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CAMINHOS PARA A

DESNATURALIZAÇÃO
DA VIOLÊNCIA NO
FUTEBOL NA
SOCIEDADE
BRASILEIRA.
PROFESSORA NILCÉIA PAIXÃO
INTRODUÇÃO I – CITAÇÃO INTRODUÇÃO II – SOCIOLOGIA

“O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico Inspirado à popularidade pela burguesia


da mídia.” A sentença de Millôr Fernandes como substituição à capoeira, o futebol
traz à superfície da estrutura social uma de chegou ao Brasil com o “status” de esporte
suas maiores paixões: o futebol e suas internacional. Entretanto, trouxe em sua
representações. Contudo, ainda que as bagagem a rivalidade e a violência como
habilidades com a bola sejam capazes de marcas contundentes de disputas em uma
fascinar desde adultos até crianças, a demonstração que concretiza as identidades
violência no futebol brasileiro demonstra o conflitantes do novo brasileiro. Nesse sentido,
reverso da arte. Diante desse cenário, buscar a violência no futebol é espelho que revela a
o entendimento sobre as pulsões agressivas face oculta de uma nação fragmentada e
alimentadas neste esporte, além de avaliar o que incorpora na agressividade dentro e fora
papel da mídia sobre esse lazer podem ser dos estádios, um mecanismo real de
maneiras para alcançar maior racionalidade prevalência pela força.
sobre a conduta violenta dentro e fora do
estádio brasileiros.

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INTRODUÇÃO III

“Bola na rede pra fazer o gol/ Quem não sonhou em ser um jogador de futebol.” A canção do grupo
Skank sintetiza como o sentimento de amor pelo futebol é um dos maiores símbolos nacionais. No
entanto, em vez de alegria, muitas vezes, esse esporte tem sido articulado como ferramenta de alienação
das massas, tanto em forma de violência corporal, como simbólica. Assim, estimular um debate crítico
sobre as reais dimensões da prática futebolística contribui para um autoconhecimento acerca da cultura
nacional.

BANCO DE PALAVRAS

FUTEBOL – ESCALADA DA VIOLÊNCIA – FUTEBOLÍSTICO – EPISÓDIOS BÁRBAROS – DESPORTO –


INFRAÇÕES ÀS LEIS – DESORDEM PÚBLICA – PRÁTICA ESPORTIVA – COMPORTAMENTOS COLETIVOS –
ARENA DE ATLETAS – MANIFESTAÇÃO DE RIVALIDADE – AVERSÃO DO ADVERSÁRIO – SOCIALIZAÇÃO
MASCULINA – ORIGENS MULTICAUSAIS

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PROBLEMATIZAÇÕES
“Domingo eu vou ao Maracanã
Vou torcer pro time que sou fã”.

O futebol como desporto – formas contraditórias.

Nas suas origens mais remotas, os historiadores localizam o futebol por volta 300 a.C. na China como
forma de treino militar. Após as guerras, formavam-se grupos para chutar a cabeça dos soldados
inimigos.

O futebol chega à Inglaterra.

É na Inglaterra que o jogo é organizado e sistematizado e começa


a ser praticado por estudantes filhos da nobreza inglesa.

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No Brasil.

Charles Miller, estudante brasileiro que morou na Inglaterra, trouxe a primeira bola de futebol para o
Brasil.
Nasce elitizado – O primeiro jogo de futebol no Brasil foi realizado em 5 de abril de 1895 entre
funcionários de empresas inglesas que atuavam em São Paulo – Esse jogo foi entre funcionários da
Companhia de Gás X Cia Ferroviária São Paulo Railway.

A participação de negros era vedada.

As elites brasileiras temiam a popularização da capoeira,


então, além de criminalizá-la, encarregaram-se,
posteriormente, de população o futebol.
A dimensão simbólica do racismo e na segregação
classicista já manifestava o espaço desportivo como
violento.

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A prática descalça torna-se a pátria de chuteiras (mas para quem?)

O esporte mais popular do país exibe sua notória desigualdade.


São poucos os que têm a oportunidade de acompanhar um clube profissional em seu município.

Dados de Pluri Consultoria evidenciam que apenas 422 cidades mantêm alguma equipe profissional
atuando em 2019.

Isso representa 7,6% do total do país.

O potencial esportivo subexplorado é uma forma de


violência simbólica.

