Você está na página 1de 13

A influência das redes sociais no Autodiagnostico de Transtornos Psicológicos

Glaucianny Gonzaga de Moraes 1


Mariana Silva de Souza2
Letícia Bezerra da Silva3
Lena Andrea Lima Muniz4

Resumo

Este artigo aborda as características do autodiagnostico utilizando as redes


sociais, busca investigar como os usuários utilizam essas plataformas para
compreender e expressar aspectos de sua personalidade, saúde-mental e
bem-estar. Exploramos as complexidades dessa prática, destacando seus
benefícios percebidos, desafios e implicações éticas. Como objetivo geral é
mostrar com base em estatísticas a maneira como as redes sociais são
influentes ao que diz respeito ao autodiagnostico de doenças e quem é
prejudicado por essa prática. Quanto aos resultados vimos que
autodiagnostico de doenças psicológicas nas redes sociais é comum, mas
apresenta desafios, incluindo falta de validade diagnóstica e riscos de
ansiedade e automedicação. Educação em saúde mental online e abordagens
críticas são essenciais.

Palavras-chave: autodiagnostico, redes sociais, doenças, SUS.

1
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Manaus- glauciannymoraes2467@gmail.com
2
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Manaus- marianasilvadesouza19@gmail.com
3
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Metropolitana de Manaus- lbezerra2004@gmail.com
4
Professora Orientadora Lena Andréia Lima Muniz- lima_drea@yahoo.com.br
1. INTRODUÇÃO

No cenário contemporâneo, as redes sociais emergem como espelho digital


no qual os indivíduos refletem e constroem suas identidades online. Nesse vasto
universo virtual, a prática de autodiagnostico ganha destaque à medida que os
usuários buscam compreender e expressar aspectos de sua personalidade, saúde
mental de bem estar por meio das interações online. O autodiagnostico nas redes
sociais transcende a merda exposição de momentos cotidianos; ele se transforma
em uma ferramenta complexa e multifacetada, oferecendo oportunidades únicas
para a auto exploração, mas também desafiando as fronteiras éticas e os limites da
deficiência digital.
O objetivo desse artigo é trazer uma análise aprofundada das influências do
autodiagnostico nas redes sociais, explorando como essa prática influencia a
percepção individual e coletiva da saúde mental, quais os benefícios percebidos e os
riscos associados. Além disso, busca-se compreender como a proteção e a
autorreflexão digital moldam a construção de identidades online e off-line,
impactando as relações sociais, a autoestima e até mesmo as decisões de busca
por ajuda.
Ao examinar criticamente o autodiagnostico nas redes sociais, este artigo visa
contribuir para uma compreensão mais completa das implicações psicológicas,
sociais e éticas dessa prática na era digital. Em um mundo onde a fronteira entre a
“vida online e off-line” se torna cada vez mais tênue, é crucial examinar como as
plataformas digitais moldam a auto percepção e, logo, influenciam o bem-estar
individual e coletivo.
Dessa forma, estudo direciona-se justificar o porquê da crescente taxa de
indivíduos que buscam suas condições de saúde por meio dessas plataformas. A
investigação de tal pratica e essencial para compreendermos como as redes sociais
influenciam na percepção da saúde e os possíveis impactos que isso poderá causar
na relação paciente-profissional de saúde.
Após definir a problemática deste estudo de pesquisa, este capitulo contém a
base teórica para o tema autodiagnostico.

