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http://dx.doi.org/10.4322/polimeros.2014.

022

Efeito da Incorporação de Nanopartículas de TiO2 na

ARTIGO
Estrutura e Propriedades de Blendas de Polipropileno
e Poli(hidroxibutirato) Submetidas a Testes de
Envelhecimento Acelerado
Flávio M. C. Fonseca, Rodrigo Lambert Oréfice
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Universidade Federal Minas Gerais – UFMG
Patrícia Santiago de Oliveira Patricio
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET/MG

Resumo: O polipropileno (PP) tem uma degradação natural lenta e representa um importante constituinte na gestão
dos resíduos sólidos, enquanto o poli(hidroxibutirato) (PHB) é um polímero biodegradável, mas tem as desvantagens

TÉCNICO
de dificuldade de processamento e custo. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de nanopartículas de TiO2, do
método de processamento e do envelhecimento acelerado na estrutura e propriedades da mistura PP/PHB/TiO2. As
amostras foram produzidas por etapas de extrusão e injeção e foram caracterizadas por MEV/EDS, FTIR e análise
térmica. Os resultados mostraram que a incorporação de 3% de nanopartículas de TiO2 levou a um aumento do tamanho
médio da fase dispersa rica em PHB. A mudança na sequência da adição de nanopartículas de TiO2 permitiu guiar a
incorporação desses nanocomponentes para a fase rica em PP. As misturas produzidas se mostraram mais estáveis
termicamente do que PHB puro e a adição de TiO2 foi eficaz em aumentar a estabilidade térmica dos compósitos.
As análises termogravimétricas e por FTIR mostraram que blendas contendo nanopartículas de TiO2 tiveram sua
degradação mais afetada nos ensaios de envelhecimento acelerado. Os ensaios de extração com solvente mostraram
que um maior conteúdo de produtos de fotodegradação puderam ser extraídos de amostras contendo mais elevadas
concentrações de TiO2.
Palavras-chave: Polipropileno(PP), poli(hidroxibutirato) (PHB), compósitos, TiO2.

Effect of the Incorporation of TiO2 Nanoparticles on the Behavior of Polypropylene-


poly(hydroxybutyrate) Blends Submitted to Accelerated Aging Tests
Abstract: Polypropylene (PP) has a slow natural degradation rate. On the other hand, poly(hydroxybutyrate) (PHB) is
biodegradable but has the disadvantages of cost and difficulty of processing. The aim of this work was to evaluate the
effect of TiO2 nanoparticles, processing conditions and accelerated aging on the structure and properties of PP/PHB/

CIENTÍFICO
TiO2 mixtures. Samples were prepared by extrusion and injection molding. The incorporation of 3% TiO2 nanoparticles
led to an increase in the average size of the dispersed phase rich in PHB. Changes in the sequence of TiO2 nanoparticles
incorporation were able to guide the inclusion of nanoparticles to the PP-rich phase. The produced composites were
more thermally stable than pure PHB and the incorporation of TiO2 was effective to increase the thermal stability of the
composites. Thermal and FTIR analyses showed that blends containing TiO2 nanoparticles had their degradation more
affected by accelerated aging treatments. Solvent extraction results revealed that a larger amount of soluble products
from the photodegradation could be extracted from samples containing TiO2 submitted to accelerated aging treatments.
Keywords: Polypropylene (PP), poly(β-hydroxybutyrate) (PHB), composites, TiO2.

Introdução
Poliolefinas de alta massa molar apresentam-se pela transferência de elétrons do TiO2 fotoexcitado
pouco propícias à degradação por microrganismos. para o oxigênio molecular, seguido de um processo de
Entretanto, é sabido que polietileno pode potencialmente aniquilação de íons para formar o oxigênio singlete, o
ter sua massa molar reduzida e oxidada pela atuação de qual posteriormente ataca o polímero.
agentes pró-oxidantes[1,2]. Cadeias de mais baixa massa O poli(β-hidroxibutirato) (PHB) pode ser produzido
molar e com grupos polares poderiam, então, ser mais por microrganismos e se mostra biodegradável.
susceptíveis a biodegradação. Entretanto, sua fragilidade e baixa estabilidade térmica
Nanopartículas de TiO2 têm sido estudadas mais têm limitado sua aplicação[4]. Assim sendo, novas
recentemente devido ao seu potencial fotocatalítico[3], o abordagens, como a produção de blendas, estão sendo
qual está associado à formação de um radical aniônico estudadas[5,6].

