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Músculos Eletrônicos - Polias e Engrenagens - Robótica na Educação

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ANO 1 - Nº1 - OUTUBRO-NOVEMBRO/2001- R$ ~


Editora Saber Ltda.
Diretores
Hélio Fittipaldi
EDITORIAL
Thereza M. Ciampi Fittipaldi

A Mecatrônica é uma área da engenharia


www.mecatronicaatual.com.br
que vem crescendo e assumindo papel de destaque
na indústria. Diversas tecnologias vêm sendo
Mecatrônica Atual desenvolvidas a cada dia contribuindo para o
Editor e Diretor Responsável aumento do conteúdo abrangido por esta área.
Hélio Fittipaldi
Com isso, torna-se cada vez mais difícil que o
Editor Assistente profissional esteja constantemente "atualizado" em
Paulo Gomes dos Santos
todos os seus segmentos.
Publicidade
Eduardo Anion - Gerente o
principal objetivo desta revista é trazer aos nossos leitores informações
Ricardo Nunes Souza importantes a fim de diferenciar a formação daqueles que já atuam na área e
Conselho Editorial também daqueles que estão ainda se formando, mas que têm o interesse de ir
Newton C. Braga além de seus próprios cursos. Além disso, para fazer uma revista com a qualidade
Alexandre Capelli que você merece, contatamos diversos profissionais na área de Mecatrônica,
Colaboradores
inclusive das principais universidades e institutos do país.
Celso Eduardo Vieira Oliveira
Celso Massatoshi Furukawa Estamos construindo uma revista pioneira no Brasil, da mesma forma
Clovis Magoga que foi feito há 25 anos, com a revista "Saber Eletrônica", que se tornou a principal
Eduardo de Pinho Prado
Emílio Carlos Nelli Silva
revista de Eletrônica da América Latina e, sem dúvida, uma das melhores do
Fernando Pazos mundo. E assim como a "Saber Eletrônica" continua contribuindo para a
José Carlos Amadeo empregabilidade de seus leitores, esperamos fazer o mesmo com a "Mecatrônica
Julio Cezar Adamowski Atual".
Newton C. Braga
Sebastião G. dos Santos Filho
Juntamente com esta revista você está recebendo outra: a "Mecatrônica
Agradecimentos Fácil" que é dirigida àqueles que necessitam de informações de caráter mais
Ascongraph LIda.
CCS Consultoria e Serviços
básico, seja para servir de estímulo para um maior aprofundamento, seja para
SMARTtech Serviços e Sistemas LIda. reparar "lacunas" no conhecimento que eventualmente surgiram ao longo da
formação.
Impressão
Revista produzida sem o uso de
fotolitos pelo processo de "pré- Sendo assim, você perceberá o caráter eclético destas revistas que visam
impressão digital" por: ao mesmo tempo facilitar a capacitação profissional do iniciante e fornecer
W.ROTH (11) 6436-3000 soluções técnicas ao engenheiro de desenvolvimento ou de campo.
Distribuição
Brasil: DINAP Aproveitamos a oportunidade para registrar o convite àqueles que
Portugal: Electroliber desejem contribuir com artigos para estas novas publicações, que entrem em
MECATRÔNICA ATUAL
contato conosco. Além disso, abrimos a oportunidade para que os próprios leitores
(ISSN - 1676-0972) é uma manifestem as suas opiniões, através da pesquisa que se encontra no final da
publicação bimestral revista. Com isso, iremos conhecê-Ios melhor e descobrir quais as suas principais
da Editora Saber LIda.
necessidades, visando construir uma revista, acima de tudo, útil para diferenciar
Redação, administração,
números atrasados, publicidade a sua formação.
e correspondência:
R. Jacinto José de Araújo, 315 Seja bem-vindo a essa nova jornada. E tenha a certeza de que, em breve,
CEP.: 03087-020 - São Paulo
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Notícias Dispositivos

Notícias Sistema Automatizado de


Comutação de Gases e
Conheça algumas novidades tecnológicas
na área de Mecatrônica. 3 Controle do Fluxo de Massa
Aplicação em Fornos Térmicos
Especial Projeto de Automação que utiliza atuadores
mecânicos, elétricos e de controle via compu-
Mecatrônica - Uma Abordagem
Voltada à Automação Industrial
tador com aplicação direta em salas limpas para
a fabricação de circuitos integrados. 18
Neste artigo é abordado a conceituação da Mecânica
Mecatrônica dentro do atual contexto

nal, a necessidade da formação continuada.


da
Automação Industrial, alertando ao profissio-
8 Polias e Engrenagens

Conheça os dispositivos mecânicos utiliza-


A Robótica na Educação

Neste artigo é discutido a implementação


mentos.
dos para a transmissão e/ou redução de movi- 3O
de programas de ensino da Robótica desde o Dificuldades Mecânicas
nível fundamental até o nível técnico, dando

que podem ser trabalhados através da


27 Conheça algumas das dificuldades encon-

53
destaque
Robótica. às principais áreas do conhecimento
ver projetos
tradas na área que
por aqueles de Mecatrônica.
pretendem desenvol-
Pneumática

A importância dos Componentes Hardware


Pneumáticos ... Confiáveis! Os segredos da
porta paralela
Conheça as válvulas pneumáticas que uti-
lizam a tecnologia "Spool Sleeve", que torna
os componentes pneumáticos mais confiáveis. 12 o PC pode se tornar uma ferramenta mui-
to útil nos projetos de Mecatrônica. Descu-

Eletrônica
bra como utilizar os sinais da porta paralela
para interfacear
mecatrônicos.
o PC com dispositivos
32
Caixas de Redução -
Solução para a realização de Software
projetos de Mecatrônica CAD/CAElCAM
Estes componentes podem viabilizar diver- Descubra o papel do computador das dife-
sos projetos de Mecatrônica. Neste artigo são
mostrados alguns circuitos eletrônicos para o
controle da caixa de redução. 15 rentes fases de elaboração de um produto atra-
vés de softwares de CAD, CAE e CAM, de ine-
gável importância no contexto industrial. 38
SMA - Músculos Eletrônicos Interfaceamento Utilizando
A "Shape Memory Alloy" é a grande saída
a Linguagem Pascal
para eliminar alguns motores dos robôs e

tos com princípios similares aos músculos hu-


automatismos,
manos. além de dotá-Ios de movimen- 48 borado em Pascal, capaz de controlar os si-
nais Neste artigo,
da porta é mostrado
paralela do PC.um programa ela- 58
NOTÍCIAS

MECATRÔNICA
NOTÍCIAS
Newton C. Braga

Robôs Exploram Robôs


Inteligência Submarinos
Artificial no MIT Ajudam Pesquisa
Arqueológica
Uma excursão multimídia no mundo da inteligência artificial pode
ser vista na exposição Robots and Beyond (Robôs e Além) realiza- Um estranho objeto em for-
da nos laboratórios do MIT (Massachussets Institute of Technoloy - ma de charuto foi encontrado
http://web.mit.edu - onde os cientistas estão pesquisando os mistérios no fundo do oceano por um
da AI (Artificial Inteligence) a quatro décadas. robô submarino. Analisando
O que diferencia a exposição é que além de focalizar a pesquisa e melhor as imagens enviadas
a experimentação em Inteligência Artificial, mostra também o aspecto pelo robô o arqueologista ma-
prático do produto final. Desde o momento em que os visitantes entram rinho Robert Chruch constatou
na exposição, eles já participam da pesquisa do MIT. Muitos dos proje- que sua descoberta nada mais
tos apresentados são tanto experimentais como experienciais, com o era do que um submarino ale-
próprio visitante tendo acesso às cenas que precederam todo o pro- mão da Segunda Grande Guer-
cesso de invenção. ra que havia afundado 50
Na exposição é possível obter detalhes dos famosos robôs do anos antes. A uma profundi-
MIT como o Cog, um robô criado para sentir seu ambiente através dade de 5000 pés (1500
de sensores tanto visuais como tácteis. Através de protótipos e metros). No dia 30 de julho de
outros meios, o visitante pode seguir a evolução do Cog desde 1942 o U-166 afundou um na-
quando ele era um vio americano e depois disso
robô primitivo, até ele próprio afundou. No entan-
adquirir todo um to, o que mais importa para os
sofisticado siste- engenheiros é o uso industrial
ma de sensores. do robô, denominado AUV
Nesta exposição (Autonomous Underwater
também pode-se Vehicle) que pelo novo concei-
perceber que, para to tecnológico que emprega,
ser eficiente, um pode ajudar muito na pesqui-
robô não precisa ter sa no fundo do oceano para a
o mesmo tamanho construção de dutos de óleo e
de um ser humano. gás. O AUV opera sem cabos
Robôs microscópi- sendo controlado por operado-
Coq olhando Rod Brooks, diretor do Laboratório de os são uma das res a partir da superfície, além
Inteligência Artificial do MIT e fundador do Humanoid de usar câmeras com muito
Robotics Group).
atrações que de-
mosntram isso. melhor qualidade de imagem.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 3


NOTÍCIAS

Nasa Cria Robô em Forma de Bola Para IBM Descobre


Atividades Espaciais Dedos de Silício
Capazes de Detec-
A Bola Espacial (Flying Space tar Defeitos no
Ball) é o novo robô da NASA que DNA
está sendo desenvolvido para rea-
lizar tarefas de forma autônoma em Cientistas da IBM na Uni-
espaços aper tados como, por versidade da Basileia (Suíça)
exemplo, dentro de uma estação descobriram a possibilidade de
espacial ou dentro do ônibus espa- se usar micro mecanismos
cial. O robô em forma de bola terá bio-mecânicos de silício capa-
sensores, equipamentos de vídeo, zes de detectar defeitos no
sistema de comunicação de dados DNA. O Jornal Science de
sem fio e uma unidade inteligente Abril, notícia que o DNA se
de processamento que lhe permiti- organiza na forma de dedos que
rá entender comandos verbais e to- têm uma espessura da ordem
mar decisões. de 1/50 do cabelo humano.
A IBM e investigadores uni-
versitários revelam novo fenô-
meno no qual foram observa-
das torções na seqüência do
Mini Robôs Móveis Para Alunos da UDESC DNA com o aparecimento de
minúsculas estruturas de silí-
UDESC (Santa Catarina) adquiriu dois robôs fixos, de 80 quilos cio quando as moléculas se li-
cada, capazes de manusear peças de até 5 quilos e também um gam possibilitando assim a
industrial pesando 100 quilos, os quais deverão ser utilizados em pes- detecção de defeitos muito pe-
quisas de iniciação científica com alunos de Engenharia Elétrica, de quenos. A presença do silício
Computação e em teses de mestrado. Dois professores doutores em nestas estruturas têm implica-
Robótica do laboratório da UDESC devem introduzir uma microcâmera ções importantes que podem
nos robôs móveis para o desenvolvimento de um software que permi- levar a nanorobôs capazes de
ta movimentos laterais. manipular diretamente o DNA.

Computador Industrial IPC é Totalmente


Configurável
O Computador Industrial IPC totalmente configurável é um dos
mais recentes lançamentos da Festo Automação. Elke pode controlar
até 4000 pontos de entradas e saídas e ainda ser utilizados em pe-
quenas e médias aplicações, pois é totalmente configurável. Também
se destaca neste computador sua capacidade de entradas e saídas
analógicas, sensores de temperatura e possibilidade de controle de
motores de passo, servomotores e servoposicionamento pneumático.
O Computador Industrial IPC pode controlar redes Field Bus com
protocolos Festo Field Bus, Profibus, Interbus, Can Bus, e AS-
Interface. Na sua configuração, permite ainda o acoplamento de Dis-
co Rígido, Floppy Disk, Impressora, Teclado, Mouse e Monitor VGA.
Mais informações em: www.festo.com.br.

4 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


NOTÍCIAS

Novo Sensor Óptico Proporciona Sensoriamento


de Alta Precisão
Um novo sensor transmissivo óptico com uma talado num invólucro de plástico polycarbonato com
montagem horizontal única foi anunciado recentemente uma altura de apenas 9 mm o TCST5250 proporciona
pela Vishay Intertechnology. Com uma abertura de 0,5 uma abertura de 2,7 mm e um passo de terminal de
mm o novo componente Vishay Telefunken TCST5250 2,54 mm. Como sensor transmissivo, ele foi otimizado
foi otimizado para sensoriamento de alta precisão em para ser usado em equipamentos compactos com o
objetos com movimento horizontal em codificadores posicionamento face a face de um diodo emissor e
de engrenagens, VCRs, equipamento de ar ma- um foto-transistor. A faixa de operação de luz é de
zenamento de dados, rodas codificadores de motores 950 nm com uma resolução de 0,4 mm. Informações
DC e outras aplicações com limitação de espaço. Ins- em: www.vishay.com

Novo Motor DC com apenas 8 mm Não Usa Ferro

A Portscap anuncia a disponibilidade imediata de seu novo motor DC da série 08 G.


Capaz de produzir um torque 50% maior do que os motores equivalentes de mesmo
tamanho, ele tem apenas 8 mm de diâmetro podendo substituir motores maiores em
muitas aplicações o que leva a novos níveis de miniaturização sem afetar a performance
dos produtos. O motor tem uma potência de 700 mW e velocidade até 11 600 RPM,
disponível em dois comprimentos (16 mm e 19 mm).
Informações em: http://www.danahermcg.com/default2.asp

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 5


NOTÍCIAS

Fraude – Redes Neurais Podem Resolver?


Redes Neurais visam imitar padrões biológicos ca- se afirma, é bem eficiente. Neste sistema a detecção
pazes de fazer um reconhecimento. Basicamente, elas de fraudes é detectada com base na medição de ter-
imitam os neurônios do nosso cérebro, mesmo que mos “positivos falsos” que indicam se a operação é
ainda não saibamos exatamente como eles funcio- fraudulenta ou não. Em Robótica, o uso das redes
nam no reconhecimento de padrões. Uma idéia que neurais, segundo estes mesmos princípios, pode agre-
está em curso é a utilização do reconhecimento de gar a um robô um certo sentido que lhe permita “não
padrões para detectar operações fraudulentas com ser enganado” ao receber um comando que o mande
cartões de crédito. A idéia é obter um padrão que per- cumprir uma função indevida.
mita comparar transações reais com fraudulentas de No entanto, é preciso ainda comparar os resulta-
modo a se poder fazer a detecção com facilidade. Atual- dos entre as duas abordagens: redes neurais ou fractais
mente, o que se usa é um programa baseado em para se obter aquela que tenha o melhor desempenho
fractais que emprega a lógica de Bayes que, segundo neste tipo de aplicação.

Vishay Despacha o Diodo De Vidro Número 150 000 000 000


A Vishay Intertechnology Inc anunciou recentemen- mero um na Europa deste tipo de dispositivo e o
te o despacho de uma encomenda onde completa a segundo do mundo.
fabricação de 150 bilhões de diodos de vidro. Estes Os diodos de vidro são componentes simples mas,
diodos são usados em aplicações que vão de co- segundo a Vishay, fabricá-los em tamanha quantida-
mutação de alta velocidade em circuitos como com- de, mantendo a qualidade, não é uma tarefa simples.
putadores e telefones celulares até sintonia em rá- Para mais informações sobre a Vishay e sua linha de
dios de AM e FM. A Vishay produz mais de 10 bi- componentes visite o site: www.vishay.com/products/
lhões de diodos anualmente e é o fornecedor nú- diodes_rectifiers

6 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


NOTÍCIAS

Família de Controladores
Lógico-Programáveis FEC
da FESTO Pode ser
Comandada por Palm
A partir de agora, a família de CLPs FEC da Festo
Automação conta com o Easy Control (Controle Fá-
cil), um software projetado para rodar em platafor-
ma Palm Pilot. Com ela, as mais diversas aplica-
ções que vão do gerenciamento de processos à ma-
nipulação de materiais podem ser controladas por
um equipamento Palm usando linguagem de progra-
mação desenvolvida pela Festo. Esse add on é to-
talmente gratuito. O usuário pode fazer o download
do programa na Internet e carregar seu Palm de qual-
quer marca. Segundo a Festo, antes disso era ne-
cessário usar um microcomputador desktop ou
notebook.
Informações podem ser obtidas no site da Festo
em: www.festo.com.br

Conector Molex Para Robótica Sensor Determina


é 15 Vezes Menor que as o Comprimento
Versões Tradicionais de Onda da
Projetado para aplicações em Automação como Luz Incidente
pequenos robôs e outros equipamentos movimen-
tados por motores, o sistema Compact Robotic Este novo dispositivo opera com comprimen-
Connector (CRC) tem 1/15 do tamanho dos to de onda de 450 nm a 900 nm e mede o pico
conectores I/O tradicionais para trabalhos pesados. espectral da luz. O sensor de comprimento de
O sistema é um dos sistemas I/O para até 30 cir- onda PSS-WS7.56 pode determinar o pico de fre-
cuitos. Disponível em versões de 12, 20 e 30 cir- qüência de uma luz monocromática. Diferente-
cuitos, o sistema CRC tem a pinagem necessária mente de outros dispositivos, a saída não é afe-
para controlar robôs pequenos que, normalmente, tada pela intensidade da luz medida. O dispositi-
usam até 4 motores. O sistema é especificado para vo pode ser usado em quantificação de LEDs,
250 V e pode ser usado tanto para conectar sinais casamento de cores, teste de lentes e em ou-
como alimentação. Um tras aplicações em que se necessita de medi-
sistema de trava por mola da precisa do comprimento de onda da luz. A
facilita a manutenção, área sensível é de 2,75 mm quadrados com
uma vantagem sobre os duas junções pn superpostas, uma sobre a
tipos comuns que usam outra. Informações na Pacific Silicon Sensor
parafusos. Informações em: http://www.pacific-sensor.com
em http://www.molex.com

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 7


ESPECIAL

MECATRÔNICA
Uma Abor dagem V
Abordagem oltada à Automação Industrial
Voltada
Julio Cezar Adamowski
Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos
Escola Politécnica da USP

Celso Massatoshi Furukawa


Professor Doutor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos
Escola Politécnica da USP

No Japão, a combinação bem su-


cedida de Mecânica, Eletrônica e
A Mecatrônica pode ser definida como a integração de Me- Processamento Digital em produtos de
cânica, Eletrônica e Computação de forma concorrente. Essa consumo recebeu o cognome de
Mecatrônica no final da década de 70.
combinação tem possibilitado a simplificação dos sistemas A figura 1 representa de forma gené-
mecânicos, a redução de tempos de desenvolvimento e custos, rica um sistema mecatrônico. Os
e a obtenção de produtos com elevado grau de flexibilidade e sensores captam as informações do
mundo físico que são processadas
capacidade de adaptação a diferentes condições de operação.
digitalmente, resultando em ações de
Os conceitos de Mecatrônica podem ser empregados numa vasta controle. O sistema de controle age
gama de aplicações, sendo que este artigo é focado na área de sobre o sistema físico através de
atuadores. Disto resulta um sistema
Automação Industrial.
realimentado, que pode representar
sistemas com níveis variados de com-
plexidade.
INTRODUÇÃO observa um maior impacto nos sistemas Essa combinação pode gerar uma
produtivos e no cotidiano das pessoas. gama muito ampla de aplicações, de
O mundo vem presenciando nos Não é de hoje que componentes tal forma que o termo Mecatrônica
últimos anos o avanço vertiginoso da eletrônicos (tais como sensores, pode ser interpretado de formas dife-
Microeletrônica, num ritmo que até o atuadores eletro-mecânicos e circui- rentes dependendo da aplicação em
momento não tem dado sinais de tos de controle) são utilizados no con- questão. Este artigo tem seu foco na
desaceleração. Como resultado, são trole e acionamento de sistemas me- Automação Industrial, com particular
obtidos circuitos eletrônicos cada vez cânicos. No entanto, foi o recente de- ênfase na indústria de manufatura.
mais rápidos e poderosos, mas para- senvolvimento dos circuitos integrados Este é o foco adotado no curso de
doxalmente cada vez menores, mais que possibilitou a produção em larga Engenharia Mecânica com habilitação
baratos e econômicos. Associados di- escala e baixo custo de micropro- em Automação e Sistemas da Escola
retamente à Microeletrônica, o com- cessadores dedicados conhecidos Politécnica da USP (EPUSP), com o
putador digital e as Ciências da Com- como microcontroladores. Hoje esses qual os autores se encontram envol-
putação também se desenvolvem ra- dispositivos eletrônicos estão presen- vidos (Cozman, 2000).
pidamente, num círculo virtuoso em tes não apenas em máquinas e equi-
que computadores mais poderosos pamentos industriais mas também nos MECATRÔNICA
favorecem o desenvolvimento de apli- automóveis, nas máquinas de lavar
cações mais complexas, que por sua roupas, nos sistemas de ar condicio- Muitos engenheiros consideram
vez exigem cada vez mais poder nado, aparelhos de vídeo, etc. Os sis- que a Mecatrônica surgiu com o de-
computacional. temas mecânicos sofreram profundas senvolvimento dos robôs. Os projetos
Apesar desses resultados estarem modificações conceituais com a incor- na área de Robótica impulsionaram o
causando uma ampla revolução poração da capacidade de proces- desenvolvimento de outras áreas, tais
tecnológica na Engenharia e na samento, o que permitiu torná-los mais como o controle realimentado a partir
sociedade em geral, quando são asso- rápidos, eficientes e confiáveis, a cus- da fusão de informações sensoriais,
ciados à sistemas mecânicos é que se tos cada vez menores. tecnologias de sensores e atuadores,

8 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ESPECIAL

volvendo universidades, centros de


pesquisa e indústrias, com novos te-
mas na área de Mecatrônica.
Na Inglaterra, a comunidade envol-
vida com Mecatrônica só recebeu
aceitação oficial em 1990 com a cria-
ção de um Fórum de Mecatrônica
apoiado pelo IEE (Institute of Electrical
Enginners) e o MechE (Institute of
Mechanical Engineers) (Hewit, 1996).
No Brasil, o primeiro curso de gra-
duação em Mecatrônica surgiu no fi-
Figura 1 - Sistema mecatrônico.
nal da década de 80, como uma inicia-
tiva pioneira da Escola Politécnica da
programação de alto nível, cinemática Existem vários outros artigos que USP. O curso, denominado Automação
e dinâmica. O grande avanço na área discutem a definição de Mecatrônica e Sistemas, foi implementado no De-
de Robótica somente foi possível com (Ashley, 1997), porém verifica-se que partamento de Engenharia Mecânica,
o surgimento do microprocessador, o ponto comum à maioria das abor- aproveitando-se o núcleo do curso de
pois o controle de trajetória dos robôs dagens é, mais que a simples soma, Engenharia Mecânica, ao qual se in-
articulados envolve cálculos complica- a integração de diferentes tecnologias. troduziram disciplinas novas de Ele-
dos que devem ser realizados em tem- A partir de meados da década de trônica e Computação (Cozman,
po real. 80, países como Austrália, Japão, 2000). Este curso foi iniciado em 1988
Segundo Schweitzer da ETH de Coréia do Sul, além de alguns países e já formou cerca de 450 engenheiros
Zurich (1996), Mecatrônica é uma área Europeus, iniciaram a criação de cur- até o final de 2000.
interdisciplinar que combina a Enge- sos de graduação e pós-graduação
nharia Mecânica, a Engenharia Ele- voltados ao ensino multidisciplinar de CONCEITOS DE MECATRÔNICA
trônica e Ciências da Computação. Mecatrônica (Acar, 1997).
Van Brussel, da Universidade Ca- Nos Estados Unidos não foram Atualmente a Mecatrônica é enten-
tólica de Leuven (1996), considera criados cursos específicos de Enge- dida como uma filosofia relacionada
Mecatrônica como a combinação de nharia Mecatrônica, porém foram à aplicação combinada de conheci-
Engenharia Mecânica, Engenharia de introduzidas, nos currículos dos cur- mentos de áreas tradicionais como a
Controle, Microeletrônica e Ciência da sos de graduação, disciplinas que Engenharia Mecânica, Eletrônica e
Computação, numa abordagem de en- apresentam o conceito de Mecatrônica Computação de forma integrada e
genharia concorrente, isto é, deve-se (Ashley, 1997). Na grande maioria das concorrente, conforme mostra a figu-
ter uma visão simultânea das possibi- Faculdades de Engenharia dos ra 2. Uma combinação para ser con-
lidades nas diferentes disciplinas en- E.U.A., as modificações foram feitas corrente deve extrair o que há de mais
volvidas, em contraste com as abor- nos cursos de Engenharia Mecâni- adequado em cada uma das áreas, de
dagens tradicionais que geralmente ca, com disciplinas que abordam a tal forma que o resultado final é mais
tratam os problemas separadamente. integração de Mecânica, Eletrônica do que a simples soma de tais es-
Salminen, da empresa FIMET da e Computação, para o desenvolvi- pecialidades, mas sim uma sinergia
Finlândia (1992), define Mecatrônica mento de componentes e máquinas. entre elas.
como sendo a combinação de mecâ- Na Finlândia foi introduzido em O conceito de Mecatrônica repre-
nica e eletrônica para melhorar a ope- 1987 um programa especial de pes- senta a combinação adequada de ma-
ração em vários aspectos, aumentar quisa em Mecatrônica com a partici- teriais (resistência dos materiais, com-
a segurança e reduzir custos de má- pação de quatro universidades técni- portamento térmico, etc.), mecanis-
quinas e equipamentos. Presume-se cas. Este programa contou com um mos (cinemática, dinâmica), sensores,
que o autor considera a Computação orçamento de 6,5 milhões de dólares atuadores, eletrônica e processamen-
como parte da Eletrônica. até 1990, e a participação de aproxi- to digital (controle, processamento de
Acar, da Universidade de madamente 80 indústrias atuando em sinais, simulação, projeto auxiliado por
Loughborough na Inglaterra (1996), setores estratégicos (máquinas para computador), possibilitando as seguin-
considera a Mecatrônica como uma fabricação de papel, telefonia móvel, tes características:
filosofia de projeto, baseada na máquinas florestais, robôs especiais)
integração de Microeletrônica, Com- (Salminen, 1996). O programa atingiu a) No projeto
putação e Controle em Sistemas o objetivo de difundir os conceitos de
Mecânicos, para se obter a melhor Mecatrônica nas indústrias e em 1995 • Simplificação do sistema me-
solução de projeto e produtos com um novo programa foi introduzido, com cânico;
um certo grau de “inteligência” e “fle- horizonte de quatro anos e um orça- • Redução de tempo e de custo de
xibilidade”. mento de 20 milhões de dólares, en- desenvolvimento;

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 9


ESPECIAL

tamentos desejados, como por


exemplo, maior rigidez e eliminação
de modos de vibração.
As aplicações de computação em
Engenharia Mecânica evoluíram a par-
tir do início da década de 80 com a
evolução vertiginosa do poder de
processamento dos computadores,
acompanhado por um imenso declínio
de preços. Antes disso, programas
para análise estrutural, térmica ou flui-
da eram rodados em computadores
tipo main frame com entrada de da-
dos em cartões perfurados e saídas
em forma de listagens. Atualmente
esses programas de análise oferecem
excelentes interfaces gráficas para o
usuário, tanto relacionadas à entrada
de dados como apresentação dos re-
sultados. Hoje, modelos matemáticos
sofisticados e cada vez mais comple-
xos podem ser simulados mesmo em
computadores pessoais.

