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SITUAÇÃO NO FIM DA

ANTIGUIDADE

DIREITO NA IDADE • Próximo do fim da Idade Antiga, no OS POVOS

MÉDIA – PARTE 1 século IV, o Império Romano dividiu-


se em dois impérios: o Império
Romano do ocidente (Roma) e o
GERMÂNICOS E
ESLAVOS VIVIAM,
NESSE TEMPO, A
Império Romano do oriente NORTE E LESTE DOS
(Constantinopla). Ele ocupava uma RIOS RENO E

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grande parte da Europa, o norte da DANÚBIO. ERAM
África e uma parte da Ásia ocidental. POVOS NÔMADES.

SITUAÇÃO NO FIM IDADE MÉDIA


DA IDADE ANTIGA
• Compreende o período situado entre a
• Os povos germânicos começam a E O IMPÉRIO queda do Império Romano do ocidente,
penetrar em territórios adjacentes ROMANO DO (476 d. C.) perante os povos germânicos,
ou mais afastados do Império ORIENTE, CHAMADO e a queda do Império Romano do oriente,
Romano a partir do século III d.C. TAMBÉM DE IMPÉRIO (1453 d.C) perante os turcos otomanos.
Finalmente, no século V d.C, invadem BIZANTINO? ESSE
• A Idade Média é dividida em dois
o Império do Ocidente. RESISTE E CONSERVA
períodos: a Alta Idade Média (entre os
O DIREITO ROMANO

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• Essa queda, leva ao surgimento dos séculos V e X) e a Baixa Idade Média
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(entre os séculos XI e XV).


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reinos germânicos.
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OS REINOS DIREITOS NO INÍCIO DA IDADE MÉDIA, ENCONTRAM-SE NA
EUROPA OCIDENTAL OS SEGUINTES SISTEMAS
GERMÂNICOS NO JURÍDICOS:

INÍCIO DA 1- O DIREITO ROMANO APLICADO AOS POVOS DE


ORIGEM ROMANA
• Os reinos germânicos estabeleceram-se após a
IDADE
II- O DIREITO CANÔNICO
desagregação do Império Romano e resultaram em NOS TERRITÓRIOS
DO ANTIGO IMPÉRIO
MÉDIA
uma série de transformações que caracterizaram a III – OD DIREITOS GERMÂNICOS
ROMANO, FORMAM-
Idade Média. Os territórios até então controlados SE REINOS DE
por Roma foram ocupados pelos povos germânicos, IV – O DIREITO CELTA
ORIGEM GERMÂNICA,
que se estabeleceram e criaram reinos de curta COMO O REINO DOS
duração. VISIGODOS,FRANCOS,

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BURGÚNDIOS E ETC.

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OS POVOS
GERMÂNICOS
• Em 476 d.C, ocorre a queda do
Império Romano Ocidental perante
os povos germânicos. Mas desde o
O DIREITO DOS POVOS GERMÂNICOS século III, eles já tinham penetrado no
Império, instalando-se no interior das
fronteiras, onde se associaram ao
Império.

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ALTA IDADE MÉDIA

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OS POVOS
GERMÂNICOS OS POVOS GERMÂNICOS
Os povos germânicos eram de diversas etnias, Eram politeístas e
• No século V d. C, os povos dentre as quais podemos citar: visigodos, acreditavam em
germânicos passaram a ter o domínio ostrogodos, suevos, alamanos, vândalos, francos, vários deuses.
de quase todo Império Romano do anglos, saxões, burgúndios, lombardos, sálios, entre
Ocidente. Cada um desses povos era outros. Eram chamados de bárbaros porque sua fala,
governado por um rei, sendo os do ponto de vista dos romanos, era parecida ao
reinos daí resultantes habitados não “balbuciar de crianças”.
só por germânicos, mas também por
Eles organizavam-se em clãs e eram exímios
romanos e por populações

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guerreiros. Procuravam desenvolver estratégias
autóctones romanizadas que

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militares. Criavam gado de forma extensiva e se

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sobreviveram às invasões. dedicavam ao pastoreio
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OS POVOS OS POVOS
GERMÂNICOS GERMÂNICOS
• O centro da organização sociopolítica entre
os povos germânicos é o clã, chamado sippe. • Como eram reguladas as relações entre os OS POVOS
Vivendo da agricultura e da pecuária, o clã clãs? Na maior parte das vezes, pela luta GERMÂNICOS
agrupa, sob a autoridade do pai, os membros privada (faida). No entanto, pelo menos CONSTITUÍRAM
da família e outros auxiliares. O pai mantém desde o século I, existem agrupamentos VÁRIAS ETNIAS QUE,
na família a ordem e a paz e o seu poder é, temporários ou talvez até permanentes de APESAR DE ALGUMAS
em princípio, ilimitado, porque não tem clãs, sob a forma de tribos ou etnias, SEMELHANÇAS,
superiores. POSSUEM TRAÇOS
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dirigidos por assembleias de chefes de lã,
que designam entre eles um chefe maior, o DISTINTIVOS.
qual será o chefe da tribo ou etnia. Seria o
que entenderíamos como rei ou príncipe.
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CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS COSTUMES E LEIS DOS POVOS
GERMÂNICOS POSTERIORES ÀS
DOS POVOS GERMÂNICOS INVASÕES AO IMPÉRIO ROMANO
OCIDENTAL
Os direitos dos povos germânicos, antes de entrarem em contato com o
Império Romano, tem, as características dos povos ágrafos em geral, já Os costumes dos povos germânicos
estudadas no início deste curso, ou seja: anteriores à época das invasões não foram
1) Direito essencialmente consuetudinário, fruto da tradição reduzidos a escrito, o que torna o seu estudo
(oralidade) e de laços de parentesco muito difícil. Quanto aos direitos dos povos
germânicos posteriores às invasões do
2) Vingança privada Império Romano ocidental há alguns
documentos escritos. O direito continua