Autor para correspondência: Rodrigo Lambert Oréfice, Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais,
Universidade Federal Minas Gerais – UFMG, Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha, CEP 31270-901, Belo Horizonte, MG, Brasil,
e-mail: rorefice@demet.ufmg.br

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polipropileno e poli(hidroxibutirato) submetidas a testes de envelhecimento acelerado

Neste trabalho foram produzidas blendas entre PP e Os corpos-de-prova foram injetados segundo norma
PHB. A presença do PP nestas blendas pode resultar em ASTM D638.
maior processabilidade e propriedades destes materiais
em relação ao PHB puro. Além disso, este trabalho Caracterização
pretendeu testar a hipótese de que nanopartículas de
Caracterização mecânica e morfológica
TiO2, além de alterar propriedades mecânicas, poderiam
acelerar particularmente a fotodegradação da fase rica em Foram realizados ensaios de tração na Máquina de
PP da blenda. Tal blenda contendo fases biodegradáveis Ensaios (EMIC-DL3000) com célula de carga de 2kN
(PHB) e fases passíveis de terem sua velocidade de e a velocidade de 50 mm/min. Os estudos morfológicos
fotodegradação aumentada (PP) poderia se estabelecer foram realizados por microscopia eletrônica de varredura
como material interessante do ponto de vista tanto (MEV, marca JEOL - JMS 6360 LV) e espectrometria
ambiental como tecnológico e econômico. de energia dispersiva de Raios-X (EDS, marca Thermo
Noran Quest). As amostras foram criofraturadas e
Experimental recobertas com ouro para a realização dos ensaios.
Materiais Termogravimetria
Foi utilizado polipropileno homopolímero Foram realizadas medidas de termogravimetria (TG)
micronizado fornecido pela empresa TRM Resinas em um termoanalisador SHIMADZU TG/DTA 60H, com
Termoplásticas com índice de fluidez igual a 25g/10min. amostras entre 4 e 6 mg de massa em temperaturas de
O dióxido de titânio (anatase) nanoparticulado com ambiente até 500°C à taxa de 20°C.min–1 sob atmosfera
tamanho de partículas menores que 25 nm e o aditivo de ar sintético.
compatibilizante PP graftizado com anidrido maleico
Espectrofotometria de absorção na região do infravermelho (FTIR)
(PP-g-MA) foram adquiridos da Sigma-Aldrich.
Os espectros de FTIR foram obtidos por refletância
Métodos total atenuada, ATR, em um espectrofotômetro
IRPrestige-21 com resolução de 4 cm–1 e 45 varreduras.
Método P1
Os polímeros micronizados PP, PHB e PP-g-MA Envelhecimento acelerado em câmara
e o dióxido de titânio foram misturados previamente e Utilizou-se uma câmara UV para ensaio de
processados em extrusora monorosca (modelo LAB 25- envelhecimento acelerado tipo EQUV da Equilam. As
30 da AX Plásticos) com diâmetro de rosca 25mm e L/ lâmpadas utilizadas emitem luz com intensidade máxima
D=30 e passaram por um único ciclo de extrusão. As no comprimento de onda 340 nm seguindo norma
blendas contendo PP/PHB/TiO2 (sempre com 10% em ASTM G154. As amostras foram submetidas a dois
massa de PHB), com adição de 1 e 3% de TiO2 e 1 e 3% ciclos alternados: um de lâmpada ligada a 70 °C durante
PP-g-MA apresentaram composição de acordo com a 8 horas e outro com lâmpada desligada e condensação
Tabela 1. Durante a extrusão, o perfil de temperaturas foi ativada a 50 °C durante 4 horas e os tempos de exposição
175/175/170/165°C e velocidade da rosca 40 rpm. empregados de 120 e 240 horas.
Método P2 Ensaios de extração de compostos lixiviáveis
O dióxido de titânio e o PP-g-MA foram inicialmente Ensaios de extração foram realizados medindo‑se
dispersos no polipropileno via extrusão. A mistura
a massa de amostras antes e após a imersão em um
foi novamente alimentada na extrusora monorosca e
solvente. Neste trabalho foi utilizada acetona e, após
acrescentado o PHB. Todas as demais condições de
a imersão por 24 horas, as amostras foram submetidas
processamento foram similares às do método P1.
à estufa para secagem no período de 8 horas à 60 °C.
Posterior à extrusão, os pellets foram processados
em uma injetora Jetmaster JN35-E com L/D igual a 20. Esta extração visou remover as moléculas fragmentadas
geradas durante o envelhecimento acelerado.
Tabela 1. Combinações (% em massa) utilizadas para preparação
das misturas. Resultados e Discussão
Amostra PP PHB PP-g-MA TiO2 Caracterização morfológica
1000 90 10
1010 89 10 1 -
Os materiais obtidos após processamento
apresentaram-se homogêneos macroscopicamente. A
1030 87 10 3 -
Figura 1a, b mostra micrografias das amostras de PP/PHB/
1011 89,1 9,9 1 1
TiO2 com diferentes concentrações de nanopartículas e
1013 86,3 9,7 1 3
obtidas a partir de dois métodos de processamento (P1
1010-D* 89 10 1 -
e P2). Observa-se a presença de duas fases distintas: a
1030-D 87 10 3 - fase contínua e uma fase dispersa esferoidal considerada
1011-D 89,1 9,9 1 1 a fase rica em PHB. A atribuição das fases foi baseada
1013-D 86,3 9,7 1 3 nas concentrações de partida dos polímeros, já que as
*Obs.: as amostras contendo letra D foram produzidas pelo método fases esferoidais estão presentes em menor quantidade
P2. (Figura 1).

