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SUMÁRIO
CURSO DE CINEMA 1
1. A FUNÇÃO DO DIRETOR 4
4. FOTOGRAMAS E PLANOS 9
7. PASSAGENS E TRANSIÇÕES 13
8. CENA E SEQUÊNCIA 16
9. MOVIMENTOS DE CÂMERA 16
13. COMPOSIÇÃO 25
14. COMPOSIÇÃO COM ELEMENTOS EM MOVIMENTO 27
20. EXPRESSIONISMO 35
21. SURREALISMO 36
23. NEO-REALISMO 38
25. DOGMA 95 41
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27. OS PRINCIPAIS GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS E O SISTEMA DE
ESTÚDIOS 43
O FAROESTE/WESTERN 44
O MUSICAL 44
O DRAMA E O MELODRAMA 45
O FILME DE GANGSTER 46
O FILM NOIR 47
O POLICIAL 47
O FILME ÉPICO 48
A FICÇÃO CIENTÍFICA 48
O SUSPENSE OU MISTÉRIO (THRILLER) 49
O TERROR OU HORROR 50
O FILME DE GUERRA 50
O FILME ROMÂNTICO 51
O FILME DE AÇÃO E AVENTURA 51
O CULT MOVIE 52
31. BIBLIOGRAFIA 75
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1. A FUNÇÃO DO DIRETOR
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- Definir os parâmetros técnicos da fotografia, do design de som e
da edição.
- Escolher ou aprovar equipe técnica e elenco, participando também
do casting.
- Supervisionar e tomar decisões quanto aos os preparativos da pré-
produção, incluindo cronograma de filmagem, ordem do dia e
orçamento.
- Definir ou aprovar os elementos da direção de arte, incluindo
cenografia, figurinos, cabelos, maquiagem e efeitos especiais.
- Acompanhar a edição de imagem e de som em todas as suas
etapas.
- Conceituar a trilha sonora com o compositor ou profissional
responsável pela sua pesquisa.
- Acompanhar a pós-produção aprovando todas suas etapas até a
cópia final.
- Supervisionar e aprovar a elaboração de todo o material de
divulgação do filme, incluindo confecção de trailers e teasers,
campanha publicitária e ações de marketing.
- Compartilhar decisões técnicas artísticas com o assistente de
direção e orientá-lo no desempenho de suas funções.
- Acompanhar as exibições da obra em mostras e festivais e
participar da sua campanha de divulgação através da imprensa e das
diversas mídias.
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2. MÉTODO DE TRABALHO DO DIRETOR
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O trabalho do diretor em estabelecer as posições e movimentos de
câmera, em conjunto com a disposição e movimentação dos atores
numa cena, é o processo chamado de mise-en-scène (francês) e
blocking (inglês), correspondendo no Brasil à direção de cena e de
atores.
Links sobre o assunto:
Exemplo de storyboard e a cena do filme:
http://vimeo.com/86791716
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3. ELEMENTOS DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
4. FOTOGRAMAS E PLANOS
Do ponto de vista meramente material, um filme nada mais é do que
uma série de fotografias estáticas que numa projeção sucessiva
criam ilusão de movimento na tela. A cada uma destas “fotografias”
dá-se o nome de fotograma ou frame, que é a menor unidade em
que se pode dividir uma imagem cinematográfica. A partir do
surgimento do cinema sonoro, adotou-se quase sem exceções a
velocidade de 24 fotogramas por segundo para filmagem e exibição
em película. No caso do vídeo essa velocidade é de 30 frames por
segundo.
Um conjunto de fotogramas registrados sem interrupção a partir do
momento em que a câmera é acionada até o momento de seu
desligamento constitui um plano, segmento de imagem contínua
cuja duração pode variar de frações de segundo até vários minutos.
Costuma-se chamar de take ou tomada o registro repetido do
mesmo plano. Através de uma convenção válida para filmes de
ficção e alguns tipos de documentários, os diversos tipos de planos
recebem diferentes nomes, constituindo uma escala que toma como
referência básica o tamanho da figura humana na tela.
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Links sobre o assunto:
Exemplo dos tipos de planos:
https://www.youtube.com/watch?v=laU2MI6X48I
7. PASSAGENS E TRANSIÇÕES
A passagem é o caminho escolhido para ir de uma cena a outra. Ela
funciona como uma ligação entre dois planos ou duas cenas
subseqüentes. Essa ponte entre duas cenas permite que se
desenvolva a ação da maneira desejada. Como tudo o que se refere à
linguagem cinematográfica, toda passagem deve ter um motivo para
ser feita, dependendo do que se queira transmitir ao espectador. O
corte consiste em uma alternância instantânea de uma imagem para
outra. É a passagem mais comum, podendo funcionar como ligação
entre duas cenas ou dentro de uma mesma cena, entre dois planos
(quando se quer mostrar a mesma ação de distância e ângulos
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diferentes).
Nas mudanças de enquadramento, o corte é a maneira mais simples
de realizar a passagem de um plano a outro. No entanto, existem
varias formas possíveis de efetuar mudanças de plano, diferentes
emendas entre simples imagens, e que servem para indicar as
alterações temporais e espaciais do enredo, alem de exercerem uma
função semelhante às formas de pontuação gramatical existentes na
literatura. Nos primórdios do cinema, na época do “teatro filmado”,
o corte era apenas uma emenda existente entre um plano rodado
num cenário e outro filmado em um cenário diferente. Cortava-se
quando uma ação acabava ou quando havia mudanças de cenário.
No entanto, com o desenvolvimento da narrativa cinematográfica e
com o aperfeiçoamento técnico dos equipamentos de filmagem e
edição, estabeleceu-se uma serie de formas de transição entre planos
que adquiriram um significado estilístico e foram definitivamente
incorporados à linguagem do cinema e da televisão.
O fade, por exemplo, é o clareamento, ou o escurecimento total de
uma imagem. O clareamento corresponde ao fade in, que é o
aparecimento gradual da imagem a partir de uma tela
completamente escura ou clara. Já o fade out é o escurecimento da
imagem, que vai desaparecendo pouco a pouco, até que a tela
escureça ou clareie totalmente. O fade, como recurso de linguagem
visual, é indicado para longas passagens de tempo ou mudanças
muito bruscas de cenários.
Essa transição pode ser obtida também através da fusão, onde um
plano desaparece gradualmente enquanto simultaneamente outra
imagem se forma na tela. A fusão é utilizada para indicar pequenas
alterações temporais ou rápidas mudanças de cenário,
correspondendo às expressões literárias “durante alguns minutos (ou
horas)” ou “enquanto isso”. A fusão também pode ser utilizada
como mero efeito visual, servindo apenas para integrar dois planos
de uma mesma cena, proporcionando ao espectador uma transição
suave e agradável. Outra maneira de utilizar a fusão é a na indicação
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de uma mudança temporal, relacionada com uma seqüência que
acontece no passado ou antevisão do futuro (flashback ou
flashforward).
O wipe ou varredura é um efeito visual onde uma nova imagem
“varre” a tela, cobrindo-a totalmente. O wipe pode ser horizontal,
vertical, em barras, quadrangular ou até mesmo circular. Como
forma de linguagem, o wipe é uma transição entre planos que serve
para indicar passagens de tempo ou mudanças de cenário. Em
televisão, normalmente, o wipe indica passagens de tempo mais
curtas, ou serve apenas como efeito visual. Pode também ser
interrompido antes do fim, dividindo a tela ao meio, mostrando uma
conversação telefônica, por exemplo.