O projeto de profissionalização acaba sendo muito


limitado e excludente. Isso leva pessoas a optar por
partidas em outras regiões e a depender das cidades,
constitui um aspecto de rivalização socioespacial.

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Um princípio já violento

O esporte nasce de uma dualidade na qual equipes representam identidades coletivas, nações e culturas
específicas. A própria marcação binária em que um jogador está comprometido com uma batalha
pessoal com seu oponente.

A impunidade – os crimes de torcida organizada são muitos.


Funcionam como uma prova de força de grupos em áreas e detritos.

Uma contradição social

Émile Durkhéim – Teoria do fato social. A violência nos estádios é um fato social, ou seja, ela é
genérica – está em vários lugares; externa – está na sociedade e é coercitiva, isto é, impõe restrições
à liberdade dos sujeitos.

Um aspecto sociológico fundamental é observar como o futebol é, ao longo do tempo, veiculado e


manipulado como estratégia de compensação das frustrações sociais, o que canaliza para o futebol um
excesso de expectativas que deveriam estar distribuídas em outras áreas da vida do sujeito.
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Paixão – a ideia de que a paixão justifica tudo é
uma forma distorcida de lidar com a falta de
estrutura policial específica.

A rebelião das Massas – Ortega Y Gasset –


De repente a multidão tornou-se visível, instalou-
se nos lugares preferenciais a sociedade. Antes,
se existia, passava despercebida, ocupava o
fundo do cenário social, agora antecipou-se às
baterias, tornou-se o personagem principal. Já
não há protagonista, só coro. Existem inúmeros estudos sobre as relações
A Rebelião das massas. A massa se sente à vontade do governo da ditadura com a seleção
por se sentir idêntico aos demais. brasileira. Outros ligados à resistência de
jogadores. Ou ainda sobre outras ações do
governo ditatorial em relação ao futebol.
No país do futebol, derrotas são
vexames. Perder de 7x1 para a
Alemanha dói mais que tragédias
ambientais, sociais e políticas.
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A bulimia de vitórias – eliminações, derrotas exigem culpados.

A metáfora “bulimia de vitórias” aproxima a reação a derrotas ao transtorno alimentar porque torcedores,
diretorias de clubes e mídia precisam se alimentar o tempo todo de novas conquistas.
A lógica da invencibilidade é fomentada pela mídia – gera lucro, competitividade.
Um time campeão em uma competição tem que repetir o feito no ano seguinte numa infindável
“ingestão” de títulos.

Sociedade Performática – Byng Chull Han – A sociedade do


desempenho se caracteriza pelas ilimitações. Não há fracassos.
A sensação é que podemos fazer tudo que queremos. A ideia de
que não há excesso nos conduz a uma necessidade de estar em
evidência. O fracasso seria uma punição para a falta de
empenho.

Nos anos 60 o futebol já era muito popular com conquistas na


Suécia e no Chile.
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Mas não havia força econômica para chegar a todos os cantos de país: poucos estádios, salários muito
baixos para maioria dos profissionais.
O resultado em 1969, foi o segundo pior da história logo os militares se deram conta de que deveriam
investir na propaganda pelo futebol.
Governantes querem ser conhecidos como homens do povo e a paixão pelo futebol viabiliza isso.
A vitória da seleção brasileira, na Copa de 70, de 4x1 na Itália serviu como propaganda política.
Incentiva depois o apego desenfreado à paixão ou ódio. Com slogan como “Ninguém segura este país”
ou “Brasil, ame ou deixe-o”.

A história da América Latina – marcada por períodos de ditadura.

1976 – Argentina
1973 – 1990 – Augusto Pinochet no Chile estimulavam uma rivalização maior entre os países
militarizava competições e vendia a ideia de vencedores e perdedores para o povo.

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Mas se o futebol é o ópio, também pode ser a cura:

Em 1980, Sócrates, Casagrande e outros jogadores encamparam as


“Diretas já”. Com manifestações antifascistas hoje, é perceptível o quanto
o futebol pode alcançar anseios e demandas populares. O time do
Corithians no final da ditadura trazia reflexões críticas sobre gestão
participativa no clube: contratações, salários e escalações eram
decididas em conjunto. Todos os votos tinham o mesmo peso, do roupeiro
ao técnico da equipe. Esse fenômeno é uma prova de que o futebol pode
estar além do fator violência e manipulação.

