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APLICAÇÃO DO RESVERATROL NO PROCESSO DE REJUVENESCIMENTO

Priscila Nascimento Cirqueira Francisco1

RESUMO
A pele que recobre o corpo do ser humano vai sendo modificada e sofrendo impactos
no decorrer dos anos com os processos de oxidação, o que pode levar ao seu
envelhecimento. O resveratrol, um bioativo com propriedades antioxidantes vem
demonstrando efeitos positivos para retardar esse processo de envelhecimento,
sendo utilizados em compostos medicamentosos e alimentos. O presente trabalho
teve como objetivos: compreender a formação da pele, como acontece o processo de
envelhecimento, bem como a aplicação do resveratrol para o rejuvenscimento da cútis.
Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo, utilizando
se artigos científicos nacionais e internacionais publicados nos últimos dez anos
(2010-2020), que tivessem relação com o tema proposto. Foi observado que fatores
relacionados ao indíviduo, características da cútis, assim como a sua permeabilidade
podem contribuir para acelerar o processo de envelhecimento. Os dados encontrados
sugerem ainda que o resveratrol pode atuar como um neutralizador das espécies
reativas de oxigênio, e com isso minimizar e ou redartar tal envelhecimento. Sendo
assim, mais estudos para investigar os efeitos a longo prazo da suplementação com
tal ativo devem ser realizados, pois a literatura ainda carece de dados relacionados a
dose mais eficaz.

Palavras-chaves: Resveratrol. Antioxidante. Pele. Envelhecimento.

1 Discente do curso de Farmácia (email: prifarmacia2018@outlook.com)


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ABSTRACT
The skin that covers the human body is being modified and impacted over the years
by oxidation processes, which can lead to aging. Resveratrol, a bioactive with
antioxidant properties, has been showing positive effects to delay this aging process,
being used in medicated compounds and foods. The present work had as objectives:
to understand the formation of the skin, how the aging process happens, as well as the
application of resveratrol for the rejuvenation of the skin. For this purpose, a descriptive
bibliographic research was developed, using national and international scientific
articles published in the last ten years (2010-2020), which were related to the proposed
theme. It was observed that factors related to the individual, skin characteristics, as
well as its permeability can contribute to accelerate the aging process. The data found
further suggest that resveratrol can act as a neutralizer of reactive oxygen species, and
thereby minimize and or reduce such aging. Therefore, further studies to investigate
the long-term effects of supplementation with such an active agent should be
performed, as the literature still lacks data related to the most effective dose.

Key words: Resveratrol. Antioxudant. Skin. Aging.

1. INTRODUÇÃO

A pele que cobre o corpo do ser humano consiste no seu maior órgão, que
dentre as suas funções, encontra-se a proteção. Entretanto, com o passar dos tempos,
a depender dos cuidados, a pele vai sendo modificada, perdendo líquido, e a
capacidade de produção dos nutrientes que a compõe, o que favorece a modificação
da elasticidade e tonicidade.
Em decorrência das modificações que ocorrem com a pele a partir do
envelhecimento, por uma busca de melhoria estética, as pessoas procuram cada vez
mais a utilização de produtos que possam auxiliar na sua manutenção, como
reposição de nutrientes, antioxidantes, de modo que seja favorecido o retardamento
dos efeitos do envelhecimento.
O resveratrol um polífono com funções antioxidantes, vêm sendo algo de
pesquisas em especial na área da estética, pelas propriedades benéficas
apresentadas. A priori se conhecia a presença dele apenas em alguns alimentos como
algumas frutas, incluso uva e morango. Entretanto, na maior parte dos alimentos, sua
biodisponibilidade é baixa.
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Neste sentido esta pesquisa tem como objetivo geral, demonstrar a aplicação
do resveratrol para o rejuvenescimento da cútis e como objetivos específicos:
compreender a formação da pele e como acontece o processo de envelhecimento,
elencar fatores que podem favorecê-lo, bem como abarcar as propriedades do
resveratrol que permitem a sua aplicação na estética para minimizar os impactos do
envelhecimento.
A pesquisa desenvolvida se caracteriza como bibliográfica, de característica
descritiva. Os materiais utilizados para o desenvolvimento da pesquisa foram
encontrados nas plataformas de pesquisa: SCIELO (Scientific Electronic Library Online),
PUBMED (Public Medline), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde). Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: antioxidante; envelhecimento;
pele; rejuvenescimento; resveratrol. Como critério de inclusão adotou-se artigos
publicados em língua portuguesa e inglesa que apresentaram como objeto de estudo
a temática central: resvetratrol e sua aplicação no rejuvescimento facial, e tivessem
sido publicados no período entre 2010 a 2020. Como critérios de exclusão
consideraram-se os artigos que não apresentaram aspectos que contribuíssem com o
objetivo desta pesquisa.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A PELE E SUAS CARACTERÍSTICAS
A pele é considerada o maior órgão do corpo humano, possui o percentual de
15% do peso corporal, apresentado variedade ao longo de sua extensão
(DABROWSKA; SPANO; DERLER; ADLHART; SPENCER; ROSSI, 2017).
Sua função principal é de isolamento corporal como meio de impedir a entrada
de substâncias que sejam prejudiciais e também evitar o processo de evaporação
corporal. Tendo como funções adicionais nutrição, pigmentação, termo regulação e
transpiração, podendo interferir na percepção, por meio do tato, da recepção de calor,
estabelecimento da pressão e percepção da dor, além da secreção de lipídeos
(MURPHREE, 2017).
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A pele é formada praticamente pela epiderme e derme, porém a hipoderme é