1.2 As redes sociais e o Algoritmo

As redes sociais são aplicativos e sites que tem o intuito de conectar pessoas
que compartilham de um mesmo pensamento ou opinião (RODRIGUES, 2023).
Seguindo essa definição, pode-se entender que as redes sociais, resumidamente,
são designadas para melhorar a comunicação à distância e aproximar pessoas, pois
mais do que viver em grupos sociais, nós vivemos em redes (MOREIRA, 2013,
p.164).
Isso é possível por meio do Algoritmo instalado nesses meios de
comunicação que permite o aplicativo ler o tipo de conteúdo que o utilizador
consome mais; curtindo, compartilhando ou comentando essas publicações.
Também filtra o conteúdo que não tem relevância, diminuindo a frequência da qual
aparece em sua linha do tempo (SEBRAE, 2023). Logo, quanto mais o user (termo
em inglês utilizado para se referir ao usuário) consumir e interagir com determinado
conteúdo, mais o algoritmo entende que aquilo é um assunto relevante e irá enviar
mais vídeos, matérias, publicações sobre o assunto.
Podemos citar como umas das principais redes sociais; Tiktok, Instagram e
Twitter, sendo o Instagram a plataforma mais usada no Brasil (VOLPATO, 2023).
Cada uma dessas plataformas de interações online usam um tipo diferente de
abordagem parra chamar a atenção de seu público, como é o exemplo do Tiktok que
sua “timeline” (termo em inglês usado para referir-se à linha do tempo de um
aplicativo) é focada principalmente na publicação de vídeos curtos (FABRO, 2021).
O algoritmo é a chave para que o conteúdo acessado seja o mais interessante
possível para o usuário, para que o mesmo passe mais tempo na plataforma. Como
esse Algoritmo funciona na busca por informações dentro da plataforma Tiktok, por
exemplo? O user tem duas opções de linha do tempo, “Seguindo” e “Para Você”, na
primeira o usuário tem acesso à conteúdos de pessoas que ele segue, ja no “Para
Você” é entregue assuntos no qual o Algoritmo entende como “relevante” (SEBRAE,
2023).
Figura 1 Acima pode-se encontrar a maneira que é dividido o layout de entrada do aplicativo
Tiktok em suas duas linha do tempo. (Fonte: Tiktok, 2023)

Sem perceber, o indivíduo acaba acessando mais sua “Para Você”, pois é a
primeira parte que lhe é mostrada assim que o aplicativo é iniciado e é onde os
vídeos guiados pelo Algoritmo são entregues.

1.3 Validação social e Autodiagnostico

A validação social é um fenômeno psicológico fundamental que desempenha


um papel significativo nas interações humanas e na construção da identidade.
Refere-se à busca de aprovação, aceitação ou reconhecimento por partes dos
outros, influenciando atitudes, comportamentos e escolhas.
A era digital intensificou a busca por validação, especialmente nas redes
sociais, onde likes e comentários muitas vezes servem como medida de aceitação.
O autodiagnostico se encaixa no conceito de validação desde o início do romantismo
de transtornos psicológicos onde indivíduos guiados pela necessidade de
transformar a dor de uma doença psicológica em humor começaram a compartilhar
os sintomas de seus transtornos de maneira irresponsável e sem dar ênfase em sua
recuperação.
O perigo dessa prática pode perpetuar estigmas e desencorajar as pessoas a
procurarem ajuda profissional, já que a realidade muitas vezes está longe da
representação romântica.
Para fins de análise fizemos uma pesquisa assistemática no Tiktok, Twitter e
Instagram em que foi pesquisado “sintomas de tdah” nas ferramentas de buscas,
compreendendo o período de todo o ano de 2022 até 31 de Outubro de 2023, tendo
sido inseridos para fins analíticos apenas os evidencias de usuários realizando
autodiagnostico de algum transtorno psiquiátrico ou incentivando outros usuários a
realizar o mesmo.

Figura 2 postagem retirada da plataforma Tiktok exemplificando a maneira como é tratado


transtornos psicológicos no aplicativo e o seu alcance.

Figura 3 comentários da postagem mostrada na Figura 2, agora examinando o


comportamento de usuários que se identificam com os sintomas de tdah.
Figura 4 postagem retirada da plataforma Instagram do perfil de uma Psicóloga formada, a
mesma indicando a busca por diagnóstico com um profissional.

Figura 5 comentários da postagem mostrada na Figura 4, mais uma vez analisando o


comportamento dos usuários mediante à postagem e como são suas atitudes visto que houve um
direcionamento à ajuda profissional.

Figura 6 imagem retirada da plataforma Twitter exemplificando a influência de outro aplicativo


na prática da disseminação de sintomas de doenças psicológicas.
Figura 7 imagem retirada da plataforma Twitter, outro exemplo da influência de outra
plataforma agora causando preocupação no usuário que tem dúvidas sobre seu estado atual de
saúde mental

