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ESCOLA POLITÉCNICA
COLEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
Salvador
2019
LARA MASCARENHAS DA SILVA
Salvador
2019
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SILVA, Lara Mascarenhas da. Análise da personalização no processo construtivo de unidades
habitacionais. 2019. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso) – Escola Politécnica,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019.
RESUMO
A busca por diferenciais no setor da Construção Civil fez com que as empresas buscassem por novos
meios de captar os clientes cada vez mais exigentes e atender às suas necessidades como
consumidores. Diante desse cenário, o oferecimento de personalização das unidades habitacionais
surge como uma oportunidade de garantir a competitividade de construtoras no mercado. A tendência
de personalizar encontra-se presente em vários setores econômicos e está associada à satisfação de
anseios individualizados. Para a Construção Civil, a participação do cliente no processo construtivo
dos apartamentos insere novas interfaces, novos fluxos de informações e novos desafios ao setor. O
objetivo do presente trabalho é estudar o processo interno de personalização em um empreendimento
em fase de construção, além de identificar as dificuldades que se configuram como fatores limitantes
e sugerir melhorias no gerenciamento do processo, visando otimizá-lo. A estratégia de pesquisa
adotada é o estudo de caso, dividida nas seguintes etapas: (a) Revisão bibliográfica; (b) Estudo de
caso; (c) Análise dos dados e sugestão de melhorias. Através do entendimento do processo de
personalização e do conhecimento das principais dificuldades, torna-se possível identificar novas
formas de colaborar para a implantação e consolidação dessa estratégia de marketing em empresas.
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LISTA DE FIGURAS
3
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
4
LISTA DE QUADROS
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LISTA DE TABELAS
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9
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4.1 MAPEAMENTO DO PROCESSO DE PERSONALIZAÇÃO DE APARTAMENTOS DA
OBRA ESTUDADA ................................................................................................................. 39
4.1.3 VISTORIAS.................................................................................................................. 47
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 64
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 66
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1. INTRODUÇÃO
As variações no perfil dos consumidores, que possuem novos estilos de vida, novas
configurações de trabalho e perfis individualizados têm impulsionado adequações em diversos
setores, inclusive o setor da Construção Civil. Segundo Frutos (2000), esses fatores motivaram a cada
vez mais clientes desejarem ver seus projetos desenvolvidos sobre bases individuais, que satisfaçam
suas preferências pessoais, substituindo projetos concebidos para um usuário anônimo.
As necessidades e predileções relacionadas à moradia são aspectos de grande variabilidade,
pois são influenciadas por muitos fatores (CARVALHO, 2004). Sendo assim, diversas solicitações
manifestam-se nos atributos de suas residências. Visando atender essas novas exigências e garantir a
competitividade no mercado imobiliário, as empresas têm buscado ofertar produtos diferenciados.
Segundo Fernandes (2013), os empreendimentos têm sido reconfigurados e passaram a
considerar com maior ênfase algumas questões, como exemplo, a satisfação dos usuários e a
qualidade da edificação.
Diante do exposto, entende-se que implantação de mecanismos para atingir a qualidade do
produto final e o contentamento do cliente tornou-se imprescindível. Uma das estratégias que tem
sido adotada pelas construtoras é a personalização de apartamentos, que atua como um elemento de
coesão entre as necessidades dos clientes e o que as construtoras podem oferecer (FALCONI;
BRANDÃO, 2014)
Na opinião de Frutos (2000), a personalização de imóveis será cada vez mais comum no
mercado da indústria da Construção Civil, principalmente, nos empreendimentos residenciais de alto
padrão. Moschen (2003) afirma que as empresas necessitam ser eficazes na identificação das
requisições dos clientes, na coordenação do processo de projeto e na gestão da produção. A tendência
é que se aumente o foco nas demandas dos usuários, através da promoção da participação direta dos
compradores nas decisões, desenvolvendo um produto devidamente planejado.
Todavia, a visão de Falconi e Brandão (2014) ressalta que, uma vez que o produto deixa de
ser padronizado, ele passa a gerar maiores dificuldades para o sistema de produção, pois exige maior
capacidade de resposta e maior integração entre os diferentes setores ou departamentos da empresa,
além da necessidade de manter qualidade e prazos de entrega. De acordo com Fernandes (2013), em
projetos que permitem a personalização de apartamentos, a quantidade de intervenientes e o volume
de informações são ainda maiores, quando comparados a projetos padronizados.
“As modificações de projeto, no caso dos edifícios residenciais multifamiliares onde ocorre a
individualização dos projetos, implicam em quedas de produtividade influenciadas pelo aumento da
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complexidade, redução ou perda da continuidade e redução da repetição” (BRANDÃO; HEINECK,
1998). Por conta disso, há a exigência de um gerenciamento eficiente do processo de projeto e
produção, além de um amplo uso de tecnologias de informação e comunicação, explicam Brandão e
Heineck (2007).
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• Como ocorre o processo de personalização de apartamentos durante a execução de uma
obra?
b) Como melhorar a gestão da personalização para que ocorra de forma eficiente, ou seja, sem
gerar atrasos e minimizando as falhas no processo?
11
.
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO
12
2. O PROCESSO DE PERSONALIZAÇÃO: PROJETO E
PRODUÇÃO
Este capítulo expõe a revisão bibliográfica sobre a personalização de unidades habitacionais,
abordando sua definição e suas dificuldades. Em seguida, trata dos processos de projeto e execução
de apartamentos personalizados, evidenciando os intervenientes envolvidos nesse meio e fluxo de
informações relevantes para a execução de projetos, assim como sua coordenação, e as dificuldades
da interface entre projeto e execução.
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Diante dessa crescente demanda por variedade e maior flexibilidade, as empresas de
construção de unidades habitacionais buscaram se adaptar considerando novos tipos de projeto e
criando um estreitamento das relações entre cliente e construtora. Frutos (2000) afirma que as
condições impostas pela demanda exigem das empresas o aperfeiçoamento de atributos de trabalho
como: colaboração e integração, rapidez e flexibilidade.
Brandão (1997, p. 05) conceitua a flexibilidade como “[...] todas as habilidades e capacidades
de adequar (ou adaptar) o produto ao que realmente o cliente deseja” e subdivide-a quanto à estratégia
de comercialização da seguinte forma:
a) Flexibilidade planejada: quando há a oferta de diferentes opções ao cliente para que ele
possa analisar e escolher de acordo com suas preferências e/ou necessidades.
b) Flexibilidade permitida: quando há a possibilidade de mudanças no projeto por solicitação
do cliente, incluindo-se a possibilidade de personalização dos ambientes, para satisfazer
suas preferências e/ou necessidades.
De acordo com estudos realizados por Brandão e Heineck (2007), é possível confirmar que a
flexibilidade possui grande importância como dimensão competitiva no setor da construção civil, ou
seja, é um critério diferenciador entre os concorrentes, estando presente na formulação da sua
estratégia. Os autores apontam também que a personalização na construção civil começou a ser
praticada a partir da década de 90, após o surgimento da flexibilização, atendendo às exigências de
usuários com maior poder aquisitivo (FERNANDES, 2013).
