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1.

Título - Mapeamento de coleções etnográficas no Estado de São Paulo


Responsável - Profa. Dra. Marília Xavier Cury Museu de Arqueologia e Etnologia da USP

2. Resumo
Em dezembro de 2018 foi criado pela ABA o projeto conjunto com pesquisadores no Brasil, para
levantar e localizar as coleções etnográficas em museus. O propósito é dar visão às coleções, seja
a pesquisadores, mas principalmente dar acesso aos grupos produtores desses objetos
musealizados. Foram organizados trabalhos regionais e o presente projeto PUB volta-se para o
Estado de São Paulo. Em diálogo com os demais grupos no Brasil, o recorte aqui estabelecido visa
a localizar as coleções em museus e outras instituições paulistas das mais diversas tipologias e
vinculações administrativas - federais, estaduais e municipais, públicos e privados, tradicionais ou
comunitários, com metodologia exploratória que identifique a instituição ou organização e a
coleção. Os resultados servirão para aprofundamento futuro, quando os museus identificados
serão convidados a registrarem seus dados em base da dados.

3. Justificativa
No que se refere às coleções etnográficas, elas são resultados de processos de coleta diversos, na
grande maioria fruto de visões e éticas que não se aplicam na atualidade. No caso do estado de
São Paulo, muito dessas coleções foram formadas na virada dos séculos XIX e XX, durante o
processo de colonização do oeste paulista (Barbosa, 2019, Ribeiro, 1988), por exemplo. A
Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo formou coleções durante suas
expedições, como também engenheiros e outros atores contribuíram com a coleta de objetos
diversos, entre eles indígenas. Os relatórios do Museu Paulista dos anos iniciais da sua formação
revelam entradas diversas de formas diversas (Cury, 2021). De outra parte, a política pública
museal entre as décadas de 1950 e 1970 promoveram a criação dos “museus históricos
pedagógicos” em todo o estado, política baseada na história oficial, datas cívicas e na
homenagem a figuras emblemáticas elegidas (Misan, 2005) dentro de uma visão hegemônica.
Entre os acervos desses museus há coleções indígenas de todo o Brasil.
Não sabemos exatamente quantos museus existem no estado de São Paulo, dada a instabilidade
na manutenção dessas instituições e equipes. Em artigo, Renata Vieira da Motta (2012), então
coordenadora da Unidade de Proteção do Patrimônio Museológico - UPPM, relata, a partir de
visitas técnicas realizadas em 645 municípios de todo estado, localizando a existência de 415
museus em 190 municípios. A autora apresenta o Quadro
1 – Museus com acervos etnológicos e/ou arqueológicos (p. 22) e Dados iniciais e estatísticos
sobre os museus com acervos etnológicos (p. 23). Sem definição sobre “etnológico”, podemos
entender como coleções indígenas, após leitura do texto.
Esse é um pouco do panorama que nos desafia conhecer, localizar as coleções
etnográficas, com ênfase nas coleções indígenas, considerando a grande diversidade cultural do
estado e das coleções museológicas.

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O projeto Mapeamento de coleções etnográficas foi criado pelo Comitê Patrimônio e Museus da
Associação Brasileira de Antropologia - ABA.
No dia 9 de dezembro de 2018, na Universidade de Brasília, em reunião aberta após a realização
do evento que antecedeu a Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) "Antropologia
e museus: os desafios do contemporâneo" realizado em Brasília, dos dias 7 a 9 de dezembro, com
a participação de Simone Pondé Vassallo (então coordenadora do GT Patrimônio e Museus da
ABA) e Regina Abreu (então organizadora do evento), os presentes, entre outros itens pautados,
discutiram e decidiram pela realização de um projeto para levantamento e localização das
coleções etnográficas no
Brasil. Naquele momento se uniram para essa finalidade (em ordem alfabética) Adriana Russi
(UFF), Lucia Hussak Van Velthem (MPEG), Marília Xavier Cury (MAE-USP), Priscila Faulhaber
Barbosa (MAST) e Susilene Elias de Melo (Museu Worikg). Os trabalhos foram iniciado em 2019 e
outros membros passaram a integrar a equipe inicial: Daniel Reis (CNFCP), Elizabete Mendonca
(UNIRIO), Renato Athias e Alexandre Gomes (UFPE), Geslline Giovana Braga (UFPR), Maria Helena
Sant’Ana (Museu Antropológico RS), Luciana Gonçalves de Carvalho (UFPA), Patrícia Osório
(UFMT) e Luciana Portela (UnB).
Sobre esse projeto e seu desdobramento no Estado de São Paulo que passamos a apresentar.

