Você está na página 1de 215

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL - SEMAD
INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS – IEF

PLANO DE MANEJO DO PARQUE ESTADUAL DA


SERRA DO ROLA MOÇA, INCLUINDO A
ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE FECHOS

ENCARTE 3 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA UNIDADE DE


CONSERVAÇÃO

BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS


OUTUBRO – 2007
GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Aécio Neves da Cunha

SECRETÁRIO DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL - SEMAD
José Carlos Carvalho

SECRETÁRIO ADJUNTO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL - SEMAD
Shelley de Souza Carneiro

INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - IEF


Humberto Candeias Cavalcanti - Diretor Geral

DIRETOR DE PESCA E BIODIVERSIDADE


Célio Murilo de Carvalho Valle

EQUIPE DE ELABORAÇÃO
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS
COORDENAÇÃO GERAL
Gláucia Moreira Drummond
Cássio Soares Martins
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Yasmine Antonini

Ana Carolina Baker Botelho


Leandro Moraes Scoss (revisor do texto técnico final)
COORDENAÇÃO DA AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA
Yasmine Antonini
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Juliana Gomes Rodrigues – Taniguchi Consultoria

Ivair Oliveira - Taniguchi Consultoria


Mário Taniguchi - Taniguchi Consultoria

2
EQUIPE TÉCNICA

Adriani Hass – Aves


Alecir Antonio Maciel Moreira – Climatologia
Alenice Maria Baeta - Arqueologia
Clarice Libaneo - Socioeconomia
Claudia Jacobi - Entomofauna
Flavio Henrique Guimarães Rodrigues - Mamíferos
Ione Mendes Malta - Geomorfologia
João Renato Stehmann - Vegetação
Junia Borges e Bernardo Ranieri - Turismo e Uso Público
Luciana Felício Pereira - Hidrologia
Marcos Callisto de Faria Pereira e Paulina Maia Barbosa – Limnologia e Qualidade da Água
Paula Cabral Eterovick – Anfíbios e Répteis
Rodrigo Lopes Ferreira – Bioespeleologia

EQUIPE DE APOIO
Meio Físico
Laura Arantes Campos
Sheilla Mara Prado da Silva
Flávio Henrique da Silva Neves
Johannes Wilson Souza Castro
Cristiane Marques Botelho
Mariângela Evaristo Ferreira
Flávia Aparecida Machado
Maurício Teixeira Aguiar

Fernanda Lima de Vasconcelos Moreira


Bruno Fernandes Magalhães Pinheiro de Lima
Raquel M. Barbosa
Rômulo Carlos C. Alencar
Rander Abrão Tostes
Emerson dos Santos Bronze
Leonardo Rubens Maia Maciel

3
Meio Biótico
Alexsander Araújo de Azevedo
Christiana Mara de Assis Rodrigues
Deise Tatiane Bueno Miola
Diego Hoffmann
Gustavo Schiffler
Henrique Belfort Gomes
Ítalo Martins da Costa Mourthé
Joaquim de Araújo Silva
José Carlos Chaves dos Santos
Leonardo Rodrigo Viana
Luciene de Paula Faria
Maíra Figueiredo Goulart
Marconi Souza Silva
Marcos Alexandre dos Santos
Maria Auxiliadora Miguel Jacob
Nilson Gonçalves da Fonseca
Ricardo Oliveira Latini
Samuel Lopez Murcia
Zenilde das Graças Guimarães Viola

4
COORDENAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - CUCO

Geovane Mendes Miranda


COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA SILVESTRE - CPVS
Ronaldo César Vieira de Almeida
GERÊNCIA PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO ROLA MOÇA E ESTAÇÃO
ECOLÓGICA DE FECHOS
Paulo Emílio Guimarães Filho - Gerente do Parque Estadual da Serra do Rola Moça
Lauro Tuller
Luiz Roberto Bendia

EQUIPE TÉCNICA IEF


Adélia Alves - Auxiliar de Administração III – CPVS/IEF
Denise Maria Lopes Formoso - Analista de Florestas e Biodiversidade I – CUCO/IEF
Élcio Rogério de Castro Melo - Analista de Apoio Técnico III – CUCO/IEF
Infaide Patricia E. Santo - EA/IEF
Margareth A. dos A. Viana-NET/IEF
Maria Margaret de Moura Caldeira - Analista de Florestas e Biodiversidade II - CUCO
Valéria Mussi Dias – NET/IEF

PROMATA
Sônia Maria C. Carvalho
Cornelius Von Frustemberg

5
SUMÁRIO

Página
3. ANÁLISE DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ................................................................ 17
3.1. Informações Gerais....................................................................................................... 17
3.1.1. Acessos .................................................................................................................. 17
3.1.2. Histórico de Criação do PESRM e EEF .................................................................. 19
3.1.3. Origem do Nome .................................................................................................... 19
3.2. Caracterização dos Fatores Abióticos e Bióticos........................................................... 20
3.2.1. Meio Abiótico .......................................................................................................... 20
3.2.1.1. Caracterização Fisiográfica ...............................................................................................22
3.2.1.1.1. Compartimentação geológico-geomorfolófica.............................................................22
3.2.1.1.2. Compartimento das cabeceiras...................................................................................23
3.2.1.2. Análise do comportamento atmosférico e dos elementos climáticos ................................27
3.2.2. Meio Biótico ............................................................................................................ 35
3.2.2.1. Avaliação Ecológica Rápida ..............................................................................................35
3.2.2.2. Vegetação ..........................................................................................................................37
3.2.2.2.1. Floresta Estacional Semidecidual ...............................................................................37
3.2.2.2.2. Savana Arborizada (Campo Cerrado).........................................................................40
3.2.2.2.3. Savana Gramíneo-Lenhosa (Campo Sujo ou Campo Ferruginoso)...........................41
3.2.2.2.4. Refúgios Ecológicos (Campos Rupestres) .................................................................41
3.2.2.2.5. Espécies Ameaçadas de Extinção ..............................................................................42
3.2.2.2.6. Espécies Exóticas .......................................................................................................43
3.2.2.3. Caracterização Limnológica...............................................................................................44
3.2.2.3.1. Avaliação das Características Ecológicas de Trechos de Bacia ................................48
3.2.2.3.2. Resultados da Avaliação dos Trechos de Bacia.........................................................51
3.2.2.3.3. Comunidade Planctônica ............................................................................................58
3.2.2.3.4. Qualidade das águas ..................................................................................................62
3.2.2.4. Bioespeleologia..................................................................................................................67
3.2.2.4.1. Avaliação Bioespeleológica.........................................................................................68
3.2.2.4.2. Avaliação do Patrimônio Espeleológico ......................................................................68
3.2.2.4.3. Caracterização trófica geral das cavernas da área.....................................................69
3.2.2.4.4. Caracterização faunística geral das cavidades...........................................................71
3.2.2.4.5. Caracterização biológica específica de cada cavidade ..............................................75
3.2.2.4.6. Avaliação Preliminar do Patrimônio Espeleológico.....................................................79
3.2.5. Fauna ..................................................................................................................... 80
3.2.5.1. Mamíferos (Mastofauna) ....................................................................................................80
3.2.5.1.4. Espécies de Interesse Especial ..................................................................................83
3.2.5.1.5. Espécies Exóticas e Invasoras....................................................................................84
3.2.5.2. Aves ...................................................................................................................................84

6
3.2.5.2.1. Espécies Especiais – Endêmicas e Ameaçadas de Extinção ....................................87
3.2.5.2.2. Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas ...........................................................90
3.2.5.3. Herpetofauna .....................................................................................................................90
3.2.5.3.1. Táxons de interesse para conservação ......................................................................93
3.2.5.4. Entomofauna......................................................................................................................93
3.2.5.4.1. Abelhas........................................................................................................................94
3.2.5.4.2. Besouros .....................................................................................................................95
3.2.5.4.3. Espécies Ameaçadas de Extinção ..............................................................................96
3.2.5.4.4. Espécies Raras ...........................................................................................................97
3.2.5.4.5. Espécies Exóticas .......................................................................................................97
3.3. Análise Intertemática .................................................................................................... 98
3.3.1. Interpretação da Pontuação da Vegetação ............................................................. 98
3.3.3. Análise Intertemática para Caracterização dos Pontos ......................................... 101
3.4. Descrição dos Sítios Históricos e Arqueológicos......................................................... 107
3.4.1. Sítios situados no interior do Parque Estadual da Serra do Rola Moça ................ 107
3.4.1.1. Gruta Rola Moça 1 ...........................................................................................................108
3.4.1.2. Gruta do Rola Moça 18....................................................................................................110
3.4.1.3. Gruta do Rola Moça 3......................................................................................................111
3.4.1.4. Gruta do Rola Moça 4......................................................................................................112
3.4.1.5. Gruta do Rola Moça 13....................................................................................................112
3.4.1.6. Muro de Pedra - Histórico ................................................................................................112
3.5. Socioeconomia ........................................................................................................... 113
3.5.1. Aspectos demográficos......................................................................................... 116
3.5.2. Atividades predominantes..................................................................................... 116
3.5.3. Infra-estrutura e condições de moradia................................................................. 119
3.5.4. Equipamentos públicos......................................................................................... 120
3.5.5. Organização social e associativismo .................................................................... 122
3.5.6. Apropriação dos Recursos Naturais e Situações de Conflito ................................ 129
3.5.7. Visão das Comunidades Residentes sobre a UC.................................................. 131
3.5.8. Grupos de Interesse ............................................................................................. 135
3.5.8.1. Grupos de Interesse Primário ..........................................................................................135
3.5.8.2. Grupos de Interesse Secundário .....................................................................................136
3.6 - Situação Fundiária..................................................................................................... 137
3.7. Fogo e outras ocorrências excepcionais ..................................................................... 141
3.7.1. Histórico de Incêndios........................................................................................... 142
3.8. Uso público do Parque Estadual da Serra do Rola Moça............................................ 143
3.8.1. Influência regional para o desenvolvimento do Uso Público na UC....................... 144
3.8.2. Metodologia utilizada no diagnóstico .................................................................... 145
3.8.3. Descrição das características de cada localidade avaliada................................... 147

7
3.8.3.1. Sítio I - Mineração ............................................................................................................147
3.8.3.2. Sítio II - APE Taboões .....................................................................................................150
3.8.3.3. Sítio III - APE Bálsamo ....................................................................................................150
3.8.3.4. Sítio IV - Região do Barreiro ............................................................................................151
3.8.3.5. Sítio V - APE Barreiro ......................................................................................................154
3.8.3.6. Sítio VI - APE Mutuca ......................................................................................................155
3.8.3.7. Sítio VII - APE Catarina ...................................................................................................157
3.8.3.8. Sítio VIII – Estação Ecológica de Fechos (EEF) .............................................................159
3.8.4. Caracterização do uso público atual da UC .......................................................... 160
3.8.4.1. Atividades educacionais e culturais disponíveis..............................................................160
3.8.4.2. Atividades de lazer...........................................................................................................163
3.8.4.3. Pesquisa científica ...........................................................................................................166
3.8.4.4. Serviços oferecidos..........................................................................................................167
3.8.4.5. Infra-estrutura, equipamentos e manejo..........................................................................167
3.8.5. Resultados do diagnóstico do uso público ............................................................ 170
3.8.5.1. Pesquisa de Demanda Atual de Uso Público ..................................................................170
3.8.5.2. Caracterização do Visitante .............................................................................................170
3.8.5.3. Atrativos atuais e potenciais ............................................................................................174
3.8.5.4. Impactos observados no interior da UC ..........................................................................174
3.8.5.4.1. Estradas internas ao PESRM....................................................................................177
3.8.6. Proposta para o uso público do PESRM ............................................................... 178
3.8.6.1. Serviços e atrativos..........................................................................................................178
3.8.6.2. Infra-estrutura de apoio....................................................................................................183
3.8.6.3. Trilhas potenciais .............................................................................................................186
3.8.6.4. Roteiros de visitação........................................................................................................189
3.8.6.5. Capacidade suporte.........................................................................................................200
3.8.6.6. Atividades de lazer, educação e cultura ..........................................................................204
3.8.6.7. Manual de conduta para funcionários e visitantes...........................................................206
3.9. Declaração de Significância........................................................................................ 207
3.10. Referências Bibliográficas......................................................................................... 209

8
Figuras

Página

Figura. 3.1 Mapa de localização e acesso ao Parque Estadual da Serra do Rola Moça e a
Estação Ecológica de Fechos, nas proximidades de Belo Horizonte, Minas Gerais. ...............18

Figura 3.2. Mapa de unidades geológicas do ESRM e da EEF........................................................21

Figura 3.3. Modelagem tridimensional geológica do Parque Estadual da Serra do Rola Moça. .....22

Figura 3.4. A Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da


Serra do Rola Moça – escarpa norte. ........................................................................................23

Fig 3.5 A Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da


Serra do Rola Moça – cabeceiras dos ribeirões Casa Branca e Catarina ................................23

Figura 3.6. Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da


Serra do Rola Moça - cabeceiras do Ribeirão Mutuca e Estação Ecológica de Fechos. .........24

Figura 3.7. Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da


Serra do Rola Moça – superfície cimeira...................................................................................25

Figura 3.8 Velocidade do vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça. ................................28

Figura 3.9 Modelo Tridimensional da direção do vento no Parque Estadual da Serra do Rola
Moça – direção do vento as 12:00.............................................................................................29

Figura 3.10. Temperatura ambiente no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 12:00............29

Figura 3.11. Umidade Relativa do Ar no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 12:00. .........30

Figura 3.12. Velocidade do Vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 18:00. ..............31

Figura 3.13. Modelo Tridimensional do relevo no vento no Parque Estadual da Serra do Rola
Moça – direção do vento as 18:00.............................................................................................31

Figura 3.14. Temperatura ambiente no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 18:00............32

Figura 3.15. Umidade relativa do ar no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 18:00. ...........32

Figura 3.16. Velocidade do Vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 00:00. ..............33

Figura 3.17. Modelo Tridimensional do relevo no Parque Estadual da Serra do Rola Moça –
direção do vento as 00:00..........................................................................................................33

Figura 3.18. Temperatura ambiente no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 00:00............34

Figura. 3.19. Umidade relativa do ar no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 00:00...........34

Figura 3.20. Sítios de amostragem da Avaliação Ecológica Rápida (AER) no Parque Estadual da
Serra do rola Moça (PESRM) e na Estação Ecológica de Fechos (EEF), MG. ........................36

9
Figura 3.21. Fotos ilustrando as formações campestres (A) e florestais (B) encontradas na região
do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e Estação Ecológica de Fechos. Fotos:
Alexander Azevedo e Marconi Sousa Silva. ..............................................................................37

Figura 3.22. Classificação dos tipos vegetacionais e/ou fitofisionomias do Parque Estadual da
Serra do rola Moça (PESRM) e da Estação Ecológica de Fechos (EEF), Minas Gerais..........38

Figura 3.23. Formações florestais do interior do PESRM. Fotos: Leonardo Viana e Alexander
Azevedo. ....................................................................................................................................39

Figura 3.24. À esquerda aspecto das formações savânicas. À direita, flor de pequi (Caryocar
brasiliense) espécie tipica desse tipo vegetacioanal Fotos: Yasmine Antonini e Marcos
Alexandre. ..................................................................................................................................40

Figura 3.25. Aspecto da savana gramíneo-lenhosa a esquerda e Calibracoa elegans, espécie


ameaçada de extinção. Fotos: Alexandre Azevedo ..................................................................41

Figura. 3.26. Aspectos da vegetação sobre canga couraçada. Foto: Alexander Azevedo ..............42

Figura 3.27. Artrocereus glaziovii, espécie ameaçada de extinção. Foto: Alexander Azevedo. ......43

Figura 3.28: Imagem das estações de amostragem 1 a 5 (ambientes lóticos), no Parque Estadual
da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais, obtidas em novembro de 2004....................45

Figura 3.29: Fotos das estações de amostragem 6 a 9 (ambientes lênticos), no Parque Estadual
da Serra do Rola Moça (PESRm), Minas Gerais, obtidas em novembro de 2004....................46

Figura 2.30. Principais macroinvertebrados bentônicos coletados nos ecossistemas lêntico (A) e
lótico (B) do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, durante a Avaliação Ecológica Rápida
do plano de manejo do Parque..................................................................................................47

Figura 3.31. Coleta de água com redes de fito e zooplâncton (A e B); utilização do Horiba em
campo (C); coleta de água para a determinação da concentração de oxigênio dissolvido na
água (D). Todas as coletas foram realizadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça
(PESRM), Minas Gerais, no mês de novembro de 2004...........................................................48

Figura 3.32. Coleta de macroinvertebrados nos ecossistemas lóticos (A) e lênticos (B), realizadas
em novembro de 2004, no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais.49

Figura 3.33. Processamento das amostras em laboratório: lavagem sobre peneiras (A); triagem
dos macroinvertebrados bentônicos (B) e; depósito dos macroinvertebrados na coleção de
referência do ICB-UFMG (C). ....................................................................................................50

Figura 3.34. Concentrações (µg/L) do íon amônio, ortofosfato e silicato nos ambientes aquáticos
amostrados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça em novembro de 2004. (observar
diferenças nas escalas). ............................................................................................................54

Figura 3.35. Concentrações de nitrogênio total, nitrato, ortofosfato e fósforo total nos ambientes
aquáticos amostrados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça em novembro de 2004....54

Figura 3.36. Ocorrência de carbono nos mananciais do Parque Estadual da Serra do Rola Moça,
Minas Gerais. .............................................................................................................................55

10
Figura 3.37. Composição granulométrica do sedimento nos ecossistemas estudados em
novembro de 2004 no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (MG). AMG - areia muito
grossa; AG - areia grossa ; AM - areia média, AF - areia fina, AMF - areia muito fina e S +
Arg - silte + argila. ......................................................................................................................57

Figura 3.38. Riqueza específica de algas perifíticas nos diferentes pontos amostrados do Parque
Estadual da Serra do Rola Moça, Minas Gerais, em novembro de 2004. ................................59

Figura 3.39. Alguns representantes dos gêneros identificados nos pontos amostrados no Parque
Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais: (A) Euastrum sp.
(Zygnemaphyceae); (B) Staurastrum tetracerum e (C) Cosmarium asphaesporum.................60

Figura 3.40. Número táxons (riqueza) identificados na comunidade zooplanctônica nos


ambientes lênticos e lóticos no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas
Gerais, em novembro de 2004. .................................................................................................61

Figura 3.41. Raízes que crescem interceptando as galerias de diferentes cavernas ferruginosas.
Raízes presas às laterais do conduto (A); Retículos radiculares que crescem pelo piso em
diferentes cavernas (B, C e D); “Rizotemas” (E); Orifício no topo de um rizotema,
correspondendo ao local onde as gotas atingem a formação (F). ............................................71

Figura 3.42. Eukoenenia spn. (Palpigradi) observado na gruta Rola Moca I. A seta de número 1
indica o flagelo e a seta de número 2 indica a pata tátil do organismo.....................................72

Figura 3.43. Arrhopalites spn. (Collembola) observado nas grutas Rola Moca III e IV. ...................72

Figura 3.44. Heteróptero troglomórfico da família Enicocephalidae encontrado na gruta Rola


Moça III. O parêntese indica o alongamento do corpo. Note a despigmentação do tegumento
e a marcante redução dos olhos (detalhe na seta amarela). A seta vermelha indica o tarso
em forma de ungüis que o organismo utiliza para capturar presas...........................................73

Figura 3.45. Chthoniidae sp1 (Pseudoscorpionida) troglomórfico encontrado nas grutas Rola
Moca III e IV. A elipse amarela indica indica a quelícera direita do organismo. .......................73

Figura 3.46. Coleóptero troglóbio da família Carabidae (Coarazuphium) encontrado na gruta Rola
Moça III. .....................................................................................................................................74

Figura 3.47. Opilião troglomórfico encontrado na gruta Rola Moça II. Reparar a acentuada
despigmentação do tegumento e a anoftalmia..........................................................................74

Figura 3.48. Curva do coletor reprsentando o esforço amostral (em dias de coleta) e o número
acumulado de espécies de mamíferos registradas no Parque Estadual da Serra do Rola
Moça e Estação Ecológica de Fechos, Minas Gerais. ..............................................................80

Figura 3.49. Rastro de lobo-guará Crysocyon brachyurus (A), fezes de um mamífero (B) e rastro
de cachorro-do-mato Cerdocyon thous (B), observados no Parque Estadual da Serra do
Rola Moça durante os estudos de campo. Fotos: Leonardo R. Viana. .....................................81

Figura 3.50. Abundância Relativa das Espécies de Médios e Grandes Mamíferos Registrados
Através das Caixas de Areia no Parque Estadual do Rola Moça, MG......................................81

11
Figura 3.51. Abundância Relativa das Espécies de Pequenos Mamíferos Capturados no Parque
Estadual do Rola Moça, MG. .....................................................................................................82

Figura 3.52. Espécime de Akodon cursor (A) e Bolomys lasiurus (B) capturados no Parque
Estadual da Serra do rla Moça, Minas Gerais, durante os trabalhos de campo. Foto
Leonardo R. Viana. ....................................................................................................................83

Figura 3.53. Número acumulativo de espécies em relação aos dias de amostragem no Parque
Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), MG.......................................................................85

Figura 3.54. Incremento de espécies em relação aos dias de amostragem no Parque Estadual da
Serra do Rola Moça (PESRM), MG. ..........................................................................................86

Figura 3.55. O rabo-mole-da-serra Embernagra longicauda (A) e o Beija-flor-de-gravata Augastes


scutatus (B). ...............................................................................................................................88

Figura. 3.56. Macuco (Tinamus solitarius), espécie ameaçada de extinção. ...................................89

Figura 3.57. Ninho com Ovos (A) e Macho (B) da Perereca Hyla faber. Fotos: Paula C. Eterovick.91

Figura 3.58. Habitat reprodutivo de Hyla minuta e Scinax fuscovarius (A), indivíduo jovem da
rãzinha Eleutherodactylus binotatus (B) e indivíduos macho das pererecas Scinax
longilineus (C) e Hyla circumdata (D). Fotos: Paula C. Eterovick. ............................................92

Figura 3.59. Indivíduo Jovem da Serpente Tropidodryas sp. (A), coletado na APE Taboões e o
lagarto Tropidurus sp. (B). Fotos: Paula C. Eterovick. ..............................................................93

Figura 3.60. Curva de Rarefação de Espécies de Carabaeidae em 7 Pontos: CE-BS, Cerrado


Balsamo; CP-CT, Campo Sujo Catarina; CP-MC, Campo Sujo Mutuca; MT-TB Mata
TAboões; MT-MC Mata Mutuca; MT-CT Mata Catarina; MT-FC Mata Fechos.........................96

Figura 3. 61. Freqüência de Classificação de Pontos na AER para o Plano de Manejo do


Estadual da Serra do Rola Moça e Estação Ecológica de Fechos segundo o grupo temático
de Vegetação .............................................................................................................................99

Figura 3.62. Freqüência de Classificação de Pontos na AER para o Plano de Manejo do Estadual
da Serra do Rola Moça (PESRM), incluindo a Estação Ecológica de Fechos (EEF), segundo
os grupos temáticos de Fauna.................................................................................................101

Figura 3.63. Vista da entrada da gruta Rola Moça 1 – Município de Nova Lima/MG.....................108

Figuras 3.64. Material arqueológico em superfície – Gruta Rola Moça 1 – Município de Nova
Lima – MG. Cerâmica encoantrada no fundo da gruta............................................................109

Figura 3.65. Carvão em superfície (A) e possível estrutura de combustão com blocos de hematita
aparentemente organizados, lembrando um braseiro (B). ......................................................109

Figura 3.66. Fragmento espesso e conjunto de fragmentos cerâmicos com antiplástico aparente.110

Figura 3.67. Nicho com carvões......................................................................................................110

Figura 3.68. Características naturais e sinais de atividade humana na Gruta do Rola Moça 3.....111

Figura 3.69. Carvões em superfície ................................................................................................112

12
Figura 3.70. Fragmento de batedor em superfície (A) e carvões em superfície (B).......................112

Figura 3.71. Rede de Lideranças e mapa de relações dos bairros do entorno do


PESRMpertencentes ao município de Belo Horizonte. ...........................................................125

Figura 3.72. Rede de Lideranças e mapa de relações dos bairros do entorno do PESRM
pertencentes ao município de Brumadinho. ............................................................................126

Figura 3.73. Rede de Lideranças e mapa de relações dos bairros do entorno do PESRM
pertencentes ao município de Ibirité. .......................................................................................127

Figura 3.74. Rede de Lideranças e mapa de relações pertencentes ao município de Nova Lima.128

Figura 3.75. Visão geral do município de Ibirité com plantações nas imediações do PESRM. .....129

Figura 3.76. Coleta de lenha dentro do PESRM.............................................................................130

Figura 3.77. Propriedades da MBR e da PBH nas bacias de Mutuca e Fechos. Fonte: MBR.......138

Figura 3.78. Limites das APEs. Fonte: MBR...................................................................................139

Figura 3. 79. Propriedades da MBR no interior e entorno do PESRM. Fonte: MBR ......................140

Figura 3.80. Probabilidade de ocorrência de fogo no PESRM. Pontos em vermelho indicam maior
probabilidade. Fonte: Arcebispo 2002. ....................................................................................141

Figura 3.81. Evolução das ocorrências de incêndios no PESRM de 1999 a 2005. Dados: Alan
Daniel Pessoa. .........................................................................................................................142

Figura 3.82. Freqüência das ocorrências de incêndios no PESRM de 1999 a 2005 nos três
períodos do dia. Dados: Alan Daniel Pessoa ..........................................................................143

Figura 3.83. Resumo esquemático das atividades definidas e executadas pela equipe
responsável pelo diagnóstico do uso público para a elaboração do plano de manejo do
Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas Gerais. ........................................................146

Figura 3.84. Fotografia divulgada entre os praticantes de escalada, indicando as vias existentes
na Serra das Andorinhas, Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG. .............................148

Figura 3.85. Restos de uma mina na região de Santa Paulina, Parque Estadual da Serra do Rola
Moça, MG.................................................................................................................................149

Figura 3.86. Região da nascente do rio Arrudas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.152

Figura 3.87. Restos de uma área de mineração abandonada com focos de erosão localizada no
Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG. .......................................................................153

Figura 3.88. Centro Integrado do Corpo de Bombeiros (A); Barragem antiga do manancial
Barreiro (B) e; o Museu do Barragista no manancial Barreiro (C)...........................................154

Figura 3.89. Cachoeira do Álvaro Antônio (A) e os centenários jequitibás da região do Barreiro
(B) no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG..............................................................155

Figura 3.90. Fraturas na couraça ferrífera detrítica, formando grutas na região da APE Mutuca
(A); antena e o centro de monitoramento de cargas elétricas na Serra do Cachimbo (B) e; o
Museu Ecológico no manancial do Mutuca, Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG. .156
13
Figura 3.91. Manancial Catarina com reservatório de água cristalina que foi apelidado de “Copo
d’Água” pelos ciclistas que freqüentam a região da APE Catarina no Parque Estadual da
Serra do Rola Moça, MG. ........................................................................................................157

Figura 3.92. Barragem auxiliar da Estação Ecológica de Fechos (EEF) margeada por Diksonia
sp., espécie da flora ameaçada de extinção. ..........................................................................160

Figura 3.93. Palestra oferecida para escolares no auditório do Parque Estadual da Serra do Rola
Moça (A); material de educação ambiental distribuído pela Polícia Militar do Meio Ambiente
na portaria do bairro Jardim Canadá (B) e; visita de funcionários da COPASA orientados por
guia capacitado para realizar esta atividade (C). ....................................................................161

Figura 3.94. Portaria do bairro Jardim Canadá (A) e a portaria desativada da região de Ibirité (B)
que permitem o acesso ao Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.............................168

Figura 3.95. Identificação e localização dos atrativos do Parque Estadual da Serra do Rola Moça
(PESRM), Minas Gerais...........................................................................................................175

Figura 3.96. Impactos identificados no interior do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas
Gerais, durante a elaboração do plano de manejo da unidade...............................................176

Figura 3.97. Mapeamento das trilhas potenciais do Parque Estadual da Serra do Rola Moça,
Minas Gerais, realizado durante a elaboração do plano de manejo da unidade. ...................188

Figura 3.98. Proposta para prática da escalada no quartzito, na Serra das Andorinhas,
denominado Roteiro 1..............................................................................................................193

Figura 3.99. Proposta de percurso para desenvolvimento da educação ambiental e patrimonial


no lixão e na Mineração Santa Paulina, denominada Roteiro 2..............................................194

Figura 3.100. Proposta de percurso para desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e


interpretação na Área de Proteção Especial (APE) Taboões, denominada Roteiro 3............195

Figura 3.101. Proposta de percurso para desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e


interpretação no Cerrado stricto sensu e em Pitangueiras, denominada Roteiro 4................196

Figura 3.102. Proposta de desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e interpretação


na antiga mineração próxima ao bairro Solar, denominada Roteiro 5. ...................................197

Figura 3.103. Proposta de desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e interpretação


ambiental na trilha do Museu Ecológico, denominada Roteiro 6.............................................198

Figura 3.104. Proposta de desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e interpretação


ambiental na barragem Catarina, denominada Roteiro 7........................................................199

14
Lista de Tabelas

Página

Tabela 3.1. Pontos de amostragem da estratigrafia do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e
as principais características de cada localidade.......................................................................... 26

Tabela 3.2. Locais de amostragem da circulação atmosférica do Parque Estadual da Serra do


Rola Moça (PESRM) e as características gerais de cada ponto................................................. 27

Tabela 3.3. Síntese do comportamento atmosférico e dos elementos climáticos nos pontos de
amostragem no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas Gerais................................... 30

Tabela 3.4. Espécies de plantas exóticas encontradas no Parque Estadual da Serra do Rola
Moça (PESRM), Minas Gerais..................................................................................................... 43

Tabela 3.05. Coordenadas Geográficas das Estações de Amostragem no Parque Estadual da


Serra do Rola Moça. .................................................................................................................... 44

Tabela 3.6: Pontuação atribuída aos macroinvertebrados bentônicos para a determinação do


BMWP. ......................................................................................................................................... 50

Tabela 3.7. Classificação da qualidade das águas com base na pontuação atribuída pelo BMWP
(segundo Alba-Tercedor & Sanches-Ortega, 1998 e Junqueira & Campos, 1998). ................... 50

Tabela 3.8. Variáveis físicas e químicas da água, medidas em diferentes locais de coelta do
Parque Estadual da Serra do rola Moça (PESRM), em novembro de 2004. Os parâmetros
temperatura (T), pH, condutividade elétrica (cond.) e turbidez (Turb) foram medidos in situ e
a concentração de oxigênio dissolvido na coluna d’água (OD), a alcalinidade (Alc) e a
concentração de clorofila-a foram determinados em laboratório. ............................................... 52

Tabela 3.9. Concentração de sílicato, nitrato, amônio, nitrogênio total, ortofosfato e fósforo total
presentes em novembro de 2004, em 10 pontos amostrados no Parque Estadual da Serra
do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais. Obs.: o hífen indica valores inferiores a 11 (µg/l). ....... 53

Tabela 3.10: Classificação das águas segundo a pontuação do BMWP nas estações amostrais
avaliadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais. ...................... 56
-1
Tabela 3.11: Densidade (org mL ) das classes fitoplanctônicas identificadas nos ambientes
aquáticos lênticos e lóticos amostrados em novembro de 2004, no Parque Estadual da Serra
do Rola Moça (MG)...................................................................................................................... 59

Tabela 3.12: Índices bióticos e classes de qualidade de água do Córrego Seco na captação
Fechos (AV240), com base nos macroinvertebrados, obtidos no período de Abril, Julho e
Outubro de 2003. ......................................................................................................................... 64

15
Tabela 3.13: Índices Bióticos e Classes de Qualidade de Água do Córrego Capão do Boi na
Captação Mutuca, Barragem Principal (AV280), com Base nos Macroinvertebrados, em
Julho e Outubro de 2003. ............................................................................................................ 65

Tabela 3.14. Valores de referência atribuídos aos pontos amostrados.............................................. 86

Tabela 3.15. Valores atribuídos para a riqueza, espécies endêmicas (EN), fragilidade (FH),
qualidade (QH) e diversidade (DH) de hábitat, com a respectiva média aritmética dos pontos
amostrados no PESRM (MG). ..................................................................................................... 86

Tabela 3.16. Espécies endêmicas (EN) e ameaçadas de extinção (AM) com registro pro PESRM
(MG). * Registros advindos do programa de reintrodução. ......................................................... 87

Tabela 3.17. Integração da categorização dos pontos amostrados durante a Avaliação Ecológica
Rápida do Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, incluindo a Estação
Ecológica de Fechos. 1- Excelente; 2- Boa; 3- Regular; 4- Ruim; 5- Péssima. ........................ 100

Tabela 3.18. Listagem de lideranças entrevistadas.......................................................................... 115

Tabela 3.19 Domicílios particulares permanentes, segundo condição de ocupação (%). ............... 119

Tabela 3.20. Espécies de plantas medicinais e ornamentais coletadas indevidamente no Parque


Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM)............................................................................... 130

Tabela 3.21. Principais impactos observados no interior do Parque Estadual da Serra do Rola
Moça, Minas Gerais, durante a elaboração do plano de manejo da unidade. .......................... 174

Tabela 3.22. Auxílio na identificação de prioridades de investimento para o desenvolvimento de


projetos específicos, pela administração do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, para
as trilhas e roteiros propostos com base no custo estimado de implementação e atratividade.187

Tabela 3.23. Variáveis utilizadas para o cálculo da capacidade de carga para o uso das trilhas e
roteiros propostos durante a elaboração do plano de manejo do Parque estadual da Serra
do Rola Moça, Minas Gerais. Para maiores detalhes consultar o texto.................................... 201

16
3. ANÁLISE DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

Neste terceiro encarte serão apresentadas as informações gerais do diagnóstico


realizado no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM) e na Estação Ecológica de
Fechos (EEF), a análise dos fatores bióticos e abióticos, bem como informações sobre os
fatores relativos às atividades humanas existentes nas unidades de conservação.

3.1. Informações Gerais

O Parque Estadual da Serra do Rola Moça, com uma área total de 3.941,09 ha, e a
Estação Ecológica de Fechos, com uma área de 602,95 ha, estão situados na confluência
das Serras do Curral, da Moeda e dos Três Irmãos, englobando quatro municípios do
Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, Nova Lima, Ibirité e Brumadinho. Localizados
próximos a grandes concentrações urbanas, abrigam uma paisagem peculiar por suas
características geológicas (Figura 3.2) e topografia acidentada. Região de natureza
privilegiada se destaca pela beleza cênica dos ondulados das serras conformando um
horizonte convidativo à contemplação e ao reencontro com a natureza. Suas riquezas
naturais estão presentes nos diferentes ecossistemas que abrigam, como as matas ciliares,
as áreas de cerrado e os campos rupestres. As conhecidas e peculiares canelas-de-ema
são plantas facilmente encontradas em ambas as unidades, bem como o lobo-guará, a
lontra e o mico-estrela, exemplos de uma fauna diversificada e, em alguns casos, ameaçada
de extinção.

Situados no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, em uma região com intensa


atividade minerária, o PESRM e a EEF sofrem expressivos impactos derivados das
atividades extrativistas de minério de ferro e calcáreo. Além disso, ambas as unidades se
destacam pela intensa ocupação humana no seu entorno imediato, sendo, portanto, o seu
manejo e conservação, peculiares no cenário mineiro e nacional.

3.1.1. Acessos

Dada a sua proximidade com a capital, Belo Horizonte, o PESRM e a EEF dispõem
de fácil acesso às suas dependências (Figura 3.1). O município de Belo Horizonte tem
conexão rodoviária com importantes cidades do Brasil através da rodovia BR-381, na
direção de São Paulo, e da BR-040, na direção de Brasília e do Rio de Janeiro. Além
destas, dispõe do Aeroporto da Pampulha, com vôos regionais e pontes aéreas para São
Paulo e Brasília e do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins.

O acesso ao Parque é feito por transporte rodoviário, sendo distante 32 km da capital


mineira, percorridos em um intervalo médio de meia hora. A portaria principal situa-se no
bairro Jardim Canadá, município de Nova Lima, com acesso pela rodovia BR-040. O recente
calçamento do bairro oferece condições mais adequadas ao tráfego na região.

17
Figura. 3.1 Mapa de localização e acesso ao Parque Estadual da Serra do Rola Moça e a Estação
Ecológica de Fechos, nas proximidades de Belo Horizonte, Minas Gerais.

18
3.1.2. Histórico de Criação do PESRM e EEF

O Parque Estadual da Serra do Rola Moça e a Estação Ecológica de Fechos estão


localizados na porção sul do complexo da Serra do Espinhaço e abrange em seus domínios,
várias nascentes e cabeceiras de rios das bacias do Rio das Velhas e do Paraopeba. Em 27
de setembro de 1994, pelo Decreto Estadual n° 36.071, foi criado o PESRM, para proteger
os seis importantes mananciais de água (Taboões, Rola-Moça, Bálsamo, Barreiro, Mutuca e
Catarina) que abastecem 500 mil usuários integrantes de parte da população de Belo
Horizonte, Ibirité e Brumadinho. Em 1982, de forma a assegurar o fornecimento de água em
qualidade, quantidade e constância, esses mananciais foram declarados como Áreas de
Proteção Especial (APEs) pelo governo estadual. Inseridas num ambiente diverso que
abrange vegetação de cerrado, matas ciliares e campos ferruginosos, a conservação destes
distintos ecossistemas no PESRM garante a qualidade da conservação ambiental no estado
de Minas Gerais, bem como o abastecimento de água para importante parcela da população
metropolitana.

A proposição para criação do Parque Estadual da Serra do Rola Moça surgiu para
preencher lacunas existentes no Sistema de Unidades de Conservação do Estado.
Qualitativamente, Minas Gerais é um dos estados de maior diversidade biológica do Brasil,
com rica fauna e flora, distribuídas em três biomas: Mata atlântica, Caatinga e Cerrado.

3.1.3. Origem do Nome

De acordo com Wilson Geraldo Braga, zelador, morador da região, existia uma
fazenda lá no fundo onde morava um casal que tinha seus filhos. A moça casou e no belo
dia com festança. O transporte era só a cavalo. No caminho pra nova casa, a casa deles,
aconteceu o acidente. Eles rolaram. Aí pegou o nome, Serra do Rola Moça. O caso inspirou
Mário de Andrade, poeta modernista:

A serra do rola-moça

“ A Serra do Rola-Moça E riam. Como eles riam!


Não tinha esse nome não... Riam até sem razão.
Ali, Fortuna inviolável!
Eles eram do outro lado, A Serra do Rola-Moça O casco pisara em falso.
Vieram na vila casar. Não tinha esse nome não. Dão noiva e cavalo um salto
E atravessaram a serra, Precipitados no abismo.
O noivo com a noiva dele As tribos rubras da tarde Nem o baque se escutou.
Cada qual no seu cavalo. Rapidamente fugiam Faz um silêncio de morte,
E apressadas se escondiam Na altura tudo era paz ...
Antes que chegasse a noite Lá embaixo nos socavões, Chicoteado o seu cavalo,
Se lembraram de voltar. Temendo a noite que vinha. No vão do despenhadeiro
Disseram adeus pra todos O noivo se despenhou.
E se puserem de novo Porém os dois continuavam
Pelos atalhos da serra Cada qual no seu cavalo, E a Serra do Rola-Moça
Cada qual no seu cavalo. E riam. Como eles riam! Rola-Moça se chamou.
E os risos também casavam As tribos rubras da tarde
Os dois estavam felizes, Com as risadas dos cascalhos, Rapidamente fugiam
Na altura tudo era paz. Que pulando levianinhos E apressadas se escondiam
Pelos caminhos estreitos Da vereda se soltavam, Lá embaixo nos socavões,
Ele na frente, ela atrás. Buscando o despenhadeiro. Temendo a noite que vinha.”
19
3.2. Caracterização dos Fatores Abióticos e Bióticos

3.2.1. Meio Abiótico

O conjunto serrano que constitui o Quadrilátero Ferrífero caracteriza a região central


do Estado de Minas Gerais, sendo marcado principalmente pelas grandes reservas minerais
nele existentes. A localização do Parque do Rola Moça e da Estação Ecológica de Fechos,
na junção dos sistemas serranos que bordejam os setores norte (Serra do Curral) e oeste
(Serra da Moeda) do Quadrilátero Ferrífero, os tornam um atrativo turístico pelas belas
paisagens que dele se descortinam, definidas pela geologia e pelas elevadas altitudes.

O relevo não pode ser identificado e classificado simplesmente pela morfologia e


morfometria, sendo fundamental o entendimento dos processos morfogenéticos que nele
atuaram e ainda atuam. Neste sentido, na análise dos dados do meio físico, onde está
inserido o PESRM e a EEF, considerou-se que as morfoestruturas são os componentes
principais do relevo daquela região, e também responsáveis pela sua compartimentação
fisiográfica.

Desta maneira, para a indicação dos compartimentos de relevo existentes no


PESRM e na EEF e as características geológicas que os individualizavam foram seguidos
os procedimentos seguintes:
1. Uma análise sistemática das cartas geológicas e topográficas da área, e de uma
imagem de satélite de alta definição (Ikonos).
2. Traçado de perfis topográficos-geológicos para cada compartimento.
3. Elaboração de modelados tridimensionais do relevo, com destaque para a
compartimentação, através dos softwares de geoprocessamento Surfer® e
AutocadMap®.
4. Descrição dos compartimentos quanto aos aspectos geológico-geomorfológicos, aos
processos erosivos atuantes em cada um e ao grau de fragilidade.
Para compreensão da circulação atmosférica sobre as unidades, utilizou-se a
compartimentação geológico-geomorfológica proposta para distribuir abrigos meteorológicos
móveis, dotados de sensores de temperatura e umidade (termohigrômetros de leitura direta)
e de vento, de acordo com os procedimentos:
1. A velocidade do vento foi inferida a partir do uso da Escala de Beaufort.
2. Na coleta de dados, procurou-se observar os padrões de circulação predominantes,
de forma a evitar a captura de situações anômalas, pouco representativas da
circulação atmosférica local.
3. A coleta de dados foi realizada no dia 13 de maio de 2005, no período do outono,
sob a influência do Anticiclone do Atlântico Sul.
4. Foram observados os horários mundiais de coleta padrão (12:00h, 18:00h e 00:00h,
horário de Greenwich).
5. Os registros obtidos dos elementos climáticos – temperatura, umidade relativa do ar
e velocidade do vento – foram, posteriormente, interpolados com as cotas
altimétricas, para geração de mapas .
6. As cartas de direção do vento foram produzidas a partir da inserção de sua direção
de origem.
7. No horário de coleta das 12:00z (09:00h no horário de Brasília) não foram coletados
dados dos pontos localizadas na Escarpa Norte da Unidade de Conservação. Os
mapas temáticos do horário foram gerados a partir dos outros cinco pontos de coleta,
por isso são menos precisos. Não foram registrados problemas nas coletas dos
demais pontos e horários.
20
Figura 3.2. Mapa de unidades geológicas do ESRM e da EEF.

21
3.2.1.1. Caracterização Fisiográfica

3.2.1.1.1. Compartimentação geológico-geomorfolófica

O Parque Estadual da Serra do Rola Moça, por estar localizado na junção das
megaestruturas que constituem as Serras do Curral e da Moeda, apresenta um relevo
dividido em compartimentos caracterizados pela litologia.

I – A Escarpa Norte, definida pelo Homoclinal da Serra do Curral.

A seqüência de rochas, por apresentar resistências diferenciadas, possibilitou a


conformação de três feições de relevo.

a) No terço superior da vertente, onde ocorrem os itabiritos recobertos por carapaças


ferruginosas, observam-se cristas paralelas no sentido perpendicular à declividade,
separadas por ravinas estreitas, produzidas por escoamento superficial concentrado;

b) Na porção intermediária, onde predominam rochas dolomíticas, susceptíveis à


dissolução, a topografia é caracterizada por patamares aplainados;

c) No terço inferior, fazendo a transição para o Embasamento Cristalino, os filitos e


quartzitos formam um alinhamento de colinas de baixa declividade e perfil plano-convexos.

Nesta escarpa podem ser encontradas, de oeste para leste, as cabeceiras dos
córregos Taboão, Fubá, Rola Moça, Bálsamo e Barreiro. As nascentes ocorrem no contato
entre as rochas dolomíticas do patamar intermediário e as rochas filíticas e quartzíticas do
terço inferior (Figuras 3.3 e 3.4).

Figura 3.3. Modelagem tridimensional geológica do Parque Estadual da Serra do Rola Moça.
22
Figura 3.4. A Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da Serra
do Rola Moça – escarpa norte.

3.2.1.1.2. Compartimento das cabeceiras

Ribeirão Casa Branca

Situado na junção da escarpa sul da Serra do Curral e o flanco oeste da Serra da


Moeda. O terço superior da escarpa é constituído por itabiritos e apresenta-se
profundamente ravinado pelo escoamento superficial. Na porção mediana da vertente, uma
menor declividade marca o afloramento de filitos. Rampas de colúvio ferruginoso mascaram
o contato dessas rochas. Na borda leste da bacia, rochas quartzíticas afloram no terço
inferior, propiciando o aparecimento de uma linha de crista secundária, onde blocos
ruiniformes de quartzito marcam a paisagem. No setor inferior do vale, o modelado
corresponde ao de colinas poli-convexas, típicas das rochas do embasamento cristalino
(Figuras 3.3 e 3.5).

Fig 3.5 A Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da Serra do


Rola Moça – cabeceiras dos ribeirões Casa Branca e Catarina

23
Ribeirão Catarina

O alto-médio curso do ribeirão Catarina corta as rochas da parte central do sinclinal


Moeda, sendo direcionado por um falhamento geológico orientado N-S. Suas cabeceiras
formam um anfiteatro sobre os itabiritos, onde ravinas profundamente escavadas formam
uma escarpa quase verticalizada. As nascentes que formam o ribeirão Catarina ocorrem no
contato entre o itabirito e o filito, em área encaixada e bastante declivosa. Este contato
encontra-se mascarado por um espesso colúvio, bastante plaquetoso. A declividade diminui
um pouco, mas volta a crescer quando afloram os quartzitos que margeiam a parte inferior
do anfiteatro, principalmente na borda leste, formando paredões ruiniformes quase
verticalizados (ver Figuras 3.5 e 3.6b).

Ribeirão Mutuca

Localizadas entre o flanco leste da Serra da Moeda e a escarpa sul da Serra do


Curral, estas cabeceiras se originam no contato entre o itabirito e o filito. Este último ocorre
em um pacote pouco espesso nesta área, caracterizando a parte superior da vertente que
aqui é menos íngreme que nas áreas anteriores. A drenagem recorta as rochas xistosas do
Grupo Nova Lima, o que favoreceu a instalação de um processo erosivo menos intenso,
com a formação de colinas com vertentes plano-convexas de baixa declividade (ver Figuras
3.3 e 3.6).

Figura 3.6. Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da Serra


do Rola Moça - cabeceiras do Ribeirão Mutuca e Estação Ecológica de Fechos.

3.2.1.2. Estação Ecológica de Fechos

Situada no flanco leste da Serra da Moeda, constitui uma depressão escavada a


partir da superfície cimeira, onde afloram itabiritos e dolomitos do Grupo Itabira. O relevo

24
local é bastante dissecado por ravinamentos sobre os itabiritos, suavizando-se sobre as
rochas dolomíticas. Um colúvio recobre o contato litológico, onde se originam as nascentes
do córrego de Fechos (ver Figuras 3.3 e 3.7).

III – A superfície cimeira

Superpondo de maneira discordante as estruturas litológicas existentes, ocorre uma


cobertura detrítica formada por couraças ferruginosas, depósitos argilosos e colúvios de
granulometrias variadas. Sua topografia aplainada está relacionada com os processos
sedimentares e pedogênicos que a originaram. Por se tratar de material extremamente
resistente aos processos de intemperismo, sustenta as partes mais elevadas do sistema
serrano. Esta superfície apresenta micro porosidade textural, funcionando como área de
recarga para os aqüíferos que percolam pelos itabiritos lixiviados, situados imediatamente
abaixo. Esta superfície vem sendo desmontada pela erosão remontante, comandada pela
rede drenagem que a circunda em nível topográfico inferior. O desmonte das seqüências
rochosas faz recuar as cabeceiras, criando espaços vazios por baixo das couraças, que
acabam desabando pela ação da gravidade (ver Figuras 3.5 e 3.6d).

Figura 3.7. Modelagem tridimensional da compartimentação geológica do Parque Estadual da Serra


do Rola Moça – superfície cimeira.

Observou-se a ausência de uma cobertura pedológica desenvolvida recobrindo as


vertentes. A forte declividade destas impossibilita a formação de solos, permitindo a
exportação do material intemperizado, que acaba por se depositar nas rupturas de declive,
formando as rampas de tálus. Esses colúvios apresentam espessuras e texturas variadas,
mas representam os locais onde se instala uma vegetação de maior porte.

A Serra da Moeda corresponde ao divisor de águas entre duas importantes bacias


hidrográficas: rio Paraopeba, a oeste, e o rio das Velhas a leste. As redes de drenagem
existentes pertencem a uma destas bacias. Entretanto, o alinhamento da Serra do Curral

25
cria quatro direções de escoamento, duas para cada bacia principal, direcionando a
drenagem das sub-bacias para sul (Mutuca e Fechos – bacia do Rio das Velhas; Catarina e
Casa Branca – bacia do Paraopeba) ou para norte (Barreiro e Jatobá – bacia do Rio das
Velhas; Taboão, Fubá, Rola Moça e Bálsamo – bacia do Paraopeba).

Os pontos de amostragem avaliados durante a Avaliação Ecológica Rápida estão


descritos na Tabela 3.1.

Tabela 3.1. Pontos de amostragem da estratigrafia do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e as
principais características de cada localidade.
Compartimento Ponto de análise Coordenadas Características importantes
(UTM)

4 - Estrada para o 0603471 / Itabirito argiloso com veios de quartzo.


Barreiro 7783913 Vale encaixado / desnível abrupto /

6 - Estrada da 0601021 / Quartzito intemperizado


captação Bálsamo - 7783109
Porção inferior da encosta
próximo portão 16
I-Escarpa norte
7- Mina Santa Paulina 0597737 / Mineração de ferro paralisada, com
7780054 extração ilegal de colúvio.
9 – Estrada para o 0605764 / Contato itabirito – filito
Barreiro pela Serra do 7785163
Cobertura de canga e colúvio espesso
Cachimbo
2 - Estrada para 0605117 / Itabirito argiloso
captação do Rib. 7780824
Início do pacote de colúvio sobre
Catarina
horizonte C
2.1 – Captação do 0604563 / Contato itabirito – filito
Rib. Catarina 7780688
Espessa cobertura de colúvio
8 – Estrada para Casa 0599689 / Contato itabirito - dolomito
Branca 7780273
11 – Captação de 0608325 / Afloramento de itabirito próximo ao
II-Setor Fechos 7780149 contato com dolomito. Forte declividade
Meridional e vertentes abruptas
12 – Estação 0609486 / Contato filito - itabirito
elevatória de Fechos 7780814
13 – Captação 0608600 / Colúvio com blocox de canga dura.
próximo a Fechos 7780623 Vertentes menos abruptas
14 – Estrada para 0608555 / Gruta de canga
Captação de Fechos 7781263
15 – Cabeceira do 0607792 / Vertentes abruptas, carapaça de canga
Córrego de Fechos 7780629
1 – Cabeceira do 0604425 / Superfície aplainada de topos, coberta
córrego Catariana 7781720 por canga e campos ferruginosos
III-Superfície 3 – Superfície de topo 0602988 / Topo aplainado com cobertura de canga
Cimeira 7782983
10 – Serra do 0606109 / Cobertura de canga
Cachimbo 7785323

26
3.2.1.2. Análise do comportamento atmosférico e dos elementos climáticos

Postas as interações entre atmosfera e a superfície em maiores escalas (encarte 2),


foi proposta a utilização de uma metodologia de trabalho experimental, a fim de melhor
compreendê-las em uma escala reduzida. Os pontos de coleta encontram-se especificados
no Tabela 3.2.

Tabela 3.2. Locais de amostragem da circulação atmosférica do Parque Estadual da Serra do Rola
Moça (PESRM) e as características gerais de cada ponto.

Compartimento Local de amostragem Localização Características


geográfica (UTM) importantes

1.1 - Estrada da captação 0602257 / 7563674 Baixa declividade


Bálsamo
I-Escarpa norte
1.2 - Estrada de Pitangueiras 0603041 / 7784096 Pequena depressão do
relevo

2.1- Cabeceiras do Rib. Casa 0598750 / 7779970 Proximidade de uma


Branca crista

2.2 - Cabeceiras do Rib. Catarina 0604337 / 7080834 Vale encaixado /


II-Setor desnível abrupto
Meridional
2.3 - Captação do Mutuca 0606876 / 7785894 Acima da mata galeria

2.4 - Estação ecológica de 0608282 / 7780844 Vertente declivosa


Fechos

III-Superfície 3.1 - Mirante dos Veados 0601113 / 7781678 Superfície coberta por
Cimeira canga

O Parque do Rola Moça possui um forte gradiente altimétrico que se expressa na


ocorrência de rupturas abruptas do relevo. As altitudes, dentro da Unidade de Conservação
variam aproximadamente dos 900 aos 1400m. Isto potencializa a geração de um gradiente
térmico atmosférico. De forma geral a temperatura tende a decrescer com o aumento da
altitude. Esta generalização, no entanto, necessita de uma análise detalhada posto que, o
ar, em movimento, põe-se em contato com a superfície e pode, assim, adquirir suas
propriedades físicas. Desta forma torna-se necessário observar a dinâmica da circulação
atmosférica para elucidar os dados observados. A análise do comportamento dos elementos
climáticos monitorados e da circulação atmosférica será executada a partir do horário de
coleta.

A coleta das 12:00z – (09:00h no horário de Brasília)

Por motivos técnicos não foram coletados dados no Compartimento I da Unidade de


Conservação, conforme observado anteriormente e registrado no Quadro 3.02. Neste
horário predominaram ventos do setor E, em suas variações de SE a NE.

Os sítios de coleta situados nas cotas mais elevadas – Mirante e Cabeceira do


Ribeirão Casa Branca registraram as mais elevadas velocidades do vento (Figura 3.8).
Nestes pontos registraram-se rajadas entre 39 e 49 km/h. Estas observações indicam a
velocidade que o vento pode atingir no Compartimento III do Rola Moça. A posição
27
topográfica favorece o aumento da velocidade do vento pela diminuição da rugosidade do
relevo e pela presença de uma cobertura vegetal de baixo porte, fatores que reduzem o
atrito.

Ressalta-se que o aumento da velocidade do vento, neste Compartimento, favorece


ao aumento da capacidade de carreamento de material particulado da região circunvizinha.
Os outros sítios de amostragem registraram velocidades variáveis, sendo a mais baixa
registrada nas Cabeceiras do Ribeirão Catarina (1 a 5 km/h). Neste caso, a posição do sítio
2.2, num vale encaixado, com vegetação de porte mais elevado, parece favorecer a redução
da velocidade do vento. Esta redução pode implicar na perda de capacidade de transporte e
favorecer a deposição de partículas maiores no local.

Figura 3.8 Velocidade do vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça.

A origem predominante do vento, aliada à posição dos sítios de amostragem, pode


contribuir para a compreensão dos valores de temperatura e umidade do ar, observados. No
sítio 2.2 (Cabecearias do Ribeirão Catarina) a direção predominante do vento (Figura 3.9) foi
NE. A orientação da rede de drenagem parece contribuir para a explicação do registro.
Neste caso, ressalta-se que a circulação se faz sobre uma região em rápido processo de
ocupação com problemas de infra-estrutura importantes.

O tráfego de veículos sobre vias não pavimentadas, em cobertura pedológica frágil,


lança grande quantidade de partículas no ar. O vento sobre o bairro Jardim Canadá e
adjacências pode conduzí-las até o sítio em questão.

28
Figura 3.9 Modelo Tridimensional da direção do vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça –
direção do vento as 12:00

Foram observadas temperaturas que variaram entre 18ºC e 19ºC (Figura 3.10). Nas
Cabeceiras do Ribeirão Casa Branca (2.1) registrou-se a menor temperatura ambiente e a
mais elevada umidade relativa do ar (Figura 3.14) - 71%-, enquanto o sítio da Captação do
Mutuca (2.3) apresentou a temperatura mais elevada. Observou-se um gradiente E-W de
temperatura e umidade, estando o extremo SW (sítio 2.1) no setor mais fresco e úmido da
região (Figura 3.11). Os dados observados sugerem uma dinâmica ambiental diferenciada
que necessita estudos complementares (Tabela.3.3).

Figura 3.10. Temperatura ambiente no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 12:00.

29
Figura 3.11. Umidade Relativa do Ar no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 12:00.

Tabela 3.3. Síntese do comportamento atmosférico e dos elementos climáticos nos pontos de
amostragem no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas Gerais.
Compartimento Local de Horário Elemento Climático
amostragem de Temperatura Umidade Direção Velocidade
coleta (em ºC) relativa do vento do vento
do ar (%) (m/s)
I-Escarpa norte 1.1-Estrada da 12:00z * * * *
captação Bálsamo 18:00z 24 68 N-Ne 4
00:00z 18 90 N-Ne 3
1.2-Estrada de 12:00z * * * *
Pitangueiras 18:00z 24 60 N 5
00:00z 17 89 Calmaria 0
II-Setor 2.1-Cabeceiras do 12:00z 18 71 E 6
Meridional Rib. Casa Branca 18:00z 21 67 Se 4
00:00z 17 80 E 5
2.2-Cabeceiras do 12:00z 19 63 Ne 1
Rib. Catarina 18:00z 23 59 Ne 1
00:00z 17 80 Ne 1
Captação do 12:00z 21 65 SW 3
Mutuca 18:00z 26 55 N-Ne 2
00:00z 18 90 Ne 1
Estação Ecológica 12:00z 19 65 E 4
de Fechos 18:00z 20 73 E 3
00:00z 17 90 E 3
III-Superfície 3.1-Mirante dos 12:00z 19 63 Se 6
Cimeira Veados 18:00z 23 67 Se 3
00:00z 16 79 Se 5
*Não foram coletados dados nos horários indicados.

30
A coleta das 18:00z – (15:00h no horário de Brasília)

Neste horário predominaram ventos do setor E, em suas variações de SE a NE e a


velocidade do vento diminuiu em todos os compartimentos (Figura 3.12). No Compartimento
I, Escarpa Norte, o vento registrou orientação N ou NE. A orientação da Serra do Curral
parece exercer forte influência sobre a orientação da circulação (Figura 3.13). As maiores
velocidades foram registradas no Compartimento I, atingindo 29 a 38 km/h no sítio 1.2
(Estrada de Pitangueiras). Foram registradas velocidades de 20 a 28 km/h no sítio 1.1
(Estrada da Captação do Bálsamo) e também no extremo SW, sítio 2.1. Persistiram valores
mais baixos no sítio 2.2 (Cabeceiras do Ribeirão Catarina).

Figura 3.12. Velocidade do Vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 18:00.

Figura 3.13. Modelo Tridimensional do relevo no vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça –
direção do vento as 18:00.
31
Os registros deste horário apontaram a possibilidade de aporte de poluentes
oriundos do tecido urbano de Belo Horizonte para o Compartimento I (Escarpa Norte),
expondo as captações deste setor à influência de componentes atmosféricos e particulados
derivados de atividades urbano-industriais. A situação no sítio 2.2 permaneceu inalterada,
bem como a interpretação proposta.

Em geral, observou-se um padrão N-S, de gradiente de temperatura (Figura 3.14),


estando a captação do Mutuca (sítio 2.3) no setor mais quente. O Compartimento I
apresentou temperaturas em torno de 24ºC, enquanto a parte S. da Unidade de
Conservação registrou temperaturas até 6ºC inferiores àquelas dos sítios mais setentrionais.
Não foram observados padrões espaciais para a umidade relativa do ar (Figura 3.15),
ressaltando-se que os valores mais baixos foram registrados na Captação do Mutuca (55%),
coerente com a temperatura mais elevada. Os maiores valores foram registrados no sítio 2.4
(Estação Ecológica de Fechos).

Figura 3.14. Temperatura ambiente no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 18:00.

Figura 3.15. Umidade relativa do ar no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 18:00.
32
A coleta das 00:00z – (21:00h no horário de Brasília)

Neste horário predominaram ventos do setor E e a velocidade do vento voltou a se


intensificar nas partes mais elevadas no Parque do Rola Moça (Figura 3.16). Foram
registradas variações de SE a NE no sentido da circulação (Figura 3.17) e sua velocidade
variou entre 29 e 38km/h . Nas demais áreas, a velocidade do vento diminuiu em relação à
coleta das 18:00z.

Figura 3.16. Velocidade do Vento no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 00:00.

Figura 3.17. Modelo Tridimensional do relevo no Parque Estadual da Serra do Rola Moça – direção
do vento as 00:00.

No Compartimento I – Escarpa norte, voltou a ser registrada a mesma direção de


origem do vento e reforçou-se a percepção da exposição das captações do setor à

33
influência do tecido urbano de Belo Horizonte. Persistiram os registros de orientação e
velocidade do vento no sítio 2.2.

Figura 3.18. Temperatura ambiente no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 00:00.

