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CONFERÊNCIAS AMBIENTAIS ..................... 12 GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO........................

46

Estocolmo e Eco-92........................................................... 12 Conceitos gerais.................................................................. 46

Rio+10, Rio+20 e Protocolo de Montreal............... 14 Teorias demográficas e


transição demográfica..................................................... 48
Conferências climáticas ................................................. 16
Pirâmides etárias................................................................. 50

Migrações................................................................................ 52
GEOGRAFIA AGRÁRIA...................................... 18
População brasileira........................................................... 54
Sistemas agrícolas.............................................................. 18

Agricultura moderna e orgânica................................. 20


BIOMAS................................................................. 56
Modernização da agricultura no Brasil.................... 22
Características Gerais....................................................... 56
Estrutura Fundiária, Revolução
Verde e conflitos agrários............................................... 24 Floresta Tropical, Savanas, Mediterrâneo,
Estepes, Desertos, Altas Montanhas....................... 58
Problemas ambientais no campo .............................. 26
Biomas brasileiros............................................................... 60

INDÚSTRIA MUNDIAL....................................... 28

Tipos de indústrias e modelos


de industrialização.............................................................. 28

Evolução do processo de industrialização............. 30

Organização da produção industrial......................... 32

Tecnopolos e dispersão industrial............................. 34

GEOGRAFIA URBANA....................................... 36

Conceitos urbanos (Parte 1).......................................... 36

Conceitos urbanos (Parte 2).......................................... 38

Segregação urbana, metropolização


e gentrificação...................................................................... 40

Urbanização do espaço mundial................................. 42

Planejamento urbano........................................................ 44
ASSUNTO 17 CONFERÊNCIAS AMBIENTAIS
Conferências climáticas

Conferências climáticas (COPs) COP-15


A COP-15 ocorreu em Copenhague, na Dinamarca, em
As conferências climáticas são conhecidas como
dezembro de 2009. Esse encontro iniciou sob muita
Conferências das Partes, ou COPs, tendo como objetivo
expectativa pela assinatura de um acordo climático que
principal o debate de ações fundamentais para a preservação
realmente conseguisse substituir o Protocolo de Kyoto e
do clima planetário a partir da redução das emissões de
reduzisse definitivamente o aquecimento global. Porém
carbono para limitar o aquecimento global. Ela foi estabelecida
esse acordo não ocorreu, tendo como maior dificuldade o
durante a Eco-92, pela percepção durante esse encontro da
conflito de interesses entre os países desenvolvidos e
complexidade do debate acerca do clima. Sua primeira edição
subdesenvolvidos acerca dos níveis de redução das emissões.
ocorreu em 1995, em Berlim na Alemanha, tendo sua
No final da reunião foi estabelecida a meta de limitar o
ocorrência, desde lá, anualmente.
aquecimento global ao máximo de 2 °C em relação aos
COP-3 níveis pré-industriais.
O primeiro importante documento produzido por uma COP-18
COP (COP-3) foi o Protocolo de Kyoto, objetivando a redu- A COP-18 foi realizada em dezembro de 2012, em Doha
ção das emissões dos gases estufas. Ele estabelece a redução no Catar. Representantes de 190 países não conseguiram
das emissões de dióxido de carbono (CO₂), que responde mais uma vez fechar um acordo acerca do combate ao aque-
por 76% do total das emissões relacionadas ao aquecimento cimento global, e para evitar um fracasso absoluto dessa
global, e outros gases do efeito estufa, nos países desenvol- reunião, foi tomada a decisão de prorrogar a validade do
vidos. Os signatários se comprometeriam a reduzir a emis- Protocolo de Kyoto até 2020. Nesse encontro temas como
são de poluentes em 5,2% em relação aos níveis de 1990. ajuda financeiras aos países mais pobres e redução das emis-
A redução ocorreria entre 2008 e 2012. sões de gases estufas não foram amplamente debatidos,
Um aspecto importante do protocolo é que apenas os mais uma vez em função do antagonismo de interesses entre
países ricos são obrigados a reduzir suas emissões. Países os países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, grandes
emissores de poluentes, podem participar do acordo, mas
não são obrigados a nada. O conceito básico acertado para
Kyoto é o da ‘’responsabilidade comum, porém diferenciada’’
- o que significa que todos os países têm responsabilidade
no combate ao aquecimento global, porém aqueles que mais
contribuíram historicamente para o acúmulo de gases na
atmosfera (ou seja, os países industrializados) têm obriga-
ção maior de reduzir suas emissões.
Os EUA desistiram do tratado em 2001, alegando que
o pacto era caro demais e excluía de maneira injusta os Disponível em: https://veja.abril.com.br. Acesso em: 10 dez. 2018.
países em desenvolvimento. O presidente norte-americano,
George W. Bush alegava ausência de provas de que o COP-21
aquecimento global esteja relacionado à poluição industrial. Essa conferência climática, realizada em Paris, em dezembro
Ele também argumenta que os cortes prejudicariam a de 2015 foi responsável pelo estabelecimento do principal
economia do país, altamente dependente de combustíveis documento que aponta os caminhos para amenizar as mudanças
fósseis. Em vez de reduzir emissões, os EUA preferiram climáticas provocadas pela ação humana. O Acordo de Paris
trilhar um caminho alternativo e apostar no desenvolvimento busca limitar o aumento da temperatura global em 2 °C em
de tecnologias menos poluentes. relação aos níveis pré-industriais, com ações que visam substituir
Um mecanismo importante estabelecido no artigo o uso de fontes emissoras de gases estufas.
12 do Protocolo de Kyoto, foi o MDL (Mecanismo de Um total de 196 países assinaram esse acordo, tendo os
Desenvolvimento Limpo) visando a promoção do Estados Unidos abandonado durante o governo de Donald
desenvolvimento sustentável em países subdesenvolvidos Trump. Esse cenário foi alterado com a eleição de Biden,
através do estímulo a produção de energia limpa, como a solar retornando com a promessa do país zerar as emissões de
e a gerada a partir de biomassa, e remover o carbono da dióxido de carbono na geração de eletricidade até 2050.
atmosfera. O MDL permite que países desenvolvidos invistam Caso um país signatário não cumpra os termos do acordo
em projetos (energéticos ou florestais) de redução de emissões ele não sofrerá nenhuma punição, visto que ele representa
e utilizem os créditos para reduzir suas obrigações: cada uma carta de intenção de cooperação mundial para redução
tonelada deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera poderá do aquecimento. Segundo a ONU, nenhum país pode obrigar
ser adquirida pelo país que tem metas de redução a serem outro ao cumprimento de um documento. O que geralmente
atingidas. Cria-se assim um mercado mundial de Reduções ocorre quando há o descumprimento por parte de um
Certificadas de Emissão (RCE). Alguns pesquisadores e membro, é sua suspensão de acordos comerciais. Essa prática
cientistas apontam a possibilidade de os países desenvolvidos é mais restrita a relação diplomática direta entre os países,
usarem o MDL como pretexto para continuar poluindo. sem qualquer tipo de previsão no acordo.

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GEOGRAFIA

No contexto das distintas formas de apropriação da terra, criações são praticados, quais são as técnicas utilizadas, como
o poema de Cora Coralina valoriza a relação entre é a relação com o espaço e qual é o destino da produção.
a) grileiros e controle territorial. Existem muitas classificações de sistemas agrários, pois os
critérios para a definição variam de acordo com o autor ou a
b) meeiros e divisão do trabalho.
organização que os classifica. Além disso, os sistemas agrários
c) camponeses e uso da natureza. são diferentes conforme a região do globo ou a sociedade,
d) indígenas e manejo agroecológico. sua cultura e nível de desenvolvimento econômico.
CAMPANHOLA, C.; Silva, J. G. O novo rural brasileiro: uma análise
e) latifundiários e fertilização do solo. nacional e regional. Campinas: Embrapa/Unicamp, 2000 (adaptado).
02. (Enem) Dentro desse contexto, o sistema agrário tradicional tem
como características principais o predomínio de pequenas
propriedades agrárias, utilização de técnicas de cultivo
minuciosas e de irrigação, e sua produção é destinada pre-
ferencialmente ao consumo local e regional. Essa descrição
corresponde a que sistema agrícola?
a) Plantations. d) Agricultura itinerante.
b) Sistema de roças. e) Agricultura de
c) Agricultura orgânica. jardinagem.