4. Objetivos
Os propósitos do projeto envolvem, basicamente:
- conhecimento e divulgação de coleções dispersas e pouco conhecidas,
- organização do trabalho por regiões e estados,
- estabelecimento de trabalho transversal relacionado com a museologia social e longitudinal,
pela complexidade dos dados pretendidos e suas atualizações.
Os objetivos específicos para o desenvolvimento do projeto no Estado de São Paulo são:
- realizar prospecção dos museus no estado para localização de coleções etnográficas,
- organizar os dados de cada museu, buscando informações atualizadas,
- preencher as fichas A e B com dados e
- realizar relatórios descritivos e analíticos.

5. Métodos
Um primeiro aspecto discutido pela equipe nacional foi a estratégia de coleta de dados e forma
de organização dos trabalhos. Assim, a equipe elaborou uma ficha para coleta de informações
subdividida em duas partes (Ficha A e B) e se organizou por regiões ou estados.
Para fins de delimitação do projeto, na categoria “coleção etnográfica” foram consideradas
diversas terminologias, natureza de objetos, formação da coleção e/ou estatuto conceitual da
instituição, históricos diferentes etc. Por isso, são considerados no projeto:
- objetos de origem ou procedência de comunidades indígenas, quilombolas, de populações
tradicionais (caiçara, ribeirinhos, extrativistas etc.), culturas afro-brasileiras, imigrantes etc., de
diferentes características como os de uso cotidiano, ritualístico etc,
- contextos rural e urbano;
- registros de imagens e sons;
- coletores ou agentes de coleta ou aquisição, tais como antropólogos, arqueólogos, museólogos,
biólogos, naturalistas, viajantes, equipes de expedições, engenheiros, memorialistas, mecenas,
profissionais de museus ou outra organização e civis,
- coleções nacionais (num primeiro momento) e internacionais (quando viável),
- coleções identificadas como etnográficas, sertanejas, artísticas, história natural, arqueológicas,
de história indígena, de arte e cultura popular e outras.
Entendemos que as coleções estão abrigadas em/sob a guarda de diversas instituições ou
entidades de gestão pública, privada ou mista público-privada, tais como museus, universidades
(laboratórios e/ou grupos e projetos de pesquisa, acervos etc.), institutos, fundações, empresas,
ONG e outras organizações sem fim lucrativo, formais ou informais, institucionalizados ou não,
existentes no país.
Ainda para fins deste mapeamento, serão consideradas diversas tipologias e modelos museais:
comunitários, tais como museus indígenas, de terreiros, assentamentos e muitos outros, bem
como acervos em instituições “ tradicionais” como museus de antropologia/etnologia/etnografia,
história natural, arqueologia, artes, cultura popular e folclore, imagem e som, ecológicos.
Serão consideradas instituições públicas federais, estaduais e municipais e diversas outras
instituições sem fins lucrativos e privadas (universidades, institutos, fundações, empresas, ONG,
espaços formais e informais).
Ações já iniciadas:
- elaboração e teste de fichas para o levantamento,
- preparação, em processo, de relação de instituições e coleções, visando o contato futuro e o
registro dos campos das fichas.
Questões estratégicas futuras, a partir da identificação inicial dos museus e coleções e da
organização da base de dados:
- criar linguagem / chegar aos museus de forma a que compreendam a nossa linguagem, a
nomenclatura utilizada,
- criar campanhas de adesão ao levantamento,
- investir para que as instituições e organizações se reconheçam no levantamento,
- trabalhar a ideia de preenchimento contínuo da ficha,
- o reconhecimento ou não da coleção de determinado museu como etnográfica
- registrar e divulgar (online e por meio de catálogos e publicações) - discussão das estratégias.
Considerando a envergadura e complexidade do projeto nacional e seu desenvolvimento
estadual, a temporalidade a longo prazo exigida e a continuidade das ações, vimos trabalhando
em equipe e com bolsistas.
Para o desenvolvimento do projeto em São Paulo, teremos em conta as 24 regiões administrativas
paulistas ou metropolitanas, seguindo a mesma estrutura do Sistema Estadual de Museus -
SISEM-SP. A partir daí, trabalharemos por municípios, para a prospecção dos museus alvo do
projeto, difíceis de serem localizados devido a problemática sobre o que seja “etnográfico”.
Será montado um quadro processualmente, ao passo que as informações sobre instituições e
coleções sejam levantadas.
Para a prospecção e se chegar às informações, partiremos de produções bibliográficas de
pesquisadores que se debruçaram sobre estudos em museus paulistas. Consultas a sites de
museus poderá ajudar, assim como troca de informações entre profissionais de museus. O
Cadastro Nacional de Museus será, também, um bom ponto de partida, uma vez que contem
registros por instituição e classificação das coleções, embora com toda a atenção, pois coleção
etnográfica, muitas vezes, leva a concepção de objetos de origem
indígena, deixando de lado tantos outros que compõem a diversidade cultural brasileira e no
estado de São Paulo. Pelo Sisem-SP, já solicitamos acesso ao levantamento descrito por Renata
Motta (2012) e os dados dos Museus com acervos etnológicos e/ou arqueológicos (p. 22) e Dados
iniciais e estatísticos sobre os museus com acervos etnológicos (p. 23). Devido à pandemia do
coronavirus, aguardamos o momento oportuno e seguro para acessar essas informações pelo
Sisem-SP.