O comportamento térmico apontou uma redução do gradiente de temperatura que,


neste momento passou a ser de apenas 2ºC entre os sítios mais quentes e os mais frios
(Figura 3.18). Este resultado pode ser interpretado pelo próprio comportamento da
atmosfera que, inibida pela falta da fonte de calor principal, reforça o papel de outros
elementos do ambiente na definição do campo térmico. Neste caso, os setores mais
meridionais e, principalmente mais elevados, da Unidade de Conservação apresentam as
temperaturas mais baixas (16ºC no Mirante dos Veados - sítio 3.1). Quanto à umidade
relativa do ar (Figura 3.19) registrou-se sua elevação em todos os setores, para valores
próximos a 90%. Este fato também se relaciona ao resfriamento noturno. Seu padrão
espacial apresentou-se, grosseiramente, orientado de NE-SW, repetindo a orientação do
relevo.

Figura. 3.19. Umidade relativa do ar no Parque Estadual da Serra do Rola Moça as 00:00.

34
3.2.2. Meio Biótico

3.2.2.1. Avaliação Ecológica Rápida

O diagnóstico do meio biótico foi desenvolvido a partir de uma análise interdisciplinar


dos resultados obtidos pelas áreas temáticas, tanto em relação aos ecossistemas terrestres
quanto dos aquáticos. Os grupos temáticos contemplados nesse diagnóstico foram: botânica
(vegetação), mastofauna (mamíferos), ornitofauna (aves), herpetofauna (anfíbios e répteis),
e entomofauna (abelhas e besouros).

Para a coleta dos dados utilizou-se a metodologia da Avaliação Ecológica Rápida,


AER, com adaptações. Os trabalhos se iniciaram com a pesquisa de dados secundários
(pesquisa bibliográfica) e da avaliação geral da paisagem, no Parque Estadual da Serra do
Rola Moça e da Estação Ecológica de Fechos, por meio da interpretação de imagens de
satélite IKONOS com resolução de um metro.

A partir da análise da paisagem foi possível dividir o parque em sítios de amostragem


para o levantamento de campo. Seguindo a metodologia, a delimitação desses sítios foi
baseada numa pré-classificação de tipos vegetacionais ou classes de uso ou cobertura do
solo, associado aos aspectos geomorfológicos locais, tais como vales de rios, escarpas e
outros (Figura 3.22). Uma visita de reconhecimento de campo permitiu a avaliação mais
detalhada da paisagem, em cada sitio e a definição de pontos de amostragem que foram
marcados com um GPS.

Foram definidos na área do PESRM oito sítios de amostragem, sendo que a EEF,
apesar de ser uma unidade autônoma ao PESRM, foi considerada como sendo um dos
sítios de amostragem (Figura 3.20). Os sítios e pontos definidos, bem como as suas
coordenadas geográficas resultaram no mapa de vegetação do PESRM e EEF (Figura
3.22). Em campo, cada ponto de amostragem foi inicialmente avaliado pela equipe quanto
ao seu estado geral de conservação, por meio do uso de fichas padronizadas; em seguida,
cada área temática na Avaliação Ecológica Rápida (AER) envolvida utilizou métodos
próprios de observação, através dos quais puderam efetuar diagnósticos específicos de
suas respectivas áreas de conhecimento.

Além das avaliações realizadas nos pontos de amostragem, observações


oportunísticas foram obtidas também em outros locais, de maneira individual por cada
disciplina envolvida. Essas informações também foram incorporadas nas avaliações gerais
dos sítios e da unidade como um todo.

Uma vez concluídas as avaliações dos pontos integrantes de cada sítio amostral,
foram efetuadas as comparações entre esses pontos e avaliações gerais dos sítios, onde foi
assinalada a relevância, em termos gerais para a conservação da biodiversidade como um
todo, de espécies ou grupos especiais e os impactos de natureza antrópica a incidirem
sobre os mesmos. Esta análise foi efetuada individualmente para cada disciplina envolvida e
em conjunto, neste caso buscando-se uma visão coesa sobre os problemas sofridos pela
unidade.

35
Figura 3.20. Sítios de amostragem da Avaliação Ecológica Rápida (AER) no Parque Estadual da
Serra do rola Moça (PESRM) e na Estação Ecológica de Fechos (EEF), MG.

36
3.2.2.2. Vegetação

O mapa de vegetação do PESRM e da EEF foi elaborado por meio da interpretação


de imagens de satélite IKONOS com resolução de um metro. Os tipos vegetacionais foram
identificados de acordo com o sistema fisionômico-ecológico e a classificação adaptada a
um sistema universal de Veloso et al. (1991) utilizado no mapa de Vegetação do Brasil
(IBGE, 2005) e da Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado de Minas Gerais (IEF, 1994).

Em termos de paisagem, predominam no PESRM as formações campestres (Figura


2.21A), seguidas das formações savânicas e florestais (Figura 2.21B), que muitas vezes se
sucedem de forma gradual. É importante mencionar que, apesar da relativa uniformidade de
grandes extensões da paisagem, a vegetação encontrada no PESRM é florística e
estruturalmente bastante complexa. Isso se deve fundamentalmente à origem peculiar de
sua flora, com influência de diferentes formações vegetacionais e a fatores abióticos como a
hidrologia, o relevo, os solos e o clima.

A B

Figura 3.21. Fotos ilustrando as formações campestres (A) e florestais (B) encontradas na região do
Parque Estadual da Serra do Rola Moça e Estação Ecológica de Fechos. Fotos: Alexander Azevedo e
Marconi Sousa Silva.

Na região do PESRM e EEF ocorrem as seguintes tipologias vegetacionais: Floresta


Estacional Semidecidual, Savana Gramíneo-Lenhosa, Áreas de Tensão Ecológica (contato
entre Savana – Floresta Estacional), Refúgios Ecológicos (Relíquias) e a Savana (Cerrado
sentido restrito). A seguir, será descrito cada uma dessas tipologias quanto aos aspectos
nomenclaturais, florísticos, estruturais e fitogeográficos.

Dentre os subtipos descritos por Veloso (1991), encontramos na área do Parque


apenas dois subtipos: Savana Arborizada (Campo Cerrado) e Savana Gramíneo-Lenhosa
(Campo Sujo ou Campo Ferruginoso).

3.2.2.2.1. Floresta Estacional Semidecidual

Em Minas Gerais, as formações florestais que pertencem ao Domínio da Mata


Atlântica são: a Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional
Semidecidual e Floresta Estacional Decídua. No PESRM e na EEF, apenas a tipologia
correspondente à Floresta Estacional Semidecidual é encontrada e associada aos cursos
d´água, também denominada Floresta de Galeria (Figura 3.23b) (Ribeiro & Walter, 1998;
Meyer et al., 2004).

37
Figura 3.22. Classificação dos tipos vegetacionais e/ou fitofisionomias do Parque Estadual da Serra
do rola Moça (PESRM) e da Estação Ecológica de Fechos (EEF), Minas Gerais.

38
Considerando a latitude e as faixas altimétricas, as florestas encontradas no PESRM
são classificadas como formações montanas. As grandes extensões de mata situam-se no
fundo dos vales, junto aos córregos, em altitudes ao redor dos 1000 m, como nas APEs
Catarina, Taboões, Barreiro, Fechos e Mutuca. Prolongamentos, na forma de florestas de
galeria, estendem-se até altitudes maiores, através das linhas de drenagem dos córregos e
nascentes, atravessando a Savana (Cerrado) e atingindo a Savana Gramíneo-Lenhosa
(Campos Sujos e Ferruginosos).

Em termos estruturais, pode-se considerar que todas as florestas da região são


secundárias e se encontram em diferentes estágios de regeneração (Figura 3.23). Atestam
isso os altos valores de densidade encontrados (maior que 2500 indivíduos/ha, exceto
Taboões, cuja densidade menor parece ser produto da ação do fogo) e a ausência ou baixa
ocorrência de indivíduos com grande diâmetro (maior que 50 cm). A altura máxima dessas
matas variou de 16 a 25m. A diversidade (H´) nessas matas é relativamente alta, variando
de 3,1 a 4, seguindo a variação encontrada nas florestas estacionais semideciduais de
Minas Gerais (Spósito & Stehmann, 2005).

Figura 3.23. Formações florestais do interior do PESRM. Fotos: Leonardo Viana e Alexander
Azevedo.

As florestas do PESRM são pobres em epífitas, o que provavelmente resulta do seu


estágio sucessional inicial ou médio. O estabelecimento de epífitas é uma das últimas
etapas do processo de sucessão ecológica. Espécies das famílias Orchidaceae,
Bromeliaceae e Cactaceae são bastante raras. Faltam dados sobre o estrato herbáceo e
sub-bosque das matas.

Na EEF, a família Lauraceae (famíla das canelas) possui uma expressiva riqueza e
dominância, como encontrada em outras florestas montanas neotropicais, geralmente
bastante úmidas (Gentry, 1995). Nessa mesma área, foram encontradas espécies
associadas às florestas semidecíduas e de altitudes acima de 1100 m, como Nectandra
lanceolata (Lauraceae), Pimenta pseudocaryophyllus (Myrtaceae) e Euplassa cf. incana
(Proteaceae) (Oliveira Filho & Fontes, 2000).

As espécies comumente encontradas nas áreas florestais do PESRM são: Amaioua


guianensis, Aspidospesrma parvifolium (peroba ou pau-pereira), Copaifera langsdorffii (pau-
d’óleo ou copaíba), Cabralea canjerana (canjerana), Casearia sylvestris (espeto), Cariniana
estrellensis (jequitibá), Croton floribundus (sanga-d´água), Cupania vernalis (camboatá),
Nectandra oppositifolia (canela-amarela) e Piptadenia gonoacantha (jacaré), todas de ampla
ocorrência no domínio da Mata Atlântica (Oliveira Filho & Fontes, 2000).
39
As espécies presentes na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção da
Flora de Minas Gerais encontradas nas matas do PESRM foram: jacarandá-da-bahia
(Dalbergia nigra), braúna (Melanoxylum brauna) e pindaíba-preta (Guatteria sellowiana),
todas incluídas na categoria Vulnerável.

3.2.2.2.2. Savana Arborizada (Campo Cerrado)

No PESRM, esta fitofisionomia domina as áreas mais baixas da sub-bacia do rio


Parapeoba, de relevo plano ou ondulado, com solos mais profundos, em uma faixa
altitudinal de 1000 a 1200 m, e que se estendem de oeste a norte, ocupando especialmente
os sítios Rola-Moça, Bálsamo, Jatobá e Barreiro (Figura 3.24).

Em termos florísticos, encontramos espécies características dessa formação, como o


pequizeiro (Caryocar brasiliense), o pau-de-tucano (Vochysia tucanorum), os paus-terra
(Qualea spp.), o murici (Byrsonima verbascifolia), o barbatimão (Stryphnodendron
adstringens), a caviúna-do-cerrado (Dalbergia miscolobium), a pinha ou marolo (Annona
crassifolia), a carne-de-vaca (Roupala montana), a douradinha (Palicourea rigida), a quina-
mineira (Remijia ferruginea), guabiroba (Campomanesia adamantium), a lixeira (Davilla
elliptica) e a candeia (Eremanthus eleagnus).

A savana arborizada existente no PESRM apresenta a estrutura típica do cerrado


sentido restrito, com espécies arbóreas de pequeno porte, atingindo até 6 m de altura, com
caules suberosos e retorcidos, além de espécies arbustivas e herbáceas. A estrutura varia
também em função do grau de perturbação antrópica, pois algumas áreas do PESRM
encontram-se bastante degradadas, como aquelas dos sítios Jatobá e Barreiro. Nessas
áreas, é necessária a proibição da retirada de lenha e medidas que protejam a vegetação de
queimadas. Não existem estudos detalhados descrevendo a composição florística e a
estrutura da savana arborizada encontrada no PESRM e são necessários para se entender
as relações florísticas, bem como para subsidiar ações de manejo que garantam a
conservação da biodiversidade local e regional.

Nas encostas da Serra do Rola-Moça, a Savana Arborizada é substituída


gradativamente pela Savana Gramíneo-Lenhosa. À medida que a altitude aumenta, as
espécies arbóreas e arbustivas vão se tornando mais escassas e a paisagem vai adquirindo
uma fisionomia campestre, dominada por espécies herbáceas e subarbustivas. Isso faz com
que os limites entre essas formações, para fins de mapeamento, sejam bastante imprecisos.

Figura 3.24. À esquerda aspecto das formações savânicas. À direita, flor de pequi (Caryocar
brasiliense) espécie típica desse tipo vegetacioanal Fotos: Yasmine Antonini e Marcos Alexandre.

40
3.2.2.2.3. Savana Gramíneo-Lenhosa (Campo Sujo ou Campo Ferruginoso)

A Savana Gramíneo-Lenhosa recobre mais da metade da área do PESRM,


ocorrendo nas regiões mais altas (de 1200 a 1432 m) e de relevo em geral fortemente
ondulado, nos Sítios Bálsamo, Catarina, Mutuca e Mineração. Ela está associada, em parte,
ao substrato de canga nodular, tendo sido denominada Campo Ferruginoso (Rizzini, 1979)
ou Campo Hematítico sobre Canga Nodular (Vincent, 2004). A Canga Nodular, por ser
originária da fragmentação da Canga Couraçada, é geralmente encontrada nas encostas
abaixo desta. O solo é caracteristicamente ácido, possuindo médios teores de potássio e
magnésio e altos teores de boro e cálcio e de metais como ferro, manganês, cobre e zinco,
originários da desagregação da rocha-mãe (Vincent, 2004).

Apesar dessa formação ser dominada por espécies das famílias Poaceae,
Asteraceae, Fabaceae e Cyperaceae (Figura 3.26), numa área de canga couraçada na
Serra do Rola-Moça, foi registrada uma alta dominância de Poaceae, sendo este o grupo
responsável por mais de 60% do valor de cobertura da vegetação (Vincent, 2004). Na
Savana Gramíneo-Lenhosa do PESRM foram registradas as seguintes espécies presentes
na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais (Mendonça
& Lins, 2000): Aulomenia effusa (Poaceae), Camarea hirsuta (Melastomataceae),
Cinnamomum quadrangulum (Lauraceae), Calibrachoa elegans (Figura 3.25) (citada como
Petunia elegans) (Solanaceae) e Mikania glauca (Asteraceae).

Figura 3.25. Aspecto da savana gramíneo-lenhosa à esquerda e Calibracoa elegans, espécie


ameaçada de extinção. Fotos: Alexandre Azevedo

3.2.2.2.4. Refúgios Ecológicos (Campos Rupestres)

No PESRM o campo rupestre ocorre sobre a tanto sobre Canga como sobre o
Quartzito, podendo ser denominado Campo Ferruginoso (Hematítico) ou Quartzítico,
respectivamente. Contudo, as maiores extensões encontradas referem-se ao Campo
Ferruginoso.

A vegetação sobre a Canga Couraçada no PESRM (Figura 3.26) localiza-se nas


áreas mais altas, geralmente nos topos dos morros, em altitudes superiores a 1350 m. A
vegetação cresce sobre a rocha (sendo chamada de rupícola) e o solo é escasso, estando
geralmente acumulado nas fendas e gretas entre as rochas. Análises desse solo
evidenciaram que ele é muito ácido, possuem alta capacidade de troca catiônica, baixos

41
teores de fósforo e magnésio, médios de potássio, altos de boro e cálcio e cátions metálicos,
com ferro, zinco, cádmio, níquel e chumbo (Vincent, 2004).

Figura. 3.26. Aspectos da vegetação sobre canga couraçada. Foto: Alexander Azevedo

No PESRM, os campos rupestres sobre quartzito estão restritos a duas pequenas


áreas disjuntas na sua porção sul. A composição florística detalhada dos afloramentos
quartzíticos no PESRM ainda não foi estudada.

3.2.2.2.5. Espécies Ameaçadas de Extinção

As espécies presentes na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção da


Flora de Minas Gerais encontradas nas matas do PESRM foram: jacarandá-da-bahia
(Dalbergia nigra), braúna (Melanoxylum brauna) e pindaíba-preta (Guatteria sellowiana),
todas incluídas na categoria Vulnerável.

Na Savana Gramíneo-Lenhosa do PESRM foram registradas as seguintes espécies


presentes na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais
(Mendonça & Lins, 2000): Aulomenia effusa (Poaceae), Camarea hirsuta
(Melastomataceae), Cinnamomum quadrangulum (Lauraceae), Calibrachoa elegans (citada
como Petunia elegans) (Solanaceae) e Mikania glauca (Asteraceae).

Quatro espécies ocorrentes sobre a Canga Couraçada estão relacionadas na


categoria vulnerável na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da flora de
Minas Gerais (Mendonça & Lins, 2000). São elas Artrocereus glaziovii (cacto) (Figura 3.27),
Ditassa linearis, Lychnophora pinaster (arnica) e Cinnamomum quadrangulum. A primeira
espécie é endêmica desse ambiente, no Quadrilátero Ferrífero, e são necessários estudos
sobre sua biologia reprodutiva, distribuição geográfica e demografia para a avaliação do seu
estado de conservação. Lychnophora pinaster é utilizada para fins medicinais e tem sido
objeto de coleta intensiva por raizeiros; faltam estudos do impacto dessa prática nas
populações naturais.

42
Figura 3.27. Artrocereus glaziovii, espécie ameaçada de extinção. Foto: Alexander Azevedo.

Espécies ameaçadas de extinção para a flora de Minas Gerais, distribuídas sobre o


quartzito, estão listadas as seguintes espécies: Ditassa linearis (Apocynaceae), Physocalyx
major (Plantaginaceae), Mikania glauca e Hololepis pedunculata (Asteraceae); as duas
primeiras estão na categoria Vulnerável e as duas últimas Em perigo, segundo Mendonça &
Lins (2000).

3.2.2.2.6. Espécies Exóticas

O PESRM apesar de localizado em uma área bastante antropizada apresenta poucas


espécies consideradas exóticas. No entanto as duas espécies de capim do gênero Melinis
(capim gordura e capim favorito) são bastante invasivas e deve-se implementar um programa
para o monitoramento de suas populações. A Tabela 3.4 apresenta as espécies exóticas que
foram encontradas no PESRM, com sua respectiva localização.

Tabela 3.4. Espécies de plantas exóticas encontradas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça
(PESRM), Minas Gerais.

Família Espécie Nome popular Sitio/Ponto

Anacardiaceae Mangifera indica L. Manga VII/34

Dennstediaceae Pteridium arachnoideum (Kaulf.) Samambaia I/05


Maxon

Myrtaceae Eucalyptus sp. Eucalipto I/05

Poaceae Melinis minutiflora P. Beauv. Capim-gordura I/04; I/05; II/06; III/20;


VII/32; VI/42; VII/32

Poaceae Melinis repens (Willd.) Zizka Capim-favorito I/05

43
3.2.2.3. Caracterização Limnológica

Os estudos de limnologia se basearam nas medições de parâmetros físicos e


químicos de coluna d´água e sedimento, além do inventário das comunidades planctônicas
e de macroinvertebrados bentônicos em 10 estações amostrais definidas nos limites do
Parque Estadual da Serra do Rola Moça.

Todas as estações apresentaram vegetação ciliar bem desenvolvida, com águas


claras, margens moderadamente estáveis e pouca erosão. A temperatura da água
apresentou pequena variação entre os ambientes avaliados com o menor valor registrado na
estação Barragem Mutuca (19,6°C) e o mais elevado na estação Lagoa Azul (22,1ºC). De
uma forma geral, as águas analisadas no PESRM apresentaram condições de pH
ligeiramente ácido ou básico em todos os pontos monitorados. Condição de maior acidez foi
registrada no córrego Mutuca (5,20) e lagoa Azul (5,68), e valores mais elevados nos
córregos Bálsamo (7,53), Barreiro (7,34) e Barragem Fechos (7,22). As concentrações de
oxigênio dissolvido variaram pouco entre os pontos analisados (7,3 mg/L no córrego Barreiro
a 8,2 mg/L no córrego Mutuca) indicando o baixo teor de matéria orgânica presente,
sobretudo nas barragens. Essa boa condição de oxigenação da água é importante para a
preservação das comunidades aquáticas.

Foram coletados 1.094 organismos, sendo 217 nos ecossistemas lênticos (Figura
2.30A) e 877 nos lóticos (Figura 2.30B), distribuídos em 65 taxa, dentre os quais os
predominantes foram Chironomidae (Diptera), com 26 gêneros, e Elmidae (Coleoptera), com
7 gêneros. Os resultados obtidos evidenciam uma elevada riqueza de macroinvertebrados
bentônicos e fitoplâncton em relação a outros ecossistemas aquáticos brasileiros, embora
esta avaliação se caracterize apenas como uma fotografia instantânea do estado de
conservação dos ecossistemas aquáticos do PESRM, não levando em consideração as
flutuações sazonais, populacionais e os processos ecológicos que mantém as comunidades
bentônica e planctônica.

Foram coletadas amostras de água, plâncton (fito e zooplâncton),


macroinvertebrados bentônicos e sedimento em 10 estações amostrais (Tabela 3.5),
localizadas em seis sítios na região do Parque Estadual da Serra do Rola Moça (Figuras
3.28 e 3.29).

Tabela 3.5. Coordenadas Geográficas das Estações de Amostragem no Parque Estadual da Serra do
Rola Moça.
o
N Estação de amostragem Datas Coordenadas
1A Bar. Taboões 11/11/05 20º04'36,7"S 44º34'23,5''W
1B Cor. Taboões 11/11/05 - -
02 Cor. Rola Moça 11/11/05 20º03'10,6"S 44º02'23,6"W
03 Cor. Bálsamo 11/11/05 20º03'42,5"S 44º02'58,4"W
04 Cor. Barreiro 11/11/05 20º00'11,8"S 44º00'01,9"W
05 Cor. Mãe d’água 12/11/05 20º01'04,1"S 43º58'25,7"W
06 Bar. Mutuca 12/11/05 20º00'59,2"S 43º58'24,3"W
07 Cor. Mutuca 12/11/05 20º00'33,5"S 43º58'09,4"W
08 Bar. Fechos 12/11/05 20º01'33,5"S 43º58'09,4"W
09 Bar. Lagoa Azul 12/11/05 20º04'05,1"S 43º59'59,6"W

44
Barragem Taboões (1A) Córrego Taboões (1B)

Córrego Rola Moça (2) Córrego Bálsamo (3)

Córrego Barreiro (4) Córrego Mãe D’água (5)

Figura 3.28: Imagem das estações de amostragem 1 a 5 (ambientes lóticos), no Parque Estadual da
Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais, obtidas em novembro de 2004.

Amostras de água e sedimento foram coletadas em novembro de 2004, em 10


estações amostrais em seis mananciais na área do Parque Estadual da Serra do Rola
Moça. Em campo e em laboratório foram realizadas mensurações de parâmetros físicos,
químicos e biológicos.

45
Os resultados obtidos no diagnóstico da qualidade das águas e biodiversidade
aquática em ecossistemas representativos no Parque Estadual da Serra do Rola Moça
indicam uma boa qualidade da água nos mananciais estudados. A classificação dos
mananciais como áreas de Proteção Especial garantem a manutenção da qualidade destes
ambientes que abastecem parte da população na região metropolitana de Belo Horizonte.

Barragem Mutuca (6) Córrego Mutuca (7)

Barragem Fechos (8) Lagoa Azul (9)

Figura 3.29: Fotos das estações de amostragem 6 a 9 (ambientes lênticos), no Parque Estadual da
Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais, obtidas em novembro de 2004.

46
Oligo Microcyll Ceratopog Harnischi Cricotopu Empidi Hydroptili Bival Planor

Oligo Plecopter Microcyll Stenelm Hydrops Polycentr Ceratopo Ablabes Coryd Limnoc

Figura 2.30. Principais macroinvertebrados bentônicos coletados nos ecossistemas lêntico (A) e lótico
(B) do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, durante a Avaliação Ecológica Rápida do plano de
manejo do Parque.

47
3.2.2.3.1. Avaliação das Características Ecológicas de Trechos de Bacia

As condições ecológicas dos trechos de bacia e dos ambientes estudados foram


avaliadas por meio da aplicação do Protocolo de Avaliação Rápida das Condições
Ecológicas e da Diversidade de Habitats em Trechos de Bacias, proposto por Callisto et al.
(2002).

Coleta de amostras de água

Em cada estação amostral as seguintes variáveis de coluna d´água foram medidas,


utilizando um multi-analisador Horiba modelo U-10: temperatura (oC), pH, condutividade
elétrica (mS.cm-1) e turbidez (NTU). Além das medições in situ amostras de água foram
coletadas para a determinação das concentrações de oxigênio dissolvido (método de
Winkler), clorofila-a (Lorenzen,1967) e nutrientes (NO2, NO3, NH4 e PO4) (Figura 3.31).

As amostras para a análise quantitativa foram coletadas na margem de cada


ambiente e fixadas com lugol acético. As análises foram realizadas através da técnica de
Utermöhl (1958). A densidade dos organismos foi calculada segundo Vilafañe & Reid
(1995), expressa em organismos/ml.

Figura 3.31. Coleta de água com redes de fito e zooplâncton (A e B); utilização do Horiba em campo
(C); coleta de água para a determinação da concentração de oxigênio dissolvido na água (D). Todas
as coletas foram realizadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais, no
mês de novembro de 2004.

Coleta de amostras de sedimento

Em cada estação amostral foram coletadas 5 amostras de sedimento utilizando-se


coletor tipo “Surber” (0,1024 m2) nos córregos e draga de Van Veen (0,045 m2) nas
barragens (Figura 3.32). Três amostras foram utilizadas para a avaliação das comunidades
de macroinvertebrados bentônicos e as duas amostras restantes para a determinação dos
teores de matéria orgânica e composição granulométrica do sedimento.

48
Figura 3.32. Coleta de macroinvertebrados nos ecossistemas lóticos (A) e lênticos (B), realizadas em
novembro de 2004, no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais.

Processamento em Laboratório

Comunidade Planctônica

O fitoplâncton foi coletado com uma rede de plâncton de 20 µm de abertura de


malha, através de arrastos horizontais sendo as amostras preservadas com solução formol
3%. A identificação foi feita (média de oito lâminas semipermanentes por ponto) ao menor
nível taxonômico possível, sob microscópio óptico (OLYMPUS modelo CBA) com aumentos
totais de 400 a 1000 x. Para a identificação taxonômica foram consultadas chaves de
identificação (Bourrely, 1968; 1972; 1975).

Para avaliação da comunidade zooplanctônica foram filtrados, em cada ponto, 200 L


de água em rede de plâncton de 68µm de abertura de malha. As amostras foram coradas
com corante vital Rosa de Bengala e fixadas com formol 4% neutralizado para posterior
análise. A contagem dos organismos foi feita em câmara de Sedgwick-Rafter sob
microscópio óptico. Como as amostras apresentaram baixa densidade de organismos foi
analisada toda a amostra.

Comunidades de Macroinvertebrados Bentônicos

As amostras de sedimento foram lavadas sobre peneiras de 1,00 e 0,50 mm, triadas
em microscópio estereoscópico e os macroinvertebrados identificados segundo Pérez
(1988), Epler (1995), Cranston (1996), Pescador (1997), Merrit & Cummins (1998) e Olifiers
et al. (2004) e depositados na Coleção de Referência de Macroinvertebrados Bentônicos do
Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (Callisto et al., 1998) (Figura 3.33). As
comunidades de macroinvertebrados bentônicos coletadas foram avaliadas com base nos
valores de riqueza taxonômica (n° de espécies), densidade (Indivíduos. m-2), índices de
diversidade (H’) de Shannon-Wiener e equitabilidade (J’) de Pielou segundo Magurran
(1991). Foi feita uma classificação em grupos tróficos funcionais segundo Merritt & Cummins
(1988) com o objetivo de se identificar a estrutura trófica das comunidades avaliadas. Foram
ainda aplicados índices como BMWP (Biomonitoring Working Party) (Junqueira e Campos
1998) (Tabela 3.6), juntamente com o índice ASPT (Average Score Per Taxa) (Johnson et
49
al. 1993). A significância dos resultados obtidos foi avaliada por meio da aplicação da
análise de médias de Kruskal-Wallis, ANOVA multivariada e Cluster no programa Statistica
6.2.

Figura 3.33. Processamento das amostras em laboratório: lavagem sobre peneiras (A); triagem dos
macroinvertebrados bentônicos (B) e; depósito dos macroinvertebrados na coleção de referência do
ICB-UFMG (C).

Tabela 3.6: Pontuação atribuída aos macroinvertebrados bentônicos para a determinação do BMWP.
Taxa Pontuação
Helicopsychidae, Odontoceridae, Hydroscaphidae, Gripopterygidae, Leptophlebiidae 10
Calopterygidae, Psephenidae, Libellulidae, Leptohyphidae, Perlidae 8
Leptoceridae, Polycentropodidae, Hydrobiosidae, Coenagrionidae, Glossosomatidae,
7
Hydroptilidae, Philopotamidae
Nepidae, Hydropsychidae 6
Naucoridae, Simuliidae, Gomphidae, Gerridae, Elmidae, Hydrophilidae, Baetidae,
5
Corixidae, Tipulidae, Pyralidae
Caenidae, Hidracarina, Dytiscidae, Corydalidae, Empididae, Ceratopogonidae,
4
Microcrustacea
Thiaridae, Tabanidae 3
Chironomidae, Psychodidae, Veliidae, Nematoda 2
Oligochaeta, Culicidae 1

A classificação das águas segundo a pontuação dos grupos de macroinvertebrados


bentônicos utilizando a metodologia do BMWP (modificado por Alba-Tercedor & Sanches-
Ortega, 1998 e Junqueira & Campos, 1998) é apresentada na Tabela 3.7.

Tabela 3.7. Classificação da qualidade das águas com base na pontuação atribuída pelo BMWP
(segundo Alba-Tercedor & Sanches-Ortega, 1998 e Junqueira & Campos, 1998).
Classes de Água Pontuação do BMWP Qualidade de Água
I > 86 Ótima
II 64 – 85 Boa
III 37 – 63 Satisfatória
IV 17 – 36 Ruim
V < 16 Péssima

50
Composição Granulométrica e Teores de Matéria Orgânica

A composição granulométrica dos sedimentos foi determinada de acordo com o


método proposto por Suguio (1973), modificado por Callisto & Esteves (1998). Após
secagem do sedimento por 48 horas a 60 ºC. Essas porções foram submetidas a uma série
de peneiras para a separação das frações de seixo (16,00 mm), cascalho (4,00 mm), areia
muito grossa (2,00 mm), areia grossa (1,00 mm), areia média (0,50 mm), areia fina (0,250
mm), areia muito fina (0,063 mm) e silte + argila (menor que 0,063 mm).

Foram retiradas duas alíquotas de 0,3 g do sedimento em cada estação amostral


para a determinação dos teores de matéria orgânica. As alíquotas foram maceradas e
queimadas em mufla por 4 horas a 550 oC. A conversão dos valores de massa em
porcentagem de matéria orgânica foi feita a partir da seguinte fórmula (Callisto, 1998):

%PPC = P1 - P3 x 100

P2

Onde:

%PPC – Porcentagem de Perda por Calcinação

P1 – Peso do Cadinho + Peso da Amostra

P2 – Peso da Amostra

P3 – Peso do Cadinho + Peso da Amostra Calcinada

3.2.2.3.2. Resultados da Avaliação dos Trechos de Bacia

Os trechos de bacia avaliados foram classificados em naturais (córregos) e alterados


(barragens). A classificação dos ecossistemas lóticos em naturais deve-se principalmente a
presença de vegetação marginal densa, bem desenvolvida e estável, ausência de odor na
água e no sedimento. A predominância de cascalho e seixos, com elevada diversidade de
habitats proporcionada por troncos caídos, alternância entre trechos de rápidos e remansos
e margens estáveis. A presença de macrófitas aquáticas nos ecossistemas lênticos é uma
indicação de boas condições ambientais.

A classificação dos ecossistemas lênticos em alterados constitui uma conseqüência


direta do barramento dos córregos devido às modificações no canal, com canalização e
retilinização do leito, bem como a retirada da vegetação ripária das margens. Todas as
estações apresentaram vegetação ciliar bem desenvolvida, com águas claras, margens
moderadamente estáveis e pouca erosão.

Condições físicas e químicas da água

A Tabela 3.8 apresenta os resultados dos parâmetros físicos e químicos medidos


nos ambientes do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, em novembro de 2004.

A temperatura da água apresentou pequena variação entre os ambientes avaliados


com o menor valor registrado na estação Barragem Mutuca (19,6°C) e o mais elevado na
estação Lagoa Azul (22,1ºC).

51
Tabela 3.8. Variáveis físicas e químicas da água, medidas em diferentes locais de coelta do Parque
Estadual da Serra do rola Moça (PESRM), em novembro de 2004. Os parâmetros temperatura (T),
pH, condutividade elétrica (cond.) e turbidez (Turb) foram medidos in situ e a concentração de
oxigênio dissolvido na coluna d’água (OD), a alcalinidade (Alc) e a concentração de clorofila-a foram
determinados em laboratório.

Local de Cond. Turb. OD Alca. Clor. a


No T °C pH
coleta (µS/cm) (NTU) (mg/L) (meq/L) (µg/L)

1A Bar. Taboões 22,0 6,20 9,0 45,0 7,9 0,02 4,28

1B Cor. Taboões 21,6 6,22 10,0 73,0 7,9 0,95 4,28

Cor. Rola
02 20,9 6,48 7,0 38,0 8,0
Moça 0,07 4,28

03 Cor. Bálsamo 21,3 7,53 53,0 12,0 8,1 0,55 0,53

04 Cor. Barreiro 21,7 7,34 49,0 3,0 7,6 0,85 0,53

Cor. Mãe
05 19,8 6,63 13,0 5,0 7,8
d’água 0,17 4,28

06 Bar. Mutuca 19,6 6,22 14,0 3,0 7,3 0,14 0,53

07 Cor. Mutuca 20,9 5,20 7,0 1,0 8,2 0,13 5,88

08 Bar. Fechos 21,5 7,22 69,0 11,0 7,8 0,64 1,07

Bar. Lagoa
09 22,1 5,68 18,0 0,0 7,8
Azul 0,11 2,14

A temperatura da água é um fator que influencia a grande maioria dos processos


físicos, químicos e biológicos na água, assim como outros processos como a solubilidade
dos gases dissolvidos. Uma elevada temperatura faz diminuir a solubilidade dos gases
como, por exemplo, do oxigênio dissolvido, além de aumentar a taxa de transferência de
gases, o que pode gerar mau cheiro, no caso da liberação de gases com odores
desagradáveis.

De uma forma geral, as águas analisadas no Parque Estadual da Serra do Rola


Moça apresentaram condições de pH ligeiramente ácido ou básico em todos os pontos
monitorados. Condição de maior acidez foi registrada no córrego Mutuca (5,20) e lagoa Azul
(5,68) e valores mais elevados nos córregos Bálsamo (7,53), Barreiro (7,34) e Barragem
Fechos (7,22).

Os resultados de condutividade elétrica mostraram que as águas das áreas de


proteção ambiental no Parque Estadual da Serra do Rola Moça são pobres em sais
dissolvidos com valores variando de 7,0 µS/cm (córrego Mutuca e Rola Moça) a 69,0 µS/cm
(Barragem Fechos). Nos pontos analisados, os valores de turbidez não foram elevados (1,0
a 73,0 NTU) podendo-se notar uma redução nas áreas com características lênticas, como
por ex. Barragem Taboões (45,0 NTU) e Córrego Taboões (73,0), refletindo uma maior
sedimentação favorecida por redução do fluxo. A lagoa Azul apresentou águas límpidas (0,0
NUT) e o córrego Mutuca o menor valor de turbidez (1,0 NTU).
52
As concentrações de oxigênio dissolvido variaram pouco entre os pontos analisados
(7,3 mg/L no córrego Barreiro a 8,2 mg/L no córrego Mutuca) indicando o baixo teor de
matéria orgânica presente, sobretudo nas barragens. Essa boa condição de oxigenação da
água é importante para a preservação das comunidades aquáticas. Os valores de
alcalinidade foram muito baixos em todos os pontos variando de 0,02 (Barragem Taboões) a
0,95 meq/L (Córrego Taboões).

Normalmente os valores de clorofila em ambiente lóticos, particularmente em áreas


de nascente, não são elevados e a produtividade do sistema depende da entrada de
material alóctone. Os valores de clorofila a foram muito baixos em todos os pontos variando
de 0,53 (Córrego Barreiro) a 5,88 µg/L (Córrego Mutuca).

A Tabela 3.9 e as Figuras 3.34 e 3.35 apresentam as concentrações dos principais


nutrientes nos 10 pontos amostrados. Percebe-se que, à exceção de nitrogênio total, os
valores encontrados foram muito baixos em todos os pontos, independente se estes eram
lóticos ou lênticos. Nitrito não foi representado na tabela, pois seus valores estiveram
sempre abaixo do limite de detecção do método utilizado (< 11,0 µg/L). Em ambientes
oxigenados normalmente o nitrito é encontrado em baixas concentrações (Esteves, 1998).

Tabela 3.9. Concentração de sílicato, nitrato, amônio, nitrogênio total, ortofosfato e fósforo total
presentes em novembro de 2004, em 10 pontos amostrados no Parque Estadual da Serra do Rola
Moça (PESRM), Minas Gerais. Obs.: o hífen indica valores inferiores a 11 (µg/l).

Nutrientes SiO4 NO3- NH4+ N Inorg. Total N Org. N/Total PO4-3 P Org. P/Total

Pontos A. Lênticos (mg/l) (µg/L) (µg/L) (µg/L) (µg/L) (µg/L) (µg/L) (µg/L) (µg/L)
1A Bar. Taboões 4,70 6,93 - 6,93 162,47 169,40 2,15 5,56 7,71
6 Bar.Mutuca 3,45 5,00 1,03 6,03 156,02 162,05 2,45 2,91 5,36
8 Bar. Fechos 3,69 4,35 9,30 13,65 107,94 121,59 2,06 9,28 11,34
9 Bar. Lagoa Azul 3,82 3,45 - 3,45 307,75 311,20 1,20 6,60 7,80
A. Lóticos
1B C.Taboões 5,61 5,25 10,01 15,26 86,69 101,95 0,98 4,67 5,65
2 C.Rola Moça 4,33 5,64 - 5,64 50,04 55,68 3,05 4,45 7,50
3 C.Bálsamo 4,63 4,48 12,46 16,94 184,86 201,8 1,46 6,48 7,94
4 C.Barreiro 4,61 3,19 4,71 7,90 163,40 171,3 2,40 7,90 10,30
5 C.Mãe d’água 3,59 1,64 - 1,64 28,99 30,63 1,46 7,07 8,53
7 C.Mutuca 4,06 2,93 5,93 8,86 208,69 217,55 3,91 3,44 7,35

A maior parte do nitrogênio e fósforo presentes nos pontos analisados nestas datas,
esteve sob a forma orgânica. Dentre os ambientes lênticos destaca-se a Lagoa Azul com a
maior concentração de nitrogênio orgânico (307,75 µg/L) e Fechos com a maior
concentração de fósforo orgânico (9,28 µg/L). Dentre os ambientes lóticos amostrados os
córregos Mutuca e Barreiro apresentaram as maiores concentrações de nitrogênio orgânico
(208,69 µg/L) e fósforo orgânico (10,30 µg/L), respectivamente. Provavelmente os valores
elevados da fração orgânica se devem à contribuição alóctone de material vegetal (folhas,
galhos, etc) já que a maioria dos pontos amostrados apresenta uma vegetação marginal
bem desenvolvida.

53
Amônio Ortofosfato (ug/L)
14 14

Conc e ntra çã o (ug/L)


12 12
Co nce n tr ação (ug /L )

10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
1A 1B 2 3 4 5 6 7 8 9 1A 1B 2 3 4 5 6 7 8 9
Pontos amostrais Pontos am ostrais
Silicato
C on ce n tr ação (m g /L ) 6
5
4
3
2
1
0
1A 1B 2 3 4 5 6 7 8 9
Pontos amostrais

Figura 3.34. Concentrações (µg/L) do íon amônio, ortofosfato e silicato nos ambientes aquáticos
amostrados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça em novembro de 2004. (observar diferenças
nas escalas).

Nitrogênio Total e Nitrato Ortofosfato e Fósforo Total


350 16
Concentração (ug/L)

NO3- (mg/L) N/Total (mg/L) PO4-3 (mg/L) P/Total (mg/L)


Concentração (ug/L)

300 14
250 12
200 10
8
150
6
100
4
50 2
0 0
1A 1B 2 3 4 5 6 7 8 9 1A 1B 2 3 4 5 6 7 8 9
Pontos am ostrais Pontos amostrais

Figura 3.35. Concentrações de nitrogênio total, nitrato, ortofosfato e fósforo total nos ambientes
aquáticos amostrados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça em novembro de 2004.

As concentrações de amônia variaram de 1,03 µg/L a 12,46 µg/L nos pontos


monitorados. A maior ocorrência foi identificada no córrego Bálsamo (3) e a menor
ocorrência, na barragem Mutuca (6). As barragens Taboões (2) e Lagoa Azul (9) e os
córregos Rola Moça (2) e Mãe D’Água (5) apresentaram valores não detectáveis pelo
método de análise, isto é, inferiores a 11 µg/L. As barragens apresentaram as menores
concentrações de amônia porque as coletas foram realizadas na superfície que é a região
onde ocorrem os processos de oxidação e o nitrogênio ocorre principalmente na forma de
nitrato, que é a sua forma mais oxidada. Na forma do íon amônio a ocorrência é identificada
no ponto mais redutor de uma barragem, o seu fundo, sobretudo quando há baixas de luz.

As concentrações de ortofosfato nos pontos analisados foram muito baixas, sendo a


maior concentração (3,91 µg/L) registrada no córrego Mutuca (7) e a menor (0,98 µg/L) no
córrego Taboões (1B).. Em relação ao fósforo total o maior valor registrado foi 11,34 µg/L,
na barragem Fechos (8) e o menor 5,36 µg/L na barragem Mutuca (6).
54
No ambiente aquático, a sílica sob a forma solúvel é um composto importante, pois é
utilizada pelas diatomáceas na elaboração de sua carapaça. As concentrações de sílica
solúvel foram semelhantes nos cursos d’água monitorados. Com valores que variaram de
3,45 (Barragem Mutuca) a 5,61 mg/L (Córrego Taboões-1B). Os resultados registrados são
esperados para ambientes de água doce de ambientes tropicais (Esteves, 1998). As
concentrações de sílica solúvel normalmente variam de acordo com as estações climáticas.

Nos pontos analisados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, as


concentrações de nitrogênio total foram sempre superiores às de nitrato com concentrações
bastante variáveis entre os pontos. A barragem Lagoa Azul (9) apresentou a concentração
mais elevada (311,2 µg/L) e o menor valor foi medido no ponto Mãe D’Água (5), 30,63 µg/L.

As concentrações de nitrato se encontram entre 1,64 µg/L referente ao ponto Mãe


D’Água (5) e 6,93 µg/L, referente à barragem Taboões (1A). As concentrações de nitrato
verificadas nos cursos d’água monitorados no PESRM são típicas de ambientes naturais e
que não recebem interferências de despejos sanitários.

O carbono é o constituinte básico de todas as macromoléculas dos seres vivos. Pode


ser encontrado sob as formas de carbono orgânico e inorgânico. A Figura 3.36 apresenta as
proporções das diferentes frações de carbono obtidas para os pontos amostrados no Parque
Estadual do Rola Moça. Observa-se em relação ao carbono total, um predomínio da fração
inorgânica nas estações de amostragem que apresentaram menor pH, a Lagoa Azul (9) e o
córrego Mutuca (7). Este resultado pode ser explicado pelo fato de que em condições de pH
mais ácido predominam no sistema carbonato o ácido carbônico e o íon bicarbonato,
resultando nas maiores concentrações de carbono inorgânico. Em todos os cursos d’água
monitorados verificou-se uma concentração, apesar de pouco expressiva, de carbono
orgânico. Trata-se das condições naturais destes ambientes, que não recebem lançamento
de efluentes. Resultados de pH próximo da neutralidade ou mais básico levam o sistema
carbonato ao estado mais oxidado, o que resulta em maior disponibilidade de carbono
orgânico.

Carbono

100%

80%
Ocorrência (%)

60%

40%

20%

0%
03 1A 1B 02 04 A 04 B 05 07 06 08 09
Estações de Amostragem

Carbono Orgânico Total Carbono Total Carbono Inorgânico

Figura 3.36. Ocorrência de carbono nos mananciais do Parque Estadual da Serra do Rola Moça,
Minas Gerais.

55
Comunidades de Macroinvertebrados Bentônicos

Foram coletados 1.094 organismos, sendo 217 nos ecossistemas lênticos e 877 nos
lóticos, distribuídos em 65 taxa, dentre os quais os predominantes foram Chironomidae
(Diptera) com 26 gêneros e Elmidae (Coleoptera) com sete gêneros.

Nas barragens os Chironomidae representaram 62,2%, Oligochaeta (Annelida)


15,6% e Ceratopogonidae (Diptera) 8,2% do total de macroinvertebrados. O Córrego Mãe
D’água (# 5) apresentou os valores mais elevados de densidade total de
macroinvertebrados bentônicos e diversidade de espécies. Nos córregos foram encontradas
59 espécies dos quais os predominantes foram Elmidae (42,3%), Chironomidae (36,6%) e
Ceratopogonidae (9,5%). Os córregos Mãe d’água e Mutuca apresentaram riqueza
significativamente maior que nos demais ecossistemas lóticos estudados.

A avaliação da composição taxonômica das comunidades bentônicas evidenciou que


as densidades de ninfas e larvas de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera foram pouco
representativas em todas as estações amostrais.

Na Tabela 3.10 é apresentada a classificação das águas nos ecossistemas avaliados


utilizando os índices BMWP e ASPT. O córrego Mãe D’água foi classificado como de ótima
qualidade, enquanto os demais foram classificados como de águas de qualidade satisfatória
a péssima.

Tabela 3.10: Classificação das águas segundo a pontuação do BMWP nas estações amostrais
avaliadas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais.

Pontos de coleta Pontuação Classes de


ASPT Qualidade de Água
BMWP Água

Bar. Taboões (1A) 14 4,67 Péssima V

Cor. Taboões (1B) 38 4,75 Satisfatória III

Cor. Rola Moça (2) 37 4,62 Satisfatória III

Cor. Bálsamo (3) 22 4,40 Ruim IV

Cor. Barreiro (4) 22 4,40 Ruim IV

Cor. Mãe D’água (5) 98 5,76 Ótima I

Bar. Mutuca (6) 16 3,20 Péssima V

Cor. Mutuca (7) 68 5,66 Boa II

Bar. Fechos (8) 8 2,67 Péssima V

Bar. Lagoa Azul (9) 6 2,00 Péssima V

O sedimento nos ecossistemas lênticos apresentou predomínio de frações finas


como areia muito fina e silte + argila, enquanto nos ecossistemas lóticos foi observado o
predomínio de seixos, cascalho e areia muito grossa (Figura 3.37).

56
100

80
Porcentagem
60

40

20

0
1A 1B 2 3 4 5 6 7 8 9
Estações Amostrais

Seixos Cascalho AMG AG AM AF AMF S+Arg

Figura 3.37. Composição granulométrica do sedimento nos ecossistemas estudados em novembro de


2004 no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (MG). AMG - areia muito grossa; AG - areia grossa ;
AM - areia média, AF - areia fina, AMF - areia muito fina e S + Arg - silte + argila.

Os riachos do PESRM apresentaram uma elevada riqueza de macroinvertebrados


bentônicos e fitoplâncton em relação a outros ecossistemas aquáticos brasileiros como em
Maltchik & Callisto (2004). Segundo estes autores, a aplicação de avaliações RAP (Rapid
Assessment Protocols) constitui em uma ferramenta eficiente para o estudo de qualidade de
água em ecossistemas aquáticos. Por outro lado a abordagem aplicada para a elaboração
do Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Rola Moça caracteriza-se como uma
fotografia instantânea do estado de conservação de seus ecossistemas aquáticos, não
levando em consideração as flutuações sazonais, populacionais e os processos ecológicos
que mantém as comunidades bentônica e planctônica. Esta abordagem RAP é importante
por proporcionar bases para o desenvolvimento e implementação de práticas de
conservação e manejos de ecossistemas (Chernoff et al., 1996).

Neste sentido, é de fundamental importância o desenvolvimento de projetos de


pesquisa que visem abordar os aspectos ecológicos das comunidades aquáticas na área do
Parque Estadual da Serra do Rola Moça, levando em consideração o conceito de bacia
hidrográfica como unidade de conservação e manejo, segundo proposto por Tundisi &
Barbosa (1995).

O resultado da aplicação dos índices BMWP e ASPT indicou que os tipos de água
identificados apresentam comunidades bentônicas afetadas pelas intervenções para a
captação de água, como indicado por Pérez (1988) e Hynes (1974). A determinação das
classes de água segundo a legislação brasileira leva em consideração apenas a sua
constituição físico-química, não considerando as comunidades biológicas nem a
manutenção da biodiversidade aquática. Os índices BMWP e ASPT foram desenvolvidos
para aplicação em ecossistemas lóticos. Assim, os resultados obtidos nas estações lênticas
não necessariamente traduzem a realidade, devendo ser avaliada com ressalvas quanto à
indicação da qualidade de água.

A elevada diversidade de habitats observada nos ecossistemas lóticos favorece a


colonização e manutenção das comunidades de macroinvertebrados bentônicos (Callisto et
al., 2001a). Os resultados observados corroboram o que afirmam Stewart et al. (2000) de
57
que a heterogeneidade do sedimento é um fator fundamental para a diversificação das
comunidades bentônicas (Palmer et al., 1994) Nas estações amostrais com sedimento
composto principalmente por frações grossas (Estações 5 e 7) foram encontrados valores
mais elevados de diversidade de organismos bentônicos.

3.2.2.3.3. Comunidade Planctônica

Fitoplâncton

As algas perifíticas apresentam alta diversidade, tempo de geração curto e ciclo de


vida relativamente simples (Dickerson & Robinson, 1985). Além disto, representam a base
da cadeia alimentar em muitos ecossistemas lóticos, sendo a avaliação da composição em
espécies um bom indicador não só de sua grande capacidade de adaptação como também
das condições gerais do ambiente (Barbosa et al., 1997).

A análise taxonômica nos pontos amostrados permitiu o reconhecimento de um total


de 103 táxons de algas perifíticas, distribuídos em 9 classes (Figura 3.38):
Bacillariophyceae, Chlorophyceae, Cryptophyceae, Crysophyceae, Cyanophyceae,
Dinophyceae, Euglenophyceae, Oedogoniphyceae e Zygnemaphyceae. O trecho Barragem
Tabõoes apresentou maior riqueza de espécies (29 morfoespécies), seguido do córrego
Mutuca e Barragem Lagoa Azul (28 e 22 morfoespécies, respectivamente). A menor riqueza
foi observada nos trechos Córrego Tabõoes e Rola Moça (1 morfoespécie/ambiente).).

A classe Bacillariophyceae apresentou maior riqueza em todos os pontos


amostrados (34 morfoespécies) seguida da classe Zygnemaphyceae (30 taxas). Assim, a
distribuição dos táxons por classe algal nos pontos Barragem Tabõoes (1A) e Barragem
Lagoa Azul indicou a predominância de gêneros da classe Zygnemaphyceae, sendo os mais
frequentes Closterium, Cosmarium no primeiro e Zygnema e Desmidium no segundo.

A predominância de gêneros da classe Bacillariophyceae foi observada nos pontos


Córrego Mutuca e Barreiro. Dentre os gêneros mais freqüentes para a classe
Bacillariophyceae, destacou-se o gênero Fragillaria. As demais classes listadas
apresentaram baixa representatividade. A contribuição de morfoespécies da classe
Cyanophyceae em relação as outras classes foi baixa, sendo estas pouco freqüentes ou até
mesmo ausentes em determinadas estações. No ponto Córrego Tabõoes (1B), observou-se
a ocorrência de apenas uma morfoespécie da classe, em freqüência baixíssima.

O predomínio qualitativo da classe Zygnemaphyceae no ponto Mutuca e Barragem


Lagoa Azul pode estar associada com a baixa velocidade de corrente nestes pontos. Em
geral, as desmídias são organismos frouxamente aderidos ao substrato, metafíticas ou
perifíticas, sendo raras as desmídias planctônicas, utilizando ao menos uma vez substratos
para a reprodução (Coesel, 1996).

Já a presença de maior número de táxons da classe Bacillariophyceae no córrego


Mãe D´Água, pode estar relacionada com a elevada densidade específica destes
organismos, representando uma vantagem competitiva por reduzir a susceptibilidade à
correnteza, favorecendo desta forma a sua permanência nos ambientes lóticos (Wetzel,
1983; Horner et al. 1990).

58
100%
Zygnemaphyceae

80% Oedogonophyceae
Riqueza específica
Euglenophyceae
60%
Dinophyceae

40% Cyanophyceae

Crysophyceae
20%
Cryptophyceae

0% Chlorophyceae
io

l
Bacillariophyceae
ro

em
pa
R
ei

ci

ag
ro
rr

in
Ba

rr
ei

pr

Ba
rr

em
Ba

a
rin
ag

ta
rr
Ca
Ba
a
uc
ut
M

Trechos amostrados

Figura 3.38. Riqueza específica de algas perifíticas nos diferentes pontos amostrados do Parque
Estadual da Serra do Rola Moça, Minas Gerais, em novembro de 2004.

A Tabela 3.11 mostra a variabilidade na densidade fitoplanctônica, por classes, nos


ambientes estudados. Os maiores valores entre os ambientes foram identificados para o
ponto Barragem Lagoa Azul e Mutuca (181,94 e 161,49 org. ml-1, respectivamente) e os
menores valores para Córrego Tabõoes (1 B), e Mãe d´água (0,02 e 0,2 org.ml-1).

-1
Tabela 3.11: Densidade (org mL ) das classes fitoplanctônicas identificadas nos ambientes aquáticos
lênticos e lóticos amostrados em novembro de 2004, no Parque Estadual da Serra do Rola Moça
(MG).

Ambientes Lênticos Ambientes Lóticos

Barragem Barragem Barragem Barragem Barragem Córrego Córrego Córrego Córrego Córrego Mãe Córrego
Classes Taboões Mutuca Fechos Barreiro Lagoa Azul Taboões Rola Moça Bálsamo Barreiro D'Àgua Mutuca
Bacillariophyceae 0,7 0,2 0,62 31,7 2,11 3,52 17,62 0,08 160,07
Chlorophyceae 0,04 0,06 8,46 1,41 10,57
Crytophyceae 0,02
Cyanophyceae 0,7 0,22 0,06 9,16 24,68 0,02 0,7 1,41 0,1
Dinophyceae 0,7 0,7
Euglenophyceae 0,02 1,417 1,41
Zygnemaphyceae 1,41 0,04 0,7 144,56 1,41 1,41
Total 2,81 0,5 0,76 41,56 181,927 0,02 0,7 7,04 31,01 0,2 161,48

Quanto à distribuição dos organismos entre as classes taxonômicas (Figura 3.39),


verificou-se maior participação de diatomáceas (Bacillariophyceae) no Córrego Mutuca e
Barragem Barreiro (160,07 e 31,73 org.ml-1) e de Zygnemaphyceae na Barragem Lagoa
Azul (144, 56 org.ml-1). A predominância de morfoespécies da classe Bacillariophyceae,
utilizadas como bioindicadores da qualidade da água, indicam uma tendência a oligotrofia
dos ambientes estudados, sendo estes organismos favorecidos em sistemas com baixas a
moderadas concentrações de fósforo (Horner et al. 1990). A baixa representatividade da

59
classe Cyanophyceae indica baixas concentrações de nutrientes, principalmente fósforo, e
de carga orgânica nos mananciais estudados.

(A) (B) (C)

Figura 3.39. Alguns representantes dos gêneros identificados nos pontos amostrados no Parque
Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais: (A) Euastrum sp. (Zygnemaphyceae); (B)
Staurastrum tetracerum e (C) Cosmarium asphaesporum.

Zooplâncton

A estrutura da comunidade zooplanctônica de um ambiente é o resultado da


interação de uma grande variedade de fatores bióticos e físicos, que atuando de formas
diferentes determinam as variações entre épocas, entre lagos e mesmo entre regiões de um
mesmo lago. Para ambientes lóticos, a turbulência e velocidade do fluxo podem ser
consideradas como determinantes da distribuição e permanência dos organismos
zooplanctônicos na área. Como a maioria das espécies deste grupo apresenta mecanismos
de locomoção pouco eficientes, nestes ambientes normalmente predominam espécies
oportunistas que apresentam ciclo de vida curto e alta taxa de crescimento (r-estrategistas)
(Allan, 1976).

Nos pontos analisados foram identificados 45 táxons dentre os principais grupos da


comunidade zooplanctônica (Protozoa, Rotifera, Copepoda e Cladocera). Representantes
dos grupos Ostracoda e Nematoda foram registrados apenas nos ambientes lóticos.
Protozoa foi o grupo mais representativo com 20 espécies, seguido por Rotifera, com 18
espécies. Estes grupos são bastante oportunistas, têm ciclo de vida curto, ou seja,
apresentam rápida reposição das populações e, em geral, predominam na comunidade
zooplanctônica de ambientes aquáticos tropicais. Apenas duas espécies de Copepoda
foram identificadas e três de Cladocera.

Os ambientes que apresentaram maior riqueza de espécies foram a Barragem


Mutuca, Barragem Lagoa Azul e o Córrego Mutuca com 20, 20 e 19 espécies
respectivamente. Taboões (Barragem) foi o ambiente com menor riqueza, possuindo apenas
7 espécies (2 protozoários, 4 rotíferos e 1 copépode). Os demais ambientes apresentaram
riqueza variando entre 11 e 16 espécies, sendo que em todos, o grupo Protozoa foi o mais
representativo, seguido por Rotifera.

A riqueza de espécies registrada nos pontos analisados pode ser considerada baixa,
resultado até certo ponto esperado, por se tratarem de águas oligotróficas em região de
nascentes. A contribuição percentual dos diferentes grupos registrada para os ambientes
lóticos e lênticos analisados é apresentada na Figura 3.40.

60
Ambientes Lênticos Ambientes Lóticos

100% 100%
Abundância Relativa

Abundância Relativa
80% 80%
60% 60%
40%
40%
20%
20%
0%
B.Taboões B. M utuca B. Fechos B. Lagoa 0%
C. C. Ro la C. C. C. Mãe C.
Azul
Tab oõ es Mo ça Bálsamo Barreiro d 'Água Mutuca

Protozoa Rotifera Copepoda Cladocera

Figura 3.40. Número táxons (riqueza) identificados na comunidade zooplanctônica nos ambientes
lênticos e lóticos no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas Gerais, em novembro
de 2004.

É evidente o predomínio de Protozoa e Rotifera em quase todos os pontos


analisados, como destacado anteriormente. Protozoa representou em 7 pontos mais de 85%
do total de organismos identificados (Figura 3.41).

25
Riq u e z a ( n º d e t á x o n s )

20
20
Riq u e z a ( n º d e t á x o n s )

15
15
10
10

5 5

0 0
B.Taboões B.Mutuca B.Fechos B.Lagoa Azul

a
ir o

uc
Protozoa Rotiferos Copepodos Cladoceros Ostracoda
re

t
Mu
ar
B

C.
C.

Pontos Amostrais
Pontos Amostrais

Figura 3.41. Contribuição percentual dos principais grupos da comunidade zooplanctônica de


ambientes lênticos e lóticos amostrados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), Minas
Gerais, em novembro de 2004.

Ambientes lênticos apresentaram uma riqueza maior, particularmente nos pontos de


amostragem da Barragem Mutuca e Lagoa Azul, com a presença de cladóceros. A
ocorrência quase restrita deste grupo em ambientes lóticos é esperada, já que indivíduos
deste grupo não são bons nadadores, e não resistem ao arraste da correnteza.

A análise quantitativa mostrou uma baixa densidade de organismos zooplanctônicos


em todos os pontos analisados. Normalmente os organismos pertencentes a esta
comunidade são herbívoros filtradores ou detritívoros, utilizando como principal recurso
alimentar algas e bactérias. A velocidade do fluxo e as baixas concentrações de recurso
alimentar de natureza algal podem ser considerados os dois fatores determinantes das
baixas densidades de organismos zooplanctônicos em ambientes lóticos de áreas de
nascente.

61
3.2.2.3.4. Qualidade das águas

Foram levantados dados secundários de monitoramento da qualidade das águas na


área do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, bem como do seu entorno. São áreas que
abrangem a bacia do rio das Velhas e a bacia do rio Paraopeba em pontos monitorados pelo
Instituto Mineiro de Gestão das Águas/IGAM e pela Companhia de Saneamento do Estado
de Minas Gerais/COPASA.

Como os pontos de amostragem da COPASA não são georreferenciados, a análise


dos resultados foi feita separadamente dos dados do IGAM.

O IGAM monitorou nos anos de 2003 e 2004 o córrego Fechos e o córrego Seco
localizados na Estação Ecológica de Fechos e os córregos Capão do Boi e Mutuca nas
captações Mutuca, barragem principal e secundária, respectivamente. O ribeirão Catarina e
ribeirão Casa Branca, monitorados em trechos no entorno do parque, são analisados pelo
IGAM a partir do ano 2003 e foram avaliados os resultados de 2003 e 2004, em trechos no
entorno do parque, onde o impacto urbano é bastante representativo.

O IGAM utiliza indicadores de qualidade ambiental que permitem avaliar a


interferência na água por matéria orgânica, fecal, sólidos e nutrientes, através do Índice de
Qualidade de Água – IQA e por contaminantes tóxicos, como metais pesados, fenóis,
cianeto e amônia, através do indicador Contaminação por Tóxicos – CT.

A COPASA monitora há muitos anos todas as barragens das áreas de proteção


especial bem como os cursos de água que as abastecem. Os dados foram digitalizados a
partir do ano 2001, portanto foram avaliados os resultados de 2001 a 2004 que foram
disponibilizados pela COPASA.

