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Lembro-me muito claramente daquela noite, pois foi memorável.

Todos acham que a


Primavera é uma moça simples, delicada e com uma alegria entediante. Que ri a toa e
nunca diz bobagens, sempre censurando suas impressões, julgando o que é ou não
apropriado. Mas essa não é ela. Perséfone é o tipo de pessoa que sabe muito bem se
divertir. Não medindo palavras muito menos ações, sempre se contrariando e passando por
cima de si mesma. Gosta de ação e drama, as vezes manipulando as pessoas ao seu redor
para satisfazer seu desejo de correr o risco de se chatear e exibir sua melancolia. Mas seu
humor é de fato curioso pois nunca se mantém o mesmo. Adora dançar e rir muito, e
consegue fazer até as pessoas menos sociáveis, como eu, aproveitarem um pouco umas
das outras.

"Eu a vi de longe. Eu já a tinha visto, sempre no meio da multidão. Mas, naquela noite, ela
estava ainda mais colorida. Estou certo de que era a atração principal e que detinha todos
os olhares deslumbrados com sua beleza selvagem. Corria embriagada pelo salão, o
vestido vermelho esvoaçando pelo salão. O som de sua risada era como uma música
agitada. Flashes saturados de sua expressão sempre provocante"

Demorou um pouco até que ela notasse a existência de Litha. Muitas pessoas queriam
dançar com o Verão, e se ele pudesse passaria a noite de par em par. Apesar de conhecido
como "Oh! Nobre príncipe dos dias ensolarados" era como se o próprio não se entendesse
nesse título exagerado. Tinha a reputação de vivaz e orgulhoso, e todas as moças estavam
ansiosas para ficarem próximas de sua beleza contagiante. Queriam que ele risse alto e
fizesse piadas vulgares, esperando se derreterem com sua masculinidade. Esperava-se
dele danças incansáveis que mostrassem sua comentada glória, como um leão de circo.
Mas na realidade gostava de altos papos com os convidados, traduzindo tudo como uma
poesia inocente e vendo nas palavras mais ásperas um aspecto espiritualista, mas sua
atenção estava sempre voltada para a garota do outro lado do salão, o que era um tanto
irritante. Depois de repetir três vezes a mesma informação, as pessoas se entediavam com
sua distração e o deixavam, decepcionadas por não ser a mais pura realeza pomposa.

" Ele brilhava discretamente, sem ter noção de sua energia que me instigava lentamente.
Diferente do que pensei, sua luz não cegava, sua jovialidade não ofuscava o espaço ao seu
redor. Pelo contrário, deixava as cores mais nítidas. Irradiava animação ao falar sobre
filhotes de gatos e doces. O sorriso torto e tímido era como infinidades de sóis. Os
olhos...mesmo de longe, pude afirmar que eram semelhantes aos dias sem noites. Tive de
chegar mais perto para ter certeza de que aquele rosto, sem dúvida esculpido pelos deuses,
era real"

Perséfone o atraiu para fora do salão o mais rápido possível, ela não podia perder a
oportunidade de sentir quem era ele. Exibiu-se o seduzindo como um pavão, sumindo de
propósito pelas árvores para instigar ainda mais sua atração.

Litha a seguiu cegamente pelo bosque, a música cada vez mais distante. Ela parecia uma
miragem, a personificação de todos os seus desejos mais inconscientes, não sabendo que
precisava de tal emoção incerta até sentir. A sensação era semelhante à de correr atrás de
uma ave no céu. Eram apenas ele e ela naquela noite, as estrelas observando
emocionadas. Sussurros do vento traziam sua risada, e ele correu atrás do som. Até
encontrá-la em um pequeno círculo no meio do bosque. Haviam flores de formatos
incomuns penduradas nas árvores, o cheiro de puro romance. Mas através das cores era
possível sentir o lado intenso e ligeiramente sombrio. Litha sentiu um arrepio percorrer seu
corpo, as pernas tremeram. Disposto a se render a Rainha das Belladonnas.

