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Relatorio Final Maria Eduarda
Relatorio Final Maria Eduarda
Resumo
INTRODUÇÃO
O processo de constituição de Anápolis levou à edificação de vários objetos sociais que
remontam a sua história, mas também a dinâmica atual, os quais possuem valorização e
funcionalidade específicas, seu estudo pode favorecer a compreensão de problemas de preservação
cultural, bem como potencializar seu uso quando é agregado valor a experiência patrimonial por
meio de recursos interpretativos.
Nesse sentido, uma serie de componentes funcionam como veículos que subsidiam o
processo de interpretação. Eles constituem meios de comunicação ou equipamentos, a exemplos
das placas, painéis, folders, mapas, guias, centros de atendimento, museus, entre outros (MURTA
e GOODEY, 2005). Entretanto, a interpretação envolve desde elementos que compõem a
infraestrutura básica de determinadas áreas patrimonializadas até planos interpretativos que podem
assumir diferentes formas.
Destaca-se que interpretar o patrimônio é um importante recurso para valorização dos
aspectos culturais e naturais de determinados espaços, e se constitui em um processo sistemático
que pode ocorrer com base em diversos meios.
Perante o exposto, observa-se que não há estudos que trazem uma análise e avaliação de
como ocorre a interpretação dos elementos patrimoniais de Anápolis, ou seja, como os espaços
patrimonializados favorecem a experiência do visitante agregando conhecimento que promova a
valorização do patrimônio cultural anapolino.
Assim, pode-se questionar se há recursos ou estratégias que agreguem valor à experiência
do visitante no intuito de favorecer que este seja instigado, estimulado, impulsionado a conhecer
elementos referentes ao patrimônio.
Haja vista que o mau uso dos elementos patrimoniais pode implicar problemas de ordem
natural e cultural, de tal modo é necessária uma avaliação constante da forma como esses
elementos são usufruídos no sentido de revelar falhas que possam obstruir a consolidação de sua
proteção e promoção como bem ambiental.
Desse modo, no intuito de favorecer a valorização e conservação do patrimônio cultural
de Anápolis compreender o processo de interpretação é um dos passos fundamentais para que os
bens patrimoniais sejam promovidos como elementos educativos na formação da cidadania. É
nesse sentido, que o presente trabalho pretende contribuir, tendo como objetivo compreender como
ocorre o processo de interpretação do patrimônio cultural em Anápolis, por meio da identificação
e análise dos elementos que constituem o patrimônio cultural de Anápolis e dos recursos
interpretativos correspondentes.
METODOLOGIA
Patrimônio apresenta várias acepções; pode-se aludir a: herança paterna; bens de família; dote dos
ordinandos; riqueza; à bem, ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido para
determinada localidade, região, país, ou para a humanidade num todo, e ao se tornar(em)
protegido(s), deve(m) ser preservado(s) para o usufruto de todos os cidadãos. Diante das distintas
conotações relativas ao termo patrimônio, evidencia-se que nesse artigo será considerado como
eixo para reflexão, devido a sua dimensão comunitária, o último significado de patrimônio
apresentado.
A Constituição Federal Brasileira, promulgada em 05 de outubro de 1988, trata nos
artigos 215 e 216 sobre a cultura e bens patrimoniais. No artigo 215, consta que o Estado é
responsável pela garantia da valorização e difusão das manifestações culturais, sendo elas
expressões da cultura popular, indígena, afrobrasileira e de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional. Já no artigo 216 é explicitada a compreensão de patrimônio cultural
brasileiro, conforme segue abaixo:
de argila, fotografia e aquarela. A instituição não possui nenhum meio interpretativo que menciona
a antiga cadeia pública, embora haja placa de identificação na fachada do prédio e também
pinturas/quadros e esculturas feitos por estudantes e colaboradores nas paredes do edifício, nota-
se também a facilidade de estacionamento nas dependências da Escola de Artes.
Evidencia-se que os patrimônios tombados possuem valores que integram o processo de
formação de Anápolis, sendo de suma importância para que o passado da cidade não seja apagado.
Desse modo, o Museu histórico Alderico Borges de Carvalho destaca-se como local
privilegiado quanto à conservação da memória da cidade, sendo principal acervo de informações
sobre o patrimônio cultural de Anápolis. O Museu situa-se na antiga casa pertencente à família de
Zeca Batista, construída para ser residência e local de comércio da família. Em 1930 a edificação
foi vendida para a Diocese Católica, passando a ser usada como casa paroquial, somente em 1975
o local passa a se constituir como museu, após doação realizada por Alderico Borges de Carvalho,
o qual havia comprado o prédio em 02 de abril de 1959 (COMPHICA, 2008).