Nas representações acima, é possível discernir a conduta de usuários


engajados em uma prática de autoavaliação, manifestada por intermédio de
comentários. Na Figura 2, torna-se evidente a amplitude dessas publicações que se
difundem não apenas dentro da aplicação em referência, mas também por meio da
disseminação em outras plataformas sociais, possibilitando assim que mesmo
aqueles que não possuem o aplicativo em questão, consigam ter acesso à esse tipo
de informação.
Na Figura 4, no último comentário, observa-se um usuário que se identificou
com os sintomas e sabe que precisa de ajuda profissional, mas conta que há fatores
financeiros que não o possibilitam de realizar seu diagnóstico, realidade de muitos
brasileiros onde sua condição econômica não faz ser possível a prática de uma
terapia semanalmente, ou até mesmo mensalmente.
Segundo um estudo realizado pela co-idealização do Instituto Cactus e
AtlasIntel, apenas 5% dos brasileiros fazendo acompanhamento psicoterapêutico e
88% deles estão preocupados com sua situação financeira, indicando mais uma vez
que o maior desafio na questão da procura por ajuda profissional ainda é a barreira
financeira.
Mas e o Serviço Único de Saúde?
Fazendo uma pesquisa na plataforma Twitter, agora utilizando a chave
“psicólogo SUS” e “psiquiatra SUS” achamos os seguintes comentários:

Figura 8 imagem acima retirada da plataforma Twitter de um usuário que faz uso do SUS,
mas não está satisfeito com o atendimento, tendo que tirar do seu bolso para realizar atendimento
privado.
Figura 9 imagem retirada da plataforma Twitter de um indivíduo insatisfeito com o
atendimento oferecido pelo SUS, dessa vez por uma profissional invalidando seu diagnóstico.

Figura 10 imagem retirada da plataforma Twitter mostrando uma interação entre usuários
onde ambos compartilham da mesma experiência negativa na rede pública de saúde.

Figura 11 imagem retirada da plataforma Twitter de um usuário associando comportamentos


negativos de um profissional de saúde mental ao serviço prestado no SUS.
Conforme mostrado nas imagens acima, o serviço prestado na rede pública
de saúde tem se tornado cada vez mais uma opção não almejada por aqueles que
buscam por tratamento psicológico de qualidade, sendo sua única alternativa tirar do
próprio bolso e contratar um serviço privado.
O atendimento de psicólogos e psiquiatras do Serviço Único de Saúde tem
que mostrado descuidado e indiferente aos pacientes, fazendo com que pessoas
sem condições financeiras para arcar com consultas particulares acabem deixando
de lado seu tratamento profissional e procure uma “opção alternativa”, entrando
então novamente na busca por um diagnóstico mais fácil e rápido através de redes
sociais e meios de pesquisa como o Google.

1.4 O papel dos profissionais da saúde nas redes sociais na


disseminação do Autodiagnostico

Como visto acima, o papel dos profissionais da saúde no que diz respeito ao
diagnóstico é indispensável para criar um ambiente acolhedor, para que assim o
paciente queira continuar o tratamento.
Muitos profissionais usam de suas redes sociais para levar conhecimento ao
meio digital onde há mais necessidade de informação confiável e cunho científico.
Além disso, sua presença nas redes sociais traz uma facilidade na comunicação
direta com a comunidade, permitindo esclarecer dúvidas e criar um ambiente mais
próximo entre prestadores de cuidados e paciente (ESTADÃO, 2021).
Parte dos usuários que procuram suas respostas para perguntas médicas na
internet são pessoas que muitas vezes não tem condições financeiras de arcar com
tratamentos que utilizam de terapia e medicamentos, procurando uma “saída
alternativa”.
Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde, milhões de pessoas
são obrigadas à escolher entre tratamentos médicas e necessidades básicas diárias
(OMS, 2019) e boa parte delas não tem noção de seus Direitos, do que podem ter
acesso ou não, e é onde os profissionais entram com a informação e orientação.
A responsabilidade ética de fornecer informações precisas e promover a
consciência dos limites do autodiagnostico contribui para uma comunidade online
mais saudável e bem informada. Ao aproveitar as plataformas digitais de maneira
responsável, os profissionais de saúde podem influenciar positivamente a saúde
pública, incentivando práticas que priorizam o cuidado individualizado e a consulta
profissional.
Um estudo realizado por Minuto Saudável mostrou que 94% dos entrevistados
brasileiros realizam buscas de informações sobre sua saúde na Internet. Se
pegarmos essas estatísticas e levarmos em consideração as imagens já
apresentadas como exemplo de procura por diagnóstico, deve ser levado um
questionamento do que se é absorvido e se essa informação gerada é de cunho
profissional.
Com médicos, psicólogos e outros profissionais da área nesses ambientes de
maior concentração de pacientes é possível diminuir em grande escala a
possibilidade de autodiagnostico e transformar o ambiente que antes era propício à
essa prática em um lugar saudável de troca de informações confiáveis e influência à
procura de tratamento médico.

