β-TCP COM ZINCO (Zn): UMA REVISÃO ACERCA DA EFICIÊNCIA

DESTA DOPAGEM

Y. B. A. Almeida1, D. Moura Júnior1; J. R. S. Farias1, G. K. G. Carvalho1; V. B. Santos1

A. N. S. Braga1.
1
Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, Brasil (ycarobreno26@gmail.com)

O β-fosfato tricálcico (β-TCP) é uma biocerâmica de grande potencial para uso clínico e
que detém na dopagem uma alternativa de remediar suas limitações, sendo o Zinco (Zn) um
ótimo candidato. Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura acerca
dos efeitos da dopagem do β-TCP com o Zn. O foco principal observado nos estudos foi a
mudança estrutural e amplificação das propriedades do β-TCP. Sendo compósitos,
impressão 3D e revestimento algumas áreas contempladas.

Palavras-chave: β-fosfato tricálcico; Dopagem; Zinco.

posteriores (Che et al.,2021). Todavia, a baixa

INTRODUÇÃO
As buscas por novos materiais que viabilizem sua
utilização no campo biomédico vem crescendo
paulatinamente, isso ocorre porque o infortúnio
provocado por doenças e acidentes, ocasionam
condições crônicas, incapacidade ou até mesmo a
morte, resultando em significativas perdas humanas,
assim como prejuízos econômicos. Como medida para
reverter esse quadro, materiais sintéticos mais fortes e
mais baratos vem cada vez mais sendo tomado como
alternativa para a engenharia e medicina regenerativa
(Ke e Bose, 2017; Ananth et al., 2015). Possibilitados
pela engenharia de tecido, estes materiais são
planejado levando em conta sua composição e
propriedades estruturais da matriz extracelular, uma
vez que assim são destinados a simular funções
biológicas e estruturais naturais do corpo humano,
com isso propriedades como: biocompatibilidade,
resistência mecânica adequada, alta porosidade,
biodegradabilidade, rede macroporosa para adesão
celular, proliferação e crescimento tecidual adicional
são extremamente almejadas (Altunordu et al., 2023).
Beneficiadas por sua estreita semelhança com a matriz
óssea nativa aumentando assim a regeneração óssea,
as biocerâmicas acabam dominando este setor de
substitutos sintéticos (Holmes et al., 2023).
Dentre os diversos materiais disponíveis para a
fabricação de substitutos sintéticos, o β-fosfato
tricálcico (β-TCP, β-Ca3(PO4)2) se destaca entre as
biocerâmicas em virtude das suas propriedades.
Devido ao seu caráter reabsorvível, após sua
implantação sob a ação de células osteoclásticas e
osteoblásticas, este passa a ser gradualmente
reabsorvido e substituído por osso recém-formado
dentro de 6 a 24 meses (Somers et al., 2023). O que é
uma extrema vantagem frente a materiais não-
reabsorvíveis que necessitam ser retirado em processo
bioatividade do β-TCP no ambiente fisiológico, além
das suas propriedades mecânicas pobres acabam
limitando o seu uso quando utilizado de maneira
monolítica, ou seja, puramente β-TCP (Massit et al.,
2023; Qi et al., 2022).
Como medida para corrigir seus restringimentos, bem
como aproximar o β-TCP ainda mais da composição
óssea, uma vez que além do fosfato de cálcio, existem
muitos oligoelementos nos componentes inorgânicos
dos ossos, a introdução de elementos químicos
dopantes na estrutura da apatita vem sendo cada vez
mais estudada (Massit et al., 2023; Wu et al., 2023; Qi
et al., 2022). Dessa forma, se une o útil ao agradável,
já que com isso é possível atenuar suas limitações e
ainda tornar a mimetização do substituto mais próxima
do ideal. Elementos funcionais como o estrôncio (Sr+2)
(Tao et al., 2020; Feng et al., 2021; He et al., 2021), o
magnésio (Mg+2) (Xue et al., 2022; Shao et al., 2021;
Gallo et al., 2019), o gálio (Ga+3) (Wang et al., 2022;
He et al., 2021; Qiu et al., 2020), o cobre (Cu+2)
(SPAETH et al., 2023; SPAETH et al., 2020; CHOU
et al., 2020) tem atraído cada vez mais a atenção dos
pesquisadores.
