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Posta esta breve introdução à temática, Jalali (2017, pp. 19-20) remete-nos para
modelos que buscam explanar a formação e a consolidação dos sistemas partidários,
sendo, porventura, o mais influente, o modelo das clivagens sociais de Lipset e Rokkan –
1967. O referido modelo assenta em dimensões de conflito que dividem a sociedade e que
estruturam grupos dentro da mesma, tendo origem em movimentos históricos. A primeira
de quatro clivagens – duas oriundas da revolução nacional e duas da industrial – é a
clivagem centro-periferia, isto é, a divisão entre os vencedores – centro, cultura central
da construção nacional – e os derrotados – periferia, populações dominadas de diferentes
etnias, línguas e religiões – no contexto da construção dos Estados europeus (Jalali, 2017,
pp. 21-23). A segunda clivagem, Estado-Igreja, verifica-se aquando da formação do
Estado moderno por avocar responsabilidades que eram apanágios da Igreja. A revolução
industrial gerou outras duas clivagens, sendo a primeira rural-urbano, a segunda,
proprietários-trabalhadores (Jalali, 2017, p. 24). Na primeira, o setor fabril almejava
promover o comércio livre, enquanto o setor agrícola advogava a proteção dos mercados
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Não obstante a pertinência do modelo, este apresenta três limitações, a saber: (a)
a estabilidade do sistema partidário fica, em tese, dependente da estabilidade da estrutura
social, algo que não se verificou na Europa; (b) assente nos partidos de massa, esperar-
se-ia que o surgimento dos catch-all provocasse mudanças profundas – não sucedeu; (c)
sistemas que se consolidaram sem partidos de massa organizados em torno das clivagens
apresentadas – EUA e Portugal (Jalali, 2017, pp. 40-42). O modelo de estruturas de
interação de Mair tem como enfoque a arena governamental, porquanto no cerne dum
sistema partidário está a competição pelo governo. Tal modelo apresenta três dimensões:
(a) padrão de alternância no governo, que pode ser completa, parcial ou não-alternância;
(b) inovação vs. familiaridade no governo; (c) abertura a diferentes partidos no governo
(Jalali, 2017, pp. 44-49). Portanto, a estrutura pode ser mais aberta ou fechada – maior ou
menor estabilidade e previsibilidade (Jalali, 2017, pp. 51-53). A estabilidade é alcançada
por constrangimentos na escolha partidária que o sistema impõe aos eleitores, fecundando
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um sistema consolidado. Segundo Sartori, “um sistema (…) consolida-se (…) quando os
eleitores dão como adquirido um determinado leque de opções e alternativas políticas”
(Jalali, 2017, p. 60). Num sistema consolidado, dá-se a ‘heurística da história eleitoral’
que gera estabilidade, ou seja, resultados anteriores servem de base para os eleitores
anteciparem que partidos são relevantes, sendo assim induzidos a votar “nas forças que
dominam o sistema”, potenciando a reprodução de padrões prévios (Jalali, 2017, p. 62).
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Bibliografia
Damiani, M. (2020). Populist radical left parties in western europe (p. 44).
Routledge.
Rydgren, J. (2018). The oxford handbook of the radical right (p. 739).