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● O conto de Rosa apresenta relações com o texto de Santiago porque: (I) utiliza uma
linguagem regional, quebrando a ideia de que para fazer literatura, é necessária a
utilização da norma culta e também porque a literatura de Rosa é totalmente diferente
da literatura padrão. (II) pode ser entendida como uma metáfora entre o colonizador
(Iauratê) e os colonizados (onças) onde o verdadeiro “predador” é quem está
dominando. (III) Rosa, se utilizando da sua realidade e da linguagem regional, produz
um texto tão bom quanto os textos europeus, mostrando assim resistência ao que lhe
foi imposto. (IV) Além disso, reforça a ideia expressa por Santiago de que o escritor
latino americano escreve a sua realidade.
Portanto, Rosa se equipara aos grandes autores europeus, pois suas obras tiveram
impactos expressivos em sua época e ainda hoje. Por exemplo, ao retratar a caatinga
da região centro-oeste do Brasil e os modos de vida ali existentes, em sua famosa obra
Grande Sertão: Veredas, bem como no cerrado, no conto aqui discutido.
Outro aspecto da obra de Rosa que se encaixa nas teorias exploradas por Silviano
Santiago é a de que o escritor latino americano escreve a sua realidade. Transparece
em "Meu tio, o Iauratê" o quanto o autor se preocupa em retratar o cotidiano do
personagem:
“Tem carne, tem mandioca. Eh, oh, paçoca. Muita pimenta. Sal,
tenho não. Tem mais não. Que cheira bom, bonito, é carne.
Tamanduá que eu cacei. Mecê não come? Tamanduá é bom. Tem
farinha, rapadura. Cê pode comer tudo,’ manhã eu caço mais, mato
veado.” (p. 2)
Isso mostra que o autor latino americano age sobre a sua realidade ao evidenciá-la
para o leitor fazendo com que este a conheça e também aja sobre ela.
Portanto, as relações entre os textos "O entre-lugar do discurso latino-americano", de
Silviano Santiago, e "Meu tio, o Iauratê", de Guimarães Rosa são claras. Uma
exemplifica a outra, tendo assim uma relação de complementaridade. O texto de
Santiago discute o “lugar” da literatura latino americana: literatura que agride, se
rebela contra o que lhe é imposto ao se valer de sua própria identidade. Já o conto de
Rosa atesta as teses de Santiago ao ir contra a norma padrão sintática, ambientar o
conto em um local comum aos seus contemporâneos, utilizar uma linguagem voltada
à oralidade a ponto de não “passar despercebido” por seus leitores, o que o faz se
equiparar à autores europeus de renome. Além disso, é perceptível que Rosa possui
uma literatura de resistência ao fazer de suas obras uma ferramenta social e política,
pois elas geraram (e ainda geram) impactos significativos nos leitores. Esta é a
literatura latino americana: uma literatura, antes de tudo, política e social.