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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO


PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIBIC)

PLANO DE ATIVIDADES DO ESTUDANTE


PIBITI – VIGÊNCIA 2021/2022

RELATÓRIO FINAL

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE NOVO ÍNDICE DE SOBRECARGA DE


MEDICAMENTOS (DRUG BURDEN INDEX) SOBRE O EQUILÍBRIO
POSTURAL DE IDOSOS

PROFA. DRA. KAREN BARROS PARRON FERNANDES

LONDRINA
2023
JOÃO VITOR HORTA RIBEIRO
KAREN BARROS PARRON FERNANDES

MEDICNA – PUCPR CAMPUS LONDRINA


BOLSISTA PUCPR

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE NOVO ÍNDICE DE SOBRECARGA DE


MEDICAMENTOS (DRUG BURDEN INDEX) SOBRE O EQUILÍBRIO
POSTURAL DE IDOSOS

Relatório Final apresentado ao Programa


Institucional de Bolsas de Iniciação em
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI),
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e
Inovação da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Karen Barros Parron


Fernandes

LONDRINA
2023
RESUMO

O envelhecimento é um fenômeno mundial, relacionado à maior prevalência


de comorbidades e consumo de medicamentos. Estima-se que 18% dos idosos
brasileiros façam uso de cinco ou mais medicações ao dia. A sobrecarga de
medicamentos pode alterar a capacidade funcional, assim como acarretar alterações
no equilíbrio e maior prevalência de quedas em idosos. Desta forma, este estudo teve
por objetivo avaliar a sobrecarga de medicamentos com efeito sedativo e
anticolinérgico sobre equilíbrio em idosos fisicamente independentes. Foi avaliada a
sobrecarga de medicamentos por meio do Drug Burden Índex e os pacientes foram
classificados em três classes, 0, 1 e 2 (sem sobrecarga, com sobrecarga DE 0 a 1 e
sobrecarga maior que 1, respectivamente). O equilíbrio postural foi analisado por meio
de uma plataforma de força (BIOMEC400), mediante realização do teste de apoio
unipodal. Participaram do estudo 168 participantes. Desta amostra, 98 (58,3%) eram
indivíduos de raça branca e 124 (73,8%) do gênero feminino. Em relação à
sobrecarga de medicamentos, utilizou-se o índice de sobrecarga de medicamentos
DBI e identificou-se 50 participantes (29,8%) não apresentavam sobrecarga, enquanto
45 (26,8%) apresentavam baixa sobrecarga e 73 (43,5%). Não houve associação
entre faixa etária e Drug Burden Index e entre gênero e o Drug Burden Index.
Verificou-se diferenças estatisticamente significantes na área do COP (p=0,03) e
velocidades no sentido ântero-posterior (p=0,007) e médio-lateral (p=0,01) em relação
à sobrecarga de medicamentos em idosos, onde idosos com alta sobrecarga
apresentam pior equilíbrio (Teste de Kruskal-Wallis). Além disso, foi observada a
associação entre a sobrecarga de medicamentos e o déficit de equilíbrio de acordo
com a área do COP (rS= 0,14 e p=0,02), indicando que, quanto maior o consumo,
maior o déficit de equilíbrio. A partir dos resultados, podemos concluir que a
sobrecarga de medicamentos anticolinérgico e sedativo, pode ocasionar déficit no
equilíbrio postural em idosos. Além disso, pode-se propor que o DBI poderia ser uma
ferramenta utilizada no sistema único de saúde para estimar os possíveis efeitos
deletérios da sobrecarga de medicamentos em idosos.

Palavras-chave: Sobrecarga de medicamentos. Idosos. Equilíbrio postural.