NÍVEIS

Para alguns, Mecatrônica é o con-


ceito de engenharia integrada que uti-
liza CAD e CAM para gerar um produ-
Figura 2 - Uma representação esquemática da Mecatrônica.
to complexo como, por exemplo, um
robô. Um engenheiro de produção,
• facilidade de se introduzir modi- em geral eram compostos por meca- por outro lado, pode entender a
ficações ou novas capacidades; nismos para sincronização de movi- Mecatrônica como sendo a imple-
• flexibilidade para receber futu- mentos e normalmente acionados por mentação de um sistema flexível de
ras modificações ou novas funciona- um só atuador (em geral, um motor manufatura. Um engenheiro, ao pro-
lidades. elétrico). A grande complexidade dos jetar uma câmara de vídeo, pode
mecanismos exigia precisão elevada entendê-la como a utilização de ele-
b) No produto: para diminuir folgas e dispositivos de trônica numa aplicação Mecânica. Já
lubrificação para reduzir atritos. Essas um engenheiro químico pode enten-
• flexibilidade de operação: máquinas sofreram um grande desen- der a Mecatrônica como o controle de
programabilidade; volvimento, com a introdução do con- um processo químico utilizando
• inteligência: capacidade para trole numérico computadorizado sensores e atuadores, controlados por
sensoriar e processar informações (CNC), possibilitando a obtenção de um processador digital. Provavelmen-
para se adaptar a diferentes condições peças com formas tridimensionais te todos estão corretos, pois a
de operação; complexas. Os Controladores Lógicos Mecatrônica está presente em diferen-
• auto-monitoração e prevenção Programáveis (CLP) possibilitaram tes níveis.
ativa de acidentes; grandes modificações na indústria Neste artigo são definidos os se-
• auto-diagnóstico em caso de com a automação de processos, me- guintes níveis:
falhas; lhorando o desempenho e a qualida- • Componente (por exemplo, circui-
• redução do custo de manuten- de dos produtos. tos integrados, sensores, atuadores,
ção e consumo de energia; A utilização de mecanismos elás- mecanismos);
• elevado grau de precisão e ticos tem se tornado uma realidade • Máquina (máquinas de usi-
confiabilidade. e possibilita a eliminação de juntas nagem, medição, inspeção, movimen-
Vejamos alguns exemplos de como articuladas, por exemplo. Estrutu- tação, embalagem);
esses resultados são possíveis, den- ras flexíveis podem ser controladas, • Sistema (FMS - flexible manu-
tro da área de Automação Industrial. através de sensores e atuadores facturing system, FAS - factor y
Sistemas tais como máquinas fer- montados ao longo dessas estrutu- automation system, CIM - computer
ramentas e máquinas de manufatura ras, passando a apresentar compor- integrated manufacturing).

10 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ESPECIAL

A atuação profissional nos diferen- No noutro extremo, um sistema de possibilitado consulta rápida a forne-
tes níveis está relacionada com o grau automação de fábrica (FAS) deve li- cedores e fabricantes de componen-
de compreensão exigido dos fenôme- dar com informações bastante abstra- tes, máquinas e sistemas. A integra-
nos físicos envolvidos: quanto mais tas, tais como adequação de esto- ção, sendo uma característica dos pro-
próximo, maior deve ser o domínio ques, capacidade produtiva das má- jetos em Mecatrônica, exige do pro-
sobre eles. O nível de componente quinas, previsões de demanda, esca- fissional não apenas um conhecimen-
exige o maior grau de domínio, en- las de manutenção, possibilidade de to técnico abrangente, mas também
quanto que o nível de sistema requer falhas, limites de consumo de energia, a habilidade para trabalhar em equi-
o menor. Desta forma, conforme nos etc. A geração de um planejamento pe, uma vez que seria muito difícil um
distanciamos do nível físico, diminui- otimizado de produção (o que produ- único profissional ter domínio total
se a complexidade física envolvida zir, quando e como) e o posterior con- sobre todas as áreas envolvidas.
devido ao aumento do nível de abs- trole da produção (com correções ocor- O rápido desenvolvimento científi-
tração. Por outro lado aumenta tam- rendo ao longo do trabalho) exige o co e tecnológico que estamos presen-
bém a complexidade lógica do siste- conhecimento preciso e instantâneo de ciando inviabiliza a formação de pro-
ma, exigindo maior poder de pro- todas estas variáveis e de muitas ou- fissionais com profundo domínio de
cessamento para lidar com uma mai- tras mais, além de envolver algoritmos todas as especialidades que com-
or quantidade de informação. É o que sofisticados para tomada de decisões. põem a Mecatrônica, exigindo que a
ilustra a figura 3. educação ocorra de forma continu-
No caso de um sensor de tempe- DISCUSSÃO ada mesmo após a conclusão do
ratura, por exemplo, precisamos ter curso. l
conhecimento dos fenômenos físicos O ponto importante do conceito e
que podem ser utilizados para reali- da filosofia de Mecatrônica é a combi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
zar a medida (variação de resistência, nação concorrente da Mecânica, Ele-
dilatação térmica, junção termo-par, trônica e Computação, de forma inte- 1. Acar M., Parkin R.M.,
etc), as vantagens e desvantagens de grada para se obter, no produto, ca- Engineering Education for Mecha-
cada um, as condições em que a me- racterísticas, tais como, flexibilidade e tronics, IEEE Transactions on Indus-
dida deverá ser feita (tempo de res- inteligência, e no projeto, sistemas me- trial Electronics, vol. 43, no. 1, p.106-
posta, faixa de temperatura, precisão cânicos mais simples, redução de cus- 112, 1996.
e condições ambientais adversas), e tos e facilidade para se introduzir 2. Acar M., Mechatronics
a eletrônica necessária para con- modificações. Challenge for the Higher Education
dicionar o sinal e permitir a sua leitu- Os grandes desafios impostos pela World, IEEE Transactions on
ra. No caso extremo do projeto de um Mecatrônica são: atualização constan- Components, Packing, and Manu-
sensor desse tipo, a informação de- te e projetos visando a integração de facturing Technology, vol. 20, no. 1,
sejada é o valor real de uma tempera- conhecimentos de diferentes áreas.Os p.14-20, 1997.
tura, e seu processamento envolve a meios de comunicação têm acompa- 3. Ashley S., Getting a Hold on
transdução para um sinal elétrico. nhado esta evolução e a Internet tem Mechatronics, Mechanical Enginee-
ring, ASME, maio de 97, p. 60-63,
1997.
4. Cozman F.G., Furukawa C.M., A
Reestruturação Curricular do Curso de
Mecatrônica da Escola Politécnica,
Anais do COBENGE 2000, Ouro Pre-
to, MG, out. 2000.
5. Hewit, J.R. & King, T.G.,
Mechatronics Design for Product
Enhancement, IEEE/ASME Transac-
tions on Mechatronics, vol. 1, no. 2,
p.111-119, 1996.
6. Salminen V., Ten Years of
Mechatronics Research and Industri-
al Applications in Finland, IEEE/ASME
Transactions on Mechatronics, vol. 1,
no. 2, p.103-105, 1996.
7. Van Brussel H.M.J., Mecha-
tronics – A Powerful Concurrent
Engineering Framework, IEEE/ASME
Figura 3 - A complexidade física é maior no nível de componente, enquanto que a complexidade
lógica é maior no nível de sistema Transactins on Mechatronics, vol. 1, no.
2, p.127-136.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 11


PNEUMÁTICA

A impor tância dos


importância
COMPONENTES
PNEUMÁTICOS...CONFIÁVEIS
José Carlos Amadeo
Centro Universitário Salesiano de São Paulo

Imaginem o segmento bancário,


operando sem os recursos dos com-
Hoje, é bastante comum, Engenheiros de Automação Industri- putadores - seria um caos atender à
todos os serviços e as facilidades ge-
al, Técnicos em Instrumentação, estudantes de Mecatrônica, en-
radas através da Eletrônica, sem falar
tre outros profissionais, elaborarem seus projetos, sem se preo- da Internet, pelo sistema da rede de
cuparem com os componentes e demais elementos de Campo. Telecomunicação Computadorizada.
Nosso objetivo principal, é fazer um alerta à estes profissionais, Uma empresa , que não utiliza os
recursos dos computadores, seja para:
para que especifiquem, em seus projetos, produtos de alta quali- controle de estoque, de vendas, de
dade e com a confiabilidade assegurada, pois somente assim seus produção - análise dimensional de pe-
projetos terão resultados positivos. ças - CAD - controles estatísticos -
projetos, entre outros serviços, certa-
A área de Automação Pneumática, hoje responsável pela maio- mente estará fora de competição no
ria dos comandos, utilizados em Robótica, Processos Industriais, mercado atual.
Malhas de Instrumentação, etc., é o tema principal deste artigo. E na linha de produção, onde inú-
meros comandos são responsáveis
para:
• alimentar, posicionar, fixar, expulsar;
Atualmente, podemos afirmar que semi-automação de máquinas dos • separar, girar, contar, dosar, ordenar;
seria quase impossível projetar qual- mais diversos tipos, a construção de • imergir, elevar;
quer sistema de Automação sem re- dispositivos que executam automati- • alimentação de fitas com avan-
corremos aos recursos da eletrônica. camente seqüências operacionais ços compassados;
Presente em todos os sistemas que simples ou mais complexas, tudo isto • unidades de avanço giratório pas-
necessitam de: facilmente integrado à Microeletrônica so-a-passo;
• confiabilidade; e à Informática. • Robótica;
• segurança operacional; Hoje, os componentes de campo, • entre outras aplicações.
• rapidez na geração dos sinais de tais como; sensores, transmissores de É possível imaginá-los sem os re-
comando, gerando produtividade, pro- pressão, de temperatura, válvulas cursos da Automação Eletrônica?
dutos seriados com a qualidade as- solenóides, sinalizadores, alarmes, E na área da Automação Pneumá-
segurada, e conseqüentemente redu- lâmpadas , etc., e sem deixar de men- tica, podemos elaborar dispositivos
ção de custos, no produto terminado. cionar, os Controladores Lógicos sem a ajuda da Eletrônica? Sim, só
As aplicações da Automação, seja Programáveis (CLP’s), superam suas que não podemos contar com a
ela Pneumática, Hidráulica ou qualquer próprias perspectivas. confiabilidade operacional destes
outra forma que dependa dos coman- De um simples projeto - o de abrir equipamentos, pois seus recursos de
dos da Mecatrônica (Mecânico + Ele- e fechar uma porta, até o mais dos aplicação são limitados.
trônica) estão presentes nas grandes, sofisticados computadores que co- Exemplo: Um comando pneumáti-
médias ou pequenas empresas, com mandam todos os controles de uma co que depende de um acionamento
ampla gama de contribuições. Nave Espacial, a Eletrônica se faz pre- de fim de curso pneumático e/ou me-
Destacamos a mecanização de sente, oferecendo segurança e cânico; será que podemos confiar no
tarefas manuais, a automação ou confiabilidade. seu sinal de retorno informando:

12 MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


PNEUMÁTICA

“peça posicionada” - “válvula sole- lar dentro das especificações e das E em relação as “válvulas de
nóide de emergência fechada” , “por- normas técnicas exigidas pelo fabri- comando pneumáticas instaladas...
ta do forno aberta”, etc., e sua segu- cante, componentes “confiáveis”, pois são confiáveis?" Estão em condições
rança operacional ? este será mais um dos acessórios res- para entrar em operação?
Vamos imaginar uma máquina ponsáveis pelo bom andamento dos O que adiantou os engenheiros/
complexa, responsável por 60% da equipamentos; técnicos em Mecatrônica projetar
produção (de alta responsabilidade), • Ler as especificações técnica seus comandos / CLP’s com os mais
cujo investimento para a empresa foi do manual, quanto: a pressão de sofisticados componentes eletrônicos,
bastante representativo, e por qual- operação (máxima e mínima), siste- garantindo movimentos operacionais,
quer motivo esta máquina “parar”, por mas de filtragem do ar comprimido, através dos sinais I/O, se no final da
falha de algum componente pneumá- temperatura ambiente, se este equi- “linha” existem componentes, neste
tico. Será prejuízo na certa para a pamento necessita ser instalado em caso, pneumáticos, sujeitos a falhas?
empresa, gerando atrasos na produ- salas climatizadas, entre outras no- Nosso alerta está voltado para o
ção, em seus compromissos de entre- tas importantes; usuário final, ou mesmo para os pro-
gas, no seu faturamento , etc. • O conjunto de preparação e tra- jetistas que deverá especificar/exigir
Temos estatísticas que uma máqui- tamento do ar comprimido, filtro/ do fabricante, seja ele nacional ou
na parada por razões de manutenção/ regulador de pressão e Lubrificador, mesmo de produtos/máquinas impor-
reparos, ou mesmo para troca de um deverá atender à todas exigências tadas, que seus componentes pneu-
simples componente, sua “hora máqui- em relação a: qualidade do ar com- máticos. Exemplo: válvulas solenói-
na parada” representa para a empre- pr imido, instalação de filtros des, sejam de alta tecnologia e que
sa, R$ 10.000,00/hora, aproximada- coalescentes, secador de ar, vazão/ tenham no Brasil, representantes/dis-
mente, dependendo do tipo de máqui- pressão, etc.; tribuidores autorizados com assistên-
na e dos componentes instalados. • Lubrificação: se a máquina ope- cia técnica, para que em caso de
Nossa imaginação está voltada ra com ou sem lubrificação, especifi- emergência, falha de algum compo-
para esta máquina - fabricada no Bra- car para compras, o óleo recomen- nente, queima de uma bobina da vál-
sil ou importada - e que vem equipa- dável (confiáveis), especial para sis- vula solenóide ou mesmo após um
da com blocos de válvulas pneumá- temas de lubrificação pneumática; longo período operacional tenham, no
ticas - comando solenóides - e com • Entre outras inúmeras providências. local, peças de reposição.
um programa de CLP incorporado. O
fabricante , por razões desconheci-
das ou mesmo por questões de re-
dução de custos, especificou, no
item “válvulas/componentes pneu-
máticos”, uma certa marca “X” . Se
esta máquina for importada - ex.:
USA, entre o despacho de origem, até
sua chegada ao Porto de Santos, e
translado para a Capital, passaram-se
05 meses - (prazo bastante otimista).
Seus componentes pneumáticos, e
demais acessórios instalados , fica-
ram inativos durante este período.
Nos “Termos de Garantia”, os fa-
bricantes costumam mencionar: “Não
garantimos seus componentes por uso
inadequado e/ou aplicações que não
estejam dentro dos descritivos técni-
cos ...” - ou coisas semelhantes.

HORA DE INSTALAR A MÁQUINA

Se o instalador possuir alguns


conhecimentos em Automação
Pneumática, suas primeiras provi-
dências serão:
• Verificar o local da instalação;
• Se existe neste local, ponto de Figura 1 - Exemplo de uma válvula solenóide de ação Direta, com a nova tecnologia “Spool & Sleeve”.
ar comprimido, caso contrário, insta-

MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 13


PNEUMÁTICA

Figura 2 - Exemplo de válvula solenóide servo-pilotada em "corte".

UM ALERTA, EM RELAÇÃO AS que passa a atuar como se fosse balho, eliminando desta forma, o óleo
VÁLVULAS E DEMAIS COMPO- um rolamento pneumático evitando que sai pelos escapes, contrário aos
NENTES PNEUMÁTICAS qualquer contato metal-metal, con- modelos de válvulas que necessitam
seqüentemente, sem nenhum atri- operar com lubrificação permanente.
Já estão disponíveis no mercado to no conjunto. Além disso: • Atuadores pneumáticos - Cilindros
nacional, válvulas pneumáticas com • O ajuste perfeito entre o Spool - responsáveis pelos movimentos/forças
nova tecnologia, chamada de: “A e o Sleeve dispensa as vedações di- entre outras funções, também disponí-
tecnologia do Spool & Sleeve”. nâmicas tipo “O ring’s”, tornando a veis para operar sem lubrificação.
Trata-se de válvulas pneumáticas durabilidade das válvulas quase infi- A figura 2 mostra um exemplo de
que operam sem guarnições de bor- nita e sem vazamentos. válvula servo-pilotada em “corte”.
racha, ou seja, sem as tradicionais • Trabalhando com ou sem lubrifi- É importante divulgar esta nova
vedações do tipo “O ring’s”, garantin- cação elas resistem a contaminantes, tecnologia, pois as válvulas pneumá-
do desta forma, confiabilidade em misturas pegajosas e ferrugem das ticas, que possuem as tradicionais
seus comandos, maior rapidez de co- redes de ar (redes antigas) por vários guarnições de borracha, como ele-
mutação, alta vazão constante, longa anos sem manutenção. mentos de vedação, podem ressecar,
vida operacional , entre outros bene- • As afiadas arestas existentes no por falta de uma lubrificação adequa-
fícios. A figura 1 mostra um exemplo Spool formam uma perfeita lâmina nos da, ou mesmo apresentar desgastes
deste tipo de válvula. orifícios de passagem do ar no Sleeve, pelo seu uso constante, provocando
funcionando como raspadores, com- falhas, resultando as “paradas de má-
A TECNOLOGIA SPOOL SLEEVE batendo os elementos de contamina- quinas”, para troca dos jogos de re-
PASSO-A-PASSO ção da rede de ar comprimido. paros, além do desperdício do ar
• Possuem extrema versatilidade comprimido, provocados pelos vaza-
Esta tecnologia é formada por um de aplicação, como: pressão-vácuo, mentos (desgaste natural dos com-
carretel deslizante e um cartucho flutu- dupla-pressão, vácuo-vácuo, etc. ponentes de borracha).
ante. Confeccionados em aço inox com • Através desta nova tecnologia, Podemos afir mar que nada
precisão micrométrica e submetidos a a confiabilidade de comando geradas adiantaria fazer uso da alta tec-
tratamento térmico de endurecimento. pelos CLP's estará garantida. nologia dos Comandos Eletrônicos,
Sendo balanceado, ao injetar-se • Esta nova tecnologia permite sejam estes, de fabricação atual ou
o ar comprimido na válvula, o Spool que as válvulas pneumáticas operem mesmo do próximo século, se não
é centrado no Sleeve e o ar ao redor isentas de lubrificação, não poluindo utilizarmos Componentes Pneumá-
deste, formando um colchão de ar, e/ou contaminando o ambiente de tra- l
ticos Confiáveis.

14 MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ELETRÔNICA

CAIXAS DE REDUÇÃO
Solução para a realização de projetos de
Mecatrônica
Newton C. Braga

das a partir de circuitos eletrônicos


comuns pode ajudar bastante os lei-
Um dos problemas para a realização de projetos práticos que
tores interessados.
envolvam automatismos mecânicos acionados por meio de circui-
tos eletrônicos, como por exemplo, a partir de computadores e cir- CAIXA DE REDUÇÃO
cuitos digitais de controle é a obtenção de componentes mecâni-
A Saber Marketing Direto Ltda. tem
cos. A Mecatrônica, que une as tecnologias da Eletrônica e da na sua linha de produtos uma caixa
Mecânica está se difundindo cada vez mais e muitas escolas já pos- de redução que pode servir para a re-
suem cursos regulares desta disciplina. No entanto, elas enfren- alização de uma infinidade de proje-
tos que envolvam o controle de dispo-
tam muitas dificuldades justamente pela impossibilidade de sitivos mecânicos a partir de sinais
implementação de projetos didáticos simples, acessíveis e bara- elétricos.
tos que possam ser realizados no nível exigido pelos cursos. Uma
solução interessante que apresentamos neste artigo consiste no
uso de caixas de redução.

O maior problema para os praticamente qualquer laboratório de


montadores de automatismos mecâ- desenvolvimento, a possibilidade de
nicos como braços mecânicos, robôs, se controlar dispositivos mecânicos a
pequenos veículos controlados à dis- partir de programas automatizadores,
tância, etc., está na obtenção das par- de um teclado ou mesmo de um
tes mecânicas. joystick, torna-se cada vez mais ten- Figura 1 - Uma caixa de redução para projetos
de Mecatrônica.
Muitos, desmontando brinquedos tadora, e as escolas que ensinam
e eletrodomésticos fora de uso e mes- Mecatrônica sabem disso e até mes-
mo equipamentos de uso especializa- mos os profissionais que tentam Esta caixa de redução, conforme
do que usam elementos mecânicos implementar seus próprios projetos mostra a figura 1, consta de um motor
acabam por conseguir muitos compo- nesta área. de corrente contínua de 6 volts que
nentes importantes como motores, No entanto, esbarra-se ainda na aciona um conjunto de engrenagens
engrenagens, polias, etc e a partir parte mecânica que pode significar a metálicas, obtendo-se assim uma re-
deles construir sistemas de redução, diferença entre o êxito e o fracasso de dução de velocidade numa proporção
movimentação de alavancas, braços qualquer projeto. que pode ser considerada ideal para
e em alguns casos até montar Mas, o problema tem algumas aplicações em Mecatrônica, Robótica
servosmecanismos. soluções simples que podem facilitar e automatismos mecânicos diversos.
No entanto, trata-se de um verda- bastante o trabalho dos projetistas. Como os motores de corrente con-
deiro trabalho de "garimpagem" que A disponibilidade no mercado de tínua possuem uma velocidade que
nem sempre leva às soluções deseja- uma caixa de redução com caracte- depende de sua carga, não é possí-
das, além de dar muito trabalho. Com rísticas padronizadas e que funciona vel definir exatamente a velocidade da
a disponibilidade de computadores em com tensões que são facilmente obti- redução, mas ela estará entre 0,5 e 1

MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 15


ELETRÔNICA
giro por segundo, tipicamente, depen- COMO USAR
dendo de quanta força você desejar
que ela aplique num mecanismo. A maneira mais simples de se
Para um motor pequeno, esta taxa controlar o motor a partir de sinais
de redução permite uma multiplicação de pequena intensidade faz uso de
considerável da força, o que quer di- um transistor NPN ou PNP de mé-
zer que no eixo de redução obtém-se dia potência de uso geral, mostrado
um torque considerável. na figura 3.
Figura 3 - Um controle linear de velocidade.
De fato, enrolando-se diretamen- Para se alterar a velocidade de ro-
te um fio neste eixo, é possível deslo- tação numa faixa bastante ampla po-
car um peso considerável, conforme demos usar um controle PWM com já com boa velocidade. Este proble-
mostra a figura 2. base em circuitos integrados simples. ma, muito notado em ferrovias em mi-
Assim, o circuito da figura 4, altera o niatura, autoramas e robôs móveis,
ciclo ativo do sinal retangular aplica- não ocorre com este tipo de controle.
do no motor de modo a modificar sua Uma aplicação interessante con-
velocidade com um mínimo de perda siste na inversão da polaridade e por-
de torque nas baixas rotações. tanto do sentido de rotação por meio
Neste circuito também podemos de uma ponte de transistores ou pon-
usar um transistor de efeito de campo te H como é chamada.
de potência (Power FET) que é capaz Este circuito‚ mostrado na figura 5,
de controlar vários ampères de cor- funciona da seguinte forma: quando o
rente com grande facilidade. nível do sinal de controle é alto, con-
Esta característica é importante, duzem os transistores Q1 e Q3, com a
pois diferentemente dos reostatos co- corrente passando num sentido pelo
muns não existe uma “faixa morta” em motor. Quando o nível do sinal de con-
que o motor é alimentado mas não trole é baixo, conduzem os transisto-
Figura 2 - A força do motor fica multiplicada “parte”, saindo depois da imobilidade res Q2 e Q4 com a circulação da cor-
pela redução.