05. (Enem) O processo de modernização da agricultura


brasileira resultou em profundas modificações nas rela-
ções sociais, no mundo do trabalho e da produção. Mas
Disponível em: http://bp.blogspot.com. Acesso em: 24 ago. 2011.
a modernização teve também como consequência, num
Na imagem, visualiza-se um método de cultivo e as trans- modelo social perverso como o nosso, a permanência da
formações provocadas no espaço geográfico. O objetivo concentração da terra, o êxodo rural, aumentou o processo
imediato da técnica agrícola utilizada é de assalariamento para o homem rural, concentrou capitais
e gerou um processo de industrialização da agricultura,
a) controlar a erosão laminar.
direcionada para atender às demandas do capital nacional
b) preservar as nascentes fluviais.
e internacional.
c) diminuir a contaminação química. MENEZES NETO, A. J. Educação, sindicalismo
d) incentivar a produção transgênica. e novas tecnologias nos processos sociais agrários.
Disponível em: http://www.senac.br. Acesso em: 10 fev. 2014.
e) implantar a mecanização intensiva. Nesse contexto, o processo apresentado revela contradições
no espaço agrário brasileiro decorrentes da expansão da
03. (Enem 2022) O equilíbrio ecológico e social do caipira
se estabeleceu em função do que poderíamos qualificar de a) produção familiar.
condições primitivas do meio: terra virgem de fácil ama- b) reforma fundiária.
nho, abundância da caça, pesca e coleta, fraca densidade c) lavoura comercial.
demográfica, limitando a concorrência vital. Quando, apesar d) pastagem extensiva.
disto, um determinado meio se exauria (relativamente aos e) segurança alimentar.
seus precários recursos técnicos, é claro, não em absoluto),
06. (Enem) A agricultura ecológica e a produção orgânica
ele corrigia a situação pela mobilidade. A mobilidade recria
o meio, permitindo as condições desejadas; e deste modo de alimentos estão ganhando relevância em diferentes
garante o equilíbrio. partes do mundo. No campo brasileiro, também acontece
CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito. São Paulo: Duas Cidades, o mesmo. Impulsionado especialmente pela expansão da
1971. demanda de alimentos saudáveis, o setor cresce a cada ano,
embora permaneça relativamente marginalizado na agenda
A construção do sujeito histórico mencionado pelo autor
de prioridades da política agrícola praticada no país.
problematiza a relação entre AQUINO, J. R.; GAZOLLA, M.; SCHNEIDER, S.
a) agricultura familiar e dinamização do mercado local. In: SAMBUICHI, R. H. R. et al. (Org.). A política nacional de
agroecologia e produção orgânica no Brasil: uma trajetória de luta
b) comunidades autônomas e garantia de direitos sociais. pelo desenvolvimento rural sustentável. Brasília: Ipea, 2017 (adaptado).
c) cultivos itinerantes e disponibilidade de riquezas Que tipo de intervenção do poder público no espaço rural
naturais. é capaz de reduzir a marginalização produtiva apresentada
d) cercamento de latifúndios e proletarização de setores no texto?
camponeses. a) Subsidiar os cultivos de base familiar.
e) condições de competitividade e ampliação da agroin- b) Favorecer as práticas de fertilização química.
dústria moderna. c) Restringir o emprego de maquinário moderno.
04. (Enem) Um sistema agrário é um tipo de modelo de d) Controlar a expansão de sistemas de irrigação.
produção agropecuária em que se observa que cultivos ou e) Regulamentar o uso de sementes selecionadas.

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GEOGRAFIA

a) aumento da geração de riquezas nas propriedades b) do crescimento do mercado interno para produtos
agrícolas. industrializados de maior valor agregado, em detrimento
b) crescimento da oferta de empregos nas áreas cultiváveis. das exportações.
c) integração dos diferentes lugares nas cadeias produtivas. c) da maior participação de commodities na pauta exporta-
dora paralelamente ao declínio da exportação de produtos
d) redução das desigualdades sociais nas regiões agrárias.
industrializados.
e) ocorrência de crises financeiras nos grandes centros.
d) da estagnação da pauta exportadora de produtos
02. (Enem) Participei de uma entrevista com o músico Renato semimanufaturados em virtude do crescimento das
Teixeira. Certa hora, alguém pediu para listar as diferenças commodities minerais.
entre a música sertaneja antiga e a atual. A resposta dele
04. (Enem) Ao longo dos últimos 500 anos, o Brasil viu
surpreendeu a todos: “Não há diferença alguma. A música
suas fronteiras do litoral expandirem-se para o interior. É
caipira sempre foi a mesma. É uma música que espelha a
apenas lógico que a Amazônia tenha sido a última fronteira
vida do homem no campo, e a música não mente. O que
a ser conquistada e submetida aos ditames da agricultura,
mudou não foi a música, mas a vida no campo”. Faz todo
pecuária, lavoura e silvicultura. A incorporação recente das
sentido: a música caipira de raiz exalava uma solidão, um
áreas amazônicas à exploração capitalista tem resultado em
certo distanciamento do país “moderno”. Exigir o mesmo de
implicações problemáticas, dentre elas a destruição do rico
uma música feita hoje, num interior conectado, globalizado
patrimônio natural da região.
e rico como o que temos, é impossível. Para o bem ou para NITSCH, M. O futuro da Amazônia: questões críticas, cenários críticos.
o mal, a música reflete seu próprio tempo. Estudos Avançados, n. 46, dez. 2002.
BARCINSKI. A. Mudou a música ou mudaram os caipiras?
Folha de São Paulo, 4 jun. 2012 (adaptado). Na situação descrita, a destruição do patrimônio natural
dessa área destacada é explicada pelo(a)
A questão cultural indicada no texto ressalta o seguinte a) distribuição da população ribeirinha.
aspecto socioeconômico do atual campo brasileiro:
b) patenteamento das espécies nativas.
a) Crescimento do sistema de produção extensiva.
c) expansão do transporte hidroviário.
b) Expansão de atividades das novas ruralidades.
d) desenvolvimento do agronegócio.
c) Persistência de relações de trabalho compulsório.
e) aumento da atividade turística.
d) Contenção da política de subsídios agrícolas.
e) Fortalecimento do modelo de organização cooperativa. 05. (FFFCMPA) Os transgênicos são organismos resultantes
do cruzamento de material genético de espécies diferen-
03. (Unicamp) tes. A busca, através do cruzamento de novas variedades
BRASIL - Evolução da participação relativa das vegetais, a fim de se obterem plantas mais produtivas ou
exportações por fator agregado (2005 - 2015) resistentes a pragas, é antiga e habitual na agricultura de
todas as sociedades. As técnicas modernas de Engenharia
60,0 Genética permitem que se retirem genes de um organismo
50,0 e se transfiram para uma outra espécie. Esses genes “estran-
geiros” modificam a sequência de DNA — que contém as
40,0
características de um ser vivo, o organismo receptor, que
30,0 sofre um tipo de reprogramação, transformando-se em uma
20,0 nova espécie. Esses novos seres são os chamados organismos
geneticamente modificados (OGMs). Soja combinada com
10,0
bactéria, milho combinado com escorpião, peixes com gene
0,0 de morango são algumas das estranhas misturas que se tor-
2005 2007 2009 2011 2013 2015
naram realidade pelas técnicas da Engenharia Genética que
Básicos permitem cruzamentos que antes não existiam na natureza.
Semimanufaturados
Manufaturados O principal interesse econômico nessa técnica é
a) criar espécies mais resistentes a pragas e mais adaptadas
LAMOSO, Lisandra Pereira. Reprimarização no Território Brasileiro,
Espaço e Economia. v. 19, 2020 (adaptado).
às diferenças pedológicas e climáticas.
b) impedir que o fruto ou grão de uma variedade comercial
O gráfico anterior indica a tendência de reprimarização do se torne uma semente, exterminando assim o potencial
território brasileiro, processo este derivado reprodutivo daquela planta.
a) do declínio da produção e exportação de commodities c) garantir a qualidade do produto para as futuras
agrícolas em virtude do avanço da quarta revolução gerações.
industrial.
d) impedir que pragas interfiram na produtividade e assim
garantir alimentos para a espécie humana.

