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Voo s {Teiver @ixds nhacta

lisbx, 1elífio d'Ápue & 2903 George Steiner 151

T [199¢] nia se relaciona com aquilo que lemos ou ouvimos anteriormente, e


com as nossas expectativas em relação & forma de execução? A noção
de «fazer novo» (prescrição de Ezra Pound) é comparativa na lógica €
na matéria. Mais novo do que o quê? Não há «singularidades» perfei-
tas, nem mesmo no pico mais acutilante do revoluciondrio. Depressa
aprendemos a ouvir o que existe de Brahms em Schoenberg, a obser-
var as sombras iluminadas de Manet em Rothko. A mais simples as-
serção de preferéncia é precisaments essa: uma comparacio com,
Emfimp«dvdqumnfl:wqmpbmem]mlmlhmnel
O QUE É A LITERATURA COMPARADA?" dissemelhanga, a analogia ¢ of contraste, sejam fundamentais para a
psique humana e para a possinilidade do inteligivel. Em francés, isso
torna-se perceptivel: num «raciocínio», raison, a «comparação», com-
paraison, é um instrumento.
Momderwep;hcbmlmmn‘nifim.mfi-nm.
em arte, em Seja qual for a lingua, não pode ser de outra mancira. Cada palavra,
misica, é comparativo. O conhecimento é re- quer numa comunicação oral quer numa comunicação escrita, chega
-conbecimento, seja no elevado seatido platémico de uma lembranga de
verdades anteriores, seja no da psicelogia. Procuramos compreender, até nós carregada com o de toda a sua história. Todos os an-
teriores usos de uma palavra jou de uma frase estão implícitos ou,
«colocars o objecto diante de nés — o texto, o quadm, a sonata —
atribuindo-Ihe
como diriam os físicos, «implasivos» nela. Não sabemos estritamente
o contexto inteligfvel, informativde uma experiéncia
o,
anterior e afim. Olhamos, intuitivamente, para a analogia ¢ para o pre- nada acerca da sua invenção, excepto quando se trata de um neologis-
cedente, COMO se para os traços fisiondmicos de ume familia (portan- mo ou termo técnico cuja primeira aparição podemos documentar com
mais ou menos confiança. Quem é que inventou, quem é que usou
1o, «familiares»), que relacionam a obra que é nova para nés com um
pela primeira vez as palavras que articulam a nossa percepção interior
contexto reconhecivel. No caso de uma inovação radical, de uma es-
€ organizam as nossas relações com o mundo ¢ uns com os outros?
trutura poética, representacional ou musical que nos surpreende porque
Quem é que deu origem aos sínjiles, às metáforas que codificam o des-
de algum modo carece de precedentas, o processo de resposta é um
dobrar das nossas percepções, tomam o mar «escuro como o vi-
movimento complexo com vista à incorporagio do novo no conbecido.
nho» e determinam que o das estrelas é concordante com o dos
Até a originalidade extrema comega, quando encetamos um didlogo
griios de areia? O nosso , rio acima, até s nascentes da fala
inquiridor
com cla, por falar das origens. Na perceda pgio
inteligibili- é, quase sempre, parcial. Não capazes de datar, de situar geo-
dade ¢ na resposta a cla não existe inocéncia absoluta nem nudez adá-
graficamente, mesmo se de qualquer acto individual de per-
mica. A interpretação e 0 juízo estético, mesmo se espontiineos na lin-
cepção e enunciação, o primeiro clarão da linguagem. Até para os es-
Buagem, mesmo se provisórios e até disparatedos, provém de uma
critores mais andrquicos ¢ i ,, 08 blocos de cimeato da lin-
câmara de ressonfincia de pressupostos ¢ de reconhecimentos de natu- gufstica ¢, em grande medida, 0s da gramática, ji lá estlio, repletos de
reza histórica, social e técnica. (Aqui, o sentido legal do termo «reco-
ressondncias históricas, literáias ¢ idiomáticas.
nhecimentoss é pertinente: um certo pacto de decifragiio e de O artista clássico regozija-se com esta heranga. Muda-se para urpa
esclarecida avaliação subjaz a0 encontro entre h nossa sensibilidade c
0 textoou obea de arte.) Neste processa dinâmico, chamado «herme-
nêutico» talvez por causa de Hermes, dcus das mensagens e das fic-
ções, está implicita a comparação, Como é que este romance ou sinfo-
George Steiner 13 ’rj
A s
ção de Cicero com Deméstenes, de Virgflio com Tederito, de Séneca
com Eurfpides. E não escapa a0 polémico comentário dos primeiros
adverséirios do Cristianismo gue o cendrio da morte agonizante ¢ da
gloriosa ressurreição é comparativamente discernivel nos mitosde
va sintaxe, teria, para se fazer compreender,
de ensiná-la Primeiro a si Osiris ou Adónis.
