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TEXTO BA SE

CONTABILIDADE
ORGANIZACIONAL

Prof. M.e Ubiratã Tapajós Reis


EQUIPE TÉCNICA EDITORIAL

Pró-reitoria de Inovação em Ensino: Prof. Dr. Nonato Assis de Miranda.

Professor conteudista: Prof. M.e Ubiratã Tapajós Reis

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Design Instrucional: Kethly Garcia e Luciana de Almeida Cunha.

Capa: Kaique Biscaro e Pedro Minganti Juliano.

Diagramação: Kaique Biscaro e Pedro Minganti Juliano.

Revisão: Profª. M.e Marialda Almeida, Paola Gomes Ribeiro, Larissa Müller e Profª.

M.e Karen Francis Bellomo Ringis

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CONTABILIDADE
ORGANIZACIONAL
Prof. M.e Ubiratã Tapajós Reis
A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO NO MUNDO GLOBALIZA-
DO E A CONVERGÊNCIA ÀS NORMAS INTERNACIONAIS

INTRODUÇÃO................................................05 Compreensibilidade............................................................. 23

DESENVOLVIMENTO DA CONTABILIDADE NO PATRIMÔNIO.................................................23


BRASIL..........................................................05 ATIVO............................................................................24
CONTABILIDADE COMO SISTEMA DE Direito.................................................................................. 24

INFORMAÇÃO E USUÁRIOS..........................06 Potencial de Produzir Benefícios Econômicos...................... 25

CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE Controle............................................................................... 25

PLANEJAMENTO, CONTROLE E DECISÃO.....09 PASSIVO.......................................................................26


CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DAS PATRIMÔNIO LÍQUIDO..................................................28
INFORMAÇÕES FINANCEIRAS ÚTEIS............10 BASES DE MENSURAÇÃO.............................30
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS CUSTO HISTÓRICO......................................................30
FUNDAMENTAIS...........................................................11 VALOR ATUAL...............................................................31
Relevância............................................................................ 11 VALOR JUSTO...............................................................32
Representação Fidedigna...................................................... 13 Valor em Uso e Valor em Cumprimento................................ 34

CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE MELHORIA......21 Custo Corrente..................................................................... 35

Comparabilidade.................................................................. 21 REFERÊNCIAS................................................43
Verificabilidade..................................................................... 22
Tempestividade..................................................................... 22
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

INTRODUÇÃO

De maneira geral, há uma tendência de os leigos, inapropriada-


mente, tratarem a CONTABILIDADE como uma ciência exata. A rigor,
CONTABILIDADE é uma ciência social. Enquanto aquela trabalha
com expressões estatísticas, matemáticas, esta trata da atuação,
estruturação e desenvolvimento da sociedade.
De forma restrita, a CONTABILIDADE se destina ao estudo da alte-
ração do patrimônio das organizações, e se utiliza das ciências exa-
tas – matemática, por exemplo – para conseguir demonstrar, as mo-
dificações, em valor, do patrimônio, devido a alguma ação humana
(por conseguinte, a contabilidade ocupa-se de eventos do homem).
Almeida (2017, p. 1) indica que “CONTABILIDADE é uma metodo-
logia principalmente de apuração do PATRIMÔNIO (balanço patri-
monial) em uma data certa e do DESEMPENHO (demonstração do
resultado) durante certo período da entidade.”

DESENVOLVIMENTO DA CONTABILIDADE NO
Atenção
BRASIL
IFRS
Em tradução literal, IFRS (In-
Os avanços da contabilidade no Brasil, principalmente a partir ternational Financial Reporting
de 2008, com a adoção das IFRS emitidas pelo IASB, é reflexo da Standards) significa Normas
Internacionais de Informação
convergência às normas internacionais da contabilidade e está di- Financeira. Em síntese, são as
normas internacionais de con-
retamente relacionada com a globalização da economia mundial, tabilidade.
percebida por negociações comerciais, bem como por transações IASB
International Accouting Stand-
financeiras, por meio de ferramentas que transcendem as fronteiras
ards Board – Conselho de Nor-
geográficas. Ou seja, transações entre empresas, operando em pa- mas Contábeis Internacionais.

íses diferentes e distantes, são capturadas e registradas de forma


ágil por elas. Nesse contexto, profissionais experientes da área têm
desenvolvido ações com a finalidade de efetuar a convergência das
Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) às normas contábeis in-
ternacionais, De tal forma que as operações entre essas empresas
tenham efeitos idênticos no patrimônio e no resultado delas, inde-
pendentemente da localização.
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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Você sabia ? A IFRS é a prática adotada para a harmonização em nível mun-


dial e mais de 140 países a seguem, contudo, nem todos a seguem
Globalização
A globalização é uma tendên-
na sua integralidade, pois nem sempre atendem às especificidades
cia atual verificada no mundo, locais ou são inadequadas do ponto de vista da legislação do país.
podendo se desenvolver atra-
vés de uma abertura, econô- Imagine-se a situação na qual cada empresa alinhar-se às normas
mica, política, social e cultu-
ral das nações. É um estágio
contábeis do seu país. Não haveria como comparar os relatórios
avançado do capitalismo e contábeis de empresas em países distintos, apesar do mesmo seg-
pressupõe a transformação
de economias fechadas e pro- mento de atuação. Um exemplo prático poderia ser o comparativo
tegidas, para um modelo de
interdependência com outras
entre duas montadoras de veículos, uma com sede no Japão – Toyo-
economias mundiais. ta, marca mais vendida no mundo que em fevereiro de 2016 era a
Do ponto de vista da econo-
mia, a globalização pressupõe 13ª maior empresa do mundo, e outra na Alemanha – Volkswagen,
o livre comércio entre as na-
a maior fabricante de veículos do mundo. Se a Alemanha e o Japão
ções, a integração dos merca-
dos internacionais e a redução não adotassem as normas internacionais, as informações contábeis
dos preços dos produtos. Esse
processo de integração da não seriam comparáveis. Note-se a importância da convergência às
economia prevê o crescimento
normas internacionais de contabilidade.
global dos países envolvidos
(ASSAF NETO, 2010, p. 4). As NBC são emitidas pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos Con-
Retrocedendo ao segundo pa-
rágrafo, o objeto de estudo da
tábeis), criado pela Resolução número 1.055/2005 do CFC (Conse-
contabilidade é o patrimônio lho Federal de Contabilidade).
das organizações (empresas,
instituições, pessoas físicas).
As terminologias “negócios” e
“Contabilidade” se relacionam
diretamente. Não se segregam DESENVOLVIMENTO DA CONTABILIDADE NO
“negócios” e “Contabilidade”.
Todo negócio tem que ter a
BRASIL
Contabilidade como suporte.

Contabilidade pode ser considerada como sistema de informa-


ção destinado a prover seus usuários de dados para ajuda-los
a tomar decisão.
Normalmente, os dados são elementos importantes constantes
nos Relatórios Contábeis (resumos, periódicos e ordenados),
que abrangem informações econômico-financeiras (patrimô-
nio, capital fluxo de caixa e despesas etc.).
O objetivo principal da contabilidade, portanto, conforme a Es-
trutura Conceitual Básica da Contabilidade, é o de permitir a
cada grupo principal de usuários a avaliação da situação eco-
nômica e financeira da entidade, num sentido estático, bem
como fazer inferências sobre suas tendências futuras (MA-
RION, 2009, p. 27- 28).
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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Face o exposto e de forma resumida, pode-se dizer que a conta- Você sabia ?
bilidade disponibiliza informações contidas nos relatórios contábeis
o CPC tem como objetivo o
para que subsidiem os usuários na tomada de decisões que forem estudo, o preparo e a emissão
de documentos técnicos sobre
mais convenientes em determinado momento. No âmbito interno de procedimentos de Contabilida-
uma organização há vários exemplos práticos de decisões a serem de e a divulgação de informa-
ções dessa natureza, para per-
tomadas diariamente: mitir a emissão de normas pela
entidade reguladora brasileira,
visando à centralização e uni-
• é vantajoso contrair dívida com banco? formização do seu processo
de produção, levando sempre
• qual a política de vendas da empresa – a vista ou a prazo? em conta a convergência da
Contabilidade Brasileira aos
• qual a quantidade ideal de material para deixar em estoque? padrões internacionais.
• qual a taxa de juros a praticar na venda a prazo? Produtos do CPC:
• Pronunciamentos Técni-
• qual o limite para a redução de custos e despesas, pode redu-
cos;
zir a zero? • Interpretações;

• qual o melhor prazo para amortizar uma dívida? • Orientações; e


• Comunicados. (CPC, Co-
• qual o nível adequado de produção? nheça o CPC)

• qual o nível adequado de venda? (CPC, 2022, on-line s/p)

• qual o valor total que a empresa deve contrair de dívida?


