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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO


CENTRAL (FECLESC)
CURSO LICENCIATURA EM FÍSICA

PROFESSOR: IVAN

DISCIPLINA: HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

DISCENTE: ANTONIO ALBERTO NOGUEIRA FILHO

MATRÍCULA: 1641867

Resumo do capítulo 13 do livro: História da Matemática

QUIXADÁ – CEARÁ
2023
Resumo
A CASA DA SABEDORIA
No início do império muçulmano, entre 650 e 750, a atividade científica era
escassa. Esse período foi marcado pela falta de entusiasmo intelectual entre os árabes, e
o interesse pela cultura estava em declínio globalmente. Se não fosse pelo renascimento
cultural islâmico na segunda metade do oitavo século, muito mais teria se perdido no
campo da ciência e da matemática antigas.
Em Bagdá, durante esse período, estudiosos da Síria, Mesopotâmia, judeus e
cristãos nestorianos convergiram. Sob os auspícios de três grandes patronos culturais
abássidas - al-Mansur, Harun al-Rashid e al-Mamun - a cidade se transformou em um
centro intelectual comparável à antiga Alexandria. Durante o reinado de Harun al-
Rashid, conhecido nas Mil e uma noites, houve a tradução parcial das obras de Euclides.
No entanto, foi durante o califado de al-Mamun (809-833) que os árabes se
dedicaram intensamente à paixão pela tradução. Diz-se que o califa teve um sonho com
Aristóteles, levando-o a decidir traduzir para o árabe todas as obras gregas disponíveis,
incluindo o "Almagesto" de Ptolomeu e uma versão completa dos "Elementos" de
Euclides. Por meio de tratados com o Império Bizantino, com o qual os árabes
mantinham uma paz instável, eles obtiveram manuscritos gregos.
Al-Mamun estabeleceu em Bagdá uma "Casa da Sabedoria" (Bait al-Hikma),
semelhante ao antigo Museu de Alexandria. Entre os mestres destacava-se Mohammed
ibu-Musa al-Khowarizmi, um matemático e astrônomo cujo nome, assim como o de
Euclides, se tornaria conhecido na Europa Ocidental. Al-Khowarizmi, que faleceu por
volta de 850, deixou um legado significativo com mais de meia dúzia de obras em
astronomia e matemática, sendo as mais antigas possivelmente baseadas nos Sindhind
derivados da Índia.
Além de tabelas astronômicas, tratados sobre astrolábios e relógios solares, al-
Khowarizmi escreveu dois livros fundamentais sobre aritmética e álgebra que
desempenharam papéis essenciais na história da matemática. Um deles, infelizmente,
sobrevive apenas em uma única cópia de uma tradução latina intitulada "De numero
hindorum" (Sobre a arte hindu de calcular), uma vez que a versão árabe original foi
perdida. Nessa obra, baseada possivelmente em uma tradução árabe de Brahmagupta,
al-Khowarizmi apresentou uma exposição abrangente dos numerais hindus,
desempenhando um papel na disseminação equivocada da ideia de que nosso sistema de
numeração tem origem árabe.
AL-JABR
Através de sua contribuição à aritmética, al-Khowarizmi se tornou um termo
familiar; e com o título de seu livro mais significativo, "Al-jabr Wa'l muqabalah", ele
nos deu uma palavra ainda mais reconhecível. Foi por meio desse livro que a Europa
mais tarde absorveu o ramo da matemática que conhecemos como álgebra. Embora
Diofante seja por vezes chamado de "pai da álgebra", esse título pertence mais a al-
Khowarizmi. É verdade que a obra de al-Khowarizmi representa, em dois aspectos, um
retrocesso em relação à de Diofante. Primeiramente, é de nível mais elementar do que
os problemas abordados por Diofante; em segundo lugar, a álgebra de al-Khowarizmi é
totalmente expressa em palavras, sem a concisão presente na Aritmética grega ou na
obra de Brahmagupta. Até mesmo os números são escritos em palavras em vez de
símbolos!
É improvável que al-Khowarizmi tenha conhecido a obra de Diofante, mas é
provável que tenha familiaridade, pelo menos, com as partes de astronomia e
computação de Brahmagupta. No entanto, nem al-Khowarizmi nem outros estudiosos
árabes adotaram a sincopação ou números negativos. Apesar disso, "Al-jabr" está mais