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3) Pluralidade de sistemas jurídicos. Há uma diversidade de direitos
sendo essencialmente consuetudinário, mas a
4) Forte teor religioso lei já aparece como uma das fontes do seu
direito.
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AS LEGE AS LEGE
BARBARORUM BARBARORUM
• As Leges Barbarorum ou “Leis dos • Produzidas em condados, pelos
Bárbaros”, são um conjunto de costumes assessores do conde, chamados a
germânicos reduzidos à forma de lei escrita dizer o direito no julgamento do
durante a Idade Média. De acordo com tribunal de seu próprio condado, se
tornavam leis se os homens livres
Gilissen (2001, p. 172), elas “não são atos aprovassem a solução proposta.
legislativos no sentido moderno da palavra, Passavam a ser então, registradas.
mas costumes reduzidos a escrito com a Essas decisões se baseavam no
ajuda de dizedores de direito e por vezes costume e tradições desses povos
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aprovados pela autoridade”, tendo sido
escritas em latim, com exceção das
provenientes da Inglaterra.
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AS LEGE A LEI SÁLICA
BARBARORUM
• Entre as lege barbarorum, destacam-se: a Lex • A lei Sálica constitui um exemplo
Burgundionum e a Lex Romana Burgundionum marcante das Lege Barbarorum. A versão
(entre 483-516 d. C.), atribuídas a um rei original data do tempo de Clóvis (481-
burgúndio e seu filho: as Leges 511 d.C), mas a versão que sobreviveu é
Langobardorum, editadas em 643 por um rei de 802 d.C. Esta lei é uma consolidação
lombardo; a Lex Salica (Lei Sálica), que de costumes. A violência era reprimida
contém uma exposição do direito dos não com a prisão, mas com castigos e
francos sálios que se tinham fixado no fim multas e indenizações. Os castigos eram

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do século V na região da Bélgica atual; a Lex públicos e espetaculares, assim como os
Alamannorum, dos alamanos; a Lex processos. As penas indenizatórias
Baiuvariorum, de tribos germânicas, o Código variavam de acordo com o ferimento
de Ulrich e o Breviário de Alarico. 17 causado. 18

LEI SÁLICA LEI SÁLICA

• Pela Lei Sálica, nota-se tratar-se de uma • O Título XXIX, que trata das injúrias,
sociedade essencialmente agrária, pois diversos prevê, ao longo de seus dezoito itens,
de seus títulos versavam sobre roubos e danos a minuciosas formas de lesão corporal e
animais, terras cultivadas, e utensílios de caça, as respectivas penalidades. Havia
cultivo e pesca. Cuidava-se também de uma previsões específicas, por exemplo, para
sociedade preocupada com a propriedade, com a aqueles que cortassem a língua, a
privacidade e com a segurança dos indivíduos, orelha, o nariz e os olhos de outrem,
particularmente das mulheres. Suas disposições assim como para aqueles que
são majoritariamente de Direito Penal, havendo castrassem outro homem,
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minuciosas descrições dos mais variados crimes, diferenciando-se a penalidade conforme
assim como de suas respectivas punições. o pênis fosse ou não arrancado.
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LEI SÁLICA DIREITOS DOS POVOS
GERMÂNICOS DA ERA
VIKING
• Os seus artigos revelam a busca de se punir • Todas essas “legislações dos bárbaros”
as agressões e roubos não por intermédio refletiam, além da invariável influência romana,
da faida, mas mediante pagamento de uma também o adiantado processo de
composição pecuniária, graduada conforme cristianização do mundo germânico. Em
o grau da ofensa e o status do agressor. O situação diferente se situa a consulta às fontes
valor da composição poderia alcançar um dos antigos direitos nórdicos, pois os vikings
limite máximo, geralmente nos casos de somente iniciaram o seu processo de
homicídios, atribuído a cada indivíduo conversão ao catolicismo a partir do século

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conforme sua classe social e relevância para X. Por isso, pode-se perceber em alguns dos

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a sociedade. Esse valor recebia o nome de documentos encontrados relativos a esses
wergeld. povos, os direitos germânicos ainda na sua
21 essência original,. 22

DIREITOS DOS POVOS DIREITOS DOS POVOS


GERMÂNICOS DA ERA GERMÂNICOS DA ERA
VIKING VIKING
• Ao se ler os provérbios populares desses • 3) Um covarde pensa que viverá para sempre se
povos, dois aspectos se sobressaem, a evitar seus inimigos, mas da velhice ninguém
coragem e a hospitalidade: escapa, mesmo se tenha sobrevivido às lanças.
• 1) Um homem deve ser reticente, refletido e • 4) Quando um visitante chega gelado até os
intrépido em batalha; alegre e ativo até a morte. ossos, de sua viagem através das montanhas, ele
necessita de fogo, roupa e comidas frescas.
• 2) Um homem não deve se afastar uma
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polegada de suas armas quando nos campos,
pois ele nunca sabe quando precisará de sua
lança.
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A INFLUÊNCIA DO DIREITO ROMANO PRINCÍPIO DA
NOS POVOS GERMÂNICOS PESSOALIDADE DO
DIREITO
Apesar da queda do Império Romano do ocidente, a influência romana não
deixou de se fazer sentir. A organização administrativa e religiosa conserva
as características da época romana durante alguns séculos. • Quando em um mesmo território convivem duas
populações com sistemas jurídicos diferentes, dois
caminhos podem ser seguidos:
E quanto as populações romanizadas? O direito privado romano permanece
• 1) O vencedor impõe o seu direito aos vencidos e o
o direito das populações romanizadas enquanto os invasores germânicos mesmo direito é aplicado a todos os habitantes,
mantêm os seus costumes ancestrais. Em outras palavras, aplica-se o qualquer que seja a sua origem. O que importa,
princípio da pessoalidade do direito. nesse caso, é o território em que a pessoa vive.

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• 2) O vencedor deixa que os vencidos vivam
segundo o seu próprio direito, aplicando o seu
direito aos seus próprios cidadãos originários. Isso
Mas o que é o princípio da pessoalidade do direito? constitui a aplicação do princípio da personalidade
25 do direito. 26

APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO REGIÕES ONDE SE APLICOU O


