificante em vez de ficar fazendo
jogos. Bem que eu sabia que não poderíamos
confiar em nenhum humano.

Kally bufou.

— Eita, que essa Simone é uma baita biscate,


viu, porque me agrediu dizendo que ela que deveria
ser alfa e acasalar com Gael, agora é com Jonas.
Com quem mais ela trepava pra conseguir favores e

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ser alfa, hein? Aliás, por que ela não está mais
aqui? Deve estar com Jonas armando mais uma
emboscada — Kally disse e a loba rosnou furiosa.

A loba virou o bebê, que chorou e engasgou


porque seu peito estava oprimido e doeu a força
que a loba o apertou contra ela, com os dedos em
seu peito.

Ao ouvir o choro do bebê, um pequeno ser que


jamais deveria ser ferido, deveria ser protegido a
todo custo, Kally sentiu uma verdadeira fúria
crescer dentro dela. Não somente seu lado humano
e de mãe humana aflorou, assim como o lado
protetor e perigoso de sua loba, um que ela ainda
não tinha conhecido.

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Agora entendeu o que Ester havia lhe dito, que


ela teria fúria e força jamais conhecida e que
deveria dominá-la e usar com sabedoria.

Bem, naquele momento ela precisava das duas


coisas e era bem difícil de controlar o lado furioso.

Então, além de seu lado humano gritar pela vida


do bebê, a fúria de sua loba aflorou, o senso de alfa
se sobrepôs a tudo.

A loba cravou as unhas no bebê, que gritou de


dor e o sangue escorreu.

— Eis que os MacDowell ruirão, hoje.

Kally rosnou alto assustando a todos, que


estavam boquiabertos com a situação, seus olhos
cintilaram, suas garras alongaram e as presas

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aumentaram. Correu e saltou, tão rápida, que todos


mal viram seus movimentos, pois ela parecia ter
mais velocidade que qualquer outro lobo.

Ela aterrissou em frente à loba, com um tapa


rasgou seu rosto, que, assustada e sem ter tempo
para reagir, gritou pelo susto e pela dor e soltou o
bebê.

Rapidamente com uma mão Kally agarrou


Rafael, evitando que ele caísse no chão e com a
outra mão cravou as garras no peito de Van,
enterrando-a até o punho.

A loba arfou quase sem conseguir gritar, com


os olhos arregalados, de espanto e dor.

Penélope saltou e pegou seu filho nos braços.

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— Qual é o seu problema, sua retardada? Antes


que morra quero que saiba, eu sou a alfa e você
merece morrer pelos crimes que cometeu — Kally
disse entredentes, e zangada, para a loba que ainda
mantinha um fio de vida.

— Humana... é uma covarde — sussurrou, com


o sangue escorrendo pela boca.

— Da outra vez, eu corri, mas agora não mais.


Jamais permitirei que ninguém machuque um bebê
novamente.

Kally puxou a mão num solavanco e a loba caiu


morta, se virou para todos que olhavam a tudo,
aturdidos e jogou o coração que havia arrancado no
chão, aos seus pés.

O silêncio foi estarrecedor e nem Gael


acreditava no que estava vendo.
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— Eu sou a companheira de Gael, sou uma


MacDowell agora, sou sua alfa, e quem não estiver
contente, a porta da rua é a serventia da casa, saia
antes que eu mate cada um, porque jamais
permitirei que alguém que eu amo seja ferido
novamente, jamais permitirei que Gael seja traído e
ferido novamente por quem ele confia e nem que
alguém sequer com uma aura ruim toque em um
bebê de novo! — gritou. — Quando ele me contou
de sua alcateia, como era a vida dos lobos, como
cuidavam uns dos outros, eu fiquei encantada com
esta maravilha, eu realmente quis fazer parte disso.
Fugi uma vez, porque não queria que ele ou
qualquer um de vocês se ferisse por minha causa,
mas percebi que aqui é o único lugar que desejo
estar, o lugar que eu mereço, então vamos fazer
deste um lar digno para todos nós. Eu sou sua alfa!
Quem não aceita isso, pode me desafiar agora
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mesmo e me tirar o posto, mas nunca vai me tirar


do coração do seu alfa, porque sou sua
companheira de alma e fui escolhida por um deus,
então não pretendo ir a lugar algum.

O silêncio era tenebroso, ninguém respirou,


falou ou se moveu.

Então Kally não esperou o que eles fariam, ou o


que diriam, sua garganta embargou de emoção.

Ela se transformou em humana, na mais doce


mulher olhando para o pequeno que chorava no
colo de Penélope.

— Shhh, querido, está tudo bem, mamãe está


aqui, shhh... — Penélope tentava acalmá-lo,
nervosa e com os olhos cheios de lágrimas.

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O bebê estava com dificuldade de respirar e


isso apavorou Kally.

— Daniel! — Gael gritou.

— Onde está o médico? — Kally gritou indo


até eles.

— Ele não precisa de médico, querida, ele


precisa de suas mãos — Vanora disse se
aproximando.

Kally olhou aturdida para ela, que ergueu as


sobrancelhas e indicou suas mãos.

— O quê?

— Use seu dom, alfa. A ’toirt a-steach do


làmhan. Use a imposição de mãos e cure-o com a
energia vital.
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Kally ficou um tanto aturdida e todos a


olhavam em expectativa, ressabiados e nervosos.

Oh, aquilo era uma merda.

Ela entendeu que aquela era uma oportunidade


que Vanora sinalizava para demonstrar mais uma
vez ao povo de Gael que ela era uma loba, que se
importava e que tinha um dom de cura especial,
não era maldosa por ser uma bruxa, ou fraca por ser
naturalmente humana.

Era a oportunidade para reforçar suas ações


como uma alfa que cuidaria deles da maneira que
pudesse.

Kally foi até uma das mesas, com o braço jogou


toda a louça para o chão e limpou sua mão cheia de
sangue e nem ligou que seu precioso vestido de
noiva estava ensanguentado.
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Fez sinal para Penélope, colocou o bebê sobre


ela e sem pensar em mais nada, Kally colocou as
duas mãos sobre ele.

Ela respirou fundo, rasgou a blusinha do bebê,


expondo seu peito machucado e Penélope soluçou
de desespero.

Kally fechou os olhos, fez o ato Gassho de unir


as mãos e se concentrou na energia divina, então
esfregou as duas mãos e elas pareceram queimar
como fogo e as posicionou sobre o bebê, uma sobre
sua testa e outra sobre seu peito.

Começou a recitar suas orações e invocações,


para se conectar com a energia celestial, sem que
ninguém pudesse ouvir as palavras, e para espanto
de todos, as palmas de suas mãos brilharam com
luz, não era forte, mas claramente eram iluminadas.
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Todos se espantaram com o que estava fazendo,


pois nunca tinham visto tal coisa, mas ela não se
importou, sussurrava algo somente movendo os
lábios e o bebê, que parecia engasgado, estava com
o rosto vermelho, parou de chorar, se debateu um
pouco até se acalmar e parar de resmungar, então,
os cortes de seu peito se fecharam, deu um suspiro
profundo e se acalmou totalmente.

Kally respirou fundo, fechou as mãos em


posição, abriu os olhos e Penélope o pegou no colo,
o acocorou em seus braços com todo amor do
mundo, balançando-o suavemente e olhou para
Kally com os olhos arregalados e marejados de
lágrimas e assim o fez também Michel, abraçando
sua companheira e seu filhote.

— Obrigada, alfa.

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Gael estava aturdido, sem entender o que tinha


acontecido, sem saber exatamente como reagir, mas
estava impressionado com sua pequena mística, ela
era muito mais do que eles pensavam, e seu
coração transbordou de orgulho e amor por ela.
Forte e corajosa. Não vacilou nem um momento
para tentar salvar seu neto.

Confiou no seu poder e curou o bebê ferido,


diante de todos.

— Eu disse que ela era especial, ela tem o


poder de cura em suas mãos, essa luz que todos os
lobos puderam ver é invisível aos humanos, faz
parte da alma de lobo e poder de bruxa. Kally tem o
poder de canalizá-lo porque os chakras de suas
mãos foram totalmente abertos. Um humano
normal sentiria dor forte nas palmas, mas como ela
é uma loba, somente sente um formigar.

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— Como isso é possível? — Kally perguntou


aturdida.

— O que você ama fazer, alfa Kally?

Todos estavam espantados, pois a rainha mais


poderosa dos lobos aceitava a pequena humana e a
chamava de alfa, claramente feliz por ela ser
escolhida de seus alfas, por ser a tal companheira
de alma.

— Curar as pessoas.

Vanora sorriu.

— Então você foi abençoada, pois é exatamente


isso que pode fazer. Você sempre usou o Reiki e as
pedras para as suas curas, mas pode reforçá-las
agora e pode somente usar suas mãos. Elas podem
fazer milagres, pois a magia de loba multiplicou
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seu poder. Está totalmente aberta ao universo, está


totalmente forte para ser uma alfa. Mas como os
humanos não entendem tais poderes, sutilmente
usará o Reiki normalmente e as pedras em seus
chakras, pois é assim que entendem, mesmo
acreditando que tais coisas podem lhes ajudar, não
podem com um ato drástico como esse. E não se
enganem, lobos — disse se voltando para todos. —
Uma companheira de alma foi criada para os lobos,
os deuses presentearam com sua bondade, então um
lobo não poderá negar sua companheira. E seus
lobos não podem negar sua alfa, porque, vejam, ela
ama imensamente seu lobo e ele a ela. Nada é mais
forte do que isso, nada nunca será mais precioso.
Vivam em paz, sejam leves e nós estaremos sempre
com vocês, hoje e sempre. Nossa guerra foi há
muito tempo, não pertencem a vocês, nesse tempo.
Hoje, bruxas e lobos devem conviver em paz.

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Kally olhou para Gael, que a olhava


assombrado, então, ele lentamente sorriu e beijou
sua testa.

E se não houvesse mais nada que pudesse


espantar Gael, Gabriel se ajoelhou sobre o joelho
direito no chão com o punho fechado sobre o
coração e uivou.

E assim fez Pene e seu companheiro e um a um


fizeram o mesmo.

— O que estão fazendo, Gael? — ela sussurrou.

Gael sorriu e a olhou.

— Estão a honrando, Kally, como sua alfa,


estão lhe dando sua lealdade.

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Kally sentiu os olhos marejarem e viu os lobos


da alcateia de Gael honrá-la. Não podia acreditar
quando Gael ajoelhou-se e com a mão no coração
uivou.

Ela estava tão emocionada e feliz que não


poderia acreditar em tal coisa. Depois de tudo,
agora ela se sentia realmente aceita na alcateia.

— Ah, o mundo dos lobos realmente me


espanta, nunca vou me cansar de ver isso — Ester
sussurrou e olhou para Noah, que riu.

— Está contente, companheira?

— Sempre, meu amor.

Gael os olhou e sentiu muito orgulho de si e de


seus lobos. Ele tinha conhecido o que era
felicidade, a perda e a luta, e sabia que eram
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abençoados por ser quem eram.

Sua alcateia era pequena, mas forte, e soube


que seus lobos não seriam bobos de se voltar contra
ele, porque sempre fez de tudo por eles. Eram mais
que uma alcateia, com alfa e subordinados, eram
amigos. E seus inimigos? Ah, ele ainda os pegaria e
os traidores? Cairiam, um a um.

E quando olhou para os lobos de outras


alcateias e para o séquito do rei, ele soube que tinha
verdadeiros amigos e que sempre poderia contar
com eles, assim como ele estaria ao lado deles, se
precisassem.

— Hum... Majestade, ela está com aqueles


olhos de novo e está sussurrando algo que não
entendo, mas sinto uma onda de terror — Kira
disse.

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Os olhos de Yasmin voltaram de branco para


verdes novamente, assustando a todos.

— O que há, Kira? Yasmin? — perguntou


Erick aflito.

— Oh, oh! Tarde demais... — Kira sussurrou


com os olhos arregalados.

Então, de repente, ouviram estrondos fortes que


fizeram a casa tremer, que feriu seus ouvidos
sensíveis e o inferno desatou.

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Gael estava abraçado a Kally e olhou ao redor


para ver o que estava acontecendo.

— Que porra é essa? — Gael gritou.

Houve mais um grande estrondo que fez tudo


tremer.

— Parecem explosões, mas não é na


propriedade, parece mais afastado.

— Gabriel, descubra o que está acontecendo!

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— Tarde demais... — Yasmin sussurrou e sua


mãe a acalmou.

