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ESG
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A transição energética que queremos e


podemos ter
António Farinha e Diego Garcia, sócios da Bain & Company, falam sobre o impacto
dos investimentos no setor energético para o desenvolvimento do país

Por António Farinha e Diego Garcia, Para o Prática ESG(*) — São Paulo
01/12/2023 07h30 · Atualizado há 3 dias
A discussão sobre transição energética está presente na mídia e nos debates de
políticas públicas e é determinante para o futuro da humanidade. Mas o que é
transição energética e o que ela compreende? Para Dona Baíca, moradora de
Jericoacoara (CE), a transição energética foi a chegada da rede elétrica à região: “Aqui
não tinha energia, era tudo no escuro. Ia buscar lenha na cabeça, batia a roupa na
lagoa”. Desde então, Jericoacoara foi eleita várias vezes uma das melhores praias do
planeta e o PIB per capita da região, que era de R$ 6 mil em 2010, passou a cerca de
R$ 20 mil em 2020. A chegada da energia foi um evento transformacional que
contribuiu para o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida da
comunidade.

Dentro do complexo mosaico da crise mundial do clima, o foco dos debates sobre
transição energética está na descarbonização para reduzir a emissão dos gases de
efeito estufa. O foco é justificado porque, para limitar o aquecimento global a 1,5ºC
até o fim do século, é necessário que as emissões caiam pela metade até 2030,
atingindo a neutralidade até 2050. É importante, também, que a transição seja justa
e assegure energia a custos competitivos para promover melhor qualidade de vida à
população e competitividade às empresas.

Em alguns aspectos há um progresso surpreendente, como os investimentos


recordes no sistema de energia em 2022 (1% a 2% do PIB global), com adição líquida
de mais de 250 gigawatts de capacidade de energia eólica e solar. As vendas de
novos veículos elétricos dobraram na Europa, Estados Unidos e China e o consumo
de combustíveis renováveis para transporte na Europa e nos EUA cresceu mais de
50% nos últimos 5 anos.

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No entanto, no ritmo atual, o planeta encara um potencial aquecimento de 2 a 3ºC,
com todas as consequências nefastas que esse fato acarreta. Adicionalmente à
magnitude do desafio em termos de investimentos necessários em infraestrutura
(por exemplo, eólicas, solares, rede de transmissão, infraestrutura de carregamento
de veículos elétricos), a crescente fragmentação econômica e geopolítica mundial
torna a tarefa ainda mais desafiadora.

A coordenação dos esforços entre países é também condicionada pelo ponto de


partida de cada um. Para os desenvolvidos, que emitem, em média, 10 toneladas de
CO2 per capita por ano e têm PIB per capita de cerca de US$ 45 mil, o desafio é
reduzir as emissões mantendo alta qualidade de vida. Para os países mais pobres,
que emitem, em média, 3 toneladas de CO2 per capita por ano e têm PIB per capita
de cerca de US$ 5 mil, é preciso superar a pobreza energética de forma sustentável,
sem criar barreiras para o desenvolvimento. São necessárias soluções para que
todos possam continuar a se desenvolver economicamente por meio do acesso a
fontes de energia limpas, confiáveis ​e com custo competitivo.

No caso do Brasil, emitimos cerca de 2 toneladas de CO2 per capita por ano e
nosso PIB per capita é de cerca de US$ 8 mil, o que nos posiciona muitíssimo
bem na comparação global, ponto que deveria ser mais destacado nos debates
mundiais. Do total de emissões brasileiras, cerca de 50% são relativas ao uso
da terra e cerca de 25% provenientes da agropecuária, percentual superior ao
da maioria dos países desenvolvidos. Entretanto, no setor energético, o país já
possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com
aproximadamente 90% da matriz renovável.

Em outras regiões, a participação de renováveis é muito inferior, como nos EUA


(22%), na União Europeia (39%) e na China (31%). Em termos de matriz energética
primária (que inclui energia usada para transporte como os combustíveis líquidos,
incluindo o etanol) também assumimos posição de liderança, com cerca de 45% de
fontes renováveis, enquanto EUA, China e UE, em média, possuem menos de 25%.