A superposição é resultado da mistura de imagens diferentes, que
aparecem simultaneamente, uma sobre a outra. A transição entre os
planos também pode ser feita através do desfoque da objetiva. Esta
passagem consiste em desfocar a câmera no final da cena e iniciar a
próxima cena com a imagem desfocada, mas, rapidamente
retornando ao foco.
A fusão e o fade, além de indicarem ao espectador a mudança de
cenário ou a passagem de tempo, podem ser usados também para
suavizar cortes bruscos ou como efeito estético.
Links sobre o assunto:
Exemplo de fade in e fade out:
https://www.youtube.com/watch?v=bAbIf0VUqCs
Exemplo de fusão:
https://www.youtube.com/watch?v=eoSpwNO20U4
Exemplo de wipe:
https://www.youtube.com/watch?v=usXca7W_jvM
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8. CENA E SEQUÊNCIA
Um conjunto de planos relativos ao trecho de filme que transcorre
sem mudança de espaço cênico e durante um mesmo período de
tempo constitui uma sequência. Se esta por sua vez apresentar
diferentes acontecimentos, será subdividida em agrupamentos de
planos, denominados de cena, relativos a um diferente momento da
ação, diretamente relacionados com a mesma ação principal ou com
a mesma locação. Em resumo, um conjunto de planos chama-se
cena e um conjunto de cenas formam uma sequência. Quando a
câmera filma uma cena de forma contínua, parada ou em
movimentos compondo diversos planos, sem a existência de cortes
entre eles, temos um plano-sequência.
Links sobre o assunto:
Exemplo de cena e sequência:
https://www.youtube.com/watch?v=VRpC9B22Vd4
Exemplo de plano-sequência:
http://vimeo.com/83218487
Exemplo de plano-sequência:
https://www.youtube.com/watch?v=vuYlazRvwQA
9. MOVIMENTOS DE CÂMERA
Ao se fazer qualquer movimento de câmera deve haver um
propósito definido para isto. O movimento deve ser realizado para
enriquecer o valor da imagem gravada, mostrando algo que não
veríamos sem esse movimento ou ainda criando um impacto
emocional ou sensorial que reforce o efeito desejado.
A câmera pode ser movimentada de diversas maneiras durante uma
filmagem. A mais simples delas é a panorâmica, em que o
movimento é feito no sentido horizontal ou vertical, mantendo como
referência um eixo real ou imaginário. A panorâmica normalmente é
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utilizada para mostrar ao espectador imagens que não podem ser
exibidas em sua totalidade, com apenas um único enquadramento. A
panorâmica feita em alta velocidade, que não permite a definição da
imagem contida entre o início e o fim do movimento, é chamada de
chicote.
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O travelling pode ser usado para mostrar os detalhes tridimensionais
de um objeto estático ou para acompanhar pessoas e objetos em
movimento. Pode ser feito com a câmera na mão, como também
pode ser realizado com a câmera fixa em
veículos (carro, trem, barco, avião) ou com
qualquer objeto móvel (cadeira de rodas, skate,
carrinho de super-mercado). O steadicam é um
equipamento preso ao corpo do operador de
câmera que permite a realização de movimentos
de câmera sem oscilação da imagem. Um
pequeno movimento ou correção de câmera em
qualquer direção é chamado de tilt.
Para obter o efeito de movimento de câmera sem
seu deslocamento real, utiliza-se um dispositivo
chamado zoom, que simula o afastamento
(zoom-out) ou aproximação (zoom-in) da cena
filmada. O zoom-in normalmente é utilizado para mostrar ao
espectador um detalhe especifico da cena. O zoom-out pode ser
utilizado, por exemplo, para mostrar gradativamente elementos
importantes existentes no cenário, fundamentais para a
ação.
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Cada tipo de movimento tem resultados visuais diferenciados. Há
diferenças entre um dolly-in e um zoom-in, por exemplo. Enquanto
no dolly-in o espectador tem a impressão de se aproximar do objeto
focalizado, no zoom-in a impressão e de que é o objeto que se
aproxima.
No cinema contemporâneo é bastante comum o uso de câmera na
mão, incorporando-se à narrativa a trepidação e instabilidade
resultante desse tipo de operação.
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Links sobre o assunto:
Exemplo de movimentos de câmera:
https://www.youtube.com/watch?v=45e1XuA-oLY
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Quando o ângulo de visão se encontra acima dos elementos de cena,
temos a posição de câmera alta ou plongée. Ele reduz a altura da
imagem gravada e torna seu movimento mais lento. Um carro
gravado de cima de um prédio, por exemplo, parece pequeno e que
anda lentamente. Essa tomada também pode ter um significado
quanto a seu efeito dramático, tornando uma pessoa gravada nesse
ângulo, pequena, inferior, frágil ou vulnerável.
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11. CÂMERA OBJETIVA E CÂMERA SUBJETIVA
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12. VELOCIDADES DE FILMAGEM
É possível modificar a velocidade da cena para a obtenção de
determinados efeitos, como slow motion (câmera lenta). A câmera
lenta é utilizada para intensificar a ação dramática ou para mostrar
detalhes do movimento que seriam impossíveis de visualizar com a
velocidade da imagem no tempo real. Pode-se ainda utilizar o efeito
de quick ou fast motion (câmera rápida), também chamado de time
lapse, bem como a repetição de um mesmo fotograma para que se
obtenha o efeito de freeze frame (congelamento). A câmera rápida
é bastante usada para provocar risos, pois a aceleração do
movimento real produz um clima cômico, e para acelerar a
passagem do tempo. Já o congelamento ou freeze serve para chamar
a atenção do espectador para um detalhe importante do movimento
(gestos, olhares, objetos) ou para simular a exibição de fotografias.
Para efeito de animação utiliza-se o recurso do stop motion. Alguns
desses efeitos são obtidos na filmagem e outros durante a edição.
Links sobre o assunto:
Exemplo de cenas com slow motion:
https://www.youtube.com/watch?v=jR0amLMjuuM
13. COMPOSIÇÃO
Um recurso expressivo que o diretor conta na feitura de um filme é
o da composição, que consiste em dispor personagens e objetos no
interior do enquadramento para obtenção de determinados efeitos,
ou em posicionar a câmera de maneira a obter certos resultados
estéticos.
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Alguns dos objetivos da composição são: mostrar claramente as
imagens ao espectador, conseguir que a cena fique esteticamente
agradável, alcançar um efeito dramático e ter uma variedade de
imagens para dar ritmo ao filme. Há duas maneiras básicas de se
compor uma cena: através da manipulação da câmera e através do
arranjo dos elementos de cena.
O trabalho com o foco, que define a nitidez da imagem em
diferentes pontos, traz novas possibilidades para a composição de
cena. Com o uso e manipulação de determinadas lentes pode ser
obtida maior ou menor profundidade de campo.
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17. EIXO DE CÂMERA (180 GRAUS) E REGRA DOS 30
GRAUS
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imaginária deve passar pelas duas e a câmera posicionada apenas
em um dos lados. Se não for feito isso, a que estaria do lado
esquerdo do vídeo na primeira tomada, na tomada seguinte estará do
lado direito. A e B podem parecer estar falando e olhando para
apenas um lado, sem passar a impressão de que estão falando uma
com a outra.
