Você está na página 1de 10

WILER GOMES FARIA SOMAVILA

BEM-AVENTURANÇAS; DONS E FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO; OBRAS DE


MISERICÓRDIA

BRASÍLIA-DF
2023
Introdução
A busca de uma vida virtuosa e a vivência dos dons do Espírito Santo só é possível
porque Cristo ensinou como viver uma vida virtuosa (cf. Mt 5, 1-12) e deixou o Espírito Santo
para que se pudesse viver de acordo com a vontade do Pai (Jo 14, 14-19). “O homem, que é
livre para amar, é livre para odiar. Aquele que é livre para obedecer, é livre para se rebelar. A
virtude nesta ordem concreta só é possível naquelas esferas onde é também possível existir o
vício.”1
O tema da moralidade cristã, tem um objetivo muito concreto, a prática do bem. Essa
prática do bem deve gerar frutos, para a pessoa que faz essa escolha e para aqueles que
dependem dela de certa maneira, como um pai que pratica o bem, o filho é afetado por essa
prática. E tudo isso deve concorrer para à santidade. Uma vida virtuosa sempre será boa, mas
só terá sua finalidade cumprida plenamente na vida eterna, ao alcançar a santidade.
“Qual foi o propósito de Deus ao criar este mundo? Deus pretendia construir
um universo moral. Ele desejou, desde toda a eternidade, construir um palco
no qual surgissem pessoas com caráter. Ele poderia ter feito um mundo no qual
cada um de nós teria nascido bom, do mesmo jeito que o Sol nasce no leste e
se põe no oeste.”2

Quando se diz que “Como pode Deus permitir o mal?” Se turva a certeza de que Deus
quer que sejamos santos. Se fossemos criados já na beatitude, seriámos apenas personagens,
criaturas que enchem um mundo sem propósito. Mas aos criar o homem livre, um homem
moral, podemos realmente buscar a beatitude, não seremos apenas marionetes. “Mas Ele
escolheu não criar um mundo em que seriámos automaticamente bons, como o fogo é quente e
o gelo é frio. Ele quis criar um universo moral em que, pelo uso correto do dom da liberdade,
pessoas com caráter pudessem se manifestar”3
Para que o homem chegue a uma vida virtuosa, e com a graça de Deus à santidade, ele
deve trilhar um caminho de conversão e formação. Este caminho não é um único e estreitíssimo
caminho, mas cheio de possibilidades e modos de ir progredindo na graça de Deus. Diferente
do caminho, a porta é única e estreita, quem nos mostra essa porta é Jesus Cristo, através da
Igreja a quem Ele confiou a segurança desta porta. E como corpo de Cristo, a Igreja mostra as
possibilidades e meios de se chegar a essa porta, a vida moral. Esta vida moral é composta dos
ensinamentos de Cristo e da vinda do Espírito Santo, por isso temos alguns temas caros desta

1
SHEEN, Fulton J. A vida vale a pena ser vivida. p. 39.
2
Ibid. p. 38.
3
Ibid. p. 38.
2
vida. As bem-aventuranças; os dons do Espírito Santo e os seus frutos e as obras de
misericórdia. Estes temas norteiam o caminho que leva à porta do Céu.
“Entre todos os bens do mundo presente que o gênero humano busca ou alcança, o melhor e o
único bem que permanece é servir a Deus. […] pois é somente ao que persevera que está
prometida a bem-aventurança”4 Este ensinamento mostra que há um único bem, o melhor deles,
que é o serviço a Deus, não se trata de uma escravidão, mas um reconhecimento de que Aquele
que nos criou, nos ama, nos quer bem e nos quer com Ele.
Irmãos, podemos compreender e declarar o que seja servir a Deus com breves,
doces e alegres palavras. Servir a Deus é amar a Deus. Quem não ama não
serve, e quem ama serve. Quem pouco ama, pouco serve; quem muito ama,
muito serve; e quem perfeitamente ama, perfeitamente serve.5

