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INTERVENÇÃO INTERPROFISSIONAL DA VERTIGEM POSTURAL

PAROXÍSTICA BENIGNA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Ryan do Nascimento Duarte


Carolina Carvalho Nogueira
Léslie Piccolotto Ferreira
Luciana Figueiredo de Oliveira
Janaína von Söhsten Trigueiro

Palavras-chave: Tontura, Equipe de Assistência ao Paciente, Atenção Primária à


Saúde.

INTRODUÇÃO

Dentre as diversas doenças que afetam o sistema vestibular, uma delas é a


Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). Essa condição tem uma origem
desconhecida e está relacionada a traumas na região da cabeça e do rosto, bem
como a distúrbios na orelha interna. A VPPB é caracterizada por episódios
repentinos de tontura rotatória que duram apenas por um curto período de tempo.
Essas crises são desencadeadas por mudanças na posição da cabeça em direções
específicas. (SILVA et al., 2017).
A USF é a primeira opção de atendimento, mas nem sempre há diagnóstico
preciso. É visto que muitos médicos têm dúvidas sobre casos de tontura e vertigem,
e a interconsulta com uma equipe multiprofissional que compreenda a
sintomatologia e especificidade da VPPB é sem dúvidas, o caminho adequado para
garantir um tratamento eficaz para diagnóstico e reabilitação (Bunzen et al., 2021)
No cenário da APS, ressalta-se os benefícios do Programa de Residência
Multiprofissional de Saúde da Família e Comunidade (PRMSFC). Ele oferece
capacitação, visando uma abordagem mais abrangente e efetiva na assistência aos
pacientes. Valoriza a atuação em equipe e a colaboração com outros profissionais,
contribuindo para o desenvolvimento de uma prática clínica interdisciplinar e uma
visão holística da saúde. Dessa forma, a formação em um Programa
multiprofissional como esse é uma oportunidade valiosa para promover um ambiente
colaborativo e interprofissional (FLOR et al., 2022).
OBJETIVOS
Descrever as vivências de um residente de Fonoaudiologia e da equipe
multidisciplinar do PRMSFC, tendo como campo de trabalho a APS mediante a
casos de VPPB.

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência desenvolvido a partir das vivências de


um residente de Fonoaudiologia, que faz parte de uma equipe multiprofissional
inserido no PRMSFC no município de João Pessoa-PB. Ele atuou na Unidade de
Saúde da Família (USF) localizada no Distrito Sanitário II. A USF é integrada, sendo
composta por quatro equipes de Saúde da Família em um mesmo espaço físico.
Convém destacar que o residente em questão esteve inserido numa equipe
multiprofissional do PRMSFC, formada por fonoaudiólogo (1), nutricionista (1),
fisioterapeuta (1), enfermeira (1) e psicólogo (1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à experiência relatada no estudo, inicia-se pela realização do


matriciamento sobre a as áreas dos residentes multiprofissionais, os quais
apresentaram possibilidades e potencialidades de seus núcleos de atuação na
perspectiva da APS aos profissionais das 4 equipes presentes na USF Integrada.
Participaram 10 médicos, sendo 8 residentes e 2 preceptores; 5 enfermeiras, sendo
1 residente; 16 Agentes Comunitários de Saúde (ACS); 4 recepcionistas; 4 técnicas
em enfermagem; 2 auxiliares de serviços gerais; 4 dentistas e 4 auxiliares de saúde
bucal; 1 farmacêutica; 1 guarda municipal; 1 psicólogo, 1 nutricionista e 1
fisioterapeuta, todos esses também residentes; 1 gerente da Unidade Integrada de
Saúde da Família (USF) e 1 apoio, assistente social.

1. Matriciamento
O matriciamento em fonoaudiologia refere-se a uma prática interdisciplinar em
que profissionais de diferentes áreas da saúde trabalham em conjunto para fornecer
um cuidado mais abrangente e integrado ao paciente. No contexto da VPPB, o
matriciamento pode envolver a colaboração entre fonoaudiólogos,
otorrinolaringologistas, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde (Bunzenet al.,
2021).
Para esse momento,o núcleo da Fonoaudiologia elaborou um cartaz
destacando as atribuições da profissão, incluindo o suporte às equipes de
puericultura, acompanhamento, visita domiciliar, amamentação, mastigação, fala,
linguagem, introdução alimentar, audição, vestibulopatias, disfagia e interconsultas
com usuários que enfrentam desafios metabólicos que podem surgir em todos os
ciclos da vida.

2. Captação de usuários
O tópico sobre vestibulopatias, por ter chamado mais atenção dos presentes,
tornou-se o principal foco de interesse. Os médicos conseguiam detectar os casos
de tontura, vertigem e distúrbios vestibulares que surgiam na USF. Eles então
acionavam a equipe multiprofissional, para oferecer um cuidado mais completo e
adequado. Além disso, os ACS também ajudavam a realizar captação de usuários
que apresentassem os sintomas.