Quanto aos recursos interpretativos, evidencia-se que sua condição de museu já
potencializa o processo de fruição patrimonial, devido ao conjunto de artefatos históricos que
constituem seu acervo, dentre eles material bibliográfico e jornalístico sobre a história de Anápolis.
Há próximo à porta principal uma placa de identificação do local, recepcionista e monitores que
podem fornecer informações culturais e acompanhar as pessoas durante a visita. Elucida-se que
junto aos artefatos históricos disponíveis no Museu há legendas que ajudam na interpretação
patrimonial. Na ocasião da visita técnica foi possível entrevistar o diretor do Museu e presidente
do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Anápolis (COMPHICA), Sr. Jairo
Alves Leite, o qual explanou sobre os diversos elementos patrimoniais de Anápolis e dispôs
referencias técnicas sobre o patrimônio cultural tombado, mais especificamente um arquivo em
pdf (Portable Document Format criado pela empresa Adobe Systems) contento as informações
sobre todos os bens salvaguardados.
Após o tombamento conjunto desses quatro edifícios, em 25 de agosto de 1997 inicia-se
o processo de salvaguarda do Morro da Capuava, elemento patrimonial que se distingue dos
demais por se tratar de um espaço aberto e por não apresentar nenhuma estrutura arquitetônica que
faz referência a história de Anápolis. Sendo inscrito no livro do tombo, também, em 30 de abril
de 2008, é um local com grande visitação de pessoas e diferentes práticas sociais que implicam
diversas funcionalidades que configuram o Morro da Capuava como espaço de práticas religiosas,
de lazer, de descanso e de comércio ambulante, as quais foram identificadas na visita técnica. O
Morro da Capuava o ponto mais alto da cidade possui um estacionamento aberto, no geral sua
estrutura configura-se como uma praça, possui bancos, lixeiras, postes para iluminação,
calçamento no entorno, arbustos e grama; nele também está inserido um mirante feito de madeira
para a contemplação paisagística do município. Quanto aos recursos interpretativos, identificou-
se apenas uma placa identificação do local, como nome, data de inauguração e os nomes do prefeito
e do secretário do meio ambiente. Nota-se que a presença do mirante favorece a contemplação
paisagística, porém não implica uma interpretação patrimonial.
Fora da área urbana encontra-se a Casa JK, cujo processo de tombamento data de Lei nº
2.732 de 29 de maio de 2001, tendo seu valor histórico relacionado ao fato de ser o local onde o
presidente Juscelino Kubistchek, em 18 de abril de 1956, teria assinado o documento solicitando
ao Congresso Nacional a mudança da capital federal para Brasília, inscrita no livro de tombo em
30 de abril de 2008 (COMPHICA, 2008). Localizado nas dependências do aeroporto civil de
Anápolis, durante a visita técnica identificou-se que o edifício se encontra abandonado pela
administração municipal, fato explicitado pela presenta de braquiária (mato) em altura elevada em
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torno do edifício, janelas quebradas, parede rachadas, pintura decadente e a cerca que o envolve
está danificada, não tendo nenhum uso. Quanto a interpretação patrimonial, observa-se em suas
paredes três placas informativas que traz aspectos referentes ao fato histórico que justifica sua
patrimonialização.
Em Anápolis, dois estabelecimentos de ensino também foram salvaguardados devido sua
constituição histórica, tratam-se do Colégio Couto Magalhães e o Colégio Estadual Antesina
Santana. Ambos têm seu processo de tombamento iniciado em 7 de dezembro de 2005, sendo
inscritos no livro de tombo em 30 de abril de 2008.
Quanto ao Colégio Couto Magalhães, Silva (2010) explica que esse colégio tem sua
origem associada à busca de atender a demanda das famílias protestantes/evangélicas por uma
escola confessional. Inaugurado em 1 de fevereiro de 1932, o Colégio situava-se em uma
edificação no entorno da praça da Igreja Matriz de Santana, todavia, desde 1948 o Colégio foi
integrado à estrutura da Associação Educativa Evangélica (AEE), localizada na Avenida
Universitária, bairro Cidade Universitária.
Cercado por grades, o edifício apresenta ótima estrutura para atender a formação desde a
educação infantil até o ensino médio. Embora se constitua como patrimônio cultural, o local é de
uso privado e não possui livre acesso ao público, fato que dificulta sua identificação como bem
patrimonial. Como recurso interpretativo identificou-se apenas a fachada com o nome do Colégio
como referência.