Vamos observar exemplos: ao gravar uma partida de futebol, as
câmeras se posicionam sempre do mesmo lado do campo, como se a
linha imaginária fosse toda a extensão da lateral do campo. Se
tivesse uma câmera de cada lado do campo, desrespeitando a linha
imaginária, haveria uma grande confusão para o espectador. Os
eixos estariam invertidos e a impressão que se teria é que os
jogadores de um mesmo time estivessem atacando para os dois
lados e o mesmo goleiro iria aparecer cada hora em um lado do
vídeo. Por exemplo, se você quer gravar os carros trafegando em
uma rua de mão única. Nesse caso a própria rua é a linha imaginária
e a câmera deve ficar apenas em um lado da calçada. Se na primeira
tomada gravar a cena na calçada A e na segunda gravar na calçada
B, acontecerá o seguinte: vai haver a impressão que de uma tomada
para outra mudou o sentido da mão, pois os carros que iam antes da
esquerda para a direita, estarão na segunda tomada indo da direita
para a esquerda. Agora, imagine duas pessoas A e B conversando. A
linha imaginária deve passar pelas duas e a câmera posicionada
apenas em um dos lados. Se não for feito isso, a que estaria do lado
esquerdo do vídeo na primeira tomada, na tomada seguinte estará do
lado direito. A e B podem ficar falando e olhando para apenas um
lado, sem passar a impressão de que estão falando uma com a outra.
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A regra dos 30 graus sugere que no caso da passagem de um plano
frontal aberto para outro mais fechado da mesma imagem, seja feito
um deslocamento de câmera de pelo menos 30 graus em relação à
sua posição original. Isso garante um corte mais fluido de um plano
a outro e visualmente mais confortável.
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O primeiro passo do diretor na direção de atores é identificar no
roteiro a função e os objetivos de cada personagem e identificar as
nuances emocionais que serão impressas em cada cena. Deve definir
também o arco dramático da história e a maneira como o ambiente
impacta o objetivo geral do personagem. Esse processo vai ser de
vital importância para que o diretor auxilie o ator na composição e
na imersão total no interior do seu personagem.
O passo seguinte é estabelecer as características exteriores
convenientes ao personagem (compleição física, faixa etária, etnia,
etc.), definir seus aspectos sociais e psicológicos e encaminhar o
projeto para o casting.
O casting é o processo de pré-seleção do elenco de acordo com as
características definidas pelo diretor para cada personagem. Cada
diretor estabelece seu modo pessoal de realizá-lo, e em muitos casos
conta com a colaboração de um profissional especializado nessa
função, o produtor de elenco.
Fatores que podem influir no casting são: a compatibilidade do
cachê (quando existente), a disponibilidade do ator de acordo com o
cronograma de filmagem e seu histórico profissional.
Depois de escolhido o elenco principal e secundário do filme,
começa a etapa de ensaio, que costuma seguir esses passos:
1. Leitura de mesa, também conhecida como leitura branca, leitura
fria ou leitura plana. No local de ensaio, é realizada uma leitura
coletiva do roteiro, cada ator lendo seu papel. São esclarecidas
dúvidas e questionamentos e o diretor explica para todo o elenco sua
visão do roteiro e dos personagens. Não há interpretação ou
marcação de cena.
2. Discussão do personagem com o ator. Pode ser individual ou
coletiva, a critério do diretor, que deve conhecer a visão de cada
ator sobre seu personagem e seu papel no desenvolvimento da
história.
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3. Leitura dramática, ainda sem marcações, mas com as primeiras
indicações de interpretação.
4. Estudo de cena baseado nos seguintes conceitos:
- Conceitos básicos de aproximação da cena.
- Definição de objetivos
- Quebra da cena em partes.
- Compreensão do arco dramático.
- Perseguição do objetivo
- Criação das ações físicas
- Trabalho para superar obstáculos
5. Planejamento dos ensaios, de acordo com a conveniência da
produção e dos núcleos dramáticos do roteiro e disponibilidade de
verba e espaço físico.
6. Marcação inicial de acordo com a disposição física do cenário e
posições de câmera. Postura e deslocamento do ator em cena e
interação entre personagens. Pode ser feita ainda com os atores
lendo o roteiro.
7. Alterações de marcação segundo a visão do diretor, sugestão dos
atores ou para superação de dificuldades técnicas.
8. Primeiro ensaio dramático, com o texto decorado e as marcações
de cena estabelecidas. As cenas são ensaiadas do começo ao fim. O
ensaio pode ser repetido quantas vezes o diretor achar conveniente e
o cronograma estabelecido permitir.
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ESTILOS CINEMATOGRÁFICOS INFLUENTES
20. EXPRESSIONISMO
21. SURREALISMO
23. NEO-REALISMO
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25. DOGMA 95
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Não chega a se constituir numa escola ou estilo mas é um tipo de
filme bastante popular no mercado, que consiste em simular que o
filme inteiro é resultado do trabalho de amadores e que foi
encontrado ao acaso no interior de uma câmera. Inicialmente foi
adotado em produções com poucos recursos, como “A Bruxa de
Blair”, e em outras produções do gênero horror, mas logo se
expandiu para outros gêneros como o filme-catástrofe e a comédia,
mostrando que ainda pode ser explorado de diversas maneiras.
Com a popularização das produções amadoras através dos portais da
internet, a estética descuidada típica dessas produções e seus erros
técnicos foram incorporados por alguns diretores como recurso de
linguagem e hoje são plenamente aceitas no meio cinematográfico,
influenciando até produções de grande orçamento.
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O FILM NOIR
A fotografia noturna em
contraste claro-escuro, o
reflexo das luzes na rua
molhada pela chuva, a narração
na primeira pessoa, o detetive
durão, a femme fatale, são
alguns dos elementos
facilmente reconhecíveis nesse
gênero que foi batizado pelos
críticos franceses. Adaptando a
estética expressionista a uma visão sombria do outro lado do
american dream, o film noir originou obras como O Falcão Maltês,
de John Huston, Laura de Otto Preminger, e Fuga do Passado, de
Jacques Touneur.
Embora suas produções mais importantes tivessem sido rodadas nos
anos 40 e 50, sua influência expandiu-se até o cinema moderno,
como pode ser constatado em filmes como Blade Runner, de Ridley
Scott, e Coração Satânico, de Alan Parker.
O POLICIAL
O gênero policial ramifica-se
em diversas vertentes, todas
tomando o mundo do crime
como sua temática principal.
Pode tanto evocar o universo
noir e do gangsterismo como
enaltecer o policial
incorruptível e lacônico, tantas
vezes encarnado por Clint
Eastwood. Costuma ser
estruturado sobre o processo de investigação de um crime, dando
margem a tramas intricadas e muitas cenas de ação, incluindo as
clássicas cenas de perseguição, onde o cineasta pode demonstrar sua
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maestria técnica. Nos últimos anos obtiveram grande sucesso de
bilheteria filmes centrados em duplas de policiais, geralmente de
temperamento antagônico, como é o caso da série Máquina
Mortífera, de Richard Donner, estralada por Mel Gibson e Danny
Glover.