responsável por conectar a pele a musculatura, tendo ela importância, função e
características específicas (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
A epiderme é a camada externa da pele, podendo ser visualizada a olho nú, tem
a função de proteção, pigmentação, firmeza e imunização cutânea, sendo formada em
80% de queratinócitos (células que contém grande quantidade de queratina,
responsáveis pela firmeza e proteção sobre a perda de água) (PERETTI et al., 2015).
A epiderme é composta por cinco camadas: o estrato córneo, o estrato lúcido, estrato
granuloso, o estrato espinhoso e a camada basal (BARBOSA, 2011).
A camada intermediária, a derme, é rica em fibroblastos que são responsáveis
pela produção de fibras de elastinas, colágeno, vasos, nervos e anexos cutâneos
(DALMASCHIO, 2017).
Figura 1 - Representação das camadas da pele.

Fonte: (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016)

A derme é o tecido que sustenta a epiderme, tendo como características


resistência e elasticidade, apresenta 70% a 80% de colágeno e 1% a 3% de elastina.
É dividida em três camadas, derme papilar, derme reticular e derme perianexial
(SILVA, HANSEN, STURZENEGGER, 2012).
A camada derme papilar é altamente vascularizada, formada por fibras de
colágenos em sua maioria do tipo III e elastina, já a derme reticular é a parte mais
espessa da derme com fibras elásticas e colágeno tipo I e a derme perianexial tem a
mesma estrutura da papilar (BARBOSA, 2011).
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A hipoderme ou tecido subcutâneo, é formado a partir das células de gordura,


podendo variar de espessura a partir da constituição física de cada sujeito. Tem a
função de reserva energética, fixação dos órgãos e de realizar isolamento térmico
(BARBOSA, 2011).
O envelhecimento é algo inevitável, que ocorre de forma lenta, progressiva e
contínua, por meio de alterações bioquímicas, morfológicas e fisiológicas que
alcançam a estética da pele (TESTON, NARDINO, PIVATO, 2010).
O envelhecimento facial é gerado a partir de mudanças que intercorrem na pele,
no tecido adiposo facial, musculatura facial, nos ligamentos e esqueletos faciais,
mudanças essas que não ocorrem simultaneamente (COTOFANA et al., 2016). A
busca por uma longevidade mais saudável e a preocupação estética com flacidez e
linhas de expressão, favorece a busca de meios para seu alcance, afinal, fatores
cronológicos e externos, como sol, estresse, alimentação e radicais livres favorecem
o aparecimento dos sinais mais evidentes (SILVA, HANSEN, STURZENEGGER,
2012).
Há ainda uma redução das células de Langerhans, células dendríticas
originárias da medula óssea e que participam das reações imunológicas e da
imunovigilância cutânea (TESTON, NARDINO, PIVATO, 2010)
Ao envelhecer, por cerca dos 40 anos, diminui o nível de estrogênio e por volta
dos 25 a 30 anos se tem redução das fibras de colágeno das camadas da pele. Tais
mudanças podem deixar a pele mais fina e sensível e mais propensas ao aparecimento
de manchas, rugas e células mortas, que se acumulam e se depositam na área superior
mais externa da pele (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).
Com o envelhecimento há alterações em todas as camadas da pele, na
epiderme é possível verificar uma redução da camada córnea, que fica mais fina e
pálida, com redução de melanócitos. Os estudos apontam que a partir dos 30 anos de
idade, ocorre o aumento da melanina e/ou diminuição dos melanócitos, o que pode
favorecer o aparecimento de manchas (SILVA, ANDREATA, 2017).