• quanto de investimento fazer em equipamentos?
• quanto investir em marketing?

Obviamente que decisões também são tomadas pelos usuários


externos às organizações, que, da mesma maneira, necessitam
das informações disponibilizadas pela contabilidade.
Cada usuário buscará alguma particularidade na informação con-
tábil e deduzirá que é a mais adequada àquela circunstância. Para pensar

Numa organização há
várias operações que têm
que ser capturadas, registradas
e comunicadas aos usuários das
informações. Considerando uma em
particular – a assunção das dívidas
– qual o melhor prazo (curto ou longo
prazo?) Considere adicionalmente que esta
empresa é uma S. A. (sociedade anônima)
de capital aberto, ou seja, empresa que
tem ações negociadas na bolsa de valores.
Exemplos: Alpargatas, Ambev, Azul, Bradesco,
BRF, Carrefour Brasil, Embraer, Gol, Grendene,
Grupo Pão de Açúcar, Intelbras, Klabin, Lojas
Americanas, Magalu, Marisa, Natura, Petrobras,
Suzano, Usiminas, Vale, etc.
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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Figura 1 – Usuários da contabilidade


Fonte: Escritório Governante (2018, on-line s/p)¹

Marion (2009, p. 26) traz os usuários das informações apuradas


pela Contabilidade e também explica que tais informações não
são circunscritas somente à empresa, aos gerentes e gestores:

Investidores: É por meio dos relatórios contábeis que se iden-


tifica a situação econômico-financeira da empresa: dessa for-
ma, o investidor tem às mãos os elementos necessários para
decidir sobre as melhores alternativas de investimentos. Os re-
latórios evidenciam a capacidade da empresa em gerar lucros
e outras informações.
Fornecedores de bens e serviços a crédito: usam os relatórios
para analisar a capacidade de pagamento da empresa da em-
presa compradora.
Bancos: utilizam os relatórios para aprovar empréstimos, limite
de crédito etc.
Governo: não usa os relatórios só com a finalidade de arreca-
dação de impostos, mas também para dados estatísticos, no
sentido de melhor redimensionar a economia (IBGE, por exem-
plo).
¹ ESCRITÓRIO GOVERNANTE. Qual o futuro da contabilidade. 07 jun. 2018. Disponível em: https://escritoriogovernante.
blogspot.com/2018/06/qual-o-futuro-da-contabilidade.html. Acesso em 17 fev.2022

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Sindicatos: utilizam os relatórios para determinar a produtivida-


de do setor, fator preponderante para reajuste de salários.
Outros interessados: funcionários, órgãos de classe, pessoas e
diversos institutos, como a CVM, CRC, clientes, concorrentes,
fornecedores etc.”

CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE PLA-


NEJAMENTO, CONTROLE E DECISÃO

Iudícibus (2010, p. 5 e 6) menciona que:

Planejamento é processo de decidir que curso de ação de-


verá ser tomado para o futuro. Controle pode ser conceituado
como um processo pelo qual a alta administração se certifica,
na medida do possível, de que a organização está agindo em
conformidade com os planos e políticas tratados pelos donos
de capital e pela própria administração. Processo decisório é
o conjunto de ações que faz com que se consiga a obtenção
dos objetivos desejados, definidos pelo planejamento.

Sendo assim, a contabilidade envolve-se na atividade de plane-


jamento, sobremaneira o estratégico. É indispensável no processo
de controle, verificando o que acontece e confrontando com o que
deveria estar acontecendo, além de disponibilizar informações para
fins decisoriais.

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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE INFOR-


MAÇÕES FINANCEIRAS ÚTEIS

Figura 2 – As 6 características qualitativas da informação contábil


Fonte: MMP (2021, on-line s/p)²

O capítulo 2 do CPC 00 (R2), Estrutura Conceitual para Relatório


Financeiro, tem como escopo as características qualitativas das in-
formações financeiras úteis e segrega as características qualitativas
em:
● fundamentais e
● de melhoria.

São sete páginas informando detalhadamente as características


qualitativas. O item 2.4 traz o seguinte texto:

Se informações financeiras devem ser úteis, elas devem ser


relevantes e representar fidedignamente aquilo que pretendem
representar. A utilidade das informações financeiras é aumen-
tada se forem comparáveis, verificáveis, tempestivas e com-
preensíveis (CPC 00, 2019, p. 9).

² MMP Cursos Capacitação e Treinamento. As 6 Características da Informação Contábil. 06 maio 2021. Disponível em:
https://www.mmpcursos.com.br/blog/as-6-caracteristicas-qualitativas. Acesso em 18 fev.2022.

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS FUNDAMENTAIS

As características qualitativas fundamentais são a relevância e a


representação fidedigna.
Apesar de Almeida (2021, p. 20) destacar que a materialidade
é uma característica qualitativa fundamental de informações con-
tábeis úteis, conforme Figura 2; no desenvolvimento deste estudo
considerar-se-á como um aspecto da relevância, de acordo com re-
gra expressa em texto do Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC 00 - R2).

Figura 3 – Características qualitativas fundamentais de informações contábeis úteis


Fonte: Almeida (2021, p.)

RELEVÂNCIA

Para ser relevante, a informação contábil-financeira deve, obri-


gatoriamente, ter o potencial de levar os usuários das informações
contábeis a tomarem as decisões mais pertinentes. E isso acontece
quando as informações são dotadas de atributos, possam fazer com
que os usuários deduzam, ou ainda, trazem no seu bojo, algo que se
possa afirmar antecipadamente, por meio de constatação. ALMEI-
DA (2021, p. 20) ilustra a ideia da relevância.

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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Figura 4 – Relevância
Fonte: Almeida (2021, p.)

Um exemplo de informação contábil-financeira relevante poderia


ser o histórico de resultados de uma empresa em determinado pe-
ríodo de tempo. Essa informação poderia ser muito crítica para um
investidor, pois, com base nesta informação, ele deve decidir se in-
vestiria ou não na empresa.
Considerando, hipoteticamente, uma empresa que acumule preju-
ízos sucessivos nos últimos cinco anos, talvez ele chegue à conclu-
são – por inferência – que não é recomendável o investimento. Em
outras palavras, ele se apropriou dessa informação em particular,
desenhou um panorama futuro e decidiu pela alternativa com mais
benefícios. Caso a empresa conseguisse atingir resultados positi-
vos, talvez ele investisse. Percebe-se, desta forma, a qualidade da
informação para fins decisoriais.
Um exemplo de informação contábil-financeira relevante com viés
de confirmatório – que se pode afirmar antecipadamente, ter co-
nhecimento prévio – é a comparação entre o que a empresa tem de
ativos e suas obrigações. Caso as obrigações sejam desproporcio-
nalmente mais altas em relação aos seus ativos, talvez um banco
deixaria de emprestar recursos a ela, pois haveria sérias dificulda-
des na amortização das dívidas. Imagine uma empresa sem recur-
sos financeiros, sem valores a receber de clientes e sem a possibi-
lidade de vendas!

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Materialidade é um aspecto da relevância. Uma informação é ma-


terial se sua ausência ou se seu significado for expresso de forma
alterada, induzindo a erro nas decisões a serem tomadas pelos usu-
ários das demonstrações contábeis. De modo inequívoco, o termo
materialidade não está relacionado com valores.
O entendimento de materialidade deve ser realizado de acordo
com o contexto envolvido e é afetado pela importância, bem como
pela particularidade da sua distorção.

REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA

Há três componentes envolvidos na representação fidedigna: in-


formação completa, com neutralidade e livre de erros.

INFORMAÇÃO COMPLETA

O usuário deve ter à sua disposição o panorama integral da reali-


dade econômica com nível de detalhes alto para finalidade deciso-
rial. Imagine a situação que, pela falta de algum elemento vital, ele
tome a decisão mais inadequada?

INFORMAÇÃO COM NEUTRALIDADE

As informações contábeis devem ser isentas de viés, isto é, devem


ser preservadas na sua integralidade. Determinado componente da
informação não deve ser forjado. Isso significa que o foco deve ser
idêntico a todos os componentes da informação. Caso contrário, a
informação chegará truncada ao usuário que tomará decisões equi-
vocadas com o cenário apresentado.

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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

INFORMAÇÃO LIVRE DE ERROS

Representação fidedigna não significa representação precisa


em todos os aspectos. Livre de erros significa que não há erros
ou omissões na descrição do fenômeno e que o processo uti-
lizado para produzir as informações apresentadas foi selecio-
nado e aplicado sem erros no processo. Nesse contexto, livre
de erros não significa perfeitamente precisa em todos os as-
pectos. Por exemplo, a estimativa de preço ou valor não obser-
vável não pode ser determinada como precisa ou imprecisa.
Contudo, a representação dessa estimativa pode ser fidedigna
se o valor for descrito de forma clara e precisa como sendo a
estimativa, se a natureza e as limitações do processo de esti-
mativa forem explicadas e se nenhum erro tiver sido cometido
na escolha e na aplicação do processo apropriado para o de-
senvolvimento da estimativa (CPC 00, 2019, p. 11).

A Figura 5 traz a tentativa de sumarizar a representação fidedigna.

Figura 5 – Representação fiel


Fonte: Almeida (2021, p.)

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Para finalizar os comentários acerca da representação fidedigna,


vale destacar que a informação útil não é obrigatoriamente prove-
niente da representação fidedigna. Por exemplo, uma organização
que comunica determinada informação sobre aumento do seu esto-
que por intermédio de subvenção do governo. Sem dúvidas, ela ao
mencionar que comprou um item sem gasto algum expressaria com
fidedignidade o gasto deste item; contudo, essa informação, pos-
sivelmente, não teria muita utilidade. Outro exemplo poderia ser a
previsão para o impairment de um ativo – redução do valor contábil
em virtude da redução da expectativa de geração de rentabilidade
futura.
A previsão pode ser uma representação fidedigna se a organiza-
ção que comunica tiver utilizado com adequação o processo perti-
nente, tiver relatado com adequação a previsão e tiver mostrado im-
precisões que impactam a previsão. Porém, se o grau de incerteza
da previsão for alto, a previsão não terá utilidade prática.
Ou seja, a relevância do item retratado com fidedignidade será
duvidosa. A inexistência de outras opções para exprimir uma reali-
dade econômica mais fidedigna, faz com que a previsão seja vista
como a melhor informação à disposição.
Interessante o item 2.20 (CPC 00, 2019, p. 11) que trata da aplica-
ção das características qualitativas fundamentais:

as informações devem tanto ser relevantes como fornecer re-


presentação fidedigna do que pretendem para serem úteis.
Nem a representação fidedigna de fenômeno irrelevante nem
a representação não fidedigna de fenômeno relevante auxiliam
os usuários a tomar boas decisões.

O que o pronunciamento quis manifestar é que, não adianta haver


uma informação relevante, se ela não tiver representação fidedigna.
A reciproca é verdadeira, de nada adianta uma informação com re-
presentação fidedigna se ela for irrelevante. Isto é, deve a combina-
ção das duas características qualitativas.

15
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

De forma sumarizada, a aplicação das características qualitativas


fundamentais pode ser demonstrada de acordo com a figura 6.

Figura 6 – Aplicando as características qualitativas fundamentais


Fonte: Almeida (2021, p.)

Leitura complementar
O texto traz a transcrição literal das características qualitativas de in-
formações financeiras emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Con-
tábeis, por meio do CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório
Financeiro

Características Qualitativas de Informações Financeiras

Introdução

As características qualitativas de informações financeiras úteis discu-


tidas neste Capítulo identificam os tipos de informações que tendem a
ser mais úteis a investidores, credores por empréstimos e outros credo-
res, existentes e potenciais, para que tomem decisões sobre a entidade
que reporta com base nas informações contidas em seu relatório finan-
ceiro (informações financeiras).
Relatórios financeiros fornecem informações sobre os recursos eco-
nômicos da entidade que reporta, reivindicações contra a entidade que

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

reporta e os efeitos de transações e outros eventos e condições que al-


teram esses recursos e reivindicações. (Essas informações são referi-
das nesta Estrutura Conceitual como informações sobre os fenômenos
econômicos.) Alguns relatórios financeiros incluem também material
explicativo sobre as expectativas e estratégias da administração para a
entidade que reporta e outros tipos de informações prospectivas.
As características qualitativas de informações financeiras úteis se apli-
cam a informações financeiras fornecidas nas demonstrações contábeis,
bem como a informações financeiras fornecidas de outras formas. O
custo, que é uma restrição generalizada sobre a capacidade da entida-
de que reporta de fornecer informações financeiras úteis, se aplica de
forma similar. Contudo, as considerações, ao se aplicarem as caracterís-
ticas qualitativas e a restrição de custo, podem ser diferentes para tipos
diferentes de informações. Por exemplo, aplicá-las a informações pros-
pectivas pode ser diferente de aplicá-las a informações sobre recursos
econômicos e reivindicações existentes e a alterações nesses recursos e
reivindicações.

Características qualitativas de informações financeiras úteis

Se informações financeiras devem ser úteis, elas devem ser relevantes


e representar fidedignamente aquilo que pretendem representar. A uti-
lidade das informações financeiras é aumentada se forem comparáveis,
verificáveis, tempestivas e compreensíveis.

Características qualitativas fundamentais

As características qualitativas fundamentais são relevância e repre-


sentação fidedigna.

Relevância

Informações financeiras relevantes são capazes de fazer diferença nas


decisões tomadas pelos usuários. Informações podem ser capazes de fa-

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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

zer diferença em uma decisão ainda que alguns usuários optem por não
tirar vantagem delas ou já tenham conhecimento delas a partir de outras
fontes.
Informações financeiras são capazes de fazer diferença em decisões se
tiverem valor preditivo ou valor confirmatório, ou ambos.
Informações financeiras têm valor preditivo se podem ser utilizadas
como informações em processos empregados pelos usuários para prever
resultados futuros. Informações financeiras não precisam ser previsões
ou prognósticos para ter valor preditivo. Informações financeiras com
valor preditivo são empregadas por usuários ao fazer suas próprias pre-
visões.
Informações financeiras têm valor confirmatório se fornecem feedba-
ck sobre (confirmam ou alteram) avaliações anteriores.
Os valores preditivo e confirmatório das informações financeiras estão
inter-relacionados. Informações que possuem valor preditivo frequen-
temente possuem também valor confirmatório. Por exemplo, informa-
ções sobre receitas para o ano corrente, que podem ser utilizadas como
base para prever receitas em anos futuros, também podem ser compa-
radas a previsões de receitas para o ano corrente que tenham sido feitas
em anos anteriores. Os resultados dessas comparações podem ajudar o
usuário a corrigir e a melhorar os processos que foram utilizados para
fazer essas previsões anteriores.

Materialidade

A informação é material se a sua omissão, distorção ou obscuridade


puder influenciar, razoavelmente, as decisões que os principais usuários
de relatórios financeiros para fins gerais (ver item 1.5) tomam com base
nesses relatórios, que fornecem informações financeiras sobre entidade
específica que reporta. Em outras palavras, materialidade é um aspecto
de relevância específico da entidade com base na natureza ou magnitu-
de, ou ambas, dos itens aos quais as informações se referem no contexto
do relatório financeiro da entidade individual. Consequentemente, não

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

se pode especificar um limite quantitativo uniforme para materialidade


ou predeterminar o que pode ser material em uma situação específica.

