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FLORESTA NACIONAL DE LORENA/ ICMBio

Pica-pau-anão-barrado (Picumnus cirratus) na FLONA de Lorena

LEVANTAMENTO PRELIMINAR E CARACTERIZAÇÃO


RÁPIDA DA AVIFAUNA E DE OUTROS GRUPOS

Autor: Biól. Vincent Kurt Lo – IBAMA/SP

Janeiro 2010
Introdução

O presente trabalho realiza uma rápida avaliação da avifauna e de alguns


outros grupos de vertebrados, com apenas uma única incursão a campo,
abrangendo um dia inteiro e dois períodos, entre os dias 27 a 29 de Outubro de
2009, totalizando 14 horas e 30 minutos de observação.

A Floresta Nacional de Lorena (FLONA de Lorena) é uma Unidade de


Conservação de uso sustentável, com uma área de cerca de 250 hectares,
gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. A FLONA de Lorena
está no município de mesmo nome, inserida no Vale do Paraíba, em uma
posição estratégica para a fauna, entre a Serra do Mar e a Serra da
Mantiqueira, com influências de campos alagados do rio Paraíba e até cerrado
em suas proximidades. Possui um mosaico vegetacional que possibilita a
ocorrência de espécies de aves típicas de mata, de áreas abertas, de campo e
de cerrado. As diferentes guildas da listagem de aves também indicam isso.

Figura 1 – Localização do município de Lorena no Estado de São Paulo

Apesar do predomínio da floresta plantada, com Eucalyptus spp. e Pinus spp.,


o desenvolvimento de um sub-bosque nestas florestas cria condições para a
manutenção de uma comunidade de animais que se abrigam na FLONA.
Considerando o antigo uso para a agricultura, a cobertura vegetal da FLONA é
resultado de regeneração ou plantio.

Excetuando-se o Sagui-de-tufo-preto Callithrix penicillata, muito provavelmente


introduzido na área, e alguns indivíduos provenientes de soltura de autoridades
ambientais, a fauna presente na FLONA de Lorena, em especial a avifauna,
decorre de colonização por dispersão de populações dos arredores. Portanto,
não obstante muitas das espécies registradas possam ser consideradas
comuns, ou de ampla distribuição, os espécimes encontrados na FLONA
podem armazenar material genético representativo da região. Além disso, cabe
ressaltar o seu papel ecológico nas relações essenciais para o funcionamento
dos sistemas, como a polinização, a dispersão e o controle de insetos.

A FLONA de Lorena, assim como todas as unidades de conservação,


independente do fato de serem de proteção integral ou uso sustentável, devem
ser consideradas como importantes remanescentes para alimentação,
descanso, abrigo, reprodução ou passagem da fauna silvestre, possuindo
portanto um papel não só local como regional. A estratégia do “stepping stone”,
que representa um trampolim de passagem para outros locais, ilustra bem tal
importância dos remanescentes para a fauna da região.

Figura 2 – Imagem do Google Earth com a delimitação da FLONA Lorena


(amarelo) e macrovisão da região, incluindo a área urbana do município de
Lorena
Figura 3 - Localização da FLONA de Lorena (FLONA) e Zona de
Amortecimento.
Metodologia

Considerando o tempo exíguo e a experiência do amostrador, priorizou-se o


levantamento da ornitofauna. Os demais grupos foram registrados em
encontros ocasionais.

Iniciando-se às 16h do dia 27/10/2009, até às 11h do dia 29/10/2009, totalizou-


se 14 horas e 30 minutos de observação de campo. Foram percorridas as
trilhas naturais da FLONA de Lorena, abrangendo as diferentes fisionomias
vegetais, com eventuais desvios e saídas das trilhas convencionais para
observação mais acurada, registro fotográfico ou gravação de áudio de algum
animal mais afastado destas.

Tal metodologia está baseada no levantamento de avifauna pelo método do


transecto, utilizando-se a “taxa de encontro” visual ou auditivo ao longo deste
trajeto (Nunes & Betini 2002). A “taxa de encontro” é amplamente utilizada em
levantamentos de comunidades de aves brasileiras (Willis 1979, Willis & Oniki
1981, Pizo, et al. 1995 e Galetti, 1997), principalmente em amostragens
rápidas, e os índices que podem ser obtidos não requerem número mínimo de
contatos com a espécie alvo.

