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RESUMO DO ARTIGO

INTRODUÇÃO

A sepse, antigamente denominada septicemia, é uma resposta


descontrolada do organismo à infecção, com alta prevalência, morbidade e
custos significativos para o sistema de saúde. O Instituto Latino-Americano de
Sepse (ILAS) destaca que em países desenvolvidos, cerca de 10% dos leitos
de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são ocupados por pacientes sépticos,
gerando um gasto anual de 17 bilhões de dólares. No Brasil, esse percentual
sobe para 30%, aumentando ainda mais os custos associados.
A fisiopatologia da sepse é complexa, envolvendo uma resposta
sistêmica sinérgica e antagônica. Ao longo do tempo, as definições de sepse
evoluíram, sendo em 2016, estabelecidas pelas sociedades americanas e
europeias de medicina intensiva, incorporando novos conceitos e excluindo a
classificação sepse grave, além de não depender mais da presença de SIRS
para o diagnóstico.
O diagnóstico tardio da sepse é um desafio, permitindo a ocorrência de
disfunção de múltiplos órgãos. Na odontologia, é crucial que os profissionais
estejam atentos, pois os focos infecciosos bucais são portas de entrada para a
sepse. Estudos indicam que a higiene bucal deficiente favorece a colonização
por patógenos respiratórios.
A falta de conscientização sobre a sepse entre profissionais de saúde
contribui para diagnósticos tardios, reduzindo a sobrevida dos pacientes. A
revisão integrativa busca abordar a epidemiologia, fisiopatologia e novos
conceitos da sepse, ressaltando a importância da atuação odontológica. O
ILAS, embora tenha aceitado parcialmente as novas definições, destaca a
necessidade de conhecimento dessas mudanças pelos profissionais de saúde.

EPIDEMIOLOGIA DA SEPSE
A sepse é uma das principais causas de óbito globalmente, sendo o
Brasil o país com maior número de mortes por choque séptico. Estudos
brasileiros indicam elevada letalidade, como o Brazilian Sepsis Epidemiological
Study, que revelou taxas de 47,3% e 52,2% para sepse grave e choque
séptico, respectivamente. Preocupação adicional é evidenciada por um estudo
no Rio Grande do Sul, que apontou uma incidência de 30% de sepse e
mortalidade de 66,5% em pacientes com choque séptico em UTI.
É crucial não apenas tratar, mas também evitar a sepse, considerando
que no Brasil, 50-60% dos casos já se manifestam na emergência, enquanto
25-35% ocorrem em unidades de internação regulares e 15-20% em UTIs. A
pneumonia é frequentemente associada à sepse, sendo infecções relacionadas
a cateteres, periodontites, abcessos, meningites e endocardites focos comuns.

FISIOPATOLOGIA DA SEPSE
A sepse é uma resposta complexa do corpo à infecção, com alterações
celulares e circulatórias. Quando bactérias entram na corrente sanguínea, são
liberadas substâncias que atraem células de defesa, ativando receptores como
os Toll-like receptors (TLR). Isso desencadeia inflamação, com aumento da
permeabilidade do endotélio e produção de citocinas e óxido nítrico.
Além da inflamação, as bactérias ativam a coagulação, desequilibrando
fatores pró-coagulantes e anticoagulantes. Esse desequilíbrio contribui para
disfunções orgânicas, redução da oferta de oxigênio e hiperlactatemia.
Importante notar que essas respostas buscam combater a infecção, sendo
contrarreguladas por uma resposta anti-inflamatória.
O equilíbrio entre respostas pró e anti-inflamatórias é crucial. Um
desequilíbrio pode levar à disfunção orgânica, caracterizando um quadro
séptico. A vasodilatação e saída rápida de células do vaso podem causar
hipovolemia e hipotensão, levando ao choque séptico. Apesar de conhecidos
alguns mecanismos, os detalhes precisos da disfunção de órgãos na sepse
ainda não são completamente compreendidos.