A vantagem principal deste siste-


ma está na facilidade que se tem de
acoplar o eixo a qualquer dispositivo
que se deseje movimentar e na pos-
sibilidade de se controlar o motor
com tensões e correntes relativa-
mente baixas.
Também observamos que é pos-
sível inverter o sentido de rotação do
sistema, bastando para isso que se
inverta a circulação da corrente no
motor.
Para os projetistas de Mecatrônica,
Robótica e automatismos mecânicos Figura 4 - Um controle PWM para motor e caixa de redução.
existe uma outra vantagem importante
no uso destas caixas: a possibilidade
de se conseguir diversas unidades
com características semelhantes, ga- Outras caixas de redução:
rantindo assim uniformidade na ação Muitos brinquedos que se movimentam não têm suas rodas
do projeto. Certamente isso não vai propulsoras diretamente acopladas aos motores, pois eles são de
ocorrer se peças isoladas forem apro-
alta rotação e neste caso deseja-se baixa rotação e maior torque.
veitadas de sucatas ou montadas a
partir de componentes isolados apro- Assim, é comum que nestes brinquedos já encontremos os moto-
veitados da mesma forma. res acoplados à pequenas caixas de redução que tanto podem ter
Também é importante observar
engrenagens plásticas como de metal. Estes motores, com suas
que o próprio motor original pode ser
facilmente trocado, caso o projetista caixas de redução, podem ser usados em diversos projetos de
deseje características diferentes para Mecatrônica.
seu automatismo.

16 MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ELETRÔNICA

ternas, como por exemplo, o controle


dos drivers. Isso significa que um
dano acidental nos circuitos das
portas pode ter conseqüências gra-
ves para o PC.
Desta forma, ao implementar qual-
quer circuito de controle com seu com-
putador olhe com especial cuidado
para as conexões da DB25.
Qualquer curto nesta parte do
circuito pode ser fatal para a inte-
gridade de seu computador. A ida
ao nível lógico baixo ou alto sem en-
contrar uma limitação de corrente
Figura 5 - Um controle de direção para motor DC usando uma ponte H.
significa uma sobrecarga que os cir-
cuitos do computador não suportam.
rente pelo motor no sentido inverso. A Lembre-se também que os circui-
combinação deste circuito com o an- tos das portas são tri-state permane-
terior permite que se tenha um domí- cendo num estado indeterminado
nio completo sobre o sentido de rota- (nem 0 nem 1) na ausência de sinal
ção e a velocidade do motor. de habilitação.
Observe que estes circuitos permi- Com relação aos programas de
tem o controle digital da caixa de re- controle eles podem ser facilmente
dução o que pode ser interessante nas elaborados em Quickbasic (Qbasic),
aplicações que envolvam o uso de Visual Basic, Delphi ou qualquer ou-
computadores. tra liguagem de alto nível ou mesmo
Para se usar o computador (PC) de baixo nível que são ensinadas nos
diretamente no controle de uma caixa cursos técnicos. l
Figura 6 - Acionamento direto de motor pela
de redução (ou mais) podemos obter porta paralela (nível baixo).
os sinais de sua porta paralela.
Para isso, basta conhecer os sinais
obtidos nesta porta que são discuti- Finalmente, para maior segurança
dos com maiores detalhes no artigo: nos projetos, pode ser usada uma
"Os Segredos da Porta Paralela". interface com isoladores ópticos, caso
Em cada saída D0 a D7 temos si- em que se garante que qualquer pro-
nais de controle que podem drenar blema elétrico que ocorra não vá re-
correntes máximas de 24 mA e forne- fletir no computador. Um circuito des-
cer correntes máximas de 2,4 mA a te tipo é mostrado na figura 8. É im-
uma carga externa. Isso significa que, portante observar que os buffers in-
para maior segurança sempre deve- ternos do computador que fornecem
remos fazer os acionamentos com a sinais a sua saída normalmente fazem Figura 7 - Acionamento direto no nível alto.
porta correspondente no nível baixo parte de chips com outras funções in-
ou então usar buffers apropriados. O
acionamento direto por meio de tran-
sistores é mostrado na figura 6. Neste
circuito o uso de transistores PNP faz
com que o motor seja acionado quan-
do o nível lógico na saída seja 0.
A fonte de alimentação do motor
(ou motores) deve ser separada, mas
o ponto de terra deve ser comum com
a fonte do computador.
Para que o acionamento do motor
ocorra com o nível lógico 1 podemos
ter um inversor que é mostrado na fi-
gura 7. Para usar buffers devemos lem-
brar que as saídas do PC casam-se Figura 8 - Interface com acoplador óptico.
com a tecnologia TTL LS e HC MOS.

MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 17


DISPOSITIVOS

Sistema Automatizado de
COMUTAÇÃO DE GASES E
CONTROLE DO FLUXO DE MASSA
Aplicação em Fornos Térmicos
Sebastião G. dos Santos Filho
Professor Associado do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos – LSI/PSI/EPUSP
Escola Politécnica da USP

semos, podem ser interconectados


entre si de forma a implementar cir-
O controle do fluxo e da comutação de gases bem como de
cuitos completos. Nesta tabela, po-
vapores, encontra aplicação direta em salas limpas para fabrica- demos destacar que o cilindro de
ção de circuitos integrados, em hospitais, para controle do fluxo ação simples possui um êmbolo li-
de anestesia, em fornos de sinterização de materiais, para meta- gado a uma mola. Quando o ar com-
primido é introduzido no comparti-
lurgia, dentre outras possíveis. Neste artigo apresentaremos um mento sem a mola, o êmbolo se mo-
sistema para comutação e controle do fluxo de massa para ga- vimenta e atua empurrando uma
ses de entrada num forno térmico destinado a sinterização, oxi- vareta para fora do cilindro. Mais tar-
de, a mola movimenta o êmbolo em
dação e nitretação de materiais. O sistema automatizado aqui direção contrária quando existir au-
apresentado para o controle de fluxo e seqüenciamento de diver- sência de pressão no compartimen-
sos gases num forno é um exemplo de projeto mecatrônico que to sem mola. Já no cilindro de ação
dupla, o êmbolo pode ser movimen-
utiliza atuadores mecânicos, elétricos e controle via
tado para a esquerda ou para a direi-
microcomputador.

Na construção de um sistema válvulas, cilindros simples ou duplos,


automatizado de comutação e con- filtros, etc. Os circuitos que compõem
trole do fluxo de gases, são normal- os painéis de gases incluem válvulas
mente empregados três tipos de dis- “agulha”, rotâmetros, controladores de
positivos básicos que são os pneu- fluxo de massa (mass flow controllers),
máticos, os para gases e os eletrô- tubulações rígidas ou flexíveis (poliflo),
nicos. Uma associação de dispositi- reguladores, filtros, válvulas, etc. Fi-
vos pneumáticos interligados por tu- nalmente, os dispositivos eletrônicos
bos e alimentados por ar comprimi- (transistores, resistores, etc.) permi-
do resulta num circuito puramente tem implementar circuitos de interface
pneumático. Já a associação de dis- com microcomputadores de modo a
positivos para gases resulta em se conseguir fazer a programação dos
painéis de gases assim como a as- fluxos e da seqüência de gases que
sociação de dispositivos eletrônicos serão inseridos, por exemplo, num
resulta em circuitos eletrônicos. Um dado forno térmico.
sistema automatizado de comutação
e controle do fluxo de gases nada CIRCUITOS PNEUMÁTICOS
mais é do que um circuito híbrido PARA GASES
contendo os três tipos de disposi-
tivos mencionados. Os circuitos A tabela 1 mostra os símbolos
Tabela 1 - Símbolos representativos dos
pneumáticos incluem fonte de ar com- dos dispositivos pneumáticos mais dispositivos pneumáticos mais comuns.
primido, mangueiras ou tubulações, comuns os quais, conforme já dis-

18 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


DISPOSITIVOS

ta dependendo do compartimento Para analisar os dispositivos dos


onde é inserido o ar comprimido e o painéis de gases, considere a tabela
mesmo também atua sobre uma 3 onde temos representada a
vareta. Por outro lado, a válvula é um simbologia típica de todos aqueles
dispositivo básico que permite ou não que são mais comumente emprega-
a passagem de ar comprimido quan- dos. Estes dispositivos destinam-se
do acionada. Na tabela 1 é mostrado a não apenas controlar o fluxo mas
o símbolo de uma válvula com cami- também seqüenciar os gases dese-
nho entre os pontos 1 e 2 habilitado jados por uma dada linha de saída
tendo o acesso 3 fechado. Os tipos conectada, por exemplo, num forno
possíveis de acionamento de uma Figura 1 - Válvula pneumática normalmente térmico. A figura 3(a) mostra um cir-
fechada acionada eletricamente por tensão
válvula para ar comprimido estão aplicada a uma solenóide. A caixa do lado cuito híbrido onde uma válvula
mostrados na tabela 2. Observe que esquerdo representa o acionamento por solenóide para ar comprimido é em-
a posição da seta entre os terminais solenóide e a caixa do lado direito representa a pregada em conjunto com uma vál-
posição de repouso assegurada por uma mola.
1 e 2 corresponde ao caminho ativa- vula para gás (normalmente fecha-
do pela fonte de acionamento da) de forma a permitir o acionamento
(solenóide, botão, alavanca, pedal, elétrico da passagem do mesmo, isto
batente, rolete ou mola) enquanto que é, a válvula solenóide controla a pas-
o acesso 3 representado na figura fica sagem de ar comprimido o qual, por
fechado após o acionamento. sua vez, ativa a válvula de gás. Veja
A “caixa” indicada no lado esquer- que quando a energizamos a
do da figura 1 representa uma válvu- solenóide, o caminho entre A e P é
la cujo caminho entre os pontos P e habilitado. Em seguida, o êmbolo do
A foi acionado através de uma ten- cilindro de ação simples movimenta

Figura 2 - Válvula solenóide MUFH-3-PK-3


fabricada pela FESTO cujo símbolo foi
apresentado na figura 1.

são aplicada a um solenóide ficando


a via B fechada. Numa etapa seguin-
te representada pela “caixa” dese-
nhada do lado direito, com a ausên-
cia de tensão aplicada na sole-
nóide, o caminho entre os pontos
A e B é acionado por uma mola fi-
cando desta vez a via P fechada.
A figura 2 mostra um exemplo co-
mercial cujo símbolo já foi apresen-
tado na figura 1. Trata-se da válvu-
la solenóide MUFH-3-PK-3 fabri-
cada pela FESTO. Observe que a
energização do solenóide é feita
Tabela 2 - Válvulas pneumáticas onde são Tabela 3 - Componentes típicos empregados
indicados os tipos mais comuns de acionamento. com 220 V eficazes da rede atra- em painéis de gases.
vés de uma chave S1 .

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 19


DISPOSITIVOS

pneumáticos como os cilindros de


ação simples e dupla associados a
válvulas solenóides para ar compri-
mido. O acionamento pode também
ser via manual, motor e eletromag-
nética. Neste último caso, o campo
eletromagnético da solenóide movi-
menta uma vareta que abre uma vál-
vula que estava normalmente fecha-
da. A mola tem a função de deixar a
válvula normalmente fechada na au-
sência de campo.
Por outro lado, o controlador de
fluxo de massa (MFC: Mass Flow
Controller) é um outro dispositivo para
gás que permite um controle extre-
mamente preciso do fluxo de gás em
uma dada linha. A figura 4 mostra um
diagrama completo de um controlador
Figura 3 - Circuito híbrido para acionamento de uma válvula para gás entre os pontos C e D: de fluxo de massa. O fluxo de gás
(a) Representação esquemática completa; (b) Representação também completa mas com
símbolo mais simples para a válvula solenóide; (c) Representação simplificada de uma válvula que passa entre os pontos A e B é
para gás acionada por válvula solenóide pneumática. controlado para ficar estável num
valor específico pré-programado. Con-
forme indicado na figura 4, o MFC é
uma vareta que abre a válvula e libe- sendo que o cilindro ficou imbutido
composto de um bloco I onde se
ra a passagem de gás entre os pon- na válvula de gás. Na última seção
mede o fluxo de massa e um bloco II
tos C e D. Este tipo de associação é deste artigo, voce terá a oportunida-
que controla o fluxo de massa de
comum em painéis de gases os quais de de ver um circuito eletrônico sim-
forma a se igualar com um valor de
podem ser controlados de forma re- ples de interface para microcom-
referência (set point).
mota através de chaves discretas putador para acionamento remoto de
Considerando inicialmente o blo-
que ativam tensões elétricas ou ain- um painel de gases.
co I onde se mede o fluxo de massa,
da através de circuitos de interface Convém também destacar no
normalmente fabrica-se o tubo por
conectados a um microcomputador caso da válvula para gás da tabela 3
onde passa o gás em aço inoxidável
no qual exista um software de con- que o acionamento pode ser feito,
internamente eletropolido a fim de ga-
trole. A figura 3(b) mostra uma repre- além daquele mostrado na figura 3(b),
rantir alto nível de limpeza e
sentação simplificada da válvula também das diversas maneiras mos-
minimizar reações químicas entre o
solenóide conectada ao cilindro de tradas na tabela 4. Veja que, no
gás e o referido tubo. Observe você
ação simples e, ainda, a figura 3(c) é acionamento pneumático/elétrico, te-
na figura 4 que existem dois sensores
equivalente ao circuito da figura 3(b) mos presente diversos componentes
de temperatura nos dois extremos do
tubo de aço eletropolido e um
esquentador ao centro. Quando o gás
flui através do tubo, ele carrega calor
de uma extremidade a outra sendo
que quando maior o fluxo, maior a
quantidade que é transportada. Po-
rém, esta quantidade de calor trans-
portada é proporcional a diferença de
temperatura entre os dois sensores
e, portanto, proporcional ao fluxo de
massa. A diferença de temperatura
é medida com a ajuda de uma ponte
de Wheastone onde os sensores são
resistências com um coeficiente de
variação com a temperatura. As re-
sistências associadas aos sensores
1 e 2 nas temperaturas TE e TS, res-
Tabela 4 - Formas de acionamento de uma válvula para controlar a passagem de gás.
pectivamente, podem ser escritas, tam-
bém respectivamente, como segue:

20 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


DISPOSITIVOS

Figura 4 – Diagrama funcional do controlador de fluxo de massa (MFC).

= ( + α( − )) Considerando agora o bloco II,


verifica-se facilmente que o sinal de
Existe uma gama muito grande de
fabricantes de controladores de flu-
e (1) controle que vai para a entrada da vál- xo de massa (MFC) dentre os quais

( + α( ))
vula eletromagnética tipo proporcional podemos citar MKS, BROOKS e
= − é dado por K(m’- mS’), isto é, o fluxo TYLAN que invariavelmente obede-
de massa medido (m’) é constante- cem o princípio de funcionamento já
onde Ta é a temperatura ambiente e mente comparado com o “set point” descrito e são construídos geralmen-
α é o coeficiente de variação com a (mS’). Quando m’ e mS’ se igualam, o te para operar: (a) numa ampla faixa
temperatura. sinal que vai para a válvula solenóide de pressão de entrada do gás de pro-
Supondo: passa a ser nulo e não há nenhum cesso até 1500 psi, (b) numa larga
α( − ) << acionamento. Desta forma, ficando o flu- faixa de fluxos até 30 slpm (litros por
xo constante no valor de “set point” mS’. minuto), (c) com rápida resposta a
e,

α( − ) <<
podemos dizer que a corrente que
passa nos dois ramos da ponte de
Wheastone são aproximadamente
iguais e dadas por:

≅ ≅ (2)

Dessa forma, a diferença de po-


tencial na saída da ponte (entre os
pontos C e D) que é proporcional ao
fluxo de massa m’ será dada por:

= − =α − Figura 5 – Diagrama esquemático de um painel de gases conectado a um forno térmico


convencional para lâminas de silício.
(3)

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 21


DISPOSITIVOS

Figura 6 – Diagrama completo do painel de gases para controle do fluxo e comutação dos gases nitrogênio (N2), argônio (Ar), mistura comercial
argônio/hidrogênio (Ar/H2), oxigênio (O2), amônia (NH3), óxido nitroso (N2O) e gás clorídrico (HCl).

22 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


DISPOSITIVOS

Tabela 5 – Tabela de conversão de pressões (fonte: Manual VAT).

mudança de fluxo de processo (se-


gundos), (d) com partes internas re-
sistentes a gases corrosivos e (e)
opcionalmente com saída padrão
para microcomputador.

CONSTRUÇÃO DE UM PAINEL DE
GASES PARA FORNO TÉRMICO

Os fornos térmicos tem sido em-


pregados em etapas avançadas de
processo visando a fabricação de cir-
cuitos integrados. Estas etapas con- Figura 7 – Conexão VCR “macho” e “fêmea”
sistem em tratamentos térmicos juntamente com o símbolo característico
para circuitos de painéis de gases.
numa dada temperatura durante um
tempo pré-fixado em um ambiente
gasoso de tipo e fluxo pré-escolhido. Os gases inertes (N2, Ar) desti-
A figura 5 mostra um diagrama nam-se a tratamentos de difusão de
esquemático de um painel de gases dopantes no silício, o oxigênio (O2)
conectado a um forno térmico no qual permite fazer oxidações, a mistura
foi inserido lâminas de silício. padrão Ar/H2 (90% Ar + 10 % H2) per-
Opcionalmente, fornos de processa- mite fazer tratamentos de sin-
mento térmico rápido poderiam ser terização entre camadas de metal e
alimentados pelo mesmo painel de entre metal e silício, os gases a base
gases da figura 5 onde uma única de nitrogênio (NH3 ou N2O) permitem
lâmina por vez é carregada horizon- fazer a nitretação da superfície das
talmente no tubo de quartzo e a re- lâminas de silício e finalmente o gás Figura 8 – Representação da construção física
sistência enrolada junto ao tubo é clorídrico inserido conjuntamente do controlador de fluxo de massa 2159B e a
correspondente pinagem do conector de 15
substituída por bancos de lâmpadas com o oxigênio destina-se enrique- pinos para controle remoto do fluxo de massa.
halógenas. cer a taxa de oxidação do silício. O

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 23


DISPOSITIVOS

leitor interessado em entender o en- em nitrogênio que é ativado após o Observe você na figura 6 que para
cadeamento das etapas de proces- uso para evitar a corrosão das linhas habilitar o nitrogênio na saída do cir-
so para fabricação de circuitos inte- de gases. Observe que o diagrama cuito, basta acionar as válvulas
grados deve, por exemplo, se repor- da figura 6 até que é relativamente solenóide SA1 e SS1 (por hipótese a
tar ao Apêndice A do livro simples e mesmo assim apresenta válvula manual M1 deve estar acio-
Microeletrônica (tradução) de A. uma formação tipo árvore com um nada e o “set point” do controlador de
Sedra (veja nas referências bibliográ- número relativamente grande de com- fluxo de massa MF1 deve estar pre-
ficas deste artigo). ponentes. Historicamente os siste- viamente ajustado). Por outro lado,
Também é importante destacar na mas controladores de fluxo de gases para acionar a amônia na seqüência,
figura 5 que todos os gases de en- eram chamados de selvas porque devemos desativar as solenóides
trada no painel de gases estão estes sistemas eram construídos em SA 1 e SS1 e em seguida ativar as
pressurizados numa dada pressão de salas apropriadas e tinham o aspec- solenóides SC1, SA5 e SS1. Finalmen-
entrada (tipicamente 50 psi) enquan- to de selvas de tubos e vávulas. te, para terminar o processo de
to que a saída do forno térmico en- A lógica de controle do sistema nitretação, as chaves SC1, SA5 e SS1
contra-se na pressão ambiente de 1 de gases da figura 6 é tal que qual- são desativadas e as solenóides SA1
atmosfera (1 atm ou 760 Torr). A ta- quer tratamento térmico deve ser e SS1 são novamente ativadas. Note
bela 5 é muito útil pois permite fazer sempre iniciado em gás inerte (N2 ou neste exemplo que começamos e
a conversão de pressão para qual- Ar) e na seqüência podem vir O2, Ar/ terminamos em gás inerte. O proces-
quer unidade conhecida. H2, NH3 ou N2O. O HCl, em particu- so de “purga” da linha de amônia é
A figura 6 apresenta um esque- lar, é empregado com fluxo de até feito após as lâminas de silício te-
ma completo do painel de gases pro- 600 sccm (centímetros cúbicos por rem sido retiradas do forno. Neste
jetado que pode ser controlado via minuto) em conjunto com O2 num flu- caso, as solenóides SA1 e SS1 são
microcomputador através de um xo substancialmente mais alto (até desabilitadas e as solenóides SP1,
acionamento adequado das válvulas 6 litros/minuto). Após a etapa no gás SA5 e SS1 são habilitadas. Com isso,
solenóides (SC1, SC2, SC3, SP1, SP2, de processo desejado, seja ele cor- asseguramos a durabilidade do
SP3, SA1, SA2, SA3, SA4, SA5, SA6, rosivo ou não, o tratamento térmico controlador de fluxo de massa e dos
SA7, SS1 e SS2). Para cada gás de deve terminar em ambiente inerte tubos de gás. Este processo de “pur-
entrada numa pressão típica de en- quando então as lâminas de silício ga” é particularmente importante para
trada de 50 psi, existe um filtro de são retiradas vagarosamente do for- o caso do gás clorídrico que é o mais
entrada (para eliminar contaminação no ainda aquecido na temperatura corrosivo dos três gases que tem cir-
por particulado) em série com uma de processo. Todos os fluxos dos cuito de purga na figura 6.
válvula manual. Antes da operação gases são previamente programa- O projeto mostrado na figura 6
do painel, estas válvulas manuais de dos nos controladores de fluxo de pode ser implementado com várias
entrada devem ser abertas. Observe massa através da tensão de “set bitolas de tubo. A bitola aqui escolhi-
que os gases corrosivos (NH3, N2O e point” na faixa de 0 a 6 litros por da foi a de ¼ de polegada que é a
HCl) possuem um circuito de purga minuto (slpm). mais comum para a faixa de fluxos
de gás empregados para fornos tér-
micos. Além disso, a escolha das
conexões entre as tubulações e os
dispositivos tem importância funda-
mental. As conexões do tipo VCR
apresentadas na figura 7 são aque-
las que asseguram o melhor grau de
limpeza do painel de gases. Todos os
gases utilizados em etapas de pro-
cesso para microeletrônica são
ultrapuros e, portanto, não devem
sofrer contaminações ao passar do
painel para a entrada do forno. A
vedação da conexão VCR é assegu-
rada quando uma anilha (gasket) é
esmagada após forçar o rosquea-
mento entre os terminações “ma-
cho” e a “fêmea” apresentadas na
Figura 9 – Circuito para acionamento individual das solenóides das válvulas SC1, SC2, SC3, figura 7.
SP1, SP2, SP3, SA1, SA2, SA3, SA4, SA5, SA6, SA7, SS1 e SS2 indicadas na figura 6. Veja que
este circuito deve ser replicado 15 vezes e os sinais de acionamento podem ser provenientes,
Veja na figura 6 que estão repre-
por exemplo, da porta paralela de um PC. sentadas todas as conexões VCR. É
importante destacar que diversas co-