Gael olhou para Gabriel e ele estava ao telefone


com os olhos arregalados.

Ele desligou o celular num baque e rosnou.

— Uma barragem explodiu.

— O quê?

— Sim e toneladas de rejeitos, lama e água está


descendo montanha abaixo no Vale das Pedras e
vai soterrar tudo o que tenha pela frente.

— E o que tem pela frente? — Kally perguntou


assustada.

— Uma comunidade.

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— Oh, meu Deus! O que podemos fazer?

— Soem o alarme! As pessoas precisam sair de


casa e dos estabelecimentos agora! Lobos, peguem
as caminhonetes e caminhões, tentem tirar o
máximo de pessoas e animais possíveis. Douglas,
pegue o helicóptero!

— Como que pode uma barragem arrebentar


dessa maneira, sem nenhum aviso? As vistorias não
estavam em dia? Ninguém viu o risco? E faz esse
barulho?

— Todas as nossas barragens são vistoriadas


regularmente. Gael é rigoroso com isso. Jamais
permitiria um desastre ecológico como esse —
Gabriel disse.

— Então?...

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— Então fomos sabotados. As explosões não


são do rompimento, são de dinamites. Alguém
explodiu a barragem de propósito.

— Quem faria tal coisa? — Kally perguntou


horrorizada.

— A mesma pessoa que têm nos infernizado


nas últimas semanas: Jonas.

Kally olhou Gael com os olhos arregalados.

— Temos que evacuar as casas, tirar as pessoas,


os animais! Parar isso de correr!

— Não há nada que possamos fazer para parar


o rejeito e impedir que destrua tudo. São toneladas
de terra, refeitos e água, vai matar tudo o que
encontrar pela frente; e, quando chegar ao rio, vai

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contaminar toda a vida marinha, além da flora e


fauna e podemos perder muitas pessoas — Gabriel
disse.

— Não pode fazer nada — o ancião disse.

— Vai matar tudo e a alguns quilômetros daqui


há outra comunidade, se ela descer até lá será uma
catástrofe! — Gael gritou com raiva. — Faremos
tudo o que tiver ao nosso alcance.

— Não devemos ir! — um lobo gritou.

— É perigoso, se mostrarmos quem somos eles


nos verão, alfa!

— Não podemos nos mostrar para salvá-los.

Gael engoliu em seco e pensou um minuto e


olhou para seus lobos.
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— Eu sei, mas não podemos ficar parados aqui.

— Depois do que os humanos fizeram à nossa


família, depois do que você sofreu naqueles
laboratórios, vai arriscar sermos descobertos por
causa dos humanos? — Douglas perguntou.

— Somos mais importantes! — um lobo gritou.

— Não podemos nos mostrar aos humanos! —


disse outro.

— Nos prenderão e seremos torturados como a


alcateia de Noah foi, como o senhor!

Gael olhou a todos, que o olhavam


amedrontados, e pensou e respirou fundo. Ninuém
o ajudaria naquilo.

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— Entendo o medo de vocês e não os obrigarei


a irem. Mas aquelas pessoas, mesmo não sendo
lobos, são meu povo, sou responsável por eles. Eu
entendo que não queiram se arriscar, mas eu irei,
mesmo sozinho, pois é meu dever e minha
consciência não permite que eu fique aqui e deixe
aquelas pessoas morrerem sem fazer nada, por
minha causa. Eu irei sozinho e arriscarei e farei o
que puder. É melhor tirar seu séquito daqui, meu
rei, assim estarão seguros. Noah, volte para a sua
ilha, não quero que corram nenhum perigo aqui,
mais do que já correram. Você também, Harley.

Houve um silêncio absurdo e ninguém disse


uma palavra ou se moveu.

Kally foi até ele e segurou sua mão.

— Eu irei com você.

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Gael a olhou surpreso, mas seu coração inflou


de forma absurda. Como sentiu orgulho dela.

Todo mundo se espantou e olhavam de um a


outro.

Então, para o espanto de muitos, Clere foi até


ele.

— Vou te ajudar, primo.

— Prefiro que fique segura, Clere.

— Não há nenhum lugar seguro nesse mundo.


Se necessita de minha ajuda agora, ajudarei.

Todos arfaram estupefatos.

— Também ajudaremos — Noah disse sério, de


mão dadas com Ester, que assentiu firmemente.

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Erick e Kira concordaram vindo à frente, e


assim veio um e mais um, o que espantou Gael,
mas não estava em condições de cerimônias ou
recusar ajuda.

— Talvez possamos ajudar — Kayli disse com


firmeza.

Todos se viraram e olharam para os reis.

— Talvez minha magia possa ajudar em algo.

— Não tenho usado meus poderes de


semideusa, mas talvez eu possa ajudar — Pietra
disse vindo à frente e Harley rosnou assentindo.

Maddox, que estava em sua forma de homem,


de repente seus olhos cintilaram ficando mais azuis
anil e suas imensas asas brancas se abriram.

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Todos saltaram e ficaram embasbacados o


olhando.

— Ai, meu Deus! Um anjo?! — Kally gritou.

— Oh, Senhor, eu morri e não vi, que céu


bendito — sussurrou Daniele em choque. — Está
vendo o que estou vendo, tia, ou estou sonhando?

— Estou vendo... — Caroline respondeu


embasbacada.

Maddox sorriu, olhando-as, o que o deixou


mais deslumbrante.

— Não sou um anjo, sou um shifter de águia,


mas posso ajudar.

— Uai, nunca ouvi falar que existia tal ser.

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Então, seus lobos assentiram vendo que era o


certo a fazer e vieram à frente.

— Está certo, alfa, ajudaremos, este é nosso lar


e devemos protegê-lo e aos humanos também —
Gabriel disse.

Gael olhou a todos e sentiu mil sensações e


sentimentos juntos.

Aquilo era incrível e não podia acreditar que


todos estavam se oferecendo a ir ajudar, mesmo
correndo perigo.

O sentimento de lobo cresceu dentro dele e se


sentiu cheio de esperança e revigorado e Kally
sorriu apertando sua mão.

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— Bem, Maddox, é uma grata surpresa para


nós conhecermos alguém de sua espécie, mas
agradecemos sua ajuda, pois agora necessitamos
tudo o que pudermos usar — Gael disse.

Ele assentiu, se transformou em águia, o que


espantou a todos novamente, e saiu voando pela
janela.

— Precisaremos de toda a ajuda possível e não


podemos perder mais tempo, pois a lama será
rápida. Usaremos bem, beta Pietra, não sei como
podem parar o rejeito, mas qualquer coisa que
possam fazer será bem-vinda. Temos que tirar
aquelas pessoas de lá. Lobos, evacuem a
comunidade! Agora! Daniel! Preciso que vá para a
clínica e alerte o hospital, caso haja vítimas. Quero

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uma equipe médica preparada. Valham-me que


possamos salvar estas vidas. E eu acabarei com a
raça deste lobo desgraçado.

Enquanto os lobos corriam para os carros,


caminhões e caminhonetes para socorrerem as
pessoas, Vanora, Kira e Pietra desapareceram.

Os lobos não demoraram em chegar ao vilarejo


no Vale das Pedras, pois era próximo ao
condomínio, retirado da cidade, que não seria
atingido por ficar no alto do monte.

Eles viram o pandemônio que tudo se


encontrava. A sirene ainda tocava e as pessoas
corriam para tentar sair de suas casas. Crianças
gritavam assustadas.

Alguns lobos na sua forma animal tentavam


espantar os animais correndo para que se
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salvassem: vacas, cachorros e gatos e outros


animais, impulsionando-os para que subissem as
colinas. Em forma humana corriam gritando para
que as pessoas fugissem, pois a água logo chegaria,
foram abrindo porteiras e espantando os animais
presos.

Alguns corriam assustados pela visão.

Outros lobos que estavam na mineradora, onde


ficavam os prédios e escombros, em forma humana
gritavam para que saíssem.

A água chegou ao vale e começou a cobrir tudo


e derrubar o que estava na sua frente.

E os lobos tentaram forçosamente tirar as


pessoas que não tiveram tempo de correr.

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Olhando a cena horrenda que se montava, Kally


xingou, agarrou a barra de seu vestido de noiva e
com um puxão o rasgou até as coxas, pois
precisava de movimento. Saltou pelo barranco e
agarrou duas crianças, uma em cada braço, e
rosnando pela força, subiu correndo o monte e as
colocou ali.

— Mamãe! — gritou a menina vendo sua mãe


ficar para trás.

— Segure-a aqui, buscarei sua mãe!

Kally saltou morro abaixo novamente e agarrou


a senhora que tentava levar várias sacolas. Ela
agarrou as sacolas de suas mãos, girou e as jogou
caindo perto das crianças. Olhou e a água se
aproximava delas e uma árvore enorme tombou e
girou sobre elas.

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A mulher gritou, desesperada, escorregou na


grama e rolou morro abaixo, trombando contra os
entulhos e a árvore.

— Merda! — Kally gritou, respirou fundo e


saltou caindo sobre a árvore agarrou a mulher que
era pequena e magra, a jogou sobre seus ombros e
usando toda sua força saltou para a margem e
correu morro acima, e deixou a mulher no chão,
que a olhou com os olhos arregalados.

— Vai, corre, precisam sair daqui, a água vai


subir e não estarão seguros.

Um dos caminhões carregados de pessoas havia


ficado atolado ao tentar subir o morro, sem
conseguir sair, e a lama tóxica estava se
aproximando.

Os gritos e desespero das pessoas fizeram Gael


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e Gabriel correr até eles.

Tentaram empurrar o caminhão, mas era pesado


e estava atolado demais, e não conseguia subir o
morro. Rosnaram e tentavam erguer sua caçamba,
mas mesmo com sua força bruta, era pesado
demais.

Então Clere e Aaron apareceram ao lado deles e


com suas forças descomunais, ajudou-os e
levantaram o caminhão e o empurraram para frente
até engatar para saírem em toda velocidade que
podia.

Clere saltou do morro num salto


impressionante, espantando a todos e bateu contra
um bloco de concreto quebrado, provavelmente de
uma parede de uma casa, que descia com a água.

Rosnou ao tombar sobre a onda, só então Gael


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percebeu o que ela estava tentando fazer, tentando


alcançar a mão de uma pessoa que estava submersa
e descia com o turbilhão de água.

— Clere! — Aaron gritou e saltou, mas ele não


conseguiu alcançá-la e, então, ela se jogou na lama
atrás da moça e afundou. — Clere!

Aaron tombou com o bloco batendo num


bocado de entulho que acumulou numa borda e
com isso se afastou dela e, quando pensou em pular
atrás deles, ela emergiu agarrada a uma jovem.

Ele olhou para o céu ao ouvir o grasnar de uma


águia. Era Maddox. Ele desceu num rasante do céu
e quando chegou sobre Clere, que lutava
fortemente em deixar a moça com a cabeça fora da
água, mesmo sendo engolidas pela onda, ele se
transformou na sua forma Dhálea, pairou sobre

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elas, com suas belas asas brancas, mergulhou os


braços na lama e as agarrou. Com o bater das asas e
sua força tirou-as da lama, sobrevoou e levou-as em
terra firme e Aaron correu até elas para ver se
estavam bem.

Clere arfou e limpou os olhos e viu no último


minuto Maddox se transformar em águia e voar
para longe e ela torceu para que ninguém o tivesse
visto, grata pela ajuda e ficou feliz que a moça
estava viva. Então, Aaron pegou a moça no colo.

— Vamos, Clere, precisamos descer a encosta.

Ela assentiu e correu com ele, até encontrarem


um carro onde colocaram a moça para ser atendida
e rumaram para, mais abaixo, alertar as pessoas e
continuar os resgates.

Ao ver a onda de lama que atingia as casas,


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Gael pensou que não seria o suficiente, tudo estaria


soterrado em minutos. Pessoas morreriam.

Então, assombrado, ele olhou para um dos lados


do morro e viu pedras gigantes serem deslocadas da
montanha e descerem ladeira abaixo. As pedras
bloquearam a lama de atingir um prédio, com um
desvio.

Mas o assombro não foi as pedras conseguirem


tal feito, foi ele avistar a bela companheira de Nico
Papolus, Pietra, no topo do morro.

Ele tinha duvidado que aquela mulher era uma


semideusa, mas a vendo causar uma avalanche de
pedras, que nem um lobo conseguiria mover, trouxe
a certeza.

Nisso outra coisa chamou sua atenção, Kally


correndo em direção à onda que vinha rolando
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montanha abaixo.

