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TRABALHISTAS
E SINDICAIS
JOSÉ TADEU RODRIGUES PENTEADO
RELAÇÕES
TRABALHISTAS
E SINDICAIS
JOSÉ TADEU RODRIGUES PENTEADO
Expediente
Conselho Acadêmico
Reitoria Camila Ribeiro Romeiro
Pró-Reitoria Acadêmica (presencial e a distância) Patrícia da Silva Klahr
Gerente de Pós-Graduação Monica Sabino Hasner
P419r
Penteado, José Tadeu Rodrigues.
Relações trabalhistas e sindicais [recurso eletrônico] / José Tadeu
Rodrigues Penteado ; ed. ED+ Content Hub – Sorocaba, SP: Centro
Universitário Facens, 2021.
1 E-book; (PDF). il.
Inclui bibliografia
ISBN
Modo de acesso: restrito
1. Direito do trabalho. 2. Contrato de trabalho. 3. Carteira de
Trabalho. 4. Previdência Social. 4. Sindicatos – organização. I. Ed+
Content Hub. II. Centro Universitário Facens. III. Centro Universitário
Newton Paiva. IV. Título.
CDD 344.81
Todos os direitos desta edição são reservados ao Centro Universitário Facens. Nenhuma parte da obra “Relações Trabalhistas e
Sindicais” poderá ser reproduzida ou transmitida sem autorização prévia. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
pela Lei n.º 9.610/98 com punição de acordo com artigo 184 do Código Penal.
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Tel.: 55 15 3238 1188 / email: facens@facens.br
Conteúdo
Unidade 1
Contrato de trabalho............................................................................ 7
Unidade 2
Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho........... 30
Unidade 3
Extinção do contrato de trabalho...................................................... 55
Unidade 4
Salário e adicionais legais................................................................... 80
Unidade 5
Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social
– CTPS................................................................................................. 106
Unidade 6
Negociações trabalhistas e dissídios coletivos............................... 131
Unidade 7
Relações trabalhistas e sindicais..................................................... 161
Unidade 8
Introdução ao Direito Processual do Trabalho............................... 192
Palavras do autor
O componente curricular de Relações Trabalhistas e Sindicais se insere em um contexto social
inevitável do ser humano, estando a relação trabalhista presente na sociedade há séculos, e a
sindical também, ainda que sua origem seja mais recente.
Você já deve ter escutado que o significado etimológico da palavra “trabalho” está ligado a castigo,
dor, sofrimento e tortura. De origem latina, a palavra tripaliare (de onde vêm os equivalentes
em português, espanhol e francês) significava martirizar com o tripalium, um instrumento de
tortura. No italiano, lavoro é associado a fadiga, cansaço; no alemão, arbeit vem diretamente das
palavras “servidão” ou “escravidão”; no inglês, labor também significa esforço, dor e fadiga, mas
work significa fazer algo, ação, e job designa um serviço.
Desde a Grécia antiga, o trabalho, além da conotação de tortura, visava suprir as necessidades
básicas humanas e era majoritariamente praticado por escravos, assim como pelos servos na
Idade Média. Mas, a partir da descoberta da máquina a vapor por Thomas Newcomen, na Ingla-
terra, em 1712, o trabalho passou a ter a conotação de energia física ou intelectual empregada
pelo homem com finalidade produtiva. É esse momento da história que a maior parte dos doutri-
nadores apregoa como o nascimento do Direito do Trabalho. Lembre-se de que a descoberta da
máquina a vapor foi considerada o marco da Revolução Industrial, a partir da qual se originou a
sociedade capitalista industrial e, com ela, o trabalho assalariado.
Nosso estudo das relações trabalhistas, do ponto de vista da ciência do Direito, vai se deter nessa
energia física ou intelectual empregada pelo homem com finalidade produtiva, despendida para
terceiros e não para si próprio. Para o Direito, essas relações não são um fenômeno estático, mas
sim dinâmico, cujo regramento se desenvolve a partir de um movimento, de um processo decor-
rente dos fatos que se dão na vida social e dos valores dessa sociedade, os quais dão origem à
formação das estruturas normativas, ou seja, ao próprio Direito.
Você vai acompanhar, nestas unidades, a relação que envolve o trabalho para terceiros, em que
os indivíduos trocam, isoladamente, sua força de trabalho por salário, com alguma ou total subor-
dinação. Verá que os fatos sociais que decorrem dessa relação entre o trabalho e o capital que o
remunera, bem como as condições, os limites, os direitos e as obrigações, condicionarão a maior ou
a menor proteção do trabalho, ou do trabalhador, num ritmo ora mais protetivo, ora menos, como se
verifica no Brasil, com as reformas iniciadas em 2017, a partir da aprovação da Lei nº 13.467/2017.
Você vai aprender sobre as diversas espécies de contrato de trabalho existentes, desde a fase
pré-contratual, na chamada oferta de emprego, até sua formalização, as alterações possíveis, a
duração e, mais tarde, a sua extinção.
Os exemplos das práticas usuais, organizados para cada conceito abordado neste componente
curricular, visam a sua formação como um profissional que perceba, entre os temas estudados
e as experiências cotidianas, aquele com o qual mais se identifique para o início de sua prática
enquanto operador do Direito. Por essa razão, o comprometimento com os estudos e a dedicação
no desenvolvimento das tarefas propostas serão de suma importância para que você possa cons-
tatar, a partir do conceito teórico, as situações de sua incidência na prática cotidiana, e assim
adquirir uma sólida formação profissional.
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
UNIDADE 1
Contrato de trabalho
Objetivo de aprendizagem:
Tópicos de estudo:
• Fase pré-contratual;
Iniciando os estudos:
Nesta unidade, você vai estudar a estrutura do contrato que rege a prestação empregatícia de trabalho.
Você sabe qual é a natureza jurídica de um contrato de trabalho? Quais são suas características e
peculiaridades?
Além de estudar os aspectos mais importantes do contrato de trabalho, que, como quaisquer
contratos, também pode ter uma formação progressiva, você vai conhecer as peculiaridades da
denominada fase pré-contratual. Vai aprender também quais são as modalidades de contrato de
trabalho, seus requisitos e demais características, para, ao final, compreender as circunstâncias que
possibilitam a alteração do contrato de trabalho.
Bons estudos!
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
1. FASE PRÉ-CONTRATUAL
Para chegar à evolução do Direito do Trabalho, em que o contrato é uma realidade que exprime
a prestação empregatícia de trabalho, permitindo, inclusive, a existência de uma fase pré-contra-
tual, muitas existências foram sacrificadas, até que se percebesse o ser humano que laborava no
construir do desenvolvimento material da sociedade.
Na Antiguidade, a relação que se dava no trabalho desenvolvido para terceiros era de escravidão.
No sentido material do trabalho, o escravo era um objeto, coisa, não sendo, pois, sujeito, mas, sim,
objeto de direito. Faltava, assim, um dos pressupostos da disciplina do Direito do Trabalho, que é
o de dois sujeitos de direito em uma relação jurídica.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Esse contexto de péssimas condições de trabalho surgiu em função dos ideais de liberdade
individual e autonomia privada postulados pela Revolução Francesa (burguesa), que levaram o
Estado a se afastar totalmente da produção de um mínimo regramento da atividade mercanti-
lista, deixando os trabalhadores à própria sorte.
Assim como os escravos deram lugar aos servos, agora os servos eram substituídos por uma quan-
tidade cada vez maior de assalariados, que utilizavam o produto de seu trabalho para a própria
subsistência e a de sua família. Na sociedade industrial, as condições de trabalho regrediram a
uma condição quase escravagista, exatamente porque o indivíduo ficou à sua própria mercê, sem
o Estado, que foi afastado da vida privada pela revolução burguesa e seus ideais liberais.
Uma das expressões que marcam a revolução burguesa, no campo econômico, é laissez faire,
laissez passer, locução francesa que significa “deixai fazer, deixai passar”. Atribuída a Turgot,
economista francês, foi usada para indicar uma política de despreocupação ou não interferência
do Estado em determinadas atividades econômicas dos cidadãos (LAISSEZ..., c2008-2021). Essa
ideia cunhou a fórmula do liberalismo econômico, em que se verifica a igualdade jurídica e polí-
tica do cidadão, proletário e soberano no Estado e, ao mesmo tempo, a desigualdade econômica,
pois esse mesmo cidadão era economicamente “escravo” na fábrica.
O Direito do Trabalho tem sua formação a partir de regulamentações, tais como: a proibição
do trabalho de menores à noite e de jornada superior a 12 horas diárias na Inglaterra (1802 a
1848); a criação de órgãos para dirimir as controvérsias entre fabricantes e operários (conseils
de prud’hommes) na França (1806); e a reivindicação de 8 horas diárias de trabalho, com a
greve dos trabalhadores de Chicago de 1º de maio de 1886.
Sua consolidação ocorre entre 1890 e 1919, período em que é editada a Encíclica Papal Rerum
Novarum (coisas novas) de Leão XIII, que preconiza o salário justo. Também nesse período,
são promulgadas a Constituição Mexicana (1917), que estabelece a jornada de 8 horas diárias
de trabalho e o salário mínimo, entre outros direitos, e a Constituição Alemã de Weimar (1919),
que marcou o estabelecimento dos direitos sociais em ruptura com o liberalismo.
Por fim, a autonomia do Direito nas relações trabalhistas surge com a criação, em 1919, da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), como parte do Tratado de Versalhes, que
buscava a relação tripartite entre governos, a organização de empregadores e trabalhadores
e a universalização do Direito do Trabalho.
A esse tempo, início do século XX, a precariedade do trabalho exercido nas fábricas resultou em
movimentos sociais que, como a Comuna de Paris, buscavam melhores condições sociais para
os indivíduos. É nessa atmosfera que começam a se cristalizar os chamados direitos humanos de
segunda geração, traduzidos no valor da igualdade, entre os quais se incluem trabalho, saúde,
educação e cultura (WOLKMER, 2013).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Após essa breve retomada histórica e antes de você acompanhar as características da fase pré-con-
tratual, é importante salientar que nosso estudo parte do conceito de contrato de trabalho enquanto
gênero, para o qual a relação de emprego ou contrato de emprego é a modalidade mais importante. Os
contratos de trabalho não se resumem a um único modelo.
Nossa Constituição, quando quer se referir a contrato de trabalho, utiliza a expressão “relação de trabalho”,
como no art. 114, I (na redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, que instituiu a reforma do
Poder Judiciário), em que consta competir “à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da
relação de trabalho” (BRASIL, 1988).
Há, inclusive, contrato de trabalho relativo à prestação de serviço e, por isso, regido pela legislação civil, como
se verifica nas disposições dos arts. 593 e 594 do Código Civil (Lei nº 10.406/2002):
Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei espe-
cial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo.
Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser
contratada mediante retribuição (BRASIL, 2002).
Acerca do contrato de trabalho enquanto gênero, Nascimento (2004), partindo do pressuposto de acei-
tação dessa premissa, alerta para a conveniência de verificar sua classificação num sentido que ultrapasse o
universo tradicional, quando então explicita:
[...] A divisão inicial deve levar em conta as grandes áreas jurídicas do trabalho humano,
que, segundo a antiga concepção binária, abrangia o trabalho autônomo e o subordi-
nado, e de acordo com a teoria contemporânea funda-se na divisão tridimensional entre
autonomia (trabalho para si), subordinação (trabalho para outro, sob seu comando jurí-
dico) e trabalho parassubordinado (trabalho com características híbridas de autonomia
e subordinação, que não se enquadra em nenhuma dessas duas áreas, tendendo para a
coordenação no lugar da subordinação) (NASCIMENTO, 2004, p. 415).
Modernamente, então, para classificar os tipos de trabalho em nossa sociedade capitalista e, por conse-
quência, os tipos de contratos de trabalho, são necessários os conceitos de trabalho desenvolvido para si
próprio (autônomo), trabalho realizado para outra pessoa e sob a sua subordinação (subordinado) e trabalho
que contenha esses dois elementos, de autonomia e subordinação (parassubordinado).
Feitas essas observações iniciais a respeito das relações de trabalho e do próprio contrato de trabalho,
entenda o que significa a fase pré-contratual.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
A chamada fase pré-contratual é aquela em que o trabalhador, então candidato, ainda não é considerado
empregado pelo empregador. Inicia-se na divulgação da vaga, passa pelas entrevistas com os candi-
datos, negociações entre empregado e empregador, para chegar à conclusão do contrato definitivo.
Nessa fase, é muito fácil perceber a desvantagem do trabalhador/candidato, cujo futuro como
empregado depende da efetivação do contrato de trabalho.
Essa efetivação pode não se operar por algum motivo alheio à vontade do trabalhador/candidato,
como é o caso de uma condição discriminatória, cuja tutela jurídica incidente nessa fase pré-con-
tratual pode se situar fora da seara trabalhista, razão pela qual se considera tratar-se de uma fase
que é campo aberto ao ilícito.
Contudo, a fase pré-contratual envolve uma relação jurídica que se constitui em um pré-contrato,
enquanto “ato jurídico perfeito e acabado que tem por objeto a promessa de celebração de
um contrato futuro e, portanto, com efeito vinculante às partes” (LEAL JR.; MARTINS, 2010, p. 23).
Figura 1 - Após a entrevista com o candidato a trabalhador, por vezes há uma expectativa de formalização de contrato de
trabalho que pode ensejar consequências jurídicas.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Assim, lembre-se: a relação jurídica pré-contratual que se constitui em um contrato preliminar, ou pré-con-
trato, deve pautar-se por regras de boa-fé objetiva, que se perfazem no comportamento a ser seguido pelos
pactuantes em quaisquer contratos, como honestidade, sigilo, informação, cuidado, lealdade e confiança.
O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (2ª Região) já proferiu decisão considerando a
fase pré-contratual como um contrato preliminar, diante da inexistência de um contrato de
trabalho propriamente dito. Pois se, por um lado, não exigiu o cumprimento da promessa do
vínculo empregatício, por outro, entendeu existir o dever de reparar o prejuízo experimentado
pelo rompimento das negociações preliminares:
Dano moral e material. Lesão pré-contratual. Promessa de contratação não honrada. Direito à
indenização. As negociações para o preenchimento de um posto de trabalho que ultrapassam
a fase de seleção geram para o trabalhador a esperança, senão a certeza, da contratação, carac-
terizando a formação de um pré-contrato de trabalho, que envolve obrigações recíprocas, bem
como o respeito aos princípios da lealdade e da boa-fé (art. 422 do Código Civil). Evidencia-se
a constatação do prejuízo na hipótese de o Reclamante pedir demissão do emprego anterior,
ficando desprovido de meios para sua subsistência e satisfação de seus compromissos finan-
ceiros. Devida a indenização por danos morais e materiais fixada na origem, nos termos dos
artigos 186 e 927 do Código Civil (TRT – 2ª Região – RO 01231-2008-067-02-00-3; Ac. 2010/0470429
– 11ª Turma, Relatora: Maria Aparecida Duenhas, DEJT 01/06/2010).
APROFUNDE-SE
Acompanhe, a partir da página 311, o raciocínio desenvolvido no julgamento proferido pelo Tribunal Regional do
Trabalho da 8ª Região, em 12 de novembro de 2019, no Recurso Ordinário Trabalhista nº 0001343-15.2018.5.08.0111.
Título: Pessoa com deficiência. Dano moral pré-contratual. Indenização. Princípio da boa-fé.
A perda de uma chance é instituto do Direito Civil, que se perfaz quando a interferência no curso
normal dos acontecimentos causa lesão a alguém, em face da expectativa que alimentava na
realização e concretização ou obtenção do resultado, no caso, ser contratado. Seu fundamento é a
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
prática do ato ilícito, remetendo ao dever de indenizar diante da responsabilidade civil, consoante
previsão dos arts. 186 e 927 do Código Civil:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
[...]
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
A aplicação subsidiária do Código Civil é assegurada pelo art. 8º, §1º, da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943, conformando o uso do
diálogo das fontes para que a norma possa se ajustar ao conflito.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Tema 992 do STF sobre as questões afetas à fase pré-contratual de seleção e
admissão de pessoal (CLT)
Entendendo a fase pré-contratual como todo o processo de seleção, desde a abertura e divul-
gação da vaga, recepção e triagem de currículos, entrevistas, até a efetiva contratação, o empre-
gador deverá adequar seu processo de seleção, principalmente no que se refere à manutenção
e ao tratamento do banco de currículos dos candidatos admitidos e daqueles não selecionados
para a vaga, diante do que dispõe a Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, conhecida como a Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Nas relações de trabalho, a LGPD tem incidência na fase pré-contratual, que contempla etapas
anteriores à celebração do contrato, como a coleta de informações sobre o candidato, currículo,
histórico, entre outros. Nessa fase, é importante observar as seguintes cautelas:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
REFLITA
emprego, de forma que a menção de se tratar de
Você conheceu os fundamentos da possibilidade de
interlocutora da reclamada foi produzida unilateral e
responsabilização de uma das partes por eventual
livremente pelo trabalhador.
dano na fase pré-contratual. Os Tribunais Federais do
Trabalho têm se debruçado na análise concreta das No mesmo sentido, confira outros julgamentos de
ocorrências de dano nessa fase. cortes da Justiça do Trabalho:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
2. MODALIDADES E DURAÇÃO
DO CONTRATO DE TRABALHO
O contrato é a forma jurídica que se estabelece numa economia de circulação mercantil como
ferramenta jurídica, em reflexo e apoio a essa economia, ou seja: para que alguém venda e alguém
compre, é imprescindível a existência da liberdade de contratar.
O contrato de trabalho é considerado pela doutrina um marco que separa a sociedade pré-in-
dustrial, pré-capitalista – em que o ser humano é obrigado pela força a prestar serviços subordi-
nados, sob regime de escravidão, servidão e outras formas de trabalho de exploração forçada –,
da sociedade industrial capitalista – em que vige a liberdade de trabalho –, modificando a relação
entre o trabalhador e o destinatário do seu trabalho, de modo que, formalmente, aquele trabalha
para este por sua livre e espontânea vontade.
Desse ponto de vista, o homem passa a ser senhor de si, a dirigir sua vida, tendo o direito de oferecer
ou não seu trabalho a um empregador, ou seja, possui livre escolha de emprego, ao qual não está
mais irrestritamente vinculado. Isso significa que não se trata mais de uma relação de exploração
ensejada e limitada a um senhor e seus escravos ou servos; agora, o indivíduo vende sua força de
trabalho por determinadas horas do seu dia a quem tenha capital para contratá-la.
Segundo o conceito comum, o contrato é um acordo de vontades firmado por duas ou mais pessoas,
capaz de criar, modificar ou extinguir direitos. No caso de um contrato de trabalho, pode ser individual
ou coletivo.
O contrato individual tem sua definição no art. 442 da CLT, como ajuste que corresponde à
relação de emprego na qual o empregador utiliza e remunera a energia pessoal de pessoa física
que coloca seus serviços à disposição daquele, com pessoalidade, não eventualidade, onerosi-
dade e subordinação.
◊ tácito ou expresso;
◊ verbal ou escrito;
◊ intermitente.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Expresso é o contrato de trabalho em que as partes manifestam sua vontade literal e inequi-
vocamente exteriorizada, de modo claro, indubitável e consciente: o trabalhador, no sentido de
oferecer sua força de trabalho, e o empregador, com o propósito de contar com a energia pessoal
de alguém que pretende vendê-la sob a forma de trabalho.
No contrato de trabalho tácito, a manifestação da vontade das partes ocorre não por declaração
expressa, mas implícita nos respectivos comportamentos. Nesse caso, o contrato prescinde da
existência de documento afirmando a existência da relação de emprego, ou até da comprovação
do ajuste verbal, pois está implícito no comportamento de alguém que, permitindo continua-
mente o serviço subordinado de outrem em seu benefício e remunerando-o, demonstra sufi-
cientemente a vontade que os move nesse comportamento revelado por ambos.
Escrita é a forma contratual expressa em documento escrito, de pacto específico entre as partes
que o assinam, contendo o nome e a qualificação do empregador e do empregado, o objeto do
contrato, direitos e obrigações dos contratantes, como jornada, entre outros. O contrato escrito é
obrigatório em algumas hipóteses, como nos contratos de menor aprendiz a que se refere o art.
428 da CLT; de atleta profissional de futebol, conforme o art. 29 da Lei nº 9.615/1998; no contrato
de trabalho temporário de que trata o art. 11 da Lei nº 6.019/1974; e no contrato por prazo deter-
minado, cuja natureza de limite temporal de que se reveste exigirá comprovação nos casos de
controvérsia.
Por fim, importante ressaltar que o contrato escrito também se caracteriza pela simples assina-
tura da CTPS, conforme é possível verificar na própria estrutura do art. 29 da CLT.
Figura 2 - A simples assinatura da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) caracteriza um contrato de trabalho.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
O prazo indeterminado é a regra na pactuação dos contratos de trabalho que atende ao princípio
da continuidade da relação de emprego, em que o empregado é integrado de modo permanente
e contribui com seu labor para o crescimento da empresa.
Por se tratar de regra geral, em função do princípio mencionado, incide como presunção (rela-
tiva) em qualquer contratação em que a relação de emprego foi pactuada sem determinação de
prazo, salvo se existir prova em sentido contrário, conforme entendimento exposto na Súmula 212
do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
O contrato de trabalho por tempo determinado, na definição legal do §1º do art. 443 da CLT, é o
pacto celebrado por tempo certo e determinado, ou cujo término tenha ao menos uma previsão
aproximada, ou seja, as partes já sabem, desde o início, o fim exato ou aproximado do contrato.
Nada sendo estipulado sobre o termo final, o contrato será considerado por tempo indeterminado.
Por se tratar de exceção à regra geral de contratação por prazo indeterminado, o contrato a
termo somente será válido nos casos previstos na CLT ou legislação esparsa, como o contrato por
obra certa da Lei nº 2.959/1956, o contrato de safra da Lei nº 5.889/1973, o contrato de trabalho
temporário da Lei nº 6.019/1974, o contrato de trabalho do atleta profissional da Lei nº 9.615/1998,
o contrato de trabalho do artista da Lei nº 6.533/1978, entre outros.
Na CLT, o art. 443, §2º, especifica as hipóteses e a transitoriedade do serviço ou atividade empre-
sarial necessárias à validade do contrato de trabalho por tempo determinado:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
O prazo máximo de duração dos contratos por tempo determinado da CLT é de 2 (dois) anos para
serviços e atividades empresariais transitórias e 90 (noventa) dias no contrato de experiência (art. 445).
Expressa ou tacitamente só pode ser prorrogado por uma única vez, quando passa a vigorar por
prazo indeterminado (art. 451, CLT), e a soma do período de contratação e sua prorrogação não
pode ultrapassar 90 dias, como preconiza a Súmula 188 do TST.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
APROFUNDE-SE
Neste vídeo, produzido pelo Tribunal Regional da 2ª Região (o TRT de São Paulo), você vai ter uma explicação
trabalhada das diferenças entre o contrato por tempo determinado e o contrato temporário.
O contrato de trabalho intermitente foi incluído pela Reforma Trabalhista de 2017, pela Lei nº
13.467 (DOU de 14/07/2017), por meio do acréscimo do §3º ao art. 443 da CLT, que assim o conceitua:
Art. 443
[...]
Considerada modalidade atípica do contrato de trabalho, tem sua disciplina no art. 452-A da CLT:
• Referido contrato deve ser celebrado por escrito e registrado na CTPS, contendo o valor
da hora de trabalho, não inferior ao valor horário do salário-mínimo nem ao valor devido
aos demais empregados que exerçam a mesma função na empresa em qualquer
espécie de contrato (art. 452-A, caput, CLT).
• Aceita a oferta na convocação para o trabalho, a parte que a descumprir, sem justo
motivo, sujeita-se, no prazo de 30 dias, a multa de 50% (cinquenta por cento) da remu-
neração que seria devida (§4º, art. 452-A, CLT).
• No período em que o empregado não está à disposição do empregador, não sendo, por
isso, remunerado, poderá prestar serviços a outros contratantes (§5º, art. 452-A, CLT).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Até aqui, você conheceu a regra geral, que é o contrato de trabalho por tempo indeterminado, e
sua exceção, na contratação por prazo determinado (art. 443, CLT).
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Contrato por prazo determinado instituído por convenção coletiva ou por acordo
coletivo de trabalho (Lei nº 9.601/1998)
3. ALTERAÇÃO DO
CONTRATO DE TRABALHO
Como uma das categorias do Direito Contratual, o contrato de trabalho se submete aos seus
princípios fundamentais, entre os quais o clássico princípio expressado pela máxima pacta sunt
servanda, ou seja, a livre e válida estipulação entre as partes deve ser fielmente cumprida,
a fim de que haja segurança jurídica nas relações contratuais. Deriva desse conceito a regra
de que o contrato é considerado lei entre as partes, tornando-se intangível e imutável, podendo
apenas ser alterado por vontade de ambas as partes, em certos casos, ou por força maior ou caso
fortuito, conforme estipula para os contratos em geral o Código Civil, a partir do art. 421.
Essa regra se verifica na CLT, cujas alterações no contrato de trabalho são disciplinadas, sob o
aspecto geral, no art. 468 e, em relação à situação específica de transferência do empregado, no
art. 469:
Art. 468. Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições
por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente,
prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.
[...]
Art. 469. Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para locali-
dade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acar-
retar necessariamente a mudança de seu domicílio (BRASIL, 2020).
Então, em resumo ao art. 468 e art. 469, a alteração de contrato de trabalho só é permitida:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Você pode verificar que a literalidade do art. 468 da CLT proíbe o empregador de alterar qualquer
condição de trabalho unilateralmente e, conforme ensina Nascimento (2004), mais que impedir
a alteração contratual sem consenso,
Impede até mesmo a modificação bilateral, consentida, portanto, pelo trabalhador, desde
que dela possam resultar-lhe prejuízos, caso em que tem o direito de pleitear a anulação do
ato danoso e a restituição das condições de trabalho vigentes antes da alteração (NASCI-
MENTO, 2004, p. 689-690).
Todavia, como a CLT não elucida como deverá ser exercido o consentimento do empregado,
considerando as formas expressa e tácita para sua celebração, previstas anteriormente no art.
442, tem eficácia jurídica a concordância do empregado por documento assinado ou pela inexis-
tência a de oposição, caracterizando concordância tácita.
A falta de um texto legal claro e objetivo provoca uma quantidade de interpretações conflitantes,
cujo entendimento dos precedentes jurisprudenciais do TST, em suas interpretações vinculantes,
unificam. Veja alguns exemplos importantes:
Norma regulamentar. Vantagens e opção pelo novo regulamento. Art. 468 da CLT
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Figura 3 - Mais que buscar equilíbrio e razão nas relações de trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho é o guardião do
ordenamento jurídico federal trabalhista.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
Quanto à Súmula 51 do TST, acima transcrita, ela deve ser lida na perspectiva do art. 611-A, acrescido
à CLT pela Lei nº 13.467, de 13/07/2017: “A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm
prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: [...] VI – regulamento empresarial”.
Ou seja, permite-se uma alteração prejudicial do contrato de trabalho pelo instrumento coletivo,
que tem o poder de revogar, alterar ou suprimir qualquer vantagem que antes era prevista por
regimento ou regulamento interno da empresa.
Mesmo sendo a alteração bilateral a regra do art. 468 da CLT, como o empregador assume os riscos
da atividade econômica, e considerando o poder de gerência que possui o patrão no comando e
gestão da empresa, a doutrina admite que o empregador realize algumas pequenas alterações
no contrato de trabalho de forma unilateral, em casos excepcionais e se no exercício do comando
da atividade produtiva, desde que não causem prejuízos ao trabalhador, o que a doutrina deno-
mina como princípio do jus variandi.
Todavia, abusando o patrão do jus variandi, o trabalhador terá direito de se opor e resistir caso consi-
dere abusivo o comando do empregador, ao que a doutrina denomina de jus resistentiae.
Já a regra contida no caput do art. 469 da CLT considera a transferência de empregado dentro do
território nacional como alteração do lugar da prestação de serviços e, portanto, como hipótese
de modificação do contrato de trabalho, exigindo, por isso, a concordância do empregado para
sua transferência definitiva, exceto se a transferência não acarretar a mudança de seu domicílio.
APROFUNDE-SE
Neste artigo, você vai acompanhar os novos desafios do Direito do Trabalho com as alterações provocadas
pelo avanço da tecnologia, que trouxeram formas inéditas de prestações, como o teletrabalho e o trabalho por
plataformas digitais.
Título: Apontamentos sobre o meio ambiente do trabalho e as novas formas de prestação do trabalho
A transferência definitiva e unilateral imposta pelo empregado só é admitida nas seguintes hipó-
teses: (a) quando os empregados exercerem cargos de confiança; (b) quando o contrato tiver
como condição, implícita ou explícita, a transferência do empregado por real necessidade de
serviço; (c) quando a transferência decorrer da extinção do estabelecimento em que trabalhar o
empregado (art. 469, §§1º e 2º, da CLT).
O §3º do art. 469 da CLT permite, ainda, a transferência provisória do empregado, imposta pelo
empregador (unilateral), se ela decorrer de uma real necessidade do serviço, mas impõe um
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
pagamento suplementar nunca inferior a 25% dos salários percebidos pelo obreiro, enquanto
durar essa transferência provisória.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Contrato de trabalho: regime presencial e teletrabalho
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, no início do primeiro tópico, você teve um breve panorama sobre a evolução histó-
rica da relação trabalhista, desde as relações no mundo antigo e no mundo medieval, em que não
havia as estruturas jurídicas que conhecemos hoje (porque também o Estado não estava estrutu-
rado sob uma forma jurídica organizada), até o surgimento mais definido dessas estruturas com
a circulação mercantil e a exploração do trabalho de maneira assalariada.
Você também conheceu a fase de formação da relação trabalhista, quando ainda não há o
contrato de trabalho. Nessa fase, chamada pré-contratual, apesar da regra de celebração instan-
tânea, verificam-se algumas etapas constituídas por conversações e entendimento preliminares
que, mesmo sem o propósito de obrigar o proponente, diante do princípio da boa-fé, podem criar
expectativas de conclusão do contrato que, se não obrigam, também não deixam de produzir
efeitos jurídicos, nos casos de prejuízos causados à parte que não deu causa ao rompimento sem
motivo justo, razoável e com violação ao dever de boa-fé.
Por fim, conheceu as alterações possíveis do contrato de trabalho, suas premissas de consensua-
lidade e não prejudicialidade e as consequências correlatas de inobservância dessas regras.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
GLOSSÁRIO
Pacta sunt servanda: do latim, “os pactos devem ser observados”, ou seja, aquilo que as partes,
de comum acordo, estipularam e aceitaram deverá ser fielmente cumprido.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1943). Organização de Eliezer de Queiroz
Noleto. 2. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados / Edições Câmara, 2020. (Série Legislação, 13).
E-book. Disponível em: https://livraria.camara.leg.br/index.php?route=product/product&pro-
duct_id=327 Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 2.959, de 17 de novembro de 1956. Altera o Del nº 5.452, de 01/05/32 (CLT), e dispõe
sobre os contratos por obra o serviço certo. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L2959.htm Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973. Estatui normas reguladoras do trabalho rural. Dispo-
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5889.htm Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas
Urbanas, e dá outras Providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6019.
htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978. Dispõe sobre a regulamentação das profissões de
Artistas e de técnico em Espetáculos de Diversões, e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6533.htm Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm Acesso em:
31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), apro-
vada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974,
8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas
relações de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/
l13467.htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm Acesso em:
31 mar. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 51. I – As cláusulas regulamentares, que revo-
guem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos
após a revogação ou alteração do regulamento. II – Havendo a coexistência de dois regulamentos
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do
sistema do outro. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2005. Disponível em: https://www3.
tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_51_100.html#SUM-51 Acesso em: 29
abr. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 188. O contrato de experiência pode ser prorro-
gado, respeitado o limite máximo de 90 (noventa) dias. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho,
2003. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_
Ind_151_200.html#SUM-188 Acesso em: 29 abr. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 212. O ônus de provar o término do contrato de
trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o
princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado.
Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurispru-
dencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201_250.html#SUM-212 Acesso em: 29 abr. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 372. I – Percebida a gratificação de função por
dez ou mais anos pelo empregado, se o empregador, sem justo motivo, revertê-lo a seu cargo
efetivo, não poderá retirar-lhe a gratificação tendo em vista o princípio da estabilidade financeira.
II – Mantido o empregado no exercício da função comissionada, não pode o empregador reduzir
o valor da gratificação. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2005. Disponível em: https://
www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_351_400.html#SUM-372
Acesso em: 29 abr. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 1.199/89.9, Hylo Gurgel; Ac. 2. T. 2.967/91.
