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A. V. Andrade-Neto e M. S. R. Miltão
Departamento de Fı́sica, Universidade Estadual de Feira de Santana; Avenida Transnordestina,
s/n, Novo Horizonte, Campus Universitário,
44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil
I. INTRODUÇÃO
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Anderson Alberto C. Dias et alli CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007
ar quente. A medida que o ar quente ascende ele expande-se e sua temperatura diminui. Logo,
o seu vapor de água transforma-se em nuvens que podem provocar chuva ou neve. Simultanea-
mente haverá um deslocamento de ar para substituir o ar quente que se elevou e esse processo
dará origem aos ventos.
Sabemos também que a pressão atmosférica varia com a altitude. A medida que nos afasta-
mos da superfı́cie terrestre o ar vai ficando mais rarefeito o que provoca a diminuição da pressão
com o aumento da altitude. O objetivo do presente trabalho é analisar como essa pressão varia
com a altitude.
O estudo da circulação atmosférica é realizado através da aplicação das leis da ter-
modinâmica e da mecânica clássica (leis de Newton). Contudo, é importante ressaltar que
a aplicação dessas leis pode ser um problema complicado. Em primeiro lugar, a atmosfera
é um fluido podendo então sofrer variações de massa e volume. Adicionalmente, a Terra é
um sistema que gira, o que constitui um sistema de referência não inercial, sendo necessário
introduzir forças inerciais (fictı́cias) na descrição do movimento dos corpos próximos ou na sua
superfı́cie [1].
Pretendemos nesse trabalho fazer uma descrição do comportamento da pressão na atmosfera
considerando a variação da temperatura, admitindo que a atmosfera é um gás ideal em equilı́brio
hidrostático.
As principais forças que agem na atmosfera e influenciam o seu movimento são: Força
Gravitacional, Força do Gradiente de Pressão, Força de Coriolis, Força Centrı́fuga e Força de
Atrito.
A Força Gravitacional, descrita pela lei da gravitação universal de Newton, atrai os corpos
na vizinhança da Terra para o seu centro.
As forças de Coriolis e Centrı́fuga são devidas ao fato da Terra ser um referencial não-
inercial, sendo, portanto, forças fictı́cias. Logo elas não representam interação entre corpos. A
força de Coriolis depende da velocidade do corpo em movimento e, por definição, é nula quando
o corpo encontra-se em repouso no referencial ligado à Terra. Os efeitos da Força de Coriolis
são observados nos grandes sistema circulatórios marı́timos e terrestres como a corrente do
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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007 Variação da pressão com a altitude numa atmosfera não-isotérmica
f~ = gradP , (1)
onde f~ é a força volumétrica (força por unidade de volume) e P é a pressão. O vetor gradP
é normal às superfı́cies isobáricas, que são superfı́cies sobre as quais a pressão age de forma
constante e tem sentido que indica a tendência de crescimento de P .
Um exemplo importante de força volumétrica e que sempre age na atmosfera é a força
gravitacional que é dada por
f~ = ρ~g , (2)
dP
= −ρg . (3)
dz
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Anderson Alberto C. Dias et alli CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007
P = ρRT , (4)
R
R= , (5)
M
com R sendo a constante universal dos gases que vale 8, 315J/molK e M sendo a massa
molecular expressa em Kg/mol. Para o ar limpo e seco M = 28, 97Kg/Kmol, de maneira que
para o ar seco R = 0, 287KJ/KgK.
Substituindo a eq.(4) na eq.(3) temos que
dP gP P
=− =− , (6)
dz RT H
RT
H= . (7)
g
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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007 Variação da pressão com a altitude numa atmosfera não-isotérmica
−z
P (z) = Po exp , (8)
H
onde Po é a pressão atmosférica no nı́vel do mar (z = 0) e vale Po = 1, 013 × 105 P a.
A eq.(8), conhecida como lei de Halley, mostra que a pressão decresce exponencialmente
com a altitude numa atmosfera isotérmica.
Uma hipótese mais realista da variação da pressão com a altitude, tem que levar em con-
sideração o fato de que a temperatura varia com a altitude. A temperatura da atmosfera
terrestre é determinada, principalmente, por dois fatores: a proximidade em relação ao solo e a
interação da radiação com as moléculas presentes na atmosfera. Vamos analisar essa variação
na troposfera.