2.2 A PELE E O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

As linhas de expressão do envelhecimento cutâneo, começam a ser visíveis a


partir dos 30 a 35 anos, no qual compromete as fibras protetoras, elastina e colágeno
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diminuindo de 50 a 75% até chegar aos 75 anos. Esta diminuição leva a pele ao
aparecimento de rugas, pintas e amarelamento (COTOFANA et al., 2016).
De acordo com Dabrowska e colaboradores (2017), diversos fatores podem levar
a pele ao envelhecimento, sendo estes fatores dependentes de características
provenientes: da pele, da facilidade ou não de penetração de compostos e também de
característcas ligadas ao indivíduo, como a etnia, gênero, idade, tipo de pele e estilo
de vida, dentre outros.
Estudos relatam que no contexto de gênero, homens tem o índice TEWL
(perda transepidérmica de água) mas elevada do que em mulheres, diminuído a
capacidade do extrato córneo de reter água, tornando a pele, mas desidratada com
relação a mulheres (COTOFANA et al., 2016).
O estrato córneo é responsável pela retenção de água, tem a capacidade de
armazena 30% desta, este fator é de extrema importância para manter a hidratação da
pele. O clima interfere nesta hidratação, se o tempo está úmido a pele fica úmida, se
está seco a pele fica seca (OLIVEIRA, ASSIS, 2011).

Figura 2 – Fatores que podem influenciar no processo de envelhecimento


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Fonte: Adaptação DABROWSKA; SPANO; DERLER; ADLHART; SPENCER; ROSSI, 2017.

No interior do extrato córneo estão os FHN (fatores de hidratação natural) que


diminuem com a idade, o que explica a pele ressecada em idosos, pois este fator tem
a capacidade de reter água, mesmo em climas não favoráveis (DABROWSKA; SPANO;
DERLER; ADLHART; SPENCER; ROSSI, 2017).
O PH da pele é de grande importância para a renovação celular, onde ocorre as
atividades enzimáticas do metabolismo, sendo aceitado e mantido no estrato córneo
pela degradação do sebo e do suor. O valor do PH em mulheres é de 5,5
aproximadamente, já nos homens ele diminui para 5,0 (COTOFANA et al., 2016).
Segundo Silva e colaboradores (2012), afirmam que o estilo de vida de um
indivíduo é um fator importante no processo do envelhecimento, sendo ele acelerado
ou não, quando se tem uma proteção solar adequada evita-se foto envelhecimento
precoce, uma dieta saudável com ingestão de alimentos ricos em nutrientes
proporciona benefícios para a pele.
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Com a diminuição das fibras elásticas, a rigidez do colágeno, perda de


