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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO OCEANOGRÁFICO
DISCIPLINA: IOF-210 Introdução à Dinâmica da Atmosfera e dos Oceanos

Profa. Sueli Susana de Godoi

Dupla: 12412068 Rodrigo Fachina Fabrício


12412093 Marcos Alexandre Azevedo de Sena

Quarta Lista de Exercícios


Data de entrega: 30 de Junho

1) ANÁLISE DE ESCALA DA EQUAÇÃO DO MOVIMENTO

1.1) Utilizando as escalas típicas de meso-escala, realizar uma análise de escalas das
componentes de velocidade da equação do movimento.

Pela escala típica de meso-escala temos que H = 103 m (tamanho da escala


vertical), L = 105 m (tamanho da escala horizontal) e t = 106 s (escala típica de tempo).
Para as componentes horizontais das velocidades (U e V), teremos os seguintes
valores:

𝑳 𝟏𝟎𝟓
U≈V = 𝒕 = 𝟏𝟎𝟔 = 10-1 m/s.

Já para análise da velocidade vertical em meso-escala faremos o seguinte cálculo:

𝑯 𝟏𝟎𝟑
W= = 𝟏𝟎𝟔 = 10-3 m/s.
𝒕

Logo, conclui-se que as velocidades horizontais são muito maiores

1.2) Identificar o balanço de forças resultantes para as componentes horizontais e


verticais de velocidades.

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Relembrando o que cada uma das componentes significa (usaremos os termos da
velocidade u mas o mesmo conceito se aplica às demais velocidades):
𝜕𝑢
• 𝜕𝑡 = aceleração local;
𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢
•u + v𝜕𝑦 + w 𝜕𝑧 = aceleração advectiva (termo não linear, pois há produto de
𝜕𝑥
incógnitas);
• fv, fw = componentes da aceleração de Coriolis;
1 𝜕𝑝
•  𝜕𝑥 = força de gradiente de pressão por unidade de massa;
• AH (2u/x2+ 2u/y2) = força de atrito por unidade de massa (componente
horizontal); e
• Av (2u/x2) = força de atrito por unidade de massa (componente vertical.

Primeiro vamos fazer algumas considerações: L = 106 m, H = 103 m, U = 0,1 m/s,


W = 10-4 m/s, e T = 106 s.
Uma abordagem aproximada simples é usar o fato de que os termos não lineares
são aproximadamente do mesmo tamanho que os termos de atrito. Então:

𝐔𝟐 𝐔 𝐔 𝑯𝟐
≈ AH 𝑳𝟐 ≈ AV 𝑯𝟐 ou AH ≈ U.L e AV ≈ AH
𝐋 𝑳𝟐

O fato de AV << AH é parcialmente devido à estabilidade estática causada pela


estratificação que tanto inibe as transferências turbulentas verticais quanto ajuda a tornar
o fluxo quase horizontal. Os fatos que H / L ≈103, indica que a forçante horizontal tem
grandes escalas e que os efeitos rotacionais (os termos de Coriolis) são importantes.
Observe que AH ≈ U.L é equivalente a dizer que um Número de Reynolds com base na
viscosidade turbulenta é da ordem 1. Valores mais baixos podem ocorrer porque os fluxos
nos quais eles se baseiam são de escala menor (menor L ou U) ou têm uma viscosidade
turbulenta com Número de Reynolds> 1.
Na equação da velocidade vertical W, todos os termos são muito menores do que
o termo de pressão e, portanto, podemos ignorar todos, exceto esses dois e ficaremos com
a equação hidrostática:

Ela se aplica mesmo quando a água está se movendo com velocidades oceânicas
típicas.
Observe que os termos não lineares são todos do mesmo tamanho como resultado
de nossa estimativa da velocidade vertical W a partir das velocidades horizontais usando
a equação de continuidade. Além disso, os termos de fricção são todos do mesmo tamanho
(pequeno) como resultado de nossa escolha dos valores H, L, AH e AV. Este resultado
resultará nas outras equações de componentes e, portanto, ao examiná-los, precisaremos
olhar para apenas um termo não linear e um termo de fricção para estimar seus tamanhos.

Analisando agora as componentes horizontais da velocidade:


O termo de pressão deve ser do mesmo tamanho que o termo de Coriolis (fv, fu)
𝜕𝑢
para equilibrar a equação. Dos termos restantes, a taxa de aceleração local 𝜕𝑡 é o maior,
mas mesmo assim é apenas cerca de 1% do valor de Coriolis para tempos típicos da ordem

2
de 10 dias e será menor para tempos mais longos. O segundo termo de Coriolis (2cos φ
w) que é o termo fw é pequeno por causa dos valores tipicamente pequenos de w. Os
termos não lineares para o movimento médio são desprezivelmente pequenos, assim
como os termos de atrito no interior da massa de água. Portanto, com uma ordem de
precisão de 1%, temos:

Essas equações descrevem as relações entre as distribuições de pressão horizontal


e os componentes de velocidade horizontal no oceano, e a distribuição de pressão em
função da profundidade e distribuição de densidade, que é uma função da distribuição de
salinidade, temperatura e pressão.

