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CE 672/C – Estratégias Corporativas e Financeirização

Maria Luíza Assis Cunha – 202870


Resenha do texto: Maximizing Shareholder Value: a new ideology for corporate governance –
Lazonick e O’Sullivan

Este texto vai buscar analisar e questionar o modelo de governança corporativo com
foco na maximização do valor para os acionistas, disseminado nos Estados Unidos e depois
seguido por Japão e Europa entre as décadas de 80 e 90, e se ele continuará ao longo do próximo
século. Olhando para o período entre 1980 e 2000, os autores buscam analisar este modelo e
sua sustentabilidade nas décadas seguintes, além apresentar as variáveis não consideradas
pelos europeus ou japoneses quando miram reproduzir o sucesso no mercado estadunidense
meramente pela ideia da maximização do valor para os acionistas.
Nas décadas de 60 e 70 as corporações acumulavam grandes receitas, que as geriam a
partir do lema "reter e reinvestir". Eles retinham o dinheiro e os funcionários e os reinvestiam
em compra de capital físico e investimento em recursos humanos. No entanto, essa prática
passou a ser um problema primeiro pelo grande crescimento das empresas e segundo pelo
surgimento de competidores. Devido ao crescimento internacional, as aquisições e fusões, as
empresas passaram a ficar muito grandes com muitas divisões e diferentes tipos de negócio. Os
escritórios centrais ficavam muito distantes dos processos que desenvolviam, fazendo com que
a governança desses grandes conglomerados se mostrasse muito difícil.
Em relação a concorrência, o Japão passou a ser um grande competidor dos EUA em
setores que antes eram estratégicos para o país. Enquanto os Estados Unidos buscava diminuir
a necessidade de trabalhadores no chão de fábrica, para que não tivessem poder de barganha,
o Japão buscava capacitar seus trabalhadores e distribuir mais responsabilidades hierárquicas
em processos de aprendizagem.
Os autores apresentam então a Teoria da Agência, que defendem que o mercado aloca
eficientemente os recursos, sendo, portanto, contra a ideia de que a corporação possui o
controle dos recursos da economia. Os teoristas da agência acreditam que, na governança
corporativa, os acionistas são os diretores e os gerentes são os agentes, uma vez que os gerentes
possuem uma tendência de alocar os recursos de maneira a aumentar seus rendimentos, ao
invés de colocar a saúde da empresa em primeiro lugar. Assim, esses economistas defendiam a
distribuição de lucros aos acionistas, que deveriam controlar a empresa e suas tomadas de
decisão, à medida em que alocariam os recursos da melhor maneira possível, gerando
produtividade entendendo que o risco daqueles novos empreendimentos e projetos era
justamente deles.
Além disso, ainda é exposta a figura do investidor institucional, agente que detêm
participações na empresa e exerce papel ativo na organização, tendo como gerente e acionista
o mesmo foco: incrementar o valor da empresa. A partir da década seguinte, pode-se observar
as mudanças na estratégia corporativa dessas grandes corporações, indo do movimento de
reinvestimento massivo de lucros para o que os autores chamam de “reduzir e distribuir”.
Focando no crescimento do valor para os acionistas da empresa, o objetivo passou a ser
enxugar de maneira drástica o tamanho das empresas controladas pela grande corporação,
especificando seu foco de atuação e eliminando força de trabalho e projetos/investimentos
desnecessários ou que trouxessem baixo retorno, a fim de alavancar a produtividade e gerar
mais valor para o acionista. Esse movimento de repaginação das empresas e de seu foco seria
feito através da alocação dos recursos por parte do mercado, que como pressuposto já
explicitado da Teoria da Agência, faz alocação mais eficiente que as empresas, por meio de
instrumentos financeiros criados por agentes financeiros especializados (bancos, fundos,
instituições privadas etc.). A nova estratégia foi bem positiva para os gerentes e acionistas
dessas empresas.
Em seguida, os autores defendem que essas mudanças na estratégia corporativa
contribuíram também para o crescimento econômico estadunidense. As empresas se tornaram
mais produtivas, os lucros cresceram expressivamente, além de se tornaram mais competitivas
frente às japonesas e europeias que vinham crescendo e ameaçando se colocar como fortes
competidores no cenário internacional. Além desse crescimento interno, a liberação de capital
e da força de trabalho dessas empresas permitiu o surgimento de novas empresas e até de novos
setores. As mudanças no controle e na tomada de decisões pertinente à alocação dos recursos
tornou a economia mais forte e com melhores resultados, além de mais dinâmica e inovadora
como um todo.
Entretanto, os autores chamam atenção para o fato de que tal mudança estrutural,
apesar do massivo crescimento econômico, contribuiu também para a piora no cenário de
distribuição de renda entre os estadunidenses nos anos que precedem o artigo, meados dos
anos 90 até 2000. Além disso, reafirmam e deixam claro que a prosperidade da economia dos
Estados Unidos à época, não pode ser atribuída apenas à reestruturação das empresas, mas
(como tudo na economia) à uma soma de outros diversos fatores.
Por fim, relembram que pequenas empresas dinâmicas e inovadoras, podem vir a
crescer e se tornarem grandes corporações, questionando a sustentabilidade do progresso a
partir do modelo de distribuição dos lucros. Vale sempre lembrar que não existe um modelo
perfeito para governança das empresas, sua maneira de lidar com os lucros, pelo simples fato
de vivermos num mundo dinâmico, altamente interconectado e que passa por ciclos. Deve-se
estudar as diversas opções postas à mesa e entender qual a melhor para aquela específica
empresa e/ou setor, numa situação mundial também inerente à cada momento da história.

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