Já o Colégio Estadual Antesina Santana está sob administração do governo do Estado
de Goiás e funciona efetivamente como estabelecimento de ensino público gratuito oferecendo
vagas para estudantes do ensino fundamental e médio. Esse Colégio situa-se no local onde foi
edificada a primeira a Cadeia Pública de Anápolis, a qual foi demolida em 1930 para dá lugar ao
Colégio que foi construído em estilo Art Decó (COMPHICA, 2008). O Colégio apresenta
localização privilegiada, pois encontra-se em uma rua que é rota de circulação de ônibus coletivos
que dão acesso ao terminal urbano da cidade e está nas proximidades da área comercial de
Anápolis. Em relação aos recursos interpretativos evidencia-se apenas a fachada com o nome do
Colégio, todavia, destaca-se que na edificação há piso tátil direcional e uma rampa de acesso, o
que favorece a mobilidade de pessoas portadoras de deficiência físicas, aspecto não identificado
em nenhum outro bem patrimonial.
Outro patrimônio cultural que faz referência ao estilo Art Decó é o antigo Coreto, que
passa a integrar o rol de elementos patrimoniais de Anápolis por meio da Lei n° 2.725 de 05 de
abril de 2001, embora ainda não tenha sido inscrito no livro de tombo. O antigo Coreto integra a
estrutura da Praça Dr. James Fanstone inaugurada em 1958, a qual situa-se fica em frente ao
Hospital Evangélico Goiano (HEG) (MEILI, 2017). A estrutura da edificação passou por
alterações ao longo dos anos, embora conserve aspectos de sua arquitetura original. Durante a
visita técnica constatou-se a necessidade de uma revitalização, devido a presença de várias
rachaduras em sua estrutura, além de pintura desgastada. Observou-se também que esse patrimônio
funciona, atualmente, como lanchonete que atende especialmente àqueles(as) que buscam
atendimento hospitalar. No local não há nenhum recurso interpretativo que referencie a edificação
histórica. Destaca-se que no caput da lei de tombamento desse patrimônio é utilizada a
nomenclatura “Edifício que menciona”, portanto, não apresenta menção direta funcionalidade
original do objeto histórico, embora em seu artigo 1° deixa claro a referência ao antigo Coreto.
Além da Estação Ferroviária Prefeito José Fernandes Valente, outras duas estações
ferroviárias se constituem como patrimônio cultural de Anápolis, embora ainda não tenham sido
inscritas no livro de tombo, são elas: a Estação ferroviária General Curado e a Estação Ferroviária
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Engenheiro Castilho.
A Estação ferroviária General Curado foi considerada patrimônio cultural em conjunto
com a antiga casa do chefe da estação por meio da Lei n° 3.803 de 18 de dezembro de 2015.
Inaugurados em 7 de setembro de 1935 esses bens patrimoniais integravam a Estrada de Ferro
Goyaz (EFG), localizada na zona rural de Anápolis, próximo ao Distrito Agroindustrial (DAIA),
a estação foi nomeada em homenagem ao então governador de Santa Catarina, General Joaquim
Xavier Curado, que era originário de Pirenópolis e destacou-se por obter importantes vitórias na
disputa de terras com o Uruguai (GIESBRECHT, 2018). Essa estação encontra-se desprovida de
uso, embora em frente passa os trilhos da EFG que ainda são utilizados para cargas e descargas.
Observa-se que em sua parede lateral há o nome da Estação, contudo, toda a estrutura está
desgastada revelando o estado de abandono, o que não lhe confere possibilidade de fruição
patrimonial.
Ao lado da Estação, encontra-se a antiga casa do chefe da estação, cujo uso é residencial
e não há nenhuma referência quanto à sua condição de patrimônio cultural, visto que em sua
estrutura externa há alterações recentes que interferem em sua configuração original que lhe dá
respaldo para a patrimonialização.
Já a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho tem sua salvaguarda promulgada pela
Lei n° 3.955 de 05 abril de 2018. Localizada na Vila Industrial de Anápolis, essa Estação também
integrada a Estrada de Ferro Goyaz (EFG), sendo inaugurada em 2 de setembro de 1951 era
denominada inicialmente de Faiana. Após a desativação da Estação, o local já teve diferentes usos,
tais como de sede da Prefeitura municipal e espaço para realização da Feira Agroindustrial de
Anápolis. Sua nomenclatura atual faz referencia ao engenheiro e diretor geral do departamento
nacional das estradas de ferro Arthur Pereira de Castilho (GIESBRECHT, 2020).