24 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


DISPOSITIVOS

Figura 10 – Diagrama esquemático completo do “hardware” necessário para controle automático do painel de gases. Cada estágio 247C permite
efetuar a leitura e a geração de set point para até 4 controladores de fluxo de massa.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 25


DISPOSITIVOS

nexões padrões podem ser adquiri- - 14 uniões fêmeas duplas (SS-4- Por outro lado, o controle auto-
das no mercado com “tees”, “cruzes”, WVCR-6-DF, Double Female union); matizado dos controladores de fluxo de
“Ls”, etc. Além disso, é possível es- - 25 terminações macho (SS-4- massa MFC 1, MFC 2, MFC3 , MFC4,
pecificar soldagens de terminações VCR-3-4MTW, VCR Male weld gland); MFC5, MFC6 e MFC7 é feito conforme
“macho” ou “fêmea” nas extremida- - 50 metros de tubos eletropolidos ilustrado na figura 10. O bloco 247C
des de tubos internamente eletro- de um quarto de polegada. comercializado pela MKS é um estágio
polidos. As soldagens de terminações Os controladores de fluxo de mas- de leitura/gerador de “set-point” de qua-
em tubos eletropolidos é feita atra- sa modelo 2159B da MKS apresen- tro canais para fixar o fluxo de massa
vés de sistema de descarga a arco tam-se em série com uma válvula de em cada controlador MFC. Note que
especialmente projetado para este gás normalmente fechada, acionável como temos um total de 7 MFCs, são
fim (Veja, por exemplo, o sistema via solenóide, com conector de 15 necessários 2 estágios 247C inter-
CWS-100 DR no portal apresenta- pinos para entrada de alimentação conectados entre si (configuração mes-
do na referência 5). Também, para ±15V, tensão de set-point na faixa de tre/escravo). O bloco 232 de interface,
ver outros tipos de conexões além 0 a 5 VDC, terra, sinal de fluxo de também comercializado pela MKS, per-
daquelas apresentadas na figura 6, saída, pontos de teste e pontos não mite enviar os sinais de controle para os
navegue no portal apresentado na conectados conforme indicado na estágios 247C através da saída RS232
referência 5. figura 8. do PC. A documentação do bloco 232
A lista de material necessário da MKS já fornece o código fonte de
para construir o painel de gases apre- INTERFACE COM programação para controle do fluxo dos
sentado na figura 6 é a seguinte: MICROCOMPUTADOR PC MFCs. Este código fonte pode ser
extendido para permitir o controle inte-
a) Circuito pneumático Vamos agora apresentar os circui- grado dos MFCs juntamente com as
tos de interface para controle solenóides. Veja mais informações na
- 15 válvulas solenóides MUFH- automatizado do painel de gases uti- referência 3.
3-FK-3 – FESTO; lizando um microcomputador PC. A
- 20 metros de mangueira de figura 9 mostra um circuito para AGRADECIMENTOS
interconexão entre válvula solenóide acionamento individual de cada
e válvula para gás. solenóide apresentada na figura 6. À FAPESP por ter financiado o pro-
Observe que o circuito utiliza um jeto e construção do painel de gases
b) Circuito para gases TRIAC TIC 206D (Texas) que quan- apresentado neste artigo. Aos técnicos
do acionado energiza a solenóide da Renato Franzin, Nelson Ordonez, Alex
- 2 Controladores de fluxo de mas- válvula MUFH-3-FK-3. O aciona- Markevicius e Alexandre Camponucci
sa 2159B-10000RV-S (SPCAL = mento do TRIAC é feito através do pelas discussões e construção do pai-
5VDC para 6000 sccm de N2O ou O2) fotoTRIAC MOC3020 (Texas) que nel de gases. Ao Bacharel em Física
da MKS; permite isolar a rede de alta tensão José C. de Souza Filho pelo projeto ini-
- 1 Controlador de fluxo de mas- (220 Vef) do circuito TTL (5 volts) do cial do software de controle automático.l
sa 2159B-10000RK-S (SPCAL = estágio de entrada formado pelo tran-
5VDC para 600 sccm de HCl) da sistor BC548 e o diodo emissor de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MKS; luz.
- 1 Controlador de fluxo de mas- O sinal de comando para o circui- 1. Dispositivos pneumáticos:
sa 2159B-10000RK-S (SPCAL = to da figura 9 pode vir, por exemplo, http://www.festo.com
5VDC para 2000 sccm de NH3) da da saída paralela de um microcom- 2. Dispositivos pneumáticos:
MKS; putador PC. Através do emprego de http://www.festo.com.br
- 2 Controladores de fluxo de mas- linguagens de programação do tipo 3. Dispositivos para gases: http:/
sa 2159B-10000RV-S (SPCAL = QBASIC, C++, DELPHI, etc.; é pos- /www.mksinst.com
5VDC para 6000 sccm de N2, Ar ou sível controlar os sinais da saída 4. Dispositivos para gases: http:/
Ar/H2) da MKS; paralela de forma a promover a se- /frco.com/brooks/products/
- 1 Controlador de fluxo de mas- qüência de acionamentos das products.html
sa 2159B-00100SV (SPCAL = 5VDC solenóides válvulas SC1, SC2, SC3, 5. Conexões para linhas de gases:
para 100 sccm de HCl) da MKS; SP1, SP2, SP3, SA1, SA2, SA3, SA4, h t t p : / / w w w. s w a g e l o k . c o m / e n /
- 8 válvulas Nupro normalmente fe- SA5, SA6, SA7, SS1 e SS2. Não va- Ecatalog/ecmainframes.asp
chadas acionadas por ar comprimido; mos neste artigo detalhar como se 6. Conexões para linhas de gases:
- 8 válvulas manuais; faz o programa (software) de contro- http://www.bayvalve.com/pages/
- 8 filtros de de entrada para gás; le da saída paralela do micro- products.htm
- 11 Tees (316L-4-ATW-3-4TB7-4A, computador PC porque isto é algo já Sedra, A.S. and Smith, K.C.
tube weld manifold tee); amplamente divulgado (Veja, por Microeletrônica. Makron Books, 2000,
- 5 “Ls” (316L-4-ATW-9, Tube exemplo, o artigo: “Os segredos da ISBN 85-346-1044-4 (tradução da 4a.
weld elbow); porta paralela”, na página 32). edição em inglês).

26 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ESPECIAL

A ROBÓTICA NA
EDUCAÇÃO
Fernando A. Pazos
Coordenador do Laboratório de Robótica
Instituto de Tecnologia ORT do Rio de Janeiro

como diversas matérias obrigatórias


nos cursos de graduação, e também
Na Engenharia moderna, a área de Robótica, intimamente rela- teve seu reflexo no surgimento de pu-
cionada com a de Automação e Controle de Sistemas, é uma área blicações especializadas (“Robótica &
Automação”) e em congressos na-
que cada vez mais vai aumentando seu campo de estudo e aplica-
cionais como o Congresso Brasileiro
ção. Efetivamente, hoje em dia é impensável uma indústria de de Automática, organizado pela So-
manufatura que não esteja total ou parcialmente automatizada, ciedade Brasileira de Automática e re-
alizado a cada dois anos. Atualmen-
mesmo que o nível de automação consista apenas no controle do
te, diversas universidades do país
ponto eletrônico dos funcionários. É possível observar uma aplica- estão implementando programas de
ção da automação industrial em empresas que fabricam produtos graduação em Engenharia de Contro-
totalmente diversos, desde montadoras de carros e outros tipos de le, tal é o caso da PUC-Rio, da UFRJ,
da UFSC, da UFES, entre outras.
indústrias metalúrgicas até fábricas de brinquedos, de papel, de
bebidas, de embalagens, produtoras de alimentos, e inclusive
empresas de serviços como bancos, por exemplo. Tal foi o cresci-
mento nas últimas décadas da automação nas indústrias, e das
pesquisas nessa área, que hoje não é exagerado afirmar, por exem-
plo, que a Engenharia Eletrônica se divide em três grandes áreas:
em Eletrônica Analógica, que inclui processamento de sinais,
Tecnologia das Telecomunicações, Eletrônica de Potência, etc., em
Eletrônica Digital, que inclui microeletrônica, microprocessadores,
computadores, etc., e em Controle de sistemas, que inclui
Automação e Robótica.

Na vida acadêmica e universitária, “Journal of Dynamic Systems,


esse crescimento teve e continua ten- Measurements and Control”, “IEEE
do um reflexo imediato. Milhares de Transactions on Automatic Control”,
pesquisas sobre diversas estratégias entre muitas outras, foram surgindo e
de controle de sistemas, sobre mode- crescendo, assim como congressos
lagem, e sobre aplicações específicas internacionais sobre a área.
foram feitas nos últimos anos em qua- Aqui no Brasil, o estudo de Con-
se todas as universidades e centros trole de Sistemas começou sendo
de pesquisa no mundo inteiro. Re- implementado como programas de
vistas especializadas, como a pós-graduação em Engenharia de Figura 1 - Braço mecânico Armdroid.
“ International Journal of Control”, Controle e Engenharia Mecatrônica e

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 27


ESPECIAL

mecanismos como engrenagens, ei-


xos, polias, motores, sensores, peças
diversas e sistemas para montar de
grande simplicidade também já são
comercializados. Além disso, é possí-
vel montar alguns sistemas mecâni-
cos ou pneumáticos de maneira rela-
tivamente simples e econômica, e com
interfaces adequadas e computadores
não necessariamente de última gera-
ção é possível implementar um labo-
ratório suficientemente bem equipado
para os objetivos do curso.
No Instituto de Tecnologia ORT,
instituição dedicada ao ensino técni-
co de 2° grau, existe um laboratório
de Robótica (figura 2) do qual sou
coordenador. Temos ali 8 computado-
res, todos equipados com placas de
interface paralela e conversores A/D;
Figura 2 - Laboratório de Robótica do Instituto de Tecnologia ORT.
nessas placas estão ligadas interfaces
de potência externas que acionam di-
Mas o que está sendo novidade no dedicadas à fabricação, importação e versos sistemas controlados pelo com-
Brasil, e que já tem alguns anos em comercialização de robôs didáticos, putador. Alguns desses sistemas fo-
outros países do mundo, é a alguns de alta sofisticação e outros de ram adquiridos comercialmente e vá-
implementação de programas de en- grande simplicidade de montagem e rios foram construídos no próprio la-
sino da Robótica no nível técnico e in- manipulação, como podem ser braços boratório, em alguns casos utilizando
clusive no ensino fundamental. mecânicos pequenos, movimentados sucata mecânica e materiais de baixo
No nível técnico, diversas institui- por servo-motores, e carros explora- custo. Podemos mencionar entre es-
ções estão adotando tais programas dores com diversos tipos de sensores. ses sistemas dois braços mecânicos,
nos cursos de Eletrônica, Mecânica e Alguns desses sistemas já vem com um movimentado por servo-motores e
Informática. Em alguns casos tais pro- interfaces de computador e programas outro por motores de passo (figura 1),
gramas visam dar ao aluno uma for- utilitários específicos muito simples, de um elevador de quatro andares (figu-
mação específica adequada para o maneira de permitir sua utilização até ra 3), um carro explorador equipado
mercado de trabalho, como é o caso para crianças de curta idade. Kits de com diversos tipos de sensores e mo-
de diversos cursos implementados no vimentado por dois motores de passo
SENAI e outras instituições de (figura 4), uma máquina automática
capacitação técnica. Em outros casos que corta peças de isopor pequenas
o objetivo fundamental é fornecer ao (figura 5), uma seletora de peças
aluno uma introdução e preparação acionada por pistões pneumáticos, um
para as diversas matérias de controle sistema de visão e um “plotter” onde
que fazem parte dos programas de uma caneta é movimentada em um
graduação em Engenharia nas univer- plano por um sistema acionado por
sidades. Mas em todos os casos, o motores de passo. Todos os computa-
ensino da Robótica acarreta algumas dores possuem arquivos com biblio-
vantagens pedagógicas que fazem da tecas de comandos específicos para
implementação de tais programas o controle de cada robô realizadas em
atrativa inclusive para escolas de 2° Pascal, que o usuário pode utilizar
grau não técnicas e até para, com os para realizar seus próprios programas,
níveis e a orientação adequados, para além de programas de teste e de-
o ensino fundamental. monstração. Nesse laboratório são
Laboratórios de Robótica especí- ministradas aulas para os alunos da
ficos para os objetivos do curso po- terceira série de eletrônica e para a
dem ser implementados, com custos terceira série de informática. No caso
variáveis dependendo da complexida- dos alunos da eletrônica, eles estu-
de dos sistemas, mas que em todos dam ali programação, teoria de con-
os casos vão decrescendo a cada ano. Figura 3 - Elevador de 4 andares.
trole, sensores e atuadores, mecanis-
Já existem no Brasil empresas mos de transmissão de potência, sis-

28 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ESPECIAL

Eletrônica: onde podem ser es- temas de equações, necessários para


tudadas, projetadas e armadas as a modelagem dinâmica dos sistemas
diversas interfaces de computador e projeto e cálculo das leis de contro-
necessárias para controlar um sis- le, podem ser estudados e aplicados.
tema, projeto de drivers digitais e Conceitos próprios de teoria de
amplificadores para os diversos Controle: como ser estudo e classifi-
atuadores, interfaces de trans- cação de sistemas, excitação e res-
dutores e dispositivos de instrume- posta, controladores, modelagem de
tação, placas de aquisição de dados, sistemas físicos, transferência, reali-
conversores analógico–digital e di- mentação, sensores, atuadores e ou-
Figura 4 - Carro automatizado.
gital–analógico, e até projeto de con- tros dispositivos utilizados em
troladores implementados com automação, e diversas estratégias de
temas de visão, robôs manipuladores, microprocessadores e microcontro- controle, com a profundidade e alcan-
exploradores e máquinas ferramenta, ladores específicos. ce segundo os objetivos do curso.
além de realizarem diversas práticas Informática: necessária para a No caso do ensino técnico, diver-
que incluem a realização de progra- implementação dos programas de sas práticas aplicando muitos desses
mas de controle dos sistemas do la- controle. As linguagens utilizadas po- conhecimentos podem ser implemen-
boratório. Os alunos de informática dem ser variadas, dependendo do la- tadas em um determinado sistema de
recebem aulas que visam fornecer in- boratório e dos objetivos do curso. laboratório. Por exemplo, o aluno pode
formação sobre a programação de sis- Podem ser utilizadas as linguagens armar um robô manipulador de ape-
temas, conceitualmente diferente da tradicionais como C ou Pascal, com nas uma junta. Para isso deve realizar
realização de programas comerciais. bibliotecas de comandos específicas um cálculo da velocidade e torque
Além disso, cursos livres e abertos são para o controle dos dispositivos do sis- adequados para movimentar o elo do
oferecidos regularmente orientados a tema. Podem ser implementados tam- manipulador, escolher um motor e pro-
profissionais e estudantes de Enge- bém programas mais avançados, jetar uma caixa de redução de engre-
nharia e de áreas técnicas em geral. como programas residentes e progra- nagens, armar o robô com um kit de
Podemos mencionar entre as van- mação das interfaces e do relógio do peças adequadas, ligar o motor e um
tagens do ensino da Robótica a inter- computador. No caso que o projeto sensor de posição a uma interface de
relação entre diversas áreas da ciên- inclua o controlador implementado computador específica, e realizar um
cia que se aúnam nessa área, e a com um microprocessador ou programa de controle simples do dis-
aplicação prática, com suas conse- microcontrolador, os programas de positivo.
qüentes vantagens pedagógicas, que controle podem ser editados em No caso do ensino fundamental, o
o aluno faz de tais conhecimentos. Assembly. No caso de serem utiliza- aprendizado dos conceitos básicos de
Dentre as áreas que o aluno aprende dos controladores específicos como computação em geral e até de progra-
e aplica em um laboratório de um Controlador Lógico Programável, mação (utilizando um programa utili-
Robótica podemos destacar: a linguagem própria como pode ser a tário didático ou uma linguagem es-
Física: onde podem ser estudados “ladder” deve ser estudada. No caso pecífica simples), é pedagogicamen-
e aplicados alguns conceitos da física do laboratório estar orientado às te vantajoso se o aluno usa ou cria um
mecânica tais como força, torque, ve- crianças, programas utilitários sim- programa para ver um sistema, como
locidade, aceleração, e máquinas sim- ples, ou linguagens de programação pode ser um carrinho ou a famosa tar-
ples como polias, alavancas, entre ou- específicas em português e simpli- taruga do “logo”, se movimentar da
tras, necessários para o cálculo e pro- ficadas podem constituir uma atra- maneira desejada, que simplesmente
jeto de caixas de redução, especifi- ente introdução à computação para para observar um resultado impresso
cação dos motores adequados, proje- os alunos. na tela.
tos de transmissões mecânicas, entre A quantidade e diversidade de con-
outras aplicações. Também, dependen- ceitos teóricos e tipo de práticas que
do dos sistemas disponíveis no labora- podem ser realizadas aplicando esses
tório, conceitos de hidráulica, pneumá- conceitos, nos diversos níveis
tica e termodinâmica podem ser estu- educativos e com os diversos objeti-
dados e aplicados. Em casos mais vos didáticos, pode ser enorme. O alu-
avançados podem ser estudados e ana- no se vê na necessidade de racioci-
lisados os modelos cinemático e dinâ- nar lógica e metodicamente para re-
Figura 5 - Máquina cortadora
mico de sistemas tais como robôs de isopor. solver problemas específicos utilizan-
manipuladores ou veículos explorado- do as ferramentas adequadas, tanto
res controlados, assim como cine- conceituais como de materiais dispo-
mática e dinâmica de corpos rígidos Matemática: em casos mais avan- níveis, com óbvias vantagens pedagó-
necessárias para o cálculo dos parâ- çados, conceitos de álgebra linear, gicas. O único limite é a imaginação
metros físicos dos elos do robô. cálculo diferencial, e resolução de sis- dos professores e alunos.l

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 29


MECÂNICA

POLIAS E
ENGRENAGENS
Eduardo de Pinho Prado

Em muitos projetos práticos de Mecatrônica, o movimento ne-


cessário para o acionamento de um mecanismo é obtido a partir
de um motor elétrico. A freqüência de rotação desse motor não é,
na maioria das vezes, a que se necessita para o correto funciona-
mento do mecanismo. Para corrigir esse problema são utilizados
conjuntos formados por polias e engrenagens que são capazes de
modificar a freqüência motora atendendo assim às necessidades
operacionais do mecanismo.

As polias e as engrenagens são Quando se transmite o movimento


rodas utilizadas na transmissão do circular utilizando um par de rodas, a
movimento circular. São constituídas roda que origina o movimento é cha-
por uma coroa, em cubo de roda e mado de roda motora enquanto que
em conjunto de braços ou disco, chamamos de roda movida, a roda
cuja função é ligar rigidamente a que capta esse movimento. Normal-
coroa ao cubo de roda. A figura 1 mos- mente a roda motora tem seu cubo de
tra algumas representações de polias roda conectado ao eixo de um motor
e engrenagens. (figura 3).
Inseridas num mecanismo essas
rodas transmitem o movimento circu- MOVIMENTO CIRCULAR
lar através de uma correia ou pelo UNIFORME (M.C.U)
contato direto entre coroas enquanto
que seus cubos de roda ficam Para compreender melhor como se
acopladas a eixos (figura 2). dá a transmissão do movimento cir-

Figura 2 - Formas de transmissão dos


movimentos.

cular no acoplamento de polias ou


engrenagens, é necessário revisar
alguns conceitos físicos.
Considere uma partícula movendo-
Figura 1 - Representações de polias e engrenagem.
se em trajetória circular de raio r , com
velocidade escalar v constante

30 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


MECÂNICA

Como o diâmetro de uma roda é o


dobro de seu raio, a relação entre as
freqüências de rotação f1 e f2 também
pode ser dada por:

Figura 3 - Roda motora e roda movida.

D1: diâmetro da roda (1);


D2: diâmetro da roda (2).
Considere agora duas engrena-
gens (1) e (2) sendo n1 e n2 as quan-
tidades de dentes nas coroas dessas
Figura 5 - Velocidades escalares das coroas.
engrenagens. Se T1 e T2 são os perío-
dos de rotação das rotas (1) e (2), as
Para os acoplamentos por correia velocidades escalares v1 e v2 de suas
ou por contato, as velocidades coroas podem ser dadas por:
escalares das coroas das rodas
associadas são iguais. No caso do e
acoplamento por correia as velocida-
des escalares das coroas correspon-
Figura 4 - Variáveis do movimento circular dem a própria velocidade da correia com v1 e v2 medidas, por exemplo,
uniforme (M.C.U.). (figura 5). em "dentes/s" ou "dentes/min"
Igualando essas velocidades esca-
(M.C.U). O intervalo de tempo neces- lares temos:
sário para completar uma volta é cons-
tante e chamado de período de v1: velocidade escalar na coroa da
rotação (T). roda (1);
Para esse movimento chamamos v2: velocidade escalar na coroa da
de freqüência (f) a quantidade de vol- roda (2);
tas executadas em determinada uni- vc: velocidade escalar na correia.
dade de tempo. As unidades usuais Considere o acoplamento de duas
de freqüência são o Hz (hertz) que rodas (1) e (2) de raios respectivamen- Existe ainda uma outra possibilida-
significa “rotações por segundo” e o te iguais a r1 e r 2. A roda (1) gira com de de acoplamento, que consiste em
r.p.m cujo significado é “rotações freqüência f1. montar duas rodas sobre um mesmo
por minuto”. Podemos determinar a freqüência eixo de rotação. Nesse caso as fre-
A seguir são apresentadas algu- de rotação f2 da roda (2) à partir da qüências de rotação são iguais.
mas relações entre as grandezas en- igualdade das velocidades escalares
volvidas no estudo do movimento cir- das coroas dessas rodas (figura 6). l
cular uniforme:

TRANSMISSÃO DO M.C.U

Ao acoplar polias objetivo principal


é a obtenção de uma freqüência de
Figura 6 - Relação entre as freqüências de
rotação na polia movida diferente da- rotação. Figura 7 - Acoplamento sobre o mesmo eixo.
quela tida na polia motora.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 31


HARDWARE

OS SEGREDOS DA PORTA
PARALELA
Newton C. Braga

Como utilizar o seu computador (PC) para controlar um bra-


ço mecânico, um robô ou receber mensagens do “mundo exteri-
or” como sensores, olhos eletrônicos, etc.? Se o leitor deseja
praticar Mecatrônica usando o PC deve saber como fazer o
interfaceamento correto. Isso implica em conhecer os tipos de
sinais que o computador pode enviar ou receber e de que modo
podemos fazer os circuitos de interfaceamento para esta finali-
dade. Neste artigo vamos mostrar como tudo isso pode ser fei-
to, lançando assim as bases que o leitor precisa para novos e
fantásticos projetos.

Figura 2 - Como os bytes são transmitidos


serialmente.
Os computadores pessoais do tipo
PC (IBM e compatíveis) se comunicam
com o mundo exterior por meio de e é transmitido da mesma forma. Não
“portas”. Exatamente como o nome é preciso dizer que esta forma de
indica, por elas podem entrar e sair transmissão de dados é limitada em
sinais que o computador utiliza tanto relação à velocidade, além de trazer
para “sentir” o que se passa fora dele alguns problemas de projeto, para
como para “comandar” dispositivos quem deseja usá-la para o controle de
que não estejam no seu interior. Figura 1 - Os bits são enviados em seqüência dispositivos externos.
ou série na porta serial.
As duas principais que encontra- As portas paralelas, como o nome
mos no computador são as Seriais, as diz, podem transmitir um byte inteiro,
Paralelas e agora as USB (Universal vo que se comunica por este tipo de levando cada bit por um condutor se-
Serial Bus). porta fazem a decodificação destes parado, conforme mostra a figura 3.
As portas seriais, como o nome sinais, levando-os a uma forma mais Os bits “correm” paralelos por um
sugere, recebem e enviam sinais em própria para uso de processadores. cabo de muitos condutores, conforme
seqüência, como por exemplo, no con- Na figura 2 mostramos de uma for- sugere a figura.
trole do teclado ou de um mouse. ma mais simples o que ocorre no en- A vantagem principal deste tipo de
Na figura 1 mostramos que, nes- vio destes sinais. transmissão é que podemos ter todos
tas portas, os “bits” precisam ser Os bytes que devem ser enviados os bits de um byte ao mesmo tempo
enfileirados e enviados um a um se alinham com a saída do dispositi- na saída do dispositivo (ou na entra-
numa seqüência por meio de fios vo e por meio de um dispositivo espe- da) o que significa uma velocidade
condutores. cial são enviados bit a bit em seqüên- maior de transmissão de dados ou ain-
Circuitos especiais no interior do cia. Quando um byte terminou de ser da o controle simultâneo de 8 linhas
computador e no interior do dispositi- transmitido o byte seguinte “se alinha” ou dispositivos.