Desenvolvimento
Ao ensinar as bem-aventuranças, Cristo sempre ensina “feliz os que...”, de modo algum
ele ensina algo do tipo “sois obrigados a...”, não. Contradizendo qualquer lógica, em que se diz
como deve-se viver, Cristo diz que “assim sereis felizes!” e depois como sereis felizes, para que
adiram aos seus ensinamentos aqueles que O escutam e querem segui-lo realmente, porque este
é o caminho da felicidade, não a receita para uma vida meramente boa e confortável. “Um
homem só pode ser santo em uma igreja na qual seja possível ser como um demônio.”6 Isso é
possível pela liberdade que Deus concedeu aos homens, que desde Adão está inclinado ao
pecado, até que Cristo reconciliasse a humanidade com Deus e ensinasse aos homens a amarem
a Deus mais perfeitamente “Jesus fixou nele o olhar, amou-o e falou-lhe” (Mc 10,21a).
Dois montes estão relacionados ao primeiro e ao segundo ato num drama em
dois atos: o monte das bem-aventuranças e o monte do Calvário, Ele que subiu
o primeiro para pregar as bem-aventuranças devia, necessariamente, subir o
segundo para pôr em prática o que pregou. […] O Sermão da Montanha não
pode ser apartado de Sua crucificação, como o dia não pode ser separada da
noite. No dia em que Nosso Senhor ensinou as bem-aventuranças, assinou a
própria sentença de morte.7

Neste trecho de sua obra, Fulton Sheen relaciona os dois montes da vida de Cristo, onde
Ele prega e onde Ele cumpre sua pregação. Cristo perfeito modelo para a humanidade, ensina
que é necessário a pregação, como via de preparação, tendo em vistas o cumprimento da
vontade de Deus Pai de que Cristo subisse o monte do Calvário.
Nas beatitudes, Nosso Divino Senhor toma os oito inconsistentes termos do mundo –
“segurança”, “vingança”, “riso”, “popularidade”, “ficar quites”, “sexo”, “poder armado” e

4
São Vitor, Hugo de. Os mais belos sermões de Hugo de São Vitor. p. 70.
5
Ibid. p. 71.
6
SHEEN, Fulton J. A vida vale a pena ser vivida. p. 39.
7
SHEEN, Fulton J. A vida de Cristo v.1. p. 138.
3
“conforto” – e os vira de ponta-cabeça.8 Nosso Senhor quer mudar a lógica de pensar do mundo,
não é objetivo somente um mundo “melhor”, mas Nosso Senhor quer pessoas melhores, pessoas
virtuosas, santas. Quando Jesus diz que não veio trazer a paz, mas a espada (cf. Mt 10, 34) não
é a luta e guerra entre nações, mas luta e guerra contra a concupiscência humana, que impede
o homem de uma vivência cristã das virtudes. Uma mudança exige um esforço, de sair do
“comum” e busca o novo, sair de um vício e adquirir uma virtude. “Para aqueles que dizem
“Você não pode ser feliz até que seja rico”, ele diz “Bem-aventurados os pobres de espírito”.9
Veja que não é uma pobreza material, mas de espírito, o problema não é o bem, mas o apego ao
bem, os colocar o bem acima da virtude, assim do verdadeiro Bem que é Deus. Um homem
rico, que usa de seu poder material para promover o bem de quem necessita e sobretudo a busca
das virtudes, que leva uma vida aos moldes do que Cristo ensinou, poderá viver está bem-
aventurança do “pobre em espírito”. “Para os que dizem “Busque ser popular e bem conhecido”,
ele diz “Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem
falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim”10. Oxalá se ao busca alcançar uma vida
virtuosa, alcançar tal bem-aventurança, de se assemelhar de tal modo a Cristo ao ponto de ser
caluniado e perseguido como Cristo foi. Os pacientes, pobres em espírito, os que choram, são
virtudes boníssimas, mas os perseguidos por causa de Cristo, os mártires, santos, estes
alcançaram a maior promessa de Cristo outrora dada na Cruz ao ladrão “Em verdade, em
verdade te digo, hoje mesmo estará comigo no Paraíso”. (Lc 23, 43) esta é a vontade do Pai,
que todos estejam no paraíso, e ninguém melhor para mostrar caminho do que o próprio Cristo.
Os meios para alcançar estas bem-aventuranças podem parecer difíceis, porque muitas
vezes são contrários à razão humana. É “normal” dizer que a igualdade é um bem a ser
conquistado, de certa maneira é uma teoria bastante convincente, mas não tão verdadeira, se
todos forem iguais na violência, seria a perdição. Veja que Nosso Senhor ensina a dar a outra
face quando se é esbofeteado (cf. Mt 5, 39-41), ao dar a outra face não estou buscando a
igualdade, a igualdade seria revidar, mas ao dar a outra face busco cessar ali um ato que provoca
o ódio à humanidade, à obra de Deus. “Absolver a violência por amor ao Salvador, que
absorverá o pecado e morrerá por isso. A lei cristã é que o inocente deve sofrer pelo culpado.”11
Este ensinamento de sofrer pelo outro, é de modo geral, o maior ensinamento de Cristo, porque
Ele o viveu, se encarnou para sofrer pelos pecadores e morrer por eles.