2) ANÁLISE DE ESCALA DA EQUAÇÃO DE CONTINUIDADE DE VOLUME

2.1) Utilizando a equação da continuidade de volume para um fluido incompressível


e as escalas típicas de grande, meso e pequena escala estimar a ordem de grandeza
da velocidade vertical, w, para cada caso. Para isto, qual a suposição feita e
significado físico.
Para realizar tais cálculos fazemos as seguintes considerações:
• 𝛁 . ⃗𝑽
⃗ = 0 (equação da continuidade), o fluido é incompressível, ou seja, a
densidade é constante; e
• Isotropia: que é a qualidade de alguns meios ou materiais que consiste em
terem as mesmas propriedades físicas em todas as direções.
• Usaremos a seguinte tabela:

Grande-escala Meso-escala Pequena-escala


H = 103 H = 103 H = 10
L = 106 L = 10 5
L = 10
U=1 U = 10-1 U = 10-5
𝜕𝑤 𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝑈 𝜕𝑤 𝑊 𝑈
• 𝜕𝑧 = O (𝜕𝑥 , 𝜕𝑦 ) = O ( 𝐿 ) Assim: • 𝜕𝑧 = O ( 𝐻 ) = O ( 𝐿 )

𝑯
Como, W = O ( . U)
𝑳
𝟏𝟎𝟑
• Para grande-escala: O (w) = O (𝟏𝟎𝟔 . 1) = 10-3
𝟏𝟎𝟑
• Para meso-escala: O (w) = O (𝟏𝟎𝟓 . 10-1) = 10-3

3
𝟏𝟎
• Para pequena-escala: O (w) = O ( . 10-5) = 10-5
𝟏𝟎
2.2) Comparar em cada caso a ordem de grandeza da velocidade vertical, w, em
relação as velocidades horizontais, u e v.
𝑯
Como, W = O ( 𝑳 . U)
103
• Para grande-escala: W = 106 . U = 10-3. U  W = 10-3. U = 10-3. V
103
• Para meso-escala: W = 105 . U = 10-2. U  W = 10-2 . U = 10-2 . V
10
• Para pequena-escala: W = 10. U = U  W = U = V

3) CORRENTES ESTACIONÁRIAS SEM ATRITO: ESCOAMENTO


GEOSTRÓFICO

3.1 EQUILÍBRIO HIDROSTÁTICO

3.1a) Explicar e ilustrar o significado físico de equilíbrio hidrostático.


Faremos três suposições:
• u = v = w = 0, o que significa que o fluido é estacionário;
• dV/dt = 0, o que significa que o fluido permanece estacionário; e
• Todas as forças do termo F são nulas.

Logo, as equações do movimento ficam:


𝜕𝑝 𝜕𝑝 𝜕𝑝
•𝛼 𝜕𝑥 = 0; • 𝛼 𝜕𝑦 = 0; • 𝛼 𝜕𝑥 = −𝑔

Os dois primeiros significam que as superfícies isobáricas (pressão constante) são


horizontais, ou seja, não há termo de pressão, na verdade nenhuma força neste caso, para
causar movimento horizontal. O terceiro termo pode ser escrito como:
•dp = - .g.dz,
Essa é a equação hidrostática (pressão) na forma diferencial, isto é, dá a pressão
dp devido a uma camada fina dz de fluido de densidade . Se a densidade  for constante
(independente da profundidade), torna-se p = - .g.z. Este não é um resultado muito
empolgante - na verdade, tudo o que ele faz é confirmar que as equações do movimento
fornecem uma resposta previamente conhecida quando o fluido está estacionário. Essa
equação permanece uma excelente aproximação, mesmo para fluxos em velocidades
oceânicas típicas.

3.1b) Qual é a relação entre profundidade e pressão nos oceanos.


Um aumento na profundidade de 1 metro produz um aumento na pressão de cerca
de 10 kPa, ou seja, com o aumento da profundidade a pressão aumenta (p = - .g.z).
A razão do sinal negativo no segundo ter é o fato de que os valores positivos de z
estão acima da superfície do mar.

3.2 MOVIMENTO INERCIAL

3.2a) Explicar e ilustrar o significado físico de um movimento inercial.


