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C A P Í T U () IO

'

e
F. Schleiermacher
V/. vonHumboldt:
a haduçãono espaço
hermenêuticoJingüístico
PodemosapresentarsitnultaneamenteF. Schleierma-
cher e W. von Humboldt?Esteúltirno, granderepresentante
do Classicisrnoaletnão,mas na verdadeligado a todasasten-
dênciasde seu tempo, passatoda suavida coufinado enì uÌÌl
campo que é próximo da filosofia,da literahrra,da filologia,
rÌìasque sedeixadefinir apenasconÌo tllna preocupaçãocotts-
tante corn a linguagerrì.rNão se trata de filosofiada lingua-

l. SCHILLER escÍeveenl 1796a Hurnbolclt:"Você tern, a ntett vet, tlll.ri.t


natureza tal cpe proíbe contálo entre o Iríturero de homens cle icléias,sá-
bios e especulativos- e uma cultura tltte o excltti cloníttnero clefillrosge-
niais cla natureza.Sett caurinho certatnelttertão é o da procÌttção,nras,
vocêteur o julganrentoe o fervorpaciente"(ln: lntroduc'
parâcorììperìs!ìr,
tion uux cBuvresde Hunboldt Trad. PierreCattssat.Paris:Le Setril, 1974).
Esse"julgamento" e esse"fervor" referetn-se ao o estttdoclalinguagenr.

2t3
gelÌì, à nìaneirade Herder ou de HamalìÌì, nern, evidente- A hermenêuticada compreensão.rompe corn os li-
rnente,de lingüísticano sentidomoderno.Em seustextoses- rnitesda herrnenêuticatradiciolral(essencialmetrte
aque-
tão enhemeadosreflexãoabstratae eshrdoempírico das lín-
la que visa a estabeleceras regrasda interpretaçãodos
guas.This corno são,essestextoselnanarnainda hoje - por
textossagrados)e pretende constituir-secoilÌo ull-ìateoria
essamishrraque àsvezesos torna obscuros- urn forte poder
da compreensão inter subietiva. C ornpreendalnos, Proces-
de exortação,e assimcompreende-se por que elestenhamso-
sosde "leiturâ" que se dão no nível da comunicaçãode
licitado pensadores tão diferentesquanto Chonrskyou Hei-
sujeitos-consciências.A compreetrsãode tm texto (obie-
degger.Poderíamostalvez adiantar que eles representama
primeiraabordagernmodernadaquilo que se chamou desde to exclusivoda antiga herrnenêtttica)é, atrtesde tudo, a
entãode dimensãosimbólica.z do procluto expressivode um suieito. É tarnbém â corÌÌ-
E Schleiermacher?Mernbro ativo da Atheniiwn ent preensãode um fenômenode linguagemobietivoque se
sua.juvenhrde,ele consagratodasuamahrricladeà elaboração, define menos por seu autor do que Por sua situaçãona
paralelamentea urna obra de teólogo e de hadutor (Platão), históriada língua e da cttltura.
de uma teoria da herrnenêutica.De fato, é precisoconsiderá- Teoricatnetrte,a compreensãomove-seem todos os
lo como o fundador dessahennenêuticamodernaque secon- planos que podem se referir à inter-expressividade dos stt-
sidera una teoria da compreensão.3 De Schleiermacheraté jeitos.Mas descobre-se que setl esPaçode ação fundanren-
Dilthney, Husserl, o "primeiro" Heidegger, Gadanrer e tal é a linguagem.Primeirameïìte,esteé o seu medium de
Riceur, há toda uma linha hermenêuticaque é necessário explicação.Ern seguida,a compreensãoé geralmentecen-
distinguir das teoriasda inteqpretaçãoqtre são,ern um certo trada nas expressõeslingtiísticasorais ott escritas.tErn últi-
sentido,asobrasde Nietzschee de Freud.t trìo caso, há também tlilìa comPreetrsãodos gestos,dos
atos,etc. Mas a cena de desdobramentodestese claemana-
ção de seu sentidoé forçosamentea linguagen' Como diz
2. "O sistemasinrbólico é forrnidavelnrenteinhincado, é nrarcadopor essa
Vers,chlungenlrciú ri Gadamer,tirandoa 1içãodasintuiçõesde Schleiermacher:
[quel designao entrecruzamentolingüístico - qualquer
sírnbolo lingtiístico facilmente isoladoé não somentesolidário corn o óon- Á
jr-rnto,masé recortadoe constihrídopor toclauma sériede afluências,de so- Devetnosao Romantisttroaletnãoo fato de ter anteci-
bredeterrninaçõesoposicionaisque o constihrem âo meslÌìo tempo ern vá- ï pado a significaçãosistemática<1uepossttio caráterlin-
rios registros.Essesisternada linguagem, no qtul se deslocanoso rliscurso, T
não seriaalgo que superâinfinitantente qualquerintenção que possanìosco-
locar nele e que é somenternomentânea?"(LACAN, facques.Iz Sémínai-
re.Paris: Le Seuil,1975.p.65. t. I.). são.É tocloo conflito clapsicanálisee clafenourenologiatal couro-estáula-
l. Ver o artigo de SZONDI, P.ln: Poótíquesde l'Idéalisrneallemand. Pa- nifestadoem Merleau-Pónty e Riceur. O trabalho de Steiner sobre a tra-
ris: Minuit, 1975.p. 291-715. dução sihra-seno ârnbito clateoria da cottrpreensãoe é surpreendentetltte
4..Grosseiramentefalando, as teoriasda compreensãoposhrlarnque o sen- nunca tenha recorrido às descobertasda psicanálise,que, no entanto, po-
tido cle suas"expresões" é acessívelao sujeito nrediante um mõviurento dern mudar nossavisãodos processosinter- e intralingiiísticos'
hernenêutico de auto<ompreensão. As da interpretaçãoposfulam<pe o orais,
5. Schleiermacherpropõe,-cornefeito, rtttraleitttra das exlxessõ-e-s
suieito, cle unr certo modo, não tem acessoencluãntotâl a essaconrpieen- ott seja,as cla"conversãção".Cf. SZONDI. Op. cit', p' 295 e 297.

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guâgeiro cla conversaçãoern relação a qualquer ato de giiísticanìoclenìa.A hernretrêuticné indispensávelporque
compreender.Ele nos ensiÍìouque conìpreenclere inter- há opaciclacle lìas eiPressões
ou até itrcotnpreetrsibiliclade
pretar são,no final clascontas,unra Írnica e mesrnacoisa
A linguagemé mais precisamente o meio uniyeÍsalno interìumaIìâs. Ela é o resgatedo sentidodessasexpressões
1,.,.1
qudl se operaa própria compreensão.6 lÌâ ilÌedida elÌÌ que ele não estáimediatalÌÌenteexplícito.
A lirrguagerÌìconÌo meio e trão ttraisinstrumento,eis
Assinr,a hermenêuticareencontra,a partir de suas o que lìá de novo. Pois todo meio, Por nattlreza,é, cotno
própriasexigências,a dirnensãoda linguageÌncomo seïì- diz Lacan, "alguma coisa que supera irrfinitanletrtequal-
do sua própria dimensão,essadilÌìensãocorn a qual o lìo- quer inteÌÌçãoqtte possaïIìos colocarttele".
mem estabelece,ao rnesilÌoternpo,uma relâçãode sujei- As reflexõesde Humbolclt girant igualrnenteem tor-
ção e de liberdade: no dessarìatrlrezada linguatgern:

