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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

PROCESSO DE MONTAGEM DA
LAMBORGHINI MURCIÈLAGO LP670-4
SV
Leticia Schulz (UNIVALI)
leleschulz@hotmail.com
Everton Yurk Broch (UNIVALI)
evertonpolaco@yahoo.com.br
Ovidio Felippe Pereira da Silva Junior (UNIVALI)
ofelippe@univali.br

Fabricar um carro superesportivo requer procedimentos peculiares


que assegurem a qualidade do produto final, bem como a capacidade
que o carro deverá ter para suportar as exigentes situações em que
será submetido. Seu processo de fabricaçãoo é realizado de forma
semi-artesanal, diferente das linhas de produção em massa comuns no
ramo automobilístico. Este artigo especifica características distintas
da linha de montagem do Lamborghini Murcièlago LP670-4 SV e como
esses processos garantem a excelência na fabricação, a qualidade do
produto e a rentabilidade da fabricante.

Palavras-chaves: Lamborghini, produção, qualidade, certificações,


sustentabilidade, rentável.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
Um carro superesportivo com motor V12 capaz de gerar 670 cv de potência,
empregando a mais alta tecnologia na fabricação de sua estrutura, motorização, freios e
design, não foi desenvolvido com o objetivo de ser um carro comum para se ver nas ruas.
Poucos motoristas ou pilotos terão a oportunidade de ter contato e pilotar um carro com este
nível de sofisticação e esportividade. Seu fabricante limitou a produção em 350 unidades,
tornando este bólido ainda mais exclusivo. Atrelado a este dado, parte da sua exclusividade é
assegurada pelo seu preço, avaliado em 300 mil euros, aproximadamente R$ 744.780,00
cotados em 2012, sem impostos e custos de importação (MEGA FACTORIES, 2009).
A fabricação de um carro de alta performance merece atenção, devido à necessidade
de utilização de processos produtivos de alta qualidade, que possam garantir a excelência na
entrega do produto final. Com um preço elevado e consumidores exclusivos, a Lamborghini
desenvolve produtos com foco na qualidade e satisfação do consumidor, e isso é garantido
pela montagem de automóveis de forma manual e com poucas unidades na linha de produção
(MEGA FACTORIES, 2009).
Em geral, empresas automotivas investem grande quantidade de tempo e dinheiro em
pesquisa e desenvolvimento do seu processo de fabricação, aprimorando técnicas de
elaboração de suas peças e ferramentas, na eficiência de sua linha de montagem e na
automatização de todo o processo. Isto garante maior produção e rentabilidade em um
processo de fabricação em grande escala.
Porém, fabricantes específicos, como a Lamborghini, optam por oferecer carros com
padrão elevado de desempenho e com um processo de fabricação que preza pela montagem
semi-artesanal. Mas quais as vantagens na fabricação de um automóvel exclusivo? Como o
processo semi-artesanal de fabricação garante maior confiabilidade no processo? Como
desenvolver uma linha com menor escala de produção em relação às demais empresas do
ramo, que seja eficiente ao ponto de ser rentável? Quais as tecnologias empregadas para
garantir competitividade em um mercado tão restrito? Estas são algumas questões que serão
abordadas referente ao processo de linha de montagem principal, pintura, e montagem do
motor da Lamborghini Murcièlago LP670-4 SV (MEGA FACTORIES, 2009).

2. Metodologia
Este trabalho resultou da análise do vídeo “Mega Fábricas – Lamborghini” produzido
no ano de 2009 e exibido pela emissora National Geographic (MEGA FACTORIES, 2009).
Usando como referência esta produção áudio visual do processo de fabricação do
modelo de carro superesportivo e realizando pesquisa referente à concepção do produto,
materiais empregados, filosofia da fábrica, a história da marca italiana, as etapas da linha de
montagem, processos produtivos empregados e etapas de produção, foram estabelecidas
algumas correlações entre os processos produtivo utilizados.

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Ainda como análises foram realizadas algumas observações de como particularidades


desse processo influenciavam no desenvolvimento do produto final, nos custos de produção e
no cuidado com matérias primas e sustentabilidade.
O método de pesquisa também se focou na linha de montagem principal do automóvel
em estudo, sem aprofundar em assuntos relacionados ao desenvolvimento do projeto, estudo
aerodinâmico e pesquisa de materiais. Demais processos de montagem de sistemas e peças
específicas como suspensão, eixos de transmissão, caixa de câmbio, estofados, entre outros,
não foram analisados, e tais componentes foram citados apenas como produtos prontos
entregues na linha de montagem principal para serem instalados.