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GEOGRAFIA

03. (Enem) Os agrotóxicos estão entre os principais instru- 06. (Enem) A expansão da fronteira agrícola chega ao
mentos do atual modelo da agricultura brasileira, centrado semiárido do Nordeste do Brasil com a implantação de
em ganhos de produtividade. Tendem a acumular-se no solo empresas transnacionais e nacionais que, beneficiando-se
e na biota, e seus resíduos podem chegar às águas super- do fácil acesso à terra e água, se voltam especialmente para
ficiais, por escoamento, e às subterrâneas, por lixiviação. a fruticultura irrigada e o cultivo de camarões. O modelo
O uso intensivo dos agrotóxicos está associado a agravos à de produção do agro-hidronegócio caracteriza-se pelo
saúde da população, tanto dos consumidores dos alimentos cultivo em extensas áreas, antecedido pelo desmatamento
quanto dos trabalhadores que lidam diretamente com os e consequente comprometimento da biodiversidade.
produtos, à contaminação de alimentos e à degradação do Disponível em: www abrasco.org.br.
Acesso em: 22 out. 2015 (adaptado).
meio ambiente.
IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável:
Brasil 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2015 (adaptado).
As atividades econômicas citadas no texto representam uma
inovação técnica que trouxe como consequência para a região a
Uma ação com potencial para atenuar os problemas socioam- a) intensificação da participação no mercado global.
bientais apresentados é b) ampliação do processo de redistribuição fundiária.
a) a adoção de energias limpas. c) valorização da diversidade biológica.
b) fiscalização de fontes hídricas. d) implementação do cultivo orgânico.
c) utilização de controle biológico. e) expansão da agricultura familiar.
d) formação de cooperativas rurais.
07. (Enem 2022) Em 2003, teve início o Programa de Aquisição
e) conservação de parques naturais.
de Alimentos e, com ele, várias mudanças na perspectiva
04. (Enem) A trilha de expansão traçada pela soja brasileira dos mercados institucionais. Trata-se do primeiro programa
nas últimas duas décadas começa a ser seguida pelo trigo. de compras públicas com uma orientação exclusiva para a
Com o cultivo consagrado e concentrado na Região Sul, agricultura familiar, articulando-a explicitamente com a
agora o cereal se ampara na pesquisa para conquistar áreas segurança alimentar e nutricional. O Programa é destinado
de cultivo no Centro-Oeste brasileiro. Nas últimas cinco à aquisição de produtos agropecuários produzidos por
safras, a triticultura cresceu 33% em área e 76% em volume agricultores enquadrados no Programa Nacional de Forta-
de produção na região. O quadro desperta otimismo do lecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), incluídas aqui
setor para investir em inovação, mirando uma expansão as categorias: assentados da reforma agrária, trabalhadores
ainda maior do plantio nos próximos anos. rurais sem-terra, acampados, quilombolas, agroextrativistas,
Disponível em: http://sfagro.uol.com.br. Acesso em: 30 nov. 2017. famílias atingidas por barragens e comunidades indígenas.
GRISA, C.; ISOPO, S. P. Dez anos de PAA: As contribuições e os desafios
O fator que explica a expansão do cereal em destaque no para o desenvolvimento rural. In: GRISA, C.; SCHNEIDER, S. (Org.).
Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre:
texto pelo território nacional é a UFRGS, 2015.
a) inserção de agricultura orgânica.
b) utilização de trabalho familiar. A ação governamental descrita constitui-se uma importante
c) admissão de irrigação tradicional. conquista para os pequenos produtores em virtude da:
d) introdução de sementes adaptadas. a) Inovação tecnológica.
e) inclusão de culturas itinerantes. b) Reestruturação fundiária.
c) Comercialização garantida.
05. (Enem) A segurança alimentar perseguida por cada d) Eliminação no custo do frete.
agrupamento humano ao longo da história passa a depender e) Negociação na bolsa de valores.
atualmente de algumas poucas corporações multinacionais
que passam a deter uma posição privilegiada nas novas rela- 08. (Enem 2022) As inovações no preparo do solo e na enge-
ções sociais e de poder. Essa concentração de dependência nharia genética (variedades adaptadas ao clima do Cerrado)
no ano de 2001 se aplica a cada um dos quatro principais permitiram incorporar o pacote técnico herdado da Revolu-
grãos — trigo, arroz, milho e soja, — de forma que cerca ção Verde a um ambiente até então considerado hostil para
de 90% da alimentação da população mundial procede de a atividade. Dessa forma, o Cerrado apenas foi incorporado
apenas 15 espécies de plantas e de 8 espécies de animais. à dinâmica do agronegócio na medida em que os processos
PORTO-GONÇALVES, C. W. Geografia da riqueza, fome e meio produtivos existentes não precisavam passar por modificações
ambiente. In: OLIVEIRA, A. U.; MARQUES, M. I. M. (Org.).
O campo no século XXI: território de vida, de luta e de construção da substanciais para serem reproduzidos nesse novo ambiente.
justiça social. São Paulo: Casa Amarela; Paz e Terra, 2004 (adaptado). OLIVEIRA, V. L.; BÜHLER, È. A. Técnica e natureza no desenvol-
vimento do “agronegócio”. Caderno CRH, n. 77, maio-ago. 2016.
Uma medida de segurança alimentar que contesta o modelo
Essas inovações produtivas tiveram como consequência a:
descrito é o(a)
a) Expansão das áreas de cultivo.
a) estímulo à mecanização rural.
b) Manutenção da empregabilidade rural.
b) ampliação de áreas de plantio.
c) Priorização da adubação orgânica.
c) incentivo à produção orgânica.
d) Preservação das nascentes de rios.
d) manutenção da estrutura fundiária.
e) Estagnação da mecanização agrícola.
e) formalização do trabalhador do campo.
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ASSUNTO 21 GEOGRAFIA AGRÁRIA
Estrutura Fundiária, Revolução Verde e conflitos agrários
ao uso de agrotóxicos, os maiores beneficiados foram os
Estrutura fundiária produtores de inseticidas e herbicidas dos países centrais.
A estrutura fundiária refere-se ao tamanho e ao modo
No que concerne à dinâmica social, ela ampliou a con-
como está organizado o espaço agrário. Assim, nos permite
centração de terras, uma vez que nem todos os produtores
conhecer melhor como funciona a produção e a vida no campo.
tinham condições de adquirir as técnicas desenvolvidas.
Países desenvolvidos Consequentemente, muitos se endividaram devido aos
Nos países desenvolvidos, em especial na Europa e no empréstimos bancários solicitados, tendo como única forma
Japão, o espaço agrário apresenta uma distribuição mais de pagamento da dívida a venda da propriedade para
equilibrada das terras, pois os países historicamente passa- outros produtores.
ram por um processo de reforma agrária, associado à efi-
cácia dos órgãos governamentais em apoiar os produtores. Conflitos agrários
A política de ajuda financeira, os chamados subsídios A concentração de terras no Brasil, associada à falsifica-
agrícolas, bancam parte dos custos de produção e contribuem ção de títulos fundiários e a lentidão do Estado em promover
à alta produtividade. Os subsídios à produção agropecuária a desapropriação das propriedades rurais, assim como a
são enormes. Na União Europeia, a Política Agrícola Comum ineficiente punição dos principais responsáveis pelos confli-
(PAC), privilegia produtos do interior do bloco e auxilia tos, tornam o campo um espaço de grande tensão no país.
financeiramente os produtores rurais. No caso dos Estados Cabe lembrar que de acordo com a legislação federal,
Unidos, a farm bill, a legislação que define as ações no campo, é uma atribuição do Estado a realização da reforma agrária
estabelece mais de 300 bilhões de dólares de incentivos. em três tipos de área: em terras públicas (da União e de
governos estaduais) com vocação para produção agrope-
Países subdesenvolvidos cuária; em fazendas improdutivas desapropriadas pelo poder
Nos países subdesenvolvidos, o espaço agrário apresenta
público (com indenização para os donos); em lotes de terra
heranças do processo de colonização, como a forte concen-
originalmente públicos, ocupados ilegalmente por fazen-
tração fundiária e a produção voltada para o mercado externo.
deiros, chamados de terras griladas.
A estrutura fundiária distorcida, fruto da ineficaz política
Porém, a reforma agrária não deve ser compreendida
de reforma agrária, associada à apropriação monopolista
apenas como a redistribuição de terras. Compõe o processo
da terra e seu uso especulativo, contribuem à eclosão de
um conjunto de políticas oficiais de apoio para que os assen-
uma série de conflitos agrários. No caso específico do Bra-
tados tenham condições de produzir, como financiamento
sil, em 1850 foi promulgada a Lei de Terras, que de certa
para a compra de sementes e máquinas, consultoria técnica,
forma instituiu a propriedade privada no território brasileiro,
assistência social e financiamento para a construção de
pois determinou que as terras públicas, também denomi-
moradia e da infraestrutura na propriedade, o que, histo-
nadas de devolutas, apenas poderiam ser adquiridas atra-
ricamente, é realizado de forma insatisfatória no Brasil.
vés da compra. Dessa forma, a lei estabeleceu que o acesso
à terra seria realizado apenas pelos grupos que tivessem Relações de trabalho no campo
recursos para satisfazer essa condição. Comumente observamos baixos indicadores sociais e eco-
Mais recentemente, durante o regime militar, foi elaborado nômicos entre os trabalhadores rurais do país, como elevada
o Estado da Terra em 1964, cuja finalidade declarada era pro- taxa de natalidade, pequena qualificação técnica e remunera-
mover a política agrícola e executar a reforma agrária. Um dos ção insatisfatória. O trabalho familiar comumente é desenvol-
pontos principais do estatuto foi a classificação dos estabele- vido em pequenas e médias propriedades voltadas à subsis-
cimentos rurais de acordo com sua “função social”, satisfeita tência. A pequena disponibilidade de capital para
quando “favorece o bem-estar dos proprietários e dos traba- investimentos na produção agrícola amplia o número de tra-
lhadores que nela labutam, assim como suas famílias”. balhadores familiares que abandonam a zona rural e se dirigem
às cidades. Entretanto, uma minoria é encontrada nas áreas
Revolução Verde circunvizinhas das grandes cidades, onde verdadeiros cinturões
Desenvolvida a partir da década de 1950 pela ONU em verdes (hortifrutigranjeiros) são organizados, cuja finalidade
parceria com os Estados Unidos, por meio do financiamento é atender e abastecer com gêneros agrícolas os núcleos urbanos.
da Fundação Rockefeller, a Revolução Verde objetivava Com a capitalização do campo, as relações de trabalho
eliminar a fome nos países subdesenvolvidos da América tradicionais gradativamente perdem espaço, sendo substi-
Latina, África e Ásia, com o aumento da produtividade tuídas pelo trabalho assalariado (peões e boias frias) ou
agrícola, especialmente de vegetais de pequeno porte como porque o proprietário prefere deixar a terra ociosa, à espera
milho, trigo a arroz, através da introdução de fertilizantes, de valorização, isto é, da especulação fundiária. A fim de
agrotóxicos, sementes selecionadas e máquinas agrícolas. diminuir custos e encargos trabalhistas, grandes empresas
Em suma, ela gerou o aumento da produtividade, mas pro- desenvolveram uma nova forma de trabalhar no campo,
vocou graves agressões ao meio ambiente. incentivando pequenos e médios produtores a produzir
A Revolução Verde desenvolveu tecnologias que amplia- para eles. Na região Sul, grandes frigoríferos compram a
ram a eficiência da produção agrícola. Entretanto, vários produção dos pequenos e médios produtores com intuito
problemas sociais não foram solucionados, como é o caso de não onerar seus produtos com a carga tributária.
da fome mundial. Além dos danos ambientais através da Pelo arrendamento, muito comum no interior de São
contaminação dos alimentos, dos solos e dos rios, devido Paulo, o proprietário aluga a terra para o desenvolvimento