NJDT, 1. sem. 1997.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 3.069/86.6, 1. T., Rel. Min. Marco Aurélio
Mendes de Faria Mello. Diário da Justiça da União, p. 1079, 6 fev. 1987; LTr, v. 51, n. 4, p. 446.
KREIN, José Dari; OLIVEIRA, Roberto Véras de; FILGUEIRAS, Vitor Araújo. As Reformas Traba-
lhistas: promessas e impactos na vida de quem trabalha. Caderno CRH, Salvador, v. 32, n. 86,
p. 225-229, maio/ago. 2019 Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0103-49792019000200225&lng=en&nrm=iso Acesso em: 31 mar. 2021.
LAISSEZ faire, laissez passer. In: DICIONÁRIO Priberam da língua portuguesa, c2008-2021. Dispo-
nível em: https://dicionario.priberam.org/laissez%20faire,%20laissez%20passer Acesso em: 31
mar. 2021.
LEAL JR., João Carlos; MARTINS, Pedro Henrique Machado. Responsabilidade civil do empregador
no pré-contrato de trabalho. Revista Justiça do Trabalho, v. 27, 2010.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 1 - Contrato de trabalho
WOLKMER, Antônio Carlos. Introdução aos fundamentos de uma teoria geral dos “novos” direitos.
Revista Jurídica, [S. l.], v. 2, n. 31, p. 121-148, ago. 2013. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.
br/index.php/RevJur/article/view/593/454 Acesso em: 31 mar. 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
UNIDADE 2
Obrigações trabalhistas e
princípios do Direito do Trabalho
Objetivos de aprendizagem:
Tópicos de estudo:
Iniciando os estudos:
Antes de você iniciar os estudos desta unidade, entendemos que é importante ressaltar a lógica do enca-
deamento dos tópicos que se seguem, para tornar mais fáceis e congruentes nossos objetivos e a função
prática.
Você estudará primeiramente os princípios aplicáveis ao Direito do Trabalho. A natureza de sua impor-
tância e hierarquia não é pacífica no mundo jurídico, mas há unicidade no fato de esses princípios
possuírem função de auxiliar tanto na elaboração quanto na interpretação e aplicação da legislação, em
quaisquer dos ramos do Direito.
Após entender a interpretação e aplicação da legislação para cumprimento das obrigações trabalhistas,
você estudará e identificará as ocorrências de descumprimento e suas consequências, com auxílio das
competências adquiridas nos preceitos fundamentais ou diretrizes, que servem de fundamento da disci-
plina do Direito Trabalhista.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
1. PRINCÍPIOS DO DIREITO
DO TRABALHO
Você já deve ter se perguntado: por que toda disciplina no curso de Direito começa com o estudo
dos princípios?
Também deve ter visto a importância dos princípios na sua introdução ao estudo do Direito, mas
gostaria de destacar a clarificante e fundamental observação de Miguel Reale, em suas Lições
preliminares de Direito (2001), de que toda forma de conhecimento científico ou filosófico implica
a existência de certos enunciados lógicos, admitidos como condição ou base de validade das
demais afirmações que compõem um determinado campo do saber, quais sejam, os princípios.
Ainda nessa obra, Miguel Reale destaca que essa observação se refere apenas ao significado
lógico da palavra “princípio”, que em nosso cotidiano possui sentido ético e ocorre “quando
demonstramos respeito pelos ‘homens de princípios’, fiéis, na vida prática, às suas convicções de
ordem moral” (REALE, 2001, p. 299).
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: As regras ou princípios de Direito Internacional da OIT que influenciaram os
princípios do Direito do Trabalho na CLT e na Constituição do Brasil de 1988
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
O professor Reale (2001, p. 285) discrimina três categorias de princípios que se aplicam às formas
de saber, como você pode observar no diagrama 1:
CATEGORIAS
DE PRINCÍPIOS
Princípios plurivalentes
Princípios monovalentes
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Alguns princípios adotados em vários campos da ciência do Direito se aplicam ao Direito do Trabalho, como,
por exemplo, os princípios gerais estabelecidos em nossa Constituição Federal – o princípio do contradi-
tório e direito de defesa, consagrado no art. 5º, LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ele
inerentes” (BRASIL, 2020). Da mesma forma, também se aplicam alguns princípios da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro (LINDB) (Decreto-Lei nº 4.657/1942, com redação dada pela Lei nº 12.376/2010) –
o princípio da continuidade da lei, segundo o qual a lei, a partir da sua entrada em vigor, tem sua eficácia
contínua, até que outra lei a revogue ou modifique (art. 2º, LINDB); e o princípio da obrigatoriedade da
norma, sob o qual ninguém pode deixar de cumprir a lei, alegando não a conhecer (art. 3º, LINDB).
Ainda que a Constituição Federal de 1988 não tenha enumerado expressamente os princípios do Direito do
Trabalho, a exemplo dos princípios de Direito Tributário (art. 150) e da Seguridade Social (art. 194), verificam-se,
no texto constitucional, postulados principiológicos aos quais as normas trabalhistas devem respeito, como
a dignidade humana do trabalhador e os valores sociais do trabalho, presentes logo de início nos incisos
III e IV do art. 1º da Carta Magna.
Da mesma forma, outras regras contidas na Constituição de 1988 têm função eminentemente principioló-
gica aplicável ao Direito do Trabalho, conforme a seguir exemplificamos:
[...]
• I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Cons-
tituição; [isonomia]
[...]
[...]
[...]
• XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades funda-
mentais; [não discriminação]
[...]
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
• Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
[...]
[...]
[...]
[...]
[...]
• Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais” (BRASIL, 1988, grifo nosso).
APROFUNDE-SE
Leia a atualíssima síntese do tema apresentado pelo ilustre professor Nelson Mannrich durante o 56º Congresso
Brasileiro de Direito do Trabalho, promovido pela LTr Editora em São Paulo, em junho de 2016, antes, portanto, da
promulgação da principal lei da Reforma Trabalhista. Ele traz a visão pragmática dos princípios nesse contexto de
crise vs. Reforma. Nelson Mannrich é titular de Direito do Trabalho da USP, advogado e presidente honorário da
Academia Brasileira de Direito do Trabalho.
O art. 8º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, conforme destaca Amauri Mascaro Nascimento (2014), enuncia um único princípio, o da prevalência do
bem comum, explicitando que ele tem uma função, qual seja, a de integrar as lacunas. Eis o artigo:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Esse postulado do art. 8º da CLT dispõe sobre o uso dos princípios, juntamente com técnicas de integração do
Direito, como a analogia e a equidade, como critérios de solução das controvérsias, quando ausentes as leis, a
jurisprudência e as regras contratuais. Essa nivelação dos princípios do Direito do Trabalho com as técnicas de
integração do Direito, na falta de disposições legais ou contratuais, é criticada pelo professor Amauri Mascaro,
por reduzir os princípios à simples “função retificadora das injustiças da lei” (NASCIMENTO, 2014, p. 354).
Como disse no início deste tópico, existem princípios forjados especificamente no ramo da ciência
jurídica do Direito do Trabalho e que também se aplicam às relações trabalhistas, além dos prin-
cípios gerais acima indicados, conforme você poderá conferir.
Princípio da proteção: tem como propósito assegurar a igualdade jurídica entre os sujeitos
da relação jurídica trabalhista, para proteger a parte economicamente mais fraca dessa
relação de trabalho, ou seja, o trabalhador, da mesma forma como o Direito Civil assegura a
igualdade jurídica entre os contratantes.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Assim, havendo dúvida entre vários sentidos da norma, escolhe-se aquele que seja mais favo-
rável ao trabalhador – in dubio pro operario – ou, se não houver dúvida, mas houver mais
de uma norma aplicável, escolhe-se a mais favorável, possibilitando a inversão de hierarquia
entre as normas (Constituição, lei, regulamento, convenção). Esse princípio permite ao traba-
lhador exercitar o direito de ação e o acesso à justiça, para postular direito sonegado pelo
empregador, que não pode em retaliação dispensar o trabalhador reclamante.
Todavia, esse princípio foi recentemente flexibilizado (fragilizado) pela Lei nº 13.467/2017
(Reforma Trabalhista), que ampliou a autonomia individual, validando as pactuações decor-
rentes de acordo direto entre empregado e empregador, através da redação do parágrafo
único do art. 444 da CLT, que inseriu no ordenamento jurídico trabalhista a figura do traba-
lhador hipersuficiente, considerado, tecnicamente, como aquele portador de diploma de
nível superior e, economicamente, como aquele com salário mensal igual ou superior a duas
vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. Ainda nesse
sentido, acrescentou-se, na redação do art. 620 da CLT, que as condições fixadas em acordo
coletivo de trabalho prevaleçam sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho.
Este é outro princípio relativizado pela Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017), que inseriu
a possibilidade de rescisão do contrato de trabalho de comum acordo entre as partes (art.
484-A, CLT), facilitando ao empregador proceder às dispensas individuais, plúrimas ou
coletivas, sem necessitar de prévia autorização da entidade sindical ou de celebração de
convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho (art. 477-A, CLT).
Princípio da primazia da realidade: significa a preferência dos fatos que ocorrem na prática
da prestação de serviços, em detrimento dos documentos que corporificam o contrato de
trabalho, no caso de haver incoerência entre eles.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Neste princípio, há predominância da realidade sobre a forma, visando impedir atos frau-
dulentos do empregador, com o objetivo de mascarar o vínculo de emprego existente ou
reduzir os direitos realmente devidos.
Princípio da boa-fé: este é o princípio presente em todos os ramos do Direito, porque a ele
está umbilicalmente ligado, sendo no Direito do Trabalho indicado tanto ao empregado, que
deve desempenhar com empenho e diligência suas tarefas, como ao empregador, que a seu
turno deve cumprir lealmente suas obrigações com o trabalhador, na celebração e execução
do contrato de trabalho.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
2. OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS
CONTRATUAIS E LEGAIS
Ao estudar Teoria Geral dos Contratos em Direito Civil, você já encontra no conceito de contrato
o indicativo das obrigações que dele decorrem, ou seja, exatamente o fato de o contrato ser um
pacto, um acordo tácito ou expresso, pelo qual as partes pactuantes ajustam direitos e, portanto,
obrigações recíprocas.
Por ser um conceito jurídico que regula uma relação entre duas partes, o conteúdo do contrato
de emprego é principalmente heterônomo, ou seja, sujeito a uma lei exterior, com destaque para
a CLT, na qual é fácil identificar as chamadas obrigações legais como aquelas decorrentes dos
direitos de personalidade, ao meio ambiente do trabalho, assim como os obrigatórios descansos
diários, semanais e anuais, os preceitos de proteção dos salários, aviso prévio, indenização de
dispensa sem justa causa, proteção em casos de doença ou acidentes do trabalho e até mesmo,
em determinadas situações, a defesa do emprego.
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Figura 2 - O conteúdo do contrato de emprego é sujeito a uma lei exterior, com destaque para a CLT.
Tais normas da CLT podem ser mitigadas ou maximizadas. O art. 73, por exemplo, prescreve o
dever do pagamento de um adicional de 20% sobre a hora normal aos empregados que traba-
lharem no período noturno, o chamado adicional noturno. No entanto, as convenções e acordos
coletivos firmados pelos sindicatos podem estabelecer condições mais favoráveis e superiores a
esses percentuais dispostos em lei, em média de 30 ou 35%.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
A convenção ou acordo coletivo de trabalho são regras estabelecidas de comum acordo pelos interes-
sados, tais como os contratos de emprego e o regulamento interno de uma empresa, elaborados em
comum acordo com os empregados, sendo todos fontes autônomas do Direito Trabalhista.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Como a Justiça e os trabalhadores estão percebendo os novos empregos criados
na era das plataformas digitais
De outro modo, a Constituição Federal, as leis (entre elas a CLT), os decretos e as sentenças norma-
tivas são regras impostas unilateralmente por agentes externos aos pactos trabalhistas, daí serem
chamadas fontes heterônomas do Direito Trabalhista.
As fontes heterônomas são aquelas cujo comando normativo vem de fora da vontade das partes
na relação de trabalho, quais sejam: o Estado (Constituição, lei), o tribunal do trabalho ou o próprio
empregador.
Figura 3 - Fontes heterônomas são aquelas cujo comando normativo vem de fora da vontade das partes na relação de
trabalho.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Exatamente diante dessa diversidade de fontes do Direito Trabalhista é que surge o princípio da
proteção, para considerar prevalente a regra mais benéfica ao empregado, em conformidade
com a vigência, interpretação e aplicação prática da legislação trabalhista.
As obrigações próprias e decorrentes dos efeitos contratuais dizem respeito a dois sujeitos da
relação jurídica trabalhista, ou relação jurídica de emprego, como denominam alguns doutrina-
dores, quais sejam: o empregador e o empregado. Tais obrigações não destoam daquelas que
estão presentes na lição clássica das obrigações do Direito Civil: de dar, fazer e não fazer.
No que se refere às obrigações do empregado (ou obreiro), decorrentes dos efeitos prin-
cipais do contrato de emprego (ou de trabalho), são elas, em sua maioria, obrigações de
fazer, cuja principal manifestação se dá em sua conduta ou comportamento, em seu agir na
prestação dos serviços para os quais foi contratado, como é o caso da boa-fé, diligência, assi-
duidade na execução dos serviços de sua atividade laboral, fidelidade quanto aos segredos
da empresa, entre outras obrigações afins.
Mas há também para o empregado obrigações de não fazer, que se caracterizam pela
necessária conduta omissiva, como a abstenção de exercer atividades concorrentes com as
atividades fim praticadas pelo empregador e de revelar segredos comerciais ou industriais
(sigilo, confidencialidade), seja em função da essência da atividade para o qual foi contra-
tado, seja por constar expressa ou tacitamente em cláusula do contrato.
O contrato de trabalho envolve confiança (fidúcia) entre as partes, razão pela qual impõe conduta
do empregado em obrigações de fazer e não fazer.
Outro efeito do contrato de trabalho que pode ser encarado como obrigação, porque é responsa-
bilidade, e cuja omissão pode gerar consequências, é o poder de direção do empregador, do qual
decorrem o poder/dever disciplinar, o poder/dever de organização e o poder/dever de controle.
Esses poderes/deveres estão compreendidos na própria estrutura da relação jurídica empregatícia.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
REFLITA
79.2020.5.00.0000, publicada no DEJT em 15/04/2020)
O TRT da 2ª Região (São Paulo), em dissídio coletivo
sob o fundamento de que, na manutenção de serviço
de natureza jurídica, liberou das atividades presenciais
entendido como essencial, “não justifica minimizar
os empregados e terceirizados da Companhia do
a adoção de medidas de segurança e saúde em
Metropolitano de São Paulo (Metrô) que estivessem
relação aos empregados”, sendo as medidas deferidas
nas hipóteses de grupos de risco de contágio
condizentes com as orientações de autoridades
da Covid-19 (p. ex.: idosos com 60 anos ou mais,
públicas de saúde para atenuar a disseminação do
hipertensos, cardíacos etc.) e determinou ainda
vírus no combate à pandemia, em benefício dos
que fossem fornecidos álcool em gel e máscara de
trabalhadores e de toda a sociedade, sem implicar
proteção individual para os demais empregados,
paralisação da empresa.
inclusive sob pena de multa diária cumulativa de
R$50.000,00 em caso de descumprimento de cada No terceiro caso, o TST (Suspensão de Liminar e de
uma das determinações. Sentença 1000302-89.2020.5.00.0000, publicada
no DEJT em 17/04/2020) suspendeu a liminar com
O TRT da 1ª Região (Rio de Janeiro), em julgamento
a ECT, permitindo o desconto das parcelas que
de mandado de segurança, manteve liminar que
decorrem do desempenho do trabalho em condições
determinou às Agências de Correios e Unidades de
específicas (salário-condição), por entender que o
Distribuição nos municípios do Estado do Rio de
exercício do trabalho remoto elimina essas condições
Janeiro que fornecessem a todos os empregados
de pagamento das verbas por desempenho, o que
que atuam no atendimento ao público externo e na
autoriza sua supressão e não caracteriza redução
distribuição externa o fornecimento individualizado de
salarial.
máscaras, luvas, talheres, copos e pratos descartáveis.
Diante de tais casos concretos, pondere sobre a
O TRT da 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins),
possível valorização excessiva do rigor técnico,
num julgamento que envolvia a Empresa Brasileira de
sinalizando que, independentemente da urgência
Correios e Telégrafos (ECT), deferiu liminar impedindo
própria das questões afetas ao coronavírus, os
o desconto dos empregados que estivessem em
instrumentos jurídicos utilizados pelas partes e as
trabalho remoto, por pertencerem ao grupo de risco
decisões judiciais devem observar estritamente
da Covid-19, das parcelas relativas à remuneração do
as regras legais, sem qualquer mitigação razoável.
desempenho do trabalho em condições presenciais
Leve em consideração a importância que o próprio
específicas.
TST deu ao combate da pandemia em prol dos
No primeiro caso, o TST, em recurso do Metrô trabalhadores e de toda a sociedade, quando buscou
(Suspensão de Liminar e de Sentença 1000317- conciliar a manutenção das atividades empresariais
58.2020.5.00.0000, publicada no DEJT em 07/04/2020), e a adoção de medidas de segurança e saúde para os
suspendeu as liminares por entender que se tratava empregados, afastando inclusive o argumento de que
de obrigações próprias de demandas condenatórias, tais medidas poderiam prejudicar o funcionamento
e não da natureza jurídica do dissídio coletivo, que se empresarial, entendendo que sua adoção não
presta apenas à declaração de interpretação de norma implicaria paralisação da empresa.
geral.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
• Exame médico periódico: efetuado no mínimo uma vez ao ano, para os trabalha-
dores não expostos a riscos ocupacionais que sejam menores de 18 anos ou maiores
de 45 anos.
• Relação Anual de Informações Sociais (RAIS): apresentada uma vez ao ano pelos
empregadores (empresas e equiparados).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Principais obrigações trabalhistas mensais em todos os meses do ano, desde que exista o
fato ensejador de sua ocorrência:
• Março: prazo final para entrega da RAIS; prazo para as empresas que optem pelo
serviço único de engenharia e medicina elaborarem e submeterem à aprovação da
Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho o programa bienal de segurança e
medicina do trabalho a ser desenvolvido.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
APROFUNDE-SE
Veja, nesta original tese, apresentada em 2015 por Cristiane Oliveira Reimberg à Escola de Comunicação e Artes
de São Paulo, para obtenção do título de Doutora em Ciências da Comunicação, o interessante capítulo 2, que traz
assuntos muito pouco tratados acerca das obrigações decorrentes dos direitos do trabalhador jornalista, como as
formas de contratação, a jornada de trabalho, os plantões, a compensação de horas e a não remuneração de hora
extra, além da dificuldade de efetivação desses direitos/obrigações nessa categoria.
Título: O exercício da atividade jornalística na visão dos profissionais: sofrimento e prazer na perspectiva teórica da
psicodinâmica do trabalho
3. DESCUMPRIMENTO DAS
OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS
PELO EMPREGADOR
A relação jurídica trabalhista é espécie do gênero relação jurídica, que representa “um dos
elementos essenciais da experiência jurídica” (REALE, 2001, p. 198), levando à afirmação do jurista
alemão Rudolf von Ihering de que a relação jurídica está para a ciência do Direito assim como o
alfabeto está para a palavra (IHERING apud ANDRADE, 1997, p. 1-3).
Por sua vez, a relação jurídica é uma espécie de relação social regulada pelo Direito e tipificada por uma
norma jurídica – no caso da relação jurídica trabalhista, pela Constituição Federal e pela legislação
infraconstitucional destacada pela CLT.
Sendo o homem um ser social, suas condutas em sociedade são reguladas por regras determi-
nantes e condicionantes de seus atos, visando fins máximos como a preservação da vida humana,
a segurança jurídica de suas relações econômico-sociais e a sua dignidade. As relações de trabalho
decorrem de fatos sociais surgidos na relação entre o trabalho físico e/ou intelectual de um homem,
na busca de resultados econômicos para garantir sua subsistência, e o capital de outro homem
que remunera o trabalho daquele.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
As normas jurídicas que regem as relações trabalhistas visam a garantia do trabalho, desempe-
nhado de forma física e/ou intelectual, e por meio do qual o homem busca resultados econô-
micos para a manutenção de suas necessidades. Em outras palavras, essas normas procuram
auxiliar as pessoas físicas que dependem do produto de seu trabalho para a subsistência própria
e de suas famílias a satisfazer convenientemente suas necessidades vitais e a ter acesso a bens e
propriedade.
Nos conhecidos requisitos para que haja uma relação jurídica, estão o vínculo entre duas ou mais
pessoas, ou seja, uma relação intersubjetiva, assim como a correspondência desse vínculo com
uma hipótese normativa, de tal modo que, no plano da experiência, da realidade, derivem conse-
quências obrigatórias.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
O descumprimento de uma obrigação legal pode configurar um ato jurídico ilícito, cuja definição
legal informa se tratar de toda atuação humana, omissiva ou comissiva, negligente ou impru-
dente, que viole o Direito, ainda que não cause danos a alguém (art. 186, Lei nº 10.406/2002, CC).
Após essas premissas colocadas, é possível você vislumbrar que o descumprimento das obrigações traba-
lhistas pelo empregador pode ocorrer por infração ao contrato de trabalho ou à legislação trabalhista.
Esse descumprimento das obrigações trabalhistas legais ou contratuais pelo empregador enseja
consequências diversas, possibilitando, inclusive, a sanção contratual ou legal.
Consoante o art. 483 da CLT, o descumprimento de obrigação contratual pelo empregador, ou por
seus prepostos, superiores hierárquicos do empregado, caracteriza-se como forma de extinção
do contrato de trabalho, também denominada rescisão indireta ou dispensa indireta por inicia-
tiva do empregado, provocada por ato faltoso do empregador, também designada justa causa
motivada por um ato do empregador.
Figura 5 - Um dos feixes de consequências do descumprimento da obrigação contratual pelo empregador é a extinção do
contrato de trabalho.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
• Exigir do empregado serviços proibidos por lei, quer por caracterizarem crime ou
contravenção penal, quer por serem vedados à sua condição, como o trabalho insa-
lubre para menores de 18 anos.
• Exigir do empregado serviços contrários aos bons costumes, isto é, serviços consi-
derados imorais ao homem comum, reprovados pela sociedade.
• Praticar contra o empregado ou pessoas de sua família ato lesivo da honra e boa
fama, tanto o empregador quanto seus prepostos, consistindo tais atos em gestos ou
palavras que configurem calúnia, injúria ou difamação, exceto quando comprovada-
mente agirem em legítima defesa, própria ou de outrem.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Das hipóteses anteriormente comentadas que justificam a rescisão do contrato de trabalho por
justa causa patronal, o descumprimento das obrigações do contrato (art. 483, “d”) é certamente
a mais comum nas ações trabalhistas movidas com objetivo de rescisão indireta do contrato de
trabalho.
O alcance dessa previsão é motivo de discussão doutrinária, cuja corrente majoritária entende
que não se deve fazer uma interpretação literal e restrita do dispositivo, pois seria incorreto dizer
que essa disposição se refere apenas às obrigações especificamente pactuadas entre as partes,
empregado e empregador, no contrato de trabalho privado.
Isso porque, como obrigações do contrato, devem-se entender os diversos deveres relativos e próprios
à relação contratual de emprego, que podem ter origem nas diversas fontes formais do Direito do
Trabalho, como a constitucional e a legal, o costume, as normas decorrentes de negociação coletiva,
ou relativas a decisões arbitrais ou judiciais referentes a conflito coletivo de trabalho.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Como funciona o termo de quitação anual de obrigações trabalhistas
O pacto contratual trabalhista não exige formalidades, e, em muitos casos, sequer existe instru-
mento formal do que foi convencionado pelas partes, restando apenas o registro na CTPS.
Portanto, não se pode falar apenas em descumprimento das obrigações derivadas da autonomia
privada individual.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
Figura 6 - A falta de anotação da CTPS também se caracteriza como descumprimento de obrigação contratual por parte
do empregador.
Contudo, importante ressaltar que, se houver controvérsia judicial fundada na efetiva existência
de relação de emprego, o empregado não poderá alegar a rescisão indireta, sustentando descum-
primento de obrigações decorrentes de um vínculo, pois a judicialização impede a certeza da
existência ou não da própria relação, uma vez que não foi reconhecido o próprio contrato de
trabalho em juízo. Ou seja, enquanto se discute judicialmente o vínculo empregatício, não se
pode falar em rescisão indireta.
A rescisão indireta só é admissível quando o vínculo de emprego já foi reconhecido pelo empre-
gador. Daí a orientação exposta no texto da Súmula 13 do TST: “O só pagamento dos salários
atrasados em audiência não ilide a mora capaz de determinar a rescisão do contrato de trabalho”.
Nas hipóteses de o empregador não cumprir as obrigações do contrato e reduzir o trabalho por
peça ou tarefa do empregado, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários (letras
“d” e “g”, art. 483, CLT), fica garantida ao empregado a faculdade de permanecer trabalhando até
a decisão final do processo, conforme preconiza o §3º do art. 483 da CLT.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
APROFUNDE-SE
Assista a este dinâmico vídeo do canal oficial de notícias jurídicas do Supremo Tribunal Federal (TV Justiça), que
explica didaticamente o julgamento da Primeira Turma na sessão de 08/09/2020, utilizando precedente da Corte
no sentido de que a inadimplência de obrigações trabalhistas de empresas prestadoras de serviços não transfere
automaticamente a responsabilidade à administração pública, condicionando sua condenação à existência de
prova inequívoca de conduta omissiva ou comissiva na fiscalização dos contratos de terceirização.
Título: União não pode ser responsabilizada por encargo trabalhista de empresa terceirizada
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você conheceu as chamadas verdades fundantes de aplicação específica no
Direito Trabalhista, que, inserido em um sistema de conhecimento, o Direito, tem sua lógica de
encadeamento fundada nesses pressupostos evidentes ou comprovados pelo estudo e obser-
vação na sua aplicação prática e na solução dos conflitos das relações jurídicas trabalhistas ao
longo dos tempos, estruturando, assim, o sistema de normas do trabalho e dando-lhe coerência
prática e operacional.
Tais princípios devem ter se evidenciado a você quando passamos ao estudo das obrigações traba-
lhistas que decorrem da lei. Tais obrigações têm objetivos claros dentro desse sistema que regula
a relação das partes estruturadas em um contrato, seja ele expresso ou pressuposto pelo compor-
tamento da parte contratante (empregador) e da parte contratada (trabalhador). Os vínculos de
obrigações entre ambos são os mesmos que decorrem de qualquer contrato, expresso ou tácito, e
resultam da boa-fé que a sociedade espera desses ajustes entre as partes contratantes. As balizas
legais trabalhistas têm a finalidade de disciplinar esse elo obrigacional.
Por fim, como você já deve ter intuído, o descumprimento dessas obrigações gera consequências
que acometem o descumprimento de qualquer norma jurídica. Em geral, as consequências para
o descumprimento do vínculo obrigacional do contrato de trabalho são econômicas, da perspec-
tiva do empregador, parte contratante que remunera a atividade do trabalho. Para a outra parte
dessa relação jurídica, o trabalhador, a maior consequência é a sua despedida, pois enseja a perda
de seu meio de sustento, tão nefasto para ele como para toda a sociedade, sob vários aspectos,
como você deve ter percebido pelos efeitos sistêmicos que decorrem do desemprego.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
GLOSSÁRIO
In dubio pro operario (ou in dubio pro misero): do latim e em tradução livre, “em caso de dúvida,
deve-se beneficiar o empregado”, de forma que, havendo regra com diversas interpretações
possíveis, deve ser aplicada a mais vantajosa ao trabalhador.
Plúrimas (plural de plúrima): plural, plurais, pluralidade, diversos, vários, variedade; múltipla:
texto com interpretações plúrimas.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Manuel A. D. de. Teoria geral da relação jurídica. Coimbra: Almedina, 1997. v. 1.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1943). Organização de Eliezer de Queiroz
Noleto. 2. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados/ Edições Câmara, 2020. (Série Legislação, 13).
E-book. Disponível em: https://livraria.camara.leg.br/index.php?route=product/product&pro-
duct_id=327 Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 2.959, de 17 de novembro de 1956. Altera o Del nº 5.452, de 01/05/32 (CLT), e dispõe
sobre os contratos por obra o serviço certo. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L2959.htm Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973. Estatui normas reguladoras do trabalho rural. Dispo-
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5889.htm Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas
Urbanas, e dá outras Providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6019.
htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978. Dispõe sobre a regulamentação das profissões de
Artistas e de técnico em Espetáculos de Diversões, e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6533.htm Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm Acesso em:
31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Acesso em: 12 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 13.467/2017, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro
de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legis-
lação às novas relações de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13467.htm Acesso em: 31 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm Acesso em:
31 mar. 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 2 - Obrigações trabalhistas e princípios do Direito do Trabalho
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 13. O só pagamento dos salários atrasados em
audiência não ilide a mora capaz de determinar a rescisão do contrato de trabalho. Brasília,
DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/
Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_1_50.html#SUM-13 Acesso em: 12 maio 2021.
KREIN, José D.; OLIVEIRA, Roberto V. de; FILGUEIRAS, Vitor A. As Reformas Trabalhistas:
promessas e impactos na vida de quem trabalha. Caderno CRH, Salvador, v. 32, n. 86, p.
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NASCIMENTO, Amauri M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 25. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2001.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
UNIDADE 3
Extinção do contrato de trabalho
Objetivo de aprendizagem:
Tópicos de estudo:
Iniciando os estudos:
Você sabia que a extinção do contrato de trabalho é chamada de “rescisão” na Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT)? E que esse termo abarca qualquer forma de cessação de contrato de trabalho?
Nesta unidade, você vai aprender o conceito de extinção do contrato de trabalho e as técnicas de forma-
lização e realização dos pagamentos na extinção do contrato de trabalho, além de conhecer as modali-
dades de dispensa, entre elas, a por justa causa do empregado, e as situações que ensejam a dispensa
arbitrária. Vai ter também a oportunidade de identificar as causas de rescisão indireta do contrato de
trabalho.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
1. FORMALIZAÇÃO, VERBAS E
CONSECTÁRIOS LEGAIS NA EXTINÇÃO
DO CONTRATO DE TRABALHO
A doutrina do Direito do Trabalho não é unânime a respeito da classificação das hipóteses
concretas da dissolução do contrato de trabalho, que levam ao término contratual. Fala-se em
resolução, revogação, resilição ou rescisão, resilição unilateral, caducidade e força maior.
Não há rigor técnico nem por parte do legislador nem da jurisprudência, sendo utilizadas, na
prática, as expressões “extinção do contrato”, “término do contrato” e “rescisão do contrato” quase
como sinônimas, independentemente do motivo que levou ao fim do pacto laborativo (contrato),
que também pode ser entendido como término da relação jurídica de emprego. Por isso, apre-
sentarei a você as conceituações mais comuns.
A resilição do contrato de trabalho ocorre quando ambas as partes desfazem o ajuste firmado (bila-
teral), ou apenas uma delas (unilateral), pondo fim ao contrato de trabalho (extinção). A lei autoriza
a resilição unilateral por iniciativa do empregado por meio do pedido de demissão, e por iniciativa
do empregador pela dispensa sem justa causa. A resilição bilateral ou distrato é o acordo entre as
partes da relação jurídica empregatícia para pôr fim ao contrato de trabalho (art. 484-A, da CLT).
A resolução do contrato de trabalho ocorre em razão de ato faltoso praticado por uma ou duas
partes (justa causa). Nos contratos por prazo determinado (art. 443, §1º, CLT), a resolução pode
se verificar na ocorrência de uma condição resolutiva, que se dá mais comumente quando se
atinge o termo prefixado ou o objetivo do contrato. Quando o empregado dá causa à resolução
do contrato de trabalho, pela prática de uma das condutas faltosas previstas em lei (art. 482, CLT),
ocorre a chamada justa causa do empregado. Há também a justa causa do empregador, quando
este pratica falta que enseja o fim do contrato de trabalho (art. 483, CLT).
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Covid-19 e o cabimento da figura factum principis
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
Culpa recíproca
Pedido de demissão
Decisão do empregado
Despedida indireta (justa causa do empregador)
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
Figura 1 - Com o termo de quitação, as partes da relação de emprego podem firmar a quitação das verbas trabalhistas
correspondentes, na presença do sindicato que representa a categoria.
