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Variação da pressão com a altitude numa atmosfera não-isotérmica

Article · December 2007

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A. V. Andrade-Neto M.S.R. Miltão


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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05 (01 e 02): 41-48, 2007

VARIAÇÃO DA PRESSÃO COM A ALTITUDE NUMA ATMOSFERA


NÃO-ISOTÉRMICA

Anderson Alberto C. Dias


Fundação José Carvalho; Rod BA 093 no s/n km 42, 48120-000, Pojuca, BA, Brasil

A. V. Andrade-Neto e M. S. R. Miltão
Departamento de Fı́sica, Universidade Estadual de Feira de Santana; Avenida Transnordestina,
s/n, Novo Horizonte, Campus Universitário,
44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil

Neste artigo revisamos o comportamento da pressão com a variação da altitude na atmosfera


terrestre. Analisamos o caso simple de uma atmosfera isotérmica - quando se verifica a
variação exponencial da pressão com a altitude (lei de Halley) - e o caso mais realista da
diminuição da temperatura com o aumento da altitude na troposfera, a camada mais baixa
da atmosfera terrestre. Nesse último caso observa-se uma lei de potência para a variação da
pressão com a altitude.

I. INTRODUÇÃO

Chamamos de atmosfera a camada composta por radiação, gases e material particulado


(aerossóis) que envolve a Terra e se estende por centenas de quilômetros. Essa camada gasosa
permanece presa à Terra devido à ação do campo gravitacional do planeta que atua sempre
de forma atrativa. A atmosfera exerce uma força por unidade de área sobre todos os corpos
situados na superfı́cie terrestre. A essa força por unidade de área é o que chamamos de pressão
atmosférica.
Sabemos que a pressão atmosférica em um determinado local varia numa escala de tempo
de dias e anos. Essas flutuações de pressão têm uma origem térmica estando, portanto, rela-
cionadas com a radiação solar e o modo como as massas de ar são aquecidas.
Essa variação é importante para a previsão do tempo porque pressão baixa, por exemplo,
significa tempo chuvoso. Isso acontece porque as baixas pressões são causadas pela elevação do

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ar quente. A medida que o ar quente ascende ele expande-se e sua temperatura diminui. Logo,
o seu vapor de água transforma-se em nuvens que podem provocar chuva ou neve. Simultanea-
mente haverá um deslocamento de ar para substituir o ar quente que se elevou e esse processo
dará origem aos ventos.
Sabemos também que a pressão atmosférica varia com a altitude. A medida que nos afasta-
mos da superfı́cie terrestre o ar vai ficando mais rarefeito o que provoca a diminuição da pressão
com o aumento da altitude. O objetivo do presente trabalho é analisar como essa pressão varia
com a altitude.
O estudo da circulação atmosférica é realizado através da aplicação das leis da ter-
modinâmica e da mecânica clássica (leis de Newton). Contudo, é importante ressaltar que
a aplicação dessas leis pode ser um problema complicado. Em primeiro lugar, a atmosfera
é um fluido podendo então sofrer variações de massa e volume. Adicionalmente, a Terra é
um sistema que gira, o que constitui um sistema de referência não inercial, sendo necessário
introduzir forças inerciais (fictı́cias) na descrição do movimento dos corpos próximos ou na sua
superfı́cie [1].
Pretendemos nesse trabalho fazer uma descrição do comportamento da pressão na atmosfera
considerando a variação da temperatura, admitindo que a atmosfera é um gás ideal em equilı́brio
hidrostático.

II. PRINCIPAIS FORÇAS QUE ATUAM NA ATMOSFERA TERRESTRE

As principais forças que agem na atmosfera e influenciam o seu movimento são: Força
Gravitacional, Força do Gradiente de Pressão, Força de Coriolis, Força Centrı́fuga e Força de
Atrito.
A Força Gravitacional, descrita pela lei da gravitação universal de Newton, atrai os corpos
na vizinhança da Terra para o seu centro.
As forças de Coriolis e Centrı́fuga são devidas ao fato da Terra ser um referencial não-
inercial, sendo, portanto, forças fictı́cias. Logo elas não representam interação entre corpos. A
força de Coriolis depende da velocidade do corpo em movimento e, por definição, é nula quando
o corpo encontra-se em repouso no referencial ligado à Terra. Os efeitos da Força de Coriolis
são observados nos grandes sistema circulatórios marı́timos e terrestres como a corrente do