3. Fundamentação Teórica
3.1. A História de uma Marca
Segundo o documentário Mega Factories – Lamborghini (2009), a Automobili
Lamborghini S.p. A está localizada na cidade de Sant’Agata Bolognese, Itália. Esta
comunidade agrícola rural acolhe a fábrica da Lamborghini desde 1963. Em 2008, foram
produzidos 2430 veículos nesta fábrica, sendo quase 1800 destes o carro mais vendido da
empresa: o Gallardo. O Murcièlago, modelo de proa da empresa, ficou com um pouco mais de
630 unidades (MEGA FACTORIES, 2009).
Todos os superesportivos que saem desta fábrica italiana devem sua existência a um
homem ambicioso e de forte personalidade chamado Ferruccio Lamborghini.
Ferruccio era agricultor e, por afinidade ao ramo de mecânica, tornou-se engenheiro e
dono de uma fábrica de tratores agrícolas que levava seu nome. Com a funcionalidade e
tecnologia dos tratores que fabricava na época, tornou-se bem sucedido. Com fortuna
acumulada e paixão por carros, Ferruccio passou a deslocar-se em carros esportivos de luxo
como Mercedes, Jaguar e Ferrari.
E, coincidentemente, foi um problema que teve com sua Ferrari que levou Ferruccio
Lamborghini a criar seu primeiro automóvel esportivo. Ele era importunado constantemente
com uma avaria na embreagem de sua Ferrari, e ao analisar o problema, constatou que a
embreagem usada pelo carro era a mesma que a de seu trator. Após um confronto entre
Ferruccio Lamborghini e Enzo Ferrari, originou-se uma intensa rivalidade italiana.
Essa rivalidade fez Ferruccio, em 1963, produzir seu primeiro carro: o 350 GT, que
possuía 12 cilindros e 280 cv de potência. Três anos depois, apresentou o Miura, considerado
o primeiro supercarro do mundo. Com ele, Ferruccio revolucionou o ramo dos
superesportivos, pois seu motor de 12 cilindros foi posicionado atrás e ao centro para melhor
manobrabilidade.
Em 1972 Lamborghini vendeu sua fábrica devido a dificuldades financeiras, causadas
pela crise do petróleo. Mas seu legado de carros continuou. Dois anos mais tarde foi lançado o
Countach, que marcou a estreia das famosas portas em tesoura da Lamborghini. Em 1990, o
Countach deu lugar ao Diablo e em 1998 a fábrica foi comprada pela Audi. O primeiro carro
lançado pelo novo dono foi o Murcièlago, que contava com uma tecnologia que Ferruccio
nunca teve à sua disposição: fibra de carbono. Posteriormente, foi lançado um modelo ainda
mais potente e exclusivo: o Murcièlago SV (Super Veloce).