O pagamento da parcela devida ao empregado será efetuado (art. 477, §4º, CLT) no ato da homo-
logação da rescisão em dinheiro, depósito bancário ou cheque visado, conforme acordo das
partes (inciso I). Sendo o empregado analfabeto, o pagamento será feito em dinheiro ou depósito
bancário (inciso II), desde que o estabelecimento bancário seja na mesma cidade do local do
trabalho, em razão de eventual compensação que decorra dos pagamentos por essa via (restrito
a verbas de natureza salarial). Outra vedação é o pagamento em parcelas ou à prestação.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
APROFUNDE-SE
Conheça a recente decisão unânime da 7ª Turma do TST, no Processo RR-10923-30.2017.5.15.0137, que afasta a
sanção prevista na CLT na hipótese de atraso na quitação de verbas rescisórias, em face de empregado falecido.
Título: Multa por atraso na quitação de verbas rescisórias é incabível em caso de morte do empregado
As verbas rescisórias são aquelas que compõem os direitos trabalhistas devidos ao empregado
até o momento da extinção do contrato de trabalho, e variam conforme a modalidade de disso-
lução do pacto laboral consistente na relação de emprego.
Compõem-se, em regra, do saldo de salários, aviso prévio, férias vencidas e proporcionais, indeni-
zação relativa aos depósitos do FGTS, além de outras que conforme o caso poderão ser exigidas,
como a seguir você poderá ver em detalhes.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
O saldo de salários é o restante do valor devido pelos dias em que o empregado trabalhou no
mês da rescisão contratual e que ainda não foi pago, uma vez que o salário é pago em relação
ao mês vencido de trabalho.
Suponha que o contrato de trabalho seja extinto em 17 de maio. O empregado foi contratado
com salário de R$1.800,00, com jornada de 8 horas diárias. O cálculo é efetuado dividindo-se
o valor do salário por 30 (art. 64, CLT), base de cálculo quando o contrato é mensal, incluídos
os fins de semana referentes ao descanso semanal remunerado (DSR). Como o empregado
trabalhou até o dia 17 de maio, a operação será a seguinte:
O valor de R$1.020,00 corresponde ao salário dos 17 dias trabalhados pelo empregado antes
do término do contrato, considerando que o salário referente ao mês de maio seria pago
somente ao final do mês ou até o 5º dia útil de junho (art. 459, CLT).
O aviso prévio é a comunicação antecipada de uma parte a outra, nas modalidades de disso-
lução do contrato de trabalho por iniciativa de uma das partes, informando o desejo de romper o
contrato, quando será estabelecido o termo final na relação jurídica de emprego existente entre
as partes contratantes. Essa comunicação deve ser efetuada com antecedência mínima de trinta
dias (art. 7º, XXI, CF).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
Figura 2 - O aviso prévio é a comunicação antecipada que informa o desejo de romper o contrato de trabalho
por iniciativa de uma das partes.
A falta de aviso prévio pelo empregador dá ao empregado o direito aos salários correspondentes
ao prazo do aviso, garantida a integração desse período no seu tempo de serviço (CLT, art. 487,
§1º). A falta do aviso prévio pelo empregado dá ao empregador o direito de descontar os salários
correspondentes ao prazo respectivo (CLT, art. 487, §2º).
Sendo a rescisão do contrato de trabalho por acordo entre empregado e empregador, o aviso
prévio na modalidade indenizada será devido pela metade (art. 484, I, “a”, CLT).
Férias são o período de 30 dias de descanso remunerado que o empregado tem direito de receber
a cada 12 meses de trabalho (arts. 130 e 134, CLT), acrescido de 1/3 (CF, art. 7º, XVII). Havendo faltas
injustificadas ao trabalho pelo empregado, serão esses dias descontados das férias na proporção
constante dos incisos do art. 130 da CLT.
Na cessação do contrato de trabalho, serão pagas as férias vencidas e não usufruídas pelo empre-
gado durante a vigência do contrato, acrescidas do chamado terço (1/3) constitucional. Essa verba
corresponderá à remuneração simples do empregado, ou em dobro, quando as férias forem
concedidas após o período de doze meses subsequente à data em que o empregado tiver adqui-
rido o direito ao gozo (arts. 134 e 137, CLT).
Quando a dispensa acontece antes do empregado trabalhar os 12 meses, o pagamento das férias
proporcionais corresponde à remuneração equivalente ao período aquisitivo das férias. Ela será
calculada na proporção de um doze avos por mês de serviço ou fração superior a quatorze dias,
acrescida do terço constitucional (art. 146, parágrafo único, e art. 147, CLT).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
O décimo terceiro salário está previsto na Lei nº 4.090/1962, e é devido para todos os trabalha-
dores no mês de dezembro de cada ano, no valor de um doze avos da remuneração de dezembro,
por mês de serviço no ano correspondente, ou fração igual ou superior a 15 (quinze) dias de labor.
Essa mesma proporção foi considerada pela lei para disciplinar o pagamento do décimo terceiro
ao término do contrato, calculado com base no valor da remuneração do mês de rescisão, corres-
pondente a 1/12 (um doze avos) da remuneração do empregado (art. 1º, §§1º e 2º, Lei nº 4.090/1962).
A indenização dos depósitos do FGTS corresponde à multa devida no valor de 40% do saldo final
da conta do empregado, na dispensa sem justa causa, ou no valor de 20% nas demissões por
culpa recíproca ou força maior, reconhecida pela Justiça do Trabalho (art. 18, Lei nº 8.036/1990).
Essa multa será devida pela metade no caso de rescisão do contrato de trabalho por acordo entre
empregado e empregador (art. 484-A, I, “b”, CLT).
Quando o contrato for por tempo determinado, caberá ainda indenização por rescisão anteci-
pada, que equivale à metade dos salários correspondentes ao período que faltava para o término
do contrato, quando a rescisão antecipada se der por iniciativa do empregador (art. 479, CLT).
Quando a rescisão antecipada se der por iniciativa do empregado, a indenização será equivalente
ao valor dos prejuízos sofridos pelo empregador em razão dessa antecipação do fim do contrato,
não podendo exceder o valor que o empregado teria direito a receber se a rescisão antecipada
tivesse sido promovida pelo empregador (art. 480, CLT).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
2. DISPENSA E
JUSTA CAUSA DO EMPREGADO
A dispensa do empregado é a extinção da relação de emprego por ato do empregador, com ou
sem justa causa. Será também iniciativa do empregador quando a resolução do contrato ocorrer
em razão da extinção da empresa.
Além das modalidades de dispensa por justa causa ou sem justa causa previstas na CLT, o art.
7º, I, da Constituição brasileira fala em “despedida arbitrária ou sem justa causa”, que a doutrina
majoritariamente considera como sinônimos. No entanto, mais recentemente a primeira vem
sendo tratada, juntamente com a discriminação, como dispensa arbitrária discriminatória, no
conceito construído pela jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ao presumir arbi-
trária a dispensa de trabalhador com doença grave que suscite estigma ou preconceito, conforme
enunciado na Súmula 443:
Nessa linha, os tribunais têm entendido que o empregador pode rescindir o contrato de trabalho
de seus empregados quando entender necessário, mas consideram arbitrária a dispensa com
caráter discriminatório, ensejando ao empregado o direito à reintegração. Ainda na jurisprudência
encontram-se conceitos semelhantes, como a dispensa obstativa – que objetiva, de forma fraudu-
lenta, impedir que o empregado adquira determinado direito, como a estabilidade –, e a dispensa
retaliativa, efetuada pelo empregador em represália a determinado ato de seu empregado.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
Ocorre que há uma evidente questão social para além da esfera jurídica, associada com a perda
do emprego, uma vez que ela atinge o meio de subsistência tanto do empregado como de sua
família, enquanto dependente econômica.
Conforme a lição de Amauri Mascaro do Nascimento (2014), a dispensa sem justa causa
[...] não pode ser disciplinada segundo um princípio de plena liberdade de uma das partes, o
empregador, porque o uso indiscriminado do poder de despedir pode assumir proporções
que afetam o sentido de Justiça Social, valor fundamental que deve presidir as relações indi-
viduais e coletivas de trabalho (MASCARO, 2014, p. 895).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
A indenização compensatória referida no art. 7º, I, da Constituição Federal restou prevista na Lei
nº 8.036/1990 (art. 18, §1º) e corresponde à importância igual a 40% do montante de todos os
depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados
monetariamente e acrescidos dos respectivos juros. Ainda que a dispensa arbitrária ou sem justa
causa não tenha sido proibida, ela conta com uma (única) reparação ao empregado, que se cons-
titui nessa indenização compensatória.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
• saldo de salário;
• aviso prévio;
Figura 6 - O empregado terá direito a receber verbas rescisórias do empregador caso seja dispensado sem justa causa.
Há uma modalidade, que objetiva a redução do quadro de empregados, que pode ser adotada
por ato unilateral do empregador, admitida pela doutrina e pela jurisprudência, e usualmente
denominada Plano de Demissão Voluntária ou Incentivada (PDV), na qual se oferecem direitos
mais amplos do que os previstos em lei nas dispensas sem justa causa, para os trabalhadores que,
na intenção de deixar o emprego, efetuarem sua adesão voluntária.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
As vantagens oferecidas para motivar a adesão dos empregados dizem respeito a alguma forma
especial de indenização ou vantagem, como a continuidade no plano de assistência médica da
empresa por determinado período (em média 2 anos), seguro de vida, cursos de reciclagem profis-
sional e até prioridade para eventual readmissão, além de outras espécies (MASCARO, 2014, p. 965).
A adesão ao PDV não impede o empregado de ingressar em juízo para requerer direitos expressa-
mente ressalvados ou não incluídos nos pagamentos das verbas rescisórias e vantagens previstas
no plano que entenda devidos, uma vez que a quitação das quantias pagas é parcial e se restringe
apenas às parcelas e valores constantes do recibo (MASCARO, 2014, p. 904).
A instituição do PDV pode decorrer de acordo coletivo celebrado com o sindicato representativo
dos trabalhadores, que não possui requisitos legais. Todavia, se previsto em convenção ou acordo
coletivo de trabalho, enseja quitação plena e irrevogável dos direitos decorrentes da relação
empregatícia, salvo disposição em contrário estipulada pelas partes (art. 477-B, CLT).
APROFUNDE-SE
Veja este excelente artigo, que trata dos critérios, metodologia, resultados, discussões e implicações do processo
de tomada de decisão de demissão de empregados.
A dispensa por justa causa é a cessação do contrato de trabalho em razão da prática de ato
faltoso pelo empregado, cuja gravidade abala a confiança (fidúcia) entre as partes do contrato.
Trata-se de uma espécie de pena disciplinar, a mais alta, pois o empregador, no uso de seu poder
de direção, pode advertir o empregado verbalmente (sem lhe ofender a dignidade) ou por escrito
e até mesmo suspendê-lo por até 30 dias (arts. 474 e 853, CLT), antes de dispensá-lo por justa causa.
Somente a lei é fonte formal típica que enumera taxativamente os casos de justa causa, não sendo
possível a estipulação de outras hipóteses por meio de regulamentos de empresa ou convenções
coletivas de trabalho.
Para que a justa causa do empregado seja caracterizada e admitida, ela deve ser atual, grave, e
deve haver relação de causa e efeito entre a falta e a dispensa por ela justificada.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
A atualidade da justa causa significa que a falta deve ocorrer como antecedente temporal
à própria rescisão do contrato. Entre uma e outra não poderá ter transcorrido um intervalo de
tempo muito longo. Já se decidiu que não pode ser usada como justificativa uma falta ocorrida
há mais de dois meses da dispensa do empregado, exceto se tal fato só vier a ser conhecido
pelo empregador a essa época. Aceita-se que, a partir da ciência sobre os fatos, a empresa inicie
processo disciplinar interno para sua apuração, mas se esse processo for interrompido, não for
concluído ou se encerrar sem providências, estará caracterizado o perdão tácito.
A gravidade que se exige para a dispensa por justa causa é aquela que supera os limites da tole-
rância e faz desaparecer a confiança que caracteriza o contrato de trabalho. Fala-se em dolo ou
culpa como seus elementos, ou seja, a intenção de praticar o ato, ou a imprudência, imperícia e
negligência, mas estas devem ser graves. Segundo o clássico Evaristo de Moraes Filho (1996), que
distingue igualmente no Direito do Trabalho a culpa grave, a leve e a levíssima, apenas a primeira
justifica a dispensa por justa causa. Sendo de menor gravidade a culpa, o empregador deve punir
o empregado proporcionalmente, com advertência ou suspensão, exceto quando se tratar da
reiteração de atos de pequena gravidade, os quais podem ensejar a dispensa por justa causa.
A causalidade é a relação de causa e efeito entre a falta do empregado e a sua dispensa, ou seja,
a dispensa deve ser determinada como consequência do ato faltoso.
Não se admite dupla penalização do empregado pela mesma falta disciplinar praticada (singu-
laridade). Assim, se o empregador já puniu o empregado com advertência ou suspensão, não
poderá justificar a dispensa por justa causa pela mesma falta já punida.
O ordenamento pátrio não exige que o empregador avise de forma especial o empregado da
sua dispensa por justa causa, mas essa comunicação pode ser estipulada em regulamento de
empresa, acordo ou convenção coletiva de trabalho. Ainda que inexistente a forma específica de
comunicação, o documento escrito se justifica por ser elemento importante para eventual prova.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
O motivo da dispensa por justa causa não pode constar da anotação da CTPS, sob pena de ensejar
a indenização por danos morais. Assim, o §4º do art. 29 da CLT veda ao empregador efetuar anota-
ções desabonadoras à conduta do empregado em sua CTPS.
As figuras que justificam a dispensa por justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador estão previstas no art. 482 da CLT, taxativamente:
a) Ato de improbidade.
Esta hipótese constitui duas situações: (i) quando a negociação habitual em serviço for
o comércio praticado no ambiente e durante a jornada de trabalho pelo empregado,
por conta própria ou alheia, sem o consentimento do empregador; e (ii) quando a nego-
ciação habitual, por conta própria ou alheia, sem permissão do empregador, se caracte-
rizar como ato de concorrência desleal ao empregador.
Esta hipótese também possui duas situações: uso de álcool ou drogas constante que
repercute de forma negativa na atividade praticada pelo trabalhador, e o uso durante o
horário laboral. Como a embriaguez habitual caracteriza a doença do alcoolismo, assim
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
como o vício em drogas, o TST vem adotando entendimento de que o alcoolismo crônico
é doença que impõe o tratamento adequado, e não a dispensa por justa causa.
i) Abandono de emprego.
Esta figura possui dois elementos para sua caracterização: o elemento objetivo, que é a
ausência continuada num decurso de tempo, e o elemento subjetivo, que é o ânimo de
deixar o trabalho e romper o contrato. O TST orienta o seguinte: “Abandono de emprego.
Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo
de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de
não o fazer” (Súmula 32 do TST – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21/11/2003).
j) Ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou
ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria
ou de outrem.
k) Ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador
e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem.
Aqui a figura se refere à prática habitual de jogos não previstos na lei, ou seja, ilícitos,
como é o caso do jogo do bicho, rifas não autorizadas ou apostas fora de locais permitidos.
Esta hipótese somente se aplica quando a profissão não pode efetivamente ser exercida
sem a habilitação e há comprovação do dolo do empregado.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
REFLITA
Vou apresentar a você os dados de um julgamento O trabalhador considerou sua dispensa ilegal e
efetuado pela 1ª Câmara do Tribunal Regional do ingressou com ação pedindo a condenação da
Trabalho da 12ª Região (TRT-SC). empresa ao pagamento de verbas rescisórias. Para
ele, a mensagem foi publicada de forma privada, e
O caso começou quando um trabalhador de uma
somente seus amigos tiveram acesso ao conteúdo.
indústria de plásticos efetuou postagens numa rede
O motivo de sua dispensa teria sido o tratamento
social (Facebook) chamando todas as colegas de
com excessivo rigor pelo superior hierárquico.
trabalho, empregadas da mesma indústria, de “Maria
Sustentou ainda que o ato lesivo à honra é apenas
gasolina” e “Maria chuteira”, realizando diversos
aquele praticado no ambiente de trabalho e que os
comentários ofensivos, embora sem usar palavras de
comentários ocorreram fora desse local.
baixo calão.
A empregadora, em sua defesa, negou o tratamento
O caso veio a conhecimento da empregadora através
rigoroso e afirmou que havia tomado conhecimento
da repercussão interna que tais postagens na rede
dos comentários ofensivos postados pelo trabalhador
social provocaram.
porque alguns de seus funcionários, fornecedores
Tal repercussão foi comunicada ao RH pela supervisora e clientes, indignados ao tomarem ciência das
da fábrica, que informou sobre a indignação e revolta postagens ofensivas, pediram esclarecimentos e
das mulheres funcionárias da produção, que, assim providências da empresa. Concluiu, assim, que foi
como a supervisora, se sentiram ofendidas pela a atitude do próprio empregado que ensejou sua
postagem que o funcionário havia feito, gerando rescisão contratual e que o fato das ofensas não
um ambiente hostil na fábrica, com a cobrança das terem sido realizadas no local de trabalho não altera
funcionárias de uma atitude por parte da empresa. a situação, em razão da grande repercussão dos
comentários.
Concomitantemente, a repercussão externa chegou
à indústria de plásticos por um de seus diretores, que Reflita sobre o caso narrado acima.
recebeu a informação das postagens ofensivas através
Para você, as mensagens ofensivas enviadas pelo
de um cliente.
trabalhador a colegas fora do período de sua jornada,
Esse diretor, após saber que a informação já havia longe do local de trabalho, tiveram o condão de
chegado ao RH, encaminhou o caso para investigação chegar e repercutir no ambiente laboral?
ao jurídico da empresa, que emitiu relatório enviado
Tais mensagens ofensivas caracterizam a prática de
à diretoria com parecer opinando pela aplicação de
ato lesivo à honra e à boa fama de suas colegas de
dispensa por justa causa.
trabalho no serviço?
A diretoria entendeu por bem determinar a aplicação
Após refletir e chegar a suas próprias conclusões,
da dispensa por justa causa ao empregado e o
confira o julgamento dessa ação proferida em
orientou a levar sua CTPS ao RH para baixa.
primeiro e segundo graus.
Com a dispensa do autor, o tumulto gerado se
Processo PJe: 0000755-17.2016.5.12.0030 (RO).
acalmou.
Fonte: Santa Catarina (2018).
As hipóteses de justa causa que você viu no art. 482, apesar de se tratar de rol taxativo, não são as
únicas no sistema de falta grave do empregado.
Outras hipóteses podem ser encontradas na CLT, tipificadas como condutas de indisciplina, como
a recusa injustificada à observância das instruções expedidas pelo empregador no uso dos equi-
pamentos de proteção individual fornecidos pela empresa (art. 158, parágrafo único, c.c. o art. 157,
II), caracterizando descumprimento específico das regras de medicina e segurança do trabalho,
as quais ensejam a dispensa do empregado por justa causa; a falta grave por recusa injustificada
do empregado (insubordinação) a prestar serviços extraordinários (art. 240, CLT); a falta disciplinar
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
grave do empregado aprendiz (art. 428, II, CLT); a falta grave praticada pelo empregado durante a
greve (art. 15, Lei nº 7.783/1989).
Aplica-se a justa causa do art. 482 (com exceção das alíneas “c”, “g” e seu parágrafo único) igual-
mente aos empregados no contrato de trabalho por prazo determinado (art. 13, Lei nº 6.019/1974)
e aos empregados domésticos (art. 27-A, §2º, Lei Complementar nº 150/2015).
Como a dispensa por justa causa caracteriza-se como uma pena disciplinar, ela vem a ser uma
modalidade de extinção do contrato de trabalho na qual a maior parte das verbas rescisórias não
é devida ao empregado, restando o direito apenas ao recebimento de verbas relativas ao saldo de
salário e férias vencidas, acrescidas de 1/3, se houver.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Dispensa por justa causa da auxiliar de limpeza que se recusou a tomar a vacina
contra Covid-19
3. RESCISÃO INDIRETA
DO CONTRATO DE TRABALHO
Ao contrário da justa causa do empregado, a rescisão indireta ou despedida indireta é a chamada
justa causa praticada pelo empregador, que autoriza o término do contrato pela vontade do
empregado. Aqui a ocorrência é de autoria do empregador, justificando ao empregado não
querer mais continuar na relação de emprego.
A rescisão indireta também não se confunde com outras formas de encerramento do contrato de
trabalho como a demissão, que é o ato de vontade, por iniciativa do empregado, praticado com a
intenção de extinguir o contrato de trabalho por prazo indeterminado.
Os atos faltosos do empregador que autorizam a rescisão indireta do contrato de trabalho estão
previstos nas alíneas de “a” a “g” do art. 483 da CLT, que autorizam o empregado a considerar
rescindido o contrato e pleitear a devida indenização.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
Figura 7 - O empregado pode encerrar ou pedir a rescisão do contrato de trabalho e a respectiva indenização quando o
empregador cometer faltas graves, assim regradas de forma taxativa pela CLT.
O empregado precisa comunicar que pretende encerrar o pacto laboral ao empregador para
que assim não se configure o abandono de emprego, e como obviamente, na maioria das vezes,
o empregador não aceitará essa denúncia, essa modalidade de rescisão indireta do contrato de
trabalho normalmente só é reconhecida perante a Justiça do Trabalho.
A justa causa do empregador possui elementos que podem ser alinhados em função da sua
gravidade, tipicidade e nexo entre a prática do empregador e a proporcionalidade imediata dessa
falta em relação ao empregado.
De acordo com a CLT, todas as ordens do empregador devem se circunscrever às atividades para
as quais o empregado foi contratado; devem ser passíveis de cumprimento; não podem contra-
riar a lei e os bons costumes; e devem respeitar a dignidade humana do empregado. Desse modo,
não estando presentes essas condições, poderá o empregado se recusar validamente a cumprir
as ordens do empregador.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
O art. 483 da CLT dispõe que o empregado poderá considerar rescindido o contrato de forma
válida e regular e pleitear a devida indenização quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons
costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo
da honra e boa fama;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar
sensivelmente a importância dos salários (BRASIL, 2020).
APROFUNDE-SE
Confira este vídeo sobre as dúvidas publicadas no perfil do TST no Instagram com a hashtag #QueroPost. Na
reportagem da Revista TST, são respondidas as importantes perguntas a seguir:
• É lícito o ato do empregador que altera o horário de trabalho de seu empregado?
• Empresas podem modificá-lo sem consentimento mútuo?
• Existe uma quantidade limite para as mudanças?
Há entendimento do TST de que a ausência de pagamento dos salários é uma das hipóteses
de não cumprir o empregador as obrigações do contrato, razão por que editou orientação no
sentido de que “O só pagamento dos salários atrasados em audiência não ilide a mora capaz
de determinar a rescisão do contrato de trabalho” (Súmula 13 do TST – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21/11/2003).
A melhor e majoritária doutrina orienta que a justa causa patronal enseja o imediato término da
prestação de serviços pelo empregado, sendo desnecessário até mesmo aguardar a decisão judi-
cial a respeito. A permanência no emprego só pode ser admitida por expressa autorização legal.
Excetuadas as hipóteses das alíneas “d” (não cumprir o empregador as obrigações do contrato) e
“g” (o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensi-
velmente a importância dos salários), o empregado deve requerer o reconhecimento da justa
causa patronal e encerrar o contrato de trabalho, paralisando a prestação de serviços.
Como os elementos da justa causa do empregador são os mesmos da justa causa do empregado
– tipicidade, gravidade, nexo de causalidade, proporcionalidade e imediatidade –, o ajuizamento
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
de ação pelo empregado com pedido de rescisão indireta somente tempos depois da extinção
contratual demonstra inércia causadora da ausência dos requisitos de atualidade e imediatidade,
essenciais para caracterizar a dispensa indireta.
• saldo de salário;
• aviso prévio;
• 13º proporcional;
• guias de seguro-desemprego.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Julgamento sobre rescisão indireta do contrato de trabalho com provas de
ambiente sádico e perverso
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você conheceu os tipos de rescisão de contrato de trabalho a pedido do empre-
gado e do empregador e suas peculiaridades.
Teve acesso aos conceitos e às técnicas de formalização e realização dos pagamentos na extinção
do contrato de trabalho, e também à definição e descrição das situações legais que ensejam a
dispensa arbitrária e a justa causa do empregado. Identificou, ainda, as causas de rescisão indi-
reta do contrato de trabalho por justa causa do empregador.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
GLOSSÁRIO
Factum principis: em Direito Trabalhista, cessação do trabalho por imposição da autoridade
pública, sem culpa do empregador, ficando o governo responsável pela indenização devida ao
empregado (art. 486, CLT).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
REFERÊNCIAS
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1943). Organização de Eliezer de Queiroz
Noleto. 2. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados/ Edições Câmara, 2020. (Série Legislação, 13).
E-book. Disponível em: https://livraria.camara.leg.br/index.php?route=product/product&pro-
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BRASIL. Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962. Institui a Gratificação de Natal para os Trabalha-
dores. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4090.htm Acesso em: 01 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas
Urbanas, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6019.
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as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM Acesso
em: 01 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,
e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm
Acesso em: 05 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em: 05 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 12.506, de 11 de outubro de 2011. Dispõe sobre o aviso prévio e dá outras providên-
cias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12506.htm Acesso
em: 05 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974,
8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas
relações de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/
l13467.htm Acesso em: 01 jun. 2021.
BRASIL. Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001. Institui contribuições sociais, autoriza
créditos de complementos de atualização monetária em contas vinculadas do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço – FGTS e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/lcp/lcp110.htm Acesso em: 01 jun. 2021.
BRASIL. Lei Complementar nº 150, de 1º de junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho
doméstico; altera as Leis nº 8.212, de 24 de julho de 1991, nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e nº 11.196,
de 21 de novembro de 2005; revoga o inciso I do art. 3º da Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990, o
art. 36 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, a Lei nº 5.859, de 11 de dezembro de 1972, e o inciso
VII do art. 12 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995; e dá outras providências. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp150.htm Acesso em: 01 jun. 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 3 - Extinção do contrato de trabalho
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 227. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, 1999. Disponível em: https://www.stj.jus.br/docs_internet/
revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2011_17_capSumula227.pdf Acesso em: 01 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 13. O só pagamento dos salários atrasados em
audiência não ilide a mora capaz de determinar a rescisão do contrato de trabalho. Brasília,
DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/
Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_1_50.html#SUM-13 Acesso em: 12 maio 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 276. O direito ao aviso prévio é irrenunciável pelo
empregado. O pedido de dispensa de cumprimento não exime o empregador de pagar o respec-
tivo valor, salvo comprovação de haver o prestador dos serviços obtido novo emprego. Brasília,
DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/
Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300.html#SUM-276 Acesso em: 01 jun. 2021.
MORAES FILHO, Evaristo de. A justa causa na rescisão do contrato de trabalho. São Paulo: LTr, 1996.
NASCIMENTO, Amauri M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
SANTA CATARINA. Tribunal Regional do Trabalho (12. Região). Recurso Ordinário 0000755-
17.2016.5.12.0030. Relator: Des. Wanderley Godoy Junior, Data de Julgamento: 22/08/2018. Disponível
em: https://www.migalhas.com.br/arquivos/2018/10/art20181029-12.pdf Acesso em: 17 maio 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
UNIDADE 4
Salário e adicionais legais
Objetivo de aprendizagem:
Analisar as questões de ordem salarial, bem como os adicionais legais incidentes e a possibilidade
de ocorrência de equiparação salarial.
Tópicos de estudo:
• Equiparação salarial.
Iniciando os estudos:
Nesta unidade, você vai estudar todos os aspectos a respeito dos conceitos de salário, remuneração e
equiparação salarial.
Você já deve ter algum conhecimento sobre o que seja salário, mas sabe por que legalmente, além de
salário, há também a denominação “remuneração”? O que é salário normativo ou convencional, piso
salarial, salário básico ou salário-base?
Essas e outras questões de relevante importância para o Direito Trabalhista, como o conceito legal e juris-
prudencial de salário e de remuneração, as verbas que integram e se equiparam ao salário, assim como
quais são os requisitos para a equiparação salarial e quando ela ocorre, serão objeto do estudo que se
inicia.
80
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
1. SALÁRIO: FUNDAMENTOS,
PAGAMENTOS VINCULADOS
E DESVINCULADOS
O salário é direito fundamental previsto no texto da Carta Magna, exatamente no Capítulo dos Direitos
Sociais (II), que, após estabelecer o trabalho como direito social (art. 6º, caput, CF/1988), expressa, nos
direitos fundamentais dos trabalhadores (art. 7º), os princípios básicos que categorizam o salário
com fundamento, importância e status constitucional, destacando-se o salário mínimo.
Assim, você poderá verificar, em nossa Constituição, que o salário é um direito de todos os traba-
lhadores brasileiros e será minimamente proporcional à extensão e à complexidade do trabalho,
sendo dessa forma fixado em lei (art. 7º, IV, CF/1988), com a garantia de que nunca seja inferior
a esse mínimo (art. 7º, VII, CF/1988), mesmo para os que percebem remuneração variável (art. 7º,
VII, CF/1988).
Figura 1 - O salário (nunca menor que o salário mínimo) é um dos direitos do trabalhador previsto no Capítulo dos Direitos
Sociais da Constituição Federal.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
CF/1988), além de vedar expressamente a diferenciação de salários por motivo de sexo, idade, cor
ou estado civil e do trabalhador portador de deficiência (art. 7º, XXX e XXXI, CF/1988).
As disposições do Texto Maior atribuem ao salário o status de direito fundamental, como contra-
prestação decorrente do contrato de trabalho e de outros vínculos para além da relação de
emprego, na perspectiva de atender às necessidades mínimas de subsistência do trabalhador,
questão diretamente ligada à dignidade do ser humano.
O salário vital é um direito fundamental porque corresponde a uma renda mínima. Tendência,
essa, necessária para que numa sociedade justa, as pessoas desfavorecidas tenham um
mínimo necessário que permita fazer frente aos gastos indispensáveis para a sua manu-
tenção e da sua família. A ideia do salário mínimo tem por escopo o mesmo fim. Os estudos
sobre o tema são desenvolvidos principalmente pela doutrina social da Igreja Católica, com
a tese do justo salário, e pelo marxismo, com a tese da mais-valia.
[...]
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
A palavra “salário” deriva do latim salarium, significando “pagamento de sal” ou “pelo sal”, pois origi-
nalmente consistia mesmo na utilização dessa substância como meio de pagamento de serviços pres-
tados na Roma imperial. Por ser uma mercadoria essencial à conservação dos alimentos e de difícil
obtenção à época, principalmente naquela região do continente europeu, também servia de troca por
outros produtos, desde vestimentas até armas.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
REFLITA
Recorrentemente em momentos de crises em lei, um limite à calibração da remuneração
econômicas, vem à tona a discussão sobre a estabelecida pelo mercado por meio da lei da oferta e
desindexação do salário mínimo. da procura.
Antes de sua criação, os camponeses mantinham- Economistas com o olhar mercadológico municiam
se por meio da exploração comunitária das terras de argumentos a desindexação desse mínimo salário,
disponíveis. Com o avanço do capitalismo, a terra como evidencia Edvaldo Fernandes da Silva (2009) em
passou a ser um meio de produção, e os camponeses, sua dissertação de mestrado, ao afirmar que:
expropriados, não podiam mais extrair das terras
[...] a calibragem do salário mínimo desde sua
comuns o necessário para sua sobrevivência, pois elas
criação, em julho de 1940, resultou mais de
se tornaram propriedade privada. Isso os obrigou a
arbitramento político que de circunstâncias
alugar a terra dos seus proprietários para cultivar o
econômicas, [...]. A falta de sincronia entre solidez
necessário à subsistência ou a vender a sua força de
econômica e valorização do mínimo ou entre
trabalho a algum proprietário.
crise econômica e achatamento do piso pode
A economia comunitária primitiva como fonte evidenciar que há uma rationale não meramente
de sobrevivência digna, em que os trabalhadores econômica a operar a calibragem do salário
extraíam seu sustento da natureza, cedeu lugar mínimo (SILVA, 2009, p. 5).