Sempre que o discurso(Rede) não estátotalnrente liga- A linguagerné assittro ureio,senãoabsolLrto, ao lÌìenos
clo a objetos que se têrn sob os olhos ou a fatosexteriores sensível,pelo qual o Ìrottreurcláforma sinrttltatleamentea
clue se trata sornente cle enunciar, selììpre que o falante ele mesmo e ao Inttnclo,ou urais precisamentetorna-se
pensamaisou rÌìenosde maneiraativae autônomae, por- conscienteclelenestno proietanclouttr ultndo fora <Ìele.t
tanto, quer se expressar,ele se encontra ern uilìa dupla re-
Ìaçãocorn a linguagern,e seu discursosó seráexatamen-
te cornpreendido na rnediclaem que essarelação o será A língita deve, portzlnto,totrar o aspectoclaclupla natu-
iguahnente.Caclahornenr é, por um lac1o,dourinado(ln reztt do urttnclo e clo hotrteur se tltiser cotrverterent inte-
der Cewalt) pela língua que fala; ele e todo seu pensáÌilìen- raçãofecunclaassolicitaçõestrtíttttasclerttn e tle orttro;ott
to sãoprodutosdesta[...] Por outro laclo,cadaÌrornernque mais exatamente,cleveabolir a natttrezaprópria cle cacla
pensa liwemente e de maneira ativa fomra poÍ suâ vez a tunracìelas,tanto a realicladeinrecliataclo objeto collìo a
língua [...] Nessesentido, é a força viva do indivíduo que closuieito,para,a partir daí, procluzircolìÌ novosesforços
procluznovasfornrasna rnatériaflexívelclalíngua [...] De seu próprio ser, não conservauclotnais clesseclttpÌo con-
moclo que todo cliscursolivre e superior deve ser com- teúrdosenãoa fonna icleal."
preendiclode urna rnaneiradupla.T

As reflexõescloscloispensadoressobreo ato cletraduzir


Não se trata mais sonìeÌìteda lingtragerÌìcoilÌo ex- nraisde-
(vatnoslÌosateraqtli sorìerÌteàsde SchleiernÌaclìer'
pressãoou "postulado"(Novalis)do pensamento,rnas'da neste rìovo
seïrvolvidas)devetn estar sihladasrigorosaïÌ-ìente
lirrguagenr coll;romedium Ílltiïno de qualquer relação do enfoque:a linguagenì collìo ilìeio otl colno "ser próprio".
hornern consigomesmo, os outros e o murÌdo: enfim, des- Poisse nos limitásselnosaosprincípiostécnicosou éticosda
sa dimensãoda linguageme da palavra resgatâdapela lin- tracluçãoque elesenurÌcialÌì,teríamosunÌa certadificuldade
paradistingui-losdos de Goethe,ou até closde A. W. Schle-

6. GADAMER.Métlndeetveríté.Paris:Le Seuil,1976.p. 235.


7. SCHLEIERMACHER."Sur lesdifférentesméthodes de traduction" 8. CartaparaSchillercitaclaporCaussat. Op. cit.,p. 17.
In: STÔRIG.Op. cit.,p.43-4. 9. Ibid.,no ensaio"LatittmttnclHellas",p. 20.

216 217
gel: lnesrÌìaexigênciade "fidelidacle",de restihriçãoexataclos No dia 24 de iunho de 1823, Schleiernacherfaz
valoresdo texto estrangeiro,rÌÌesrììocliscursohuntanistano uilìa corÌferênciana AcaderniaReal clasCiêrrciasde Ber-
qual se reafirrnarno rnovinrentoda Bildune e a oposiçãoàs lim intihrlada "Sobre os diferentesrnétodosde traclttção".
traduções"à frâncesa".Mesma ênfasesobrea lei da Bildung Essaconferência,prtblicaclaposteriorlììenteeIÌì stlâsObras
que acreditaque o acessoa si nresmosó sejapossívelpela ex- completas,estáligaclaàspesquisascltteele efetualìa lneslrìâ
periênciado outro. Foi SchleiermacherrÌÌesrnoqueilì prova- época no donítrio da herttrerêutica.Pocle-se até dizer que
velmentesoubefornrularessalei da rnaneirarnaisexata,evo- ela constitui ttnr capítttlo das rnesnras.
cando "o estrangeiro e suanatttrezalnediadora"."' Antes cle analisaressetexto, é intport:rnteressaltaro
Mas o horizonteé outro de qualquermaneira,por- seguinte:trata-sesenrdÍrvida do único estttdodessaépoca
que atnbos passarÌìa ser sensíveisà relação natural do na AlenrarrlÌaque cottstittti rlnta dhorddgemsistemáticae
hornenr.corÌì a linguagenr,conì a língua ntaterna,com â metódicada tradtLção.
realidadeda diferençadas línguarse, enfinr, conì a opa- Metódica,poistrãose trataaPelÌâs, paraSchleienna-
cher, de analisar,tnas de dedttzir,a partir de defilições,os
cidade própria ao medium lingtiístico, opacidade que
não é serrãourna das faces cla Verschungenheitevocada rnétodospossíveisde tradução.
por Freud e Lacan. Sístemática:Schleiennacherprocttra delirnitar a ex-
O resultadopara a tradução é urn novo canrpo de tensãoclo ato cletraduzir Iìo calÌìPototal da colÌìPreeÌÌsão,
ação,o da linguagem natural e o da infinidade, não rnenos delimitação que se opera pela exclusãoprogressivaclo que
entrecruzada,de relaçõesque todo homern pode estabele- não é esseato e por stta situaçãoarticttladatìessecaÌrÌpo.
cer colÌì sua língua matentae as outraslínguas.rrA tradu- Uma vez feita essadelirnitação,tortta-seetrtãopossíveìpro-
ceclera Llm exalÌÌe (ele próprio sistenrático)clastradttções
ção rrãoé rnaisencarregadaclesuperarestas(a Atheniiurn),
de brincar conr elassoberanamente (4. W. Schlegel)ou de existentese cle criar ttnra nretoclologiada traduçãoapÌica-
relativizálas crrìhrralnrenteno espâço da Weltliteratur da aosdiferentesgênerosç\eRede.''Sãoessesos passosqtle
(Goethe).Paraa tradução,trata-sede atuar no seioclessa cli- seguen sttaH ennenêutica.
rnensão,nenr privada rìerÌì social, nrassirnbólica, na qtral Estanrosaqtti na presençacle ttm cliscursosobrear
se considerao humano na constihriçãode seu ser. traduçãoque se consicleraracional e filosófico e c;ttevisaa
c<urstitttirutna teoria da tracluçãofitndatnetrtetcla etn tttna
ccrt'ateoria clasubietivídade. Eis a rtrzãotatnbétn de se tra-
1 0 . In: S T ORIG,.Op .cit., p.69. f rtr rtcltticonstatrtetnetrte cle pessoas:o tradtttor,o intérpre-
ì1. Assirn, SCHI,EIERMACHER, F. estudasinultaneamente à traclu- lc, o iÌlltor, o leitor, etc. A esse respeito,verelÌìosqlle a nìa-
ção as relaçõesdas ìúrguasnacionais,os casosclebi- ou cìeplurilingiiis- rrc:irir pela qtral Schleiertnacher defile os cloistiposde tra-
nìos, as condiçõescle elevaçãocla língua nraternaao estadode língua
"culta". A traduçãose vê assinrsituaclaern lllÌÌ espâço"entrecruzado",
no clual a relaçãocorÌì âs línguas pode aclquirir nril forrnas.Humboldt
estudaa relaçãodas línguas corÌì seusclialetos,corÌì suasconruniclades, I2. ltìssasisterniíticaperÍìì:Ìtìecerto estacloprogranlático.

