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INTRODUÇÃO

a. A bíblia no relato de Gênesis fala que criou Deus o mundo perfeito, e coroou a
sua obra da criação ao criar o homem. Adão, ao despertar, reconheceu que Deus
era Seu criador e ele apenas sua criatura, e como ato de reconhecimento, sua
responsabilidade básica no princípio era adorar a Deus como seu Criador.

b. Deus nos criou para termos uma vida de relacionamento. Relacionamento com
Ele em primeiro lugar, e relacionamento com o nosso próximo, representado
pela criação da mulher. Mas, é uma realidade lamentável que a humanidade esteja lutando
em sua relação com Deus e com o próximo.

c. Mas infelizmente com a entrada do pecado no mundo, aquela relação perfeita


que havia no princípio da criação foi danificada; uma ruptura causou um
distanciamento do homem para com Deus, levando a criatura se esconder da
presença do Seu Criador. E agora uma das perguntas mais importantes que
devemos fazer ao se deparar com o primeiro relato da narrativa bíblica é: “qual
foi a reação de Deus diante da atitude do homem? Qual foi a resposta do Criador
diante do medo de Sua criatura?”.

A LÓGICA DA SALVAÇÃO
a. Essa eu considero uma das maiores e mais importantes verdades das Escrituras.
Espero que vocês nunca esqueçam, mas a lógica da salvação não está em “o
homem ir em busca de Deus”, mas “Um Deus que vai em busca de um homem
que foge”.

b. Ou seja, a lógica da salvação na Bíblia não é inicialmente o homem indo em


busca de Deus, mas Deus indo em busca do homem que foge. E agora em
resposta a essa busca de Deus, o homem para de correr, o homem para de fugir,
o homem para de se esconder, e agora aparece não mais correndo, mas apenas
aguardando o abraço dAquele que tá a tua procura.

c. Temos alguns exemplos disso.


 Deus em busca de Adão (o que o pecado causou com o homem e Deus? O
separou de Deus, deixou Adão nu);
 Deus em busca de Caim (Caim pecou, e depois do pecado se afastou de Deus,
mas Deus foi em busca dele);
 Deus se aproximando da nação de Israel. Faça-me um santuário para que
possa habitar com vocês (Embora a nação de Israel pecava e se distanciava de
Deus, Deus sempre ia em busca daquela nação, poque Deus sempre quis está
perto dos Seus filhos);
 Deus nos perseguindo (Salmo 23:6 – Deus quer estar perto de Nós);
 Deus descendo do céu em um corpo humano para estar cada vez mais
próximo das suas criaturas (Embora o pecado nos separe de Deus, Ele quer
sempre estar perto de nós).\
E durante essa semana estaremos contemplando nos Evangelhos essa ação de Deus, de
ir ao encontro de um povo que rompeu com o relacionamento com Ele, e agora foge de
Sua presença. E hoje eu quero começar com você no livro de Marcos 5.
LER E NARRAR A HISTÓRIA

a. Essa é uma história narrada pelos três evangelhos sinóticos. Cada uma com sua
particularidade. Mas a narrativa que apresenta de forma mais completa,
reconhecida por muitos, é na narrativa de Marco 5.

b. Essa narrativa apresenta Jesus indo ao encontro de um homem para libertá-lo do


poder das trevas. Jesus acabara de vir de um encontro com o mar agitado, agora
ele se depara com um homem completamente fora de si, agitado, e cativo por
satanás, vivendo o pior que a raça humana poderia viver, a separação de Deus.
Essa separação trouxe como consequência o sujeito passar do início da vida para
o final dela, e vier a parte mais escura da vida. O resultado do pecado fez aquele
homem ir para o mais fundo vale das trevas. Mas sabemos muito bem que não
há caso perdido para Deus. Não há vale tão profundo que a graça de Jesus não
possa alcançar.

c. Hoje eu quero estudar essa história com você, tratando não apenas como um
milagre com um fim em si mesmo, mas como um evento marcante no livro de
Marcos que aponta para um povo cativo por forças opressoras, mas que Jesus
veio para os libertar.