à universalização do mercado, e em vez de obter
Diante dessa exposição, pense sobre o sentido da
bens in natura pelo resultado de seu trabalho, o
expressão “salário mínimo”.
trabalhador/camponês passou a receber salário em
dinheiro, por um preço que deveria ser equivalente às Reflita se as ideias de desindexação do salário mínimo
suas necessidades. No entanto, por maior ou menor (e até mesmo de aposentadorias e pensões), ou seja,
interesse, o capital transformou o solo e as pessoas se a correção (calibração) de seu valor sem considerar
em mercadoria e, por fim, diante da mão de obra os índices inflacionários poderia corroer o poder de
abundante, passou a calibrar a remuneração pelas leis compra dos assalariados.
da livre concorrência, por vezes aquém até mesmo do
Considere, ainda, como o poder de compra dos
mínimo existencial.
assalariados se reflete na demanda de vendas das
Com a Constituição da Organização Internacional empresas e na conjuntura econômica, levando em
do Trabalho (OIT), passou-se a erigir direitos conta a geração de empregos, e como isso se relaciona
mínimos trabalhistas e, com eles, um salário mínimo com a garantia da manutenção do rendimento real
existencial, em contraponto ao liberalismo econômico, do salário mínimo e da justiça entre as gerações, no
oferecendo, através de um piso mínimo definido sentido de diminuir a desigualdade social.
O salário, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em especial no art. 457, é a contraprestação
paga pelo empregador ao empregado pelos serviços por ele prestados, na relação de emprego
decorrente do contrato de trabalho, e se constitui num complexo de parcelas conforme se retira
da literal disposição do texto legal:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
Esse artigo é essencial para você entender por que a CLT usa no caput a expressão “remuneração”
juntamente com salário e depois individualiza este último conceito no §1º. A doutrina do Direito
do Trabalho ora diferencia as expressões remuneração e salário, definindo aquela como gênero
e este como espécie, juntamente com outras espécies que não se constituem em pagamento
fixo, como as gratificações, os adicionais, entre outras; ora trata remuneração como sinônimo de
salário. Você verá sobre a primeira no tópico 2.
Como você percebeu, no texto do art. 457 da CLT não há uma definição de salário, mas sim de
seus componentes, e os artigos seguintes trazem as regras para seu pagamento e proteção.
O legislador não quis usar a palavra “salário” para designar as gorjetas, que são pagas por um
terceiro (art. 457, caput) e, juntamente com o salário, integram a remuneração. Mas definiu que
ele se compõe (§1º, art. 457) de uma importância fixa, estipulada pelo empregador, e pelos demais
pagamentos efetuados, como as gratificações legais e as comissões.
Salário é a contraprestação fixa paga pelo empregador pelo tempo de trabalho prestado ou
disponibilizado pelo empregado, calculada com base no tempo, na produção ou em ambos
os critérios, periodicamente e de modo a caracterizar-se como o ganho habitual do traba-
lhador (NASCIMENTO, 2014, p. 614).
Não se confundem com salário a contribuição sindical, a contribuição do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS), ou a contribuição para a previdência, pois são recolhimentos tributários
ou parafiscais.
O legislador prevê que alguns tipos de pagamento recebidos pelo empregado não integram a
sua remuneração, tais como a ajuda de custo, o auxílio-alimentação (vedado pagamento em
dinheiro), as diárias para viagem, os prêmios e os abonos (art. 457, §2º, CLT), os quais também não
se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo
trabalhista e previdenciário.
Os abonos deixaram de integrar o salário após a Reforma Trabalhista promovida pela Lei
nº13.467/2017, que conferiu nova redação aos §§1º e 2º do art. 457 da CLT, excluindo, assim, sua
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
natureza salarial. Antes, eram considerados antecipações pecuniárias efetuadas pelo empre-
gador ao empregado, ou seja, adiantamentos salariais concedidos pelo empregador.
O art. 457, §1º, da CLT exemplifica que “[i]ntegram o salário a importância fixa estipulada, as grati-
ficações legais e as comissões pagas pelo empregador”. Fundamental entender que a impor-
tância fixa estipulada se refere ao salário básico, ou salário contratual.
Após a Reforma Trabalhista, só as gratificações legais integram o salário, ainda que aquelas ofer-
tadas ao empregado com habitualidade apresentem natureza salarial indiscutível, como é o caso
das gratificações de quebra de caixa e da semestral ou anual.
O exemplo tradicional de gratificação legal é o 13º salário, como se extrai do art. 1º da Lei
nº4.090/1962, que incorporou a normatividade autônoma trabalhista e os costumes ou regras
coletivas negociadas, como as concessões unilaterais pelos empregadores, denominadas de
gratificação natalina. Com a promulgação da Constituição de 1988, todo empregado passou a ter
direito ao 13º salário, por força do art. 7º, VIII, cujo parágrafo único estendeu a verba ao doméstico.
As comissões são uma espécie de salário variável, constituídas de um percentual sobre o valor do
resultado da atividade executada por unidade de obra ou serviço pelo empregado, denominado
comissionista, ao qual é garantido o salário mínimo ou o piso convencional da categoria, se for o caso.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
Há denominações que guardam direta relação com a contraprestação paga pelo empre-
gador ao empregado pelos serviços por ele prestados, na relação de emprego decorrente do
contrato de trabalho:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
• Salário progressivo, expressão usada pela doutrina para se referir às parcelas sala-
riais premiais, variáveis e crescentes, como o prêmio de produtividade, o de assidui-
dade, entre outros.
Todavia, outras denominações que contêm a expressão “salário” não possuem relação direta
com a contraprestação paga ao empregado diretamente pelo empregador, em função da
relação empregatícia no contrato de trabalho:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
O pagamento do salário é efetuado por meio de dinheiro em moeda nacional (art. 463 da CLT), a
fim de evitar o pagamento por meio de vales, cupons, bônus e outros, que caracteriza o denomi-
nado truck system, sistema que mantém o empregado trabalhando para pagar dívidas contraídas
por ele dentro da empresa, numa condição de trabalho de servidão, similar à de escravo. Também
é vedada a estipulação do salário em moeda estrangeira, salvo quando se tratar de empregado
estrangeiro contratado para trabalhar no País, ou de empregado brasileiro transferido para traba-
lhar no exterior.
O pagamento do salário pode ser feito por cheque, ficando o empregador obrigado a assegurar
ao empregado um horário que permita o desconto imediato do cheque.
Outra forma de pagamento é o salário in natura (ou em utilidades), que, por força do contrato ou
costume, o empregado recebe em bens com conteúdo econômico, como alimentação e habi-
tação, em vez de receber em dinheiro. Todavia, o salário pago em dinheiro não poderá ser inferior
a 30% do valor do salário mínimo (arts. 458, 81, §1º, e 82, parágrafo único, da CLT). A enumeração
legal das utilidades estampada no art. 458 é exemplificativa, sendo permitidas outras, exceto
bebidas alcoólicas ou drogas, que causaram uma celeuma jurídica ao incorporar meios sofisti-
cados como cartões de crédito, mensalidades escolares dos dependentes do empregado e forne-
cimento de veículo, mas que, em face da ausência de previsão legal, acabam por incluir parcelas
salariais dissimuladas.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Verbas que compõem a remuneração ou o salário
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
As formas de estipulação (pagamento) do salário podem ser por tempo, por produção e por tarefa.
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APROFUNDE-SE
Confira, neste artigo, a análise da possibilidade de redução salarial do teletrabalhador, tendo em vista a pandemia
e a crise mundial causadas pela Covid-19, à luz da Constituição Federal e da jurisprudência pátria.
Título: Aplicação da Lei 14.020/20 ao regime de teletrabalho: uma análise sobre a redução salarial no contrato de
emprego
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
2. REMUNERAÇÃO E
SUAS CARACTERÍSTICAS
Quando você estudou, no tópico 1, o art. 457 da CLT, viu que esse dispositivo utiliza em seu caput
a expressão “remuneração” juntamente com salário, individualizando este termo no seu §1º, sem
conceituar especificamente nem um nem outro.
Por essa razão, a doutrina trabalhista se divide ao reconhecer na remuneração o gênero do qual
o salário é a espécie mais importante, juntamente com outras espécies, como as gratificações, os
adicionais, entre outras, que não se constituem em pagamento fixo. Há, porém, aqueles que veem
na remuneração um sinônimo de salário, utilizando essas duas palavras como se possuíssem o
mesmo conteúdo e expressão.
Apenas a título de exemplo dessas correntes doutrinárias, entre os clássicos, Nascimento (2014)
não faz diferenciação entre remuneração e salário:
Assim, como nas obrigações em geral há o principal e o acessório, o salário também é consti-
tuído de uma parte principal e de outra acessória ou complementar, e não há uniformidade
nas denominações de cada uma das duas partes que, no Brasil, como foi visto, são salário e
remuneração. É a parte principal da totalidade das percepções econômicas do empregado.
Nela não se incluem os complementos salariais. Incluem-se, no entanto, as formas regu-
lares habituais e periódicas, independentemente do nome que lhes são atribuídos (NASCI-
MENTO, 2014, p. 615).
Diferentemente, o Professor Sérgio Pinto Martins (2012), outro clássico, estabelece uma concepção
ampla sobre a remuneração como gênero:
No modelo legal, salário é o conjunto de parcelas devidas e pagas diretamente pelo empregador
como contraprestação do serviço prestado pelo empregado em virtude da relação de emprego
(arts. 457, caput, e 76, CLT). Ou seja, somente será salário a contraprestação devida e paga dire-
tamente pelo empregador ao empregado. Já a remuneração se compõe do conjunto do salário
contratual e das gorjetas recebidas pelo empregado, que são pagas por terceiros.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
Nesse diapasão é que se manifesta dominante a diretriz fixada pela Súmula 354 do TST:
Em sua forma mais ampliada, a remuneração é o conjunto das verbas recebidas pelo empregado
como contraprestação pelos serviços prestados, no contrato de trabalho, sendo consubstanciada
pela parcela paga pelo empregador, o salário, assim como por aquelas pagas por terceiros, as gorjetas.
A gorjeta é especificamente o valor que o cliente paga de forma espontânea aos empregados do
estabelecimento. Mas a lei também considera gorjeta o valor cobrado do cliente pela empresa
na nota de serviços, “como serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos
empregados” (art. 457, §3º, CLT), também denominado gorjeta imprópria.
As gorjetas não têm natureza salarial, mas compõem a remuneração e as parcelas baseadas na
remuneração, como as férias, o décimo terceiro e o FGTS. Contudo, elas não integram as parcelas
baseadas no salário, como o aviso prévio, o adicional noturno, as horas extras e o descanso semanal
remunerado (DSR), nem a composição do salário mínimo. Do ponto de vista do efeito jurídico, não
há relevância se as gorjetas são próprias, concedidas espontaneamente por terceiros, ou impró-
prias, cobradas compulsoriamente na nota de serviço.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
A CLT, após a Reforma Trabalhista de 2017, suprimiu a natureza remuneratória de algumas verbas
pagas em contraprestação ao trabalho, a título de ajuda de custo, auxílio-alimentação (vedado
seu pagamento em dinheiro), diárias para viagem, prêmios e abonos. Dessa forma, passou a
constar expressamente no §2º do art. 457 da CLT que tais importâncias, ainda que habituais, não
integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não cons-
tituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário.
O objetivo da Reforma ao não integrar a maioria das verbas à remuneração é facilmente percep-
tível na inserção minuciosa do regime laboral de teletrabalho, figura sociojurídica detalhada em
um novo capítulo, o II-A – Do Teletrabalho (arts. 75-A a 75-E) da CLT. Nele, após disciplinar que a
responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos
e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como por even-
tual reembolso de despesas arcadas pelo empregado, seria objeto de previsão contratual escrita,
cuidou, no parágrafo único do art. 75-D, de deixar claramente expresso que tais utilidades ou
reembolso (acaso suportados pelo empregador) “não integram a remuneração do empregado”
(parágrafo único, art. 75-D, CLT), pois, sem embargo, não ostentam mesmo natureza salarial.
Os abonos não tiveram definição na CLT após a Lei nº 13.467/2017, embora doutrinadores
como Mauricio Godinho Delgado (2017) os defina como “antecipações pecuniárias efetuadas
pelo empregador ao empregado. São adiantamentos salariais concedidos pelo empregador”
(DELGADO, 2017, p. 855). Já os prêmios foram definidos, no §4º do art. 467, como “liberalidades
concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
Abonos e prêmios, por sua própria natureza, ostentam nítido caráter salarial, porque são contra-
prestativos, pagos pelo empregador ao empregado em decorrência do contrato de trabalho, por
um fator eleito pelo empregador ou por uma disposição jurídica que institui as verbas. Todavia, após
a Reforma, essas parcelas deixaram expressa, artificial e gravemente de ostentar natureza salarial.
Assim, a ajuda de custo tradicionalmente não ostenta natureza salarial quando é concedida em
caráter indenizatório e de forma não fraudulenta. Outra parcela, o auxílio-alimentação, que tinha
sua natureza jurídica condicionada ao instrumento normativo de sua concessão ou à disponibi-
lização no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), não possuía natureza salarial, exceto
se decorresse de mera vantagem contratual não especificada, espécie de dissimulação que a
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
tornava verba contraprestacional, integrando o salário. A lei nova retira qualquer caráter salarial
desse auxílio, ressalvando apenas ser “vedado seu pagamento em dinheiro”.
Figura 6 - O auxílio-alimentação, popularmente conhecido como ticket refeição, só pode ser usufruído em
estabelecimentos específicos. Como exemplo: supermercados e restaurantes.
As parcelas estritamente remuneratórias, como são as gorjetas, não produzem diversos efeitos
que são próprios às parcelas estritamente salariais, e, por exemplo, não compõem o salário contra-
tual obreiro, deixando, assim, de produzir alguns de seus reflexos clássicos. Contudo, há reflexos
contratuais inevitáveis em face da média da parcela remuneratória de gorjetas pagas e recebidas
com habitualidade, como a composição do salário de contribuição do empregado para fins previ-
denciários, que, para esse fim, devem constar da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS)
como estimativa do valor auferido ao longo da prestação laboral (art. 29, §1º, CLT). Da mesma
forma, as gorjetas repercutem no Fundo de Garantia, conforme menção expressa na Lei do FGTS
(art. 15, Lei nº 8.036/1990), assim como compõem a remuneração para cálculo do 13º salário (Leis
nº 4.090/1962 e 4.749/1965).
De acordo com o modelo legal que mencionei no início deste tópico, balizado pelos arts. 76 e
457, caput, da CLT, a regra geral preserva a interpretação de que somente terão natureza sala-
rial/remuneratória as parcelas retributivas habituais, devidas e pagas diretamente pelo empre-
gador ao empregado, com exceção das gorjetas habitualmente recebidas que integram o salário
contratual do empregado para todos os fins, exceto na composição do salário mínimo.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
APROFUNDE-SE
Leia o artigo, que analisa as mudanças no rateio entre empregados da cobrança adicional sobre as despesas em
bares, restaurantes, hotéis, motéis e estabelecimentos similares, introduzidas pela Reforma Trabalhista e contrárias
ao entendimento até então adotado pelas cortes trabalhistas. Considerando o valor social do trabalho, o autor
sugere alguns limites às negociações coletivas e assinala a importância do papel do Ministério Público do Trabalho
no enfrentamento dessas questões.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
3. EQUIPARAÇÃO SALARIAL
Quando a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, em seu art. 7º, XXX, a “proi-
bição de diferença de salários, [...] por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil”, ela está erigindo
um princípio antidiscriminatório e de igualdade salarial aos trabalhadores que, independente-
mente de sexo, etnia, nacionalidade ou idade, exerçam idêntica função em trabalho de igual
valor, prestado ao mesmo empregador (art. 461, CLT).
Originalmente, no âmbito internacional, foi o Tratado de Versalhes, de 1919, que consagrou o prin-
cípio do “salário igual, sem distinção de sexo, para um trabalho de igual valor”, que integrou a
Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, sendo depois inserido no preâmbulo da
Constituição da OIT. A partir de então, foi gradativamente se incorporando no Direito Positivo e
nas Constituições de vários Estados, como princípio fundamental do Direito do Trabalho.
O princípio da igualdade salarial consta de maneira expressa no art. 5º da CLT, garantindo que
“A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual sem distinção de sexo”; mais adiante,
nos arts. 358, 460 e 461, esse princípio é regulado em relação aos trabalhadores brasileiros entre
si, aos brasileiros em face dos estrangeiros e na ausência de prova do valor do salário ajustado na
relação de emprego.
Assim, a legislação pátria veda o pagamento a trabalhador nacional de salário inferior ao do traba-
lhador estrangeiro que exerça função análoga (art. 358, CLT). Trata-se da chamada equiparação
salarial por analogia.
Figura 7 - Nossa Constituição proíbe a diferença de salários por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
Disciplina ainda a CLT que, ausente a prova da importância ajustada, ou mesmo da própria esti-
pulação do salário, o “empregado terá direito a perceber salário igual ao daquela [sic] que, na
mesma empresa, fizer serviço equivalente ou do que for habitualmente pago para serviço seme-
lhante” (art. 460, CLT). Aqui a regra de equiparação salarial é pela equivalência: mais que a prova
da identidade de função ou analogia, o que se objetiva é a comparação de igualdade de valores,
para fatos que não são idênticos e por isso não possuem a mesma natureza ou espécie.
A equiparação salarial por equivalência (art. 460, CLT) é solução para evitar a nulidade do
contrato por falta de estipulação do salário contratado ou ausência de prova da importância ajus-
tada, e em ambos os casos determina ou o pagamento de salário igual ao daquele que fizer
serviço equivalente, na mesma empresa, ou o pagamento de salário igual ao daquele que for
pago habitualmente em serviço semelhante. Veja que esta última solução apenas se aplica se na
mesma empresa não houver outro empregado com serviço equivalente, vez que exige a compa-
ração entre empregados de empresas distintas. Se houver serviços equivalentes, desnecessário
recorrer à semelhança do trabalho.
A última disposição expressa da CLT sobre equiparação regulamenta a regra “trabalho igual,
salário igual”, ou seja, resolve situações em que trabalhadores percebem salários distintos, apesar
de exercerem as mesmas atividades, simultaneamente, com a mesma qualidade e quantidade
de serviço (art. 461, CLT), através da equiparação salarial por identidade.
Veja que o art. 461 fala em idêntica função, ou seja, a atividade desenvolvida pelo trabalhador em
razão do cargo, que, por sua vez, é a posição ocupada pelo empregado na empresa.
Você deve ter percebido pela análise comparativa que, enquanto o art. 460 da CLT trata do “serviço
equivalente”, o art. 461 trata de “funções idênticas”.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
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Neste artigo, você terá uma visão crítica sobre o contexto em que foi promovida a Reforma Trabalhista, com a
edição da Lei nº 13.467/2017. Sob a justificativa da necessidade de atender às exigências do momento econômico
do País, implementou-se a chamada modernização da legislação do trabalho, repassando ao trabalhador o ônus
desse projeto que implicou indiscutível redução de direitos trabalhistas.
Por esse prisma, o artigo verifica se as alterações referentes à equiparação salarial estão em consonância com o
texto constitucional, no que diz respeito aos princípios da isonomia e da não discriminação insculpidos no art. 5º,
caput, da Constituição da República de 1988.
Título: Reforma Trabalhista: a equiparação salarial à luz dos princípios da igualdade e da não discriminação
Você percebeu que importa à equiparação o fato de o paradigma (empregado que ganha salário
maior) ser mais novo no emprego que o empregado reclamante, desde que não exceda a dife-
rença de tempo que a lei limita.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
O direito à equiparação salarial só não será reconhecido “quando o empregador tiver pessoal
organizado em quadro de carreira ou adotar, por meio de norma interna da empresa ou de
negociação coletiva, plano de cargos e salários, dispensada qualquer forma de homologação ou
registro em órgão público” (art. 461, §2º, CLT). Veja que não se trata de obrigação do empregador
(“quando ... tiver”) instituir um quadro de carreira ou um plano de cargos e salários, mas, assim
fazendo, não se poderá falar em equiparação salarial.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você estudou os conceitos de salário e conheceu denominações que guardam
direta relação com essa contraprestação, assim como outras que contêm a expressão “salário”,
mas não possuem relação direta nem com esse pagamento, efetuado ao empregado direta-
mente pelo empregador em função da relação empregatícia no contrato de trabalho, nem com
as formas de sua estipulação.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
REFERÊNCIAS
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Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.
htm Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.419, de 7 de maio de 1992. Dispõe sobre a política nacional de salários e dá outras
providências. [Revogado pela Lei nº 8.542, de 1992]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/1989_1994/l8419.htm Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em: 05 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 12.506, de 11 de outubro de 2011. Dispõe sobre o aviso prévio e dá outras providên-
cias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12506.htm Acesso
em: 05 maio 2021.
BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974,
8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas
103
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 6. [...] III - A equiparação salarial só é possível se
o empregado e o paradigma exercerem a mesma função, desempenhando as mesmas tarefas,
não importando se os cargos têm, ou não, a mesma denominação. [...] IV - É desnecessário que,
ao tempo da reclamação sobre equiparação salarial, reclamante e paradigma estejam a serviço
do estabelecimento, desde que o pedido se relacione com situação pretérita. [...] VII - Desde que
atendidos os requisitos do art. 461 da CLT, é possível a equiparação salarial de trabalho intelec-
tual, que pode ser avaliado por sua perfeição técnica, cuja aferição terá critérios objetivos. [...].
Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2015. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurispru-
dencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_1_50.html#SUM-6 Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 60. I - O adicional noturno, pago com habituali-
dade, integra o salário do empregado para todos os efeitos. II - Cumprida integralmente a jornada
no período noturno e prorrogada esta, devido é também o adicional quanto às horas prorro-
gadas. Exegese do art. 73, §5º, da CLT. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2005. Dispo-
nível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_51_100.
html#SUM-60 Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 91. Nula é a cláusula contratual que fixa deter-
minada importância ou percentagem para atender englobadamente vários direitos legais ou
contratuais do trabalhador. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003b. Disponível em:
https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_51_100.html#SUM-91
Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 159. I - Enquanto perdurar a substituição que
não tenha caráter meramente eventual, inclusive nas férias, o empregado substituto fará jus
ao salário contratual do substituído. II - Vago o cargo em definitivo, o empregado que passa
a ocupá-lo não tem direito a salário igual ao do antecessor. Brasília, DF: Tribunal Superior do
Trabalho, 2005. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/
Sumulas_Ind_151_200.html#SUM-159 Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 191. O adicional de periculosidade incide apenas
sobre o salário básico e não sobre este acrescido de outros adicionais. Em relação aos eletri-
104
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Salário e adicionais legais
citários, o cálculo do adicional de periculosidade deverá ser efetuado sobre a totalidade das
parcelas de natureza salarial. [Redação conforme a Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21/11/2003]. Brasília,
DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003c. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/
Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_151_200.html#SUM-191 Acesso em: 22 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 265. A transferência para o período diurno
de trabalho implica a perda do direito ao adicional noturno. Brasília, DF: Tribunal Superior do
Trabalho, 2003e. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/
Sumulas_Ind_251_300.html#SUM-265 Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 291. A supressão total ou parcial, pelo empregador,
de serviço suplementar prestado com habitualidade, durante pelo menos 1 (um) ano, assegura ao
empregado o direito à indenização correspondente ao valor de 1 (um) mês das horas suprimidas,
total ou parcialmente, para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de prestação de
serviço acima da jornada normal. O cálculo observará a média das horas suplementares nos últimos
12 (doze) meses anteriores à mudança, multiplicada pelo valor da hora extra do dia da supressão.
Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2011. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurispru-
dencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300.html#SUM-291 Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 354. As gorjetas, cobradas pelo empregador na
nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empre-
gado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional noturno, horas
extras e repouso semanal remunerado. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003f. Dispo-
nível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_351_400.
html#SUM-354 Acesso em: 23 jun. 2021.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16. ed. São Paulo: LTr, 2017.
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
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Humanos & Cultura. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/mexico/const1917.
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NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
SILVA, Edvaldo Fernandes da. Salário mínimo: a desindexação entre a norma, o fato e o valor.
2009. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – CEFOR, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/190960 Acesso em: 24 maio 2021.
105
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
UNIDADE 5
Carteira de Trabalho, legislação
previdenciária e Previdência Social – CTPS
Objetivo de aprendizagem:
Aprender como fazer o registro do empregado na Carteira de Trabalho (CTPS), bem como anotar
as informações de interesse da Previdência Social.
Tópicos de estudo:
• Anotações essenciais;
• Anotações gerais;
• Anotações previdenciárias.
Iniciando os estudos:
Esta unidade contém o estudo do documento que marca a história das conquistas do Direito do Trabalho
no Brasil: a Carteira de Trabalho e Previdência Social ou CTPS.
Você conhecerá a Carteira Profissional, como inicialmente era chamada (e esse epíteto ainda se mantém
no Judiciário), as anotações legais que nela devem ser apostas e as razões de tais anotações se consti-
tuírem num verdadeiro mecanismo de identificação da vida do trabalhador, refletindo toda a sua traje-
tória profissional e conduta.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
1. ANOTAÇÕES ESSENCIAIS
Durante a chamada Era Vargas, a partir de 1930, ocorreu a expansão do Direito do Trabalho no
Brasil. A economia, na época, passava por uma transformação, deixando cada vez mais de ser
agrária para se tornar industrial, e os progressos das conquistas trabalhistas no mundo se refletiam
em nosso país, juntamente com a necessidade de uma regulamentação do trabalho urbano.
Nesse ambiente, o impulso político e legislativo propiciou a maior aceitação das ideias de inter-
venção nas relações de trabalho pelo Estado, cujo papel central teve profunda influência do modelo
corporativista italiano.
Independentemente dos objetivos da política do então presidente Getúlio Vargas serem a proteção
ou a dominação da classe trabalhadora, foi nesse período, especialmente no ano de 1930, a criação
do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, pelo Decreto nº 19.433.
No ano seguinte, houve uma valorização e proteção do trabalhador nacional pelo Decreto nº 19.482,
que deu prazo de 90 dias para os empregadores demonstrarem perante o Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio que, entre os seus empregados de todas as categorias, dois terços, pelo menos,
eram brasileiros natos.
Esse prazo foi prorrogado por mais 90 dias pelo Decreto nº 19.740, de dezembro de 1931, que também
aproveitou para equiparar ao brasileiro nato o estrangeiro cujo cônjuge fosse brasileiro e que, tendo
filhos também brasileiros, residisse no Brasil há mais de dez anos.
Nesse ambiente de ascensão dos direitos dos trabalhadores, em 21 de março de 1932, foi instituída
a Carteira Profissional pelo Decreto nº 21.175, que logo em seu art. 1º estabeleceu sua característica
de documento obrigatório para as pessoas maiores de 16 anos de idade, sem distinção de sexo, que
exercessem emprego ou prestassem serviços remunerados no comércio ou na indústria.
Figura 1 - O então presidente Getúlio Vargas mandou confeccionar a Carteira Profissional com o número 000001, simboli-
camente como primeiro trabalhador a recebê-la no Brasil, quando lhe foi atribuído o epíteto de “pai dos pobres”.
Fonte: disponível em: https://bit.ly/3yZ9aSR Acesso em: 28 jun. 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
O Decreto nº 21.175/1932 dispunha, curiosamente, no parágrafo único do art. 16, que as autoridades
policiais dos distritos poderiam “averbar notas em desabono da conduta do possuidor da carteira”,
razão por que muitos a entendem como um atestado de conduta do trabalhador, ainda mais consi-
derando que, após regularmente emitida, tinha seu porte equivalente à carteira de identidade, o que
logo fez surgir na cultura popular a alcunha de cidadão desocupado para quem não a portasse.
Essa prática de registro contábil de funcionários é comum, e eu mesmo pude obter com um
amigo uma caderneta de seu bisavô, Constantino Chicolini, expedida em 15 de junho de 1927 pela
Associação Comercial de São Paulo. Além dos dados pessoais, ela continha a data de admissão,
a natureza do cargo e a remuneração (especificada), além de espaço para registro do período
de férias. Confira na figura 2:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Figura 2 - Caderneta de registro de empregado, expedida em 15 de junho de 1927 pela Associação Comercial de São Paulo.
Fonte: acervo do autor.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
• Salário mínimo;
Iniciando a Seção I, o art. 13 da CLT estipula que a CTPS é obrigatória para o exercício de qual-
quer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que em caráter temporário, assim como para o
exercício por conta própria de atividade profissional remunerada.
Também é obrigatória a CTPS, nos termos do §1º do art. 13 da CLT, àqueles que desenvolvam
trabalho em regime de subsistência, sejam proprietários rurais ou não, individualmente ou em
economia familiar de mútua dependência e colaboração (inciso I), e também àqueles que, em
economia familiar e sem empregado, explorem área não excedente ao módulo rural estabelecido
pelo Ministério do Trabalho para cada região (inciso II).
110
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 4 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
MOMENTO HISTÓRICO
EM QUE FOI INSTITUÍDA
A CARTEIRA PROFISSIONAL
CRIAÇÃO DA CAIXA
DE APOSENTADORIA E PENSÕES
A Lei Eloy Chaves (Decreto nº 4.682) instituiu
a Caixa de Aposentadoria e Pensões para os
empregados das empresas de ferro e concedeu
a estabilidade para ferroviários com mais de 10
anos de efetivo serviço.
CRIAÇÃO DO CONSELHO
NACIONAL DO TRABALHO (CNT)
PELO DECRETO Nº 16.027
Órgão consultivo dos poderes públicos, o CNT
intermediava os debates referentes aos litígios
trabalhistas, além de controlar e supervisionar
questões relativas à Previdência Social.
SURGIMENTO
DO MINISTÉRIO DO TRABALHO
Foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria
e Comércio, pelo Decreto nº 19.433,
por iniciativa do Presidente da República
Getúlio Vargas, tendo como ministro
Lindolfo Leopoldo Boekel Collor, que, em
seu curto período no cargo, lutou para
estruturar a legislação trabalhista brasileira.
INSTITUIÇÃO DA
CARTEIRA PROFISSIONAL
A Carteira Profissional, criada pelo Decreto
nº 21.175, hoje é denominada Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS).
INÍCIO DA ESTRUTURAÇÃO
DA JUSTIÇA DO TRABALHO
Foram criadas as Comissões Mistas de
Conciliação (Decreto nº 21.396), que
funcionavam como órgãos conciliadores em
ações coletivas trabalhistas, e as Juntas de
Conciliação e Julgamento (Decreto nº 22.132),
que eram utilizadas para as causas individuais
que não afetassem a coletividade. Foram
transformadas, em 1999, mediante emenda à
Constituição, em Varas do Trabalho.
CONSTITUIÇÃO
REPUBLICANA
Foi a primeira a prever,
expressamente, a existência
da Justiça do Trabalho, mas
fora do Poder Judiciário.
CRIAÇÃO DA JUSTIÇA
DO TRABALHO
A Justiça do Trabalho foi instituída,
formalmente, pelo Decreto nº 1.237,
porém o anúncio oficial demorou
dois anos.
NASCIMENTO DA CLT
A Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) foi instituída pelo Decreto-Lei
nº 5.452 e ainda hoje é considerada a
principal norma legislativa brasileira
referente ao Direito do Trabalho e ao
Direito Processual do Trabalho.
TRANSFORMAÇÃO DO CNT EM
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO
(ÓRGÃO MÁXIMO DA JUSTIÇA
DO TRABALHO NO BRASIL) PELO
DECRETO-LEI Nº 9.797
Pelo mesmo Decreto, os Conselhos
Regionais do Trabalho passaram
a ser chamados de
Tribunais Regionais do Trabalho.
TRANSFORMAÇÃO DA JUSTIÇA
DO TRABALHO EM ÓRGÃO
DO PODER JUDICIÁRIO
PELA CONSTITUIÇÃO DE 1946
A estrutura administrativa foi mantida,
inclusive com a representação classista.
111
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
A partir da edição da Lei nº 13.874/2019, a CTPS passou a ser emitida pelo Ministério da Economia,
preferencialmente em meio eletrônico (art. 14, CLT). Essa lei, anunciada como Declaração de
Direitos de Liberdade Econômica e que fez parte da Reforma Trabalhista, acrescentou o pará-
grafo único ao art. 14 da CLT, além de revogar outros dispositivos, estipulando que a “CTPS será
emitida pelo Ministério da Economia preferencialmente em meio eletrônico”, mas ressaltando
que excepcionalmente a CTPS poderá ser emitida por meio físico pelas unidades descentrali-
zadas do Ministério da Economia (inciso I); por convênio com órgãos federais, estaduais e munici-
pais da administração direta ou indireta (inciso II); e mediante convênio com os serviços notariais
e de registro, garantidas as condições de segurança das informações (inciso III).
As exigências para a obtenção da CTPS agora são as mesmas para a do CPF, pois, na dicção
do caput do art. 16 da CLT (na nova redação dada pela Lei nº 13.874/2019), a “CTPS terá como
identificação única do empregado o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)”
(BRASIL, 2020).