Polifarmácia.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16
1.1 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 18
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 19
2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 19
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 19
3 MATERIAIS E MÉTODO........................................................................................ 19
4 3.1. APRECIAÇÃO ÉTICA..................................................................................... 19
5 3.2. DELINEAMENTO POPULACIONAL .............................................................. 20
6 3.3. CÁLCULO AMOSTRAL.................................................................................. 20
7 3.4. COLETA DE DADOS ...................................................................................... 20
8 3.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................ 21
9 RESULTADOS....................................................................................................... 21
10 DISCUSSÃO ........................................................................................................ 25
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 27
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 28
ANEXOS ................................................................................................................... 34
16

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população é um fenômeno global. Estima-se que até 2030,


uma em cada seis pessoas em todo o mundo será idosa, e essa proporção deve
dobrar até 2050, alcançando cerca de 2,1 bilhões de indivíduos (United Nations, 2019;
World Health Organization, 2022). Embora inicialmente observado em países
desenvolvidos, as maiores mudanças no envelhecimento estão ocorrendo agora em
países de baixa e média renda, onde, até 2050, dois terços da população idosa
mundial viverão (World Health Organization, 2022).

No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


a população idosa deve triplicar até 2050, chegando a 66,5 milhões de pessoas,
representando 29,3% da população total (IBGE, 2010).

As políticas públicas para promover um envelhecimento saudável têm como


objetivo reduzir as desigualdades em saúde e melhorar a qualidade de vida dos
idosos, suas famílias e comunidades. Isso pode ser alcançado através de quatro áreas
principais de ação coletiva: mudar as percepções, atitudes e comportamentos em
relação ao envelhecimento; desenvolver comunidades que valorizem as habilidades
dos idosos; fornecer cuidados integrados e centrados na pessoa, bem como serviços
de saúde primários responsivos às necessidades dos idosos; e garantir que os idosos
tenham acesso a cuidados de longo prazo de alta qualidade (World Health
Organization, 2022).

Lidar com a diversidade de necessidades dos idosos é um desafio complexo para


a saúde pública global. O envelhecimento populacional representa um dos maiores
desafios para os sistemas de saúde em todo o mundo, exigindo uma abordagem
abrangente para enfrentar as diversas experiências e necessidades dessa população
(National Institute on Aging; National Institutes of Health, 2011).

Um desafio constante no cuidado aos idosos é a sobrecarga medicamentosa. À


medida que as pessoas vivem mais, é comum visitarem mais médicos, resultando em
um acúmulo de prescrições médicas ao longo do tempo. Infelizmente, essas
17

prescrições nem sempre são revisadas ou ajustadas adequadamente. Os idosos, em


média, fazem uso de 2 a 5 medicamentos regularmente, o que pode levar a
polifarmácia em 20 a 50% dessa população. O cenário demográfico brasileiro agrava
a situação, pois enfrenta um envelhecimento acentuado da população devido à
diminuição da taxa de natalidade, aumento da expectativa de vida e redução das taxas
de morbimortalidade graças aos avanços médicos e de qualidade de vida.

A polifarmácia é caracterizada pelo uso irracional e excessivo de medicamentos


em um paciente. Para avaliar objetivamente a ocorrência de polifarmácia, escalas de
avaliação como a MAI (Medication Appropriateness Index) são frequentemente
utilizadas. No entanto, essas escalas possuem maior utilidade científica do que
aplicação prática e clínica.

Estudos epidemiológicos indicam que 18,1% da população idosa no Brasil usa


cinco ou mais medicamentos, o que representa mais de 4,2 milhões de pessoas sob
polifarmácia, e esse número pode ultrapassar 12,6 milhões até 2050 (Nascimento et
al., 2017).

Neste contexto, este estudo visa utilizar um novo índice de avaliação de


polifarmácia em idosos, chamado Drug Burden Index (DBI), que já foi validado em
diferentes populações, mas ainda não foi avaliado quanto ao seu impacto no
desempenho físico e funcional da população brasileira (Gnjidic et al., 2009; Hilmer et
al., 2007; Kouladjian et al., 2014).