Resultado

Os resultados deste estudo destacam que o autodiagnóstico de doenças


psicológicas nas redes sociais é uma prática difundida, impulsionada pela busca por
compreensão pessoal e apoio social. No entanto, identificou-se que essa abordagem
apresenta desafios significativos, incluindo a falta de validade diagnóstica, o
potencial aumento da ansiedade e a automedicação prejudicial. É imperativo
promover a educação sobre saúde mental online, facilitar o acesso à recursos
profissionais e incentivar uma abordagem mais crítica e responsável ao compartilhar
experiências relacionadas à saúde mental nas redes sociais.

Conclusão

Em conclusão, a prática do autodiagnostico de doenças psicológicas nas


redes sociais reflete uma dinâmica complexa entre a busca por compreensão
pessoal, a influência de informações online e os desafios associados à validade e
precisão diagnóstica. Embora as plataformas ofereçam um espaço para compartilhar
experiências e buscar apoio, é crucial exercer cautela diante da automedicação
psicológica. A promoção de ambientes online que incentivem a conscientização, o
acesso a recursos profissionais e a desmistificação da saúde mental é essencial
para uma abordagem mais informada e saudável no âmbito digital.
Referências

RODRIGUES, Jonatan. Tudo o que você precisa saber sobre Redes Sociais. In:
Resultados Digitais, 2023. Disponível em:
https://resultadosdigitais.com.br/marketing/redes-sociais/. Acesso em 27 de nov. de
2023.

Como funciona os Algoritmos? In: SEBRAE, 2023. Disponível em:


https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/como-funcionam-os-
algoritmos,907ab472ed496810VgnVCM1000001b00320aRCRD. Acesso em 27 de
nov. de 2023.

BASTOS, Ana, et al. Fake News, redes sociais e saúde mental: A potencialização do
autodiagnostico e como isso afeta as crianças e os adolescentes que estão
crononicamente online. In: UNICEF, 2023. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/blog/fake-news-redes-sociais-e-saude-mental. Acesso
em 27 de nov. de 2023.

Você sabe como funciona o Algoritmo do Tiktok? In: SEBRAE, 2023. Disponível em:
https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/voce-sabe-como-funciona-o-algoritmo-do-
tiktok,d307c4ee6b5f5810VgnVCM1000001b00320aRCRD#:~:text=O%20usu%C3%A1rio%2
0tem%20duas%20op%C3%A7%C3%B5es,viraliza%C3%A7%C3%A3o%20dos%20conte%
C3%BAdos%20no%20TikTok. Acesso em 27 de nov. de 2023.

Profissionais da Saúde e os cuidados ao usar redes sociais. In: ESTADÃO, 2021.


Disponível em: https://summitsaude.estadao.com.br/novos-medicos/profissionais-da-
saude-e-os-cuidados-ao-usar-redes-sociais/. Acesso em 27 de nov. de 2023.

VOLPATO, Bruno. Ranking: as redes sociais mais usadas no Brasil e no mundo em


2023, com insights, ferramentas e materiais. In: Resultados Digitais, 2023.
Disponível em: https://resultadosdigitais.com.br/marketing/redes-sociais-mais-
usadas-no-brasil/. Acesso em 27 de nov. de 2023.
13

FABRO, Clara. Como funciona o TikTok? Saiba usar o aplicativo de vídeos. In:
TechTudo, 2021. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/listas/2021/05/como-
funciona-o-tiktok-saiba-usar-o-aplicativo-de-videos.ghtml. Acesso em 28 de nov. de
2023.

Pesquisa - Autodiagnóstico Médico no Brasil. In: ICTQ, 2018. Disponível em:


https://ictq.com.br/pesquisa-do-ictq/786-pesquisa-autodiagnostico-medico-no-brasil-
2018. Acesso em 28 de nov. de 2023

Freud, S. (2011). Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos [1920].


Tradução de Paulo César de Souza. 1º ed., v 15. Companhia das Letras.

SCHIAVON, Fabiana. Brasileiro sente piora na saúde mental, mas não faz terapia.
In: Veja Saúde. Disponível em: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/brasileiro-
sente-piora-na-saude-mental-mas-nao-faz-terapia. Acesso em 28 de nov. de 2023.

Panorama da Saúde Mental. In: Cactus Instituto, 2023. Disponível em:


https://panoramasaudemental.org/#sumario. Acesso em 28 de nov. de 2023.

13

Você também pode gostar