3. Cuidado ofertado
Sendo assim, o residente fonoaudiólogo, junto a equipe multidisciplinar
realizava a anamnese com a finalidade de saber sobre alimentação, trabalho,
hábitos, dinâmica familiar, etc. Nesse momento, buscou-se possíveis soluções para
os sintomas referidos pelos usuários, uma vez que cada tipo de tontura e vertigem
tem um tempo de duração, apresenta ou não zumbido, perda auditiva, náusea,
síncope ou alterações de temperatura corporal, compreendendo como cada
profissional poderia contribuir para a melhora dos usuários.
No total foram realizados 27 atendimento sem formato de consulta
interprofissional e/ou multiprofissional em consultório ou em visita domiciliar de todas
as quatro equipes da Unidade de Saúde Integrada com os médicos e os outros
residentes da equipe multiprofissional. Ressalta-se que a maioria do público
atendido foi de mulheres idosas e somente dois usuários eram homens.
Durante os atendimentos, foi promovida a sensibilização acerca da
alimentação saudável, junto à nutricionista. Orientou-se quanto à diminuição de
alimentos que potencializam os sintomas da VPPB, a exemplo do café, doces,
refrigerantes, energéticos, alguns chás e ainda sobre hábitos nocivos como o uso do
cigarro e álcool.
Além disso, junto à equipe médica apresentou um olhar diferenciado àqueles
que eram diabéticos, hipertensos e/ou apresentavam colesterol alto, condições
clínicas que não necessariamente provocam VPPB, mas podem provocar outros
tipos de tontura.
O psicólogo deu suporte necessário para se desenvolver estratégias de
enfrentamento para lidar com os sintomas da VPPB, como a ansiedade e o medo de
cair. Essas estratégias podem incluir técnicas de relaxamento, exercícios
respiratórios, meditação, entre outras.
Junto à fisioterapeuta da equipe, enfatizou-se também sobre mudanças em
alguns aspectos que podem melhorar os sintomas, tais como realizar pouco
movimento de cabeça, dormir com apoio acima de 45 graus ou com mais de um
travesseiro. Essa conscientização baseia-se nas singularidades do usuário,
entendendo a realidade de cada pessoa.
Discussão
Realizou-se a manobra de Dix-Hallpike utilizada no diagnóstico da VPPB, já
para o tratamento da VPPB, utilizou-se a manobra de Epley, sendo ambas
manobras de movimentação corporal. (PAULA; BASTOS, 2019; PING et al., 2022).
O trabalho proposto pelo residente fonoaudiólogo junto a equipe
multidisciplinar na APS buscou formas de tratar condições que precisavam de ajuda
tecnológica como a vectoeletronistagmografia de maneira simples, considerando as
especificidades locais. Para tanto, foram utilizadas as ferramentas disponíveis para
oferecer cuidado a pessoas com tontura e vertigem, incluindo aquelas com sintomas
de VPPB.
Portanto, a importância das tecnologias leves na APS é inegável, já que
essas ferramentas são capazes de aprimorar a qualidade do atendimento e facilitar
o acesso da população aos serviços de saúde. Entretanto, a ausência de
fonoaudiólogos junto à equipe multiprofissional na rede pública de saúde brasileira é
um fator limitante que dificulta o acesso da população a serviços especializados, o
que gera uma grande demanda reprimida nos serviços de média e alta
complexidade.
Constatou-se a importância de uma prática humanizada que considere as
particularidades do usuário, adaptando o que fosse necessário para um melhor
atendimento. Sendo assim, foi possível garantir a segurança e o conforto durante as
sessões, possibilitando um atendimento significativo e transformador para os
usuários.
Os resultados positivos foram alivio rápido da tontura, diminuição do risco de
quedas, estabilidade postural, equilíbrio, melhor adaptações proprioceptivas visuais,
base de sustentação e de componentes sensórios-motores, melhora na autonomia
do indivíduo, segurança em realizar atividades básicas da vida, humor e melhora de
qualidade de vida obtidos reforçam que para além da presença de um fonoaudiólogo
na APS, como também da equipe multiprofissional
Nessa perspectiva, é inegável a relevância da Fonoaudiologia na prática de
trabalho. Ela é essencialmente humana, real e libertadora, pois valoriza o diálogo,
vivências, história e a participação ativa de ambos partícipes, profissional e usuário
nesse processo de reabilitação.

CONCLUSÃO E/OU RECOMENDAÇÕES

A atuação do fonoaudiólogo na reabilitação vestibular em casos de VPPB é


imprescindível para a resolução dos casos e para a humanização do cuidado na
APS. É fundamental reconhecer e valorizar a especialidade da Fonoaudiologia na
APS, garantindo o acesso da população a um cuidado de qualidade e integral, em
conjunto com a atuação de outros profissionais da equipe multiprofissional.

REFERÊNCIAS

1. PAULA, Arielle Silva; BASTOS, Ana Sílvia Menezes. Reabilitação vestibular-


uma importante proposta para o manejo das Vestibulopatias: Relato de
Caso. Revista de Saúde, v. 10, n. 2, p. 49-55, 2019.
2. PING, Lin et al. Diagnosis and treatment of the short-arm type posterior
semicircular canal BPPV. BrazilianJournalofOtorhinolaryngology, v. 88, p.
733-739, 2022.
3. BUNZEN, Débora et al. Sintomas vestibulares encaminhados ao
otorrinolaringologista pela atenção primária da cidade do Recife. Revista
Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, v. 16, n. 43, p. 2751-
2751, 2021.
4. FLOR, Taiana Brito Menêzes et al. Formação na Residência Multiprofissional
em Atenção Básica: revisão sistemática da literatura. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 27, p. 921-936, 2022.
5. SILVA, L. M. et al. A importância da equipe multiprofissional na reabilitação
vestibular: revisão de literatura. Fisioterapia em Movimento, v. 30, n. 1, p.
159-166, 2017.

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