Outro íon metálico de extrema importância
encontrado no osso humano é o zinco (Zn 2+). Sua
presença é essencial para diversos processos
celulares incluindo síntese de DNA, respostas
comportamentais, reprodução e virilidade, além da
cicatrização de feridas. Desempenhando ainda papel
importante na promoção do metabolismo, formação e
crescimento ósseo (Graziani et al., 2016). A
deficiência de zinco está atrelado ao retardo do
crescimento esquelético, sua falta reduzirá a
osteoblastogênese e levará à osteoporose (Boanini et
al., 2018; Wang et al., 2022).
O β-TCP é um potencial transportador de zinco, já que
o raio iônico do Zn 2+ (0,075 nm) encontrasse dentro
da faixa de mudança permitida para substituir o cálcio,
faixa esta que para cátions bivalentes variam de 0,060
a 0,080 nm de raio iônico, com isso o Zn 2+ pode
facilmente entrar na rede β-TCP para substituir o Ca 2+
(Carbajal et al., 2012). Com isso se tem o efeito
benéfico de melhora nas propriedades mecânicas, de
biocompatibilidade e antibacterianas em virtude dessa
dopagem. Sem contar que a utilização da biocerâmica
dopada com zinco permite a lenta liberação deste íon
do implante, todavia reações adversas podem ser
causada pelo excesso do mesmo, já que em
concentrações elevadas o zinco pode se tornar
citotóxico, a substituição de cálcio ocorre até cerca de
20 % de átomos em estruturas β-TCP (Mardziah et al.,
2020; Boanini et al., 2018; Carbajal et al., 2014;
Carbajal et al., 2012).
Diante do que foi exposto, este trabalho tem por
objetivo realizar uma revisão da união do β-TCP com
íon Zn 2+, dessa forma avaliando o efeito da dopagem
nas propriedades físicas, químicas e biológicas do β-
TCP, correlacionando-as com o foco dos trabalhos.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia seguida para a elaboração desta revisão
de literatura, foi a busca nos bancos de dados do
Sciencedirect e Scopus. Foi buscado trabalhos que
discutiam a realização da dopagem do β-TCP com
íons metálico de Zinco (Zn), sendo utilizada a
nomenclatura “beta tcp doped with zinc” como termo
de busca, sendo realizada a busca de artigos de
pesquisa dos últimos anos, de 2018 até os dias atuais.
De posse dos achados, houve uma análise dos artigos
e consequente refinamento dos resultados. A figura 1
esquematiza a metodologia utlizada no estudo.
Figura 1: Fluxograma da metodologia adotada
Fonte: Autoria própria
REVISÃO DE LITERATURA
Beta fosfato tricálcico (β-TCP)
O principal componente inorgânico dos ossos e dentes
são constituídos de fosfatos de cálcio (CaP), dessa
forma materiais sintéticos que possuem por base tal
família de cerâmica detém certa similaridade
composicional, o que proporciona para estes materiais
seu grande respaldo no âmbito de biomateriais. Isso
acontece porque os íons de cálcio e fosfato têm ação
efetiva nas células ósseas e podem induzir a adesão,
proliferação e diferenciação celular, alcançando dessa
maneira uma rápida formação óssea e a cicatrização
de defeitos ósseos (Seifert et al., 2022; Ressler et al.,
2023).
Dentre todos os membros integrantes desta família, a
hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2, HAp) é o membro
mais notoriamente conhecido e aplicado.
Bioatividade, biocompatibilidade, não toxicidade,
osteocondutividade e osteoindutividade são
codinomes deste material de regeneração óssea
conhecido por não gerar efeitos adversos
imunogênicos e inflamatórios (Weinand et al., 2022;
Park et al., 2023). Entretanto, mesmo detendo tais
atributos a hidroxiapatita acaba sendo limitada por sua
biodegradação, que ocorre de maneira bastante lenta,
o que pode promover o restringimento do crescimento
interno das células e pode levar a deformidades após
um longo prazo (Taherimehr et al., 2021).