- Já experimentou oleandro?- As primeiras palavras foram dela, sorrindo sagaz. Litha


chegou perto devagar, extasiado.

- Não

- São venenosos...e agressivos

- Então deveria tomar mais cuidado.

- Acho que flores mais bonitas são mais perigosas que as venenosas

- Eu assumo o risco- Litha cheirou nas mãos coradas de Perséfone, levando até seus
cachos.

Parados, encarando um ao outro. Perséfone estava hipnotizada pela inocência no olhar de


Litha, e mesmo assim sua atração a contagiava. Sob o luar, ele era ainda mais brilhante.
Uma luz única. Era sutil e estonteante ao mesmo tempo. Tocou seu rosto, quente. O calor
do próprio verão preencheu seu corpo e alma. Perséfone sentiu alí mesmo que faria
qualquer coisa para senti-lo por mais tempo possível.

Litha segurou delicadamente a cintura de Perséfone, trazendo seu corpo para perto de si,
sempre olhando bem dentro de seus olhos. Por toda a sua vida achou que tinha tudo e que
o mundo não era mais do que belíssimas paisagens a se admirar, mas aquela imagem era
inigualável. A garota era de uma natureza exótica, espírito livre que o convenceu a buscar
pelo novo nela incorporado. O coração de Perséfone ansiava por aquele à sua frente, e ela
jurou que iria explodir. De certa forma, que estava mesmo explodindo por dentro. Queria
aquela pureza mais do que tudo, aquela visão clara que tinha dos vais e vens da vida,
aquela inspiração. Nenhuma trama impulsiva superava a suavidade em sua feição. A pele
ferveu ao toque de seus dedos, afastando o cabelo do seu rosto rosado, na primeira vez em
que não tentava convencer alguém a algo, pois ele parecia saber o que ela queria e melhor,
queria exatamente o mesmo. Sem mais espera, como se a noite fosse acabar, ele a beijou,
soprando borboletas em seu estômago.

Perséfone inspirava e expirava euforia, nunca esteve tão infinitamente feliz. Duvidava da
realidade emocionante que vivenciava, sem acreditar que era ela alí. Tentou aproveitar cada
milésimo de segundo para jamais esquecer daquele momento, que por si só era
inesquecível. Tudo ao redor virou uma grande mistura de cores, a saturação brilhando,
todos os licores do mundo se juntaram em um só sabor. Seus lábios, ah sim, o carinho mais
doce que poderia existir.

Litha a segurou firme, como uma rosa, impedindo que as pétalas caiam. Desejou tê-la em
seus braços para sempre, ser banhado por suas cores, respirar seu cheiro. Ela. Apenas ela
e nada mais. A própria personificação da paixão mais colorida que era demais para o
mundo. Em seu corpo o mais variados tipos de flores cresciam, ele a deixou plantá-las.
Nos dias que se passaram era como se tudo ao redor deles fosse completamente diferente.
Se viam todos os dias. Na maioria deles, Litha tocava canções.

Eram sempre instrumentos diferentes, e com ela era como se a liberdade o arrebatasse
para longe. Quando Perséfone estava por perto, Litha dava o melhor de sua existência. Ele
queria lhe mostrar todos os mundos que pudesse, mas para ele nada era mais maravilhoso
do que estar com ela.

" Eu queria compor todas as melodias do mundo e dedicá-las à ela. Porque é isso que ela é
pra mim. Nenhuma música, nenhum som de nenhum instrumento se compara a energia que
ela exala. Mas dou tudo de mim para tentar chegar aos pés da alegria que ela trás aos
meus dias. Quero ser aquele que a ilumina por completo, pois eu brilho por ela. Ela me
inspira a deixar toda a minha luz passar por meus olhos e irradiar em todo o mundo, porque
ela me dá energia. Todos os dias como ela são como sonhar, e eu não me preocupo com o
amanhã porque estar com ela é o que importa. Ela despertou em mim todo o meu eu mais
profundo, e o que eu mantinha em minha mente agora é claro "