m.emlmm.Nome:h
lhm-lgu-mmnçm:nw
qu-:: O juizo estético e à exposigin hermenêutica efectuados através da
mmmlm,mm comparação — Dryden e Pope, vistos pelo Dr. Johnson; Corneille e
nun_ucnlnth}‘mm%h.eum
mdemmhlfigmn Racine, lidos por Boileau; Shakespeare ¢ Racine, na polémica de
Stendhal — são uma constante no estudo ¢ no debate literdrio. Técni-
cas de confronto intra e interlingulstico são aperfeigoadas durante os
debates entre «Antigos» ¢ «Modemos», nos séculos XVIl € XvII, e
pelo reinfcio dessa discussão nos conflitos de finais do século xvm
e do sécalo X1X entre o romantismo e as vérias formas do neoclassicis-
mo. Wordsworth é um comparatista em acção quando tenta desmontar
um texto de Gray no prefécio das Lyrical Ballads; Victor Hugo é um
comparatista quando invoca Esquilo, o Livro de Job ¢ Shakespeare
contra Racine, no preficio programatico
a Cromwell.
Weltliteratur {«literatura mundial») € a palavra inventada por Goe-
the. Encontramo-la pela primeira vez num registo do sea diário de 15
de Janeirode 1827. Mas formula sugestdes ¢ priticas que abarcam
toda a vida de Goethe. Ele traduz dezoito linguas, incluindo o gaélico,
o drabe, o chins, o bebraico, o persa e o finlandés (¢ claro que a tra-
dução é muitas vezes indirecta e de segunda mio). Essas traduções
abrangem setenta e três anos, desde um fragmento do latim de Lipsius
em 1757 até extractos da vida de Schiller, por Carlyle, que ele traduz
em 1830. O conhecimento europeu deve a Goethe alguns dos seus mo-
mentos seminais de tradução: a da autobiografia de Cellini, a de
Mahomet, de Voltaire, a de Neveu de Rameau, de Diderot. Dentro da
poesia do proprio Gosthe, o Wess-óstlicher Divan, adaptado do persa,
a versão do Cântico dos Cânticos, do bebraico, ou a tradução e «re-
mmflgmmfimp«mdcdifwammmndc -composição» , do italiano, da ode de Manzoni, /i cinque maggio, cons-
s
m_&çub,sclmlue_eunm,lue_quu-umunhnm
i empresas de nivel superior. O programa teórico para o tradutor
registado na introdução do Divan é um dos mais exigentes ¢ influentes
V-gmo,umeapummenulmdeimpi
heléni na longa histéria
desse oficio.
mm.eumm.m-ummcmb ca, Mas o estudo e a préitica da tradução é apenas uma parte do concei-
MMCNenlnn_thmkm.Onump-mlhnmm to de Weldliteratur.
Por tris desta palavra encontra-se a Weltpoesie,
»,feimmelu-
umo.deummaduh.mlegislndormu uma expressio enraizada nas concepgdes da linguagem e da literamra
mmagmgm.o
moummnm.sloaunplmdcmnfiodnwm
pamivuumb&m avangada por Herder e Humboldt. A faculdade, o impulso para a cria-
Mwm&memfim.mt
mm cen- ção verbal, para a organização de palavras e de sintaxe em modelos
mhcfii‘uemm-u-ilnml
m.pnm formais de métrica e musicalidade é universal. A poiesis, 0 ingenium
——

São estas convioções e à concepção poéticu-crítica que Goethe lhes


deu que constituem os alicerces formais da literatura comparada.
E continuam a ser os seus ideais de responsabilidade.
A histéria de literatura comparada como disciplina ssional c
académica é complexa e, em certa medida, sombria. E feita de cir-
cunstâncias pessoais e sociais acidentais, juntamente com correates
mais amplas de natureza cognitiva e histérica. As interacções entre es-
tes clementoe geradores são tão numerosas ¢, por vezes, incompreen-
lÍll'lllelxmgginn siveis, que anulam qualquer tentativa de uma stimula breve ou segura.