6. Detalhamento das atividades a serem desenvolvidas pelo(s) bolsista(s)


Para o desenvolvimento do projeto necessita-se de 4 bolsistas que atuarão como uma equipe,
mesmo que pequena. A quantidade indicada recai sobre o volume de instituições paulistas (mais
de 415) e de ações necessárias (levantamento, registro e atualização de dados), preparação de
planilhas de controle, preenchimento de fichas, preparação de relatórios e do diário do projeto,
garantindo a continuidade do mesmo por futuros bolsistas.
As atividades que desenvolverão são:
- leitura de bibliografia sobre estudos em museus no estado de São Paulo
- organização de planilha a ser trabalhada, com campos fundamentais, considerando a
abrangência da pesquisa. A partir da planilha, os dados serão exportados para a base de dados do
projeto no âmbito nacional
- preenchimento sistemático da planilha, para que os dados sejam exportados para a base de
dados do projeto no âmbito nacional
- preenchimento de fichas
- preparação de relatórios diversos, com análises quantitativas e qualitativas

7. Resultados previstos e seus respectivos indicadores de avaliação


Espera-se no decorrer do projeto (12 meses), continuar o levantamento bibliográfico, organizar a
planilha com seus campos fundamentais, realizar leituras e preencher a planilha, preencher a
Ficha A e, quando possível e seguro, visitar museus na capital para o preenchimento da Ficha B.
A meta para 2023-2024 com uma equipe de 4 pessoas é o preenchimento detalhado de 100
museus, mas outros deverão ter um preenchimento inicial, ou seja, ser identificado e registrado
na planilha, para futuro detalhamento.
Outra meta é a alimentação do diário da pesquisa, a preparação de dois relatórios, um
quantitativo e outro qualitativo.

8. Cronograma de execução
1o. mês - inserção no projeto nacional, trocas com as equipes de outros estados
2o. mês - levantamento bibliográfico e contato com as Ficha A e com a planilha
3o. mês - levantamento bibliográfico
4o. mês - levantamento bibliográfico, leituras e preenchimento dos campos da planilha e
da Ficha A
5o. mês - leituras e preenchimento dos campos da planilha e da Ficha A
6o. mês - leituras, preenchimento dos campos da planilha e da Ficha A, elaboração do 1o.
relatório de desenvolvimento da pesquisa
7o. mês - leituras e preenchimento dos campos da planilha e, se possível, visita a instituições na
capital, para conferência da dados da Ficha A e preenchimento da Ficha B
8o. mês - leituras e preenchimento dos campos da planilha e, se possível, visita a instituições na
capital, para conferência da dados da Ficha A e preenchimento da Ficha B
9o. mês - leituras e preenchimento dos campos da planilha e, se possível, visita a instituições na
capital, para conferência da dados da Ficha A e preenchimento da Ficha B
10o. mês - início da elaboração do 2o. relatório de desenvolvimento da pesquisa
11o. mês - conclusão do relatório final de desenvolvimento da pesquisa
12o. mês - preparação para o SIICUSP e outros eventos

9. Outras informações que sejam relevantes para o processo de avaliação.


Como mencionado, trata-se de projeto de longo prazo e de abrangência nacional promovido pela
Associação Brasileira de Antropologia - ABA. A contribuição do projeto refere-se ao estado de São
Paulo. Mas os bolsistas vão interagir com outros bolsistas de outros estados. Os dados coletados e
registrados pelos bolsistas serão integrados a uma base de dados, visando a veiculação pública.

Referências
Barbosa, L. B. H. A pacificação dos Kaingangs paulistas: hábitos, costumes e instituições desses
índios. 2. ed. Jaú (SP): Códices, 2019.
Cury, M. X. (2021). As coleções Kaingang, Guarani Nhandewa e Terena - Percurso
documental, requalificação e colaboração. Anais Do Museu Paulista: História E Cultura Material,
29, 1-39. https://doi.org/10.1590/1982-02672021v29e6.
Misan, S. A implantação dos museus históricos e pedagógicos do estado de São Paulo (1956-
1973).Tese (Doutorado em História Social) – FFLCH, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2005.
Motta, R. V. Acervos etnológicos em museus paulistas. In: Cury, M. X.; Vasconcellos, C.M.; Ortiz, J.
M. (Orgs.). Questões indígenas e museus: debates e possibilidades.
Brodowski: ACAM Portinari: Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo :
Secretaria de Estado da Cultura (SEC), 2012. (Coleção Museu Aberto). p. 20-26.
Ribeiro. D. Os Kaingáng e a expansão dos cafezais. In: Os índios e a civilização: a integração das
populações indígenas no Brasil moderno. São Paulo: Círculo do Livro, 1988. p. 93-98.

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