próximo da álgebra elementar contemporânea do que as obras de Diofante e
Brahmagupta. O livro não se ocupa de problemas complexos de análise indeterminada,
mas oferece uma exposição direta e elementar da resolução de equações, especialmente
as de segundo grau.
Os árabes, em geral, valorizavam uma apresentação clara e direta, indo das
premissas às conclusões, além de organização sistemática, características em que nem
Diofante nem os hindus se destacavam. Os hindus eram hábeis em associação, analogias,
intuição e imaginação artística, enquanto os árabes abordavam a matemática com uma
mente prática e focada na realidade.
O "Al-jabr" chegou até nós em duas versões, latina e árabe, mas na tradução
latina intitulada "Liber algebrae et almucabola", há uma significativa omissão de partes
do texto árabe. Notavelmente, o prefácio está ausente na tradução latina, possivelmente
devido ao fato de que o prefácio original em árabe elogiava de maneira profusa o
profeta Maomé e al-Mamum, "o Comendador dos Crentes". Al-Khowarizmi escreve
que este último o havia encorajado a
"compor uma breve obra sobre cálculos por (regras de) complementação e
redução, restringindo-a ao que é mais fácil e útil essa aritmética, tal como os homens
constantemente necessitam em casos de heranças, legados, partições, processos legais e
comércio, e em todas as sua transações uns com os outros, ou onde se trata de medir
terras, escavar canais, computação geométrica e de outras coisas vários tipos e espécies",
[Karpinski, 1915, p.96]
Os significados exatos dos termos árabes al-jabr e muqabalah não são totalmente
claros, mas a interpretação sugerida na tradução acima é uma possibilidade. A palavra
al-jabr provavelmente significa algo como "restauração" ou "completude" e parece
relacionar-se à transposição de termos subtraídos para o lado oposto da equação. Por sua
vez, a palavra muqabalah, segundo relatos, refere-se a "redução" ou "equilíbrio",
indicando o cancelamento de termos semelhantes em lados opostos da equação.
A influência árabe persiste além do tempo de al-Khowarizmi e pode ser
observada no livro "Dom Quixote", onde a palavra é usada para se referir a um
"restaurador" de ossos. Essa incorporação de termos matemáticos na linguagem
cotidiana destaca a influência duradoura da matemática árabe e suas contribuições para
o pensamento e vocabulário ocidentais.
O PAI DA ÁLGEBRA
Os seis casos de equações apresentados acima abrangem todas as possibilidades
para equações lineares e quadráticas com uma raiz positiva. A abordagem sistemática de
al-Khowarizmi tornava a compreensão das soluções uma tarefa acessível para seus
leitores, justificando assim a alcunha de "O pai da álgebra". No entanto, nenhum ramo da
matemática surge totalmente desenvolvido, e a origem da inspiração para a álgebra árabe
permanece uma questão intrigante.
Embora não possamos oferecer uma resposta definitiva a essa pergunta, a
arbitrariedade das regras e a natureza estritamente numérica dos seis capítulos nos
remetem à matemática da antiga Babilônia e da Índia medieval. A exclusão da análise
indeterminada, um tema apreciado pelos hindus, e a ausência de qualquer sincopação,
como a encontrada nas obras de Brahmagupta, podem sugerir a Mesopotâmia como uma
fonte mais provável do que a Índia. No entanto, ao avançarmos para além do sexto
capítulo, uma nova luz é lançada sobre a questão, pois al-Khowarizmi continua:
“Já dissemos o bastante, no que se refere a números, sobre os seis tipos de
equações. Agora, porém, é necessário que demonstremos geometricamente a verdade dos
mesmos problemas que explicamos com números.”
PROBLEMAS ALGÉBRICOS
A comparação entre a Figura 13.2, extraída da "Álgebra" de al-Khowarizmi, e os
diagramas em "Os Elementos" de Euclides, no contexto da álgebra geométrica grega,
sugere que a álgebra tinha muitos elementos em comum com a geometria grega. No
entanto, a primeira parte, aritmética, da "Álgebra" de al-Khowarizmi claramente difere do
pensamento grego.