elasticidade, ocorre o aparecimento de rugas, que podem ser observadas na superfície
cutânea. O tipo de pele e a etnicidade, também influencia no envelhecimento da pele.
Os caucasianos, negroides e mongoloides, se diferem pela qualidade e formação dos
melanossomas (que são formados de melanina) que caracterizam a pigmentação da
pele (COTOFANA et al., 2016).
Os caucasianos apresentam pele ligeiramente morena, com anatomia do nariz
estreita, os negroides têm o nariz com estrutura longa e achatados e pele de cor
escura, os mongoloides tem olhos ligeiramente puxados e apresentam pele mais clara
(SILVA, HANSEN, STURZENEGGER, 2012).
Os caucasianos apresentam melanossomas pequenos que são quebrados por
enzimas na camada superficial da epiderme, os negroides apresentam melanocitos
grandes que estão localizados no citoplasma dos queratinocitos conseguindo chegar
intactos aos ao estrato córneo. Este tipo de pele apresenta maior proteção a radiação
solar, sendo 4 vezes, mais comparada a pessoas de pele caucasianos (COTOFANA
et al., 2016).
O estrato córneo tem espessura de 15 a 20 µm, este por sua vez forma uma
barreira de proteção com filme hiprolipedicos, na qual protege a pele de ressecamento,
da penetração de substancias não desejáveis. Esta barreira se dá devido a
característica lipídica encontrada no estrato córneo, que dificultam a passagem de
algumas substancias, as substancias hidrofílicas tem mais dificuldade para passar,
enquanto as lipofílicas têm maior facilidade (OLIVEIRA, ASSIS, 2011).
A pele pode sofre exposição de alegenos, microrganismos nocivos, cosméticos
e drogas, podendo causar danos as suas camadas profundas. Existem três vias
utilizadas para a penetração da pele, a via intercelular, a transcelular e a
transppendageal (DABROWSKA; SPANO; DERLER; ADLHART; SPENCER; ROSSI,
2017).
A via intercelular envolve o estrato córneo, as partículas passam por difusão,
para observa o tamanho, peso, lipofilicidade e solubilidade das partículas. Na via
transcelular os queratinócitos são responsáveis por transporta substâncias, sendo
considerada uma via seletiva, no entanto a via transppendageal envolve as glândulas
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sebosas, foliculares pilosas (responsáveis pelo transporte de partículas maiores) e as


sudoríparas (DABROWSKA; SPANO; DERLER; ADLHART; SPENCER; ROSSI,
2017).
As indústrias cosméticas têm voltado suas pesquisar para o envelhecimento, já
que grandes mudanças ocorrem com o tempo devido a exposição ao sol, e podem ser
prevenidas ou minimizadas com alguns cuidados. Com esta busca por juventude, tem
aumentado a corrida por cosméticos para amenizar o efeito do tempo, e manter a
aparência jovial das pessoas (ALVES, 2015).
Então, para amenizar o processo de envelhecimento, vão surgindo bioativos que
buscam o rejuvelhecimento da pele, por meio de estimulação de produção de colágeno
ou de irrigação cutânea, para melhorar a aparência do tecido (SILVA, HANSEN,
STURZENEGGER, 2012). O resveratrol tem demonstrado efeitos benéficos, por se
apresentar como um bioativo potente, podendo atuar no processo de envelhecimento
favorecendo reparos para a estrutura da pele.

2.3 O RESVERATROL E SUAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS

O resveratrol surgiu a partir do paradoxo francês, em que mesmo diante da


realidade ao consumo alimentar dos franceses, na ingestão de gorduras saturadas, a
população apresentava poucos problemas cardiovasculares, e então, neste momento
associou-se esta realidade à prática dos franceses de consumirem vinho tinto
frequentemente (AMARAL, 2017).
Apresenta fórmula molecular C14H12O3 com massa molecular de 228, 24 g/mol.
em temperatura ambiente permanece em estado sólido, na forma de pó, possui um
coeficiente (LogP) de 3,4. Por ser uma molécula lipofílica tem facilidade em se
dissolver em solventes orgânicos, mas com pouca solubilidade em água (ALVES,
2015).
O resveratrol pertencente ao grupo de fitoalexinas, que compreendem parte dos
mecanismos de defesa das plantas, como resposta delas a lesões, ataque
microbiológicos, stress ambiental, radiação e exposição a ozono (ALVES, 2015). É um
polifenol, estilbeno, compostos por mais de um grupo de hidroxila em um dos aneis
aromáticos. Podendo ser encontrado em alguns alimentos, como na uva,
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mirtilo, na raiz de gengibre e no morango são conhecidos por potentes antioxidantes