Córrego Fechos e Córrego Seco

• Classe de enquadramento: Especial


• Estações de amostragem: AV220, AV230 e AV240
• AV220: Córrego Fechos na barragem principal
• AV230: Córrego Fechos na barragem auxiliar
• AV240: Córrego Seco na captação Fechos

O córrego Fechos e o Córrego Seco fazem parte do sistema de captação Fechos,


operado pela COPASA. O córrego Fechos é monitorado nos dois pontos de captação do
sistema, sendo que um deles compreende a barragem principal (AV220) e o outro, a
barragem auxiliar (AV230). O córrego Seco é monitorado no seu único ponto de catação,
também no sistema Fechos (AV240).

O córrego Fechos, conforme a avaliação do IGAM, nas barragens principal e auxiliar


de captação da COPASA, apresentaram Índice de Qualidade da Água Bom em 2003. No
entanto, devido as fortes chuvas ocorridas no mês de janeiro de 2003 não foi possível
realizar as coletas neste mês e o resultado do IQA anual contempla apenas 3 campanhas
de amostragem (abril, julho e outubro). Em 2004, tendo havido as coletas de água no mês
de janeiro houve uma redução no valor do IQA no córrego Fechos na barragem auxiliar, mas
ainda apresentou-se dentro da faixa de nível Bom, em decorrência da piora da qualidade da
água nos meses chuvosos, quando as ocorrências de coliformes fecais e sólidos foram
bastante representativas. Na barragem principal, apesar de ter se mantido o IQA no nível
Bom, na primeira campanha de 2004 também houve uma maior ocorrência de coliformes
fecais e sólidos.
62
O córrego Seco na captação Fechos (AV240) apresentou IQA Bom nos dois anos de
monitoramento (2003 e 2004). Isto foi devido a ocorrência de IQA Bom em seis das sete
amostragens realizadas e uma condição de IQA no nível excelente no período seco de 2003
(julho).

Ressalta-se ainda que tanto o córrego Fechos quanto o córrego Seco apresentaram
nível de IQA Excelente em pelo menos um dos anos, no período de estiagem.

A avaliação dos principais parâmetros sanitários demonstrou que as águas do


córrego Fechos e do córrego Seco nos pontos de captação da COPASA são livres de
matéria orgânica, pobres em sais dissolvidos, bem oxigenadas e permanecem límpidas na
maior parte do ano. No período chuvoso as águas ficam mais turvas, principalmente quando
a pluviosidade é intensa. Além disso, as ocorrências de coliformes e estreptococos fecais se
sobressaem no período chuvoso. Verificaram-se valores de coliformes fecais superiores ao
limite estabelecido para cursos d’água de classe 3 (4000 NMP/100mL) em janeiro de 2004
no córrego Fechos na barragem auxiliar. Outras ocorrências de coliformes foram também
verificadas na barragem principal no período chuvoso.

A Contaminação por Tóxicos foi considerada Baixa no córrego Fechos e no córrego


Seco em virtude da inobservância de ocorrência metais pesados ou outras substâncias
tóxicas nas amostras coletadas em 2003 e 2004.

Verificou-se a presença de manganês total no córrego Seco e córrego Fechos em


janeiro de 2004, em concentrações que ultrapassaram o limite estabelecido para a Classe 1.
Isto se deve a contribuição de carga difusa de poluição com o carreamento de sólidos para
os cursos d’águas. O manganês é característico dos solos da região, bem como o ferro total
que também ocorreu em maiores concentrações neste mesmo período.No córrego Seco,
foram também avaliadas as comunidades zooplanctônicas e zoobentônicas no ano 2003.

Com relação ao número de táxons constatou-se que o córrego Seco na captação


Fechos (AV240) a menor riqueza para a comunidade do zooplâncton, quando comparado
com outros cursos de água monitorados pelo IGAM no Alto Curso do rio das Velhas. As
condições dos biótopos existentes explicam estas constatações, na medida em que o trecho
monitorado no córrego Seco está localizado bem próximo à sua nascente, onde há baixa
disponibilidade de nichos.

Verificou-se ainda, que a densidade média total do zooplâncton observada no


córrego Seco foi baixa, não ultrapassando 5,0 ind/L. Com base nos resultados obtidos,
percebeu-se uma nítida diferença com relação à estrutura e composição das comunidades
zoobentônicas entre as amostras coletadas no final do período chuvoso (abril) e as
coletadas já no período de estiagem (julho e outubro).

Além do efeito do carreamento dos organismos, isso provavelmente está associado


às alterações de diversos fatores abióticos e bióticos, decorrentes de distúrbios provocados,
principalmente, pelo aumento de sedimentos na água, sobre as biotas aquáticas, devido à
enchente dos rios durante o período chuvoso. Isto prejudica a vida aquática, impedindo a
respiração e a assimilação de luz. Tais transbordamentos impossibilitaram inclusive a
própria coleta zoobentônica no córrego Seco no auge do período de chuvas, além de
colocar muitos organismos zoobentônicos à deriva.

O grande aporte de sedimentos, comumente receptada pelos rios no período de


chuvas, acarreta um aumento acentuado de sólidos dissolvidos na água e,
conseqüentemente, aumento da turbidez, provocando efeitos bastante contundentes à fauna
bentônica. Além disso, os sólidos dissolvidos na água podem exercer um efeito abrasivo
sobre os organismos macroinvertebrados aquáticos. Por outro lado, concentrações altas de
sólidos na água prejudicam principalmente os organismos que filtram a água para se

63
alimentarem e também os predadores, que dependem da visibilidade para capturarem suas
presas.

Ao se considerar os dados obtidos das comunidades zoobentônicas durante todo o


ciclo hidrológico do ano de 2003, foi constatado que as comunidades bentônicas sofrem
uma queda acentuada tanto na sua variedade quanto na quantidade de organismos na
primeira coleta realizada no período de chuvas. Os dados apresentados deixaram evidente,
que com a diminuição pluviométrica que ocorre no período de estiagem, há uma tendência
de estabilidade das condições climáticas, que favorece a colonização das comunidades
zoobentônicas e o crescimento de suas populações, possibilitando-as de serem mais ricas e
abundantes. Dessa forma, as comunidades bentônicas tornam-se também mais
representativas e mais eficazes como indicadoras da qualidade das águas, pois um maior
número de organismos representantes desta biota servirão como bioindicadores, em um
período do ano em que as condições físico-químicas da água encontram-se mais críticas.
Considerando-se que nesse período ocorre a maior concentração das substâncias
dissolvidas na água, somente os organismos aptos a tolerarem essas condições estarão
presentes. Posto isso, no período chuvoso o efeito de diluição das águas pela chuva pode
mascarar os resultados. Assim, o período de seca caracteriza-se como o período mais
adequado a servir de referência para as avaliações biológicas de qualidade de água nos
biomonitoramentos de ambientes lóticos.

Para a avaliação da qualidade das águas, com base nos macroinvertebrados


bentônicos, apenas os índices bióticos obtidos dos dados coletados no período de estiagem,
correspondendo aos meses de julho e outubro, foram utilizados.

Na Tabela 3.12 são apresentadas todos os índices bióticos e respectivas classes de


qualidade de água obtidos com aplicação do método “BMWP”, adaptado para a bacia do
alto rio das Velhas para o córrego Seco.

Tabela 3.12: Índices bióticos e classes de qualidade de água do Córrego Seco na captação Fechos
(AV240), com base nos macroinvertebrados, obtidos no período de Abril, Julho e Outubro de 2003.

Meses Jan Abr Jul Out

Índices Bióticos - 35 63 -

Classe de Qualidade das Águas - 4 2 -

Classificação Boa

Embora a estação monitorada no córrego Seco se localize dentro de uma área de


proteção especial ela não apresentou um índice biótico muito elevado, com classe de
qualidade Boa. Esse fato está relacionado às características naturais dos seus habitats, que
são de nascente (oligotróficos).

Córrego Mutuca e Córrego Capão do Boi

• Classe de enquadramento: Especial


• Estações de amostragem: AV280 e AV290
• AV280: Córrego Capão do Boi na captação Mutuca, Barragem Principal
• AV290: Córrego Mutuca na captação Mutuca, Barragem Auxiliar

64
O córrego Capão do Boi e o córrego Mutuca foram monitorados nos dois pontos de
captação operados pela COPASA no Sistema Mutuca, sendo que um compreende a
barragem principal (AV280) e o outro a barragem auxiliar (AV290), respectivamente.

A média anual do Índice de Qualidade da Água foi considerada no nível Bom em


2003 e 2004, no córrego Capão do Boi, barragem principal (AV280) e no córrego Mutuca na
barragem auxiliar (AV290). A barragem principal apresentou pior valor de IQA anual de
2004, porém ainda dentro da faixa de IQA BOM, devido a condição inferior de qualidade de
água verificada em julho (3ª campanha), quando o valor de coliformes fecais foi 2.800
MP/100mL, ultrapassando o padrão de classe 2 (1000 NMP/100mL).

Não se verificou a presença de contaminantes tóxicos nas captações Mutuca.


Ocorrências de ferro total e manganês total foram identificados, porém em concentrações
não prejudiciais aos seres vivos. O ferro e o manganês são constituintes naturais do solo da
região. Verificou-se ainda, que as águas barragens de captação Mutuca apresentam-se
livres de matéria orgânica, e pobres em sólidos e sais dissolvidos permanecendo límpidas
na maior parte do ano.

Para o córrego Capão do Boi na captação Mutuca, barragem principal (AV280) foi
avaliado quanto as comunidades zoobentônicas no ano de 2003. Tendo em vista os efeitos
do período chuvoso, a comunidade zoobentônica do córrego Capão do Boi foi caracterizada
apenas no período de estiagem, nos meses de julho e outubro. Neste período as
populações foram ricas e abundantes considerando as características do curso d’água. Na
Tabela 3.13 são apresentados todos os índices bióticos obtidos com aplicação do método
“BMWP”, adaptado para a bacia do alto rio das Velhas para o córrego Capão do Boi.

Tabela 3.13: Índices Bióticos e Classes de Qualidade de Água do Córrego Capão do Boi na Captação
Mutuca, Barragem Principal (AV280), com Base nos Macroinvertebrados, em Julho e Outubro de
2003.

Meses Jan Abr Jul Out

Índices Bióticos - - 86 88

Classe de Qualidade das Águas - - 1 1

Classificação Excelente Excelente

Pode-se constatar que uma melhor qualidade de água ocorreu na estação AV280,
localizada no córrego Capão do Boi, cuja média anual dos índices bióticos registrou um
valor de 87, correspondendo à classe excelente de qualidade de água.

Essa estação pode ser considerada como uma estação de referência (controle) para
uma avaliação comparativa de qualidade das águas dos rios na bacia do alto rio das Velhas,
visto que ainda preserva em seus habitats bentônicos muitas de suas características nativas
de um ecossistema lótico tropical. Portanto, esse córrego sofre muito pouco dos efeitos de
alterações antrópicas, pois se localiza dentro de uma área de proteção especial.

Ribeirão Casa Branca

• Classe de Enquadramento: Classe 1


• Estação de Amostragem: BP092
• BP092: Ribeirão Casa Branca a montante da confluência com o Ribeirão Catarina.

65
O Ribeirão Casa Branca é monitorado no trecho que recebe influência do distrito de
Casa Branca em Brumadinho.

O ribeirão Casa Branca (BP092) apresentou média anual do Índice de Qualidade da


Água no nível Bom em 2003 e em 2004. Avaliando-se as quatro campanhas anuais, as
piores condições de qualidade de água foram verificadas no período chuvoso quando as
ocorrências de coliformes fecais foram mais elevadas e neste período o IQA foi Médio.

Em 2004, verificou-se maior número de desconformidades em relação aos padrões


legais no ribeirão Casa Branca, quando comparado ao ano 2003. Em 2003, a Contaminação
por Tóxicos foi Baixa em todas as campanhas de amostragem, enquanto em 2004 a terceira
campanha, realizada no mês de agosto, apresentou contaminação Média e a quarta
campanha apresentou CT Alta. Esta condição se deve a ocorrência de índice de fenóis
acima do limite legal.

Verificou-se ainda, em 2004, que o nível de cor no ribeirão Casa Branca foi elevado
na primeira campanha, além de uma ocorrência mais representativa de óleos e graxas na
terceira campanha.

As ocorrências de coliformes fecais e totais, índice de fenóis, e óleos e graxas no


ribeirão Casa Branca são o resultado do lançamento de esgoto sanitário lançado sem
tratamento prévio proveniente do distrito de Casa Branca.

Entre os metais, apenas o ferro solúvel mostrou concentração acima do limite


estabelecido na legislação na primeira campanha de 2003. Essa condição é razoável para
uma região que possui solo rico em minério de ferro.

Ribeirão Catarina

• Classe de Enquadramento: Classe 1


• Estação de Amostragem: BP094
• BP094: Ribeirão Catarina a montante da confluência com o Ribeirão Casa Branca

O ribeirão Catarina é monitorado pelo IGAM em trecho que recebe as influências do


distrito de Casa Branca em Brumadinho sem receber interferências do ribeirão Casa Branca.

O ribeirão Catarina mostrou média anual do Índice de Qualidade das Águas IQA no
nível Bom em 2003 e 2004, com apenas uma ocorrência de IQA Médio, na última campanha
de 2003. A variável que mais contribuiu para este registro foi coliformes fecais, com valor
bem acima do permitido pela legislação em novembro. O fosfato total apresentou valor
acima do padrão da legislação apenas na segunda campanha de 2003, o que, entretanto,
não influenciou fortemente o IQA, que se manteve Bom nesta campanha. Coliformes fecais
apresentaram teores elevados na quarta campanha de 2004, mas não foi alto o suficiente
para alterar o nível do IQA.

A Contaminação por Tóxicos foi Alta no ribeirão Catarina nos dois anos de
amostragem. Em 2003, isto foi decorrente da elevada ocorrência de índice de fenóis na
quarta campanha, com valor quatro vezes acima do limite legal. Em 2004, com valore três
vezes acima do limite legal, o índice de fenóis também foi o responsável pela CT Alta no
ribeirão Catarina. Ressalta-se ainda, que em 2004 o nível de cor foi elevado na primeira
campanha e óleos e graxas na terceira campanha, condição semelhante ao ribeirão Casa
66
Branca, fato este relacionado ao lançamento de esgotos domésticos do distrito de Casa
Branca nas águas do ribeirão Catarina.

3.2.2.4. Bioespeleologia

Os estudos de bioespeleologia consistem, além de uma breve caracterização das


cavernas de uma dada região, do levantamento dos organismos biológicos que buscam
nestas cavidades as condições de sobrevivência, crescimento e reprodução. Estes estudos
foram desenvolvidos na região do PESRM e da EEF visando uma avaliação crítica do grupo
para as diretrizes do plano de manejo quanto ao aproveitamento turístico do PESRM.

Foram registradas 171 morfoespécies de pelo menos 60 famílias. Algumas espécies


foram identificadas, enquanto outras, em razão de problemas taxonômicos, apenas o gênero
foi identificado. Goniosoma sp., Eukoenenia sp1 Chthoniidae sp1 e C. sp2, Opilionida sp3,
Arrhopalites sp., Isotomidae sp1, Coarazuphium sp., Coleoptera larva sp12, Enicocephalidae
sp1, Polydesmida sp2, Coarazuphium (Coleoptera: Carabidae: Zuphini), encontradas em
diferentes cavernas da região do PESRM são, provavelmente, espécies novas ainda não
descritas pela ciência. A ocorrência do gênero Eukoenenia constitui um dos raros registros
de organismos desta Ordem (Arachnida: Palpigradi) em cavernas do hemisfério Sul, o que
demonstra a enorme relevância da região. Outros registros de organismos até então
descritos para Amazônia e Rio de Janeiro foram registradas no PESRM e região. Também
foram observadas algumas espécies de anfíbios e de morcegos nas cavernas do PESRM.
As cavernas inventariadas durante a elaboração do plano de manejo do PESRM,
incluindo a EEF, possuem diferentes características ambientais, tróficas e biológicas, que
indicam a necessidade de se propor usos diferenciais para os diversos sistemas
inventariados. Tais usos devem ser precedidos de um zoneamento para cada cavidade,
baseado na possibilidade de visitação, capacidade de carga, objetivo da visitação e perfil
dos visitantes.
Sendo a espeleologia uma ciência interdisciplinar, a proposição metodológica foi
concebida no sentido de interelacionar algumas abordagens necessárias para uma melhor
identificação e análise global da área e, consequentemente, das cavernas inventariadas nas
áreas de influência do Parque Estadual da Serra do Rola Moça.

Do ponto de vista bioespeleológico, procurou-se caracterizar o ecossistema de cada


uma das cavidades inventariadas, a partir da descrição de sua fauna, bem como da
avaliação de cada sistema trófico.

Em seguida, as cavernas foram avaliadas dentro da abordagem do patrimônio


espeleológico, na busca de possíveis referências de valor existentes no espaço subterrâneo
inventariado. Além disso, buscou-se a identificação e avaliação dos impactos ambientais
(reais e potenciais). Por último, os dados obtidos nas cavernas do PESRM foram
comparados com os obtidos para outras cavernas ferruginosas para melhor contextualizar
os resultados.

As quatro cavidades contempladas no presente trabalho foram as cavidades


descobertas durante os trabalhos de prospecção espeleológica realizados pela equipe
contratada pela MBR para a realização dos trabalhos de caracterização e contextualização
espeleológica das cavidades presentes no complexo Capão Xavier. Desta forma, em uma
prospecção preliminar, tais cavernas foram evidenciadas e estas eram as cavidades
conhecidas quando da proposição dos trabalhos referentes ao plano de manejo
bioespeleológico do PESRM. Entretanto, os trabalhos de prospecção que vem sendo
realizados (novamente sob coordenação da MBR) têm revelado um número bem superior de
cavidades na área do parque, de forma que as cavidades apresentadas neste estudo são
somente uma pequena amostra de todo o potencial espeleológico da área. Até o momento,
67
mais de quarenta cavidades já foram descobertas no PESRM, cavidades estas que
certamente deverão ser alvo de estudos bioespeleológicos.

3.2.2.4.1. Avaliação Bioespeleológica

O inventário de fauna foi realizado em dois períodos distintos, um na estação


chuvosa (16 a 19 de Novembro de 2004) um na estação seca (05 a 08 de Junho de 2005)
de acordo com os métodos descritos a seguir. A coleta de invertebrados foi feita através de
captura manual (com o auxílio de pinças e pincéis) em quaisquer biótopos potenciais no
interior de cada caverna. Foram coletados somente espécimes não identificados in loco (o
que corresponde a um percentual mínimo da fauna de cada cavidade).

Os recursos visíveis na cavidade foram examinados (in situ), para a determinação do


seu status trófico. A quantificação do recurso, suas vias de acesso, acumulação e
decomposição são informações que infelizmente não foram levantadas, dada a relativa
urgência da referida caracterização. A caracterização trófica restringiu-se, desta forma, ao
aspecto qualitativo.

A caracterização topoclimática não foi realizada, tendo em vista o número muito


restrito de visitas a cada cavidade.

3.2.2.4.2. Avaliação do Patrimônio Espeleológico

A avaliação das cavernas inventariadas foi realizada diante de 5 atributos de


valoração: científico, ambiental, paisagístico, religioso e econômico, adaptados dos
conceitos expressos na Constituição do Estado de Minas Gerais (1989) para qualificar bens
culturais (valor de patrimônio cultural).

Os estudos do patrimônio espeleológico seguiram, a rigor, as premissas de existirem


sítios espeleológicos relevantes, ou seja, que guardam testemunhos expressivos da
produção humana e da natureza, passíveis de serem considerados como patrimônio
espeleológico, e sítios considerados sem relevância, representados por vazios sem atributos
passíveis de valoração.

− VALOR CIENTÍFICO: Essa qualidade diz respeito à potencialidade do sítio espeleológico


de fornecer conhecimento significativo às ciências naturais (geologia, paleontologia,
mineralogia, hidrologia, biológico etc.) ou humanas (história, arqueologia etc).

− VALOR AMBIENTAL: A qualidade ambiental refere-se, particularmente, a valores que,


direta ou indiretamente, contribuem para o bom desenvolvimento (dinâmica) dos
ecossistemas. No domínio subterrâneo, particularmente, os elementos ambientais
apresentam diversas peculiaridades que os tornam mais suscetíveis à intervenção humana:
fauna cavernícola especializada; drenagem subterrânea dependente do bom funcionamento
dos processos hídricos superficiais; processos de abatimentos, dentre outras.

− VALOR PAISAGÍSTICO: A rigor, os cenários paisagísticos subterrâneos que escapam


da banalidade morfológica e deposicional, e que são capazes de proporcionar emoções e
sentimentos de valor estético, merecem ser valorizados. As cavernas apresentam, muitas
vezes, atrativos de alto valor em termos contemplativos, pela beleza e dimensões de seus
espaços e ornamentações (espeleotemas). O valor paisagístico do meio superficial onde se
insere a gruta também é de interesse de avaliação.

68
− VALOR RELIGIOSO: As cavernas, com seus amplos espaços subterrâneos e formações
peculiares, vêm sendo palco de diversas manifestações religiosas utilizados, muitas vezes,
como verdadeiros templos.

− VALOR ECONÔMICO: Dentre as diversas formas possíveis de aproveitamento


econômico das cavernas (depósitos de bebidas, produção agrícola de cogumelos, clínica
terapêutica; discoteca etc.), a única que se conhece até o momento, no Brasil, é o
aproveitamento turístico, também muito freqüente em todo o mundo. São, sem dúvida,
objetos de atividade turística de alto potencial econômico e educativo, se realizada com
manejo adequado.

3.2.2.4.3. Caracterização trófica geral das cavernas da área

Os sistemas tróficos das cavidades ferruginosas mostram aparente variedade de


recursos, que se apresentam em diferentes configurações (Ferreira, no prelo). De modo
geral, algumas das vias “convencionais” de importação de recursos para as cavernas estão
presentes, como será descrito.

As águas de percolação são, em geral, pouco abundantes nas cavernas


inventariadas. Tal fato é relativamente inusitado, tendo em vista a grande quantidade de
canalículos existentes nas rochas que conformam as cavernas da área. Desta forma,
acredita-se que a água proveniente das chuvas pode ter um considerável volume escoado
por superfície enquanto a porção drenada é distribuída pelos canalículos subterrâneos. No
entanto, boa parte das águas de percolação provavelmente escoa-se por canalículos que
não se conectam a cavidades subterrâneas de maior calibre.

Além disso, a vegetação epígea associada aos campos ferruginosos não possui
elevada produtividade, nem tampouco elevada produção de serrapilheira. Desta forma, os
recursos orgânicos externos que poderiam ser dissolvidos já se mostram pouco abundantes
quando comparados aos presentes em outros sistemas de fitofisionomia mais densa, como
florestas. Sendo assim, acredita-se que a quantidade de material orgânico dissolvido
aportado aos sistemas subterrâneos por águas de percolação é provavelmente pequena se
comparada a de outros sistemas.

A água superficial pode também transportar materiais orgânicos particulados por


meio de enxurradas, como ocorre em inúmeras cavernas (principalmente calcárias). No
entanto, tal processo só é possível quando o conduto é descendente em relação à entrada.

As grutas presentes nas proximidades de Belo Horizonte (Complexos Capão Xavier,


Rola Moça e Mangabeiras) foram aparentemente expandidas por erosão remontante. Desta
forma, a maioria destas cavernas apresenta o conduto ascendente a partir da entrada, o que
reduz drasticamente a veiculação de materiais orgânicos particulados pela ação da água.
Sendo assim, materiais orgânicos trazidos pela água (ou mesmo vento) acumulam-se
nestas cavernas, em geral, nas proximidades imediatas das entradas. O relevo externo de
topografia relativamente acidentada contribui também para a retenção de materiais
orgânicos no meio epígeo, o que desfavorece sua importação até mesmo para aquelas
cavidades onde o conduto é retilíneo ou ligeiramente descendente em relação à entrada.

Os depósitos de fezes de organismos troglóxenos (conhecidos como depósitos de


guano) são relativamente raros nas grutas do complexo Rola Moça, sendo representados,
em sua maioria, por pequenas manchas extremamente desgastadas. A maioria destes
depósitos apresenta-se aparentemente exaurida enquanto recurso trófico. Em raros casos
foram observadas manchas de guano em deposição. Os únicos tipos de guano avistados
foram aqueles provenientes de morcegos de dieta insetívora e frugívora, embora os mais

69
freqüentes na maioria das áreas cársticas de Minas Gerais sejam de morcegos
hematófagos.

Esta diferenciação na oferta de guano entre diferentes sistemas provém,


provavelmente, do contexto local da área. As cavidades do Parque Estadual do Rola Moça
encontram-se inseridas nas imediações da cidade de Belo Horizonte. Tais cavernas ocorrem
em considerável número, o que revela uma elevada disponibilidade de abrigos naturais para
os morcegos. Entretanto, a própria cidade acaba por disponibilizar diversos abrigos
(telhados, espaços sob pontes, etc.) que são prontamente utilizados por estes organismos.
Tal circunstância revela a baixa densidade de ocupação das cavernas desta área por
colônias de morcegos.

Nas grutas do complexo Capão Xavier e Rola Moça existe uma situação pouco
convencional em sistemas cavernícolas brasileiros. Uma vez que os recursos orgânicos
“convencionais” são relativamente raros nas cavernas da área, o grande número de
espécies associado ao reduzido tamanho das cavidades aparece enquanto um fato
paradoxal. No entanto, a elevada riqueza das cavernas tem como base trófica um tipo de
recurso bastante inusitado e pouquíssimo comum em cavernas brasileiras: raízes de plantas
da vegetação externa que se desenvolvem através dos interstícios da rocha e alcançam a
galeria das cavernas. Tais recursos, embora relativamente incomuns em cavernas,
assumem papel fundamental em certos sistemas subterrâneos, como em tubos de lava
presente nas ilhas Canárias e no Hawai (Oromi & Izquierdo, 1994; Howarth, 2001). No
Brasil, conhecem-se poucos sistemas cavernícolas onde esta via de produtividade primária
“indireta” assume considerável importância (Souza-Silva, 2003).

Nas cavernas da área (principalmente na área do Capão Xavier) as raízes (ou os


exudatos provenientes de sua decomposição) são consumidas diretamente por um
considerável elenco de espécies fitófagas ou detritívoras, de modo que esta fonte de
nutrientes pode ser considerada como a principal ocorrente nos sistemas da área. As raízes
crescem em diferentes configurações, podendo prender-se ao teto ou às laterais das
galerias das cavernas. Podem também crescer no piso formando verdadeiros retículos
radiculares (Figura 3.41 A, B, C, D e E). Além disso, foram observadas, em algumas
cavernas, estruturas colunares formadas pelo crescimento anastomosado de raízes nos
locais de gotejamento. Tais “tufos” de raízes desenvolvem-se buscando a umidade
proveniente do gotejamento vindo do teto, de forma similar ao crescimento de espeleotemas
(Figura 3.41 E e F). Tais estruturas foram por nós batizadas “rizotemas” que significa
“depósitos de raízes”. Estas estruturas haviam sido encontradas, anteriormente, apenas em
algumas cavernas da República Tcheca, o que demonstra sua raridade (Winkelhofer, 1975;
Jenik, 1985; Jeník & Kopecky, 1992).

É importante salientar que as cavernas inventariadas do Parque Estadual do Rola


Moça não apresentaram tantas raízes como as inventariadas no complexo Capão Xavier.
Entretanto, ressalta-se aqui que o número de cavidades inventariadas no Parque Estadual
do Rola Moça é definitivamente inexpressivo comparado ao número real de cavernas
presentes na área.

70
Figura 3.41. Raízes que crescem interceptando as galerias de diferentes cavernas ferruginosas.
Raízes presas às laterais do conduto (A); Retículos radiculares que crescem pelo piso em diferentes
cavernas (B, C e D); “Rizotemas” (E); Orifício no topo de um rizotema, correspondendo ao local onde
as gotas atingem a formação (F).

3.2.2.4.4. Caracterização faunística geral das cavidades

Foram observados nas cavernas amostradas, um total de 171 morfoespécies das


ordens Acarina (Argasidae), Araneida (Araneidae, Ctenidae, Ctenizidae, Ochiroceratidae,
Oonopidae, Pholcidae, Theridiidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae, Chthoniidae),
Opilionida (Gonyleptidae, Phalangodidae), Palpigradi (Eukoeneniidae), Scorpionida
(Buthidae), Isopoda (Dubioniscidae), Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Polydesmida
(Chelodesmidae, Pyrgodesmidae), Lithobiomorpha, Geophylomorpha, Coleoptera
(Carabidae, Coccinellidae, Curculionidae, Pselaphidae, Ptylodactilidae), Collembola
(Arrhopalitidae, Entomobryidae, Isotomidae, Neanuridae), Dictyoptera, Diptera
(Calliphoridae, Cecydomyiidae, Ceratopogonidae, Chironomidae, Drosophilidae,
Keroplatidae, Mycetophilidae, Muscidae, Phoridae, Psychodidae, Simulidae, Tipulidae),
Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Cydnidae, Enicocephalidae, Reduviidae,
Ploiariidae), Homoptera (Cixidae), Hymenoptera (Formicidae), Isoptera (Nasutitermitidae,
Rhinotermitidae), Lepidoptera (Noctuidae, Tineidae), Neuroptera (Myrmeleontidae),
Psocoptera (Psyllipsocidae, Pseudocaecillidae), Siphonaptera (Pulicidae), Zygentoma
(Lepidotrichidae), Oligochaeta, Pulmonata e Turbellaria. Foram observados também anfíbios
e morcegos.

71
Os organismos troglomórficos/edafobiontes encontrados consistem de 10 espécies:
Eukoenenia sp1 (Palpigradi: Eukoeniidae – espécie nova em descrição), Chthoniidae sp1 e
sp2 (Pseudoscorpionida), Opilionida sp3, Arrhopalites sp. n? (Collembola: Arrhopalitidae),
Isotomidae sp1 (Collembola), Coarazuphium sp.n (Coleoptera: Carabidae), Coleoptera larva
sp12, Enicocephalidae sp1 (Heteroptera), Polydesmida sp2 (Diplopoda) (Figuras 3.42 a
3.47).

Figura 3.42. Eukoenenia spn. (Palpigradi) observado na gruta Rola Moca I. A seta de número 1 indica
o flagelo e a seta de número 2 indica a pata tátil do organismo.

Figura 3.43. Arrhopalites spn. (Collembola) observado nas grutas Rola Moca III e IV.

72
Figura 3.44. Heteróptero troglomórfico da família Enicocephalidae encontrado na gruta Rola Moça III.
O parêntese indica o alongamento do corpo. Note a despigmentação do tegumento e a marcante
redução dos olhos (detalhe na seta amarela). A seta vermelha indica o tarso em forma de ungüis que
o organismo utiliza para capturar presas.

Figura 3.45. Chthoniidae sp1 (Pseudoscorpionida) troglomórfico encontrado nas grutas Rola Moca III
e IV. A elipse amarela indica a quelícera direita do organismo.

73
Figura 3.46. Coleóptero troglóbio da família Carabidae (Coarazuphium) encontrado na gruta Rola
Moça III.

Figura 3.47. Opilião troglomórfico encontrado na gruta Rola Moça II. Reparar a acentuada
despigmentação do tegumento e a anoftalmia.

74
De forma geral, as cavidades apresentaram baixos valores de similaridade entre as
comunidades bióticas, não tendo sido evidenciado nenhum valor acima de 30% (em geral,
consideram-se valores elevados aqueles iguais ou superiores a 70% de similaridade).

A baixa similaridade entre as comunidades presentes nas diferentes cavernas


evidencia a importância da estrutura física e trófica (com particularidades inerentes a cada
caverna) para a determinação de quais espécies possuem viabilidade de colonização e
permanência em cada cavidade. Desta forma, a destruição de cada uma das cavernas
amostradas dificilmente acarretará em colonizações futuras que culminem com a instalação
bem sucedida destas comunidades em outras cavernas da área.

Além disso, a aparente “superficialidade” das cavernas ferruginosas possibilita, como


já previamente mencionado, um trânsito mais freqüente de elementos de fauna entre
sistemas epígeo e hipógeo. Tal fato é perceptível quando se observa a considerável
variação em composição de espécies nas comunidades destas cavernas ao longo do tempo
(comparando as comunidades associadas a uma mesma caverna entre as estações seca e
chuvosa).

3.2.2.4.5. Caracterização biológica específica de cada cavidade

GRUTA ROLA MOÇA I

Descrição estrutural e caracterização trófica

Pequena cavidade de piso plano e entrada lenticular horizontal. O conduto principal


possui o teto baixo e dele irradia-se um outro pequeno conduto que se conecta ao meio
epígeo por meio de uma pequena entrada. O piso de ambos os condutos constitui-se
predominantemente de blocos rochosos de tamanhos variados (em geral, centimétricos a
decimétricos). Foram encontrados, associados ao piso desta cavidade, vários fragmentos de
carvão aflorantes, corroborando com um eventual uso pretérito da cavidade (ou do entorno)
por seres humanos. Embora a cavidade seja extremamente superficial, os tufos radiculares
não se mostraram abundantes como em outras cavernas da área, como na região da mina
do Capão Xavier.

Constituição faunística na estação seca

Foram observadas nesta estação, 25 morfoespécies de pelo menos 14 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ochiroceratidae, Oonopidae, Theridiidae), Pseudoscorpionida
(Chernetidae), Collembola (Isotomidae), Dictyoptera, Diptera (Keroplatidae), Heteroptera
(Ploiariidae), Homoptera (Cixidae), Hymenoptera (Formicidae), Lepidoptera (Tineidae) e
Psocoptera. Não foram encontrados organismos com caracteres troglomórficos.

Constituição faunística na estação chuvosa

Foram observadas nesta estação, 45 morfoespécies de pelo menos 24 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ctenidae, Ochiroceratidae, Pholcidae, Theridiidae), Opilionida
(Gonyleptidae), Palpigradi (Eukoeneniidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae), Isopoda
(Dubioniscidae), Polydesmida, Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Coleoptera
(Staphylinidae), Collembola (Arrhopalitidae, Entomobryidae, Isotomidae, Neanuridae),
Dictyoptera, Diptera (Chironomidae), Ensifera, Heteroptera, Homoptera (Cixidae,
Coccoidea), Hymenoptera (Formicidae) e Psocoptera. Foi encontrada uma espécie
troglomórfica/edafobionte: Eukoenenia sp. (Palpigradi).

75
Caracterização faunística geral da cavidade

Foram observadas nesta caverna, 63 morfoespécies de pelo menos 27 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ctenidae, Ochiroceratidae, Oonopidae, Pholcidae, Theridiidae),
Opilionida (Gonyleptidae), Palpigradi (Eukoeneniidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae),
Isopoda (Dubioniscidae), Polydesmida, Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Coleoptera
(Staphylinidae), Collembola (Arrhopalitidae, Entomobryidae, Isotomidae, Neanuridae),
Dictyoptera, Diptera (Chironomidae, Keroplatidae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera
(Ploiariidae), Homoptera (Cixidae, Coccoidea), Hymenoptera (Formicidae), Lepidoptera
(Tineidae) e Psocoptera. A única espécie troglomórfica/edafobionte encontrada foi
Eukoenenia sp. (Palpigradi).

GRUTA ROLA MOÇA II

Descrição estrutural e caracterização trófica

Cavidade com entrada vertical de reduzido tamanho, condição esta, exclusivamente


observada nesta cavidade, dentre as inventariadas. Tal condição, entretanto, é
aparentemente comum em cavernas de minério de ferro. Simmons (1963) cita o fato de
muitas cavernas ferruginosas apresentarem entradas verticais, em geral de pequeno porte,
geradas por colapso do teto e que dão acesso às galerias maiores. Esta tipologia também
foi posteriormente descrita por outros autores (Bowden, 1980; Maurity & Kotschoubey,
1995).

A cavidade apresenta condutos estreitos que se irradiam a partir da entrada e que


possuem o piso conformado predominantemente de clastos irregulares. Uma vez que a
entrada é vertical, existe a veiculação de materiais orgânicos para o interior da caverna via
água ou vento. No entanto, as quantidades importadas não são significativas, o que gera um
quadro de oligotrofia na cavidade. A baixa riqueza de espécies observada pode dever-se à
escassez trófica ou à fisionomia geral da vegetação externa (as formações florestais nas
imediações da entrada encontram-se mais rebaixadas, topograficamente, o que dificulta o
transporte de materiais orgânicos provenientes destas formações).

Constituição faunística na estação seca

Foram observadas nesta estação, 24 morfoespécies de pelo menos 17 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ctenidae, Pholcidae), Opilionida (Gonyleptidae),
Pseudoscorpionida (Chernetidae), Palpigradi (Eukoeneniidae), Coleoptera (Pselaphidae),
Collembola, Dictyoptera, Diptera (Keroplatidae, Phoridae), Hymenoptera (Formicidae),
Isoptera (Nasutitermitidae), Lepidoptera, Psocoptera, Zygentoma (Lepidotrichidae) e
Pulmonata. O único organismo troglomórfico/edafobionte encontrado consiste da
morfoespécie Opilionida sp3.

Constituição faunística na estação chuvosa

Foram observadas nesta estação, 24 morfoespécies de pelo menos 16 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ctenidae, Pholcidae), Opilionida (Gonyleptidae),
Pseudoscorpionida (Chernetidae), Polydesmida (Pyrgodesmidae), Coleoptera
(Ptylodactilidae), Dictyoptera, Diptera (Mycetophilidae), Ensifera (Phalangopsidae),
Heteroptera (Ligaeidae), Hymenoptera (Formicidae), Isoptera (Nasutitermitidae), Psocoptera
e Pulmonata. O único organismo troglomórfico/edafobionte encontrado consiste de uma
larva de coleóptero, anoftálmica e totalmente despigmentada.

76
Caracterização faunística geral da cavidade

Foram observadas nesta caverna, 41 morfoespécies de pelo menos 22 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ctenidae, Pholcidae), Opilionida (Gonyleptidae),
Pseudoscorpionida (Chernetidae), Palpigradi (Eukoeneniidae), Polydesmida
(Pyrgodesmidae), Coleoptera (Pselaphidae, Ptylodactilidae), Collembola, Dictyoptera,
Diptera (Keroplatidae, Mycetophilidae, Phoridae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera
(Ligaeidae), Hymenoptera (Formicidae), Isoptera (Nasutitermitidae), Lepidoptera,
Psocoptera, Zygentoma (Lepidotrichidae) e Pulmonata. Foram encontradas duas espécies
troglomórficas/edafobiontes: Opilionida sp4 e Coleoptera Larva sp1 (anoftálmica e
totalmente despigmentada).

GRUTA ROLA MOÇA III

Descrição estrutural e caracterização trófica

Cavidade cuja gênese foi aparentemente determinada por uma linha de drenagem
que alcança a borda do vale do ribeirão Rola Moça. Esta cavidade (a maior dentre as
inventariadas) possui duas entradas, sendo uma delas de grande dimensão (comparada às
demais da área) que comunicam ao único conduto da caverna, que é descendente com
relação à entrada (condição pouco comum nas cavernas da área). O tamanho e orientação
da entrada favorecem também o estabelecimento de vegetais em uma considerável
extensão nas proximidades da maior entrada desta caverna, fato que certamente contribui
para o sistema trófico da cavidade. O conduto principal, após o suave declive que se segue
à entrada, torna-se aplainado, possuindo piso conformado de sedimento clástico adensado,
sobre o qual se observam fragmentos de rocha de tamanhos variáveis, concentrados, no
entanto, junto aos flancos da galeria. O pequeno “salão” presente ao final da cavidade
conecta-se a vários canalículos (presentes também em toda a extensão do conduto da
caverna) que aparentemente conectam o macro-conduto (caverna) a um extenso sistema
intersticial desenvolvido sob a canga.

Constituição faunística na estação seca

Foram observadas nesta estação, 43 morfoespécies de pelo menos 29 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Araneidae, Ctenidae, Ctenizidae, Ochiroceratidae, Pholcidae),
Pseudoscorpionida (Chernetidae, Chthoniidae), Opilionida (Phalangodidae), Scorpionida
(Buthidae), Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Polydesmida (Pyrgodesmidae),
Coleoptera, Collembola (Arrhopalitidae, Neanuridae), Dictyoptera, Diptera (Mycetophilidae,
Phoridae, Psychodidae, Tipulidae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Ploiariidae),
Homoptera (Cixidae), Isoptera (Rhinotermitidae), Lepidoptera (Noctuidae, Tineidae),
Psocoptera (Psyllipsocidae, Pseudocaecillidae) e Pulmonata. Foram encontradas duas
espécies troglomórficas: Arrhopalites sp. (Collembola: Arrhopalitidae) e Chthoniidae sp1
(Pseudoscorpionida).

Constituição faunística na estação chuvosa

Foram observadas nesta estação, 55 morfoespécies de pelo menos 33 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Ctenidae, Ctenizidae, Ochiroceratidae, Oonopidae, Pholcidae),
Opilionida (Phalangodidae), Palpigradi (Eukoeneniidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae,
Chthoniidae), Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Polydesmida (Chelodesmidae,
Pyrgodesmidae), Geophylomorpha, Coleoptera (Carabidae, Ptylodactilidae), Collembola
(Arrhopalitidae, Entomobryidae, Isotomidae, Neanuridae), Diptera (Chironomidae,
Mycetophilidae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Enicocephalidae, Reduviidae),
Hymenoptera (Formicidae), Lepidoptera (Tineidae), Neuroptera (Myrmeleontidae),
77
Psocoptera (Psyllipsocidae, Pseudocaecillidae), Siphonaptera (Pulicidae), Turbellaria e
Pulmonata. Foram encontradas seis espécies troglomórficas: Chthoniidae sp1 e sp.2
(Pseudoscorpionida), Eukoenenia sp. (Palpigradi), Arrhopalites sp. (Collembola:
Arrhopalitidae), Coarazuphium sp.n (Coleoptera: Carabidae) e Enicocephalidae sp1
(Heteroptera).

Caracterização faunística geral da cavidade

Foram observadas nesta caverna, 78 morfoespécies de pelo menos 43 famílias das


ordens Acarina, Araneida (Araneidae, Ctenidae, Ctenizidae, Ochiroceratidae, Oonopidae,
Pholcidae), Opilionida (Gonyleptidae, Phalangodidae), Palpigradi (Eukoeneniidae),
Pseudoscorpionida (Chernetidae, Chthoniidae), Spirostreptida (Pseudonannolenidae),
Polydesmida (Chelodesmidae, Pyrgodesmidae), Geophylomorpha, Coleoptera (Carabidae,
Ptylodactilidae), Collembola (Arrhopalitidae, Entomobryidae, Isotomidae, Neanuridae),
Dictyoptera, Diptera (Chironomidae, Mycetophilidae, Phoridae, Psychodidae, Tipulidae),
Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Enicocephalidae, Ploiariidae, Reduviidae),
Homoptera (Cixiidae), Hymenoptera (Formicidae), Isoptera (Rhinotermitidae), Lepidoptera
(Noctuidae, Tineidae), Neuroptera (Myrmeleontidae), Psocoptera (Psyllipsocidae,
Pseudocaecillidae), Siphonaptera (Pulicidae), Turbellaria e Pulmonata. Foram encontradas
seis espécies troglomórficas: Eukoenenia sp. (Palpigradi), Chthoniidae sp.1 esp.2
(Pseudoscorpionida), Arrhopalites sp (Collembola: Arrhopalitidae), Coarazuphium sp.n
(Coleoptera: Carabidae) e Enicocephalidae sp.1 (Heteroptera).

GRUTA ROLA MOÇA IV

Descrição estrutural e caracterização trófica

Esta caverna possui entrada associada à porção basal de uma grande quebra na canga
sendo, desta forma, a cavidade mais profunda dentre as inventariadas. O conduto da
caverna encontra-se a dezenas de metros da superfície, circunstância que tem sérias
implicações tróficas para a caverna. O conduto ascendente em relação à entrada impede a
importação de recursos orgânicos via água de enxurradas. Os poucos recursos orgânicos
de origem vegetal presentes foram trazidos pelo vento e se depositam nas proximidades
imediatas da entrada.

Os três pequenos salões da caverna conectam-se a vários canalículos da canga, que


trazem água da superfície em certos períodos (o que é perceptível pelas marcas de água
deixadas no piso).

A profundidade considerável da cavidade impede a interceptação do conduto por raízes


da vegetação externa, que não são suficientemente profundas a ponto de alcançar a
caverna. Sendo assim, inexistem raízes nesta caverna, condição bastante atípica com
relação às demais cavidades. O recurso trófico, desta forma consiste basicamente de
poucos depósitos de guano de morcegos avistados em alguns pontos do piso.

Constituição faunística na estação seca

Foram observadas nesta estação, 28 morfoespécies de pelo menos 19 famílias das


ordens: Acarina (Argasidae), Araneida (Ochiroceratidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae,
Chthoniidae), Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Coleoptera (Curculionidae), Collembola
(Arrhopalitidae, Neanuridae), Dictyoptera, Diptera (Ceratopogonidae, Drosophilidae,
Psychodidae, Simulidae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Cydnidae, Reduviidae),
Hymenoptera (Formicidae), Lepidoptera (Noctuidae) e Psocoptera. Foram encontradas duas

78
espécies troglomórficas: Arrhopalites sp. (Collembola: Arrhopalitidae) e Chthoniidae sp1
(Pseudoscorpionida).

Constituição faunística na estação chuvosa

Foram observadas nesta estação, 38 morfoespécies de pelo menos 25 famílias das


ordens: Acarina (Argasidae), Araneida (Araneidae, Pholcidae, Ochiroceratidae, Theridiidae),
Opilionida (Gonyleptidae, Phalangodidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae, Chthoniidae),
Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Coleoptera, Collembola (Arrhopalitidae,
Entomobryidae, Neanuridae), Dictyoptera, Diptera (Calliphoridae, Chironomidae, Muscidae,
Tipulidae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Reduviidae), Homoptera (Cixiidae),
Hymenoptera (Formicidae), Lepidoptera e Oligochaeta. Foram encontradas duas espécies
troglomórficas: Arrhopalites sp. (Collembola: Arrhopalitidae) e Chthoniidae sp1
(Pseudoscorpionida).

Caracterização faunística geral da cavidade

Foram observadas nesta caverna, 52 morfoespécies de pelo menos 32 famílias das


ordens: Acarina (Argasidae), Araneida (Araneidae, Ctenidae, Pholcidae, Ochiroceratidae,
Theridiidae), Opilionida (Gonyleptidae, Phalangodidae), Pseudoscorpionida (Chernetidae,
Chthoniidae), Spirostreptida (Pseudonannolenidae), Coleoptera (Curculionidae), Collembola
(Arrhopalitidae, Entomobryidae, Neanuridae), Dictyoptera, Diptera (Calliphoridae,
Ceratopogonidae, Chironomidae, Drosophilidae, Muscidae, Psychodidae, Simulidae,
Tipulidae), Ensifera (Phalangopsidae), Heteroptera (Cydnidae, Reduviidae), Homoptera
(Cixiidae), Hymenoptera (Formicidae), Lepidoptera (Noctuidae), Psocoptera e Oligochaeta.
Foram encontradas duas espécies troglomórficas: Arrhopalites sp. (Collembola:
Arrhopalitidae) e Chthoniidae sp1 (Pseudoscorpionida).

3.2.2.4.6. Avaliação Preliminar do Patrimônio Espeleológico

As cavernas vêm sendo objeto de uma valorização crescente, não só como patrimônio
natural/cultural, mas como um ecossistema frágil e peculiar. Diante dos atributos
selecionados para a valoração das cavernas inventariadas (científico, ambiental,
paisagístico, religioso e econômico) foi possível efetuar uma avaliação preliminar do
patrimônio espeleológico da caverna.

Sob o ponto de vista científico, todas as grutas inventariadas no parque apresentam


elevado potencial para estudos bioespeleológicos, principalmente no que concerne a
trabalhos sobre evolução regressiva, tendo em vista a ocorrência de espécies
(provavelmente troglóbias) que podem contribuir para um melhor entendimento da evolução
destes grupos em cavernas. Destas, no entanto, destaca-se a gruta Rola Moça III, dada a
grande quantidade de espécies (seis) incluídas nesta categoria.

A gruta Rola Moça I possui carvões associados a diferentes pontos no piso, o que
sugere um uso pretérito da cavidade. Desta forma, esta caverna possui um atributo especial
de valoração científica: a arqueologia.

Ambientalmente, as cavernas da área não apresentam fortes atributos de valoração


física, tendo em vista a inexistência de sumidouros e mesmo suas desconexões com
aqüíferos. O valor paisagístico é relativamente baixo, tendo em vista a presença de
morfologias de baixo atrativo estético. O potencial para o uso turístico das cavernas é
pequeno em função da relativamente baixa qualidade estética/paisagística e reduzido
tamanho. Nenhum tipo de valor econômico pôde ser atribuído a nenhuma das cavidades
inventariadas.

79
A gruta Rola Moça III, onde foi evidenciado o uso antrópico, possui tal uso
aparentemente vinculado a manifestações religiosas. Durante os trabalhos de inventário
bioespeleológico, vários papéis com orações foram encontrados “guardados” em espaços
na rocha. Além disso, foi encontrado também um caderno, onde existiam anotações
referentes à registros acerca de visitas à cavidade para momentos de oração. Infelizmente,
nesta caverna, concentra-se boa parte das espécies troglomórficas encontradas.

3.2.5. Fauna

3.2.5.1. Mamíferos (Mastofauna)

A fauna de mamíferos (mastofauna) foi amostrada em sete sítios de coleta:

1) Sede: caracterizada pela formação de cangas, vegetação típica de campos


metalíferos;
2) Manancial da Catarina: constituído de cerrado e mata estacional semidecidual;
3) Manancial Taboões: mata estacional semidecidual;
4) Manancial Bálsamo: caracterizado por diferentes formações de cerrado (típico,
campo sujo, campo limpo) e mata estacional semidecidual;
5) Manancial Barreiro: composto por cerrado típico, cerradão e mata estacional
semidecidual;
6) Manancial Mutuca: definido por formações de cerrado (típico e campo limpo) e mata
estacional semidecidual e
7) Estação Ecológica de Fechos: caracterizada por matas ciliares e mata estacional
semidecidual.
O período de amostragem para levantamento de dados primários foi de 10 dias
consecutivos, entre 10 a 19 de novembro de 2004. O registro de ocorrência das espécies foi
realizado através de métodos indiretos (vestígios) e métodos diretos (visualização
oportunística e captura de pequenos mamíferos). O esforço de coleta, como esperado, não
foi suficiente para representar toda a comunidade de mamíferos, porém pode-se considerar
que o número de espécies registradas foi satisfatório para a natureza do trabalho (Figura
3.48).

30

25
Nº cumulativo de spp

20

15

10

0
1 3 5 7 9 11
Esforço amostral (dias)

Figura 3.48. Curva do coletor representando o esforço amostral (em dias de coleta) e o número
acumulado de espécies de mamíferos registradas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça e
Estação Ecológica de Fechos, Minas Gerais.
80
Vestígios

A ocorrência das espécies de mamíferos foi registrada através de 46 vestígios


representados por rastros e fezes (Figura 3.49).
A C

Figura 3.49. Rastro de lobo-guará Crysocyon brachyurus (A), fezes de um mamífero (B) e rastro de
cachorro-do-mato Cerdocyon thous (B), observados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça
durante os estudos de campo. Fotos: Leonardo R. Viana.

Do montante de registros foi confirmada a ocorrência de nove espécies, sendo algumas


espécies listadas como ameaçadas na Lista do MMA 2003 e no estado de Minas Gerais
(Machado et al., 1998). O número médio de registros/dia foi 4,6 ± 2,59 (Figura 3.50).

30,00

25,00
Abundância relativa (%)

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00
cancrivurus

brasiliensis
Chrysocyon

Lycalopex
familiaris

Cerdocyon

Dasyprocta

Leopardus

americana
brachyurus

Sylvilagus
Mazama
vetulus
Canis

Procyon
tigrinus
Thous

sp.

Figura 3.50. Abundância Relativa das Espécies de Médios e Grandes Mamíferos Registrados Através
das Caixas de Areia no Parque Estadual do Rola Moça, MG.
81
As espécies de canídeos foram as mais registradas, representadas pelo cachorro-do-
mato (Cerdocyon thous), cachorro doméstico (Canis familiares) e raposa-do-campo
(Pseudalopex vetulus). No caso de cachorro doméstico, sua presença foi registrada em
diferentes locais do parque, através do monitoramento de vestígios. Segundo relatos de
funcionários e observações pessoais, os cães parecem utilizar habitualmente a área para
deslocamento e mesmo forrageamento, uma vez que os limites da unidade de conservação
são contíguos às áreas urbanizadas e densamente ocupadas.

Foram encontradas cinco amostras fecais, das quais duas de lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) e as restantes distribuídas entre canídeo silvestre, cachorro doméstico e
canídeo não identificado. Para as fezes de lobos-guará foram identificados itens alimentares
comumente registrados na dieta da espécie, composta por pequenos mamíferos e frutos. No
entanto, para as amostras fecais provenientes de cachorro doméstico e canídeo não
identificado foram registradas as ocorrências de elementos da fauna nativa como, pequenos
mamíferos, gambá (Didelphis sp.) e insetos, denotando o dano potencial causado pela
presença de cachorros domésticos dentro de unidades de conservação.

Para o ponto situado sobre a estrada asfaltada foi observado um fluxo contínuo de
fauna, uma vez que diferentes espécies, representadas por animais de grande e pequeno
porte utilizaram essa passagem ativamente por dias seguidos.

Métodos diretos - captura de pequenos mamíferos

Com um esforço amostral de 1165 armadilhas e um sucesso de captura de 5,3%,


foram registradas nove espécies representadas por três marsupiais e seis espécies de
roedores (Figura 3.51). Esses resultados correspondem a 45% da riqueza de espécies
registradas por estudos precedentes (Câmara, 2000; Carvalho, 2000; Morais, 2001). As
espécies que apresentaram maior abundância foram Akodon cursor (Figura 3.55), Bolomys
lasiurus (Figura 3.52) e Didelphis albiventris. Como esperado A. cursor foi capturado em
ambientes florestais e a maior incidência de capturas (60%) foi registrada para o Manancial
Catarina, fragmento de mata supostamente menos preservado, quando comparado aos
outros sítios amostrados. Embora nenhuma espécie de roedor não silvestre fora capturado
sua ocorrência não pode ser descartada em função da proximidade do parque aos
aglomerados urbanos.

30,0
Abundância relativa (%)

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
albiventris
Philander

Akodon
opossum
Marmosops

Bolomys

Nectomys

Oligorizomys

Oryzomys

Rhipdomys
mastacalis
Didelphis

lasiurus
cursor
incanus

sp.

sp.
sp.

Figura 3.51. Abundância Relativa das Espécies de Pequenos Mamíferos Capturados no Parque
Estadual do Rola Moça, MG.

82
A B
Figura 3.52. Espécime de Akodon cursor (A) e Bolomys lasiurus (B) capturados no Parque Estadual
da Serra do Rola Moça, Minas Gerais, durante os trabalhos de campo. Foto Leonardo R. Viana.

Visualizações

Durante as incursões de campo quatro espécies foram avistadas, sendo duas de


primatas (guigó ou sauá, Calicebus nigrifons e mico-estrela, Callithrix penicillata), uma de
roedor (esquilo, Sciurus aestuons) e tapeti, Silvilagus brasiliense, sendo todas comuns aos
ambientes presentes no parque.

3.2.5.1.4. Espécies de Interesse Especial

De uma forma geral as espécies presentes no PESRM são espécies comuns, face à
situação de isolamento e pressão urbana que a área sofre. Das espécies registradas
durante a elaboração do plano de manejo, a onça-parda (Puma concolor), o gato-do-mato-
pequeno (Leopardus tigrinus) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) figuram entre as
espécies ameaçadas de extinção, tanto na lista nacional como na estadual (Machado et al.,
1998; MMA, 2003).

A onça-parda parece utilizar a área do parque como ponto de parada em incursões


maiores, não tendo uma população residente. Porém o parque é importante para esta
espécie justamente como ponto de parada, permitindo dispersão de indivíduos e mitigando
os efeitos da fragmentação do ambiente. A onça-parda é considerada ameaçada de
extinção tanto pela lista nacional, quanto pela estadual. Já o lobo-guará e o gato-do-mato-
pequeno parecem ter indivíduos residentes na área. Vários vestígios das espécies foram
encontrados e os requerimentos ecológicos são menos restritivos que os da onça-parda. No
entanto é provável que não se trate de populações viáveis em longo prazo, na perspectiva
de isolamento cada vez maior da área.

A presença das duas espécies de veados (Mazama americana e Mazama


gouazoupira) é relevante, uma vez que a pressão de caça é alta e também estão
ameaçadas em Minas Gerais (Machado et al., 1998). A raposa-do-campo (Pseudalopex
vetulus), outra espécie listada como ameaçada em Minas Gerais, tem como habitat
preferencial às áreas campestres, sendo favorecida pelo tipo de vegetação existente no
Parque e região (endêmica do Cerrado). Porém, esta espécie foi registrada em apenas um
ponto de amostragem e tanto esta, como o lobo-guará, deve sofrer com a presença de cães

83
domésticos no interior do PESRM. As outras espécies, listadas apenas para Minas Gerais
(Machado et al., 1998) são mais comuns em geral no Cerrado, mas a presença das duas
espécies de veados é relevante, uma vez que a pressão de caça é alta. A presença destas
duas espécies na área está vinculada a uma fiscalização eficiente para coibir a caça.

A raposa-do-campo, a outra espécie listada, tem como habitat preferencial as áreas


campestres, sendo favorecida pelo tipo de vegetação existente no parque. Porém esta
espécie foi registrada em apenas um ponto e tanto ela quanto o lobo-guará devem sofrer
com a presença de cães domésticos no interior da Unidade.

A cutia que foi registrada necessita ser identificada em nível específico, para
avaliação de seu status taxonômico e biogeográfico.

3.2.5.1.5. Espécies Exóticas e Invasoras

Há grande possibilidade de encontrar ratos e ratazanas no parque, face à


proximidade com áreas habitadas. No entanto nenhum registro foi obtido. A principal
espécie exótica presente e amplamente distribuída no parque são cães domésticos. Os cães
causam problemas em relação a predação de animais nativos e transmissão de doenças
para os carnívoros nativos. A proximidade com habitações e com o lixão torna quase
impossível um controle efetivo destes animais exóticos.

3.2.5.2. Aves

Os levantamentos de aves foram realizados no período diurno e noturno, entre 01 e


12 de novembro 2004, quando o registro das espécies nos sítios foi feito de modo
oportunístico.

Foram utilizadas oito redes de neblina (12 x 2 m cada rede): em Fechos, o esforço foi
de 6 hs, em Taboões 6:30hs e na Catarina, 5:30hs. As espécies nos sítios foram registradas
por meio de captura, vocalização e/ou visualização e sempre que possível, a vocalização
das espécies foi gravada, usando o gravador digital MD Sony MD Mz-R 700 ou Sony TCE
5000 EV e microfone direcional Sennheiser ME66/67. Foram usados os registros de
espécies obtidos através de dados de literatura (referências) e observações de outros
pesquisadores para acrescentar espécies à lista de aves.

A classificação das fitofisionomias do Cerrado segue Eiten (1993), a lista de espécies


de aves segue a ordem filogenética de Sick (1984, 1997) e os nomes científicos seguem o
Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos - CBRO. Espécies endêmicas do Cerrado
foram determinadas segundo Silva (1997) e Cavalcanti (1999).

Foram utilizados dados secundários para complementar a listagem de aves do


PESRM, advindos principalmente de estudos de mestrado e doutorado do Programa de PG
da UFMG, de relatórios produzidos pela SETE Soluções e Tecnologia Ambiental
(Empreendimentos Imobiliários Vale dos Cristais, Município de Nova Lima, MG), ambos de
circulação restrita, gentilmente cedidos pelos autores.

As fisionomias vegetais observadas no PESRM foram associadas às categorias de


uso de hábitat propostas por SILVA (1995a): 1 = independente de áreas florestais, 2 =
semidependentes e 3 = dependentes de florestas.

Foram observadas 170 espécies de aves no Parque Estadual da Serra do Rola


Moça, sendo que destas, 11 foram registros obtidos apenas na literatura. Do total de
espécies registradas, quatro estão em alguma categoria de ameaça de extinção. AS
84
espécies ameaçadas são: Tinamus solitarius (macuco), Crax blumenbachii, Odontophorus
capueira (os três registros advindos do Programa de Reintrodução de Aves) e
Harpyhaliaetus coronatus (águia cinzenta), em perigo regionalmente (COPAM 1992).

As espécies endêmicas são: Augastes scutatus (beija-flor-de-gravata), Melanopareia


torquata (Meia-lua-do-cerrado), Antilophia galeata (Soldadinho), Cyanocorax cristatellus
(Gralha-do-cerrado), Porphyrospiza caerulescens (Campainha-azul), Embernagra
longicauda (Rabo-mole-da-serra).

O esforço empregado nos três sítios correspondeu a nove dias de observação (aqui
não estão incluídas as espécies capturadas nem observadas fora dos pontos), sendo
observado aumento maior de espécies no início da campanha, sendo a adição de espécies
um fator constante ao longo dos dias, porém menos acentuado (Figura 3.53).

160

140
Número de espécies

120

100

80

60

40

20

0
10/11 11/11 12/11 13/11 14/11 15/11 16/11 17/11

Dias de Amostragem

Figura 3.53. Número acumulativo de espécies em relação aos dias de amostragem no Parque
Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM), MG.