Foram utilizados binóculos 10 x 40mm, microfone direcional Yoga HT-81e


gravador Panasonic RQ-L31. Os registros fotográficos foram feitos com câmera
digital Sony modelo DSC-HX1.

As principais fisionomias vegetais abrangidas foram: 1) Plantios mistos, com


Eucalyptus spp e Pinus spp, em alguns trechos com mirtáceas ou mangueiras,
e em diversas áreas com sub-bosque denso ou em formação; 2) Mata em
regeneração, com áreas de melastomatáceas, ou plantio de pioneiras como
embaúbas (Cecropia spp); 3) Campos de gramíneas, com áreas alagadas e
predomínio de capim angola e árvores esparsas.

As Figuras 4 e 5 indicam a localização e proporção aproximada das diferentes


fisionomias da vegetação da FLONA de Lorena, com indicação do Rio
Coatinga e da sede.

Detalhes das diferentes fisionomias visitadas e dos arredores da FLONA


podem ser observados nas Figuras 6 a 14.
Figuras 4 e 5 – Croqui (cima) e imagem do Google Earth (baixo) da FLONA de
Lorena com a localização das principais fisionomias vegetais percorridas.
Figura 6 – trilha no
Plantio misto próximo à
sede

Figura 7 – Plantio
misto com Pinus
(esq) e Eucapyptus
(dir) e sub-bosque
em formação

Figura 8 - Córrego do
Coatira entre o Plantio
Misto e a Mata em
regeneração.
Figura 9 – Lago e mata
ciliar

Figura 10 –
área de
regeneração
com
melastoma-
táceas e
embaúbas

Figura 11 –
área de
regeneração
próxima ao
Córrego do
Coatira.
Figura 12 –
Campo de
gramíneas
com algumas
embaúbas
esparsas

Figura 13 –
Plantação de arroz
nos arredores da
FLONA

Figura 14 –
Criação de gado
em pastagens
nos arredores da
FLONA
Herpetofauna

Não foi contemplado o levantamento da fauna de anfíbios e répteis, pois para a


caracterização da herpetofauna requer-se:
1) um período maior de inventário a campo
2) horários diferenciados para o trabalho de campo (noite, madrugada, etc.)
3) utilização de armadilhas de captura não-letais, como “pit-fall”, gravação
de vocalização
4) especialistas na identificação do grupo

A FLONA de Lorena tem grande potencial de ocorrência de anfíbios, em função


da presença de áreas alagadas decorrentes da região de várzea do rio Paraíba
do Sul e seus afluentes, como o córrego Ribeirão dos Passos/Coatinga, que
atravessa a Unidade.

Por semelhante modo, a fauna de répteis deve abranger diversas espécies,


considerando a ocorrência de roedores domésticos que costumam invadir o
Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), localizado na FLONA, à
procura de restos de alimento, além de serpentes predadoras de anfíbios.

Foi identificada por vocalização (registro em fita magnética e arquivo digital) a


Rã-cachorro, Physalaemus cuvieri (Foto Figura 15), Família Leptodactylidae,
espécie bem distribuída em alguns países da América do Sul, abundante na
FLONA, principalmente próximo ao lago, com constante vocalização ao
amanhecer e no final da tarde nos dias de campo.

Figura 15 –Rã-cachorro, Physalaemus cuvieri Leptodactylidae, com freqüente


vocalização na FLONA (foto de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Physalaemus_cuvieri)
Deixamos ainda registrada a ocorrência de um pequeno anuro da família
Hylidae, a Perereca-de-moldura Dendrosophus elegans (Wied-Neuwied, 1824)
– Foto Figura 16, espécie endêmica do Brasil, especialmente em mata
atlântica, que visitou o banheiro dos alojamentos da FLONA durante o período
de campo.

Figura 16 – Foto da Perereca-de-moldura


Dendrosophus elegans (Wied-Neuwied,
1824), abrigada em dependências mais
úmidas do alojamento da FLONA.