8
Ibid. p. 138.
9
Ibid. p. 138.
10
Ibid. p. 139.
11
Ibid. p. 142.
4
Suportar por um ano o persistente que o aflige durante uma semana; escrever
uma carta gentil para um homem que se refere a você com palavras obscenas;
[…] essas são coisas difíceis que o Cristo veio ensinar e são tão apropriadas à
época Dele quanto à nossa. […] Se determinadas pessoas não são dignas de ser
amadas e alguém lhes dá amor, elas se tornarão dignas de amor. Por que alguém
é digno de ser amado – se não é por Deus infundir Seu amor em cada um de
nós?12

Não basta uma vivência da lei, é necessário o amor nesta vivência. Não se deve ter medo
de descumprir a lei e sofrer uma consequência, deve-se ter medo de perder o Amor, o Cristo,
que diz que a lei é para a boa vivência cristã e humana. A consequência não ensina a cumprir
bem a lei, mas o Amor mostra que a vivência da lei trará uma felicidade que é eterna.
“As bem-aventuranças não podem ser consideradas de maneira
isolada: não são ideais, são fatos concretos e realidades inseparáveis
da Cruz do Calvário. O que Ele ensinou foi autocrucificação: amar os
que nos odeiam; arrancar os olhos e cortar os braços para evitar o
pecado; estar limpos por dentro quando as paixões clamam por
satisfação externa; perdoar os que nos condenam à morte; derrotar o
mal com o bem; abençoar os que nos amaldiçoam; parar de falar de
liberdade até que tenhamos justiça; a verdade e o amor de Deus em
nossos corações como condições de liberdade; viver no mundo e ainda
manter-nos impolutos; negar-nos prazeres legítimos para melhor
crucificar nosso egoísmo – tudo isso sentencia nosso velho homem,
que está dentro de nós, à morte.13

O que são as bem-aventuranças está descrito no evangelho segundo Mateus, Jesus as


ensinou, e este caminho para alcança-las lá se encontra. Fato é que uma simples listagem das
bem-aventuranças não é suficiente para que possamos coloca-las em prática, e nisto muito nos
auxilia bons homens que conseguiram as viver bem. A vida dos santos, e dos que cremos terem
alcançado o Céu não é o sumo ensinamento, mas o exemplo de vivência em Cristo pelo que Ele
ensinou. “O paraíso é felicidade; mas é demais para o homem possuir dois paraísos, um
substituo em baixo e verdadeiro em cima. Por isso os quatros “pesares” que imediatamente
acrescentou às bem-aventuranças.”14 Estes pesares são complementos às bem-aventuranças,
ainda ensinadas por Cristo.
Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação!
Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome!
Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis!
Ai de vós, quando vos louvarem os homens,
porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!
(São Lucas, 6, 24-26)