— Merda!

Então ele correu o mais que pôde.

Kally saltou sobre um monte e avistou a lama


descendo e temeu pela vida do senhor.

— Oh, meu Deus, não vai dar tempo...

Ao longe Kally avistou a lama soterrando uma


casa e depois outra e as pessoas correndo de um
lado a outro, tentando correr com seus veículos.

Mais distante, ela avistou a casa que ficava um


pouco mais no alto, mas a onda chegaria.

— Seu Antônio!

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Kally não pensou duas vezes e correu o mais


rápido que pôde. Usando a velocidade de sua loba,
chegou a casa. Ela saltou sobre os galhos de uma
árvore e sobre outro tronco quebrado e, num
impulso, saltou no telhado, pois a lama estava
encobrindo a porta e as janelas e começava a
tombar a casa, a sorte é que a água não estava
batendo em cheio, mas estava subindo.

A madeira era velha, então a lama não estava


encontrando nenhuma dificuldade de derrubar tudo.
Ela rosnou alto, arrancou as telhas e olhou dentro,
pois o forro já havia cedido.

— Seu Antônio! Está aí?

Ela ouviu um gemido e saltou para dentro, suas


pernas afundaram na lama e foi tirando os paus e
móveis quebrados. Era difícil de mover, então

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rosnou e saltou sobre a estante da sala.

— Seu Antônio!

— Aqui...

— Merda...

Ela saltou sobre o sofá e para trás dele e o


empurrou com força, ele estava preso embaixo, sua
cabeça sangrava e a lama estava o encobrindo.

Rosnou e jogou o sofá longe e o agarrou.

— Eu o peguei, o peguei!

— Não vai conseguir me tirar daqui... fuja


rápido antes que seja tarde demais.

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— Não vou deixar o senhor aqui, se agarre em


mim!

O senhor agarrou seu pescoço, mesmo ferido e


fraco.

Ela rosnou tentando sair da lama, mas seu corpo


também parecia pesar uma tonelada, movimentar-
se estava difícil e a lama estava subindo, descendo
fazendo os móveis e madeiras rolarem como um
triturador. A casa rangeu e mais uma parte das
paredes e teto cederam.

Kally usou toda sua força se agarrando numa


árvore que havia entrado casa adentro e ia levando
tudo pela frente, subiu e se agarrou nas vigas do
telhado.

Gritou ao sentir suas pernas serem tragadas e se


agarrou na viga com toda força enquanto com o
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outro braço agarrava fortemente o senhor.

A casa tombou de vez e a lama os cobriu. Kally


sentiu o pânico quase tomar conta, mas não deixou
de lutar e tentar deixar o senhor fora da lama,
puxou ar e afundou, sua mão soltou da viga e
tentou agarrar em algo.

Em um último momento, em uma última


tentativa, então ela fez toda força que tinha, pois
pôde ouvir em sua cabeça os gritos de Gael, em um
impulso, ela colocou a mão para fora da lama e
sentiu alguém agarrar sua mão e a puxar.

Sem poder ver nada, somente sentindo, num


solavanco ela foi retirada da lama e carregada,
sentiu os baques de algo batendo neles, um salto,
outro salto e um baque forte, que a fez perder

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completamente o ar e tossir. Não podia ver nada,


mal conseguia respirar, mas sabia que ainda tinha o
senhor em seu agarre.

Gael passou a mão em seus olhos e em seu


rosto, retirando a lama e, aturdida, ela o viu sobre
ela, estava cheio de lama, e na sua forma humana.

Ela gritou e o abraçou desesperada, pois se ele


não tivesse chegado a tempo estaria morta debaixo
de toda aquela lama.

— Gael!

— Dizem que lama faz bem para a pele,


Pequena, mas não essa.

Ela riu, nervosa, e arfou olhando ao redor.

— Seu Antônio!
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Ela rastejou até o senhor, que estava deitado no


chão e tirou a lama de seu rosto e ouviu sua
respiração.

— Seu Antônio...

— Hum... — resmungou beirando a


inconsciência.

Gael o pegou no colo.

— Corre, Kally, precisamos sair, a lama está


tomando tudo.

Eles correram para cima das colinas e ele


colocou o senhor no chão.

Ao ver o seu helicóptero sobrevoar, ele uivou,


alertando Douglas que pilotava o aparelho.

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O helicóptero deu a volta e baixou e outro lobo


saltou com uma maca atrelada a um cabo de aço e
eles colocaram o senhor nela e levantou voo.

Então Gael arfou com o baque de um lobo que


saltou sobre ele e Kally gritou pelo susto e medo.

Gael rosnou, levantou e se virou e ficou furioso


ao ver quem era o lobo.

— Você, maldito!

O lobo sorriu e Kally sentiu raiva e medo ao


mesmo tempo, o maldito do hospital estava ali
depois de tudo o que tinha feito: Jonas.

Ficou furiosa e rosnou para ele, que riu dela.

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— Sempre soube que humanas eram fracas,


mas devo concordar que você me surpreendeu de
ter voltado e se tornado alfa, pena que não durou
nem um dia, mas fico até contente, porque está aqui
para testemunhar a morte do seu companheiro.
Quem sabe depois, eu possa te fazer minha
companheira. Adoraria te ter em minha cama.

— Vai sonhando, nojento!

— Vou estripar você, Jonas — Gael disse.

— Não é páreo para mim, esperei muito tempo


para ter este momento.

— Por que esperou?

— Vingança é um prato que se come frio.

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Gael bufou e rosnou, transformando-se na sua


forma Dhálea.

— Já causou estragos demais aqui, pária! Agora


matarei você.

O lobo rosnou e saltou sobre Gael, que o


agarrou no ar, rodopiou e tombou sobre ele no
chão, cravando suas garras em suas costelas.

Kally viu, horrorizada, uma sucessão de socos,


golpes, arranhões cortes profundos.

O lobo era menor que Gael em estatura, mas


mais musculoso, mas seu alfa era rápido e seus
golpes violentos e mortais.

Jonas bateu em seu peito e Gael voou longe,


bateu contra uma árvore que se partiu, fazendo voar
pedaços.
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Ele saltou ficando em pé, agarrou um tronco


arrancando suas raízes e jogou contra ele, que voou
longe e rolou pelo mato.

O peito de Jonas estava estraçalhado e ele


rosnou pela dor, mas rosnou com fúria; e
arreganhando os dentes, saltou e no meio do
caminho, no ar, se transformou em lobo e caiu
sobre Gael mordendo-o no ombro, fazendo o
sangue jorrar.

Kally gritou horrorizada, mas Gael socou sua


cara, fazendo-o soltá-lo e gritou pela dor, mas isso
somente lhe deu mais impulso e raiva, socou o lobo
uma e outra vez, que Kally podia ouvir o estalo dos
ossos quebrando e jogou o lobo longe.

A lama se aproximava do morro onde estavam


e Kally olhou horrorizada.

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— Gael!

Ele rosnou, levantou e colocou toda sua força e


sua fúria aflorada, porque não tinha tempo para
aquilo.

— Não pode me vencer, idiota.

— É o que veremos.

Pietra subiu no morro de pedras, fechou os


punhos e respirou fundo, juntando toda sua força.

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Ela não sabia como fazer exatamente, pois


somente havia usado sua força de semideusa uma
vez, quando destruiu o templo das Górgonas com
os punhos, fazendo os pilares e paredes de mármore
ruírem.

Rosnou alto, juntando com a força de sua loba,


seus olhos cintilaram e brilharam como um feixe de
luz e ela começou a esmurrar as rochas gigantescas,
partindo-as, e Harley, ao seu lado, as empurrava
morro abaixo, tentando formar uma represa. E, de
forma impressionante, todos viram o grande feito.

Aquilo era mais do que os lobos podiam


imaginar, era incrível e indescritível, tanto que até
Harley estava aturdido, mesmo já tendo a visto
fazer algo semelhante.

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Kayli e Aaron se juntaram e com sua força


descomunal, tentavam fazer descer a montanha,
não somente as grandes rochas, mas a terra e tudo
que havia nela.

Enquanto isso, Vanora e Kira apareceram do


outro lado sobre uma montanha alta e olharam de
cima a gigantesca catástrofe.

— A barragem que eles estão fazendo está


ajudando, mas não será o suficiente — Kira disse
assustada.

— Então, minha nora, é hora de agirmos.

Kira assentiu.

— O ddŵr i garreg. Da água à Pedra. —


Vanora disse erguendo as mãos em direção à onda
de lama e Kira começou a recitar junto com ela. —
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O ddŵr i garreg...

Vanora movimentou as mãos e ela e Kira


desapareceram e reapareceram metros abaixo, antes
do volume chegar.

— Precisamos parar a água completamente!


Vamos juntas, Kira!

E assim elas fecharam os olhos, abriram os


braços e começaram a recitar um antigo feitiço de
elementos.

As grandes rochas e terra que os lobos faziam


desmoronar, como uma grande avalanche, começou
a se chocar com a água lamacenta, já cheia de
escombros de tijolos e madeira do que tinha
derrubado, e começou a causar algum efeito, mas a
água possuía uma força descomunal pelo volume.

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Estupefatos, todos viram a água parecer mais


densa, rolar mais devagar e parar, mas ainda se
movimentava em um turbilhão lento. Era como se
um grande paredão invisível tivesse se erguido do
chão e fazia a água lamacenta bater e ricochetear,
sendo impedida de passar dali.

Elas esticaram os braços para frente segurando


a magia e isso precisava de grande força mental e
estava as cansando.

Pietra e o rei saltaram para onde elas estavam e,


estupefatos, viram a parede de água, perfeitamente
reta, subir mais e mais.

— Pelos deuses — Kayli sussurrou espantado e


Gael e seus lobos olhavam a tudo com os olhos
arregalados.

— Pietra, use seu poder para transformar a água


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em pedra! — Vanora gritou.

— A água? Não sei se posso fazer isso.

— Tem o poder de uma Górgona em você,


pode petrificar uma pessoa, mas unindo seu poder à
minha magia podemos tentar petrificar a corrente
de lama, seu poder junto com o meu parará isso de
uma vez. É nossa única alternativa para que a água
pare e não avance mais. Faça, agora! Não temos
mais tempo, não conseguirei segurar mais tempo!

Pietra não perdeu tempo e, mesmo amedrontada


com a visão aterradora, com a montanha de água
que já subia em mais de quatro metros do chão,
tocou suas duas mãos na água lamacenta enquanto
Vanora e Kira recitavam outro feitiço para conter a

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fúria do rio e transformá-lo. Se não funcionasse


rápido, a barreira de magia se romperia e a água as
engoliriam.

Uma luz começou a circular nas mãos de Pietra


e em minutos a minutos, o grande rio de lama
tóxica foi mudando de cor e ficando mais marrom
acinzentada e solidificando.

Aturdidos, espantados e cansados, e alguns


feridos, mas revigorados pela esperança, viram o
rio parar de correr e movia-se em forma de
redemoinho evitando escorrer mais e a lama se
perdeu na corrente entre as montanhas e o vale e
tudo virou um grande bloco duro de pedra.

Vanora e Kira usavam de todo seu poder. Os


ventos agitaram-se pelo Vale, sua voz encontrou
um tom alto e melódico atordoando tudo ao redor

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até que a magia forte e poderosa tomou conta do


lugar. Até a lama ficar completamente densa e
parar de correr, presa na barragem feita de pedra e
terra.

Elas abriram os olhos e cansadas cessaram e


viram o resultado de sua magia e Pietra levantou e
observou ao longe o rio de pedra.

Com outra magia, Vanora abriu os braços e as


pedras e a terra tremeram e se solidificaram,
formando outra barragem de terra e pedras, onde
ocultaria a parede, pois assim os humanos não
veriam o bloqueio e o paredão de lama petrificada
ali, causando muito estranhamento. Já seria difícil
explicarem como a lama havia se tornado pedra.

Ela cessou e caiu de joelhos, pois estava


esgotada. Kayli saltou e a pegou no colo.

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— Está bem, Vanora?

— Oh sim, estou bem, só cansada.

Ele rosnou.

— Conseguimos.

Vanora respirou fundo.

— Juntas nosso poder fica mais forte. São


valiosas, lobas.

O helicóptero de Gael sobrevoou sobre suas


cabeças, pois levava sobreviventes e de cima pôde
contemplar o que havia destruído e como havia
ficado.

— É hora dos lobos se retirarem.

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— Kira, pode ver se há pessoas desse lado que


precisamos resgatar? — Erick disse.