A personalização, que pode ser atendida em diferentes graus com base na estratégia de negócio
adotada para cada tipo de empreendimento, tornou-se uma estratégia de marketing adotada por muitas
empresas, como elemento de diferenciação do produto, confirma Brandão (2002). O referido autor
também explica que o argumento de oferecer personalização maior ou menor, ou mesmo opções
dentro de um guia planejado pela empresa, visa atingir os desejos do cliente, tornando-se um elemento
a mais na decisão de compra do imóvel.
A postura da empresa em relação à personalização, de acordo com Brandão (2002), pode ser:
a) Reativa: quando se procuram atender os anseios do cliente de qualquer maneira com
descontrole do canteiro, geração de retrabalhos, atrasos de cronograma, dificuldades de
controle e elevação dos custos indiretos.
b) Pró-ativa: quando a empresa se prepara para o diálogo com o cliente, criando regras para
o atendimento personalizado na forma de guias ou manuais, além de pessoal destinado a
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ouvir e orientar o cliente, auxiliar tecnicamente na escolha de materiais, orçar
modificações e ordenar visitas ao canteiro.
As opções a serem oferecidas pela empresa podem variar também conforme os diferentes
segmentos e nichos em que atua. Uma das possibilidades é a empresa realizar a personalização da
parte bruta da obra do apartamento (como instalações hidráulicas e elétricas, modificações em
alvenaria) e transferir os serviços de acabamento (como revestimentos internos) para a
responsabilidade posterior do próprio cliente. Porém, em segmentos de prédios de luxo, e
condomínios a preço de custo, por exemplo, a personalização tende a ser irrestrita uma vez que os
compradores, de renda mais alta, asseguram os custos das modificações (BRANDÃO, 2002).
É imprescindível considerar que há uma extrema heterogeneidade de clientes finais e usuários
das edificações, cujas necessidades funcionais e ambientais do ambiente construído são diferentes,
assim como disponibilidades financeiras e aspirações, como Fabricio (2002) evidencia em seu estudo.
Todas essas características influenciam diretamente na forma de personalização oferecida por cada
construtora.
Falconi (2013) ressalta que a personalização de projetos e obras se encontra de diversos modos
e é diferenciada através das necessidades individuais, sociais, demográficas, econômicas, novas
configurações familiares, ciclo de vida, hábitos modernos, influenciando diretamente no produto que
será produzido (a habitação), transformando o ambiente e estabelecendo fatores como área desejada,
ambientes necessários, número de cômodos, disposição dos mesmos, características estéticas.
Acompanhar esse cenário de personalização em diversos setores é fundamental, visto que não
provém somente de aspectos conjunturais ligados à economia e à tecnologia, pelo contrário, é um
aspecto decorrente de uma aptidão do ser humano em diferenciar-se do outro, buscando sua própria
identidade. (CAMPANHOLO, 1999). Por conta disso, acredita-se que a personalização é uma
tendência irreversível.
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Brandão e Heineck (1998, p.4) destacam como problemas mais frequentes na personalização
de unidades habitacionais:
(...) atrasos dos serviços e da entrega da obra, necessidade de maior controle e melhor
administração, geração de retrabalhos e perdas de materiais, principalmente pela indefinição
dos clientes e das solicitações fora do prazo. Essas dificuldades trazem como consequência
aumentos de custos indiretos para a empresa;
- as instalações hidráulicas e elétricas costumam ser muito afetadas. Em geral, como as
instalações hidráulicas estão mais concentradas nas áreas molhadas os problemas tendem a
ser maiores com as instalações elétricas, por estarem distribuídas de forma mais generalizada
no edifício;
- muitos clientes não atendem aos avisos da empresa quanto às datas limites para
encaminhamento de pedidos de modificação ou comparecimento à empresa para escolha de
materiais de acabamento;
- a indefinição do cliente é tal que se torna muito comum que um mesmo serviço seja refeito
várias vezes;
- há clientes que chegam a realizar pagamentos extras aos funcionários da obra para executar
serviços adicionais;
- muitas modificações não são redesenhadas, principalmente no campo das instalações onde,
raramente, projetos as built são providenciados; muitas alterações nas instalações são feitas
sem um novo projeto, o cliente simplesmente marca as novas posições de interruptores,
tomadas e pontos hidráulicos no próprio local com a ajuda de um encarregado;
- visitas frequentes dos clientes, principalmente quando não programadas, atrapalham a
continuidade dos serviços;
- alguns serviços extras relativos à personalização, tais como os serviços em gesso, ou
montagem de mobiliário de cozinha, banheiros, etc., trazem para o canteiro de obra, pessoal
estranho à construtora, podendo dificultar a programação das equipes e dos serviços da
mesma;
- a excessiva variedade de certos materiais de acabamento, como no caso das cerâmicas,
tende a gerar perdas pela impossibilidade de reaproveitamento das peças cortadas de unidade
para unidade; se o objetivo é reduzir custos isto se constitui numa dificuldade;
- por vezes ocorre a venda de um apartamento já modificado ainda na fase de construção e o
novo proprietário o adquire conforme o projeto original, não admitindo pagar os custos da
reforma; muitas vezes as empresas acabam arcando com prejuízos deste tipo.
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Falconi (2013) diz que o atraso na entrega do produto é um item muito importante e que
influencia diretamente na satisfação dos clientes. A maioria dos atrasos na entrega do produto
personalizado está relacionada às definições por parte dos próprios clientes e decisões tomadas fora
do prazo estabelecido, ocasionando retrabalho e consequentes desperdícios de materiais.
Falconi (2013) acrescenta ainda que, para lidar com isso, a administração da obra deve ter um
controle sobre todos os itens envolvidos para que o processo ocorra em seu tempo adequado, de forma
eficiente e ágil. A administração deve atuar em conjunto com o planejamento. Ao se montar a equipe
administrativa deve ser dada sequência nos trabalhos de planejamento de forma que a administração
conceba o mesmo e seja detentora de todos os seus princípios, buscando atingir os objetivos e as
metas definidas.
A palavra projeto pode ser definida de diversas formas a depender da compreensão de cada
autor. Melhado (1994) associa o projeto como o procedimento ou a prática de projetar (relacionado
ao projeto com um enfoque de criação), e com um ponto de vista mais voltado aos resultados do
mesmo (relacionado ao propósito político, social e cultural do projeto). Ele descreve ainda que o
projeto de edificações especificamente deve incorporar a visão de produto, ou seja, a forma
(elementos estéticos), funções e também o processo de produção do mesmo.
Novaes (2001, p. 01) distingue o conceito de projeto em duas vertentes:
Um estático, referente a projeto como produto, constituído por elementos gráficos e
descritivos, ordenados e elaborados de acordo com linguagem apropriada, destinado a
atender às necessidades da etapa de produção. E outro, dinâmico, que confere ao projeto um
sentido de processo, através do qual as soluções são elaboradas e necessitam ser
compatibilizadas.
Percebe-se que, na bibliografia, os autores assumem posturas diferenciadas conforme a ênfase
da análise empregada, descrevendo o projeto de diferentes maneiras a depender do seu contexto e
variedade de tipos existentes.