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dução que pâra eÌe sãopossíveisé característica: ern úrltirno zer,da filosofiae da literahrra).Essaclistinçãoacarretattrna
outra: a interpretaçãoé essetrcialmetlte oral, a tiadução,es-
caso,trata-sede dois tipos culturais,sociaise psicológicos
de tradutores.A traduçãotortrott-seaqui unr ato intersubie- sencialtnenteescrita.Tiata-sede distinçõesque têm origern
tivo, o "jorro de uura porçãode vida".rt no sirnplesboilr senso,e schleiennachervariprocurarfunder-
rnerrtá-laserì ulÌìâ outra distinção,tnaisessetrcial:a do obie-
Schleiermachercoureçapor ulna reflexãosobrea
traduçãogeneralizacla: há sempre"tradução" quatrdodeve- tivo e do subietivo:
mos interpretar unr discurso:que ullì estratrgeironos fale
Qttanto llìenos, lìo original, o próprio arttor trparece,
enì uilÌa língua que não é a ttossa,que um caurponêstros nrà ele age ttnicatnerrte"corno óigào cle assinrilaçãodo
interpele em patoá, que uIÌì desconhecidoempregtle ex- obieto 1...]'maisse trata,na tradttção,cleum sirnplestipo
ìt
clefttnção cleintérPrete
pressõesque corÌìpreendetnostnal, ott que re{litarnossobre
resoluçõesque torrtamosunÌ dia tnas que agora nos pare- Sempreqtte o autor âParececolÌìo o sirnplesservidor
ceur obscuras... erìì todosos casossolÌÌoscotrduzidosa um
cle utn conteítdoobietivo,há assirninterpretação- oral ou
ato de "tradução" - sendo que o nais difícil rtão é forçosa- escrita.Sentpreqtte ele próprio tende a se exPressar' no do-
rnente o que diz respeitoa ulna língua estrangeira.Em re-
nrínio da "ciência" ou cla "arte", há tradtrção.Utn pottco
surÌlo, toda connnicação é enr algutn grâu uIÌÌ ato de tra- a sua distin-
mais adiante,Schleiernrachertenta aprofrurclar
dução-conrpreensão: discursosenr
ção. O câmpo da interpretaçãoé aquele dos
que a linguagenrtencleâ se torlìar pura clesignação sem es-
Pensanrentoe expressãosão essetrcialurente e intiuta-
rurentea nresna cois:te [...I sobreessaconvicçãorepousa pessura.Nessecaso,lìão soilìelÌte estaé sinrplificada ao ex-
e, portanto,tâlÌì-
toda a arte da cotnpreensãoclo cliscttrso
treilro, nrasnão tetn valor etn si mesma,é apetraso veículo
bénr de cpalcper tradução.r+
indiferentede uilr conteírclo.Mas enr literattrrae ern filoso-
Mas SchleienÌìaclÌercuida setn detnorade distinguir fia, o atttor e setttexto estãopresostressaclttplarelaçãoconl
essatradução generalizadadatraduçãorestríta,ort seia,a tra- a linguagernevocachmais acima: há ao Inesttrotetnpo nro-
clificaçãoclalíngua e expressão do sujeito.A sabecloria filosó-
dução interJínguas.Entretanto,neltì todo ato de transmis-
fica, diz Schleierrnacher,cleve"clesabrochar tro sistetnada
são irter-lír'rguasé forçosametrtetradução.É precisooperâr
líttgtta".'6O discursoliterário é tarnbérn tlttt "ttovo lÌìolnen-
urna segtrndadistinção:aquela entre o tradutor e o intérpre-
to na viclada lítrgua",'tperlnalìecendoa expressão írnicaclo
te. E issobaseatrdo-se no seguinte:a ftrrtçãode ilrtérpretees-
(suapaìavra).Essesdoisplanossãoao
irrclivícluo mesmo tern-
taria rnaisrelacionadacolÌÌ a "vida dos tregócios",e a tradu-
ção rnaisconì os dorníniosda "ciêucia" e da "arte" (quer di-
15. J,lrContranìosâ lÌìesltì2Ìclistinção eur qtle lìenÌ
enr hertnenêtttica,
tutlonrereceum atode courpreensão. Cf. SZONDI' Op' cit', p' 296'
I i .l n : SZ O NDI .O p.c it . ,p .2 9 7 . 16.l n:S ' IÔR IG.Op .cit . ,p. 65.
1 4 .l n :ST Ô RI GO . p.c it . ,p .6 0 . 17,Ibi d.,p. 44.

LOI
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Perante essa "lottctlra", Schleiernrachertnetrciona
po distintose unidos,e tatrtoo tradutorqttantoo herrnenett-
duas práticasqlle supostalrente resolverizrmas clificuldades
ta estãoenvolvidos.Literaturae filosofiasão,portanto,do do-
a paráfrasee a recriação
da tradtrção,porétn esqttivatrclo-as:
nrínio do "subjetivo",nìas essesubietivosignificatambém
(Nachbildung).Nos cloiscasos,o problernaé cotrtortrado,ott
una intimidade cotna língua própriaque trãoexistetlo caso
negado.
dos textosdestinaclos à interpretação.Aclerindoao subjetivo
do sujeitoe ao íntimo da língua lnaterlÌa,o textoliterário ou Mas o tracltttorverdacleiro,que qtler fazer realureute a
filosóficoafasta-sede qualquerobjetividade.Essaé uma vi- cotlttuicação etltre essascltt:tspessoasitrÌeiramentesepa-
radas,sett-escritore sert leitor, e levar este írltilllo, sern
são que prolonga ent parte a da Atheniiu,?2,lÌìas que estáli-
obrigáìo a sair do círcttlo clalíngtta trlaterna,a tlill gozo e
gadatambérÌìa essânova percepçãoda linguagem que nâs- tlÌna'colÌìPreensãotão iustose ãorlrpletosquzrntopossível
clo primeiro, tlttaiscatniuhosele pocletoutar?t'
ce na época,segundoa qual estatrão é tanto representação
quanto expressão: a linguagem, doravatrte,pressupõeutn
"enrdizdmento:niaojunto às coisaspercebicìas, mas iutrto ao A respostaâ essaquestão,que clefine da tnarleira
suieitoeilì suâativiclade".'3 rnais subjetivapossívelo Processogeral de qualquer tradu-
fonnttlação'
Eis então"deduzida"a extensãoda traduçãoverdadeira: ção, estápraticatnetrteincltríclaeilì stlâprópria
Srrpottltatnosqlle ell qrteirafazercotn qtìe llllì attrigoett-
Na verclacle, ulÌìa vez cluea língua é tttna coisaìristórica, contre algrtérn que ele trão cotrhece: cotrsiderandoessas
não existesenticloautêntico destaselÌì tlllÌ sentido de stra cluaspessoas, oll ilÌeu alÌìigo irá ver essealgttétn,ou esseal-
história.As lírguas trão são inventadase tlttalclttertrabalho
puranretrtevolttntário sobreelase rlelasé lortctlra; mas elas guér' visitarártreu arnigo.É assirnque raciocitraSchleier-
sãopouco a pouco clescolrcrt:rs e a ciência e a artesãoasfor- rnacherpâra a traclttção:
çaspelastlttaisessaclescobertaé realizaclae conclttída."'
Ou o tracltúorcleixao utaispossívelo escritorenr rePolt- I
É o tradutorqtteé incutnbido de transmitiressas obras so e faz o leitor se lì-ÌoverelÌì clireçaoa ele; ott ele deixao I
leitor o rnaispossívelelÌì rePotlsoe faz o escritorse lÌìover I
da ciência e claarte qtte fazetn a vida históricade unra lítr- err clireçitoa ele.::
I
gua.Mas cotno ele pode passarparaa stlârlíngua algunracoi- I
sa que dependeâo ilìesrÌo tetnpo da intimidade cotn a líu- No priureiro caso,o tradrttor obriga o leitor a sair
gua estrangeira e cotn a do suieitoque se exprime ttessalítr- clesi tnesmo, a fazeÍtllÌì esforçode descentratnetrto para
gua? Corrro transrnitira interiorídadeda outra lílgua e do percebero âtltor estrangeiro elÌì setl ser cle estrangeiro;
autor estralìgeiro?"O traduzir,assitncotrsiderado,não pare- iru s"gttrtdocâso,ele obriga o âtltor a se despoiarde sua
ce unì louco enrpreetrditttetrto?"2" cstratthezaParase tornar farniliar ao leitor' O que é irt-

Gallimard,Ì966.p. 301-
Paris:
18.FOUCAULT,M. lzs motsetlesc/roses. 71.l bi < \'p.47.
4.
22.tbi d.
ì9. In: STORIG.Op, cit.,p. 52.