Mastofauna

A mastofauna está representada por animais de pequeno e médio porte. Cotias


(Dasyprocta sp) são comumente avistadas no sub-bosque, cruzando as trilhas
e mesmo próximo às construções. Grupos de saguis-de-tufo-preto (Callithrix
penicillata) frequentemente se aproximam, saltitando ao longo dos galhos e
troncos das bordas das matas, sendo possível ouvir de longe os seus
chamados e assovios durante boa parte do dia. Os relatos descrevem a
ocorrência de tatus, gambás (Didelphis sp), bandos de porcos-do-mato,
provavelmente Catetos (Pecari tajacu) e de alguns exemplares de bicho-
preguiça, provavelmente a Preguiça-de-três-dedos Bradypus variegatus,
trazidos por autoridades ambientais.
A constatação de barreiros chafurdados (Figura 20) em áreas mais reservadas
no interior da mata é forte indício da presença de porcos-do-mato na FLONA.
Figuras 17 e 18 – Cutia
Dasyprocta sp. mamífero
facilmente avistado que
frequentemente se aproxima
das áreas mais antropizadas,
e detalhe da pegada.

Figura 19 – Sagui-de-tufo-preto
Callithrix penicillata, nas
proximidades das construções.

Figura 20 – Barreiro
chafurdado,
provavelmente por
porcos-do-mato, na
área de Plantios
Mistos, a oeste da
sede.
Mamíferos constatados:

Callithrix penicillata – Sagui-de-tufo-preto


Dasyprocta sp – Cutia
Sphiggurus (= Coendou) sp – Ouriço

Espécies com provável ocorrência, e baseado em dados secundários (relatos):

Didelphis aurita – Gambá-de-orelha-preta


Dasypus novemcinctus – Tatu-galinha
Euphractes sexcinctus – Tatu-peba
Bradypus variegatus – Preguiça-de-três-dedos
Tayassy tayacu - Cateto
Cavia aperea – Preá
Hydrochaeris hydrochaeris - Capivara

Espécies com possível ocorrência, ainda que de passagem, mas que


necessitam de pesquisa mais intensa para confirmação:

Agouti paca – Paca


Cerdocyon thous – Cachorro-do-mato
Gracilinanus microtarsus – cuíca
Chrysocyon brachyurus – Lobo-guará

Ressalta-se que a fauna de quirópteros também requer captura para


levantamento, o que acrescentará diversas espécies à lista

Avifauna

Segue na Tabela 1 a Lista preliminar das espécies de aves registradas por


dados primários (observação/vocalização) na FLONA de Lorena, totalizando
103 espécies, pertencentes a 36 famílias diferentes.

Das espécies registradas, nenhuma se encontra nas listagens de ameaçada de


extinção (Decr. Est. 53.494/08 ou IN MMA 03/2003). Apenas Amazona aestiva
consta como quase ameaçada no Estado (Anexo III - Decr. Est. 53.494/08).
Duas espécies são endêmicas de mata atlântica: Ramphocelus bresilius e
Florisuga fusca.
As famílias mais representadas foram Tyrannidae, com 13,6%, Thraupidae,
com 9,7%, Ardeidae, com 6,8%, Picidae com 5,8% e Trochilidae, com 4,8%. A
distribuição gráfica destas famílias pode ser observada na Figura 21.

Avalia-se como alto o número de famílias em relação às 103 espécies,


representando uma média de apenas 2,86 espécies por família. A distribuição
das espécies em muitas diferentes famílias pode indicar também o mosaico
vegetacional presente na FLONA.

Figura 21– Gráfico com os percentuais das principais famílias de aves


registradas na FLONA de Lorena
Foram utilizadas as categorias definidas por Parker et al. (1996), com base na
sensibilidade a distúrbios que certas espécies possuem a mais que outras,
constituindo SENS=Sensibilidade: ALT - alta, MED – média e BAI – baixa

Apenas sete espécies (6,8%) das avifauna levantada são consideradas de


sensibilidade média a distúrbios. As demais são de sensibilidade baixa. Um
inventário com maior tempo de campo e em diferentes épocas do ano
provavelmente acrescentará espécies de maior sensibilidade aos distúrbios,
uma vez que em levantamentos rápidos, as espécies com maior resiliência são
as primeiras a serem amostradas.