(VATAVUK-SERRATI et al., 2018).
A classe dos polifenóis, a qual pertence o resveratrol, é caracterizada por conter
propriedades bioativas, que favorecem à eliminação dos radicais livres, de forma que
se consegue proteger a pele dos aspectos e fatores da oxidação como o estresse, o
fotoenvelhecimento e as doenças de pele como por exemplo neoplasias (ACOSTA;
TRAUTHMAN, 2018).
Peretti e colaboradores (2015) explica que o resveratrol é constituído por dois
anéis fenólicos que são ligados por uma dupla ligação de estireno e com carbonos de
sua estrutura anílica ligados a grupos hidroxilo. Contendo três átomos de hidrogênio, o
que lhe conferem a ação antioxidante, visto que transporta reativos de oxigênio e
interrompe a cadeia oxidativa. É ainda uma molécula lipofílica que é facilmente
dissolvida em solventes orgânicos. Tem direta atuação de oxigênio e radiação
ultravioleta, que devem ser parâmetros controlados no decorrer do processo de manejo
do resveratrol, em sua produção, acondicionamento e conservação (ALVES , 2018).
De acordo com Leal e colaboradores (2017) afirmam que o resveratrol é a
fitoalexina que pode ser sintetizada na uva, especificamente na pele da uva, que ao
serem expostas ao estresse ocasionado por infecções ou radiação ultravioleta, faz com
que sua concentração aumente, permitendo uma melhora das características
funcionais do bioativo.
É considerado uma molécula instável, podendo ser encontrada nas formas cis,
trans e “piceid”, a última é predominantemente encontradas em alimentos (ALVES,
2015). Estas moléculas podem ser observadas na figura 3.

Figura 3 – Estrutura química do (A) trans-resveratrol, (B) cis-resveratrol e (C) trans-piceid.


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Fonte: ALVES, 2015.

A alimentação contendo compostos ricos em resveratrol, é um fator importante,


mas questiona-se o fato de que as taxas de resveratrol na uva, por exemplo, tem um
teor baixo, tendo seu maior quantitativo nas cascas secas, mas sendo estas, partes
que não costumam ser mastigadas (VATAVUK-SERRATI et al., 2018).
O resveratrol pode ser encontrado em alimentos como vinhos tintos, numa
concentração de 0,1 – 14,4 mg/L, podendo variar devido ao tipo de uva e região de
cultivo, sendo encontrado também nos morangos e amendoins (ALVES, 2015). No
Quadro 1, é possível observar os alimentos que contem resveratrol e suas
concentrações.

Quadro 1: alimentos contendo resveratrol e sua concentração

Fontes alimentares Concentrações


Amendoim sem cascas de semente 0,03 -0,14 μg / g
Cervejas 1,3 - 77 micrograma por litro (μg / L)
Chocolate escuro 350 μg / kg
Chocolate com leite 100 μg / kg
Uvas vermelhas 92 -1604 μg / kg de peso fresco
Uvas brancas 59 -1759 μg / kg de peso fresco
Vinhos tintos 0,3 -1,9 mg / L
Vinhos brancos 0 - 1,0 mg / L
Vinhos rosados 0,29 mg / L
Pele de tomate 19 μg / g de peso seco
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Maçãs 400 μg / kg de peso fresco

Fonte: Adaptado de AMARAL, 2017.