A NBR 13.531 (ABNT, 1995) define a elaboração de projeto de edificação como a
determinação e representação prévias dos atributos funcionais, formais e técnicos de elementos de
edificação a construir, a pré-fabricar, a montar, a ampliar, a reduzir, a modificar ou a recuperar,
abrangendo os ambientes exteriores e interiores e os projetos de elementos da edificação e das
instalações prediais. Por meio dela, o projeto de edificações pode ser dividido em etapas, de acordo
com suas atividades técnicas e seus elementos e componentes, da seguinte forma:
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a) Levantamento: coleta de informações de referência, podendo incluir dados físicos, técnicos,
legais e sociais;
b) Programa de necessidades: determinação das exigências de caráter prescritivo ou de
desempenho (necessidades e expectativas dos usuários) a serem satisfeitas pela edificação
a ser concebida;
c) Estudo de viabilidade: elaboração de análise e avaliações para seleção e recomendação de
alternativas para a concepção da edificação;
d) Estudo preliminar: concepção e representação de informações necessários à configuração
da edificação;
e) Anteprojeto: concepção e representação de informações provisórias necessárias ao inter-
relacionamento das atividades técnicas de projeto e elaboração de estimativas aproximadas
de custos e prazos de serviços da obra;
f) Projeto legal: representação de informações técnicas necessárias à análise e aprovação legal
da concepção do edifício;
g) Projeto básico: concepção e representação das informações técnicas ainda não completas
ou definitivas compatíveis e suficientes à licitação dos serviços da obra;
h) Projeto para execução: concepção e representação das informações técnicas da edificação e
de seus elementos, instalações e componentes, completas e definitivas, necessárias e
suficientes à licitação e à execução dos serviços da obra.
Apesar da Norma Brasileira dividir o processo de projeto em partes sucessivas, Tzortzopoulos
(1999) afirma que o processo de projeto de edificações é complexo, envolve a tomada de decisões
em diferentes níveis a depender do grau de detalhamento e das características dos intervenientes
envolvidos e, portanto, é desenvolvido com alto grau de incerteza. A referida autora acrescenta que a
própria natureza específica de cada empreendimento acarreta à inexistência de um consenso quanto
à definição de projeto, abordagens e propostas de subdivisões, principalmente quando se refere às
tarefas diferenciadas do início do processo.
“Cada projetista desenvolve seu trabalho de forma distinta, com diferentes soluções para um
mesmo problema de projeto” (FERNANDES, 2013, p. 31). A referida autora complementa que a
pouca quantidade de informações no início de um projeto origina atrasos e retrabalho durante todo o
processo, além de considerar a restrição de tempo para decisões e proposição de novas tecnologias e
alternativas de projeto como um problema enfrentado pelos projetistas.
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“A concepção e o projeto, na construção e em outros setores, são de fundamental importância
para a qualidade e a sustentabilidade do produto e para a eficiência dos processos” (FABRICIO, 2002,
p. 69). O processo de projeto compreende todas as decisões e formulações que visam contribuir para
a criação e a produção de um empreendimento. Fabricio (2002) também afirma que o processo de
projeto é a etapa mais estratégica do empreendimento com relação aos gastos de produção e a
agregação de qualidade ao produto ao longo de seu ciclo de vida, além de apresentar as maiores
oportunidades de intervenção.
Com essa visão ampliada da abordagem de todo o processo de projeto, Tzortzopoulos (1999)
evidencia a impossibilidade de dissociação deste processo em relação à gestão do empreendimento,
acrescentando também a melhoria contínua e a simplificação do processo na medida que as interfaces
dos processos internos da empresa se tornam mais identificáveis e gerenciáveis.
Dessa forma, é evidente que os processos de concepção e projeto são fundamentais para o
sucesso dos empreendimentos e para o progresso ao longo da execução da construção. A análise de
todas as questões envolvidas no projeto precocemente é de extrema pertinência para evitar problemas
advindos de erros da fase inicial, influenciando nos custos e na velocidade da obra.
Pela visão de transformação, o processo pode ser entendido como a transformação dos
requisitos do cliente em especificações de um produto, onde os subprocessos são desenvolvidos por
diferentes especialistas (KOSKELA, 1992). Sendo assim, é importante esclarecer que os agentes da
concepção e do projeto do empreendimento são os projetistas de arquitetura e engenharia e todos
aqueles que tomam decisões relativas à concepção do empreendimento de forma geral.
A visão de geração de valor é considerada através da definição de algumas informações
importantes de requisitos dos clientes que devem ser inseridas nos processos de projeto,
especialmente durante as fases iniciais. Isto usualmente envolve um conjunto de coleta de dados,
procedimentos de analises e opiniões, pesquisas de mercado, avaliação de pós-ocupação, manutenção,
etc. (TZORTZOPOULOS; FORMOSO, 1999).
Koskela (1992) destaca as características do setor da construção que não facilitam a melhoria
do processo e do produto final. Entre os problemas relacionados pelo referido autor estão: a falta de
meios adequados para a captura dos requisitos do cliente, programas de necessidades incompletos,
elevado número de intervenientes, longo ciclo de vida das edificações, falta de planejamento para
futuras alterações, ausência de avaliações pós-ocupação e, principalmente, problemas com o fluxo de
informações entre os diversos envolvidos com o projeto.
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Segundo Fabricio (2002), a maioria dos projetos e uma grande parte dos serviços de
engenharia são desenvolvidas por profissionais e empresas contratadas para prestar consultoria ou
desenvolver o projeto de determinada especialidade, gerando uma grande quantidade de informação.
Infelizmente, o projeto ainda é percebido por muitas empresas como um custo, quando na verdade,
como destaca Melhado (1994), devia ser entendido como um investimento cujos retornos se darão na
maior eficiência de sua produção e na melhor qualidade dos produtos gerados.
As equipes de projeto de um edifício são compostas por diferentes projetistas contratados para
atuarem no desenvolvimento de um determinado empreendimento. Geralmente, a mobilização dos
projetistas ocorre de forma gradual à medida que o empreendimento avança, aborda Fabricio (2002).
Inicialmente contrata-se o arquiteto que efetivamente concebe o produto e posteriormente esse
produto será complementado pelos projetos de especialistas diversos. Ocorre a finalização da
concepção arquitetônica sem nenhuma participação dos demais projetistas frequentemente, exceto
algumas consultas ao projetista de estruturas. Assim, torna-se claro a separação entre a fase de
concepção do edifício e o desenvolvimento do projeto.
Desse modo, uma etapa de projeto quase sempre depende do término de uma etapa de
diferente especialidade, além de aprofundamento das decisões, para ser iniciada. Sendo assim, a
atuação dos profissionais ocorre com reduzida interação entre eles e com o pessoal da obra, verifica-
se, então, diferentes interfaces entre os principais envolvidos, além de diferentes compatibilizações,
que são necessárias para garantir a coerência entre as decisões e projetos.
Brandão (2002) apresenta a diferença entre o processo de projeto tradicional e o processo
participativo:
• Projeto sequencial: cada participante desenvolve apenas a sua parte do projeto sem
considerar os demais projetos ou etapas. Neste modelo de processo podem ocorrer
problemas de compatibilização que influenciam negativamente o processo de produção;
• Projeto colaborativo: os diferentes participantes interagem e decidem em conjunto as
melhores soluções para o processo de produção e qualidade do produto final
O método sequencial é a prática mais adotada até hoje pelos empreendedores do setor da
construção civil. Os profissionais de projeto são contratados em momentos distintos do processo, sem
integração da equipe, conduzindo a problemas de compatibilização entre as soluções propostas
(FERNANDES, 2013).