As espécies foram ainda classificadas quanto à sua dieta, nominada como


CTR= Categoria Trófica, nas seguintes divisões: a) Carnívoros, espécies
predadoras principalmente de pequenos vertebrados; b) Detritívoros, quando
se alimentam de carcaças de vertebrados mortos, podendo se comportar
também como predadores oportunistas; c) Frugívoros, quando a base da
alimentação são os frutos, podendo, também, alimentar-se de artrópodos; d)
Granívoros, quando se alimentam de grãos; e) Insetívoros, quando os táxons
alimentam-se de artrópodos; f) Nectarívoros, quando a base da alimentação é
o néctar das flores; g) Onívoros, inclui nesta categoria, os táxons que se
alimentam de artrópodos, frutos, grãos e pequenos vertebrados; h) Piscívoros,
espécies que vivem em ambientes inundados e se alimentam de peixes; e i)
Malacófagos, alimentam-se de moluscos. Esta classificação foi apoiada a partir
de observações de campo e literatura, principalmente em Motta-Junior (1990),
Sick (1997), Lyra-Neves et al. (2004) e Telino-Júnior. et al. (2005).

Figura 22 - Percentuais das categorias tróficas para as espécies de aves


registradas na FLONA de Lorena
Existe o predomínio de algumas famílias, como Tyrannidae, essencialmente
insetívora, Thraupidae, principalmente onívora, e Ardeidae, basicamente
piscívora. Em seguida estão os Picidae, que são insetívoros, e Trochilidae,
nectarívoros.

A análise das categorias tróficas é uma ferramenta auxiliar na compreensão da


comunidade de aves do local. As espécies insetívoras perfazem 38,8%, as
onívoras 26,2%, seguidas das granívoras por 8,7%. As frugívoras representam
6,8%, e as piscívoras, carnívoras e nectarívoras tem igualmente o índice de
5,8%. Esses dados estão ilustrados na Figura 22.

Almeida(1982) comenta que o número de espécies onívoras em geral é maior


nas áreas menos alteradas e o de insetívoras aumenta nas áreas mais
alteradas. No entanto, essa última categoria pode apresentar em geral dois
grupos distintos, os que são especializados em forragear em determinados
estratos e substratos da vegetação, insetívoros terrestres e de sub-bosque
(Aleixo 2001), e os mais oportunistas que geralmente apresentam estratégias
de espera. Os primeiros compõem perfil das espécies mais ameaçadas pela
fragmentação na Floresta Atlântica (Rodrigues, et. al. 2007)

Consideramos baixo o número de espécies de aves frugívoras (7),


representando 6,8%. Nos quatro fragmentos levantados na APA de Guadalupe
– Pernambuco (Rodrigues, et. al. 2007), tal porcentagem variou de 10 a 15%.
Algumas famílias essencialmente frugívoras não foram detectadas, como
Trogonídeos e Piprídeos. O baixo número de frugívoros pode indicar também a
carência da formação florestal, principalmente nativa. Tal informação pode
subsidiar futuras ações de manejo florístico.

Diversas espécies de aves estão associadas à existência de um lago com


vegetação circundante em regeneração não só espécies aquáticas e
piscívoras, como as insetívoras, ou para estabelecimento de ninhos ou local de
descanso na pequena ilha no centro do corpo d´agua.

O lago, ainda que de pequeno porte, além dos banhados e plantações de arroz
dos arredores, possibilitam portanto a ocorrência de diversas aves aquáticas ou
que são associadas a corpos d´agua, como duas espécies de marrecas, a Irerê
Dendrocygna autumnalis e a Pé-vermelha Amazonetta brasiliensis , sete
espécies de aves da família Ardeidae, tipicamente aquáticas, com exceção da
Maria-faceira Syrigma sibilatrix e da Garça-vaqueira Bubulcus íbis, além da
Saracura-sanã Pardirallus nigricans, do Jaçanã Jacana jacana e do Martim-
pescador-grande Megaceryle torquata.

Diversas aves insetívoras aproveitam horários mais quentes do dia, para se


alimentarem próximo à superfície do lago, capturando os insetos em vôo,
como o Andorinhão-do-temporal Chaetura meridionalis, e a Andorinha-pequena
Pygochelidon cyanoleuca.

Algumas espécies não necessariamente associadas à água também se


beneficiam da vegetação mais densa ao redor do lago, inclusive com algumas
árvores emergentes, servindo de pouseiro para Maitaca-verde Pionus
maximilianii, além de gaviões e urubus.