32 MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


HARDWARE

vemos na própria impressora) enquan- os circuitos externos são usados


to que IBM desenvolveu sua própria “buffers” que servem como isolado-
saída, mantendo os sinais, mas usan- res e amplificadores (como o nome
do um conector D-shell de 25 pinos indica).
conhecido popularmente como DB25. Esses buffers são projetados para
Isso significa que para fazer a co- fornecer em sua saída uma corrente
nexão do PC a uma Impressora ne- máxima de 2,6 mA e de drenar uma
cessitamos de um “cabo adaptador” corrente máxima de 24 mA. Como a
que numa extremidade tem um tensão no nível alto é de 5 volts, po-
conector DB25 e na outra um conector demos facilmente garantir segurança
Centronics de 36 pinos, conforme de operação com resistores
mostra a figura 4. limitadores de valor apropriado.
Veja então, que a capacidade de
excitação de uma carga externa é
maior quando o fazemos pelo nível
Figura 3 - São usados 8 fios separados, um baixo, conforme mostra a figura 5.
para cada bit a ser transmitido. Os bits são
transmitidos simultâneamente.

A dificuldade técnica está na ne-


cessidade de se usar um cabo de
muitos condutores, mais caro do que
um cabo simples necessário à comu-
nicação serial.
Se vamos nos comunicar com dis-
positivos muito distantes, como por Figura 4 - Os conectores de um cabo de
impressora.
exemplo, enviar sinais de um compu-
tador para outro situados em cidades
diferentes, o uso de um cabo múltiplo Além dos dados que são transferi- Figura 5 - Correntes máximas na porta
paralela.
tem custo proibitivo e além disso a li- dos pelos condutores temos sinais
nha telefônica não poderia ser usada. especiais de controle e que também
No entanto, se fizermos a comunica- servem para informar o computador o Na verdade não devemos usar à
ção serial o fio telefônico ou um par estado da impressora, ou seja, se ela vontade estes limites, pois podem
de fios trançados pode ser usado. está ligada, se ela recebeu os dados ocorrer problemas se tentarmos tra-
Para curtas distâncias entretanto, transferidos, etc. balhar com todas as portas atuando
como por exemplo, controlar uma im- Para o projetista de interfaces que ao mesmo tempo.
pressora na mesma sala em que está usam esta saída paralela é importan- Um problema que ocorre é que
o computador, um robô ou um conjun- te conhecer os tipos de sinais que muitos buffers de PCs mais modernos
to de comandos próximos o cabo múl- podemos usar de modo a não colocar ficam integrados nos mesmos chips
tiplo já não representa problemas. em risco a integridade do computador. que fazem o controle dos discos rígi-
Observando os computadores por Sabendo usar estes sinais pode- dos e outros periféricos. Assim, um
trás vemos que eles possuem mos usar a porta paralela para con- dano neles e todo o computador pode
conectores que trabalham com os dois trolar praticamente qualquer função de sofrer não somente as portas.
tipos de sinais através dos quais o um projeto de mecatrônica ou ainda Isso significa que não podemos
computador pode ser conectado a dis- receber sinais de sensores ou de co- “carregar” as saídas paralela dos com-
positivos externos. mandos externos. putadores com dispositivos que ultra-
Em especial interessa-nos o passem esses limites, sob pena de
conector que corresponde à porta OS SINAIS DAS PORTAS causar dano ao equipamento.
paralela que se destina, em princípio PARALELAS Alguns leitores tem enviado cartas
à conexão da impressora. a nossa redação dizendo que encon-
O padrão adotado pela IBM para Os chips do computador operam traram nas saídas de seus computa-
esta porta partiu de um fabricante de com sinais extremamente fracos, dada dores os níveis lógicos de 5V e 0V,
impressora, a Centronics que havia a necessidade de se dissipar um mí- mas quando ligaram circuitos TTLs
desenvolvido um conjunto de sinais de nimo de potência que deve ser distri- comuns ou CMOS não obtiveram seu
controle que funcionavam muito bem buída pelos milhões de transistores do acionamento.
na época. circuito. De fato, as correntes das saídas
A Centronics entretanto usava um Assim, para compatibilizar o cir- paralelas não excitam TTLs comuns,
conector Anphenol de 36 pinos (que cuito interno dos processadores com pelas características que vimos. As

MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 33


HARDWARE

saídas são compatíveis com tecnolo- byte de saída “3”. Se quisermos por INTERFACEANDO SEU PC COM O
gia TTL LS (Low Power Schottky) ou um 0001 001 o valor será “9”. MUNDO
HC (High Speed CMOS), mas obser- A forma mais simples de se colo-
vando os limites podemos até acio- car estes sinais na saída é fazendo Temos duas possibilidades de
nar etapas transistorizadas e LEDS um programa que gere os valores de- interfaceamento do PC com o “mun-
diretamente, conforme veremos. sejados quando pressionamos deter- do exterior” usando os sinais das por-
Assim, uma vez que tenhamos minadas teclas. tas paralelas.
acesso aos comandos e programas Se usarmos por exemplo as saída
que “ponham” os níveis lógicos dese- D0 e D1 para fazer um motor ir para a) Interfaceamento direto
jados nas saídas de uma porta para- frente ou para traz basta fazer um pro-
lela, a conexão de circuitos externos grama que, quando pressionarmos a A forma mais simples de inter-
que façam o que desejamos fica mui- tecla A gere o valor 1 (0000 0001) e facear um circuito com um PC‚ usan-
to simples. quando pressionamos a tecla B gere do diretamente os sinais da porta pa-
o valor 2 (0000 0010). Os outros ca- ralela para excitar o que desejamos
QUE TIPO DE COMANDO nais podem ser usados para outros se bem que, conforme tenhamos dito,
PODEMOS ENVIAR PELA PORTA comandos. Na figura 7 mostramos temos o risco de que, se algo der
PARALELA? como um circuito simples para esta fi- errado o computador pode sofrer as
nalidade pode ser ligado a porta conseqüências.
Na porta paralela temos então 25 paralela. Na figura 7 temos o modo de se
pinos, sendo os que mais nos interes- Veja que, dependendo do progra- fazer a excitação e LEDs de forma di-
sam os que correspondem aos sinais, ma que usamos para gerar estes va- reta.
ou seja, o byte completo que vai de lores podemos ter o comportamento
D0 a D7, conforme mostra a figura 6. desejado para o motor.
Podemos fazer um programa que
gere o sinal apenas enquanto a tecla
estiver pressionada, mas também po-
demos fazer um programa que inclua
um loop e que mantenha o sinal na
porta por um determinado tempo,
mesmo depois de que a tecla tenha
sido liberada. Tudo vai depender da
aplicação que se tenha em mente.
Mas, conforme vimos não pode-
mos ligar os motores diretamente na
porta, pois os 5 V disponíveis não tem Figura 7 - Acionamento direto de LEDs no
nível alto (a) e no nível baixo (b).
uma capacidade de corrente suficien-
te para o acionamento.
Além disso não seria interessante Levando em conta a queda de ten-
ter dispositivos que montamos direta- são no LED o resistor não precisa ser
mente ligado à porta, pois se aconte- obrigatoriamente de 2,2 k ohms.
Figura 6 - Identificação da porta paralela.
cer alguma coisa de errado com eles, Resistores de 1,2 k ohms a 1,5 k ohms
o microprocessador pode sofrer as podem ser usados. Para acionamento
Os outros pinos podem ser usa- conseqüência e o dano sai caro. no nível baixo, quando a capacida-
dos em algumas outras funções, de de correntes das saídas é maior
mas isso será assunto para outra INTERFACEANDO podemos até reduzir os resistores
oportunidade. para 470 ohms e em alguns casos
Através de comandos apropriados Sabendo que podemos colocar um 220 ohms.
podemos colocar em qualquer um sinal em qualquer um dos 8 pinos de Outra forma de acionar algum dis-
desses pinos uma tensão de 0 V ou saída da porta paralela o próximo pas- positivo externo é usando um transis-
de 5 V. so no interfaceamento será ligar a tor amplificador, dois transistores ou
Isso é feito levando-se em conta o cada um deles algum tipo de disposi- mesmo um SCR e que são mostra-
valor do byte colocado na saída e que tivo que possa tanto isolar o circuito dos na figura 8.
pode variar entre 0 e 255 ou seja, en- controlado do próprio PC como tam- As correntes máximas dos dispo-
tre 0000 0000 e 1111 1111. bém permitir que dispositivos de alto sitivos controlados são indicadas em
Assim, se quisermos colocar uma consumo como motores sejam contro- cada caso. Observe que estes circui-
tensão de 5 V nos pinos D0 e D1 ou lados. Isso é feito por uma interface tos precisam ter uma alimentação pró-
seja, fazer com que a saída seja 0000 de potência que admite diversas pria com o terra comum ao terra do
0011, devemos atribuir ao valor do configurações. computador.

34 MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


HARDWARE

No circuito (a) quando um “1” lógi-


co aparece no pino correspondente o
transistor é polarizado e aciona o relé.
Ligando aos contatos do relé um mo-
tor, um solenóide ou seja lá o que for
teremos seu acionamento. No circuito
(b) o acionamento ocorre com a saí-
da da porta paralela indo ao nível bai-
xo (0).
A grande vantagem deste tipo de
circuito está no fato de que o disposi-
tivo acionado não precisa ser alimen-
tado com a mesma tensão dos relés
ou com os 5 V do PC. Podemos con-
trolar até mesmo motores ligados na
rede de 110 V ou 220 V e sua corren-
te está limitada apenas pela capaci-
dade dos contatos do relé.
Figura 9 - Acionamento de relés com Podemos ir além sofisticando cada
transistores no nível alto "1" (a) e no nível circuito acionado por exemplo com o
baixo "0" (b).
uso de relés com contatos reversíveis
que permitem inverter o sentido de
rotação de um motor a um simples
comando lógico enviando pelo PC,
conforme mostra a figura 10.
Para este circuito ligado na porta
D2, o motor gira num sentido quando
o sinal na porta paralela for XXXX
X1XX e gira em outro quando for
XXXX X0XX. Os “X” mostram que os
outros bits podem ser tanto 0 como 1
dependendo do que os outros pinos
vão controlar.
Figura 8 - Acionando outras cargas.
Outra for ma de se fazer o
interfaceamento de forma direta é
b) Interfaceamento indireto usando “buffers”. Estes buffers nada
mais são do que circuitos integrados
Esta é a forma mais segura de se que aumentam a capacidade de exci-
Figura 10 - Controlando o sentido de rotação
controlar alguma coisa usando os si- tação das saídas do PC. Podemos
de um motor com um relé DPDT.
nais que podem ser colocados na por- usar tipos tanto da família TTL LS
ta paralela segundo o modo como ex-
plicamos.
Existem basicamente duas técni-
cas para se poder controlar dispositi-
vos de alta potência com os sinais da
porta paralela e com o isolamento elé-
trico total.

Com relés

A técnica que faz uso de relés é


uma das mais simples e seguras e
amplamente usada no controle de pro-
jetos de Mecatrônica e Robótica.
O que se faz é ligar em cada um
dos pinos de sinal da porta paralela
(D0 a D7) um circuito como o indica-
Figura 11 - Buffer usando o 74LS540.
do na figura 8 e que aciona um relé.

MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 35


HARDWARE

controle. Nele, temos a mudança de


estado dos flip-flops que controlam os
opto-acopladores com a entrada do bit
de comando.
A entrada de habilitação‚ mantida
no nível alto de modo a haver a res-
posta instantânea do circuito.

Com acopladores ópticos

Os acopladores ópticos são dispo-


sitivos formados por um LED e um
sensor de luz (normalmente um foto-
Figura 12 - Usando o buffer como driver de transistor) conforme mostra a figura 15.
transistor.

como HC CMOS, conforme mostra a


figura 11 em que temos um 74LS540
excitando LEDs alimentado pelo pró-
prio PC.
Observe que, como os buffers do
74LS540 são inversores, os LEDs
acendem quando temos o bit 0 na
saída correspondente. Observe a exis-
tência de um resistor limitador de cor-
rente em série com os LEDs.
Na figura 12 mostramos como usar
um buffer para acionar uma carga de
maior potência.
Para os que desejarem uma ver- Figura 15 - Um foto-acoplador.
são com portas não inversoras po-
demos sugerir o circuito com o
Se ligarmos o LED num dos pinos
74H541 que tem a pinagem mostra-
da porta paralela, tendo um resistor
da na figura 13.
limitador de corrente, quando coloca-
Uma aplicação interessante que
mos na porta uma tensão que acione
permite o controle de TRIACs é mos-
o LED ele ilumina o foto sensor e
trada na figura 14 e faz uso de um
com isso excita o circuito externo,
Latch Octal tipo D do tipo 74HC573.
conforme mostra o circuito típico da
Um Latch é um dispositivo muito
figura 16.
importante para certas aplicações de Figura 14 - Circuito equivalente ao 74LS573
A grande vantagem deste tipo de
(Latch/Flip-Flops).
dispositivo no controle é que o coman-

Figura 13 - Buffer não inversor. Figura 16 - Usando um acoplador óptico.

36 MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


HARDWARE

SOFTWARE

Veja que, usando os circuitos indi-


cados podemos fazer facilmente pla-
cas de comando ou interfaceamento
de potência que controlariam robôs,
braços mecânicos, elevadores, e mui-
tos outros dispositivos de Mecatrônica.
Basta que cada uma tenha 8 de
qualquer dos muitos circuitos indica-
dos e que no pino de entrada corres-
pondente seja colocado um “1” ou “0”
quando desejarmos a ativação do dis-
positivo correspondente.
Para colocar este “1” ou “0” o pro-
gramador tem uma quantidade enor-
me de possibilidades.
Os modos mais simples são os que
fazem uso de programas de menor
complexidade como o próprio Basic ou
mesmo linguagens projetadas justa-
mente com esta finalidade como a
LOGO.
Para os que dominam melhor as
técnicas de programação o Visual
Basic (VB), Delphi, C++, Pascal e
mesmo Assembler podem ser usados.

CUIDADOS ESPECIAIS

Evidentemente, os leitores com


menos prática podem sentir um certo
receio em ligar alguma coisa externa
à uma porta do computador, com
medo de causar algum tipo de dano
irreversível.
Algumas regras importantes po-
dem ajudar a evitar estes problemas:
Figura 17 - Configurações com opto-acopladores.
a) As conexões dos cabos que vão
da porta ao circuito controlado devem
do passa do LED para o sensor na paro no nível alto. A alimentação para ser conferidos com extremo cuidado.
forma de um feixe de luz. Não há por- os relés‚ deve ser obtida de um circui- É neste ponto que um curto acidental
tanto contato elétrico entre o circuito to externo. Lembre que o terra desta pode causar danos ao computador.
de comando do PC e o circuito coman- fonte deve estar em comum com o ter- b) Ao excitar circuitos energizados
dado ligado ao sensor. ra obtido na porta paralela. externamente de forma direta, limite
O isolamento típico de um opto- Para acionar diretamente cargas sempre a corrente usando um resistor
acoplador é da ordem de 7000 volts o até 1 A no nível alto (e) e no nível bai- de valor apropriado.
que quer dizer que se houver um aci- xo (f) podemos usar transistores c) Se tiver de excitar circuitos ali-
dente no circuito comando queiman- Darlington de potência que devem ser mentados pela rede ou alimentados
do-o por completo, o circuito de co- dotados de radiadores de calor. Cui- com tensões diferentes de 5 volts
mando antes do LED estará perfeita- dado no acionamento de dispositivos use sempre elementos isoladores
mente seguro. Na figura 17 mostramos que gerem transientes como cargas para maior segurança como opto-
algumas configurações típicas usan- indutivas, protegendo o circuito con- acopladores ou relés.
do este tipo de componente. Em (a) tra sua ação. d) Se o circuito a ser excitado ti-
temos o acionamento de LEDs no ní- O disparo de um TRIAC com um ver um bom consumo dê preferência
vel baixo e em (b) o acionamento no opto-diac ‚ mostrado em (g). Observe a uma fonte externa em lugar de
nível alto. Em (c) temos o disparo de que o MOC3020‚ usado na rede de aproveitar os 5 volts disponíveis do
um relé no nível baixo e em (d) o dis- 220V. O TRIAC pode ser o TIC226-D. computador. l

MECATRÔNICA ATUAL Nº 1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 37


SOFTWARE

CAD/CAE/CAM
Emílio Carlos Nelli Silva
Professor Doutor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e Sistemas Mecânicos
Escola Politécnica da USP

ra, definindo-se detalhadamente a sua


Os termos CAD, CAE e CAM já são comuns na indústria mo- forma, as suas dimensões, a forma
e dimensões de seus acessórios,
derna. Eles estão relacionados com a utilização do computador etc... Ou seja, dessa etapa em dian-
nas diferentes fases de desenvolvimento de um produto, que en- te, a batedeira vai assumir a forma
volvem o seu desenho (CAD), a simulação computacional de seu de um produto final. No entanto, as
três etapas que se seguem consis-
comportamento físico (CAE) e o planejamento e controle de sua tem num complexo trabalho, que re-
produção (CAM). Esse artigo procura dar uma visão geral sobre o presenta a essência da engenharia
que consistem essas áreas, a sua importância no contexto de de desenvolvimento. A definição da
forma (ou geometria) da batedeira
desenvolvimento de um produto industrial, bem como, uma idéia
depende não somente da escolha de
do estado da arte dessas áreas de conhecimento atualmente. São um “design” que seja mais atrativo
áreas muito abrangentes (cada uma delas merecendo um artigo para o consumidor, mas também de
em especial) e a relevância e importância delas para o aumento uma forma que não comprometa o
desempenho mecânico (no caso) da
de competitividade industrial no mundo atual é inegável. batedeira. Por exemplo, um problema
sério no projeto de batedeiras de bolo,
é que a distância entre a extremida-
Os termos CAD, CAE e CAM já eletrodoméstico como uma batedei- de da pá e o fundo da tigela seja igual
são comuns no meio industrial inter- ra de bolo, por exemplo. a um certo valor, caso contrário, a
nacional (e nacional) atualmente e A primeira etapa, “Reconhecimen- batedeira não tem sucesso em bater
estão diretamente relacionados com to da Necessidade” consiste em se a clara de ovo de forma a gerar a tra-
a redução de custo de desenvolvi- identificar a necessidade do produto, dicional “espuma”, conhecida como
mento e fabricação de um produto o que é feito pelo Departamento de “claras em neve”. Essa distância en-
através da utilização de computado- Marketing através de pesquisas en- tre a extremidade da pá e o fundo da
res, eliminando a necessidade e o tre os consumidores, etc… Assim, tigela dependerá da rigidez da estru-
custo de se realizar experimentos será pesquisado, o que o consumi- tura da batedeira, que dependerá por
com protótipos. Para entendermos o dor espera de uma batedeira, aces- sua vez de sua forma. Sendo assim,
significado desses termos é necessá- sórios desejados, cor preferida, de- o projetista deve ser capaz de pre-
rio entendermos inicialmente como sempenho, etc… Identificada a ne- ver o comportamento mecânico da
ocorre o desenvolvimento de um novo cessidade, parte-se para a etapa “De- estrutura da batedeira para cada tipo
produto na indústria, como represen- finição do Problema”, onde será feita de forma escolhida. Se o comporta-
tado no gráfico mostrado na figura 1. a especificação do produto, ou seja, mento mecânico não for satisfatório,
O gráfico possui duas colunas. A co- quais as faixas de rotação da bate- a forma deve ser alterada, caso con-
luna da esquerda ilustra as etapas de deira, quais os seus acessórios, trário, o desempenho da batedeira
desenvolvimento do produto e a da suas dimensões genéricas, capaci- será comprometido. Uma maneira de
direita como o computador está pre- dade da tigela, potência do motor, se prever o comportamento mecâni-
sente em cada uma delas. etc… A partir daí, se inicia a síntese co é construir um protótipo da estru-
Para ilustrar a explicação, vamos do produto, ou seja, será realizado o tura e realizar um experimento. Essa
considerar o desenvolvimento de um projeto propriamente dito da batedei- abordagem, muito usada no passa-

38 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE
mente, o computador ajuda a redução
de custos nessa fase através da utili-
zação de softwares de CAM
(“Computer Aided Manufacturing”) que
essencialmente, além de estimarem
os custos e tempos de produção da
batedeira, geram a partir do desenho
no CAD um programa a ser fornecido
a uma máquina ferramenta (também
controlada por computador) que vai
permitir essa máquina usinar o molde
a ser usado na injetora de plástico para
fabricar a batedeira, por exemplo.
Assim, com o gráfico da figura 1,
demonstra-se a utilização do compu-
tador nas diferentes etapas de desen-
volvimento de produto, e sua impor-
tância na redução de custos e tem-
po de desenvolvimento. Vejamos
com detalhe os softwares de CAD,
CAE e CAM.

Figura 1 - Desenvolvimento de um produto industrial e a presença do computador nas CAD


diferentes etapas.