O que aparentemente ocorreu em Bagdá foi exatamente o que se esperaria de um


centro intelectual cosmopolita. Os sábios árabes tinham grande admiração pela
astronomia, matemática, medicina e filosofia gregas, dedicando-se ao estudo dessas
disciplinas da melhor forma possível. No entanto, não podiam deixar de observar que,
como afirmara o bispo nestoriano Sebokt em 662 ao chamar a atenção para os nove
maravilhosos dígitos hindus, "há também outros que sabem alguma coisa". É provável
que al-Khowarizmi seja um exemplo típico do ecletismo árabe observado frequentemente
em outros casos. Seu sistema de numeração provavelmente veio da Índia, sua sistemática
resolução de equações pode ter sido desenvolvida na Mesopotâmia, e o quadro
geométrico lógico para suas soluções evidentemente veio da Grécia.
A "Álgebra" de al-Khowarizmi não se limita à resolução de equações. Inclui
regras para operações com expressões binomiais, como (10 + 2) (10 - 1) e (10 + x) (10 -
x). Embora os árabes rejeitassem as raízes e grandezas negativas, conheciam as regras
para números com sinal. Há também provas geométricas alternativas para alguns dos seis
casos de equações apresentados pelo autor. Além disso, a obra contém uma ampla
variedade de problemas ilustrativos para os seis casos. Como exemplo do quinto capítulo,
al-Khowarizmi propõe a divisão de dez em duas partes de modo que "a soma dos
produtos obtidos multiplicando cada parte por si mesma seja igual a cinquenta e oito". A
versão árabe, ao contrário da latina, inclui uma extensa discussão de problemas de
herança, como o seguinte:
 Um homem morre deixando dois filhos e legando um terço de seu capital a um
estranho. Deixa dez dirhems de propriedades e uma dívida de dez dirhems sobre um
filho.
A resposta inesperada surge porque, segundo a lei árabe, um filho que deve à
herança de seu pai uma quantia maior do que a sua parte, mantém toda a quantia devida.
Uma parte é considerada sua parcela na propriedade, e o restante é considerado uma
doação de seu pai. Até certo ponto, as leis complexas que regiam a herança parecem ter
incentivado o estudo da álgebra na época.