É essencial destacar a importância desse tema, pois certos medicamentos podem


afetar negativamente a força muscular e o equilíbrio dos idosos por meio de
mecanismos farmacodinâmicos, farmacocinéticos e farmacogenéticos, aumentando o
risco de quedas e fraturas (Wouters; Van der Meer; Taxis, 2017; Lai et al., 2010).
Embora haja evidências de que o uso crônico de medicamentos possa afetar as
funções cognitivas e motoras, ainda não há evidências sólidas se a polifarmácia tem
uma relação direta com o equilíbrio postural, especialmente com base em medidas
objetivas de avaliação (Hilmer et al., 2007; Wouters; Van der Meer; Taxis, 2017).
18

1.1 REVISÃO DE LITERATURA

As quedas representam a causa mais comum de lesões, morbidade e


mortalidade entre os idosos (Guirguis-Blake et al., 2018). O risco de quedas em idosos
é uma preocupação significativa para a saúde pública e a qualidade de vida dessa
população em processo de envelhecimento (Tinetti et al., 2006). Estudos têm indicado
que as quedas são uma das principais causas de lesões graves e hospitalizações em
idosos, resultando em perda de autonomia e funcionalidade (Tinetti et al., 2006).
Portanto, é crucial avaliar a eficácia das intervenções para prevenção de quedas em
idosos, com enfoque nos fatores de risco modificáveis, como desequilíbrio, efeitos
adversos de medicamentos e fatores ambientais. As intervenções apropriadas para a
prevenção de quedas em populações de cuidados primários podem incluir exercícios,
revisão de medicação, suplementos dietéticos (como vitamina D), modificações no
ambiente e terapia comportamental (Guirguis-Blake et al., 2018).

Estudos conduzidos por Tinetti et al. (2017) apontam que os fatores de risco para
quedas em idosos incluem idade avançada, histórico prévio de quedas, uso de
medicamentos sedativos e psicotrópicos, problemas de visão e equilíbrio, bem como
a presença de doenças crônicas como osteoporose e condições neurológicas. Além
disso, fatores ambientais, como pisos escorregadios e falta de iluminação adequada,
também contribuem para aumentar o risco de quedas em idosos. Portanto, é
fundamental adotar medidas preventivas e intervenções apropriadas, tais como
exercícios para fortalecimento muscular, revisão da medicação e adaptações no
ambiente, com o objetivo de reduzir a incidência de quedas e promover a segurança
e independência dos idosos (Tinetti et al., 2006).

O risco de quedas em idosos é multifacetado, requerendo uma abordagem


multidimensional que considere tanto fatores individuais quanto ambientais. De acordo
com Rubenstein et al. (2018), a implementação de programas de prevenção de
quedas, que incluam avaliações geriátricas completas, estratégias específicas de
exercícios, revisões da medicação e adaptações ambientais, tem se mostrado eficaz
na redução da incidência de quedas e suas consequências adversas. Além disso,
19

iniciativas de conscientização e educação sobre prevenção de quedas também


desempenham um papel crucial na promoção de um envelhecimento seguro e
saudável. É de extrema importância que profissionais de saúde, familiares e
cuidadores estejam envolvidos nesse processo, trabalhando em conjunto para mitigar
o risco de quedas em idosos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida
dessa população vulnerável (Rubenstein et al., 2004).

2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
- Validar novo índice de sobrecarga de medicamentos (Drug Burden Index) na
população brasileira e sua influência sobre parâmetros de equilíbrio postural em idosos
fisicamente independentes.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


- Identificar classes de medicamentos usadas pela população idosa com
impacto sobre o desempenho físico-funcional;
- Calcular a sobrecarga de medicamentos da população de estudo;
- Determinar os parâmetros do equilíbrio postural (área do COP, velocidade e
frequência nos sentidos A-P e M-L) em idosos;
- Avaliar possível associação entre a sobrecarga de medicamentos e os
parâmetros do equilíbrio.