Ela fechou os olhos e passou a mão lentamente


pelo ar. De um lado a outro.

— Não, não há ninguém, alguns animais que


não puderam sair, nenhum humano.

Erick respirou fundo, cansado e estava cheio de


lama.

Era assustador e ensurdecedor, pois a maldita


sirene ainda tocava e Vanora sussurrou uma palavra
e ela parou, pois seus ouvidos zuniam e doíam.

— A senhora está bem?

Vanora ao longe avistou outro helicóptero.

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— Sim, precisamos sair, os humanos da cidade


estão chegando, muitos já viram os lobos. Estamos
em perigo aqui. Já fizemos o que podíamos.

Olharam para a águia que gritava no céu e


desceu e jogou algo em seus pés: telefones.

— Erick, peguei estes telefones que encontrei


pessoas filmando. Não consegui ver mais ninguém
— Maddox disse e eles o ouviram em suas cabeças.

Erick xingou e juntou três celulares que


estavam espatifados no chão.

— Obrigado, Maddox, isso nos ajuda muito.

A águia gritou e tomou voo pelo céu


novamente.

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— Kira, precisamos de outro grande feitiço


para tirar todos daqui. Mais um minuto e será tarde
demais.

Kira assentiu rapidamente e olhou ao redor.

Nisso, Gael uivou alto e forte que ressoou pelo


vale e todos os lobos arregalaram os olhos e, após
ouviram o uivo do alfa, avisando sua alcateia que
estava sendo desafiado por Jonas.

— Puta que pariu! — Noah rosnou.

— Oh, Deus, e quando pensamos que


consertamos algo vem mais essa — Kira disse.

Vanora, juntamente com Kira, sussurrou seu


encanto e num minuto os lobos estavam espalhados
pelo Vale e pelas montanhas; e no outro, todos

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estavam num campo de uma área privada, dentro


do condomínio dos MacDowell, onde não havia
nenhum humano por perto.

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Os lobos estalaram e apareceram no lugar e


olharam perplexos e aturdidos ao redor, sem saber
como haviam parado ali. Até verem os reis e
entendendo que havia sido mais uma magia usada
pelas bruxas.

E para não deixar nada acalmá-los viram seu


alfa, Gael, Jonas e Kally.

Eles rosnaram zangados vendo seu inimigo e


vários lobos comparsas dele estavam entre eles.

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Os lobos rosnaram e atacaram e os lobos de


Jonas no total de seis lobos, conheceram a fúria de
uma alcateia.

Os lobos de Gael podiam ser sempre gentis e


pacíficos, mas naquele momento estavam muito
zangados e os lobos quase não tiveram tempo para
revidar ou se proteger.

Gael saltou e com um solavanco arrancou a


cabeça de um dos lobos que rolou pelo chão.

Gabriel chutou outro no estômago, que voou


longe e caiu rolando pelo chão, mas quando
levantou, Noah cravou suas garras em sua garganta,
com um rosnado animalesco e cheio de ira,
deixando-o morto.

Kayli agarrou um que havia saltado sobre as


lobas, mas não teve êxito, pois o rei foi mais
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rápido, o segurou com uma mão e com a outra


cravou em seu peito e um lobo estraçalhado caiu.

Outro teve a garganta estraçalhada e outro


derrubou Michel arranhando violentamente seu
peito com suas garras, mas Gael rosnou furioso por
terem ferido seu genro e saltou sobre o lobo com
tanta fúria, cravando as mãos em suas costas e
dando um puxão tão violento, que as costelas foram
separadas da espinha e abriu no meio e o corpo se
partiu em dois.

Kally gritou assustada por isso, porque o


homem estava bem na sua frente e muito sangue
respingou sobre ela.

Horrorizada, ela viu o cadáver na sua frente e


lhe veio a imagem do seriado Vikings onde eles
matavam o inimigo com o ritual Águia de Sangue e

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ela colocou a mão na boca para não vomitar porque


ficou com o estômago embrulhado.

Gael rosnou alto ao ouvir tiros de um lado a


outro e soube que eram os lobos da guarda de seu
condomínio que deveriam estar impedindo algum
lobo de Jonas de entrar.

Todos os lobos foram mortos e dois presos e


imobilizados e colocados de joelhos, gravemente
feridos, e Jonas observou seus homens serem
derrotados.

Gael o olhou com fúria.

— Agora é sua vez, maldito, vou arrancar todas


as suas costelas pela boca.

— O derrotarei e esta alcateia será minha e


todos seus diamantes e ouro.
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— Eu deveria ter matado você quando matei


seu pai, aquele traidor do inferno.

Jonas rosnou furioso.

— Seu pai era um imbecil e eu esperei por


muito tempo para poder te matar.

— E por que não tentou antes?

— Porque eu estava me divertindo. Este Vale


será meu.

Gael rosnou, transformou-se na sua forma


intermediária e saltou mais de dois metros de altura
e caiu sobre Jonas que tentou perfurá-lo com suas
garras, mas Gael foi mais rápido, bloqueou o golpe
e derrubou-o no chão.

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Jonas arfou pela dor e rosnou, bateu nele


derrubando-o e ele rolou pela grama, saltou e caiu
em seus pés, rosnando furioso. Soltou golpes
rápidos, direita, esquerda e Gael desviava, e
golpeava de volta. Um golpe baixo e com as garras,
Jonas rasgou suas costelas.

Gael rosnou pela dor e revidou, saltou sobre


Jonas e eles rolaram pelo chão, com golpes,
arranhados e mordidas.

Kally arfava desesperada vendo tal luta, pois


jamais imaginou presenciar tal coisa na vida e
estava temerosa pelos ferimentos de Gael. Ele era
forte e podia ver que bem mais que Jonas.

Ele estava cansado, mas rosnou em toda sua


fúria e iria acabar logo com aquilo. Sua raiva havia
lhe dado muito mais força que impulsionava seu

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lobo, seu lado alfa.

Gael deu um revide de um golpe atrás do outro,


rasgou seu braço, depois suas pernas, deslizou pelo
chão e com suas garras dilacerou atrás do joelho
rompendo seus tendões e Jonas caiu sobre um
joelho, rosnando alto. Tentou levantar, mas o alfa
saltou em suas costas e rasgou sua garganta com as
garras, saltou sobre ele ficou o olhando, ofegante.

Jonas tentou se mover, rosnar ou falar, mas


sangue escorria de sua garganta, de sua boca, e
olhava para Gael com os olhos arregalados.

— Sua ilusão de ser alfa sempre foi coisa da


sua cabeça, você não tem honra, pois colocou a
vida dos lobos e de humanos em risco por querer
meu poder, assim como fez seu pai. Ficou me

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observando por tanto tempo e não reparou que aqui


eu sou o mais forte, e não haveria nada que fizesse
que pudesse me derrotar. Nunca.

— Mal... dito...

Gael girou e com uma patada bateu ao lado de


sua cabeça, que saltou longe, e seu corpo caiu,
inerte. Rosnou alto, com toda sua força, ignorando
a forte dor de seus ferimentos e de seu cansaço.

Todos rosnaram para seu alfa, como o


vencedor.

Kally estava toda cheia de lama, descalça e seu


vestido de casamento totalmente arruinado, mas
não importava, somente queria abraçar Gael e que
aquele pesadelo todo acabasse.

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Saiu do torpor em que se encontrava e correu


para abraçá-lo para aliviar seu temor e sua angústia
e para ajudá-lo em seus ferimentos, mas antes que
alcançasse Gael, algo bateu nela com tamanha
violência que pensou que todo seu lado direito
havia sido quebrado.

Ela caiu rolando no chão e gemeu, tentando


recobrar o ar.

O rosnado de Gael foi tão alto que pensou que


além de tudo seus tímpanos, que zuniam, haviam
arrebentado.

Todos olharam aturdidos e rosnaram para


Simone, que estava em forma de loba e rosnava
para Kally tombada no chão.

Gael rosnou louco em fúria e a loba o olhou


tranquilamente.
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— Simone! Perdeu sua fodida cabeça? O que


pensa que está fazendo? — Gael gritou segurando
para não saltar sobre ela e matá-la e fazer uma
paçoca de loba. Nunca bateu numa mulher, mas
jurou que mataria aquela loba.

— Eu desafio sua falsa loba pelo posto de alfa.

Todos arfaram e olharam uns aos outros e


Kally, gemendo, tentou se levantar e, tonta, se
ajoelhou.

Mas que merda, tinha ouvido direito? A


monstra perua estava a desafiando? Era só o que
faltava.

Kally gemeu e colocou a mão na barriga, que


doía, achava que suas tripas estavam do lado de
fora.
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— Está louca? Kally não vai lutar com você —


Gael disse furioso.

— Eu a desafiei, é a lei dos lobos, ela deve


aceitar o desafio ou automaticamente perde seu
posto de alfa, nenhuma alfa pode ser fraca para
negar tal coisa. Não pode proteger sua humana
ridícula agora.

— E pensa que se matá-la eu a tomarei como


minha companheira?

— É a lei. Quem ganha o desafio ganha o


posto.

— Bem, e o que te faz pensar que eles te


amarão e respeitarão como a alfa deles, hã?

— O farão.

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— Deita e morre, perua, jamais será minha alfa


e nem de ninguém aqui — Penélope disse zangada
e mais ninguém disse uma palavra.

— Que se foda a lei, vou matar você por ter


ferido minha companheira.

Simone riu.

— E vai fazer isso agindo covardemente


matando uma loba aqui, na frente de seus
convidados e dos reis? Acho que não.

— Não preciso de mais nenhum motivo além


desse, mas posso acrescentar que estava
mancomunada com Jonas para toda esta desgraça.
Colocou não somente nossa alcateia em perigo com
a barragem, mas também os humanos, pois alguns
nos viram!

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— Não fiz isso, mas foram estúpidos em se


mostrar, com a nobre tarefa de salvar os humanos.
Se tivessem os deixado morrer, não teriam sido
expostos.

— Isso mostra o quanto não serve para ser alfa.

Kally levantou e observou tudo, ninguém disse


uma palavra e ela não entendia todas as leis dos
lobos, pois ainda estava aprendendo, só o que sabia
é que era muito menor que Simone.

Droga, ela estava fodida!

— Vai desonrar sua humana bruxa e fraca ou


vai permitir que morra com um pingo de dignidade,
alfa?

— Não permitirei esse desafio.

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— Gael, está tudo bem — Kally disse.

Todos olharam para ela como se fosse louca, e


Gael parou de respirar.

— Não pode, Kally, entendo o ponto, mas não


permitirei que lute.

— Todos acham que sou fraca por ser humana,


mesmo tendo me transformado em loba, mesmo
dando sua lealdade a mim horas atrás, então me
deixe pelo menos ter a dignidade de morrer
lutando. Não quero ser lembrada como uma
covarde, não mais.

Gael viu seu mundo girar drasticamente, tanto


que seu estômago embrulhou.

— Não tem que provar nada.

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— Eu tenho.

— Viu? Ela quer lutar, alfa, então... deixe-a.

— Posso lutar, Gael.

Gael deu um passo à frente e parou. Que merda


tinha se metido, seu desespero da possibilidade de
poder perder Kally, depois de tudo, era até mais
assustador que os últimos acontecimentos e até
esqueceu que estava sangrando e empapando o
chão.

— Eu aceito seu desafio, Simone, mas se


perder, nunca mais colocará os pés na minha
alcateia — Kally disse.

Simone riu, debochada.

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— Além de fraca é burra, a coitada, isso nunca


vai acontecer, sua vaca!

— Não sou uma vaca, sou uma loba, quer você


goste ou não!

Kally se transformou em loba, rosnou alto e


saltou sobre Simone sem nenhum aviso prévio,
nem sabia se existia alguma regra de luta, se podia
algo ou não.

Baseando-se na luta entre Gael e Jonas, ela


somente tentou fazer o maior estrago possível.

Como sua mãe dizia em seu tempo de escola,


que sofria com as colegas ou meninos que
zombavam dela. “Nunca seja má, Kally, e nem
entre em briga se puder fugir dela, mas minha regra
é: Dê um boi para não entrar numa briga, mas dê
uma boiada para não sair dela”.
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E ela acatou; se não podia fugir, iria bater o


mais que pudesse.

Elas se embolaram no chão em uma luta


frenética, rápida e uma estraçalhava a outra entre
rosnados, rasgos e dentadas.

Simone se transformou na sua forma


intermediária, chutou Kally na barriga e a loba
rolou pela grama.

