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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO OCEANOGRÁFICO
DISCIPLINA: IOF-210 Introdução à Dinâmica da Atmosfera e dos Oceanos

Profa.: Sueli Susana de Godoi

Dupla: 12412068 Rodrigo Fachina Fabrício


12412093 Marcos Alexandre Azevedo de Sena

Segunda Lista de Exercícios


Data de entrega: 28 de Maio

1) RAIO DE DEFORMAÇÃO INTERNO

1.1) Partindo dos conceitos do número de Rossby e número de Froude obter o raio
de deformação interno, comentando sobre as suposições feitas.

Considerando o caso que tanto a rotação (número de Rossby local = t  1) como


estratificação (número de Froude = SF  1) são igualmente importantes.

Da definição de t:

𝑈
L=

Da definição de SF:

2  .𝑔.𝐻
U= √ 0

Combinando as duas expressões:

1 2  .𝑔.𝐻
L=

√ 0
= Ri

Que é o chamado raio de deformação interno.

1.2) Explicar qual é o significado físico do raio de deformação interno e sua


importância.

Significado físico: Distância na qual a tendência gravitacional de manter as


isopicnais planas ou manter a estratificação em estado de mínima Energia Potencial é
equilibrada pelo efeito de rotação da Terra.
Elas são importantes na avaliação e classificação dos movimentos oceânicos em
pequena, meso e larga escala.
• L << Rd  são movimentos de pequena-escala;
• L = O(Rd)  são movimentos de meso-escala; e

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• L >> Rd  são movimentos de larga-escala.
São usados para planejar a distância entre estações em um cruzeiro oceanográfico.

2) SISTEMAS DE REFERÊNCIA

2.1) Explicar o significado matemático e físico do uso do plano f.

Suponhamos que estamos em um dado ponto na superfície da Terra descrito por


suas coordenadas latitude e longitude (θ, φ), e queremos escrever as equações de
movimento válidas num sistema de coordenadas cartesianas local ao redor deste ponto.
Uma estratégia comum no estudo das equações do oceano e da atmosfera é a de expandir
em série de Taylor o termo da velocidade angular de rotação da Terra Ω. Definimos o
parâmetro de Coriolis por f = 2Ωv, onde Ωv é a projeção na coordenada vertical local de
Ω:

Ωv = Ωsenθ

Expandindo senθ em série de Taylor em torno de uma latitude de referência θ0,


temos:

f = 2Ωsenθ = 2Ωsen(θ0 + θ’) ≈ 2Ωsenθ0 + 2Ω cos θ0θ’

Adicionalmente, sendo R o raio médio da Terra e denotando pela coordenada


meridional y os pequenos deslocamentos latitudinais em torno da latitude de referência,
ou seja, considerando y = Rθ’, podemos escrever o parâmetro de Coriolis como:

f = f0 + βy
2
onde f0 = 2Ωsenθ0 e β = cosθ0.
𝑅

Se utilizarmos apenas o termo constante da expansão em série de Taylor, f0, para


o valor de Coriolis, as equações são ditas no plano f.

2.2) Explicar o significado matemático e físico do uso do plano Beta.

Com base nos dados da questão anterior, caso utilizemos o termo constante e o
termo linear da expansão para o valor de Coriolis, as equações são ditas escritas no plano
beta.
As equações no plano beta são capazes de reproduzir muitos aspectos da dinâmica
na esfera, contudo mantendo a simplicidade de se trabalhar em coordenadas cartesianas.
Note que, trabalhando na região equatorial, temos que f0 = 0 e, consequentemente, sobra
apenas o termo linear da expansão da força de Coriolis. Neste caso, as equações são ditas
no plano beta equatorial.

3) VORTICIDADE

3.1) Explicar e exemplificar o significado matemático e físico de vorticidade.

A vorticidade é uma grandeza física empregada em mecânica de fluidos e no


mundo meteorológico para quantificar a rotação das partículas de um fluido em
movimento. A vorticidade é a o análogo a velocidade angular dos fluidos.