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262
A tradução qtle se esforçapeÌrâdar ao setl leitor unl
teressanteaqui não é tanto a traturezada distinção (tra-
texto tal coìno o autor estrangeiroo teria escrito se fosse
dução etnocêntricaou não etnocêtrtrica)quanto a ma-
"alernão" é inautêntica, porque negd d relação profunda
neira pela qual ela é enutrciada:unì Processode encotr-
que liga essectutorà sua língua l:rópria- E cotno se, decla-
tro intersubjetivo.
ra SchleiernÌâclìer,considerásselÌìosa patenridadenula:
Desseponto de vista,não sornetltenão há, não pode
haver outros métodos,mas todasas outrastnaneirasde co- Sitn, o clueresponcleretnos' ao lei-
se tllÌì traclutorclisser
locar os "probletrtas"da traduçãoestãosubordinadasa esta: tor: eu lhá hagoô Ìivro cotÌro essehotnetrt o teria escrito
seele o tivesselscritoeur aletnão,e o leitor lhe responcler:
lrotlretr-t
Ïrdo o clte se pode então cìizer clastracluçõesqtle se- [...] é colto se você tne trottxesseo retratodesse
irl como ele teriasidosesttatnãe o tivesseconcebiclocotn
guern 2ìletra ott o sentido,qtte sãofiéisott livresI '.1,deve
Jer trazicloparâessesdois [nrétodos].1...1O que há <lefieì tutnotttro pai? Poisse o espíritodo atttor é a n-rãedasobras
e de ligado ao senticlo,ou cleìiteral demais otl <lelivre cle- qtrepertencenr[...] à ciêniia e à arte,a língtranalal (t'ater-
ruraieein tttrt dos nrétodosserá cliferenteclo que há de fiel lihúisches)é o sett Pai.2'
e cìeligadoao senticìo,de literal cletnaisou clelivre demais
no otttro tnétodo.2'
Essateoria é, ao meslno tetnpo, a negaçãoclasotttras
línguas rrìateflÌase a negaçãode sua própria língua lnâterrÌâ
Essetnodo de reorcletrarascoisassó tem senticlopor- - é rregaçãoda própria idóia de língua mdtemd. Qttetn trega
que a tradttçãotonrott-seaqui ttttt capítttlo da cotnpreen- osoutrosnegâa si tnesrno.E Schleiernracher tnostra(semto-
são.Mas não é tttdo: Schleiern'racher dedica o restode stta que essetipo clehaduçãoestáligado,pelo
claviadesetrvolver)
conferênciaà análisedos dois métodos e à consagraçãodo
rnenosna Alematrha,a ulÌìa sihlaçãoculhrral na qual a lín-
primeiro, examitratrdosttascotrdiçõese settsetrticlo,eÌn se- gua nacional aincla não se auto-afinnotl' elÌÌ qtle não pode
guida rnostratrcloo absurdofutrdauretrtaldo segundo'Pois nem acolheras otltraslínguasenì stladiferença,llenì se co-
estepoderia ser fonnttlacloassilÌì: locar como ttma língrta"culta"; sihraçãona qttalosmetnbros
da comunidacleÌiilgiiística podeilr ficar tentadosa falar otltrâs
Deve-setraclttzirtttn atttor colììo se ele próprio tivesse
escritoetn aleurão.t' línguasntais"edttcaclas":

Entluattto a líllgtra tltaterttit não está fonrracla, ela per-


Em resumo,a sistemáticade Schleiermacher tende
l uanece settc l oa l ítl gtl a tttatertta1> arc ìi tl "'
o mostrdrEte há umd trdduçãoautênticae umd tradução
inautêntica, exatatÌÌelìtecotno há uuta cornpreensãoe cptevênr "cotnpÌetar"líIrgttasestrangeiras como o latim
urÌÌâ conìunicaçãoautênticas,tllÌìa colììPreelìsãoe tllÌÌa ou o francês.Assinr,o bilingiiisrnocttltttralbloqueará,ao
comulicação inautênticas.

25.l bi d.,p. 65.


Z). Il>íà,p. 49. 2(r,Ibicl.,p. 61.
24.Ibicl.,p. 48.

265
LO't
l. Língua francesaclássica,.€ tlaslíngrtas
expalsão/clornirlaç:ìo
ilìesrÌìoternpo e durante um longo período, o desenvolvi-
prisioneiraclecâttoues \\- "parciais"
estrangeiras
rnento literário da língua rnaterna e o das traduções.Pois
\--\ìt I ra<ltrçoes-a<ìaPI açòes
essebilingüisnronão significaunra aberturaparao estran-
\ t n.luçoesetnocêntricas
geiro, rnas antes o fato de ser dominado por este írltimo.
Tão logo a língua maternase afirma corno língua de cul-
língua parcial"conrpletacla"pelaslírguas
tura, â conrttnidacle que se define por ela poclepensarem
nrais"fomratlas";bílingiiisnro intelecttral;
traduzir línguas estrangeiraselÌì vez de as falar. Lrversa-
s uj ei ç ão
rnente,a língua naterna não pode seafirmar cornolíngua
traduções"levando o autor ao leitor"
de cultura enquantonão tiver se tornado1ínguade tradu-
ção, enquantoaquelesque a falam não se interessarem li-
3.Lírrgtraal errrã.-.#l írr gtra..l i v re,,,..aberta' '
vrerrrerrtepor quenì é estrangeiro. A traduçãoinautêntica
clássica/romântica
corresponde, portanto, d umd relaçãoinautêntica com cI \
\ afir'raçãodalí'gua rììâtenìa
\
língtLa materna e as outras línguas. Pelo rnenos é assirn
e produção cleobtaspróprias
que serianr fo_nnuladas as coisaspara a cultura alemã.
tracluçõestrão etuocêutricas
Pois, para Schleiernracher,a tradução francesa diz
respeitoou à Nachbildung,otr à operaçãoetnocêntrica.O
francêsé como
a tratttrezae a pos-
Dessemodo podern serdecltrziclas
todasaslínguasprisioneirascloslaçosdemasiadoestreitos sibilidade histórica da tradução autênticâ. Esta, diz
de unra expressão clíssica,lora clatpal tuclodeve ser re- Schleiermacher,
feitaclo.Essaslínguasprisioneiraspodenrbuscaro alarga-
mento cle seu clomínio fazendo-sefalar por estrangeiros
rlue necessitaurclealgo nrais do (1le a sua lírgua nrater- repousa sobre clrtasconclições:que 2Ì cotÌìPreensão
na [...] Elas podenr se apropriar clasobras estrangeiras das obras estrangeiras tettha se tonrado algo conheci-
atravésclerecriações,ou talvezde tracluções do outro tipo clo e desejacloe qtte â líugtla uratertÌaPosstlatllÌÌa cer-
ta flexibiliclade.rl
letnocêntricasl.2t

Vê-seconro o tema da tradução"à francesa"volta Tais sãoas concliçõesque prevaleceilìàsvésperasdo


a ser situado aqrti eìn urÌì paÌrorarÌÌamais aurplo, o do século l9 na Alemanha.Ao que é precisoacrescentârtllÌìa
tipo de relaçãoque ulÌÌâ cultura pode estabelecercom a outra condição: a da attto-afirmaçãocla língua nacionaÌ,
língua materna.O que pocleriaser resunridonos três es- airrclaque essaafirmaçãodependadialeticarnenteda nova
quemasseguintes: relaçãocom o estrattgeiro.