“A crucifixão não pode estar longe quando o mestre diz “ai de vós” os ricos, os fartos,
os felizes e os populares. A verdade não está só no Sermão da Montanha; está naquele que viveu

12
Ibid. p 142.
13
Ibid. p. 143.
14
Ibid. p. 145.
5
o Sermão da Montanha no Gólgota.”15 As bem-aventuranças são um farol que permite almejar
o Céu que foi desvelado pela Cruz no Calvário. “Os quatros pesares seriam condenações éticas,
caso Ele não tivesse morrido cheio daquilo a que se opunham os quatro pesares: pobre,
abandonado, triste e desprezado.”16 Desde o ensinamento das bem-aventuranças, Cristo ensina
e vai contra o que o mundo almeja, estes quatro pesares se enveredam por esta via, são
ensinamentos contrários ao que o mundo quer, por isso Ele, Cristo, precisa os viver piamente,
e de fato Ele sofre pelos que o amam e pelos que o odeiam.
Na via de busca da vida virtuosa, as bem-aventuranças tomam a frente, pois vêm de
Cristo. Que promete o envio do Paráclito, o Espírito Santo que conduzirá o homem na vivência
cristã (cf. Jo 14, 16). O Espírito Santo concede dons e dá frutos, que é o sustentáculo da vida
moral, cristã.
A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons dos Espírito Santo. Estes são
disposições permanente que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do
mesmo Espírito. Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência,
conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Em plenitude pertencem
a Cristo, Filho de Davi.17

Estes dons servem como auxílio para o homem, na luta contra o pecado, na busca das
virtudes, na observância dos mandamentos, na força para evangelizar. “São Paulo chega a dizer
que ninguém pode chamar Jesus de “Senhor”, exceto pelo Espírito. Sim, você pode pronunciar
a palavra “Jesus”, mas não saberá que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, o Salvador do mundo,
o Senhor do universo, exceto pelo Espírito Santo.”18 O Espírito Santo nos aponta, com seus
dons, o próprio Cristo, nosso Salvador, e nos faz mais fiéis a Ele. Aquele que recebe o Espírito
Santo pelo sacramento da confirmação. “Se levarmos a sério o sacramento da Confirmação,
iremos nos preocupar com a salvação das almas.”19 Sempre ao falar de salvação das almas,
devemos lembrar que falamos primeiro de nós mesmo, depois do outro. A busca pela salvação
que é almejada àqueles que nos são caros só pode ser verdadeira se a quero para mim. E este é
o auxílio dos dons do Espírito Santo, a minha configuração à Cristo para que seja, pela tua
graça, canal desta graça aos outros. Só se pode ser esse canal em perfeita união com Ele.
Essa união é dada pelo Espírito Santo, “Há um só Corpo e um só Espírito […]” (Ef 4,
4.) E como esta união nos auxilia, nos faz ser mais humildes ao ponto de compreendermos que
necessitamos de Cristo? “Isso significa que o Espírito Santo deve ser um substituto para Cristo?

15
Ibid. p. 145.
16
Ibid. p. 145.
17
CCE. 1830-1831.
18
SHEEN, Fulton J. A vida vale a pena ser vivida. p. 139.
19
Ibid. p. 139.
6
Não! O Espírito Santo tornará Cristo mais real do que nunca. […] Como Ele atua em nós? O
Espírito atua em nós revelando a excelência oculta de Cristo em nossos corações.” 20 Portanto,
os dons do Espírito Santo são em vistas de um conhecimento maior de Cristo, que nos ensina o
caminho do Céu. O Espírito Santo não é um coadjuvante na história da salvação, é canal da
manifestação divina aos homens, canal da graça santificante que vem em auxilio dos homens
para que vivam bem, e viver bem é viver uma vida virtuosa e na presença de Deus.
O propósito do Espírito Santo é como o de um artista. Ele desenha uma imagem
de Nosso Senhor na tela. Ele o torna real para que O entendamos. […] Ser
cheio do Espírito Santo é ser cheio de Cristo. Quando nos vestimos com a
mente de Cristo, nos vestimos com a vontade de Cristo. 21

