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EGOÍSMO INERENTE AO CORAÇÃO

NATURAL ou EGOÍSMO NATURAL

“Onde existe esta unidade, é evidente que a imagem de Deus está


sendo restaurada na humanidade, que foi implantada nova vida. Mostra
que há na natureza divina poder para deter os sobrenaturais agentes do
mal, e que a graça de Deus subjuga o egoísmo inerente ao coração
natural.”
{DTN 480.3}

“O egoísmo natural aos filhos dos homens está pronto a se revelar


na vida, se tudo não estiver de acordo com suas conveniências.”
{TS2 450.1}

No estudo e compreensão do tema proposto, primeiro se faz


necessário notar que egoísmo é “um pecado que destrói a alma.”(T4
476.2), e o pecado é “transgressão da Lei"(1Jo 3:4). Logo, dada as
limitações cognitivas de um bebê, conclui-se que um bebê recém nascido
não pode incorrer no pecado do egoísmo. E se um bebê recém nascido não
pode incorrer no pecado do egoísmo, o que Ellen G White realmente quer
dizer com as afirmações contidas nos textos acima?

Para respondermos a pergunta acima, primeiro precisamos saber o


significado da palavra inerente. O que é inerente? De acordo com o
simples dicionário Michaelis On-line, "inerente" significa algo que está
"ligado estruturalmente", "que, por natureza, é inseparável de alguma
coisa" e que é "existente no interior do ser de forma intrínseca." Como
exemplo do último significado, o dicionário dá a seguinte sentença: “A
sexualidade é inerente ao ser humano.” Sim, a sexualidade é inerente ao
ser humano. É verdade. Mas a sexualidade com a qual o ser humano nasce
é tão somente POTENCIAL. Ela poderá nunca ser exercida e nunca vir a
se manifestar de maneira plena. Depende da opção de cada qual e do que
cada um considera mais importante na sua vida, como é o caso do
naziriado.

Da mesma forma, na expressão "egoísmo inerente ao coração


natural" ou “egoísmo natural”, não há a menor necessidade de se concluir
que o bebê já nasça com o egoísmo, pois egoísmo mesmo só existe, em
REALIDADE, como CONDUTA DELIBERADA.

Do egoísmo que efetivamente vem a se manifestar no FUTURO,


pode-se dizer que seja sim, algo"inerente ao coração natural" tão
somente por decorrer de uma condição congênita(intrínseca, inerente ou
natural) em que as faculdades inferiores da mente estão fortalecidas e as
faculdades superiores estão enfraquecidas, sendo a tendência natural do
ser humano satisfazer seu apetite e suas paixões(faculdades inferiores)
sem levar em consideração os princípios superiores(faculdades superiores)
orientados pela consciência moral — como é o caso do dever de se buscar
o bem do próximo. Mas essa decorrência (egoísmo) pode não se
manifestar, dependendo da escolha humana. E observe que o egoísmo
não consiste na ação humana direcionada a satisfazer seu apetite e sua
paixão (algo que foi programado por Deus para ser assim), mas, sim, em
buscar satisfazê-los sem se importar com deveres morais superiores.

Logo, conclui-se que um bebê recém-nascido não tem egoísmo


propriamente dito. Tem apenas uma fragilidade estrutural que propicia o
desenvolvimento e manifestação posterior desse defeito de caráter. E, se e
quando esse defeito se desenvolve e aparece, pode ser qualificado como
algo “inerente” ou “natural”, por ter sua "raiz" numa condição humana
congênita.

Em linguagem mais simples e direta, é algo absurdo olhar para um


bebê, deitado em seu berço, dormindo tranquilamente, e dizer a respeito
dele: "Olhem, quanto egoísmo!" Não há egoísmo aí. Egoísmo não é
tendência. Egoísmo é um defeito de caráter que se manifesta no momento
da tomada de decisão: quando alguém prefere satisfazer seus próprios
desejos e interesses sem consideração pelas necessidades dos demais ou
por princípios morais superiores.

No intuito de demonstrar a realidade da sentença bíblica de que


"todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3:23), os
pré-lapsarianos e defensores do pecado original, tendem a exagerar e
mesmo apresentar sob falsa luz o alegado egoísmo dos bebês e das
crianças muito novas. Costumam dar o exemplo de uma criancinha bem
pequena que pega todos os lápis coloridos colocados diante dela e que
chora quando a mãe tira um ou dois de sua mão para dar a outra criança.
Dizem que isso é uma clara manifestação de egoísmo. O que é um grande
absurdo!
A uma, porque não é verdade que todas as crianças reajam dessa
mesma maneira. Algumas são bem passivas e não se importam que delas
sejam subtraídos alguns lápis coloridos ou mesmo todos. Outras vão além
e mesmo os oferecem às outras crianças. Isso varia muito. As
personalidades são bem diferentes.

A duas, porque é de se esperar que a criança pegue mesmo todos os


lápis coloridos e os conserve consigo. Ora, é de se esperar que uma pessoa,
ao se deparar com pedras preciosas na margem de um rio, pegue apenas
uma e deixe as demais ali, para que outras pessoas depois as encontrem?
Eu digo que não. Deixar as pedras ali não seria nada racional e isso não
tem nada a ver com egoísmo. Tem a ver com a raridade do objeto e seu
valor econômico. Se eu encontrar pedras preciosas na margem de um rio,
vou interpretar que Deus me favoreceu e que era de Sua vontade que eu as
encontrasse. Não devemos ser hipócritas, exigindo que crianças
pequeninas tenham um exagerado comportamento altruísta que nós
mesmos sequer julgamos ser nosso dever adotar.

A três, porque também é perfeitamente compreensível que uma


criança muito pequena venha a chorar se alguns lápis coloridos forem
tirados de suas mãos para serem dados a outros, uma vez que ela não
entende a razão de tal procedimento. Ela se sente agredida. O sentimento é
o mesmo que um adulto teria, caso uma turba invadisse sua casa e
roubasse todos os seus bens. Não é de se esperar que tal pessoa venha a se
portar de maneira pacífica diante de tal situação.
O que existe na verdade, por parte daqueles que tentam provar a
existência de egoísmo em crianças antes da idade da razão, é uma
tremenda distorção da realidade e muitos juízos equivocados.

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