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3.2. Processo de Fabricação


Uma das características que torna o Lamborghini Murcièlago SV um carro
incomparável, é que cada carro é produzido de acordo com especificações dos clientes,
podendo ele escolher o acabamento interno do carro e detalhes exclusivos. A adaptação destas
particularidades aos automóveis só é possível pela utilização de uma linha de montagem
projetada para atender os requisitos de cada modelo, sem que a qualidade dos serviços seja
reduzida. O aproveitamento da área fabril, as etapas de montagem do produto, disposição das
peças para a linha principal e os procedimentos de montagem são fundamentais para o
desenvolvimento eficaz da produção (MEGA FACTORIES, 2009).
Linhas de montagem de automóveis normalmente usam processos produtivos
baseados na filosofia do fordismo e taylorismo. Estas desenvolvem um processo composto de
centenas de etapas de montagem, onde em cada etapa, funcionários ou robôs programados
executam funções específicas na etapa construtiva do veículo. Em uma linha de produção em
série, cada etapa deve levar o menor tempo possível, para que o processo seja mantido dentro
de sua normalidade, com grande produtividade e alto número de veículos entregues no final
da linha.
Na linha de montagem principal da Murcièlago SV, existe uma diferença conceitual
que distribui a linha de montagem em apenas quatorze etapas, sendo que cada passo leva em
média duas horas e meia para conclusão. Cerca de 130 funcionários trabalham nestas 14
etapas de montagem, o que garante que estes funcionários sejam altamente eficazes no
desenvolvimento de suas atividades (MEGA FACTORIES, 2009).
A Lamborghini usa a filosofia de manufatura enxuta, que foi aperfeiçoada pela Toyota
na década de 60, aonde poucos funcionários são responsáveis pela fixação de diversos
componentes do processo. A presença de robôs no ambiente fabril é quase nula, aonde a
técnica e a percepção do funcionário garantem a qualidade da execução dos serviços. A
ausência de robôs na linha de processo não caracteriza o processo como antiquado. Todas as
etapas da montagem são amparadas por ferramentas tecnológicas que facilitam o trabalho dos
operadores e controlam a qualidade da execução. Telas interativas com o procedimento de
montagem direcionam o trabalho a ser realizado, variados suportes para a carroceria ou para
peças específicas diminuem a tensão ergonômica do trabalhador, possibilitando girar e
manobrar estas para permitir a instalação e montagem em áreas de difícil acesso quando o
carro é posicionado em sua condição normal. Estas particularidades tornam o processo de
montagem consideravelmente mais lento e fazem com que um carro leve cinco dias para ser
montado e a linha de montagem entregue sete carros a cada dois dias (MEGA FACTORIES,
2009; GHINATO, 1995).
A linha de montagem principal é amparada por diversas linhas de montagem paralelas,
que oferecem a ela todo o tipo de material, peças e acessórios prontos para a instalação final.
Duas destas linhas paralelas de fabricação contribuem fundamentalmente para que a qualidade
do produto final seja alcançada: a linha de pintura e a linha de montagem de motores (MEGA
FACTORIES, 2009).
Para a montagem do Murcièlago na linha principal, sua carroceria deve ser entregue
com a pintura concluída. Toda a carroceria do Murcièlago é feita em fibra de carbono, com
exceção do teto e das portas que são fabricadas em aço (MEGA FACTORIES, 2009).

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A pintura da fibra de carbono exige um processo controlado e procedimento


complexo. Para tal qualidade, a Lamborghini envia seus carros para a "Autocarrozzeria
Imperiale", localizada em Mirandola, a 35 km de distância de Sant’agata Bolognese. Esta
empresa desenvolve a técnica de pintar os carros da marca desde a década de 70 (MEGA
FACTORIES, 2009).
O processo de pintura começa com o jateamento de areia sobre toda carroceria do
automóvel, para que a superfície seja preparada e toda imperfeição da fibra de carbono seja
removida. O lixamento da superfície também faz parte do processo de preparação pré-pintura.
Este processo permite que a tinta tenha a aderência desejada. A primeira camada aplicada é
um primer, substância que atua para melhor fixação e uniformidade da tinta que será
sobreposta. Este primer passa por procedimento de secagem em uma estufa aquecida a 70ºC
antes da pintura. Após esta secagem, é realizada uma inspeção visual a fim de detectar
possíveis imperfeições na aplicação do primer, que são corrigidos antes da pintura do carro
(MEGA FACTORIES, 2009).
A pintura é aplicada totalmente a mão por dois profissionais. O primeiro é responsável
pela parte interna da carroceria, como parte interna das portas e capô. O segundo profissional
é responsável por toda a pintura externa da carroceria. Este procedimento é justificado pelo
fato de que, apesar dos pintores serem treinados e qualificados nas técnicas especificadas,
cada pintor apresenta variações sutis e particulares em sua técnica. Cada carro recebe duas ou
três demãos de tinta, dependendo da cor, consumindo em média 15 litros de tinta. Cada
camada é aplicada de cima para baixo, do teto para as laterais, levando em média duas horas
de pintura por demão. Com a pintura da cor concluía, é aplicada uma camada transparente
(verniz) em toda carroceria, inclusive nas peças de fibra de carbono sem pintura, para
proteção de todas as peças contra o desgaste (MEGA FACTORIES, 2009).
Mais cinquenta horas de polimento completam as duzentas e cinquenta horas
investidas no processo de pintura deste automóvel exclusivo. Assim a carroceria é entregue à
linha de montagem principal (MEGA FACTORIES, 2009).
A montagem do motor é outro processo realizado por uma linha de produção paralela
a linha principal. São oito salas de montagem responsáveis pela produção do motor.
Procedimentos específicos para a montagem do motor asseguram a qualidade e mantém o
processo em sua normalidade (MEGA FACTORIES, 2009).
A começar pela instalação do virabrequim, a preparação e inserção dos doze pistões
nos seus respectivos cilindros, a fixação das cabeças dos cilindros e comandos de válvulas que
são procedimentos realizados manualmente no bloco do motor pelo operador responsável.
Procedimentos que asseguram o trabalho correto nesta parte que exige exatidão e delicadeza
na montagem fazem com que as peças utilizadas não sofram nenhum tipo de dano e que o
resultado final esteja dentro dos padrões esperados. A utilização de materiais de qualidade
amplamente estudados e desenvolvidos para atender as necessidades do motor também
possibilitam a manutenção da linha de montagem dentro da normalidade, tornando-a
altamente eficiente e com índice de descarte de peças beirando o zero (MEGA FACTORIES,
2009).
São realizadas as vedações do bloco do motor e instalados o tubo múltiplo de
admissão, projetado exclusivamente para conceder 30 cavalos de potência a mais do que no
modelo standard do Murcièlago, devido ao seu maior consumo de ar e combustível para a
câmara de explosão. E por fim o coletor de descarga é instalado (MEGA FACTORIES, 2009).

