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Disciplina: Tratamento de Efluentes Líquidos

da Indústria Mineral / Metal Mecânica


PPGE3M-UFRGS

Lagoas de Estabilização

Ivo André Homrich Schneider

Porto Alegre, RS
2022
Definição

As lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a


estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica
(oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução fotossintética de
algas.

Lagoa de estabilização facultativa


Fonte: http://www.logicambiental.com.br/lagoa-facultativa/
De acordo com a forma predominante pela qual se dá a estabilização da matéria
orgânica a ser tratada, as lagoas costumam a ser classificadas em:

Anaeróbias – nas quais predominam processos de fermentação anaeróbia - imediatamente abaixo


da superfície não existe oxigênio orgânico dissolvido.

Facultativas – nas quais ocorrem, simultaneamente, processos de fermentação anaeróbia, oxidação


aeróbia e redução fotossintética - uma zona anaeróbia de atividade bêntica é sobreposta por uma
zona aeróbia de atividade biológica, próxima a superfície.

Estritamente aeróbias – nas quais se chega a um equilíbrio da oxidação e da fotossíntese para


garantir condições aeróbias em todo o meio

Aeradas – nas quais se introduz oxigênio no meio líquido através de um sistema mecanizado de
aeraçao. As lagoas aeradas podem ser estritamente aeradas ou facultativas. As lagoas aeradas
devem ser seguidas de uma lagoa de decantação.

De maturação – usadas como refinamento do tratamento prévio por lagoas ou outro processo
biológico – reduz bactérias, sólidos em suspensão, nutrientes e uma parcela negligenciável da DBO.

Com macrófitos – usadas como polimento final de um tratamento por lagoas, com o objetivo de
reduzir nutrientes, sólidos em suspensao e a DBO remanescente.
Lagoa aerada

Lagoa com macrófitos


Arranjos típicos de lagoas de estabilização.

→ facultativa →

→ facultativa → maturação →

→ anaeróbia → facultativa → maturação →

→ aeróbia aerada mecanicamente → facultativa (decantação) → maturação →

→ tratamento primário → facultativa → maturação


Lagoas Facultativas
Funcionamento

O tratamento do efluente ocorre através de processos naturais em 3 zonas:


- Zona anaeróbia
- Zona facultativa
- Zona aeróbia

Lagoa de estabilização facultativa


Fonte: von Sperling, 2002.
Por ser um processo essencialmente natural, a estabilização da matéria orgânica se
processo em taxas mais lentas, implicando na necessidade de um elevado tempo de
detenção na lagoa (usualmente superior a 20 dias). A fotossíntese, para que seja efetiva,
necessita de uma elevada área de exposição para o melhor aproveitamento da energia
solar. Assim, a área total requerida pelas lagoas facultativas é a maior dentre todos os
processos de tratamento biológico. Por outro lado, é o de maior simplicidade
operacional.

Principais características:
- Cor verde devido a presença de algas
- Elevado teor de oxigênio dissolvido
- Presença de sólidos em suspensão, embora praticamente nenhum seja sedimentável.

- Influencia das condições ambientais

• radiação solar (afeta a taxa de fotossíntese)


• temperatura (afeta as taxas de fotossíntese, de decomposição bacteriana,
solubilidade e transferência de gases e condições de mistura)
• vento (afeta as condições de mistura e a aeração atmosférica)
Critérios para projeto

Os principais parâmetros de projeto das lagoas facultativas sao:

Taxa de aplicação superficial → baseia-se na necessidade de se ter uma


determinada área de exposição à luz solar na lagoa, para que o processo de
fotossíntese ocorra. Relaciona-se à atividade de algas.