A análise de Fabricio (2002) sobre esse assunto revela algumas problemáticas envolvidas
nesse processo. Por se tratar de um processo fragmentado e sequencial, acaba-se reduzindo a
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possibilidade de colaboração entre projetistas e a proposição de modificações por um projetista
implica na revisão de projetos de outras especialidades que já se encontram mais amadurecidos. Esse
ciclo acarreta em enormes retrabalhos e até mesmo o abandono de alguns projetos.
Segundo Picchi (1993) apud Tzortzopoulos (1999), com a evolução do empreendimento, as
possibilidades de influência no custo final do empreendimento diminuem sensivelmente. É possível
observar também que quanto antes uma falha for identificada, menor será o custo da correção, de
modo que as vantagens do controle de qualidade são maiores nas etapas iniciais (planejamento e
projeto). Melhado (1994) acrescenta que conforme o projeto é desenvolvido e detalhado, a liberdade
de soluções e mudanças diminui, portanto, nesse procedimento de mobilização sequencial de
projetistas, a possibilidade de intervenções na concepção de soluções é reduzida.
Diante do exposto sobre o processo de projeto de forma geral, é necessário analisar alguns
pontos específicos que abrangem os projetos personalizados. Moschen (2003, p. 69) faz as seguintes
considerações sobre o assunto:
Um projeto personalizado deve ser elaborado conforme as necessidades e gostos estéticos
dos clientes. Este projeto deve apresentar o novo arranjo dos espaços, os serviços a serem
executados e os materiais a serem aplicados na unidade modificada, além disso, o projeto
deve trazer as alterações nas instalações e o detalhamento que se faça necessário para a
execução fiel do projeto. O projeto personalizado deve ser executivo, atendendo todos os
níveis, deve ser compatível com os projetos complementares, estar em conformidade com a
tecnologia aplicada e a capacitação da mão-de-obra, e, acima de tudo, ser claro e de fácil
entendimento pelos usuários do projeto (mão-de-obra).
Moschen (2003) também explica que quando o morador adquire sua unidade habitacional, ele
se apropria da habitação como um prolongamento da sua personalidade e do seu modo de vida,
fazendo daquele espaço um lar, por isso ele deve ter a liberdade de modificá-lo, agregando valores
que não foram inicialmente incorporados ao projeto.
Em conformidade com o apresentado pela autora, pode-se acrescentar que essa falta de
padronização contribui para o aumento de quantidade de intervenientes no processo, exige maior
capacidade de resposta e maior integração entre os diferentes setores ou departamentos da empresa,
além da necessidade de manter qualidade e prazos de entrega
Por tudo o que foi descrito até aqui, acredita-se que o usuário da habitação deve ser
considerado de forma mais efetiva e participativa no processo de projeto deste produto, a fim de
aumentar a possibilidade de acerto e sucesso no atendimento de suas necessidades, anseios e desejos.
Torna-se claro, então, que é possível melhorar o desempenho de empreendimentos, através de
investimentos relativamente reduzidos no gerenciamento e na melhoria da qualidade no processo de
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projeto (TZORTZOPOULOS, 1999), cujo retorno ocorre de forma bastante vantajosa ao longo da
produção.
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detalhadas e que, após terminado o projeto, a execução ocorra de forma contínua, sem alterações e
improvisos. Melhado (1994) conceitua-o como:
um conjunto de elementos de projeto elaborados de forma simultânea ao detalhamento do
projeto executivo, para utilização no âmbito das atividades de produção em obra, contendo
as definições de disposição e sequência de atividades de obra e frentes de serviço; uso de
equipamentos; arranjo e evolução do canteiro; dentre outros itens vinculados às
características e recursos próprios da empresa construtora.
O "projeto para produção" deveria estar presente desde as primeiras fases do processo de
projeto e, desse modo, pode se tornar uma forma efetiva de transmitir para a obra como aplicar a
tecnologia envolvida, evitando que as decisões sejam tomadas no canteiro.
A compreensão de Moschen (2003) sobre projeto para a produção remete à ideia de projetos
compatibilizados antecipadamente, ou seja, a sobreposição de projetos que irá indicar interferências
construtivas entre os mesmos, e, uma vez que sejam identificadas, estas sejam solucionadas ainda em
fase de projeto, minimizando os erros durante a fase da construção.
Para Brandão (2002), diante dessa realidade da construção civil, que ainda emprega um
processo produtivo artesanal, carente de melhor planejamento e com índice de retrabalhos muito
elevado, o processo de personalização acarreta um agravamento da situação. Esse agravo pode,
inclusive, ser percebido na ausência de fenômenos que contribuem para a produtividade, como o
efeito aprendizagem e o efeito continuidade.
Segundo Heineck (1991), o efeito aprendizagem é o fenômeno conhecido pelo qual a repetição
de uma tarefa, o treinamento e a aprendizagem na sua execução, enfim, a experiência, conduzem a
um melhor desempenho, isto é, um aumento de produtividade. O autor explica que para existir esse
efeito, é necessário que haja continuidade na execução de tarefas, afinal cada interrupção seria como
um retorno a um patamar de produtividade inferior, caracterizando assim o efeito descontinuidade.
Torna-se evidente, então, o grande impacto que a despadronização de apartamentos pode ter durante
o processo construtivo da obra.
Sobre a inclusão de um sistema de personalização em uma construtora e incorporadora,
Moschen (2003, p. 61) ressalta:
Verifica-se a necessidade de uma reengenharia do processo produtivo, pois de uma empresa
que produz produtos convencionais – com alto grau de padronização – ela passa a construir
empreendimentos com unidades diferenciadas de acordo com os anseios e desejos do cliente.
Ou seja, o sistema de personalização leva as empresas habituadas ao processo de produção
convencional a rever sua forma de conduzir o trabalho, definindo claramente o que será feito,
como será feito e quem fará.
Para Moschen (2003), a empresa precisa estabelecer uma nova forma de conduzir o processo
produtivo de forma geral, sobretudo o processo de projeto, onde os profissionais envolvidos devem
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entender a personalização, com suas possibilidades e implicações, procurando sempre a melhor forma
de viabilizar a flexibilidade. Além disso, determinadas solicitações de modificações oriundas da
personalização podem ir contra os códigos de obra e outras legislações, afetando a possibilidade de
atender o cliente na íntegra.
Pensando do mesmo modo, Farias (2013) complementa que o nível de retrabalho do
empreendimento aumenta com a personalização, pois não há tempo para uma reprogramação do
planejamento da produção como um todo.
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iv. A simplificação através da redução do número de passos ou partes devido à criação
de um único processo que é repetido igualmente em todas as personalizações
vendidas.
v. Aplicação da transparência aos clientes por meio de mostruários de materiais e
orçamentos detalhados separadamente com custos de material, mão de obra e taxa de
administração.
vi. Redução das parcelas de atividades que não agregam valor e redução do tempo de
ciclo através da não interferência das atividades de fluxo nas atividades de
processamento
vii. Benchmark como reflexo da combinação de forças internas da empresa com as
melhorias práticas externas em planejamento.
Diante de todos esses aspectos positivos verificados no estudo, fica claro que a Construção
Enxuta surge, neste cenário, como um conjunto de conceitos que possibilitam o aumento da eficiência
e do valor do produto ao cliente, tendo como foco principal a satisfação do cliente, e
consequentemente o aumento de competitividade perante as empresas concorrentes (DIAS; SERRA,
2012).
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condições de uso) das edificações, passando pelas fases de projeto, construção, uso e manutenção.