28.Ibi d.,p. 58.


27.Ibid.,p. 56.

266 267
A tradução iuautêntica uão cornporta evicìente- de liberclade.O etlertrão qtle qtler PreservâÌr sua virgirlcla-
rnente rrenhnnrríscoparaa culturare a língtra nacionais, cle é unra língua iÍr ctrlttrrahtretrteittvesticlae clorllinacla
a não ser o cle se privar cle cltralcprerrelaçâo corÌì o es- pelo francês.fttstattretrte, qrtattclose fazetrÌtraclttções,há
trangeiro. N4asela não faz outra coisa senão refletir otr rÌìerÌosrelaçõesde clonrinarção. Mas o risco clepassar brtt-
repetir ao infinito a nrá relarçãocolÌì estecSrejá existe.A talnente cleunr extreÌììoa otltro e, portalìto,clecleseclui-
tracìuçãoautêntica,por surÌvez, eviclentertrente corÌÌpor- librar a relaçãocolÌì iì língua tÌìiÌterlìâexiste:
ta riscos.Enfreutaressesriscossupõeunta cultura cluejá
Poistão ver<lacleiro tluanto isto,falta dizer 1...I qtre é so-
tenha confiança elÌì si, erÌì sua capacidadecle assinrila- netrte pela cotnpreetrsão de viíriaslíngttastpe o hotlletn
ção. F'alancloclatracluçãoautêntica,Schleiernacher cliz: se torni clealgunr ntoclocttlto e ciclaclão clonlttncìo,cleve-
trios entretatrtocotrfessar c1tte,rìo lÌÌeslììotnocloclte rlão
consirìerauros o estaclocleciclaclãoclo tttttttclocolììo 2Ìcl-
Fazerissocour arte e conr neclicla,selÌl se preluclicar
e.setnprejuclicrra líugua,essaé talvez, n,"io, dificrrl- cladaniaarttêntica,assirtrtanlllérlt, no cÌottríttio<laslín-
guâs,r.uìrtal anror rtniversalnão é tanrbérno atlor vercÌlt-
claclecpe nossotrachrtortenha cìetriirrspor.r"
ileiro e reahlente forrnaclorf...1Assinr cotÌlo o hotlrent
clevese cleciclirclttatrtoa pertencera tJnr país,ele clevese
Pois clecidircluantoa perÌetrcera Urlra lírgtra ort a Lltlrzrotttra,
sob pettã de flutirar setn clescanso elìÌ tllÌÌ clesagraclável
nreio-tenno.'ì
iìpreserìtâr
o estrangeirona língtta rÌlaterrìar"

pode alÌìeaçaro qrÌe Schleiernrachercìranra,cle noclo ad- Esse desagraclável lììeio-terlÌìo é o risco qtle correln

nrirável,dasheimischeWoltlbefhtdender Sprache,o bern-es- o tradtttor e seusleitoresao qtlerereïÌìse âbrir ao estralÌgei-


tar farrriliar(assinrpoclenrostracltrziraqti heínúsche)clalín- ro, rrìasé esseo preço cle qtralqtrerBíldung vercladeira.E
gua.O que Herderchanravade "suavirginclade": essaé, para SchleierlÌÌâclìer,LLmdcertezddecorrentetantct
de sua consciêncíade hermenêuticoquanto de nLa co'ì'tsciên-
SenrpreseouvirerrutlLreixas
cìecpe unr certo tipo cletra- cía de intelectualalentão.
dLrçãoclevianecesslriâurenÌecausarclanosiì pureza da
lírgua e a seLrpacíficocìesenr,olvinrento
intenro.'3"'
TotnelnostllÌÌ exelÌìplo tltÌÌ potlco cliferentePareÌes-
clarecer isso. Pocle-seinterpretar o Antigo 'festatlletlto cle
Todo o petrsanrentode SchleierÌÌÌaclÌernrostra nrodo a extrair stta verclacleprópria, sent preiulgar a priori
aqui qtte esse"pacífico clesenvolvinrento
irrterno"da 1ín- a lìatrlreza dessaverclacle,ott querer logo ler, entre as li-
gua rÌìatenìaé ruÌì urito. Pois o que existenão é urn tal do Novo Têstattretrto.Pode-seteltnbénles-
rìlìâs,a verclacle
desenvolvirÌìerìto sepârâclo,nras relaçõescle donrinação colher uilÌa relaçãoabertae clialógicacolÌÌ o otltro, otl Pre-
ferir unra relaçãode clorninação. A tradtrçãoinatttêtrtica,
elÌtre as línguas que develÌì ser substituíclas
por relações

falavapara
rle cltteSchleiernracher
31. Ibid., p. 63. Não lìoses(1teçaìrÌros
29.Ib i d .,p . 55.
a Acacletnia cle Berlinr.
30.l b i d .,p . 56.

268 269
nrírltiplascletttna lììeslÌìaobra,cer-
riasliteraturas,traclttções
colÌìo diria Heiclegger,é urn "existelcial" possível.Ela é
tanbém, conro Schleiernracher nrostrabenr,algo culturerl- tarnentecle etcorclocolrÌ o camitrho irldicado,podenclose
cornpletarnrtttttatnetrte,ocasiottarccxtfrotrtações, discttssões,
urente deternrinaclo.Mas quaiscprercluesejauressascleter-
rninaçõeshistóricasou culturais,há senrpreunr rnonrento etc.A traduçãoem grandesproporçõesé na realidadea consti'
qtre é da orclemda escolha,lÌìeslÌÌoque essaescolhanão tuição de um campo da traduçãono espaçolíngüísticoe lite-
sejaforçosaurente consciente.A Bíldtntg,corÌìseuslinrites, rário.F',a tracluçãosó tettr sentidoelÌì tllìÌ calÌÌPoclesses.
seusperigose sua positividacle próprios,é urna escolha:a Schleierrnacher,falanclocle traclução"gralìdiosiì",
do humanisrnoclássicoalenrão."Apresentâro estrangeiro pensaevidetrtemetrtelÌo qtle acabade acotrtecertraAlema-
aceitarque estasejaanrpliada,fe-
eln suâlíngua rÌìât'enìâ", nha cotn Voss,A. W. Schlegele ele próprio,e lìessaesco-
Herder pelo
lha históricaque a crtlhtra aleruãfez, clescle
cunclada,transfornraclapor esse"estrangeiro",aceitara "na-
lÌìelÌos:
turezarnediadora"deste,essaé uma escolhaque antecede
q,ralq.r"i consicleração estreitanreutenretoclológica.Ora, irttertta,tra cltaì se expritnebenr cla-
tinra necessiclacle
rrrrraescolhaé senrpreunra escolhrrclertrtrmétodo,de utn rarntettteunt destinopróprio cletrossoPo\Io,eÌÌìPtlÍrot'l-lìos
met'hodos,cle urrr canrinho, é seurpreo traçaclode urrr para a tracluçãoerìr lÌìzìssrl; trão poclenrostnais recttâr,e
precisoavançar1...I Assirn,setrtitnosigulLlrente qtle lìos-
calÌìpoa serpercorriclo, esquaclrirrhaclo,
cultivaclo.E é uré- ia lí-rgua1...I só pode realntetttecrescere clesenvolver pìe-
rito apenascle Schleiennacher o fato cle ter apresentaclo nanrentesua pletra força pelos contatosnrais rrtúrltiplos
essaescollra colÌìo â cla autenticidade,confrontando-aa conr o estreutgeiro f...1Etn razãorìe setrrespeitopelo es-
trangeiroe sttztnaittrezaruediaclora, tÌossopovoestiítalvez
trrrraorrtraescolhapossí',,el,
a àa inatLtentícidade.
Poisesses clestinacloa uuir toclosos tesottrosclasciênciase cìasartes
cloiscolceitos ulÌerÌì ardinrensãoética e a clinrensãoonto- estrangeiras colÌì ossetÌsem sttalíngtta,fortuatrdo,por as-
sirn clizer,unr gratrdetoclohistóricotlo cenÌro e lÌo cor2Ì-
lógica,a iustiçae a jrrsteza.
ção claEuropa 1...1Essel):Ìreceser, clefato, o verchdeiro
Conr baseuisso,Schleiennacherpotle clizercpe a obietivo histórico cla traduçãograncÌiosa, tal conro ela é
agorafanriliarerÌì lìossopaís.Mas para isso,apenasé irpli-
traclrrçãoarrtênticadeve ser unt processo
maciço: pritneiratnentei...1Não
cár'elo nrétocloqtteconsiderattros
se clevenrtetitergrattcles cìartospara rtossalíngttit Por câll-
Esse tipo de trrdução exige uru processogranclioso, sa cle todosessesesforços.Poisé born cotrstatrr(ltle, elÌÌ
runraimplantaçãode literatLrras inteir:rserìì urÌìa língua e tuna lítgua elÌì (ltle a traduçãoé praticaclaent tão grandes
só telr senticloe valor enr ilrÌì povo rlLteteut una tetrclêu- proporções,existetantbénr ttttt clotttúlio rìe lirlgrtageu
cia cleciclicla
a seapropriarcloestrirngeiro. Os Ìrabalhosiso- (Sprachgebiet) próprio paraastracltrções e (lue tluitas coi-
lacloscìessegênerosó tên unr valor de sigtroprecttrsor." sascpe lltessãoperrniticlas ttão seriattrconsicÌeracìas possÊ
veisalhures 1...INão poclerttoscleixarcle reconliecerclte
nrtritascojsasbelase vigorosets cletrossalíngtrasó seclesett-
Digaruosque seclevetratarcleurn processoao rÌÌesrììo volverirrngraçasà tradtrção,ort só forattt tiraclasrìo esclte-
e phral: tracluções
terrrposistemático cleváriaslíngtras,clevír- ciurentograçasa ela.t'