DA PESSOALIDADE NA
IDADE MÉDIA PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE
A aplicação do princípio da pessoalidade não se fez na região
• Quando os povos germânicos conquistada pelos povos germânicos com a mesma intensidade. Em
entraram no Império Romano, a algumas regiões, o direito dos povos germânicos preponderava,
diferença entre o nível de evolução enquanto em outras regiões, o direito romano se impunha com mais
do direito romano e o do direito dos
povos germânicos era de tal modo
força.
grande que os povos germânicos não Entre essas zonas de romanização e germanização mais ou menos
puderam impor o seu sistema intensa, subsistiu durante dois ou três séculos uma zona
jurídico. Além disso, os reis
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intermediária onde se desenvolveu o princípio da pessoalidade do
germânicos encontravam no direito
público romano um reforço
direito (centro da França, norte da Itália, o sudoeste da Alemanha,
considerável da sua autoridade. Suíça e Áustria).
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PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE DO PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE DO
DIREITO E DETERMINAÇÃO DO DIREITO E DETERMINAÇÃO DO
DIREITO APLICÁVEL DIREITO APLICÁVEL
Pelo princípio da pessoalidade, não importava onde a pessoa estava, ela
deveria seguir o direito que lhe era aplicado. Este princípio aplicava-se
principalmente nos âmbitos do direito civil e do direito penal. Na Europa pré-feudal do início do século
IX, cabia a um juiz dizer o direito? Marc
Bloch afirma que “o primeiro dever de
um juiz era interrogar os textos: Nesse período, nenhum livro bastava
compilações romanas, caso o processo para resolver todas as questões. Frações
tivesse de ser decidido segundo as leis de inteiras da vida social eram reguladas pela
A aplicação do princípio da pessoalidade implicava a necessidade de Roma; costumes dos povos germânicos, tradição oral. Na Alemanha e na França, a
determinar que direito seria aplicável a cada indivíduo e de resolver os fixados, pouco a pouco, em sua quase evolução atingiu seus limites extremos.
totalidade, pela escrita; e, por fim, editos Não havia mais legislação.
conflitos que podiam nascer entre pessoas pertencentes a dois sistemas

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legislativos emitidos, em grande número,
jurídicos diferentes. Em caso de uma disputa entre duas pessoas submetidas pelos soberanos dos reinos bárbaros.
ao mesmo direito, aplicava-se esse direito. Caso a disputa envolvesse Quando esses monumentos falavam,
restava apenas obedecer”.
direitos diferentes, aplicava-se como regra geral a lei do réu.
29 30

A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA PESSOALIDADE E A
SOBREVIVÊNCIA DO DIREITO
ROMANO NO OCIDENTE
• Devido à aplicação do princípio da pessoalidade
ou personalidade do direito, no início da Idade
Média, parte do direito romano pôde sobreviver
DIREITO ROMANO VULGAR em algumas regiões do ocidente. As populações
romanizadas da Europa ocidental continuaram
assim a viver segundo o direito romano durante
DEPOIS DA INVASÃO DOS POVOS GERMÂNICOS AO IMPÉRIO vários séculos. No entanto, o direito romano foi
sofrendo alterações, o que era algo inevitável

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ROMANO DO OCIDENTE, EM 476, TER-SE-Á UM PERÍODO EM
QUE ELES PASSAM A VULGARIZAR O DIREITO ROMANO, devido a própria dinâmica social e ao contato que
COLOCANDO SUAS CARACTERÍSTICAS NO PROCESSO. esse direito teve com as populações germânicas.
32
SURGIMENTO DE UM O DIREITO ROMANO DOS
DIREITO ROMANO BÁRBAROS (LEX ROMANA
VULGAR BARBARORUM)
• Dessa forma, surgiu um direito romano vulgar, • Havendo populações romanizadas vivendo nos
no qual dominavam os costumes locais próprios
seus territórios, a edição de um “direito romano
de cada região e que suplantou de forma
vulgar” dava legitimidade política e aceitação aos
progressiva os textos dos jurisconsultos e as
constituições imperiais da época clássica do governantes.
direito romano. Ainda antes da grande
codificação do direito romano feita no Império

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oriental por Justiniano, os reis de alguns reinos
germânicos sentiram a necessidade de mandar
pôr compilações de direito romano à disposição
dos juízes. 33 34

COMPILAÇÃO DO DIREITO COMPILAÇÃO DE DIREITO


ROMANO POR REIS ROMANO POR REIS
GERMÂNICOS NO OCIDENTE GERMÂNICOS NO OCIDENTE

• Foi por volta de 500 d. C. que os reis • Apenas a última, também denominada de
germânicos começaram a ordenar que fossem Breviário de Alarico, pois foi promulgada em 506
feitas compilações do direito romano no d. C. pelo rei dos visigodos, Alarico II, teve
ocidente. As três principais compilações feitas influência no ocidente. Foi concebida como
nessa época foram: o Édito de Teodorico; a Lei uma codificação sistemática do direito
romana dos Burgúndios; e a Lei romana dos romano tal como estava em vigor no sudoeste
Visigodos. da Gália e Espanha no começo do século VI.
Ela contém uma compilação de leis romanas e
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dos escritos do jurisconsultos com o objetivo
de “banir delas toda a obscuridade”. Ficou a
cargo de padres e nobres.
35 36
O DESAPARECIMENTO DO A CONSERVAÇÃO PARCIAL
DIREITO ROMANO CLÁSSICO DA MEMÓRIA DO DIREITO
NOS SÉCULOS INICIAIS DA ROMANO NO OCIDENTE
IDADE MÉDIA
• O Breviário de Alarico desempenhou, em • Dessa forma, se conservou um pouco
escala bem menor, o papel atribuído à obra da memória do direito romano no
de Justiniano no oriente. Até os séculos IX ocidente. No entanto, como veremos,
e X foi frequentemente copiado. No a partir do século XI e
principalmente a partir do século XII,
entanto, progressivamente o direito romano
recuperou-se progressivamente
foi desaparecendo no Império franco. Então, textos jurídicos do mundo antigo, a
no ocidente, o direito romano sobrevive sob partir do Corpus Iuris Civilis.

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a forma de costumes locais mais ou menos
romanizados na região onde atualmente fica
a Itália, a Espanha e no sul da França.
37 38

A SUBSTITUIÇÃO DO PRINCÍPIO DA
PESSOALIDADE PELO PRINCÍPIO DA
TERRITORIALIDADE

• Os vestígios do direito romano desaparecem,


com exceção da Itália. O direito canônico,
contudo, permanece como o único direito escrito
da época, regendo apenas relações entre os
eclesiásticos e alguns domínios do direito civil,
principalmente, o casamento. E o princípio da
O DIREITO CANÔNICO
pessoalidade do direito, já estudado? Esse
também desaparece nos séculos VIII e IX, fazendo
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com que o direito consuetudinário seja DESIGNA-SE DIREITO CANÔNICO O CONJUNTO DE LEIS E
sobretudo territorial. Cada coletividade, fixada ao REGULAMENTOS FEITOS OU ADOTADOS PELOS LÍDERES DA
solo de sua aldeia, vive segundo as suas tradições IGREJA, PARA O GOVERNO DA ORGANIZAÇÃO CRISTÃ E
próprias. Isso gera uma infinidade de costumes SEUS MEMBROS.
locais 39
O NASCIMENTO DO O DESENVOLVIMENTO
CRISTIANISMO DO CRISTIANISMO
• Com a consolidação do cristianismo como religião • A organização territorial da Igreja é estabelecida de
oficial do Império, desenvolve-se o direito canônico, acordo com o modelo de administração do Império
um sistema jurídico próprio da comunidade dos Romano. É graças à Igreja que alguns vestígios desta
cristãos. administração subsistirão em plena Idade Média.
• Em 313 d.C., o imperador Constantino publicou o
• Inicialmente, considerada uma seita judaica, surge, no Édito de Tolerância de Milão, proclamando a liberdade
século I d. C., o cristianismo, que cresce dos cultos e a restituição aos cristãos de todos os
consideravelmente nos séculos que se seguem. No