Todos conheciam a força e como Simone era


boa em luta, mas ficaram chocados ao ver como
Kally se transformou de loba à sua forma Dhálea,
se levantou gemeu com a mão na barriga, mas
rosnou furiosa e começou a rebater e se defender,
esquivava de seus golpes, fazendo-a cansar e

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causava diversos rasgos em Simone ao mesmo


tempo que se esquivava, demonstrando que sabia
lutar.

E entre a fúria de sua loba usava o que


pensaram ser karatê, o que desestabilizou Simone e
estava fazendo um belo estrago.

Kally era pequena, mas rápida e sua força, até


então desconhecida, estava aflorada.

Apesar de temeroso e sentindo que seu coração


estava entalado na sua garganta, Gael estava
orgulhoso dela.

Kally saltou para frente, esticou uma perna e


girou no ar, numa manobra louca que fez todos
arfarem, caiu sobre os ombros de Simone, passou
as pernas debaixo de suas axilas e puxou para trás.

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O gesto fez Simone ficar com os braços presos


e imobilizada e, antes que Gael pedisse que
parassem, Kally cravou as duas mãos com as garras
alongadas nas têmporas de Simone, que ficou
convulsionando com os olhos virados, então a alfa
a soltou, saltou em pé, antes que ela tombasse no
chão.

Kally cambaleou, mas tentou ficar em pé e


olhou a todos que a olhavam aturdidos e para a loba
morta no chão.

Nem ela mesma conseguia acreditar que tinha


matado a loba, o que lhe trouxe um desespero
interior, mas soube que era assim que as coisas
funcionavam.

Tentou aplacar seu desespero.

— Fiz... algumas aulas de artes marciais... —


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sussurrou sem fôlego.

Houve um silêncio sepulcral, ninguém disse


uma palavra, então Gael saiu de seu torpor de ver
tal cena inacreditável, uivou e rosnou furiosamente
tão forte que podiam jurar que o chão tremeu e os
lobos o seguiram, fazendo o mesmo e batiam no
peito para a vitoriosa loba ser honrada pela luta
vencida.

E Kally, com as vistas turvas, com a garganta


embargada, não conseguiu conter as lágrimas que
rolaram.

Estavam a honrando pelo feito, por ser


destemida e diante de toda a alcateia e dos reis e
convidados, todos sujos de lama, cansados e
feridos, estavam a honrando pela sua vitória, pela
sua força.

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O rei e a rainha colocaram a mão sobre o


coração e baixaram a cabeça em forma de respeito.
Até seus convidados, como Noah, Erick, Harley e
Petrus o fizera, assim como Ester, Pietra e Kira e
todos os demais.

E Kally pensava que cairia de emoção, e nem se


deu conta que estava nua diante de todos.

Gael chegou rápido até ela e a segurou pelos


ombros.

— Está tudo bem, nós a honramos, todos a


respeitam, Pequena. É nossa alfa, legítima e
consagrada. Minha amada companheira. Deus,
pensei que te perderia.

Ela engoliu em seco e assentiu, porque não


conseguia falar, todo seu corpo doía e nem
conseguia saber quantos cortes e rasgos tinha.
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Gael beijou seus lábios e olhou a todos.

— Vamos para casa, agora, temos coisas para


cuidar. Gabriel, chame Daniel, precisamos de um
médico para Kally e tirem essa maldita loba daqui
— disse apontando para Simone. — Enterrem-na
no bosque. Devemos nos preparar, pois os humanos
e a imprensa virão até nós, quero todos os lobos em
suas casas ou na mansão.

Dois lobos recolheram a loba e a levaram.

— Pai...

Gael olhou para Penélope, mas não estava


interessado em conversas, ele somente queria Kally
longe dali, limpa e segura, estava desesperado de
ver sangue sobre ela, saber que estava machucada e
suja.
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Mas ao ver que todos os lobos olhavam para


Kally com os olhos arregalados e ninguém dizia
uma palavra, ficou com medo de olhar, porque um
frio de terror passou pela sua espinha.

— Pai... ela está sangrando.

Sim, estava, mas que diabos? Isso sabia, mas o


terror nos olhos de todos os lobos o aterrorizou,
havia algo mais.

Prevendo uma merda, Gael se virou devagar e


olhou para Kally, ela estava ali, em pé, o olhando, e
mesmo suja de lama e sangue ele pôde ver que
tremia e estava pálida e mal conseguia respirar,
então, lentamente, ela olhou para baixo e ele fez o
mesmo e muito sangue escorria entre suas pernas.

Horrorizado, Gael entendeu a visão, sentiu o


cheiro de seu filhote e o terror tomou conta dele.
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Gael não teve tempo de dizer nada, agarrou-a


antes que tombasse no chão.

A partir daí, Kally viu tudo borrado e sabia


apenas que muitos gritavam, Gael gritava e corria e
ela somente estava anestesiada, com medo, com a
mente vagando pelo inconsciente e ouvia tudo
distorcido.

— Kally! Fique comigo, Pequena, nós vamos


consertar isso, Kally, fale comigo! Kally!

Mas ela não ouviu mais nada e tudo se apagou.

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Quando Kally abriu os olhos estava deitada de


lado e tentando sair das brumas do inconsciente.
Ela avistou Gael sentado numa poltrona ao lado da
cama do seu quarto na mansão. Ele estava de banho
tomado, com os cabelos molhados e soltos, com os
cotovelos escorados no joelho, as mãos juntas que
apoiavam sua testa.

Pôde sentir o medo dele, o temor e cansaço,


tentou se lembrar do que havia acontecido, mas
tudo estava uma bagunça na sua cabeça.

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Como se sentisse seu olhar, ele levantou a


cabeça e ela pensou que ele iria chorar ao vê-la
acordada. Gael pegou sua mão delicadamente e
beijou, fungou e a olhou.

— Oi, minha pequena — sussurrou.

— Oi...

— Como se sente? Sente alguma dor?

— Não... não sei, minha cabeça dói um pouco e


estou enjoada.

Ele assentiu.

— Vou chamar Daniel para te ver. Jesus, pensei


que não acordaria nunca.

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Ela o olhou, emocionada, por seu medo e


comoção, estava com os olhos atormentados de
preocupação.

Ele beijou sua testa e ficou encostado nela por


um longo momento, deixando o coração se
abrandar.

— O que aconteceu? — ela sussurrou.

— Não se lembra?

— Vagamente, lembro-me da luta com Simone


e depois não me lembro de nada...

— Sim, você teve algumas complicações,


estava machucada, mas está melhor agora.

— Eu matei aquela mulher — disse com os


olhos cheios de lágrimas.
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— Eu sei que isso é difícil para você, mas nossa


vida é assim, vai ter que se acostumar com coisas
desse tipo, Kally, é uma loba agora.

Ela assentiu, mas ele sabia que ela sofria. Kally


era pura e doce e jamais teria feito algo do tipo se
não fosse uma loba e tivesse topado com o que os
lobos abominavam. Lobos gananciosos e maus.

— Precisamos sobreviver e, às vezes, temos


que ser fortes para tomar certas decisões. Simone te
machucou, se você não tivesse feito eu teria.

Sim, Kally entendia, mas era difícil de


acostumar, mas tinha feito uma escolha na vida e
era o que tinha no menu.

— Kally, eu preciso te dizer uma coisa.

— O que é?
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— Você perdeu muito sangue, e Vanora, a


rainha, te atendeu antes que Daniel pudesse chegar.

— Ela é boa.

— Sim, ela é. Ela salvou você e nosso filho.

Kally ficou olhando séria para ele, tentando


assimilar a informação.

— O quê?

Ele se ajoelhou no chão para ficar mais perto


dela, acariciou seu cabelo e beijou seus lábios, e
colocou a mão em sua barriga.

— Quanto tempo eu estou aqui?

— Esteve adormecida por três dias, para se


curar.

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Ele encostou o nariz em sua barriga e inalou


fortemente, com os olhos fechados e se afastou
olhando-a com os olhos marejados.

— O que está fazendo cheirando-me desse


jeito, amor? — perguntou sem jeito. — O que
disse, pode repetir?

— Está grávida, Kally.

Ela colocou a mão na barriga olhando-o com os


olhos arregalados.

— Estou grávida?

— Está.

Ela ficou olhando para ele em choque, então se


lembrou do sangue.

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— Oh, meu Deus, o sangue, a dor, eu abortei?


— perguntou assustada e com os olhos arregalados
de medo.

— Quase, mas Vanora usou sua magia para te


salvar e disse que nosso bebê está bem. Daniel tem
te acompanhado e fez exames e disse que ele está
crescendo bem. Foi um grande sangramento, mas
não o perdeu.

— Eu podia ter perdido meu bebê.

— Sim, Simone te machucou muito na barriga,


mas você é forte e nosso lobinho com certeza será
um forte alfa, pois se agarrou em você e não quis
partir.

Ela soltou um soluço de alívio, dor, desespero e


alegria, tudo misturado, e sentou na cama.

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— Oh, meu Deus...

Gael sentou na cama para poder abraçá-la, a


beijou e secou suas lágrimas, mas as suas próprias
rolaram, porque deixou o desespero que passou do
medo de perder Kally e seu filho sair. Ele conheceu
um novo conceito de desespero.

— Vamos ter um bebê lindo.

— Sim e forte como a mãe.

— Eu agora poderia matar aquela louca de


novo.

Ele riu e a beijou com um beijo intenso e riu e


os dois deitaram na cama e ficaram abraçados e
chamou Daniel somente com o pensamento, porque
não queria se afastar dela e nem de seu filho.

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Estava se sentindo cansado, esgotado,


fisicamente e mentalmente, por tudo, mas seu
coração começou a se abrandar.

— Está com medo?

— Oh, meu Deus, um montão.

Ele riu, emocionado e nervoso.

— Está feliz?

Ela riu e chorou e seu coração se alagou de uma


emoção infinita, porque seu lobo, forte e valente,
estava ali, na sua frente, com os olhos marejados,
com o coração batendo forte emocionado por ela e
pelo seu filho.

Gael beijou seus lábios e a olhou, esperando sua


resposta.
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— Eu estou muito feliz! Eu queria ter um filho,


com aqueles olhinhos lindos, iguais aos seus.

Ele riu e a beijou intensamente, apaixonado,


exasperado com o coração batendo rápido.

— Nós teremos.

— Onde está minha mãe?

— Está bem, ela estava aqui há pouco.

Ficaram abraçados fortemente por longos


minutos, pois não queriam se soltar jamais.

— Sinto muito que tenham estragado o dia do


nosso casamento — ele sussurrou.

Ela respirou fundo e o olhou com o rosto


banhado de lágrimas.

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— Está tudo bem, estamos juntos, nosso bebê


que foi um presente está bem. As pessoas da vila
estão salvas e nossos lobos seguros. É o que mais
importa. Uma festa é só uma festa, comparado ao
que sobrevivemos.

Gael nunca podia se surpreender mais com ela.


Como ela era altruísta e com o coração bom.

— Você é maravilhosa.

— Eu te amo, companheiro.

— Eu te amo, companheira.

Eles se beijaram e ficaram abraçados.

— Eu queria te mostrar uma coisa.

— O que é?

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Ele a cobriu com a manta e a pegou no colo e


saiu do quarto e foi até o topo das escadas.

Abraçada ao seu pescoço, Kally ficou


boquiaberta. Toda a alcateia estava aos pés da
escada, enchendo o hall e o corredor até a porta
aberta do salão. Todos olhavam para eles.

Então, para seu maior espanto, eles se


ajoelharam sobre o joelho direito e colocaram a
mão em punho no coração.

— O que eles estão fazendo? Por que estão


aqui? — sussurrou.

— Estão rondando aqui por três dias, zelando


por sua alfa.

Ela ficou olhando espantada para eles, de um


rosto a outro, e todos estavam esperançosos.
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— Eles te honram, querida, eles te amam e se


importam com você, oraram e te zelaram,
esperando que acordasse bem. Eles te admiram,
porque foi corajosa ao salvar seu Antônio, foi forte
ao aceitar o desafio. Agiu como uma verdadeira
alfa para proteger a todos quando partiu, evitando
que sofressem com Jonas e salvou Rafael e tudo
que têm feito por mim. Provou mais que tudo que é
digna.

— Oh, meu Deus!

Kally não conseguiu segurar as lágrimas, que


rolaram livremente pelo rosto.

— Obrigada.

— Nosso filho e sua alfa estão bem — Gael


disse e todos os lobos uivaram.

