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EMEI 16

Elementos de Máquinas

Dimensionamento
de Chavetas
e Estrias

Prof.Marcos Moura Galvão


IEI - Instituto de Engenharias Integradas
“Revelemo-nos mais por atos do que por palavras...”
Theodomiro Carneiro Santiago (Fundador da UNIFEI)
1. Introdução

As chavetas são usadas para evitar o movimento entre árvores e os


elementos a elas conectados, através dos quais se transmite potência.

Embora as engrenagens, polias, etc, possam ser presas à árvore por meio de
ajustes prensados, é sempre aconselhável projetar uma chaveta para
transmitir toda potência.

As chavetas são padronizadas pelo tamanho e pela forma em diversos tipos.

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2. Tipos de Chavetas

Os tipos mais comuns de chavetas são:

- Chaveta Quadrada (chaveta paralela):

Geralmente, t = b = D/4

- Chaveta Retangular (chaveta paralela):

Geralmente, b = D/4

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2. Tipos de Chavetas

- Chaveta Kennedy:

- Chaveta Cônica (Afunilada):


Esta chaveta pode ser em cunha (face superior inclinada) com cabeça
(quilha) ou não.

Chaveta cônica com cabeça ou quilha

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2. Tipos de Chavetas

- Chaveta Woodruff (Meia-Lua):


Apresenta uma forma semicircular plana, com largura constante.

Chaveta Woodruff (Meia-Lua) montada entre


o eixo e o cubo.

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3. Tensões em Chavetas Quadradas e Retangulares

O projeto destas chavetas pode ser baseado no cisalhamento e na


compressão, induzidos em virtude do momento de torção a ser transmitido.

Conforme figura abaixo, as forças F’ agem produzindo um binário resistente


evitando que a chaveta gire dentro de seu rasgo. A localização das forças F
não são conhecidas e é conveniente admitir que elas são tangentes à árvore.
Estas forças produzem simultaneamente cisalhamento e compressão na
chaveta.

A resistência ao momento de torção T, transmitido pela chaveta, será


aproximadamente: 2𝑇
𝑇=𝐹𝑟 𝑜𝑢 𝐹=
𝐷
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3. Tensões em Chavetas Quadradas e Retangulares

- Tensão de Cisalhamento na Chaveta:

𝐹 𝐹𝑟 𝑇 2𝑇
𝜏𝑆 = = = =
𝑏𝐿 𝑏𝐿𝑟 𝑏𝐿 𝐷 2 𝑏𝐿𝐷

Área a ser cisalhada 2𝑇


𝜏𝑆 =
𝑏𝐿𝐷

onde: L = comprimento da chaveta [mm];

A torção que a chaveta é capaz de transmitir, levando-se em conta a sua


resistência ao cisalhamento é:

𝐷
𝑇𝑆 = 𝜏𝑆 𝑏 𝐿 2

onde: τS = tensão admissível ao cisalhamento do material [N/m2] ou [kgf/mm2];

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3. Tensões em Chavetas Quadradas e Retangulares

- Tensão de Compressão (Esmagamento) na Chaveta:

𝐹 𝐹𝑟 𝑇 4𝑇
𝜎𝐶 = 𝑡 = 𝑡 = 𝑡 𝐷 =
2 𝐿 2 𝐿𝑟 2 𝐿 2 𝑡𝐿𝐷

4𝑇
Área a ser esmagada 𝜎𝐶 =
𝑡𝐿𝐷

onde: t = altura da chaveta [mm];

A torção que a chaveta é capaz de transmitir, levando-se em conta a sua


resistência a compressão é:

𝐷
𝑇𝐶 = 𝜎𝐶 𝑡 𝐿 4

onde: σC = tensão admissível à compressão do material [N/m2] ou [kgf/mm2];

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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

4.1 – A chaveta quadrada tem a mesma resistência ao cisalhamento e a


compressão.
Considerando: Materiais dúcteis  𝜏𝑒𝑠𝑐 ≅ 0,5 𝜎𝑒𝑠𝑐
Chaveta quadrada: b = t

Quanto ao cisalhamento, a tensão induzida ( 𝜏𝑒𝑠𝑐 ) na chaveta será:

𝜏𝑒𝑠𝑐 2 𝑇𝑠
𝜏𝑖𝑛𝑑 = 𝜏𝑎𝑑𝑚 = = (𝐴)
𝐹𝑆 𝐷𝑏𝐿

Quanto à compressão, a tensão induzida ( 𝜎𝑒𝑠𝑐 ) na chaveta será:


𝜎𝑒𝑠𝑐 4 𝑇𝐶
𝜎𝑖𝑛𝑑 = 𝜎𝑎𝑑𝑚 = = (𝐵)
𝐹𝑆 𝐷𝑡𝐿

Promovendo o seguinte arranjo tem-se:


𝐴 𝜏 2𝑇 𝜎𝑒𝑠𝑐 2𝑇 𝑇
= 𝜎𝑒𝑠𝑐 = 4 𝑇𝑆 ⇒ = 4 𝑇𝑆 ⇒ 1 = 𝑇𝑆 ⇒ 𝑇𝐶 = 𝑇𝑆
𝐵 𝑒𝑠𝑐 𝐶 2 𝜎𝑒𝑠𝑐 𝐶 𝐶

Observação: A chaveta quadrada pode ser dimensionada tanto por cisalhamento


quanto por compressão.
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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

4.2 – A chaveta retangular, que é mais larga (b) que alta (t), se romperá
devido à compressão. (A chaveta do tipo meia-lua se romperá por
cisalhamento).
Para t << b, a AC << AS
AC = t L , e , AC = b L
4𝑇
𝜎𝑎𝑑𝑚 =
𝐷𝑡𝐿

4.3 – Para uma chaveta quadrada, considerando o mesmo tipo de


material na chaveta e na árvore, ela se apresentará com um
comprimento de 1,18 do diâmetro do eixo (L = 1,18 D), o que pode ser
demonstrado abaixo:

O momento transmitido por uma árvore de diâmetro D,


admitindo um fator de concentração de tensão de 1,33 (ou 4/3), é:

𝑇𝑎𝑟𝑣 𝑐 𝑇 𝐷 2
𝜏𝑠 = 𝐾𝑡 = 1,33
𝐽 𝜋 𝐷4
32
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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

0,75 𝜋 𝐷3
𝑇𝑎𝑟𝑣 = 𝜏𝑠
16

Igualando este momento com o da chaveta quadrada, levando-se em


conta o cisalhamento vem:
0,75 𝜋 𝐷3 𝐷
𝜏𝑠 = 𝜏𝑠 𝑏 𝐿
16 2

0,294 𝐷2 = 𝑏 𝐿

𝐷
Geralmente: 𝑏 =
4
0,294. 4. 𝐷2 = 𝐷. 𝐿

1,18 𝐷 = 𝐿 ∴ 𝐿 = 1,18 𝐷

Na prática utiliza-se: 𝐿 = 1,25 𝐷

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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

4.4 – O material empregado em chavetas é o aço-carbono SAE 1020 ao


SAE 1040. Exceto se um ambiente corrossivo exigir uma chaveta de aço
inoxidável ou de latão.

4.5 – As chavetas são padronizadas, então, deve-se procurar as


dimensões padronizadas em normas. (olhar na seção 5)

4.6 – As seguintes tensões admissíveis são usadas em chavetas:

𝜎𝑒𝑠𝑐 𝜏𝑒𝑠𝑐
𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑜𝑢 𝜏𝑎𝑑𝑚 =
𝐹𝑆 𝐹𝑆

1,5 ≤ 𝐹𝑆 ≤ 2,5

FS = 1,5 para torque uniforme; FS = 2,5 para torque flutuante

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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

4.7 – Concentração de tensões na árvore causadas pelas chavetas:


---- Figura (a) ----
Com material recozido (flexão ou torção): Kf = 1,3
Com material endurecido (flexão ou torção): Kf = 1,6
---- Figura (b) ----
Com material recozido - flexão : Kf = 1,6
torção : Kf = 1,3
Com material endurecido - flexão : Kf = 2,0
torção : Kf = 1,6

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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

4.8 – Comprimento da chaveta:


Geralmente, toma-se: 1,25 𝐷 ≤ 𝐿 ≤ 2 𝐷
é comum tomar: L = 1,5 D

4.9 – Chavetas com inclinação:


Atua mediante efeito de cunha, aumenta a firmeza na montagem e
permite que parte do momento de torção seja absorvido pela resultante da
força de atrito “cubo - árvore”. A capacidade de transmitir torque,
considerando a força de atrito, pode ser calculada por:

𝑏 𝐿 𝜎𝑎𝑑𝑚 𝑏
𝑇𝑚𝑎𝑥 = + 1,44 𝜇 𝐷
4 3
onde:
σadm - tensão de compressão admissível
μ - coeficiente de atrito:
- chavetas lubrificadas = 0,1
- chavetas sem lubrificação = 0,15
D - diâmetro da árvore.
b x L - dimensões da chaveta.
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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

Devem ser verificadas também, as expressões:

4𝑇 2𝑇
𝐿= 𝑒 𝐿=
𝐷 𝑡 𝜎𝑎𝑑𝑚 𝐷 𝑏 𝜏𝑎𝑑𝑚

Seção b x t
( Inclinação 1:100 )

4.10 – Chaveta Kennedy:


Para serviço pesado.

𝑏 = 𝑡 = 0,2 𝑎 0,25 𝐷
𝐿 = 1,5 𝑎 2,0 𝐷

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4. Considerações Práticas no Cálculo da Chaveta

4.11 – Chaveta cilíndrica:


Para serviços leves – conicidade 1:200
𝑑 = 0,6 𝑎 0,7 𝐷 [𝑚𝑚]

4.12 – Chaveta Pratt-Whitney:


Esta chaveta é usada do mesmo modo que a Woodruff, somente
poderá ser removida da árvore após a retirada do elemento enchavetado.

𝐿 ≥2b
ℎ=𝑡 2

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5. Padronização das Chavetas

Abaixo são mostradas algumas tabelas com dimensões padronizadas de


chavetas quadradas e retangulares, no sistema métrico e sistema inglês.

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6. Exercícios

1. Deve-se fixar uma engrenagem a uma árvore com 36 mm de diâmetro,


por meio de uma chaveta quadrada (paralela). O cubo da engrenagem
tem 64 mm de comprimento. A árvore e a chaveta são do mesmo
material, tendo uma tensão de cisalhamento admissível de
5,607 kgf/mm2 (55 MPa). Sendo o momento de torção transmitido de
40.775 kgf.mm (400 N.m), quais as dimensões da chaveta?

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6. Exercícios

2. Uma chaveta do tipo retangular (paralela) de 13 mm de largura (b) e


9 mm de altura (t) deve transmitir um momento de 76.452,6 kgf.mm
(750 N.m). A árvore tem um diâmetro (D) de 36 mm. A aço da chaveta tem
uma tensão permissível à tração e compressão (𝜎𝑎𝑑𝑚) de 11,417 kgf/mm2
(112 MPa) e uma tensão permissível ao cisalhamento ( 𝜏𝑎𝑑𝑚 )
de 5,708 kgf/mm2 (56 MPa). Determine o comprimento (L) da chaveta.

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7. Estrias

7.1 - Introdução

Estrias são essencialmente “chavetas construídas no eixo”, formadas


pelo contorno externo do eixo e pelo contorno interno do cubo com
formas semelhantes a dentes;

As estrias executam a mesma função da chaveta, transmitindo torque do


eixo para o cubo do elemento conjugado (engrenagens, roldana, roda
dentada, etc);

Existem dois tipos ou formatos de estrias, que são: Estrias de lado reto
(de seção quadrada) e Estrias involutas.

Estrias

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7. Estrias

As seguintes vantagens são apresentadas:

1. Há uma transferência mais uniforme de torque e carregamento menor


sobre determinada parte da interface eixo/cubo, em comparação com a
transmissão por chavetas;

2. São usinadas com precisão a fim de proporcionar um ajuste controlado


entre as demais peças conjugadas, internas e externas;

3. A superfície da estria é muitas vezes endurecida para resistir ao desgaste


e facilitar sua aplicação quando se deseja o movimento axial do elemento
conjugado;

4. A estria involuta (dente de involuta) tem menor concentração de tensões


que um dente quadrado, e é mais forte;

5. Tem a capacidade (com folga apropriada) de acomodar grandes


movimentos axiais entre o eixo e o cubo do elemento conjugado ao mesmo
tempo em que transmite o torque;

6. Usada na conexão do eixo de saída do motor automotivo com a


transmissão, devido ao movimento da suspensão causar movimento axial
entre os membros (eixo/cubo)
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7. Estrias

Serão abordadas neste material somente as estrias de lado reto.