Ele se sentia livre e capaz para tocar para ela, os instrumentos falavam por ele. Inspirada,
Perséfone criava cores para pintá-lo, revelando seu coração através delas. Fazia as mais
incríveis obras, todas autênticas e livres. Sua paixão guiava o pincel em cada traço, tudo
parava para que ela pudesse pintá-lo. Para ela, Litha era uma obra de arte e sua aura a
possuía para que ela usasse toda a sua criatividade, materializar as diferentes formas que o
via, todas as formas de sua afeição. Os quadros e retratos que fazia quando estava com ele
são os melhores que já vi, sempre surpreendentemente mágicos e despertam ao seu redor
um espírito que anseia pelo amor.

Perséfone e Litha, cada vez mais próximos, tinham ao seu entorno o próprio tempo e
espaço, ambos se fundem em um mundo único e composto por toda a matéria e
consciência ligada aos dois. A chuva, a música, as cores, a luz, a própria natureza.

Não sou capaz de descrever tudo o que vejo quando estão juntos, e muito menos o que
sinto, pois uma paixão verdadeira é capaz de despedaçar e reconstruir qualquer um que a
presenciar. Não há palavras no mundo que definem metade do que é a aura que exalam
juntos, como se todo o mundo girasse em torno deles e ao mesmo tempo eles parecem
dançar ao redor do mundo.

Eu não diria que Litha complementa Perséfone ou vice- versa. Na verdade, mesmo que
estivessem com suas almas particularmente completas, ainda sim iriam se encontrar. Não é
sobre precisarem um do outro e vai muito além do que qualquer concepção de prazer já
elaborada. Desde que se conheceram naquela noite, não vejo um sem o outro. Sempre
existiram como uma única alma onipresente.

Mesmo quando discutem, é como piada para se reconciliarem, seu teatro pessoal de
romance, tragédia e comédia. Sempre uma surpresa, sempre um novo sentimento a ser
desfrutado. Estão conectados de tal forma que sabem exatamente como o outro se sente e
sabem exatamente como manterem-se juntos, pois o desejo da mais profunda união é
maior que qualquer incerteza. Confiam suas vidas um ao outro, porque são uma vida que
continuará mesmo quando houver o nada.
"Quando ele me toca, um simples toque, faz meu espírito levitar. Suas mãos, seu abraço é
o lugar mais seguro do mundo. Ele me segura todas as vezes como se fosse a última, mas
sinto que estar com ele é meu infinito. Ele entrelaça os dedos no meu cabelo e acaricia meu
rosto com delicadeza, um sonho que eu nunca imaginaria ter. Quando me olha, pode ver
minha alma e meu coração. Litha é parte de mim. Podemos dançar por dias sem nunca nos
cansarmos. Ele me mostra a luz nos momentos escuros, e me aquece em noites frias. Cada
palavra que ele me diz são poemas de mil anjos. Meu coração pertence a Litha, sempre
pertenceu e sempre vai pertencer. E quanto ao seu coração, guardarei como meu tesouro
mais precioso."

" Eu posso ver Perséfone em tudo. Suas cores nos dias cinzas, seu cheiro me possui e me
eleva. Cada parte dela é a magnitude da natureza sagrada personificada. Seu sorriso é o
brilho de centenas de estrelas. Estar com ela é estar no céu e na terra ao mesmo tempo,
pois nada é tão divino e nenhuma criação é tão bela. Sei que com Perséfone ao meu lado o
mundo é muito mais agradável por nela enxergo tudo o que há de melhor em toda a vida.
Sou absolutamente devoto à solenidade de sua existência, e dançarei com ela até depois
do fim. Somos o infinito. Eu a entreguei meu coração com tudo o que sou, e guardei o seu
como a mais rara jóia"

Não há antes. Apenas agora e para sempre hoje. A vibrante e ardente paixão. O eterno
amor.

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