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bens que lhes tinham sido confiscados no decurso da
século IV d.C, o cristianismo acaba se impondo como última perseguição. Pouco depois, o cristianismo torna-
religião oficial do Império Romano. se religião do Estado, com o Imperador Teodósio, no
41 ano de 380 d.C, com o Édito Tessalônico. 42

O DESENVOLVIMENTO O DESENVOLVIMENTO
DO CRISTIANISMO DO CRISTIANISMO
• Enquanto o Império Romano do Oriente • O poder do papa atinge seu apogeu nos
transformou-se em uma teocracia no sentido de séculos XII e XIII. Para os papas da época, os
que o imperador acumulou os poderes temporal reis detêm o seu poder da Igreja que os sagra
e espiritual, no Império Romano do Ocidente e os pode excomungar. Durante os últimos
que caiu em 476 d. C., o poder temporal séculos da Idade Média, bem como na Idade
enfraqueceu. A igreja já não continua submetida Moderna e Contemporânea, as relações entre
ao Estado, constituindo a autoridade comum aos a Igreja e o Estado serão muitas vezes regidas
por concordatas (convenções estabelecidas
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fieis das diferentes regiões. Ela influencia os entre a Igreja e o Estado principalmente com o
governantes, obtém o seu auxílio para a intuito de organizar a intervenção do Estado
evangelização, mas não os submete à sua na nomeação dos altos funcionários
autoridade. 43 eclesiásticos). 44
DIREITO CANÔNICO DIREITO CANÔNICO

• O direito canônico é o direito da • O direito canônico tem importância na história do direito.


comunidade religiosa dos cristãos, mais
especialmente o direito da Igreja • No que concerne às instituições, especialmente no
Católica. O termo “cânon” vem do processo e no conceito de jurisdição. É do direito canônico
grego, significando regra. que parte a reorganização completa da vida jurídica
europeia, e as corte, tribunais e jurisdições leigas, civis,
• A Igreja desempenhou um papel seculares, serão influenciadas por ele. No que se diz
importante na sociedade medieval; foi respeito à cultura jurídica serão os canonistas a formular

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durante este mesmo período um poder critérios de racionalização e formalização do direito. Dos
temporal muito poderoso, pelo menos canonistas sai a primeira classe de juristas profissionais com
em certas épocas e certas regiões. uma carreira assegurada na burocracia eclesiástica.
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PERÍODOS DA HISTÓRIA CARACTERÍSTICAS DO


DO DIREITO CANÔNICO
DIREITO CANÔNICO
Universalidade – o cristianismo coloca-se como a única religião verdadeira
• Podem distinguir-se três períodos na para a universalidade dos homens, pretendo impor a sua concepção ao mundo
história do direito canônico nas suas inteiro.
relações com o direito laico:
• 1) Fase ascendente – do século III ao XI; Caráter unitário – Ainda que se encontrem mais de 600 costumes laicos
mais ou menos diferentes durante a Idade Média, não existiu senão um
direito canônico, único e comum a todos os países da Europa ocidental.
• 2) Apogeu: nos séculos XII e XIII;
• 3) Decadência – a partir do século XIV, mas
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Serviu de fundamento de disposições do direito civil moderno –
sobretudo a partir do século XVI, na certos domínios do direito privado foram regidos exclusivamente pelo
sequência da Reforma Protestante e da direito canônico, durante vários séculos, mesmo para os laicos. Nesses
domínios, qualquer conflito era resolvido pelos tribunais eclesiásticos.
laicização dos Estados da Europa Ocidental.
47 48
CARACTERÍSTICAS DO FONTES DO DIREITO
DIREITO CANÔNICO CANÔNICO
Escrito – durante boa parte da Idade Média, foi o único direito escrito. Enquanto o direito laico
permaneceu essencialmente consuetudinário durante toda a Idade Média, o direito canônico foi
redigido, comentado e analisado a partir da Alta Idade Média. As compilações de direito canônico
conheceram uma larga difusão. • A principal fonte do direito canônico é a DURANTE MUITO
vontade de Deus tal como revelada nos TEMPO A IGREJA
livros sagrados, especialmente na Bíblia. PRODUZIU UMA
Erudito – constituiu objeto de trabalhos doutrinais muito mais ceco que o direito laico, surgindo, GRANDE
dessa forma, uma ciência do direito canônico.
Este direito divino é completado por
atos de caráter legislativo que emanam QUANTIDADE DE
das autoridades constituídas da Igreja NORMAS, FRUTO DOS
CONCÍLIOS.

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Religioso – ele retira suas regras dos preceitos divinos, revelados nos livros sagrados: o Antigo e o Católica (concílios e papas) e pelo
Novo Testamento. Ele é o direito de todos os que adotam a religião cristã, onde quer que se costume. Por fim, o direito romano
encontrem. representou papel capital como fonte
supletiva de direito na Igreja.
49 50

FONTES DO DIREITO FONTES DO DIREITO


CANÔNICO CANÔNICO
• 1) O ius divinum – é o conjunto das regras
jurídicas que pode ser extraído do Antigo e • Os decretos são as decisões dos concílios. Entre
Novo Testamento, bem como dos escritos dos estes, os mais importantes são os concílios
apóstolos e doutores da Igreja, tais como São ecumênicos, assembleias gerais de todos os bispos
Jerônimo, Santo Agostinho. da cristandade. Além dos concílios ecumênicos,
existem numerosos concílios regionais, provinciais
• 2) A legislação canônica – é constituída e diocesanos. As decretais são os escritos dos
pelas decisões das autoridades eclesiásticas.
Estas decisões formam a fonte viva do direito papas, respondendo a uma consulta ou a um
canônico; conhecem um desenvolvimento pedido emanado de um bispo ou de uma alta
considerável até o século XVI. Estas decisões personagem eclesiástica ou laica. São
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foram muitas vezes reunidas sob a forma de complementares dos decretos dos diversos
compilações canônicas. Pode-se distinguir duas concílios. Progressivamente, o poder legislativo na
espécies: os decretos dos concílios e as Igreja passou dos concílios para os papas.
decretais dos papas. 51 52
FONTES DO DIREITO FONTES DO DIREITO
CANÔNICO CANÔNICO
• Atualmente, os papas fazem ainda • 4) Princípios recebidos do direito
constituições pontificais, que são verdadeiras romano – O direito romano constituiu o
leis da Igreja. Mas dirigem-se aos bispos direito supletivo do direito canônico. A Igreja
sobretudo através das encíclicas, isto é, bulas católica aplicou o direito romano na medida
ou cartas solenes contendo mais conselhos
do que instruções. em que ele não era considerado contrário
ao ius divinum. Portanto, o direito canônico
• 3) O costume – o costume não recebe do direito romano uma grande parte
desempenha um papel considerável na da sua teoria das obrigações e elementos