Outro indicativo da importância da FLONA é a observação de atividade


reprodutiva de algumas espécies de aves, carregando galhos para confecção
de ninhos (ex. Butorides strita, Piaya cayana), ou alimentando filhotes (ex.
Fluvicola nengeta, Myiozetetes similis, Turdus leucomelas).

Considerando a curta campanha de trabalho de campo, certamente algumas


espécie de aves não foram observadas, mas são comuns na região, e
provavelmente devem ocorrer na FLONA de Lorena, como Tyto alba, Zenaida
auriculata, Falco sparverius, Cariama cristata, Sporophila lineola e Sicalis
flaveola. Outras espécies menos comuns, de baixa densidade, ou visitantes
ocasionais podem também ocorrer na FLONA, como Pavó Pyroderus scutatus,
relatado por funcionários.

A localização estratégica da FLONA pode ser percebida pela proximidade com


a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, formações de alta riqueza faunística.
Barbosa (1988) apresenta uma composição de 178 espécies de aves para
Campos de Jordão, distante apenas aproximadamente 50 km em linha reta de
Lorena. São Luiz do Paraitinga, a cerca de 60 km de Lorena, lista 300 espécies
de aves: http://www.reservaguainumbi.com.br/desc_fauna.asp?id=2 (acessado
em 07/01/2010). Ubatuba, a cerca de 70 km: 476 espécies de aves (Rizzo, C.
org. 2006).

Futuras incursões certamente devem acrescentar outras espécies à listagem,


possibilitando atingir com maior precisão a composição faunística presente na
FLONA. Um manejo adequado de sua vegetação certamente possibilitará a
fauna do entorno utilizar essa importante área, e contribuir para sua
recomposição.

Considerações e Recomendações

Considerando que a FLONA abriga um Centro de Triagem de Animais


Silvestres – CETAS, deve-se tomar o cuidado de evitar o escape ou fuga de
alguma espécie alóctone à região (introdução), solicitando sempre ao CETAS a
adoção de medidas neste sentido.

Recomendamos evitar a entrada e a manutenção de animais domésticos, como


cães, gatos e cavalos, observados com freqüência dentro da FLONA.
Lembramos dos possíveis prejuízos, como transmissão de doenças de animais
domésticos para silvestes, e vice-versa, afugentamento de animais silvestres,
ou mesmo pressão de predação (ex. gatos e cães asselvajados sobre
passeriformes – ver Figuras 23 e 24), e compactação de solo e alteração de
vegetação rasteira (ex. cavalos – ver Figura 25).
Figura 23 – Gata doméstica nas
imediações da administração da
FLONA.
O animal foi também observado
vagando durante a noite.

Figura 24 – Cães domésticos


encontrados próximo ao lago na
FLONA. Observa-se que um dos
animais (esquerda) possui coleira.

Figura 25 – Gramíneas
sendo coletadas, com
carroça e cavalo, na
FLONA.
Não se deve alimentar animais de vida-livre, em especial os sagüis, que
costumam visitar o Centro de Triagem em busca de alimento fácil (ver Figura
26)

Deve-se monitorar a população de Sagui-de-tufo-preto Callithrix penicillata


encontrado na FLONA, e se for o caso, avaliar possibilidade de controle (ex.
esterilização) ou mesmo remoção, ressaltando-se que Lorena seria área de
ocorrência natural de outra espécie, o Sagui-da-serra-escuro, Callithrix aurita.

Figura 26 – Grupo de saguis-de-


tufo-preto (Callithrix penicillata) se
aproximando do Centro de Triagem,
onde eventualmente são oferecidos
alimentos.

Poleiros artificiais, associados com outras formas de atração de aves, podem


ser um meio eficiente para auxiliar na dispersão de espécies vegetais – ver
Figura 27

Alguns mamíferos como o cateto e a cutia estão na lista de quase ameaçados


do Estado de São Paulo (Anexo III – Decr. Est. 53.494/08). A população de
catetos na FLONA mereceria estudos mais aprofundados, por exemplo quanto
a aspectos de dinâmica populacional e genética.