Um campo ou um método de estudo, de leitura, de estudo secundário
, €ra obcecado (edição, comentdrio, classificagio critica) toma-se uma entidade visi-
vel no modemo edificio escoldstico ou universitério se produzir livros
explicitamente para esse fim, quando cstabclece disciplinas université-
rias, publicagies ¢ um programa de cursos. Com passos inicialmente
tacteantes e quase despercebidos, a literatura comparada comega a ace-
der a esses critérios por volta da viragem do século. O seu primeiro ce-
nário de fundo é o das tensdes franco-germénicas, principalmente na
Alsécia e na Renânia, entre o final da guerra franco-prussiana ¢ o re-
bentar-da Primeira Guerra Mundial (que foi, como nunca nos devemos
esquecer, uma guerra civil europeia). Quase todos os aspectos psicoló-
gicos, geogrificos e tópicos que referi se cristalizam no facto de que
um dos primeirissimos livros de literatura comparada modema para
qualquer tendéncia autoconsciente deveria ter sido Goethe en France,
de Fernand Baldensperger, de 1904. E também não é acidental que te-
nha sido de uma leitura alemã de literatura francesa e de uma tentativa
de redefinir a Latinitas, fandamental para a Europa antes dos naciona-
lismos separatistas, que surgiu uma obra tão cldssica em literamra
comparada como a de E. R. Curtius e Leo Spitzer. Não menos crucial
& uma componente afim, mas de natureza trégica.
Não constitni segredo que 0s eruditos judaicos ou de origem judai-
ca desempenharam um papel muitas vezes preponderante para o de-
senvolvimento da literatura comparada como uma sctividade académi-
ta e critica. De facto, somos tentados a relacionar as origens histéricas
desta matéria com a crise factual ¢ animica desencadeada pelo Caso
Dreyfus. Dotado, dir-se-ia, 3¢ uma caparidade fora do comum para as
linguas, forgado a ser um fronialier (a austcra palavra suíça para de-
signar aqueles que, materiale psi i , Vivem
nas proximi-
dades ou mesmo sobre as fronteiras), o judeu do século XX seria leva-
do, naturalmente, a uma visão comparativa das literaturas seculares
que ele estimava mas com nenhuma das quais se sentia originariamen-
te
te ou «por direito de herança nacional» perfeitamente à vontade, Com- dutivos e canvictos, Também aqui, uma necessidade narura! de aquisi-
pelidos ao exílio — a obra-prima da moderna literatura comparada, ção do conhecimento de linguas, uma amarga experiência de exilio,
Mimesis, de Aucrbach, foi escrita na Turquia por um refugiado priva- ainda que interior, e uma interrogação muitas vezes debatida sobrea
do,de manhã à noite, dos seus meios de subsistência, da sua língua identidade histórica c linguística fazem da abordagem comparativa um
matema c da sua biblioteca — os judeus (os meus professores) que ti- método relevante. Mas as profecias são vãs. O que podemos arriscar é
veram a sorte de alcançar a América do Norte verificaram que os de- isto: a instauração desta cátedra para professores visitantes em Oxford,
partamentos tradicionais de literatura, c em primeiro lugar os departa- e a esperança de que um programa completo € com professores pró-
mentos de inglês, lhes estavam vedados. Assim, muito daquilo que prios em literatura comparada — e não apenas europeia — se seguirá,
Veio a ser os programas ¢ os departamentos de literatura comparada coincide com um tempo em que há alguma incerteza, potencialmente
nas universidades americanas nasceu da marginalização e da exclusão frutífera,a respeito desta matéria.
parcial, social e étnica. (Há semelhanças fascinantes no caso da física Mas é, de facto, uma matéria? Pode distinguir-se dos processos de
atómica nos Estados Unidos ) Por conseguinte, a literatura comparada comparação, de leituras e de recepção paralelas e contrastantes que re-
contém em si as virtudes e a tristeza de um certo exílio, de uma diás- feri com brevidade e que são parte natural de todo o conhecimento eru-
pora interior. Escusado será dizer que é esta verdade básica que torna dito? Será que o comparatista, em todo e qualquer sentido profissional
tão oportuna e simpática a generosidade de Lord Weidenfeld ao criar e autorizado, é um bomem ou uma mulher que acordará (que devia
esta cátedra para professores visitantes e a honra que me foi concedi- acordar) uma manhã sabendo que, tal como o Monsieur Jourdain de
da a0 convidar-me para ser o primeiro a ocupar este cargo. Moliére, esteve, como todos os seus colegas, a «falar em pross»?
Nmmnwmm.lmfimm As respostas breves que quero tentar dar a esta insistente interroga-
ção não passam de tentativas. S30.inevitavelmente
pessoais. Não po-
Fufu-:nhM umbhmqnmhnnhanm dem pretender falar em nome deste campo híbrido e proteico como se
de doutoramento. É provável que este floruit já tenha atingido o seu ele fosse um todo. Que Goethe seja o meu guia quando declara, num
termo. Com a morte natural dos mestres-refugiados, os requisitosdo iídiche com sotaque de Frankfurt, que «todo o homem é profeta de
poliglota, os conhecimentos de grego, latim e hebraico e a necessida- acordo com o seu livrinho pessoals |
de óbvia, sempre que praticável, de ler textos originais, diminuíram.