O FILME ÉPICO
O filme épico teve seu grande
precursor no clássico
Intolerance, de D.W.Griffith,
que abordava diversos períodos
da historia da humanidade.
Geralmente de longa duração,
inspira-se em temas históricos,
passagens bíblicas e narrativas
mitológicas. Exige a
construção de cenários monumentais, a contratação de milhares de
figurantes e a presença de astros e estrelas capazes de atrair grandes
platéias, fundamental para o retorno de seus altos custos de
produção.
Devido a esses custos, o fracasso de um épico pode levar um estúdio
à beira da falência, como foi o caso de Cleópatra, de Joseph
Mankiewiscz, estrelado por Elisabeth Taylor e Richard Burton.
Quando bem-sucedido, pode arrecadar fortunas e constituir um
sucesso artístico, como o recordista de Oscars, Ben-Hur, de William
Wyler.
A FICÇÃO CIENTÍFICA
A narrativa cinematográfica de ficção científica privilegia-se da
imensa liberdade de concepção visual proporcionada pelas
trucagens e efeitos especiais. Gênero apreciado pelo público desde a
época dos filmes seriados como Flash Gordon, possui grande
variedade de abordagens, prestando-se a reflexões metafísicas sobre
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o homem diante do cosmos,
como em 2001, Uma Odisséia
no Espaço, de Stanley
Kubrick, ou simplesmente
encarnando a velha luta das
forças do Bem contra as forças
do Mal, como na trilogia
iniciada por Guerra nas Estrelas, de George Lucas.
Nos anos da Guerra Fria chegou a ser usado como metáfora da
ameaça comunista, e nas mãos de Steven Spielberg veicula
mensagens de tolerância, como E.T e Contatos Imediatos de
Terceiro Grau.
O SUSPENSE OU MISTÉRIO (THRILLER)
Gênero que tem Alfred
Hitchcock seu mestre maior,
exige um grande envolvimento
do espectador e sua
cumplicidade no
desenvolvimento da narrativa,
deixando-se manipular a ponto
de sentir sensações que vão do
calafrio na espinha ao pânico.
No filme de mistério a trama deve conter um grande segredo,
desconhecido do público e dos personagens, que, desenrolando-se
através de diversas pistas, deve levar a um final inesperado. É o
caso da fórmula sempre eficaz do “quem matou?”, explorada à
exaustão pelas telenovelas.
O suspense tradicional pode se dar ao luxo de dispensar o mistério
insolúvel, mantendo a tensão da trama e a atenção do espectador
através de um domínio narrativo e criatividade do roteiro, como é o
caso de Um Corpo que Cai, de Hitchcock, cuja chave central da
história é revelada ao espectador no meio do filme.
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O TERROR OU HORROR
Desde os primórdios do
cinema, sempre esteve entre os
gêneros favoritos do público,
principalmente adolescente,
que adora viver emoções
intensas na segurança de uma
sala de projeção. Também
devedor dos avanços do
cinema nas áreas de maquilagem e efeitos especiais, entronizou na
imaginação popular criaturas como Drácula e Frankenstein e a
figura sinistra de atores como Bela Lugosi, Boris Karloff e
Christopher Lee.
Os filmes bem-sucedidos de horror costumam dar origem a
continuações, como a série Sexta-feira 13 e aqueles protagonizados
pelo personagem Freddy Krueger. Pode atemorizar unicamente
através de um terror psicológico, como Os Inocentes, de Jack
Clayton, ou apelar para a escatologia e o mau gosto.
O FILME DE GUERRA
O lado espetacular do cinema
sempre encontrou na guerra um
bom pretexto para
demonstração de suas
qualidades, seja reencenando
campanhas e batalhas famosas,
seja reconstituindo o
impressionante aparato bélico dos exércitos. Se a Primeira Guerra
Mundial inspirou obras marcantes da categoria de Sem Novidade no
Front, de Lewis Milestone, a Segunda Guerra engajou o cinema
americano numa causa em que também estava em jogo a
supremacia sobre os mercados estrangeiros. Com uma clara
definição dos papéis de heróis e vilões, o cinema tornou-se
importante instrumento de propaganda, mobilizando a massa a favor
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da causa aliada.
O pós-guerra gerou uma importante corrente de filmes antibélicos,
entre os quais se destacam Glória Feita de Sangue, de Stanley
Kubrick, Johnny vai á Guerra, de Dalton Trumbo e até mesmo o
consagrado A lista de Schindler, de Steve Spielberg.
O FILME ROMÂNTICO
Embora situações românticas
permeiem obras dos mais
diversos gêneros, sempre
estiveram entre os grandes
sucessos de bilheteria filmes
em que a questão amorosa
ocupa o lugar central. É um
cinema centrado na figura feminina, geralmente uma mulher
idealizada e glamorosa, encarnada por estrelas do porte de Greta
Garbo e Joan Crawford. Estabeleceu uma dramaturgia incorporada
pela TV na forma de soap-opera ou telenovela, com intermináveis
capítulos girando em torno das desventuras amorosas de suas
protagonistas e culminando num inevitável happy-end.
A longevidade da fórmula junto ao gosto popular pode ser medida
pelo recente sucesso de filmes como Uma Linda Mulher, de Garry
Marshall e Sintonia de Amor, de Nora Ephron. A comedia
romântica é uma variação popular que une dois gêneros.
O FILME DE AÇÃO E AVENTURA
Gênero de espetáculo que cativa quase todo tipo de platéia,
aproveita todas as convenções da narrativa cinematográfica para
lançar seus protagonistas em situações mirabolantes, sem a perda de
credibilidade ou da identificação com o público. Sinônimo de ação
contínua, o filme de aventura privilegia o aspecto físico dos
personagens em detrimento do psicológico. Tem predileção por
tramas que se desenrolam em lugares exóticos ou de difícil acesso.
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Servindo como autêntico guia
turístico para o público.
Em raros casos, o destino
individual do personagem
central se sobrepõe à ação,
como é o caso de Lawrence da Arábia, de David Lean. O sabor dos
antigos seriados das matinês foi retomado com sucesso por Steven
Spielberg na série de filmes de Indiana Jones.
Algumas cinematografias regionais foram no estabelecimento de
subgêneros de aventura, como é o caso do filme japonês de samurai.
O CULT MOVIE
Um filme atinge o status de
cult quando conquista um
público cativo, capaz de vê-lo e
revê-lo incontáveis vezes, sem
nenhuma relação obrigatória
com seus méritos artísticos ou
sucesso de bilheteria. Nessa categoria enquadram-se experiência de
vanguarda, como o surrealista O Cão Andaluz, de Salvador Dali e
Luis Buñel, os filmes de Edward D. Wood Jr., considerado pela
crítica como o pior diretor de todos os tempos, e até mesmo filmes
recentes como Blade Runner.
As grandes cidades costumam ter cinemas de arte que exibem, em
sessões da meia-noite, filme que possuem verdadeiras legiões de
admiradores, que chegam a transformar a sessão num verdadeiro
happening interativo com a tela, como ocorre nas exibições de
Rocky Horror Show, de Jim Sharman.
Filmes como “A Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick e “O Clube
da Luta” de David Fincher são exemplos de filmes que se tornaram
cult com a passagem do tempo.