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golfo, os ventos alı́sios e os ciclones. A Força Centrı́fuga é perpendicular ao eixo de rotação da


Terra e dirigida radialmente para fora e depende da posição do corpo, ao contrário da força de
Coriolis [1].
A força de atrito surge devido ao movimento relativo das parcelas de ar. Ela age num
corpo em movimento de tal forma que, em contato com uma superfı́cie, diminui a sua energia
e tende a fazer com que o corpo entre em estado de repouso. A ação dessa força na atmosfera
é considerável nas centenas de metros iniciais e é dependente da velocidade das parcelas de ar,
da natureza das superfı́cies e do gradiente vertical de temperatura. A ação da força de atrito
também causa a diminuição da força de Coriolis, já que esta também possui uma dependência
da velocidade do vento.
A força do gradiente de pressão descreve as variações espaciais (o gradiente) no campo
da pressão e é a responsável pelo movimento do ar de uma região de alta pressão para uma
região de baixa pressão o que dá origem aos ventos. A partir dessa força podemos entender o
comportamento da pressão na atmosfera terrestre conforme veremos a seguir. Considerando a
atmosfera em equilı́brio hidrostático temos a seguinte relação [2]:

f~ = gradP , (1)

onde f~ é a força volumétrica (força por unidade de volume) e P é a pressão. O vetor gradP
é normal às superfı́cies isobáricas, que são superfı́cies sobre as quais a pressão age de forma
constante e tem sentido que indica a tendência de crescimento de P .
Um exemplo importante de força volumétrica e que sempre age na atmosfera é a força
gravitacional que é dada por

f~ = ρ~g , (2)

onde ρ é a densidade da atmosfera e ~g é o vetor campo gravitacional.


Tomando o eixo z orientado verticalmente para cima temos que ~g = −gk̂ onde k̂ é o vetor
unitário na direção do eixo z. Neste caso, a eq.(1) torna-se

dP
= −ρg . (3)
dz

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Vemos então que, quando um gradiente de pressão é gerado, o ar se movimenta de zonas de


alta pressão para zonas de baixa pressão, de forma a eliminar esse gradiente. Como a diferença
de pressão é fruto do aquecimento desigual da superfı́cie terrestre, a radiação solar é a força
geradora do vento.

III. VARIAÇÃO DA PESSÃO COM A ALTITUDE

A. Atmosfera isotérmica - Lei de Halley

Inicialmente consideraremos o caso no qual a temperatura é constante (atmosfera isotérmica)


o que é uma boa aproximação para os primeiros 4km conforme veremos na próxima subseção.
A lei dos gases ideais é dada por

P = ρRT , (4)

onde T é a temperatura e R é a constante do gás definida como

R
R= , (5)
M

com R sendo a constante universal dos gases que vale 8, 315J/molK e M sendo a massa
molecular expressa em Kg/mol. Para o ar limpo e seco M = 28, 97Kg/Kmol, de maneira que
para o ar seco R = 0, 287KJ/KgK.
Substituindo a eq.(4) na eq.(3) temos que

dP gP P
=− =− , (6)
dz RT H

onde H é a constante de escala definida como

RT
H= . (7)
g

A eq.(6) é facilmente integrável e obtemos

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−z
P (z) = Po exp , (8)
H
onde Po é a pressão atmosférica no nı́vel do mar (z = 0) e vale Po = 1, 013 × 105 P a.
A eq.(8), conhecida como lei de Halley, mostra que a pressão decresce exponencialmente
com a altitude numa atmosfera isotérmica.

B. Atmosfera não isotérmica

Uma hipótese mais realista da variação da pressão com a altitude, tem que levar em con-
sideração o fato de que a temperatura varia com a altitude. A temperatura da atmosfera
terrestre é determinada, principalmente, por dois fatores: a proximidade em relação ao solo e a
interação da radiação com as moléculas presentes na atmosfera. Vamos analisar essa variação
na troposfera.
A troposfera é a primeira camada terrestre, de baixo para cima, e se estende da superfı́cie
da Terra até a base da estratosfera (a segunda camada). Ela possui uma altitude média de
11km (20km no equador e 8km nos polos) sendo a camada atmosférica mais delgada. Apesar
disso, ela contém cerca de 90 por cento de toda a massa atmosférica
A temperatura da troposfera diminui com o aumento da altitude. A taxa de variação vertical
da temperatura (gradiente térmico) da troposfera é de 6, 5o C/km. Isso significa que, em média,
a temperatura decai 6, 5o C a cada quilômetro. Essa tendência de redução da temperatura
ocorrerá até atingir-se a tropopausa, que é região onde a temperatura na troposfera é mı́nima
(cerca de −55o C) e está localizada a uma altura média em torno de 17 km no equador. Assim,
podemos escrever para a variação da temperatura, considerando a expansão em Série de Taylor
da função T (z) até a 1a ordem