Atualmente, a Estação funciona como padaria municipal, embora apresente bom estado
de conservação, nota-se que na edificação não há nenhuma alusão sua condição patrimonial, nem
mesmo o nome original do prédio está indicado em alguma sinalização, portanto, não há condições
para interpretação patrimonial.
Outro bem patrimonial de Anápolis é a Fonte Luminosa, cujo processo de tombamento
remete à Lei n° 3.230 de 13 de abriu de 2007, embora ainda não tenha sido registrada no livro de
tombo. Localizada no centro da Praça Bom Jesus, área central da cidade, Pereira (2011) explica
que a Fonte foi construída na década e 1960, sendo revitalizada juntamente com toda a Praça em
2012. A Fonte chama atenção por sua grande extensão que comporta um grande arco externo
divido em três partes na forma de semicírculos e um arco central, em ambas as partes há água
acumulada e um sistema que lança jatos de água para cima em movimentos aleatórios, além de
holofotes coloridos que iluminam a água situada na Fonte. Árvores, arbustos e grama ocupam o
espaço entre os arcos citados, conformando a estrutura paisagística da Fonte.
Durante a visita técnica foi possível identificar as características listadas sobre Fonte, no
entanto, a Fonte Luminosa estava desativada sem presença de água e iluminação. Não foi
identificado nenhum recurso interpretativo na praça que faz referência a fonte. Ressalta-se que no
arco central da Fonte há cobertas e papelões que servem de abrigo a pessoas em situação de rua, o
que evidencia o abandono social das pessoas e de seu patrimônio cultural.
Por fim, por meio da Lei n° 4.080 de 8 de junho de 2020, em Anápolis há o registro da
Folia de Reis e o Dia Municipal da Folia de Reis (6 de janeiro) como patrimônio imaterial
histórico e cultural. Alves (2009) esclarece que a Folia de Reis é uma expressão da cultura popular
e uma comemoração cristã-católica difundida no território goiano, que acontece entre o dia 24 de
dezembro e 6 de janeiro. Nota-se que essa manifestação cultural é vivenciada em outras países,
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sendo difundida por padres jesuítas para a catequização em territórios coloniais. Quanto ao
processo de interpretação patrimonial, a vivência da Folia de Reis é o meio de imersão cultural
que permite apreender o sentido da patrimonialização dessa festividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que o processo de interpretação serve para instigar e agregar experiência para os
visitantes (moradores ou turistas), fazendo com que possam conhecer aspectos característicos que
só podem ser apreendidos consoante ao uso de recursos interpretativos. A partir da análise
empreendida foi possível identificar quais são os elementos que compõem o patrimônio cultural
de Anápolis e os recursos interpretativos correspondentes. Nota-se que é necessário um
planejamento tanto para a conservação dos bens patrimoniais quanto para favorecer o processo de
fruição patrimonial, visto que os recursos interpretativos se resumem a poucas placas que se
referem à identificação dos locais, painéis e dois museus.
Evidencia-se que dentre os quatorze elementos patrimoniais tombados, três encontram-se
abandonados, são eles: a Casa de JK, a Estação ferroviária General Curado em conjunto com a
casa do chefe da estação e a Fonte Luminosa (desativada). Ressalta-se também que dos nove
edifícios históricos salvaguardados que possuem algum uso, com exceção do Museu Histórico,
nenhum faz referência alguma ao motivo de seu tombamento e passam despercebidos por
moradores locais e visitantes como bens patrimoniais; dentre eles, dois edifícios tem sua função
atual desvinculada das atividades culturais ou educativas, é o caso do antigo Coreto (lanchonete)
e da Estação Ferroviária Engenheiro Castilho (padaria municipal).
Os bens patrimoniais matérias de Anápolis tem seu histórico de construção que
compreende desde a década de 1930 até a década de 1960, tendo seu processo de salvaguarda
iniciado em diferentes períodos que contemplam desde o ano de 1984 até 2020. Todavia, nove
bens patrimoniais têm seu registro no livro de tombo no mesmo ato de inscrição, em 30 de abril
de 2008; enquanto cinco bens culturais ainda não foram inscritos.
Os resultados evidenciam as fragilidades e potencialidades quanto à conservação dos bens
patrimoniais assim como sua promoção enquanto recurso educativo que favoreça a cidadania. A
pesquisa também pode ser empregada para fornecer subsídios para o delineamento de políticas
públicas voltadas ao planejamento e gestão do patrimônio cultural de Anápolis.
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