Com a revogação dos incisos, parágrafo único e respectivas alíneas do art. 16, da mesma forma
que os arts. 17 a 28 da CLT, cessou a disciplina sobre a exigência de ser o trabalhador brasileiro
nato ou naturalizado, ou estrangeiro com documentos que comprovem sua situação ou visto de
trabalho, assim como já não é necessária a autorização dos pais ou responsáveis dos menores de
18 anos para obtenção da CTPS.
Figura 3 - CTPS em meio eletrônico (atual forma preferencial de emissão) e em meio físico.
112
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Foi exatamente o que ocorreu com a publicação, em 24 de setembro de 2019, no Diário Oficial da União
(edição 185, Seção 1, p. 32), da Portaria nº 1.065, de 23 de setembro de 2019, pela Secretaria Especial de Previ-
dência e Trabalho do Ministério da Economia, que disciplina apenas a emissão da CTPS em meio eletrônico,
agora denominada Carteira de Trabalho Digital. O art. 7º dessa portaria encerra a disciplina sobre esse
documento dispondo ainda que a “Carteira de Trabalho em meio físico poderá ser utilizada, em caráter
excepcional, enquanto o empregador não for obrigado ao uso do eSocial” (BRASIL, 2019b).
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Carteira de Trabalho Digital: detalhes e requisitos
A finalidade da CTPS sempre foi permitir o registro fidedigno do histórico da relação de emprego,
com a anotação de todas as atividades laborais do trabalhador que a portava, o que servia de
prova à garantia de reconhecimento dos direitos trabalhistas.
O empregador tem agora o prazo máximo de 5 dias para promover todas as anotações na
CTPS do empregado, tanto na admissão quanto nas atualizações em geral e na dispensa,
conforme o art. 29 da CLT, que, antes da Lei nº 13.874/2019, disciplinava o prazo de 48 horas.
A nova redação do art. 29 da CLT dispõe tão somente que o empregador procederá às anotações
na CTPS em relação aos trabalhadores que admitir, entre as quais se destacam: data de admissão,
remuneração e condições especiais que houver. Mas, obviamente, os dados que devem constar
na CTPS também são aqueles que anteriormente constavam da sua redação, como indicação do
empregador e cargo do empregado. As mencionadas condições especiais são, por exemplo, a
jornada de trabalho, se houver (como no contrato de experiência), facultando-se, agora, a adoção
de sistema manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Minis-
tério da Economia.
Por ser a jornada normal de trabalho no Brasil de 8 horas diárias, estipulada no art. 58 da
CLT, alega-se que essa informação pode não se afigurar essencial para anotação na CTPS,
apesar da lei exigir que fique clara e por escrito a duração do trabalho que o trabalhador
deverá cumprir diariamente.
113
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Apesar de não se especificar que a jornada de trabalho seja uma anotação essencial da CTPS, a
CLT ainda contém na sua redação preceito especial para a modalidade de trabalho externo, para
atividades que por sua natureza sejam incompatíveis com a fixação de horário, como aquelas
em que a prestação de serviço não exige a presença do trabalhador na empresa, a exemplo dos
empregados vendedores externos, entregadores e motoristas.
De acordo com o art. 62, I, da CLT, estão excepcionados do regime previsto no art. 58 do Capítulo
II – Da Duração do Trabalho, Seção II – Da Jornada de Trabalho, “os empregados que exercem
atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser
anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados” (BRASIL, 2020).
Figura 4 - Os empregados que exercem atividade externa incompatível com fixação de horário de trabalho, a exemplo dos
entregadores, devem ter tal condição anotada na CTPS.
A principal importância das anotações constantes da Carteira de Trabalho e Previdência Social é que
elas se constituem na principal prova do contrato individual de trabalho, substituída apenas pelo
respectivo instrumento escrito e pelos demais meios de prova permitidos em direito (art. 456, CLT).
APROFUNDE-SE
Você compreenderá, neste artigo, o contexto de criação da então Carteira Profissional pelo Decreto nº 21.175, 21 de
março de 1932, de Getúlio Vargas.
114
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
2. ANOTAÇÕES GERAIS
As anotações gerais a serem preenchidas na CTPS no curso do contrato de trabalho devem ser
aquelas referentes a:
• Alterações de salário;
• Alterações de função;
• Contribuições sindicais;
• Na data-base da categoria;
No caso da extinção do contrato de trabalho, afigura-se tão importante a realização pelo empre-
gador das respectivas anotações na CTPS quanto a comunicação da dispensa aos órgãos compe-
tentes e a realização do próprio pagamento das verbas rescisórias, no prazo e na forma estabele-
cidos no art. 477 da CLT.
No caso das férias, dispõe o §1º do art. 135 que o empregado não poderá entrar no gozo das
férias sem que apresente ao empregador sua Carteira de Trabalho, para que nela seja anotada
a respectiva concessão, assim como no livro ou nas fichas de registro dos empregados (§2º). Nos
casos da CTPS em meio digital, tais anotações serão dispensadas e, em seu lugar, de forma equi-
valente, constarão os registros eletrônicos gerados pelo empregador nos sistemas informatizados
da CTPS em meio digital, referidos no §7º do art. 29 da CLT (§3º, art. 135, CLT).
115
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Se o empregador não efetuar as anotações acima referidas (art. 29), será contra ele lavrado
auto de infração pelo fiscal do trabalho, que, de ofício, comunicará a falta de anotação ao órgão
competente, quando então será instaurado o processo de anotação (§3º, art. 29, CLT).
O empregador, porém, não poderá fazer outras anotações na CTPS que não sejam referentes ao
salário, data da admissão, férias e saída (art. 423, CLT). Como regra, a CLT veda ao empregador,
em seu art. 29, §§4º e 5º, efetuar anotações desabonadoras à conduta do empregado em sua
CTPS, sob pena de multa de valor igual à metade do salário mínimo regional, conforme o art. 52,
também devida em caso de extravio ou inutilização da CTPS por culpa da empresa.
REFLITA
Anteriormente à Lei nº 13.874/2019, que deu continuidade à Reforma Trabalhista, constava da redação do art.
53, hoje revogado, que “a empresa que receber Carteira de Trabalho e Previdência Social para anotar e a retiver
por mais de 48 (quarenta e oito) horas ficará sujeita à multa de valor igual à metade do salário mínimo regional”
(BRASIL, 2020).
Nesse sentido, além da fiscalização, essa ação do empregador vilipendiando a esfera privada da vida do
trabalhador era objeto de controle pelo Tribunal Superior do Trabalho, que condenava os infratores do dispositivo
legal ao pagamento de indenização por danos morais.
Como exemplo dessa atuação, leia a seguir, na ementa, o fundamento dos efeitos decorrentes da retenção da
CTPS do trabalhador, no Processo nº TST-RR-1122-52.2016.5.22.0001:
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nºs 13.015/2014 E 13.105/2015 E
ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI
Nº 13.467/2017. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – RETENÇÃO INDEVIDA DA CTPS.
116
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
A Carteira de Trabalho e Previdência Social, documento obrigatório para o exercício profissional, qualifica o
trabalhador, reproduz sua vida funcional, bem como garante acesso aos diversos direitos trabalhistas.
A retenção desmedida da CTPS pelo ex-empregador compromete a busca do trabalhador por nova colocação no
mercado de trabalho, o que, por si só, é suficiente para a deflagração de estado de angústia no indivíduo, que se
vê prejudicado na busca do sustento próprio e de sua família. Na espécie, restou
Diante de tal contexto, é possível concluir que a conduta da reclamada ofendeu o patrimônio
imaterial da trabalhadora, pois é plenamente viável imaginar o sentimento de apreensão experimentado pela
autora.
Destarte, os elementos conduta (retenção desmedida da CTPS), dano (violação na órbita interna da trabalhadora,
em face dos sentimentos de angústia e apreensão) e nexo de causalidade (o dano experimentado pelo autor
ocorreu justamente pela conduta da reclamada) restaram evidenciados, razão pela qual a reclamante faz jus à
reparação pelo dano moral experimentado. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido (TST – RR – 1122-
52.2016.5.22.0001 – 7ª Turma, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 26/05/2021, DEJT 04/06/2021).
Nesse julgamento, a reclamante trabalhava para a Fundação Municipal de Saúde (FMS), pretendendo a revisão
(Recurso de Revista) da decisão anterior proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho, que, a despeito de
reconhecer comprovado e incontroverso nos autos que a trabalhadora teve retida sua Carteira de Trabalho desde
27/05/2015, quando a entregou no setor de pessoal da FMS, para fins de anotação visando ao gozo de férias, até
17/06/2016, quando tomou conhecimento de sua juntada nos autos da reclamação trabalhista momentos antes
da audiência, entendeu aquele regional que se caracterizava situação de mero dissabor e aborrecimento, não
vislumbrando danos morais aptos a ensejar uma reparação.
A Superior Corte, revisando esse posicionamento, explicitou em sua orientação que a posição do Tribunal Superior
do Trabalho (TST) era de que a interpretação sistemática do conceito de dignidade da pessoa humana do texto
constitucional e a definição de ato ilícito do Código Civil de 2002 levavam à conclusão de que a responsabilidade
do empregador pela retenção da CTPS é objetiva e, portanto, prescinde da prova de ocorrência de dano para se
configurar.
Hoje, com o estabelecimento cada vez maior da emissão digital de todos os documentos do cidadão, ao que
a CTPS serve de modelo, essa retenção parece cristalinamente impossível de acontecer. Todavia, esse preceito
estava relacionado a determinações específicas da lei (CLT) que impunham anotações obrigatórias, essenciais e
imprescindíveis, que, apesar de suprimidas hoje do texto legal, formavam uma rede de proteção ao trabalhador,
iniciando-se nessa obrigatoriedade de anotação de seus direitos e se concluindo com a devolução em 48 horas da
Carteira de Trabalho com essas anotações. Essa complementaridade não tornava impossível, mas dificultava que
empresas utilizassem artifícios ardilosos para suprimir a declaração de direitos mínimos dos trabalhadores.
Uma busca pouco refinada na web sobre a Carteira de Trabalho Digital retornará uma série de textos festejando
sua adoção e só ressaltando vantagens.
Agora, considere que todos os benefícios sociais do trabalhador estão enucleados no eSocial para acesso
digital pelo trabalhador. Ocorre que o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (Cetic.br), que tem a missão de monitorar a adoção das tecnologias de informação e comunicação
(TIC), em pesquisa sobre a desigualdade digital no País (levantamento TIC Domicílios 2019), constatou que:
[...] 26 milhões de brasileiros não tinham acesso à web somente nas classes “D” e “E”; 20 milhões de
domicílios (28%) não possuíam conexão à Internet, realidade que afetava especialmente famílias com
renda de até um salário mínimo (45%); 35 milhões de pessoas em áreas urbanas (23%) e 12 milhões em
áreas rurais (47%) seguiam desconectadas, sem internet; 58% de brasileiros buscam a rede exclusivamente
pelo telefone móvel, proporção que chega a 85% nas classes “D” e “E” (ROCHA; MUNIZ, 2020).
Reflita, com base em todas essas informações e em outras que você próprio pode pesquisar, se a supressão desse
sistema de proteção, em que a Carteira de Trabalho tinha papel de instrumento relevante, importará em regressão
à proteção do trabalhador, uma vez que agora não é a demora na devolução que estará em jogo, mas as poucas
anotações de direitos que restaram garantidos.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Se o empregador fizer na CTPS anotação não prevista em lei, se sujeitará à multa de valor igual
a 1 salário regional e ao pagamento da emissão de nova via (art. 435, CLT).
Agora, com o número de inscrição no CPF, o trabalhador poderá dele se utilizar para fazer qual-
quer comunicação ao empregador, o que equivalerá à apresentação da CTPS em meio digital e
dispensará o empregador da emissão de qualquer recibo (§6º, art. 29, CLT).
Feita a reclamação pelo empregado, a GRTE efetuará a lavratura do termo de reclamação, determi-
nando diligências de instrução e notificando em dia e hora marcados e por carta registrada o recla-
mado, para prestar esclarecimentos e efetuar a entrega ou as anotações na CTPS (art. 37, CLT).
Se o empregador não atender à notificação da GRTE, será lavrado termo de ausência, sendo ainda
considerado revel e confesso acerca dos termos constantes da reclamação registrada, e as respectivas
anotações serão efetuadas por despacho da autoridade responsável que processou a reclamação,
que se converterá em processo administrativo de fiscalização (parágrafo único, art. 37, CLT).
Se, ao comparecer à GRTE, o empregador se recusar a assinar a CTPS, será lavrado um termo
de comparecimento, concedendo prazo de 48 horas para o empregador apresentar sua defesa
administrativa (art. 38, CLT). Após, o processo será instruído pela autoridade de primeira instância,
com subsídios suficientes para proferir a decisão administrativa.
Não havendo acordo perante a Justiça do Trabalho, o juiz proferirá decisão judicial que, sendo
cabível a reclamação e após seu trânsito em julgado, ordenará ao empregador a assinatura da
CTPS, sob pena de em seu lugar ser efetuada pela Secretaria da Vara do Trabalho, comunican-
do-se a seguir à autoridade competente para aplicação da respectiva multa cabível (art. 39, CLT).
A CTPS servirá de prova nos casos de dissídio na Justiça do Trabalho entre o empregado e o
empregador e para cálculo de indenização por acidente do trabalho ou moléstia profissional (art.
40, I e III, CLT). Todavia, a CTPS não serve mais para o efeito de declaração de dependentes perante
a Previdência Social, ante a revogação do inciso II do art. 40 da CLT, pela Reforma de 2019.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Figura 6 - As anotações na CTPS servirão de prova para cálculo de indenização por acidente de trabalho.
Obviamente toda anotação da CTPS gera uma presunção contra o empregador, pois seria inve-
rossímil ele manter empregados a seu serviço desconhecendo as anotações contidas nas CTPS,
de forma que ele responderá e lhe caberá provar o contrário, até mesmo no caso da anotação ter
sido efetuada sem sua autorização, ou por pessoa não autorizada, uma vez que sua responsabili-
dade é objetiva por atos de seus prepostos.
A anotação na CTPS é assegurada também aos trabalhadores temporários, conforme o art. 12,
§1º, da Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. No contrato de aprendizagem, a anotação na CTPS
é um dos requisitos essenciais de sua validade (art. 428, §1º, CLT). Ao exercício da profissão de
químico, é obrigatório o uso da CTPS, que substitui, em todos os casos, o diploma ou título, além
de servir de carteira de identidade (arts. 326 e 330, CLT).
A CTPS também é garantida para todos os menores de 18 anos, sem distinção de sexo, empre-
gados em empresas ou estabelecimentos de fins econômicos e naqueles que lhes forem equi-
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
parados (art. 415, CLT); e eles só poderão ser admitidos como empregados em estabelecimentos
desse tipo quando possuírem a Carteira (art. 416, CLT).
Os direitos dos empregados domésticos, insipidamente reconhecidos pela Lei nº 5.559/1972, porque
dependiam de regulamentação, foram objeto de sistematização adequada em 1º de junho de 2015,
com a promulgação da Lei Complementar nº 150, constando da determinação de seu art. 9º que,
na contratação, a CTPS será obrigatoriamente apresentada pelo empregado ao empregador que o
admitir, mediante recibo, devendo ser anotados, em prazo de 48 horas, especificamente: a data de
admissão; a remuneração; e o tipo de contrato, a saber, se por prazo determinado, de experiência ou
para atender necessidades familiares de natureza transitória e substituição temporária de empre-
gado doméstico com contrato de trabalho interrompido ou suspenso.
Figura 7 - Aos trabalhadores domésticos também está resguardada anotação na CTPS no prazo de 48 horas.
Considera-se crime de falsidade, com as penalidades previstas no art. 299 do Código Penal, a
emissão, substituição ou anotação de CTPS que, no todo ou em parte, altere a verdade; afirme
falsamente a própria identidade do portador, filiação, lugar de nascimento, residência, profissão
ou estado civil e beneficiários; ateste os de outra pessoa em seu lugar ou se utilize de documentos
falsificados para seu preenchimento. Incluem-se também a falsificação, fabricação e venda da
CTPS, ou sua posse e uso nessas condições (art. 49, I a III, CLT). Também a lei considera falsificação
a anotação dolosa de data de admissão em emprego diversa da verdadeira na CTPS, ou registro
de empregado confessado ou declarado extra ou judicialmente.
A comprovação da falsidade será comunicada à autoridade que tiver emitido a carteira (art. 50,
CLT), incorrendo em multa no valor igual a 3 vezes o salário mínimo aquele que, comerciante ou
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
não, vender ou expuser à venda qualquer tipo de carteira igual ou semelhante à CTPS oficial-
mente adotada (art. 51, CLT).
A empresa que culposamente extraviar ou inutilizar a CTPS se sujeitará a multa de valor igual à
metade do salário mínimo (art. 52, CLT).
Além das anotações na CTPS, a CLT preconiza, em seu art. 41 (sem alteração), ser obrigatório ao
empregador efetuar o registro dos trabalhadores que tenha contratado, por meio de livros, fichas ou
sistema eletrônico, cujo preenchimento esteja de acordo com as instruções expedidas pelo Ministério
do Trabalho. No entanto, como esse artigo não foi alterado pela Reforma, deve ser entendido como
instrução da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.
Nesse registro dos dados funcionais, além da qualificação civil ou profissional de cada trabalhador,
deverão ser anotados todos os dados relativos à sua admissão no emprego, como duração e efetivi-
dade do trabalho, os períodos aquisitivos e usufruídos de férias, eventuais acidentes e todas aquelas
circunstâncias que interessem à proteção do trabalhador (art. 41, parágrafo único, CLT).
O empregador que não registrar seus empregados se sujeitará a multas administrativas apli-
cadas pelos fiscais do que hoje é a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério
da Economia, no valor de R$3.000,00 (três mil reais) por empregado não registrado, acrescido de
igual valor em cada reincidência (art. 47, CLT).
Apesar de a CTPS ser emitida e atualizada pelo Ministério do Trabalho, as questões que envolvem
os acidentes de trabalho devem ser tratadas pela Previdência Social, competente para promover
as anotações necessárias ao reconhecimento de direitos do empregado nesses casos (art. 30,
CLT), em que a CTPS regularmente emitida e anotada servirá de prova para o cálculo de indeni-
zação por acidente do trabalho ou moléstia profissional (art. 40, II, CLT).
APROFUNDE-SE
Veja nessa reportagem (p. 11-15) de Sandra Turcato e Rosualdo Rodrigues, com colaboração da juíza Eulaide Lins
(Amatra 11), da Revista da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, a análise de magistrados
e estudiosos sobre a figura da “pessoa jurídica”, a chamada “pejotização” e seus efeitos. Para os autores, essa é
uma forma de reduzir direitos trabalhistas garantidos por lei, numa realidade em que muitos trabalhadores são
obrigados a aceitar as “imposições” dos empregadores, substituindo o registro da Carteira de Trabalho em nome
da garantia de seu próprio sustento.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
3. ANOTAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
A proteção previdenciária consta da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, entre
outros direitos fundamentais da pessoa humana, o que se extrai sem muita dificuldade do que
está preceituado no seu artigo 25:
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à
assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança
no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de
meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).
Nesse mesmo diapasão, a previdência social é direito fundamental que encontra previsão desde
o texto da Carta Magna, exatamente no Capítulo dos Direitos Sociais (II), porque está ligado ao
trabalho enquanto direito social (art. 6º, caput, CF/1988), e tem sua previsão no art. 7º, entre os
direitos fundamentais dos trabalhadores “que visem à melhoria de sua condição social: [...] IV - [...]
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo [...]”, estenden-
do-se aos trabalhadores domésticos (parágrafo único). Ainda nesse capítulo constitucional, asse-
gura-se a participação dos trabalhadores, juntamente com os empregadores, “nos colegiados
dos órgãos públicos em que seus interesses previdenciários sejam objeto de discussão e delibe-
ração” (art. 10, CF/1988).
Como benefício assegurado pela Constituição Federal de 1988, a previdência social no Brasil é a
garantia de benefícios específicos em situações de aposentadoria, invalidez, demissão, materni-
dade, reclusão ou morte do mantenedor.
A previdência possui três regimes distintos. O que nos interessa a esse estudo é o Regime Geral
de Previdência Social (RGPS), aplicado aos trabalhadores em geral, razão da denominação atual
da Carteira de Trabalho e Previdência Social. Os outros dois regimes são o próprio dos servidores
públicos e o regime complementar.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Figura 8 - Compete ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a operacionalização do reconhecimento dos direitos dos
segurados do RGPS.
Para concessão de aposentadoria, inclusive após a Reforma da Previdência que passou a vigorar
em novembro de 2019, além de comprovar a idade, é necessário comprovar o tempo de contri-
buição. Para os trabalhadores em empregos formais, a CTPS é um dos documentos essenciais
exigidos no requerimento desse benefício. Para o trabalhador avulso, ou autônomo, que presta
serviço a várias empresas tomadoras de serviço e não possui vínculo empregatício, são exigidos
apenas os carnês de contribuição, conhecidos como Guia da Previdência Social (GPS).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
Assim, o tempo de serviço do trabalhador urbano como empregado pode ser comprovado por meio
da CTPS, desde que não haja prova de fraude, devendo ser reconhecido independentemente da
demonstração do recolhimento das contribuições, as quais são de responsabilidade tributária do
empregado. A Carteira também pode ser utilizada como início de prova material na atividade rural
do denominado trabalhador boia-fria, ainda que suas anotações estejam incompletas ou rasuradas.
Figura 9 - As anotações contidas na CTPS devem ser fidedignas, sem fraudes, a fim de serem consideradas como
prova em processos futuros.
As anotações legais que devem ser efetuadas na CTPS servem de parâmetro e prova para os
respectivos recolhimentos previdenciários que o empregador efetuará, assim como para o depó-
sito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), na forma da lei, pois terão como base os
valores pagos no período mensal, e os comprovantes do cumprimento dessas obrigações deverão
ser fornecidos ao empregado, segundo preceitua o §8º do art. 452-A, acrescido à CLT pela Lei nº
13.467, de 13 de julho de 2017, publicada no Diário Oficial da União de 14 de julho de 2017, cuja
vigência se iniciou 120 dias após essa publicação.
Até aqui, foi destacado que a CTPS é o documento indispensável para que o trabalhador preste
serviços, garantindo a seu titular tanto os direitos trabalhistas quanto os benefícios sociais. Além
de comprovar a relação de emprego e o seu tempo de duração, a CTPS também serve de prova
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
As anotações na CTPS que dizem respeito a ter o trabalhador exercido atividade remunerada
para pessoa jurídica, durante pelo menos 30 dias, consecutivos ou não, e ter recebido remune-
ração mensal média de até dois salários mínimos durante o ano-base são consideradas para
apuração do abono salarial instituído pela Lei nº 7.998/1990, equivalente ao valor máximo de um
salário mínimo a ser pago conforme calendário anual estabelecido pelo Conselho Deliberativo
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT), juntamente com a exigência de ter se cadas-
trado pelo menos 5 anos no PIS e ter seus dados informados pelo empregador (pessoa jurídica)
corretamente na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)/eSocial.
Esse abono, de acordo com a Lei nº 13.134/2015, passou a ter valor proporcional ao tempo de serviço
do trabalhador no ano-base em que faça jus ao recebimento, sendo o valor do benefício calculado
de acordo com o número de meses trabalhados no ano-base, multiplicado por 1/12 do valor do
salário mínimo vigente na data do pagamento. A CTPS servirá de prova do período trabalhado de
no mínimo 30 dias por empresa no ano-base (período igual ou superior a 15 dias é contado como
mês integral), pois cada mês trabalhado equivale a 1/12 de salário mínimo no valor do benefício.
• Rescisão do contrato por culpa recíproca ou força maior, quando é exigida a apresen-
tação da própria CTPS original, de cópia das respectivas folhas de rosto/verso e da página
do contrato de trabalho, para instrução.
A declaração de opção, pelo FGTS, prevista no art. 1º, §2º, da Lei 5.107/66, é ato solene que,
entretanto, pode ser suprida com base em anotações constantes da Carteira de Trabalho,
se é o empregado que busca demonstrar sua efetivação. É que a lei visa a proteger a mani-
festação de vontade do empregado, e deve ser interpretada dentro desse parâmetro teleo-
lógico, sob pena de formalismo, incompatível com relação jurídica trabalhista, que se pauta
pela realidade (TST – RR 6.098/90.5, Rel. Min. Hylo Gurgel, Ac. 2ª T. 393/91, Data de Julgamento:
25/02/1991, DJU 26/04/1991).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
O trabalhador que possua CTPS assinada faz jus ainda ao vale-cultura, um benefício consistente
no auxílio de R$50,00, oferecido pelas empresas que fazem parte do Programa de Cultura do
Trabalhador, que visa garantir acesso e incentivo aos programas culturais brasileiros.
APROFUNDE-SE
Confira neste vídeo, do canal do TST no YouTube, o quadro “Tome Nota”, e fique atento a cinco informações
importantes sobre a CTPS, documento que garante o acesso a alguns dos principais direitos trabalhistas no Brasil.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você teve um panorama detalhado que abrangeu desde a criação até a atual utili-
zação da Carteira de Trabalho e Previdência Social, também conhecida como Carteira Profissional
(agora você sabe o porquê), que assegura o exercício dos direitos trabalhistas, graças a anotações
essenciais que nela devem constar, como, por exemplo, o início e o fim da relação de emprego, a
jornada, o salário inicial e seu histórico durante a relação, o seguro-desemprego, benefícios previ-
denciários, o Fundo de Garantia, entre outros.
Você pôde refletir sobre a importância desse documento para o estabelecimento do vínculo formal
de emprego, para ambas as partes contratantes. Para a parte contratada, o empregado, ele repre-
senta sua identidade enquanto trabalhador. A identidade é um dos mais preciosos direitos de
personalidade, que você verificou, neste estudo, estar amparado no Título II da CLT (arts. 13 a 56),
que se refere especificamente aos interesses individuais do obreiro, mas que projeta, a partir dele,
efeitos econômicos no interesse coletivo e no interesse público, na medida em que a anotação do
contrato de trabalho impõe a distribuição dos direitos trabalhistas e previdenciários adquiridos.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
GLOSSÁRIO
Epíteto: palavra ou expressão que se associa a um nome ou pronome para qualificá-lo; qualifi-
cação elogiosa ou injuriosa dada a alguém; alcunha, qualificativo.
Preposto: figura típica e usual no Direito Processual Trabalhista que se refere à pessoa que foi
colocada pelo preponente em seu próprio lugar, personificando-o, e deve ter o conhecimento
do preponente quanto aos fatos. O preposto tem responsabilidade pelos atos culposos perante à
empresa e pelos atos dolosos.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1943). Organização de Eliezer de Queiroz
Noleto. 2. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados/ Edições Câmara, 2020. (Série Legislação, 13).
E-book. Disponível em: https://livraria.camara.leg.br/index.php?route=product/product&pro-
duct_id=327 Acesso em: 01 abr. 2021.
BRASIL. Decreto nº 19.740, de 7 de março de 1931. Dilata o prazo fixado no art. 3º do decreto nº
19.482, de 12 de dezembro de 1930, e equipara aos brasileiros natos, para os efeitos do mesmo
decreto, os estrangeiros nas condições que menciona. Disponível em: https://www2.camara.leg.
br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19740-7-marco-1931-509434-publicacaooriginal-1-pe.html
Acesso em: 03 jun. 2021.
BRASIL. Decreto nº 21.175, de 21 de março de 1932. Institui a carteira profissional. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21175-21-marco-1932-526745-pu-
blicacaooriginal-1-pe.html Acesso em: 03 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. Altera as Leis nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, que
regula o Programa do Seguro-Desemprego e o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Traba-
lhador (FAT), nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, que dispõe sobre o seguro-desemprego para o
pescador artesanal, e nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da
Previdência Social; revoga dispositivos da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, e as Leis nº 7.859, de 25
de outubro de 1989, e nº 8.900, de 30 de junho de 1994; e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13134.htm Acesso em: 02 jul. 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 5 - Carteira de Trabalho, legislação previdenciária e Previdência Social – CTPS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 225. Não é absoluto o valor probatório das anotações
da carteira profissional. Brasília, DF: Supremo Tribunal Federal, 1963. Disponível em: http://www.
stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2074 Acesso em: 01 jul. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Linha do Tempo: do CNT ao TST, 4 out. 2017. Disponível em:
http://www.tst.jus.br/documents/10157/24445623/LINHA+DO+TEMPO_+CNT_10%2C14x1%2C90m.
pdf/e5a79063-8e79-e231-abf0-c8f9621dca2e Acesso em: 10 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho (2. Turma) Recurso de Revista 6098/1990.5. Relator Ministro
Hylo Gurgel, Data de Julgamento: 25/02/1991. Diário de Justiça da União, Brasília, DF, 26 abr. 1991.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho (7. Turma). Recurso de Revista 1122-52.2016.5.22.0001. Relator
Ministro Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 26/05/2021. Diário da Justiça Eletrônico,
Brasília, DF, 4 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 12. As anotações apostas pelo empregador na
carteira profissional do empregado não geram presunção juris et de jure, mas apenas juris
tantum. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003. Disponível em: https://www3.tst.jus.br/
jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_1_50.html#SUM-12 Acesso em: 01 jul. 2021.
DELGADO, Mauricio G. Curso de Direito do Trabalho. 16. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2017.
MARTINS, Sergio P. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
NASCIMENTO, Amauri M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/por.pdf Acesso em: 13 jul. 2021.
ROCHA, Rosely; MUNIZ, Marize. Falta de universalização à internet pode prejudicar trabalhador
no uso da carteira digital, afirma advogada trabalhista. Sindicato dos Trabalhadores Ener-
géticos do Estado de São Paulo, 19 out. 2020. Disponível em: https://www.sinergiaspcut.com.
br/2020/10/19/em-2021-so-a-carteira-de-trabalho-digital-sera-aceita-entenda-como-funciona/
Acesso em: 01 jul. 2021.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
UNIDADE 6
Negociações trabalhistas e
dissídios coletivos
Objetivo de aprendizagem:
Tópicos de estudo:
Iniciando os estudos:
Nesta unidade, vou lhe apresentar o Direito Coletivo do Trabalho. Você vai estudar por que a Cons-
tituição privilegia a negociação coletiva, organizando seu regramento em princípios, para que a
legislação infraconstitucional ofereça o mínimo de uniformidade e liberdade para os atores desse
tabuleiro de ajustes que são os inevitáveis interesses contrários presentes na tensão entre, de um
lado, os sindicatos dos trabalhadores e, de outro, os sindicatos patronais ou empregadores. Você
verá o que inspirou o nascimento desse ramo do Direito, assim como os instrumentos, a delimi-
tação jurídica e a organização de cada um desses representantes.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
A Revolução Francesa de 1789 proclamou, pela primeira vez na Europa, a liberdade de iniciativa,
abrindo caminho para o capitalismo, sustentado pela liberdade formal concretizada nas normas
jurídicas do Estado, como na Constituição Francesa de 1791, que não reconhecia expressamente a
condição de cidadão ao trabalhador assalariado. Isso depois foi seguido na Constituição Brasileira
de 1824.
Dos ideais revolucionários franceses, a liberdade de iniciativa foi garantida pela lei, e apenas diante
dela havia igualdade entre os cidadãos, cabendo, dessa forma, à fraternidade substituir o Estado. O
pensamento liberal que norteou a Revolução Francesa, nas palavras de Alvacir Alfredo Nicz, “corres-
ponde ao Estado Liberal que traduzia o pensamento econômico do laissez-faire, laissez-passer,
deixava aos cidadãos a possibilidade do exercício da livre concorrência de modo que o egoísmo de
cada um ajudasse a melhoria do todo” (NICZ, 1981, p. 11).
O Estado liberal corporificava todo o individualismo dos séculos XVII e XVIII, cunhando uma omissão
institucionalizada diante dos problemas sociais e econômicos. Com a Revolução Industrial, o capi-
talismo afirma o trabalho livre como superação do sistema feudal e das suas práticas de servidão.
Assim, nesse momento histórico, forma-se uma massa de trabalhadores livres, prestando serviços
sob a condição de assalariados, o que dá origem à classe social denominada proletariado, subme-
tida unicamente ao poder dos que detinham os meios de produção para sua contratação, sem qual-
quer intervenção do Estado.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Figura 1 - No período da Revolução Industrial, forma-se uma massa de trabalhadores livres, que prestava serviços sob a
condição de assalariados: a classe proletária.
