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COMO A ANIMAÇÃO HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO TRANSMITE A

ESTÉTICA DOS QUADRINHOS PARA O CINEMA

José Luan Soares Moraes

RESUMO

O trabalho apresenta de forma resumida as técnicas usadas no filme Homem Aranha no


Aranhaverso para transmitir a estética visual influenciada pelas histórias em quadrinhos em
uma animação. Os animadores utilizaram tanto técnicas de animação 3d quanto 2d para
criar esse ambiente em que os personagens e o cenário passem a impressão de uma
história em quadrinhos animada, usando traços 2d no rosto dos personagens e em seus
movimentos e outras referências claras aos quadrinhos, como o efeito granulado conhecido
como Pontos Ben-Day, as clássicas onomatopeias escritas durante as cenas para indicar
impacto, fundo colorido em cenas de ação para destacar os personagens. O filme tem essa
estética híbrida de várias técnicas de animação que mudou a forma como esse tipo de obra
é vista, resultando em um grande feito artístico.

PALAVRAS-CHAVE

Homem-Aranha; Animação; Estética; Quadrinhos.

O filme Homem Aranha no Aranhaverso de 2018 possui uma estética visual muito
particular, apresenta diversas referências de estilo nas histórias em quadrinhos e
mistura técnicas de animação 3d e 2d. Esses efeitos foram trabalhados de forma
tão original e criativa que foi necessário a criação de um software novo para
trabalharem com o filme. A animação é muito elogiada e recebe destaque por seu
estilo diferente do convencional. A produtora do filme, Sony Imageworks, teve que
deixar de lado a maneira tradicional de animação que o estúdio possuía para trazer
essa nova estética. Durante o processo os animadores receberam instruções mais
livres a respeito das ilustrações que iriam trabalhar, podendo utilizar seu traço
próprio ao invés de seguir um mesmo padrão.

Um dos efeitos aplicados na animação para transmitir a estética das histórias em


quadrinhos foi a adição de traços e linhas por cima dos modelos 3d, dando mais
expressividade e efeito manual a obra, os traços estão presentes em várias partes
da animação e se destacam tanto nos rostos dos personagens quanto em cenas de
movimento, como na Imagem 1 que apresenta linhas no rosto do personagem Miles
Morales e na caneta em sua mão após ele dar uma batida em seu peito.

Imagem 1. Print do filme Homem-Aranha no Aranhaverso

É possível notar também que o efeito de desfoque no fundo da cena (Imagem 1) é


distinto do embaçado utilizado na maioria dos filmes, essa técnica é conhecida
como aberração cromática e deixa as cores separadas em camadas distanciadas,
causando um efeito borrado particular. Algumas cenas usam um efeito similar ao
colocar a cor separada da silhueta do objeto ou personagem (Imagem 2) para fazer
referência aos quadrinhos antigos que tinham essa característica como defeito por
serem impressos com baixo orçamento, mas que acabou se tornando um conceito
estético na produção do filme.

Imagem 2. Print do filme Homem-Aranha no Aranhaverso


Outra característica que referencia as HQs são os elementos clássicos como
onomatopeias e efeitos sonoros escritos durante cenas de ação (Imagem 3) e
destaque de personagens em fundos coloridos com traços que indicam movimento
(Imagem 4). Na imagem 4 também é possível perceber novamente o uso de traços
em 2d para dar noção de movimento nas lâminas presentes nas garras da vilã.

Imagem 3. Arte Conceitual de Alberto Mielgo para o filme.

Imagem 4. Print do filme Homem-Aranha no Aranhaverso.

Além disso, a animação trabalha em muitas cenas a textura granulada conhecida


como Pontos Ben-Day, elemento muito característico das HQs. Essa técnica era
usada para colorir painéis com pontos em camadas de quatro cores sobrepostas,
muito utilizada em quadrinhos dos Estados Unidos nos anos de 1950 e 1960, que
também servia como um meio de economizar tinta. Assim essa técnica se tornou
popular e muito associada aos quadrinhos, é possível notá-la no fundo da Imagem 4
utilizando pontos da cor laranja e dando profundidade na cena, na Imagem 5 esse
elemento aparece nos detalhes das luzes e sombras dos carros.

Imagem 5. Print do filme Homem-Aranha no Aranhaverso.

Um fator muito importante no filme que o permite passar o sentimento e estilo das
HQs está na forma como a produção animou o longa, normalmente as animações
em computação gráfica são feitas com uma taxa de 24 quadros por segundo, cada
quadro com uma imagem, mas em Homem-Aranha no Aranhaverso foram utilizados
12 imagens diferentes para cada segundo e cada imagem é mantida por dois
quadros, esse formato é conhecido como animating on twos. O uso dessa forma de
animar resulta em um estilo visual de aspecto ilustrado para o filme, em que cada
quadro aparece como uma ilustração distinta, assim como um painel de uma
história em quadrinhos.

O filme Homem-Aranha no Aranhaverso reúne todas essas características que


foram trabalhadas por quatro anos pelo estúdio da Sony Imageworks e entrega um
resultado e um estilo único digno da premiação de Oscar que recebeu como melhor
filme de animação em 2019. O filme com diversas influências em quadrinhos e que
transmite isso de forma muito clara contribuiu para uma grande mudança e impacto
na história das animações e de como elas são vistas, ganhando um local de
destaque e referência pela forma como foi trabalhado, sendo considerado como um
grande feito artístico.
Referências

SPIDER-MAN into the spider-verse. Direção: Bob Persichetti; Peter Ramsey; Rodney
Rothman. Produção: Avi Arad; Amy Pascal; Phil Lord; Christopher Miller; Christina
Steinberg. Columbia Pictures; Sony Pictures Animation; Marvel Entertainment, dez. 2018.
Disponível em:
https://www.netflix.com/br/title/81002747?s=a&trkid=13747225&t=cp&vlang=pt&clip=.
Acesso em: 15 de abr. 2022.

ABBADE, João. Como Homem-Aranha no Aranhaverso traduziu o estilo visual das HQs
para o cinema. Jovem Nerd, jan. 2019. 1 filme (117 min). Disponível em:
https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/a-arte-de-homem-aranha-no-aranhaverso. Acesso em:
16 abr. 2022.

Spider-Man™: Into the Spider-Verse. Sony Pictures: Imageworks. Disponível em:


https://www.imageworks.com/our-craft/feature-animation/movies/spider-man-spider-verse.
Acesso em: 16 abr. 2022.

IMBROSIS, Margaret; MARTINS, Simone. Pontos Ben-Day. História das Artes, jun 2016.
Disponível em: https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/pontos-ben-day.
Acesso em: 18 abr. 2022.

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