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28. DIRETORES – SEGMENTOS DE MERCADO
Embora um diretor completo deva dominar todas as exigências
técnicas e artísticas da profissão, sua atuação no mercado de
trabalho costuma exigir algum tipo de especialização em áreas
específicas.
DIRETOR DE CINEMA – CINEASTA – AUTOR
Os críticos costumam fazer uma distinção entre os diretores que
exercem sua profissão de maneira exclusivamente técnica e
comercial, daqueles que fazem filmes como forma de expressão
artística. Esses últimos costumam ser chamados de cineastas e são
considerados autores de uma obra artística.
DIRETOR DE TELEVISÃO – DIRETOR DE TV
Diretor de TV é o diretor que trabalha apenas em estúdio,
comandando as câmeras e mesa de corte, não tendo função criativa
ou artística. O diretor de televisão exerce todas as outras
modalidades de direção na TV, com destaque para o campo da
teledramaturgia.
DIRETOR DE PUBLICIDADE – DIRETOR DE CENA
Somente no meio publicitário o diretor, mesmo dirigindo atores e
fazendo a decupagem, é chamado de diretor de cena.
DIRETOR DE CORPORATIVOS E INSTITUCIONAIS
Diretor especializado em produtos audiovisuais voltados para
empresas e instituições.
DIRETOR DE NOVAS MÍDIAS
As demandas provocadas pelas transformações na maneira de se
captar e difundir conteúdo audiovisual proporcionou o surgimento
de profissionais voltados exclusivamente para novas mídias, como
internet e celular.
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DIRETOR DE DOCUMENTÁRIOS
Dirige exclusivamente produções documentais, para o circuito
cinematográfico, televisão e outros. Pode ser diretor de produções
jornalísticas.
ALMODÓVAR
A técnica é uma ilusão
O problema da geração mais nova [de
cineastas] com relação às precedentes é
o fato de ter crescido em uma cultura na
qual a imagem se tornou onipresente e
onipotente. Banharam-se desde
pequenos no universo do videoclipe e
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da publicidade, que não são formatos que me atraíam, pessoalmente,
mas cuja riqueza visual é inegável. E por isso os cineastas estreantes
têm uma cultura e um domínio de imagem muito superiores aos que
seus predecessores tinham 20 anos atrás.
Mas, em razão disso, eles também abordam o cinema de uma forma
que privilegia a forma ao conteúdo, e creio que chega um momento
em que isso os atrapalha. De fato, creio que a técnica é uma ilusão.
[...]
Há cineastas que dizem imaginar o filme inteiro em suas cabeças,
antecipadamente, mas mesmo assim há muitas coisas que não se
revelam, a não ser no momento, quando todos os elementos de uma
cena estão montados no local de filmagem.
O primeiro exemplo que me ocorre é o do acidente de carro em
"Tudo sobre Minha Mãe" [1999]. No começo, eu planejava filmar
com uma grua e terminar com um longo "travelling",
acompanhando a mãe em sua corrida pela rua, sob a chuva, na
direção do filho agonizante. Mas acabei por repensar e disse a mim
mesmo que o "travelling" era parecido com um plano que eu já
utilizara no final de "A Lei do Desejo" [1987]. E por isso decidi, de
improviso, naquele momento, rodar a cena de maneira
completamente diferente, ou seja, como uma tomada subjetiva. A
câmera filma do ponto de vista do rapaz, passa por baixo do carro e
se perde no sol, e enfim ele vê a mãe correndo em sua direção.
No final, terminou sendo sem dúvida um dos planos mais fortes do
filme. No entanto não foi de maneira nenhuma premeditado. Tudo
surgiu de decisões intuitivas, improvisadas ou acidentais, que são a
magia da filmagem. [...]
Close-up perigoso
O fato é que não tenho fetiches ou manias, na hora de rodar uma
cena. Mas, nos meus dois últimos filmes, surgiram detalhes muito
peculiares. Para começar, usei um novo tipo de lente, chamadas
60
"primes", que me satisfizeram muito, pela densidade que dão às
cores e, acima de tudo -o que pode surpreender- pela textura que
emprestam aos objetos que não ficam em foco, no segundo plano de
certas imagens.
Além disso, e isso é o mais importante, utilizei basicamente o modo
"scope", com um formato de imagem muito mais alongado. O
"scope" não é um formato evidente e oferece certos problemas,
especialmente no caso dos planos próximos. Para filmar um close-
up nesse formato, é preciso fechar nos rostos, e ocasionalmente isso
se torna perigoso, porque não há como mentir. Isso obriga a encarar
a questão quanto ao que se quer realmente dizer com o close-up. Os
atores precisam ser bons, e é preciso que haja algo de verdadeiro
naquilo que interpretam – ou a cena descamba.
Digo isso, mas poderia facilmente oferecer um exemplo inverso
daquilo que estou dizendo: [o cineasta italiano] Sergio Leone [1929-
1989]. A maneira pela qual ele filmava close-ups extremamente
próximos em seus westerns era completamente artificial. Lamento
muito, mas Charles Bronson [1922-2003], para mim, é um ator que
nada exprime. E a intensidade que deriva dos close-ups de seu rosto
durante as cenas de duelo é completamente falsa. No entanto sou
obrigado a reconhecer que o público adora o estilo.
O exemplo oposto é David Lynch. No caso dele, embora filme
certos objetos em close-up, consegue dotar as imagens de um
verdadeiro poder de sugestão.
Os planos não são só impecáveis do ponto de vista estético mas
repletos de mistério. A abordagem dele corresponde à minha, mas
eu sou muito mais fascinado
pelos atores, adoro filmar
rostos, enquanto Lynch, que
começou nas artes plásticas,
visivelmente se interessa mais
pelos objetos.
61
LYNCH
Som e sentido
Se alguém me perguntasse quais são os
filmes que, para mim, representam os
exemplos mais brilhantes do que se pode
realizar como cineasta, creio que eu
escolheria quatro. Para começar, "Oito e
Meio" [1963], para mostrar como Fellini
foi capaz de obter no cinema o mesmo
resultado que certos artistas conseguem na
pintura abstrata, ou seja, conseguir
comunicar uma emoção sem jamais falar
dela ou mostrá-la diretamente, sem jamais
explicá-la, quase como se fosse magia. A
seguir, eu exibiria "Crepúsculo dos Deuses" [1950], um pouco pelas
mesmas razões.
Porque, se o estilo de Billy Wilder não se compara ao de Fellini, ele
obtém resultado mais ou menos similar, ao criar uma espécie de
ambiente abstrato, menos por magia pura do que por toda espécie de
invenção estilística e técnica. A Hollywood que ele nos descreve
naquele filme sem dúvida jamais existiu, mas ele nos alcança e faz
com que acreditemos plenamente e nos faz penetrar nela como num
sonho.
Depois disso, mostraria "As Férias de M. Hulot" [1953], pela visão
incrível que [Jacques] Tati tinha da sociedade. Pode-se ver, em seus
filmes, como era profundo o conhecimento e o verdadeiro amor que
sentia pelo ser humano, e há muito a aprender com seu exemplo.
Por fim, mostraria "Janela Indiscreta" [1954], em razão da maneira
brilhante pela qual [Alfred] Hitchcock conseguiu criar -ou recriar-
um verdadeiro universo no pátio daquele edifício. James Stewart
não sai de sua cadeira o filme inteiro e, apesar disso, testemunha, de
seu ponto de vista, uma incrível história de morte. Esse filme, a arte
de condensar algo enorme e de fazer com que caiba na película, que
62
parece minúscula, só pode funcionar por se basear em um completo
domínio da imagem. [...]