O segundo composto de fosfato de cálcio mais
comumente usado para aplicações biomédicas é o
fosfato tricálcico [Ca3(PO4)2, TCP] (Porsani et al.,
2020). O fosfato tricálcico existe em quatro diferentes
fases alotrópicas (α, β, γ e super-α) decorrentes de
diferentes processamento realizado para a obtenção do
TCP, a fase β é estável abaixo de <1180°C e a fase α
é estável na faixa 1180<T<1430 °C. Acima de
>1430 °C a fase α ′ torna-se a fase estável, enquanto a
fase γ é obtida pelo aquecimento de β-TCP a 950°C
sob alta pressão de 4,0 GPa (Ryu et al., 2004;
Guastaldi e Aparecida, 2010; Pillai et al., 2018; Saini
et al., 2023). Dentre essas opções de TCP alotrópicas
apenas duas fases, α e β podem ser usadas como
biomaterial. Vale ressaltar que o α-TCP tem
aplicações biomédicas limitadas devido à sua alta taxa
de reabsorção (0,0025g L-1 a 25°C) (Saini et al., 2023;
Frasnelli et al., 2019). O TCP mais utilizado é a fase β
por ser estável à temperatura ambiente. Visto que não
possui solubilização em meio fisiológico e possuindo
solubilidade próxima à do osso mineral, o β-TCP é
rapidamente substituído por um osso novo, por conta
da sua reabsorção que ocorre por dissolução mediadas
por células, geralmente osteoclastos (Weinand et al.,
2022).
Recentemente, muita atenção se tem sido destinada ao
-TCP, uma vez que este detém notáveis propriedades
em termos de biocompatibilidade, bioatividade in
vivo, bioreabsorvibilidade e osteocondutividade,
conteúdo oriundo da composição fosfato de cálcio.
Entretanto, se destaca frente ao membro mais
conhecido e largamente utilizado, uma vez que possui
biodegradação e a absorção 10 a 20 vezes mais
rápidas, bem como osteocondutividade superior em
comparação ao HAp (Taherimehr et al., 2021; Pillai et
al., 2018). Do ponto de vista estrutural, salienta-se o β-
TCP cristaliza no grupo espacial
romboédrico R3 c com parâmetros de célula unitária
que podem variar de: 10,35 a 10,53 Å para o eixo "a"
e 36,89 a 37,63 Å para o eixo “c”. Onde em uma célula
unitária de β-TCP se contém 273 átomos que estão
agrupado entre cinco sítios de cálcio, três sítios de
fósforo e 10 sítios de oxigênio, distribuídos em dois
domínios planares repetidos, um com razão molar
Ca/P de 60/42 = 1,429, e outro com razão molar Ca/P
de 66/42 = 1,571 (Sblendorio et al., 2023; Bohner et
al., 2020; Yashima t al., 2003). A Figura 2 apresenta
uma representação esquemática da estrutura do β-
TCP.
Figura 2: Representação esquemática da estrutura
cristalina do β-TCP
Fonte: Sblendorio et al., 2023
Em atenção às suas excelentes propriedades físico-
químicas, muitos estudos são realizados acerca do β-
TCP. Uma vertente de estudo é a síntese de cerâmicas
TCP substituídas por cátions, sendo bem conhecido
que a dopagem mesmo em níveis muito baixos pode
afetar drasticamente as propriedades físicas e
morfológicas de diferentes materiais, incluindo o
TCP, dando atenção principalmente para íons com
atividade biológica do osso (Bose et al., 2011;
Sinusaite et al., 2019).
O zinco (Zn) e o efeito da sua dopagem em alguns
materiais
A introdução do zinco em um biomaterial sintético
não ocorre de maneira aleatória, isso ocorre em virtude
do mesmo ser um elemento vital para várias funções
bioquímicas, uma vez que o mesmo é o cofator
responsável por mais 300 enzimas, além de fatores de
transição (Kazimierczak et al., 2022). No que tange a
metabolismo ósseo, o Zn desempenha um papel
significativo no crescimento, aumentando a formação
e mineralização óssea e inibindo a reabsorção óssea,
vale ressaltar também seu potencial quanto as suas
propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas,
antifúngicas e anticancerígenas (Akinwekomi e
Akhtar, 2023). Algumas outras funções abrangidas
pelo íons Zn2+ são: a regulação da expressão gênica
relacionada à osteogênese, por exemplo, Runx-2,
colágeno tipo I, fosfatase alcalina óssea, osteocalcina,
osteopontina. Bem como funções celulares essenciais
acerca da cicatrização de feridas, como a migração de
células epiteliais, a proliferação de fibroblastos e o
controle da necrose tecidual (Vinayak et al., 2023;
Kazimierczak et al., 2022). A seguir foi verificado o
efeito da dopagem do Zn em algumas outras
biocerâmicas.
