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A Força Aérea Brasileira na era da Defesa Aeroespacial

Como parte dos esforços para operar os sistemas baseados no espaço em


desenvolvimento pelo Ministério da Defesa - incluindo o Satélite Geoestacionário de
Defesa e Comunicações, a ser lançado em 2016 - a Força Aérea Brasileira está organizando
o Centro de Operações Espaciais. Soberania Nacional descreve esta iniciativa pioneira e
vital para a independência das operações militares brasileiras.

Sérgio Santana

Antecedentes

Publicada em 2008, a Estratégia Nacional de Defesa determinou o espaço exterior como um dos
campos decisivos para a Defesa Nacional, descrevendo-o como o ambiente no qual serão
desenvolvidas atividade para enlaces de comunicações por satélites, sensoriamento por meio de
plataformas espaciais e utilização de sistemas de referência para posição, navegação e tempo.

Quatro anos depois, a Portaria n° 224/GC3, de 10 de maio de 2012, aprova a edição da Diretriz
de Implantação do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), que atribui à Comissão
de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA) a incumbência de prestar
todo o apoio técnico, administrativo e de recursos humanos necessários ao pleno funcionamento
da Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE).

Em agosto daquele ano a Portaria EMAER nº 31/3SC3, aprova a edição do PESE e estabelece a
criação de um Centro de Operações Espaciais (COPE) integrado ao Sistema de Defesa
Aeroespacial Brasileiro capaz de exercer o controle do Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicações (SGDC) e demais satélites e constelações nele previstos.

Entretanto, a iniciativa de organizar uma estrutura para a operacionalização de tais requisitos só


ocorreu cinco anos depois, quando em 1º de outubro de 2013 foi implantada a DCA 11-26, a
“Diretriz de Implantação do Núcleo do Centro de Operações Espaciais”, ratificada pelo então
Comandante da Aeronáutica Ten-Brig. Juniti Saito que assinou a Portaria 1.910 em meados
daquele mês.

Esta norma estabeleceu o Núcleo do Centro de Operações Espaciais Principal (NuCOPE-P), com
sede na cidade de Brasília - DF. O órgão, subordinado ao Comando-Geral de Operações Aéreas,
foi constituído com a finalidade de adotar as ações administrativas necessárias à criação e
ativação do Centro de Operações Espaciais Principal (COPE-P) e do Centro de Operações
Espaciais Secundário (COPE-S), e à capacitação dos Recursos Humanos que mobiliarão estes
Centros.

Os dois centros terão como missão controlar e empregar Sistemas Espaciais de interesse do
Ministério da Defesa (MD) para aumentar a efetividade e a eficácia das Forças Armadas, dentre
os quais o já mencionado SGDC cujo lançamento está previsto para o último ano.
Operacionalmente, os Centros abrangem além do Ministério da Defesa, o Ministério das
Telecomunicações (na figura da Telecomunicações Brasileiras S.A., TELEBRAS), a Agência
Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Intercâmbio com os Estados Unidos e a França

Entre os dias 10 e 20 de setembro militares da Força Aérea Brasileira, do Exército Brasileiro e da


Marinha do Brasil participaram de um intercâmbio nos Estados Unidos sobre operações
espaciais. A atividade fez parte das ações do Núcleo do Centro de Operações Espaciais Principal
(NuCOPE-P) e discutiu um acordo de compartilhamento de consciência situacional espacial, além
de permitir o conhecimento da estrutura dos centros de operações espaciais. O objetivo foi a
promoção do desenvolvimento e autonomia nacionais por meio do domínio de tecnologias
sensíveis, com foco no setor espacial.

Tal compartilhamento, dentre outros benefícios, possibilitará que a FAB possa desviar seus
satélites de potenciais colisões com o chamado “lixo espacial” e otimizará os recursos humanos e
financeiros ao utilizar soluções já testadas por outros países.