Entidade sólida
Descobri o poder do som desde o começo. Trabalhei com "pintura
viva", um projetor passando um filme em "loop" e o som de uma
sirene rodando igualmente em "loop" por trás da cena. Desde então,
sempre considerei que o som representava metade da eficácia de um
filme. Temos a imagem de um lado e o som de outro, e, se o diretor
sabe como aliá-los corretamente, o conjunto é muito mais forte que
a soma das partes. A imagem repousa sobre toda espécie de
elementos frágeis e voláteis (a luz, o enquadramento, a interpretação
dos atores etc.), mas o som é uma espécie de entidade sólida e
possante, que "habita" fisicamente o filme, que se instala nele como
alguém se instala em uma casa.
É claro que é preciso encontrar o melhor som, o que implica muita
discussão, muitos testes e muitas experiências. [...]
Cada cineasta tem hábitos ou pendores característicos, no plano
técnico. Por exemplo, adoro brincar com contrastes, filmar com
lentes que me dão grande amplitude de campo e ao mesmo tempo
adoro close-ups muito próximos, como os fósforos em "Coração
Selvagem" [1990].
Por outro lado, tenho um método muito peculiar de realizar
"travellings". É um método que experimentei em "Eraserhead"
[1977] e que voltei a utilizar em todos os meus trabalhos
posteriores. Consiste em carregar a dolly da câmera usada no
"travelling" com pesos, sacos de areia, até que pareça pesar três
toneladas. São necessárias muitas pessoas para empurrá-la, e ela
inicia seu percurso muito lentamente, como uma locomotiva saindo
da estação.
Mas, passado um momento, a dolly ganha velocidade e, depois
disso, passa a ser necessário empregar muita energia para impedir
63
que ela corra demais. É quase necessário que alguém se jogue à sua
frente para detê-la. O interessante desse método é que dá ao
"travelling" uma graça e uma fluidez notáveis. Creio que o melhor
"travelling" dos meus filmes esteja em "O Homem Elefante" [1980],
quando Anthony Hopkins descobre pela primeira vez o homem
elefante e se aproxima de seu rosto para ver sua reação.
Tecnicamente, foi uma tomada muito bem realizada, mas, além
disso, no exato momento em que a câmera se detém em seu rosto,
Anthony Hopkins deixa
escapar uma lágrima.
Isso não estava
previsto. É um desses
momentos mágicos que
acontecem. Foi a
primeira tomada, mas,
após ver o que
acontecera, eu nem
mesmo pedi uma
segunda.
BERTOLUCCI
Câmera inquieta
Não aprendi a dirigir filmes de modo teórico, e a noção de
"gramática" cinematográfica nada significa
para mim. E, no entanto, dada minha
maneira de pensar, tendo a dizer que, se
existe gramática, é preciso transgredi-la.
Porque é dessa maneira que a linguagem
cinematográfica evolui.
Quando Godard filmou "Acossado" [1959],
a gramática dele era "le jump cut" [transição
imediata entre uma imagem e outra] no poder. E o extraordinário é
que, caso você assista a um dos últimos filmes de John Ford [1895-
64
1973] -"Sete Mulheres" [1966]- você se dá conta de que o cineasta,
um dos clássicos do cinema hollywoodiano, decerto assistiu a
"Acossado" e adotou o "jump cut" como método, coisa que dez anos
antes pareceria inconcebível. Eu, desde sempre, abordo cada plano
como se fosse o último, como se devesse aposentar a câmera depois
de cada tomada.
Tenho sempre essa sensação de roubar cada uma de minhas
tomadas, e nesse estado de espírito é impossível refletir em termos
de "gramática" ou de lógica. Hoje em dia, aliás, não preparo nada
com antecedência, não faço decupagem nenhuma. Geralmente, tento
rever antes de dormir os planos que rodarei no estúdio na manhã
seguinte. [...]
Brando e Francis Bacon
A comunicação é evidentemente um fator essencial ao bom
funcionamento de uma equipe de filmagem. Mas creio que a chave
para uma boa comunicação precisa ser estabelecida antes do começo
da filmagem; fazê-la no estúdio é tarde demais. Por exemplo,
quando decidi filmar "O Último Tango em Paris" [1987], convidei
Vittorio Storraro (diretor de câmera de todos os filmes de Bertolucci
até "O Pequeno Buda" [1993]) para a exposição de Francis Bacon
[1909-92] no Grand Palais [em Paris], e lhe mostrei as telas,
dizendo que aquela era a espécie de coisa em que queria me
inspirar.
E, se vocês prestarem atenção ao resultado final, há luzes
alaranjadas no filme que são diretamente influenciadas por Bacon.
Depois, convidei Marlon Brando [1924-2004] para ir à mesma
exposição e lhe mostrei a tela que se vê no começo do filme, nos
títulos de abertura. Era um retrato que, observado no começo,
parecia bastante figurativo.
Mas, depois de fixar o olhar no quadro por um bom tempo, a tela
perdia o naturalismo completamente e se tornava a expressão do que
se passa nas tripas -ou no inconsciente- do autor. Perguntei a
65
Marlon se ele tinha prestado atenção ao retrato e disse que queria
que ele criasse a mesma massa de dor. E foi quase só essa -ou pelo
menos foi essa a principal- instrução que lhe dei para o filme. [...]
É a câmera que dita minha maneira de dirigir, porque ela se
movimenta o tempo todo - e percebo que, nos meus filmes recentes,
ela se move ainda mais-, quase como se entrasse em cena, na forma
de um personagem invisível do filme. Sou incapaz de resistir à
tentação de fazer a câmera se mover. Creio que isso surge da
necessidade de forjar uma relação sensual com os personagens, na
esperança de que isso se transforme em uma relação sensual entre os
personagens. [...] Quase nunca uso o zoom. Não sei o motivo, mas
creio que haja alguma coisa de falso nesse movimento. [...]
Aparentemente, um filme consiste em transformar uma idéia em
imagem. Mas, de um modo mais secreto, para mim ele sempre foi
uma maneira de explorar qualquer coisa de mais pessoal e abstrato.
E meus filmes terminam sempre sendo muito diferentes do que eu
imaginava, no começo do projeto. É um processo evolutivo, assim.
[...]
Houve um momento em que considerava que a contradição era a
base de tudo, o motor de cada filme. E foi assim que filmei "1900"
[1976], filme sobre o nascimento do socialismo, um filme socialista,
por isso, em essência, mas financiado por dólares norte-americanos.
Um filme no qual eu misturava atores de Hollywood e camponeses
da região do rio Pó [na Itália], que jamais haviam visto uma câmera.
Isso me divertiu bastante.
É preciso lembrar que,
quando comecei a fazer
cinema, nos anos 60, ainda
existia aquilo que os
cineastas designavam como
"a questão Bazin", ou seja,
"o que é o cinema?". Era
uma espécie de interrogação
66
constante que terminava por se tornar um pouco o tema de cada
filme.
Isso acabou porque as coisas mudaram. Mas tenho a impressão de
que o cinema está a ponto de sofrer tamanha transformação, de
perder a tal ponto sua unicidade, que a questão Bazin voltará a ser
atual, e será preciso recomeçar a perguntar, uma vez mais, o que é o
cinema.