Mabrouk et al. (2023) produziram nanopós bioativos
de CaS dopados com íons Cu e Zn em diferentes
proporções. A dopagem com Zn 2+ teve a maior
influência em todos os parâmetros mecânicos
avaliados, especialmente com concentrações mais
altas (7% em peso). A ação do Zn2+ também foi
verificada na atividade antibacteriana, onde as zonas
de inibição registradas foram comparáveis aos valores
observados para Rifampicina (A) e Ciclohexamida
(C) agentes antibacterianos e antifúngicos
extremamente fortes, uma vez que registraram os
maiores diâmetros (34, 36 e 16 mm) para as
cepas Pseudomonas aeruginosa,
Esherichiacoli e Candida albicans , respectivamente.
Mardizah et al. (2023) examinaram o comportamento
de densificação da biocerâmica HA dopada com zinco
utilizando derivado de resíduos de cascas de ovos de
galinha como precursor de cálcio. Foi verificado que
todos os nanopós iniciais têm áreas de superfície
específicas altas, sendo o maior valor obtido sob
maiores teores de Zn. Os padrões de DRX após
sinterização indicaram que todos os compactos densos
têm boa cristalinidade com HA como fase primária. A
temperatura ótima de sinterização foi estabelecida em
1250 °C com base nas avaliações das propriedades
físicas e mecânicas.
Vinayak et al. (2023) conceberam curativos baseados
na combinação de vidro bioativo dopado com íons
com membrana de casca de ovo, quatro tipos
diferentes de variantes de vidro bioativo, um sem
dopante e três outros com vidro bioativo dopado com
cobalto/zinco, cobalto binário e zinco na faixa de
nanoescala foram utilizado. Os autores concluíram
que o vidro bioativo dopado com íons de cobre e zinco
sobre a superfície da casca do ovo reforçou sua
eficácia cicatrizante, aumentando a vasculogênese e vertentes encontradas foi a aplicação do beta dopado
reduzindo as infecções no leito da ferida. com zinco no processo de impressão 3D e na produção
Por meio dessa rápida visualização de atividade se de compósitos e revestimentos.
verificar a eficiência da introdução do Zn em outras
biocerâmicas, o que consolida o potencial da dopagem
Mudanças estruturais e Amplificação das
do mesmo no β-TCP.
propriedades do β -TCP dopado com Zinco (Zn)
A introdução proposital de impurezas em pequena
RESULTADOS E DISCUSSÃO escala num material com a finalidade de promover a
-TCP dopado com Zinco (Zn) substituição no mesmo é a concepção por trás do
processo de dopagem. Tal modificação química
Os resultados das buscas realizadas nos bancos de oferece condições drásticas de mudanças em
dados são relatados na Tabela 3, pontuando a propriedades físico-químicas, mecânicas e
quantidade de artigos encontrados, bem como aqueles antibacterianas dos materiais em decorrência da
que foram elegíveis para o estudo. alterações na morfologia, densidade, solubilidade e
cinética de liberação de íons (Ke et al. 2019; Sinusaite
Tabela 3 – Quantificação das buscas nas plataformas et al., 2020). O β-TCP é um material imensamente
Quantidade enriquecido por essa proposta, uma vez que permite a
Nº de
Ano de de introdução de íons biologicamente ativos em sua
artigos
Publicação trabalhos estrutura, alcançando melhorias em seus atributos e
encontrados
elegíveis até mesmo a instauração de novas propriedades.
β-TCP 2018 60 4 Fielding et al. (2019) estudaram scaffolds TCP
dopado altamente porosos dopados com Si ou Zn,
2019 92 5
com investigando a expressão de marcadores gênicos de
zinco 2020 103 3
osteoblastos no estágio avançado de diferenciação. A
2021 134 2 reação no estado solido foi o método adotado nessa
2022 138 4 investigação. Foi notada a presença de fase α-TCP nas
2023 79 2 amostras puras, apesar que ocorre uma redução
drasticamente nas amostras dopadas, sendo a amostra
Fonte: Autoria própria
Zn-TCP a que apresenta menor quantidade de α-TCP.