Em inúmeras universidades e faculdades, a literatura comparada, hoje,
é praticada, quandoo é, quase inteiramenteatravés da tradução. A sua estéril. A «teoria» tem o seu significado preciso e critérios de possibi-
fusão com departamentos de línguas modernas ameagados de extinção, lidade de falsificação nas ciências. Assim não acontece com as huma-
com «cursos nucleares» sobre a civilização ocidental e com a recente nidades, em que as pretensões ao «toóricóo» originam, como sabemos &
procura de pan-etnicismo e de estudos «globais» está a ser considera- nossa própria custa, uma algaraviada arrogante. Em relação & expe-
da. São cada vez mais numerosos os curricula em que a «literatura riéncia e ao juízo literário e estético, a «teoria» não é mais do que uma
comparada» passou a significar a «leitura de grandes livros que de intuição subjectiva ou uma narrativa descritiva que se tornou impa-
qualquer modo deveríamos ler, de preferência em edições de bolso e ciente, Recorda-nos Pascal: a esfera da finesse não é a mesma da geo-
no idioma anglo-americano», ou uma decisão, sem dúvida discutível, metria.
de colocar os clássicos, durante tanto tempo prepotentes e empoeira- Considero que a literatura comparada €, quando muito, uma arte da
dos, ao lado, e muitas vezes à sombra tempestuosa, das tradições afro- leitura exacta c exigente, um modo de escutar actos de linguagem orais
-americanas, chicanas ou amazónicas (uma deslocação que já tentou o € escritos que privilegiam determinadas componentes desses actos. Es-
brilhante comparatistaMaurice Bowra). sas componentes não são negligenciadas em nenhum método de estu-
Um ensino mais tradicional da literatura comparada ¢ de pesquisa do da literatura, mas, na literatura comparada, são privilegiadas.
nessa área floresce, actualmente, na esfera outrora comunista. Certos Qualquer leitura comporta a história € os princípios da linguagem.
centros na Rússia e na Europa de Leste contam-se entre 0s mais pro- A literatura comparada, embora atenta aos contributos da linguística
n —
el g
m-mmwmmhflo.mmmm» complexo e ontologicamente enigmático — como é que cles se com-
Mnd-ungunm.Alimnmwmp-mmveeledepdsd: preendem e se decifram uns aos outros, ainda que sempre de modo im-
Babel. Pressupõe a intuição, a hipótese de que, longe de ser um desas- perfeito? — torna-se inteiramente visível e crucial interlingualmente,
tre, a multiplicidade de Iínguas humanas, das quais cerca de vinte mil através das fronteiras da linguagem.
foram, em épocas diversas. faladas neste pequeno planeta, foi a condi- Cada uma das facetas da tradução — a sua história. os seus meios
Çção que proporcionou aos homens e às mulheres a facilidade de com- lexicais e gramaticais, as diferenças de abordagem que vão desde a tra-
preender, articular e «reescrever» o mundo existencial com múltipla li- dução interlinear palavra a palavra até à mais livre imitação ou adap-
berdade. Toda e qualquer lingua interpreta a facticidade da realidade tação metamórfica — é absolutamente fundamental para o compara-
'i eúsw-cid.demdndm(!udomtuhmémnlmminm tista. O intercâmbio entre as línguas, entre textos de períodos históri-
8 pria e especifica. Cada uma das janelas da casa das linguas abre para cos ou formas literárias diferentes, as complexas interacções entre uma
nova tradução e aquelas que a precederam, a antiga mas sempre viva
diver do espectro
so da experiéncia compreendida ¢ classificada. Ne- competição entre ideais, como entre & «letra» e o «espíritos, são os da
nhuma lingua divide o tempo ou o espago exactamente da mesma ma- própria literatura comparada. Estudar, por exemplo, algumas das mais
nfinqmwmflngmohz(!nhumancmfi:wioosumpudu de cem versões inglesas da /lfada e da Odisseia é sentir o desenvolvi-
verbos hebraicos, se assim lhes podemos chamar); nenhuma lingua mento da língua inglesa de Caxton a Walcott (deveriamos dizer «lin-
tem tabus idénticos ao de qualquer outra (dai o profundo donjuanismo guas»); é adquirir um discernimento das relações sucessivas e em per-
bmflefmmmmditum);uhmnllnpum manente modança entre a sensibilidade inglesa c as representações do
exactamente como outra qualquer. À extinção de uma língua, por mui- mundo antigo; é observar o modo como Pope 1€ Chapman ¢ Dryden
-enquantoteitores-de
Homero; e o próprio Pope lendo Homero-através