CRONENBERG
Escrita é arte maior
Pode parecer chocante, mas em algum lugar
acredito que continuo considerando a
literatura uma arte superior ao cinema. É
provavelmente por esnobismo ou porque,
como disse antes, sempre pensei que minha
carreira "séria" seria escrever romances e
que o cinema seria apenas um hobby, uma
coisa que eu faria paralelamente. Ao mesmo
tempo, quando conheci Salman Rushdie
[escritor britânico, autor de "Versos
Satânicos"], que considero um dos autores mais ricos e mais
intensos de sua geração, pedi sua opinião.
Isso me parecia ainda mais interessante porque ele cresceu na Índia,
onde o cinema tem uma importância cultural enorme. Então lhe
perguntei se ele considerava a literatura uma arte superior ao
cinema, e ele me olhou como se eu fosse louco. Ele disse que
pensava exatamente o contrário e que estaria disposto a tudo para
poder realizar um filme. [...]
A câmera é um ator
Na primeira vez em que me encontrei em um set de filmagem,
lembro-me de ter ficado aterrorizado com a idéia de espaço, porque,
se a escrita é um universo bidimensional, o cinema é tridimensional.
67
Não falo da imagem, é claro, mas do set. É um universo onde é
preciso gerar não apenas o espaço mas também a relação das
pessoas e dos objetos nesse espaço e organizar tudo para que seja
eficaz e para que, além disso, tenha sentido.
Pode parecer abstrato dito assim, mas, quando estamos diante do
problema, acredite-me, é muito concreto. Pois a câmera ocupa seu
próprio lugar nesse espaço, ela é como mais um ator.
E em muitos filmes de estréia eu noto o mesmo defeito: a
incapacidade de dançar com a câmera, de traduzir corretamente essa
espécie de balé gigantesco formado por todos os elementos de um
set de filmagem. Por outro lado, o que é formidável é que a maioria
das decisões a serem tomadas vêm de maneira completamente
instintiva. [...]
Quanto mais filmes faço, mais sinto vontade de rigor e purismo ou
de minimalismo. É por isso que um filme como "Exiztenz" [1999] é
filmado quase totalmente com uma única lente, no caso a de 27
milímetros. Quero ser simples e direto, à maneira de um [Robert]
Bresson [1901-99] e, por outro lado, o oposto completo de um Brian
de Palma [1940], que vai constantemente buscar uma maior
manipulação da imagem e uma maior complexidade visual.
Não critico o que ele faz, mas é outra abordagem. Também nunca
utilizo o zoom, porque para mim é somente um brinquedo ótico.
Então, quando movimentamos a câmera, a mudança de perspectiva
o projeta fisicamente
no espaço do filme.
Novamente, o zoom
tem alguma coisa de
bidimensional que não
corresponde à minha
idéia de cinema.
68
VON TRIER
A busca da emoção
O que me parece primordial é fazer um
filme para si mesmo, e não para o público.
Se você começa a pensar no público,
certamente vai se enganar e fracassar. Para
fazer filmes, uma parte de você deve
evidentemente ter vontade de se comunicar
com os outros, mas essa não deve ser a
motivação principal, senão o filme não vai
funcionar. Você deve fazer o filme que você
quer ver, e não aquele que acredita que o
público quer ver. É uma armadilha na qual vejo muitos cineastas
caírem. Isso não significa que não se podem fazer filmes
comerciais. Significa somente que esses filmes devem agradar a
você antes de agradar ao público. Um cineasta como Steven
Spielberg [1947] faz filmes muito comerciais, mas estou convencido
de que ele os faz antes de tudo porque tem vontade de vê-los. E é
por isso que eles funcionam. [...]
Alguns anos atrás, todo mundo lhe diria que eu era o pior diretor de
atores que já existiu. E, sem dúvida, eles teriam razão. No entanto
eu diria em minha defesa que o estilo de filme que eu fazia exigia
isso. Hoje mudei um pouco de opinião. Em uma filmagem como a
de "Dogville" [2003], tenho a impressão de ser um anfitrião, e todos
os atores são meus convidados. De repente, isso me cria outras
preocupações. Porque, quando vejo que um dos meus "convidados"
não se diverte na festa, sinto-me culpado e não consigo trabalhar.
Quero que todo mundo se sinta bem em meu set. Quero que meus
atores não sintam nenhuma pressão. Cabe a mim absorver toda a
pressão, a fim de criar um clima no qual possa se estabelecer
confiança. Pois, embora seja um clichê, a confiança é o fator vital
no trabalho com um ator. É verdade que no meu caso minha
reputação ajuda muito. Como todo mundo sabe que faço coisas um
69
pouco loucas, os atores que aceitam trabalhar comigo o fazem com
conhecimento de causa. Em geral estão dispostos a tudo.
Coisas meio malucas
E o que foi formidável com Nicole Kidman, por exemplo, é que ela
sempre aceitou experimentar muitas coisas meio malucas que não
estavam previstas. E acredito que é o maior sacrifício que se pode
pedir a um ator: assumir o risco de se ridicularizar pelo bem do
projeto. [...]
Não faço filmes para exprimir
idéias. Entendo que se poderia
pensar isso vendo meus
primeiros filmes, porque eles
têm algo um pouco frio e quase
matemático. Mas, mesmo na
época, acreditava que no fundo
eu já era o mesmo que hoje.
Essa busca da emoção sempre orientou meu trabalho, e, se meus
últimos filmes podem parecer mais fortes e mais tocantes que os
primeiros, é sem dúvida só porque, como pessoa, me tornei mais
aberto às emoções.
WOO
Filme sem gramática
Não conheço nenhuma regra, nenhuma
verdadeira "gramática" do cinema. Quando
preparo uma cena, não digo "oh, é preciso
filmá-la em grande plano" ou "oh, isso é um
grande plano". Prefiro filmar de várias
distâncias e tomar minha decisão final na
montagem, porque é ao mesmo tempo o
momento em que melhor consigo ter um
espírito de síntese e aquele em que o filme
70
começa realmente a ganhar vida.
Portanto, não hesito em filmar cada cena com várias câmeras (já
tive até 15 câmeras para cenas de ação especialmente complexas) e
até rodar algumas câmeras em velocidades diferentes (minha
velocidade preferida é de 512 imagens por segundo, ou seja, 20
vezes mais lenta que a normal). O motivo dessa desaceleração é
que, quando descubro na montagem um momento especialmente
forte, do ponto de vista dramático ou emocional, gosto de fazê-lo
durar o maior tempo possível. Portanto, filmo sob vários ângulos ao
mesmo tempo, mas pode acontecer que no final o desempenho do
ator seja tão formidável que eu decida utilizar apenas o grande plano
para a cena inteira e jogar fora todo o resto. [...]
Burocracia de Hollywood
Já se disse que os estúdios de Hong Kong são muito duros, e é
verdade, mas unicamente porque eles são obcecados pelo aspecto
comercial dos filmes. Se você tiver um fracasso de bilheteria, eles se
livram de você com uma rapidez assustadora.