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Kally riu e chorou e ela tinha razão, estava


amando aquela alcateia como se fosse sua família e
faria de tudo por eles, porque soube que fariam de
tudo por ela.

Kally olhou para sua mãe, que estava na ponta


da escada junto com Daniele, e elas estavam tão
emocionadas quanto ela e assentiu em aprovação e
amor, então abraçou seu companheiro com todo
amor do mundo, com o coração carregado de todas
as emoções possíveis.

Ela inteiramente fazia parte do mundo dos


lobos e nunca mais queria sair dele.

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Dias depois...

Gael respirou fundo esfregando a testa e se


escorou na poltrona de couro.

— Não se preocupe, Noah, ainda não tivemos


nenhuma foto, vídeo ou ouvimos algo de concreto
que pudesse nos prejudicar, houve buchichos,
sussurros e sim, claro, foi questionado que algo
sobrenatural aconteceu. Mas a rainha Vanora nos
tirou de lá um segundo antes que o helicóptero de
resgate chegasse e mais enxeridos e imprensa. A
imprensa nos procurou para esclarecimentos, mas
Gabriel soube contornar a situação como sempre e
dei uma entrevista numa coletiva de imprensa, o
que abrandou a todos, e quando as perguntas sobre

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o que não podiam explicar surgiu, somente disse


aquela bela frase: Nada a declarar. Os fatos
inexplicáveis continuam sem explicação.

— Confiscamos alguns celulares, mas algo


ainda pode ter passado. Tivemos sorte — Noah
disse.

— Sim, o bom de termos um delegado que nos


acoberta e uma imprensa fácil de manipular nos
ajuda. Mas isso sempre aconteceu por aqui, é
normal as pessoas falarem de lendas e lobisomens.
Harley têm monitorado a internet e não encontrou
nada. A única coisa que vazou foi um vídeo de
lobos em forma animal correndo entre a lama, um
em forma intermediária e claro que as pessoas estão
curiosas sobe como a lama petrificou daquele jeito.
Nenhum vídeo chegou muito longe, graças ao
Harley.

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— Harley sempre foi uma mão na roda sobre


isso.

— Sim, a ajuda dele está sendo preciosa, aqui


qualquer vídeo foi omitido, nenhuma foto foi
postada. Todas as pessoas que viram algo estão
caladas.

— Vai me avisar se algo acontecer?

— Sim, não se preocupe, e no mais se algo


vazar ninguém chegará a vocês.

— Se precisar de um lugar de fuga, minha casa


é sua.

— Temos meios de desaparecer, caso algo


aconteça, mas acredito que não ocorrerá.

— Ok, como está sua companheira?


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— Está bem, graças aos deuses e meu filhote


também.

— Fico feliz, fique bem, irmão.

— Você também.

Noah desligou e Gael respirou fundo e se virou


quando sentiu o cheiro de humano e Gabriel. Antes
olhou para Kally, que estava sentada na poltrona do
outro lado da mesa.

Gael se espantou ao ver seu Antônio entrar com


ajuda de sua muleta e mantinha a tala no ombro e
braço.

Kally levantou rapidamente, foi até ele e o


beijou na face e o levou até a poltrona, fazendo-o
sentar-se.

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— Obrigado, filha — disse o senhor.

— O senhor está bem? Deveria estar na


pousada, descansando.

— Estou bem.

— As outras famílias que estão alojadas na


pousada necessitam de algo? Creio que esta manhã
meus homens tenham enviado um caminhão de
comida para a dona da pousada.

— Sim, sim, e agradecemos que esteja


cuidando de todos com tanta dedicação, filho, as
pessoas sabem que não foi você o causador do
problema, que foi uma sabotagem e que já está
providenciando novas casas e tudo o mais... Acho
que seu inimigo não teve sorte em obter êxito na
explosão da outra barragem, senão não poderiam
ter detido, não é?
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— Acredito que não, meus lobos interceptaram


os lobos e retiraram as dinamites antes que
explodissem. Com o tamanho daquela barragem
não haveria como ter evitado muitas mortes e a
lama teria chegado ao rio, matando tudo o que tinha
pela frente.

— Isso... Muitas coisas sobrenaturais


aconteceram naquele dia. Seus olhos mudaram de
cor, menina — disse olhando para Kally.

— Pois é, é o sol.

O senhor riu.

— Sim, o sol, sei.

Gael respirou fundo e encostou-se à poltrona.


Kally olhou preocupada para ele.
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— Algumas coisas aconteceram realmente. O


Vale das Pedras sempre foi um lugar estranho, não
é?

— Oh muito, coisas inexplicáveis sempre


acontece por aqui, povo vê muita coisa, muita
coisa, mas os olhos podem enganar as pessoas,
sabe?

— O que quer me dizer, seu Antônio?

— Bem, eu sei o que vocês são há muito tempo,


mas algumas pessoas os viram bem naquele dia,
mesmo pensando que suas mentes estavam lhes
pregando peças.

— Por isso o senhor não se espantou quando


me viu, quando viu Gael e o lobo lutarem.

— Sim. A questão é que outros também viram.


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— As pessoas estão falando por aí. Alguém


falou com algum repórter?

— Por isso vim, filho. As pessoas da


comunidade estão lá há bastante tempo.

— Eu sei.

— E todas sabem das lendas e sabem que são


diferentes.

— Sabem?

— Bem, algumas somente achavam que eram


lendas, mas algumas viram seus lobos.

Gael franziu o cenho e veio para frente e se


escorou na mesa com os braços.

— O que viram?

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— Quando algumas vieram falar comigo


pedindo explicações e compartilhando seus medos,
coisas que tinham visto sem poder explicar, fiquei
bem espantado, porque vi algumas coisas, mas não
tudo. Vi como sua pequena esposa me tirou daquela
casa soterrada, impossível para uma pessoa normal.

Kally engoliu em seco.

— E como aquela mulher que apareceu no meio


da lama, com uma roupa estranha que parecia de
um filme, surgida do nada, como outra mulher com
as próprias mãos derrubou uma montanha de pedras
e terra e outras coisas. Como um lobo mergulhou
na lama e trouxe do fundo uma criança e sua mãe.
Como uma águia conseguiu cravar suas garras na
roupa de um homem e puxá-lo da lama. Um
pássaro conseguindo erguer uma pessoa atolada
numa lama? Como viram pessoas com força sobre-

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humana erguendo um caminhão atolado que estava


sendo tombado pela lama, cheia de pessoas. Como
ouviram muitos uivos. Como viram muitos lobos
espantando os animais fazendo-os correr para as
margens e subir os montes para fugir da água.
Como a água petrificou. E até disseram que viram
um anjo. Um homem com asas, um anjo salvando
pessoas. Deus existe.

Kally estava atônita e com a garganta


embargada, estavam perdidos.

— Eles não podem falar, seu Antônio.

— Mas eles não vão.

Gael piscou aturdido.

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— Se viram todas estas coisas, por que não


falaram? Sei que pedi e tenho impedido a imprensa
de se aproximar, mas...

— Eles não vão, porque são gratos. Vocês


sempre foram diferentes, mas sempre trataram
nosso povo com respeito e cuidado, aquelas
pessoas são boas, senhor Gael. Aquelas pessoas não
falarão nada, por respeito a mim e porque não
querem perder o que o senhor dá a eles. Aquelas
pessoas são gratas a você, pelo que tem feito a elas
durante todos estes anos. Você deu uma casa a elas,
que a maioria eram famílias na completa miséria,
nunca deixou que lhes faltassem comida e emprego
para seus homens e fez até uma escola para as
crianças. Se tiverem que ir embora daqui ganharão
o quê, se ninguém mais se importa? Nada. Todos
sabem que a justiça não ajuda o povo que é
atingido por estas tragédias de barragens, temos
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outros exemplos e que eles deixam as famílias na


completa miséria jogados num barracão, com frio e
fome, e têm suas casas de volta? Não. Foram
indenizadas pela mineradora? Não. A justiça fez
algo? Não. Os povos dos outros estados fizeram
algo? Poucos. Alguém se importou? Não, mas os
MacDowell sim.

— Gael os ajudou.

— Sim. A própria família MacDowell estava lá


correndo o risco de serem vistos, de serem filmados
e de terem seu segredo revelado na internet e TV,
mas não pensaram neles, pensaram nas pessoas que
morreriam. A sua esposa arriscou a vida para me
salvar, se não fosse ela eu estaria morto, assim
como muitos outros. O senhor tinha acabado de
criar a horta comunitária orgânica, para o povo da
nossa vila, onde todos nós tínhamos verduras e

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legumes frescos e sem nenhum veneno. Reflorestou


tudo. O senhor arriscou sua vida por nós, arriscou
seu segredo por nós, nos colocou em uma pousada
e nos deu muita esperança de ter nossas casas de
volta e meu povo está grato.

— O senhor quer dizer que eles sabem que


somos lobos e que não vão contar a ninguém?

— Eles sabem que há algo, mas não sabem


exatamente o que são, mas falei com eles e eles não
vão falar porque respeitam meus conselhos. E
duvido que isso fosse assim em outro lugar, mas na
nossa vila não. Não é à toa que Teófilo Otoni é a
região conhecida pelas esquisitices e fatos
misteriosos. Eu sou testemunha disso há muito
tempo. Vim para acalmar seus temores, sei que está
preocupado pelos seus.

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— O senhor tem certeza disso? — Kally


perguntou, emocionada.

O senhor a olhou com carinho.

— Sim, criança, eu tenho. E ninguém quer ser


devorado por um lobisomem, não é? Uma
ameaçadinha aqui e outra ali também tem um bom
efeito, já pensou ser transformado em pedra como
fizeram com a lama? E depois, quem abriria a boca
com medo que eu rogasse uma praga neles?

Kally riu e secou uma lágrima e olhou para


Gael.

— Acho que não, afinal lobisomens podem


querer devorar algumas criancinhas, não é?

— Assim é?

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Gael olhava o senhor com a garganta


embargada, estava sem reação, aturdido.

— É, filho, às vezes topamos com pessoas


muito más que só querem dinheiro, fala e faz mal
aos outros, mas, às vezes, temos um milagre de
estarmos perto de pessoas boas. Eu tive sorte.

Gael e Kally riram.

— Eu acho que sim.

O senhor assentiu e levantou.

— Vou voltar para o meu quarto agora e


esperar o jantar. Ouvi dizer que farão galinha
caipira e tutu à mineira para o jantar.

Gael riu, emocionado, e levantou; foi até o


senhor e o segurou pelos ombros.
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— Obrigado, senhor.

— Oh, não, sou eu que agradeço pelo milagre


de poder conhecer seres de outro mundo aqui,
sempre soube que por trás de uma lenda há uma
verdade. Eu sabia há muito tempo. O mundo é
fabuloso. Pena que não podemos mostrar isso ao
mundo. Tantos tolos perdendo a oportunidade de
conhecer algo tão mágico, mas assim é a
humanidade, no meio do joio sempre haverá um
trigo são e precisamos valorizá-lo.

— Lamento por sua horta de ervas, sua casa e


tudo mais.

— Hum... assim é, morta, morta está agora, mas


eu plantarei de novo.

— Eu vou providenciar sementes e mudas para


o senhor. Minha mãe tem muitas mudas na sua
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casa, ela mesma tem uma grande horta de ervas


medicinais, como lhe disse.

— Oh! Verdade, você disse... Bom, bom, traga


sua mãe a mim, traga.

Ela beijou sua bochecha.

— Obrigada.

— Você foi corajosa, filha, tenho orgulho de


você, por ser assim valente e por estar com ele...
bom garoto.

— Eu sei — disse sorrindo. O senhor saiu e


parou na porta. — O senhor está bem? —
perguntou preocupada.

— Oh sim, e eu gostaria de poder conhecer o


menino, será meu afilhado.
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— Como sabe que é um menino?

— Estes olhos velhos ainda podem ver mais do


que os outros... — disse rindo e saiu e ela riu e
olhou para Gael.

O senhor foi embora e Gael ainda estava


estupefato com tudo e Kally o olhou e respirou
fundo. Fo até ele e o abraçou forte. Gael fechou os
olhos e a abraçou de volta, pensativo.

— Viu? Eu te disse.

— Disse?

Ela riu.

— Existem pessoas boas no mundo e existem


pessoas que conhecem gratidão. Você está
colhendo o que plantou, meu amor, você plantou
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bondade e essas pessoas estão te devolvendo


respeito.

Ele sentiu sua alma inflar, era inacreditável e


maravilhoso. Talvez restasse ainda alguma bondade
no mundo e ele estava abraçando a própria
bondade. Sua companheira era preciosa e boa, e
tinha o coração mais puro que conhecera. E estava
agradecido pelo presente que estava recebendo.