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Matematicamente ela é expressa como o rotacional do vetor de movimento do
fluido:
 =  x r’

Em meteorologia, por exemplo, se trata de vorticidade para indicar a rotação do


ar atmosférico. Se diz que a vorticidade é ciclônica (ou positiva) quando tem sentido anti-
horário, e anticiclônica (ou negativa) quando tem sentido horário.

3.2) Nos fluidos geofísicos, como a vorticidade pode ser induzida? Exemplificar.

Nos fluidos geofísicos temos vorticidade induzida pela:


– Rotação da Terra; e
– Pela configuração espacial do escoamento (ou cisalhamento de velocidade).

A vorticidade induzida pela rotação da Terra é conhecida como Vorticidade


Planetária, e seu valor é dado por:  = 2sen (k), ou seja, é o dobro da velocidade
angular do planeta quando sen = 1.
A vorticidade induzida pelo cisalhamento das correntes, ou seja, devido ao
movimento dos Oceanos por fatores que não a rotação terrestre, é chamada de Vorticidade
Relativa.
A soma da vorticidade planetária com a vorticidade relativa nos fornece a
vorticidade absoluta.

4) LEIS BÁSICAS DA FÍSICA E OCEANOGRAFIA

4.1) Explicar qual é o significado físico de uma equação de conservação.

Desempenham um papel absolutamente crítico na física. Todas as equações de


oceanografia derivam da conservação de alguma propriedade.
A equação da conservação significa que a taxa total de variação de uma
determinada propriedade P é nula, se não existirem fontes nem sorvedouros.

𝐷𝑝 𝐷𝑝
= fP, mas se fP = 0  =0
𝐷𝑡 𝐷𝑡

4.2) Quais são as leis básicas da física utilizadas no desenvolvimento do estudo da


dinâmica dos oceanos? Exemplificar com aplicações práticas.

As seguintes leis básicas são utilizadas no estudo da dinâmica dos oceanos:

(1) Conservação de massa;


(2) Conservação de energia;
(3) Primeira lei de Newton;
(4) Segunda lei de Newton;
(5) Terceira lei de Newton;
(6) Conservação do Momento Angular; e
(7) Lei da Gravitação de Newton.

Como exemplo prático, podemos utilizar a conservação de massa para chegar a


equação da continuidade, que expressa a conservação de massa por unidade de volume

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ou, apenas, a conservação de volume. Ela é muito útil para estimar a escala da velocidade
vertical em função da escala do movimento.
A 1ª, 2ª e 3ª leis de Newton são utilizadas na conservação da quantidade de
movimento linear.
As conservações de energia importantes para a oceanografia são as de calor e
mecânicas. Conservação de calor é mais importante quando se discute sobre distribuição
de temperatura. A conservação de energia mecânica será considerada no tratamento de
ondas. Devemos lembrar, também, que o número de Froude, para análise da relevância
da estratificação, leva em consideração as energias cinética e potencial, cujo a soma deve
manter-se constante.
A conservação do momento angular é usada no estudo de vorticidade.
A lei de gravitação de Newton é aplicada, principalmente, no estudo das marés
astronômicas e na distribuição de pressão hidrostática.

4.3) Comentar sobre a classificação de forças e movimentos envolvidos na dinâmica


dos oceanos. Exemplificar com aplicações práticas.

As forças podem ser divididas em duas classes: as primárias são aquelas que
causam movimentos; as secundárias são aquelas resultantes de movimentos.
As forças primárias são:
(1) Gravitacional: tanto a terrestre, responsável pelas pressões, quanto as
decorrentes do Sol e da Lua, afetando as marés;
(2) Vento: que pode ser tanto tangencial (fricção) quanto normal (pressão);
(3) Pressão atmosférica; e
(4) Forças sísmicas: Decorrentes de movimentos do fundo (placas tectônicas).