Durante essas diversas etapas, diversos agentes independentes envolvem-se com o empreendimento,
com diferentes papéis e objetivos, o que traz dificuldades e limitações.
De um modo geral, o empreendimento é bastante dinâmico e sua organização e seus
intervenientes vão se transformando significativamente ao longo de sua execução. Além disso, o
tratamento do fluxo de informações entre os vários agentes multidisciplinares dentro de todo o
processo é um dos fatores críticos para o sucesso de um empreendimento (ZEN, 2006).
Bernardes (1996) considera que a informação é o resultado do processamento de qualquer
dado manipulado dentro da organização, de maneira que esse possua valor para o desenvolvimento
de determinado processo. Sendo assim, a informação nos dias de hoje tem um valor altamente
significativo e pode representar grande poder para quem a possui, seja pessoa, seja instituição (ZEN,
2006). Ela possui seu valor, pois está presente em todas as atividades que envolvem pessoas,
processos, sistemas, recursos financeiros, tecnologias, etc.
Para Tzortzopoulos (1999), a troca de informações deve ser intensa no processo de projeto.
Entretanto, o grande problema é que estas informações são espalhadas sem qualquer estrutura ou
classificação, acarretando muitos problemas entre as partes envolvidas. Como exemplo de fatores que
dificultam a flexibilização do processo e a troca de informações, pode-se citar a troca constante de
fornecedores, as relações dinâmicas entre os intervenientes e os diferentes interesses de cada
interveniente (em função de suas visões particulares e suas necessidades diferenciadas).
Outros fatores que geram problemas de comunicação são relacionados às diferentes formações
dos profissionais que desenvolvem projetos de edificações, afirma Tzortzopoulos (1999). Ela
acrescenta ainda que, em função destas diferenças, cada profissional ou grupo de profissionais
desenvolvem diferentes entendimentos com relação à nomenclatura e aos conteúdos das atividades
de projeto. Além disto, usualmente, não existe clareza com relação às funções e responsabilidades de
cada um dos envolvidos.
Fabricio (2002) ressalta que, devido à participação de vários intervenientes e a existência de
diversas interfaces no processo de projeto, manifesta-se a necessidade de gerenciar o fluxo de
informação entre os envolvidos, além de requisitar uma gestão eficiente de todo o processo.
A falta de comunicação adequada pode gerar soluções desvinculadas dos requisitos do cliente,
se tornando motivo de retrabalho ou alterando as características definidas para o empreendimento no
lançamento do projeto. O autor acrescenta também outros fatores que são determinantes para
alterações posteriores e acarretam retrabalho, entre eles, a captação incompleta ou errônea das
26
necessidades dos usuários ou a mudança dos parâmetros iniciais do programa de necessidades ao
longo do desenvolvimento dos projetos.
Para Koskela et. al. (1997) e Fabricio e Melhado (2001), o gerenciamento de projetos e dos
serviços de engenharia é uma das áreas mais negligenciadas nos empreendimentos de construção,
levando à substituição do planejamento e do controle pelo “caos” e pela improvisação no processo.
Fabricio (2002), inclusive, aponta a necessidade de uma maior articulação entre os projetos e
propondo modelos de gestão do projeto voltados à coordenação entre especialidades e à integração
projeto - produção.
Visando controlar a grande quantidade de informações geradas pelos intervenientes no
processo de projeto é necessária a coordenação do processo. A coordenação deve ser responsável pela
gestão do fluxo de informação e por estimular a integração entre os intervenientes, principalmente a
integração da equipe de projetistas (FABRICIO, 2007).
Partindo do entendimento de Melhado (1994) de que a qualidade e coordenação dos projetos
não dependem somente dos projetistas, mas exigem uma valorização do projeto e o engajamento de
outros agentes do empreendimento e da convicção de que, apesar da existência de metodologias de
coordenação de projeto bem desenvolvidas, que acabam não se concretizando plenamente nas práticas
projetuais do setor, a motivação inicial do trabalho era investigar os gargalos na coordenação de
projetos e, particularmente, as limitações da relação entre os principais agentes do projeto
(empreendedor, projetistas e construtores), como fonte importante das deficiências de coordenação e
qualidade do projeto.
27
ser priorizado desde a concepção do produto. Diante dessa perspectiva, vários trabalhos vêm sendo
desenvolvidos, focando na contribuição para melhoria do processo de uma forma geral.
Por conta das exigências de produtos e de processos, as empresas têm buscado novos métodos,
mais ágeis e mais competentes. De acordo com Pedrini (2012), diversas empresas, em especial
aquelas que produzem produtos complexos, têm conseguido ampliar e agilizar sua capacidade de
amadurecer novas tecnologias e transformar estas em novos produtos de qualidade, através da
inserção e da aplicação do processo de Engenharia Simultânea nas fases de concepção e
desenvolvimento de produto.
28
A Engenharia Simultânea tem como uma das principais características a colaboração precoce
e concorrente entre os projetistas do produto, projetistas da produção, fornecedores e clientes, no
desenvolvimento de novos produtos. Dessa maneira, no estudo da gestão dos projetos e dos agentes
do desenvolvimento e concepção do empreendimento de construção, a ES foi tomada como uma
alternativa de modernização. (FABRICIO, 2002)
29
Fabricio e Melhado (2001) explicam da seguinte forma as interfaces envolvidas nesse
processo:
- A interface “necessidades-clientes” i1 visa garantir a orientação do projeto às necessidades
dos clientes/usuários, tendo início com a investigação das demandas definidas pelo marketing
imobiliário, e posteriormente com a análise do desempenho do edifício visando subsidiar
novos projetos (retroalimentação).
- A interface “programa-projeto” i2 visa estabelecer uma colaboração entre o planejamento
do empreendimento e a especificação das necessidades, com a criação e investigação
projetual do produto.
- A interface entre os projetistas de cada disciplina i3 se relaciona com a busca de uma efetiva
coordenação na atuação dos profissionais e no desenvolvimento em paralelo de diferentes
disciplinas de projeto.
- A interface i4 está relacionada à viabilidade da construção dos projetos e à elaboração de
projetos para produção que resolvam, antecipadamente, e de forma coerente com as
especificações do produto, os métodos construtivos dos subsistemas da obra.
- A interface i5 representa a necessidade de acompanhamento da obra e elaboração do “as
built”, de forma a garantir a retroalimentação de futuros projetos
O estudo de caso realizado por Taube e Hiroda (2017) visa transferir a lógica da CM para o
contexto de habitação de interesse social no Brasil. Entretanto, as ideias que fundamentam tal lógica
podem ser aplicáveis para outros segmentos tais como unidades habitacionais de alto padrão. Para os
referidos autores, o produto e a produção devem ser projetados com design modular, possibilitando
reorganizar os módulos, além de dispor de cadeia de abastecimento ágil.
30
podem ser definidos com base nas necessidades dos clientes. Taube e Hiroda (2017) sintetizam os
aspectos importantes da adoção de CM da seguinte forma:
31
3. MÉTODO DE PESQUISA
Este capítulo apresenta o método de pesquisa utilizado para o desenvolvimento do trabalho,
descrevendo a estratégia e o delineamento da pesquisa, assim como as etapas envolvidas na pesquisa.
A escolha da estratégia de pesquisa depende de três fatores: o tipo da pesquisa, o controle que
o pesquisador possui sobre os eventos comportamentais e o foco que pode ser em fenômenos
históricos ou em fenômenos contemporâneos (YIN, 2001).