Tinha sido forte todos aqueles dias banais, tinha


achado que seu mundo tinha acabado e agora ele
era presenteado com um filho.

Segurou seu rosto entre as mãos e viu as


lágrimas dela escorrerem pela face e ele as secou
docemente.

— Acabamos de chegar da clínica onde Daniel


fez o ultrassom e nos disse que era um menino,
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como seu Antônio poderia saber?

— Acho que seu Antônio também tem seus


segredos e algo de mágico.

— E nós teremos um lobinho.

Ele riu e a beijou.

— Viu? Eu te disse que era um menino.

Ela riu.

— Sim, disse.

— Eu estou tão feliz, feliz por ter você, esta


pessoa maravilhosa que me aceitou, feliz por
termos uma família, por tudo que está me dando,
muitas lições.

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Ela riu e eles se beijaram uma e outra vez, riram


e se abraçaram, ele a rodopiou pelo ar e depois
uivou.

Kally chorou, rindo ao ver a tamanha felicidade


de seu lobo, como ele comemorava e como estava
uivando, avisando sua alcateia que teriam um
menino. De sua alegria e de seu amor.

Então houve um silêncio e eles ficaram


esperando para ver se os lobos responderiam, e ela
fechou o sorriso por um momento, porque não
houve nenhum uivo. Sua alcateia não estava
contente?

Gael a olhou com o mesmo sentimento.

Então eles ouviram, um uivo atrás do outro, os


uivos de sua alcateia, dando os parabéns, as boas-
vindas, então houve uma grande sinfonia de uivos
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que puderam ser ouvidos por todo o Vale das


Pedras, até perto da cidade.

Quem ouviu se espantou, mas soube que aquele


era somente mais um dos mistérios que envolviam
o Vale das Pedras e estava tudo bem.

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Ilha dos Lobos, Grécia.

Mais de um ano depois...

A grande fogueira montada na praia era alta e


suas chamas flamejantes jogavam nuances
alaranjadas e vermelhas iluminando os lobos, as

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longas mesas fartas de comida e bebida gelada, e as


diversas cadeiras dispostas para quem quisesse
sentar.

A música de violino e os tambores soavam uma


antiga música irlandesa e naquela noite de Solstício
de Verão, os lobos da alcateia do Noah, Petrus e
Harley e suas companheiras e muitos lobos de
Kimera, além de seus reis, dançavam ao redor da
fogueira, conversavam e riam.

As crianças brincavam na areia incentivadas


com as aulas de como montar um castelo, dadas
pela filha de Jessy, Lili.

Lucian sempre perto de Safira e os bebês


gêmeos de Kirian e Annelise que pareciam gostar
mais de jogar areia para todo lado do que montar
alguma coisa.

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Petrus, estampando um lindo sorriso no rosto,


se aproximou de Gael, com Sami segurando seu
bebê nos braços, e eles se abraçaram fortemente.

— Não tive tempo de te parabenizar pelo seu


filho, Petrus.

— Obrigado e parabéns pelo seu.

Gael soltou uma gargalhada.

— Podem ser amigos, hã?

— Com certeza. Quero te apresentar minha


companheira Sami.

— É um prazer, senhora.

— O prazer é todo meu.

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— Estão com as malas prontas? Podem vir


conosco esta noite até Alamus, pois viemos de
lancha, então economizamos de Liam levá-los
amanhã.

— Para mim está ótimo, fico contente de irmos,


Alamus é sempre maravilhosa no verão. Oh, e este
menino?

— Este é nosso filhote, Tales. Um lobo forte


para seguir meu legado. — Gael sorriu e olhou o
bebê nos braços de Sami, que mantinha o mais
lindo e imenso sorriso nos lábios. O pequeno era
loiro e com olhos verdes tão claros, quase brancos
como os de Petrus. Era adorável e feliz, que o
olhou com curiosidade.

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Gael viu a felicidade estampada no rosto deles e


Petrus estava com o peito inflado de orgulho e
ficou feliz por seu amigo e sua companheira, que
também mantinha os olhos brilhantes e o sorriso
fácil.

Ele entendia, porque sentia o mesmo.

Noah e Ester chegaram à roda rindo e


cumprimentando Petrus e Sami e logo vieram Liam
e Virna, Konan e Cassandra, Kirian e Annelise e
cada um veio cumprimentar os visitantes e a roda
aumentou e a conversa fácil e feliz estava nos
lábios de todos.

Gael, com um sorriso majestoso, olhou para o


grupo que dançava, pois a risada feliz de sua
companheira chamou sua atenção.

Ela estava bronzeada do sol, com um dourado


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tão maravilhoso que ele salivava somente em olhar,


seus olhos âmbares estavam brilhantes, seus
cabelos estavam longos até a cintura, levemente
ondulados em três cores.

O vestido branco que usava tinha o corpete


justo de alças e a saia rodada e seus pés estavam
descalços, pisoteando livremente pela areia.

Ela ria e rodopiava ao som da música,


juntamente com outros lobos e lobas ao redor da
fogueira e ele pensou que nunca tinha visto algo
mais lindo e precioso que sua companheira.

Seu filho que estava sentadinho na cadeirinha,


sobre uma mesa ao seu lado, parecia ter a mesma
visão que ele, pois soltou um gritinho e bateu os
pezinhos, como se quisesse sair dali e dançar com
sua doce mãe.

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Gael, olhando seu filhote, de cinco meses de


idade, deu o sorriso mais fácil de sua vida.

Ele soltou o copo de cerveja gelada sobre a


mesa, pegou o bebê no colo e o mostrou para Sami
e Petrus que sorriram para ele, brincando de
apresentar os bebês, que riram se olhando com
energia e felicidade, como se entendessem tudo.

Seu coração estava tão cheio de amor, e estar


ali, com seus amigos era precioso demais. As férias
prometidas à sua companheira estavam sendo
valiosas.

Então uma pequena loba mística saltou na sua


frente com o maior e deslumbrante sorriso, beijou a
bochecha de seu filho e olhou para ele.

Gael pensou que não haveria felicidade maior,


mas a cada dia ele achava que tudo aumentava.
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Após duas semanas de passeios pela Grécia,


divertimento e muita felicidade, Gael e Kally
estariam passando mais dois dias em Alamus e
depois deixariam a Grécia para voltar ao Brasil.

Kally inauguraria sua nova Clínica de Terapias


Holísticas em Teófilo Otoni e pensava em
futuramente abrir uma loja. Sua atual havia ficado
aberta em Belo Horizonte, gerenciada por Daniele.

Enquanto os negócios de Gael andavam


perfeitamente, sem mais nenhum conflito.

Eles estavam tomando o máximo de tempo que


podiam juntos e para curtir o crescimento de seu
filhote, e não poderia haver algo melhor no mundo.

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E mais uma vez, Gael reforçou em sua mente


que o Vale das Pedras, em uma pequena cidade de
Minas Gerais, era seu lar e havia lhe guardado suas
joias mais preciosas, sua alcateia e o amor de sua
vida.

E os mistérios e lendas sussurradas pelos bares,


contos ao redor das fogueiras e para suas crianças
sobre o Vale das Pedras?

Bem... eles ainda existiam, um pouco mais


revigorados.

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“A crueldade é um dos prazeres mais antigos da


humanidade”
Friedrich Nietzsche

Valkirk, Gália Bélgica, 07 a.C.

Aaron chegou ao castelo e tudo estava um caos,


havia humanos e lobos mortos por todos os lados,
homens, mulheres e crianças. Casas estavam

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pegando fogo.

Os lobos que estavam nos cavalos, em forma


humana, saltaram e com suas espadas lutavam
contra o exército de humanos que invadiu seu
reino.

Em forma de lobos, alguns saltavam e


mordiam, estraçalhando todos os inimigos.

Aaron deixou sua guarda lutando para trás e


entrou correndo no castelo, temeroso pela
segurança de sua família.

— Audrea! Igor!

Sentindo o peito oprimido, ele encontrou a aia


de Audrea caída na escada, com a garganta cortada.

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Saltou pelas escadas, sentindo o cheiro de


sangue arder em suas narinas.

Quando entrou em seus aposentos, estacou.

A visão era aterradora. Audrea estava em pé,


próxima à janela, despenteada e empunhava uma
adaga com o braço esticado em direção à porta.

Parecia muito assustada, o olhando com um


semblante estático.

Ele sofreu por ela pensando que estava muito


apavorada com a guerra que invadiu sua casa.

E ele se julgou culpado por tê-la deixado


sozinha, pensou que estariam seguros e que
ninguém ousaria lhe atacar.

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Então, para seu horror, ele viu que Igor estava


caído no chão, havia uma poça de sangue, parecia
que o corte fatal havia sido deflagrado em seu
pescoço. Estava com os olhos arregalados olhando
o vazio, aterrorizados.

— Não! Igor!

Aaron correu até ele, ergueu sua cabeça e


rosnou alto e forte sua dor, nunca sentiu tal dor ao
ver seu primogênito assassinado.

Gritou desesperado e abraçou seu filho, sem


acreditar que os humanos haviam tido coragem de
fazer tal coisa.

Sua raiva reverberou e seu lobo conheceu a


pura fúria e sede de sangue.

Ele teria sua vingança. Mataria todos.


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Ouvindo a respiração pesada de sua esposa, ele


se virou e olhou para ela, sabendo agora porque
estava tão aterrorizada, olhava a seu filho morto
pelos humanos e ele não estava ali para protegê-los.

— Audrea... o que fizeram com nosso menino?

Ela não respondeu, arfava trêmula, e Aaron


olhou-a confuso.

— Audrea...

— Não foram eles...

— O quê? Quem foi? Como eles entraram


aqui? Mesmo com pouca guarda, os humanos não
ousariam entrar aqui!

— Eles disseram que poupariam o povo.


Disseram.
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— O vilarejo está banhado em sangue! Lobos e


homens mortos, crianças, mulheres. Eles fizeram
uma chacina aqui!

— Não foi o que prometeram...

Aaron estreitou os olhos e a olhou, confuso,


pois ela continuava com o braço estendido
empunhando a adaga... para ele.

— O que houve aqui, mulher?

— Isso é culpa sua... se tivesse me ouvido... se


tivesse ouvido minhas súplicas que não o
transformasse, que não o transformasse nessa besta.

— O quê? Quem matou nosso filho? — gritou.

Ela calou-se.

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— Fale, mulher!

— Fui eu.

Aaron piscou aturdido porque as palavras


entraram retorcidas nos seus ouvidos.

— O... o quê?

— Você transformou meu filho num monstro...


eu disse que não queria que ele fosse um lobo —
disse com um ar insano.

Aaron viu suas vistas turvarem. Não podia


acreditar na possibilidade de ter ouvido tal coisa.

Engoliu em seco, tentando pensar, colocar os


pensamentos de forma coerente, que pudesse
mostrar que tudo aquilo era um engano.

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Ele olhou para seu filho, um rapaz tão bonito,


forte e corajoso, no auge de seus quinze anos, que
tinha pedido a ele que o transformasse, pois queria
ser um lobo, que gostava do animal que seu pai
tinha se tornado assim como seu tio e sua guarda
pessoal. Ele honrava a seu sacrifício e sua luta.

Seus olhos verde-escuros, que depois de se


tornar um lobo, tinham ficado tão claros, antes tão
vividos e bonitos, agora estavam sem brilho, sem
vida.

Aaron trincou os dentes, porque não conseguia


pensar em nada pior, não conseguia suportar a dor
que dilacerava seu coração.

A traição de sua esposa era uma trágica queda


de seu espírito, de sua honra, de seu amor e
integridade. Nenhum rei poderia tomar aquilo de

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forma boa ou compassiva.

Pior, um lobo.

Ele era o segundo lobo criado através da magia,


ele tinha dado sua vida para salvar seu rei, para que
seu irmão tivesse uma chance de ser feliz e ter sua
família e acabou sendo castigado severamente,
covardemente.

Ela era sua companheira e o traía daquela


maneira.

O ódio começou a turvar sua mente.

Encostou a testa na de Igor e disse uma oração


à Odin, para que recebessem seu bravo filho em
Valhala. Beijou sua testa lentamente e fungou para
tentar suprimir as lágrimas que pareciam não
obedecer aos seus comandos de não caírem.
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Cada lágrima derramada era uma onda de puro


ódio que o tomava.