De acordo com a curva acumulativa de espécies e o aumento de espécies por dia


(Figura 3.54), observa-se que assíntota do numero de espécies não foi atingida, mas que o
aumento de espécie é cada vez menor em relação ao numero de dias que podem ser
adicionados à amostragem.

Existe grande variação diária do aumento do número de espécies em cada sítio, ou


seja, o registro de novas espécies pode depender das condições climáticas ou mesmo da
resposta tardia da comunidade de aves aos distúrbios causados pelos pesquisadores, como
colocação das redes, diminuindo a atividade de vocalização e movimentação. Porém, é
visível que o aumento do número de espécies para a região amostrada diminui ao longo do
tempo.

85
50

45

40

Número de espécies
35

30

25

20

15

10

0
10/11 11/11 12/11 13/11 14/11 15/11 16/11 17/11

Dias de Amostragem

Figura 3.54. Incremento de espécies em relação aos dias de amostragem no Parque Estadual da
Serra do Rola Moça (PESRM), MG.

Foram capturadas apenas nove espécies nas redes de neblina, sete espécies na
Catarina, cinco em Taboões e oito em Fechos. Os pontos foram escalonados de acordo com
a pontuação abaixo (Tabela 3.14) e usando os intervalos de valores, sempre que possível,
resultando na média para os parâmetros utilizados (Tabela 3.15).

Tabela 3.14. Valores de referência atribuídos aos pontos amostrados.


Pontuação Riqueza de Espécies Fragilidade Qualidade Diversidade
espécies endêmicas do Habitat dos habitats de habitats
1 68 5 –6 Muito alta Muito alta Muito alta
2 56 –67 3 –4 Alta Alta Alta
3 43 – 55 2 Média Média Média
4 29 – 42 1 Baixa Baixa Baixa
5 17- 28 0 Muito baixa Muito baixa Muito baixa

Tabela 3.15. Valores atribuídos para a riqueza, espécies endêmicas (EN), fragilidade (FH), qualidade
(QH) e diversidade (DH) de hábitat, com a respectiva média aritmética dos pontos amostrados no
PESRM (MG).
Sítios Pontos Riqueza EN FH QH DH Total
1.1 – Mata 3 (49) 3 (2) 3 2 2 2,6
1 – Bálsamo (72)
1.2 – Cerrado 2 (34) 2 (3) 2 2 3 2,2
2.3 – VIII Mata 3 (48) 4 (1) 3 2 2 2,8
2.4 – Canga 5 (28) 3 (2) 1 1 3 2,6
2 – APE Catarina (91) 2.5 – Sede 5 (17) 0 (0) 1 4 3 2,6
2.6 – VII Cerrado 4 (40) 3 (2) 2 2 3 2,8
2.7 – Portão I 5 (21) 2 (4) 2 4 4 3,4
3.8 – II Mata 4 (38) 4 (1) 3 2 2 3
3 – Taboões (94) 3.9 – Lixão 5 (21) 0 (0) 4 5 5 3,8
3.10 – Cerrado Obra 1 (68) 4 (1) 2 3 2 2,4
4 – Jatobá (56) 4.11 – Cerrado IV 2 (55) 3 (2) 2 3 2 2,4
5 – EE Fechos (56) 5.12 – Mata VIII 2 (55) 0 (0) 3 2 2 1,8

86
De acordo com as regras de pontuação do quadro acima, muitas áreas têm
importância alta (valores menores) para a conservação devido à presença de elementos
exclusivos. Nesses locais, as atividades antrópicas devem ser fiscalizadas freqüentemente e
os seus efeitos monitorados em intervalos pequenos de tempo. A área de maior importância
foi a EE Fechos, onde existe registro de três espécies ameaçadas de extinção (dados do
programa de reintrodução).

Os outros pontos têm prioridade média, porém a Mata de Taboões e o Portão I


devem ser monitorados e fiscalizados por estarem próximas às divisas do parque. O ponto
do Lixão representa o menor valor de conservação, sendo uma área que oferece riscos à
saúde das aves devido a maior probabilidade de contaminação por metais pesados e
doenças.

As únicas categorias (alta e média) resultantes da ponderação desses valores


atribuídos arbitrariamente aos pontos de coleta ressaltam que o PESRM é frágil, o que é
óbvio pela proximidade com a cidade de Belo Horizonte. Se as atividades antrópicas forem
constantes, como uso desordenado do entorno, caça, fogo, etc, é possível que o parque vá
perdendo diversidade ao passar dos anos.

3.2.5.2.1. Espécies Especiais – Endêmicas e Ameaçadas de Extinção

As espécies especiais são as espécies endêmicas, endêmicas/ameaçadas e as


ameaçadas de extinção (Tabela 3.16). Foram registradas 11 espécies especiais, sendo sete
endêmicas e quatro ameaçadas.

Tabela 3.16. Espécies endêmicas e ameaçadas de extinção com registro para o PESRM e EEF

Taxa Endêmica Ameaçada

Tinamus solitarius* estadual


Crax blumenbachii* estadual
Odontophorus capueira* estadual
Harpyhaliaetus coronatus nacional, estadual
Augastes scutatus Espinhaço
Melanopareia torquata cerrado
Polysticus superciliaris cerrado
Antilophia galeata cerrado
Cyanocorax cristatellus cerrado
Porphyrospiza caerulescens cerrado
Embernagra longicauda cerrado
* Registros advindos do programa de reintrodução.

Das espécies registradas no PESRM, sete espécies são endêmicas do Cerrado: o


beija-flor-de-gravata (Augastes scutatus) o tapálculo-de-coleia (Melanopareia torquata), o
papa-moscas-de-costas-cinzentas (Polystictus superciliaris), a gralha-do-cerrado
(Cyanocorax cristatellus), a campainha azul (Porphyrospiza caerulescens) e o rabo-mole-da-
serra (Embernagra longicauda) (Figura 3.55), são espécies de áreas abertas, enquanto o
87
soldadinho, Antilophia galeata, é restrito às formações florestais (Silva, 1995a). Essas
espécies são abundantes, com distribuição ampla, algumas formam grupos numerosos e
todas possuem vocalização muito característica, particularidades que justificam a fácil
detecção.

A B

Figura 3.55. O rabo-mole-da-serra Embernagra longicauda (A) e o Beija-flor-de-gravata Augastes


scutatus (B).

Augastes scutatus – beija-flor-de-gravata

 Espécie endêmica com distribuição restrita a cadeia do Espinhaço, é


considerada relativamente comum nas áreas onde ocorre. Ocorre na Serra do
Espinhaço, norte de Minas Gerais, desde Montes Claros, Grão Mogol e
Diamantina, até a Serra do Cipó, em Belo Horizonte, Ouro Preto e
Conselheiro Lafaiete (Birdlife International, 2004). A principal ameaça é a
rápida conversão de áreas de Cerrado em pastagem, e como tem distribuição
restrita, é muito vulnerável a perda de áreas dentro da sua distribuição. No
PESRM foi observada no ponto P2.4, Canga.

Melanopareia torquata - Meia-lua-do-cerrado

 Espécie típica do Brasil Central, vive no campo cerrado, savanas ricas em


cupinzeiros e campos sujos (Sick, 1997). Ocorre no sul do Pará, Piauí, Bahia,
Goiás, Mato Grosso e São Paulo à Bolívia. É relativamente comum e está
representada em 17 de 21 unidades de conservação do Cerrado estudadas
(Braz 2003). No PESRM, a espécie foi registrada em sete pontos de
amostragem, sendo a endêmica mais comum, juntamente com a gralha-do-
campo, Cyanocorax cristatellus.

Polysticus superciliaris

 Espécie restrita a campos rupestres, campo cerrado e campo sujo. Ocorre


localmente desde o leste do Brasil, no Morro do Chapéu (Bahia) até a Serra
da Bocaína, norte de São Paulo. A conversão de habitats é a principal causa
de diminuição da população (Birdlife International, 2004). Foi registrada em
um ponto somente, P2.7, Portão I.

88
Antilophia galeata - Soldadinho

 É uma das espécies mais notáveis do Cerrado, apresentando um grande tufo


frontal vermelho e uma cauda grande, sendo que a fêmea é esverdeada (Sick
1997). Habita a mata de galeria, capões, mata em terreno pantanoso e
buritizais. No PESRM a espécie não é tão comum como em outras UCs da
área core do Cerrado.

Cyanocorax cristatellus – Gralha-do cerrado

 Espécie campestre típica do Brasil central, ocorrendo do Piauí, Maranhão e


sul do Pará a Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo (Sick, 1997). É
uma das espécies endêmicas mais comuns em unidades de conservação do
Cerrado, estando presente em 18 de 21 áreas avaliadas (Braz, 2003).

Porphyrospiza caerulescens – campainha-azul

 Ocorre na Bolívia e no Brasil, do Maranhão a sudeste do Pará, Piauí, Bahia,


oeste de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso, em áreas de
cerrado aberto com pedras e capim ralo (Sick 1997). No PESRM, somente é
observada na região da Jacuba onde existem os afloramentos
acompanhados de bambus. No entorno só foi observada na região do
Taquari. É considerada como espécie próxima de ameaça de extinção
também pela rápida conversão de áreas de Cerrado para atividades
antrópicas (BirdLife International, 2004).

Não foram observadas, durante as amostragens do plano de manejo, espécies


ameaçadas de extinção, mas se tem conhecimento sobre o registro de uma ameaçada
nacionalmente (águia cinzenta: Harpyhaliaetus coronatus, com. pess. Henrique Borges),
também considerada como em perigo regionalmente (COPAM, 1992) e de três espécies que
foram reintroduzidas na EEF, o macuco (Tinamus solitarius) (Figura 3.56), o uru
(Odontophorus capueira) e o mutum (Crax blumenbachii). Por possuir requisições
ambientais restritas, este registro é valioso do ponto de vista de conservação, pois indica
que o parque ainda possui condições de manter espécies de acipitrídeos de grande porte,
elevando a importância do PESRM.

Figura. 3.56. Macuco (Tinamus solitarius), espécie ameaçada de extinção.

89
3.2.5.2.2. Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas

No PESRM foram detectadas espécies exóticas muito comuns como os pardais


(Passer domesticus) e pombas domésticas (Columba livia). Devido à proximidade com
cidades, este é um fenômeno comum. No parque, porém, não há grandes populações
destas espécies, sendo que as mesmas estão restritas às áreas de cercas, contato entre o
parque e os bairros vizinhos.

3.2.5.3. Herpetofauna

Para o levantamento da herpetofauna na região compreendida pelo presente estudo,


a metodologia empregada foi constituída basicamente por dois princípios de amostragens:

i) O primeiro consistiu em uma revisão bibliográfica buscando-se trabalhos


anteriormente realizados na região e dados disponíveis sobre sua herpetofauna;

ii) O segundo consistiu em trabalho de campo conduzido na unidade de conservação


no período de 8 a 19 de novembro de 2004, buscando registros das espécies da
herpetofauna por observação direta ou indícios de sua ocorrência. Foi dada
prioridade a regiões do PESRM ainda não estudadas.

Quanto aos métodos de obtenção de dados primários, foram utilizadas as seguintes


técnicas: nos sítios e pontos de observação pré-estabelecidos foram empregadas
metodologias específicas para observação e eventuais coletas da herpetofauna local
(quando necessário para sua identificação em nível de espécie), e foi feita uma avaliação
das potencialidades dos ambientes em abrigar diferentes segmentos dos anfíbios e répteis.
Foram amostrados ambientes com potencial para ocorrência de anfíbios e répteis, dando-se
prioridade a áreas próximas a corpos d'água, incluindo represas, riachos e poças
temporárias. Desta forma, foram incluídos novos pontos de amostragem nos sítios pré-
estabelecidos e outros pontos indicados para amostragem não foram incluídos nos estudos
da herpetofauna, devido à ocorrência de tipos de ambientes e características poucos
propícios à ocorrência de espécies de anfíbios e répteis. Espécies eventualmente
encontradas nestes sítios seriam, provavelmente, apenas aquelas mais resistentes e
generalistas, as quais poderiam ser registradas também nos locais amostrados. Sendo
assim, foi dada prioridade às áreas com potencial de abrigar maior riqueza de espécies.

Assim, para os anfíbios foram concentrados esforços no sentido de observá-los em


seus períodos preferenciais de atividade, se diurnos ou noturnos. Desta forma, girinos foram
procurados durante o dia e anuros adultos à noite, quando a maioria das espécies se
reproduz (Duellman & Trueb 1994). As observações noturnas foram feitas no período
compreendido logo após o escurecer até aproximadamente 24:00h ou 1:00h, dependendo
da abundância de indivíduos no local amostrado. As observações diurnas concentraram-se
no período da tarde, quando girinos e alguns adultos (em descanso) foram registrados. Para
otimizar o levantamento de girinos, foram instaladas armadilhas de funil sem iscas em
diversos ambientes aquáticos segundo metodologia utilizada por Bertoluci (1997). Os
adultos coletados foram acondicionados em sacos plásticos umedecidos e os girinos em
potes plásticos com água. Os exemplares coletados foram posteriormente anestesiados e
fixados, segundo metodologia proposta por Heyer et al. (1994) e depositados na Coleção de
Herpetologia do Museu de Ciências Naturais da PUC-Minas (MCN), Belo Horizonte, Minas
Gerais. Espécimes repetidos e desnecessários para a identificação da espécie foram
libertados em seus locais de origem no mesmo dia ou no dia seguinte a coelta. Os
espécimes capturados ou observados em campo foram fotografados, sempre que possível.

90
Para cada indivíduo observado foram registrados: espécie, ambiente ocupado e
informações relevantes sobre o microambiente utilizado (e.g. tipo de substrato, tipo de corpo
d’água), sobre comportamentos reprodutivos, presença de casais em amplexo,
vocalizações, desovas, girinos e jovens recém-metamorfoseados. Outros eventos de
interesse tais como, predação, deslocamentos, locais de abrigo, táticas defensivas, etc.,
foram também registrados quando observados.

Em relação aos répteis, os esforços foram concentrados em lagartos e serpentes,


sendo adotadas diferentes metodologias adequadas às características biológicas de cada
grupo. Lagartos foram procurados em locais ensolarados e serpentes em abrigos, na
vegetação e próximas a corpos d'água. A grande maioria das espécies procura refúgio sob
pedras e frestas em afloramentos rochosos, tocos caídos, folhiço e serrapilheira, tocas de
outros animais e demais esconderijos. Assim sendo, cada um destes ambientes
diagnosticados como potencial para a ocorrência de serpentes ou lagartos foi investigado ao
longo do dia e à noite, concomitantemente aos esforços de busca de anfíbios. Os demais
pesquisadores trabalhando com outros grupos animais também contribuíram para a busca
de répteis, cujo registro foi ocasional e muito influenciado pelo número de observadores e
área amostrada. Observações sobre comportamentos apresentados e aspectos de uso do
ambiente foram também registradas.

O objetivo deste trabalho foi analisar a fauna em relação aos parâmetros qualitativos,
sendo o mesmo, portanto, de caráter preliminar em termos de conhecimento da
herpetofauna local. Foi estudada principalmente a riqueza específica da composição
faunística da área amostrada (número de espécies na área amostrada). Foi dada maior
ênfase ao grupo dos anfíbios, devido ao seu potencial de indicação de qualidade ambiental
e à possibilidade de obtenção de maior quantidade de dados em um curto intervalo de
tempo, disponível para a Avaliação Ecológica Rápida.

O registro de 34 espécies de anfíbios para a região do PESRM e entorno revela uma


alta riqueza de espécies para a região, como ressaltado por Drummond et al (2005). Foram
registrados vários ninhos do "sapo-ferreiro", Hyla faber (Figura 3.57A), evidenciando que
esta espécie já tinha iniciado suas atividades reprodutivas mesmo com o atraso das chuvas,
devido à criação de um ambiente alagável e favorável para suas atividades nas margens da
represa da captação Taboões. Os machos desta perereca (Figura 3.57B) constroem bacias
de barro nas margens de corpos d'água e as fêmeas as utilizam para desovar.

A B

Figura 3.57. Ninho com Ovos (A) e Macho (B) da Perereca Hyla faber. Fotos: Paula C. Eterovick.

91
Dentre as 34 espécies de anfíbios para a região do PESRM e entorno, destacam-se
Hyla minuta e Scinax fuscovarius (Hylidae) que estavam em atividade reprodutiva na
represa (Figura 3.58A), um indivíduo jovem da rãzinha Eleutherodactylus binotatus (Figura
3.58B), Hyla circumdata (Figura 3.58C) e Scinax longilineus (Figura 3.58D).

É importante ressaltar que espécies de Eleutherodactylus têm desenvolvimento


direto e seus ovos necessitam de ambientes úmidos (florestados) para se desenvolver, logo
o microclima deste sítio deve estar adequado, refletindo uma conservação satisfatória da
vegetação.

A B

Figura 3.58. Habitat reprodutivo de Hyla minuta e Scinax fuscovarius (A), indivíduo jovem da rãzinha
Eleutherodactylus binotatus (B) e indivíduos macho das pererecas Scinax longilineus (C) e Hyla
circumdata (D). Fotos: Paula C. Eterovick.

Foi observado e coletado um indivíduo jovem da serpente Tropidodryas sp. (Figura


3.59A), o qual estava utilizando a estratégia de engodo caudal para atração de presas.
Foram registradas ainda uma espécie de lagarto (Tropidurus sp.; Figura 3.59B) e quatro
espécies de serpentes: Sibynomorphus mikani, Tropidodryas sp. e Liophis sp. (família
Colubridae) e Bothrops moojeni (família Viperidae).

92
A B

Figura 3.59. Indivíduo Jovem da Serpente Tropidodryas sp. (A), coletado na APE Taboões e o
lagarto Tropidurus sp. (B). Fotos: Paula C. Eterovick.

A fauna de répteis do PESRM, no entanto, permanece pouco conhecida devido às


dificuldades de uma ampla amostragem deste grupo em uma Avaliação Ecológica Rápida,
assim como à falta de estudos prévios para a região. Já para os répteis da região, a falta de
estudos prévios e o pouco tempo destinado à Avaliação Ecológica Rápida não permitiram a
caracterização deste grupo, sendo possível apenas o registro de um indivíduo da Família
Colubridae (Tropidodryas sp.).

3.2.5.3.1. Táxons de interesse para conservação

Durante os trabalhos conduzidos no PESRM não foram encontradas espécies de


anfíbios ou répteis ameaçadas, raras ou endêmicas. Também não foram registradas
espécies exóticas. Estudos realizados anteriormente, no entanto, apontam para a ocorrência
de espécies consideradas mais sensíveis e indicadoras de boa qualidade ambiental, como
Hyalinobatrachium eurygnathum e Phasmahyla jandaia. Esta última já foi incluída na lista de
espécies ameaçadas do estado de Minas Gerais, mas tem sido registrada em novas
localidades, inclusive a área do Parque Estadual da Serra do Rola Moça. Atualmente é
considerada fora de perigo pela IUCN (IUCN et al. 2004).

3.2.5.4. Entomofauna

Para os estudos da entomofauna, durante a Avaliação Ecológica Rápida (AER) do


plano de manejo do PESRM, incluindo a EEF, foram considerados apenas dois grupos,
Hymenoptera (abelhas) e Coleóptera (besouros), por serem dois grupos bastante
importantes do ponto de vista ambiental pois muitas espécies são sensíveis a mudanças
nos habitats, podendo ser utilizados como biondicadores (Brown, 1991) e foram
selecionados em função da importância taxonômica que permite um melhor detalhamento e
uma análise mais adequada em AERs. Os Scarabaeidae são insetos que respondem
prontamente a modificações ambientais (Halffter & Favila, 1993). O trabalho de Louzada et
al. (1996) mostrou uma substituição de espécies locais por espécies de outros ecossistemas
vizinhos, como resposta a alteração do ambiente natural. Em uma mesma região a
comunidade pode apresentar estrutura e composição de espécies muito diferente em áreas
com floresta e em áreas em que a floresta foi retirada ou sofreu distúrbio (Howden & Nealis,
1975).

93
Dois problemas principais para a proteção da entomofauna foram identificados: a
ocorrência de fogo, que muitas vezes deriva de ações antrópicas no parque e no seu
entorno e, a coleta predatória de algumas espécies de plantas, sabidamente utilizadas por
insetos para obtenção de recurso alimentar. Além destes, chácaras e pequenos terrenos
representam um terceiro problema pelo possível uso de agrotóxicos (pesticidas) e pela
presença de animais domésticos que podem favorecer a introdução de espécies exóticas de
insetos. Com base na riqueza de espécies, na ocorrência de táxons relevantes e diversos
problemas para a sua conservação, foram feitas recomendações para priorizar todas as
áreas de campo ferruginoso e de floresta, bem como algumas de cerrado.

3.2.5.4.1. Abelhas

Do total de oito sítios demarcados para a realização da AER no Parque e no seu


entorno, seis foram avaliados quanto a fauna de abelhas. Além dos sítios propostos, foi
avaliado um sítio suplementar denominado Jardim Canadá e caracterizado por lotes vagos
com vegetação nativa na área urbanizada do bairro de mesmo nome. Em cada sítio foram
amostrados de um a três pontos, escolhidos de modo a caracterizar diferentes fisionomias
vegetais, totalizando 11 pontos amostrados.

Nos pontos de formações savânicas (cerrado, campo sujo) e rupestres (campo


ferruginoso), delimitou-se uma área de pesquisa que caracterizasse bem a fisionomia
vegetal em questão e que apresentasse uma adequada diversidade e quantidade de plantas
floridas, a fim de maximizar a amostragem de abelhas. Tais áreas foram georeferenciadas e
contavam com aproximadamente 1 ha (50 x 200m2 ou 100 x 100m2). As coletas foram
realizadas preferencialmente no período da manhã, horário de maior atividade das abelhas,
durante pelo menos duas horas consecutivas. As abelhas foram coletadas principalmente
enquanto visitavam flores, e de forma complementar em outras situações como: em
repouso, em ninho, em vôo ou atraídas pelo suor. Foram registradas as espécies vegetais
em cujas flores as abelhas foram coletadas, por meio de anotações das características,
fotografia e/ou coleta de exsicatas para posterior identificação de um botânico.

Nos locais de formação florestal, onde as flores normalmente restringem-se ao topo


das copas e fora do alcance dos pesquisadores, utilizou-se uma metodologia comumente
empregada nesse tipo de ambiente, o de iscas aromáticas para atração de machos de
abelhas da subtribo Euglossina. Na AER esta metodologia foi empregada de duas formas:

a) iscas constituídas de chumaços de algodão embebidos de fragrâncias suspensos por


barbante: em cada ponto de coleta foi instalada uma seqüência de iscas dos
diferentes cheiros, distando-se cerca de 2 m entre si, foi pendurada em um fio e
suspensas por barbantes a uma altura aproximada de 1,5m do solo. Durante um
intervalo de no mínimo duas horas, dois coletores permaneceram todo o tempo nos
pontos de coleta para visualizar a chegada das abelhas e capturá-las com puçás.

b) armadilhas constituídas de frascos de plástico contendo em seu interior pequenos


chumaços de algodão embebido de fragrâncias: neste caso não há necessidade da
presença do coletor para a captura das abelhas, pois elas ficam presas nas
armadilhas até o momento em que são recolhidas de uma só vez.

Nos dois métodos foram usadas as seguintes fragrâncias artificiais: cineol, eugenol,
salicilato, acetato de benzila e cinamato. Todas as abelhas foram sacrificadas e
acondicionadas em envelopes de papel contendo informação sobre local e composto
aromático visitado. De maneira oportunística, abelhas de outros grupos que eventualmente
foram visualizadas na mata também foram capturadas.

94
As abelhas capturadas foram montadas em alfinete entomológico, etiquetadas e
depositadas na coleção de referência do Laboratório de Sistemática e Ecologia de Abelhas
do Departamento de Zoologia da UFMG. A identificação foi obtida por meio de chaves
taxonômicas e por comparação com abelhas identificadas previamente por especialistas
existentes na coleção.

Foram coletadas 400 abelhas, representantes de 126 espécies, 22 tribos e cinco


famílias (Andrenidae, Apidae, Colletidae, Halictidae e Megachilidae). Somando-se 8
espécies de Euglossina (dados secundários), a lista perfaz 134 espécies, o que representa
uma elevada riqueza da fauna de abelhas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça.
Devido aos métodos de coleta, esta riqueza foi bem maior nas formações savânicas, e
esteve distribuída da seguinte maneira: Sítio I (18 espécies em cerrado antropizado), Síto II
(11 espécies de Euglossina), Sítio III (45 espécies em cerrado e 8 de Euglossina na mata),
Sítio V (23 espécies em cerrado e 15 em mata), Sítio VI (8 espécies em campo limpo, 25 em
campo ferruginoso nodular, e 5 em mata), Sítio VII (22 canga couraçada, e 31 nos dois
pontos de campo limpo, com poucas espécies em comum apesar da proximidade), Sítio VIII
(13 espécies de campo sujo, 5 de mata), Jardim Canadá (18 espécies). Destaque-se que a
similaridade faunística foi baixa mesmo entre pontos de igual fisionomia vegetal. Foram
achadas algumas espécies de interesse: Xylocopa truxali, na categoria vulnerável,
Hexantheda missionica, e a exótica Apis mellifera, amplamente distribuída pelo parque.

3.2.5.4.2. Besouros

As coletas de Scarabaeidae foram feitas em diversas formações vegetais do Parque


Estadual do Rola Moça e seu entorno. Foram usadas armadilhas do tipo pitfall (Schiffler,
2003), iscadas com fezes eqüinas. Passadas 48 horas da instalação das armadilhas, elas
foram recolhidas e instaladas em uma nova área. Para cada habitat selecionado foram
instaladas 12 armadilhas, distantes 20m entre si, formando um transecto linear. Este
transecto ficou preferencialmente numa porção mais representativa de cada habitat, distante
cerca de 30m da borda.

Após a retirada das armadilhas, o material foi fixado em álcool 70%, para
posteriormente ser triado e identificado. Foi realizada uma identificação prévia dos besouros
como morfo-espécies para uma análise preliminar dos dados e posteriormente foi feita uma
análise minuciosa ao nível de espécies. Os espécimes coletados foram depositados na
coleção de Scarabaeidae do Laboratório de Ecologia de Populações, da Universidade
Federal de Minas Gerais.

Foram coletados 668 besouros da família Scarabaeidae, representantes de 41


espécies, que compõem 6 tribos, distribuídas da seguinte maneira: Sítio II (17 espécies),
Sítio III (9 espécies), Sítio V (17 espécies em mata e 13 em cerrado), Sítio VI (17espécies
em mata, 5 em campo sujo), Sítio VII (mata 13, campo sujo 8, campo ferruginoso 1), Sítio
VIII (16 espécies de mata). Destaca-se a alta riqueza de escarabeídeos em praticamente
todos os pontos de mata, comparado com as formações savânicas, sendo os sítios VI e VII
com maior riqueza de espécies. Não foram detectadas espécies ameaçadas ou exóticas,
embora tenham ocorrido algumas espécies raras. Somando-se estas aos dados
secundários, o parque tem pelo menos 59 espécies de Scarabaeidae. Pode-se considerar
elevado o número de espécies de escarabeídeos para a região, perfazendo quase um terço
das 182 espécies descritas para o estado de Minas Gerais.

É importante salientar que a maior abundância das espécies ocorre no período de


verão, como o aumento da umidade e da temperatura. No entanto, as condições climáticas
no período da coleta estavam um pouco desfavoráveis, com dias frios e com pouca
precipitação. Essas condições prejudicaram as armadilhas de interceptação, principalmente

95
pelos fortes ventos, que por muitas vezes as desarmaram chegando a alguns casos a
danificá-las. Desta forma sua eficácia foi prejudicada, tendo sido amostrado apenas um
indivíduo na canga couraçada do sítio APE Catarina (Canthon sp.) no período da
amostragem.
Ainda com os imprevistos causados pelo tempo, o esforço amostral empregado foi
suficiente para fazer dar um panorama geral das espécies que ocorrem em cada ponto.
Através da curva de rarefação (Figura 3.60) pode-se verificar que todos os pontos quase
atingem o número máximo de espécies esperado, mostrando que poucas espécies serão
acrescidas com o aumento do esforço amostral em cada ponto.

20
CE-BS

15 CP-CT
Espécies (N)

CP-MC
10
MT-TB

MT-MC
5
MT-CT

0 MT-FC
0 50 100 150
Indivíduos (N)
Figura 3.60. Curva de Rarefação de Espécies de Carabaeidae em 7 Pontos: CE-BS, Cerrado
Balsamo; CP-CT, Campo Sujo Catarina; CP-MC, Campo Sujo Mutuca; MT-TB Mata TAboões; MT-MC
Mata Mutuca; MT-CT Mata Catarina; MT-FC Mata Fechos.

3.2.5.4.3. Espécies Ameaçadas de Extinção

Xylocopa (Diaxylocopa) truxali

 É uma espécie de abelha ameaçada de extinção, enquadrando-se na


categoria vulnerável, segundo a Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção. Essa é uma espécie solitária, encontrada em regiões montanhosas
de Minas Gerais e Goiás. A abelha nidifica nos ramos de canela-de-ema,
Vellozia compacta, nos quais uma fêmea adulta escava galerias paralelas ao
longo dos ramos secos e deposita ovos e alimentos em células individuais
(Silveira, 2003). A principal ameaça a essa espécie é a perda de hábitat.
Ressalta-se como ameaça potencial os incêndios freqüentes na região do
Parque.

96
3.2.5.4.4. Espécies Raras

 Dichotomius depressicollis: espécie mediamente rara que ocorre em


habitat de cerrado e mata. Está distribuída em todos os estados da região
sudeste do Brasil. Foi encontrado nas matas do sítio VI e VII.

 Dichotomius muticus: esta espécie é encontrada nos estados do Espírito


Santo e Minas Gerais. È tipicamente uma espécie de Mata Atlântica,
distribuída entre 500 e 1300m de altitude. Encontrada na mata do sítio VI, é
uma espécie rara.

 Scybalocanthon sp: considerada como espécie rara. Trata-se de uma


espécie nova, ainda não descrita pela ciência. Encontrada somente em Mata
Atlântica, entre 800 a 1200 m de altitude, nos estados de Minas Gerais e São
Paulo. Foi coletada na mata do sítio II.

 Phanaeus dejeani: é uma espécie rara, encontrada em Mata Atlântica, entre


800 e 1700m de altitude. Ocorre nos estados do RJ, MG, SP e ES. Foi
encontrada nas matas do sítio II, VI e VII.

3.2.5.4.5. Espécies Exóticas

Apis mellifera é uma espécie exótica de abelha. A grande capacidade de adaptação,


aliada ao progresso da apicultura, levou essa espécie aos mais diversos ecossistemas
brasileiros, sendo hoje em dia considerada uma espécie dita naturalizada.

Esta espécie foi amplamente verificada no parque sendo encontrada em


praticamente todos os pontos amostrados, seja visitando flores ou pela constatação de
enxames. Certamente também está presente nos pontos onde não foi registrada. Ela é uma
espécie generalista capaz de visitar um grande número de espécies vegetais floridas
presentes em uma área. Os possíveis efeitos negativos sobre a fauna de abelhas nativas
como forte competidora e no sucesso reprodutivo de plantas tem sido alvo de investigações.
Roubik & Buchmann (1994) verificaram que a capacidade de coleta de néctar pela A.
mellifera é superior a de outras quatro espécies de abelhas sociais, e Carmo (2001) notificou
que, apesar de não apresentar comportamento de territorialidade ou agressividade em
relação aos outros visitantes florais, A. mellifera exerce uma influência negativa no sucesso
reprodutivo de Clusia arrudae. Estudos relacionando esta influência em plantas de interesse
(por exemplo, sujeitas a extrativismo ou raras) e competição por recursos com abelhas
nativas são recomendados, bem como medidas que restrinjam sua presença no parque.

A espécie de besouro Digitonthophagus gazella (Coleoptera, Scarabaeidae),


originária da África, tem sido deliberadamente introduzida em várias regiões do globo,
sobretudo no Brasil (Barbero & Guerrero, 1992; Aidar et. Al., 2000). A justificativa de tais
introduções se faz pelo fato da rápida mobilização e degradação das fezes do gado nas
pastagens e também por ser utilizada no controle da mosca-do-chifre. Ela merece atenção
especial, pois possui uma grande capacidade de dispersão e tende a se tornar uma espécie
dominante na comunidade em um curto período de tempo (Barbero & Guerrero, 1992; Lobo
& Oca, 1997). Digitonthophagus gazella apresenta uma maior habilidade competitiva o que
poderá, caso venha a se estabelecer na área do PESRM, diminuir ou até mesmo extinguir
localmente, na pior das hipóteses, a população de algumas outras espécies que compõem a
comunidade de besouros detritívoros daquele local.

A perda e destruição de habitats são as principais causas da redução da


biodiversidade para os ecossistemas, todavia a intervenção humana vem propiciando outros
97
fatores que também são citados como importantes causadores deste processo, como é o
caso da introdução de espécies exóticas invasoras, que atualmente é apontado como a
segunda maior causa da perda de biodiversidade (Ziller, 2000). Vários autores têm chamado
a atenção para o problema das introduções, uma vez que podem resultar em grandes
mudanças na composição de espécies locais, na estrutura do habitat e nos processos do
ecossistema (Simberloff, 1991; Willianson, 1996; Vázquez & Simberloff, 2003). A detecção
precoce da presença de D. gazella poderá ser importante para projetos de controle desta
espécie invasora, uma vez que ela tende a se tornar dominante na comunidade em curto
período de tempo e ainda vir causar a extinção de várias outras espécies autóctones.

3.3. Análise Intertemática

Uma das principais vantagens na utilização da metodologia da AER consiste na


oportunidade de se analisar cada ambiente amostrado de forma interdisciplinar com todos
os grupos temáticos. Com isso aspectos do ambiente que se mostrar de menor importância
para um grupo temático pode ser extremamente importante para outro grupo, aumentando a
confiabilidade da avaliação final.

A Análise Intertemática foi realizada pela compilação dos resultados das avaliações
de cada grupo temático tanto em relação aos pontos de amostragem. Para que a análise
não ficasse representada apenas por números fez-se uma caracterização de cada ponto de
acordo com as diferentes avaliações realizadas. Essa caracterização teve por objetivo
comparar a avaliação preliminar de cada ponto com os resultados de cada grupo temático.
Utilizando-se a pontuação anotada de cada área temática obteve-se um índice médio
referente à qualidade ambiental de cada ponto em questão que indica o grau de
conservação ou de integridade de cada ambiente de acordo com as seguintes categorias:

1 Excelente
2 Bom
3 Regular
4 Ruim
5 Péssimo

Além da pontuação para cada ponto foi realizada uma análise sobre o estado de
conservação pela presença de espécies da fauna e flora, indicadoras da importância
específica para a conservação da biodiversidade in situ. De posse dessas informações foi
possível elaborar o texto relativo à significância da unidade de conservação, assim como a
priorização de projetos que deverão ser implementados, para que a unidade cumpra a sua
missão de conservação da biodiversidade.

3.3.1. Interpretação da Pontuação da Vegetação

Os dados de vegetação foram analisados separadamente, considerando-se que a


mesma constitue-se como um substrato para a avaliação do estado de conservação dos
ecossistemas (Tabela 3.17).

Na análise dos dados observou-se que a maior parte dos pontos foi classificada
como sendo CLASSE 2 – BOM (6 Pontos), seguido da CLASSE 3 – REGULAR (5 Pontos) e
apenas em dois pontos a conservação foi considerada EXCELENTE. Quanto aos pontos
98
com baixo nível de conservação, foram identificados 8 pontos divididos entre a CLASSE 4 -
RUIM e a CLASSE 5 – PÉSSIMA. O número de ocorrências de cada categoria está
apresentado na Figura 3.61.

7
6
5
Ocorrências

4
3
2
1
0
1 2 3 4 5
Categoria de conservação

Figura 3. 61. Freqüência de Classificação de Pontos na AER para o Plano de Manejo do Estadual da
Serra do Rola Moça e Estação Ecológica de Fechos segundo o grupo temático de Vegetação

De forma geral, a vegetação do PESRM e da EEF se encontram em um nível


intermediário de conservação. Em alguns sítios (I e II, principalmente) a vegetação foi
caracterizada como tendo um péssimo estado de conservação devido ao alto grau de
antropização de áreas de cerrado existentes e pela presença de um lixão.

Os demais sítios foram caracterizados como tendo um grau intermediário de


conservação, destacando-se os sítios VI e VII cuja vegetação foi classificada como sendo de
regular a bom. Isso se deve ao fato de que nesses sítios existem remanescentes de Floresta
Estacional Semidecidual em bom estado de conservação além de porções de campos
ferruginosos ainda bastante preservados. Os ecossistemas de campos ferruginosos abrigam
espécies endêmicas deste tipo de ambiente e ameaçadas de extinção como a arnica
(Lichnophora ericoides) e o cactus (Arthrocereus glaziovii). A característica marcante é a
presença do mirante dos Veados, com rara beleza cênica.

A presença de uma área preservada de vegetação de Cerrado sensu-strictu no sitio


III o colocou como tendo um estado de conservação regular, fator que remete a um cuidado
especial quanto à sua preservação. A ocorrência de tal formação vegetal é também
potencial para a observação e divulgação da sua flora peculiar entre os visitantes do
PESRM.

99
Tabela 3.17. Integração da categorização dos pontos amostrados durante a Avaliação Ecológica
Rápida do Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, incluindo a Estação
Ecológica de Fechos. 1- Excelente; 2- Boa; 3- Regular; 4- Ruim; 5- Péssima.

Sitio Ponto Média Media Categoria

Mastofauna

Avifauna

Herpetofauna

Entomofauna
Vegetação
Fauna Final Final

I 4 4 5 5 5 4,5 5

5 5 4 4 4,4 4
II 6 5 5 5 5 5 5

9 3 2 3 2 3 2,5 2,7 3

III 3 4 4 4 4 3 3,7 3,8 4


14 5 4 4 4 4,5 5

19 3 3 3 2 3 2,75 2,8 3

20 3 3 2 3 2 2,5 2,7 3
21 2 3 3 2 2 2,5 2,2 2

IV 22 4 3 3 3,5 4

V 45 1 2 1 1 2 1,5 1,2 1

46 2 3 3 2,5 2

23 3 3 3 3 3,0 3

VI 41 2 3 2 2,5 2,2 2

42 2 2 3 2 3,5 2,7 2

44 4 3 3 3 3,5 4

VII 28 1 3 3 2 2,6 1,8 1

31 5 3 2 2,5 3,8 4

32 3 4 3 2 3 3 3

34 2 2 3 1 2 2 2
VIII 36 2 2 2 1 3 2 2 2

A pontuação concedida para cada ponto, pelos diferentes grupos temáticos, variou,
de maneira geral, mas a variação foi relativamente pequena (ver Tabela 3.17). Houve, em
geral, uma concordância sobre o estado de conservação e importância da área para os
grupos temáticos, sendo possível calcular uma média geral para os pontos. A maioria dos
pontos foi classificada como REGULAR pelos grupos faunísticos (24 Pontos), seguida de
BOM (17 Pontos) e RUIM (7 pontos) (ver Tabela 3.17 e Figura 3.62).

100
30

25

20
Ocorrências

15

10

0
1 2 3 4 5
Categorias de Conservação

Figura 3.62. Freqüência de Classificação de Pontos na AER para o Plano de Manejo do Estadual da
Serra do Rola Moça (PESRM), incluindo a Estação Ecológica de Fechos (EEF), segundo os grupos
temáticos de Fauna.

3.3.3. Análise Intertemática para Caracterização dos Pontos

Sítio I – Mineração

 Ponto 4 – Cerrado Mineração: Esse ponto se caracteriza pela presença de um


cerrado em fase bem inicial de regeneração com a ocorrência de poucos arbustos
que se destacam nos campos de gramíneas. Nesse ponto existe uma estrada de
terra que é muito utilizada por grandes caminhões. Esse ponto se situa no limite do
Parque com a Mineração Santa Paulina cuja atividade representa uma ameaça ao
Parque. A paisagem nesse ponto está bastante modificada necessitando de
intervenções severas para sua recuperação.

 Ponto 5 – Cerrado Antropizado: Esse ponto se caracteriza pela presença de um


cerrado bastante antropizado com poucas árvores. Nesse ponto foram coletadas
espécies bastante tolerantes a ambientes abertos como as abelhas Centris (Centris)
aenea, Bombus (Fervidobombus) atratus além da espécie exótica Apis mellifera. Em
relação às aves foram observados o tucão, Elaenia obscura e a asa-branca,
Patagioenas picazuro.

Sítio II – Taboões

 Ponto 6 – Lixão: Esse ponto se caracteriza por apresentar um cerrado bastante


antropizado cuja qualidade ambiental vai melhorando à medida que se aproxima dos
mananciais. Esse ponto se localiza em uma região do parque limítrofe ao lixão de
Sarzedo. Neste local, várias famílias trabalham, diariamente, como catadores de
material reciclável. Durante a manhã pode-se ver a chegada de inúmeras pessoas
e, no final da tarde, a espera de carona, para o retorno a Ibirité, em caminhões de

101
lixo. Segundo Peixoto (2004), o acampamento e a pernoite de pessoas em um
eucaliptal localizado ao lado do lixão são também comuns.

 Ponto 9 – Captação Taboões: Esse ponto se caracteriza por apresentar uma


Floresta Estacional Semidecidual em bom estado de conservação. Isso se deve ao
alto nível de intervenção pela presença da estrutura para captação de água. A
barragem para captação de água apresenta uma área gramada em sua borda, o que
não representa um ambiente natural mas, por outro lado, favorece a reprodução de
espécies de anfíbios de áreas abertas que se reproduzem em ambientes de água
parada como por exemplo o "sapo-ferreiro", Hyla faber, Hyla circumdata, contribuindo
para o aumento do numero de espécies no ponto. Por outro lado, se tais ambientes
estivessem substituindo ambientes de mata utilizados por espécies ameaçadas,
raras ou endêmicas, a construção da barragem teria um impacto grande sobre os
anfíbios. Nesse ponto foi registrada a ocorrência da serpente Tropidodryas sp., a
qual estava utilizando a estratégia de engodo caudal para atração de presas. Nesta
estratégia, a serpente movimenta a extremidade clara de sua cauda enquanto o
corpo camuflado permanece imóvel. Anuros e lagartos são atraídos pela cauda que
julgam ser uma larva de inseto e são predados ao se aproximarem. Foi o local onde
o maior número de marsupiais foi registrado, porém apresentou grande abundância
de D. albiventris, espécie comum em locais alterados. Foram registrados rastros de
gato-do-mato e mão-pelada. Ocasionalmente foi possível ouvir a vocalização de
macacos-prego (Cebus apella). Este ponto apresentou maior riqueza de espécies de
todo o parque, abrigando 68 espécies de aves dentre elas uma espécie endêmica do
cerrado, a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus). Além dessas espécies, nesse
ponto teve registros exclusivos da garça-vaqueira (Bubulcus íbis), do guaracavuçu
(Cnemotriccus fuscatus), da maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus
tyrannulus) foram feitos. Nesse ponto foram registradas 11 espécies de abelhas
Euglossina como, por exemplo, Euglossa (Euglossa) fimbriata, Euglossa (Euglossa)
pleosticta e Eulaema (Apeulaema) cingulata. Nesse ponto foi coletado um grande
número de espécies de besouro sendo que 4 espécies foram mais dominantes
(Ateuchus sp1, Dichotomius affinis, Dichotomius luctuosus, Scybalocanthon).

Sítio III – Bálsamo-Rola Moça

 Ponto 3 – Mirante I: Esse ponto se caracteriza pela ocorrência de campo


ferruginoso com a ocorrência de várias espécies típicas como a arnica (Lichnophora
ericoides) e o cactus (Arthrocereus glaziovii). A característica marcante do ponto é a
presença do mirante dos Veados, com rara beleza cênica. É comum, neste local, a
extração predatória de material vegetal como cascas de Barbatimão
(Striphrodendron polyphyllum), ramos de Arnica (Lichnophora pinnaster e
Lichnophora ericoides). Apesar de características únicas sob o ponto de vista
florístico, a vegetação de canga não parece favorecer a fixação de pequenos
mamíferos, já que apenas duas espécies foram coletadas. Neste ponto foram
encontrados os únicos registros de P. vetulus, a raposa do campo. É possível que
ela utilize esta área para forragear, uma vez que os cupins, base de sua dieta, ficam
mais expostos quando estes saem do ninho, também para forragear. No entanto,
face às pequenas dimensões deste habitat de canga e pelas características
biológicas da espécie, é improvável que ela se restrinja a este habitat. Foi registrada
ainda a ocorrência de uma espécie de ave restrita da Serra do Espinhaço, o beija-
flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus). Nesse ponto ocorrem várias poças
temporárias na época de chuvas formando habitats potenciais para diferentes
espécies de anuros.

102
 Ponto 14 – Eucaliptal: Esse ponto se caracteriza pela presença de um cerrado ralo,
com predominância de capim meloso. Esse ponto se localiza na divisa do parque
onde existe um eucaliptal e extensas áreas cobertas com “Capim-Meloso”. Devido à
proximidade com o lixão de Ibirité, esse ponto é contaminado com o lixo trazido pelo
vento (sacolas e garrafas plásticas) que além de sujar o local ainda representa uma
ameaça para a fauna.

 Ponto 19 – Mata Rola Moça: Esse ponto se caracteriza pela ocorrência de uma
mata ciliar. Próximo aos mananciais pode ser observado diversas residências,
cultivos de horta e pomares, além da criação de animais. O cultivo familiar nas
residências da área é constituído principalmente por ervas medicinais e
condimentos.

 Ponto 20 – Cerrado Bálsamo: A presença de uma área preservada de vegetação


de Cerrado sensu-strictu neste ponto é um fator que remete a um cuidado especial
quanto à sua preservação. A ocorrência de tal formação vegetal é também potencial
para a observação e divulgação da sua flora peculiar entre os visitantes do PESRM.
Algumas trilhas, que atualmente passam próximas ao Cerrado deste ponto, podem
vir a se tornar atrativos muito interessantes dos pontos de vista ecoturístico e
educativo, caso sejam manejadas no limite de sua capacidade de carga. Nesse
ponto registra-se a coleta indiscriminada de Marcela do Campo (Achyrocline
albicans) e frutos de diversas espécies como Jatobá Pequi e Gabiroba para uso
alimentar e medicinal. Nesse ponto detectou-se a ocorrência de extração seletiva de
madeira, com acentuado efeito de borda causado por uma estrada de terra próxima
as sua margem. Nesse ponto foram exclusivamente observadas duas espécies de
aves: o tucão (Elaenia obscura) e a asa-branca (Patagioenas picazuro).
Observaram-se ainda três espécies endêmicas do Cerrado, o tapaculo-de-colarinho
(Melanopareia torquata), a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus) e o rabo-mole-
da-serra (Embernagra longicauda).

 Ponto 21 – Mata Bálsamo: Caracterizado pela presença de uma vegetação bem


conservada mantida nas margens dos riachos, o que é importante para que os
anuros possam encontrar sítios de vocalização adequados e se reproduzirem com
sucesso. Vários indivíduos de Hyla faber e Scinax longilineus foram observados
utilizando ramos da vegetação marginal durante as atividades de campo. Foram
registradas espécies importantes de aves típicas de áreas de mata como o beija-flor-
de-fronte-violeta (Thalurania glaucopis) e o chora-boi,(Taraba major).

Sítio IV – Jatobá

 Ponto 22 – Jatobá: Esse ponto pode ser considerado o mais antropizado de todo o
parque. A vegetação se restringe a pequenas manchas localizadas em pequenas
grotas. Nessa área ocorre uma ocupação urbana indiscriminada e o fogo e o corte de
madeira para lenha são as principais ameaças. Foram registradas 56 espécies de
aves, sendo o único local do parque onde foi avistado o gavião-peneira (Elanus
leucurus). É provável que esta espécie também ocorra em outros sítios. Foram
observadas apenas duas espécies endêmicas do Cerrado: o tapaculo-de-colarinho
(Melanopareia torquata) e a gralha-do-campo, (Cyanocorax cristatellus), ambos de
ampla ocorrência no parque.

103
Sítio V – Barreiro

 Ponto 45 - Mata Barreiro: Esse ponto apresenta uma das áreas de mata mais bem
conservadas de todo o parque e por isso apresentou uma grande riqueza de
espécies de fauna. Foram registradas 11 espécies de pequenos mamíferos, com
destaque para a presença de Caluromys philander e de três espécies distintas de
Oligorizomys. Nos plots de rastros destaca-se a presença de lobo-guará e do gato-
do-mato, mas também de cães domésticos.

 Ponto 23 - Centro de Combate a Incêndios: Esse ponto se caracteriza pela


ocorrência de uma vegetação de cerrado sensu strictu onde se podem observar
exemplares do pequi (Caryocar brasiliensis). Foram registradas pegadas de gato-do-
mato e de tapeti (Silvylagus brasiliensis).

Sítio VI – Mutuca

 Ponto 41 - Mãe dágua: A mata semidecidual nesse ponto apresenta-se um bom


estado de conservação. Sete espécies de pequenos mamíferos foram registradas.
Nos plots de rastros, apenas o cachorro-do-mato e a cutia foram registrados. Nesse
ponto foram registradas algumas espécies interessantes de anfíbios, como
Eleutherodactylus izecksohni e Hylodes uai, consideradas pouco conhecidas pela
IUCN, e Scinax gr. rizibilis. Foram registrados indivíduos adultos de Bufo pombali
(Bufonidae) e Hyla circumdata (Hylidae). Dentre os pontos amostrados de Floresta
Estacional Semidecidual, este foi o que apresentou a maior riqueza de espécies de
besouros. Conta com a dominância de uma espécie, Dichotomius affinis.

 Ponto 42 - Campo limpo mutuca: Foram registradas 13 espécies de pequenos


mamíferos, com destaque para Oxymicterus sp., só encontrado neste sítio.

 Ponto 44 - Canga mutuca: O substrato desta formação é constituído de canga


nodular. Do total, cinco espécies de besouros foram coletadas, sendo a espécie
Canthon sp a dominante, e foram freqüentes as de tamanho pequeno, exceto pela
presença de Dichotomius luctuosus.

Sítio VII – Catarina

 Ponto 31- Portão 1 Catarina: Esse ponto apresentou indícios de um recente


incêndio e estava com sua vegetação em regeneração. Apresentou oito espécies de
besouros com altíssima dominância de Canthon sp. Provavelmente a comunidade de
Scarabaeidae ainda esteja sendo afetada pelo incêndio ocorrido há alguns meses.
Predominaram espécies de tamanho menor, exceto pela presença de Dichotomius
luctuosus. A abundância de espécies pequenas, do gênero Canthon, pode estar
relacionada com a textura do solo (canga nodular). Este grupo de besouros tem uma
relação muito estreita com o solo, alocando seu recurso alimentar em covas
superficiais ou em frestas.

 Ponto 32 – Campo Limpo Catarina: Sobre o substrato de canga couraçada se


estabelece uma vegetação de pequenos arbustos, semelhante aos pontos de campo
sujo, porém, com florística diferente. Três espécies de roedores foram registradas, e
com exceção de Oligorizomys sp., espécies comuns. Foram registrados rastros de
cachorros em abundância, mas também de lobo-guará e de um veado. Nesta área
foi coletado um exemplar de Canthon sp, o que corrobora os dados das áreas de
campo, que indicam a preferência desta espécie por áreas de savana gramíneo-
lenhosa. Neste ponto foi encontrado um novo registro de ave para o Cerrado, a
borralhara-assobiadora (Mackenziaena leachii) que não constava da lista de
104
espécies de aves do Cerrado, o que exemplifica que áreas de transição entre biomas
só tendem a acrescentar espécies à lista do Cerrado. Outro registro adicional à
listagem é a choca-de-chapéu-vermelho (Thamnophilus ruficapillus). Outras espécies
de aves merecem destaque por terem sido registradas somente neste ponto: a
pomba-amargosa (Patagioenas plumbea) e o beija-flor-de-gravata-verde (Augastes
scutatus), sendo esta espécie endêmica do Cerrado.

 Ponto 34 – Lagoa Azul: Esse ponto se caracteriza pelo barramento do córrego


formando um grande lago azul. A vegetação se caracteriza pela presença de uma
floresta estacional semidecidual secundária. Foram registradas quatro espécies de
anfíbios da família Hylidae e duas da família Leptodactylidae, incluindo uma espécie
(Pseudopaludicola sp.) sem registros prévios para a área do parque. Hyla minuta e
Scinax fuscovarius (Hylidae) estavam em atividade reprodutiva na represa. São
espécies mais oportunistas que usam ambientes modificados pelo homem. Hyla
circumdata e Scinax longilineus (Hylidae) foram encontradas tanto no riacho quanto
na represa, e os Leptodactylidae ocorreram apenas no riacho. É importante ressaltar
que espécies de Eleutherodactylus têm desenvolvimento direto e seus ovos
necessitam de ambientes úmidos (florestados) para se desenvolver, logo o
microclima deste sítio deve estar adequado, refletindo uma conservação satisfatória
da vegetação. Nesse ponto foi registrado o menor número de espécies de besouros,
porém foram encontradas duas espécies importantes para a conservação
(Dichotomius depressicollis e Phanaeus dejeani). Em seu sub-bosque existem locais
com grande dominância de gramíneas, suas árvores de grande porte foram retiradas
e ainda sofre com um enorme efeito de borda pela presença de duas estradas em
suas margens. Há claros indícios de ação antrópica. Foi o ponto com a maior
ocorrência de pequenos mamíferos. Em relação aos mamíferos de maior porte
apenas cachorro-doméstico e a cutia foram registrados.

Sítio VIII- Estação Ecológica de Fechos

 Ponto 36 - Captação Fechos: Esse ponto apresenta a maior e a melhor área de


floresta estacional em termos de conservação. Foram registradas 56 espécies de
aves sendo o único local onde foram avistados o trovoada, (Drymophila ferruginea),
o trepador-quiete (Syndactyla rufosuperciliata), o tororó (Poecilotriccus plumbeiceps),
a guaracava-cinzenta (Myiopagis caniceps) e o caneleiro (Pachyramphus castaneus,
todas as espécies de áreas florestadas. Apresentou um alto número de espécies de
anfíbios, algumas com necessidades bastante específicas como, por exemplo, a
perereca Phasmahyla jandaia, que utiliza folhas da vegetação marginal pendentes
sobre a água para depositar seus ovos. A vegetação marginal encontra-se
relativamente bem conservada, no entanto, parte da mesma já foi removida por
funcionários da Cemig, reduzindo os sítios de desova disponíveis para Phasmahyla
jandaia. Além disto registrou-se a ocorrência de Eleutherodactylus izecksohni e
Hylodes uai, assim como outras espécies que necessitam de estudos taxonômicos
mais detalhados (Hyla gr. parviceps, Scinax aff. perereca e Eleutherodactylus sp.).
Em relação aos besouros, esse ponto apresentou 16 espécies, sendo Dichotomius
affinis a espécie mais abundante. Poucas espécies de pequenos e de grandes
mamíferos foram registradas. A Estação Ecológica de Fechos, pode ser bastante
relevante para conectividade da paisagem, apesar de ter uma rodovia isolando as
duas áreas. Apesar de aparente conservação do habitat, nenhum rastro foi
registrado nos plots.

105
Nesse sítio foram coletadas espécies bastante tolerantes a ambientes abertos
como as abelhas Centris (Centris) aenea, Bombus (Fervidobombus) atratus, além da
espécie exótica Apis mellifera. Em relação às aves, foram observados o tucão,
Elaenia obscura e a asa-branca, Patagioenas picazuro.

A barragem para captação de água apresenta uma área gramada em sua


borda, o que não representa um ambiente natural, mas, por outro lado, favorece a
reprodução de espécies de anfíbios de áreas abertas que se reproduzem em
ambientes de água parada como, por exemplo, o "sapo-ferreiro", Hyla faber, Hyla
circumdata, contribuindo para o aumento do número de espécies no ponto. Por outro
lado se tais ambientes estivessem substituindo ambientes de mata utilizados por
espécies ameaçadas, raras ou endêmicas, a construção da barragem teria um
impacto grande sobre os anfíbios. Nesse ponto foi registrada a ocorrência da
serpente Tropidodryas sp., que estava utilizando a estratégia de engodo caudal para
atração de presas. Nesta estratégia, a serpente movimenta a extremidade clara de
sua cauda enquanto o corpo camuflado permanece imóvel. Anuros e lagartos são
atraídos pela cauda, que julgam ser uma larva de inseto, e são predados ao se
aproximarem. Foi o local onde o maior número de marsupiais foi registrado, porém,
apresentou grande abundância de D. albiventris, espécie comum em locais
alterados. Foram registrados rastros de gato-do-mato e mão-pelada. Ocasionalmente
foi possível ouvir a vocalização de macacos-prego (Cebus apella). Este ponto
apresentou maior riqueza de espécies de todo o parque, abrigando 68 espécies de
aves dentre elas uma espécie endêmica do cerrado, a gralha-do-campo (Cyanocorax
cristatellus). Além dessas espécies, nesse ponto ocorreram registros exclusivos da
garça-vaqueira (Bubulcus íbis), do guaracavuçu (Cnemotriccus fuscatus), da maria-
cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus tyrannulus). Foram registradas 11 espécies
de abelhas Euglossina como, por exemplo, Euglossa (Euglossa) fimbriata, Euglossa
(Euglossa) pleosticta e Eulaema (Apeulaema) cingulata. Foi coletado um grande
número de espécies de besouro, sendo que quatro espécies foram mais dominantes
(Ateuchus sp1, Dichotomius affinis, Dichotomius luctuosus, Scybalocanthon).

Ainda neste ponto foram encontrados os únicos registros de P. vetulus, a


raposa do campo. É possível que ela utilize esta área para forragear, uma vez que os
cupins, base de sua dieta, ficam mais expostos quando estes saem do ninho,
também para forragear. No entanto, face às pequenas dimensões deste habitat de
canga, e pelas características biológicas da espécie é improvável que ela se restrinja
a este habitat. Foi registrada a ocorrência de uma espécie de ave restrita da Serra do
Espinhaço, o beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus). Nesse ponto, várias
poças temporárias são formadas na época de chuvas, habitats potenciais para
diferentes espécies de anuros.

Nesse ponto foram exclusivamente observadas duas espécies de aves: o


tucão (Elaenia obscura) e a asa-branca (Patagioenas picazuro). Observaram-se
ainda três espécies endêmicas do Cerrado, o tapaculo-de-colarinho (Melanopareia
torquata), a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus) e o rabo-mole-da-serra
(Embernagra longicauda).

Presença de uma vegetação bem conservada mantida nas margens dos


riachos, o que é importante para que os anuros possam encontrar sítios de
vocalização adequados e se reproduzirem com sucesso. Vários indivíduos de Hyla
faber e Scinax longilineus foram observados utilizando ramos da vegetação marginal
durante as atividades de campo. Foram registradas espécies importantes de aves
típicas de áreas de mata como o beija-flor-de-fronte-violeta (Thalurania glaucopis) e
o chora-boi (Taraba major).

106
Neste ponto foram registradas 56 espécies de aves, sendo o único local do
parque onde foi avistado o gavião-peneira (Elanus leucurus). É provável que esta
espécie também ocorra em outros sítios. Foram observadas apenas duas espécies
endêmicas do Cerrado: o tapaculo-de-colarinho (Melanopareia torquata) e a gralha-
do-campo, (Cyanocorax cristatellus), ambos de ampla ocorrência no parque. Foram
registradas 11 espécies de pequenos mamíferos com destaque para a presença de
Caluromys philander e de três espécies distintas de Oligorizomys. Nos plots de
rastros destaca-se a presença de lobo-guará e do gato-do-mato, mas também de
cães domésticos.

3.4. Descrição dos Sítios Históricos e Arqueológicos

A partir dos estudos diagnósticos arqueológicos e espeleológicos na região a partir


dos estudos ambientais sobre a Mina do Capão Xavier, constatou-se a grande incidência de
grutas no minério de ferro em todo o Quadrilátero Ferrífero, muitas delas, possuidoras de
testemunhos arqueológicos pré-coloniais e históricos. Uma das medidas compensatórias do
licenciamento ambiental do Capão Xavier foi justamente realizar o levantamento e inventário
do conjunto de sítios espeleológicos de localidades do Quadrilátero Ferrífero, das unidades
de conservação, o Parque Estadual da Serra do Rola Moça e a Estação Ecológica dos
Fechos. Desta maneira, a equipe de arqueologia vistoriou os lugares identificados
previamente pela equipe de geoespeleologia, também contratados pela MBR. O
levantamento sistemático nas áreas do Parque Estadual da Serra do Rola Moça envolveu a
integração destas duas equipes de trabalho. Ao se depararem com algum vestígio que
poderia se tratar de testemunho arqueológico, os espeleólogos sinalizaram esta informação
na ficha de cadastro. Posteriormente, estes sítios indicados foram visitados pela equipe de
arqueologia, que também vistoriou outras grutas sem indicação prévia de vestígios. Em um
dos casos específicos, na cavidade denominada RM 18, os vestígios arqueológicos foram
identificados diretamente pela equipe de arqueologia e os dados repassados à equipe de
espeleologia.

Obviamente, esta primeira vistoria apresenta caráter amostral revelando tão somente
a grande potencialidade arqueológica contida nas unidades de conservação e seu entorno.
Foram realizadas observações da superfície e subsuperfície do solo nos diferentes
compartimentos ambientais, aproveitando locais em que estes se encontravam mais
expostos, como em valas abertas, cortes de estradas, focos de erosão, dentre outros.