As forças secundárias são:


(1) Força de Coriolis: força aparente que ocorre quando há movimento relativo
em relação a Terra em rotação; e
(2) Fricção: agindo na fronteira do fluido e tendendo a se opor ao seu movimento,
ou agindo dentro do fluido e tendendo a tornar o movimento mais uniforme.

Já os movimentos envolvidos podem ser classificados em:


(1) Termohalinos: causada devido a mudança de densidade;
(2) Causadas pelo vento: se concentram em regiões mais próximas da superfície;
(3) Correntes de maré: essencialmente horizontais dentro dos períodos de marés;
(4) Tsunamis ou ondas sísmicas;
(5) Turbulência: devido ao cisalhamento de velocidades; e
(6) Ondas internas, ondas giroscópicas gravitacionais, ondas de Rossby ou
planetárias, etc.

5.1) Comentar sobre o significado físico de continuidade de volume. Exemplificar


com aplicações práticas.

O conceito de meio contínuo objetiva descrever o comportamento médio das


moléculas e não o individual. Isso permite que, na maioria dos casos, sejam avaliadas as
propriedades macroscópicas, uma vez que trajetória livre das moléculas é muito menor
que a dimensão característica do escoamento.
A análise de grandes massas de água, como oceanos, sob está ótica do contínuo,
permite estudar seus fenômenos de forma mais geral, uma vez que estamos interessados

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na manifestação média das moléculas de água e não de seu movimento individual, na
maioria dos casos. Em termos pragmáticos, é possível analisar a movimentação geral das
grandes correntes em vez de uma análise individualizada de para onde escoa suas
partículas de água.

5.2) Comentar como derivar a equação da continuidade de volume. Quais as


hipóteses feitas.

Existem duas formas mais comuns de derivar a Equação da Continuidade:

1) Analisando-se os fluxos de massa entrando e saindo por um volume fixo no


espaço; e
2) Através da Derivação Lagrangiana: em que em vez de se assumir um volume
fixo no espaço, considera-se um volume se movendo como um fluido.

A densidade nos oceanos é aproximadamente constante, em outras palavras seria


equivalente dizer que a água do mar é incompressível. Mas para tal, algumas hipóteses
devem ser tomadas:
1) Velocidade no oceano deve ser pequena comparada à velocidade do som, esta
hipótese advém do fato de que quando se tem velocidades próximas a do som,
pode ocorrer mudanças de densidade que causam ondas de choque;
2) As velocidades de propagação das ondas do mar ou de perturbações devem ser
pequenas se comparadas à velocidade do som;
3) A ordem de grandeza das velocidades verticais deve se pequena comparada à
c2/g (g sendo a gravidade): isso garante que a pressão aumente com a
profundidade no oceano, o aumento na pressão não produz mudanças
significativas na densidade.

5.3) A equação da continuidade de volume pode ser escrita como:

1 𝑑𝜌 𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑤
= −( + + )
𝜌 𝑑𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

• 5.3a - Interpretar fisicamente os termos da referida equação.


• 5.3b - Quais as considerações feitas para que esta equação se reduza à equação da
continuidade para um fluido incompressível. O que entende por um fluido
incompressível.

O termo a esquerda se refere à derivada total da densidade no tempo, em outras


palavras, representa a variação da densidade em função do tempo. No caso dos oceanos,
em que se adota a hipótese geral de que o fluido é incompressível, ou seja, sem variação
de densidade no tempo. Chega-se assim na Equação da Conservação de Densidade:

𝐷𝜌
≈0
𝐷𝑡

Já o lado direito se refere ao gradiente da velocidade:

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑤
∇.𝑽 = + +
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

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No cenário hipotético em que o fluido é incompressível, ou seja, onde é valida a
Equação da Conservação de Densidade, a Equação da Continuidade se reduz a:

∇.𝑽 = 0

5.4) Estimar a velocidade vertical no oceano, considerando a equação da


continuidade para um fluido incompressível. Fazer uma comparação entre as
ordens de grandezas das velocidades horizontais e velocidade vertical.