3 MATERIAIS E MÉTODO

4 3.1. APRECIAÇÃO ÉTICA


O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob
o número CAEE: 36329214600000099, – anexos 1 e 2.
Os participantes também foram submetidos a assinatura de um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, apresentado no projeto original) que este
foi devidamente apresentado e minuciosamente explicado.
20

5 3.2. DELINEAMENTO POPULACIONAL


O estudo se caracteriza como transversal, descritivo e observacional. Em
relação a seleção dos participantes, esta foi realizada de forma voluntária e por
conveniência no Ambulatório Acadêmico da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Campus Londrina. Os critérios de inclusão foram: pacientes voluntários, sexo
masculino e feminino, idade ≥ 65 e ≤ 90 anos, Índice de Massa Corporal (IMC) entre
18 e 35 kg/m², classificados como independentes (PARKER; PALMER, 1993). Já os
critérios de exclusão incluiram a presença de: câncer, sinais de alerta (infecção, tumor
etc.), transtorno psiquiátrico grave, cuidados paliativos, malformação congênita da
coluna vertebral, síndromes graves/doenças sistêmicas que possam impedir a
realização de testes e AVC – tal como previamente determinados no projeto original.

6 3.3. CÁLCULO AMOSTRAL


Como explicitado no projeto original, o tamanho da amostra foi determinado
com base na médias e desvio padrão de dois estudos, determinando-se que a amostra
mínima para fins de estudo seria de 21 participantes em cada grupo, totalizando-se
42 participantes. No projeto original, foi proposto trabalhar com uma amostra de, pelo
menos, 100 participantes. Este número, contudo, pode ser em muito superado,
contando-se hoje com uma amostra de 168 participantes.

7 3.4. COLETA DE DADOS


Desde que o projeto se iniciou, no segundo semestre de 2022, foram realizadas
reuniões com a orientadora, professores, convidados e demais membros do grupo de
pesquisa, com a finalidade de oferecer embasamento teórico, com discussões sobre
o tema de pesquisa e elaboração de questões práticas relacionadas a funcionalidade
e aplicabilidade do projeto.
Nesse interim, foram realizadas atividades para o treinamento dos
membros do grupo, com o intuito de desenvolverem protocolos de coleta de dados,
além de treinamentos de coleta. Criou-se também, em conjunto, uma normatização
dos protocolos de entrevista e de lida com os pacientes participantes no projeto.
Ademais, houve testes e treinamentos relacionados à lida com os instrumentos que
vêm sendo utilizados no projeto, tal qual a plataforma de força, o dinamômetro e os
softwares de dados e avaliação de equilíbrio.
21

Em paralelo, realizou-se uma demonstração prática do projeto no


ambiente do Campus, na qual interessados puderam ter seus dados posturais e de
equilíbrio coletados como forma de treinamento e divulgação científica.
Para a coleta de dados com a população de estudo, foram utilizados os
seguintes instrumentos:
- Questionário com dados antropométricos e sócio-demográficos, além de
questionário sobre a presença de comorbidades e consumo de medicamentos para
posterior cálculo da sobrecarga;
- Avaliação do esquilíbrio unipodal por meio da Plataforma de Força
BIOMEC400 (EMG System do Brasil, SP Ltda) . Neste protocolo, os seguintes
parâmetros de equilíbrio baseados no COP são computados: área elipse do COP (em
cm2), velocidade média (em cm/s) e frequência média (em Hz) de oscilações do COP
nas direções de movimento ântero-posterior e médiolateral, segundo protocolo
descrito por Oliveira et al. (2018);
- Avaliação de força muscular periférica, segundo método descrito por Coelho
et al. (2016).
Realizou-se a coleta de dados de 168 pacientes desde o início deste projeto
até o presente momento, superando-se em muito a previsão inicial e atingindo-se um
banco de dados robusto e amplo.

8 3.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA


Os programas Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 20.0 e o
programa GraphPad Prism foram utilizados para análise estatística dos dados e
confecção de gráficos. Foi estabelecido um intervalo de confiança de 95% e nível de
significância de 5% (p < 0,05) nos testes aplicados.
Além disso, foi realizada a análise estatística dos dados por meio da descritiva,
com medidas de tendência central, média e desvio padrão.