Primeiro assumimos que:
• dP/dx = dP/dy = 0, ou seja, não há inclinação da superfície do mar e todas as
superfícies de pressão dentro do fluido são também horizontais;
• Ignoraremos as forças atuantes do termo F;
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• Consideraremos w = 0, ou seja, há apenas movimento horizontal.
Assim, as equações do movimento em x e y ficam:
𝑑𝑢 𝑑𝑣
• 𝑑𝑡 = 2..sen 𝜙v • 𝑑𝑡 = - 2..sen 𝜙.u

As soluções das equações acima são:


• u = VH sin (2..sen 𝜙t)
• v = VH cos (2..sen 𝜙t)
Onde 𝑉𝐻2 = u2 + v2 e t é o tempo.

As equações acima são as equações de movimento para um corpo no hemisfério


norte viajando no sentido horário em um círculo horizontal com velocidade linear
constante VH e velocidade angular 2..sen 𝜙. Se o raio do círculo for B, então 𝑉𝐻2 /𝐵 =
2..sen 𝜙.VH, ou seja, a aceleração centrípeta é fornecida pela aceleração de Coriolis.
Fisicamente, tal movimento pode ser gerado quando um vento sopra continuamente em
uma direção por um tempo, fazendo com que a água adquira uma velocidade VH, e então
o vento para e o movimento continua sem atrito (para uma primeira aproximação) como
consequência de sua "inércia" (propriamente seu momento). As variações de fluxo do
período de inércia estão frequentemente presentes em registros de medidores de corrente.
As amplitudes variam dependendo da força dos mecanismos de geração e decaem devido
ao atrito quando o força cessa.

Figura 1
Relação entre a força de Coriolis e a velocidade para movimento inercial no hemisfério norte.

3.2b) Explicar e ilustrar o sentido de rotação em centros de baixa e alta pressões,


para ambos hemisférios Norte e Sul.
A direção de rotação no círculo inercial é vista no sentido horário de cima no
hemisfério norte e anti-horário no hemisfério sul. Se alguém pensar em observar o
movimento no hemisfério sul olhando para baixo através da Terra a partir do hemisfério
norte, o movimento também aparecerá no sentido horário. No entanto, o observador no
hemisfério sul está de cabeça para baixo em relação ao observador no hemisfério norte e
ele chama o movimento no sentido anti-horário. Da mesma forma, ele diz que a força de
Coriolis atua à esquerda da velocidade no hemisfério sul. É uma questão de ponto de
vista. Nos termos usados pelos meteorologistas, o movimento é anticiclônico em ambos
os hemisférios.

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O termo ciclônico vem de ciclone, uma tempestade com baixa pressão em seu
centro em torno da qual os ventos são no sentido anti-horário no hemisfério norte e no
sentido horário no hemisfério sul. Um sistema anticiclônico tem alta pressão em seu
centro e os ventos circulam na direção oposta.

Figura 2
Direção das rotações em volta de centros de baixa e alta pressão nos hemisférios norte e sul

3.3 MOVIMENTO GEOSTRÓFICO

O balanço geostrófico é dado pelo seguinte conjunto de equações:

Componente u de velocidade → zonal (leste/oeste):

Componente v de velocidade → meridional (norte/sul):

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Componente w de velocidade vertical:

3.3a) Tecer breves comentários sobre como foi obtido o referido conjunto de
equações.

Esse conjunto de equações representam uma simplificação da Equação da


Conservação de Momento Linear, fazendo-se uma análise de escalas típicas para
mesoescala. Para essa simplificação, deve-se analisar o tamanho de escala típico para
cada termo da equação, adotam-se, portanto, os seguintes valores:

Desses valores, pode-se calcular a velocidade vertical, pressão e tempo:

A Equação de Momento para velocidade vertical será:

O único valor importante de equilíbrio na vertical é hidrostático:

A Equação de Momento para velocidade horizontal na direção x será:

Logo, a Força de Coriolis equilibra o gradiente de pressão em uma parte por


milhão, denominado, portanto, de equilíbrio geostrófico, sendo as equações geostróficas
as seguintes:

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Esse equilíbrio se aplica a escoamentos oceânicos com dimensões horizontais
maiores que 50km e período maiores que alguns dias.

3.3b) Comentar sobre as características do movimento geostrófico.

É caracterizado pelo balanço entre a aceleração de Coriolis e a força de gradiente


de pressão por unidade de massa. No Hemisfério Norte, a a inclinação da superfície do
mar à leste resulta em um força do gradiente de pressão horizontal em direção ao oeste.
Inicialmente, isso causa movimento em direção ao gradiente de baixa pressão. Pelo fato
da força de Coriolis atuar em ângulos retos à direita da direção do movimento, no
hemisfério norte, a situação de equilíbrio é aquela em que a direção do fluxo está
perpendicular a força do gradiente de pressão. O movimento geostrófico também explica
por que os ventos na atmosfera e as correntes no oceano são
em torno dos centros de alta (H) e baixa (L) pressões

3.3c) Definir os termos que compõem os balanços de forças expressos pelo conjunto
de equações.