histór representa
icoa -ma morte de ter
uma visão ial
do mundo ,única, do esplendor especular de Virgílio, Reflectiz acerca de Cathay, de
de um género de memória, de existência actual e de futuridade. Uma Pound, ou do trabalho em curso de Christopher Logue sobre uma Jiia-
lingua realmente morta é insubstituível. Encerra aquilo que Kierke- da , é enconlrarmo-nos cara a cara com o milagre atroz da tradução su-
gaard nos convidou a deixarmos em aberto se a humanidade quisesse prema, feita na ignorância da respectiva língua, realizads por uma
evoluir: «as feridas da possibilidades. Esse encerramento pode ser, qualquer osmose de entendimento que poderia, se ao menos soubésse-
para à tecnocracia da informação c do mercado de massas de finais do mos como cla funciona, levar-nos até ao âmago do mistério da própria
século xX, um triunfo. Pode facilitar o imperium das cadeias do pronto- linguagem. Além disso, é uma audição atenta das falhas ou das imper-
-a-comer e das noticias via satélite. Para as oportunidades do espírito feições, até mesmo da melhor das traduções, que, mais do que qual-
humano, em permanente redução, é um processo destrutivo. quer outro meio de aproximação, nos ajuda a lançar luz sobre o resi-
Elulnm:eun-úivulidúinnnvcldew.xlimmncomp& duo vivificante do intraduzível, sobre o genius loci, por assim dizer, de
rada privilegia um princípio duplo. Pretende elucidar a essência, o nó- qualquer língua. Por mais que nos esforcemos, pão nunca traduzirá
cleo autónomo do «sentido do mundo» , histórico e actual (Weltsinn, de completamente pain. O que é Heimat em inglês, francês ou italiano?
M),almmemm,mqmm.um— Esta primazia do tema da tradução na literatura comparada
gles, as estratégias e os limitcs da compreensio e da falta de com- relaciona-se directamente com aquilo que eu considero um segundo
preensão reciprocas entre as linguas. Resumindo, a literatura compara- centro de interesse. É o da disseminação ¢ recepção das obras literdrias
da € uma arte da compreensão baseada na eventualidade e nos malo- através do tempo é dos lugares. O velho topico da «influência» é ne-
À wbm.límlullwmúmqumm cessariamente vago. Os escritores ouviram falar, «apanharam no ar» e
?& tem inicio dentro da mesma lingua, que os individuos, as geragbes, os no clima de informaglio que os rodeia, de livros que não leram. Mas a
i géneros, as classes sociais, as profissdes, as ideologias, o passado e o investigação cuidadosa da histéria da publicação (que pode remontar
presents «traduzem» sempre que compreendem qualquer enunciado co- aos rolos inscritos ou ditados por Heraclito), da venda ¢ transporte de
municativo dentro da sua propria lingua. Este processo, imensamente livros e periódicos, da disponibilidade de bibliotecas ou da ausência

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” LA MGU U eunge S ~

das mesmas em qualquer dado período ou local, são essencialmente


es- duzido, do «não recebido» (le non-recevoir) é um dos desafios mais
clarecedores. Quem leu, quem pade ler o quê e quando? Quais foram subtis dos estudos comparatistas.
:m'exm aflhmclmm'm citages e traduções dos idcalistas ale- Uma nota de rodapé banal mas imperativa se anexa a estes dois in-
que estiveram, de 4 disp deosiç
Coleridge? ão
Quanto é teresses privilegiados. Nenhum erudito ou professor de literatura com-
Mvmm-mmamwamvª parada conhece línguas suficientes. Roman Jakobson tinha fama de co-
tempo levaram — esta questdo ocupou Nabokov na sua cdição antori- nhecer dezasscte, mas «todas em russos. René Etiemble insistia em
m:mmmmeuwguu-ummmm que até um «europeísta» deve ter conhecimentos de chings ¢ de drabe.
m:‘mlcmm&m?mmhmdmm Para a vasta maioria dos nossos, tais requisitos sio sonhos censurdveis
pnmeuuhmxdonmaodechwmmqwmm ou trazem-nos & memdria Joseph Needham! Mas é justamente porque
Troil and Cressida?
us grande parte do scu trabalho faré uso de tradugdes, ainda que sejam
O contrério parece-me uma questio igualmente significativa. Por- simplesmente da Biblia hebraica, que o comparatista deve, em todas as
que é que certos autores, obras ou movimentos literdrios «passam» fases do seu trabalho, ser inlensamente sensfvel a essas mesmas ques-
(para usar uma expressão francesa) enquanto outros permanecem obs- tões da tradução e da disseminação a que fiz referéncia.