3.4.1. Sítios situados no interior do Parque Estadual da Serra do Rola Moça

Realizou-se vistoria em cavidades e terrenos a céu aberto, dentro da área do Parque


Estadual da Serra do Rola Moça, em consonância com os caminhamentos realizados pela
equipe de espeleologia.

Foram vistoriadas ao todo dez cavidades, com grande potencial arqueológico dentro
da área desta unidade de conservação, tendo sido encontrados vestígios arqueológicos em
quatro delas. Esta realidade implica na necessidade da indicação de uma diretriz de
monitoramento dos sítios já conhecidos, além de outras vistorias em busca de novas
cavidades e sítios arqueológicos no interior e entorno do Parque Estadual da Serra do Rola
Moça.

107
3.4.1.1. Gruta Rola Moça 1

Situada nas coordenadas 23K UTM 603.453 E e 7.781.865 N, na altitude 1.443


metros. Foi identificado, nesta caverna que possui 9 metros de extensão habitável, material
arqueológico em superfície (Figura 3.63). Trata-se de alguns fragmentos cerâmicos
associados a pequenas concentrações de carvões. Em uma das ocorrências de carvão,
estes parecem estar delimitados por pedras, o que sugere se tratar de pequeno braseiro,
indicativo de estadas mais permanentes.

Foram identificados em superfície fragmentos cerâmicos de espessura fina e,


também, fragmentos com espessura maior e antiplástico mais aparente, constituído por
grãos de quartzo.

Figura 3.63. Vista da entrada da gruta Rola Moça 1 – Município de Nova Lima/MG

A entrada da Gruta Rola Moça 1 é bastante baixa, não apresentando, a primeira


vista, possibilidade de ocupação pelo homem. Ao passar pela pequena boca de entrada,
depara-se com um salão de proporções razoáveis e com material arqueológico em seu
interior, evidenciando um uso antrópico, ao menos no período pré-colonial.

A cerâmica encontrada no fundo da gruta (Figuras 3.64A e B), pelo que se pode
observar, possui um coeficiente de redução de aproximadamente 90% e alisamento
bastante fino. Cogita-se a hipótese de ter sido aplicada barbotina no intuito de obter melhor
alisamento. Possui marcas de fuligem, nas partes interna e externa, não podendo descartar
a idéia de ser esta fuligem, vestígio de uso. O fragmento possui borda com lábio direto de
forma arredondada, não possuindo nenhum tipo de decoração, nem na borda nem em seu
corpo.

108
A B

Figuras 3.64. Material arqueológico em superfície – Gruta Rola Moça 1 – Município de Nova Lima –
MG. Cerâmica encontrada no fundo da gruta.

Foram encontrados também vários focos de carvão em superfície, não parecendo


serem oriundos de fogueiras recentes, tendo em vista seu estabelecimento no solo, já com
alguma sedimentação (Figura 3.65A). Na parte central da cavidade existe, em local próximo
a uma concentração de carvões, alguns pequenos blocos de hematita aparentemente
organizados, lembrando uma pequena estrutura de combustão de um braseiro (Figura
3.65B) Em virtude de o mato estar bastante alto não foi possível identificar material
arqueológico ou carvões na parte externa da gruta.

A B

Figura 3.65. Carvão em superfície (A) e possível estrutura de combustão com blocos de hematita
aparentemente organizados, lembrando um braseiro (B).

Quase já na parte externa da gruta, logo em sua entrada, foram identificados alguns
fragmentos de cerâmica arqueológica. Estes têm maior espessura que os da parte interna
final da gruta, possuindo antiplásticos bem mais aparentes. Possui um coeficiente de
redução de aproximadamente 80%. Resta saber se os antiplásticos estão aparentes em
virtude das intempéries a que estes fragmentos estão expostos, o que teria retirado sua
possível barbotina ou um possível banho, ou se realmente foi feito desta maneira, com
pouco privilégio para o acabamento e maior praticidade da peça. Não foi identificado, a
princípio, nenhum vestígio de uso. Estima-se que a praticidade de um utensílio espesso e de
acabamento mais tosco seja maior, tendo em vista as condições pouco confortáveis em que
os que a utilizavam viviam. Pode ser, portanto, que o utensílio a que o fragmento interno da
gruta pertence, seja para um uso mais delicado, e os fragmentos encontrados na boca da
gruta, tenham uma utilização mais prática para as necessidades usuais.

109
3.4.1.2. Gruta do Rola Moça 18

Em um abrigo, nas proximidades da Gruta Rola Moça 1, cujas coordenadas são 23K
603.196 E 7.781.893 N, foi também identificado grande quantidade de material cerâmico
arqueológico em superfície (Figuras 3.66).

Trata-se de um abrigo escondido pela vegetação, com pequena extensão. Muito


carvão em superfície. Na parte externa tomada pelo mato, não foi possível identificar a
ocorrência de material arqueológico. Foram identificados fragmentos de diferentes tamanhos
e espessuras. Alguns, de antiplástico bastante fino e pouca espessura, outros com grãos
maiores em seu antiplástico, sendo possível macroscopicamente a identificação de seus
componentes. Não foi possível identificar em nenhum dos casos acima a ocorrência
concreta de material lítico em superfície. Existem alguns fragmentos de material polido,
sendo necessário, contudo, uma análise mais aprofundada.

Figura 3.66. Fragmento espesso e conjunto de fragmentos cerâmicos com antiplástico aparente.

A poucos metros deste abrigo, no começo de uma depressão em zona de difícil


acesso, existe outro abrigo, de proporções bem maiores, mas sem indícios arqueológicos
evidentes em superfície. Sua topografia é pior que das cavidades anteriores no que tange à
moradia humana. Tem a boca muito aberta e topografia inclinada. Em virtude da quantidade
de musgos e plantas em seu interior subentende-se haver muita entrada de água. Foi
identificado em um pequeno nicho no chão, resíduos de uma fogueira, provavelmente
recente em virtude do estado dos carvões que a compõem, conforme Figura 3.67.

Figura 3.67. Nicho com carvões.

110
3.4.1.3. Gruta do Rola Moça 3

Nas coordenadas UTM 23K 603.963 E e 7.783.394 N. Foi identificada a Gruta Rola
Moça 3. Foram encontrados velas e pedidos de oração em seu interior, vestígios de
fogueiras recentes, garrafas de vinho “Chapinha”, tampas de garrafas de refrigerantes,
luvas, resto de arroz, pimenta e preservativos usados (Figuras 3.68). Não foi, contudo,
identificado material arqueológico em superfície. Faz-se necessário, todavia, uma vistoria
mais aprofundada e com melhor iluminação dentro desta cavidade. Tem altura,
profundidade e acesso ideal para o estabelecimento humano, sendo utilizada até os dias
atuais.

Toco de vela no chão Garrafa de vinho

Vista do piso da gruta Vista a partir da entrada da gruta

Vista da boca da gruta Depredações no interior da gruta

Figura 3.68. Características naturais e sinais de atividade humana na Gruta do Rola Moça 3.

111
3.4.1.4. Gruta do Rola Moça 4

A Gruta Rola Moça 4, situada entre as coordenadas UTM 23K 605.172 E e 7.784.341
N, Datum: Córrego Alegre possui grande extensão e potencial para ocupação humana.
Apesar de sua entrada ser bastante discreta e baixa, a parte interna se mostra com altura
razoável para um estabelecimento com certo conforto (Figura 3.69). Foram identificados
focos de carvão em superfície, na área interna da gruta, podendo se tratar de vestígio de
rápida ocupação pré-colonial.

Figura 3.69. Carvões em superfície

3.4.1.5. Gruta do Rola Moça 13

Situada entre as coordenadas 601.515 E e 7.781.478 N. Foi identificada uma parte


de um batedor lítico em rocha ígnea na entrada da gruta (Figura 3.70 A e B). Possivelmente
foi abandonado devido à quebra. Não foram identificados fragmentos cerâmicos, no entanto
foram encontrados carvões em superfície e uma possível estrutura de combustão.

A B

Figura 3.70. Fragmento de batedor em superfície (A) e carvões em superfície (B).

3.4.1.6. Muro de Pedra - Histórico

Situado na área de proteção especial do Bálsamo – COPASA, na porção oeste do


PESRM, dentro do município de Ibirité, este antigo muro de alvenaria de pedra possui
aproximadamente 200 metros de extensão. Possivelmente servia originalmente como divisa
de propriedade.

112
3.5. Socioeconomia

As entrevistas junto às lideranças locais evidenciaram o desconhecimento das


comunidade do entorno para com o processo de demarcação do parque e de seus objetivos
enquanto uma unidade de conservação, apontando para uma visão bucólica e romantizada,
com a tônica na beleza cênica (“maravilhoso, local de liberdade, vida, preservação e amor”).
Se antes o parque era visto como um entrave, local dos incêndios, dos carros roubados,
uma “terra de ninguém”, hoje já começa a ser valorizado. O relacionamento do PESRM com
o bairro Jardim Canadá é o mais próximo dentre todos os outros do entorno, principalmente
pela proximidade à Sede Administrativa do parque e pelas ações de integração em
Educação Ambiental e Comunicação junto aos grupos comunitários daquele bairro.

Nas diferentes visões colhidas junto aos entrevistados dos diferentes municípios do
entorno, destacam-se algumas que traduzem o nível do desafio da administração do
PESRM:

 Não conhecem muito, principalmente no sentido de “ser parque”, conhecem mais


pelas tragédias (incêndios, desovas de cadáver e de carros roubados);

 É uma área de “mato”, onde matam animais (cobras), põem fogo, jogam lixo e
arrancam plantas (“a canela-de-ema é ótima para se usar no fogão à lenha”);

 É difícil o acesso para os moradores das várias regiões do entorno;

 Observam de longe, acham bonito, mas não conhecem.

 É uma bênção para a comunidade, todos querem preservar, mas ainda não existe a
conscientização pela preservação.

Evidências indicam a urgente necessidade de implementação de um programa de


proteção e fiscalização para garantir a segurança da área interna ao parque, envolvendo a
participação das populações do entorno, gerando a capacitação do pessoal e melhorando a
infra-estrutura da UC. A comunidade de Casa Branca, para enfrentar a violência da região,
mantém um posto policial com veículo e pessoal para auxílio à vigilância do parque. Um
Diagnóstico Participativo em Unidades de Conservação, realizado com as equipes de
funcionários do parque e do corpo de bombeiros envolvidos nos trabalhos do PESRM,
aponta para a necessidade de investimentos em recursos humanos de forma a atender a
área administrativa, de vigilância e fiscalização, educação ambiental e assistência aos
visitantes, como condição para que possam cumprir para com seu papel na conservação da
biodiversidade do parque.

Os dois ambientes de organização, de maior expressão, relacionados com o


PESRM, são: o Conselho de Segurança Pública – CONSEP e o Conselho Consultivo - CC.
O CONSEP abrange todos os condomínios do entorno do parque e as policias civil, militar e
rodoviária federal e o CC, instaurado em 27 de setembro de 2005, contando com 28
conselheiros.

O parque conta com uma estrutura fundiária com algumas pendências, mas, em sua
maioria, apresenta áreas regularizadas. São apenas duas categorias de moradores em seu
interior: funcionários e ex-funcionários do IEF, com suas famílias, e os estabelecidos em
casas irregulares construídas na área do parque, destacando-se o Bairro Solar e o antigo
Parque Municipal Jatobá (que integra o território do PESRM). Em toda a área do antigo
Parque Jatobá não há delimitação do terreno, com forte pressão de invasão.

A falta de conhecimento sobre os procedimentos, restrições e regras, a serem


seguidos no interior da unidade de conservação é demonstrada pelas famílias residentes no
parque, pois desenvolvem a criação de animais domésticos e estabelecem áreas com
113
frutíferas, hortaliças, medicinais e ornamentais exóticas em seus quintais.

Os estudos sócio-econômicos tiveram como objetivo principal subsidiar o Plano de


Manejo da Unidade de Conservação denominada PESRM - Parque Estadual da Serra do
Rola Moça, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na divisa dos municípios
de Belo Horizonte, Brumadinho, Ibirité e Nova Lima.

Como objetivos específicos buscou-se:


 Conhecer a realidade da região como um todo e dos municípios do entorno do
parque, em especial nos aspectos relacionados às condições de vida de sua
população;
 Identificar as principais atividades econômicas desenvolvidas neste entorno,
indicando maiores problemas sócio-econômicos, pressões e possíveis usos
conflitantes com a unidade de conservação;
 Identificar as principais visões da população do entorno do parque, no que se refere
à preservação ambiental e à relação com o PESRM;
 Sugerir estratégias para a relação da administração do parque com os municípios e
populações residentes em sua área de influência;
 Contribuir para a elaboração de um manual de gestão do parque, com indicativos
claros de projetos e ações a desenvolver.
Adotou-se uma metodologia que compreendeu diferentes etapas e atividades,
envolvendo pessoas e equipes distintas para implementá-las.

O primeiro passo consistiu na coleta e análise de dados de fontes secundárias,


relativos aos municípios componentes das áreas de influência do empreendimento,
disponíveis em órgãos federais e estaduais, especialmente o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE, o Instituto de Desenvolvimento Industrial - INDI, a Fundação
João Pinheiro - FJP e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -
PNUD/ONU.

Com base nestas informações, configuraram-se as variáveis sócio-econômicas


clássicas dos setores de demografia, atividades econômicas, saneamento básico, qualidade
de vida e organização social, dentre outras, visando sobretudo caracterizar as áreas de
influência do parque. Todos as tabelas produzidos encontram-se no encarte 2 deste
documento, para fins de consulta.

Outra fase do diagnóstico referiu-se à realização de entrevistas com lideranças


formais e informais das sedes dos municípios sob estudo, bem como dos aglomerados
urbanos localizados na área que divisa diretamente com o PESRM. Estas entrevistas foram
feitas através de roteiros previamente elaborados, por dois técnicos de socioeconomia da
empresa de consultoria externa, no mês de junho de 2005.

A partir da listagem inicial de lideranças e associações, fornecidas pela gerência do


parque, partiu-se para o contato com os nomes indicados e marcação de entrevistas. Nesse
momento foram identificados alguns problemas, especialmente relacionados a:
 Números de telefones errados, impossibilitando o contato com algumas pessoas;
 Mudança de cargos/atribuições, especialmente nos casos de prefeituras municipais,
sem indicativo de novos nomes a entrevistar;
 Resistência de algumas pessoas em receber o entrevistador e prestar informações;
 Dificuldades de agenda com algumas lideranças indicadas, inicialmente.

114
Foram ouvidas 17 lideranças dos quatro municípios, dos setores público e privado,
sendo quatro de Belo Horizonte, seis de Brumadinho, três de Ibirité e quatro de Nova Lima.
Seus contatos encontram-se na Tabela 3.18.

Passou-se, em seguida, à digitação eletrônica dos dados, com a definição dos


cruzamentos de variáveis considerados pertinentes. Foram elaboradas as tabelas
estatísticas necessárias, que permitiram a sistematização dos dados para análise. Na etapa
subseqüente, analisaram-se todos os dados e informações, coletadas e organizadas.

Os estudos de socioeconomia foram:


 Diagnóstico das áreas de influência para o meio antrópico, considerando aspectos
demográficos, perfil das atividades econômicas, infra-estrutura e condições de
moradia, qualidade de vida e associativismo. Ademais, apresenta a visão da
comunidade do entorno em relação ao Parque.
 Avaliação de possibilidades de cenários futuros para a região, considerando as
tendências identificadas nos dados secundários e perspectivas apontadas pelas
lideranças locais nas entrevistas.
 Considerações finais e as recomendações estratégicas para o Plano de Manejo do
PESRM.

Tabela 3.18. Listagem de lideranças entrevistadas


Município Nome Entidade / instituição Contato
Belo Horizonte José Luiz dos Santos Assoc. Comunitária do Bairro Mineirão 3387-4511
Belo Horizonte Ivanilde Juscelino de Assoc. de Moradores do 3387-5229
Araújo Independência e comissão local de
saúde
Belo Horizonte Sylvio Ferreira Malta Neto Prefeitura de Belo Horizonte – 3277-5906/
e Ronaldo Peres Secretaria de Serviços Urbanos e 3277-5969
Gerência Regional de Jardins e Áreas
Verdes do Barreiro
Brumadinho Raquel Lobo Miranda Condomínio Recanto do Vale II 3222-1676/
8709-1513
Brumadinho Ana Emília C. Diniz Prefeitura Municipal 3571-3001
Brumadinho José Valter Lopes Condomínio Retiro das Pedras – chefe 3547-2323
(coronel) de segurança
Brumadinho Maria das Mercês Santos Assoc. Comunitária Parque das 3575-3314
Faria Andorinhas 3222-2390
Brumadinho Renato Quintino dos Assoc. Comunitária do Meio Ambiente 3575-3174
Santos e Maria Lúcia da Aldeia – Casa Branca , Astures –
Videira Guedes Associação Turismo Sustentável da
Encosta da Serra (entre outras
entidades)
Ibirité Emi Oliveira Melgaço Sítio da Emilândia 9239-1925
Ibirité Mário Lúcio Moreira e Prefeitura Municipal 3533-6006/
Hervê de Melo 6007
Nova Lima Regina Lopes Maciel Fórum DLIS Jardim Canadá 3541-6227
Nova Lima Paulo Eustáquio Andrade Assoc. Comunitária Jardim Canadá 3541-6068
Nova Lima Melânia Fernandes de Prefeitura de Nova Lima - Regional 3542-2677
Araújo Alvarenga Noroeste – Jardim Canadá
Nova Lima Maria Helena Nogueira Prefeitura de Nova Lima 3581-8337
Silva

115
3.5.1. Aspectos demográficos

O PESRM situa-se na Região Central de Minas Gerais, na interseção dos municípios


de Belo Horizonte, Brumadinho, Ibirité e Nova Lima.

No ano 2000, segundo dados do IBGE, a área sob estudo contava com população
total de 2.462.571 habitantes, representando 56,6% da população da RMBH e 14,7% de
Minas Gerais. A análise da série histórica apresentada no encarte 2, entre 1950 e 2000,
mostrou que é grande a tendência ao adensamento populacional na região, principalmente
condicionada pela saturação do território urbano da capital mineira, expandindo-se para os
demais municípios da região metropolitana. Ibirité, por exemplo, é um caso exemplar, visto
que sua densidade demográfica passou de 30,6 hab/km2 em 1950 para 1.806,2 hab/km2 no
ano 2000.

No que se refere às taxas médias de crescimento demográfico, todos os municípios,


à exceção de Brumadinho, vêm mostrando aumento de sua população nos últimos 50 anos
em taxas superiores à média estadual. Enquanto Minas Gerais teve seus habitantes
acrescidos ao ritmo de cerca de 1,7% ao ano entre 1950 e 2000, Belo Horizonte cresceu
3,8% a.a., Ibirité 8,5% a.a., Nova Lima 2,2% a.a. e Brumadinho 1,4% a.a.

Seguindo a tendência verificada em todo o país nas últimas décadas, a região das
UCs apresentam uma alta taxa de urbanização, variável entre 98% e 100%, sendo que
apenas Brumadinho apresenta percentual relevante de população habitando em zonas
rurais (27%).

Esse processo de “periferização” tem duas vertentes no contexto da RMBH: uma de


expulsão das populações de menor poder aquisitivo, notadamente para as cidades de
Vespasiano, Neves, Ibirité e Santa Luzia, e outra de formação de uma periferia de alta
renda, a partir da opção de parte da população de Belo Horizonte que inicia sua migração
para Nova Lima, impulsionando também o crescimento deste município a taxas acima da
média do aglomerado.

3.5.2. Atividades predominantes

Os dados secundários coletados e as entrevistas qualitativas realizadas junto às


lideranças locais apontaram que os municípios da região apresentam diferenças
significativas em termos das principais atividades econômicas e perfil empresarial
encontrado.

No que se refere ao número de empresas existentes, todas as cidades estudadas


têm como uma das atividades principais o comércio e a prestação de serviços, perfil típico
de áreas com alta taxa de urbanização e capacidade de polarização regional. Entretanto,
diferenciam-se no que se refere ao porte das empresas, bem como em relação à presença
de atividades industriais e ao desempenho do setor primário da economia.

Enquanto em Belo Horizonte a prestação de serviços às empresas, atividades


imobiliárias e aluguéis responde por 24% do total de empresas e a indústria de
transformação por 8% delas, em Ibirité esses percentuais são de 14,4% e 10,5%,
respectivamente.

Em Brumadinho e Nova Lima, o setor de alojamento e alimentação é bem destacado,


representando 10% do total de empresas cadastradas no primeiro município e cerca de 17%
no segundo.

116
Somando-se as quatro cidades, havia quase 81 mil empresas cadastradas, que
empregavam, juntas, cerca de 1.049 mil pessoas. Vê-se que cerca de 41% dos empregos
gerados nos setores secundário e terciário da região estão concentrados em
estabelecimentos de grande porte, com mais de 1 mil empregados cada um. Por outro lado,
as empresas de micro e pequeno porte, até 9 funcionários, geravam, segundo os dados
apurados, cerca de 200 mil empregos, indicando também o potencial de geração de renda
desta fatia da economia.

Como se vê, as atividades do setor primário têm restrita significação nos municípios
de Nova Lima e Ibirité, sendo inexistentes em Belo Horizonte. Na região sob estudo, apenas
Brumadinho apresenta algum tipo de produção agropecuária, com destaque para a
bovinocultura leiteira, criação de galinhas e produção de feijão e milho. Ainda assim, sua
contribuição para o PIB do município não atinge 5%, como se viu anteriormente.

As entrevistas qualitativas com lideranças locais apresentaram mais informações a


respeito das atividades econômicas predominantes em cada localidade estudada.

A região do Barreiro, município de Belo Horizonte, tem como carro-chefe a empresa


Mannesmann, que emprega grande número de moradores dos bairros do entorno do
PESRM. Além dela, foram citadas como grandes empregadoras que contratam mão-de-obra
na região a Fiat e a Belgo Mineira. No bairro Mineirão foi citada a presença de uma pequena
indústria de uniformes, que também emprega os moradores do bairro.

O comércio local é diversificado, predominando os estabelecimentos varejistas de


pequeno porte, notadamente as mercearias, sacolões e supermercados, além da prestação
de serviços nas áreas de lanchonetes e bares, salão de beleza, entre outros do tipo. Vale
destacar que a Regional Barreiro como um todo apresenta todo o tipo de estabelecimentos,
tendo sido cadastrado pelo SEBRAE-MG, em 1998 um total de 2 452 empresas.

Os entrevistados mencionaram também a existência de produtores de


hortifrutigranjeiros que, entretanto, foram deixando a atividade e atualmente produzem
basicamente para subsistência, em hortas caseiras.

O município de Brumadinho tem como destaques a área de mineração, além do


comércio varejista diversificado. Já o povoado de Casa Branca tem algumas
especificidades. Em geral, há na localidade, além dos ramos de hospedagem e alimentação,
dos quais se falará mais adiante, estabelecimentos voltados para o atendimento dos
moradores e sitiantes dos condomínios da região. Nesse sentido cita-se mercearias, posto
de gasolina, padaria, loja de material de construção, floricultura e venda de mudas,
prestação de serviços na área de construção civil, serviços pessoais e domésticos (aí
incluídos caseiros, jardineiros, cozinheiras e faxineiras para atendimento aos sitiantes).

O atendimento aos moradores dos diversos condomínios é uma das maiores fontes
de emprego e renda na região, a tal ponto que, segundo entrevistados, não há desemprego
no povoado.

Os entrevistados também mencionaram a presença de um laticínio e pequenas


indústrias de móveis, serralheria, fábrica de pré-moldados e produção de artesanato em
geral. Aos domingos há na praça do povoado uma feira-livre onde são comercializados
produtos agropecuários de toda a região.

Em Ibirité os setores predominantes, na opinião dos entrevistados, são a indústria, o


comércio e a prestação de serviços. As atividades de comércio e serviços são diversificadas
e de pequeno porte, sem predominância de nenhum ramo específico.

117
Já na área industrial destaca-se não apenas a Petrobrás, que possui parte de sua
planta no município, mas também indústrias diversas situadas no Distrito Industrial,
especialmente as fornecedoras de equipamentos para a montadora Fiat.

De acordo com representantes da Prefeitura, a tendência é que o município se


transforme em um pólo industrial, com foco na área petroquímica, em virtude dos
investimentos da Petrobrás nos próximos anos, na ampliação de sua produção.

O setor primário, especialmente representado pela produção de hortifrutigranjeiros,


foi considerado pouco expressivo e em processo de declínio. Atualmente seus produtos são
comercializados no CEASA.

A região do Jardim Canadá, por sua vez, tem perfil econômico bastante complexo e
diferenciado. O uso residencial convive no bairro, lado a lado, com atividades industriais,
comerciais e de prestação de serviços.

No ano de 2002 a empresa PRAXIS realizou o levantamento de uso e ocupação do


solo no bairro, em atendimento ao Estudo de Impacto Ambiental da Mina de Capão Xavier,
da MBR, e encontrou 82 estabelecimentos industriais, 157 comerciais e 146 de prestação de
serviços, totalizando então 385 empresas no Jardim Canadá.

De acordo com tal fonte, os ramos que mais se destacavam eram:


 Construção Civil e Comércio de Materiais de Construção;
 Empresas vinculadas aos transportes, comércio de combustíveis;
 Serviços de alimentação e atividades diversas, tais como empresas voltadas ao
engarrafamento de aguardente, fabricação de alambiques, torrefação de café;
 Floriculturas, empresas de paisagismo e de comércio de animais domésticos
(passarinhos) e produtos agropecuários.
Nos dias atuais, as lideranças informam que já são mais de 500 as empresas
instaladas no Jardim Canadá. Nos últimos anos, o bairro foi também se transformando em
pólo para atendimento das demandas cotidianas mais imediatas da população de classe
média-alta residente em diversos condomínios de Nova Lima, com acesso pela BR-040, em
especial o Retiro das Pedras, o que contribuiu para o crescimento no número de empresas
na área. Na área industrial, foram citadas indústrias moveleiras, marmorarias, indústria
alimentícia (mel, aguardente), inclusive com exportação, serralherias, entre outras.

Do ponto de vista da atividade turística realizada no entorno do parque, os


entrevistados apontaram que já é desenvolvida em toda a região, ainda que muitas vezes
sem o adequado preparo e organização, bem como sem a infra-estrutura necessária para o
atendimento ao visitante.

Na região do Barreiro foram citados como locais de visitação, além do PESRM, os


dois parques municipais aí instalados (Burle Marx e Parque Ecológico da Vila Pinho) e o
Cristo Redentor do Bairro Milionários, como local de contemplação de outras partes da
cidade. É importante realçar que, via de regra, esses atrativos são mais direcionados para a
população de menor poder aquisitivo, moradora na própria região, com menor capacidade
de atração de visitantes de outras cidades ou de maior renda.

Em Ibirité os entrevistados mencionaram como potenciais turísticos o Parque do Rola


Moça e a Lagoa da Petrobrás, mas realçaram que na região como um todo não há infra-
estrutura hoteleira e gastronômica para apoio à visitação. Também realçaram a
possibilidade de se implantar o turismo rural, citando iniciativas já existentes de uma mini-
pousada, tipo pequeno clube, na região das hortas.

118
Brumadinho e Nova Lima já apresentam panorama diferenciado dos demais
municípios no que se refere à atividade turística. A região de Casa Branca, em Brumadinho,
conta com uma série de pousadas e restaurantes, que atraem número significativo de
visitantes nos finais de semana e feriados. Ademais, conta com vários condomínios e sítios,
parte dos quais utilizados como lazer pelas famílias, residentes em Belo Horizonte e outras
cidades da RMBH.

Os entrevistados citam como atrativos da região a presença de água abundante –


cachoeiras e vegetação – áreas preservadas, realização de turismo esportivo (ciclismo,
motociclismo, off-road, trekking, rapel, arvorismo, saltos de asa-delta, paraglider, etc). Há
também um forte histórico no Retiro das Pedras, construído na época da escravatura, onde
eram cunhadas moedas, e que foi mencionado como muito interessante para visitação
turística. Por fim, realça-se que há na região um circuito de fazendas históricas, incluindo
outros municípios do entorno, destacando-se a fazenda dos Martins, tombada pelo
patrimônio histórico.

Em Nova Lima o destaque fica no distrito de São Sebastião das Águas Claras –
Macacos – onde já há uma série de pousadas e restaurantes com grande fluxo de visitantes.
Segundo os entrevistados, também o Jardim Canadá se destaca pela presença de
restaurantes, mas o grande potencial turístico citado foi mesmo o PESRM, considerado
ainda pouco preparado para atendimento aos visitantes.

3.5.3. Infra-estrutura e condições de moradia

Para analisar a situação dos municípios da área de influência do PESRM do ponto


de vista de suas condições de moradia, utilizou-se, em primeiro lugar, dados relativos ao
tipo de habitação predominante. Nesse aspecto verificou-se que em todos os municípios
selecionados é maior o percentual de população residente em habitações unifamiliares
horizontais - ou casas, inclusive em Belo Horizonte, ainda que em menor proporção que os
demais territórios (Tabela 3.19).

Também predominam os imóveis próprios, que são, em média, 75% do total, entre
quitados e em quitação. A maior incidência de aluguéis se dá em Belo Horizonte e a menor
em Ibirité (Tabela 3.19). No que é relativo ao atendimento de infra-estrutura, são
apresentados os dados do Censo 2000, do IBGE, no Encarte 2.

Tabela 3.19 Domicílios particulares permanentes, segundo condição de ocupação (%).

Condição de ocupação (%)


Total Dom. Próprio Cedido Outra
Municípios
(Abs.) Alugado situação
em Por Por
Quitado
quitação empregador outros
Belo Horizonte 628 447 66,6 7,2 18,0 0,5 6,9 0,7
Brumadinho 7.201 69,9 7,1 10,7 6,9 5,2 0,3
Ibirité 33 720 80,6 2,6 8,9 0,8 6,9 0,2
Nova Lima 16 759 73,1 4,3 11,8 3,5 6,7 0,6
RMBH 1 173 224 68,4 7,3 15,4 1,3 6,9 0,6
Minas Gerais 4 765 258 68,0 5,0 15,0 4,4 7,0 0,6

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

119
3.5.4. Equipamentos públicos

Um dos aspectos levantados nas entrevistas qualitativas com as lideranças dos


municípios em foco foi em relação aos equipamentos públicos disponíveis nos bairros do
entorno do Parque, considerando as áreas de educação, lazer e esportes, cultura, saúde e
comunicação.

Em primeiro lugar, vê-se que a situação do Barreiro é atípica, uma vez que há uma
série de equipamentos sociais no território, muitas vezes concentrados na área central da
regional ou em outros bairros da região. No caso da área que confronta com o PESRM
esses equipamentos já são mais reduzidos, deixando o atendimento a desejar em algumas
áreas, na opinião das lideranças entrevistadas.

Não foi citado nenhum equipamento cultural na região, enquanto na área de lazer e
esportes foi citada a presença de dois campos de futebol, além do Parque Burle Marx, que
confronta com o PESRM. A falta de áreas de lazer é uma das principais demandas dessa
população, que vê no Parque do Rola Moça uma alternativa para os momentos de folga.

Na área social os entrevistados apontaram a existência de:


 Um posto de saúde, precário, no bairro Mineirão;
 Uma creche, no bairro Petrópolis;
 Duas escolas municipais (ensino fundamental) e uma estadual (ensino médio).
Em relação aos meios de comunicação locais, foi mencionado que existia a Rádio
Horizonte FM, que, entretanto foi extinta no ano 2000. No Barreiro como um todo há o
Correio Barreirense e o Jornal do Barreiro.

Em Casa Branca, apesar da grande distância da sede de Brumadinho e relativa


independência, também ainda são poucos os equipamentos públicos disponibilizados à
população. De acordo com os entrevistados, o único equipamento cultural do povoado é a
biblioteca existente na escola municipal, que, entretanto está fechada por falta de
bibliotecária e necessidade de reformas.

Na área de lazer e esportes há disponível à população um campo de futebol e uma


praça com campo de futebol e parquinho infantil. Os entrevistados mencionaram também a
realização de olimpíadas esportivas e oficinas educativas e artesanais, através do Jornal da
Apa-sul, que, aliás, foi citado como único meio de comunicação local.

Em relação aos equipamentos sociais, encontram-se na região:


 Uma escola municipal de ensino fundamental;
 Uma escola estadual de ensino médio;
 Uma escolinha infantil;
 Um posto de saúde;
 Uma igreja católica e um centro budista.
No Retiro das Pedras há cinco praças, um parquinho infantil, um campo de futebol,
quadras de basquete, futebol de salão, tênis e vôlei, além de clube com piscinas e sauna,
restrito aos moradores do condomínio.

Da mesma forma que o mencionado para Belo Horizonte, o município de Ibirité


possui grande número de equipamentos sociais para atendimento à sua população,
distribuídos por seu território. Entretanto, na região que confronta com o Parque a ocupação
é rarefeita e o atendimento por equipamentos públicos deixa a desejar.
120
Não foram citados equipamentos culturais nessa área, ao passo que o único espaço
utilizado para lazer e esportes é um campo de futebol no Barreirinho. Também no
Barreirinho há uma escola que ministra o ensino fundamental e uma escola estadual em
construção. Não foram citados meios de comunicação locais.

No Jardim Canadá, os entrevistados apontaram a existência de diversos


equipamentos que atendem à comunidade, que serão listados a seguir. Na área cultural
foram citados:
 Biblioteca em formação pela associação de moradores – ainda não aberta para uso;
 Escola de dança Quik;
 Cooperativa Minas Artes Gerais, que oferece cursos de tapeçaria, teatro, trabalhos
manuais em geral – foi fechada esse ano.
Quanto ao lazer e esportes, as lideranças mencionaram:
 dois campos de futebol;
 Uma quadra de futebol de salão;
 Praça em construção, com 20 mil m2 e que será inaugurada em março de 2006.
No que é relativo aos equipamentos sociais do Jardim Canadá, as lideranças citaram:
 Duas creches, uma mantida pela MBR e Prefeitura e a outra pela Prefeitura;
 Um posto de saúde, considerado precário;
 Uma escola estadual (ensino médio) e uma escola municipal (ensino fundamental),
fora outra escola municipal em construção, que será entregue no final do ano;
 Centro comunitário em construção.
 Finalizando, os meios de comunicação locais citados foram:
 Jornal da Associação de Moradores;
 Rádio comunitária da associação (em fase de implantação);
 Boletim Parceiros do Bairro;
 Apesar de não serem produzidos no bairro foram citados como de importância na
região o Jornal da Apa-Sul e o do Projeto Manuelzão.
De uma maneira geral, a impressão que se tem ao debruçar-se sobre o atendimento
de serviços públicos na região confrontante com o PESRM é que há concentração dos
equipamentos nas sedes municipais, com carências de atenção nas áreas mais periféricas,
como é o caso principalmente de Brumadinho e Ibirité.

Essa carência é ainda mais explícita quando se avaliam os itens relativos à cultura e
ao lazer, uma vez que os únicos equipamentos mais presentes nos bairros analisados são
campos de futebol.

Também na área das comunicações há lacunas a serem preenchidas em função da


ausência de meios formalizados de interação com a comunidade que dificulta inclusive
qualquer proposta de conscientização que venha a ser tentada pelo PESRM em seu
entorno.

121
3.5.5. Organização social e associativismo

Para se ter uma visão a respeito da organização social das áreas lindeiras ao
parque, foram incluídas questões relacionadas a esta temática nas entrevistas qualitativas
com lideranças.

Foi possível perceber, primeiramente, que é pequena a atuação conjunta nas


localidades estudadas, com entidades atuando isoladamente. Também em relação ao
PESRM foram identificadas poucas parcerias com as comunidades do entorno.

Na região do Barreiro registrou-se a presença de lideranças mais pró-ativas e


organizadas, com diversas entidades em atuação. Uma delas, inclusive, no bairro Mineirão,
informou ser parceira do PESRM, atuando na área de combate a incêndios, educação
ambiental e proteção de nascentes.

Foram citadas pelas lideranças locais as seguintes entidades na região:


 Cooperativa de Reciclagem de Resíduos Sólidos;
 Associação de Moradores do Bairro Independência;
 Conselho Local de Saúde;
 Associação Esportiva do Independência;
 Associação Comunitária Pró-Melhoramentos do Mineirão;
 Esporte Recreativo Universal.
Também a Prefeitura Municipal, através da Regional Barreiro, é mais bem
estruturada e articulada com as comunidades, mostrando, além do mais, maior
conhecimento da existência e problemas do PESRM e disposição para ações conjuntas.

Quanto ao município de Brumadinho, parece haver uma discrepância entre a


situação do poder público e das entidades da sociedade civil. Enquanto o primeiro não se
posiciona em relação ao parque e mesmo em relação à administração da região de Casa
Branca, distante de sua sede municipal, as entidades civis são extremamente organizadas e
articuladas, participando de diversos movimentos na região, inclusive de cunho ambiental.

Em termos de parceria com o parque, além do CONSEP – Conselho de Segurança


Pública, foi citada a manutenção e administração conjunta de uma área verde no
condomínio Parque das Andorinhas e a vigilância de áreas lindeiras pelo condomínio Retiro
das Pedras.

Em Casa Branca foram citadas as seguintes entidades:


 AMA-ALDEIA – Associação Comunitária do Meio Ambiente da Aldeia;
 AMORSICAB – Ass. Moradores e Sitiantes de Casa Branca;
 Ass. Comunitária do Bairro Jardim Casa Branca;
 Ass. Comunitária Parque das Andorinhas;
 Ass. Comunitária Regional de Casa Branca;
 Ass. dos Moradores e Amigos do Bairro da Ponte;
 Associação Comunitária do Recanto da Aldeia;
 Associação dos Catadores do Vale do Paraopeba, com sua unidade II instalada em
Casa Branca;
 ASTURES – Associação de Turismo Sustentável da Encosta da Serra;
122
 CODEMA – Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente;
 Conselho da Mulher de Brumadinho;
 CONSEP – Conselho de Segurança Pública de Casa Branca;
 Cooperativa das Mulheres de Rola Moça – em montagem;
 Fórum da Cidadania de Brumadinho;
 Grupo de jovens da Igreja Católica;
 Pastoral da Criança.
Em relação a Ibirité, foi possível perceber que não há lideranças expressivas na
região confrontante com o Parque. Foi citada apenas a Associação de Moradores do Vista
Alegre.

Há também o CONSEP – Conselho de Segurança Pública, formado por membros


das polícias civil, militar e rodoviária federal, além de entidades instaladas na região -
parceiro do parque em ações de combate ao fogo, entre outras. Vale destacar que os
demais municípios também contam com este conselho.

No restante do município, levantou-se a presença de várias entidades, que,


entretanto não tem ação tangencial com os assuntos de interesse do PESRM. Nesse
sentido foram citadas:
 Sindicato dos Trabalhadores Rurais;
 Sindicato dos Produtores Rurais;
 Associação Pestalozzi de Minas Gerais – Fazenda do Rosário;
 APAE;
 Creche Bom Pastor;
 ACIAI – Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Ibirité e CDL – Câmara
de Dirigentes Lojistas;
 Associações de moradores diversas.
É importante realçar também que durante o processo de pesquisa de campo a
equipe de sócio-economia teve algumas dificuldades na identificação de lideranças e
mesmo na disponibilidade destas em responder às entrevistas. Dentro da própria Prefeitura
percebemos dificuldades em definir atribuições e responsáveis que pudessem receber a
equipe de pesquisa.

Também os horticultores que limitam com o parque mostraram-se pouco dispostos à


conversação e sem posicionamento conclusivo a respeito de sua interrelação com o
PESRM.

A situação no Jardim Canadá pareceu ser bem diferente da encontrada na região. O


mapa de lideranças entrevistadas mostra grande articulação, provavelmente em função da
existência prévia de um Fórum de DLIS – Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável,
que congrega diversas entidades do bairro, incentivado pela Fundação Dom Cabral. Ainda
assim, a ação conjunta entre as entidades ainda não é a prática corrente, como se percebeu
nas entrevistas qualitativas.

Nova Lima tem administração regional no Jardim Canadá, que, entretanto, estava
sem secretário à época da pesquisa, não havendo outros funcionários dispostos ou aptos a
responderem em nome da Prefeitura. Também a relação do bairro com o Parque é bastante
estreita e constante.

123
Em termos de entidades existentes, foram citadas:
 Associação Comercial e Industrial do Jardim Canadá;
 Associação Comunitária do Bairro Jardim Canadá;
 Associação São Judas Tadeu;
 Clube de Mães da Maçonaria;
 Cooperativa de Apicultores – CONAP;
 Cooperativa de Artesãos – Minas Arte Gerais (em fase de encerramento);
 Cooperativa de Costureiras;
 Fórum Dlis.
As Figuras 3.71 a 3.74 mostram as lideranças entrevistadas nos quatro municípios
do entorno do PESRM bem como apresenta os mapas de relações identificadas entre elas.

124
Mariinha (atuação religiosa)

Sylvio Ferreira / Ronaldo


Geralda (moradora)
Peres
(PBH – Reg. Barreiro)

João Evangelista (ex-presid.


Associação)

José Luiz dos Santos


(Ass. Com. Pró-
Gerson José Costa (morador,
melhoramento
trabalho social)
do Mineirão)

Alda (moradora)
José Moacir (morador)

Geraldo Elói (Ass. Esportiva)

Sr. Heceolé (Associação)

Ivanilde Juscelino Araújo


(Ass. Moradores Bairro
Aparecida (Associação)
Independência)

Relina (comissão local de

Figura 3.71. Rede de Lideranças e mapa de relações dos bairros do entorno do PESRM, pertencentes ao município de Belo Horizonte.
125
Caio Júlio ( CONSEP, AMA aldeia)
Raquel Lobo Miranda
(síndica cond. Recanto do Vale)

Norberto (CONSEP e empresário)

Maria Lúcia Videira Guedes


(AMA Aldeia, ASTURES, etc)
Sr. João (Casa Branca)

Suzana Leal ( Ex- diretora PESRM) Ana Emília Coelho Diniz


(Prefeitura de Brumadinho)

Duílio Antônio (empresário)


Hélio Diniz (Regional – Assoc. Estrada)

Odilon ( APASUL)

José Valter Lopes


Maria das Mercês S. Faria (Chefe segurança Retiro das
(Ass. Com. Parque das Pedras)
Sérgio Cruz (Associação) Andorinhas)

Maurílio (eng. MBR, loteou Casa José Alexandre (empresário)


Branca)

Figura 3.72. Rede de Lideranças e mapa de relações dos bairros do entorno do PESRM pertencentes ao município de Brumadinho.

126
Emi de Oliveira Melgaço
Mário Lúcio Moreira
(sitiante)
Hervé de Melo
(Prefeitura de Ibirité)

Figura 3.73. Rede de Lideranças e mapa de relações dos bairros do entorno do PESRM pertencentes ao município de Ibirité.

127
Ana (arquiteta)

Dona Zita
(moradora, trabalho social)
Regina Lopes Maciel
(Fórum DLIS)

Elaine Garcias (Fórum DLIS)

Maria Helena Nogueira


(Prefeitura Nova
Lima – Regional Jd. Canadá) Antônio (arquiteto)

Anderson Fabrício (morador –


jovem)

Antônio Mitraud (empresário,


construção civil)

D. Zezé (atuação religiosa)

Sr. Edilon (empresário, via sul)

Melânia (Regional Noroeste


Paulo Eustáquio Andrade Jardim Canadá)
Geraldo Miranda (empresário, (Assoc. Comunitária Jd
posto chefão) Canadá)

D. Maria Montolli (artista


plástica)

Figura 3.74. Rede de Lideranças e mapa de relações pertencentes ao município de Nova Lima.

128
3.5.6. Apropriação dos Recursos Naturais e Situações de Conflito

A presença de cães, gatos, eqüinos e plantas exóticas nas áreas internas ao parque
e seu entorno, está relacionada tanto com as famílias moradoras no interior da UC quanto
às das áreas urbanizadas do entorno. Cultivo de mandioca, milho e banana são observados
em residências que se confrontam com o PESRM na região do Alto Mineirão (ruas Professor
José Moreira e Luiz de Souza Lima). Propriedades agrícolas vizinhas ao Parque na região
de Ibirité (Figura 3.75), utilizam o fogo para limpeza dos terrenos e insumos químicos nas
hortas, aumentando o risco a incêndios e à contaminação do solo e lençol freático.

Figura 3.75. Visão geral do município de Ibirité com plantações nas imediações do PESRM.

Atividades de contemplação e de cultos religiosos são freqüentes no parque gerando


pisoteio da vegetação, alargamento de trilhas, criação de trilhas sociais paralelas e erosão,
notadamente, na região do Mirante dos Veados e dos campos ferruginosos.

É bastante comum no PESRM a depredação e o roubo de materiais de postos de


vigilância abandonados, de placas de sinalização, cercas e alambrados (Peixoto, 2004).
Pontos críticos da região do entorno como a favela chamada “Gogó da Gia”, município de
Belo Horizonte, nas cercanias da APE Barreiro, apresentam altíssimo índice de
marginalidade, com probabilidade de ocorrência de assaltos a visitantes e pesquisadores.
No interior do parque a violência urbana se faz presente, com níveis de insegurança atuais
muito altos. Como exemplo, são freqüentes as ações de desovas de cadáveres e de
veículos roubados nas áreas no pé da Serra do Rola Moça.

A coleta de plantas medicinais, ornamentais (Tabela 3.20) e lenha (Figura 3.76) é


uma prática estabelecida por moradores de várias comunidades do entorno, segundo
entrevistas junto aos guardas-parque do PESRM e levantamentos de ocorrências da Polícia
Militar. A incidência de coleta é maior para as espécies de flora, com valor comercial em
Belo Horizonte.

Tabela 3.20. Espécies de plantas medicinais e ornamentais coletadas indevidamente no Parque


Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM).

Ornamentais orquídeas Sophronites e Oncidium, Bifrenaria sp,


Prostechea vespa, e Pleurothallis teres
cactus Arthrocereus glasiovii
bromélias Dickia simulans, Vriesea minarum,
Billbergia sp. e Tillandsia stricta
canelas-de-ema várias espécies de Vellozia
gloxínias Sinningia rupicola e Sinningia alagophylla
Artesanato gramíneas e Eriocaulaceas Algumas espécies
Medicinais ramos de arnica Lichnophora pinnaster e Lichnophora
ericoides
touceiras de Macela do Achyrocline albicans
Campo
cascas de Barbatimão Striphrodendron polyphyllum
Comestíveis Gabiroba, Pequi e Jatobá Caryocar brasiliensis
Lenha Troncos de canelas-de-ema várias espécies de Vellozia

Figura 3.76. Coleta de lenha dentro do PESRM.

130
Um projeto conjunto foi elaborado pela diretoria de Educação Ambiental do PESRM e
pela Fundação Dom Cabral para determinar e difundir entre produtores locais, a viabilidade
técnica e econômica de propagação comercial de espécies nativas ornamentais e
ameaçadas, do PESRM. Tal projeto ainda carece de financiamento para viabilizar seus
objetivos.

A incidência de caça de espécies animais silvestres como o tatu, o macuco e veados


(Peixoto, 2004), ainda ocorre em algumas regiões do parque, principalmente nas
proximidades de Ibirité.

A deposição de lixo doméstico e entulho nas zonas urbanizadas do entorno ocorre


indiscriminadamente, notadamente ao longo da estrada de asfalto, trilhas e mirantes devido
à falta de fiscalização nessas áreas e ausência de programas de educação ambiental e
integração com gestores municipais.

3.5.7. Visão das Comunidades Residentes sobre a UC

A pesquisa com as lideranças teve como objetivo a identificação da visão da


comunidade sobre o PESRM e a utilização do parque pela população, bem como
relacionamento com sua administração.

Em primeiro lugar, tentou-se captar qual é o sentimento dos entrevistados em


relação ao parque. Foi possível perceber que o sentimento predominante é extremamente
positivo, ainda que romantizado. A tônica dos atributos citados é a beleza cênica, sendo o
PESRM visto como local de preservação da vida e liberdade. As palavras utilizadas pelos
entrevistados foram: amor, complexidade, desconhecimento, esperança, excelência,
excepcional, liberdade, lindo, louvável, maravilhoso, meio ambiente, preservação e vida.

Em geral, o PESRM, antes visto como entrave, hoje é valorizado pela comunidade,
e, na opinião das lideranças ouvidas, essa mudança foi devida a atitudes da administração e
à ação do jornal da Apa-Sul. Entretanto, grande parte da comunidade não conhece muito
bem o PESRM, não o freqüenta e ainda não está conscientizada da importância de sua
preservação. Alguns disseram que conhecem o parque apenas pelas suas tragédias
(incêndios), outros que têm pouco contato, pela distância, dificuldades de acesso para os
moradores e pouca divulgação. Nas palavras de uma das lideranças: “acham lá ‘um mato’.
Matam animais (cobras), põe fogo, lixo, arrancam plantas. Canela de ema é ótima para
fogão a lenha”. Um entrevistado afirmou que o parque está “desleixado, um pouco jogado às
traças”.

Há também aqueles que consideram o parque “uma benção para a comunidade,


todos querem preservar” e que “temos orgulho de fazer parte desse cartão postal”.

Ao serem questionados a respeito dos principais problemas enfrentados pelo Parque


do Rola Moça, os entrevistados em geral sabem apontar, de fato, muitas das dificuldades
vividas pela administração da UC. Nesse sentido, foram citadas:
 Asfaltamento da estrada, gerando aumento de velocidade, matança de animais,
vinda da marginalidade, fim da permeabilidade;
 Turismo às vezes desordenado e irresponsável, deixando lixo, muitas vezes levando
a incêndios;
 Falta de educação ambiental de visitantes e moradores do entorno – não tem
consciência como pequenas atitudes contribuem para a depredação do parque;

131
 Invasões que podem levar a prejuízos, como desmatamento, matança de animais,
incêndios;
 Via de degradação que vem de Ibirité, devido à declividade, vem trazendo minérios,
acúmulo de resíduos, não tem escoamento;
 Desmatamento, pelas pessoas que transitam pelo local;
 Queimadas, principalmente pela presença humana no parque - de cigarros a crenças
religiosas, pessoas na cachoeira fazendo churrasco, acampamento. Moradores do
entorno colocando fogo nos lotes e sitiantes (limpeza de terreno);
 Retirada de plantas (orquídeas, bromélias e canela de ema);
 Trânsito de marginais, carros roubados, violência.
Por outro lado, a população do entorno não tem conhecimento do processo de
demarcação do parque e de seu objetivo específico de preservação. Os entrevistados
consideram que a falta de conhecimento está diretamente relacionada à falta de divulgação
e à falta de preparo da unidade para receber a visitação. Um dos entrevistados afirmou
também que a questão da demarcação e decreto do parque só interessa para quem mora
na divisa, isto é, os confrontantes do PESRM.

No que é relativo à utilização do parque pela população, os entrevistados afirmaram,


em sua maioria, que as comunidades não utilizam o equipamento. Foram citados usos por
estudantes, tanto para pesquisa quanto para excursões e caminhadas ecológicas. Foi
mencionada também a função de passagem de Belo Horizonte para Casa Branca, além das
palestras sobre meio ambiente e o uso do auditório para reuniões e eventos. É importante
realçar que um dos entrevistados afirmou que atualmente a população não tem utilizado o
parque com medo da violência na estrada interna.

Quanto aos usos conflitantes no interior do parque, foram citados:


 Esporte/lazer - Motocross, ciclismo (down Hill), jipes (off road), caminhadas,
churrascos, acampamento, banho dentro da represa da COPASA;
 Atividade religiosa - Cultos afrobrasileiros e evangélicos – trabalhos com velas
acesas, pregação da semana santa, sermão da montanha, público vindo de toda a
RMBH;
 Atividade econômica (reduzida nos últimos anos) - Coleta de plantas, raramente
animais. Pastagem de gado e cavalos;
 Lançamento de lixo e desova de carcaças de automóveis, eletrodomésticos,
cadáveres.
Ao serem questionados a respeito do relacionamento da comunidade e suas
entidades com a administração do parque os entrevistados informaram que há parcerias em
andamento, ainda que de maneira tímida e às vezes um pouco distante. Foram citadas
reuniões para resolução de questões em comum – estrada, manejo do parque, formação de
brigadas de incêndios, estabelecimento de convênios para preservação do parque (ex:
caminhão-pipa disponibilizado pela Prefeitura de Ibirité). Outra parceria mencionada foi a
manutenção, por parte da comunidade de Casa Branca, de um posto policial (carro e
pessoal) para ajudar na vigilância.

Por outro lado, houve vários entrevistados que consideraram negativo ou inexistente
o relacionamento com a administração do parque. Nas palavras de um deles: “não se
apresentam, não tem contato com a comunidade, não dão informações de espécie alguma”.
Outras informaram que até então não existia relacionamento e que este está iniciando agora
com a presença do gerente de comunicação, Roberto Bendia, “que trouxe um pouco de

132
proximidade do parque com a região, através de reuniões informativas sobre o que acontece
lá” e a criação do viveiro escola.

Todos os entrevistados foram unânimes em afirmar que o parque não traz pontos
negativos ou prejuízos à comunidade. Ao contrário, apontam benefícios diversos desta
proximidade, realçando:
 Preservação ambiental e vigilância;
 Controle do crescimento desordenado e da invasão de terras;
 Contribui para a fixação da população no local – pela natureza;
 Ajuda na educação ambiental – convivência com área verde requer um profundo
envolvimento e aprendizado para a população;
 Qualidade de vida, ajudando ainda na auto-estima da população;
 O oxigênio, ar puro, diminuição da poluição, o clima, as nascentes, a paisagem muito
bonita, contato com a natureza;
 Delimita o bairro Jardim Canadá;
 É um dos maiores atrativos da região.
Houve dois entrevistados que afirmaram que o parque poderia trazer benefícios para
a região, isso se houvesse algum projeto conjunto, alguma parceria com a comunidade para
lazer, turismo, geração de emprego para população local na parte de limpeza, vigilância, etc.

Por outro lado, as lideranças locais consideram que as populações dos bairros do
entorno são responsáveis por uma série de prejuízos ao PESRM. Nesse sentido, foram
citados:
 Colocação de fogo no lixo, ameaçando o parque;
 Depredação pela população dos loteamentos, que desmata a área verde na fronteira
com o parque, secando nascentes;
 Presença de lixão no limite do parque, em Ibirité;
 Cortam madeira, roubam plantas, levam animais para pastar, poluem as nascentes
com lixo;
 Utilização do parque para pastagem de animais.
A maioria dos entrevistados avalia que o parque tem como função primordial a
proteção de mananciais de água e vegetação típica, manutenção da fauna e preservação
ambiental. Entretanto, há muitos que realçam a importância do PESRM como ponto cultural
e histórico, como local para a recreação da população. Um deles mencionou o papel do
parque na restrição do crescimento urbano desordenado, como barreira física para esta
expansão.

Muitos consideram que tais funções são adequadas, mas outros entrevistados
consideram que o parque deveria desempenhar outros papéis diferentes:
 Turismo, monitorado e supervisionado, a partir do plano de manejo;
 Atendimento a escolas e estudantes, com maior divulgação;
 Divulgar, disseminar o conhecimento sobre a vegetação do cerrado para a
população adquirir envolvimento e responsabilidade com o local;
 Oferta de área de lazer para a comunidade;
 Pesquisa na área da medicina alternativa;

133
 Área para treinamentos de jardineiros, plantio de hortas, etc.
 Ponto cultural, histórico e de educação ambiental.
Ao serem levados a pensar a respeito do que deveria ser proibido e o que deveria
ser permitido no interior do parque, os entrevistados teceram uma série de considerações a
respeito de condutas e atitudes da população e deram sugestões para o manejo do parque.

Na opinião das lideranças da região, no interior do parque deveria ser permitido:


 Realização de pesquisas;
 Implantação de um parque para crianças;
 Criatório de peixes;
 Turismo controlado, caminhadas ecológicas monitoradas;
 Área de lazer com segurança, sem prejuízo à natureza;
 Atividades de educação ambiental, acoplando lazer e cultura – trilhas com guias,
atividades culturais, palestras sobre preservação;
 Observatório, conhecimento das nascentes, com o devido cuidado;
 Orientação sobre o cultivo das plantas existentes no parque.
Por outro lado, o que os entrevistados consideram que deveria ser proibido são
condutas que hoje já são consideradas inadequadas ou conflitantes, mas que continuam a
ser desenvolvidas pela população. Exemplos das proibições sugeridas são:
 Utilização de qualquer veículo motorizado fora da estrada;
 Acampamentos – causam lixo, depredação;
 Acesso às áreas de preservação;
 Pesca, caça, corte de árvores;
 Atividades com uso de fogo, bebidas alcoólicas e atividades religiosas;
 Trânsito de caminhões e veículos pesados em geral;
 Presença de animais domésticos – cavalos, cachorros, gado;
 Turismo indiscriminado que gera sujeira e depredação;
 Lixo, queimadas, churrasco, fumar.
Quanto às sugestões dos líderes locais de ações ou projetos que poderiam ser
desenvolvidos em parceria entre o Parque do Rola Moça e as comunidades do entorno,
foram:
 Incentivo e apoio do parque ao licenciamento ambiental dos condomínios do entorno;
 Implantação de um projeto turístico, treinando a comunidade para ser guia,
ministrando todo tipo de esclarecimento para respeitar e proteger o local;
 Instalação de centro de educação ambiental no lixão de ibirité, para recuperação da
área, educação e conscientização da população;
 Implantar sistema de sinalização e instruções de utilização – vigilância, proibição de
armas, inclusive brancas;
 Investimento em educação ambiental;
 Estímulo às atividades de socialização no interior do parque – piquenique, ciclismo,
etc;

134
 Seminários com o empresariado, palestras em escolas e no parque para sua
preservação, cursos ambientais, preservação de hortas, plantações, conhecer as
plantas locais e saber cultivá-las;
 Controle e vigilância da região – área do precipício, desova de automóveis roubados,
peças e cadáveres;
 Parceria com a comunidade trabalhando como vigilantes da região.
Algumas destas sugestões foram incorporadas às propostas do meio antrópico para
o Plano de Manejo e serão apresentadas mais adiante neste trabalho.

3.5.8. Grupos de Interesse

3.5.8.1. Grupos de Interesse Primário

São aqueles com atividades diretamente influenciadas pelo parque:

 Instituto Estadual de Florestas (IEF): Cabe ao IEF coordenar, executar a política


florestal e de gestão da pesca no Estado, além de administrar as Unidades de
Conservação Estaduais de modo a assegurar a consecução dos objetivos e a
consolidação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC).

 COPASA: Cabe à COPASA a conservação dos seis mananciais presentes no


parque, decretados como Áreas de Proteção Especial pelo governo estadual,
responsáveis pelo abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo
Horizonte (Áreas de Proteção Especial Rola-Moça, Taboões, Bálsamo, Catarina,
Barreiro, Cercadinho, Rio Manso, Serra Azul, Fechos e Mutuca), bem como as
responsabilidades e atribuições pertinentes à da gestão compartilhada do PESRM,
em acordo com o IEF.

 Área de Preservação Ambiental Sul - APA Sul : Criada em 1994, (Decreto


Estadual n° 35.624, de 8 de junho de 1994, posteriormente alterado pelo Decreto
Estadual n° 37.812, de 8 de maio de 1996), a APA-SUL, unidade de conservação de
uso sustentável, abrange o PESRM. Busca compatibilizar as atividades produtivas
com os interesses conservacionistas, envolvendo coleta e uso, comercial ou não,
dos recursos naturais. Engloba parte dos municípios de Barão de Cocais, Belo
Horizonte, Brumadinho, Caeté, Catas Altas, Ibirité, Itabirito, Mário Campos, Nova
Lima, Raposos, Santa Bárbara, Sarzedo e todo o município de Rio Acima,
totalizando cerca de 1.651,6 km2 .

Na APA-SUL estão presentes duas grandes bacias hidrográficas, a do rio São


Francisco e a do rio Doce, que respondem pelo abastecimento de aproximadamente
70% da população de Belo Horizonte e 50% da população de sua região
metropolitana. J.M. (Assessoria de Comunicação da SEMAD / Eleuza Passos,
SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE DE MINAS GERAIS. Notícias da
SEMAD, Data: 09/07/2001 in http://www.arvore.com.br/noticia/n0907_1.htm em
dezembro de 2005).

 Entidades de Ensino e Pesquisa: A Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG,


a Pontifície Universidade Católica de Minas Gerais, PUC-MG, o Centro Tecnológico
de Minas Gerais, CETEC, a Fundação Zoobotânica e a Fundação Biodiversitas são
instituições afins à cooperação em pesquisas no parque, além de apoio na
implantação de programas e projetos de educação e conservação ambiental.

135
Possibilidade apoio à população de entorno e realização de atividades com
visitantes.

 Corpo de Bombeiro: O Centro Integrado do Corpo de Bombeiros localizado na


região do parque, próximo a APE Barreiro, é responsável pelo monitoramento,
prevenção e combate a incêndios dentro dos limites e adjacências do PESRM,
através do Centro Integrado de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais.

 Minerações Brasileiras reunidas S/A – MBR: Opera a mais de 40 anos na região


do PESRM com a exploração de jazidas de minério de ferro, das Minas de Mutuca,
Capão Xavier, Tamanduá e Capitão do Mato. Ações de compensação ambiental
provenientes principalmente da Mina Capão Xavier beneficiam ao PESRM em torno
de R$ 100 mil anuais durante toda a vida útil da mina. Participa do Centro Integrado
de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais no PESRM.