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GEOGRAFIA

a) rotação de cultivos. pela influência da gravidade. As condições que favorecem


b) associação de culturas. os movimentos de massa dependem principalmente da
c) plantio em curvas de nível. estrutura geológica, da declividade da vertente, do regime
d) manipulação genética das plantas. de chuvas, da perda de vegetação e da atividade antrópica.
BIGARELLA, J. J. Estrutura e origem das paisagens tropicais e
e) instalação de sistemas de irrigação. subtropicais. Florianópolis: UFSC, 2003 (adaptado).
Em relação ao processo descrito, sua ocorrência é minimizada
04. (Enem) A rotação de culturas é um método que con- em locais onde há
siste na alternância de uma cultura de uma leguminosa a) exposição do solo. d) agricultura mecanizada.
com uma outra cultura de não leguminosa, por exemplo, a
b) drenagem eficiente. e) média pluviométrica
alternância de uma plantação de cana ou milho com uma
c) rocha matriz resistente. elevada.
de amendoim ou feijão, periodicamente. Assim, em uma
safra planta-se uma não leguminosa e na entressafra uma 07. (Enem) Os parasitoides são insetos diminutos, que têm
leguminosa, deixando os restos das leguminosas nas áreas hábitos bastante peculiares: suas larvas se desenvolvem den-
onde se pretende plantar outra cultura. tro do corpo de outros animais. Em geral, cada parasitoide
REZENDE, M. O. O. et al. Importância da compreensão dos ciclos
biogeoquímicos para o desenvolvimento sustentável. ataca hospedeiros de determinada espécie e, por isso, esses
São Carlos: Instituto de Química de São Carlos/USP, 2003 (adaptado). organismos vêm sendo amplamente usados para o controle
A forma de manejo exemplificada desenvolve um modo de biológico de pragas agrícolas.
SANTO, M. M. E. et al. Parasitoides: insetos benéficos e cruéis.
uso da terra que proporciona a Ciência hoje, n. 291, abr. 2012 (adaptado).
a) redução dos nutrientes no solo. O uso desses insetos na agricultura traz benefícios ambien-
b) compactação das camadas superficiais. tais, pois diminui o(a)
c) fixação do nitrogênio pelas raízes dos vegetais. a) tempo de produção agrícola.
d) intensificação da erosão pelo intemperismo físico. b) diversidade de insetos-praga.
e) concentração de sais por mecanismo de irrigação. c) aplicação de inseticidas tóxicos.
d) emprego de fertilizantes agrícolas.
05. (Cesupa 2023) e) necessidade de combate a ervas daninhas.
Brasil uso de agrotóxicos quantidade utilizada
08. (Fuvest 2023)

Lavouras que
mais utilizam
fertilizantes
no Brasil (%)

O Estado de São Paulo,


março de 2022.