Em decorrência da presença do Zn maiores são os
Os resultados das buscas nas bases de pesquisa
valores de densidade aparente relativa. Foi observado
evidenciaram o aumento de publicações voltadas para
também que as composições dopadas têm taxas de
a esfera da dopagem com o passar dos anos,
degradação mais altas do que os scaffolds puros. No
legitimando a importância da realização deste estudo.
que se refere regulação de marcadores osteogênicos a
Nota-se ainda uma queda brusca do número de artigos
adição de dopantes de Si e Zn estimulou a
encontrados para a quantidade de trabalhos elegíveis
diferenciação de células osteoblásticas enquanto
por conta da variação dos resultados das buscas
regulava positivamente genes marcadores de
exercidas, por vezes não se tratava do material
osteoblastos. Os materiais substituídos Si-TCP e Zn-
proposto inicialmente mas um material semelhante
TCP demonstraram uma regulação positiva
como outro fosfato de cálcio, ou ainda uma outra
estatisticamente significativa na expressão de OPG e
biocerâmicas. Vale ressaltar que a inconstância quanto
uma regulação negativa na expressão de RANKL no
aos íons também ocorreu, uma vez que uma vasta
ponto de linha de base de 21 dias.
variedade de íons foi observada. Com isso, se deu uma
O efeito da dopagem de diferentes aditivos no β-TCP
baixa nos índices quando apenas trabalho de dopagem
foi alvo das pesquisas de Ke et al. (2019). Onde,
no β-TCP com zinco foram levados em consideração.
discos puros de TCP, Sr-TCP, Mg-TCP, Si-TCP e Zn-
Os anos de 2018 e 2019 apresentaram maior
TCP foram preparados por prensagem uniaxial para
quantidade de resultados. Enquanto, o ano de 2023
avaliações in vitro usando uma linhagem de células
apresenta duas publicações realizadas, entretanto
pré-osteoblásticas. De maneira geral, os resultados
acredita-se que em virtude da relevância dos efeitos
foram mais promissores usando MgO e SiO 2 para
sinérgicos obtidos nesta dopagem mais trabalhos
melhorar as propriedades biológicas do TCP. Apesar
ainda serão publicados, uma vez que ainda nos
que vale destacar as respostas Zn-TCP, quanto a
encontramos no início do ano 2023.
expressão de BMP2 que foi significativamente maior
Os trabalhos considerados elegíveis foram agrupados
do que TCP puro e quanto a expressão RUNX2 que
com base no foco que possuíam, basicamente o
foi regulada positivamente.
principal objetivo das dopagens foi à amplificação de
O efeito da dopagem de diferentes aditivos no β-TCP
propriedades do beta, principalmente propriedades
foi alvo das pesquisas de Ke et al. (2019). Onde,
biológicas como: a atividade antibacteriana. Outras
discos puros de TCP, Sr-TCP, Mg-TCP, Si-TCP e Zn-
TCP foram preparados por prensagem uniaxial para
avaliações in vitro usando uma linhagem de células
pré-osteoblásticas. De maneira geral, os resultados
foram mais promissores usando MgO e SiO 2 para
melhorar as propriedades biológicas do TCP. Apesar
que vale destacar as respostas Zn-TCP, quanto a
expressão de BMP2 que foi significativamente maior
do que TCP puro e quanto a expressão RUNX2 que
foi regulada positivamente.
Samanta et al. (2019a) examinaram o efeito da
substituição em 5% de diferentes íons (Zn, Mg ou Ti)
no β-TCP poroso pela técnica de precipitação química
úmida. Mudanças no parâmetro de rede e no tamanho
de cristalitos foram visualizadas de acordo com o íons
dopantes. As amostras dopadas mostraram
regeneração óssea significativamente melhor
com condições de carga cíclica do que espécimes TCP
puros. O nível de dopagem foi o tópico avaliado por
Samanta et al. (2019b) em seu outro estudo, que
ocorreu utilizando a mesma rota de síntese de
precipitação química seguido anteriormente, as
cerâmicas β-TCP contendo zinco, magnésio e titânio
foram desenvolvidas com substituição de 3 e 5 em
peso %. O comportamento hemocompatível e atóxico
foi observado em todas as amostras.
Em estudo realizado por Sinusaite et al. (2020) uma
dupla dopagem íons Zn 2+ e Fe 3+ foi feita em
biocerâmicas β-TCP através do método de co-
precipitação simples, avaliando propriedades
magnéticas e biológicas. Foi observado a tendência de
diminuição gradual nos parâmetros de rede das
amostras sintetizadas com aumento do nível de
substituição. No que tange as propriedades do material
produzido, todas as amostras substituídas exibiram
comportamento paramagnético, os pós sintetizados
não revelaram comportamento tóxico, todavia as
propriedades mecânicas não foram melhoradas pela
substituição de Ca.