A pesquisa realizada possui uma abordagem predominante típica de um estudo de caso,
definido por Yin (2001) da seguinte forma:
Os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo
“como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o
foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real.
Yin (2001) afirma ainda que o objetivo dos estudos de caso não é a generalização de seus
resultados, mas a compreensão e interpretação profunda dos fatos e fenômenos normalmente isolados.
32
Figura 3 - Delineamento de pesquisa
A empresa responsável pela execução da obra, objeto deste estudo de caso, é uma das mais
tradicionais do setor de edificações de Salvador, sendo responsável pela incorporação e construção
de vários empreendimentos residenciais e comerciais lançados no mercado imobiliário baiano, além
de administração de incorporações para clientes privados.
Para a obra em questão, houve uma especificidade na forma de atuação padrão da empresa.
Ao invés de incorporar e construir o edifício, a empresa foi contratada para executar a obra por meio
do regime de administração. Nesse tipo de contrato, cabe à construtora a administração do
33
empreendimento, apresentando os devidos orçamentos e cronograma, e o contratante arca com as
despesas à medida que o cronograma vai sendo executado. Além disso, as condições de pagamento e
o ritmo da obra variam conforme o interesse do grupo e as circunstâncias do mercado.
O empreendimento objeto desse estudo de caso é composto por uma torre residencial, com
vinte pavimentos tipo, sendo um apartamento por andar, com uma área privativa de 278 m². Está
localizado em uma região valorizada da cidade de Salvador, de frente para o mar. A planta
arquitetônica padrão possui quatro suítes, sala de estar/ jantar, cozinha, área de serviço, varanda e
quarto de serviço. O edifício de alto padrão utiliza como técnica construtiva o concreto armado
convencional e vedações em alvenaria, viabilizando as modificações solicitadas.
34
Figura 4 - Fachada do empreendimento
35
Figura 5 - Planta baixa do pavimento-tipo
O estudo de caso foi desenvolvido visando mapear o processo de personalização e o papel dos
intervenientes neste processo durante o período de um ano, entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019.
Para tanto, foram coletados dados, conforme a seguir.
a) Pesquisa documental: foi realizada em conjunto com a pesquisa bibliográfica, com o objetivo
de explorar o tema, onde foram verificadas diversas fontes como: plantas arquitetônicas,
tabelas com dados informativos sobre alterações solicitadas nos apartamentos do
empreendimento estudado, orçamentos de crédito x débito das modificações, listas de
pendências para cada unidade.
36
b) Observações e entrevistas semiestruturadas: as entrevistas foram realizadas com o setor de
Engenharia (diretor, engenheiro de campo e estagiários), responsável pelo gerenciamento das
personalizações, conforme Quadro 1. Juntamente com as observações diretas, foi possível
mapear o processo de personalização da empresa, entender como ocorre o fluxo de atividades
e coordenação de projetos, levando em consideração a atuação dos diversos intervenientes e
coletar dados necessários para analisar o processo.
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
Nº PERGUNTAS
1 A personalização agrega valor aos imóveis oferecidos pela empresa? Por que?
7 Existe uma equipe de atendimento ao cliente definida para as alterações dos imóveis?
37
14 Qual a relação dos projetistas com a personalização dos imóveis?
38
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos no estudo de caso realizado
nesta pesquisa e discutir a relevância dos aspectos identificados.
Para assegurar a execução de todas as modificações, é imprescindível que a venda dos imóveis
ocorra em tempo hábil para garantir que não haja interferência no cronograma da obra. Sendo assim,
os apartamentos dos primeiros andares possuem a desvantagem de ter prazos menores para solicitar
modificações, visto que, a depender do andamento físico da obra, implicaria em alto índice de
retrabalho para alguns serviços.
39
Por exemplo, caso o cliente não optasse pelo piso padrão, era possível entregar no contrapiso, mas
não era possível assentar um material diferente fornecido pelo cliente, sendo a execução de sua
responsabilidade após a entrega das chaves.
Juntamente com as entrevistas, foram feitas observações diretas e estudo dos documentos
disponibilizados, tornando-se possível obter o fluxograma da Figura 7, que expõe como ocorre o
processo de personalização, desde a venda do imóvel até a vistoria com o cliente.
40
Figura 6 - Fluxograma do processo de personalização
O orçamento dos itens de instalações elétricas e hidráulicas é feito por uma empresa
terceirizada, responsável pela execução dos serviços. Com base no estudo dos projetos, identifica-se
os pontos alterados no escopo dos serviços e elabora-se duas planilhas dos itens: uma detalhada e
uma simplificada (tabela 2), sendo ambas anexadas no envio da proposta ao cliente.
42
Tabela 2 - Planilha simplificada de instalações (apartamento 901)
43
Tabela 3 - Orçamento de créditos (apartamento 901)
APARTAMENTO 901
ESPECIFICAÇÕES LOCAL UNID. QUANT. PREÇO UNIT. TOTAL
ALVENARIA
MARCAÇÃO DE ALVENARIA DE BLOCO CERÂMICO DE 11,5 x 19 x CIRCULAÇÃO / SUITE 01 / SUÍTE 03 / QUARTO DE
M 12,73 R$ 20,22 R$ 257,40
24 COM ENCHIMENTOS DOS FUROS SERVIÇO
ALVENARIA DE BLOCO CERÂMICO DE 11,5 x 19 x 24 COM TELA CIRCULAÇÃO / SUITE 01 / SUÍTE 03 / QUARTO DE
M² 36,92 R$ 38,26 R$ 1.412,44
SOLDADA SERVIÇO
CIRCULAÇÃO / SUITE 01 / SUÍTE 03 / QUARTO DE
APERTO ALVENARIA M 12,73 R$ 8,37 R$ 106,55
SERVIÇO
CUSTO TOTAL ALVENARIA (R$) R$ 1.776,40
ESQUADRIAS
KIT PORTA PRONTA 70 x 210 (ADUELA / ALISAR / PORTA) SUÍTE 03 / QUARTO DE SERVIÇO UNID 2,00 R$ 320,60 R$ 641,20
REVESTIMENTO INTERNO
CERÂMICA ELIANE MONTE BIANCO AC RETIFICADO 32,5X59CM
SANITÁRIOS 01,02,03, MASTER M² 74,71 R$ 49,79 R$ 3.719,91
(Material e Mão de obra)
CERÂMICA ELIANE DIAMANTE BRANCO RETIFICADO 45X90CM AC
COZINHA M² 31,44 R$ 55,89 R$ 1.757,18
(Material e Mão de obra)
CIRCULAÇÃO / SUITE 01 / SUÍTE 03 / QUARTO DE
MASSA ÚNICA EM PAREDES E= 2,50cm M² 73,83 R$ 29,92 R$ 2.209,11
SERVIÇO
CUSTO TOTAL REVESTIMENTO INTERNO (R$) R$ 7.686,21