BIBLIOGRAFIA CLÁSSICA
evolução do direito canônico. Em certa essenciais de seu processo civil.

BIBLIOGRAFIA
medida, o costume foi muitas vezes

CLÁSSICA
consagrado pela jurisprudência dos tribunais
eclesiásticos como fonte local de direito. 53 54

COLEÇÕES DE COLEÇÕES DE
DIREITO CANÔNICO DIREITO CANÔNICO
• Verdadeiros códigos de direito canônico só • Assim, formou-se a partir do século XII um
foram redigidos a partir do século XII, novo direito canônico, o direito canônico
embora já a partir do século III aparecerem clássico, imposto a toda a Cristandade no
numerosas coleções de textos canônicos. ocidente. Esta codificação compõe-se de
cinco partes, redigidas sucessivamente do
• Uma coleção escrita por volta do século século XII ao XV.
XII, por Graciano na Itália, acabou
eclipsando todas as outras. Foi completada
no decurso dos três séculos seguintes por
BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA
quatro compilações. Esse conjunto é
CLÁSSICA

CLÁSSICA
conhecido como Corpus Iuris Canonici,
editado em 1582. 55 56
OS CANONISTAS A JURISDIÇÃO
ECLESIÁSTICA
• O desenvolvimento do direito canônico ligou- • A influência do direito canônico
se ao surgimento de uma classe nova: aqueles sobre os direitos da Europa ocidental
que na Igreja viriam a dominar pelo seu explica-se, em parte, pela extensão da
particular saber dos cânones. Podiam fazer competência dos tribunais
carreira por meio de uma ascensão eclesiásticos. Os cristãos
profissional e já não mais exclusivamente pela encontraram nos ensinamentos de
amizade ou pelo nascimento, embora tudo Cristo alguns princípios a seguir no
isto ainda fosse muito importante. Com seu caso de surgirem controvérsias entre
saber especializado, desempenharam um papel eles.

BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA
CLÁSSICA

CLÁSSICA
político importante. De certa forma, limitaram
em parte o poder do papa por meio de suas
interpretações das regras canônicas. 57 58

A JURISDIÇÃO A JURISDIÇÃO
ECLESIÁSTICA ECLESIÁSTICA
• Nas primeiras décadas do cristianismo, vivendo • Em matéria penal, os imperadores romanos
em uma semiclandestinidade, os cristãos deviam reconheceram, nos séculos IV e V, a
evitar a intervenção dos juízes romanos não competência dos bispos para todas as infrações
cristãos, submetendo-se à autoridade disciplinar puramente religiosas ou espirituais, para tudo
dos seus chefes religiosos, tais como os padres e aquilo que dissesse respeito à fé, ao dogma, aos
os bispos. A partir de 313, Constantino sacramentos, à disciplina no âmbito da Igreja. Os
favoreceu o desenvolvimento da jurisdição clérigos ganham, no século V, o privilégio de foro,
eclesiástica, ao permitir as partes submeterem- em virtude do qual só podem ser jugados em
BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA
se voluntariamente à decisão do seu bispo, quaisquer matérias, tanto penais como cíveis,
CLÁSSICA

CLÁSSICA
dando a essa decisão o mesmo valor da decisão pelos tribunais da Igreja. Essa regra permaneceu
de um julgamento. 59 em vigor durante toda a Idade Média. 60
A JURISDIÇÃO A JURISDIÇÃO
ECLESIÁSTICA ECLESIÁSTICA
• Com o tempo, a Igreja atribuiu-se competência • Foi assim que os tribunais eclesiásticos se
nas questões temporais que ser relacionassem tornaram os únicos competentes para todas as
sobretudo com matérias que tivesse a ver com questões relativas ao casamento. Constituindo o
os sacramentos. O que são os sacramentos? São casamento um sacramento, os tribunais laicos
ritos de fé da Igreja Católica Apostólica Romana. entregam toda a jurisdição aos tribunais
Os sacramentos simbolizam momentos de eclesiásticos no domínio dessa matéria. Desde
comunhão e confirmação da fé em Deus. São sete então, toda uma série de matérias conexas, em
sacramentos: batismo, confirmação, penitência, relação direta ou indireta com o casamento,

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eucaristia, ordem, matrimônio e unção dos

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entra na competência jurisdicional da Igreja:
enfermos. legitimidade dos filhos, divórcio, ruptura de
61 esponsais, rapto, etc. 62

COMPETÊNCIAS DOS COMPETÊNCIAS DOS


TRIBUNAIS TRIBUNAIS
ECLESIÁSTICOS ECLESIÁSTICOS
• Em razão da pessoa: • O privilégio de foro dos clérigos era
• - os eclesiásticos, tanto os clérigos absoluto. Os clérigos não podiam
regulares como os clérigos seculares; renunciar a ele. Os tribunais laicos deviam
declarar-se incompetentes. As outras
• - os cruzados;
pessoas, cruzados e estudantes, poderiam
• - os membros das universidades renunciar à competência dos tribunais
(professores e estudantes), uma vez que eclesiásticos.
todas as universidades eram, até o século
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XVI, instituições eclesiásticas
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• - as viúvas e os órfãos quando pedem
proteção da Igreja. 63 64
COMPETÊNCIAS DOS COMPETÊNCIAS DOS
TRIBUNAIS TRIBUNAIS
ECLESIÁSTICOS ECLESIÁSTICOS
• Em razão da matéria: • Em matéria civil, as jurisdições eclesiásticas são
competentes para julgar todas as contestações
• Em matéria penal, julgam todas as pessoas: que digam respeito a:
• - em caso de infração contra a religião • - aos benefícios eclesiásticos (rendimentos
(heresia, apostasia, simonia, sacrilégio,
atribuídos a um eclesiástico sobre os bens da
feitiçaria);
Igreja para lhe permitir exercer a sua missão);
• - em caso de infrações que atentassem contra
as regras canônicas (adultério, usura), embora, • - ao casamento (porque sacramento) e a todas