Tempo de detenção → diz respeito ao tempo necessário para que os


microrganismos procedam à estabilização da matéria orgânica. Relaciona-se a
atividade de bactérias.
Taxa de aplicação superficial

L
A =
Ls
Recomenda-se área de até 15 ha
Onde:
A – área requerida para a lagoa (ha)
L – carga de DBO total (solúvel + particulada) afluente (kg DBO5 dia-1)
Ls – taxa de aplicação superficial (kg DBO5 ha-1 dia-1)

Valores adotados no Brasil


- Regiões de inverno quente e elevada insolação – Ls = 240 a 350 kg DBO5 ha-1 dia-1
- Regiões com inverno e insolação moderados – Ls = 120 a 240 kg DBO5 ha-1 dia-1
- Regiões com inverno frio e baixa insolação - Ls = 100 a 180 kg DBO5 ha-1 dia-1

Equações

Ls = 50 . 1,072T (Equação de Mara e Pearson)


onde T = temperatura média do ar, oC

Ls = 350 . (1,107 − 0,002 . T)(T −25) (Equação de Mara)


onde T = temperatura média do líquido no mês mais frio, oC
Tempo de detenção

V =t. Q

Onde:
V – volume requerido para a lagoa (m3)
t – tempo de detençao (dias)
Q – vazao média afluente (m3 dia-1)
Adota-se t de 15 a 45 dias

Profundidade

V
H =
A

Onde:
H – profundidade (m)
V – volume requerido para a lagoa (m3)
A – área requerida para a lagoa (m2)
A tendência atual é de adotar H entre 1,5 a 3,0 m
Estimativa da Concentração Efluente de DBO

A remoção de DBO processa-se segunda uma reação de 1ª ordem (na qual taxa da reação
é diretamente proporcional à concentração de substrato)

Equações referentes a concentração de DBO solúvel no efluente (S)

Fluxo pistão
S′ = So . 𝑒 −K.t Onde:
So – concentração de DBO total afluente (mg L-1)
S - concentração de DBO total efluente (mg L-1)
Lagoas em série k – coeficiente de remoção de DBO (dias-1)

So t – tempo de detenção total (dias)
S =
t n n – número de lagoas em série
1 + k. n
K = 0,30 a 0,35 dias-1 (20oC)

Mistura completa Para temperatura diferentes, o valor de k pode ser


So corrigido pela seguinte equação
S′ =
1 + k. t 𝐾𝑡 = 𝐾20. Ɵ 𝑇 −20

Eficiência de remoção de DBO T - temperatura


Ɵ ≈ 1,05 p/ k = 0,30 (dados da literatura)
So −S
E = . 100
So
Acúmulo de lodo

Taxa de acúmulo típico

0,03 a 0,08 m3 hab-1 ano-1

ou

1,5 a 2,3 cm ano-1.


Exemplo de dimensionamento

Dimensionar uma lagoa facultativa com base nos seguintes dados:

• vazão afluente = 3000 m3 dia-1


• DBO afluente (So) = 350 mg L-1
• temperatura = 16 oC (líquido no mês mais frio)

• Sólidos suspensos (SS) no efluente = 100 mg L-1


• cada 1 mg SS L-1 ≈ 0,35 mg de DBO L-1
Solução

(a) Cálculo da carga afluente de DBO5

(b) Taxa de aplicação superficial


(c) Cálculo da área requerida

(d) Adoção de um valor para profundidade

(e) Volume resultante

(f) Tempo de detenção


(g) Estimativa da concentração efluente de DBO (reator de mistura completa)
(g) Dimensões da lagoa
(g) Acumulação de lodo

A acumulação pode ser desprezível face à profundidade de 2,0 m.


Exemplo de dimensionamento

Dimensionar uma lagoa facultativa, pelo método de Gloyna, com base nos
seguintes dados:

• vazão afluente = 3000 m3 dia-1


• DBO afluente (So) = 350 mg L-1
• temperatura = 16 oC (líquido no mês mais frio)
Solução:

(a) Cálculo da carga afluente de DBO5


Referência
Von Sperling, M. Lagoas de estabilização. 2.ed. Belo Horizonte, UFMG, 1996.

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