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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

RIO GRANDE DO SUL


CAMPUS DE BENTO GONÇALVES

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

BRUNA E. COSTA
KETLYN ROCHA
ROBERTA PERUZZO

POLÍTICAS CURRICULARES:
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Bento Gonçalves-RS
2023
RESUMO

Este artigo aborda as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos (EJA)


no Brasil à luz das teorias de Gimeno Sacristán e Paulo Freire. Analisar a evolução dessas
diretrizes ao longo do tempo, evidenciando avanços, limitações e sua aplicação na prática
educacional. Destaca-se a ênfase na concepção do currículo como um processo dinâmico,
adaptado à diversidade de saberes e experiências dos alunos, promovendo uma educação
inclusiva e contextualizada. São identificados a valorização dos conhecimentos prévios dos
estudantes, e desafios, incluindo dificuldades na implementação prática das políticas devido
a questões estruturais. Exemplifica-se a aplicação das diretrizes em diferentes contextos
educacionais, apontando tantos obstáculos quanto às experiências bem-sucedidas.
Aborda-se também a oferta de educação para jovens e adultos em estabelecimentos penais
e a necessidade de uma abordagem diferenciada nesse contexto. As considerações
principais destacam a importância de alinhar as políticas educacionais às demandas sociais
e individuais, ressaltando o desafio não apenas na formulação, mas na implementação
dessas diretrizes para garantir o acesso equitativo e a qualidade na educação para todos.

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade educacional que


representa um dos pilares da democratização e universalização da educação, representa
um campo crucial para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária,
proporcionando oportunidades educacionais para aqueles que não tiveram acesso à
educação formal na idade adequada. Neste contexto, analisar as diretrizes curriculares da
EJA à luz das teorias curriculares de Gimeno Sacristán é fundamental para compreender os
avanços, limites e aplicações dessa política educacional. No Brasil, as diretrizes curriculares
para a EJA evoluíram ao longo dos anos, refletindo a necessidade de atender às
especificidades desse público diversificado. Neste artigo, analisaremos as Diretrizes
Curriculares Nacionais e suas aplicações para a Educação de Jovens e Adultos,
considerando diferentes perspectivas pedagógicas, pareceres, resoluções e documentos
importantes, como o Parecer CEB nº 11/2000, as DCNEB 2010, a Resolução CNE/CEB nº 1
de 2021, o Parecer CNE /CEB nº 6/2020 e a Resolução nº 2 de 2010 sobre a oferta de
educação em estabelecimentos penais e as orientações de teóricos como Gimeno Sacristán
e Paulo Freire.
EVOLUÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EJA

As diretrizes curriculares da EJA são documentos que orientam a prática pedagógica


nessa modalidade de ensino, estabelecendo objetivos, conteúdos e metodologias
adequadas para atender às necessidades específicas de jovens e adultos. Essas diretrizes
curriculares para a EJA passaram por significativas transformações ao longo do tempo. O
Parecer CEB nº 11/2000 foi um marco inicial, estabelecendo princípios e fundamentos para
essa modalidade de ensino. As DCNEB 2010 consolidaram diretrizes mais abrangentes,
considerando a diversidade de públicos atendidos. A Resolução CNE/CEB nº 1 de 2021
trouxe atualizações, refletindo a contínua necessidade de adaptação à diversidade de
experiências, trajetórias e demandas educacionais contemporâneas de jovens e adultos,
tem sido guias na construção de um currículo mais inclusivo, buscando criar uma estrutura
curricular flexível e adequada à realidade desses aprendizes. A referência à Pedagogia do
Oprimido de Paulo Freire é especialmente relevante, inspirando práticas pedagógicas
libertadoras e participativas, essenciais para a EJA. Ao analisar essas diretrizes à luz das
ideias de Sacristán, percebe-se a ênfase na concepção do currículo como um processo
sonoro e contextualizado.
Sacristán defende a ideia de que o currículo não é estático, mas sim um processo
em constante evolução, moldado pelas interações entre a escola, a sociedade e os sujeitos
envolvidos no processo educativo. Nesse sentido, as diretrizes da EJA buscam contemplar
essa perspectiva, apoiando a diversidade de saberes e experiências dos alunos,
promovendo uma educação mais inclusiva e contextualizada.
A abordagem freiriana, por sua vez, enfatiza a educação como instrumento de
libertação e transformação social. Ambas as perspectivas convergem na valorização da
prática educativa como instrumento de emancipação.