A partir do gráfico e de seus conhecimentos sobre a dinâmica


do espaço agrário brasileiro, é correto afirmar que o uso de
fertilizantes no Brasil ocorre, majoritariamente,
a) em lavouras intensivas, em pequenas propriedades, com
baixa produtividade e pouco emprego de tecnologia,
direcionadas ao mercado internacional de commodities,
Fonte: Bombardi, L. Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil. USP 2017. principalmente no Centro-Sul do país.
b) em lavouras extensivas, com elevado emprego de mão
Os agrotóxicos são considerados nocivos à saúde humana de obra, altíssima mecanização, com predomínio de
e ao meio ambiente. No Brasil, o crescimento do consumo adoção de práticas conservacionistas e baixo impacto
destes produtos tem se relacionado a um tipo de atividade ambiental, principalmente na região Norte do país.
agrícola que, de acordo com o mapa, está relacionada ao:
c) em lavouras destinadas ao abastecimento do mercado
a) Desenvolvimento da produção familiar para atender ao interno, intensamente mecanizadas, com predomínio
mercado interno. de grandes propriedades e com baixo impacto ambiental,
b) Investimento na produção de grãos para exportação. principalmente na região Nordeste do país.
c) Aumento nas áreas de plantio de cítricos na região do d) em lavouras mecanizadas, destinadas ao mercado inter-
semiárido. nacional, com predomínio do emprego de mão de obra
d) Crescimento das práticas de rotação de culturas em áreas especializada, principalmente no Centro-Sul do país.
degradadas.
e) em lavouras extensivas, destinadas ao mercado externo,
06. (Enem) Os movimentos de massa constituem-se no com alta mecanização e emprego de mão de obra especia-
deslocamento de material (solo e rocha) vertente abaixo lizada, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país.

27
ASSUNTO 23 INDÚSTRIA MUNDIAL
Tipos de indústrias e modelos de industrialização

Introdução Modelos de industrialização


A evolução do processo produtivo ocorreu inicialmente O processo de industrialização iniciado com a Revolu-
com a transformação de matérias-primas em produtos mais ção Industrial no século XVIII, já experimentou três tipos
elaborados por meio do artesanato, seguido pela manufatura ou modelos de industrialização:
e finalmente pela maquinofatura, que corresponde ao está- • Industrialização clássica: ocorreu nas nações desen-
gio atual de produção. volvidas as quais foram as pioneiras com desenvol-
O artesanato representou o primeiro estágio de trans- vimento gradual de todos os setores industriais, cons-
formação da matéria-prima, sendo atualmente muito pra- tituindo atualmente os maiores domínios industriais
ticada em países subdesenvolvidos, sendo como método e os principais centros de inovação tecnológica.
produtivo ou atividade artística. Nesse método produtivo, • Industrialização planificada: ocorreu nos países socia-
para a confecção de um objeto, o artesão realiza sozinho listas durante o século XX, tendo seu marco inicial na
todas as etapas de transformação da matéria-prima em pro- ex-URSS. As indústrias eram fortemente controladas
duto acabado. pelo governo, com investimentos centralizados na
A manufatura representa um estágio produtivo inter- indústria de base e bélica, o que inviabilizou o desen-
mediário entre o artesanato e a maquinofatura, e nela, além volvimento tecnológico dos demais setores industriais.
do trabalho manual, havia o emprego de ferramentas sim-
• Industrialização tardia: também chamada de periférica,
ples, o que proporcionou o aumento produtivo e, conse-
ela ocorreu nos países subdesenvolvidos após a Segunda
quentemente, o surgimento da divisão do trabalho, onde
Guerra Mundial. Ela é marcada pela dependência tec-
cada pessoa desempenhava uma função no processo de pro-
nológica e desenvolvimento nacional limitado a setores
dução.
industriais mais simples. Os setores industriais mais
A maquinofatura iniciou com a Revolução Industrial
complexos estão atrelados a atuação de capitais e empre-
entre os séculos XIII e XIX, originada na Inglaterra, disse-
sas estrangeiras instalados nesses países.
minou-se por outros países da Europa ocidental, pelo Japão,
Estados Unidos e Canadá, várias colônias da Ásia e da Nos países subdesenvolvidos, a história da industriali-
África foram ocupadas na busca por matérias-primas e novos zação apresenta características próprias, apesar de em todos
mercados de consumo, caracterizando o chamado imperia- ter ocorrido uma industrialização tardia. Assim, na América
lismo. Esse estágio produtivo consiste no uso de máquinas, Latina o processo é mais antigo, tendo suas raízes nas pri-
com alto consumo energético, aumento da produtividade meiras décadas do século XX, enquanto na África do Sul ele
e emprego de um número de trabalhadores cada vez menor. se intensificou depois de 1945; nos países do sudeste asiático,
isso ocorreu após a década de 60. A influência norte-americana
Tipos de indústrias é preponderante nos países latino-americanos; já na África
do Sul, a influência maior é europeia (especialmente inglesa);
Os tipos de indústrias são formas de classificação dos na Ásia, os Estados Unidos também tiveram a prioridade
sistemas industriais segundo o grupo de atuação de fabri- nos investimentos de capitais, mas, a partir dos anos 80, o
cação de cada uma delas, sendo elas: Japão tornou-se o país com mais investimentos.
• Indústrias de bens de produção: também chamadas Contudo, comparando essas três áreas ou continentes
de indústrias de base ou pesadas, são aquelas que distintos, podemos afirmar que existem mais capitais
operam com a transformação de grandes quantidades nacionais nos países asiáticos (especialmente na Coreia do
de matérias-primas e energia, as quais serão utilizadas Sul) e também na África do Sul, enquanto boa parte das
por outras indústrias em seus processos produtivos. empresas mais dinâmicas dos países latino-americanos são
filiais de multinacionais estrangeiras. É claro que essa é uma
• Indústrias de bens de capital: também chamadas de diferença relativa, pois também na África do Sul e nos países
industriais intermediárias, são aquelas que produzem asiáticos existem filiais de multinacionais estrangeiras. Mas
equipamentos e maquinários para outras indús- estas possuem um poderio bem maior nesses países latino-
trias operarem. americanos. Essa diferenciação na industrialização dos países
• Indústrias de bens de consumo: também chamadas periféricos gera uma subdivisão em dois modelos industriais:
de indústrias leves, são aquelas que produzem diver- A substituição das importações: esse modelo industrial
sos produtos em sua versão final para serem comer- foi característico de nações latino-americanas e da África
cializados diretamente no mercado consumidor. Nesse do Sul, onde a produção industrial não se destinava à expor-
tipo de indústria temos a produção de bens duráveis tação, mas essencialmente ao consumo interno. Os setores
(produtos de consumo mais prolongado, como ele- industriais desenvolvidos estavam ainda muito ligados aos
trônicos e automóveis), bens semiduráveis (produtos da Segunda Revolução Industrial, com destaque para a
com consumo em um tempo médio, como vestuário indústria de base e o setor automobilístico.
e calçados) e bens não-duráveis (produtos perecíveis As plataformas de exportação: esse modelo industrial
considerados de primeira necessidade, como os ali- foi desenvolvido no sudeste asiático, nos Tigres Asiáticos
mentos e bebidas). (Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan e Hong Kong).
Inicialmente, as indústrias (eletrônicas, químicas,
automobilísticas, siderúrgicas, etc.) aí instaladas foram