Representação fidedigna

Relatórios financeiros representam fenômenos econômicos em pala-


vras e números. Para serem úteis, informações financeiras não devem
apenas representar fenômenos relevantes, mas também representar de
forma fidedigna a essência dos fenômenos que pretendem representar.
Em muitas circunstâncias, a essência de fenômeno econômico e sua for-
ma legal são as mesmas. Se não forem as mesmas, fornecer informações
apenas sobre a forma legal não representaria fidedignamente o fenôme-
no econômico (ver itens de 4.59 a 4.62).
Para ser representação perfeitamente fidedigna, a representação tem
três características. Ela é completa, neutra e isenta de erros. Obviamen-
te, a perfeição nunca ou raramente é atingida. O objetivo é maximizar
essas qualidades tanto quanto possível.
A representação completa inclui todas as informações necessárias
para que o usuário compreenda os fenômenos que estão sendo represen-
tados, inclusive todas as descrições e explicações necessárias. Por exem-
plo, a representação completa de grupo de ativos inclui, no mínimo, a
descrição da natureza dos ativos do grupo, a representação numérica de
todos os ativos do grupo e a descrição daquilo que a representação nu-
mérica retrata (por exemplo, custo histórico ou valor justo). Para alguns
itens, uma representação completa pode envolver também explicações
de fatos significativos sobre a qualidade e natureza do item, fatores e
circunstâncias que podem afetar sua qualidade e natureza e o processo
utilizado para determinar a representação numérica.
A representação neutra não é tendenciosa na seleção ou na apresen-
tação de informações financeiras. A representação neutra não possui
inclinações, não é parcial, não é enfatizada ou deixa de ser enfatizada,
nem é, de outro modo, manipulada para aumentar a probabilidade de
que as informações financeiras serão recebidas de forma favorável ou

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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

desfavorável pelos usuários. Informações neutras não significam infor-


mações sem nenhum propósito ou sem nenhuma influência sobre o
comportamento. Ao contrário, informações financeiras relevantes são,
por definição, capazes de fazer diferença nas decisões dos usuários.
A neutralidade é apoiada pelo exercício da prudência. Prudência é o
exercício de cautela ao fazer julgamentos sob condições de incerteza.
O exercício de prudência significa que ativos e receitas não estão su-
peravaliados e passivos e despesas não estão subavaliados.6 Da mesma
forma, o exercício de prudência não permite a subavaliação de ativos ou
receitas ou a superavaliação de passivos ou despesas. Essas divulgações
distorcidas podem levar à superavaliação ou subavaliação de receitas ou
despesas em períodos futuros.
O exercício de prudência não implica necessidade de assimetria, por
exemplo, a necessidade sistemática de evidência mais convincente para
dar suporte ao reconhecimento de ativos ou receitas do que ao reconhe-
cimento de passivos ou despesas. Essa assimetria não é característica
qualitativa de informações financeiras úteis. Não obstante, determina-
dos pronunciamentos podem conter requisitos assimétricos se isso for
consequência de decisões que se destinam a selecionar as informações
mais relevantes que representam fidedignamente o que pretendem re-
presentar.
Representação fidedigna não significa representação precisa em to-
dos os aspectos. Livre de erros significa que não há erros ou omissões
na descrição do fenômeno e que o processo utilizado para produzir as
informações apresentadas foi selecionado e aplicado sem erros no pro-
cesso. Nesse contexto, livre de erros não significa perfeitamente precisa
em todos os aspectos. Por exemplo, a estimativa de preço ou valor não
observável não pode ser determinada como precisa ou imprecisa. Con-
tudo, a representação dessa estimativa pode ser fidedigna se o valor for
descrito de forma clara e precisa como sendo a estimativa, se a natureza
e as limitações do processo de estimativa forem explicadas e se nenhum
erro tiver sido cometido na escolha e na aplicação do processo apropria-
do para o desenvolvimento da estimativa.

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A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Quando valores monetários em relatórios financeiros não puderem


ser observados diretamente e, em vez disso, devem ser estimados, surge
incerteza na mensuração. O uso de estimativas razoáveis é parte essen-
cial da elaboração de informações financeiras e não prejudica a utilidade
das informações se as estimativas são descritas e explicadas de forma
clara e precisa. Mesmo um elevado nível de incerteza na mensuração
não impede necessariamente essa estimativa de fornecer informações
úteis.

CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA MELHORIA

As características qualitativas de melhoria são:


● comparabilidade;
● verificabilidade;
● tempestividade; e
● compreensibilidade.

Elas melhoram a utilidade da informação que é relevante e expos-


ta com fidedignidade.

COMPARABILIDADE

Os usuários das informações contábeis tomam decisões entre di-


versas opções. Como por exemplo, investir em ações da Gerdau
(GGBR4) ou da CSN (CSNA3)? Sendo assim, a informação sobre a
organização que comunica a informação será mais proveitosa caso
possa ser comparada com informação análoga de outras organiza-
ções do mesmo segmento de atuação.
Adicionalmente, poderia também comparar com informação equi-
valente para outros períodos.
Ainda que um fenômeno econômico possa ser caracterizado com
fidedignidade de diversos modos, a liberdade na escolha de crité-

21
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

rios contábeis diferentes para o mesmo grupo de contas de um ano


para outro, pode fazer que os valores sejam incomparáveis, ou seja,
tenham bases diferentes e levem os usuários a decisões incorre-
tas. Por exemplo, uma organização que avaliou o seu estoque pelo
custo médio em um exercício social, quando no ano anterior havia
avaliado pelo PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai). Ambos
os critérios são aceitos pela legislação, contudo, a comparação fica
comprometida, pois são critérios distintos.

VERIFICABILIDADE

A verificabilidade garante aos usuários que a informação repre-


senta fidedignamente o fenômeno econômico a que se refere.
O item 2.30 da (CPC 00, 2019, p. 13) traz a seguinte redação acer-
ca da verificabilidade:

Capacidade de verificabilidade significa que diferentes obser-


vadores bem informados e independentes podem chegar ao
consenso, embora não a acordo necessariamente completo,
de que a representação específica é representação fidedigna.

TEMPESTIVIDADE

Tempestividade significa ter informação pronta a ser utilizada pe-


los usuários das informações contábeis para que tomem as decisões
no momento oportuno. De que adianta ter determinada informação
referente ao exercício social de 2020, por exemplo? Informações
mais antigas são menos aproveitáveis.

22
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

COMPREENSIBILIDADE

Comunicar a informação com perfeição e precisão a torna inteli-


gível.
Evidente que certas operações são demasiadamente complexas
e, consequentemente, de difícil entendimento. A retirada da informa-
ção de tais operações dos relatórios contábeis faria com que as in-
formações adicionais deste relatório ficassem bem mais claras. En-
tretanto, os relatórios estariam incompletos e sem refletir a realidade.

PATRIMÔNIO

Na introdução da unidade capítulo ficou evidente que o objeto


de estudo da contabilidade é o patrimônio. O senso comum remete
patrimônio ao total de quantidade de recursos que uma empresa ou
pessoa é proprietária. Contudo, a conotação correta de patrimônio
na contabilidade é o conjunto de bens, direitos e obrigações. Esta
concepção de patrimônio é o pressuposto para continuidade dos
estudos do capítulo.

O objeto de estudo de estudo da contabilidade é a variação do patrimônio de uma


empresa. E o patrimônio é composto de bens, direitos e obrigações.

23
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Figura 7 – Patrimônio
Fonte: 2R TOP (2021, on-line s/p)³

ATIVO

Consoante a estrutura conceitual – CPC 00 (R2), pode-se descre-


ver ativo como um recurso econômico controlado pela organização
como resultado de eventos passados e recurso econômico é um
direito que tem o potencial de produzir benefícios econômicos
(grifo nosso).

DIREITO

Direitos que têm a capacidade de gerar benefícios econômicos


futuros podem ser:

1. Direitos que dependem de outra parte. Exemplos: direito de


receber de clientes por vendas a prazo, direitos de receber produtos
ou serviços por ter antecipado pagamento, etc.
2. Direitos que não tem relação com outra parte. Exemplo: direi-
tos de utilizar imobilizado ou estoques, direitos de utilizar proprieda-
de intelectual.