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A montagem do motor é realizada em um tempo médio de doze horas e após isto ele é
direcionado a uma câmara de testes onde passa por uma avaliação de funcionamento. Este é
interligado ao chamado ‘suporte de funcionamento’, que oferece ao motor a uma central
eletrônica de comando e controle, sistema de admissão de ar para injeção no motor e
acoplamento da descarga em linhas de exaustão que enviam o gás proveniente da combustão
para fora do ambiente da fábrica (MEGA FACTORIES, 2009).
A partir do comando do operador via computador, o motor é ligado pela primeira vez.
Este motor passa por um teste de duas horas para verificar itens essenciais para o seu
funcionamento normal. No teste são verificadas as vedações e juntas, articulações mecânicas
e funcionamento. Também são analisados os parâmetros de distribuição de potência e as
respostas do motor aos comandos de funcionamento. Durante o teste o motor chega a uma
temperatura de 850ºC, demonstrando sua capacidade térmica e esforço em que este pode ser
submetido em suas condições normais de operação (MEGA FACTORIES, 2009).
Quando o motor resfria até a temperatura ambiente, são acoplados a sua transmissão
de seis velocidades, caixa de cambio e o eixo de transmissão. Neste momento o motor está
pronto para ser instalado na carroceria do automóvel (MEGA FACTORIES, 2009).
Com a carroceria pintada e o motor esperando sua etapa de ser instalado, é iniciada a
montagem do Murcièlago LP670-4 SV. Durante quatorze estágios do processo de montagem,
serão instalados todos os sistemas, peças e acessórios que formam este bólido esportivo. A
tabela 1 apresenta os itens de maior relevância instalados em cada etapa (MEGA
FACTORIES, 2009).
Na etapa 14, o carro finalmente é concluído e testado como produto final. Passa por
testes de motor, sistemas mecânicos e elétricos. Após cinco dias na linha de montagem
principal, o carro está pronto para passar por seu maior teste antes da conclusão da fabricação.
O Lamborghini é conduzido até a cabine de rodagem, aonde ele é testado em um
dinamômetro, e é analisado seu comportamento motriz. Ao finalizar esta etapa, o automóvel
sofre uma minuciosa inspeção de qualidade que examina parâmetros estéticos de
conformidade do veículo. Enfim, o superesportivo é entregue nas mãos de um piloto de teste
que roda em torno de sessenta quilômetros com o esportivo por ruas e estradas próximas à
fábrica, finalizando os testes no ambiente de destino desta obra de engenharia (MEGA
FACTORIES, 2009).