7.2 - Estrias de Lado Reto

As estrias retas são feitas de acordo com as especificações da SAE e se


organizam geralmente em 4, 6, 10 ou 16 estrias;

A figura abaixo mostra a versão com 6 estrias, em que é possível ver os


parâmetros básicos de projeto (D, d, w, h).

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7. Estrias

As dimensões de d, w e h estão relacionadas ao diâmetro nominal maior,


D, pelas fórmulas da Tabela 1, para os ajustes do tipo A, B e C:
Tabela 1 – Fórmulas para estrias retas SAE.

- O ajuste A (Permanente) é usado quando a peça conjugada não puder ser


removida após a instalação;
- O ajuste B (para deslizamento sem carga) é empregado quando a peça
conjugada tiver de ser movida ao longo do eixo sem uma carga de torque;
- O ajuste C (para deslizamento com carga) é para uma peça conjugada que
necessite ser deslocada sob carregamento.
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7. Estrias

7.2.1 – Capacidade de Torque por Comprimento de Estria

A seguinte equação é apresentada:

𝐷2 − 𝑑2 lb. pol
𝑇 = 1000 𝑁 [ ]
8 pol
Onde: N = número de estrias;
D = diâmetro maior do eixo [polegada];
d = diâmetro menor do eixo [polegada];

1[lb.pol] = 1108,38 [kgf.mm] ou 1,10838 [kgf.m]; 1 [lb] = 43,637 [kgf];


1 [pol] = 25,4 [mm] ou 0,0254 [m]

7.2.2 – Diâmetro de Estrias Necessário para Determinar Capacidade de


Torque

A seguinte equação é apresentada:

8𝑇
𝐷= + 𝑑 2 [pol]
1000 𝑁
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7. Estrias

A Tabela 2 mostra os seguintes valores de capacidade de torque e


diâmetro exigidos (necessário) para as demais versões de estria reta
mostrados na Tabela 1.
Tabela 2 – Capacidade de torque para estrias retas por polegada de comprimento.

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7. Estrias

A figura abaixo auxilia na determinação de um diâmetro aceitável para


que a estria transmita determinado torque (Capacidade de Torque),
dependendo do ajuste desejado: A, B ou C.

Diâmetro maior da estria X Capacidade de torque por polegada de comprimento de estria.

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7. Estrias

7.3 – Tensões Induzidas nas Estrias

Da mesma forma que com as chavetas, dois modos de falha são


possíveis, esmagamento e cisalhamento;

A falha por cisalhamento é normalmente o modo limitante.

Diferente das chavetas, muitos dentes estão disponíveis para partilhar a


carga de alguma maneira. Se a estria fosse feita perfeitamente sem
nenhuma variação na espessura do dente ou do espaçamento, todos os
dentes partilhariam a carga igualmente;

A SAE afirma que a prática real da manufatura tem mostrado que ,


devido às imprecissões no espaçamento e na forma do dente, o
equivalente a 25% dos dentes está em contato transmitindo a carga, isto
resulta, também, em 25% das estrias. O número de estrias (N25%) em
contato será:
𝑁25% = 0,25 . 𝑁
A área de cisalhamento das estrias em contato será:
𝐴𝑆25 = 𝑤 . 𝐿 . 𝑁25% Sendo: w = largura da estria; L = comprimento da
estria; N25% = número de estrias em contato.
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7. Estrias

A tensão de cisalhamento induzida ( 𝜏𝑖𝑛𝑑 ) na estria pode ser calculada


com o uso da seguinte equação:

2 𝑇𝑡
𝐹𝑡
𝜏𝑖𝑛𝑑 = = 𝐷
𝐴𝑠25 𝐴𝑠25

2 𝑇𝑡
𝜏𝑖𝑛𝑑 =
𝐷 𝐴𝑠25

Onde: τind = Tensão induzida na estria [kgf/mm2];


Tt = Torque total a ser transmitido [kgf.mm];
D = diâmetro maior da estria [mm];

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8. Exercício

1. Um eixo com diâmetro externo (D) de 1 pol (25,4 mm) transmitirá um


torque (TT) de 258,467 lb.pol (286.480 kgf.mm) através de uma união por
6 estrias projetadas para deslizamento sem carga (ajuste B). Calcule as
dimensões das estrias (w, h, d, L) e a tensão induzida ( 𝜏𝑖𝑛𝑑 ) nas estrias.

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