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INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

CURSO DE ENGENHARIA AEROESPACIAL

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

São José dos Campos, 18 de novembro de 2023

Nome do Aluno: Victor Hugo de Oliveira Bastos


FOLHA DE APROVAÇÃO

Relatório Final de Estágio Curricular aceito em 18 de novembro de 2023, pelos abaixo


assinados:

________________________________________________
Victor Hugo de Oliveira Bastos

___________________________________________________
Cap. Carlos Eduardo de Sá Amaral Oliveira - Orientador/Supervisor na Empresa/Instituição

____________________________________________________
Prof. Willer Gomes dos Santos - Orientador/Supervisor no ITA

____________________________________________________
Prof. Cristiane Aparecida Martins - Coordenadora do Curso
INFORMAÇÕES GERAIS

Estagiário
Nome do Aluno: Victor Hugo de Oliveira Bastos
Curso: Engenharia Aeroespacial
Turma: 2024

Empresa/Departamento
Laboratório Espacial (CEI)

Endereço da Empresa: Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 – Vila das Acácias, CEP 12228-
900 – Cidade de São José dos Campos, Estado de São Paulo.
CNPJ: 003.94.429/0144-03

Orientador/Supervisor da Empresa
Cap. Carlos Eduardo de Sá Amaral Oliveira

Orientador/Supervisor do ITA
Prof. Willer Gomes dos Santos

Período
03/07/2023 a 17/11/2023

Total de horas: 300

Mês Total de Horas


07/2023 15
08/2023 65
09/2023 88
10/2023 88
11/2023 44
I. INTRODUÇÃO
No período entre 03/07/2023 e 17/11/2023, ocorreu um estágio obrigatório na área
de Space Situational Awareness (SSA) no Laboratório Espacial do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (Centro Espacial ITA - CEI), essencial para a formação em Engenharia
Aeroespacial. A SSA é crítica para garantir a segurança e eficácia das operações espaciais,
por meio da monitorização, identificação e previsão das posições de objetos espaciais, um
campo de crescente importância dada a ascensão da exploração espacial comercial e o
consequente aumento de satélites e detritos em órbita.

Sob a supervisão do Capitão Carlos Eduardo de Sá Amaral Oliveira, o estágio incluiu a


participação em um projeto colaborativo com o Observatório do DCTA. Este projeto
concentrou-se na determinação preliminar de órbitas de satélites e corpos espaciais,
integrando conhecimentos avançados de Engenharia Aeroespacial, tais como mecânica
orbital e astrodinâmica. As atividades abrangeram observações noturnas, aquisição de
imagens e o desenvolvimento de algoritmos computacionais para a redução astrométrica das
imagens, uma prática vital para a análise precisa de dados orbitais.

Além disso, o estágio tinha como um dos objetivos proporcionar uma experiência
prática na aplicação de conceitos teóricos de Engenharia Aeroespacial, oferecendo uma visão
abrangente dos desafios e soluções na área de SSA. Este relatório detalha as várias fases do
estágio, incluindo a modelagem e simulação de trajetórias orbitais, os desafios enfrentados
na identificação precisa de objetos em órbita e as conquistas obtidas. Destaca-se a
relevância do projeto para o avanço do conhecimento em SSA, especialmente no contexto da
crescente necessidade de gerenciamento de tráfego espacial e mitigação de detritos orbitais,
temas fundamentais na Engenharia Aeroespacial contemporânea.