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Tabela 1 – Etapas da linha de montagem principal do Murcièlago SV


Fonte: Adaptada de Mega Factories, 2009

3.3. Filosofia de Produção

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Por meio da descrição sobre os processos utilizados na linha de montagem é possível


identificar características típicas do Sistema Toyota de Produção em todas as etapas de
fabricação.
Assim, observa-se que a autonomia dos funcionários para desempenhar diversas
tarefas dentro de uma etapa da linha produtiva, possibilita que ele tome decisões importantes
durante a realização de suas competências. Esta autonomia do funcionário resulta tanto numa
condição psicológica melhor de trabalho, aonde este não é pressionado pela necessidade de
produção em massa, quanto em um eficiente controle de qualidade, onde são examinadas as
peças que estão sobre sua responsabilidade e é garantida a correta instalação das mesmas. A
linha de montagem apenas evolui de etapa quando este funcionário terminar suas atribuições
(GHINATO, 1995).
Tendo uma linha de produção principal com apenas 14 etapas, e diversas linhas de
produção auxiliares, é necessário um controle de estoque e fornecimento de peças. Este
controle é realizado embasado na filosofia Just In Time (GHINATO, 1995), aonde são
fornecidas apenas as peças necessárias para a produção da etapa. Ou seja, as peças são
disponibilizadas no momento da montagem, apenas para a instalação no modelo que se
encontra na etapa em questão, não acumulando sobressalentes no processo.
A preocupação em desenvolver carros de alto desempenho requer a utilização de
materiais de alta confiabilidade e para isso é necessário controle na fabricação dos mesmos.
Todas as peças, bem como o produto final são enquadrados dentro da filosofia de Controle de
Qualidade Zero Defeitos. Este, através de características específicas, administra a qualidade
no processo. De acordo com Ghinato (1995) quatro pontos principais são tidos como
conceitos:
1 – Inspeção na fonte. Tem caráter preventivo e é capaz de eliminar defeitos na origem
e não nos resultados;
2 – Inspeção 100%, ao invés de inspeção por amostragem. Este item é visível na
inspeção do produto ao final da linha de montagem;
3 – Redução do tempo decorrido entre a detecção da falha e a ação corretiva,
4 – Trabalhar com a filosofia que os trabalhadores não são infalíveis, prover
dispositivos a prova de falhas, que permitem que o defeito seja identificado antes do
processo ser continuado.

3.4. Certificações ISO


Abaixo serão expostos breves conceitos sobre as International Organization for
Standartization (ISO) 9001, 14001 e 50001. Estes conceitos foram obtidos pela análise das
ISO’s em questão, já que a Automobili Lamborghini S.p. A se enquadra nestas certificações
(LUSO MOTORES, 2011).
A ISO 9001 - Quality management systems (Sistemas de Gestão de Qualidade). Tem
como objetivo intitular a empresa, bem como seu produto, como confiável perante o mercado
consumidor. Está ISO trabalha por meio da inserção de aspectos normativos dentro do
processo produtivo (ISO 9001, 2008).

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Verifica a qualidade do produto por meio de uma abordagem sistêmica do processo,


certifica-se do controle das etapas produtivas, do fornecimento de matéria prima, da filosofia
de produção, concedendo à empresa maior confiabilidade no seu produto final. Este
certificado de compromisso com o atendimento das necessidades do cliente é o resultado do
atendimento das filosofias estabelecidas pela ISO 9001 (ISO 9001, 2008).
Outra certificação é a ISO 14001 - Environmental management systems (Sistemas de
Gestão Ambiental), que rege o que deve ser feito para enquadrar-se em um sistema de gestão
ambiental. Este sistema propõe que a empresa desenvolva meios que equilibrem rentabilidade
da empresa e redução do impacto ambiental (ISO 14001, 2004).
Esta certificação trabalha por meio do estudo de características produtivas,
averiguando políticas ambientais e pondo em prática operações e filosofias para adequar o
processo às necessidades de gestão ambiental. Após é feita uma análise e ações corretivas até
o processo ser enquadrado na certificação (ISO 14001, 2004).
Por fim, a ISO 50001 - Energy management systems (Sistemas de Gestão de Energia),
que direciona a empresa para a melhoria contínua no desempenho energético de seus
processos (ISO 50001, 2011).
O desenvolvimento de metas de consumo energético da empresa faz com que todo o
processo produtivo seja estudado. Investindo na adaptação dos processos fabris e na busca por
maior eficiência e menor consumo de energia elétrica no processo. Com a obtenção de
resultados positivos, a empresa recebe o reconhecimento em gestão energética (ISO 50001,
2011).