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nesses casos, houvesse competência as matérias conexas: esponsais, divórcio e
concorrente da jurisdição laica. separação de pessoas, legitimidade dos filhos,
65 etc; 66

COMPETÊNCIAS DOS PROCESSO NOS


TRIBUNAIS TRIBUNAIS
ECLESIÁSTICOS ECLESIÁSTICOS (CÍVEL)
• - aos testamentos (quando estes • No âmbito cível, o processo era essencialmente
continham um legado a favor de uma escrito. O queixoso devia entregar o seu pedido
instituição eclesiástica); por escrito a um oficial que convocava o réu.
Em presença das duas partes, o oficial lia o
• - à não execução de uma promessa feita
pedido; o réu podia opor exceções; depois do
sob juramento.
exame destas, o processo judiciário ficava fixado
pela litis contestatio. As partes submetiam
seguidamente as provas (confissão, testemunhos,
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documentos) das suas asserções ao juiz; na falta
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de prova suficiente, o juiz podia ordenar um
67 juramento litisdecisório. 68
PROCESSO NOS DECADÊNCIA DOS
TRIBUNAIS TRIBUNAIS
ECLESIÁSTICOS (PENAL) ECLESIÁSTICOS
• No domínio penal, o processo permaneceu • A partir do século XVI, o direito canônico deixa
durante muito tempo dependente de queixa progressivamente de desempenhar o papel que
que se desenrolava de forma parecida com o tinha tido na Idade Média. A sua influência limita-
processo cível. Nos finais do século XII
apareceu o processo oficioso, por inquirição se cada vez mais às questões religiosas. Além da
(inquisitivo), ordenada pelo juiz desde que Reforma Protestante, o que tira da influência
tivesse conhecimento de uma infração. Esse Católica Apostólica Romana várias regiões, o
processo foi muito utilizado pelo Santo Ofício poder político como um todo laiciza-se,
na luta contra as heresias; levou a permissão de rejeitando a intervenção da Igreja na organização

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ordenar a tortura (quaestio), instituição aplicada e funcionamento dos seus órgãos políticos e
contra os heréticos por um bula de Inocêncio judiciários. Por isso que a competência dos
IV de 1252 d.C. 69 tribunais eclesiásticos fica cada vez mais restrita. 70

DECADÊNCIA DOS A FORMALIZAÇÃO E A


TRIBUNAIS RACIONALIZAÇÃO DO
PROCESSO
ECLESIÁSTICOS
• No que diz respeito ao processo civil
• Nos séculos XIX e XX, os tribunais primeiramente, o processo canônico
eclesiásticos perderam toda a competência
introduziu o processo escrito. Começam a
exclusiva e até concorrente, mesmo
se destacar a figura dos notários, redator
relativamente ao clero, salvo nas matérias oficial de fórmulas e atos judiciais, termos
disciplinares internas da Igreja.
que são reduzidos a escrito como
memórias do processo. O notário
secretaria o juiz em íntima cooperação e

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ligação com o desenvolvimento da
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controvérsia. No processo canônico, ele é


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um oficial do tribunal e não apenas um


71 perito em escrever. 72
A FORMALIZAÇÃO E A A FIGURA DO ADVOGADO
RACIONALIZAÇÃO DO NO PROCESSO CANÔNICO
PROCESSO

• Em segundo lugar, as fases processuais são • É no processo canônico que surge tipicamente
organizadas com clareza, com a apresentação da a figura do advogado que explica o direito após
queixa pelo autor ao oficial, que convoca o réu e a apresentação das provas de fato. É um
na sua presença lê os termos do pedido. Seguirá jurisperito.
uma fase em que serão apresentadas matérias
de defesas preliminares ou exceções e
posteriormente uma contestação quanto a
matéria de direito. Por fim, passa-se

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apresentação e colheitas de provas: confissão
testemunhas, documentos para então chegar-se
a decisão.
73 74

EVOLUÇÃO DOS EVOLUÇÃO DOS


SISTEMAS DE PROVAS SISTEMAS DE PROVAS
• Podem classificar-se os diferentes sistemas de
• A investigação acerca do suposto fato delituoso prova que existiram no passado e que existem
deve conduzir ao convencimento do juiz. No atualmente em três grandes tipos:
processo canônico, tentam-se abolir as provas
• A) O sistema das provas irracionais – no qual o
irracionais, que existiam no direito medieval. juiz pergunta a um ser sobrenatural que diga
• A prova irracional era constituída pelos ordálios quem tem razão.
ou juízos de Deus. O ordálio tinha uma caráter • B) O sistema legal de prova – no qual a lei, o
mágico e não investigativo: era a prova pela qual
costume, ou mesmo a doutrina, indica qual é o
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se invocava a divina providência para intervir. valor probatório de cada modo de prova, sendo
Progressivamente, as provas formais racionais
o juiz obrigado a resolver o conflito tendo
vão substituindo as provas irracionais
apenas em conta aquilo que está provado de
75 acordo com a lei. 76
EVOLUÇÃO DOS EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE
SISTEMAS DE PROVAS PROVAS A Igreja condenou os
• São exemplos de provas irracionais aplicadas antes do ordálios a partir de
processo de racionalização canônica: os ordálios 1215, no IV concílio
• C) O sistemas de prova livre, no qual o juiz unilaterais, bilaterais e os purgatórios. de Latrão.
aprecia livremente, em consciência, os
elementos de prova presentes perante si. • Ordálios unilaterais: o acusado submetia-se à prova
e passar pela prova equivalia a uma declaração de
• No processo canônico, tentam-se abolir as inocência. Alguns exemplos: a prova do ferro em brasa
provas irracionais, que existiam no direito – era necessário segurar na mão sem se queimar; da
medieval. Foi a partir do século XII que esse
sistema começou a ser posto em crise. As
água fervendo; da água fria – na qual se era
provas irracionais era constituída pelos mergulhado de pés e mãos ligadas; do cadáver –

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ordálios ou juízos de Deus. O ordálio tinha consistia para o acusado em cortar o cadáver sem o
uma caráter mágico e não investigativo: era a fazer sangrar.
prova pela qual se invocava a divina
providência para intervir. 77 78