Contudo, ainda enfrentamos importantes desafios em termos de competitividade.


Nossa energia industrial custa quase o dobro do praticado nos EUA e, na energia
residencial, mais de 10% da tarifa é usada para pagar subsídios. São questões que
devem ser enfrentadas de forma definitiva, pois limitam o crescimento da indústria e
o desenvolvimento socioeconômico do país.
Apesar desses desafios, somos um exemplo para o mundo em termos de oferta de
energia limpa, com a oportunidade de alavancar essa vocação para acelerar a
descarbonização do planeta e catalisar nosso desenvolvimento econômico e social.
Contamos com três alavancas principais para capturar essas oportunidades. A
primeira é a neoindustrialização com base em energia verde, acelerando a produção
e a exportação de produtos industriais de baixo teor de emissões, como o aço verde.
A segunda é a exportação de diesel e combustíveis de aviação renováveis, além de
derivados de hidrogênio verde, como amônia verde, e combustíveis sintéticos
marítimos e de aviação, com potencial de exportação de cerca de US$ 25 bilhões até
2050. A terceira é a monetização de créditos de carbono.

Entretanto, para alcançar esses objetivos, será necessária ampla convergência de


ações dos setores público e privado, que inclui:

· Modernizar o arcabouço legal e regulatório do setor energético para promover


competitividade nacional e internacional. A revisão precisa endereçar temas
como racionalização de subsídios, impostos, encargos, custo de capital, uso de
energia térmica e simplificação de processos setoriais como licenciamentos e
outorgas;

· Promover os atributos diferenciadores do Brasil e de sua posição de liderança no


contexto da transição energética global por meio de esforços sinérgicos dos
setores público e privado. Essa liderança deveria ser alavancada e garantir papel
de destaque nas diferentes plataformas de governança global e de ação climática,
em acordos internacionais e, assim, facilitar o posicionamento diferenciado de
nossas empresas no cenário internacional;

· Dinamismo crescente do setor privado para identificar e desenvolver soluções


verdes que aproveitem as oportunidades emergentes com a transição energética
global e os recursos diferenciados que temos.

O sucesso ao capturar as oportunidades decorrentes da transição pode viabilizar


uma importante onda de progresso econômico e social para o Brasil, ao mesmo
tempo em que contribui para a transição energética global. Com esse progresso,
teremos mais histórias de conquistas e a Dona Baíca, além de ter acesso à energia,
contará com uma tarifa mais econômica – e os brasileiros em geral poderão usufruir
de empregos melhores e com melhor remuneração.
Sobre o autor

· António Farinha é sócio da Bain & Company e líder da prática de Utilities e


Renováveis na América do Sul. Com mais de 20 anos de experiência em
consultoria de gestão, lidera grandes grupos nacionais e multinacionais em
diversos setores. Antes de gerir projetos na América Sul, também atuou pela Bain
na Itália e em Portugal. Farinha é graduado em Economia pela Universidade Nova
de Lisboa (Portugal) e possui MBA com méritos pelo INSEAD (França).

· Diego Garcia é sócio da Bain & Company e líder da prática de Oil & Gas. Sua
atuação inclui a alta gestão de grandes grupos nacionais e multinacionais, bem
como organizações do setor público em países como Brasil, Argentina, Colômbia,
Chile e Peru. Suas principais áreas de especialização são petróleo e gás,
mineração e metais, siderurgia, serviços públicos e renováveis. Graduado em
Engenharia Mecânica pelo Instituto Tecnológico de Buenos Aires (Argentina),
Garcia está na Bain desde 2007.

(*) Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal
não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou
por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

António Farinha é sócio da Bain & Company — Foto: Bain & Company / Divulgação
Diego Garcia é sócio da Bain & Company e líder da prática de Oil & Gas — Foto: Bain & Company /
Divulgação

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