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Figura 1. Imagens de MEV das misturas PP/PHB com (a) 1%TiO2 e (b) 3%TiO2 obtidas pelos métodos P1 e P2. Imagens de MEV das
misturas PP/PHB com (c) 0% de PP-g-MA e (d) 1% de PP-g-MA, obtidas pelo método P1.

A análise das imagens de MEV permitiu verificar Figura 1b e Tabela 2 para as amostras contendo 3%m/m
que a fase dispersa apresenta tamanhos menores nos de TiO2. Como a adição dos componentes pelo método
compósitos preparados pelo método P1 em relação ao P2. P2 privilegiou inicialmente o contato das nanopartículas
Para o compósito com 1%m/m de TiO2, preparado pelo de TiO2 com o compatibilizante PP-g-MA, este,
método P1, o tamanho médio da fase esferoidal foi de possivelmente, foi parcialmente consumido com as
1,71 µm e para o compósito semelhante, preparado pelo interações com as nanopartículas e sua disponibilidade
método P2, o tamanho médio da fase dispersa foi de para interação com as fases ricas em PHB foi reduzida.
2,25 µm. Uma relação semelhante pode ser observada na A presença de uma menor proporção disponível de

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compatibilizante para interagir com a fase rica em PHB foi incorporado apenas posteriormente). Tendo em vista
foi, dessa forma, responsável pelo aumento do tamanho que este trabalho visa testar o efeito pró-oxidante do TiO2
da fase dispersa. particularmente em relação ao PP, a sua maior vinculação
Os resultados obtidos e exibidos na Figura 1c, d junto à fase rica em PP, como obtido pelo método P2,
mostram que a adição de compatibilizante às blendas pode ser considerada mais útil.
provoca uma diminuição significativa do tamanho médio
da fase rica em PHB, que passa de 3 mm na blenda sem Caracterização mecânica
compatibilizante para 1 µm com a adição de 1% m/m de
A Tabela 4 mostra que a incorporação de TiO2 através
compatibilizante. Essa diminuição indica uma redução nas
do método P1 (amostras 1011 e 1013) levou a ganhos
energias interfaciais com a presença do compatibilizante
de resistência mecânica (smáx) quando tal propriedade
que favorece a estabilização de fases de menor diâmetro.
é comparada com a das amostras de blendas sem TiO2
Por outro lado, a adição de dióxido de titânio às blendas
(amostra 1010). No entanto, estes ganhos não foram
com compatibilizante levou a um aumento do tamanho
muito elevados. Aumentos mais significativos no módulo
da fase rica em PHB (Figura 1a, b). Além disso, um
e reduções na deformação na fratura também foram
empobrecimento da interface também pode ser notado
notados para amostras com TiO2 em comparação com as
através da presença de uma quantidade maior de vazios
blendas puras. Este resultado indica que as nanopartículas
nas interfaces entre as fases. Tal efeito da incorporação
de TiO2, preferencialmente localizadas nas fases ricas em
das nanopartículas pode ser associado à presença do
PHB, têm a capacidade de reforçar a fase rica em PHB
compatibilizante na interface entre PP e as nanopartículas,
e, consequentemente, colaborar para o incremento de