Por outro lado, enquanto funcionar, eles lhe dão um controle
criativo total na filmagem. Nunca mostrei meus copiões aos
produtores, quando trabalhava em Hong Kong. Eu filmava e lhes
entregava o produto acabado, muitas vezes com atraso e tendo
ultrapassado o orçamento. Mas eles só se queixavam se o filme não
desse dinheiro.
Em Hollywood fiquei francamente surpreso de ver a que ponto o
processo criativo é
complexo e político.
Há muitas pessoas
envolvidas que
querem impor suas
idéias, reuniões
demais e não se
assumem riscos
suficientes. É preciso
71
ter uma energia incrível para ainda ter vontade de filmar quando
finalmente lhe dão a aprovação. O problema é que eu trabalho
enormemente pelo instinto. Gosto de criar no set, e não antes. [...]
Para trabalhar bem com atores, acredito que é preciso estar um
pouco apaixonado por eles. Isso é uma coisa que compreendi muito
cedo, assistindo a "A Noite Americana" [1973], de [François]
Truffaut [1932-84]. Era fascinante ver a que ponto ele amava seus
atores. Para mim é a mesma coisa. Por isso insisto em passar muito
tempo com eles antes da filmagem e discuto muito para descobrir
quem eles são e o que têm na cabeça. Faço-os falar sobre seu modo
de vida, seus sonhos, aquilo de que gostam e o que detestam.
GODARD
Perversões do autor
A perversão da noção de autor é
incontestavelmente uma herança negativa
da "nouvelle vague". Antes, aqueles que
eram considerados autores dos filmes eram
os roteiristas, uma tradição que vinha da
literatura. Nos créditos, os nomes dos
diretores vinham em último lugar, a não ser
para pessoas como [John] Ford ou [Frank]
Capra, mas unicamente porque eles também
eram produtores. Mas nós dissemos: "Não, a
direção é o fato fundador e verdadeiramente
criador do filme. E Hitchcock [1899-1980] é
autor tanto quanto Balzac [1799-1850]". A partir daí desenvolvemos
a política dos autores, que consistia em apoiar o autor, mesmo
quando ele era fraco.
Apoiávamos mais facilmente um mau filme de autor que um bom
filme de alguém que não o era. E depois o conceito se inverteu, se
transformou em um culto ao autor, e não a seu trabalho. Então todo
mundo se tornou autor, e, hoje, quase que o cenarista pede para ser
reconhecido como autor dos pregos que colocou no cenário. O
72
termo não quer dizer mais nada, portanto. [...] Acredito que, quando
lançamos a política dos autores, nos enganamos ao privilegiar a
palavra "autor", enquanto na verdade é a palavra "político" que era
preciso ressaltar.
Pois o verdadeiro objetivo desse conceito não era demonstrar quem
faz a direção, mas, principalmente, explicar o que faz a direção. [...]
Eu acredito que existem duas maneiras de enfrentar um filme. A
primeira é a das pessoas que fazem cinema mais clássico e
tradicional, mas que vão até o fim. O que entendo por isso é que
elas começam tendo vontade, a qual se transforma pouco a pouco
em idéia.
Elas fazem anotações, começam a ver os cenários aparecendo em
sua cabeça, depois imagens, depois uma narrativa, uma construção
etc. A partir de todos esses elementos, passam a preparar o filme da
melhor forma possível, um pouco do mesmo modo que um arquiteto
prepara as plantas de uma casa.
Depois há a filmagem, que consiste em realizar o melhor possível e
da maneira mais agradável o que foi desenhado nas plantas. E
finalmente há a montagem, o último momento de possibilidade de
invenção e de semiliberdade. Essa é uma abordagem. A minha é
diferente. Eu começo tendo uma espécie de sentimento abstrato, de
atração por alguma coisa sem compreendê-la bem, e o fato de filmá-
la faz com que eu a verifique, pronto para recuar ou mudar
enormemente as coisas. Somente no fim eu posso efetivamente
verificar se minha intuição estava certa e, é claro, geralmente é tarde
demais.
Eu diria que é um pouco como na pintura moderna, na qual se faz
uma tentativa, depois se apaga e recomeça. É preciso explicar que
eu sempre parti da possibilidade real de fazer o filme, quer dizer, o
projeto é montado com um produtor antes mesmo que eu tenha
escrito o roteiro.
73
História de amor
Então, quando tudo isso está pronto, é preciso ir em frente. É um
pouco como uma história de amor. A gente fica junto, decide se
casar e depois não é mais possível recuar. É preciso levantar de
manhã, fazer as contas, se perguntar como vamos viver, trabalhar...
Há uma obrigação que não podemos evitar. [...]
Existem dois níveis de leitura em um filme: o visível e o invisível.
O que você coloca diante da câmera é o visível. E, se houver apenas
isso, é um telefilme que você faz. Os verdadeiros filmes, para mim,
são aqueles em que existe uma espécie de invisível, que só pode ser
visto através daquele visível e unicamente porque ele é agenciado
ou orientado assim.
Muitos realizadores hoje se contentam em filmar o visível.
Deveriam se fazer mais perguntas. Ou talvez sejam os críticos que
deveriam fazê-las. Mas não depois que os filmes estão prontos,
como acontece hoje. Não, aí é tarde demais, é preciso fazê-las antes.
E é preciso fazê-las como um juiz que interroga um suposto
culpado. [...]
Eu nunca aderi ao conceito dos atores que conseguem fazer
acreditar que são o personagem. O exemplo definitivo é sem dúvida
a peça de Tchekov na qual a atriz faz crer que é uma gaivota. Muitas
pessoas acreditam, eu não. Eu nunca dirigi realmente os atores. Com
Anna (Karina) o problema nem mesmo se colocava, pois ela mesma
se dirigia. Meus
comentários muitas
vezes se reduziam a
"mais forte", "mais
devagar" ou, "se
você não entendeu,
então pelo menos
diga como eu teria
entendido". Em
geral, deixo os
74
atores fazerem sua própria criação. É claro que o fazem sozinhos.
Meu trabalho se restringe então a lhes dar boas condições: um bom
enquadramento, uma boa profundidade de campo etc.
Não consigo fazer o enorme trabalho de direção de atores que se
pode encontrar em [Ingmar] Bergman [1918], [George] Cukor
[1899-1983] ou [Jean] Renoir [1894-1979], quando podemos ver
que eles amavam os atores como um pintor ama seus modelos.
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O FIM DA HISTÓRIA (1992, U-MATIC, ficção, curta-metragem)
OS DESERTOS DIAS (1991, 35mm, ficção, curta-metragem)
FRED HISTÉRICO (1991, U-MATIC, videoarte, curta-metragem)
INSTRUÇÕES PARA SUBIR UMA ESCADA (1991, U-MATIC,
videoarte, curta-metragem)
O MUNDO PERDIDO DE KOZÁK (1988, 16mm, documentário,
curta-metragem)
PLANO: SEQUÊNCIA (1983, VHS, videoarte, curta-metragem)
JARDINS SUSPENSOS (1982, Super 8, documentário, curta-
metragem)
VISÕES SECRETAS (1980, Super 8, experimental, curta-
metragem)
ESCURA MARAVILHA (1979, Super 8, experimental, curta-
metragem)
ALUMINOSA ESPERA DO APOCALIPSE (1979, Super 8,
experimental, curta-metragem)
HU (1979, Super 8, experimental, curta-metragem)
CONTATOS
fernandosevero7@gmail.com
(41) 9161-0057
79