³ 2R TOP Soluções Digitais. Patrimônio na contabilidade, você sabe o que é? 06/02/2021. Disponível em: https://2rtop.
com.br/o-que-e-patrimonio-na-contabilidade/. Acesso em: 21 fev.2022

24
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

POTENCIAL DE PRODUZIR BENEFÍCIOS ECONÔMICOS

A entrada de recursos financeiros no caixa é favorecida pela ca-


pacidade que um recurso econômico tem de gerar benefícios eco-
nômicos futuros, devendo, consequentemente, ser incorporado ao
ativo. Em se tratando de recurso relacionado à atividade principal da
empresa, este potencial é considerado como produtivo. Alternativa-
mente ao produtivo, pode assumir a característica de conversibilida-
de em caixa, além de fazer com que desembolsos sejam reduzidos
com a diminuição de despesas/custos.
Um recurso econômico tem a possibilidade de gerar benefícios
futuros para a empresa, caso consiga, dentre outros:

1. Utilizar individualmente ou em conjunto com outro (s) recurso


(s), na produção de bens;
2. Utilizar individualmente ou em conjunto com outro (s) recurso
(s) para prestar serviços;
3. Trocá-lo por outro recurso econômico, desde que seja vanta-
joso;

CONTROLE

Um recurso econômico se associa à empresa pelo controle (em


convergência aos padrões internacionais de Contabilidade). Antes
da convergência abordava-se o termo “propriedade”. O registro
contábil de um item só pode ocorrer se houver controle da empresa
sobre ele. Um exemplo clássico é o leasing – contrato de arrenda-
mento mercantil -, no qual a empresa arrendatária tem o direito de
uso do bem e a posse do bem. Ou seja, ela tem o controle do bem
e pode fazer dele o que for mais conveniente a ela. No caso de uma
montadora, por exemplo, ela poderia fazer o leasing de uma má-
quina de última geração e aproveitá-la em qualquer uma das suas
unidades nacionais, poderia fazer com a máquina trabalhasse 24
horas/dia, etc.
25
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

PASSIVO

A O CPC 00 (R2) define passivo como uma obrigação presente


da empresa de transferir um recurso econômico como resultado de
eventos passados. A empresa que tem a obrigação não tem a pos-
sibilidade de livrar-se dela.
O passivo são as obrigações exigíveis.
A presença de um passivo pressupõe que, concomitantemente,
haja:

1. uma obrigação por parte da empresa;


2. a cessão de recurso econômico; e
3. a obrigação presente e proveniente de eventos passados.

Relevante informar que se uma empresa tem o dever de transferir


recurso econômico, podendo ser no momento ou posteriormente, à
assunção da dívida, outra parte tem o direito no recebimento deste
recurso econômico.
Entretanto, a empresa ao determinar o valor e registrar a obriga-
ção não provoca no detentor dos direitos do recurso econômico o
reconhecimento do ativo ou registro por valor idêntico.
Pode acontecer de haver alguma norma contábil que determina
uma metodologia para o reconhecimento de um passivo ou sua ava-
liação e, outra diversa para o reconhecimento do ativo relacionado
da outra parte. Isto acontece, pois devem exprimir as informações
mais significativas e que refletem com exatidão o que procuram re-
portar.
Quando obrigação presente é paga, são empregados recursos
econômicos com o objetivo de atendimento da expectativa da par-
te detentora dos direitos de recebimento. As formas de pagamento
podem ser das seguintes:

26
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

1. em dinheiro, que na terminologia contábil envolve a conta cai-


xa e equivalentes de caixa;
2. concessão de bens;
3. prestação de serviços;
4. permuta de um passivo por outro.

Se a outra parte abdicar ou perder os seus direitos, a dívida fica


quitada também.
Merece esclarecimento que a obrigação presente tem existência
em decorrência de eventos passados caso duas condições sejam
plenamente satisfeitas:

1. a organização já tiver recebido o recurso econômico (ativo)


ou tomado a decisão de efetuar um compromisso definitivo para que
o ativo seja comprado.
2. em decorrência da situação expressa anteriormente, a orga-
nização é obrigada a ceder um recurso econômico.

Um exemplo prático sobre a obrigação presente pode ser a assi-


natura de um contrato de pagamento a um fornecedor em troca da
aquisição de mercadorias para revenda. A organização não tem a
obrigação presente de pagar o fornecedor até que tenha recebido
as mercadorias. Anteriormente à entrega das mercadorias, a empre-
sa tem acertados o direito e a obrigação de pagamento futuro por
recebimento futuro das mercadorias.
Para finalizar este estudo do passivo é mandatório esclarecer que
algumas obrigações só podem ser avaliadas por estimativa. Tais es-
timativas são chamadas de provisões na literatura contábil, desde
que confiáveis. Se não houver esta característica de confiabilida-
de não poderá ser reconhecida como passivo. Lembre-se que toda
estimativa incorpora imprecisões e riscos. Todavia, deve haver um
meio termo na escolha do critério mais apropriado para as estimati-
vas. Não podendo fazer com que a imprecisão implique na escolha

27
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

de várias provisões por considerar o pior cenário possível e nem


que maximize o cenário mais positivo. Deve ser escolhido o mais
provável. Esses critérios devem ser divulgados, bem como as im-
precisões sobre o valor, riscos envolvidos na aplicação do critério
e os pressupostos adotados. Na situação de as provisões abrange-
rem uma obrigação presente e cumprir os outros requisitos da de-
finição, embora com valor previsto, devem ser consideradas como
um passivo. Alguns exemplos de provisões, comumente utilizadas
pelas organizações:

1. provisão para 13º salário;


2. provisão para danos ambientais;
3. provisão para férias;
4. provisão para riscos fiscais.
5. provisão para imposto de renda e contribuição social;
6. provisão para riscos trabalhistas;
7. provisões previdenciárias.

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

De acordo com o CPC 00 (R2), patrimônio líquido é a participação


residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os seus
passivos (CPC 00 - R2, 2019. p. 27).
O patrimônio líquido são as obrigações não exigíveis, ou seja, as
obrigações que a empresa tem para com os proprietários, acionis-
tas.
Importante destacar que, dificilmente, o valor do patrimônio líqui-
do registrado contabilmente será idêntico ao valor de mercado, pois
o valor monetário de ativos e passivos é quem determinam o valor
do patrimônio líquido. Tal fato desconsidera o valor de mercado da
empresa.

28
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Por exemplo, a Klabin, que atua no segmento da indústria de pa-


pel e celulose e em 2019 foi a maior exportadora e produtora de
papéis do Brasil, teve em 2021, ativos totalizando R$ 40,5 bilhões
e passivos de R$ 34,8 bilhões. Pelo conceito do CPC 00, o valor do
patrimônio líquido seria de R$ 5,7 bilhões, ou seja, do total do ativo
subtrai-se o passivo para chegar-se ao valor do patrimônio líquido.
Contudo, o seu valor de mercado é de R$ 26 bilhões. Perceba a
diferença entre o valor contábil e o valor que o mercado precifica a
Klabin: mais de 20 bilhões. Pode-se concluir que o registro contábil
não reflete a realidade do mercado. A rigor, os R$ 26 bilhões de valor
de mercado corresponde ao total das ações em circulação multipli-
cado pelo valor de suas ações.
O patrimônio líquido sofre reflexo direto do resultado da organiza-
ção e o resultado é a comparação entre receitas e despesas. Caso
as receitas sejam superiores às receitas, a empresa tem lucro. De
forma inversa, se as receitas forem inferiores às despesas, a empre-
sa apura um prejuízo.
A estrutura conceitual - CPC 00 (R2) define receitas e despesas
da seguinte forma:
Despesas são diminuições nos benefícios econômicos no decor-
rer do exercício social, e pode ocorrer com a retirada de um recurso
econômico (ativo) ou no momento em que a empresa aumenta suas
obrigações (passivos).
De forma inversa, receitas são acréscimos nos benefícios econô-
micos ao longo do exercício social, com ingresso de recursos eco-
nômicos (ativos) ou redução das dívidas (passivos).
Relevante frisar que tais incrementos e decréscimos no patrimô-
nio líquido, por meio de ativos e passivos, não guardam nenhuma
proporção com os detentores de direitos sobre o patrimônio. Em ou-
tras palavras, os donos – que são detentores de direitos sobre o
patrimônio – podem resolver aumentar o capital social (aumenta o
patrimônio líquido) ou tomar a decisão de recomprar ações (diminui
o patrimônio líquido). Essas operações independem do resultado,
ou seja, não são receitas e despesas e também não integram a de-
monstração de resultado (relatório contábil que será objeto de estu-
do nas unidades 3 e 4). 29
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