 Comunidade Casa Branca: Mantêm interesse especial com iniciativas de parceria


na manutenção da estrada interna ao PESRM, importante via de acesso ao
condomínio. Do lado sudoeste do PESRM, a comunidade de Casa Branca e seus
visitantes usam um afloramento rochoso de quartzito, chamado de “Serra das
Andorinhas”, para a prática de escalada esportiva e rappel.

3.5.8.2. Grupos de Interesse Secundário

São aqueles que são indiretamente influenciados pelo parque:

 Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM): Organizado em câmaras


técnicas, têm competência para deliberar sobre diretrizes, políticas, normas
regulamentares e técnicas, padrões e outras medidas de caráter operacional, para a
proteção e conservação do meio ambiente e dos recursos ambientais, bem como
sobre a sua aplicação pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), por meio das entidades a ela vinculadas.

 Prefeituras Municipais do Entorno do PESRM: As prefeituras de Ibirité,


Brumadinho, Nova Lima e Belo Horizonte estão de forma inerente envolvidas com o
parque, considerando que a área do mesmo está inserida nestes quatro municípios.
Cita-se o repasse relativo ao ICMS ecológico, como contrapartida para esses
municípios.

 Comunidades do entorno: Entre comunidades do entorno do parque não há uma


atividade principal, havendo uma composição de atividades que envolvem o uso de
mão-de-obra da região, notadamente para o mercado da capital Belo Horizonte. No
âmbito do entorno do parque, destacam-se algumas atividades como as extrativas
minerais, o comércio variado (casas de material de construção e de demolição,
restaurantes, pousadas), os trabalhos diversos em condomínios de luxo e nos
espaços de eventos culturais, a catação de material reciclável nos lixões das
periferias urbanas, olericultura na região de Ibirité, extrativismo vegetal e animal,
programas de governo e aposentadorias.

 Condomínios do Entorno: O PESRM é cercado por diversos condomínios


fechados, destacando-se nas suas relações: Retiro das Pedras, Casa Branca,
Jardim Canadá, Morro do Chapéu e Alphaville .

 Fórum de Desenvolvimento Sustentável de Jardim Canadá (DLIS): O “Fórum de


Desenvolvimento do Bairro Jardim Canadá” é formado por lideranças da
comunidade. O desenvolvimento de um diagnóstico participativo inicial serviu de
136
base para um plano de desenvolvimento e agenda de prioridades. Todas as
atividades previstas – prestação de serviços gerais e serviços técnicos, indústrias
não poluentes e turismo gastronômico – levam em consideração a
preservação/recuperação do meio ambiente, valorização da imagem do bairro e da
auto-estima das pessoas. (http://www.fdc.org.br/pt/responsabilidade_corporativa, em
janeiro de 2006)

 Brigada 1: É uma Organização Não-Governamental, ONG, que vem atuando desde


2001 na prevenção e combate a incêndios florestais. Sua atuação ocorre em
parceria com outras brigadas de incêndio (COPASA, Retiro das Pedras, SICAL e
Encosta da Serra). Composta em sua maioria por jipeiros, utiliza a destreza dos
motoristas e veículos 4x4 para agilizar o combate (http://www.brigada1.org.br/)

 Mineração Extrativa Paraopeba: Apesar de se encontrar desativada, manifesta


interesse na retomada de exploração do chamado “material fino” que antes era
desprezado e hoje têm valor comercial identificado com o mercado da China.

 Fundação Dom Cabral: O projeto denominado Viveiro-escola foi desenvolvido pela


diretoria de Educação Ambiental do PESRM e a Fundação Dom Cabral para
determinação da viabilidade técnica e econômica de propagação comercial de
espécies nativas ameaçadas do parque, de forma a reforçar a educação ambiental e
aumentar a preservação de espécies ameaçadas através da redução das coletas,
pela possibilidade de uma atividade econômica a partir do cultivo de plantas típicas
da região e do parque.

3.6 - Situação Fundiária

O Parque Estadual da Serra do Rola-Moça está localizado nos Municípios de Belo


Horizonte, Brumadinho, Ibirité e Nova Lima. Sua área é de aproximadamente 3.926 hectares
(três mil, novecentos e vinte e seis hectares), com limitações e confrontações constantes no
Anexo ao Decreto Estadual nº 36.071, de 27 de setembro de 1994, que criou esta unidade
de conservação. Parte desta unidade de conservação está representada na Figura 3.82.

O PESRM tem aproximadamente 80% de sua área total com situação fundiária
regularizada. No entanto, os 20% restantes pertencem às empresas de mineração e
pequenos proprietários rurais, sendo necessário a incorporação dessas áreas em caráter de
urgência. A MBR é proprietária de terrenos no interior da poligonal definida no Decreto
Estadual, num total que corresponde a cerca de 20% da área total prevista para o Parque
Estadual da Serra do Rola Moça. Existem ainda outras propriedades sendo
aproximadamente 300 hectares pertencentes a Mineração Extrativa Paraopeba, localizadas
próximo ao Mirante dos Veados e outra propriedade nas imediações de Taboões de
propriedade de Emi de Oliveira Melgaço.

A seguir é apresentado um pequeno histórico a respeito da agregação de terrenos


para se criar a unidade, principalmente em relação às propriedades da MBR. Já a Estação
Ecológica de Fechos não apresenta nenhum problema fundiário.

Até o final da década de 1940, Belo Horizonte contava apenas com os seguintes
mananciais de abastecimento de água: Serra (hoje desativado por poluição urbana),
Cercadinho, Barreiro, Taboões e Rola Moça. Face à forte demanda por água foram
selecionadas as bacias dos ribeirões Mutuca, Fechos e Catarina, para a implantação de
possíveis estruturas de captação. Entretanto, estes terrenos pertenciam à empresa St. John
D’el Rey Mining Co. – SJDR, antecessora da MBR.

137
Após uma negociação entre a Prefeitura de Belo Horizonte, PBH, e a SJDR, que à
época, manifestou seus interesses minerários na região, particularmente na área de Capão
Xavier, ficou estabelecido um acordo, em 1956, no qual algumas glebas (indicadas em
amarelo na Figura 3.77) onde não havia interesse minerário, seriam adquiridas pela PBH,
para a implantação dos mananciais de Mutuca e Fechos.

A propriedade da parcela restante das áreas nestas bacias hidrográficas, onde havia
interesse minerário, permaneceu com a empresa que, entretanto, se comprometeu a “...não
iniciar qualquer serviço daquela natureza (mineração) nas referidas glebas sem a fiel
observância das disposições do Código de Minas e das condições estabelecidas pela
Prefeitura...com a finalidade de evitar-se a poluição dos mananciais...” \1.

Em 1958 foram iniciados, pela SJDR, os trabalhos de pesquisa de minério de ferro


na região de Capão Xavier, sendo que nos mapas da época já constavam as divisas de
propriedade da empresa com a PBH. Em 1961, iniciou-se a produção de minério de ferro na
Mina da Mutuca, na bacia hidrográfica do ribeirão de mesmo nome.

Figura 3.77. Propriedades da MBR e da PBH nas bacias de Mutuca e Fechos. Fonte: MBR.

1
Escritura pública de desapropriação amigável entre PBH e SJDR.
138
No biênio 1981/1982, o Governo Estadual editou decretos definindo diversas áreas
de proteção especial para fins de preservação de mananciais (APEs), dentre as quais as
APEs de Mutuca, Fechos, Catarina e Barreiro, situadas no entorno da jazida de Capão
Xavier (Figura 3.78).

A APE Mutuca, com limitações e confrontações definidas no Decreto Estadual nº


21.372, de 1o de julho de 1981, ocupa a bacia hidrográfica do ribeirão Mutuca, a montante
do ponto de captação de águas, englobando tanto os terrenos de propriedade da PBH,
quanto aqueles de domínio da MBR.

Figura 3.78. Limites das APEs. Fonte: MBR.


139
Procurada pelo Governo do Estado, à época da criação dessa unidade de
conservação, a MBR manifestou interesse em contribuir para sua implantação, desde que
fossem respeitados os direitos minerários existentes na região próxima aos seus limites, em
especial aqueles relacionados ao desenvolvimento do Projeto Capão Xavier (Figura 3.79).

Figura 3. 79. Propriedades da MBR no interior e entorno do PESRM. Fonte: MBR

140
3.7. Fogo e outras ocorrências excepcionais

Diversos fatores têm influência sobre o início, a propagação e a intensidade dos


incêndios florestais sendo eles antrópicos, climáticos, topográficos e a presença de material
combustível (Soares 1985; Batista, 1998; Arcebispo, 2002). Os fatores de risco de ignição e
propagação são fortemente presentes no PESRM. A presença de atividades humanas
dentro ou no entorno do PESRM geram a ocorrência de chama inicial para desencadear o
processo de combustão seja por incêndios acidentais ou provocados por agricultores ou
piromaníacos (COPASA 2001). A incidência de tal impacto ocorre principalmente nas áreas
próximas a concentrações urbanas, devido à prática irrestrita e desordenada de cultos
umbandistas, que usam velas e áreas próximas a cultivos agrícolas como práticas de
limpeza de terrenos (COPASA 2001). A proximidade com áreas urbanas foi um dos critérios
adotados por Arcebispo (2002) para a elaboração de um mapa de probabilidade de
ocorrência de incêndios no PESRM (Figura 3.80).

O clima sazonal com períodos secos que se estendem por diversos meses no
PESRM (Vincent 2001) associado à alta radiação solar e velocidade do vento associa-se na
desidratação da vegetação e propagação do fogo (Soares 1972). A topografia do PESRM é
propensa à propagação do fogo e dificulta o acesso a áreas com focos de incêndios
(Arcebispo 2002). O material combustível da vegetação do PESRM é por si só, nos períodos
de seca, altamente propício à combustão. No entanto, a alta taxa de invasão do parque pelo
capim gordura, que no período de seca entra em senescência fazendo com que suas folhas
adquirem um estado fisiológico desidratado, agrava enormemente a situação. Tal
informação foi confirmada pelo Tenente Santana em entrevista realizada em maio de 2005.

Ainda, segundo Corpo de Bombeiros, o acesso irrestrito de pessoas e veículos pelo


parque e a possibilidade de trânsito por vias de terra internas aumentam a probabilidade de
ocorrência de incêndios e dificulta a fiscalização. Este foi também um dos critérios adotados
por Arcebispo (2002).

Figura 3.80. Probabilidade de ocorrência de fogo no PESRM. Pontos em vermelho indicam maior
probabilidade. Fonte: Arcebispo 2002.

141
3.7.1. Histórico de Incêndios

Segundo Arcebispo (2002) o PESRM, dentre as unidades de conservação


administradas pelo IEF, é o que apresenta maior incidência de incêndios florestais. Segundo
dados desta autora e da COPASA (2001), o fogo consome grandes extensões do parque e
seu entorno, sendo que em 1994 foram atingidos 1.275,52 hectares e em 1999, 704,61
hectares (Arcebispo, 2002). Até 2002, o parque não possuía nenhum estudo sobre a
probabilidade de ignição, propagação e comportamento do fogo em seu território, bem como
mapas que possam auxiliar os monitoramentos e combates a incêndios. Segundo o Corpo
de Bombeiros, não existe um mapeamento geográfico de vias internas e trilhas que possa
ser usado nas ações de combate a incêndios.

Um estudo realizado recentemente por Alan Daniel Pessoa (dados não publicados)
aponta o ano de 2003 como o de maior incidência de incêndios, desde 1999 (Figura 3.81).
Esse estudo mostra ainda que nos meses de inverno (correspondentes ao período seco)
são registradas as maiores ocorrências.

Vale a pena destacar que em 2004, ano de instalação do Centro de Monitoramento e


Combate a Incêndios Florestais no PESRM, apenas quatro ocorrências foram registradas,
todas no mês de agosto.

Dezembro 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Novembro

Outubro

Setembro

Agosto

Julho

Junho

Maio

Abril

Março

Fevereiro

Janeiro

0 20 40 60 80 100
Número de ocorrências

Figura 3.81. Evolução das ocorrências de incêndios no PESRM de 1999 a 2005. Dados: Alan Daniel
Pessoa.

142
Nesse período (1999 a 2005) a maior freqüência de incêndios (42,64%) ocorreu no
período da tarde e a menor freqüência pela manhã (Figura 3.82). Em 15.19% das
ocorrências o período do dia não foi mencionado.

15.19%
27.55%
Manhã
14.62% Tarde
Noite
Não mencionado

42.64%

Figura 3.82. Freqüência das ocorrências de incêndios no PESRM de 1999 a 2005 nos três períodos
do dia. Dados: Alan Daniel Pessoa

3.8. Uso público do Parque Estadual da Serra do Rola Moça

Este trabalho, ao envolver áreas temáticas diversas, procura analisar atividades


passíveis de serem realizadas dentro do Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM)
sob a perspectiva do Uso Público. De acordo com o IBAMA (1996), o objetivo deste relatório
deve buscar “ordenar, orientar e direcionar o uso da unidade de conservação pelo público,
promovendo o conhecimento do meio ambiente como um todo”.

O Decreto Federal Nº 84.017 de 21 de setembro de 1979, que regulamenta os


Parques Nacionais Brasileiros, destaca diversas atividades comuns às unidades de
conservação, muitas destas diagnosticadas no PESRM, como atividades potenciais:
“atividades desenvolvidas ao ar livre, os passeios, caminhadas, escaladas, contemplação,
filmagens, fotografias, pinturas, piqueniques, acampamentos e similares, devem ser
permitidos e incentivados, desde que se realizem sem perturbar o ambiente natural e sem
desvirtuar as finalidades dos Parques Nacionais” (BRASIL, 1979). Embora esta legislação
seja direcionada para os Parques Nacionais, acredita-se que seja aplicada também aos
Parques Estaduais e outras categorias de áreas protegidas.

Após a criação do PESRM (Lei 4.495 de 14 de Junho de 1967) e considerando a sua


diversidade biológica e potencial turístico, a elaboração do Plano de Manejo da unidade
deve contemplar as atividades a serem desenvolvidas dentro do Parque e as desenvolvidas
pelos moradores do seu entorno. Uma das alternativas para a auto-sustentação do parque
recai sobre a atividade turística regional e local. Entretanto, o simples exercício dessa
atividade pode acarretar impactos sobre os componentes da biodiversidade. Assim,
143
qualquer ação a ser proposta e executada no parque deve respeitar os critérios relacionados
à preservação do meio ambiente, respaldado por um constante monitoramento dos impactos
ambientais e ações mitigadoras.

As ações e planos propostos no presente Plano de Manejo foram determinados a


partir das considerações e análise de viabilidade da tríplice: atividade turística, conservação
dos recursos naturais e logística de vigilância. A exclusão de áreas de importância científica
ou habitats de espécies raras, endêmicas e/ou ameaçadas, bem como locais que abrigam
formações vegetais substanciais à biota local, somente foi possível a partir da interação da
equipe de Uso Público com as demais equipes temáticas.

3.8.1. Influência regional para o desenvolvimento do Uso Público na UC

O Parque Estadual da Serra do Rola Moça é administrado por uma integração entre
a COPASA (Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais) e o IEF (Instituto
Estadual de Florestas). Além dessas duas instituições, o parque também sofre a influência
de diversas empresas circunvizinhas, principalmente da MBR, da Mannesman, da Itaminas,
da Extrativa Paraopeba e da SICAL. Complementando o quadro de influências, outros
atores são as Prefeituras de Brumadinho, Ibirité, Regional da Prefeitura de Belo Horizonte -
Bairro Barreiro e Regional da Prefeitura de Nova Lima - Bairro Jardim Canadá. Participam
do seu entorno social, os moradores dos condomínios Retiro das Pedras, Quintas de Casa
Branca, Morro do Chapéu e Passárgada, dos bairros Mineirão e Independência, do
loteamento Solar do Barreiro e sitiantes do município de Ibirité.

A diversidade e quantidade de atores possibilitam grande potencial de formação de


alianças entre as empresas, moradores e a gerência do parque, o que pode auxiliar a sua
administração, bem como aumentar o leque de oportunidades mediante a sua exploração
sustentável. A sinergia entre os atores e a delegação de responsabilidades aos mesmos,
com base em seus potenciais intrínsecos, pode ser útil para atividades de fiscalização, como
o combate a incêndios, e também para a interpretação ambiental e educação
ambiental/patrimonial. A atuação do Conselho Consultivo do PESRM, que pode atuar como
facilitador no processo de formação de alianças, além de contribuir, de forma efetiva, para a
sua administração.

O PESRM abrange parte de quatro municípios: Belo Horizonte, Ibirité, Brumadinho e


Nova Lima. A área de influência do parque é bastante extensa, uma vez que está localizada
confrontante a regiões de alta densidade populacional, principalmente nos bairros que se
limitam ao município de Belo Horizonte: Olhos D’água, Alto Mineirão, Mineirão, Solar,
Milionários, Independência e Jatobá. Nestes locais, os limites do parque são pouco definidos
e a situação ambiental e social da área é precária, devido à aglomeração urbana de baixa
renda. Observam-se, em diversos pontos, a ausência de saneamento básico e fiscalização,
além de alta incidência de criminalidade.

Belo Horizonte é uma metrópole com uma densa população e a situação ambiental é
comum aos grandes centros urbanos brasileiros, onde as áreas marginais dos municípios
sofrem com precárias condições de infra-estrutura urbana. O uso e a ocupação do solo na
sua região sul, onde se limita com o PESRM, é basicamente feito por indústrias e, em
especial, nos bairros Barreiro e demais bairros próximos, destinado à moradia de população
de baixa renda. Os aspectos referentes ao turismo do município, de modo geral, giram em
torno dos negócios, feiras e eventos.

A área de fronteira do parque com o município de Ibirité é caracterizada,


principalmente, pela presença de propriedades rurais. Limítrofe à cidade de Brumadinho,
ainda em Ibirité, há a presença do lixão, onde famílias coletam diariamente material
reciclável para venda. Há pontos com ocorrência de extração de terra em uma mina
144
desativada, onde, segundo moradores, são realizadas pela Prefeitura de Ibirité para uso em
capeamento de vias e aterros. Há presença de catas antigas de mineração do século XVIII.
Na região, a criminalidade e violência são extremamente altas, não existe fluxo turístico e a
integridade ambiental encontra-se extremamente ameaçada, devido às práticas descritas do
uso do solo.

Em Brumadinho, o PESRM confronta com os limites do distrito de Casa Branca, que


possui diversos condomínios fechados e exploração dos atrativos naturais pelo turismo.
Observa-se a presença de equipamentos e serviços, principalmente para a prática do
turismo ligado à natureza. Há, ainda, certo controle com relação aos impactos ambientais
nesta região. No entanto, como o município ainda não possui Plano Diretor, o seu
crescimento já pode ser caracterizado como desordenado, podendo prejudicar
ambientalmente a região.

Em Nova Lima, no limite com o parque, o uso e ocupação do solo desordenado do


bairro Jardim Canadá, proporciona a presença tanto de instalações residenciais como
industriais, prejudicando a organização social, fiscalização e preservação ambiental da
região. O fluxo turístico se concentra na prática de esportes como mountain-bike e trail com
veículos motorizados, em áreas onde tal prática não é autorizada, em terrenos da empresa
MBR, em adjacências de condomínios e no PESRM. A situação ambiental é aparentemente
precária, uma vez que o bairro se localiza a montante de mananciais de abastecimento de
água, funcionando como área de recarga dos mesmos.

A Estação Ecológica de Fechos encontra-se dentro dos limites do município de Nova


Lima que, recentemente, permitiu o loteamento do entorno desta UC, causando impactos
graves ao território, em especial, à manutenção e preservação dos ecossistemas naturais.
Apesar da presença de uma cerca, próximo ao limite com o bairro Jardim Canadá, há
indícios de que ela seja, constantemente, deitada para a passagem de veículos. Por
conseguinte, a área sofre com a visita irregular de ciclistas e motociclistas, bem como com o
despejo de lixo e entulho, incêndios, invasão de animais domésticos, coleta de plantas e
atividades com potencial impactante e poluidor.

3.8.2. Metodologia utilizada no diagnóstico

Em um primeiro momento foi feita a coleta de dados bibliográficos, com o objetivo de


orientar o diagnóstico e o planejamento, além de aperfeiçoar a coleta de dados primários. As
pesquisas de escritório buscaram obter o máximo de informações possíveis relacionadas ao
PESRM e região, incluindo os mapas da região até então disponíveis. Um resumo
esquemático sobre as etapas consideradas pela equipe de Uso Público durante o
diagnóstico do Plano de Manejo é apresentado na Figura 3.83.

O formulário da Avaliação Ecológica Rápida (AER), apresentado pela coordenação


do Plano de Manejo, foi adaptado para melhorar a coleta de informações em campo sobre o
turismo na unidade e região. A caracterização dos atrativos, trilhas, segurança e infra-
estruturas existentes foram realizadas a partir de diversas visitas ao parque e com auxílio da
AER, de fotografias, do mapeamento elaborado, de forma a representar toda a extensão do
PESRM.

Os atrativos turísticos atuais e potenciais do PESRM foram avaliados a partir de


atividades de campo, entrevistas com funcionários e visitantes, além de informações já
existentes, obtidas na base de dados do Instituto Estadual de Florestas (IEF).

145
Pesquisa de gabinete Entrevistas qualitativas Visitas de campo para
Mapas com os pesquisadores reconhecimento da área
Dados secundários dos meios Biótico e e Pesquisa com os
Físico funcionários

Aplicação de Planejamento para Acompanhamento da


questionários de pesquisa coleta de dados de visitação atual
de demanda atual campo

Elaboração do Diagnóstico:
Literatura;
AER;
Fotos;
Mapeamento;
Capacidade de Carga.

Definição do Uso Público Elaboração dos mapas -


Zoneamento da UC e Prognóstico
USO PÚBLICO

Produção do Relatório
Final – USO PÚBLICO

Figura 3.83. Resumo esquemático das atividades definidas e executadas pela equipe responsável
pelo diagnóstico do uso público para a elaboração do plano de manejo do Parque Estadual da Serra
do Rola Moça, Minas Gerais.

A avaliação do perfil da demanda dos visitantes, tanto qualitativa como quantitativa,


foi realizada através de um formulário elaborado especificamente para esta finalidade. A
pesquisa de demanda foi caracterizada como entrevista estruturada, para facilitar a sua
aplicação e acompanhar a sazonalidade aparente, uma vez que o parque não possui
estudos detalhados sobre este tema. Desta forma, os pontos de maior fluxo de pessoas,
como a portaria do Centro Integrado e do Jardim Canadá, foram identificados como pontos-
chave para a aplicação de questionários. Foram aplicados 100 questionários durante a
semana e outros 100, durante os finais de semana.

A determinação do perfil socioeconômico e cultural dos visitantes, bem como a


caracterização do parque como atrativo turístico e o relacionamento do público com este,
foram os principais focos do estudo. Buscou-se o conhecimento do uso público praticado
atualmente na unidade, enfatizando, assim, os locais mais visitados, os de grande potencial
de visitação e os desconhecidos. Também se buscou informação acerca dos aspectos
histórico-culturais e infra-estrutura de serviços presentes nas comunidades do entorno.

De posse da estimativa de freqüência da visitação aos atrativos atuais, iniciou-se a


análise dos impactos ambientais causados pela visitação. Em seguida, foram realizadas
entrevistas qualitativas com os pesquisadores responsáveis pelos meios biótico e físico da
AER para identificar as percepções destes especialistas sobre as convergências e/ou

146
divergências entre o potencial de uso dos atrativos identificados e o risco ambiental
associado à sua manutenção.

Na junção dos indicativos da demanda do uso público atual e dos impactos


decorrentes da visitação, avaliaram-se os fatores positivos e negativos. Também foram
avaliados os procedimentos padrões atuais de condução da visitação pelos funcionários da
unidade em cada atrativo. Além disso, por meio de um diagnóstico, determinaram-se as
intervenções, normas e recomendações a serem implantadas e adequadas a cada ponto ou
sítio de visitação.

Também foi executada a avaliação da Capacidade de Carga de cada atrativo


potencial, determinando áreas propícias à visitação turística, indicando prioritariamente o
monitoramento constante dos indicativos que possibilitam observar os efeitos negativos da
visitação sobre o espaço atrativo. Esta avaliação levou em consideração os resultados da
AER de Uso Público e os resultados dos levantamentos das equipes dos meios biótico,
físico e antrópico. O principal objetivo desta avaliação foi determinar os limites máximos
aceitáveis de alteração e/ou impacto por visitação, segundo a metodologia de Cifuentes
(1992).

Após análise das áreas atualmente visitadas, impactos e áreas potencialmente


favoráveis à visitação, foi estabelecido o zoneamento da UC, numa justaposição dos
resultados obtidos por todas as equipes. O agrupamento das restrições e favorecimentos de
áreas específicas permitiu a determinação de um zoneamento coerente com a realidade
local, com fins de estipular as áreas destinadas ao uso público no PESRM. Com base nos
dados coletados, uma análise atual do uso público no PESRM foi realizada indicando o
usufruto atual dos visitantes, bem como as áreas potenciais à visitação.

Como a única forma de visitação organizada do PESRM é realizada para grupos


escolares, a avaliação foi concebida através do acompanhamento de uma destas visitas,
presidida pelo Gerente de Comunicação em exercício, Sr. Roberto Bendia. Com as
informações coletadas foi possível perceber as possíveis intervenções, normas e
recomendações a serem incorporadas à visitação, do ponto de vista geral e específico,
substanciais à preservação do meio ambiente e educação ambiental.

Por último, foi elaborado o cenário futuro para o uso público do parque através da
extrapolação de todas as informações obtidas durante o diagnóstico sobre o Uso Público no
PESRM, além das experiências bem sucedidas de outros parques no Brasil e no mundo.

3.8.3. Descrição das características de cada localidade avaliada

A divisão do PESRM em sítios de amostragem permitiu o diagnóstico do uso público


para cada um dos sítios. A seguir é apresentada a localização de cada sítio e informações
relevantes sob o ponto de vista ambiental e do uso público.

3.8.3.1. Sítio I - Mineração

Este sítio encontra-se ao longo do trecho que liga o Centro Administrativo a Ibirité.
De seus pontos altos pode-se visualizar do lado esquerdo da estrada a parte sudoeste do
PESRM, e do lado direito, sua parte noroeste. Nesta região foram registrados relatos de
apreensões de caçadores e da captura de pássaros.

Do lado sudoeste, há um afloramento rochoso de quartzito, chamado de “Serra das


Andorinhas”, utilizado pela comunidade do distrito de Casa Branca e seus visitantes para a
147
prática de esportes com corda, como escalada esportiva e rappel. O conhecimento sobre o
potencial desta área para estas atividades é difundido entre os praticantes, o que é
explicitado pelo fato de que uma fotografia com indicações de “vias” de escalada circula
entre eles (Figura 3.84). Tal localidade apresenta grande potencial para o uso de turismo
ligado à natureza. No entanto, a oficialização e comercialização de seus atrativos como tal e
as estimativas da capacidade de carga dos mesmos, dependem de informações geradas
pelos levantamentos bióticos, principalmente os de ornitologia e botânica.

Levantamentos detalhados e monitoramentos de impactos são necessários para o


pleno conhecimento da fauna e flora rupícola existente e para a sua conservação. Estes
conhecimentos estão, atualmente, limitados aos resultados da Avaliação Ecológica Rápida
(AER) do presente plano de manejo.

Figura 3.84. Fotografia divulgada entre os praticantes de escalada, indicando as vias existentes na
Serra das Andorinhas, Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

Na estrada asfaltada, há um entroncamento que dá acesso à região de Ibirité. A


estrada é caracterizada pelo trânsito freqüente de marginais para práticas criminosas, como
desovas de cadáveres e veículos roubados. Além disso, ruínas de atividades de mineração
desativadas são usadas como esconderijos e para o consumo de drogas.

Do lado noroeste, seguindo a estrada no sentido de Ibirité, existem ruínas da antiga


Mineração Santa Paulina, que consistem numa antiga cava e casa de explosivos. Na cava
existem duas ilhas de blocos de terra: uma com restos de muro de pedra, aparentemente,
feito à mão, e datado de séculos passados (Figura 3.85) e outra com parte de uma casa.
Nas proximidades da mina são visíveis catas que datam, possivelmente, de uma mineração
de séculos passados.

148
Figura 3.85. Restos de uma mina na região de Santa Paulina, Parque Estadual da Serra do Rola
Moça, MG.

Também se encontra no lado noroeste desse sítio, o Lixão Sarzedo, onde várias
famílias trabalham, diariamente, como catadores de material reciclável. Durante a manhã,
pode-se confirmar a chegada de inúmeras pessoas que, no final da tarde, esperam carona
para o retorno a Ibirité. Segundo Peixoto (2004), é também comum o acampamento e
pernoite destas pessoas em um eucaliptal, localizado ao lado do lixão.

O tráfego de tratores e de caminhões em direção ao lixão e à Mineração Santa


Paulina é intenso e, geralmente, ocorre em alta velocidade. Tal tráfego de veículos gera o
levantamento de muita poeira e aumenta o risco de acidentes, atropelamento de fauna e de
visitantes do parque.

Assim, os principais problemas vislumbrados no sítio pela equipe do uso público


foram:
 O Lixão Sarzedo, que, por encontrar-se a montante do manancial Taboões
pode contaminar os lençóis freáticos que o abastecem;
 A Mineração Santa Paulina que, apesar de declarar-se legalmente
desativada, ainda é utilizada para a retirada de terra pela prefeitura de Ibirité,
o que pode desencadear riscos de erosão em áreas adjacentes.
 O risco de invasão biológica de plantas e animais exóticos;
 O trânsito irrestrito de pessoas e veículos na estrada;
 O constante risco de queimadas;
 A criminalidade;
 A caça também representa ocorrência nociva para a manutenção deste sítio.
Próximo à área limítrofe do PESRM cresce a necessidade de atenção com a
expansão da borda de um eucaliptal, ocorrida por dispersão espontânea, fato evidenciado
pela incidência de plântulas jovens. Tais áreas poderiam servir como fonte de madeira para
suprimento de eventuais demandas de infra-estrutura do parque, incluindo uso público.

149
Apesar dos problemas citados, o distrito de Casa Branca e o sítio Mineração
possuem aspectos ecoturísticos, paisagísticos e histórico-culturais, que poderiam ser
utilizados de forma integrada.

3.8.3.2. Sítio II - APE Taboões

O Sítio APE Taboões caracteriza-se pela proximidade do Sítio Mineração,


juntamente com todos os seus problemas. Além disso, a proximidade da cidade de Ibirité,
que, de acordo com os levantamentos sócio-econômicos, apresenta pouca organização
social, dificulta ações efetivas e de resultado para a preservação ambiental e utilização
turística na região.

A portaria localizada na estrada que liga o sítio a Ibirité foi ativa por algum tempo e,
segundo funcionários da COPASA e Polícia Militar Ambiental de Nova Lima, foi abandonada
depois que um porteiro testemunhou um assassinato. Suas ruínas são hoje utilizadas como
esconderijo de criminosos e para práticas de consumo de drogas, além da depredação. É
extremamente preocupante o fato de que os criminosos que transitam na área normalmente
portam armas de fogo, fato evidente em toda a estrutura da referida guarita, na qual se
identificam diversas marcas de projéteis. A intensa presença e circulação de criminosos são
comuns tanto neste sítio quanto no da Mineração, uma vez que estes são adjacentes.

Os mananciais Taboões I e II estão presentes neste sítio, sendo que o primeiro


apresenta grande beleza cênica, podendo ser amplamente utilizado para a educação
ambiental. Segundo a equipe de Limnologia, poderiam ser abordados temas como a
importância e qualidade das águas e a observação de fauna, principalmente no período de
chuva, quando é intensa a atividade de vocalização de anfíbios anuros (período de
reprodução). Destaca-se o cultivo de pomares e plantas ornamentais exóticas nas
barragens, o que proporciona a disseminação de espécies exóticas para o parque, fato
também grave nas áreas próximas à área urbana.

Existem, ainda, riscos de contaminação dos lençóis freáticos que abastecem os


mananciais pelo lixão, assim como o trânsito irrestrito de pessoas e veículos pela estrada, o
que favorece o aumento da taxa de criminalidade.

3.8.3.3. Sítio III - APE Bálsamo

A característica marcante desse sítio é a presença da Serra do Rola Moça, que


possui os mirantes Jatobá e Morro dos Veados, ambos com grande beleza cênica. O fato de
tais mirantes configurarem-se como as áreas mais visitadas em toda a área do PESRM e a
presença dos mananciais Rola Moça e Bálsamo, reforçam a importância deste sítio. A parte
baixa da Serra do Rola Moça limita-se com a região do município de Ibirité e, na parte alta,
com a Mineração Extrativa Paraopeba.

As áreas de manancial localizadas na base da Serra do Rola Moça, com acesso pela
estrada que passa pela Mineração Santa Paulina e pelo lixão, são os principais locais de
desovas de cadáveres e veículos da região. Neste local, onde criminosos buscam peças dos
veículos desovados, observa-se o livre acesso à prática de atividades ilícitas. Percebe-se
uma contradição nos aspectos do uso desta área, que durante o dia é utilizada pelos
visitantes à procura da beleza e tranqüilidade da serra, e durante a noite é utilizada para
atividades criminosas.

Próximo aos mananciais observa-se um número considerável de residências, cultivo


de hortas e pomares, além da criação de animais domésticos. Segundo Peixoto (2004), o
150
cultivo familiar nestas residências é constituído, principalmente, por ervas medicinais e
condimentos. Tal fato indica uma alternativa de renda para a população local, caso a
produção se volte para a comercialização turística de produtos fitoterápicos. O potencial de
projetos de capacitação de produtores rurais para a produção e comercialização de plantas
medicinais já foi vislumbrado pela gerência do PESRM por meio de um projeto, em parceria
com a FDC, e com alunos de pós-graduação da UFMG, para a região do Jardim Canadá
(Ranieri, 2005). Tal projeto, intitulado “Viveiro Escola”, pode ser interessante para a
integração das comunidades com o PESRM, visando o seu desenvolvimento sustentável
(Ranieri, 2005).

A incidência de uma área preservada de vegetação de Cerrado strictu sensu é um


fator que remete a um cuidado especial quanto à preservação deste sítio (ver informações
sobre a flora do parque). Tal formação vegetal potencializa a observação e o uso para
finalidades turísticas e educativas sobre a flora entre os visitantes do parque. Algumas
trilhas que atualmente passam próximas a esta formação vegetacional podem tornar-se
atrativas, do ponto de vista ecoturístico e educativo. No entanto, ressalta-se que, a partir de
seu manejo correto, deverão ser respeitados os limites da capacidade de carga destas
trilhas e o zoneamento proposto para a unidade de conservação.

É comum, neste local, a extração predatória de material vegetal como cascas de


barbatimão (Striphrodendron polyphyllum), ramos de “arnica” (Lychnophora pinnaster e
Lychnophora ericoides), touceiras de “marcela do campo” (Achyrocline albicans) e de
“carqueja” (Baccharis trimera), além de frutos de diversas espécies como “jatobá”, “pequi” e
“gabiroba”, para uso alimentar e medicinal. Estudos de manejo sustentável e propagação
dos recursos naturais presentes na região, pelas populações tradicionais do entorno, a
exemplo do projeto “Viveiro Escola” supra citado, poderiam possibilitar a conservação da
flora, o resgate de conhecimentos tradicionais e a integração destas populações com
questões intrínsecas ao parque.

A presença de um eucaliptal, próximo ao limite do parque e de populações da


espécie exótica invasora “capim-meloso” (Mellinis minutiflora) próximas ao Cerrado strictu
sensu é, de certa forma, preocupante e demanda ações de controle e erradicação da
população desta espécie.

3.8.3.4. Sítio IV - Região do Barreiro

Este sítio faz divida, em sua parte norte, com os bairros Independência, Alto
Mineirão, Barreiro e a favela Gogó da Gia e, na parte sul, com o Bairro Solar e a indústria de
alumínio SICAL. O ponto marcante deste sítio é o antigo Parque Municipal Jatobá, que se
integra ao território do PESRM e onde se encontra a nascente do Rio Arrudas (Figura 3.86).
Em toda a área do antigo Parque Jatobá não há delimitação do terreno, e percebem-se as
invasões e diversas outras ameaças a que o PESRM é exposto como os freqüentes bota-
foras de lixo.

A indústria de alumínio SICAL, segundo o gerente em exercício do PESRM, o Sr.


Paulo Emílio Guimarães Filho e o oficial do Corpo de Bombeiros, Tenente Santana, sempre
teve um relacionamento de respeito com o parque. No entanto, a recente venda do
empreendimento vem gerando preocupação quanto à continuidade das ações que a
empresa exercia na região.

151
Figura 3.86. Região da nascente do rio Arrudas no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

A “Estrada dos Sertões” que passa por este sítio é o antigo acesso da região do
Barreiro até a cidade de Brumadinho e, hoje, é utilizada para passeios recreativos a cavalo.
Esta estrada apresenta trechos de calçamento aparentemente antigos, remetendo-se ao
poema de Mário de Andrade, o que atribui grande valor histórico-cultural a esta região.

Atividades religiosas de grupos evangélicos e umbandistas são freqüentes, irrestritas


e não possuem monitoramento, no local chamado de “Morro dos Evangélicos” e em
encruzilhadas das estradas de terra. A atividade dos evangélicos consiste do trânsito de
pessoas solitárias ou em grandes grupos para orar nas elevações do terreno. Tal atividade
gera pressões impactantes de pisoteio da vegetação, alargamento e erosão de trilhas e
deposição de grande quantidade de lixo, principalmente papelões e restos de estofados,
utilizados para se sentarem durante o percurso. Segundo o Corpo de Bombeiros, esta
atividade religiosa é a principal causa de incêndios no PESRM devido ao uso indevido e
indiscriminado de velas e fogueiras. A “Cachoeira do Bicão” sofre enormemente com a
poluição originada das práticas dos umbandistas, os quais deixam, diariamente, grandes
quantidades de alimentos, recipientes e embalagens, utilizados como “despachos”.

Neste sítio existem, ainda, dois campos de futebol, com intensa visitação de
moradores do entorno, porém sem controle ou restrição do setor responsável pela
fiscalização do PESRM. Um dos campos de futebol, de terra batida, é obra da Prefeitura de
Belo Horizonte, apresentando dimensões próximas às de um campo oficial e traves de ferro
sem rede. O outro campo, de dimensões menores, apresenta um gramado em péssimas
condições e traves improvisadas com madeiras de eucalipto. Nestes campos de futebol é
evidente a erosão e o lixo gerados por seus usuários favorecendo a degradação do meio
ambiente e a poluição a longas distâncias, bem como a soltura de pipas com a utilização de
“cerol”, provocando acidentes com os visitantes.

A proximidade deste sítio com a favela Gogó da Gia, dominada por grupos de
criminosos e traficantes de drogas, torna a área intransitável, preocupação comum a todos
os moradores. A equipe de uso público foi orientada por moradores locais, durante visita a
campo, a evitar o trânsito nas proximidades do bairro, uma vez que seria certa a abordagem
por assaltantes. Já houve registros de desovas de cadáveres na região do Pontilhão, na
linha de trem, e nas cachoeiras. A freqüente coleta de lenha e plantas medicinais pelos
moradores do entorno, agregado à alta incidência de incêndios, o extrativismo predatório de
152
plantas nativas e a falta de segurança neste sítio, tornam inviáveis, na situação atual, a
implantação de projetos de ecoturismo e pesquisa científica, apesar do potencial
identificado.

Neste sítio há a presença de três casas, destinadas à moradia de funcionários do


IEF, dentro dos limites do PESRM, nas quais ocorre a criação de animais domésticos e
cultivo de plantas exóticas, evidenciando a falta de integração e conhecimento destes
funcionários com relação às restrições e regras do parque. Em uma das casas, situada
dentro de uma Área de Proteção Permanente (Mata de Galeria) foram registradas, também,
condições precárias de saneamento e limpeza.

No bairro Solar, cuja situação fundiária é polêmica, a deposição de entulho e lixo


doméstico se expande para dentro dos limites do parque, além da criação de animais e
plantas exóticas. Próximo a este bairro existe uma cava abandonada e equipamentos de
uma antiga área de mineração que poderiam ser exploradas no aspecto histórico-cultural
(Figura 3.87). Por outro lado, esta antiga cava apresenta áreas erodidas e deve sofrer,
urgentemente, intervenções com medidas de contenção.

A região do Barreiro é uma das áreas mais visitadas do PESRM sem, no entanto,
haver controle de fluxo e permanência de pessoas. As portarias localizadas neste sítio, em
especial a que dá acesso ao Centro Integrado de Combate a Incêndios Florestais do Corpo
de Bombeiros (CICICB), sendo registrado apenas um pequeno fluxo de pessoas face ao
trânsito freqüente de pessoas no sítio, evidenciando a existência de “entradas alternativas”,
impossibilitando o controle dos visitantes e facilitando a ação de infratores e criminosos,
demonstrando seu mau posicionamento na área do parque.

Figura 3.87. Restos de uma área de mineração abandonada com focos de erosão localizada no
Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

153
3.8.3.5. Sítio V - APE Barreiro

O sítio é margeado, em sua porção norte, pelos bairros Barreiro e Olhos d’Água,
sendo caracterizado como a área mais utilizada para caminhadas e ciclismo, em razão de
sua rede de trilhas largas e planas. Sua principal característica é a presença do CICICB, no
qual os profissionais ficam de plantão 24 horas para o monitoramento, prevenção e combate
a incêndios dentro dos limites e das adjacências do PESRM (Figura 3.88 A). O local também
é contemplado com quadras poli-esportivas e quiosques, muito utilizados pela população
dos bairros próximos.

O manancial do Barreiro é o mais antigo de todos os seis mananciais do PESRM. A


arquitetura peculiar de sua barragem torna-a muito atrativa do ponto de vista da educação
patrimonial (Figura 3.88B), o que é reforçado pela presença do “Museu do Barragista”
(Figura 3.88C). Há uma pequena represa freqüentemente utilizada de forma indevida, por
moradores do entorno, para banhos. Nesta barragem é, ainda, muito intensa a presença de
animas domésticos e o cultivo de pomares.

Ladeando a entrada da barragem encontra-se o Parque Municipal Burle Marx que


antigamente funcionava como casa dos Governadores do Estado. O Parque Municipal é de
grande importância histórico-cultural e recreativa para a comunidade e sua existência deve
ser contemplado pelos administradores do PESRM como um meio eficiente de aproximação
entre o parque, instituições locais e a população, para o desenvolvimento de trabalhos
conjuntos.

A C

Figura 3.88. Centro Integrado do Corpo de Bombeiros (A); Barragem antiga do manancial Barreiro (B)
e; o Museu do Barragista no manancial Barreiro (C).

No limite do PESRM com o bairro Olhos d’Água há uma fábrica de cimento que
causa intensa poluição do ar, através da poeira proveniente das suas atividades.

Como em outros sítios, ocorrem: desova de cadáveres na região do “Pontilhão” e na


linha de trem, atividades religiosas umbandistas na “Cachoeira do Bicão”, coleta de lenha e
plantas medicinais em toda a região. Além disso, são freqüentes as ocorrências de bota-fora
de lixo em ruas que se projetam para dentro do parque, como as ruas Professor José
Moreira e Luiz de Souza Lima.

154
A região apresenta flora e fauna ricas e íntegras, as quais foram amplamente
pesquisadas pelo CETEC - Centro de Tecnologia, durante oito anos (CETEC, 1993),
constituindo uma das poucas áreas de mata fechada visitáveis do parque. A “Cachoeira do
Álvaro Antônio” é dotada de um cenário de extrema beleza, apresentando duas quedas
d’água seqüenciais, de aproximadamente cinco metros cada uma (Figura 3.89A). No
entanto, visitações turísticas neste local devem ser extremamente restritas, uma vez que se
trata de uma área ambientalmente frágil devido a alta umidade e solo turfoso. Nas florestas
deste sítio foram detectadas diversas espécies de árvores em estágios tardios da sucessão
ecológica, incluindo exemplares de jequitibás, medindo mais de 100 cm de diâmetro e 20 m
de altura (CETEC 1993, Meyer et al. 2004; Figura 3.89B). Junto à Cachoeira Álvaro Antônio,
estes indivíduos de jequitibás centenários e a estrada que conduz a eles, formam um
conjunto de atrativos naturais de alta hierarquia no ponto de vista turístico.

A B

Figura 3.89. Cachoeira do Álvaro Antônio (A) e os centenários jequitibás da região do Barreiro (B) no
Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

3.8.3.6. Sítio VI - APE Mutuca

Os pontos críticos da divisa do sítio são, na parte leste, a BR 040, e, na parte sul, a
presença da Mina de Capão Xavier e o bairro Jardim Canadá. Na parte norte, o restaurante
“Rancho do Boi”.

O sítio apresenta regiões de Florestas Estacionais Semi-deciduais e Matas de


Galeria aparentemente bem preservadas. Porém, com relação a este sítio, existe uma falta
de comunicação entre as unidades administrativas da COPASA, IEF e do PESRM,
dificultando o monitoramento e o manejo destas áreas. Foi presenciada a soltura de uma
jaguatirica (Leopardus pardalis) resgatada pelo IBAMA em uma dessas áreas florestais sem
que tal fato fosse requisitado ou mesmo comunicado ao gerente da unidade. Esse tipo de
155
atividade, se executado com freqüência e, sobretudo, sem prévia comunicação, pode alterar
estruturas populacionais dos animais, desequilíbrios ecológicos e conflitos.

A Serra do Mutuca faz parte da área de Proteção Especial da COPASA e, em sua


região, ocorrem diversos tipos fitofisionômicos do Cerrado, como campos rupestres e
campos sujos (Vincent, 2004). Em alguns locais, ocorrem afloramentos de canga hematítica
com manchas de capões de mata, sobre depressões do relevo (Vincent, 2004). Em outros,
ocorrem fraturas na couraça ferrífera, onde se formaram grutas que podem chegar a
grandes profundidades (Figura 3.90A). No alto do “Morro do Cachimbo”, a uma altitude de
cerca de 1.350m, ocorre um campo de canga couraçada mais esparso e alterado
antropicamente, devido à instalação de uma antena e de um centro de monitoramento de
cargas elétricas (Figura 3.90B). Em tal localidade, está instalada uma das câmeras de
monitoramento, sendo possível ter uma vista ampla de grande parte do PESRM, da BR-040
e da Serra do Curral.

No manancial de captação da COPASA encontra-se uma ótima estrutura do “Museu


Ecológico”, atualmente em processo de reforma (Figura 3.90C). A área possui, em meio à
mata, uma trilha interpretativa que costumava receber visitas de turmas escolares e,
atualmente, é utilizada pela COPASA para educação ambiental de seus funcionários. Ao
longo da referida trilha, podem ser vistas antigas parcelas de experimentos sobre a
regeneração natural da vegetação, monitoradas pelo CETEC (1993) que, poderiam ser
utilizados atualmente são instrumentos potenciais para as atividades de educação
ambiental.

A B

Figura 3.90. Fraturas na couraça ferrífera detrítica, formando grutas na região da APE Mutuca (A);
antena e o centro de monitoramento de cargas elétricas na Serra do Cachimbo (B) e; o Museu
Ecológico no manancial do Mutuca, Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

156
O sítio Mutuca apresenta trânsito mais restrito de pessoas, devido à dificuldade de
acesso e fiscalização intensa por parte da COPASA. É o ponto mais bem preservado do
PESRM, mas este sítio pode sofrer impactos intensos pela presença da “Mina Capão
Xavier” da MBR devido a explosões diárias e constante tráfego de caminhões. Além disso,
no limite com a BR-040, o local é utilizado para atividades ilícitas e bota-fora de lixo. Apesar
da alta restrição à entrada de pessoas neste sítio, há relatos de cultos religiosos no
“Cruzeiro” e extração predatória de plantas ornamentais nos campos ferruginosos (Cláudia
Jacobi, comunicação pessoal).

O sítio apresenta considerável potencial para a prática de atividades esportivas e


ecoturísticas, como mountain bike e trekking, mas principalmente atividades relacionadas à
educação ambiental e pesquisa científica sobre a flora e a fauna de habitats florestais,
savânicos e aquáticos.

3.8.3.7. Sítio VII - APE Catarina

O sítio limita-se, a leste, com uma área preservada de Cerrado (campo sujo) de
propriedade da empresa MBR e com o bairro Jardim Canadá; a sul, com o Condomínio
Retiro das Pedras; e a oeste, com a Extrativa Paraopeba.

Neste sítio está localizada a Sede Administrativa do PESRM onde trabalham


funcionários do parque. Situa-se, neste local, o sistema de monitoramento feito por câmeras
localizadas em regiões estratégicas do PESRM. A Sede Administrativa contém, ainda, um
auditório utilizado para eventos relacionados ao PESRM, um centro de visitantes que carece
de material informativo, uma sala de reuniões com boa estrutura física, além das salas dos
funcionários. Possui dois banheiros em boas condições de funcionamento e compartilhados
por funcionários e visitantes, e apenas um bebedouro, em condições precárias.

Nesse sítio encontra-se o Manancial Catarina, um reservatório com água cristalina


apelidado de “Copo d´Água” por ciclistas da região, em função de sua grande beleza cênica
(Figura 3.91).

Figura 3.91. Manancial Catarina com reservatório de água cristalina que foi apelidado de “Copo
d’Água” pelos ciclistas que freqüentam a região da APE Catarina no Parque Estadual da Serra do
Rola Moça, MG.

157
Reforçando o potencial do local, a COPASA vem utilizando essa área para educação
ambiental de seus funcionários. Como em todas as barragens da COPASA no interior do
PESRM, o local também oferece risco de invasão biológica às áreas adjacentes pela
presença de cultivo de pomares e plantas ornamentais exóticas.

Uma rede de trilhas que passa pela área da APA Catarina, juntamente com a
freqüente prática de ciclismo, sugere um bom potencial de exploração para tais atividades.
No entanto, os ciclistas provenientes de Belo Horizonte e dos condomínios de classe alta da
região, demonstram comportamento indevido ao banharem-se, com freqüência, nas águas
da barragem. Apesar de alguns pontos de descaso, a fiscalização realizada pela COPASA é
considerada satisfatória ao que se propõe.

O trânsito de pessoas neste local apresenta-se praticamente irrestrito devido a


acessibilidade através de uma cerca freqüentemente cortada nas imediações da Rua
Florença, divisa com o bairro Jardim Canadá. Pessoas advindas deste bairro, do
Condomínio Retiro das Pedras e de outros bairros da região, vem provocando impactos,
pelo pisoteio da vegetação e de poças temporárias, importantes sítios de reprodução de
anfíbios anuros (ver detalhes no diagnóstico de Herpetologia). Pela ótica da atividade
turística, sofre com a prática de atividades como trekking e cooper, durante as quais as
pessoas levam consigo seus cães e deixam lixo no percurso da trilha. Já as práticas de trail
(motocicletas, gaioleiros, jipes) e mountain-bike ocorrem com certa freqüência e provocam
erosão, danificação da flora e risco de atropelamento de pesquisadores e de representantes
da fauna local. A abordagem destas pessoas pelos guardas-parque deve ser apoiada pela
Polícia Militar Ambiental, cercamento adequado e a instalação de placas de sinalização que
restrinjam o acesso a estes locais pelas entradas clandestinas.

A área caracterizada por Cerrado (campo sujo), preservada pela empresa MBR, que
contorna este sítio em sua porção leste, funciona efetivamente como uma zona de
amortecimento de grande valor para o PESRM em decorrência de sua constante
fiscalização, impossibilitando invasões por posseiros de terras. Outra atribuição positiva é a
manutenção de aceiros e a presença de uma brigada que evita a propagação de incêndios
florestais para o interior do PESRM.

Um dos principais campos ferruginosos do PESRM está localizado na parte sul deste
sítio. São vastos os estudos científicos acerca da flora e da fauna realizados neste local, que
apresenta um amplo campo para pesquisas sobre a biologia dos campos ferruginosos.

Um dos impactos mais graves ocorrentes nestes campos ferruginosos é a coleta de


plantas ornamentais, lenha e plantas medicinais. O cultivo dessas plantas, para o bairro
Jardim Canadá, pode ser uma alternativa de desenvolvimento econômico sustentável,
segundo o diagnóstico participativo do Fórum DLIS (FDC, 2003). O projeto “Viveiro-Escola”,
desenvolvido pela Diretoria de Educação Ambiental do PESRM e pela Fundação Dom
Cabral, visou analisar a viabilidade técnica e econômica de propagação comercial de
espécies nativas ameaçadas com ocorrência no PESRM (Ranieri, 2005). Tal projeto teve
como objetivos a educação ambiental na região, a diminuição da coleta predatória e
preservação de espécies ameaçadas, além de possibilitar uma atividade econômica
sustentável para as comunidades locais.

O relacionamento entre o PESRM e o bairro Jardim Canadá é o mais estreito entre


os bairros do entorno. Tal fato é devido, principalmente, à proximidade da Sede
Administrativa e as ações de integração realizadas pela gerência de Educação Ambiental e
Comunicação juntamente com a Fundação Dom Cabral e grupos comunitários, como a
Associação Comercial do Bairro Jardim Canadá. Observa-se uma urgente necessidade de
programas de educação ambiental e conscientização, atentando para o respeito à
biodiversidade do parque. Estes programas devem contemplar não apenas os moradores do
158
Bairro Jardim Canadá, mas, principalmente, a comunidade dos bairros adjacentes, além de
turistas, os quais são os principais responsáveis pelos impactos observados na região.

A presença da Mineradora Extrativa Paraopeba tornou-se uma preocupação na


região ao demonstrar total descaso às normas ambientais da área minerada. Sua cava
desativada encontra-se em péssimas condições de integridade estrutural e sob risco de
desabamento. Tal fato poderá gerar conseqüências catastróficas devido ao fato de que o
campo ferruginoso e a estrada que liga o Centro de Visitantes à Casa Branca encontram-se
no topo desta cava. A perspectiva de exploração do chamado “material fino”, antes
considerado rejeito e, hoje, objeto de interesse econômico, apresenta-se inconcebível no
contexto de preservação ambiental do PESRM, como unidade de proteção integral. As
atuais atividades executadas por tal empreendimento precisam ser acompanhadas de perto
pelos órgãos ambientais competentes, culminando na elaboração de propostas de medidas
de compensação ambiental e mitigação de impactos ambientais.

3.8.3.8. Sítio VIII – Estação Ecológica de Fechos (EEF)

O Sítio Estação Ecológica de Fechos (EEF) está localizado na encosta nordeste da


Serra da Moeda, porção sul da Cadeia do Espinhaço. Sua posição geográfica é particular
em relação aos outros sítios, por estar desvinculado do território contínuo do PESRM.

Este fragmento de 554,67ha faz limite em sua parte sul, com os condomínios: Vale
do Sol, Passárgada e Morro do Chapéu. Em seu limite oeste está à rodovia BR-040, cuja via
marginal abriga empreendimentos comerciais, principalmente depósitos de material de
construção, venda de material de demolição e um espaço de eventos. Na parte noroeste,
encontra-se a região de São Sebastião das Águas Claras e uma área que, recentemente,
obteve licença para implantação de um loteamento, aumentando o risco de ocupação das
matas ainda preservadas nesta região. Há a existência de cavas originadas pela Mineração
Rio Verde e MBR próximas a este sítio.

A cabeceira do córrego Fechos encontra-se em meio à vegetação florestal e campo


ferruginoso, nas altitudes mais elevadas da região. Segundo Leite (2003) a vegetação
marginal de córregos é composta, principalmente, por espécies ameaçadas de samambaias,
Cyatea sp. e Diksonia sp. (Figura 3.92). Nas regiões elevadas existe um mirante com vista
para o sul, onde é frequente a observação de um número elevado de pessoas no local. No
campo ferruginoso desta área foram avistadas espécies endêmicas e ameaçadas como o
cacto Arthrocereus glaziovii, a gloxínia Sinningia rupicola e uma numerosa população da
gramínea Aulonemia effusa. A espécie de perereca, Phasmayla jandai, endêmica da Serra
do Espinhaço e ameaçada de extinção, está presente em uma das barragens do manancial
de água da COPASA. Neste local, um monitoramento da história de vida desta espécie de
anfíbio foi conduzido com o patrocínio da MBR (Leite, 2005).

No sítio EEF existe um viveiro de pássaros desativado, anteriormente utilizado para


reprodução e reintrodução do macuco (Tinamus solitarius), uma espécie de ave ameaçada
de extinção, devido à caça predatória e perda de habitats naturais. O mesmo sítio
caracteriza-se pela presença do habitat de um micro-crustáceo endêmico em local onde, há
poucos anos, praticantes de motociclismo construíram uma pista de cross, que é
eventualmente utilizada nos dias atuais.

O sítio apresenta enorme potencial para a condução de pesquisas científicas e


conta, inclusive, com uma casa que, segundo o gerente do PESRM, poderia ser utilizada
para abrigar pesquisadores.

159
Figura 3.92. Barragem auxiliar da Estação Ecológica de Fechos (EEF) margeada por Diksonia sp.,
espécie da flora ameaçada de extinção.

A Estação Ecológica de Fechos apresenta sérios conflitos causados por atividades


antrópicas como trânsito de veículos off-road, a extração predatória de plantas e manejo
inadequado da vegetação ripária por funcionários da COPASA (Leite, 2003). Na área que se
caracteriza pela ocupação desordenada do solo às margens da BR-040, há a presença de
bota-fora de lixo e de material de construção, fatores que aumentam o risco de propagação
de incêndios. Outro risco, é a invasão biológica da EEF por cães advindos do Bairro Jardim
Canadá.

O trânsito irrestrito de pessoas evidencia-se por uma cerca danificada ao lado do


portão de entrada da EEF, próximo à BR-040, e que, apesar de permanentemente trancado,
permite sua remoção e a entrada de veículos.

3.8.4. Caracterização do uso público atual da UC

Atualmente o PESRM possui visitação irrestrita, fato comprovado pelas suas


portarias constantemente abertas e pela ausência de uma metodologia para a correta
identificação e controle dos visitantes e passantes. Entretanto, o PESRM já oferece uma
estrutura para o desenvolvimento do uso público na unidade que é descrito a seguir, a partir
das informações obtidas durante a elaboração do plano de manejo.

3.8.4.1. Atividades educacionais e culturais disponíveis

A educação ambiental praticada no PESRM, pela Gerência de Comunicação e


Educação Ambiental (Figura 3.93A), é fruto tanto de um projeto de extensão da UFMG,
orientado pela Prof. Dra. Cláudia Jacobi (Jacobi et al., 2004) como pela Polícia Militar do
Meio Ambiente (Figura 3.93B), através de campanhas educativas.

160
A
B

Figura 3.93. Palestra oferecida para escolares no auditório do Parque Estadual da Serra do Rola
Moça (A); material de educação ambiental distribuído pela Polícia Militar do Meio Ambiente na
portaria do bairro Jardim Canadá (B) e; visita de funcionários da COPASA orientados por guia
capacitado para realizar esta atividade (C).

Os passeios agendados por instituições de ensino são normalmente acompanhados


pelo Gerente de Educação Ambiental e Comunicação ou técnico designado por este. As
visitas são realizadas principalmente por turmas de escolares e professores dos municípios
circundantes ao PESRM. O procedimento adotado constitui-se na exibição de informações
sobre a biota e ambientes do PESRM, seu histórico de criação, a lenda do poema de Mário
de Andrade e sua legislação ambiental. A palestra tem duração de 50 a 60 minutos sendo
realizada interativamente, conforme a faixa etária e formação da turma. Após a palestra, o
grupo sai para uma caminhada na antiga estrada que leva à Mina Extrativa Paraopeba, sem
que os monitores despertem os visitantes à interpretação ambiental. Após a caminhada, um
ônibus já aguarda para o trajeto do grupo até o mirante Morro dos Veados, onde
permanecem por alguns minutos.

De acordo com o gerente, a palestra consiste na apresentação de 62 slides, onde


são abordados os seguintes temas:

1. Origem do nome Rola-Moça e o poema do escritor Mário de Andrade. O que é


poema? Processo de abordagem interativa.

2. Lei Estadual que criou o Parque. Lei Federal que disciplina as Unidades de
Conservação. O que é Unidade de Conservação? De acordo com a turma é
abordado o que é lei e de onde elas vêm. Processo de abordagem interativa.

3. Localização do parque, municípios de abrangência, metragens.

161
4. Os seis mananciais do Parque e sua localização. Importância para as comunidades
do entorno e região Metropolitana.

5. Panorama mundial da água. Abordagem sobre o “planeta água”, água potável


disponível no mundo. Como economizar água? Processo de abordagem interativa.

6. Infra-estrutura turística das localidades de Jardim Canadá e Casa Branca.

7. Apresentação dos slides:


 Amanhecendo no Parque
 A canela-de-ema, sua característica, floradas, sobrevivência ao fogo e
longevidade
 Paisagens do parque. A tensão ecológica: Mata Atlântica, Cerrado, Campos
Ferruginosos e de Altitude. O que é canga hematítica?
 Diferença entre Mata Atlântica e o Cerrado
 O que é Mata Secundária?
 O que é Mata Ciliar?
 Os mananciais
 A fauna. Mostra de alguns espécimes. Relação de animais ameaçados de
extinção.
 A flora. As orquídeas. Vegetação diversificada. O que são liquens?
 A ação do fogo. O que não pode dentro de uma Unidade de Conservação.
 A preservação de um Parque Florestal. Materiais que não devem estar em seu
interior.
 Relação de materiais e o tempo de decomposição. Processo de abordagem
interativa.
 Entardecer no Parque.
 Final da palestra e distribuição de folhetos (folders).