28
ASSUNTO 30 GEOGRAFIA URBANA
Urbanização do espaço mundial
de urbanização muito rápido. Alguns desses países
O processo de urbanização mundial apresentam taxas de urbanização iguais ou até superiores
A urbanização consiste em um processo de transforma- as de países desenvolvidos. A América Latina é a região
ção de um espaço rural em urbano, associado ao êxodo- mais urbanizada desse grupo de países.
rural. A Inglaterra foi o primeiro país do mundo a se urba- Em virtude do predomínio das atividades primárias, a
nizar (em 1850, mais de 50% de sua população era urbana). maior parte dos países localizados na África e na Ásia
No entanto, a urbanização acelerada da maior parte dos apresentam baixos índices de urbanização. Outra parcela
países desenvolvidos industrializados só ocorreu a partir tem apresentado intensa urbanização em virtude do elevado
da segunda metade do século XIX, na fase da Segunda Revo- êxodo rural, decorrente do baixo padrão de vida no campo
lução Industrial. Atualmente, o ritmo da urbanização dimi- e da falta de uma política governamental que promova o
nuiu, mas ainda não cessou nesse conjunto de países. No acesso e a fixação das pessoas a terra. Essas medidas evitariam
caso dos países subdesenvolvidos, a explosão da urbaniza- a pressão populacional sobre as cidades.
ção é um fato mais recente, que ocorreu com muita rapidez
após a Segunda Guerra Mundial. As principais causas do êxodo rural
a) Urbanização nos países desenvolvidos Existem dois tipos de fatores que contribuem para a
Nos países desenvolvidos, a urbanização é mais antiga migração campo-cidade, são eles:
e verificou-se de forma mais lenta e integrada com a área
rural. O êxodo rural ocorreu desde o século XVIII, durante • Repulsivos: são aqueles que expulsam o homem do
a primeira fase da Revolução Industrial. Além de oferecer campo, como a concentração de terras, mecanização
novos empregos, as cidades acompanharam a evolução das da lavoura e a falta de apoio governamental.
migrações, receberam novas moradias e, com o tempo, foram • Atrativos: são aqueles que atraem o homem do campo
dotadas de novos equipamentos urbanos, como ruas, pontes, para as cidades, como a expectativa de emprego,
iluminação pública, esgoto, saneamento, comércio, melhores condições de saúde, educação etc.
transportes coletivos e outros. Aos poucos, a expansão
Em países subdesenvolvidos como o Brasil, os fatores
horizontal cedeu lugar a verticalização (predominância de
repulsivos costumam predominar sobre os atrativos, fazendo
prédios).
com que milhares de trabalhadores rurais tenham que dei-
Considerando-se que a urbanização moderna é um
xar o campo em direção às cidades, o que em geral contribui
processo centrado no binômio industrialização-urbanização
com o aumento dos problemas urbanos na medida em que
e no capitalismo, observamos que os países mais urbanizados
as cidades não têm estrutura suficiente para receber esses
do mundo são os países desenvolvidos. A maior parte deles
trabalhadores, com isso proliferam-se as favelas, aumenta
— os países da Europa Ocidental, da América Anglo-Saxônica
a violência, faltam empregos, dentre outros problemas.
e o Japão — já atingiu índices bastante elevados, praticamente
máximos, de urbanização, havendo uma drástica redução Urbanização e os desequilíbrios sociais
da migração do campo para a cidade, com tendência de As cidades constituem os principais centros de poder,
estabilização em torno de índices entre 80% e 90% de de tomada de decisões, de desenvolvimento e de organiza-
urbanização. ção dos espaços, ainda que sejam também os locais onde se
concentram e se originam os mais complexos problemas
Países desenvolvidos¹: População urbana – 2001
locais, tais como criminalidade, uso de drogas, poluição,
País Participação na pop. total (%) doenças e falta de moradia.
Embora as maiores taxas de urbanização (porcentagem
Mônaco 100,0 da população que vive na zona urbana) sejam encontradas
Bélgica 97,3 nos países centrais, os subdesenvolvidos industrializados
contam com um maior número absoluto de população
Reino Unido 89,5 urbana, ou seja, maior quantidade de pessoas vivendo nas
Alemanha 87,5 áreas urbanas.
No início, as grandes cidades dos países periféricos
Austrália 84,7
ofereciam condições vantajosas — empregos na indústria,
Japão 78,8 na construção civil e no setor terciário, melhorias nas áreas
de saúde, transportes, educação —, atraindo a população
¹Países selecionados. Fonte: Calendário Atlante de Agostini 2003.
Novara: Instituto Geográfico de Agostini, 2002, p. 100–107.
rural. Porém, o rápido processo de urbanização, em geral
realizado em condições precárias, ocasionou uma urbani-
b) Urbanização nos países subdesenvolvidos zação explosiva e anômala, carente de uma política de pla-
Nesse grupo de países a urbanização ocorreu de forma nejamento e de investimentos em infraestrutura e equipa-
bastante heterogênea. A rápida industrialização ocorrida mentos urbanos. Como as cidades não conseguiram
após a Segunda Guerra Mundial gerou um acentuado absorver a mão de obra do grande contingente de pessoas
desequilíbrio das condições de vida entre as cidades e as que migraram das áreas rurais, a pobreza transferiu-se do
zonas rurais, provocando intenso êxodo rural e um processo campo para as áreas urbanas.

42
ASSUNTO 31 GEOGRAFIA URBANA
Planejamento urbano
O Plano Diretor pode manter ou alterar a organização
Estatuto da cidade e plano diretor espacial dos municípios e afetar qualidade de vida dos cida-
A Constituição Federal de 1988 inaugurou o Direito dãos. Um aspecto extremamente relevante, é que o fato que
Urbanístico no Brasil e trouxe uma série de mecanismos o planejamento urbano deve contar com a cooperação de
legais para disciplinar o uso e ocupação do solo urbano. Em associação de moradores e audiências públicas a fim de
2001, com a promulgação da Lei 10.257, houve outro grande debater com a sociedade civil as medidas que devem ser
avanço na política urbana brasileira através do Estatuto da adotadas. Igualmente, a participação da comunidade é uma
Cidade, ou seja, um mecanismo legal responsável por orien- exigência constitucional que prevê, dentre outros mecanis-
tar a gestão urbana como a regularização da posse de ter- mos, a iniciativa popular, ou seja, a possibilidade de a socie-
renos, em especial aqueles em áreas de risco ou originados dade civil apresentar projetos de lei, comumente por meio
de ocupação irregular, além de construir ferramentas com de abaixo-assinados que podem ser analisados pela câmara
destaque à dinâmica ambiental. de vereadores e a prefeitura municipal.
De acordo com a legislação, o Estatuto da cidade deter-
Aplicações práticas do plano diretor
mina aos municípios a elaboração do Plano Diretor, ou seja,
com apanhado de dispositivos legais a fim de promover o Lei do
Estabelece os limites da cidade para
desenvolvimento socioeconômico e a conservação ambien- Perímetro
incidência e cobrança do IPTU.
tal ao regulamentar o uso e a ocupação do território do Urbano
município, em especial do solo urbano. Lei do
Os municípios que apresentem 20 mil ou mais habitan- Indica o tamanho mínimo dos loteamentos
Parcelamento
tes, façam parte de regiões metropolitanas, integrem áreas urbanos, o que determina o grau de
do Solo
de relevante interesse turístico ou sejam inseridos em área adensamento de uma zona da cidade.
Urbano
de influência de empreendimentos ou atividades com sig-
Cria zonas no município nas quais
nificativo impacto ambiental em escala regional ou nacional,
a ocupação será estritamente
são obrigados a desenvolver o Plano Diretor. Nesse sentido, Lei de
residencial ou mista, indica as áreas
as prefeituras devem determinar a exploração adequada Zoneamento
industriais e o funcionamento de
do solo urbano e podem adotar medidas como o parcela-
casas de eventos, por exemplo.
mento, desapropriação ou aumento do Imposto Predial
Territorial Urbano (IPTU). Determina as áreas de recuo nos terrenos
A elaboração do Plano Diretor deve contar com a par- (quantos metros do terreno deverão
Código de
ticipação de uma série de profissionais qualificados de várias ficar desocupados na sua parte frontal,
Edificações
áreas, a exemplo de geógrafos, engenheiros, advogados e nos fundos e nas laterais), normas de
arquitetos, dentre outros. Compete a eles a elaboração de segurança, tipos de construção.
um perfil geográfico, ambiental e socioeconômico do muni-
cípio. Posteriormente, sugere-se uma proposta de desen- Orientam a coleta e destino do lixo
volvimento, com destaque à questão ambiental como gestão Leis residencial, industrial e hospitalar, além
dos recursos hídricos e recuperação de áreas degradadas. Ambientais da conservação de áreas verdes e controle
Por fim, geralmente a porção mais extensa, elenca as dire- de emissão de poluentes atmosféricos.
trizes para cada setor da administração pública como trans-
Plano do Determina o percurso dos ônibus e
porte coletivo, política habitacional, saúde, educação e
Sistema estabelece diretrizes que facilitem o
saneamento básico. Dessa forma, orienta-se a elaboração
Viário e dos fluxo de pessoas pela cidade através
de normas técnicas para o uso do solo urbano que comu-
Transportes da construção de novas avenidas, BRT,
mente repercute na elaboração da Lei de Zoneamento, res-
Coletivos investimentos em trens urbanos e metrô.
ponsável pelo estabelecimento de zonas do município, ou
seja, a identificação de áreas onde a ocupação deve ser
especificamente residencial, outras zonas de produção indus-
Meio ambiente urbano
trial, áreas de funcionamento de casas noturnas, entre outras As intervenções humanas atingem seu ápice no espaço
atividades. urbano. Prédios, rodovias, pontes, viadutos, canalização de
córregos, entre outras ações afetam significativamente a
O planejamento urbano é o processo de
dinâmica ambiental. Dessa forma, são comuns fenômenos
idealização, criação e desenvolvimento de
soluções que visam melhorar ou revitalizar como as ilhas de calor, chuvas ácidas e inversão térmica nas
certos aspectos dentro de uma determinada cidades, o que afeta a saúde coletiva e provocam prejuízos
área urbana. à biodiversidade local.
Disponível em: https://dialogospoliticos. De acordo com a ONU, cerca de 2 milhões de crianças
wordpress.com/2014/09/18/a-importancia- morrem por ano vítimas da poluição e da precariedade do
do-planejamento-urbano-para-o- saneamento básico devido as condições insalubres em que
desenvolvimento/.
Acesso em: 14 fev. 2021
vivem, especialmente em países pobres. Diarreia, malária,
(adaptado). tuberculose, toxoplasmose e pneumonia são as doenças
mais comuns e poderiam ser evitadas com intervenções no
espaço urbano como a melhoria das condições de habitação,