tinadamente nativos? Não obstante a sua incomensurével complexida- Os estudos teméticos constituem um terceiro «centro de gravidades
de verba e sintdctica,
l Shakespeare «passa», inclusivamente ao nivel em literatura comparada. A anilise, principalmente por parte dos for-
da bands desenhada, para a linguagem universal. Racine, que creio ser- malistas russos ¢ antropólogos estruturalistas, confirmou a notével
lhe perfeita comparável emment
forga dramática
e e, por vezes, mais economia de temas, as técnicas de narrativa recorrentes e sujeitas a re-
ndnlnanvimldedlm ‘econo não
mia,
«passas. Titus gras que prevalecem nas mitologias, nos contos populares e na trans-
Otway,de 1676
é praticamente
; « única ten- missão de histdrias por via oral, na literatura mundial. Histérias de ten-
hnvnmp.nd-.:mm;lh de chegar a um acordo «negociável» com tações e opções triddicas, como por exemplo eatre trés caminhos, trés
a reali sublime
dadede Racine. Sir Walter Scott ostá nas origens do his- castelos, três filhos, trés filhas, ou trés noivas possiveis, relacionam
toricismo romintico de Madrid a Odessa. O maior romancista inglés, Edipo com o rei Lear, Lear com a familia Karamazov, e variantes sem
George Eliot, continua a ser uma presenga essencialmente doméstica. conta desta estrutura-raiz com a histéria de Cinderela. Tem-se discuti-
Não menos ilustrativos são os exemplos de sobrestima, o enaltecimen- do que há, como afirmou Robert Graves, «uma histéria, e uma histéria
to de um escritor para além da sua categoria real ¢ nativa, gragas à tra- apenas»: a de «A Demanda». O epis6dio de exccução vingativa em
duçã ou & mimesis.
o Poc é um poeta-pens maior numaador
escala que 1, The Jury, de Micky Spillane, talvez deva a sua forga inegével aque-
vnd:BuldehhneM‘llmnéankyMMapnwm le assassinio ritual do rei-sacerdote, cujas ramificagdes globais Frazer
Academia Francesa. O desconstru é um cioni
credo fundamentalis
smo - tentou inventariar no seu Golden Bough. No Ocidente, a arte, a músi-
ta nas universidades
do Nebraska. ca, o cinema e a literatura do século XX tém regressado incessante-
Não há explicagdes imediatas. A dificuldade lingufstica intrinseca mente à mitologia cléssica: a Edipo, a Electra, a Medeia, a Ulisses, a
não parece, de modo nenhum, causal: veja-se o Rabelais de Urquhart Narciso, a Hércules, a Helena de Tróia. O meu estudo sobre as Ansí-
ou as tradugdes do Ulisses de Joyce para alemão, italiano e francés; gonas surgiu em 1984, Já está desactualizado. Desde então, apareceu
tenham-se em conta as magnificas versdes francesas de Gerard Man- mais uma dúzia de abordagens cénicas, narrativas e líricas desta «can-
kyw.bmumlqdl.hm.mmmm ção triste» (rótulo de Chaucer). Uma bibliografia recente do tema de
lvlmmdambhaim:nloyampbdlfiwvividnomfi- Fausto no drama, na poesia, no romance, no cinema e na música abran-
ciente para levar por diante a sua intenção recorrente de traduzir Os ge vários volumes e está incompleta.
Lustad de as,
Camões, uma das obrasda-prim literatura europeia
as po- Aqui, navegamos em águas profundas, talvez agitadas. Porquê esta
deria fazer parte do cinone anglo-american
reconhecido.
o O que acon- economia de ficção? Avancei a hipótese arriscada de os mitos gregos
tece com demasiada frequéncia é que simplesmente não conhecemos principais coincidirem, de certas formas, com as origens da gramática
nenhuma boa razão. Mas a fenomenologia do intraduzivel, do não tra- indo-europeia. Histórias de identidade incerta ou contestada reflecti-
163
xiunndumzim;hpxdnalevlcihmcdapu‘ma‘u: se;
do singular; a lenda da permanência inocente de Helena gmfimmm’:‘ ponto de vista de amador, creio que essa carência provocou falhas e
distorições graves nos nossos mapas da sensibilidade e do pensamento.
qmwammmwwuemam
k Estou convencido de que muito mais do que a medicina, as ciéncias
, pode Wunlçmdod:muvolvimmdnquelumcum s fragmentos filosoficos dos antiges gregos viajaram
naturai e alguns
até nós. Apesarda iconoclastia islimica, tantas vezes exaj nas
desorições ocidentais, fragmentos ou mesme mais do que isso, da lite-
ratura grega, escondidos talvez nas citações, chegaram até ao ouvido
ra a associação
de explicar
‘medieval. (Não vejo outra manci que Chau-
cer faz de Antfgona com «a sua triste cançõo», ou threnos.) A este res-
perto, temos muito trabalho pela frente.