Em seguida, o gerente encaminha os visitantes para a prática da Interpretação


Ambiental, através de uma visita ao Morro dos Veados, onde dá informações gerais sobre o
local e aponta os mananciais, as cidades de Belo Horizonte, Ibirité, Sarzedo, Mário Campos,
Lagoa da Petrobrás. Muitas vezes, a visita ao mirante é substituída pela visita à canga
(próxima ao Centro de Visitantes), onde pode ser contemplado o orquidário natural, a
canela-de-ema de 500 anos e o manancial Catarina.

O projeto de extensão da Dra. Cláudia Jacobi (UFMG) se caracterizava por Jornadas


de Educação Ambiental guiadas por monitores que apresentavam uma palestra com
exibição de áudio-visual, visitação a trilhas e avaliação, por meio de questionários (Jacobi et
al., 2004). Tal projeto teve como objetivos transmitir o conhecimento ecológico, bem como
estimular e avaliar a percepção ambiental dos visitantes, de diferentes faixas etárias e
conhecimentos prévios. Os resultados alcançados evidenciam que as experiências prévias
dos visitantes favorecem o aprendizado e que visitas guiadas em unidades de conservação
são uma valiosa ferramenta para o processo de construção do conhecimento ecológico-
ambiental (Jacobi et al., 2004).

Ocorrem, sem controle, muitas visitas informais de instituições de ensino


universitários e escolares. A falta de controle e do devido acompanhamento dessas visitas
162
ocorre pela falta de informação dos visitantes e pelo ineficiente controle de entrada nas
portarias. O local mais visitado para essas atividades informais é o Mirante Morro dos
Veados, durante o horário de funcionamento do PESRM.

Ocasionalmente, são realizadas campanhas educativas pela PM Ambiental, na


portaria do Jardim Canadá, onde são distribuídos materiais de orientação e sacos de lixo.
Roteiros de educação ambiental, elaborados nos mananciais do Mutuca e Catarina foram
utilizados pela COPASA, para visitas de escolares. Atualmente, estes roteiros são utilizados
apenas para a educação ambiental dos próprios funcionários da COPASA (Figura 3.96C).
Os roteiros educativos existentes e outros a serem criados têm enorme potencial para a
educação ambiental, ao abordar temas como “Mata Ciliar e Água”, “Mata Atlântica e suas
espécies”, “Os Campos Ferruginosos”, “Cerrado e suas espécies” e “Regeneração natural”.

3.8.4.2. Atividades de lazer

As atividades de lazer praticadas no PESRM incluem modalidades que, quando


controladas e monitoradas, podem se transformar nas atrações do PESRM. Algumas
atividades executadas atualmente vêm provocando sérios impactos e devem ser avaliadas.

Contemplação e fotografia

As atividades de contemplação e fotografia de paisagem são proporcionadas pelos


diversos mirantes que ocorrem no parque: Planeta, Jatobá, Veados, Três Pedras, Mirante
de Fechos e Serra do Cachimbo. Os mirantes proporcionam ampla visão das serras do
PESRM, seus mananciais e dos municípios circunvizinhos, os quais podem ser fotografados
durante o dia ou no crepúsculo.

Estas atividades são executadas com freqüência nos mirantes, podendo representar
umas das atividades atualmente mais praticadas no parque. Já foram registrados fotógrafos
profissionais, realizando trabalhos para revistas, fotógrafos amadores e até gravação de
vídeos-clipe de bandas de música.

Entretanto, estas atividades não são controladas quanto ao horário de ocorrência,


restrição do acesso de veículos, além da inexistência de locais adequados ou orientações
para deposição de lixo. Além disso, os mirantes também são procurados por casais para
namorar e por grupos de jovens para consumir drogas.

A presença da estrada que liga o bairro Jardim Canadá a Casa Branca apresenta
um enorme fluxo de pessoas constituído, muitas vezes, apenas de curiosos e passantes. O
mirante Morro dos Veados é o que mais recebe este tipo de visita, seguido pelos mirantes
Planeta e Três Pedras. A principal causa de impactos desse tipo de visitação se deve à
ausência de controle e informação ao visitante, nas portarias do bairro Jardim Canadá ou de
Casa Branca. Além disso, o controle do acesso às áreas durante a noite é inexistente.

Futebol, Soltura de pipa

No vale do Jatobá e nas quadras do Centro Integrado de Combate a Incêndios


Florestais do Corpo de Bombeiros ocorrem visitas irrestritas de pessoas, dando a impressão
de que a UC é utilizada como “quintal ou área de lazer dos moradores do entorno”. Nestes
locais, existem dois campos de futebol sem alguma restrição de horários ou controle do
número de visitantes. Diversos grupos de adolescentes e crianças utilizam-se destes
163
espaços para jogar futebol e soltar pipa. Além disso, as quadras poliesportivas do CICICB
são utilizadas para a prática de esportes coletivos como basquete e futebol.

Cultos Religiosos

Os cultos religiosos ocorrem em todo o território do PESRM, sendo o Vale do Jatobá


e as cachoeiras os locais que sofrem maior pressão com a atividade, principalmente a
Cachoeira do Bicão. Ocorrem cultos evangélicos, rodas de santos e oferendas de
despachos compostos, na maioria das vezes, por grande quantidade de alimento e velas
acesas. Essas atividades geram impactos como lixo e restos alimentares deixados pelos
praticantes, pisoteio de vegetação e risco de incêndio, o que remete à necessidade de
restrição de horários, número de pessoas, práticas e locais permitidos.

Mountain-bike e trekking

Esportes como o mountain-bike e o trekking são praticados, não oficialmente, dentro


do PESRM, na EEF e em propriedades da MBR, localizadas no seu entorno. Segundo o
Guia Mineiro de mountain-bike (Rallo, 2000), este esporte tem enorme contingente de
praticantes em Minas Gerais, devido ao relevo propício e à ausência de praias. Grande
parte dos competidores em campeonatos nacionais, neste esporte, é constituída de
mineiros. São indicados 46 roteiros de trilhas, por todo o Estado, sendo que 12 destes
passam pelos municípios do entorno do PESRM: Nova Lima (7), Casa Branca (2), Piedade
do Paraopeba (1) ou Moeda (2), e cinco possuem trechos dentro ou nas proximidades do
PESRM, sendo estes:

 A trilha “Boi Preto 1”, vai do Retiro das Pedras a Casa Branca, com extensão de 18
km de trilha fechada, possui sinal de celular, mas não conta com local de
abastecimento de água ou para compra de alimentos no percurso, que gasta, em
média, 2h e 30 min. O Guia Mineiro de Mountain Bike (Rallo, 2000) a descreve como
uma trilha “clássica para motos e bikes, descidas radicais em caminho de pedras,
seguida de trilhas fechadas e técnicas em terreno bem acidentado. Para quem gosta
de emoção, é um prato cheio. As bikes sem suspensão passam aperto”.

 A trilha “Casarão”, que vai do Jardim Canadá a Macacos, com extensão de 12,9 km
de trilha aberta de alta velocidade, possui sinal de celular, abastecimento de água e
local para compra de alimentos no percurso, que gasta, em média, 50 min. Sua
descrição pelo Guia se faz assim: “Excelente para quem gosta de descer rápido. No
início, um aquecimento na pista de treino dos treieiros (o percurso passa no meio) e,
depois, só morro abaixo até chegar ao Bar do Engenho. Cuidado com as motos e
jipes. Todo mundo acelera. A planilha termina no asfalto para São Sebastião das
águas Claras (Macacos)”.

 A trilha “Copo d´água”, em alusão à barragem do manancial Catarina, possui todo o


seu percurso de 17 km dentro do PESRM, no qual é gasto, em média, 1h e 30 min.
Segundo o Guia, há locais de abastecimento de água, sinal de telefonia celular, mas
não há local para compra de alimentos. O Guia a descreve: “Copo d´água ou Lago
Azul, como alguns a chamam, é uma represa da COPASA que abastece o
condomínio Retiro das Pedras. É simplesmente maravilhosa, mas, atenção, é
rigorosamente proibida a entrada. Se quiser conhecer, peça autorização na casa da
vigilância, que fica próximo à entrada da represa. Vale a pena”.

 A trilha “Ferteco” vai até Casa Branca, passando no Jardim Canadá, num percurso
de 46 km, percorridos em 4h e 30 min, em média, com possível abastecimento de
164
água, sinal de celular e local para compra de alimentos no caminho, descrita pelo
Guia como “um circuito longo, com declives e aclive bem acentuado. A paisagem é a
mais bela, o que compensa o desgaste. A trilha que chega à cachoeira não tem onde
ser melhor. Aproveite o banho de cachoeira e relaxe bem porque a volta castiga. Se
preferir, providencie um resgate em Casa Branca, enquanto você se alimenta”.

 A trilha “Retiro das Pedras” passa por um percurso aberto, com trechos fechados,
num total de 22,7km, nas imediações do condomínio. Não apresenta local para
abastecimento de água, nem para compra de alimentos, mas há sinal de celular. O
Guia a descreve: “Existe uma infinidade de trilhas dentro deste roteiro que
“planilhamos”. O ideal é você ir explorando com o tempo. Todas são excelentes. O
lugar é maravilhoso e por ser alto, o clima é bem agradável para pedalar. Essa trilha
tem um Down Hill eletrizante. Cuidado com as motos. A galera gosta de acelerar”.

A prática de mountain-bike, quando não praticada corretamente, ou seja, em trilhas


que acompanham as curvas de nível, gera desgastes e erosões ao terreno. A prática
incorreta é claramente detectada, especialmente em locais mais íngremes, onde se
vislumbra o travamento dos pneus traseiros numa descida ou a tração dos dianteiros numa
subida, causando o efeito “escavadeira” e criando valas que podem progredir para erosões.
Da mesma forma, o simples exercício de percorrer regiões de campos rupestres,
ferruginosos ou quartzíticos, pode danificar a sensível flora, bem como a integridade do
substrato destes locais.

A prática de trekking, por permitir maior autonomia de movimentação e carga


carregada pelos praticantes, gera impactos diferentes do mountain-bike. Os praticantes
desta modalidade, normalmente munidos de mochilas, podem armazenar plantas e rochas
extraídas durante as caminhadas, gerar a deposição de lixo (embalagens) ao longo das
trilhas, além de pisotear a vegetação quando estiverem caminhando fora da trilha.

Escalada esportiva e rappel

O PESRM, assim como diversas outras unidades de conservação, principalmente as


que se localizam no sudeste e sul do país, abrigam numerosas formações rochosas
cobiçadas por escaladores e montanhistas. Muitas vezes estas pessoas são os proponentes
da criação das áreas protegidas. Segundo Ribeiro et al. (2003), esta atividade passou a ser
explorada comercialmente e obteve ampla divulgação, principalmente a partir dos anos 80,
com a diversificação de equipamentos, técnicas, objetivos da atividade e público praticante.

Práticas de esportes com corda, como rappel e escalada esportiva, cujos ativistas
são numerosos na região metropolitana de Belo Horizonte, são praticadas dentro do
PESRM, na área conhecida como “Serra das Andorinhas” por visitantes provenientes de
Casa Branca, principalmente. As diversas “vias” presentes nos paredões desta formação
rochosa quartzítica, que se localiza no parque, são amplamente conhecidas pelos
esportistas (ver Figura 3.86).

A popularização destas atividades em áreas naturais ocorre junto à comercialização


da arte de guiar pessoas nas montanhas, atividade considerada amadora até pouco tempo
atrás. Duas preocupações recorrentes em relação a esse tipo de visitação, os impactos
ambientais e os riscos de acidentes, resultam na obrigatoriedade de guias, como tentativa
de reduzir ambos, mas devendo ser estendida além do público especializado de
escaladores e montanhistas (Ribeiro et al., 2003).

A atividade de escalada gera impactos à biota dos paredões rochosos, afetando


tanto a flora quanto a fauna, bem como a integridade geológica da base dos mesmos. A
165
vegetação rupícola é frágil, podendo ser removida pela passagem repetida de cordas, sendo
que sua regeneração dificultosa foi constatada em locais abandonados de escalada.
Segundo alguns estudos, cinqüenta anos foram insuficientes para a revegetação
espontânea após perturbação por escaladores (Ribeiro, 2002). O avanço de plantas
invasoras ruderais sobre a vegetação ripícola nativa é facilitado por pisoteio e outras formas
de impacto, direto ou indireto, nas áreas de escalada. Com relação à fauna situada em
paredões, destacam-se as aves que utilizam estes ambientes para nidificação.

Foram relatados impactos diretos sobre avifauna rupícola que pode retardar sua
saída ou entrada das grutas, à noite, observada a presença de escaladores no paredão ou
nas bases de escaladas próximas (Ribeiro et al., 2003). Nos trechos próximos aos paredões
rochosos são comuns os “caminhos de escaladores”, caracterizados por múltiplas trilhas e
atalhos íngremes que conduzem às diversas bases de escalada. Nas bases das escaladas
pode haver forte compactação do solo, ou locais íngremes e de solo pouco consolidado (ou
platôs), que podem ceder por completo. O acúmulo de lixo orgânico pode modificar o
comportamento da fauna e atrair e/ou aumentar o número de possíveis predadores. Outra
ocorrência impactante são os gritos e algazarras de grandes grupos, que ocasionam o
espanto dos animais, desencadeando, por exemplo, a derrubada de ovos ao chão pelas
próprias aves quando assustadas.

A atividade de montanhismo poderá ser estimulada no PESRM, como na Serra das


Andorinhas, mas faz-se necessária uma pesquisa mais específica nos locais potenciais,
para uma avaliação do uso e impacto ambiental, pois o desconhecimento científico sobre a
fauna e a flora rupícolas local, tanto por parte dos esportistas quanto do ponto de vista do
manejo da unidade, poderá ser danosa.

Com relação à segurança, a falta de um documento que oriente a ação dos gestores
sobre o manejo de riscos deixa os responsáveis pela administração do parque inseguros,
levando a cautelas excessivas e à idéia da obrigatoriedade de guias. Cabe ressaltar que faz
parte da filosofia destes esportes a escolha livre e aleatória dos pontos a serem escalados,
assim como as exposições voluntárias ao risco, devendo-se, portanto, procurar meios de
harmonizar proteção e as demandas por liberdade (Ribeiro et al., 2003). Contudo, diversas
áreas pouco providas de vegetação, nesta formação rochosa, podem ser liberadas,
contando os riscos e danos já aceitos em outras formas de uso público.

3.8.4.3. Pesquisa científica

Diversas pesquisas científicas são desenvolvidas no PESRM, tanto pela alta


diversidade de habitats, espécies e ecossistemas, quanto pela proximidade das áreas
urbanas com diversas instituições de ensino, sendo executadas de acordo com os objetivos
do projeto, em diferentes locais do parque ou horários.

Os pesquisadores submetem seus projetos à Coordenadoria de Proteção da Vida


Silvestre do Instituto Estadual de Florestas (IEF), e, após a emissão de autorização de
pesquisa na unidade, executam seus projetos. Os pesquisadores devem se identificar no
Centro de Visitantes e obter um crachá de identificação. Apesar da autorização do IEF e da
identificação do PESRM, alguns problemas foram verificados como a abordagem
inadequada por vigilantes da COPASA, comprometendo o andamento das coletas de
campo.

Não há controle e vigilância adequada de apoio aos pesquisadores, causando


apreensão e receio pelos mesmos com a possível abordagem de criminosos e roubo de
equipamentos caros para a coleta de dados. Ressalta-se a inexistência de infra-estrutura de
apoio a pesquisadores, apesar da existência de espaços como o Centro Integrado de
Combate a Incêndios Florestais do Corpo de Bombeiros, o Centro de Visitantes e uma casa
166
na EEF , necessitando apenas de adequação como bases de coletas de dados, laboratórios
temporários ou acampamento.

Apesar da autorização de execução de projetos concedida pelo IEF estar


condicionada a um termo de compromisso pelo pesquisador de fornecimento de fotografias,
material educativo e resultados da pesquisa, na maioria das vezes, o compromisso firmado
entre as partes não é cumprido. Estas pesquisas poderiam ser adaptadas para o público
leigo na forma de relatórios e painéis para o acervo do Centro de Visitantes.

3.8.4.4. Serviços oferecidos

Centro Integrado de Combate a Incêndios: parceria realizada com o Corpo de


Bombeiros para a proteção do PESRM contra incêndios florestais, através de um rápido
deslocamento das equipes até o local onde os problemas foram identificados.

Visitas Guiadas: o parque oferece, atualmente, visitas guiadas para instituições de


ensino, através da Gerência de Comunicação e Educação Ambiental.

3.8.4.5. Infra-estrutura, equipamentos e manejo

Centro de Visitantes

A sede administrativa do PESRM localiza-se próxima à portaria do bairro Jardim


Canadá, construído com estruturas metálicas e pintada da cor da terra característica da
região. Ao seu redor, encontra-se um jardim com plantas provenientes da Mina Capão
Xavier, da MBR. Esta transposição de plantas nativas de campos ferruginosos foi realizada
através de compensação ambiental, resgatadas previamente da área de lavra da mina e
transplantadas com a utilização de técnicas adequadas. Este jardim apresenta grande
potencial para a educação ambiental, mas convém salientar que a introdução de genes
alóctones ao PESRM, realizados pelo plantio de indivíduos provenientes de outras áreas,
demanda estudos e cuidados para não descaracterizar o meio.

O prédio conta com duas salas amplas com uma anti-sala, onde trabalham o gerente
geral, o gerente operacional, uma secretária e um assessor. Possui ainda uma copa, um
almoxarifado, uma sala ampla utilizada para reuniões, um auditório semicircular, em
patamares diferenciados para facilitar a visão, com as paredes compostas por pedras típicas
da região, com capacidade para 90 pessoas, acomodadas em cadeiras confortáveis, de
excelente acústica. Atualmente o centro de monitoramento e a sala de apoio à Polícia
Ambiental funcionam em duas outras salas com uma ampla anti-sala. Existem ainda no local
dois banheiros amplos, um bebedouro, um almoxarifado e uma sala ocupada pelo Centro
de Informação da Gerência de Comunicação e Educação Ambiental.

A Sede Administrativa do PESRM apresenta um potencial para se tornar um Centro


de Visitantes, devido sua infra-estrutura física e a presença constante de funcionários, de
modo que os eventos e exposições possam efetivar e induzir o contínuo interesse à visita ao
Centro de Visitantes.

O Centro Integrado de Combate a Incêndios Florestais do Corpo de Bombeiros está


localizado próximo à portaria do Barreiro. Possui uma anti-sala, um auditório para 50
pessoas, sala de projeção e dois banheiros. Diversas construções, ocupadas pelo Corpo de
Bombeiros, encontram-se em ótimo estado de conservação, como também uma área de
lazer, composta por quadra de futebol e poli esportiva, churrasqueiras e vestiários externos,
167
que permanecem trancados. A área de lazer conta com uma exposição permanente de
esculturas em ferro, com as quais o parque pouco se identifica.

Equipamentos

As portarias do PESRM não apresentam uma organização efetiva de identificação


dos visitantes, de monitoramento do fluxo dos mesmos e nem uma conduta de informações
aos visitantes sobre os procedimentos de conduta na unidade. Não é cobrada a entrada dos
visitantes, comprometendo assim a sustentabilidade e autonomia do parque. A portaria do
Jardim Canadá é a mais ativa, havendo um telefone público, o ponto final de um ônibus e
coletores de lixo (Figura 3.94A). A portaria do CICICB é menos ativa com relação ao fluxo
de pessoas e integração com a administração, porém é a mais utilizada pelos visitantes ao
parque, enquanto que a portaria do Jardim Canadá configura-se como acesso a outros
destinos. A portaria de Ibirité encontra-se desativada devido à falta de segurança do vigia no
local, além de sua completa depredação (Figura 3.94B). Inexiste o controle, tanto da entrada
de pessoas no parque, quanto do seu destino nas estradas oficiais do PESRM.

As áreas destinadas a estacionamentos são incoerentes no que tange a capacidade


e demanda no PESRM. O estacionamento do Centro de Visitantes, com capacidade
aproximada para dez a quinze carros, não atende à demanda de vagas durante eventos
como, por exemplo, as reuniões do Conselho Consultivo. Deve ser realizado um plano de
expansão para a capacidade deste estacionamento com o intuito de aproveitamento do
Centro de Visitantes como local para eventos e para aperfeiçoar a comunicação com os
visitantes. Já o estacionamento localizado no CICICB é desproporcional, pois raramente se
encontra lotado, pelo fato dos freqüentadores desta portaria entram no parque a pé ou com
bicicleta, além da inconstância de eventos no local.

A B

Figura 3.94. Portaria do bairro Jardim Canadá (A) e a portaria desativada da região de Ibirité (B) que
permitem o acesso ao Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG.

Existem poucas placas de sinalização no PESRM e seu entorno, tanto para


divulgação e orientação de visitantes, quanto relacionadas à segurança e advertência de
perigos, em seu interior. As placas situadas na estrada de asfalto, dentro do parque,
possuem falhas em sua comunicação, como por exemplo a placa com os dizeres -
“MANTENHA O VEÍCULO NOS LIMITES DA ESTRADA” – sem explicitar a proibição de se
utilizar os acessos sem pavimentação (terra).

168
A comunicação interna efetuada com o visitante, por meio de encartes, folders e
painéis também apresentam problemas, pois a única publicação institucional do PESRM
contém um mapa fora de escala e incompleto. Existe também um pequeno texto institucional
que ressalta elementos da biodiversidade local, além de orientar quanto a restrições de
deposição de lixo, visitação e coleta de material.

Já os equipamentos disponibilizados para a comunicação interna dos funcionários do


PESRM são adequados, através de rádio. Os funcionários da COPASA também se
comunicam através de rádio, porém em outra freqüência e com linguagem técnica
específica. A comunicação entre as duas instituições é feita somente por telefone, tornando-
se mais lenta do que a realizada por meio de rádio.

Proteção e manejo

A segurança dos visitantes é realizada através do monitoramento de suas atividades


por meio de câmeras espalhadas estrategicamente pela unidade. No entanto, não existe
uma metodologia ou rotina de inspeção nas imagens das câmeras. Também não há um
mapeamento global que aponte locais que estejam sem cobertura das câmeras de
monitoramento. Tal mapeamento é um instrumento útil e necessário à melhoria das rondas
em solo e planejamento de visitas a atrativos.

As rondas de vigilância da COPASA auxiliam no monitoramento por meio de


motoqueiros, durante todo o dia, em vários locais do parque. A Polícia Militar Ambiental e o
Corpo de Bombeiros auxiliam na segurança dos visitantes e são, ocasionalmente,
chamados pelos guardas-parque e vigilantes da COPASA para abordagens, resgates e
auxílio aos visitantes.

O monitoramento do uso público é executado em parceria com a vigilância do parque


através da comunicação interna feita por rádio. Existem guaritas abandonadas no Morro III,
Mirante Planeta e no Campo Ferruginoso (acima do Centro de Visitantes), antigamente
utilizadas para a proteção da área do PESRM. Outra guarita, localizada na portaria do
município de Ibirité, também se encontra abandonada, sendo, nos dias atuais, utilizada
como refúgio de criminosos. O monitoramento do fluxo de pessoas é dificultado pela falta de
controle nas portarias oficias e pela quantidade de entradas clandestinas, em locais onde as
cercas foram cortadas.

O envolvimento entre funcionários e a comunidade ainda é muito tímido. No bairro


Jardim Canadá, auxiliado pela proximidade com o Centro de Visitantes, concentração da
maioria dos funcionários do PESRM e pelas ações do atual Gerente de Comunicação e
Meio Ambiente, a comunicação é favorecida. Nas outras comunidades, a comunicação é
praticamente inexistente, pesar da maior freqüência de visitantes para lazer e esportes.

A prevenção e combate a incêndios é favorecida pela existência do Centro Integrado


de Combate a Incêndio Florestais do Corpo de Bombeiros próximo à entrada do Barreiro.

A regularização fundiária dos locais sob risco de invasões torna-se uma necessidade
imediata, principalmente no Vale do Jatobá e no Bairro Solar. Existe a necessidade de
regularização e integração de funcionários, cuja moradia é permanente no PESRM, como
ocorrida no bairro Independência e dois funcionários do IEF, no bairro Jatobá.

169
3.8.5. Resultados do diagnóstico do uso público

O único dado estatístico sobre visitação que o PESRM possui é o Relatório de


Resultados do ano de 2004, produzido pelo Gerente de Comunicação o Sr. Luiz Roberto
Bendia, que comprova a relevante visitação de grupos formados por instituições de ensino.
Os dados revelam que, em 2004, o PESRM recebeu 4.291 visitantes, advindos de 45
instituições de ensino pertencentes aos municípios do entorno do parque, em sua maioria
composta por alunos de 1º e 2º grau, universitários e professores.

Para caracterizar o uso público da unidade de conservação foi realizada uma


pesquisa de demanda através do uso de questionários semi-estruturados para coleta de
informações junto a diferentes públicos-alvos. A seguir são apresentados os principais
resultados.

3.8.5.1. Pesquisa de Demanda Atual de Uso Público

Realizou-se uma pesquisa sobre a atual demanda com relação ao Uso Público do
PESRM quando foram aplicados questionários a visitantes do Parque nas portarias dos
bairros Jardim Canadá e Barreiro. Foram realizadas 286 entrevistas, ocorridas durante a
semana e nos fins-de-semana. O período de coleta de dados através das entrevistas teve
duração total de 400 horas.

As menores amostragens ocorreram na portaria do bairro Barreiro, durante o meio da


semana (n=28) e durante o final da semana (n=58), local com ocorrência de menor fluxo de
visitantes para o parque. No entanto, os resultados obtidos na portaria do Barreiro revelam o
fluxo real de visitantes ao parque, ao passo que na portaria do bairro Jardim Canadá a
visitação é superestimada pelo enorme número de veículos que trafegam em direção à
Casa Branca e Ibirité.

3.8.5.2. Caracterização do Visitante

Com relação ao dia da semana e o local amostrado, o público é composto, em sua


maioria, por homens entre 22 e 50 anos, sendo baixa, no geral, a freqüência de mulheres.
No Barreiro, durante o meio da semana, o público feminino foi inferior a 11% e, no final de
semana, não ultrapassou 27,5%.

Quanto ao estado civil dos visitantes foi mais freqüente a entrada de pessoas
solteiras na portaria Barreiro durante a semana, diminuindo aos finais de semana. Na
portaria do Jardim Canadá foi mais freqüente a visitação de pessoas casadas, tendo um
pequeno aumento no fim de semana. Tal fato pode ser atribuído ao grande número de
casais em direção a residências de fim de semana no distrito de Casa Branca.

O público mais jovem foi constatado na portaria do Barreiro, nos dois períodos da
semana, com maior freqüência de pessoas da faixa etária de 22 a 30 anos, seguido da faixa
de 16 a 21 anos e, finalmente, de 31 a 50 anos. Este público jovem é composto,
principalmente, por praticantes de esportes (futebol, basquete e cooper) que visitam trilhas e
as quadras do Centro Integrado com maior freqüência durante a semana.

Na portaria do Jardim Canadá a faixa etária mais freqüente é a de 31 a 50 anos,


seguida da faixa de pessoas maiores de 51 anos. Tal público, como já mencionado, é
composto de pessoas a caminho de Casa Branca para trabalho (durante a semana) ou lazer

170
(durante o fim de semana). Tal resultado é corroborado pela renda mensal diagnosticada,
onde a maioria do público do Barreiro é de pessoas cujo salário não ultrapassa R$ 900,00
(novecentos reais), enquanto o público do Jardim Canadá ganha, com grande freqüência,
valores acima de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

A visitação

Com relação ao meio de transporte utilizado para se chegar ao parque, as amostras


do Jardim Canadá, durante todo o período, apresentaram o carro de passeio como o meio
mais utilizado, sendo os valores de 69% e 90% para o meio e final de semana,
respectivamente. No Barreiro houve uma alta freqüência de visitantes que chegaram de
carro durante o fim de semana e durante a semana (42,1 % e 32,14%, respectivamente). No
entanto, a freqüência de pessoas que chegaram ao parque a pé foi de 39,3% durante a
semana e 22,8% durante o fim de semana e, de bicicleta, de 26,3% durante o fim de
semana.

Quanto à composição dos grupos de visitantes foi observado que durante a semana,
tanto no Barreiro quanto no Jardim Canadá, a maioria das pessoas entraram sozinhas nos
limites do parque. Em ambos os pontos, muitos visitantes são passantes que utilizam as
estradas para “cortar caminho” pelo parque. No Barreiro, um grande número dos visitantes
sozinhos, em sua maioria homens, visita as quadras e fazem cooper. A composição dos
grupos, ao analisar os dois locais amostrados, difere durante o fim de semana. No Jardim
Canadá, ocorre uma maior porcentagem de famílias, viajando para Casa Branca e Ibirité,
enquanto que, no Barreiro, há uma grande freqüência de esportistas no próprio parque ou
em Moeda e região do Retiro das Pedras.

Com relação ao tempo de visita, observa-se uma marcante diferença entre as


portarias do Jardim Canadá e Barreiro. Durante a semana e no fim de semana, a maioria
dos visitantes que utilizam a portaria do Jardim Canadá para entrada no parque estão
apenas de passagem (90 e 80%, respectivamente). Por outro lado, os visitantes que entram
pela portaria do Barreiro permanecem, em sua maioria, até 4 horas dentro do parque
durante a semana (74,5%) e no fim de semana (93%).

Durante o meio de semana, observa-se uma grande freqüência de pessoas que


alegam visitar o parque diariamente em ambas as portarias (cerca de 39%). Entretanto,
estas pessoas podem caracterizar-se apenas como passantes no Jardim Canadá. Uma
parte do total de visitantes também é composta de passantes no Barreiro. No entanto,
grande parte dessas pessoas é de praticantes de esportes como futebol, cooper e
caminhada. No Barreiro, durante toda a semana, é freqüente um público que visita
semanalmente o parque. Este número é um pouco inferior no Jardim Canadá, onde também
é freqüente um grande número de pessoas que raramente visitam o parque.

Avaliação e conhecimento sobre o PESRM

Os visitantes que utilizam a portaria do Barreiro durante a semana foram os que


melhor avaliaram o parque (71% “Muito Bom” e 29% “Bom”). Durante a semana, a totalidade
dos entrevistados classificou o parque como “Bom” (57, 14%) e somente 10,2% não o havia
utilizado ainda. Nenhum visitante do Barreiro classificou o parque como “Ruim” ou “Muito
Ruim”. A maioria dos visitantes que utiliza a portaria do Jardim Canadá, com entrada
durante a semana, classificou o parque como “Bom” (35%).

O conhecimento acerca da existência de uma unidade de conservação na


abrangência da área do parque foi superior a 95%, em todos os locais e períodos da
171
semana, exceto no Barreiro, durante a semana, quando 60% das pessoas não sabiam que
adentravam um Parque Estadual ou unidade de conservação.

Origens e destinos dos visitantes

Os resultados indicam que o público visitante, amostrado na portaria do Jardim


Canadá, apresenta maior freqüência de passantes, ou seja, pessoas que apenas utilizam a
estrada que corta o parque como via de acesso para outras localidades. Os visitantes que
entram no PESRM são provenientes de diversos municípios (totalizando 27), sendo
registrados 20 municípios para a entrada pelo Jardim Canadá e sete para pela entrada pelo
Barreiro, sendo o maior número de municípios registrado na portaria do Jardim Canadá no
meio de semana (18) e o menor na portaria do Barreiro também no meio de semana (4).

Na portaria do Jardim Canadá existe a predominância de visitantes vindos da cidade


de Belo Horizonte (34%) e de Casa Branca (26%), durante a semana e de Belo Horizonte
(69%) durante o fim de semana. Pode-se presumir que tais pessoas estão a trabalho ou a
lazer em Casa Branca ou são residentes nesta localidade, retornando do trabalho na capital.
Por outro lado, no Barreiro existe a predominância de visitantes oriundos de Belo Horizonte
(78,5%) durante a semana, e Belo Horizonte (56,25%) e Cardoso (27,08%), durante o fim de
semana. Presume-se que tais pessoas também possam estar utilizando o parque como
passagem. No entanto, outros tópicos da pesquisa comprovam que grande parte destas
pessoas entra no parque para fins de lazer e recreação.

O número de destinos dos visitantes foi geralmente inferior quando comparado à


origem destes em todas as portarias e períodos de amostragem. Os visitantes destacam o
parque, principalmente, como via de acesso a outras localidades, se dirigindo a diversos
municípios (18), sendo registrados 16 na portaria do Jardim Canadá e 6 no Barreiro, sendo
o maior número de municípios registrados na portaria do Jardim Canadá, durante o fim de
semana (16), e os menores na portaria do Barreiro, no meio e no fim de semana (5).

Como destino, houve predominância do distrito de Casa Branca (45%) e Belo


Horizonte (22%), durante a semana, e de Casa Branca (76%) no fim de semana, na portaria
do Jardim Canadá. Por outro lado, na portaria do Barreiro, houve predominância de Belo
Horizonte (46,43%) e atrações do PESRM (21,43%) durante a semana, e atrações do
PESRM (64,58%) e Casa Branca (16,66%) durante o fim de semana. As atrações do
PESRM mais citadas pelos entrevistados na portaria do Barreiro foram quadras poli
esportivas, quiosques do CICICB, as trilhas e os mirantes Planeta e Três Pedras.

Resposta e sugestões às atividades promovidas pelo PESRM

Quanto à possibilidade de atividades circunstanciais, promovidas pela gestão do


PESRM em seu interior, o público se mostrou mais receptivo na portaria do Jardim Canadá.
Neste local, as atividades sugeridas de “Educação Ambiental” e “Visitas Guiadas” tiveram
aceitação semelhante, durante o meio de semana. Tal resultado ilustra o desejo dos
visitantes que apenas passam pelo parque, de conhecê-lo melhor e desvendar suas
qualidades. No Jardim Canadá, houve ainda a sugestão de outras atividades, como a
doação de mudas de espécies nativas.

Na portaria do Jardim Canadá, durante a semana, as sugestões giraram em torno da


melhoria em segurança, abordando aspectos como: policiamento, fiscalização na portaria e
dentro do parque, prevenção e combate a incêndios, melhoria na sinalização da estrada e
maior controle do tráfego de caminhões na estrada de asfalto. Quanto ao aprimoramento de
infra-estrutura e manejo para visitação, foram mencionados aspectos como a melhoria da
172
sinalização de atrativos e melhoria da comunicação do parque com os visitantes (folders e
guias). Aspectos que se referem à preservação do parque os visitantes entrevistados
abordaram a necessidade de ações para conservação da fauna e flora, melhoria da coleta
de lixo, conscientização da população com relação aos cuidados com o parque e retirada
das mineradoras e de suas propagandas, como as da empresa MBR, de dentro do parque.
Houve ainda sugestões acerca da necessidade de elaboração de eventos de integração
com a comunidade como caminhadas guiadas, cavalgadas, arvorismo e grupo de
escotismo.

Durante o fim de semana, na mesma portaria, a maioria dos entrevistados não


opinou. Dentre os que opinaram, muitas sugestões giraram em torno de temas como a
preocupação com o fluxo de veículos, principalmente caminhões dentro dos limites do
PESRM, melhorias de infra-estrutura, melhoria da segurança, policiamento, combate a
incêndios e fiscalização dos visitantes. Algumas pessoas atentaram sobre a necessidade de
maior divulgação do parque nas mídias escrita e falada, bem como a divulgação para o
público geral, dos trabalhos científicos desenvolvidos no interior da unidade. Uma sugestão
mencionou como necessária a proibição de visitantes ao parque e o incremento da fauna
local através de reintrodução.

No Barreiro, a aceitação e desejo por atividades promovidas pela gerência do


PESRM foram menores possivelmente devido à independência, liberdade e modo atual de
uso deste público da área do parque. Houve manifestações dos visitantes quando
indagados sobre sugestões para a melhoria do PESRM as quais, muitas vezes, se limitavam
a interesses particulares do visitante.

Durante a semana as sugestões foram relacionadas aos tópicos de segurança e


infra-estrutura como, por exemplo, a necessidade de melhoria das opções de lazer e acesso
aos atrativos, bem como a oferta de serviços, como lanchonetes, restaurante e telefone
público. A segurança foi mencionada como deficiente no que tange a fiscalização de
visitantes e policiamento. Uma maior interação do PESRM com a comunidade também foi
requerida por visitantes deste local.

Durante o fim de semana as sugestões também foram relacionadas à segurança,


infra-estrutura e manejo da visitação como, por exemplo, a melhoria do policiamento, maior
assistência do Corpo de Bombeiros para a criação e treinamento de brigadas voluntárias e
orientação de visitantes durante a ocorrência de incêndios. Quanto à infra-estrutura e
manejo para a visitação, foi citada a necessidade de implantação de bebedouros nas
quadras poli esportivas, luzes nos quiosques, playground para crianças, um espaço
adequado para orações para os evangélicos e a realização de visitas guiadas.

Considerações finais sobre a pesquisa de demanda

O público visitante da portaria do Barreiro se caracteriza, a priori, como usuário do


parque, sendo freqüente a prática de esportes (caminhada, corrida, ciclismo e futebol) ou
atividades de contemplação e integração com a natureza (visita a mirantes, estudo, etc). A
localização atual do Centro de Visitantes não é inadequada para estes usuários. Faz-se
necessário à priorização de projetos de educação ambiental e comunicação na portaria do
Barreiro, onde o público inicia seu percurso pelo parque, permanecendo nele por volta de 4
horas.

Além disso, percebeu-se que a localização da portaria do CICICB é inadequada, pois


a maioria dos freqüentadores do local utiliza acessos clandestinos, não passando por esta
portaria. O presente estudo é corroborado com os resultados obtidos por Peixoto (2004) que
ressalta aspectos sobre a “Percepção” e a “Interação” dos usuários com o PESRM. As
conclusões da autora indicam que a maioria dos visitantes é mal informada sobre o parque e
173
suas restrições, apesar de, na maioria das vezes, terem uma imagem positiva sobre o
mesmo.

3.8.5.3. Atrativos atuais e potenciais

Durante o diagnóstico do Uso Público do PESRM foram identificados e mapeados os


atrativos de uso atual e potencial (Figura 3.95), os quais, caracterizados, serviram de base
para a definição dos roteiros de visitação.

3.8.5.4. Impactos observados no interior da UC

A partir da avaliação de cada sítio de amostragem foi possível identificar (Tabela


3.21) e mapear (Figura 3.96) os principais impactos observados no interior do PESRM.

Tabela 3.21. Principais impactos observados no interior do Parque Estadual da Serra do Rola Moça,
Minas Gerais, durante a elaboração do plano de manejo da unidade.

Lixo Invasão Biológica


Bota fora Animais semi-domesticados
Arremessado dos carros na estrada Herbáceas invasoras - Mellinis minutiflora
Jogado por visitantes nas trilhas Arbóreas invasoras
Manutenção e esvaziamento de latas de lixo Cultivos clandestinos

Extração vegetal e caça Incêndios criminosos e acidentais


Caça Limpeza de terreno
Flora medicinal Cultos religiosos
Flora ornamental Consumo de cigarros
Lenha Incêndios criminosos

Erosão Acidentes e problemas médicos


Veículos off-road (jipes, motocicletas e gaioleiros) Automóvel
Em trilhas (trekking e mountain-bike ) Derramamento de óleo na pista
Drenagem defeituosa Tropeços na trilha
Decorrentes de atividades impactantes Picadas por fauna peçonhenta
Estradas mal-planejadas Lesões diversas

Construções irregulares Atropelamento da fauna


Invasão de terrenos Proposital / Acidental

Atividades impactantes Crimes


Veículo fora da estrada Assaltos / roubos
Trail Furtos
Uso de trilhas irrestritas Assassinatos
Soltura de pipas Desova de cadáveres
Cultos religiosos Desova de veículos
Outras causas diversas Pessoas não identificadas

174
Figura 3.95. Identificação e localização dos atrativos do Parque Estadual da Serra do Rola Moça
(PESRM), Minas Gerais.

175
Figura 3.96. Impactos identificados no interior do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas
Gerais, durante a elaboração do plano de manejo da unidade.

176
3.8.5.4.1. Estradas internas ao PESRM

O PESRM é cortado por estradas que ligam Belo Horizonte a cidade de Ibirité e
Brumadinho (Casa Branca). Essas vias não apresentam fiscalização e têm sido utilizadas
como rota de fuga e trânsito de vândalos (Peixoto, 2004). Segundo o mesmo autor, a
existência de desvios e caminhos clandestinos nestas estradas dificulta ainda mais a
fiscalização e coibição de ações de tais atividades praticadas. Outros impactos também são
observados nas estradas internas do PESRM como, por exemplo, a alta velocidade dos
automóveis gerando riscos de acidentes e atropelamentos de visitantes, pesquisadores e da
fauna silvestre, deposição de lixo arremessado dos carros nas canaletas de drenagem e a
possibilidade de propagação de incêndios originados pelo arremesso de cigarros acesos.

Ao longo das estradas, principalmente aquelas que ligam às áreas urbanas próximas
ao PESRM, os incêndios podem se disseminar a distâncias de até 300m das suas margens.
Dessa forma, o risco de incêndios no parque é agravado pela existência de uma malha de
estradas associada à fiscalização deficiente de trânsito.

A sinalização da estrada de asfalto mostra-se deficiente no que tange a inserção de


placas de regulamentação, advertência e educativas. Em diversos trechos, há ausência de
placas advertindo a passagem de pedestres e ciclistas, de faixa de pedestre nas saídas de
atrativos turísticos, de placas advertindo quanto à travessia de animais selvagens cruzando
a pista ou áreas com desmoronamento ou pista escorregadia quando molhada. Em vários
pontos da estrada de asfalto foram detectados derramamentos de óleo que comprometem a
segurança de motoristas e podem gerar impactos ambientais. Inexiste uma infra-estrutura
destinada aos ciclistas e motoristas pela ausência de acostamento. Também não possui
placas de regulamentação para orientação dos pedestres, placas educativas que tem como
objetivo informar os procedimentos de proteção da unidade, bem como placas indicativas
para direcionamento dos visitantes aos atrativos turísticos. São ausentes também os
dispositivos de canalização e proteção contínua, como gradis ou prismas e barreiras de
concreto, com o objetivo de evitar a transposição da faixa de tráfego para estradas de terra
alternativas, muitas vezes feita sobre a vegetação nativa.

A estrada de asfalto que liga o Jardim Canadá a Casa Branca possui características
compatíveis com as requisitadas para uma “Estrada Parque”, segundo documento
elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica (2004). Neste documento, “uma Estrada
Parque é um museu permanente de percurso que atravessa unidades de conservação,
implantada com o objetivo de aliar a preservação ambiental ao desenvolvimento sustentável
da região, através do fomento ao ecoturismo e às atividades de educação ambiental, lazer e
cultura”. Essa estrada permite que o passeio se torne uma boa experiência em termos de
aproveitamento visual dos elementos naturais e históricos ao longo de seu percurso, sendo
necessário intervenções que promovam o turismo e o aperfeiçoamento do seu tráfego,
valorizando a beleza cênica em sua extensão.

A estrada de asfalto pode ser um alternativa para viabilizar atividades econômicas


e/ou de subsistência para as comunidades do entorno do PESRM, além de favorecer o
desenvolvimento do turismo rural e incentivar outras atividades turísticas. Pode-se
aproveitá-la para fomentar a instalação de empreendimentos turísticos, como pousadas,
restaurantes e centros culturais na região do parque, bem como facilitar o desenvolvimento
do uso público da própria unidade de conservação. No entanto, deve ser considerado o
custo-benefício de manutenção da mesma no interior da unidade, os impactos ambientais
inerentes, principalmente com relação à manutenção da integridade dos ecossistemas e
organismos naturais.

177
3.8.6. Proposta para o uso público do PESRM

O uso público pode ser a alternativa do PESRM na conservação de seus recursos


naturais, de forma a reforçar seus valores, bem como enfraquecer seus problemas, com
base nos princípios da sustentabilidade. Seu entorno imediato, populoso e impactado,
poderá garantir um grande contingente de visitantes na busca de uma melhor interação com
a natureza.

As propostas apresentadas a seguir se basearam nas recomendações do documento


“Planejamento de uso público em unidades de conservação”, elaborado pelo Projeto Doces
Matas (IEF, IBAMA, Fundação Biodiversitas, GFA/IP – GTZ, 2005). Entretanto, foram feitas
algumas adaptações para atender as necessidades observadas no PESRM.

3.8.6.1. Serviços e atrativos

Para melhor compreensão deste tópico utilizou-se a mesma divisão do parque em


sítios, conforme descrito na metodologia de trabalho do presente plano de manejo. Para
cada sítio foram abordados os aspectos relacionados às atividades de lazer, educacionais e
culturais, os equipamentos relacionados ao uso público e o uso público na área de influência
da unidade.

Sítio I - Mineração

1. Atividades de lazer, educacionais e culturais: O distrito de Casa Branca e


o sítio Mineração possuem aspectos histórico-culturais, ecoturísticos e
paisagísticos que podem ser utilizados para as diversas abordagens, de
forma integrada. No que diz respeito às suas inegáveis vocações turísticas,
os dois locais podem se beneficiar através do turismo histórico-cultural
(presença de antigas catas), escalada no quartzito (Serra das Andorinhas),
Educação Ambiental e Patrimonial.

2. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: A pesquisa


científica ganha oportunidades para sua inserção na área, através de projetos
de recuperação de áreas degradadas, assim como análises da prática
turística ocorrente em Casa Branca. O eucaliptal, apesar da sua constante
ameaça à biodiversidade do PESRM, pode apresentar-se como uma
alternativa ao conflito, na tentativa de utilização da madeira produzida pelo
próprio PESRM no manejo da unidade e melhoria da infra-estrutura para
visitação. São essenciais o isolamento, cercamento e monitoramento
contínuo do parque para garantir a segurança em toda a sua área, sendo
uma alternativa à implantação de um Centro Integrado da Polícia Ambiental
no local onde se encontra a Mineração Santa Paulina.

3. O uso público na área de influência da unidade: Há grande necessidade


de elaboração e implantação de projetos de trabalho social e estabelecimento
de parcerias com as lideranças do entorno, principalmente na porção
noroeste, na região de Ibirité. Também é necessário resolver a situação do
lixão e da Mineração Santa Paulina.

178
Sítio II - APE Taboões

1. Atividades de lazer, educacionais e culturais: A Educação Ambiental e


Patrimonial pode ser utilizada como ferramenta de valorização da área por
parte dos moradores do entorno e como impedimento para ação de
criminosos.

2. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: A pesquisa


científica pode inserir-se como atividade relevante na área através da
recuperação de áreas degradadas e de estudos sociais da região. Um estudo
acerca da viabilidade de visitas orientadas, para observação de anfíbios,
auxiliaria a educação ambiental e patrimonial da área. A fim de impedir o uso
do parque como esconderijo, a portaria de Ibirité deve ser destruída ou
reativada. Como citado para o Sítio I Mineração, a presença de um Centro
Integrado da Polícia Ambiental poderá solucionar o problema, podendo
acarretar outros benefícios à região.

Sítio III - APE Bálsamo

1. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: Na parte


baixa da Serra do Rola Moça, próximo aos mananciais Bálsamo e Rola Moça,
deve ser preservado o cerrado sensu stricto, por se tratar de uma área de
grande biodiversidade, singularidade da vegetação e beleza cênica. A
utilização da parte alta da Serra do Rola Moça para fotografia e contemplação
deve manter-se, entretanto, com monitoramento constante e delimitando o
acesso de pessoas e veículos. A pesquisa científica pode ser intensificada no
mirante Morro dos Veados. O mirante Jatobá, a princípio, pode ser estudado
como área de recuperação, mas, principalmente, para estudos de capacidade
de carga do ambiente de canga à visitação. Deve ser realizado um trabalho
específico de sinalização, no Mirante dos Veados, que determine as áreas
onde ocorrem pesquisas e as poças temporárias de reprodução de anfíbios,
através de sinalização informativa e interpretativa das áreas preservadas,
mostrando ao visitante o impacto causado pelo pisoteio, com fins de
sensibilização. A criminalidade, o trânsito irrestrito de pessoas e a velocidade
dos veículos que cruzam a estrada devem ser controlados. A estrada carece
de trabalho específico de sinalização em todo o seu percurso, pois segundo
funcionários do PESRM, há freqüentemente atropelamento da fauna nativa.
Os veículos jogados nos vales devem ser retirados com urgência a fim de
interromper a atividade de coleta de material nos mesmos. O eucaliptal,
localizado na divisa do PESRM próxima a área de cerrado sensu stricto, deve
ser freqüentemente monitorado, de forma a detectar e evitar o
estabelecimento e crescimento de plântulas de eucalipto nas áreas no interior
do Parque. A retirada dos eucaliptos deve ser planejada para facilitar a
regeneração natural.

2. O uso público na área de influência da unidade: O cultivo na área,


principalmente de ervas, deve ser aproveitado no seu aspecto turístico e
como alternativa de renda da população local. Deve ser incentivada a
comercialização de produtos a visitantes, com a oferta de produtos como, por
exemplo, aromaterapia e ervas medicinais, evitando-se a coleta de material
vegetal nativo no interior e no entorno do parque.

179
Sítio IV - Região do Barreiro (antigo Parque Jatobá)

1. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: Este sítio é


o que mais sofre com a falta de controle e de restrição à entrada de pessoas.
O terreno do PESRM deve ser demarcado através de estruturas físicas, como
cercas-viva para evitar as invasões e a entrada não controlada da população,
principalmente por se tratar da área que mais sofre com os cultos religiosos.
A nascente do rio Arrudas deve ser monitorada freqüentemente com base em
estudos sobre a capacidade de carga de visitação. Em outro ponto, nas
proximidades da empresa SICAL e do campo de futebol construído pela
Prefeitura de Belo Horizonte, existem diversas trilhas utilizadas por
criminosos, sendo importante a ocupação e o monitoramento desse local,
além da determinação física do limite exato do PESRM. Próximo ao bairro
Solar há resquícios de uma antiga área de mineração com erosões já em
estado avançado, onde podem ser explorados os aspectos de educação
ambiental e histórico-cultural. É necessária a execução de um trabalho de
conscientização e acompanhamento das famílias dos funcionários do
PESRM, de modo a regulamentar a situação de suas moradias. Um exemplo
é a casa do Sr. Nonô, que possui animais domésticos e plantas cultivadas,
atitude comum a todas as casas e mananciais, além de entulho, lixo e falta de
saneamento. A necessidade de uma ação de controle e vigilância da área do
Parque Jatobá é premente, por se tratar da área que mais recebe visitação. O
baixo fluxo de pessoas que entram no parque pela portaria do CICICB,
posicionada próximo a este sítio, demonstra sua má localização, sendo
necessário seu reposicionamento. As moradias de funcionários existentes no
local podem ser aproveitadas para este fim. Na área, deve haver ação intensa
da PM para minimizar os altos índices de criminalidade. O PESRM deve
considerar tal freqüência de pessoas da região como fator positivo e se
beneficiar de tal fraqueza através da integração das comunidades com o
parque por meio de atividades esportivas como torneios de futebol e
concursos de pipa (sem cerol).

2. O uso público na área de influência da unidade: O PESRM deve buscar


parcerias para promoção de um trabalho de educação ambiental e social com
a comunidade do entorno do antigo Parque Municipal Jatobá, onde ocorrem
visitas irrestritas e ameaças de invasão de terreno. O objetivo desse trabalho
deve ser a busca de lideranças para auxiliar na disseminação de
informações. Para a sensibilização dos praticantes das atividades religiosas é
preciso tomar medidas urgentes, restringindo e monitorando tal prática, para
evitar incêndios. Por causa da entrada de visitantes para esses fins, é
necessário monitoramento da Cachoeira do Bicão, que sofre poluição
desenfreada e visitação irrestrita. O cultivo de horta, pomar, plantas
ornamentais exóticas e criação de animais próximos aos limites do PESRM é
intenso, fazendo-se necessária a orientação dos funcionários para
monitoramento. Além disso, deve ocorrer a sensibilização dos vizinhos,
sobretudo sobre os impactos decorrentes da invasão biológica, coleta de
lenha e plantas medicinais, e a soltura de pipas com a utilização de cerol.

180
Sítio V - APE Barreiro

1. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: Atualmente,


a infra-estrutura do Centro de Combate a Incêndios Florestais do Corpo de
Bombeiros não é utilizada em sua total potencialidade. Propõe-se um estudo
de viabilidade para realização de um curso de educação ambiental ministrado
pelos próprios Bombeiros. Segundo o Corpo de Bombeiros, este tipo de
atividade é viável durante os períodos de menor risco de incêndio. Também
podem ser realizados eventos na área externa do Centro Integrado de
Combate a Incêndios com o objetivo de integração do parque com a
comunidade e sensibilização. São necessários o controle de animais
domésticos e de plantas exóticas na barragem. Há necessidade de um
estudo sobre as empresas e indústrias sediadas no entorno do PESRM. A
presença de uma fábrica de cimento, uma indústria de alumínio e de uma
mineração torna necessário o monitoramento do destino de seus rejeitos e
impactos ambientais. O trânsito irrestrito de pessoas não é evitado pela
presença da portaria do CICICB o que possibilita a constante prática de
atividades religiosas, fazendo necessário o desenvolvimento de um projeto
semelhante ao recomendado para o sítio anterior, de preferência de forma
integrada. As pesquisas realizadas pelo CETEC (1993), além de recentes
levantamentos acerca da fauna e a flora da região, devem ser consideradas
como fonte de referência para a atualização dos cursos, palestras e falas dos
funcionários do PESRM.

2. Atividades de lazer, educacionais e culturais: O manancial do Barreiro


pode ser aproveitado para um trabalho de sensibilização da comunidade dos
bairros próximos. Sua característica atrativa de ser uma barragem com
construções antigas, além da presença do “Museu do Barragista”, favorece a
prática de atividades de educação ambiental e patrimonial. Outro fator
positivo é a presença do Parque Municipal Burle Marx, a poucos metros da
entrada da barragem. O desenvolvimento de parcerias entre estas duas
instituições facilitaria e fortaleceria as ações educacionais e de integração. Os
exemplares centenários de jatobá agregam alto valor turístico a esta área do
parque. Juntamente com a Cachoeira Álvaro Antônio, este aglomerado de
árvores forma um conjunto de atrativos naturais de alta hierarquia do ponto
de vista turístico. Podem ser desenvolvidas nesta área atividades e trilhas
para a educação ambiental e patrimonial. A estrada do Barreiro deve ser
monitorada a fim de restringir e controlar o acesso. A prática de atividades
livres e auto-guiada como trekking/cooper e mountain-bike deve ser permitida
somente nos limites da estrada, após a realização de um trabalho de
sensibilização junto aos praticantes.

Sítio VI - APE Mutuca

1. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: Na divisa


com a BR-040, o PESRM, juntamente com a Polícia Militar ou Rodoviária,
deve promover campanhas educativas periódicas de modo a sensibilizar os
motoristas e passageiros sobre a importância da área e, principalmente,
sobre questões relacionadas ao desencadeamento de incêndios e à
deposição de lixo. O Museu Ecológico, quando terminada a sua reforma,
deve ser utilizado amplamente para o objetivo de educação ambiental, assim
como a trilha interpretativa. Na mesma trilha, há uma área onde foi realizada
uma pesquisa pelo CETEC (1993) para recuperação de áreas degradadas.
Os resultados de tal pesquisa podem ser explorados do ponto de vista da
educação e como fonte de futuras iniciativas científicas.

181
2. O uso público na área de influência da unidade: O PESRM deve
estabelecer parceria com o restaurante “Companhia do Boi” a fim de
promover ações em conjunto, principalmente, nas questões relacionadas à
segurança e ao combate a incêndios.

Sítio VII - APE Catarina

1. O uso público na área de influência da unidade: Neste sítio é necessário


um trabalho de sensibilização e informação da comunidade, principalmente
com relação à visitação de um dos principais campos ferruginosos,
freqüentemente danificados pelo uso de veículos como Jipes e bicicletas e a
companhia de cães. A coleta de plantas ornamentais, lenha, plantas
medicinais e o pisoteio de poças temporárias são outros exemplos de
pressões nesta área. Da mesma forma, o banho na barragem deve ser
proibido, principalmente, junto aos moradores do Condomínio Retiro das
Pedras. Devem-se solidificar, através de trabalhos comunitários, as parcerias
com associações e lideranças.

2. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: Após um


estudo detalhado da situação jurídica da Mineradora Extrativa Paraopeba, o
PESRM deve reivindicar o devido trato da área minerada, formalmente. O
Centro de Visitantes do PESRM deve ser aproveitado, ao seu máximo, para
realização de qualquer evento ou reuniões relacionados ao PESRM. O
sistema de monitoramento necessita da execução de um trabalho de
geoprocessamento para a produção de mapas, de fácil interpretação, sobre
as áreas monitoradas pelas câmeras e das lacunas que não permitem
monitoramento, para visitação. O isolamento e controle de toda a região,
através de impedimento físico, devem ser realizados (cercas ou muros).
Deve-se estudar a viabilidade de operacionalização de um Centro de
Educação Ambiental, na casa de propriedade do IEF, localizada na Rua
Montreal, no bairro Jardim Canadá. Além disso, deve ser estudada a
viabilidade de anexar o “Vale do Retiro”, de propriedade da MBR -
Minerações Brasileiras Reunidas S/A, à área do PESRM, como área de uso
extensivo, após prévia articulação com a empresa. Existe um projeto de
criação de uma RPPN no referido local (RPPN Forte de Brumadinho) o que
está também de acordo com os objetivos do PESRM.

3. Atividades de lazer, educacionais e culturais: A barragem, já utilizada pela


COPASA como área de educação ambiental de seus funcionários, também
pode ser utilizada para a mesma finalidade junto a outros públicos-alvos,
principalmente junto à comunidade do entorno. É importante colocar em
prática os projetos de pesquisa que fomentem o desenvolvimento comunitário
sustentável (p.ex. propagação de espécies de plantas nativas e Escola de
Guias), com o objetivo de atrair a comunidade e estabelecer um
relacionamento de respeito com o PESRM. Estes projetos devem ter caráter
piloto, pois a partir do sucesso neste sítio, pode-se ampliar a atividade para
outras localidades do parque e região.

182
Sítio VIII - Estação Ecológica de Fechos

1. O uso público na área de influência da unidade: É necessário que o


PESRM e outros atores tomem medidas preventivas em relação à ocupação
do entorno deste sítio. Através de interlocução com a Prefeitura de Nova Lima
deverão ser adequados o uso e ocupação do solo, através de um código de
conduta junto aos empreendedores locais com objetivo de ordenar e
sensibilizá-los antes do seu efetivo estabelecimento na região. A aprovação
do Plano Diretor do município de Nova Lima passou por diversos processos
de consulta à sociedade dentre os quais três audiências públicas. Apesar da
insistência nos convites para que os funcionários da diretoria do Morro do
Chapéu participassem destes eventos, nenhum dos gerentes esteve presente
nas reuniões do Plano Diretor. A presença dos mesmos em pelo menos uma
das reuniões seria muito importante para tornar pública a existência do
parque e de seus propósitos, além de evitar o inadequado zoneamento do
uso do solo proposto e aprovado para o entorno do parque. Devem ser
promovidas ações para solidificar parcerias com os bairros Passárgada,
Morro do Chapéu e Vale do Sol e suas respectivas brigadas de incêndio. É
essencial a mobilização dos empreendimentos comerciais do entorno para a
importância ambiental dessa área, de modo a servirem como agentes
fiscalizadores da entrada de pessoas não autorizadas e, principalmente, da
prevenção contra incêndios, da coleta de plantas ornamentais, lenha e
plantas medicinais, além de praticantes de trekking/cooper e mountain-bike.
Assim como no sítio Catarina, deve-se investir no isolamento e controle de
toda região, atentando para que a cerca ou o muro existente sejam
resistentes a arrombamentos. Devido ao risco e intensa invasão de cães
domésticos vindos do bairro Jardim Canadá, ações de apoio do IEF junto ao
programa de controle e esterilização de animais de rua, já em execução pela
Prefeitura Municipal de Nova Lima, devem ser estimuladas e promovidas com
vistas à expansão do programa.

2. Outros equipamentos e manejo relacionados ao uso público: As


pesquisas científicas devem ser intensificadas nesta área, devido à sua alta
diversidade biológica, aproveitando as estruturas físicas ociosas existentes no
local como pontos de apoio à fiscalização, educação ambiental e pesquisa
científica.

3.8.6.2. Infra-estrutura de apoio

As visitas devem sempre ser agendadas e acompanhadas por um responsável (guia


ou condutor credenciado pelo PESRM) em função da proximidade do parque com a área
urbana e pelo elevado número de vizinhos, que podem agravar os impactos através de
visitas não-agendadas.

As obras de melhoria e reforma de sua infra-estrutura só poderão ser executadas


através da prévia análise de cartografia de precisão e análise espacial-ambiental, realizadas
por profissional habilitado. Todas as intervenções físicas devem ser discutidas e decididas
pela gerência do parque, pelo IEF e equipe de consultoria contratada, quando for o caso.

183
Estrada Interna

Localização: Da portaria do bairro Jardim Canadá ao distrito de Casa Branca.

Realização: Deve ser articulada entre o gerente do PESRM, IEF e COPASA

Intervenções, Normas e Recomendações:

 Avaliar a viabilidade técnica de manutenção de uma estrada interna ao PESRM;

 Avaliar as cavas da Mineração Extrativa Paraopeba, uma vez que as mesmas


tornam maiores os riscos de desabamento da referida estrada em função de sua
localização na base do campo ferruginoso por onde passa a estrada.

 Realizar a correta sinalização da estrada indicando velocidade máxima permitida,


localização de atrativos e serviços, riscos de acidentes com a fauna, etc.;

 Impedir a passagem de veículos pesados;

 Cadastrar os moradores de Casa Branca que utilizam a estrada como acesso;

 Integrar a estrada que liga a portaria do Barreiro a esta estrada;

 Realizar estudos de drenagem para adequação da estrada.