PINTURA
ESMALTE SINTÉTICO SOBRE RODAPÉ EM MADEIRA
LIVING / CIRC. / SUÍTES M 88,04 R$ 6,48 R$ 570,50
(Material e Mão de obra)
CUSTO TOTAL PINTURA (R$) R$ 570,50
PAVIMENTAÇÃO
PORCELANATO PORTTE 80X80 POLIDO SUPER WHITE
LIVING E VARANDA M² 116,72 R$ 93,98 R$ 10.969,35
RETIFICADO (Material e Mão de obra)
PORCELANATO PORTTE 60X60 POLIDO SUPER WHITE
CIRCULAÇÃO E LAVABO M² 9,27 R$ 87,38 R$ 810,01
RETIFICADO (Material e Mão de obra)
PORCELANATO ELIANE ATLANTIS BIANCO AC RETIFICADO
SANITÁRIOS 01,02,03, MASTER M² 15,18 R$ 55,89 R$ 848,41
59X59CM (Material e Mão de obra)
CERÂMICA ELIANE FORMA BRANCO 45X45CM AC
COZINHA M² 15,45 R$ 44,79 R$ 692,01
(Material e Mão de obra)
CUSTO TOTAL PAVIMENTAÇÃO (R$) R$ 13.319,77
ARREMATES
RODAPÉ EM MADEIRA DE LEI H=10CM COR CEDRINHO E
LIVING / CIRCULAÇÃO M 32,68 R$ 14,78 R$ 482,88
ACABAMENTO PARA VERNIZ
RODAPÉ EM MADEIRA DE LEI H=7CM COR CEDRINHO E
SUÍTES M 55,36 R$ 11,50 R$ 636,86
ACABAMENTO PARA VERNIZ
RODAPÉ EM MÁRMORE BEGE BAHIA POLIDO H=10CM VARANDA / LAVABO M 50,16 R$ 37,88 R$ 1.900,06
44
Tabela 4 - Orçamento de débitos (apartamento 901)
APARTAMENTO 901
ESPECIFICAÇÕES LOCAL UNID. QUANT. PREÇO UNIT. TOTAL
ALVENARIA
MARCAÇÃO DE ALVENARIA DE BLOCO CERÂMICO DE 11,5 x 19 x GABINETE / LAVABO / SUÍTE LUIZ E GABI / SANIT
M 12,89 R$ 20,22 R$ 260,64
24 COM ENCHIMENTOS DOS FUROS MASTER
ALVENARIA DE BLOCO CERÂMICO DE 11,5 x 19 x 24 COM TELA GABINETE / LAVABO / SUÍTE LUIZ E GABI / SANIT
M² 37,38 R$ 38,26 R$ 1.430,20
SOLDADA MASTER
GABINETE / LAVABO / SUÍTE LUIZ E GABI / SANIT
APERTO ALVENARIA M 12,89 R$ 8,37 R$ 107,89
MASTER
CUSTO TOTAL ALVENARIA (R$) R$ 1.798,72
ESQUADRIAS
KIT PORTA PRONTA 60 x 210 (ADUELA / ALISAR / PORTA) QUARTO DE SERVIÇO UNID 1,00 R$ 320,60 R$ 320,60
REVESTIMENTO INTERNO
GABINETE / LAVABO / SUÍTE LUIZ E GABI / SANIT
MASSA ÚNICA EM PAREDES E= 2,50cm M² 74,76 R$ 29,92 R$ 2.236,88
MASTER
CUSTO TOTAL REVESTIMENTO INTERNO (R$) R$ 2.236,88
INSTALAÇÕES
Infraestrutura para sistema de Split, usando só a área do fundo - vb 1,00 R$ 3.110,70 R$ 3.110,70
4.1.2 PLANEJAMENTO
Uma das etapas mais importantes para direcionar e garantir o bom desempenho da produção
e, consequentemente, do empreendimento, é ter um planejamento eficiente. A partir disso, define-se
cronogramas para efetivar as metas propostas no planejamento.
É importante entender que falhas no planejamento podem conduzir a impactos adversos para
a obra, desde atrasos e perdas até mesmo riscos ao êxito do empreendimento. Para a obra em estudo,
o planejamento foi feito sem considerar os apartamentos personalizados, ou seja, variáveis como
fluxo de aprovações de projetos e alterações não foram consideradas. Utilizava-se o cronograma para
nortear a quantidade de metas mensais e, a partir disso, tentar garantir que o andamento físico da obra
não ficasse abaixo do planejado.
45
A figura 8 representa a curva S do andamento físico da obra, trata-se da curva acumulada do
andamento em função do tempo. Através da linha de base, identifica-se como foi prevista a evolução
do avanço no planejamento inicial e, faz-se a comparação com os dados reais.
10,0% 100,0%
PREV. MENS REAL. MENS
9,0% 90,0%
PREV. ACUM. REAL. ACUM.
8,0% 80,0%
7,0% 70,0%
6,0% 60,0%
5,0% 50,0%
4,0% 40,0%
3,0% 30,0%
2,0% 20,0%
1,0% 10,0%
0,0% 0,0%
JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
2017 2018
De acordo com a posição da curva real, à esquerda da curva teórica extraída do planejamento
inicial, pode-se identificar que o cronograma tem uma grande concentração de atividades na etapa
inicial do projeto. Analisando pela visão das personalizações, entende-se que nos meses iniciais os
serviços ainda eram mais generalizados, à exemplo da estrutura, assim como alvenaria dos cinco
primeiros pavimentos, que eram padrões. Já nos últimos meses, as variações de projetos e
especificações impactam na execução dos revestimentos e acabamentos, gerando desvios negativos
em relação ao andamento físico do mês anterior.
46
4.1.3 VISTORIAS
A última fase do processo mapeado no fluxograma refere-se às vistorias realizadas com o
cliente de cada unidade para verificação do imóvel. A vistoria tem a finalidade de identificar e
documentar cada detalhe sobre a situação em que ele se encontra no momento da entrega, cabendo
ao cliente aceitar ou reprovar os itens analisados.
Por se tratar de imóveis com projetos personalizados, a vistoria tem uma importância ainda
maior, pois visa garantir que os projetos foram devidamente seguidos e que as condições firmadas
em contrato foram realmente efetivadas. O documento final resultante da vistoria serve como
instrumento de defesa tanto para quem compra quanto para quem vende o imóvel.
O modelo de vistoria da construtora segue o padrão da Figura 10, em que para cada ambiente
do imóvel é necessário verificar a possível existência de algum problema com os itens analisados e
sinalizá-lo.
Figura 8 - Vistoria do cliente
Por meio dos seis relatórios de vistoria analisados, identificou-se que em todas as vistorias
analisadas houve pelo menos um apontamento sobre itens executados de forma divergente dos
projetos fornecidos, conforme exemplo da Figura 11. Um dos possíveis motivos que podem ser
atribuídos à essa recorrência é a dificuldade de gestão, coordenação e interação entre diferentes
esferas quanto ao volume de informações e projetos diferenciados.
47
Figura 9 - Vistoria (apartamento 1001)
48
Alterações/inclusão de novos pontos de telefonia e antena; 7 70%
Inclusão/relocação de pontos de Split; 6 60%
Alteração/inclusão de ponto de gás; 5 50%
Modificação do ralo sekapiso da varanda 5 50%
Infraestrutura (tubulação seca) para o sistema de som 3 30%
Infraestrutura (tubulação seca) para CFTV 1 10%
Infraestrutura (tubulação seca) para internet 1 10%
Alvenaria/ acabamentos
49
Figura 11 - Opção sem revestimento (apartamento 901)
As opções por novos layouts podem ser atribuídas, principalmente, às demandas por espaços
maiores, dimensionados de acordo com a forma de utilização de cada um. Houve a preferência,
inclusive, por reduzir ou sacrificar uma das suítes para aumentar ou criar cômodos, visando atender
melhor às necessidades individuais de cada um. A Figura 14 apresenta o projeto referente à alvenaria
do apartamento 901, exemplificando essa situação.