men‘mpou(velquelmedfiua:mcdavafiaqi).mwmm-
Isto € igualmente vilido para todos os dominios do neclatim. Em as-
misica, estejam também gravados na linguagem c na representação.
pectos lexicais e gramaticais subsequentes, o latim continua a ser fun-
Pode acontecer que um modo «formular» de contar a mesma história
damental na Europa no Direito, na politica, na filosofia, na ciéncia e na
demmdflm;—vejm-uosmmmn—sejam
literatura, desde a queda do Império Romano até finais do século xix.
impulso de forga quase-genético. Quandoo actual «pbs-modernismos
Obviamente, é ele o idioma das propostas filoséficss e cientificas, e do
dechracpeuompoemqmuwlmlmnmnimiu}twr
debate ¢ da critica de São Tomás de Aquino 1 Leibniz, de Roger Ba-
bou»,uleapmnmd:qmninvmçlodeaushinóriujíwmm— con a Copémico, Kepler ¢ Newton. Há tescs académicas que são com-
r,hlbuunwmwo.llque.wmommemháudnunng&n-
postas e «defendidas» em latim. E a literatura também. Esta ubiquida-
jm; nempoqn»li;m:mrrx é reversivel: agora, a Odisseia vem depois
de inclui dramas, poemas líricos, sátiras € pocmas épicos compostos
e » (c( Borges)
é os argonavtasda Epica greg
e helenisti
a ca em letim, desde Portugal até & Polónia. O latim é o meio através do
Sseguem-se à Sear-Trek. = e e qual Milton é conhecido fora de Inglaterra. Baudelaire sabe ¢ escreve
Petmium—mcqumpin:nmeumpmmxmpamunmccomulfln-
pozsia em latim, assim como Tennyson ou Hopkins. Mas o efeito, a
Euas naturais, uma investigagio sobre a recepção e influéncia de tex-
aura é muito maior. É quase impossível interpretar coerentemente a re-
m,ommmmmemmmmmm tóric a
das literaturas curopeias, as noções essenciais de sublimidade,
todos os estudos literdrios. Na literatura comparada, estas questõ
es
e as de sárira e de riso que elas contém ¢ articulam, sem um conhecimento
Suas interacções criativas recebem uma énfase especial, É à luz dessa adequado das «implicações» do latim, das intoctas € muitas vezes qua
!nfuequegofluin.d:mvonumb-uobvixmgmpeuml.d:chn
- se subconscientes transposições de intimidade ou de distância entre o
mnmnplopmumfimdepmwiw:xplmbedflmvulvi-
autor que escreve em vulgar ¢ o molde latino. Isto € tão decisivo para
mento dentro deste campo, Dante como para Swift ou Dryden; é tão crucial para Corneille como
ommmeammmmw atin as
para Valéry. Na verdade, as línguas neolpodem ser extraordina-
demuhwinmmmmgemmmmflommigmmfic:
riamente difíceis. O facto estúpido de apenas relativamente poucos de
edummmmmw.mmmmwfiuomlmfilw
nós serem capazes de lidar com ele de modo apropriado deixou uma
meammmwmm.mumi—
lacuna junto 10 eixo central dos estudos comparatistas europeus. Tam-
mmwfifiqkmealw,mmm
bém aqui tamos pela frente uma tarefa necessária e fascinante.
único de coexisténcia entre o [slamismo, o Judafsmo e o Cristianismo, Um pocma, uma peça, um romance, nunca pode ser totalmente se-
emohebnico.uínbeeohdm.eosvm“esqnddndnívmm: parado das ilustrações ou outras formas de arte que inspira, da sua
(AWmle-mhwahmwnmdcindoW.)
adaptação & música, dos filmes, das versões radiofónicas ¢ interpreta-
Çm_zm,nmgnqumam&hm,deenhinn.lmlemuise
ções televisivas que nele se baseiam. Roman Jakobson chamou «trans-
me%aw&me&nvumnmw-
mutações» a este tratamento de um texto através de outros meios. Isto
ndmlmmqumlsu-pmaammewupeh.Dum
parece-me vital para as disciplinas da compreznsio e da avaliação em
Puixão Intacta George Steiner s
164

u—mmm.mmmhw,mmqunw yngodefludidu?mxdkmflnnmfiuuhdonmmde
musicais diferentes do mesmo poema de Goethe ou de Eichendorff por Mwamudmm,mmmdoe
Schubert, Schumann e Hugo Wolf constituem um proce obriga
quesso mevam.u@mfimlmfiom-
a uma «colocação» hermenêutica e crítica (termo de F. R. Leavis, que mentais. Exactamente como na poesia, também na filosofia e na meta-
Ver-
de f,
ecoa, com tanta precisão, em «adaptação»). Oteilo e Falstaf Mume—vmum:mmamm
potenciais , de interrogagbes que colocam a si préprios e
di, têm uma relação próxima, por assim dizer exponencial, com à com-
aoleilnr .eth m.hc luflvmamm;hmfisdiufl»em
preensão de Shakespeare na Europa tardo-roméntica. As vidas de
Hamiet são também as das diferentes Gperas, filmes, pinturas e até bal- tentativas de tradução pouco cuidadas, um processo complicado de co-
la:-wnmmmmmaummm,«o M.Amw&wawumw
Velho Marinheiro, de Coleridge, foi o resultado fantasmagdrico das quadas ou incorrectas da palavra «ser» e do verbo «ser» no grego an-
umam.mp.-mmawwm. tigo foram determinantes para a história intelectual, e talvez política,
hipérbole.