9 RESULTADOS
Participaram do estudo 168 participantes. Desta amostra, 98 (58,3%) eram
indivíduos de raça branca e 124 (73,8%) do gênero feminino. Os dados não
apresentavam distribuição normal e, portanto, testes não paramétricos foram
utilizados.
22

Em relação à sobrecarga de medicamentos, identificou-se 50 participantes


(29,8%) não apresentavam sobrecarga, enquanto 45 (26,8%) apresentavam baixa
sobrecarga e 73 (43,5%)
Na tabela 1, são apresentadas as características demográficas da população
de estudo em relação à sobrecarga de medicamentos. Verificou-se que não há
diferença estatística entre os grupos (Teste de Kruskal-Wallis, p>0,05), o que nos
permite afirmar que os indivíduos são pareados em relação aos dados
antropométricos. Na tabela 2, são apresentados os parâmetros de força muscular
periférica estratificada por gênero em relação à sobrecarga de medicamentos. Não se
verificou diferença estatisticamente significante entre os grupos (Teste de Kruskal-
Wallis, p>0,05).
Não houve associação entre faixa etária e Drug Burden Index e entre gênero e
o Drug Burden Index. Verificou-se diferenças estatisticamente significantes na área
do COP (p=0,03) e velocidades no sentido ântero-posterior (p=0,007) e médio-lateral
(p=0,01) em relação à sobrecarga de medicamentos em idosos, onde idosos com alta
sobrecarga apresentam pior equilíbrio (Teste de Kruskal-Wallis). Estes dados
referentes aos resultados da estabilometria são apresentados nas figuras 2, 3 e 4,
respectivamente.

Além disso, foi observada correlação direta entre a sobrecarga de


medicamentos e a área do COP (rS= 0,14 e p=0,02), indicando que, quanto maior o
consumo, maior a área do COP e, portanto, o déficit de equilíbrio (Figura 2).

Tabela 1 – Caracterização dos dados antropométricos da população de estudo em


relação à sobrecarga de medicamento.

Sobrecarga de Medicamentos p
Variáveis Sem Sobrecarga Baixa Sobrecarga Alta Sobrecarga
Mediana Mediana Mediana
(1º. Q – 3º. Q) (1º. Q – 3º. Q) (1º. Q – 3º. Q)
Idade (anos) 68,5 (64 – 74) 69 (63,75 – 74) 69 (65 – 75) 0,95
Peso (kg) 68,6 (58,2 - 77,1) 64,0 (56,7 - 74,8) 67,9 (58,5 - 78,0) 0,78
Altura (m) 1,6 (1,5 – 1,7) 1,5 (1,5 – 1,6) 1,5 (1,5 -1,6) 0,99
IMC (Kg/m ) 27,1 (23,9 – 29,5)
2
25,8 (23,2 – 28,9) 27,5 (24,6 – 32,2) 0,22

Kg= kilograma; m= metros; IMC= índice de massa corporal.


23

Figura 1– Teste unipodal em uma plataforma de força.

60
COP (cm2)

40 *

20

0
ga

ga

a
rg
ar

ar

ca
ec

ec

re
br

br

b
so

So

So
m

xa

lta
Se

ai

A
B

Grupos

Figura 2 – Valores da Área do Centro de Pressão (COP) em relação aos grupos de


sobrecarga de medicamento. * Estatisticamente significante, Teste de Kruskal-Wallis,
p<0,05.
24

10
Vel. AP (cm/s)

*
5

0
ga

ga

a
rg
ar

ar

ca
ec

ec

re
br

br

b
so

So

So
m

xa

lta
Se

ai

A
B

Grupos

Figura 3 – Valores da Velocidade Ântero-Posterior (Vel. AP) em relação aos grupos de


sobrecarga de medicamento. * Estatisticamente significante, Teste de Kruskal-Wallis,
p<0,05.