A comissão brasileira verificou em loco as atividades relacionadas à utilização do espaço sideral


desempenhadas na Base Aérea de Vandenberg, no estado da Califórnia, sede da 14ª Força
Aérea, sob a qual atua o JFCC-Space (Joint Forces Component Command-Space, Comando
Componente das Forças Conjuntas para o Espaço), uma organização com 155 funcionários, que
executam missões de comando e controle das atividades espaciais norte-americanas, 24 horas
por dia, o que inclui planejamento, sincronização, integração e assessoramento das funções
assinaladas a forças encarregadas de tarefas espaciais espalhadas no mundo inteiro.

Por outro lado, militares da FAB concluíram em junho de 2014 em Cannes, na França, o curso
avançado do programa de absorção de tecnologia do Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicações, a primeira etapa de preparação dos militares que devem operar o primeiro satélite
de comunicações militares brasileiro. Ao longo de dez semanas de aulas, os militares
participaram de instruções nos diversos sistemas que envolvem o planejamento, o projeto, a
construção, a operação e a validação de Sistemas Espaciais, abordando tecnologias, sistemas e
gerência de sistemas.

Além da operação de maneira eficaz, eficiente e segura, garantindo o sigilo das informações
trafegadas pelo satélite, a preparação dos militares permite conhecimento para a especificação
da constelação satelital para sensoreamento, previsto para 2018.

A equipe do curso abrangeu, além dos futuros “pilotos satelitais”, integrantes do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA), do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) e da
Marinha do Brasil, representantes da AEB e do INPE.

O programa de absorção de tecnologia tem o objetivo de construir competência nacional para


promover a maior qualificação e inserção das empresas brasileiras no mercado de manufatura e
serviços de satélites geoestacionários.

O PESE e o Sistema Áquila

O SGDC está sendo desenvolvido no âmbito do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais


(PESE), coordenado pela Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais,
subordinada ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo da FAB.
Além do SGDC, o PESE contempla o “Sistema Áquila”, composto por nada menos que quatro
frotas de satélites, batizadas com designações científicas de aves. Cada uma delas possui duas
funções distintas. A “Carponis” (designação científica de uma espécie de sabiá) operará em órbita
terrestre baixa, para missões que exijam sensores ópticos de alta resolução, sendo especializada
em resgates); Lessônia (uma espécie de alga marinha e também de uma ave) também situada
em órbita terrestre baixa, será equipada com radares e dispositivos de inteligência eletrônica;
Attícora (designação científica de uma espécie de pombo), posicionada em órbita terrestre baixa
e média, atuará em missões de comunicação e posicionamento; e, por fim, Cálidris (nome de uma
ave ribeirinha), situada em órbita geoestacionária, dedicada também às comunicações e à coleta
de dados meteorológicos.

Os Carponis I e II serão lançados entre 2019 e 2031, com ciclo de reposição de seis anos; assim
como os Lessônia I e II; os oito satélites da série Attícora serão lançados a partir de 2019 até
depois de 2032, com um ciclo de reposição de oito anos. Por fim, os dois satélites da série
Calidris também serão lançados no mesmo espaço de tempo, mas terão um ciclo de reposição de
15 anos.

O COPE

O gerenciamento de toda essa rede de satélites caberá ao COPE, cuja estrutura foi planejada
para ser modular e expansível, permitindo o uso compartilhado entre o Ministério da Defesa e a
Telebrás.

As suas edificações são caracterizadas por uma área envidraçada em grande parte, permitindo
amplo uso da iluminação natural e a utilização de fontes de energia limpa, através dos painéis de
captação de energia solar instalados nos tetos de alguns dos prédios do complexo, conforme
previsto no seu projeto preliminar de arquitetura.

O COPE será instalado próximo ao CINDACTA I, em Brasília.

Deve-se ressaltar que esta é uma iniciativa pioneira no contexto da América Latina, pois nenhum
outro país da região conta com estrutura semelhante como a que está planejada. Uma vez
concluída colocará o Brasil no seleto clube de nações com uma estrutura militar voltada para a
monitoração do espaço, a exemplo dos já mencionados Estados Unidos, além de Japão, Israel e
Rússia.

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