EVOLUÇÃO DOS SISTEMA DE PROVA LEGAL


SISTEMAS DE PROVAS
• Ordálios bilaterais: as duas partes litigantes • No sistema de prova legal, há vários graus de provas. As provas poderiam
submetiam-se à prova. Exemplos: o judicium crucis -
o litigante que primeiro deixasse cair os braços ser plenas, semiplenas ou indícios. Acima da prova plena coloca-se, a partir
era considerado culpado; o duelo judiciário do século XIII, o notorium (notoriedade): o que é notório não tem que ser
propriamente dito – as duas partes batiam-se em provado. A teoria do notório é uma criação canônica, sem precedente
duelo à espada, à paulada ou de outra forma. romano.
• Ordálios purgatórios – exemplo seria o
juramento. O acusado ou o réu prestava • Distinguem-se três tipos de notoriedade: 1) notório de fato: o que
juramento para se desculpar ou provar a sua ressalta aos olhos de todos; 2) notório de direito: a autoridade do caso
inocência; recusar-se a prestá-lo era um confissão julgado e a confissão em justiça. A confissão é considerada como um
de culpabilidade. Por este juramento, amaldiçoava-
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se a si mesmo com sanções graves para o caso de notorium, contradizendo a prova em contrário e tornando o recurso

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as suas afirmações não serem verídicas; era uma impossível; 3) o notório presumido, seja presunção absoluta, que não

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espécie de automaldição, punindo Deus aquele permite prova em contrário e relativa, que é considerada prova plena
que tivesse prestado um falso juramento.
79 80
SISTEMA DE PROVA LEGAL A TORTURA

• A prova plena: permite fundamentar a decisão do juiz, libertando-o do


ônus da prova, mas o recurso mantém-se possível. Os principais tipos são o • Em matéria penal, os indícios permitiam
duplo testemunho e o ato escrito público. Em caso de contradição, o sujeitar o acusado à tortura. A tortura não
testemunho prevalece sobre o documento escrito. era considerada como um meio de prova,
mas como um processo utilizado para
• A prova semiplena: duas provas semiplenas perfazem uma prova plena. obter uma confissão em justiça, que
Exemplos são o testemunho isolado e os documentos particulares constituía um notorium iuris e dispensava
• Os indícios: Inicialmente, eles têm pouco valor, mas posteriormente eles prova. Considerava-se que Deus daria
forças ao inocente para resistir à dor.

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serão tabelados em um quarto ou um oitavo de prova, podendo então ser

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somados para formar uma prova plena. Exemplos de indício: ser inimigo da

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vítima, ter empunhado uma espada, ameaças etc.
81 82

A TORTURA O PROCESSO
INQUISITORIAL
• Aos olhos dos homens dos séculos • O processo inquisitorial também tem uma
XV a XVIII, a tortura foi justificada origem canônica, embora não
pela necessidade de punir todos os exclusivamente. O inquérito, como modelo
crimes, estabelecer a verdade para judicial e jurídico, tem uma dupla origem:
que os delitos não ficassem por punir. religiosa e administrativa. Surge a figura de
A tortura apareceu no século XIII, no um investigador e acusador oficial,
momento em que desapareceram os representando o poder político estatal, que
ordálios e em que se desenvolveu o procede de forma ordenada e racional,
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processo inquisitório. Manteve-se até produzindo investigação de modo diferente
o século XVIII. das provas irracionais anteriores.
83 84
O PROCESSO O PROCESSO
INQUISITORIAL INQUISITORIAL
• Uma característica essencial do • A inquisição transformou-se em um
processo inquisitório era o de que o tribunal de exceção porque conduzida
julgador ou investigador não espera por representantes do papa. Quando
ser provocado pela parte ofendida, chegado o inquisidor, vinha com um
não é preciso que tenha havido dano mandado especial de Roma, cessando o
a ser ressarcido, mas apenas que poder do bispo local em matérias ligadas a
tenha havido pecado ou crime contra inquisição, principalmente no que se
a paz do rei. referia a prática de heresia.

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CLÁSSICA
85 86

O PROCESSO O PROCESSO
INQUISITORIAL INQUISITORIAL
• O processo se abria de ofício a mandado
do inquisidor, perdendo assim o caráter • A inquisição medieval nasceu num contexto de
contraditório. No modelo inquisitorial, o revoltas: muitas heresias cresceram no meio da
juiz inquisidor tem a iniciativa oficial. A crise do clero e dos pobres dos séculos XII e XIII.
heresia significava não apenas um Desta fraqueza, impôs-se o poder central do
problema espiritual, mas político, uma papado.
subversão não apenas contra autoridades
• Haveria no tribunal inquisitorial dois juízes locais
religiosas, mas contra o próprio braço
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nomeados pelo papa. Deveriam ser obtidos pelo
secular, o rei, os príncipes,, que eram
menos dois depoimentos uniformes de duas
senhores cristãos. testemunhas, sob juramento, sem poderem ser
87 contraditadas diretamente. 88
O PROCESSO DIREITO CANÔNICO
INQUISITORIAL E DIREITO LAICO
• Em 1252, Inocêncio IV permitiu o uso da tortura
para obter uma confissão do suspeito. A tortura • Visto que o cristianismo nasceu e desenvolveu-se no
passava a ser um ato formal do processo e quadro geográfico do Império Romano, os conceitos de
poderia ser aplicada quando houvesse indícios. direito romano influenciam desde o início a formação da
Não tardou que os erros de investigação e os concepção cristã de direito. A Igreja admitiu, quase
excessos de uma punição cruel e antecipada se sempre, a dualidade de dois sistemas jurídicos, o direito
tornassem um problema conhecido. religioso e o direito laico. Pela sua vocação universal, a
• É também no processo inquisitorial que a figura Igreja não se identificou com qualquer estado, deixando o
poder temporal aos soberanos dos Estado. A influência do

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do advogado de defesa obrigatória aparece. O
juiz inquisidor, caso o réu negasse as acusações, direito canônico sobre o direito laico será função das
era obrigado a dar-lhe um advogado, “mesmo que relações entre a Igreja e o Estado e da extensão da
não fosse pedido”. competência dos tribunais eclesiásticos.
89 90

O DIREITO FEUDAL
• O feudalismo é caracterizado por um conjunto de instituições
das quais as principais são a vassalagem e o feudo. O vassalo é
um homem livre comprometido para com o seu senhor por um
contrato solene pelo qual se submete ao seu poder e se obriga
a ser-lhe fiel e a dar-lhe ajuda e conselho, enquanto o senhor, em
troca, lhe deve proteção.