4. Resultado
O desenvolvimento desta linha de produção exclusiva que preconiza a excelência em
engenharia, desde a concepção do produto até a entrega deste ao consumidor, apresenta a
característica de precisão em seu controle. A procura por metodologias de processo que
atendam os padrões de qualidade idealizados como resultado no produto final, a qualificação
da mão de obra e o estudo de materiais adequados ao projeto eliminam falhas básicas e
retrabalho no processo produtivo.
Com a oferta de um produto exclusivo e com um nível de qualidade elevado, o
controle operacional inicialmente citado torna-se um parametrizador do processo dentro de
requisitos operacionais de sustentabilidade e qualidade. Enquadrada nas certificações ISO
9001 (gestão da qualidade), ISO 14001 (gestão ambiental) e ISO 50001 (gestão de energia), a
Lamborghini demonstra que esta acompanhando as tendências de mercado e sendo rentável
com estas qualificações (LUSO MOTORES, 2011).
Estar enquadrado na ISO 9001 prova que a empresa apresenta requisitos técnicos que
asseguram a qualidade do produto ofertado. Tendo como premissas produtivas o
desenvolvimento de produtos e técnicas que garantam a confiabilidade dos processos
empregados na fabricação, a empresa se torna competitiva em um mercado consumidor
restrito e de grande exigência. Tal certificação não é conquistada apenas por um produto de
excelência, mas por uma gestão de processos e engenharia de produção eficaz (ISO 9001,
2008).

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Possuir o título da ISO 14001 intitula a fábrica como cumpridora das determinações de
gerar o desenvolvimento de forma que afete ao mínimo o meio ambiente. Produzindo de
forma a controlar todos os materiais envolvidos, desde a fabricação até a montagem, e
direcionando corretamente todos os resíduos. Consumir e gerar resíduos de forma equilibrada
e criar filosofia voltada à gestão ambiental garante uma boa qualificação à empresa perante os
consumidores, além de produzir produtos exclusivos e de alta qualidade (ISO 14001, 2004).
A mais recente certificação obtida pela Lamborghini é a ISO 50001. Tal certificado
reconhece a excelência da empresa em estar desenvolvendo continuamente formas de gerir
seu desempenho energético. Trabalhando de forma a aprimorar seus processos para gerar e
utilizar da melhor forma a energia necessária para seu processo de produção. O setor de
design, a linha de produção e serviços pós-vendas estão certificadas por esta ISO (ISO 50001;
LUSO MOTORES, 2011).

5. Conclusões
A fabricação de um carro superesportivo depende de requisitos específicos que
diferenciam o processo de montagem de uma linha de produção em série. A partir da filosofia
de produção, elaboração do produto final, pelo projeto e desenvolvimento de materiais,
montagem por meio de procedimentos controlados e testes de inspeções de qualidade,
garante-se que o consumidor terá um produto exclusivo e de alta qualidade.
Esta preocupação em desenvolver um carro tão exclusivo e desejado faz com que a
empresa siga regimentos que garantam o grau de excelência pretendido. Este controle do
processo é fundamental para a entrega do produto final, e por meio de seus resultados, são
conquistadas certificações que aprovam seus métodos de produção.
Dentro de uma linha de montagem de carros superesportivos, o trabalho semi-
artesanal, utilizando filosofias que preconizam a atenção e qualidade ao processo, como o
toyotismo, é fundamental para o resultado do produto final, para a satisfação dos
consumidores e para manter a empresa classificada como sustentável. Tais processos são
encontrados com sucesso no processo de fabricação da Lamborghini LP670-4 SV.

Referências Bibliográficas
GHINATO, P. – Sistema Toyota de Produção: Mais do que simplesmente Just-in-Time. Produção On Line,
vol.5, n. 2, pp. 169-189. ISSN 0103-6513. 1995.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO 14001). ISO 14001: Environmental
management systems – Requirements wich guidance for use. Genebra, 2004.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO 9001). ISO 9001: Quality
management systems – Requirements. Genebra, 2008.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO 50001). ISO 50001: Energy
management systems – Requirements with guindance for use. Genebra, 2011.
LUSO MOTORES (LUSO MOTORES, 2011). Lamborghini certificada por desempenho energético. Cascais,
2011. Disponível em: <http://www.lusomotores.com/content/view/11239/1/>. Acesso em 08 abr. 2012.
MEGA FACTORIES – LAMBORGHINI. Produção de National Geographic – Londres, 2009. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=FbPau2uwoxg>. Acesso em: 06 abr. 2012.

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