p. 57.
32.ll';ir''., 33.Ibi d.,p.69-70.

27l
270
E preciso tun Sprachgebietparlicnlar para as tradu- te o tuscitnentode tttna palavra(o que iá é eul si itllpos-
sível,porquea expressão clestasupõetambétlt a certeeade
ções, urn calÌìpoque lhes sejapróprio tro itrteriordo cam- s", coìttpt.ettclidòe porcpea linguagemenr geraÌsó pode
po cultural, pâra que o estrangeiropossacrttnprir stta ftttr- serpetrsacla colÌìo tllÌì prodtltocÌetttna açãorecíprocae-si-
na clttaluttt dos tertlrosnão estáemtorldições
t.tt,titâttea
ção rnediadora.A criaçãoclesseSprachgebiettrão se define de ajutlar o outro e na qttal caclattlrt deve enfrentarsett
corÌìo uÌÌÌ projeto titânico e poetizante,conÌo enr A. W. próprio trabalÌroe toclosos outros),esteseassenleìÌrariaao
Sclrlegel,rÌlâs conìo a realizaçãoclesslEruteiterungda lín- sur[imento de tttna figura ideal na !ìrìtasiâ clo artista'
Estã,igualnrente,não pocleser tirada<lealgo de reaì,ela
gua naterna cluereivindicavalììHerder,Leibniz e Lessing. surgepor tllÌìâ purâ energiacloespíritoe, no senticlotnais
Não há duvidasde que a reflexãode Schleiermacher próprio, clo nada; mas a partir desseinstante,ela é viva,
re,rle dttriivel.'*
resulÌìea experiênciade toda sua épocaeur trtatériacletra- I

dução (conr exceçãoda cleHcilderlin),cleqtte ela fornece


Notemos que esse"trabalho" do espírito(trata-sedo-
a forrrruÌação nariscornpletada lei da Bildung, de que ela
ravantede "trabalho",ilão de "iogo poético",apesarda com-
nos convidi a urÌìa reflexãosobre a tradução firnrada ern
paraçãocolÌì o artista),Hunrboldt não procttra defini-lo li-
valoreséticos.Desseponto de vista,os textosde Hunrboldt
grande nearrnente,lrìâs comPreendêlo em toda sua nrítica cotn-
que varÌìosexarninarbrevemetrtenão atcrescelrtant
plexidade.Urn pottcornaisadiante,ele escreve:
coisa;lras têm o mérito cletraçarmuito claranretrteos limi-
úesda teorialrunranistada traclução, liuritesque só Hrilder-
Toclasas forruasda lingttagern sãosínlbolos, não as pró-
liu soube,ness;répoca,ultrapassar. prias coisas,não signoscotlvelciotrados,lììas sons que
Ern 1816,lluurboldt publica stta tracluçãodo Aga- matttênt coÌìì as coisase os conceitoscltteeles rePresen-
tan [...] reÌaçõesrealurentetuísticas,se puclertnoscÌizer
mêmnon de Ésquilo, tra qttal ele trabalhavahá utttnerosos assinr,rèlaçõesclttecontêttrosobietosclarealidade,por as-
alìos,âcolÌìpanhando-a de unra introduçãona qrtalele ex- sin clizer, er.n eitaclo cle clissoluçãonas idéias e qtle Po-
clenr,de una ntaneirapela çral não é possívelirnaginar
põe sinrtrltarreamentesua visão da tragédia gregà,da lin- nenhntn linite, mudar, cÌeterruinar, seParare religar."
guagem e cla traclnção.Essa introdtrção distingtre-sedos
textoscontenrporâneos de A. W. Schlegeìtro ponto elìÌ que tão bern a desconcertante
Raratnetrtedescrevett-se es-
liga a teoria clatracluçãoa ulìì!Ì teoria da linguagenr.Têoria na qual o proclutor (o es-
pessurâda dirnensãolingiiística,
que vai beur além da teoriada linguagetn-poesia de A. W.
pírito) é conro que rnil vezessllperaclopor seu Produto e
Schlegele tenta expressâro cltteé talvez inexprinrível:a in- seusinfi nitos euraranhalÌÌelìtos.
timicladedo pensanrento e clalinguagenr: Essadimensão que os teruÌos de "represerltação"e
de "expressão"não bastarnParâdetenÌritraré utna dimetl-
tlna palavraé tão pouco urn signocìer.rnrcouceiÌoclue
o próprio conceitonão poclesttrgirseni ele e, por unÌâ râ- são que se retalha ela própria elrÌ outros tatrtosprodutos
zão aincianraisforte,uuuter-sesenrele; a açãoindeternri-
nada claforça pensanteé reuniclaelìì urììa palavracotno
mrvenslevessurgerì clo funcloclo céu sereno.Ei-la agora
uossuinclotttn carátere utna for-
corìÌoulìÌ serincìiviclual.
34.Ibi d.,p. 81.
pensarhutnatratnetr- 35.Ibi d.,p. 82.
1...]Se cluiséssenros
ça cìeternrinacìos

272 277
"locais" do espírito:as línguas.E tal é a pluralidadedasvi- Essatarefa é a da literatura etÌÌ prineiro lugar: qual-
sadasinternasna lingttagem em geral (representar?simbo- quer língua e até o mais htttnilde dos dialetos,diz Htun-
lizar? significar?revelar?nornear?designarTexpressar? li- boldt, é capazde expressar
gar?separar?determinar?)e, portanto,claslíuguas,que ne-
nhurna língua,por suaprópriaidiossincrasia, é inteirauretr- o maisalto e o tuaisDrofttndo,o Ilraisforte e o mais teruo.