A prata (Ag) é um dopante com conhecida eficiência
bacteriana, Chou et al. em seu trabalho utilizaram a
técnica de spray pirólise para produzir amostras de
β-TCP não dopadas, dopadas com Ag (2,87 mol e 5,75
mol% Ag) e co-dopadas com Ag/Zn (2,87 mol%
Ag/2,87 mol% Zn). Testes bacterianos revelaram que
as atividades das amostras de β-TCP co-dopadas com
Ag/Zn atingiram o mesmo nível de atividade que as
amostras dopadas apenas com Ag no seu maior nível
de dopagem.
Saleh e Alameri (2021) produziram β-TCP dopado
com Zn através de um novo método baseado em
micro-ondas, onde os autores descrevem a influência
da substituição do íon Zn nos principais parâmetros da
estrutura de rede do β-TCP. Da integração dos íons Zn
na estrutura do β-TCP destaca-se a diminuição do
volume total da célula unitária e a redução dos
parâmetros de rede nos eixos a e c. Os autores frisaram
mudança substancial na morfologia da amostra que
passou de nanoflocos densamente compactados para
grânulos microporosos de tamanho mícron, e que se
tornaram menores à medida que o teor de zinco no β-
TCP dopado aumentou.
Macedo et al. (2022) estudaram o efeito da adição
simultânea de íons de manganês, zinco e ferro nas
propriedades de uma matriz de TCP dopada com íons
de magnésio. Foi declarado que individualmente cada
íon adicionado aos materiais β-TCP provou efeitos
vantajosos na osteogênese e remodelação óssea.
Salienta-se ainda que a redução da quantidade de Zn 2+
ajudou a promovem a densificação máxima, já a
porosidade máxima foi detectada quando os maiores
teores de Zn esteve presente.
A co-dopagem também foi alvo de estudo de
Alshemary et al. (2022) que produziram βTCP co-
dopados com Zn/Mg sintetizados através da técnica de
precipitação úmida assistida por micro-ondas (MW).
Mudanças significativas foram sentidas pela
substituição de dopantes Mg2+/Zn2+, estruturalmente
falando as amostras se tornaram mais compactas, sem
vazios e estruturas irregulares aglomeradas densas,
que foram gradualmente transformadas. Quanto a
atividade antibacteriana a fase pura dos materiais
βTCP que não tinham capacidade de inibir o
crescimento de E. coli passou a inibir o crescimento
bacteriano, onde nenhuma colônia bacteriana foi
observada nas placas de ágar contendo (0,8) Zn/Mg-
βTCP e (1,0) Zn/Mg-βTCP.
Com o intuito de ampliar o escopo da aplicação
biomédica do TCP dopado, Sainz et al.(2023)
realizaram a dopagem com Zn, bem como a
codopagem de Zn com Mg sendo utilizado o método
de sinterização não convencional Spark Plasma
Sintering (SPS). Foi evidenciado que o processo de
codopagem foi responsável por um processo de
densificação-sinterização em temperaturas mais alta,
bem como maior contração frente aos materiais TCP
não dopados e dopados com zinco. A incorporação dos
íons promoveu maior contato físico entre células e
materiais, melhorando a adesão e morfologia celular
em testes de interação direta entre células humanas
(MG-63) e amostras, vale ressaltar que o
Zn2+ desempenhou papel mais relevante do que o
Mg2+, uma vez que a incorporação de Mg2+ à amostra
dopada com Zn não produziu um efeito de melhoria
no seu comportamento biológico.
β -TCP dopado com Zinco (Zn) utilizado na
impressão 3D
Emergindo como alternativa viável para o setor de
enxertos ósseos que usualmente utilizam aloenxertos
e autoenxertos como medida tradicional, enxertos
sintéticos projetados podem ser mais flexíveis de
fabricar e modificados com base nas necessidades dos
pacientes, contornando atribulações ocasionadas pelo
uso de enxertos naturais tais como doenças, infecções
e rejeições (Li et al., 2023; Robertson et al., 2020). O
-TCP é um candidato que consegue reunir
características necessárias para uso clinico, tais como
avançada biocompatibilidade e osteocondutividade,
além de taxa de dissolução adequada (Ke et al. 2018).
E possui na manufatura aditiva, mecanismo de
produção de estruturas impressas tridimensionais (3D)
que podem imitar a matriz extracelular para fixação,
proliferação e diferenciação celular, assemelhando-se
mais a estrutura hierárquica do osso , sendo isso
possível uma vez que o método de fabricação de
scaffolds cerâmico acaba levando em consideração
lesões e anatomia incomuns, o que contorna as
problemáticas de técnicas convencionais como
limitada precisão exigida quanto a tamanho, forma e
geometria dos poros (Nandi, 2018; Cao et al., 2019;
Robertson et al., 2020). Todavia, as cerâmicas β-TCP
possui propriedades mecânicas insuficientes, além de
carecerem de funções biológicas específicas e
demonstraram capacidade limitada de estimular a
diferenciação celular e a regeneração óssea por conta
própria (Wang et al., 2022; Nandi, 2018), a dopagem
com Zn serve de via de remediação de tais fatos.