com a redução consequente da disponibilidade deste para
algumas das propriedades mecânicas da blenda, como
atuar na compatibilização entre PP e PHB.
módulo e resistência. O efeito do compatibilizante nas
Análises realizadas com EDS acoplado ao MEV
propriedades das blendas pode ser estudado através da
permitiram verificar semi-quantitativamente as
comparação entre as amostras 1000, 1010 e 1030 (blendas
concentrações de TiO2, assim como a localização das
com respectivamente 0, 1 e 3% de compatibilizante e
partículas nas fases ricas em PP e/ou PHB.
sem óxido de titânio). Pode-se notar que a presença
Os valores obtidos por EDS para a concentração geral
do macrocompatibilizante PP-g-MA tende a ampliar
de TiO2 nas blendas encontraram-se em boa concordância
a resistência mecânica das blendas e a deformação na
com os usados durante a preparação dos compósitos.
fratura e reduzir o módulo. Tais resultados indicam que
A Tabela 3 revela a distribuição das nanopartículas de
o macrocompatibilizante está reforçando as interações
TiO2 nas fases ricas em PHB e PP da blenda através da
interfaciais entre PP e PHB e também pode estar atuando
determinação, via EDS, da presença de Ti em cada região.
como um plastificante da matriz PP.
Pode-se observar que a obtenção do material pelo método
A Tabela 5 revela que resistência à tração das
P1 tendeu a direcionar o TiO2 para a fase rica em PHB,
amostras processadas pelo método P2 apresentou
provavelmente devido ao fato de que a fase rica em PHB
redução de aproximadamente 15% em relação às
apresenta-se mais polar (PHB tem grupos ésteres) que a
amostras processadas pelo método P1. Redução também
fase rica em PP e, por isso, com maior afinidade com as
no módulo foi notada para as amostras processadas pelo
nanopartículas hidrofílicas.
método P2, em relação àquelas processadas pelo método
A utilização do método P2 forçou a obtenção de um
P1 (com a exceção da amostra com 3% de nanopartículas,
material com maior concentração de TiO2 na fase rica
a qual apresentou significativo aumento no módulo,
em PP, já que este método envolveu uma etapa inicial
mas perdas sensíveis na resistência e deformação na
de mistura entre PP e TiO2 na ausência do PHB (o qual
ruptura). A percepção de redução das propriedades a
Tabela 2. Relação entre o tamanho das fases e o método de partir do uso do método P2 pode ser explicada pelo fato
processamento dos compósitos PP/PHB/TiO2. de que o método P2 envolve duas etapas de extrusão (a
Amostras Tamanho médio das fases
primeira na qual ocorre a mistura entre PP, nanopartículas
ricas em PHB (µm) e compatibilizante e uma segunda etapa na qual esta
1010 1,22 ± 0,2 primeira mistura é novamente extrudada juntamente
1011 1,75 ± 0,18
com PHB). Este reprocessamento, associado à uma mais
longa exposição a altas temperaturas e cisalhamento mais
1011-D 2,25 ± 0,44
estendido, poderia levar a degradação do PP com redução
1013 2,38 ± 0,17
da massa molar (como observado por outros estudos
1013-D 2,89 ± 0,19 para PP[7,8]) com o consequente comprometimento das