AVANÇOS E LIMITES NA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA CURRICULAR DA EJA

A evolução das diretrizes curriculares representa um avanço significativo na


promoção da igualdade de oportunidades educacionais. No entanto, é preciso considerar
limites, como a persistência de desafios na efetivação dessas diretrizes nas práticas
pedagógicas. A análise crítica do contexto prévio à implementação dessas políticas, seus
impactos e as omissões que ainda persistem, revela a desigualdade estrutural no acesso à
educação para jovens e adultos. A falta de políticas educacionais específicas para esse
público, antes dessas diretrizes, acentuava a exclusão social e educacional, perpetuando
um ciclo de especificidades.
Os impactos positivos das diretrizes são visíveis, especialmente na inclusão de
novos assuntos no ambiente educacional formal. Contudo, as omissões persistem,
evidenciadas pela necessidade contínua de adaptações curriculares e de políticas mais
eficazes para alcançar uma inclusão plena. Os avanços das diretrizes curriculares da EJA
são evidentes ao considerar a ênfase na valorização dos conhecimentos prévios dos alunos,
na flexibilização dos métodos de ensino e na promoção de uma educação mais conectada
com a realidade dos estudantes. No entanto, alguns limites também se fazem presentes. Um
dos desafios enfrentados é a adequação dessas diretrizes à realidade das escolas e
sistemas de ensino. Muitas vezes, a aplicação prática dessas políticas esbarra em questões
estruturais, como a falta de recursos, a formação de professores e dificuldades logísticas.

APLICAÇÃO DA POLÍTICA CURRICULAR NA REALIDADE DOS SISTEMAS DE ENSINO


E DAS ESCOLAS

A implementação das diretrizes curriculares da EJA nas escolas e sistemas de


ensino enfrenta desafios práticos. Exemplos concretos devem ser levantados para ilustrar
como as políticas se traduzem na realidade. Questões como a formação de professores, a
adequação dos materiais didáticos e a infraestrutura escolar merecem atenção especial.
Neste contexto, como destaca Alvarenga (2015, p. 1):
"Construir políticas de currículo em redes para nós, educadores de
jovens e adultos trabalhadores, significa considerar o acervo de suas
experiências para a relação pedagógica, produzindo, a partir deste
acervo, sentidos no currículo e fazendo um currículo com sentidos
para os assuntos da relação pedagógica."

Para compreender a aplicação das diretrizes curriculares da EJA na prática, é


essencial olhar para exemplos reais em diferentes contextos educacionais. Em muitos
casos, a efetivação dessas políticas enfrenta obstáculos, como a falta de material didático
adequado, turmas com grande heterogeneidade de conhecimentos e dificuldades na
avaliação dos aprendizados adquiridos.
No entanto, é possível encontrar experiências bem-sucedidas que ilustrem a
aplicação efetiva das diretrizes curriculares da EJA. Projetos que valorizam a troca de
saberes, a contextualização dos conteúdos e o envolvimento da comunidade demonstraram
resultados positivos na promoção do aprendizado significativo para jovens e adultos em
situação de vulnerabilidade educacional.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM SITUAÇÃO DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE


Ainda persistem lacunas na aplicação das Diretrizes Nacionais para a Oferta de
Educação para Jovens e Adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais, conforme previsto na RESOLUÇÃO Nº 2, DE 19 DE MAIO DE
2010. Essa perspectiva específica evidencia a necessidade de uma abordagem
diferenciada, considerando as especificidades desse contexto. Uma análise crítica deve
contemplar a efetividade dessas diretrizes na ressocialização dos indivíduos em privação de
liberdade. É crucial considerar que a implementação dessas diretrizes precisa superar
desafios específicos relacionados ao ambiente prisional e à reabilitação educacional.
Além disso, é fundamental ressaltar que a oferta de educação em contextos de
privação de liberdade está respaldada na legislação educacional vigente no país, na Lei de
Execução Penal, nos tratados internacionais firmados pelo Brasil no âmbito das políticas de
direitos humanos e privação de liberdade, devendo atender às especificidades dos
diferentes níveis e modalidades de educação e ensino e são extensivas aos presos
provisórios, condenados, egressos do sistema prisional e àqueles que cumprem medidas de
segurança. (CALLEGARI, 2010)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos


revela avanços importantes na busca por uma educação mais inclusiva e contextualizada,
mas também desafios persistentes na eficácia da implementação dessas políticas. No
entanto, a sua aplicação enfrenta desafios reais, que vão desde questões estruturais até
dificuldades na adaptação às necessidades específicas dos alunos.
É interessante como a combinação das ideias de Gimeno Sacristán e Paulo Freire
pode iluminar as diretrizes curriculares para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Sacristán destaca a importância de alinhar o currículo às necessidades sociais e individuais
dos alunos. Ele enfatiza que o currículo não é algo estático, mas um processo dinâmico que
precisa evoluir e se adaptar às mudanças sociais e às demandas dos alunos.
Por outro lado, Freire traz a noção crucial da educação como instrumento de
transformação social. Sua abordagem pedagógica enfatiza a conscientização e a
importância do diálogo entre educador e educando, bem como a contextualização do ensino,
ligando-o à realidade dos alunos para que possam compreendê-lo criticamente e
transformá-lo.
Ao analisar as diretrizes da EJA, é possível perceber que esses dois pensadores
oferecem insights valiosos para sua implementação. A criação de políticas educacionais
inclusivas é apenas o primeiro passo. A verdadeira eficácia dessas políticas está na sua
aplicação real, na reflexão contínua sobre as práticas pedagógicas e na adaptação do
currículo às diversas realidades dos alunos da EJA. Os desafios são amplos e variados,
desde questões estruturais até à formação adequada dos professores e à disponibilidade de
recursos. Uma implementação bem sucedida das diretrizes exige uma abordagem que
combine a flexibilidade do currículo com a atenção às necessidades individuais, além de
promover mudanças estruturais para garantir um acesso equitativo e a qualidade da
educação para todos os alunos, independentemente de sua idade ou experiência
educacional anterior. Nesse sentido, a combinação das perspectivas de Sacristán e Freire
oferece um caminho para compensar não apenas o que deve ser ensinado, mas também
como isso deve ser feito, levando em consideração a realidade social, cultural e individual
dos estudantes da EJA.
A perspectiva de Gimeno Sacristán e Paulo Freire enriquece a compreensão do
currículo como um processo dinâmico, destacando a importância da prática educativa na
transformação social. Conforme a visão de Gimeno Sacristán, é fundamental nortear a
correção dessas diretrizes, garantindo uma educação mais eficaz e alinhada com as
demandas sociais e individuais dos estudantes da EJA. O desafio, portanto, reside não
apenas na elaboração de políticas educacionais inclusivas, mas também na criação de
condições efetivas para sua implementação, mudanças para garantir o acesso equitativo e a
qualidade da educação para todos, independentemente da idade ou do percurso escolar
anterior. A aplicação dessas diretrizes na realidade exige uma reflexão constante sobre as
práticas pedagógicas, a formação de professores e a adequação às diversas realidades dos
educandos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVARENGA, M. S. de. Produzir sentidos no currículo ou sobre currículo que produz


sentidos para jovens e adultos trabalhadores. Jornal Redes Educativas e Currículos Locais.
Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1, jun., 2015. Disponível em: <
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BRASIL. Ministério da Educação. (2010). DCNEB 2010: Diretrizes Nacionais para a oferta
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BRASIL. Ministério da Educação. (2021). Resolução CNE/CEB nº 1, de 28 de maio de 2021:


Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos ao seu
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http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=191091-rceb
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BRASIL. Ministério da Educação. (2020). Parecer CNE/CEB nº 6/2020, aprovado em 10 de


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legislações relativas à modalidade. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=168151-pce
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DINIZ, Pedro Augusto De Oliveira. Educação De Jovens E Adultos: Reflexões, Perspectivas


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https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/educacao-jovens-adultos-reflexoes-pe
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.

SACRISTÁN, GIMENO J. Aproximação ao conceito de currículo. O currículo: uma reflexão


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UNIBANCO, Instituto. Educação de Jovens e Adultos: a luta pelo direito à aprendizagem.


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NhpcPrYnBigaT9csaAkaoEALw_wcB>. Acesso em 04 de nov. 2023.

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