Para essa simplificação, considera-se o oceano em estado estacionário e a partir


daí, temos uma solução da pressão hidrostática dentro do oceano. Para tal solução, deve-
se assumir que o fluido é estacionário, que se manterá assim e que não há atrito, logo:

A partir disso, temos o conjunto de equações geostróficas:

Fica explicitado neste formato que a gravidade g é em função da latitude φ e altura


z.

3.3d) Conceituar e ilustrar sobre condições barotrópicas e baroclínicas no oceano.

Condições barotrópicas ocorrem quando os níveis de pressão constante no oceano


(superfícies isobáricas) são sempre paralelos às superfícies de densidade constante
(superfícies isópcicas).

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Condições baroclínicas ocorrem quando os níveis de pressão constante não são
paralelos às superfícies de densidade constante. Nesse caso, a densidade varia com a
profundidade e com a posição horizontal.

Figura 3
A figura ilustra níveis de densidade constante variando com a profundidade em mais de 1km em
comparação com distâncias horizontais de 100km

De forma geral, a variação do escoamento na vertical pode ser decomposta em


uma componente barotrópica, que é independente da profundidade, e de uma componente
baroclínica, que varia com a profundidade.

3.3e) Citar algumas aplicações práticas de uso do movimento geostrófico.

A aproximação geostrófica aplicada à superfície do mar leva a uma simples


relação entre corrente de superfície com a variação da superfície.

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Figura 4
A variação da superfície do mar relativa ao geoide é diretamente relacionada à corrente vs da superfície
geostrófica. A variação de 1 metro por 100 quilômetros é típica de correntes fortes.

Pode-se aplicar tais conceitos para o levantamento da topografia oceânica através


altímetros satelitais. Esses equipamentos são capazes de medir, por exemplo:
- Mudanças globais no volume médio dos oceanos;
- Aquecimentos e resfriamentos sazonais dos oceanos; e
- Marés.

3.3f) Explicar o motivo pelo qual torna-se necessário medir correntes no oceano
sobre um período de tempo. Por qual razão uma única medida em cada lugar não é
suficiente?

Isso se dá ao fato de que o cálculo de gradiente de pressões no oceano deve ser


feito ao longo de superfícies de geopotencial constante assim como se calcula o gradiente
de pressão em um geoide ao nível da superfície do mar para calcular correntes
geostróficas.

4.FORÇAS ATUANTES E MOVIMENTOS NO OCEANO

As forças as quais atuam sobre a água ou qualquer outro fluido podem ser divididas
em três categorias:

i) forças externas, que surgem externamente ao fluido;


ii) forças internas ou de corpo, que atuam no interior do fluido;
iii) forças secundárias ou fictícias que são consideradas apenas porque o fluido está
em movimento em relação à superfície da Terra.

Algumas das principais forças que atuam sobre o oceano são:


1- tensão do vento;
2- forças viscosas;
3- força de Coriolis;
4- forças de gradiente de pressão horizontal; e
5- forças geradoras de marés.

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4.1) Como você classifica cada uma das forças 1-5 em termos das categorias (i)-(iii)?
Justificar.

TIPO FORÇA JUSTIFICATIVA


Forças externas Tensão do vento Fenômenos que se dão pelo contato
Forças viscosas dinâmico entre as massas líquidas e
outros meios como massas de ar ou
solo marinho
Forças internas Forças de gradiente de pressão horizontal Forças que se dão em todas as
Forças geradoras de marés parcelas de água
Forças fictícias Força de Coriolis Força que só é percebida, pois a
Terra é um referencial não-inercial

4.2) O movimento nos oceanos está em equilíbrio quando o escoamento tiver tido
tempo de ajuste para com as forças que atuam no equilíbrio do fluido. Na sequência
de tipos de escoamentos, quais das forças 1-5, indicadas previamente, estão em
balanço? Justificar.

i) escoamento geostrófico;
ii) o escoamento médio da camada de Ekman total formando ângulos retos com o
vento.

Para a definição de escoamento geostrófico as Forças de Coriolis estão em


equilíbrio com as forças de gradiente de pressão.
No entanto para as camadas de Ekman o balanço se dá entre as forças viscosas e
as Forças de Coriolis. A partir dessa dedução é possível perceber que as correntes
causadas pelas tensões dos ventos decrescem exponencialmente com a profundidade.

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