BASES DE MENSURAÇÃO
Atenção
Mensurar na contabilidade
A avaliação em moeda é mandatório nas demonstrações contá-
é avaliar em moeda o valor beis e precisa existir uma base para esta avaliação. Isto serve para
econômico dos itens e das
transações. ativos, passivos, receitas e despesas.
Essas bases de mensuração podem ser as descritas na sequên-
cia:
1. Custo histórico (custo de aquisição);
2. Valor atual (valor presente).

As bases de mensuração pelo valor atual compreendem:


1. Valor justo (fair value);
2. Valor em uso e valor de cumprimento; e
3. Custo corrente (custo de reposição).

CUSTO HISTÓRICO (AQUISIÇÃO)

É a base de mensuração que as organizações mais empregam


nas demonstrações contábeis.
A base de mensuração ao custo histórico pressupõe que um ati-
vo tenha valor do que foi desembolsado na data da sua compra
ou para a sua geração (neste caso em especial deve-se conside-
rar apenas os gastos com desenvolvimento do ativo intangível. Um
exemplo clássico é o desenvolvimento de uma vacina, desde que a
empresa tenha o propósito de finalizá-la e colocá-la para uso, tenha
o potencial de geração de benefícios futuros, bem como ter capaci-
dade de determinar com firmeza os gastos inerentes ao seu desen-
volvimento. Todos esses requisitos devem ser satisfeitos.
Para o passivo, a base de mensuração ao custo histórico é o valor
a pagar pela aquisição de um ativo a prazo ou pelo valor necessário
para quitar uma obrigação (exemplo: obrigações previdenciárias a
pagar).

30
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

VALOR ATUAL (VALOR PRESENTE)

A estrutura conceitual informa que ativos, passivos e respectivas


receitas e despesas têm seus valores atualizados com base em flu-
xos de caixa previstos. Em consequência da correção, o valor atual
(presente) de ativos ou passivos não sofre nenhum reflexo do valor
da operação ou da circunstância que resultou no ativo ou passivo.
Os ativos derivados de transações de longo prazo de uma empre-
sa deverão ser trazidos a valor atual (valor presente) para exprimir
quanto um recebimento futuro vale hoje. O valor presente é uma
terminologia da matemática financeira que determina quanto um
montante vale atualmente, descontada a uma taxa. Esta é a ideia de
valor do dinheiro no tempo: o que se compra com R$ 3 mil hoje, não
se comprará com estes mesmos R$ 3 mil daqui a três anos.
Considere que uma organização adote uma política de venda a
prazo e tenha tido uma transação de R$ 100 mil para receber daqui
a quatro anos. Se fosse uma operação de curto prazo, o raciocínio
seria idêntico, caso os resultados fossem afetados expressivamente.
Se a empresa tivesse vendido à vista, poderia fazê-lo a R$ 80 mil,
inferindo-se que os R$ 20 mil a mais são os juros pelo recebimento
em data futura.
Nesta situação, não haveria necessidade de trazer a valor presen-
te os R$ 100 mil, pois sabe-se que seria R$ 80 mil na venda à vista.
Para efeito didático, suponha que uma organização tenha vendido
a prazo os mesmos R$ 100 mil, todavia, para recebimento em 60
dias. Se fosse vender a vista seria por R$ 98 mil. Efetua-se o ajuste a
valor presente de R$ 2 mil, pois houve um efeito relevante.
Para as contas de passivos de longo prazo adota-se o mesmo
procedimento dos ativos de longo prazo. E similar critério para pas-
sivos de curto prazo caso haja efeito relevante, a mesma forma que
ativos de curto prazo, comentado anteriormente.

31
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Atenção VALOR JUSTO (FAIR VALUE)


Valor justo é diferente de preço
justo. O valor justo (fair value) é uma estimativa coerente do preço de
De forma simples, pode-se
mercado de ativos e passivos e estritamente vinculado ao momento
definir preço justo como preço
que é bom para ambos os la- em que a empresa realiza determinada operação, pois pode acon-
dos.
tecer de haver alteração do valor de ativos e passivos de uma data
Valor justo é uma terminologia
utilizada pela contabilidade. para outra, o que é uma situação muito comum.
Resumidamente, pode-se
conceituar valor justo como o O valor justo (fair value) é retratado no CPC 46 – Mensuração do
preço que uma organização
Valor Justo e definido da seguinte forma:
deve receber na venda de um
ativo, com a mesma carac-
terística para um passivo, ou
O valor justo é uma mensuração baseada em mercado e não
seja, o valor a pagar por sua
transferência. uma mensuração específica da entidade. Para alguns ativos e
passivos, pode haver informações de mercado ou transações
de mercado observáveis disponíveis e para outros pode não
haver. Contudo, o objetivo da mensuração do valor justo em
Atenção
ambos os casos é o mesmo – estimar o preço pelo qual uma
Técnicas de mensuração em-
transação não forçada para vender o ativo ou para transferir o
basadas em fluxo de caixa não
são bases de mensuração. passivo ocorreria entre participantes do mercado na data da
São técnicas usadas na apli-
mensuração sob condições correntes de mercado (CPC 46,
cação da base de mensu-
ração. A base de mensuração 2012, p. 1-2).
é o valor justo.

O valor justo pode ser estabelecido de forma direta ou indireta.


Direta aplicando o valor que o mercado ativo pratica e indireta em-
pregando técnicas de mensuração embasadas em fluxo de caixa,
por exemplo.
Na contabilidade internacional, fair value, ou valor justo é utilizado
em larga escala, pois reflete o valor de mercado de ativos e pas-
sivos. Em outras palavras, as organizações negociam ativos e/ou
Para passivos pelo seu valor justo (fair value).
pensar Imagine o exemplo hipotético de uma transação envolvendo fusão
No box “ATENÇÃO” e aquisição entre empresas sendo tratado pelo preço de custo. O
anterior, foi colocado que
preço justo é aquele que é bom preço de custo não é o mais apropriado e significativo, nessa
para ambas as partes.
Justo é o preço que o comprador circunstância. Neste caso em particular, o que importa é o
aceita pagar, pois, a rigor, quem
estabelece o preço é sempre quem está preço que o mercado pratica (valor justo) em detrimento do
pagando.
preço de custo.
32
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Os ativos permanentes são registrados a valor de mercado (justo).