O corpo humano tem as suas reações metabólicas em meio aeróbio, na
presença de oxigênio, gerando espécies reativas de oxigênio (EROs), quando ocorre
desequilíbrio entre os EROs e a produção de enzimas do próprio corpo para catalisar
as reações de inativação dos radicais (ALVES, 2015). Para ocorrer as defesas
antioxidantes, ocorre o estresse oxidativo, o que gera danos às moléculas, como nas
proteínas, lipídios e DNA, que interferem negativamente na saúde, diante destas
ocorrências de altos EROs, resveratrol atua como um antioxidante, que vai neutralizar
os EROs (LEAL et al., 2017).
Pensando-se na atuação do resveratrol enquanto neutralizador dos EROs,
visualiza-se a utilização do bioativo por meio de medicamentos. Para isso é preciso
pensar na Relação Estrutura-Atividade (REA), pois cada fármaco vai ter uma ação em
um sítio específico, e os compostos que possuem estruturas semelhantes, geralmente
apresentam atividades farmacológicas parecidas (AMARAL, 2017).
Arroio, Honório e Silva (2010) afirmam que a REA se compreende pelo estudo
dos efeitos que a estrutura química de um composto pode apresentar diante da
interação com o receptor biológico e assim é preciso compreender os fatores que
favorecem essa interação.
Essas informações do estudo da REA dos compostos, é essencial para que seja
possível desenvolver novos fármacos, de forma que seja possível compreender a
atividade aumentada e diminuir os efeitos colaterais indesejados e facilita a
administração do medicamento ao paciente (ALVES, 2015).
O resveratrol tem sua sintetização natural por meio de duas formas isômeras
nas plantas, uma é o trans-resveratrol, que se converte para cis-resveratrol na
presença de luz, sendo esta última uma forma mais estável do isômero. O isômero
trans-resveratrol é sintetizado na uva, e pode ser obtido sinteticamente, sendo
encontrado como disponível para comercialização, já a forma isomérica cis pode ser
obtida por meio de irradiação ultravioleta (NEMEN, 2010).
Diante da ação antioxidante que é apresentada pelo resveratrol, este consegue
desenvolver a neutralização dos radicais livres que se forma no organismo e assim
inibe a peroxidação das proteínas LDL, além de inibir a atividade enzimática ciclo e
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lipoxigenase, de forma que atue como anti-inflamatório.O resveratrol inibe a


agregação de plaquetas, ocasionando a proteção do sistema cardiovascular, e ainda
favorece a inibição da oxidação do colágeno, o que retarda a formação de rugas na
pele, pois essa é sustentada pela redução dos radicais livres (AMARAL, 2017)
O resveratrol se mostra atuante na redução da produção de várias citocinas
angiogênicas, incluindo VEGF (fator de crescimento endotelial vascular e interleucina-
8 (IL-8), assim como suas funções antioxidantes, mas deve-se atentar ao fato de que
este é um composto fotossensível que passa por isomerização em decorrência da
radiação ultravioleta. Mais de 80% do trans-resveratrol se converte em cis se exposto
à luz por um período de 1 hora. Assim, na elaboração de suplementos e soluções à
base de resveratrol devem ser controlados o oxigênio e a radiação no decorrer do
processo, seja na produção, acondicionamento e conservação (ALVES, 2015).
Na pele a atuação do resveratrol ocorre em atividade antiviral, suprimindo o
desenvolvimento de lesões cutâneas, o resveratrol também atua alterando as
modificações bioquímicas, como do estresse oxidativo e da expressão gênica, inibindo
danos ocasionados em sua ultraestrutura e a oxidação que é ocasionada pela
irradiação UVA (NEMEN, 2010).
Em decorrência do seu caráter antioxidante, o resveratrol vai apresentar efeitos
anticarcinogênicos, podendo interferir no desenvolvimento de câncer e metástases
(NEMEN, 2010).
Na tentativa de retardar o envelhecimento, o resveratrol age protegendo a
mitocôndria, ele ativa a SIRT-1(Sirtuina) que por sua vez ativam as enzimas
antioxidantes e óxido nítrico, ocasionando a redução da TNF-α (fator de necrose
tumoral alfa) (AMARAL, 2017).
As TNF-α são de fundamental importância para que ocorra a diminuição do
estresse oxidativo, como a ativação do oxido nítrico, que desencadeia a ativação da
PGC-1α que é responsável por proteção mitocondrial e biogênese inibindo o
envelhecimento celular (ALVES, 2015).
A dose diária do resveratrol em capsula varia de 5 a 15 mg, com dose máxima
ao dia de 50 mg com resveratrol a 99%. Não pode ser utilizado por lactantes e gestantes
e em mulheres com históricos de câncer induzido por hormônio (BATISTUZZO; ITAYA;
ETO, 2015).
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Observa-se então que o resveratrol diante de sua estrutura e da sua atuação