Um sistema CAD é composto


do, demanda tempo e custo, certa- poder simular o comportamento me- por software e hardware que ofere-
mente contribuindo para o encareci- cânico e verificar se a rigidez do cem em conjunto recursos gráficos
mento do preço final da batedeira. É projeto proposto é suficiente para para gerar desenhos utilizando o
aí que entra o computador para redu- garantir a distância entre a extremi- computador.
zir esse custo e tempo de desenvol- dade da pá e o fundo da tigela, por Um software de CAD pode rodar
vimento. exemplo. Se o projeto não for satis- num microcomputador tipo PC com
Voltando ao gráfico acima, temos fatório, devemos retornar ao CAD, sistema operacional Windows ou
que a primeira etapa de projeto é a fazer as modificações necessárias no numa estação de trabalho com sis-
“Síntese”. Nessa etapa é proposta desenho geométrico e novamente tema operacional UNIX. Requer um
uma geometria para o produto (no simulá-la no CAE. Esse processo monitor colorido com resolução em
caso, a batedeira). Essa etapa en- iterativo prossegue até que se obte- torno de 4096x4096 pixels, uma pla-
volve basicamente a modelagem nha um projeto satisfatório, como ca gráfica capaz de garantir uma boa
geométrica do produto. Essa etapa mostrado no gráfico. Uma vez con- velocidade nas operações gráficas,
pode ser realizada no computador vergido para um projeto, segue a eta- mouse e teclado. Além disso, pode
utilizando-se um software de CAD pa de “Avaliação” onde é construído agregar vários hardwares acessórios
(“Computer Aided Design”), que é um um protótipo que será testado de for- que facilitam a execução do projeto,
software que permite realizar dese- ma a verificar se todas as exigênci- como, por exemplo:
nhos bi e tridimensionais de peças e as especificadas na etapa “Definição • “Light-pen”: trata-se de um dis-
alterá-los como se desejar. Na próxi- de Problema” acima são realmente positivo similar a uma caneta que
ma etapa, chamada de “Análise e satisfeitas. Caso não sejam, retorna- quando apontada para um ponto do
Otimização” é feita a análise do pro- se para a etapa de “Síntese” acima, vídeo, envia as coordenadas desse
jeto geométrico proposto anterior- fazem-se as alterações necessárias ponto para o computador. Permite de-
mente de forma a prever o seu com- no desenho, e o processo de projeto senhar figuras e indicar pontos na
portamento mecânico, elétrico, etc. continua até que se obtenha o pro- tela;
Essa etapa também pode ser reali- duto final que atenda a todas as • Mesa digitalizadora: é uma
zada no computador utilizando-se especificações iniciais. Uma vez ob- mesa sobre a qual é movimentado
o chamado software de CAE tido o projeto final parte-se para a um dispositivo similar a um mouse
(“Computer Aided Engineering”), que execução de sua documentação fi- que envia ao computador as coor-
é um software que permite simular o nal através da execução de desenhos denadas do ponto indicado com pre-
comportamento mecânico, elétrico, de fabricação, onde novamente o cisão de até centésimos de milíme-
etc. da peça projetada no CAD. As- CAD desempenha um papel funda- tro. Pode ser usado para a
sim, no caso da batedeira, para cada mental. Encerrado o projeto do pro- digitalização de desenhos enviando
desenho proposto no CAD, devemos duto, segue a sua fabricação. Nova- as coordenadas do seu contorno;

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 39


SOFTWARE
• Digitalizadores de imagem: dis-
positivos que captam a imagem do
ambiente e a convertem para códi-
gos que podem ser manipulados pelo
computador. Como exemplo, temos
as câmeras de vídeo e fotográficas
digitais e os “scanners”;
• Plotters: são dispositivos usa-
dos especificamente para imprimir os
desenhos do CAD em papéis padro-
nizados (A2, A3, A4, etc.). Utilizam-
se canetas esferográficas ou não, que
traçam retas e pontos sob o coman-
do do computador;
Figura 4 - Representação de sólidos usando “wireframe” (cortesia de Sérgio E. M. Rezende).
Os CADs são muito aplicados na
geração de desenhos nas indústrias
metal-mecânica, construção civil, de diferentes formas, etc. (ver figura
esquemas elétricos, geração de ma- 3). É importante salientar que uma
pas car tográficos, desenhos de imagem de perspectiva simplesmen-
marketing, etc... te não é um modelo tridimensional,
Um modelo geométrico de CAD pois a mesma pode ser desenhada
pode ser bidimensional ou tridi- num plano, por exemplo. Um modelo
mensional. Um exemplo de modelo tridimensional simula, de forma
bidimensional (2D) seria um desenho virtual, a peça real. Para representar
de fabricação da peça ou a planta de uma peça no plano é necessário ape-
um prédio, onde ambos são realiza- nas duas coordenadas (X e Y por
Figura 5 - Representação de objetos
dos apenas num plano (ver figura 2). exemplo), enquanto que uma peça no tridimensionais usando superfícies (cortesia
Um modelo tridimensional (3D) espaço precisa de três coordenadas de Sérgio E. M. Rezende).
consiste num modelo que simula uma (X, Y e Z, por exemplo).
terceira dimensão, nos permitindo, por Além disso, a representação de
por “cascas”, ou seja, não possuem
exemplo, girar o objeto, visualizá-lo um modelo tridimensional no CAD
um interior sólido. A superfície não
pode ser classificada em: estrutura
precisa possuir uma espessura, por
de arame (“wireframe”), modelo de
exemplo.
superfície e modelo de sólido.
Já no modelo sólido, a peça é re-
Um modelo estrutura de arame
presentada como um sólido real, e a
utiliza linhas interconectadas para
visão do objeto é como o vemos na
representar o objeto como mostrado
situação real. A peça é armazenada
na figura 4. Quando o modelo tem
no CAD como um sólido tridi-
geometria complexa a sua represen-
mensional e tem como vantagem
tação usando “wireframe” pode ficar
permitir calcular a interferência da
Figura 2 - Modelos bidimensionais num CAD
confusa, pois, mesmo as linhas re-
peça com outras peças, calcular seu
(cortesia de Sérgio E. M. Rezende). presentando o outro lado do objeto
são representadas, como ilustrado na
figura 4.
Nesse caso o CAD possui
algoritmos que “escondem” as linhas
atrás do objeto, no entanto esse tipo
de representação não é adequada
em geral. No caso de modelos de su-
perfície, a peça é representada ape-
nas pelas suas superfícies internas
e externas, o que já elimina a confu-
são causada pela representação
“wireframe” (ver figura 5). Esse tipo
de representação é adequado para
representar a carroceria de um auto-
Figura 3 - Modelo tridimensional num CAD Figura 6 - Modelo sólido de um motor elétrico
(cortesia de Sérgio E. M. Rezende). móvel, o coração, etc. enfim corpos (cortesia de Sérgio E. M. Rezende).
que são formados essencialmente

40 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE
volume e massa, seu centro de gra- etc... Existem CAEs especialistas na
vidade, etc... (ver figura 6). simulação do funcionamento de um
Entre as funções úteis presentes circuito elétrico, por exemplo, ou seja,
num CAD, temos: sabendo-se o sinal de entrada pode-
• Permite determinar com preci- se determinar o sinal de resposta ge-
são as distâncias entre superfícies, rado pelo circuito, assim como sa-
pontos, linhas, sólidos, etc... bendo-se as forças que atuam numa
identificadas pelo usuário; estrutura podemos calcular os seus
• Permite checar se não há interfe- deslocamentos. O principal objetivo
rência entre dois objetos. Essa função do CAE é reduzir o tempo e custo de
é útil no caso do interior de um avião, desenvolvimento do produto aumen-
em que se deve posicionar a passa- tando a sua qualidade. Se o CAE é
gem de diversos tubos e fios. Sem capaz de simular o comportamento
um CAD, é muito difícil realizar essa real do produto, este permite ao en-
tarefa sem ocorrer interferências; genheiro avaliar com precisão o pro-
• Animação: permite visualizar um jeto feito no CAD sem precisar fabri-
mecanismo funcionando (simulação car protótipos. O CAE consiste por-
cinemática), como um motor, por tanto, numa ferramenta importante
exemplo. Trata-se de uma simulação para o engenheiro.
para animação apenas e não leva em Entre os tipos de CAE temos os
conta o comportamento dinâmico CAEs baseados no chamado Méto-
real das peças. Uma simulação de do de Elementos Finitos (MEF),
Figura 7 – Modelos CAD (acima) e CAE
como as peças se movimentam CAEs destinados à simulação dinâ- discretizado em elementos finitos (abaixo) de
realmente com as corretas velocida- mica de mecanismos, CAEs desti- uma peça mecânica (Cortesia daSmartTech -
des e acelerações é feita pelo CAE nados à simulação de sistemas dis- ANSYS).
comentado adiante; cretos e CAEs destinados ao
Os CADs também permitem utili- processamento simbólico. sujeitas a um certo carregamento, dis-
zar diversas cores para representar Os CAEs destinados à simulação tribuição de temperaturas num mo-
os objetos. Assim, no caso do mo- dinâmica de mecanismos permitem tor, campo acústico gerado no inte-
delo do motor, por exemplo, cada simular o funcionamento de um robô, rior de um ambiente, escoamento de
peça teria uma cor, o que ajudaria a por exemplo, calculando as velocida- ar ao redor das asas de um avião,
identificá-la no motor final. des e acelerações de suas diferen- etc... Para isso o MEF exige que o
Uma outra característica impor- tes partes considerando os torques modelo de CAE seja discretizado em
tante do CAD é poder ser integrado dos motores de acionamento, a car- pequenos elementos denominados
com outros sistemas como o CAE e ga a ser movimentada, etc... É uma “elementos finitos” como mostrado na
o CAM. Assim, o modelo construído simulação mais fiel a realidade, ao figura 7. Essa discretização consis-
no CAD deve ser transferido ao CAE contrário do CAD onde somente é te em se gerar uma malha (“mesh”)
para simular o seu comportamento feita uma animação do funcionamen- no modelo de CAD. Pode ser feita no
(mecânico ou elétrico), ou transferi- to do robô. Os CAEs destinados à CAD ou no próprio CAE mediante o
do para um CAM para simular e pro- simulação de sistemas discretos si- modelo importado do CAD.
gramar a sua usinagem numa máqui- mulam, por exemplo, um circuito Muitos CAEs possuem um CAD
na CNC (“Comando Numérico pneumático onde um movimento para (mais simples) integrado para tentar
Computadorizado”). ocorrer depende de uma condição já evitar que o usuário tenha que
A interface com o CAE, no en- ter ocorrida, como o pistão pressio-
tanto, nem sempre é bem sucedida nar uma válvula, por exemplo. Linhas
como será comentada adiante. de manufatura numa indústria tam-
bém podem ser simuladas com esse
CAE tipo de CAE. CAEs destinados ao
processamento simbólico permitem
Um software de CAE é usado para manipular diretamente as equações
a simulação do comportamento da matemáticas que descrevem o fenô-
peça na situação real de operação. meno que se quer modelar.
Assim, no caso de uma peça mecâ- No entanto, a maior parte dos
nica são calculadas as tensões me- CAEs são baseados principalmente
cânicas, deslocamentos (como no no MEF e permitem atualmente si-
exemplo da batedeira citado na in- mular inúmeros fenômenos físicos
trodução deste artigo), distribuição de em engenharia, como por exemplo, Figura 8 - Etapas de uma análise de CAE.
temperaturas, fluxo de calor na peça, deformação de estruturas mecânicas

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 41


SOFTWARE
transferir arquivos de um software
para o outro.
Uma vez discretizado o modelo,
são aplicados carregamentos repre-
sentados por forças, pressões, ace-
lerações, temperaturas, voltagem,
corrente elétrica, etc... e as restrições
que correspondem aos pontos em
que a estrutura será presa (desloca-
mento nulo), ou pontos com valores
de temperatura e voltagem especifi-
cados (valor zero, por exemplo).
Além disso, devem ser especificados
também os materiais que compõem
a peça, especificando suas proprie-
dades físicas (densidade, módulo de
elasticidade, etc...).
Assim, uma análise de CAE é
Figura 10 - Visualização da deformação do casco de um navio obtida por elementos finitos. As
composta das seguintes etapas (ver cores representam diferentes tipos de materiais (vidro, aço, etc.) (Cortesia da SmartTech - ANSYS).
figura 8): o pré-processamento, o
solucionador e o pós-processamento.
No pré-processamento é construído fenômeno físico específico e conten-
o modelo (ou importado do CAD) e do uma certa aproximação na mode-
gerado a malha de elementos finitos lagem do fenômeno real. Assim, exis-
sobre esse modelo de CAD. Nessa tem elementos unidimensionais,
etapa devem ser escolhidos o tipo bidimensionais e tridimensionais como
de elemento a ser usado (conforme mostrado na figura 12.
veremos adiante), o material das par- Nesse sentido o modelo do CAE
tes da peça, além de serem aplica- não precisa ser necessariamente
dos os carregamentos e as restri- igual em forma ao modelo de CAD
ções, ou seja, deslocamentos, tem- da peça real, mas deve apenas po-
peraturas ou potenciais elétricos pres- der representar o seu comportamen-
critos. Na segunda etapa, o to mecânico ou elétrico real. Isso é
solucionador, são resolvidas as equa- possível graças às formulações ma-
ções matemáticas que descrevem o temáticas implementadas no interior
comportamento físico da peça. Na do software. Por exemplo, conside-
última etapa, pós-processamento, Figura 11 - Visualização da deformação de remos a modelagem da asa de um
são visualizados os resultados como um componente de motor de automóvel, avião. Podemos numa etapa inicial
distribuição das tensões mecânicas obtida por elementos finitos. As cores representá-la por uma linha que será
representam diferentes tipos de materiais
(alumínio, aço, etc.)(Cortesia da SmartTech - discretizada por elementos unidi-
ANSYS). mensionais chamados “elementos de
viga” (ver figura 12). Trata-se de um
ou deslocamentos no caso de estru- modelo de CAE simplificado onde
turas mecânicas, ou a distribuição de cada elemento, no entanto, conteria
temperaturas ou potencial elétrico, informações sobre as dimensões da
enfim o que se desejar visualizar seção da asa, sua área, seu materi-
compatível com a análise feita (ver al, etc... Visualmente, esse modelo
figuras 9, 10 e 11). é bem diferente da geometria real,
No seu interior os CAEs possu- mas já é capaz de nos dar uma boa
em formulações matemáticas com- noção inicial do comportamento me-
plexas que estão relacionadas com cânico da asa, por exemplo. Um mo-
o fenômeno físico que se quer simu- delo de CAE mais sofisticado con-
lar (mecânico, elétrico, fluido escoando, siste em se representar a asa com
eletromagmético, etc...). Essa formu- elementos do tipo “placa”(ver ele-
Figura 9 – Visualização através de cores da lação está agregada a cada tipo de mentos bidimensionais na figura12)
distribuição de temperaturas num modelo elemento finito. Existe assim um ban- e as longarinas internas por elemen-
de CAE de uma peça mecânica (Cortesia
da SmartTech - ANSYS). co de dados de elementos finitos no tos unidimensionais de viga. As pla-
CAE, cada um relacionado com um cas conteriam informação da espes-

42 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE
com elementos de placas e vigas já efeito estrutural e aerodinâmico. Um
seria suficiente, por exemplo. A mo- exemplo de sofisticação de análise
delagem de uma peça usando ele- computacional possível de se atingir
mentos sólidos do tipo “tijolo” seria atualmente usando um software de
mais indicada para uma peça sólida CAE está ilustrado na figura 13, onde
do tipo, fundida, forjada, ou usinada. é simulado o campo magnético de
Enfim, o engenheiro deve aprender a um magneto. O resultado é mostra-
abstração da modelagem de CAE do em termos de distribuição de
pelo fato de, novamente, o modelo vetores de campo magnético ao lon-
de CAE não precisar necessariamen- go do magneto.
te ter um visual igual à geometria da Considerando as etapas do CAE
peça real, mas deve ser capaz de acima, a que consome mais tempo
representá-la fisicamente. é o pré-processamento onde é
Algumas simulações envolvem construído o modelo CAE. O pré-
vários fenômenos físicos e exigem processamento pode chegar a repre-
CAEs multidisciplinares. Por exem- sentar 70% do tempo de uma análi-
plo, a simulação de um avião voan- se de CAE, enquanto que a análi-
do exigiria a simulação do escoamen- se e pós-processamento juntos re-
to do ar ao redor da asa e a simula- presentam 30%!! Em geral, a cons-
ção de como esse escoamento pro- trução do modelo do CAE é feita a
voca a deformação da asa devido às par tir do modelo constr uído no
forças de sustentação e de arrasto CAD, a menos que se deseje utili-
aerodinâmico. Ao mesmo tempo, a zar um modelo simplificado uni ou
asa se deformando, o escoamento do bidimensional, como discutido ante-
ar ao seu redor é alterado. Assim uma rior mente. Nesse caso, alguns
simulação realística desse fenôme- softwares de CAE possuem um CAD
no exigiria um CAE que combine o no seu interior para evitar que o usu-

Figura 12 - Tipos de elementos finitos


usados no CAE.

sura, material, etc... O visual desse


modelo de CAE já estaria mais pró-
ximo da geometria da asa real, por
exemplo, e do ponto de vista físico
nos fornece uma noção mais preci-
sa do comportamento mecânico da
asa. Finalmente o último estágio de
sofisticação seria representar a asa Figura 14 – Detalhe da complexidade da
malha de elementos finitos no caso de
por elementos sólidos do tipo “tijolo” peças tridimensionais com geometria
(ver elemento hexahédrico na figura complexa (Cortesia da SmartTech - ANSYS).
12). Visualmente, esse modelo é idên-
tico em geometria a asa real e certa-
mente nos forneceria um resultado
detalhado sobre as concentrações de
tensões mecânicas na asa, deforma-
ções localizadas, etc... No entanto,
o custo computacional desse último
modelo de CAE seria brutalmente Figura 13 – Resultado da simulação do
maior do que o do primeiro modelo campo magnético num magneto. Distribuição
do campo magnético é representada por Figura 15 - Caixa de câmbio fundida.
unidimensional tornando-o inviável. vetores. (Cortesia da SmartTech - ANSYS). Construção do modelo CAE é complexa.
No caso da asa, o segundo modelo

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 43


SOFTWARE
ário tenha que usar outro software (de como ilustrado na figura 15. Se a peça
CAD), no entanto são CADs limita- já existe e queremos modelá-la, a
dos em relação a um software dedi- construção de um modelo CAD pode
cado especificamente à CAD. Assim, levar meses!! Além disso, teremos
no caso geral, o modelo deve ser os problemas de transferência do ar-
transferido do CAD para o CAE. No quivo do CAD para o CAE e a gera-
entanto essa transferência nem sem- ção de malha como já comentados
pre é bem sucedida. Entre os proble- acima. Assim o alto tempo e custo
mas temos inicialmente a comunica- desestimulam a indústria a realizar
ção entre o CAD e o CAE que é feita simulações CAE dessas peças com- Figura 17 - Volume de existência da
através da escrita e leitura de ar- plexas. Uma solução que vem sen- estrutura com cargas e pontos de fixação
(superior). Estrutura sintetizada pelo MOT
quivos tipo texto. Muitas vezes os do usada em grandes empresas no (inferior).
arquivos gerados pelo CAD não são exterior é realizar uma tomografia da
lidos com sucesso pelo CAE por peça mecânica. O tomógrafo é um
excesso ou falta de informações. aparelho que permite obter as ima-
Uma vez transferido o modelo, gens das seções transversais de um
deve ser gerada a malha sobre o sólido de forma rápida sendo muito
modelo como já comentado. Se o utilizado em hospitais pelos médicos
modelo apresentar pequenos detalhes para visualizar o interior do corpo
(furos, cantos vivos, etc.) a geração humano. Obtidas essas imagens, o
de malha pelo CAE não será bem su- sólido é reconstruído no computador
cedida ou uma malha muito fina será de forma a se obter uma imagem de
desnecessariamente gerada (ver figu- voxels do sólido. Um voxel é a uni-
ra 14). Isso exigirá que se retorne ao dade básica de representação de uma
CAD e se eliminem esses pequenos imagem tridimensional, assim como,
detalhes (processo conhecido como o pixel é a unidade básica de repre-
“defeaturing”) e novamente transferir sentação de uma imagem bidi-
o modelo para o CAE para se tentar mensional no computador. Uma vez
uma nova geração de malha. obtida a imagem de voxels, a gera-
Esse processo tradicional, descri- ção do modelo CAE é obtida conver-
to acima, pode ser demorado e tedio- tendo-se cada voxel num elemento Figura 18 - Volume de existência da
so. Imagine uma peça complexa finito do tipo “tijolo”. Assim, o mode- estrutura com cargas e pontos de fixação
como um bloco de motor, caixa de lo CAE de uma peça complexa pode (superior). Estrutura sintetizada pelo MOT
(inferior).
câmbio de um automóvel ou uma ser obtido em menos de um dia!!! A
peça qualquer fundida ou forjada figura 16 ilustra o processo.
Isso teria grande aplicação em do projeto, ou seja, alterando a for-
projeto de próteses biomédicas, por ma da peça aqui e ali, temos uma
exemplo, pois são peças complexas noção do quanto irá influenciar no seu
que variam de pessoa para pessoa. desempenho final realizando simula-
A simulação por CAE se faz neces- ções. Isso resulta num processo de
sária para se prever o comportamento projeto iterativo como já ilustrado na
mecânico da prótese antes de colocá- figura 1. Mas, seria interessante que
la no paciente. Com esse método, o o próprio CAE nos sugerisse onde al-
modelo CAE é facilmente obtido sem terar a forma da peça de maneira a
a necessidade de se aprender a utili- melhorar o seu desempenho, o que
zar um software de CAD. Assim, pode certamente aumentaria drasticamen-
ser usado por um médico, por exem- te a eficiência do processo de proje-
plo, que teria um tomógrafo disponí- to. Isso é conseguido atualmente uti-
vel no hospital. lizando-se métodos de otimização in-
No entanto, a simulação do com- tegrados ao CAE. Esses métodos
portamento da peça em si, ajuda o realizam uma busca orientada dos
engenheiro a verificar os problemas parâmetros de geometria da peça de
de projeto, mas ainda não é suficien- forma a obter a forma que otimize o
te. O principal problema é sugerir desempenho da peça. Esse desem-
Figura 16 - Seções tomografadas de um modificações na peça que melhorem penho pode ser, por exemplo, a rigi-
sólido e sua respectiva imagem de voxels o seu desempenho, o que é uma ta- dez da peça, redução das tensões
reconstruída, já consistindo no modelo
CAE com elementos tipo "tijolo". refa complexa. A simulação nos aju- mecânicas, etc... Um critério de de-
da a ter uma idéia da sensibilidade sempenho muito comum na indús-

44 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE
tria automotiva e aeronáutica é projetar peças com máxi-
ma rigidez e com menor peso. No caso da batedeira, men-
cionado na introdução, é interessante que a geometria de
sua estrutura seja rígida o suficiente para que a deforma-
ção não prejudique a geração da “clara em neve” (já co-
mentado), mas não deve conter uma quantidade de ma-
terial maior do que a necessária, o que encareceria os
custos na indústria. Por exemplo, se fabricamos 1000 ba-
tedeiras por dia, e se cada uma delas tem uma massa de
200 g a mais do que o necessário isso significa 6 tonela-
das de material a mais por mês!!! O mesmo vale para a
produção de automóveis. No caso de um avião, o proble-
ma é que uma peça com peso além do necessário, reduz
a capacidade de carga do avião. Obter uma peça com
máxima rigidez e menor peso não é uma tarefa intuitiva
para o ser humano, e somente pode ser conseguida atra-
vés do computador. Figura 19 - Determinação do caminho da ferramenta em operação
A otimização integrada ao CAE tem atualmente vá- de fresagem (Cortesia da Ascongraph - MasterCAM).
rios níveis. Podemos otimizar apenas as dimensões da
peça (otimização paramétrica), podemos alterar a forma
externa e interna da peça (otimização de forma), ou po-
demos alterar a topologia da peça, ou seja, encontrar
novos “furos” nessa peça. Esse último tipo de otimização
é chamada otimização topológica. O desempenho da
peça e a redução de material obtida aumentam da
otimização paramétrica para a otimização topológica.
A Otimização Topológica (OT) é um método que vem
sendo muito utilizado na indústria dos EUA, Japão e Eu-
ropa nos últimos cinco anos. O Método de Otimização
Topológica (MOT) permite sintetizar estruturas de acor-
do com um certo desempenho especificado, por exem-
plo, máxima rigidez e menor peso. As figuras 17 e 18
ilustram algumas estruturas sintetizadas pelo MOT. Ini-
cialmente é definido o volume de existência da estrutu-
ra, ou seja, uma região que é limitada apenas pelos pon-
tos onde a estrutura estará fixada, pontos de aplicação Figura 20 - Determinação do caminho da ferrramenta
de carga e regiões que a estrutura não pode invadir. Além para fresadoras em usinagem bidimensional (Cortesia da CCS -
disso, pode-se ainda definir regiões em que o material SurfCAM).
não pode ser retirado (sólido) e regiões em que não pode
haver material (vazio) (ver figura 18). Esse domínio é
discretizado em elementos finitos, e fornecido ao software
de MOT. Num processo iterativo, o software de MOT vai
distribuir de forma ótima o material no interior do volume de
existência de maneira a maximizar o desempenho deseja-
do para a peça (por exemplo, máxima rigidez e menor peso).
Assim, o MOT consiste no estágio mais avançado
da otimização, e o CAE não mais se limita a analisar
geometrias propostas no CAD, mas agora é capaz de
sintetizá-las também de forma ótima.
As reduções de massa obtidas na indústria com a utili-
zação de um CAE com o MOT chegam a 40% da massa
inicial de um projeto tradicional obtido sem a utilização do
MOT. Isso demonstra a potencialidade de ferramentas de
otimização integradas ao CAE. Trata-se de uma área em
rápido crescimento na indústria no exterior sendo motivo de
várias pesquisas no meio acadêmico. Já existem CAEs dedi- Figura 21 - Determinação do caminho da ferramenta e simulação de
cados ao MOT disponíveis no mercado que permitem sinteti- usinagem bidimensional em operações de fresagem (Cortesia da
CCS - SurfCAM).
zar uma peça de forma a obter o seu modelo de CAD final.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 45


SOFTWARE
CAM

CAM (“Computer Aided Manufacturing”) é defini-


do como o uso do computador no planejamento,
gerenciamento e controle da manufatura.
Para o planejamento, gerenciamento da manufa-
tura o computador é usado “off-line” fornecendo in-
formações para o gerenciamento e planejamento
efetivo das atividades de produção. Entre as princi-
pais tarefas realizadas pelo CAM nessa área, te-
mos:
• Estimativa do custo total (material e produção)
de um novo produto a ser fabricado;
• Planejamento do processo, ou seja, planeja-
mento da seqüência de operações e quais as má-
quinas que deverão ser utilizadas para a fabrica-
Figura 22 - Determinação do caminho da ferramenta ção do produto e seus componentes;
em operações de fresagem tridimensional • No caso de processos que envolvam usinagem,
(Cortesia da CCS - SurfCAM). o CAM calcula os parâmetros ótimos de usinagem,
como rotação da ferramenta ou da castanha de um
torno, velocidade de avanço da ferramenta, número
de passes, etc… Os cálculos são baseados em da-
dos obtidos na fábrica ou em laboratório e essenci-
almente relacionam a vida da ferramenta com as
condições de usinagem. Além disso, o CAM é ca-
paz de simular a usinagem da peça na tela do com-
putador;
• Gerar um programa para ser fornecido ao com-
putador da máquina ferramenta de comando numé-
rico que usinará a peça;
• Estudo de tempos de produção envolvidos na
fabricação da peça;
Dentre as tarefas acima, a simulação de usinagem
é sem dúvida a mais complexa computacionalmente.
A idéia é que possuindo o modelo CAD da peça a
ser usinada o CAM irá calcular não somente os
Figura 23 - Simulação de usinagem de fresamento e torneamento parâmetros ótimos de usinagem (como já comenta-
simultâneos (Cortesia da CCS - SurfCAM). do anteriormente) da peça, mas também especifi-
car a trajetória da ferramenta durante a usinagem,
determinar se haverão colisões da ferramenta com
partes da máquina, etc… (ver figuras 19, 20, 21 e
22). Após definida a usinagem o CAM deve poder
simulá-la na tela (ver figuras 23, 24, 25 e 26), mos-
trar o acabamento final da peça (ver figura 27, 28 e
29), e gerar um programa a ser fornecido para o
computador de uma máquina ferramenta que fabri-
cará a peça. Para isso, o CAM possui um banco de
dados com informações sobre comandos de pro-
gramação de vários tipos diferentes de máquinas
ferramenta. O modelo da peça pode ser importado
de um CAD (assim como no caso do CAE) ou no caso
de uma peça simples, pode ser construída no CAD
simplificado do próprio software CAM. O CAM não
permite apenas simular operações de usinagem (tor-
nos e fresas em geral, incluindo todas as opera-
Figura 24 - Determinação do caminho da ferrramenta e simulação de ções), mas também, operações de cor te à laser,
usinagem tridimensional para fresadoras de três eixos (Cortesia da corte à jato d’água, cor te à plasma, eletroerosão à
CCS - SurfCAM).
fio, etc.