50
Figura 12 - Projeto de alvenaria (apartamento 901)
51
A tendência de redução da área dos quartos para aumento de salas é um dos aspectos que exige
atenção na concepção de novos empreendimentos. É imprescindível que haja um estudo sobre o perfil
dos clientes que a empresa visa captar ao lançar um empreendimento. Através dessa adequação há
uma busca por maior aproximação com a realidade real do público, além da contribuição para a
redução de modificações no período de obra.
A flexibilidade permitida oferecida pela construtora ao cliente remete a uma enorme variedade
de possíveis modificações. Todavia, essa consequência torna-se prejudicial ao processo quando
inexistem limitadores para estabelecer critérios no atendimento às solicitações.
Com a análise das alterações viabilizadas, foi possível identificar que, até mesmo, as
solicitações que afetavam diretamente aspectos técnicos, como desvios de prumadas hidráulicas,
foram atendidas. No projeto exemplificado na Figura 16, percebe-se que o lavabo sofreu alteração no
posicionamento, comparado ao projeto padrão, e um novo sanitário foi criado no espaço previamente
designado como varanda.
Para tais mudanças no apartamento, foi necessário analisar a proximidade dos novos pontos
hidráulicos com os demais já previstos inicialmente e, a partir disso, elaborar uma nova trajetória para
a tubulação de abastecimento dos sanitários. Além disso, tal solicitação impactou diretamente no
fluxo das atividades da unidade inferior, já que alguns serviços dependem da finalização das
instalações hidráulicas do apartamento superior, como exemplo, a colocação do forro de gesso.
Ademais, tem-se o impacto direto do sanitário do gabinete na fachada, no qual o cliente alegou
que iria optar por um fechamento completo da varanda com vidros após a entrega do imóvel. Sendo
assim, a colocação de cortinas seria suficiente para garantir a privacidade desse ambiente sem a
necessidade de levante de alvenaria, o que seria inviável por se tratar da fachada.
52
Figura 14 - Modificações (apartamento 601)
53
II. Alterações tardias – fora do prazo
No caso do apartamento 2001, o cliente solicitou uma mudança tardia, desejando remover a
escada de concreto armado que daria acesso à cobertura, deixando apenas o local preparado para
execução de uma nova escada, composta por outro material, após a entrega da obra. Uma vez que a
escada já havia sido concretada, foi necessário adicionar custos de demolição, encarecendo o serviço.
54
Quadro 2 - Custo de demolição da escada
DEMOLIÇÃO DA ESCADA
55
Figura 18 - Demolição da escada (apartamento 2001)
Fonte: Autora
Figura 19 - Ambiente após acabamentos (apartamento 2001)
Fonte: Autora
56
III. Falta de detalhes no projeto
57
Figura 21 – Correção dos pontos hidráulicos (apartamento 901)
Constatou-se que a indefinição por parte do cliente é tão comum que o ato de refazer um
serviço arrematado se tornou algo recorrente durante a obra. Para satisfazer o cliente, a construtora
opta por realizar a solicitação, apesar da ciência sobre o retrabalho gerado. Tal retrabalho implica na
produtividade da equipe de modo geral, visto que há uma quebra no fluxo de atividades para mobilizar
colaboradores e atender tais demandas.
As fotos a seguir exemplificam tal situação. O cliente do apartamento 1301, ao visitar a obra,
identificou que a sua cozinha poderia ser maior e decidiu mover uma das paredes, que já estava com
revestimento cerâmico e instalações finalizadas. Foi necessário, então, demolir a parede, refazer a
marcação, levante, reboco e rasgos na alvenaria para embutir as instalações elétricas. Além disso,
novos pontos elétricos foram solicitados e, por fim, foi possível assentar um novo revestimento
cerâmico. Além do retrabalho da equipe e impacto na continuidade dos serviços, é necessário salientar
o impacto com os resíduos gerados (entulho) por uma modificação não prevista anteriormente.
58
Figura 22 – Projeto com parede deslocada (apartamento 1301)
59
Figura 23 – Cozinha antes da alteração (apartamento 1301)
60
Figura 25 – Levante de nova alvenaria (apartamento 1301)
61
Figura 27 – Inserção de novos pontos elétricos (apartamento 1301)
Esta situação tornou-se usual e pode ser evidenciada através das imagens a seguir, nas quais
o assentamento de pastilhas na varanda e de cerâmica do piso na cozinha foi realizado por falta de
alinhamento interno e culminou em uma posterior remoção. A informação chegou ao departamento
de engenharia, porém não chegou ao encarregado de campo em tempo hábil. É preciso, inclusive,
salientar o impacto desse tipo de dificuldade no custo de retrabalho por executar o serviço mais de
62
uma vez. Consequentemente, a construtora tem que pagar mais de uma vez à empresa terceirizada
responsável e arcar com o prejuízo do material utilizado e removido.
63
5. CONCLUSÃO
O objetivo geral deste presente trabalho foi entender o processo de personalização de unidades
habitacionais durante a execução da obra, com foco na exposição dos intervenientes envolvidos, na
gestão e no fluxo de informações. Este objetivo foi alcançado a partir da análise do mapeamento do
processo, incluindo os documentos utilizados, tais como projetos, orçamentos de modificações e
relatórios de vistorias.
O segundo objetivo foi propor ações que otimizem o processo de personalização nas
construtoras e direcionar o gerenciamento dos projetos ao longo da obra. Diante do caso estudado,
foi possível identificar a indispensabilidade de criar um departamento voltado apenas para a
personalização, cuja responsabilidade principal seja gerir o ciclo de modificações através da
centralização, organização e transmissão dos dados fundamentais para cada interveniente envolvido
no processo em tempo hábil. Desse modo, com o maior foco no controle do procedimento interno da
empresa, torna-se maior a possibilidade de consolidá-lo de forma eficaz, por meio de padrões
estabelecidos, e remover gargalos na produção, que são verdadeiros limitantes do desempenho do
sistema.
64
do processo, visando que todas as esferas envolvidas no ciclo de modificação sejam contempladas
com informações acerca das definições de projeto; a compatibilização do processo de projeto e a
coordenação do mesmo, com a colaboração constante e eficaz dos agentes intervenientes.
Vale ressaltar que o cumprimento de prazos estabelecidos é ainda mais importante do que os
aspectos tecnológicos, já que conduz a atrasos e reprogramações constantes da obra, impactando no
planejamento e controle do processo. Portanto, o enfoque nessa questão é imprescindível para garantir
o desempenho esperado.
Apesar da pesquisa ter sido restrita a um único empreendimento, tornou-se evidente que ainda
há muito para evoluir quanto à personalização para deter total domínio das fases do processo, desde
a concepção do projeto até a etapa pós-execução. Constatou-se que a reestruturação de alguns
aspectos possibilitaria a coordenação mais eficaz, a disseminação de ideias mais abrangente,
estreitando o ciclo do fluxo de informações entre agentes envolvidos, e otimização do modelo
produtivo da empresa.
65
6. REFERÊNCIAS
66
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Graduação Arquituitetura e Urbanismo da FAUUSP, n. 22, p. 26-50, dez 2007.
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68
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
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69