Tabela 3. Concentração dos elementos nas diferentes fases dos compósitos PP/PHB/TiO2 contendo variações da porcentagem de
dióxido de titânio (1 e 3%m/m) e do método de processamento (P1 e P2) obtidas por EDS.
%m/m C(PP) C(PHB) O(PP) O(PHB) Ti(PP) Ti(PHB)
1011 94,40±4,0 93,62±4,0 4,82±0,5 5,34±0,5 0,78±0,5 1,04±0,5
1011-D 93,45±2,9 93,06±2,4 5,24±0,4 6,17±0,3 1,31±0,4 0,77±0,2
1013 92,92±2,8 84,95±2,5 6,43±0,3 6,31±2,4 0,65±0,3 8,74±0,9
1013-D 88,49±1,8 91,68±1,9 8,01±0,3 5,36±0,2 3,50±0,4 2,96±0,4

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propriedades mecânicas. Além disso, nanopartículas proteger a fase dispersa rica em PHB do contato com o
hidrofílicas, como as usadas neste trabalho seriam mais meio oxidante. Os materiais produzidos pelo método P1
bem sucedidas em interagir com fases mais polares (como apresentaram temperaturas de degradação mais elevadas
o PHB) o que resultaria em maior eficiência de reforço do que aquelas produzidas pelo método P2 (Figura 2b).
gerado pelo método P1 que favorece a concentração Isso provavelmente está associado à redução de tamanho
destas nanopartículas nas fases ricas em PHB. das fases esféricas e mais alta adesão interfacial dos
materiais preparados pelo método P1 como observados
Análise termogravimétrica nos resultados por MEV. Além disso, o reprocessamento
das blendas associado ao método P2 pode promover uma
As análises termogravimétricas (TG) dos materiais inicial termodegradação durante as próprias operações de
mostraram que PP é mais estável termicamente que o PHB extrusão mais acentuada do que nas blendas derivadas do
(Figura 2a). As blendas PP/PHB são mais estáveis que o método P1, que sofreram apenas uma etapa de extrusão.
PHB, apresentando dois estágios de perda de massa. As Nas blendas com a variação da porcentagem de TiO2,
curvas para as blendas indicaram que o primeiro estágio pode-se notar, na Tabela 6, que a adição de TiO2 promoveu
de perda de massa é relativo à degradação das cadeias aumento na estabilidade térmica das blendas quando se
do PHB[9], enquanto o segundo estágio é relativo às do usa a temperatura de degradação a perda em massa de
PP. O ganho em estabilidade térmica para as blendas 50% (T50) como parâmetro[10]. Este comportamento foi
em relação ao PHB puro aponta que o PP e o PHB observado também por outros estudos[11,12] em sistemas
interagem, alterando a degradação de ambos e levando parecidos.
o sistema a uma estabilidade térmica superior à do PHB
puro. Além disso, a matriz de PP atua de tal forma a Efeito do tratamento em câmara de envelhecimento na
estrutura dos nanocompósitos
Tabela 4. Resultado dos ensaios de resistência à tração de
amostras obtidas pelo método P1. A Figura 3 exibe as curvas termogravimétricas para
Amostras σmáx (MPa) ε (%) E (GPa)
amostras com a adição de 1% de TiO2 e submetidas a
tempos de 0 a 240 h de exposição ao envelhecimento
0000* 31,28±0,4 19,84±0,1 1,58±0,5
acelerado. Observa-se que a adição de TiO2 resultou em
1000 29,88±0,5 16,30±0,1 1,83±0,5 uma redução das temperaturas de degradação de forma
1010 29,90±0,5 16,13±0,1 1,85±0,5 proporcional ao tempo de exposição ao envelhecimento
1030 30,40±0,5 18,93±0,1 1,61±0,5 acelerado. A Tabela 7 compara estes resultados com o das
1011 30,44±0,5 13,50±0,1 2,25±0,5 amostras sem TiO2 e sugere que a adição de TiO2 favorece
1013 30,55±0,7 13,39±0,1 2,28±0,5 a degradação das blendas, gerando, após envelhecimento
*referente PP puro. acelerado, novas moléculas dotadas de arquiteturas
químicas diferentes das originais.
Tabela 5. Resultado dos ensaios de resistência à tração de
amostras obtidas pelo método P2. Tabela 6. Resultados obtidos nas análises TG com e sem TiO2.
Amostras σmáx (MPa) ε (%) E (GPa) Amostra % TiO2 T50 (°C) T95 (°C) Resíduo 500°C
1010-D 26,94±0,5 12,41±0,1 2,14±0,5 (em peso) (em peso)
1030-D 26,32±0,6 17,86±0,1 1,47±0,5 1010 0 375 415 0,06
1011-D 26,98±0,5 13,66±0,1 1,98±0,5 1011 1 385 426 1,05
1013-D 24,47±0,8 7,14±0,1 3,43±0,5 1013 3 390 433 3,03