10
Vel. ML (cm/s)

*
5

0
ga ga ga
car car car
e e e
o br obr o br
s S S
m xa lta
Se B
ai A

Grupos

Figura 4 – Valores da Velocidade Médio-Lateral (Vel. ML) em relação aos grupos de


sobrecarga de medicamento. * Estatisticamente significante, Teste de Kruskal-Wallis,
p<0,05.
25

100

80
á re a C O P (c m )
2

60

40

20

0
0 .0 0 .5 1 .0 1 .5 2 .0 2 .5
DBI

Figura 5 – Correlação entre a área do centro de pressão e a sobrecarga de


medicamentos em idosos. * Estatisticamente significativa, Correlação de Spearman,
p<0,05.

10 DISCUSSÃO
Neste trabalho houve a confirmação, de que a população de estudo, está
sujeita ao déficit de equilíbrio por sobrecarga de medicamentos. A população idosa é
a mais sujeita a utilizar altas doses de medicamentos anticolinérgicos e sedativos,
porque apresentam vários tipos de doenças.
Nesse estudo não se observaram diferenças no consumo de medicamentos
entre homens e mulheres. Embora não tenha sido encontrada essa relação, há relatos
de maior consumo de medicamentos por mulheres, as quais estão mais expostas à
incapacidade funcional, depressão e hospitalizações (CHRISCHILLES et al, 1990;
LAUKKANEN et al,1992; PSATY et al., 1992). Essa demanda de fármacos tem
relação com o aumento de doenças crônicas e a grande procura por serviços de saúde
(LASSILA et al., 1996, WOO et al., 1995).
Embora o aumento do consumo de medicamentos tenha uma correlação com
a idade, neste estudo, não se verificou associação do DBI com a faixa etária,
possivelmente porque os participantes desse estudo eram idosos e após os 60 anos
eles praticamente tem a mesma carga de medicamentos.
O Drug Bruden Index deve ser uma ferramenta de fácil acesso no sistema de
saúde, onde será permitido prever a carga de droga do paciente e as consequências
relacionadas com essa carga. Proporcionando a predição de uma dose eficaz,
pensando em diminuir os efeitos que esse excesso pode causar nos idosos (HILMER,
26

2007). O DBI pode representar uma ferramenta de rastreamento, visto que a


sobrecarga de medicamentos está associada a déficit de equilíbrio.
Neste trabalho, observou-se correlação entre a sobrecarga de medicamentos
e déficit de equilíbrio. Hilmer (2009) mostra que mesmo utilizando baixas doses e por
períodos curtos a utilização de medicamentos com efeitos anticolinérgicos e sedativos
estão associados ao mau funcionamento das funções físicas em pessoas idosas.
Estes dados também foram observados em uma população americana (GNJIDIC,
2009).
Há relatos de pesquisas em grande escala indicarem que drogas sedativo-
hipnóticas aumentam o risco de instabilidade postural, quedas e fraturas de quadril
em idosos (GILLESPIE; HANDOLL, 2009). Entretanto, estudos prévios que
correlacionaram a sobrecarga global de medicamentos como déficit de equilíbrio
basearam-se em testes funcionais somente. Vale ressaltar que testes funcionais ou
escala de equilíbrio podem medir o déficit de equilíbrio indiretamente, enquanto os
parâmetros do COP de uma plataforma de força podem analisar diretamente os
déficits de equilíbrio relacionados à propriocepção e ajustes posturais (HOLBEIN et
al., 2007; NGUYEN et al., 2012).
Como vantagem do nosso estudo, pode-se destacar a utilização de parâmetros
confiáveis de oscilação do COP para contrastar as diferenças de equilíbrio entre
grupos em vez de questionários subjetivos ou escalas de equilíbrio como Berg ou
Tinneti de trabalhos anteriores (GILLESPIE; HANDOLL, 2009).
Em contraste com esses estudos anteriores, que avaliaram idosos saudáveis
residentes na comunidade usando tarefas de apoio de duas pernas, o presente estudo
incluiu uma tarefa de controle de equilíbrio mais desafiadora para mostrar o impacto
da medicação, que pode ser mais preditiva de problemas de equilíbrio e,
consequentemente, um melhor indicador de quedas (HURVITZ et al., 2000).
Com base nos resultados apresentados, verificou-se que o equilíbrio postural
é diretamente afetado pela polifarmácia, sendo, pois, esta última, um fator de risco de
queda em idosos.
As descobertas aqui, pois, comprovadas, servem de substrato e
embasamento para que se continue a ramificar e aprofundar o projeto original, agora
almejando estipular-se um ponto de corte na polifarmácia para que se mitigue, dentro
27