Aaron soltou a cabeça de Igor no chão,


lentamente, acariciou seus cabelos compridos e
olhou para o sangue de seu primogênito nas mãos.

O vermelho o deixou mais enjoado, mais irado


e seu lobo interior saltava tão furioso que podia
ouvir os rosnados nos seus ouvidos. Fechou os
olhos por um minuto e levantou, em toda sua
estatura poderosa, cerrou os punhos, lentamente se
virou e olhou para sua esposa, com os olhos
cintilando.

Suas presas estavam alongadas e um rosnado


retumbava em sua garganta.

Ela arfou assustada e deu um passo atrás, mas


não podia se afastar mais porque estava encostada
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na parede.

— Você matou nosso filho? — perguntou,


contendo as palavras, falando num tom baixo que o
deixava aterrorizante.

Audrea sabia seu destino, sabia que ele o


mataria e vê-lo e sua besta era aterrorizante. Ela
tinha medo, nojo dele.

E agora, toda a ira do monstro que era, somente


o deixava mais alto, mais forte, mais besta.

— Ele não era mais meu filho, era uma besta,


uma besta igual a você.

— Você perdeu sua cabeça, mulher?

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— Não, você perdeu a sua quando aceitou a


magia daquela bruxa e se transformou nisso. Vocês
dois não me ouviram quando pedi que não o
transformasse, mas me ouviram? Não. Você não
era mais o rei com quem me casei.

— Como os humanos entraram na fortaleza?


Não poderiam ter entrado.

Ele rosnou porque sua esposa estava louca,


claramente delirando, seus olhos estavam estalados
e estáticos, gaguejava.

— Você os deixou entrar, Audrea. Você traiu


sua própria gente os levando à morte deixando o
inimigo entrar.

— Você nunca me escuta, Aaron! Não eram


meus inimigos, eram os seus, mas disseram que
poupariam as mulheres e crianças, eles disseram.
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Mas a culpa é sua, deixou esses monstros viverem


aqui, se transformou num, nosso filho!
Amaldiçoado! Você é um amaldiçoado! Eu livrei
nosso filho de ser um amaldiçoado.

Aaron não suportou mais segurar sua besta


dentro dele, era demais para controlar. Sua ira
estava solta.

Ele queria sangue.

Rosnou em toda sua fúria, saltou pelo quarto


agarrou sua garganta e a ergueu do chão,
trombando contra a parede de madeira quebrando-
a. Ela somente gemeu, porque não conseguiu gritar
ou falar nada, tentou bater nele e tirar sua mão do
pescoço, mas era inútil.

— Você que é uma mulher maldita! Como pôde


matar nosso filho?! Como pôde?
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— Mate-me... — ela sussurrou sufocada.

Aaron rosnou arreganhando os dentes, na sua


forma Dhálea, assustando-a.

Ela estava apavorada.

— Aaron! — Rasgar, seu guarda pessoal, gritou


da porta, aturdido com a visão e sem entender o que
estava acontecendo.

Ele estava com tanto ódio por aquela mulher,


tão fora da razão que quase quebrou seu pescoço e
a matou sufocada.

Mas ouvir seu nome teve um momento de


lucidez e rosnou novamente para ela, com aquele
rosnar animalesco que seu lobo traído ecoava no

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auge de sua fúria, com os olhos cintilando. Ela o


olhava com os olhos arregalados e viu a morte e
não se importava.

— Você deseja morrer, Audrea? — Aaron


rosnou perigosamente e apertou mais seu pescoço.

— Ma... te-me...

— Hummm... A morte seria muito rápida para


você. Não vou te matar, sua louca, porque sua
miséria acabaria, e não pretendo deixar que se safe
pelo que fez. Vou cuidar de você depois e não
espere que eu seja misericordioso, porque não serei.
Se você acha que sou um monstro, vou te mostrar
quão monstro eu sou.

Ela arfou quase perdendo os sentidos e então


ele rosnou e a jogou pelo chão, fazendo tombar
com toda força e rolar até os pés de Rasgar.
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— Prenda-a no calabouço!

— O que houve aqui? — Rasgar perguntou


espantado.

— Essa maldita matou meu filho.

— O quê?

Rasgar olhou horrorizado de um para outro e


para o jovem príncipe morto, rosnou zangado e
ergueu a mulher do chão.

— Será um prazer fazer isso.

Ele saiu carregando Audrea e Aaron olhou seu


filho, escancarou a janela com a portinhola de
madeira, arrebentando-a, deu uma lufada de ar para
seus pulmões e rosnou tão alto quanto pôde e

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depois uivou, lançando aos quatro ventos seu pesar


e sua dor e, na névoa da morte, sua fortaleza caiu
em ruína.

Seu povo estava morto, as casas estavam


incendiadas, sua família estava acabada, e sua
alma, bem, ela não existia mais, estava no limbo,
sucumbida no mar de tristeza e raiva.

Ele tinha dado a sua vida para salvar seu irmão


Kayli e sua família, para que pudessem estar juntos,
mas agora tinha pagado o preço e era doloroso.

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Laboratório C-12, subúrbio de Berlim,


Alemanha.

Clere estava de joelhos, com os braços estirados


para os lados, com grossos braceletes de ferro ao
redor dos punhos e tornozelos, uma coleira no
pescoço e as correntes eram muito grossas que
prendiam os braceletes até a parede.

Aos dezoito anos, ela era forte, mas não o


suficiente para rompê-las, não que não tivesse feito
antes, mas os cientistas tinham se aprimorado. E
ainda, ela ficava dentro de uma gaiola de ferro
muito forte, que era impossível rompê-la.

Se conseguisse se livrar das correntes não


conseguiria sair da gaiola, não que já não tivesse
conseguido, mas haveria consequências, da última
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vez ela tinha conhecido a morte com um tiro no


peito, porque os tranquilizantes tinham a atordoado,
mas conseguiu tentar uma fuga e matar alguns
guardas no processo.

O que estava se tornando um hábito, pois nas


suas contas, já tinha passado a linha da morte por
três vezes e os bastardos sempre conseguiam trazê-
la de volta.

Aquilo estava ficando tedioso.

Os choques elétricos eram tão fortes agora que


poderiam fritar seu cérebro e podia jurar que algo
dentro dela havia arrebentado, porque a dor era
insuportável.

— Eu não quero mais isso, precisa parar! Você


não sabe o que está fazendo! — disse entredentes,
seu corpo estava molhado de suor, os músculos
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tensos e os nervos contraídos e doíam como se


estivesse estirada.

— É claro que eu sei o que estou fazendo e


você deveria ser grata.

Ela riu, pela falácia.

— Vocês humanos são loucos e depois nos


chamam de aberrações. O que está fazendo é um
crime.

— Isso é pesquisa. Isso é a descoberta mais


incrível que fizemos nos últimos anos. Olhe como
podemos avançar nas nossas pesquisas, não
podemos testar nada em humanos antes de fazer
anos de testes em animais... mas com você,
podemos pular uma etapa, temos dois em um e é
para o bem da humanidade. Vocês são muitos mais
fortes, podem tolerar muito mais dor e essas drogas
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poderia matar os humanos, mas vocês... não,


teremos sucesso e então um dia o mundo saberá o
que fizemos, o que conquistamos. Pense grande,
Clere, pense que é uma honra servir para o
crescimento das pesquisas.

— Honra será a minha quando eu cravar


minhas garras em suas tripas e vê-las espalhadas no
chão. Arrancarei sua cabeça e a cravarei em uma
estaca.

— Que palavreado chulo, Clere. Muito


selvagem.

— Você ainda não sabe o que está criando,


doutor.

— Uma perfeição, Clere, queremos que seu


lobo seja a perfeição entre os lobos.

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— Não faça isso.

— Oh, mas é claro que faremos e você,


mocinha, vai se comportar direitinho, porque se não
se comportar eu vou abrir sua amiga loba, Naya, do
umbigo até a garganta.

Clere rosnou com toda fúria e a ira era tanta que


sua cabeça queimava e doía.

— Estou falando sério, Clere, se matar mais um


dos meus guardas eu juro a você que vou estripar
Naya e depois Shay na sua frente.

— Malditos, malditos, um dia vão pagar por


isso.

— Um dia, Clere, nós seremos celebridades


mundiais, todos os jornais do mundo vão implorar
para nós entrevistar e vê-la. Nós ficaremos ricos.
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Por que não facilita as coisas e se transforma,


Clere? Pouparia muita dor, somente queremos ver
sua loba.

Ela gemeu pela dor atroz e trincou seus dentes


para se segurar, e olhou para o Dr. Hertz.

Não faria o que ele queria, nem que e a


matassem, de novo, pelo menos tentaria evitar ao
máximo.

Temia que um dia sua mente se perdesse, pelo


menos quando seu coração parava de bater os
bastardos poderiam lhe fazer o favor de deixá-la
morta, mas não, ela tinha perdido as contas de
quantas vezes tinha cruzado a linha da morte e eles
a tinham trazido de volta.

Segurar a fera dentro dela era quase uma


missão impossível, pois vivia zangada, por mais
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que tentasse forçar sua mente a ser tranquila.

Era como fazer um leão faminto negar a comer


um suculento filé que estava na sua frente.

— Você é nossa criatura, estamos nesse


experimento por anos, deve obedecer para evitar
nossa perda de tempo.

Ela levantou devagar e deu alguns passos para


frente até que as correntes se esticaram e a
impediram de prosseguir. Seus tornozelos e punhos
estavam muito feridos pela sua luta frenética de se
libertar.

— Sabe o que eu quero que faça com seu


tempo, Dr. Hertz? — disse entredentes, respirando
com dificuldade, seus olhos amarelos brilhavam
como ouro, e eram realmente esplêndidos.

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— Não seja desbocada, menina, já não te


ensinei a ter respeito pelos mais velhos?

— Sim, ensinou, mas eu gostaria de poder te


ensinar umas coisinhas também.

— Ela é muito teimosa, ainda não aprendeu que


é submissa a nós — disse o outro médico com um
sorriso malicioso no rosto.

Ela o olhou e seus olhos amarelos cintilaram de


ódio. Ela o odiava tanto, sentiu vontade de vomitar
somente ao olhá-lo.

Não conseguiu deixar de se lembrar de como


ele a estuprava, todas as vezes e como ria,
burlando-se de sua dor, de sua raça, como a
humilhava chamando-a de cadela sem valor, de
aberração da natureza, como ele queria quebrar sua
alma, se é que ainda tinha uma.
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Era um sádico desgraçado e daria o mundo para


poder arrancar aquele sorriso de sua cara e esmagar
sua cabeça.

— Clere, solte sua fera, precisamos saber qual


foi a evolução desde a última vez da sessão de
injeções.

— Eu não sou seu cachorro para te obedecer.

— Oh é sim, uma cadela, bonita, mas teimosa.

O cientista apertou o botão e outra descarga


elétrica a atingiu.

Ela gritou pela dor, tremendo e se contorcendo


e as garras de suas mãos cresceram, suas presas
alongaram e seus olhos cintilaram mais.

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— Vai fazer o que eu mandar?

— Não! — disse entredentes.

Ele aumentou a carga elétrica e ela revirou os


olhos, seu corpo tensionou dolorosamente,
esticando as correntes, ferindo mais seus pulsos e
tornozelos e, então, tudo estalou na sala. As luzes
piscaram e artefatos de vidro se romperam.

Eles tinham quebrado seu coração, sua vida, sua


alma e tinham conseguido quebrar sua loba.

Clere rosnou alto pela dor, pela fúria de sua


loba, então, ela puxou as correntes, arrancando os
grilhões presos na parede, fazendo o concreto
despedaçar e não conseguiu mais segurar sua fera
interior, não a que ela amava, aquela que eles
criaram.

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JANICE GHISLERI é catarinense, estilista e


pós-graduada em Comunicação e Artes Visuais.
Sempre foi apaixonada por livros de romance e
filmes. Por isso, a linha literária dos seus livros são
os romances de época e fantasia. Além da série Os

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Lobos de Ester com sete livros, um spin-off e um


conto, possui o livro Entre o Amor e a Fé: A
Profecia, e a saga Paixões no Oeste, com quatro
livros. Três de seus livros foram finalistas no 4º
Concurso Literário do Clube de Autores. Seu conto
A Noite Sombria foi selecionado para o livro O
Corvo, da Editora Empíreo. E conta com mais
contos como: Sweet Alabama, O Pecado em
Veneza, A Sombra de um Amor, Meu Anjo na
Terra. E o romance O Conde Del Rei, além de
outros projetos de romances em andamento.

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