Figura 2. Curvas TG de: (a) PHB e PP; (b) compósito PP/PHB (90/10) com 1 e 3%m/m TiO2 produzidos pelos métodos P1 e P2
(amostras identificadas com “D” foram processadas pelo método P2).

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Figura 3. Curvas TG das blendas com 1% de TiO2 e com


variação do tempo de degradação. Figura 4. Espectros FTIR-ATR do PP/PHB na proporção de
90/10 com 1% de compatibilizante e 1% de TiO2, amostra 1011,
Tabela 7. Influência do tempo de envelhecimento nas submetido a envelhecimento acelerado por 0, 120 e 240 horas.
temperaturas de degradação térmica (T50) nas blendas 1010 e
1011 (com e sem TiO2).
T50 (°C)/ Amostras Tempo de
envelhecimento
acelerado (horas)
0 120 240
T50 (°C) amostra 1010 (sem TiO2) 384 380 380
T50 (°C) amostra 1011 (com 1% TiO2) 384 376 372

Na Figura 4 têm-se os espectros normalizados de FTIR


da blenda contendo 10% de PHB, 1% de compatibilizante
e 1% de TiO2 (amostra 1011) e submetida a diferentes
tempos de envelhecimento acelerado. Na região próxima
a 1700 cm–1 destes espectros normalizados pode-se
observar o aumento na absorção da banda correspondente
ao estiramento da ligação C=O em 1722 cm–1 com o
aumento do tempo de degradação nas amostras analisadas.
A formação de grupos carbonílicos ocorre principalmente
através da cisão-β de radicais peroxílicos e alcoxílicos[13].
Muthukumar et al.[14], analisando degradação de blendas Figura 5. Perda de massa (em %) após ensaios de extração em
poliolefínicas com amido e aditivos pró-oxidantes, solvente de amostras com diferentes conteúdos de TiO2 não
envelhecidas e envelhecidas por 240 h.
observou que o aumento da intensidade das bandas
características dos grupos carbonila e ésteres mostra
claramente que esta acontecendo foto-oxidação. porcentagem de TiO2, evidenciando, assim, a influência
Assim sendo, a acentuação de bandas de absorção deste componente no sistema. Este resultado sugere
na região de 1700–1780 cm–1 da carbonila (C=O) indica o aumento da formação de produtos lixiviáveis com a
a foto-oxidação do PP e que as nanopartículas de TiO2 presença das nanopartículas de TiO2 que poderia estar
podem estar colaborando no processo de fotodegradação. relacionado aos produtos de fotodegradação do material,
Estudo de Oliani et al.[15] atribuiu aumento da absorção gerados de forma mais acelerada graças à atuação do TiO2.
na região 1705–1730 cm–1 para oxidação da cadeia de Amostras não envelhecidas contendo óxido de titânio não
PP exposto a uma fotodegradação acelerada de 240 h, apresentaram alteração significativa de massa devido aos
corroborando com os resultados encontrados neste ensaios de extração em acetona (Figura 5).
trabalho.
Conclusão
Ensaios de extração de compostos lixiviáveis Foi demonstrada a viabilidade de se processar blendas
A Figura 5 mostra a perda de massa (em %) após de PP com 10% m/m de PHB por métodos tradicionais de
a extração em acetona de amostras não envelhecidas e processamento como extrusão e moldagem por injeção
envelhecidas por 240 horas. Pode-se observar que, com sem que a processabilidade em relação ao PP tenha
a adição de TiO2, houve aumento da perda de massa sido drasticamente alterada. A alteração na sequência
das amostras envelhecidas proporcional ao aumento da de adição das nanopartículas de TiO2 durante as etapas