INTRODUÇÃO AO TEXTO E AO CONTEXTO

a. Trata-se do outro lado do mar, lugar do desconhecido, do caos. Local de


impureza radical. A pessoa em espírito impuro irrompe do mundo da morte, dos
sepulcros. Tem aspecto amedrontador e ninguém pode prendê-lo. Num quadro
pintado com cores tão vivas e dramáticas a atuação de Jesus será grandiosa.

b. Jesus ordena a saída do espírito impuro da pessoa unicamente com a sua


palavra de ordem... O encontro de Jesus com os demônios sempre será
causará tormento a eles, em contrapartida o encontro de Jesus conosco
sempre nos trará calma em meio ao mais terrível momento - comentário
meu.

c. Na narrativa de Marcos 5,1-20, a inclusão de elementos fortes como Gerasa,


Legião, porcos e o envio de ex-endemoninhado, ativa a compreensão de toda a
narrativa por parte dos ouvintes e leitores/as. Estes eram aspectos concretos da
vida cotidiana, que remetiam para experiências marcantes vividas pelas pessoas
no contexto de dominação por parte das forças imperiais romanas, ou seja,
conflito Palestina-Roma e entrada de gentios nas comunidades cristãs que
estavam se estruturando no momento da redação do evangelho de Marcos.

UMA HISTÓRIA REAL, MAS QUE APONTA PARA ALGO BEM MAIOR.
A TERRA DOS GERASENOS

a. Um estudo da etimologia da palavra grega ‘Gerasa’, mostra que ela deriva da


raiz semítica GARSU (da raiz hebraica em seu equivalente grego garash
“expulsar, rejeitar, repudiar” ou de geresh “grãos”), atestada numa inscrição
nabatea.

b. Depois de Jesus libertar o endemoninhado geraseno e de impedir que ele o


acompanhasse, envia-lhe em missão na Decápole (Mc 5,20). O termo Decápole
origina-se da expressão grega deka polis e significa ‘dez cidades’. Era o nome
dado ao território situado ao oriente da Palestina, composto por uma liga de dez
cidades, formada pelos romanos depois da conquista da Palestina em 63 a.C.
A indicação geográfica da cidade de Gerasa e da região da Decápole assumem
relevância política. Pois estamos num território sob direta administração romana
e assim a ação exorcistica ideológica/simbólica de Jesus está ambientada no
contexto político mais amplo do Império Romano com seus mecanismos
políticos, econômicos, sociais e ideológicos de dominação.

c. Por quê o autor/redator de Marcos situou esse pisódio em Gerasa na Decápole?


A escolha de Marcos por situar a narrativa do exorcismo de Jesus em Gerasa,
onde ele enfrenta e expulsa simbolicamente as tropas romanas, estaria
diretamente ligada a um episódio da campanha de reconquista de Jerusalém.
Vespasiano, general das tropas romanas, estrategicamente invade e destrói a
cidade de Gerasa, como forma de ampliar o cerco a Jerusalém e proteger as
fronteiras. Jesus aparece em uma terra que estava cativa, com a ideia de libertá-
la.

“LEGIÃO É MEU NOME”


a. Na constituição do Império Romano, as forças militares ocupavam lugar central,
possibilitaram a expansão e a pacificação dos territórios. Foram as conquistas
militares que permitiram a instauração do sistema de domínio conhecido como
pax romana. A paz romana é querida e planejada pelos altos escalões, mas
estabelecida e mantida pela intervenção das legiões, num esquema de guerra-
vitória-paz, ou seja, uma paz de e para os vencedores (WENGST, 1990, p. 22-
23)

b. As legiões representavam a maior divisão dos exércitos romanos, compostas de


uns 6.000 homens de infantaria, 120 da cavalaria, além de tropas auxiliares e
encarregadas de serviços gerais (MACKENZIE, 1983, p. 536). Os povos
dominados eram obrigados a se comportar, diante da força das legiões, como
clientes colaboradores do sistema e vigilantes da ordem estabelecida, comportar-
se diferente era ser rebelde, fora da lei (MALINA, 2004, p. 18). Neste sentido,
compreendemos a força simbólica da narrativa de Marcos 5,1-20, quando define
as forças demoníacas de possessão com o nome de “legião”.

c. O estabelecimento progressivo do domínio romano se deu por meio de


conquistas militares, que deixavam os territórios invadidos completamente
destruídos e sob e governo de reis clientes, vassalos ou subservientes. Com o
tempo, as regiões ocupadas passavam a pagar tributos, a fornecer cereais para a
capital e a ajudar na manutenção das tropas (MIGUEZ, 1990, p. 89).

PORCOS AO MAR

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