Figura 27 – Poleiro artificial


instalado em área de
regeneração, com Tiziu
(Volatinia jacarina) pousado.
O estabelecimento de corredores, visando o fluxo populacional principalmente
dos mamíferos é uma medida que deve ser avaliada. A proximidade com a
Serra da Mantiqueira (alguns quilômetros, na região de Piquete) é um exemplo
de uma possibilidade de formação de corredor.

A formação de sub-bosque sob o plantio misto de eucaliptos e pinheiros


certamente tem favorecido o estabelecimento de uma fauna mais diversificada.

Não vislumbramos impacto significativo da presença da linha férrea e a


passagem de trens à avifauna, o que deve entretanto ser melhor avaliado para
a mastofauna.

Considerando o limitado tempo de campo, recomenda-se a realização de


outras incursões, e em especial o levantamento mais acurado de grupos como
répteis, anfíbios e mamíferos. Mesmo quanto à avifauna, entendemos que o
ideal seria campanhas de campo considerando a sazonalidade (diferentes
épocas do ano), e pelo menos 20 horas de campo em cada estação.

Opinamos que a entomofauna também deveria ser inventariada, pelo menos


quanto a alguns grupos como Coleópteros e Lepidópteros, e eventualmente
outros artrópodes, como aracnídeos.

Alguns exemplares de artrópodes fotografados na FLONA foram: Nephila sp


(aracnídeo), Hamadryas sp e Caligo sp (Lepidópteros), nas Figuras 28 a 30,
esta última com coleópteros cerambicídeos na mesma foto.

Figura 28 – Nephila sp. em


barracão do viveiro de
mudas da FLONA.
Figura 29 – Borboleta estalo –
Hamadryas sp. na FLONA.

Figura 30 – Borboleta coruja –


Caligo sp. juntamente com
besouros cerambicídeos (O.
Coleoptera, Fam. Cerambycidae)
em resina de árvore mirtácea na
FLONA.

Os dados apresentados, apesar de incipientes, podem subsidiar o manejo


faunístico e florístico da FLONA. Com o aprofundamento dos estudos, novas
informações e recomendações certamente serão acrescentadas.
Referências Bibliográficas

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IF, São Paulo, v. 42, p. 33-56, 1988

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Brasil. 8a Edição. 09/08/2009. Disponível em: http://www.cbro.org.br. Acesso
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Nunes, M.F.C. e G. S. Betini, 2002. Métodos de estimativa de abundância de


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07/01/2010)

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woodlots in southern, Brazil. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo, 33(1):1-
25
Willis, E. O. & Oniki, Y. 1981. Levantamento preliminar de aves em treze áreas
do Estado de São Paulo. Rev. bras. Biol. 41(1): 121-135
ANEXO FOTOGRÁFICO - AVIFAUNA

AVES FOTOGRAFADA NA FLONA DE LORENA

ENTRE 27 E 29 DE OUTUBRO DE 2009


1 2

3 4

5 6
Aves fotografadas na FLONA de Lorena mais comumente encontradas próximo a
corpos d´água/ ambientes alagados (1–Butorides striata; 2-Nycticorax nycticorax; 3-Ardea
alba; 4-Pygochelidon cyanoleuca; 5-Geothlypis aequinoctialis e 6-Ramphocelus bresilius)
7 8

9 10

11 12
Aves fotografadas na FLONA de Lorena mais comumente encontradas em Plantio
Misto ou Mata de Regeneração (7–Picumnus cirratus; 8-Piaya cayana; 9-Turdus
leucomelas; 10-Euphonia chlorotica; 11-Myiarchus swainsonii e 12-Vireo olivaceus)
13 14

15 16

17 18
Aves fotografadas na FLONA de Lorena mais comumente encontradas em
campos/áreas abertas (13–Volatinia jacarina; 14-Estrilda astrild; 15-Bubulcus ibis; 16-
Tyrannus melancholicus; 17-Tyrannus savana e 18-Sirygma sibliatrix)
19 20

21 22

23 24
Aves fotografadas na FLONA de Lorena que podem ser encontradas tanto em áreas
abertas/campos, plantio misto ou mata de regeneração (19-Coragyps atratus; 20-
Ramphastus toco; 21-Coereba flaveola; 22-Pionus maximilianii; 23-Rupornis magnirostris e 24-
Forpus xanthopterygius)

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