UM PROBLEMA DE HERON
Alguns problemas de al-Khowarizmi revelam claramente a influência dos árabes
na matemática babilônico-herodiana. Um deles parece ter sido diretamente tirado de
Heron, já que a figura e as dimensões são idênticas. No problema, é necessário inscrever
um quadrado dentro de um triângulo isósceles com lados de 10 m e base de 12 m (Fig.
13.3), e o autor da "Álgebra" mostra, primeiramente, usando o teorema de Pitágoras, que
a altura do triângulo é 8 m, resultando em uma área total do triângulo de 48 m².
Chamando o lado do quadrado de "coisa", al-Khowarizmi observa que o quadrado
da "coisa" pode ser obtido subtraindo a área de três pequenos triângulos (fora do
quadrado, mas dentro do triângulo maior) da área do triângulo maior. A soma das áreas
dos pequenos triângulos abaixo é conhecida pelo autor como igual ao produto de seis
menos a metade da "coisa". Além disso, a área do pequeno triângulo superior é o produto
de oito menos a "coisa" por metade da "coisa". Isso leva à conclusão de que a "coisa" é 4
4/5 m, que é o lado do quadrado.
A principal diferença entre a formulação desse problema por Heron e por al-
Khowarizmi é que Heron expressou a resposta em termos de frações unitárias, como 4
1/2 1/5 1/10. As semelhanças são tão marcantes que podemos considerar esse caso como
uma confirmação do axioma geral de que a continuidade na história da matemática é a
regra, e não a exceção. Quando parece haver uma descontinuidade, devemos primeiro
considerar a possibilidade de que o aparente salto possa ser explicado pela perda de
documentação.
‘ABD AL-HAMID IBN-TURK
A "Álgebra" de al-Khowarizmi é geralmente considerada como a primeira obra
sobre o assunto, mas uma publicação recente na Turquia levanta algumas dúvidas a
respeito. Um manuscrito de uma obra por Abd-al-Hamid ibn-Turk, intitulada
"Necessidades Lógicas em Equações Mistas", fazia parte de um livro sobre Al-jabr wa'l
muqabalah que era evidentemente muito semelhante ao de al-Khowarizmi e foi publicado
mais ou menos ao mesmo tempo, possivelmente até antes. Os capítulos preservados sobre
"Necessidades Lógicas" apresentam exatamente o mesmo tipo de demonstração
geométrica que a "Álgebra" de al-Khowarizmi, incluindo o mesmo exemplo ilustrativo x²
+ 21 = 10x.
Em um ponto, a exposição de Abd-al-Hamid é mais abrangente que a de al-
Khowarizmi, pois ele fornece figuras geométricas para demonstrar que se o discriminante
é negativo, uma equação quadrática não tem solução. As semelhanças entre as obras dos
dois homens e a organização sistemática nelas indicam que a álgebra em seus dias não
era um desenvolvimento tão recente quanto se pensava. Quando textos com uma
exposição convencional e bem ordenada aparecem simultaneamente, é provável que o
assunto esteja além do estágio formativo. Os sucessores de al-Khowarizmi podiam dizer,
após a formulação de um problema em forma de equação, "Operem segundo as regras da
álgebra e almucabala". De qualquer forma, a preservação da "Álgebra" de al-Khowarizmi
pode ser vista como um indicativo de que era um dos melhores textos típicos da álgebra
da época.
No entanto, a obra de al-Khowarizmi tinha uma deficiência séria que precisava
ser superada antes de poder efetivamente servir aos seus fins nos tempos modernos: a
falta de uma notação simbólica para substituir a forma retórica. Os árabes nunca deram
esse passo, exceto para substituir as palavras "número" por sinais numéricos.
NUMERAIS ARÁBICOS
Mencionamos diversas vezes como os árabes rapidamente absorviam a cultura de
vizinhos conquistados. Vale ressaltar também que dentro do Império Árabe residiam
pessoas de origens étnicas variadas: sírios, gregos, egípcios, persas, turcos, e muitos
outros. Embora compartilhassem em grande parte a língua árabe, ocasionalmente
utilizavam o grego e o hebraico. No entanto, não podemos esperar uma uniformidade
cultural, pois havia facções e, por vezes, conflitos. Thabit, por exemplo, vivia em uma
comunidade pró-grega, opondo-se a ele devido às suas simpatias pró-árabes.
Na matemática árabe, tais diferenças culturais se tornavam evidentes, como nas
obras de Abu'l Wefa (940-988) e al-Karkhi (ou al-Karagi, cerca de 1029). Em algumas de
suas obras, eles utilizavam numerais hindus, provenientes do Sindhind astronômico; em
outras, adotavam a numeração alfabética grega (naturalmente, com equivalentes árabes
para as letras gregas). No final, os numerais hindus predominaram devido à sua
superioridade, mas mesmo entre aqueles que usavam a numeração indiana, as formas dos
numerais variavam consideravelmente.
Essas variantes eram tão marcadas na Arábia que há teorias sugerindo origens
completamente diferentes para as formas usadas nas metades oriental e ocidental do
mundo árabe. Pode ser que os numerais dos sarracenos do leste tenham vindo
diretamente da Índia, enquanto os dos mouros do oeste derivavam de formas gregas ou
romanas. No entanto, é mais provável que as variantes resultassem de mudanças graduais
no espaço e no tempo. Os numerais arábicos atuais são muito diferentes dos numerais
Devanagari ainda em uso na Índia.
Finalmente, embora chamemos nossos numerais de "arábicos", eles pouco se
assemelham aos usados no Egito, Iraque, Síria, Arábia, Irã e outros países de cultura
islâmica (formas