O Espírito Santo é este farol deixado por Cristo, que ilumina a Verdade, que mostra os
meios de alcança-la, seus dons são como ferramentas que constroem no ser humano o bem. A
busca destes dons depende em muito do homem, mas Deus pode derramar sua graça ao seu bem
querer, a quem quiser, o fato é, os dons estão aí para nós como a luz do Sol para o dia, para
todos.
Não há nada no Evangelho que nos dê uma resposta para muitos dos problemas
da vida de Nosso Senhor conforme encontrada no Evangelho, todos teríamos
que ser carpinteiros. Como sabemos o que fazer? O Espírito de Cristo
manifesta o que devemos fazem em cada circunstância: a palavra certa a dizer,
a ação certa a fazer, o tipo de caridade a realizar.
O espírito de Cristo em nossa alma manifesta Cristo a nós. 22

Os dons são de modo mais direto o auxílio do Espírito Santo aos homens para o alcance
do bem. Já os frutos são disposições que o Espírito Santo insere na alma daquele que leva uma
vida virtuosa e já inserido no bem.
Os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em nós como
primícias da glória eterna. A Tradição da Igreja enumera doze: “caridade,
alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão,
fidelidade, modéstia, continência e castidade” (Gl 5, 22-23)23

Os frutos são colhidos já em vida, aquele que os têm, já têm os dons e vive as bem-
aventuranças, são como degraus a serem vivenciados. Os desafios da vida cristã são imensos,
pelo ensinamento de Cristo que vai na via contrária ao do mundo, os dons do Espírito Santo
que são uma graça especial para a vivência evangélica e os frutos que são como que a coroação
da graça do Espírito Santo.

20
Ibid. p. 140.
21
Ibid. p. 141.
22
Ibid. p. 141.
23
CCE. 1832
7
Voltando mais uma vez ao ponto central, o amor.
Ninguém realmente entende o mal do pecado se pensa que é apenas a quebra
de uma lei. Quando temos o Espírito de Cristo, entendemos que o pecado está
fazendo mal a alguém que amamos. A crucificação é a manifestação do pecado,
a incredulidade em sua essência, a recusa absoluta de ter o amor e as bênçãos
de Deus. O Espírito Santo nos revela que o pecado é a recusa em aceitar aquela
libertação alcançada por Cristo. Nada além do Espírito, pode nos convencer do
pecado.24

Deus nos ama e quer que o amemos e o faz por meio de seu Espírito, que é canal de sua
graça. Os dons não são meros “poderes” que o Espírito concede, mas são meios pelos quais
podemos amar, sobretudo o próprio Amor, Cristo. Não vale os dons para uma vida
“sobrenatural” se não for inteiramente pautada pelo amor.
O Espírito nos dá um senso de santidade, e santidade é a separação do mundo.
São Paulo diz que sua consciência foi iluminada pelo Espírito Santo. Sempre
que fazemos algo errado, não é a lei, não são os mandamentos, mas é o Espírito
quem nos diz que estamos rompendo um relacionamento com o amor.25