dos consultórios, ambulatórios, hospitais e demais serviços de saúde, o risco de


queda em idosos.
Nesse contexto, o Drug Bruden Index (DBI) deveria ser uma ferramenta de fácil
acesso no sistema de saúde, a qual poderia representar uma ferramenta de
rastreamento de déficit de equilíbrio e, com isso, um possível efeito benéfico sobre a
prevenção de quedas (HILMER et al., 2007).
Segundo Cardwell (2015), o DBI poderia ser usado para identificar populações
com alto risco para quedas em idosos, uma vez que o índice de sobrecarga da droga
pode ser facilmente calculado. Assim, se constatado algum risco, a droga poderia ser
substituída por outra que não cause danos (HILMER et al, 2007). Entretanto, estudos
subsequentes em outras populações são essenciais para a confirmação desta
hipótese. Ainda, estudos sobre possível associação entre esta sobrecarga de
medicamentos e capacidade funcional poderiam contribuir para a promoção de saúde
em idosos.

11 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste frutífero e ainda fértil estudo apontam para a necessidade


de um olhar cuidadoso, criterioso e matematicamente preciso quanto a aplicação da
farmacologia clínica em idosos, uma vez que esta, ao que apontam os resultados,
quando receitada de maneira errônea, atingindo-se o patamar indesejável da
polifarmácia, acaba por aumentar riscos importantes à vida e saúde da população,
aumentando, por meio do prejuízo ao equilíbrio, o risco de quedas, fraturas e
potenciais óbitos ou sequelas.
Tal necessidade, contudo, acaba por implicar em uma verdadeira batalha
quanto aos preceitos médicos ocidentais, excessivamente medicamentosos e que, por
muitas vezes, tratam sintomas sem tratar causas.
Aponta-se aqui ainda que este estudo visa ir mais longe do que o que foi aqui
atingido e apresentado, que tem por fim uma maior qualidade de vida e menor
morbimortalidade da população idosa. Acredita-se, pois, que a Medicina de redução
de danos e preventiva caminham no sentido a mitigar a possibilidade de acidentes –
muitas vezes causados, como foi visto, por quedas em pacientes idosos cuja farmácia
pessoal inclui muitos (e/ou mal aplicados) nomes de remédio.
28

Esse próximo objetivo futuro do presente estudo, posterior a confirmação


estatística de que a polifarmácia afeta o equilíbrio postural do idoso, partiria da
necessidade de se estabelecer então um ponto de corte referente ao que pode ser
considerado, clinicamente, um grau preocupante de polifarmácia nos idosos. Tal ponto
de corte será a pedra fundamental da elaboração de um critério clínico que auxiliará
a prática médica preventiva quando se lida com idosos.
Para que se atinja esse objetivo final, contudo, a possível continuidade futura
deste projeto almeja comparar populações com o estudo correlato e parceiro sendo
desenvolvido simultaneamente no Canadá. Isso embasará os dados aqui
apresentados em uma amostragem maior e ainda mais diversa, possibilitando a
determinação de um ponto de corte mais preciso para a polifarmácia com risco de
queda em idosos.

REFERÊNCIAS

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34

ANEXOS
35

Anexo 1: Parecer Cosubstanciado do CEP


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37

Anexo 2: Parecer Cosubstanciado do CEP


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