Fonte: adaptado de https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/09/revolucao-industrial.jpg Acesso em: 08 set. 2021.
Não tardou a surgir uma tensão estabelecendo uma polarização das relações sociais entre explo-
radores e explorados, dividindo a sociedade em duas grandes classes em decorrência de seus inte-
resses antagônicos: a burguesia e o proletariado. O direito do trabalhador nasce, assim, como uma
reação natural contra as péssimas condições de trabalho e a indiferença do Estado diante dessa
questão social, marcada basicamente pela impossibilidade do trabalhador se defender diante do
poder econômico da grande indústria, pela exploração do homem pelo homem e pelo poder abso-
luto do empregador sobre o trabalhador.
Assim, após a Revolução Industrial, a concentração dos trabalhadores nas fábricas propicia a solida-
riedade entre eles, e não tarda que passem a se organizar, questionando e confrontando os empre-
gadores sobre as condições subumanas de trabalho da época.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Surgido no fim do século XVIII, o ludismo, também conhecido como movimento ludita, foi inspirado na
lenda do enfurecido operário britânico chamado Ned Ludd, que havia quebrado as máquinas de seu
patrão por considerar que elas eram a razão de sua condição de miséria.
O que motivava essa ideia era que a escalada de utilização das máquinas, que deveria diminuir
as jornadas de trabalho e elevar os salários em razão do maior rendimento do trabalho produ-
tivo, paradoxalmente manteve a duração do trabalho, em geral de 16 horas diárias, e provocou
apenas a redução no valor dos salários. Afinal, o desemprego fazia com que a procura fosse maior
que a oferta de empregos, tornando farta e barata a mão de obra, sobretudo com o ingresso
de mulheres e crianças no mercado de trabalho para complementar o orçamento da família
operária, aumentando a mão de obra disponível com baixos salários.
Diversos atos inspirados na Lei Chapelier, de 1791, responsável pela abolição das corporações de
ofício, proibiam a coalizão de cidadãos em grupos organizados, sob a justificativa de privação
da liberdade individual do restante dos cidadãos, tipificando como delitos penais as tentativas
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Figura 3 - No movimento ludista, os trabalhadores quebravam máquinas, pois as consideravam a principal causa-
dora da precária condição de vida.
Fonte: adaptado de https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2021/05/movimento-operario-o-que-
-e-tipos-ideologias-e-historia-1.jpg Acesso em: 08 set. 2021.
Esse movimento evoluiu de tal forma que o Parlamento inglês aprovou em 1824 uma lei esten-
dendo aos operários a livre associação, antes só permitida às classes sociais dominantes, e assim
as trade unions passaram a ser criadas como organizações dos trabalhadores equivalentes aos
atuais sindicatos.
A negociação pelas trade unions se fazia em nome do conjunto de trabalhadores, unificados pela
reivindicação de direitos e maiores salários em negociações coletivas, evitando, dessa forma, a
pressão dos empregadores sobre os trabalhadores individualmente.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Firmado o acordo e estando concertadas as partes, dessas tratativas surge o compromisso, moral
e jurídico, de que durante o período de vigência da convenção os empregados não pleiteiem
outras vantagens. Ressalte-se que, em relação à vigência desses acordos, o art. 614, §3º, da CLT
determina não ser “permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de
trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade” (BRASIL, 2020).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Como já esbocei neste tópico, as negociações individuais são tratativas singulares entre o empregado
e o empregador, com o mesmo objetivo de ajustar as cláusulas do contrato individual de trabalho, mas,
nesse caso, apenas entre os dois.
Afinal, a história das relações entre seres humanos mostra que sempre houve e haverá um elo mais
forte e um mais fraco. A história do próprio Direito do Trabalho traz inúmeros exemplos de como o
trabalhador era submetido a condições de labor desumanas. No Brasil, várias manifestações sociais
na década de 1930 propiciaram o surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT (1943), como
forma legal de intervenção estatal na proteção à dignidade humana do trabalhador. Por isso, o
Direito Trabalhista se estrutura em diversos princípios que objetivam garantir a dignidade da
pessoa humana do trabalhador, como o princípio básico da proteção, que orienta e ilumina todos
os demais princípios e é por muitos considerado norteador da criação do próprio Direito do Trabalho,
como garantia de proteção da parte mais fragilizada da relação trabalhista, o trabalhador. Não fosse
assim, seu epíteto seria Direito do Empregador.
APROFUNDE-SE
Veja neste curta como as negociações trabalhistas estão intrinsecamente ligadas à história do próprio Direito do
Trabalho e suas conquistas de bem-estar para a massa de trabalhadores.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Todavia, após a edição da Lei nº 13.467/2017, a limitação imposta à autonomia da vontade nos
contratos de trabalho foi praticamente retirada do texto legal, devolvendo às partes uma liber-
dade contratual incompatível com a relação de emprego, na qual há nítida e inquestionável
hipossuficiência do trabalhador. O ajuste das cláusulas de um contrato pressupõe paridade de
armas, ou seja, que ambas as partes possuam forças iguais, para que gozem de plena liberdade
nessas tratativas, o que obviamente não ocorre na relação de emprego.
Desse modo, a Lei nº 13.467/2017, ignorando o patamar jurídico fixado na Constituição da Repú-
blica para as relações de emprego, faz emergir a desmedida prevalência do poder econômico
como parâmetro jurídico, na principal relação de poder existente no âmbito da economia e da
sociedade, que é a relação de emprego.
Figura 4 - A paridade de forças entre empregado e empregador, pressuposta na CLT, não ocorre na relação de emprego.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Ora, as características da relação de emprego previstas nos arts. 2º e 3º da CLT não podem ser
afastadas pela vontade das partes, sem que haja contrato formal de trabalho autônomo ou de
prestação de serviços, pois isso se afigura contraditório à interpretação sistêmica da legislação
trabalhista, que reconhece no liame empregatício um direito irrenunciável.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Arbitragem no Direito Trabalhista
Nessa mesma linha, o art. 477-B, alterando a CLT, impõe a mesma força da autonomia da vontade das rela-
ções civis ao trabalhador, permitindo que ele negocie individualmente, ainda que em prejuízo próprio, sua
adesão ao Programa de Demissão Voluntária, estabelecido em negociação coletiva.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Por força do art. 484-A da CLT, permite-se que a negociação individual extinga o contrato de trabalho,
mediante acordo entre empregado e empregador, caso em que será devido pela metade o pagamento do
aviso prévio e da multa do FGTS, cujo levantamento será de 80%. Nesse caso, seria até plausível essa dispo-
sição legal, caso a vontade do empregado de se desligar do emprego fosse livre de coações, e houvesse
outra possibilidade além de procurar seus direitos sem ter recebido nenhum valor.
A negociação individual pela autonomia da vontade autoriza a assinatura do termo de quitação anual de
obrigações, acrescido pelo art. 507-B à CLT, possibilitando a quitação geral, com eficácia liberatória, das
parcelas nele especificadas, e não do valor de cada parcela. Claramente, abre-se a possibilidade de não se
pagar o valor devido e obter a quitação total da parcela.
Você viu, até aqui, que as negociações trabalhistas podem ser individuais, ou singulares, entre empre-
gado e empregador, mas podem ainda ser coletivas. E essas negociações, apesar de também consti-
tuírem uma técnica de autocomposição, por serem coletivas, têm fundamento na estrutura do Direito
Sindical e Coletivo do Trabalho.
Como meio-termo entre a negociação individual e a representação sindical, a Reforma Trabalhista criou
a comissão de representantes de empregados nas empresas com mais de 200 empregados, eleita com a
finalidade de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores (art. 510-A, CLT). Veja como essa
comissão é composta, de acordo com o art. 510-A, §1º, da CLT:
Empresas com mais de 200 até Empresas com mais de 3.000 até Empresas com mais de 5.000
3.000 empregados 5.000 empregados empregados
Caso a empresa possua empregados em vários estados da Federação e no Distrito Federal, será eleita uma
comissão de representantes por estado ou no Distrito Federal (art. 510-A, §2º, CLT). Se não houver candidatos
suficientes na eleição, a comissão de representantes poderá ser formada com número de membros inferior
ao previsto por lei (art. 510-C, §5º, CLT). Do registro da candidatura até um ano após o fim do mandato, o
membro da comissão de representantes dos empregados não poderá sofrer despedida arbitrária, ou seja,
sem motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro (art. 510-D, §3º, CLT).
As negociações coletivas possuem dois instrumentos previstos no sistema jurídico brasileiro: a convenção
coletiva de trabalho e o acordo coletivo de trabalho, conforme você verá no tópico 2, juntamente com o
dissídio coletivo, que, como se infere do próprio nome, surge quando, em razão de conflito de interesses ou
opiniões, controvérsia, divergência ou dissensão, a negociação coletiva é malsucedida (dissídio econômico),
resultando na necessidade de judicialização desse dissenso.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Art. 611. Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou
mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condi-
ções de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações indivi-
duais de trabalho (BRASIL, 2020).
Por sua vez, o acordo coletivo consta da disciplina do §1º do mesmo art. 611 da CLT:
A convenção coletiva de trabalho (art. 611, CLT) e o acordo coletivo de trabalho (art. 611, §1º, CLT)
são fontes formais autônomas do Direito do Trabalho, juntamente com o costume (art. 8º, CLT) e
o regulamento empresarial, e têm como característica a imediata participação dos destinatários
nas regras produzidas, sem a interferência de um terceiro enquanto agente externo. O próprio
caput do art. 611 dispõe sobre o caráter normativo da convenção coletiva de trabalho.
Desde o texto da Carta Magna de 1988, ficou estabelecida a importância das convenções coletivas
de trabalho enquanto fontes do Direito do Trabalho (art. 7º, XXVI, CF/1988), competentes para esta-
belecer normas e condições de trabalho, assim como flexibilizar direitos fundamentais dos traba-
lhadores, como o salário (art. 7º, VI, CF/1988) e a duração do trabalho (art. 7º, XIII e XIV, CF/1988).
Com a Reforma Trabalhista, houve prevalência do negociado sobre o legislado, de fácil percepção
na simples intelecção do texto do art. 611-A inserido na CLT. Em seus 15 incisos, o referido artigo traz
um rol meramente exemplificativo das hipóteses dessa prevalência da convenção e dos acordos
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
coletivos de trabalho sobre a lei, nada impedindo, portanto, que sobre outras matérias essas nego-
ciações coletivas prevaleçam, pela absoluta impossibilidade de prever todas as hipóteses.
Assim, na dicção do art. 611-A, a convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho preva-
lecerão sobre a lei quando, entre outras hipóteses possíveis, dispuserem sobre as matérias
arroladas nos incisos I a XV, a saber:
XIII. prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das auto-
ridades competentes do Ministério do Trabalho;
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Noutro nível, com a alteração da redação do art. 620 da CLT, trazida pela Lei nº 13.467/2017, as
condições estipuladas em acordo coletivo de trabalho passaram a prevalecer sobre aquelas esta-
belecidas em convenção coletiva de trabalho. Ou seja, o acordo obtido por uma ou mais empresas
em um acordo coletivo com um sindicato de uma categoria de trabalhadores se sobrepõe àquele
obtido em negociação coletiva entre sindicato de trabalhadores e sindicato patronal.
Isso porque o acordo coletivo de trabalho, como instrumento normativo, tem sua aplicação mais
restrita e, apesar de também ser fruto da negociação coletiva, refere-se à negociação desenvol-
vida no nível da empresa, com efeitos somente aplicáveis a esta (ou ao conjunto de empresas)
e aos trabalhadores envolvidos, estabelecendo, consequentemente, condições de trabalho que
devem ser respeitadas por seus próprios destinatários.
Conforme dispõe o §1º do art. 611 da CLT, o acordo coletivo pode ser celebrado pelos sindicatos
representativos de categorias profissionais, com uma ou mais empresas da correspondente cate-
goria econômica, a fim de estipular condições de trabalho aplicáveis no âmbito da empresa ou
das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho.
Dessa forma, a Constituição Federal reconhece no acordo coletivo a tipicidade das normas jurí-
dicas, com o condão de fixar condições gerais, abstratas e impessoais, destinadas à regulamen-
tação de relações jurídicas (art. 7º, XXVI, CF), apesar de apresentar espectro mais limitado que as
convenções coletivas, pois o acordo coletivo se refere a uma ou mais empresas, e não à categoria
econômica como um todo.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Esse instrumento jurídico, de natureza coletiva, que emana da negociação coletiva de trabalho
malsucedida, e de grande utilização no setor privado da economia brasileira, encontra-se disposto
nos arts. 856 e seguintes da CLT, bem como no art. 114, §2º, da Constituição Federal. O dissídio coletivo
envolve direitos e interesses abstratos e gerais entre categorias econômicas e de trabalhadores, obje-
tivando criar, modificar ou extinguir condições de trabalho e de remuneração, com base no princípio
da autonomia privada coletiva, e por meio do poder normativo dos Tribunais do Trabalho.
O dissídio coletivo de natureza econômica, que possui caráter sui generis, é uma espécie de
ação judicial em que figuram como partes entidades coletivas que pretendem a solução de um
conflito coletivo de trabalho, por intermédio de uma decisão denominada sentença normativa,
na qual serão estabelecidas condições de trabalho (como reajuste salarial, entre outros benefí-
cios) para os integrantes da categoria profissional representada pelo sindicato que participou da
relação processual.
A legitimação ativa (aquele que pode assumir o polo ativo do processo, ser autor) para propositura
do dissídio coletivo de natureza econômica é dos sindicatos representantes de uma determinada
categoria profissional. O empregador não pode suscitá-lo, ou seja, falta-lhe o chamado interesse
de agir, uma vez que pode conceder de modo espontâneo aos seus empregados as vantagens
que bem entender, não precisando para isso iniciar uma negociação coletiva nem obter autori-
zação da Justiça do Trabalho. Diferentemente, o sindicato da categoria profissional, para obter
melhores condições em favor dos interesses coletivos e individuais dos trabalhadores, necessita
buscá-las junto ao empregador por meio de negociação coletiva; sendo essa frustrada, restará a
instauração do dissídio, para o qual possui legitimidade ativa, aquela que permite promover esse
tipo de ação judicial em nome da categoria.
Como você pôde analisar até aqui, é por meio do dissídio coletivo de natureza econômica que se
examinam as condições de trabalho reivindicadas pelos trabalhadores em substituição às então
vigentes. Já o dissídio coletivo que possui natureza jurídica se presta a fazer a interpretação jurí-
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
dica sobre a legalidade e validade das cláusulas formuladas em normas coletivas de trabalho.
Nessa demanda coletiva, o Judiciário Trabalhista cumpre sua função típica de revelar o sentido
da regra, do direito.
No dissídio coletivo de greve, a Justiça do Trabalho decide sobre a abusividade ou não do movi-
mento grevista e a instituição de novos direitos caso a greve seja considerada legal. A compe-
tência nessa matéria é outorga constitucional, constando do §3º do art. 114, da Carta de 1988:
“[e]m caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o
Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho
decidir o conflito” (acrescido em 1998 pela Emenda Constitucional nº 20, e com nova redação
dada em 2004 pela Emenda Constitucional nº 45).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Figura 6 - A paralisação dos trabalhadores pela greve (strike) suscita uma espécie de ação judicial denominada dissídio
coletivo de greve, competindo à Justiça do Trabalho decidir sobre sua abusividade e questões correlatas, como a manu-
tenção de atividades essenciais.
A Lei nº 7.783/1989, que trata do exercício do direito de greve, definindo as atividades essenciais e
regulando o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, entre outras providências,
dispõe em seu art. 8º que a “Justiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério
Público do Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência das reivindica-
ções, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente acórdão” (BRASIL, 1989).
Nas atividades essenciais, em caso de greve, em face da possibilidade de lesão do interesse público, o
Ministério Público do Trabalho, concorrentemente com o empregador, poderá ajuizar dissídio coletivo
para declaração de abusividade de greve (art. 114, §3º, CF/1988).
Como os sindicatos possuem legitimidade para instaurar dissídio econômico, jurídico ou de greve,
importante ressaltar que essa legitimidade da entidade sindical para a instauração da instância
contra determinada empresa está condicionada à prévia autorização dos trabalhadores da empresa
suscitada diretamente envolvidos no conflito (Orientação Jurisprudencial nº 19, TST-SDC).
146
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Portanto, o dissídio coletivo, seja de natureza econômica, jurídica ou de greve, é um processo judicial
interposto para a solução dos conflitos coletivos do trabalho perante os Tribunais Trabalhistas, os
quais proferem sentenças denominadas normativas. Trata-se de um importante mecanismo de criação
de normas e condições de trabalho no Direito pátrio, quando as partes que não se compuseram na nego-
ciação coletiva acionam a jurisdição.
Ao julgar ou homologar ação coletiva ou acordo nela havido, o Tribunal Superior do Trabalho
exerce o poder normativo constitucional, não podendo criar ou homologar condições de
trabalho que o Supremo Tribunal Federal julgue iterativamente inconstitucionais.
Com a nova redação ao §2º do art. 114 da Constituição Federal de 1988, feita em 2004 pela Emenda
Constitucional nº 45, o instituto do dissídio coletivo de natureza econômica foi relativizado,
passando a exigir, para seu ajuizamento, o comum acordo entre as partes que recusaram a nego-
ciação coletiva.
APROFUNDE-SE
Acompanhe neste artigo comentários sobre o dissídio coletivo, sua legitimação, requisitos para instauração,
procedimento e outros temas correlatos de aprofundamento sobre o assunto.
147
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
O designativo Direito Sindical é utilizado por doutrinadores encabeçados pelo clássico Amauri
Mascaro Nascimento, conforme revela sua obra Compêndio de Direito Sindical (2015), e tem
como referência a entidade sindical e sua organização estrutural, considerando a disciplina em
sua perspectiva de representação coletiva e, portanto, subjetiva.
Figura 7 - O Direito Sindical e o Direito Coletivo do Trabalho são designações que dizem respeito à coletivização do Direito
do Trabalho.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
No início desta unidade, você viu que o Direito do Trabalho se encontra intrinsecamente relacio-
nado ao desenvolvimento do capitalismo, e isso também se aplica à gênese do Direito Coletivo. O
próprio surgimento das primeiras leis trabalhistas objetivava a preservação das massas trabalha-
doras enquanto forças produtoras, limitando a jornada diária de trabalho, bem como regulando
os descansos semanais e as atividades consideradas insalubres.
O Direito Individual do Trabalho trata de uma relação jurídica desigual entre um ser individual
(trabalhador) e um ser coletivo (empregador), razão pela qual tem como princípios a norma mais
favorável, a condição mais benéfica e o in dubio pro operario, tríplice vertente de tutela da hipos-
suficiência do trabalhador individualmente considerado. Já o Direito Coletivo do Trabalho tem
em suas relações jurídicas, de um lado, o sindicato profissional (de cada categoria de trabalha-
dores) e, de outro, o sindicato patronal ou o empregador, duas pessoas jurídicas coletivas.
A relação jurídica do Direito Individual Trabalhista reflete uma relação de poder e dominação da
empresa em face do trabalhador, em que um detém os meios de produção e necessita de mão
de obra para a consecução de seus objetivos mercantis, e o outro possui a força de trabalho para
vender ao primeiro, a fim de ganhar seu sustento. Estabelece-se, assim, essa relação contratual, a
qual implica estreita disciplina segundo procedimentos que indicam a respectiva ordem hierár-
quica de obediência quase automática.
No entanto, se uma Constituição não considera isoladamente o trabalhador como cidadão, muito
menos o reconhecerá em seu conjunto, em sua forma associativa ou coletiva, nem o respectivo
direito de sindicalização ou de associação.
Nesse contexto, ao final da Primeira Guerra Mundial e diante do sucesso da Revolução Russa,
surgem nesse período as Constituições Mexicana de 1917 e de Weimar de 1919 (alemã), as
primeiras a reconhecer o Direito do Trabalho entre as exigências econômicas e sociais, na afir-
mação plena desses novos direitos humanos no século XX (COMPARATO, 1999).
O estudo da história do Direito do Trabalho demonstra que ele foi forjado nas lutas, resistências,
conflitos e reivindicações da classe dos trabalhadores, em busca de melhorar os meios de vida no
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Figura 8 - Dia 1º de maio de 1974, mais de um milhão de portugueses comemoraram o Dia do Trabalhador de norte
a sul de Portugal.
Fonte: disponível em: https://bit.ly/3o9qTDO Acesso em: 09 set. 2021.
Desse modo, não tardou que os trabalhadores se dessem conta de seus direitos e formassem
uma verdadeira consciência de classe. Assim, a classe dos trabalhadores passou a se denominar
operária, com características muito peculiares, e a gênese de seus principais instrumentos de luta
ensejou o surgimento do sindicato.
A OIT havia aprovado, até o início da Segunda Guerra Mundial, 67 convenções, várias delas rati-
ficadas por mais de 100 Estados, entre as quais a Convenção nº 11, de 1921, que tratava do direito
de associação e de coalizão dos trabalhadores agrícolas, firmada por 113 Estados (SANTOS, 2018).
Iniciou-se, assim, a série de convenções internacionais sobre a liberdade de associação de traba-
lhadores, que passaram a tratar, mais tarde, da própria liberdade e proteção sindical, abarcada
pela Convenção nº 87, de 1948, a mais importante para o Direito Coletivo e Sindical, ratificada por
mais de 98 países (OLIVEIRA, 1997).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Por intermédio das normas internacionais ratificadas e de normas constitucionais, como a insculpida
no art. 8º de nossa Constituição de 1988, afirma-se como direito social, nos direitos e garantias funda-
mentais, a livre associação profissional ou sindical. Além disso, por meio de normas infraconstitucio-
nais, como a constante dos arts. 511 a 610 do Título V da CLT, se assegura a organização sindical.
Como você pode perceber, esse campo jurídico visa à consecução de maior equilíbrio na correlação de
forças entre trabalhadores e empregadores. O Direito Coletivo viabiliza a atuação dos trabalhadores
como um ser coletivo, por meio de suas entidades sindicais, para, assim, dialogar, negociar e fiscalizar
as atividades empresariais de seu interesse com maior eficiência e efetividade.
No Direito Coletivo do Trabalho, o sindicato é o ator social mais relevante, por ser o sujeito do
Direito Coletivo detentor da mencionada legitimidade para representar e defender os interesses
individuais e coletivos dos trabalhadores da categoria por ele representada.
Figura 9 - O sindicato pode ser definido como uma associação voluntária, de caráter permanente,
destinada a defender os interesses de trabalhadores assalariados de uma mesma profissão.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
O Direito Coletivo do Trabalho busca assegurar a livre e autônoma organização sindical dos traba-
lhadores, única maneira de garantir atuação eficiente na busca da melhoria das condições de
trabalho no âmbito do estabelecimento, da empresa e da própria categoria econômica envol-
vida. Ele emergiu na história ocidental instrumentalizando o aperfeiçoamento das condições de
vida e de trabalho do ser humano e elevando as condições de pactuação da força de trabalho no
sistema econômico capitalista.
Em consonância com o Direito Individual do Trabalho e suas normas jurídicas imperativas estatais,
o Direito Coletivo busca harmonizar e agregar ou adequar direitos de forma setorial e negociada,
visando sempre o aperfeiçoamento da relação entre capital e trabalho, sem nunca empreender a
deterioração, piora ou supressão de direitos mínimos fixados pela normatização estatal.
De outro modo, os sócios do sindicato são os indivíduos que, além do vínculo institucional de inte-
grantes, mantêm com o sindicato um vínculo contratual de adesão. A representação do trabalhador
do sindicato independe de sua associação, bastando que seja integrante da categoria.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
A organização sindical por categorias em nosso Direito é fruto do corporativismo, que postu-
lava a organização da coletividade a partir de sua associação representativa de interesses e ativi-
dades profissionais afins. Inspirada na legislação italiana, a organização sindical brasileira revelou
a exigência dos setores dirigentes para controlar a marcha da evolução industrial.
Exemplo desse dirigismo na legislação brasileira restava evidente no art. 521, “a”, da original CLT,
obviamente não recepcionado pela Constituição de 1988, pois vedava “qualquer propaganda de
doutrinas incompatíveis com as instituições e os interesses da Nação, bem como de candida-
turas a cargos eletivos estranhos ao sindicato” (BRASIL, 2020). Além disso, na alínea “d”, proibia
“quaisquer atividades não compreendidas nas finalidades mencionadas no art. 511, inclusive as de
caráter político-partidário” (BRASIL, 2020).
A definição de categoria econômica está contida no §1º do art. 511 da CLT, como agrupamento
daqueles que “empreendem atividades idênticas, similares ou conexas” (BRASIL, 2020) e que, por
conta disso, mantêm um vínculo social solidário de interesses capitalistas.
A categoria profissional poderá ainda ser diferenciada, o que, na forma do §3º do art. 511 da CLT,
consiste no agrupamento daqueles que exercem profissões ou funções extremamente singu-
lares, mantendo um vínculo social básico e solidário de interesses laborais. A diferenciação que se
exige dessa categoria é a existência de estatuto profissional, como os advogados, os médicos e os
engenheiros, em especial, mas também aqueles que possuam particulares ou peculiares condi-
ções de vida, no exercício de profissões ou funções distintas de outros trabalhadores ordinários,
como os motoristas rodoviários.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
REFLITA
O Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.002.295, requerido pelo Sindicato
dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do Estado do Rio de Janeiro (SIMERJ), em face da
Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio de Janeiro (RIOTRILHOS), reputou constitucional a
exigência de comum acordo das partes para ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica.
O SIMERJ suscitou (ajuizou) o dissídio coletivo de natureza econômica contra a RIOTRILHOS, pois, frustrado o
acordo sobre os benefícios requeridos pela categoria, não restava alternativa senão requerer a fixação de normas
coletivas de trabalho pela Justiça do Trabalho por meio desse instrumento
Ocorre que o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT do Rio de Janeiro) não acolheu o dissídio coletivo,
sob a justificativa (argumento) de que a inexistência de comum acordo para o seu ajuizamento seria contrária à
Constituição Federal, pois descumpriria o disposto no art. 114, §2º, da Constituição.
Como você viu, a alteração feita pela Emenda Constitucional nº 45/2004, no §2º do art. 114 da Constituição Federal,
passou a prever que haja comum acordo entre as partes para o ajuizamento de dissídios coletivos.
Em relação aos sindicatos, exigir comum acordo a fim de ajuizar o dissídio coletivo é o mesmo que negar o direito
de ação para movimentar o Judiciário (jurisdição) com o objetivo de proteger um direito, ferindo o princípio do
acesso à Justiça. Para simples entendimento, é o mesmo que condicionar à aprovação do réu a autorização de
dissídio coletivo contra ele.
Primeira reflexão: se recebesse uma notificação pedindo sua autorização para mover uma ação contra você
(independentemente do pleito), você concordaria?
Bem, a essa conclusão é fácil de chegar, por isso os Tribunais do Trabalho vinham interpretando a exigência de
comum acordo de forma não restrita, consolidando a admissibilidade do dissídio coletivo sem a necessidade de
assinatura conjunta da petição inicial do sindicato dos trabalhadores e do sindicato patronal, entendendo como
tácita (implícita) a concordância daquele que participou das negociações coletivas que restaram frustradas. Veja
a ementa desse entendimento no exemplo do julgamento proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
Região:
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
Nada obstante, o STF decidiu, apreciando o tema 841 da repercussão geral (decisões proferidas pelo STF têm
eficácia contra todos – erga omnes), negar provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do ministro
Alexandre de Moraes, que a maioria acompanhou (7), vencidos os ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, Ricardo
Lewandowski e Rosa Weber. Fixou-se a seguinte tese:
Reflita também:
1. A simples expressão comum acordo, inserida na Constituição (art. 114, §2º), representa um avanço ou
retrocesso no Direito Trabalhista, em razão de exigir que o sindicato profissional, tal como o patronal, na
qualidade de substituto da categoria, tenha que sujeitar-se à concordância da parte contrária para ingressar
em juízo?
2. Como a Constituição já exigia a necessidade de buscar a negociação antes do ajuizamento do dissídio coletivo,
para somente então, se aquela fosse frustrada, recorrer à Justiça do Trabalho em busca da pacificação do
conflito, exigir agora o assinalado comum acordo é compatível com o Estado de direito, contrariamente a
tudo que a Constituição prega sobre o direito básico de ingresso em juízo?
APROFUNDE-SE
Conheça, neste vídeo da Euronews, como foi a celebração do 1º de Maio pela internet durante o primeiro ano da
pandemia de Covid-19. Sindicatos e secretário-geral da ONU deixam breves recados.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você pôde conferir que a tensão entre o trabalho e o capital que o remunera
sempre esteve presente e é justificada, desde o salto operado a partir da Revolução Industrial,
quando a sociedade contemporânea ficou marcada pela monetização. Esse processo não é
exclusivo das sociedades capitalistas, mas a diferença é que, nessas sociedades, o dinheiro não
atua apenas como um mediador, mas objetiva o lucro, que é a obtenção (acumulação) de mais
dinheiro numa negociação mercantil.
Alinhavei para você essa lógica, aqui resumida, no histórico e definição das negociações traba-
lhistas, que evoluíram, com o tempo, para as convenções, acordos e dissídios coletivos, a fim de
que pudesse haver equilíbrio e equivalência de forças negociais, conforme os conceitos e dife-
renças apresentados, que corporificaram o Direito Coletivo do Trabalho e as organizações sindi-
cais. Essa é a razão de a Constituição, em seu Título VII, da Ordem Econômica e Financeira, iniciar
o Capítulo I dizendo que os princípios gerais da atividade econômica se fundam na valorização
do trabalho humano e na livre iniciativa (trabalho vs. capital), tendo por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, sobre os quais se erigiu o Direito Coletivo,
que você acabou de estudar.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
GLOSSÁRIO
Afigura: do verbo “afigurar”. O mesmo que: parece, imagina, aparenta, demonstra.
Coalizão: aliança, liga ou união entre nações, entidades; acordo político ou aliança interpartidária
para alcançar um fim comum.
Epíteto: palavra ou expressão que se associa a um nome ou pronome para qualificá-lo; alcunha,
qualificativo.
Laissez-faire, laissez-passer: faz parte de uma expressão em francês que, completa, revela a
ideia de “livre comércio”. A frase que a originou é “laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde
va de lui-même”, que significa literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por
si mesmo”.
Proletários: cidadãos da última classe social na antiga Roma, que não pagavam impostos e eram
considerados úteis apenas pelos filhos que geravam.
Sui generis: sem semelhança com nenhum outro, único no seu gênero; original, peculiar, singular.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 20 jun. 2021.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1943). Organização de Eliezer de Queiroz
Noleto. 2. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados/Edições Câmara, 2020. (Série Legislação, 13).
Disponível em: https://livraria.camara.leg.br/index.php?route=product/product&product_id=327
Acesso em: 20 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define
as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM Acesso
em: 5 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8036consol.htm Acesso em: 5 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em: 5 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.506, de 11 de outubro de 2011. Dispõe sobre o aviso prévio e dá outras providên-
cias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12506.htm Acesso
em: 20 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974,
8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas
relações de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/
l13467.htm Acesso em: 30 jul. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso Extraordinário 1.002.295. Relator Ministro Marco
Aurélio. Data de JulgameNto: 22/09/2020. Diário da Justiça Eletrônico: Brasília, DF, 13 out. 2020.
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 190. Ao julgar ou homologar ação coletiva ou
acordo nela havido, o Tribunal Superior do Trabalho exerce o poder normativo constitucional,
não podendo criar ou homologar condições de trabalho que o Supremo Tribunal Federal
julgue iterativamente inconstitucionais. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, 2003. Dispo-
nível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_151_200.
html#SUM-190 Acesso em: 2 ago. 2021.
COMPARATO, Fábio K. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 1999.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 6 - Negociações trabalhistas e dissídios coletivos
DELGADO, Mauricio G. Curso de Direito do Trabalho. 16. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2017.
DELGADO, Mauricio G.; DELGADO, Gabriela N. A Reforma Trabalhista no Brasil: com os comen-
tários à Lei nº 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017.
MARTINS, Sergio P. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MÉXICO. Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos, 1917. DHnet – Rede de Direitos
Humanos & Cultura. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/mexico/const1917.
htm Acesso em: 20 jun. 2021.
NASCIMENTO, Amauri M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
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SANTOS, Enoque R. dos. Negociação coletiva de trabalho. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2018.