Um cenário de “todos são apenas coro”.

“Foi preciso esperar até o começo do século XX para se presenciar um espetáculo incrível: o da
peculiaríssima brutalidade e agressiva estupidez com que se comporta um homem quando sabe muito de
uma coisa e ignora todas as demais”
José Ortega Y Gasset.

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A falta de memória diante de derrotas temporais ofusca o passado de clubes e promove revolta e fúria
em torcedores.

Os destemperos dos torcedores diante de situações de crise são um


estopim de uma sociedade em cuja sociologia da violência para lidar
com a adversidade sempre foi banalizada.
Além disso, escondidos sob a máscara de multidão, povo, muitas
pessoas se aproveitam para difundir suas ideologias fascistas.

Contaminação por ideologias neonazistas – grupos que veem


equipes com componentes estrangeiros, como passíveis à
punição do povo.
Caso explícitos de xenofobia.

Racismos – a constantes manifestações de racismo, em diversas


partes do mundo exigem respostas mais firmes e imediatas das PSG E ISTANBUL ABANDONAM CAMPO
entidades. ACUSANDO QUARTO ÁRBITRO DE RACISMO

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Sexismo – Atacadas constantes, devido à misoginia o futebol feminino convive com as formas de
violência em todos os seus âmbitos. Desde patrocínios com valores muito abaixo, salários que até
pouco tempo eram muito menores que os homens desprestígio na exibição de seus campeonatos – a
construção de uma violência simbólica permanente.

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Um perigoso “combustível” na produção da violência.

Todo o cenário de rivalidades, alimentado por mídias e com


enorme interesse da indústria ainda recebe um componente
especial: a indústria da bebida se “alimenta” do patrocínio
de grandes torneios fomenta o consumo alcoólico.
Lei Estadual 21.731/2015 proíbe a venda e o consumo de
bebidas em arquibancadas e cadeiras. Mas há leis
estaduais que permitem ingestão e comercialização das
substâncias.
Torcida organizada do Vasco invade
Em 2019, do total de 160 confrontos e vandalismo centro de treinamento do clube
observados até a 38° rodada do campeonato, 76% foram
relacionados direta ou indiretamente ao consumo de álcool
de acordo com pesquisa do sociólogo Maurício Murad.
Além do álcool, outras drogas também se apresentam como
comprimidos ecstasy, cocaína e outros.
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Sancionada lei que amplia punição para atos criminosos de torcidas organizadas.

Foi sancionada a lei (Lei Nº 13.912/2019) que endurece a pena para torcidas organizadas que
promoverem atos violentos. Passou de três anos para cinco anos a punição que impede os grupos de
participarem de eventos esportivos. O procurador da Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão
(PDDC), José Eduardo Sabo, disse ser a favor a mudança na lei, já que existem diversas dificuldades para
coibir atos violentos praticados pelas torcidas organizadas.

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Raio X das mortes ligadas ao futebol no Brasil.

Vítimas: 372 homens e 12 mulheres


Idade: 1 a 19 anos (124 mortes), 20 a 29 anos (171), 30 a 39 anos
(66) e 40 anos ou mais (23).
Estados: SP (63 mortes), RN (44), GO (41), RJ (40), CE (33), PA
(27), AL (20), PE (18), MG (18), PB (17), PR (15), SE (13), RS (11), BA
(10), SC (5), MS (3), AM (3), ES (2) e DF (1)
Década: 1980 (1), 1990 (15), 2000 (99), 2010 (234) e 2020 (35)
Causa: 272 mortes por arma de fogo e 112 mortes por outras
causas (agressão física, atropelamento, bomba, pedrada,
facada e garrafada).
Local: 373 mortes fora do estádio e 11 dentro do estádio
Data: 221 mortes em dia de jogo da vítima e 163 em dia sem
jogo

Dados de 1998 até 2023 - Os dados são do acompanhamento realizado há mais de duas décadas
pelo jornalista Rodrigo Vessoni.
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PROPOSTAS

Mudanças imediatas na legislação sobre violência nos estádios. Aumento da rigidez;

Preparo e destacamento de força policial treinada para lidar com grande públicos;

Intolerância a substâncias entorpecentes de qualquer natureza;

Maior debate e reflexões das mídias sobre a violência e o estímulo à agressividade.

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BONS
ESTUDOS.
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