A velocidade vertical é na maioria dos casos muito menor que a velocidade


horizontal e é, quase sempre, muito pequena para ser medida diretamente. No entanto, no
caso em que haja necessidade de saber o valor da velocidade vertical, usa-se a Equação
da Continuidade para calculá-la, tendo como informação um campo de velocidade
horizontal.
Toma-se como base para os cálculos o campo de velocidade horizontal baseados
em observações de corrente indicados na Figura 1.

Velocidades em m/s
Figura 1

Para aplicarmos esses valores na Equação da Continuidade precisamos usar


aproximação da derivada por diferenças finitas, logo:

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Rearranjando a Equação da Continuidade:

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑤 𝜕𝑤 𝜕𝑢 𝜕𝑣
∇.𝑽 = + + = 0 → = −( + )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦

Substituindo os valores:

𝜕𝑤 𝜕𝑢 𝜕𝑣
| = −( | + | ) = −(−5 × 10−8 − 8.7 × 10−8 ) = 13.7 × 10−8 /𝑠
𝜕𝑧 E 𝜕𝑥 E 𝜕𝑦 E

Com mais algumas informações sobre a análise vertical que estamos fazendo, é
possível integrar a expressão anterior e calcular a velocidade vertical. Considerando, por
exemplo, que estamos analisando uma profundidade de 50 metros, ao se integrar:

0
𝜕𝑤
𝑤=∫ | dz = − 6.8𝜇m/s
-50m 𝜕𝑧 E

Comparando a velocidade vertical calculada com a velocidade horizontal adotada,


observa-se que a diferença da ordem de grandeza é em torno de 104:

𝑢 0.25𝑚/𝑠 2.5 × 10−1 𝑚/𝑠


= = = 3.7 × 104
𝑤 6.8𝜇𝑚/𝑠 6.8 × 10−6 𝑚/𝑠

6. SISTEMA DE REFERÊNCIA: ESPECIFICAÇÕES EULERIANAS E


LAGRANGIANAS

6.1) Qual é a diferença entre os sistemas de referência Euleriano e Lagrangiano?


Exemplificar graficamente.

Referencial Euleriano: descreve-se um campo de propriedades como funções da


posição (em geral uma posição fixa) e do tempo. Para esta análise, fixa-se um ponto
geométrico solidário ao sistema de referência e, em instantes sucessivos, observa-se a
variação da grandeza analisada neste ponto. Em outras palavras, “não acompanha” a
partícula.
Referencial Lagrangiano: as propriedades são analisadas e descritas em função do
tempo ao longo de sua trajetória. Neste referencial se objetiva analisar individualmente
um elemento ao longo do tempo. Ou seja, acompanha-se o movimento das partículas e,
em instantes sucessivos, observa a variação de uma grandeza analisada.

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y y


V
p(x, y, z, t)

V
x
x 0 p(t)
0

Referencial Euleriano Referencial Lagrangiano

Figura 2

6.2) Temperaturas de superfície medidas por um satélite estão em um referencial


Euleriano ou Lagrangiano? Justificar.

Os valores estão em um referencial Euleriano, uma vez que são medidas


temperaturas para posições fixas ao longo do tempo.

6.3) Suponha que um sensor de temperatura, salinidade e pressão tenha sido


fixado na cabeça de um golfinho. Os valores registrados dessas propriedades
correspondem à um referencial Euleriano ou Lagrangiano? Justificar.

Os valores correspondem a um referencial Lagrangiano, uma vez que serão


registrados dados de temperatura, salinidade e pressão ao longo da trajetória que o
golfinho percorrer. O trajeto do golfinho pode ou não englobar uma posição fixa qualquer,
mas não acompanhará os valores desta posição no tempo.

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