SUSSEKIND, Arnaldo L. Curso de Direito do Trabalho. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
UNIDADE 7
Relações trabalhistas e sindicais
Objetivo de aprendizagem:
Tópicos de estudo:
Iniciando os estudos:
Nesta unidade, você vai encontrar a interação de todos os conceitos do componente, pois as rela-
ções trabalhistas são um complexo gênero: iniciam-se individuais, mas podem ser influenciadas
por um coletivo de negociações que se operam nas relações sindicais, isso devido a organização
e representatividade de um conjunto de trabalhadores devido maior poder de negociação frente
às forças produtivas, quase impossível de se obter individualmente. Você verá que esse é o núcleo
do Direito Coletivo denominado Direito Sindical, que, apesar de fortemente desidratado pelas
reformas levadas a efeito nos últimos anos, mantém-se efetivo nas hipóteses que você irá conferir.
Tudo pronto para começar? Espero que este estudo lhe seja instigante, para que você possa
refletir sobre ele, aplicá-lo e, ao final, transformá-lo em uma base de conhecimento para pesquisa,
formação profissional e compartilhamento.
Bons estudos!
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
1. AS RELAÇÕES TRABALHISTAS E
SEUS TIPOS
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), conforme explicita logo em sua introdução no Título 1,
art. 1º, “estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas”
(BRASIL, 2020).
Assim, as relações trabalhistas são individuais ou coletivas. O Direito do Trabalho se forma e se conso-
lida pela necessidade de regramento jurídico das relações desenvolvidas nos meios econômicos de
produção de bens e prestação de serviços pelo trabalho humano. Essa consolidação da legislação
trabalhista ocorre em todos os países, independentemente da estrutura política ou econômica, no
capitalismo e no socialismo, nos regimes estatais de dirigismo ou no liberalismo econômico, diferen-
ciando-se apenas pela conformação de suas finalidades sociais.
As relações de trabalho individuais são reguladas pelo Direito Objetivo, pela CLT e por legislação
específica, que estabelecem o padrão de relação jurídica entre o trabalhador e o empregador.
Assim, no Estado liberal, tendo em vista a plena liberdade contratual, as relações trabalhistas foram
livremente estabelecidas e impostas ao trabalhador, que foi obrigado a se submeter às suas condi-
ções, sem qualquer interferência do Estado. Foi desse modo que, em linhas gerais, se desenvolveu o
trabalho assalariado na sociedade industrial.
As transformações no mundo das relações de trabalho se dão à medida que a sociedade vai se
tornando cada vez mais tecnológica: inicialmente mecânica, analógica, ela vai buscando produzir
mais com menos mão de obra.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Assim, na sociedade industrial, as primeiras leis trabalhistas eram ordinárias e visavam proibir o
trabalho em determinadas condições, como o das mulheres em ambientes insalubres e o de menores
até certa idade. Posteriormente, essas leis foram incluídas nas Constituições de alguns países pelo
movimento denominado constitucionalismo social.
Contemporaneamente, o avanço dos direitos trabalhistas acabou por colidir com as exigências
econômicas de desenvolvimento do processo produtivo e da tecnologia. Os pontos de atrito foram a
inflação e o desemprego, e nesse contexto o Direito do Trabalho, de produção estatal, por ser legis-
lativa, passou a desempenhar a função de compatibilizar as leis trabalhistas com os interesses do
capital, mostrando que as demandas dos assalariados são mitigadas pelo Estado em épocas de crise.
Desse modo, desemprego e baixos salários transformaram a crise econômica em crise social, e a
nítida prevalência das forças econômicas provocou a conscientização dos trabalhadores em relação
a seus direitos, levando à formação de uma verdadeira classe – a classe operária – com os mesmos
dilemas e interesses, de características e organização peculiares, e tendo a paralisação como um dos
mais eficazes instrumentos de reivindicação e luta. É nessa conjuntura que surgem os sindicatos e,
com eles, as relações trabalhistas coletivas.
A legislação do trabalho tem em suas raízes históricas a natureza intervencionista, razão do prin-
cípio protetor, como reação à completa autonomia da vontade nas relações contratuais erigida com
a Revolução Francesa (1789), que deixou o trabalhador à mercê da exploração das empresas fortale-
cidas pela Revolução Industrial.
[...] a maior ou menor intervenção do Estado nas relações de trabalho depende não apenas
do sistema econômico adotado pelo respectivo regime jurídico-político, mas também da
possibilidade real de os sindicatos, por meio dos instrumentos da negociação coletiva,
conseguirem a estipulação de condições adequadas de trabalho ou a complementação da
base mínima fixada por lei. Poder-se-ia afirmar que, nos países de economia de mercado,
o intervencionismo estatal nas relações de trabalho reduz-se na razão inversa do fortaleci-
mento da organização sindical (SUSSEKIND, 2010, p. 76).
As relações trabalhistas individuais constituem-se num vínculo jurídico genérico pelo qual uma
pessoa presta serviços a outrem, e a relação de emprego é espécie desse gênero, estabelecendo-se
a partir do nexo entre empregador e empregado, e sendo caracterizada pela prestação pessoal de
serviços, de forma não eventual e subordinada, mediante o pagamento de salário (art. 3º, CLT), de
forma a configurar um contrato individual de trabalho expresso ou tácito, conforme o art. 442 da CLT.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Toda relação jurídica cujo objeto é uma obrigação de fazer materializada pelo trabalho humano é conside-
rada relação de trabalho, mas essa somente será relação de emprego quando o trabalho humano se desen-
volver de forma não eventual e subordinada, sendo prestado com pessoalidade e mediante remuneração.
São espécies (tipos) de relação de trabalho: o trabalho autônomo, o eventual, o avulso portuário,
o temporário, o voluntário, o estagiário, o do pequeno empreiteiro, o das cooperativas de mão
de obra e a terceirização de serviços.
O trabalhador denominado eventual é aquele que exerce suas atividades de forma esporádica,
descontínua, fortuita, prestando serviços de curta duração para diversos empregadores (tomadores
de serviço), sem habitualidade ou continuidade, e, por isso, sem caracterizar relação de emprego.
O trabalhador avulso também presta serviços esporádicos, de curta duração e a vários toma-
dores, sem vínculo com qualquer um deles, sendo, por isso, uma espécie de trabalhador eventual.
Sua distinção é que, em regra, o trabalho avulso é intermediado pelo fornecedor de mão de obra
e o tomador do serviço, dessa forma, não há contratação direta pelo tomador dos serviços, nem
há vínculo empregatício entre o trabalhador avulso e o fornecedor de mão de obra, ou entre o
trabalhador avulso e o tomador dos serviços.
Você deve ter conhecimento da expressão trabalho temporário, que surge na relação desenvol-
vida entre três entes: uma empresa tomadora de serviços, uma empresa de trabalho temporário
e o trabalhador temporário. Essa relação é regulada pela Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, nas
empresas urbanas. A partir de 2017, com a edição da Lei nº 13.429 (Reforma Trabalhista), uma
nova redação foi dada ao art. 2º da Lei n° 6.019/1974, e o trabalho temporário passou a ser aquele
“prestado por pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à
disposição de uma empresa tomadora de serviços, para atender à necessidade de substituição
transitória de pessoal permanente ou à demanda complementar de serviços” (BRASIL, 2017).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Já o trabalho voluntário, como se pode inferir, é aquele prestado de forma gratuita, por isso volun-
tária, caracterizando uma relação de trabalho, mas não de emprego. Dessa relação não surge
obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim, conforme dispõe o parágrafo único do art.
1º da Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, que regulamenta o serviço voluntário que a caracteriza.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
A lei considera serviço voluntário a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a enti-
dade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada sem fins lucrativos e que tenha obje-
tivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa (art. 1º, Lei
nº 9.608/1998).
O prestador do serviço voluntário poderá até ser ressarcido pelas despesas que realizar, compro-
vadamente, no desempenho das atividades voluntárias, se elas estiverem expressamente auto-
rizadas pela entidade a que for prestado o serviço (art. 3º, Lei nº 9.608/1998), mas isso não pode
ser utilizado como instrumento para obter qualquer tipo de vantagem ou finalidade econômica.
Justamente por isso, exige-se na lei a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou
privada, e o prestador do serviço, devendo constar do termo o objeto e as condições do trabalho
(art. 2º, Lei nº 9.608/1998).
Figura 1 - O trabalhador voluntário é aquele que presta serviço sem esperar pagamento pelo trabalho, por
motivos de convicção pessoal, geralmente com finalidade beneficente, social ou de caridade.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
[...] ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à
preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino
regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da
educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da
educação de jovens e adultos (BRASIL, 2008).
Assim, o estágio faz parte do projeto pedagógico do curso e objetiva o aprendizado de compe-
tências próprias da atividade profissional, considerando as determinações curriculares e tendo
em vista o desenvolvimento do estudante para a vida cidadã e o trabalho (art. 1º, §§1º e 2º, da Lei
nº 11.788/2008). Pode incluir estudantes estrangeiros matriculados em cursos superiores no país,
dentro do prazo de vigência do visto temporário de estudante (art. 4º, Lei nº 11.788/2008).
Ele pode ser oferecido por pessoas jurídicas de Direito Privado e pelos órgãos da administração
pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, assim como por profissionais liberais de nível superior regis-
trados nos respectivos conselhos de fiscalização profissional (art. 9º, Lei nº 11.788/2008).
O estágio é obrigatório quando assim definido no projeto do curso, em que a carga horária é
requisito para aprovação e obtenção do diploma (art. 2º, §1º, Lei nº 11.788/2008). Ele não será obri-
gatório quando for uma atividade opcional, apenas acrescida à carga horária regular e obrigatória
(art. 2º, §§1º e 2º, Lei nº 11.788/2008).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Obrigatório ou não, o estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, desde que
observados os requisitos que o art. 3º da Lei nº 11.788 exige, quais sejam: i) matrícula e frequência
regular do estudante (educando), atestadas pela instituição de ensino; ii) celebração de termo de
compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino; e iii) compa-
tibilidade das atividades previstas no termo de compromisso com aquelas desenvolvidas no estágio.
Outra relação, a do pequeno empreiteiro, é realizada por profissional autônomo, pessoa física,
que executa sozinho ou com algum auxiliar, no máximo, empreitada (serviço, tarefa ou obra)
de pequeno valor econômico (razão do nome). Trata-se de contrato de natureza civil em que
o serviço prestado é de pequena monta, o valor dos serviços é reduzido, e o trabalhador, mais
humilde, pois o empreiteiro é o próprio operário ou artífice.
O contrato de empreitada, embora se trate de pequena empreitada, não gera vínculo de emprego
entre o trabalhador e o tomador do serviço, exceto em caso de fraude, quando se opera a chamada
“falsa empreitada” por meio de contrato de empreitada simulado, disfarçando uma verdadeira
relação de emprego, que deverá ser reconhecida a fim de assegurar ao trabalhador todos os
direitos trabalhistas. Por essa razão, o art. 652, “a”, III, da CLT previu, mesmo antes da nova redação
do art. 114 da Constituição Federal, pela Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência da
Justiça do Trabalho para conhecer e julgar os dissídios resultantes de contratos de empreitadas
em que o empreiteiro seja operário ou artífice.
A Lei nº 12.690/2012, em seu art. 2º, considera cooperativa de trabalho “a sociedade constituída por traba-
lhadores para o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia
e autogestão para obterem melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de
trabalho” (BRASIL, 2012).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
seu art. 3º, a obrigação recíproca na sociedade cooperativa de as pessoas contribuírem com bens ou
serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.
A terceirização de serviços é a relação de trabalho formada por uma empresa que contrata traba-
lhadores (tomadora), por intermédio de uma empresa de terceirização de serviços (prestadora).
O trabalhador pode prestar serviços para a tomadora sem que ela efetue sua contratação direta,
o que caracteriza uma subcontratação de mão de obra. Nessa relação, o trabalho não é prestado
pelo empregado a quem o contrata (prestadora) mas a um terceiro (tomador), contrariando o
modelo bilateral estabelecido na tradicional relação de emprego.
O que existe hoje no Brasil é a Lei nº 6.019/1974, que, como você conferiu, se presta a disciplinar
o trabalho temporário. A Lei nº 13.429/2017 incluiu nela algumas disposições específicas sobre
terceirização, como uma das medidas da Reforma Trabalhista, mas elas não são capazes de
regular satisfatoriamente todas as situações de potenciais conflitos nessa modalidade de relação
de trabalho terceirizado, cujo tema sempre dividiu opiniões e gerou debates calorosos, pela
potencialidade de fraudes e supressão de direitos.
Como você percebeu, essa modalidade de relação de trabalho, também conhecida como outsour-
cing, foi incluída genericamente na Lei nº 6.019/1974, que versa sobre o trabalho temporário, mas
já extraía por analogia algumas regras da Lei nº 7.102/1983, que dispõe especificamente sobre a
terceirização de serviços de vigilância bancária. Dessa forma, sem amparo legal específico por
muito tempo para todas as hipóteses que a terceirização propicia, utilizou-se a Súmula 331 do
Tribunal Superior do Trabalho (TST) como fonte de orientação. Confira:
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância
(Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especiali-
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
A Súmula 331 do TST deixou de ser aplicada com a promulgação das Leis nº 13.429/2017 e 13.467/2017,
que alteraram a Lei nº 6.019/1974, ao acrescentarem apenas em dois artigos (4-A e 4-B) o conceito
de prestação de serviços a terceiros, quando se passou a entender presentes as regras necessá-
rias e suficientes sobre terceirização em nosso país.
Veja que não há diferenciação da terceirização em atividade fim e atividade meio, sendo permitida
em qualquer atividade da empresa tomadora de serviços, ainda que essa seja sua atividade principal.
Como você pôde perceber, a terceirização é assunto polêmico, pois se liga à subcontratação de
mão de obra e à precarização da situação dos trabalhadores no Brasil.
O próprio Supremo Tribunal Federal (STF), em 8 de abril de 2021, ao fixar tese de repercussão geral
(tema 383) tratando da equiparação salarial entre terceiros e efetivos, teve no voto prevalente do
ministro Luís Roberto Barroso o reconhecimento de ser a terceirização importante instrumento
de supressão de direitos e a redução salarial, ao entender que
A terceirização, na imensa maioria dos casos, é reconhecida como sinônimo de degradação sala-
rial e de direitos, com aumento de jornadas. A alta rotatividade provoca a redução do vínculo
empregatício, sendo, assim, um óbice à percepção de direitos trabalhistas; fragiliza a capacidade
de socialização do terceiro no ambiente de trabalho; e o impossibilita de planejar sua vida a médio
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
e longo prazo. É comum, em dissídios individuais, encontrarmos terceiros que há mais de 20 anos
não gozam férias ou recebem décimo terceiro integral, em função da alteração de empresas,
demissão e recontratação maquiada.
O processo marcado pela relação indissociável entre terceirização e precarização avançou rumo
às escolas brasileiras e já demonstrou nefastas consequências ao processo de ensino-aprendi-
zagem. A ampliação das possibilidades de terceirização foi implementada pela recente alteração
da Lei nº 6.019/1974, ao definir o contratante (tomador dos serviços) como “a pessoa física ou
jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços relacionados a quaisquer
de suas atividades, inclusive sua atividade principal” (art. 5º-A, acrescido pela Lei nº 13.429/2017).
APROFUNDE-SE
Nesta Nota Técnica do DIEESE, o resultado das pesquisas domiciliares de emprego e os registros administrativos
do Ministério do Trabalho e Emprego trazem um conjunto de informações importantes para você conhecer alguns
aspectos e características do fenômeno da terceirização trabalhista.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
2. O MOVIMENTO E O
DIREITO SINDICAL BRASILEIRO
O Direito Coletivo do Trabalho desenvolveu-se como reconhecimento do direito de associação
dos trabalhadores após a experiência de sua desumanização, devido às péssimas condições de
trabalho e remuneração impostas pela Revolução Industrial do século XVIII.
O mais antigo sindicalismo no mundo é considerado o da Inglaterra, não por acaso o epicentro
da Revolução Industrial, onde as trade unions (1720), associações de trabalhadores de Londres, se
formaram em torno de reivindicações de melhores salários e limitação da jornada de trabalho. A
Alemanha admitiu expressamente o direito de associação com a Constituição de Weimar (1919),
pois já era tolerado na gênese de sua Carta. Na França, a permissão e liberdade de associação dos
trabalhadores ocorreu a partir de 1884. Mas foi mesmo em 1948, com a Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e sua Convenção nº 87, que foi declarado o princípio da liberdade sindical, afir-
mando que
Os primeiros sindicatos no Brasil surgiram entre fins do século XIX e início do XX e se denomi-
navam ligas operárias, por influência dos trabalhadores estrangeiros que migraram para o nosso
país para suprir a falta do trabalho escravo nos anos que sucederam à abolição. Em 1903, o Decreto
nº 979, de 6 de janeiro de 1903, facultou aos profissionais da agricultura e indústrias rurais a orga-
nização de sindicatos para defesa de seus interesses. Logo após foi a vez dos sindicatos urbanos,
em 1907, por meio do Decreto nº 1.637, que facultou aos trabalhadores de profissões similares ou
conexas, inclusive as profissões liberais, se organizarem através dos sindicatos, a fim de promover
o estudo, a defesa e o desenvolvimento dos interesses gerais e profissionais de seus membros,
incrementando, a partir desse ano, a sindicalização em nosso país.
173
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Figura 3 - A Greve de 1917, iniciada em uma fábrica têxtil da capital paulista, foi considerada pela historiografia
como a primeira greve geral do Brasil.
Fonte: disponível em: https://memoriasindical.com.br/wp-content/uploads/2019/06/greve-operaria-i-republi-
ca-1024x733.png Acesso em: 23 ago. 2021.
No ano de 1930, com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, inicia-se uma nova
fase, na qual os sindicatos passam a ter funções delegadas de poder público.
Conforme ensina Amauri Mascaro do Nascimento (2014), a partir da Revolução de 1930, a organi-
zação e formação jurídica do sindicalismo brasileiro teve três princípios orientadores. O primeiro
é a expressa dissociação do binário histórico sindicalismo-socialismo que caracterizou o surgi-
mento das organizações sindicais na Europa, por vontade deliberada do legislador brasileiro de
limitar a estrutura sindical pátria a bases estritamente profissionais.
Assim, o sindicalismo brasileiro passou a buscar inspiração e princípios na doutrina social católica
de três encíclicas papais – Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII, Quadragesimo Anno (1931)
e Divini Redemptoris (1937), ambas de Pio XI –, mas se afastou do significado da luta de classes,
enquanto oposição de interesses dos donos dos meios de produção (poder econômico) e dos
trabalhadores que vendem sua força de trabalho para sobrevivência.
O segundo princípio orientador apontado por Amauri Mascaro é a rigorosa separação entre as
organizações sindicais e os partidos políticos, de forma a separar as formas profissional e parti-
dária de organização social do povo. O terceiro princípio assenta-se na premissa de que o sindi-
cato em nosso país é antes uma técnica de organização social do povo do que de organização
profissional.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
trabalhador passa pela necessidade da conquista do poder político, pois o sindicalismo de resul-
tados, reformista, pragmático, voltado para a obtenção de bons contratos coletivos de trabalho e
sem maiores preocupações políticas não impediu o sequestro dos direitos conquistados ao longo
de décadas de luta.
APROFUNDE-SE
Neste vídeo, conheça um pouco mais sobre o surgimento do sindicalismo no Brasil, a gênese da organização dos
trabalhadores desde a escravidão e, principalmente, a forma como o governo Vargas, na década de 1930, atrelou o
sindicalismo livre a uma estrutura sindical oficial através de alterações legislativas.
O Direito Sindical é comumente chamado de Direito Coletivo, por ser o ramo do Direito do Trabalho
que estuda a representação dos trabalhadores enquanto categoria, conforme você verá adiante,
através dos sindicatos, das organizações sindicais e da comissão de trabalhadores nas empresas,
para solução dos conflitos coletivos de trabalho, porque são comuns a esses representados, além
das formas estabelecidas de solução que são os acordos, convenções coletivas e a greve.
O Direito Coletivo ou Sindical, ao abordar a organização sindical, estuda a estrutura dos sindicatos
do país, o modelo adotado e sua comparação com o de outros países, como apontei anterior-
mente, além dos princípios gerais do sindicato, sua organização e ação.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
As convenções coletivas de trabalho são importantes por serem consideradas fontes do Direito
do Trabalho, e estão previstas, juntamente com os acordos coletivos, no art. 7º, XXVI, de nossa
Carta Magna de 1988, de onde retiram sua competência e fundamentos em duas direções: de
um lado, para estabelecer normas e condições de trabalho mais favoráveis aos trabalhadores; e
de outro, para flexibilizar direitos que lhes são fundamentais, como o salário (art. 7º, VI, CF/1988) e
a duração do trabalho (art. 7º, XIII e XIV, CF/1988).
Importante essa localização do tema em nossa Constituição, porque pelos textos constitucionais
é possível ter uma ideia razoável do modelo de Direito Sindical adotado por um país. Várias classi-
ficações sobre o tema são adotadas, e Amauri Mascaro Nascimento e Sônia Mascaro Nascimento,
em seu livro Iniciação ao Direito do Trabalho (2015), apontam o modelo com maior conteúdo
técnico-jurídico: o da classificação das Constituições em omissivas e prescritivas. Omissivas
são as que não tratam do Direito Sindical (Estados Unidos da América); prescritivas são as que
apresentam princípios e normas de Direito Sindical, ou de forma muito sucinta (sintéticas, como
a Constituição do Japão de 1946), ou de forma detalhada (analíticas, como as Constituições do
México de 1917 e do Peru de 1979).
No Brasil, as Constituições de 1934 até 1988 dispuseram de modo diverso sobre o Direito Sindical.
A Constituição de 1934 era corporativista (repressiva), pois, apesar de autorizar a formação dos
sindicatos, submetia-os ao reconhecimento e autorização do Ministério do Trabalho, permitindo
o controle das atividades sindicais e a manipulação para apoio ao governo.
Foi com a Constituição de 1988 que o Direito Sindical passou a ter respaldo, quando se proibiu tanto a
intervenção como a interferência do Estado na organização sindical, que passou a contar com amplo
direito de greve e de representação dos trabalhadores na empresa.
A partir de 2017, a Lei nº 13.467 acrescentou na CLT, pelos arts. 510-A e 510-B, a disciplina da repre-
sentação dos empregados em empresa com mais de 200 funcionários mediante uma comissão de
empregados eleita com a finalidade de promover o entendimento direto com os empregadores.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
• dos direitos daqueles que exercem atividades e profissões a se filiar aos sindicatos, bem
como da garantia e direito daqueles que, além da filiação, trabalham nos sindicatos
(Seção VI, arts. 540 a 547);
• das penalidades por descumprimento de todas essas disposições (Seção VIII, arts. 553 a
557), além das disposições de registro e reconhecimento (“Disposições Gerais”, Seção IX,
arts. 558 a 566).
A CLT trata do enquadramento sindical no Capítulo II (arts. 570 a 577), dispondo que as profissões
constituirão os sindicatos conforme suas categorias ou similares, organizadas em quadro de ativi-
dades e profissões elaborado por comissão do enquadramento sindical.
• as penalidades, inclusive criminais, pela malversação desses recursos (Seção IV, arts. 598
a 600); e traz disposições gerais sobre a forma de fiscalização e publicização do uso das
contribuições (Seção V, arts. 602 a 610).
Ainda sobre o Direito Sindical, a CLT possui um título (VI) inteiro tratando das convenções cole-
tivas de trabalho (arts. 611 a 625), uma das modalidades de negociação coletiva, além de um título
(VII) exclusivo para disciplinar as comissões de conciliação prévia (arts. 625-A a 625-H) passíveis
de serem instituídas nas empresas e sindicatos, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos
individuais do trabalho.
Assim, o Direito Sindical, ou Direito Coletivo do Trabalho, trata desse segmento do Direito Traba-
lhista que regula a organização sindical, a negociação coletiva e os instrumentos normativos dela
resultantes, além da greve.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: A greve: procedimentos e garantias.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
REFLITA
Greve vs. locaute
A greve é um direito garantido ao trabalhador desde tomaram praticamente todos os estados do país foram
1988, pelo art. 9º de nossa Constituição da República, uma mistura de greve e locaute.
para suspender, temporária e pacificamente, a
Ele explicou que, nas últimas décadas, a
prestação de serviços ao empregador, como forma de
automatização dos sistemas produtivos, que afetou
obter benefícios materiais e/ou sociais ou garantir as
quase todas as categorias profissionais, não atingiu
conquistas adquiridas e ameaçadas de supressão.
os caminhoneiros, que vivem uma situação ainda
O §1º do referido art. 9º atribui à lei a definição dos muito parecida com a de décadas anteriores, isto é:
serviços ou atividades essenciais e sua manutenção ou o caminhoneiro é autônomo, dono do caminhão
durante a greve. e dos custos para mantê-lo, ou é empregado de uma
transportadora que tem o caminhão e presta os
Regulando esse preceito constitucional, foi
mesmos serviços.
promulgada a Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989,
que dispôs sobre as garantias do direito de greve e os O autônomo, contudo, é uma espécie de empregado
meios de coibir o abuso desse direito. da transportadora, a que se subordina para obter
o frete, prestando com pessoalidade os serviços
O art. 17 dessa lei veda a paralisação das atividades
mediante remuneração.
por iniciativa do empregador, denominada locaute
(do inglês, lockout), realizada para frustrar negociação Essa greve, em especial, foi muito rápida e, após
ou dificultar o atendimento de reivindicações dos dar seus primeiros sinais, em dois ou três dias
respectivos empregados. generalizou-se e tornou-se muito expressiva. Aquele
era o momento de uma das crises mais profundas no
Em maio de 2018, uma paralisação no transporte
Brasil, em que as transportadoras detinham em torno
rodoviário brasileiro demonstrou como a greve e o
de 55% do controle do transporte de frete rodoviário.
locaute podem se alinhar.
Os 45% restantes eram efetuados por caminhoneiros
Segundo reportagem da BBC News Brasil de 25 de autônomos. Ambos foram muito afetados pelo
maio de 2018 (MOTA, 2018), naquele momento, uma contexto de recessão, em razão da diminuição da
crise desencadeada pelo reajuste nos combustíveis e circulação de mercadorias, e possuíam interesses
a redução no preço do frete afetava simultaneamente convergentes devido ao aumento do preço do
o faturamento de transportadoras e a renda de combustível e da diminuição do preço do frete.
trabalhadores autônomos.
Reflita: naquele momento, e com base no contexto
Você deve se lembrar das enormes filas nos postos acima descrito, considerando a confluência entre
de combustíveis, pois quase toda a carga de longas os interesses das empresas transportadoras (que
distâncias é feita por meios terrestres, como ruas, ensejaram a possível prática de locaute) e os dos
rodovias e estradas, e principalmente por caminhões. caminhoneiros (que deflagraram greve enquanto
Esse meio de transporte, denominado modal categoria), qual ator social seria responsável por
rodoviário, é responsável por 75% de tudo o que é atender a essas reivindicações, beneficiando ambas as
transportado no país. categorias, a profissional e a econômica?
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3. AS RELAÇÕES SINDICAIS,
ORGANIZAÇÃO E LIBERDADE SINDICAL
As relações sindicais tratam da representação de uma classe de trabalhadores, principal função
dos sindicatos em suas bases trabalhistas, os quais são organizados para falar e agir em nome de
sua categoria na dimensão privada, administrativa, pública e judicial.
Outra relação sindical é a que se opera na função assistencial dos sindicatos, promovendo a fundação
de cooperativas de consumo e de crédito, escolas pré-vocacionais e de alfabetização, além de serviços
médicos e ampla assistência judiciária, todos oferecidos a seus associados ou, de modo extensivo, a
todos os membros da categoria. Alguns desses serviços estão estabelecidos no art. 514 da CLT.
Todavia, no Direito Sindical ou Coletivo Trabalhista, há institutos que não passam necessaria-
mente pelo sindicato e, portanto, pelas relações sindicais, como as greves deflagradas sem ou
mesmo contra a direção sindical, ou ainda, como você viu anteriormente, as negociações por
meio de entidades representativas internas às empresas, como as comissões de conciliação, sem
a participação sindical.
Pode-se, assim, concluir que, apesar de o ramo coletivo da defesa dos interesses e direitos do trabalho
ser predominantemente preenchido pelas relações sindicais, haverá relações coletivas de trabalho
sem a participação de qualquer sindicato, tanto dos empregadores como dos empregados.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Note essa diferença entre relações sindicais e não sindicais dentro do âmbito das relações cole-
tivas, uma vez que, embora a maioria das situações que envolvem uma classe de trabalhadores
também abranja o sindicato que a representa, haverá casos em que os trabalhadores poderão
atuar diretamente sem essa representação, configurando as relações coletivas não sindicais,
também chamadas de relações da coletividade e dos grupos.
A respeito da liberdade sindical, apesar de a Convenção nº 87 da OIT não ter sido incorporada ao
ordenamento brasileiro, devido a alegadas incompatibilidades com o nosso sistema, a liberdade
sindical por ela regulamentada, no campo internacional, foi garantida no Brasil pela Constituição
de 1988, primeiramente em seu art. 5º, XVII, que assegura ser “plena a liberdade de associação
para fins lícitos” (BRASIL, 1988), e especificamente no art. 8º, que garante:
I - A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o
registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e intervenção na
organização sindical (BRASIL, 1988).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
A Constituição Federal assegura o direito de associação sindical a todos os trabalhadores (art. 8º,
caput, CF), inclusive aos servidores públicos (art. 37, VI, CF), com exceção apenas dos militares (art.
142, §3º, IV, CF), sendo garantido o direito de sindicalização até mesmo aos empregados de enti-
dades sindicais, conforme o parágrafo único do art. 526 da CLT, já declarado constitucional pelo
STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.890, proposta pela Confederação Nacional do
Comércio (CNC).
Essa liberdade sindical no Brasil só não é plena porque é limitada pelo princípio da unicidade
sindical, que impede a criação de mais de um sindicato de categoria profissional (trabalhadores)
ou de categoria econômica (empregadores) numa mesma base territorial. Restringe, portanto, o
direito de escolha dos trabalhadores.
Esse princípio se encontra expresso no art. 8º, II, da Constituição Federal, que estabelece ser
[...] vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa
de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Muni-
cípio (BRASIL, 1988).
O limitador princípio da unicidade também se encontra na CLT, cujo art. 516 não reconhece “mais
de um sindicato representativo da mesma categoria econômica ou profissional, ou profissão
liberal, em uma dada base territorial” (BRASIL, 2020), indo além para dispor, no art. 517, que
Ao ministro do Trabalho, Indústria e Comércio também cabe outorgar e delimitar a base territorial
do sindicato (art. 517, §1º, CLT).
Nos termos dos §§1º e 2º do art. 511 da CLT, categoria econômica é o vínculo social básico decor-
rente da solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, simi-
lares ou conexas. Já a categoria profissional é a expressão social de similares condições de vida
profissional ou de trabalho em comum, nas situações de emprego na mesma atividade econô-
mica ou em atividades econômicas similares ou conexas. A categoria profissional pode ainda
ser diferenciada, quando se constitui dos empregados que exerçam profissões ou funções dife-
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
No Brasil, os sindicatos possuem natureza jurídica de associação, são pessoas jurídicas de Direito
Privado e, portanto, seu registro é feito no correspondente Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, como qualquer outra entidade associativa. Contudo, a personalidade jurídica sindical
é adquirida com o registro no Ministério do Trabalho e Emprego (art. 518, CLT), não bastando o
registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas Civis e Jurídicas, que confere apenas a personali-
dade jurídica de associação ao sindicato. O STF, pelo enunciado da Súmula 677, reconheceu: “Até
que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das enti-
dades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade”. No entanto, só por decisão
judicial o sindicato poderá ter a sua atividade suspensa ou ser dissolvido.
De acordo com o art. 522 da CLT, são órgãos do sindicato: a Assembleia Geral; a Diretoria, cons-
tituída pela Assembleia por eleição de três a sete membros, dentre os quais será eleito o presi-
dente; e o Conselho Fiscal, composto de três membros, também eleitos pela Assembleia Geral,
para fiscalização da gestão financeira. Diretoria e Conselho Fiscal exercerão a administração do
sindicato. Dentre os associados serão designados os delegados sindicais que estejam no território
da delegacia, visando melhor proteção dos seus membros (art. 523, CLT). Cabe à Assembleia Geral
deliberar, por meio de voto secreto, a aprovação de contas da Diretoria, a aplicação do patrimônio
do sindicato, o julgamento de atos da Diretoria e o pronunciamento sobre dissídios de trabalho
(art. 524, CLT).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
As associações sindicais de grau superior são constituídas pelas federações e confederações (art.