Nandi (2018) avaliou o efeito combinado da dopagem
com sílica (SiO2) e óxido de zinco (ZnO) em scaffolds
TCP interconectados 3D conferindo seu desempenho
in vivo em um modelo de defeito tibial de tamanho
crítico de coelho na regeneração óssea. Foi observado
que a presença de dopantes revelou maior densificação
em comparação com os TCP puros, o que
eventualmente levou a uma melhor resistência
mecânica. Outro ponto foi o caráter mais lento na
cinética de degradação dos scaffolds dopados que
proporcionaram um suporte mais longo para a
regeneração óssea.
Levantando a hipótese que a presença MgO e ZnO,
devem aumentar a resistência à compressão e as
respostas biológicas dos scafolds TCP de núcleo denso
impresso em 3D e o design da superfície porosa, Ke e
Bose (2018) prepararam o TCP pelo método de síntese
em estado sólido com 0,25% em peso de ZnO e 1%
em peso de MgO antes do processo de impressão 3D.
Foi verificado que a presença de MgO e ZnO
aumentou a densidade e a resistência à compressão
para esses scaffolds TCP impressos em 3D, além de
amplificar significativamente a proliferação
osteoblástica.
Promover a osteoblastogênese, a medida que também
restringiria a osteoclastogênese foi o objetivo do
trabalho de Wang et al. (2022) ao realizarem a dupla
dopagem do β-TCP com Zn/Ga. O co-doping de Ga e
Zn resultou em distorção de rede de β-TCP em ZG-
TCP. O maior grau de distorção da rede foi observada
quando dopado com maiores quantidades de Zn, onde
a distorção da rede de pós cerâmicos pode fornecer
mais energia para acelerar a densificação e melhorar a
eficiência de sinterização. A porosidade diminuiu
sucessivamente com o aumento do teor de dopagem
de Zn, manifestando que a dopagem de Zn promoveu
a densificação do ZG-TCP. Quanto a avaliação de
comportamento celulares in vitro, em comparação
com o TCP, o ZG-TCP comprometeu a celular,
todavia aumentou a atividade de ALP de mBMSCs e
restringiu a osteoclastogênese de células RAW264.7.
Compósitos com β -TCP dopado com Zinco (Zn)
Uma classe de materiais bastante interessante e
distinta são os compósitos. O conceito por trás deles
deriva de um princípio de ação combinada, onde
basicamente se quer agregar as melhores propriedades
de dois materiais distintos (Callister e Rethwisch,
2012). Dotados de potencial riquíssimimo no quesito
propriedades biológicas devido à osteocondutividade,
biocompatibilidade e bioatividade no ambiente
corporal, o β-TCP comumemte frágil, não alcança as
propriedades mecânicas ideias exigidas por enxertos
ósseo. Com isso, a confecção de compósitos de β -TCP
com vários metais e polímeros se torna proveitoso,
como meio de unir suas propriedades mecânicas com
a bioatividade da cerâmica (Ferreira et al., 2019;
Nikody et al., 2023; Shivaraj et al., 2022).
Ferreira et al. (2019) produziram compósitos β-TCP
com biovidro, onde os pós de β-TCP foram preparados
com duas concentrações molares de diferentes
elementos dopantes: Sr (5, 10), Zn (1, 2) e uma
quantidade fixa de Mn (0,5) com a finalidade de
investigar se a dopagem poderia trazer mais vantagens
em termos de regeneração óssea em comparação com
a contraparte não dopada. Os autores concluíram que
o nível de dopagem é um fator relevante na
determinação da densidade óssea e da quantidade de
osso novo formado. Consequentemente, o material
compósito de melhor desempenho [3TCP2/7BG] foi
tão eficaz quanto materiais de controle.
Ribeiro et al. (2020) fabricaram scaffolds hierárquicos
usando lixiviação particulada seguida por técnicas de
liofilização, compreendendo 80/20 (p/p) de HRP
SF/ZnSrTCP como camada de osso subcondral,
avaliando comportamento de falha, bem como as
propriedades antibacterianas dos scaffolds.