II. A EMPRESA

II.1. Histórico

O Centro Espacial ITA (CEI) emerge como um braço fundamental do Instituto


Tecnológico de Aeronáutica (ITA), contando com o respaldo da Fundação Casimiro
Montenegro Filho. Com uma missão primordial de prover soluções espaciais que endereçam
desafios nacionais de forma ágil, aprimorada e economicamente acessível, o CEI destaca-se
por sua contribuição significativa na redução da dependência internacional em assuntos
espaciais, promovendo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento e valorização dos recursos
internos do Brasil.
A visão do CEI transcende a mera excelência técnica, almejando ser o principal
centro de fomento, capacitação e apoio às atividades aeroespaciais no COMAER. Esta visão
orientadora busca não apenas inovações e tecnologias disruptivas até 2020, mas também a
capacidade de fornecer serviços de montagem, integração e testes de sistemas espaciais de
pequeno porte, alinhados às missões delineadas no PESE, até 2025.
Os valores que norteiam o CEI, como Patriotismo, Inovação, Integridade,
Comprometimento e Profissionalismo, refletem o compromisso da instituição em atuar com
excelência, ética e responsabilidade, consolidando sua presença como um centro de
referência no cenário aeroespacial brasileiro.
Atualmente, o CEI abriga cinco laboratórios especializados, cada um desempenhando
um papel crucial no ecossistema de pesquisa e desenvolvimento. O Laboratório de Sistemas
Aeroespaciais (LABSIS), a Sala Integrada de Gestão de Projeto (SIGP), o Laboratório de
Simulação de Sistemas Aeroespaciais (LSSA), o Laboratório de Controle e Operação de
Satélites (LCOS) e o Laboratório de Testes de Sistemas Aeroespaciais (LTSA) constituem os
pilares nos quais a instituição sustenta suas atividades de ensino, pesquisa e a poio a
projetos aeroespaciais, consolidando assim sua posição como um centro de excelência no
desenvolvimento e capacitação de recursos humanos no setor aeroespacial.

II.2. Área onde foi desenvolvido o programa de estágio

O estágio consistiu no desenvolvimento de um projeto na área de Space Situational


Awareness (SSA), voltado para a determinação preliminar de órbitas de "Resident Space
Objects" (RSO's). Os estudos nessa área são de extrema importância, especialmente diante
da crescente complexidade do ambiente espacial.
A Space Situational Awareness (SSA), que foi o foco central do programa de estágio,
desempenha um papel crucial nos estudos espaciais, referindo-se à capacidade de
monitorar, analisar e prever a posição e movimento de objetos em órbita ao redor da Terra.
Em um ambiente espacial dinâmico, com a presença de satélites em órbita e detritos
espaciais, compreender as órbitas precisas desses corpos é essencial para a segurança das
operações espaciais.
O monitoramento constante possibilita a emissão de alertas de potenciais colisões,
reduzindo riscos significativos para a infraestrutura espacial e prevenindo a geração adicional
de detritos orbitais. A determinação precisa das órbitas não apenas contribui para a
segurança de satélites em operação, mas também é crucial para operações avançadas, como
manobras de desvio para evitar colisões iminentes ou para realizar manobras de rendez-
vous.
Particularmente, em missões de rendez-vous, onde duas espaçonaves se aproximam
e se encontram em órbita, o conhecimento preciso das órbitas é vital para garantir uma
abordagem segura e bem-sucedida. Dessa forma, a SSA emerge como um elemento-chave
para a preservação da funcionalidade e eficácia das atividades espaciais.
A capacidade de monitorar, prever e reagir a eventos no espaço é essencial para a
manutenção da sustentabilidade do ambiente orbital, assegurando não apenas a
continuidade das operações espaciais, mas também a preservação a longo prazo da órbita
terrestre para as gerações futuras.

II.3. O Estágio no Contexto da Empresa


Durante o período de estágio no Laboratório Espacial do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (CEI), participamos ativamente de um projeto inovador na área de Space
Situational Awareness (SSA). Este projeto concentrou-se na determinação preliminar de
órbitas de "Resident Space Objects" (RSO's), destacando-se como uma iniciativa pioneira no
âmbito do laboratório.
No contexto da SSA, o CEI tem se destacado por sua missão de fornecer soluções
espaciais avançadas para desafios nacionais. A atividade específica de determinação
preliminar de órbitas desempenha um papel crucial na garantia da segurança e eficácia das
operações espaciais, especialmente diante do aumento da complexidade do ambiente orbital.
A execução desse projeto, em colaboração com o Observatório do DCTA, representou
um avanço notável na trajetória do laboratório. Ao contribuir para o desenvolvimento de
métodos inovadores de monitoramento orbital, o estágio não apenas impulsionou a aplicação
prática da SSA, mas também reforçou o CEI como um centro de referência no progresso
tecnológico relacionado às atividades espaciais.

III. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

III.1. Resumo do Estágio

A primeira fase do estágio no Centro Espacial ITA - CEI envolveu um planejamento


meticuloso das sessões de observação astronômica e a devida documentação dos processos,
visando a padronização e reprodutibilidade. Esta etapa incluiu a criação de uma série de
vídeos explicativos sobre a montagem e desmontagem do telescópio, bem como instruções
sobre a operação das suas funções básicas, essenciais para as observações subsequentes.