te "traduzível", isto é, inteiramente "correspondente" ;r


Mas
unra outra:
! essessonsestãoadorlllecidosconro enì urì instrutnento
I
Como uma palavracujo sentidonão é dado iurecliata- 'f
clue trão se tocâ, até que a nação os clesperte.
nente pelos senticlospoderia ser plenanrenteiclênticaa
trnrapalavrade urrraorrlralírrgrta?'u I
ì O que quer dizer que a literaturafaz sutilmente osci-
Eir Hellasund Laüunt,Fìumboldtvai aindatnaislonge: lar o edifício itrteiro dos símbolos Para afiná-los,ou seiâ'
torná-loscâpazesde sempre mais "significabilidade"e de
[...] mesrnono casode objetospuramentesensíveis, os expressividade:
termosernpregadospor línguascliferentesestãolonge cleser
verdacleirossinônirnose 1...]promrnciandoinros, equusoLr Pocle-seclar a essessírnbolos um senticlo mais alto,
cheval,náose clizexatarnentea rnesnracoisa.Acontece as- mais profunclo,rriaisclelicaclo[...] e assima linguagem,
sin a foftiori no câsoclosobjetosnão sensíveis.tt ,.rrt tir,tn nrudançareahnenteperceptível,é elevadaaté
tunrsenticlosuperior e amplia-seaté uln sentido clue se
representade matreiranrÍrltipla."'
Aqui, a diferençadaslínguasaclquireuma profturcle-
za abissal.Poiso que acontece,se i,7tlÍos,equuse chevalnão
dizem a ÌÌìesrÌâ coisa?Thlvez elesvisemà rnesrnacoisa e A tradução,aqui, trão faz senãoprolongaressaafina-
nãodigam a ilìesnÌacoisa?O que significa entãodizer? ção do itrstrttmentosintbólico. Historicarnente,Hurnboldt
A tradução,rìessecasoprecedidapela literaturâ,é o sabedisso,essaafinaçãoda língua pela traduçãodesempe-
nhou na Aletnanhaum papeltlÌaior.+" E etn algumaslitrhas
que proïnove 'a.Bildung clalíngua:
decisivas,característicasdo Classicisnro alemão,tão fortes,
A tradução,precisamenteacpelados poetas,é 1...1unr ou até rÌìais,quanto as de Goethe oll de Schleiennacher,
cÌostrabalhosmais necessários erìÌ urÌìa literatura,erl Dar-
ele define o qlle se pâssacotÌì a "fidelidade" da traclttção,
te porqueela abre,àquelesque ignorauras línguasestian-
geiras,formasclaartee da hturaniclacleque lÌrespenÌìane- tentanclopropor unr conceito desta que evite tatrto a via
ceriarn,sem isso,totalrnentecÌesconìrecidas [...1,em par- "francesã"qttanto a da "literaìiclacle"brttta:
te, e, sobretudo,porque ela conclnzà anrpliaçãoclacapa-
cicladesignificantee expressivada língua própria.'E

36. Ibid. 39.Ibirl.,p. 8Z


17. In: CAUSSAT. Op ciï.,1':..22. 40.rbid.
38. In: STORIG, p. 81.

27+ 275
Se a tradução deve trazer para a língua e o espírito da conìo?E por qttem?Humboldt responde:pelo leitor "não
naçãoo que não possuerÌì,ou possuelÌìdiferentemente,a
primeira exigênciaé a clafidelitlacle.Essafidelidaclecleve prevelÌido".Mas cltten é o leitor lÌão prevenido?[Jnr lei-
estarcÌirigicÌapara o vercladeirocarátercle original e não tor não prevenido,o qtle é? Alérr disso:se-atarefada tra-
f ...1parao que lìá cleaciclentalnele; da mesrnaforrua,cle
urn rnoclogerâI, toda boa traduçãodeve nascercle unr
dução é ampliar a capâcidadesignificante e expressiva
âlÌìor sirnplese senr pretensãopelo original f...1A esse de uura lítrgua, de ttrna literatttra, de ttma culhlra, de
ponto clevista estánecessâriarÌìerÌte ligado o fato de qne a unÌa nação e, portâlìto, clo leitor, ela não pode ser total-
tradução cârregâelÌì si urn certo colorido de estranheza,
, lÌìasos limites a partir closcpraisissose torna um erro 1...I ilìente definiclapelo que a priori a sensibilidadeclesteírl-
I sio acluiuruito fáceiscletraçar.Por mais que se tenha sen- tirno pode acolher; iustatnettte,todo o Preço da tradu-
I tido o estrangeiro,lÌÌâs não â estranlìezâ,a traduçãoterá
f atingicloseusobjetivossuprelÌìos;nlâs lÌo lugar enr cpre i ção é (teoricarÌrente)o de arnpliar essasensibilidade.A
f aparecea estranhezacorno tal, obscurecenrlotaÌvezo es- Fremdheitrìão é soïÌìentea insignificânciadaquilo que é
trangeiro,o tradutorclemrnciacpe não estáà alturaclesetr
I intrtilttretrtechocante;otl, para evocarttrn problernaque
I original. O sentinrentocloleitor não prevenidonão cleixa-
rá de notar â(ìui â linlìa divisória.1l qualquer tradutor cotrhece bent, unta traclução que
"cheira a tradttção"não é forçosarnetlteruim (enqttartto
Releiarnosa frase decisivadessetexto: "Por nrais que, itìversanÌerìte,se poderia clizer que uma tradrtção
que se sinta o estrangeiro,mas rìão a estranlìeza,a tradu- qne não cheira de rnodo algttm a traduçãoé forçosatnen-
ção terá atingicloseusobietivossuprerÌìos;mas no hlgar te rrrinr).AFremdheiúé tarnbén-ra estratrhezado estran-
elÌì que âpareceâ estrzrïìlìezacoilìo tal, obscurecendotal- geiro en toda stta força: o diferente, o lìão-seIÌìeìhante,
vez o estrarìgeiro,o tradutor denuncia que não estáà al- ao qual só se pode dar a setnelhançado mesmo nÌatan-
tura de seu original". Por ulÌì l:Ìdo, o que enuncia Hum- clo-o.Pocleestar aí o terrível da diferença' lÌ-ìastanrbénr
boldt e a própria verdade:há unra literalidadeinatrtênti- sua maravilha;o estralrgeiroapareceusemPreassinr:de-
ca, uïÌÌa estranlìezainsignificanteque não tenr ÌÌeÌÌlÌuma mônio ou deusa.A linha divisóriaelìtre o estrangeiro,
relaçãocoÌÌÌ a verdadeiraestranhezado texto.Da ltesrna das Fremde,e a estranlteza,die Fremdheit(que pocleser
forrna, há urna relação inautêltica conì a estranlìeza, allnheimlichkeit de Rilke e cle Frettcl,a "inqttietarÌte-es-
que a rebaixaao que é exótico, incornpreensível,etc. E tranheza"), é tão clifícil de traçar quatrto aqllela entre a
exatalnerÌteo que A. W. SchlegelreprovavaenÌ Voss:ter estranhezainautênticae a estratrhezaarttêntica.Ott tne-
criaclourn pidgin de grego e de alernão"estranho" cle- lhor, é uma litrha qlle se deslocaseïÌÌcessar,cotrtitrttan-
nrais.Mas o problenìâé saberse a linha divisóriaeïìtre o do a existir.E é nessalinha, muito precisatnente,que o
estrangeiro,das Frentde,e a estranheza,die Fremdheit, Classicismoalernão(rnastambéilì o Romântisttro)se se-
pode ser "facilmente" traçada. Se responderilìossirÌì, para de Holderlin. Ott ainda, pocle-sedizer clttel{olcler-
lirr cotrsegttittfazer estenderessalinha al'émdo que era
pensâvel,concebívelpara tlnì Hunrboldt otl tllÌì Goetlte
4 1 .Ib i c l.p.
, 83- 4.
(que eram, no etrtatrto,lÌÌaisliberaisdo que uIn A. W.
Schleeel e aceitavâtnos grecisnrosde Voss).O que faz