Atenção
Ativos permanentes são os ativos de longa duração, compostos, dentre outros, de imobilizado
e intangível.
Ativos imobilizados são bens físicos destinados às operações da empresa, exemplos: benfei-
torias em propriedades arrendadas, construções de máquinas em andamento, construções em
andamento, direitos sobre recursos naturais, imóveis, importação de imobilizados em anda-
mento, instalações, máquina, equipamentos, móveis e utensílios, veículos, terrenos, etc.
Ativos intangíveis são direitos de caráter não físico, também empregados na atividade opera-
cional. Exemplos: concessões de aeroportos, concessão de portos, concessão de rodovias, di-
reitos autorais, marcas registradas, patentes etc. A marca é o item mais importante do intangível.
No ambiente da contabilidade, ágio é a diferença entre o valor da empresa e o valor contábil
dos ativos e passivos.
Goodwill é o que distingue uma organização das demais, contudo, não é possível mensurar em
valores. Exemplos:
1. A carteira de clientes (quanto vale a carteira de clientes do Bradesco?);
2. A marca de uma empresa (quanto vale a marca Lojas Americanas?)
3. A marca de um produto (quanto vale a marca do whisky Black Label?)
4. As habilidades técnicas dos funcionários (qual o valor dos recursos humanos da
Google?)
5. As patentes registradas (A Petrobras tinha em 2019 mais de 900 patentes ativas no
Brasil e mais de 1.000 no exterior. Qual o valor das patentes registradas pela Petrobras?)
6. O nome da empresa (quanto vale o nome Embraer?)
Os exemplos são reais; porém, de difícil mensuração como consequência de ser muito abstrato.
Pressuponha a marca BRF – multinacional brasileira, com presença global que, dentre outras
atividades, atua na criação, produção e abate de aves e suínos, bem como comercialização e
distribuição de carnes in-natura. A BRF pode ter valor para milhões de pessoas e ser abominada
pelas pessoas vegetarianas. Pela subjetividade exposta, há dificuldade da marca – qualquer
que seja – ser retratada pela contabilidade.
A rigor, goodwill é a diferença entre o valor da empresa e o valor de mercado dos ativos e pas-
sivos.

Os aspectos da mensuração podem ser melhor retratados na figu-


ra 8, ou seja, algumas situações podem afetar as empresas e serem
provenientes de fatores não visíveis e impossíveis de mensuração.
O exemplo ilustra a facilidade de avaliar o patrimônio visível das or-
ganizações e, ao mesmo tempo, a não avaliação da parte invisível,
o futuro da árvore poderá não ser previsto. E volta-se ao exemplo da
BRF – a incapacidade de se avaliar o valor da sua marca – apesar
de ser um importante indicador de agregação de valor de mercado.

33
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Figura 8 – Exemplo da árvore


Fonte: Marion (2009, p.)

A contabilidade norte-americana utiliza muito o valor justo (fair va-


lue), pois é uma ferramenta que denota lisura e faz com que os re-
latórios contábeis retratem o que foi definido pela administração da
empresa.
Pode-se sintetizar o valor justo (fair value) como o valor possível
de se negociar no mercado.

VALOR EM USO E VALOR DE CUMPRIMENTO

A estrutura conceitual (CPC, 2019, p. 38-39), oferece a seguinte


definição para Valor em uso e valor de cumprimento:

Valor um uso é o valor presente dos fluxos de caixa, ou outros


benefícios econômicos, que a entidade espera obter do uso de
ativo e de sua alienação final. Valor de cumprimento é o valor
presente do caixa, ou de outros recursos econômicos, que a
entidade espera ser obrigada a transferir para cumprir a obri-
gação.

34
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Em palavras simples, valor em uso é a maneira como, um item de


longo prazo que uma organização emprega na sua atividade opera-
cional, é calculado. Ou seja, qual o valor deste item no patrimônio da
organização. Para o valor de cumprimento consideram-se os custos
da operação para o pagamento da dívida, a valor presente; porém,
desconsideram os custos da operação no momento que se assumiu
a obrigação.
Importantíssimo salientar se estabelecem os valores em uso e os
valores de cumprimento com aplicação de metodologias fundamen-
tadas em fluxo de caixa.

CUSTO CORRENTE (REPOSIÇÃO)

A estrutura conceitual (CPC 00, 2019, p. 39) aborda o seguinte


texto referente ao custo corrente:

O custo corrente de ativo é o custo de ativo equivalente na data


de mensuração, compreendendo a contraprestação que seria
paga na data da mensuração mais os custos de transação que
seriam incorridos nessa data. O custo corrente de passivo é a
contraprestação que seria recebida pelo passivo equivalente
na data da mensuração menos os custos de transação que
seriam incorridos nessa data. Custo corrente, como custo his-
tórico, é o valor de entrada: reflete preços no mercado em que
a entidade adquiriria o ativo ou incorreria no passivo. Assim, é
diferente do valor justo, valor em uso e valor de cumprimento,
que são valores de saída. Contudo, diferentemente de custo
histórico, custo corrente reflete condições na data da mensu-
ração.

35
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Um exemplo muito prático poderia ser a aquisição de uma máqui-


na em 01 de março de 2021 por R$ 5 bilhões, por uma indústria de
Atenção papel e celulose. No balanço patrimonial encerrado em de 31 de
dezembro de 2021, o valor da máquina foi mensurado pelo custo
Pode haver casos em que
diferentes ativos, passivos, re- histórico (custo de aquisição).
ceitas e despesas sejam avali-
ados com diferentes bases.
Se o balanço patrimonial fosse preparado pelo custo corrente
Outro ponto de atenção é o (custo de reposição) na mesma data (31/12/2021), o valor da má-
seguinte: há diversas bases de
mensuração; todavia, na práti-
quina seria mensurado no balanço patrimonial pelo valor de R$ 5,5
ca, não se utilizam todas elas. bilhões.
Em outras situações, talvez se-
jam necessárias mais de uma Em outras palavras, pelo valor que a empresa pagaria para ter
base de mensuração para
essa mesma máquina em 31 de dezembro de 2021 – data da men-
ativos ou passivos e respecti-
vas receitas e despesas com o suração.
propósito de fornecimento de
informações relevantes para A estrutura conceitual (CPC 00, 2019, p. 42 a 46), traz um resumo
os usuários, bem como infor-
de informações fornecidas por bases de mensuração específicas
mações que reflitam adequad-
amente a posição econômico- de ativos e passivos, tanto no balanço patrimonial e reflexos na de-
financeira e patrimonial.
monstração do resultado e na demonstração do resultado abran-
gente.

ATIVOS
BALANÇO PATRIMONIAL
VALOR CONTÁBIL
Custo histórico Custo histórico (incluindo custos de transação),
na medida do não consumido ou não cobrado, e
recuperável.
(Inclui juros provisionados sobre qualquer
componente de financiamento).
Valor justo Preço que seria recebido para vender o ativo
(sem deduzir custos de transação na alienação).
Valor em uso Valor presente de fluxos de caixa futuros do uso
do ativo e de sua alienação final (após deduzir
o valor presente de custos de transação na
alienação).
Custo corrente Custo corrente (incluindo custos de transação) na
medida do não consumido ou do não cobrado, e
recuperável.
Quadro 1 – Informações fornecidas por bases de mensuração específicas dos
ativos no balanço patrimonial
Fonte: CPC 00 (2019, p. 42) – Adaptado.

36
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

ATIVOS
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE
EVENTO Custo histórico Valor justo Valor em uso Custo corrente
Reconhecimento Diferença entre a Diferença entre a
inicial contraprestação contraprestação
paga e o valor paga e o valor
justo do ativo em uso do ativo.
adquirido. Custos de
Custos de transação na
transação na aquisição do
aquisição do ativo.
ativo.
Venda ou Despesas Despesas Despesas Despesas
consumo do equivalentes ao equivalentes ao equivalentes ao equivalentes ao
ativo custo histórico valor justo do valor em uso do custo corrente
do ativo ativo vendido ou ativo vendido ou do ativo
vendido ou consumido. consumido. vendido ou
consumido Receita Receita consumido.
Receita recebida. recebida. Receita
recebida. (Pode ser (Pode ser recebida.
(Pode ser apresentada apresentada (Pode ser
apresentada bruta ou líquida). bruta ou líquida). apresentada
bruta ou Despesas bruta ou
líquida). por custos de líquida).
Despesas transação na Despesas
por custos de venda do ativo. por custos de
transação na transação na
venda do ativo. venda do ativo.
Receita de juros Receita de Refletido em Refletido em Receita de
juros, a taxas receitas e receitas e juros, a taxas
históricas, despesas de despesas de correntes.
atualizada se mudanças no mudanças no
o ativo estiver valor justo. valor em uso.
sujeito à (Pode ser (Pode ser
incidência de identificada identificada
juros variáveis. separadamente). separadamente).