Figura 1: Setup utilizado para as observações

Na sequência, para a observação astronômica em si, selecionaram-se corpos


espaciais catalogados no site Heavens Above, aplicando critérios específicos como brilho em
escala de magnitude relevante e trajetórias próximas a estrelas conhecidas. Durante as
noites de observações, procedeu-se com a montagem do telescópio, seu alinhamento
preciso, e a inserção da câmera, permitindo a captura das imagens necessárias.
Adicionalmente, foi desenvolvido um script em Python para planejar as observações diárias,
automatizando o processo com base nos critérios estabelecidos e acessando os dados dos
satélites via internet.

Figura 2: Exemplo de script em Python para automatização de processos.


Figura 3: Saída do programa

Figura 4: Observação programada automaticamente

Após a aquisição das imagens, iniciou-se o processo de redução astrométrica,


utilizando códigos em Python. Este processo envolveu a identificação dos pixels referentes
ao trajeto do satélite e a obtenção de informações angulares como ascensão reta e
declinação. Estes dados foram fundamentais para a determinação preliminar das órbitas dos
corpos espaciais observados. Utilizou-se métodos consagrados como o método de Gauss
para processar as informações angulares.

Paralelamente, visando a continuidade do projeto, criou-se uma conta no GitHub para


o CEI, com o propósito de armazenar e compartilhar os códigos desenvolvidos, facilitando
futuras adaptações e usos.
Figura 5: Captura de tela correspondente à conta do CEI no Github com o projeto
armazenado.

Este período de estágio foi marcado por um aprendizado intenso e diversificado,


englobando desde a operação do telescópio até a captura e análise de imagens. A
elaboração de manuais operacionais e a programação de códigos para a redução
astrométrica e determinação de órbitas foram complementadas por consultas a literatura
especializada, como o livro "Orbital Mechanics for Engineering Students" de Howard D.
Curtis, e artigos acadêmicos internacionais sobre a determinação de órbitas a partir de
imagens de telescópios. Adicionalmente, treinamentos em astrofotografia contribuíram para
o enriquecimento do repertório técnico, introduzindo técnicas avançadas para reduzir ruídos
e melhorar a qualidade das imagens, alinhadas com os objetivos específicos do projeto.

Após a captura e validação das imagens, foram aplicados códigos em Python para a
redução astrométrica. Esse processo envolveu a extração dos pixels de passagem do satélite
e a obtenção das informações angulares, como ascensão reta e declinação desses pixels.
Essas informações foram cruciais para a determinação da órbita dos corpos em análise.
Figura 6: Função desenvolvida para detectar traço de satélite na imagem

Figura 7: Resultado final do algoritmo de visão computacional

Assim, tendo esses dados dos pixels, é possível convertê-los para as coordenadas
espaciais necessárias a fim de ter pontos reais da trajetória desses satélites e, em seguida,
utilizar métodos numéricos da literatura a fim de poder determinar por inteiro as órbitas em
questão por meio de algoritmos já validados.

III.2. Descrição conceitual de métodos, ferramentas, recursos estudados/usados


no estágio

Telescópio
O telescópio utilizado foi o Celestron C11 Edge HD Telescópio Schmidt Cassegrain
279mm f10 (Celestron C11), cujas especificações são descritas na imagem abaixo.

Figura 4: Especificações do Celestron C11


A montagem era equatorial e feita, inicialmente com auxílio dos técnicos do
observatório e o alinhamento era feito semi-manualmente utilizando um conjunto de no
mínimo 3 estrelas conhecidas.

Figura 5: Telescópio Celestron C11

Softwares e ferramentas computacionais utilizadas

Stellarium 23.3: Para o controle do posicionamento telescópio função (“Go To”) e localização
das estrelas base dos pontos de observação.

SkyCapture: Utilizado para capturar e salvar a imagem no formato .fits.

Python 3.10: Utilizado para desenvolver os algoritmos de automação da programação das


observações, redução astrométrica e determinação de órbita. As principais bibliotecas
utilizadas foram: astropy, selenium, numpy, pandas e opencv.

AstroImageJ: Utilizado para abrir o formato . fits, validar e selecionar as melhores imagens e
realizar o “Plate Solving”, que nada mais é que um mapeamento pixel a pixel de ascensão
reta e declinação da imagem.