uma ente
do Ocidente. não é simplesm
-memmmmc.wnm.um
gias gráfico-auriculares da «realidade virtual» contribuirão, de modos Aquimumlfiuflnm:ewunmmwdmolmmdo
mnuimweviflvds.punnmep@dlungu‘medalimupnn mmmimmmuunm.-mm‘nwn
w.&mwfimammdfiwmtm e o ricorso temático. Até o pensamento mais abstracto, uma vez ver-
sentido informativo de metamorfose a outro de mutação. Mas não
era balizado (e será que pode existir o pensamento pré-verbal7), exibe o
imowwafimtvmwmcfiu ummmmhfldemmmflam
mwmmmmqmumm m.flnuuflswmmlflmeumm—
omn&umw,whuuufl.d:m? duza & hermengutica do que o esforgo para observar, para elucidara
«intendatex filosofia tua lid
e da poética, ade
para ouvir »que
a música
Nummm,mwmucm_s»
itato.
reias», desde a Grécia arcaica até Joyce, Kafka e Magritte. Em parte, o pensamen
hab
mnflwimmglommfinmi-mwmhppl-
minal da música e das artes. A iconografia, tal como é praticada por O momento actual na Europa é pouco consolador. Os ideais, os so-
Ahymx,wtyelmww,wlhimfihelfib— nhmnk‘wolunidmunlmmipfllhuedmhw-
os
sofia da música & maneira de Adorno, constituem uma parte elementar uma burocracia rancorosa. De modo quase incompreensivel, após
m.wumuwewlum s.o m-
da literatura comparada.
Finllmu,lpnnnfilmmmhiflqué.m-o.mpixh lismo demente. os 6dios tribais, a intolerância religiosa e étnica irrom-
puwlLRndalo‘iufimllemumfiu.uhafiluofileMa pundemo:nuhlfil.mmdnflme.mmhm.cm
mfilflficlfloumleflodalingm.em.mflmmmfilmdfi— mmm‘Amfimm&mq&flc
o
wwmummufivmaw,mm, ujanmhnmdfl.finfllwmunfil — e mesmo assim
da retérica, dos meios de representacio e ilustragio em que é formula- acordo é escasso — parece afastar-se das expectativas realistas. Há si-
do. Isto &, em si mesmo, evidente, ¢ não só quando procuramos com- Nuçóelanqueo&mld:Mmhl.hoje.éuislnjodoqump—
mfluehflw&rmflmfimfiwewwm sado, quando a Gri-Bretanha, durante o Renascimento, na época de
sas como as de Platio, Santo Agostinho, Pascal ou Nietzsche. O
mes- Anmwmwm,mmmmm
mo se verifica em todos os textos filoséficos, metafisicos e teológicos. continental do que está hoje. De modo paradoxal, a qualidade de ln-
Mdmmin.polfiinndeunflubhenmdemwmimema wlp.mhúoiodu.d:únbompam»vuvdmldhán.o
wmficioa-fi:m,i.ohmaind:mfiululmnda&mquem-
tinental de legado pds-latino e germénico.
in-
Seria uma tola bazófia supor que qualguer apelo ou contribuicdo
dividual, principalmente se partisse do suspeito, porque ainda parcial-
166 Paixão Intacta

‘mente’ protegido, campo académico, poderia alterar o estado das coi-


sas. A ostentação do dinheiro ¢ 06 meios de comunicação escamecem
da voz do intelectual— uma definição que em si mesma só pode ser
usada com uma dose consideráve! de ironia ¢ de remorso. Quem somos Y an '*W "“_\m m'w_ i
nós para der sermões aos outros? Que maior presunção e que maior *mén VGAA sR i
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tedra e a projectada colaboração entre este programa de literatura com- 3 ey 0 e Wy n t ÍR a A

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parada e outros ramos dos estudos europeus são o indicio de uma de- L5 B R G ta rww vm»mm»w

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