37
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Redução ao Despesas Refletida em Refletida em Despesas


valor recuperável incorridas receitas e receitas e incorridas
devido ao despesas de despesas de devido ao
custo histórico mudanças no mudanças no custo corrente
não ser mais valor justo. valor em uso. não ser mais
recuperável. (Pode ser (Pode ser recuperável.
identificada identificada
separadamente). separadamente).
Mudanças no Não Refletidas Refletidas Receitas e
valor reconhecidas, em receitas e em receitas e despesas
exceto para despesas de despesas de refletindo o
refletir a mudanças no mudanças no efeito das
redução valor justo. valor em uso. mudanças nos
ao valor preços (ganhos
recuperável. de manutenção
Para ativos e perdas de
financeiros manutenção).
– receitas e
despesas de
mudanças nos
fluxos de caixa
estimados.
Quadro 2 – Informações fornecidas por bases de mensuração específicas dos
ativos na demonstração de resultado e demonstração do resultado abrangente
Fonte: CPC 00 (2019, p. 42-44) – Adaptado.

38
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

PASSIVOS
BALANÇO PATRIMONIAL
VALOR CONTÁBIL
Custo histórico A contraprestação recebida (líquida de
custos de transação) por assumir a parte
não cumprida do passivo, acrescida
pelo excedente dos fluxos de saída de
caixa estimados sobre a contraprestação
recebida.
(Inclui juros provisionados sobre qualquer
componente de financiamento).
Valor justo Preço que seria pago para transferir a
parte não cumprida do passivo (não
incluindo custos de transação que seriam
incorridos na transferência).
Valor em uso Valor presente dos fluxos de caixa futuros
que surgirá no cumprimento da parte
não cumprida do passivo (incluindo
valor presente dos custos de transação
a serem incorridos no cumprimento ou
transferência).
Custo corrente A contraprestação (líquida de custos de
transação) que seria atualmente recebida
por assumir a parte não cumprida do
passivo, acrescida pelo excedente de
fluxos de saída de caixa estimados sobre
essa contraprestação.
Quadro 3 – Informações fornecidas por bases de mensuração específicas dos pas-
sivos no balanço patrimonial
Fonte: CPC 00 (2019, p. 44) – Adaptado.

39
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

PASSIVOS
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE
EVENTO Custo histórico Valor justo Valor em uso Custo corrente
Reconhecimento Diferença entre a Diferença entre a
inicial contraprestação contraprestação
recebida o valor recebida e
justo do passivo. o valor de
Custos de cumprimento do
transação passivo.
ao incorrer Custos de
ou assumir o transação
passivo. ao incorrer
ou assumir o
passivo.
Cumprimento do Receita igual ao Receita igual Receita igual Receita igual ao
passivo custo histórico ao valor justo ao valor de custo corrente do
do passivo do passivo cumprimento passivo cumprido
cumprido cumprido. do passivo (reflete a
(reflete a Despesas por cumprido. contraprestação
contraprestação custos incorridos Despesas por corrente).
histórica). no cumprimento custos incorridos Despesas por
Despesas do passivo. no cumprimento custos incorridos
por custos (Podem ser do passivo. no cumprimento
incorridos no apresentadas (Podem ser do passivo.
cumprimento do líquidas ou apresentadas (Podem ser
passivo. brutas. Se líquidas ou apresentadas
(Podem ser forem brutas, a brutas. Se líquidas ou
apresentadas contraprestação forem brutas, a brutas. Se
líquidas ou histórica pode contraprestação forem brutas, a
brutas). ser apresentada histórica pode contraprestação
separadamente). ser apresentada histórica pode
separadamente). ser apresentada
separadamente).

40
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

Transferência do Receita igual ao Receita igual Receita igual Receita igual ao


passivo custo histórico ao valor justo ao valor de custo corrente
do passivo do passivo cumprimento do passivo
cumprido transferido. do passivo transferido.
(reflete a Despesas por transferido. Despesas por
contraprestação custos pagos Despesas por custos pagos
histórica). (incluindo custos custos pagos (incluindo custos
Despesas por de transação) (incluindo custos de transação)
custos pagos para transferir o de transação) para transferir o
(incluindo passivo. para transferir o passivo.
custos de (Podem ser passivo. (Podem ser
transação) líquidas ou (Podem ser líquidas ou
para transferir o brutas). líquidas ou brutas).
passivo. brutas).
(Podem ser
líquidas ou
brutas).
Despesas de Despesas de Refletidas Refletidas Despesas de
juros juros, a taxas em receitas e em receitas e juros, a taxas
históricas, despesas de despesas de correntes.
atualizadas mudanças no mudanças no
se o passivo valor justo. valor justo.
estiver sujeito (Podem ser (Podem ser
à incidência de identificadas identificadas
juros variáveis. separadamente). separadamente)..
Refletidas
em receitas
e despesas
de mudanças
no valor de
cumprimento.
(Podem ser
identificadas
separadamente).

41
Contabilidade Organizacional
Unidade 1

Efeito de eventos Despesas iguais Refletidas Refletidas Despesas iguais


que fazem com ao excedente em receitas e em receitas ao excedente
que o passivo se dos fluxos de despesas de e despesas dos fluxos de
torne oneroso saída de caixa mudanças no de mudanças saída de caixa
estimados sobre valor justo. no valor de estimados sobre
o custo histórico (Podem ser cumprimento. o custo corrente
do passivo, identificadas (Podem ser do passivo,
ou a mudança separadamente). identificadas ou a mudança
subsequente separadamente). subsequente
nesse nesse excedente.
excedente.
Mudanças no Não Refletidas Refletidas Receitas e
valor reconhecidas, em receitas e em receitas despesas
exceto na despesas de e despesas refletindo o efeito
medida em que mudanças no de mudanças das mudanças
o passivo é valor justo. no valor de nos preços
oneroso. cumprimento. (ganhos de
Para passivos manutenção
financeiros e perdas de
– receitas e manutenção.
despesas de
mudanças nos
fluxos de caixa
estimados.
Quadro 4 – Informações fornecidas por bases de mensuração específicas dos pas-
sivos na demonstração de resultado e demonstração do resultado abrangente
Fonte: CPC 00 (2019, p. 44-46) – Adaptado.

42
A Contabilidade como Instrumento de Gestão no Mundo Globalizado
Unidade 1

REFERÊNCIAS

2R TOP Soluções Digitais. Patrimônio na contabilidade, você sabe


o que é? 06 fev. 2021. Disponível em: https://2rtop.com.br/o-que-e-
-patrimonio-na-contabilidade/. Acesso em: 21 fev. 2022.

ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Iniciação à contabilidade em IFRS


e CPC. São Paulo: Atlas, 2017.

ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Teoria da contabilidade em IFRS e


CPC. São Paulo: Atlas, 2021.

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços. 9. ed.


São Paulo: Atlas, 2010.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Conheça o CPC. Dis-


ponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/CPC/Conheca-CPC. Acesso
em 17 fev. 2022.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento


Técnico CPC 00 (R2) – Estrutura conceitual para relatório finan-
ceiro. São Paulo: CPC, 2019.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento


Técnico CPC 26 (R1) rev. 14 – Apresentação das demonstrações
contábeis. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. São Paulo: CPC,
2011.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento


Técnico CPC 46 rev. 14 – Mensuração do Valor Justo. Comitê de
Pronunciamentos Contábeis: São Paulo: CPC, 2012.

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Contabilidade Organizacional
Unidade 1

ESCRITÓRIO GOVERNANTE. Qual o futuro da contabilidade.


07/06/2018. Disponível em: https://escritoriogovernante.blogspot.
com/2018/06/qual-o-futuro-da-contabilidade.html. Acesso em 17
fev. 2022

IUDÍCIBUS, Sérgio de. Contabilidade introdutória. 11. ed. São


Paulo: Atlas, 2010.

MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 15. ed. São Pau-


lo: Atlas, 2009.

MARTINS, Eliseu et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed.


São Paulo: Atlas, 2013.

MMP Cursos Capacitação e Treinamento. As 6 Características da


Informação Contábil. 06/05/2021. Disponível em: https://www.mmp-
cursos.com.br/blog/as-6-caracteristicas-qualitativas. Acesso em 18
fev.2022.

RIOS, Ricardo Pereira; MARION, José Carlos. Contabilidade avan-


çada. São Paulo: Atlas, 2017.

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