DIREITO FEUDAL • Atenção: havia dois sistemas de relações: uma proprieamente


feudal, relativa a vassalagem, e outra senhorial, relativa a
apropriação da renda da terra, entre senhor e servo

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A PALAVRA “FEUDO” DERIVA DO LATIM FEODUM E ESTÁ
ASSOCIADA À IDEIA DE PROPRIEDADE.

92
A DECADÊNCIA DO DIREITO O FEUDO
ESCRITO
O feudo geralmente consistia numa terra,
Ao longo do século X, as leis bárbaras deixam, O PERÍODO DE concedida gratuitamente por um senhor ao seu
pouco a pouco, de serem transcritas ou TRANSIÇÃO DA vassalo, com vista a garantir-lhe a manutenção
mencionadas, a não ser por meio de fugazes ALTA IDADE MÉDIA legítima e dar-lhe condições para fornecer ao seu
alusões. Entender o latim era, praticamente, FOI MARCADO senhor o serviço requerido. A instituição aparece
monopólio dos clérigos. A sociedade eclesiástica POR UM DECLÍNIO sob o nome de beneficium, a partir do século VIII.
tinha seu próprio direito, cada vez mais exclusivo. O termo feodum acaba progressivamente o
ACENTUADO DO
DIREITO ESCRITO suplantando. Primeiro possessão vitalícia, o feudo
Fundado em textos, esse direito canônico era torna-se hereditário no fim do século IX e no
NA EUROPA
ensinado nas escolas clericais, O direito profano, século X na França e, mais tarde, em outras
OCIDENTAL

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ao contrário, em nenhum lugar era matéria de regiões. Na própria França, o poder real
instruções. A maioria dos juízes não saia ler, o que desagrega-se no fim do século X.
era uma dificuldade para a manutenção de um
direito escrito.
93 94

VASSALO E SENHOR FRAGMENTAÇÃO POLÍTICA E


FEUDAL (SUSERANO) ECONOMIA FECHADA
• A ajuda do vassalo geralmente é militar, isto
é, o serviço a cavalo, porque a principal razão No plano econômico, o pequeno
do contrato vassálico para o senhor feudal Dessa forma, a Europa ocidental, senhorio forma, com frequência, um
consiste de dispor de uma força armada como um todo, acaba se dividindo domínio agrícola, explorado pelo
composta por cavaleiros. Incumbia ao vassalo em uma multiplicidade de pequenos senhor com a ajuda dos seus servos.
senhorios, na posse de nobres A economia é fechada, pois os
o dever de defender o senhor feudal de turbulentos, que nenhuma autoridade homens vivem do produto do seu
eventuais ameaças que o afligissem, enquanto é capaz de dominar. Uma grande feudo, quase trocas com outros
era protegido pelo último. fragmentação política marca o domínios, o que resultou em um
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período o feudalismo. enfraquecimento acentuado do
• Nem todos os nobres eram ricos. Alguns comércio.
eram pequenos proprietários, em geral,
escudeiros de algum senhor poderoso. 95 96
DIREITO À ÉPOCA DIREITO À ÉPOCA
FEUDAL FEUDAL
• O direito fica assim restrito às
relações feudo-vassálicas e às • O sistema feudal só pôde lograr êxito por as cidades UM DOS TRAÇOS
relações dos senhores com os servos europeias estarem empobrecidas e os proprietários das MAIS IMPORTANTES
dos seus domínios, ou seja, a laços de terras, sem condições de , por si sós, proverem DO PERÍODO FEUDAL
dependência de homem para homem. adequadamente à proteção de seus domínios FOI A REGULAÇÃO
A organização de um poder DA VIDA SOCIAL
centralizado que tenha autoridade • A vida nas cidades apresentava condições muito PRIMARIAMENTE
sobre os feudos praticamente precárias, com o aparecimento de muitas doenças e OCORRER PELA

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desapareceu. Tudo isso acompanhado fome. Por isso as pessoas preferiam a vida no campo. TRADIÇÃO ORAL
de uma decadência religiosa e
cultural.
97 98

CONSEQUÊNCIAS E CONSEQUÊNCIAS E FONTES


FONTES DO DIREITO DO DIREITO FEUDAL
FEUDAL
• Desaparece quase toda a atividade legislativa na
Europa ocidental, com algumas reservas, como • Da mesma forma, o poder judicial
na Inglaterra e em determinados períodos na passou das mãos do rei para as dos
Alemanha. A maior parte dos reinos fica nas seus vassalos e subvassalos. Além
mãos dos grandes senhores. O poder real fica disso, os três séculos do período
desmembrado em benefício dos grandes vassalos feudal são efetivamente séculos sem
e o próprio poder desses últimos também fica legislação, tornando-se o costume a
pulverizado em benefício de vassalos menores. única fonte do direito laico.
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BIBLIOGRAFIA
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10
99
0
CONTRATOS DE CONTRATO
HOMENAGEM VASSÁLICO
• Cada feudo possuía suas próprias regras de
convivência. As mais importantes fontes para o
conhecimento dos direitos no feudalismo eram os
famosos “contratos de homenagem”, um acordo • Aqui um exemplo de um contrato vassálico do conde
estabelecido entre o senhor feudal e o seu futuro da Flandres ao novo conde, Guilherme de Normandia:
vassalo que se consolidava por meio de uma
“O conde perguntou ao futuro vassalo se ele queria tornar-
conhecida cerimônia chamada “homenagem”. O
juramento feito na “homenagem” é quase sempre se seu homem, sem reserva, e este respondeu-lhe: ‘quero’,
acompanhado do testemunho e bênção de um depois com as suas mãos apertadas nas do conde, aliaram-
sacerdote amigo do nobre. O vassalo se colocava de se com um beijo”.

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joelhos diante do suserano e lhe jurava fidelidade
eterna, inclusive a obrigação de lutar até a morte para
ajudar a defender os interesses de seu senhor,
enquanto o senhor se comprometia em protege-lo.
101 102

CONTRATOS
VASSÁLICOS E
ORALIDADE
• Os séculos X e XI foram séculos sem escritos
jurídicos, sem leis, sem livros de direito. Os
contratos, que estão na base dos laços de
dependência de homem para homem
(vassalagem e servidão) e dos direitos sobre a
terra (feudos, foros, etc) raramente eram
reduzidos a escrito. À parte de alguns clérigos,
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ninguém sabe ler ou escrever. Não há quase


escolas. Os vassalos reunidos em um tribunal
feudal são considerados juízes, mas são incapazes
de ler textos jurídicos. 103

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