no corpo, vai trazer benefícios com a sua utilização, pois sua estrutura favorece
atuação na oxidação vivenciada pela pele e outros processos oxidativos do corpo.
Segundo Barbosa (2011) a pele é constituída de três camadas, epiderme,
derme e hipoderme. Já segundo Vanputte (2018) e colaboradores a pele é formada
praticamente por epiderme e derme, considerando a hipoderme apenas como
responsável por conecta a pele a musculatura.
O resveratrol ativa a SIRT-1 e as vias intracelulares, que são as mesmas vias
ativadas pela restrição calórica, esta ativação da SIRT-1 desencadeia algumas
reações benéficas ao organismo, como a redução e retardamento de doenças
cardíacas, inflamação e reações antioxidantes promovendo o rejuvelhecimento da
pele (AMARAL, 2017).
Estudos mostram que o resveratrol apresenta baixa biodisponibilidade, após 2
a 5 horas de administração do resveratrol o tempo de meia vida de eliminação é de 1
a 3 horas (AMARAL, 2017). Segundo Alves (2015) o tempo de meia vida é de 1 a 3
horas, após uma única dose administrada, podendo atingir de 2 a 5 horas após
repetidas administrações, chegando se a conclusão de que o tempo de meia vida
depende a dosagem plasmática do mesmo.
Alves (2015) afirma que a biossíntese do resveratrol ocorre quando há um sinal
químico, ocorrido pelo estresse, que induz aumento da expressão do gene estilbeno
sintetase, que vai promover o acúmulo do RNA mensageiro estilbeno sintetase. Este
vai favorecer a formação da enzima que se responsabilizará pela sintetização do
resveratrol, se depende de fatores particulares como a presença do estresse, o controle
da concentração de resveratrol não será preciso apenas com a ingestão de sucos e
vinhos.
Há ainda como preocupação, o fator das baixas concentrações do trans-
resveratrol nos alimentos utilizados no cotidiano, como nos mirtilos, cacau, algumas
espécies de uva, chocolates e morangos, assim, pensando em se ter um controle de
consumo e se inserir uma dosagem diária para melhorias na saúde, foram sendo
desenvolvidas suplementações de resveratrol, para se ter um maior controle em sua
quantidade utilizada, por meio de cápsulas (LEAL et.al., 2017).
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Alves 2015, pontua que na utilização do bioativo para comercialização, o isômero


cis-resveratrol não é comercializado em decorrência de sua instabilidade na forma
sólida, entretanto, quando há a comercialização do isômero trans-resveratrol, que é
estável, ao ser utilizado, ao entrar em contato com radiação UV, o isômero trans é
convertido, fazendo com que a forma cis seja facilmente obtida.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pele é formada por duas camadas a epiderme e a derme, já a hipoderme é
responsável por conectar a musculatura a pele. Cada uma delas possui importância,
função e características especificas. Alterações em sua estrutura podem comprometer
suas funções e consequentemente levar a um envelhecimento mais acelerado.
O processo de envelhecimento da cútis pode ser favorecido por diversos fatores
como o desequilíbrio de EROs, facilidade ou não da penetração de compostos, como
também a etnia, gênero, estilo de vida do indivíduo, tipo de pele, espessura, grau de
hidratação, dentre outros fatores.
O uso do resveratrol vêm demonstrando resultados positivos pela prevenção do
colágeno na derme, como também por estimular os fibroblastos da pele para
produzirem colágeno e elastina, reforçando a elasticidade da pele. Tem-se ainda o seu
potencial antioxidante, atuando como neutralizador do estresse oxidativo, propiciando
um rejuvenescimento da pele. Foi observado que ele tem ainda a função de proteger
a mitocôndria e a biogênese, impedindo o desequilíbrio de EROs, por promover a
ativação da SIRT-1, ativando as enzimas antioxidantes e o óxido nítrico, levam a
redução da TNF-α, que ativam a PGC-1α.
Em decorrência dos efeitos promovidos pelo resveratrol, este pode ser
considerado um ativo com aplicação para o processo do rejuvenescimento. Porém,
mais estudos para investigar os efeitos a longo prazo da suplementação com tal ativo
devem ser realizados, pois a literatura ainda carece de dados relacionados a dose
mais eficaz.
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REFERÊNCIAS

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uma visão geral. RIUNI, Repositório Institucional UNISUL, Santa Catarina, 2018.
Disponível em: <https://riuni.unisul.br/handle/12345/5254>.

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2017. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Nutrição, Centre Universitário Ibmr/laureate
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