533, CLT). As federações são formadas por um número não inferior a cinco sindicatos e consti-
tuídas por estado, mas podem ser formadas federações interestaduais ou nacionais (art. 534, CLT).
As confederações são formadas por no mínimo três federações, com âmbito nacional e sede na
capital da República (art. 534. CLT).
APROFUNDE-SE
Conheça um pouco mais sobre a realidade das “instâncias” do movimento sindical brasileiro, no período de 2003
a 2017, por meio do estudo de caso do sindicalismo de trabalhadores rurais, enfatizando as mudanças ocorridas
na Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), a principal
entidade sindical desse segmento.
Título: O sindicalismo de trabalhadores rurais como objeto de disputa e como agente de construção de centrais
sindicais no Brasil (2003-2017)
A administração de federação e confederação é realizada por uma Diretoria com no mínimo três
membros; um Conselho de Representantes formado pelas delegações dos sindicatos ou federa-
ções, com dois membros cada uma, mandato de três anos e direito a um voto por delegação; e
um Conselho Fiscal formado por no mínimo três membros, eleitos pelo Conselho de Represen-
tantes, com mandato de três anos, para fiscalização da gestão financeira (art. 538, CLT).
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
O sindicato representa a categoria e seus integrantes, e não apenas seus filiados (associados).
Possui legitimação extraordinária, que lhe permite, como substituto processual, exercer a defesa
dos interesses e direitos dos integrantes da categoria, de acordo com o art. 8º, III, da CF/1988.
Possui também função de manutenção de serviços de assistência judiciária para os associados
e membros da categoria, que devem ser prestados pelo sindicato a que pertence o trabalhador,
como no caso de demissão de empregado estável, que só será válida se feita com assistência do
sindicato de sua categoria (art. 500, CLT).
O sindicato não pode exercer função econômica, com atividade lucrativa de produção e circulação
de bens e serviços, sendo-lhe ainda vedado o exercício de atividade político-partidária (art. 21, CLT).
Constituem o patrimônio dos sindicatos as contribuições que lhes são devidas pelos que parti-
cipam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais que representam,
denominadas de imposto sindical, pagas e arrecadadas nos termos dos arts. 578 a 591 da CLT; as
contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas Assembleias Gerais
(mensalidade sindical); os bens e valores adquiridos e as rendas produzidas pelos próprios sindi-
catos; as doações e legados; além das multas e outras rendas eventuais (art. 548, CLT).
Até a Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467), a contribuição sindical tinha caráter de imposto
em razão da obrigatoriedade de pagamento por todo indivíduo empregado, uma vez por ano,
independentemente de filiação ao sindicato da categoria. Com a alteração da CLT, a contribuição
sindical só será devida por aqueles que o autorizarem prévia e expressamente (art. 578, CLT). O
desconto é feito pelos empregadores diretamente na folha de pagamento relativa ao mês de
março de cada ano, no valor de um dia de trabalho. Já nos sindicatos de categorias econômicas,
a contribuição para o seu custeio será feita pelos empregadores que assim quiserem, no mês de
janeiro e na forma do art. 580, III, da CLT.
Outra modalidade é a contribuição confederativa, prevista no art. 8º, IV, da Constituição Federal,
a ser fixada pela Assembleia Geral. Sendo devida por categoria profissional, será descontada em
folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva (sindicatos,
federações e confederações), independentemente da contribuição prevista em lei (a sindical),
sempre que o sindicato profissional deliberar em Assembleia Geral que seus membros (os filiados
ao sindicato) deverão contribuir para o sistema confederativo obrigatoriamente.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
Por fim, como forma de custeio, há ainda a contribuição assistencial, também denominada de
taxa assistencial, taxa de reversão, contribuição de solidariedade ou desconto assistencial, que é
imposta pelos sindicatos a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profis-
sionais ou das profissões liberais representadas, para custear gastos específicos em negociações
coletivas a fim de garantir a busca pelo interesse dos seus representados (art. 513, “e”, CLT), sendo
definida em norma coletiva de trabalho.
As contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas Assembleias Gerais
de que trata o art. 548, “b”, da CLT, são também conhecidas como mensalidade sindical. Dife-
rentemente da contribuição confederativa e da contribuição assistencial (custeio das despesas
dos interesses e direitos das categorias que representam), destinam-se à manutenção de outros
serviços oferecidos aos seus filiados, como atividades de assistência ou recreativas.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Você pôde conferir nesta unidade os tipos de relações trabalhistas, conhecendo as espécies que
não configuram relação de emprego, se observados os detalhes que a diferenciam, a fim de não
configurar fraude ao contrato de trabalho. Acompanhou também um breve histórico do movi-
mento sindical brasileiro, que ajudou a conformar o Direito Sindical, ou Direito Coletivo, discipli-
nador das relações sindicais, organizadas em torno de seu fundamental princípio da liberdade,
nem sempre respeitado, mas sempre buscado pelo conjunto de atores sociais a que se destina o
Direito que leva seu nome: o Direito do Trabalho.
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GLOSSÁRIO
Divini Redemptoris: é uma carta encíclica publicada pelo Papa Pio XI, em 19 de março de 1937,
sobre o comunismo ateu.
Outsourcing: em inglês, “out” significa “fora” ou “de fora”, e “source”, “origem” ou “fonte”, ou
seja, numa tradução literal, outsourcing é uma fonte de fora. O termo está ligado à terceirização,
originalmente de objetos, como impressoras, equipamentos, tratores, mas é também usado por
alguns em referência à terceirização do trabalho humano.
Quadragesimo Anno: encíclica do Papa Pio XI de 15 de maio de 1931, escrita no 40º aniversário da
encíclica de Leão XIII, Rerum Novarum, no contexto da Grande Depressão iniciada em 1929. Trata
da restauração e do aperfeiçoamento da ordem social, em conformidade com a Lei Evangélica.
Trade unions: tipo de organização operária surgida no século XIX, que posteriormente evoluiu
para aquilo que hoje chamamos de sindicatos.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
REFERÊNCIAS
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trias ruraes a organização de syndicatos para defesa de seus interesses. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D0979.htm Acesso em: 5 jul. 2021.
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as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM Acesso
em: 5 jun. 2021.
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Serviço, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8036consol.htm Acesso em: 5 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9608compilado.htm
Acesso em: 5 jun. 2021.
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BRASIL. Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio de estudantes; altera
a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; revoga as Leis nos 6.494,
de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6º da Medida Provisória nº 2.164-41, de 24 de agosto
de 2001; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11788.htm Acesso em: 5 jul. 2021.
189
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BRASIL. Lei nº 12.506, de 11 de outubro de 2011. Dispõe sobre o aviso prévio e dá outras providên-
cias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12506.htm Acesso
em: 5 jul. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.690, de 19 de julho de 2012. Dispõe sobre a organização e o funcionamento das
Cooperativas de Trabalho; institui o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho
– PRONACOOP; e revoga o parágrafo único do art. 442 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.
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BRASIL. Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei nº 6.019, de 3 de janeiro
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 677. Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe
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DELGADO, Mauricio G.; DELGADO, Gabriela N. A Reforma Trabalhista no Brasil: com os comen-
tários à Lei nº 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017.
190
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 7 - Relações trabalhistas e sindicais
MARTINS, Sergio P. Direito do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MÉXICO. Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos, 1917. DHnet – Rede de Direitos
Humanos & Cultura. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/mexico/const1917.
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NASCIMENTO, Amauri M. Compêndio de Direito Sindical. 8. ed. São Paulo: LTr, 2015.
NASCIMENTO, Amauri M. Curso de Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
NASCIMENTO, Amauri M.; NASCIMENTO, Sônia M. Iniciação ao Direito do Trabalho. 40. ed. São
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SANTOS, Enoque R. dos. Negociação coletiva de trabalho. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2018.
SUSSEKIND, Arnaldo L. Curso de Direito do Trabalho. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
191
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
UNIDADE 8
Introdução ao Direito
Processual do Trabalho
Objetivo de aprendizagem:
Tópicos de estudo:
Iniciando os estudos:
Nesta unidade, você conhecerá o Direito Processual do Trabalho, que, como todo Direito Processual,
disciplina a movimentação no Judiciário, quando o juiz vai dizer quem está com a razão numa disputa ou
conflito, a fim de que o cidadão possa exercer o que entende ser direito seu. No caso dos conflitos traba-
lhistas, você conhecerá a estrutura da Justiça do Trabalho – tida como Justiça Especial –, que é o órgão
de solução dos conflitos trabalhistas criado para propiciar ao trabalhador facilidade na defesa de seus
direitos, sem a burocracia da Justiça Comum. Aprenderá, ainda, as principais atribuições do Ministério
Público do Trabalho e a relevância de sua atuação.
Você verá que a legislação processual trabalhista não trata apenas do trabalhador subordinado, mas
também do trabalhador sem vínculo de emprego e que vive de seu próprio trabalho, configurando uma
relação cujas controvérsias passaram a ser abrangidas por essa legislação em 2004.
192
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
1. ORGANIZAÇÃO DA
JUSTIÇA DO TRABALHO
As Constituições modernas, como a nossa, se caracterizam pela separação de poderes, que, juntamente
com a proteção de direitos e garantias fundamentais e as leis que derivam dessas Constituições (infra-
constitucionais), estabelecem o princípio de limitação do governo.
Em uma análise mais simples e intuitiva, toda sociedade tem uma Constituição com um conjunto de
normas básicas de organização do poder, destinada a distribuir as respectivas competências com o obje-
tivo de harmonização, controle e limitação dos poderes.
Essa configuração moderna das Constituições surge a partir das liberdades conquistadas pelas cons-
tantes lutas da burguesia contra os privilégios dos reis absolutistas, tendo o Iluminismo como funda-
mento teórico da Revolução Francesa, em que são destacados os direitos individuais, chamados direitos
subjetivos, fundamentais ao desenvolvimento do capitalismo, e para cujo exercício se desenvolveu a
reflexão da limitação dos poderes do Estado e do seu governo.
Aqui surge a definição da tradicional teoria da tríplice divisão dos poderes, formulada por Montesquieu
(2008), a partir da qual a jurisdição passou a ser desempenhada, de forma típica, pelo Poder Judiciário;
a função administrativa, pelo Poder Executivo; e a função legislativa, pelo Poder Legislativo.
ASSISTA
Acesse na plataforma o vídeo: Breve história da Justiça do Trabalho
Esse mecanismo de limitação do exercício arbitrário e autoritário do poder foi esboçado já após
nossa independência, na Constituição Política do Império do Brazil, de 1824, nossa primeira Cons-
tituição, cujo art. 10 previa quatro, e não apenas três poderes: o Legislativo, o Moderador, o Execu-
tivo e o Judicial. Como o Brasil era uma monarquia, o Poder Moderador era a chave dessa orga-
nização política, sendo exercido, por delegação privativa, pelo imperador, como chefe supremo
da Nação, e seu primeiro representante, o que durou até a Proclamação da República, quando a
Constituição de 1891 estabeleceu a clássica divisão dos três poderes.
O Poder Judiciário, em nossa República Federativa do Brasil, é composto por uma Justiça Comum
e uma Justiça Especializada. A Justiça Comum é formada pela Justiça Federal e a Justiça Esta-
dual. A Justiça do Trabalho é uma das três Especializadas, juntamente com a Justiça Eleitoral e a
Justiça Militar, que são todas federais, mas a Lei de Organização Judiciária Estadual poderá criar
uma Justiça Militar estadual.
193
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
uma das Justiças Especiais, que, assim como o Superior Tribunal de Justiça para a Justiça Comum,
em linhas gerais, unificam o entendimento sobre as matérias afetas a cada ramo do Direito.
194
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Conforme ensinam Amauri Mascaro Nascimento e Sônia Mascaro Nascimento, em seu livro
Iniciação ao Direito do Trabalho (2015), essa atual organização tem como precedentes:
A primeira instância da Justiça do Trabalho é formada pelas Varas do Trabalho, conduzidas por
um juiz singular ou monocrático (art. 116, CF/1988). Nas localidades não abrangidas territorial-
mente pelas Varas do Trabalho, a competência em matéria trabalhista é exercida pelos juízos de
Direito da Justiça Ordinária Estadual, investidos da jurisdição laboral na forma definida por lei.
195
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
(Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá, Cubatão e Bertioga) e o município interiorano de
Ibiúna; e o da 15ª Região, com sede em Campinas e jurisdição sobre os demais municípios paulistas.
Os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) são compostos, no mínimo, por 7 juízes, recrutados em
suas respectivas regiões e nomeados pelo presidente da República dentre brasileiros com mais
de 30 e menos de 65 anos, sendo um quinto dentre advogados com mais de 10 anos de atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo exer-
cício, e os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento,
alternadamente (art. 115, CF/1988). Os TRTs se dividem em Turmas, com Grupos de Turmas e
Seções Especializadas.
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) é o órgão de cúpula do Poder Judiciário do Trabalho, com
sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional. Guardião do ordenamento jurídico
federal trabalhista, o TST unifica o entendimento sobre a matéria trabalhista. Compõe-se de 27
ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos (juízes do TRT e
um quinto de advogados), nomeados pelo presidente da República após aprovação pela maioria
absoluta do Senado Federal, sendo um quinto dentre advogados com mais de 10 anos de ativi-
dade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo
exercício, e os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da carreira da
magistratura, indicados pelo próprio Tribunal Superior (art. 111-A, CF/1988).
196
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
O TST e o TRT, como todos os tribunais brasileiros, por força do art. 96, I, “a”, da Constituição Federal, têm
o poder de elaborar seus regimentos internos, segundo as normas processuais constitucionais e legais,
para dispor sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e adminis-
trativos. Ou seja, pelos regimentos internos, os tribunais do Brasil (TRT e TST, inclusive) disciplinam a
competência funcional e material de seus órgãos internos, tais como regras relativas ao registro das
ações interpostas, à distribuição, prevenção e conexão, além de outras também relacionadas ao funcio-
namento e à competência do tribunal.
Tanto os regimentos internos como as próprias ações trabalhistas tratam de matérias dispostas
em legislação federal e constitucional e que devem ser respeitadas, em sua interpretação e
aplicação, de forma que, se presentes alguns requisitos, caberão os recursos extremos ao Supe-
rior Tribunal de Justiça (STJ) (Recurso Ordinário Especial, art. 104, II e III, CF/1988) e ao Supremo
Tribunal Federal (STF) (Recurso Ordinário e Extraordinário, art. 102, II e III, CF/1988).
O STJ é, em suma, guardião do ordenamento jurídico federal, enquanto o STF, também em conceito
sumário, é guardião da Constituição e responsável pelo julgamento dos integrantes da cúpula dos três
Poderes da União (Executivo, Legislativo e Judiciário).
APROFUNDE-SE
Leia o texto e conheça um pouco mais sobre as questões trabalhistas de grande relevância julgadas pelo STF.
Título: 130 anos: STF julga milhares de processos sobre trabalho, previdência e serviço público
197
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
2. COMPETÊNCIAS DA JUSTIÇA DO
TRABALHO E AS CARACTERÍSTICAS
DO PROCESSO TRABALHISTA
A Constituição é a base de toda a legislação pátria nacional, assim como ocorre na maioria dos
ordenamentos jurídicos internacionais, principalmente do Ocidente. As Varas do Trabalho, ponto
de partida da organização jurisdicional trabalhista, têm a sua competência para processar e julgar
as ações oriundas das relações de trabalho determinada pelo art. 114 da Constituição Federal, em
nove incisos.
• Ações sobre disputa de representação sindical entre sindicatos, entre sindicatos e traba-
lhadores, e entre sindicatos e empregadores (inciso III).
• Execução (cobrança) do tributo de contribuições sociais (art. 195, I, “a”, e II, CF/1988)
decorrentes das sentenças trabalhistas (inciso VIII).
198
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Figura 1 - As sessões das audiências nos TRTs e no TST já podiam ser realizadas telepresencialmente, mas, a partir de 2020,
esse ambiente foi aperfeiçoado.
Fonte: disponível em: https://bit.ly/3CTqNVx Acesso em: 27 ago. 2021.
No mesmo art. 114 da Carta Constitucional, está a competência da Justiça do Trabalho para decidir
sobre o dissídio coletivo de natureza econômica (§2º), que é facultado ajuizar, de comum acordo,
a qualquer das partes que se recusar à negociação coletiva ou à arbitragem (§1º).
Com o inciso I, o art. 114 estipulou ser competência da Justiça do Trabalho processar e julgar as
ações oriundas da relação de trabalho também dos entes de Direito Público externo e da admi-
nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Diante disso, o STF foi instado a se manifestar sobre o alcance dessa competência e decidiu, pela
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3.395, ser proibido à Justiça do Trabalho julgar as
causas instauradas entre os servidores do regime estatutário ou do jurídico-administrativo e do
poder público.
Dessa forma, a reclamação trabalhista (ações oriundas da relação de trabalho) contra adminis-
tração pública, direta ou indireta, só poderá ser ajuizada na Justiça do Trabalho pelos servidores
contratados pelo regime celetista, denominados tecnicamente de empregados públicos. No
caso de servidor público estatutário federal, a ação deverá ser ajuizada na Justiça Federal, e se o
servidor público estatutário fizer parte da administração municipal ou estadual, a reclamatória
poderá ser ajuizada perante a Justiça Estadual.
Até aqui tratamos da competência da Justiça do Trabalho em relação à matéria, ou seja, o assunto
posto em discussão, e da competência em relação à pessoa, isto é, o cidadão que possua a pretensão
de exercício de um direito trabalhista, resistido pelo empregador em razão da relação de trabalho.
199
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Ocorre que as empresas podem ter sua sede em vários estados do território nacional, assim como
o trabalhador pode ter prestado serviços em diversas sedes ou filiais de empregadores por todo
o país, e, como você viu no tópico anterior que as Varas do Trabalho compõem a estrutura dos 24
Tribunais Regionais do Trabalho, distribuídos pelo território nacional em cada um dos estados, foi
necessário o estabelecimento de uma regra para definição da competência territorial da Justiça
do Trabalho, o que foi feito por meio do art. 651 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Pela regra do caput do art. 651 da CLT, a competência territorial na Justiça do Trabalho se define pelo
local da prestação de serviços, ou, na dicção desse preceptivo, “pela localidade onde o empregado, recla-
mante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou
no estrangeiro” (BRASIL, 2020). Essa é a regra geral.
Confirmando essa regra geral, existem exceções previstas em três parágrafos do art. 651 da CLT,
disciplinando a competência da Justiça do Trabalho para as hipóteses em que o empregado
seja agente ou viajante comercial (§1º); em que empregados brasileiros estejam trabalhando no
estrangeiro (§2º); e em que o empregador realize atividades fora do lugar do contrato, deslocando,
assim, a prestação do serviço do empregado também (§3º).
Por fim, a última exceção assegura ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração
do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços, quando o empregador tiver as atividades
fora do lugar do contrato de trabalho em que o trabalhador presta serviços (art. 651, §3º, CLT).
Pela definição das competências da Justiça do Trabalho, já é possível perceber que o processo do
trabalho possui características igualmente peculiares.
O Direito Processual é ramo instrumental, que serve como meio de realização do Direito Mate-
rial. Enquanto o Direito Material define e regula as relações e cria direitos entre as pessoas físicas
200
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
ou jurídicas, por meio das normas de Direito Constitucional, Penal, Civil, Comercial, Trabalhista e
do Consumidor, o Direito Processual serve para dar dinâmica ao Direito Material, disciplinando,
basicamente, o seu exercício perante a jurisdição (as Varas, os Tribunais), como é o caso das Leis
do Processo Civil e Processo Penal.
O Direito Processual do Trabalho se constitui pelo conjunto de regras e princípios que instrumentalizam
como os conflitos (dissídios) decorrentes das relações de trabalho serão conciliados e julgados indivi-
dual e coletivamente.
201
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
REFLITA
Em maio de 2021, o TST comemorou os 80 anos da As conquistas no Brasil se revelam desde a
Justiça do Trabalho no Brasil convidando a uma Constituição de 1934, mas se deram principalmente
reflexão sobre a condução e análise do trabalho de com as leis esparsas consolidadas pela CLT em 1º de
construção das relações trabalhistas no país ao longo maio de 1943, bem como com a instalação oficial,
de sua história. em 1º de maio de 1941, da Justiça do Trabalho, que foi
reconhecida como órgão do Poder Judiciário a partir
A esse respeito, o TST ressalta a necessidade de
da Constituição de 1946, com vocação de mediadora
[...] compreender o surgimento, a entre os conflitos entre o capital e o trabalho.
consolidação e a crescente relevância desta
As conquistas dos direitos trabalhistas, introduzidas
Justiça Especializada [que] perpassa pelo
em meio a avanços e retrocessos de processos
conhecimento das peculiares questões sociais
políticos, acabaram por definir, na Constituição de
que permearam a história brasileira.
1988, os direitos básicos já incorporados na cultura dos
Nesse aspecto, [oferece uma] exposição direitos sociais no mundo e no Brasil, no auge de um
virtual, um olhar para o passado com o processo político que se costuma referenciar como a
objetivo de compreender o presente e Constituição Cidadã.
lançar luzes às inúmeras possibilidades de
Com base nessas informações e na exposição
construção e reconstrução da história desta
virtual disponibilizada no link acima, reflita
Justiça do Trabalho e de seu compromisso
sobre se os retrocessos e as conquistas de direitos
constitucional de realização de justiça social
trabalhistas ao longo de sucessivas reformas (que
(BRASIL, 2021).
tiveram seu ápice na de 2017) tiveram o condão
Acesse a exposição pelo link: http://www.tst.jus.br/ de aumentar a apregoada empregabilidade e
memoriaviva/-/asset_publisher/LGQDwoJD0LV2/ melhorar economicamente a vida da população em
content/ev-jt-80-01 geral. Considere, em sua reflexão, que a Reforma
Trabalhista de 2017 foi efetivada sob a justificativa de
O estudo do Direito do Trabalho demonstra que, até
impulsionar a economia nacional com a desoneração
se alcançarem avanços para a classe trabalhadora
da folha de pagamento e a desburocratização das
no início do século XX, houve um longo processo
relações trabalhistas, mas, para isso, suprimiu direitos
de lutas e organização coletiva a fim de superar as
mínimos do trabalhador. Na sua opinião, e com base
jornadas extenuantes e os baixíssimos salários a que
nesse histórico dos direitos trabalhistas no país,
se submetiam as famílias de operários e trabalhadores,
tal reforma representou uma conquista ou um
incluindo mulheres, crianças e idosos.
retrocesso?
O Direito Processual comum será fonte subsidiária do Direito Processual do Trabalho, conforme
estipula o art. 769, da CLT, em consonância com o que dispõe o art. 15 do Código de Processo Civil
(CPC): “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos,
as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente” (Lei nº 13.105/2015).
Por exemplo, como a CLT não define as normas específicas sobre a resposta do réu (reclamado),
denominada contestação, aplica-se subsidiariamente o art. 300 do CPC; no caso de omissão quanto
à reconvenção, aplicam-se subsidiariamente os arts. 315 a 318 do CPC; já os embargos de terceiros,
ausentes na previsão da CLT, têm sua aplicação subsidiária nos arts. 1.046 e seguintes do CPC.
202
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Os dissídios ou ações trabalhistas possuem natureza jurídica quando têm por objetivo a apli-
cação ou interpretação de norma existente, como no caso da ação de cumprimento. Todavia,
quando têm por finalidade a criação ou alteração de condições de trabalho, como no caso do
reajuste salarial, eles possuem natureza econômica (de interesse). Por isso os dissídios são classi-
ficados em dissídios jurídicos ou econômicos.
Os dissídios trabalhistas poderão ser ainda individuais plúrimos, quando várias reclamações com
identidade de matéria poderão ser acumuladas num só processo, em se tratando de empre-
gados da mesma empresa ou estabelecimento, conforme o art. 842 da CLT.
O Direito Processual Trabalhista, assim como todas as demais áreas ou ramos do Direito, possui
princípios comuns contidos em qualquer estrutura processual e, portanto, previstos desde a Lei
Maior, como:
• o acesso ao Judiciário, com garantia de que a lei não excluirá da apreciação deste lesão
ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, CF/1988);
• julgamento por juiz natural previamente instituído pela ordem jurídica e sem juízos de
exceção (art. 5º, XXXVII e LIII, CF/1988);
• motivação das decisões com fundamentação do convencimento do juiz (art. 93, IX,
CF/1988);
• garantia de revisão da sentença por órgão colegiado, em duplo grau de jurisdição (art.
5º, LV, CF/1988);
A celeridade processual tem estampa própria na CLT, cujo art. 765 determina que os juízos e
Tribunais do Trabalho velarão pelo andamento rápido das causas, diligenciando o necessário
esclarecimento delas, a par de sua ampla liberdade na direção do processo.
203
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Vários estudiosos alinham outros tantos princípios gerais e não específicos do Direito Processual
do Trabalho, assim como específicos, sem um consenso unificador, mas com pontos em comum,
como indica o clássico professor Wagner Drdla Giglio (2005), quando destaca, entre os princí-
pios específicos, os reais, constituídos pela proteção, simplificação do procedimento, jurisdição
normativa da Justiça do Trabalho (estabelecimento de normas e condições de trabalho nos dissí-
dios coletivos) e despersonalização do empregador pela atividade empresarial.
APROFUNDE-SE
Neste capítulo do livro do professor Giglio, disponibilizado pela USP, entenda as origens sociológicas do Direito
Processual do Trabalho, além das características e as soluções inovadoras para os conflitos trabalhistas.
204
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
3. PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
O Ministério Público do Trabalho – o MPT, como é conhecido – tem a atribuição de defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, no
âmbito das relações de trabalho.
A Constituição da República de 1988, por meio do art. 128, colocou o MPT na organização do Minis-
tério Público da União (MPU), como um dos seus ramos, mas dotado de autonomia funcional,
conforme as disposições da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, que dispõe sobre a
organização, as atribuições e o estatuto do MPU, arrolando em seu Capítulo II as garantias e prer-
rogativas de seus membros, voltadas precipuamente à preservação do interesse público.
O MPT é composto de uma Procuradoria-Geral, que atua perante o TST, e 24 Procuradorias Regio-
nais, com atuação perante cada um dos 24 Tribunais Regionais do Trabalho. A carreira no MPT
se inicia exclusivamente por concurso público de provas e títulos para os cargos de procuradora
ou procurador do trabalho, procuradora ou procurador regional do trabalho e subprocuradora ou
subprocurador-geral do trabalho.
205
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Figura 2 - O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de 14 membros nomeados pelo presidente da República.
Fonte: disponível em: https://bit.ly/2Y86LIb Acesso em: 30 ago. 2021.
Suas principais atribuições estão previstas na Constituição ou na lei (arts. 736 a 762, CLT, e arts.
83 a 115, Lei Complementar nº 75/1993). Dentre elas, destacam-se a propositura de inquérito civil
e a ação civil pública na Justiça do Trabalho, para a proteção de interesses coletivos, quando
desrespeitados direitos sociais constitucionalmente garantidos aos trabalhadores; a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; além de
outras ações que lhe sejam atribuídas pela Constituição Federal e pelas leis trabalhistas.
Como os demais ramos do Ministério Público, o MPT atua, nos inquéritos civis, na solução de
conflitos administrativamente, ou seja, extrajudicialmente, fora dos processos que correm na
Justiça, quando recebe denúncias ou mesmo por ato próprio, em procedimentos preparatórios
de inquérito civil público ou em procedimentos administrativos, quando se trata de atividade
promocional, fiscalização de políticas públicas ou litígios estruturais. Nesses casos, notifica as
partes envolvidas para que compareçam a audiências e forneçam documentos e outras informa-
ções necessárias.
Como todo Parquet, o MPT atua como custos legis, efetuando emissão de pareceres, em qual-
quer fase do processo trabalhista, sempre que solicitado pelo juiz ou por iniciativa própria,
quando entender presente o interesse público que justifique a sua intervenção, para ser árbitro
ou mediador em dissídios coletivos e também fiscalizar o exercício do direito de greve nas ativi-
dades essenciais.
206
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
Como parte, além do inquérito civil e da ação pública acima mencionados, cabe-lhe a propositura de
ações necessárias à defesa dos direitos e interesses dos menores, incapazes e índios, quando decor-
rentes das relações de trabalho, assim como a instauração de instância nos dissídios coletivos mediante
petição ao presidente do Tribunal (art. 856, CLT) em caso de greve, quando a defesa da ordem jurídica
ou o interesse público assim o exigirem.
O MPT possui ainda um importante órgão, responsável pela fiscalização das atividades e da
conduta das procuradoras e dos procuradores da instituição, que é a Corregedoria do MPT,
responsável por acompanhar os dois primeiros anos de suas carreiras, período denominado de
estágio probatório, fiscalizando e orientando o trabalho para o seu desenvolvimento e aperfei-
çoamento. Essa fiscalização efetua-se por meio de um procedimento chamado correição ordi-
nária, com periodicidade de dois anos, ou extraordinária, deflagrada a qualquer momento que
a justifique, a fim de que seja inspecionado o trabalho feito em cotejo com as leis e com as boas
práticas, orientando ou propondo penalidades quando for o caso.
APROFUNDE-SE
Todos os detalhes a respeito do MPT estão à sua disposição em verbete específico da Enciclopédia Jurídica da
PUCSP. Acesse.
207
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você conheceu a estrutura da Justiça do Trabalho dentro da competência jurisdi-
cional do Estado brasileiro. Assim, entendeu a organização e competência da Justiça do Trabalho
e as características do processo trabalhista, que demonstra um dilema na solução dos conflitos
nas relações de trabalho cristalinamente desiguais em forças: de um lado, o trabalhador com o
reduzido poder de venda de sua força de trabalho e, de outro, o empregador com seus meios de
produção e capital e o poder de substituição ilimitada de sua força de trabalho contratada.
Você pôde verificar ainda, no estudo do MPT, que essa desproporcionalidade de forças justi-
ficou a criação dessa instituição, que possui importantes atribuições de proteção de interesses
coletivos em face de eventual desrespeito dos direitos sociais constitucionalmente garantidos
aos trabalhadores.
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Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
GLOSSÁRIO
Caput: do latim, parte superior, cabeça, capítulo. No jargão jurídico, é utilizado para se referir
apenas ao enunciado do artigo de lei, distinguindo-o dos outros elementos, como parágrafos,
alíneas e incisos.
Competência: no que se refere ao enfoque jurídico dentro de um Estado federalista como o Brasil,
o termo quer dizer simplesmente ter o poder de tomar certas decisões.
Custos legis: significa guardião da lei, fiscal da correta aplicação da lei, verdadeiro defensor da
sociedade.
Instado: particípio do verbo “instar”; que foi solicitado, requisitado a fazer alguma coisa.
Jurisdição: do latim, iuris dictio, que significa dicção do direito, é a atividade surgida com o forta-
lecimento do Estado, pela qual ele substitui o particular na possibilidade deste fazer justiça (com
as próprias mãos), para solução de conflito de interesses caracterizado pela pretensão de um que
encontra resistência por outrem (interesse individual), objetivando a pacificação social (interesse
coletivo).
Parquet: é o mesmo que Ministério Público. A expressão francesa significa literalmente “assoalho”,
mas também é usada nesse idioma para designar o local onde ficam os magistrados do Minis-
tério Público fora das audiências.
Plúrimo: termo latino utilizado na CLT (arts. 477-A e B) em vez de “múltiplo”, no sentido de plura-
lidade de reclamantes, quando o dissídio individual comporta mais de um reclamante, mas sem
chegar a configurar dissídio coletivo, porque não envolve toda a categoria de trabalhadores.
Topografia: do grego topos (lugar) e graphen (descrever), no contexto jurídico é usado para
demonstrar o lugar no texto legal máximo, que é a Constituição Federal, de onde partem todas
as leis, por exemplo, onde se encontra a competência da Justiça do Trabalho enquanto um braço
dos três poderes da República.
209
Relações Trabalhistas e Sindicais | Unidade 8 - Introdução ao Direito Processual do Trabalho
REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 5 jul. 2021.
BRASIL. Constituição Politica do Imperio do Brazil, elaborada por um Conselho de Estado e outor-
gada pelo Imperador D. Pedro I, em 25.03.1824. Carta de Lei de 25 de Março de 1824. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm Acesso em: 27 jul. 2021.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1943). Organização de Eliezer de Queiroz
Noleto. 2. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados/ Edições Câmara, 2020. (Série Legislação, 13).
Disponível em: https://livraria.camara.leg.br/index.php?route=product/product&product_id=327
Acesso em: 5 jul. 2021.
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