Museu do Barragista

Descrição: O Museu do Barragista é uma estrutura bem conservada e atrativa, que


se encontra sob administração da COPASA por estar dentro da área de manancial.

Localização: Barragem do Barreiro, também administrada pela COPASA.

Realização: Recomenda-se que o controle seja feito através de parceria entre a


COPASA e o IEF.

Intervenções, Normas e Recomendações:

 Recomenda-se ao IEF o estabelecimento de parceria com a COPASA para


exploração do museu para atividades educativas;

 Elaboração de um projeto específico para o pleno funcionamento do museu,


realizado por um profissional da área de história ou museologia;

 Estudar o acervo e resgatar a história das pessoas que viviam no local;

 Abordar aspectos de divulgação e comunicação, tanto para o público interno como o


externo;

 Reavaliar no estudo, a capacidade de carga estimada por grupo de visitação,


elaborada pela faixa etária e espaço (1 a 15 anos – 5 pessoas; 16 a 20 anos – 7
pessoas; > 21 anos – 10 pessoas);

 O projeto deve contemplar a necessidade de melhoria de infra-estrutura de apoio,


sempre voltada ao mínimo impacto à UC.

184
Museu do Mutuca

Descrição: O Museu do Mutuca é, segundo funcionários da COPASA, destinado à


educação ambiental. Conta com uma estrutura ampla, que está em fase final de
reforma. O Museu já funcionou anteriormente e, hoje se encontra sob a
administração da COPASA por localizar-se numa área de manancial.

Localização: Barragem do Mutuca, de administração da COPASA.

Realização: Recomenda-se que o controle seja feito por parceria entre a COPASA e
o IEF.

Intervenções, Normas e Recomendações:

 Recomenda-se que o IEF estabeleça parceria com a COPASA para exploração do


museu para atividades educativas;

 Elaboração de um projeto específico para o pleno funcionamento do museu,


realizado por um profissional da área de história ou museologia;

 Estabelecimento de parcerias entre profissionais de diversas áreas (biólogo, geólogo


ou geógrafo, etc), para montagem do acervo e para execução de atividades de
educação ambiental, patrimonial e interpretação ambiental;

 O projeto deve abordar aspectos de divulgação e comunicação, tanto para o público


interno como externo;

 Reavaliar no estudo, a capacidade de carga estimada por grupo de visitação,


elaborada pela faixa etária e espaço (1 a 15 anos – 25 pessoas; 16 a 20 anos – 40
pessoas; >21 anos – 60 pessoas).

Loja de Souvenir

Descrição: A loja deve conter elementos que remetam o pensamento ao PESRM,


tanto na sua estrutura física, como nos artigos de comercialização, como objetos e
peças de vestuário com alusões aos animais e plantas do PESRM.

Localização: É recomendável que a loja seja explorada em diversos pontos do


parque, podendo localizar-se próxima às portarias escalada da Serra das
Andorinhas. Ou com um stand no Centro de Visitantes ou no Museu do Barragista e
no Museu Ecológico.

Realização: Recomenda-se que o controle seja feito por parceria entre a COPASA e
o IEF.

Intervenções, Normas e Recomendações:

 Recomenda-se a realização de um projeto específico para seu funcionamento, por


um profissional capacitado;

 Oferecer produtos que remetam o pensamento ao PESRM;

 Obedecer aos princípios da sustentabilidade;


185
 O projeto arquitetônico deve utilizar materiais de baixo impacto visual e à vegetação
sempre pensando no mínimo impacto ao parque;

 Contratar pessoas que residam próximo ao local;

 O projeto deve abordar aspectos de divulgação e comunicação, tanto para o público


interno como externo.

Biblioteca

Descrição: A biblioteca deve conter todos os trabalhos de pesquisa realizados no


PESRM.

Localização: Centro de Visitantes.

Realização: Recomenda-se que o controle seja feito pelos funcionários do PESRM.

Intervenções, Normas e Recomendações:

 Recomenda-se a contratação de um profissional de biblioteconomia para trabalhar


com o acervo;

 A biblioteca deve ficar responsável, após prévia aprovação do Gerente Geral, pelo
estabelecimento de contrato com os pesquisadores que realizem pesquisas na área
do PESRM;

 Os pesquisadores devem entregar dois exemplares de cada produto para compor o


acervo da Biblioteca;

 As consultas ao acervo devem ser abertas ao público em geral;

 Criar mecanismos que permitam os empréstimos e garantam sua devolução;

 O projeto deve abordar aspectos de divulgação e comunicação, tanto para o público


interno como externo;

 Todos os livros, documentos e as pesquisas já realizadas no PESRM devem ser


catalogados e constar no acervo.

3.8.6.3. Trilhas potenciais

Por possuir uma malha de trilhas, múltiplas e paralelas, muitas vezes geradas pela
constante vigilância da COPASA, o parque vem sofrendo impacto acentuado em seu
território. Diante disso, o uso das trilhas deve ser precedido de um planejamento que
minimize os impactos ambientais de seu uso contínuo, que indique o seu percurso, que
contenha uma correta sinalização, que indique as trilhas abertas à visitação e aquelas
exclusivas à fiscalização e manejo do parque, entre outros. Este planejamento das trilhas
deve ser feito de forma integrada entre os responsáveis pela fiscalização, manejo, educação
ambiental, administração da unidade e representantes dos parceiros locais. Durante a
elaboração do Plano de Manejo foram mapeadas as trilhas potenciais do PESRM (Figura
3.97).

186
A pedido da administração do PESRM foi definida uma ferramenta para avaliar, de
forma preliminar, o custo e atratividade para cada roteiro proposto (Tabela 3.22), visando
integrar as demandas e o orçamento disponível para a unidade. Desta forma, a presente
avaliação tem como objetivo auxiliar na tomada de decisão da administração do parque
quanto à prioridade de investimentos nas trilhas e roteiros sugeridos pelo Plano de Manejo,
com base no custo de implementação e atratividade de cada modelo proposto. Tanto para
custos como para atratividade foi definida uma escala de valor variando de I (menor custo
de implementação ou baixo poder de atratividade) a III (maior custo de implementação ou
maior poder de atratividade).

Tabela 3.22. Auxílio na identificação de prioridades de investimento para o desenvolvimento de


projetos específicos, pela administração do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, para as trilhas e
roteiros propostos com base no custo estimado de implementação e atratividade.

Custo de Prioridade de
Trilha / Roteiro Atratividade
implementação investimento
Trilha Travessia II III 1
Roteiro 1 III III 2
Trilha Campo Ferruginoso II II 3
Roteiro 4 II II 3
Trilha Morro III I II 4
Roteiro 3 I II 4
Roteiro 7 I II 4
Roteiro 2 II I 5
Roteiro 5 II I 5
Roteiro 6 I I 6
Legenda:
Custo de implementação: (I) Baixo custo; (II) Custo médio; (III) Alto custo.
Atratividade: (I) Baixa atratividade; (II) Atratividade média; (III) Atratividade alta.

187
Figura 3.97. Mapeamento das trilhas potenciais do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas
Gerais, realizado durante a elaboração do plano de manejo da unidade.

188
3.8.6.4. Roteiros de visitação

Foram elaborados trilhas e roteiros de visitação a partir dos resultados do diagnóstico


da equipe de uso público. Alguns roteiros propostos ultrapassam os limites do sítio
considerado para a realização do diagnóstico. Para todas as trilhas e roteiros é necessário a
elaboração de projetos específicos que caracterizem as melhores formas de acesso às
áreas, formato e conteúdo da sinalização, público-alvo, atividades educativas, de lazer e
culturais, além da determinação da capacidade suporte. Cada um dos itens descritos a
seguir necessita de um aprofundamento de forma torná-los ferramentas de uso público da
unidade, em consonância com o zoneamento, planejamento e gestão do parque.

As recomendações de intervenção, normas, limitação à visitação, duração da


atividade e público-alvo foram elaboradas para qualquer uma das trilhas propostas O trecho
de cada trilha e a sua capacidade suporte foi dimensionado separadamente.

Trilhas 1, 2 e 3

Intervenções, normas e recomendações: Seguir o manual de conduta, realizar


treinamento com os funcionários com base nos resultados dos diagnósticos
realizados pelos grupos do meio físico e biológico para o Plano de Manejo (Avaliação
Ecológica Rápida) e elaborar material sucinto para a informação do visitante. Fazer
intervenções físicas utilizando materiais locais, com baixo impacto visual. Realizar
trabalho de sinalização de baixo impacto visual, preferencialmente através da
utilização de piquetes.

Limitação à visitação: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis


para o acompanhamento do público-alvo.

Duração da atividade: Aproximadamente 4 horas.

Público Alvo: Escolas, visitantes em geral e moradores do entorno.

Trilha 1 - Morro III

Trecho: Centro de Visitantes - Morro III.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 75 pessoas por dia, sendo


recomendado no máximo dois grupos compostos por até 15 pessoas
simultaneamente na trilha (um grupo iniciando a trilha e outro retornando).

Trilha 2 - Campo Ferruginoso

Trecho: Centro de Visitantes - Mirante Três Pedras – Mirante Planeta – Campo


Ferruginoso – Centro de Visitantes.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 24 pessoas por dia, sendo no


máximo dois grupos compostos por até 6 pessoas simultaneamente na trilha (um
grupo iniciando a trilha e outro retornando).

189
Trilha 3 - Travessia

Trecho: Manancial Mutuca – Cachoeira Álvaro Antônio – Centro Integrado de


Combate a Incêndios do Corpo de Bombeiros

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 40 pessoas por dia, sendo no


máximo dois grupos compostos por até 10 pessoas simultaneamente na trilha (um
grupo iniciando a trilha e outro retornando).

Para os roteiros, a limitação à visitação segue a mesma lógica de dependência de


projetos específicos que desenvolvam os roteiros propostos. No geral, a limitação é
determinada a partir do número de funcionários disponíveis para o acompanhamento das
atividades de cada roteiro, do grau de dificuldade ou de conhecimento que o roteiro exige,
da determinação com maior precisão da capacidade de carga ou suporte, do perfil do
público-alvo, entre outros. Entretanto, para alguns roteiros (Roteiro 1, por exemplo) poderá
ser apresentado limitações peculiares à atividade proposta, sendo necessária considerações
específicas.

Da mesma forma, o público-alvo deverá ser definido para cada roteiro, de modo a
atender melhor aos interesses de grupos específicos. Recomenda-se que os moradores do
entorno e visitantes em geral tenham o máximo de opções possíveis, de forma a
conhecerem as peculiaridades do parque.

Para todos os roteiros foram propostas intervenções, normas e recomendações


comuns a todos eles, sendo discriminados pequenas modificações a cada um, quando
necessário, uma vez que se necessita desenvolver projetos específicos para cada roteiro..

Roteiros de 1 a 7

Intervenções, normas e recomendações: Seguir o manual de conduta, realizar


treinamento com os funcionários com base nos resultados dos diagnósticos realizados pelos
grupos do meio físico e biológico para o Plano de Manejo e elaborar material sucinto para a
informação do visitante. Fazer intervenções físicas de baixo impacto visual e realizar
trabalho de sinalização. Para o Roteiro 1 pode ser necessária a terceirização do serviço de
acompanhamento em função da especificidade da atividade proposta. Para o Roteiro 3
recomenda-se um estudo de viabilidade de visitas orientadas para observação de anfíbios
(sapos, rãs e pererecas) no período noturno, além de estabelecer os locais mais adequados
para o trânsito das pessoas no entorno da represa. Já para os Roteiros 4, 5 e 6, recomenda-
se manter as pessoas nos limites da estrada durante todo o percurso.

Limitação à visitação: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para o


acompanhamento do público-alvo.

Público Alvo: Escolas, visitantes em geral e moradores do entorno.

Roteiro 1 - Escalada no quartzito (Serra das Andorinhas) (Figura 3.98)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Limitação à visitação: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis


para acompanhamento, pois cada funcionário só poderá acompanhar no máximo 1
(uma) pessoa por escalada. Estudos prévios sobre a fauna local e processos de
190
reprodução devem ser realizados para balizar a capacidade de carga e a
sazonalidade da prática. A atividade só pode ser realizada em ótimas condições
meteorológicas.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 20 pessoas por dia em cada


via de escalada. As trilhas de acesso não poderão comportar mais de 20 pessoas ao
mesmo tempo.

Duração da atividade: Aproximadamente 4 horas

Roteiro 2 - Educação Ambiental e Patrimonial no Lixão e na Mineração Santa Paulina


(Figura 3.99)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 100 pessoas por dia, sendo o
tamanho dos grupos determinados pelas limitações da transmissão de
conhecimentos pelos instrutores / monitores.

Duração da atividade: Aproximadamente 2 horas

Roteiro 3 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na APE


Taboões (Figura 3.100)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 45 pessoas / dia. Sendo os


grupos de, no máximo 15 pessoas.

Duração da atividade: Aproximadamente 3 horas

Roteiro 4 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental no cerrado


sensu strictu e Pitangueiras (Figura 3.101)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 20 pessoas / dia. Sendo os


grupos de, no máximo 10 pessoas.

Duração da atividade: Aproximadamente 5 horas

Roteiro 5 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na antiga


mineração, próxima ao Bairro Solar (Figura 3.102)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 30 pessoas / dia. Sendo os


grupos de, no máximo 15 pessoas.

Duração da atividade: Aproximadamente 4 horas

191
Roteiro 6 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na trilha do
Museu Ecológico (Figura 3.103)

Horário: seguir horário de visitação do Museu Ecológico.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 100 pessoas / dia. Sendo os


grupos de, no máximo 10 pessoas.

Duração da atividade: Aproximadamente 40 minutos

Roteiro 7 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na barragem


Catarina (Figura 3.104)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Capacidade de Carga: Estima-se uma capacidade de 45 pessoas / dia. Sendo os


grupos de, no máximo 15 pessoas.

Duração da atividade: Aproximadamente 3 horas

192
Figura 3.98. Proposta para prática da escalada no quartzito, na Serra das Andorinhas, denominado
Roteiro 1.

193
Figura 3.99. Proposta de percurso para desenvolvimento da educação ambiental e patrimonial no
lixão e na Mineração Santa Paulina, denominada Roteiro 2.

194
Figura 3.100. Proposta de percurso para desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e
interpretação na Área de Proteção Especial (APE) Taboões, denominada Roteiro 3.

195
Figura 3.101. Proposta de percurso para desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e
interpretação no Cerrado stricto sensu e em Pitangueiras, denominada Roteiro 4.

196
Figura 3.102. Proposta de desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e interpretação na
antiga mineração próxima ao bairro Solar, denominada Roteiro 5.

197
Figura 3.103. Proposta de desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e interpretação
ambiental na trilha do Museu Ecológico, denominada Roteiro 6.

198
Figura 3.104. Proposta de desenvolvimento da educação ambiental, patrimonial e interpretação
ambiental na barragem Catarina, denominada Roteiro 7.

199
3.8.6.5. Capacidade suporte

O conceito de Capacidade de Carga (CC) significa o nível de exploração que os


recursos naturais de uma determinada região podem suportar, assegurando em simultâneo
a máxima satisfação dos visitantes e o mínimo efeito sobre o meio ambiente. A
determinação da CC deve ser entendida como uma ferramenta de planejamento que
sustenta decisões de manejo. O valor da CC inicialmente calculado pode variar de acordo
com as circunstâncias e, por isso, são necessárias revisões periódicas como parte
seqüencial de planejamento e gestão da unidade.

Os cálculos de CC realizados para as trilhas sugeridas pelo Plano de Manejo do


PESRM foram baseados em fatores biológicos e sociais, mas principalmente, aqueles
relacionados às limitações de monitoramento e tempo de duração da atividade. Para
calculá-los foram utilizados indicadores biológicos e sociais obtidos para cada trilha através
de visitas de campo, utilizando-se uma planilha de CC adaptada às condições do PESRM.
Foram também utilizados conhecimentos obtidos por meio de consultas a informações de
pesquisadores que participaram dos diagnósticos dos meios físico e biótico.

Neste contexto serão expostos os valores das capacidades de carga física, real e
efetiva das trilhas em estudo, gerando, como resultado, um valor estimado do número de
visitantes/dia (Tabela 3.23). A Capacidade de Carga Física (CCF) admite que cada visitante
ocupe um espaço físico mínimo em um tempo determinado, o que define o limite máximo de
visitas realizáveis neste espaço-tempo. A seguir é possível calcular a Capacidade de Carga
Real (CCR) e, por último a Capacidade de Carga Efetiva (CCE), que advém da comparação
da CCR com a capacidade de manejo (CM) da administração da área protegida. A CCE
significa o limite máximo aceitável de visitas que se pode permitir em dado período de
tempo. A CM é definida como a soma de condições que a administração da área protegida
necessita para poder cumprir com suas funções e objetivos de manejo. Para essa CM são
relacionadas variáveis como recurso humano disponível, equipamentos e infra-estrutura.

A legenda de cada variável utilizada para o cálculo da Capacidade de Carga, assim


como as fórmulas que permitem estimar esta capacidade estão apresentadas a seguir:

FÓRMULAS: LEGENDA:
CCF = Capacidade de Carga Física;
CCF= [(S / s) x (T / t)] x v S = Distância da trilha ou área de atrativo;
s = Distância entre grupos;
FC = (nº escolhido / 100) x 100 T = Horário de utilização do Parque;
t = Tempo de percurso;
CCR= CCF x (100 – FC1 / 100) x (100 - FC2 / v = Número de pessoas por grupos na trilha;
100) x (100 - FCn / 100)
CCR = Capacidade de Carga Real;
FC = Fatores de Correção (o valor escolhido varia de
CM = (CI / CA) x 100
acordo com o fator);
CCE = CCR x (CM / 100) CCE = Capacidade de Carga Efetiva;
CM = Capacidade de Manejo;
CI = Capacidade Instalada (quantidade de pessoas,
equipamentos e infra-estrutura disponível);
CA = Capacidade Adequada (quantidade mínima de que
se necessita ter da capacidade instalada).

200
Tabela 3.23. Variáveis utilizadas para o cálculo da capacidade de carga para o uso das trilhas e
roteiros propostos durante a elaboração do plano de manejo do Parque estadual da Serra do Rola
Moça, Minas Gerais. Para maiores detalhes consultar o texto.

Trilhas e Composição
CCF FC CCR CM CCE
Roteiros T
V t S S

(n° pessoas) (8:00 as (metros) (metros) No No


(min)
17:00 hs) grupos pessoas

Trilha 1 15 240 9 130 1266 330 -- 330 23 75 5 15

Trilha2 6 240 9 130 8162 848 -- 848 23 24 4 6

Trilha 3 10 240 9 130 10144 1755 - 1755 23 40 4 10

Roteiro 1 5 240 9 -- -- -- 87 23 20 4 5

Roteiro 2 10 120 9 -- -- -- 435 23 100 10 10

Roteiro 3 15 180 9 130 -- -- -- 196 23 45 3 15

Roteiro 4 10 300 9 130 -- -- -- 87 23 20 2 10

Roteiro 5 15 240 9 130 -- -- -- 130 23 30 2 15

Roteiro 6 10 40 9 130 -- -- -- 435 23 100 10 10

Roteiro 7 15 180 9 130 -- -- -- 196 23 45 3 15

Todos os cálculos de capacidade de carga descritos acima se basearam nas


informações que a equipe de uso público conseguiu levantar durante o período de
elaboração do presente plano de manejo. A seguir, para cada trilha e roteiro, são
apresentados alguns detalhes que foram considerados para o cálculo apresentado na
Tabela 3.23.

Trilha 1 - Morro III

Trecho: Centro de Visitantes – Morro III.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento. Em alguns locais existe o risco da presença de criminosos.
Ocorrem, ao longo de trechos da trilha, indivíduos de Vellozia sp. (canela de ema)
muito antigos que podem sofrer depredação por visitantes.

Trilha 2 - Campo Ferruginoso

Trecho: Centro de Visitantes - Mirante Três Pedras – Mirante Planeta – Campo


Ferruginoso – Centro de Visitantes.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento. Ocorrem, nesta trilha, populações de diversas espécies de
201
plantas raras, endêmicas e ameaçadas que podem sofrer coleta predatória ou
pisoteio. Ocorrem, também, diversas pesquisas científicas na área.

Trilha 3 - Travessia

Trecho: Manancial Mutuca – Cachoeira Álvaro Antônio – Centro Integrado de


Combate a Incêndios do Corpo de Bombeiros.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento. A trilha é bastante longa e de alto grau de dificuldade. Ao longo
da trilha ocorrem ambientes raros como os campos rupestres e matas de galeria com
solo turfoso (cachoeira). Atualmente, existe o risco da presença de criminosos ao
longo do caminho.

Roteiro 1 - Escalada no quartzito (Serra das Andorinhas)

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento, pois cada funcionário só poderá acompanhar no máximo 1 (uma)
pessoa por escalada. Estudos sobre a fauna local e processos de reprodução devem
ser realizados para balizar a capacidade de carga e a sazonalidade da prática. A
atividade só pode ser realizada em ótimas condições meteorológicas. As trilhas de
acesso não poderão comportar mais de 20 pessoas ao mesmo tempo. Para se
determinar a CCF devem ser feitos estudos para cada uma das vias e nas trilhas de
acesso. Devem ser determinados FCs para cada via e para as trilhas de acesso.

Roteiro 2 - Educação Ambiental e Patrimonial no Lixão e na Mineração Santa Paulina.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento e por limitações da transmissão de conhecimentos pelo
palestrante aos grupos. Deve ser determinada a logística de transporte de grupos ao
local ou se haverá acesso a pé por trilha dos centros de visitantes (Barreiro e Jardim
Canadá). Ocorre risco de encontro com criminosos. s = a ser determinado; S = deve
ser determinada após definição do itinerário / logística de transporte. Para se
determinar a CCF devem ser feitos estudos de acesso ao local.

Roteiro 3 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na APE


Taboões

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento e por limitações da transmissão de conhecimentos pelo
palestrante aos grupos. Deve ser determinada a logística de transporte de grupos ao
local ou se haverá acesso a pé por trilha dos centros de visitantes (Barreiro e Jardim
Canadá). S = deve ser determinada após definição do itinerário / logística de
transporte. Para se determinar a CCF devem ser feitos estudos de acesso ao local.

202
Roteiro 4 - Educação Ambiental, Patrimonial, Interpretação Ambiental e trilha no
Cerrado sensu strictu e Pitangueiras

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento e por limitações da transmissão de conhecimentos pelo
palestrante aos grupos. Deve ser determinado itinerário de acesso ao local e
interligação com outras trilhas provenientes dos centros de visitantes (Barreiro e
Jardim Canadá). Ocorre risco de encontro com criminosos. S = deve ser determinada
após definição do itinerário. Para se determinar a CCF devem ser feitos estudos para
determinação de trilhas de acesso.

Roteiro 5 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na antiga


mineração, próxima ao Bairro Solar.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento e por limitações da transmissão de conhecimentos pelo
palestrante aos grupos. Deve ser determinada a logística de transporte de grupos ao
local ou se haverá acesso a pé por trilha dos centros de visitantes (Barreiro e Jardim
Canadá). Ocorre risco de encontro com criminosos. S = deve ser determinada após
definição do itinerário / logística de transporte. Para se determinar a CCF devem ser
feitos estudos para determinação de trilhas de acesso.

Roteiro 6 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na trilha do


Museu Ecológico.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento e por limitações da transmissão de conhecimentos pelo
palestrante aos grupos. Deve ser determinada a logística de transporte de grupos ao
local ou se haverá acesso livre pela portaria do manancial Mutuca ou a pé por trilha
dos centros de visitantes (Barreiro e Jardim Canadá). S = deve ser determinada após
definição do itinerário/logística de transporte. Para se determinar a CCF devem ser
feitos estudos na trilha interpretativa e no museu ecológico.

Roteiro 7 - Educação Ambiental, Patrimonial e Interpretação Ambiental na APE


Catarina.

Observações: O limite vai depender do número de funcionários disponíveis para


acompanhamento e por limitações da transmissão de conhecimentos pelo
palestrante aos grupos. Deve ser determinada a logística de transporte de grupos ao
local ou se haverá acesso a pé por trilha dos centros de visitantes (Barreiro e Jardim
Canadá). S = deve ser determinada após definição do itinerário/logística de
transporte. Para se determinar a CCF devem ser feitos estudos no local de visitação
e vias de acesso.

203
Considerações sobre o cálculo da Capacidade de Carga

De acordo com os cálculos de CC apresentados acima, pode-se chegar à conclusão


de que todos os roteiros devem ser estudados com maior profundidade quanto às
características físicas e biológicas de trechos específicos para determinar com exatidão
suas Capacidades de Carga. Além disso, devem ser elaborados planejamentos de visitação
específicos para cada trilha e roteiro. Para isso, deverão ser contratadas consultorias de
equipe interdisciplinar formada por biólogo, turismólogo e geólogo, especificamente para tais
estudos. Entretanto, existe a possibilidade de se realizar consultas técnicas junto a
profissionais de instituições parceiras, especialmente instituições de ensino e pesquisa.

De maneira geral, para o PESRM, a limitação do número de visitas diárias é,


normalmente, a capacidade que o parque tem de monitoramento dos grupos. Dessa forma,
na ausência de alguns dados que permitissem a apresentação da CC mais adequada para
cada trilha e roteiro, as CC’s foram estimadas de forma conservadora, resguardando a
integridade das trilha e roteiros, com mínimo impacto possível e de forma a garantir a
segurança dos visitantes.

Os valores de CCE expostos são estimados com base no sistema atual de gestão e
na expectativa de melhorias de monitoramento da visitação a curto prazo. Os valores de
CCE podem, portanto, serem alterados com o tempo após a fase experimental do sistema
de visitação, devido ao incremento da capacidade de manejo, alterações ambientais ou
detecção de novos fatores de correção nas trilhas e roteiros.

Ressalta-se que, para todos os roteiros e trilhas são necessários projetos específicos
de acesso, sinalização e interpretação ambiental, não estando prontos para atender à
demanda da visitação, como mencionado anteriormente.

3.8.6.6. Atividades de lazer, educação e cultura

 Atividade: Uso do “campinho” da Região do Barreiro (antigo Parque Jatobá – Sítio


IV) e do campo de futebol construído pela Prefeitura de Belo Horizonte no mesmo
sítio, para torneios de futebol, concursos de pipa (projeto específico que ainda deve
ser elaborado).

Intervenções, normas e recomendações: Seguir o manual de conduta, realizar


treinamento com os funcionários, com base nas pesquisas levantadas pelos grupos
do meio físico e biológico do sítio, elaborar material sucinto para o visitante.
Determinar locais próprios para a circulação de pessoas. Utilizar as estruturas de
moradia de funcionários para apoio e alojamento dos funcionários responsáveis pela
vigilância e controle deste local. Recomenda-se a instalação de uma portaria, onde
os funcionários da portaria do Centro Integrado do Corpo de Bombeiros poderão ser
transferidos para esse local. Aproveitar os eventos e intervenções comunitárias para
orientar a comunidade do entorno sobre as restrições do parque, além de analisar
possíveis residentes do entorno, para complementar o quadro de funcionários
operacionais.

Horário: seguir horário de visitação do PESRM.

Limitação à visitação: Inicialmente, recomenda-se, no máximo, 40 pessoas no


local.

Duração da atividade: seguir horário de visitação do PESRM.

204
Público Alvo: Moradores do entorno.

Realização: fiscalização constante feita por funcionários do PESRM.

Regularização fundiária: Dentro dos limites do PESRM.

 Atividade: Cultos Religiosos (Projeto Específico)

Intervenções, normas e recomendações: O diagnóstico de uso público demonstra


que a atividade religiosa é realizada de forma irrestrita e não monitorada, e, segundo
o Corpo de Bombeiros, é a principal causa de incêndios no PESRM, devido ao uso
indevido de velas. As Cachoeiras do Bicão, Álvaro Antônio e o Cruzeiro (no Sitio
Mutuca) vêm sofrendo poluição desenfreada com a prática dessas atividades.
Torna-se essencial diagnosticar a atividade e as pessoas envolvidas, para a
realização de ações específicas, visando o combate a prática dessas atividades
dentro dos limites do PESRM.

Público Alvo: Específico

Regularização fundiária: Dentro dos limites do PESRM.

 Atividade: Estrada dos Sertões (Projeto Específico)

Intervenções, normas e recomendações: Diante das suspeitas de que a lenda do


Rola Moça tenha ocorrido em sua extensão, faz-se necessário a realização de um
estudo detalhado, com levantamento histórico e arqueológico acerca da Estrada dos
Sertões, que atravessa o PESRM da região do Barreiro até Brumadinho. O maior
entendimento da história do PESRM torna-se fundamental para a construção da
identidade local.

Público Alvo: Moradores do entorno e visitantes do PESRM.

Regularização fundiária: Dentro dos limites do PESRM.

 Atividade: Educação ambiental e patrimonial (Projeto Específico)

Intervenções, normas e recomendações: Tais atividades devem ser utilizadas


como ferramenta de valorização do PESRM perante seus diversos públicos,
principalmente aos moradores do seu entorno, a fim de suscitar o desejo de impedir
a ação de criminosos no PESRM. A educação deve se tornar um poderoso
instrumento para sensibilização da comunidade sobre os problemas enfrentados pelo
parque. Ao incluir o roteiro de Educação Ambiental e Patrimonial no local, os
moradores do entorno devem participar das atividades, visando o despertar de um
sentimento de orgulho por ser vizinho do PESRM, tornando-se, assim, seu protetor e
criando um vínculo de comprometimento e identidade.

Público Alvo: Moradores do entorno e visitantes do PESRM.

Regularização fundiária: Dentro dos limites do PESRM.

205
3.8.6.7. Manual de conduta para funcionários e visitantes

Para o melhor desenvolvimento das atividades de uso público do PESRM foi


elaborado um “Manual de Conduta” para os funcionários e visitantes do parque, objetivando
a orientação dos mesmos com relação às suas prioridades e lembrando-os de suas
obrigações.

Título sugerido: Manual de Conduta para funcionários e visitantes do Parque Estadual da


Serra do Rola Moça.

1. Proteger Mananciais: A princípio, o PESRM foi criado para integrar


espacialmente as Áreas de Proteção Especiais, instituídas para proteger os
mananciais existentes em seu território. Dessa forma, torna-se importante a proteção
dos mananciais.

2. Manter a limpidez dos corpos d’água: Para garantir a sustentabilidade da


proteção dos mananciais e a proteção da biodiversidade é imprescindível que os
cursos d’água sejam mantidos limpos. Para tanto, é importante a exclusão de
quaisquer atividades turísticas próximas aos cursos d’água.

3. Preservar a biodiversidade: A biodiversidade é um grande diferencial do


PESRM, por sua área apresentar enorme riqueza e freqüência de endemismos, além
de espécies ameaçadas. A proteção destes organismos e ecossistemas é a garantia
de proteção do meio.

4. Remover o lixo: O lixo produzido dentro dos limites do PESRM deve ser
carregado por seu produtor, pois tudo que entra deve sair. O mínimo de impacto ao
meio representa o máximo de proteção ao parque.

5. Não produzir dejetos humanos nas trilhas: As pessoas devem evitar, ao


máximo, defecar e urinar durante o percurso de uma trilha. Precauções são
essenciais para atender essa regra de conduta como, por exemplo, ir ao banheiro
antes do início do percurso. Caso seja inevitável, a pessoa deverá cavar um buraco
de aproximadamente três palmos, no mínimo a 50 metros de distância dos cursos
d’água e pelo menos a 15 metros da trilha e cobrir os dejetos com a terra removida.

6. Prevenir e combater incêndios florestais: Incêndios são desastrosos e


altamente destrutivos para unidades de conservação. Evitá-los é essencial para
manter as condições de segurança e preservar a paisagem e sua diversidade
biológica.

7. Manter o impacto nas trilhas dentro dos limites aceitáveis: Ao passar por uma
trilha preocupe-se em mantê-la num bom estado para que o próximo visitante tenha
uma experiência rica e segura como a sua. Na maior parte do tempo não há pessoas
nas trilhas, devendo ser gerado o menor ruído possível, propiciando a aproximação
dos animais e aumentando a chance de vê-los. Andar em fila indiana sempre que a
trilha for estreita, minimizando, assim, o impacto do pisoteio. Manter-se junto ao
grupo, sem sair da trilha, evitando situações de risco e impacto desnecessário ao
meio;

8. Preservar para as futuras gerações: Os princípios da sustentabilidade regem a


preservação do meio para que as futuras gerações possam usufruir dele do mesmo
modo ou mais intensamente do que praticado hoje.

206
9. Tratar todas as manifestações culturais com respeito: As manifestações
culturais precisam ser respeitadas por fazerem parte da identidade de um povo,
sendo sua preservação e valorização essenciais à manutenção da diversidade
cultural.

10. Não alimentar os animais: Os animais que vivem livres no meio devem
acostumar-se a buscar seu próprio alimento. Caso o alimento seja encontrado
facilmente, estes tendem a perder o instinto de caça, um dos princípios básicos para
sua sobrevivência.

11. Aproveitar a visita: Atualmente as unidades de conservação representam os


resquícios do meio selvagem ainda presente na superfície da Terra. Por isso
preservá-las e mantê-las é um dever social. Assim, a obrigação do visitante é
aproveitar a visita da melhor maneira, sempre respeitando o meio.

3.9. Declaração de Significância

Sendo a Mata Atlântica e o Cerrado um dos ecossistemas brasileiros mais


ameaçados, fazendo parte dos 25 hotspots de biodiversidade (Mittermeir, 2005), o Parque
Estadual da Serra do Rola Moça e a Estação Ecológica de Fechos podem ser considerados
como extremamente importantes na proteção de parte dos ecossistemas que compreendem
esses biomas.

Ambas as unidades estão situadas em uma área de tensão ecológica entre a Mata
Atlântica e o Cerrado, representando áreas importantes para a conservação de espécies da
fauna e flora, além de ecossistemas importantes e únicos na região. De acordo com o
(MMA, 2002) o PESRM foi declarado como uma área de importância biológica extrema e foi
recomendado, como uma das ações prioritárias, a elaboração de planos de manejo e
estudos mais detalhados nos ecossistemas de campos ferruginosos. Além disso, o Atlas de
Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade no Estado de Minas Gerais
(Drummond et al., 2005) novamente apontou essa região como sendo de importância
especial pela presença de ambientes únicos no Estado - os campos ferruginosos -
ressaltando assim, a importância dessa unidade de conservação.

Apesar do PESRM e da EEF ocuparem uma área relativamente pequena


(3.926,75ha e 554,70ha, respectivamente), apresentam uma heterogeneidade de
ambientes, desde formações florestais até formações savânicas.

De acordo com as categorias adotadas para a elaboração da Lista Vermelha das


Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais (Mendonça & Lins, 2000) foram
encontradas no PESRM espécies da flora consideradas ameaçadas como: o jacarandá-da-
bahia (Dalbergia nigra), braúna (Melanoxylum brauna) e pindaíba-preta (Guatteria
sellowiana), Aulomenia effusa (Poaceae), Camarea hirsuta (Melastomataceae),
Cinnamomum quadrangulum (Lauraceae), Calibrachoa elegans (citada como Petunia
elegans) (Solanaceae) e Mikania glauca (Asteraceae), São elas Artrocereus glaziovii (cacto),
Ditassa linearis, Lychnophora pinaster (arnica) e Cinnamomum quadrangulum, Ditassa
linearis (Apocynaceae), Physocalyx major (Plantaginaceae), Mikania glauca e Hololepis
pedunculata (Asteraceae).

Foram identificadas 15 espécies endêmicas do Estado de Minas (12), da Cadeia do


Espinhaço (13) e endêmicas do Quadrilátero Ferrífero (5). É importante mencionar que o
PESRM abriga uma espécie endêmica do Quadrilátero Ferrífero, Artrocereus glaziovii
(cacto) que aparentemente não está protegida por nenhuma outra unidade de conservação,
o que reforça ainda mais a importância desta UC na preservação da flora regional.
207
A fauna de grandes mamíferos é representada por apenas seis espécies, todas de
ocorrência relativamente ampla no Estado. Quanto às espécies raras, em declínio,
vulneráveis ou ameaçadas de extinção, merecem destaque o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus), a onça parda (Puma concolor) e o gato-do-mato-pequeno (Leopardus sp.). Em
relação aos primatas apenas duas espécies foram encontradas: o guigó ou sauá (Calicebus
nigrifons) e o mico-estrela (Callithrix penicillata).

No parque e áreas do entorno foram registradas 170 espécies de aves. Dessas, 11


são consideradas endêmicas ou ameaçadas. No que se refere às espécies da avifauna
ameaçadas de extinção, destaca-se a presença do inhambu (Tinamus solitarius) e do
mutum do sudeste Crax blumenbachii.

O PESRM e EEF abrigam, ainda, espécies não menos importantes para a


conservação como, Harpyhaliaetus coronatus (Gavião-Cinza), Augastes scutatus (Beija-flor-
de-gravata), Melanopareia torquata (tapálculo-de-coleira), Antilophia galeata (Soldadinho),
Cyanocorax cristatellus (Gralha-do-cerrado), Porphyrospiza caerulescens (campainha azul)
e Embernagra longicauda (rabo-mole-da-serra).

Quanto à fauna de anfíbios anuros, o PESRM e a EEF detém uma alta riqueza de
espécies (34), apesar de que nenhuma espécie endêmica ou ameaçada de extinção foi
registrada. No entanto vale destacar a presença de espécies indicadoras de boa qualidade
ambiental, como Hyalinobatrachium eurygnathum e Phasmahyla jandaia. Esta última já foi
incluída na lista de espécies ameaçadas do estado de Minas Gerais (Costa et al. 1998), mas
tem sido registrada em novas localidades, inclusive na área do Parque Estadual da Serra do
Rola Moça. E em relação aos insetos, mais especificamente abelhas, as unidades abrigam
uma alta riqueza de espécies, 134 espécies sendo apenas uma nacionalmente ameaçada
de extinção, Xylocopa (Diaxylocopa) truxali.

Além da proteção à flora e à fauna, as unidades de conservação apresentam uma


importância extrema para a conservação dos recursos hídricos, que abastecem grande
parte da população de Belo Horizonte e outros municípios do entorno. A geomorfologia do
PESRM e da EEF, pelo seu conjunto serrano e presença de minério de ferro (canga), lhe
confere, talvez, um dos seus maiores atributos para a conservação. Está relacionado aos
seus aspectos hidrogeológicos estabelecendo uma importante zona de recarga. Áreas de
recarga são os pontos de afloramento por onde o aqüífero se realimenta com as águas da
chuva e a profundidade dos lençóis freáticos diminui. Por isso são os pontos frágeis do
aqüífero.

Parte da água que escoa pelos rios resulta diretamente da ação das chuvas, por
efeito do escoamento sobre os solos, criando pequenas correntes de água que vão se
juntando para formar os córregos e os rios. Outra parte resulta apenas indiretamente da
ação das chuvas. Trata-se da água da chuva que infiltra no solo e vai percolando, em
movimento vertical pelo meio poroso, até atingir o aqüífero subterrâneo. Dentro desse
contexto, é importante observar a necessidade de estabelecer restrições a certas atividades,
que eventualmente causariam impactos ambientais nas áreas de recarga, como a
descaracterização da cobertura vegetal, o despejo de dejetos domésticos e industriais, além
dos resíduos da mineração.

Esta zona de recarga, associada à presença da cobertura do solo e articulada com o


sistema de circulação dos fluxos subterrâneos, confere ao PESRM e EEF um número
incalculável de nascentes, propiciando uma complexa e importante rede de drenagem que
fazem parte de duas importantes bacias: Bacia do Paraopeba e Bacia do Rio das Velhas.
São essas áreas de mananciais que abastecem grande parte da Região Metropolitana de
Belo Horizonte.

Quanto aos recursos paisagísticos, a diversidade de ambientes, associada aos


aspectos geomorfológicos, onde as serras cobertas por campos ferruginosos e quartizíticas,
208
e os capões de mata compõem um cenário de rara beleza através de paisagens únicas. Sob
a canga hematítica são encontradas cavernas que além de um riquíssimo patrimônio
bioespeleológico abriga ainda um patrimônio arqueológico, que merecem ser conservados
para que as atuais e futuras gerações possam conhecê-los e valorizá-los.

Essas características fazem do PESRM um importante local para a visitação pública


e representa uma oportunidade de lazer para a comunidade do entorno, extremamente
carente. O PESRM e a EEF representam ainda um importante laboratório de pesquisa para
as várias instituições do Estado de Minas.

No entanto, o PESRM e a EEF são unidades de conservação bastante frágeis, pois


se localizam em uma das regiões mais desenvolvidas do Estado onde a presença de
inúmeras pressões antrópicas no seu entorno reforçam a necessidade de uma gestão
efetiva, com maior atenção político-administrativa, e de trabalhos voltados para a educação
ambiental e integração com as comunidades da região do entorno.

3.10. Referências Bibliográficas

Alkmim, F. F. & Marshak, S. Transamazonian Orogeny In Southern São Francisco Craton,


Minas Gerais, Brasil: Evidence For Paleoproterozoic Collision And Collapse In The
Quadrilátero Ferrífero. Precambriam. Res.,Amsterdam, V.90, P. 29-58, 1998.

Alkmim, F. F. Geologia e Arcabouço Estrutural da Porção Norte do Platô da Moeda,


Sudoeste de Belo Horizonte, Mg. Belo Horizonte: Convenio Mbr/Copasa. Degeo, em, Ufop,
1996. Relatório Interno, 23p.

Amorim, L. Q. Projeto Capão Xavier: Síntese dos Trabalhos Desenvolvidos no Convenio


MBR-Copasa.Belo Horizonte: Mbr, 1997 Relatório Interno. 50p.

Andrade, P. M.; Gontijo, T. A. & Grandi, T.S.M. 1986. Composição Florística e Aspectos
Estruturais de Uma Área de Campo Rupestre do Morro do Chapéu, Nova Lima, Minas
Gerais. Revista Brasileira de Botânica 9: 13-21.

Arcebispo, L. E. S & Soares-Filho, B. S.2002. Análise de Risco de Incêndio Florestal no


Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, Belo Horizonte, Mg. Dissertação (Mestrado)
Universidade Federal de Minas Gerais.

Ayoade, J.O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 5. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1998.

Barbero, E. & López-Guerrero, Y. 1992. Some Considerations on the Dispersal Power of


Digitonthophagus Gazella (Fabricius 1787) In the New World (Coleoptera, Scarabaeidae,
Scarabaeinae). Tropical Zoology, 5: 115-120.

Barbosa, F. A. R.; Souza, E. M. M.; Vieira, F.; Renault, G. P. C. P.; Rocha, L. A.; - Maia-
Barbosa, P. M.; Oberdá, S. & Mingot, S. A. 1997. Impactos Antrópicos e Biodiversidade
Aquática. In: Biodiversidade, População e Economia. Ufmg/Cedeplar; Ecmxc; Padtc/Ciamb.
345-454p.

Basenina, N.V.; Aristarchova, L.B.; Lukasov, A.A. Méthods of Morphostrutural Analysis,


Geomorphological Mapping-Comission On Geomorphological Survey And Mapping of U.G.I.
Praga: , 1972.

Bertachini, A. C. Hidrogeologia e Desaguamento da Mina de Águas Claras. In: Congresso


209
Brasileiro de Águas Subterrâneas, 8, 1994, Recife. Anais... Recife, Abas, 1994. P. 274-283.

Bertoluci, J. A. 1997. Fenologia e Seleção de Habitat em Girinos da Mata Atlântica em


Boracéia, São Paulo (Amphibia, Anura). Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo,
São Paulo. 123p.

Birdlife International. 2004. Species Factsheet: Augastes Scutatus, Melanopareia Torquata,


Polystictus Superciliaris, Antilophia Galeata, Cyanocorax Cristatellus, Porphyrospiza
Caerulescens, Harpyhaliaetus Coronatuss. Downloaded From Http://Www.Birdlife.Org em
16/03/2005.

Bourrelly, P. 1968. Les Algues D’eau Douce- Initiation à la Systématique. Tome Ii: Les
Algues Jaunes Et Brunes. Éditions M. Boubée & Cie. Paris. 437p.

Bourrelly, P. 1972. Les Algues D’eau Douce- Initiation à la Systématique. Tome I: Les
Algues Vertes. Éditions M. Boubée & Cie. Paris. 572p.

Bourrelly, P. 1985. Les Algues D’eau Douce-Initiation à la Systématique. Tome Iii: Les
Algues Bleues Et Rouges. Éditions M. Boubée & Cie. Paris. 509p.

Braz, V. da S. 2003. A Representatividade de Unidades de Conservação do Cerrado na


Preservação da Avifauna. Dissertação de Mestrado, departamento de Ecologia,
Universidade de Brasília – Unb, Brasília – Df.

Callisto, M. & Esteves, F.A. 1998. Categorização Funcional dos Macroinvertebrados


Bentônicos em Quatro Ecossistemas Lóticos sob Influência das Atividades de uma
Mineração de Bauxita na Amazônia Central (Brasil). Oecologia Brasiliensis. 5: 223 - 234.

Callisto, M., Ferreira, W., Moreno, P., Goulart, M. D. C. & Petrucio, M.2002, Aplicação de um
Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em Atividades de Ensino e
Pesquisa (Mg-Rj). Acta Limnologica Brasiliensia. V.13: 91-98.

Callisto, M.; Moretti, M. & Goulart, M. 2001a. Macroinvertebrados Bentônicos como


Ferramenta para Avaliar a Saúde de Riachos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
6(1):71-82.

Câmara, E.M.V.C. 2000. Ecologia de Pequenos Mamíferos Não-Voadores em Três Áreas de


Vegetação do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Região Metropolitana de Belo
Horizonte, Mg. Dissertação de Mestrado em Zoologia de Vertebrados, Puc-Mg. 90 Pp.

Carmo, R. M. 2001. Clusia Arrudae (Clusiaceae) Na Serra daCalçada, Mg: Biologia Floral,
Polinização e Influência de Apis Mellifera (Hymenoptera – Apoideae) no Sucesso
Reprodutivo. Dissertação de Mestrado, Ufmg. Belo Horizonte. 54p.

Carvalho, V.S. 2000. Comunidades de Pequenos Mamíferos não voadores em duas Áreas
de Cerrado com Diferentes Graus de Alteração, no Parque Estadual da Serra do Rola Moça,
Município de Nova Lima, Mg, Brasil. Dissertação de Mestrado em Zoologia de Vertebrados,
Puc-Mg. 79 Pp.

Cavalcanti, R.B. 1999. Bird Species Richness And Conservation In The Cerrado Region of
Central Brasil. Studies In Avian Biology (19): 244-249.

Chernoff, B., Barriga, R., Forsyth, A., Foster, R., Leon, B., Machado-Allison, A., Magalhães,
C., Menezes, N., Moskovits, D., Hortega, H. & Sarmiento, J. 1996. Aqua-Rap. Rapid
Assesment Program for the Conservation of Aquatic Ecosystems in Latin America. Mimeo,
8pp.
210
Coesel, P.F.M. 1996. Biogeografy de Desmids. Hydrobiologia, 336: 41-53p.

Cranston, P. S. 1996. Identification Guide to the Chironomidae of New South Wales. Csiro
Division of Entomology. Awt – Australian Water Technologies Insight.

Dickerson, J. E. & Robinson, J. V. 1985. Microcosms as Islands: A Test of The Macarthur-


Wilson Equilibrium Theory. Ecology, 66: 966-980p.

Drummond Et Al . 2005. Atlas de Minas Gerais

Eiten, G. 1983. Classificação da Vegetação do Brasil. Brasília, Cnpq.

Epler, J.H. 1995. Identification Manual for the Larval Chironomidae (Diptera) of Florida.
Revised Edition. Depart. of Envir. Protection of Florida, 450p.

Esteves, F.A. 1998. Fundamentos de Limnologia. 2da. Ed. Editora Interciência/Finep, Rio de
Janeiro, 602 P.

Gentry, A. H. 1995. Patterns of Diversity and Floristic Composition in Neotropical Montane


Forests Pp.103-126. S.P. Churchill, H. Balslev, E. Forero & J.L. Luteyn. (Eds.). In:
Biodiversity and Conservation of Neotropical Montane Forests. The New York Botanical
Garden, New York,

Giulietti, A. M.; Harley, R. M.; Queiroz, L. P.; Wanderley, M. G. L. & Pirani, J. R. 2000.
Caracterização e Endemismos nos Campos Rupestres da Cadeia do Espinhaço Pp. 311-
318. In: T. B. Cavalcanti & Walter, B. M. T. (Ed.). Tópicos Atuais em Botânica. Brasília,
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Sociedade Botânica Do Brasil.

Giulietti, A. M.; Menezes, N. L.; Pirani, J. R.; Meguro, M. & Wanderley, M. G. L. 1987. Flora
da Serra do Cipó: Caracterização e Lista de Espécies. Boletim de Botânica da Universidade
de São Paulo 9: 1-151.

Halffter, G.; Favila, M. E. 1993.The Scarabaeinae (Insecta Coleoptera) an Animal Group for
Analyzing, Inventorying an Monitoring Biodiversity in Tropical Rainforest and Modified
Landscapes. Biol. Intern., V. 27, P. 15-21.

Harley, R. M. 1995. Introduction Pp. 1-42. In: Stannard, B.L. (Ed.). Flora of the Pico das
Almas, Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. Royal Botanic Gardens, Kew.

Heyer, W. R., M. A. Donnelly, R. W. Mcdiarmid, L. A. C. Hayek & M. S. Foster. 1994.


Measuring and Monitoring Biological Diversity – Standard Methods for Amphibians.
Washington And London: Smithsonian Institution Press. 364p.

Horner, R. R.; Welch, E. B.; Seefley, M. R.; Jacoby, J. M. 1990. Responses of Periphyton to
Changes in Current Velocity, Suspended Sediment and Phosphorus Concentration:
Freshwater Biology,24 (2): 215-232 P.

Howden, H.F.; Nealis, V.G. 1975.Effects of Clearing in aTropical Rain Forest on the
Composition of the Coprophagous Scarab Beetle Fauna (Coleoptera). Biotropica, 7:77-83.

Hynes, H, B. N. 1974. Comments on Taxonomy of Australian Austroperlidae and


Gripopterygidae (Plecoptera). Australian Journal of Zoology. Csiro Publications, Collingwood.
1-52, Suppl. 9.

Ibge. 1993. Mapa de Vegetação do Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de
211
Geografia e Estatística, Ministério da Agricultura.

Ief – Instituto Estadual de Florestas. 1994. Mapa da Cobertura Vegetal e Uso do Solo do
Estado de Minas Gerais. Belo Horizonzte, Ief.

Iucn, Conservation International, and Natureserve. 2004. Global Amphibian Assessment.


Http://Www.Globalamphibians.Org.

Johnson, R. K., T. Wielderholm And D. M. Rosenberg. 1993. Freshwater Biomonitoring Usin


Individual Organisms, Populations, and Species Assemblages of Benthic
Macroinvertebrates. –In: Rosenberg, D. M. And V.H. Resh (Eds): Freshwater Biomonitoring
And Benthic Macroinvertebrates: 40-158. –Chapman & Hall. New York. Usa.

Junqueira, V.M. & Campos, S.C.M. 1998. Adaptation of The “Bmwp” Method For Water
Quality Evaluation to Rio das Velhas Watershed (Minas Gerais, Brazil). Acta Limnologica
Brasiliensia 10(2): 125-135.

Lobo, J. M. & Oca, E. M. 1997. Spatial Microdistibution of Two Introduced Dung Beetle
Species Digitonthophagus Gazella (F.) And Euoniticellus Intermedius (Reiche) (Coleoptera
Sacarabaeidae) in an Arid Region of Northern Mexico (Durango, Mexico). Acta Zool. Mex.
71: 17-32.

Louzada, J.N.C., Schiffler, G. & Vaz-de-Mello, F. Z. 1996. Efeitos do Fogo sobre


aComunidade de Scarabaeidae (Insecta, Coleoptera) da Restinga da Ilha de Guriri, Norte
Do Es. In: Miranda, H.S.; Saito, C.H., Souza Dias, B. F.(Eds). Impactos de Queimadas em
Áreas de Cerrado e Restinga. Brasília: Unb,. P.161-169.

Machado, A. B. M., Fonseca, G. A. B., Machado, R. B., Aguiar, L. M. S. & Lins, L. V. 1998.
Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna de Minas Gerais. Belo
Horizonte, Fundação Biodiversitas. 608 P.

Magurran, A. E. 1991. Ecological Diversity and It’s Measurement. London, Chapman & Hall,
178p.

Maltchik, L. & Callisto, M. 2004. The Use of Rapid Assessment Approach to Discuss
Ecological Theories in Wetland Systems, Southern Brazil. Interciencia. 29 (4): 219-223.

Meguro, M.; Pirani, J. R.; Giulietti, A. M. & Mello-Silva, R. 1994. Phytophysiognomy and
Composition of the Vegetation of Serra do Ambrósio, Minas Gerais, Brazil. Revista Brasileira
de Botânica 17(2): 149-166.

Mendonça, M. P. & Lins L. V. (Org.). 2000. Lista Vermelha Das Espécies Ameaçadas de
Extinção da Flora de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, Fundação Zôo-
Botânica de Belo Horizonte.

Merritt R.W. & Cummins, K.W. (Eds.) 1988. An Introduction to The Aquatic Insects of North
America. 2da. Ed., Kendall/Hunt.Iowa, P. 750.

Mešcerjakov, J.P. Les Concepts de Morphostructure Et de Morphosculpture: Un Nouvel


Instrument de L’analyse Géomorphologique. Annales de Géographie, Paris, N.423, P.539-
52, 1968.

Meyer, S. T., Silva, A. F., Marco Jr., P. & Meira Neto, J. A. A. 2004. Composição Florística
da Vegetação Arbórea de um Trecho de Floresta de Galeria do Parque Estadual do Rola-
Moça na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Mg, Brasil. Acta Botanica Brasilica 18:
701-709.
212
Morais, C.M.G. 2001. Efeito do Fogo para uma Comunidade de Pequenos Mamíferos, na
Área de Proteção Especial do Barreiro – Copasa. Relatório Pibic – Puc-Mg. 40 Pp.

Moreira, Alecir Antonio Maciel. A Influência da Circulação de Macro-Escala sobre o Clima de


Belo Horizonte: Estudo sobre as Possíveis Influências do Fenômeno El Niño sobre o Clima
de Belo Horizonte. 1999. Dissertação (Mestrado) – Ufmg/Igc.

Moreira, Jorge Luiz Batista. Estudo da Distribuição Espacial das Chuvas em Belo Horizonte
e em seu Entorno. Belo Horizonte, 2002. Dissertação (Mestrado). Ufmg/Igc.

Nimer, Edmon. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: Ibge, 1979. 421p.

Olifiers, M. H., L.F.M. Dorvile, J.L. Nessimian And N. Hamada. 2004. A Key to Brazilian
Genera of Plecoptera (Insecta) Based On Nymphs. Zootaxa 651:1-15.

Oliveira Filho, A. T. & Fontes, M. A. L. 2000. Patterns of Floristic Differentiation Among


Atlantic Forests in Southeastern Brazil and the Influence of Climate. Biotropica 32: 793-810.

Oliveira Filho, A. T., Shepherd, G. J., Martins, F. R. & Stubblebine, W. H. 1989. Enviromental
Affecting Physiognomic and Floristic Variation in an Area of Cerrado in Central Brazil.
Journal of Tropical Ecology 5: 413-431.

Palmer, C., Palmer A., O`Keefe, J. & Palmer, R., 1994. Macroinvertebrate Community
Structure and Altitudinal Changes in the Upper Reaches of a Warm Temperature Suthern
African River. Freshwater Biology. 32(2):337-348.

Pereira, M. C. A. 1994. Estruturas das Comunidades Vegetais de Afloramentos Rochosos


dos Campos Rupestres do Parque Nacional da Serra do Cipó, Mg. Instituto de Ciências
Biológicas. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais (Tese de Doutorado)
156p.

Pérez, G. R. 1988. Guía para el Estudio de los Macroinvertebrados Acuáticos del


Departamento de Antioquia. Fondo Fen Colombia, Colciencias, Universidad de Antioquia,
Bogotá.

Pescador, M. L. 1997. General Ecology of Mayflies: Adaptations, Reproductive Strategies


and Trophic Categories. In: . Taller Internacional sobre Sistemática y Bioecologia de
Ephemeroptera como Bioindicador de Calidad de Agua. Santiago de Cali – Colombia. 10 P.

Porto, M. L. & Silva, M. F. F. 1989. Tipos de Vegetação Metalófila em Áreas da Serra dos
Carajás e de Minas Gerais, Brasil. Acta Botanica Brasilica 3: 13-21.

Ratter, J. A., Bridgewater, S. & Ribeiro, J. F. 2003. Analysis of the Floristic Composition of
the Brazilian Cerrado Vegetation Iii: Comparison of the Woody Vegetation of 376 Areas.
Edinb. J. Bot. 60(1): 57-109.

Ribeiro, J. F. & B. M. T. Walter. 1998. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. Cerrado: Ambiente


e Flora. S. S. Sano & S. P. Almeida. Planaltina, Embrapa: 89-152.

Rizzini, C. T. 1979. Tratado de Fitogeografia do Brasil. 2a Ed. São Paulo, Hucitec, Editora da
Universidade de São Paulo.

Roubik, D.W. & Buchmann, S.L.. 1994. Néctar Selection by Melipona and Apis Mellifera
(Hymenoptera:Apidae) and the Ecology of Nectar Intake by Bee Colonies In a Tropical
Forest. Oecologia, 61:1-10.
213
Schiffler, G. 2003. Fatores determinantes da Riqueza Local de Espécies de Scarabaeidae
(Insecta: Coleoptera) em Fragmentos de Floresta Estacional Semidecídua. Lavras: Ufla.
(Dissertação – Mestrado em Entomologia). 66p.

Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira. 912 Pp.

Silva, A. B. Estudo Hidrogeológico do Município de Belo Horizonte - Mg. Congresso


Brasileiro de Águas Subterrâneas, 8. 1994, Recife, Anais... Recife: Abas, 1994. P. 481-490.

Silva, A. B.; Sobreiro Neto, A. F.; Bertachini, A. C. Potencial das Águas Subterrâneas do
Quadrilátero Ferrífero. Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, 8. 1994, Recife.
Anais... Recife: Abas, 1994. P. 264-273.

Silva, J. M. C. Da. 1995a. Birds of the Cerrado Region, South America. Ste 21: 69-92.

Silva, J. M. C. Da. 1997. Endemic Bird Species and Conservation in the Cerrado Region,
South America. Biodiversity and Conservation. 6: 435-450.

Silveira, V.M. 2003. Grãos de Pólen de Importância Alimentar para Abelhas (Xylocopa
Truxali) em Área de Campo Rupestre da Serra da Calçada (Brumadinho/ Mg). Dissertação
de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, 35p.

Simberloff, D. 1991. Keystone Species and Community Effects of Biological Introductions. In:
Assessing Ecological Risks of Biotechnology (Ed. Ginsburg, L.R.). Butterwort-Heinemann,
Bosto, Ma, Pp. 1-19.

Spósito, T. C. & Stehmann, J. R. (2005). Heterogeneidade Florística e Estrutural de


Remanescentes Florestais da Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana
de Belo Horizonte (Apa Sul-Rmbh), Minas Gerais. Acta Botanica Brasilica.

Stewart, P. M.; Butcher, J. T. & Swinford, T. O. 2000. Land Use, Habitat, and Water Quality
Effects on Macroinvertebrate Communities in Three Watersheds of aLake Michigan
Associated Marsh System. Aquatic Ecosystem Health & Management, 3 (1): 179-189.

Tundisi, J. G. & Barbosa, F. R. 1995. Conservation of Aquatic Ecosystems: Present Status


and Pespectives. In: Tundisi, J. G. ; Bicudo, C. E. M. & Matsumura-Tundisi T. Limnology in
Brazil, Abc/Sbl, Graftex Comunicação Visual, Rio de Janeiro.

Utermöhl, H. 1958. Zur Vervollkommunng der Quantitativen Phytoplankton Methodik. Mitt.


Int. Verein. Limnol., 9:1-38p.

Vázquez, D. P. & Simberloff, D. 2003. Changes in Interaction Biodiversity Induced Ungulate.


Ecology Letters 6:1077-1083.

Veloso, H. P., Rangel Filho, A. L. R. & Lima, J. C. A. 1991. Classificacao da Vegetação


Brasileira, Adaptada a um Sistema Universal. Rio de Janeiro, Ibge. 124p.

Viana, P. L. 2002. Levantamento das Plantas Vasculares em uma Área de Formações


Campestres na Serra da Moeda, Mg. Belo Horizonte, Departamento de Botânica/Ufmg
(Monografia de Bacharelado).

Villafañe, V.E.; Reid, F.M.H. 1995. Metodos de Microscopia para la Cuatificacion del
Fitoplancton. In: Aveal, K.; Ferrario, M.E.; Oliveira, E.C. (Eds.) Manual de Metodos
Ficológicos. Universidad de Concepción, Chile. P.169-185 .

214
Vincent, R. C. 2004. Florística, Fitossociologia e Relações entre a Vegetação e o Solo em
Áreas de Campos Ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. São Paulo,
Universidade de São Paulo (Tese de Doutorado). 145p.

Wetzel, R. G. Limnology. 1983. Nova York: Saunders College Publishing. 767p.

Willianson, M. 1996. Biological Invasions. Chaman And Hall, London.

Ziller, S. R. 2001. Plantas Exóticas Invasoras: a ameaça da contaminação biológica. Ciência


Hoje 30 (178): 77-79.

215

Você também pode gostar