). Esses numerais são chamados de arábicos devido aos princípios compartilhados, mas
os princípios por trás deles presumivelmente vieram da Índia. Portanto, é mais apropriado
chamar nosso sistema de numeração de hindu ou indo-arábico.
ABU’L-WEFA E AL-KARKHI
Abu'l-Wefa era um álgebrista competente, além de ser um trigonometrista
habilidoso. Ele não apenas comentou sobre a "Álgebra" de al-Khowarizmi, mas também
traduziu do grego um dos últimos grandes clássicos, a "Arithmetica" de Diofante. Seu
sucessor, al-Karkhi, aparentemente utilizou essa tradução para se tornar um discípulo
árabe de Diofante, mas sem se dedicar à análise diofantina. Ou seja, al-Karkhi estava
interessado na álgebra de al-Khowarizmi, não na análise indeterminada dos hindus. No
entanto, como Diofante (e de maneira diferente de al-Khowarizmi), ele não se restringiu a
equações quadráticas, embora continuasse a seguir a prática árabe de fornecer
demonstrações geométricas para equações quadráticas.
Especificamente, a al-Karkhi é atribuída às primeiras soluções numéricas de equações da
forma axn + bxn = c (considerando apenas raízes positivas), onde a restrição diofantina a
números racionais foi abandonada. Foi precisamente nessa direção, a busca por soluções
algébricas (em termos de radicais) de equações de grau superior a dois, que os primeiros
desenvolvimentos da matemática na Renascença estavam destinados a ocorrer.
AL-BIRUNI E ALHAZEN
A era de al-Karkhi, no início do século XI, foi um período notável na cultura
árabe, e seus contemporâneos merecem destaque, embora não fossem primariamente
matemáticos. Um exemplo é Ibn-Sina (Avicena), um sábio e cientista de destaque cujos
interesses se estendiam além da matemática, incluindo medicina e filosofia. Embora
tenha traduzido Euclides e explicado a regra de noves fora, ele é mais lembrado por suas
contribuições à astronomia e física.
Outro contemporâneo significativo foi al-Biruni (973-1048), cujo livro "Índia"
introduziu a matemática e a cultura hindus aos árabes e, consequentemente, a nós. Um
viajante incansável, al-Biruni ofereceu uma exposição detalhada dos Sinddhantas e do
sistema posicional de numeração. Ele compartilhou conhecimentos, como a fórmula de
Heron e a de Brahmagupta, destacando a aplicação desta última a quadriláteros cíclicos.
Al-Biruni também abordou problemas trigonométricos, como a solução aproximada da
equação x³ = 1 + 3x em frações sexagesimais com notável precisão.
Na área da física, al-Biruni contribuiu com estudos sobre gravidade específica e
causas de poços artesianos. No entanto, como matemático e físico, foi superado por ibn-
al-Haitham (Alhazen), conhecido no Ocidente por seu "Tesouro da Óptica". Alhazen
explorou questões ópticas, como a estrutura do olho e o aumento aparente do tamanho da
Lua. Seu "problema sólido", conhecido como o "problema de Alhazen", sobre a reflexão
da luz num espelho esférico, demonstra sua profunda compreensão da matemática e da
física. Ele estendeu os resultados de Arquimedes sobre conóides ao encontrar o volume
gerado por um arco parabólico girando em torno da tangente no vértice.
O POSTULADO DAS PARALELAS
Na sua obra "Álgebra", Omar Khayyam menciona ter revelado uma regra para
encontrar as potências quarta, quinta, sexta e superiores de um binômio, mas essa
informação se perdeu ao longo do tempo. Essa possível referência ao triângulo de Pascal,
que também parece ter surgido na China simultaneamente, levanta questões sobre a
independência dessas descobertas. Embora a comunicação entre a Arábia e a China fosse
limitada na época, a existência da Rota da Seda pode ter permitido alguma troca de
informações.

Os árabes demonstraram maior afinidade pela álgebra e pela trigonometria em


comparação com a geometria. No entanto, um aspecto geométrico específico os fascinava:
a tentativa de provar o quinto postulado de Euclides. Essa questão já havia se tornado um
"quarto problema famoso de geometria" entre os gregos, e vários matemáticos
muçulmanos continuaram a explorá-la. Alhazen começou com um quadrilátero tri-
retângulo, conhecido como "quadrângulo de Lambert", e acreditava ter provado que o
quarto ângulo era reto, levando ao quinto postulado. Omar Khayyam criticou essa
abordagem, destacando que Aristóteles havia condenado o uso do movimento na
geometria.