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de processamento termomecânico permitiu guiar a 5. Erceg, M.; KovacÏic, Â. T. & Klaric, Â. – Polym. Degrad.
incorporação desses nanocomponentes para a fase rica Stab.,  90, p.86 (2005). http://dx.doi.org/10.1016/j.
em PP. Observou-se um aumento no diâmetro médio polymdegradstab.2005.02.014
da fase dispersa quando etapas de extrusão múltiplas 6. Yu, L.; Dean, K. & Li, L. – Prog. Polym. Sci., 31, p.576
foram usadas. As propriedades mecânicas das blendas se (2006).
mostraram similares às do PP puro, com tendências para 7. Martins, M. H. & De Paoli, M. A. – Polym. Degrad.
aumento do módulo e da resistência mecânica e redução Stab., 71, p.293 (2001).
da deformação na ruptura quando da incorporação das 8. Santos, P. A.; Oliveira, M. N.; Paoli, M.-A.; Freitas, V. G.,
nanopartículas de TiO2 preferencialmente na fase rica & Rosa, D.S. – Polímeros, 23, p.432 (2013)
em PHB. As blendas PP/PHB produzidas se mostraram
9. Aoyagi, Y.; Yamashita, K. & Doi, Y. – Polym. Degrad.
termicamente mais estáveis que o PHB. Resultados de
Stab.,  76, p.53 (2002). http://dx.doi.org/10.1016/S0141-
FTIR e análise termogravimétrica mostraram que blendas
3910(01)00265-8
contendo nanopartículas de TiO2 tiveram suas estruturas
mais afetadas nos ensaios de envelhecimento acelerado 10. Mina, F.; Seema, S.; Matin, R.; Rahaman, M. J.; Sarker, R.
do que blendas sem a presença dos nanocomponentes. B.; Gafur, M. A. & Bhuiyan, M. A. H. – Polym. Degrad.
O ensaio de extração por solvente mostrou que amostras Stab.,  94, p.183 (2009). http://dx.doi.org/10.1016/j.
contendo TiO2 apresentaram maior conteúdo lixiviável polymdegradstab.2008.11.006
após terem sido submetidas aos ensaios de envelhecimento 11. Rault, F.; Pleyber, E.; Campagne, C.; Rochery, M.;
acelerado do que as mesmas amostras não envelhecidas. Giraud, S.; Bourbigot, S. & Devaux, E. – Polym. Degrad.
Stab,  94, p.955 (2009). http://dx.doi.org/10.1016/j.
Agradecimentos polymdegradstab.2009.03.012
12. Laachachi, A.; Ferriol, M.; Cochez, M.; Ruch, D. & Lopez-
Os autores agradecem o apoio financeiro recebido do
Cuesta, J.-M. – Polym. Degrad. Stab., 93, p.1131 (2008).
CNPq, CAPES e FAPEMIG.
http://dx.doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2008.03.006
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org/10.1016/j.polymdegradstab.2006.01.008 Aceito: 16/01/14

Polímeros, vol. 24, n. 3, p. 395-401, 2014 401

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