44
GEOGRAFIA

Que característica socioeconômica está expressa no texto? 05. (Enem)


a) Expansão demográfica
b) Homogeneidade social.
c) Concentração de renda.
d) Desemprego conjuntural.
e) Desenvolvimento econômico
02. (Enem) A redução do valor da aposentadoria se deve ao
fator previdenciário, mecanismo utilizado pelo INSS para
tentar adiar a aposentadoria dos trabalhadores mais jovens,
penalizando quem se aposenta mais cedo, já que esse segu-
rado, teoricamente, vai receber o benefício por mais tempo.
RESENDE, T. Disponível em: http://ieprev.com.br.
Acesso em: 25 out. 2015 (adaptado).
Políticas previdenciárias como a apresentada no texto têm
sido justificadas com base na dinâmica populacional de GILMAR. Disponível em: http://deficientefisico.com.
aumento da Acesso em: 6 dez. 2012 (adaptado).
a) taxa de natalidade. c) proporção de adultos. O cartum evidencia um desafio que o tema da inclusão
b) expectativa de vida. d) imigração de refugiados. social impõe às democracias contemporâneas. Esse desafio
exige a combinação entre
03. (PUC RS) Considere a tabela que apresenta dados refe-
a) participação política e formação profissional diferenciada.
rentes ao Índice de Desenvolvimento Humano do Programa
b) exercício da cidadania e políticas de transferência de
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
renda.
País IDH c) modernização das leis e ampliação do mercado de
França 0,932 trabalho.
Tailândia 0,768 d) universalização de direitos e reconhecimento das
Bangladesh 0,509
diferenças.
e) crescimento econômico e flexibilização dos processos
Ruanda 0,431
seletivos.
Noruega 0,956
06. (Mackenzie)
A partir das informações da tabela, é correto afirmar:
Evolução da distribuição da PEA no Brasil (em %)
a) A expectativa de vida em Bangladesh deve ser inferior
Ano Primário Secundário Terciário
à da França, embora a renda per capita e os índices de
escolarização possam ser os mesmos nos dois países. 1940 70,2 10,0 19,8

b) Tanto a Tailândia como Ruanda são países considerados 1970 44,2 17,8 38,0
de IDH insatisfatório ou baixo, portanto com expectativa 1991 22,9 22,7 54,4
de vida para homens e mulheres inferior aos 50 anos. 2000 20,9 19,2 59,9
c) A França e a Noruega são consideradas como países de Os dados da tabela nos permitem afirmar que
IDH elevado, portanto autossuficientes quanto à pro-
a) a redução da população no setor primário segue uma
dução de energia.
tendência mundial, já que a produção de alimentos
d) A Tailândia, por apresentar um IDH considerado médio, decorre exclusivamente da produção industrial.
deve possuir taxas de analfabetismo próximas a zero.
b) a mecanização no setor primário e a automação no setor
e) O contraste entre os países da tabela evidencia a relação secundário liberaram mão de obra pouco qualificada,
que existe entre IDH e a situação econômica e tecnológica que tenta sobreviver prestando serviços e abrindo peque-
dos países. nos comércios, mesmo que na informalidade.
04. (UFMS) Entre os países mais populosos estão Indoné- c) o aumento da população no setor terciário deve-se à
sia, Brasil, Japão e Bangladesh. Entre os mais povoados, especialização e à sofisticação do setor, que transformam
encontram-se Holanda, Bélgica e Japão. O critério para a em atrativos para os trabalhadores dos demais setores
classificação de um país como populoso e povoado refere-se, econômicos.
respectivamente, a d) diante do aumento da escolarização da população, o
a) taxas de natalidade e mortalidade. setor terciário é o que mais requisita mão de obra qua-
lificada; daí o grande aumento quantitativo.
b) taxas de natalidade e expectativa de vida.
e) as exigências de qualificação profissional, tanto no setor
c) índices de saúde e morbidez.
primário quanto no setor secundário, têm levado os
d) densidade demográfica e movimentos migratórios. trabalhadores ao setor terciário, em que o comércio e a
e) população absoluta e população relativa. prestação de serviços não requisitam tanta especialização.