SEPSE E A ODONTOLOGIA
relação entre infecções bucais e sepse remonta a 1902, mas apesar do
aumento de pesquisas que destacam a conexão entre doenças bucais e saúde
sistêmica, especialmente em pacientes críticos, a participação dos cirurgiões-
dentistas na prevenção e o engajamento da classe contra a sepse ainda
parecem insuficientes.
Infecções bucais podem desencadear a sepse, exigindo uma abordagem
cuidadosa dos profissionais da Odontologia. A avaliação do biofilme bucal,
doença periodontal, cáries e lesões bucais é essencial para evitar ou reverter
quadros sépticos. O biofilme bucal oferece proteção às bactérias, tornando-as
mais resistentes aos antibióticos e prejudicando as terapêuticas médicas.
Adversidades bucais não apenas afetam a saúde do paciente, mas
também aumentam a demanda por serviços de saúde, gerando mais gastos.
Doenças bucais e sistêmicas têm relações bidirecionais, justificando ações
odontológicas preventivas à sepse. Cuidados bucais adequados reduzem a
pneumonia associada à ventilação artificial, sendo a participação da
Odontologia crucial na equipe de saúde.
A literatura destaca preocupações com bactérias associadas à doença
periodontal, capazes de invadir tecidos e causar sepse diretamente ou
indiretamente através da aspiração do conteúdo bucal contaminado. As
bactérias da cavidade bucal podem aumentar mediadores inflamatórios séricos,
como PCR, TNFα e interleucinas, influenciando infecções hospitalares e
contribuindo para problemas sistêmicos e sepse.

DISCUSSAO
A sepse representa uma significativa causa de mortalidade no Brasil,
exigindo conhecimento das equipes de saúde para possibilitar diagnóstico
precoce. A fisiopatologia da sepse, embora ainda não totalmente
compreendida, envolve mecanismos como apoptose celular, hipoxemia
citopática e oferta inadequada de oxigênio aos tecidos. A relação entre sepse e
disfunção orgânica, seja sistêmica ou órgão-específica, é complexa e não
completamente elucidada.
As novas definições de sepse foram bem recebidas por alguns
especialistas, incorporando avanços em relação às definições anteriores. A
ampliação da concepção de sepse como disfunção orgânica devido à resposta
desregulada à infecção reflete uma compreensão mais abrangente. A mudança
na definição de choque séptico, associada à falência circulatória e metabólica
ameaçadora à vida, é considerada mais viável.
Contudo, a controvérsia persiste entre a antiga e a nova definição de
sepse, especialmente considerando a falta de participação de países em
desenvolvimento nos estudos. A preocupação com bactérias Gram-negativas,
particularmente associadas à doença periodontal, destaca-se devido às
endotoxinas presentes em sua parede celular, contribuindo para o
desenvolvimento da sepse. Além disso, a dificuldade de integração do
profissional da Odontologia na equipe multiprofissional e a falta de
reconhecimento da importância da saúde bucal no contexto sistêmico
representam desafios adicionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta revisão integrativa permitiu observar que a sepse é ainda um
problema de saúde grave no Brasil. Grande parte dos pacientes internados nas
UTIs com quadro séptico ainda acaba indo à óbito. No que diz respeito à sua
fisiopatologia, fica claro que a sepse é uma resposta pró e anti-inflamatória do
organismo frente a uma infecção. Todavia, ainda restam dúvidas importantes
quanto aos mecanismos precisos que determinam a disfunção orgânica
envolvida com o estabelecimento de um quadro séptico, culminando com a
morte do indivíduo. Embora as novas definições de sepse terem sido aceitas
parcialmente no Brasil, esses fatores poderão gerar resultados promissores
quando associado a outros fatores, como a prevenção da sepse através da
atuação odontológica. Por conseguinte, é importante que a classe odontológica
conheça os sintomas, a epidemiologia, a fisiopatologia e as atualizações sobre
as definições de sepse para que na equipe multiprofissional, na qual o
cirurgião-dentista deve estar incluído, sejam atribuídas estratégias de
prevenção e de tratamento da sepse e, assim, gere impacto nos indicadores.
Além disso, é importante que haja estudos mais aprofundados sobre a
fisiopatologia da sepse e sua relação com a odontologia, bem como novos
estudos epidemiológicos que abordem os novos conceitos da sepse para que
sejam analisados os resultados dessas mudanças.

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