Khayyam, então, propôs seu próprio raciocínio a partir de um quadrilátero com


dois lados iguais, ambos perpendiculares à base, conhecido como "quadrilátero de
Saccheri". Ele questionou as possíveis configurações dos outros ângulos do quadrilátero e
excluiu a possibilidade de ângulos agudos ou obtusos com base em um princípio que
atribuiu a Aristóteles: duas retas convergentes devem cortar-se, equivalente ao postulado
das paralelas de Euclides.
AL-KASHI
A matemática árabe continuou a declinar, após Nasir Eddin, mas nossa exposição
sobre a matemática árabe seria insatisfatória sem uma refêrencia à obra de uma figura do
começo do século quinze. Al-Kashi (morreu em 1436) achou um patrono no principe
Ulugh Beg, neto do conquistador mongol Tamerlão. Em Samarqand, onde tinha sua corte,
Ulugh Beg construíra um observatório, e al-Kashi se uniu ao grupo de cientistas reunidos
lá. Em numerosas obras, escritas em persa e árabe, al-Kashi contribuiu para a matemática
e a astronomia. Merece nota a precisão de seus cálculos, especialmente no que se refere à
resolução de equações pelo método de Horner, proveniente talvez da China. Também da
China al-Kashi pode ter tomado o hábito de usar frações decimais. Al-Kashi é uma figura
importante na história das frações decimais, e ele percebeu a importância de sua
contribuição a esse assunto, considerando-se o inventor das frações decimais. Embora até
certo ponto tivesse precursores, ele foi talvez, dentre os que usavam frações sexagesimais,
o primeiro a sugerir que as decimais são igualmente convenientes para problemas que
exigem muitas casas exatas, No entanto, em seu cálculo sistemático de raizes ele
continuou a usar as sexagesimais. Ao ilustrar seu método para achar a raiz n-ésima, de
um número, ele extraiu a raiz sexta da sexagesimal.
34, 59, 1, 7, 14, 54, 23, 3, 47, 37; 40.
Esse foi um prodigioso sucesso de computação, usando os passos que seguimos
no método de Horner — localização da raiz, subtração, e o aumento ou multiplicação das
raízes — e usando um esquema semelhante ao nosso para divisão.
Al-Kashi obviamente se deliciava com cálculos longos, e se orgulhava com razão
de sua aproximação para π , que era melhor que qualquer das aproximações fornecidas
por seus predecessores. Fiel ao gosto dos árabes por notações variadas, ele exprimiu seu
valor para 2π em ambas as formas, sexagesimal e decimal. Uma — 6;
16,59,28,34,51,46,15,50 é mais reminiscente do passado e a outra —
6,2831853071795865 num certo sentido pressagiava o uso de frações decimais. Nenhum
matemático até o fim do século dezesseis se aproximou da precisão desse tour de force
computacional. Em al-Kashi o teorema binominal sob a forma do "triângulo de Pascal"
aparece de novo, quase exatamente um século depois de sua publicação na China e cerca
de um século antes de ser impresso em livros europeus.
Com a morte de al-Kashi em 1436 aproximadamente podemos encerrar a
exposição da matemática árabe, pois o colapso cultural do mundo muçulmano foi mais
completo que a desintegração politica do império. O número de árabes que deram
contribuições significativas à matemática antes de al-Kashi foi consideravelmente maior
do que nossa exposição sugere, pois nos concentramos nas figuras principais; mas depois
dele o número é insignificante. Foi realmente uma sorte que quando a cultura árabe
começou a declinar a ciência na Europa estivesse em ascensão e preparada para aceitar a
herança intelectual legada por eras anteriores. Diz-se às vezes que os árabes fizeram
pouco mais que pôr a ciência grega em "conservação a frio" à espera de que a Europa
estivesse preparada para aceitá-la. Mas a exposição neste capítulo mostrou que, pelo
menos no caso da matemática, a tradição transmitida ao mundo latino nos séculos doze e
treze era mais rica do que a que os iletrados conquistadores árabes encontraram no século
sete.

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