46 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE

Figura 25 - Determinação do caminho da ferrramenta e simulação de Figura 28 - Visualização do acabamento final da peça após a
usinagem tridimensional para fresadoras (Cortesia da CCS - operação de fresagem (Cortesia da CCS - SurfCAM).
SurfCAM).

Figura 29 - Visualização do acabamento final de uma peça usinada


Figura 26 - Determinação do caminho da ferrramenta e simulação de (Cortesia da Ascongraph - MasterCAM).
usinagem tridimensional para fresadoras (Cortesia da CCS -
SurfCAM).
Com relação às tarefas de controle da produção, o
CAM se destina a controlar o processo, a qualidade, o
chão de fábrica e monitorar os processos, além de
gerar relatórios sobre a situação da produção para a
gerência.
Assim, CAD, CAE e CAM representam as ferra-
mentas da engenharia moderna que permitem reduzir
o custo e tempo para o desenvolvimento e fabricação
de um produto. l

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Mikell P. Groover, “Automation, Production Systems


and Computer Integrated Manufacturing”, Englewood Cliffs :
Prentice-Hall, 1987.
2. Ibrahim Zeid , “CAD/CAM Theory and Practice”, New
York , McGraw-Hill, 1991.
3. Kunwoo Lee, “Principles of CAD/CAM/CAE
Figura 27 - Simulação de usinagem e visualização de acabamento Systems”, Addison Wesley Longman Inc., California,
em operações de fresagem (Cortesia da CCS - SurfCAM).
1999.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 47


ELETRÔNICA

SMA - MÚSCULOS
ELETRÔNICOS
Newton C. Braga

Sem a ação dos pulsos de coman-


do dos neurônios, as células em for-
Se consultarmos qualquer projetista da área de mecatrônica que ma de fuso do tecido muscular se
trabalhe com robôs ou automatismos que devam realizar movimen- mantém descontraídas e portanto te-
mos o maior comprimento do conjun-
tos, a solução natural abordada para a efetivação desses movi-
to: o músculo está descontraído.
mentos está no uso de motores, solenóides, servos e eventual- Com a aplicação de pulsos elétri-
mente dispositivos pneumáticos ou hidráulicos. Para a solução elé- cos pelas células nervosas, as célu-
las musculares se contraem, mudan-
trica os motores comuns e motores de passo são os mais usados.
do de forma e fazendo com que o
Somente em alguns casos mais raros é que podemos pensar em músculo possa fazer um esforço físi-
solenóides e outras soluções que também envolvem dispositivos co, conforme mostra a figura 3.
totalmente eletro-mecânicos. No entanto, já existe um equivalente Seria possível obter algum tipo de
material que tivesse o mesmo com-
para os “músculos” que podem ser usados em robôs e portamento: um material que mude de
automatismos para efetivação de movimentos. A SMA ou Shape forma com a ação de uma corrente
Memory Alloy ou Liga com Memória de Forma é a grande saída elétrica ou de pulsos elétricos?
Um material desse tipo poderia ser
para eliminar os motores dos robôs e automatismos e dotá-los de
usado como um músculo “eletrônico”
movimentos com um princípio de funcionamento muito mais próxi- num robô ou num mecanismo com
mo dos organismos vivos e até mais eficiente quando se analisa a uma simplicidade muito maior do que
a exigida por um motor, conforme
relação espaço ocupado/força. As aplicações para as SMA não só
mostra a figura 4.
na robótica e mecatrônica como também em automação e disposi- Se os leitores pensam que este
tivos de uso cotidiano são fantásticas e elas consistem no assunto material ainda está por ser descober-
deste artigo. to, estão enganados. Este material já
existe e robôs, automatismos ou dis-

Se precisamos movimentar o bra- brificação, a velocidade limitada de


ço de um robô ou ainda um acionamento e resposta lenta são al-
automatismo, a solução mais simples guns dos problemas que devem ser
está no uso de um motor acoplado a considerados. Ora, se a idéia é imitar
uma rosca “sem fim” conforme mostra a ação de um músculo, por que não
a figura 2 ou outra forma de dispositi- partir para algo que tenha o mesmo
vo de acoplamento mecânico. princípio de funcionamento?
Esse simples dispositivo faz as ve- Um músculo nada mais é do que
zes de um músculo, capaz de movi- uma massa de células que mudam de
mentar para frente e para trás um bra- forma com a ação dos impulsos elé-
ço, mas com algumas limitações. O tricos enviados pelo sistema nervoso, Figura 1 - As células musculares.
ruído do motor, a necessidade de lu- conforme mostra a figura 1.

48 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ELETRÔNICA

positivos mecatrônicos com “múscu-


los eletrônicos” não só já estão em fun-
cionamento e à venda em forma de
kits como até podem ser construídos
pelo próprio leitor.

SMA

Shape Memory Alloys ou Ligas


com Memória de Forma é o nome
dado para os fantásticos materiais que
podem ser usados como “músculos”
em diversos tipos de equipamentos,
acionados diretamente por correntes
elétricas.
Basicamente, as SMAs consistem
em Ligas ou Misturas de determina-
Figura 2 - Usando um motor como "músculo" para movimentar um braço de robô. dos metais que têm a interessante pro-
priedade de mudar de forma com a
passagem de uma corrente e com isso
exercer um esforço mecânico consi-
derável para o acionamento dos mais
diversos dispositivos.
Se fabricadas na forma de fios,
estes fios podem ser usados como
verdadeiras “fibras musculares” de
metal e combinados de modo a fazer
acionamentos de dispositivos de diver-
sas maneiras.

O QUE É SMA

Quando aquecemos um material,


este se dilata pelo calor. O que ocorre
neste caso é um fenômeno de aumen-
to e diminuição das dimensões de um
material denominado dilatação térmica.
Figura 3 - A contração das células permite a realização de um esforço físico. No entanto, existem certas ligas
(misturas de metais) que manifestam
uma propriedade diferente denomina-
da “memória de forma”.
Estas ligas possuem uma estrutu-
ra cristalina bem definida que muda
em uma determinada temperatura de
transição com muita facilidade.
Quando estas ligas estão próximas
da temperatura de transição, elas po-
dem ser facilmente deformadas, ou
seja, se tornam “moles” e podem ser
esticadas sem qualquer esforço. No
entanto, quando elas são aquecidas
pela passagem de uma corrente elé-
trica até a temperatura de transição, a
sua estrutura cristalina “lembra-se” da
forma original e se contrai até ela. Ao
esfriar quando a corrente é desligada
Figura 4 - Músculos eletrônicos.
ela “amolece” novamente e pode esti-
car até a forma anterior.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 49


ELETRÔNICA

Outro problema a ser considerado


é a velocidade de reação do fio, pois
o aquecimento e o esfriamento repre-
sentam uma certa inércia. Para os fios
finos podem ser obtidas velocidades
de reação que se aproximam de 1 ci-
clo por segundo, o que é bastante bom
para um dispositivo mecânico simples,
como por exemplo, um braço mecâni-
co ou mesmo um modelo de inseto
voador.
A utilização de ligas com maiores
temperatura de transição possibilita o
aumento da velocidade de resposta (o
esfriamento depende da diferença
entre a temperatura da liga e o meio
ambiente).

AS LIGAS E SUA HISTÓRIA


Figura 5 - Usando a SMA para controlar o leme de um barco.
O conhecimento do efeito de me-
mória de certas ligas não é recente.
A curva característica destas ligas As ligas mais comuns possuem Já em 1932 o pesquisador sueco Arne
apresenta uma histerese acentuada uma temperatura de transição sufici- Olander sugeriu a existência da con-
que é mostrada na figura 6. entemente baixa para permitir aplica- tração de certas ligas, como a de ouro
Em outras palavras, um fio fabri- ções práticas simples. Temperaturas com cádmio. A transição de seu modo
cado com uma liga deste tipo é flexí- em torno de 70 graus são comuns. de cristalização poderia ser usada para
vel o bastante para ser esticado com Evidentemente, um fio feito com se converter calor em movimento.
facilidade na temperatura ambiente. esta liga pode se fundir com uma cor- Foi em 1950 que pesquisadores da
Quando passamos uma corrente elé- rente excessiva, o que exige que o cir- Universidade Columbia em Nova
trica por este fio e ele se aquece até a cuitos de acionamento seja preciso, Iorque explicaram as mudanças de
temperatura de transição ocorre uma produzindo corrente suficiente para estrutura que ocorriam nestas ligas,
contração até o tamanho original que atingir a temperatura de transição mas usando para isso a difração por meio
permite a realização de esforço me- não o suficiente para fundir. de raios X.
cânico. Uma maneira de se obter uma cor- A partir de então os pesquisado-
Para uma liga típica SMA a con- rente de acionamento controlada é res passaram a procurar novas ligas
tração neste processo pode chegar de através de uma fonte de corrente cons- que apresentassem as mesmas pro-
8% a 12% do comprimento total, o que tante como a mostrada na figura 7. priedades.
é o bastante para se obter um bom
acionamento.

Figura 6 - A característica de histerese das


SMAs. Figura 7 - Uma fonte de corrente constante alimentando uma SMA.

50 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


ELETRÔNICA

Os problemas iniciais ocorriam siderada tão grande que nas décadas limitação do projeto era que ele só
porque as ligas consideradas “boas” seguintes os Estados Unidos fabricou batia 12 vezes por minuto, bem me-
utilizavam metais caros ou então pe- uma grande quantidade deste materi- nos do que os 80 a 90 batimentos
rigosos. A própria liga de ouro com al, armazenando-o como “estoque es- de um coração real.
cádmio não é das mais recomendá- tratégico”, para o caso de uma guerra A NASA, por exemplo, trabalhou
veis para o uso por amadores ou em no futuro! num sistema para abrir e fechar ante-
aplicações expostas porque o cádmio A partir do Nitinol diversas outras nas de um satélite usando SMAs.
é muito tóxico. ligas foram criadas encontrando apli- Atualmente existem diversos fa-
Em 1963 o US Naval Ordenance cações numa grande variedade de dis- bricantes de SMAs e até a disponi-
Laboratory desenvolveu uma liga com positivos. bilidade de Kits para a montagem de
propriedades extremamente interes- automatismos ou mecanismos de
santes: além de ser uma SMA ela uti- APLICAÇÕES controle.
lizava metais não tóxicos e de baixo Nos Estados Unidos a empresa da
custo: esta liga de Titânio com Níquel Com a utilização de metais baratos as Califórnia, Raychem Co. produz a
que passou a ser denominada SMAs passaram a ser usadas em pro- SMA denominada Batalloy que é for-
NITINOL (Ni de níquel, Ti de titânio e jetos interessantes, alguns dos quais mada por cobre e zinco e a SMA Tinel
NOL de Naval Ordenance Laboratory) ficaram apenas nos laboratórios. que é formada de níquel e titânio e
se tornou bastante popular com uso Assim, em 1971 dois pesquisa- que se sobressai por ser a única com
inicialmente em diversos dispositivos dores de Nova Iorque, P.N. Player e uma temperatura de transição inferior
militares e depois colocada a disposi- M. Page, desenvolveram um coração a 0 grau centígrado.
ção do projetistas de robótica e artificial ativado por um fio de 500 Um dos fornecedores mais conhe-
mecatrônica. Sua importância foi con- mm de Nitinol. Entretanto, a maior cidos das SMAs nos Estados Unidos é
a Mondotronics (http://www.robotstore.
com). Esta empresa vende kits com pe-
daços de fios de nitinol e manuais de
uso. Nas tabelas abaixo damos as ca-
racterísticas de fios de Flexinol que são
vendidos pela Robot Store:

COMO USAR

A força de contração ao aquecer


uma SMA na forma de fio depende de
seu diâmetro enquanto que o compri-
mento distendido depende do compri-
mento total do fio e de suas caracte-
rísticas. O diâmetro e o comprimento,
além da composição do material de-
terminam as características elétricas
da SMA.
Assim, num projeto que utilize um
ou mais fios, estes três fatores devem
ser levados em conta.
Na figura 8 temos um exemplo de
aplicação para um braço mecânico
usando uma SMA.
Observe então que temos uma ala-
vanca interpotente e que portanto a
força F1 efetivamente obtida na extre-
midade do braço é menor que a força
F2 aplicada pela SMA. Assim, como
em toda alavanca deste tipo, o que
ganhamos em deslocamento, perde-
mos em força.
Para uma alavanca inter-resisten-
te como a mostrada na figura 9 o que
Tabela 1 - Características de fios de Flexinol.
que ganhamos em força perdemos em
deslocamento.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 51


ELETRÔNICA

APLICAÇÕES INTERESSANTES

Uma aplicação bastante interes-


sante desenvolvida pela MacDonald
Douglas a partir de experiências rea-
lizadas no Lawrence Berkeley
Laboratories na Califórnia foi a polia
diferencial. Trata-se de um pequeno
motor que converte calor em energia
mecânica por meio de uma bobina de
Nitinol.
Aplicando-se dois fluxos de água,
um aquecido e outro frio, ao pequeno
dispositivo, ele produzia força mecâ-
nica equivalente a 1W girando em alta
velocidade.
Para os leitores interessados, prin-
cipalmente os do campo da Meca-
trônica, a utilização das SMAs abre um
leque de aplicações enorme. Figura 8 - Movimentando uma pinça num braço de robô com SMA.
Dos músculos capazes de movi-
mentar braços, ou outras partes de um
dispositivo mecatrônico, podemos par-
tir para automatismos os mais diver-
sos acionados diretamente por corren-
tes elétricas.
Acoplados a sensores de posição
num circuito como o mostrado na fi-
gura 10 podemos movimentar qual-
quer coisa com SMAs.
Se a força conseguida de um fio
não for suficiente para a aplicação
desejada podemos formar fibras que
resultarão em potentes músculos.
Para que se tenha uma idéia, uma
fibra formada por 100 fios de 250 mm Figura 9 - Aumentando a força em "A" com uma alavanca inter-resistente.
de Nitinol pode realizar uma força de
911,4 N ou equivalente ao levanta-
mento de 93 kg com a ativação por
uma potência de apenas 200 watts.

CONCLUSÃO

Não existem limites para o que


se pode criar com as SMAs. Apesar
de terem como limitação a fadiga
que pode fazer com que depois de
muitas contrações e descontrações
elas percam as suas propriedades,
isso não ocorre antes de muito tem-
po de uso.
Além disso, elas são uma das for-
mas de se obter força mecânica sem
a necessidade de dispositivos com-
plexos e volumosos e com uma ca-
racterística que os motores elétricos
ainda não alcançaram: são total- Figura 10 - Um controle inteligente de SMA.
mente silenciosas. l

52 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


MECÂNICA

DIFICULDADES
MECÂNICAS
Clovis Magoga
Authomatika - Robótica Educacional

podemos citar os da linha Intel


8031/32/51/52, a linha da Atmel
Dificuldades mecânicas são, sem dúvida, um dos maiores pro- 89Sxx, a série PIC da Microchip, a
blemas de todos aqueles que tentam ou já tentaram desenvolver linha 68xx da Motorola, COP8 da
National entre vários outros fabri-
qualquer tipo de robô, independente se ele é um modelo fixo ou
cantes. Independente do microcon-
móvel. Neste artigo iremos enumerar as dificuldades encontra- trolador utilizado, os mesmos po-
das em um projeto de Mecatrônica e propor algumas sugestões dem, na maioria das vezes, ser pro-
para sanar estes problemas. Além das dificuldades mecânicas, gramados em C, Assembler e, em
alguns casos, em Basic interpreta-
que apresenta maior nível de dificuldade, será discutido breve- do. Como exemplos podemos citar
mente o projeto do circuito eletrônico e também o desenvolvimento alguns modelos de centrais telefô-
do software de controle. nicas, celulares, circuitos de igni-
ção de automóveis, vídeos k7, alar-
mes, etc. Os quais são equipados
com circuitos microcontrolados. Um
PROJETO DO CIRCUITO do circuito “cérebro” do projeto que exemplo de microcontrolador é
ELETRÔNICO pode ser obtido através de micro- mostrado na figura 1.
controladores, microprocessadores,
Nesta fase, algumas dificuldades computadores entre vários outros Microprocessadores: Utilizados
a serem transpostas são: que veremos em artigos posteriores. em sistemas mais avançados, os
Microprocessadores são amplamen-
Definir a função do circuito: Microcontroladores: Sua utiliza- te utilizados em equipamentos dedi-
Neste ponto do projeto devemos ter ção engloba Hardware, Software, Ele- cados, tais como: equipamentos hos-
em mente o que vamos controlar, trônica e Programação. A variedade pitalares, equipamentos CNC, impres-
e qual serão os atuadores (moto- de microcontroladores no mercado é soras matriciais, laser e jato de tinta.
res elétricos AC, DC, motores de muito grande, entre os mais comuns Vamos citar algumas linhas de
passo, servo mecanismo ou hidráu- microprocessadores como os da
licos). Uma vez escolhido qual será Zilog tendo como o mais famoso o
utilizado, já estaremos definindo Z80, Intel como precursor foi o
como deverá ser o circuito de con- 8080, e o 8088 o qual equipava o
trole (potência), e não devemos PC XT, Motorola linha 68000, entre
deixar de pensar no controlador a vários outros.
ser empregado.
Microcomputadores: Do meu
Definir o circuito de controle: ponto de vista, os mais fáceis de se
Para efetuarmos o controle de um lidar. Dependendo da função e da
determinado dispositivo, seja ele um aplicação, o custo é baixo, o desen-
motor AC/DC, servos, motores de volvimento é rápido e o custo-bene-
passo, além do circuito de potência Figura 1 - Exemplos de microcontroladores.
fício é excelente. Executa tudo o que
deveremos também, não esquecer os outros já citados fazem, porém

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 53


MECÂNICA

como o MultiSIM da Electronic Work- boa), estas podem e fazem o contro-


bench, que é sensacional, já me aju- le de qualquer tipo de interface de I/
dou a solucionar vários problemas, O independente do fato de utilizar-
inclusive a desenvolver circuitos de mos a porta serial, paralela, USB, e
decodificação para controle de mo- o circuito externo pode conter direta-
tores de passo. mente um circuito de potência.
Após um teste virtual, a monta-
gem do circuito eletrônico, fisicamen- MECÂNICA
te, fica mais fácil. A depuração de
possíveis falhas é mais simples. Como citado inicialmente, este é
Figura 2 - Exemplo de computador.
Depois de ultrapassarmos todas o maior empecilho que iremos encon-
as dificuldades acima, basta finali- trar e não tenho receio em afirmar que
são maiores, pouco compactos, con- zarmos o circuito através do desen- é o maior desestimulador de proje-
somem mais energia. Em alguns ca- volvimento de uma placa de circuito tos. Por conta disso, é o principal
sos são mais suscetíveis à falhas, impresso, seguindo à risca todas as assunto desta matéria. Para lidar com
mas no caso de aplicações em regras para efetuar o projeto das pla- estas grandes dificuldades, devemos
Robótica para desenvolvimento e pes- cas de circuito impresso, e o aloja- ter uma boa dose de criatividade, pois
quisa reduzimos drasticamente o mento do circuito. os materiais não são fáceis de se-
custo do projeto. Um exemplo de com- Uma das dificuldades de maior rem obtidos e, quando obtidos, são
putador é mostrado na figura 2. peso que nós, projetistas e aficiona- de difícil manuseio.
dos por Eletrônica temos é a obten- O manuseio é difícil devido à ne-
Componentes eletrônicos: É ção de componentes. cessidade de um maquinário especi-
preciso definir quais iremos utilizar, Este assunto merece um artigo fico, como tornos, fresadoras, fura-
disponibilidade dos mesmos, facili- completo, pois o desinteresse dos deiras de bancada etc. (figuras 4, 5 e
dades em obtermos documentação fabricantes e distribuidores (principal- 6). Para agravar, a grande maioria dos
técnica, custo do componente, dis- mente no Brasil) para vender com- projetistas não possui este arsenal
ponibilidade de fornecimento, etc. ponentes em pequenas quantidades de máquinas à disposição, o que fa-
Alguns exemplos de componentes ele- é muito grande. O que, na verdade, talmente estimula a busca de peças
trônicos são mostrados na figura 3. os “grandes” desta área querem é prontas, reaproveitadas de algum
vender em grande quantidade. Sen- velho equipamento na sucata, e aca-
Teste do circuito: É imprescin- do assim, projetistas, técnicos e afi- bando por criar não o que pensáva-
dível o teste para termos um circuito cionados são limitados a ficarem na mos, mas sim no que conseguimos
de alta confiabilidade, funcional e que teoria, ou então têm de pagar o que fazer com o que tínhamos à nossa
nos dê segurança em seu uso. Cui- os fornecedores querem. disposição. Como o que havia à nos-
dados com a estabilidade do circuito
devem ser tomados visando uma SOFTWARE DE CONTROLE
taxa de 0% de erros no projeto, pois
uma falha de funcionamento pode Este nível de dificuldade, no meu
causar danos mecânicos, e até hu- ponto de vista, é um dos mais fáceis
manos dependendo do que estamos de serem ultrapassados, pois a lite-
controlando! ratura é vasta e fácil de ser obtida,
Em meus protótipos, procuro uti- sendo muitas vezes encontrada em
lizar circuitos emuladores virtuais sites na Internet. Na maioria dos ca-
sos em que se refere a microcon-
troladores, o software é gratuito, pois
existe interesse do fabricante em di- Figura 4 - Fresadora.
vulgar o seu produto. Como exemplo,
podemos citar a facilidade em obter
documentação sobre os microcon-
troladores 8031/32/51 da Intel, PIC
série 16x da Microchip, 68HC da
Motorola, Basic Stamp da Paralax,
Cop da National.
No que diz respeito às linguagens
de programação para computado-
res pessoais, tais como: o Visual
Figura 3 - Exemplos de componentes Basic, Basic, Linguagem C, Pascal,
eletrônicos. Figura 5 - Furadeira de bancada.
Assembler, Forth (antiga, mas muito

54 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


MECÂNICA

furadeira de bancada, brocas de boa


qualidade, serras circulares e fluidos
de corte. Dependo externamente de
uma máquina de cor te e de uma
dobradeira, porém, qualquer oficina
de seralheria tem este maquinário, e
encomendar o serviço não é difícil e
o custo é baixo.