276 277
pensar que a tradução se situa justarnentenessaregião
obscura e perigosa,na qual a estranhezadesrnedidada
sempre traduzir textose línguas que não se "compreendem" totalnlen-
obra estrangeirae de sua língua corre o risco de se aba- te. ó ato de traduzir produz seu próprio modo de compreensãoda lín-
ter conr toda a sua força sobre o texto do tradutor e sua gua e do texto estrangeiros' qtle é diferentede uma compreensãoherme-
irêutico-crítica.Presume-sedisso que a tradução nuncâ se baseiaern
língua, arruinando assim a sua empresae deixando ao
urna interpretaçãopreexistente.Por exemplo, a garantiade ttma tradu-
leitor aperrasuma Fremdheitínautêntica.Mas se essepe- a ser tradu-
ção filosófìcanão clependeclacolnpreensãocrítica do texto
rigo nã-lor en-rerúacfo,corre+é õ iiaco ile cair irnèdia- z-ido,ìriesirroqueúrntra[à1Foìè-nterpretaÇãoedFanáho-se1'a,Ì;-ern
entendido, indìspensável.Pocleríarnos dizer que a análisetextual à quaÌ
tamente em outro perigo: o de matar a dimensãodo es-
um tradtttor deve se entregar- como resgatarelÌÌ unl Íomance a rede
trangeiro.A tarefado tradutor consisteem enfrentaresse dos temros e das associações fundamentais,o "sistema"de sua escritttra,
duplo pèrigo e, de urna certa maneira,em traçar ele pró- etò. - é, a priori, cletèrúinadapelo fato cleque eìe vai traduzir: ìer para
prio, sem nenhurnaconsideração pelo leitor, a linha di- tracluziré ilunrinar o texto com uma luz que não é da ordem da hertne-
rrêutica sonrente, é operar uma leitttra-tradução - uma pré-tradução'
visória.Humboldt, ao exigir da traduçãoque ela nos faça Essapréìradução pode aParecerse olharniosas palavras,as frases-ottos
sentir o estrangeiro,mas não a estranheza,traçouos limi- segmèntosde lrasesque unÌ tradutor sublinhou na obra a ser traduzicla
tes de toda a tradução clássica.Traçou tarnbérn os limi- aites àe começâra trad'ção propriarnentedita: não sonrenteaspalavras
e as pâssâgens que ele não "cotnpreende" (cluese presumiráserelÌìPotl-
tes do que, na concepçãoclássicada cultura e da relação co numerosas),tnas também as (ltle, rla prilreira leihtra, colocam uur
das línguas, deve ser o essencial:promover o equilíbrio problerna r1etradução Por câtlsacle sua grancleclistânciaern relaçãoà
;líng.,u
de chegada".Temos aí as linhas de saliênciada estranhezada
do rrrovirnentoda Bildung, ïÌìas senì expor essenrovi-
obra, ou sua linha de resistênciaà tradução.E essalinha coincide etrl
rnento à desmesurada "moção violenta" do estrangeiro. grancleparte com o sistemaoriginal da obra €In sua língua' A partir daí,
O que significa talvez,no final das contas:recusara es- ã possíveluma certa leitura da obra, rlue pode se transformar ern leitura
""ìíti"r". Traduzir é nessesentido :untconhecímenfoda obra.
tranhezado estrangeirotão profttndamentequanto o et-
o críticismby translation é unr modo de crítica irredutível à crítica inter-
nocentrismodo Classicisrnofrancês.42 pretativa.A teoriaherrnenêuticadesconheceessadimensão.Logicatnente,
ã1" ao ponto de consideraro tradutor conìo o parente pobre do crí
"heg" não percebe a positiüdade da leihrra traduzir-rte.Para ela, seria
tico. Eú
42. No donrínio clahaclução,os limites da teoriahermenêutica- de Schleier- senÌpre meÌhor ler a obra em sua língua original. A hadução seria tttn pa-
machera Steiner- parecemserosseguintes:dissolvera especificidadedo ha- liativo. Mas issoé falso: exatamentecolÌìo' Paraa obra, o serìraduzido é
duzir fazendodele um casoparticularde processointerpretativo,serincapaz unt rnovirnento enricluecedor,e não unr desenraizamento,a leitura de
de aborclar,enquantoteoriada consciência,a dimernão inconscientena qual turriahadução é para o leitor ulna operaçãooriginal; não sourenteportlte
se entrecmzanros pÍocessoslingtiísticos- e portantoa tracÌução. se trata de uma obra eshangeira,mas tarnbénr porclueé um tipo cle escri-
No que diz respeitoao prirneiro ponto, afirmar que a traduçãoé urna in- tura e de texto particulares.
terpretação,um ato de "cornpreensão",etc. é r-rmaevidênciaenganosa. Digarnosassitn:o rnoclode Ìeitura "normal" de urn texto estrangeiroé o
O fato de haver interpretação ern toda tradução não significa que toda de sua tradução.Ler utn livro em sua língua cleorigem constitttirásetn-
traduçãosejaapenasinterpretaçãoou se baseieessencialmentena inter- pre unÌa exceçãoe tttrla operaçãoplena de limitações' Tal é a situação
pretação.A relaçãocorn a obra e a língua estrangeiras que setravana tra- culhrral nonnal, que nenhum aprendizadodas línguas pode nem deve
cluçãoé sui generis,só pode ser compreendidaa partir de si rnesma.A remecliar,pois não tem nada de negativo.Trata-seaclui de proceder a
interpretaçãovisa sempre a um sentido. Ora, a tracÌuçãodepencletão uma radical inversãoclosvalores.
pouco de uma captaçãototal do senticloque, afinal clecontas,é preciso

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A tradução não é um paliativo, mas o modo de existênciapelo clual uma
obra estrangeirachega até nós como estrangeira.A boa tradução mantém
essaestranhezatornando a obra acessívelpara nós.
De fato, pressupõe-se senìpre que ac;ueleque pocleler a obra em sua Ìín-
gua de oÍigem estáem melhor sihraçãopara prováJae conhecêJa do que
aquele cpredevese contentar com urna tradução.Esta seriaparâ o oÍiginâl
o cÌueunÌâ PArAUma l
li
tão cliantecleurn textoestrangeiro,que penÌÌanecesempÍe estrangeiropara
eles, traduzido ou não. Esa eshanhezaé irredutível. Nós, francéses,nun-
ca leremosum poeÌnâ inglêscomo o lê um ingÌês.A diferençaentre os dois
leitoresé apenasde grau.
Conrbater a ocultação sempiterna clesseestadode coisas(que é um fenô-
meno l-ristóricoque seria precisoestudar,exatanrentecorìo se começou a
estudaro que é, culhrralmentefalando,urna "má" hadução)é urna dasta-
refasde uma teoria da traclução.
Dizer que a traduçãoque "cheira" a tradução é por issoconsideradacouro
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rná é urn contra-sensoque desconheceque a escriturade uma hadução é
um modo de escrihrrairredutível: urna escrifuraque acoÌheem suaprópria
língua a escriturade uma ouha Ìíngua e que não pode, sob pena de impos-
htra, esquecerclueela é essaoperação.E precisoaté ir rnais longe e dizer
que erÌì toda escrituraÌiterária há sempre â lnarca de urna tal relação.As-
sirn couro em nossasfalas,diz Bakhtin, há semprea fala de outrern, e esse
entrelaçamentodasduas falasconstitui a estruturadialógica da linguagern
humana. Se toda escrihrra implica um horizonte de tradução (tal seria,
profunclanrente,o sentido daWeltliterafur goetheana),é um absurdosepe-
dir a uma tradução para surgir como umâ "pura" escrituia que é, ela prô
pria, um rnito. Unra disciplina conìo a literafura conrparadavive da ocul-
tação on do esqueciurentodessaproblerlática, que já mencionamosa pro-
pósito de Dom Quixote.
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