A troposfera é a primeira camada terrestre, de baixo para cima, e se estende da superfı́cie
da Terra até a base da estratosfera (a segunda camada). Ela possui uma altitude média de
11km (20km no equador e 8km nos polos) sendo a camada atmosférica mais delgada. Apesar
disso, ela contém cerca de 90 por cento de toda a massa atmosférica
A temperatura da troposfera diminui com o aumento da altitude. A taxa de variação vertical
da temperatura (gradiente térmico) da troposfera é de 6, 5o C/km. Isso significa que, em média,
a temperatura decai 6, 5o C a cada quilômetro. Essa tendência de redução da temperatura
ocorrerá até atingir-se a tropopausa, que é região onde a temperatura na troposfera é mı́nima
(cerca de −55o C) e está localizada a uma altura média em torno de 17 km no equador. Assim,
podemos escrever para a variação da temperatura, considerando a expansão em Série de Taylor
da função T (z) até a 1a ordem
αz
T (z) = To − αz = To 1 − , (9)
To
onde To é a temperatura ambiente ao nı́vel do mar e possui valor igual a 288K. A grandeza α
indica a taxa de declı́nio atmosférico de temperatura da troposfera, e, como dito acima, possui
valor igual a 6, 5Kkm−1 .
Da eq.(6) temos que
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Anderson Alberto C. Dias et alli CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007
dP g
=− dz . (10)
P RT
Substituindo a eq.(9) na eq.(10) e integrando obtemos
P g αz
ln = ln 1 − . (11)
Po Rα To
A equação acima pode ser reescrita como
g/Rα
αz
P (z) = Po 1− , (12)
To
que dá a variação da pressão com a altitude para uma atmosfera não-isotérmica.
Obviamente a situação da atmosfera isotérmica é um caso particular da eq.(12). De fato
para αz/To << 1 podemos usar a expansão (1 − x)n ≈ 1 − nx de modo que a eq.(12) torna-se
gz z
P (z) = Po 1− = Po 1 − , (13)
RTo H
onde H é definido pela eq.(7). Usando a expansão ex ≈ 1 + x, x << 1 a eq.(13) fica
−z
P (z) = Po exp ,
H
que é a lei de Halley.
Podemos também determinar até que altura a atmosfera isotérmica é uma boa aproximação.
Da condição de validade para que a aproximação da atmosfera isotérmica seja válida, i.e.,
αz/To << 1 temos que
To
= 44km >> z . (14)
α
Assim, para valores de altitudes da ordem de 10 por cento da distância To /α = 44km (ou
seja para z ≤ 4, 4km) a atmosfera isotérmica é uma boa aproximação.
A figura (1) mostra as curvas da pressão em função da altitude para uma atmosfera
isotérmica, eq(8), e não-isotérmica, eq(12). Vemos que a pressão para a atmosfera isotérmica
decresce mais rapidamente com a altitude em comparação com o caso não-isotérmico. Contudo,
vemos que nos primeiros 4km a atmosfera isotérmica é uma boa aproximação da realidade.
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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007 Variação da pressão com a altitude numa atmosfera não-isotérmica
Fig. 1: Variação da pressão com a Altitude da atmosfera terrestre isotérmica (curva tracejada) e não-
isotérmica (curva contı́nua).
IV. CONCLUSÕES
Neste trabalho utilizamos conhecimentos básicos de termodinâmica e fluidos (lei dos gases
ideais e equilı́brio hidrostático) para analisar a variação da pressão numa atmosfera não
isotérmica de um modo mais realista.
A expressão matemática da variação da pressão com a altitude pode ser melhorada con-
siderando, por exemplo, a dependência da aceleração da gravidade com a latitude. Esse refi-
namento será tema de um trabalho futuro.
[1] H. Moysés Nussenzveig, Curso de Fı́sica Básica 1: Mecânica. Editora Edgar Blücher, (2002).
[2] H. Moysés Nussenzveig, Curso de Fı́sica Básica 2: Fluidos, Oscilações e Ondas e Calor. Editora
Edgar Blücher, (2002).
[3] Goody, Richard M. and Walker, J. C. G. Atmosferas Planetárias. Editora Edgar Blücher, (1975).
[4] Tolentino, Mario; Rocha-Filho, Romeu C. e da Silva, Roberto Ribeiro. O azul do planeta. Um Retrato
da Atmosfera. Editora Edgar Blücher, (1975).
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Anderson Alberto C. Dias et alli CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 05, (01 e 02): 41-48, 2007
SOBRE OS AUTORES -
Anderson Alberto C. Dias - Licenciando em Fı́sica pela UEFS, é Professor da Fundação José
Carvalho.
e-mail: alberttodias@yahoo.com.br
Milton Souza Ribeiro Miltão - Doutor em Fı́sica pela UFRJ e Especialista em Educação pela
UFBA, é Professor Adjunto do Departamento de Fı́sica da UEFS.
e-mail: miltaaao@ig.com.br
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