Chapas de Alumínio: A figura 7


mostra alguns exemplos de chapas
de alumínio. Seu custo é razoável,
existe uma gama de espessura bem
variada e são de fácil manuseio. O
protótipo fica com um excelente aca-
bamento, porém não é tão fácil de
soldar quanto o ferro. É leve, de fácil
furação, mas sua dobragem não é
aconselhável (dependendo da es-
pessura pode quebrar facilmente).
Tais problemas são solucionados
através da utilização de parafusos
e rebites em substituição à sol-
dagem ou à necessidade de efetuar
dobras.
Utilizo este material na confecção
Figura 6 - Torno mecânico.
de módulos de braços mecânicos,
caixas de redução e componentes
sa disposição não era exatamente o dendo da espessura, o nível de difi- mecânicos.
que necessitávamos, a probabilida- culdade de manuseio aumenta, pois O manuseio é fácil e as ferramen-
de da frustração do projeto é enor- quanto mais grossa for, mais equi- tas necessárias são simples, tais
me, e o abandono da idéia, geralmen- pamentos apropriados serão neces- como: uma tesoura de corte, uma
te, é inevitável. sários, tais como: dobradeiras, má- furadeira de bancada, brocas de boa
Para solucionar tais problemas é quinas de solda, furadeiras de ban- qualidade, serra de ferro, uma
necessária uma grande dose de per- cada, cortadeira, etc. Não é nada fá- rebitadora manual.
sistência e teimosia, facilmente obti- cil cortar uma chapa de ferro de
da por indivíduos que realmente “amam” 2,5cm ou mesmo dobrá-las sem as Tubos de Alumínio: Encontra-
o que fazem ou o que está fazendo. Caso máquinas certas. dos, geralmente, em barras de 4 ou
você tenha estas características fica Utilizo muito este material, prin- 6 metros nas mais variadas formas,
fácil transpor estas dificuldades. cipalmente, para bases de robôs mó- espessuras e dimensões, de fácil
Vamos falar de alguns materiais veis ou fixos devido a sua resistên- corte, de fácil furação é ideal para
para serem utilizados na construção cia, e durabilidade. construção de braços mecânicos, e
de robôs móveis e fixos ou dispositi- Para superar as dificuldades do
vos mecânicos a serem controlados manuseio deste material utilizo uma
eletronicamente, além de mencionar
as dificuldades em seu manuseio e
uma opinião muito pessoal, da mi-
nha experiência, onde eu uso os re-
feridos materiais.

MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO


DE MECANISMOS ROBÓTICOS

Chapas de ferro: Não é um ma-


terial difícil de encontrar, seu custo é
baixo, e são produzidas em várias es-
pessuras. São soldáveis através de Figura 7 - Exemplos de chapas de alumínio. Figura 8 - Chapas de acrílico.
solda elétrica ou MIG. Porém, depen-

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 55


MECÂNICA

estruturas variadas. É possível en- Bronze: Não é barato, mas não


contrar este material com facilidade conheço metal acessível de tamanha
nos comércios especializados na fa- resistência, para confecção de bu-
bricação de BOXES de banheiro. chas para suportar eixos de ferro ou
qualquer outro material ferroso. O
Chapas de Acrílico: Podem ser bronze é facilmente trabalhável, des-
encontradas em diversas cores, dan- de que, com um maquinário especí-
do um acabamento sensacional nos fico, como, por exemplo, um torno
projetos. Uma grande vantagem deste para produzirmos buchas, suportes
material é o fato dele ser facilmente e mancais . Podemos facilmente cor-
colável. Como desvantagens pode- tar e furar o bronze, mas qualquer
Figura 9 - Engrenagens.
mos citar: quebra facilmente, não outra necessidade recai na utilização
agüenta torções, ao efetuar o corte de uma fresadora ou torno.
são necessário cuidados, para não tar em alguns casos. Geralmente são
lascar. Podem ser utilizadas, em Nylon: Este material é de fácil os meus projetos que se adaptam as
substituição ao alumínio, em quase obtenção, possui um custo inferior ao correias. Tais correias são ideais para
todas as aplicações. Não é neces- bronze, e pode substitui-lo. Gosto do efetuar a tração de mecanismos robo-
sário nada mais do que uma boa ser- acabamento, mas a dificuldade de tizados. Sua aplicação dá firmeza nos
ra, uma furadeira e cola tipo manuseio é grande, no sentido de ne- movimentos evitando o efeito de “pa-
“bonder”, e nada de ferramentas ca- cessitarmos de um torno. tinar”, que tira a precisão nos movi-
ras (figura 8). Podemos comprá-lo em formas mentos. Costumo utilizar correias já pron-
Não utilizei ainda em nenhum robô de “tarugos” de várias espessuras, tas, obtidas em casas especializadas
prático, porém meu objetivo é a cons- com comprimento variável. na venda de peças para impressoras.
trução de um braço mecânico total-
mente com acrílico branco (cristal Madeira: Por incrível que pareça Correia Lisa: Idem as caracterís-
transparente). Você pode obter este já vi robôs feitos de madeira. É barato ticas das correias dentadas, porém
material em empresas especializadas e fácil de obter. É parafusável, colável, o efeito de patinar é sua principal
na fabricação de brindes, pois este resistente, mas sinceramente, acho desvantagem. Sendo assim, não uti-
material é utilizado para fazer cha- que não combina com robótica. Já uti- lizo este material.
veiros, placas de letreiros, etc. lizei, mas abandonei este material.
Engrenagens de Metal: Não é
Eixos de Metal (ferro): Também Parafusos, porcas, arruelas: Não fácil obtê-las nos tamanhos que, tal-
são fáceis de serem trabalhados. representa dificuldades na obtenção, vez, gostaríamos. Entretanto, pode-
Para cortá-los, por exemplo, é ne- pois qualquer casa de ferragens você mos consegui-las já prontas com pre-
cessário apenas uma serra de fer- obtém os mais variados tipos, tama- ços que variam bastante. É impres-
ro e pronto. Para a produção de uma nhos e espessuras. cindível o seu uso em robôs, pois dá
rosca, basta obter um conjunto de precisão, força e durabilidade. Você
machos, para produzi-las nos mais Correias dentadas: Geralmente pode obter engrenagens de metal em
variados tipos (grossa ou fina). Para são encontradas em tamanhos es- casas especializadas ou em lojas
efetuar uma rosca é aconselhá- pecíficos e os valores podem assus- que vendem peças para impressoras.
vel um bom fluido de cor te para
facilitar.
Utilizo com freqüência este tipo
de material como eixos de sustenta-
ção. Podem ser encontrados, com fa-
cilidade, em casas especializadas na
venda de materiais ferrosos, onde é
possível comprá-los de acordo com
a sua necessidade, efetuar o corte
no tamanho ideal e, após obtermos
os resultados mecânicos que neces-
sitávamos, efetuar um processo de
zincagem, o que vai dar um acaba-
mento sensacional ao eixo semelhan-
te ao encontrado nas impressoras.
Entretanto, eu prefiro obter este ma-
terial em impressoras obsoletas ou
Figura 10 - Motores elétricos.
sucateadas.

56 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


MECÂNICA

Podem ser mecânicos, como cha-


ves, ou acionados magneticamente,
como os redswits. Tanto os sensores
ópticos como os mecânicos não são
difíceis de serem encontrados em
casas especializadas. Além disso
seu custo é baixo.
Em resumo, é necessário uma
boa doze de persistência. Provavel-
mente, as dificuldades encontradas
por qualquer um de nós, são se-
melhantes às de muitos dos que
estão lendo este texto e que se
identificarão com os problemas e
soluções aqui descritos. Não exis-
te segredo. O que existe, na reali-
dade, é a utilização de recursos
Figura 11 - Motores de passo.
mecânicos, que muitos de nós não
possuímos. Alguns têm facilidade
Engrenagens plásticas: A difi- são de movimentos é superior aos com a Mecânica, outros com a Ele-
culdade de obtenção deste tipo de motores DC, com tensão de alimen- trônica e, obviamente, outros com
engrenagem é semelhante à anterior. tação variável de 6 até 48 V. Existem software.
Entretanto, a variedade de tamanhos modelos com tensão de alimentação A intenção da revista é “desbra-
é bem maior. Dão precisão e força, superior à mencionada porém, moto- var” o assunto tanto quanto possí-
porém a durabilidade pode variar de res de passo alimentados com ten- vel. Podemos desenvolver excelen-
acordo com o projeto, já que um ex- são superior a 48 V complicam bas- tes projetos, utilizando materiais
cesso de força facilmente danifica tante para projetistas de pouco recur- baratos e de fácil obtenção. Em
seus dentes (figura 9). so (figura11). meus projetos sempre utilizei ma-
A maior fonte para a obtenção de teriais reaproveitados de impresso-
Motores Elétricos: A gama de tais motores são as impressoras fora ras (é uma excelente fonte de ma-
tamanho e capacidade é muito gran- de funcionamento. terial) e substitui os servos de RC,
de, sendo que podemos encontrar que são “salgados” no seu valor, por
modelos AC ou DC, com ou sem Servos Mecanismos: Os servos servos de antena parabólica. Os
caixa de redução, de 3V ate 48V DC mecanismos são, sem dúvida, os motores com redução podem ser
e de 80 V até 220 V AC. atuadores mecânicos mais eficazes obtidos em sucatas e em lojas
Os motores de alimentação AC são para aplicações em Robótica. Reque- especializadas. Se o Basic Stamp
mais difíceis de serem controlados, rem circuitos de controle relativamen- é caro, então utilize um microco-
já os motores DC são bem mais fá- te simples, porém seu custo é alto. mputador XT, AT286/386, que é
ceis de serem controlados. (figura10). Os servos utilizados em aeromo- barato, fácil de obter e se cometer-
A obtenção deles é relativamen- delismo são os ideais. Para reduzir- mos algum erro, o investimento é
te fácil, os custos são variados e as mos o custo do projeto podemos uti- pequeno. Grandes idéias geralmente
aplicações são muitas. Utilizo ampla- lizar os servos de antenas parabóli- são simples. O importante é você
mente em meus protótipos, motores cas, com resultados semelhantes. nunca desistir, pois nós temos in-
DC de 12/24 V, com caixa de redu- Os servos, normalmente, são fa- teligência suficiente para desenvol-
ção, controlado por circuitos eletrô- bricados para dar um giro de 180 ver grandes projetos. l
nicos em ponte H, transistorizados graus, mas com algumas altera-
ou através de CIs. ções eles podemgirar continuamen-
Para obter tais motores você pode te (figura 12).
recorrer à impressoras jato de tinta,
pois os motores utilizados por elas Sensores Ópticos: A sua utiliza-
são excelentes. Os motores que equi- ção no sensoriamento de posição e
pam limpadores de pára-brisa de au- na confecção de encoders é impres-
tomóveis também são uma boa es- cindível para o perfeito controle de me-
colha, quando necessitamos de canismos robóticos.
robustez.
Sensores Mecânicos: São utili-
Motores de Passo: A quantida- zados no sensoriamento de posição Figura 12 - Servo-motores.
de de modelos é bem vasta, a preci- e, principalmente, em final de curso.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 57


SOFTWARE

INTERFACEAMENTO UTILIZANDO
INTERFACEAMENTO
A LINGUAGEM PASCAL
PASCAL
Celso Eduardo Vieira Oliveira
Centro Universitário Salesiano de São Paulo

A interface é um circuito responsável por conectar o computa-


dor ao ambiente externo. É ela quem interliga o computador a qual-
quer dispositivo (placa ou máquina), de tal forma que possamos
utilizar o computador para controlar ou interpretar dados do meio
exterior.
Por exemplo, se quisermos construir um braço mecânico con-
trolado por computador, necessitamos de uma linguagem de pro-
gramação (por exemplo Pascal), do hardware, da placa de interface
e então da parte mecânica desse braço. Todo comando dado pelo
computador será enviado para a interface, que irá adequar esse Figura 1 - Representação da interface.

sinal e acionar alguma parte desse braço.


construtivas diferentes, optaremos
pela utilização da Porta Paralela, que
Nor malmente construímos a das portas paralelas (conexão da impres- permite a construção de nossos obje-
interface e o dispositivo externo de sora) ou seriais (conexão do mouse). tivos por um caminho mais simples,
acordo com nossas necessidades. A interface ideal seria a soma das rápido e eficiente. A conexão por por-
Já a ligação entre o computador e vantagens das duas. Como isso não ta serial é recomendável apenas em
a interface, podemos realizar através existe pois ambas são de arquiteturas casos de longas distâncias PC à
Interface e em ambientes extrema-
mente ruidosos. A maioria das máqui-
nas que estão nessas condições, já
possuem a sua interface, seu proto-
colo e sua programação prontos e
comercializados juntos com a máqui-
na, pelos motivos expostos na tabela
acima. Atualmente, voltaram a ser
fabricadas algumas portas paralelas
bidirecionais (8 vias de entrada de
dados + 8 vias de saída de dados)
chamadas de SPP e EPP (utilizados
em alguns modelos de Scanner), o
que melhora, e em muito, o uso da
porta paralela.
Para a área de Mecatrônica é sem-
pre interessante podermos trabalhar
Tabela 1 - Vantagens e desvantagens das portas serial e paralela.
com tecnologias novas e que permi-
tam a criação ou aperfeiçoamento de

58 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE

Tabela 2 - Descrição das pinagens da porta paralela.

dispositivos elétricos ou eletro-mecâ- O conector utilizado é o padrão DB- CIRCUITOS PARA INTERFACE VIA
nicos. Em função disso que iniciaremos 25 ou DB-9, ambos tipo macho. A ta- PORTA PARALELA
nosso estudo em interfaceamento. bela 3 mostra a pinagem da porta
serial. Lembre-se que alguns PCs tem Circuito de teste
HARDWARE placa paralela bidirecional padrões
SPP ou EPP que podem facilitar al- Quando o circuito de teste (figura
Porta Paralela guns projetos!! Este artigo irá tratar 2) é acionado, cada pino de dado do
apenas da saída de dados do PC. computador (D0 a D7) fornece 5V, que
Descrição: A expressão paralela
significa que 8 bits (0 e 1) são envia-
dos simultaneamente. O conector é do
tipo fêmea padrão DB-25 e a numera-
ção vem escrita no conector.
A tabela 2 mostra a pinagem da
porta paralela.

Porta Serial

Descrição: Diferente da porta pa-


ralela, a serial envia 1 bit de cada vez
em uma velocidade programável. Isto
é particularmente útil na transmissão
através de um único cabo. A porta Tabela 3 - Descrição da pinagem da porta serial.
serial opera na padrão RS-232 C.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 59


SOFTWARE

cada bobina do relé, conforme


mostra a figura 4. O diodo utilizado
poderá ser 1N4001 ou equivalente.
Observe que a alimentação da car-
ga é independente, de tal forma que
poderá ser acionado qualquer tipo de
circuito ou componente alimentado
com qualquer valor de tensão alterna-
da ou contínua.

Lista de materiais:

8 resistores de 470 Ω até 1KΩ;


Figura 2 - Circuito de teste.
8 transistores de uso geral BC 548
ou equivalente;
irá acender o LED. Observe que cada o transistor ficará cortado, não deixan- 8 relés;
pino poderá comandar um LED inde- do passar corrente entre o Coletor e o 1 fonte de tensão contínua ou ba-
pendente de outro pino. O sinal no pino Emissor. Nesse caso, não circulará teria para alimentação dos relés.
é apenas 5V ou 0V (Sinal binário - bit). corrente pelo relé, que não comutará
seus contatos e portanto a carga (lâm- Projeto
Lista de materiais: pada, motor, qualquer outra placa ou
dispositivo) ficará desligada. O único componente que precisa-
8 resistores de 330 Ω; Quando o pino de dado do com- mos calcular é o relé. Os demais pos-
8 LEDs; putador fornecer 5V, haverá corrente suem uma função fixa, recebendo
1 conector DB-25 macho. de Base, que levará o transistor à sa- sempre o mesmo tipo de sinal. Para
turação. Quando o transistor está escolhermos o relé, seguiremos os
Da mesma forma que acendemos saturado, circulará uma corrente en- seguintes passos:
ou não um LED, poderemos coman- tre o Coletor e o Emissor, que irá 1. Escolha da Tensão Vcc que ali-
dar outras cargas, conforme o esque- energizar o relé. Quando o relé se mentará a bobina do relé : esta ten-
ma mostrado na figura 3. encontra energizado, seus contatos são não precisa ser igual à tensão apli-
comutam, acionando a carga. cada à carga e normalmente pode ser
Circuito de comutação de uma Quando retirarmos os 5V, voltamos 9V, 12V ou 24V, que são os valores
carga qualquer à condição inicial, e a carga será des- nos quais são comercializados os
ligada. relés.
Neste circuito (figura 3), cada transis- A fim de evitarmos a queima do 2. Em função do tipo da carga e do
tor é comandado por um dos pinos de transistor pelo efeito da Força Contra seu consumo calculamos a corrente
dados do PC (D0 a D7). Esses pinos irão Eletro-motriz, é recomendável a colo- que circulará pelo contato do relé.
fornecer 0V ou 5V. Quando fornecer 0V, cação de um diodo em paralelo com Lembrando que:

Figura 3 - Circuito de teste, com relés.

60 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001


SOFTWARE

utilizado individualmente ou se so- Programação


mando aos valores de outros pinos,
conforme tabela 4. O seguinte programa irá tratar in-
O valor 0 (zero) corresponde o to- dividualmente cada saída, podendo
dos os pinos com 0V. ligá-la ou desligá-la a qualquer instan-
O valor 255 corresponde a todos te através das teclas numéricas do
os pinos com 5V. teclado do PC. Esse programa pode
Podemos somar valores, como a ser utilizado para várias situações e
seguir: servir de base para a criação de pro-
PORT [$378] := 2+4; nesse caso gramas que melhor se adaptem à sua
estarão com 5V os pinos D1 e D2. necessidade:

Figura 4 - Circuito de teste, com diodo para


proteção. PROGRAM INTERFACE1; { nomeia o programa }
USES CRT, DOS; { permite a utilização dessas bibliotecas do }
{ Pascal }
I = P/V ou I = V/RL. { definição das variáveis }
O relé escolhido deverá ter uma VAR SAIDA, S1, S2, S3, S4, S5, S6, S7, S8 : INTEGER; {variáveis}
{ numéricas inteiras }
corrente de contato maior que a cor- OP : CHAR; { variável alfanumérica }
rente calculada da carga. H, M, S, CS : WORD; { variáveis numéricas inteiras }
O número de contatos do relé tam- { definição de pontos ou rótulos utilizados no programa }
bém deverão ser escolhidos em fun- LABEL INICIO, FIM, RESET;
ção da carga, sendo o relé normal-
BEGIN { início }
mente de 1 ou 2 contatos reversíveis RESET: { rótulo chamado RESET }
(NA + NF + C). PORT[$378]:=0; { desliga os oito pinos de dados da porta para }
{ lela }
SOFTWARE {pré definição de valores para início do programa }
COMANDO DO PASCAL SAIDA:=0;
S1:=0;
S2:=0;
Saída de Dados S3:=0;
S4:=0;
O comando é o PORT e o endere- S5:=0;
ço padrão da porta paralela é o $378. S6:=0;
S7:=0;
Exemplo : PORT [$378] := X;
S8:=0;
onde X é um valor decimal inteiro INICIO: { rótulo chamado INIÍCIO }
entre 0 e 255. PORT[$378]:=SAIDA; { transfere para os pinos de dados da porta}
No exemplo acima, o valor X será { paralela o valor contido na variável SAÍDA }
colocado nos pinos D0 a D7, sendo TEXTBACKGROUND (11); { ajusta cor de fundo da tela do PC }
TEXTCOLOR (1); { ajusta cor da letra da tela do PC }
antes convertido para binário pelo pró-
CLRSCR; { limpa a tela }
prio computador. Cada pino possui um
valor decimal próprio que poderá ser { Composição da tela do programa }
GOTOXY (20,2);WRITELN (‘1 -> CIRCUITO 1’);
GOTOXY (20,3);WRITELN (‘2 -> CIRCUITO 2’);
GOTOXY (20,4);WRITELN (‘3 -> CIRCUITO 3’);
GOTOXY (20,5);WRITELN (‘4 -> CIRCUITO 4’);
GOTOXY (20,6);WRITELN (‘5 -> CIRCUITO 5’);
GOTOXY (20,7);WRITELN (‘6 -> CIRCUITO 6’);
GOTOXY (20,8);WRITELN (‘7 -> CIRCUITO 7’);
GOTOXY (20,9);WRITELN (‘8 -> CIRCUITO 8’);
GOTOXY (20,10);WRITELN (‘9 -> RESET’);
GOTOXY (20,11);WRITELN (‘0 -> FIM’);
TEXTCOLOR (4);
GOTOXY (20,13);WRITELN (‘DIGITE SUA OPCAO : ‘);

GOTOXY (2,17);WRITELN (‘ESTADOS: S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8’);


GOTOXY (10,18);WRITELN (S1:5, S2:5, S3:5, S4:5, S5:5, S6:5,
S7:5, S8:5);
GOTOXY (60,17);WRITELN (‘PORTA PARALELA’);
GOTOXY (68,18);WRITELN (SAIDA);
Tabela 4 - Valores decimais correspondentes
a cada pino da porta paralela.

MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 61


SOFTWARE

{ Montagem do RELÓGIO } THEN BEGIN S7:=1;


REPEAT SAIDA := SAIDA+4; GOTO INICIO;
GETTIME (H,M,S,CS); S3:=1; END;
TEXTCOLOR (15); GOTO INICIO;
GOTOXY (60,23); WRITE END; IF (OP=’7') AND (S7=1)
(H:2); THEN BEGIN
IF M<10 IF (OP=’3') AND (S3=1) SAIDA := SAIDA-64;
THEN BEGIN THEN BEGIN S7:=0;
GOTOXY (62,23); WRITE SAIDA := SAIDA-4; GOTO INICIO;
(‘:0’,M:1); S3:=0; END;
END GOTO INICIO;
ELSE BEGIN END; { Liga/desliga PINO 9 - }
GOTOXY (62,23); WRITE { D7 }
(‘:’,M:2); { Liga/desliga PINO 5 - D3 } IF (OP=’8') AND (S8=0)
END; IF (OP=’4') AND (S4=0) THEN BEGIN
IF S<10 THEN BEGIN SAIDA := SAIDA+128;
THEN BEGIN SAIDA := SAIDA+8; S8:=1;
GOTOXY (65,23); WRITE S4:=1; GOTO INICIO;
(‘:0’,S:1); GOTO INICIO; END;
END END;
ELSE BEGIN
GOTOXY (65,23); WRITE IF (OP=’4') AND (S4=1) IF (OP=’8') AND (S8=1)
(‘:’,S:2); THEN BEGIN THEN BEGIN
END; SAIDA := SAIDA-8; SAIDA := SAIDA-128;
GOTOXY (68,23); WRITE S4:=0; S8:=0;
(‘:’,CS:2); GOTO INICIO; GOTO INICIO;
UNTIL KEYPRESSED; END; END;

GOTOXY (40,13);OP:= { Liga/desliga PINO 6 - } { Reseta o programa }


READKEY; { D4 } IF (OP=’9')
IF (OP=’5') AND (S5=0) THEN BEGIN
{ Liga/desliga PINO 2 - D0 } THEN BEGIN GOTO RESET;
IF (OP=’1') AND (S1=0) SAIDA := SAIDA+16; END;
THEN BEGIN S5:=1;
SAIDA := SAIDA+1; GOTO INICIO; { Finaliza o programa }
S1:=1; END; IF (OP=’0')
GOTO INICIO; THEN BEGIN
END; IF (OP=’5') AND (S5=1) GOTO FIM;
THEN BEGIN END;
IF (OP=’1') AND (S1=1) SAIDA := SAIDA-16;
THEN BEGIN S5:=0; IF (OP<>’0')
SAIDA := SAIDA-1; GOTO INICIO; THEN BEGIN
S1:=0; END; GOTO INICIO;
GOTO INICIO; END;
END; { Liga/desliga PINO 7 - }
{ D5 } FIM:END. { Fim do programa }
{ Liga/desliga PINO 3 - } IF (OP=’6') AND (S6=0)
{ D1 } THEN BEGIN
IF (OP=’2') AND (S2=0) SAIDA := SAIDA+32;
THEN BEGIN S6:=1;
SAIDA := SAIDA+2; GOTO INICIO; Observações Finais
S2:=1; END;
GOTO INICIO; Ao pressionarmos a tecla 1 do te-
END; IF (OP=’6') AND (S6=1) clado a saída D0 da porta paralela será
THEN BEGIN ligada. Ao teclarmos a tecla 1, nova-
IF (OP=’2') AND (S2=1) SAIDA := SAIDA-32;
THEN BEGIN S6:=0; mente, a saída D0 da porta paralela
SAIDA := SAIDA-2; GOTO INICIO; será desligada. E assim sucessiva-
S2:=0; END; mente, até a tecla 8 que comanda a
GOTO INICIO; saída D7. O software utilizado foi o
END; { Liga/desliga PINO 8 - } Borland Pascal 6.0. Esse programa fun-
{ D6 }
{ Liga/desliga PINO 4 -} IF (OP=’7') AND (S7=0) ciona em qualquer PC 286 ou superior,
{ D2 } THEN BEGIN com o Pascal 6.0 ou superior. O códi-
IF (OP=’3') AND (S3=0) SAIDA := SAIDA+64; go-fonte está disponível no endereço
http://www.mecatrônicaatual.com.br/
downloads. l

62 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001

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