 
αz
T (z) = To − αz = To 1 − , (9)
To
onde To é a temperatura ambiente ao nı́vel do mar e possui valor igual a 288K. A grandeza α
indica a taxa de declı́nio atmosférico de temperatura da troposfera, e, como dito acima, possui
valor igual a 6, 5Kkm−1 .
Da eq.(6) temos que

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dP g
=− dz . (10)
P RT
Substituindo a eq.(9) na eq.(10) e integrando obtemos

   
P g αz
ln = ln 1 − . (11)
Po Rα To
A equação acima pode ser reescrita como

 g/Rα
αz
P (z) = Po 1− , (12)
To
que dá a variação da pressão com a altitude para uma atmosfera não-isotérmica.
Obviamente a situação da atmosfera isotérmica é um caso particular da eq.(12). De fato
para αz/To << 1 podemos usar a expansão (1 − x)n ≈ 1 − nx de modo que a eq.(12) torna-se

 
gz  z
P (z) = Po 1− = Po 1 − , (13)
RTo H
onde H é definido pela eq.(7). Usando a expansão ex ≈ 1 + x, x << 1 a eq.(13) fica

 
−z
P (z) = Po exp ,
H
que é a lei de Halley.
Podemos também determinar até que altura a atmosfera isotérmica é uma boa aproximação.
Da condição de validade para que a aproximação da atmosfera isotérmica seja válida, i.e.,
αz/To << 1 temos que

To
= 44km >> z . (14)
α
Assim, para valores de altitudes da ordem de 10 por cento da distância To /α = 44km (ou
seja para z ≤ 4, 4km) a atmosfera isotérmica é uma boa aproximação.
A figura (1) mostra as curvas da pressão em função da altitude para uma atmosfera
isotérmica, eq(8), e não-isotérmica, eq(12). Vemos que a pressão para a atmosfera isotérmica
decresce mais rapidamente com a altitude em comparação com o caso não-isotérmico. Contudo,
vemos que nos primeiros 4km a atmosfera isotérmica é uma boa aproximação da realidade.

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Fig. 1: Variação da pressão com a Altitude da atmosfera terrestre isotérmica (curva tracejada) e não-
isotérmica (curva contı́nua).

IV. CONCLUSÕES

Neste trabalho utilizamos conhecimentos básicos de termodinâmica e fluidos (lei dos gases
ideais e equilı́brio hidrostático) para analisar a variação da pressão numa atmosfera não
isotérmica de um modo mais realista.
A expressão matemática da variação da pressão com a altitude pode ser melhorada con-
siderando, por exemplo, a dependência da aceleração da gravidade com a latitude. Esse refi-
namento será tema de um trabalho futuro.

[1] H. Moysés Nussenzveig, Curso de Fı́sica Básica 1: Mecânica. Editora Edgar Blücher, (2002).
[2] H. Moysés Nussenzveig, Curso de Fı́sica Básica 2: Fluidos, Oscilações e Ondas e Calor. Editora
Edgar Blücher, (2002).
[3] Goody, Richard M. and Walker, J. C. G. Atmosferas Planetárias. Editora Edgar Blücher, (1975).
[4] Tolentino, Mario; Rocha-Filho, Romeu C. e da Silva, Roberto Ribeiro. O azul do planeta. Um Retrato
da Atmosfera. Editora Edgar Blücher, (1975).

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SOBRE OS AUTORES -

Anderson Alberto C. Dias - Licenciando em Fı́sica pela UEFS, é Professor da Fundação José
Carvalho.
e-mail: alberttodias@yahoo.com.br

Antônio Vieira de Andrade-Neto - Doutor em Fı́sica pela UNICAMP, é Professor Adjunto do


Departamento de Fı́sica da UEFS.
e-mail: aneto@uefs.br

Milton Souza Ribeiro Miltão - Doutor em Fı́sica pela UFRJ e Especialista em Educação pela
UFBA, é Professor Adjunto do Departamento de Fı́sica da UEFS.
e-mail: miltaaao@ig.com.br

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