47
ASSUNTO 33 GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO
Teorias demográficas e transição demográfica

Teorias demográficas
Teoria Malthusiana
Preocupado com os problemas socioeconômicos decor-
rentes da Revolução Industrial e que afetavam seriamente
a Inglaterra, Thomas Robert Malthus expôs sua famosa
teoria a respeito do crescimento demográfico no livro “Ensaio
Geral da População Mundial” (1798). Segundo Malthus, se
não ocorressem guerras, epidemias e desastres naturais a
população cresceria em ritmo exponencial, conforme uma
progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos
cresceria em uma velocidade menor, de acordo com uma
progressão aritmética, pois apresentava um limite por depen-
der de um fator fixo: a própria extensão territorial dos con-
A charge retrata o pensamento neomalthusiano ao defender que as
tinentes.
melhorias sociais se manifestam a partir do controle do crescimento
Malthus previu que um dia as possibilidades de aumento populacional por meio de métodos contraceptivos.
da área cultivada estariam esgotadas, pois todos os conti- Disponível em: http://discursoretorico.com.br.
nentes estariam plenamente ocupados pela agropecuária, Acesso em: 26 mar. 2021 (adaptado).
enquanto que a população mundial ainda continuaria cres-
cendo, o que geraria um verdadeiro “caos social”. Para
Teoria Reformista
evitar essa situação catastrófica, ele propôs uma série de Também denominada de Teoria Marxista, ela é consi-
medidas, entre as quais: proibir o casamento entre pessoas derada por muitos demógrafos como mais objetiva e realista,
muito jovens, limitar o número de filhos entre os mais pobres, por analisar os problemas econômicos, sociais e demográ-
elevar o preço das mercadorias e reduzir os salários, a fim ficos partindo de situações cotidianas. Elaborada em resposta
de pressionar os mais humildes a ter uma prole menos a teoria neomalthusiana, ela defende que uma população
numerosa. Cabe destacar que Malthus não concordava com jovem numerosa não é causa, mas consequência do subde-
a intervenção do Estado. senvolvimento, já que os grupos menos favorecidos econo-
Apesar da aceitação na época, hoje sabemos que a teo- micamente possuem menor acesso aos métodos contracep-
ria possui algumas limitações. A população não cresceu tivos. Nesse sentido, uma população jovem numerosa
conforme a previsão, pois Malthus afirmava que a popula- torna-se um empecilho ao desenvolvimento de atividades
ção deveria dobrar a cada 25 anos. Além disso, ele subesti- econômicas nos países subdesenvolvidos porque não foram
mou as inovações tecnológicas na produção de alimentos, realizados investimentos sociais, principalmente em edu-
já que vários cientistas calculam que a capacidade de pro- cação e em saúde. Essa situação gerou um imenso contingente
dução de alimentos da Terra seria suficiente para suprir as de mão de obra sem qualificação, que continuamente ingressa
necessidades de cerca de 10 bilhões de pessoas. Ele também no mercado de trabalho. À medida que as famílias obtêm
não considerou a evolução da urbanização e das relações condições dignas de vida (educação, assistência médica,
sociais responsável pela elevação do custo de vida e conse- acesso à informação etc.), tendem a ter menos filhos.
quente redução do ritmo de crescimento da população. Teoria da Transição Demográfica
Teoria Neomalthusiana A transição demográfica foi elaborada pelo demógrafo
Começou a ser difundida na Conferência de São norte-americano Frank Notestein, no início do século XX,
Francisco, em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. a fim de refutar cientificamente a teoria malthusiana.
Segundo os neomalthusianos, uma população numerosa é De acordo com Notestein, o desenvolvimento econômico e
um obstáculo ao desenvolvimento porque desvia os tecnológico tem influência direta no comportamento demo-
investimentos do Estado para setores pouco produtivos, gráfico, em especial nas taxas de natalidade e mortalidade.
dessa forma, um país populoso tende a ser pobre pois a Dessa forma, a transição é apresentada em quatro etapas.
renda per capita será baixa. Assim, os neomalthusianos A 1ª fase, denominada de pré-transição, as taxas de
pregam um rígido controle da natalidade coordenado pelo natalidade e mortalidade são extremamente elevadas, carac-
Estado, por meio da propagação do planejamento familiar, terístico de sociedades com baixo crescimento econômico
que consiste em limitar o número de membros das famílias, e tecnológico. A 2ª fase, chamada de aceleração, ocorre um
especialmente das mais carentes, com a adoção de um ou crescimento expressivo da população em função da redução
vários métodos contraceptivos, estimulando abortos em da taxa de mortalidade devido as melhorias sociais na saúde,
massa, laqueadura das trompas, retirada do útero, vasectomia, saneamento e acesso à água. A 3ª fase, marcada de desace-
etc. Os exemplos mais conhecidos desse tipo de política leração demográfica, observa-se uma diminuição da taxa
antinatalista foram observados na Índia e na China, a partir de natalidade, em função da urbanização, do elevado custo
da década de 1970. Apesar de apresentar postulados para formação do indivíduo, maior participação feminina
diferentes do pensamento de Malthus, ela chega a uma no mercado de trabalho e a difusão de métodos contracep-
conclusão semelhante: a necessidade de controlar o tivos. A 4ª fase, é marcada pela estabilização demográfica,
crescimento da população. na qual as taxas de natalidade e mortalidade se equilibram.

48
ASSUNTO 36 GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO
População brasileira

Introdução Comentário:

Antes da colonização, a população do atual território A diversidade de culturas e de tradições está presente
brasileiro era, segundo estimativas, de dois a cinco milhões em todo o território brasileiro. O brasileiro é um povo de
de índios, pertencentes a várias nações. Desde 1500 até hoje, múltiplas origens, costumes e cores, conforme apontava
os índios sofreram intenso genocídio e etnocídio. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro. Surgimos da confluência,
a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) vivem cerca 800 do entrechoque e do caldeamento do invasor português
mil índios no Brasil, principalmente nas regiões Norte e com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos,
Centro-Oeste. uns e outros aliciados como escravos.
A maior parte da população brasileira resulta da imi- Nessa confluência, que se dá sob a regência dos
gração forçada de povos africanos, da imigração livre de portugueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais
europeus e asiáticos e da população nativa anterior à chegada distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se
dos europeus. Esses grupos se miscigenaram e hoje se des- fundem para dar lugar a um povo novo, em um novo
locam pelo país à medida que se expandem e se diversificam modelo de estruturação societária.
as fronteiras econômicas. A confluência de tantas e tão variadas matrizes
formadoras poderia ter resultado em uma sociedade
Imigração ao Brasil multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes
diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário,
O processo de imigração para o Brasil iniciou-se com a uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia
colonização. Os colonizadores vinham para cá em busca de somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua
recursos naturais que pudessem gerar riquezas no continente múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em
europeu. Além dos colonizadores europeus, houve a fixação antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais,
de negros africanos no país, atraídos pela introdução da vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de
lavoura de cana-de-açúcar no litoral dos atuais Estados de autonomia frente à nação.
São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia de Bolso, 2006.
Já no início do século XIX, em 1808, com a abertura dos
portos, foi aceito o ingresso dos imigrantes livres, não só
europeus, mas também de outras nacionalidades, já que até As migrações internas
então somente os portugueses podiam se fixar no país. Ao analisarmos a evolução dos fluxos migratórios no
A imigração para o Brasil cresceu, principalmente, a território brasileiro, identificamos que eles estão intimamente
partir de 1850, com a promulgação da Lei Eusébio de Quei- relacionados às atividades econômicas. Em meados do século
roz, que aboliu o tráfico negreiro e possibilitou maior desen- XVIII, com a decadência da economia canavieira nordestina
volvimento da atividade cafeeira e facilidade de acesso à e a expansão da mineração, houve um intenso fluxo ao Brasil
posse da terra, principalmente na região Centro-Sul do central. Posteriormente, com a extração do látex na Amazônia,
Brasil. milhares de nordestinos se dirigiram à região, algo semelhante
A partir da crise de 1929, algumas atividades no Brasil em relação ao Sudeste com a expansão do café, na segunda
entraram em decadência, como a produção de açúcar, de metade do século XIX e início do século XX.
café e de cacau. Dessa forma, nas áreas produtoras houve Contudo, é indiscutível que a partir da industrialização
um crescimento dos índices de desemprego, que forçaram e consequente integração do território nacional, os fluxos
uma ampla migração da população das áreas produtoras, migratórios foram intensificados, especialmente em direção
para as cidades, agora valorizadas pelo início do processo ao eixo Rio-São Paulo, que se converteu no maior polo de
de industrialização. Tendo em vista esse fato, em 1934, o atração populacional do país. Outras áreas também receberam
governo Getúlio Vargas criou a lei de Cotas de Imigração, um fluxo expressivo, como a Amazônia, palco de uma série
que restringia a entrada de imigrantes. O principal objetivo de iniciativas por parte do governo federal como projetos
era não agravar as consequências geradas pelo excedente de colonização, obras de infraestrutura e a criação da Zona
de mão de obra a partir da crise de 1929. Franca de Manaus. Em relação ao Centro-Oeste, a construção
No período que se estendeu de 1530 a 1808, é difícil de Brasília e a expansão da fronteira agrícola desencadearam
estimar o volume de imigrantes que entrou no Brasil. Sabe-se, um papel fundamental na mobilidade.
porém, que entre eles predominavam os portugueses, os Cabe destacar que até a década de 1980, os fluxos inter-
quais, assim como os escravos africanos, dirigiram-se às regionais eram predominantes no país. Entretanto, a partir
plantações de cana-de-açúcar na região de Minas Gerais. da década de 1990, as migrações intrarregionais tornaram-se
De 1850 a 1930, por outro lado, as estimativas são mais mais intensas. Para termos uma ideia, segundo o IBGE, cerca
confiáveis e observa-se uma enorme entrada de imigrantes, de 40% dos brasileiros vivem fora do município onde
principalmente italianos, espanhóis, alemães e japoneses, nasceram, enquanto 16% da população não são procedentes
para suprir a necessidade de mão de obra nas lavouras, nos da mesma unidade da federação, o que ratifica o predomínio
centros urbanos industriais e no processo de povoamento das migrações dentro das próprias regiões.
da região Sul.

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