Capacidade adequada para suportar esforços de
compressão e cisalhamento para o tecido OC, assim
como capacidade de prevenir infecções bacterianas
associadas a implantes cirúrgicos foram relatados.
O compósito baseado em fibroína de seda (SF)
combinado com TCP dopado com ZnSr também foi
objeto de estudo de Bicho et al. (2021), que
mimetizaram a estrutura óssea utilizando modelagem
de gelo a fim de obter scaffolds 3D com orientação
controlada dos poros. Os resultados evidenciaram que
os scaffolds ZnSr.TCP-SF com canais interconectados
reproduziram a rede porosa da matriz óssea
subcondral nativa.
β-fosfato tricálcico/f-MWCNT substituídos por Zn e
Mg foi alvo dos trabalhos de Sivaraj et al. (2022) que
usaram o método de co-precipitação para melhorar
suas propriedades anti-biofilme do compósito
produzido. Foi revelado que o aumento da
concentração de Zn diminui o tamanho do cristalito e
desloca os picos para um ângulo maior, além de
promover o alargamento dos picos dos grupos fosfato
e hidroxila observados nos espectros de FTIR.
Constataram ainda que a adição de diferentes
concentrações de Zn teve uma influência positiva na
modulação da resistência a drogas em MRSA e A.
baumannii.
O desenvolvimento de um compósito bioativo com
alto teor de cerâmica também foi objeto de estudo de
Nikody et al.(2023) o protótipo foi composto por
poli(tereftalato de óxido de etileno)/poli(tereftalato de
butileno) (1000PEOT70PBT30, PolyActive, PA) e
fosfato beta-tricálcio 50% (β-TCP) com adição de Zn
na forma de um revestimento das partículas β-TCP. Os
autores comprovam que os scaffolds compósitos
porosos 3D suportaram com sucesso a diferenciação
osteogênica de hMSCs e a presença de íons Zn
acelerou ainda mais a osteogênese.
Revestimentos de β -TCP dopado com Zinco (Zn)
Um requisito que tem se tornado requerido nos novos
biomateriais implantáveis, trata-se da necessidade dos
mesmos de apresentar superfícies e interfaces
bioativas capazes de modular o comportamento
celular, um material com grande potencial nesse
quesito é o β-TCP, uma vez que o revestimento de β
fosfato tricálcico influencia na funcionalidade do
implante através da interação com o ambiente e
aumenta o crescimento sem afetar as células
circundantes (Boanini et al., 2018; Shivaraj et al.,
2022).
Boanini et al. (2018) aplicaram a metodologia C-
MAPLE para depositar filmes finos gradientes com
composição variável de HA substituído por Sr (SrHA)
e β-TCP substituído por Zn (ZnTCP) em substratos de
titânio. Os autores pontuam que a resposta de
osteoblastos e osteoclastos cocultivados nos
revestimentos é modulada pela composição graduada
e varia com o conteúdo relativo de SrHA e
ZnTCP. Em particular, o ZnTCP exibe uma ação
benéfica no processo de mineralização que promove a
proliferação osteoblástica e a produção de
osteocalcina. As composições intermediárias,
contendo SrHA e ZnTCP, associam os efeitos
positivos de ambos os íons, fornecendo materiais com
capacidade personalizada.
CONCLUSÃO
Grande interesse se tem sido demandado ao β-fosfato
tricálcico (β-TCP, β-Ca3(PO4)2) que une as
propriedades intrínsecas da família fosfato de cálcio
ao seu caráter bioreabsorvível, o que lhe confere um
amplo leque de uso no âmbito clínico. A dopagem
viabiliza condição viável de aprimorar as propriedades
desta biocerâmicas, tornando a sua mimetização mais
próxima da apatita biológica. A substituição do Zn na
estrutura do TCP pode promover grandes mudanças
estruturais, tais como: redução de parâmetro de rede,
aumento de densidade relativa ou alteração
morfológicas das partículas. Sendo bastante efetivo
também no aprimoramento das propriedades
osteogênicas e antibacteriana do β-TCP. A produção
de compósitos, revestimentos e scaffold por impressão
3D são algumas áreas potencializadas pela dopagem
do β-TCP com zinco.
AGRADECIMENTOS
A bolsa de pesquisa PBIC (Programa de Bolsas de
Iniciação Científica) da Fundação de Amparo à
Pesquisa do estadodo Piauí (FAPEPI).
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