Tudo concorre para a salvação das almas, daqueles que buscam primeiramente a vida
de beatitude, bem como daqueles a quem são estes primeiros os responsáveis. Fruto de todo o
amor de Deus para nós e de nós, em unidade, a Deus, deve surgir as obras de misericórdia, sinal
concreto de amor. O amor é estar com os filhos de Deus, não com “este” ou “aquele” filho, mas
com os filhos! Isso se concretiza sobretudo nas obras espirituais, sempre mais caras e mais
necessárias a todos, por sua urgência, seja pela falta de amor, seja pela necessidade de afeto. As
obras corporais vêm em seguida, não que não sejam necessárias, mas estas também devem, de
alguma maneira, concorrer para as obras espirituais. Um exemplo prático, quando a Igreja, por
meio de pastorais, vai em auxílio daqueles que não conseguem prover o sustento alimentar da
família, a Igreja está sempre disposta neste auxílio. Porém, este auxílio não deve se assemelhar
à filantropia, mas à caridade, através daquela ajuda material, a Igreja tem a oportunidade de
evangelizar aquela família, passar da obra corporal para a espiritual, num progresso que
culminará, com a graça de Deus, na vivência das Bem-aventuranças.
As obras de misericórdia são as ações caritativas pelas quais socorremos o
próximo em suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar,
consolar, confortar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar
e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporal consistem
sobretudo em dar de comer à quem tem fome, dar de beber a quem tem sede,
dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e
prisioneiros, sepultar os mortos. Dentre estes gestos de misericórdia, a esmola

24
Ibid. p. 142.
25
Ibid. p. 143.
8
dada aos pobres é um dos principais testemunhos da caridade fraterna. É
também uma prática de justiça que agrada a Deus.26

Conclusão
Este universo, livre para a formação do caráter e elevação espiritual, nos
pertence. O Deus Todo-Poderoso colocou em nossas mãos o poder de sermos
santos ou demônios. Depende de nós. […] Mas em um universo moral, somos
livres para obedecer ou não às leis de Deus, assim como somos perfeitamente
livres para obedecer às recomendações de boa saúde ou ignorá-los.27

Certo é que a liberdade nos foi dada. Mas o homem só pode ser realmente livre quando
conhece a verdade. Veja, sou livre para dizer que o Brasil foi descoberto pelos chineses, diriam
que estou errado, mas sou livre para dizê-lo, só que a partir do momento que tomo o
conhecimento que o Brasil foi descoberto pelos portugueses e que já haviam índios habitando
as terras tupiniquins, não posso mais dizer que foram os chineses. Com isso perco a minha
liberdade? Não. Só que ajo de acordo com a verdade. Sobretudo a verdade revelada por Deus
mesmo.
“Por que fomos feitos? Qual é o propósito do viver?” O propósito da vida é ser
supremamente feliz. “Como nos tornamos supremamente felizes?” Ao
alcançarmos a vida, a verdade e o amor de Deus. Portanto, algo bom é qualquer
coisa que eu faça que me ajude a alcançar esse objetivo ou propósito.28

De tudo o que dissemos aqui, podemos concluir que o amor é dado por Deus que é o
Amor em sua essência. Se revela por Cristo e agracia-nos com as graças pelo Espírito Santo.
“Primeiro o Senhor estabeleceu uma Igreja onde não obedecemos a um sistema, mas a uma
pessoa; em segundo lugar, na Igreja a base de nossa obediência não é o medo, mas o amor; e,
finalmente, na Igreja, a liberdade de pensamento é assegurada pela reverência à verdade.”29

26
CCE. 2447.
27
SHEEN, Fulton J. A vida vale a pena ser vivida. p. 55.
28
Ibid. p. 55.
29
Ibid. p 169.
9
Referências bibliográficas
BÍBLIA DE JERUSALÉM, São Paulo: Paulus, 2002.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, São Paulo: Edições Loyola, 2000.
SHEEN, Fulton J. A vida vale a pena ser vivida. Tradução: Pablo Monteiro. São Paulo: Editora
Mensageiros, 2022.
_______________. Vida de Cristo. Vol. I. Tradução: Márcia Xavier e Brito, William Campos
da Cruz – 1. ed. – Rio de Janeiro: Petra, 2018.
SÃO VITOR, Hugo de. Os mais belos sermões de Hugo de São Vitor. tradução: anônima.
Campinas, SP: Edição Livre, 2017.

10

Você também pode gostar