Github: Utilizado pela possibilidade de escrever códigos colaborativamente e salvá-los na


nuvem com a intenção de facilitar a reprodutibilidade dos projetos.

Recursos estudados

- Teoria e Prática de Telescópios: Investigação aprofundada sobre a construção e


funcionamento de telescópios, focando nos aspectos que influenciam a nitidez e a precisão
das imagens astronômicas.
- Automatização de Observações Astronômicas: Aquisição de competências em Web Scraping
com Python para efetivar a programação automatizada das observações astronômicas.
- Processamento de Imagens Astronômicas: Estudo intensivo sobre arquivos no formato
FITS, com ênfase na manipulação e análise de dados astrométricos.
- Fundamentos de Mecânica Orbital: Revisão de literatura especializada em mecânica orbital,
explorando metodologias padrão para a determinação preliminar de órbitas.
- Introdução à Visão Computacional: Aprendizado de técnicas básicas de visão
computacional para o tratamento e análise de imagens astronômicas.
- Programação para Astrofísica: Desenvolvimento de habilidades em linguagens de
programação como Python, aplicadas em contextos de astrofísica e análise de dados
espaciais.

Esses materiais formaram a base teórica e prática para a execução eficiente das atividades
de estágio, permitindo uma compreensão holística e aplicada dos processos envolvidos na
observação astronômica e análise de dados espaciais.

III.3. Participação em treinamentos

No dia 11 de agosto de 2023, em uma iniciativa conjunta com o observatório, participamos


de um workshop de astrofotografia liderado pelo renomado astrofotógrafo André Moutinho.
Esse treinamento foi uma oportunidade valiosa para aprimorar nossas técnicas na redução
de ruídos em imagens astronômicas. Além disso, o evento proporcionou insights detalhados
sobre as restrições do "Field of View" (FoV) do telescópio Celestron C11 e como essas
limitações impõem desafios na análise específica visada no nosso projeto.

IV. COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES

Ao refletir sobre o estágio realizado no Centro Espacial ITA, é evidente que a experiência foi
imensamente enriquecedora e crucial para o meu desenvolvimento como estudante de
engenharia aeroespacial. A participação ativa no projeto de Space Situational Awareness
(SSA) proporcionou uma visão abrangente e prática dos desafios e oportunidades presentes
no campo da observação espacial e mecânica orbital.

A execução de tarefas como o planejamento de observações noturnas e a operação do


telescópio forneceu uma compreensão valiosa das complexidades inerentes à astrofotografia.
Aprender a mitigar ruídos e compreender as limitações do Field of View (FoV) do telescópio
Celestron C11 foi fundamental, não apenas para a captura de imagens de alta qualidade,
mas também para aprofundar o meu entendimento das limitações práticas enfrentadas no
campo.

O desenvolvimento e a aplicação de algoritmos para a automação das observações e a


redução astrométrica das imagens permitiram a integração efetiva da teoria com a prática.
Essa integração foi essencial para transformar as imagens capturadas em dados analíticos
valiosos, usados na determinação preliminar das órbitas dos corpos espaciais observados.

A revisão da literatura em mecânica orbital e o uso de métodos estabelecidos na


determinação de órbitas foram igualmente fundamentais. Esta fase do estágio não só
reforçou a minha base teórica, mas também me permitiu explorar aplicações práticas
complexas desses conhecimentos, um aspecto crucial para qualquer profissional na área de
engenharia aeroespacial.

Além disso, a oportunidade de participar de um treinamento em astrofotografia acrescentou


uma dimensão extra ao meu aprendizado, foi possível enxergar o lado concreto do projeto
na vida real.

A criação de uma conta no GitHub para o CEI, visando armazenar e compartilhar os códigos
desenvolvidos, reforçou a importância da colaboração e do compartilhamento de
conhecimento na comunidade científica.
Em resumo, este estágio foi uma jornada de aprendizado e descoberta. Ele não só expôs a
quantidade de oportunidades existem na engenharia aeroespacial e na pesquisa espacial,
mas também equipou-me com habilidades e conhecimentos práticos que serão inestimáveis
na minha futura carreira. A experiência reiterou a importância da interdisciplinaridade no
campo da engenharia aeroespacial e sublinhou a necessidade de uma abordagem holística
para resolver os desafios complexos da exploração e observação espacial.

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